ANTELO, Raúl - Potências Da Imagem PDF
ANTELO, Raúl - Potências Da Imagem PDF
ANTELO, Raúl - Potências Da Imagem PDF
Potncias da imagem
SBD-FFLCH-USP
II~IW~I~
editora universitria
Chapec, 2004
r-h Av. Senador Attlio Fontana, 591-E
Fone/Fax (49) 321-8000
UNOCHP,PEC Cx. Postal 747 CEP 89809-000-
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20900000795
CDD 302.222
ISBN: 85-7535-058-7 Catalogao: YaraMenegatti - CRB 14/488
,
Impresso no Brasil, 2004
Tiragem: 1000
Sumrio
PrelaclO
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- cntIca .
e Imagem . 7
Referncias 143
Prefcio
crtica e imagem
Hay que manifestar ese anteojo hecllO forzosa realidad de una mente:
hay que mostrar un individuo que se introduce en el cristal y que persiste
en su ilusorio pas (donde hay figuraciones y colores, pero regidos de
inmovible silencio) y que siente el bochorno de no ser ms que un
simulacro que obliteran Ias noches y que Ias vislumbres permiten
(BORGES, 1925).
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Prefcio - crtica e imagem
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Ral Antelo
dezembro, 2003.
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o
inconsciente
tico do modernismo
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o inconsciente tico do modernismo
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Em 1842 eram pela primeira vez mostradas fotos na Exposio Geral; elas
continuaro presentes, recebendo distines nesses certames, tanto na sua
forma propriamente mecnica, quanto realadas sob a espcie das foto-
pinturas - processo que, em 1866, Victor Meirelles compreensivelmente
desaprovava por lhe parecer fonte de retrocesso 'da verdadeira arte'. As
diversas variantes da foto-pintura, praticada pelo menos desde 185 O e tantos,
por um Joaquim lnsley Pacheco (ele mesmo artista do pincel) e por um
Augusto Stahl (associado, no Recife, ao pintor Steffen, no Rio de Janeiro a
Wahnschaffe), aderem ainda artistas visuais de certo prestgio, como Louis-
Auguste Moreau, Miguel Caiiizares e Ernst Papf; este ltimo chegou
mesmo a abrir durante algum tempo atelier especializado. O trabalho de
encarnar o 'fantasma' fixado na placa 'que podia ser recoberto a leo, a
guache e mesmo a pastel' segundo sempre Victor Meirelles, 'se algum
merecimento pode ter certamente devido ao pintor e no ao fotgrafo'. A
firma Carneiro & Gaspar contava com o grafismo elegante de Courtois; j
Alberto Henschel 'avivava' pessoalmente as suas reprodues; Jos Ferreira
Guimares especializara-se, por seu lado, em 'retratos vitrificados, fixados
a fogo como as pinturas de Sevres e Limoges'. Uma referncia apenas
fuso foto-litografia: um gnero que encontra alguns dos mais altos
momentos da nossa iconografia oitocentista nas vistas brasileiras fixadas
pelas objetiva de Victor Frond e litografiadas pelos melhores mestres do
gnero da Paris de N apoleo lIl. Precedem -nas de um decnio o panorama
da capital do que os lpis litogrficos de Benoit e Cicri deram relevo todo
especial (EULALlO, 1992, p. 156).
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o inconsciente tico do modernismo
A imagem fotogrfica
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1. M.P. (pseud. Carlos Drummond de Andrade). Retratos do artista quando menino. "Jornal de
Letras", Rio de Janeiro, novo 1949. o nico texto de Drummond com essa acrografia.
2. Prefaciado por Gmez de ia Serna e Eugenio d'Ors, Antonio Ferro foi bigrafo de Oliveira Salazar.
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ler. Como assinala Bourdieu, uma foto no nada sem essa epgrafe
que nos diz o que deve ser lido - legendum - ou seja, algo que, com
frequncia, s uma lenda que nos faz ver qualquer coisa. Mas neste
nomear, fazer ver, criar ou levar a existir, as epgrafes particularizam,
precisamente, uma caracterstica da fotografia, sua distncia mdia entre
o infinito e o sujeito, seu trao irredutvel, o a-a-t que lhe atribua
RolandBarthes(BARTHES, 1997,p.1l63;ZAPATA, 1997,p.1O-14).
Todas as imagens da matria em questo sublinham ou dobram
o que a imagem impe, um irrevogvel passado colonial e migratrio.
"An italian fruit vendor", "The itinerant Portuguese grinder", "The
Portuguese fresh-eggman", "The Portuguese ambulant seller of
brooms and feather-dusters", todas apontam um mundo de interesses.
Interessere, que est entre dois mundos, que afirma e nega, que atrai,
enfim. So o complemento de outras imagens, as de vendedores de
frutas pintadas por Tarsila do Amaral ou ainda aquelas outras, filmadas
por Humberto Mauro na mesma poca, as de profisses rurais
condenadas, cuja distncia dramatizam os cantos de trabalho. Nestas
que nos ocupam, no entanto, uma identidade europia, manual e
artesanal, arquivada com o mesmo gesto com que outra nova, nacional
e industrial, a substitui. Mas esta mudana no menos problemtica,
j que o novo, to novo, diga-se de passagem, como o Estado que o
promove, o Estado Novo, um regime autoritrio, de represso interna,
alinhado aos Estados Unidos, sua proteo externa, para uma drstica
industrializao do pas.
As fotos, portanto, suspensas em meio metamorfose, mais do
que o "eis aqui" mtico do novo, exibem a problemtica imagem do
"isto foi", ou seja, a distncia de uma modernidade esquiva que se impe
como proto-histria de nossa reconstruo contempornea. Essas
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3. Prefcio de Agrippino Grieco. Com aparente objetividade, Almir de Andrade observa neste
prefcio posterior guerra que "a doutrina de Nietzsche foi a grande inspiradora do Fhrerprinzip
do pensamento nacional-socialista alemo e de toda a filosofia poltica do Nazismo e do Fascismo."
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Fascismo e imagem
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anamorfose do moderno
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7. Apesar dos elogios de Marinetti, na conferncia da Sorbonne, no sentido de ser o primeiro pintor
do futurismo, ou no artigo para "El Diario", em sua visita a Buenos Aires em 1926, seu principal
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defensor, Xul Solar; argumenta que "no pretende Pettoruti impor-nos uma moda dada, convencendo-
nos de qualquer coisa com a pujana de seu talento. Sua arte est dentro de todo o sculo espiritual
presente. Desta poca em que a arte mais individual e arbitrria do que nunca, no podemos dizer
que seja anrquica. Existe, apesar de tanta confuso, uma tendncia bem definida para a simplicidade
dos meios expressivos, a arquitetura clara e slida, at a pura plstica que conserva e acentua a
significao abstrata de linhas, massas, cor, tudo dentro de uma liberdade de compreenso e composio.
Estas amplas perspectivas novas, este srio esforo de Pettoruti - dissidente por fim - nos ocasionam
um alvio e uma liberao. A valentia desse pintor exemplificar" (PETTORUTI, 1924).
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10. Nas pginas de uma revista fscista brasileira, Portinari invoca as palavras de Stalin para
ilustrar que um artista como Dostoievski foi mais valioso para a revoluo do qu~ o prprio Lenin,
com o que pretende demonstrar a necessidade da arte nos novos imaginrios, populares e modernos.
A poltica de aquisio de obras para os museus apia-se assim em dois exemplos, digamos,
surpreendentes, Mussolini e a Argentina. Ambos compram arte moderna para suas colees
pblicas. Um movimento de renovao nas Belas Artes. "Hierarquia", n. 5, Rio de Janeiro, mar/
abro 1932, p. 188-9. nessa linha que Pettoruti escreve sobre os "Fines y organizacin de los
salones de arte", em "Sur" (set. 1935),
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Rebelo
11. Algumas destas opinies esto recolhidas em suas memrias, "U n pintor ante el espejo" (Buenos
Aires, Hachette, 1968); outras, em compensao, encontram-se disseminadas na imprensa peridica
brasileira. o caso da anotao pioneira de um dos colaboradores de "Martn Fierro", seu ilustrador,
o artista plstico Francisco Palomar (Fapa), que, instalado no Rio, divulga a obra de Pettoruti na
mesma revista que, pouco depois, se interessar pela obra de Le Corbusier (cf. PETTORUTI,
1928). Mas, provavelmente a partir da exposio de 45, retoma o interesse brasileiro por Pettoruti
como o demonstram os artigos de Oswaldo Alves (1945).
12. Contrariando sua tendncia por ntidos contornos realistas, o debut de Rebelo entre os
antropfgos se d com um poema chamado "Matinal" ("Revista de Antropofagia", ano 1, n. 2,
So Paulo, jun. 1928):
Eu abri a janela
e respirei fundamente a frialdade
da manh
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poema como o hiato fundador "da manh". Boa parte do debate sobre o materialismo dramtico da
modernidade estende-se entre esses dois polos, o decadente (o nevoeiro) e o incipiente (a manh).
Basta recordar o fragmento inicial de Ecce Romo nietzscheano com sua tenso entre foras ativas
e reativas.
13. Em "Modernism, Postmodernsm, and Explanation", Frank Kermode argumenta que "it is
surely in this sense - the revaluation of the illexplicit, the rejectioll by one means or allother, of the
cause-haullted past - that we understand the foulldation of the modern, though we have to add that
here, as elsewhere, programs to abolish the past are usually accompanied by llewly created views
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of it - less continuous ones perhaps, more scattered, more open to synoptic viewing, yet offered as
valid pasts ali the same" (BARKAN; BUSH, 1985, p. 370).
14. A. B. (pseud. Antonio Berni). "Veinte artistas brasileos". Latitud, Buenos Aires, set. 1945.
Encontrando-se em 1'vlendoza,Rebelo responde a Berni atrav de uma carta aberta publicada por
"La Palabla" (24 set. 19+5), "Esclarecin~ento sobre um comentrio de 'Vinte artistas brasileiros"';
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"A exposio 'Vinte artistas brasileiros' no particular; veio sob os auspcios do Ministrio da
Educao e do Servio de Cooperao Intelectual do Ministrio de Relaes Exteriores do Brasil,
obedecendo, portanto, a disposies constantes de tratados culturais entre a Argentina e o Brasil.
Responde ao convite formulado em julho de 194+pela Direo Geral de Bellas Artes da Provncia
de Buenos Aires, o primeiro convite que se fuzia aos artistas modernos brasileiros para expor na
Argentina, no Museu de Bellas Artes de La Plata, cujo diretor, senhor Emilio Pettoruti, incluiu
entre os atos oficiais do ano de 1945, o incio de uma srie de exposies de artistas do continente,
com o democrtico propsito de 'aproximar por todos os meios os espritos dos homens representativos
dos povos, e nada melhor do que um intercmbio de obras de arte para servir-nos em nosso
objetivo'. No esta exposio um panorama completo da arte moderna brasileira, mas um
conjunto, como seu ttulo o indica, de vinte valores destacados. Diversos obstculos - por desgraa
sempre se apresentam em iniciativas desta natureza - impediram ao organizador trazer outros
valores destacados; por exemplo: Ccero Dias, que se encontrava em algum lugar da Frana em
guerra; Carlos Scliar, soldado das foras expedicionrias, que lutavam na Itlia; e quanto ao senhor
Segall, de futo o visitei em So Paulo, quatro meses antes do ltimo prazo para a sada da exposio
e, oportunamente, poder ser conhecida a cpia fotosttica da carta do pintor, na qual, com sua
habitual ateno, me informa e lamenta que razes tcnicas impossibilitem sua participao. No
entanto, esses e outros valiosos artistas no foram esquecidos no livro que, sobre a pintura moderna
do Brasil, ser lanado em breve pela 'Editorial Poseidn' desta Capital, com um estudo do
conceituado crtico e professor, Dr. Jorge Romero Brest. Os valores apresentados so vivos e
combativos. Todos se sentem orgulhosos em terem suas obras expostas a seus colegas argentinos,
uruguaios e chilenos, conhecendo a necessidade dessa aproximao urgente, artstica, antes de
tudo, pois ningum ignora que os artistas latino-americanos se desconhecem quase por completo.
E para este preliminar conhecimento que se pode organizar um efetivo e lgico entendimento,
baseado no justo valor artstico, poltico e moral de. cada um. Referente s convices ntimas do
subscrito - sem as quais no lhe haveriam entregue as obras os artistas mais absolutamente
vanguardistas de seu pas em todos os sentidos - so por demais conhecidas atravs da mensagem
conferida pela Associao Brasileira de Escritores para a Sociedade Argentina de Escritores e lido
em reunio especial de amistosa confraternizao, mensagem que foi comentada na imprensa
portenha. Finalmente, em relao aos citados Princpios proclamados pelo Congresso de Escritores
Brasileiros, em So Paulo, princpios que a revista 'Latitud' reproduz em forma destacada cinco
meses depois de sua publicao nos jornais brasileiros, cabe dizer que o subscrito foi eleito
delegado do Distrito Federal a esse Congresso. N ele foi, alm disso, eleito secretrio da importante
Comisso de Direitos do Autor e assinou os Princpios Polticos do Congresso em um dos momentos
mais dificeis da vida pblica brasileira, quando exercia, como ainda exerce, um cargo de comisso
no Ministrio da Educao, o qual depende diretamente da Presidncia da Repblica."
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15. Algumas das peas foram cedidas por colecionadores brasileiros, entre eles o escritor Francisco
Incio Peixoto, do grupo de Cataguases, o crtico Queiroz Lima, editor da revista "Esprito Novo"
do Rio, a atriz Tania Carrero e o prprio Candido Portinari.
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descer do cu uma luz que ilumine o outro lado das suas vidas?"
Quem responde pergunta do narrado r no nenhum leitor
brasileiro mas o pintor Antonio Berni, que multiplica as vidas
possveis de Leniza Mier, em seu quadro de 1945, "Orquestra
tpica". direita da cena, meio marginal, quase caindo do cenrio,
em traje amarelo, que se recorta sobressaindo em meio estudada
correo da orquestra de tango, a cantora, a estrela que sobe. Mas
esta possvel anamorfose, que rene na fico as criaturas que se
opem na vida pblica, abisma-se, insacivel, na fronteira
aparentemente intransponvel da histria. Ela mesma cede, perante
os poderes da fico, e materializa uma nova estrela ascendente,
que faz da mensagem espiritual a razo de sua vida:
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hirtos, trabalhar por uma vida melhor para a classe humilde. Quem
poderia reunir qualidades de compaixo, generosidade, dedicao
infatigvel, amor pelo desvalido e serenidade espiritual para preencher
este vazio? S havia uma pessoa, uma s (DIEZ GOMES, 1945).
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16. A filosofia de Nietzsche no tem maior cotizao no mercado dos valores da filosofia acadmica
e doutoral pela mesma razo que o pathos musical da vida, inspirado por Dionsio, perdeu sentido
e poder em nossas almas e em nossas construes ciclpicas de um saber de alvenaria (MARTNEZ
ESTRADA, 1950, p. 192-4).
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Montevidu
17. Desse esforo interpretativo supranacional derivam as "Diferencias y semejanzas entre 10s
pases de Amrica Latina" (Caracas: Ayacucho, 1990) e, ainda, a '~nlisis funcional de Ia
cultura" (Mxico: Digenes, 1971).
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Emlio Pettoruti - Livro em hranco
(1946-1947)
Jos Alv
(Museu Na'clOnalesdePedrosa - E h-ooL a Plata)
e as Artes
BIs
Carlos Leo - Mulheres (Museu de Belas Artes - La Plata)
Di Cavalcanti - Carnaval
Alberto da Veiga Guignard - Uma famlia na praa
(Museu de Belas Artes - Montevidu)
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18. Alguns anos mais tarde, o crtico argentino Julio E. Payr discursaria na Universidade de
Montevidu sobre o pintor p1atino (cf HEI Pais", Montevidu, 10 out. 1948). Agradeo a PabIo
Rocca a gentil transcrio do esboo biogrfico de Torres Garca.
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19. "Se inaugur Ia exposicin 'Veinte artistas brasileios' en el subte". El Da, Montevidu, 6
out.194S.
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20. "Realizou-se na Argentina pela primeira vez uma exposio de pintura moderna brasileira".
"O J orna!". Rio de Janeiro, 16jan.1946. A entrevista foi concedida a Brito Broca, crtico refinado,
autor de 'Y\.vida literria no Brasil - 1900".
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Leituras
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21. Pretendia, de futo, o autor de Oscarina suscitar uma movimentao cultural brasileira e, para
isso, projetou uma srie de antologias prefuciadas por escritores argentinos. Em carta a Drummond
de Andrade, que este parcialmente revela em sua crnica "Rebelo's news" ("Leitura", Rio de
Janeiro, outubro 1945), confessa a lista. "Na editora Nova, uma antologia de contos; na Schapire,
uma de poemas. Os contistas sero apresentados por Lus Baudizzone e os poetas por Petit de
Murat, todos em traduo de Raul N avarro, conhecido fan das letras brasileiras. No me critiquem
a seleo, adverte-nos Rebelo, o importante que os livros saiam, onde at agora, no gnero, nada
saiu". A contrapartida oficial sero as "Conferncias no Prata" (1946) de Jos Lins do Rego,
evento simultneo de apoio exposio de Rebelo.
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[...] o mundo simplssimo que s criou com linhas me fez sentir com
absoluta imediatez sua profunda mensagem expressiva. Ainda que
dissimule uma estrutura racional, e ainda que parea primitivo ou infantil,
o desenho tem grande riqueza de imaginao expressiva; Guignard brinca
nele com traos de diferentes intensidades, recorre a supemcies cheias,
valoriza os brancos - sobretudo esse dilatado cu que ocupa a maior
parte da folha -, renuncia quase por completo s sombras, e vai escrevendo
com uma caligrafia singular, como se houvesse querido registrar as
menores emoes que as coisas lhe produziam, uma frase terna, de
deliciosa doura. Nos leos agrega-se a este elemento emotivo da linha
a fora espontnea e brilhante da cor, contrastado com maior pujana
que nas paisagens de Tarsila e com uma pastosidade que permite dar
qualidade de objeto-volume s figuras distribudas segundo um sentido
rtmico que produto de uma maravilhosa alucinao ante as coisas.
Mas a cor no se modela em seus quadros nem expresso ntima de sua
rica percepo visual: ainda nos leos o trao estremecido e
aproximativo, o que guia, equilibrando a emoo circunstancial ante as
coisas e o mais rigoroso sentido da construo arquitetnica.
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Dobras e redobres
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22. Inspiro-me, aqui, no brilhante libelo de Gilberto Vasconcelos, "O principe da moeda;' (Rio de
Janeiro: Espao e Tempo, 1997), que interpreta o governo FHC como mostra do capitalismo
videofinanceiro que sepulta, decididamente, o grande fantasma, Getlio Vargas.
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Suplemento de imagens:
de Whitman a Jorge Amado,
passan do por "Macunalma,
/"
e at mesmo Garca Mrquez
23. Caryb - "Carta a Tel Porto Ancona Lpez", datada de Salvador, 22 maro de 1977 (indita).
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Caryb - Brasil
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Suplemento de imagens
Caryb - Brasil
24. Idem.
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Caryb - Luna Muerta I Caryb - Luna Muerta 111
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Caryb - Tflt Whtman I Caryb - Tflt Whtman 111
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Caryh - Descohrmento
Caryb - Ningum
escreve ao coronel
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Amado: tradio e extradio
25. "Ficou a 'Cobra Norato' de Raul Bopp, 'Macunama' de 1\1rio de Andrade, dois romances de
Oswald de Andrade, livros de versos de Manuel Bandeira, Jorge de Lima, Felipe de Oliveira,
contos de Antnio de Alcntara Machado, uns estudos de Ronald de Carvalho e outros de Renato
Almeida. De repente parou tudo, no havia mais nada que destruir". (AMADO, 1934. p.48-51).
26. No mesmo texto, separa Oswald de Andrade do prprio modernismo, argumentando que
"despus de terminado eI movimiento modernista fue cuando Oswald de Andrade se revel con
toda su fuerza de novelista. se es eI novelista dei modernismo" (AMADO, 1936, p. 22). artigo
original teria sado no "Dirio de notcias" do Rio de Janeiro.
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Amado: tradio e extradio
27. Pouco depois, o mesmo jornal "Dom Casmurro" comearia a republicao em fscculos do
romance de Manuel A. de Almeida. Mesmo assim, a observao antecede tanto o clssico ensaio
de Mrio de Andrade '-obre Manuel A. de Almeida quanto a biografia que dele traa o prprio
Marques Rebelo.
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28. E acrescenta: "Foi em 1700. Lima j tinha o ar de hoje, tirando as novas avenidas. J existiam
os balces, os belos palcios, as igrejas maravilhosas. S no existia o palcio de La Perricholi pois
a mestia ainda no havia nascido. N o ano de 39 do sculo XVIII, nasceu ela do casal Jos Villegas,
mestio, e dona Teresa Hurtado de Mendoza Villegas. Micaela cresceu linda e mestia nas ruas
de Lima, de mistura com frades inquisidores e mestios de ndios espanhis. Cresceu e foi atriz.
Mas, por este tempo chegou ao Peru um novo vice-rei enviado por Espanha. Don Manuel de
Amat y Junient se chamava ele. E com esse nome francs o nobre espanhol, sexagenrio, veio se
bater nas terras cheis de ouro do Peru. Porm melhor que o ouro ele encontrou La Perricholi e por
ela se apaixonou e pela sua paixo fez as maiores loucuras. Construiu inclusive o palcio que hoje
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Amado: tradio e extradio
leva o nome da sua amante. Foi o mais lindo romance de uma mulher ftal na Amrica do Sul
espanhola" Cf Amado (2001) - "Ronda das Amricas. 6. Peru". Dom Casmurro, Rio de Janeiro,
9 jun. 1938. Em 16 de dezembro de 1939, o mesmo jornal transcreve um ensaio do historiador
peruano Jorge Basadre a respeito da "Vida intelectual do Peru no tempo dos Vice-Reis".
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29. "Aleijadinho fue un producto natural, si no lgico, de su regin. En toda su obra parece existir
una intencin simblica, que, aun cuando probablemente fue conocida de alguno de sus
contemporneos, no h sido observada por Ia mayora de sus crticos o sus intrpretes. Creo yo que
Ia visin fsica del escultor estaba deformada por su deseo de transmitir por media de una forma de
arte entonces popular-Ia escultura religiosa-un mensaje poltico. Si mi interpretacin de su
obra es correcta, Aleijadinho fue un precursor: como un Greco mulato por sus atrevidas contorsiones
de Ia forma humana, se anticip en dos siglas a Ia obra de Rivera y orozco, de Portinari y Ccero
Dias, artistas modernos latinoamericanos en cuyo arte hay a menudo una intencin poltica simblica
aI mismo tiempo que una tendencia a Ia exageracin, a Ia deformacin, a Ia caricatura". O trecho
aparece, expandido, em "Interpretao do Brasil". '~spectos da Formao Social Brasileira como
Processo de Amalgamento de Raas e Culturas". Introd. O. Montenegro. Rio de Janeiro: Jos
Olympio, 1947, p. 279-314. A rigor, o livro teve uma primeira edio mexicana pelo Fundo de
Cultura Econmica em 194-5.
30. Essa talvez seja a fonte da tese amalgamadora cultural (Aleijadinho/ Gregrio) desenvolvida
por Gilberto Freyre logo em seguida.
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Amado: tradio e extradio
31. "Esa lengua es el gran defecto de algunos libras muy importantes, entre ellos el Macunama de
Mrio de Andrade, realizado sobre el material ms popular posible, como son Ias leyendas
amaznicas, pero escrito en un idioma que el pueblo no entiende. Verboso, poco literario y
antipopnlar. Una creacin artificial que ayud mucho a que Ias modernistas fuesen siempre
enteramente desconocidos del pblico brasileno". (AMADO, 1942, p. 59-64).
32. Em "L 'antidogmatique", sua colaborao para o nmero monogrfico de "Europe" (a. 35, n.
133-134 jan. e fev. 1957), dedicado a Berlold Brecht, Amado parece temperar os arroubos
personalistas da era Stalin. No tive, infelizmente, acesso revista "Para Todos", em cujo nmero
8 (primeira qninzena de setembro de 1956), Amado publicou "O antidogmtico".
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Amado: tradio e extradio
33. ''A solido triste". "Dom Casmurro", n. 116, Rio de Janeiro, 2 set. 1939, p. 2. Quando da
morte de Freud, no final desse mesmo ano, Amado publica um artigo que, nas entrelinhas, refere-
se polmica entre fundadores e seguidores do modernismo. A notcia da traduo brasileira de
"Cincia da natureza humana", de Adler, serve-lhe para opor este a Freud e alimentar, assim, a
polmica que "vinha se refletir no Brasil, atingindo uma violncia inquisitorial pois o admirador do
psicanalista desejava que o livro do psiclogo ficasse desconhecido, no fosse divulgado nem lido"
(AMADO, 1939). As farpas se cruzam, ainda, nos artigos que Mrio escreve sobre "Tradues"
para o "Dirio de notcias" do Rio de Janeiro (13 ago 1939,7 jul1940), porque sabido que
Mrio considerava a traduo de "Dona Barbara", feita por Jorge Amado, um primor de descuidos
formais. Amado defende-se em "Um romancista sul-americano" ("Dom Casmurro", n 131, Rio
de Janeiro, 30 dez 1939), argumentando que procurara "deixar intacta a fora do estilo de
Gallegos e principalmente deixar intacta a fora de vida que precorre todo este grande romance".
34. Sobre o tpico, consultar Almeida (1976) e Antelo (1984). bom relembrar que o anti-
portinarismo vem se confundir com o anti-zeolimpismo. Quando Jorge Amado ainda era publicado
pela Jos Olimpio, admitia colaborar "na mais honesta casa editora do Brasil: a Jos Olimpio
Editora, essa que, sem dvida, revolucionou os mtodos editoriais no Brasil, criando para o escritor
uma outra situao de prestgio que no gozava antes do aparecimento desta editora no mercado
dos livros" ("Dom Casmurro", 14 abro 1938). Porm, aps a polmica do portinarismo, Joel
Silveira identifica o inimigo no zeolimpismo: "O zeolimpismo uma doena meio desesperada:
a doena que se apodera daquele que olha em redor e v que o panorama vai se modificando aos
poucos, que h outra gente aparecendo com mensagem nova e mais honesta - e o jeito tremer e
nzer fora contra" (SILVElRA, 1940). Relembremos que em 1937 Amado est de mudana para
a Martins de So Paulo, ao passo que a Jos Olimpio lana a segunda edio de "Macunama".
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35. No mesmo artigo Oswald acusa Mrio de ter ganho uma sinecura, o Departamento de
Cultura, que vitaminizava suas energias e as de "alguns burocratas ilustres, notadamente, o sr.
Srgio Milliet".
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Amado: tradio e extradio
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36. Resposta a "O inqurito da Revista do Brasil" acerca das tendncias atuais da literatura
brasileira.
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Revista Letura
fre:1de. Im.u!
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lll .
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Em outros tempos, nas conversas dos morros, por vezes uma palavra
surgia, quase desconhecida, e ainda assim j com vrias e diferentes
significaes: comunismo. Podia significar esperana, no dizer de certos
fugitivos da polcia que cruzaram as ladeiras do morro em busca de
rumo; podia significar assassinos e ladres se quem a pronunciava era
um dos homens ricos da cidade, desses que exploram os morros, seus
casebres e habitantes. Mas chegou o dia em que essa palavra foi legal,
deixou de ser pronunciada a medo, e as faixas do Partido Comunista se
levantaram em toda a cidade. E subiram pelos morros, e os habitantes
das ladeiras e das casas miserveis viram que ela significava em verdade
esperana e luta.
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3 7. Poder-se-ia pensar que esse suplemento de carter pardico se atentamos para o fto de Rui
Santos ter sido fotgrafo de filmes como "Moleque Tio" (1943), com Grande Otelo, "O craque"
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(1954) de Jos Carlos Burle, "O saci" (1953) de Rodolfo Nanni, "A sogra" (1954), de Armando
Couto ou "Uma vida para dois" (1953), de Armando Miranda. Rui Santos (1916-1989) foi
auxiliar de Mrio Peixoto em "Limite" e documentarista do Departamento de Imprensa e Propaganda,
durante o Estado Novo ("Debret e o Rio de hoje", "Terra Seca", "Dana", "As misses"). Fez
curtas baseados em msicas de Dorival Caymmi, "A jangada e Itapu". Como militante, Rui
Santos participou, ativamente, dos Congressos de Cinema de 1952 a 1955 junto com o Ncleo de
Alex Vianny, e da Comisso Provisria de Defesa do Cinema Brasileiro. Filmou "O comcio de
Prestes no estdio de So Janurio" e "Marcha para a democracia", um curta que abordava a
viagem de Prestes por So Paulo, Minas e o Rio Grande do Sul. Junto a Oscar Niemeyer fundou
a Liberdade Filmes, que realizou "O comcio de Prestes no Pacaembu" e "Vinte quatro anos de
lutas", uma histria do PCB com roteiro de Astrojildo Pereira. Fotografou '\'\. mulher de longe",
filme de Lcio Cardoso. Fez ainda documentrios curtos, nos anos 50, como '\'\. casa de Mrio de
Andrade" e dois longas nos 60, "Onde a terra comea", um melodrama baseado em Gorki, e '\'\.
doce mulher amada". Seu ltimo filme foi uma adaptao do romance de Lcio Cardoso "O
desconhecido" (RAMOS, 2000, p. 495-6).
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Amado: tradio e extradio
38. Observe-se a diferena com a enumerao anterior, "eleito pelos cortios, pelas favelas, pelas
fbricas, pelas casas-pequenas dos subrbios, por todos os que desejam e necessitam um Brasil
melhor e mais justo", meramente acumulativa, com carter suasrio mais convencional.
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39. Transcrevo, a seguir, a crnica em sua ntegra: "Ao lado das praias maravilhosas, encanto de
turistas ricos, ao lado dos arranha-cus mais altos e luxuosos, de apartamentos de mil e uma noites,
ao lado das avenidas de asfalto com as lojas suntuosas, levantam-se os morros da cidade do Rio de
Janeiro, o pitoresco dramtico da misria, a alegre msica dos sambas brotando da fome e da
doena. Os homens vidos de sensao, chegados de outras plagas nos cruzeiros caros de"turismo,
aps os casinos, as noitadas elegantes, as manhs de sol em Copacabana, os passeios nos recantos
de verdura e beleza, gostam de subir; por desfastio, as ladeiras dos morros para juntar mais uma
sensao de pitoresco s recordaes do Rio de Janeiro. No reparam na misria e na dor, na
dureza das vidas que desfilam nas ladeiras do morro: para eles s existe o estranho daquelas
moradias, os ritmos da msica ainda brbara, lembrando a frica ancestral, as caras pedindo
fotografias. So os exploradores do pitoresco do morro. Os turistas de corao cansado, os literatos
de fcillitentura, buscadores de sensaes que flutuam na superfcie das coisas, dos sentimentos,
das existncias. O morro no antes de tudo o extico e o curioso. O morro o drama, primeiro
a tristeza e a resistncia. Tristeza nascida da subalimentao, das moradias infames, do abandono
e das doenas. Resistncia contra tudo isso, de um povo que no se deixa matar, que transforma sua
desgraa em msica e que marcha para a frente apesar de tudo. Em outros tempos, nas conversas
dos morros, por vezes uma palavra surgia, quase desconhecida, e ainda assim j com vrias e
diferentes significaes: comunismo. Podia significar esperana, no dizer de certos fugitivos da
polcia que cruzaram as ladeiras do morro em busca de rumo; podia significar assassinos e ladres
se quem a pronunciava era um dos homens ricos da cidade, desses que exploram os morros, seus
casebres e habitantes. Mas chegou o dia em que essa palavra foi legal, deixou de ser pronunciada
a medo, e as faixas do Partido Comunista se levantaram em toda a cidade. E subiram pelos morros,
e os habitantes das ladeiras e das casas miserveis viram que ela significava em verdade esperana
e luta. O morro se preparou para receber Luiz Carlos Prestes, o senador eleito pelos cortios, pelas
favelas, pelas fbricas, pelas casas-pequenas dos subrbios, por todos os que desejam e necessitam
um Brasil melhor e mais justo. Ensaiaram os melhores sambas, roncaram as cucas, mas o senador,
esse estranho senador, queria ver tambm, e principalmente, o cotidiano daquelas vidas, as suas
dificuldades e seus problemas. O povo do morro logo compreendeu que Prestes no subia aquelas
ladeiras em busca de novas sensaes para um corao frio e envelhecido. Ia, sim, conhecer os
problemas, ter um contato mais ntimo com essas experincias pobres, ia levar sua palavra de f no
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Amado: tradio e extradio
futuro e suas consignas de luta e de unidade. Depois que ele desceu as ladeiras, aps aquela
intimidade que logo se estabeleceu entre ele e a gente do morro, um novo habitante, ficou entre os
moradores e foi e a confiana. Muitos polticos em vsperas de eleio subiram as ladeiras do
morro, pedindo votos, fizeram promessas. O morro seria depois da sua eleio melhor que
Copacabana, um paraso na terra. O senador do povo no fz promessas. Quem pode resolver os
seus problemas o prprio povo, unido e organizado. Os sambas ganham contedo e as clulas e
os comits e os militantes e os simpatizantes multiplicam-se nos casebres e nas ladeiras. O morro
adquiriu conscincia."
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Amado: tradio e extradio
que se desprende do olhar de Prestes comunica uma luz suave ao seu rosto,
desde as olheiras sombrias e caudalosas at aos lbios apertados num rictus
de dor ... Naquela noite Prestes pronunciou um breve discurso para um
auditrio que se comprimia a dois metros de distncia, e me pareceu to
severo na expresso do pensamento como em seu alinho pessoal
(GUILLN, 1951, p. 6).
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Deleitao morosa:
imagem, identidade e testemunho
Leopoldo Lugones
Arte e vida
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Deleitao morosa
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40. "lI faut done largement tenir eompte dans une telle prvision de l'intervention probable dans
Ia culture commune des lments de couleur. Dans Ia mesure ou de tels lments participeront
I' rnancipation rvolutionnaire, Ia ralisation du socialisme leur apportera Ia possibilit d'echanges
de tous ordres avec les lments de race blanche, mais dans des conditions radicalemnt diffrentes
de celles qui sont faites aetuellement aux negres civiliss d'Amrlque. Or les colleetivits de
couleur, une fois liberes de toute superstition comme de toute oppression, reprsentent par
rapport l'htrologie, non seulement Ia possibilit mais Ia ncessit d'une organisation adquate
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Deleitao morosa
Toutes les formations qui ont 1'extase et Ia frnesie pour but (mise mort spectaculaire d'animaux,
supplices partiels, danses orgiaques, ete.) n' auriaent aucune raison de disparaitre le jour ou une
conception htrologique de Ia vie humaine serait substitue Ia conception primitive; elles
peuvent seulement se transformer en se gnralisant sous 1'impulsion violente d'une doctrine
morale d'origine blanche, enseigne des hommes de couIeur par tous ceux des Blancs qui ont
pris conscience de 1'abominable inhibition qui paralyse Ies collectivits de leur race. C'est seulement
partir de ia collusion d'une thorie scientifique europenne et de ia pratique negre que peuvent
se dvelopper les lnstitutions qui serviront dfinitivement d'issue, sans autre limite que celle des
forces humaines, aux impulsions qui exigent aujourd'hui Ia Rvolution par le feu et par Ie sang des
formations sociales du monde entier." (BATAILLE, 1971, p. 54-6).
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Deleitao morosa
A idia do 'jogo' macabra; o desafio dos mil pontos que um, e somente
um, h de conseguir completar para ganhar - o qu? um "paner"/a
sobrevivncia - me fez pensar, a certa altura do fume, se a inteno do
comediante no ter sido a de nos despertar para a brutalidade da vida
nas condies atuais. Entretanto, envolvidos no ambiente ficcional de
A vida bela, nada nos resta seno torcer - pelo qu! Para que essa
criana seja salva, quando todas as outras foram exterminadas! Somos
poupados de sofrer pelas outras crianas; quase no as vemos - so
figuras distantes. Ningum mais nos interessa, alis. Sabiamente, os
outros prisioneiros so fotografados como parte do cenrio, massa,
sempre em planos gerais, de modo que s a famlia do protagonista
tenha rosto, histria, subjetividade. Os outros, os no-eus, no so
ningum. Seu sofrimento no conta para o espectador. Mas essa criana
- uma criana amada por um pai com o qual o pblico se identifica -,
uma criana que poderia ser o filho de vocs!, se essa se salvar, estar
tudo bem. Torcemos para que Josu vena seu jogo imaginrio,
apostando na sobrevivncia do ltimo valor inquestionvel no quadro
do individualismo contemporneo: a unidade familiar, a pequena clula
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41. Em um debate sobre "EI arte y su tica" ("Clarn", Buenos Aires, 28 feb. 1999), Juan Carlos
Volnovich defende leitura semelhante.
42. Em "Itlia esconde histria pouco conhecida da tragdia" (O Estado de So Paulo, 27 fev.
1999) o professor Andrea Lombardi desconstri a estereotipia bipolar alemo cruel - italiano
cordial, mas lembra, ainda assim, de um episdio recuperado recentemente por Enrico Deaglio
("La Banalit del Bene. Storia di Giorgio Perlasca"), em tudo semelhante ao de Schindler, a
histria do filo-fi-anquista Perlasca, que em 1944 fingiu ser cnsul espanhol em Budapeste para
poder salvar refns judeus.
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Identidade e memria
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Paradoxos do testemunho
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43. No somente Menem que se mescla com ojet-set ou Fernando Renrique Cardoso quem tira
proveito da candidatura de "Central do Brasil" como estratgia unionista e unanipsta em torno de
uma poltica, a de sua moeda, que perdeu toda "centralidade" nacional. Na mesma cerimnia da
indstria cinematogrfica, introduz-se a guerra atravs de dois polticos soldados (Colin Powell e
John Glenn) que ressaltam, precisamente, a ausncia de fronteiras, no mais entre o local e o
universal, porm entre o evento e sua imagem. Mais que no repdio sessentista a Elia Kazan, h
a o sintoma inequvoco de uma localizao deslocante, a mesma que, dias depois, estoura na
guerra formal.
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Referncias
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Referncias
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SBOCI/ FFLCH
RUSP 21,77 265006
PREO:/TOMBO
USP
DISTR. CURITIBA 1 N.F.N 177656
AQUISiO: DATA: 28/11/05
SEO DE: L
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