Paleografia Portuguesa
Paleografia Portuguesa
Paleografia Portuguesa
Porto, 2002
1. Introduo
Falar de Portugal no sculo XV implica abordar e dar a conhecer o ambiente
social, econmico e cultural de um pequeno reino, talhado no extremo ocidental da
Europa e largamente banhado pelo Atlntico, cujo povo, a partir de 1500, iniciou
um longo e intenso convvio com as populaes brasileiras, com elas se irmanando,
atravs das vicissitudes da Histria, na comunho da mesma lngua, na conscincia
dos mesmos ideais de solidariedade humana e dos sentimentos fraternos, latentes na
alma da comunidade luso-brasileira, de que todos muito nos orgulhamos e queremos aprofundar e desenvolver, ocupando a Cultura um lugar insubstituvel num
projecto desta natureza.
O sculo XV portugus , com verdade, designado, muitas vezes, como o sculo
da Expanso Ultramarina e das Descobertas, mas nem por isso deveremos olvidar que
* O presente estudo foi elaborado como comunicao para o congresso de Paleografia, que deveria ter
lugar na cidade brasileira de Portalegre, em Setembro de 1998, adiado pouco antes da data prevista para o
seu incio. Decorridos mais de trs anos e meio, sem nova convocatria, atendendo falta de estudos desta
natureza, entre ns, decidimos public-lo na sua forma primitiva, que no perdeu actualidade.
** Professor Catedrtico. Departamento de Cincias e Tcnicas do Patrimnio da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto.
esse um aspecto em que apenas uma parcela exgua da sociedade portuguesa andou
envolvida, alis contrastante com o ingente esforo comum para superar a grave crise
poltica inclusive, de sobrevivncia nacional , demogrfica e econmica, originada
no sculo XIV e acentuada ao longo da primeira metade do sculo XV.
Se evoco, de forma extremamente sinttica, esta realidade, para sublinhar,
desde j, que o sculo XV, em que se formou a gerao daqueles navegadores que
estabeleceram o primeiro contacto com a populao brasileira que os acolheu em
Porto Seguro, um sculo de mudana e transformao social e cultural, que urge
ter presente, pois a Cultura sempre a parte mais sensvel, dinmica, subtil e, por
isso, tambm a mais nobre dos fenmenos sociais.
a esta luz que nos propomos falar das prticas paleogrficas em Portugal no
sculo XV ou, se preferirmos, de uma forma mais simples e directa, da escrita em
Portugal nos sculos XV / XVI, tema, cuja importncia desnecessrio acentuar, pois
foi na centria de quatrocentos que, em Portugal, se entrecruzaram e conviveram as
diversas tendncias grficas e se exercitaram as formas e prticas de escrita que, a
partir das primeiras dcadas do sculo XVI, se difundiram no Brasil, como expresso das / e resposta natural s necessidades de comunicao: na vida quotidiana, na
redaco dos mais diversos actos jurdicos, em registos de natureza econmica, no
relacionamento entre poderes, nomeadamente o poder central do Reino, sem olvidarmos as prticas da actividade judicial, religiosa e cultural, etc.
Neste contexto, a Carta de Pro Vaz de Caminha (') a D. Manuel I sobre o achamento da terra de Santa Cruz um marco indelvel, no s porque representa uma
forma de escrita, que, sendo bastante comum, no era a nica e nem sequer a mais
erudita, num tempo em que os benefcios da imprensa estavam a generalizar-se de
forma extremamente rpida e impressionante, mas tambm porque o estado ento
atingido no mbito da escrita no se pode considerar uma meta, mas, antes, um
momento normal num processo evolutivo, que haveria de continuar durante muito
tempo, de forma quase vertiginosa.
Tratar da escrita ou das prticas paleogrficas em Portugal no sculo XV, no
plano terico, no representar grande novidade, excepo feita da viso de conjunto que nos propomos apresentar, tanto mais necessria quanto certo que a falta
de manuais actualizados no a oferecem e aos poucos estudos sectoriais, que tm
surgido ultimamente, dada a sua natureza especfica, tambm no se lhe pode exigir. Em contrapartida, esperamos que a demonstrao prtica dos conceitos tericos ajude a compreender o estado evolutivo da escrita trazida para o Brasil pelos
portugueses no sculo XVI e estimule estudos sobre a sua evoluo e enriquecimento verificado nas Terras de Santa Cruz.
(1) Fig. 1.- A.N.T.T., Carta de Pro Vaz de Caminha. Casa Forte, fl. 1. Publ. por COSTA, Pe. Avelino
de Jesus da - lbum de Paleografia e Diplomtica Portuguesas. Estampas, 6a. edio, Coimbra, 1997, n150.
Em ordem publicao, nesta revista, reduzimos o nmero de imagens que havamos seleccionado,
para a exposio no anunciado congresso.
sendo, essencialmente, utilizada na elaborao (redaco ou simples cpia) de cdices litrgicos, jurdicos, tratados teolgicos, filosficos, cientficos, sermonrios, etc.
Simultaneamente, utilizava-se, numa percentagem extraordinariamente superior, a
gtica cursiva, que na sua grande variedade de formas, patenteava os efeitos de uma
longa evoluo, de quase dois sculos e meio, desde a letra carolina, passando pela
minscula diplomtica e as j remotas formas tpicas da genuna gtica cursiva (de
pequenas dimenses, acentuado verticalismo, clara angulosidade e pouco artificiosa)
(4) at profuso de formas desnecessrias e artificiais de certas letras, que, no dizer
dos humanistas, eram feitas mais para ornar do que para serem lidas - fatta piu per
ornare che per essere letta 0) , sendo necessrio entrar, para compreenso deste
fenmeno, com a criatividade e os gostos individuais dos escribas.
O que aqui se afirma carece de ser exemplificado, mediante a visualizao de
alguns textos, a fim de concretizar particularidades especficas da gtica cursiva:
angulosidade, arqueamento, evoluo de certas letras, inverso do ductus, formas de
ligao, articulao de sinais de abreviatura com a estilizao de algumas letras,
nexos caractersticos, etc. (6)
Costuma dizer-se que a escrita a expresso da civilizao. Em torno desta afirmao podero tecer-se diversos comentrios, mesmo de clara discordncia, mas o
que ningum poder negar uma indiscutvel correspondncia temporal entre o
estilo romnico e a escrita carolina e entre a vigncia do estilo gtico, nas suas mltiplas manifestaes, e o uso generalizado e intensivo da escrita gtica cursiva, em
Portugal, mesmo ao longo do sculo XV.
Os perodos de esplendor alimentam, geralmente, os grmens da prxima
mudana. A escrita gtica cursiva no constituiu excepo regra e, na segunda
metade do sculo XIV assiste-se a uma declarada reaco contra os exageros da
escrita gtica por parte dos principais promotores do humanismo literrio, que foi
produzindo uma mudana no mundo culto de ento, que passou a interessar-se,
progressivamente, pelo mundo e pela cultura clssicos, particularmente do tempo
de Augusto, mais concretamente, pelas lnguas latina e grega, estilo e gneros literrios, arquitectura, inscries, mitologia, etc, de par com uma certa reaco contra a Escolstica.
Um dos aspectos alimentados por este movimento cultural prendia-se com a
renovao da escrita, procurando substituir a gtica cursiva pela escrita antiga,
patente nos preciosos cdices dos sculos IX-XI, que mais no era seno a carolina,
erroneamente tomada como a letra antiga dos romanos. A polmica sustentada por
este movimento contra o ensino da Escolstica nas Universidades no se restringia
A lio dos mestres humanistas prosseguiu, conduzida por muitos outros seguidores do humanismo, com especial relevo para o conhecido Coluccio Salutati
(1331-1406), Niccol Niccoli (1364-1437), Poggio Bracciolini (1380-1459), considerado o maior descobridor de textos e autores clssicos do primeiro
Humanismo (10), Ambrsio Traversari (1386-1439) e foi aprendida por muitos estudantes portugueses, que, nos finais do sculo XIV e princpios do sculo XV, frequentaram as universidades italianas de Bolonha, Pdua, Sena (Siena), Ferrara,
Perusa, Pisa. Roma e os estgios na prpria Cria Romana, bem como outros centros de cultura espalhados pela Itlia (11), aplicando-a, posteriormente, nos postos de
relevo que vieram a ocupar na chancelaria rgia e noutros lugares de prestgio, como
demonstra a mudana de estilo, evidente em numerosos diplomas emanados da
chancelaria de D. Joo, por exemplo, em 20 de Maro de 1403 (12) e em 14 de
Fevereiro de 1431 (13).
O exemplo ou, se preferirmos, a influncia da Cria Pontifcia prosseguiu, entre
ns, mediante a sucessiva chegada quer de bulas solenes, como a Dudum siquidem,
de Eugnio IV, datada de Bolonha, em 26 de Junho de 1436, dirigida a D. Duarte,
de que apresentamos a primeira pgina (14), encontrando franca imitao, de claro
pendor para a humanstica librria, na chancelaria real portuguesa, como se verifica
por uma longa carta do monarca Eloquente para o Arcebispo de Braga, a propsito
da actualizao das compensaes a ele devidas pela transferncia da jurisdio cvel
e crime da cidade de Braga para a Coroa, quer atravs de bulas comuns ou breves,
em humanstica cursiva, como a dirigida ao Mosteiro de S. Salvador de Vilar de
Frades, por Pio II, em 4 de Outubro de 1460 (15).
Entre os numerosos estudantes portugueses que cursaram em universidades italianas, durante o primeiro quartel do sculo XV, contam-se o prprio arcebispo de
Braga, D. Fernando da Guerra, e o doutor Brs Afonso, que esteve ao servio deste
Prelado, durante mais de trs dcadas, tendo assimilado os cnones da humanstica, patentes nos numerosos textos que nos deixou, imprimindo-lhe uma marca
inconfundvel.
(20) Fig. 7-A. D. B., Registo geral, n. 313, fl. 190. Publ. por MARQUES, Jos - Vcriture de Francesco
Cavalcanti, une nouveautau Portugal- 1482, in Revista da Faculdade de Letras. Histria, Porto, vol. XII,
1 9 9 5 , p p . 1 5 1 - 1 8 2 . O d o c . d a fi g . 7 , e n c o n tr a - se n a p . 1 6 6 . D e p a s s a g e m , o b s e r v e - s e q u e , e m b o r a s e m
grande expresso, a escrita humanstica cursiva tambm entrou na chancelaria rgia, como se pode compro
var, entre outros, pela carta enviada por D. Joo II a Loureno de Medicis, em 1487, reproduzida na fig. 8.
(Florena, Archivio di Stato avanti il Principato, filza 47, n. 2). Publ. por NUNES, Eduardo lbum de
paleografia portuguesa, vol. I, Lisboa, Instituto de Alta Cultura. Centro de Estudos Anexo Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, 1969, n. 63.
(21) Porqu e se trata de u m assunto de cronologia e, por isso, do mbito da P aleografia, ve m a prop
sito record ar que o funda me nto desta tradio re monta ao sculo VI, mais concreta me nte, aco de sen
volvida por S. Ma rtinho de Du me (B raga) para erradic ar os erros e prticas pag s aind a su bsistentes entre
as populaes, que, apesar de terem oficialmente abraado o Cristianismo, continuavam agarradas aos seus
costumes ancestrais. (Ver Martinho de Braga Instruo pastoral sobre supersties populares. "De correctione
rusticorum", edio, traduo, introduo comentrios de Aires. A. Nascimento, com colaborao de Maria
Joo Branco, Lisboa, Edies Cosmos, 1997, nos.8-9, pp. 111-113).
tique au Portugal au temps de 1'Humanisme. Preface par Andr Chastel, Paris, Fundation Calouste
Gulbenkian. Centro Cultural Portugus, 1977, p. 26-32 e 33-40.
haste vertical, traada de cima para baixo, cortada na parte inferior, mediante um
prvio desvio para a esquerda que vai traar a haste para a direita.
Neste processo evolutivo, temos de contar tambm com a tendncia crescente
para o encadeamento das palavras, muitas vezes atravs da utilizao do prolongamento do sinal geral de abreviatura que passa e ficar integrado como elemento constituinte de letra seguinte.
Enquanto, nos finais do sculo XV, estas linhas de evoluo grfica se iam acentuando, em especial nos ambientes notarial, judicial e outros, dando origem a uma
tendncia marcadamente processada, em que todos estes elementos se vo entrecruzando, embora com certo atraso em relao ao que j se passava no reino de Castela,
onde os Reis Catlicos iniciaram uma forte reaco contra a escrita processada, tentando impor a cortes que, em Portugal, grosso modo, preenche e at ultrapassa o
reinado de D. Joo III -, assiste-se introduo da tipografia em Portugal, primeiro
em Faro, com a impresso do Pentateuco hebraico, em 1487, e, depois em Chaves,
no extremo norte de Portugal, com a impresso do Sacramental de Valdeiras, em
1488, e o Tratado de confison, que acabou de imprimir no dia 8 de Agosto de 1489.
Independentemente da polmica levantada em torno da prioridade do Sacramental
sobre o Tratado de confison (24), h notcia da impresso de vrios outros livros at
ao fim do sculo, como o Breviarium Bracarense (1494), o Manual (ritual), em
1496, e finalmente o Missale Bracarense, em 1498, de que passa, neste ano (1998),
o Vo centenrio.
Assiste-se, assim, a uma convivncia entre a escrita gtica, progressivamente,
influenciada pela humanstica, a humanstica librria valorizada, de modo particular, na Leitura Nova, as primeiras manifestaes da humanstica cursiva, as primeiras
manifestaes das tendncias para o encadeamento e a processada (25) e a prpria
escrita impressa, que se expandiu, numa primeira fase, pelos sectores mais eruditos
da sociedade, podendo afirmar-se que nos finais do primeiro quartel do sculo XVI
ainda havia muitas igrejas paroquiais e de Ordens Militares que no possuam livros
litrgicos impressos, continuando a servir-se dos velhos livros e cadernos pergaminceos, em que se encontravam os textos litrgicos.
(24) Sobre este assunto, entre outros, veja-se MARTINS, Jos Vitorino Pina Tratado de
confissom.{Chaves, 8 de Agosto de 1489), Fac-simile do exemplar nico pertencente ao Dr. Miguel Gentil
Quina. Leitura diplomtica e estudo bibliogrfico por..., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1973;
O primeiro livro impresso em portugus, in Revista da Biblioteca Nacional, Lisboa, serie 2, vol. 2, n. 2, Jul.Dez. 1987, pp. 161-166; ANSELMO, Artur - Origens da imprensa portuguesa, Lisboa, Imprensa NacionalCasa da Moeda, 1981; e, com inequvoca posio diferente, MARQUES, Jos - O Arcebispo de Braga D.
Jorge da Costa e os primrdios da imprensa em Portugal, in Forum, Braga, n 4, Outubro 1988, pp. 3-31.
(25) A fim de documentar a referida convivncia, reunimos, nas figs. 10 e 11, algumas amostras grficas
de registos dos finais do sculo XV e da primeira dcada do sculo XVI.
4. E o futuro?
Aps termos apresentado o percurso da escrita em Portugal, no sculo XV,
perfeitamente legtimo perguntar que rumo seguiu a partir da viragem do sculo.
Numa breve sntese, podemos informar que, no obstante o extraordinrio
desenvolvimento verificado no campo da imprensa, com a impresso de livros litrgicos e de espiritualidade, cientficos, jurdicos, de literatura clssica e portuguesa,
sem esquecermos as numerosas tradues que vieram substituir os exemplares
manuscritos que j circulavam e, h muito, figuravam em livrarias de mo, como as
de D. Duarte, do Infante D. Fernando e a que o doutor Martim Loureno doou
casa-me da Congregao dos Cnegos Seculares de Vilar de Frades (26), vulgarmente conhecidos como Lios, e o facto de alguns mosteiros, prelados diocesanos
e a prpria Universidade Portuguesa, pelo menos desde a fixao definitiva em
Coimbra, chegarem a possuir tipografia privativa ou, ao menos, tipgrafos incumbidos de trabalharem temporariamente para eles, a documentao manuscrita continuou a crescer.
Com efeito, apesar da rpida expanso da arte de Gutenberg, as necessidades
quotidianas de documentos da mais variada natureza, a correspondncia, as diversas aplicaes nos sectores econmico, mercantil, jurdico, cultural, etc, exigiam um
recurso constante es.crita feita mo, mais expedita e consentnea com as necessidades da vida diria.
At 1520/21, a escrita humanstica librria foi largamente utilizada na redaco
dos originais e cpias dos forais reformados por ordem de D. Manuel, que, uma vez
dispersos pelos diversos municpios rgios e senhoriais, passaram a ser outros tantos
mensageiros da nova forma e tcnica de escrever, possivelmente desconhecida em
muitos lugares recnditos do Reino. Por seu lado, a gigantesca tarefa da elaborao
dos preciosos volumes da Leitura Nova, que tinha tambm como escrita padro a
humanstica librria, prolongou-se durante o reinado de D. Joo III (1552). Alm
deste uso na chancelaria rgia, foi utilizada, embora em menor escala, noutros contexto sociais mais cultos, sem, no entanto, se poder afirmar que foi largamente utilizada, dado o seu ductus lento, mais adequado execuo do trao pesado, em contraste com a rapidez exigida no expediente quotidiano.
Por sua vez, a humanstica cursiva, que, no sculo XV, teve reduzida expresso,
foi mais utilizada na centria de Quinhentos, sem, contudo, conseguir travar a evoluo desenhada anteriormente. Teve, no entanto, a honra de transitar para os caracteres tipogrficos, dando origem ao tipo que ainda hoje denominamos itlico, em
que foram impressas bastantes obras ao longo dos sculos XVI e XVII.
No reinado de Joo III, semelhana do que j tinha acontecido no reino de
Castela, no tempo dos Reis Catlicos, Fernando e Isabel, vigorou entre ns, em
(26) MARQUES, Jos Livrarias de mo no Portugal medievo, in Bracara Augusta, Braga, vol. 47,
1997, pp. 277-281.
meios mais eruditos e cultos, durante algumas dcadas a escrita cortes. No podemos, por isso, classific-la de durao efmera, mas, antes, como vigente em certos
endaves culturais da sociedade portuguesa do sculo XVI.
que, entretanto, na sequncia das mudanas tcnicas registadas no sculo XV,
em boa parte utilizadas, com elegncia, pelos cultores da escrita cortes, as tendncias para desenvolver os efeitos da aplicao do ductus inverso com as caracrersticas
ligaes dele decorrentes, a prtica da escrita processada I encadeada acentuou-se e,
a partir da segunda metade do sculo XVI, generalizou-se de forma impressionante,
especialmente durante o perodo da dominao filipina, sobreponde-se a outras formas coevas de escrira.
No sculo XVII, especialmente a partir da Restaurao, notria a preocupao pela clarificao da escrita, para o que tero contribudo alguns conceitos filosficos, aringindo este processo o ponto culminante com o iluminismo do sculo
XVIII, embora possamos e devamos afirmar, empiricamente (pois faltam dados esratsticos), que a mudana se iniciou no sculo precedente.
5. Concluso
Neste contexto, no admira que fosse muito lenta a introduo da prxtica da
escrita nas terras do Brasil, implicando, primeiro, uma iniciao escolar, que muito
deve, sem dvida, aco dos missionria, que passou a organizar-se de forma sistemtica, aps a chegada do Pe. Manuel da Nbrega e dos seus companheiros jesutas, alm dos membros de outras Ordens Congregaes.
O panorama que procurmos traar das vrias formas de escrita em Portugal no
sculo XV ajudar a compreender as diversas tendncias difundidas no Brasil, que
recebeu a escrita numa das fase mais complexas diremos mesmo de maior degradao - caracterizada pelas marcas de um certo individualismo inerente liberdade
da escrita processada e similares, que, nestas circunstncias, rapidamente resvalaram
para o vigor da encadeada, j que a prtica da cortes, de relativa curta durao,
andava mais ligada a sectores cultos e eruditos.
Para anular a impresso de linearidade que poderia emergir destas ltimas consideraes, necessrio esclarecer, desde j, que estas afirmaes carecem de ser
matizadas em estudos ulteriores, podendo, mesmo, esta observao constituir um
estmulo a novas abordagens nos domnios da escrita nos finais da Idade Mdia,
quando a imprensa se ia impondo de forma progressiva.
No conhecemos estudos sobre este tema, mas possvel que os haja. Em qualquer dos casos, um tema que estudado conjunramente com as primeiras instituies de ensino implantadas no Brasil faz parte e essencial na histria cultural dos
primrdios desta grande nao.
fig. 5 -Fl. 1r da bula Dudum siquidem, pela qual o papa Eugnio IV, a pedido do arcebispo D.
Fernando da Guerra, confirma, de novo o contrato de transferncia da jurisdio cvel e
criminal do senhorio de Braga para a Coroa (A D B., Gaveta de Braga, n. 23).
Fig. 6 - Fl. 1t da carta pela qual D. Duarte compensa o Arcebispo de Braga pelo prejuzo causado no
valor da renda anual do contrato de 1402, pela mudana da moeda, em 1435 (A.D.B., Gaveta
de Braga, n. 23).
Fig. 8- Florena, Archivto di Statoa vanti il Principato, filza 47, n.2. Publ. por NUMES, Eduardo-O.c,
n.63.
Fig. 9 - A.N T.T., Leitura Nova. Alm Douro, liv. 3, fl. 67.