(Psicologia) - Ernst Kretschmer - Psicologia Medica
(Psicologia) - Ernst Kretschmer - Psicologia Medica
(Psicologia) - Ernst Kretschmer - Psicologia Medica
por
ERNST KRETSCHMER
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deficiência que necessitem de leitores de tela para aceder ao seu conteúdo, não devendo ser
distribuído com outra finalidade, mesmo de forma gratuita.
Editada por
WOLFGANG KRETSCHMER
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Editor:
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processos), ou por algum sistema eletrônico.
Autor:
INDICE
Pref do Editor V
Introdução 1
PRIMEIRA PARTE
ANATOMOFISIOLÓGICO
Sensações figurativas 17
Funções configurativas 24
Formas de automatismo 37
X Índice
A consciência
Impulso
Afetividade
Impulsos básicos
SEGUNDA PARTE
Formas figurativas
Aglutinação da imagem
Estilização
Projeção da imagem
Afetividade da catatimia
Projeção afetiva
Ambivalência e ambitendência
Processos de movimento
Comportamento
Esquemas motores
Sonho
A esfera da consciência
Os princípios da esquizofrenia
Estilização ou esquematização
Movimentos rítmicos
Negativismo e sugestão
Os circuitos
Índice XI
TERCEIRA PA1
INSTINTOS E TEMPERAMENTOS
QUARTA PARTE
O caráter 174
Índice
O desenvolvimento expansivo
O desenvolvimento sensitivo
Psico-biograma
APËNDICE
Sobre a Psicoterapia
2. Trabalho e lazer
5. Psicoterapia da personalidade
6. Medicina psicosomática
Bibliografia
Índice alfabético
INTRODUÇÃO
De anos para cá exige-se uma formação psicológica dos estudantes de medicina. De que forma
porém? Não se pode tratar da psicologia filosófica que proporciona pouca utilidade ao médico.
A Psicologia aplicada a ela ligada se concentra especialmente sobre questões pedagógicas e
profissionais com as quais o médico tem pouco contacto. Tampouco se poderia argumentar
que a psicologia fisiológica servisse de matéria de ensino para o médico. Esta região limítrofe
que abrange especialmente a fisiologia dos órgãos sensoriais e o ensino sobre os centros
cerebrais estava sendo explorada com grande sucesso pela medicina, sem que as questões
psicológicas tivessem sido plenamente exploradas. Se oferecêssemos ao médico somente a
psicologia fisiológica para a satisfação da sua curiosidade deixá-lo-íamos no limiar da porta pela
qual desejava entrar para obter a visão dos processos psíquicos mais elevados, suas evoluções
e reações para a qual a psicologia fisiológica é apenas a ante-câmara.
O médico de espírito aberto sente assim no seu aprendizado uma dupla lacuna. Ele necessita
de uma psicologia surgida da prática médica e que se destina aos problemas práticos da sua
profissão. Isto é o principal. Além disto a busca da psicologia corresponde freqüentemente ao
desejo do médico de penetrar além das quatro paredes da sua competência, na região
espiritual da psicologia do reconhecimento nos problemas éticos e estéticos da vida dos povos,
ligando organicamente seu círculo de pensamentos médicos e de ciências naturais ao horizonte
da ciência espiritual.
A presente "Psicologia Médica" surgiu na consideração destes dois pontos de vista. Tanto a
editora como o autor se esforçaram em dar uma forma concisa e resumida aos assuntos a
serem tratados, O ponto de vista principal, a psicologia na prática médica, ocupa uma posição
central e os problemas espirituais da psicologia foram apenas tratados de leve em certas
circunstâncias. Indica-se o caminho sem palmilhá-lo, pois não se espera de um compêndio
médico-psicológico, que entre nos detalhes da psicologia de reconhecimento, na estética e na
psicologia etnológica.
Uma psicologia médica deve ser viva, oferecendo para cada ponto de vista exemplos práticos.
Não se deve porém restringir a uma apresentação superficial e desordenada de regras e
experiências úteis. A psicologia médica prática deve nascer de uma base sistemática mostrando
o mecanismo básico biológico que se repete sempre para a qual pode ser reduzida a amplitude
desconcertante da rica vida real. A diferenciação do mecanismo básico e do tipo da vida
psíquica já foi tentada em base da história evolutiva aplicando amplamente pontos de vista
anatômico-fisiológicos na medida em que estes se aplicam hoje em dia à psicologia elevada.
Uma psicologia médica serve-se tanto da vida normal como da psicopatologia, o que é
evidente. São os mesmos mecanismos
Introdução
Aparecem em primeiro plano os assuntos de interesse vital para o m psicologia das neuroses,
reações psicopáticas, histeria, estados lim esquizofrênicos e paranóicos leves. A Psicologia das
Neuroses psicologia da alma humana em si, sob forma acentuada e paradigmática. conhece as
neuroses conhece os homens, estando por isto mesmo prepara o ponto de vista médico, para
as exigências psicológicas da sua profiss pois evidente que os pontos de vista afeto-dinâmicos
ocupem um lu destaque, que a apresentação de afetos, impulsos e manifestações de v ocupem
o primeiro plano deixando para um plano secundário a dissecaç manifestações mais elevadas
da inteligência.
Esperamos assim que o esboço sistemático aqui tentado de uma médico-psicológica ofereça
aos psiquiatras e psicólogos um estímulo litando-lhes o ensino clínico psiquiátrico pela
simplificação e reduç mecanismos biológicos básicos. Se o estudante há de tirar o maior p:
de um livro ele deve reconhecer por si mesmo os processos psíquicos ess e os recursos
médicos aplicados nas neuroses, nas psicoses leves e diagnóstico. Uma dissertação teórica e
prática sobre psicologia mé psicoterapia levaria à expansão almejada do ensino médico. Devido
aos conhecimentos prévios necessários este ensino clínico se fará som lado ou depois dos
ensinamentos psiquiátricos.
2
PREFÁCIO DO EDITOR
Reeditar um livro que durante 48 anos foi editado 13 vezes não é tarefa fácil. Apesar das
ampliações e melhoramentos introduzidos, ele conserva os característicos do seu tempo. O
que de início pode parecer um impedimento resulta em vantagens essenciais. A obra abrange o
desenvolvimento científico e social de mais de duas gerações e o representa de uma forma tão
direta que escaparia a uma reformulação. Existem porém outros motivos para esta
reformulação. Trata-se nesta obra de uma contribuição básica e original para a Psicologia e
Psicopatologia, que não exige uma modernização. No que concerne à sua estrutura da matéria
e o progresso de conceitos estabelecidos, seu valor continua inalterado.
Baseado na última edição a linha de pensamentos foi continuada e enriquecida por fatos
adicionais. Nas correções estilísticas, aumento da matéria e anotações adicionais tratou-se
sempre de preservar as idéias e intenções do autor de um modo inequívoco, conseqüente e
absoluto. Temas como:
Causa-me especial satisfação ter incluído aqui, dentro do arcabouço da obra, alguns elementos
importantes deixados na herança científica do autor. Apresentamos como esquema rígido a
"Doutrina psiquiátrica do caráter" esboçada no "Delírio egocentrico sensorial". No capítulo
sobre o tempe ramento, o leitor terá, pela primeira vez, a oportunidade de no conceito do
caráter do autor, tanto sob o ponto de vista da lógica constitucional como da dinâmica
psicológica. O "Psicobiograma" encontrou novamente o lugar que lhe compete de acordo com
as exigências hodiernas. Incluímos ainda nos parágrafos, "Eu e o mundo externo" e
"Psicoterapia", algumas anotações e observações para discussões do autor, bem como
passagens de atualidade de edições anteriores. Com estas alterações, a obra se situa dentro do
nosso tempo, eliminando-se os mal-entendidos em relação à teoria da constituição. Elaborou-
se uma nova bibliografia e o registro de matérias e autores foi ampliado. A edição atual oferece
assim a visão mais ampla sobre o pensamento psicológico
-psiquiátrico básico de Kretschmer. Convém ainda notar que a opinião do editor não é
essencialmente idêntica à do autor, em vista de certas divergências básicas.
"Psicologia médica prática" com exceção das observações feitas sobre a medicina
VI Prefácio do Editor
em dedicar um volume em separado à psicologia médica, mas desistiu de projeto em vista da
sua inviabilidade prática. De pouco adianta de fato quei inserir num espaço reduzido, o campo
ilimitado da diagnóstica e teraj psicológica, liquidando-o por assim dizer em poucas palavras.
Somente o estu de manuais e monografias nos poderá ajudar neste sentido. Tirei então ui
conseqüência radical na certeza de ter melhorado a obra no seu caráter unitár Apesar da
redução de um terço, o livro contém mais fatos essenciais e pon de vista do que antes.
Vale a pena fazer a retrospetiva da origem e tendência teórica "Psicologia Médica". O livro foi
iniciado no tempo áureo da psiquiatria alei situando-se no campo central dos primeiros vinte
anos deste século, sob influxo das correntes extraordinariamente vivas da pesquisa médica de
fa da psicologia e filosofia. Um realismo e otimismo espiritual ingênuos complementavam num
brilho de formulações e ritmo incansável de trabal] Para evitar as armadilhas de argumentos de
choque e para dizer algo concludente necessitava-se de muita aplicação e de uma ampla
cultura individu Entre as personalidades que satisfaziam essas condições destacamos PA
SCHILDER em Viena, jovem psiquiatra de grande saber filosófico e de um espír agudo.
KRETSCHMER era mais intuitivo e criador e menos rigoroso no seu mo de pensar. Ambos
cultivavam uma viva troca de opiniões e eram tidos coi os candidatos mais promissores da nova
geração de psiquiatras.
A carreira tão promissora de SCHILDER porém, acabou na emigração. S livros ainda são dignos
de serem lidos em nosso tempo. No ano de 1924, d anos após a psicologia médica de
KRETSCHMER, "sua" psicologia foi publica A estreita comunhão espiritual dos dois
pesquisadores que se completav maravilhosamente ficou assim patente. SCHILDER se apoiava
mais na psicoanál sem se fixar nela. O autor manteve contatos muito férteis com out:
mostram os conceitos básicos e os esboços do sistema. Eles constituem o centro feliz entre
construções complicadas somente manejáveis pelos peritos e da simplificação inadequada da
qual sofremos hoje em dia. A sistemática presente serve de mediador entre a psicologia de
motivos e a psicologia fisiológica, que se hostilizam devido ao fanatismo de muitos
psicoanalistas e teóricos de comportamento. A ponte lançada entre os dois pólos é constituída
pelo fato de KRETSCHMER reduzir os fenômenos psíquicos do seu conteúdo para sua forma,
quer dizer sua estrutura. Estas não são tão abstraídas como os modelos fisiológicos, mas
suficientemente complexos para se adaptar ao conceito vivo.
Com esta multiplicidade e equilíbrio do ponto de vista que cria um amplo horizonte chegamos
à finalidade do presente livro. Seu intento não consiste em colecionar e amontoar um número
excessivo de fatos modernos. Algumas áreas psicológicas importantes são mencionadas de leve
apenas (a psicologia guestáltica, a teoria do campo e da aprendizagem, etc.). O autor e o editor
visam apenas transmitir dentro das perspetivas fundamentais o conhecimento generalizado da
psicologia biológica, o que ajuda a explicar e compreender numerosas observações e de julgar
criticamente teorias psicológicas diferentes. Esta harmonia existente entre a teoria do
reconhecimento, a ciência, fisiologia, morfologia, caraterologia psiquiatria e teoria cultural
constituem o encanto e a originalidade deste livro. Sem tomar em consideração suas limitações
materiais e de pensamento que possibilitam explicações mais detalhadas em casos isolados,
ele proporciona uma rica fonte de informações para o estudioso.
WOLFGANG KRETSCHMER.
PRIMEIRA PARTE
SUBSTRATO ANATOMOFISIOLÓGICO
1º. CAPÍTULO
Tudo aquilo que vivemos e que não sentimos como EU é o mundo exterior. Não podemos saber
e nunca saberemos provavelmente se um mundo exterior existe fora da nossa vivência. Ë
importante saber e compreender que tudo que pesquisamos nas ciências naturais constitui um
atributo da nossa alma e não os objetos em si. Cores, tonalidades, calor, movimentos assim
como plantas, animais e pedras refletem apenas as impressões dos nossos sentidos. A experiên
cia nos transmite apenas impressões visuais, auditivas e táteis. "O olho produz
6 Da Essência da Alma
a luz e o ouvido os sons, fora jamais poderemos saber de nós, eles não existen nós lhes
emprestamos tudo" (LICHTENBERG). Se existisse fora da nossa exp riência, fora das nossas
sensações, "a coisa em si" (KANT), um mundo md pendente, que ainda existiria se nossa psique
desistisse de criá-lo.
Isto não nos deve causar dor de cabeça. Basta verificar que "dentro" d nossa vivência, o mundo
se separa para nós em duas zonas: o "EU" e o "Mund Exterior". Querendo formular esta
separação sob o ponto de vista do El em palavras (Solipsismo) diríamos: O EU cria pela sua
própria força o Não-El (FIcHTE). Tudo que experimentamos se passa no EU. Parte dessa
experiênci é projetada para fora do EU como se existisse como mundo exterior fora c si mesmo.
Podemos também tentar a formulação no sentido inverso, partind do mundo exterior: Um
homem que nascesse surdo, mudo e cego, sem possu o tato, jamais desenvolveria uma vida
psíquica ou um EU. A alma é mui mais do que uma função dos órgãos do sentido e do cérebro,
ela é, pa:
Um conceito arcaico e ingênuo materializou a alma como sendo ui substância vaporosa que
habita o corpo. Desse conceito surgiu então aqu que costumamos chamar de "Dualismo" numa
formulação filosófica, ou s a imaginação que corpo e alma sejam duas instâncias
independentes liga intimamente mas não inseparavelmente entre si no sentido de um efeito
recíproco ou do paralelismo psicofísico. Este dualismo contrasta com o monis:
estudamos seus resultados com a necessária conseqüência. Devemos ter presente até que
ponto a assim chamada matéria tem sido desmaterializada e materiali zada pelas ciências
naturais.
Enfim: nossos conceitos contrastantes da alma e do seu lugar no conceito moderno do mundo
se encontra numa fase transitória, na qual os conceitos antigos não satisfazem mais e os novos
carecem ainda de uma definição melhor. Esta incerteza se reflete de modo prejudicial sobre a
pesquisa psicológica Cientes da contradição interna misturamos às vezes os conceitos
monísticos modernos que partem da unidade da experiência empírica e que enxergam na
separação entre alma e matéria a experiência dos dois lados de um só problema, como os
componentes de uma expressão dualista antiquada. Torna-se impossível por exemplo, explicar
a relação entre o cérebro e a alma senão como forma de um "efeito recíproco" dualista entre
duas instâncias independentes, sem incorrer em abusados requintes lingüísticos.
O ponto de vista mais aceitável ainda é o de um monismo crítico espiritual que reconhece, sob
a ênfase de uma última unidade de todas as coisas, o primado indiscutível do psíquico sobre o
material, pressupondo que imediatamente, somente o psíquico se abre ao nosso
conhecimento. Aquilo que chamamos de matéria nos aparece sob este ponto de vista como
um conceito estranho dentro do psíquico, ou seja a contemplação da realidade sob outro
ângulo mas não como algo que seja separado em princípio do psíquico. A tese de que somente
o EU existe como sujeito reconhecível, e que é muito radical, é insustentável.
O monismo espiritual nos leva inevitavelmente a uma forma do Pan teismo, à crença de uma
alma onipresente, um espírito mundial como unidade que abrange tudo e que se exprime em
cada dos seus componentes como parte de si mesmo. Este monismo panteístico acompanha
como "lei motiv" o desenvol vimento do pensamento do mundo ocidental de SPXNOZA a
LESSINO, GOETHE e SCHELLING. Na forma dada por GOETHE e SPINOZA ele age pela sua
densidade, unindo o pensamento científico puro com um aprofundamento ético e uma
intensidade religiosa.
Voltemos então à vivência direta, ou seja à alma. Veremos então que as duas unidades básicas
"EU" e "Mundo Exterior" não são claramente separadas mas que flutuam e se unem nas zonas
limítrofes, O centro da consciência do EU é constituído pelo ponto imaginário atrás de tudo
que experimentamos. O próprio corpo se agrupa em redor desse centro como representante
exclusivo do EU. Mas seus componentes nem sempre possuem o caráter do EU. São o EU
enquanto são sentidos como um complexo em conjunto. Eles podem, entretanto, ser isolados
pela consciência que os contemplam, ser materializados e podem ser considerados não como
EU, mas sim como um espécie de propriedade do mesmo. Nos dizemos "minha mão", "meu
dedo" do mesmo modo como dizemos "meu chapéu" ou "meu relógio". Para as partes do
corpo que não são ligadas a ele de modo sensível ou motor como as pontas do cabelo, as
unhas, as secreções, a qualidade do EU diminui e se torna negativa na medida em que perde
sua relação no espaço. Essas partes do corpo formam na consciência, a passagem para os
objetos vizinhos como a roupa que já é sentida como mundo exterior, mas que ainda emanam
uma certa consciência do EU quando dizemos p. ex. "ele me tocou" quando somente a roupa
foi tocada.
8 D Essência da Alma
Vemos assim que existe uma série de coisas referentes ao próprio corpo e seu ambiente que
pertencem à zona marginal entre o EU e o mundo exterior e que segundo a nossa consciência
são registradas como EU ou NÃO-EU. Este fato é de grande importância para a compreensão de
muitos estados da alma às vezes anormais:
2. Esta vivência se divide nos 2 pólos EU e mundo exterior. Estes complexos de conciência "EU"
e "Mundo Exterior" se cobrem em largas zonas
limítrofes.
4. Ao lado desses processos podemos ainda mencionar como 3" grupo de fenômenos
psíquicos, a afetividade. Ela abrange tudo que acompanha os processos psíquicos no seu
caminho da mais simples impressão sensorial e imagem através das impresões e raciocínios
abstratos, até a decisão e os impulsos de escala de sentimentos, quer dizer de valorizações
para o EU e os impulsos que deles emanam tais como: Os sentimentos mais simples de prazer
e desprazer, de entusiasmo ou indiferença assim como os senti mentos complexos de amor, ira,
medo, ódio, desejo. As funções descritas na III parte como "Impulsos e Temperamentos"
pertencem à afetividade.
Antigamente, quando se falava das relações das funções psíquicas com o seu substrato
corporal a fórmula "Cérebro e Alma" parecia impor-se já que os processos corporais oriundos
da psique eram exclusivamente atribuidos ao cérebro. Mais tarde esse conceito foi reduzido
para "Substância cinzenta e Alma", descobrindo-se em primeiro lugar as relações de certas
regiões do grande cérebro com os processos mais elevados de percepção e fala e da
decadência geral até a debilidade mental.
duplo sentido.
O interesse se concentra, além do córtex cerebral, que é mais recente, no sistema límbico e ao
tronco cerebral o que se reflete na teoria dos equivalentes psíquicos de um modo decisivo. As
pesquisas (Psiquiatria atual vol. 1/lA) levaram aos seguintes reconhecimentos: os fatores
essenciais para uma vitalidade mais elevada e para a personalidade (funções da consciência,
vida instintiva, e afetividade) têm sua representação cérebro-fisiológica não somente no
cérebro e na região do tronco cerebral. Ao núcleo central da personalidade correspon. dem
então, cérebro-fisiologic falando, o sistema límbico, os núcleos talâmicos, e o hipotálamo
enquanto que o cérebro alto seria rebaixado a uma espécie de instrumento complicado do
mesmo, um aparelho para registros diferenciados de produção singular. Não resta dúvida que
uma inversão das perspetivas é fascinante, tanto mais que essa contemplação não é
teoricamente forçada, mas corresponde a pesquisas recentes. Devemos ter em mente que a
Provou ser insuficiente a redução da correlação psíquica sobre o cérebro. A pesquisa nos
mostra de um modo convincente a influência determinante que as glándulas endócrinas
(tireóide, glândula sexual, epífise, hipófise e cápsula suprarrenal) exercem sobre a vida
psíquica, através do sistema nervoso, especial mente o "Temperamento" (afetos e impulsos).
Como as hormônicas e o dien céfalo se encontram entre si, num efeito recíproco, no sentido de
um círculo de sistemas superiores e que se regulam mutuamente, a antiga "Teoria Celular" de
uma correspondência corporal-psíquica havia de ser mudada em favor de uma
correspondência funcional (humoral e condutiva), "Teoria Humoral" e con dução de impulsos.
Ao contemplarmos sob um ponto de vista mais elevado o organismo total não existe um
contraste absoluto entre "forma" e "função". No meu livro, "Constituição e Caráter"
demonstrei que a morfologia do corpo nos facilita o acesso às constantes funcionais mais
exatas do organismo numa forma mensurável, prestando-se por isto ao estudo das correlações
dentro da personalidade total psicofísica.
Ligado aos pensamentos neovitais (DRIESCH, 1914 entre outros) E. BEULER (1925) se opos a
uma separação esquemática entre o psíquico e o não-psíquico respetivamente entre o psíquico
e o físico. Ele nos mostra que ignoramos tudo, tanto no sentido positivo como no negativo
sobre as funções conscientes nos processos puramente físicos (como por exemplo da
consciência inerente a alguma célula isolada ou grupos inferiores de células). Todos os
processos da vida são ligados à psique num sentido mais íntimo em graus maiores ou menores:
1. as funções mnésicas (SÉMON 1920) ou seja a capacidade de armazenar e reproduzir as
impressões de estímulos antigos; 2. a capacidade da integra çíío ou seja a junção de tais
impressões para unidades ativas maiores e 3. a utilidade de tais junções: o princípio
teleológico. BL denomina e une os princípios vitais comparáveis a,o psíquico sob a
denominação de "psicóides". A psique no seu conceito mais íntimo é para ele um caso especial
e diferenciado da psicóide, quer dizer, de uma substância viva do universo. Tais formulações se
ligam numa execução biologicamente precisa aos pensa mentos metafísicos de LEIRNIZ e
SPINOZA. A acentuação da unidade entre processos "psíquicos" e "puramente neurológicos
físicos" se adapta melhor aos mecanismos cerebrais complicadamente interrelacionado e de
estrutura gra
duada do que a alternativa rudimentar de: o psíquico de um, o não-psíquico do outro lado.
Trata-se de desenvolver a ciência das funções cerebrais, pelos sintomas de supressão nas
lesões de determinadas e circunscritas partes do cérebro. Já possuímos conhecimentos
valiosos sobre a localização de sintomas de disfunção do cérebro. O lado negativo está bem
consolidado enquanto que o positivo é algo hipotético e discutível. Perguntamos: qual é a
função positiva da parte não atacada do cérebro cujos distúrbios são denunciados por vários
sintomas? A dificuldade da resposta se prende à peculiaridade da estrutura do cérebro, a
graduação de instâncias superiores e inferiores e a coordenação correlativa e vicariante das
diversas partes do cérebro (BETHE 1931). A convulsão epilética por exemplo era considerada
como sintoma de irritação que era considerado como "centro convulsionante". Perguntou-se
em seguida: será que a convulsão é um sintoma de irritação e não da paralisa çao, da
eliminação do córtex cerebral? A lesão do córtex não suprime a inibição de um centro sub
cortical mais profundo que por sua vez provoca a convulsão? E se assim for, qual dos centros?
Este exemplo nos mostra a complicação básica de todas as questões de localização do cérebro
e que se repetem nos fenômenos de pertur bações psíquicas, em relação a certas regiões
cerebrais. Nas explicações seguintes ater-nos-emos de preferência aos negativos comprovados
da fisiologia cerebral. Quando falamos em localização, centros, etc., referimo-nos aos centros
de dis túrbios. Pelos impulsos experimentais que provocam atividades, como movi mentos por
exemplo, as funções clínicas negativas são complementadas de um modo muito valioso,
esclarecido e comprovado. Devemos considerar entretanto que o impulso da corrente dos
eletrodos numa parte do cérebro, constitui uma intervenção perturbadora e um caso limítrofe
doentio. O "sujeito" não con seguirá deste modo e a partir de um pequeno ponto, sua
produção psíquica e motora.
10
Da Essência da Alma
Explicações do Editor:
a) Um homem inteligente e bem equilibrado saberá julgar a situação geral de relance e - se lhe
sobrar o tempo necessário - tomará uma atitude de defesa ou de fuga, pensando e agindo num
só ato, por meio de uma série de reações psicomotoras motivadas e em consonância com a
situação.
b) Se o susto for porém repentino e forte demais e em se tratando de um indivíduo lábil, este
não reagirá por motivação mas por reflexo, que não é guiado por um EU superior decorrendo
segundo um esquema premoldado complexo e ontológico. Costuma-se falar em síndrome de
susto e pânico ou reações histéricas.
12
Da Essência da Alma
Nas histerias motoras demonstra-se freqüentemente por meio de experiên cias terapêuticas
que a engrenagem da personalidade profunda e a engrenagem racional e voluntária não se
processam lentamente e logicamente mas sob a influência de certos estímulos chave, como se
a gente acionasse um comutador elétrico. A segunda embreagem poderá sob certas condições
substituir por completo a primeira dependendo de observações cerebrais-fisiológicas mobili
zando os agregados já formados da pessoa profunda (p. ex. ações de impulso) de determinados
lugares do diencéfalo respetivamente nas partes localizada3 perto do tronco cerebral do
cérebro básico.
O conceito de Personalidade profunda que formulei segundo F. Ki (1919) não é apenas uma
orientação heurística mas, substanciado pelas pesqui sas de base de vários lados. Ele abrange
sistemas funcionais psico-físicos (psico.
Guiamo-nos pelo fato que obtivemos em experiências de reação no mesmo tipo constitucional,
freqüentemente curvas idênticas, tanto na psicomotricidade como no aparelho vegetativo e
nas reações afetivas, ou com outras palavras, que a psicomotricidade, o vegetativo e o
processo do afeto são guiados de modo semelhante.
os
1. involuntários,
2. coordenados psico-fisicamente e
("Involuntário" significa aqui que estas manifestações não são diretam racionalmente
manipuláveis segundo a vontade.)
Elas têm sua origem em estímulos corporais ou motivos que as provocam não em reflexões.
2.° CAPÍTULO
PERCEPTIVO
13
2º. CAPÍTULO
Todas estas formas sensoriais servem basicamente para a orienta çao do organismo individual
no mundo ambiente, para a conservação e aprimoramento da sua vitalidade, possibilitando os
movimentos certos, em face a estímulos vantajosos ou nocivos. O "sentido" biológico do
rendimento sensorial-perceptivo somente pode ser descrito em conexão com a "Motricidade".
Uma sensação olfativa por exemplo não obedece a nenhuma necessidade biológica, mas no
animal por exemplo ela servirá para uma aproximação motora a um objeto de alimentação ou
de cópula, ou seja, uma ação automatizada guiada pelos instintos. Uma sensação de dor ou de
calor tem seu "sentido" na reação provocada, seja a fuga ou a defesa diante de um objeto
nocivo. A visão e o olfato exercem a mesma função de um modo mais complicado e
egocêntrico. A impressão sensorial poderá somente ser desligada da sua obrigação vital num
plano humano, tornando-se auto-suficiente, como valor estético por exemplo. Aqui aparece
novamente a diferença entre personalidade e personalidade profunda.
O papel que as formas sensoriais desempenham na organização da vida psíquica varia muito
entre elas. Devemos considerar as relações íntimas entre a "sensualidade", afetividade e
instintos assim como as funções dos sentidos como base para os processos mais elevados: a
imaginação e o pensamento. Em ambos os lados as regiões sensoriais são representadas em
diversos graus de intensidade, o que nos permite dizer que as qualidades sensoriais menos dife
renciadas possuem relações imediatas com a afetividade, enquanto que os sen tidos
participam em maior grau e escalas mais complicadas de sentimentos na estruturação do
mundo imaginativo, como no conceito de espaço e tempo. Não existe porém nenhuma
fronteira delineada. Os "sentimentos comuns" que se abastecem dos sentimentos difusos
internos e externos do corpo inteiro pertencem ao grupo de sentimentos "de parentesco
afetivo", assim como sen sações de temperatura e dor, olfato e paladar. Ao segundo grupo dos
sentidos sensoriais com pronunciada "formação imaginativa" pertencem as duas mais elevadas
sensações de visão e audição com as quais colaboram essencialmente as sensações
diferenciadas do tato, músculos e membros, na imaginação do espaço, por exemplo. Além
disto elas possuem no seu caráter sensual direto, luzes, cores e sons - uma relação viva com a
afetividade.
É característico que sentimentos de parentesco afetivo, sob o ponto de vista psicológico, num
só processo de vivência se apresentam como "sensações" e "sentimentos". No vocabulário
psicológico convencionou-se chamar de "sen timento" os processos afetivos, e de sensação o
que se refere ao processo sensorial elementar. Esta convenção prática não modifica em nada o
verdadeiro parentesco dos dois grupos psíquicos. C. STUMPF (1928) pensa identicamente ao
falar de "sensações de sentimento".
A sensação de dor pode servir como exemplo: podemos definir que a dor
uma sensação de dor (b). A verdade vivida porém é outra: não é "b" que acompanha "a" mas
"b" e "a" são idênticos naquilo que nos transmitem. A dor como fenômeno é tanto sensação
como sentimento. Este conceito é de impor tância básica para nosso pensamento fisiológico,
por exemplo em relação à função do tálamo. A separação rígida entre sentimento e sensação é
usada como abstração, e não cabe no grau da vivência. Somente na diferenciação maior da
percepção e imaginação o conteúdo e o afeto entram numa relação independente e variável,
podendo ser contemplados em separado. O aspecto "casa" por exemplo ou sua imaginação
não precisa ser acompanhado de um afeto acentuado. Num caso positivo e de acordo com o
relacionamento pro duzem-se os afetos os mais variados.
O "sentimento comum" é conforme WUNDT "o sentimento total no qual se manifesta o nosso
bem ou mal-estar sensorial". Este sentimento comum absorve os componentes de todos os
sentimentos afetivos congênitos; impressões de superfície, de pressão e posição, de coração e
intestinos, olfato e paladar até as impressões difusas de luz, cores e sons. Deste conglomerado
de qualidades sensoriais parcialmente apenas percebidas se dá o corte transversal do nosso
bem ou mal-estar atual que do seu lado é a soma dos sentimentos e o grau de afeto.
fome, sede, excitação sexual cuja unidade fenomenal pode ser classificada como
Qual é pois a base fisiológica-cerebral de todos estes fenômenos e as ati tudes impulsivas que
daí derivam? De acordo com tantos outros pesquisadores podemos supor que todas as vias
sensíveis e sensoriais que vão da periferia ao cérebro se focalizam no "Tálamo ótico".
Oticamente visto o Tálamo forma um grande centro de comutação para todas as vias sensoriais
que se irradiam para seus campos de projeção no córtex cerebral: o córtex visual no lobo
occipital, o centro auditivo, no lobo temporal, na esfera sensorial do corpo, na circunvolução
central posterior. Concentra-se provavelmente no tálamo a "imagem sensorial do corpo" ou o
esquema corporal, quer dizer a imaginação de tamanho, forma, posição e movimento do
corpo. Aqui encontram-se igualmente centros afetivos e da motricidade da fala (risada,
impulso para
16 Percepçao Sensorial e Estrutura do Mundo Perceptivo
falar). O tálamo fica vizinho dos núcleos opto-estriados e ocupa no sistema sensível-sensorial
como parte mais antiga do cérebro e outros centros mais diretamente ligados entre a periferia
e o córtex cerebral, uma posição seme lhante como aqueles no sistema motriz.
A pesquisa das funções fisiológicas do tálamo está em estreita ligação com os problemas a
serem discutidos sobre as pesquisas do tronco cerebral, a pesquisa do sistema nervoso
vegetativo e a importância básica da relação entre o tronco cerebral e o cérebro, O tálamo
forma junto com o hipotálamo (sistema nervoso vegetativo) e o sistema límbico (veja página
49) aquela parte do cérebro onde os diversos sentimentos recebem sua tonalidade e
emotividade. Aqui se encontra o substrato da dor e talvez também do prazer enquanto que o
córtex cerebral é essencial para a localização e reconhecimento da percepção. De mais a mais,
o tálamo é o ponto de baldeação do qual os impulsos dos neurônios sensíveis passam aos do
sistema vegetativo. Segundo este conceito o tálamo e suas regiões adjacentes seriam a central
principal das funções sensíveis-sensoriais e por conseguinte dos afetos afetivos elementares a
ela inseparavelmente ligados (percepção comum e vital). Todo o sistema forma ao mesmo
tempo uma espécie de arco reflexo para reações visceral-afetivas e impulsivas e num sentido
mais amplo uma central intermediária para a composição do processo esquematizado e
sensomotor da vida dos instintos.
Os profundos estudos sobre a sensibilidade realizados por HEAD (1911) já levaram a conceitos
semelhantes. Nos distúrbios focais no tálamo ele encon trou além dos distúrbios de
sensibilidade, uma tendência de reação exagerada contra impulsos desagradáveis sem que
fosse diminuído o valor limiar do estímulo doloroso. O mesmo estímulo se fazia sentir com
maior intensidade do lado doente. Chegou-se a estranhas mudanças hemilaterais da
emotividade ou seja da disposição afetiva de estímulos sensíveis e sensoriais. "Um dos nossos
pacientes foi incapaz de ocupar seu lugar na igreja porque não podia agüentar o canto do lado
adoentado" - enquanto durava o canto ele esfregava a mão doente. Um outro foi assistir uma
sessão comemorativa da data do falecimento do rei Eduardo VII. Quando o coro começava a
cantar "apoderou- se dele uma sensação horrível do lado afetado e sua perna ficou sendo
agarrada e sacudida". Um paciente muito culto nos confessou que desde o ataque que tornara
a metade direita do seu corpo mais sensível a impulsos agradáveis ou desagradáveis, sua
ternura aumentara. "Tenho o desejo pronunciado de colocar minha mão direita sobre a
epiderme suave de uma mulher. A mão direita exige consolo, parece que do lado direito busco
sempre simpatia... Minha mão direita parece ter um dote mais artístico". A metade talâmica do
corpo afetado reage, segundo HEAD, com maior intensidade ao elemento afetivo em relação a
impulsos externos ou estados inter-psíquicos. Existe uma sensibilidade aumentada contra
estados de prazer ou desprazer. KÜPPERS (1922) o exprime de modo pertinente da seguinte
forma: "O paciente atacado de uma doença do tálamo unilateral tem uma alma diferente do
lado esquerdo do que do lado direito; de um lado ele é mais carente de consolo, mais sensível,
artístico, saudoso, do que do outro lado. Sem querer entrar em maiores detalhes citamos aqui
de modo resumido o conceito de HEAn sobre a função do tálamo: "Acre ditamos que o órgão
principal do tálamo seja o centro de consciência para certos elementos do sentimento. Ele
responde a todos os impulsos capazes de provocar prazer ou des prazer ou a sensação de uma
mudança no estado geral do paciente. O tônico dos sentimentos de sensações somáticas ou
viscerais é
Sensaçôes Figurativas
o produto de uma atividade talâmica". Como somente a 8. parte do tálamo serve para
transmissão espinha-cortical de sensações, podemos supor que os sentimentos elementares
citados por HEAD se ligam a lesões simultâneas de regiões vizinhas.
SENSAÇÕES FIGURATIVAS
17
e decisivos da soma das sensações corporais difusas) ficam enriquecidos por qualidades
elementares de luz, cor e som do ambiente, sem que estes fatores ulteriores fossem
necessários. Uma sensação vital como fome, ou excitação sexual pode provocar a imagem ótica
de determinado prato ou de um compa nheiro sexual, sem que essas sensações se alterassem
significativamente com a ausência do respetivo correlato ótico. Mesmo para efeito motriz a
sensação de fome p. ex. não precisa de uma sensação imaginativa e material dos objetos
exteriores, mas apenas a orientação através de certas qualidades difusas de olfato, paladar e
consistência.
Já vimos quais as sensações dos sentidos que se aplicam ao processo da imagem: Ao catalogar
as sensações em imagens e relações espaciais, ou seja na evolução para as imaginações do
espaço, a dominante é a sensaçao da visao em íntima colaboração com as sensações de tato e
posiçao sendo que estas últimas permitem um conceito mais desenvolvido do objeto, mesmo
sem o controle da visão (no caso de cegos ou no escuro).
A imaginação do espaço se origina do fato de que, o indivíduo é capacitado a unir com a visão
e o tato das superfícies da epiderme, uma grande quantidade de estímulos isolados num ato
só. Parece que as impressões isoladas se dife. renciam de acordo com o local no qual são
provocadas, pois sabemos diferenciar entre dois contactos de epiderme limítrofes. Esta
diferença de sinais sensórios originados de pontos distanciados do corpo foram tomadas como
qualitativos (o que não é comprovado!) denominando-a de sinal local. A distância que separa
dois estímulos isolados que agem juntos, chama-se limiar do espaço. O limiar é em certas
partes do corpo que permitem uma diferenciação sensorial mais exata (as pontas dos dedos ou
a retina do olho) menos desenvolvida. A distância do estímulo sensível é mais reduzida do que
em outras regiões do corpo. Daqueles dois fatos, a recepção simultânea e a diferenciação entre
muitos estímulos resulta a base para uma coordenação recíproca destes estímulos no sentido
de um campo visual, respetivamente campo tátil e por conseguinte de imaginação bi-
dimensional do espaço. Para o desenvolvimento da tri-dimen sionalidade do espaço podemos
citar diversos fatores experimentais como por exemplo o estereoscopo que provoca o efeito do
assim chamado eixo parral binocular (a cobertura pouco exata da imagem da vista esquerda e
da direita) e as sensações musçulares provenientes do movimento convergente dos olhos. Para
se obter a tri-dimensionalidade do espaço e a imaginação de "objetos" torna-se indispensável
a sensação de movimento (músculos oculares, extremi dades, articulações), para se poder
tatear de todos os lados. Todos estes fatores aqui alinhados das sensações de visão, tato e
movimentos ainda não perfazem a imaginação de objetos e espaço em si. Somente o trabalho
coordenador e unificador do subjeto leva à "percepção".
18
Os impulsos do mundo exterior se alinham no ouvido de uma outra forma. Ele participa da
imaginação temporal que é favorecida pelos impulsos rítmicos do corpo, como no andar por
exemplo, o que WUNDT já ressalta. Mais impor. tante porém para a imaginação temporal é
função mnemônica do cérebro que permite uma ligação em paralelo de engramas de
intensidade variada ao lado das impressões novas gradualmente mais fortes. Neste fator
quantitativo de graduação da memória mais recente das imagens interiores (simultaneamente
como marcos de distância) baseiam-se talvez as imaginações da duração da memória. A
fraqueza da memória de fixação de KORSAKOFF nos mostra que a imaginação temporal é
intimamente ligada à integridade das funções de referência e de memória, e que desaparecem
em lesões graves das mesmas. Quando por graves comoções afetivas (luto, choque) a escala
natural da inten sidade da memória é interrompida no sentido de um enfraquecimento retró
grado, a exatidão de medir o tempo sofre consideravelmente.
O sentido da audição ganha entretanto sua importância máxima para a vida psíquica mais
elevada, como fator central do desenvolvimento da língua. É somente pela linguagem que o
princípio se desenvolve e representa o instru mento mais delicado do nosso pensamento: o
principio da abstração ou seja a formação de conceitos sensorialmente imperceptíveis. Trata-se
pois da redução das imagens do mundo exterior em traços essenciais e sua redução em
conceitos mais condensados, por conceitos mais elevados; trata-se da classificação horizon tal
e vertical (subsumação, coordenação) dos conceitos e categorias lógicas (identidade, não-
identidade). Disto fazem parte as relações de pensamento:
Chamamos de grau con figurativo o vo'ume em que os impulsos isolados, absorvidos pelos
nossos órgãos sensoriais e processados pelo sistema nervoso, se agrupam e diferenciam no
consciente. A formação preparatória não se processa nos órgãos sensoriais, sendo antes uma
função do córtex cerebral. O olho em si não capta, casas, árvores, nuvens, mas fornece apenas
a matéria-prima, as qualidades sensoriais básicas, claro, escuro verde, amarelo etc.
Consideramos o grau configurativo que as nossas impressões sensoriais alcançam numa ordem
de espaço e tempo numa abstração de diversos graus de intensidade e conotação lógica.
Ao lado disto captamos os produtos do processo de repr numa segunda escala u seja pelo grau
da "realidade". Uma imagem que surge em nós como atenas pensada como imaginação, ou
como vista ou ouvida de fato é tratada como "percepção". Ligam.se aqui duas séries diferentes
de qualidade, de um lado a "localização" da imagem no interior da nossa cabeça ou no mundo
exterior. Diferente deste "subjetivo" ou "objetivo" é o "juízo da realidade" ao nos
perguntarmos até que ponto a imagem seja verdadeira. Nem sempre os dois juízos podem ser
diferenciados assim por exemplo na relação mística com o mundo, especialmente nos
esquizofrênicos que tomam uma voz interna como verdadeira e vindo de fora ou que
consideram algo de interno como dependente do EU conforme STORCH (1922) e REIss (1921) o
verificaram no
estádio inicial. O grau de realidade das imagens que surgem em nós depende ainda de fatores
quantitativos, do número e da precisão dos detalhes. A ímaginaçao "casa" é muito menos
sensorial e carece muito mais de detalhes do que a percepção "casa". Isto se nota
especialmente quando se reproduz objetos complicados pela memória ou pela própria
natureza. Todas estas questões de relação entre o EU e o mundo exterior, da realidade da
projeção e introjeção desempenham um papel importante na psicologia étnica e na
psicopatologia. É importante saber que a suposta separação básica (JASPERS 1946) entre ima
ginação e percepção não se pode confirmar pela experiência psicológica e que, segundo a
opinião da maioria dos pesquisadores, deve haver uma escala con tinua de transição entre
ambos. (JAENSCH 1923). Pacientes esquizofrênicos por exemplo, por mais inteligentes que
sejam muitas vezes não sabem dizer se têm pensamentos vivos ou se vivenciam coisas vistas e
ouvidas.
Uma importância básica deve ser atribuida às séries experimentais extensas de JAzNscH (1921)
e seus colabordaores que pesquisam o "tipo visual Eidético". Este é especialmente acentuado
em adolescentes e talvez também em populações aborígenes. No material de alunos de KROH
(1927) as imagens de percepção eidéticas se evidencic em mais de 40% dos casos até 15 anos
de idade, dimi nuindo rapidamente daqui em diante, O tipo visual eidético é ontogenetica
mente o mais velho e representa a unidade não diferenciada original da vivência dos sentidos
pela qual se diferenciam a percepção de um lado e a percepção visual do outro lado. Os
eidéticos sabem preservar a percepção como uma imaginação nítida. (Existem fenômenos
análogos no sentido do ouvido e da epiderme). O eidético continua a ver um objeto qualquer
depois de ter sido tirado da sua vista, com o caráter da sua sensação. Ele poderá localizar esta
imagem numa superfície mensurável e descrevê-la em todas as suas minúcias, Esta imagem é
viva e bem formada. Numa série apropriada de experiências ela poderá ser diferenciada das
imagens a posteriori conhecida pela fisiologia dos sentidos como das imaginações em si.
Mostra ao mesmo tempo uma relação de parentesco com imaginações e percepções. A esta
última, a imagem está ligada segundo o tamanho aparente e o assim chamado desvio
horoptérico (KIENt.r 1968). Trata-se de uma expressão de atividade psíquica que guarda a
percepção e a transforma ou que produz objetos sem percepção.
As pesquisas de JAEN5cH nos fornecem pontos de vista importantes para certos problemas
artísticos (uma disposição pós-puberal eidética em certos poetas e pintores como fundamento
das suas intuições), o que leva à pesquisa de talento segundo os tipos em si.
Devemos separar rigidamente o efeito posterior eidético da força de ima ginação pictórica. Ela
depende indiretamente apenas da percepção ótica (me. mórias) produz independentemente e
desempenha um grande papel na fan tasia criativa, artística organizadora bem como nos
sonhos lúcidos e ao dormir, Pode-se notar oscilações consideráveis no grau de formação e
realidade.
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1º. CAPÍTULO
Tudo aquilo que vivemos e que não sentimos como EU é o mundo exterior. Não podemos saber
e nunca saberemos provavelmente se um mundo exterior existe fora da nossa vivência. Ë
importante saber e compreender que tudo que pesquisamos nas ciências naturais constitui um
atributo da nossa alma e não os objetos em si. Cores, tonalidades, calor, movimentos assim
como plantas, animais e pedras refletem apenas as impressões dos nossos sentidos. A experiên
cia nos transmite apenas impressões visuais, auditivas e táteis. "O olho produz
6 Da Essência da Alma
a luz e o ouvido os sons, fora jamais poderemos saber de nós, eles não existen nós lhes
emprestamos tudo" (LICHTENBERG). Se existisse fora da nossa exp riência, fora das nossas
sensações, "a coisa em si" (KANT), um mundo md pendente, que ainda existiria se nossa psique
desistisse de criá-lo.
Isto não nos deve causar dor de cabeça. Basta verificar que "dentro" d nossa vivência, o mundo
se separa para nós em duas zonas: o "EU" e o "Mund Exterior". Querendo formular esta
separação sob o ponto de vista do El em palavras (Solipsismo) diríamos: O EU cria pela sua
própria força o Não-El (FIcHTE). Tudo que experimentamos se passa no EU. Parte dessa
experiênci é projetada para fora do EU como se existisse como mundo exterior fora c si mesmo.
Podemos também tentar a formulação no sentido inverso, partind do mundo exterior: Um
homem que nascesse surdo, mudo e cego, sem possu o tato, jamais desenvolveria uma vida
psíquica ou um EU. A alma é mui mais do que uma função dos órgãos do sentido e do cérebro,
ela é, pa:
estudamos seus resultados com a necessária conseqüência. Devemos ter presente até que
ponto a assim chamada matéria tem sido desmaterializada e materiali zada pelas ciências
naturais.
Enfim: nossos conceitos contrastantes da alma e do seu lugar no conceito moderno do mundo
se encontra numa fase transitória, na qual os conceitos antigos não satisfazem mais e os novos
carecem ainda de uma definição melhor. Esta incerteza se reflete de modo prejudicial sobre a
pesquisa psicológica Cientes da contradição interna misturamos às vezes os conceitos
monísticos modernos que partem da unidade da experiência empírica e que enxergam na
separação entre alma e matéria a experiência dos dois lados de um só problema, como os
componentes de uma expressão dualista antiquada. Torna-se impossível por exemplo, explicar
a relação entre o cérebro e a alma senão como forma de um "efeito recíproco" dualista entre
duas instâncias independentes, sem incorrer em abusados requintes lingüísticos.
O ponto de vista mais aceitável ainda é o de um monismo crítico espiritual que reconhece, sob
a ênfase de uma última unidade de todas as coisas, o primado indiscutível do psíquico sobre o
material, pressupondo que imediatamente, somente o psíquico se abre ao nosso
conhecimento. Aquilo que chamamos de matéria nos aparece sob este ponto de vista como
um conceito estranho dentro do psíquico, ou seja a contemplação da realidade sob outro
ângulo mas não como algo que seja separado em princípio do psíquico. A tese de que somente
o EU existe como sujeito reconhecível, e que é muito radical, é insustentável.
O monismo espiritual nos leva inevitavelmente a uma forma do Pan teismo, à crença de uma
alma onipresente, um espírito mundial como unidade que abrange tudo e que se exprime em
cada dos seus componentes como parte de si mesmo. Este monismo panteístico acompanha
como "lei motiv" o desenvol vimento do pensamento do mundo ocidental de SPXNOZA a
LESSINO, GOETHE e SCHELLING. Na forma dada por GOETHE e SPINOZA ele age pela sua
densidade, unindo o pensamento científico puro com um aprofundamento ético e uma
intensidade religiosa.
Voltemos então à vivência direta, ou seja à alma. Veremos então que as duas unidades básicas
"EU" e "Mundo Exterior" não são claramente separadas mas que flutuam e se unem nas zonas
limítrofes, O centro da consciência do EU é constituído pelo ponto imaginário atrás de tudo
que experimentamos. O próprio corpo se agrupa em redor desse centro como representante
exclusivo do EU. Mas seus componentes nem sempre possuem o caráter do EU. São o EU
enquanto são sentidos como um complexo em conjunto. Eles podem, entretanto, ser isolados
pela consciência que os contemplam, ser materializados e podem ser considerados não como
EU, mas sim como um espécie de propriedade do mesmo. Nos dizemos "minha mão", "meu
dedo" do mesmo modo como dizemos "meu chapéu" ou "meu relógio". Para as partes do
corpo que não são ligadas a ele de modo sensível ou motor como as pontas do cabelo, as
unhas, as secreções, a qualidade do EU diminui e se torna negativa na medida em que perde
sua relação no espaço. Essas partes do corpo formam na consciência, a passagem para os
objetos vizinhos como a roupa que já é sentida como mundo exterior, mas que ainda emanam
uma certa consciência do EU quando dizemos p. ex. "ele me tocou" quando somente a roupa
foi tocada.
8 D Essência da Alma
Vemos assim que existe uma série de coisas referentes ao próprio corpo e seu ambiente que
pertencem à zona marginal entre o EU e o mundo exterior e que segundo a nossa consciência
são registradas como EU ou NÃO-EU. Este fato é de grande importância para a compreensão de
muitos estados da alma às vezes anormais:
2. Esta vivência se divide nos 2 pólos EU e mundo exterior. Estes complexos de conciência "EU"
e "Mundo Exterior" se cobrem em largas zonas
limítrofes.
4. Ao lado desses processos podemos ainda mencionar como 3" grupo de fenômenos
psíquicos, a afetividade. Ela abrange tudo que acompanha os processos psíquicos no seu
caminho da mais simples impressão sensorial e imagem através das impresões e raciocínios
abstratos, até a decisão e os impulsos de escala de sentimentos, quer dizer de valorizações
para o EU e os impulsos que deles emanam tais como: Os sentimentos mais simples de prazer
e desprazer, de entusiasmo ou indiferença assim como os senti mentos complexos de amor, ira,
medo, ódio, desejo. As funções descritas na III parte como "Impulsos e Temperamentos"
pertencem à afetividade.
Antigamente, quando se falava das relações das funções psíquicas com o seu substrato
corporal a fórmula "Cérebro e Alma" parecia impor-se já que os processos corporais oriundos
da psique eram exclusivamente atribuidos ao cérebro. Mais tarde esse conceito foi reduzido
para "Substância cinzenta e Alma", descobrindo-se em primeiro lugar as relações de certas
regiões do grande cérebro com os processos mais elevados de percepção e fala e da
decadência geral até a debilidade mental.
duplo sentido.
O interesse se concentra, além do córtex cerebral, que é mais recente, no sistema límbico e ao
tronco cerebral o que se reflete na teoria dos equivalentes psíquicos de um modo decisivo. As
pesquisas (Psiquiatria atual vol. 1/lA) levaram aos seguintes reconhecimentos: os fatores
essenciais para uma vitalidade mais elevada e para a personalidade (funções da consciência,
vida instintiva, e afetividade) têm sua representação cérebro-fisiológica não somente no
cérebro e na região do tronco cerebral. Ao núcleo central da personalidade correspon. dem
então, cérebro-fisiologic falando, o sistema límbico, os núcleos talâmicos, e o hipotálamo
enquanto que o cérebro alto seria rebaixado a uma espécie de instrumento complicado do
mesmo, um aparelho para registros diferenciados de produção singular. Não resta dúvida que
uma inversão das perspetivas é fascinante, tanto mais que essa contemplação não é
teoricamente forçada, mas corresponde a pesquisas recentes. Devemos ter em mente que a
Provou ser insuficiente a redução da correlação psíquica sobre o cérebro. A pesquisa nos
mostra de um modo convincente a influência determinante que as glándulas endócrinas
(tireóide, glândula sexual, epífise, hipófise e cápsula suprarrenal) exercem sobre a vida
psíquica, através do sistema nervoso, especial mente o "Temperamento" (afetos e impulsos).
Como as hormônicas e o dien céfalo se encontram entre si, num efeito recíproco, no sentido de
um círculo de sistemas superiores e que se regulam mutuamente, a antiga "Teoria Celular" de
uma correspondência corporal-psíquica havia de ser mudada em favor de uma
correspondência funcional (humoral e condutiva), "Teoria Humoral" e con dução de impulsos.
Ao contemplarmos sob um ponto de vista mais elevado o organismo total não existe um
contraste absoluto entre "forma" e "função". No meu livro, "Constituição e Caráter"
demonstrei que a morfologia do corpo nos facilita o acesso às constantes funcionais mais
exatas do organismo numa forma mensurável, prestando-se por isto ao estudo das correlações
dentro da personalidade total psicofísica.
Ligado aos pensamentos neovitais (DRIESCH, 1914 entre outros) E. BEULER (1925) se opos a
uma separação esquemática entre o psíquico e o não-psíquico respetivamente entre o psíquico
e o físico. Ele nos mostra que ignoramos tudo, tanto no sentido positivo como no negativo
sobre as funções conscientes nos processos puramente físicos (como por exemplo da
consciência inerente a alguma célula isolada ou grupos inferiores de células). Todos os
processos da vida são ligados à psique num sentido mais íntimo em graus maiores ou menores:
1. as funções mnésicas (SÉMON 1920) ou seja a capacidade de armazenar e reproduzir as
impressões de estímulos antigos; 2. a capacidade da integra çíío ou seja a junção de tais
impressões para unidades ativas maiores e 3. a utilidade de tais junções: o princípio
teleológico. BL denomina e une os princípios vitais comparáveis a,o psíquico sob a
denominação de "psicóides". A psique no seu conceito mais íntimo é para ele um caso especial
e diferenciado da psicóide, quer dizer, de uma substância viva do universo. Tais formulações se
ligam numa execução biologicamente precisa aos pensa mentos metafísicos de LEIRNIZ e
SPINOZA. A acentuação da unidade entre processos "psíquicos" e "puramente neurológicos
físicos" se adapta melhor aos mecanismos cerebrais complicadamente interrelacionado e de
estrutura gra
duada do que a alternativa rudimentar de: o psíquico de um, o não-psíquico do outro lado.
Trata-se de desenvolver a ciência das funções cerebrais, pelos sintomas de supressão nas
lesões de determinadas e circunscritas partes do cérebro. Já possuímos conhecimentos
valiosos sobre a localização de sintomas de disfunção do cérebro. O lado negativo está bem
consolidado enquanto que o positivo é algo hipotético e discutível. Perguntamos: qual é a
função positiva da parte não atacada do cérebro cujos distúrbios são denunciados por vários
sintomas? A dificuldade da resposta se prende à peculiaridade da estrutura do cérebro, a
graduação de instâncias superiores e inferiores e a coordenação correlativa e vicariante das
diversas partes do cérebro (BETHE 1931). A convulsão epilética por exemplo era considerada
como sintoma de irritação que era considerado como "centro convulsionante". Perguntou-se
em seguida: será que a convulsão é um sintoma de irritação e não da paralisa çao, da
eliminação do córtex cerebral? A lesão do córtex não suprime a inibição de um centro sub
cortical mais profundo que por sua vez provoca a convulsão? E se assim for, qual dos centros?
Este exemplo nos mostra a complicação básica de todas as questões de localização do cérebro
e que se repetem nos fenômenos de pertur bações psíquicas, em relação a certas regiões
cerebrais. Nas explicações seguintes ater-nos-emos de preferência aos negativos comprovados
da fisiologia cerebral. Quando falamos em localização, centros, etc., referimo-nos aos centros
de dis túrbios. Pelos impulsos experimentais que provocam atividades, como movi mentos por
exemplo, as funções clínicas negativas são complementadas de um modo muito valioso,
esclarecido e comprovado. Devemos considerar entretanto que o impulso da corrente dos
eletrodos numa parte do cérebro, constitui uma intervenção perturbadora e um caso limítrofe
doentio. O "sujeito" não con seguirá deste modo e a partir de um pequeno ponto, sua
produção psíquica e motora.
10
Da Essência da Alma
Explicações do Editor:
a) Um homem inteligente e bem equilibrado saberá julgar a situação geral de relance e - se lhe
sobrar o tempo necessário - tomará uma atitude de defesa ou de fuga, pensando e agindo num
só ato, por meio de uma série de reações psicomotoras motivadas e em consonância com a
situação.
b) Se o susto for porém repentino e forte demais e em se tratando de um indivíduo lábil, este
não reagirá por motivação mas por reflexo, que não é guiado por um EU superior decorrendo
segundo um esquema premoldado complexo e ontológico. Costuma-se falar em síndrome de
susto e pânico ou reações histéricas.
12
Da Essência da Alma
altamente integrado. O termo "personalidade profunda" não significa um tumulto de reflexos
mas reações psíquicas e físicas ordenadas que decorrem paralelamente, visando ambos a
mesma finalidade biológica.
Nas histerias motoras demonstra-se freqüentemente por meio de experiên cias terapêuticas
que a engrenagem da personalidade profunda e a engrenagem racional e voluntária não se
processam lentamente e logicamente mas sob a influência de certos estímulos chave, como se
a gente acionasse um comutador elétrico. A segunda embreagem poderá sob certas condições
substituir por completo a primeira dependendo de observações cerebrais-fisiológicas mobili
zando os agregados já formados da pessoa profunda (p. ex. ações de impulso) de determinados
lugares do diencéfalo respetivamente nas partes localizada3 perto do tronco cerebral do
cérebro básico.
O conceito de Personalidade profunda que formulei segundo F. Ki (1919) não é apenas uma
orientação heurística mas, substanciado pelas pesqui sas de base de vários lados. Ele abrange
sistemas funcionais psico-físicos (psico.
Guiamo-nos pelo fato que obtivemos em experiências de reação no mesmo tipo constitucional,
freqüentemente curvas idênticas, tanto na psicomotricidade como no aparelho vegetativo e
nas reações afetivas, ou com outras palavras, que a psicomotricidade, o vegetativo e o
processo do afeto são guiados de modo semelhante.
Em vista disto podemos definir claramente o conceito da "Personalidade profunda". Ele é
biológico e nada tem que ver com profundezas psíquicas no sentido filosófico. Não é tampouco
idêntico ao conceito psicoanalítico de "Inconsciente" com o qual se cruza às vezes. Os critérios
para o modo de funcionar da Personalidade profunda não são os graus de consciência mas,
mecanismos e tipos de reação exatamente descritas. Enquanto que o conceito
os
1. involuntários,
2. coordenados psico-fisicamente e
("Involuntário" significa aqui que estas manifestações não são diretam racionalmente
manipuláveis segundo a vontade.)
Elas têm sua origem em estímulos corporais ou motivos que as provocam não em reflexões.
2.° CAPÍTULO
PERCEPTIVO
Todas estas formas sensoriais servem basicamente para a orienta çâ do organismo individual
no mundo ambiente, para a conservação e aprimoramento da sua vitalidade, possibilitando os
movimentos certos, em face a estímulos vantajosos ou nocivos, O "sentido" biológico do
rendimento sensorial-perceptivo somente pode ser descrito em conexão com a "Motricidade".
Uma sensação olfativa por exemplo não obedece a nenhuma necessidade biológica, mas no
animal por exemplo ela servirá para uma aproximação motora a um objeto de alimentação ou
de cópula, ou seja, uma ação automatizada guiada pelos instintos. Uma sensação de dor ou de
calor tem seu "sentido" na reação provocada, seja a fuga ou a defesa diante de um objeto
nocivo. A visão e o olfato exercem a mesma função de um modo mais complicado e
egocêntrico. A impressão sensorial poderá somente ser desligada da sua obrigação vital num
plano humano, tornando-se auto-suficiente, como valor estético por exemplo. Aqui aparece
novamente a diferença entre personalidade e personalidade protunda.
13
2º. CAPÍTULO
Todas estas formas sensoriais servem basicamente para a orienta çao do organismo individual
no mundo ambiente, para a conservação e aprimoramento da sua vitalidade, possibilitando os
movimentos certos, em face a estímulos vantajosos ou nocivos. O "sentido" biológico do
rendimento sensorial-perceptivo somente pode ser descrito em conexão com a "Motricidade".
Uma sensação olfativa por exemplo não obedece a nenhuma necessidade biológica, mas no
animal por exemplo ela servirá para uma aproximação motora a um objeto de alimentação ou
de cópula, ou seja, uma ação automatizada guiada pelos instintos. Uma sensação de dor ou de
calor tem seu "sentido" na reação provocada, seja a fuga ou a defesa diante de um objeto
nocivo. A visão e o olfato exercem a mesma função de um modo mais complicado e
egocêntrico. A impressão sensorial poderá somente ser desligada da sua obrigação vital num
plano humano, tornando-se auto-suficiente, como valor estético por exemplo. Aqui aparece
novamente a diferença entre personalidade e personalidade profunda.
O papel que as formas sensoriais desempenham na organização da vida psíquica varia muito
entre elas. Devemos considerar as relações íntimas entre a "sensualidade", afetividade e
instintos assim como as funções dos sentidos como base para os processos mais elevados: a
imaginação e o pensamento. Em ambos os lados as regiões sensoriais são representadas em
diversos graus de intensidade, o que nos permite dizer que as qualidades sensoriais menos dife
renciadas possuem relações imediatas com a afetividade, enquanto que os sen tidos
participam em maior grau e escalas mais complicadas de sentimentos na estruturação do
mundo imaginativo, como no conceito de espaço e tempo. Não existe porém nenhuma
fronteira delineada. Os "sentimentos comuns" que se abastecem dos sentimentos difusos
internos e externos do corpo inteiro pertencem ao grupo de sentimentos "de parentesco
afetivo", assim como sen sações de temperatura e dor, olfato e paladar. Ao segundo grupo dos
sentidos sensoriais com pronunciada "formação imaginativa" pertencem as duas mais elevadas
sensações de visão e audição com as quais colaboram essencialmente as sensações
diferenciadas do tato, músculos e membros, na imaginação do espaço, por exemplo. Além
disto elas possuem no seu caráter sensual direto, luzes, cores e sons - uma relação viva com a
afetividade.
É característico que sentimentos de parentesco afetivo, sob o ponto de vista psicológico, num
só processo de vivência se apresentam como "sensações" e "sentimentos". No vocabulário
psicológico convencionou-se chamar de "sen timento" os processos afetivos, e de sensação o
que se refere ao processo sensorial elementar. Esta convenção prática não modifica em nada o
verdadeiro parentesco dos dois grupos psíquicos. C. STUMPF (1928) pensa identicamente ao
falar de "sensações de sentimento".
A sensação de dor pode servir como exemplo: podemos definir que a dor
uma sensação de dor (b). A verdade vivida porém é outra: não é "b" que acompanha "a" mas
"b" e "a" são idênticos naquilo que nos transmitem. A dor como fenômeno é tanto sensação
como sentimento. Este conceito é de impor tância básica para nosso pensamento fisiológico,
por exemplo em relação à função do tálamo. A separação rígida entre sentimento e sensação é
usada como abstração, e não cabe no grau da vivência. Somente na diferenciação maior da
percepção e imaginação o conteúdo e o afeto entram numa relação independente e variável,
podendo ser contemplados em separado. O aspecto "casa" por exemplo ou sua imaginação
não precisa ser acompanhado de um afeto acentuado. Num caso positivo e de acordo com o
relacionamento pro duzem-se os afetos os mais variados.
Assim como na sensação da dor, a sensação do olfato, temperatura ou paladar nota-se um
acento sentimental, uma identificação com a vivência. Uma sensação de calor e frio é
agradável ou desagradável, a não ser na zona marginal onde ela desaparece como sensação.
O "sentimento comum" é conforme WUNDT "o sentimento total no qual se manifesta o nosso
bem ou mal-estar sensorial". Este sentimento comum absorve os componentes de todos os
sentimentos afetivos congênitos; impressões de superfície, de pressão e posição, de coração e
intestinos, olfato e paladar até as impressões difusas de luz, cores e sons. Deste conglomerado
de qualidades sensoriais parcialmente apenas percebidas se dá o corte transversal do nosso
bem ou mal-estar atual que do seu lado é a soma dos sentimentos e o grau de afeto.
fome, sede, excitação sexual cuja unidade fenomenal pode ser classificada como
Qual é pois a base fisiológica-cerebral de todos estes fenômenos e as ati tudes impulsivas que
daí derivam? De acordo com tantos outros pesquisadores podemos supor que todas as vias
sensíveis e sensoriais que vão da periferia ao cérebro se focalizam no "Tálamo ótico".
Oticamente visto o Tálamo forma um grande centro de comutação para todas as vias sensoriais
que se irradiam para seus campos de projeção no córtex cerebral: o córtex visual no lobo
occipital, o centro auditivo, no lobo temporal, na esfera sensorial do corpo, na circunvolução
central posterior. Concentra-se provavelmente no tálamo a "imagem sensorial do corpo" ou o
esquema corporal, quer dizer a imaginação de tamanho, forma, posição e movimento do
corpo. Aqui encontram-se igualmente centros afetivos e da motricidade da fala (risada,
impulso para
falar). O tálamo fica vizinho dos núcleos opto-estriados e ocupa no sistema sensível-sensorial
como parte mais antiga do cérebro e outros centros mais diretamente ligados entre a periferia
e o córtex cerebral, uma posição seme lhante como aqueles no sistema motriz.
A pesquisa das funções fisiológicas do tálamo está em estreita ligação com os problemas a
serem discutidos sobre as pesquisas do tronco cerebral, a pesquisa do sistema nervoso
vegetativo e a importância básica da relação entre o tronco cerebral e o cérebro, O tálamo
forma junto com o hipotálamo (sistema nervoso vegetativo) e o sistema límbico (veja página
49) aquela parte do cérebro onde os diversos sentimentos recebem sua tonalidade e
emotividade. Aqui se encontra o substrato da dor e talvez também do prazer enquanto que o
córtex cerebral é essencial para a localização e reconhecimento da percepção. De mais a mais,
o tálamo é o ponto de baldeação do qual os impulsos dos neurônios sensíveis passam aos do
sistema vegetativo. Segundo este conceito o tálamo e suas regiões adjacentes seriam a central
principal das funções sensíveis-sensoriais e por conseguinte dos afetos afetivos elementares a
ela inseparavelmente ligados (percepção comum e vital). Todo o sistema forma ao mesmo
tempo uma espécie de arco reflexo para reações visceral-afetivas e impulsivas e num sentido
mais amplo uma central intermediária para a composição do processo esquematizado e
sensomotor da vida dos instintos.
Os profundos estudos sobre a sensibilidade realizados por HEAD (1911) já levaram a conceitos
semelhantes. Nos distúrbios focais no tálamo ele encon trou além dos distúrbios de
sensibilidade, uma tendência de reação exagerada contra impulsos desagradáveis sem que
fosse diminuído o valor limiar do estímulo doloroso. O mesmo estímulo se fazia sentir com
maior intensidade do lado doente. Chegou-se a estranhas mudanças hemilaterais da
emotividade ou seja da disposição afetiva de estímulos sensíveis e sensoriais. "Um dos nossos
pacientes foi incapaz de ocupar seu lugar na igreja porque não podia agüentar o canto do lado
adoentado" - enquanto durava o canto ele esfregava a mão doente. Um outro foi assistir uma
sessão comemorativa da data do falecimento do rei Eduardo VII. Quando o coro começava a
cantar "apoderou- se dele uma sensação horrível do lado afetado e sua perna ficou sendo
agarrada e sacudida". Um paciente muito culto nos confessou que desde o ataque que tornara
a metade direita do seu corpo mais sensível a impulsos agradáveis ou desagradáveis, sua
ternura aumentara. "Tenho o desejo pronunciado de colocar minha mão direita sobre a
epiderme suave de uma mulher. A mão direita exige consolo, parece que do lado direito busco
sempre simpatia... Minha mão direita parece ter um dote mais artístico". A metade talâmica do
corpo afetado reage, segundo HEAD, com maior intensidade ao elemento afetivo em relação a
impulsos externos ou estados inter-psíquicos. Existe uma sensibilidade aumentada contra
estados de prazer ou desprazer. KÜPPERS (1922) o exprime de modo pertinente da seguinte
forma: "O paciente atacado de uma doença do tálamo unilateral tem uma alma diferente do
lado esquerdo do que do lado direito; de um lado ele é mais carente de consolo, mais sensível,
artístico, saudoso, do que do outro lado. Sem querer entrar em maiores detalhes citamos aqui
de modo resumido o conceito de HEAn sobre a função do tálamo: "Acre ditamos que o órgão
principal do tálamo seja o centro de consciência para certos elementos do sentimento. Ele
responde a todos os impulsos capazes de provocar prazer ou des prazer ou a sensação de uma
mudança no estado geral do paciente. O tônico dos sentimentos de sensações somáticas ou
viscerais é
Sensaçôes Figurativas
o produto de uma atividade talâmica". Como somente a 8. parte do tálamo serve para
transmissão espinha-cortical de sensações, podemos supor que os sentimentos elementares
citados por HEAD se ligam a lesões simultâneas de regiões vizinhas.
Em relação à leucotomia de doentes mentais, nevroses coacta e estados de doenças graves, a
pesquisa ganhou indiretamente novos impulsos e pontos de vista. Trata-se especialmente do
estudo de supressões provocadas pela separação das vias fronto-talâmicas e que foram
tratadas exaustivamente sob o ponto de vista anatômico por von HASSLER (1967). O fato é que
na separação dessas vias se faz uma sensível diminuição dos afetos de irritação e impulsos de
dor. Estudei situações semelhantes em casos de lesões graves provocadas por acidentes, da
abóboda da órbita, denominando-as de "Perda da ressonância pessoal". Aqui devemos
considerar desde já a cooperação do sistema límbico (ver página 49).
SENSAÇÕES FIGURATIVAS
17
Já vimos quais as sensações dos sentidos que se aplicam ao processo da imagem: Ao catalogar
as sensações em imagens e relações espaciais, ou seja na evolução para as imaginações do
espaço, a dominante é a sensaçao da visao em íntima colaboração com as sensações de tato e
posiçao sendo que estas últimas permitem um conceito mais desenvolvido do objeto, mesmo
sem o controle da visão (no caso de cegos ou no escuro).
A imaginação do espaço se origina do fato de que, o indivíduo é capacitado a unir com a visão
e o tato das superfícies da epiderme, uma grande quantidade de estímulos isolados num ato
só. Parece que as impressões isoladas se dife. renciam de acordo com o local no qual são
provocadas, pois sabemos diferenciar entre dois contactos de epiderme limítrofes. Esta
diferença de sinais sensórios originados de pontos distanciados do corpo foram tomadas como
qualitativos (o que não é comprovado!) denominando-a de sinal local. A distância que separa
dois estímulos isolados que agem juntos, chama-se limiar do espaço. O limiar é em certas
partes do corpo que permitem uma diferenciação sensorial mais exata (as pontas dos dedos ou
a retina do olho) menos desenvolvida. A distância do estímulo sensível é mais reduzida do que
em outras regiões do corpo. Daqueles dois fatos, a recepção simultânea e a diferenciação entre
muitos estímulos resulta a base para uma coordenação recíproca destes estímulos no sentido
de um campo visual, respetivamente campo tátil e por conseguinte de imaginação bi-
dimensional do espaço. Para o desenvolvimento da tri-dimen sionalidade do espaço podemos
citar diversos fatores experimentais como por exemplo o estereoscopo que provoca o efeito do
assim chamado eixo parral binocular (a cobertura pouco exata da imagem da vista esquerda e
da direita) e as sensações musçulares provenientes do movimento convergente dos olhos. Para
se obter a tri-dimensionalidade do espaço e a imaginação de "objetos" torna-se indispensável
a sensação de movimento (músculos oculares, extremi dades, articulações), para se poder
tatear de todos os lados. Todos estes fatores aqui alinhados das sensações de visão, tato e
movimentos ainda não perfazem a imaginação de objetos e espaço em si. Somente o trabalho
coordenador e unificador do subjeto leva à "percepção".
Os impulsos do mundo exterior se alinham no ouvido de uma outra forma. Ele participa da
imaginação temporal que é favorecida pelos impulsos rítmicos do corpo, como no andar por
exemplo, o que WUNDT já ressalta. Mais impor. tante porém para a imaginação temporal é
função mnemônica do cérebro que permite uma ligação em paralelo de engramas de
intensidade variada ao lado das impressões novas gradualmente mais fortes. Neste fator
quantitativo de graduação da memória mais recente das imagens interiores (simultaneamente
como marcos de distância) baseiam-se talvez as imaginações da duração da memória. A
fraqueza da memória de fixação de KORSAKOFF nos mostra que a imaginação temporal é
intimamente ligada à integridade das funções de referência e de memória, e que desaparecem
em lesões graves das mesmas. Quando por graves comoções afetivas (luto, choque) a escala
natural da inten sidade da memória é interrompida no sentido de um enfraquecimento retró
grado, a exatidão de medir o tempo sofre consideravelmente.
O sentido da audição ganha entretanto sua importância máxima para a vida psíquica mais
elevada, como fator central do desenvolvimento da língua. É somente pela linguagem que o
princípio se desenvolve e representa o instru mento mais delicado do nosso pensamento: o
principio da abstração ou seja a formação de conceitos sensorialmente imperceptíveis. Trata-se
pois da redução das imagens do mundo exterior em traços essenciais e sua redução em
conceitos mais condensados, por conceitos mais elevados; trata-se da classificação horizon tal
e vertical (subsumação, coordenação) dos conceitos e categorias lógicas (identidade, não-
identidade). Disto fazem parte as relações de pensamento:
Chamamos de grau con figurativo o vo'ume em que os impulsos isolados, absorvidos pelos
nossos órgãos sensoriais e processados pelo sistema nervoso, se agrupam e diferenciam no
consciente. A formação preparatória não se processa nos órgãos sensoriais, sendo antes uma
função do córtex cerebral. O olho em si não capta, casas, árvores, nuvens, mas fornece apenas
a matéria-prima, as qualidades sensoriais básicas, claro, escuro verde, amarelo etc.
Consideramos o grau configurativo que as nossas impressões sensoriais alcançam numa ordem
de espaço e tempo numa abstração de diversos graus de intensidade e conotação lógica.
Ao lado disto captamos os produtos do processo de repr numa segunda escala u seja pelo grau
da "realidade". Uma imagem que surge em nós como atenas pensada como imaginação, ou
como vista ou ouvida de fato é tratada como "percepção". Ligam.se aqui duas séries diferentes
de qualidade, de um lado a "localização" da imagem no interior da nossa cabeça ou no mundo
exterior. Diferente deste "subjetivo" ou "objetivo" é o "juízo da realidade" ao nos
perguntarmos até que ponto a imagem seja verdadeira. Nem sempre os dois juízos podem ser
diferenciados assim por exemplo na relação mística com o mundo, especialmente nos
esquizofrênicos que tomam uma voz interna como verdadeira e vindo de fora ou que
consideram algo de interno como dependente do EU conforme STORCH (1922) e REIss (1921) o
verificaram no
estádio inicial. O grau de realidade das imagens que surgem em nós depende ainda de fatores
quantitativos, do número e da precisão dos detalhes. A ímaginaçao "casa" é muito menos
sensorial e carece muito mais de detalhes do que a percepção "casa". Isto se nota
especialmente quando se reproduz objetos complicados pela memória ou pela própria
natureza. Todas estas questões de relação entre o EU e o mundo exterior, da realidade da
projeção e introjeção desempenham um papel importante na psicologia étnica e na
psicopatologia. É importante saber que a suposta separação básica (JASPERS 1946) entre ima
ginação e percepção não se pode confirmar pela experiência psicológica e que, segundo a
opinião da maioria dos pesquisadores, deve haver uma escala con tinua de transição entre
ambos. (JAENSCH 1923). Pacientes esquizofrênicos por exemplo, por mais inteligentes que
sejam muitas vezes não sabem dizer se têm pensamentos vivos ou se vivenciam coisas vistas e
ouvidas.
Uma importância básica deve ser atribuida às séries experimentais extensas de JAzNscH (1921)
e seus colabordaores que pesquisam o "tipo visual Eidético". Este é especialmente acentuado
em adolescentes e talvez também em populações aborígenes. No material de alunos de KROH
(1927) as imagens de percepção eidéticas se evidencic em mais de 40% dos casos até 15 anos
de idade, dimi nuindo rapidamente daqui em diante, O tipo visual eidético é ontogenetica
mente o mais velho e representa a unidade não diferenciada original da vivência dos sentidos
pela qual se diferenciam a percepção de um lado e a percepção visual do outro lado. Os
eidéticos sabem preservar a percepção como uma imaginação nítida. (Existem fenômenos
análogos no sentido do ouvido e da epiderme). O eidético continua a ver um objeto qualquer
depois de ter sido tirado da sua vista, com o caráter da sua sensação. Ele poderá localizar esta
imagem numa superfície mensurável e descrevê-la em todas as suas minúcias, Esta imagem é
viva e bem formada. Numa série apropriada de experiências ela poderá ser diferenciada das
imagens a posteriori conhecida pela fisiologia dos sentidos como das imaginações em si.
Mostra ao mesmo tempo uma relação de parentesco com imaginações e percepções. A esta
última, a imagem está ligada segundo o tamanho aparente e o assim chamado desvio
horoptérico (KIENt.r 1968). Trata-se de uma expressão de atividade psíquica que guarda a
percepção e a transforma ou que produz objetos sem percepção.
As pesquisas de JAEN5cH nos fornecem pontos de vista importantes para certos problemas
artísticos (uma disposição pós-puberal eidética em certos poetas e pintores como fundamento
das suas intuições), o que leva à pesquisa de talento segundo os tipos em si.
Devemos separar rigidamente o efeito posterior eidético da força de ima ginação pictórica. Ela
depende indiretamente apenas da percepção ótica (me. mórias) produz independentemente e
desempenha um grande papel na fan tasia criativa, artística organizadora bem como nos
sonhos lúcidos e ao dormir, Pode-se notar oscilações consideráveis no grau de formação e
realidade.
Para a base psicológica do grau de realidade só existem pontos de apoio aproximativos. Em
geral a força ele formação diminui consideravelmente em casos de cansaço, exaustão, efeitos
difusos de venenos, infecções ou destruições provocadas no cérebro. Isto se aplica igualmente
ao grau de probabilidade, visto que ambas as escalas são muitas vezes afetadas
simultaneamente.
21
3º. CAPÍTULO
Como se sabe, o córtex cerebral recebe vias sensitivas e sensoriais (trans. missoras de
sensações) e emite vias motoras (que transmitem movimentos). Em redor dessas zonas
corticais, sensoriais e motoras encontram-se outras que não servem apenas para receber
sensações e emitir movimentos, pois em caso de lesões elas originam perturba ções
complicadas da síntese psíquica de uns e outros, particularmente no domínio da linguagem
(afasia sensorial e motora) da leitura e escrita (alexia e agrafia), e do reconhecimento de
objetos (agnosia e cegueira psíquica); de localização menos claras., de precisão mais fácil são
os transtornos apráxicos que impedem ou tornam difícil encontrar fórmulas dos movimentos
complexos.
Um olhar sobre o esquema superficial da metade esquerda do cérebro (em estado normal a
mais importante funcionalmente) nos ensina que o subs trato da localização cerebral se
encontra nas superfícies motoras e sensoriais conhecidas, a saber: a circunvolução central
anterior, sede da região motora cortical com centros particulares para a perna, braços, cabeça
e olhos, e a circunvolução central posterior e as imediações do lóbulo parietal, que constitui a
região cortical sensitiva. As duas funções sensoriais superiores mais impor tantes possuem
extensos campos reservados no córtex cerebral: o ouvido, no lóbulo temporal, e a vista no
occipital na incisão calcárea. (Fissura calcarina).
1. Lóbulo frontal
S. Lóbulo parietal
4. Lóbulo occipital
5. Lóbulos temporais
6. Cerebelo
7. Tálamo encefálico
O estudo das demais perturbações agnósicas se encontram ainda em seus começos embora
tenha progredido sensivelmente nestes últimos anos. No terreno da ótica conhecem-se
funções gnósicas parciais de importância psicoló gica cujas perturbações podem ser a
conseqüência predominante de lesões bilaterais do lóbulo occipital nas imediações do centro
visual do córtex. Co nhecem-se igualmente alterações gnósicas que pertencem ao domínio do
ouvido e do tato. A vasta região da apraxia (LIEPMANN) tem uma localização muito complicada
não se conhecendo bem seu aspecto fisiológico-cerebral. É bem possível que contribuam para
estes distúrbios, além da lesão cerebral propria mente dita, as de outras regiões do encéfalo
(por exemplo, segundo KLEIST, as do sistema estriopálido). Outra forma de apraxia bem
conhecida quanto à sua localização é produzida entre outras causas, pela lesão do terço
anterior do corpo caloso ou seja das largas fibras que ligam ambos os hemisférios. Observam-
se com freqüência transtornos aprdxicos, referentes às lesões citadas, da circunvolução parietal
infra-anterior (giro supra marginal), quer dizer em redor da região sensitiva do córtex, junto
com sintomas acinéticos em doentes de lesões do lóbulo frontal. Observam-se em todos estes
casos relações estreitas entre as funções gnósicas e as práxicas: as perturbações da atividade
exercem uma inibição sobre as gnósias e os do conhecimento perturbam seriamente a
atividade motora. SCHILDER resume esta situação em poucas palavras: "A cada esfera do
conhecimento corresponde uma possibilidade de ação"
23
qg
24 O Córtex Cerebral e as Manifestações Mnemo Associativas
Vamos agora tentar reduzir a um denominador comum todas as funções cerebrais que formam
o quadro clínico aparentemente tão confuso e complicado formado pelos grupos afásico,
agnósico e aprdxico. As perturbações afásicas (agrafia e alexia, etc.) constituem nada mais do
que casos especiais e evidentes da agnosia e apraxia em geral. O extremo grau da afasia
sensorial consiste, como se sabe, na perda das imagens verbais; o paciente ouve o que se diz,
mas nos casos extremos o percebe somente como um ruído sem sentido ,assim como uma
série incoerente de sons, como se fosse chinês, sendo incapaz de formar com notas apenas
acústicas o agrupamento significativo que chamamos de "imagem verbal". A realização desta
imagem pressupõe forçosamente uma compenetração íntima dos diversos atos psíquicos e
psicóides que se produzem no homem normal de maneira quase simultânea ou assim se
apresentam na consciência, não como sendo consecutivos, mas separados. Da série contínua
de sons verbais forma-se um grupo parcial ao qual se dá um caráter de unidade. A imagem
verbal que resulta destas unidades agrupadas não se repete cada vez que ouvimos a mesma
série de sons, mas reage intimamente com seu sinal mnésico (engrama) que já existe na
memória como fórmula prévia, sem que haja a necessidade de reconstruir penosamente a
partir dos seus elementos sensoriais. Compreendemos uma palavra enunciada perto de nós
porque o engrama da imagem verbal respectiva (retida como sinal mnésico pelo cérebro
devido ao seu funcionamento fisiológico) se projeta sobre a nova série de sons, ou ao inverso,
porque a nova série acústica que nos entra no ouvido se projeta no engrama mnésico, já
pronto no cérebro. Faz-se em suma uma identificação instantânea, subjetiva e imperceptível
entre a série sonora nova e o engrama.
PIERON (1925) distingue as percepções de luz, cor e formas que não têm localização em si, mas
constituem 3 funções cerebrais de uma complexidade crescente. O sentido da forma, que é o
mais complicado sofre lesões nos traumatismos cerebrais com maior facilidade do que no das
cores. O sentido da luz por sua vez é o mais elementar e resiste por mais tempo. Mediante
análises demoradas das alterações do campo visual devido a feridas na região occipital.
POPPELREUTER chega a diferenciar de um modo análogo sistemas sobrepostos da percepção
ótica desde a sensação luminosa amorfa até a apre ciaçao da figura. Num grau mais elevado de
degeneração falta a percepção das cores, da forma e das dimensões de movimento e
orientação, ficando apenas a claridade pura e simples. Num grau menor registram-se vagas
impressões de tamanho com uma determinação aproximada de direção, mas sem a facul dade
de distinguir entre impressões simultâneas. Correspondem a uma terceira
26 O Córtex Cerebral e as Manifestações Mnemo Associativas
Enfrentamos sempre o mesmo princípio: trata-se de transformar uma série não coordenada de
pormenores fisiológicos em alguma coisa acabada e dotada de configuração (imagem verbal,
objeto, fórmula cinética) que significa tanto uma síntese de elementos que se complementam
mutuamente com um deslinde de elementos heterogênos. Esta coordenação de atos cérebro-
fisiológicos isolados para agrupamentos ajustados a uma fórmula e com um significado
consciente é o que designamos de "função con figurativa". Por meio de simples ensaios de
acústica por percepção, RICHTER (1957) demonstrou que atrás dos transtornos funcionais
gnósticos da afasia sensorial se observam também disfunções acústicas autênticas, que não
afetam porém as funções configurativas como tais. A função configurativa se subdivide em
gnosias e praxias servindo de base às demais produções psíquicas superiores, especialmente às
abstrativas e percepti veis. Elas são estreitamente ligadas ao cérebro no terreno psicológico e
com maior freqüência a zonas exatamente localizadas que se estendem em redor dos campos
respectivos da criação motora e sensorial,
Aquilo que WUNDT já proclamara e que mais tarde foi exposto de um modo um tanto
unilateral é isto: a figura, o objeto, a imagem verbal, o acordo, a fórmula cinética, assim como
ela penetra na consciência do homem normal são afinal de contas algo mais do que a soma dos
elementos dos quais se compõem. Eles representam na psicologia uma coisa totalmente nova,
uma unidade sólida e irreduzível na experiência psíquica. Esta lei da independência de sinteses
superiores É FUNDAMENTAL NA NEUROBIOLOGIA. Ela se deixa seguir pelos processos de
reflexos até os mais complexos. Desempenha um papel preponderante na psicomotricidade.
Um acorde de 3 notas: mi, sol, si é provocado ao se emitir estes 3 sons simultaneamente. Esta
simultaneidade é tudo que o homem normal precisa para perceber o acorde. Esta experiência
psíquica não é entretanto a soma daquilo que corresponde a percepção de cada um deles. É
freqüente não perceber estes sons em separado acontecendo até que o som desaparece em
certas ocasiões, o musical e o caraterístico dessa experiência psíquica, que é determinada pelo
acorde quando se trata de concentrar a atenção sobre cada nota em si; de mais a mais, a
experiência formada pelo acorde é uma unidade psíquica superior aos sons compostos, pois
Esta situação um tanto complexa criou na psicologia moderna uma certa confusão, uma
espécie de polêmica entre as expressões "psicologia de associação, de configuração, e
psicologia do ato, "uma polêmica inteiramente supérflua e que corresponde a uma ignorância
compreensível que ambas as modalidades se desenvolvem em planos lógicos mas diferentes. O
leitor familiarizado com a crítica do conhecimento saberá explicar isto muito bem, meditando
sobre as controvérsias surgidas com a teoria das cores. A cor "amarela" ou "verde" constitui
uma experiência psíquica última, irreversível desde o ponto de vista psicológico. O fato de
atribuir uma freqüência de onda determinada, não ganha nada em relação ao "amarelo". Seria
assim absurdo dizer que com uma determinada freqüência eu possa explicar a experiência do
"amarelo" ou de formular o silogismo seguinte: na minha experiência com o "amarelo" não
percebo nenhuma freqüência de onda, por conseguinte a teoria das ondas de luz é falsa. O
primeiro sofisma é o de muitos psicólogos fisiológicos, enquanto que o segundo se aproxima
dos psicólogos exaltados entre os psicólogos modernos do ato e da vivência.
Uma teoria biológica conseqüente da vida psíquica não pode abster-se de construí-la na base
de simples elementos sensoriais e motores com suas fixações mnésicas e seus vínculos
associativos. Os conceitos de "elemento", "engrama" e "associação" que se costuma desprezar
hoje em dia, são contudo as pedras angulares de toda a psicologia que tenha em devida conta
a fisiologia cerebral. A necessidade absoluta da noção da associação é apreciada não somente
na teoria da agnosia e da apraxia, como também em muitos problemas da psicologia superior,
como os que suscitam o pensamento infantil do pensamento relaxado e da fuga de idéias.
Torna-se simplesmente inconcebível uma teoria construtiva da vida psicológica superior sem
essa base associativa
Mas, a teoria da associa çao não pode explicar a situa çZio psíquica que resulta da experiência.
Como já vimos anteriormente ao falar da teoria da afasia e da agnosia e seus ensinamentos,
uma "imagem verbal" ou um "objeto" não se concebem sem a fusão de elementos sensíveis
entre si e com os engramas mnésicos respectivos. Estes elementos e sua elaboração associativa
e mnésica não se fundam na experiência objetiva, os percebemos às vezes quando nossa
consciência está nublada e fora do centro quando já se transformam em funções psicóides e
não psíquicas (acompanhados da consciência) do sistema nervoso central. No sentido inverso o
fato de não percebermos na experiência psíquica associações, engramas e nem elementos
sensoriais, a psicologia construtiva é mcapaz de explicar o ato em si de uma experiência
psíquica. A teoria associa tiva não é substituída pela psicologia ativa e profunda do ato e tão
pouco pode o processo de vivência ser compreendido através da teoria de associação.
•Na função formativa das praxias repetem-se os mesmos princípios. A afasia motora se
caracteriza pela falta do acerto das fórmulas cinéticas das palavras que se deseja pronunciar.
Existe a noção daquilo que se quer dizer, bem como a imagem verbal respectiva, mas quando
se trata de emitir a palavra, isto se torna impossível, embora os órgãos da linguagem, lábios,
língua, laringe não estejam paralisados e se movam livremente. Os atos motores particulares
de que se compõe o movimento necessário para pronunciar uma palavra podem ser realizados,
mas não são associados para formar um conjunto ajustado a
uma fórmula cinética unitária. Em nossos movimentos físicos nós não sole tramos uma após
outra, as inervações musculares de cuja sucessão as palavras se compõem. Emitimos de uma
só vez a fórmula cinética já disposta para a palavra inteira que surge no nosso aparelho de
linguagem como processo psíquico-automático.
Outro tanto sucede com a apraxia: não é possível encontrar as fórmulas cinéticas de diversos
atos: cumprimentar, colher, fazer sinais, manejar uma colher, acender um fósforo, etc. Aparece
aqui a função figurativa como elemento indispensável do edifício psicomotor, alguma coisa
configurada, uma fórmula suscetível de uso imediato, serve de impulso a todos os atos
psicomotores mais ou menos freqüentes. O "ato" é para as prax ias o que o "objeto" é para as
gnosias. Quando se trata de atos que não foram aprendidos na infância pode. mos seguir em
nossa própria experiência psíquica o curso da fusão paulatina dos elementos psicomotores
simples até formar uma fórmula cinética unifor mizada (p. ex. patinar). O número de impulsos
particulares necessários de início para uma ação total vai diminuindo pouco a pouco e exigem
uma energia psicomotora cada vez menor. As fôrmulas cinéticas se convertem em "fórmulas de
abreviação" (pg. 71) ficando gradualmente reduzidas por "afi nação" a um processo psíquico
automático independente até certo ponto, junto com as intensões utilitárias da personalidade
e mesmo contra elas. Algumas funções freqüentemente exercitadas e em certas seqüências,
quando repetidas, se nos impõem sem que a consciência intervenha (p. ex. apagar a 1uz ao sair
de um quarto).
Existem situações provocadas por doenças graves e difusas do cérebro nas quais as funções
vitais do tronco encefálico continuam intactas sendo que a regulação do sono e vigília são
quase normais, não havendo "inconsciência". As funções formativas parecem como apagadas e
por conseguinte tornam-se impossíveis, o conhecimento objetivo, a realização de atos e a
configuração verbal. Estes pacientes continuam despertados de olhos abertos, reagem aos
estímulos do ambiente com reflexos fracos inferiores (reflexo de chupar ou apertar) não
entendem nada, nem falam e nem sabem mover-se de modo razoável. As funções do "pállio"
são grandemente eliminadas e denominamos este estado de "apdlico" (E. KRETSCHMER 1949).
O cérebro (o córtex cerebral e suas vias de associação com exceção dos gânglios básicos)
colabora nas seguintes funções principais:
28
A estas funções do cérebro juntam-se outras que não podem ser localizadas.
Sabemos que os processos que causam lesões extensas no córtex cerebral como a paralisia
geral progressiva, a atrofia senil do cérebro e a artereosclerose difusa têm como sintomas
especialmente caraterísticos, precoces e graves a perda da memória e uma debilidade mental
intelectual. O quadro começa com esquecimento, incapacidade de fixação de estímulos e
incapacidade de assimilar material ou impressões recentes. Este esquecimento se estende a
lembranças anteriores (as da infância são as mais resistentes) decaindo a faculdade de
associação e percepção (pg. 100). O paciente perde a capacidade do juízo e de orientação face
a acontecimentos novos e inusitados nem podendo mais exercitar funções críticas realizadas
durante muito tempo, chamadas de "memória".
As operações da memória constituem somente uma pequena parte da rnneme (Semon l.c.). A
mneme, ou seja a capacidade de reter as impressões que deixam estímulos anteriores para
utilizá-los de forma melhorada no mundo ao redor, constitui uma das principais propriedades
"psicóides" da substância viva em geral. Um exemplo desta função mnésica sem a participação
da vida interior é a imunização de um indivíduo que sofrera de uma doença infecciosa contra
novos contágios. Entendemos por "memória" somente as funções mnési cas acessíveis à
consciência e bem coordenadas.
Os efeitos da repetição nos é conhecida desde que aprendemos. Pelas provas de E (processo
econômico) eles podem ser estudados exata mente e reproduzidos graficamente. Fazem-se
repetir ao indivíduo, uma série de palavras e sílabas até que ele aprenda a pronunciá-las sem
errar; comprova- se assim que ele precisará repeti-las no dia seguinte muito menos e no fim de
uma semana ou de um mês somente um certo número delas. No sentido inverso o assimilado
tem a tendência à repetição que, na ausência de outros componentes do processo de
associação (por exemplo em agnosias e afasias na catatonia da demência epilética) se pode
mostrar isoladamente em forma de perseverança. Tudo que o indivíduo falara ou pensara antes
permanece firme mente preso na consciência e impede que se formem novas associações.
30
Em indivíduos muito jovens a deformação catatímica da memória é geral mente mais visível do
que nos adultos, e nas mulheres mais do que nos homens. Ela se torna excessiva e às vezes
totalmente forçada e involuntária em certos tipos psicopáticos perto do ciclo histérico como
nos embusteiros e mitômanos natos.
As funções do lóbulo frontal do cérebro (com exceção das suas relações com a afasia motora já
mencionadas) são de difícil exploração porque esta região parece ser intercalada com
correlações funcionais mais extensas (veja KL1 1934) que se completam e até se substituem
mutuamente. Assim che gamos ao fato curioso de que algumas lesões focais do lóbulo frontal
apre sentam às vezes poucos sintomas e reagem em outros casos imediatamente com
transtornos intensos. É bem provável que estes focos não se manifestem sinto maticamente
mas, sob certas condições prévias como: debilidade funcional de zonas cerebrais que
correspondam ao lóbulo frontal do hemisfério oposto.
Foi nos dado observar alguns casos muito sugestivos deste gênero, e entre outros o de um
homem que há 10 anos, ao prestar seu serviço militar, recebera um coice na testa que o deixou
com uma falha profunda da substância óssea do tamanho da palma da mão, no centro da
região frontal direita. Visitamo-lo de surpresa em sua casa, encontrando-o sempre num
profundo estado de apatia (segundo o histórico clínico estava neste estado salvo alguns
intervalos de excitação no início) comparável unicamente com aquele que se observa em
antigos ou pós-encefalíticos graves: completamente impassível, imóvel, numa atitude sempre
igual sentado na sua poltrona, tendo as mangas do seu paletó completamente gastas no lugar
onde tocavam o braço da poltrona. Não pronunciava voluntariamente nenhuma palavra nem
respondia às perguntas feitas, mas obedecia sem o menor sinal de negativismo ou catalepsia à
algumas ordens razoáveis como a de levantar-se, levantar os braços, abrir os dedos. Caminhava
em atitude tesa, em pequenos passos e pernas abertas. Era completa mente desleixado e tinha
os cabelos compridos ocultando-lhe grande parte do rosto. Ela se vestia e comia sozinho sem a
ajuda de ninguém mas era incapaz de executar um trabalho qualquer. Não havia manifestações
de afeto.
FEUCHTWANGER (1923) reuniu uma extensa e importante estatística de 200 casos de lesões do
lóbulo frontal com a análises dos respectivos sintomas. Com parando os dados dessas
estatísticas com os obtidos de outros 200 casos de outras regiões do cérebro, ficou
comprovado que os transtornos sensoriais, (exceto os do equilíbrio) motores e faculdades
intelectuais propriamente ditas, são menos freqüentes nos indivíduos com lesões do lóbulo
frontal. Do outro lado estes apresentam um maior número de transtornos da atenção,
modificações psíquicas de natureza eufórica, ou depressiva, movimentos retardados e apatia
ou ao contrário se mostram burlescos e cômicos, e sofrem só o aspecto somático de distúrbios
de equilíbrio. Isto nos mostra claramente que os distúrbios psicoló gicos próprios das lesões do
lóbulo frontal repercutem na afetividade e impul sividade. É possível que muitos dos distúrbios
intelectuais aparentes que surgem no decorrer das lesões do lóbulo sejam secundários e
conseqüentes das pertur. bações de reação a estímulos e especialmente da atenção, e do
interesse. Não parece entretanto que se possa assegurar na ordem intelectual algo de
definitivo sobre os problemas relacionados com o lóbulo frontal.
KLEIST iniciou uma diferenciação particular mais rigorosa dos síndromes deste lóbulo, segundo
a qual ele separa a parte orbitária basal (quer dizer a basal que descansa sobre a abóbada da
órbita) do resto da mesma colocan do-a numa relação íntima funcional com as partes mediais
do cérebro.
1.
2.
O lóbulo frontal em si, que inclui somente o córtex convexo e marginal, como órgão das
manifestações motoras, psicomotoras e afins, reação aos estímulos tanto no sentido motor
como de "atividade intelectual".
O cérebro orbital e interno ao qual o córtex cerebral pertence (Cingulum) assim como o
retrosplenio e o hípocampo órgãos das sensações internas e das funções do EU.
Daí conclui-se:
Para se formar uma idéia precisa das manifestações positivas do cérebro orbitário estas devem
ser deduzidas indiretamente das disfunções que se obser vam quando ele está lesado. A
elaboração isolada destes síndromes consegue se melhor ao examinar lesões ou traumatismos
com origem em sua base, como as produzidas por estilhaços da abóbada orbitária e focos
básicos de contusões no córtex. Reuni um certo número destes casos (1949 ,1954)
(traumatismo da face média, pômulo, vértice do nariz e órbitas). Se aparecem sintomas eles se
referem à atitude benévola e social da personalidade superior. O caráter se altera
freqüentemente pela perda do tato, uma atitude também descrita por "relaxado" "descuidado"
etc. Nos casos graves este defeito chega até a perda
32
das inibições morais com tendência para infidelidade, mentiras, furtos, etc. Um segundo grupo
importante abrange distúrbios do "dinamismo" das operações psíquicas, desinibição completa
com verbosidade contínua, e com distúrbios episódicos de pouca duração. Numa paciente
minha, essa verbosidade ia num crescendo de voz até que ela terminava completamente
exausta e com veementes dores de cabeça (isto pode acontecer em casos de estrutura lógica
boa, e sem fuga de idéias). Anomalias semelhantes da regulação psíquica manifestam-se às
vezes por solução mental de continuidade, fala repentina e explosiva e mudanças de humor
momentâneos. Não foram observadas até agora mudanças significativas dos instintos no
decorrer das lesões do cérebro orbitário, enquanto são impressionantes nas lesões do
diencéfalo. Ambos as lesões provocam entre tanto a tendência de uma desinibiçõa psíquica
total.
Estes transtornos afetam os pensamentos, afetos, frases e atos. Às vezes seu decorrer é
descontínuo: ausência de juízos emitidos bruscamente, ações apres sadas e explosivas, e uma
verbosidade quase contínua. Muito interessantes são os fenômenos dinâmicos num
"crescendo".
Para o diagnóstico diferencial frente aos traumatismos gerais do cérebro ou dos indivíduos
explosivos e irritáveis deve-se ter em mente que nos casos de lesões do cérebro orbitário estes
fenômenos dinâmicos são independentes da manifestação de certos afetos intensos ou
estados de ânimo. A expressão "mania de contar lorotas" (mona) é errônea porque não reflete
o essencial nem o conjunto. Existem pacientes com traumatismos do cérebro orbitário que
falam e falam sem nenhuma afetividade de um modo seco e monótono, sem entrar em
contacto com seu interlocutor, sem se deixar interromper e sem sentir-se doente. Observam-se
também atitudes de protestos irritados, que depois se acalmam. Estados de euforia
acompanhados de uma sensação de leveza não são raros. Isto evoca o síndrome mânico sem
desenvoltura e fuga de idéias. Lembram por desintegração maior os estados de ânimo
hebefrênicos ou puberais (KLAGES, W., 1955).
Um dos meus pacientes, um homem de idade média, ocupando uma posição de respon
sabilidade, o descreve como segue: "Estava satisfeito de viver, sentia-me contente como no
meu tempo de ginásio quando a gente se divertia a bessa. Vivi num Outro mundo".
e descrevê-los.
Uma pessoa que sofrera uma grave fratura de choque da órbita direita e da raiz nasal com a
perda imediata da vista direita foi me procurar, semanas depois de ter ocorrido o acidente com
o quadro típico de uma loquacidade exagerada e eufórica evidenciando uma discrepância
surpreendente entre a lesão traumática sofrida e a ausência de sentimentos depressivos ou
queixas sérias, ou até de sinais de doença. O que lhe acontecera não o preocupava, queria
voltar para casa. Meio ano decorrido ele se apresentou novamente no consultório com um ar
um tanto mais normal e ao lhe perguntar se sentira dores de cabeça ao se dar o acidente ele
respondeu: 'Senti, sim, mas não lhes quis atribuir nenhuma importância", nem me
incomodavam muito. Agora é que começa, incômodo e impertinente como se tivesse criado
vida".
Descrições desse gênero são muito instrutivas para análise psico-patológica mais precisas
saltando à vista a semelhança destes quadros com os resultados da leucotomia cirúrgica em
casos de esquizofrenia e neuroses obsessivas. É evidente que em tais síndromes de
traumatismo básico se trate de perturbações de conduta nas vias fronto-talâmicos.
Para o observador isto é de importância vital. Em acidentes de automóveis estes fatos não são
raros, ficando porém negligenciados, levando a diagnósticos e deduções erradas. Como regra
prática diríamos que é sempre suspeito, e exige um diagnóstico psiquiátrico anterior quando
depois de graves traumas crânio-cerebrais (sobretudo do crânio facial e da órbita) há uma
completa ausência por parte do paciente. Mesmo um homem robusto sente no primeiro
tempo os sintomas de uma lesão cerebral como muito incômoda. Nos casos de lesões do
cérebro orbitário que temos em vista a anomalia patológica da estratificaça do síndrome cresce
durante semanas ou meses. O síndrome do cérebro orbitário eclipsa o da debilidade cerebral
traumática que desaparece atrás do bloqueio da ressonância pessoal em face da dor tornando-
se visível somente muito mais tarde num segundo plano. Esta pseudo-restauração com o
reaparecimento dos sintomas gerais do traumatismo cerebral deve ser reco nhecida pelo
diagnóstico diferencial, diferenciando-a das superposições psicó genas freqüentes com a
aparição da neurose de indenização.
O diretor de uma grande fábrica sofreu num grave acidente de automóvel, uma pancada no
rosto. Decorrido 3 semanas ele sai do hospital e volta para casa com os sintomas "quase
totalmente" eliminados. Voltou ao seu lugar na fábrica. Mas começou a tratar o pessoal de
modo impróprio, criando confusao e intrigas ao ponto de se pensar em dispensá-lo do serviço.
Melhorou lentamente num tratamento de 2 anos numa clínica até poder retomar suas
atividades profissionais.
O transtorno do tato provou ser o sintoma-diretor embora mais difuso e escondido de modo
que depois de uma pseudo-restauração as outras pessoas não reconheciam seu estado
patológico, aplicando-se um critério de moral, Casos como estes são de suma importância para
a medicina de acidentes. Eles mostram como lesões leves da estrutura da personalidade,
especialmente as do tato têm repercussões fatais em pessoas que ocupam cargos de
responsabilidade, tornando-os incapazes, prejudicando o paciente mais do que qualquer
acidente físico. Em casos graves podem ocorrer atos disciplinares e até criminais (KLEIST cita
numerosos casos).
Se esta imagem esférica da situação global não concorda fielmente e por completo
Por fim perguntamos ainda: quais são as funções encefálicas mais ou menos complicadas que
não exigem a intervenção do cérebro mesmo? A resposta pode ser dada parcialmente nos
animais superiores e os seres humanos recém-nascido. O cão descerebrado de von GOLTZ
(1892) conservou diversas
Como o rendimento das diversas zonas cerebrais varia essencialmente no decorrer da evolução
não é fácil aplicar à espécie humana os resultados de experiências em cães nem ao adulto as
feitas com os recém-nascidos. Nos recém-nascidos porém observaram-se muitos fatos
semelhantes aos que von GOLTZ publica acerca dos cães. O sistema nervoso central de uma
criança de 3 meses examinada por GAMPER (1926) estava muito bem desenvolvido at
mesencéfalo inclusive, faltando porém os sistemas de fibras que dependem diretamente do
telencéfalo e dos núcleos centrais dos hemisférios. Em intervalos a criança se comportava
como uma lactante normal cujas funções cerebrais não estivessem ainda desenvolvidas por
completo. Alternava entre sono e vigília e intercalado de movimentos vivos e expressões
mímicas de movimentos afetivos rudimentares. Reagia a estímulos táteis enérgicos com
movimentos ora esquivos, ora maciços e complexos. Comparando com isto as observações
interessantes de SCHOLTZ (1925) com as feitas num menino que foi normal até a idade de 8
anos, e que perdera em conseqüência de uma esclerose difusa do cérebro suas funções
cerebrais (com degeneração parcial do tálamo mas com o corpo estriado bem conservado), o
quadro era bem mais pobre em manifestações positivas. Seus movimentos eram reduzidos a
um mínimo com contrações espasmódicas acompanhado de alguns reflexos inferiores. Perma
neciam os gritos, movimentos rítmicos de mastigação e sucção que se provocavam tocando a
região bucal e certas funções vegetativas, como respiração, urinar, etc. Existiam reações por
reflexos, o fechamento das pálpebras ao se tocar na córnea, movimentos de fuga
acompanhados de gritos e de contrações dolorosas do rosto e finalmente de defesa dos
membros torácicos na direção dos estímulos.
Deduz-se daí que também no homem quando o cérebro não atingiu ainda seu pleno
desenvolvimento, as regiões do tronco encefálico podem exercer funções importantes;
enquanto que no curso ulterior da vida os centros inferiores em si se tornam cada vez menos
capazes de compensar as funções assumidas pelo cérebro ao produzir novas deficiências.
Trata-se aqui da aptidão dos rendimentos ligados ao homem são, e os reservados ao tronco
encefálico e aos núcleos centrais dos hemisférios dentro do conjunto do encéfalo intacto são
seguramente mais importantes e complicados, do que se observa em casos anormais. Para
produzir porém uma ação voluntária, (andar, sentar, apalpar, cumprimentar, falar, escrever,
etc.) as seguintes funções fisiológicas se impõem:,
36
Formas de Automatismo 37
40 CAPÍTULO
ESTRUTURA DA PSICOMOTRICIDADE E OS
CENTROS SUBCORTICAIS
FORMAS DE AUTOMATISMO
Já vimos que dos atos repetidos com freqüência se formam automatismos e hábitos de
abreviação que adquirem uma autonomia similar aos reflexos, sobrando o impulso genérico
para o ato voluntário e consciente. As fases do ato intentado se sucedem então com uma
escassa intervenção da consciência ou com nenhuma, quer dizer orientadas pela
"personalidade profunda". A maioria dos nossos atos voluntários de cada dia se executam por
tais automa tismos, hábitos arraigados e fórmulas de abreviação. Somente uma fração
insignificante da ação total depende da consciência. Geralmente não nos damos conta disto.
4º. CAPÍTULO
FORMAS DE AUTOMATISMO
Já vimos que dos atos repetidos com freqüência se formam automatismos e hábitos de
abreviação que adquirem uma autonomia similar aos reflexos, sobrando o impulso genérico
para o ato voluntário e consciente. As fases do ato intentado se sucedem então com uma
escassa intervenção da consciência ou com nenhuma, quer dizer orientadas pela
"personalidade profunda". A maioria dos nossos atos voluntários de cada dia se executam por
tais automa tismos, hábitos arraigados e fórmulas de abreviação. Somente uma fração
insignificante da ação total depende da consciência. Geralmente não nos damos conta disto.
psíquicos são essenciais para uma boa digesãto, bem como para outras funções
A fase mais primitiva na escala genética é constituída pelos reflexos "aneurais", pelas reações
próprias da substância viva a estímulos exteriores sem a colaboração de nenhum sistema
nervoso como os reflexos próprios da musculatura. Sobre estes reflexos se formam, na fase da
vida embrionária ou da filogenia, o arco reflexo medular e sucessivamente os centros reflexos
do bulbo, do tronco encefálico, do grande centro antigo de integração do mesen céfalo e mais
recentemente do diencéfalo com sua fórmula instintiva e prefixada até que cubram finalmente
todas as funções do córtex cerebral .Temos assim um sistema completo de "arcos ou círculos
de ação" sobrepostos, de uma estrutura cada vez mais complicada, com suas reações motoras
a estímulos do mundo exterior ou interior.
A complexidade crescente das sínteses motoras das quais os diversos grupos do sistema
nervoso-central são capazes, se demonstra especialmente pelos resul tados das experiências
de MAGNUS (1912) em animais superiores. Uma vez separado o encéfalo da medula espinhal o
anímal não se mantém em pé e sofre um colapso. Mas, se a medula cervical e o bulbo, (a parte
mais posterior do tronco encefálico) ficam unidos à medula espinhal, a faculdade de ficar em
pé fica intacta. O animal apresenta a rigidez consecutiva da descerebração, ou seja a tensão
tônica dos músculos que se opõem à força da gravidade. Quando o corte se faz mais por cima
deixando o mesencéfalo ligado à medula não se observa tal rigidez e o animal não somente se
mantém em pé mas consegue voltar de posições diversas com reflexo perfeito, à sua posição
normal original (reflexos de bipedestação) conforme as investigações importantes de
GOLDSTEIN (1923) sobre "modificações induzidas do tonus muscular" que representa sínteses
muito parecidas.
Os centros inferiores, os arcos de ação (mais antigos) sob o aspectc filogênico não se
extinguem à medida que os centros superiores (mais novos se formam, mas continuam
trabalhando sob suas ordens como entidades subor dinadas dentro do conjunto, mas de
maneira geralmente difícil de se detecta num sistema nervoso normal. Podemos então
formular a seguinte lei básica "O que existiu nào é destruído mas sim reformado"
Os centros subordinados não conservam seu tipo funcional primitivo na escala por completo,
mas cedem partes importantes das suas funções para cima (em direção oral) aos novos centros
que se sobrepõem. Assim sendo a rã espinal privada das suas funções cerebrais e reduzida
exclusivamente aos seus centros medulares, pode ainda executar movimentos complicados e
racionais como o "reflexo de enxugar" o que criou a expressão "alma medular". A coordenação
de funções tão complicadas corresponde no homem ao cérebro e ao córtex em particular e já
que a condução não pode ser feita pela medula, isolada no homem do sistema nervoso central,
funciona somente de um modo primitivo e fragmentário. Reflexos secundários como as plantas
dos pés e a parede abdominal dependem no homem do córtex cerebral.
Quais são as operações concretas pelas quais os centros subordinados contribuem no homem
adulto para a realização de um impulso voluntário na execução motora de um ato conjunto? Já
o arco do reflexo medular contribui com importantes regulações para a manutenção do
equilíbrio e em definitivo para o corpo todo. O essencial do reflexo rotuliano consiste em que
um golpe brusco em certas partes estaticamente importantes da rótula compense com uma
súbita extensão do músculo, evitando assim uma modificação no equilíbrio.
cinético.
No mesmo modo regulador do conjunto motor, mas em nível bem mais alto, se situa aquele
que designamos como manifestações estático-tônicas repre. sentadas por um sistema
complicado de aparelhos cerebrais subcorticais. Tra ta-se de funções desempenhadas de um
lado pelos núcleos centrais motores dos hemisférios ou do sistema estriopálido como do
cerebelo com suas vias e núcleos
Estas transições entre os sintomas clínicos muito evidentes e as peculiarida des habituais do
estilo pessoal e, indivíduos sãos, têm uma grande importância na psicologia. Falou-se
recentemente em "aptidões extrapiramidais empregando termo "extrapiramidal" para designar
genericamente os centros situados fora da via piramidal, tentando-se estabelecer tipos de
conduta psicomotora em relação à idade, constituição e temperamento HOMBURGER (1923).
Estas dife renças típicas (W ENKE 1930) entre as aptidões psicomotoras se traduzem
concomitantemente nos movimentos tencionados e nas expressões mímicas. Elas se
encontram também na observação sútil do conjunto de movimentos, feita por HOMBURGER e
por mim, na análise e elaboração experimental da escrita (L. KLAGES 1956) e no teste
psicotécnico de aptidões (OSEaETZKY 1929). Com a balança barográfica elétrica desenvolvida
por STEINWAcRS obtiveram-se muitos dados de tensões (pg. 150).
Fig. 2 - Corte transversal do encéfalo quase perpen dicular ao pendúnculo ce rebral. Vista
frontal do corte da metade posterior do cérebro.
Pátio do cérebro:
1. Córtex cerebral
2. Substância branca
Núcleos centrais:
3. Corpo estriado
4. Globo pálido
Diencéfalo:
5. Tálamo óptico
6. Substância cinzenta
30 ventrículo
Tronco encefálico:
7. Pendúnculo cerebral
8. Istmo do encéfalo
9. Bulbo raquídeo
10. Cerebelo
A senilidade finalmente mostra além da rigidez e lentidão que faz lembrar o síndrome de
PARKLNSON, uma diminuição na faculdade de combinar movi mentos, incapacidade de
executar paralelamente e por sua vez várias séries simultaneamente (por exemplo ficar em pé
durante uma conversa).
No que concerne às aptidões psicomotoras dos diversos tipos de pessoas sãs não se decidiu
ainda a que partes do sistema nervoso elas devem ser vincula das. Há fatores corticais e extra
piramidais como de índole muscular periférica cuja colaboração varia.
arterioesclerose e a encefalite letárgica (gripe cerebral) que se manifesta psico logicamente por
empobrecimento e rigidez dos movimentos (rigor) que se esboça tta motricidade normal da
velhice e a disposição individual de certos grupos nas quais a psicomotricidade é contida,
escassa e rígida.
41
do
me
Na própria idade escolar conhecemos tipos de crianças sãs, mas inquietos que não somente
mostram um nervosismo geral mas também um sistema psico motor que é uma variante
normal e inofensiva, uma variante atenuada do síndrome coréico. Na escola, mau grado as
advertências do mestre, estas crianças não podem ficar tranqüilamente sentadas, mas mexem
continuada- mente. Balançam as pernas, gesticulam e não sabem o que fazer das mãos e dos
pés quando desocupados. Psiquicamente elas são excitáveis, emocionais, e extremosas em
suas manifestações de afeto e muitto instáveis. Sob aspecto intelectual sofrem de um
transtorno profundo de atenção, não sabem concen trar-se na aula e o vôo de uma mosca
basta para distraí-las. Este síndrome pode ser designado como síndrome coreiforme
(nervosismo). Na puberdade ele desaparece.
Novas pesquisas de BucK (1944) e HA5SLER (1953) contribuíram sensivel mente para o
esclarecimento, para projetar uma luz sobre a missão dos centros extrapiramidais na função
psicomotora. Deve-se imaginar que as excitações centrípetas ligadas continuamente às vias
sensoriais e cuja central de comu nicações é o tálamo, encontram no indivíduo são, uma saída
dinamicamente regulada do lado da motricidade. O regulamento dinâmico se produz normal
mente por uma inserção complicada de centros inibidores nos centros corticais pré-motores 4S
e 8, antes de tudo no agrupamento dos centros extrapiramidais com os pontos decisivos do
corpo estriado do globo pálido do núcle rubro e a substância negra. Quando surgem defeitos
anatômicos num desses círculos de inibição, as excitações senso-motoras passam diretamente
sem serem dirigidas para a via piramidal deixando livre o caminho a mecanismos mais
primitivos; por exemplo: o ritmo elementar próprio do tremor parkinsoniano em caso de lesão
da substância negra e o globo pálido. Em troca, as lesões de centros filogenicamente mais
modernos, como o corpo estriado se tornam mais com plexos, transtornos coreoatetósicos e
distonias por hemibalismo. A rigidez de PARKINSON se explica pela chegada de um excesso de
estímulos pelas vias moto ras que deixam tensos de uma vez o sagonistas e antagonistas na
periferia (haste anterior motora). Tentou-se captar o excesso de estímulos no sistema perante
obliteração parcial no tálamo.
Nos transtornos da funçuío impulsíva contribuem muito as lesões do sistema estriopalidal. Elas
dirigem o dinamismo e a vontade pelo movimento e pela índole e condicionam certos
s,ndromes parkinsonianos e coreoatetósicos embora nem sempre com a mesma clareza. Isto se
manifesta de um lado por "falta de iniciativa" caraterística e do outro lado nos síndromes
coréicos por uma reação ostensiva aos estímulos psicomotores e afetivos.
Do outro lado vimos numa jovem um caso de encefalite letárgica (gripe cerebral) que passou
pelas 3 fases seguintes: 1.0 corea aguda furibunda com grave hiperestesia a estímulos
externos. 2.0 subseqüente esta de estupor catatoneiforme que durou vários meses, em
repouso total e lúcida na cama, mutismo, negativismo e repulsa passageira de alimentos
(catalepsia apenas insi nuada). Algumas vezes a doente saltava da cama espontânea - e
inopinada- mente, sua motrocidade parecia intacta. Este caso não se diferenciava da catatonia
pelos seus caraterísticos psicomotores mas por uma disposição afetiva
mais desenvolvida, quase pueril, travessa, e pela falta de conteúdo da sua vida anterior e da
tensão psíquica total seguinte; 3.° o estupor cede, transição através de uma fase intermediária
que permitiu atividade coordenada m* ligeiramente inibida a um Parkinsonismo que se
intensificou pouco a pouco com rigidez facial e máscara, atitude presa, rigidez e perda da
reação psíquica.
Os síndromes catatônicos têm em comum com os síndromes estriopalidais o fato de que todos
eles se misturam: atitudes psicomotoras conscientes com automatismos que a personalidade
não reconhece como sendo sua, embora predominem nos primeiros os mecanismos
propriamente psíquicos, e nos segun dos os psicóides.
4º. CAPÍTULO
FORMAS DE AUTOMATISMO
Já vimos que dos atos repetidos com freqüência se formam automatismos e hábitos de
abreviação que adquirem uma autonomia similar aos reflexos, sobrando o impulso genérico
para o ato voluntário e consciente. As fases do ato intentado se sucedem então com uma
escassa intervenção da consciência ou com nenhuma, quer dizer orientadas pela
"personalidade profunda". A maioria dos nossos atos voluntários de cada dia se executam por
tais automa tismos, hábitos arraigados e fórmulas de abreviação. Somente uma fração
insignificante da ação total depende da consciência. Geralmente não nos damos conta disto.
Parecido com os "hábitos" e as "fórmulas de abreviação" são os "reflexos condicionados",
estudados em 1926 por Pawlow. Entendemos por reflexos condicionados uma coordenação
entre estímulo e reação, que não seguem um trajeto firme e sempre igual como os reflexos
herdados, mas que se formam ao longo da vida do indivíduo, pela associação freqüente de
certos estímulos no tempo e no espaço. A secreção da saliva que segue à introdu de alimentos
na cavidade bucal é um reflexo genuíno e hereditário não condicionado. Daí pode resultar um
reflexo condicionado quando se associa à introdução de alimentos, sinais luminosos ou toques
de trombetas de determinada intensidade, sendo que com o tempo, o sinal emitido se associa
com a secreção da saliva apresentando-se como reflexo condicionado mesmo sem introdução
de alimentos. HEYER estudou coordenações análogas no homem, sugerindo verbalmente num
estado de hipnose a representação de certos alimentos e verificou que a secreção do suco
gástrico correspondia cada vez ao alimento sugerido. Isto tem uma importância especial para o
médico, pois demonstram como fatores puramente
psíquicos são essenciais para uma boa digesãto, bem como para outras funções
A fase mais primitiva na escala genética é constituída pelos reflexos "aneurais", pelas reações
próprias da substância viva a estímulos exteriores sem a colaboração de nenhum sistema
nervoso como os reflexos próprios da musculatura. Sobre estes reflexos se formam, na fase da
vida embrionária ou da filogenia, o arco reflexo medular e sucessivamente os centros reflexos
do bulbo, do tronco encefálico, do grande centro antigo de integração do mesen céfalo e mais
recentemente do diencéfalo com sua fórmula instintiva e prefixada até que cubram finalmente
todas as funções do córtex cerebral .Temos assim um sistema completo de "arcos ou círculos
de ação" sobrepostos, de uma estrutura cada vez mais complicada, com suas reações motoras
a estímulos do mundo exterior ou interior.
A complexidade crescente das sínteses motoras das quais os diversos grupos do sistema
nervoso-central são capazes, se demonstra especialmente pelos resul tados das experiências
de MAGNUS (1912) em animais superiores. Uma vez separado o encéfalo da medula espinhal o
anímal não se mantém em pé e sofre um colapso. Mas, se a medula cervical e o bulbo, (a parte
mais posterior do tronco encefálico) ficam unidos à medula espinhal, a faculdade de ficar em
pé fica intacta. O animal apresenta a rigidez consecutiva da descerebração, ou seja a tensão
tônica dos músculos que se opõem à força da gravidade. Quando o corte se faz mais por cima
deixando o mesencéfalo ligado à medula não se observa tal rigidez e o animal não somente se
mantém em pé mas consegue voltar de posições diversas com reflexo perfeito, à sua posição
normal original (reflexos de bipedestação) conforme as investigações importantes de
GOLDSTEIN (1923) sobre "modificações induzidas do tonus muscular" que representa sínteses
muito parecidas.
Os centros inferiores, os arcos de ação (mais antigos) sob o aspectc filogênico não se
extinguem à medida que os centros superiores (mais novos se formam, mas continuam
trabalhando sob suas ordens como entidades subor dinadas dentro do conjunto, mas de
maneira geralmente difícil de se detecta num sistema nervoso normal. Podemos então
formular a seguinte lei básica "O que existiu nào é destruído mas sim reformado"
Os centros subordinados não conservam seu tipo funcional primitivo na escala por completo,
mas cedem partes importantes das suas funções para cima (em direção oral) aos novos centros
que se sobrepõem. Assim sendo a rã espinal privada das suas funções cerebrais e reduzida
exclusivamente aos seus centros medulares, pode ainda executar movimentos complicados e
racionais como o "reflexo de enxugar" o que criou a expressão "alma medular". A coordenação
de funções tão complicadas corresponde no homem ao cérebro e ao córtex em particular e já
que a condução não pode ser feita pela medula, isolada no homem do sistema nervoso central,
funciona somente de um modo primitivo e fragmentário. Reflexos secundários como as plantas
dos pés e a parede abdominal dependem no homem do córtex cerebral.
Quais são as operações concretas pelas quais os centros subordinados contribuem no homem
adulto para a realização de um impulso voluntário na execução motora de um ato conjunto? Já
o arco do reflexo medular contribui com importantes regulações para a manutenção do
equilíbrio e em definitivo para o corpo todo. O essencial do reflexo rotuliano consiste em que
um golpe brusco em certas partes estaticamente importantes da rótula compense com uma
súbita extensão do músculo, evitando assim uma modificação no equilíbrio.
cinético.
No mesmo modo regulador do conjunto motor, mas em nível bem mais alto, se situa aquele
que designamos como manifestações estático-tônicas repre. sentadas por um sistema
complicado de aparelhos cerebrais subcorticais. Tra ta-se de funções desempenhadas de um
lado pelos núcleos centrais motores dos hemisférios ou do sistema estriopálido como do
cerebelo com suas vias e núcleos
Estas transições entre os sintomas clínicos muito evidentes e as peculiarida des habituais do
estilo pessoal e, indivíduos sãos, têm uma grande importância na psicologia. Falou-se
recentemente em "aptidões extrapiramidais empregando termo "extrapiramidal" para designar
genericamente os centros situados fora da via piramidal, tentando-se estabelecer tipos de
conduta psicomotora em relação à idade, constituição e temperamento HOMBURGER (1923).
Estas dife renças típicas (W ENKE 1930) entre as aptidões psicomotoras se traduzem
concomitantemente nos movimentos tencionados e nas expressões mímicas. Elas se
encontram também na observação sútil do conjunto de movimentos, feita por HOMBURGER e
por mim, na análise e elaboração experimental da escrita (L. KLAGES 1956) e no teste
psicotécnico de aptidões (OSEaETZKY 1929). Com a balança barográfica elétrica desenvolvida
por STEINWAcRS obtiveram-se muitos dados de tensões (pg. 150).
Fig. 2 - Corte transversal do encéfalo quase perpen dicular ao pendúnculo ce rebral. Vista
frontal do corte da metade posterior do cérebro.
Pátio do cérebro:
1. Córtex cerebral
2. Substância branca
Núcleos centrais:
3. Corpo estriado
4. Globo pálido
Diencéfalo:
5. Tálamo óptico
6. Substância cinzenta
30 ventrículo
Tronco encefálico:
7. Pendúnculo cerebral
8. Istmo do encéfalo
9. Bulbo raquídeo
10. Cerebelo
A senilidade finalmente mostra além da rigidez e lentidão que faz lembrar o síndrome de
PARKLNSON, uma diminuição na faculdade de combinar movi mentos, incapacidade de
executar paralelamente e por sua vez várias séries simultaneamente (por exemplo ficar em pé
durante uma conversa).
No que concerne às aptidões psicomotoras dos diversos tipos de pessoas sãs não se decidiu
ainda a que partes do sistema nervoso elas devem ser vincula das. Há fatores corticais e extra
piramidais como de índole muscular periférica cuja colaboração varia.
arterioesclerose e a encefalite letárgica (gripe cerebral) que se manifesta psico logicamente por
empobrecimento e rigidez dos movimentos (rigor) que se esboça tta motricidade normal da
velhice e a disposição individual de certos grupos nas quais a psicomotricidade é contida,
escassa e rígida.
41
do
me
Na própria idade escolar conhecemos tipos de crianças sãs, mas inquietos que não somente
mostram um nervosismo geral mas também um sistema psico motor que é uma variante
normal e inofensiva, uma variante atenuada do síndrome coréico. Na escola, mau grado as
advertências do mestre, estas crianças não podem ficar tranqüilamente sentadas, mas mexem
continuada- mente. Balançam as pernas, gesticulam e não sabem o que fazer das mãos e dos
pés quando desocupados. Psiquicamente elas são excitáveis, emocionais, e extremosas em
suas manifestações de afeto e muitto instáveis. Sob aspecto intelectual sofrem de um
transtorno profundo de atenção, não sabem concen trar-se na aula e o vôo de uma mosca
basta para distraí-las. Este síndrome pode ser designado como síndrome coreiforme
(nervosismo). Na puberdade ele desaparece.
Novas pesquisas de BucK (1944) e HA5SLER (1953) contribuíram sensivel mente para o
esclarecimento, para projetar uma luz sobre a missão dos centros extrapiramidais na função
psicomotora. Deve-se imaginar que as excitações centrípetas ligadas continuamente às vias
sensoriais e cuja central de comu nicações é o tálamo, encontram no indivíduo são, uma saída
dinamicamente regulada do lado da motricidade. O regulamento dinâmico se produz normal
mente por uma inserção complicada de centros inibidores nos centros corticais pré-motores 4S
e 8, antes de tudo no agrupamento dos centros extrapiramidais com os pontos decisivos do
corpo estriado do globo pálido do núcle rubro e a substância negra. Quando surgem defeitos
anatômicos num desses círculos de inibição, as excitações senso-motoras passam diretamente
sem serem dirigidas para a via piramidal deixando livre o caminho a mecanismos mais
primitivos; por exemplo: o ritmo elementar próprio do tremor parkinsoniano em caso de lesão
da substância negra e o globo pálido. Em troca, as lesões de centros filogenicamente mais
modernos, como o corpo estriado se tornam mais com plexos, transtornos coreoatetósicos e
distonias por hemibalismo. A rigidez de PARKINSON se explica pela chegada de um excesso de
estímulos pelas vias moto ras que deixam tensos de uma vez o sagonistas e antagonistas na
periferia (haste anterior motora). Tentou-se captar o excesso de estímulos no sistema perante
obliteração parcial no tálamo.
Nos transtornos da funçuío impulsíva contribuem muito as lesões do sistema estriopalidal. Elas
dirigem o dinamismo e a vontade pelo movimento e pela índole e condicionam certos
s,ndromes parkinsonianos e coreoatetósicos embora nem sempre com a mesma clareza. Isto se
manifesta de um lado por "falta de iniciativa" caraterística e do outro lado nos síndromes
coréicos por uma reação ostensiva aos estímulos psicomotores e afetivos.
Do outro lado vimos numa jovem um caso de encefalite letárgica (gripe cerebral) que passou
pelas 3 fases seguintes: 1.0 corea aguda furibunda com grave hiperestesia a estímulos
externos. 2.0 subseqüente esta de estupor catatoneiforme que durou vários meses, em
repouso total e lúcida na cama, mutismo, negativismo e repulsa passageira de alimentos
(catalepsia apenas insi nuada). Algumas vezes a doente saltava da cama espontânea - e
inopinada- mente, sua motrocidade parecia intacta. Este caso não se diferenciava da catatonia
pelos seus caraterísticos psicomotores mas por uma disposição afetiva
mais desenvolvida, quase pueril, travessa, e pela falta de conteúdo da sua vida anterior e da
tensão psíquica total seguinte; 3.° o estupor cede, transição através de uma fase intermediária
que permitiu atividade coordenada m* ligeiramente inibida a um Parkinsonismo que se
intensificou pouco a pouco com rigidez facial e máscara, atitude presa, rigidez e perda da
reação psíquica.
Os síndromes catatônicos têm em comum com os síndromes estriopalidais o fato de que todos
eles se misturam: atitudes psicomotoras conscientes com automatismos que a personalidade
não reconhece como sendo sua, embora predominem nos primeiros os mecanismos
propriamente psíquicos, e nos segun dos os psicóides.
5º. CAPÍTULO
A CONSCIÊNCIA
Impulso 45
estado crepuscular e nos delírios, uma vida interior muito variada e intensa se
desenrola embora em sono e, sem ligação dos fatos psíquicos com a vigília.
Para excluicar os estados inconscientes do sono simples sem sonhos, e do coma patológico
bastam os centros vegetativos do diencéfalo quando se trata do conteúdo diferenciado
psíquico do conteúdo do sonho, do delírio e estado crepuscular devemos supor a cooperação
do córtex cerebral sob forma distinta da que lhe compete à sua ação sobre a consciência
despertada. Esta modificação consiste talvez numa simples hipofunção da função cortical. Ela é
porém tão complicada e obedece a leis rígidas, que se deve contar com uma repartição por
camadas no interior do córtex cerebral.
Podemos apenas dizer que os diversos graus de consciência correspondem a diversos sistemas
de engrenagem e que os estados mais profundos da incons ciência dependem do tronco
encefálico sem interrupção das manifestações ve getativas vitais enquanto que os diversos
graus de consciência até o pensamento diurno exigem a intervenção diferenciada de alguns ou
de todos os sistemas corticais. Figurativamente falando poder.se-ia falar da ligação de diversas
correntes.
IMPULSO
Sob aspecto puramente funcional o impulso pode ser incluído no grupo das operações afetivas.
Seu estudo à parte deve-se a certas peculiaridades de suas relações com a patologia cerebral.
Entendemos por "impulso" aquela parte energética que aflui às operações senso-motoras e
realizações associativas e que reaparece nas psicomotoras como "energia" e "vivacidade" e nas
sen soriais como "atenção", nas intelectuais como "jnteresse", determinando as funções
dinâmicas no seu sentido mais próprio, e o tempo e intensidade de
todas as realizações. É provável que existam aqui fatores antagônicos assím que, uma
realização lenta pode ser o efeito de uma fraqueza de um impulso positivo ou de uma maior
inibição do mesmo. Distingue-se na terminologia psiquiátrica entre "inibição" e "bloqueio",
sendo que "inibiçao" significa a restrição simples e uniforme de operações motoras sensoriais e
associativas (de pressões cíclicas) e "bloqueio" as repressões tensas que se produzem especial
mente nos estados esquizofrênicos e neuroses caracterizados pelo fato de se iniciarem e
pararem bruscamente da fala e com outras manifestações de mo vimento. São determinadas
psicologicamente (doentio) surgindo inesperada mente. Os transtornos impulsivos se dividem
em anhormias com retardamento e debilidade das manifestações (na psicomotricidade com
imagens acinéticas da pobreza de movimentos): hiperhormia com reações demasiadamente
fortes e aceleradas (hipercinesias psicomotoras) e finalmente disharmon ias ou seja
observações desharmônicas p. ex. em imagens catatônicas ou "timidez" normal.
As raízes fisiológicas dos impulsos levam bem além do cérebro. O impulso não provéru
exclusivamente dos sistemas neurônicos mas também de fontes de humor. Devemos
mencionar aqui além das matérias contagiosas (MONNIER 1958) os hormônios, material de
estímulos que as glândulas de secreção interna (tiróide, hipófise, glândula germinativa, cápsula
suprarenal, etc.) canalizam nos humores do organismo e que numa interação íntima com o
sistema nervoso vegetativo e seus centros do tronco encefálico influenciam a energia produtiva
do aparelho cerebral. O encéfalo em si, um órgão semilíquido, submerso no meio líquido e
numa corrente sangüínea reaciona às muitas mudanças dos humores que circulam no corpo
independente se se trata dos hormônios do próprio organismo ou de substâncias químicas
introduzidas, desde que, como no caso do álcool ou dos psicotrópicos) penetrem na camada
dos vasos sangüíneos. O impulso tem com as glândulas endócrinas e o sistema neurovegetativo
em comum o mesmo impulso da afetividade em geral.
Conhecem-se transtornos graves dos impulsos como os provocados pelas alterações das
mesmas glândulas que se manifestam em casos de lesões da tiróide e das supra-renais, e
menos evidentes quando provêm de animalias das glândulas genéticas e hipófise. A
hipersecreção da tiróide origina uma das formas clássicas da hiperhorrnia psíquica (e orgânica),
hiperestesia sensorial irritação exagerada, hipercinesia. Na patologia das tireóides conhece-se
muito bem a debilidade impulsiva ligeira mas insuperável, e a indolência dos eunucóides e
precocemente castrados, como a hipernormia normal, o entusiasmo próprio da puberdade que
coincide com um excesso das glândulas seminais e com tendência a disharmonia, (obstinação,
trejetos, encabulamento, incontinência afetiva, acessos de riso).
Encontramos alterações clínicas sobretudo nas doenças do sistema estrio palidal e em lesões
dos lóbulos frontais. É provável que o impulso não tenha sua origem nestas regiões mas que
passe e se distribua por elas. A encefalite letárgica com sua sintomatologia
predominantemente estriopalidal junto aos síndromes motores (parkinsonismo, corea) e em
relação estreita com elas, apresenta um transtorno psíquico do impulso com predominância, às
vezes, dos sintomas motores e psíquicos. A falta de impulso se manifesta em forma bastante
grave em muitos Parkinsonianos pós-encefálicos, inclusive naqueles que não sofrem de rigidez
muscular, que é um impedimento puramente motor. HAUPTMANN (1922) tem razão ao
assinalar que a falta de impulso não se limita às funções psico-motoras mas se estende
regularmente à atividade
Impulso 47
inteletual que "não anda" que está "letárgica", existe um embotamento geral que alcança até a
produção da memória e das noções: "Tudo me parece igual e por isto não guardo nada".
HAUPTMANN chamou igualmente a atenção sobre o transtorno geral da afetividade que
constitui o marco mais distinto dessas anomalias impulsivas e que se estende sobre as reações
sensoriais elementares e sobre a vida instintiva: posição incômoda, dor, frio, sede, fome,
imagens sexuais, nada impressiona o indivíduo que somente se dá conta que faz frio ou calor
quando sente os dedos anquilozados ou os pés suarentos. Nos catatônicos observamos
também alguns destes transtornos elementares dos sistemas sensorial e instintivo.
Existem pacientes que demoram em enfeitar-se, depois de ter ensaboado apenas metade do
rosto, até que, seguindo um novo impulso eles continuam na tarefa interrompida dali a pouco.
Ficam às vezes com a chícara no ar num movimento suspenso, não acabam de se vestir, etc.
Desaparece às vezes a necessidade de comunicar aos seus atos um impulso voluntário: ficam
sentados horas a fio numa posição incômoda, não se mexem, não mudam de posição e nem se
incomodam e não pensam em nada.
Certas manifestações de um doente p. ex. (BONHÓFFER) dão uma idéia da estreita relação
entre os impulsos de atividade e a motricidade, assim diz ele:
"já que não podia, também não queria". Apresentam-se assim analogias com o ciclo das
formas catatônicas.
Não é fácil dizer que a sede destes transtornos de impulsos esteja no mesmo sistema
estriopalidal. HAUPTMANN se inclina a situar as perturbações elementares de ordem sensorial
e afetivo no tálamo. Em todo caso parece muito natural tomar em consideração o diencé falo
inclusive o hipotálamo e a substância cinzenta do 3 ventrículo em vista da sua estreita relação
com o sistema neurovegetativo e a afetividade, tendo em mente que a encefalite epidêmica
(gripe cerebral) deixa além das alterações próprias do corpo estriado outros distúrbios neuro
vegetativos graves (hipersecreção das glândulas salivares e sebáceas, etc.) bem como
manifestações com aspecto disgiandular (precocidade sexual, crescimento precoce dos pelos,
adiposidades etc., vinculados do diencéfalo. O efeito do processo encefalítico não influi sobre o
cérebro infantil do mesmo modo como sobre o adulto. Na criança e no adolescente não se
registra uma falta de impulso, mas um excesso e variedade hiperhormia da inquietude
psicomotora, como: impuãsividad atividade excessiva, tendência para ment furto, e impudor
sexual acompanhado de movimentos trepadores felinos, ou acessos ferozes de raiva, durante
os quais o indivíduo morde, arranha e golpeia tudo que está ao seu alcance embora a
inteligência se mantenha intacta. Localizando o processo cerebral que serve de base a estes
sintomas devemos pensar no tronco encefálico como "sede dos impulsos primitivos", já que os
outros sintomas da encefalite (gripe cerebral) dependem dessa região. Estes síndromes são de
importância fundamental por que mostram que se as anomalias do encéfalo perturbam às
vezes as operações intelectuais, elas podem produzir transtornos eletivos da moral, sem que as
funções intelectuais estejam alteradas. Uma criança assim afetada pode descer até à
"imbecilidade moral" como se manifesta em outras por disposição congênita. Não se deve
chegar à conclusão ingênua
de que a moral "reside" no tronco encefálico, pois a situação é bem semelhante àquela que
caracteriza as funções da consciência. Para a forma ção ontogênica da moral pessoal, quer
dizer, para poder assimilar os princípios éticos tradicionais precisamos: 1.0 - de um núcleo
elementar de predisposições afetivas e instintivas coordenadas de acordo com o antagonismo
biológico de impulsos e seus bloqueios. Estas disposições elementares podem ser perturbadas
por defeitos congênitos, processos encefálicos anteriores com preferência do sistema encefá
lico-hipofisário, ou defeitos congênitos das glândulas endocrmnicas. 2.° - um cérebro intacto,
especialmente do córtex cerebral, para as distinções Sutis e diferenciações. As diferenciações
sutis de ordem moral são inseparavelmente ligadas a uma inteligência superior.
O lóbulo frontal participa ativamente das funções dos impulsos. A acinesia do lóbulo frontal se
caracteriza pela ausência de tensões musculares próprias das derivadas de lesões do corpo
estriado ou de catatonia, nem das séries mórbidas de representações correlatas que
distinguem os torpores motores da acinesia catatônica, mas simplesmente o quadro calmo de
uma pobreza de movimentos até a parada absoluta das funções voluntárias, das reações
afetivas e expressões mímicas.
W. KLAGES (1967) se ocupou especialmente com a diferenciação entre falta de impulso frontal
e dience fálico. Destaca-se nas perturbações do lóbulo central a falta de espontaneidade e
fraqueza de integração psíquica e nas perturbações do diencéfalo a queda igual e até rítmica
de todas as atividades psíquicas.
AFETIVIDADE
Os fenômenos dos quais vamos tratar agora são denominados "Afetividade" ou "Vida afetiva"
(Vivência). Dentro deste complexo total (sem possibilidade de limitação rigorosa entre os
conceitos) chamam-se de sentimentos os processos relativamente simples e afetos os
processos que correspondem a uma disposição geral difusa, uniforme e persistente do
"humor" e temperamento ou atitude afetiva geral que caracteriza a individualidade, seus
modos de reagir neste terreno sujeitos a oscilações . WUNDT (1909) divide os estados afetivos
simples baseado nos seus sintomas neurovegetativos (pulso, respiração) nas 3 paralelas de
elementos antagônicos, prazer e desgosto, tensão e relaxamento, excitantes e calmantes. Ao
estudar os temperamentos encontraremos dois aspectos princi pais: a afeta çõo em si ou
falando de temperamento a afetabilidade (1) ou o impulso. Por afetação entendemos a
natureza e intensidade das modificações internas que o estado afetivo ou psíquico experimenta
devido a um estímulo externo: prazer ou desgosto, alegria ou tristeza, excitação, irritação e
tensão; e por impulso o resultado dinâmico dessa alteração que repercute nas manifes tações
sensoriais, associativas e psicomotoras quanto à sua orientação ou à vivacidade, expressividade
e energia. Já descrevemos detalhadamente estes dois lados de afetividade em suas correlações
fisiológicas: a impulsividade num parágrafo anterior e a afetação ao nos referir às sensações
afetivas e funções do tálamo. Devemos ter em mente que o grau de afetabilidade não depende
unicamente da natureza dos aparelhos receptores e cIo tálamo mas também dos processos das
reações cinéticas provocados no sistema neurovegetativo e
Ajetividade 49
psicomotor que repercutem no grau de afetividade, podendo-se supor que um sistema neuro-
vegetativo instável se denuncie em geral por uma grande reativi dade afetiva.
especialmente os afetivos.
Existe uma analogia nos efeitos sobre a respiração (WUNDT). WUNDT expõe que "o sentimento
de tensão provoca um bloqueio respiratório notável seguido de uma intensificação quando a
tensão cede. Em casos de "prazer" a respiração se torna mais superficial, mas acelerada, no
"desgosto" ela se torna mais profunda e lenta". Dada a complexidade geral dos nossos
sentimentos não é sempre fácil relacioná-los com determinadas anomalias funcionais da esfera
vegetal.
De acordo com a constituição individual, do sistema neuro-vegetativo as reações afetivas de
cada um reagem de modo diferente em cada estímulo. O mesmo susto causa em uma pessoa
uma excitação nervosa, em outra um estado de paralisia; o mesmo aborrecimento provoca
uma diarréia nervosa num ou uma constipação espasmódica noutra pessoa. A tentativa de
DELZUS (1966) em estabelecer uma ordem sistemática, é digna de louvor. No que concerne à
descoberta exata de alterações físicas em comoções psíquicas, os aparelhos eletrônicos
sensíveis nos oferecem possibilidades múltiplas das quais as técnicas antigas não se podiam
favorecer. O progresso reside no fato de não somente.
(- diminuição
Partes
Encéfalo ext. da
cabeça
Membros
do tronco
exteriores
Representações motoras
com
ou
sem +
Movimento
Trabalho intelectual
ativo
Susto
Prazer
Desprazer
b) alteração do pulso.
Trabalho Intelectual
Retardamento
Diminuição
Retardamento e aumento
Aceleração e aumento
Susto e desprazer
Tensão
Desprazer
diferenças mecânicas mas também da tensão elétrica dos Órgãos podem ser registradas
(cérebro, coração, músculos). O Fisiopolígrafo nos permite registrar simultaneamente muitas
funções (FAHRENBERG, 1967).
Afetividade 51
Núcleo
aramedjan
Massa
Co,nissura
Núcleos Paraventriculares
Nt sigma
Nervo
(Figura 3. Corte sagital do tronco encefálico e o bulbo raquídeo dos grupos vitais das células
ganglionares.
prolongado e indicaçAo
sexuais (bexiga)
Hipófise
Núcleos tuberais
Corpo mamilar
Núcleo .aculomotor
Substdncja
Núcleo de Rolier
Tão estreitas como suas relações com o sistema anátomo-fisiológico da afetividade com o
sistema neuro-vegetativo são as do sistema das gldndu las endócrinas M. BLEULER, 1954). O
paradigma é a estreita coordenação entre a hipófise e o diencéfalo com a qual parece formar
uma unidade funcional anátomo-fisiológica. Assim por exemplo a tireóide e as glândulas supra-
renais se acham ligadas em anéis funcionais neurohormônicos. Em certas doenças que afetam
também a afetividade, como a superfunção das glândulas tireóides e a distrofia adiposo-genital
não se. tem certeza, de caso em caso, se a sede primária da perturbação se encontra no
sistema endócrino (tireóide ou hipófise) ou nas partes correspondentes do sistema nervoso
(simpático ou diencéfalo). Consideramos hoje em dia esta sincronização como um sistema
neuro-endócrino regulado circularmente. A tireóide exerce uma influência predominante sobre
a afetividade. No caso de secreções excessivas notamos ao lado de veementes sintomas de
irritação do aparelho ergotrópico, uma superexcitação da vida psíquica com grande
nervosismo, sensibilidade em relação a estímulos psíquicos e físicos e uma grande labilidade do
humor, até a eclosão da psicose. No caso de depauperamento da substância endócrjna
(Mixedema, caquexia e cre tinismo) um embotamento sensível da vida psíquica e um torpor
psíquico.
As doenças da hipófise não deixam de exercer suas influências sobre a afetividade e a vida
psíquica, embora os sintomas não sejam tão primitivos e de difícil estudo. Na acromegalia
observa-se com freqüência uma atitude de palidez e torpor pesado, misturado com nervosismo
e mau humor. Existe uma afinidade entre os temperamentos acromegalóides e os viscosos de
certos atletas embora em graus distintos. Apesar da desigualdade qualitativa há as seme
lhanças quantitativas entre os hábitos atléticos e acromegalóides. Na estrutura corporal e no
temperamento ambos seguem a mesma direção sendo que o atletismo age como variante
constitucional normal e estável, enquanto que a acromegalomania é mais patológica. Em
relação a outras afeções hipofisáricas descrevem-se mutações psíquicas como por exemplo um
nervosismo acompa nhado de incapacidade de concentração e caída simultânea dos cabelos
na região púbica e nas axilas, que desaparecem de imediato com a aplicação do extrato do
lobo anterior (KUGLER 1924). Na sincronização íntima entre a hipófise e o hipotálamo devemos
deixar em aberto em caso de obesidade espontânea, até que ponto a mesma é determinada
cerebralmente ou endócrina primária. Na distrofia adiposa-genital a afetividade muda
também, junto com a função sexual. RIE5E (1925) explica que os que sofrem de obesidade são
vias de regra passivos, desconfiados, de si mesmos, indecisos, até certo ponto autistas, de boa
índole e tolerantes quanto à dor. GLANZMANN (1925) já observa em crianças pequenas que
sofrem de obesidade, modificações sensíveis de temperamento, de um lado apatia
fleugmática, do outro lado um nervosismo hiperestético com mobilidade incerta e alegria
cômica.
Afetividade 53
Como MARX (1941) assinala pode-se distinguuir na distrofia adiposa-genital um tipo mais
inclinado para a eunucóide e outro mais inclinado para a infantilidade. Este último, embora de
energia fraca, se caracteriza às vezes pelos movimentos infantilmente alegres. Encontramos
também o "Humor hipofisário" segundo FRANKL-HOCHWART (1912) que associa a uma calma
fleugmática certa serenidade imotivada. Muito afins a estes grupos são alguns tipos não
doentes na vida artística, nos quais coincidem não por acaso, uma voz de tenor, adipo sidade e
uma moleza e um comodismo invencíveis. Seja como for, todos estes tipos adiposos se
distinguem bem pelo seu colorido delicado dos temperamentos mais sérios e abúlicos com
tendência esquisóide dos delgas e altos eunucóides.
As funções das gldndu las supra-renais na sua influência reguladora sobre o simpático devem
ser muito importantes para a vida afetiva. E de fato, na sua disfunção na doença de ADDISON
vem acompanhada desde um princípio de moléstias graves psíquicas (adinamia corporal),
simulando uma "neurastenia" grave, com mau humor, depressão, cansaço, irritabilidade,
insônia e incapaci dade para o trabalho. Em virtude da ligação estreita das glândulas supra-
renais com as seminais (em caso de tumores, hirsutismo e hermafroditismo) estas influem
sobre as funções sexuais e seus afetos.
A glândula seminal não é o único motivo das funções sexuais mas um elo muito importante de
um círculo de componentes endócrinos e nervosos que se influem mutuamente. A sexualidade
psíquica é um dos componentes essen- ciais da afetividade total por meio da função sexual e
um fator revelante na orientação do temperamento individual. Nos animais superiores serve
para uma moderação adequada do temperamento; touros, cavalos e gatos se tornam mais
sossegados, mansos, fleugmáticos regulares e menos agressivos . Também na espécie humana
os precocemente castrados e os eunucóides por nascimento apresentam mudanças distintas
em sua vida psíquica. H. FI5cHER (1920) des creve os eunucóides como sendo solitários,
quietos, retraídos, fechados, tímidos, recalcitrantes, difíceis e antisociais, e especialmente
apáticos, indiferentes, lerdos e sem iniciativa ou desejo de trabalhar. Nota-se pois nestes
indivíduos de insuficiência das glândulas genéticas freqüentemente um certo autismo acom
panhado de falta de impulsos e interesses. Segundo nossas observações muitos podem ser
classificados de antisociais passivos com tendência autista. Entre os vagabundos encontravam-
se antigamente muitos destes tipos. No seu aspecto psico eles mostram uma ligação com os
círculos esquizofrênicos (es quizóides) e epiléticos.
Até que profundidade as funções das glândulas germinativas e seu aparelho neuro-hormonal
influem sobre o afeto, se mostra no início e na extinção da atividade dessas glândulas
(puberdade e menopausa) que representam às vezes pontos críticos na vida afetiva dos seres
humanos. Já nos indivíduos normais estas épocas coincidem com anomalias psíquicas
evidentes e sobretudo afetivas e quando se trata de indivíduos instáveis observamos
freqüentemente na vida sentimental que se mantém dentro da psicopatologia ou degeneram
em psicoses esquizofrênicas (puberdade) ou melancolismo (climatério). O infantilismo parcial
(imaturidade de caráter) depois da inibição do desenvolvimento da puberdade constituem
além das fraquezas psíquicas adquiridas, o maior ponto de perigo na época da menopausa.
Como o aparelho neuro-endócrino orienta tanto o crescimento orgânico (ossos, gordura, pelo,
cabelos e outros) bem como a afetividade, torna-se evi dente que podemos deduzir da
estrutura corporal certas conclusões sobre o temperamento do indivíduo.
Giro arahipocampa1
Riechsystern
Recentemente dodicou especial atenção ao sistema límbico como parte filogenética mais
antiga do cérebro. Como o limbo envolve considerável parte do tálamo, não é surpreendente
que ele desempenhe um papel preponderante na regulação e apaziguamento da afetividade e
dos impulsos. Segundo expe-. riências feitas com animais, o Septum peilucidum, o corno de
Ammon são atribuídos ao comportamento sexual, o núcleo amigdalóide (córtex fronto-tem
poral) ao comportamento de alimentação e combatividade (excitação raivosa ou mansidão
anormal) segundo MCLEAN (1958). No homem as condições parecem ser semelhantes mas não
tão evidentes. O síndrome de KLUVER e Buc (1938) depois da interrupção de ligações talâmicas
pode ser observado no homem em casos isolados mas com menor intensidade do que nos
animais. (Nivelamento de impulso e afeto, roer objetos, aumento do impulso sexual, falta de
memória). Em casos isolados de lesão do limbo deu-se um abafamento ou irritação e raiva. Se
as vias dos lóbulos temporais eram interrompidos de ambos os lados notava-se uma
diminuição do impulso e do afeto. Na circun volução do cinto quando perturbada, nota-se
efeito semelhante. Em tumores do Septum pellucidum notam-se ao contrário sinais de
irritação e raiva.
A importância do limbo é sublinhada pelo fato de certas substâncias (espe cialmente Benzo-
Diazepínicos) que provocam relaxamento dos músculos e diminuição de afetos, entram em
ação neste ponto. O mesmo pode ser dito do "Kavain" recentemente introduzido (W.
KRETSCHMER 1970).
Uma mulher casada em idade média, queixava-se de uns meses para cá de impulsos sexuias
que se manifestavam em intervalos irregulares. Relações sexuais normais a levaram ao
orgasmo mas não diminuíram as tensões. A paciente reduziu a coabitação e resistiu ao desejo
de se masturbar. O estado era extremamente penoso e mau grado o orgasmo sentido, era tido
como desconhecido pela sua personalidade mais elevada. Este exemplo é interessante sob a
localização cerebral e ilumina ao mesmo tempo a relação entre a consciência humana e a
perturbação básica emocional causada organicamente.
impulsos Bdsico 55
Supomos e com razão, que se tratava de uma pessoa diferenciada psiquica mente e de firmeza
de caráter graças à sua atividade pessoal, e que vivia plenamente este dilema humano,
dominando-o por completo. (W. KRETSCHMER inédito).
IMPULSOS BÁSICOS
Entendemos por impulsos, a atração para determinados fins, quer dizer necessidades. Aqui nos
interessam somente os impulsos elementares cuja satis fação nos parece vital ou ao menos
urgente . Eles incluem a afetividade mas formam complexos de vivência mais elevados,
independentes e diferenciados. Estes impulsos são intimamente ligados em parte com certos
setores cerebrais e podem ser provocados dali, sob condições anormais. (Vemos como
conseqüên cia da encefalite infantil a mudança de impulsos. Essas perturbações se referem em
parte a instintos propriamente ditos segundo sua intensidade e rumo (exibicionismo e
homossexualismo) com suas correlações orgânicas ou em outros sentido de desinibição o
grupo de "instintos agressivos" em suas formas atávicas de animais selvagens (fórmulas
motoras de arranhar, morder, bater e afetos de prazer e raiva), e a impulsividade. No caso de
desinibição dá-se uma inquietude motora impulsiva persistente que se descarrega por reflexos
agressi vos face a um estímulo vindo de fora.
Segundo os dados pesquisados por SPATZ (1942) e outros o Tuber cinereurn parece formar um
centro sexual especial dentro do diencéfalo. Numa má formação hiperpiásica num menino de 3
anos comprovou-se uma precocidade excessiva quanto às dimensões dos seus órgãos sexuais,
madureza do esqueleto e desenvolvimento sexual, correspondendo ao de um menino de 15 a
16 anos. Em contraste com este amadurecimento prematuro, observou-se em um caso de
destruição experimental circunscrita do Tuber cinereuin (Eletrocoagulação) em animais jovens
que, mau grado do crescimento o desenvolvimento das glândulas genéticas e dos
característicos primários e secundários do sexo ficavam prejudicados faltando o impulso sexual.
Ocorreram também aqui mudanças metabólicas de obesidade e magreza.
É sabido que a hipófise contígua, particularmente o hormônio prehipo fisário exerce influência
predominante sobre o desenvolvimento sexual a partir
do 1l.°f12.° ano. Encontramos aqui um círculo reduzido de ação entre um órgão glandular e um
centro nervoso situado a pouca distância do hipotálamo. À medida que a investigação
fisiológica provara que as atividades nervosas são, em última análise, também ações químicas
exercidas mediante substâncias transmissoras ou intermediárias se compreende melhor estes
extremos de impor tância decisiva.
Assim por exemplo o gato produz desde um ponto excitável do núcleo peritrigonal (coluna
fornicis) uma atitude de ataque perfeitamente integrada. Conduz-se como se estivesse
ameaçada por um cachorro. Bufa, rosna, fica de pelo eriçado, o rabo se torna duro, as pupilas
se dilatam, as orelhas se inclinam, ou se movimentam em sinal de defesa, o corpo está prestes
para saltar. Se a excitação elétrica do diencéfalo persiste ou se intensifica, sobrevém o ataque.
O gato assalta uma pessoa na sua vizinhança ou lhe aplica algumas patadas bem localizadas. Os
sintomas exteriores correspondem ao conceito da "fúria" (fingida). Em sua disposição agressiva
o gato procura a quem atacar.
Assim como na vida normal uma "figura" (um cachorro que aparece induz
a uma ação agressiva, o mesmo ocorre por uma excitação elétrica no hipot
De uma forma análoga, os impulsos orais podem ser excitados por um foco situado mais atrás.
A excitação elétrica provoca neste caso um desejo desme surado de comer e beber. Se o animal
não tomou nem leite, nem carne ele começa a devorar avidamente e a beber com sofreguidão.
Pode até acontecer que ele mastigue objetos não digeríveis, uma pinça, uma chave, um pedaço
de pão. Daí se depreende que o desejo de beber na diabetis insípida não seja um efeito
secundário de um transtorno precedente do metabolismo mas sim uma conseqüência anômala
primária e imediata integrada de antemão com a perturbação da economia hídrica. Origina-se
um impulso cinético provocado de pontos de excitação mais atrás.
Para o estudo dos impulsos são de interesse, certos grupos de funções que fazem fusão com
fatores vegetativos autônomos e psicomotores voluntários que
ImpuLsos I3asicos 57
têm seu ponto de excitação no diencéfalo. Contamos entre estes com o ato de defecar, e
síndromes como: cheirar, lamber, movimentos de mastigar qu& por sua vez são componentes
de atitudes complexas.
Parece que os ensaios de excitação de HESS indicam uma série de domi nâncias entre as
diversas fórmulas instintivas. Em colisões de efeitos muito coordenados, especialmente de tipo
instintivo e derivados de, estímulos, aparece freqüentemente não uma combinação, mas uma
alternativa absoluta de sim ou não. Isto não depende nem do valor limiar do estímulo, nem da
sua magnitude mas sim da auto-conservação do instinto em condições naturais.
A. E. MEYxR 1959).
Não resta dúvida sobre a possibilidade fundamental de transferir os expe rimentos de HESS em
animais à psico-fisiologia e patologia humana. N se estuda aqui, por não ser o lugar apropriado,
as variações particulares da topo grafia encefálica na filogenia do diencéfalo, e das partes mais
primitivas do cérebro em conseqüência da reorganização morfológica e da transiadação das
funções. Pode-se afirmar que as condições são iguais de um modo geral entre o homem e os
mamíferos mais desenvolvidos. Em fraturas da base do crânio e na encefalite encontram-se
síndromes iguais aos das experiências de HESs feitas em animais. Além das alterações
profundas dos impulsos sex uais desta camos a desinibição dos impulsos cinéticos e agressivos
dos impulsos orais e anais bem como perturba ções profundas da regula çff o do sono e vigília.
foram
cinético com transição para fuga. Campo pontilhado: zona sonógena. anua ma correspondem
às designações anatômicas; For. M = Foramen Monro, 'o enfoque e
1- 1
de
seja
sim umè.
a perturb
de pontos c Para o es
SEGUNDA PARTE
FO
O critério evolucionista contribuiu tanto para o progresso e ordem do pensamento nas ciências
naturais que se torna indispensável transferi-lo dos objetos da nossa experiência interna para a
própria vida interior, a psique. Onde quer que seja que os dados anatômicos não nos sirvam
para agrupar temos na evolução o melhor fundamento ompírico para estudar os componentes
efetivos da psique. Dispomos no domínio ontogênico da psicologia, no coletivo da psicologia
étnica e no filogenético e com certas restrições da psicologia dos animais. Os ensinamentos
que ganhamos nesses terrenos são de valor diferenciado.
Nota do editor:
Nas páginas seguintes "Formas figurativas" expomos idéias que foram muito discutidas nos
tempos da l.a guerra mundial. A matéria continua inalteradamente muito atual. Somente a
ordem racional ganhou novo enfoque e por isto damos algumas explicações a respeito.
Nosso problema é mais grave porque a atividade da humanidade não segue em linha reta do
simples para o complicado, do material ao abstrato, do grosso ao fino no rumo da evolução.
Vemos já na escala dos animais organismos muito complicados, "inferiores, primitivos e
superiores". O macaco, comparado ao homem, é ora mais, ora menos diferenciado. Na história
da humanidade - se é que podemos falar de capacidades psíquicas - os modos mágicos, míticos
e racional-objetivos da captação do mundo se ligam em proporções variáveis. Encontramos
também na humanidade de hoje qualquer combinação durável ou alternadamente de força
dessa dimensão básica. Onde está a evolução? A resposta é bem mais complicada do que se
possa imaginar. Ao constatarmos ironicamente que o homem "moderno" se diferencia do
arcaico apenas pelo fato dele não querer diferenciar entre as raízes mágico-míticas do seu
pensamento e da sua ação, não chegamos ao fundo da questão. Com o devido cuidado
podemos dizer que a tendência aumentou de sujeitar, em caso de necessidade - a vida ao
raciocínio e com isto o grau de capacidade de abstração e da capacidade de diferenciação
conceitual. Trata-se de possibilidades que devemos aproveitar cada vez de novo e que nem
abrangem toda a personalidade. De vemos ver onde se deu a in-diferenciação entre o
sentimento e as relações inter-humanas. Pode-se asseverar que a potência da consciência
tenha evoluído. Tudo depõe a favor do fato de que o ponto de gravidade da atividade mágica,
mítica e racional, bem como a relação entre a estrutura simples e diferenciada, grossa e fina se
alterna em Filo e Ontogênese, em movimentos ondulares e a evolução toda assume um
aspecto de espiral. Devemos estar cientes que este modelo apresenta muitas falhas. O
problema biológico e morfológico-cultural da decadência ou do desaparecimento de certas
linhas de evolução complicam ainda mais o quadro.
O exemplo da evolução da língua esclarece melhor ainda este ponto de vista, O grupo principal
das línguas que isolam, aglutinam e se adaptam não seguem uma linha de evolução reta e
histórica do simples ao complexo ou do sensorial ao abstrato. As línguas indo-européias, por
exemplo, se tornam mais complicadas à medida que retrocedemos no tempo. E a língua
chinesa que separa as palavras figurativas admite uma abstração muito grande uma ordem
gramatical muito distinta. O pensamento dos assim chamados primitivos pode fundir-se num
vocabulário menos diferenciado, mas não se diferencia em princípio do nosso (MAIs1'luAux,
1969). Certas leis de graduação de formas lingüísticas podem existir ou já existiram conforme
depreendemos da evolução lingüística das crianças. Elas não podem, entretanto, ser
catalogadas para justificar um sistema teórico da gênese da língua em si, ou aplicável a deter
minadas culturas. Nos três grupos principais das línguas encontramos o caráter típico do
espírito humano cuja peculiaridade descrevemos, mas cuja gênese não podemos acompanhar.
(RÉvÉsz 1946 e SKALICKA 1957).
Fenômenos semelhantes podem ser aplicados a outras criações culturais, como estilos
figurativos e musicais.
Devemos estudar quais as conseqüências que derivam dessas descobertas para a Psicologia
evolutiva médica. Quando diversos princípios de imaginação (reprodução) da realidade da vida
se apresentam através de várias épocas da história, idades e espaços universais ou de situação
em situação numa seqüência variada, a evolução não basta ainda como modelo explicativo.
Não devemos ver em qualquer fenômeno psíquico pouco comum, o surgimento de algum grau
filo-genético anterior, pois é difícil constatar até que ponto se deu um "retrocesso" (ou
progresso). O termo "Regressão" deve ser aplicado com o máximo cuidado como, aliás, todos
os termos psico-analíticos. Mesmo Jung não viu que os arque-tipos como princípios
apriorísticos não perfazem a sedimentação da história tribal da humanidade. Falar de
"profundidades psíquicas" é lícito, enquanto identificamos com este conceito figurativo as
potências distantes ou de difícil alcance da consciência. O "Profundo" porém, não é ao mesmo
tempo o "mais velho"
Nestas condições será mais prudente não derivar qualquer descoberta de algo já existente
anteriormente, comparando antes os fenômenos que parecem ter ligação entre si. Comparar
significa descrever entre dois objetos ou causas aquilo que eles têm em comum e o que os
diferencia, e não um ou outro aspecto apenas como acontece monomaniacamente. Quando
relacionamos, por exemplo, o simples reflexo de um recém-nascido e a atitude de um adulto
moderno quanto às suas manifestações neuro-patológicas, animalesca, infantis ou
manifestações de uma psique doente, devemos anotar tanto as semelhanças como
divergências principais, por exemplo, que o mesmo princípio se enquadra de uma forma
diferente no sujeito possuindo por conseguinte uma outra função. O pensamento evolutivo fica
assim limitado àquilo que ele pode executar havendo ainda lugar para outros pontos de vista.
Quando se diz que "o homem age desta ou daquela maneira porque seus antecessores os
macacos também o fizeram" isto não é nenhum argumento científico, mas uma mera anedota.
Somente a pesquisa dialética do achado saberá por o específico e o comum em seu devido
lugar.
Não devemos esquecer que existem duas maneiras de pensar para deduzir os fenômenos: da
evolução ou dos princípios. A evolução parece ser a mais apreciada porque muitos pensam que
com ela podemos justificar a determinação casual de tudo que surgiu. O ato de traçar os
fenômenos até seu últimos princípios não perdeu ainda de importância, se consideramos que
processo da criação e a configuração formam dois fenômenos equivalentes que se completam
mas que não podem ser derivados um do outro. Se partimos do fenômenos, enfrentamos em
primeiro lugar os princípios como por exemplo da imaginação e da atitude. A tarefa mais
eminente e imediata da psicologia e psico-patologia consiste pois em conhecer a importância e
função dos fenômenos e de pesquisar sob que circunstâncias eles aparecem ou retrocedem,
com eles agem em comum e quais os meios de influnciá-los. Sua origem histórica não é
secundária, mas de menor interesse. Insistimos, pois na estruturação c alma, o exame de tipos
de relação com o mundo tanto na biologia como a ciências culturais.
FORMAS FIGURATIVAS
Os processos psíquicos da figuração que agem em outras pessoas nunca nos chegam
diretamente mas por intermédio de suas reações psicomotoras, principalmente da linguagem e
das artes plásticas. Não se conhecem bem origens da linguagem como documento mais
objetivo e completo da vida psíquica coletiva e do seu modo de refletir o mundo exterior. A
observação empírica nos mostra uma das primeiras fases da sua evolução como, por exemplo,
entre os negros do Sudão. Estas línguas de aglutinação consistem de palavras monossilábicas
das quais cada uma tem seu significado próprio. Cada uma exprime uma imagem, uma
representação gráfica do objeto, da ação ou da qualidade. Assim sendo o termo "golpear" e
"golpe" representa uma só palavra. Faltam as palavras abstratas, mas também uma estrutura
gramatical elaborada e determine a ordem hierárquica dos conceitos, o uso de conjunções e
partículas, a função dos casos, modos e tempos. A relação entre as palavras figuradas se
exprime de um modo muito primitivo, pela sua ordem de seqüência e por outras simbólicas
intercaladas.
O seguinte exemplo mostra o grande número de imagens que se necessita para traduzir numa
língua primitiva, um pensamento que para nós nada tem de abstrato: "O bosquimano teve uma
acolhida amável pelos brancos para que cuidasse das suas ovelhas, em seguida o branco
maltratou o bosquimano e quando este fugiu, ele admitiu um outro nativo que teve sorte
igual". Traduzido na linguagem do bosquimano obtemos o seguinte: "Bosquimano ir lá aqui
corre até branco, branco dá fumo, bosquimano vai fumar, enche o saco de fumo - branco dá
carne, bosquimano vai comer carne, levanta, vai para casa - vai contente - vai sentar - vai pastar
ovelhas brancas - branco bate bosquimano - bosquimano grita de dor - vai correr longe dos
brancos - branco o persegue - ali outro bosquimano, este vai pastar ovelhas - bosquimano se
foi totalmente". (WUNDT 1913).
Nota-se a abundância de imagens isoladas que em nossa língua se com primem numa só frase
como "acolheu amavelmente". No pensamento db primitivo estas imagens não são ainda
coordenadas em categorias abstratas, mas são guardadas em impressões sensoriais na
memória e se sucedem sem alterações como um rolo de filmes. A imagem concreta domina
isoladamente a cena enquanto que a relação entre as imagens é apenas insinuada. Os nexos
lógicos fracos e frouxos.
Teoricamente podemos ver na série assintiditíca de imagens a fase inicial, mas primitiva de
todos os processos psíquicos figurativos, se bem que devemos considerar de origem primitiva,
nascidas do espírito, tanto as tendências de coordenação por categorias lógicas, como os
princípios que regem o ritmo e o estilo. Não encontramos esta fase inteiramente pura em parte
nenhuma, mas diferenciada segundo seu sentido como o demonstram as línguas isoladas.
Como é que se desenrola a linguagem e com ela o pensamento humano? Assim se manifesta
WUNDT: "Ela não brota, e cresce, ela aglomera e aglutina". Os filólogos imaginavam antes que
da imagem monossílaba, semelhante aos brotos de uma raiz, desabrochassem orifícios e
terminais, que mudando seu significado o tornaram flexível e apto para a síntase. WUNDT
refuta esta teoria. Quando um negro do Togo aprende novos conceitos pela introdução de
novos objetos, ele procede como segue: Estilo - riscar - um pouco; cozinha = lugar - cozinhar -
um pouco; prego = cabeça - ferro - largo. O novo conceito surge, pois pela aglutinação das
palavras já existentes. O genitivo de "a casa do rei" forma-se pela intercalação de uma palavra
independente = "casa-própria-rei". Imagina-se facilmente como estas palavras intermediárias
perderam aos poucos seu valor simbólico para converter-se em simples partículas que não
mais representam imager1 mas sim reações ou, como nas novas associações verbais os
monossílabos perdem seu sentido figurado ficando apenas fórmulas sonoras, vazias, de várias
sílabas, a título de noções abstratas ou de desinências flexíveis como acontece nas línguas dos
povos civilizados. O pensamento abstrato que pertence a toda evolução cultural se baseia
parcialmente na abreviação das séries de imagens em fórmulas, idéias e noções abstratas longe
de constituir um domínio espiritual independente acima ou ao lado do mundo sensível. Em
cada abstrato esconde-se uma imagem. Podemos perceber nitidamente o sentido figurado de
palavras abstratas como "noção", "objeto", "apanhar", ou "opor-se". Em condições adequadas
o pensamento abstrato pode descompor-se novamente nas suas imagens simples como
veremos mais tarde no caso do sonho e da esquizofrenia. Que estas reproduções figurativas
não esgotam a função essencial do pensamento abstrato, veremos mais tarde.
AGLUTINAÇÃO DA IMAGEM
Para bem compreender as fases da evolução psíquica, é muito importante seguir as leis de
aglutina ça de imagens através de vastas zonas do pensamento primitivo, sobre tudo dos
princípios da mitologia e das artes plásticas: no Egito antigo, na India e na Grécia atingindo a
idade-média encontramos em grande profusão, tais aglutinações ou imagens conglomeradas
de esfinges, centauros, faunos, anjos e dragões. (fig. 6 a 9). Certos setores da ornamentação
nórdica e romana são totalmente dominados por uma profusão de figuras mistas, de imagens
grotescas e exuberantes que nos parecem criações de sonhos fantásticos. Formas humanas e
animais, leões e águias, feras e plantas se entre laçam e se confundem num ser fabuloso. Este
gênero nos quer parecer arcaico Sua origem remonta às épocas mais primitivas do pensamento
humano e i medida que a civilização avança mesmo no simbolismo religioso, ela desaparece
favorecendo as abstrações metafísicas. No pensamento vivo dos povos civilizado modernos
não se manifesta mais, a não ser em pequenos grupos de adepto que não abrangem o povo
todo. Subsistem ainda motivos rudimentares petrificados, imitações caprichosas de formas
arcaicas.
Fig. 10 Motivos ornamentais dos Baca segundo K. VoN DEN STEINEN 1897. Aventais femininos
(Uluri), B. Morce
A capacidade de "condensar" é tão extraordinária em certos povos primitivos que algumas das
suas criações nos parecem indecifráveis, não conseguindo explicar como os índios Huicholes,
no México, confundem numa só unidade por meio de associações muito vagas, objetos tão
diferentes como: uni veado, uma variedade de cactos e a estrela matutina. (PREUSS 1914). Os
indígenas do Nordeste da América do Norte representavam a alma fugindo do corpo em forma
de uma figura humana sentada num barco parecido com um pássaro e uma cobra saindo-lhe
da boca. Chamamos uma tal reprodução de Símbolo, tendo diante dos nossos olhos a nossa
noção abstrata elaborada da alma que projetamos retrospectivamente nas figuras, o que para
nós já significa um ato de pensar analítico artificial. Na consciência do primitivo, porém não
existe a abstração "alma", e que por conseguinte não pode dizer da sua obra que ela -
signifique a alma mas "que é a alma". Na sua consciência existe somente a condensação da
imagem, com uma forte tonalidade de sentimento. Esta condensação substitui o abstrato da
alma. Não é um substituto para a alma, mas sim o embrião dessa imaginação. Conhecemos
este fenômeno como pensamento complexo (Piuwss) porque nele se projetam, embora por
conjuntos de imagens mal definidas, as noções abstratas atuais de contornos precisos. Quando
vemos nas criações intelectuais dos povos primitivos alguns símbolos, teremos que entendê-
los não como re-tradução gráfica das nossas noções, mas sim como fase preliminar e figurada
deles.
PECHUEL LOESCHE (1907) nos conta um belo exemplo dos Bafioti de Loango: "Recebi como
homenagem um belo colar feito dos cabelos muito compridos do rabo de um elefante nos
quais se achavam traçados uma garra de um leopardo e de uma águia, o dente de um peixe e
de um crocodilo. Os pêlos e garras haviam de proteger-me na caça, aguçar minha vista na
floresta e nos descampados, tornando-me forte e ágil, e os dentes haviam de proteger-me de
todos os perigos dentro d'água.
Estes hábitos se baseiam numa transição onde uma pequena parte repr senta o todo, e o dono
do colar recebe as qualidades de todos os animais representados, o que nos faz lembrar o uso
de amuletos, fórmulas mágicas outros entre as camadas primitivas dos povos civilizados.
ESTILIZAÇÃO
Seria um erro crer que as artes plásticas começaram com a reprodução ingênua e fiel do
mundo exterior. Encontramos nos desenhos rupestres dos bosquimanos e dos homens
europeus da era da pedra representações bastante realistas de animais e cenas de lutas. Tanto
lá como nos povos primitivos de hoje nos chama a atenção a forte tendência para a estilização.
1. destacar o essencial
2. simplificar as formas
A tendência de destacar o essencial é encontrada nos desenhos basta realistas dos indígenas e
nos desenhos infantis análogos. A diferença tamanho efetivo é mostrada de forma caricatural,
traços característicos com bigode são acentuados, elementos impressionantes como o coração
e o umbigo são postos em relevo embora o modelo não os evidencie.
Este relevo do essencial no processo de reprodução apresenta uma pa da catatimia, quer dizer,
da tendência de transformação à qual o contei psíquico é sujeito pela influência do afeto.
Aquilo que chamamos de "essencial sempre é alguma coisa que afetivamente nos toca mais de
perto. Com a evolução da arte a estilização ainda se mantém forte, mas em vez de ater-se a
pormenores exteriores impressionantes ela se põe cada vez mais ao serviço da expressão
afetiva. A obra plástica domina um sentimento principal homogêneo, col severidade, nobreza,
solenidade, como as podemos observar na arte egípcia grega antiga e romana.
A simplificaçao da forma é essencialmente imposta nas fases avançadas evolução pelo afeto.
Ela se aplica como componente autônoma do processo de reprodução sendo já reconhecida
nos primórdios das artes plásticas. Evidencia uma predileção acentuada para as formas mais
simples e sobretudo, pelas for geométricas regulares e pela simplificação das formas empíricas
complica de animais e figuras dando-lhe contornos retilíneos, regulares ou arredond2
aproximando os contornos às formas básicas: triangulares, redondas, rombó ou suas
combinações. Esta tendência figurativa não pode ser diferenciada nitidamente da de projetar
formas animais em figuras geométricas já existentes.
Devemos supor que esta inclinação de simplificar formas constitui intendência primária do
aparelho psíquico. No mundo exterior macroscópica não trabalhado pelo homem ainda, as
formas de contornos irregulares e com plicadas em órgãos vivos e paisagens são
predominantes e as limitações geométricas (lua, horizonte marítimo) são minoritárias. Esta
escassez geométrica no mundo exterior se encontra em tal desproporção com a predominância
e regularidade da arte primitiva que não podemos supor que tenha sido imposta do exterior na
elaboração gráfica de homens e animais. Algumas dessas formas simplificadas são de ordem
técnica-motora pelo processo da tecelagem e esculpir, ou porque um manejo menos hábil dos
instrumentos impunha linhas mais simples. Acresce-se a isto a falta de detalhes pela falta da
memória visual. Tudo isto não basta para explicar as estilizações primitivas. Explica-se menos
ainda o prazer estético que em certas condições inspira o homem civilizado para o uso de
formas geométricas puras e menos ainda que um artista culto e profundamente realista recaia
sob certas condições na estilização rigorosamente geométrica.
A Repetição das Formas se relaciona estreitamente com as tendências rítmicas sobretudo pela
repetição tonal, O gosto pelas formas e pelos sons monótonos e repetidos é característico pela
vida psíquica da criança e do homem primitivo que sofre na evolução posterior uma sensível
diminuição e se manifesta mais forte em situação de fadiga do adulto.
No domínio óptico isto se manifesta pela tendência para a simetria bilateral de uma figura ou
pela seriação ornamental do mesmo motivo geométrico
ou geometricamente simplificado.
Com a ajuda destes princípios vigorosos de estilização e cooperação com outros fatores
numerosos, por exemplo, a fixação psicomotora de formas de funções freqüentemente
exercidas a arte primitiva se converteu aos poucos num meio útil de comunicação espiritual, e
através dos carateres simbólicos na escrita que representa hoje um dos mais importantes
instrumentos de expressão ria vida psíquica superior. No grau mais elevado e abstrato da vida
psíquica encontramos os princípios de estilização da forma simplificada regular como
esquematismo - uma tendência que desempenha papel importante na construção do
pensamento filosófico e matemático.
PROJEÇÃO DA IMAGEM
Entendemos por projeção da imagem sua distribuição sobre as duas regiões principais: o EU e
o Mundo Exterior. No homem supercivilizado esta distribuição é bastante nítida. O conteúdo
psíquico que faz parte do EU denominado de subjetivo, e de objetivos os que fazem parte do
mundo exterior A isto se encontra estritamente ligado a diferença entre representação e
percepção, entre si imagens representadas "dentro da cabeça" (Localização do EU e as
percebidas pelas sensações sensoriais associadas à firme concepção que ela nos vêm de fora
(localização no mundo exterior). As imaginações se baseiam nas imagens mnésicas que as
percepções nos deixam. São mais pálidas e vaga do que as percepções. A distribuição da
imagem entre o EU e o mundo exterior e sua classificação à medida que nascem nas categorias
de representação e percepção somente se torna precisa e certa sob a condição de uma
observação não perturbada e crítica. As imagens dos sonhos oscilam imprecisamente no limite
entre as duas. A má interpretação ilusória e mesmo a formulação arredondada das impressões
sensoriais para o objeto completo se baseiam n projeção de elementos de representação nas
percepções. Em estados psíquicos anormais podemos acompanhar passo a passo como uma
representação se tom cada vez mais intensa e viva, começando a flutuar na linha divisória
entre a imaginação e percepção tornando-se finalmente com uma intensidade aumentada em
alucinação, projetando-se assim no mundo exterior.
Para um doente essa representação projetada é real. Ela tem o caráter irreversível da
realidade. Assim vemos como o "julgamento da realidade" liga reciprocamente com a projeção
da imagem. Diante das imagens "subjetivas", localizadas no EU e "dentro da cabeça"
guardamos o juízo realidade considerando-as somente reais depois de tê-las corrigidas e
confirmadas mediante freqüentes comparações com "percepções" ou seja com imagens do
mundo exterior. As imagens "objetivas" localizadas no mundo exterior no âmbito das
percepções são sempre acompanhadas da convicção da sua realidade com um julgamento
positivo. Já falamos anteriormente das exceções dessas regras.
Devemos demorar-nos ainda para tratar da formação das imagens e da sua ordem relativa. O
que os nossos órgãos sensoriais nos transmitem não são imagens, e sim impressões. São a
matéria prima das imagens. Se pegamos uma folha com carateres chineses veremos de início
nada mais do que um caos de preto e branco. Se conhecemos a escrita chinesa o caos se desfaz
em carateres cheio de sentido e imagens inteligíveis. "Imagem" quer dizer: a combinação
significativa de impressões sensoriais. A consciência semântica surge com a memória, assim a
imagem escrita "árvore" evoca em nós a memória de uma árvore que se associa à mesma. Esta
sintese de impressões sensoriais traduzidas em imagem produz-se com a participação de sinais
no cérebro (engramas, ligados aos centros do córtex cerebral, assim, por exemplo, a síntese das
imagens sonoras no centro de WERNICKE situado na circunvolução temporal (comparem pgs.
21 e 24). A associação das impressões sensoriais para formar uma imagem pode ser
considerada teoricamente como o segundo grau da síntese psíquica (cores, sons, etc.) que
segue o primeiro grau elementar da síntese sensorial. O que vem a ser um objeto comparado
com uma imagem?
Quando sonhamos vemos imagens e não objetos Nada nos "enfrenta" de uma forma sólida.
Temos imagens vivas, mas elas são flutuantes e oscilam. Entendemos por "objeto" uma
imagem de contornos bem definidos, situada no espaço e no tempo.
Impressão sensorial, imagem e objeto são 3 escalas progressivas de evolução da matéria prima
psíquica. Na mente do selvagem como na da criança representação do tempo, do passado e do
futuro é pouco desenvolvida e con ela a necessidade de medir e dividir o tempo. Ambos vivem
o momento que guarda uma relação estreita com a dependência do mecanismo catatímico sua
incapacidade de registrar cientificamente grandes séries contínuas de observações. A formação
das imagens é mais do que objetiva. Já vimos que contém quase que unicamente elementos
sensoriais, naturais e abstratos. Nosso pensamento civilizado é mais objetivo, mas também
menos plástico (matemática e por isto podemos sentir menos as aglutinações primitivas das
imagens. Esta surgem quando as imagens soltas se fundem entre si pela ação livre dos afeto
parecendo intercambiáveis. Exige de início um certo esforço de unir nua só pensamento o
cervo, o cacto e a estrela matutina por que na nossa consciência cartesiana cada imagem se
nos apresenta rigorosamente limitada e situada no espaço como "objeto".
AFETIVIDADE
Catatimia
Já dissemos antes que o aparelho psíquico, primitivo estrutura com menor precisão e menos
diferenciação as relações existentes entre as imagens captadas. A relação das "coisas" entre si
forma-se pelos afetos fortes que agem sobre imagens especialmente onde a penúria da vida ou
a força dos impulsos provoca fortes emoções psíquicas. A vida sexual, a guerra, a luta, a espera
intensa p chuva e presa de caça, mas antes de tudo doença, medo da morte e morte s os
pontos no qual se inicia o pensamento mágico. Além disto o pensamento se alastra pela
totalidade dos fenômenos, O pensamento mágico é a fonte elementar em que estas formam
uma rede na qual as imagens simples associam numa imagem sintética fechada do mundo. Daí
se desenvolvem firmes categorias de pensamento da lógica, da utilidade e causa, a idéia
religiosa de Deus e a concepção científica da força. O pensamento mágico raras vezes se origina
da observação exata da simultaneidade freqüente dos fenômenos, mas antes do efeito
imediato de afetos experiência significativas. Os resulta do pensamento mágico levam sempre
o carimbo dos temores e desejos c os originaram, são formações catatímicas. Entende-se por
catatimia (H. MAIER, 1912), a transformação sofrida pelos conteúdos psíquicos sol influência
dos afetos. A imagem primitiva do mundo é catatímica num g bem superior do que a racional.
Assim como o pensamento científico cas coordena as coisas segundo o princípio da freqüência
de fenômenos dentro um reduzido espaço de tempo, o pensamento catatímico age segundo o
princípio da comunidade afetiva. Ouve-se um trovão e pouco depois um homem cai fulminado.
Ambos os acontecimentos têm em comum o susto sofr
Para a convicção catatímica isto basta para afirmar que o trovão causou a morte. O
pensamento causal, entretanto é estático. Ele pergunta: quantas vezes existe uma coincidência
entre o trovão e a morte? Com a raridade dessa coincidência de dois fenômenos ele leva ao
absurdo a coincidência da causa, enquanto a comprova com a freqüência de dois outros
fenômenos.
PROJEÇÃO AFETIVA
A palavra TABU, de origem polinésia, serve na psicologia étnica como termo para designar um
complexo de alto alcance nas atitudes dos povos primitivos. A palavra inclui o significado de
"santo" e "impuro" ao mesmo tempo poderoso e benfazejo, como de inquietante, perigoso e
proibido. TABU são os caciques das tribus, os sacerdotes, guerra e caça, puberdade e
menstruação, nascimento e recém-nascidos, doenças, morte e falecidos, em breve, as pessoas
mais poderosas, honradas e temidas, ações e acontecimentos vitais, geralmente
acompanhados por temores e esperanças e finalmente estados e fases da vida que trazem
consigo modificações profundas, influenciadas por desejos, medo e repugnância. Trata-se
enfim de coisas com preponderante acento afetivo.
Aqui se manifesta do modo mais sugestivo a diferença entre os dois modos de vida. Diríamos:
"tenho um temor sagrado de reis e sacerdotes, experimento medo e pavor ao ver um cadáver".
O sacerdote, porém diz: "O sacerdote é tabu, o tabu se esconde no cadáver". Transpomos os
afetos para o EU, para nós mesmos, mas o primitivo os projeta para o mundo exterior. Ele os
localiza no mundo exterior assim como suas impressões visuais e auditivas. Esta projeção
afetiva é de importância capital para se compreender a imagem que o homem primitvo faz do
mundo.
Animais e objetos inanimados sentem e agem como pessoas humanas, fazem o Bem e o Mal,
podem ser irritados ou apaziguados e utensílios como uma picareta ou um martelo se
transformam na sede de forças animadas e de veneração religiosa. Também em partes do
próprio corpo agem vários espíritos e almas. Entre os Yorubas cada indivíduo abriga três
espíritos, um na cabeça, outro no estômago e o último no dedo grande do pé. O primeiro
chama-se "Olori" senhor da cabeça o que significa capacidade e talento. Sangue dos animais
sacrificados esfrega-se na testa, ele dá sorte. O segundo espírito localizado no estômago
provoca a sensação da fome e o terceiro no dedo grande do pé recebe oferendas quando se
quer iniciar uma viagem, O dedo é então untado com uma mistura de sangue de galinha e óleo
de palmito. Os Karo-Batak em Sumatra presumem que haja até sete almas num só indivíduo, os
espíritos protetores de atividades importantes e traços de caráter.
A imaginação, primitiva das relações entre as coisas pode, por conseguinte ser projetada
(tendências de afeto projetadas no objeto) substanciada quando as relações entre as imagens
são pensadas como tais e personificadas porque todas as coisas envolvidas aparecem como
individualidades vivas. Em certas tribos dos índios do Brasil, por exemplo, introduz-se um
pedação de pau no nariz porque eles consideram ser a doença um corpo firme que penetra
pelo nariz em linha reta no corpo. Quando a doença bate contra o pau ela não pode entrar no
corpo e cai no chão. A cegueira provocada pela neve se atribui a pequenos insetos que
penetram na vista. Não existe uma alma única circunscrita, de um EU que assume com a
consciência um significado ativo perante o mundo exterior, O EU é uma substância entre outras
substâncias igualmente animada sob o aspecto antropomórfico e subdividida em
personificações parciais, um joguete destas potências sem demarcação precisa entre o mundo
exterior e os objetos.
Não nos cabe aqui pesquisar todas as raízes da representação ocidental da alma. Trata-se de
um produto muito complexo de condensação. De um lado deriva da morte, do corpo do
defunto ("alma corporal", desalucinações oníricas e imagens mnésicas que nos fazem aparecer
o defunto como um ser vivo). Da outra parte deriva das personificações que acabamos de
descrever, das partes e funções do corpo, onde a sombra, o sangue e o sopro como
representantes da vida (alma de sombra e sopro) se incorporam na abstração total da alm com
suas atividades principais e traços de caráter do indivíduo - A alma uma espécie de pessoa
dentro da pessoa, um EU interior para o qual o Et. exterior serve de utensílio e moradia, que
ele pode abandonar sob determinadas circunstâncias. Nossa representação dualista da alma
parece ainda ingênua neste ponto e personifica as funções como as dos índios Cora, em cujas
cabeças corações mora "o pensamento 'muatsira" como sujeito ativo e real que deter mina
suas próprias ações. Na concepção da alma perpetuou.se mais o critério da personificação,
porque ele recebe uma corrente afetiva mais ampla d instinto de conservação e da idéia
catatímica da sobrevivência depois da morte porque o homem deve reconhecer-se na sua
autodeterminação como pessoa Com respeito ao mundo exterior a idéia personificada e
antropomórfica d demônio se apresenta um tanto pálida porém reconhecível as noções
naturalistas que definem a seqüência dos fenômenos que se manifestam nas coisas, com efeito
das forças nas coisas em si. Basta pensar nas conseqüência filosóficas d; teoria corpo-alma
(pag. SI).
AMBIVALËNCIA E AMBITENDÉNCIA
Ambivalência e Ambitendência 75
"Tabu" provoca no homem primitivo um acordo afetivo único que, ao ser analisado se divide
em outros tantos acordes separados como: sagrado, venerável, sublime, misterioso, perigoso,
detestável e impuro. Estes complexos afetivos com acentos ambivalentes surgem sem
nenhuma transcendência e são fenômenos apriorísticos válidos para toda a humanidade. No
terreno religioso R. ORRO (1936) tentou comprová-lo sob o conceito do "Luminoso" e JUNG
para a psicologia com o aparecimento da ambivalência arquetipa. Por isto encontramos o
"Tabu" em todas as religiões evoluídas e de modo deformado em todas as doenças mentais. O
tabu representa o código moral mais primitivo do homem, nascido em princípio de sons
afetivos fortes, mas especificamente coordenados que não precisam de uma reflexão
deliberada. Este sentimento complexo do tabu deu origem, com o correr do tempo, em alguns
povos a uma rede de mandamentos e proibições complicados, cerimônias e prescrições
religiosas, purificações, que penetram toda a vida, mantendo um estado de constrição
indissolúvel limitando todos os movimentos de tal modo que pode parecer o pior castigo ser
elevado à dignidade de sumo pontífice, da qual somente era possível livrar.se pela fuga.
(Decadência do tabu).
Também Fi (1922) percebeu que existem sempre ambivalências nas raízes das proibições tabu
tão primitivos, e da moral humana da qual são as origens. Os preceitos morais surgem onde
existe oposição sentimental contra uma ação e o desejo de perpetrá-la apesar de tudo. Alguns
portadores do tabu são sentidos deste modo ambivalente, como os caciques e os sacerdotes.
Muitas pessoas os vivenciam rodeados de grandes poderes, o pai, os superiores, o rei, de um
modo ambivalente misturando-se neles a veneração e o ódio, ou ressentimentos. A
ambivalência desses afetos se manifesta nas cerimônias tabu da corte que honra e amola o
monarca ao mesmo tempo. Tais tensões afetivas conflitantes dão origem a tons sentimentais
bem fortes e provocam projeções afetivas e um código de moral que daí deriva. Até aí a
seqüência de pensamentos de FREUD que nos apresenta alguns aspectos ocasionalmente
disputáveis e se, baseia em dois erros racionalistas fatais: 1. o tabu pode ser desmascarado e
tornado inócuo pelo raciocínio e pelo hábito; 2. esta perda do poder é favorável ao homem. A
prática nos ensina algo de diferente. O raciocínio elimina apenas condicionalmente o tom
sentimental do tabu. O hábito ou a indiferença desvalorizam a região do tabu "superada". É
imediatamente substituído por outro valor ambivalente que surge do reservatório das idéias
humanas básicas. Observamos hoje em toda parte como uma raça "desentabuada" cede o
lugar a idéias políticas e social-éticas, e ao dinheiro (a santa trindade da sociedade industrial) e
como estas exercem como "Tabu" um reino autoritário e intolerante. Existem situações onde
uma fascinação deve ser libertada pelo raciocínio e o hábito, para eliminar atividades vivenciais
estéreis e para alcançar um grau mais elevado de liberdade. Mas tabu degenerado havia de ser
substituído por outro genuíno e o medo falso, pelo respeito. Se não o homem seria degradado
a um ser adaptado exteriormente, mas insensível aos valores interiormente. Somente quem
sabe do impulso e da riqueza que a vida deve ao tabu e às suas ambivalências como fenômeno
apriorístico, poderá falar apropriadamente sobre a redução do tabu. Infelizmente FREUD abriu,
como aconteceu com outras idéias suas, o caminho para a banalidade do pensamento ao
ponto que pessoas de valor espiritual atribuem ao tabu um significado apenas banal.
Consideram-no
como qualidade de um tema sobre o qual todos temem falar embora, o raciocínio reconheça
sua neutralidade, ou um ato que se receia de executar embora o raciocínio lhe atribua risco
nenhum. A discussão sobre um fato central humano não pode ser mais rebaixado. A pergunta
em todo o caso fica sem resposta porque a zona do impulso sexual tenha se constituído no
centro d ética européia, formando o paradigma de afetos ambivalentes entre impulso e
raciocínio. Aqui não basta uma resposta histórica.
PROCESSOS DE MOVIMENTO
Ignoramos se os animais têm uma alma, quer dizer se seus movimentos serem observados
objetivamente são acompanhados de processos da consciência subjetiva. Isto não pode ser
nem provado, nem refutado. A vida psíquica nosso semelhante nos é tão pouco acessível
diretamente a não ser pela analogia relacionando seus movimentos corporais com os
processos de consciência c acompanham nossos movimentos próprios. Somente em nós
mesmos poder observar estes processos diretamente. JENNINGS (1910) diz com razão: se
amebas tivessem o tamanho de uma baleia e se aproximassem de nós e movimentos vorazes,
atribuiríamos às mesmas processos psíquicos, e nem e ríamos enganados. Por meio de filmes
em câmara lenta podemos provar plantas que basta acelerar o ritmo dos seus movimentos
para que estas parei animadas. Nosso juízo acerca da animação dos processos cinéticos é
subjetivos e depende do seu processo temporal e formal. Parece conveniente elimina medida
do possível a consciência comparando entre si, em sua exteriorização possível apenas as
formas de movimento desde aquelas que expressam prilvamente a vida do protoplasma
unicelular até os processos psicomotores plicados da expressão de vontade e afeto no homem
na sua aparência ext objetiva. No fim da série quando se chega aos processos de expressão
mamíferos superiores, das crianças e dos adultos, torna-se mais provável vendar os conteúdos
conscientes acompanhantes.
É interessante notar que a tendência ao movimento rítmico se deixa seguir desde a esfera dos
órgãos vegetativos até o aparelho motor animal psiquicamente dirigido dos mamíferos,
crianças e adultos, atenuando-se visivelmente com a diferenciação progressiva da civilização,
em proveito de movimento arrítmicos mais complicados sem desaparecer por completo na
fase mais adiantada da evolução espiritual. Entre muitos exemplos citamos somente os movi
mentos circulares das feras enjauladas e os ritmos análogos dos idiotas, o papel importante da
dança em todos os povos e nas crianças a tendência de balançar-se ritmicamente
(especialmente antes de adormecer) até os movimentos estereotipados (saltar, tamboricar) e a
verbigeração, quer dizer, a repetição monôtona de sons, silabas e palavras.
As tendências rítmicas mais simples embora recalcadas e levadas por senti mentos mais
complexos subsistem nas camadas profundas da nossa esfera psicomotora assim como o
simples baixo no compasso 3/4 sempre serve de melodia para uma valsa, O simples ritmo
como a simetria ótica desperta invariavelmente em nós um sentimento primário de prazer
profundamente enraizado no fundo da nossa filogenia, sem outros traços. Os movimentos
arrítmicos mais elevados (andar, capacidade de trabalho) tendem a se tornar rítimicos na
medida em que se tornam automáticos e comuns. Os movimentos rítmicos elementares
reaparecem quando o aparelho psíquico regulador se debilita por influências mórbidas.
Um infusório nadando com movimentos espontâneos vivos dentro d'água é atraído por zonas
favoráveis quanto ao alimento, luz e oxigênio (reação positiva) e repelido por zonas
desfavoráveis (reação negativa ou de fuga). Supunha-se freqüentemente que essa orientação
era o efeito de leis físico-químicas elementares, uma excitação local sobre a parte mais próxima
do animal, provocando mudanças no estado do protoplasma, contrações, variações de formas
etc. que em animais de simetria bilateral por um mecanismo análogo à mudança de rumo de
um barco por meio do leme, teria por conseqüência um desvio do movimento do organismo no
seu todo. Trata.se.ia então de reflexos primários quer dizer de uma auto-regulação pela qual a
um certo estímulo se provocaria sempre um determinado movimento.
Esta teoria do tropismo ou de excitação local não se desenvolveu ao ponte que nela se pudesse
criar a base para a compreensão generalizada do desenvolvimento dos processos superiores de
reação e expressão. Experiências cuidadosas revelaram o seguinte (JENNINGS 1910): Um
pequeno animal que s aproxima de uma zona desfavorável reage com "Movimentos de
ensaios" estímulo ameaçador desencadeia nele uma superprodução de atividade irregular
usando freqüentemente todos os modos e orientação de movimentos de qu dispõe um em
seguida ao outro. Se entre eles há um que o separa da zona perigosa, o efeito de excitação
cessa e com ele os movimentos de ensaio e animal nada ou corre automaticamente na direção
iniciada. Encontramos este tipo de reação em animais mais evoluídos (pássaro ou
camondongo) encerrado num quarto sob condições ameaçadoras.
Se uma mesma excitação atua em seguida sobre um animal, ele muda d conduta. Quando se
excita o infusório fixo "Stentor" com grãos de carmi] dentro d'água não há reação imediata e
ele continua a captar a água com se duos (A). Repetindo a excitação ele se recolhe lateralmente
fugindo da nuvens de carmin (B). Repetindo as excitações a reação B passa para a reação
( invertendo o movimento dos cílios que rejeita as partículas do carmin, e
fim da reação D, uma contração do corpo todo para dentro do tubo protetor. Depois de
inúmeras repetições desta experiência evidencia-se que o animal não mais percorre toda a
escala de movimentos mas que, ao entrarem contacto cor
Não se sabe exatamente se o animal repete toda a seqüência de atitudes fisiológicas A-B-C--D
mas num ritmo tão abreviado que as etapas intermediárias escapam à nossa percepção.
Esta Lei da abreviação de Fórmulas de Atos freqüentemente repetidos é uma lei biológica
básica que se aplica a todos os animais. Fundamenta-se sobre ela no homem não somente a
aprendizagem de toda atividade simples como andar, nadar ou qualquer habilidade manual,
mas também o exercício dos mais importantes instrumentos de expressão psíquica mais
elevada: escrita, fala, mímica e gestos. Em breve, tudo que liga psiquicamente o homem ao
homem consiste de tais fórmulas abreviadas. Isto é conseqüência da forma mais exata da
evolução desde a série de sinais figurativos. Não devemos esquecer que os processos vitais
devem ser concebidos não puramente parciais e mecânicos, mas como totais e deliberados. Na
evolução individual do homem desde a tenra infância a atitude motora se estrutura nas
seguintes fases:
1. Superprodução de movimentos
4. Fixação da fórmula abreviada, quer dizer, fixação progressiva da reação escolhida por
repetições constantes.
Assim os movimentos escolhidos dão lugar aos hábitos e finalmente aos movimentos de
reflexos, ou seja reações totalmente estereotipadas em face a um dado estímulo.
A atitude psicomotora do adulto se desenvolve em geral nas fases 3 e 4 de modo que a maioria
dos atos necessários se alimenta de reflexos elaborados ou de hábitos (automatismos), quer
dizer de fórmulas de abreviação enquanto que as relações seletivas se aplicam em situações
novas especialmente complexas.
Um fato muito importante na filogenia é que os seres superiores transferem cada vez mais de
fora para dentro as reações seletivas. Elas se desenrolam menos na motilidade periférica do
que na consciência. O novo impulso enquanto age dentro dos esquemas de reação aprendidos,
não causa mais movimentos excessivos mas processos de pensamento acompanhados de
mudanças de nervos, tendo por resultado final o movimento utilitário. Isto se mostra somente
no homem e nos animais mais evoluídos (macacos) pode-se notar um princípio. Como ante-
grau e base desse alívio de movimentos diferenciados existe na esfera humana uma segurança
surpreendente de adaptação primária no caso de atividades novas e a consciência não planeja
mas tenciona apenas. (CHIu5TIAN 1956, DERWORT 1948). Todos os animais e mesmo os menos
evoluídos mostram além da necessidade de experimentar por excesso de movimentos na sua
adaptação exata e imediata a impulsos variados a inteligência motora voltada para dentro. A
experiência não procede mais por movimentos visados, mas imediatamente na esfera da
percepção e do ato (WEIZSACLER 1950) e germes de movimentos (idéias de movimento). A
este ato seletivo ligam-se processos de consciência que chamamos de processo volitivo. Um.
tal processo, produto inicialmente composto de elementos figurados (representação finalista) e
correntes afetivas (prazer e desprazer) adquire caráter próprio de formação psíquica
merecedora de uma descrição especial pois representa um germe de movimento, ou seja: da
sua tendência direta ou indireta de manifestar-se por vias psicomotoras, movimentos finalistas,
escrever ou falar. O típico do ato voluntário acabado que não coincide com hábitos ou reflexos
é que ele constitui um processo seletivo ou de eleição, no ensaio sucessivo interior de germes
de intenções psicomotoras.
Seguimos até agora os atos motores sem nos preocuparmos com os processos de consciência.
Agora podemos voltar nossa atenção para os processos psíquicos ligados aos movimentos.
Aquilo que vimos até agora por fora, será contemplado por dentro, estudando a vivência do
indivíduo que executa tais movimentos.
Encontramos na psicomotilidade mais elevada ao lado dos atos de livre arbítrio um grupo que
podemos denominar de movimento de expressão afetiva. Não é difícil reconhecê-los como
reflexos, especialmente como atos seletivos finalistas. Quando cerramos os punhos num
acesso de raiva deixa-se perceber facilmente o sentido original de um movimento de ataque
contra um adversário. DARWIN (1910) estabeleceu uma teoria filogenética de uma expressão
afetiva - depois de pesquisas cuidadosas feitas em homens e animais - apresentando-a como
rudimento atávico de movimentos racionais em sua origem. Assim o alçar irônico do lábio
superior serviu primitivamente para mostrar os dentes caninos num rito de ameaça. O choro
serviu para eliminar um corpo estranho irritante, a pele de ganso uma fraca tentativa sob o
domínio do medo de eriçar os pelos, para assustar o inimigo. Outros movimentos afetivos
correspondem, segundo DARWJN ao princípio de contraste sendo que afetos opostos
provocam uma inervação oposta como é o caso no cachorro que exprime sua hostilidade pelos
músculos tesos e andar ereto, e seus sentimentos de afeto e amizade pelo relaxamento da
musculatura e atitudes rasteiras, curvas e apaziguadoras sendo que o 1.0 tipo representa a
finalidade, e o 2.0, o contraste. Acreditamos, porém que esta explicação filogenética possa
satisfazer mas não convencer. Fica aberta a questão se elas resolvem satisfatoriamente o
problema da Expressão, exaurindo-o. Um terceiro grupo de expressão afetiva especial mente
relacionado com os aparelhos vegetativos (pulso, sistema vasomotor, peristaltismo) parece ter
uma origem bem mais primitiva, sendo que afetos fortes mobilizam uma energia nervosa
excessiva que irradia sem direção específica sobre todas as células excitando ou paralisando-as
(Psicossomática).
O fato é importante que num estado psíquico primitivo é difícil distinguir entre expressão de
vontade e de afeto bem como os processos de consciência que servem de base. Os atos
motivados mais complexos que têm sua origem em eleições intra-psíquicas de ordem superior
são pouco importantes nos animais e nas crianças pequenas. Reagem geralmente de um modo
muito mais impulsivo e imediato que o homem às impressões sensoriais diretas, precipitam-se
sobre um alimento quando o vêem, e ao primeiro sinal de alarme eles atacam ou fogem. O
estímulo sensorial provoca imediatamente o ato da explosão motora. Estas reações são
alternativas, positivas ou negativas, uma resistência cega, medo insuperável ou uma submissão
absoluta, ou uma fascinação sem limites, um simples "sim" ou "não" sem as tonalidades
intermediárias de inibições e condutas indiretas que as reflexões motivadas da vida impõem
sobre a afetividade elementar. Faltar-lhes "ipso fato" elemento moderador e apresenta-se
como "desenfreada" e excessivamente forte e persistente.
Um estímulo, uma vez provocado, desperta um afeto forte e difuso que se resolve em reações
motoras. Estas reações, conforme vimos, são comparáveis com as formas de afeto humano
como: alegria, desejo, medo e ódio e são ao mesmo tempo racionais porque implicam em
movimentos de aproximação, intimidação, ataque ou fuga, face ao objeto provocador do
estado afetivo. Tais formas de reação que associam a expressão afetiva e volitiva (quer dizer
uma orientação finalista preconcebida sobre um objeto) constituem reações impulsivas. Nas
explosões afetivas de crianças pequenas vemos com uma nitidez indisfarçada o objeto visado.
Como no adulto os mecanismos do afeto e da vontade se diferenciam de uma maneira
pronunciada, torna-se difícil infundir por via motora tendências volitivas na forma de uma
expressão afetiva. Ou ele reage face a face uma situação de modo reflexivo com movimentos
afetivos espontâneos ou ele tenta provocar expressões afetivas com um fim determinado.
Nestes casos elas nos parecem "artificiais" ou "teatrais" e nós sentimos a incongruência dos
atos motores voluntários (expressão de vontade) a coordenação automática dos movimentos
(expressão volitiva) e expressão de senti mentos (expressão de afeto) que não se difundem
entre si.
Os termos "impulso", "instinto" são freqüentemente usados como equivalentes e não podem
ser diferenciados pelo seu conceito. "Impulso" (a imaginação de uma necessidade com seus
fatores acompanhantes) designa o processo afetivo, "Instinto" (capacidade inata de reagir
irrefletidamente de um modo racional em dadas situações) é a fórmula fixa especial pela qual
ele se exprime. Existem no homem fórmulas volitivas que não precisam ser ensinadas,
processos reflexivos e meio-reflexivos como no decorrer do ato sexual nos detalhes do jogo
amoroso da conquista e da consumação do ato. Os processos motores da alimentação e certas
atitudes em caso de grave ameaça da vida no sentido dos síndromes do susto e do pânico são
igualmente de um caráter reflexo-esquemático: fingir-se de morto ou ficar imobilizado (reação
hipnótica-de estupor) e movimentos descoordenados. Trata-se de reflexos altamente
integrados, mas não de atos instintivos.
Falar de "impulso" nos animais representa uma hipótese transcendental de difícil comprovação
que, entretanto, como tantos outros antropomorfismos, na psicologia dos animais pode ter sua
valia no sentido terminológico e heurístico. No "instinto" entretanto, trata-se de uma abstração
natural nas ciências naturais de fenômenos e de complexos motores. No homem os impulsos
se tornam evidentes pela introspecção e por isto naturais, enquanto que os "instintos" não
podem ser verificados mas apenas supostos. Em terceiro lugar devemos considerar a
"inteligência". Podemos concebê-la num sentido duplo. A capa cidade de refletir fenômenos,
de compreendê-los sob seus aspectos objetivos, psíquicos e lógicos, de pesá-los e manipulá-los
de acordo, cabem somente ao homem. Também os animais sabem conceber em alto grau as
relações e as diferenças no mundo perceptivo, dominando-as racionalmente.
A diferença entre uma ação instintiva e uma de inteligência (ação volitiva intencional) explica-
se da melhor maneira com o conceito de ALVERDE (1925):
As ações dos homens e dos animais se compõem de constantes (K) e variáveis (V) sendo que as
primeiras representam os elementos fixos de cada ação, a parte formulatória transmitida por
herança "o patrimônio da conduta" (BUEHLER 1960) sendo que os elementos variáveis são
aqueles que o ser vivo adquire de um ou outro modo pelo efeito da adaptação às diversas
condições do meio. Não existe uma oposição absoluta entre K e V que não são outra coisa se
não os pontos finais de toda uma série de transições.
Os mecanismos rígidos instintivos que intervêm na construção dos ninhos dos passáros, por
exemplo, contêm também elementos variáveis que se adaptam à situação como os referentes
à seleção da localidade e material escolhido. Chamam-se de ações instintivas aquelas em que
predominam as constantes (K), e as de ações inteligentes aquelas em que predominam as
variáveis (V). No homem as ações impulsivas são condicionadamente constantes (por que
aprendidas em maior volume e variedade) e as de inteligência são condicionalmente variáveis
(porque repousam no esquema de reação inata). Somente quando a capacidade cerebral é
reduzida por doença podemos falar de uma ação de impulso pura (embora atrofiada) em
situações carentes de afeto e pobres de uma a1ção de inteligência. Trata-se evidentemente de
casos limítrofes.
Salta aos olhos que no homem, as ações de inteligência são bem mais importantes do que as
de impulso, do que nos animais. O homem deve aprender quase tudo desde a hora do seu
nascimento e praticá-lo. Somente poucos movimentos como o de sugar e virar a cabeça são
reflexos sem experiência. Não devemos esquecer que na execução de ações variáveis humanas
reside uma fonte instintiva. A tendência geral é hereditariamente fixada mas a execução
especial varia afetiva e intelectualmente. Assim sendo o contraste absoluto de "natureza" e
"cultura oriundo da filosofia racionalista e particularmente de ROUSSEAU e que se reflete na
teoria psicoanalítica, não é exata. Instituições complexas da vida cultural como sistemas de
moral, estado e religião e o casamento não são apenas produtos artificiais e arbitrários de
sacerdotes, legisladores e castas, mas produtos complexos em todos os povos com raízes
afetivas fortes e racionalmente infundados. T somente atos vitais como os sexuais possuem
raízes instintivas mas também a dominação dos instintos e a adaptação social o são. No
intercâmbio dos dois, ligado talvez às condições climáticas-regionais desenvolvem-se de um
modo altamente irracional (e por isto de difícil explicação) as regras éticas que
secundariamente apenas se justificam com o raciocínio.
É impossível separar-se as atitudes criadas pela tradição, das atitudes criadas pela
hereditariedade como instintos no sentido mais limitado da palavra. Este quadro tradicional de
ritos e ordens sociais ensinadas e aprendidas (ordem hierárquica, Eros e cultos) nada devem
em sua rigidez e cerimonialidade aos instintos dos animais. As imagens sociais e fórmulas de
conduta (acento autoritário e defesa contra o incesto) variam de povo para povo mesmo em
condições iguais de clima de tal forma que o esquema inato de impulsos e instintos deve ser
muito fraco. A natureza humana permite a satisfação das leis de utilidade dentro de um quadro
bastante amplo. Certas formas de movimento como expressão de alegria e simpatia (sorriso)
conquista, submissão, ameaça, ataque e fuga, bem como movimentos histéricos de pânico são
válidos como protótipos elementares de reações comumente aceitas (BLIZ 1940, 1969).
Tanto as ações instintivas como as inteligentes têm sua finalidade biológica. Mas a finalidade é
sumdria-esquemática quanto na inteligência ela é especial -acomodativa, adaptada às
situações de cada vaso. A vantagem da ação inteligente consiste no seu uso imediato, da
velocidade incrível e segurança automática da sua engrenagem. A grande desvantagem
consiste do outro lado em sua rigidez que em situações novas pode resultar exatamente no
contrário daquilo do que pretende, prejudicando o indivíduo. Existem exemplos grotescos
como a libélula que devora como uma máquina seu abdomem quando este é aproximado da
sua boca ou a aranha de VOLIcERT que somente é capaz de apoderar-se da sua presa quando
esta se encontra na teia mas que morre de fome ao lado de uma mosca em circunstâncias
diferentes. Podemos com parar no homem os pontos favoráveis e desfavoráveis de ambos os
modos de comportamento nos síndromes de pânico e medo e em muitas manifestações de um
histerismo quase instintivo.
COMPORTAMENTO
Investiga ção de conduta em animais (Loiu 1968, von HoLs'r 1960 TINBERGEN (1952 e outros)
permitiu aprofundar-nos consideravelmente nas lei que regem o mundo instintivo. Os
resultados não podem ser imediatamente transferidos nos homens. Alguns entretanto
evidenciam claramente certa regiões singulares da sociologia, criminologia e teorias das
neuroses. Põem-s em relevo algumas raízes ocultas de tendências e impulsos contidos em ato
humanos complicados. Para o parecer forense estes conhecimentos se tornam muitas vezes
indispensáveis ao médico.
Estímulos chaves são sinais, desencadeantes em que os animais reagem à vezes cegamente,
em determinados aspectos de uma situação externa. Dentro de uma zona sensorial somente
uma parte dos impulsos recebidos se tom atuante. Em geral um ato instintivo responde a
poucos estímulos. Tudo em redor não tem importância nenhuma. Isto é comprovado por
experiência de engodo. Dando-se a um pintarroxo macho dentro do seu "habitat" 2 engodo
sendo que um deles é um pintarroxo sem as penas vermelhas no peito, empalhado, e o outro
apenas um apanhado de penas vermelhas preso num galhode árvore, ele atacará o segundo
muito mais do que o primeiro (LAcx 1943) O estímulo é apenas o vermelho e não a
configuração global da ave. Existem muitos exemplos semelhantes entre peixes, aves e insetos
nos quais a reação instintiva é provocada pelo olfato, as formas de movimento, parte da
trajetória estímulos acústicos especiais, excluindo-se a reação por instinto (sexual, de agressão
e de cria).
Semelhanças com este mecanismo de sinalização se observam também nos seres humanos,
mesmo os que se encontram em primeiro plano: a atração erótica por exemplo (e a rejeição) se
transmite menos pelo palavreado que pela transmissão de pequenos sinais, movimentos,
mímica e gestos. Parece às vezes estranho com que facilidade os homossexuais se comunicam
dentro de uma reunião de pessoas. O mesmo se aplica ao estabelecimento erótico normal
entre pessoas. Na indústria cinematográfica e na propaganda desenvolveu-se um negócio
metódico nesta base, O cinismo que a expressão "bomba sexual" revela não se refere somente
às curvas femininas, mas também à mensagem transmitida pelas atitudes e expressão facial
que não passam de sinais estimulantes. Os êxitos dos afamados Dom Juans se explicam da
troca desses sinais e não da fala e gestos ou trejeitos ensinados. Os inseguros, os pouco
amadurecidos não aprenderão nunca de todas as bíblias do "Bom Tom" o modo de agir, porque
interpretam de modo errado os sinais emitidos ou ficam inibidos quanto à própria pessoa. Sob
o conceito de "Falta de instinto" em relação a sinais eróticos (1966) analisei estes fenômenos
em certos casos isolados. No terreno da propriedade e do prazer estes mecanismos de
sinalização desempenham um papel de primeira grandeza. A missão mais importante da
propaganda comercial consiste em, baseado nos impulsos mais primitivos, exercer um
mecanismo de desinibição para automatizar as vendas. A pedagogia e a psicoterapia não
podem abrir mão dos impulsos chave para ensinar e fortificar o sucesso obtido.
Também no terreno dos impulsos agressivos deve-se atribuir aos impulsos chave a devida
importância. É bem conhecido que demagogos bem sucedidos, contrariando toda expectativa
racional se negam a variar a expressão verbal das suas críticas averbadas, lançando sempre os
mesmos chavões no auditório. Chavões são estímulos-chaves que exigem um automatismo
adquirido. Não seria nada difícil citar exemplos do vocabulário usado pelos fanáticos parti
dários, de qualquer linha política que seja, onde não se trata mais do conteúdo e do sentido do
complexo total empírico, mas somente da sonoridade da palavra como sinal. Em casos
extremos podemos observar que de duas palavras que possuem praticamente o mesmo
sentido uma é recebida com aplausos frenéticos e a outra com manifestações de raiva.
Palavras-sinais usam-se também em sentido antagônico, por exemplo "liberdade" como sinal
de revolta para excitar as massas, uma agressão sangrenta que leva a uma supressão brutal.
Também aqui a emissão e captação de estímulos-sinais instintivamente seguras são decisivos
para o resultado agressivo (muito mais drasticamente do que no erotismo ou em outra
ocasião) onde os estímulos acústicos (rufar de tambores, ritmo) e óticos (bandeiras, uniformes)
reforçam a inflamação impulsiva.
Numa formulação neutra podemos dizer que o "sobressalto" equivale a uma descarga de excit
Conforme a minha suposição (1953 a) as descargas de impulso que são análogas ao ato de
sobressalto irrompem no homem em situações de exceção ilhadamente o que é importante
em criminosos e reações anormais. As manifestações e correlações são mais estratificadas no
homem não havendo somente atos súbitos de sobressalto, mas também retenções
premeditadas de instintos múltiplos que se reforçam de um modo dinâmico e se abrem
caminho quando menos se espera de um modo irracional como num experimento físico. No
homem podemos então verificar um sobressalto repentino bem como um sobre carregamento
encoberto da personalidade global na qual se sucedem atos premeditados aparentemente
muito rebuscados durante semanas ou meses mas que num nexo biográfico são desprovidos
de sentido. (Veja capítulo "Impulsos"). Os fenômenos de sobressalto e surpresa foram
integrados no conceito genérico de irradiações instintivas".
ESQUEMAS MOTORES
Todos os elementos supostos devem ser colecionados e descritos como fenômenos motores
puros tanto se eles existem sempre no indivíduo são e desaparecem sob condições doentias,
ou permanecem ocultas no indivíduo são desinibindo-se no doente. Depois de tudo ter sido
colecionado com muito cuidado pode-se iniciar a comparação entre instintos animalescos e
certos esquemas de movimentos e comportamento humanos etc., formulando
hipoteticamente suas bases filogenéticas, ontogenéticas e cerebro-fisiológicas.
Livros didáticos usam expressões como: "rígido", abobalhado", "bizarro" "maneirado", etc.
Descrevem em termos leigos e populares a impressão que certos fenômenos psico-motores
causam ao espectador. Precisa entretanto descrevê-los na sua seqüência cinética assim como
se faz com os casos neurológicos como simples formas estruturais independentes de conteúdo
e expressão:
a) vivências mágicas
Os atos volitivos e cinéticos comuns das pessoas sãs encobrem automatismos múltiplos para os
quais a vontade consciente não fornece ordens d4 execução, mas somente a chispa inicial. A
participação de tais esquemas n execução total de atos psicomotores costuma ser muito
subestimada. A estereotopia motora doentia causa em mais alto grau a perda de liberdade
referente ao comportamento (PLo0G 1957).
Fig. 14 Esquema motor. Reação, de bloqueio causada e orientada oticamente num estado final
cérebro-orgânico.
Sempre dei muito valor nas minhas pesquisas de descrever detalhadamente as reações
motoras como estruturas formais não compreensíveis, quer dizer, abstraindo os conteúdos de
consciência ocultos atrás deles e da "impressão" geral que nos causam. Neste aspecto nosso
modo de proceder se assemelha às teses do "Behaviorismo" americano, com as pesquisas
valiosas de PAWLOW (1926) e os "reflexos condicionados" e o estudo de comportamento
zoológico e psiquiátrico. (PW0G 1969).
Será que podemos descobrir na vida psíquica do adulto civilizado suas fases evolutivas
anteriores? Esta sua vida psíquica revela os anéis de crescimento da sua filogênese? O cérebro
apresenta uma estrutura francamente evolutiva. Quando falamos em seguida de "camadas
psíquicas" (ROTHACKER, 1966) trata-se de uma expressão figurativa sem nos preocupar se ela
corresponde a aparelhos cerebrais sobrepostos no curso da evolução ou se estas camadas
significam apenas diversos modos de funcionamento ou a aplicação do mesmo aparelho, tanto
um quanto o outro é possível. Devemos, entretanto fixar o seguinte:
SONHO
Designamos como sonho os processos figurados psíquicos num estado muito diminuído de
consumo de energia psico-fisica. A vida psíquica, assim como a musculatura se encontram em
estado de relaxamento. A concentração ( curso do nosso pensamento em torno de certas
idéias diretrizes mantidas durante o dia com atenção concentrada e na consciência da
atividade, desaparece. A pessoa que sonha sente-se passiva em frente às imagens que desfila
diante dela aparentemente sem finalidade, desordenadas e desprovidas de sentido.
Freqüentemente não fica claro se elas se localizam dentro dt ou no mundo exterior, quer dizer,
se são vividas como imagens subjetivas acontecimentos objetivos. Como as vias de acesso se
encontram quase fechado no sono, as matérias das quais se compõem as imagens sonhadas
são principalmente engrama de vestígios de acontecimentos passados, especialmente véspera,
mas também de memórias antigas da primeira infância. Intercalam às vezes impressões novas,
fantásticas e imprecisas, sensações corporais e fr mentos de sensações auditiva.
Como desvendar a estrutura psicológica dos sonhos? O meio mais seguro seria derivado da
experiência é o de anotar imediatamente o sonho, ass como as imagens e pensamentos
transmitidos por associação na passagem sono para o estado de vigília. Estas últimas são de
importância capital p a interpretação do sonho. Elas nos transmitem em muitos casos os
vínculos entre o pensamento diurno e noturno como vivência evidente. Alguns sons,
entretanto são tão ligados com o conteúdo do consciente da pessoa que sou que podemos
interpretá-los com a maior probabilidade sem o protocolo transitório do semi-sonho.
Escolhemos como primeiro paradigma um sonho
BISMARCK que ele comunica nos seus "Pensamentos e Memórias" (carta ao imperador
Guilherme):
"A comunicação de V. M. me encoraja de relatar uns sonho que eu tive em fevereiro de 1863
nos dias do grande conflito para o qual não parecia existir solução possível. Sonhei, e contei-o
na manhã seguinte à minha mulher e alguns amigos - que eu cavalgava numa senda estreita
nos Alpes com um abismo à direita e com rochedos íngremes à esquerda sobre um caminho,
colinas e bosques como na Boêmia, tropas prussianas com suas bandeiras desmontar. Bati
então com uma vara que tinha na mão contra o rochedo e implorei a Deus. A vara se alongou o
muro de rochedos se desfez com por encanto desvendando a vista sobre um caminho, colina se
bosques como na Boêmia, tropas prussianas com suas bandeiras enquanto no sonho ainda eu
pensava como comunicar tudo isto a V. M. O sonho se tornou realidade e acordei alegre e
fortificado."
Outro ponto de vista nos desvenda o pano do fundo. A série de imagens assintáticas não
parece ter sentido, mas é compreensível se estabelecemos o contacto entre os pensamentos
de BISMARCK e sua situação na vida, de um modo simbólico. Resumindo sua posição nas lutas
políticas de 1863 BISMARCK diria: "Estou sozinho, isolado num posto de mando muito
perigoso. Minha queda é questão de horas. Não posso retroceder. Avançar contra a resistência
quase unânime é impossível. Somente Deus poderá fazer um milagre, somente a guerra entre a
Áustria e a Prússia poderá salvar a minha situação".
Este fluxo de pensamentos se evidencia no sonho, fase por fase, não em expressões abstratas,
mas sim em imagens. "O estadista em elevada posição" se encontra num cume montanhoso,
um abismo se abre para a "queda do ministro". A "resistência unânime" é algo de resistente
que "se lhe opõe", o muro de rochedos no sonho. A idéia salvadora e a força de impacto se
condensam num milagre divino que se manifesta como num palco. "A guerra entre a Prússia e
a Áustria" se mostra como imagem colorida com as tropas em marcha.
Esta série de imagens representa uns símbolos. O visível ocupa o lugar do invisível. O símbolo
da palavra deve ser usado num sentido inverso da contemplação, que vale para os "primitivos",
cujos símbolos são prospectivos, fases anteriores ou matrizes de conceitos gerais não
evidentes. Os grandes símbolos religiosos e sociais dos civilizados preenchem também essas
funções enquanto que os símbolos cotidianos (alegorias) devem ser tomadas como uma
inversão de abstratos já formados numa linguagem imaginativa mais ingênua. É porém
bastante problemático de imaginar o simbolismo do sonho (FREUD) com expressão de uma
regressão, como retorno de uma síntese mais elevada para uma mais simples, do abstrato para
o concreto, da arquitetura da frase para o filme da imagem assintática.
Queremos ainda mostrar outros mecanismos em ação no sonho de BISMARCK Como falta o
nexo de idéias da pessoa que sonha podemos somente interpretai segundo a legitimidade
deduzida de outros sonhos. A cena da vara que toca o rochedo com a resposta divina imediata
nos lembra as histórias do Velho Testamento quando Moisés fez a água jorrar com o toque da
sua vara. N atitude religiosa e bíblica de BISMARCK que lhe tenha surgido a comparação entre
sua situação política e a de Moisés que levava os seus através do deserto, O cenário especial do
sonho, paisagem rústica e paisagem boêmia podem sei ligadas a regiões onde BISMARCK
costumava passar suas férias. A comparação da situação política com o cavalheiro era
sabidamente uma das imagens prediletas do estadista.
Os exemplos nos mostram que o sonhador deriva seus motivos do ambiente e da memória e
que o intérprete deve conhecer este espaço individual ambientando-se nele.
Como camada mais profunda da expressão ilustrativa encontramos motivo humanos e
primitivos que abrangem situações básicas típicas da vida e na quais a pessoa que sonha se
reencontra. Elas apresentam seu papel real o suposto como último valor humano. No caso do
nosso sonho encontramos quatro destes tipos condensados numa só figura: o cavalheiro
(dominador de impulsos próprios e dos impulsos das massas), o mágico (que consegue muda
as leis da natureza), o profeta (que indica o caminho social) e o herói d guerra. Num homem do
formato de BISMARCK, não podemos estranhar arrogância dessa auto interpretação.
Assim a situação total do sonho e todos os seus mínimos detalhes entram em relação
insofismável com a personalidade de BISMARCK e aquilo que naquela época o impressionava e
preocupava. Trata-se de aglutinação típicas de imagens que se unem num afeto e sentido
comum. Se encontramos a interpretação certa é discutível, mas acreditamos que na vida
psíquica e também no sonho não pode haver nada de absurdo e que tudo está determinado e
sujeito leis até nos seus mínimos detalhes. A interpretação sexual do sonho de B:
MARCK pelos psicoanalistas provocou em seu tempo muita chacota e repudio. Isto nos ensina
que o interpretador deve avaliar a escala de urgência d problemas da pessoa que sonha ao seu
justo valor não usurpando seus próprios interesses impulsivos. A interpretação do sonho não
somente reflete na imagem psicológica do paciente, mas também o grau de cultura do médico
quer dizer, o volume do seu ponto de vista.
"Empreendi uma excursão pelo vale do Danúbio através de rochedos. Ao regressa tarde a dona
da casa me recebe com exigências de aluguel absurdas. De noite eu sonho devo trazer-lhe
pedras duras do Danúbio. As duas situações desagradáveis de tonalidade afetiva comum
fundem-se numa só imagem onde as pedras representam o dinheiro do alu
Um Outro médico sonha que deve apresentar um doente de câncer no auditório. Quando lhe
abrem o crânio ele se transforma repentinamente na sra. N. Esta Ostenta na realidade uma
cicatriz arqueada na testa. A cicatriz representa o anexo entre as duas pessoas ligadas, mas em
nada parecidas. Outro Conta que nadava no sonho num charco simultaneamente na sua
própria pessoa como enguia e rã. Quando sua pessoa prevalecia ele sentia nojo de nadar entre
os peixes que, entretanto desaparecia quando a figura da enguia prevalecia. Num outro sonho
um indivíduo junta numa só imagem um bom bife com um excelente artigo lido na véspera
como equivalente."
Nossos exemplos mostram que a aglutinação da imagem no sonho possui um caráter externo
cintilante e fugaz e que as imagens se unem e separam e se unem novamente com a maior
facilidade. Por isto não se pode traçar uma linha divisória nítida entre aglutinação e transição
no sonho. Nos conglomerados das imagens existe às vezes uma simultaneidade na consciência
e outras vezes somente um representante do grupo. O sonho freqüentemente contém figuras
sobrepostas.
Alguém sonha estar sentado num grupo de velhos amigos num jardim como no seu tempo de
estudante. A pessoa principal que levanta o brinde é o estudante A de quem não gostava muito
antigamente. Mesmo no sonho lhe parece vagamente que isto não pode ser, que algo deve
estar errado. Ainda dormindo, mas em meio ao sonho ainda surge-lhe a idéia que não se pode
tratar de A mas sim de B, sendo este último um dos seus melhores amigos que se parece um
pouco com A.
Trata-se aqui de uma translação típica onde duas imagens se aglutinam das quais somente
uma, numa determinada profundidade de sonho se torna consciente e exatamente aquele que
não dá sentido na cena global. Atrás dessa imagem opaca aparece, quando a consciência
desperta, a verdadeira imagem que faz parte da situação.
É curioso que essas transições e deformações de cenas por meio de figuras opacas não se
produzem em um momento qualquer do sono, mas como em nossos exemplos, no momento
decisivo onde o acento afetivo do quadro se concentra. Isto provoca então a impressão de algo
de tendencioso. Assim como um jovem arranca de um cartaz fixado num muro a parte que lhe
desagrada, uma imagem concebida no sonho se torna vaga onde às vezes predominam
tonalidades afetivas fortes, particularmente ambivalentes ou desagradáveis que mesmo
estando despertos não desejamos admitir.
Isto nos conduz a falar do papel preponderante que desempenham as correntes afetivas na
formação da aglutinação de imagens do sonho. Reproduzimos o sonho de um médico:
'Durante as últimas semanas teve que participar de umas reuniões as quais o professor N.
dirigia de um modo bastante enfadonho. O médico o impedira de se restringir ao essencial o
que lhe valem uma queixa ao chefe da clínica. O médico sonhou então que mandara ao prof. N.
uma longa Carta explicando de um modo pouco cortez e grosseiro que tinha que dar aulas pré-
nupciais a jovens noivos e que não lhe sobrava tempo para assistir as aulas enfadonhas do
mestre. Este carta lhe foi entregue pelo médico chefe. As passagens ofensivas eram marcadas a
lápis vermelho. Aparecia também a figura do orador. No estado de meio-sonho essa figura se
transformava na do guarda-campestre M. a cuja mulher o médico dirigira na véspera algumas
palavras rudes taxando-a de indiscreta. Durante o sono desconfiou não se tratar de N. mas sim
de M. Os dois se parecem bastante de figura e de rosto e no sonho as duas figuras pareciam
confundir-se. Surgiu ainda num estado de sono leve o trabalho científico de um autor que
escrever algumas passagens boas no meio de outras confusas.
Neste sonho temos preponderadamente duas imagens mnésicas: A imagem A: a sessão com o
professor e sua carta de queixas e a figura B, A troca de palavras com o guarda-campestre e sua
mulher primária. Ambas as cenas desenrolaram-se sob forte afeto de um modo semelhante:
contrariedade justificada por ter perdido tempo por um palavrório inútil e que cumulou em
algumas palavras enérgicas, deixando nas duas ocasiões a impressão de ter agido com
excessiva energia. Deu-se uma tensão afetiva ainda existente por ocasião do sonho. As duas
imagens A e B se aglutinam sob a corrente afetiva comum e provocam uma condensação típica
facilitada pela semelhança existente entre os dois protagonistas. Também o sonho de
BISMARCK se compõe de fatores afetivos muito fortes. Na condensação acima mencionada
entre o aumento de aluguel e o rochedo no Danúbio reconhece-se facilmente o afeto comum.
Exemplos deste gênero existem às dúzias. No sonho do professor N. temos uma bela
transposição em uma imagem concreta. O reproche abstrato: meu comportamento foi errado
aparece na imagem do sonho como carta com marcas feitas a lápis vermelho e o motivo da
mesma é determinado pela associação com outra carta efetivamente escrita, mas em sentido
inverso.
Além dessas condensações e transições sob o impulso do afeto ou seja da origem catatímica
encontramos outras onde aglutinação da imagem aparecem somente por leis de associação
formal, por semelhanças exteriores, coincidência ou simultaneidade, que não exclui a
possibilidade de uma ação afetiva mais profunda mas não acessível à nossa análise.
Se queremos formular uma parábola concreta do estado psíquico no sonho podemos imaginá-
lo como uma massa de água profunda represada com a comportas fechadas. Na água flutuam
algumas imagens e fragmentos de imagens, pelo efeito das correntes afetivas profundas e
lentas estes elementos s movem em todas as direções, aglomeram-se às vezes e soltam-se de
novo. D manhã as comportas se abrem e tudo se dirige diretamente até o objetivo, at a roda do
moinho.
Para dar uma idéia clara do número e da complexidade dos elementos figurados e correntes
afetivas que se mostram no sonho reproduzo aqui o sonho de um colega acadêmico:
Mas na verdade fora eu mesmo que interrompera a conferência. Senti vivamente sonho a
situação desagradável provocada pela falta do fluxo de idéias novas. Vi claramente diante de
mim o frustrado discurso improvisado, suas não fui eu a quem esta desgr . A sensação persosa
de interromper o discurso foi minha, mas foi a esposa colega que a realizou no seu ato. Havia
uma estranha separação de pessoas nisto tudo.
Na véspera um jovem médico nos visitara que acabara de passar pelos exames fin Ele exprimiu
sua satisfação de ter tempo agora para ler Ibsen, o que não pôde fa enquanto se preparava
para os exames. Em vista da minha vida atarefada pensei como triste precisar negligenciar o
culto das belas artes. Respondi a mim mesmo em pensameni "Com a necessária mobilidade
espiritual esta lacuna pode ser preenchida apesar do teu que falta. Esta falta de mobilidade
espiritual era a causa do discurso interrompido".
Essa "mobilidade" não faltava porém à esposa do colega que fazia sua conferên Ao contrário.
Trata-se de uma senhora viva, animada e cheia ele idéias. Não fic imobilizada durante a
conferência e nem lhe faltaria tempo para a leitura, O sonho tro a negação e a posição.
94
Mecanismo Hipnóicos
Sonho
Esta análise do sonho foi feita seguida ao sonho, quase num meio-sono. Isto me causou uma
sensação agradável especialmente a facilidade com a qual eu pude seguir as vias
Senti então uma sensação muito agradável pela facilidade com a qual pude seguir as
vias associativas, muito mais do que em análises anteriores feitas em plena vigílias".
Sugerimos, pois, ao leitor que comprove por si mesmo o complicado jogo de relações
associativas e afetivas que ligam em ambos os sentidos elementos figurados heterogêneos e
correntes catatímicas neste sonho. Encontramos aqui todos os mecanismos oníricos:
condensação volumosa, a figura sobreposta na parte mais penosa do sonho, simbolização de
séries de idéias abstratas por meio de imagens concretas e fortes correntes afetivas atuais
como força atuantes de toda a máquina representativa. Fazemo-nos uma idéia como esta obra-
prima do nosso pensamento dentro e fora do sonho se integram e entrelaçam nos seus
elementos mais íntimos com cada ponta associado não somente ligado dentro da trama mas
também aos pontos mais distantes em todas as direções de onde resulta que todos os
pormenores são determinados por leis múltiplas ou como Fi disse: "superdeterminadas".
Existe uma relação íntima com o fato que os dois complexos principais da nossa experiência
psíquica o EU e o mundo exterior se descompõem entre si de um modo que não mais os
podemos diferenciar. Aquilo que por um momento é o EU no sonho pode num outro momento
transformar num "Não eu". Nosso relator fala por isto de uma "dissociação da personalidade"
sendo que o sentimento penoso da interrupção são a obra do "EU" enquanto que os gestos e
as palavras pertencem ao "Não-eu" quer dizer da esposa do colega. A personalidade se
desassocia como no índio que unta o dedo grande do pé como oferenda. Fragmentos da
própria personalidade podem ser projetados como pessoas atuantes no mundo exterior assim
como no sonho a mulher do professor não é outra coisa senão a encarnação de uma parte da
personalidade de quem sonha e da penosa impressão em face da falta da flexibilidade
intelectual.
Tais dissociações da personalidade se efetuam na maioria das vezes sob a forma de
"identificação" que é um caso especial da condensação. Entendemos por "identificação" a
fusão parcial ou total da personalidade com pessoas ou objetos do mundo exterior. A pessoa
que sonha pode total ou parcialmente "identificar-se" com pessoas que têm semelhança com
ela, e antes de tudo com aquelas unidas a ela por laços afetivos ou que possuem traços que ela
ama ou odeia quando aplicados a si mesmo. Isto não ocorre quando nós nos comparamos em
estado de vigília com outra pessoa tendo, porém plena consciência da desigualdade entre as
duas pessoas, e da divisão entre elas. A identificação constitui a experiência direta da
superposição de duas imagens e da sua unidade vivida. Sobre estas associações fundadas na
semelhança, contraste e afetividade comum descansa no último sonho citado a identificação
parcial do colega com a mulher do professor. A corrente afetiva comum faz com que BISMARCK
se identifique com a figura de Moisi Mais difícil para o pensamento diurno é a identificação
mais rara com objetos inanimados ou animais, como no sonho das enguias, rãs, etc. Pode-se
conceber psicologicamente a mutação do complexo do EU no que concerne a projeção do EU
no mundo exterior ou ao contrário, partes do mundo exterior são assimiladas na própria
personalidade (introjeção). Nos processos oníricos que flutuam muito é difícil distinguir este
processo enquanto que na esquizofrenia ambas as possibilidades são vividas distinta- mente.
Finalmente omite-se quase por completo a categoria da causalidade OBJE TIVA. Ela é
substituída pela catatímica pura respectivamente a "causalidade mágica". No sonho profundo
não perguntamos "Será que isto é possível, algo assim já aconteceu? "As imagens as mais
heterogêneas se ligam de imediato são acompanhadas de um julgamento real positivo desde
que correspondem a mesmo afeto. Produzem-se assim associações que correspondem ao
pensamento mágico primitivo. Batemos como BISMARCK com a vara mágica no rochedo que
de imediato se desmorona abrindo a visão para os desejos realizados.
As leis dos processos oníricos permitem-nos uma visão profunda nas funções do nosso
aparelho de figuração. De um lado elas nos revelam a estrutura c nossa vida psíquica,
refletindo os princípios funcionais importantes da nos psique, a assíntaxe, a aglutinação da
imagem e os nexos catatímicos. De acordo com a atitude perante a vida, artística-religiosa ou
objetiva-prática avalia-se mundo onírico. Por isto os povos da antiguidade tinham relações mais
íntimas com seus sonhos, que equiparavam aos pensamentos de vigília, concedendo-lhe às
vezes um valor superior, enquanto que o leigo dos nossos dias os negligenci2 tratando-os de
"espuma", ou resíduo depreciável do nosso pensamento por n saber o que fazer deles. Para o
médico instruído em psicologia os sonhos c seus pacientes oferecem um material valioso
podendo penetrar pela sua analogia nos distúrbios neuróticos e psicóticos na vida psíquica do
seu paciente, quando uma conversa direta não surte nenhum efeito. (W. WINCKLER 1954, v
SIEBENTHAL, 1953).
A ESFERA DA CONSCIÊNCIA
A noção da consciência contém alguma coisa de quantitativo psíquico, seja a maior ou menor
clareza da experiência. Chamamos uma experiência muito nítida e clara de "hipoconsciente"
uma mais vaga e imprecisa de "p0 consciente". Falamos também do "claro" e do "obscuro" em
relações conscientes. O grau da consciência psíquica se aprecia melhor ainda usando nosso car
visual. No centro se encontra o "foco da consciência", uma zona restrita c] de claridade de uma
presença nítida e em seu redor o campo focal da consciência muito mais amplo constituído por
zonas de claridade cada vez menor até perder-se sem delimitação exata no nada, no
inconsciente, ou extra-consciente. Denominamos a periferia do "campo da consciência" de
"esfera". Entendemos por processos psíquicos esféricos muito escuros e diluídos na margem
dos campos da consciência.
O termo "esfera" introduzido por VON SCHILDER 1920) na psicopatologia num significado mais
restrito se emprega aqui em lugar de "subconsciente", uma terminologia ambígua que levou a
muitos equívocos e controvérsia, embora haja uniformidade de pontos de vista quanto aos
fatos empíricos atinentes. Aquilo que não chega à consciência, que não é vivido, não pode ser
chamado de "psíquico", porque a psique é idêntica à vida interior direta. Uma vida psíquica
inconsciente constitui uma contradição em si. Um processo somente pode ser esfericamente
"menos consciente" e continua a ser psíquico, ou "extra-consciente" quando se torna uma
manifestação cérebro-corporal, mas não psíquico.
Os sonhos nos deixam entrever muito daquilo que acontece na "esfera" à margem da nossa
consciência naquelas regiões difusas e ondulantes donde brota o pensamento e especialmente
o pensamento intuitivo, criador e artístico. Os processos oníricos nos revelam a fase de
pensamento não elaborados que procede o pensamento terminado, abstrato e concentrado
sintaticamente em firmes categorias lógicas fornecendo-lhe os instrumentos sem os quais não
poderia produzir.
Os homens criadores, geniais, os artistas e poetas se esforçaram tanto em assimilar aos sonhos
a gêneses das suas próprias criações, que devemos considerar esta analogia como fato
consumado. A atividade criadora se desenvolve somente em uma penumbra psíquica, num
estado de semi-consciência, com a atenção tachada para o mundo exterior, num estado de
"distração" com uma superconcentração hipnótica centrada num só ponto, numa vida psíquica
completamente passiva que prescinde de espaço e tempo, de lógica e vontade, tendo às vezes
um caráter material e concreto. Pode-se estabelecer uma analogia com os princípios
heurísticos de investigadores e inventores como na origem do modelo de pensamento do anel
de benzol (KEKULE). Na fase de produção quase onírica, surge no homem artisticamente
dotado a tendência pelo ritmo e a estilização. Já na fase de criação as imagens se revestem de
formas regulares, e simétricas a cadência do verso ou o ritmo da música. Não devemos
conceber a esfera intelectualmente apenas, como imagem marginal de imaginações
imprecisas. A esfera é tanto ou mais importante como fonte dos sentimentos que envolvem e
fundamentam a vida interior. Cada percepção, cada imaginação e modo de pensar desperta
afetos ou disposições. Estes sentimentos esféricos são muitas vezes tão independentes que não
encontramos seus motivos. Como forças orientadas, porém, elas criam idéias e propósitos. O
conteúdo emocional de uma poesia não reside nas palavras ordenadas e logicamente
construídas por serem as mesmas usadas na prosa comum, taxada de "prosaica". O ambiente
emocional reside nas imagens flutuantes e nas vibrações que se escondem "atrás" das palavras
e que o poeta sentira obscuro e vagamente antes da forma verbal ou que ouvinte sente por
ressonância na palavra falada. Os versos que possuem muita "esfera" são prenhes de
"emoções onde o núcleo sólido das palavras submerge num círculo nebuloso de forte afeto de
aglutinação de imagens em cujas correntes elas repousam. Uma só palavra deve conjurar,
como a batuta do regente, um acordo pleno de imagens e sentimentos obscuros da própria
esfera, quer dizer da periferia do consciente. Por isto as viradas meio formais, hesitantes quase
balbuciadas e inteligíveis de uma poesia podem possuir "esfera' Nos cantos populares
podemos observar como o fio objetivo rebenta, e o conteúdo da poesia vem a consistir
somente de aglutinações de imagens composta de fragmentos de outras canções e que por isto
ou apesar disto exercer tamanha influência sentimental e simbólica sobre a esfera da nossa
consciência. A velha canção popular prefere em geral o símbolo, o abstrato, amor, morta
através de elementos pictóricos ao ponto que expressões como "fogo ardente jardim de rosas,
lírios brancos se tornaram simbólicas no consenso papoula:
Buscli:
"Nas montanhas numa grota sentava o asceta migalha de corpo e alma por causa da forte
dieta".
Aqui o sentido superficial das palavras do texto é coerentes, já que "severa dieta" corresponde
aquilo que o asceta observa. Entretanto aquilo que não se diz, o fundo esférico das palavras,
que de medieval-teológico muda última linha para o moderno-médico, não harmonizam entre
si. Este choque de palavras contrastantes no seu sentido nos causa uma sensação esférica
fundo da nossa consciência sem que a causa do efeito humorístico nos s bem claro.
Vejamos por exemplo a multitude de imagens obscuras, simbólicas que entrelaçam, cores e
elementos afetivos tumultuados na canção de EICHENDOR
"Na negra forja está meu amado e quando passo chiam os foles as chamas se avivam em seu
redor"
Uma força obscura que acende as chamas de paixão no jovem ferre:
na moça amada, transfiguração idealizada da sua imagem. Estes dois graus de afeto
contrastantes reunidos num só, proporcionam à poesia seu Li esférico profundo e uma força
fascinante de ambiente. A superfície v quer dizer o conteúdo não explica em si o efeito
produzido, pois retrata ai uma cena banal do cotidiano.
Aquilo que queremos explicar através dessas poesias é válido, para qualquer pensamento
comum que surge em nós e para qualquer palavra que proferimos. O essencial do efeito
causado em nós e em outros não está tanto na formulação verbal mas na esfera, no círculo
nebuloso de imagens, nos sentimentos apenas formados que rodeia a periferia da consciência.
Pensamentos e idéias que possuem pouca esfera caem mortos por mais bela que seja sua
formulação. Somente as aglutinações catatímicas são fecundas e a vida psíquica transformada
e fluída. O produto lógico é firme e claro, mas não vivo em si. Por isto a claridade psíquica
excessiva, uma consciência por demais racional são fatais para as produções espirituais que
medram melhor na semi-obscuridão esférica.
Ambos os fenômenos psíquicos como "estado de exceção" têm em comum com o sono que
representam fases circunscritas psíquicas ilhadas que interrom pem o fluxo da vida psíquica
comum. Designa-se também a hipnose como "semisonho". Se no sono a vida psíquica é
separada do mundo exterior como por um círculo, na hipnose por seu lado, ela está ofuscada.
Uma pequena janela fica aberta na direção do hipnotizador que é o único que tem "contacto"
com a psique podendo-lhe dar ordens e receber respostas. Trataremos mais tarde dos
fenômenos sugestivos na hipnose ao falar dos mecanismos hipobúlicos. Do momento
interessam-nos somente os processos hipnóticos de formação e sucessão de imagens que nas
suas leis fundamentais não diferem essencialmente daquelas do sono. Quando dirigimos a
atenção do hipnotizado com os olhos fechados sobre os fenômenos que se passam na sua
esfera visual, ou seja nas esferas do seu sentido óptico, ele perceberá a medida que seu estado
hipnótico se intensifica objetos sem forma, coloridos, claro-escuros, manchas véus, linhas,
meio-sombras, grades anéis a semelhança das imagens ópticas posteriores. A este estado
amórfico breve segue o estado do "pensamento visualizado" do qual já falavam ao abordar o
sono, quer dizer séries de imagens mais concretas.
O aparelho psíquico funciona na base de grupos de figuras sensuais e não mais as sínteses
superiores abstratas, numa marcha reduzida. Aquilo que o hipnotizado apenas pensa, aparece
aqui na imagem. Episódios do seu passado são vividos na atualidade em seqüências ordenadas
e sensíveis de acordo com sua memória. Tudo se passa como num filme. As experiências são
passivas como no sono; o sonhador passa a ser um simples espectador. As imagens se
localizam no campo visual, mas são percebidas com produto do EU. Aqui, a relação entre o EU
e o mundo externo é incerta.
Em certos casos as imagens se compõem de fragmentos: "a cabeça, um pedaço de uma mesa,
o vidro de uma janela, tudo disperso no espaço até se unir para formar um quadro completo".
Em geral o pensamento filiforme bastante coordenado da segunda fase se desfaz à medida que
a hipnose se aprofunda, compreensível. Não é difícil reconhecer neles as aglutinações de
imagens cata tímicas da psicologia primitiva e onírica.
"Estou submerso na água, mas vejo o que se passa lá fora.., acima de mim juntando-se em
formas e cores estranhas e fantásticas sem caráter definido e há um corpo horrível e magro. -.
conheço minha posição mas meu corpo tez uma volta de 90.0 ... Há um buraco fundo no meu
peito... um pescoço emerge do buraco, como o de um ganso com uma cabeça do tamanho de
uma mão fechada.., o dorso com a cabeça-buraco emerge do meu corpo... tenha medo." Estas
imagens semelhantes a alucinações são projetadas no mundo exterior com um "caráter de
verossimilidade".
Algumas pessoas de condição neuropática deixam facilmente desfilar coma um filme, estas
imagens no pensamento passivo, relaxado. ' paciente se deita e olha o abajur. O objeto visto
por último se incorpora na série de imagens.
Uma espécie de poltrona de escritório sem pernas, a parte superior gira no seu eixo. Vejo
botões de flores como papoulas, duas verdes, uma branca com listas vermelhas. Isto se
transforma numa linha ondulada que vai formar um laço aos poucos. Depois isto transforma
numa colher de sopa prateada de uma forma esquisita, pendia para baixo, e côncavo. Vejo um
prato raso, que diminui em tamanho, nele há um metal bronzeado claro. Tem mais, algo como
um chapéu, um chapéu de forma com dobras. Também não existe - há outras coisas que não
distingo bem. Havia coisas como ganchos, uma espécie de mão, mais tarde alguns ganchos
finos vinham correndo ao seu lado. Tudo isto é muito difícil de se compreender.
Que coisa, uma árvore inclinada no espaço na árvore um homem está deitado de bruços, algo
rígido e esquisito. Agora em forma de foice com um cabo vermelho, roxo e amarelo.
De olhos fechados: peguei somente os objetos definíveis. Um grande edifício, tipo castelo com
fileiras de janelas, visto de frente. Depois enquanto a casa desaparece um grande e linda
árvore da vida como as que se veêm nos cemitérios, uma espécie de lanterna como um objeto
de iluminação. Num fundo preto escuro dentro de um oval um grui denso de construções
antigas em tons reluzentes amarelas e vermelhos, brilhando como si incêndio. Uma coisa
parecida com um tonel, como uma ânfora sem cabo. Uma bela ágata preta com as asas
desdobradas, numa bola de ouro. Um monstro, meio ave, meio dragão com um bico curvo e
grandes olhos redondos que me pica. Óculos de vidros roxo escuro e uma armação amarela.
Uma espécie de coluna e uma mão que cresce e se transforma em uma mão laqueada. Um
homem de bicicleta e uma ponte na minha frente. Uma espécie de porta-notas música que se
aproxima sobre 3 patas. Um besouro numa parede. Uma estante de i virados para cima e que
assume formas diferentes. Dai surge de repente um penacho. Uma silhueta emerge. A
representação anatômica de um homem.
Na minha frente uma moça vai dançando, jogando sua saia. Seu penteado é liso frente e
amarrado atrás.
Uma fila de casas numa rua de aldeia. Quando uma imagem se move de repente gira em redor
do seu eixo ou balança como um pêndulo isto me causa uma sensação desagradável. Há algo
de hostil e maligno nas coisas que se movem e que não se percebe mais na sua beleza pura.
Olho de cima sobre uma espécie de cômoda e ela começa girar sem minha interferência. Isto é
desagradável. Uma imagem: um bolo avermelha
Não nos cabe aqui descrever as diferentes imagens que denominamos estado crepuscular
histérico. As principais delas apresentam no seu mecanismo de apresentação analogias
notáveis com os fenômenos dos sonhos e da hipnose e chegam a ser idênticos com os mesmos,
sob o ponto de vista psicológico. Constituem fases insulares circulares circunscritas com a
consciência diminuí A receptividade de novas impressões sensoriais, a relação com o ambiente
real acham-se trancadas e eliminadas. Predomina assim a reprodução engramas de vivências
passadas. Um homem nervosamente instável passa por uma situação que perturba
veementemente seu equilíbrio afetivo: dissolução de um noivado, infidelidade sexual, estupro,
cenas familiares, situação aguda de susto, etc. Imediatamente após, ou algum tempo depois de
uma cena dessas o paciente cai num estado crepuscular que dura minutos, horas ou dias,
cedendo repentinamente lugar a um estado normal, processo este que pode repetir se com
freqüência. O que diferencia o estado crepuscular do sonho de uma pessoa normal é o
seguinte: de acordo com a causa provocada por afetos fortes e agudos o desenrolar psíquico
vem acompanhado de forte carga afetiva, de maior veemência e dramaticidade. Angústia
extrema, desespero, cólera transe erótico, são vividos com dramaticidade patética. A
psicomotricidade não é fechada como no sonho comum, mas se desenvolve livremente e de
modo mais acentuado. O mecanismo da expressão desempenha um papel importante e até
preponderante na zona da historia. O estado crepuscular representa em certas circunstâncias
apenas um quadro vivo, uma cena dramática onde as peripécias se sucedem como num filme
com expressão afetiva teatral, caricatural.
"Num estado crepuscular um soldado leva o fuzil ao rosto com movimento pantomínico, visa,
dispara mostra com o braço um ponto distante, ataca com a baioneta com ambas as mãos. No
seu rosto se refletem todas as emoções próprias ao caso. No fim a pantomina é acompanhada
por palavras como:
Velho amigo, acaba de se esconder atrás do carvalho, Meu Deus, agora ele salta, acertei nele,
etc.
Ou então a mulher do camponês, maltratada, abusada pelo marido ébrio enxotada pelo irmão
da sua casa, em conseqüência de uma briga, vê no estado crepuscular um homem entrando
pela janela que se atira nela tentando estrangulá-la. Ela grita e treme de medo e ouve como o
irmão diz para sua mulher:
"Vão pegá-la, aqui ela não entra e se você entrar, nós te vamos pegar na floresta". Quando o
médico abre a porta os dois espiam-na. Ele veste um terno marrom ela usa uma saia azul. A
paciente ouve o médico falar: Agora sabeis onde ela dorme, basta entrar". Querem maltratá-la.
Freqüentemente lhe aparece a cara do irmão cheio de raiva como ele a olhou durante a última
discussão. Alguém está deitado debaixo da cama e ela não ousa espiar. Assusta-se dos seus
chinelos como se fossem bichos esconde-se debaixo dos cobertores ou agride a gente com
violência."
Mas o conteúdo dos estados crepusculares não se limita apenas a situações de terror e
angústia, havendo outras onde domina o desejo, cenas eróticas, satisfação do anseio da
maternidade por uma mulher estéril. Alguns ataques histéricos se parecem em sua imagem
motora aos movimentos da cópula. Carece de sentido querer encontrar uma relação na
"posição arqueada" durante o ataque como alguns psicoanalistas o fazem.
Figura 15 Explicação da paciente: "o animal é de cor cinza, um bode, um bicho, um sátiro,
representa a mentalidade do homem do qual formam parte. Tem duas cabeças, uma de um
cura e Outra d um não cura (dois namorados de infância da paciente entrelaçados e com o
bode emergindo do seu abdome condensado no símbolo da virilidade. A cobra na anão podia
ser um símbolo fálico.
Figura 17. Explicação da paciente: "O diabo como dragão voador composto das partes dos
corpos de 7 Outros animais: a língua de um dragão, os olhos de um cavalo ou burro, a cabeça
de um touro, as orelhas de uma cabra, os chifres & um bode, a cauda de um peixe, o corpo do
próprio dragão."
Figura 16. Declaração da paciente: Um homem querendo dominar o porco (sim bolo do desejo
sexual), sendo ele mesmo meio animal ainda".
Figuras 15-17 Alucinações em histerias degenerante (desenhadas em estado hipnótico.
Formação e condensação de símbolos (BERTSCHINGxR, 1912).
OS PRINCÍPIOS DA ESQUIZOFRENIA
(E. BLEULER VTFT, JUNG 1907, W. KRETSCHMER 1954 e 1957) STORCH 1922, SCHLLDE1 1918,
WINKLER 1957). Não existe nenhum mecanismo principal efetivo ou figurativo importante que
não podemos encontrar em profusão no esquizofrênico. Muitas das expressões usadas tais
como: condensação, translação, catatimia, ambivalência, não têm sua origem na psicologia
ética mas no estudo da esquizofrenia e neurose. Nos casos da esquizofrenia o pensamento se
torna catatímico por completo até desaparecer toda ligação com a realidade e todo nexo causal
criado pela freqüência das imagens sucessivas. Um enfermo "autista" se refugia numa ilha,
submerso em si mesmo e alheio aquilo que o rodeia, contemplando dentro de si mesmo como
um sonhador que contempla o edifício construído pela sua fantasia, construindo com
fragmentos de imagens seus desejos e seus temores e todas suas correntes afetivas. O
pensamento causal cede ao pensamento mágico. Assim como nas lendas tudo que se ajusta
aos seus desejos e sentimentos, se torna realidade. O enfermo se torna Sócrates, um professor,
príncipe, milionário enfim tudo que já desejou ser na vida.
Existem esquizofrênicos nos quais a doença descobriu as capas hipnóticas em grande extensão.
Transcrevemos aqui partes do protocolo verbal de uma jovem camponesa esquizofrênica da
nossa clínica: "A paciente fala de um filme que dura o dia inteiro. Perguntada a respeito ela diz:
"Deixam a fita correr o dia todo depois inserem minha figura por meio de uma pinceta e
seguram minha figura com um imã. Então eu sou tal qual e os homens tiram tudo que querem
e me dão injeções de morfina, álcool e não sei o quê." (Você sente o que se faz com sua
figura?)" Quando recebo injeções, eu o sinto. Minha figura que tiram da película recebe as
injeções. Quando a película se desenrola eu fico presa em cima dela com um imã. Desde que
os príncipes sabem que decendo do príncipe herdeiro fazem virá-la, deitam um lenço branco
por cima e depois me destroem e fazem misérias comigo. Não me querem na sua roda de
príncipes. O marido e o irmão da rainha Elisabete eram designados a serem os herdeiros e não
queriam que estivesse com eles, pois eu era uma princesa selvagem."
(O que você faz com sua figura?) "Tudo que se possa imaginar, a maior vergonha, me aplicam
injeções em toda parte. Não tenho mais vida em mim. Cortam-me com facas, todos estão nesta
trama, os camponeses, os fabricantes, o Bosch e o Daimler-Benz, o lançador de chamas. Fazem
do meu corpo o que querem e me violentam. Cortam meus dedos e tudo, uma vizinha o faz
por pedaços e centímetros, aplicam uma injeção atrás outra. Não tenho mais vida em mim, e
pioro dia a dia. Desde que usam a película não tenho mais vida. Aplicaram em mim o cordão da
nobreza de Monrepos (Ludwigsburg). Há sementes dentro, ouro e tudo desejavam me incutir.
A película continua a girar, eles me veêm também a você. Eles têm uma parreira na qual tudo
se desenrola o que eu digo, quando imagino alguém, vê-se a pessoa."
Aqui está representado de forma clássica o que na psicologia popular se chama de "magia
analógica" (figurativa). O primitivo não quer ser fotografado nem quer que sua imagem
espelhada seja retratada. Ele sabe que algo de mal pode acontecer à sua imagem e que isto
pode ser transferido à sua própria pessoa. Assim a paciente sente como colocam e retiram sua
pessoa da película, maltratando sua imagem e violentando-a. Ela perde suas forças, decai cada
vez mais e não tem mais vida nela. Em compensação aparece em seguida a magia do amuleto
primitivo caraterístico num sentido de exaltação positiva: lhe aplicam o cordão da nobreza com
sementes e um pedaço de ouro e tudo que a gente possa imaginar"
Atrás destes episódios mágicos aparecem como potências impulsoras em pares de pólos
opostos o princípio do Bem e do Mal, as tendências d'auto-exaltação (princesa), os desejos
sexuais ambivalentes; e do outro lado o inimigo sinistro e pavoroso com seus atos grotescos de
crueldade no seu retrato.
Nas descrições dos esquizofrênicos inteligentes revela-se muito bem caráter estratificado da
sua vida interior. Não é assim como o termo pouco apropriado "idéias delirantes" parece
indicar que os processos hipnóticos venham a substituir a realidade habitual, mas sim que
tanto uns como os outros vivem "lado a lado" com diferentes graus de naturalidade valores
qualitativos diferentes e acentos afetivos diversos. Um esquizofrênico inteligente com visões
polimorfas agitadas designa a relação entre os dois mundos da seguinte maneira: "O real e o
super-real". As visões se percebem como se "penetrassem vagamente no sistema (do mundo
real)" quer dizer com grau distinto c naturalidade "claro-obscuro". Não excluem a realidade,
mas, apesar de serei nebulosas "ultrapassam a realidade" e a desvalorizam. "A imagem
sonhada ri prende mais". Ela tem "o conteúdo profundo de um chamado pessoal Evidenciam-
se aqui nitidamente os paralelos entre a vida artística e religiosos.
Condensações entre pessoas e conceitos diferentes são muito comuns. Uma paciente vê o
médico como médico, mas ao mesmo tempo como seu amante antigo e simultaneamente
como uma terceira pessoa que pode ser tanto seu pai como um vizinho qualquer. Ela participa
dos atos dos demais e experimenta em si mesma o que os outros fazem ou sentem. Vemos
condensações em certas formulações de palavras novas como "vela a vapor" que resulta da
condensação das palavras "barco a vapor" e "barco a vela". No sonho temos formações de
palavras novas como "trauram" formado das palavras "traurig" (triste e grausaxn (cruel). (E.
BLEULER, 1969). Durante a guerra uma paciente teve relações intimas com outro homem que
formaram o conteúdo da sua psicose esquizofrênica. Um deles se chamava Gerlach ou outro,
que era seu amigo Gammertinger. Na psicose ela imagina ouvir falar um com a voz do outro.
Existe uma transição quando uma mulher abandona seu emprego como auxiliar (apoio) da
dona de casa sentindo imediatamente uma forte aversão por tudo que possa surgir "apoio",
como uma bengala ou quando outra sente uma repugnância invencível na vista de uma sopa
de massa em forma de cornos, por ter sido assustado por um touro cujas partes genitais e
cornos a impressionaram muito. Neste c poderia dizer-se: O corno é o símbolo do touro. No
que concerne aos símbolos dos esquizofrênicos não existe na consciência o conceito abstrato
elaborado junto à imagem alegórica como acontece nas pessoas normais. Este diria: "o corno é
o símbolo da virilidade, sendo que o concreto "corno" significa o abstrato "virilidade". Os
símbolos esquizofrênicos entretanto, são os produtos de um pensamento inacabado. Todas as
sínteses figurativas que o pensamento de um homem normal efetua na periferia obscura da
consciência, fora da zona de abstração, ocupam no pensamento esquizofrênico "o lugar" do
abstrato no centro luminoso do campo visual do espírito. Um esquizofrênico vê, sente
realmente fogo e experimenta fisicamente uma queimadura quando em circunstância idênticas
um homem normal diria: "Estou enamorado, penso no amor". Ardor e fogo como o demonstra
seu papel de símbolo estereotípico do amor nas canções populares, formam parte no homem
normal da esfera das representações do amor, quer dizer dos complexos de imagens evocadas
ao pronunciar a palavra "amor". No esquizofrênico, porém falta o abstrato do "amor" que é
substituído pelo figurado "fogo" que passa do seu lugar esférico para o foco da consciência.
Como ele representa algo de real, ou o amor realmente sentido, dá-se lhe o juízo positivo da
realidade que é vivido na alucinação. Alguns esquizofrênico interpretam seus símbolos e
juntam em suas experiências ao conglomerado catatimico das imagens (1) a abstração
elaborada. Tais pacientes facilitam a análise empírica acertada dos símbolos nas fantasias dos
doentes e dos normais.
Tais exemplos nos permitem observar como o pensamento abstrato "infinito do espaço" se
decompõe ao nascer em elementos esféricos, em conglomerado assintáticos de imagens que
se entrecruzam em sentido oblíquo e que simbolizam como no sonho dinamicamente o infinito
do espaço em profundidade o altura; mediante o crescimento das torres, a extensão excessiva
dos círculos e seu aprofundamento cilíndrico.
ESTILIZAÇÃO OU ESQUEMATIZAÇÃO
As palavras seguintes ditas por um esquizofrênico nos permitem aval como os mesmos
adquirem a consciência da tendência de estilização: "Go imaginar todas as formas concretas
sob o aspecto geométrico: triângulo, retângulo, círculos reduzindo-as a um esquema
despejando-as da sua realidade: tangível. Quase me é impossível perceber o real, sem ajuntar
algo de m Aí entra um elemento subjetivo". (Fig. 18).
(1) R comparou os complexos dos esquizofrênicos com "os ciclos instintivos animais.
(2) (As relações entre esquizofrenia e expressionismo e vida psíquica primitiva expostos por
SCHILDER (1918) PRINZIIORN (1968) e WusxLex (1949).
Um dos meus pacientes, um jovem esquizofrênico bem dotado passava durante uma doença
leve, de um pensamento normal sóbrio a paroxismos de exaltação erótico-religiosos e êxtases
místicos, nas quais desaparecem todas as imagens ficando somente o sentimento o que
descreve como "um grande fluxo e transbordamento que se repetem sempre". Entre estes
pelos extremos ele atravessa fases intermediárias gradativas que podem durar semanas e que
ele denomina de "desfiles de imagens". Vê então uma profusão de imagens que "brotam" de
imaginações abstratas e se identificam com objetos reais (numa atitude passiva) que ora são
"ornamentos antigos de estilo nórdico, ou escultoras romanas" originam figuras grotescas e
grupos de imagens que se sucedem como num filme, cavalheiros escudeiros num velho castelo
que ele vê realmente num vale. As imagens mais interessantes são aquelas que lhe surgem de
imediato dos seus pensamentos abstratos. Ele lê uma obra filosófica de KANT. O abstrato se
transforma em imagens contínuas. A demonstração d KANT relativa à infinito do espaço lhe
provoca a seguinte imagem: "As imagens se tumultuam, torres, círculos após círculos, um
cilindro, que se introduz de forma oblíqua n conjunto, tudo se move, cresce, o círculo ganha em
profundidade se transforma em cilindro as torres não cessam de crescer, tudo voluntariamente
como uma pintura expressionista o um sonho."
Podemos considerar como grau preliminar do pensamento hipnótico o estado psíquico que se
apresenta na fase da "livre associaçao" durante a vigília. Colocamos o paciente com a ajuda do
treinamento autógeno num estado passivo colocando-o numa cama em quarto calmo, de olhos
fechados, e músculos relaxados convidando-o a contemplar sem esforço, finalidade ou atenção
ativa as imagens que lhe ocorrem. Este método é especialmente usado para fins diagnósticos e
terapêuticos. Podemos observar este modo de pensar quando repousamos depois de
sentirmos fatigados, nos períodos de meio-sono, antes de dormir ou ao acordar e com menor
intensidade durante uma conversa pouco interessante ou em estado de relaxamento psíquico.
Se o paciente nos conta suas impressões e imagens que lhe surgem, obteremos o seguinte
protocolo:
Nos meus sonhos vejo-me voando, especialmente em concursos de vôo, como s nadasse com
as mãos no ar fazendo pressão com as palmas da mão para baixo - Agora m surge um
pensamento inquietante: devo rejeitar o tratamento, que nada me ocorre, com aconteceu com
o Prof. F. Hoje senti alguns impedimentos em coisas pequenas, não pude colocar os livros nos
seus lugares na biblioteca. E a sala, a impressão geral do edifício, que as ruas são
agradavelmente ensolaradas, que faço um passeio que os prados são tão verdejante quase
como nos Alpes. Uma carta que acabo de receber me informa que meu filho mais velho se
comporta problematicamente - comeu dois ovos às escondidas...
1.0 - Meus pais, minha irmã e eu viajamos de coche por Charlottenburg. Era pásco minha irmã
e eu recebemos de presente dois coelhos de tamanho bastante grande. Os pr sentes não nos
alegram tanto quanto a idéia que os transeúntes tomem os coelhos p verdadeiros, o que
evidentemente não são.
2.0 - Também em Berlim na casa de um tio. Coloco alguns vinténs no bolso e seu colete e ele
faz sair uns bonbons de chocolate da manga do seu paletó.
3 - Caí doente de difteria. É época de Natal. Minha mãe me levanta da cama me deixa dar um
empurrão na balança. Ao lado da cama tenho uma pequena venda brinquedo e vendo à
enfermeira um pão feito de pedra.
4.0 - Estou na aula do professor J. que me quer contar a história de uma cruz no telhado de um
convento quando a companhia o interrompe.
50 - Em Berlim, meu pai me leva sem conhecimento da minha mãe ao cabeleireiro onde
cortam os meus cachos o que deixa minha mãe desolada.
Estes fragmentos se diferenciam muito pouco do primeiro. Nele existe ainda elementos de
pensamento abstrato e imaginações superiores enquanto toda a relação se apresenta
figurativa abstrata e de associação livre. No segundo protocolo as imagens se enfileiram,
reminiscências de infância plásticas co associações muito leve. As imagens não são dissociadas
de um modo fantástico, mas possuem relação entre si. Tudo tem um caráter de atualidade.
Se comparamos esta maneira de pensar com a sucessão harmônica idéias em uma conferência
um num artigo científico, verificaremos antes tudo a ausência de uma representação diretriz a
idéia fundamental de u "tendência determinante" que domine o conjunto e à qual todas as
partes se referem como um tema ou um epígrafe. Suponhamos que alguém faça uma
conferência sobre o tema "Doenças dos homens" ele coordenaria a série das suas
representações esquematicamente falando, mais ou menos da seguinte maneira: trataria das
enfermidades médicas, cirúrgicas, ginecológicas, oftálmicas, etc, entre as primeiras explicaria
as doenças infecciosas, as do coração, do estômago e sitaria entre as infecciosas a escarlatina,
o sarampo, etc. A série de idéias corresponderia ao seguinte esquema:
Esquema 1
Esquema li a-b-c-d--e-f
Partindo da imagem isolada podemos tentar criar representações superiores cada vez mais
alta. Penso num cão, por exemplo. Ele surge nítido i sua imagem ótica-plástica no meu campo
visual interno. Posso realizar es imaginação verbal. Isto acontece ainda na representação
superior mais imediata de "cão pastor". A representação superior "cão" continua sendo muito
característica para a passagem do concreto ao abstrato. Não é mais possível faz surgir uma
imagem concreta e direta no interior. Isto pode acontecer sob forma de translação psicológica
mediante a qual aparece com nitidez concreta cor representante da espécie "cão" o meu "cão
pastor" Mas evitando este subterfúgio obterei na representação de "cão" algo de vago, incolor
como são imagens oníricas e que devemos tomar por condensação. Desfilam então diante de
nós elementos figurados de todas as raças imagináveis de cães, formas, pa e cabeças que
mudam sempre de aspecto como acontece nos sonhos, elemento de formas e cores que
surgem para desaparecer em seguida. O que fica palpável não é a imagem ótica real, mas seu
símbolo, a palavra que pronuncio, fazendo ressoar no meu interior. Mas evidente se torna esta
transição do ponto gravidade em favor da palavra na imaginação superior da palavra "afim
onde não surge nenhuma imagem. Quando dizemos "ser vivo" ou simplesmente "o ser",
ficamos com a impressão de um vácuo no nosso espaço figurativo. Este experimento nos
ensina o seguinte: As impressões diretas mais generalizadas são em geral as abstrações mais
incolores. A representação abstrata é fato "abstraída", excluída ou separada da imagem real,
tendo por corpo apenas a palavra - Seu corpo é a palavra sonante sem cujo ritmo o abstrato se
to psiquicamente irrealizável, desfazendo-se no ar. Depreendemos daqui qu aglutinação da
imagem é uma fase preliminar lógica para a abstração do me modo como a evolução da
linguagem se pode conceber como uma aglutinação de sinais fonéticos entre si e os complexos
resultantes como imagens reais esferas visual, tátil e acústica. Vemos então como pela
aglutinação cada mais complexa das imagens o pensamento abstrato suportado pela palavra
constitui em camada superior do pensamento em imagens concretas e r O caminho de uma
abstração crescente de imagens sensoriais para cono superiores não sensoriais se aplica
somente para a sistematização lógica mundo objetivo (ciência natural descritiva). Nos sistemas
metafísicos, ló e matemáticos todos os conceitos são igualmente não objetivos.
O pensamento abstrato não deriva absolutamente das imagens concretas do mundo exterior.
Já falamos da tendência autônoma do nosso organismo psíquico que não se pode atribuir a
impressões sensoriais do mundo exterior, como, por exemplo, das estilizações rítmicas e
geométricas. Devemos também admitir certas tendências autônomas para as operações
superiores, não concretas e lógicas. Somente aquilo que já se encontra ancorado no organismo
pode evoluir pelo aprendizado. No pensamento dos primitivos (criança) não existe ainda uma
categoria de pensamento no sentido de ARISTÓTELES ou de KANT. Já devem ter existido
tendências determinantes confusas das quais se cristalizaram mais tarde os princípios dos
filósofos em linhas firmes. Designamos como categorias psíquicas (*) as relações que o sujeito
estabelece entre as imagens:
a ordem no espaço e no tempo dos objetos, a síntese visual dos vários aspectos parciais, um
objeto só e a relação com o mesmo o que chamamos de "ato intencional" (BRENTANO 1911,
HUSSERL). A separação rigorosa entre o EU e o mundo exterior, entre o sujeito e o objeto que
faz aparecer as imagens psíquicas internas como produtos diretos do EU e as outras não menos
imediatamente como "Não EU" ou objetos do mundo exterior. Sobre estas diferenças concretas
se levantam as de ordem superior: a comparação de duas imagens, sua relação hierárquica, a
procura causal de causa e efeito, e o princípio teológico (Finalidade). Estas são apenas as
categorias as mais importantes que servem ao pensamento desperto para por ordem no caos
dos elementos figurados.
O termo "categoria" se emprega também num sentido mais restrito excluindo as classificações
de espaço e tempo como formas intuitivas. Não existe razão de peso para esta separação rígida
(KANT) "Critica da razão pura", quer dizer que a imaginação (Doença do homem) não atua mais
como constelação sobre a série de idéias sucessivas. A série se distancia cada vez mais, desde o
3. membro chegando a perder toda relação direta com a representação inicial. Mesmo assim
não fica sem conexão. Falta o titulo, um elo que liga uma idéia comum que faz de toda a série
uma unidade. Cada representação se liga à outra, precedente e seguinte, mas não ao complexo
geral. Nesta cadeia não existem elos superiores ou inferiores. Cada representação vale a outra
se liga à seguinte sem tomar em consideração a anterior
Será errôneo pensar que nosso pensamento seja somente perceptivo exclusivamente
espontâneo. Estes dois tipos constituem os dois pólos extremos entre os quais nosso
pensamento diurno oscila. Aproximamo-nos do tipo pi mente perceptivo unicamente quando a
atividade intelectual está muito concentrada, ao fazer uma conferência, ou ao ler uma obra
científica e ao espontâneo ou de livre associação num relaxamento psíquico absoluto, tarefas e
conversações habituais nosso pensamento comum se desenrola li a trechos por representações
ou idéias diretrizes e desligando-se delas e entregar-se à livre associação por contiguidade ou
semelhança ou para cair r mente debaixo do domínio de uma outra idéia nova e fundamental.
Segue a disposição intelectual e a concentração do momento predomina uma vez no
pensamento a qualidade perceptiva, outra vez a da livre associação.
Devemos sempre pressupor que o pensamento perceptivo não existe n isoladamente, mas que
é simplesmente a super-estrutura do modo habitual, pensar natural e espontaneamente. As
relações de associação livre continua a fluir subterraneamente. A representação diretriz, porém
suspensa por como um ímã atrai os elementos afins, para a zona de claridade da consciência,
enquanto que os outros se perdem nas profundidades esféricas profundas.
Já demonstramos anteriormente que o pensamento perceptivo deve t se mais abstrato à
medida que as idéias diretrizes do pensamento perceptivo se tornam mais amplas.
Inversamente a associação livre tende para voltai a imaginação figurativa. Na medida em que
relaxamos num repouso r tanto mais a livre associação se aproxima do tipo de sono e da
hipnose ligação sintática começa a romper-se, a formulação verbal das idéias cede
positivamente seu lugar às imagens reais e à contemplação intuitiva direta d e figuras animadas
que surgem dentro do sujeito. A noção do tempo é mais vaga. Lembranças e desejos do futuro
são vividos no presente. Chega mos ao limite extremo do pensamento acordado. Daqui em
diante a cons ciência se torna menos clara e nebulosa. Depois da coerência temporal também a
espacial das imagens internas se dissolve. Entre os grupos de imagens cenicamente ordenadas
se insinuam elementos fantásticos num número cada vez maior, aglutinações assintáticas
catatímicas de imagens. Chega-se assim ao estado de sono profundo que, conforme vimos, se
compõe quase sempre de imagens sensoriais entre as quais flutuam fragmentos dispersos do
pensamento abstrato.
Deve-se saber que existem certos sujeitos nervosos e psicóticos no círculo esquizofrênico para
os quais um relaxamento leve basta, e sem manifestações de sono profundo para provocar
uma dissociação fantástica de idéias que em vez de se agrupar cenicamente como num filme,
se decompõem em parte em aglutinações catatímicas. Diz-se desses indivíduos que "sonham
acordados". Como se trata de indivíduos dotados artisticamente seus sonhos podem cristalizar-
se em ricas produções de fantasia, bastando lembrar E. A. PoE, E. T. A.
HOFFMANN e MOEJUKE.
Os sonos do homem comum são igualmente de grande importância para o médico para a
análise das correntes psicológicas mais profundas como os respectivos produtos dos sonhos.
Não podemos colher exemplos mais puros de associação livre do que nos maníacos. Não existe
o menor traço de representação diretriz e cada idéia se associa com a precedente segundo o
princípio da associação mais simples. No exemplo que acabamos de citar revela-se facilmente a
mudança de impressões por impressões sensoriais externas (corrente de relógio).
8.° CAPÍTULO
MECANISMOS HIPOBÚLICOS
MOVIMENTOS RÍTMICOS
Quando um adulto civilizado sofre os efeitos de uma excitação por demais intensa sua capa
filogênica superior cai numa espécie de paralisia e abatimento e a capa interior assume a
direção de todo o aparelho psicomotor. Uma verdadeira tempestade de movimentos
impulsivos que podemos interpretar como movimentos de "tatear" substitui a reflexão calma e
serena, (sem movi mentos). Sucedem-se os sintomas agudos de terror e angústia que
acompanham o "pânico" que a psicologia ativa estuda em ocasiões de catástrofes súbitas,
terremotos, guerras, explosões em minas e incêndios de teatro, etc. Os homens sob o impacto
de pânico se movimentam como um enxame de infusórios em água aquecida, impulsivos, sem
rumo, com atropelos, gritos, gemidos, pisando uns aos outros. Quando um desses movimentos
excessivos afasta o indivíduo da fonte de excitação (uma casa que desmorona, um incêndio) ele
segue o rumo iniciado até que se tranquilize recuperando aos poucos a capacidade de
raciocínio consciente. Tais estados de terror agudo não somente provocam movimentos
propícios à fuga mas despertam a atividade exagerada de todo o aparelho de reflexos e as
funções vegetativas de tudo que se move no organismo o que se traduz em movimentos
rítmicos como tremores, contrações "clônicas" tiques nervosos e sinais violentos e irregulares
de irritação no sistema cárdio-vascular, no aparelho digestivo e todos os órgãos de secreção..
Tudo isto não é planejado pelo intelecto mas dirigido pela pessoa profunda"
O exemplo mais típico da tempestade motora atávica se observa no ataque histérico que, ao
lado de abundantes movimentos rítmicos (tremores e con trações) compreende uma
multiplicidade de movimentos enérgicos de defesa ou de êxtase com forte participação dos
aparelhos que governam a vida vege tativa dos reflexos.. O acesso convulsivo como as demais
demonstrações do histerismo se caracterizam por certo conteúdo teleológico objetivo e do
mesmo modo como a tempestade motora dos infusórios, constitui uma reação instintiva
115
Fora da validez generalizada da sugestão como fator que atua na nossa vida psíquica normal
associado à vontade finalista, encontramos fenômenos volitivos de sugestões desligadas por
completo da mesma, unia vez que se encontram separada como mecanismo autônomo dentro
do conjunto. Isto acontece nos mesmos "estados de exceção" nos quais os mecanismos
restantes hipobúlicos e hipnóides dominam como na hipnose e nos estados histéricos e nas
imagens catatônicas da esquizofrenia. No catatônico a sugestibilidade se evidencia até a
caricatura em formas de catalepsia ou do automatismo de comando (obediência). A catalepsia
representa o grau mais baixo dos fenômenos sugestivos. Consiste em que o catatônico se deixa
ficar na posição que se imprime ao seu corpo podendo o mesmo ser moldado como cera.
(Flexibilidade cerea"). Basta um estímulo sensível elementar (a flexão de um braço p. ex.) para
que o doente responda automaticamente e sem refletir um momento, com uma atitude
muscular motora. Encontramos igual automatismo nas contra-tensões musculares de certos
negativismos catatônicos. A obediência automática conslitui ao contrário, uma forma superior
de sugestibilidade, pois, embora subsista o automatismo não há reação negativa a estímulos
somáticos elementares, não positiva a complexos psíquicos diferenciados: a palavras,
exortações o comandos.
Ao lado das qualidades sensoriais elementares da palavra falada suas correlações esféricas são
de major importância sugestiva como já observamos anteriormente. Chegamos a conhecer ao
lado do significado intelectual e sentimental da esfera, a volitiva. Na vizinhança da consciência
encontramos germes de esboços de movimentos de integração diferenciada que vencem
espontaneamente ou podem ser despertados sugestivamente. Este aspecto volitivo não pode
ser separado do afetivo.
Também na vida ordinária a eficiência e ineficiência sugestiva da palavra falada depende antes
de tudo da qualidade sensorial e da ressonância esférica. Para se conseguir efeitos sugestivos
em todas as profissões, a condição primordial consiste em dominar a motilidade do próprio
corpo e o timbre da voz e antes de tudo ainda possuir um sentimento instintivo para as
ressonâncias esféricas das palavras usadas.
OS CIRCUITOS
Para nossa tarefa terapêutica as conexões do aparelho de expressão têm importância especial
sobre tudo na histeria (KRETSCHMER 1 58). As diversas capas podem ser distantes umas das
outras. Freqüentemente notamos que paciente ao mesmo tempo "quer" e "não-quer" que ele
aspira curar-se segundo sua vontade racional, alimentando porém no fundo um negativismo
hipobúlica e recalcitrante oferecendo uma resistência impulsiva tão logo, percebam que cura
está perto. Vemos assim que uma simulação inicialmente delibera como um andar trôpego, um
tremor aprendidas à força de ensaios se tornem um hábito e se emancipa cada vez mais da
vontade do indivíduo e sucumbir ao domínio de correntes hipobúlicas cegas, porém muito
poderosas. Um antrôpego por exemplo se intensifica enquanto a esfera hipobúlica se disso
cada vez mais da vontade finalista. Quando nos esforçamos por persuasão racional e ajudado
por exercícios livrá-lo do seu transtorno e já pensamos alcançado um sucesso, o paciente salta
de repente da "finalidade" para "Hipobulia de resistência". Em vez de um homem racional
enfrentamos i fera que mostra suas garras. A consciência se concentra sobre um só pois o olhar
fica rígido e ausente, uma saraivada de negativismos de mecanismo de tremores e convulsões
se abate sobre nós. Gritos, suor e respiração ofegante nos atacam. Não podemos eliminar estas
resistências hipobúlicas com persuasão e exercícios paulatinos, mas somente por sugestão,
estímulos sensoriais formadores e comandos, como ao domesticar uma fera.
Já vimos que na fase hipobúlica não existe uma diferenciação entre impulsos volitivos e os
reflexos derivados de estados afetivos ou seja e as expressões próprias da vontade e da
afetividade. Por isto o histérico se defende dispõe de ignorados e profundos "mecanismos
produtores de reflete para conseguir suas tendências de fuga e defesa que não poria em
funcionamento em estado normal. Ele pode tremer, vomitar, ficar rouxo ou pá com uma
facilidade e rapidez que um ser normal não alcança. Fora d circuitos hipopúblicos existem
outras vias para os mecanismos receptores reflexos, cujos conhecimentos são indispensáveis
ao médico. De um repentino, por exemplo, pode sobrar um tremor reflexivo. Mediante a u
muscular difusa e voluntária e acumulação afetiva intencional um simulador astuto pode
manter um resto de reflexos, reforçando-os até executá-los automaticamente em poucos dias.
Quanto mais isto acontece e se intensifica na consciência critica do indivíduo tanto mais uma
reação inicial de susto ou simulação se torna histérica e pode dar origem a dissociações
hipobúlicas secundárias. Denominamos de "reforço voluntário de reflexos" processo que
acabamos de descrever e que está na origem do mesmo e das suas conseqüências.
TERCEIRA PARTE
INSTINTOS E TEMPERAMENTOS
9º. CAPÍTULO
O Lato básico da polaridade da função dos instintos é importante, pois sem ele muitos
fenômenos de ordem psicológica e psicopatológica não podem
ser compreendidos.
modal. Quase o mesmo pode ser aplicado aos impulsos " Um caso limítrofe e bastante
complicado é o contraste entre "Atitude de pudor e susto" que se liga por reflexo aos vasos
sangüíneos da face, O primeiro caso (enrubecer) representa uma tendência de defesa
(desnudar) e o segundo (empalidecer) o instinto de fuga de um modo hipotético.
3. Cada instinto possui sua forma positiva e negativa. Quer dizer que o indivíduo aspira a uma
finalidade visando uma união ou uma síntese harmo niosa, ou ele evita medrosamente esta
finalidade e procura a perturbação dessa harmonia ou em caso extremo ele procura distanciar-
se.
No homem não é tão fácil assim descrever o que sejam impulsos genuínos e independentes em
face da sua psique múltipla determinada. Como não se pode determinar seu número existem
várias divisões teóricas que possuem um valor de aquilatação diminuto. A pouca formalidade
das vivências impulsivas (e também das ações) sua plasticidade e variabilidade se devem aos
processos de ensino flutuantes muitas vezes cruzado por impulsos e inibições. Na sua periferia
cada impulso básico se perde sem limites no amplo leito do tempera mento geral de um lado, e
nos modos de comportamento ditados pelas situações sociais diferentes. Somente nos casos
onde podemos ligar as exigências às subs tratas isoláveis corporais podemos salientá-las
hipoteticamente como impulsos isolados, como complexos psíquicos num sentido biológico. Na
classificação qualquer comparação com o mundo animal descendente não nos ajuda por que
ngo podemos formar um juízo sobre vivências subjetivas dos animais. Pode mos somente
estabelecer paralelos para os reflexos e movimentos situacionais em homens e animais. Neste
sentido encontramos nos pontos de exitação e no circulo funcional do cérebro, acoplados com
movimentos corporais integrados úteis (também atos impulsivos) pontos de vista fisiológicos
importantes para a classificação. Por maiores que sejam os progressos neste terreno, não
devemos esquecer que classificamos ainda os instintos primitivos do homem essencial- mente
segundo o sistema orgânico que se destaca.
126
Instintos e Suas Variações
Jnsf Gregdriõ
5. de aquisição
6 sexual
Devemos observar que estes grupos nuío se encontram no mesmo nzvel segundo o seu
conceito. Uni é mais coletivo, outro mais individual ou dife renciado. Quanto mais subimos a
escala precedente tanto mais difícil se torna localizár as exigências no cérebro (especialmente
por observação de impulsos ou faltá dëles). Na vida normal nenhum instinto se manifesta
sozinho, mas sempre em companhia de outros, O dever mais importante e difícil do diag
nóstico consiste em ponderar os componentes individuais. Não há coisa mais estupida do que
querer reduzir todas as exigencias a um só instinto, o sexual por exemplo. O instinto de
nutrição fica perto do da aquisição e da segurançã, e os pontos de afinidade entre poder-
agressão-sexo se reconhecem facilmente. Os instintos mais complexos, ensinados e variáveis
em nada devem ao instinto básico, quanto à dinâmica e rigidez autônoma, em certas
circunstâncias.
Os instintos básicos do homem acusam no seu esquema e na sua finalidade constantes firmes
e pouco influenciáveis. A representaçao imaginária das necessidades varia na consciência num
volume ilimitado por ser formada por exemplos e adestramento com variações por uma idéia
espontánea e individual. O mesmo acontece no ato da satisfação. Mas assim como a fantasia é
superior ao ato, assim o instinto é inferior ao impulso no homem ao menos.
INSTINTO GREGÁRIO
127
gregário já possui suas caracterfsticas. Onde ele morre, como na imobilidade psicótica. todos
os outros processos instintivos e de raciocínio morrem também. Do outro lado um excesso
doentio de movimentos como uma excitação esquizo frenica poderá levar à morte por
exaustão.
Notamos nos animais que a soma total das suas energias vitais hipotéticas não satisfaz apenas
suas necessidades imediatas mas que sobra um resto apre ciável que supre "o luxo de
movimento" e a atividade lúdica. G&oss (1899, 1930) fez um estudo acurado sobre o sentido
biológico desses divertimentos. Não há finalidade absoluta neles, tendo porém uma função
importante e imediata no sentido fisiológico para exercitar as forças e a destreza e psico lógica
como reserva de comportamento disponível do qual poderá surgir em ação recíproca com os
fatores impulsivos algumas realizações novas cultural- mente complexas. Também a
inteligência tira matéria do divertimento lúdico. Esta matéria se desenvolve entre os poios da
utilidade em si e do melhora mento das condições de vida. SCØILLER (1794) como filósofo,
demonstrou de modo convincente a importância vital e elevada do impulso lúdico.
INSTINTOS DE NUTRIÇÃO.
Todas as mudanças psíquicas e alterações do humor podem exercer sua influência sobre a
fome e o apetite especial. A influência negativa das psicoses sobre os impulsos necessários é
tão grande que um doente numa depressão mal reprimida ou numa imobilidade catatônica é
capaz de morrer de fome, frente a um prato de comida se não o socorremos. O instinto
nutritivo na forma da "fome" desempenha papel episódico apenas na nossa sociedade
industrial. Onde a fome se apresenta como epidemia e sobretudo pelos efeitos cumulativos de
sugestão das massas ela pode provocar descargas afetivas desastrosas, assasi natos, e
violências, e facilitar a explosão de reações neuróticas primitivas. (cpt.° 8) - A desnutrição
prolongada em condições higiênicas desfavoráveis de alojamento, abrigo, etc.) poderá dar
impulso a grande migrações étnicas, revoltas, guerras e revoluções sociais, ou seja exatamente
aqueles acontecimentos coletivos que continuam sendo de importância capital para o
melhoramento da raça, os cruzamentos genealógicos, a seleção e assimilação de castas aristo
cráticas dirigentes.
128
Os instintos de agressão (de causar prejuízo) é encontrado no homem e nos animais como luta
de rivalidade (alimento, território, parceiro sexual), como defesa (própria, da prole, da
sociedade, e como ataque também na procura de alimentos (matança de animais). Como
sadismo e masoquismo (prazer ativo e passivo na crueldade) existe uma ligação com a
excitação sexual que mostram um nexo genético com o caráter conquistador (mas não neces
sário) da cópula.
De um modo bastante diferente do que o terror agudo atua sobre a psique a preocupação
constante de conservar a vida e a saúde. Destas angústias latentes surge o grupo das moléstias
hipocondríacas e delírios que compõem uma parte substancial de inumeros sofrimentos
físicos, neuroses e psicoses. Isto se dá em vários estágios da vida, como na puberdade que, por
intensificar em demasia o impulso vital torna o individuo hipersensível à menor ameaça espe
cialmente dentro da esfera sexual predominante nessa ocasião e depois no climatério e a
senilidade incipiente onde a sensação da vitalidade decrescente se transforma em idéias
hipocondríacas encontrando sua cristalização em molés tias objetivas. Na puberdade aparecem
os escrúpulos do sexo (masturbação, contágio venéreo) que crjam as idéias hipocondríacas
enquanto que no início da senilidade prevalece o medo do câncer, a pressão arterial por
demais elevada e a arterioesclerose.
INSTINTO DE AQUISIÇÃO
Apoderar-se por motivos vários de um objeto ou de um ser vivo faz parte dos impulsos mais
elementares, importantes e existenciais. Como instrumento de aquisição e guardar , servem
em primeira linha as mãos, em seguida a boca e os pés. Mas também o corpo todo ( é
envolvido direta ou simbolicamente. Consideramos como propriedade: territórios, objetos
(dinheiro) e descendentes, também amigos e pessoas dependentes. O automa tismo impulsivo
de ganhar e aumentar as posses é tão forte que o aumento da propriedade incrementa
também a concupiscência. Basta lembrar que certos animais em busca de alimentos
armazenam uma quantidade muito maior em relação às suas necessidades imediatas. O
homem do outro lado, torna-se inse gi na medida em que suas posses diminuem embora não
esteja objetivamente ameaçado.
Nos reflexos de chupar e apalpar dos bebés temos os primeiros ensaios inatos das tendências
captativas. Os instintos de aquisição que se manifestam mais tarde são variáveis em suas
formas e sujeitos à educação. Em casos anor mais constatamos a a de colecionar tudo e a
avareza o que pode assumir formas grotescas em doenças psíquicas. Na sua força afetiva
insopitável estes instintos anormais não se diferenciam dos instintos básicos vitais.
forças que põem o aparelho psíquico em atividade, algumas vezes direta e conscientemente
mas na maioria das vezes por via indireta através de comuni cações ocultas, disfarces e
metamorfoses mas sempre de modo muito mais intenso do que supomos. (BILz 1943).
Nos seus fundamentos fisiológicos, os instintos sexuais são amplamente dominados por fatores
hormonais, hematoquímicos e sua intensidade e orien tação dependem em alto grau das
funções das glândula germinativas e da hipó fise que lhes são subordinadas. Os caracteres e as
funções instintivas de um e do outro sexo podem ser mudadas dentro de amplos limites
mediante fatores hormonais. No que concerne ao diencéfalo, tanto focos encefalíticos com fra
turas da base do crânio podem debilitar, abolir mas também desinibir o instinto sexual. No
apogeu da vida desenvolvem-se às vezes sobre esta base perversões do instinto
(homossexualidade, pedofilia, exibicionismo) que se reconhecem com a ajuda de uma
anamnésia cuidadosa pelos seus sintomas encefálicos ou traumáticos em ocasiões pouco
manifestas ou pela radiografia do terceiro ven trículo. Nos laudos forenses eles passam muitas
vezes despercebidos. Para o estudo das neuroses ou da psicoterapia deve-se ter em mente que
não se pode resolver analiticamente em ações psicógenas completas todas as perversões
instintivas homossexuais ou de outro gênero.
A intensidade do instinto sexual é sem dúvida um. fator psicológico de variada importância. A
simples fraqueza do instinto não leva a conflitos psí quicos, mas protege dos mesmos. Ela é
antes acompanhada de tendência para o autismo, afetividade fraca, e indolência. Encontramos
em personalidades fortes e ativas encontra-se raramente um instinto sexual fraco, mas antes
anor malidades e supressão. O fracasso precoce do instinto antes bem desenvolvido leva a
depressões, sentimentos de insuficiência e outras compensações. Especial mente no
casaipento surgem dificuldades quando num dos parceiros o instinto permanece ativo
enquanto no outro ele está em declínio. Isto leva à infide lidade conjugal da qual derivam
complicações variadas, ciúme cego, e neuroses e alucinações. Em personalidades eticamente
diferenciadas isto poderá pro vocar graves conflitos íntimos, e reações neuróticas e sensitivas.
O instinto sexual simples mas forte harmoniosamente ligado ao temperamento, não pro voca
distúrbios. Encontramos nas prostitutas profissionais um impulso sexual exageradamente forte,
mas tambem fraquezas infantis de desenvolvimento que lhes permite manter relações sexuais
como se se tratasse de um negócio. Muitas delas são débeis mentais (K SCHNEIDER, 1921).
Surgem, entretanto muitas com plicações quando o regulamento de instinto funciona
exageradamente ou de forma anormal. O instinto brutal e desenfreado leva às vezes a atos
criminais. Do outro lado certas inibições psíquicas extremas podem manter-se tão fortes
quanto na puberdade. Registram-se então graus de timidez ou estupor de afetos (imobilidade
causada por timidez exagerada) em face ao outro sexo que podem frustrar a finalidade sexual e
a realização de um casamento. Causam até por anos seguidos tensões psíquicas e uma
evolução neurótica infeliz da personalidade.
As frustrações fazem parte da estrutura normal biológica do instinto sexual. Não é, como
muitos médicos e a psicoanálise o querem entender, que o sen tido da vergonha e o recalque
de imagens 'indecentes' se baseiam somente numa convenção moral superficial. Sob o ponto
de vista médico e ético seria um erro
fatal que pode ser rejeitado no terreno biológico, querer crer que somente a
A grande ambivalência do instinto sexual que de acordo com as circuns tancias vê no mesmo
ato algo de desejável ou repugnante é fundada primaria mente no ser humano em si e
secundariamente na biologia. Nota-se natural mente como no estágio da puberdade a fantasia
se orienta com muita ansiedade pela sexualidade enquanto que a oportunidade que se oferece
para estabelecer um contacto erótico real, ou uma leve aquiecência da outra parte neste
sentido, provoca apenas medo, recusa e até um grave choque de afetividade. Durante a
puberdade o aparelho inibidor não evolue regularmente mas de um modo bastante brusco, e
assim encontramos ao lado de uma inibição e timidez acen tuada uma desinibição eruptiva que
se manifesta por risos, chacotas, e perda de controle. Tudo isto nos demonstra com clareza a
disposição antagônica dos nossos instintos.
nos jovens de disposição normal onde não exjste influência do meio e onde
É exatamente da ambivalência das fortes tensões da sua estrutura afetiva primária que o
instinto sexual ganha sua importáncia dinámica avassaladora e cultural. Com isto não
queremos dizer que pela influência do ambiente a polaridade básica entre instinto e controle
do instinto não possa ser influenciada produtivamente ou desfavoraveirnente. Não, possuímos
meios para em casos individuais acertar a participação da disposição biológica e da educação
ou de separá-la. Isto se deve não somente à falta de visibilidade dos fenômenos mas tambem
ao caráter apriorístico do "Tabu" que não se pode nem explicar, nem derivar, como todos os
traços humanos fundamentais.
O homem descobre somente aquilo que sua disposição interna lhe permite. É melhor falarmos
de "incompreensão", porque o recalque exige um caso problemático especial como causa. A
tendência de recalque aumenta no período do amadurecimento, e se preserva mais tarde em
certo grau Pessoas amadurecidas e generosas sentem freqüentemente e involuntariamente
resistên cias afetivas em face da discussão de processo sexuais somáticos, o que não acontece
em outras convenções sociais. Isto não é apenas um produto do ambiente. Embora haja muitos
costumes diferentes entre os povos, nenhum é indiferente à vida sexual.
Podemos incluir nos distúrbios de regulamento a atitude alternante em relação ao sexo que
muda do abruto para a de motivação incerta. Há um contínuo vai-vem entre uma super
exitação e um alheiamento total que faz com que o homem veja na mesma mulher ora uma
santa, ora uma megera, ou que a mulher cumula um homem de provas de amor para rejeitá-lo
em outra ocasião com alfinetadas cruéis que fica ébria de amor para sentir em seguida um ódio
mortal. Na fase da frieza sexual a mulher gosta de refugiar-se em atitudes de defesa histérica.
O instinto sexual em si não tem nada de simples ou indivisível. Vemos seu grande número de
variedades e perversões de finalidade incerta, caprichosa, dissimulada ou singulannente
deformada por combinações com outros grupos afetivos.
A masturbação ou auto satisfação sexual não constitui intrinsicamente uma perversão. Quando
não chega a um grande excesso, trata-se de uma simples manifestação transitória e secundária,
fisiológica e inofensiva do impulso sexual são, uma espécie de válvula de segurança do mesmo
que entra sempre em ação quando a satisfação da necessidade sexual esbarra com algum
obstáculo imposto pela exigências da vida social. Torna-se, porém, uma aberração sexual ao se
converter em meio para o fim ou seja quando prevalece sobre as relações sexuais normais e as
substitui, embora não haja necessidade manifesta. Ela se desen volve em indivíduos de
constituição parcialmente atrasada nas quais preva lecem as inibições exageradas e as
ambivalências da puberdade, dificultando o contacto com o sexo oposto, bem como em
pessoas de difícil acesso em geral. Trata-se neste último caso de pessoas autistas, psicopatas
esquisóides, não somente propensas à auto satisfação sexual mas pouco inclinadas por
tempera mento a relacionar-se com outras pessoas e habituadas a se bastarem a si
mesmas. Tambem o auto-erotismo (narcisismo) segue a mesma direção concen trando-se por
demais sobre a atitude sexual e não sobre o temperamento em sua integridade, sendo
preferível usar o termo "autismo" proposto por BLEULER 1969) reservando o de narcisismo, à
idolatria com a propria pessoa e especial mente os cuidados ostentativos com a aparência
externa e efeito sobre a sociedade.
Povos e grupos étnicos viam na limitação do instinto sexual não uma necessidade social
relativa imposta por conveniências, mas sim um ideal ético absoluto. A vida sexual era
considerada um mal inevitável, tolerado apenas para garantir a perpetuação da família e do
estado e sua abolição total a favor de uma vida religiosa meramente contemplativa era
considerada como o grau mais elevado da perfeição pessoal. Nas instituições religiosas a
sexualidade representa o mal em si, o pecado o centro em redor do qual tudo que é proibido
se agrupa, paradigma da "carne" contra o "espírito" de tudo que não é santo nem divino, todos
os impulsos baixos e atávicos, contra a luta pelas finalidades as mais elevadas cultural-éticas.
de um processo histórico.
Em resumo: são muitos os conflitos psíquicos que evoluem desde a neurose ou desde as
manifestações religiosas ou artísticas quando o instinto sexual não concorda com a
personalidade total e onde não pode descarregar-se de acordo com suas finalidades naturais
nem ser mantido numa determinada via por uma personalidade forte e dominadora. Isto se
refere a todos os conflitos sexuais tanto normais como perversos dentro ou fora do
matrimônio. O instinto sexual representa um grande reservatório energético de cujas
emanações psíquicas, nas condições mais favoráveis, uma grande parte da produção espiritual
é suportada ou mantida. Quando o instinto sexual esbarra contra resistências psíquicas
134
fortes ou não encontra vias de escape suficientes, ele produz tensões energéticas excessivas e,
toma caminhos errados e causa curto-circuitos que engendram nas profundidades obscuras da
alma os mais desencontrados transtornos e os efeitos remotos os mais paradoxos.
A predisposição hereditdrja como um dos fatores causal, não pode ser discutida. As cuidadosas
pesquisas, especialmente as de KALLMANN (1952) feitas em 85 pares de gêmeos homossexuais
proporcionaram resultados claros e inequívocos no que concerce a discrepância entre os
univitelinos e os bivitelinos (tabela 2).
Tomando em conta as variações estatísticas mencionamos as investigações coletivas de KINSEY
e o. (1967a e 1967b) que estabeleceram uma escala de graus de sexualidade em 5.300 homens
e 5.940 mulheres comprovando séries contínuas de variações dos graus mais distintos e
mistura de tendências e práticas heterossexuais e homossexuais, chamando a atenção a grande
freqüência de componentes homossexuais no número total da população.
N.° de pares
escola de Kinsey
Pares discor
dantes
5-6
l-4
UV
BV
44
51
31
13
II
38
TOTAL: 95
J 33 J 24
88
186 Instintos e Suas Variaç5es
No que concerne à minha própria experiência clínica, elas confirmam que existem nítidas
correia çôes entre a constituiçao sexual corporal e psíquica quer dizer que os feminismos físicos
infiltrados no homem, como os masculi nismos na mulher apresentam tonalidades
correspondentes na imagem cara tereológica psíquica e se tornam manifestos na escolha do
consorte e no com portamento sociológico. (KRETSCHMER 1 966b).
Uma correlação direta parecida não existe entre a estrutura física e a orientação instintiva
homossexual. Existem também entre os homossexuais, indivíduos com estigmas intersexuais e
eunucóides. Encontram-se entretanto dispiasias e variantes somáticas gerais e leves, entre as
quais inibições especiais do amadurecimento, até o infantilismo declarado. Vi, por exemplo,
num homem homossexual adulto proporções físicas infantis com extremidades
surpreendentemente curtas e pêios rudimentares no corpo. Ë fácil imaginar que as variantes
desta classe correspondentes às variações de KINSEY não alcan çam a orientação inflexível do
instinto sexual na puberdade e que estas cons tituições representam antes uma espécie de
matriz instintiva não específica e polimorfa facilmente acessível a impressões.
Devemos lembrar-nos que a constituição sexual se constrói em muitas ca madas de uma série
de elementos que vão até os fatores genéticos (Padrões
Mais complicada do que no homossexualismo é a gênese biológica e psico lógica nas outras
perversões como no grupo Pedo filia (inclinação sexual para crianças), Sodomia (inclinação
para animais) exibicionismo (instinto de des nudar-se sem coito), fetichismo (uso de objetos
mortos, peças de vestimentos, cabelos, roupa, sapatos para provocar a excitação sexual). Seria
absurdo pensar que a inclinação de render um culto a fitas de cabelos pode localizar-se na
genes no diencéfalo, ou atribuí-Ia a uma fórmula glandular ou uma determinada composição
química do sangue de uma pessoa como acontece às vezes quando se trata do
homossexualismo. Nestes casos recomenda-se distinguir entre um fator constitucional, certa
predisposição sexual não específica que não chega à fase de finalidade terminante e outro
fator psicogênico exterior que orienta o instinto sexual incerto e vacilante até um fim sexual
determinado no qual se fixa definitivamente. O momento endógeno é o fator não específico de
dispo sição, o exógeno o fator específico determinante. Devemos ter em mente que
Podemos admitir como KRONFELD (1 que uma parte dessas perversões tem sua raiz biológica
num infantilismo psico-sexual, quer dizer num vício de conformação inibitória que detém em
parte o instinto sexual na fase infantil do estado de evolução onde não existe ainda este
instinto mas sim uma espécie de impulso não específico, certas orientações afetivas esboçadas
variáveis e polimorfas. Entre elas se distingue muito bem o instinto de exibir e olhar uma
tendência de mostrar o corpo nu, as partes genitais e as excreções, ou olhá-los com
curiosidade em outras crianças. Em seguida observamos a afirmação sob forma de jogo pré-
sexual ainda não encaminhada ao coito mas ao prazer que lhe proporcionam os mais diversos e
ocasionais atos dos quais resulta entre outras coisas o onanismo infantil. Na época da
puberdade nasce nas pessoas normais da referida matriz presexual inespecífica, o instinto
heterossexual espe cífico quando os impulsos parciais e caprichosamente dispersos convergem
para um fim determinado representado pelo sexo oposto e o coito com ele.
Se esta concentração falha, é fácil imaginar como o instinto sexual impe dido na sua evolução
cria certas perversões nos adultos sendo que a força do impulso aumenta na puberdade, mas a
orientação polimorfa não específica da fase pressexual infantil persiste. Que tais distúrbios
constitucionais de desen volvimento existem é comprovado pela freqüência das anomalias
somáticas e psíquicas tais como estigmas disgenitais e hipoplásicos debilidade mental, etc.).
Incluímos aqui somente atos de caráter genital, enquanto recusamos incluir o chupar de dedos
dos lactantes no conceito sexual como os psicoanalistas o apregoam, como objetiva mente
inconseqüente. Não achamos tampouco acertado identificar de maneira tão esque mática com
os impulsos sexuais propriamente ditos os presexuais dos crianças, embora reconhecemos sua
existência empírica. Quem procede assim, apaga os limites entre a sexualidade anormalmente
precoce com iniciativas e atos sexuais verdadeiros e conscientes que se observam com
freqüência em crianças nervosas e os impulsos de brincadeira, vagos e indecisos da fase pré-
sexual dos indivíduos normais. O termo "Perversão polimorfa" é pouco feliz para designar a
sexualidade infantil normal que parece caricata em relação ao que passa com crianças normais
e não neuróticas.
Assim podemos conceber o exibicionismo como uma derivação do instinto pré-sexual de olhar
e mostrar; o fetichismo como inclinação infantil de brincar com objetos que provocam o prazer,
assim como a onania autística dos adultos pode ser concebida como uma continuação da auto-
satisfação sexual nas crianças. Acrescenta-se ainda um fator psíquico externo que imprime aos
impulsos sexuais não dirigidos uma finalidade extraviada especial.
Assim sendo, comprovamos por exemplo no fetichismo que a ligação erótica com uma peça de
veludo se fixou por se ter experimentado a primeira sensação forte do instinto sexual
incipiente porque a pessoa sentou por acaso numa almofada de veludo. Um psicopata sentiu
pela primeira vez prazer sexual intenso na idade de 5 anos porque a mãe o vestiu com a
camisola de renda da sua irmã, porque de momento não encontraram a sua própria camisola.
Esta lembrança infantil influiu mais tarde decisivamente sobre seu instinto sexual adulto,
excitando-se mais tarde sexualmente ao vestir trajes femininos, enquanto era impo tente para
efetuar o coito (KRETSCHMER, 1921).
De maneira análoga podemos imaginar a possibilidade do instinto tomar uma direção especial
em alguns casos de pedofilia e de sodomia (sempre a base de uma disposição sexual biológica
imatura) por fortes impressões deixadas por vivências sexuais precoces (contemplar a cópula
de animais, ou os órgãos genitais de companheiros de jogo), enquanto que durante a
puberdade o ins tinto sexual normal encobre estas vivências, neutralizando-as por completo.
Em
muitos outros casos estas orientações perversas não têm uma origem tão espe cífica, mas
"faute de mieux", como na onania forçada, e são substitutos da cópula normal preferida, mas
talvez por circunstâncias desfavoráveis ou por faltarem inibições de ordem superior como
ocorre em alguns débeis mentais. (Senilidade, arteriosclerose, paralisia geral progressiva).
Uma certa tendência para a crueldade ativa ou passiva forma às vezes parte do instinto sexual.
Em casos muito manifestos o prazer experimentado em maus tratamentos, pancadas,
rebaixamento servil pode despertar o instinto sexual, substituindo as relações sexuais normais,
o que nos casos ativos se denomina de Sadismo e em casos passivos de Masoquismo. Ë
preferível não considerar estes dois fenômenos como componentes do próprio instinto sexual
mas como uma combinação da sexualidade com outros fatores implicados no temperament,
quer dizer, que se trata de uma analogia às sinestesias entre diversos domínios sensoriais.
Uma tendência para o ataque energético (masculino) à resignação passiva (feminino) faz parte
do ato sexual em conseqüência da evolução filogenética. Estas manifestações normais do
instinto sexual nada têm que ver com cruel dade, denunciando antes o instinto do poder. Nos
temperamentos que possuem um instinto acentuado para os maus tratos pode-se
compreender que estes se insinuem com facilidade numa tendência acessória do instinto
sexual e que, como acontece em outras perversões cheguem a transformar-se por translação,
fixação especial de vivência, etc. de simples fenômenos concomitantes em verdadeiro
substituto do coito. Os fenômenos que nos estudos de comporta mento zoológicos são
denominados de "transição" da excitação entre duas zonas de instintos, e as irradiações que se
produzem ao reforçar estímulos no dien céfalo entre diversas zonas instintivas fornecem a
explicação mais sensível da mistura no homem de impulsos de sexualidade e agressão que se
observam em casos patológicos como sadismo ou masoquismo, respetivamente.
Mais importantes ainda do que as perversões totais sob o ponto de vista psicológico são os
acidentes perversos reforçados do instinto normal do indivíduo são os quais, abstraindo-se nao
poucas vezes da consciência do mesmo, podem converter-se em fonte oculta de estranhas
complicações internas e dissonâncias afetivas. A orientação finalista sentimental se produz em
ocasiões diferentes, fica abolida ou desviada temporariamente por veleidades homossexuais,
sodo míticas que falseiam o curso afetivo legítimo em grau maior do que as perver sões
integrais. Na raiz de algumas representações obsessivas se encontram com certa freqüência
estas inclinações perversas e parciais como: a obsessão de estrangular ou de ter estrangulado
alguém tendo como ponto de partida fanta sias sádicas juvenis reprimidas.
De mais a mais, todo e qualquer caso de perversão deve ser estudado mi nuciosamente não só
sob seus aspectos psicoanalíticos e hereditários, mas também
-cerebral que reunimos de muitos anos para cá, não há dúvida alguma que a lesão de certos
pontos cerebrais determinados de contacto pode provocar altera ções precisas da estrutura
instintiva em certas zonas, e antes de tudo no setor do sexualismo. A experiência clínica
concorda muito bem com os ensaios de estimulação de HESS no diencéfalo.
Outro caso foi o de um homem educado de 48 anos, já condenado por pedofilia e que pelo
mesmo delito insistentemente voltou à clínica em 1948. Uma anamnese minuciosa revelou que
adoecera em 1918 gravemente de uma gripe com sono profundo de 2 dias e sonolência de
várias semanas. Desapare cera depois o instinto sexual durante dois anos. Mais tarde surgiram
em caráter crônico inclinações imperiosas de pedofilia exacerbadas especialmente depois de
forte canseira e tensão. Nos últimos anos sofreu de acessos de sia lorréia durante o dia. Ao
passar ele adota, sem o querer, passos miúdos cada vez mais rápidos que o obrigam a parar e
começar tudo de novo. Faltam os sintomas de Parkinson e um exame neurológico produz um
resultado negativo.
O tenente A., um jovem universitário muito inteligente e bem educado teve que submeter-se
em plena guerra a uma perícia forense porque tentava a miúde abusar de suas ordenanças.
Averiguou-se que alguns anos anter, du rante uma refrega sofrera fratura grave do cérebro
(perdendo a consciência por longo tempo em conseqüência de um golpe de sabre na cabeça,
sem vestígios externos). Foi internado num hospital durante semanas. Ao ser per guntado
lembrou-se que de início sentira muita sede e que urinava bastante. Muito tempo depois
sofreu de transtornos de equilíbrio com acessos de vertigem giratória do tipo Mèniere. Surgiu
aos poucos uma inclinação homossexual que antes não existira. O jovem vivo e razoável de
antes tornou-se licencioso, arrojado e empreendedor que negligenciava o serviço e era
disciplente com seus superiores. Este estado psíquico que poderíamos classificar de sub-
maníaco manifestava-se também durante o inquéritto, em forma de verbosidade alegre com
profusão de idéias e certas divagações, mas sem ser briguento ou agressivo.
psicoanalítico.
Do outro lado nós não tomamos em conta muitos fatores possíveis: trauma tismos obstétricos,
fratura da base do crânio na primeira infância, e antes de tudo focos encefalíticos
concomitantes em doenças infantis, ou processos cir cunscritos de encefalite adesiva nas
proximidades das cisternas basais, com hemorragia, inflamações a aderências de cicatrizes que,
ao se comunicarem ao sistema diencefálico-hipofisário contíguo, podem provocar exatamente
ali as mesmas deformações e desviações dos instintos já descritas. Em tais casos falamos de
uma desviação "prodisclínica" (orgânica) da orientação evolutiva constitucional.
Muitos casos de desviações instintivas apresentam uma gênese pluridimen sional, por
cooperação de fatores constitucionais predisponentes, orgânicos, cerebrais e psicógenos. As
freqüentes origens psicógenas não devem ser subes timadas. Segundo nossas experiências
clínicas os resultados psico-terapêuticos não são tão satisfatórios em média como em outras
neuroses mesmo mais graves.
INSTINTOS SOCIAIS
Os fatores afetivos nos quais repousa a convivência em grupo e sua segu rança costuma-se
chamar de "Instinto social" e de fato, a estrutura de manadas e de estados no mundo animal se
regula por mecanismos rígidos de instintos. As atitudes sociais do homem entretanto,
pertencem ao fenômeno mais variado e individualmente diferenciado. Mesmo assim a
orientação básica para a co munidade obedece no homem aos instintos. Querer considerar o
"homem primitivo genuíno" como uma besta egoísta (bárbaro) que soltaria cegamente as
rédeas dos seus instintos logo que surgisse uma oportunidade é um pensa mento torto. Este
homem instintivo livre não corresponde à primitividade sã e pura, e ele não existe em parte
nenhuma a não ser na fantasia dos desejos do "dégénéré supérieur" que perdeu seus instintos
inatos. A psicologia animal e étnica nos ensina coisas diferentes. Mostram como os animais que
vivem numa comunidade cerrada e os primitivos obedecem a um regulamento severo,
instintivo e cerimonioso tanto na vida sexual como na social, mais esquemática e impiedosa do
que nas comunidades civilizadas. Ajuda, dedicação, compaixão (KR0P0TIuN, 1910) ajustamento
e subordinação não são produtos culturais arti ficiais de uma tendência elementar, mas são
primários e instintivos na sua base. Esta tendência não falta curiosamente no homem robusto e
natural mas sim no degenerado, nos neuróticos e em certos resíduos de doenças psíquicas
(depois de uma encefalite infantil ou destruições esquizofrênicas entre outros).
O instinto social não deriva do sexual. A manada não é uma simples ampliação da comunidade
sexual, o estado não é um prolongamento da família embora os instintos sexuais formem uma
componente importante na estrutura social. Também na vida animal os instintos sexual e de
comunidade são bastante independentes. Durante a época do cio eles colidem com freqüência.
Nos estados dos insetos os tipos assexuais são os mais comunicativos. No homem o Éros
perturba continuadamente os instintos sociais, o que mantém uma tensão benfazeja ou
destruidora de acordo com a ordem social mantida com rigidez.
O instinto social se concentra primordialmente nos cuidados à cria (instinto familiar) na ternura
e ordem hierárquica. O instinto passivo dos cuidados se evidencia na ligação de pessoas jovens
e adultas aos membros da família ou comunidades suportadoras (necessidade de cuidados), o
instinto ativo evidencia
A ternura admite o próximo e aumenta a sensação da vida. Ela é até certo ponto um alimento
psíquico, cuja falta pode ser sentida como grave defeito. Sua trajetória começa no sentido
harmônico da comunhão, expande-se na fala e na ação e encontra seu ponto culminante no
contacto físico que produz a alegria. O instinto da ternura que inclui sentimentos estéticos e
éticos vai muito além da necessidade biológica como nos ensina os homólogos dos instintos no
mundo dos pássaros e nos mamíferos. Não podemos descuidar da proxi
Instintos Sociais
midade do instinto erótico mas não devemos misturar os dois em um. Saber distinguir as
componentes sociais e eróticas - especialmente em acoplamentos anormais - representa uma
tarefa diagnóstica das mais difíceis. A necessidade da ternura pode ser aumentada de forma
doentia, pode ser abrandada ou desvirtuada.
Manter ordens hierárquicas ou criar novas é uma tendência inata ao homem. O instinto de
tornar os outros dependentes ativamente ou ser passivamente dependente dos outros
estabelece a hierarquias dos indivíduos entre si, quer dizer a superioridade (dominação),
inferioridade (sujeitar-se) e direitos iguais. As raízes bióticas do instinto de dependência se
reconhecem somente na criança e no púbere com alguma certeza enquanto que no adulto a
tensão rígida (entre necessidade de continuidade e mudança) frente à ordem hierárquica
parece unicamente depender das condições sociais e psicológicas.
Não existem leis decisivas para se saber quem pode ou deve fazer "o que" "quando e como".
Comparações com o mundo animal tampouco nos servem de orientação, porque as regras
sociais do jogo variam nos mamíferos mais evoluídos, por exemplo animais com casca e
macacos de um modo muito sensível. O homem deve-se ajustar sozinho com seus problemas
hierárquicos. Não existe ordem social ideal embora os demagogos e ditadores tentem pelos
seus discursos tonitroantes disfarçar esta insegurança e qualquer discussão a respeito. O
princípio democrático não é melhor do que o autocrático ou o oligárquico. Depende o que o
homem sabe fazer destes princípios ao aplicá-los ao governo ou à família.
Como todas as ordens ou sistemas têm suas emanações nefastas e o homem vive insatisfeito, o
contraste constante entre instintos hierárquicos e leis hierár. quicas fornece a centelha
constante para os conflitos coletivos e individuais. A labilidade do instinto de independência se
justifica pelo argumento seguinte: A relação hierárquica muda no homem de situação em
situação (família, pro fissão, parceiro de conversas) e mesmo no seu círculo vivencial. A relação
hierárquica é além de tudo bastante ambivalente. O homem quer determinar e ao mesmo
tempo ser protegido, quer assumir responsabilidade e ter segurança. Ele ambiciona subir e
sente ao mesmo tempo receios. Não é de se admirar que os distúrbios psíquicos do equilíbrio
se inflamam nos problemas hierár quicos.
Cada ser vivo tem o impulso comum do instinto da auto preservação e da auto-realização e
dentro do círculo humano o da auto-asseveração. Somente em casos extremos esta atinge o
ponto culminante do instinto do poder ou a "vontade do poder". Na psicologia das neuroses o
desejo de dispor dos objetos e dos homens representa um fator de primeira grandeza
tornando-se patogê nico quando frustrado e acompanhado de tensões afetiva6. Os três
aspectos aqui discutidos do instinto social são interligados e iaão podem ser separados entre si.
Eles empalidecem ou se diluem quando a tendência social se trans forma em tendência das
massas (psicologia das massas). Com a falta de dife renciação dos instintos sociais cria-se um
caos dirigido que pode ser orientado por um demagogo (instinto das massas). O grupo se
comporta como um indivíduo extremamente egocêntrico. Este caos podereso é
potencialmente muito destrutivo, supera obstáculos insuportáveis e forma raras vezes a base
para uma renovação social. O indivíduo psiquicamente doente pode ganhat
142
pela corrente coletiva uma certa segurança e um impulso - a custo da sua individualidade
pessoal.
Não se conhecem fatores específicos que agem sobre os instintos de agressão, sob o ponto de
vista hormonal. Existem porém relações com o instinto sexual sendo que na época do cio os
instintos agressivos e de luta aumentam sensivelmente em muitos animais (cervos, corça,
cavalo, etc.). Existem analo gias evidentes no homem.
PORTMANN (1962) demonstrou que na luta entre animais da mesma espécie não prevalece
uma agressividade sem limites, a falsamente chamada "bestiali dade" mas sim "uma atitude
fixada pela hereditariedade", com rituais de inibição comparáveis ao "cavalheirismo" nas lutas
antigas entre os homens.
Os instintos agressivos dos homens tem um caráter rígido e atávico que leva a crises constantes
e perturbações de adaptação no espaço vital da cultura moderna, pois as fórmulas de
necessidades e reações que provaram ser úteis no início para conservação da vida, se tornaram
uma ameaça à ela servindo para a ruína catastrofal de povos e culturas inteiros. As guerras e as
revoluções da história mais recente nada têm que ver com motivos ideais ou econômicos. Os
velhos e poderosos instintos de agressão encontram em tempos de paz uma fraca válvula de
escape somente no esporte. Formam-se aos poucos graves estagnações de instintos com
colisões ocasionais de ordem material ou ideal, que de decênios em decênios desvirtuam em
revoluções e guerra e orgias de massas das mais hediondas. Isto se aplica a todos os povos em
grau maior ou menor. Os horrores provocados pelo próprio povo ou sua classe dominante são
catatimicamente esquecidos com rapidez ou até idealizados, mas os do inimigo são
rancorosamente guardados na memória. Grande parte das relações humanas se baseia neste
movimento de pêndulo uniforme, repetido e impulsivo. A pergunta metafísica se o instinto de
destruição representa uma necessidade humana ou se representa um produto das
circunstâncias vitais, tornando-se assim manifesto, não pode ser respondida satisfatoriamente
mas deve ser posta sempre de novo por motivos de preservação social. Os instintos sociais,
mesmo inatos podem facilmente ser imbuídos e especializados pela educação e expe riência.
Todos os detentores do poder, sejam políticos ou de concepção mundial tiram grande proveito
dessas circunstâncias. Pelo mesmo motivo as necessidades e capacidades sociais correm o
perigo de desgastar-se ou perma necer num estado de subdesenvolvimento devido à falta do
seu culto em certas comunidades decadentes. Como na vida humana tudo se reduz à uma
comu nidade, os instintos sociais incluem todos os demais instintos tendo, apesar das muitas
colisões havidas. o mais alto grau de determinação comportamental com estes últimos.
Além da observação natural, estas se deixam também representar pela irritação eletro-cerebral
e na hipnose. A hipnose como instrumento terapêu tico se baseia nas irradiações que podem
ser produzidas a partir do comando de vigília-sonho sobre os instintos vizinhos e na "pessoa
profunda" acoplada vegetativo-endocrinicamente. Tais irradiações entre instintos de agressão e
sexualismo, por exemplo, são fisiológicas em sua forma mais leve e -se desen volvem em graus
mais fortes e de maior duração no sentido das perversões sádico-masoquistas. Existem
irradiações parecidas entre instintos sexuais e orais de agressão e movimento (Amok), etc. A
observação acertada desses fenô menos levou FREUD à conclusão errônea de que uma grande
parte das estru turas dos instintos é atribuida ao instinto sexual, como elemento subordinado.
Tais irradiações que num certo grau de retenção do instinto acionam de repente uma outra
região podem ser designadas, mutatis mutandis, usando um termo zoológico, de "transiçao".
Do outro lado observa-se freqüentemente no homem que a pressão de instintos refreados por
muito tempo corroe lentamente a estrutura da personalidade, tornando-a socialmente lábil.
Citamos em seguida um quadro clínico de irradiações múltiplas de diversas zonas de instintos,
retenção de instintos e atos de "transição" da nossa clínica:
O homem trabalhava como observador técnico numa estação experimental nas montanhas.
Depois de um acidente semelhante de 5 anos atrás, ele roubou umas latas de conservas em 2
dias consecutivos num armazém, no valor de uns poucos marcos. Este furto era destituido de
razão pois ele ganhava bem, gozava de boa reputação e não tinha dificuldades de ordem
econômica.
- O paciente gostava de situações perigosas e lutava num posto avançado da guerra cio
deserto. Ao deparar com 2 oficiais inimigos por. ocasião do reconhecimento do terreno
2 - os víveres no armazém eram furtados num ato de provocação e não clandestina mente. Ele
experimentava uma certa satisfação ao se Sentir observado, assumiu ares de provocação e não
se afastava quando uma funcionária chamou a policia (não houve pro cesso).
3 - Seu instinto sexual era acentuado e por motivo profissionais e familiares suas rela ções
sexuais eram esporádicas.
4 - Não era a pessoa indicada para o cargo que ocupava, pois era ativo, vivo e precisava de
movimento. No seu posto isolado na montanha sentia-se sozinho e abandonado especial
mente numa época que precedia os pequenos furtos. Sentia uma tensão interna que chegou a
sentimentos de medo. Começou a inventar situações perigosas de luta da guerra passada ou
de uma guerra futura. Sua exitação sexual aumentava sem encontrar um alívio.
Vemos aqui uma pessoa normal e útil possuída de um impulso acentuado dos instintos sexuais
e de agressão (prazer do perigo). Uma tendência para irradiações dos instintos sob tensão
afetiva era presente (reflexos sexuais sob perigo acentuado). Este homem ocupa um cargo que
não corresponde à sua vitalidade inata. A necessidade de ação cronicamente freiada leva até a
sen sações de modo. Os afetos tensos mas refreados levam a irradiações nas fan tasias de lutas
e perigos e na esfera dos instintos sexuais. Quando se alcança
uma certa força dos instintos estes são descarregados num ato captativo de
No plano racional este comportamento não encontra explicação. Não existe nenhum motivo
parcial, do começo ao fim. Não há motivos, mas sim causas. Quer dizer, trata-se de uma série
de processos instintivos e dinâmicos reforçados intermitentes. Como tais, eles são explicáveis e
compreensíveis.
Casos como este têm um significado que ultrapassa de muito o aspecto criminal para penetrar
nos mistérios do ser humano. Os instintos básicos do homem - contrastando com uma opinião
racionalista muito difundidas - não se dissolvem numa estrutura complicada orientada
racionalmente e volitiva mente, que os orientam. Estes instintos continuam a agir
subterraneamente e invisivelmente, mas são decisivos.
Este caso nos serviu de exemplo para o fenômeno da transição. Citamos agora um segundo
caso da nossa prática forense que mostra como irradiações múltiplas dos instintos levam a um
efeito de arrosão crónico contra a persona lidade racional. Quando este processo chega a
eclodir forma-se uma corrente de atos cuidadosamente preparados que apesar da sua
conseqüência interna bem arquitetada oferecem um contraste evidente com a situação de vida
da paciente.
Uma senhora de 60 anos gozando de independência econômica, aumenta o seguro dos seus
pertences, inclusive alguns objetos de valor fiti cio de 20 mil para 40 mil marcos. Decorrido um
mês e após arsuitetar um "alibi" convincente ela finge ter sido assaltada e roubada, deixando
seu apartametno na maior desordem. Ao mesmo tempo ela incendeia um tapete e um móvel,
depois de tê-los salpicado com álcool. Esconde-se em seguida no banheiro empurrando um
móvel de forma a fazer crer que os arrombadores ali a trancaram. Faz-se "libertar" pelos
vizinhos e relata à sua filha que acorrera em seu auxílio os aconteci mentos com todos os
pormenores, cita nomes de pessoas e, prepara no dia seguinte uma lista de todos os objetos
roubados e recebe uma vultosa indenização pelos danos sofridos. Consegue ainda esquivar-se
de uma ação criminal por vários subterfúgios hábeis. A mulher é milioná ria, proprietária de
vários imóveis e não tem compromissos de ordem financeira. De que lhe serve incendiar a
própria casa, fingir um assalto e receber fraudulosa indenização da qual nem precisa? Porque
correr tamanho risco que pode levá-la a prisão e arruinar sua existência social,
Instintos sexuais:
Laços sexuais exaltados e variáveis na primeira metade da vida; divórcio, excessos sexuais
Instinto de maternidade:
ao ambiente familiar vai até os excessos violentos. Existe oposição ao seu casamento, sua
Instintos de agressao:
Sempre disposta a brigar, querendo ter razão a todo custo, acessos explosivos de raiva
(quebrando louça, etc.) perturba o convício social do marido com seus amigos, viaja à Itália
para incriminar a família da nora que não aceita. "Devo pintar o sete com eles", brigas até o
extremo com repartições, etc.
Instinto de movimento:
Desde a juventude presa de grande ânsia de ocupaçâo, que os afazeres domésticos não
satisfazem, energia e força de vontade tenazes, acumula haveres, organiza e cuida da sua
Instinto de aquisição:
Comete quando moça pequenos furtos sem necessidade (blusas, etc.). Levando uma vida
modesta ela manifesta nos negócios um instinto irrefreável de adquirir e possuir coisas.
Temperamento geral:
Esquizotímica acentuada. Pouco contacto com terceiros. Sem calor de sentimentos. Paté tica e
de alta dramaticidade.
Envelhecimento, solidão crescente. O filho recusa aceitar uma casa na sua cidade natal,
distancia-se propositalmente, muda para a casa dos sogros na Itália, ofendendo assim
profundamente a paciente. Tendo alcançado a riqueza não há mais margem para expansão das
suas atividades. Para uma mulher com impulsos fortes a maior parte dos seus impulsos de
atividade se encontra bloqueada na velhice ou ao mesmo muito reduzida. Estes impulsos não
encontram mais uma finalidade, a vida sexual já chegou ao seu fim, O instinto maternal
hipertrófico é rejeitado pelos filhos, sendo que a relação com o filho representa o último
estopim. Já em tempos anteriores os grupos de instintos denunciavam uma irradiação mútua
bem forte. Agressividade, laços sexuais (Cenas com o marido etc.) instintos maternais (cena na
Itália) se entrelaçam constantemente. Finalmente, e com a falta crescente de contacto mani
festa-se um bloqueamento grave dos impulsos que se descarregam em atos instintivos
agressivos de captação.
Práticas sexuais e que não correspondem às normas constituem um caso à parte, quando por
exemplo impedimentos externos impossibilitam a sua satisfação (leis éticas, encarceramento,
etc.) masturbação e homossexualismo. Mesmo aqui será melhor falar em satisfação imposta
pelas circunstâncias do que em "substituto". Assim também a inclinação anormal genuína não
é um substituto do instinto porque é procurada e satisfaz.
Devemos pois perguntar em face da psico-análise: "um instinto substituiu de fato um outro"
mas também "ambos os instintos são equivalentes podendo um substituir o outro" Trata-se na
hipótese do substituto do instinto do problema da equivalência de regiões de fantasia e de
atividades. Não existe, na minha opinião uma solução que satisfaça sendo melhor fixarmos nos
fenômenos e seu desenrolar lógico.
Assim sendo, os conceitos: conversão, substituto dos instintos, e sublimação possuem hoje em
dia somente um valor histórico. As observações que as motivaram continuam válidas. A única
pergunta científica-heurística que fica em aberto é a do nexo causal. Podíamos tentar verificar -
o que é muito difícil - quais as necessidades e atitudes que seguem determinados
impedimentos dos instintos e se realizações "elevadas" descem a uni nível "mais baixo"
quando os instintos foram "liberados". Isto seria uma atitude conseqüente.
No plano subjetivo onde as relações mágicas não são somente permitidas mas inevitáveis, na
auto contemplação e na conversa a impressão de variação dos instintos pode tornar-se
evidente e ajudar num sentido humano. Não se pode porém construir uma teoria científica
nesta base.
Um paradigma da "conversão " é a transformação da excita ç sexual em angústia (aplico aqui o
termo "conversão" num sentido mais amplo do que FREUD). Em muitos casos, como é natural,
o instinto sexual e a angústia se relacionam entre si por intermédio de certas associações
representativas. Quando um menino nervoso se masturba e pensa com apreensão no castigo
paterno ambos estados afetivos, precocemente ligados por uma conjuntura exterior, guardam
mais tarde a tendência de apresentar-se juntos ou substituir-se, assim como quando depois de
ter visto duas pessoas juntas, o encontro com uma delas nos fará sempre lembrar a outra. Em
certos jovens psicopáticos se produzem acessos de histeria, como opressão precordial pela via
indireta de uma expetativa hipocondríaca de cardioplexia em conseqüência de práticas
onanistas. Também encontramos casos nos quais tal associação de representa ções falta ou é
puramente exterior produzindo-se graves estados de angústia por interromper bruscamente,
com a precisão de um experimento físico, a mastur bação praticada por longo tempo e as
relações sexuais normais. Trata-se de conversões muito normais que nos autorizam a admitir
que entre a excitação sexual e a angústia ou seja, entre essa excitação e o grupo dos instintos
de conservação da vida existem transições. Se o fato de se escolher a angústia representa um
sentido biológico mais profundo ou se se trata de uma irradiação
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não específica, não o sabemos dizer. Como contrapartida podemos citar as perversões sádicas
e masoquistas nas quais os afetos vitais de agressão e de sofrimento se "transformam" em
excitações sexuais. Alguns pacientes observa dores nos apresentam seus sentimentos de
angústia, originados por conversões, como algo não parecido com angústia mas pelo qual por
falta de melhor def i nição usam o termo de medo. Eles descrevem também o caráter
fenomenológico deste acontecimento como uma sensação parecida à sexual, mas com uma
inten sidade dolorosa e esta mesma impressão lhes produz uma sensaçe sexual de prazer
quando é ligeira, e de angústia quando é muito forte.
Além da angústia, a excitação sexual muito reprimida produz também transtornos do sistema
neuro-vegetativo e mal-estar somático difuso. Não poucas vezes somos procurados no nosso
consultório por mulheres que se queixam de uma penosa inquietude interna de insônia, de
dores intestinais, desarranjos cardíacos e gástricos, sintomas que as torturam de um modo
peculiar mas sem base concreta aparente. Nos asseguram serem felizes no casamento e que
suas relações com o marido e os filhos são cheias de ternura, mas ao lhes ganhar a confiança
elas confessam que suas relações conjugais já foram interrompidas de há muito, talvez por
temor de uma gravidez ou por um desentendimento latente. Em alguns casos basta revelar
esta situação e esclarecê-la, para que o estado físico experimente uma repentina e
surpreendente melhora. Estas difusas irradiações vegetativas causam às vezes a impressão de
não serem frutos de associações de idéias ou representações mas sim produtos energéticos e
elemen cares, quer dizer, conversões no sentido mais elementar da palavra.
Outros são os mecanismos histéricos circunscritos que têm sua origem em complexos sexuais:
crises, vômitos, paralisia, tiques, etc. Também nestes casos existe uma inibição no curso natural
da energia sexual ou da sua ulterior elaboração, apresentando-se num outro setor do aparelho
psico.físico sob a forma de um desarranjo funcional. Esta transformação não é mais elementar.
As conversões desse gênero seguem não poucas vezes um caminho sinuoso através de
comutações psíquicas complicadas de associações agrupadas em ver dadeiras constelações,
mudanças de posições, formações simbólicas, dissociações hipobúlicas, reforços voluntários de
reflexos, etc. Pode então surgir o vômito histérico sempre que apresenta um determinado
prato que a doente talvez comeu no dia em que se fez alguma alusão sexual que lhe parecia
nojenta por qualquer motivo. Tratar-se-ia então de uma conversão por transferência aglu
tinante. Outra paciente mostra um andar singularmente precipitado com o corpo inclinado
para frente, como se estivesse obsessa pelo desejo de fugir, nascido de uma decepção conjugal
o que nos revela uma conversão simbólica. Outra doente ainda dotada de um sistema vaso-
motor muito delicado resiste a manter relações com o marido cuja presença lhe inspira um
sentimento pe. noso e violento que chega ao extremo de lhe causar palpitações, tremores e
vertigens e afetos de desprazer. Esta onda reflexa a faz construir uma cena teatral semelhante a
um ataque histérico. A energia se transforma por obra de um reforço voluntário dos reflexos.
Todos estes exemplos bastam para demonstrar a complexidade e variedade que a energia
sexual segue e como qualquer impulso afetivo pode ser objeto de transformações psico-físicas.
sas, panos, etc. Esta perversão leva a translações e simbolizações passageiras que explicam
mais de um ato criminal, especialmente roubos cometidos incom preensivelmente por pessoas
sem mácula. Este é o caso da jovem KATHARINA G. (KIELHOLZ, 1920) de 36 anos, que rouba aos
vizinhos de noite um jovem touro de 2 anos, e dois pares de calças militares velhas, o que
explica pelas relações associativas desses objetos com os grupos de representações sexuais. A
este tipo se vinculam certas variedades e afecções típicas e solteiros de ambos os sexos, o
canário, o gato, o cão de estimação são atributos tão conhecidos como o cultivo de cravos, a
bibliofilia e numismática dos velhos solteiros pin tados por SPITZWEG; o mesmo grau e o
mesmo modo de ternura aplicados em esposos e filhos se aplica aqui a animais, flores e
objetos inanimados. Pergunta. se então se a necessidade sexual é substituída ou se o instinto
de afeto e de posse encontrou um campo mais propício embora estranho.
Um velho provérbio popular que diz "Jovem pecadora, velha rezadora" expressa de uma forma
breve e concisa as relações energéticas que existem em seu grau inferior entre os instintos
sexuais e as práticas religiosas. Não se pode negar que um certo bigotismo é uma formação
sexual substitutiva ime diata. Dessa variedade primitiva ascende-se por uma série de graus
intermediá rios à sub limaçao ou seja à transformação do instinto primitivo nos seus termos
correlatos energéticos aos valores religiosos e artísticos os mais elevados.
A esquizofrenia nos mostra muitas vezes em certas estáticas iniciais com a clareza do
experimento, a sublimação do erotismo numa vida interior religiosa muito intensa. O paciente
descreve como devido a uma tensão e concentração psíquica muito forçada, uma excitação
sexual violenta se transforma num modo gradativo no passar de horas e dias, ou
imediatamente num sentimento tipica mente místico da união gloriosa com a divindade que,
quase isenta de repre sentação por si mesma, se faz penetrar de um halo de sensação erótica
radiante.
O esquizofrênico nos conta aqui deformado pela doença simplesmente aquilo que atravessa
como um fio vermelho toda a evolução milenária do mundo civilizado, a fusão da religião com
o erotismo. Encontramo-la ingênua e sem disfarce nos cultos orgiásticos dos primitivos do
Oriente e da Antiguidade clássi ca e em seguida revestida de maior beleza espiritual no
misticismo religioso da Idade Média. O fervor do êxtase religioso se mistura aqui com
sentimentos eróticos tão evidentes, sobretudo na poesia lírica, que alguns dos cânticos ma
rianos medievais apenas se distinguem das canções do amor profano pelos nomes daqueles
que se implora. É característico para o misticismo da cristandade que a Igreja codificou nos
livros santos sem alterá-los, uma série de lírica amorosa profana como o Cântico dos Cânticos.
Nos exercícios espirituais das ordens monásticas elaboraram-se sistemas nos seus menores
detalhes com o objetivo de transformar gradualmente a sensualidade elementar por uma
combinação de mortificações físicas e um ensinamento espiritual extremamente engenhoso
num amor puro a Deus, contemplação de Deus e a união extática com Ele. A "Sublimação" se
reduz assim a um sistema que pode ser decorado. Lrrrrao chama a isto carateristicamente
"Alcançar a Majestade de Deus".
A fase transitória do substitutivo direto à subliinaçuío é formada pela reli giosidade de muitas
seitas pequenas que gostam de aparecer em redor de homens esquisitos, profetas paranóicos
e fundadores de religiões. Em relação ao chefe da seita e a parte feminina dos seus discípulos
não se pode separar a veneração religiosa do enviado de Deus psicologicamente, da adoração
erótica do homem, formando uma unidade de sentimentos. Não podemos nem delimitar
150
ou eliminar o instinto social da veneração do pai. Fenômeno idêntico pode ser observado como
conglomerado de instintos na sociedade civilizada e culta onde uma verdadeira cauda de
cometa de admiradoras femininas segue prega dores místicos, ou teosofistas.
Tomamos a relação entre religião e instinto sexual como paradigma das correlações filogênicas
e psicológicas individuais dos sentimentos superiores com o fundo instintivo. Não é necessário
indicar que na formação espiritual tão complexa como a religião o instinto sexual constitui
naturalmente somente uma das componentes energéticas. Ao seu lado, os instintos de
conservação da vida e da defesa perante o perigo desempenharam um papel decisivo na
gênese dos ritos mágicos e devotos, da crença na imortalidade e nos preceitos éticos sociais. O
instinto sexual participa sobretudo geneticamente e num aspecto principal da religião no
místico-orgiástico. É evidente que as representações inteletuais superiores n6o podem diluir-se
na psicologia dos instintos. Conver teram-se em potências vitais autônomas de ordem superior
que abrangem a totalidade da pessoa.
Historicamente falando podemos assegurar que a religião é a mãe universal mais antiga de
todos os sentimentos e aspirações superiores: ética, arte e ciências
constituíram as bases de um sentimento religioso universal.
A arte intensamente sensual se aproxima do modo mais direto das profun didades instintivas
da vida psíquica. Para a poesia e as artes plásticas por .exemplo, a atmosfera afetiva-erótica e
suas diversas sublimações constituem o elemento vital mais forte; quantidades de energia
erótica se transformam dire tamente em criações artísticas de grande valor. Podemos
estabelecer uma relação dinâmica entre a afetividade exaltada das heroínas de GOTTFIUED
KELLER e a aridez da sua vida amorosa.
Quando uma moça que sofreu um desengano se decide repentinamente de tornar-se irmã de
caridade, ela demonstra com esta "sublimação" ética seu impulso afetivo geral, mas a matriz
erótica não aparece tão clara na nova orientação energética da sua vida. Isto se aplica muito
mais ainda aos processos no terreno científico. Aqui as relações com os instintos gerais se
debilitam cada vez mais. A disposição geral do temperamento é aqui mais importante do que
os motivos impulsores específicos.
No conjunto, a vida instintiva das crianças é dominada não tanto pela sexualidade, quanto
pelas relações entre pais e filhos, mau grado dos distórbios espontâneos ou induzidos da
atitude com o corpo. Isto corresponde ao amplo e variado grupo de comportamento que na
vida animal é designado como instinto de procria çõo e no homem como instintos familiares.
Antes da puber dade o nexo afetivo que une pais e filhos é mais de índole instintiva, com
provada na atitude fundamental como constante transmitida por herança, e se desenvolve por
si mesmo em condições normais como resultante do amadu recimento e educação autônomos.
A atitude infantil tem caráter afetivo próprio e não pode equiparar-se de modo algum com os
indícios instintivos de crianças precoces e nervosas. Neste terreno a Psicanálise tem sido causa
de grandes confusões. A investigação zoológica de comportamento dá uma resposta bem clara.
LOR (ACHELIS 1961), ao ser perguntado se a atitude procreativa e
151
cuidado da prole é uma atitude sexual, responde: "Não. Trata-se de um grupo de movimentos
instintivos independentes do sexual e cujo fundamento formal também é diferente". Os valores
liminares da atitude sexual, e as da atitude procriativa guardam uma relação recíproca,
segundo os ensaios feitos com precisão em animais.
A relação pai-filho antes da puberdade se diferencia claramente pelo seu caráter instintivo dos
laços afetivos do adulto para com seus pais. Quando a submissão não se trans.forma em franca
simpatia, existe uma inibição biológica do desenvolvimento que se manifesta por dificuldades
constitucionais do ama durecimento físico. A afirmação dos instintos eróticos e o
desaparecimento do nexo entre o filho e seu pai são recíprocos no processo evolutivo de cada
indivíduo. Persistem porém (nas neuroses) resíduos não destruidos de fixação filial no mesmo
grau em que o exige a vida amorosa erótica e em particular a segurança instintiva em matéria
de noivado e matrimônio onerada às vezes por deficiências, restrições, incertezas e antes de
tudo ambivalências.
Estes transtornos podem ser hipoteticamente tanto a causa quanto as con seqüências de uma
neurose. Efeitos patogênicos podem contribuir para isto. Os transtornos que se observam
paralelamente no curso do amadurecimento somático, a importância das premissas orgânico-
biológicas e o crescimento da personalidade (W. KRETSCHMER, 1952). Não é o infantilismo
crasso e completo que desperta o interesse, mas sim os retardamentos parciais, as inibições
espe ciais do desenvolvimento constitucional asincrono. São estas discrepâncias que causam a
ambivalência, os dilemas de atitude que originam as neuroses.
As relações afetivas das crianças com os pais deixam sulcos profundos na vida posterior
daquelas que experimentam dificuldades no seu desenvolvimento. O culto eletivo que rendem
a determinadas personalidades imponentes podem ocultar até no homem adulto o "ideal do
pai" como o mesmo tom a que oscila entre o medo, a rebeldia e o amor. A escolha da esposa
pode inspirar-se inconscientemente em alguma semelhança com a imagem materna e a
escolha da profissão e da formação pode às vezes denotar tendências a imitar o pai, ou um
sinal de protesto contra o mesmo. Assim nossa vida afetiva tem numero- sas correntes ocultas
cuja origem desconhecemos. Estas pesam muito mais nas decisões transcedentais, nos estados
inexplicáveis de descontentamento, nas simpatias e antipatias e inclusive na orientação de toda
nossa vida, do que as reflexões lógicas, momentâneas, claras e lógicas com as quais tentamos
jus tificar todas essas manifestações. Quando queremos buscar as origens destas correntes
poderosas afetivas e ocultas, encontramo-las não raras veezs em expe. riências particulares
que nos causaram profunda impressão ou em vínculos afetivos gerais que remontam à
infância. Mas aquilo que guardamos na consciência são apenas sentimentos, já que as
representações e as lembranças aos quais correspondem já desapareceram.
O desenvolvimento instintivo normal dos jovens se pode caracterizar mais ou menos como
segue: Até a época da puberdade, a vida afetiva permanece dominada pelos laços de afeto
com os pais; ao iniciar-se a puberdade, observa-se uma mudança notável; o indivíduo passa
por uma fase de emancipa ção do ideal representado pelos pais, que assume às vezes a forma
rude de protesto contra os mesmos, especialmente contra o pai, e de atitude francamente
negativista em relação aos desejos e propósitos dos pais. Até o fim da puberdade, a libertação
se torna completa, e as relações pai-filho entram numa fase de
serena neutralidade, cordial fria, como com o resto dos nossos semelhantes, de
Coincidindo com a fase de libertação e protesto contra os pais, afirma-se de modo vigoroso o
instinto sexual propriamente dito, em relação biológica muito estreita com o mesmo.
Freqüentemente o instinto sexual aparece no início da puberdade seguindo dois rumos
diferentes, de um lado um entusiasmo ideal por pessoas do outro sexo, do outro lado como
excitação local das zonas genitais somáticas. Ambas as manifestações coexistem durante muito
tempo sem ligação aparentes e o indivíduo recusa com horror todas as idéias de contacto entre
elas. Mas, à medida que a puberdade passa, esta barreira cede pouco a pouco e a excitação
sexual somática se une à atitude psíquica geral da pessoa amada para formar um complexo
indissolúvel e fortemente afetivo que serve de base à vida amorosa psíco-física da pessoa sã e
normal.
anos a fio. Esta fusão insuficiente psico-somática do impulso sexual se manifesta assim mesmo
pelo prolongamento anormal da abstinência sexual. Outros jovens se deixam levar por
ninharias a uma excitação sexual grosseira e exagerada contra a qual a personalidade imatura
tenta defender-se desesperadamente (imaginação imposta). O indivíduo mantém-se numa
ignorância afetada ou pueril do ato da procriação e subtrai-se sistematicamente às observações
empí ricas mais evidentes em si e em seus semelhantes.
Nos individuos cujo instinto sexual não se funde totalmente com o tem peramento geral,
produz-se mais tarde um abismo intransponível dentro da personalidade total ficando de um
lado o EU, a personalidade ética e do outro lado o instinto sexual como algo de hostil, um
corpo estranho que inco moda sempre. A luta moral iniciada entre ambos os elementos poderá
durar a vida toda. Muito daquilo que designamos e encontramos com imperativo categórico e
rigidez moral ou como escrupuloso e artimanha tem sua origem biológica nestas tensões.
Se a pessoa inibida na sua evolução não domina os dois primeiros ditados da puberdade,
liberação interna dos pais e desenvolvimento dos instintos eró ticos, ele fracassará no terceiro,
na construção do seu próprio papel de pai. Podemos assim falar do fracasso da inversõo do
instinto de procria ção da neces sidade passiva para a ativa cujo eixo giratório teria que ser o
tempo de amadurecimento. O homem não se interessa pela responsabilidade que deve
assumir para com a família, a mulher não anseia ter filhos e poder educá-los. Gente assim evita
(e com razão) o casamento e outras atividades que implicam em cuidados e vivem por si só
ensimesmadas. Existem outros tipos que na idade adulta enfrentam qualquer perspectiva
erótica com neutralidade ou a evitam cuidadosamente, e sem contrair matrimônio encontram
satisfação em atividades sociais em creches e escolas, etc.).
Não podemos deixar de falar finalmente daquele grupo com perturbações no seu
desenvolvimento, que ficam parados no seu processo de amadurecimento, sem dramatjcidade,
sem conflitos e que não desenvolvem nem um impulso erótico, nem de criação, mas se
adaptam bem a uma profissão adequada.
Ficou evidenciado que as escalas de amadurecimento no homem não obe decem a uma
seqüência fixa ou a um grau determinado de perfeição. A ordem social e a peculiaridade
humana deixam bastante espaço para que uma pessoa assim perturbada ache seu lugar. O
afastamento das normas constitui sempre um perigo de conflitos. Se este conflito explode não
depende tanto da anor malidade em si, mas da constelação de todos os fatores da estrutura
pessoal e do ambiente.
Dominar os instintos, ceder a um desejo ou privar-se do mesmo é vital para o homem e por
isto a meta principal de toda educação. Um significado espe cial é dedicado à capacidade de
saber suportar privações e medo. Uma orientação racional não é o suficiente a não ser que o
motivo afetivo seja ordenado, pesado e resistente (Cerne do caráter, pg. 161). Não existe lei
fixa para se saber quando convem ceder, e quando privar-se, O compromisso torna-se a regra.
Sem o fator metapsíquico pessoal-espiritual e somente com a bateria de instintos inatos ou
adquiridos o homem se sentiria perdido (o que
não pode ser comprovado pelas ciências naturais). A ativação espiritual é um elemento
essencial da pedagogia e uma premissa importante para o domínio dos instintos. Sem saber
dominar-se o indivíduo amolece ou age unilateral- mente causando perturbações. Tocamos
aqui no problema da liberdade da autodeterminação no qual não queremos entrar. O médico,
como clínico e diagnóstico enfrenta a tarefa de julgar as mudanças do grau de liberdade
tirando daí outras conseqüências. O domínio dos instintos se manifesta na resistência contra a
dor, a sede, a fome, frio, ameaças, etc. e no grau do controle, respectivamente da seleção
frente às tentações. Em ambos os casos devemos examinar se a atividade espiritual e a
resistência do caráter ou indiferença (indolência) são decisivos para uma atitude positiva ou
negativa. Na redu zida capacidade de resistência a culpa poderá caber a doenças físicas, consti
tuição psíquica lábil, ou uma doença psíquica. Do outro lado uma atitude intransigente contra
privações e tentações, pode indicar um defeito de caráter ou uma psicose (esquizofrenia,
depressão). Em todos os distúrbios psíquicos, de origem corporal ou não, o equilíbrio interno
das forças se desloca e por conseguinte a capacidade de determinar os impulsos. Mudanças no
domínio dos instintos nos anunciam às vezes uma doença mental não revelada ainda.
agrupam em redor das constantes dos instintos como ponto focal, diferen ciando-se e variando
em círculos de amplitude cada vez maior.
Como instinto básico denominam-se aqueles complexos de afetos que visam as metas vitais e
que, baseados na hereditariedade se dirigem para fórmulas de realizações mais ou menos
firmes, específicas, seja vegetativas ou motoras. "Os instintos mais elevados" dos quais nos
falavam poetas e filósofos são talvez (assim como a linguagem) fixados a priori, mas não
herdados e se desenvolvem num clima social da educação e experiência. Eles procuram os
valores especi ficamente humanos, individuais e sociais. O complexo de sentimentos que se
esconde atrás destes instintos chama-se de alma (Gemuet). Não podemos traçar uma linha
divisória de "em cima" ou "embaixo". Encontramos somente pontos de gravidade.
A vida dos instintos reflete a tensão vivencial do indivíduo entre a necessi dade que se reforça
da doença e a liberdade que se conquista na saúde. A psicologia dos instintos e suas relações
com a vida psíquica elevada formam assim o ponto angular da psicologia médica. Os conflitos
que surgem aqui provocam psicoses em forma de neuroses e reativas bem como uma
infinidade de doenças corporais supostas. Em contraste com a afinidade mais elevada que
pode ser moldada e que se adapta, os instintos elementares querem impor-se a
15
todo custo como forças elementares, quebrando as resistências que encontram em seu
caminho criando confusões psíquicas e distúrbios das funções físicas.
Potencialmente todos os instintos são ambivalentes com um acento ora positivo, ora negativo
embora possam parecer por fora inofensivos e "úteis". Não é o efeito vital que determina o
valor de um instinto mas a funçao humana que deve ser controlada e testada sempre de novo.
As tentativas contínuas de querer neutralizar a ambivalência dos jnstintos por um
destnascaramento racional e por reformas éticas são comoventes na sua mistura de esforço
cego e falta de resultados. Assim como todas as utopias, elas formam motivos essen ciais e
recursos artificiais com os quais se movimenta e aperfeiçoa o processo que nós chamamos de
história. A última grande tentativa no gênero foi a Revoluçao Francesa com seus rebentos, o
Darwinismo (no sentido mais lato do otimismo da criaçao) e a P s i c o a n á li s e. Assim sendo,
a ambiguidade dos instintos representa um fator dramático de primeira grandeza.
10º. CAPÍTULO
OS TEMPERAMENTOS
KRETSCHMER 1967).
156
Os Temperamentos
Uma contribuição interessante para a Fisiologia dos tipos constitucionais nos foi dada por F.
HOFF 1956, um dos mais profundos conhecedores das fun ções vegetativas, ao relacionar as
regulações vegetativas polares (simpaticotonia e parasimpaticotonia) com as formas somáticas
constitucionais e dos represen tantes polares de grupos de doenças internas. (ver tabela 3).
Deduz-se da mesma de um modo expressivo a relação biológica estreita entre forma e função,
entre morfologia externa do corpo e regulamentações vegetativas nas suas regulamentações
vegetativo-endocrínicas, sendo em certos pontos até antagônicos. Para determinados grupos
de reações experimentais os pícnicos mostram uma simpaticotonia potente e rápida, enquanto
que os Lepto. sômicos parecem melhor orientados para a vagotonia". É importante que HOFF
confirma estes resultados.
Na teoria dos temperamentos como unidade funcional psicofísica fecha-se o anel entre a
morfologia corporal e as regulamentações vegetativas de uma parte, e das regulamentações
psíquicas da afetividade e da psicomotilidade do outro lado, até às tendências a doenças
internas e psicoses endógenas.
Estrutura
Vegetativa
Hiper
tônico
Simpaticotonia
Parasimpa- ticotonia
ral
Freqüência pulso
Atividade cardía
ca
TensAo arterial
mcd.
O
O
(+)
cas e periféricas
(EJW)
corporal
Colinesterasa
Linfócitos
+
-
Eosinófilos
Cociente KJCa.
to
Estrutura
Pícnicos
Atletas
+
Corporal
Leptosô micos
Grupo polar
Ulce rosos
- relativamente menor
Os grupos principais das psicoses constitucionais endógenas, podem servir- nos por enquanto
de guia através do domínio complicado da Psicotipologia individual. As psicoses maníaco-
depressivas ou circulares nos oferecem uma variedade mórbida do quadro psicológico normal,
constituído pelos tempera mentos ciclotímicos já que as psicoses esquizofrênicas ou a
demência precoce representam a ilustração caricata de um outro quadro normal, integrado
pelos temperamentos esquisotímicos. Designamos como ciclóides e esquisóides os estados
limítrofes entre o indivíduo são e o enfermo. O terceiro grupo principal das afeições psíquicas
hereditárias que compreende a epilepsia tem na sua composição psíquica dos pacientes
algumas relações com os temperamentos viscosos normais e explosivos dos atléticos.
Ftgura 19. Distribuições das constituições nos grupos principais das psicoses.
não encontramos distúrbios por forma igual os temperamentos prin cipais. Os esquisotimicos
superam os leptosomos, os baricinêticos superam os
157
(1505 casos
Leptossomos
Dispiásicos M picos
ManíacosDepressivos
(5233 c
Os homens atléticos têm os membros mais compridos. A cintura escapular larga, ampla e
musculosa domina na impressão ótica sobre a metade inferior do corpo que perde em largura
com sua bacia relativamente estreita, formando assim uni tronco em forma de trapézio quando
visto de frente. O esqueleto é robusto especialmente na cintura escapular e nas extremidades
do corpo, a musculatura sob a epiderme elástica e de pouca gordura é forte e bem desen
volvida com um relevo plástico. O colo alto e robusto sustenta uma cabeça alta e firme com o
rosto igualmente largo na sua parte média com o queixo e estrutura óssea saliente. O relevo
frontal do rosto tem a forma oval. O atlético típico tem uma pele do rosto grossa e pálida
enquanto as mãos tomam uma cor azulada (acrosianose).
O Leptosomo masculino tem o tronco cilíndrico, e uma caixa torácica estreita e alargada com
ombros estreitos. As extremidades e o colo são igual mente longos, os ossos, os músculos e a
epiderme são em geral graciosos, del gados e finos. A cabeça é pequena, alta ou arredondada.
O nariz alongado e ponteagudo contrasta com o maxilar inferior fino e eventualmente
hipoplás. tico. O nariz saliente e o queixo retraído dão a impressão de um perfil angular. O
contorno frontal da face mostra nos casos mais acentuados um oval reduzido. Nos leptosomos
a cor da pele é freqüentemente pálida, e o couro cabeludo primário (cabeça e sobrancelhas)
fina e o couro cabeludo terminal pouco pronunciado.
Podemos considerar os grupos esq u isotz'm icos, ciclo tím icos e bariq uinésicos como os
grandes biótipos complexos dos quais se compõem nos graus mais variados de misturas uma
grande quantidade de matizes temperamentais normais.
Os tipos constitucionais estudados até agora se ajustam a uma lei fun damental importante: "a
polaridade dos temperamentos". A cada tipo de estru tura corporal corresponde não somente
um só temperamento mas um par contrastante de tonalidades temperamentais opostos (tab.
4).
158
Os Temperamentos
por uma proporção mas pela proporção predominante, sua reta çt de mistura, a liga das
dimensões e força de expressão de cada polo.
T1
Ciclotímicos
pícnicos
Esquizotímicos
Leptosomos
Baricinéticos
Atléticos
Escala de mentos
Extremos
ciclóides
esquizóides
epiléticos (*)
Variantes
hipomânicos subdepressivos
Nos esquizóides entretanto não se distinguem relações entre psicoestesia e impulsos especiais,
os hiperestéticos delicados surpreendem pela sua afetividade pesada e volúvel, ao lado de uma
volubilidade mesmo nos indolentes bastante frios, distinguindo-se nos esquizofrênicos as
quatro combinações seguintes:
160
Os Temperamentos
Tabela 5.
Ciclotímicos Esquizóides
1. hipomaniacos 4. Hiperestéticos
2. sintónicos-ciclotímicos 5. Esquizotimicos-médios
e vaidosos.
No que concerne sua atitude complexa diante da vida e suas reações frente ao meio os
ciclotímicos mostram em geral uma tendência para •0 contacto com o mundo exterior e com o
presente, são comunicativos, sociáveis, amáveis, generosos e espontâneos, entregando-se ora
a empreendimentos ousados, ora se limitam a uma vida contemplativa, cômoda e sem esforço.
Entre eles se contam os tipos comuns do homem de açõo prática e da vida sensorial e nos
extremamente bem dotados os tipos do realista confortável, do humorista de índole pacífica
no que concerne o estilo artístico, os espíricos superficiais e
162 Os Temperamentos
intuitivos e os vulgarizadores hábeis. No que concerne à vida prática temos ainda os tipos
benevolentes e razoáveis de intermediários, os organizadores grandiosos e os audazes
temperamentais (KRETSCHMER, 1958b).
uugo
l 27. Tipos de con- a) pentagonal tornos frontais (esque- chato; inático e algo exagera do):
b) escudo amplo;
alta; recolhida.
Tipos de Estrutura Corporal e Temperamentos: 163
culmina num movimento frio entre seus semelhantes, sem interesse ou relações interiores.
Encontramos entre eles muitos tipos deficientes de excêntricos mal humorados, egoístas,
instáveis criminosos. Os tipos socialmente elevados esqui zotímicos e esquizóides se compõem
de sonhadores delicados e aristocratas frios e formais. Encontramo-los na poesia e nas artes
como estilistas e classicistas puros, como românticos alheios ao mundo, idílicos sentimentais,
pat éticos trágicos até o expressionismo brutal e o naturalismo tendencioso, irônicos e
sarcásticos espirituais. No campo da ciência eles mostram uma predileção pelo formalismo
escoldstico ou reflexão filosófica, ao metzfisico e sistematisino exato. Os esquizotímicos se
distinguem por sua energia tenaz, sua inflexibilidade, e intransigência nos seus princípios,
conseqüentes consigo mesmos, os tipos dominadores, os moralistas heróicos, os idealistas
puros, os fandticos frios, os déspotas e os calculadores frios, de maleabilidade diplomática.
Resumimos todas essas disposições especiais na tabela seguinte (6) tomando em conta
somente as variantes positivas de grande valor social e entre elas as principai apenas.
Nos soldados atléticos e nos esportistas esta calma fleumática e reatividade diminuída se
traduzem como fator principal de sua capacidade física de reali zação de feitos.
TABsz 6.
Tipos
Ciclo timicos
Esquizotimicos
Poetas
Realistas
Patéticos
Românticos
Artistas plásticos
Pesquisadores
DescriçAo plástica
Empiricos
Lógicos exatos
Sistemáticos
Metafísicos
Dirigentes
Robustos
Organizadores vivos
Mediadores ajuizados
Idealistas puros
Despotas e Fanáticos
Calculistas frios
No fundo de tudo isto encontramos uma labilidade emocional que se exprime como
sensibilidade e influência do meio. A ambição de realizar alguma coisa e uma firmeza externa
compensam as tensões internas e a vulnerabilidade. Explosões fáceis e sentir facilmente
ofendido completam o quadro caraterís tico compensado por uma tendência para o
objetivismo (HANNEMANN, 1967).
164 Os Temperamentos
Tanto nos experimentos como na vida os leptosomos são, nas suas inclina ções espirituais, mais
intensos, abstrativos, analíticos, persistente com saltos
Os pícnicos do seu lado são mais extensivos, objetivos, sintéticos de fácil acesso e
maleabilidade, objetivos e ingênuos nos seus sentimentos. Os atléticos se revelam como sendo
pertinazes e disciplinados ao lado de uma sensibilidade suave e mais vizinhos dos tipos
esquizotímicos.
insistente
(de situações)
(de objetos)
cor forma
Mostramos a evolução dos temperamentos em principio a partir das cons tituições que se
manifestam por seções transversais da idade adulta em formas estáveis até certo ponto.
Devemos nos deter agora nas variantes de tempera mento derivadas da constituição conforme
suas seções longitudinais conforme sua evolução no correr da vida (tipos de evolução). Ambas
as escalas diagnós ticas devem ser avaliadas em separado embora não careçam de relações
intrínsecas em parte. Examinando em corte longitudinal os temperamentos, destacamos
também os sinais de amadurecimento que se apresentam numa sucessão em ascendência
através da infância e da puberdade com importância decisiva sobre a última. Esta vida
progressiva foi trilhada por ZELLER (1952) e outros. Ser vem-nos de base os valores médios da
estrutura corporal da constituição geral e sexual calculada na média de urna determinada
população para cada an de vida. Correlacionam-se com eles os carateres psíquicos obtidos em
parte clinicamente e em parte pelo método experimental.
atrasam. Estas assincronias se encontram em diversos graus não somente clini camente nas
neuroses e esquizofrenias mas também ao examinar candidatos ao aprendizado na população
média (HERTER, 1966). Nas nossas investigações em série ficou provado que os assincronismos
e especiálmente os retardados parciais são mais importantes para a personalidade e a
produtividade que os retardados comuns e o aceleramento como tal. Os assincronismos mais
intensos causam forçosamente ambivalências hipobúlicas profundas ,sendo pontos de partida
de tensões conflitantes para a estrutura do caráter e especialmente para a formação de
complexos neuróticos. (E. KRETSCHMER, 1948, 1967).
A puberdade representa uma fase de vida que tende para as crises que abrangem a atitude da
personalidade psíco-física sendo que seu curso vital se encontra perturbado por contra-tensões
fortes e antagônicas. Não é por acaso que das pessoas predispostas a erupção de graves
psicoses, como a hebefrênia se manifeste nesta época, causando o efeito de uma caricatura de
uma atitude puberal. A puberdade em si não é nenhuma doença mas dentro do desenrolar da
vida humana um tempo de crise de primeiro grandeza. Nela se manifestam com força
excepcional na discrepância das disposições internas e das constelações externas, os
assincronismos das linhas de amadurecimento constitucionais (cons tituição prodisclmnica),
vivências e conflitos.
Podemos construir uma escala ininterrupta tanto quantitativa como qu litativamente, que nos
leva das complicações cotidianas da puberdade de jovens normais, através das crises de
puberdade cada vez mais acentuadas de ordem psicopática até os hebóides leves e daí às
formas graves de destruição da de mência juvenil e outras formas esquizofrênicas. Além das
dificuldades de amadurecimento outros fatores casuais desempenham seu papel.
Todas as variantes e desigualdades do "câmbio pueral dos instintos" têm importância não
somente para a evolução do caráter dos jovens. Problemas parecidos surgem em intensidade
menor em situações biológicas como no climatério e na passagem para a senilidade. Ter ou não
ter o espaço vital adequado e especialmente o estjlo que convém a uma determinada idade de
pende muitas vezes dos fundamentos biológicos. (Mudança de impulsos, dis posição,
sensibilidade).
Não devemos esquecer que as variantes do amadurecimento constitucional não são apenas
origens de dificuldades e complicações, na formação do caráter, mas também, em casos
favoráveis, uma fonte de vantagens múltiplas. A atitude infantil da mulher lhe dá um encanto
especial e na biografia de homens célebres encontramos não poucas vezes rasgos de mocidade
como impulsos essenciais da sua labuta intelectual. A mocidade psíquica dos adultos favorece
uma atitude aberta para o mundo, capacidade de mudança, compreensão para as crianças, um
espírito aberto para os valores estéticos e problemática profunda.
166
Os Temperamentos
QUARTA PARTE
11º. CAPÍTULO
INTELIGENCIA E CARÁTER
Damos por encerrado o estudo das diversas componentes e forças impulsoras do aparelho
psíquico e da sua estrutura biológica, mudando o ponto de gravidade da personalidade
complexa, colocando-a no seu ambiente vivencial.
INTELIGÊNCIA E TALENTO
A "inteligência' não é uma faculdade psíquica autonoma, mas simples. mente um sinal verbal
no qual se resumem certas funções e aptidões da perso nalidade total. Num sentido restrito
designa particularmente manifestações próprias dos processos superiores de figura çao, ou
seja, a capacidade de adquirir e manipular as representações. A inteligência reprodutiva
compreende antes de tudo a faculdade de aprender e reter (memória); a inteligência produtiva
envolve especialmente as manifestações aperceptivas a formação de juízos e conclusões, e,
num sentido mais amplo toda a classe de produções psíquicas novas. Nesta última aceitação
empregamos a palavra "inteligência" como sinonimo de "dotes", ou "aptidões" aplicando-a não
somente aos conhecimentos e faculdades lógicos, mas também ao sentimento e à imaginação
artística, à energia vital prática, etc. Em geral, quando se distingue entre "inteligência" e
"caráter" da personalidade total, pensa-se, no primeiro caso naquilo que se produz dentro do
domínio das representações, e em segundo lugar tomam-se em conta os fatores afetivos e
volitivos.
Daquilo que foi dito se depreende que "inteligência" e especialmente "dote" são em primeiro
lugar conceitos quantitativos. Um fator quantitativo desse gênero é por exemplo a abundância
ou escassez de imaginaçao, Assim um grande poeta poderá usar mais de 10.000 palavras
enquanto que o vocabu lário corrente do homem de cultura geral não abrange mais do que
1.000 a 2.000 palavras. Pensou-se que o número de sinapses (ligação entre as células do
encéfalo) influem sobre o nível quantitativo das aptidões (talvez por via hereditária). Devemos
porém ter em mente que o impulso, o interesse, a
Inte1ig 6 Caráter
atenção e mobilidade, todos eles fatores vitais e temperamentais, possuem igual importância
para a quantidade e duração dos conhecimentos adquiridos e a capacidade de imaginação. O
temperamento constitui pois para a inteligência de uma pessoa um fator essencial.
A inteligência de uma pessoa conta-se não somente pelo número absoluto das suas
representações, mas antes de tudo pelos "acertos" simples ou compostos em relação com os
"erros" cometidos. Este critério tem validade quando se trata de noções e juízos confirmados
por via tradicional como por exemplo o ensino primário ou o cálculo comum e conceito de
espaço.
Entendemos por "gênio" a faculdade de criar idéias e formas de expressão pessoal e própria,
jamais pensada sou experimentadas em tornos iguais e de iniciar novas épocas históricas.
A teoria dos temperamentos pode servir-nos de ponto de partida para uma classificação
melhor do pensamento: concreto-intuitivo, sonhador-romântico e abstrato-sistemático. O
primeiro se aplica especialmente aos ciclotímicos, e os dois restantes aos esquizotímicos.
Poderíamos imaginar que uma determinada capa do aparelho psíquico em cada pessoa, de
modo que o pensamento abstrato sistemático (esquizotímico) se expressa sobretudo em
conjuntos de represen tações aperceptivas, e o pensamento concreto intuitivo (ciclotímico)
pelo contrário, se aproxima mais do tipo da associa çao livre, visto que o pensamento simbólico
é determinado pelas aglutinações de imagens da terceira capa. Assim produzir-se-iam os tipos
cte aptidões do contador realista ciclotímico, do cole cionador de prosa ampla e do prático
mundano (grupo intuitivo concreto) do artista esquizotímico enamorado das formas, do
dramaturgo, do lógico e do dogmático (grupo sistemático-formal), e finalmente do poeta
esquizotímico e dos teólogos e filósofos inclinados para o simbolismo metafísico (grupo
romântico). Os componentes da inteligência foram elaborados do modo mais explícito por
GuuILrolw (1966).
Outra divisão qualitativa se baseia em diversas zonas de atividades e vivências. Neste sentido
fala-se em aptidões especiais (esportivas, artísticas, matemáticas, eróticas, religiosas e outras)
que são herdadas em separado ou acopladas, como acontece em certas famílias. Suas bases
biológicas são apenas conhecidas.
Em princípio, tais aptidões especiais, limitadas em sua aparência se compõem por sua vez de
uma série de elementos particulares, às vezes hetero gêneos, que podem ser herdados
separadamente ou em conjunto como acontece
em algumas famílias de músicos. Para ser um bom músico devem coincidir, entre outros
fatores, qualidades rítmicas, melódicas, harmônicas, psicomotoras e outras de índole
temperamental (HAECKER, 1922). Um trabalho estatístico correlato (R. MILLER, 1925) numa
série de alunos normalistas forneceu os seguintes dados: a aptidão geral de um dom musical
notável vão de mãos dadas, os menos dotados são raras vezes bons músicos. Dentro desta
aptidão existe uma correlação estreita entre os ramos construtivos: harmonica, órgão piano de
um lado e canto e violino do outro lado. Existe igualmente uma correlação entre a disposição
para a música e a matemática. 1 mais comum que músicos excelentes sejam também bons
matemáticos, do que vive-versa. Os bons matemáticos excelem em geral nas matérias
construtivas-musicais (harmonia, órgão) mas a relação entre musicalidade e dons para o
desenho é mais rara.
Não sabemos muito sobre as demais condições do talento matemático. Entre o dom da
observação intuitiva (especialmente necessária ao médico) e a inclinação para a matemática
parece existir uma forte correlação negativa. É caraterístico neste sentido o número ínfimo de
elementos matemáticos no majestoso edifício da medicina clínica, inclusive a anatomia e
investigação microscopica. Isto deve ser atribuido à própria inclinação dos pesquísadores.
Desde a 2.a Guerra Mundial somente a medicina científica entrou numa pronunciada fase
matemática da qual o médico comum em geral não participa. Uma aptidão para as ciências
naturais não existe, e suas duas componentes se diferenciam bastante pelas suas aptidões:
Em contraste com as aptidões estáveis cada vez mais fortalecidas pela herança nas famílias
antigas, o "gênio" propriamente dito constituj quase sempre um fenômeno isolado que se
produz uma vez só, sendo provavelmente produto de uma hibridação de família de talento,
nações ou grupos étnicos diferentes (BEETHOVEN) õu entre talentos pertencentes a classes
sociais distintas, de um velho tronco de sábios com a nobreza (BIsMARcK) ou entre um tempe
ramento esquizotímico e outro ciclotímico (GOETHE) (ver KRETSCNME1 1958, 1966 e 1967).
Sobre a estrutura do pensamento criador vejam GUILFORD 1952.
O CARÁTER
174
Inteligência e Caráter
O Cardter 175
A estas qualidades do temperamento juntam-se por vínculos empíricos bem firmes alguns dos
modos de conduta n vida social, sobretudo a inclinação sistemática de adotar frente à vida uma
atitude "extrovertida" (JUNG) ou "autística' (BLEULER).
Tomando ao contrário qualificações de rasgos do caráter como por exem plo: "fiel",
"sacarcástico", "decente", "intrigante", "inseguro de si mesmo", "desconsiderado" veremos
imediatamente que tais qualidades não derivam nunca de simples peculiaridades biológicas
fundamentais mas que são produtos mistos de várias delas ou das suas reações com a
impressão deixada por um determinado ambiente ou experiências também determinadas. A
"fidelidade" por exemplo pressupõe como fatores temperamentais congênitos um ritmo
psíquico que não seja demasiadamente rápido e um humor relativamente equilibrado. Daí
deriva a qualidade de caráter da "permanência" que não encerra em si todos os fatores que
designam a palavra "fidelidade". A "fidelidade é uma permanência contínua que se refere à
situações sociológicas bem definida, à relações de simpatia com certas pessoas ou grupo
humanos (ou por extensão à idéias ou ideais determinados). Aqui intervém outro fator
temperamental, a profundidade e o grau de extroversão do sentimento e também antes de
tudo, uma situação de ambiente, uma atmosfera que torne possível e facilite as demonstrações
conseqüentes de simpatia bem como uma educação que as idealize num sentido tradicional.
Do contrário esta mesma disposição de tem peramento feita de calma, afeto profundo e
equanimidade poderá traduzir-se por rasgos de caráter ou atitudes sociológicas
completamente diferentes: ódio latente, sede de vigança irrefreada (vejam WELLER sobre a
classificação do conceito de caráter).
Designamos assim de caráter a personalidade total visto do lado afetivo e volitivo. O caráter de
uma pessoa se desenvolve desde a tenra infância pelo intercâmbio constante entre
constituição e constelação, quer dizer entre a dis posição hereditária e o mundo exterior, de
que resulta um conjunto de tendên cias reacionais cada vez mais consolidades. A base
constitucional do caráter é formada. pelas raízes dos temperamentos e os impulsos
elementares. Elas são seus componentes principais porém não essenciais, e únicos. Certas
solicitações e impedimentos externos que influem sobre o corpo desde sua fase fetal intra
uterina podem modificar a evolução do caráter durante toda a vida. Lesões do crânio por
exemplo ocasionam com freqüência mudanças persistentes do temperamento até o
embotamento ou exaltação da sensibilidade ou uma mistura de ambos os efeitos. O alcoolismo
crônico deforma às vezes o quadro da perso nalidade até a euforia indolente, a irritação brutal,
e a depravação moral e nesta nova base se desenrolam novos modos de reação psíquicas como
as idéias de ciúmes com sua gênese parcialmente complicada.
do ambiente, por acontecimentos isolado de forte repercussão que podem desviar para
sempre o rumo do desenvolvimento da personalidade. As decepções sofridas por um processo
judicial, um trauma sexual com grave ressonância psíquica, morte de um ente querido entram
no rol desses acontecimentos. Serão sobretudo os indivíduos nos quais uma experiência
isolada desvia defini tivamente o rumo da personalidade. Influências crônicas do ambiente não
modificarão as bases elementares do temperamento se não existe a predisposição mas
poderão reforçá-los ou reprimi-los. O ambiente provoca fortes reações circunscritas de molde
doentio como se pode observar em neuroses e psicoses de reclusão. De todo modo, as
qualidades fundamentais inatas do tempera mento uma disposição supersensível, hipomânica
ou fleugmática podem ampla mente modificar estas influências ambientais.
Podemos asseverar que na construção do caráter da maioria dos homens nada é tão exterior
na sua origem e alheio à constituição como os conceitos éticos. As normas éticas são
assimiladas desde a adolescência como implantações provenientes do exterior do mesmo
modo como o ar que respiramos e se fixam com tamanha força que ainda na idade adulta
poucos homens são capazes de se emancipar por completo dos conceitos morais que os
envolvem quando estes agiram constantemente num mesmo sentido. Isto se aplica às próprias
normas sendo que a disposição temperamental influi notavelmente na aptidão de con formar-
se às mesmas. Este desacordo entre os conceitos morais de origem exõgena, e a capacidade de
agir praticamente, submetidos às influências endó genas do temperamento e dos instintos, cria
inúmeras situações psíquicas difíceis que são a causa de uma boa proporção de neuroses e
psicoses reativas. Parti cularmente expostos a tais conflitos são os individuos que sofreram
durante muito tempo os efeitos de influências éticas vigorosas e parciais, quer dizer, pessoas
que pertencem a meios intensamente religiosos, e ortodoxos, ou a pro fissões de um espírito
de casta rígido e bem pronunciados como as famílias de Funcionários e militares, ou aquelas
que foram educadas com certo acanhamento de critério e que não foram capazes de adquirir a
liberdade e adaptilidade requeridas dos conceitos éticos.
Criam-se, hoje em dia, divergências pelo fato da mudança de ambiente, especialmente nas
zonas rurais, que abandonam os lares e fracassam em situa ções desconhecidas eticamente
(trabalho no estrangeiros, serviço militar, fuga, mudanças forçadas, vadiagem, viagens). As
normas dos valores próprios en frentam de repente novas escalas de valores, ou agem dentro
de um vácuo. Como em ambos os casos as personalidades não suficientemente diferenciadas
não conseguem esta situação tensa e por este motivo elas se isolam na defensiva ou caem num
nihilismo moral.
A. Capacidade de impressões
B. Capacidade de retenção
C. Atividade intra-psíquica
D. Capacidade de ação:
força psíquica.
Astenia (Diminuição dos afetos acima, inferioridade, pouca aplica ção de vontade.
Pronunciada força de vontade = estenia e boa capacidade de reten ção quando bem aplicada.
Pronunciada vontade ética = boa retenção, mistura astênica e estênica (atenção constante,
adap.
tabilidade ,energia).
V. Hábito do Caráter:
O esquema aqui reproduzido pode ser aplicado em Outros quadros de doenças mesmo que
nâo abranja todas as necessidades psiquiátricas.
energia entre os poios (acontecimento) vivência e reaçõo (imaginação, respeti vamente ato). A
psicologia constitucional e de impulsos soube avivar esta matéria seca pelo colorido e a
vivacidade de alguns traços de personalidade e o psico-biograma acrescentou os característicos
sociais, arredondando tudo. Criou- se assim uma moldura bastante ampla para a diagnose e o
julgamento.
12º. CAPÍTULO
Entendemos por "vivência" uma unidade humana psiquicamente relevante com tonalidade
afetiva. Da corrente regular de funções psíquicas se depreendem às vezes sob forma de
pequenas ilhas com acento afetivo mais intenso umas séries de representações e percepções
que por um espaço adquirem influência decisiva sobre o curso psíquico ulterior. Somente a
estes grupos destacados e isolados aplicamos o nome de experiências internas, fazendo uma
nítida sepa ração entre impressões e acontecimentos. Se estes se transformam em vivências
depende não somente da força de fatores externos como da constelação psíquica.. Um simples
leve aceno de cabeça se transforma para o ser apaixonado numa acontecimento sem igual que
domina sua ação e pensamento por longo tempo Do lado inverso a vista do mar agitado que
deixa viva impressão ao habitante das planícies, passa quase que despercebido para os
caiçaras.
De acordo com o caráter os complexos assumem uma atitude diferente diante da consciência.
Em algumas pessoas eles ficam esféricos sem penetrar no fundo visual da consciência para
serem percebidos com clareza. São entre tanto a causa constante de transtornos e irritações
desde a periferia ou a zona obscura. Estes complexos esféricos se baseiam em repressões
catatímicas (neu roses, esquizofrenia). Falamos porém em idéias fixas quando os complexos
persistem com torturante nitidez no centro da consciência, como no síndrome de opressão.
Convém distinguir dos complexos outro gênero de experiências internas fortemente afetivas,
que constituem as idéias supervalorizadas. Alguém perdeu um processo e se julga prejudicado.
Este acontecimento desagradável se torna daqui em diante o centro do conteúdo da sua vida
dia por dia, e ele apela aos tribunais procurando sua reabilitação. Nada vê, nada ouve, vive
exclusiva- mente para sua causa. Esta idéia super valorizada se fixa na consciência onde forma
um centro principal, amalga-se com a personalidade do qual não se dissocia. Esta se acomoda
de bom grado aos exageros e lhe dirige toda a energia psíquica da qual dispõe e a converte em
um ídolo. Uma outra pessoa que tivesse sofrido este desgosto já o teria sobrepujado
esforçando-se em esque cê-lo, concentrando-se sobre outras coisas positivas, comer, beber e
trabalhar.
Idéias supervalorizadas constituem uma das molas propulsoras mais im portantes da atividade
humana. Concentram o máximo de força num mínimo de espaço. Elas se prestam
especialmente aos pensamentos profundos, a certas tarefas de investigação e invenção e um
acúmulo concentrado de esforços. No amor, na luta partidária e religiosa observa-se a
formação mais forte das idéias supervalorizadas, concentrando tiranicamente todo o
pensamento sobre si, não rdmitindo outra ideologia. Desempenham um papel importante.
Desempenham grande papel na antecedência e efeitos posteriores de imaginações doentias.
O efeito dos complexos não se entende tão facilmente. Eles prolongam na conversa o tempo de
reação e provocam respostas involuntárias ou pertur bam o fluxo normal das idéias. O efeito
sobre a psicomotilidade é parecido: a pessoa se equivoca, procede com lentidão, deixa cair um
objeto das mãos, etc. A memória torna-se incerta e caprichosa sob a influência dos complexos.
Nomes corriqueiros não nos ocorrem, um número nos escapa. No meio de uma poesia bem
conhecida paramos desconcertados. Equivocamo-nos numa data ou num fato que nos
pareciam certos.
Tais reações frustradas (FREUD 1922) ou reações de complexos possuem às vezes sua
importância psicológica-diagnóstica. Indicamo-nos o caminho para complexos que seus
possuidores não confessam. Não se trata de complexos no sentido mais banal, mas de
representações afetivas em geral. A este propósito J UNG nos conta um exemplo b
interessante:
'Uma pessoa quer recitar a conhecida poesia de Heine 'Um pinheiro solitário No verso que diz
"está sonolento" ele pára e não consegue continuar na sua declamação. Não consegue
continuar "com um lençol branco" e quando lhe sugerem uma associação livre ele diz: Nesta
palavra pensa-se numa mortalha. - um lençol para cobrir um cadáver. (pausa) aqui me lembro
de um amigo meu, seu irmão faleceu de repente, de um ataque cardíaco, era bem corpulento,
meu amigo também o é, e já pensei qu podia ter sido ele, não leva uma vida muito sedentária,
de repente fiquei com medo pois em nossa família há uma tendência para a obesidade, meu
avô por exemplo morreu do coração. Acho-me gordo demais e comecei um tratamento para
emagrecer".
A descarga dos complexos se faz por meio de conversas. Uma pressão afetiva que aflige uma
pessoa pode ser diminuída ou eliminada. Uma conversa simples, mas que esgota o assunto,
com o médico ou uma pessoa de confiança a guisa de "confissão" pode produzir milagres.
Quando se trata de complexos reprimidos que o paciente já quase desconhece, convém fazê-
los voltar à super fície incorporando-os ao conjunto das representações da personalidade,
tirando os assim do seu isolamento. Nestas ocasiões podem comparar o homem ao
cavalo que se assusta diante de objetos escuros que lhe causam certa inquietude vistos da
periferia do seu campo visual, mas que anda firme e seguro quando o obrigamos a fixar bem o
objeto que o assustou. Impõe-se em tudo isto grande tato por parte do médico. Há coisas que
vale a pena não desenterrar, que se diluem aos poucos, mas que evocados podem causar
novos distúrbios. Durante a entrevista o médico deve saber se convém ou não despertar de
novo estes complexos o que pode oprimir ou libertar o paciente.
Uma atividade sensata forma a parte individual e socialmente preciosa para ordenar de um
modo positivo os impulsos e reações disponíveis. Devemos canalizar as energias que
favorecem os complexos e as idéias supervalorizadas para os moinhos certos. Na medida em
que a orientação da atividade trans forma as tendências negativas em positivas,
correspondendo ao caráter e ao talento, tanto melhor será o êxito. Por isto a atividade, o
trabalho constituem o núcleo e a estrela da psicoterapia, o amplo canal de derivações que
recolhe todas as energias psíquicas e mantém sua coesão, evitando a separação. Os complexos
devem ser "digeridos" seja por um trabalho intelectual enérgico e discussões consigo mesmo
(autoanálise) seja, o que seria preferível - por ações. A energia psíquica não "digerida" causa as
neuroses e psicoses reativas, por vias tortas e laterais.
Convém aqui lembrar como lema uma frase de GOETHE (Wilhelin Meister), fruto de
experiência: "Os sofrimentos da alma causados pelo infortúnio ou a própria culpa não se curam
pelo raciocínio, um pouco porém pela razão, muito com o tempo e totalmente pela atividade
resoluta".
CAUSALIDADE PSÍQUICA
Não nos devemos dar por satisfeitos ao descobrir um complexo na base de uma neurose, o
motivo de uma vivência como fonte de uma ação. Ouve-se freqüentemente perguntas como
esta: "O homem coroado de sucesso escolheu sua carreira por ambição pessoal, por sede de
lucro ou por amor ao bem comum?" Nestas perguntas as premissas são falsas, o que dita a
conduta do homem não é este ou aquele motivo, se não o conjunto deles, uma determinada
situação que difere somente no seu grau de intensidade. Tira-se uma con clusão errada de uma
pergunta mal formulada: "Provei que este homem agiu por ambição pessoal - logo não pode
ter o bem comum em mente".
Num grupo os motivos éticos de elevado valor se conscientizam mais, os motivos banais,
egoístas ou baixos, embora mais energéticos, são registrados fracamente e somente na esfera.
Os motivos impulsivos, elementares são rele gados em proveito de outros moralmente
superiores. Mas isto não nos autoriza a dizer: Isto é uma hipocrisia, o motivo ético não
interveio no início da ação, serviu apenas de embuste para os motivos egoístas e impulsivos.
Isto quer dizer apenas: nesta ação entraram uma série de motivos de forças diversas, sendo
Acrescenta-se a isto outro fator análogo nas relações recíprocas entre a vontade e o reflexo. Se
tratamos de reforçar em plena consciência por meios volitivos um reflexo em via de execução,
geralmente não conseguiremos violen tar ou acelerá-lo. Mas, o reflexo e o impulso volitivo se
fundem logo que este se aplica casual e difusamente obtendo-se assim uma risada por
exemplo, uma tosse ou um tremor. Coisa parecida acontece com os motivos. Se o homem bem
intencionado chegasse à conclusão que ele faz isto ou aquilo por: a) ambi ção; b) para ganhar
dinheiro; c) por patriotismo, estes três motivos dificil mente entrariam em fusão com uma
força impulsora homogênea das suas ati vidades. Quer dizer: os impulsos heterogêneos
solidarizam-se com grande dificuldade à luz clara da consciência e em troca podem fazê-lo com
maior facilidade quanto mais distante se encontram do foco da mesma; de modo que a fusão
de impulsos é, antes de tudo, uma função esférica.
1. A maioria das reações psíquicas não obedecem a um só motivo mas a um feixe deles com
maior número de componentes do que pensamos.
2. Num feixe de motivos o impulso ético de mais valor tende a dominar a consciência, o
elementar-impulsivo tende a dominar dinamicamente.
3. A fusão dos impulsos é uma função preponderadamente esférica. Quanto mais afastada do
foco da consciência tanto mais fácil a fusão de impulsos
heterogêneos.
1. o menino tinha ido à cidade e num albergue um cachorro saltou por detras do fogão
mordendo-o; 2. Sua futura madrasta que morava nessa época na casa do pai, tratava da sua
ferida durnte 4 semanas. O menino apaixonou-se por ela propondo-lhe de desistir do
casamento e esperar seis anos para casar com ele. 3. Quando ela recusou seu desejo de ter
relações sexuais com ela, fazendo pouco dele e chamando-o de "gorducho" ele ficou renitente
e lhe fez oposição porque ela queria roubar-lhe a situação previlegiada que ocupava em casa
diminuindo ainda a herança que teria que receber. Foi queixar-se ao pai. Mesmo assim o
casamento se realizou poucas semanas antes de rebentar sua neurose. 4. Come tera alguns
furtos e tinha medo do castigo.
nolurna neurótica as componentes nergéticas dessas duas fontes afetivas e separadas se unem
numa só resultante e num só ato afetivo neurótico cuja emoção sustentadora resulta numa
mistura de medo e raiva homogênea pela qual o indivíduo tenta conseguir ambos os fins:
apaziguar seu medo e destruir ao mesmo tempo a felicidade conjugal da madrasta. Podemos
provar neste ato 2 ou 3 complexos: o medo do cão na alucinação e a raiva contra os pais nas
suas reclamações diante da porta fechada enquanto que do medo do furto sabemos apenas
que ele existia naquela época, contribuindo para o desiquilíbrio afetivo. Temos assim um
exemplo típico de como motivos (não somente neuróticos) convergem nas obscuras
profundidades esféricas da consciência embora se alimentem das origens as mais diversas.
Quais são os grupos de vivência cuja ação se manifesta com mais força no domínio psíquico ou
quais os grupos que dão com maior facilidade origem a neuroses e psicoses reativas? A
experiência clínica nos dá uma resposta inequívoca. As vivências mais fortes são sempre
aquelas com o impulso ele mentar. Não devemos equiparar o termo "elementar" a "biológico",
ou "não diferenciado", pois ele significa "humanamente relevante". Alturas e profun dezas são
em última análise a mesma coisa como GOETHE e outros já o sabiam. Isto se evidencia pelas
imagens histéricas, paranóicas, e neuróticos obsessivos como outras neuroses e a
esquizofrenia.
A estatística dos motivos demonstram que a religião não fica nada a dever ao "Eros" em
importância subjetiva ou patogênica. A relegação a um segundo plano das necessidades
básicas religiosas faz com que atribuamos maior valor ao impulso sexual como motivo de
conflitos. Pode dizer-se que exceção feita às neuroses de guerra, acidentes infantis, a maioria
dos transtornos psíquicos e reativos têm por base exclusiva ou parcial complexos sexuais.
(Representa ções afetivas fortes relacionadas com o ato sexual, masturbação, impotência,
perversão, abstinência, coitus interruptus, medo de gravidez e contágio assim como cada
forma de escrúpulos sexuais morais amor infeliz, adultério, brigas, ciúmes e inveja até às
disarmonias psíquicas complexas que têm sua raiz no instinto sexual).
A ameaça que afetam os instintos de conserva çao desencadeiam vivências patogênicas nos
quadros de terror agudo próprios das neuroses de guerra ou acidentes catastróficos. Em
segundo lugar o medo de perder a vida ou a saúde traz consigo uma verdadeira avalanche de
complexos hipocondríacos que afetam durante anos inteiros como um pesadelo a
personalidade total e que podem paralisar a capacidade de trabalho e a alegria de viver. Em
face destes parasitos psíquicos maldosos o médico assume uma grande responsabilidade, pois
basta
às vezes uma palavra sua para anular ou mobilizar os mesmos. Freqüentemente as reações de
terror como as de hipocondria são "sobredetermina No seu feixe causal escondem-se atrás do
medo da morte complexos sexuais, contrárie dades profissionais ou desejo de dinheiro, etc. Há
os que se tornam hipocon dríacos pelo simples desejo de conseguir uma indenização ou uma
pensão ou que foram preteridos em suas carreiras ou por causa de escrúpulos sexuais ligados
ao onanismo ou doenças venéreas.
As reações de terror são as mais contrastantes. Uma coisa sem importância, um ratinho que
pula basta para impressionar profundamente algumas pessoas que do contrário permanecem
quase impassíveis perante um perigo de vida que as ameaça.
"Uma senhora (JuNo 1918) que durante a revolução atravessava em São Petersburgo as ruas
entre uma saraivada de balas impavidamente, volta acompanhada para casa depois de uma
festa. Uma carruagem que passa com bastante velocidade a assusta. Perdendo a cabeça ela
corre na frente dos cavalos até cair exausta sendo levada de volta à casa do seu anfitrião numa
reação histérica de longa duração".
A análise revela o seguinte: 1. sofrera em criança um acidente quase mortal com um coche que
caiu num rio. 2. sentia um amor oculto pelo anfitrião que nessa mesma noite lhe faz uma
apaixonada declaração de amor. Estamos novamente em frente a um feixe causal feito de
complexos de origem completamente heterogêneos. Velhas reminiscências de pavor - novas
perspe tivas de amor. Estes se encontram na esfera da consciência. A nova experiência que a
assustou cai como um grão maduro em solo fértil. Um pequeno empurrão apenas e tudo se
converte em cristal. Tais situações psíquicas preparadas cha mam-se "constelações". As reações
de susto e medo que no seu início e na sua intensidade dependem muito das constelações
esféricas. Mesmo complexos com pletamente heterogêneos, que nada têm de comum com o
pavor, podem servir de constelação, como no exemplo anterior, visto que os impulsos entram
em fusão na região da esfera. Vejamos um exemplo:
"Presenciei um caso semelhante de terror absurdo provocado por cavalos, numa moça
madura, cuja irmã menor acabava de noivar enquanto que ela sobrava para tia. Assustou-se
com uma carroça que passava não podendo, em seguida, nem ficar de pé, nem andar,
tornando-se o centro de atenção da família que cuidava dela com desvelo."
A inveja, o desejo de amor e de uma vida melhor "constelaram" o terror. De maneira análoga,
atrás de absurdas representações angustiantes e fobias, temores obsessivos da morte de entes
queridos, do assassinato dos próprios filhos, ou atrás de ridículos acessos de temor ao ver um
ratinho, pássaros que batem as asas, cobras, etc. escondem-se muitas vezes fatores
heterogêneos um ódio reprimido, antigos complexos sexuais e outros análogos.
O instinto do bem-estar material ou seja a preocupação pelas necessidades materiais constitui
um dos motivos principais em grande número de neuroses menos graves como o sabem todos
os médicos que já trataram de assuntos de indenizações em acidentes de trabalho. Enquanto
os instintos materiais das massas apresentam a tonalidade da penúria e da inveja
(ressentimentos) na medida em que domina a neurose de aposentadoria, este mesmo instinto
se apresenta na classe reinante como luta pelo poder. Assim encontarremos outra espécie de
neurose, a ' o esgotamento nervoso pelo excesso de
Visto que estes 3 grupos, principais: instinto sexual, conservação e nutrição constituem por sua
força e freqüência a maioria dos fatores determinantes de vivências, e por conseguinte das
neuroses, não devemos deixar de lado outros grupos pequenos de experiências internas
importantes, que não têm sua origem nos próprios instintos, mas sim nas constelações sociais
e sentimentos éticos ou seja de comunidade e de defesa própria.
A experiência do isolamento, da solidão psíquica produz impressões pro fundas das mais
variadas formas. O curioso grupo de reações nostálgicas das jovens, que causam típicos atos de
curto circuito, mas que se resolvem com freqüência em contrariedades psíquicas passageiras
cru forma de depressões reativas e moléstias nervosas de ordem geral. Existem as reações
carcereiras que se observam em casos de detenção preventiva, isolamento celular ou prisão
correcional prolongada e que assumem a forma de explosões afetivas agudas, esquizofrenia
reativa, ou formas delirantes catatímicas (delírio de indulto) que se traduzem por idéias de
contradição ou de perseguição. São também peculiares as transformações que a cegueira
adquirida causam na personalidade. Elas se exteriorizam uma vez em desinibição instintiva
compensada (erotismo exaltado, alegria exagerada de viver) e outra vez num regosijo
catatimico silencioso, mas antes de tudo por uma sensibilidade aumentada e desconfiada em
cujo fundo se desenvolvem perturbações psíquicas paranóicas. A surdez age como fenômeno
crônico ambiental mas notória, visto que isolamento do indivíduo e a impossi. bilidade de uma
comunicação fácil com o mundo exterior criam um estado psíquico que se carateriza pela
irritabilidade e desconfiança, podendo degenerar em delírio angustiante de perseguição.
Psicologicamente aparentada é a trans ferência para um meio estrangeiro que desencadeou
em pessoas primitivas reações delirantes de angústia, como aconteceu entre soldados na
frente oriental durante a guerra. (ALLERS, 1920).
A morte de entes queridos é a experiência que mais se aproxima do isolamento. Causa nos
ciclotímicos depressões reativas de manias esquisitas. Nos psicopatas esquizóides e
esquizofrênicos latentes este acontecimento se reflete de um modo curioso, especialmente
quando existem ainda na puberdade e pós-puberdade ligações infantis fortes com a mãe. A
morte da mãe desencadeia nestes casos uma catástrofe esquizofrênica aguda. A impressão de
estar repen tinamente desprotegido provoca um delírio sensitivo de referência. A mãe ou a
irmã formaram o último laço entre o solitário com o ambiente. Depois da sua morte irrompe
num contraste evidente um ódio frio e incompreensível contra os demais membros da família.
Um homem, no seu isolamento, poderá encontrar numa mulher madura, a mãe e a amante ao
mesmo tempo, o que produz curiosas oscilações afetivas.
tura ou mesmo justa podem provocar graves reações afetivas estados nervosos, e atitudes
paranóicas que podem chegar até o delírio da perseguição. Conflittos crônicos com superiores
hierárquicos ou subordinados revoltosos podem ter conseqüências psicológicas graves.
Entendemos por ressentimento (NIETZSCHE, 1887) a atitude afetiva com. plexa do homem que
se sente justa ou injustamente prejudicado pela vida. Deles emanam os sentimentos de inveja
ou ódio numa patente atitude de inferioridade. Um sentimento que rói o indivíduo sem cessar,
uma revolta íntima, enfim, a atitude típica do indivíduo fraco contra o forte, do pobre contra o
rico, do feio contra o belo, do doente e acabado contra o jovem robusto. Forma-se ao mesmo
tempo uma tendência de revalorização catatímica que deseja dar ao fraco e pobre um valor
ético mais elevado. O ressentimento é a fonte dos impulsos éticos ideais e dos mais abjetos
segundo o ponto de vista adotado. Aceitamo-lo aqui como fenômeno psíquico. A rebelião de
grande número de fracos contra o grupo pequeno dos seus opressores, contra a desalmada
exploração daqueles que detêm fortuna e poder e uma superioridade intelectual a custo dos
vencidos na luta pela vida formou com o tempo grande parte da moral dos povos civilizados.
Homens bem dotados que sofreram, padecendo pobreza e doença, ou que foram dotados de
uma sensibilidade psíqui ca excessiva exprimiram a pena que sentiram pelos seus semelhantes
em termos capazes de inaugurar uma época nova. Todos os revolucionários sociais vivem do
ressentimento construindo nele suas utopias. Em certas fases da evolução histórica, o
ressentimento e a compaixão levaram a uma revisão da escala normal de valores morais, e a
uma predileção ética tendenciosa, falsa e perversa pelos pobres de espírito, os famintos e
indefesos, os mendigos e enfermos, pelos farrapos e a pestilência e com isto ao menosprezo do
trabalho robusto, estimu lando o parasitismo social até o ponto de causar as piores
calamidades como aconteceu no declínio da Idade Média. Este antagonismo entre a moral
senho rial e da escravatura, entre individualismo e comunismo faz-se sentir hoje ainda de
modo profundo nas questões médico-sociais, na jurisprudência social, na previdência juvenil e
dos psicopatas.
A psicologia das neuroses oferece em algumas das suas partes um reflexo interessante desta
luta pelo poder entre vencedores e vencidos (ADLER 1912). Muitas das manifestações
histéricas não são outra coisa se não neurose finalis tas ou de defesa, meios pequenos e muitas
vezes eficazes com os quais indivíduos nervosos e mal preparados se lançam na luta para
alcançar as alturas e vencer
a sagacidde e o poder dos sãos e fortes. Citamos como experiência das massas as neuroses de
guerra e catástrofes mediante as quais muitos indivíduos psiqui camente inferiores
conseguiram recorrer a certos sintomas histéricos, impressio nantes, mas de pouca
profundidade, enganando assim os inteligentes, apelando para a compaixão e proteção
conseguindo até vantagens consideráveis sobre as pessoas normais e sãs. Demos o exemplo da
mulher madura que em conse qüência de uma reação de pavor melhorou sensivelmente sua
posição, inverten do-a por completo.
Nestas condições neuróticas familiares encontra-se às vezes uma espécie de justiça niveladora
ao lado da ironia mais amarga. A maneira pela qual a criança histérica tiraniza seus pais com
convulsões terríveis e acessos de raiva ou como a esposa fria e sensual transforma seu marido
em escravo com seus "ataques" e desmaios oportunos, evidenciam-se o ressentimento e a luta
pelo poder. A neurose histérica freqüentemente não é outra coisa do que esta mesma luta com
recursos diferentes. Em muitos casos trata-se apenas de um cálculo frio. Estes sentimentos de
ressentimento se escondem no fundo psíquico esférica e difusamente e as reações neuróticas
são apenas instintivas ou semi-instintivas como as de defesa e fuga de animais perseguidos.
Somente o sorriso significativo que ilumina sem querer o rosto de tantos histéricos durante as
suas exibições, denuncia a satisfação secreta que proporciona ao débil sua vitória sobre o mais
forte.
"Uma solteirona velha, muito feia e de corpo deformado sorria com uma doçura cômica na sua
psicose esquizofrênica para perguntar a todo mundo:
"Meu rosto não é encantador?"
Atrás dos alardes dos jovens que fumam, cospem, e ostentam sua musculatura se esconde o
sentimento inconfessado da sua maturidade incompleta e as jatâncias ridículas do "novo rico"
são apenas testemunho da sua falta de segurança interna ao tratar com pessoas distintas. A
ausência. e a ânsia do valor próprio (STokcn, 1918) determinam muitos dos rasgos equívocos,
exage rados e caricatos que integram o caráter de alguns histéricos degenerados, e psicopatas
esquizóides e anestésicos: a procura de uma fachada imponente, onde porém faltam
intimamente os tijolos, a luta ora ridícula" ora trágica para conseguir com meios falsos, efeitos
verdadeiros. Bancando o intelectual de coração vazio, mostrando sentimentos humanos cheios
de calor quando já morreu qualquer ressonância interna.
seu sistema nervoso semi-quebrantado e frágil se encontrar numa luta persistente contra os
embates da vida.
Assim levanta-se, no correr da vida, sobre a base dos instintos e dos temperamentos, um
edifício de compensação, subterfúgios, inibições, e dissimulações. Como imagem fictícia-piloto
da própria personalidade surge uma imagem ideal do EU que mostra como cada um queria ser,
e ser visto pelos outros. Estas normas fitícias resultam de uma tentativa de adaptação ao
ambiente e sob a pressão oportuna de certas experiências psíquicas, a evolução do caráter
pode ser torcida e desviada em diversas direções. O "EU ideal" repercute em alto grau sobre as
reações primitivas possíveis da personalidade. Assim por exemplo, um indivíduo nervoso,
devido às correntes diferentes da época, de certos ideais, de fatores educativos pode ádaptar
uma vez a norma falsa do dominador, outra vez a do mártir sofredor, ou do estóico
imperturbável ajustando-se às diversas formas reacionárias, sem entretanto mudar de
temperamento. Os histéricos degenerados trocam seu EU ideal por mero capricho como se se
tratasse de um personagem teatral. Nos outros, estas representações se fazem aos pulos,
aparentemente de modo incompreensível, mas significativo por dentro como no caso de
algumas conversões (ToLsToI). Um olho experimentado diferencia bem através do EU ideal
fitício, os fundamentos instintivos e temperamentais, pois existem papéis somente compatíveis
com determinados temperamentos, e cada um deles imprime ao mesmo personagem uma
tonalidade diferente e característica.
13º. CAPÍTULO
AS REAÇÕES PRIMITIVAS
As Reações Primitivas
Qualificamos de primitivas as reações nas quais o estímulo produzido por uma experiência
interna não passa por todas as fases íntermediárias de uma personalidade totalmente
desenvolvida, mas que se manifesta diretamente por atos impulsivos instantâneos ou por
processos psíquicos profundos, como as reações das camadas hipobúlicas o uhiponóicas, que
observamos preferencial- mente em homens primitivos, crianças e animais. Por isto
englobamo-los no termo de reações primitivas. No homem civilizado adulto elas se originam
de duas maneiras: uma impressão excessivamente forte de vivência subjuga a personalidade
superior, fazendo com que as camadas mais profundas da psique venham à tona em forma
suplementar ou trata-se de reações primitivas em indivíduos de evolução psíquica retardada,
personalidades infantis, débeis mentais, psi e hipobúlicos ou traumatismos cranianos, excesso
de álcool, esquizofrenia latente. Nestes casos a impressão recebida não precisa ser extre
mamente forte. A resposta aos estímulos comuns costuma ser primitiva nestes indivíduos, por
exemplo, explosões afetivas, atos em curto-circuito, e descargas histéricas. Falamos então de
"Epilepsia afetiva", distúrbio impulsivo, psicopatas instáveis. Atrás desta palavra chave
escondem-se as diversas origens biológicas dessas personalidades: hereditários intra-uterinos,
de aquisição tardia, traumá ticos, infecciosos e tóxicos.
Destacamos aqui somente os mecanismos psicológicos comuns a todos estes quadros tão
variados, reduzindo-os a alguns tipos simples.
REAÇÕES EXPLOSIVAS
Falamos de reação explosiva sempre que afetos fortes se descarregam de uni modo elementar
sem reflexão controlada. A pressão psíquica, grande demais se descarrega, como uma
tempestade, numa crise aguda, seja ela útil ou não. Um caso típico é o que queremos chamar
de "exp1os carcereira" que se dá nos presos em determinada ocasião ou em conseqüência de
rancores acumulados, provocando algazarra, soltando impropérios ou destruindo tudo.
Explosões semelhantes puderam notar-se durante a guerra quando um regimento embarcava
para a frente de batalha quando uma palavra incauta de um superior fazia explodir a tensão
afetiva reinante. Certas pessoas estão sujeitas a essa diatese sob influência do álcool quando
cometem num estado de embriaguez patológica atos de vandalismo, ofensas, insultos, brigas e
estragos dos quais mais tarde não se lembram mais e que são até incompreensíveis para eles e
contrários ao seu caráter. Estes estados crepusculares-afetivos provocados ou não pelo álcool,
constituem estados excepcionais circunscritos, com pertur bações da consciência e formação
ulterior de ilha samnésicas, o que revela sua afinidade com as do grupo hipobúlico e hiponóico.
Em geral, é caraterístico de numerosos mecanismos psíquicos profundos, manifestar-se
regularmente quando está eliminada ou diminuída a consciência, ou seja a função da
personalidade superior (sonho, hipnose, estados crepusculares). Existe um estreito parentesco
biológico com estas crises afetivas explosivas e certas formas de acessos convulsivos motores
que são em parte "afetivo-epiléticos ou histéricos". Ambos são "mecanismos de escape" que
descarregam o excesso de pressões intra-psíquicas. Também em casos isolados as duas formas
de descarga niotora se confundem sendo que a raiva e os golpes se convertem gradativamente
em convulsões e os movimentos convulsivos tomam aos poucos um caráter de
Atos em Curto-Circuito l9
expressão afetiva. O mesmo processo se parece desenrolar numa camada superior ou inferior.
Às vezes a "fuga cega" substitui como expressão motora as cenas de convulsões ou injúrias. A
pessoa atingida se lembra ainda que se encolerizou, perde a memória e fica surpreso ao
encontrar-se depois num lugar desconhecido.
Nas reações explosivas não nos devemos dar por satisfeitos com a constatação de um fator
diretamente provocante. Estas descargas são prove nientes de tensões de longa data e de
constelações psíquicas. O episódio recente provocador da descarga é apenas a última gota que
faz transbordar o copo.
Explosões semelhantes como raiva e desgosto, são provocadas pelo medo. Em doentes
melancólicos ele foi descrito como "raptus melancholicus". A angústia e o desespero levados
ao extremo pode mocasionar não só o suicídio mas também atos de grande violência,
sobretudo a morte da própria família no sentido de um suicídio ampliada
ATOS EM CURTO-CIRCUITO
"Uma jovem camponesa de constituição fraca, suave e tímida vem a cidade para ocupar seu
primeiro emprego. Durante a primeira fase ela se sente doentia e fraca mas não st queixa.
Numa bela manhã a casa é consumida pelo fogo e os filhos do seu patrão são encontrados
assassinados. No tribunal apresenta-se o seguinte drama: A menina sentia terríveis saudades e
se achava esgotada. Tudo lhe era estranho. Não sabia o que fazer e nem se comunicava com
ninguém. Se nem a casa nem as crianças existissem ela poderia voltar para casa. Não se sabe
se ela meditara sobre esta idéia, ou não. Sentia uma pressão irresistível de voltar para casa.
Uma manhã ela se sente tonta. Não sabe o que lhe acontece. Quando o fogo começa a crepitar
na escada ela se sente mais calma, O crime se desenrola numa seqüência e naturalidade
espantosa, diante do qual a moça não tenta nenhuma explicação. Ouvimos o relato seguinte
(JASPERS 1909). "As saudades de casa que se iniciou com o novo emprego chegou ao seu auge
no quatro dia quando lhe veio a idéia de pôr fogo na casa. Ela sabia como proceder sem pensar
em outra coisa. Dominada pela ânsia ela não sabia o que fazer. A idéia não a abandona mais.
Decorrido três horas ela realiza seu plano. Quando jogava o carvão em brasa "na palha" ela
pensava: "Deixa o fogo ardes em último caso isto não tem a mínima importância".
Tais atos em curto-circuito podem dar-se num estado de exceção ilhado com tendência para
perturbação da consciência ou podem desenrolar-se como atos normais executados com
habilidade e cuidado com lucidez absoluta. Em ambos os casos a ação em curto-circuito se
caracteriza pela frase no protocolo:
"Sem pensar em mais nada". O ato e o impulso afetiva que o desencadeou forma um todo
racional e bem estruturado. Ele é porém dissociado da perso nalidade restante, e forma uma
peça a parte. Uma reação de nostalgia poderia passar-se na sua fase inicial como a aqui
descrita. Qualquer empregada em situação semelhante poderia ter a mesma reação: "Não
aguento mais, preciso voltar para casa custe o que custar, se a casa se consumisse em chamas e
as crianças estivessem mortas, eu poderia voltar para casa. Até aqui a energia afetiva segue o
mesmo caminho. Numa empregada normal ela seguiria uma
rota torta e complicada passando por todas as interpolações constituídas por sentimentos e
reflexões da personalidade total: a compaixão pelos patrões, e pelas crianças, a consideração
pelos pais, o medo da prisão e do castigo, a consciência religiosa, etc. Depois de intercaladas
todas estas imagens, o impulso para a inocência e o infanticídio não chegaria até a execução.
Uma dúzia de contra-impúlsos entraria em ação e o impulso morreria por causa dos mil
obstáculos encontrádos e a reação motora seria simplesmente a seguinte: a menina choraria
copiosamente ou aliviaria seu coração junto aos patrões e na pior das hipóteses ela fugiria ou
abandonaria o emprego. O caraterístico no caso da nossa moça incendiária é que o impulso
provocado pelas saudades não passou pelo filtro da personalidade total mas bateu em cheio
no sistema psico motor determinando o ato mais imediato com seu sentimento nostálgico e
menos em harmonia com sua personalidade total e é a isto que chamamos de curto-circuito.
A "reação da nostalgia" sob forma de incêndio e infanticídio foi antiga mente um síndrome
típico entre moças de 14 a 17 anos. Tratava-se de criaturas infantis e fracas com o
desenvolvimento da puberdade atrasado onde a reação nostálgica se deve à fixação psíquica
aos pais. Nos seus hábitos mansos, tímidos e autistas, tais moças apresentam às vezes traços
esquizóides típicos.
Um ato em curto-circuito análogo foi observado num jovem comerciante homossexual ao qual
o pai proibira de voltar a casa depois de uma discussão a respeito da sua conduta sexual.
Tomado de raiva súbita ele pôs fogo na casa paterna, refugiou-se no telhado cantando uma
área de ópera num tom de falsete feminino pondo fim, numa atitude romântica à sua vida
infortunada,
Na raiz dos atos em curto-circuito encontramos em raras vezes o instinto sexual. O duplo
suicídio de amantes infelizes é um motivo típico, não só na poesia como também na vida real.
Fica-se admirado da facilidade com que o amor que não encontra solução favorável se inclina
para o suicídio mesmo em naturezas banais sem tendências heróicas. O binômio Amor-Morte
surge com uma regularidade estranha nas pessoas mais diferenciadas tanto como medo ou
como impulso sem nexo nenhum. Na canção popular isto se tornou um tema preferido
indicando de forma inequívoca a antiga anastomose afetiva mas também as ligações simbólicas
entre Amor e Angústia.
O período da puberdade com seus desiquilíbrios psíquicos, seus estados afetivos extremos,
hipertensos, predispõe muito a atos em curto-circuito e antes de tudo ao suicídio. As criadas
jovens e as colegiais nos oferecem nume rosos exemplos. Entre as causas principais ocupam o
primeiro lugar: amor infeliz, a nostalgia, medo de professores e exames ou o pressentimento
de uma esquizofrenia iminente.
'Um recruta simplório sofre sob os modos rudes do seu sargento. Voltando de uma
licença para o quartel ele desembarca dotre m numa estação qualquer, e sem despir o
uniforme se emprega numa fazenda para o corte do feno. Deixa de pensar na tropa e
despreza qualquer medida de precaução, sendo encontrado somente alguns meses depois.
qualquer, de improviso, que não tem explicação, nem na personalidade daquele que a comete
e sem pressão de uma situação oprimente.
Um estudante remediado segue com uma formação voluntária para a zona de revolução sendo
alojado por alguns dias na casa de pessoas bondosas. Antes de voltar para a universidade
folheia alguns livros de interesse escasso. Sem pedir licença ele os leva consigo, e sem abri-los
ele os deixa embrulhados para em seguida rasgá-los e enterrá-los, com o sentimento de ter
cometido algo de reprovável.
Aqui falta o impulso afetivo forte. Por alguns marcos ele poderia ter adquirido os livros. Não
encontramos outra coisa senão a "irresistência diante de um impulso instantâneo e fugaz, uma
separação completa deste ato isolado da tendência da personalidade total. Estes atos
pertencem muitas vezes ao círculo esquizofrênico mais amplo. Muitos são sintomas iniciais de
uma esquizofrenia incipiente, ou sinais de um defeito esquizóide. Crimes hediondos e
assassinatos podem ser cometidos sob o impulso do momento. Às vezes encontramos atrás
disto uma decadência sifilis-paralítica ou senil. Os atos em curto-circuito com afeto escasso,
deixam suspeitar um grave processo de desintegração ou dissociação da personalidade.
Existem porém grupos de atos em curto-circuito que atrás de uma aparente fraqueza de
motivos ocultam poderosos motivos de impulsos afetivos. Estes provêm de fortes
componentes perversos irrefreáveis da personalidade ou de complexos antigos. A esta classe
pertencem numerosos casos de caprichos, gostos de caráter obsessivo, aparentemente
inexplicáveis como: a cleptomania, (furto impulsivo) de assassinatos e crueldades sem par. Os
furtos clandestinos em lojas comerciais executada por damas da sociedade se revelam como
uma simples perversão sexual onde o material (seda, veludo) têm por elas esta tonalidade e o
furto sigiloso deste gênero de produtos lhes produz a máxima excitação sexual. Para o furto
simbólico do qual citamos um exemplo, refe rimo-nos à parte anterior do livro. Muitos
assassinatos de grande crueldade não passam de atos sádicos, dos quais encontramos muitos
exemplos na história. Também o impulso incendiário pode se relacionar com a excitação
sexual. Mesmo assim, desconhecemos o mecanismo psicológico de muitos atos impulsivos já
que uma grande parte não provém de constelações psicológicas exteriorizadas mas de distim
ias endógenas periódicas, por exemplo.
É um prerrogativo dos animais vencidos numa luta, de crianças e pessoas não suficientemente
desenvolvidos de evitar situações penosas ou provocar situações agradáveis por meio de
simula çao do estado psico-físico, fingindo-se de doentes, feridas, loucas ou mortas ou
tomando ares infantis, conseguindo assim aquilo que desejam. Muitos destes atos de
fingimento e simulação têm em si algo de instintivo. Outros são executados propositalmente
mas em geral por pessoas psiquicamente pouco evoluídas, de tipo infantil, de sistema nervoso
abalado, imbecis e sofrendo de defeitos éticos. Isto se aplica a situações comuns, mas também
pessoas bem desenvolvidas e dotadas de firmeza de caráter podem reagir com mecanismos
primitivos e tendências de simulação quando sujeitos a problemas afetivos. Observadores
agudos constataram durante a 1.a guerra mundial (WETZEL, 1921) que em casos de sustos
agudos ou de morte
Este recalque deve ser tomado como um fenômeno de simulação do meca nismo psíquico com
o qual se parece. O recalque é a simula çuío diante da própria pessoa. Por isto encontramo-lo
com tanta freqüência numa ligação funcional íntima dos quadros neuróticos. Entendemos sob
recalque o afasta mento de fatos desagradáveis ou ambivalentes do campo visual da
consciência na sua esfera, uma política de avestruz face aos próprios processos psíquicos. Das
vivências recalcadas surgem preferencialmente os complexos esféricos que alimentam os
mecanismos hipobúlicos e hiponóicos e a disposição para a simulação, sendo que assim o
recalque e a simulação agem de mãos dadas. Aquilo que vulgarmente se chama de histeria
representa um emaranhado de recalque-simulação e mecanismos hipobúlicos e hipnóicos.
Devemos porém notar que nem todos os histéricos recalcam seus complexos. Em muitos deles,
eles se tornam conscientes ou ao menos levemente conscientes. A transnlutação dos
complexos em sintomas histéricos visíveis pode processar-se esfericamente ou
conscientemente sem que os quadros resultantes se modificassem essencial- mente. Na
histeria encontramos por conseguinte todas as combinações entre os efeitos esféricos e
conscientes dos complexos.
Pode acontecer que uma grande multidão de pessoas experimente simul taneamente uma
catástrofe, um terremoto por exemplo (STIERLIN, 1909). Um considerável número de
sobreviventes acusam sinais de um choque afetivo em forma de mecanismos hiperbúlicos e
hipnóicos (estados crepusculares, pesadelos, estupor quase catatônico, sintomas de pânico,
etc.) e sinais de excitação do aparelho-reflexo (tremores, tiques, convulsões, transtornos do
sistema cárdio .vascular). Sabe-se que todo estado afetivo agudo o ucrônico repercute direta
mente, por via reflexa, no funcionamento dos órgãos somáticos e com intensidade especial nos
sistemas cárdio-vascular e digestivo, nas funções de secreção e nas tróficas. Decorridos uma
hora ou vários dias as pessoas que apresentam tais
196
As Reaç5es Primitivas
os que não têm seguro de espécie alguma se mantêm calmos, enquanto os que esperam uma
indenização de qualquer espécie mantêm seus temores e seus tiques durante semanas, até
anos a fio. Podemos somente falar de "histerismo" a partir do momento em que esta
componente teológica reforçadora e conser vadora começa a insinuar-se no curso puramente
automático no princípio, dos processos psico-físicos. É somente neste momento que podemos
de fato falar de histeria. Somente neste momento a reação de pânico recentemente experi
mentada se torna histérica.
Deste modo qualquer processo espontâneo-corporal ou psíquico pode "tornar-se histérico"
(histerizar-se). Uma pessoa sofre de um ligeiro reumatismo, de uma laringite ou outra moléstia
ou qualquer mal psíquico justificado. Quando na época em que estes transtornos entram em
sua fase de recuperação, um estímulo intervém e se essa pessoa deseja que os transtornos
continuem, pode acontecer que o processo de cura se atrase fortemente ou não se realize.
Sem motivo aparente a tosse, a dor, o mancar da perna continuam, e se tornam até mais
intensos. Quando no correr de uma sessão terapêutica desejamos eliminar um tique, um ponto
doido o uuin leve embaraço no andar, desenca deiam-se correntes contrárias fortes e
negativismos elementares, eventualmente provocados pela sugestão. Os motivos desejados,
finalistas ou defensivos podem ser os mais variados: obter uma pensão, livrar-se de um
casamento infeliz, inspirar cuidados, amor ou compaixão ou apenas fazer-se admirar,
representar um papel importante, exprimir um protesto ou um motivo de repulsa, etc. Existem
hoje e mdia motivos momentâneos banais ou os efeitos indiretos de antigos complexos.
Não são necessários choques afetivos agudos ou doenças para que se mani festem tais
tendências para a simulação, embora se utilizem motivos episódicos para este fim. Uma pessoa
de inferioride orgánica inata ou com uma disposi ção para um reflexo anormal pode reforçar ou
elaborar tendenciosamente seus estados afetivos para conseguir determinados fins sempre
que se encontre dominado por um desejo primitivo ou inclinado a defender-se de alguma
coisa. Em um indivíduo nervoso com seu sistema vasomotor-cerebral congonitamente instável
ou com ligeiro tremor costumeiro, estas leves disposições podem converter-se até chegar num
colapso histérico ou veementes tremores.
Como se processam estas transmutações misteriosas psicológicas pelos quais por exemplo a
ambição de uma aposentadoria, se converte em uma paralisia flácida ou aversão ao marido
num tique? Diferenciamos, segundo caso, as seguintes possibilidades que até podem combinar
entre si:
1. Simulação intencional
2. Histerismo acostumado
4. Dissociação hipobúlica-hipnóica.
No que concerne à primeira probabilidade devemos advertir que alguns psicopatas, em virtude
de certas predisposições de reflexos inatos e anormais, são capazes de manifestações que em
pessoas normais se subtraem ao domínio direto da vontade, assim como há pessoas que
vomitam, têm tremores ou desmaios, com uma facilidade espantosa. Devemos pensar bem
antes de afirmar que um determinado síndrome nao se pode originar por si mesmo.
O hdbito histérico obedece a leis psico-físicas fundamentais, que regem a vida normal e as
quais não prestamos os devidos cuidados. Nenhuma das nossas ações é executada do começo
ao fim com a vontade consciente, a vontade provoca além da imagem de um fim determinado
a formação de um "aparelho de circunstáncias" (BLEULER, 1969) que funciona
conscientemente, liberado apenas por um afeto de um modo exato e independente. Ao se usar
este aparelho de circunstâncias por mais tempo, ele se ajustará com o uso a uma fórmula
abreviada, "ajustando-se" e funcionando cada vez com uma perfeição maior, até que se
"emancipe da vontade" como um reflexo condicionado, agindo automaticamente funcionando
sem a vontade, como a nossa mão aciona durante o dia o interruptor da luz, ao abrir a porta.
Quer dizer que psiquicamente procedemos na maioria dos casos por impulsos não-
diferenciados, mas sujeitos a fórmulas de abrevia ça estereotipada, emancipada e semi-
automática.
Uma pessoa que sofre de um leve ataque de ciática adota uma determi nada atitude de defesa
contra a dor que, com o tempo, se converte em fórmulas estereotipadas. O desejo normal de
uma cura desliga este aparelho circunstan cial desde que se torna inútil, mas se o desejo faltar
e o doente cai numa atitude tendenciosa, não se preocupando com a cura, ou até deseja que
esta não se realize, o aparelho ocasional (o mancar de perna), continua ajustando e
emancipando-se automaticamente até o infinito, porque ninguém se interessa em desarmá-lo
dando-se então com tempo dissociações hipobúlicas.
O reforço voluntdrio de reflexos se torna possível com a ajuda de deter minadas medidas. Se,
no curso do reflexo com finalidade motora independente e precisa a vontade intervém, ela o
perturba ou até chega a aboli-lo, mas o reforça quando lhe faz chegar energia de uma forma
esférica e difusa. Pode mos assim voluntariamente aumentar um reflexo de tremor, se não
queremos imitar o movimento do tremor contraindo apenas o músculo trêmulo difusa- mente.
Outra forma de reforço voluntário de reflexos é a acumula ça afetiva técnica. O histérico
enriquece dia a dia sua afetividade, procura e aproveita até à mínima oportunidade a excitação
para, por meio dos estímulos afetivos seus mecanismos de reflexo, seu tremor, seus tiques,
suas palpitações cardíacas e sua disposição para a luta. Os modos de conservar ativos os
mecanismos auto máticos de natureza psíquica, sensitiva e motora, são múltiplos. A atenção
concentrada sobre dores faz com que estas aumentem, impedindo que elas desapareçam,
reduzindo-as a uma fórmula estereotipada. Os estados de mau humor e de excitação podem
ser artificialmente incentivados por meio da motricidade (correr de cá para lá, falar
impropérios, respirar forçadamente) até o aquecimento total e o desencadeamento de reações
explosivas, convulsões, estados crepusculares, etc.
Chama-se isto de "satura çã afetiva" o que se constata com bastante fre qüência em
prisioneiros e pessoas com defeitos neuro-morais, com ou sem
consumo de álcool.
14º. CAPÍTULO
REAÇÕES DA PERSONALIDADE
As reações primitivas escapam à censura total pela personalidade total, originando-se onde a
personalidade não se encontra bem acabada e plenamente desenvolvida. Não têm sua
aquiescência plena e pessoal, podem até contrariá-lo e separar-se como pequenas ilhas. As
reações primitivas são por isto e até certo ponto não específicas e possíveis em qualquer
personalidade, desde que as experiências psíquicas sejam bastante intensas e mostra muma
preferência específica para os tipos primitivos.
CUNHO AMBIENTAL
Não resta dúvida que certas profissões rigidamente organizada deixam seu cunho nos seus
componentes (oficial de exército ou sacerdote) cujo significado ultrapassa de muito, aquilo que
existe na sua disposição originária. Existem profissões e condições de vida que criam na sua
classe formas reacionárias típicas. Fala-se assim em psicoses de governantas (preceptoras). Um
ambiente humilhante cria uma auto-consciência rigidamente definida e em pessoas pre
destinadas uma contratensão quase insuportável que exigem apenas um pequeno motivo para
degenerar numa neurose. Assim criou-se nas preceptoras de certa idade, uma nervosidade
sensível e amargurada. Acrescentando a isto uma forte contrariedade ou um conflito ético
penoso, este estado de ânimo instável e explosivo dá origem a idéias delirantes mantidos com
conseqüência psico lógica. Nesta profissão encontramos mais do que em qualquer outra,
pessoas em constante alarme diante do mundo exterior, aos seus superiores e às autoridades
ao ponto se considerar sempre prejudicados, humilhados e esque cidos. Na profissão de
mestre-escola as aspirações ideais enérgicas contrastam tristemente com o conceito
humilhante que a sociedade faz dela, e por conse guinte as predisposições paranóicas
encontram um terreno propicio para desenvolver-se. Vemos, nesta profissão, mais do que em
qualquer o indi víduos num alarme constante e tenso em face do mundo exterior, aos seus
superiores, às Autoridades, sempre prontos a se sentirem preteridos, humilhados e enganados.
É evidente que no terreno desta diátese provocada pelo medo
se dão com facilidade muito maior, nervosidades crônicas graves, explosões afetivas anormais,
e paranóias. De uma forma análoga os ressentimentos da luta de classe nos operários
industriais se refletem na sua luta pelo seguro social, a indenização por acidentes de trabalho e
as neuroses derivadas destes acidentes.
Hoje em dia as influências do meio e seus efeitos doentios se destacam com menor nitidez
devido às flutuações da sociedade, embora elas não sejam menos agudas. As realizações que
podem ser medidas quantitativamente dentro de um espaço de tempo igualmente
mensurável, criam tensões contínuas no empenho da personalidade total. A pressão constante
exercida sobre a auto-consciência resultam especialmente do "encobrimento" das relações
humanas, como na complexidade incontrolável das organizações sociais e do controle indireto,
porém muito exato que aumenta ainda com a velocidade crescente do controle. Comparado
com a confrontação aberta e corajosa com o adversário de antigamente, ou da tarefa difícil,
destaca-se hoje em dia e cada vez mais a luta indireta e o "esquivamento". Isto se justifica com
a consideração para com os terceiros, embora o medo de uma situação embaraçosa, de perda
de dinheiro ou impedimento da escalação social, sejam os verdadeiros motivos. Neste
ambiente não se cria uma auto-consciência sã, mas sim a moleza e resis tência diminuída do
caráter. A educação idealiza as capacidades externas, a vantagem externa e a maleabilidade
rápida, deixando pouco ou nenhum espaço para o comunitarismo e os valores constantes.
Disto tudo resulta uma falta de consideração por parte do mais forte e insensível e uma
incerteza patogênica, uma super sensibilidade e vulnerabilidade por parte do mais fraco. De
acordo com a tendência do encobrimento desaparecem aos poucos as reações primitivas e
histéricas, e com elas o descarregamento imediato do peso.
No círculo vital das velhas solteironas combinam-se fatores biológicos particularmente intensos
e outros psicológicos exógenos de transformação. O celibato, a exclusão mais ou menos
voluntária das funções sexuais e de pro criação normais, favorece em certas personalidades
mudanças psíquicas, defor mações e distúrbios psíquicos reativos. Em outros tempos, quando
faltavam atividades profissionais para as mulheres, as solteironas eram eliminadas de uma
atividade proveitosa e condenadas na pior das hipóteses a uma vida miserável, indigente e
vazia entre as quatro paredes do seu quarto numa pequena cidade interioriana, o que, mutatis
mutandos ainda pode acontecer hoje em dia. Conhecemos o caráter de pedantismo, amargo,
beato que dali resulta. As pessoas dotadas de bons sentimentos traduzem seus desejos
eróticos normais numa inclinação a combinar casa no círculo da família, e as
menos resignadas começam a tecer intrigas e vão meter-se na vida alheia de um modo
malicioso e intrigante.
Por efeito de estímulos especiais se desenvolve com grande facilidade nas solteironas,
conversões histéricas, sintomas psicosomáticos, brigas e querelas por causa de supostos
pedidos em casamento, idéias neuróticas obsessivas ou paranóicas sensitivas baseadas em
escrúpulos morais ou em conflitos com o instinto sexual não extinguido ou formas catatímicas
de delírio amoroso curiosamente tranqüilas, como a espera constante de um homem que
amara na juventude ou de um homem amado e admirado a distância de quem ainda hoje
espera um pedido em casamento.
Como toda vida afetiva oscila entre os polos do EU e o mundo exterior, a situação subjetiva
imediata da nossa experiência interna adota assim mesmo uma disposição bipolar. Nossa
atitude psíquica frente ao mundo exterior se reduz a um jogo de forças, dentro do qual
experimentamos umas vezes sentimentos de superioridade, de esforço alegre, de dominação e
atividade e outras vezes de inferioridade, de desalento doloroso, de derrota e vergonha.
Qualificamos a primeira atitude de estênica e a segunda astênica. Segundo o temperamento, o
meio e a educação a atitude complexa de cada um frente à vida, se aproxima mais ao pólo
estênico ou ao astênico de modo que distinguimos de acordo com o tipo médio das reações da
personalidade entre caráteres com predomínio de uma ou de outra disposição. Já nas reações
primitivas se mostra esta orientação preponderante no sentid odo ataque ou da fuga. Nas
pessoas de tipo estênico os atos explosivos e de curto-circuitto se manifestam em geral em
forma de acessos de raiva agressiva e de violência, enquanto nos tipos astênicos eles criam
estados de angústia e desespero ou provocam uma fuga cega. A simulação histérica desenvolve
nos primeiros os instintos tirânicos do poder e nos segundos a "fuga na doença" com a
finalidade de fugir aos problemas que a vida apresenta.
Reações da Personalidade
A orientação estênica ou astênica das reações de cada indivíduo depende sem dúvida e
principalmente e assim também a capacidade de resistência do caráter, da disposição tem
peramentai. O hipomaníaco se inclina para a atitude estênica, ao prazer e à raiva, à confiança
ingênua em si mesmo e a um otimismo inabalável, estando tão seguro do seu valor e da sua
capacidade que chega a ser divertido ouvir suas opiniões. O ciclotímico fleugmático ao
contrário tende ao desalento, à modéstia tímida, à falta de iniciativa e confiança em si mesmo
e trata de humilhar-se, atribuir-se a culpa caindo facilmente em reações depressivas. Também
nos temperamentos esquizóides a atitude perante a vida apresenta caraterísticos diferentes,
embora um tanto complexos para se explicar. Em geral muitos dos hiperestéticos delicados não
aguentam a intensidade média dos incidentes da vida comum, bastando um motivo banal ou
uma contrariedade insignificante para ferir-lhes a alma, sentindo-se profundamente atacados e
feridos. Por isto eles se inclinam a uma atitude astênica, aos sentimentos mais radicais de
insuficiência e formação de complexos penosos. Tratam de fugir da vida real refugiando-se no
reino da natureza inanimada ou de ideais e afeções alheios ao mundo. Criam numa
supercompensação um sentimento desproporcionado de amor próprio irritado e instável que a
cada instante ameaça em transformar-se numa derrota dolorosa. O efeito do estreitamento
autista por seu lado, pela psicoestesia que a ressondncia aio psíquica, a capacidade de
sintonizar com as vivências dos demais se extingue, subsistindo viva a ressona'ncia auto
psíquica, para os pensamentos e sentimentos próprios e semelhantes. Isto assume
freqüentemente formas realmente grotescas de presunção e endeusamento, de desprezo e
indiferença para com os outros, de sensações e ações estênicas extravagantes e
desconsideradas. Estas não provêm, como na atitude estênica do hipomaníaco, de uma
ingenuidade alegre e condescendente, mas surpreendem pela sua rudeza, seu fanatismo, sua
brutalidade e displicência. Por sua vez a atitude astênica do hiperestésico esquizotímico incorre
com facilidade num ressentimento nervoso cheio de amargura e desconfiança em oposição a
doce e benévola modéstia e a pusilaminidade do ciclo tímico indolente.
Além das atitudes este e astênicas existe uma terceira solução básica do problema: EU e o
mundo exterior que equivale, nem a uma vitória, nem a uma derrota se não um encolher sobre
si mesmo. Trata-se da atitude puramente autista de um coração que não quer compartilhar
suas alegrias e suas penas com ninguém. A psique se enclausura e se esconde para se
preservar das inclemências do ambiente e se entrega em plena vigília a sonhos agradáveis e
perspetivas encantadoras ou grandiosas sem luta e sem oposição. Ou então ela se atormenta
com quimeras da sua própria invenção. Isto é um privilégio dos esquizóides indolentes e pouco
impulsivos, na base de um temperamento integrado, em parte ao menos, pelas qualidades já
enumeradas.
O Desenvolvimento Expansivo
Não é preciso dizer que as reações, estênicas, astênicas e puramente autistas adaptadas aos
estímulos do meio se cruzam e acentuam em todos os sentidos possíveis. É sabido que os
pesados escrúpulos astênicos ao cabo de certo tempo e quando a tensão efetiva alcança certo
ponto, podem descarregar-se violentamente em atos ofensivos e que o hiperestésico delicado
se recolhe numa atitude de resignação autista pura.
"Uma jovem camponesa, rica, orgulhosa e fechada em si (VILLINGER, 1920) depois de ter
mantido relações com um prisioneiro de guerra russo, matou a criança recém-nascida e foi
presa. Em poucos dias ela transforma essa situação insuportável para seu orgulho e sua
natureza forte em orações noturnas que assume um caráter de luta até que seu corpo fosse
coberto de suor vendo em suas alucinações como o céu se abria para ela. Em seguida
recuperou a saúde, sua boa disposição e sua firmeza de caráter".
Designamos reações deste gênero com crises estênicas agudas; Elas são
raras, porque as naturezas fortes caem em tal estado excepcional somente sob
O DESENVOLVIMENTO EXPANSIVO
Na presença porém de uma ofensiva desmedida contra o mundo exterior devemos suspeitar
de uma hipercoznpensaçao, uma espinha astênica cravada na sensibilidade estênica.
"O professor Wagner (GAUPP, 1914) exteriormente um homem de excessivo amor próprio,
brutalmente depreciativo e desenhoso contra os outros, tramava durante muitos anos planos
de vigança terríveis contra o município de Muehlhausen de cujos habitantes supunha que
tivessem conspurcado seu nome por vis calúnias. Numa noite no ano de 1913 ele ataca o
lugarejo desprevenido armado até os dentes incendiando casas e matando a todos que
encontrava no seu caminho. Sentia-se uma espécie de Messias (como revelaram suas poesias
dramáticas) executor do castigo contra a torpeza do mundo, o superhomem perse guido. A
análise psicológica revelou que cometera em 1901 neste mesmo lugarejo um ato de sodomia
do qual resultou um delírio de referência acompanhado de vivos remorsos. Imaginava que todo
mundo soubesse da sua falta, que falavam nas suas costas, tecendo comentários. Onde quer
que ele fosse os ataques maliciosos eram os mesmos provando assim que os habitantes de
Muehlhausen tinham já espalhado seus boatos até ali."
Trata-se, sem dúvida, de um caso típico. Havia na raiz mais profunda um complexo de derrota e
profundo sentimento de culpa. No decorrer de dezenas de anos criou-se dentro de sua
personalidade numa espécie de supercompensação toda uma rede de idéias de grandeza, de
ódio e de vingança, uma irritação sem limites do amor próprio e de uma atitude estênica feroz
frente à vida. Alguns delírios de ciúmes, brutais e perigosos, dos alcoólicos descansam
igualmente num sentimento latente de sua culpabilidade perante a mulher e de sua
impotência sexual. O mesmo se dá com a agressividade moral intolerante e fanática de alguns
fundadores de seitas e apóstolos da natureza derivada de escrúpulos estenicainente
hipercompensados, devido a um "pecado de juventude" (onanismo, etc.).
Em muitos casos basta a experiência da ofensa do próprio direito, sem sentimento pessoal de
culpa, para desencadear atos expansivos. A luta pelo direito não apresenta exemplo mais
comovente do que o da luta sangrenta e prolongada do comerciante berlinense Kohlhase
(Michael Kohlhaas da novela de KLEIST) travada de 1532 a 1540.
"Ao dirigir-se em outubro de 1532 à Feira de Leipzig, Kohlhase teve um desentendi mento com
subordinados do "Junker" saxão von Zeschwitz que lhe seqestraram 2 cavalos exigindo para sua
devolução a importância de 5 groschen por despesa de forragem, o que ele recusou-se a pagar.
A intervenção do Grão duque de Brandenburgo ao qual Kohlhase recorreu por ser seu
soberano, não surtiu efeito. Entrementes os cavalos morreram e no processo o comerciante
perdeu toda sua fortuna. D então, segundo o costume da época, a enviar uma 'carta de
desafio" a von Zeschwitz e outra ao Grande Eleitor da Saxônia, que se intrometera nas
discussões. Passou então, desde 1535 a atravessar a Saxônia, devastando e incendiando o país
durante quatro anos. Também Iutero tentou em vão a aplacar o revoltoso, mas este continuou
na sua obra devastadora até ser preso pelo Grande Eleitor Joaquim, sendo lançado no cárcere
e por fim executado na roda."
A recusa de pagar 5 míseros groschen de multa deu origem a uma guerra com dois dos mais
poderosos príncipes do Santo Império, tal o tipo das graves gestações expansivas. Uma
pequena pedra arrasta na sua queda um número cada vez maior de pedras. Um paranóico
expansivo, uma vez niciada a reação, não descansa mais, pondo em movimento um número
cada vez maior de pessoas até seu próprio aniquilamento e o dos que o rodeiam.
Em tais casos intervém às vezes o ressentimento próprio das classes inferiores como se observa
nos delírios litigantes, como é o caso de certos pensionistas que recorrendo de instância a
instância, transformam um caso
O DESENVOLVIMENTO SENSITIVO
e "neurose obsessiva".
Quando a pressão psíquica interna que a experiência retida exerce, chega a um determinado
nível, ela conduz regularmente à "projeção afetiva". O sensitivo vê então o mundo exterior
somente através do prisma emocional com o qual somente ele se atormenta, persuadindo-se
que sua vergonha é de domínio público e que todo mundo esteja ao par da sua desgraça,
olhando-o de um modo estranho evitando-o, fazendo pouco dele. Nas conversas mais comuns
e até nos jornais ele descobre alusões maliciosas à sua pessoa. Este "sentimento de referência"
baseado em complexos internos de insuficiência (num grau menor também num amor próprio
exagerado) é levemente normal como atitude psíquica. Quando se agrava, porém, ele cresce
de um modo paranóico convertendo-se em grave "delírio de referência" na base de complexos
de insuficiência, às vezes com a formação de um sjstema de amplas ramificações
ingenuamente combinadas. (De acordo com sua estrutura numa base constitucional em parte
esquizóide-hiperestênica encontramos reações e momentos de desenvolvimento sensitivos nos
processos de esquizofrenia que levam à idiotice que tem seu início nas ramificações
psicológicas. Entre ambos os extremos encontram-se as "neuroses de referência" leves e às
vezes passageiras que o médico prático encontra a miúde.
As reações sensitivas têm pontos de partida típicos especialmente apropriados para criar u
impressão de insuficiência vergonhosa. Figuram aqui também em primeiro lugar complexos
sexuais, e antes de tudo a masturbação praticada em segredo e é em vão combatida apesar de
um grande desgaste de energia moral, fonte constante de um sentimento de derrota moral
inconfessável.
"Um maquinista de trem, solteiro, que se masturbava com freqüência fez uma declaração de
amor à sua cunhada e foi repelido. Começou a imaginar-se que seus colegas o espiavam de
noite através da janela e sua mala mostrava vestigios de ter sido violada quando seus colegas
tentavam encontrar manchas de esperma em sua roupa e livros pornográficos. Ouviu cada
instante referências imaginárias cio seu irmão relativas à sua declaração de amor repelida e
observações cínicas dos colegas referente à sua masturbação. Retirou-se magoado da
convivência de todos, sentindo-se traído e ridicularizado por todos. Seu delírio aumentava
durante um ano inteiro, ao fim do qual tentou o suicídio que serviu para descarregar sua
tensão afetiva e abrir-se ao médico."
Outro ponto de partida típico é o amor tardio das solteironas que ao chegarem à menopausa
toma conta dessas mulheres em forma de uma super exitação erótica involuntária fazendo que
se aproximassem de homens mais jovens ou casados. Trata-se de um arrebatamento que elas
não sabem
reprimir e ao qual não podem dar livre curso, consumindo assim todas as suas energias morais,
fracassando uma ou outra vez criando neuroses e formas paranóicas de delírios de referência
muito parecidas com as já mencionadas.
Assim como nas neuroses de referência e com mais clareza pode-se observar que a estrutura
complexa do caráter se baseia geneticamente nas disposições biológicas elementares. Certa
predisposição a um sentimento moral refinado se associa às componentes do temperamento
esquizotímico-hiperestésico ou do tipo ciclo-fleugmático e sobretudo à combinação de um com
outro, enquanto que uma capacidade mais ou menos grande de resistência à dor constitui a
premissa de toda simpatia altruísta profunda ou do domínio profundo que cada um exerce
sobre seus próprios movimentos psíquicos.
'A pacietne Se interessara desde a idade de 6 anos intensivamente pela matança de porcos
presenciada com susto de início e mais tarde acompanhado do desejo de ser sacrificada ela
própria. Causava-lhe uma impressão agradável ver como os porcos se deitavam suavemente de
lado ao morrer (componente masoquista)."
Tais elementos impulsivos secundários imorais do genotipo agem às vezes como um aguilhão
sobre os freios normais dos impulsos e determinam sua hipertrofia. Formam-se na
personalidade total sobre-compensações éticas enormes, que servem de sólido anteparo
contra os impulsos sexuais exagerados e perversos. Isto se traduz numa exatidão curiosa,
escrupulosidade e num fingimento que, em casos favoráveis dá margem a uma verdadeira
hipertrofia moral, fazendo com que estes indivíduos se tornem elementos de grande valor
social, respeitáveis e altruístas. Em geral porém, este tipo exagerado de supermoral serve para
dar livre curso a tendências torturantes contra si e os outros com efeito ütil reduzido.
Algumas neuroses obsessivas evoluem como segue: Um forte impulso nascido da disposição
sexual anômala, com tendência à masturbação, a pensar e falar de obcenidades ou em cenas
cruéis e volutuosas imaginárias se impõem repetidamente à consciência da personalidade total
em virtude dos seus vínculos constitucionais, sendo repelido uma ou outra vez com energia
adequada. A ambivalência normal das representações sexuais alcança intensidades
extraordinárias devido a esta oposição violenta entre os dois pólos
contaminação (por onanismo, etc.) a outros inofensivos . A pressão psíquica interna rebenta do
lado mais fraco.
Trata-se de uma simbolização nítida de uma neurose obsessiva. A conversa com a amiga
proporciona o pretexto para que a tentação sexual que minava a paciente por dentro se
transformasse em símbolo mitológico de tempos remotos. Os violentos esforços de livrar-se da
serpente provêm da sua luta vã com a própria sexualidade, representada pela serpente. Assim
a reação individual inicialmente pura, de uma vivência dentro da personalidade salta, à medida
que a tensão efetiva aumenta, o estrato hipnóico, pondo em marcha mecanismos autônomos
não acessíveis às elaborações da personalidade total.
208
Reações da Personalidade
'Uma jovem piedosa ama em silêncio e apaixonadamente um jovem inontanhez. Este, que não
se d Conta disto, muda de 1ugar e não há nenhuma conversa entre os dois. Sua excitação
sexual chega a um tal paroxismo que abrange pai e irmão e que ela tem a impressão que "se
entregaria a quem passasse por perto". Ajudada pela sua religiosidade ela tenta combater as
más idéias, porém em váo. Quer internar-se num convento. Nesta época ela encontra uma
amiga que gostaria de ser enfermeira mas que achava que poderia renunciar à vida sexual.
Nesta conexão ela menciona o pecado original e a tentação da "serpente" no paraíso e disse
que o critério do Bem e do Mal não era senão uma alusão velada que Adão e Eva mantiveram
relações sexuais antes que Deus lhes tivesse permitido. Pouco depois, após uma noite de
insônia a paciente é acometida de fortes vômitos e desde então se convence que tivesse uma
serpente no corpo, que sentia às vezes com uma nitidez alucinatória na garganta, sem poder
pó-la para fora."
os efeitos das experiências psíquicas nas direções indicadas. Daí o resultado pouco satisfatório
da psicoterapia.
"Uma mulher casada, sem filhos, e infeliz no seu casamento amava seu cunhado. Este estado
com todas suas complicações levou-a a um estado crepuscular histérico. Numa das suas crises
viu-se salvando seu filho de uma casa em chamas, apertando-a contra o peito. Numa outa crise
viveu uma cena num cemitéio, assistiu ao enterro de uma pessoa ou parente que lhe era
indiferente. Seu próprio marido não estava em parte nenhuma, mas a paciente estava sentada
ao lado do cunhado, bebendo cerveja."
No estado crepuscular viu realizado seu desejo de ter um filho, num outro via-se livre do
marido, sentada ao lado do irmão dele (observamos aqui o mecanismo do sonho de uma figura
sobreposta: no caixão onde se concentra o acento afetivo da situação e onde deveria ter
imaginado o marido ela vê apenas uma figura secundária, substituindo-o, o que atenua o que
há de imoral num sonho transparente quanto ao resto).
Aqui a realização dos desejos autistas nos interessa até o ponto onde se relacionam com o
desenvolvimento da personalidade. Encontramos na paranóia crônica ao lado das reações
expansivas e sensitivas a realização autista do sonho como terceira componente no delírio
amoroso crônico.
"Uma jovem, aplicada e calma, que não se mete na vida dos outros, encontra na fábrica onde
trabalha um capataz que lhe agrada. Cada olhar dele é para ela um sinal de amor. Quando ele
muda do lugar onde trabalha, ela fica convencida que ele voltará para casar com ela. Nesta
imaginação ela vive feliz durante alguns anos que nem uma noiva sem precisar de nenhuma
confirmação, e nenhuma influência externa a perturba".
Este belo exemplo psicológico nos mostra que um afeto muito forte pode transferir-se de A
para o substituto B, sendo que o afeto B continua sendo A só podendo ser influenciado e
eliminado por este. Nosso camponês cria para seu amor infeliz uma "felicidade substítutiva"
primeiro pensando que a primeira moça casaria com ele; segundo, ele cria o substituto na
figura da outra moça que o rejeita e finalmente encontra uma compensação pelo seu amor,
passando e repassando frente ao bar automático.
Este caso patológico é o exemplo fiel da evolução psicológica normal das tendências
desiderativas crônicas dentro da sua personalidade. Um funcionário ambicioso que se encontra
no fím da sua carreira se torna um "querelante" expansivo ou um misogêneo sensitivo que se
tortura a si mesmo. Ou, então ele cria a figura substituta de felicidade, convencendo-se que a
vida calma do interior é preferível ao gabinete de um ministro.
São estes os três caminhos principais da gestão reativa através da personalidade. Existem até
médicos atacados de grave tuberculose que, na fase final da doença, pouco antes de morrer
forjam planos de casamento. De tal maneira a tendência do desejo é capaz de transtornar o
pensamento e a ação de uma pessoa, regida pelo instinto da autoconservação. Conhecimentos
e experiência de nada valem, o que prevalece é o desejo. Tal felicidade substitutiva, tais
artifícios catatímicos constituem para muitos um apoio precioso e insubstituível para suportar
a sorte, para dissimular e aliviar habilmente a brutalidade da vida real, uma regulação biológica
sensata. Ninguém é capaz de perturbar este auxílio de um modo mais brutal e inútil do que o
médico com suas diagnoses e avisos de meras suposições, quando se trata da vida ou da morte
do seu paciente.
Nas religiões muitas realizações autistas de desejos se cristalizaram em sistemas fixos de mitos
e dogmas. A fé na imortalidade pode ser interpretada
felicidade que substitui todos os desejos não realizados durante a vida, e a idéia do inferno,
responderia ao ressentimento e necessidade de justiça do homem primitivo. A mitologia de
cada povo pinta o paraíso com suas cores locais que caracterizam exatamente seus desejos e
suas aspirações particulares.
210
Reações da Personalidade
"Conheci um camponês velho e muito trabalhador que acreditava que a moça que ele amara
em vão, voltaria um belo dia para sua companhia. Quando ele vê os filhos dela correndo pela
rua ele diz: "De quem são estas crianças? não são dela, mas sim de algum parente". Nada o
demove desta idéia. Mais tarde ele se enamorou de outra moça, sua empre gada, que se
mudou para a cidade e trabalhava num bar automático. Todos os dias ele em preendia a longa
viagem de trem de sua aldeia para passar em frente ao bar, sem entretanto vê-la, pois ela se
recusava em encontrar-se com ele. Depois desta viagem ele se sentia aliviado, Ao conselho da
sua mãe, sua antiga namorada lhe escreveu, pedindo que desistisse dessas viagens absurdas,
contando-lhe que ela mesma já se casara há anos. Que ele se acalmasse e se conformasse com
seu destino. Desde que recebera esta carta ele desistiu das suas viagens para ver a namorada
substituta (E. KRETSCHMER, 1966).
O Psico-Biograma 211
O PSICO-BIOGRAMA
c) Tipo social
A. HEREDITARIEDADE
1. constante
2. lábil reativa
4. Mudanças duráveis (aos pulos) em fases da vida, puberdade, involução, mudança de aspecto
Infância:
mudança de emprego (repetida), registro penal, conflitos familiares, conflitos sexuais, deslises
3. Hiperestênicos
EPILEPTÓIDE
4. Anestésico
FRIO, NERVOSO, ESQUISITO, MISANTROPO,
ESQUIZÕIDE { 5. Explosivo
6. Viscoso (enequético)
Forma mixta.
grosseiro, brutal, mau humor tenso, iracundo explosivo, tendência para graves crises afetivas,
alcoolismo, intolerância contra álcool estados alcoólicos patológicos, ataques epiléticos,
estados profundos crepusculares, fugas reativas.
4. Caraterísticos Histéricos
Afeto superficial, rápido, lábil, ligação fácil de afetos hipobúlicos, hiponóicos, reflexivos e
vegetativo-nervosos. (espasmos e crises afetivas, desmaios, estados crepusculares e oníricos,
tremores, sintomas vaso-motores), sugestibilidade aumentada, voluntariosidade caprichosa,
pouca memória fiel, tendência para fingimento, teatralidade, coquetismo. Trapaça inata,
5. Caraterísticos Paranóicos
D. VIDA VEGETATIVA
2. Tendência para movimento: forte demais, fraco demais, tendência para comodismo e
relaxamento, atitude ativa-passiva.
O Psico-Biograma 215
3. Alimentação: desejo forte, médio, fraco para alimentos e líquidos, prazei em comer, mania
de comer, mudança de apetência.
4. Auto consewaçâ agressivo, ousado, irrefletido, corajoso, sangue frio, calmo, refletido,
receioso, assustado, covarde, hipocondríaco. Astuto, mal intencionado dado prudente.
5. Aquisição e Posse: material ou ideal nas atitudes perdulário, generoso, econômico, avarento,
possessivo, luxo.
inibições sexuais fortes, médias, fracas, irregulares. Apagamento precoce, médio, retardado
recato, cínico. Tendência para impotência, ejaculatio precpx, frigidade, e outroS distúrbios no
ato sexual. efesa, recalque, irradiação, cópula, atos viciosos, dilema. Tendência para
masturbação forte ou preferencial, prostituição. Recalques na evolução: pouca firmeza na
orientação do impulso sexual platonismo extremo com tendência para afeto a distância e
sonhos irrealizáveis.
Perversões:
negativo: (protesto contra os pais, aversão contra crianças) Auto-a firma çao: querência do
poder, ambicioso, luxo, mania de trato, ambição, ressentimento, impulso de crueldade
(prejudicar, matar). Crueldade comum, brutalidade, ambição de mando corporal ou psíquica,
subordinação rasteira, prazer em agluentar e sofrer.
fadiga).
2.
Tendência para o consciente, refletido, pensado, preparado a longo prazo, para o autodomínio,
planejamento, prático retenções resp. reserva. Personalidade que reflete (racionalmente com
propósitos)
b) contrastante: expansivo-sensitivo
216
1.
Caráter:
O Psico-Biograrna 217
d) Orientaç& evasiva
tendência para o não real, ficção, auto-engano, simulação e representar um papel, teatralidade
(fuga para doença) (ver histéricos)
F. ATITUDES SOCIAIS
1. Disposiçao ética
egoísta, altruísta, mista, contrastante. compaixão, impiedoso, invejoso, tendência para calúnia,
tagarelice, maldade, laborioso, competente, boa vontade, meio, acomodado, indiferente,
preguiçoso, passivo, associal, antessocial, independente, dependente, dependente, decidido,
enérgico, vascilante, mole, influenciável, fraco de vontade.
b) vagabundo
c) pivete, extorção
(perversos)
3. Atitudes Políticas
reprodutivos? criadores?
preferência para desenho, pintura, artes manuais, artesanato? preferência para leitura:
científica (que gênero?)
preferência para escrever, artigos jornalísticos, poesia, declamação, discursos, teatro, talento
para orador?
G. INTELIGÊNCIA
talento prático
pessoa dirigida pelo raciocínio, sentimento, vontade tipo ótico, acústico, motor.
eidético?
original - banal, hábil, astuto, vivo, fleugmático, pouco hábil ou prático. Talento especial:
línguas, filosofia, matemática, matérias visuais, descritivas,
Talento artístico:
O Psico-Biograma 219
H. EXAME ORGÂNICO
1. Medidas
índice Pignet
Altura: Peso:
barriga mão
Índice peito-ombros
oval, alto, oval encurtado, oval infantil, heptá gono, sem caraterístico
Descrição detalhada:
Pescoço bacia
IV - Revestimento Piloso
Cabelo Genitalia Braços Sobrancelhas Axilas mãos e pés barba barriga Descrição
torso
a) glândulas:
genitais
b) Sintomas visuais
d) reflexos e tremores
h) outros resultados
VI. ] DE MUDANÇAS
(criminalidade) graves
rápido, lento).
VIII. DIAGNOSES
pícnico
forte, magro
leptosomo meio
astênico
mista meio
Nota do Editor
O "Psicobiograma" data de 1923 e 1925. Na sua forma antiga era um questionário que servia
na Universidade de Tubingen para a pesquisa comparativa sistemática de experimen tadores
psicológicos, doentes e pareceres. Da à lO edição o Psicobiograma fazia parte do livro, sendo
eliminado mais tarde para uma nova revisão para a qual o autor não tinha tempo. Trata-se de
um fato lamentável, porque o questionário representa a primeira e única tentativa de uma
síntese biológica-psicológica, relacionando de um lado a morfologia e patofisiologia, e do outro
lado elementos da ciência do caráter psiquiatricose da tipologia dos instintos, constituição e
social. Achei conveniente incluir de novo o "Psucibiograma" depois de uma s-eformulação do
temperamento do hábito atlético, melhorando o esquema. Devido ao seu grande volume não
se presta bem para um questionário dentro da rotina limitada da clínica e da prática. Servirá
preferencialmente de guia do trabalho médico-cien tífico e como fator estimulante e terreno.
APÊNDICE
Mais importante ainda é o segundo ponto: com palavras imprudentes provoca-se a doença. Há
designações que o médico deve guardar-se de pronunciar como se fossem venenos muito
ativos, "câncer", "tuberculose", "paralisia geral", "pericardite" e antes de tudo "medula
espinhal". Esta última palavra fere os doentes até a medula. Também a "arterioesclerose" deve
ser usada com cuidado. A idéia de sofrer deste mal pode suscitar um grave complexo em
pessoas de idade, acostumadas ao trabalh e pode tornar-se crônica servindo de ponto de
partida para estados hipocondríacos depressivos que deixam as pessoas incapazes de trabalhar
e gozar a vida, embora os sintomas objetivos sejam diminutos. Também a diagnose da "Sífilis"
deve ser usada com cuidado perante pessoas nervosas e sensíveis e somente quando a
diagnose é inatacável e a terapia e perigo de infecção o exigem. Usaremos somente de imagens
patológicas fortes quando se trata de abrir os olhos a pessoas robustas e pouco razoáveis,
incitando-as de cuidar da saúde. Em caso contrário usaremos de uma metáfora. O médico deve
sempre ter em mente que falando aberta ou veladamente ele assume uma grande
responsabilidade ao intervir na vida psíquica do seu paciente sendo que o psíquico repercute
de um modo muito diverso no estado físico do paciente.
A população deve ser educada para um conceito razoável acerca das possibilidades e dos
limites do poder do médico. Mas aquele que devido às suas deficiências humanas se mostra
somente cético sem recorrer à terapia ver-se-á rejeitado pelo público e com toda a razão. Não
se chama o médico para que ele dê de ombros. Por isto não deve receitar medicamentos de
cuja eficácia não esteja convencido. Mesmo em casos desfavoráveis se encontrará sempre um
remédio que proporciona alívio e seja suficiente como ponto de contacto com a finalidade
principal que consiste em cuidar dos regulamentos catatímicos do doente e daqueles que o
rodeiam. Este é o melhor e mais aplicado sentido de "Ut aliquid fiat".
De mais a mais, as atitudes psíquicas com as quais o paciente procura o médico são as mais
diversas. Somente alguns deles pretendem de fato ser curados de uma doença física, ou
encontrar calma e conselho para suas preocupações hipocondríacas nas palavras enérgicas e
tranquilizadoras do médico. Nem todos o querem assim e se lhes diséssemos que seu mal não
tem a mínima importância eles não nos perdoariam. Há mulheres que somente falam dos seus
cálculos biliares como se falassem dos seus filhos, consultando médico após médico, para ouvir
dizer que nunca encontrara um caso tão grave, ou para falar do célebre Professor "X" que
também não sabe desvendar este mistério. O cálculo biliar serve aqui de um modo ingênuo
para valorizar a própria pessoa por meio de algo que os outros não têm. Proporciona a uma
personalidade banal e vulgar um certo relevo e representa para estes doentes o que a fortuna,
a inteligência e a nobreza representam para outros.
Prescindimos aqui dos casos nos quais a doença real ou imaginária, não tem por único objeto
realçar a própria personalidade mas que serve sim, aberto e dissimuladamente para fins
egoístas no tratamento exterior do doente com sua mulher, seus superiores ou a companhia de
seguros. Estes elementos teleológicos podem criar por si mesmo simulações e neuroses no
domínio psíquico, mas, o que é mais grave, podem infiltrar-se em qualquer doença física,
prolongando e agravando-a e torná-lo o centro de atenção do paciente. Assim ele intensificará
a dor, e impedirá os movimentos assim como um transtorno funcional e objetivo do coração ou
do estômago pode sofrer de uma piora psicogênica pela medicação do sistema nervoso-
vegetativo. A atitude psíquica não é algo que se agrega de fora, aos sofrimentos físicos, mas faz
parte do quadro patológico como elemento energético.
TRABALHO E LAZER
Sobre a Psicoterapia
permanência nas estâncias e balneários com seus banhos e tratamentos terápicos, dias bem
aproveitadas entre refeições, descanso e conversas, assim como a ociosidade imposta
constituem uma forma de tratamento capaz de transformar em pouco tempo um homem
normal num preguiçoso e hipocondríaco. Isto se aplica especialmente àqueles cuja disposição
para o trabalho e desejo de recuperação não se encontram intatos. Uma permanência em
sanatórios, balneários e locais de repouso, quando não penetrado do espírito enérgico da
psicoterapia moderna, convém somente a duas categorias de pacientes psiconervosas: aos
realmente esgotados e afetivamente atacados que se recuperam dentro de pouco tempo e
para os irremediavelmente inadaptados à vida, degenerados graves ou esquizofrênicos com
resíduos diversos aos quais o internamento num sanatório representa o substituto justificado
de um refúgio psíquico que lhes faz falta. Não são numerosos os estabelecimentos e sanatórios
nos quais se trata com energia e inteligência de recuperar os histéricos e psicopatas para a vida
em geral e para suas profissões em particular, aumentando sempre o número de pessoas
interessadas nestes problemas.
Na recuperação exercida nos nossos dias há um outro fator importante, ela pode ameaçar o
paciente. Uns a temem porque são incapazes de abrir-se para valores internos, sentindo-se
pouco a vontade sem seu trabalho de rotina e até depressivo, ou se atira nas atividades sociais
que o repouso lhe proporciona. Em outros o descanso forçado desvenda aquilo que a atividade
rotineira encobrira até então, exigências não satisfeitas, inimizades, fraqueza de caráter, etc. Os
dias de fins de semana, feriados e férias oferecem as oportunidades para incentivar ou
deflagrar insuficiências e conflitos humanos. Por isto o médico não somente indagará do seu
paciente se o trabalho lhe corre bem mas também e com especial carinho como passa suas
"horas de lazer".
Entende-se por psicoterapia a cura com recursos e métodos psíquicos. Ela pode ser aplicada
em algumas doenças com sintomas psíquicos, em transtornos físicos funcionais e em afecções
orgânicas que mostram também processos e causas psíquicas. (Psicosomática). Para o médico
crítico as indicações e limites da psicoterapia resultam da experiência. As neuroses por
exemplo exigem por princípio a psicoterapia, embora apareçam disfarçadas de afecções
somáticas (cardiopatia, gastropatia, transtornos ginecológicos). Mesmo entre as doenças
genuinamente orgânicas existem casos de úlceras estomacais, asma, angiopatias, etc., que
depois de terem sido aplicados inutilmente os métodos comuns, se curam mediante a
psicoterapia, ou por combinação de tratamento somático e psíquico.
Não se trata mais de métodos educacionais e de orientação médica mas sim de métodos todo
especiais com a aplicação de uma técnica baseada na experiência atrás da qual encontramos,
especialmente na psicanálise, e outros sistemas da psicologia profunda uma teoria complicada
de interpretação e sondagem da vida psíquica e da sua estrutura sentimental e instintiva.
A atitude sectária de acreditar num método só que ainda encontramos na psicoterapia e mais
aínda na psicoanálise e terapia de reflexos, se opõe ao espírito da ciência e ao étos médico e
mostra apenas um zelo conceitual. Quem quiser entender e ajudar sabe que uma perspectiva
não basta. Além
desta predisposição isenta de preconceitos o psicoterapeuta precisa ter qualidades cara ctereo
lógicas excepcionais. O tratamento analítico-psicológico se reduz, como o psicagógico a uma
questão de personalidade. Somente um homem forte e de coração aberto conseguirá neste
caminho resultados preciosos de cura.
Além da psicoterapia metodicamente aplicada temos ainda o recurso dos problemas religiosos
e dos modos de pensar na medida em que isto faz ainda parte da competência médica. O
sentido profundo da orientação ética final é "volte a ser tu mesmo", e mais ainda observar a lei
de "alienação" resolver as contrações heterônomas, desalojar falsos enganos, e intenções
simuladas de adaptação, desenvolver as potências e forças positivas já existentes no esboço,
em suma, harmonizar a personalidade própria em si mesma e com seu espaço vital. A andlise
estrutural da personalidade própria da constituição, com seus temperamentos, tendências e
impulsos, assim como suas intenções anteriores de adaptação sociológica seus ideais e
finalidades éticas é tão indispensável aqui como a análise das vivências e dos efeitos do
ambiente. A idéia, que somente são acessíveis a uma psicoterapia as influências do meio, e a
predisposição genética se apresente como irrevogável é errônea e nada biológica, já que todo
ser vivo é maleável e dinâmico. Nas mãos de um médico reflexivo os caminhos que partem de
ambos os pontos se encontram por si mesmos no centro, desde a personalidade própria da
constituição como desde a exigência social. Somente conhecendo a fundo e ao admitir a
correlação entre ambas as direções, o paciente pode ser bem orientado na ordem moral. Esta
psicogogia ativa final é indispensável para a maioria das pessoas, e não somente a análise mas
também, e por último a liquidação dos complexos e tensões da vida interna em metas positivas
adequadas na corrente vigorosa de uma existência ativa ou, sobre um fundo mais remoto de
GOETHE pelo "eternamente atuante".
Segundo a nossa experiência o homem ocidental precisa de um impulso ativo visando metas
justas e adaptadas ao mundo. Isto parece estar em contraste absoluto com a filosofia de vida
dos hindús que se retiram, libertado de todo liame exterior para uma zona interior sacra de
indiferença o "Ihâna". (LANGEN, 1963). Mesmo nas profundezas do ser humano podemos
encontrar as últimas polaridades. Existiam, no Ocidente, e especialmente num fundo religioso
alguns grandes homens que sabiam reunir de um modo exemplar e representar estes dois
aspectos. O célebre teólogo do século VIII, J. A. BENGEL, o exprimiu e viveu de um modo
excelente quando fala das "Krypss animae" do aconchego interior que cada um deveria
carregar consigo, o que nos ajudaria "no meio do tumulto dos piores tempos". Uma filosofia da
vida polar tão aprofundada somente poderia ser elaborada com pessoas profundamente
interiorizadas e valorosas numa finalidade psicoterapêutica.
Uma tabela nos dará uma visão geral dos mais importantes métodos
1.
2.
A assim chamada análise leiga para a aprendizagem, é por mim rejeitada, vendo nela um
grande perigo para a saúde e moral popular. Pessoas nervosas e psiquicamente doentes podem
ser analisadas cientificamente somente por médicos especializados. Pessoas que não padecem
de nenhum mal, não precisam ser analisadas. Entregar um método de cura tão delicado às
mãos de leigos, teria por conseqüência um "curandeirismo psico-terapêutico" de
226
Sobre a Psicoterapia
II.
Os
1.
Métodos Principais
2.
3.
4.
5.
III.
Métodos Auxiliares
Ginástica.
dimensões imprevisíveis. O doente pode somente ser tratado pelo médico, - esta tese é
inabalável.
Além disto a terapia analítica psicológica possui um elevado valor ético desde que seja exercida
por médicos sérios, com conhecimentos especializados e espírito crítico. Sob tais condições
esta terapia serve para eliminar sintomas de doenças e proporcionar uma mudança profunda
na personalidade ameaçada. O fato em si de se proceder a um "inventário" total da situação
psíquica geral causa efeitos benéficos. Vasculhamos junto com o paciente seu balanço psíquico,
mostramos seus meandros e os efeitos produzidos e acostumamo-lo a enfrentar a situação
com calma e sangue frio. Procedemos com a máxima cautela. Em muitos casos de conflitos
psíquicos o fato de colocar à luz do dia as causas e conexões, já produz um sensível alívio, e até
mesmo uma recuperação especialmente quando reforçamos no fim a anláise
psicologicamente. Sempre haverá efeitos laterais sugestivos. O efeito principal da cura de uma
vivências que indicam ao paciente, como marcos no caminho, a sua evolução até esta data, que
evidenciam claramente as linhas mestras do seu caráter. Daí resusta a correção das coisas
distorcidas, a "ortopedia" da personalidade total sob orientação médica.
Durante a fase positiva da idealização do terapeuta o paciente encontra a realização dos seus
desejos podendo desenvolver impulsos suprimidos. Assim ele ganha força para dominar a
obrigação principal, quer dizer a de suportar na "transferência negativa" o médico que insiste
na auto-crítica e que não lhe satisfaz determinadas expectativas. Na "resistência" o paciente se
exercita de fazer a diferença entre desejo e realidade, satisfação e renúncia, em vez de
depender deles.
Aquele sentimento natural e positivo no qual se baseia a relação médico-paciente tanto física
como psicologicamente é o "reconhecimento" e a "confiança". É daí que parte a psicoterapia,
não se afastando nunca deste preceito. Por isto esforço-me em manter desde o início do
tratamento uma
relação de simpatia humana com o paciente, não despida porém de certo distanciamento. Esta
atmosfera resiste também a certas fases de crises que sempre ocorrem. Abafam-se assim os
afetos onde servimos ou devemos servir de figura de projeção. Afetos exagerados ou eróticos
podem ser evitados ou levados por mão segura a uma relação humana bem dosada. O mesmo
se aplica à resistência que deve ser vencida, desde o início até que o paciente tome uma
atitude positiva para com a psicogênese. Resistências sítuacionistas surgem sempre onde se
toca em complexos especialmente graves. Não assumem porém situação dramática que
pudesse dominar a dinâmica, quando bem orientadas. Mesmo assim conseguem-se bons
resultados terapêuticos. O pêndulo entre transferência e resistência não precisa ser o motor
decisivo para o progresso da recuperação mas representa freqüentemente um momento que
dificulta e retarda a terapia.
Formulemos uma pergunta bastante simples: a psicoterapia deve carecer de tato? A resposta
seria esta: quando se desvenda ao paciente de um modo grosseiro ou até com um cinismo
torturante seus complexos, não nos devemos admirar que ele chegue a odiar seu médico. Tais
resistências são nocivas e evitáveis. Os complexos mais enraizados e difíceis devem ser
enfrentados por médico e paciente em conjunto e no momento propício. É uma questão de
tato, de relacionamento e educação e de experiência. Uma certa terminologia psicoanalítica,
da qual se costuma abusar, pode deixar um paciente recalcitrante. Os problemas os mais
delicados e individuais podem ser expostos num diálogo bem conduzido numa linguagem clara
sem que a mulher a mais sensitiva se sentisse chocada.
Existem uns poucos médicos extremamente intuitivos que conseguem, depois de uma análise
demorada e sistemática desvendar ao paciente de maneira surpreendente seu complexo
central, encurtando assim a terapia, levando-a a bom termo. Numa formulação lingüística hábil
o paciente se sentirá talvez abalado mas não magoado, ao contrário, sentirá certo alívio. (o
modo bruto e drástico de chocar um paciente pela linguagem aplicada, não nos convence, nem
sob o ponto de vista humano, nem terapeuticamente). A exigência feita ao tato e à
sensibilidade não são menores, mas maiores, em caso de uma prepa ração cuidadosa e
sistemática. Esta terapia bem dirigida não se pode ensinar metodicamente mas surge do
talento pessoal. O efeito de um tratamento analítico psicagógico não depende somente da
eliminação do recalque. Onde existem recalques de complexos conscientes uma discussão
aprofundada com o médico e a ligação conseqüente das dificuldades pode surtir um bom
efeito. Cometeram-se abusos com os conceitos de "recalque" e de "resistência" dando-lhe uma
importância que não lhes compete. O recalque nem sempre prejudica e a cientificação das
vivências afetivas nem sempre ajuda. O recalque e o esquecimento podem criar cicatrizes cujo
processo de formação não deve ser perturbado.
228
Sobre a Psicoterapia
individuais, por meio de uma linguagem acessível, para as conseqüências certas e aos rumos
de uma vida nova. Não ofereceremos nunca uma teoria psicoana lítica ou psiquiátrica, ou
algum conceito tradicional e menos ainda nossas máximas da vida como um talismã para
futuras dificuldades. Levaremos o paciente a levar até o fim as conseqüências do seu caráter,
com todas soluções e possibilidades de adaptação possíveis e as máximas individuais assim
formadas. O fim do tratamento nos levará infalivelmente para a psicagogia pura. Em caso de
necessidade redigimos junto com o paciente uma espécie de protocolo que ajuda os pacientes
de pouca resistência vital nos seus momentos difíceis.
Nas neuroses complicadas não existe uma análise sem psicagogia e nenhuma psicagogia sem
análise. Não se compreendem os médicos que querem pres cindir da análise pois curam seus
pacientes pela sugestão e psicagogia. Sem saber onde se encontra o conflito individual do
paciente, ele não poderá ser guiado, e tudo não passará de algumas formulações bem
intencionadas e tentativas de disciplina de pouca utilidade. Uma neurose complicada raras
vezes é uma neurose apenas, mas os sinais superficiais de uma estrutura da personalidade
total deformada. Não se cura a neurose sem reconstruir ao mesmo tempo a personalidade. Por
isto o paciente necessita em primeiro lugar de uma auto-conscientisação, ou seja a análise.
Não basta a fórmula simplória de "estou melhorando dia a dia em todos os sentidos".
"Reconhece ti a ti mesmo" é a melhor e a mais acertada parte de toda a psicagogia, e de toda a
psicoterapia verdadeiramente grande. Não devemos esquecer que a maioria dos pacientes não
pode ser levada a trilhar este caminho por motivos de opiniões, inteligência ou situação
material e que por sorte nem sempre deve fazê-lo. A simples transformação é que ajuda, se é
que há ajuda. A tão difamada "cura pelo sintoma" tem sua razão de ser, conseguindo às vezes
resultados ótimos, por começar por um caminho novo.
PSICOTERAPIA DA PERSONALIDADE
A análise terapêutica deve basear-se em casos individuais e não numa teoria unilateral. Um
terapeuta que deseja abranger todas as situações psicológicas não pode restringir-se à opinião
de uma ou outra escola. Existe hoje em dia um grande tesouro de conhecimentos terapêuticos,
recolhido por pesquisadores de renome que deve ser incorporado organicamente em todas as
partes da psicologia médica. Erros, distorções, exageros que deverão ser corrigidos, têm sua
origem em certa estreiteza de espírito.
Objetivamente devemos acrescentar que todos os fatores constitucionais de caráter devem ser
considerados bem como a estrutura vivencial das suas várias manifestações.
Perguntamos então: de que é feito o conjunto de impulsos com o qual o paciente enfrenta a
vida? Cada categoria deve ser estudada cuidadosamente para se conhecer sua participação na
neurose ou se permite conclusões sobre discrepâncias na estrutura dos instintos. O que
interessa além da força de grau de um grupo é a relação entre componentes principais e
secundários entre impulso e freio de impulsos, o grau de amadurecimento, as irradiações e
fenô menos de mudança. No próximo grau da análise estrutural fixa-se o tempe ramento total
e seus fatores individuais. Perguntamos outra vez, como é que os impulsos existentes se
introduzem no temperamento total? É evidente que uma determinada tendência de impulsos
age de modo diferente sobre um ciclotímico fleugmático do que num esquizóide viscoso hiper-
estético.
Uma vez fixado o cerne da personalidade de impulso e temperamento podemos colocar nesta
rede de efeitos vivenciais e ambientais os regulamento éticos e sociais e as influências da
educação que por sua vez forma as normas de comportamento no jogo cruzado com os fatores
constitucionais.
Não aplicamos como método independente, a análise em estado de hipnose ou num grau de
narcose leve. Às vezes entretanto estes métodos servem de pontes que podem ser usadas
onde há entraves fortes onde complexos deci sivos se encontram barrados por motivos afeto-
dinâmicos. Os pacientes sentem isto como benfazejo e o material assim levado à tona é
trabalhado em estado de vigilância. No fim apreciamos ainda a conduta final ativa-psicagógica
na segunda parte do tratamento.
MEDICINA PSICOSOMÁTICA
A psicoterapia não é simplesmente psicologia, se não psicofisiologia quer dizer, requer que se
conheçam e compreendam bem as funções fisiológicas e os regulamentos do organismo, assim
como seu entrelaçamento e sua coorde nação com as forças e fatores psíquicos. As conexões
alternativas entre complexos psíquicos, tensões afetivas, regulamentos vegetativos e funções
meta232 Sobre a Psicoterapia
Experimentalmente por exemplo isto é representado pelo ensaio psico-gal vânico (VERAGUTH)
1909, no qual se registram as oscilações do sistema vegeta tivo produzidas por emoções e em
geral por estímulos psíquicos e que podem tornar-se visíveis por derivação galvânica desde a
pele. Assim se refletem por estímulos dirigidos (palavras por exemplo) as emoções no registro
galvânico como perfil quantitativo. Há constituições nas quais basta a espera tranqüila por uma
prova de laboratório para provocar flutuações vegetativas de 15 minutos de duração ou mais.
Comparando estes estímulos psíquicos mínimos com os que o organismo aguenta
constantemente e com uma intensidade muito maior na vida cotidiana, chegamos a
compreender o que significa a irradiação cons tante de tensões e oscilações afetivas para os
mecanismos internos do corpo, para o estado de saúde e de doença. O organismo inteiro
aparece como uma caixa de violoncelo que vibra com persistência e com uma intensidade,
quando se toca uma corda.
Não podemos afastar a conclusão que também os órgãos internos são submetidos
continuamente a estas influências no decorrer das suas funções. Chegamos ao ponto crucial
onde a medicina clínica e o médico prático têm que mudar fundamentalmente seu modo de
pensar. Acostumamo-nos a diferenciar doenças "psicógenas' e "orgânicas" como se um
profundo fosso as separasse. Na realidade os transtornos psicógenos não se podem imaginar
sem seus elementos somato-fisiológicos, às vezes bem importantes e do contrário as doenças
classificadas de orgânicas não são independentes nem de origem nem de evolução de fatores
causais psíquicos. Experimentalmente é improvável que esta vibração contínua e a repercussão
psico-reativa dos órgãos internos com regulação vege tativa, em constituições frágeis, não
ocasionem alterações em suas substâncias, quando se perturba sua função. Os tipos
constitucionais de acordo com sua forma específica de sensibilidade aos estímulos, apresentam
diversas tendências a desvios orgânicos, como hipertensão arterial, úlcera gástrica e
transtornos intestinais espásticos. Mesmo assim reconhece-se facilmente a grande influência
de fatores psíquicos como na angina pectoris, o asma bronquial, e muitas afeções
ginecológicas.
"Como sóe acontecer na aplicação da injeção formava-se sempre na apli cação subcutânea e
intravenosa uma inchação pois sua pele se tornara alérgica à injeção. Um belo dia, decorridos 6
meses da última injeção, ele precisava de uma gotas de sangue para um experimento
bioquímico, tirando da veia do cotovelo. Ao picar com a agulha ele sentiu algo como um
"impulso" que sempre sentia no corpo depois de uma injeção de morfina embora um pouco
mais leve. Poucos segundos após a retirada do sangue - sem que tivesse havido uma injeção, o
inchaço apareceu de novo." (WEXBERG, 1951).
Vemos assim como a base de uma repetição freqüente se constitui uma firme ligação
psicosomática, um síndrome composto de elementos psíquicos e vegetativos que, embora
transcorrido bastante tempo responde cada vez com um reflexo genuíno a um estímulo
externo semelhante, mas farmacologica mente neutro. A importância de tais observações é de
valor incalculável para a psicoterapia do médico moderno. Num sentido negativo se ele deve
ou não evitar a rotina de reflexos condicionados nocivos através de palavras e ações repetidas
que podem causar, como no caso citado, fix hipocondríacas ou autênticas variações funcionais
somáticas numa direção errada por meio das vias nervosas vegetativas. Há de se considerar o
lado positivo também: numa visita diária, a repetição freqüente de palavras e ações
racionalmente ligadas entre si, podem estabelecer vias vegetativas úteis para dominar doenças
somáticas manifestas. Na hipnose encontramos estes mesmos efeitos, somente
consideravelmente forçados.
A linguagem onírica nos ensina que a formação de símbolos vive nas capas hipnóicas da pessoa
atual. Sabemos igualmente por experiência da hipnose médica que é perfeitamente possível
dar a uma determinada idéia uma direção corporal prefixada, traduzindo imagens vivas nas
alterações somáticas correspondentes porque estas transformações seguem a via dos centros
vegetativos. Não se pode asseverar que a pergunta assim formulada deve ser recusada de
antemão, embora pareça a primeira vista paradoxal comparada com a ideologia médica
comum. É raras vezes possível estabelecer
deduções ou chegar a conclusões que possam ser demonstradas e o risco é grande de perder-
se em meras fantasias. Recomenda-se por isto uma grande cautela neste sentido. (ALEXANDER
1951).
Existem síndromes provocados por complexos psicogênicos, quer dizer, por idéias com cargas
afetivas, por efeitos circunscritos de vivências, conflitos instintivos e constelações do ambiente
que o paciente não consegue superar. Existem també mcasos numerosos que não são efeitos
circunscritos de complexos, mas sim, uma opressão difusa procedente do psíquico ou uma
dietética psíquica inadequada que pesa sobre o aparelho vegetativo e com ele sobre o
organismo iodo, desgastando-o. Isto se explica por exemplo em pessoas que ocupam cargos de
grande responsabilidade e que se dedicam aos mesmos, com uma ambição extrema, ou de
mães de família fatigadas em excesso, sentindo-se por isto incapazes de arcar com suas
responsabilidades. Temos ainda em terceiro lugar as alterações da saúde que não são
provenientes do psíquico mas que admitem um tratamento neste sentido como sucede em
muitos casos de distonia vegetativa com irradiações nos órgãos internos. Não podemos julgar o
alcance dessas medidas.
No que concerne à técnica é fácil ver que precisamente neste setor da psicosomática os
métodos de adestramento desempenham um papel principal. Isto se refere antes de tudo ao
método bifronte padrão, que toma também em consideração o setor psicoanalítico. De uma
parte eles se ajustam psico-fisicamente ao princípio da "regulamentação tônica indutiva" no
que concerne aos métodos e efeitos, sendo seu alcance muito maior do que os métodos
psicoanálíticos aos quais correspondem em troca, as indicaçõe de alguma importância por vias
psíquicas muito intrincadas. Com estes métodos alcançam-se também as hiperestesias e
tensões afetivas que, ao menos principalmente, não são afetadas por complexos psíquicos.
Para compreender bem a importância deste princípio torna-se indispensável revolver as
ideologias clínicas tradicionais. Em geral costumamos pensar quando se trata de males
orgânicos, mesmo hoje em dia, em raios X e preparados anatômicos, associando a estes
esquemas nossa idéia do que ocorre no organismo vivo. Por mais necessários que sejam estes
esquemas para esclarecer e comprovar continuamente nosso diagnóstico clínico, não resta
dúvida que nossas medidas terapêuticas às vezes dificultam e modificam nossas medidas
terapêuticas nos seus aspectos medicamentosos, físico e antes de tudo psico-terápico.
Enquanto pensamos na arterioesclerose somente no cal e na esclerose múltipla em focos
irreversíveis veremos fechados os acessos terapêuticos essenciais, e nossa vontade de ação
médica sossobrará no nihilismo. Os preparados anatômicos que servem de base a estas
designações não apresentam, de forma alguma o processo patológico em si, suas causas e
imagens pois não passam de instantâneos de fases finais coneguidos de material inanimado e
refletem apena intenções secundárias de alguma medida de emergência do organismo frente a
"noxas" e disfunções que já não aparecem na mostra final. O mesmo se aplica a muitos outros
raios X. No que concerne o roentgenograma aparentemente inflexível, devemos pensar nas
fases funcionais prévias, que o precedem, nos componentes funcionais que possa conter e nas
variações secundárias de função que o seguem.
"Tratamos de um paciente que sofria de neurose obsessiva e que além disto tinha uma
èstenose cicatrisal do piloro, causa de uma úlcera antiga. As moléstias aumentaram a tal
ponto que uma operação se impunha. A indicação foi feita "lege artis" pelo cirurgião
baseada na chapa de raio X que acusava uma estenose tão intensa, que não deixava mais
passagem nenhuma. Como o paciente fazia em nossa clínica os exercícios de base do
treinarnento autogeno segundo o nosso método padrão,, aconselhamos que a operação fosse
adiada para poder melhorar a função gastrica por via psicosomática. Fez-se um exercício ativo
até os graus profundos de hipnose, relaxando antes de tudo as tensões no organismo e
concentrando nosso esforço sobre o estomago. Com esta regulamentação tônica progressiva e
gradual, a passagem ficou livre sendo possível suspender, ao menos por enquanto, a
operação".
É curioso serem tão poucos os médicos que seguem um raciocínio tão sírnples como este; e
que explica tão bem o efeito psicosomático descrito, que uma cicatriz ulcerosa não obstrói por
ela própria a passagem, mas que provoca por si mesma como estímulo de cicatrização, tensões
vegetativas secundárias que estreitam mais ainda o duto gastroentérico do que a simples
tração da cicatriz, O transtorno total se compõe de um elemento rígido e outro reversível e às
vezes basta atacar este último por meio da regulação indutiva do "tonus", para conseguir uma
melhora funcional suficiente na prática.
É portanto indubitável que certos grupos de doenças orgânicas possam, em princípio ser
objeto de psicoterapia, especialmente aquelas que respondem à indução do "tonus". Entre as
curas prodigiosas antigas e modernas conseguidas por sugestão primitiva das massas junto a
muítos histerismos, mistificações e auto-sugestões, existem seguramente um bom número de
melhoras de doenças orgânicas de acordo com as regras aqui expostas.
Isto nos leva a formular uma pergunta urgente: como deve ser feita a
psíquicos de tratamento?
Não devemos abaixar a psicoterapia para uma terminologia da "moda". Torna-se necessário
pouco a pouco estabelecer as indicações distintas entre métodos de tratamento somático e
psíquico por meio de uma colaboração estreita entre psiquiatras, internistas e ginecologistas,
antes de tudo. Não perguntamos apenas o que é possível, mas também, o que é prático. Em
geral pode-se dizer que onde uma cura de KNEIPP é útil o método psicoterápcio deve ser
relegado a um segundo plano, embora seja ele mais elegante, mais demorado e também mais
dispendioso. Não cabe à psicoterapia substituir medicamentos já acreditados. Do outro lado, a
farmacologia deve sair beneficiada ao se livrar do lastro de aplicações equivocas que a
desprestigiam. É certo que já se gastaram fortunas em medicamentos, operações, curas em
institutos terápicos, etc. por conta de transtornos neuróticos evidentes, onde somente uma
boa
psicoterapia teria sido útil e talvez uma simples exploração em profundidade. A Psicologia
Médica serve de ligação entre os pólos dos quais ela mesma se alimenta. O somático deve
compreender que em princípio todo o organismo é penetrado de espírito até a última célula.
Os psicoterapeutas devem aprender que os elementos de juízos puramente psicológicos não
bastam. Quanto mais penetramos nas profundidades, e isto se aplica especialmente à
psicoterapia, tanto mais encontramos elementos psico-físicos, quer dizer a unidade e
totalidade indissolúvel que chamamos de VIDA e o seu ponto mais íntimo, o coração humano,
no qual a natureza e o espírito se unem.
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