2ª edição revisada
Nelson Ferreira Junior
Paulo Cesar de Paiva
Introdução à Zoologia
Introdução à Zoologia
Volume 1 – Módulo 1 Nelson Ferreira Junior
2ª edição revisada
Paulo Cesar de Paiva
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL Nelson Ferreira Junior
Cristine Costa Barreto Fez graduação em Zoologia no Instituto de Biologia / UFRJ, mestrado em Morfologia
de Insetos no Museu Nacional / UFRJ e doutorado em Filogenia de Insetos no Instituto
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL
de Biociências / USP. Atualmente, Nelson é Professor-adjunto do Departamento de
E REVISÃO
Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ, leciona as disciplinas “Zoologia III
Carmen Irene Correia de Oliveira
– Arthropoda” e “Entomologia I”, para a graduação em Ciências Biológicas, Instituto
Marcia Pinheiro
de Biologia / UFRJ e colabora na disciplina “Ecologia de Insetos Aquáticos”, para a
Márcia Elisa Rendeiro
pós-graduação em Ecologia; Instituto de Biologia / UFRJ e para a pós-graduação em
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM Zoologia, Museu Nacional / UFRJ.
Ana Tereza de Andrade
REVISÃO TÉCNICA Paulo Cesar de Paiva
Fez graduação em Ciências Biológicas no Instituto de Biociências / USP, mestrado em
Marta Abdala
Comunidades de Polychaeta no Instituto Oceanográfico / USP e doutorado em Bentos
de Zonas Rasas no Instituto Oceanográfico / USP. Atualmente, Paulo é Professor-
Departamento de Produção adjunto do Departamento de Zoologia do Instituto de Biologia da UFRJ e leciona
EDITORA as disciplinas “Zoologia II – Mollusca, Annelida e Echinodermata”, “Invertebrados
Tereza Queiroz Marinhos”, para a graduação em Ciências Biológicas, Instituto de Biologia / UFRJ;
“Ecologia de Bentos de Fundos Inconsolidados, para a pós-graduação em Ecologia;
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Instituto de Biologia / UFRJ; e Polychaeta, para a pós-graduação em Zoologia, Museu
Jane Castellani Nacional / UFRJ.
REVISÃO TIPOGRÁFICA Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Equipe CEDERJ Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
COORDENAÇÃO GRÁFICA eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
Jorge Moura
F383i
PROGRAMAÇÃO VISUAL Ferreira Junior, Nelson.
Ana Paula Trece Pires
Introdução à zoologia. v.1 / Nelson Ferreira Junior. – 2.ed. rev. –
Cristiane Matos Guimarães
Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
COORDENAÇÃO DE ILUSTRAÇÃO 190p.; 19 x 26,5 cm.
Eduardo Bordoni
ISBN: 85-7648-059-X
ILUSTRAÇÃO
Eduardo Bordoni 1. Reino animal. 2. Classificação zoológica. 3. Classificação
Salmo Dansa taxonômica. 4. Biogeografia. 5. Sistemática filogenética. I. Paiva,
Paulo César de. II. Título.
CAPA
David Amiel CDD: 590
2010/1
PRODUÇÃO GRÁFICA Referências Bibliográficas e catalogação na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Patricia Seabra
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
Pré-requisitos
Disciplinas:
Diversidade dos
Seres Vivos e
Dinâmica da Terra.
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
O REINO ANIMAL
8 CEDERJ
MÓDULO 1
Até o momento, mais de 1 milhão de espécies animais viventes
1
foram descritas, além de muitas espécies já extintas, conhecidas,
AULA
principalmente, através de seu registro fóssil ou de exemplares de
museus (Quadro 1.1).
Esta diversidade é tão grande que nenhum ser humano seria capaz
de conhecê-la totalmente. Uma pessoa que se dedicasse a estudar todos os
animais, examinando uma espécie por hora, em uma jornada de trabalho
de oito horas diárias, não teria finalizado sua tarefa após 3 séculos.
Quadro 1.1: Diversidade Animal – número aproximado de espécies dos principais grupos.
Borboleta
(Morpho sp.)
0,2m
Avestruz Lombriga
2,4m Tubarão baleia
0,2m
Brontossauro fóssil 15m
22,5m
CEDERJ 9
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
10 CEDERJ
MÓDULO 1
Ao final do Ordoviciano, muitos grupos marinhos extinguiram-se.
1
Tal extinção coincidiu com um acentuado rebaixamento do nível do mar,
AULA
denominado regressão marinha.
No SILURIANO, cerca de 438 m.a., houve um novo aumento na diver- SILURIANO
sidade animal. Os mares, nesse período, estavam repletos de artrópodes
Eurypterida. Surgiram os placodermos, peixes que possuíam mandíbulas,
e, em alguns casos, estruturas parecidas com nadadeiras. Nesse período,
surgiram as primeiras evidências de que alguns grupos animais teriam
invadido o ambiente continental.
O DEVONIANO, cerca de 408 m.a., apresentou uma grande diver- DEVONIANO
sificação de não-vertebrados, principalmente de animais que formam
corais, de trilobitas e de AMONITES. Esse período também foi marcado AMONITES
Cefalópodes
pelo pico da diversificação dos agnatos e dos placodermos. Duran- revestidos por
te o Devoniano, denominado Era dos Peixes, originaram-se os conchas semelhantes
às lulas.
peixes cartilaginosos ou condríctes e os peixes ósseos ou osteíctes.
Os anfíbios e os insetos com asas também apareceram nesse período. Ao final
do Devoniano, aparentemente coincidindo com uma nova regressão
marinha, ocorreu uma extinção em massa de não-vertebrados marinhos.
No CARBONÍFERO, cerca de 360 m.a., ocorreu uma grande diversifica- CARBONÍFERO
ção de insetos, tais como: gafanhotos, baratas, cigarras etc. Houve ainda
uma grande diversificação dos anfíbios, muito dos quais eram enormes
(mais de 4 metros), tendo a grande maioria se extinguido ao final do
período. É desse período o registro dos primeiros répteis.
No PERMIANO, último período da era Paleozóica com cerca de 286 PERMIANO
m.a., ocorreu uma grande diversificação na maioria das ordens de insetos.
Há então um aumento na diversidade dos répteis, incluindo formas
semelhantes aos mamíferos, e um declínio na dos anfíbios. Nesse período,
houve a maior extinção em massa da história dos seres vivos, principalmente
entre os não-vertebrados marinhos. No mar, os trilobitas, que já estavam
sofrendo um declínio, desapareceram e os amonites, que continuavam
a se proliferar, juntamente com os corais de antozoários e com os
equinodermos crinóides etc. declinaram acentuadamente. Entre os peixes
e os grupos terrestres ocorreram extinções menos importantes.
A partir dessa panorâmica, você já pode ter uma idéia do que ocorreu
com os seres vivos durante o Paleozóico. Veja agora o que ocorreu nas
eras seguintes.
CEDERJ 11
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
12 CEDERJ
MÓDULO 1
O período QUATERNÁRIO, iniciado há aproximadamente 2 milhões QUATERNÁRIO
1
de anos, é representado por animais parecidos com aqueles existentes
AULA
atualmente ou pelos mesmos que hoje encontramos.
O Quadro 1.2 que você verá em seguida mostra, de forma
esquemática, os principais eventos que caracterizaram cada período.
e Proterozóico
Arqueozóico
Devoniano 408 Clima frio; bacias de água doce se desenvolvem. Surgimento das
primeiras florestas. Primeiros insetos alados; origem e diversificação
dos peixes cartilaginosos e ósseos, com desaparecimento das formas
sem nadadeiras; aparecimento de tetrápodes. Extinção massiva.
Carbonífero 360 Clima geralmente morno e úmido, mas com alguma glaciação
meridional. Florestas alagadas de esfenopsísdeos, licópsídeos e
samambaias. Radiação das primeiras ordens de insetos; grande
diversidade de anfíbios especializados; primeiros répteis.
Permiano 286 Glaciações. Clima frio, esquentando progressivamente para o Triássico.
Florestas de glossoptérida; radiação de répteis, incluindo formas
semelhantes aos mamíferos; declínio dos anfíbios; diversificação das
ordens de insetos. Extinção massiva no final do período.
Triássico 248 Clima morno; desertos extensos. Domínio das gimnospermas;
aparecimento das primeiras angiospermas, dinossauros e mamíferos;
diversificação de não-vertebrados marinhos.
Mesozóico
CEDERJ 13
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
Meio aquático
Fundo d’água
14 CEDERJ
MÓDULO 1
Abissal – região que cobre o assoalho oceânico, caracterizada
FOSSAS OCEÂNICAS
1
Verdadeiras fendas pela sua grande profundidade de cerca de 3.000 a 6.000
submarinas que podem
AULA
atingir até 10.000 metros metros, ocupando a maior parte do fundo do mar.
de profundidade.
Hadal – região correspondente às FOSSAS OCEÂNICAS.
Coluna d’água
CEDERJ 15
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
Esta invasão, apesar das diferenças químicas entre a água do mar e a água doce,
foi bem-sucedida para muitos grupos animais como: caramujos, insetos, vermes,
caranguejos, sanguessugas, peixes etc (Figura 1.2). Tais ambientes apresentam
diferenças: podem ser permanentes ou provisórios, ou suas águas podem
estar em constante movimento ou paradas. Apresentam, portanto, faunas
diferentes com adaptações próprias.
Larva
Adulto
Inseto
(tricóptero)
Caramujo
Peixe Palito
16 CEDERJ
MÓDULO 1
Meio aéreo
1
No meio aéreo, a grande maioria dos animais está diretamente
AULA
associada ao substrato. O ar, pela sua pequena densidade, dificulta a
manutenção de animais em suspensão, sendo pouco ocupado. Repare
que um pássaro, por exemplo, não se mantém no ar, voando, da mesma
forma ou com a mesma facilidade com a qual um peixe se mantém
nadando. Animais como insetos, aves, morcegos etc. ocupam, efetivamen-
te, o ambiente aéreo; porém o fazem geralmente de forma temporária,
passando nele pelo menos uma parte do seu ciclo de vida.
O substrato do meio aéreo, no entanto, apresenta uma grande
diversidade de ambientes, que, geralmente está associado não apenas ao
ambiente físico, mas principalmente ao tipo de vegetação. As grandes
formações vegetais são utilizadas para denominar ambientes como: Flo-
resta Tropical, Floresta Temperada, Cerrado, Savana, Restinga, Tundra,
Deserto etc.
Como você pode observar, o ser humano, especialmente os
cientistas, tem o hábito de classificar e ordenar tudo, ou pelo menos o
conhecimento. É claro que a natureza é contínua, sendo as classifica-
ções apenas artifícios para uma melhor compreensão e descrição dos
ambientes e organismos.
O QUE É ZOOLOGIA?
CEDERJ 17
Introdução à Zoologia | Introdução ao Reino Animalia
RESUMO
Nesta aula, você viu que o reino animal é aquele que agrupa organismos
multicelulares, que são heterotróficos, potencialmente móveis, providos de
células gaméticas e tecidos distintos e apresentam reprodução sexual com meiose.
É o maior reino, sendo conhecidas atualmente cerca de 2 milhões de espécies.
Através do registro fóssil, acredita-se que tais espécies tenham se originado nos
fundos oceânicos há mais de 600 m.a. e sofrido uma série de radiações (divisões em
várias espécies) e extinções até os dias de hoje. Você aprendeu que, ao longo deste
tempo, as espécies conquistaram todos os ambientes do planeta, invadindo o
ambiente continental aquático e terrestre e que elas, atualmente, habitam desde
as maiores profundezas oceânicas até os mais altos picos continentais. O estudo dos
animais, sob os mais diferentes aspectos, é o campo da Zoologia, que utiliza-se de
análises comparativas entre os diversos grupos animais para compreender a história
evolutiva da Terra.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
Por que organismos como uma alga, uma bactéria e um fungo não são considerados
animais, enquanto um mexilhão, uma esponja-do-mar e um carrapato o são?
Por que o meio ambiente habitado pelos animais é dividido em Meio Aquático e Meio
Aéreo, não incluindo o Meio Terrestre ? Uma dica. Pense no critério utilizado para
dividir o planeta Terra em Meio Aquático e Meio Aéreo e na questão do substrato.
18 CEDERJ
2
AULA
Biologia comparada
e escolas sistemáticas
objetivos
Pré-requisito
Disciplina:
Diversidade dos Seres Vivos.
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
INTRODUÇÃO Como você viu na aula anterior, a Zoologia deixou de ser uma ciência puramente
descritiva para se tornar uma ciência com objetivos mais amplos. Atualmente,
além de descrever a diversidade animal, ela procura também estabelecer rela-
ções entre os animais e entre estes e o meio ambiente.
Desta forma, faz-se necessária uma introdução aos métodos de estudo com-
parativos utilizados nesta nova óptica da Zoologia. Dependendo do enfoque,
a Biologia pode ser desmembrada em dois ramos principais: Biologia Geral e
Biologia Comparada.
20 CEDERJ
MÓDULO 1
Já um bioquímico pode estudar a ocorrência de uma deter-
2
minada proteína, em diferentes grupos animais. Esse mesmo
AULA
pesquisador pode avaliar a similaridade entre elas e a possível
relação entre a existência dessas proteínas em determinados organismos,
associando-as ao tipo de vida dos organismos ou ao ambiente onde vivem.
Um zoólogo pode estudar a ocorrência de uma determinada
estrutura ou de um comportamento em diferentes grupos animais: pode
comparar o comportamento de cortejo do macho de um macaco ao de
uma ave e ao de um inseto.
Estudos comparativos permitem avaliar se uma determinada
estrutura, ou um determinado comportamento, surgiu de forma
independente nos diversos grupos. O surgimento independente pode
ter ocorrido como uma adaptação ao ambiente e ao modo de vida.
Tal estrutura ou comportamento, que ocorre em diversos grupos,
pode ter sido herdado de um ancestral comum a estes, estabelecendo,
portanto, um grau de parentesco.
A Biologia Comparada tem uma visão evolutiva sem a qual se
torna difícil a compreensão dos aspectos naturais e da diversidade
biológica. Logo, a Biologia Comparada, em um sentido amplo, é o
estudo da diversidade biológica numa perspectiva histórica.
Como visto anteriormente, nesse novo enfoque, a Zoologia estuda
os animais numa perspectiva comparativa e histórica.
DIVERSIDADE BIOLÓGICA
!
Um pouco da diversidade biológica já foi vista na disciplina
Diversidade dos Seres Vivos, no período anterior.
CEDERJ 21
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
985000
65000
50000 47000
35000
20000
15300
9000 9000 12000
7000
4500
3000
1800
900
700
450 400 335
250
230
150 150
100 100 80 80 100 85
23
15 15 15
1
ha
ra
ha
da
ra
ho
rp
ife
at
uli
mo
gn
op
ric
m
to
to
ch
Lo
to
os
ae
y
ma
On
th
Ch
Ne
as
Gn
Figura 2.1: Número aproximado de espécies descritas para cada grupo animal.
22 CEDERJ
MÓDULO 1
SISTEMÁTICA E
TA X O N O M I A SISTEMÁTICA E TAXONOMIA
São termos geralmente
2
considerados como
Até um passado recente, a descrição
AULA
sinônimos. Significam
o estudo da diversidade de organismos e de semelhanças e diferenças
orgânica e do tipo de
relacionamento existente nas suas caraterísticas era efetuada por
entre populações, ALFRED RUSSEL
espécies ou grupos de naturalistas num ramo da Zoologia denomi- WA L L A C E
organismos, incluindo (1823-1913)
a teoria e prática de
nado SISTEMÁTICA ou TAXONOMIA. A Sistemática
Naturalista britânico,
identificação, classificação ou Taxonomia tinha ainda a função de classificar de poucas posses, que
e nomenclatura.
observou e colecionou
Eventualmente alguns os organismos de uma forma ordenada,
a fauna e flora em
pesquisadores consideram
que o termo Sistemática baseando-se apenas nas semelhanças entre expedições à Região
tem uma abrangência Amazônica e à Oce-
maior do que Taxonomia.
os organismos. ania. A partir destas
Definições para cada observações escreveu
A partir do século XIX, começam a um trabalho acerca da
termo serão dadas na
aula de Classificação surgir as primeiras idéias de que as espécies origem das espécies,
Zoológica. enviado a Darwin para
de organismos não eram fixas. Até então, uma apreciação. Este
trabalho foi apresenta-
acreditava-se que os organismos, frutos de uma do, com modificações,
criação divina, não se modificavam ao longo do por Darwin como uma
colaboração na Linnean
tempo, ou seja, toda a diversidade atual teria Society de Londres em
1858, precedendo, por-
sido criada por Deus, mantendo-se inalterada tanto, a publicação do
livro clássico de Darwin
por toda a história geológica da Terra.
sobre a seleção natural.
A idéia de que os organismos mudavam Devido a este fato,
existem polêmicas
ao longo do tempo e de que tais mudanças quanto à autoria da
CHARLES ROBERT Teoria da Evolução
poderiam ser transmitidas de uma geração
DARWIN das espécies atribuída
(1809-1892) para outra foi bem estabelecida com o surgi- a Charles Darwin.
Recentemente, esta
Naturalista britânico. mento da teoria da evolução biológica. Esta teoria tem sido
Aristocrata, estudou denominada, por
medicina em idéia foi desenvolvida, simultaneamente, por diversos autores, de
Endinburgh, tornando-se Teoria da Evolução de
clérigo em Cambridge. CHARLES DARWIN e ALFRED WALLACE em 1858 e ganhou
Darwin-Wallace.
Embarcou, em 1831,
repercussão com a publicação, em 1859, do
no navio HMS Beagle
como acompanhante de livro de Darwin A origem das espécies pela
refeições do comandante
do navio em uma seleção natural. RELACIONAMENTO
viagem de 5 anos ao FILOGENÉTICO
Os conceitos de parentesco (ou de
redor do mundo.
Suas observações RELACIONAMENTO FILOGENÉTICO ) e ancestralidade História das
sobre a fauna, flora e relações de
geologia, juntamente comum, bases da teoria evolutiva, foram aceitos parentesco entre
com experimentos grupos de
de cruzamentos em
pela comunidade científica, mas demoraram a organismos.
laboratório, o levaram a ser incorporados na prática de catalogação e CLASSIFICAÇÃO
estabelecer a Teoria da
Evolução por Seleção CLASSIFICAÇÃO das espécies. Ato de agrupar os
Natural, organismos em cate-
e foram publicadas Durante muito tempo, a classificação gorias ou classes,
no livro Origem das propondo uma ordem
das espécies ainda era baseada em critérios simples
espécies pela seleção. hierárquica entre tais
natural, em 1859. de graus de semelhança e de diferença entre elas. categorias.
CEDERJ 23
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
Tempo
método de reconstrução T2
filogenética,inicialmente
denominada Sistemática Y
Filogenética. Atualmente, T1
o termo mais utilizado
para esta escola de
pensamento é Cladismo. Z T0
24 CEDERJ
MÓDULO 1
Levando-se em conta a história evolutiva, pode-se considerar que
2
um animal ancestral Z, que viveu no tempo 0 (T0), originou, no tempo 1
AULA
(T1), dois animais diferentes: a estrela-do-mar e o animal ancestral Y.
Em T2, o ancestral Y originou o tubarão e o animal ancestral X
que, por sua vez, em T3, originou a sardinha e a lagartixa.
Apesar das semelhanças de forma entre o tubarão e a sardinha, ambos
denominados peixes, a afinidade maior da sardinha é com a lagartixa,
devido ao fato de ambas compartilharem um ancestral comum X. Portanto,
considera-se a sardinha como pertencente ao grupo-irmão do grupo
da lagartixa e, por sua vez, o tubarão como pertencente ao grupo-irmão
do grupo que inclui a sardinha e a lagartixa.
Hennig mostrou, com o seu método, como a Sistemática deve
refletir a história evolutiva dos grupos em uma relação de descendência
com ancestralidade comum.
O conceito de Sistemática foi então ampliado, tendo por principais
objetivos:
descrever a diversidade biológica;
estudar e ordenar as relações filogenéticas entre grupos;
compreender como se originou a diversidade;
criar um sistema de classificação para ordenar a diversidade
biológica.
CEDERJ 25
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
ESCOLAS SISTEMÁTICAS
Escola Tradicional
26 CEDERJ
MÓDULO 1
Nessa escola, o pesquisador, mais do que qualquer um, seria o respon-
2
sável por propor a classificação, através de sua sensibilidade e por conhecer
AULA
as semelhanças e diferenças dos grupos.
Embora a idéia de evolução seja amplamente difundida, e
provavelmente aceita pelo pesquisador, não existe o compromisso de
que tal conceito esteja presente no seu critério de classificação.
Escola Fenética
FENÉTICA
Na Escola FENÉTICA, também denominada Taxonomia Numérica, Termo criado por
a organização do conhecimento sobre a diversidade dos organismos se Mayr para designar
a Taxonomia
baseia em um conjunto de métodos matemáticos bem claros, porém não Numérica. A palavra
tem origem grega:
está fundamentada em uma teoria biológica. phaínein = mostrar,
expressar + ethos
Este conjunto visa a reunir grupos animais com o maior número
= comum a um
possível de semelhanças observáveis. As características de cada organismo grupo de indivíduos,
significando
são quantificadas através de critérios matemáticos, e a similaridade entre semelhança aparente
comum a um grupo.
eles é expressa por porcentagens de semelhanças e distâncias geométricas
entre os organismos. Em função das distâncias calculadas, os organismos
são reunidos em grupos e subgrupos.
!
Os critérios matemáticos utilizados pelos feneticistas serão
apresentados nas Aulas 6 e 7.
CEDERJ 27
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
28 CEDERJ
MÓDULO 1
Tanto a taxonomia tradicional como a evolutiva utilizam-se da
2
intuição como ferramenta para estabelecer o relacionamento entre grupos
AULA
de organismos, ou seja, não demonstram claramente como e o que fazem,
estabelecendo grupos com base em critérios muito subjetivos.
Escola Cladista
CEDERJ 29
Introdução à Zoologia | Biologia comparada e escolas sistemáticas
RESUMO
Você viu que, atualmente, a Zoologia tem objetivos bem mais amplos do que
a descrição de animais. Isto é feito através de estudos de Biologia Comparada, onde
características de diferentes animais são comparadas a fim de se reconstruir a história
evolutiva dos grupos. A Sistemática, como ramo da Zoologia, procura ordenar
o conhecimento biológico estabelecendo classificações. Você aprendeu que existem
diversas escolas de pensamento na Sistemática, entre elas se destacam:
Escola Evolutiva, Escola Tradicional, Escola Cladista e Escola Fenética. As principais
diferenças entre elas são a utilização ou não do conceito de evolução nos seus
critérios de classificação e a subjetividade dos métodos que utilizam.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
30 CEDERJ
3
AULA
Homologia e série de
transformação de caracteres
objetivos
Pré-requisitos
Aula 2:
Biologia Comparada
e Escolas Sistemáticas.
Introdução à Zoologia | Homologia e série de transformação de caracteres
INTRODUÇÃO Como você já deve ter percebido, pelas aulas anteriores, os estudos comparati-
vos com grupos de animais são fundamentais para a Zoologia. As características
não devem ser consideradas como entidades isoladas, independentes do animal.
Muitas são compartilhadas por indivíduos de uma mesma espécie ou, também,
por indivíduos de espécies diferentes. Esse compartilhamento deve-se, por vezes,
ao fato de as espécies terem herdado tais características de um ancestral comum.
Por exemplo, tanto você quanto uma barata apresentam um tubo digestivo com
duas aberturas: boca e ânus. É provável que você e ela tenham herdado esse tipo
de tubo digestivo de um mesmo ancestral. Por outro lado, diferentes animais
podem apresentar estruturas similares devido ao surgimento independente delas.
Para se compreender melhor como determinadas estruturas são utilizadas na
reconstrução da história evolutiva dos grupos de organismos, é necessário
compreender os conceitos de Homologia e de Série de Transformação de
Caracteres.
HOMOLOGIA
Do grego homos = não só para a Biologia Comparada como também para a maioria das
igualmente, da mesma
maneira + logos =
generalizações sobre os fenômenos biológicos.
ciência, explicação. A compreensão adequada desse conceito é um passo importante
em nossa área, uma vez que através dele é possível comparar partes
distintas de organismos diferentes. Portanto, homologia é um conceito
essencialmente comparativo.
O estabelecimento de homologia é apenas uma suposição baseada
na similaridade entre estruturas, e se refere à existência de uma relação
entre características observadas em indivíduos diferentes.
!
Ao afirmarmos que determinadas estruturas encontradas em diferentes
espécies são homólogas, queremos dizer que essas espécies são descendentes
de um ancestral comum, o qual também apresentava essa estrutura.
32 CEDERJ
MÓDULO 1
estruturas que apresentam formas parecidas, como as
3
asas de um pombo e as asas de um gavião;
AULA
Gavião
Sardinha Tubarão
CEDERJ 33
Introdução à Zoologia | Homologia e série de transformação de caracteres
Vista superior
Vista lateral
Gato Macaco
34 CEDERJ
MÓDULO 1
3
AULA
Aranha Caranguejo
Minhoca Lacraia
Figura 3.5:
Homem e cavalo.
CEDERJ 35
Introdução à Zoologia | Homologia e série de transformação de caracteres
36 CEDERJ
MÓDULO 1
O que é considerado caráter, em um nível mais abrangente, pode
3
ser considerado estrutura, em níveis mais restritos. Por exemplo, as
AULA
cerdas da antena do crustáceo podem apresentar formatos diferentes.
Neste caso, as cerdas passam a ser consideradas estruturas e o caráter
passa a ser forma das cerdas.
Figura 3.7:
Antena de crustáceo.
Homologia primária e homologia secundária
FILOGENIA
Homologia secundária – homologias que foram
Do grego phylon
comprovadas pela análise. = tribo + geneia =
evolução, origem.
História das relações de
Homologia serial parentesco de um grupo
de organismos.
Para começarmos, saiba que da mesma forma que a perna direita
de um filho é homóloga à do pai ou à de um cavalo, a mesma perna
direita do filho também é homóloga à sua perna es-querda. Além disso,
as quatro pernas de um cavalo são homólogas entre si. Este tipo de
homologia, em que as estruturas semelhantes aparecem em um mesmo
organismo como repetições de partes do corpo, é usualmente denominada
de homologia serial. Uma centopéia e um piolho-de-cobra ou gongolo
apresentam dezenas de pernas e anéis no corpo. Tais pernas e anéis são
produzidos como uma repetição de partes, apresentando a mesma forma,
função e origem embrionária.
CEDERJ 37
Introdução à Zoologia | Homologia e série de transformação de caracteres
!
Como vimos, estruturas homólogas podem
ou não ser semelhantes entre si e podem ou
não desempenhar a mesma função.
38 CEDERJ
MÓDULO 1
Você deve se lembrar, por exemplo, de como uma lagarta ou
3
taturana, claramente metamérica, se transforma em uma borboleta, cuja
AULA
metameria à primeira vista só é notável na semelhança entre as pernas.
Entretanto, na reconstrução filogenética dos animais, a metameria
ou homologia serial não será utilizada, pois o método cladístico se baseia
apenas nas homologias entre indivíduos diferentes.
SÉRIE DE TRANSFORMAÇÃO
CEDERJ 39
Introdução à Zoologia | Homologia e série de transformação de caracteres
RESUMO
Nesta aula, você viu que os estudos sobre como se originam os diferentes
grupos animais são baseados na observação de homologia entre
estruturas. A homologia é um conceito fundamental para que se inicie
uma análise filogenética. A homologia primária é a suposição inicial de
que estruturas em organismos diferentes têm a mesma origem, enquanto
a homologia secundária é a comprovação desta suposição após a
análise filogenética.
As modificações que ocorrem nas estruturas são denominadas de caracteres.
Eles mudam ao longo do tempo através de uma série de transformações na
qual o estado primitivo original é denominado plesiomórfico e o estado novo
derivado, apomórfico.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
Descreva pelo menos dois exemplos não citados na aula de condições plesiomórfica
e apomórfica de um mesmo caráter.
40 CEDERJ
4
AULA
Caracteres compartilhados
e homoplasias
objetivos
Pré-requisitos
Aula 2:
Biologia comparada e
escolas sistemáticas.
Aula 3:
Homologia e série
de transformação de
caracteres.
Introdução à Zoologia | Caracteres compartilhados e homoplasias
CARACTERES COMPARTILHADOS
42 CEDERJ
MÓDULO 1
4
AULA
t0
Espécie α
t1
t0
Espécie α
Figura 4.2: Evolução da espécie α a partir de t 0. Em t 1, a espécie α se divide nas espécies beta (β)
e gama (γ), (cladogênese).
t2
Espécie β Espécie γ
t1
t0
Espécie α
Figura 4.3: Evolução da espécie α a partir de t0. Em t1, a espécie α se divide nas espécies beta (β) e gama (γ).
Em t2, as espécies β e γ se diferenciam uma da outra e as duas da espécie α.
CEDERJ 43
Introdução à Zoologia | Caracteres compartilhados e homoplasias
t3
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t2
Espécie β Espécie γ
t1
Espécie β Espécie γ
t0
Espécie α
Figura. 4.4: Evolução da espécie α a partir de t0. Em t1, a espécie α se dividindo nas espécies beta (β) e gama
(γ). Em t2, as espécies β e γ se diferenciam uma de outra e as duas da espécie α. Em t3, a espécie γ se divide
nas espécie delta (δ) e épsilon (ε).
t4
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t3
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t2
Espécie β Espécie γ
t1
Espécie β Espécie γ
t0
Espécie α
Figura. 4.5: Evolução da espécie α a partir de t0. Em t1, a espécie α se dividindo nas espécies beta (β) e gama
(γ). Em t2, as espécies β e γ se diferenciam uma de outra e as duas da espécie α. Em t3, a espécie γ se divide nas
espécie delta (δ) e épsilon (ε). Em t4, as espécies δ e ε se diferenciam uma da outra e as duas da espécie γ.
44 CEDERJ
MÓDULO 1
Em t5, você vai observar que tanto a espécie δ quanto a espécie
4
ε não sofreram modificações em relação ao momento t 4. Contudo,
AULA
observando a espécie β, que do momento t2 ao t4 não havia sofrido
qualquer modificação, você pode observar que nela surgiram asas. Agora,
em t5, as asas representam mais uma autapomorfia para esta espécie.
t5
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t4
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t3
Espécie β Espécie δ Espécie ε
t2
Espécie β Espécie γ
t1
Espécie β Espécie γ
t0
Espécie α
Figura. 4.6: Evolução da espécie α a partir de t0. Em t1, a espécie α se dividindo nas espécies beta (β) e gama
(γ). Em t2, as espécies β e γ se diferenciam uma de outra e as duas da espécie α. Em t3, a espécie γ se divide nas
espécie delta (δ) e épsilon (ε). Em t4, as espécies δ e ε se diferenciam uma da outra e as duas da espécie γ. Em t5,
a espécie β, sofre modificação em sua forma (anagênese).
CEDERJ 45
Introdução à Zoologia | Caracteres compartilhados e homoplasias
Agora, ficou mais fácil perceber que esses conceitos são relativos
e dependentes do universo a que se referem, ou seja, uma apomorfia,
em um determinado nível, pode ser considerada uma plesiomorfia em
outro nível.
Tomemos como exemplo a ocupação do ambiente terrestre. Assim,
considerando o tipo de ambiente em que os animais vivem, a vida marinha
representa uma plesiomorfia quando comparada à invasão do ambiente
continental pelo ancestral dos tetrápodes. Contudo, se considerarmos os
mamíferos marinhos, a vida nesse ambiente é uma sinapomorfia, uma
vez que seus ancestrais foram animais terrestres.
A fixação de uma dada modificação na população, a partir da
condição preexistente, implica a sua transmissão a todos os indivíduos
das gerações seguintes. No caso de a população de uma espécie
se fragmentar, as subpopulações resultantes também herdarão tal
modificação. Dessa forma, todos os descendentes dessa espécie portarão
a condição apomórfica que nela se originou.
Retornando à seqüência das figuras anteriores, você perceberá
!
ANAGÊNESE E que os processos evolutivos denominados ANAGÊNESE e CLADOGÊNESE estão
CLADOGÊNESE
ali representados. A compreensão desses conceitos é muito importante
Ver Aula 3, Ho-
mologia e série de para evitar futuras confusões. Com o surgimento da barreira que dividiu
transformação de
caracteres. a espécie α nas espécies β e γ, e da barreira que dividiu a espécie γ nas
espécies δ e ε, ocorre o processo denominado cladogênese. No momento
da divisão da espécie ancestral, as espécies filhas ainda não sofreram
qualquer modificação, sendo idênticas uma à outra e, também, à espécie
ancestral. Esse fato pode impedir a distinção entre elas, contudo, à luz
da teoria, são espécies distintas.
Acompanhando a evolução da espécie β, percebe-se que a forma
do seu corpo modificou-se, entre t1 e t5. Embora a espécie β tenha sofrido
modificações, ao longo do tempo, ela ainda continua a mesma, tanto
em t1 quanto em t2 ou t5. Esse processo é denominado anagênese. Tal
fato pode levar um pesquisador a deduzir que indivíduos pertencentes
à mesma espécie, contudo originários de épocas distintas, pertençam a
espécies diferentes.
Agora, imagine que a espécie β viva ainda hoje e que durante toda a sua
história de vida alguns indivíduos foram fossilizados em t1 e outros em t2.
O que você faria se descobrisse os fósseis de cada uma dessas épocas?
Você os descreveria como espécies diferentes?
46 CEDERJ
MÓDULO 1
Se esses fósseis fossem descobertos, possivelmente seriam descritos
4
como espécies diferentes.
AULA
Como você pode perceber, esse é mais um caso que impõe dificuldades
ao trabalho de um pesquisador. Mesmo com as modificações apresentadas
pelos indivíduos em cada época, todos eles pertencem a uma única espécie.
HOMOPLASIAS
CEDERJ 47
Introdução à Zoologia | Caracteres compartilhados e homoplasias
Figura 4.8: Pernas saltatoriais de canguru e de gafanhoto; postura ereta de ser humano
e de pingüim; apêndice em forma de pinça dos caranguejos e de escorpiões.
48 CEDERJ
MÓDULO 1
A partir de um mesmo estado plesiomórfico, surgem,
independentemente, estados apomórficos idênticos em dois organismos
4
diferentes. Este tipo de homoplasia costuma ocorrer em organismos
AULA
muito próximos filogeneticamente e é, comumente, denominado
paralelismo. Por exemplo, as membranas interdigitais dos dedos
anteriores dos pés dos patos e dos albatrozes (Figura 4.9) ou a redução
no comprimento dos élitros (= asas anteriores dos besouros) em diferentes
grupos de besouros serra-paus (Cerambycidae) (Figura 4.10).
Figura 4.9: Aves com membranas interdigitais nos pés: (a) albatroz, (b) pato.
CEDERJ 49
Introdução à Zoologia | Caracteres compartilhados e homoplasias
50 CEDERJ
MÓDULO 1
EXERCÍCIO AVALIATIVO
4
No cladograma abaixo, são mostradas as transformações, ao longo da filogenia,
AULA
de dois caracteres (círculo e quadradinho). Observe, no caso 1, que a espécie B
apresenta o mesmo estado apomórfico do caracter “quadradinho” que a espécie
D (quadrados escuros), sendo que ambos têm seu ancestral comum com o estado
de quadrado claro. No caso 2, a espécie A compartilha o mesmo estado do caráter
círculo (círculo claro) com a espécie D, embora o ancestral de B com C e D apresente
o estado círculo escuro. Explique que tipo de compartilhamento de caracteres foi
descrito acima.
Caso 1 Caso 2
CEDERJ 51
5
AULA
Agrupamentos taxonômicos
objetivos
Pré-requisitos
Aula 3:
Homologia e série de
transformação de
caracteres.
Aula 4:
Caracteres
compartilhados e
homoplasias.
Introdução à Zoologia | Agrupamentos taxonômicos
AGRUPAMENTOS TAXONÔMICOS
54 CEDERJ
MÓDULO 1
A escola cladista ordena a diversidade biológica a partir do TÁXON
5
relacionamento genealógico entre grupos naturais, isto é, com base nas
Os táxons podem
AULA
relações de parentesco (filogenéticas) entre grupos formados por orga- ser naturais (no
sentido de que existe
nismos que possuem um mesmo ancestral comum exclusivo. relação natural
Como você já percebeu, nesta aula, estamos tratando de grupos entre seus elementos
como as relações
de organismos e não mais de seus caracteres isoladamente. Qualquer filogenéticas) ou
artificiais (apresentam
agrupamento de organismos biológicos cuja definição seja algum tipo relação abstrata).
Os táxons podem
de semelhança compartilhada é denominado TÁXON. As semelhanças que
ser nomeados ou
unem os elementos de um táxon podem corresponder a sinapomorfias, não, como será visto
nas Aulas 10, 11 e
simplesiomorfias ou homoplasias. 12 – Classificação
zoológica e
Como resultado da definição de relacionamento biológico, Willi taxonômica.
Hennig identificou três tipos de agrupamentos taxonômicos (Figura 5.1):
monofilético, parafilético e polifilético. A compreensão de cada um desses
tipos é fundamental para a classificação taxonômica.
T3
X
T2
Tempo
Y
T1
Z T0
Grupo Monofilético
!
Para que sejam erigidos agrupamentos taxonômicos naturais (monofiléticos),
o princípio da ancestralidade comum e exclusiva deve ser aplicado a qualquer
táxon ou categoria taxonômica.
CEDERJ 55
Introdução à Zoologia | Agrupamentos taxonômicos
!
A hipótese de que determinados táxons formam um agrupamento monofilético
é sustentada por sinapomorfias, isto é, o compartilhamento de apomorfias cor-
responde a um indício de ancestralidade comum entre táxons.
56 CEDERJ
MÓDULO 1
Protostomata Deuterostomata
5
Arthropoda Chordata
AULA
Tetrapoda
Mammalia
Estrela-do-mar
Papa-mosca
Caramujo
Mariposa
Papagaio
Macaco
Tainha
Rato
CEDERJ 57
Introdução à Zoologia | Agrupamentos taxonômicos
58 CEDERJ
MÓDULO 1
São eles:
5
V = (A, B, C, D, E, F);
AULA
W = (B, C, D, E, F);
X = (C, D, E, F);
Y = (D, E, F) e
Z = (E, F).
CEDERJ 59
Introdução à Zoologia | Agrupamentos taxonômicos
Grupo Parafilético
PISCES
Táxon parafilético
aceito em classificações Um grupo taxonômico parafilético é formado pelo agrupamento
tradicionais. Ele é com-
de apenas alguns táxons descendentes de um mesmo ancestral. Dessa
posto por
Myxinoidea (feiticeiras, forma, um grupo parafilético corresponde a um grupo monofilético
peixes sem mandíbu-
las), Petromyzontoidea do qual se retirou uma ou mais espécies descendentes. Na Figura 5.1,
(lampréias, peixes sem o táxon formado por tubarão + sardinha tem sido tradicionalmente
mandíbulas), Chon-
drichthyes (tubarões e denominado PISCES.
arraias, peixes cartilagi-
nosos), Actinopterygii
(peixes ósseos com
nadadeiras raiadas),
Actinistia (celacantos,
!
Entre os sistematas, é comum ouvir que peixe não existe.
peixes ósseos com
Portanto, se você comeu peixe hoje, continuará com fome, isto é, como
nadadeiras lobadas) e peixe não existe, você não comeu nada. Nesse caso, seus sentidos estão
Dipnoi (peixes ósseos, lhe enganando.
com nadadeiras lobadas Ih! Será que você está ficando maluco?
e pulmonados). Se você tem certeza que se alimentou de alguma coisa hoje, como esta coisa
pode não existir?
Não se preocupe, você não está ficando maluco. Note que você
se alimentou de um espécime (indivíduo) animal que existia, era sólido;
você o mastigou e o engoliu. Contudo, é a categoria taxonômica
na qual ele foi incluído que não existe. Observando atentamente
a Figura 5.1, você pode perceber que o táxon “Pisces” não é formado por
todos os descendentes de um mesmo ancestral comum, isto é, o ancestral
do tubarão e da sardinha também é ancestral da lagartixa. Como visto
“Pisces” representa um táxon parafilético, uma vez que inclui apenas
parte dos descendentes de um mesmo ancestral. Esse táxon foi criado
com base na semelhança geral de vertebrados aquáticos e, segundo
alguns pesquisadores, deve ser mantido na classificação zoológica.
A condição parafilética de “Pisces” (Figura 5.4) foi definida quando se
verificou que uma parte dos peixes apresenta maior parentesco com o
grupo dos Tetrapoda do que com outros peixes.
60 CEDERJ
MÓDULO 1
Peixes com
nadadeiras lobadas
Peixes cartilaginosos
Peixes pulmonados
nadadeiras raiadas
Peixes ósseos com
Lampréias–Peixes
5
sem mandíbula
Celacantos
Mamíferos
AULA
Crocodilos
Tartarugas
Lagartos
Anfíbios
Cobras
Aves
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
Figura 5.4: Cladograma demostrando o relacionamento filogenético entre os grupos de vertebrados.
CEDERJ 61
Introdução à Zoologia | Agrupamentos taxonômicos
Grupo Polifilético
Parafilético Monofilético
A B C D E F
62 CEDERJ
MÓDULO 1
RESUMO
5
O agrupamento de organismos baseados em algum critério de semelhança é
AULA
denominado táxon. As semelhanças que unem os organismos em um grupo
podem corresponder a sinapomorfias, simplesiomorfias ou homoplasias
(convergências, paralelismo ou reversões). Com o critério estabelecido por Hennig
de relacionamento filogenético, os agrupamentos formados, dependendo do
tipo de semelhança, podem ser denominados grupos Monofiléticos, Parafiléticos
e Polifiléticos. Os grupos monofiléticos englobam um ancestral e todos os
seus descendentes, como por exemplo o táxon Vertebrata (vertebrados).
Os parafiléticos envolvem o ancestral comum, mas nem todos os seus descendentes,
como os Reptilia (répteis). Nos grupos polifiléticos são reunidas partes de dois ou
mais grupos monofiléticos.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
A B C D E F
CEDERJ 63
6
AULA
Métodos de análise
cladística – Parte I
objetivos
Pré-requisitos
Aula 3:
Homologia e série de transformação de caracteres.
Aula 4:
Caracteres compartilhados e homoplasias.
Aula 5:
Agrupamentos taxonômicos.
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
INTRODUÇÃO Como visto nas aulas anteriores, os animais podem ser estudados isoladamen-
te em alguns dos seus aspectos, isto é, podemos estudar quais as estruturas
excretórias de um peixe de água doce, como um pássaro voa, como se dá
o canto de uma cigarra, como uma baleia respira, quais os mecanismos de
isolamento térmico de uma lhama, como um pingüim nada, qual o tipo de
veneno produzido por um escorpião, quais os mecanismos de defesa de uma
tartaruga, além de tantas outras questões. Contudo, somente a partir de estudos
comparativos são estabelecidas hipóteses de relacionamento filogenético. As
várias características compartilhadas, por indivíduos de uma mesma espécie ou
por indivíduos de espécies diferentes, podem ter sido herdadas de um ances-
tral comum ou podem ter surgido independentemente (homoplasias). Como
nós não podemos observar os ancestrais diretamente, buscamos mecanismos
para recuperar as informações acerca das relações de parentesco entre grupos,
analisando os táxons atuais ou os registros fósseis. A seguir, vamos abordar os
métodos utilizados pela taxonomia tradicional, propondo algumas atividades
para você desenvolver ao longo da aula.
66 CEDERJ
MÓDULO 1
Agora, vamos pegar o exemplo anterior e acrescentar mais alguns
6
animais (Figura 6.2).
AULA
Figura 6.2: Grupos de animais hipotéticos quadrados e redondos, com animais redondos fora desses grupos.
!
Com tal constatação, como devem ficar os grupos propostos inicialmente?
CEDERJ 67
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
!
Tente formar agrupamentos com os táxons apresentados.
68 CEDERJ
MÓDULO 1
Ao formar os agrupamentos mais abrangentes, você pode incluir
6
o grupo dos animais redondos, com asas e orelhas, em dois grupos dis-
AULA
tintos: no grupo D, que inclui os animais com olhos, com base na forma
redonda do corpo, ou no grupo E, que inclui os animais quadrados, com
base na presença de asas. Nesses casos, a decisão de qual agrupamento
deveria ser formado, D ou E, era do próprio taxonomista. Inúmeras
vezes, diferentes taxonomistas tinham opiniões contrárias, gerando
alguns conflitos.
Continuemos exercitando um pouco mais esse método de agrupa-
mento utilizado na taxonomia tradicional e também na fenética, e para
isso vamos aumentar o número de táxons e de características analisadas.
Seguindo o princípio da similaridade, faça uma análise e proponha agru-
pamentos entre estrelas-do-mar, tubarões, jibóias e macacos, utilizando
os seguintes caracteres:
Animais/Caracteres 1 2 3 4 5
A – Estrelas-do-mar
B – Tubarões
C – Jibóias
D – Macacos
CEDERJ 69
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
Animais/Caracteres 1 2 3 4 5
A– Estrelas-do-mar 0 0 0 0 1
B – Tubarões 0 0 0 0 1
C – Jibóias 0 0 0 1 1
D – Macacos 1 1 1 1 1
Animais/Caracteres 1 2 3 4 5
A – Estrelas-do-mar 0 0 0 0 1
B – Tubarões 0 0 0 0 1
C – Jibóias 0 0 0 1 1
D – Macacos 1 1 1 1 1
A B C D A B C D
OU
Figura 6.6: Representação gráfica do grupo formado com base no caráter 5. A linha
ou braço grifado representa o agrupamento que inclui todos os táxons.
70 CEDERJ
MÓDULO 1
Continuando nossa análise, observe que podemos utilizar também
6
os caracteres 1 (membros locomotores articulados), 2 (temperatura do
AULA
corpo) e 3 (local onde o embrião se desenvolve) para propormos um
grupo que inclua estrela-do-mar, tubarão e jibóia.
Quadro 6.4: Matriz de dados com realce para o grupo formado por A, B e C, e os
caracteres 1, 2 e 3.
Animais/Caracteres 1 2 3 4 5
A – Estrelas-do-mar 0 0 0 0 1
B – Tubarões 0 0 0 0 1
C – Jibóias 0 0 0 1 1
D – Macacos 1 1 1 1 1
A B C D A B C D
OU
Animais/Caracteres 1 2 3 4 5
A – Estrelas-do-mar 0 0 0 0 1
B – Tubarões 0 0 0 0 1
C – Jibóias 0 0 0 1 1
D – Macacos 1 1 1 1 1
CEDERJ 71
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
A B C D A B C D
OU
Figura 6.8: Representação gráfica dos dois grupos formados com base no caráter 4.
72 CEDERJ
MÓDULO 1
6
AULA
CEDERJ 73
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
Subungulados
Lagomorfos
Roedores
primitivos Elefantes
Primatas Ungulados
primitivos Sirênios
Pangolim
Morcegos
Tronco dos
Insetívoros Oricteropo
Desdentados
Figura 6.10: Árvore genealógica das principais ordens de mamíferos eutérios (placentários) (modificado de
Romer & Parsons, 1977).
74 CEDERJ
MÓDULO 1
SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA OU CLADISMO
6
Willi Hennig, através de sua Sistemática Filogenética, criou um
AULA
método para implementar o conceito ancestral-descendente, ou seja,
uma forma coerente de recuperar as informações acerca das relações de
parentesco entre os organismos. Ele também redefiniu grupo monofilético
e apresentou dois novos conceitos: apomorfia e plesiomorfia. De acordo
com a Sistemática Filogenética, os grupos são sempre monofiléticos e
fundamentados em sinapomorfias, não se admitindo grupos parafiléti-
cos e polifiléticos. A metodologia utilizada na Sistemática Filogenética
(denominada também metodologia cladística) vem sofrendo algumas
modificações, contudo, o escopo central da teoria de Hennig tem-se
mantido mais ou menos inalterado.
Para se compreender melhor como é realizada a reconstrução da
história evolutiva dos grupos de organismos, você verá alguns dos princí-
pios básicos da Sistemática Filogenética, isto é, como se determina o estado
de um caráter, como se estabelecem hipóteses de relacionamento filoge-
nético, quais as informações contidas nos diagramas de relacionamento
filogenético e as conseqüências de uma hipótese inicial de homologia não
ser comprovada em uma análise cladística.
CEDERJ 75
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
A B
A B
Assim,
A B B A
B C
B C
ou,
A B C B A C A C B
A B C B A C A C B
A B C B A C A C B
76 CEDERJ
MÓDULO 1
!
6
Como determinar qual a condição apomórfica e qual a condição plesiomórfica de um caráter?
AULA
A determinação da direção na transformação de um caráter
denomina-se polarização. Um caráter é dito polarizado quando o esta-
do apomórfico é distinguido do plesiomórfico. Antes do surgimento da
Sistemática Filogenética, essa questão havia sido tratada erroneamente.
Diversos pesquisadores consideravam que, dos estados encontrados em
um determinado grupo, o mais freqüentemente distribuído ou o mais
comum era o plesiomórfico ou o mais antigo. Em contrapartida, outros
consideravam justamente o oposto, ou seja, o estado mais freqüente ou
comum era o apomórfico. Se o estado de um caráter representa uma
apomorfia para um determinado grupo de organismos, então este mesmo
estado surgiu no ancestral deste grupo. Logo, antes do surgimento deste
ancestral o estado existente era o plesiomórfico. Os organismos derivados
de ancestrais anteriores ao ancestral do nosso grupo deveriam apresentar
o estado plesiomórfico. Por exemplo, se considerarmos o surgimento
da coluna vertebral, verificamos que em animais que não pertencem ao
grupo dos vertebrados tal condição nunca aparece (Figura 6.11).
Peixe cartilaginoso
Peixes ósseos
Estrela-do-mar
Tetrapoda
Lampréia
Anfioxo
Vértebra
CEDERJ 77
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte I
RESUMO
78 CEDERJ
7
AULA
Métodos de análise cladística
- Parte II
objetivos
Pré-requisitos
Aula 3:
Homologia e série de transformação de caracteres.
Aula 4:
Caracteres compartilhados e homoplasias.
Aula 5:
Agrupamentos taxonômicos.
Aula 6:
Métodos de análise cladística - Parte I.
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte II
INTRODUÇÃO Na aula anterior, você viu como os diferentes estados dos caracteres podem ser
utilizados para formar grupos de organismos. Foi visto também que a taxono-
mia tradicional utilizava critérios arbitrários para formação dos agrupamentos
e que, algumas vezes, um determinado caráter era preterido em detrimento
de outro. Nesses casos, era dado um peso maior para o caráter que se queria
utilizar. Como visto na Aula 2 (Biologia Comparada e Escolas Sistemáticas),
o lançamento dos fundamentos da Sistemática Filogenética provocou uma
revolução no conceito de sistemática, por incorporar a evolução biológica em
seu método.
Ontogenia
80 CEDERJ
MÓDULO 1
7
AULA
Peixe Salamandra Tartaruga Galinha Coelho Homem
Figura 7.1: Desenvolvimento embrionário de vertebrados segundo Haeckel. A primeira fileira corresponde aos
estágios iniciais de desenvolvimento; a segunda corresponde aos estágios intermediários e a terceira, aos estágios
finais. (Modificado de Gilbert, 1997.)
CEDERJ 81
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte II
Nessa mesma época, VON BAER postulava outra hipótese bem mais
próxima daquela que se acredita atualmente – conhecida como Lei de
von Baer. Segundo von Baer, a ontogenia guarda traços da filogenia,
uma vez que o desenvolvimento embrionário das espécies derivadas de
um mesmo ancestral possuem características comuns. Para ele, durante
o desenvolvimento embrionário, estágios anteriores tendem a ser mais
KARL ERNST VON
BAER similares entre organismos aparentados do que os posteriores. Dessa
(1792-1876) forma, o que se repete são traços do desenvolvimento embrionário e
Embriologista alemão
que desenvolveu não as formas adultas dos ancestrais.
a Embriologia O desenvolvimento ontogenético pode ser utilizado para polarizar
Comparada. Ele
estudou ovos e os estados de um caráter, contudo, existe uma série de situações que
tecido em formação e
observou a semelhança dificulta a utilização desse critério. Durante a ontogenia, alguns estágios
entre embriões de
podem ser acelerados ou retardados em relação a outros estágios. Estas
animais mais complexos
e menos complexos e mudanças de ritmo são denominadas heterocronia. O retardamento ou
também os ovos sem
casca de mamíferos. a aceleração do aparecimento de um estágio específico pode levar a
diferentes conseqüências.
O retardamento pode levar à neotenia, em que o descendente
se parece com a forma juvenil do ancestral. A aceleração pode levar à
progênesis, em que o desenvolvimento é interrompido mais cedo, fazendo
com que a maturação sexual ocorra precocemente.
Grupo-Externo
82 CEDERJ
MÓDULO 1
Se nós considerarmos apenas os táxons A, B, C e D como o nosso
7
grupo de análise – grupo-interno –, os táxons E, F e G serão considerados
AULA
grupos-externos.
Vários artigos foram dedicados à polarização de séries de transfor-
mação pelo critério do grupo externo. Para obter maiores informações,
consulte Amorim (2002).
A metodologia de polarização só deve ser empregada antes da aná-
lise cladística, tanto para corroborar a hipótese inicial acerca da condição
monofilética do grupo-interno quanto para escolher os grupos-externos.
A polarização individual de cada caráter antes da realização na análise
de parcimônia é desnecessária. Vejamos o que é isso.
Atualmente, o método mais utilizado para gerar hipóteses de
relacionamento filogenético é o método numérico denominado análise
de parcimônia. Inicialmente, a parcimônia foi empregada na Sistemá-
tica Filogenética como a forma mais simples ou econômica de escolha
entre caracteres incongruentes (conflitantes). A idéia da parcimônia é
a de minimizar a ocorrência de homoplasias e maximizar a ocorrência
de sinapomorfias. Dessa forma, as hipóteses que apresentam o menor
número de passos (eventos de surgimento de apomorfias) seriam mais
aceitas do que as hipóteses que apresentam maior número de passos.
Análise de Parcimônia
CEDERJ 83
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte II
ANÁLISE CLADÍSTICA
Táxon/Caracteres 1 2 3 4
A
B
C
D
Táxon/Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 0 0 0
D 1 1 0 1
7
táxons terminais, veremos que só existe uma história evolutiva
AULA
(filogenia) possível.
A B C B A C C A B
CEDERJ 85
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte II
86 CEDERJ
MÓDULO 1
RESUMO
7
AULA
A determinação de qual estado de um caráter é o apomórfico e qual é o
plesiomórfico, denominada polarização da série de transformação de caracteres,
pode ser efetuada através dos critérios de ontogenia e de grupo-externo. Na
polarização por ontogenia, considera-se que as características apresentadas nos
estágios iniciais do desenvolvimento são mais primitivas e aquelas nos estágios
finais, as mais derivadas. Isto porque a ontogenia guarda traços da filogenia
no desenvolvimento embrionário de espécies derivadas de um mesmo ancestral
apresentando características comuns. Na polarização por grupo-externo,
considera-se que o estado plesiomórfico de um caráter deve ser encontrado nos
grupos fora do grupo monofilético que apresenta o estado apomórfico. A análise
cladística é iniciada com um levantamento de caracteres e com a construção de
uma matriz de dados onde cada estado de um determinado caráter é codificado.
A partir desta matriz são construídas árvores ou cladogramas, ou seja, hipóteses
de relacionamento filogenético. A escolha entre as diversas hipóteses de
relacionamento é efetuada através da análise de parcimônia. Nesta análise, é
aceita a hipótese que apresenta o menor número de passos ou surgimento de
apomorfias, minimizando a ocorrência de homoplasias.
CEDERJ 87
8
AULA
Métodos de análise cladística
– Parte III
objetivos
Pré-requisitos
Aula 3:
Homologia e série de transformação
de caracteres.
Aula 4:
Caracteres compartilhados e homoplasias.
Aula 5:
Agrupamentos taxonômicos.
Aula 6:
Métodos de análise cladística – Parte I.
Aula 7:
Métodos de análise cladística – Parte II.
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
INTRODUÇÃO Nas duas aulas anteriores, você viu como erigir agrupamentos taxonômicos a
partir de diferentes estados dos caracteres, tanto através de critérios arbitrários
quanto através de uma metodologia consistente de polarização de caracteres.
Foram vistos também quais os procedimentos para se buscar as árvores mais
parcimoniosas. Vejamos agora alguns exercícios para a construção de clado-
gramas, quais as informações contidas neles e quais as conseqüências de uma
hipótese primária de homologia não ser comprovada pela análise.
CONSTRUÇÃO DE CLADOGRAMA
Táxon / Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 1 1 0
D 1 1 0 1
8
grupos, utilizando a similaridade apresentada pelos táxons do nosso
AULA
grupo-interno.
Observando a matriz, é possível constatar que o caráter 1 ocorre
nos táxons B + C + D e que apenas ele não apresenta variação entre
os táxons do nosso grupo-interno. Logo, ele não é elucidativo para as
relações entre os táxons.
B C D
C B D
D B C
CEDERJ 91
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
A B C D
A B C D
92 CEDERJ
MÓDULO 1
Como citado anteriormente, os programas computacionais calcu-
8
lam as árvores mais parcimoniosas antes da polarização dos caracteres.
AULA
A partir de nossa matriz também é possível gerar um diagrama não
enraizado (diagrama gerado sem qualquer inferência acerca da polaridade
dos caracteres). Por exemplo, vejamos a distribuição do caráter 1:
Táxon / Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 1 1 0
D 1 1 0 1
Estado 1
A B+C+D
Caráter 1
Estado 0
Táxon / Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 1 1 0
D 1 1 0 1
CEDERJ 93
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
A C+D
1 2
Seguindo o mesmo raciocínio, o estado 0 está voltado para a
esquerda, indicando que os táxons A + B o apresentam, e o estado
1 ocorre em C + D.
Táxon / Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 1 1 0
D 1 1 0 1
B C
3
A D
1 2
Agora, note que o estado 0 está voltado para baixo, para os ramos
A + B + D, e o estado 1 ocorre somente em C.
94 CEDERJ
MÓDULO 1
Vejamos por fim o caráter 4:
8
AULA
Quadro 8.5 Matriz de caracteres com destaque para o caráter 4:
Táxon / Caracteres 1 2 3 4
A 0 0 0 0
B 1 0 0 0
C 1 1 1 0
D 1 1 0 1
B C
3
A D
1 2 4
B C
3
A D
1 2 4
Enraizamento
CEDERJ 95
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
3
4
2
1
Enraizamento
A B C D A B C D
3 3 4
4
2
2
1 1
8
o ponto de surgimento do seu estado apomórfico. Representa também
AULA
que todos os táxons unidos por esse ramo devem apresentar esse estado
apomórfico, salvo possíveis reversões (retorno ao estado plesiomórfico)
durante sua história evolutiva.
A B C D
A B C D E
Humano Ave
Membros anteriores
CEDERJ 97
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
Asa
ou
Braço
98 CEDERJ
MÓDULO 1
RESUMO
8
AULA
Na construção de cladogramas em uma análise filogenética, a partir de uma matriz
de caracteres, só são considerados os estados apomórficos. Os estados apomórficos
e plesiomórficos são definidos pela condição encontrada no grupo externo que
é a plesiomórfica. Com a construção do cladograma, podem-se estabelecer
hipóteses de relacionamento. Dois ou mais táxons reunidos indicam que eles têm
um ancestral comum exclusivo. O cladograma também fornece informações sobre
os caracteres e sua história evolutiva, indicando em qual ponto surgiu o estado
apomórfico e quais táxons apresentam este estado do caráter. Na etapa inicial
de codificação de dados são postuladas hipóteses de homologias primárias; se
estas forem comprovadas através da análise de parcimônia, serão denominadas
homologias secundárias. Caso não sejam comprovadas, isto é, haja incongruência
com a matriz inicial, estas se tornarão homoplasias.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
Faça uma análise cladística dos organismos abaixo. Inicie com um levantamento
dos caracteres que variam entre eles (os estados); codifique os caracteres e monte
uma matriz de caracteres; utilizando o organismo A como grupo-externo, tente
construir o cladograma mais parcimonioso.
A B
C D
CEDERJ 99
Introdução à Zoologia | Métodos de análise cladística – Parte III
A B C
D E
100 CEDERJ
9
AULA
Classificação zoológica e
taxonômica – Parte I
objetivos
Pré-requisito
Aula 5:
Agrupamentos taxonômicos.
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
Taxonomia
classificar (ordenação) e
102 CEDERJ
MÓDULO 1
Sistemática
9
Os primeiros naturalistas empregavam o termo sistemáti-
AULA
ca ao se referirem aos sistemas de classificação dos organismos.
Por exemplo, já em 1735, o naturalista CAROLUS LINNAEUS o apli-
cou à sua obra “Systema naturae”. Desde então, a sistemática
CAROLUS LINNAEUS
tem sido definida como:
(forma latinizada por ele próprio).
Carl (Karl) Linné (1707-1778)
– Botânico sueco conhecido como o estudo da diversidade dos organismos e das relações
o pai da Taxonomia. (no sentido de interações biológicas e não filogenéticas)
Seu sistema para nomear (sistema
binominal de nomenclatura), entre eles;
ordenar e classificar os organismos
é utilizado até hoje,
com modificações. a ciência da diversidade dos organismos;
Foi professor de botânica,
área pela qual demonstrou um
profundo fascínio desde muito
a Taxonomia que inclui as interações biológicas (sistemas
cedo, embora tenha exercido
a medicina, chegando a ser reprodutivos e genéticos, processos filogenéticos e evolutivos,
médico da Família Real Sueca.
biogeografia e SINECOLOGIA) ou
Durante seus estudos, dedicou-
se a colecionar plantas e, em SINECOLOGIA
1735, publicou a primeira edição Subárea da Ecologia que
do Sistema naturae. Em 1761, a ciência da Biodiversidade. analisa as relações entre os
recebeu o título de nobreza, indivíduos pertencentes às
passando a ser chamado de diversas espécies
Carl (Karl) von Linné. de um grupo e o
meio em que vivem.
CEDERJ 103
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
Missão 1: Missão 3:
Publicação
Classificação e bases de
dados preditivas
Sistematas: Usuários primordiais do
Aumento do Usuário com conhecimento sistemático:
1) Descobrem e inventariam espécies
2) Comparam espécies e inferem sobre conhecimento o máximo de
1) Indústrias de pesquisa médica
sua história evolutiva biológico informação e saúde aplicada
3) Utilizam a filogenia e classificações
2) Setor de agricultura e pesca
derivadas desta para integrar a biologia
Uso sustentável da 3) Indústrias de produtos florestais
básica e aplicada
4) Gerentes de conservação
4) Geram informação básica diversidade biológica
e recursos
subsidiando o uso sustentável da
5) Ciências biológicas básicas
diversidade biológica
NOMENCLATURA
104 CEDERJ
MÓDULO 1
Muitas pessoas chamam de insetos os próprios insetos
9
(Insecta), muitas aranhas e ácaros (Arachnida) e até ratos
AULA
(Mammalia).
Figura 9.2:
1 - lobo-guará, 2 - acará-bandeira,
3- arlequim da mata, 4 - mosca doméstica.
CEDERJ 105
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
6
1
106 CEDERJ
MÓDULO 1
Você ainda deve observar que os nomes podem ser regionais, isto
9
é, o mesmo animal pode apresentar nomes diferentes para cada região,
AULA
tais como:
!
Você pôde perceber, através dos exemplos citados acima, que a nomenclatura popular varia bastante,
apesar de o povo brasileiro falar apenas um idioma (com exceção dos idiomas indígenas). Tente imaginar
agora toda essa variabilidade nomenclatória nos inúmeros idiomas e dialetos falados pelos humanos.
Agora ficou fácil compreender que, se a nomenclatura popular fosse utilizada pelos pesquisadores, a
comunicação entre a comunidade científica se tornaria impossível.
CEDERJ 107
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
108 CEDERJ
MÓDULO 1
A criação do código não cerceou a liberdade de pensamento do
9
zoólogo, uma vez que não importa qual o conceito de espécie ou subespé-
AULA
cie adotado por ele. O zoólogo deve observar, estudar, fazer experiências
e tirar suas conclusões. Qualquer que seja o conceito adotado, se ele
disser que um determinado táxon é uma espécie, o código regulamenta
apenas a forma de nomeá-la.
!
Portanto, a Zoologia se ocupa dos animais, e a Nomenclatura, de seus nomes.
Táxon
CEDERJ 109
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
Categoria
110 CEDERJ
MÓDULO 1
d
9
AULA
c
Figura 9.6:
(a) Anta (Tapirus terrestris); (b) Homem (Homo sapiens),
(c) Hárpia (Harpia hapyja); (d) Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus);
(e) Jibóia (Boa constrictor); (f) Onça–pintada (Panthera onca);
(g) Abelha (Apis mellifera); (h) Solitária de porco (Taenia solium).
CEDERJ 111
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte I
RESUMO
Os termos taxonomia e sistemática têm sido usados de forma distinta por alguns
pesquisadores, entretanto, atualmente podem ser utilizados como sinônimos,
correspondendo ao ramo da Biologia que estuda a diversidade orgânica estabelecendo
suas relações biológicas e filogenéticas e propondo classificações. A nomeação desta
biodiversidade é também objetivo da sistemática ou taxonomia e tem por objetivo
uniformizar a nomenclatura para a comunicação entre os cientistas. A nomenclatura
científica se faz necessária, pois a nomenclatura popular utiliza-se muitas vezes de um
mesmo nome para várias espécies ou de nomes diferentes para uma única espécie
devido a diferenças regionais. A nomenclatura científica é regida por diversos códigos
como, por exemplo, o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica que tem por
objetivo promover a estabilidade e universalidade dos nomes científicos dos animais
e assegurar que o nome de cada táxon seja único e distinto.
O conceito de táxon é aplicado a um grupo de organismos baseados em uma definição,
como Animalia, Insecta etc. Categoria é o nível hierárquico no qual os táxons são
classificados, o táxon Animalia é da categoria de Reino; Insecta é da categoria de
Classe. São categorias taxonômicas, em ordem de hierarquia: domínio, reino, filo,
coorte, classe, ordem, falange, secção, família, tribo, gênero e espécie. Cada uma das
categorias pode ser subdivida com o acréscimo dos prefixos super, sub e/ou infra.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
Dê um exemplo de uma espécie animal que você conhece que possui mais de um
nome popular.
112 CEDERJ
10
AULA
Classificação zoológica e
taxonômica - Parte II
objetivo
Pré-requisito
Aula 9:
Classificação zoológica e
taxonômica– Parte I.
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
INTRODUÇÃO Como vimos na aula anterior, o sistema adotado para compor e aplicar nomes
às unidades taxonômicas animais é denominado nomenclatura zoológica. Você
começou, então, a conhecer as normas estabelecidas pelo Código Internacional
de Nomenclatura Zoológica que regem este sistema nomenclatório. Nesta aula,
continuaremos vendo, ainda, alguns dos principais pontos regidos por esse
código.
Quadro 10.1: Categorias taxonômicas mais utilizadas acima do grupo de família. As categorias
principais encontram-se destacada.
Domínio
Reino
Superfilo
Filo
Subfilo
Coorte
Superclasse
Classe
Subclasse
Infraclasse
Superordem
Ordem
Subordem
Seção
Subseção
Infra-seção
10
Grupo de Família Grupo de Gênero Grupo de Espécie
AULA
Superfamília Gênero Espécie
Família Subgênero Subespécie
Subfamília
!
Os nomes científicos zoológicos são nomes compostos por uma, duas ou três
palavras em latim ou latinizadas.
Como você viu acima, o nome de uma espécie é formado por duas
EPÍTETO
palavras. A primeira, um substantivo, corresponde ao nome do gênero
no qual tal táxon será incluído e a segunda, denominada EPÍTETO, é um Termo referente
adjetivo, um complemento próprio da espécie. à segunda palavra
do binômio e às
segunda e terceira
! palavras do trinômio
de uma espécie.
Assim, o nome de uma espécie é um binômio indissociável. Por exemplo, se
É freqüentemente
você quiser fazer referência ao nome da espécie humana é necessário utilizar
utilizado na literatura e
o binômio Homo sapiens.
na linguagem coloquial
dos taxonomistas.
CEDERJ 115
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
Com este tipo de redação, um leitor pode pensar que o texto trata
de espécies pertencentes a apenas um único gênero. O leitor pode pensar,
ainda, que as espécies de mosquitos pertencem a um gênero, e as espécies
hospedeiras, a outro gênero.
!
Nos casos em que ocorre a alternância de nomes genéricos começados pela
mesma letra, é aconselhável, toda vez que se fizer referência a outro gênero,
grafar seu nome por extenso.
116 CEDERJ
MÓDULO 1
Esta forma de referência é inapropriada, já que, como citado
10
anteriormente, o nome das espécies é sempre um binômio.
AULA
! A utilização do sistema binominal é de extrema importância. Com o nosso
vocabulário ou o disponível em latim ou em qualquer outro idioma, não seria
possível nomear as milhões de espécies, utilizando-se apenas de uma palavra.
Figura 10.2: Gorila (Gorilla gorilla), sapo-pipa (Pipa pipa), mexilhão (Perna perna) e jaçanã (Jacana jacana).
!
Os nomes específicos e subespecíficos são escritos sempre com inicial minúscula,
os demais com inicial maiúscula. Os nomes genéricos, subgenéricos, específicos
e subespecíficos são, geralmente, grifados ou escritos em itálico, ficando
destacados do texto.
CEDERJ 117
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
10
Escarabaeina.
O nominativo exprime
AULA
a função gramatical
de sujeito; o vocativo
Podem ocorrer complicações na composição do nome do grupo corresponde à forma
de chamamento ou
de família. Nem sempre a raiz de um nome (no genitivo singular) interpelação no discurso
pode ser obtida pela eliminação de sua terminação. Nesses casos, você direto; o genitivo exprime
a relação de posse; o
deve buscar auxílio em um dicionário para verificar qual o genitivo dativo corresponde
ao objeto indireto; o
do nome. Como exemplo, você verá a seguir nomes de gêneros-tipo acusativo ao objeto
e os nomes de famílias que deles derivam: direto; o ablativo aos
adjuntos adverbiais.
Para exemplificar:
Coluber – Colubridae.
Homo – Hominidae. liber Petri =
livro de Pedro; -i funcio-
Threskiornis – Threskiornithidae. na para demonstrar que
“Pedro” está no genitivo,
Termes – Termitidae. indicando que ele possui
Tubifex – Tubificidae. algo, no caso, um livro
(liber, que está no nomi-
nativo).
PRIORIDADE, HOMONÍMIA E SINONÍMIA
Na língua portuguesa há
A décima edição do Sistema naturae, obra clássica de Linnaeus, reminiscências dos casos
flexionais latinos:
é considerada como o ponto de partida para a nomenclatura zoológica.
Ela marcou o início da aplicação geral e consistente da nomenclatura pronome pessoal
do caso reto
binominal para a grande maioria dos animais. A única exceção aceita eu, designa o sujeito.
pelo código é a obra Aranei svecici, de Clerck, na qual também foi pronome pessoal
utilizado, consistentemente, o sistema binominal. O código fixou, do caso oblíquo;
me, designa o
arbitrariamente, a data de 1º de janeiro de 1758 como data de publica- objeto direto;
ção dessas duas obras. O código estabeleceu, também, que a segunda mim, designa o
objeto indireto.
precede a primeira. Qualquer outra obra publicada, naquele mesmo
ano, deve ser considerada posterior àquelas. A partir de 1758, toda
a determinação de prioridade deve ser estabelecida pela verificação
das datas de publicação.
!
A prioridade é o princípio básico da nomenclatura zoológica e soluciona
a maioria dos problemas nomenclatórios, como casos de sinonímia ou de
homonímia. Ela estabelece que de dois ou mais sinônimos ou homônimos é
válido o mais antigo.
CEDERJ 119
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
Sinonímia
!
Nos casos de sinonímia, vale o mais antigo, isto é, o sinônimo sênior é o
nome válido do táxon e todos os seus sinônimos juniores não devem ser
utilizados.
120 CEDERJ
MÓDULO 1
Homonímia
10
Quando nomes idênticos são aplicados a dois ou mais táxons
AULA
pertencentes ao mesmo grupo, eles são homônimos. Embora bem menos
freqüentes, os homônimos são proibidos pelo código dentro dos grupos
de família e de gênero.
Vejamos os exemplos a seguir:
Como você pode ver, o mesmo nome do grupo de gênero foi atribu-
ído tanto para uma libélula quanto para um pterossauro, representando
um caso clássico de homonímia. Passados aproximadamente dez anos, a
homonímia foi percebida por Cowen. Seguindo o critério de prioridade,
o nome Podopteryx é válido para a libélula, mas não para o pterossauro.
Em 1981, Cowen substituiu o nome do gênero antigo e não válido do
pterossauro por Sharovipteryx.
Para o grupo de espécie, os homônimos são considerados somen-
te dentro de cada gênero. Desse modo, Dytiscus marginalis (besouro),
Hoplochelus marginalis (besouro) e Pieres marginalis (borboleta) ou
Arenicola brasiliensis (minhoca-do-mar), Mesosaurus brasiliensis (réptil
extinto), Pteronura brasiliensis (ariranha), Tadarida brasiliensis (mor-
cego), Emerita brasiliensis (tatuí) não são homônimos, pois, embora o
epíteto seja o mesmo, o binômio é diferente.
!
Nos casos de homonímia, também vale o mais antigo. Desta forma, o táxon
que possui o homônimo sênior é o que fica de posse do nome e o táxon que
tem o homônimo júnior deve receber um nome novo.
CEDERJ 121
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
10
crito no gênero Felis, sendo nomeado como Felis leo. Mais
tarde, o gênero Panthera foi criado para acolher os grandes
AULA
felinos. Como o leão passou a pertencer a outro gênero,
foi necessário corrigir seu nome científico. Com a realiza-
ção da nova combinação nomenclatória, o leão passou a
chamar-se Panthera leo.
TIPIFICAÇÃO
!
O tipo é um objeto (entidade individual) que fixa o nome aplicado ao táxon
que contém este objeto.
CEDERJ 123
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
ALLÓTIPO
Termo não regulamentado pelo Código, que desig-
na espécime do sexo oposto ao do holótipo (Reco-
mendação 72A).
124 CEDERJ
MÓDULO 1
RESUMO
10
A nomenclatura zoológica, sintetizada no código de nomenclatura zoológica, rege
AULA
apenas os táxons classificados nas categorias do grupo de família ou categorias
mais baixas (grupos de gênero e de espécie). Os táxons da categoria de espécie
são formados por duas palavras escritas em latim, sendo portanto, um binômio. A
primeira palavra é o gênero e a segunda, ou epípeto, é um complemento próprio da
espécie. O sistema binomial é importantíssimo, pois não seria possível nomear todas
as espécies utilizando-se apenas de uma palavra em qualquer idioma. Os trinômios
(três palavras) são utilizados para nomear subespécies. Os nomes específicos e
subespecíficos devem ser grafados com iniciais minúsculas, os demais com inicial
maiúscula. Os nomes dos grupos de família são formados pelo nome do gênero-
tipo acrescido dos sufixos –idae (para famílias) ou -inae (para subfamílias). Quando
um mesmo táxon tem mais de um nome, eles são considerados sinônimos, sendo
válido o nome mais antigo, o sinônimo sênior, e não o mais recente, o sinônimo
júnior. No caso de táxons diferentes com mesmo nome, ou homônimos, prevalece
o mesmo princípio da prioridade, sendo considerado válido apenas o nome mais
antigo, enquanto o mais recente deve ser trocado. Sempre que uma espécie nova
ou grupo são descritos, deve ser designado um tipo que será a referência para
o nome científico deste táxon, e fixará o nome a um objeto real. O tipo de uma
família é um gênero-tipo, o de um gênero é uma espécie-tipo. O tipo de espécie é
um espécimen ou um conjunto de espécimens, sendo denominados, dependendo
do caso, de holótipo, síntipo, hapantótipo, lectótipo e neótipo.
CEDERJ 125
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte II
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
Um pesquisador concluiu, após imensas pesquisas, que o gênero Parus não pertence
à família Capidae, onde era incluído até então, decidindo erigir uma nova família
para este gênero. Como o referido autor, provavelmente, denominou a nova
família por ele descrita?
126 CEDERJ
11
AULA
Classificação zoológica
e taxonômica – Parte III
objetivos
Pré-requisitos
Aula 9:
Classificação zoológica e
taxonômica – Parte I.
Aula 10:
Classificação zoológica e
taxonômica – Parte II.
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
INTRODUÇÃO Como você viu nas Aulas 10 e 11, a nomenclatura tornou-se fundamental para
a classificação da diversidade biológica que é uma das principais atividades da
Sistemática. Nesta aula, você verá alguns critérios de classificação, os quais
permitem agrupar objetos (tanto inanimados quanto animados – indivíduos,
espécies ou grupos de espécies) em classes ou categorias, com base em pro-
priedades que lhes são características. Iremos apresentar, também, os princípios
da Classificação Zoológica.
CLASSIFICAÇÃO
!
Por exemplo, você viu um beija-flor mês passado, outro ontem e outro hoje.
Os beija-flores não eram exatamente iguais, mas existe algo em comum entre
eles. Esse algo é que define a classe “beija-flor”.
128 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Dona Beija
Curupira (mãe)
(pai)
AULA
Mapinguari
(filho)
Iara
(filha)
Jabiraca
(galinha)
Saci-pererê Mula-sem-cabeça
(cachorro) (cadela)
Figura 11.1: Família Folclore-Brasileiro. Curupira (pai), Dona Beija (mãe), Mapin-
guari (filho), Iara (filha), Saci-pererê (cachorro), Mula-sem-cabeça (cadela) e Jabi-
raca (galinha).
CEDERJ 129
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
OBJETOS
Um objeto pode ser definido como cada uma das entidades iden-
tificáveis num dado domínio de aplicação. Considere, neste momento,
como nosso domínio de aplicação específico, a casa da família Folclore-
Brasileiro. Essa casa pode ser uma composição de entidades (objetos)
específicas, como:
130 CEDERJ
Observe que um objeto, cômodos, por exemplo, pode representar um agregado de outros
objetos (suas partes constituintes). No exemplo da casa dos Folclore-Brasileiro, pode-se visualizar
vários objetos que a compõem. A Figura 11.3 mostra que o objeto casa é composto por vários outros objetos.
CEDERJ 131
AULA 11 MÓDULO 1
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
132 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Classes
AULA
em categorias ou classes. Existem objetos que são animais, outros que são
pessoas, outros, cães; outros, talheres; outros, garfos; outros, jóias; outros
ferramentas etc. As definições dessas classes baseiam-se em semelhanças
compartilhadas, isto é, essas classes reúnem objetos com base em algum
conjunto de propriedades – características – comum a todos esses objetos.
Por exemplo, podemos definir o objeto homem como mamífero com
poucos pêlos, sem cauda, bípede, que fala e raciocina. Apenas com essa
definição simplificada, já podemos diferenciar o homem de uma porta,
já que é sabido que nas portas não nascem pêlos e que elas tampouco
mamam, falam ou raciocinam.
Note que existe uma categorização – classificação – dos objetos.
Vários desses objetos e suas categorias podem ser reunidos em categorias
mais abrangentes, formando um sistema hierárquico contínuo, como
você pode ver a seguir:
CEDERJ 133
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
!
Observe que a moeda de R$ 1,00 não se encaixa perfeitamente em nenhum dos grupos. Nesse caso, ela
pode ser incluída em qualquer dos dois grupos ou, ainda, formar um novo grupo.
134 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Outra pessoa pode subdividir esta mesma classe, segundo seus
numerais, em: Moedas com o número 1 e Moedas com o número 5.
AULA
Dessa forma, obtém-se, então:
CEDERJ 135
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
Ave Mamífero
Cachorro Homem
136 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Como você pode perceber, os conceitos de objetos e de classe
são relativos, isto é, o que é um objeto em um determinado nível de
AULA
generalidades pode ser uma classe em um nível mais amplo, e vice-versa.
Por exemplo, se você tomar como referência as pessoas que formam a
população de uma determinada região, nesse nível de generalidades cada
pessoa representa um objeto. Contudo, se tomarmos, agora, as células
que constituem o corpo de cada pessoa, as células representam objetos
e cada pessoa passa a representar uma classe.
Mamífero
HERANÇA DE PROPRIEDADES
Nome
Local onde
ocorre Figura 11.14: Grupo Animal, com as
propriedades comuns e subgrupos
Aves e Mamíferos, com as proprie-
Ave Bico Mamífero Pêlo dades particulares de cada grupo.
Pena
Glândula
mamária
CEDERJ 137
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
138 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Classificações naturais – nas quais a origem e o comportamento
dos objetos são governados por processos naturais. As classificações
AULA
naturais podem ou não se apresentar hierarquizadas. A tabela periódi-
ca é um exemplo de classificação de classes naturais não hierárquica.
A classificação de indivíduos e grupos históricos é exemplo de classifi-
cação hierárquica.
CLASSIFICAÇÕES BIOLÓGICAS
CEDERJ 139
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
140 CEDERJ
11 MÓDULO 1
Com a teoria evolucionista, o princípio de proximidade entre
descendentes (relacionamento filogenético) passou a dar subsídios para as
AULA
classificações biológicas. Embora tenhamos uma metodologia consistente
para gerar hipóteses de relacionamento filogenético (filogenias), as
classificações baseadas nessas hipóteses ainda hoje adotam o sistema
linneano. Em outras palavras, a diversidade biológica é dinâmica,
encontrando-se em um constante estado de mudança (evoluindo), e a
estrutura das classificações é estática, desenvolvida para um sistema fixo
de categorias taxonômicas.
Para tentar resolver esse problema, novas propostas de classifi-
cações estão surgindo. Maiores informações acerca das classificações
podem ser obtidas na obra de Amorim.
CEDERJ 141
Introdução à Zoologia | Classificação zoológica e taxonômica – Parte III
RESUMO
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
142 CEDERJ
12
AULA
Introdução à Biogeografia
objetivos
Pré-requisitos
Disciplina:
Diversidade dos Seres Vivos.
Disciplina:
Dinâmica da Terra.
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
O QUE É BIOGEOGRAFIA?
da espécie etc.
sua história;
144 CEDERJ
12 MÓDULO 1
os fatores climáticos atuais (Climatologia);
AULA
a composição química do solo onde vivem;
O estudo das distribuições geográficas dos seres vivos pode ser classificado, segundo seu
enfoque, em três ramos:
Biogeografia Descritiva.
Biogeografia Ecológica.
Biogeografia Histórica.
CEDERJ 145
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
146 CEDERJ
12 MÓDULO 1
AULA
Trópico de Câncer
Equador
Trópico de Capricórnio
Neártica
Neotropical
Paleártica
Etiópica
Australiana
Oriental
CEDERJ 147
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
Biogeografia Ecológica
Estenotérmico
Euritérmico
(euritérmico – estenotér-
mico): número de indivíduos
(abundância) X tempera-
tura.
Temperatura
148 CEDERJ
12 MÓDULO 1
Biogeografia Histórica
AULA
(geralmente em nível de táxon). A biogeografia histórica interessa-se pela
origem e relacionamento entre biotas, procurando saber por que duas ou TE C T Ô N I C A D E
mais espécies vivem confinadas a certas regiões ou áreas. Ela baseia-se em PLACAS E DERIVA
CONTINENTAL
causas históricas (TECTÔNICA DE PLACAS, DERIVA CONTINENTAL, junção etc.) para
Ver disciplina,
explicar a distribuição atual dos organismos. Para tratar dessas causas, Dinâmica da Terra.
a b c
d e f
Figura 12.4: Aves ratitas: (a) ema (América do Sul); (b) inhambu (América tropical); (c) avestruz (África);
(d) emu (Austrália); (e) casuar (Austrália e Nova Guiné) e (f) - kiwi (Nova Zelândia).
CEDERJ 149
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
150 CEDERJ
12 MÓDULO 1
PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DOS SERES VIVOS
AULA
Podemos entendê-la como a gama de locais na qual a espécie ou táxon
encontra sua delimitação de área.
Veja o Quadro 12.1. Nele estão relacionados os processos que
interferem na distribuição dos seres vivos. Esses processos podem agir em
um nível ecológico, definindo o padrão de distribuição individual, ou em
um nível histórico, definindo o padrão de distribuição de um táxon.
Quadro 12.1: Processos que explicam o padrão de distribuição dos seres vivos.
152 CEDERJ
12 MÓDULO 1
O Mito do Jardim do Éden ou Paraíso Terrestre
AULA
CENTRO DE ORIGEM
plantas e animais e o primeiro casal humano. Essa é a primeira vez que E DISPERSÃO DAS
ESPÉCIES
a Bíblia adota o conceito de CENTRO DE ORIGEM E DISPERSÃO DAS ESPÉCIES.
Local onde surgem as
O Jardim do Éden é o local onde as espécies se originaram e a partir do espécies e a partir do
qual elas se dispersam
qual se dispersaram, após o pecado original e a expulsão do primeiro para outros locais.
CEDERJ 153
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
20
As águas ultrapassaram de quinze côvados os montes que
haviam coberto. 21
E pereceu toda carne que se move na terra:
pássaros, animais e feras e todos os seres que enxameiam sobre
a terra e todos os homens. 22
Morreu todo ser que tem um
sopro de vida nas narinas, dentre tudo aquilo que existe sobre a
terra enxuta. 23
Assim foi exterminado todo ser existente sobre
a terra: junto com os homens, os animais domésticos, os répteis
e os pássaros do céu; foram eles exterminados da face da terra e
ficou só Noé e quem estava com ele na arca. (Gênesis 7)
154 CEDERJ
12 MÓDULO 1
A prova de que, tendo secado o solo, as plantas ressurgiram
novamente ou sobreviveram ao dilúvio, encontra-se na própria Bíblia.
AULA
Segundo o relato do Fim do Dilúvio, uma folha (que a tradição disser a
de uma oliveira) foi trazida a Noé pela pomba que ele libertou antes de
ter saído da arca.
10
Esperou outros sete dias e de novo soltou a pomba para
fora da arca, 11 e a pomba voltou a ele pela tardinha, e eis que
trazia um ramo novo no bico; assim Noé compreendeu que
as águas se haviam retirado da terra. (Gênesis 8)
Figura 12.7: Arca de Noé (segundo Athanasius Kircher, 1675). Os animais ingressando na arca.
CEDERJ 155
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
1
Toda a terra tinha uma só língua e palavras iguais. 2 E aconteceu, ao andarem
pela parte do Oriente, que os homens chegassem a uma planície do país Shin’ar
e aí se estabeleceram. 3 E disseram uns aos outros: ‘Eia! Façamos para nós tijolos
e cozamo-los ao fogo!’ O tijolo serviu-lhes de pedra e o betume, de argamassa. 4
Depois disseram: ‘Eia! Vamos construir para nós uma cidade e uma torre, cujo
cimo esteja no céu, e façamos para nós um nome, para não sermos espalhados
pela superfície de toda a terra’. 5 Mas Javé desceu para ver a cidade e a torre que
os filhos do homem estavam construindo. 6 E disse Javé: ‘Eis que são um só povo
e todos têm uma só língua; este é o princípio da sua obra, e agora nada que pro-
jetaram ser-lhes-á impossível. 7 Vamos! Desçamos e confundamos-lhes as línguas,
de tal sorte que eles não compreendam mais a língua um do outro’. 8 E dali Javé
os dispersou pela superfície de toda a terra; e eles pararam de construir a cidade.
9
Por isso foi chamada Babel, porque ali Javé confundiu a língua de toda a terra e
dali Javé os dispersou pela superfície de toda a terra. (Gênesis 11)
156 CEDERJ
12 MÓDULO 1
AULA
CEDERJ 157
Introdução à Zoologia | Introdução à Biogeografia
RESUMO
Nesta aula, você viu que a biogeografia é o estudo das distribuições geográficas
dos seres vivos no planeta, podendo ser classificada, segundo seu enfoque,
em Biogeografia Descritiva, Ecológica e Histórica. Na Biogeografia Descritiva,
o interesse é o reconhecimento de onde estão os táxons e qual sua área de
distribuição. A Biogeografia Ecológica se preocupa com os fatores ambientais
atuais que influenciam a distribuição dos organismos. Finalmente, a Biogeografia
Histórica se concentra no estudo da distribuição espacial e temporal dos
organismos, procurando perceber qual a causa histórica que leva duas ou mais
espécies a viverem confinadas em determinadas regiões.
Você aprendeu que desde tempos remotos os seres humanos têm-se preocupado
em entender a distribuição dos organismos no planeta. A Bíblia traz alguns indícios.
Mitos como o do Jardim do Éden, a Arca de Noé e a Torre de Babel procuram
explicar a dispersão dos organismos a partir de centros de origem.
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
158 CEDERJ
13
AULA
Períodos biogeográficos
objetivo
Pré-requisito
Aula 12:
Introdução à Biogeografia.
Introdução à Zoologia| Períodos biogeográficos
INTRODUÇÃO Como já dissemos, em aulas anteriores, o ser humano tem sempre tentado
explicar a distribuição geográfica de animais e plantas. Dando continuidade ao
histórico dos períodos da biogeografia, iniciado na aula anterior, você agora
vai conhecer as principais teorias biogeográficas.
A história da Biogeografia, por questões didáticas, foi dividida em três fases:
Você lembra do período das Grandes Descobertas? Pois bem, foi com
as grandes expedições do século XV que se começou a perceber a existência
de espécies muito diferentes e de algumas similares àquelas conhecidas na
Europa. Em meados do século XVI, López Medel, ao perceber que nas Índias
(local fora da Europa onde viviam homens não-europeus) existiam espécies
que não se achavam em nenhum outro lugar, estabeleceu os primórdios dos
conceitos biogeográficos fundamentais.
O padre Joseph d’Acosta (1540-1600), profundamente influencia-
do pela Bíblia, foi um dois primeiros a dar explicações para a ocorrência
do homem e dos animais nas Américas, em sua História Natural e Moral
das Índias. Segundo ele, o homem chegou às “Índias” porque, em algumas
partes, as terras se juntavam. Como a possibilidade de se aceitar um ato
de criação múltipla dos seres vivos era totalmente refutada pelo padre
d’Acosta, a presença do homem nas Américas e a ocorrência das espécies
americanas são explicadas a partir de migrações graduais.
Em 1744, Linnaeus, pai da Classificação Taxonômica como visto
nas aulas anteriores, publicou, em seu Discurso sobre o aumento da Terra
habitável, a primeira grande teoria biogeográfica moderna. Ele acredita-
va que os continentes teriam surgido dos mares e que todas as espécies
foram criadas por Deus em um local previamente definido (Jardim do
Éden). Para explicar a ocorrência de organismos nos locais de clima frio
e nos de clima quente, ele propôs uma ilha tropical num mar primitivo
(segundo Santo Agostinho, trata-se do Monte Ararat), onde todas as
espécies apareceram, por criação divina. As espécies que requeriam um
clima frio habitavam o cume de uma montanha e as que necessitavam de
climas mais quentes, o sopé. Mais tarde, quando as águas se retiraram e as
terras emergiram, as espécies moveram-se e dispersaram-se gradualmente
para diferentes áreas, mais propícias à sua sobrevivência.
160 CEDERJ
13 MÓDULO 1
Como você já deve ter notado, a idéia de centro de origem e
dispersão mantêm-se neste período. A partir de estudos comparativos
AULA
entre a fauna e a flora do velho e do novo mundo, alguns naturalistas
constataram que “não se encontrava uma única espécie em comum”
(L E I DE B U F F O N ). O C O M T E B U F F O N não questionou a idéia de centro
G E O R G E -L O U I S
de origem e dispersão, e sim a idéia criacionista de que todas as espécies LECLERC
foram independentemente criadas e são imutáveis. Para ele, os organismos "C O M T E D E
eram capazes de evoluir, mudar, quando se movimentavam, dispersando- BUFFON"
(1707-1788)
se de seu local de origem para outros lugares.
CEDERJ 161
Introdução à Zoologia| Períodos biogeográficos
BARREIRA
A idéia dispersionista que dominou a Representa qualquer fator climático ou topográfico,
ou uma combinação de fatores que impossibilitem
Biogeografia Histórica, durante esse período, a distribuição de um organismo. Na verdade, as
barreiras não são os fatores hostis do ambiente,
sustentava que as biotas eram produtos de mas a própria fisiologia da espécie, que se tornou
adaptada a um limitado espectro de fatores
sucessivas ou progressivas dispersões através
ambientais. Nesse sentido, a espécie é prisioneira de
de BARREIRAS existentes. sua própria história evolutiva.
162 CEDERJ
13 MÓDULO 1
Observe que a idéia de centro de origem e dispersão também
prevaleceu na Biogeografia de Darwin e de Wallace. Eles consideravam
AULA
que as espécies se originavam em um centro, a partir do qual alguns
indivíduos logo se dispersavam por acaso e, posteriormente, evoluíam
pela seleção natural. Para Darwin e Wallace, os centros de origem se
EURÁSIA localizavam na EURÁSIA. Eles achavam que essas regiões, por apresenta-
Supercontinente que
englobava os atuais rem instabilidade ambiental e grandes populações, com maior área de
continentes da
Europa e da Ásia.
distribuição, favoreciam a formação de espécies ou linhagens dominantes.
Nesta teoria, as espécies mais recentes deslocavam as espécies mais antigas
ou primitivas para a periferia dos centros de origem. Por acreditarem na
estabilidade dos continentes, Darwin e Wallace foram levados a explicar
a ocorrência de organismos em áreas geográficas isoladas (padrões de
disjunção de distribuição) como sendo resultado da dispersão através
de barreiras existentes.
No século XX, as idéias dispercionistas avançaram até sua segunda
metade. Os principais herdeiros e difusores destas idéias foram Matthew,
Darlington, Mayr e Simpson. Eles buscavam os centros de origem e as
rotas de migração entre as diferentes áreas biogeográficas. Para isto,
havia necessidade de hipóteses fantásticas e que não podiam ter apoio
na Geologia, como, por exemplo, estreitas pontes de terra atravessando
oceanos. A distribuição de táxons corresponde à capacidade de dispersão
que eles possuem e esta varia muito de grupo para grupo.
CEDERJ 163
Introdução à Zoologia| Períodos biogeográficos
164 CEDERJ
13 MÓDULO 1
No centro de origem encontram-se os representantes mais
AULA
recentes de um táxon e nele devem ser achados os fósseis
mais antigos. A direção de migração é também mostrada
pela idade dos fósseis.
ALOPATRIA
O fundamental na teoria dispersionista é compreender e reconhecer A alopatria supõe
uma disjunção total
o centro de origem e dispersão das espécies, que é o principal dogma entre as áreas de dis-
desta linha de pensamento. Alguns pesquisadores estabeleceram vários tribuição de espécies
diferentes. Espécies
critérios para o reconhecimento dos centros de origem. Darlington, mais que se apresentam
totalmente disjuntas
recentemente, definiu apenas 3 critérios: são denominadas
espécies alopátridas
(= alopátricas), como
Todos os grupos tendem a se especiar numa área limitada, p. ex: ema e avestruz.
a qual constitui o Centro de Origem.
VICARIÂNCIA
Mecanismo de evo-
Para duas espécies irmãs originadas de uma espécie ances-
lução em que a área
tral, uma é sempre mais derivada (avançada ou moderna) de distribuição de
uma espécie ancestral
que a outra.
é fragmentada, em
duas ou mais áreas,
O descendente mais derivado ocupa a área do centro de ficando suas subpo-
pulações isoladas
origem e o mais primitivo é deslocado (dispersão) para a geograficamente por
uma barreira.
periferia da área.
SIMPATRIA
Biogeografia Filogenética Supõe uma inter-rela-
ção entre as áreas de
Esta corrente foi desenvolvida por Brundin, tendo como base distribuição de espé-
cies diferentes. Pode-
as proposições de Hennig. Ela foi a primeira escola que inferiu a mos distinguir três
tipos de distribuição
história biogeográfica de um determinado táxon, a partir de hipóteses simpátridas (=simpá-
tricas): homopatria
filogenéticas desse táxon. É definida como o estudo de táxons
(onde existe total
monofiléticos, e leva em consideração a Cladogênese, Anagênese, congruência entre a
distribuição de duas
ALOPATRIA (evidência de VICARIÂNCIA), SIMPATRIA (evidência de dispersão) e espécies), endopatria
(onde uma espécie
os eventos paleogeográficos. Essa escola também está fundamentada na distribui-se no inte-
dispersão dos organismos. rior da área ocupada
por outra espécie)
e alelopatria (onde
existe apenas uma
área de contato entre
a distribuição de duas
espécies).
CEDERJ 165
Introdução à Zoologia| Períodos biogeográficos
Biogeografia de Vicariância
!
A hipótese de vicariância pressupõe que áreas de endemismo são formadas a partir das
áreas de distribuição geográfica ancestral.
166 CEDERJ
13 MÓDULO 1
Nesse caso, a Biogeografia Histórica se preocupa, agora, com a
reconstrução da história dos eventos de vicariância que formaram as áreas
AULA
de endemismos.
Como você pode perceber, a diferença entre dispersão e vicariân-
cia encontra-se no relacionamento entre a idade do táxon e a idade da
barreira geográfica que limita as áreas. A dispersão sempre prediz que a
barreira geográfica é anterior ao surgimento dos táxons. A vicariância
prediz que os táxons em duas áreas (ou mais) e as barreiras entre eles são
da mesma idade.
A Biogeografia de Vicariância pode ser dividida em Pan-biogeografia e
Biogeografia Cladística.
Pan-biogeografia
Biogeografia Cladística
CEDERJ 167
Introdução à Zoologia| Períodos biogeográficos
RESUMO
EXERCÍCIOS AVALIATIVOS
168 CEDERJ
Exercícios de fixação
objetivo
Pré-requisito
Aulas do Módulo 1.
Introdução à Zoologia | Exercícios de fixação
A B C D E
4. Com base na hipótese abaixo, que tipo de grupos serão formados se forem
consideradas apenas as espécies:
a) {F, G, H, I, J};
b) {D, E, G};
c) {B, I};
d) {A, B, F};
e) {D, E, F, G}?
A B C D E F G H I J
170 CEDERJ
5. Quais os grupos monofiléticos encontrados na figura acima?
CEDERJ 171
Introdução à Zoologia | Exercícios de fixação
Táxons/Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8
Ás de copas 1 1 1 1 1 1 1 1
Ás de ouros 1 1 1 1 1 1 0 0
Ás de espadas 1 1 1 0 0 0 0 0
Ás de paus 1 0 0 1 0 0 0 0
11. Realize uma análise cladística com base na nova matriz que você construiu.
172 CEDERJ
14. Realize uma análise cladística com base na matriz abaixo e proponha a hipótese
mais parcimoniosa, considerando o táxon Cruz credo como grupo externo.
Táxons/Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8
Cruz credo 0 0 0 0 0 0 0 0
Coisa atoa 1 1 0 0 1 0 0 1
Coisa boa 0 1 1 0 1 1 1 1
Coisa ruim 0 0 1 1 0 0 0 1
Essa foi boa 1 1 1 0 1 0 0 1
16. Por que o antigo táxon “Vermes”, criado por Linneus, não é considerado
válido atualmente? Justifique sua resposta.
17. Por que o táxon Invertebrata, criado por Lamarck, não é considerado válido
atualmente? Justifique sua resposta.
18. Por que o termo “peixe”, atualmente, não tem valor taxonômico?
22. Através da análise cladística, verificou-se que as espécies Tal pessoa, que se
encontra distribuída pela região Neotropical, e Qual criatura, que ocorre na
África, formam um grupo monofilético. Analisando a distribuição geográfica das
duas espécies, como você pode explicar tal distribuição?
CEDERJ 173
Introdução à Zoologia
Gabarito
Aula 4
Aula 5
176 CEDERJ
Aula 8
Matriz de caracteres
Táxon / Caracteres 1 2 3 4 5
A 0 0 0 0 0
B 1 1 0 0 0
C 1 0 1 1 0
D 1 0 1 0 1
Táxon / Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
A 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
B 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
C 1 0 1 1 1 1 0 0 0 0
D 1 0 1 1 1 0 1 1 1 0
E 1 1 1 1 1 0 1 1 0 1
CEDERJ 177
Cladograma mais parcimonioso
A B C D E
2*
2 3 9 10
6 8
7
2* 5
4
3
Aula 9
178 CEDERJ
Aula 10
Aula 11
CEDERJ 179
Exercícios de Fixação
1. Grupo Monofilético é aquele que inclui uma espécie ancestral e todas as suas espécies
descendentes. Grupo Parafilético é aquele formado por apenas uma parte dos descendentes de uma
mesma espécie ancestral. Grupo polifilético é aquele formado por algumas espécies descendentes de
dois ou mais grupos monofiléticos.
3. Grupos monofiléticos – (A, B, C, D, E, F); (B, C, D, E, F); (B, C, D); (C, D); (E, F). Grupos
parafiléticos = (A, B, C, D, E); (A, B, C, D, F); (A, B, C, E, F); (A, B, D, E, F); (A, C, D, E, F); (A, B,
C, D); (B, C, D, E); (B, C, D, F); (B, D, E, F); (B, C); (B, D). Grupos polifiléticos = (A, C, E); (A, C, F);
(A, D, E); (A, D, F); (A, B); (A, C); (A, D); (A, E); (A, F); (B, E); (B, F); (C, E); (C, F); (D, E); (D, F).
5. Grupos monofiléticos - (A, B, C, D, E, F, G, H, I, J); (A, B, C); (B, C); (D, E, F, G, H, I, J);
(D, E, F, G, H, I); (D, E, F, G); (D, E); (F, G); (H, I).
180 CEDERJ
7. Matriz com a distribuição dos estados de cada caráter pelos táxons.
Táxon / Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
ARACHNIDA V S A A P P P A A A P P A A
AVES V S P P A A A P A A A A A A A
INSECTA V S A A P P P A A A P P P P A
MAMMALIA V S P P A A A A P A A A A A A
MOLLUSCA V S A A P P P A A C A A A A A
PROTISTA U A A A A A A A A A A A A A A
Matriz codificada. Para cada caráter, os primeiros estados foram codificados como 0 (zero)
e o segundo como 1 (um).
Táxon / Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
ARACHNIDA 1 1 0 0 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1
AVES 1 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0
INSECTA 1 1 0 0 1 1 1 0 0 0 1 1 1 1 0
MAMMALIA 1 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
MOLLUSCA 1 1 0 0 1 1 1 0 0 1 0 0 0 0 0
PROTISTA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
15 13, 14 8 9
10 11,12
5,6,7
3,4
1,2
CEDERJ 181
8. O gênero Ta é um táxon parafilético. Segundo a hipótese apresentada, o ancestral comum
mais próximo às espécies do gênero Ta (T. bom, T. legal, T. ruim e T. cru) é ancestral também da
espécie Oba nada. Desta forma, as espécies do gênero Ta não possuem um ancestral exclusivo delas.
Para ser considerado um táxon monofilético o gênero Ta terá de incluir a espécie Oba nada.
9. Se não for utilizada nenhuma metodologia específica, para a matriz dada podem ser formados
os seguintes agrupamentos taxonômicos:
– Em todas as hipóteses o agrupamento de todas as espécies é sustentado pelo estado “1” do
caráter 1.
182 CEDERJ
A. paus A . espadas A. copas A. ouros
Táxon / Caracteres 1 2 3 4 5 6 7 8
ASDE COPAS 1 1 1 1 1 1 1 1
ASDE OUROS 1 1 1 1 1 1 0 0
ASDE ESPADAS 1 1 1 0 0 0 0 0
ASDE PAUS 1 0 0 1 0 0 0 0
CORINGA PERTO 0 0 0 0 0 0 0 0
7,8
4
5,6
4 2,3
CEDERJ 183
13. Segundo a hipótese apresentada, o gênero Cybister não forma um táxon monofilético.
Dessa forma, para que sejam considerados apenas táxons monofiléticos deve-se:
• sinonimizar o gênero Hyderodes com o gênero Cybister que tem prioridade
sobre o primeiro;
• realizar a nova combinação. Desta forma a espécie descrita originalmente como Hyderodes
rufus passa a ser denominada como Cybister rufus. Então, o gênero Cybister passa a ser composto
pelas espécies C. australis, C. fallax, C. rufus e C. russeli.
14. Coisa ruim Coisa boa Coisa atoa Essa foi boa
3 6
7 1
4 2,5
15. Segundo a análise acima, o gênero Coisa não forma um táxon monofilético. Dessa forma,
para que sejam considerados apenas táxons monofiléticos deve-se:
• sinonimizar o gênero Essa com o gênero Coisa e, conseqüentemente, realizar uma nova
combinação para a espécie Essa foi boa. Então, passa-se a ter o gênero Coisa composto pelas espécies
C. ruim, C. boa, C. atoa e C. foi boa; ou
• manter o gênero Essa com a espécie E. foi boa, o gênero Coisa com uma única espécie (a
descrita primeiro) e criar dois novos gêneros, um para cada uma das espécies alocadas anteriormente
no gênero Coisa. É necessário, também, promover uma nova combinação para essas duas espécies.
Em termos nomenclatórios, é mais coerente adotar-se a primeira opção, uma vez que, embora correta,
a segunda formará vários gêneros monotípicos (gêneros formados por uma única espécie).
16. O táxon Vermes reunia animais de aspecto vermiforme ou hábito parasita, sendo estas
as únicas características utilizadas para sustentá-lo. Atualmente, é sabido que o aspecto vermiforme
e que o hábito parasita surgiram, inúmeras vezes e em linhagens distintas, a partir de ancestrais de
vida livre. Desta forma, representam homoplasias e não devem ser utilizadas para a formação de um
táxon. Se forem utilizadas, formarão táxons polifiléticos.
17. O táxon Invertebrata foi criado para agrupar os filos de animais que não possuem coluna
vertebral, sendo esta a única característica utilizada para sustentá-lo. A ausência de coluna vertebral
corresponde a uma plesiomorfia e, portanto, não deve ser utilizada para a formação de um táxon.
184 CEDERJ
18. O táxon “Pisces” representa um grupo parafilético, uma vez que não apresenta um ancestral
comum exclusivo dele. Os tetrápodes também são descendentes do mesmo ancestral que deu origem a
todos os peixes. Assim, os táxons válidos de vertebrados com mandíbulas são: Chondrichthyes (peixes
cartilaginosos), os Actinopterygii (peixes ósseos com nadadeiras raiadas) e Sarcopterygii (peixes ósseos
com nadadeiras carnosas e tetrápodes).
20. As primeiras referências de centro de origem e dispersão dos organismos aparecem nos
mitos bíblicos do Jardim do Éden, do Dilúvio de Noé e da Torre de Babel.
21. A distribuição atual dos organismos pode ser explicada por causas históricas, tais como: surgi-
mento de barreiras, junção, especiação e relações filogenéticas; e causas ecológicas, tais como: dispersão,
condições físico-químicas do meio e suas interações bióticas (tolerância e adequação ao meio) e interações
intra e interespecíficas.
22. É possível explicar tal distribuição através da vicariância. Uma vez que as espécies
Tal pessoa e Qual criatura descendem de um único ancestral, a distribuição atual delas deve corres-
ponder à distribuição de sua espécie ancestral. Como a América do Sul e a África foram formadas a
partir da separação da Gondwana, então, a espécie ancestral deveria se distribuir pela Gondwana.
Com fragmentação da Gondwana, uma parte da espécie ancestral ficou na placa da América do Sul,
formando a espécies-filha Tal pessoa, e a outra parte ficou na placa da África, originando a espécie-
filha Qual criatura.
CEDERJ 185
Introdução à Zoologia
Referências
Aula 2
FOTO EM: KLUGE, Arnold G.; HENNIG, Bernd . Willi Hennig. Disponível em: http:
//www.cladistics.org/about/hennig.html. Acesso em: 04 fev. 2003. (segunda foto)
Aula 7
188 CEDERJ
Aula 9
Aula 10
Aula 11
Aula 12
CEDERJ 189
Serviço gráfico realizado em parceria com a Fundação Santa Cabrini por intermédio do gerenciamento
laborativo e educacional da mão-de-obra de apenados do sistema prisional do Estado do Rio de Janeiro.
9 788576 480594