Café Conilon 2 Edição
Café Conilon 2 Edição
Café Conilon 2 Edição
CONILON
Café
CONILON
2a Edição
Atualizada e ampliada
2a reimpressão
EDITORES TÉCNICOS
Romário Gava Ferrão
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca
Maria Amélia Gava Ferrão
Lúcio Herzog De Muner
Vitória, ES
2017
Café Conilon
© 2017 - Incaper
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
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Todos os direitos reservados nos termos da Lei no 9.610, que resguarda os direitos autorais. É proibida a reprodução total ou parcial,
por qualquer meio ou forma, sem a expressa autorização do Incaper ou dos editores.
ISBN 978-85-89274-26-5
Editor: Incaper
Tiragem: 1.000
Janeiro 2017
CONSELHO EDITORIAL
Presidente: Mauro Rossoni Junior
Chefe do Departamento de Comunicação e Marketing: Adelaide de Fátima Santana da Costa
Chefe da Área de Pesquisa: Luiz Carlos Prezotti
Chefe da Área de Extensão: Pierangeli Cristina Marim Aok
Coordenação Editorial: Liliâm Maria Ventorim Ferrão
Membros:
André Guarçoni M.
Bevaldo Martins Pacheco
Cássio Vinícius de Souza
Cíntia Aparecida Bremenkamp
Henrique de Sá Paye
José Aires Ventura
Romário Gava Ferrão
Sheila Cristina Prucolli Posse
PROJETO GRÁFICO, EDITORAÇÃO ELETRÔNICA,
ARTE-FINALIZAÇÃO E CAPA
Laudeci Maria Maia Bravin
REVISÃO DE NORMALIZAÇÃO
Liliâm Maria Ventorim Ferrão
REVISÃO LINGUÍSTICA
Marcos Roberto da Costa
FICHA CATALOGRÁFICA
Merielem Frasson
CRÉDITOS DAS FOTOS
Augusto Barraque, acervo do Incaper e dos autores
Incaper
Biblioteca Rui Tendinha
C129 Café Conilon / editores técnicos, Romário Gava Ferrão, Aymbiré Francisco
Almeida da Fonseca, Maria Amélia Gava Ferrão, Lúcio Herzog De Muner. 2 ed.
atual. e ampl. 2a reimpressão - Vitória, ES : Incaper, 2017.
784p. : il. color.
ISBN 978-85-89274-26-5
CDD: 633.73
O texto desta obra foi composto na família de tipos Myriad Pro no corpo 10/13.
Títulos em Myriad Pro Bold corpo 12.
Miolo impresso em papel couché fosco 115 g e costurado à mão.
Café Conilon
Prefácio
Ao longo das últimas três décadas, verificou-se extraordinário crescimento na produção, produtividade
e uso da espécie Coffea canephora no cenário capixaba, brasileiro e internacional. Concomitantemente,
constatou-se grande distinção e reconhecimento da importância dessa cultura, tendo como pilares, nessa
evolução, a geração, difusão e transferência de tecnologias e a agregação de esforços das diferentes
instituições e elos da cadeia do café.
Os editores e autores desta segunda versão revisada, atualizada e ampliada têm grande satisfação e honra
de redigir o prefácio do livro “Café Conilon”, que oferece e disponibiliza aos segmentos do café os mais
contemporâneos conhecimentos científicos sobre o café conilon.
Os 30 capítulos desta obra foram redigidos por 74 profissionais com formações acadêmicas e reconhecidas
experiências, condizentes com os diferentes conteúdos expostos. Na redação, procurou-se uma combinação
cuidadosa e harmônica de teoria e prática, em que foram apresentados e discutidos os conhecimentos,
as experiências de campo e as tecnologias geradas e ou adaptadas por diferentes instituições brasileiras,
oriundas dos resultados de pesquisas científicas de campo e de laboratório, obtidos, sobretudo, no Estado
do Espírito Santo e Brasil, e da consulta de mais de 1.200 literaturas nacionais e internacionais. O conteúdo
permeia diferentes áreas e abordam temas que se estendem desde a origem e história da introdução do
conilon no Brasil, a aspectos relacionados ao seu cultivo sustentável, colheita e classificação, até fatores
econômicos, entre outros, tais como Coffea canephora; importância do café conilon no Estado do Espírito
Santo; zoneamento agroclimático; origem e dispersão geográfica; aspectos fisiológicos; melhoramento
genético; autoincompatibidade; biotecnologia; cultivares; jardins clonais, produção de sementes e mudas;
manejo da cultura; preparo, manejo e conservação de solo; nutrição; calagem e adubação; plantas daninhas;
pragas; doenças; irrigação; sistemas agroflorestais; colheita e pós-colheita; mecanização da colheita; água
residuária; qualidade e classificação; industrialização; mercado e comercialização; cafeicultura sustentável;
certificação; arranjo institucional; geração, difusão e transferência de tecnologias; e coeficientes técnicos e
custo de produção.
Como editores técnicos, impressionou-nos muito o volume e a qualidade das informações, tecnologias
geradas e transferidas para os produtores e para os diferentes segmentos associados ao café conilon, além
das inovações que proporcionaram nessas últimas décadas.
Nesse contexto, merecem registro os resultados dos trabalhos do Instituto Capixaba de Pesquisa,
Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), que ao longo da metade de sua história de 60 anos,
juntamente com instituições parceiras, vem desenvolvendo pesquisas aplicadas com o conilon em focos
temáticos prioritários e simultaneamente transferindo tecnologias aos produtores do Estado e de outras
regiões brasileiras. Os dados conjunturais do Espírito Santo mostram que de 1993 a 2014, período em que
os produtores passaram a renovar suas lavouras com as primeiras cultivares melhoradas disponibilizadas,
juntamente com as indicações tecnológicas relativas à nutrição e poda, observou-se crescimento contínuo
médio da ordem de 15% ao ano na produção de café conilon capixaba. Ressalta-se que por ocasião do
início dos trabalhos do projeto desta publicação na sua segunda edição (2014), o Espírito Santo alcançou
a maior produção de sua história, ou seja, 9,95 milhões de sacas. Contudo, daquela ocasião até o presente
momento, o Estado vem passando por uma das mais expressivas secas já relatadas no último século, e, em
decorrência desse fato, a produção estadual experimentou uma redução de cerca de 50% em relação à
Café Conilon
expectativa daquela que poderia ser alcançada em condições climáticas normais. Registra-se que a maioria
dos dados conjunturais ou comparações dessa obra apresentados pelos diferentes autores são referentes
até o ano de 2014 ou 2015.
Espera-se que este livro em sua segunda edição mantenha-se como um referencial técnico-científico da
espécie Coffea canephora para ser consultado por público diverso, envolvendo pesquisadores, professores,
técnicos, estudantes, empresários, comerciantes, industriais, agentes financeiros, entre outros, de
instituições públicas e privadas e pelo produtor. Espera-se também que as novas informações trazidas
nos diferentes capítulos contribuam para a evolução da produção sustentável, melhoria da qualidade e
agregação de valor do produto final, maior competitividade da atividade e melhoria da qualidade de vida,
especialmente dos cafeicultores e seus familiares e de todos os envolvidos nos arranjos associados ao
agronegócio café conilon.
Somos muito gratos a todos aqueles que participaram desta obra e da exitosa história do conilon que, de
várias formas, se confunde com a história de tantos capixabas e brasileiros, que usam os conhecimentos em
prol do fortalecimento empreendedor dos envolvidos nas atividades associadas ao conilon.
Por fim, estamos prontos a continuar trabalhando de forma unida, dinâmica e responsável, no
estabelecimento de diretrizes para o enfrentamento dos desafios atuais e futuros relacionados às mudanças
climáticas, escassez de mão de obra, mecanização, melhoria da qualidade final do produto, novos mercados,
agregação de valor, aumento de renda, certificação, custo da produção e demais demandas que por certo
virão, contribuindo, assim, para uma cafeicultura brasileira cada vez mais sustentável.
Editores Técnicos
Café Conilon
Apresentação
O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) orgulha-se do lançamento
e disponibilização da segunda edição do livro ‘Café Conilon’. Para os profissionais da área agronômica,
estudantes, produtores e apreciadores das tecnologias relacionadas à cafeicultura, a primeira edição,
lançada em dezembro de 2007, tornou-se uma obra de referência desde então.
Agora, esta obra, atualizada e ampliada sob a coordenação dos pesquisadores Romário Gava Ferrão,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Maria Amélia Gava Ferrão e Lúcio Herzog De Muner, contempla
30 capítulos, com estruturas independentes, de informações tecnológicas, gerencias e de mercado sobre a
cultura do café no âmbito não apenas estadual, mas nacional e, até mesmo, internacional.
Por meio de conceitos teórico-científicos aplicados na prática, o livro introduz e discute os principais temas
das diferentes áreas de conhecimento da espécie Coffea canephora. Também aborda as interligações entre
os diferentes setores, como pesquisa, extensão, mercado, indústria e produtores.
Ao analisar as mudanças em relação à primeira edição, os autores discorrem sobre novos paradigmas, com
o objetivo de buscar alternativas para o desenvolvimento rural sustentável por meio de pesquisa levando
em consideração o cenário atual de grandes variações climáticas, novos arranjos institucionais, demanda
por transferência de tecnologias e infraestrutura, escassez de mão de obra, entre outros fatores.
Com a participação de 75 autores e coautores, de 68 especialistas revisores e mais de 75 instituições
públicas e privadas, o livro ‘Café Conilon’ constitui-se em mais uma obra-prima da agricultura moderna, com
conhecimentos capazes de promover, de forma sustentável, aumento e distribuição de renda, manutenção
do homem no campo e redução das desigualdades sociais.
Assim, em seu sexagésimo aniversário de existência, o Incaper comemora essa data, tendo a honra de
disponibilizar à sociedade esta obra que, em complementação à edição anterior, reflete o dedicado
trabalho de muitos de seus profissionais ao longo dos últimos 30 anos que, interagindo com esmero e
profissionalismo com equipes de pesquisadores de outras instituições, num trabalho de contínua e profícua
parceria, vem proporcionando a elucidação de muitos aspectos, de diversas áreas do conhecimento que
envolvem as atividades relacionadas a esse agronegócio.
Nesta oportunidade, o Instituto parabeniza todos os seus servidores que se dedicaram e dedicam seu
trabalho à cultura do café, que está no coração e no dia a dia dos capixabas.
Palavra do
Secretário de Agricultura
O modelo de desenvolvimento agropecuário, associado ao crescimento populacional e à demanda por
alimentos, estabelece um novo paradigma para a geração do conhecimento com a inserção de tecnologias
cada vez mais avançadas para produção com mais eficiência respeitando os recursos naturais, promovendo
a ampliação da cobertura vegetal, a qualidade de vida das pessoas no campo, a alimentação saudável e a
sustentabilidade das cadeias produtivas.
O livro ‘Café Conilon’ é uma grandiosa obra que mostra, com maestria, um dos melhores exemplos do
sucesso oriundo do esforço de uma equipe técnica altamente qualificada e detentora de conhecimentos
científicos e aplicados que fazem da cafeicultura no Estado do Espírito Santo esse celeiro de referência
nacional e internacional.
Os desafios são muitos, e maiores ainda são os resultados obtidos que estão sendo disponibilizados
para a sociedade. Essas informações técnicas, relevantes e indispensáveis para a sustentabilidade dessa
importante cadeia produtiva que é o café conilon, motivo de muito orgulho para os capixabas, destacam
a importância do Sistema Seag nesse momento histórico, único e inovador na geração de conhecimento.
Fatos marcantes, no entanto, merecem ser registrados desde a sua introdução por volta de 1912 em solo
espírito-santense, passando pela crise da erradicação do café arábica (1962-68), que foi a principal motivação
de alternativas viáveis de inovação e renovação. Esse fato levou a uma decisão corajosa e determinada
do Município de São Gabriel da Palha na produção e distribuição de mudas de café conilon, experiência
de grande sucesso, considerada um marco inicial para a expansão da cultura no Estado. O Governo do
Espírito Santo, por meio da Secretaria de Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), passou a
ter um importante papel nessa cadeia produtiva ao longo dos anos. Sua contribuição culminou no PEDEAG
3 (2015-2030), com a realização de oficinas para o levantamento das prioridades do setor, reforçando o
papel da pesquisa, inovação, assistência técnica e extensão rural, fator motivador para o lançamento do
maior edital de pesquisa no Estado do Espírito Santo pela Seag, em parceria com a Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), sendo o café conilon uma das prioridades.
Nesses 30 capítulos e 784 páginas, é possível apreciar os indicadores e evolução do café conilon com o
registro de 15 cultivares, sendo dez do Incaper, mais de 50 tecnologias nas diferentes áreas e mais de
4.000 conhecimentos gerados que elevam ao patamar nunca antes conquistado um trabalho integrado
e interdisciplinar protagonizado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão
Rural (Incaper), em parceria com instituições públicas e privadas, municípios e todos os pesquisadores,
extensionistas, agricultores e agentes da cadeia produtiva do café conilon.
Octaciano Neto
Secretário de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca
Café Conilon
Palavra do Governador
A cafeicultura capixaba experimentou, a partir dos anos 60, uma longa história de incertezas e desafios
em meio a uma crise do mercado cafeeiro, na qual o Estado se viu forçado a destruir milhões de cafeeiros,
delapidando aquela que se constituía na principal atividade agrícola do Espírito Santo: a cultura-base do
primeiro ciclo produtivo de nossa trajetória.
Mas da crise, não nasceu apenas uma economia capixaba renovada pelo paradigma industrial-exportador,
emergiu uma cafeicultura forte, reassentada em novas bases, como a diversificação, a produtividade e a
qualidade.
A cafeicultura responde atualmente pela destacada fatia de 36,81% do valor bruto da produção
agropecuária do Espírito Santo, contando com especial participação do conilon. Constitui-se na mais
importante atividade socioeconômica capixaba, projetando o Estado como o segundo produtor nacional
de cafés e o primeiro de conilon. A atividade ocupa 20,6% da área cultivada no meio rural, estando presente
em todos os 78 municípios capixabas, onde gera uma receita anual da ordem de 3,22 bilhões de reais.
Nos 64 municípios que cultivam café conilon no Estado, 40 mil das 60 mil propriedades rurais dedicadas ao
cultivo de café produzem conilon. A atividade gera cerca de 210 mil postos diretos de trabalho na lavoura. A
safra recorde da espécie no Estado foi alcançada em 2014, quando foram produzidos 9,95 milhões de sacas
numa área em produção de aproximadamente 283 mil hectares.
As expressivas alterações climáticas registradas no Estado de 2014 a 2016, quando a precipitação nas
principais regiões produtoras de conilon diminuiu drasticamente, provocaram expressivas perdas,
interferindo de forma significativa nas atividades que envolvem produtores, empreendedores e profissionais
de diferentes instituições.
Resta destacar o investimento em pesquisa e inovação feito pelo Governo do Estado com vistas a qualificar
e ampliar a produtividade dos cafés capixabas. Especificamente acerca do conilon, o aparato tecnológico
disponibilizado pela pesquisa alavancou a produtividade, que em 1993 era de 9,2 sacas beneficiadas de
60 kg por hectare, para o valor de 35,14 sacas beneficiadas por hectare em 2014, isto é, um aumento de
282%. Ademais, a produção passou, no mesmo período, de 2,4 para 9,95 milhões de sacas, ou seja, um
crescimento de 315%.
O conteúdo desta publicação ressalta o quão dinâmico é o setor cafeeiro capixaba, além de caracterizar
a importância do café para as nossas atividades econômicas e raízes culturais. A obra tem um sabor
duplamente especial ao destacar os avanços tecnológicos potencializados pelo investimento em tecnologia
e qualidade. Traduz adicionalmente a bravura com que nossos agricultores enfrentam os desafios que se
apresentam, como agora ao superar as agruras dos efeitos ambientais.
É a cafeicultura fazendo história em nossas terras, escrevendo capítulos de enfretamento, luta e superação,
qualificação e produção de riquezas, com garantia de oportunidade de trabalho e prosperidade para
milhares de capixabas. Uma história que merece ser contada com distinção e saboreada com uma boa
dose de orgulho e emoção.
Paulo Hartung
Governador do Estado do Espírito Santo
Café Conilon
Café Conilon
Dedicatória
Esta segunda edição dedicamos aos produtores de café conilon do Espírito Santo pela bravura,
dedicação e empreendedorismo demonstrados no desenvolvimento da atividade e, em especial,
ao Sr. Dário Martinelli (in memoriam) pelo inestimável legado deixado na cafeicultura capixaba.
Agradecimentos
Aos autores pela dedicação e solicitude para dividirem conosco a responsabilidade de atualizar e ampliar
esta edição, mantendo o nível científico.
Aos revisores ad hoc pela disponibilidade e pelo trabalho coletivo com os editores e autores.
Ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) por sempre acreditar e
apoiar os projetos com café e esta obra, especialmente pela valiosa contribuição de seus servidores nas
diferentes fases deste trabalho, notadamente na coordenação editorial, diagramação, revisão linguística e
normalização, operacionalização administrativa e de recursos financeiros, entre outras.
Ao Governo do Estado do Espírito Santo, por intermédio da Secretaria de Estado de Agricultura,
Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por apoiar a pesquisa, assistência técnica e extensão rural do
café conilon no Estado.
Ao Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, à Embrapa Café pelo incentivo, apoio
técnico-científico e viabilização de parte dos recursos para esta publicação.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (Fapes) pela disponibilização de apoio
financeiro para execução de projetos de pesquisa da cafeicultura do Espírito Santo.
A todas as instituições que acreditaram, trabalharam, auxiliaram e estiveram envolvidas na elaboração e no
lançamento desta obra.
Enfim, o nosso muito obrigado a todos e nossa eterna gratidão.
Café Conilon
Café Conilon
Editores Técnicos
Engenheiro Agrônomo, formado em 1980 pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Mestre em
1984 e Doutor em 2004 em Genética e Melhoramento de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Participou do Curso Avançado em Melhoramento no Centro Internacional de Melhoramento de Milho e
Trigo (Cimmyt), México, em 1993. É pesquisador do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e
Extensão Rural (Incaper) desde 1984. Atua desde 1996 como professor de graduação e pós-graduação na
orientação e coorientação de trabalhos de pesquisa científica (monografias, dissertações de mestrado e
teses de doutorado). Coordena e participa de equipe de projetos de pesquisa de melhoramento genético
e áreas correlatas. Chefiou e gerenciou Unidades de pesquisa do Incaper. É coordenador do Programa de
Cafeicultura do Estado do Espírito Santo desde 2005. Bolsista de Produtividade e Pesquisa (CNPq). É membro
do Conselho Editorial do Incaper e da Câmara de Assessoramento de Ciências Agrárias da Fundação de Amparo
à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). É consultor ad hoc de revistas científicas de instituições
de pesquisa. Coordenou eventos, visitas técnicas e missões e atua como palestrante e conferencista
em âmbitos nacional e internacional. Coordenou e ou participou de equipe para o desenvolvimento
e lançamento de quatro cultivares de milho, nove de café conilon e na recomendação de 16 cultivares
de Coffea arabica. Recebeu Premiações e homenagens como: Honraria Indiana, The Karnataka Planters’
Association - Bangalore, Índia (2013); 10ª Inoves na categoria Resultados para a Sociedade (2014); Capixaba
do Ano 2015, categoria Tecnologia; Medalha do Mérito do Sistema Confea/Crea e Mútua (2016). É autor do
livro ‘Metodologia Científica para iniciantes em pesquisa’ e de mais de 400 trabalhos técnico-científicos.
Engenheiro Agrônomo, formado em 1980 pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Obteve
os títulos de Mestre em Fitotecnia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em 1983 e de Doutor em
Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 1999. É pesquisador da Embrapa desde 1983,
tendo atuado na Embrapa Rondônia e Embrapa Café. Exerce suas funções no Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) desde 1987, onde atua em diversos projetos de
pesquisa nas áreas de Manejo, Melhoramento Genético e Qualidade do Cafeeiro Arábica e Conilon. Foi
chefe da Embrapa Café entre 2008 e 2010 e coordenador do Programa de Pesquisa do Consórcio no mesmo
período. Foi membro da Comissão Técnica do Programa Café e coordenador do Comitê de Pesquisa do
Núcleo Referência em Genética e Melhoramento do Cafeeiro. É vice-líder do Grupo de Pesquisa Café &
Tecnologia no CNPq, onde é bolsista de Produtividade DT. É membro da Câmara de Assessoramento de
Ciências Agrárias da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes). Editor Científico
da Revista Coffee Science e revisor ad hoc de várias revistas científicas e instituições de pesquisa. Publicou
486 trabalhos científicos, entre artigos em periódicos nacionais e internacionais, capítulos de livros, resumos
expandidos e simples em anais de eventos científicos, em interação com mais de 400 outros autores.
Café Conilon
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), com mestrado (1985) e
Doutorado (1997) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) na área de Genética e Melhoramento de
Plantas. Pesquisadora do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper)
de 14/07/1985 a 09/04/2007 e da Embrapa Café no Incaper a partir de 10/04/2007. É Líder do Grupo
de Pesquisa Café & Tecnologia e bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Trabalha na área de
Genética e Melhoramento de Plantas, com ênfase em Genética Quantitativa e Marcadores Moleculares.
Dedicou-se inicialmente às culturas de mandioca, milho e feijão e, desde 1997, tem trabalhado com
café (Coffea arabica e Coffea canephora), cultura na qual vem coordenando vários projetos de pesquisa e
integrando equipes. Atuou como membro do Núcleo de Genética e Melhoramento de Café e do Núcleo
de Referência de Biotecnologia do Consórcio Pesquisa Café (2003-2010) e da Fundação de Amparo à
Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), Câmara de Assessoramento de Ciências Agrárias (2005-
2007 e 2010-2014). Atua como consultora ad hoc de revistas científicas e de agências de fomento
à pesquisa e desenvolvimento e em cursos de pós-graduação. Em sua produção técnico-científica,
destacam-se a participação no lançamento e/ou recomendação de cultivares de feijão (4), milho (2), café
arábica (16) e café conilon (6), e publicação de mais de 350 trabalhos, entre livros e capítulos, artigos
científicos, resumos simples e expandidos, circulares e boletins técnicos, documentos, entre outros.
Engenheiro Agrônomo, formado em 1981 pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Mestre
em Solos e Nutrição de Plantas pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) em 1996 e Doutor em
Recursos Naturais e Gestão Sustentável em 2011 pela Universidade de Córdoba (UCO), na Espanha.
Ingressou como Extensionista Rural na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do
Espírito Santo (Emater-ES), em 1982, onde foi chefe de Escritório Local, supervisor regional e gerente
estadual do Programa de Apoio à Agricultura Familiar. Entre 2000 e 2003, atuou como professor no
curso de Administração Rural no Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc), nas disciplinas de
Extensão Rural, Solos e Gestão de Recursos Naturais. Foi coordenador do Programa de Desenvolvimento
da Cafeicultura no Estado do Espírito Santo vinculado ao Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural (Incaper) e Secretaria de Estado da Agricultura do Espírito Santo (Seag) entre
1999 e 2005. Exerceu a chefia do Departamento de Operações Técnicas do Incaper de 2005 a 2007 e
o cargo de diretor-técnico dessa mesma instituição de março de 2015 a junho de 2016. Atualmente,
é coordenador do Programa Renovar Café Arábica, Renova Sul Conilon e do Projeto Transferência
de Tecnologias para Sustentabilidade da Cafeicultura no Estado do Espírito Santo e Regiões Sul e
Sudoeste da Bahia junto ao CBP&D/Café. Atua como professor convidado na Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia (Uesb), no Programa de Pós-Graduação em Gestão da Cadeia Produtiva do Café.
Café Conilon
Autores e Coautores
Revisores Técnicos
Sumário
1
Coffea canephora.................................................................................................................................................................. 37
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................... 37
2 PANORAMA DO CULTIVO................................................................................................................................................... 39
2.1 ASPECTOS GERAIS DA HISTÓRIA, ORIGEM, DISTRIBUIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO....................................... 39
2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS.............................................................................................................................. 40
2.2.1 Café no Brasil..................................................................................................................................................................... 42
2.2.2 Café conilon no Brasil.................................................................................................................................................... 43
2.2.3 Evolução tecnológica do conilon no Brasil.......................................................................................................... 43
2.3 PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS PARA Coffea canephora.......................................................................................... 46
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................... 49
4 REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................................ 50
2
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DO CAFÉ CONILON NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO.................................................................................................................................................................. 55
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................... 55
2 BREVE PERFIL HISTÓRICO DA CAFEICULTURA DE CONILON NO ESPÍRITO SANTO............................. 56
3 EVOLUÇÃO DA CAFEICULTURA DE CONILON NO ESPÍRITO SANTO............................................................ 58
4 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO DO CAFÉ CONILON NOS MUNICÍPIOS
CAPIXABAS................................................................................................................................................................................. 61
5 A AGRICULTURA FAMILIAR NA PRODUÇÃO DE CAFÉ CONILON.................................................................... 64
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................... 65
7 REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................................ 66
3
ZONEAMENTO AGROCLIMATOLÓGICO PARA A CULTURA DO CAFÉ CONILON NO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.................................................................................................................................. 69
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................... 69
2 ZONEAMENTO AGRÍCOLA.................................................................................................................................................. 69
3 MODELAGEM PARA O ZONEAMENTO AGROCLIMATOLÓGICO...................................................................... 71
3.1 BASE DE DADOS ESPACIAL................................................................................................................................................ 71
3.2 PREDIÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA MÉDIA....................................................................................................... 71
3.3 PREDIÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO...................................................................................................................... 71
3.4 EVAPOTRANSPIRAÇÃO E DEFICIT HÍDRICO................................................................................................................. 72
3.5 CATEGORIAS DE APTIDÃO.................................................................................................................................................. 72
4 RESULTADOS OBTIDOS........................................................................................................................................................ 73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................... 78
6 REFERÊNCIAS............................................................................................................................................................................ 79
4
ORIGEM, DISPERSÃO GEOGRÁFICA, TAXONOMIA E DIVERSIDADE GENÉTICA DE
Coffea canephora.................................................................................................................................................................. 81
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................... 81
Café Conilon
5
ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO CAFÉ CONILON......................................................................................103
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................103
2 CRESCIMENTO VEGETATIVO...........................................................................................................................................103
3 SISTEMA RADICULAR.........................................................................................................................................................105
4 CRESCIMENTO REPRODUTIVO......................................................................................................................................109
4.1 FLORAÇÃO..............................................................................................................................................................................109
4.1.1 Concentração da florada pela imposição de deficit hídrico......................................................................111
4.2 FRUTIFICAÇÃO......................................................................................................................................................................113
5 RELAÇÕES HÍDRICAS..........................................................................................................................................................115
6 MOVIMENTO ESTOMÁTICO E TRANSPIRAÇÃO.....................................................................................................116
7 FOTOSSÍNTESE E PRODUTIVIDADE............................................................................................................................117
8 ESTRESSE OXIDATIVO........................................................................................................................................................118
9 TOLERÂNCIA À SECA..........................................................................................................................................................119
10 DIFICULDADES E AVANÇOS PARA A OBTENÇÃO DE CULTIVARES TOLERANTES À SECA.............121
11 MUDANÇAS CLIMÁTICAS E O FUTURO DO CONILON......................................................................................122
12 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................................123
13 REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................124
6
MELHORAMENTO GENÉTICO DE Coffea canephora...........................................................................131
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................131
2 CITOLOGIA E SISTEMAS REPRODUTIVOS................................................................................................................132
2.1 AUTOINCOMPATIBILIDADE GENÉTICA........................................................................................................................132
2.2 BIOLOGIA FLORAL................................................................................................................................................................133
2.3 POLINIZAÇÃO........................................................................................................................................................................134
3 ALGUNS ASPECTOS RELACIONADOS À HERANÇA DE CARACTERES........................................................134
3.1 PRODUTIVIDADE DE GRÃOS...........................................................................................................................................134
3.2 HERDABILIDADE DAS CARACTERÍSTICAS COMPONENTES DA PRODUÇÃO DE GRÃOS........................135
3.3 ESTABILIDADE E BIENALIDADE DE PRODUÇÃO......................................................................................................135
3.4 QUALIDADE DO PRODUTO..............................................................................................................................................136
3.4.1 Características dos grãos...........................................................................................................................................137
3.4.2 Teor de cafeína................................................................................................................................................................137
3.4.3 Qualidade da bebida....................................................................................................................................................138
4 OBJETIVOS E ESTRATÉGIAS DO MELHORAMENTO GENÉTICO....................................................................139
4.1 INTRODUÇÃO DE GERMOPLASMA...............................................................................................................................140
4.2 SELEÇÃO CLONAL................................................................................................................................................................141
4.3 SELEÇÃO RECORRENTE......................................................................................................................................................144
4.3.1 Seleção recorrente com a utilização de propagação vegetativa............................................................147
4.3.2 Seleção recorrente recíproca...................................................................................................................................147
4.4 HIBRIDAÇÃO...........................................................................................................................................................................149
4.4.1 Hibridação intraespecífica........................................................................................................................................149
4.4.2 Hibridação interespecífica........................................................................................................................................151
4.5 MANUTENÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA........................................................................................................152
5 ANÁLISES BIOMÉTRICAS: APLICAÇÕES E RESULTADOS....................................................................................153
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7
AUTOINCOMPATIBILIDADE E PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DO CAFÉ CONILON ......177
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................177
2 AUTOINCOMPATIBILIDADE.............................................................................................................................................178
3 AUTOINCOMPATIBILIDADE NO MELHORAMENTO DE PLANTAS................................................................182
4 AUTOINCOMPATIBILIDADE EM Coffea canephora...............................................................................................183
5 AUTOINCOMPATIBILIDADE E SUSTENTABILIDADE DO CAFÉ CONILON..................................................186
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................188
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................188
8
BIOTECNOLOGIA APLICADA A Coffea canephora................................................................................193
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................193
2 MARCADORES GENÉTICOS..............................................................................................................................................193
3 PRINCIPAIS MARCADORES MOLECULARES...........................................................................................................195
4 APLICAÇÕES DOS MARCADORES MOLECULARES EM Coffea canephora................................................199
4.1 DIVERSIDADE GENÉTICA...................................................................................................................................................200
4.2 MAPEAMENTO GENÉTICO E ANÁLISES DE QTLs.....................................................................................................202
4.3 SELEÇÃO GENÔMICA..........................................................................................................................................................204
5 RECURSOS GENÔMICOS...................................................................................................................................................207
5.1 SEQUENCIAMENTO FUNCIONAL DO CAFÉ - PROJETO BRASILEIRO GENOMA CAFÉ...............................207
5.2 SEQUENCIAMENTO FUNCIONAL DO CAFÉ POR DIFERENTES GRUPOS DE PESQUISA...........................208
5.3 SEQUENCIAMENTO COMPLETO DO GENOMA DE Coffea canephora..............................................................209
5.4 BANCOS DE DADOS E FERRAMENTAS DE BIOINFORMÁTICA............................................................................210
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................211
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................212
9
CULTIVARES DE CAFÉ CONILON..........................................................................................................................219
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................219
2 INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE CAFÉ CONILON......220
2.1 REPRODUÇÃO E PROPAGAÇÃO.....................................................................................................................................221
2.2 CULTIVARES CLONAIS.........................................................................................................................................................221
2.3 CULTIVARES PROPAGADAS POR SEMENTES.............................................................................................................222
2.4 MELHORAMENTO GENÉTICO E DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE CAFÉ CONILON PELO
INCAPER...................................................................................................................................................................................223
3 CULTIVARES DE CAFÉ CONILON DESENVOLVIDAS E LANÇADAS PELO INCAPER PARA O
ESPÍRITO SANTO...................................................................................................................................................................225
3.1 ‘EMCAPA 8111’, ‘EMCAPA 8121’ E ‘EMCAPA 8131’.....................................................................................................225
3.1.1 ‘Emcapa 8111’.................................................................................................................................................................225
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10
JARDINS CLONAIS, PRODUÇÃO DE SEMENTES E MUDAS DE CAFÉ CONILON.........243
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................243
2 JARDINS CLONAIS E PRODUÇÃO DE MUDAS CLONAIS ...................................................................................244
2.1 JARDINS CLONAIS................................................................................................................................................................244
2.1.1 Definições..........................................................................................................................................................................244
2.1.2 Histórico.............................................................................................................................................................................245
2.2 INSTALAÇÃO E CONDUÇÃO............................................................................................................................................245
2.2.1 Plantio das matrizes.....................................................................................................................................................246
2.2.2 Espaçamento e preparação das matrizes..........................................................................................................248
2.2.3 Adubação...........................................................................................................................................................................251
2.2.4 Irrigação.............................................................................................................................................................................251
2.2.5 Retirada e preparo das hastes originárias das brotações ortotrópicas ou verticais ...................252
2.2.6 Preparação das estacas para o plantio................................................................................................................253
2.2.7 Produção de estacas por matriz.............................................................................................................................254
2.2.8 Aquisição de materiais genéticos nos jardins clonais.................................................................................256
3 PRODUÇÃO DE SEMENTES..............................................................................................................................................256
3.1 OBTENÇÃO DE SEMENTES ...............................................................................................................................................257
3.2 DESPOLPAMENTO E DEGOMAGEM..............................................................................................................................257
3.3 SECAGEM E ARMAZENAMENTO....................................................................................................................................258
3.4 SUPERAÇÃO DA DORMÊNCIA.........................................................................................................................................259
4 VIVEIROS PARA PRODUÇÃO DE MUDAS .................................................................................................................259
4.1 CONSTRUÇÃO DO VIVEIRO..............................................................................................................................................259
4.2 LOCALIZAÇÃO DO VIVEIRO..............................................................................................................................................261
4.3 CONFECÇÃO DOS CANTEIROS.......................................................................................................................................261
4.4 RECIPIENTES...........................................................................................................................................................................261
4.5 SUBSTRATO PARA A PRODUÇÃO DE MUDAS ..........................................................................................................262
4.6 PLANTIO DAS SEMENTES E DAS ESTACAS NO VIVEIRO........................................................................................263
4.6.1 Semeadura para produção de mudas por semente......................................................................................263
4.6.2 Plantio das estacas para produção de mudas clonais.................................................................................263
4.7 CONDUÇÃO DAS MUDAS SEMINAIS NO VIVEIRO...................................................................................................264
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11
MANEJO DA CULTURA DO CAFÉ CONILON: PLANTIO, ESPAÇAMENTO, PODAS E
DESBROTAS.............................................................................................................................................................................275
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................275
2 PLANTIO....................................................................................................................................................................................276
2.1 PLANTIO EM LINHAS...........................................................................................................................................................278
3 ESPAÇAMENTO......................................................................................................................................................................283
4 SISTEMAS DE CONDUÇÃO DAS PLANTAS - PODAS............................................................................................285
4.1 CONDUÇÃO DAS PLANTAS EM LIVRE CRESCIMENTO, ARQUEADAS E DECOTADAS................................285
4.2 PODAS......................................................................................................................................................................................288
4.2.1 Poda de produção do café conilon........................................................................................................................289
4.2.2 Poda programada de ciclo para o café conilon...............................................................................................291
4.2.3 Poda dos ramos plagiotrópicos ou produtivos ..............................................................................................295
4.3 DESBROTAS.............................................................................................................................................................................296
4.4 ÉPOCA DE REALIZAÇÃO DA PODA...............................................................................................................................297
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................298
6 REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................................................299
12
PREPARO, MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO EM LAVOURAS DE CAFÉ
CONILON...............................................................................................................................................................................303
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................303
2 ESCOLHA DAS ÁREAS.........................................................................................................................................................304
3 PREPARO DA ÁREA PARA O PLANTIO........................................................................................................................304
3.1 LIMPEZA DO TERRENO.......................................................................................................................................................305
3.2 MARCAÇÃO E ABERTURA DOS CARREADORES.......................................................................................................305
3.3 PREPARO DO SOLO..............................................................................................................................................................307
3.4 MARCAÇÃO E ABERTURA DOS SULCOS OU COVAS...............................................................................................307
4 CONSERVAÇÃO DO SOLO.................................................................................................................................................311
4.1 IMPORTÂNCIA........................................................................................................................................................................311
4.2 LOCALIZAÇÃO DOS PLANTIOS.......................................................................................................................................312
4.3 PLANTIO EM CURVAS DE NÍVEL.....................................................................................................................................312
4.4 PLANTIO ADENSADO.........................................................................................................................................................313
4.5 PLANEJAMENTO DOS CARREADORES........................................................................................................................313
4.6 MANEJO DA VEGETAÇÃO NATIVA.................................................................................................................................314
4.7 PLANTIO DIRETO..................................................................................................................................................................316
5 MEDIDAS DE CONTROLE DA EROSÃO.......................................................................................................................316
5.1 PRÁTICAS VEGETATIVAS.....................................................................................................................................................316
5.2 PRÁTICAS MECÂNICAS.......................................................................................................................................................317
5.3 COMBINAÇÃO DE PROCESSOS E PRÁTICAS ESSENCIAIS.....................................................................................318
6 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS........................................................................................................................................319
7 SUBSOLAGEM.........................................................................................................................................................................319
7.1 ADENSAMENTO DO SOLO................................................................................................................................................319
Café Conilon
13
NUTRIÇÃO DO CAFEEIRO CONILON.................................................................................................................327
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................327
2 EXIGÊNCIAS MINERAIS, MARCHA E TAXA DE ACÚMULO................................................................................327
3 NUTRIENTES............................................................................................................................................................................328
3.1 NITROGÊNIO .........................................................................................................................................................................328
3.2 CÁLCIO .....................................................................................................................................................................................331
3.3 POTÁSSIO ................................................................................................................................................................................332
3.4 MAGNÉSIO..............................................................................................................................................................................333
3.5 ENXOFRE..................................................................................................................................................................................334
3.6 FÓSFORO.................................................................................................................................................................................334
3.7 FERRO........................................................................................................................................................................................335
3.8 MANGANÊS.............................................................................................................................................................................336
3.9 BORO.........................................................................................................................................................................................337
3.10 ZINCO ....................................................................................................................................................................................337
3.11 COBRE.....................................................................................................................................................................................338
4 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL...................................................................................................................339
4.1 DRIS............................................................................................................................................................................................339
4.2 NÍVEL CRÍTICO E FAIXA DE SUFICIÊNCIA....................................................................................................................342
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................343
6 REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................................................343
14
CALAGEM E ADUBAÇÃO DO CAFÉ CONILON..........................................................................................347
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................347
2 AMOSTRAGEM DO SOLO PARA ANÁLISE DE FERTILIDADE...........................................................................347
2.1 COLETA DE AMOSTRAS REPRESENTATIVAS...............................................................................................................347
2.2 SISTEMA DE AMOSTRAGEM.............................................................................................................................................348
2.3 CUIDADOS NA COLETA......................................................................................................................................................348
2.4 IMPLANTAÇÃO DO CAFEZAL..........................................................................................................................................348
2.5 CAFEZAL EM PRODUÇÃO.................................................................................................................................................348
3 INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DO SOLO..................................................................................................................349
4 ACIDEZ DO SOLO..................................................................................................................................................................349
4.1 ESTIMATIVA DA QUANTIDADE DE CALCÁRIO..........................................................................................................349
4.2 USO RACIONAL DO CALCÁRIO.......................................................................................................................................350
4.3 ESTIMATIVA DA QUANTIDADE DE GESSO..................................................................................................................351
5 PARTICULARIDADES DA ADUBAÇÃO NITROGENADA......................................................................................352
6 PARTICULARIDADES DA ADUBAÇÃO FOSFATADA.............................................................................................352
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15
IRRIGAÇÃO E MANEJO DA ÁGUA NO CAFÉ CONILON.....................................................................359
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................359
2 NECESSIDADES HÍDRICAS DO CAFEEIRO CONILON..........................................................................................360
2.1 ESTIMATIVA DA NECESSIDADE HÍDRICA DO CAFEEIRO.......................................................................................362
2.1.1 Aspectos básicos do manejo da irrigação ........................................................................................................362
2.1.2 Estimativa da evapotranspiração..........................................................................................................................366
3 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO.................................................................................................................................................369
3.1 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO................................................................................................................370
3.1.1 Sistemas de irrigação por aspersão mecanizados ........................................................................................372
3.1.2 Componentes de um sistema de irrigação por aspersão...........................................................................373
3.2 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA.....................................................................................................................374
3.2.1 Descrição de um sistema de irrigação localizada..........................................................................................375
3.2.2 Eficiência do sistema de irrigação localizada...................................................................................................377
3.2.3 Uniformidade de aplicação de água em sistema de irrigação localizada..........................................377
4 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................380
16
MANEJO INTEGRADO DE PLANTAS DANINHAS...................................................................................383
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................383
2 BIOLOGIA E INTERFÊNCIAS DE PLANTAS DANINHAS.......................................................................................383
3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS...........................................................................................385
3.1 MANEJO PREVENTIVO........................................................................................................................................................386
3.2 CONTROLE CULTURAL.......................................................................................................................................................386
3.3 CONTROLE MECÂNICO......................................................................................................................................................388
3.4 CONTROLE QUÍMICO..........................................................................................................................................................388
3.4.1 Manejo de espécies tolerantes ao glyphosate................................................................................................390
3.4.2 Calibração de pulverizador hidráulico costal..................................................................................................391
4 CUSTO DE CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS E A RENTABILIDADE DA LAVOURA.......................393
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................394
6 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................394
17
MANEJO DE PRAGAS DO CAFÉ CONILON...................................................................................................399
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................399
2 PRAGAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA PARA O CAFÉ CONILON.............................................................407
2.1 BROCA-DO-CAFÉ .................................................................................................................................................................407
Café Conilon
2.2 BICHO-MINEIRO....................................................................................................................................................................412
2.3 COCHONILHAS......................................................................................................................................................................415
2.4 LAGARTA-DOS-CAFEZAIS.................................................................................................................................................418
2.5 LAGARTA-VERDE..................................................................................................................................................................419
2.6 LAGARTA-DAS-ROSETAS...................................................................................................................................................419
2.7 CARNEIRINHOS.....................................................................................................................................................................420
2.8 ÁCAROS....................................................................................................................................................................................420
2.8.1 Ácaro-vermelho..............................................................................................................................................................420
2.8.2 Ácaro-branco...................................................................................................................................................................421
2.9 BROCA-DAS-HASTES..........................................................................................................................................................422
2.10 CUPIM-SUBTERRÂNEO....................................................................................................................................................423
2.11 FORMIGAS............................................................................................................................................................................423
3 PRAGAS DO CAFÉ ARMAZENADO...............................................................................................................................423
3.1 CARUNCHO-DAS-TULHAS................................................................................................................................................424
3.2 TRAÇAS-DO-CAFÉ................................................................................................................................................................425
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................426
5 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................426
18
MANEJO DAS DOENÇAS DO CAFEEIRO CONILON..............................................................................435
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................435
2 DOENÇAS FOLIARES E DOS FRUTOS..........................................................................................................................435
2.1 FERRUGEM..............................................................................................................................................................................435
2.2 MANCHA-DE-OLHO-PARDO............................................................................................................................................450
2.3 MANCHA-MANTEIGOSA....................................................................................................................................................452
2.4 REQUEIMA-DO-CAFEEIRO................................................................................................................................................454
2.5 OUTRAS DOENÇAS FOLIARES E DOS FRUTOS.........................................................................................................455
2.5.1 Mancha-de-corynespora............................................................................................................................................455
2.5.2 Queima-do-fio.................................................................................................................................................................456
2.5.3 Mancha-anular-dos-frutos........................................................................................................................................456
2.5.4 Mancha-de-phoma.......................................................................................................................................................458
2.5.5 Mancha-aureolada........................................................................................................................................................458
2.5.6 Mancha de Myrothecium............................................................................................................................................459
3 DOENÇAS DE RAÍZES E CAULE.......................................................................................................................................459
3.1 ROSELINEOSE OU MAL-DOS-QUATRO-ANOS..........................................................................................................460
3.2 NEMATOIDES..........................................................................................................................................................................461
3.3 OUTRAS DOENÇAS RADICULARES...............................................................................................................................469
4 DOENÇAS ABIÓTICAS.........................................................................................................................................................470
4.1 MORTE-DAS-RAÍZES E SECA-DOS-RAMOS................................................................................................................470
5 DOENÇAS QUARENTENÁRIAS E AMEAÇAS EXTERNAS....................................................................................472
5.1 ANTRACNOSE-DOS-FRUTOS-VERDES OU COFFEE BERRY DISEASE (CBD).....................................................472
5.2 TRAQUEIMICOSE OU MURCHA-DO-CAFEEIRO........................................................................................................474
6 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................474
19
O CAFÉ CONILON EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS.........................................................................481
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................481
2 CONSÓRCIOS: SOMBREAMENTO, ARBORIZAÇÃO E SISTEMAS AGROFLORESTAIS..........................482
3 ASPECTOS BIÓTICOS ..........................................................................................................................................................483
4 ASPECTOS EDÁFICOS.........................................................................................................................................................483
5 ASPECTOS MICROCLIMÁTICOS E ECOFISIOLÓGICOS........................................................................................484
6 ASPECTOS ECONÔMICOS.................................................................................................................................................486
Café Conilon
20
COLHEITA E PÓS-COLHEITA DO CAFÉ CONILON..................................................................................495
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................495
2 COLHEITA..................................................................................................................................................................................496
2.1 ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO..............................................................................................................................................496
2.2 MÉTODO DE COLHEITA......................................................................................................................................................496
3 PREPARO PÓS-COLHEITA DO CAFÉ CONILON.......................................................................................................497
3.1 PREPARO VIA SECA..............................................................................................................................................................498
3.2 PREPARO VIA ÚMIDA..........................................................................................................................................................499
3.3 O PROCESSO DE SECAGEM..............................................................................................................................................499
3.3.1 Cuidados na secagem..................................................................................................................................................499
3.3.2 Manejo do café em terreiros.....................................................................................................................................500
3.3.3 Secagem em secadores mecânicos.......................................................................................................................503
3.3.4 Secagem em terreiro híbrido ou terreiro secador.........................................................................................504
4 ARMAZENAMENTO..............................................................................................................................................................505
5 REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................................................506
21
COLHEITA MECANIZADA DO CAFÉ CONILON.........................................................................................509
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................509
2 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE COLHEITA....................................................................................................510
3 MÁQUINAS E OPERAÇÕES EM USO E EM TESTE PARA A COLHEITA...........................................................511
3.1 RECOLHEDORAS...................................................................................................................................................................511
3.1.1 Funcionamento das recolhedoras.........................................................................................................................511
3.1.2 Características técnicas das recolhedoras.........................................................................................................511
3.2 TRILHADORAS.......................................................................................................................................................................512
3.2.1 Funcionamento das trilhadoras.............................................................................................................................512
3.2.2 Características técnicas das trilhadoras.............................................................................................................512
3.3 RECOLHEDORAS E TRILHADORAS ESTACIONÁRIAS COM LONAS...................................................................512
3.3.1 Funcionamento das recolhedoras e trilhadoras estacionárias com lonas.........................................512
3.3.2 Características técnicas das recolhedoras e trilhadoras estacionárias com lonas.........................512
3.4 COLHEDORAS AUTOMOTRIZES......................................................................................................................................512
3.4.1 Funcionamento das automotrizes.........................................................................................................................512
3.4.2 Características técnicas das automotrizes........................................................................................................515
4 CARACTERÍSTICAS OPERACIONAIS DAS COLHEDORAS.................................................................................516
4.1 SISTEMAS SEMIMECANIZADOS.....................................................................................................................................516
4.2 SISTEMAS MECANIZADOS COM AUTOMOTRIZES..................................................................................................516
4.2.1 Características operacionais em lavouras tradicionais...............................................................................516
4.2.2 Características operacionais em lavouras experimentais ........................................................................517
4.2.3 Seletividade da colheita e perspectivas futuras.............................................................................................518
5 MANEJO DA LAVOURA PARA COLHEITA MECANIZADA..................................................................................520
5.1 SISTEMAS SEMIMECANIZADOS.....................................................................................................................................520
5.2 SISTEMA DE COLHEITA COM AUTOMOTRIZES.........................................................................................................522
6 CUSTOS OPERACIONAIS DOS SISTEMAS DE COLHEITA...................................................................................525
7 IMPLICAÇÕES FUTURAS....................................................................................................................................................526
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................527
Café Conilon
9 AGRADECIMENTOS..............................................................................................................................................................527
10 REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................527
22
MANEJO DA ÁGUA RESIDUÁRIA DO CAFÉ CONILON.......................................................................531
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................531
2 LEGISLAÇÃO............................................................................................................................................................................531
3 GERAÇÃO DE ÁGUA RESIDUÁRIA NO PROCESSAMENTO DO CAFÉ...........................................................533
4 CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA DO CAFÉ........................................................................................536
5 REÚSO DA ÁGUA RESIDUÁRIA.......................................................................................................................................537
5.1 SISTEMA DE LIMPEZA DA ÁGUA RESIDUÁRIA..........................................................................................................537
5.2 EXPERIMENTOS COM O SISTEMA DE LIMPEZA .......................................................................................................539
6 DESTINAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA.........................................................................................................................540
7 EFEITOS DA APLICAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA NO SOLO............................................................................541
8 EFEITOS DA APLICAÇÃO DE ÁGUA RESIDUÁRIA NAS PLANTAS..................................................................543
9 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA NA LAVOURA DE CAFÉ........................................................................545
9.1 DOSE DE ÁGUA RESIDUÁRIA A SER APLICADA........................................................................................................545
9.2 MODO DE APLICAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA .......................................................................................................546
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................................................547
11 REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................547
23
QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO DO CAFÉ CONILON.........................................................................551
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................551
2 IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO DO CAFÉ........................................................................553
2.1 HISTÓRICO..............................................................................................................................................................................553
2.2 ATRIBUTOS DA QUALIDADE PARA O CAFÉ CONILON...........................................................................................555
3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE E CLASSIFICAÇÃO DO CAFÉ CONILON........................................................556
3.1 ASPECTOS GERAIS DA CLASSIFICAÇÃO OFICIAL BRASILEIRA PARA CAFÉ (COB).....................................556
3.2 CLASSIFICAÇÃO POR TIPO...............................................................................................................................................557
3.3 CLASSIFICAÇÃO POR PENEIRA.......................................................................................................................................559
3.4 CLASSIFICAÇÃO SENSORIAL DA BEBIDA DO CAFÉ................................................................................................560
3.4.1 Análise sensorial clássica...........................................................................................................................................560
3.4.2 Caracterização sensorial da bebida do café conilon....................................................................................561
3.4.3 Considerações sobre outros atributos sensoriais característicos do café conilon........................569
4 PROGRAMAS DE QUALIDADE DO CAFÉ DA ABIC................................................................................................571
5 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO CAFÉ..................................................................................................................572
6 DESCRIÇÃO DOS DEFEITOS, CAUSAS E RELAÇÃO COM A QUALIDADE...................................................576
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................580
24
INDUSTRIALIZAÇÃO DO CAFÉ CONILON....................................................................................................587
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................587
2 RECEPÇÃO E ARMAZENAMENTO DO CAFÉ CRU..................................................................................................587
3 TORRAÇÃO...............................................................................................................................................................................588
3.1 PROCESSO DE TORRA.........................................................................................................................................................590
3.1.1 Interferência de calor no grão, na torra do café.............................................................................................590
3.2 REAÇÕES QUÍMICAS DURANTE A TORRA...................................................................................................................591
3.3 PROCESSO DE TORRA E O MEIO AMBIENTE..............................................................................................................593
4 BLENDAGEM............................................................................................................................................................................593
4.1 BLEND DE CAFÉ TORRADO...............................................................................................................................................595
Café Conilon
25
MERCADO E COMERCIALIZAÇÃO DO CAFÉ CONILON....................................................................601
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................601
2 PANORAMA..............................................................................................................................................................................602
2.1 EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO, EXPORTAÇÃO, CONSUMO DOMÉSTICO E PREÇOS ENTRE PRINCIPAIS
CONCORRENTES...................................................................................................................................................................602
2.2 TRAJETÓRIA DA PRODUÇÃO E PREÇOS NO BRASIL..............................................................................................603
2.3 EVOLUÇÃO DOS PREÇOS .................................................................................................................................................605
3 ANÁLISE DOS COMPETIDORES INTERNACIONAIS..............................................................................................607
3.1 ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DOS PAÍSES COMPETIDORES DO BRASIL NO SUPRIMENTO DO
MERCADO MUNDIAL DE ROBUSTA...............................................................................................................................607
3.1.1 Vietnã .................................................................................................................................................................................607
3.1.2 Indonésia...........................................................................................................................................................................608
3.1.3 Índia.....................................................................................................................................................................................609
3.2 NACIONAIS.............................................................................................................................................................................610
3.2.1 Bahia....................................................................................................................................................................................610
3.2.2 Rondônia............................................................................................................................................................................611
3.2.3 Minas Gerais.....................................................................................................................................................................611
3.2.4 Mato Grosso.....................................................................................................................................................................612
4 CONILON CAPIXABA...........................................................................................................................................................612
4.1 EVOLUÇÃO RECENTE..........................................................................................................................................................613
4.2 PERFIL SOCIOECONÔMICO..............................................................................................................................................614
5 SEGMENTOS À JUSANTE DA LAVOURA....................................................................................................................615
5.1 AGROINDÚSTRIA DE SOLUBILIZAÇÃO........................................................................................................................615
5.2 SEGMENTO EXPORTADOR................................................................................................................................................616
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................618
7 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................619
26
CAFEICULTURA SUSTENTÁVEL DO CONILON ........................................................................................621
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................621
2 O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE...........................................................................................................................622
3 AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE.........................................................................................................................625
4 SUSTENTABILIDADE NA CAFEICULTURA.................................................................................................................628
5 TRANSIÇÃO DE SISTEMAS: BOAS PRÁTICAS AGRÍCOLAS...............................................................................630
6 PROGRAMA CAFÉ SUSTENTÁVEL.................................................................................................................................635
6.1 CAFÉS ARÁBICA E CONILON NO MERCADO DA SUSTENTABILIDADE............................................................636
6.2 BRASIL: UM ESTUDO DE CASO PARA A PRODUÇÃO DE CAFÉ SUSTENTÁVEL.............................................637
6.3 AÇÕES DO PROGRAMA CAFÉ SUSTENTÁVEL............................................................................................................637
6.3.1 O Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC)...............................................................................................638
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................647
8 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................648
Café Conilon
27
CERTIFICAÇÃO DO CONILON E EXPERIÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO.................................655
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................655
2 PROCESSOS PARA CERTIFICAÇÃO...............................................................................................................................655
3 SEGURANÇA DO ALIMENTO – TENDÊNCIA MUNDIAL......................................................................................656
4 CÓDIGOS DE CONDUTA.....................................................................................................................................................658
5 CERTIFICAÇÃO.......................................................................................................................................................................659
6 INDICAÇÃO GEOGRÁFICA................................................................................................................................................662
7 CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ: A EXPERIÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO..................................................................663
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................666
9 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................666
28
ARRANJO INSTITUCIONAL DA CAFEICULTURA DE CONILON NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO................................................................................................................................................................669
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................669
2 O ARRANJO INSTITUCIONAL..........................................................................................................................................670
3 AS INSTITUIÇÕES..................................................................................................................................................................672
3.1 SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA, ABASTECIMENTO, AQUICULTURA E PESCA (SEAG)......673
3.2 INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (INCAPER)...........675
3.3 INSTITUTO DE DEFESA AGROPECUÁRIA E FLORESTAL DO ESPÍRITO SANTO (IDAF)................................680
3.4 EMBRAPA CAFÉ - CONSÓRCIO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO DO CAFÉ
(CBP&D/CAFÉ)........................................................................................................................................................................680
3.5 INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ (IBC).......................................................................................................................681
3.6 SUPERINTENDÊNCIA FEDERAL DA AGRICULTURA NO ESPÍRITO SANTO (SFA-ES)....................................681
3.7 COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB)....................................................................................682
3.8 VERDEBRAS.............................................................................................................................................................................683
3.9 CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (CCA/UFES)..683
3.10 CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO
SANTO (CEUNES/UFES)...................................................................................................................................................684
3.11 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES)..............684
3.12 NESTLÉ...................................................................................................................................................................................687
3.13 MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO PROMOCIONAL DO ESPÍRITO SANTO (MEPES).........................................688
3.14 CENTRO ESTADUAL INTEGRADO DE EDUCAÇÃO RURAL (CEIER)..................................................................689
3.15 SINDICATO E ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
(OCB/ES).................................................................................................................................................................................689
3.16 COOPERATIVA AGRÁRIA DOS CAFEICULTORES DE SÃO GABRIEL DA PALHA (COOABRIEL)...............689
3.17 COOPERATIVA AGROPECUÁRIA CENTRO SERRANA (COOPEAVI)..................................................................692
3.18 COOPERATIVA AGRÁRIA DOS CAFEICULTORES DA REGIÃO DE ARACRUZ (CAFEICRUZ)....................693
3.19 COOPERATIVA DOS CAFEICULTORES DO SUL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (CAFESUL)............693
3.20 SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS DO ESPÍRITO SANTO (SEBRAE-ES).............694
3.21 PREFEITURAS MUNICIPAIS DA ÁREA PRODUTORA DE CAFÉ CONILON......................................................694
3.22 BANCO DO BRASIL (BB)...................................................................................................................................................695
3.23 BANCO DO NORDESTE DO BRASIL (BNB)................................................................................................................695
3.24 BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO SANTO (BANDES)..................................................................696
3.25 SISTEMA DE COOPERATIVA DE CRÉDITO DO BRASIL (SICOOB/ES)...............................................................696
3.26 BANCO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (BANESTES)......................................................................................697
3.27 FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (FETAES)698
3.28 SINDICATO DA INDÚSTRIA DE TORREFAÇÃO E MOAGEM DE CAFÉ DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
(SINCAFÉ)...............................................................................................................................................................................698
3.29 FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (FAES).......................699
3.30 SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL (SENAR/ES)........................................................................699
Café Conilon
29
GERAÇÃO, DIFUSÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA PARA O CAFÉ CONILON
NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO......................................................................................................................709
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................709
2 HISTÓRICO, TRAJETÓRIA E GRANDES ACONTECIMENTOS............................................................................710
2.1 HISTÓRICO..............................................................................................................................................................................710
2.2 LINHA DO TEMPO DA GERAÇÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS.......................................................711
3 BASES PARA O AVANÇO DO CAFÉ CONILON..........................................................................................................717
3.1 A BASE TECNOLÓGICA.......................................................................................................................................................718
3.1.1 Principais tecnologias e inovações tecnológicas que vêm contribuindo para evolução do café
conilon................................................................................................................................................................................718
3.1.2 A estratégia dos Jardins Clonais.............................................................................................................................723
3.1.3 Os viveiros de mudas...................................................................................................................................................726
3.2 A BASE METODOLÓGICA..................................................................................................................................................727
3.2.1 As metodologias............................................................................................................................................................728
3.2.2 Assistência ao produtor de conilon......................................................................................................................730
3.2.3 As publicações técnicas..............................................................................................................................................731
3.2.4 Grandes eventos ...........................................................................................................................................................735
4 ALGUNS RESULTADOS DA GERAÇÃO, DIFUSÃO E TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS.................738
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................739
6 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................740
30
COEFICIENTES TÉCNICOS E CUSTOS DE PRODUÇÃO DO CAFÉ CONILON NO
ESPÍRITO SANTO................................................................................................................................................................743
1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................................................743
2 CUSTO DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA...............................................................................................................................744
2.1 ANÁLISE ECONÔMICA SIMPLIFICADA E INDICADORES DE VIABILIDADE....................................................746
2.2 CUSTOS DE PRODUÇÃO NA CAFEICULTURA: ESTUDOS RECENTES................................................................748
3 DETERMINAÇÃO DE CUSTOS E RECEITAS................................................................................................................748
4 ANÁLISE DE RENTABILIDADE DO CAFÉ CONILON..............................................................................................749
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................................................................756
6 REFERÊNCIAS..........................................................................................................................................................................756
7 APÊNDICES...............................................................................................................................................................................759
37
1
Coffea canephora
Romário Gava Ferrão, Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca,
Maria Amélia Gava Ferrão e Lúcio Herzog De Muner
O objetivo deste capítulo é descrever um panorama As demais espécies têm importância em programas
da espécie C. canephora, enfocando principalmente de melhoramento genético, como fontes de
o conilon, abordando aspectos de sua história, variabilidade genética para produtividade,
importância, distribuição geográfica, utilização, resistências a pragas e doenças, teor de cafeína,
evolução, perspectivas e cenários futuros. sólidos solúveis, tolerância a estresses abióticos,
vigor, arquitetura das plantas, épocas de maturação
dos frutos, qualidade de bebida (FAZUOLI et al.,
2 PANORAMA DO CULTIVO 2007; FERRÃO, M. et al., 2007; FERRÃO, R. et al., 2007).
A África é o continente de origem e de maior
2.1 ASPECTOS GERAIS DA HISTÓRIA, ORIGEM, diversidade do café. A espécie C. arabica, originada
DISTRIBUIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO da Etiópia, com sua classificação botânica em
1737, apresenta maior adaptação em climas frios
O café arábica, com origem na Etiópia, teve seus e altitudes mais elevadas. Por outro lado, a C.
primeiros indícios de cultivos no lêmen, antes do canephora, representada pelas variedades Robusta
século XV. Os primeiros contatos com os europeus e Conilon, originada de Guiné na Bacia do Congo,
foi em 1615. Chegou à América do Norte, em com sua classificação botânica realizada em 1895-
1668. A cultura foi introduzida na América pelos 1897, apresenta distribuição geográfica em vários
holandeses, por intermédio da colônia do Suriname, países do continente africano. Trata-se de uma
em 1718. Em 1899, os holandeses levaram-na para espécie de fecundação cruzada, com mecanismo
locais da Índia, hoje Indonésia. Para o Brasil, veio da de autoincompatibilidade genética, rústica,
Guiana Francesa, em 1727, introduzida no Pará e, tolerante a várias doenças e que se adapta melhor
em seguida, foi para o Maranhão e Regiões Sudeste em condições edafoclimáticas tropicais de baixa
e Sul do Brasil. Em 1825, o suprimento mundial era altitude e temperaturas mais elevadas (CHEVALIER,
feito pela América Central e do Sul, e o Brasil passou 1944; CHARRIER; BERTHAUD, 1988; FERRÃO, R. et al.,
a ser o maior exportador desse produto (SILVA; 2007; MERLO, 2012).
LEITE, 2000). A partir dessa data, disseminou-se
para 15 estados de diferentes regiões brasileiras, Os primeiros cultivos e os primeiros trabalhos
constituindo-se, atualmente, no quinto produto da de pesquisa em melhoramento genético com C.
economia nacional, que responde por mais de 30% canephora foram realizados em Java, por volta de
da produção mundial. 1900, devido a um grande surto de ferrugem que
afetou os cafezais do sul e leste da Ásia. A espécie
O cafeeiro é um arbusto perene, da família que se mostrava resistente à doença e apresentava
Rubiaceae, que se desenvolve em regiões tropicais adequada adaptação em condições climáticas
e subtropicais. A produção mundial é proveniente desfavoráveis ao cultivo do café arábica passou a ser
de duas espécies: 1) C. arabica – conhecido como alvo de estudos científicos visando a sua exploração
café arábica, possui bebida mais suave, com aroma econômica (VAN DER VOSSEN, 1985; SMITH, 1985;
e sabor mais pronunciados. É comercializado CHARRIER; BERTHAUD, 1988).
puro ou em mistura com o conilon ou robusta. 2)
C. canephora - conhecido como café conilon e Em seguida, passou a ser cultivado em outras regiões
robusta, caracteriza-se como cafeeiro mais rústico da África, Ásia e América Latina, sobretudo em
e com maior potencial de produção, possui bebida países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento,
mais neutra e amargor mais pronunciado, maior por pequenos produtores de base familiar, sendo
teor de cafeína e sólidos solúveis. É usado sobretudo que mais de 70% das áreas cultivadas são menores
nas misturas (blends) com o arábica e na fabricação do que 10 ha (OXFAM, 2012). Chegando ao Brasil
de cafés solúveis (FERRÃO, M. et al., 2007a; MERLO, em 1912 (MERLO, 2012), o maior impulso nos
2012). O café conilon e robusta representam plantios de C. canephora foi com o surgimento do
atualmente, cerca de 40% do café produzido e café solúvel na década de 50 e de seu emprego
comercializado no mundo e, segundo projeções da nos blends de cafés torrados e moídos (MALTA,
OIC (2015), produzirão 65 milhões de sacas na safra 1986). Em decorrência de sua menor acidez e
2015/2016. maior quantidade de sólidos solúveis, passou a ser
largamente utilizado pela indústria na fabricação
40 Café Conilon – Capítulo 1
dos cafés solúveis e em misturas com o café arábica, As variedades de ambos os tipos, assim como os
com participação atual entre 40% e 50% nos blends, cafés por eles produzidos, são genericamente
sendo empregado para contrabalancear a acidez do denominados ‘cafés robustas’, cuja origem está
arábica e conferir corpo ao produto industrializado relacionada à maior resistência aos fatores bióticos
(FERRÃO, 2004; ABIC, 2013). e abióticos (PAULINO et al., 1984).
As duas espécies mais cultivadas no mundo são bem Os materiais genéticos com características de
diferentes quanto ao número de cromossomos, ‘Robusta’ são cultivados predominantemente
formas de reprodução e propagação, base genética, por países da Ásia e África e são responsáveis por
potencial de produção, adaptação, ciclo, porte, cerca de 78% da produção dessa espécie. Por outro
arquitetura, exigências nutricionais, resistência a lado, no Brasil, predomina o cultivo de ‘Conilon’
fatores bióticos e abióticos, tipo e tamanho das (FONSECA,1996; FERRÃO, M. et al., 2007), salvo
cerejas, tipos de grãos, constituição bioquímica pequenos plantios de ‘Robusta’ encontrados no
dos grãos, formas de utilização, entre outras Estado de Rondônia (NUNES et al., 2014).
características.
C. canephora é uma espécie perene, de porte 2.2 ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS
arbustivo e caule lenhoso, com folhas maiores
e de coloração verde menos intensa que as de O café é um produto universal que ocupa posição
Coffea arábica. As flores são brancas, em grande de destaque na economia mundial, na geração de
número por inflorescência e por axila foliar. Os empregos e renda, tanto para os países produtores
frutos, apresentam formato e número variável como consumidores (PONTES, 2002). O mercado do
em decorrência do material genético. São mais café pode ser entendido sob dois aspectos. Por um
resistentes às condições adversas e apresentam lado, a produção ocorre predominantemente em
maior teor de cafeína e sólidos solúveis nos grãos. países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento
Segundo Berthaud (1986), Montagnon, Leroy e do hemisfério sul, cultivado por pequenos
Yapo (1992), nessa espécie, existem materiais cafeicultores associados à agricultura familiar. Por
genéticos distintos, referenciados mundialmente outro lado, o consumo concentra-se em países
como robusta ou conilon. desenvolvidos do hemisfério norte (JACOMINI;
BACHA; FERRACIOLLI, 2015).
Os materiais do tipo robusta caracterizam-se por
apresentar plantas multicaules, porte mais alto As estatísticas de diferentes fontes mostram
e hábito de crescimento ereto, caules de maior evolução na produção de café no mundo e a
diâmetro e pouco ramificados, folhas maiores com participação dos países da América Latina (57,33%),
a coloração verde mais intensa, frutos de maior Ásia (31,26%) e África (11,41%) para uma produção
tamanho com mais mucilagem e com maturação mundial total estimada em 2015, na ordem de 152,60
mais tardia, plantas mais vigorosas, com maior milhões de sacas. Os países a seguir respondem
tolerância à ferrugem (Hemileia vastatrix) e menor por mais de 80% da produção, assim distribuídos:
tolerância à seca. Os grãos apresentam melhor Brasil (35,07%), Vietnã (19,29%), Colômbia (8,56%),
qualidade de bebida em relação ao grupo conilon. Indonésia (6,03%), Etiópia (4,43%), Honduras
(3,56%), Índia (3,49%) e outros (19,57%). Avaliando
Os materiais genéticos do tipo conilon apresentam as estatísticas da mesma fonte consultada (USDA,
plantas multicaules, crescimento arbustivo, caules 2015a), verifica-se que nos últimos 40 anos houve
mais ramificados, folhas menores e mais alongadas, incremento de 56% na produção geral, sendo 17%
com coloração verde claro, frutos de menor para o café arábica e 195% para a produção de café
tamanho com menos mucilagem e de maturação robusta e conilon (Figura 2).
mais precoce, alto potencial de produção, maior
susceptibilidade à ferrugem e maior tolerância à Segundo Rufino e Arêdes (2009), até 1980 a
seca quando comparado ao grupo anterior. produção de robusta no mundo concentrava-se na
Costa do Marfim, Indonésia e Uganda. Na média dos
A Figura 1 ilustra aspectos de diferenciação entre os últimos anos o Vietnã é o maior produtor, detendo
cafeeiros conilon e robusta. mais de 40% da produção mundial, seguido do
Coffea canephora 41
Café conilon
Café robusta
Figura 1. Aspectos ilustrativos de diferenciação entre cafeeiros conilon (Brasil-Estados do Espírito Santo, Rondônia e
Bahia) e robusta (Vietnã e Índia).
Fonte: Incaper e Romário Gava Ferrão.
42 Café Conilon – Capítulo 1
Brasil, com participação média de 25% e Indonésia, transformar no grande motor da economia nacional
com aproximadamente 15%. Uganda, Costa do em meados do século XIX e início do século XX.
Marfim e Índia são importantes produtores dessa Embora atualmente outros produtos dividam a
espécie de café, com participação entre 3% e 6% da liderança e assumam também relevância no País, ele
produção (OIC, 2012; SAOUD, 2014; USDA, 2015a). continua a exercer importância econômica e social
Registro especial é dado ao Vietnã, que nos últimos fundamental, com a geração de número expressivo
dez anos quase dobrou a sua produção, alcançando em empregos, renda e divisas.
em 2015 cerca de 27 milhões de sacas (USDA,
Com uma produção entre 45 e 50 milhões de
2015b).
sacas, em 2 milhões de hectares, o Brasil tem
Há uma demanda crescente dos cafés conilon e uma cafeicultura trabalhada em cerca de 287
robusta no mundo, que é atribuída a sua maior mil propriedades com o predomínio de micro e
expansão geral de uso, maior competitividade pequenos agricultores, com área média de 8,1 ha,
e lucratividade nos diferentes setores da cadeia cultivada em aproximadamente 2.000 municípios,
produtiva. Verifica-se aumento da produção e distribuídos em 15 estados (MAPA, 2014). A produção
da exportação mundial de forma progressiva, concentra-se em Minas Gerais (MG), Espírito Santo
alavancada, sobretudo, pelo Vietnã e Brasil, que têm (ES), São Paulo (SP), Paraná (PR), Rondônia (RO) e
aumentado significativamente as produtividades Bahia (BA), que são responsáveis por mais de 97%
pelo uso contínuo e mais intenso de insumos e da produção nacional. Com a produtividade média
tecnologia. Assim, o mercado desse café vem se de 24 sacas beneficiadas por hectare, a cafeicultura
consolidando de forma global, tornando-se mais brasileira encontra-se entre as mais competitivas
maduro, atraído pelas formas e tipos de bebidas do mundo. Do total produzido no País, cerca de
demandadas, principalmente, pelos mercados 28,9% é de conilon e 71,1% é de café arábica
emergentes (PIRES, 2015). (ANUÁRIO, 2014; CONAB, 2014). Considerando-se
toda a cadeia produtiva, segundo o Ministério da
150 Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o
135
120 café responde por 8 milhões de postos de trabalhos
Mil Sacas de 60 kg
105
90 diretos e indiretos, por 6,9% de toda a exportação
75
60 do agronegócio brasileiro e também é um dos
45
30
principais produtos que demandam recursos de
15
0
custeio, de investimentos e de comercialização,
anualmente do país. Atualmente, constitui-se no
19 /82
19 /84
19 /86
19 /88
19 /90
19 /92
19 /94
19 /96
19 /98
20 00
20 /02
20 /04
20 06
20 8
20 /10
20 /12
20 14
6
/0
/1
/
/
81
83
85
87
89
91
93
95
97
99
01
03
05
07
09
11
13
15
O café conilon, mesmo introduzido há cerca de um práticas mais adequadas de pós-colheita e melhoria
século no Brasil, apenas na década de 1970 teve seu da qualidade, além da ampliação da base do
cultivo impulsionado, mas com a utilização das reco- conhecimento em diferentes áreas (FERRÃO, R. et
mendações técnicas do café arábica. Com o passar al., 2007, 2012; FONSECA et al., 2015).
do tempo, verificou-se que essas recomendações
Essas tecnologias associadas a outras ações de
não eram as mais adequadas. Com base nesse ce-
organização e desenvolvimento, envolvendo
nário, vem-se trabalhando desde 1985 num progra-
diferentes atores e inúmeras instituições da
ma de pesquisa dinâmico e contínuo, desenvolvido
cadeia do café, uma rede de assistência técnica e
sobretudo, pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, As-
extensão rural pública e privada, proporcionaram
sistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Embra-
quadruplicar a produção brasileira no período de
pa Café, Embrapa Rondônia, Instituto Agronômico
1985 a 2015 do café conilon (Figura 3). Essa evolução
de Campinas (IAC), Universidade Federal de Viçosa
tem sido alcançada por intermédio do incremento
(UFV), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes),
da produtividade em todas as regiões brasileiras,
entre outras instituições brasileiras.
com destaque para os Estados do Espírito Santo, da
Como resultados aplicados do trabalho de pesquisa, Bahia e de Rondônia, onde há registros de muitas
foram desenvolvidos, adaptados e transferidos lavouras obtendo mais de 100 sacas beneficiadas
aos produtores centenas de tecnologias e por hectare. A uniformidade de maturação,
conhecimentos. Podem ser destacadas, entre elas, o plantio em linha e colheita em época correta, têm
desenvolvimento e recomendação de 14 cultivares; proporcionado o descascamento de mais 80% dos
definição de espaçamentos; manejo de plantas frutos e a produção de cafés superiores (Figura
(espaçamento, densidade de haste e poda), pragas, 4). Muitos desses cafés têm sido vencedores em
doenças e irrigação; práticas de conservação de concursos de qualidade, nos âmbitos municipal,
solo; recomendações de calagem e adubações, estadual, nacional e internacional.
Milhões de Sacas
Figura 3. Evolução da produção de café conilon do Espírito Santo e Brasil, de 1975 a 2014.
Fonte: Malta (1986), Bandes (1987), Conab (2014), OIC (2014), Fonseca et al. (2015).
Coffea canephora 45
Registra-se que nas últimas duas décadas da colheita mecânica, realizadas de forma integrada
são notórias as mudanças nas lavouras e entre diferentes instituições dos setores públicos e
nas propriedades agrícolas de mais 70% dos privados, com a participação efetiva dos produtores.
cafeicultores de conilon do Espírito Santo, que Têm-se até o momento desenvolvidas várias opções
adotaram as tecnologias desenvolvidas e/ou de manejo da cultura e máquinas para a colheita
adaptadas pelo Incaper e parceiros, para os mecanizada do conilon, sendo utilizadas por vários
diferentes macroambientes capixabas. Esse produtores. Estas vêm contribuindo para a solução
comportamento provocou o incremento de mais de um dos principais problemas dos cafeicultores,
de 310% na produção do Estado, sem aumento que é a falta e o elevado valor da mão de obra na
significativo da área plantada. Os avanços do café região, principalmente na colheita, por constituir-se
conilon capixaba é reflexo de esforços conjuntos em operação que representa cerca de 50% do custo
realizados em diversas áreas aliando planejamento de produção total.
(PEDEAG, 2008) à prática e trabalho sério e
Mesmo com os expressivos avanços tecnológicos
empreendedor do cafeicultor que incorporou os
nos últimos anos, nos países produtores, em
conhecimentos gerados pela pesquisa científica
muitas áreas do conhecimento, nem sempre
e o incentivo da indústria (FERRÃO et al., 2015b;
de formas iguais, existem desafios como focos
FONSECA et al., 2015).
temáticos demandados pelos setores organizados
Entre os resultados recentes dessas pesquisas, da cafeicultura de robusta e da sociedade, como:
exemplifica-se o desenvolvimento e proteção de busca contínua da melhoria da qualidade do
quatro cultivares clonais mais produtivas, tolerantes produto; desenvolvimento de novas cultivares
à seca, com épocas diferenciadas de maturação adaptadas aos diferentes ambientes e sistemas de
dos frutos, tolerantes à ferrugem e com qualidade cultivo e ajustadas aos novos problemas inerentes
superior de bebida: BRS Ouro Preto, Diamante às mudanças climáticas; contínuo desenvolvimento
ES8112, ES8122 - Jequitibá e Centenária ES8132 de tecnologias para mecanização da colheita;
(FERRÃO, M. et al., 2009; EMBRAPA, 2012; FERRÃO tecnologias visando ao avanço nos estudos de
et al., 2012, 2014, 2015a, 2015b). Quanto aos associação de cafés com árvores; tecnologias
trabalhos em andamento, destacam-se as pesquisas sustentáveis para enfrentar os fatores bióticos;
direcionadas a tecnologias associadas à viabilização evolução nas técnicas de preservação de água,
46 Café Conilon – Capítulo 1
manejo de irrigação e convivência com a seca. forma mais usual de entrada do produto nos países
do Leste Europeu, China e Índia, principalmente
Não menos importantes são demandadas a
nesses dois últimos, que além de muito populosos,
adoção massiva das chamadas boas práticas
têm o chá como uma bebida tradicionalmente
agrícolas visando a produção de cafés superiores
consumida. Os consumidores com melhor poder
e sustentáveis, ações para redução do uso da mão
aquisitivo estão mais exigentes por produtos mais
de obra e custo de produção, ações de marketing
seguros, oriundos de grãos de qualidade.
interno e externo para aumentar o consumo com
conquista de novos mercados e agregação de valor Uma das constatações no mercado de café no
ao produto. mundo é o aumento substancial da demanda do
café conilon e robusta. O fato estaria ligado ao seu
menor custo de produção, maior produtividade,
2.3 PERSPECTIVAS E TENDÊNCIAS PARA COFFEA melhor rendimento industrial e, consequente,
CANEPHORA menor preço final do produto (ANUÁRIO..., 2014).
O comportamento do consumidor em relação O momento atual do café no mundo sinaliza um
ao café vem se transformando. Novos produtos cenário positivo, com demanda global em expansão.
e novos equipamentos de preparo estimulam Analistas e estudiosos de mercado, trabalhando
mudanças rápidas nos hábitos de consumo de numa série histórica de dados de café no mundo,
café, principalmente com a entrada de novos mostram, no geral, uma evolução equilibrada entre
países potenciais que tinham até então pouca a produção e o consumo, com crescimento médio
representatividade. na ordem de 2,5% ao ano. O aumento do consumo
As estatísticas mostram aumento geral de consumo anual vem sendo registrado por países tradicionais
de café no mundo, estimulado principalmente pelas importadores (1%) e exportadores, como o Brasil
diferentes alternativas de uso e preparo de bebidas, (3%) e também por mercados emergentes (6%),
impulsionado, sobretudo, pelo café solúvel. Essa é a a exemplo da Índia e da China. Ao mesmo tempo
que aumenta o interesse pelos cafés gourmets em próximos cinco anos o incremento de 11,80 a 22,60
países específicos, cresce a procura por solúvel em milhões de sacas para o conilon/robusta e de 3,90 a
mercados que estão iniciando o hábito do consumo 7,90 milhões de sacas para o café arábica.
da bebida (ANUÁRIO..., 2014).
Prosseguindo a análise de Saoud (2014), surge o
Silva (2015), fazendo uma análise da participação de questionamento: quais os países potenciais para
diferentes países no consumo de café nos últimos 50 atender a essa demanda crescente de robusta? Brasil
anos, verificou que os crescimentos mais expressivos ou Vietnã? Esses países respondem atualmente
foram alcançados nos países exportadores e por mais 70% da produção mundial, apresentam
emergentes, com a seguinte evolução: os mercados condições climáticas, infraestrutura e tecnologias.
tradicionais reduziram a participação de 73% para Continuando, o autor faz uma análise da situação
54%, os exportadores aumentaram de 25% para dos principais países produtores de robusta. O
31% e os emergentes de 2% para 15% da demanda Brasil possui, no geral, uma cafeicultura de conilon
mundial (Figura 5). já bem tecnificada e desenvolvida, que associada a
um planejamento adequado e a um programa de
Saoud (2014) faz uma análise global de dez anos
pesquisa científica contínuo de mais de 30 anos
da produção e consumo de café no mundo, com
nas diferentes áreas do conhecimento, apresenta
ênfase para o robusta e elabora projeções para
potencial para proporcionar o amparo técnico-
2020, apresentadas a seguir.
científico para aumentar significativamente a
Inicialmente, o autor reforça os dados de outras produção, sem incremento de área, principalmente
literaturas que mostram evolução significativa nas no Estado do Espírito Santo e sul da Bahia, podendo
taxas de crescimento da produção e do consumo da se estender para o Estado de Rondônia e outros
bebida no mundo. Relata evolução mais significativa estados da região central do País.
nos últimos dez anos do café robusta, em que a
Os países da Ásia, como Indonésia e Índia, apresen-
sua participação no mercado passou de 30% para
tam uma cafeicultura de grandes dimensões, com
40%, com crescimento médio anual da produção
áreas que somam mais de 1 milhão de hectares, mas
nesse período de 1,7% e de consumo de 3,6%. Mas
a sua série histórica de baixa produtividade média
essa evolução não foi equilibrada entre os países
proporciona poucas perspectivas para incrementar
produtores, e sim recaiu quase exclusivamente no
de forma significativa a produção, principalmente, a
Vietnã e no Brasil. Houve maior potencial de consumo
curto prazo. Por outro lado, o Vietnã apresenta uma
de café nos países produtores, com crescimento na
cafeicultura de alta produtividade que vem sendo
ordem de 6% ao ano, enquanto nos importadores
renovada, com crescente e contínuo aumento de
foi de 2,2%. Ao analisar conjuntamente o aumento
produção, possibilidade de expansão de área e po-
de consumo médio de café arábica e robusta dos
tencial para incrementar ainda mais a produção do
países produtores, verificou-se um incremento de
país. Ainda nesse continente, surgem alguns países
3,7% ao ano. Por outro lado, quando é considerado
emergentes potenciais, como China, Laos Mianmar,
apenas o robusta, passa para 7%.
Tailândia, Filipinas e Camboja.
A projeção mundial da demanda de café robusta
Uganda e Costa do Marfim, com expressão histórica
para 2020 realizada por Saoud (2014) considera os
na produção de robusta na África, possuem uma
cenários de aumento de consumo anual de 1,75%;
cafeicultura com evolução lenta, com produtividade
2,50% e 3,60%. Os resultados desse estudo, sinalizam
média baixa, com problemas tecnológicos de
para os próximos cinco anos a necessidade de uma
infraestrutura e instabilidade política, além de
produção anual de 64,80; 69,74 e 77,60 milhões
apresentar poucas perspectivas de incrementos
de sacas, respectivamente, necessitando, assim,
expressivos na produção.
incrementar a produção nesse período de 10 a 23
milhões de sacas. Por outro lado, Brando (2014), Um questionamento intrigante se refere às
usando informações da OIC, projeta que 45% do diferentes remunerações recebidas pelos produtores
consumo mundial de café em 2020 será de conilon na comercialização de seus cafés exportados.
e robusta. Assim, seguindo as tendências futuras Brando (2012) esclarece a questão mostrando que
de crescimento, o mercado demandará para os a transferência dos valores para os produtores
48 Café Conilon – Capítulo 1
na venda externa do café não ocorre da mesma cerca de 20% nos últimos dez anos. A participação
maneira nos principais fornecedores mundiais estimada do café conilon nos blends com arábica
do grão. Os produtores de países que investem teria passado de 3,3 milhões para 11,7 milhões de
mais na cafeicultura têm maior retorno na receita sacas, e o índice de composição de 25% para 58%
das exportações e podem modernizar as suas nesse mesmo período (LEITE, 2014).
estruturas. Em geral, a média mundial fica entre 65%
Nos últimos dez anos, têm-se verificado aumento
e 70% dos valores FOB1 das exportações. Para os
de 350% no consumo fora do lar, em cafeterias
países, como Vietnã e Brasil, que vêm aumentando
e restaurantes que oferecem cafés de melhor
as suas produções por intermédio de incrementos
qualidade. Da mesma maneira, há uma tendência
contínuos nas produtividades devido à evolução no
mundial pelo preparo de café para uma xicara, nas
uso de tecnologias e estão mais bem posicionados
formas de espresso, sachês, cápsulas, coadores e
no mercado, a remuneração tem sido entre 85%
filtro, em que a bebida é preparada e consumida
e 90%. Por outro lado, no geral, para os países
de forma imediata. Registro importante é dado ao
menos tecnificados, com baixas produtividades, a
crescimento do uso de máquinas para o preparo
transferência aos produtores está entre 25% e 30%.
de café espresso nos lares, com quase 1 milhão de
O balanço apertado entre a oferta e a demanda máquinas no Brasil (ABIC, 2015).
de conilon e robusta no mundo evidencia fortes
No ano 2013/2014, ocorreram os seguintes
indicativos para estabilidade de preços e até
incrementos no valor das diferentes formas de
valorização do produto no mercado internacional.
preparo do café no país: 4,7% de café em pó, 6%
Uma das alternativas viáveis para melhorar o
de café solúvel, 8,9% cappuccino, 19% café com
equilíbrio entre a produção e o consumo seria
leite e 55,5% de café em cápsulas. Por outro lado,
a priorização de ações políticas, investimento
as cápsulas chegaram em aproximadamente 500
em pesquisa, capacitação, assistência técnica e
mil lares brasileiros como o segmento de maior
infraestrutura, visando ao aumento da produtividade
crescimento de consumo em todo o país, mas com
e melhoria da qualidade final do produto.
variação entre 8,9% e 19, 6% nas diferentes regiões
O consumo de solúvel, que tem na sua base os cafés (ABIC, 2013; LIMA, 2015).
robusta e conilon, cresce no mundo e tem sido o
O aumento geral de consumo de café no mundo
preferido em muitos mercados produtores, como
vem ocorrendo em razão de uma série de
Indonésia, Vietnã, México e Colômbia. Em países
circunstâncias, como a disseminação do hábito do
emergentes como Rússia, China, Coreia, Filipinas,
consumo de café solúvel; o surgimento de muitas
Índia, Taiwan, também presente no chamado
formas alternativas de consumo pela praticidade e
envelope ‘três em um’ (solúvel, açúcar e creme), o
racionalidade que elas proporcionam; a expressiva
solúvel tem sido o preferido, especialmente entre
melhoria da qualidade do produto oferecido no
a população jovem pela praticidade com baixo
mercado; o aumento da renda das famílias; a melhor
custo. Além disso, vem aumentando a participação
compreensão das influências positivas do café na
de robusta ou conilon em blends nos torrados e
saúde humana; e por ser um item de despesa pouco
moídos, em todo o mercado, com percentagens
representativo no orçamento familiar. Muitos desses
que podem chegar a 60% nas misturas (BRANDO,
fatores possuem estreita relação com o café robusta
2013, 2014).
e podem, provavelmente, explicar o seu maior
Os dados da Associação Brasileira de Indústria do crescimento relativo (FONSECA et al., 2015).
Café (ABIC), apresentados no Anuário Brasileiro
Silva (2015) mostra uma tendência dinâmica de
do Café (2015), revelam que o consumo interno
aumento de consumo em todos os mercados. Há
de café no Brasil de 2000 a 2014 aumentou de
movimento visando à adição de valor em vez do
13,2 para 20,3 milhões de sacas, e o consumo per
aumento do volume. A maior expansão parece
capita de café verde e torrado em 6,12 kg e 4,89 kg,
direcionada aos produtos superiores, especiais, com
respectivamente, caracterizando um incremento de
maior interesse nos cafés de origem. Outra tendência
importante é que com o aumento do consumo dos
1
Sigla em inglês (Free on Board), que significa ‘livre a bordo’. Em outras palavras, o países produtores, haverá menor disponibilidade
comprador assume responsabilidade sobre os riscos e custos de importação.
Coffea canephora 49
para a exportação. O maior potencial está nos de cereja descascado (CD); reforçar a participação em
mercados emergentes, com destaque para China, organizações, sobretudo em cooperativas; preparar
Índia e Indonésia, que são países populosos, que, a propriedade usando as boas práticas agrícolas para
no geral, têm mostrado crescimento econômico a produção de café superior sustentável, pensando
e maior renda disponível. Associado ao exposto, numa futura certificação que seja de origem, de
nesses locais, têm aumentado as casas de cafés, responsabilidade social e/ou ambiental.
como ambientes muito atrativos para reuniões de
pessoas, que têm optado pelo consumo de cafés
instantâneos, com maior preferência pelo solúvel. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto a preços, há um aspecto interessante no O consumo de café cresce numa taxa média de 2,5%
mercado internacional de café, isto é, ainda que as ao ano com tendência contínua nos próximos anos.
espécies Arábica e Robusta estejam em competição Assim, para 2025, o mercado projeta um adicional
por diferentes segmentos, são frequentemente aproximado de 25 milhões de sacas.
substituídas uma pela outra em blends produzidos
C. canephora é uma espécie rústica, bastante
para o consumidor final. Como consequência, o
pesquisada nos últimos anos, apresenta grande
preço internacional para o arábica é altamente
potencial no que se refere à produção, processo
dependente do suprimento e demanda do mercado
de industrialização e consumo, com perspectivas
de conilon e robusta (CIMS, 2014).
positivas para suprir grande parte da crescente
A priorização por um produto diferenciado, com demanda mundial.
maior valor agregado pode trazer bons resultados
O consumo de robusta vem crescendo a taxas
isto é constatado pela busca crescente do mercado
superiores à produção do arábica. Assim, de
mundial por cafés especiais de diferentes origens.
forma global, há necessidade de planejamento,
Dados apontam que enquanto a procura pelo café
priorização de políticas para o setor, investimento
considerado comum avança 2% ao ano, o de melhor
em tecnologias e profissionalização dos produtores,
qualidade aumenta em mais de 20%. O maior
visando à renovação geral das lavouras sob novas
ganho do produtor pode vir da qualidade e não
bases tecnológicas, com objetivo de acelerar a
da quantidade. Como exemplo, cita-se o Brasil, que
produção sustentável e a melhoria da qualidade final
nos últimos dez anos passou de um volume pouco
do produto. Os consumidores vêm experimentando
significativo para mais de 15% da venda externa de
cafés diferenciados e têm valorizado os produtos
cafés diferenciados quanto à qualidade.
certificados, com melhor qualidade e sustentáveis.
As tendências de segmentos de consumo
A melhoria contínua da qualidade deve seguir
impõem novas pressões sobre a competitividade
como ação estratégica global, visando ao maior uso
dos cafeicultores, que enfrentam importantes
do robusta nos blends e na fabricação de solúvel,
desafios para não continuarem nos mercados que
espresso e outras bebidas com café.
os remunerem melhor. Ou seja, os cafeicultores
enfrentam um mercado onde os consumidores Existe um grande espaço para melhorar as
exigem novos padrões de segurança alimentar e condições de vida dos cafeicultores nos países
qualidade do produto, além de respeito ambiental produtores. Para isso, é necessário aprimorar
e social no processo produtivo, e os compradores, as políticas para vencer algumas barreiras, por
cooperativas e indústrias são cada vez mais exigidos meio das seguintes iniciativas: buscar a melhor
para atender a novos padrões de armazenamento, regulação do setor; adequar a tributação do
rastreabilidade e transporte (SÓRIO, 2015). produto; melhorar em geral a eficiência da cadeia,
o conhecimento dos produtores sobre o preço,
O quadro atual favorável remete aos produtores
qualidade do grão e comercialização do produto,
as seguintes recomendações: intensificar os
e otimizar a infraestrutura geral da propriedade.
investimentos tecnológicos nas lavouras, visando
Ainda, apostar em tecnologia para alavancar a
a explorar ao máximo o potencial de produção
produtividade e melhorar a qualidade; viabilizar
da espécie; intensificar o uso das tecnologias de
a mecanização da colheita; melhorar a gestão do
colheita e pós-colheita, com ênfase para a produção
negócio; priorizar estratégicas diferenciadas de
50 Café Conilon – Capítulo 1
marketing para promoção do consumo interno BOBBIO, K. Cordel do centenário do café conilon
e internacional; divulgar a qualidade produzida no Espírito Santo. Conferência Internacional de
com sustentabilidade; e desenvolver novos Coffea canephora: cem anos de história e evolução
produtos com agregação de valor. Estas são ações do conilon no Estado do Espírito Santo, Brasil.
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café brasileiro e de outros países produtores. BRANDO, C. H. Eficiência que dá lucro. Anuário
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Finalmente, é importante estimular o consumo de
Santa Cruz do Sul, RS: Gazeta Santa Cruz, p. 30.
todas as formas de café, de preferência aumentando
2012.
o valor agregado, o que possibilitaria melhorar
a rentabilidade de todos os setores da cadeia BRANDO, C. H. Tendências e perspectivas do
produtiva. No caso do Brasil, é essencial inserir consumo mundial de café. Fórum & Coffee Dinner,
5., 2013, São Paulo. Anais.... São Paulo, 2013.
mais café torrado e moído e solúvel à exportação,
assim como melhorar a qualidade final do produto, BRANDO, C. H. Mercado robusta. Anuário Brasileiro
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Coffea canephora 53
2
Importância Econômica e Social
do Café Conilon no Estado
do Espírito Santo
Antonio Elias Souza da Silva, Ludovico José Maso, Enio Bergoli da Costa,
Luiz Antonio Bassani e Edileuza Aparecida Vital Galeano
dessa importante atividade numa série histórica Dessa coleção e de algumas propriedades, há relatos
de 15 anos evidenciando a participação do de que a espécie se espalhou ainda mais na forma de
Espírito Santo na área colhida, na produção e na pequenas lavouras para propriedades das famílias
produtividade do conilon no cenário brasileiro e seu Colombi e Lorenzoni, localizadas no Município
extraordinário desenvolvimento no Estado. Ainda de São Gabriel da Palha, região norte do Estado.
serão evidenciados alguns fatores que justificam Essa realidade permaneceu até a década de 1960
os avanços conquistados, como forma de valorizar e, portanto, durante 60 anos a cultura do conilon
as ações de geração, difusão e transferência de permaneceu em período de latência produtiva.
tecnologias nos últimos 21 anos de inovação e
O processo de expansão de plantios e
socialização tecnológicas.
desenvolvimento da cultura do conilon é explicado,
Respaldando essa evolução, será apresentada a de um lado, pelo esforço e luta de se criar alternativas
distribuição espacial do parque cafeeiro de conilon de renda para os agricultores em face da ação
enfatizando a concentração da produção estadual devastadora que foi encetada pelo Programa Federal
e a evolução da área, produção e rendimento dos de Erradicação dos Cafezais, ocorrido no período de
principais municípios produtores como impulsiona- 1963 a 1967, dizimando 80% das lavouras de café
dores locais da dinâmica produtiva do Estado. arábica nas regiões mais quentes (SILVA, et al., 2007;
MERLO, 2012). De outro, pelo apoio, surgimento e
Será também apresentada e discutida a participa-
posterior crescimento da indústria de café solúvel,
ção do café conilon no VBPA estadual destacando
além do crescimento do emprego dessa espécie
também os principais municípios em que o produto
em misturas com o café arábica (TRISTÃO, 1995) e
é fundamental e decisivo na composição de suas
(FERRÃO, 2004).
receitas.
Assim, apesar de introduzido ainda no início do
Por fim, serão abordadas algumas referências à
século passado, seu cultivo no Estado em bases
produção de café conilon realizada pelo agricultor
comerciais (lavouras mais tecnificadas) teve início
familiar do Estado, devido à expressão que essa
em São Gabriel da Palha, em 1971, com iniciativas
categoria de agricultores representa para o Espírito
de fomento à produção de mudas e com assistência
Santo.
técnica.
O mérito dessa iniciativa foi do poder local no
2 BREVE PERFIL HISTÓRICO DA CAFEI- município, em forma de trabalho coletivo e
CULTURA DE CONILON NO ESPÍRITO integrado, representado por lideranças políticas,
SANTO técnicas, religiosas, empresariais e produtores, que
deram sequência à produção e distribuição de
A trajetória centenária do café conilon se iniciou em mudas e a ampliação de plantios, expandindo-os
terras capixabas pelo sul do Estado, precisamente para todas as regiões do Espírito Santo (SCHMIDT,
em Cachoeiro de Itapemirim. Foi Introduzido pelas De MUNER; FORNAZIER, 2004; GLAZAR, 2005 apud
mãos do então Governador do Estado, Jerônimo FASSIO; SILVA, 2007).
Monteiro, em 1912, quando relata ter adquirido no
Rio de Janeiro as primeiras 2 mil mudas e 50 litros Desta forma, o café conilon passou a representar
de sementes de café conilon (EXPOSIÇÃO SOBRE OS uma excelente alternativa aos cafeicultores das
NEGÓCIOS..., 1913). regiões mais quentes e secas do Estado, inaptas ao
cultivo do café arábica (DADALTO; BARBOSA, 1997;
O plantio se deu primeiramente na fazenda Monte FONSECA et al., 2004), justamente aquelas áreas
Líbano, no Munícipio de Cachoeiro de Itapemirim que foram objeto da política de erradicação, que
e em propriedades adjacentes. Posteriormente, marcou profundamente a agricultura capixaba.
sua presença é relatada em coleção de variedades
implantada na Escola Agrotécnica Federal de Santa Ressalta-se que o Espírito Santo foi o estado onde
Teresa-ES, atual Instituto Federal do Espírito Santo proporcionalmente mais se destruiu lavouras de café
(Ifes), Campus Santa Teresa, uma das instituições de no período da erradicação, gerando uma situação
maior referência técnica à época, na forma de Banco dramática para produtores, meeiros e trabalhadores
Genético. rurais.
Importância Econômica e Social do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 57
Rondônia 7,43%
Bahia 4,64%
Brasil 4,49%
Paraná 1,58%
Amazonas 0,88%
Pará 0,54%
Figura1. Participação percentual média da produção de café no Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBPA) dos
estados brasileiros de 2005 a 2013.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados BRASIL (2015); IBGE (2014a, 2015a, 2015b, 2015 c); FGV (2015).
especialmente na região norte do Estado. É Em 2014 a área em produção foi de 283,12 mil
comum, nessa região, produtores alcançarem hectares. No entanto, não houve variação em
produtividades acima de 100 sacas beneficiadas relação a 2013, sinalizando um movimento de
por hectare, quase 3,0 vezes a média estadual. estabilização, com ligeira tendência de redução de
área entre o período de 2000 a 2014 (Tabela 1).
O resultado dessa conjugação de fatores foi o
expressivo incremento da produtividade média das A Figura 2 apresenta a evolução do crescimento
lavouras, principal responsável pelo aumento da da produção, da produtividade e da área em
produção de conilon verificada no período. produção. Os índices das taxas de crescimento
foram construídos considerando o período de 2000
Na Tabela 1, apresenta-se a evolução recente da ca-
a 2014. Destaca-se que nos últimos anos as taxas de
feicultura de conilon no Espírito Santo. A produção
crescimento da produtividade foram superiores às
estadual passou de 4,50 milhões de sacas beneficia-
taxas de crescimento da produção.
das em 2000 para 9,95 milhões de sacas em 2014,
o que significa um crescimento de 121,09% em 15
anos. Já a produtividade saltou de 15,39 para 35,14
sacas por hectare no mesmo período, ou seja, um
incremento de 128,33%.
A evolução dos indicadores tecnológicos pode ser O quarto é relativo ao arranjo institucional articula-
atribuída a pelo menos cinco fatores básicos. O do e atuante existente no Estado, que formou uma
primeiro refere-se às questões culturais, ao talento, à grande rede de orientação para o conhecimento e
vocação e ao perfil empreendedor dos cafeicultores para a inovação tecnológica.
capixabas, que de fato têm feito a diferença.
Essa rede institucional, que forma a cadeia produ-
A colonização europeia no Espírito Santo, sobretudo tiva do café conilon (representação de produtores,
a italiana, a alemã e a pomerana, tem vínculos histó- associações, cooperativas, sindicatos de trabalhado-
ricos com a condução de uma agricultura em nível res e patronais, empresas privadas de planejamento
alto de tecnologia. Além disso, muitos cafeicultores e assistência técnica, agências de fomento e crédito,
que migraram da cafeicultura de arábica para a de universidades e escolas agrícolas, entre outras) teve
conilon, após o período da erradicação dos cafezais, e tem como fonte ou respaldo técnico para resolu-
perceberam que o custo de produção se tornou in- ção de seus problemas tecnológicos e formulações
ferior devido principalmente à rusticidade. E, com a de ações, os resultados obtidos continuamente pelo
receita adicional, passaram a investir na adoção das Programa de Pesquisas e Transferência de Tecnolo-
tecnologias e conhecimentos gerados e adotados gias para o café conilon, coordenado e executado
por eles, especialmente nos últimos 30 anos. pelo Incaper, iniciado em 1985.
Também, houve uma migração interna, principal- Contudo, o histórico e o detalhamento do arranjo
mente dos descendentes de italianos do sul para o institucional do café conilon no Espírito Santo está
norte do Espírito Santo, cujo empreendedorismo já representado no capítulo 28, nesta publicação.
era latente nessas famílias migrantes, pois já não se
Por fim, o quinto e último fator explicativo, e não
contentavam com as restrições em quantidade de
menos importante, foram as ações de planejamento
terra e relevo acidentado, às quais estavam sujeitas
para a cafeicultura, discutidas e implementadas a
nas regiões originais da imigração.
partir de 2003, contidas no Plano Estratégico de
O segundo fator explicativo diz respeito à ampliação Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (Pedeag),
da base tecnológica desenvolvida e construída que foi revisado em 2007, com horizonte até 2025.
no Estado ao longo desse período, especialmente Esse plano, coordenado pela Seag gerou três
pelo Incaper, em todas as áreas do conhecimento, programas específicos para a cafeicultura capixaba
sobretudo as relativas às variedades clonais cada com fortes componentes de renovação das lavouras
vez mais superiores, ao manejo mais adequado de e melhoria da qualidade via incorporação de
plantas, como poda programada de ciclo, plantio tecnologias geradas e recomendadas pelo serviço
adensado e em linha, uso eficiente da irrigação e de pesquisa.
técnicas avançadas de nutrição.
Esse programa tem sido a referência mais importante
O terceiro fator é referente aos esforços de transfe- de geração e aporte tecnológico e de construção do
rência de tecnologias via capacitação de técnicos conhecimento na espécie conilon e também de so-
e de produtores, realizados pelo próprio Instituto cialização de soluções e inovações aos cafeicultores
e pelo conjunto de instituições parceiras que com- capixabas, além de fomentar investimentos no setor.
põem a cadeia produtiva do conilon. É em torno dessa fonte profícua de conhecimentos
que muitas empresas e agentes públicos e privados
Segundo De Muner et al. (2003) e Espírito Santo
de toda cadeia produtiva alinham suas bases tecno-
(2003), a transferência e a rápida adoção dessas
lógicas e renovam seus programas de ações.
tecnologias transformaram as lavouras cafeeiras de
conilon do Estado em uma das mais competitivas
do mundo.
4 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL E EVOLUÇÃO
Confirmando essa premissa, Ferrão et al. (2013, p. DA PRODUÇÃO DO CAFÉ CONILON NOS
47) afirma que “a renovação do parque cafeeiro no
MUNICÍPIOS CAPIXABAS
Espírito Santo está sendo feita numa taxa média
anual de 7%”. Estima-se que cerca de 70% das Em 2014, o parque cafeeiro de conilon do Espírito
lavouras de conilon (190 mil hectares) já foram Santo contava com 702,79 milhões de plantas, com-
renovados sob novas bases tecnológicas. putando-se as áreas em produção e em formação,
Importância Econômica e Social do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 61
ões quentes e com altitudes inferiores a 500m. São Vila Valério 752.000
Estima-se que 78 mil famílias estejam envolvidas so- São Mateus 450.000
mente no setor de produção rural (EMBRAPA, 2015). São Gabriel da Palha 422.750
Linhares 420.700
Esse parque cafeeiro está concentrado na região Pinheiros 380.067
norte, porém encontra-se distribuído até a divisa Governador Lindenberg 357.400
com o Rio de Janeiro (Figura 3). Boa Esperança 334.800
Marilândia 316.667
Colatina 301.167
Pancas 280.000
Produção em sc de 60 kg
Tabela 2. Evolução da produção, área colhida e produtividade das lavouras de café conilon nos principais municípios
produtores do Espírito Santo, nos anos 2001, 2005, 2009 e 2014
Produção (em mil sc de 60 Kg) Área colhida (em ha) Rendimento médio (sc/ha)
Municipios Variação Variação Variacão
2001 2005 2009 2014 2001 2005 2009 2014 2001 2005 2009 2014
(%) (%) (%)
Governador Lindenberg 103 137 174 357 246,6% 10.300 10.500 6.800 10.400 1,0% 10,00 13,00 25,50 34,40 244,0%
Vila Valério 225 349 642 752 234,2% 15.000 22.500 21.000 18.800 25,3% 15,00 15,50 30,60 40,00 166,7%
Pinheiros 130 292 405 380 192,3% 5.000 7.300 10.840 10.470 109,4% 26,00 40,00 54,20 36,30 39,6%
Linhares 148 257 304 421 184,5% 12.000 14.300 15.000 12.500 4,2% 20,70 18,00 20,30 33,70 62,8%
São Mateus 180 311 328 450 150,0% 12.000 13.510 12.550 12.500 4,2% 15,00 23,00 26,20 36,00 140,0%
Marilândia 128 131 208 317 147,7% 8.500 8.700 6.800 7.900 -7,1% 15,00 15,00 30,60 40,10 167,3%
Boa Esperança 144 162 179 335 132,6% 9.000 6.000 8.800 9.300 3,3% 16,00 27,00 31,70 36,00 125,0%
Pancas 121 142 162 280 131,4% 12.100 11.800 7.900 8.000 -33,9% 10,00 12,00 20,50 35,00 250,0%
Colatina 132 156 198 301 128,0% 13.200 13.000 12.100 7.900 -40,2% 10,00 12,00 16,30 38,10 281,0%
São Gabriel da Palha 188 150 269 423 125,0% 12.500 12.500 11.000 11.300 -9,6% 15,00 12,00 24,50 37,40 149,3%
Jaguaré 414 540 570 789 90,6% 18.000 18.000 18.600 20.050 11,4% 23,00 30,00 30,60 39,40 71,3%
Rio Bananal 319 294 406 515 61,4% 15.950 16.350 13.800 13.800 -13,5% 20,00 18,00 29,40 37,40 87,0%
Vila Pavão 190 202 220 298 56,8% 9.500 10.100 9.600 8.120 -14,5% 20,00 20,00 22,90 36,70 83,5%
Sooretama 368 360 439 567 54,1% 16.000 20.000 15.400 16.600 3,8% 23,00 18,00 28,50 34,10 48,3%
Nova Venécia 420 260 400 538 28,1% 21.000 20.000 19.600 15.250 -27,4% 20,00 13,00 20,40 35,30 76,5%
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE (2014, 2015a).
109,4%
281,0%
246,6%
234,2%
192,3%
250,0%
244,0%
25,3%
11,4%
Governador Vila Pinheiros Colatina Pancas Governador
Lindenberg Valério Pinheiros Vila Valério Jaguaré Lindenberg
Figura 5. Evolução da produção, área colhida e produtividade das lavouras de café conilon nos principais municípios
produtores do Espírito Santo, nos anos 2001, 2005, 2009 e 2014.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE (2014, 2015a).
Governador Lindenberg, Boa Esperança, Sooretama, Em 2014, a produtividade média desses municípios
Linhares e São Mateus mostraram tendência de variou de 33,70 a 40,10 sacas por hectare. Esse
estabilização de área, com variação inferior a 5%, no resultado indica que os municípios maiores
período. Os dois maiores produtores de café conilon, produtores de café do Espírito Santo possuem
Jaguaré e Vila Valério, aumentaram a área colhida uma equivalência de tecnologias incorporadas
em 11,39% e 25,33%, respectivamente. Pinheiros foi no processo produtivo, ao longo dos últimos
o município que apresentou maior aumento na área anos. Ressalva-se que Pinheiros sofreu uma seca
colhida (109,40%), passando de 5 mil hectares em e temperaturas muito acentuadas em 2014, o
2001 para 10,47 mil hectares em 2014. que interferiu negativamente na produtividade
do café conilon. O município liderou o ranking da
Em relação à produtividade, todos os municípios
produtividade no Estado, tendo alcançado níveis
apresentaram um alto desempenho, com variações
acima de 54 sacas beneficiadas por hectare.
que oscilaram até o patamar de 281%, caso do
Município de Colatina. Isso se explica tanto pela Dessa forma, a cafeicultura de conilon figura como a
maior redução de lavouras decrépitas quanto mais importante atividade do setor agrícola capixaba,
pelo elevado grau de substituição do parque sendo responsável, nos últimos 14 anos, em média,
cafeeiro municipal em novas bases tecnológicas, por 25,36% do VBPA estadual, segundo GIA/Seag. Em
principalmente com uso de variedades clonais 2014, o conilon foi responsável por 28,44% do VBPA,
superiores e irrigação. gerando R$ 2,31 bilhões (Tabela 3 e Figura 6).
Importância Econômica e Social do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 63
Tabela 3. Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBPA) Pavão (94%), Vila Valério (92%), Rio Bananal (91%),
do Espírito Santo em 2014 Governador Lindenberg (91%), Marilândia (90%). Da
Grupos de Valor da produção Participação mesma forma, para outros três municípios, o VBPA
Atividades (R$ 1000) (%) do café conilon participou com mais de 80% do
Cafeicultura 3.048.909 37,48 VBPA total, como são os casos de João Neiva (88%),
Café arábica 735.842 9,05 Águia Branca (86%) e São Gabriel da Palha (85%).
Café conilon 2.313.067 28,44
Produção animal 2.127.127 26,15 Outras
Silvicultura
culturas
Fruticultura 1.061.366 13,05 8%
4%
Olericultura
Silvicultura 670.470 8,24 10%
Figura 7. Participação do café conilon no Valor da Produção Agropecuária Municipal - Média 2012/2013 - Espírito Santo.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE (2015a).
64 Café Conilon – Capítulo 2
Na faixa de 70%, encontram-se os municípios de obra utilizada na atividade é composta por 47% de
Pancas (79%), São Domingos do Norte (79%) Nova proprietários, 47% de parceiros rurais e apenas 6%
Venécia (77%), Boa Esperança (76%) e Jaguaré (73%). de empregados (TEIXEIRA, 1998; DE MUNER et al.,
2003; ESPÍRITO SANTO, 2003; FONSECA et al., 2004)
Se de um lado para esses e muitos outros municípios
citado por Fassio e Silva (2007).
o café tem sido fundamental na geração de renda
e ocupação produtiva do interior capixaba, por Ressalta-se, ainda, que o tamanho médio das lavou-
outro, o quadro demonstra que a agricultura ras de café conilon no Estado é de 9,85 ha. Outro
desses municípios é excessivamente especializada fator que merece destaque refere-se à estratificação
e muito dependente desse produto, o que sugere, das propriedades cafeeiras, sendo que cerca de 74%
especialmente aos líderes locais, uma reflexão da área plantada situa-se em estratos inferiores a 50
no sentido de desenvolver programas, projetos e ha, com 28% das propriedades apresentando me-
ações que promovam a diversificação produtiva da nos de 10 ha (DE MUNER et al., 2003; ESPÍRITO SAN-
agricultura municipal a partir da cafeicultura. TO, 2003) citado por Fassio e Silva (2007).
No Espírito Santo, a participação da agricultura fa-
miliar na produção do café conilon é muito signifi-
5 A AGRICULTURA FAMILIAR NA PRO- cativa, tendo em vista que o VBPA desse segmento
DUÇÃO DE CAFÉ CONILON produtivo é de 52,74%, conforme Figura 8.
A agricultura familiar no Brasil produz café, arábica É lógico que os municípios produtores contribuem
e conilon, em quase 200 mil estabelecimentos, em diretamente para esse indicador. Nesse aspecto,
1.468 diferentes municípios do País, gerando renda os municípios de Iconha (84,61%), Barra de São
para mais de 650 mil agricultores. É responsável Francisco (73,36%), São Mateus (63,53) e Cachoeiro
por 38% da produção de café no Brasil, que em sua de Itapemirim (56,69%) são os destaques (IBGE,
grande maioria (95%) está concentrada nos seis 2006).
maiores estados produtores: Minas Gerais, Espírito
Santo, Paraná, São Paulo Rondônia e Bahia. Esse Apesar de essas inferências serem baseadas em da-
segmento gera no Brasil aproximadamente 30% das dos de 2006, considera-se ainda assim importantes
receitas produzidas pelo café (BRASIL, 2015). pelo fato de que, nesses últimos dez anos, amplia-
ram-se em muito a disponibilização e aplicação
O Espírito Santo possui ao todo 84.356 estabeleci- de créditos com taxas de juros mais acessíveis, es-
mentos rurais, dos quais 80% (67.403) são de base fa- pecialmente relativas aos programas federais, tais
miliar, conforme critério da Lei 11.326, de 24 de julho como: Programa de Fortalecimento da Agricultura
de 2006. Neles estão ocupados 202.169 agricultores, Familiar (Pronaf ), Programa de Garantia de Preços
ou seja, 64% do contingente de pessoas que vivem para a Agricultura Familiar (PGPAF), Programa de
no espaço rural capixaba. Desses estabelecimentos Aquisição de Alimentos (PAA), Seguro da Agricultu-
familiares, 48.617 (72%) trabalham com café e são ra Familiar (Seaf ), Selo de Identificação da Participa-
responsáveis por 54% da sua produção total. Espe- ção da Agricultura Familiar (Sipaf ) e o Programa de
cificamente para o conilon, são 28.188 estabeleci- Apoio aos Serviços de Assistência Técnica e Exten-
mentos (58%) que têm essa atividade como fonte de são Rural (Ater). Esse crédito foi utilizado sobretudo
renda, respondendo por 53% da produção de café por agricultores familiares para renovação de suas
do Estado (FRANÇA; DEL GROSSI; MARQUES, 2009). lavouras em novas bases tecnológicas ou até mes-
Nas cerca de 40 mil unidades produtivas onde está mo para ingressarem na atividade, especialmente
presente o cultivo do café conilon, sua exploração para o caso de produção de café conilon, atraídos
envolve 209,4 mil trabalhadores diretamente nas por essas políticas de incentivos à produção e co-
lavouras, que são conduzidas, predominantemen- mercialização do produto.
te, em regime de economia familiar, inclusive com Diante da dificuldade de disponibilização de dados
a participação de meeiros, sistema bastante comum oficiais mais recentes sobre a produção de conilon
no Espírito Santo. Os dados denotam que a cafeicul- pela agricultura familiar do Espírito Santo, e no sen-
tura é altamente empregadora de mão de obra. tido de valorizar o trabalho de assistência técnica do
Sobre esse aspecto, evidencia-se que a mão de Incaper para essa cultura, optou-se por apresentar
Importância Econômica e Social do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 65
Iconha 84,6%
Pancas 54,0%
Itaguaçu 53,5%
Colatina 49,1%
Linhares 47,1%
Marilândia 42,9%
Jaguaré 36,7%
Figura 8. Participação relativa da agricultura familiar dos principais municípios do Espírito Santo no Valor Bruto da
Produção Agropecuária (VBPA) do Estado.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir do Censo Agropecuário-IBGE (2014b).
e analisar também alguns de seus resultados regis- No mesmo período, a área total de café assistida
trados no período de 2005, 2010 e 2014, a partir de pelo Incaper teve crescimento de 10,72%, saindo
relatórios internos dessa instituição. de 68,87 mil para 76,25 mil hectares, ao passo que
a produção assistida cresceu 75,37%, atingindo
De acordo com os dados do Incaper (Tabela 4), a
o volume de 2,97milhões de sacas beneficiadas
instituição assistiu, em 2014, aproximadamente
de café conilon. Seguiu a mesma tendência a
18,7 mil cafeicultores de conilon, um crescimento
produtividade, com crescimento de 58,38%,
de 46,49% em relação aos 12,78 mil em 2005. Tendo
passando de 24,53 para 38,85 sacas beneficiadas
em vista que 90% do público assistido por esse Ins-
por hectare na média dos cafeicultores assistidos
tituto é composto por agricultores familiares, con-
pelo Incaper.
forme dados do Relatório Bimestral de Atividades
(RBA) de 2005 a 2010 e do Sistema de Informações A área média anual por propriedade assistida de
de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIATER) nos café conilon pelo Instituto foi de 4,07 ha em 2014,
anos de 2005 e 2014, deduz-se que cerca de 16,9 mil uma redução de 24,49% em relação a 2005, o que
cafeicultores assistidos se enquadram nessa catego- demonstra claramente a evolução, a contribuição
ria de agricultores. e a priorização da assistência técnica pública e
gratuita direcionada para os cafeicultores de base
Tabela 4. Produtores de conilon assistidos pelo Incaper familiar.
nos anos de 2005, 2010 e 2014
Anos Evolução
Discrimi-
nação
Unida-
de
em % 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
2005 2010 2014 (2005/2014)
tribui para a manutenção do agricultor familiar no de conilon, pois participa fortemente na geração de
campo. Pelo seu dinamismo, a atividade gera cerca empregos, na distribuição de renda e na criação de
de 30% de toda renda rural, estando presente em oportunidades, no meio rural.
64 dos 78 municípios capixabas. E ainda, ao longo
de todos os elos da cadeia produtiva, que inclui pro-
dução, agroindustrialização, insumos, distribuição e 7 REFERÊNCIAS
logística, aproximadamente 400 mil trabalhadores
ANUALPEC 2014. Anuário da pecuária brasileira. São
capixabas estão ocupados total ou parcialmente, o
Paulo: Instituto FNP, 2014.
que denota ainda mais a importância social e eco-
nômica do produto. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior. Comércio Exterior. Disponível em:
Nos últimos 15 anos (2000 a 2015), a produção e <http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/> Acesso em:
a produtividade cresceram 121,09% e 128,33%, dez. 2014.
respectivamente. Uma verdadeira revolução BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e
tecnológica sem precedentes na agricultura, com Abastecimento. Valor Bruto da Produção – Lavouras
índices jamais alcançados em qualquer outra e Pecuária. Disponível em: <http://www.agricultura.
atividade, em tão pouco tempo. gov.br/ministerio/gestao-estrategica/valor-bruto-da-
producao>. Acesso em: jan. 2015a.
Porém, a produção de conilon nem sempre “navegou
em águas mansas” e, nem de longe, foi uma atividade BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Produção de café gera renda para mais de 650
que prosperou logo após sua introdução no Estado.
mil agricultores familiares. Disponível em:
Por isso, a história de uma cultura antes inexpressiva <http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/
e que se tornou a principal atividade econômica do produ%C3%A7%C3%A3o-de-caf%C3%A9-gera-renda-
Espírito Santo é repleta de desafios. para-mais-de-650-mil-agricultores-familiares>. Acesso
em: ago. 2015b.
A pesquisa e a assistência técnica aos produtores
passaram a ser oficialmente implementadas por CALIMAN, O. Formação Econômica do Espírito Santo:
instituições estaduais a partir de 1985, sem o apoio de fragmentos do período colonial à busca de um
projeto de desenvolvimento. Revista Interdisciplinar de
e a transferência de recursos federais. Esse é o marco
Gestão Social - Salvador, BA: RIGS, UFB, v.1, n.2, p. 37-63,
da geração, difusão e transferência de tecnologia, 2012.
dinamizado pelo Incaper, principal responsável pela
geração da maior base tecnológica para essa espécie CONAB. Companhia nacional de abastecimento.
Acompanhamento da safra brasileira de café, 2014.
no mundo, a qual foi desenvolvida e incorporada
Cafés do Brasil. Brasília, DF: SPC/CONAB, 2014. 61 p.
para a cultura e que tem ultrapassado as fronteiras
do Estado. CONAB. Companhia nacional de abastecimento. Séries
históricas. Disponível em: <http://www.conab.gov.br/
Esse aparato tecnológico tem sido o sustentáculo conteudos.php?a=1252&t=>. Acesso em: jan. 2015.
para a impressionante evolução do principal COSTA, E. B. 100 anos de sucesso. A Gazeta - Opinião.
gerador de receita municipal, para a renovação do Vitória, ES: 21 abr. 2012. 18 p.
parque cafeeiro que, embora seja concentrado na
DADALTO, G. G.; BARBOSA, C. A. Zoneamento
região norte, está bem distribuído em todo o Estado,
agroecológico para a cultura do café no Estado do
e também para a dinâmica produtiva e social dessa Espírito Santo. Vitória, ES: Seag, 1997. 28 p.
atividade.
DE MUNER, L. H.; TEIXEIRA, M. M.; FORNAZIER, M.
Portanto, os dados apresentados e analisados J.; FAVORETO, O. S.; SALGADO, J. S. Cafeicultura
neste capítulo evidenciam que a cadeia produtiva sustentável. In: Plano Estratégico de Desenvolvimento
do café conilon é muito importante no contexto da Agricultura Capixaba. Vitória, ES: Incaper, 2003. 61p.
da economia brasileira, em especial da capixaba, (impresso)
promovendo benefícios não só econômicos como EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa
também sociais. Essa afirmação se reveste de maior Agropecuária. Espírito Santo realizará maior conferência
importância quando se observa que a pequena internacional de café conilon no Brasil. Disponível
em: <www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/
propriedade, especialmente a familiar, tem papel
noticia/1477376/espirito-santo-realizara-maior-
relevante na produção e na dinâmica da cafeicultura conferencia-internacional-de-cafe-conilon-no-brasil>.
Importância Econômica e Social do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 67
3
Zoneamento Agroclimatológico
para a Cultura do Café Conilon
no Estado do Espírito Santo
Renato Corrêa Taques e Gilmar Gusmão Dadalto
Figura 1. Mapa das áreas aptas para o cultivo do café conilon no Brasil.
Fonte: Matiello (1998).
Zoneamento Agroclimatológico para a Cultura do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 71
temperatura média anual e a interpolação dos re- 3.2 PREDIÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA MÉDIA
sultados do balanço hídrico sequencial dos pontos
A espacialização dos valores de temperatura média
de observação (estações meteorológicas e pluviô-
mensal e anual foi realizada com base na série de
metros).
dados das estações meteorológicas da Rede Inte-
grada de Observações Meteorológicas de Super-
fície (Inpe, Inmet, Incaper). Foram selecionadas 15
3 MODELAGEM PARA O ZONEAMENTO estações meteorológicas em operação, no período
AGROCLIMATOLÓGICO de janeiro de 2000 a dezembro de 2013 (14 anos).
O valor da temperatura média mensal de cada
estação meteorológica foi obtido a partir da média
3.1 BASE DE DADOS ESPACIAL
aritmética dos valores do mês no período de
Para realização do estudo, foi construída uma base de estudo. Os valores de temperatura mensal ausentes,
dados espacial para armazenar os dados de entrada representados por NA (não avaliado), na série
e os resultados do processamento. Foi estabelecida históricas foram desconsiderados no cálculo da
uma grade regular de pontos, com espaçamento de média. O valor da temperatura média anual de cada
500 x 500 metros (0,04 pontos por hectare) cobrindo estação foi calculado a partir da média aritmética
todo território capixaba. Essa grade de pontos foi dos valores da temperatura média mensal.
utilizada como base para a predição e modelagem
A predição espacial das temperaturas médias
do zoneamento agroclimático.
foi feita usando o método de Regressão Linear
O modelo digital de elevação (MDE) foi obtido a par- Múltipla (RLM). Para tanto, foram utilizadas quatro
tir das imagens da Shuttle Radar Topographic Mission covariáveis preditoras: elevação, latitude, longitude
(SRTM), com resolução espacial de 90 metros (CGIAR, e distância da costa. O método Stepwise foi usado
2015). O MDE foi hidrologicamente consistido para para a seleção das covariáveis dos modelos de RLM.
eliminar pequenas imperfeições com o uso de ferra- Os modelos de regressão, que são representados
mentas do programa ArcGIS Desktop 10 (ESRI, 2015). pelas equações matemáticas que descrevem a
Também foram geradas superfícies contínuas, no relação entre a temperatura média e as covariáveis,
formato raster, para os valores da latitude e longitu- foram avaliados pelos valores dos coeficientes R².
de, em graus, e distância da costa, em metros.
O processamento dos dados para a predição
Os valores de elevação do MDE, latitude, longitude espacial das temperaturas médias foi realizado
e distância da costa de cada ponto da grade regular no software estatístico R (R DEVELOPMENT CORE
foram usadas com covariáveis na predição dos TEAM, 2015), usando funções do pacote stats (The
valores de temperatura média e nos cálculos da R Stats Package).
evapotranspiração potencial.
Os pontos de observação (estações meteorológicas 3.3 PREDIÇÃO ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO
e pluviômetros) foram georreferenciados e adicio-
nados à base de dados espacial, no datum SIRGAS Para a espacialização da precipitação, foram
2000 e sistema de projeção Universal Transversa de selecionados 106 pontos de observação (95
Mercator (UTM fuso 24 sul). pluviômetros e 11 estações meteorológicas) com,
no mínimo, 30 anos de dados na série histórica,
Também foi utilizado o plano de informação com o dentro do período de janeiro de 1974 a dezembro de
limite dos municípios, que fazem parte do Sistema 2013. A série de dados de precipitação foi obtida na
Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do base de dados pluviométricos do Sistema Nacional
Espírito Santo (GEOBASES, 2015). A divisão regional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH),
do Estado foi determinada com base na Lei no 9.768, da Agencia Nacional das Águas (ANA, 2015), e na
de 28/12/2011 do Governo do Estado do Espírito base de dados de estações meteorológicas da
Santo. Rede Integrada de Observações Meteorológicas de
Superfície (Inpe, Inmet, Incaper).
72 Café Conilon – Capítulo 3
Foi calculada a precipitação anual somando a Similar à precipitação, foi calculada a evapotrans-
precipitação mensal de janeiro a dezembro de piração potencial anual (ETPa) somando as ETPs
cada ano, e a precipitação no período estival dos meses de janeiro a dezembro, e a evapotrans-
somando a precipitação mensal de setembro do piração potencial estival (ETPe), somando as ETPs
ano anterior a fevereiro de cada ano. Os somatórios do período estival (setembro a fevereiro). O deficit
que apresentaram um ou mais valores ausentes hídrico anual (DA) e o déficit hídrico do período es-
de precipitação mensal, dentro do período anual tival (DE) foram obtidos subtraindo a precipitação
ou estival, foram representados como NA e não da evapotranspiração, dos respectivos períodos
considerados nos cálculos. (anual e estival).
A estimativa da precipitação para os dois períodos
(anual e estival) foi determinada usando o modelo
3.5 CATEGORIAS DE APTIDÃO
probabilístico de distribuição Gama, com nível de
probabilidade de 0,75. O parâmetro de forma (α) Para café robusta (Coffea canephora), as regiões com
e de escala (β) foram determinados pelo método temperaturas médias anuais entre 22 °C e 26 °C são
da máxima verossimilhança (CATALUNHA et al., consideradas aptas. Já as regiões com temperaturas
2002). médias anuais menores que 22 °C são consideradas
marginais ou inaptas (MATIELLO, 1991).
A predição espacial das estimativas de precipitação
anual e do período estival foi realizada usando Em relação ao fator hídroclimáticos, Matiello (1991)
o método geoestatístico de Krigagem Ordinária. considera: aptas as regiões com deficit hídrico anual
O ajuste dos modelos dos semivariogramas foi (DA) menor que 200 mm; aptas com restrição hídri-
realizado pelo método dos Mínimos Quadrados ca as regiões com DA entre 200 mm e 400 mm; e
Ordinários. Os resultados da Krigagem foram com impedimento hídrico as regiões com DA maior
avaliados pelo coeficiente de determinação (R²) da que 400 mm. Nos últimos dois casos, as lavouras
validação cruzada leave-one-out. de conilon apresentam respostas muito favoráveis
à pratica de irrigação e arborização para sombrea-
As análises geoestatísticas foram executadas no
mento ralo.
software estatístico R (R DEVELOPMENT CORE TEAM,
2015), usando funções do pacote gstat (Spatial and Dadalto e Barbosa (1997) relacionam também
Spatio-Temporal Geostatistical Modelling, Prediction parâmetros para a deficiência hídrica no período
and Simulation) e MASS (Support Functions and estival (DE), que corresponde aos meses de setembro
Datasets for Venables and Ripley’s MASS). a fevereiro, período de maior exigência hídrica
do conilon. Nesse caso, são consideradas aptas
as regiões com DE menor que 40 mm, aptas com
3.4 EVAPOTRANSPIRAÇÃO E DEFICIT HÍDRICO restrição hídrica as regiões com DE entre 40 mm e
A evapotranspiração potencial padrão mensal 100 mm, e com impedimento hídrico as regiões com
(ETp) foi estimada pelo método de Thornthwaite DE maior que 100 mm.
(THORNTHWAITE, 1948), que por definição O aumento do potencial produtivo do conilon,
representa o total mensal de evapotranspiração registrado nas últimas décadas, que elevou a
que ocorreria nas condições térmicas (temperaturas produtividade de 60 para 120 sacas beneficiadas
médias), em um mês padrão de 30 dias, em que por hectare, e a busca pela melhoria da qualidade
cada dia teria 12 horas de fotoperíodo. dos grãos e da bebida exigem condições hídricas
A ETp foi corrigida para obter a ETP (evapotranspi- mais favoráveis para alcançar melhores resultados.
ração potencial mensal) em função do número de A delimitação das categorias de aptidão hídrica
dias e do fotoperíodo médio do mês. O valor do foi revisada para melhor representar as atuais
fotoperíodo médio do mês foi igualando à dura- exigências da cultura (Tabela 1).
ção da radiação solar direta do dia 15 de cada mês.
Foi usado o modelo de radiação solar do programa
ArcGIS Desktop 10 (ESRI, 2015), para estimar a du-
ração da radiação solar diária a partir do MDE.
Zoneamento Agroclimatológico para a Cultura do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 73
Tabela 1. Categorias de aptidão para café conilon com sucesso da atividade. Nessas áreas, é indispensável
relação ao deficit hídrico anual e estival o uso da irrigação suplementar;
Deficit Deficit
Categoria de
hídrico anual hídrico estival • Áreas com impedimento térmico - são aquelas
aptidão
DA (mm) DE (mm) mais elevadas e de temperaturas mais amenas
Apta 0 0 (temperaturas médias anuais menores que 22 °C),
Restrição hídrica onde não se recomenda o cultivo do café conilon.
0 a 200 0 a 40
leve
A determinação da categoria de aptidão foi
Restrição hídrica
moderada
200 a 400 40 a 80 realizada por meio da álgebra dos mapas
Restrição hídrica
(cruzamento) obtidos para a temperatura média
> 400 > 80 anual, deficit hídrico anual e deficit hídrico do
severa
período estival (Figura 2). A área de cada categoria
Fonte: Adptado de Dadalto e Barbosa (1997).
foi obtida multiplicando o número de células (pixel)
de cada categoria pela área da célula, que é de 25
A definição das categorias de aptidão levou em hectares (500 m x 500 m).
consideração a possibilidade de uso de tecnologias
existentes e recomendadas pelo Incaper
para o conilon, como cultivares melhoradas, 4 RESULTADOS OBTIDOS
adubação, poda, entre outras, para melhoria da
produtividade. O uso da irrigação é recomendado No mapa de temperatura média anual, óbitos a par-
para as categorias de aptidão com restrições tir dos modelos de RLM (Tabela 2), temperaturas
hídricas, viabilizando, assim, o cultivo do café menores que 22 °C são observados, principalmente
conilon nessas áreas. nas regiões centro serrana e sul (Figura 3). O mode-
lo matemático mostra que o limite de altitude para
As categorias de aptidão agroclimatológicas para o temperaturas médias anuais inferiores a 22°C varia
café conilon no Espírito Santo foram estratificadas aproximadamente entre 400 m e 580 m, dependen-
da seguinte forma: do da posição geográfica do local (latitude e longi-
• Áreas aptas - são aquelas cujas condições tude).
climáticas se apresentam mais propícias para Dadalto e Barbosa (1997) também constataram
o cultivo do café conilon, possuindo elevado a variação no limite de altitude para o cultivo do
potencial de produção e baixo risco climático; café conilon, a partir de observações de campo e
• Áreas aptas com restrição hídrica leve - são do conhecimento da cultura. Nesse trabalho, foi
aquelas as cujas condições climáticas permitem relatado que o café conilon possui elevado potencial
o cultivo do café conilon. No entanto, o uso de cultivo até 500 m de altitude, ao sul do divisor da
da irrigação suplementar é recomendado em margem direita da bacia do Rio Doce e até 600 m, ao
determinados períodos de estiagem; norte desse divisor.
minantemente, na região extremo norte do Estado, norte também apresenta os menores volumes de
ocorrendo também na região centro-norte, no vale precipitação acumulada, que combinados com o ele-
do Rio Doce e na região sul do Estado, nos vales do vado valor de evapotranspiração, resulta nas maiores
Rio Itapemirim e do Rio Itabapoana (Figura 6), regi- deficiências hídricas (Figura 7).
ões destacadas pela cor vermelha. A região extremo
Categorias de aptidão:
= 0 → Impedimento térmico
> 0 e ≤ 2 → Apta; CLASSIFICAR
> 2 e ≤ 4 → Restrição hídrica leve;
> 4 e ≤ 8 → Restrição hídrica moderada;
> 8 e ≤ 16 → Restrição hídrica severa.
Zoneamento Agrocli-
matológico do Café
Conilon
Figura 2. Fluxograma das etapas para obtenção do mapa de zoneamento agroclimatológico para o café conilon no
Estado do Espírito Santo.
Tabela 2. Equações de regressões ajustadas para o modelo de temperaturas médias normais (mensais e anual) e res-
pectivos coeficientes de determinação (R²) para o Estado do Espírito Santo
Período a0 a1 a2 a3 a4 R²
Janeiro 26,090000 -0,006161 0,000018 0,96
Fevereiro 8,380000 -0,006695 -0,449100 0,000016 0,95
Março -13,676599 -0,006375 0,743295 -1,359134 0,95
Abril -10,123391 -0,006648 0,724468 -1,232359 0,95
Maio -0,019848 -0,006696 0,880160 -1,005476 0,95
Junho -6,605661 -0,007289 0,893785 -1,150427 0,94
Julho -14,905478 -0,007515 0,775452 -1,286587 0,94
Agosto -36,696622 -0,007711 0,800460 -1,851139 0,94
Setembro -36,043954 -0,006895 0,797441 -1,849529 0,97
Outubro -43,815441 -0,006829 0,822870 -2,091689 0,96
Novembro 24,264256 -0,006166 0,000021 0,96
Dezembro 25,540000 -0,005960 0,000018 0,97
Anual -21,825125 -0,006758 0,746480 -1,509947 0,96
Parâmetros da equação de regressão: a0 = intercepto; a1 = elevação (m); a2 = latitude (graus); a3 = longitude (graus); a4 = distância da costa (m).
Zoneamento Agroclimatológico para a Cultura do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 75
Considerando os limites do deficit hídrico para a restrições hídricas, necessitando do uso de irrigação
aptidão do café conilon, o deficit hídrico estival (DE) suplementar, principalmente no período estival
foi o que apresentou maior impacto, se comparado (setembro a fevereiro).
com o deficit hídrico anual (DA), e é o grande
A maior parte da área dos municípios com expressiva
responsável pela delimitação das áreas com restrição
produção de café conilon, situados na região
hídrica severa para café conilon no Estado.
extremo norte do Estado, entre eles: Jaguaré, Nova
O zoneamento agroclimatológico mostra que 74,3% Venécia, Vila Pavão, São Mateus, Pinheiros e Boa
do território capixaba apresenta aptidão para o Esperança, possuem restrições hídricas severas, onde
cultivo do café conilon, e apenas 25,7 % apresentam é indispensável o uso da irrigação suplementar. Já
impedimento térmico, o que confirma a vocação os municípios da região centro-norte (Vila Valério,
natural do Estado para a produção dessa variedade Rio Bananal, São Gabriel da Palha, Governador
(Tabela 3). No entanto, apenas 11,3% da área do Lindenberg e Marilândia) possuem condições
Estado possui elevado potencial de produção e baixo hídricas mais favoráveis, com restrição hídrica leve e
risco climático, sem deficit hídrico anual e no período moderada (Figura 8).
estival. A maior parte da área (63,0%) apresenta
Figura 3. Predição espacial da temperatura média anual para o Estado do Espírito Santo.
76 Café Conilon – Capítulo 3
Figura 4. Semivariograma experimental ajustado para a predição da precipitação acumulada com 75% probabilidade:
(A) anual e (B) do período estival (setembro a fevereiro).
Nota: Exp: exponencial; C0: pepita; C1: contribuição; a: alcance; R²: coeficiente de determinação.
Figura 5. Predição espacial da precipitação acumulada com 75% de probabilidade para o Estado do Espírito Santo: (A)
anual e (B) do período estival (setembro a fevereiro).
Zoneamento Agroclimatológico para a Cultura do Café Conilon no Estado do Espírito Santo 77
Figura 6. Evapotranspiração potencial para o Estado do Espírito Santo: A) anual (ETPa); B) período estival (ETPe).
Figura 7. Deficit hídrico para o Estado do Espírito Santo: A) anual (DA); B) estival (DE).
78 Café Conilon – Capítulo 3
Tabela 3. Distribuição da área entre as categorias de aptidão para cultivo do café conilon no Estado do Espírito Santo
Categoria Área (km²) %
Aptas 5230,2 11,3%
Aptas com restrição hídrica leve 7868,8 17,1%
Aptas com restrição hídrica moderada 5624,2 12,2%
Aptas com restrição hídrica severa 15525,8 33,7%
Impedimento térmico 11829,3 25,7%
Total Estadual 46078,3 100,0%
do solo e da água é indispensável para alcançar o de- R DEVELOPMENT CORE TEAM. The R Project for
senvolvimento sustentável dessa atividade. Statistical Computing. Disponível em: <http://
www.r-project.org/>. Acesso em: Jan. 2015.
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no Estado do Espírito Santo. Revista Ciência
Agronômica, Fortaleza: v. 41, n. 3, p. 341-348, 2010.
81
4
Origem, Dispersão Geográfica,
Taxonomia e Diversidade Genética
de Coffea canephora
Maria Amélia Gava Ferrão, Romário Gava Ferrão, Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca,
Abraão Carlos Verdin Filho e Paulo Sérgio Volpi
Figura 1. Distribuição natural das espécies mais conhecidas do gênero Coffea na África.
Fonte: Adaptado de Carvalho (1946) e Charrier e Berthaud (1985).
Origem, Dispersão Geográfica, Taxonomia e Diversidade Genética de Coffea canephora 83
sul e leste da Ásia, constituindo-se, provavelmente, em torno de 1%, além de altos teores de sólidos
no principal motivo de estímulo para a utilização solúveis, importantes e demandados nas indústrias
da espécie C. canephora, já que esta apresentava de café solúvel.
resistência à doença (CHARRIER; BERTHAUD, 1988;
Essa espécie inclui diversas variedades como:
VAN DER VOSSEN, 1985).
Kouillou (Conilon), Robusta, Sankuru, Bukaba,
Os primeiros cultivos e trabalhos de melhoramento Niaculi, Uganda, Maclaud, Laurentti, Petit, Indénié,
com C. canephora foram realizados em Java, por Nana, Polusperma, Oka, entre outras (CHARRIER;
volta de 1900, buscando estabelecer as bases BERTHAUD, 1988). O nome “robusta” da espécie C.
biológicas fundamentais ao melhoramento da canephora advém da rusticidade e resistência às
espécie. Seu cultivo expandiu-se posteriormente doenças desse café, o qual é, considerado como
para outras regiões da África, América e Ásia uma resistente planta para ser cultivada em clima
(CHARRIER; BERTHAUD, 1988), notadamente a partir equatorial.
do surgimento do café solúvel, na década de 50,
Registros históricos mostram que o primeiro cultivo
e de seu emprego nos blends de cafés torrados e
comercial de robusta iniciou-se no Congo, em 1870,
moídos (MALTA, 1986).
usando sementes de plantas silvestres coletadas às
As observações de muitos coletores de margens do Rio Lomani (ECCARDI; SANDALJ, 2002).
germoplasma incluem descrições precisas dos Próximo ao final do século XIX, os franceses foram
habitat naturais, que são bastante distintos cultivando robusta ao redor da costa atlântica da
entre as diferentes espécies, notadamente no África, do Gabão para o Congo e particularmente
que diz respeito a altitude, regime pluviométrico nas margens do Rio Kouillou. Botânicos também
e tipos de solo. C. canephora encontra-se descobriram a mesma espécie em 1861, na região
distribuída em praticamente toda a África, com de Bukoba, na Tanzânia.
predomínio nas regiões ocidental, central-tropical
A variedade Kouillou (Conilon) foi observada
e subtropical do continente, compreendendo
em 1880, pelos franceses, em estado silvestre,
grandes áreas na República da Guiné, Costa
entre o Gabão e a embocadura do Rio Congo,
do Marfim, Libéria, Sudão, Uganda, Camarões,
principalmente junto ao Rio Kouilou, na África
Congo, Gabão, República Centro-Africana e
(CHEVALIER, 1929, apud CARVALHO, 1946).
República Democrática do Congo (CARVALHO,
Posteriormente, encontraram esse material sendo
1946; CHARRIER; BERTHAUD, 1985; COSTE, 1992;
cultivado em larga escala em Madagascar. Em
MONTAGNON et al., 1998b). Elevada concentração
1895, o botânico Louis Pierre descreveu o material
de plantas foi encontrada no estado espontâneo,
como C. canephora. Em 1897, Froehner publicou a
em uma vasta área, na região de densa floresta
descrição da espécie. Segundo o mesmo autor, em
tropical e em locais cuja altitude varia desde o
1900, foram enviadas sementes de C. canephora do
nível do mar, no Gabão, a altitudes superiores a
Congo à casa de Horticultura de L. Linden (Bruxelas),
1.300 m em Angola, Camarões e Costa do Marfim.
que o colocou no mercado com o nome de Coffea
A espécie C. canephora difere da C. arabica em robusta, o qual foi enviado a Java, onde alcançou
diversas características agronômicas, sendo as grande sucesso por ter se mostrado resistente à
principais: 1) arbusto multicaule; 2) folhas maiores, ferrugem. Isso marcou o início do cultivo em grande
bem onduladas, com coloração verde mais claro; escala do café robusta na Indonésia. Essa coleção de
3) flores autoincompatíveis; 4) frutos pouco mais plantas foi enriquecida, mais tarde, com materiais do
esféricos, menores, com coloração vermelha, Gabão e de Uganda. Daí a generalização do nome
amarela e alaranjada quando maduros e exocarpo “robusta”. As plantas de robusta levadas para a Índia
mais fino; 5) sementes de tamanho variável, com foram oriundas de coleções e seleções da Indonésia,
película prateada bem aderente, endosperma de Uganda, Gana, Madagascar e Costa do Marfim.
cor verde e maior teor de cafeína (CARVALHO, Posteriormente, o cultivo de robusta estendeu-se
1946). Dentro desse contexto, Smith (1985) relata, para outras regiões na África, Ásia e América (Brasil).
com surpresa, resultados de análises de amostras
O café conilon tem o seu nome derivado do rio
de café robusta, em que identificou conteúdo de
Kouillou, no Congo, ou do rio Kwilu, na República
cafeína superior a 2%, enquanto o de arábica estava
84 Café Conilon – Capítulo 4
no ano de 1961 era bastante irregular, sugerindo localizava-se uma coleção de espécies de Coffea,
que essa variedade tenha sido cultivada de forma trazidas da Indonésia pelo Dr. Edmundo Navarro de
descontínua no Espírito Santo. O número de plantas Andrade (CARVALHO; FAZUOLI, 1993).
de café existentes em 1961 (326.928) indicava que
A produção da espécie era de reduzida importância
a variedade Robusta cobria apenas 2,4% do total
até a geada ocorrida em 1975, no Paraná, que
das plantações (13.622 milhões de pés de café) e
marcou de forma indelével a história da produção
que a idade média das lavouras dessa variedade
de conilon no Brasil, quando, pela primeira vez,
era de nove anos. Uma avaliação minuciosa revelou
registraram-se linhas de financiamento para o
que a variedade Robusta teria sido introduzida em
plantio da espécie. Com o estímulo governamental,
escala muito pequena e teria tido certo impulso de
o Espírito Santo revitalizou-se em termos agrícolas, o
plantio no período da Segunda Guerra Mundial e,
que lhe possibilitou ultrapassar estados produtores
posteriormente, no triênio 1949/1951. A partir daí,
mais tradicionais, destacando-se como o maior
as novas plantações da espécie teriam perdido
produtor de robusta do Brasil.
muito da sua expressão na cafeicultura estadual,
retomando o seu crescimento a partir de 1957. Assim, nas últimas quatro décadas, o plantio da es-
O número de pés de café por idade, mostrado pécie se expandiu rapidamente no Estado do Espí-
pelo IBC no período de 1961, indicava maior rito Santo, predominantemente nas áreas abaixo de
número de plantas na região sul em relação à 450 m de altitude, e em Rondônia. Também houve
região norte do Espírito Santo e que, nesta última, expressiva expansão na última década, em áreas vi-
a população de plantas crescia rapidamente nos zinhas ao Espírito Santo, como no sul da Bahia e no
cafeeiros de menor idade, o que caracterizava um vale do Rio Doce, em Minas Gerais (MATIELLO, 1998;
progressivo deslocamento da cafeicultura espírito- FERRÃO et al. 2012; FONSECA et al., 2015).
santense em direção à região localizada à margem Segundo Fonseca (1995), salvo algumas poucas
esquerda do Rio Doce. Constava também que, lavouras existentes no Estado de Rondônia, cultiva-
no Estado, a participação do conilon e cultivares se no Brasil a variedade Conilon, introduzida a partir
recentes de arábica (Caturra e Mundo Novo) de seleções do grupo Kouillou. A expansão de seu
cresciam substancialmente nas novas plantações, cultivo no Espírito Santo se deu inicialmente por
destacando-se o caso do conilon, que representava meio da multiplicação sexuada de plantas matrizes
na época 7,2% dos cafeeiros de até três anos e 1,8% selecionadas pelos próprios agricultores, ao longo
dos cafeeiros acima dessa idade. dos anos, fato que proporcionou o estabelecimento
Posteriormente, encontrou-se em trabalhos de populações com ampla variabilidade genética,
apresentados pelo IBC que o parque cafeeiro tendo em vista suas características naturais de
dessa espécie no Estado, em 1980, era constituído reprodução.
por cerca de 130 milhões de plantas (IBC, 1981), e Posteriormente, no programa de melhoramento
na safra de 1982/83, de 290 milhões de cafeeiros, genético do Instituto Capixaba de Pesquisa,
distribuídos da seguinte forma: 205 milhões na Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper),
região norte, 60 milhões na região sul e 25 milhões foi explorada tal variabilidade por meio de
na região centro-serrana (PAULINO et al., 1984). Esses diferentes estratégias, discutidas nos capítulos 6 e 9
dados conjunturais evidenciam a grande expansão resultando no desenvolvimento e disponibilização
da cultura no Espírito Santo, que passou de 13,5 de nove cultivares, que constituem a base do
milhões para 290 milhões de plantas no período de parque cafeeiro capixaba. Atualmente, é a espécie
1961 a 1983, e deste para aproximadamente 706 de maior relevância no Estado e constitui-se em
milhões no ano de 2015 (CONAB, 2015). material genético básico no Brasil para estudos de
Fazuoli (1986) cita que, do material da espécie C. resistência à ferrugem, nematoides, broca-da-haste,
canephora da coleção do Instituto Agronômico cochonilha-da-roseta, seca, entre outros, além de
de Campinas (IAC), as sementes de Kouillou foram qualidade do produto (FONSECA, 1996; FERRÃO,
advindas do Espírito Santo e também coletadas R.; FONSECA; FERRÃO, M., 1999; FERRÃO et al. 2007;
em Rio Claro, no horto florestal da Companhia FERRÃO et al. 2011, FONSECA et al., 2015).
Paulista de Estradas de Ferro. Nesse horto florestal,
86 Café Conilon – Capítulo 4
Trabalhos mais recentes, referentes à diversidade e região intermediária. Observou-se uma maior
genética de C. canephora, realizados com proximidade genética dos acessos do grupo SG1
marcadores microssatélites, em uma população (pontos verdes), com os parentais e a população
com 519 diferentes acessos, mostraram cinco de conilon estudada.
grupos claramente separados (Figura 3). Nesse
agrupamento, foram incluídos acessos de conilon
do Brasil, representados pela cor violeta no População
Quadro 2. Estrutura de agrupamento da espécie Coffea canephora com base em diferentes estudos genéticos e
moleculares
1
Berthaud Montagnon
2 2
Dusset et 3
Dusset et al. 4
Cubry et al.
Origem Geográfica
(1986) et al. (1992) al. (1999) (1999) (2008)
Guineano Guineano 1 D Guineano Guiné e Costa do Marfim
Congolês SG1 3 A SG1 Face atlântica da África Central (Gabão e Congo)
SG2 2 E SG2
Bacia do Rio Congo (RDC), sul da África Central
B B
C C Sudoeste da África Central, RDC e Camarões
Ug Uganda
1= marcadores fenotípicos; 2= izoenzimas; 3= RFLP; e 4= Microssatélites; RDC=República Democrática do Congo.
Figura 5. Origem genética dos principais subgrupos de Coffea canephora (CUBRY et al., 2008 adaptado por Montagnon,
Cubry e Leroy, 2012).
Quadro 3. Espécies de Coffea relacionadas na Lista Vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN)
Perigo Crítico de Extinção
África Madagascar
C. anthonyi Stoff. &. F. Anthony, ined. C. andrambovatensis J.-F.Leroy
C. charrieriana Stoff. &. F. Anthony, ined. C. boinensis A. P. Davis & Rakotonas., ined
C. fotsoana Stoff. & Sonké C. gallienii Dubard
C. heterocaiyx Stoff. C. littoralis A. P. Davis & Rakotonas.
C. kihansiensis A. P. Davis & Mvungi C. montis-sacri A. P. Davis
C. kimbozensis Bridson C. pterocarpa A. P. Davis & Rakotonas., ined.
C. lulandoensis Bridson C. rakotonasoloi A. P. Davis
Ameaçado de Extinção
África C. humblotiana Baill.
C. bakossii Cheek & Bridson C. jumellei J.-F.Leroy
C. bridsoniae A. P. Davis & Mvungi C. kianjavatensis J.-F.Leroy
C. carrissoi A. Chev. C. labatii A.P.Davis. & Rakotonas., ined.
C. leonimontana Stoff. C. liaudii J.-F.Leroy ex A.P.Davis
C. mapiana Sonké, Nguembou & A. P. Davis C. manombensis A.P.Davis
C. pocsii Bridson C. mcphersonii A.P.Davis & Rakotonas.
C. mogenetii Dubard
Madagascar C. moratii J.-F.Leroy ex A.P.Davis & Rakotonas.
C. abbayesii J.-F.Leroy C. ratsimamangae J.-F.Leroy ex A.P.Davis & Rakotonas.
C. alleizettii Dubard C. sahafaryensis J.-F.Leroy
C. ambanjensis J.-F.Leroy C. sambavensis J.-F.Leroy ex A.P.Davis St Rakotonas.
C. ambongensis J.-F.Leroy ex A. P. Davis &. Rakotonas., C. tsirananae J.-F.Leroy
C. ankaranensis J.-F.Leroy ex A.P.Davis & Rakotonas. C. vatovavyensis J.-F.Leroy
C. augagneurii Dubard C. vavateninensis J.-F.Leroy
C. betamponensis Portères & J.-F.Leroy C. vianneyi J.-F.Leroy
C. bonnieri Dubard C. vohemarensis A.P.Davis & Rakotonas.
C. commersoniana (Baill.) A.Chev.
C. decaryana J.-F.Leroy Mascarenes
C. humbertii J.-F.Leroy Coffea myrtifolia (A.Rich. ex DC.) J.-F.Leroy
Vulnerável
África Madagascar
C. arabica L. C. bertrandii A.Chev.
C. costatifructa Bridson C. coursiana J.-F.Leroy
C. dactylifera Robbr. & Stoff. C. farafanganensis J.-F.Leroy
C. fadenii Bridson C. heimii J.-F.Leroy
C. kapakata (A.Chev.) Bridson C. mangoroensis Portères
C. kivuensis Lebrun C. pervilleana (Baill.) Drake
C ligustroides S.Moore C. sakarahae J.-F.Leroy
C. mongensis Bridson C. tetragona Jum. & H.Perrier
C. montekupensis Stoff.
C. pseudozanguebariae Bridson Mascarenes
C. schliebenii Bridson C. macrocarpa A.Rich.
C. logoensis A.Chev. C. mauritiana Lam
C. zanguebariae Lout.
Baixo risco de ameaça
África Madagascar
C. humitis A.Chev. C. arenesiana J.-F.Leroy
C. magnistipula Stoff & Robbr. C. boiviniana (Baill.) Drake
C. racemosa Lour. C. buxifolia A.Chev.
C. rhamnifolia (Chiov.) Bridson C. lancifolia A.Chev.
C. salvatrix Swynn. &. Philipson C. leroyi A.P.Davis
C. sessiliflora Bridson C. resinosa (Hoolcf ) Radlk
C. richardii J.-F.Leroy
Pouco preocupante
África Madagascar
C. brevipes Hiern C. dubardii Jum.
C. canephora Pierre ex A.Froehner C. grevei Drake ex A.Chev.
C. congensis A.Froehner C. homollei J.-F.Leroy
C. eugenioides S.Moore C. millotii J.-F.Leroy
C. liberica Bull. ex Hiern C. perrieri Drake ex Jum. & H.Perrier
C. mayombensis A.Chev. C. tricalysioides J.-F_Leroy
C. mufindiensis Hutch. ex Bridson
C. stenophylla G.Don
Dados insuficientes
Madagascar
C. bissetiae A.P.Davis & Rakotonas., ined.
C. minutiflora A.P.Davis & Rakotonas.
Risco não avaliado
África Madagascar
C. affinis De Wild. C. fragilis J.-F.Leroy
Fonte: Adaptado de Davis et al. (2006), citado por Souza (2011).
Origem, Dispersão Geográfica, Taxonomia e Diversidade Genética de Coffea canephora 93
A coleção de C. canephora introduzida em Java, G35, SV2010 e Ipiranga 501). Maiores informações
em 1901, é oriunda de plantas de café já cultivadas sobre essas cultivares encontram-se no capítulo 9
no Zaire, desde 1895, originadas da região do “Cultivares de Café Conilon”.
Rio Lomani. Essa coleção foi posteriormente
Segundo Souza (2011), as vantagens competitivas
enriquecida com material genético originado do
das cultivares de Conilon, em detrimento das
Gabão (Kouillou) e de Uganda (Coffea ugandae,
cultivares de Robusta no Brasil, são atribuídas
Coffea bukobensis). A coleção da Índia tem material
basicamente a sua tolerância à seca e à facilidade de
originado de amostras e seleções realizadas
manejo, aliadas ao contexto histórico-cultural que
originalmente na Indonésia, Uganda, Madagascar,
foi criado pela ausência de plantas do tipo robusta
Gana, Costa do Marfim, entre outros. A coleção de
na fase de implantação das primeiras lavouras no
Madagascar teve materiais introduzidos de três
Estado do Espírito Santo.
origens: Gabão, Java e Zaire. No Brasil, o material
genético cultivado advém de seleção dentro do Vale destacar que a maior parte dos cafeeiros
Kouillou (CHARRIER; BERTHAUD, 1988). cultivados nos diferentes países apresentam base
genética estreita. Por essa razão, pesquisadores
Segundo Charrier e Berthaud (1980), vários países
estão investigando a herança genética das
africanos da região de origem de C. canephora
plantas silvestres para identificar genótipos com
iniciaram o cultivo com as mesmas introduções
características de interesse que possam contribuir
de robusta de Java e Zaire, de Kouillou do Gabão,
para o aumento da variabilidade genética dos
e, muito raramente, de Niaouli de Benin. Uma
materiais cultivados. O desenvolvimento e
das variedades mais antigas cultivadas em escala
recombinação de híbridos policlonais e variedades
comercial é a Kouillou, encontrada atualmente na
sintéticas representam grandes perspectivas no
Costa do Marfim, no Congo, no Gabão e no Brasil.
melhoramento da espécie com o emprego de
As cultivares de C. canephora compõem-se, cruzamentos mais heteróticos, que aproveitem a
basicamente, de variedades clonais e variedades diversidade entre os grupos (Congolês x Guineano)
sintéticas. As variedades do grupo robusta são ou subgrupos (Kouillou x Robusta), nos quais a
identificadas em muitas regiões com nomes locais, espécie encontra-se estruturada.
muitas vezes relacionados ao país de origem,
Para tanto, o estabelecimento e a manutenção de
quais sejam: na Guiné, variedade Maclaudi - cv.
BAGs da espécie em questão e de outras espécies
Gamé (Robusta) e cv. Gouecke (Kouillou); na Costa
do gênero Coffea são de grande importância, pois
do Marfim, variedade Maclaudi e variedade Petit
entre as formas silvestres, algumas apresentam
indiene - cv. Dianle, cv. Douekoue, cv. Touba, cv.
indivíduos com características vantajosas do ponto
Beoumi (Kouillou), cv. Robusta Ebobo, entre outras;
de vista de resistência a pragas e doenças, tolerância
no Togo e Benin, cv. Niaouli; na República Africana
à seca e a outros estresses abióticos, composição
Central, cv. Nana; em Uganda, cv. Kibale, cv. Itwara,
bioquímica do grão, qualidade de bebida, bem
cv. Kasai e cv. Budongo. A variedade Niaouli produz
como diferentes características agronômicas de
poucos frutos cereja, mas mantém a produção
interesse relacionadas ao sistema radicular, tamanho
por quase todo o ano. A variedade Nana é bem
e formato das folhas e dos frutos, arquitetura da
conhecida pela sua grande resistência a pragas e
planta, entre outras.
doenças.
A reserva gênica em coleções da espécie poderá
No Brasil, são referenciadas como cultivares de
contribuir positivamente para o desenvolvimento
café conilon 15 cultivares registradas no Ministério
de novos genótipos com características específicas
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa),
obtidas pelo melhoramento intra e interespecífico,
sendo nove desenvolvidas pelo Incaper (Emcapa
por apresentarem alelos importantes que podem
8111, Emcapa 8121, Emcapa 8131, Emcapa
ser transferidos por meio da hibridação controlada.
8141-Robustão Capixaba, Emcaper 8151-Robusta
Nesse contexto, têm-se, por exemplo, alguns
Tropical, Vitória Incaper 8142, Diamante ES8112,
cruzamentos interespecíficos entre C. arabica x C.
ES8122 - Jequetibá e Centenária ES8132), uma pela
canephora, pelos quais foram transferidas fontes
Embrapa Rondônia (BRS Ouro Preto) e cinco de
de resistências para pragas, doenças e nematoides
empresas privadas (Colatina PR6, Verdebrás G30/
(OROZCO-CASTILLO; CHALMERES; POWELL, 1994),
94 Café Conilon – Capítulo 4
como os germoplasmas Icatú, Híbrido de Timor, que os clones componentes de cada variedade
Catimor, Arabusta e Apoatã (MONACO; CARVALHO; clonal do Incaper encontravam-se distribuídos em
FAZUOLI, 1974; FAZUOLI, 1991). Segundo os vários grupos geneticamente dissimilares apesar de
autores, outras fontes importantes para fins de possuírem características fenotípicas em comum.
melhoramento são: resistência a doenças da folha (C.
Souza et al. (2013) analisaram a dissimilaridade
canephora e C. congensis); resistência a nematoides
genética entre 130 acessos de C. canephora
(C. canephora e C. liberica); resistência à cochonilha-
oriundos das coleções da Embrapa Rondônia, IAC,
das-raízes (C. liberica); tolerância à seca e ao bicho-
Incaper e UFV/Epamig. Utilizando marcadores
mineiro (C. canephora e C. racemosa); e ausência de
microssatélites e métodos de análise multivariada,
cafeína nos grãos (Coffea pseudozonquebaries).
identificaram alto polimorfismo e concentração
Os germoplasmas dos principais Bancos Ativos de de dois grandes grupos, constituídos pelos
C. canephora da Costa do Marfim, Camarões, Ugan- genótipos de conilon do Espírito Santo (Incaper)
da, Índia, Indonésia e Brasil estão sendo avaliados e genótipos coletados em Rondônia (grupo 1)
quanto à sua diversidade genética, por meio de e pelos genótipos robusta do IAC e UFV/Epamig
técnicas moleculares e de procedimentos estatísti- (grupo 2). Os acessos oriundos do Incaper
cos multivariados utilizando-se características agro- apresentaram maior similaridade genética (de 0,10
morfológicas (BERTHAUD, 1986; MONTAGNON et a 0,53) em relação aos demais estudados. Segundo
al., 1998a; DUSSET et al., 1999; FONSECA, 1999; FER- os autores, apesar do grande polimorfismo
RÃO et al., 2000; FERRÃO et al., 2005; CUBRY, 2009; encontrado nas lavouras brasileiras, incrementar
FONSECA et al., 2007; FERRÃO et al., 2009; SOUZA, essa diversidade é necessário, pois um novo limiar
2011, entre outros). de ganhos genéticos é esperado nos programas
de melhoramento com a intensificação do uso do
Lashermes et al. (1999) mostraram, através de
germoplasma conservado.
análises moleculares, a diversidade genética do
germoplasma africano, importante em programas Alekcevetch (2013) avaliou a diversidade genética
de melhoramento. Ruas et al. (1999) analisaram a por meio de marcadores microssatélites, entre 48
diversidade genética da coleção de germoplasmas clones parentais de C. canephora variedade Conilon
do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) aplicando do BAG do Incaper, bem como uma população de
a técnica de RAPD (Random Amplified Polymorphic 266 plantas correspondentes a uma descendência
DNA). Verificaram um coeficiente de similaridade gerada por tais parentais e mantidas no campo
entre espécies variando de 0,58 (Coffea eugenioides experimental da Embrapa Cerrados. Os resultados
e C. racemosa) a 0,84 (C. arabica e C. eugenioides), mostraram variabilidade genética entre as plantas
revelando um considerável nível de variabilidade parentais e aquelas da população descendente,
genética. A espécie C. arabica mostrou associação coancestralidade entre os parentais e acesos
de 76% com C. canephora variedade Robusta e 68% geneticamente muito semelhantes. A análise de
com C. canephora variedade Kouillou caracterizando paternidade mostrou os parentais com maior
a possibilidade de se ter sucesso em programas de frequência alélica e que possuem participação
hibridações interespecíficas envolvendo as espécies genética em quantidade bastante diferenciada
mais importantes mundialmente. variando de 0,38% a 24,44% de recorrência,
indicando maior compatibilidade genética e/
Fonseca (1999), Ferrão (2004) e Ferrão et al.
ou sincronismo de florescimento com um maior
(2007), estudando a divergência genética de
número de plantas da amostra das 48 plantas
genótipos elites de C. canephora do programa
parentais.
de melhoramento genético do Incaper com base
em procedimentos multivariados, verificaram Vicentini (2013); Oliveira (2015) e Oliveira et
variabilidade genética expressiva entre os materiais al. (2016) estudaram a divergência genética
genéticos envolvidos. A análise com marcadores de 100 e 70 progênies, respectivamente,
moleculares, realizada em um grupo de materiais oriundas de duas populações de café conilon
genéticos do referido programa, também mostrou do programa de melhoramento do Incaper,
diversidade genética relativamente ampla (FERRÃO conduzidas pela estratégia de seleção recorrente.
et al., 2005, 2009). Nesse trabalho, foi observado As estimativas foram realizadas com base em
Origem, Dispersão Geográfica, Taxonomia e Diversidade Genética de Coffea canephora 95
Quadro 4. Principais descritores de café - spp. (Coffea arabica, Coffea canephora e híbridos interespecíficos) publicados
pelo Mapa
Código Código Código Código
Característica Identificação da da Característica Identificação da da
descrição cultivar descrição cultivar
cilíndrico 1
redondo 1
cônico 2
1. Planta: formato | | 21. Fruto: formato elíptico 2 | |
cilíndrico-cônico 3
oblongo 3
cônico invertido 4
muito baixa 1
amarela 1
baixa 3
vermelho-alaranjada 2
2. Planta: altura média 5 | | 22. Fruto: cor (fase madura) | |
vermelho-média 3
alta 7
vermelho-escura 4
muito alta 9
muito pequeno 1
pequeno 3
ausente 1
3. Planta: diâmetro da copa médio 5 | | 23. Fruto: sépala | |
presente 2
grande 7
muito grande 9
4. Haste (principal e curto 3 baixo 3
24. Fruto: grau de aderência
lateral): comprimento do médio 5 | | médio 5 | |
ao ramo
internódio longo 7 alto 7
ereta 1
5. Ramo plagiotrópico: curto 3
semiereta 2
posição em relação aos | | 25. Semente: comprimento médio 5 | |
horizontal 3
ramos ortotrópicos longo 7
semipendente 4
curto 3 estreita 3
6. Folha: comprimento médio 5 | | 26. Semente: largura média 5 | |
longo 7 larga 7
estreita 3 fina 3
7. Folha: largura média 5 | | 27. Semente: espessura média 5 | |
larga 7 grossa 7
elíptica 1
28. Semente: cor do amarela 1
8. Folha: forma ovalada 2 | | | |
endosperma verde 2
lanceolada 3
verde 1
bronze 2 29. Semente: tonalidade da clara 1
9. Folha: cor na fase jovem | | | |
verde e bronze 3 película de cobertura escura 2
púrpura 4
verde clara 1 fraco 3
30. Semente: grau de aderência
10. Folha: cor na fase adulta verde escura 2 | | médio 5 | |
da película
púrpura 3 forte 7
muito precoce 1
precoce 3
11. Folha: ondulação das ausente 1 31. Ciclo até maturação (mais
| | médio 5 | |
bordas presente 9 do 50% dos frutos maduros)
tardio 7
muito tardio 9
fraca 3 precoce 3
12. Folha: intensidade da 32. Ciclo até primeira produção
média 5 | | médio 5 | |
ondulação das bordas após plantio
forte 7 tardio 7
baixa 3
13. Folha: profundidade da
média 5 | | Informações adicionais
nervura secundária
alta 7
ausente 1 baixa 3
33. Ramo: intensidade da
14. Folha: domácia parcialmente desenvolvida 2 | | média 5 | |
ramificação plagiotrópica
bem desenvolvida 3 alta 7
baixa 3
15. Folha: pubescência na ausente 1 34. Ramo ortotrópico:
| | média 5 | |
domácia presente 9 quantidade
alta 7
16. Inflorescência: baixa 3 baixa 3
35. Ramo ortotrópico:
quantidade por axila média 5 | | média 5 | |
flexibilidade
foliar alta 7 alta 7
baixa 3 seca 3
17. Flor: quantidade por 36. Fruto: suculência do
média 5 | | média 5 | |
inflorescência mesocarpo (fruto maduro)
alta 7 suculenta 7
baixo 3
fértil 1
18. Flor: pólen | | 37. Fruto: teor de cafeína médio 5 | |
estéril 2
alto 7
auto-compatível 1 baixo 3
38. Semente: peso de 100
19. Flor: compatibilidade parcialmente compatível 2 | | médio 5 | |
sementes (11% de umidade)
auto-incompatível 3 alto 7
muito pequeno 1
pequeno 3
20. Fruto: tamanho médio 5 | |
grande 7
muito grande 9
Origem, Dispersão Geográfica, Taxonomia e Diversidade Genética de Coffea canephora 97
Figura 6. Variabilidade fenotípica encontrada nos acessos do Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de Coffea canephora
do Incaper, Marilândia/ES.
98 Café Conilon – Capítulo 4
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS coffee, oil palm, cotton and ruber. Roma: IBPGR,
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importantes para o melhoramento das espécies CARVALHO, A. Distribuição geográfica e
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naturais e a vulnerabilidade das coleções de referência especial à espécie Arabica. Separata dos
germoplasma ex situ são ameaças consideráveis boletins da superintendência de serviços de café.
à integridade desse patrimônio. A conservação, Campinas, SP: IAC, dez. 1945 a abr. 1946.
a ampliação e a caracterização das coleções CARVALHO, A.; FAZUOLI, L. C. Café. In: FURLANI,
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por cultivares melhoradas geneticamente e of coffee. In: CLIFFORD, M. N.; WILLSON, K. C. (Eds.)
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Origem, Dispersão Geográfica, Taxonomia e Diversidade Genética de Coffea canephora 101
5
Aspectos Fisiológicos
do Café Conilon
Cláudio Pagotto Ronchi e Fábio Murilo DaMatta
SILVEIRA; CARVALHO, 1996), onde se concentra Em lavouras irrigadas continuadamente, por sua
grande número de lavouras de café conilon deste vez, o padrão de crescimento dos ramos plagio-
Estado. Em razão da ocorrência frequente de trópicos de plantas clonais diferencia-se consi-
veranicos durante a estação chuvosa e de um deravelmente daquele de lavouras não irrigadas.
período seco relativamente longo, que se estende Sob irrigação, a taxa de crescimento dos ramos
geralmente de maio a setembro, os cafezais da laterais, que é mínima em julho (0,03 cm dia-1),
região norte são normalmente cultivados sob aumenta já em agosto (0,08 cm dia-1) e setembro
irrigação, prática que afeta, como será discutido (0,17 cm dia-1), diferentemente da não irrigada, e
a seguir, o crescimento da parte aérea. Nessa atinge taxas máximas em outubro (0,33 cm dia-1).
região, em lavouras clonais não irrigadas, a taxa A partir desse ponto, as taxas de crescimento as-
de crescimento do ramo plagiotrópico é baixa nos semelham-se às daquelas de lavouras não irriga-
meses de junho a setembro (0,03 cm dia-1); aumenta das (SILVEIRA, 1996; SILVEIRA; CARVALHO, 1996).
com o início das chuvas e atinge valores máximos Como será apresentado a seguir, a manutenção
em outubro (0,40 cm dia-1); reduz-se em dezembro de uma maior área foliar em lavouras irrigadas,
(0,20 cm dia-1) e atinge valores mínimos em fevereiro em comparação àquela de lavouras não irrigadas,
pelas altas temperaturas; aumenta ligeiramente no final do período seco (SILVEIRA; CARVALHO,
em março/abril (0,08 cm dia-1) e, a partir de maio, 1996), poderia explicar, em parte, as diferenças
retorna aos valores mínimos (SILVEIRA, 1996; nas taxas de crescimento dos ramos observadas
SILVEIRA; CARVALHO, 1996). Portanto, no período após o período seco. Tomados em conjunto, es-
seco e de temperaturas mais amenas, as taxas ses dados indicam que o atraso (de aproximada-
de crescimento são baixas, enquanto no período mente dois meses) no restabelecimento do cres-
chuvoso e de temperaturas mais elevadas, porém cimento dos ramos plagiotrópicos em lavouras
não extremas, as taxas de crescimento são elevadas. não irrigadas, comparadas às irrigadas, pode ser
Com efeito, Partelli et al. (2010, 2013) observaram em parte compensado, nas últimas, por uma taxa
que, além de apresentar variações clonais, as de crescimento 20% superior em outubro, mês
taxas de crescimento do café conilon variaram em que o desenvolvimento dos ramos é mais in-
sazonalmente, correlacionando-se fortemente tenso (crescimento compensatório). Em outras
com as temperaturas mínimas: apresentaram-se palavras, apesar de a duração da estação de cres-
reduzidas sob temperaturas mínimas abaixo de cimento de ramos laterais nas lavouras irrigadas
17°C (entre junho e agosto) e maiores quando as ser maior (julho a fevereiro) que nas não irrigadas
temperaturas variaram entre 17° e 31,5°C (média (setembro a fevereiro, dependendo das chuvas),
das temperaturas mínimas e máximas). Ademais, as taxas máximas de crescimento são observadas
aqueles autores verificaram que ramos com carga nas lavouras não irrigadas. Em todo o caso, esses
pendente apresentaram menor crescimento que dados permitem concluir que a disponibilidade
aqueles mais jovens. Em todo o caso, destaca-se hídrica, e não a temperatura, tem grande impor-
o papel importantíssimo das primeiras chuvas tância no restabelecimento do crescimento dos
após o período seco para o início do crescimento ramos plagiotrópicos após a estação seca. Infor-
propriamente dito dos ramos plagiotrópicos. mações dessa natureza revestem-se de grande
É necessário registrar, contudo, que as taxas importância, pois devem ser consideradas para
de crescimento de ramos do café conilon ora a otimização do manejo das fertilizações e das
apresentadas não são valores fixos, podendo variar podas em razão da utilização ou não da irrigação.
não só com os clones e idade do ramo (PARTELLI
Em se tratando da época de formação de folhas per
et al., 2013), mas também em razão das variações
se, da sua taxa de expansão ao longo do ano, assim
temporais das condições ambientes, sobretudo as
como dos fatores que a afetam, até o momento,
climáticas, do nível tecnológico e dos tratos culturais
para o cafeeiro conilon, nenhum estudo foi
empregados em cada lavoura. Todavia, a variação
publicado. Todavia, a exemplo do que se verifica em
da época de poda, seja ela realizada imediatamente
café arábica, acredita-se que a produção de folhas
após a colheita ou mais tardiamente, parece
em café conilon esteja associada intimamente com
não afetar as taxas de crescimento dos ramos
o crescimento dos caules, particularmente dos
plagiotrópicos (MORAIS et al., 2012a).
ramos plagiotrópicos, haja vista que os primórdios
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 105
foliares resultam diretamente da atividade da gema que passa a ser constituída basicamente pelo exces-
apical de cada ramo lateral (RENA; MAESTRI, 1985). so de ramos ortotrópicos, que se tornam fortes dre-
Portanto, a produção de folhas no café conilon, nos por fotoassimilados. Como não há crescimento
que tem relação direta com a formação de nós compensatório, principalmente em área foliar, o vi-
nos ramos laterais, provavelmente segue o mesmo gor das lavouras se reduz gradualmente e, da mes-
padrão de crescimento supradescrito para os ramos ma forma, a produtividade. Tomadas em conjunto,
plagiotrópicos, ou seja, é intensa na primavera/ essas informações indicam, de forma contunden-
verão e mínima no outono/inverno. Ademais, te, a importância e a necessidade de realização da
é provável, ainda, assim como ocorre no café poda na lavoura de café conilon (BRAGANÇA, 2005).
arábica (RENA; MAESTRI, 1985), que tanto a taxa de
crescimento como a área final da folha dependam
da época em que se verifica a expansão, de forma
que folhas formadas no início da estação chuvosa
3 SISTEMA RADICULAR
e quente apresentam maior taxa de crescimento Informações sobre a fisiologia do sistema radicular
e maior área final que folhas formadas no final da do cafeeiro são, sobremodo, incipientes se compa-
estação chuvosa, sob temperaturas mais amenas. radas ao volume de informações atualmente dispo-
De qualquer forma, independentemente da nível para a parte aérea. Essa escassez de pesquisa
época de formação, a queda de folhas de plantas deve-se, em grande parte, às dificuldades para
de café conilon intensifica-se no final da época acessar o sistema radicular em condições naturais.
seca, coincidindo com o período de colheita/pós- Registre-se, ainda, que informações sobre o cresci-
colheita e de maior ação dos ventos e é afetada mento de raízes do café conilon são bem mais es-
fortemente pela irrigação, conforme observado por cassas que as disponíveis para o café arábica. De
Silveira (1996) e Silveira e Carvalho (1996). Esses qualquer forma, recomenda-se a revisão de Rena e
autores verificaram reduções de aproximadamente DaMatta (2002), na qual se discutem, de forma deta-
60% no número de folhas por nó, no período de lhada, vários aspectos relacionados à morfologia e
maio a setembro, em lavouras não irrigadas e ecofisiologia do sistema radicular do cafeeiro.
de apenas 33% durante o mesmo período, em
Apesar de existirem relatos na literatura de que a
lavouras irrigadas. Além disso, constataram maior
maior robustez do café robusta esteja associada à
longevidade foliar na lavoura irrigada.
maior extensão e eficiência de seu sistema radicular,
O crescimento do cafeeiro conilon (planta inteira) tanto na absorção de água como de nutrientes, o
foi avaliado por Bragança (2005), com base na pro- sistema radicular do café conilon apresenta alta
dução de massa seca total ao longo de seis anos, em plasticidade em resposta a diversos fatores. Logo, sua
lavoura formada a partir da cultivar clonal ‘Emcapa morfologia, arquitetura, profundidade e distribuição
8111’ (clone 02) e conduzida em livre crescimento, no solo, assim como ocorre no café arábica, pode
em Marilândia/ES. Verificou-se que: (i) o crescimen- depender da idade da planta (BRAGANÇA, 2005), do
to absoluto aumentou progressivamente até atin- tipo de irrigação e do manejo nutricional adotados
gir 15,9 kg planta-1, no 72º mês após o plantio; (ii) (BARRETO et al., 2006), da relação entre fonte e
a taxa de crescimento absoluto aumentou, de 0,14 dreno (ALVES et al., 2011), do método de formação
kg mês-1, no 3º mês, até 1,08 kg mês-1, no 48º mês, de mudas, i.e., se propagadas vegetativamente ou
diminuindo, a seguir, até alcançar 0,46 kg mês-1, no a partir de sementes (JESUS; CARVALHO; SOARES,
72º mês; (iii) a taxa total de crescimento relativo di- 2006; PARTELLI et al., 2006, 2014b; SILVA et al., 2010),
minuiu progressivamente com a idade, variando de das características químicas do solo (MOTA et al.,
0,21 kg kg-1 mês-1, no 3º mês, a 0,03 kg kg-1 mês-1, 2006), da calagem em subsuperfície (RODRIGUES et
no 72º mês, provavelmente por decréscimos na taxa al., 2001), das práticas culturais (RENA; GUIMARÃES,
assimilatória líquida e na razão de área foliar; e (iv) 2000; RENA; DaMATTA, 2002), da competição e das
o cafeeiro conilon apresentou padrão sigmoidal de espécies de plantas daninhas (RONCHI; TERRA;
crescimento. Esses resultados sugerem que, com o SILVA, 2007), da densidade de plantio (CASSIDY;
envelhecimento da lavoura, estabelece-se gradu- KUMAR, 1984; RONCHI et al., 2015b); e do material
almente um desequilíbrio entre a área foliar (asso- genético (ALFONSI et al., 2005; BRAGANÇA, 2005;
ciada à fotossíntese) e a massa seca total da planta, PINHEIRO et al., 2005; SILVA et al., 2010; COVRE et al.,
106 Café Conilon – Capítulo 5
2013; RONCHI et al., 2015b). De certa forma, a estrutura e a distribuição das raízes
do café conilon são semelhantes àquelas do café ará-
Trabalhos recentes, realizados ao longo de vários
bica (RENA, 1998; RENA; DaMATTA, 2002; RONCHI et
anos no Município de Vila Valério, região norte
al., 2015b). Entretanto, ao se avaliar o sistema radicular
do Espírito Santo produtora de café conilon,
de uma lavoura de conilon, cultivada no espaçamento
apontaram que, apesar de a produtividade de
de 2,0 x 1,0 m, Partelli et al. (2014b) constataram que
plantas propagadas por estacas ser maior que
o comprimento e o volume de raízes por unidade
aquelas propagadas por sementes, ambas as
de solo foram maiores na região do solo, sob a copa,
formas de propagação originaram sistemas
voltada para a entrelinha (onde as adubações de solo
radiculares semelhantes (PARTELLI et al., 2006,
eram feitas), em comparação aos valores medidos en-
2014b). Portanto, o sistema radicular do café
tre plantas na linha. De forma contrária, em café ará-
conilon, principalmente as raízes absorventes
bica, Ronchi et al. (2015b) mostraram que a 0,25 m do
(menores que 1,0 mm de diâmetro), avaliado por
tronco e, sobretudo, entre plantas adjacentes na linha
meio da área, comprimento e volume de raízes
de plantio, para diferentes espaçamentos de cultivo,
por volume de solo, seja em plantas oriundas
é a região do solo onde se concentra o sistema radi-
de propagação vegetativa ou seminífera,
cular do cafeeiro (terceira safra), provavelmente, em
concentra-se na camada superficial do solo: de
decorrência da presença do sistema de fertirrigação
40% a 50% até 0,1 m e de 60% a 65% até 0,2 m
nessa posição. De qualquer forma, a distância efetiva
de profundidade (Figuras 1 e 2), com padrão
do sistema radicular de C. canephora cv. Apoatã não
marcante de redução, à medida que se aprofunda
ultrapassa 0,8 m do tronco, no sentido da entrelinha
no perfil do solo (PARTELLI et al., 2006; 2014b).
(BARRETO et al., 2006).
Essa redução é explicada, parcialmente, pela
menor concentração de alguns macronutrientes Mesmo diante do fato de que a irrigação permite a
em profundidade (PARTELLI et al., 2014b). Em formação de mudas clonais com um sistema radicular
todo o caso, na principal região produtora de café mais vigoroso (Figura 3), é preciso considerar que a
conilon do norte do Estado do Espírito Santo, em irrigação afeta o padrão de crescimento radicular,
que predomina solo do tipo Latossolo Vermelho reduzindo a profundidade de penetração da raiz
Amarelo distrófico (LVd11), com presença pseudopivotante e estimulando o desenvolvimento
de camada adensada subsuperficialmente, de raízes primárias e secundárias nas camadas mais
o sistema radicular pode concentrar-se na superficiais do solo (RENA, 1998). Com efeito, em
camada de 0-0,45 m de profundidade, apesar de lavouras adultas de diferentes cultivares de café
uma pequena quantidade de raízes conseguir arábica, cultivadas sob fertirrigação no cerrado
penetrar a camada adensada (SILVA et al., dados mineiro, a abundância de raízes por volume de solo
não publicados) (Figura 1). é maior a 0,1 m que a 0,2 m ou 0,4 m de profundidade
para vários arranjos de plantas na linha de cultivo
(RONCHI et al., 2015b). Não obstante, esses mesmos
autores verificaram que a redução no espaçamento,
entre plantas, na linha promoveu aumento na
massa de matéria seca, comprimento, volume e
área superficial total de raízes por volume de solo,
sem alterar o comprimento e a superfície específica
de raízes e sem aprofundar o sistema radicular.
Assim, os resultados obtidos em café arábica por
Ronchi et al. (2015b) corroboram e sustentam
os argumentos de Guarçoni M. (2011), de que o
aumento na densidade de plantas em lavouras
de café conilon não precisa necessariamente ser
Figura 1. Sistema radicular do cafeeiro conilon em lavoura
adulta, em solo do tipo Latossolo Vermelho acompanhado de uma elevação proporcional na
Amarelo distrófico com presença de camada aplicação de fertilizantes por área. Isso porque a
adensada, Linhares/ES. maior abundância ou distribuição quantitativa de
Foto: José Geraldo F. da Silva. raízes por volume de solo, em cafeeiros adensados,
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 107
pode compensar um menor input de fertilizantes. capixaba, é a formação de mudas a partir de estacas
Tomados em conjunto, esses resultados (clones) mantidas por longos períodos em tubetes.
podem explicar, pelo menos em parte, as altas Nesse caso, verificam-se raízes mal-formadas e
produtividades obtidas em lavouras de café conilon raquíticas (Figura 4). Essas mudas quando levadas
cultivadas em sistemas mais adensados, conforme ao campo, apresentam-se com raízes enoveladas,
se discute no capítulo 11 deste livro. superficiais e deformadas (Figura 5). No longo
prazo, observam-se redução da absorção de água
Outro fator que pode afetar a qualidade do sistema
e de nutrientes e morte de plantas, principalmente
radicular do café conilon e que, no passado,
em anos de carga intensa (RENA, 1998).
constituiu-se em grandes problemas à cafeicultura
Figura 2. Sistema radicular do cafeeiro conilon (clone 02) em lavoura adulta, na Fazenda Experimental de Marilândia/ES.
Fotos: José Antônio Lani.
B1
A1 A2
B2
Figura 4. Sistemas radiculares de mudas clonais de cafeeiro conilon produzidas pelo processo de tubetes ou
diretamente na sacola. Muda formada em tubete (A1); muda formada diretamente na sacola (A2); muda
formada diretamente na sacola (B1); e muda formada em tubete (B2).
Fotos: A1 e A2 Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca; B1 e B2 Alemar Braga Rena.
A B
Figura 5. Sistemas radiculares de mudas clonais de cafeeiro conilon aos 12 (A) e 36 meses (B), originados de mudas
feitas em tubetes e transferidas, tardiamente, para sacolinhas.
Fotos: Alemar Braga Rena.
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 109
Erroneamente, o termo floração muitas vezes é na gema durante sua diferenciação, dormência e nos
usado para designar apenas a abertura das flores de momentos que antecedem a florada. Mesmo para
café (antese). Entretanto, a antese representa apenas o arábica, o processo de floração não é conhecido
uma (a última) das várias fases da floração. Segundo em profundidade (BARROS; MAESTRI; COONS, 1978;
Rena e Barros (2004), esse processo complexo RENA; BARROS; MAESTRI, 2001; RENA; BARROS,
pode ser dividido em quatro fases: (i) iniciação; (ii) 2004; DaMATTA; CAVATTE; MARTINS, 2012).
diferenciação; (iii) período de dormência do botão
O desenvolvimento do botão floral em café conilon,
floral; e (iv) abertura da flor ou florada. Após as
do período final de dormência até a antese, foi
duas primeiras fases, a gema seriada, que poderia
estudado em Linhares, em lavouras conduzidas
dar origem a um ramo ou a uma inflorescência,
com e sem irrigação apesar de as avaliações terem
passa de vegetativa a reprodutiva, levando,
sido iniciadas tardiamente (segunda quinzena de
irreversivelmente, à formação da inflorescência
junho), poucas semanas antes da antese, quando
(RENA; MAESTRI, 1985; RENA; BARROS; MAESTRI,
os botões florais estavam totalmente diferenciados,
2001; RENA; BARROS, 2004). Para o café conilon,
porém bem visíveis a olho nu (SILVEIRA; CARVALHO,
particularmente, os eventos associados às fases
1996). Nesse caso, foram definidos quatro
iniciais da floração são totalmente desconhecidos.
estádios de desenvolvimento de botões florais:
Na literatura, há menção a apenas um trabalho,
achatado, ovalado de coloração verde, ovalado
realizado há aproximadamente seis décadas, em
de coloração verde-clara e flor propriamente dita.
que se estudou a morfogênese ou morfologia de
Além disso, o número de botões por nó, em cada
gemas de C. canephora cv. Robusta (MOENS, 1968,
estádio, foi avaliado em várias épocas. Verificou-
apud BARROS; MAESTRI; COONS, 1978). Verificou-se
se que a irrigação atrasou o desenvolvimento do
que o primórdio floral com altura inferior a 0,3 mm
botão floral em relação àquele observado em
ainda não havia sofrido diferenciação, que ocorreu
lavouras não irrigadas: (i) aos 60 dias antes da
somente quando o ápice cônico e proeminente
florada, as plantas não irrigadas apresentavam a
do meristema tornou-se largo e achatado.
mesma porcentagem (~50%) de botões florais no
Externamente, a olho nu, a constatação de estípulas
estádio achatado e ovalado de coloração verde,
completamente comprimidas ao ramo lateral e
ao passo que a porcentagem de cada um desses
de que o nó não mostra qualquer alargamento
estádios nas plantas irrigadas era de 66% e 33%,
acima delas indica que a gema floral ainda não
respectivamente; (ii) aos 30 dias antes da florada,
está diferenciada floralmente (MOENS, 1968, apud
nas plantas sem irrigação, os únicos estádios de
BARROS; MAESTRI; COONS, 1978).
botões florais presentes nos nós eram praticamente
Os botões florais, após passarem por um período de flores (poucas) e, predominantemente, botões
dormência, tornam-se sensíveis ou fisiologicamente ovalados de coloração verde-clara; todavia, nas
maduros e reagem aos estímulos externos plantas irrigadas, nessa mesma época, havia
desencadeadores de um rápido crescimento, que aproximadamente 5% de botões achatados, 25%
dura cerca de dez dias, levando à abertura das de botões ovalados de coloração verde e 60% de
flores. Em condições naturais, a florada em café botões de coloração verde-clara; (iii) durante a
é provocada pelas primeiras chuvas da estação florada, verificaram-se apenas flores nos nós das
após um período de seca (BARROS; MAESTRI; plantas não irrigadas, enquanto nas irrigadas,
COONS, 1978; RENA; BARROS; MAESTRI, 2001), que além de flores, 20% dos botões florais ainda
ocorre, geralmente, em lavouras de conilon não estavam dormentes. Consequentemente, Silveira e
irrigadas do Espírito Santo, em agosto/setembro. É Carvalho (1996) constataram que, apesar do maior
importante ressaltar, entretanto, que informações número de glomérulos por axila foliar, as plantas
acerca dos fatores luz, temperatura, disponibilidade irrigadas apresentaram menor número de flores por
hídrica, chuvas, relação carbono/nitrogênio, níveis glomérulo que as plantas não irrigadas. Tomados
de carboidratos, carga de frutos e hormônios, em conjunto, esses dados sugerem, a exemplo do
que supostamente regulam as diferentes fases que ocorre com o café arábica (BARROS; MAESTRI;
da floração, são praticamente desconhecidos em COONS, 1978; RENA; BARROS; MAESTRI, 2001;
café conilon, assim como os eventos de natureza DaMATTA et al., 2007), que um período seco pode
bioquímica, fisiológica e morfológica, que ocorrem contribuir para a maturação mais concentrada e
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 111
antecipada dos botões florais de café conilon, com brasileira, a região norte capixaba), o manejo da
a concentração, no tempo, da florada. irrigação durante o período pré-florada pode ser
a chave para obterem-se floradas concentradas.
A aplicação de deficit hídrico controlado pela
4.1.1 Concentração da florada pela imposição de suspensão da irrigação, num período específico
deficit hídrico que antecede a abertura das flores, contribui para a
Um problema importante relacionado à produção concentração da florada. Isso está associado ao fato
de café conilon (assim como na de café arábica) de que o deficit hídrico permite que maior número
refere-se à grande variação nas porcentagens de de gemas florais (aquelas mais atrasadas) complete
grãos cerejas, verdes, passas ou secos, comumente os eventos morfológicos e fisiológicos necessários
verificada por ocasião da colheita (THOMAZINI et à sua completa maturação. Logo, mais gemas em
al., 2011). Essa desuniformidade de maturação dos toda a planta estarão aptas a se abrir de uma única
frutos, além de causar inúmeros prejuízos diretos ou vez, em resposta à chuva ou ao retorno da irrigação,
indiretos (RENA; BARROS, 2004; GUERRA et al., 2006; levando ao que popularmente se denomina de
DaMATTA et al., 2007), compromete a qualidade concentração da florada no tempo (DaMATTA et al.,
final do café, sobretudo quando a porcentagem 2007).
de grãos verdes aumenta e a de cereja diminui É possível, portanto, conseguir maior porcentagem
(THOMAZINI et al., 2011). Além disso, a colheita de de grãos cerejas em lavouras submetidas ao deficit
grãos verdes, ainda não granados, pode acarretar hídrico, em comparação à daquelas irrigadas
quedas significativas de renda do café (perda continuadamente (MATIELLO et al., 2010; RONCHI
de peso) (MATIELLO, 1998; SOUZA; SANTOS; et al., 2015a). Infelizmente, a implementação do
VENEZIANO, 2005; MATIELLO et al., 2010). deficit hídrico adequado, em condições de campo,
Nas regiões não equatoriais em que comumente é tarefa difícil, de forma que a definição da época
o cafeeiro conilon é cultivado, como, por exemplo, ou momento adequado para a sua imposição é
no norte do Estado do Espírito Santo e sul da Bahia, um dos aspectos de maior controvérsia acerca
a desuniformidade de maturação dos frutos é da concentração de florada no Brasil (SOARES et
praticamente inevitável, uma vez que ocorrem várias al., 2005). De qualquer forma, estabelecer datas
floradas no período de julho a novembro. Isso se dá fixas do calendário para suspender e retomar a
por dois fatores principais (DaMATTA et al., 2007): irrigação, sem aferir o nível de deficit e o estádio
i) a iniciação e diferenciação de cada gema floral, do botão floral, como proposto por Guerra, Rocha
que são as primeiras fases do processo de floração e Rodrigues (2005) para o café arábica, carece de
do cafeeiro (verificadas no final do verão/início maior comprovação científica (RONCHI et al., 2015a).
do outono), não ocorrem no mesmo momento. Apesar desse método (uso de datas fixas) ser
Consequentemente, nas fases finais da floração, as de fácil implantação pelos produtores, no que
gemas ficarão maduras ou aptas para responder concerne ao manejo da irrigação, mesmo para as
ao estímulo de abertura da flor em momentos regiões com estação seca bem definida, diversos
diferentes; ii) a ocorrência de chuvas esporádicas, fatores como características do solo, temperatura
muitas vezes de baixa intensidade, durante as e umidade relativa do ar e suas variações diárias,
fases finais do desenvolvimento do botão floral deficit de pressão de vapor, índice de área foliar
(geralmente em agosto), leva à abertura daquelas do cafeeiro, espaçamento e orientação de plantio,
poucas gemas maduras, geralmente originando idade da planta e arquitetura de copa, clones e
floradas fracas e esparsas. cultivares, profundidade do sistema radicular,
Os fatores (genético e climático) anteriormente entre outras, afetam a taxa de perda d’água pelas
discutidos são de difícil controle, particularmente plantas (DaMATTA et al., 2007; SILVA et al., 2009)
nas lavouras não irrigadas. Todavia, nas lavouras e, consequentemente, o tempo necessário para
irrigadas, sobretudo naquelas regiões em que se atingir o nível de deficit desejado e adequado à
predomina uma estação seca bem definida, entre abertura floral para uma dada lavoura (SOARES et
maio e setembro (como comumente ocorre al., 2005; RONCHI et al., 2015a).
na principal região produtora de café conilon Para fundamentação teórica mais detalhada acerca
112 Café Conilon – Capítulo 5
dos aspectos fisiológicos relacionados à aplicação pelos autores, foi o fato de que o tratamento
do deficit hídrico para concentração da florada, sob irrigação contínua também proporcionou
recomenda-se a leitura de DaMatta et al. (2007) e elevada porcentagem de flores (94%), semelhante
Ronchi et al. (2015a). Ressalta-se, entretanto, que à daquela de plantas sob deficit hídrico por mais
quase a totalidade de trabalhos publicados na de sete semanas. Provavelmente, essa florada
última década sobre esse tema (ver referências em originou-se após uma chuva ocorrida em fins de
Ronchi et al., 2015a) refere-se à espécie C. arabica, setembro, que quebrou a dormência dos botões
e os resultados descritos são muito variáveis em florais fisiologicamente maduros, mas mantidos sob
função da diversidade de condições experimentais elevado potencial hídrico, pela alteração repentina
de cada trabalho. Para o conilon, apenas poucos nos componentes climáticos atmosféricos levando-
trabalhos de cunho científico foram recentemente os à antese, como também verificado e discutido
realizados, todos na região norte do Estado do recentemente para o café arábica (RONCHI et al.,
Espírito Santo, cujos principais resultados são 2015a).
descritos a seguir.
Em São Mateus/ES, Souza et al. (2014) avaliaram
No Município de Jaguaré/ES, Marsetti et al. (2013) a uniformidade de maturação de frutos de nove
avaliaram os efeitos de diferentes períodos de sus- clones da cultivar Vitória Incaper 8141 em resposta à
pensão da irrigação (por aspersão) na uniformidade suspensão da irrigação no período de 16/06 a 15/08
da florada do clone 02, com cinco anos de idade. (60 dias), portanto, na pré-florada. Apesar de que
Além do tratamento irrigado ininterruptamente, aparentemente essa época não tenha sido a mais
aqueles autores testaram a suspensão da irrigação adequada para a imposição do deficit hídrico, devido
por 3, 5, 7, 9 ou 12,5 semanas, a partir de 5 de julho, à precocidade do desenvolvimento do botão floral,
sendo a contagem de flores realizada no décimo dia conforme discutido anteriormente, para Marsetti
após o fim de cada período, ou seja, dez dias após et al. (2013), a porcentagem média de cerejas,
o retorno da irrigação. Constataram, então, que a considerando todos os clones avaliados, aumentou
porcentagem de flores (ou intensidade da florada) significativamente de 71%, no tratamento sob
foi de 14%, 14%, 57%, 96% e 97%, respectivamente, irrigação contínua, para 76% naqueles tratamentos
para aqueles tratamentos com períodos de suspen- com aplicação de deficit hídrico. Entretanto, essa
são da irrigação, sem observarem qualquer efeito resposta positiva de aumento da porcentagem de
destes sobre o crescimento dos ramos plagiotró- cerejas, em detrimento aos outros estádios avaliados
picos. Isso indica, portanto, um efeito positivo da (verdes e secos), foi verificada apenas em seis dos
interrupção da irrigação na concentração da flora- nove clones avaliados. Ademais, a intensidade da
da do conilon. Apesar de não terem quantificado resposta variou levemente entre esses seis clones.
o nível de deficit hídrico atingido ao final de cada Dessa forma, além de se caracterizar um efeito
período, o que seria primordial para a explicação discreto do deficit hídrico sobre a uniformidade
dos resultados (RENA; BARROS, 2004; RONCHI et al., de maturação dos frutos do café conilon, pode-se
2015a), Marsetti et al. (2013) concluíram que a baixa sugerir que essa resposta exibe variações clonais,
porcentagem de flores verificadas após três, cinco o que é explicável considerando-se que clones de
ou mesmo sete semanas de suspensão da irrigação conilon atingem diferentes níveis de deficit hídrico
ocorreu, pois o deficit hídrico foi aplicado em épocas após um mesmo período de suspensão da irrigação,
inadequadas, quando a maioria dos botões florais em decorrência das suas diferentes taxas de perda
ainda não estavam fisiologicamente maduros. E isso d´água (PINHEIRO et al., 2005; SILVA et al., 2013).
é uma das principais causas do insucesso do uso do Além disso, há o fato de que a magnitude do deficit
deficit hídrico para concentração da florada do cafe- hídrico é fator determinante para a quebra da
eiro, como constatado para o café arábica (CRISOS- dormência dos botões florais maduros (RONCHI et
TO; GRANTZ; MEINZER, 1992; SOARES et al., 2005; al., 2015a).
BOMFIM NETO, 2007; SILVA et al., 2009; RONCHI et
Considerando em conjunto as informações
al., 2015a).
apresentadas até aqui, há praticamente um
Um resultado relevante encontrado por Marsetti consenso para o arábica e, agora, para o conilon
et al. (2013) para o conilon, porém não discutido de que o estádio de desenvolvimento do botão
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 113
floral e o nível de deficit hídrico do cafeeiro, ambos expansão rápida dos frutos, cujas causas prováveis
associados às condições climáticas predominantes são citadas e/ou discutidas por Rena, Barros e
nas fases finais da floração, sejam os principais Maestri (2001) e Ronchi et al. (2005).
critérios a serem considerados para suspensão
O período de crescimento ou desenvolvimento dos
e retomada da irrigação, visando ao sucesso na
frutos é geralmente dividido, em café arábica, em
concentração da florada. A ocorrência de uma
cinco fases: fase 1 - chumbinho; fase 2 - expansão
estação seca bem definida favorece a aplicação do
rápida; fase 3 - formação do endosperma; fase 4 -
deficit hídrico nas lavouras irrigadas, garantindo
endurecimento do endosperma (granação); e fase 5 -
floradas e maturação dos frutos mais uniformes
maturação dos frutos. Essa divisão também pode ser
e, consequentemente, melhoria na qualidade do
aplicada ao café conilon. O padrão de crescimento
café (SOUZA et al., 2014). Não obstante, outras
segue, na maioria das vezes, um modelo sigmoidal
vantagens secundárias da interrupção da irrigação
duplo (LEON; FOURNIER, 1962; SALAZAR-GUTIÉRREZ
são a economia de água, energia elétrica e mesmo
et al., 1994), mas pode variar, dependendo das
de mão de obra (MARSETTI et al., 2013), podendo,
condições climáticas e da altitude (LAVIOLA et
portanto, reduzir significativamente o custo de
al., 2007), das variáveis utilizadas para medir o
produção do conilon.
crescimento do fruto (e.g., comprimento, diâmetro,
Apesar dessas poucas evidências científicas, volume, massas seca e fresca), da frequência de
conclui-se que a técnica para concentração de medições, dos modelos estatísticos e das espécies
florada do conilon pela sua exposição ao deficit (WORMER, 1964; SALAZAR-GUTIÉRREZ et al., 1994).
hídrico é perfeitamente viável, todavia, não existe Em café robusta, por exemplo, existem divergências
recomendação padrão ou receita acabada. Assim, quanto ao tipo de curva utilizado para caracterizar
faz-se mister monitorar o clima e fazer pesquisas o crescimento de frutos nos poucos trabalhos
aplicadas em cada situação para se definir, com publicados com essa espécie, no mundo (DANCER,
precisão local, o melhor momento de aplicação do 1964; RAMALAH; VASUDEVA, 1969; OYEBADE, 1976;
deficit hídrico (e sua magnitude), sem comprometer SRINIVASAN; RAJU; VISHVESHWARA, 1978), apesar
o crescimento, a produtividade e a longevidade da de Rena, Barros e Maestri (2001) sugerirem que o
lavoura de conilon. padrão sigmoidal seja comum a ambas as espécies,
café arábica e robusta. Especificamente para o café
conilon, Silveira (1996) verificou que o crescimento
4.2 FRUTIFICAÇÃO de frutos, com base no acúmulo de massa seca,
Após a abertura das flores, inicia-se a fase seguiu o modelo sigmoidal duplo, quando cultivado
de frutificação do cafeeiro, na qual ocorre o sem irrigação, e o sigmoidal simples, quando
pegamento, o desenvolvimento e a maturação dos irrigado. Recentemente, Partelli et al. (2014c)
frutos. O pegamento final de frutos de café conilon, encontraram um padrão sigmoidal simples para o
avaliado como a percentagem de frutos de café acúmulo de matéria seca de frutos de café conilon
presentes nos ramos após a florada em relação ao de maturação precoce (clone 12 V), intermediária
número inicial de flores, foi de aproximadamente (clone 10 V) e tardia (clone 13 V). Ademais, de forma
30% para plantas não irrigadas ou irrigadas geral, pode-se afirmar que a curva de acúmulo de
continuamente, ao passo que a maior taxa de queda macronutrientes pelos frutos desses clones seguiu
de frutos ocorreu no final da fase chumbinho e, um padrão similar ao daquele da matéria seca.
principalmente, durante a fase de expansão rápida Atualmente, a grande maioria das lavouras de café
dos frutos (SILVEIRA; CARVALHO, 1996). De forma conilon é formada por cultivares clonais, as quais
semelhante, verificou-se, em café conilon, que o são compostas por um determinado número de
número médio inicial de 24 chumbinhos por roseta clones. Algumas dessas cultivares distinguem-se
reduziu-se para aproximadamente 15 frutos-cereja entre si fenotipicamente, basicamente, pela época
por roseta, evidenciando uma queda de 38% de de maturação dos frutos, ou seja, os frutos de todos
frutos nesse período (Figura 6) (RONCHI; DaMATTA; os clones de uma determinada cultivar completam,
SERRANO, 2006). Além disso, essa queda ocorreu simultaneamente, sua maturação, que pode ser
preponderantemente durante a fase inicial da precoce, intermediária ou tardia (BRAGANÇA et al.,
114 Café Conilon – Capítulo 5
1993). Portanto, em relação à maturação, existem rápido: da sexta à 16ª semana após a florada –
clones chamados precoces, intermediários e tardios. duração de dez semanas; fase 3 - crescimento
É importante ressaltar, entretanto, que a florada suspenso: da 16ª à 18ª semana após a florada –
desses clones ocorre na mesma época, em agosto/ duração de duas semanas; fase 4 - granação: da
setembro, por ocasião das “chuvas de florada”. 18ª à 28ª semana após a florada – duração de dez
Contudo, o período posterior, da abertura da flor à semanas; e fase 5 - maturação: da 28ª à 36ª semana
completa maturação (e colheita), é diferenciado para após a florada – duração de oito semanas (RONCHI;
cada clone: clone precoce – 34 semanas (colheita DaMATTA; SERRANO, 2006). É importante ressaltar,
em maio), clone intermediário – 41 semanas contudo, que a transição entre fases é um processo
(colheita em junho), clone tardio – 45 semanas contínuo (não abrupto) e, portanto, os limites
(colheita em julho) (BRAGANÇA et al., 1993, 2001). inferiores e superiores ora definidos para cada fase
Resultados recentes também comprovaram essa são valores aproximados.
variação entre clones quanto ao período necessário
Durante a fase de chumbinho, não houve acúmulo
para a completa maturação do fruto, a qual ocorre
de massa fresca (Figura 6A) e massa seca (Figura 6B)
aos 216, 244, 244 e 300 dias após a antese para
e, portanto, a taxa de crescimento foi praticamente
clones de maturação precoce, intermediária, tardia
nula (Figura 6C). Nessa fase, o teor de água do
e supertardia respectivamente (PARTELLI et al.,
fruto (~86,5%; Figura 6D) e o número de frutos
2014c). Mesmo apresentando idêntico padrão
por roseta (Figura 6E) permaneceram inalterados.
(sigmoidal) de crescimento, a duração de cada fase é
Ressalte-se que os frutos nessa fase não podem ser
variável de acordo com o clone analisado (PARTELLI
considerados dormentes, pois apresentam elevada
et al., 2014c). Ressalte-se que a duração de cada fase
taxa de respiração (CANNELL, 1976).
e, consequentemente, o período total necessário
para a completa maturação dos frutos dependem Durante a fase de expansão rápida, a massa fresca
não apenas do material genético, mas da forte do fruto aumentou em aproximadamente 58 vezes
interação entre fatores como altitude, temperatura, (de 0,010 g para 0,580 g; Figura 6A), e a sua massa
disponibilidade hídrica e soma térmica (ou graus- seca em 25 vezes (de 0,003 g para 0,075 g; Figura
dia) (LAVIOLA et al., 2007; PETEK; SERA; FONSECA, 6B), de forma que a taxa de crescimento, que era
2009). de 1,8 mg (massa fresca) por semana, no final da
fase chumbinho, atingiu valores máximos de 124
Estudos sobre o padrão de crescimento dos frutos
mg (massa fresca) por semana (Figura 6C). Tanto o
revestem-se de grande importância científica e
aumento na quantidade de massa seca como na
agronômica, pois a partir das curvas de crescimento
quantidade de água contribuíram simultaneamente
é possível inferir as fases em que a demanda do fru-
para explicar o aumento exponencial verificado na
to (e da planta) por água e nutrientes é mais ou me-
massa fresca do fruto. Todavia, a quantidade de
nos pronunciada. Podendo-se, portanto, otimizar
água aumentou, proporcionalmente, mais que o
o manejo de água e de fertilizantes e, consequen-
aumento da massa seca, de forma que, durante a fase
temente, reduzir custos e aumentar tanto a produ-
de expansão rápida, o teor de água no fruto atingiu
tividade da lavoura como a qualidade dos frutos.
seus valores máximos, superiores a 88% (Figura 6D).
Nesse sentido, trabalho realizado em Sooretama/ES
Nessa fase, provavelmente pela competição entre
buscou determinar o padrão de crescimento de fru-
frutos por espaço na axila da folha, verificou-se a sua
tos de diversos clones de café conilon de maturação
intensa queda chegando, em média, a dez frutos
precoce, intermediária e tardia, cultivados com e
por roseta (Figura 6E).
sem irrigação (RONCHI; DaMATTA; SERRANO, 2006).
Durante a fase 3, ainda houve um pequeno
Considerando que o crescimento do fruto do
aumento na massa fresca e na massa seca do fruto;
café conilon se dá em cinco fases distintas,
entretanto, ocorreu queda acentuada na taxa de
semelhantemente às daquelas para o café arábica,
crescimento relativa e redução discreta no teor de
para cafeeiros de maturação precoce, elas teriam a
água no fruto (Figura 6). Acredita-se, a exemplo do
seguinte duração (Figuras 6 e 7): fase 1 - estádio de
que se verifica em café arábica (WORMER, 1964),
chumbinho: da florada até a sexta semana seguinte
que tanto o pergaminho como o fruto per se atinjam
duração de oito semanas; fase 2 - crescimento
seus tamanhos máximos nessa fase.
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 115
5 RELAÇÕES HÍDRICAS
As folhas do cafeeiro mantêm um elevado teor
relativo de água, mesmo a potenciais hídricos
consideravelmente negativos (DaMATTA et al.,
1993, 2002a; PINHEIRO et al., 2005), provavelmente
um meio de o café conilon evitar, em vez de tolerar,
a dessecação (DaMATTA et al., 1993). Portanto,
sintomas visíveis de murcha na folhagem são raros,
a menos que a umidade do solo seja muito baixa.
O alto teor relativo de água no ponto de perda de
turgescência, usualmente próximo ou superior
a 90%, parece estar largamente associado à alta
rigidez da parede celular. Nesse ponto, os potenciais
hídricos situam-se na faixa de -1,7 a -2,2 MPa em
clones de café conilon irrigados, com valores mais
negativos para clones não irrigados exibindo algum
grau de ajustamento osmótico (aumento líquido na
concentração de solutos do suco celular), conforme
sumariado por DaMatta e Ramalho (2006). No
Figura 6. Variações da massa fresca (A), massa seca (B),
entanto, o ajustamento osmótico, que em algumas taxa de crescimento (C), teor de água (D) e
espécies é associado com maior produtividade sob do número de frutos de café por roseta (E),
condições de seca, não é uma característica geral durante a frutificação de clones (48 e 67) de
observada em café. Ademais, a desidratação foliar café conilon de maturação precoce.
pode desenvolver-se mais rapidamente após a Fonte: Ronchi, DaMatta e Serrano (2006).
Nota: A antese ocorreu no dia 2 de setembro de 2005 (Média ± desvio padrão; n = 12;
suspensão da irrigação em clones exibindo maior MF = massa fresca).
116 Café Conilon – Capítulo 5
Em um experimento com plantas jovens de conilon No entanto, esses autores observaram rápida
cultivadas em vasos, DaMatta et al. (2002a, 2002b) recuperação (1-2 dias) da hidratação foliar e da
observaram que aplicações extras de nitrogênio condutância estomática, que alcançaram valores
não afetaram o comportamento estomático, típicos de cafeeiros irrigados continuamente,
independentemente do status hídrico foliar, mas após reirrigarem clones de conilon severamente
acarretaram aumentos na rigidez da parede celular desidratados. Isso foi acompanhado da
e provocaram ajustamento osmótico, quando as recuperação completa das taxas de fotossíntese
plantas foram submetidas à seca. Conjuntamente, (PINHEIRO; DaMATTA, resultados não publicados).
esses resultados devem produzir menores Concomitantemente, esse comportamento parece
potenciais hídricos na planta, para um dado grau ser de grande importância na determinação
de hidratação, o que favoreceria o aumento da do rápido restabelecimento do crescimento e
eficiência de absorção da água do solo. Resta desenvolvimento da copa do café após períodos
demonstrar se esses efeitos são também observados prolongados de seca e atesta um alto grau de
com plantas no campo. tolerância à seca ao café conilon (DaMATTA; RENA,
2001; DaMATTA; RAMALHO, 2006).
O estômato do café conilon pode responder às
6 MOVIMENTO ESTOMÁTICO E TRANS- variações na demanda evaporativa da atmosfera
PIRAÇÃO independentemente do status hídrico foliar
(PINHEIRO et al., 2005). De modo geral, clones de
Comparativamente, o café conilon apresenta conilon mostram alta sensibilidade estomática
maior densidade estomática, mas com estômatos à demanda evaporativa, mas aparentemente
menores que no café arábica os quais são menor que a das cultivares de arábica (DaMATTA,
predominantemente do tipo paracítico, enquanto 2004a; DaMATTA; RAMALHO, 2006). Essa menor
no conilon predomina o tipo actinocítico sensibilidade estomática do conilon pode estar
(CARVALHO et al., 2001). Em ambas as espécies, o associada a uma maior condutância hidráulica
fechamento estomático tem sido frequentemente do xilema e maior densidade de venação foliar
considerado como o indicador primário do deficit (SILVA; DaMATTA, resultados não publicados), o
hídrico (DaMATTA, 2004a, 2004b). Pinheiro et que favoreceria uma reposição mais rápida da
al. (2005) demonstraram que a condutância água perdida pela transpiração, com consequente
estomática (grosso modo, uma medida da abertura manutenção, por mais tempo, da abertura
do estômato) decresce curvilinearmente com a estomática, garantindo maiores taxas de influxo de
redução da disponibilidade hídrica, sugerindo CO2 e, pois, maiores taxas fotossintéticas ao longo
alta sensibilidade estomática ao desenvolvimento do tempo. Isso pode explicar, pelo menos em parte,
de deficit hídricos na planta de café conilon.
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 117
o porquê de genótipos de conilon responderem em virtude da forte interação entre as respostas dos
melhor à irrigação que os de arábica (DaMATTA, fatores abióticos mencionados, é muito difícil isolar
2004a, 2004b). Salienta-se, contudo, que há clones os seus efeitos. De qualquer modo, aparentemente
de conilon (e.g., 109A) que pouco respondem às a temperatura e o deficit de pressão de vapor,
variações da demanda evaporativa (PINHEIRO et mas não a radiação fotossinteticamente ativa,
al., 2005) e, por essa razão, sofrem desidratação seriam os fatores mais importantes no controle
relativamente rápida em períodos de estiagem, o do comportamento estomático do conilon, desde
que concorre para uma baixa tolerância à seca. No que a irradiância esteja acima de um valor crítico
entanto, a sensibilidade estomática às variações da (DaMATTA, 2004b).
umidade relativa do ar aumenta substancialmente
no clone 109A, quando enxertado sobre o clone
120, assemelhando-se à dos pés-francos do último.
De modo oposto, no clone 120 enxertado sobre o
7 FOTOSSÍNTESE E PRODUTIVIDADE
clone 109A, a sensibilidade estomática à umidade As taxas de fotossíntese líquida do café conilon
relativa diminui (SILVA et al., 2010). Essas respostas são relativamente baixas (DaMATTA; MAESTRI;
estão provavelmente associadas a sinais radiculares BARROS, 1997; DaMATTA et al., 2000; LIMA et al.,
(e.g., ácido abscísico) que estariam envolvidos no 2002; DaMATTA, 2003; PINHEIRO et al., 2004, 2005;
controle das trocas gasosas da parte aérea (SILVA, RONCHI et al., 2005; PRAXEDES et al., 2006; MORAIS
LOUREIRO, DaMATTA, resultados não publicados). et al., 2012b; SILVA et al., 2013) registrando-se, até
De qualquer modo, os resultados de SILVA et al. então, valores máximos em torno de 11-12 µmol
(2010) sugerem que a enxertia, com o uso de CO2 m-2 s-1 para folhas isoladas (PINHEIRO et al.,
porta‑enxertos tolerantes à seca, pode ser uma 2004; SILVA et al., 2013). Isso indica que o conilon,
técnica para aumentar a tolerância do café conilon assim como as cultivares de café arábica, exibe
ao deficit hídrico. baixa eficiência fotossintética em relação à da
maioria das plantas lenhosas (CANNELL, 1985). Por
A resposta direta do estômato a variações na
outro lado, a capacidade fotossintética (fotossíntese
umidade relativa tem consequências importantes
potencial), determinada sob luz e CO2 saturantes e à
no que respeita à capacidade da planta de suportar
temperatura ótima, alcança valores da ordem de 30
períodos relativamente longos de deficit hídrico
a 35 µmol O2 m-2 s-1 (DaMATTA; MAESTRI; BARROS,
no solo associados a condições de alta demanda
1997; CAMPOSTRINI; MAESTRI, 1998; DaMATTA
evaporativa na atmosfera. Sob tais condições, o
et al., 2001). Os mecanismos que explicariam os
rápido fechamento do estômato seria vantajoso
baixos valores das taxas fotossintéticas do cafeeiro
para o cafeeiro, visto que isso resultaria em
estão associados, fundamentalmente, a uma alta
diminuição substancial da transpiração. Por outro
resistência à difusão do CO2, desde a atmosfera até
lado, sob disponibilidade hídrica adequada ou sob
o cloroplasto (tanto em níveis de estômato como de
períodos curtos de deficit hídrico, a sensibilidade
mesofilo) (MARTINS et al., 2014b).
do estômato à umidade do ar seria desvantajosa.
Nessas condições, a maximização da absorção A comparação entre os vários resultados disponíveis
do CO2 para a fotossíntese passaria a ter maior na literatura permite inferir que as cultivares de café
importância que a redução da transpiração, em arábica e clones de conilon exibem taxas máximas
termos de manutenção da produtividade, sob de fotossíntese líquida similares. No entanto, em
condições de seca (DaMATTA, 2003). face da provável maior sensibilidade estomática
à demanda evaporativa do ar em arábica que em
Em geral, a condutância estomática é maior em
conilon, é lícito sugerir que o último possa manter,
plantas (ou folhas) à sombra que a pleno sol.
ao longo do dia, maior absorção cumulativa de
Os maiores valores de condutância estomática
CO2. Ademais, o conilon parece capaz de manter
são observados nas primeiras horas da manhã e
taxas fotossintéticas relativamente muito mais
declinam após as 09:00-10:00 h, podendo alcançar
elevadas na época de baixo crescimento vegetativo
valores negligenciáveis à tarde, associados a altas
(abril a setembro), quando comparadas às do café
irradiâncias, temperatura e deficit de pressão de
arábica (SILVA et al., 2004; MORAIS et al., 2012b). Por
vapor (RODRÍGUEZ-LÓPEZ et al., 2013). Entretanto,
conseguinte, maiores taxas globais de fotossíntese,
118 Café Conilon – Capítulo 5
tanto em escala diária como em escala anual, colheita, aspectos esses virtualmente inexplorados
poderiam refletir-se na maior produção de frutos em em café.
conilon que em arábica, conforme frequentemente
observado. Ademais, o café conilon é capaz de
acumular grandes concentrações foliares de
amido (~14% em base massa seca) sem qualquer
8 ESTRESSE OXIDATIVO
retroinibição metabólica aparente da fotossíntese No metabolismo celular, uma consequência
(MORAIS et al., 2012b). inevitável das reações de transporte de elétrons
do cloroplasto é a transferência de elétrons para o
Considerando-se que 90-95% da massa seca
oxigênio molecular levando à formação de espécies
das plantas se derivam da fotossíntese, não é
reativas de oxigênio. No aparelho fotossintético, isso
difícil perceber que a produção depende, direta
pode causar estresse oxidativo, fenômeno comum
ou indiretamente, da magnitude das taxas
promovido por vários tipos de estresses (e.g., seca,
fotossintéticas (KHANNA-CHOPRA, 2000). Com
salinidade, extremos de temperatura, adubação
efeito, clones de maturação precoce, que têm uma
deficiente), que geram um decréscimo no consumo
maior demanda por assimilados dentro de um
de energia sem uma redução significante na sua
prazo mais curto (maior demanda dos drenos),
absorção (DaMATTA; RAMALHO, 2006). Proteção
exibem maiores taxas fotossintéticas acopladas
contra o estresse oxidativo pode ocorrer a expensas
a maiores condutâncias estomáticas (MORAIS et
de aumento na dissipação da energia de excitação
al., 2012b). Coerentemente, Partelli et al. (2014c)
por meio de carotenoides ou via metabolismo das
constataram que clones de maturação precoce
espécies reativas de oxigênio, mediante maior
exibem maior taxa de acúmulo de matéria seca de
atividade do sistema antioxidativo. Este, por sua
frutos, assim como de nutrientes, em comparação
vez, envolve moléculas de massas variáveis (e.g.,
a clones de maturação mais tardia. Os mecanismos
β-caroteno, ascorbato, glutationa) e enzimas
fisiológicos pelos quais aumentos na capacidade
antioxidativas (e.g., dismutase do superóxido,
fotossintética estão associados com o padrão
peroxidases etc.).
de maturação de frutos são completamente
desconhecidos. Em todo o caso, a existência de No cafeeiro, como na maioria das plantas C3, a
um padrão de regulação da fonte (capacidade fotossíntese é saturada a cerca de 1/3 da irradiância
fotossintética das folhas) pela maior demanda dos máxima incidente sobre a copa, i.e., cerca de
drenos (frutos) pode abrir novas oportunidades 550-700 µmol (fótons) m-2 s-1 em folhas expostas
dentro das fronteiras da fisiologia molecular para (DaMATTA; MAESTRI, 1997; RODRÍGUEZ-LÓPEZ et al.,
verificarem-se genes e fatores de transcrição que 2013). A irradiância excedente absorvida pela folha,
poderiam auxiliar no aumento da compreensão se não dissipada satisfatoriamente, pode acarretar
dos mecanismos que governam as relações fonte/ perda do controle do metabolismo das espécies
dreno em café. Não obstante, é pouco provável reativas de oxigênio, levando à ocorrência de
que diferenças clonais de produtividade estejam danos fotooxidativos (DaMATTA; RAMALHO, 2006),
fundamentalmente associadas com potenciais popularmente conhecidos como escaldadura. Esses
variações nas taxas de fotossíntese líquida de folhas danos se manifestam pelo aparecimento de áreas
isoladas (CAMPOSTRINI; MAESTRI, 1998; DaMATTA cloróticas, que evoluem para a necrose, levando,
et al., 2000). Provavelmente, essas diferenças pois, à abscisão foliar.
estariam associadas mais diretamente com a
A pleno sol, cafeeiros bem adubados e irrigados
manutenção de uma área foliar sadia (maiores
devem dissipar satisfatoriamente o excesso de
taxas de fotossíntese da planta inteira, ao longo
energia radiante que recebem (RODRÍGUEZ-
do tempo) e com uma arquitetura de copa mais
LÓPEZ et al., 2013) e, portanto, a escaldadura, caso
favorável à maximização das trocas gasosas. Além
ocorrente, deve afetar apenas marginalmente a
disso, alterações nas condições de crescimento
produção do cafezal. Isso explicaria, pelo menos
podem promover alterações não somente na
em parte, o sucesso do cultivo do conilon,
magnitude das taxas de fotossíntese, mas também
como também das cultivares arábicas a pleno
na partição de assimilados entre órgãos vegetativos
sol (DaMATTA; MAESTRI, 1997), ainda que as
e reprodutivos, modificando, portanto, o índice de
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 119
espécies sejam originalmente de ambientes mais eficiente pode ter uma função decisiva na
sombreados. Por outro lado, sob certas condições, tolerância à seca em café, particularmente em
os mecanismos de defesa da planta podem não clones de conilon que favorecem a produção
ser suficientes para dissipar a energia excedente em detrimento da sobrevivência. Sistemas
e, nesse caso, a ocorrência de escaldadura pode antioxidantes mais robustos permitiriam, pois,
ser bastante expressiva. Entre tais condições, maior tolerância protoplasmática à dessecação.
destacam-se: cafezais mal-adubados, carga
Em condições de altas temperaturas e baixa umidade
grande de frutos, deficit hídrico e extremos de
relativa, o sombreamento do café conilon pode
temperatura ou qualquer outro motivo que leve
minimizar os efeitos deletérios da alta demanda
ao depauperamento da planta. Esses fatores,
evaporativa da atmosfera (PEZZOPANE et al., 2011;
combinados ou não, geralmente resultam no
PARTELLI et al., 2014a) e, desse modo, promover
aparecimento da escaldadura, culminando com a
melhorias no desempenho fotossintético e reduzir
abscisão da folha. Nessas condições, a incidência de
potenciais danos oxidativos (RODRÍGUEZ-LÓPEZ et
bicho-mineiro, cercóspora e ferrugem usualmente
al., 2013). Não obstante, parece haver variabilidade
aumenta, também levando à abscisão foliar. Desse
clonal no que respeita às respostas fotossintéticas
modo, não somente a folhagem exposta mas
à disponibilidade de luz (RODRÍGUEZ-LÓPEZ et al.,
também as folhas mais internas da copa passam
2013). Pesquisas são necessárias, portanto, para
a receber irradiância superior à necessária para
explorar essa variabilidade, com vistas à indicação
saturar a fotossíntese, o que potencializa mais
de clones mais promissores para serem utilizados
ainda a abscisão das folhas. Em muitos casos, o
em sistemas agroflorestais (sombreados).
ramo seca ou pouco cresce, acarretando quebra de
produção na colheita seguinte. O sombreamento,
nesse contexto, poderia minimizar, sobremodo,
a ocorrência da escaldadura, especialmente se 9 TOLERÂNCIA À SECA
associado à irrigação (DaMATTA; RENA, 2002).
No Brasil, e especialmente no Espírito Santo, o
Lima et al. (2002), avaliando dois clones de café cultivo do café conilon tem-se expandido para
conilon sob condições de seca, observaram áreas onde a deficiência hídrica é o principal fator
aumentos muito maiores na atividade do sistema limitante à produção. Para melhorar o rendimento
antioxidante do clone 120 (tolerante à seca) que no de cafeeiros em ambientes com restrição hídrica,
clone 109A (sensível à seca). Os autores também melhoristas têm procurado selecionar genótipos
mostraram que a extensão de danos celulares foi que produzam razoavelmente bem nesses
substancialmente menor no clone tolerante que ambientes. Isso nem sempre é tarefa fácil, em razão
no sensível à seca, o que os levou a propor que a da variabilidade da precipitação ao longo dos
tolerância à seca no conilon poderia, pelo menos anos e da natureza poligênica da tolerância à seca
em parte, estar associada a um incremento da (DaMATTA, 2004b). Uma abordagem complementar
atividade do sistema antioxidante. Resultados de para melhorar o desempenho do conilon em
Pinheiro et al. (2004) indicaram que o clone 120, regiões sujeitas à seca residiria na seleção de índices
capaz de tolerar períodos de seca relativamente e parâmetros adequados que permitam identificar
longos com produção aceitável nessa condição, materiais genéticos com maior potencial de
demonstrou maior capacidade de tolerar o estresse tolerância à seca. Estudos comparativos, tanto com
oxidativo induzido pelo herbicida paraquat que plantas em vasos como no campo, têm evidenciado
outros clones avaliados (14, 46, 109A). Esses dados que, quando submetidos à deficiência hídrica, os
foram reforçados pelos resultados de Menezes clones tolerantes são capazes de manter melhor
(2005), que observou que a atividade de uma hidratação (potencial hídrico menos negativo)
enzima do sistema antioxidante (dismutase do de seus tecidos que os clones sensíveis à seca
superóxido) foi máxima a concentrações de (DaMATTA et al., 2000, 2003; PINHEIRO et al., 2004,
paraquat da ordem de 20 µM, enquanto no clone 2005; PRAXEDES et al., 2006; SILVA et al., 2013).
109A a atividade da enzima foi virtualmente nula. Essa estratégia explicaria o porquê de os clones
Diante dessas informações, DaMatta e Ramalho tolerantes exibirem enrolamento e abscisão foliar
(2006) propuseram que um sistema antioxidante mais tardiamente que os clones sensíveis à seca.
120 Café Conilon – Capítulo 5
Ao longo de períodos prolongados de estiagem, tecidos é acelerada sob deficiência hídrica, levando
contudo, melhor hidratação tem sido associada, em ao colapso do metabolismo, culminando com perda
muitos casos, com estratégias de sobrevivência, e considerável da área foliar e, em última instância,
não com manutenção da produção sob condições comprometendo irremediavelmente a produção. A
de seca. Nesse contexto, o fechamento estomático exploração econômica desses clones requer, via de
eficiente, conforme observado em clones mais regra, a implementação de irrigação;
tolerantes à seca, parece estar associado a uma
(ii) clones tolerantes com sistema radicular
rede complexa de respostas envolvendo rotas de
relativamente profundo, alta sensibilidade
sinalização mediadas pelo ácido abscísico e pelo
estomática à disponibilidade de água e baixas
óxido nítrico (MARRACCINI et al., 2012). Em todo
taxas do uso da água (baixa condutância hidráulica)
o caso, um fechamento estomático eficiente para
postergam a desidratação de seus tecidos,
limitar a transpiração concorre, ao mesmo tempo,
mantendo um balanço hídrico favorável e, assim,
para limitar o influxo de CO2 para a fotossíntese
o vigor. Não obstante, ao mesmo tempo que os
e, portanto, a produção. Por essa mesma razão,
estômatos se fecham para limitar a transpiração,
pouco adianta, também, manter uma área foliar
restringem também o influxo de CO2 para a
sadia e, assim, o vigor, se esse comportamento
fotossíntese e, por extensão, a produção é reduzida
estiver associado à restrição estomática às trocas
(clone 14). Clones com esse comportamento
gasosas da folhagem. Registra-se, não obstante,
normalmente respondem de forma insatisfatória
que a manutenção da área foliar pouparia recursos
à irrigação se a demanda evaporativa da região
à planta que, de outro modo, teriam de ser
for alta, isto é, ainda que haja disponibilidade
despendidos para a recuperação da área foliar após
adequada de água no solo, seus estômatos se
períodos de estiagem (DaMATTA; RAMALHO, 2006).
fecham em resposta à baixa umidade relativa do
Estudos conduzidos em Sooretama/ES têm ar, comprometendo a produção. Essa estratégia
mostrado grande diversidade genética entre de tolerância à seca favorece a sobrevivência em
clones de conilon no que respeita à produção sob detrimento da produção;
condições de seca (FERRÃO et al., 2000a; 2000b).
(iii) clones tolerantes com sistemas radiculares
Nessa condição, observam-se clones sensíveis
relativamente profundos e sensibilidade estomática
à seca, com baixo vigor, desfolha considerável
satisfatória à disponibilidade de água, mas com
e grande comprometimento da produção; e
alta condutância hidráulica, têm comportamento
clones que exibem bom vigor, mas sem manter
intermediário no que concerne à taxa de
necessariamente produção relativamente elevada
desidratação de seus tecidos sob seca (clone 120).
sob seca. Diferenças morfofisiológicas entre esses
Com disponibilidade adequada de água no
clones devem, portanto, responder grandemente
solo, esses clones aliam taxas de transpiração
por suas tolerâncias diferenciais à seca (DaMATTA;
relativamente elevadas (e, portanto, maior influxo
RAMALHO, 2006). A partir dos resultados de
de CO2 para a fotossíntese) com rápida reposição da
DaMatta et al. (2000, 2003), Pinheiro et al. (2004,
água transpirada. À medida que a disponibilidade
2005) e de Praxedes et al. (2006), sugerem-se
de água do solo diminui, o sistema radicular
três estratégias possivelmente envolvidas nessa
relativamente profundo garantiria a manutenção
tolerância diferencial:
parcial da absorção da água; no entanto, isso faz
(i) os clones sensíveis à seca mantêm um controle exaurir mais rapidamente as reservas de água do
deficiente da transpiração (clone 109A), com solo, concorrendo para o desenvolvimento de deficit
seus estômatos respondendo de forma limitada hídricos internos. Esses clones, possivelmente,
à redução da disponibilidade de água do solo têm certo grau de tolerância protoplasmática
ou à demanda evaporativa da atmosfera. (sistema antioxidante mais eficiente) à dessecação,
Alternativamente, ainda que exibam controle o que preveniria o colapso do metabolismo celular.
estomático satisfatório da transpiração, podem ter Normalmente, clones com esse comportamento
baixa capacidade de absorção da água, visto que produzem satisfatoriamente tanto em condições de
têm sistemas radiculares mais superficiais (clone seca como irrigadas, sendo, pois, denominados de
46). Em quaisquer desses casos, a desidratação dos clones de dupla aptidão.
Aspectos Fisiológicos do Café Conilon 121
2011). Em razão das exigências diferenciais relativas Por um lado, os aumentos esperados nas taxas
em termos de temperatura, entre o café arábica e fotossintéticas associadas com o incremento da
o conilon, é mais que óbvio especular-se que o [CO2] implicarão numa melhor capacidade de
comportamento dessas espécies deverá variar em enchimento do grão, o que pode resultar em
resposta às mudanças climáticas. Assim, algumas melhor qualidade da bebida. Por outro lado, os
áreas hoje marginais ao café conilon, notadamente impactos benéficos diretos do CO2 poderão ser
áreas do Sudeste do Brasil em altitudes superiores reduzidos ou mesmo anulados por alterações
a 500 m, poderão ter parte de suas lavouras de em outros fatores do ambiente, como a elevada
arábica substituídas por conilon. temperatura, que pode comprometer a produção
e acelerar o crescimento e a maturação dos frutos,
Uma vez que a taxa fotossintética do cafeeiro é
reduzindo a qualidade da bebida (DaMATTA;
grandemente limitada por restrições difusivas, e
CAVATTE; MARTINS, 2012). Essas limitações e outras
não por restrições bioquímicas (MARTINS et al.,
mudanças climáticas, como secas mais frequentes
2014a), sugere-se que o conilon tenha um grande
e severas, podem adicionalmente produzir novas
potencial para aumentar o seu desempenho
condições limitantes para o crescimento do
fotossintético com o aumento da [CO2]. Portanto,
cafeeiro. Em conjunto, esses fatos bem ilustram
a quantidade de CO2 sequestrada pelo cafeeiro
a alta complexidade envolvida na previsão do
deve aumentar, em termos relativos, muito mais do
impacto do aumento da [CO2] e temperatura e
que se prevê para várias outras espécies perenes
outras mudanças climáticas ora em curso sobre a
(MARTINS et al., 2014a), como o eucalipto. Com
produção e qualidade do café.
efeito, em experimentos de longa duração com
café conilon (clone 153) cultivado em vasos,
em câmaras de crescimento, têm-se observado
maiores taxas de fotossíntese (49% maiores a uma 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
[CO2] = 700 ppm em relação à [CO2] = 380 ppm)
O conhecimento sobre a fisiologia do café conilon
associadas com invariabilidade da condutância
é incipiente, se comparado ao do café arábica. Nes-
estomática, resultando em um excepcional
se contexto, pouco se tem explorado sobre o cres-
incremento na eficiência do uso da água (RAMALHO
cimento vegetativo e, muito menos ainda, sobre o
et al., 2013). Por conseguinte, o aumento da [CO2]
crescimento reprodutivo (floração e frutificação) do
provavelmente possibilitará ao cafeeiro produzir
café conilon nos vários ambientes e sistemas de cul-
mais assimilados (e mais frutos) e usar menos água
tivo. As poucas informações disponíveis resumem-
na ausência de outros estresses. Registra-se, ainda,
-se a aspectos observacionais, sem a exploração
que o aumento da temperatura per se impacta
pormenorizada dos mecanismos fisiológicos que
negativamente o desempenho fotossintético do
explicariam aqueles processos. Pouco se conhece
conilon, mas esses efeitos podem ser largamente
sobre a fisiologia do sistema radicular, apesar de al-
mitigados pelo aumento da [CO2] (RAMALHO et
guns avanços terem ocorrido na elucidação de sua
al., 2014). Outro aspecto a se considerar reside na
morfologia e distribuição no solo. Ademais, estudos
menor concentração de nutrientes (N, Mg, Ca e
sobre os componentes fisiológicos da produção são
Fe) do conilon cultivado em alta [CO2] (700 ppm)
incipientes. Alguns aspectos sobre a fotossíntese e
em relação à [CO2] ambiente (380 ppm), mas tais
as relações hídricas têm sido explorados com algum
decréscimos podem ser atenuados ou anulados
grau de aprofundamento, mas as relações hormo-
pelo aumento da temperatura (MARTINS et al.,
nais, o metabolismo do nitrogênio e de outros mine-
2014b), provavelmente um reflexo da menor
rais, a partição de assimilados, entre outros, não têm
expansão foliar, de modo a reverter os efeitos de
sido estudados. O uso de ferramentas de biologia
diluição de nutrientes observados em decorrência
molecular para avançar-se na compreensão da fisio-
da alta [CO2].
logia do café conilon é ainda embrionário e restrito
Grandes incertezas permanecem, contudo, sobre a a muito poucos laboratórios. Em resumo, as inúme-
produção e a qualidade da bebida em um cenário ras deficiências no conhecimento sobre a fisiologia
envolvendo incremento da [CO2], aquecimento do café conilon têm produzido um campo fértil de
global e alteração nos padrões de precipitação. desafios a serem vencidos em pesquisas vindouras.
124 Café Conilon – Capítulo 5
Em um país com tantas carências de recursos huma- A. F. A. da; FERRÃO, R. G.; SILVEIRA J. S. M. ‘Emcapa
nos e financeiros para pesquisas básicas, e mesmo 8111’, ‘Emcapa 8121’, ‘Emcapa 8131’: primeiras
para aplicadas, espera-se que os esforços em inves- variedades clonais de café conilon lançadas para o
tigação científica se voltem principalmente para au- Espírito Santo. Vitória, ES: Emcapa, 1993.
mentar a base de conhecimento sobre as interações 2 p. (Emcapa. Comunicado Técnico, 68).
fisiológicas do café conilon com o seu ambiente, de BRAGANÇA, S. M.; CARVALHO, C. H. S. de; FONSECA,
modo a subsidiar a racionalização do manejo da la- A. F. A. da; FERRÃO, R.G. Variedades clonais de café
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6
Melhoramento Genético
de Coffea canephora
Romário Gava Ferrão, Maria Amélia Gava Ferrão,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Luís Felipe Ventorim Ferrão e
Braz Eduardo Vieira Pacova
e estáveis aos diferentes ambientes de cultivo e me- x = 11 cromossomos, é típico para a maioria das
lhoramento das características agronômicas, como espécies do gênero Coffea. Nele, todas as espécies,
a uniformidade de maturação e o tamanho dos fru- incluindo C. canephora, são diploides com 2n = 2x
tos. Sendo assim, as modificações genéticas têm o = 22 cromossomos. A exceção é C. arabica que é
intuito de obter cultivares com melhor qualidade de tetraploide e possui 2n = 4x = 44 cromossomos.
bebida, tipo e composição química dos grãos para
É possível, por intermédio do tratamento artificial de
atender às exigências do consumidor e garantir a
sementes com colchicina na germinação, duplicar
sustentabilidade da atividade, bem como promover
o número de cromossomos de C. canephora e
maior retorno socioeconômico para a cafeicultura e
transformá-la em autotetraploide (MENDES, 1939).
para a sociedade como um todo.
Tal procedimento é de fundamental importância
O principal resultado aplicado oriundo de um pro- na realização do melhoramento interespecífico
grama de melhoramento é o desenvolvimento de envolvendo o cruzamento entre C. arabica x C.
cultivares superiores. Para tanto, o estabelecimento canephora.
de adequado planejamento é fundamental nesse
Todas as espécies do gênero Coffea, com
contexto. Existem inúmeros fatores envolvidos na
exceção de C. arabica, são alógamas; portanto,
obtenção dessa tecnologia, entre eles: desenvolvi-
sexualmente se reproduzem por fecundação
mento e conhecimento da população a ser melho-
cruzada, pela autoincompatibilidade genética
rada, utilização de metodologias adequadas para
nelas existente. Conagin e Mendes (1961), Monaco
avaliação e seleção de indivíduos, pois a maior par-
e Carvalho (1972) e Berthaud (1980) analisaram a
te dos caracteres de valor econômico é de natureza autoincompatibilidade em espécies diploides do
poligênica. gênero Coffea. De acordo com Conagin e Mendes
Maiores ganhos genéticos por meio do (1961), foi Von Faber, em 1910, o primeiro a descrever
melhoramento de C. canephora serão possíveis a autoincompatibilidade em C. canephora.
através de ações técnicas, políticas e estruturais
que priorizem as pesquisas com a espécie,
principalmente com germoplasma que represente a 2.1 AUTOINCOMPATIBILIDADE GENÉTICA
grande importância social e econômica no mundo, A autoincompatibilidade é a incapacidade de
como de conilon. Por meio de trabalhos envolvendo a planta hermafrodita produzir zigotos por
equipes multidisciplinares de diferentes instituições autopolinização. Em consequência, amplia-se o
e a utilização dos conhecimentos de diversas áreas, fluxo gênico e a freqüência de heterozigose no
como a citologia, melhoramento clássico associado total dos loci dentro das populações de plantas da
à biotecnologia, fitopatologia, estatística, biometria espécie. Em termos de melhoramento genético,
e outras correlatas, obter-se-ão resultados mais a importância da autoincompatibilidade reside
rápidos, com menores custos e mais aplicáveis. na possibilidade de síntese de híbridos, sem
Neste capítulo, será abordado o melhoramento a necessidade de polinizações manuais, e no
genético de C. canephora envolvendo aspectos aumento da variabilidade genética nas populações
da citologia, sistemas de reprodução, herança de de plantas, a qual poderá ser utilizada em benefícios
caracteres, objetivos dos programas e estratégias do melhoramento dessas populações.
de melhoramento, métodos de análises biométricas Devreux et al. (1959) sugeriram que na espécie
e os principais avanços científicos alcançados pelo C. canephora, a autoincompatibilidade seria do
melhoramento da espécie no mundo. tipo gametofítica. Quando o alelo S do pólen é
diferente dos dois alelos S do estilo, o tubo polínico
cresce normalmente, penetrando no ovário e
2 CITOLOGIA E SISTEMAS REPRODUTI- realizando a fertilização. Conagin e Mendes (1961)
VOS e Berthaud (1980) apresentaram numerosos dados
Estudos sobre o número de cromossomos em café demonstrando que a autoincompatibilidade de C.
foram realizados desde 1930, com a publicação canephora é do tipo gametofítica ligada a um único
dos trabalhos de Sybenga (1960). O número básico, loco gênico ‘S’ com uma série de alelos interagindo,
S1, S2 e S3.
Melhoramento Genético de Coffea canephora 133
ganhos genéticos mais rápido para a característica Em um dialelo, realizado em Camarões, África,
é, indiretamente, envolver informações sobre por Boularmont et al. [19--] citado por Charrier
outras características associadas à produtividade e Berthaud (1988), envolvendo oito materiais
e que possuam alta correlação genotípica com a genéticos de café robusta para cinco características
produtividade de grãos. morfológicas e de crescimento, três de produção,
suscetibilidade a pragas e doenças e teor de cafeína,
foram verificadas diferenças significativas ao nível
3.2 HERDABILIDADE DAS CARACTERÍSTICAS de 1% de probabilidade para Capacidade Geral
COMPONENTES DA PRODUÇÃO DE GRÃOS de Combinação (CGC), para todos os caracteres
A produção da planta depende de características estudados, e não significativas para Capacidade
vegetativas (arquitetura e crescimento) e Específica de Combinação (CEC), para a maioria
reprodutivas (florescimento e frutificação). Os das características. Os resultados mostram a
componentes vegetativos que interferem na predominância dos efeitos aditivos em relação aos
produção do cafeeiro robusta são altura da planta, não aditivos, evidenciando-se, assim, que, por meio
diâmetro da copa, número e comprimento dos de métodos simples de melhoramento e seleção,
ramos ortotrópicos e plagiotrópicos, número e como a seleção recorrente, há a possibilidade de
tamanho dos internódios dos ramos plagiotrópicos se ter sucesso no melhoramento para produção,
e capacidade de brotação das plantas altura da planta, diâmetro da copa, comprimento
proporcionando, assim, a possibilidade efetiva de ramos, número de nós, tipo e tamanho de
de substituição dos ramos produtivos pela poda grãos, teor de cafeína e suscetibilidade às doenças.
após três ou quatro colheitas. Os componentes Verificaram-se também altas correlações positivas
reprodutivos que interferem na produção da e significativas, com coeficientes de 0,63 a 0,90
planta são número de rosetas, número de flores por entre os pais e suas progênies para diferentes
roseta, percentagem de flores fecundadas, número características estudadas mostrando, mais uma
de frutos por nó, percentagem de chochamento vez, a possibilidade de exploração da variabilidade
de grãos, percentagem de grãos do tipo moca, genética em benefício do melhoramento de
tamanho, tipo e densidade dos grãos, entre outros. características de plantas de interesse na espécie.
São poucas as pesquisas sobre a interferência do nando, assim, baixo rendimento no beneficiamen-
genótipo na qualidade do café. Em C. arabica, em to, tornando necessário até seis quilos de café cereja
razão da baixa variabilidade genotípica existente, para se produzir um quilo de café beneficiado, ape-
tem-se verificado pequena variação na qualidade sar de se verificar uma grande variabilidade de res-
nas diferentes cultivares, desde que as lavouras posta à seca entre os materiais genéticos utilizados.
sejam bem conduzidas e o café seja adequadamente Charrier e Berthaud (1988) mostraram que, quando
colhido e preparado (CARVALHO, 1988a). Entretanto, é realizado o cruzamento entre genitores de grãos
trabalhos realizados no Quênia, África, mostraram grandes, verifica-se entre os descendentes grande
variabilidade na qualidade, quando se efetuou a heterogeneidade no tamanho de grãos e correlação
comparação entre materiais genéticos melhorados de 0,36 a 0,76 entre os pais e progênies, e alta CGC
com os semissilvestres de C. arabica (VAN DER para a citada característica, o que permite concluir
VOSSEN, 1985). Em C. canephora, Leroy et al. (1992) sobre a possibilidade de se obter ganhos genéticos
e Lambot et al. (2008) verificaram significativas relativamente fáceis e rápidos com aplicação de
diferenças entre clones para a qualidade de bebida. métodos de melhoramento simples como para ta-
manho de grãos.
São apresentados a seguir os fatores associados
à qualidade do café no que se refere a tamanho e A percentagem de grãos tipo moca é uma
composição química dos grãos na bebida. característica genética amplamente afetada pelo
ambiente. Os grãos moca são arredondados
devido ao abortamento de um dos dois óvulos
3.4.1 Características dos grãos do ovário, resultante da polinização deficiente,
Os grãos de café robusta são geralmente de condições ambientais desfavoráveis ou por
dimensões menores que os de arábica, com peso de problema genético. Geralmente, em café arábica, a
12 a 15 g por 100 sementes, podendo alcançar de percentagem de grãos tipo moca é, em média, de
18 a 22 g (COSTE, 1968). Apresentam formato que 10%; em C. canephora, entre 10 e 30%, podendo
varia do arredondado ao canoa, são amarronzados e exceder a 50% em certos casos. A característica varia
possuem menor brilho que os grãos de café arábica, entre materiais genéticos e há alta correlação entre
embora haja grande variabilidade genética para as pais e descendentes, dependendo dos genitores
citadas características. O tamanho da semente é envolvidos nos cruzamentos.
uma característica herdável, com grande variação As cultivares desenvolvidas e recomendadas
entre genótipos. Existem exemplos de sucesso de para o plantio no Estado do Espírito Santo têm
atuação de seleções envolvendo populações de apresentado de 20 a 32% de grãos tipo moca
grãos grandes, sendo possível selecionar genótipos (BRAGANÇA et al., 1993, 2001). No conilon cultivado
com 18 g por 100 sementes, das quais 80% são no Espírito Santo, a média é de cerca de 33%; na
retidas em peneira 16 e com diâmetro de 6,3 mm cultivar Vitória Incaper 8142, está em torno de
(CRAMER, 1957). No Espírito Santo, no Banco Ativo 21% (FONSECA et al., 2004a). Nas cultivares clonais
de Germoplasma de Conilon, os materiais genéticos Diamante ES8112, ES8122 - Jequitibá e Centenária
avaliados apresentam grãos de diferentes formas, ES8132, a percentagem de grãos de tipo moca são
cores e tamanhos, com clones alcançando peneira de 18,68%; 24,83% e 26,38%, respectivamente
média 17 (FERRÃO, R.; FONSECA; FERRÃO, M., 2000). (FERRÃO et al., 2015b, 2015c, 2015d).
O tamanho da semente é influenciado pelo ambien-
te, sugerindo, portanto, que seja uma característica
3.4.2 Teor de cafeína
quantitativa, ou seja, controlada por vários genes.
Alguns clones de cafés produzidos de coleções, em O café robusta, em geral, apresenta alto teor de
Madagascar e Costa do Marfim, tiveram diminuição cafeína. Os teores de cafeína têm grande variação
de peso de 3 a 5 g por 100 sementes quando colhi- quando estudados em materiais genéticos silvestres
dos em anos de muita seca. No Estado do Espírito e cultivados, com valores de 1,8 a 3,4% (LEROY et al.,
Santo, tem-se verificado, em anos de seca, além de 1993). As condições ambientais não afetam muito
redução do tamanho dos grãos, um aumento signi- o teor de cafeína nos grãos. Esses teores podem
ficativo da percentagem de chochamento ocasio- ser determinados e apresentam herdabilidade
138 Café Conilon – Capítulo 6
intermediária. O coeficiente de correlação entre pais aminoácidos com o gosto e sabor; trigonelina
e descendentes é muito alto (0,88), e o valor médio com o aroma, entre outras substâncias que estão
de variância genética de progênies estudadas para sendo pesquisadas. Os estudos têm mostrado que
a característica é em maior proporção de natureza a qualidade do café robusta pode ser melhorada,
aditiva. A grande variação entre as progênies como também deve ser melhor avaliada a
permite sucesso em seleção para teores menores variabilidade genotípica existente em C. canephora
que 2% de cafeína (CHARRIER; BERTHAUD, 1988). e a herança dos fatores que levam à melhoria da
qualidade do produto.
As cultivares clonais da Costa do Marfim apresentam
em média 2,8%, porém com expectativas de se Moschetto et al. (1996) analisaram o efeito do
reduzir para 2,2% pela ação de programas de genótipo em relação à qualidade da bebida
melhoramento genético (CAPOT, 1977). A literatura trabalhando com diferentes genótipos de C.
mostra que o nível de cafeína é variável, com canephora e híbridos interespecíficos, envolvendo
extremos de 1,0 a 5,5% em progênies originadas de os grupos Congolense x Guineano e observaram
cruzamentos entre pais contrastantes envolvendo diferença significativa entre materiais genéticos em
baixos e altos teores. As cultivares desenvolvidas relação às diferentes características organolépticas.
pelo programa de melhoramento do Incaper, por Verificaram que os genótipos originados do grupo
exemplo, apresentam de 2,4 a 2,5% de cafeína. Guineano foram menos “apreciáveis” que os do
Congolense. E o cruzamento envolvendo esses
dois grupos originaram descendentes superiores.
3.4.3 Qualidade da bebida Observaram, em geral, desconsiderável aroma
Os cafés da espécie C. canephora têm sido nos materiais genéticos e os melhores clones
caracterizados como de bebida neutra, encorpados apresentaram pouco corpo, baixo amargor, aroma
e com pronunciado amargor. Apresentam natural e alguns com baixa acidez. No estudo de
características organolépticas e químicas diferentes correlações entre 11 características estudadas, em
do arábica. Tradicionalmente, as instituições de 39,39% dos casos, houve correlações positivas entre
pesquisas investiram pouco em equipamentos e as características, com variação de 0,05 a 0,74, com
em pessoal treinado para efetuar as avaliações de os seguintes destaques: amargor e corpo (0,74); pH
qualidade do produto final, pela prova da bebida e amargor (0,53); pH e volume (0,58); intensidade da
em C. canephora e, assim, poucas informações cor e acidez (0,59); intensidade da cor e do corpo
foram geradas. Nos últimos anos, com as exigências (0,57). Em 60,61% dos casos, as correlações entre
de mercado e dos consumidores por produtos de caracteres foram negativas, com magnitudes de
melhor qualidade, associando-se ao fato da maior -0,08 a -0,76, merecendo destaque as de preferência
participação do café robusta em blends, torrados e aroma (-0,76); corpo e acidez (-0,47); amargor e
e moídos, espresso e solúvel, novo direcionamento acidez (-0,55) pH e acidez (-0,66) e intensidade de
está sendo dado aos programas de melhoramento cor e amargor (-0,65).
para a análise dessa característica sob diferentes Ferrão et al. (2015 b, 2015c, 2015d) após mais de
aspectos. 20 anos de pesquisas estudando mais de 2000
A bebida do café é composta por centenas de clones do programa de melhoramento genético
substâncias, das quais algumas são transformadas de café conilon do Incaper, selecionaram 27
durante o processamento, levando, assim, à clones superiores para diferentes características
mudança na qualidade da bebida e dificultando agronômicas, bioquímicas e sensoriais. Esses clones
as suas avaliações. Tem havido evolução quanto foram agrupados por épocas de maturação dos
ao entendimento básico da composição química frutos e, assim, foram desenvolvidas as primeiras
dos cafés verdes e torrados, mas o relacionamento cultivares de café conilon com qualidades superiores
da qualidade organoléptica com os elementos de bebida, que são as ‘Diamante ES8112’, ‘ES8122’ -
químicos ainda não está bem elucidado. Sabe- Jequitibá e a ‘Centenária ES8132’, que encontram-
se que diferentes grupos de substâncias estão se registradas e protegidas no Ministério da
correlacionados e interferem na qualidade, como: Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
ácidos clorogênicos com a amargura; açúcar e
Melhoramento Genético de Coffea canephora 139
As estratégias que vêm sendo utilizadas nos prazos. Essas estratégias são utilizadas na Costa do
programas de melhoramento para C. canephora Marfim, África (LEROY; CHARMETANT; YAPO, 1991;
são a introdução de germoplasma, seleção LEROY et al., 1993, 1994), nos Estados de São Paulo
clonal, hibridação, seleção recorrente (CHARRIER; (FAZUOLI; MISTRO; BRAGHINI, 2009; MISTRO, 2013)
BERTHAUD, 1988; LASHERMES; COUTURON; e do Espírito Santo, Brasil (FERRÃO, R; FONSECA;
CHARRIER, 1994; LASHERMES; PÉTIARD, 1996; FERRÃO, M., 1999; FONSECA et al., 2002; FERRÃO et
PAILLARD 1999; FERRÃO, R.; FONSECA; FERRÃO, M. al., 2007, 2015a; FERRÃO, R. FERRÃO, M.; FONSECA,
1999b; FONSECA et al., 2002; FAZUOLI et al., 2009; 2013).
MISTRO, 2013).
Esquemas de cruzamentos como top crosses e
A seleção clonal e a produção de híbridos dialelos têm sido empregados visando à estimativa
intraespecíficos, embora não sejam métodos que da capacidade combinatória dos parentais,
visem à transferência de características específicas especialmente a capacidade geral de combinação
entre espécies, são estratégias de melhoramento objetivando obter híbridos sintéticos. Na escolha dos
muito utilizadas em C. canephora (CHARRIER; parentais para cruzamentos, quando se tem grande
BERTHAUD, 1988; FERRÃO, R. FONSECA; FERRÃO, M., número de genótipos, pode-se utilizar a análise
1999; FONSECA, 1999). de divergência genética, a fim de ser mais eficaz
nessa escolha em termos de complementaridade
As plantas que se propagam assexuadamente
de alelos exigida e, consequentemente, poder
normalmente apresentam grande vigor vegetativo
expressar melhor a heterose pretendida nos híbridos
por manterem a heterozigosidade. O cruzamento
produzidos.
entre clones altamente heterozigotos proporcionará
o aparecimento de grande variabilidade genotípica, O desenvolvimento, o aprimoramento e o acesso
possibilitando, portanto, o surgimento de a técnicas como marcadores moleculares, culturas
descendentes com características vantajosas, que, de anteras, embriões e meristema, produção de
por seleção e clonagem, poderão ser superiores aos di-haploides, hibridação somática e transformação
seus genitores. gênica, bem como a disponibilidade de
recursos computacionais adequados às análises
A propagação vegetativa tem a vantagem de
multivariadas, abrem novas perspectivas aos
fixar um genótipo a qualquer tempo, sem que
programas de melhoramento genético dessa e de
haja necessidade de avançar gerações para
outras espécies.
tal finalidade, como acontece com as espécies
autógamas, podendo-se aproveitar imediatamente Dentro deste item, serão descritas as principais
os indivíduos superiores que ocorrem em qualquer estratégias utilizadas no melhoramento realizado
estágio do programa de melhoramento, originando em C. canephora, com destaque para a introdução
descendentes uniformes, facilitando, assim, de germoplasma, seleção clonal, seleção recorrente,
todas as fases de manejo da cultura. Contudo, hibridação e manutenção da variabilidade genética.
apresenta como desvantagem o estreitamento da
base genética da população, que é uma grande
preocupação no estabelecimento de estratégias de 4.1 INTRODUÇÃO DE GERMOPLASMA
melhoramento. A introdução de germoplasma inclui a entrada
Para minimizar esse problema, recomenda-se que de sementes, partes vegetativas, grãos de pólen,
as estratégias de melhoramento genético em C. culturas in vitro e DNA.
canephora envolvendo reprodução assexuada e A introdução consiste em trazer para as regiões de
sexuada sejam conduzidas paralelamente, pois interesse os materiais genéticos de bancos ativos de
enquanto a primeira promove o estreitamento da germoplasma e coleções de programas nacionais
base genética dos genótipos obtidos, a segunda ou mesmo internacionais e avaliá-los quanto à
permite a recombinação genética, recuperando a adaptação ambiental e aceitação pelos produtores
variabilidade e proporcionando a manutenção de e consumidores. As populações podem também
genes na população, que poderão ser importantes ser introduzidas, avaliadas e, posteriormente,
em programas de melhoramento a médio e longo melhoradas, assim como as cultivares que,
Melhoramento Genético de Coffea canephora 141
após avaliadas experimentalmente, podem ser Em vários países, as seleções de clones que possuem
recomendadas para plantios. os alelos de interesse visando ao desenvolvimento
de cultivares superiores têm sido estratégias
Muitas das espécies cultivadas, principalmente em
de melhoramento relevante em C. canephora
regiões marginais e/ou onde não existe um progra-
(CAPOT, 1966; DUBLIN, 1967; FERWERDA, 1969;
ma de melhoramento, foram recomendadas por
BOUHARMONT; AWEMO, 1980; VAN DER VOSSEN,
intermédio da introdução. Os materiais genéticos
1985; BOUHARMONT et al., 1986; BRAGANÇA et al.
introduzidos que apresentarem características de
1993, 2001; FONSECA, 1996, 1999; FERRÃO, 2004;
interesse podem ser mantidos em coleções, para
FONSECA et al., 2004a; FERRÃO et al., 2000, 2007;
serem utilizados em trabalhos futuros.
2012, 2014, 2015a, 2015b, 2015c, 2015d; FERRÃO,
No caso particular de C. canephora, a introdução R.; FERRÃO, M.; FONSECA, 2013).
de germoplasma teve um papel extremamente
A continuidade do sucesso no programa de
importante, permitindo o estabelecimento de
melhoramento via seleção clonal depende da
populações com ampla variabilidade genética, nas
magnitude da variabilidade genética disponível.
quais podem ser encontrados materiais genéticos
Dentro desse contexto, no programa de
com adaptabilidade às mais diversas condições
melhoramento, devem ser planejadas estratégias
ambientais de cultivo, constituindo-se em matéria-
para que o máximo de ganho genético não ocorra
prima de excelente qualidade aos programas de
em uma única geração e inclua na clonagem um
melhoramento (FONSECA, 1996). Grande parte das
esquema de seleção recorrente, cujo progresso no
lavouras comerciais de C. canephora, da variedade
incremento das frequências de alelos favoráveis
Conilon, plantadas em diferentes partes do país,
possa ser capitalizado passo a passo.
como nos Estados de Rondônia, Bahia, Pará,
Mato Grosso, entre outros, foram originadas de Algumas questões devem ser consideradas na
introduções de materiais genéticos oriundos do utilização da seleção clonal como estratégia de
Estado do Espírito Santo. melhoramento: 1) tamanho inicial da população
base – devido à liberação total da variabilidade
genética de uma única vez, a população inicial deve
4.2 SELEÇÃO CLONAL ser grande, para aumentar a probabilidade de o
A propagação vegetativa ou assexuada é de grande genótipo superior estar presente nessa população;
importância para a fixação da constituição genética 2) população base grande – induz à necessidade
das plantas e possibilita a formação de clones. Um de grande área uniforme para avaliação; 3) longo
clone pode ser definido como um conjunto de período juvenil – pode-se minimizar esse problema
indivíduos geneticamente derivado de uma só através da seleção precoce usando informações
planta e que se propaga por meio vegetativo, tais de estudos de correlações; 4) porte elevado das
como estacas, garfos e gemas, entre outros. Plantas plantas – além de dificultar as avaliações, há
de um mesmo clone são, portanto, geneticamente a necessidade de utilização de espaçamentos
idênticas entre si e à planta que lhes deu origem. maiores e, concomitantemente, de grandes
áreas; 5) variabilidade genética para diferentes
A seleção clonal é o principal método de seleção características de seleção – a população deve
empregado para as espécies de propagação possuir alta frequência de indivíduos superiores,
vegetativa, incluindo a C. canephora. Ela é praticada pois, do contrário, clones superiores aos já
de forma sequencial, iniciando-se com a seleção de cultivados pelos produtores não serão selecionados;
plantas individuais, com características de interesse, 6) repetibilidade de comportamento dos clones no
as quais são clonadas e avaliadas em delineamento decorrer do tempo – a repetibilidade é importante,
experimental apropriado. É uma estratégia pois o clone selecionado em uma etapa deve possuir
importante nos programas de melhoramento comportamento semelhante na etapa seguinte.
de conilon, pois é uma das formas mais rápidas
para se capitalizar ganhos genéticos. Uma vez As maneiras mais adequadas para melhorar a
identificada a combinação de alelos desejada para eficiência da seleção via clonagem em espécies
as características de interesse, ela poderá ser fixada perenes são:
e multiplicada com o uso da clonagem.
142 Café Conilon – Capítulo 6
1) Seleção precoce – buscar alternativas para relação entre café cereja e café beneficiado; a baixa
diminuir o período juvenil visando a reduzir o tempo percentagem de grãos chochos; a bienalidade de
para a liberação da cultivar para o plantio. Deve-se, produção; e o baixo teor de cafeína (FONSECA, 1999;
nessa seleção precoce, identificar as características FERRÃO, 2004, FERRÃO et al., 2012).
de alta herdabilidade que se manifestam
Na seleção clonal, ressalta-se atenção especial em
precocemente e possuem elevada correlação
considerar simultaneamente a adaptabilidade e
genotípica com características morfoagronômicas
a estabilidade dos genótipos, expressadas pela
qualitativas e de interesse que se manifestam
superioridade do material genético e a manutenção
mais tardiamente. Para características de alta
de seus comportamentos ao longo do tempo,
herdabilidade, deve-se aplicar uma alta intensidade
respectivamente. A menor variação bianual é tão
de seleção na fase juvenil; já para características de
importante quanto o potencial de produtividade
média ou baixa herdabilidade, as intensidades de
na seleção de clones de maior estabilidade de
seleção devem ser média e baixa, respectivamente.
produção.
2) Índice de seleção – deve-se formar um índice
Em se tratando do fenômeno de auto-
de seleção com base na definição do clone
incompatibilidade genética entre clones que
avaliado nas diferentes etapas do melhoramento.
possuem constituições genéticas semelhantes
A eficiência de utilização desse índice está
visando a garantir uma polinização satisfatória,
diretamente correlacionada às características de
Charrier e Berthaud (1988) sugerem fazer o
alta herdabilidade. Mesmo oferecendo pequena
teste de compatibilidade genética antes de
contribuição em cada etapa do melhoramento, tal
formar uma variedade clonal e, também, que a
índice, depois de várias etapas de seleção, poderá
cultivar desenvolvida deva ser constituída de um
contribuir para um ganho genético significativo.
número mínimo de oito clones para garantir a
3) Seleção de famílias – as premissas básicas são sustentabilidade da atividade e evitar riscos de
de que a variação genética ocorra tanto entre como vulnerabilidade genética. As oito cultivares clonais
dentro de famílias e que apresente distribuição de café conilon desenvolvidas pelo Incaper para o
normal padronizada. Nessa situação, em primeiro Espírito Santo são formadas pelo agrupamento de 9
lugar, faz-se a seleção entre, identificando as famílias a 14 clones (BRAGANÇA et al., 1993, 2001; FERRÃO
superiores e, posteriormente, a seleção dentro, et al., 1999, 2000, 2014, 2015a, 2015b, 2015c, 2015d;
quando são selecionadas as plantas de interesse FERRÃO, R.; FERRÃO, M.; FONSECA, 2013).
dentro das famílias de destaque.
No desenvolvimento dessas cultivares clonais,
O sucesso da seleção clonal depende também da utilizaram-se os seguintes procedimentos: seleção
forma como ela é realizada, ou seja, se baseada de lavoura ou população base com variabilidade
em características fenotípicas ou se com base genética; identificação dos indivíduos superiores;
no comportamento de suas progênies, sendo clonagem dos indivíduos superiores selecionados;
este último procedimento o método que tem avaliação experimental dos clones selecionados
proporcionado maior sucesso na seleção. A juntamente com testemunhas locais, em ensaios
avaliação das progênies em condições ambientais com delineamento experimental, instalados em
distintas é de grande importância, uma vez que se locais representativos da cultura, por um período
tem verificado que a variabilidade em C. canephora mínimo de quatro colheitas; seleção e agrupamento
pode ser atribuída, em parte, à variação ambiental dos materiais superiores para as diferentes
(FERWERDA, 1969). características; teste de compatibilidade genética
entre os clones de cada grupo; multiplicação dos
As principais características praticadas na seleção
clones superiores em jardim clonal; e lançamento
são o potencial de produção, estimado a partir de
da nova cultivar com disponibilização de estacas e/
quatro colheitas; a adaptabilidade e estabilidade
ou mudas para produtores, viveiristas, cooperativas,
de produção para ambientes diversos; a tolerância
associações de produtores, prefeituras municipais,
à seca, a pragas e doenças; a uniformidade de
instituições de ensinos, entre outras. Os valores de
maturação dos frutos; maior tamanho de grãos com
produtividades alcançadas por cultivares clonais são,
baixa percentagem de grãos do tipo moca; a elevada
em geral, superiores àqueles obtidos por variedades
Melhoramento Genético de Coffea canephora 143
A seleção contínua em uma população pode o número de genes envolvidos na expressão de uma
provocar diferentes problemas, entre eles: dada característica, menor é a probabilidade de se
estreitamento da base genética devido à redução da poder utilizar todos eles, principalmente pelo fato
variabilidade genética e a menor probabilidade de de que, aliado a essa dificuldade, existe também
seleção de genótipos superiores àqueles já extraídos o efeito ambiental interferindo na expressão final
na geração anterior (SOUZA JÚNIOR; ZINSLY, 1985) da característica. Assim, a frequência de alelos
podendo chegar até o seu esgotamento (GERALDI, favoráveis poderá ser aumentada de forma contínua
1997; PEREIRA; VENCOVSKY, 1988). O grande e gradativa por ciclos sucessivos de seleção, por
desafio do melhorista é monitorar as mudanças na intermédio da seleção recorrente (HALLAUER, 1992;
população visando a obter os ganhos contínuos pela RAMALHO, 1994; RAMALHO; GONÇALVES; SOUZA
seleção, sem descaracterizar e reduzir a variabilidade SOBRINHO, 1999).
genética e a base genética da população.
A seleção recorrente pode ser definida como
A maioria dos caracteres de importância econômica a seleção sistemática de plantas desejáveis de
tem herança quantitativa, ou seja, são, em geral, uma população, seguida pela sua recombinação
controlados por vários genes. A dificuldade e avaliação para formação da nova população
do melhorista está em buscar estratégias de melhorada que, por sua vez, é utilizada como
melhoramento visando a aumentar a frequência base para um novo ciclo de seleção e, assim,
dos alelos favoráveis dos genes de interesse na sucessivamente. A diferença entre as médias para
população e, consequentemente, melhorar a as diferentes características avaliadas da população
expressão do caráter. O desafio é que quanto maior melhorada e da população inicial indica a eficiência
População inicial
Identificação e
Variedades cultivadas, clonagem de plantas
Introduções de superiores
Germoplasma
Teste de
Avaliação Experimental compatibilidade
genética
Quatro colheitas
poligênico, como o rendimento de grãos. É utilizada quando se tem informações sobre a dominância
quando se tem duas populações divergentes e com alélica nos locos que controlam o caráter de
genes complementares, em cujo processo de seleção interesse, quando o programa visa à obtenção de
e recombinação há aumento da frequência de alelos híbridos e quando há treinamento, estrutura e mão
favoráveis nas duas populações de melhoramento. de obra qualificada para execução dos trabalhos.
Também se deve ter atenção quanto aos objetivos
A seleção recorrente recíproca deve ser utilizada
finais do trabalho – se visa à obtenção de híbridos
quando o objetivo do trabalho é buscar o
e/ou clones comerciais e se o efeito da capacidade
melhoramento da população per si e em
específica de combinação é estatisticamente
cruzamentos visando à exploração da heterose.
significativo. Em espécies de algumas culturas, como
Consiste na identificação de populações produtivas
o café robusta, coco, eucalipto, seringueira, cacau, a
com características de interesses divergentes e
seleção recorrente recíproca é estratégia adequada
complementares. Esse método de melhoramento
de melhoramento.
possibilita explorar tanto a CGC, associada à
variância genética aditiva, como a CEC, relacionada Os trabalhos de seleção recorrente recíproca
à variância genética não aditiva. em C. canephora iniciaram-se em 1984, na Costa
do Marfim, utilizando-se de duas populações
Assim, esse tipo de seleção deve ser utilizado nas
divergentes, de origens geográficas diferentes,
seguintes condições: quando se deseja explorar
denominadas de Congolense (Grupo 1 - África
simultaneamente a CGC e CEC, quando se conhece
Central) e Guineano (Grupo 2 - oeste da África)
a divergência genética entre as populações bases,
População obtida
por polinização
aberta, cruzamentos bipa-
rentais ou
cruzamentos com
mistura de pólen
Seleção das
melhores plantas
Avaliações dos
clones em ensaios
Teste de compatibilidade
Cultivar
(BERTHAUD, 1986). Nessa pesquisa, primeiramente plantas, o trabalho mostrou expectativas de ganhos
foi avaliada a capacidade de combinação dos genéticos altos com valor superior a 60% para
genótipos de cada população, cruzados com produção; moderado com índices de 14% a 18%
vários testadores da população recíproca (LEROY para vigor de plantas jovens e baixa para diâmetro
et al., 1993), uma vez que há predominância da da copa, tendo sido possível predizer 60% dos
capacidade geral de combinação (CHARRIER; ganhos genéticos em produtividades das plantas
BERTHAUD, 1988). Os melhores híbridos e as selecionadas em comparação com o clone mais
cultivares clonais atualmente plantados na Costa produtivo utilizado como testemunha.
do Marfim são derivados do melhoramento
A seleção recorrente recíproca, pode ser ilustrada
envolvendo os cruzamentos dos citados grupos
pelo fluxograma da Figura 8.
(LEROY et al., 1993, 1994, 1997). Segundo os autores,
as principais características de cada população
são as seguintes: Guineana – suscetibilidade à 4.4 HIBRIDAÇÃO
ferrugem-da-folha, alto teor de cafeína, baixo
peso de sementes, tolerância à seca, boa brotação, A hibridação tem sido uma das melhores estratégias
internódios curtos, folhas pouco alongadas e de melhoramento a fim de agregar em um único
maturação precoce. Congolense – resistência indivíduo características de interesses encontrados
à ferrugem-da-folha, médio teor de cafeína, em diferentes materiais genéticos. São muitos
sementes de tamanho maior, suscetibilidade à os exemplos de sucesso envolvendo hibridações
seca, pouca brotação, internódios longos, folhas em espécies de importância econômica e social
grandes e maturação tardia dos frutos. no cenário mundial, podendo-se citar o trigo, a
batatinha, hortaliças como tomate e repolho, a
Os principais resultados desses trabalhos foram as cana-de-açúcar e fruteiras, que se multiplicam por
constatações de presença de variabilidade genotípica via vegetativa. O melhor exemplo é dos milhos
e fenotípica dentro e entre as populações Guineana híbridos, desenvolvidos e cultivados em diferentes
e Congolense para arquitetura da planta, resistência regiões do mundo.
à seca, vigor, características organolépticas,
resistência a pragas e doenças; superioridade dos Em programas de melhoramento via hibridação é de
híbridos descendentes do cruzamento intergrupos fundamental importância selecionar bem os genito-
em relação aos cruzamentos dos intragrupos, res com base em características agronômicas e es-
justificando a eficiência da seleção recorrente tudos biométricos, como cruzamento dialélico e de
recíproca; eficiência da seleção recorrente no divergência genética, adaptabilidade e estabilidade.
melhoramento das populações per si e na obtenção A hibridação em C. canephora pode ser
de híbridos superiores; e variação de 0,22 a 0,78 das interespecífica ou intraespecífica. A segunda é
herdabilidades para características relacionadas à bastante facilitada em C. canephora pela existência
arquitetura da planta, de 0,13 a 0,40 para vigor da do sistema gametofítico de autoincompatibilidade,
planta e de 0,15 a 0,28 para as associadas com peso podendo dispensar a emasculação.
de grãos. As correlações fenotípicas e genotípicas
entre produtividade e vigor de plantas foram altas;
não houve alta correlação do peso de grãos com 4.4.1 Hibridação intraespecífica
vigor e produção; houve boa correlação entre o Para a realização de hibridações intraespecíficas
diâmetro da copa das plantas aos quatro anos artificiais (manuais), passa-se pelos seguintes passos:
de idade com a produtividade de plantas de dois definição com antecedência dos genitores; proteção
a cinco anos. Quanto às estimativas de ganhos com sacos apropriados de ramos produtivos
genéticos para diferentes características, Leroy et de plantas que serão utilizadas como genitores
al. (1997) verificaram progressos expressivos, cujas masculinos e femininos, cerca de três a cinco dias
produtividades de híbridos envolvendo genitores antes da antese; eliminação dos botões florais que já
elites das duas populações foram de 16% a 140% estiverem abertos; e monitoramento dos genitores
superiores às duas variedades comerciais clonais, quanto ao momento correto de efetuar a polinização
e o cruzamento mais produtivo mostrou-se mais artificial.
vigoroso. Efetuando a seleção de 5% das melhores
150 Café Conilon – Capítulo 6
Para a realização dos cruzamentos, os ramos deverão ser destacados e levados até o genitor
plagiotrópicos contendo as flores abertas, que feminino, também identificado, de outra planta.
funcionarão como genitor masculino, polinizadores Com o rompimento manual de ambos os sacos,
de outras plantas, devidamente identificados, as inflorescências masculinas contendo as flores
Coleção
Variedades cultivadas
Introduções
Germoplasma Silvestre
Divergentes
População A Complementares
População B
Características de interesse
Capacidade combinatória
1º Ciclo
(C1) Recombinação Progênies Progênies Recombinação
A Superiores Avaliação Experimental Superiores B
A Progênies B
População População
Introduções
Melhorada A1 Melhorada B1
Capacidade combinatória
2º Ciclo
(C2) Progênies Avaliação Progênies
Recombinação Superiores Superiores Recombinação
Experimental
A1 A1 B1 B1
Progênies
rústicas e produtivas (FAZUOLI, 1986; FAZUOLI et al., com menores teores, os quais, posteriormente,
2002). podem ser agrupados para a formação de uma
nova variedade clonal como também utilizados
As populações denominadas de ‘Catimor’ são
em cruzamentos para incorporar os alelos dessa
originadas do melhoramento envolvendo o ‘Híbrido
característica em outros materiais genéticos de
de Timor’ (C. arabica x C. canephora) x ‘Caturra’.
melhor desempenho comercial.
Apresentam muitas progênies resistentes à ferrugem
(PEREIRA et al., 2002). A transferência para C. canephora de alelos
responsáveis por características de interesse
Conforme já citado, muitas outras espécies podem
governadas por poucos genes, encontradas
ser utilizadas em trabalhos de melhoramento por
em espécies relacionadas, pode ser feita
apresentarem características de interesse, como:
utilizando inicialmente cruzamentos simples, e,
tolerância à seca (C. racemosa), baixo teor de cafeína
posteriormente, um ou dois retrocruzamentos
(C. eugenioides) ou mesmo ausência de cafeína em
com o pai recorrente para recuperar as demais
espécies da secção Mascarocoffea e resistência a
características importantes originais desse
nematoides (C. salvatrix) (CHARRIER; BERTHAUD,
recorrente.
1988).
Para as características governadas por maior
As espécies C. canephora, C. congensis, C. racemosa e
número de genes, como é o caso de produção
C. dewevrei vêm sendo aproveitadas em cruzamentos
de grãos, há necessidade de que a seleção seja
com C. arabica como importantes fontes de alelos
realizada após avaliação do desempenho das
para resistência a pragas, doenças, nematoides e
progênies oriundas dos cruzamentos. Apesar
tolerância a condições adversas de ambiente. A
dos ganhos expressivos obtidos pela seleção
resistência ao bicho-mineiro (Leucoptera coffeella)
fenotípica, essa estratégia tem sido mais efetiva
é encontrada em C. stenophylla, C. racemosa, C.
para caracteres de alta herdabilidade, e a sua
salvatrix, C. liberica, C. kapakata, C. eugenioides e C.
eficácia no melhoramento de C. canephora pode
dewevrei (CARVALHO et al., 1991).
estar associada à grande variabilidade existente
Para o sucesso de programas de obtenção de híbridos nas suas populações originais.
interespecíficos, é de fundamental importância o
conhecimento sobre a herança dessas características,
bem como a relação de dominância (CARVALHO et 4.5 MANUTENÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA
al., 1991). O sucesso de qualquer programa de melhoramento
O teor de cafeína, embora seja uma característica depende da existência de variabilidade genética na
qualitativa, apresenta herdabilidade intermediária população base. A escolha de genitores divergentes
(CHARRIER; BERTHAUD, 1988). A variedade Laurina, utilizados nos intercruzamentos para a formação
possivelmente originada por mutação da cultivar dessas populações garante tal variabilidade.
Bourbon de arábica possui cerca da metade do Também é desejável que esses genitores escolhidos
teor de cafeína de materiais genéticos dessa apresentem um desempenho satisfatório per si em
espécie (KRUG; MENDES; CARVALHO, 1939). Essa relação aos caracteres de interesse. Assim, análises
característica, segundo Costa (1965), citado por prévias sobre estimativas da capacidade geral e
Carvalho et al. (1991), é governada por apenas um específica de combinação dos prováveis genitores
par de genes (lr lr), constituindo-se, assim, em outra são de grande valia para definir a escolha mais
possibilidade para a redução desse componente em acertada possível dos pais. Outra preocupação é a
C. canephora, pelo melhoramento interespecífico. manutenção da variabilidade genética durante os
repetidos ciclos de seleção. Ela pode ser mantida por
O cruzamento interclones pode constituir-se
meio de recombinações com o uso de amostragens
na estratégia mais simples para redução do
apropriadas, de forma que o tamanho efetivo da
teor de cafeína em C. canephora, visto que a
população não seja reduzido (CRUZ; CARNEIRO,
espécie apresenta grande variabilidade para a
2003).
característica, com teores entre 2% e próximo a 4%.
Para tal, é necessária a avaliação e seleção de clones No programa de melhoramento genético da espécie
C. canephora germoplasma Conilon do Incaper, são
Melhoramento Genético de Coffea canephora 153
tratamentos não é considerado ideal. Nesse cenário, Resende (2002) define como modelo misto aquele
a utilização dos chamados modelos mistos, cuja a que contém efeitos fixos e aleatórios no mesmo
definição formal será apresentada posteriormente, modelo, cuja média geral e erro experimental
é considerada uma abordagem mais adequada sempre são classificados como fixos e aleatórios,
por permitir a análise de dados desbalanceados e respectivamente.
explorar a existência de covariâncias biológicas.
Resende (2002, 2007), mesmo reconhecendo
O uso dessa abordagem estatística para fins que o método dos quadrados mínimos seja o
de melhoramento deve-se ao pioneirismo do mais usual, não recomenda a sua utilização para
pesquisador americano C. R Henderson, que, análises de dados oriundos de melhoramento
na década de 40, desenvolveu e aplicou o BLUP genético de plantas perenes, pelos seguintes
(Best Linear Unbiased Prediction) para a seleção de motivos: presença simultânea de efeitos fixos e
animais superiores. O entendimento do BLUP e, aleatórios no mesmo modelo; desbalanceamento
consequentemente, do termo modelo misto passa provocado por morte de plantas; possibilidade de
pelas definições de efeitos fixos e aleatórios. obtenção de estimativas negativas de variâncias;
as medições repetidas em um mesmo indivíduo
Formalmente, um fator (tratamento, bloco, ano …)
durante vários anos ou épocas podem ocasionar
em um modelo linear é considerado de efeito fixo
medidas correlacionadas ao longo do tempo, o que
se ele for constante e atribuído a um conjunto finito
fere a independência e homogeneidade dos erros,
de tratamentos. Nesse caso as conclusões obtidas no
que são pressuposições básicas para se efetuar a
estudo se restringem apenas aos níveis dos fatores
análise de variância. Outro ponto a considerar é que
considerados. Em outras palavras, os resultados
os dados obtidos em um mesmo indivíduo, durante
biométricos não podem ser expandidos para outros
vários anos e analisados em estrutura fatorial no
cenários. Por outro lado, ao considerar um fator de
arranjo de parcelas subdivididas, violam duas
efeito aleatório assume-se que ele foi amostrado de
pressuposições requeridas pela análise de variância:
uma população representativa, cujas as respostas
a falta de casualização entre tratamentos e colheitas
são realizações de uma variável aleatória com função
e a não independência de erros devido ao fato de as
de distribuição de probabilidade pré-definida.
medidas serem tomadas sobre as mesmas unidades
Comumente, assume-se que esses efeitos são
experimentais ao longo do tempo (RESENDE;
distribuídos normalmente em torno de uma média
FERREIRA; MUNIZ, 1999).
comum e com variâncias específicas (McCULLOCH;
SEARLE, 2001). O resultado prático ao considerar o Assim, a solução simultânea para estimação dos
efeito de tratamentos (genótipos) como aleatório, efeitos fixos e predição dos efeitos aleatórios é obtida
por exemplo, é que o ordenamento dos melhores através das chamadas equações de modelos mistos
genótipos é realizado de modo mais acurado, (EMM) desenvolvidas por Henderson em 1984. A
considerados outros fatores que não apenas as formulação matricial do modelo estatístico, assim
médias. como a representação da EMM são dadas abaixo.
Definida a natureza dos efeitos, modelos serão y = XB + Zu + e
considerados mistos se eles forem constituídos
onde y é o vetor de observações fenotípicas
por fatores de efeitos fixos e aleatórios. Para
(dados de produtividade, doença, qualidade de
essa situação, a predição dos efeitos fixos serão
bebida...); B e u são os vetores de efeitos fixos e
chamados de melhor estimador linear não
aleatórios, respectivamente; X e Z são as matrizes de
enviesado (Best Linear Unbiesed Estimator - BLUE) e a
delineamento associadas aos efeitos contidos em B
predição dos efeitos aleatórios serão denominados
e u, respectivamente; e o e é o vetor de erro residual
de melhor preditor linear não enviesado (BLUP).
do modelo. Assume-se que os efeitos aleatórios do
O termo ‘melhor’ (Best) é no sentido de que os
modelo são distribuídos: u~N(0,G) e e~N(0,R), onde
estimadores minimizam a variância amostral;
G e R são as matrizes de variância-covariância dos
‘linear’ no sentido de serem funções dos fenótipos
vetores u e e, respectivamente. Além disso, assume-
observados; e ‘não enviesados’ (unbiesed), pelo
se que a E(y) = XB e Var(y) = ZGZ’ + R. A equação de
fato de a esperança da estimativa ser igual ao
modelos mistos para solução simultânea de efeitos
parâmetro (LYNCHE; WALSH, 1998).
Melhoramento Genético de Coffea canephora 155
fixos e aleatórios é dada por: à maneira com a qual o fator foi amostrado, ou
seja, se ele constitui ou não uma amostra aleatória
(Z’X’RR X X’ R–1 Z
) (ûβ ) = ( X’Z’ RR уу)
–1 ^ –1
e representativa de uma população (McCULLOCH;
–1
X Z’ R–1 Z + G–1 –1
SEARLE, 2001). Já a segunda se relaciona com o
objetivo do estudo (SMITH; CULLIS; THOMPSON,
Nota-se que para a solução da equação representada 2005). Para o caso de estudos de melhoramento,
é necessário o conhecimento das matrizes de a definição de maior interesse é sobre a natureza
variância-covariâncias G, R e V. Raras são as situações dos efeitos genéticos. Embora os efeitos não
em que essas matrizes são conhecidas a priori e, por genéticos (blocos, ano, ambientes etc.) não devam
isso, elas são substituídas por suas estimativas, que ser negligenciados, eles não entrarão na discussão
podem ser calculadas com base nos métodos dos deste capítulo.
momentos (FISCHER, 1918; HENDERSON, 1953),
e os métodos de máxima verossimilhança (ML) No melhoramento, para fins de seleção, o objetivo
(HARTLEY; RAO, 1967) e máxima verossimilhança é identificar os melhores materiais entre aqueles
restrita (REML) (PATTERSON; THOMPSON, 1971). avaliados. Nessas situações, é de interesse do
Comumente, os métodos baseados em REML são melhorista que o ordenamento dos genótipos seja
preferidos no caso de modelos mistos. O uso de realizado com base no verdadeiro efeito genético
matrizes de variâncias-covariâncias estimadas faz de cada planta. Por definição, esse caso sugere o uso
com que os termos BLUE e BLUP não sejam mais dos eBLUPs para ordenação indicando, assim que
adequados, sendo apropriado substituí-los por os efeitos sejam de natureza aleatória. Todavia, se o
eBLUE (Empirical Best Linear Unbiased Estimador) e objetivo for apenas comparar pares de genótipos,
eBLUP (Empirical Best Linear Unbiased Estimador), então a utilização dos eBLUPs é inapropriada e,
ou seja, BLUE e BLUP empíricos. O termo ‘empírico’ por isso, os efeitos genéticos deveriam ser tratados
é adicionado para explicitar essa aproximação como fixos (SMITH; CULLIS; THOMPSON, 2005). Na
que está sendo realizada no cômputo dos efeitos prática, é natural que, no início, os programas de
(DUARTE; VENCOVSKY, 2001). melhoramento sejam constituídos de populações
com número grande de plantas, diversas e, muitas
Quando genótipos podem ser considerados vezes, desbalanceadas. Nessas situações, a própria
aleatórios, os efeitos genéticos tornam-se parte do estrutura dos dados sugere que o efeito de genótipo
vetor u e podem ser estimados via BLUP. Define- seja de natureza aleatória. Após inúmeros ciclos de
se por efeito genético a decomposição do valor seleção e já nas fases finais, nos chamados ensaios
genotípico em componentes com interpretação de competição, o objetivo passa a ser comparar a
genética. Uma decomposição normalmente performance entre materiais. Para tanto, o efeito
realizada é a divisão de efeitos genéticos em partes de genótipo é comumente considerado como fixo.
aditivas e não aditivas (dominância e epistasia). Apesar de essa ser uma prática comum, há autores
Um dos objetivos primários no melhoramento é que argumentam sempre a favor do uso de efeitos
a predição desses valores genotípicos de modo a genéticos como aleatórios. O argumento é o que
identificar aquelas plantas de performance superior. resultados a serem obtidos são mais realísticos,
Uma das propriedades importantes do BLUP é a dadas as propriedades do BLUP (SMITH; CULLIS;
capacidade de maximizar a correlação entre os THOMPSON, 2005).
verdadeiros valores genotípicos e aqueles preditos.
Em termos práticos, isso significa confiabilidade Outro argumento importante a favor da utilização
de que, no momento da seleção, o melhorista está de modelos mistos, sobretudo, no melhoramento
trabalhando com as melhores plantas (PHIEPO et al., de espécies perenes é a mensuração das chamadas
2008). medidas repetidas, as quais são definidas como
aquelas realizadas no mesmo tratamento, ou na
Uma pergunta frequente é quando um fator deve mesma unidade experimental, por mais de uma vez.
ser considerado fixo ou aleatório. Na literatura, Dados longitudinais são casos especiais de medidas
existem diversos textos que abordam tal dicotomia. repetidas, nas quais as observações são ordenadas
Todavia, é comum considerar que a escolha da pelo tempo. Em café, um exemplo de dado
natureza de um efeito seja direcionada por duas longitudinal são as observações de produtividade
informações importantes. A primeira delas se refere
156 Café Conilon – Capítulo 6
mensurada nas colheitas, em diferentes anos para de variância-covariância residual. O melhor ajuste
o mesmo indivíduo. Um ponto importante das foi obtido ao considerar a estrutura de Simetria
análises biométricas nesse caso é que, no geral, Composta (CSH), o que indicou que as correlações
as observações são correlacionados ao longo do entre a produção nos diferentes anos foram
tempo, o que fere os pressupostos básicos de constantes. Para essa situação, os autores concluíram
independência e homogeneidade de erros dos não haver evidências de efeito de bienalidade de
métodos clássicos da ANOVA. Nesse cenário, o produção.
uso da modelagem mista é considerada mais
Para fins de seleção e ordenamento de genótipos,
apropriada, pois permite que a parte aleatória seja
Mistro (2013) usou modelos mistos para analisar
modelada com a inclusão de matrizes de variância-
um conjunto de dados oriundos de experimento de
covariâncias que melhor retratam o fenômeno. Para
avaliação de progênies de uma população de café
isso, a escolha dessas matrizes é considerada um
robusta introduzida da Costa Rica pelo Instituto
ponto-chave e, por isso, diferentes estruturas são
Agronômico de Campinas (IAC). O estudo teve
testadas de modo a selecionar aquela que melhor
como objetivo geral quantificar a variabilidade
se adapta aos padrões de resposta das observações
genética dos materiais genéticos e verificar o
(SMITH et al., 2007; MALOSETTI; RIBAUT; VAN, 2013).
potencial genético dessa população para submetê-
Embora seja um método comprovadamente la à seleção recorrente. Os resultados das análises
eficiente, o uso do BLUP não ganhou a mesma proporcionaram definir com segurança estratégias
popularidade no melhoramento vegetal como no de melhoramento genético via propagação sexuada
animal. Piepho et al. (2008) argumentaram que e assexuada, para os materiais genéticos estudados.
uma razão provável para isso é o número elevado As conclusões desse estudo serão utilizadas na
de dados fenotípicos obtidos por indivíduo nos seleção de genótipos superiores que, futuramente,
experimentos com plantas. Segundo os autores, poderão constituir-se em uma cultivar de café
para essas situações, BLUE e BLUP não oferecem robusta. Estudo similar foi realizado por Carias et
resultados muito diferentes, dando a falsa impressão al. (2014) considerando um conjunto de clones
de que a escolha do estimador não é importante. de café conilon do Incaper com diferentes épocas
Em adição, os mesmos pesquisadores pontuam de maturação dos frutos, que o proporcionou
sobre as estimativas pouco precisas que podem ser resultados importantes para auxiliar nas futuras
obtidas para os componentes de variância no caso estratégias de seu programa de melhoramento.
de experimentos com plantas. Uma razão para isso Estudos mais detalhados, que envolvam não apenas
é a complexidade da estrutura que as matrizes de a modelagem de efeitos temporais, mas também
variância-covariância podem assumir. a incorporação de efeitos espaciais e de interações
complexas, tais quais a interação Genótipo x
Para Resende (2007), o uso de modelos mistos
Ambiente, estão sendo conduzidos em populações
possui as seguintes vantagens: modela tanto os
experimentais do Incaper. Espera-se que essas
efeitos fixos como os aleatórios simultaneamente;
informações possam ser utilizadas na seleção mais
não infringe a pressuposição da independência, pois
acurada de genótipos superiores maximizando,
modela a correlação intraindivíduo; em análises de
assim, os ganhos genéticos.
dados desbalanceados, as estimativas dos efeitos de
tratamentos são mais precisas; não é afetado pela Apesar dos avanços, na última década, do número
translação (mudanças na classificação dos efeitos de estudos dessa natureza em café conilon, os
no modelo); não gera estimativas negativas de resultados ainda não são considerados expressivos,
variâncias. sobretudo, ao considerar o potencial prático
que tal abordagem apresenta. A existência de
Em café, o número de estudos envolvendo modelos
desbalanceamentos e a estrutura longitudinal, na
mistos é considerado modesto. Em conilon,
qual se baseia os experimentos em C. canephora são
Cilas, Mongagnon, Bar-Hen (2011) utilizaram tal
dois fortes argumentos para que essa metodologia
abordagem na análise de dados longitudinais de
seja incorporada nos programas de melhoramento
clones C. canephora de modo a investigar o efeito
de plantas. Revisões detalhadas sobre a importância
temporal sob a produtividade de grãos. Para tanto,
e potencial dessa abordagem em plantas são
foram investigadas diversas estruturas de matrizes
Melhoramento Genético de Coffea canephora 157
apresentadas por Duarte e Vencovsky (2001), Smith, que se baseia na covariância existente entre
Cullis e Thompson (2005), Piepho et al. (2008), o material experimental avaliado e o material
Malosetti, Ribaut, Van (2013). genético repassado para compor novos ciclos de
melhoramento ou para a comercialização.
5.2 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS A maioria dos trabalhos disponíveis visando a obter
estimativas de parâmetros genéticos no gênero
As estimativas de parâmetros genéticos, tais como Coffea tem ocorrido com C. arabica. As informações
variância fenotípica, variância genotípica, coeficiente desses trabalhos nem sempre são apropriadas para
de variação genotípico e herdabilidade, permitem serem aplicadas em C. canephora, uma vez que
conhecer a estrutura e a variabilidade genética da as citadas espécies são diferentes e também que
população. Esses estudos, portanto, poderão dar as principais informações de C. canephora são de
subsídios para predizer os ganhos genéticos e o países africanos e obtidas de grupos de materiais
possível sucesso no programa de melhoramento. Tais genéticos distintos do conilon brasileiro. Assim,
estimativas também são importantes na redefinição por conseguinte, é de grande importância que
dos métodos de melhoramento e seleção a serem se realize essa estimação em café robusta, pois,
utilizados; na identificação da natureza da ação conforme exposto por Falconer (1981) e Vencovsky
dos genes envolvidos no controle, especialmente (1987), as estimativas dos parâmetros genéticos
dos caracteres quantitativos; e na definição de podem ser influenciadas por diferentes métodos
estratégias eficientes de melhoramento para obter de melhoramento, materiais genéticos utilizados,
ganhos genéticos contínuos, mas ao mesmo tempo, diferentes condições ambientais e época e idade de
sem descuidar da manutenção de base genética avaliação, entre outros fatores.
adequada na população para seleção futura (CRUZ;
CARNEIRO, 2003). Em C. canephora, Leroy et al. (1994) encontraram
as seguintes estimativas de herdabilidade: altura
As estimativas das variâncias genéticas são obtidas da planta; 0,37; diâmetro do caule; 0,24; número
geralmente a partir de quadrados médios de análise de ramos plagiotrópicos; 0,43; peso de grãos na
de variância, feitas conforme o delineamento primeira safra; 0,28; peso de grãos na segunda
genético e experimental utilizados. Conhecidas as safra; 0,27; peso de grãos na terceira safra; 0,15;
esperanças dos quadrados médios, obtêm-se, com peso de grãos na quarta safra; 0,14; e peso de
certa facilidade, os estimadores dos componentes grãos acumulados; 0,38. Montagnon et al. (1988)
de variância. obtiveram estes valores de herdabilidades: 0,73
As estimativas de parâmetros genéticos podem ser para peso de sementes; 0,80 para conteúdo de
obtidas a partir de determinados delineamentos cafeína; 0,74 para conteúdo de gordura e 0,11
genéticos, como os delineamentos I e II de para conteúdo de sacarose nos grãos. Segundo os
COMSTOCK; ROBINSON; HARVEY, (1949), dialelo, últimos autores, há dificuldade de interpretação
ensaio de famílias, entre outros. Esses delineamentos das estimativas de parâmetros genéticos em C.
são de grande importância por proverem estimativas canephora, uma vez que muito dos materiais
dos componentes de variância genotípicas, as quais genéticos utilizados são de diferentes origens. Por
são utilizadas para o cálculo de parâmetros genéticos exemplo, nesse mesmo estudo, a herdabilidade
indispensáveis na avaliação de populações de para produtividade em plantas jovens foi alta
trabalho, orientação de esquemas mais apropriados (>0,70), mas com plantas adultas foi baixa (<0,20).
de seleção e predição do êxito de programas de A característica peso de 100 grãos foi de valor baixo
melhoramento. a médio (0,15 a 0,30). As correlações fenotípica e
genética entre vigor da planta e produtividade
A variância aditiva tem merecido grande destaque são elevadas (>0,60), mas a correlação entre peso
porque expressa a similaridade entre indivíduos de 100 sementes e produtividade, características
aparentados e, portanto, é um dos componentes importantes no melhoramento, não apresentaram
que determinam a covariância entre esses elevada e positiva magnitude. Le Pierrès (1988)
indivíduos. Assim, torna-se um componente de expôs que o teor de cafeína é uma característica
variância indispensável para avaliar o sucesso transmitida de forma aditiva.
de um programa de melhoramento genético
158 Café Conilon – Capítulo 6
Fonseca (1999), Ferrão, R., Ferrão, M. e Fonseca possibilidade de contínuos ganhos genéticos
(2003), Ferrão (2004), Ferrão et al. (2008) e Ramalho et utilizando esse método de melhoramento para as
al. (2011), em estudos de estimativas de parâmetros citadas características.
genéticos envolvendo diferentes características e
Carias et al. (2014) realizaram estimativa de
genótipos de café conilon e robusta, verificaram
parâmetros genéticos para um conjunto de clones
que na análise de variância houve diferenças
do Incaper com diferentes épocas de maturação de
significativas (P<0,01) entre os genótipos, para a
frutos, pelo procedimento REML/BLUP. Verificaram
maioria das características, indicando a existência de
baixa magnitude dos valores genéticos entre os
variabilidade genética entre os materiais genéticos;
clones dos diferentes grupos de maturação, sendo
o coeficiente de determinação genotípico (H2) foi
o maior valor da herdabilidade média dos clones
superior a 70% para a maioria das características,
para o grupo de maturação intermediário, seguido
alcançando o valor superior a 95%.
pelo precoce e tardio, respectivamente. O valor de
Em estudos de estimativa de parâmetros genéticos acurácia de seleção de clones foi de 0,68; 0,69 e
de 60 clones de café conilon Incaper, para 14 0,18 para os grupos precoce, intermediário e tardio,
características, Oliveira (2010) verificou baixo respectivamente.
coeficiente de determinação genotípico para
Esses resultados expressaram a existência de maior
78,50% dos caracteres indicando grande influência
variabilidade genética em relação à ambiental, que
ambiental e baixa variabilidade genética entre os
associados a coeficiente de variação genético (CVg)
materiais genéticos estudados.
superior ao coeficiente de variação ambiental (CVe)
Rodrigues (2010) e Rodrigues et al. (2012) para a maioria dos caracteres, reforçam as condições
verificaram a estimativa de parâmetros genéticos adequadas para execução do programa de
para três grupos de clones do programa de melhoramento e para se obter sucesso nos trabalhos
melhoramento genético de café conilon do Incaper, de seleção.
com épocas distintas de maturação dos frutos para
diferentes anos e características. As estimativas dos
coeficientes de determinações genotípicos (H2) 5.3 CORRELAÇÕES ENTRE CARACTERES
apresentaram valores entre 71,49% e 84,86% para Na análise de correlações, procura-se determinar
ciclo de maturação; 74,10% e 93,94% para tamanho o grau de relacionamento entre duas variáveis. As
de frutos; 60,63% e 92,86% para porte da planta; correlações entre duas características podem ser
59,10% e 89,04% para vigor da planta; 54,75% e fenotípicas, genotípicas ou ambientais.
89,08% para índice de avaliações visual e 69,78%
e 95,56% para produtividade de grãos. A alta Os estudos de correlações têm grande importância
produtividade média, associada a esses resultados, em programas de melhoramento, principalmente
mostram expressiva variabilidade genética dos quando a seleção do caráter desejável apresenta difi-
materiais genéticos que poderão ser exploradas culdade por se tratar de um caráter de baixa herdabi-
com êxito no melhoramento. lidade e/ou problemas de medição ou identificação.
A correlação simples permite avaliar a magnitude e
Mistro (2013), estudando progênies de uma o sentido das relações entre dois caracteres, sendo
população de café robusta do IAC, observou de grande utilidade no melhoramento por permi-
elevada variabilidade genética, possível de ser tir avaliar a viabilidade prática da seleção indireta,
explorada tanto para obtenção de clones quanto que, em alguns casos, pode levar a progressos mais
para seleção recorrente. rápidos que a seleção direta da característica dese-
Vicentini (2013) estudou uma população de jada. As correlações mostram-se como ferramentas
maturação tardia dos frutos de café conilon do auxiliares em estudos que visem a reduzir o número
Incaper, que vem sendo submetida à seleção de características utilizadas em análises, como, por
recorrente. Por intermédio da estimativa de exemplo, nos estudos de divergência genética, em
parâmetros genéticos para cinco características, que as características disponíveis são aquelas redun-
verificou-se significativa variabilidade genética para dantes por estarem correlacionadas com outras de
produtividade, tamanho de grãos e uniformidade mais fácil mensuração ou que demandam menor
de maturação. Os resultados evidenciam a custo e/ou tempo para avaliação (CRUZ; REGAZZI;
Melhoramento Genético de Coffea canephora 159
longo das avaliações em relação à característica Componentes principais obtidos da matriz de covariâncias
estudada, a estimativa mais adequada desse Componentes principais obtidos da matriz de correlações
coeficiente é aquela obtida pelo método baseado nos Análise de variância com efeito do ambiente removido do erro
e, de fato, a estimativa de repetibilidade pelo método Figura 9. Estimativa do coeficiente de determinação (R2)
de componentes principais tem sido mais eficiente para verificação da acurácia de três métodos
de estimativa de repetibilidade conforme o
(FONSECA, 1999; FERRÃO et al., 2003b; FONSECA et
número de colheitas, Marilândia/ES.
al., 2003c, 2004b; FERRÃO, 2004). Fonte: Fonseca (1999).
Resende (2001) apresentou estimativas dos
coeficientes de repetibilidade para várias espécies Ferrão et al. (2003b) estimaram o coeficiente de re-
perenes, como eucalipto, seringueira, cacaueiro, petibilidade por sete colheitas em 50 genótipos de
coqueiro, cupuaçu, guaraná envolvendo diferentes café conilon no Estado do Espírito Santo empregan-
caracteres. O coeficiente de repetibilidade médio foi do os métodos de análise de variância, componen-
de 0,66, com variação de 0,45 a 0,92. A magnitude tes principais utilizando as matrizes de correlações e
desse coeficiente depende da herdabilidade da de covariâncias, análise estrutural utilizando as ma-
característica estudada e do método utilizado para trizes de correlações e covariâncias, além de estimar
a sua estimação. O autor classifica o coeficiente de o número de colheitas necessárias para expressão
Melhoramento Genético de Coffea canephora 161
do valor real do genótipo. Verificaram que o méto- na ordem de 80%, foram necessárias quatro colheitas
do de componentes principais, com o uso de matriz em Sooretama e cinco em Marilândia (Tabelas 1 e 2 e
de covariâncias, apresentou o maior coeficiente de Figuras 10 e 11).
repetibilidade (r = 0,662) e a maior acurácia com R2 =
93,19%, sendo cinco colheitas suficientes para se ter
uma confiabilidade de 90% para predição do valor 5.5 DIVERGÊNCIA GENÉTICA
real do indivíduo. O sucesso de um programa de melhoramento
Em estudo de repetibilidade para a característica de plantas reside na existência de variabilidade
produtividade, para 40 genótipos, utilizando genética na população de trabalho. Os melhoristas
diferentes métodos, para sete colheitas em dois têm recomendado, para a formação de populações-
locais do Estado do Espírito Santo, Ferrão (2004) base, o intercruzamento entre cultivares superiores
verificou que o método de componentes principais e divergentes.
pela matriz de covariâncias apresentou os maiores Os estudos de divergência genética têm sido de
coeficientes de repetibilidade, ou seja, 0,501 em grande importância em programas de melhoramen-
Sooretama e 0,432 em Marilândia, com coeficientes to que incluem hibridações por fornecer parâmetros
de determinação de R2 = 87,56% e R2 = 84,19, para a identificação de genitores que, quando cru-
respectivamente (Tabelas 1 e 2). Tais resultados zados, possibilitam expressar maior efeito heteró-
indicam que esse método dos componentes tico e maior probabilidade de recuperar genótipos
principais foi mais adequado para estimar o superiores nas gerações segregantes. Também é de
coeficiente de repetibilidade, pois proporciona grande utilidade em estudos evolutivos de espécies
maior acurácia na expressão do valor real do por gerar informações sobre os recursos genéticos
genótipo, uma vez que levou em consideração o disponíveis, bem como auxiliar na localização e no
comportamento dos genótipos no que concerne intercâmbio de materiais genéticos (FALCONER,
à bienalidade da característica estudada. Ainda no 1981; DIAS; KAGEYAMA, 1998; CRUZ; REGAZZI; CAR-
estudo, com esse mesmo método, notou-se que para NEIRO, 2004).
se ter elevada acurácia no valor real dos genótipos,
Tabela 1. Coeficiente de repetibilidade ( ) e de determinação (R2) para sete colheitas e estimativas do número
necessário de colheitas para a obtenção de diferentes R2 nos cinco métodos, em Sooretama/ES, 2004
Número de medidas (n)* para diferentes R2
Métodos de estimação
R2 0,80 0,85 0,90 0,95 0,99
1) ANOVA 0,386 81,48 6,36(6) 9,01(9) 14,32(14) 30,20(30) 157,50(157)
2) Componentes principais – covariância 0,501 87,56 3,98(4) 5,64(6) 8,95(9) 18,90(19) 98,49(98)
3) Componentes principais – correlações 0,425 83,79 5,42(5) 7,67(8) 12,19(12) 25,73(26) 134,05(134)
4) Análise estrutural – correlações 0,407 82,81 5,81(6) 8,23(8) 13,08(13) 27,61 (28) 143,84(144)
5) Análise estrutural – covariância 0,386 81,48 - - - - -
*Número aproximado.
Fonte: Ferrão (2004).
Tabela 2. Coeficiente de repetibilidade ( ) e de determinação (R2) para sete colheitas e estimativas do número
necessário de colheitas para a obtenção de diferentes R2 nos cinco métodos, em Marilândia/ES, 2004
Número de medidas (n)* para diferentes R2
Métodos de estimação
R2 0,80 0,85 0,90 0,95 0,99
1) ANOVA 0,352 79,19 7,36(7) 10,43(10) 16,56(17) 34,96(35) 182,16(183)
2) Componentes principais – covariância 0,432 84,19 5,26(5) 7,45(7) 11,83(12) 24,97(25) 130,09(130)
3) Componentes principais – correlações 0,395 82,07 6,12(6) 8,67(9) 13,76(14) 29,05(29) 151,38(151)
4) Análise estrutural – correlações 0,379 81,06 6,54(7) 9,27(9) 14,72(15) 31,07(31) 161,89(162)
5) Análise estrutural – covariância 0,352 79,19 - - - -
*Número aproximado.
Fonte: Ferrão (2004).
162 Café Conilon – Capítulo 6
100 100
90 90
80 80
70 70
60 60
R2(%)
R2(%)
50 M1=Método de Análise de Variância 50
M2=Método de Componentes Principais – M2=Método de Componentes Principais –
40 Covariância 40 Covariância
M3=Método de Componentes Principais – M3=Método de Componentes Principais –
30 30 Correlações
Correlações
20 M4=Método de Análise Estrutural – Correlação 20 M4=Método de Análise Estrutural – Correlação
10 10
0 0
0 20 0 20
Número de colheitas Número de colheitas
Figura 10. Gráfico ilustrativo da estimativa do coeficiente Figura 11. Gráfico ilustrativo da estimativa do coeficiente
de determinação (R2) em porcentagem, em de determinação (R2) em porcentagem,
função do número de colheitas, por quatro conforme o número de colheitas, por quatro
métodos de estimação do coeficiente de métodos de estimação do coeficiente de
repetibilidade da característica produtividade repetibilidade da característica produtividade
de café conilon, em Sooretama/ES. de café conilon, em Marilândia/ES.
Fonte: Ferrão (2004). Fonte: Ferrão (2004).
A divergência genética tem sido avaliada por meio aglomerativos diferem dos demais por dependerem
de técnicas biométricas baseadas na quantificação fundamentalmente de medidas de dissimilaridade
da heterose ou por processos preditivos. Entre os estimadas previamente pela distância Euclidiana
métodos fundamentados em modelos biométricos ou por distância de Mahalanobis, entre outras.
que se destinam à avaliação da divergência Já no método dos componentes principais pela
dos genitores, citam-se as análises dialélicas, análise de variáveis canônicas, o objetivo é avaliar a
que informam tanto a capacidade específica de dissimilaridade entre os indivíduos por intermédio
combinação quanto a heterose manifestada nos de uma dispersão gráfica, em que se consideram, em
híbridos. Os métodos preditivos da divergência geral, dois eixos cartesianos. A escolha do método
entre genitores, por dispensarem a obtenção mais adequado tem sido determinada pela precisão
prévia das combinações híbridas, têm merecido desejada pelo pesquisador, pela facilidade da análise
considerável ênfase. Os preditivos têm por base as e pela forma como os dados foram obtidos (CRUZ;
diferenças agronômicas morfológicas, fisiológicas VENCOVSKY; CARVALHO, 1994; CRUZ; CARNEIRO,
e moleculares para determinar a divergência entre 2003; CRUZ; REGAZZI; CARNEIRO, 2004).
os genitores, que geralmente é quantificada por
Para Cruz, Vencovsky e Carvalho (1994), das diferen-
uma medida de similaridade ou dissimilaridade. A
tes medidas de similaridade ou dissimilaridade que
inferência com base na diversidade ecogeográfica
quantificam as distâncias entre duas populações, a
também é exemplo de método preditivo da heterose
distância Euclidiana e a distância generalizada de
(CRUZ; REGAZZI; CARNEIRO, 2004).
Mahalanobis são as mais usadas. A primeira técni-
A análise estatística multivariada tem sido ca é mais utilizada para caracterização de materiais
amplamente utilizada para quantificar a divergência genéticos mantidos em coleções de germoplasmas,
genética. Tendo-se em mãos um banco de dados sendo o banco de dados sem repetições. A utilização
envolvendo diferentes variáveis de interesse para a da distância generalizada de Mahalanobis é reco-
espécie em estudo, provenientes de experimentos, é mendada para dados provenientes de ensaios com
possível integrar as múltiplas informações e escolher delineamento experimental com repetição.
os genitores mais divergentes e que terão maior
A estimação da divergência genética na cultura de C.
probabilidade de promover resultados superiores
canephora apresenta importâncias na identificação
em um programa de melhoramento.
de genitores com máxima divergência genética
No estudo de divergência genética, vários métodos que poderão ser destinados a cruzamentos e
multivariados podem ser aplicados. Entre eles, citam- na identificação de genitores produtivos com
se a análise por componentes principais, variáveis máxima similaridade que, ao serem propagados
canônicas e métodos aglomerativos. Os métodos vegetativamente, poderão ser agrupados,
Melhoramento Genético de Coffea canephora 163
7
19
Método de agrupamento : Single Linkage meio da distância generalizada de Mahalanobis
20
23
9
11
e o agrupamento dos genótipos pelo método
baseado na média das distâncias (Unweighted
15
21
14
32
25
31
24
Pair Gruop Method with Arithmetic Mean - UPGMA).
2
40
38
Verificou-se ampla variabilidade genética
18
27
26 separando, por similaridade, cinco grupos de
29
22
8
28
genótipos. Identificaram-se genótipos superiores
com potenciais para serem utilizados futuramente
16
36
39
17
1
35
4
no programa de melhoramento visando tanto
5
3
12
a sua inclusão em variedade clonal quanto em
10
33
30 hibridações.
34
6
37
13
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
técnicas alternativas que possam ser mais eficazes. de seleção e, mesmo considerando um único tipo
de índice, existem metodologias distintas com as
Ganhos genéticos podem ocorrer de forma direta e
quais se podem trabalhar os dados utilizando-se
indireta. Paula (1997) descreveu que a seleção direta
de pesos econômicos, ganhos desejados ou grau
é uma estratégia utilizada pelo melhorista que está
de restrição imposta ao cálculo dos coeficientes
interessado em obter ganhos em um único caráter
dos índices. Assim, por meio desses processos
sobre o qual praticará a seleção. Essa é a forma
de trabalhar com os dados, o melhorista pode
mais fácil e prática de obter ganhos para uma única
identificar, de maneira rápida e eficiente, materiais
característica, sendo a resposta à seleção direta.
genéticos mais adequados aos propósitos do
A seleção indireta é uma estratégia utilizada pelo melhoramento. Com os recursos computacionais
melhorista que está, a princípio, interessado em existentes, a estimação de índices tornou-se
obter ganhos em uma característica Y, quando a operação simples podendo-se, assim, recomendar
seleção é aplicada sobre uma outra característica a sua utilização como importante procedimento na
X. Cruz e Carneiro (2003) relataram que a avaliação busca de eficiência na seleção (CRUZ, 2001).
da magnitude da resposta correlacionada tem
Os índices clássicos de seleção de Smith (1936) e de
sido de grande interesse quando se deseja obter
Hazel (1943) e o Índice de Pesek e Baker (1969) são
ganhos em características de grande importância,
muito utilizados em programas de melhoramento
mas, por questões de complexidade, dificuldade de
de várias culturas.
identificação e/ou mensuração, a seleção é praticada
em caracteres auxiliares. Entretanto, ressaltaram que Ferreira (2003) e Ferreira et al. (2005) usaram o
a seleção em certas características pode provocar peso econômico do desvio-padrão genético (CVg)
alterações indesejáveis em outras, quando há e efetuaram a predição de ganhos pelos índices
correlações desfavoráveis entre as características- de Smith (1936), Hazel e Lush (1943) e Pesek e
alvo da seleção. Baker (1969) em 14 características de 40 clones de
café conilon, avaliados em dois locais, Sooretama
Ferreira et al. (2004) realizaram a predição de ganho
e Marilândia. Foram obtidos ganhos preditos
genético utilizando 14 características fenotípicas
equilibrados para as características estudadas e 60%
avaliadas em 40 clones de café conilon nos locais
de coincidência dos clones selecionados nos dois
de Sooretama e Marilândia. Verificaram ganho
locais.
em diferentes características, com destaque para
predição de progresso genético na produtividade
de grãos, que foi em Marilândia de 22,69%, e em 5.8 INTERAÇÃO GENÓTIPO X AMBIENTE,
Sooretama de 25,41%. ADAPTABILIDADE E ESTABILIDADE DE
PRODUÇÃO
para produtividade tem sido sempre significativa, conjunta, verificaram diferenças significativas
o que mostra aos pesquisadores a necessidade pelo teste F (P<0,01) para locais (L), ano (A) e
de mistura de clones com fim de recomendação interações T x A, T x L, A x L e T x A x L. Na análise
para determinadas regiões de Camarões e Costa de adaptabilidade e estabilidade utilizando as
do Marfim. Estudos realizados neste último país metodologias de Eberhart e Russel (1966) e Cruz,
africano confirmaram a existência de interação Torres e Vencovsky (1989), os genótipos mostraram-
genótipo x ambiente e, portanto, revelam a se com adaptabilidade geral (β1=1). Para a maioria
necessidade de avaliar materiais genéticos em dos genótipos, houve boa previsibilidade, indicada
diferentes condições agroclimáticas. pelos elevados coeficientes de determinação
(R2>80%) e desvio da regressão estaticamente igual
Moschetto et al. (1996) avaliaram diferentes
a zero (σ2d=0). Não foi identificado o genótipo ideal
materiais genéticos de C. canephora e híbridos
que apresentasse todos os atributos, como média
interespecíficos em diferentes ambientes, épocas de
alta, resposta positiva à melhoria de ambiente (β1i<1,
colheitas e tipos de processamento de grãos visando
β1i + β2i >1) e alta previsibilidade (σ2d=0). Houve uma
a identificar a interferência dessas variáveis na
boa concordância dos resultados com o uso das
qualidade da bebida. Verificou-se melhor qualidade
duas metodologias.
da bebida do café no tratamento lavado em relação
ao processado por via seca, mas identificou-se Ferrão (2004) e Ferrão et al. (2007) estudaram a
variação desse comportamento entre genótipos. interação genótipo x ambiente e a adaptabilidade
Os clones tiveram comportamentos mais uniformes e estabilidade de produção em 40 genótipos
quando processados por via úmida. Não houve de café conilon, avaliados por sete safras, em
diferença significativa de comportamento dos dois locais do Espírito Santo, isto é, Marilândia e
genótipos para ambientes e épocas de colheitas. Sooretama. Foram observadas, pela análise de
variância conjunta, diferenças significativas para
Montagnon et al. (2000) estudaram a interação
genótipos (G), anos (A), G x L, A x L e G x A x L,
genótipo x ambiente e adaptabilidade e
o que indicou a existência de diferenças entre
estabilidade pelos métodos paramétricos de Wricke
os materiais genéticos e o comportamento
(1965), Eberhart e Russel (1966) e não paramétrico
diferenciado deles em relação aos anos (safras)
(NASSAR; HÜHN, 1987) para produção de grãos de
levando-se, assim, à necessidade, para efeito
C. canephora. O trabalho foi conduzido na Costa do
de recomendação, de avaliação dos materiais
Marfim, onde foram avaliados 16 clones em nove
genéticos em mais de um local e em mais de uma
locais. Houve diferenças significativas de produção
safra e também à necessidade de trabalhos de
entre clones e locais e interação clones x locais. Os
adaptabilidade e estabilidade de produção. Nas
métodos usados mostraram complementaridade.
quatro metodologias estudadas, Eberhart e Russel
Ferrão et al. (2003a) e Ferrão (2004) estudaram (1966), Cruz, Torres e Vencovsky (1989), Lin e Binns
a interação genótipos x ambientes, para (1988) e Carneiro (1998), não foi identificado o
produtividade utilizando oito variedades genótipo ideal. Foram identificados seis genótipos
experimentais de café conilon, avaliadas por duas com adaptação geral, dez com adaptabilidade
safras em quatro locais do Estado do Espírito para ambientes favoráveis e três com
Santo. Verificaram diferenças significativas entre adaptabilidade para ambientes desfavoráveis. A
variedades (P< 0,05) nos diferentes ambientes. Na maioria dos materiais genéticos apresentou baixa
análise conjunta envolvendo os oito ambientes, previsibilidade pelas duas primeiras metodologias,
houve interações significativas (P<0,01) para as embora os coeficientes de determinação (R2i)
fontes de variação variedades (T), anos (A), locais estivessem pouco superiores a 80%.
(L), T x A, e A x L.
Posteriormente, Ferrão et al. (2003a), estudando
o comportamento das mesmas variedades 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
experimentais de café conilon para produtividade, Maior ênfase deve ser dada ao melhoramento
avaliadas por quatro safras e em quatro locais, no genético de C. canephora, uma vez que é uma
Estado do Espírito Santo pela análise de variância espécie de grande importância econômica e
168 Café Conilon – Capítulo 6
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Foto: Alair Caliari
177
7
Autoincompatibilidade e Produção
Sustentável do Café Conilon
Maria Amélia Gava Ferrão, Elaine Manelli Riva Souza,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca e Romário Gava Ferrão
com objetivo de elucidar questões relacionadas e é fator primordial para que sementes sejam
a esse sistema no melhoramento da cultura e na produzidas. A polinização consiste na transferência
utilização das cultivares recomendadas. de grãos de pólen da antera para o estigma e a
fertilização ou fecundação compreende a fusão
dos gametas masculino e feminino no ovário. O
2 AUTOINCOMPATIBILIDADE primeiro ponto-chave desse complexo processo de
fertilização é a interação pólen-pistilo referindo-se
As plantas se reproduzem por via sexuada e
a uma interação celular e molecular entre o pólen
assexuada. Entende-se por reprodução sexuada
haploide e o estigma diploide. Os passos específicos
aquela em que ocorre a união do gameta masculino
dessa interação são os seguintes: antes do contato
com o feminino a fim de originar o zigoto e produzir
efetivo, o pólen imóvel é transferido por forças
descendentes viáveis (KARASAWA et al., 2009).
naturais, como vento ou insetos. Após a deposição
A flor contém as estruturas de reprodução. De suas dos grãos de pólen na superfície do estigma, o
partes componentes, sépalas, pétalas, estames reconhecimento começa em níveis moleculares
e pistilo, apenas as duas últimas funcionam e celulares. Encontrando condições ambientais
produzindo gametas. Geralmente, o estame favoráveis, o pólen ‘compatível’ germina e, em
consta de um filamento, o filete, que suporta a seguida, o seu tubo polínico cresce e se estende
antera e contém os grãos de pólen (Figura 1). O pelo estilete até o óvulo, e os gametas masculinos
pistilo consiste de uma estrutura aumentada na são liberados para a fusão com os femininos (FU;
base, chamada ovário, que contém os óvulos, YANG, 2014).
um prolongamento em forma de tubo fino,
Contudo, em muitas plantas, nem sempre a
denominado estilo ou estilete e o estigma, sobre
polinização é seguida de fertilização, seja pelo fato
o qual se depositam os grãos de pólen. No ovário,
de os grãos de pólen não atingirem o estigma da
encontram-se os óvulos, os quais dão origem às
própria flor ou de outras flores ou devido a fatores
sementes após o processo de fecundação (ALLARD,
naturais, como a autoincompatibilidade, que é
1971).
um mecanismo que previne a autofecundação,
Antera favorecendo a fecundação cruzada (SILVA; GORING,
Estigma 2001), provavelmente como uma forma de evitar
os efeitos deletérios da endogamia (CASTRIC;
Filete
Pistilo Estilete VEKEMANS, 2004).
O sistema de autoincompatibilidade fornece
Ovário
os mecanismos bioquímicos necessários para
Óvulo que as plantas reconheçam e rejeitem seu
Pétala próprio pólen, bem como aquele com genótipo
suficientemente similar para iniciar a reação de
autoincompatibilidade. As plantas necessitam de
Sépala
um doador de pólen com genótipo divergente para
Receptáculo
o sucesso da fertilização (STEBBINS, 1970). Isso não é
tão incomum, pois cerca de 60% das angiospermas
Figura 1. Estrutura básica de uma flor verdadeira de são autoincompatíveis (DE NETTANCOURT, 2000;
angiospermas, com antera, filete, estigma,
estilete, ovário, pistilo, pétala, sépala e
IGIC; LANDE; KOHN, 2008).
receptáculo. Estudos genéticos clássicos estabeleceram que
Fonte: Allard (1971). o reconhecimento de grãos de pólen compatível
e incompatível pelo estigma é controlado, na
A formação dos gametas masculinos dá-se por maioria das espécies, por um gene S com número
microsporogênese, e dos gametas femininos por variável de alelos múltiplos denominados de
macrosporogênese, (ALLARD, 1971). A formação de S1, S2, S3, …, Sn (TAKAYAMA; ISOGAI, 2005),
um zigoto viável em angiospermas é dependente responsáveis pela codificação de, pelo menos,
da polinização e da fertilização (FU; YANG, 2014) dois componentes diferentes no pólen e no
Autoincompatibilidade e Produção Sustentável do Café Conilon 179
pistilo (ALLARD, 1971; WU et al., 2013). Considera- lo, devido à presença do mesmo alelo S.
se cruzamento compatível aquele em que o alelo
Entre as plantas que apresentam autoincompatibi-
S do pólen é diferente de qualquer alelo presente
lidade homomórfica, estudos realizados na década
no pistilo (NEWBIGIN; ANDERSON; CLARKE, 1993;
de 1950 identificaram duas formas de sistemas de
BRUCKNER et al., 2005).
autoincompatibilidade distintos, o gametofítico e o
O locos S (sterility locus) é um complexo multialélico, esporofítico (HISCOCK, 2002). Acredita-se que o sis-
que segrega como uma unidade, e seus variantes tema de autoincompatibilidade gametofítico seja
são chamados haplótipos S. O reconhecimento o mais comum e, possivelmente, o mais primitivo
da autopolinização ocorre em nível de interação (MOTA et al., 2010). O sistema esporofítico é similar
proteína-proteína dos determinantes feminino ao gametofítico por apresentar controle monogê-
e masculino, e a resposta incompatível acontece nico (gene-S) com alelos múltiplos, mas difere no
se os dois determinantes têm origem no mesmo controle do fenótipo da reação de incompatibilida-
haplótipo S (TAKAYAMA; ISOGAI, 2005; NOWAK de que é esporofítico. Os alelos podem apresentar
et al., 2011). A caracterização do locos S e dos dominância, ação individual ou competitividade no
mecanismos subjacentes à aceitação ou rejeição de pólen e estigma de acordo com a combinação pre-
pólen são temas de grande interesse (FRANCESCHI; sente.
DONDINI; SANZOL, 2012).
Os sistemas gametofítico e esporofítico podem ser
Com base na constituição das estruturas florais das distinguidos pelo fenótipo S do grão de pólen. O
plantas, dois sistemas autoincompatíveis são co- fenótipo do grão de pólen, no sistema gametofítico,
nhecidos: homomórficos e heteromórficos, quando é determinado pelo seu próprio genoma haploide,
não existem modificações florais que acompanham enquanto no sistema esporofítico, é determinado
o processo, e quando existem respectivamente pelo genoma diploide paterno. No sistema
(ALLARD, 1971; REA; NASRALLAH, 2008; BRITO, gametofítico, os alelos S podem ser expressos
2010). Os sistemas heteromórficos são caracteriza- codominantemente no pistilo, mas no esporofítico
dos pelas diferenças morfológicas entre dois ou três podem existir relações de dominância complexas
genótipos, associadas com polimorfismo floral, ou entre os alelos S expressos no pistilo e também no
seja, diferem basicamente no comprimento relativo grão de pólen, uma vez que o fenótipo do pólen é
do estilete e da antera (heterostilia). Essa diferença diploide. Nesse sistema, todos os indivíduos dentro
implica barreira física para a autopolinização, em- da população serão heterozigotos no locos S, e um
bora a polinização cruzada possa ocorrer. Tal in- grão de pólen nunca fertilizará uma planta com
compatibilidade está presente em 24 famílias e 164 mesmo genótipo S. Entretanto, em uma população
gêneros (GANDERS, 1979), e as únicas polinizações com sistema esporofítico, com interações alélicas
compatíveis nessas espécies são aquelas que ocor- de dominância no locos S contendo uma mistura
rem entre anteras e estigmas de mesma altura. de heterozigotos e homozigotos para o locos S, é
teoricamente possível que ocorram fertilizações
Diferenças na morfologia floral agem para refor-
com mesmo genótipo S, pois alelos S recessivos
çar a habilidade do pistilo para discriminar entre o
podem estar “escondidos” no pólen e/ou no estigma
próprio pólen ou outro similar. Entretanto, na maio-
por um alelo S dominante (DE NETTANCOURT, 1977;
ria das plantas, a autoincompatibilidade não está
GIBBS, 1990).
acompanhada por diferenças na morfologia flo-
ral, e o resultado da polinização pode ser previsto No sistema gametofítico, o pólen é binucleado e a
por meio de testes de polinização recíproca entre superfície estigmática é úmida. Essa umidade faci-
plantas individuais (REA; NASRALLAH, 2008). É o lita a hidratação do pólen. Além disso, a superfície
que ocorre nos sistemas homomórficos, quando os estigmática se rompe na maturação. Esses fatos fa-
genótipos incompatíveis não podem ser distingui- vorecem a germinação rápida, de modo que a rea-
dos morfologicamente, e a resposta incompatível ção de autoincompatibilidade ocorre com inibição
depende inteiramente de mecanismos fisiológicos do crescimento do tubo polínico no estigma ou
(CASTRIC; VEKEMANS, 2004). No caso, não existe a no estilete (NEWBIGIN; ANDERSON; CLARKE, 1993;
barreira física, porém o tubo polínico incompatível BRUCKNER et al., 2005). A autoincompatibilidade
cessa seu crescimento antes da fertilização do óvu- acontece entre o tecido haploide do grão de pólen
180 Café Conilon – Capítulo 7
e o tecido esporofítico materno (GIBBS, 1990). Tra- genótipos compatíveis entre si, ambos compatíveis
tando-se da autoincompatibilidade esporofítica, reciprocamente com o genitor feminino, e somen-
a rejeição ocorre entre o tecido esporofítico mas- te um deles exibe compatibilidade com o genitor
culino transportado pelo grão de pólen e o tecido masculino. A progênie originada do cruzamento
esporofítico materno, geralmente na superfície do plenamente compatível apresenta quatro genótipos
estigma. O grão de pólen não tem capacidade para compatíveis entre si, além de serem todos compatí-
germinar ou penetrar no estigma (GIBBS, 1990). Em veis com os genitores feminino e masculino (LEWIS,
ambos os casos, o tubo polínico não chega a atingir 1954).
o óvulo (DE NETTANCOURT, 1977).
A ocorrência de elevada fertilidade em espécies
Como os grãos de pólen apresentam expressão com esses mecanismos deve-se ao fato de que
independente e segregam 1:1 (RICHARDS, 1986), o número de alelos S em diferentes populações é
no sistema autoincompatível gametofítico, podem- muito variável, podendo ser muito alto nas espécies
se verificar três situações possíveis na polinização que apresentam alta taxa de fertilidade (SCHIFINO-
(Tabela 1): i) totalmente incompatível, quando WITTMANN; DALL’AGNOL, 2002). Como exemplo,
ambos os alelos são comuns; ii) parcialmente pode-se citar o trevo (Trifolium pratense) vermelho
compatível, quando apenas um alelo é diferente; e e branco, com aproximadamente 200 e 100 alelos
iii) plenamente compatível, quando os quatro alelos diferentes no loco S, respectivamente (LAWRENCE,
são diferentes (KAUFMANN et al., 1992; SCHIFINO- 1996). Dessa maneira, não se compromete a
WITTMANN; DALL’AGNOL, 2002; FERRÃO et al., fertilidade, pois o grande número de alelos
2012). diferentes presentes na população assegura um
número suficiente de polinizações compatíveis
Tabela 1. Principais diferenças entre os cruzamentos no (HESLOP-HARRISON, 1983).
sistema de autoincompatibilidade gametofítica Em diferentes famílias, moléculas distintas são
Genitores Autoincompatibilidade Gametofítica utilizadas para o reconhecimento do próprio
Fêmea Macho Descendência pólen (REA; NASRALLAH, 2008). Tratando-se de
S1S2 X S1S2 Grãos de pólen serão S1 e S2. Tubos autoincompatibilidade gametofítica, acredita-se
polínicos não irão crescer – não haverá que esteja envolvido um determinante feminino,
progênies. Totalmente incompatível – 0%
de descendência
que é uma glicoproteína denominada S-RNase (S
de S-lócus e RNase de ribonuclease). As S-RNAses se
S1S2 X S2S3 Grãos de pólen serão S2 e S3. Apenas
tubos polínicos S3 irão crescer expressam exclusivamente no pistilo, localizando-
– progênies serão S1S3 e S2S3. se principalmente na parte superior do estilete.
Parcialmente compatível - 50% de
descendência
Essas proteínas exercem um papel citotóxico que,
S2S3 X S1S2 Grãos de pólen serão S1 e S2. Apenas em cruzamentos incompatíveis, é responsável
tubos polínicos S1 irão crescer pela interrupção do crescimento do tubo polínico
– progênies serão S2S1 e S3S1.
Parcialmente compatível - 50% de
no estilete. As RNases atuam ao inibir ou degradar
descendência o RNA do tubo polínico que compartilha o
S1S2 X S3S4 Grãos de pólen serão S3 e S4. Todos mesmo alelo S do pistilo (SCHIFINO-WITTMANN;
os tubos polínicos irão crescer – DALL’AGNOL, 2002; TAKAYAMA; ISOGAI, 2005;
progênies serão S1S3, S1S4, S2S3 e
S2S4 – Totalmente compatível - 100% de
ZHANG; ZHAO; XUE, 2009; NOWAK et al., 2011;
descendência McCLURE; CRUZ-GARCÍA; ROMERO, 2011; WU et
Síntese Somente ocorre crescimento do tubo al., 2013). Pesquisas indicam que glicoproteínas
polínico e fecundação, quando o alelo S-RNases estão envolvidas no controle do sistema
presente no grão de pólen não estiver
presente no tecido diploide do estilete.
de autoincompatibilidade de algumas espécies da
família Rubiaceae, que compreende C. canephora
Fonte: Adaptado de Lewis (1954).
(ASQUINI et al., 2011; NOWAK et al., 2011), e das
famílias Solanaceae, Rosaceae e Scrophulariaceae
Verifica-se que no cruzamento totalmente incompa- (SCHIFINO-WITTMANN; DALL’AGNOL, 2002).
tível não há formação de progênie, pois ambos os
Já o determinante do alelo S do grão de pólen
alelos são comuns (Tabela 1). A progênie oriunda do
é o gene SFB (de S-lócus e F-Box), que codifica
cruzamento parcialmente compatível apresenta dois
Autoincompatibilidade e Produção Sustentável do Café Conilon 181
uma proteína F-box que geralmente atua como é rejeitado em pistilos de espécies ou populações
componente ligante da ubiquitina, envolvida em relacionadas, autoincompatíveis, ao passo que, nos
uma via de degradação proteica (SASSA et al., 2007; cruzamentos recíprocos (plantas autocompatíveis
ZHANG; ZHAO; XUE, 2009). polinizadas por plantas autoincompatíveis), não
ocorre a rejeição do pólen. Esse padrão é reconhe-
Em contrapartida, há diversos estudos relatando
cido como incompatibilidade unilateral (LEWIS;
que algumas espécies possuidoras de autoincom-
CROWE, 1958; LI; CHETELAT, 2014).
patibilidade gametofítica apresentam genes res-
tauradores da autofertilidade (IGIC; LANDE; KOHN, Dentro dessa abordagem, a partir da análise
2008; LI; CHETELAT, 2014). Os processos de poliploi- molecular e fisiológica do sistema reprodutivo
dização também são apontados como possíveis de várias espécies, constatou-se que o sistema
causadores da quebra do sistema de autoincompa- de autoincompatibilidade transformou-se muitas
tibilidade gametofítico. O pistilo apresenta capaci- vezes durante a evolução das angiospermas
dade de reconhecer e inibir o crescimento de tubos (REA; NASRALLAH, 2008). Segundo os autores,
polínicos incompatíveis, contudo, no caso de poli- existe diferentes rotas bioquímicas atuando para
ploides, acredita-se que os grãos de pólen diploi- interromper o desenvolvimento do tubo polínico,
des sejam incapazes de expressar o fenótipo que que é complexo, variável e dependente das
provoca sua rejeição no pistilo (DE NETTANCOURT, condições ambientais e da constituição do tecido
1977). Mutações também atuam como causa da re- materno do estigma (LOSADA; HERRERO, 2014).
cuperação da fertilidade, presumivelmente impul- Em Oenothera sp., a reação de incompatibilidade é
sionadas pela garantia reprodutiva, em condições acelerada pelo aumento da temperatura, enquanto
em que pólen de parceiros compatíveis é limitante em Petunia sp., tal fato não ocorre (LEWIS; CROWE,
(IGIC; LANDE; KOHN, 2008; LI; CHETELAT, 2014). Em 1958).
espécies diploides, deleções e inserções podem es-
Estudos sobre o desenvolvimento do tubo polínico
tar associadas à redução da atividade de proteínas
são importantes não apenas para determinar
S-RNases (STONE, 2002).
a presença de autoincompatibilidade, mas
Gibbs (1990) aponta a existência de um outro também para identificar os diferentes tipos e o
sistema de autoincompatibilidade, denominado controle da reação de autoincompatibilidade.
de autoincompatibilidade de ação tardia, que Por meio de análises citológicas, pode-se
se manifesta após a fecundação. O mecanismo observar a localização do tubo polínico. O
de autoincompatibilidade ocorre no ovário, sistema esporofítico pode ser diferenciado do
anteriormente à fertilização ou como resultado de gametofítico e da autoincompatibilidade de ação
aborto ou inibição de óvulos. tardia pelo fato de o desenvolvimento do tubo
polínico ser paralisado na superfície do estigma, o
O desenvolvimento do tubo polínico e a
que não acontece nos dois últimos casos. Quando
presença deles no ovário indica que não existe
a interrupção do crescimento se dá no interior
um sistema clássico de autoincompatibilidade
do estilete, antes da entrada no ovário, tem-
que impeça a germinação dos grãos de pólen ou
se a autoincompatibilidade gametofítica, e, ao
o crescimento do tubo polínico, sugerindo-se a
contrário, quando o tubo polínico atinge o ovário,
autoincompatibilidade de ação tardia, que pode
verifica-se a autoincompatibilidade de ação tardia
ser devida à depressão endogâmica ou estar
(SCALONE; ALBACH, 2014).
relacionada a respostas pós-zigóticas de natureza
genética indefinida (LIPOW; WYATT, 1999; POUND Características associadas à germinação dos tubos
et al., 2003; SANTOS et al., 2007). Observou- polínicos e suas taxas de crescimento também
se autoincompatibilidade de ação tardia entre podem ser estudadas por meio de técnicas
espécies perenes, como Eucalyptus (POUND et al., de microscopia, possibilitando, assim, analisar
2003), Myrtaceae (SANTOS et al., 2007) e plantas da hibridações em programas de melhoramento
família Caesalpinoideae (GIBBS, 1990), entre outras. genético, sem sofrer influência de fatores
ambientais que possam atuar sobre a polinização
Tem-se também a situação em que o pólen de espé-
realizada em condições de campo (COMPANY et al.,
cies ou populações autocompatíveis normalmente
2013).
182 Café Conilon – Capítulo 7
Com as novas técnicas proteômicas, a interação se por fecundação cruzada e são caracterizadas por
entre o pólen e o pistilo pode ser estudada de forma grande heterogeneidade, sendo cada indivíduo
mais eficaz e sob novos aspectos. Abordagens na população altamente heterozigótico e distinto
proteômicas podem auxiliar no conhecimento dos demais. Diversos mecanismos podem
aprofundado de uma série de mecanismos favorecer a alogamia, contribuindo para criação
anteriormente não identificados necessários para de diversidade genética entre as populações,
resposta de autoincompatibilidade. Um mapa que aumentará a probabilidade de ao menos um
completo das proteínas pode ser construído para indivíduo na população sobreviver às mudanças
se descobrir a sua função biológica na polinização. nas condições ambientais (REA; NASRALLAH, 2008),
Embora não tenha havido um entendimento envolvendo fatores bióticos e abióticos. Entre esses
completo sobre o que ocorre durante a interação mecanismos, cita-se a autoincompatibilidade
entre o tubo polínico e o pistilo, alguns reguladores- genética, a qual é uma importante característica
chave e receptores já foram identificados reprodutiva presente na maioria das angiospermas
por abordagens multidisciplinares incluindo por favorecer a manutenção da diversidade dentro
bioquímica, genética molecular e genômica das espécies (ZHANG; ZHAO; XUE, 2009).
funcional (FU; YANG, 2014).
Nos programas de melhoramento genético,
Dentro dessa abordagem teórica, têm sido para se alcançar sucesso com a seleção de
publicados importantes trabalhos de pesquisa plantas, é condição básica a existência de
abrangendo aspectos morfológicos, fisiológicos, diversidade genética na população a ser
moleculares e genéticos relacionados aos fatores melhorada para selecionar indivíduos ou
e mecanismos determinantes da reação de famílias portadores de maior frequência de
autoincompatibilidade nas diferentes espécies de alelos favoráveis (RAMALHO; ABREU; SANTOS,
plantas (BREWBAKER, 1957; DE NETTANCOURT, 1997; 2001). No entanto, a autoincompatibilidade
CASTRIC; VEKEMANS, 2004; SANTOS et al., 2007; também pode ser uma limitação nos programas
REA; NASRALLAH, 2008; MOTA et al., 2010; ASQUINI de melhoramento (BANDEIRA et al., 2011),
et al., 2011; FRANCESCHI; DONDINI; SANZOL, uma vez que não permite a autofecundação
2012; SANKARANARAYANAN; JAMSHED; SAMUEL, das plantas. Do ponto de vista agronômico, o
2013; FU; YANG, 2014; SCALONE; ALBACH, 2014; mecanismo da autoincompatibilidade também
LOSADA; HERRERO, 2014). Contudo, as respostas às pode ser indesejável para aquelas espécies que
diferentes interações e dúvidas existentes não estão são altamente dependentes de um processo
ainda completamente elucidadas, necessitando de de fertilização bem-sucedido e da formação
contínuos estudos. de sementes para sua produção (FRANCESCHI;
DONDINI; SANZOL, 2012).
Bruckner et al. (2005) ressaltaram que a
3 AUTOINCOMPATIBILIDADE NO ME- diversidade genética entre plantas deve ser
LHORAMENTO DE PLANTAS suficiente em relação à autoincompatilidade para
Para o melhoramento genético de plantas, é que a polinização seja eficiente, favorecendo a
muito importante o conhecimento do sistema produção. Diante da existência de mecanismos
reprodutivo da espécie, uma vez que o modo de autoincompatibilidade na cultura, torna-se
de reprodução é responsável, em grande parte, necessário a adoção de genótipos com diversidade
pela estrutura genética da população (STEBBINS, genética, com o objetivo de aumentar a eficiência
1957). Além disso, os métodos de melhoramento na polinização e garantir a produção (BRITO, 2010).
são determinados e variam conforme o sistema Por favorecer a fecundação cruzada, o sistema de
reprodutivo. Ao lado do conhecimento do sistema autoincompatibilidade aumenta a variabilidade
reprodutivo, o entendimento das particularidades genética dentro e entre populações, evitando,
da polinização da espécie também contribui para a assim, a depressão endogâmica e a consequente
definição do tipo de cultivar a ser comercializada ou expressão de genes recessivos deletérios.
disponibilizada aos agricultores.
Na maioria dos casos, a incompatibilidade é pré-
As populações e espécies alógamas reproduzem- zigótica, manifestando-se como falha do próprio
Autoincompatibilidade e Produção Sustentável do Café Conilon 183
grão de pólen em germinar no estigma (controle Polimerase em Cadeia (PCR) é um método com
genético esporofítico) ou como a interrupção grande potencial de aplicação para identificar
do crescimento do tubo polínico no estigma grupos de cultivares autoincompatíveis. Tanto
ou estilete após a germinação do próprio pólen o conhecimento dos alelos S, responsáveis
(controle genético gametofítico). Em alguns pela incompatibilidade gametofítica, quanto a
casos, no entanto, a reação de incompatibilidade identificação de um deles que possa extinguir essa
é pós-zigótica (ação tardia ou ovariana), na qual o incompatibilidade, possibilitará a transferência
tubo polínico se desenvolve até o ovário e ocorre controlada desses alelos entre cultivares que
a fusão gamética conduzindo à iniciação do apresentem sincronia de floração, o que permitirá
desenvolvimento do fruto. A formação incompleta aumentar a eficiência da fecundação, frutificação
de frutos seguintes à reação de incompatibilidade e manejo dentro do programa de melhoramento
pós-zigótica pode ser confundida com depressão (MOTA et al., 2010).
por endogamia. Entretanto, a abscisão de frutos
Estudos básicos e aplicados acerca dos sistemas
imaturos resultantes de endogamia não está
de autoincompatibilidade são fundamentais nos
restrita a uma única fase, como observado na
programas de pesquisa. As tecnologias relacionadas
autoincompatibilidade de ação tardia. O fracasso da
à genômica têm possibilitado aos pesquisadores
formação do fruto devido à depressão endogâmica
identificar e caracterizar genes de forma mais
pode ocorrer em qualquer fase da frutificação
eficiente (FERNANDEZ-POZO et al., 2015) e poderão
(PANG; SAUNDERS, 2014).
também contribuir para o entendimento dos
A identificação e a caracterização dos alelos mecanismos de interação envolvidos nos sistemas
S, bem como o entendimento a respeito da autoincompatíveis, auxiliando o planejamento e o
autoincompatibilidade reprodutiva de cada cultivar, sucesso dos programas de melhoramento genético
por meio de ensaios de polinização controlada, de plantas (DEREEPER et al., 2015).
podem gerar informações úteis no planejamento
No melhoramento de plantas, é importante
de estratégias de melhoramento, hibridações
diferenciar o sistema de autoincompatibilidade de
controladas e composição de lavouras, garantindo
outras formas de esterilidade também existentes,
adequada polinização com o uso de genótipos
onde não há formação de sementes viáveis em
compatíveis (SANTOS et al., 2007; BRITO, 2010;
virtude de anomalias cromossômicas ou por alguma
MOTA et al., 2010; CONTI et al., 2013) e divergentes
forma de grande alteração funcional que afeta a
geneticamente, aumentando a eficiência produtiva
formação dos gametas ou o desenvolvimento do
(BRITO, 2010). A exemplo, marcadores moleculares
embrião, por exemplo, macho esterilidade, na qual
podem ser utilizados para identificar e avaliar a
os gametas geralmente são inviáveis, ao passo que
diversidade de alelos S (KHADIVI-KHUB, 2014).
na autoincompatibilidade, são férteis.
Métodos que permitam predizer a compatibilidade
genética de alelos S entre cultivares são de grande
interesse. Eles possibilitam selecionar precocemente 4 AUTOINCOMPATIBILIDADE EM Coffea
cultivares totalmente compatíveis do ponto de canephora
vista genético-reprodutivo (MOTA; OLIVEIRA, 2005).
O gênero Coffea pertence à família Rubiaceae
No caso de cultivares de ameixeira-japonesa, a
e comprende 124 espécies (DAVIS et al.,
compatibilidade entre plantas vem sendo avaliada
2011). Todavia, apenas duas, C. arabica L. e C.
por métodos convencionais de polinização e
canephora, Pierre ex A. Froehner, são cultivadas
testes de crescimento do tubo polínico. A partir da
comercialmente.
identificação molecular dos alelos S, foi possível
propor adequação na indicação de polinizadores C. canephora e as demais espécies estudadas do
para as cultivares estudadas, principalmente para gênero são diploides (22 cromossomos). Já C.
uso em hibridações controladas no processo de arabica é poliploide, com 44 cromossomos (KRUG;
melhoramento, associado com a validação em CARVALHO, 1951; BERTHAUD, 1980; CHARRIER;
condições de campo. BERTHAUD, 1985; N’DIAYE et al., 2005). Segundo
Lashermes et al. (1999), C. arabica é um anfidiploide
A análise de alelos S baseada na Reação da
184 Café Conilon – Capítulo 7
segmental formado pelo cruzamento natural entre café robusta. Em 1943, na seção de Citologia
C. eugenioides e C. canephora. do Instituto Agronômico de Campinas (IAC),
iniciaram-se estudos citológicos e genéticos com
Na maioria das espécies de Coffea, a resposta de
a finalidade de se conhecer e detalhar a forma da
autoincompatibilidade é do tipo gametofítica.
autoincompatibilidade presente nas espécies de
Não obstante, três espécies são autocompatíveis
café. Os cafeeiros autopolinizados se apresentaram
(C. arabica, C. anthonyi Stoff. & F. Anthony e C.
autoestéreis e não formaram sementes. Dos
heterocalyx Stoff.), isto é, apresentam habilidade para
cruzamentos feitos, cerca de 50% mostraram-se
autopolinização (STOFFELEN et al., 2009; NOWAK et
compatíveis. Os estudos citológicos evidenciaram
al., 2011). A autocompatibilidade em C. arabica não é
que nos cruzamentos compatíveis, o crescimento
surpresa devido à forte associação entre poliploidia
do tubo polínico era normal, enquanto nas
e quebra da autoincompatibilidade.
autopolinizações, após a germinação, o tubo
O cafeeiro exibe floração gregária, ou seja, todas as polínico tinha o crescimento paralisado (CONAGIN;
plantas de uma região florescem simultaneamente, MENDES, 1961).
com número de floradas variável, desde umas
Devreux et al. (1959), Conagin e Mendes (1961),
poucas até várias ao longo do ano, nas regiões
Berthaud (1980) e Lashermes et al. (1996),
equatoriais (ALVIM, 1973). As suas flores são
utilizando marcadores genéticos e moleculares,
hermafroditas com estames aderentes ao tubo
demonstraram que a autoincompatibilidade
da corola. Em C. canephora, a abertura das flores
em C. canephora é do tipo gametofítica, com
concentra-se em poucos dias, e comumente as
herança monogênica, controlada pelo gene S
flores abrem-se pela manhã, nas primeiras horas,
constituído por cerca de três alelos (S1, S2 e S3).
e sua corola começa a murchar no segundo dia. A
O locos S foi localizado no grupo de ligação 9
florada, em condições naturais, é provocada pelas
(LASHERMES et al., 1996). Asquini et al. (2011) e
primeiras chuvas da estação, após um período
Nowak et al. (2011) acreditam que o mecanismo
de seca. Nessa espécie alógama, na qual ocorre
de autoincompatibilidade em Rubiaceae,
a autoincompatibilidade, a fecundação cruzada
especialmente em C. canephora, está relacionado
acontece após a abertura das flores, e a polinização
com proteínas S-RNAses.
é realizada com auxílio de vento e de insetos.
Devreux et al. (1959) descreveram que, após a
Segundo Conagin e Mendes (1961) a autoincompa-
autopolinização, o crescimento do tubo polínico
tibilidade é uma característica comum nas espécies
no estigma de C. canephora tornou-se corrompido
de Coffea e citam que a primeira referência a esse fe-
e sua penetração foi bloqueada. Assim, a
nômenco em plantas do gênero foi creditada a Von
autoincompatibilidade do tipo gametofítica ocorre
Faber em 1910, que, estudando a biologia floral do
quando um dado alelo S, de uma série de alelos
cafeeiro, observou que a penetração do tubo polí-
múltiplos, é comum para o grão de pólen e para o
nico em estilos da própria flor era muito mais lenta
estigma, determinando, geralmente, a inibição do
que em flores de outras plantas. O referido autor su-
desenvolvimento do tubo polínico. Quando o fator S
pôs que semelhanças ou diferenças químicas seriam
do pólen é diferente dos dois fatores S do estilete, o
responsáveis pelo crescimento lento ou rápido dos
tubo polínico cresce normalmente, chegando até o
tubos polínicos, respectivamente, nos casos de au-
ovário, onde ocorre a fertilização (compatibilidade).
topolinização ou de cruzamento.
A Figura 2 ilustra o exemplo de três cruzamentos
Para Mendes (1942, 1949), as observações sobre de plantas com combinações de quatro alelos
a autoincompatibilidade nas espécies diploides diferentes e a descendência.
de café tiveram início em Java, quando foi
Evidências demonstraram que o mecanismo de
verificado que alguns ‘lotes’ contendo grande
autoincompatibilidade gametofítica em Coffea é
número de plantas de um mesmo clone de C.
homólogo ao de autoincompatibilidade mediado
canephora constituíram verdadeiro fracasso
por S-RNases (ASQUINI et al., 2011; NOWAK et al.,
quanto à produção. Baseado nesse fato, estudos
2011). De acordo com Charlesworth et al. (2005),
subsequentes foram realizados referentes ao
as plantas autocompatíveis em espécies com
insucesso de autopolinizações artificiais em
sistemas S-RNases surgem por tetraploidia ou
Autoincompatibilidade e Produção Sustentável do Café Conilon 185
C. canephora para C. arabica também deve ser principalmente quando se encontram indivíduos
considerada nesses programas (HERRERA et al., superiores para as características-alvo. A clonagem
2002), reforçando a importância de se estudar o mantém as características ao longo das gerações
sistema reprodutivo, envolvendo o mecanismo de com multiplicação dos genótipos selecionados, o
autoincompatibilidade presente em C. canephora que é importante na constituição de variedades
para auxiliar nos cruzamentos entre plantas dessas clonais para formação de lavouras comerciais.
espécies, entre outros fatores.
No melhoramento do café conilon, os sistemas de
Apesar de muito já ter sido realizado, ainda há ne- propagação seminal e por clonagem são utilizados
cessidade de se obter informações para mais amplo concomitantemente considerando-se a particulari-
entendimento sobre a ação dos mecanismos de dade genética da autoincompatibilidade, quando
autoincompatibilidade existentes em C. canephora, se cultivam genótipos aparentados (FERRÃO et al.,
e como se poderá utilizar esse conhecimento para 2012).
contribuir para o melhoramento da qualidade e do
Vale destacar que, para que ocorra a produção de fru-
rendimento das lavouras cafeeiras.
tos em uma lavoura, há necessidade de que ela seja
formada por clones geneticamente compatíveis, ou
seja, com plantas diferentes. Por conseguinte, lavou-
5 AUTOINCOMPATIBILIDADE E SUS- ras formadas por apenas um clone não produzirão
TENTABILIDADE DO CAFÉ CONILON frutos. Se a lavoura for formada por dois ou mesmo
C. canephora é a segunda espécie do gênero mais poucos clones geneticamente semelhantes, também
cultivada no mundo, representando cerca de 40% ocorrerão falhas de fecundação e, consequentemen-
da produção total de café. O Espírito Santo se te, pequena produção de frutos (Figura 3).
destaca como o maior produtor brasileiro dessa Assim, estudos de compatibilidade genética são
cultura, conhecida no Estado como café conilon. de fundamental importância na definição dos
A propagação do café conilon pode ser feita via se- clones que deverão ser agrupados para formação
xuada, por meio de sementes, e de forma assexuada, de variedades clonais. O número de clones deve
notadamente por meio da estaquia (FONSECA, 1996; estar associado à segurança, sustentabilidade e
FERRÃO et al., 2007) devendo sempre se atentar longevidade das lavouras.
para os problemas de incompatibilidade dentro das Para a obtenção de cultivares superiores, é preciso
progênies e suas consequências na produtividade que os clones selecionados reúnam características
e na variabilidade genética da descendência. Para favoráveis e compatibilidade genética. Para tanto,
os autores, a autoincompatibilidade genética em C. eles devem ser previamente testados e avaliados
canephora promove formação de populações alta- (FERRÃO et al., 2012).
mente heterozigotas com alta variabilidade genética,
ausência de autofecundação, não fecundação entre O programa de melhoramento genético de café co-
flores da mesma planta e deficiência nos cruzamen- nilon do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência
tos, quando se cultivam genótipos aparentados. Técnica e Extensão Rural (Incaper) disponibilizou,
até o momento, oito cultivares clonais e uma de
O sistema de propagação por sementes, sem dúvida multiplicação por sementes, contribuindo, assim,
é o mais simples e o que garante a variabilidade para o desenvolvimento sustentável da sua cadeia
natural da espécie. Constitui na principal estratégia produtiva. Deve-se ressaltar que o agrupamento
para gerar híbridos, populações recombinantes e dos clones que fazem parte de cada cultivar clonal
descendência altamente heterozigota. Contudo, desenvolvida e recomendada pelo Incaper foi rea-
para os cafeicultores, a heterogeneidade da lizado baseando-se na compatibilidade genética
lavoura, é indesejada, pois dificulta os tratos entre eles e no conjunto de características agronô-
culturais (FONSECA, 1996; FERRÃO et al., 2007; micas relevantes, como elevada produtividade e
IVOGLO et al., 2008). Com o objetivo de reduzir essa estabilidade, tolerância a doenças e seca, uniformi-
desuniformidade, é indicado o plantio de cultivares dade de maturação de frutos, época de maturação
clonais, pois, sob esse aspecto, a reprodução distinta, arquitetura e vigor das plantas, rendimento
assexuada é um sistema importante de propagação, no beneficiamento, entre outras.
Autoincompatibilidade e Produção Sustentável do Café Conilon 187
B
Figura 3. Ilustração de problema decorrente da autoincompatibilidade em lavoura clonal de café conilon: (A) Produção
de lavoura clonal implantada com todos os 13 clones componentes da cultivar Vitória Incaper 8142 (implan-
tação correta1; (B) Produção de lavoura implantada com poucos clones com falha na polinização/fertilização
e, consequentemente, na produção de frutos (implantação incorreta).
1
Fonte: Fonseca et al. (2004).
As cultivares desenvolvidas pelo Incaper foram res descaracterizando-a. Tal atitude compromete a
Emcapa 8111, Emcapa 8121 e Emcapa 8131, estabilidade das lavouras de C. canephora no Espíri-
compostas por 9, 14 e 9 clones, respectivamente to Santo e no Brasil (FONSECA et al., 2004; FERRÃO
(BRAGANÇA et al., 2001); Emcapa 8141 Robustão et al., 2007; FERRÃO et al., 2012). Deve-se manter a
Capixaba, formada por 10 clones (FERRÃO et al., constituição genética de cada cultivar clonal, pois
2000); Emcaper 8151 Robusta Tropical, propagada cada clone tem uma razão e um papel definido
via sementes (FERRÃO et al., 2000); Vitória Incaper dentro dela. É importante para a perpetuação da
8142, com 13 clones (FONSECA et al., 2004); atividade que haja variabilidade genética, uma vez
Diamante ES8112, ES8122 - Jequitibá e Centenária que é ela permite encontrar indivíduos com as ca-
ES8132, cada uma delas composta por nove clones racterísticas desejadas e os genes de interesse para
(FERRÃO et al., 2015a; 2015b; 2015c). serem incorporados ao melhoramento.
Essas cultivares clonais juntas apresentam grande O cultivo de lavouras com número restrito de clo-
variabilidade genética com cerca de 75 genótipos nes, principalmente quando se trata de genótipos
distintos, que garantem a expressão do potencial próximos em relação às suas constituições genéti-
produtivo da espécie, estabilidade, longevidade e cas, gera, com o passar do tempo, erosão ou vul-
maior base genética. nerabilidade genética assunto com o qual a maioria
dos geneticistas e melhoristas de plantas das dife-
É fundamental que os produtores não excluam de
rentes espécies cultivadas em todo o mundo estão
uma cultivar melhorada clones que julguem inferio-
altamente preocupados (FONSECA, 1996; FONSECA
188 Café Conilon – Capítulo 7
et al., 2004; FERRÃO et al., 2007; FERRÃO et al., 2010; diferentes. Lavouras constituídas por apenas
FERRÃO et al., 2012; PINTO, 2012; SOUZA; SILVA- um clone incompatível não produzirão frutos e
-MANN; MELO, 2014; SILVA et al., 2015). aquelas formadas por dois ou mais clones muito
semelhantes também poderão apresentar falhas na
Na formação das cultivares clonais do Incaper,
fecundação e pequena produção de frutos.
disponibilizadas até o momento, são utilizados
de 9 a 14 clones com objetivo de garantir a A condução de lavouras clonais com número
polinização, fecundação, produção de frutos e a reduzido de clones poderá ocasionar resultados
sustentabilidade da atividade. Todos os clones são desastrosos para o produtor e, no futuro, para
geneticamente distintos, o que é importante para a cafeicultura de conilon, pela redução da base
estabilidade da produção no caso do aparecimento genética, que é a matéria-prima para avanço no
de uma nova praga ou doença ou então na melhoramento e no desenvolvimento de cultivares
eventualidade de uma condição climática adversa, com características de interesse para a sociedade.
como, por exemplo, aumento do estresse hídrico e Lavouras de conilon devem ser implantadas com
temperatura ambiente. cultivares com elevada diversidade genética em
relação à autoincompatibilidade para que haja
O café conilon, de polinização cruzada e com
eficiência na polinização, com alta frutificação.
autoincompatibilidade gametofítica, requer, para
produção comercial, plantio de cultivares seminais
ou clonais compatíveis, geneticamente divergentes
e com sincronismo de floração. Problemas
7 REFERÊNCIAS
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HANADA, T.; USHIJIMA, K.; KUSABA, M.; HIRANO,
Foto: Alair Caliari
193
8
Biotecnologia Aplicada
a Coffea canephora
Maria Amélia Gava Ferrão, Luís Felipe Ventorim Ferrão, Ludymila Brandão Motta,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Romário Gava Ferrão e
Elaine Manelli Riva Souza
características, processos bioquímicos ou nica, entre outros. Apesar do seu alto custo, os mar-
fragmentos de DNA que permitem a distinção cadores bioquímicos, assim como acontece com os
de indivíduos geneticamente diferentes (BORÉM, marcadores morfológicos, possuem a desvantagem
1997). de apresentarem pouca variabilidade. Isso porque
não apresentam marcadores suficientes para iden-
Quando um marcador apresenta comportamento
tificar um grande número de alelos de vários ge-
de acordo com as leis básicas de herança
nes de interesse. Outra limitação dessa técnica é a
enunciadas por Mendel, ele é considerado um
baixa estabilidade das enzimas, grande influência
marcador genético e pode ser monitorado ao
ambiental na atividade enzimática e expressão di-
longo das gerações (FERREIRA; GRATTAPAGLIA,
ferenciada associada aos diferentes estágios de de-
1998). Os marcadores genéticos identificam regiões
senvolvimento vegetal.
dos cromossomos que diferenciam um ou mais
indivíduos e são transferidos aos descendentes de Os marcadores moleculares estão ligados a
acordo com as Leis de Mendel. características do DNA, que servem para diferenciar
os indivíduos e são geneticamente herdáveis
No início, conhecia-se apenas os marcadores
(MILACH, 1998a). Isso porque marcam regiões do
morfológicos, que contribuíram de forma efetiva
genoma associadas a uma característica específica
para o estabelecimento dos princípios teóricos do
de interesse, representando estritamente a variação
mapeamento genético e das análises de ligações
genética, não sofrendo influência ambiental. O
gênicas. As análises genéticas eram realizadas com
polimorfismo observado com o uso de marcadores
a utilização de marcadores de fácil identificação
é oriundo da sequência de DNA. Dessa forma,
e geralmente controladas por um único gene,
esses marcadores independem do estádio de
frequentemente dominantes, como cor da flor e
desenvolvimento da planta, do seu tipo de tecido
resistência a algumas doenças (CAVALLI, 2003). A
e das variações ambientais. Outra vantagem
cor das flores e a forma da semente, por exemplo,
desses marcadores é a alta estabilidade do DNA, o
são marcadores morfológicos expressos somente
qual, depois de extraído, pode ser estocado para
na planta adulta, sendo necessária a avaliação por
reutilização.
um tempo relativamente grande.
Os marcadores morfológicos foram grandemente
A partir da descoberta das técnicas de biologia
utilizados até os anos 60 e eram as principais fontes
molecular, surgiram novos métodos para
de seleção utilizadas pelos melhoristas de plantas,
detecção de polimorfismo1 genético ou variações
além de terem contribuído para o conhecimento ini-
genéticas dentro de uma mesma população
cial de ligação gênica e para construção dos primei-
(FERREIRA; GRATTAPAGLIA, 1998), denominados
ros mapas genéticos. Com o desenvolvimento de
de marcadores moleculares (marcadores de DNA).
marcadores mais modernos, os marcadores morfo-
Os marcadores moleculares podem ser divididos
lógicos ficaram em desvantagem por se apresenta-
naqueles baseados nos produtos da expressão
rem em número limitado nas espécies, o que reduz
dos genes, como proteínas e enzimas, e naqueles
a possibilidade de associações entre esses marca-
baseados em fragmentos específicos das moléculas
dores e características de importância econômica
de DNA e RNA.
(FERREIRA; GRATTAPAGLIA, 1998). Contudo, apesar
Marcadores bioquímicos ou de proteínas são aque- dessas limitações, continuam sendo utilizados em
les que analisam o produto da expressão gênica. Os combinações com outros mais precisos, como os
mais utilizados são as isoenzimas, que, segundo Fer- moleculares, conciliando os resultados obtidos em
reira e Grattapaglia (1998), são eficazes para identifi- laboratório e/ou estatísticos com os observáveis em
car a variabilidade genética das populações, o fluxo campo, a partir dos marcadores morfológicos.
gênico e os processos de hibridização natural. As
Existem, atualmente, diversos marcadores
isoenzimas continuam sendo uma importante ferra-
moleculares que podem ser utilizados na
menta para identificação das variedades, avaliação
seleção de características genéticas de interesses
de germoplasma e para a detecção de ligação gê-
agronômicos, com diferentes finalidades no
1
O termo polimorfismo refere-se à presença de mais de uma forma alélica, seja ela detectada melhoramento genético do cafeeiro destacando as
fenotipicamente, por meio de um marcador morfológico, seja genotipicamente, por meio
de marcadores moleculares.
fontes de resistência a pragas e doenças, tolerância
Biotecnologia Aplicada a Coffea canephora 195
vão desde a identificação de espécies até o Amplificados. Descrito por Vos et al. (1995),
seu uso combinado com diversos marcadores o AFLP destaca-se pelo grande número de
moleculares, possuindo, hoje, vários marcadores polimorfismos obtidos por ensaio. Para tanto, a
de DNA derivados (FERREIRA; GRATTAPAGLIA, 1998; técnica consiste essencialmente de quatro etapas
CAIXETA et al., 2009). (digestão, ligação de adaptadores, amplificação e
eletroforese) e baseia-se na amplificação seletiva
Um dos primeiros marcadores a se beneficiar do
de um subconjunto de fragmentos genômicos
advento da PCR foi o Random Amplified Polymorphic
gerados após digestão com enzimas de restrições.
DNA (RAPD) ou DNA Polimórfico Amplificado ao
O grande número de bandas ou picos observados
Acaso, cujo a metodologia é derivada do protocolo
nas avaliações dos AFLPs faz com que o “índice
de PCR, porém com duas características distintas: i)
multiplex” desses marcadores, ou seja, o número
utiliza um primer único em vez de um par de primers
de marcadores analisados simultaneamente em
flanqueando uma sequência específica; e ii) o primer
uma única corrida eletroforética, seja um dos
único tem sequência curta (~10pb) e arbitrária, o
mais elevados entre as tecnologias de marcadores
que elimina a necessidade de conhecimento prévio
moleculares. A desvantagem desse método é a
do genoma da espécie em estudo (WILLIAMS et al.,
sua dominância, como ocorre no RAPD, reduzindo
1990; WELSH; MCCLELLAND, 1990). O RAPD teve
o nível de informação genética detectada por
aplicações desde a obtenção e análise de bancos de
loco. Além disso, é considerada uma técnica de
germoplasma até a construção de mapas genéticos
custo elevado necessitando de etapas adicionais
e localização de genes de interesse. Listam-se
de digestão do DNA e amplificações seletivas.
como vantagens da técnica a simplicidade, devido
Soma-se a isso o número frequente de artefatos
à facilidade de execução; a rapidez na obtenção
presentes na interpretação dos resultados, o que
de dados; o custo moderado; grande número
gera dificuldades e subjetividade na identificação
de marcadores distribuídos aleatoriamente
de polimorfismos (CAIXETA et al., 2012).
pelo genoma; e a aplicabilidade imediata para
qualquer tipo de organismo, visto que os primers O último marcador baseado em PCR a ser citado é a
são sequências arbitrárias. No entanto, o baixo técnica de Microsatélites também chamada Simple
conteúdo informacional por loco, causado pela Sequence Repeats ou Sequências Simples Repetidas
natureza dominante, e a baixa reprodutibilidade (SSR), em que os microssatélites são sequências
foram dois fatores que tornaram a técnica limitada repetidas em tandem que variam de um a seis
e contribuíram para o seu desuso (FERREIRA; pares. Abundantes e bem distribuídos no genoma,
GRATTAPAGLIA, 1998; CAIXETA et al., 2009). os SSRs destacam-se por serem regiões altamente
polimórficas e, por isso, de grande aplicabilidade
Uma derivação do RAPD foi proposta com a
em estudos de mapeamento genético e na
denominação de Sequence Characterized Amplified
discriminação de genótipos. Nessa técnica, um
Regions (SCAR), ou seja, Regiões Amplificadas
par de primers específicos (de 20 a 30 bases)
Caracterizadas por Sequências. SCAR são
amplifica regiões complementares repetitivas do
fragmentos de DNA genômico localizados em loco
genoma através da reação de PCR. Os produtos
geneticamente definido, que são identificados
de amplificação apresentam polimorfismos no
por amplificação via RAPD utilizando um par de
tamanho do fragmento, possibilitando, assim,
oligonucleotídeos específicos como primers. Assim,
a diferenciação de genótipos. Com isso, cada
marcadores SCAR são oriundos do sequenciamento
marcador microssatélite constituirá na amplificação
de marcadores RAPD objetivando a síntese de
de um loco multialélico e de grande conteúdo
primers específicos para amplificação por PCR. Ao
informacional, dada a sua expressão codominante
contrário do RAPD, marcadores SCAR apresentam
(permite diferenciar homozigotos e heterozigotos)
maior reprodutibilidade e, por isso, são mais
(FERREIRA; GRATTAPAGLIA, 1998; CAIXETA et al.,
promissores (CAIXETA et al., 2012).
2012). O que limita, em parte, a sua utilização
Uma outra classe de marcadores baseada em em maior escala é a obtenção dos primers, pois
amplificação via PCR foi denominada de Amplified trata-se de um processo laboratorial oneroso e
Fragment Length Polymorphism (AFLP) ou demorado considerando-se desde a construção
Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de biblioteca genômica até o seu desenho e testes.
Biotecnologia Aplicada a Coffea canephora 197
de sequências por barcodes; alinhamento entre metodologias, demonstram que, para estudos
sequências e/ou contra um genoma de referência; de diversidade genética em Coffea canephora,
filtragem dos SNPs considerando os parâmetros os marcadores RAPD, AFLP e SSR são eficientes
de frequência alélica mínima (mAF), número de na discriminação dos materiais genéticos dos
dados perdidos e a cobertura do sequenciamento; grupos Robusta e Conilon. Entretanto, apesar da
e, finalmente, a chamada dos SNPs (SNP calling) eficiência, o número diferencial de polimorfismos e
nos formatos hapmap e/ou VCF. No caso específico o conteúdo informacional devem ser considerados
do GBS, esses pipelines encontram-se disponíveis, no momento da escolha de uma das tecnologias
e o software TASSEL pode ser utilizado para essa (FERRÃO et al., 2013). No caso do uso de SNPs,
finalidade (GLAUBITZ et al., 2013). o número de trabalhos com café é considerado
irrelevante quando comparado com o de outras
Um ponto a ser considerado nas análises dos
culturas, tais como milho, soja, arroz e trigo. Os
dados e que constitui o principal problema do
primeiros estudos com GBS em C. canephora
GBS é a quantidade de dados perdidos. Esse tipo
foram iniciados pelo Incaper e parceiros no ano de
de problema é decorrente da baixa cobertura
2014, com resultados preliminares importantes,
do sequenciamento, causado por dois fatores
sobretudo, pela cobertura e número de SNPs
distintos: de amostragem e biológico. Aqueles
obtidos.
referentes à amostragem são ocasionados,
frequentemente, na análise de genomas grandes Ressalta-se que os conceitos discutidos sobre
ou então por ‘viés’ no tamanho dos fragmentos. Já genotipagem por sequenciamento, no geral,
os dados perdidos por causa biológica são gerados, aplicam-se a qualquer um dos serviços comerciais.
sobretudo, pela existência de regiões genômicas A escolha do GBS (IGD, Cornel), em detrimento das
não compartilhadas entre os genótipos analisados outras metodologias, deu-se pela disponibilidade
ou mesmo pela existência de sítios diferenciais de documentação específica sobre o tema, além
de clivagem de polimorfismos. Uma alternativa de softwares/pipelines abertos de bioinformática
comumente utilizada é o uso da imputação de e número elevado de trabalhos científicos
dados, que pode ser definida como a substituição envolvendo diferentes espécies.
dos dados faltantes por estimativas de valores
Um ponto relevante nesse cenário refere-se
plausíveis a serem incluídos (imputados) aos
ao sequenciamento completo do genoma da
dados faltantes. Em outras palavras, essa técnica
espécie (DENOEUD et al., 2014), o que abre novas
tem por objetivo “completar” os bancos de dados
perspectivas para o desenvolvimento e aplicação
e possibilitar a análise dos dados completos. Um
dos marcadores SNPs.
número elevado de métodos de imputação são
descritos na literatura. Outra abordagem seria Nos próximos tópicos, a importância dos
a modificação no protocolo padrão visando a marcadores moleculares em estudos de diversidade
reduzir a complexidade das bibliotecas de GBS. genética, mapeamento e detecção de Quantitative
Para tanto, uma alternativa viável seria evitar Trait Loci (QTLs) ou Características Quantitativas
o uso de níveis elevados de multiplexing e/ou Loci serão mais bem detalhados. O potencial dessa
sequenciar a biblioteca por diversas vezes. Ambas abordagem na Seleção Assistida por Marcadores
as propostas resultariam em uma maior quantidade (SAM) em programas de melhoramento será
de dados por amostra (maior profundidade) e, contextualizado no tópico sobre seleção genômica.
consequentemente, menor porcentagem de dados
perdidos. No entanto, apesar da eficiência, ressalta-
se que essas alterações aumentam o custo da 4 APLICAÇÕES DOS MARCADORES MO-
genotipagem. LECULARES EM Coffea canephora
Em café, a grande maioria dos estudos genéticos As instituições de pesquisas estão atentas ao
ainda se baseia em marcadores tradicionais. desenvolvimento de novas tecnologias que
Entre eles, os SSRs destacam-se como os mais beneficiem, além dos cafeicultores e consumidores,
populares, seguidos do AFLP, RAPD e SCAR. a área de melhoramento genético. Assim,
Estudos comparativos da eficácia dessas técnicas biotecnológicas como a dos marcadores
200 Café Conilon – Capítulo 8
genéticos com C. canephora. O SSR, por se tratar como uma grande ferramenta em programas de
de um marcador codominante e multialélico, melhoramento do café e na seleção de materiais
foi considerado o mais informativo dos três e mais resistentes. Dentro dessa abordagem,
apresentou os melhores resultados nos estudos marcadores SCAR foram desenvolvidos para as
de diversidade genética. Frequentes e distribuídos principais espécies de Meloidogyne existentes nas
ao acaso pelo genoma, os SSRs combinaram Américas: M. exigua, M. incognita, M. paranaensis,
informatividade, ampla cobertura do genoma, M. enterolobii, M. arenaria, M. arabicida e M.
robustez e reprodutibilidade, o que torna o izalcoensis. As informações disponíveis constituem
marcador adequado para estudos com a espécie. uma metodologia rápida e precisa no diagnóstico
de infecções de cafeeiros por esses nematoides
Marcadores ligados a genes associados a
(ZIJLSTRA et al., 2000; RANDIG et al., 2002; RANDIG,
características qualitativas de importância
CARNEIRO e CASTAGNONE-SERENO, 2004; TIGANO
agronômica para o cafeeiro foram identificados,
et al., 2010; CORREA et al., 2013). Com o café conilon,
como a autoincompatibilidade em café robusta
utilizando materiais genéticos do Incaper, várias
(LASHERMES; COUTURON; MOREAU, 1996a),
pesquisas básicas foram realizadas, destacando-
porte da planta (RUAS et al., 2000), resistência a
se aqui as de Lima et al. (2015) que, estudando
nematoides (LASHERMES, 2002, 2003; DINIZ, 2004;
a reação de diferentes clones com tolerância e
LIMA et al., 2015) e resistência a Hemileia vastratrix
suscetibilidade à seca, para nematoides, utilizando
(TEDESCO et al., 1999; MORENO et al., 2000; FERRÃO
o fator de reprodução e a histopatologia, verificaram
et al., 2013). O primeiro relato de identificação de
resistência múltipla a vários nematoides nos clones
QTLs associados à resistência à H. vastratrix em
Incaper 14 e ES N201004.
C. canephora resultou na seleção de genótipos
resistentes, que apresenta perspectivas para os A diversidade genética dentro de C. canephora
programas de SAM e, futuramente, na clonagem também foi verificada via expressão diferencial de
posicional (FERRÃO et al., 2013). genes. Durante a indução de condição de deficit
hídrico, a expressão diferencial foi detectada para
Na América Latina, o nematoide das galhas,
mais de 40 genótipos, sendo possível observar
Meloidogyne exigua, causa grande prejuízo
para alguns deles padrões distintos de expressão
agronômico na maioria das lavouras de café
entre os clones estudados do programa de
arábica. Curi et al. (1970) verificaram que
melhoramento do Incaper, com variado nível de
cultivares de C. canephora são resistentes a esse
tolerância à seca (22, 14, 73, 120, entre outros).
nematoide, ao contrário das cultivares de C.
Verificou-se que na complexa rede de respostas à
arabica, que são suscetíveis. O ‘Híbrido de Timor’,
seca, a melhor eficiência do controle estomático
variedade reconhecidamente resistente a pragas
e da transpiração dos clones tolerantes
e doenças, demonstrou resistência à M. exigua,
provavelmente estão relacionados às vias de
como a observada em C. canephora. Noir et al.
sinalização do ABA e do óxido nítrico (MARRACCINI
(2003) e Diniz et al., (2005) desenvolveram um
et al., 2012). Estudo correlacionado, mostrou que o
trabalho em que, com a aplicação dos marcadores
clone 73 possui eficiente controle da transpiração,
AFLP ligados ao loco de resistência à M. exigua
proteção contra a foto inibição, indução de
(Mex-1), avaliaram a origem de introgressão
sistemas antioxidantes e osmoprotetores e
dessa resistência entre o ‘Híbrido de Timor’ e
importância da rota de sinalização do ABA em
seus progenitores (C. arabica e C. canephora). A
resposta à seca (VIEIRA et al., 2013).
confirmação da maior resistência dos acessos
de C. canephora foi a partir da detecção dos A identificação de marcadores genéticos ligados
marcadores AFLP de resistência nessa espécie, a características de interesse, como a resistência
enquanto nenhum marcador foi detectado em C. à ferrugem, nematoides e tolerância à seca em
arabica. A resistência à M. exigua nas linhagens do C. canephora, contribuirá de forma eficaz para a
‘Híbrido de Timor’ foi conferida ao loco Mex-1. seleção de germoplasma em menor período de
tempo e com maior eficácia.
A identificação de marcadores moleculares ligados
à resistência ao Melodoigyne M. exigua contribui
202 Café Conilon – Capítulo 8
4.2 MAPEAMENTO GENÉTICO E ANÁLISES DE QTLs diploides e com dois alelos segregando, as fases
de ligação são conhecidas o que facilita as análises.
Mapas genéticos são constituídos por grupos de
No entanto, em culturas como maracujá, eucalipto,
ligação, os quais representam a ordem e a distância
cana-de-açúcar, citros, café (C. canephora) e
entre marcadores genéticos e permitem o melhor
outras espécies florestais não é possível obter
entendimento da segregação e da relação física
populações derivadas de linhagens endogâmicas
dos alelos. Embora não proporcionem informação
devido a diversos fatores biológicos, tais como
em nível molecular dos genes, os mapas destacam-
autoincompatibilidade, depressão por endogamia
se por auxiliar na fundamentação de estudos
ou longo período juvenil. Nesses casos as análises
comparativos e de evolução; no entendimento
genéticas-estatísticas para a construção de mapas
dos processos biológicos; e de organização dos
baseiam-se em populações desenvolvidas pelo
cromossomos. Se portadores de uma elevada
cruzamento biparental entre indivíduos não
quantidade de informação, os mapas proporcionam
homozigóticos (outcrossing) gerando F1 segregante
simplificação na manipulação genética (FERREIRA;
formada por indivíduos que são irmãos completos
GRATTAPAGLIA, 1998). Entre as aplicações práticas
(full sib) ou meios-irmãos (half sib).
no melhoramento de plantas, destacam-se as
oportunidades para a escolha de genitores, SAM e Para esse tipo de população, o estabelecimento de
a clonagem de genes de interesse. mapas genéticos apresenta duas particularidades
importantes. A primeira delas é o número de alelos
Com o advento das técnicas moleculares a
do marcador, que pode variar de um a quatro
construção de mapas genéticos passou a
em espécies diploides, e os diferentes padrões
envolver, basicamente, quatro etapas: i) triagem
de segregação que esses alelos podem seguir.
de marcadores genéticos; ii) desenvolvimento
Revisão detalhada e a classificação desses padrões
de uma população segregante com locos em
de segregação é descrita por Wu e Ma (2002). A
desequilíbrio de ligação. Para isso, é fundamental
segunda particularidade está relacionada com
o uso de genitores contrastantes de modo a
o desconhecimento das fases de ligação dos
maximizar os níveis de polimorfismos; iii) análise
marcadores, visto que estas não são conhecidas a
de herança dos marcadores genéticos, no qual
priori para os genitores. Uma alternativa importante
os marcadores são selecionados de acordo com
para a construção de mapas em espécies não
as frequências esperadas para a segregação de
endogâmicas foi proposta por Grattapaglia e
um loco único em uma população; iv) cálculo de
Sederoff (1994) e foi denominada de duplo pseudo-
distância e ordenamento dos marcadores com base
testcross ou pseudocruzamento teste. Esse método
na porcentagem de recombinação (LIU, 1998). Para
propõe a utilização apenas daqueles marcadores
o desenvolvimento de populações segregantes,
que segregam como populações experimentais
no melhoramento de plantas, dois tipos básicos
(1:1) nas análises de ligação genética. Para isso, são
de população são utilizados: as oriundas de
construídos dois mapas de ligação, um para cada
cruzamentos controlados (endogâmicas) e as
genitor, em função de qual deles possui o alelo
chamadas F1 segregantes (exogâmicas). O primeiro
heterozigoto para o loco marcador. Nesse caso,
tipo engloba as populações F2, retrocruzamentos,
a configuração dos cruzamentos não precisa ser
duplo-haploides e Linhagens Endogâmicas
definida, a princípio, como em cruzamentos testes
Recombinantes (Recombinant Imbreed Lines -
clássicos, mas, sim, inferida a posteriori com a análise
RILs), enquanto que o segundo inclui as famílias
de segregação dos marcadores nas progênies.
de irmãos completos, meios-irmãos e populações
oriundas de intercruzamentos. Essa é uma abordagem muito utilizada na prática,
pois permite o pronto uso das metodologias
Grande parte dos mapas genéticos já desenvolvidos
e softwares desenvolvidos para populações
foram originados de populações de cruzamentos
experimentais. A facilidade de execução fez com
controlados, em que os genitores são linhas puras.
que a metodologia fosse preferida em estudos de
Para esse caso, o desequilíbrio de ligação gerado
mapeamento com C. canephora. Assim, o primeiro
pode ser estimado nas populações segregantes,
mapa genético desenvolvido para a espécie foi
permitindo assim, a análise de ligação (LIN et al.,
construído utilizando 85 progênies de duplo-
2003). Somado a isso, para o caso de espécies
Biotecnologia Aplicada a Coffea canephora 203
haploides e um conjunto de 47 marcadores RFLP Entende-se por QTL a região no genoma (loco)
e 100 RAPD (PAILLARD et al., 1996). Outros mapas responsável pelo controle desse tipo de caráter
genéticos são relatados por Lashermes et al. (2001); e como mapeamento de QTL, e os estudos que
Lefebvre-Pautigny et al. (2010); Priyono et al. (2010); focam a identificação, o posicionamento e as
Anthoëne et al. (2014). Apesar dos avanços, os estimações dos efeitos e das interações (epistasia)
mapas genéticos citados são considerados pouco dos caracteres quantitativos. O fundamento
saturados quando comparados com outras espécies teórico desses estudos baseia-se na elucidação de
vegetais. O desenvolvimento de um mapa genético um oligogene ou poligene (gene controlador de
de referência, com maior número de indivíduos e um caráter de herança complexa) através de um
de marcadores, é relatado por Denout et al. (2014) monogene (gene controlador de um caráter de
juntamente com a publicação do sequenciamento herança simples) que estiverem fisicamente ligados.
do genoma café. O mapa citado é considerado Em outras palavras, a detecção e mapeamento de
de alta densidade, cobrindo 349 scaffolds e QTLs são feitos com base na análise da segregação
compreendendo cerca de 64% (365 Mb) da conjunta dos locos marcadores moleculares
montagem do genoma. Para tanto, uma população (monogenes) e dos valores fenotípicos (oligogenes
F1 segregante constituída de 93 genótipos foi ou poligenes) observados. Contudo, a premissa
utilizada. Genótipos do grupo varietal Congolense que fundamenta essas análises é a existência de
e Guineano foram utilizados como genitores para desequilíbrio de ligação entre os marcadores e os
o desenvolvimento da população experimental. QTLs. Sem esse pré-requisito, os alelos do marcador
Diferentes classes de marcadores foram utilizadas e do QTL ocorrerão em combinações equivalentes
no mapeamento genético, incluindo Restriction à distribuição independente, fazendo, assim, com
Associated DNA sequencing (RADseq), RFLP, SSR e que não haja nenhuma associação entre os dois
SNPs. Um total de 3.230 locos, distribuídos em 11 locos (MACKAY et al., 2009).
grupos de ligação, foram identificados, resultando
A exemplo dos experimentos com mapas de
em cobertura de 1.471 cM com um intervalo médio
ligação, o referencial teórico para análises de
entre dois marcadores de 0,46 cM.
QTL em plantas envolve, basicamente, o uso de
Uma das aplicações de maior importância dos populações experimentais derivadas de linhagem
mapas genéticos é no entendimento de caracteres endogâmica. Os motivos são os mesmos daqueles
quantitativos nos estudos de mapeamento de QTLs. citados anteriormente. Assim sendo, no geral, os
Definem-se como quantitativos (ou complexos) estudos de mapeamento de QTL incluem métodos
aquelas características determinadas por um estatísticos desde as técnicas mais simples, como as
número elevado de genes e que sofrem influência análises de marcas individuais (ANOVA e regressão
de fatores ambientais em diferentes graus. Os linear simples), até os modelos mais complexos, que
fenótipos resultantes da expressão desses genes envolvem a análise de múltiplas regiões do genoma
apresentam uma variação contínua na população simultaneamente (mapeamento por intervalos).
em vez de classes discretas, como observado nos
Para a espécie C. canephora, o número de QTLs
caracteres de herança mendeliana simples. A
mapeados ainda é considerado moderado.
variação contínua inviabiliza o agrupamento dos
Entre aqueles que são relatados na literatura,
genótipos em classes, tornando o indivíduo per
destaque é dado para estudos com o loco S da
si uma unidade de estudo de pouco valor. Assim,
incompatibilidade (LASHERMES et al., 1996);
para os estudos de características complexas, faz-
restauração da viabilidade do pólen (COULIBALY
se necessário utilizar modelos quantitativos que
et al., 2003); características morfológicas (AMIDOU
contemplam um tipo de herança que é determinada
et al., 2007; ANTHOËNE et al., 2014); capacidade
pela segregação de vários locos, sendo que cada um
de embriogênese somática (PRIYONO et al.,
deles apresenta um pequeno efeito no genótipo.
2010); e para qualidade de bebida (LEROY et
Para isso, esses modelos se baseiam, na grande
al., 2011; ANTHOËNE et al., 2014). Entre esses,
maioria das vezes, nos princípios de genética de
os estudos relacionados à qualidade de bebida
populações, com ênfase nas estimativas de médias,
merecem destaque pela importância econômica
variâncias e covariâncias.
e atenção que vêm ganhando nos programas
204 Café Conilon – Capítulo 8
com uma parte dos marcadores (MEUWISSEN et reais de sucesso em programas aplicados de
al., 2001). A ideia, nesse cenário, é que marcadores melhoramento genético de café conilon. Para
associados a QTLs, independente da magnitude tanto, os requerimentos para sua implementação
dos seus efeitos, sejam capazes de explicar quase envolvem, basicamente, determinação e análise de
a totalidade da variação genética de um caráter três populações:
quantitativo. O resultado prático desse método é
i) População de estimação: também denominada
a sua aplicação em qualquer família ou população
de população de treinamento, descoberta ou
de interesse, alta acurácia seletiva, eficiência para
referência, formada por um número moderado de
caracteres de baixa herdabilidade e a exclusão
indivíduos que serão genotipados e fenotipados
das análises prévias de mapeamento genético e
para as características de interesse. As informações
detecção de QTLs.
geradas constituirão um banco de dados usados
A popularização e importância dessa metodologia na construção de um modelo de predição, no qual
em estudos de genética e melhoramento de plantas cada marcador molecular terá o seu efeito estimado
podem ser enfatizados ao considerar a expressão para o caráter de interesse.
de progresso genético ou ganho de seleção (GS),
ii) População de validação: de tamanho um pouco
dado pelo produto entre o diferencial de seleção
menor do que a população de estimação, essa
(DS) e a herdabilidade (h²). Uma derivação dessa
amostra contempla indivíduos que também devem
fórmula do progresso genético é dado pela
ser genotipados e fenotipados para a característica
expressão GS = krggS/L, na qual k é o diferencial de
de interesse, gerando um conjunto de dados, cuja
seleção padronizado, r é a acurácia seletiva, S é o
finalidade é computar a eficiência da equação
desvio padrão genético do caráter da população
de predição desenvolvida na etapa anterior. Para
e L é o tempo necessário para completar um ciclo
isso, os Valores Genéticos Genômicos (VGGs)
seletivo (RESENDE et al., 2012). Considerando essa
dos indivíduos são estimados usando os efeitos
expressão, o uso da GWS pode alterar os quatro
preditos da equação da população de estimação.
componentes da fórmula. Em espécies perenes,
A correlação dos VGGs com os valores fenotípicos
por exemplo, o benefício se dá, em especial, pelo
verdadeiros fornece a chamada acurácia da
aumento da acurácia seletiva (r) e pela redução
seleção genômica. Em outras palavras, ela pode
significativa do tempo (L). Segundo Resende et al.
ser considerada uma medida de fidelidade entre o
(2012), o aumento de r ocorre devido à incorporação
valor fenotípico predito via modelo de predição da
da matriz de parentesco genômica nos métodos de
primeira etapa e o valor fenotípico real mensurado
predição, enquanto que o componente L é reduzido
em campo. A magnitude dessa medida fornece
pelo fato da seleção ser realizado ainda em estágios
informações importantes sob o poder da GWS em
precoces (estágio de plântula ou mudas).
predizer os fenótipos de um determinado caráter
No caso do cafeeiro, devido ao longo período com base exclusivamente em dados genotípicos.
juvenil, as primeiras avaliações de campo são
iii) População de seleção: contempla os
realizadas após três anos do plantio, o que torna o
indivíduos que serão selecionados no programa
lançamento de variedades algo demasiadamente
de melhoramento, através de marcadores
lento (10-15 anos). O uso eficiente dessa ferramenta
selecionados com base no bom valor de acurácia da
permitiria a seleção de plantas elites ainda no
fase anterior. Nesse caso, as equações de predição
estágio de mudas, além de atuar sob características
derivadas na população de estimação são então
de baixa herdabilidade ou de difícil mensuração.
usadas na predição dos VGGs ou fenótipos futuros
Os resultados práticos da GWS no melhoramento
dos candidatos à seleção. Ressalta-se que, nesse
poderiam ser resumidos em: alta acurácia seletiva,
momento, não há necessidade da fenotipagem dos
ou seja, maior do que a acurácia via seleção
indivíduos, visto que o mérito genético e a seleção
fenotípica (MEUWISSEN et al., 2001; HABIER et
de cada genótipo serão mensurados pela predição
al., 2007; GODDARD; HAYES, 2007); economia de
dos VGGs. O uso apenas de informações moleculares
tempo; e redução dos custos.
no processo de seleção permite que essa etapa seja
Tais aspectos, mencionados acima, fazem da GWS realizada ainda na fase de plântula ou de muda.
um produto do terceiro milênio com perspectivas
206 Café Conilon – Capítulo 8
É importante citar que essas três etapas, apesar de Segundo Resende et al. (2012), um modelo ideal
serem conceitualmente distintas, não necessitam para GWS deve contemplar três atributos: i)
de populações fisicamente separadas, ou seja, uma acomodar a arquitetura genética do caráter em
única população pode exercer as três funções ao termos de genes de pequeno e grande efeito e
mesmo tempo. Evidências sugerem que a acurácia suas distribuições; ii) regularizar o processo de
da predição genômica aumenta à medida que o estimação na presença de multicolinearidade e
número de genótipos da população de estimação se de grande número de marcadores usando, para
eleva. Adicionalmente, outro fator a ser considerado isso, estimadores do tipo shrinkage; e iii) ser capaz
no cômputo da acurácia é a existência de uma de realizar a seleção de covariáveis (marcadores)
relação direta entre a população de estimação e de que afetam a característica de interesse. Nesse
seleção. contexto, as principais metodologias de GWS
podem ser divididas em três classes: regressão
Em programas de melhoramento genético de
explícita (métodos de estimação penalizado e
cafeeiro, essas populações podem ser derivadas a
Bayesiana), regressão implícita (regressão de
partir de ciclos de seleção recorrente, testes clonais,
Kernel e redes neurais) e regressão com redução
análises de dialelos e cruzamentos controlados.
da dimensionalidade (componentes principais e
Dadas as etapas de implementação da GWS, quadrados mínimos parciais).
nota-se que o fator-chave da abordagem é a
Estudos comparativos entre modelos de predição
construção de modelos de predição fidedignos
já foram realizados em diferentes cenários
que contemplem a estimação dos efeitos dos
para espécies e características distintas. No
marcadores. Tradicionalmente, essa predição
entanto, o que se observa é a ausência de um
era realizada em duas etapas, que envolviam a
método ótimo que seja eficiente para todas
identificação de marcadores significantes e depois
as situações. Atualmente, o uso dos métodos
a sua combinação em um modelo de regressão
de regressão explícita tem sido preferido nos
múltipla, no qual os marcadores são as variáveis
estudos envolvendo dados reais. Entre esses, o
preditoras, e os fenótipos a variável resposta
método G-BLUP é o mais comumente utilizado,
(LANDE; THOMPSON, 1990). No entanto, o foco nas
sobretudo, pela facilidade de implementação em
últimas décadas tem sido os métodos de seleção
softwares destinados à análise de modelos mistos.
genômica, nos quais todos os marcadores são
Além desse, os métodos Bayesianos (BayesA,
incluídos em um modelo de predição numa única
BayesB, BayesC) vêm ganhando destaque,
etapa.
principalmente, pela maior flexibilidade com
No contexto de modelos lineares, uma solução os quais pressuposições são adicionadas aos
trivial para a estimativa de parâmetros em modelos preditivos. O resultado prático dessas
modelos de regressão linear múltipla seria o uso escolhas permitirá que o modelo acomode
do método de Mínimos Quadrados Ordinários (em pressuposições genéticas distintas, tais como um
inglês Ordinary Least Squrare - OLS) ou Máxima grande número de marcadores com efeitos nulos
Verossimilhança (em inglês Maximum Likelihood ou, então, todos os SNPs com efeitos pequenos,
Estimation - ML). Porém, nesse cenário, no qual o por exemplo. Essas diferenças de pressuposições
número de efeitos a serem estimados (número de fazem com que alguns modelos se comportem
marcadores) é muito maior do que o número de melhor do que outros dependendo da arquitetura
observações (medições fenotípicas), o uso da teoria genética do caráter quantitativo considerado (DE
clássica de modelos lineares torna-se inadequado, LOS CAMPOS et al., 2013).
sobretudo, por problemas de dimensionalidade
Estudos aplicados de GWS são relatados com
(observações<parâmetros) e colinearidade
frequência em pesquisas com genética animal
das variáveis preditoras. Para contornar essas
e, em menor escala, em espécies vegetais. No
dificuldades, algumas soluções foram propostas.
melhoramento de plantas, destacam-se os estudos
A mais significante delas é tratar os efeitos dos
realizados em milho, trigo, soja e eucalipto. Apesar
marcadores como aleatório nos modelos de
da relevância, o número de estudos teóricos e
regressão penalizada e Bayesiana.
aplicados em café estão em fase inicial.
Biotecnologia Aplicada a Coffea canephora 207
Universidade de Cornell, em parceria com a Nestlé, obtido com a criação de um consórcio de pesquisa
disponibilizou cerca de 47 mil ESTs provenientes composto por 11 países (Brasil, França, Itália,
de cinco bibliotecas de cDNA de C. canephora Canadá, Alemanha, China, Espanha, Indonésia,
(http://www.sgn.cornell.edu/content/coffee. Austrália, Índia e Estados Unidos) permitiram o
pl). Do agrupamento e montagem desses 47 mil sequenciamento completo inédito para a espécie
ESTs, identificaram-se 13.175 unigenes, que foram C. canephora. Esses países se uniram à tarefa de
utilizados na análise comparativa com repertórios sequenciar, um a um, os genes que codificam as
de genes de Arabidopsis e de tomate (Solanum proteínas e também daquelas sequências de DNA
lycopersicum). Na comparação computacional não expressas, e ordená-las em cada cromossomo.
realizada, observou-se maior conservação das
O projeto iniciou-se em 2010 utilizando-se
sequências entre C. canephora e tomate (ambos
tecnologias de sequenciamento de nova geração
do clado Euasterid) do que entre C. canephora
(NGS) associadas a informações já disponíveis
e Arabidopsis (clado Eurosid). Esse número
para o gênero, como de marcadores moleculares,
considerável de sequências representa um recurso
bancos de sequências parciais e mapas genéticos
valioso para estabelecer um catálogo de genes
(BERTRAND, 2010).
para o gênero Coffea. No entanto, na ausência de
softwares robustos de previsão de genes específicos A conclusão do sequenciamento completo do
de Coffea, recomenda-se que sejam realizados com genoma de C. canephora foi anunciada na revista
algoritmos de previsão, treinados com os genes Science no dia 5 de setembro de 2014 (DENOEUD
de Eurosids (GUYOT et al., 2009). Na comparação et al., 2014). Tal sequenciamento foi realizado
computacional realizada, observou-se maior utilizando sete acessos da espécie C. canephora,
conservação das sequências entre C. canephora e que representavam grande parte dos grupos
tomate (ambos do clado Euasterid) do que entre genéticos. A análise dos 569.9 Mb de DNA, obtida
C. canephora e Arabidopsis (clado Eurosid). Esse por sequenciamento Sanger (ABI3730xl) e por
número considerável de sequências representa um sequenciamento de nova geração (Roche/454
recurso valioso para estabelecer um catálogo de GSFLX e Illumina GAIIx), gerou grande conteúdo
genes para o gênero Coffea. No entanto, na ausência de informação, e possibilitou conhecer a estrutura
de softwares robustos de previsão de genes do material genético (Figura 1). Verificou-se, por
específicos para Coffea, recomenda-se que sejam exemplo, a presença de 25.574 genes, 448,845
realizados com algoritmos de previsão treinados elementos transponíveis classificados em
com os genes de Eurosids (GUYOT et al., 2009). retrotransposons e superfamílias de transposons,
292.125 polimorfismos de nucleotídeo simples
O desenvolvimento de marcadores moleculares a
(SNPs), 25.574 polipeptídeos, 7.597 enzimas, 231
partir do sequenciamento em larga escala de ESTs
transportadores e 330 rotas metabólicas.
(VIEIRA et al., 2006) constituiu o primeiro passo para
a genômica do cafeeiro e foi essencial para i) avaliar
a diversidade genética dentro das duas principais
espécies cultivadas C. canephora e C. arabica; ii)
analisar a diversidade de espécies selvagens e as
relações filogenéticas dentro do gênero; iii) detectar
introgressões e rearranjos estruturais; iv) identificar
QTLS; e vi) caracterizar os principais genes de
interesse (ALVARENGA et al., 2010, 2011; VIDAL et
al., 2010; VIEIRA et al., 2010; MISHRA et al., 2011;
PEREIRA et al., 2011).
Quadro 1. Relação de bancos de dados com informações genéticas e moleculares de Coffea canephora
Nome Descrição
Website em construção, com banco de dados relacionado
Ccmb coffee database – Índia à caracterização molecular do germoplasma do cafeeiro.
(http://www.ccmb.res.in/coffeegermplasm/index.htm)
Sistema integrado de informações do cafeeiro com
informações sobre estruturas e famílias gênicas, produtos
gênicos, metabolismo, transcriptoma, marcadores
Coffee Genome Hub (CGH)
moleculares e mapeamento genético. Software com
algumas ferramentas de bioinformática.
(http://coffee-genome.org/)
Banco de dados do ‘National Center for Biotechnology
Information’ (NCBI) que, entre tantas espécies,
GenBank disponibiliza ESTs, sequências de DNA, RNA, proteínas,
sondas e literatura sobre C. canephora.
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/genbank/)
Banco de informações genéticas e moleculares
International Coffee Genome Network (ICGN) desenvolvido por comitê internacional.
(http://www.coffeegenome.org/)
Banco de dados do ‘Institute of Research for Development’
(IRD), o qual disponibiliza informações de marcadores
RFLP, EST-SSR, SSR, SNPs desenvolvidos a partir de
MoccaDB - IRD, França
C. canephora e/ou C. arabica com muitos testes de
amplificação cruzada para espécies da família Rubiaceae.
(http://moccadb.mpl.ird.fr/)
Projeto do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
Desenvolvimento do Café em parceria com Embrapa
Café, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,
The Brazilian Coffee Genome EST Project - Brasil Fapesp e ‘Agronomical & Environmental Genomes’ (AEG).
Possui bibliotecas de cDNA com sequências de C. arabica,
C. canephora e C. racemosa.
(http://www.lge.ibi.unicamp.br/cafe/)
Bibliotecas de cDNA e ESTs de C. canephora var. Robusta
The SOL Genomics Network (SGN) - EUA divulgados pela Universidade de Cornell e Nestlé S.A.
(http://sgn.cornell.edu/)
Informações sobre marcadores moleculares, bibliotecas
com BACs, marcadores SSR, QTLs, mapeamento,
diversidade genética, estudos de associação,
TropGENE DB CIRAD - França características morfoagronômicas de culturas tropicais,
incluindo C. canephora.
(http://tropgenedb.cirad.fr/tropgene/JSP/interface.
jsp?module=COFFEE)
predizer com acurácia os marcadores relacionados and Crop Evolution. 54, 1011-1021, 2007.
a diferentes características de interesse no ANTHÕENE, V. M.; MARGIN, B.; LEFEBVRE-PANTIGNY,
melhoramento genético e concomitantemente F.; JASSON, S.; RIGOREAU, M.; HOSSON, J.; LAMBOT,
acelerar o processo de seleção. C.; CROUZILLAT, D. Comparison of three atl
Para maximizar os ganhos genéticos, há necessidade detection models on biochemiral, sensory, and
de forte integração nas diferentes áreas do yield characteres in Coffea canephora. Tree Genetics
& Genomes. 10, 1541-1553, 2014.
conhecimento e da cultura, aliados a programas
de melhoramentos bem fundamentados e com BERTRAND, B. Decryption of the coffee genome
variabilidade genética. has begun. 2010. Disponível em: <http://www.
coffeegenome.org/communications/publications/
A sistematização das informações em bancos de CIRAD%20Article.jpg>. Acesso em: 27 jul. 2014.
dados públicos é de fundamental importância
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Biotecnologia Aplicada a Coffea canephora 217
9
Cultivares de Café Conilon
Romário Gava Ferrão, Maria Amélia Gava Ferrão,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Paulo Sérgio Volpi,
Abraão Carlos Verdin Filho, José Luiz Tóffano, Paulo Henrique Tragino e
Scheilla Marina Bragança
cafeicultores capixabas genótipos mais adequados beneficiadas por hectare (sc. benef./ha). Atualmente,
às suas necessidades, uma vez que, até aquela muitos produtores, ao usarem as cultivares clonais
época, as cultivares usadas pelos produtores melhoradas e seguirem as recomendações técnicas
eram propagadas por sementes, com grande de plantios, condução e colheita, têm alcançado
heterogeneidade de plantas, produção e em outras produtividades superiores a 120 sc./ha e obtido
características, com dificuldade de manejo, baixo produto de boa qualidade (FONSECA et al., 2005;
potencial geral de produção e qualidade inferior de FERRÃO et al., 2007a, 2014).
bebida.
Dentro desse contexto, será apresentada, neste ca-
As estratégias de melhoramento vêm sendo for- pítulo, uma abordagem quanto às informações fun-
muladas, inicialmente, priorizando, a curto e médio damentais para o desenvolvimento das cultivares,
prazos, o desenvolvimento de cultivares com carac- bem como sobre a descrição das principais caracte-
terísticas superiores às existentes, além de manu- rísticas agromorfológicas de cada uma delas.
tenção, conservação e caracterização taxonômica
da espécie. Dentro desse conceito, foram estabele-
cidas as metodologias para o desenvolvimento de 2 INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA O
cultivares clonais e de cultivares e híbridos sintéti- DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES
cos propagados por semente e para a avaliação da DE CAFÉ CONILON
variabilidade genética. As principais características
avaliadas nessas investigações são a produtividade, O café conilon é originado de plantas que se
adaptabilidade aos diferentes ambientes, estabili- reproduzem por efeito da alogomia, com 100%
dade de produção, tolerância a estresses bióticos de fecundação cruzada, ocasionada pela auto-
e abióticos, uniformidade de maturação, tamanho incompatibilidade gametofítica, que inviabiliza a
dos grãos, percentagem de grãos moca e de cho- autofecundação ou o cruzamento entre plantas que
chos, rendimento no beneficiamento, vigor e arqui- apresentam a mesma constituição genética nos
tetura da planta e aquelas associadas à qualidade gametas reprodutivos.
final do produto. Em razão dessa forma natural de fecundação, as
Como resultados dos primeiros 30 anos de trabalho, populações genotípicas naturais existentes dessa
foram desenvolvidos vários estudos básicos, que espécie, bem como aquelas formadas a partir
têm contribuído efetivamente no incremento de de sementes, mesmo que coletadas em uma
conhecimentos genéticos da espécie (FONSECA, única planta matriz, caracterizam-se pela elevada
1999; FERRÃO, R.; FONSECA; FERRÃO, M., 2000; frequência de heterozigose, fato que impõe
FERRÃO, R. et al., 2000a, 2003a, 2003b; FERREIRA, grande variabilidade entre as plantas constituintes
2003; FONSECA et al., 2003a, 2003b; FERRÃO, 2004; dessas populações. Assim, a forma natural de
FONSECA et al., 2004a, 2004b; FERREIRA et al., reprodução da espécie via propagação sexuada
2004, 2005; FERRÃO et al., 2007a, 2007b; FERRÃO, leva à formação de lavouras muito heterogêneas,
et al., 2009; NASCIMENTO et al., 2010; RODRIGUES com plantas expressando muita desuniformidade
et al., 2012, 2013; CARIAS et al., 2014), e pesquisas nas características: arquitetura, vigor, época e
que levaram ao desenvolvimento e ao lançamento uniformidade de maturação dos frutos, formato,
de nove cultivares, que são de uso direto pelos tamanho e peso dos grãos, suscetibilidade a pragas
produtores (BRAGANÇA et al., 1993, 2001; FERRÃO e doenças, tolerância à seca e, especialmente,
et al., 1999, 2000a, 2000b; FONSECA et al., 2001a, potencial produtivo (VAN DER VOSSEN, 1985;
2001b; FONSECA et al., 2004c, 2005; FERRÃO et al., CARVALHO et al., 1991). Esses fatores têm-se
2007a, 2007b, 2012, 2014, 2015a, 2015b, 2015c, constituído em importantes obstáculos na melhoria
2015d, 2015e) e que têm auxiliado na melhoria, da qualidade final do produto obtido (FONSECA,
principalmente da produtividade da cultura. Como 1995). Já as lavouras formadas de cultivares
registro, na década de 80, pode-se destacar que clonais são mais uniformes, com maior potencial
as cultivares utilizadas pelos produtores, quando de produção e com possibilidade de obtenção de
plantadas e manejadas utilizando-se a melhor produção final de melhor qualidade (FONSECA,
tecnologia da época, não ultrapassavam 60 sacas 1996, 1999; FERRÃO, 2004; FERRÃO et al., 1999,
2007a, 2007b, 2008, 2012, 2014, 2015a, 2015b).
Cultivares de Café Conilon 221
para as características desejadas e foram definidos exige, contudo, que sejam observados cuidados
após uma série de procedimentos experimentais especiais a fim de não as tornarem mais vulneráveis
e análises biométricas utilizadas na pesquisa às condições adversas do ambiente, ou seja, deve-se
científica. Essas cultivares devem ser, portanto, evitar que haja redução da rusticidade, que é uma
plantadas e manejadas sob determinadas técnicas das características marcantes e mais importantes da
e condições de cultivo para que expressem seu espécie. Essa rusticidade, em grande parte, ocorre
potencial (FONSECA, 1995, 1999; FERRÃO et al., pela grande variabilidade genética da espécie,
2007a; 2007b; 2012; 2014; 2015a; 2015b). decorrente de sua forma natural de fecundação
cruzada (VAN DER VOSSEN, 1985; CARVALHO et al.,
A utilização de cultivares clonais para o plantio
1991; MONTAGNON; LEROY; YAPO, 1992).
da espécie C. canephora não foi iniciada no Brasil.
São muitos os trabalhos citados na literatura Objetivando oferecer maior segurança ao produtor
especializada a respeito do assunto, que são quanto à polinização e também à não diminuição
conduzidos há décadas em vários outros países. drástica da base genética da população de plantas,
Em muitos deles, as cultivares clonais têm-se que ocasionaria a vulnerabilidade da cultivar
constituído na base de toda a exploração econômica às doenças e a outros fatores, recomenda-se
da espécie (DUBLIN, 1967; FERWERDA, 1969; CAPOT, constituir a variedade clonal com, no mínimo, oito
1977; VAN DER VOSSEN, 1985; BERTHAUD, 1986; clones. Eles devem ser agrupados após o teste
BOUHARMONT et al., 1986; CHARMENTANT et al., de compatibilidade genética e de acordo com as
1990). metas estabelecidas. As oito cultivares clonais já
desenvolvidas, lançadas e liberadas para plantio
A obtenção de cultivares clonais consiste na
pelo Incaper, foram constituídas pelo agrupamento
eleição por intermédio de avaliação fenotípica de
de, no mínimo, 9 e, no máximo, 14 clones.
indivíduos considerados superiores em campos
de polinização aberta. Muitos desses campos são A substituição de lavouras de material genético
áreas dentro de lavouras de café bem conduzidas, propagado por meio de sementes, por cultivares
em localidades representativas do café conilon, clonais, quando realizada de forma indiscriminada,
sendo sua multiplicação por via assexuada, por isto é, inadequada, e às vezes descaracterizada pela
meio da estaquia (clonagem). Em seguida, esses exclusão de clones, pode provocar o estreitamento
indivíduos selecionados fenotipicamente são da base genética da espécie e redundar no insucesso
avaliados em ensaios de competição por, no das lavouras e, ainda, ocorrer o fator denominado
mínimo, quatro colheitas, e os dados sobre as “erosão genética”. Este problema em café conilon
diferentes características de interesse do programa consiste na redução da variabilidade genética
de melhoramento são coletados e analisados. Após nas populações naturais como consequência da
as avaliações e o teste de compatibilidade genética, recombinação aleatória de número restrito de
os clones eleitos são agrupados de acordo com os clones (CHARRIER; BERTHAUD, 1988).
objetivos da pesquisa para a formação de uma nova
cultivar clonal ou para serem mantidos no Banco
Ativo de Germoplasma e/ou para serem utilizados 2.3 CULTIVARES PROPAGADAS POR SEMENTES
no melhoramento intra e/ou interpopulacional. A seleção fenotípica de indivíduos tem sido
Para seleção de plantas matrizes de café conilon amplamente utilizada com sucesso em campos
em condições de propriedades agrícolas, têm-se de polinização aberta para caracteres de alta
utilizado os seguintes critérios: seleção com base herdabilidade. Por intermédio das estimativas
no potencial e estabilidade de produção, carga da Capacidade Geral de Combinação (CGC) e
pendente, tolerância ao estresse hídrico, resistência Capacidade Específica de Combinação (CEC),
a pragas e doenças, ciclo, porte, arquitetura de obtidas pelos cruzamentos controlados, top crosses
planta, uniformidade de maturação dos frutos e ou dialelos, é possível efetuar com eficiência a
tamanho e tipo de grãos. seleção de genótipos com base no desempenho
fenotípico. Pela recombinação dos pais com
A despeito de uma série de vantagens, a utilização melhores valores da CGC, formam-se as cultivares
de cultivares clonais para formação das lavouras propagadas por sementes, as quais poderão ser
Cultivares de Café Conilon 223
Identificação Fenotípica
Introdução e Seleção de Plantas
Matrizes Superiores
Multiplicação
Assexuada
Ensaios de Avaliação
e Seleção
BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA
Seca
Porte
Avaliação dos Hibridação Seleção e Maturação
Híbridos Intraespecífica Agrupamento
(sexuado) (dialelo) Tamanho grão
B
Doenças
A Compatibilidade
G Genética Qualidade
Outros
Jardim
clonal
População Base
Seleção e
Produtor
Recombinação
População Melhorada
Cultivar
e café coco, relação café cereja e café beneficiado, 3.1 ‘EMCAPA 8111’, ‘EMCAPA 8121’ E ‘EMCAPA 8131’
relação café coco e café beneficiado, incidência e
As primeiras três cultivares – ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa
severidade das principais pragas (bicho-mineiro,
8121’ e ‘Emcapa 8131’ – foram lançadas em 1993
cochonilha-da-roseta, broca-da-haste) e doenças,
(BRAGANÇA et al., 1993, 2001). Elas são variedades
especialmente ferrugem e mancha-manteigosa,
clonais formadas pelo agrupamento de clones
precocidade da primeira colheita, variação de
geneticamente compatíveis entre si, possuidores de
produção pelo efeito da bienalidade do cafeeiro e,
uma série de características agronômicas comuns,
por último, características bioquímicas e sensoriais
distinguindo-se uma das outras principalmente
associadas à qualidade final do produto.
pelas distintas épocas de maturação dos frutos
(Figura 2), ou seja, precoce, intermediária e tardia.
3 CULTIVARES DE CAFÉ CONILON Os clones que formam essas três cultivares foram
DESENVOLVIDAS E LANÇADAS PELO eleitos em ensaios conduzidos na fazenda experi-
INCAPER PARA O ESPÍRITO SANTO mental do Incaper, em Marilândia/ES, no período de
1986 a 1992. Nesses ensaios, foram estudados clo-
O Incaper desenvolveu, disponibilizou e nes originados de plantas matrizes selecionadas em
recomendou para plantio nove cultivares de populações existentes na região norte do Estado do
café conilon para os cafeicultores capixabas, Espírito Santo, por meio de seleção fenotípica, para
denominadas ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa 8121’, a qual foram consideradas importantes característi-
‘Emcapa 8131’, ‘Emcapa 8141 - Robustão cas de interesse relacionadas, principalmente, à ca-
Capixaba’, ‘Emcaper 8151 - Robusta Tropical’, pacidade produtiva e à qualidade dos grãos.
‘Vitória Incaper 8142’, ‘Diamante ES8112’, ‘ES8122’
– Jequitibá e ‘Centenária ES8132’. Essas cultivares
são recomendadas para o plantio na região de 3.1.1 ‘Emcapa 8111’
zoneamento considerada como apta para o
Cultivar clonal constituída pelo agrupamento
cultivo de café conilon no Estado do Espírito Santo
de nove clones, todos compatíveis entre si, de
(DADALTO; BARBOSA, 1997).
maturação dos frutos precoce e uniforme, com
Na Tabela 1, encontram-se informações referentes colheita normalmente nos meses de abril e maio.
ao ano de lançamento, número de clones e forma
Apresentou, nas primeiras quatro colheitas sem
de propagação dessas variedades.
irrigação, produtividade média da ordem de 58
sc. benef./ha (29% maior que a testemunha), com
Tabela 1. Constituição, forma de propagação e ano de uma amplitude de variação dos clones entre 49
lançamento das nove cultivares de café coni-
e 64 sc. benef./ha, com rendimento médio no
lon desenvolvidas e recomendas pelo Incaper
para o Estado do Espírito Santo beneficiamento de 4,03 (kg de café cereja/kg de
Nº Forma de Ano de
café beneficiado) e peneira média igual a 14.
Cultivar
Clones Propagação Lançamento
‘Emcapa 8111’ 9 Clonal 1993
‘Emcapa 8121’ 14 Clonal 1993 3.1.2 ‘Emcapa 8121’
‘Emcapa 8131’ 9 Clonal 1993
‘Emcapa 8141 - Robustão Capixaba’ 10 Clonal 1999 Variedade clonal formada pelo agrupamento de 14
‘Emcaper 8151 - Robusta Tropical’ - Semente 2000 clones distinguindo-se por apresentar maturação
‘Vitória - Incaper 8142’ 13 Clonal 2004
dos frutos intermediária, com a colheita ocorrendo
‘Diamante ES8112’ 9 Clonal 2013
normalmente no mês de junho.
‘ES 8122’ – Jequitibá 9 Clonal 2013
‘Centenária ES8132’ 9 Clonal 2013 Apresentou produtividade média das primeiras
Fonte: Ferrão et al. (2007), Ferrão et al. (2015b, 2015c, 2015d). quatro colheitas sem irrigação da ordem de 60 sc.
benef./ha (33% maior que a testemunha), com
uma amplitude de variação dos clones entre 52
e 72 sc. benef./ha, com rendimento médio no
beneficiamento de 3,96 (kg de cerejas/kg de café
beneficiado) e peneira média igual a 15.
226 Café Conilon – Capítulo 9
A B C
Figura 2. Primeiras cultivares clonais melhoradas do Incaper: ‘Emcapa 8111’ (A), ‘Emcapa 8121’ (B) e ‘Emcapa 8131’ (C),
respectivamente com maturação precoce, intermediária e tardia.
Tabela 2. Produtividades médias e outras características agronômicas das três cultivares clonais de café conilon
testadas entre 1989 e 1992 em relação à testemunha e à média estadual
Produtividade2 Índice
Materiais Maturação Época Peneira Moca
Relativo
Genéticos dos frutos Colheita 1989 1990 1991 1992 Média Média (%)
(%)
‘Emcapa 8111’ Precoce até maio 22 45 81 82 58 129 14 32
‘Emcapa 8121’ Intermediária junho 20 50 89 79 60 133 15 34
‘Emcapa 8131’ Tardia jul/ago 21 48 90 82 60 133 14 33
Var. de sementes1 Desuniforme mai/ago 10 38 77 57 45 100 Desuniforme<14 -
Média conilon no Estado Desuniforme abr/jul - - - - 7 16 Desuniforme<14 -
Fonte: Bragança et al. (1993, 2001).
Proveniente de sementes de plantas selecionadas: testemunha no experimento.
1
Produtividade média em sc. benef./ha, aos 24, 36, 48 e 60 meses, após o plantio.
2
Cultivares de Café Conilon 227
Linhares, Marilândia, São Gabriel da Palha e Produtividade média - 23 50,3 sc./ha (média das quatro primeiras
Cachoeiro de Itapemirim. A produtividade média colheitas colheitas)
geral nessas localidades foi de 79,4 e 39,5 sc. Preço das mudas (milheiro) 25% do valor da muda clonal
30
taxa de mortalidade pós-plantio.
20
10
A cultivar Vitória Incaper 8142 é uma cultivar clonal Figura 6. Produtividade média, em oito safras, das
lançada em 2004, formada pelo agrupamento cultivares de café conilon ‘Robusta Tropical’,
‘Robustão Capixaba’ e ‘Vitória’ em cultivos
de 13 clones superiores, selecionados entre os
não irrigados, em diferentes ambientes do
materiais genéticos considerados “elites” do Espírito Santo.
programa de melhoramento do Incaper (FONSECA Fonte: Fonseca et al. (2004c).
et al., 2004c). Foram eleitos aqueles que reuniam,
simultaneamente, características de interesse que,
consideradas no conjunto, os distinguissem entre
os mais adequados, considerando tanto o potencial
produtivo quanto outros aspectos não menos
importantes para a sustentabilidade da atividade.
Esses clones foram selecionados em propriedades
privadas e, posteriormente, avaliados em condições
experimentais controladas e em diferentes
ambientes, os mais representativos do cultivo da
espécie no Estado.
Essa cultivar sobressaiu-se em relação a uma Figura 7. Cultivar clonal Vitória Incaper 8142.
série de critérios quando comparada aos demais
materiais genéticos utilizados como testemunhas Quadro 3. Características agronômicas da cultivar clonal
nos trabalhos experimentais, destacando-se, de Vitória Incaper 8142
forma especial, por seu desempenho em relação Forma de propagação Assexuada (Clonal)
ao alto nível de produtividade média obtida ao Número de clones 13
longo de um período mínimo de oito safras. Nesse Forma de plantio Cada clone numa linha
aspecto, o resultado da cultivar Vitória Incaper 8142, Índice Avaliação Visual (IAV) 7,45 (Escala de 0 a 10)
de 70,4 sc. benef./ha, superou em 21,05% a média Vigor vegetativo Alto
das demais cultivares já recomendadas pelo Incaper Produtividade média (não
70,40 sc. benef./ha
(Figuras 6). Os clones mais produtivos alcançaram irrigado)
ha, não tendo sido eleito qualquer clone com menos Diâmetro copa 2,79 m
Robusta Tropical e a Robustão Capixaba. Época de maturação Maio a julho (dependendo do clone)
Relação cereja/benef. (massa) 3,92
A cultivar Vitória destaca-se, sobretudo, por apre-
Relação coco/benef.(massa) 1,80
sentar alta produtividade, estabilidade de produ-
Tamanho dos grãos 90,59% peneiras 13 e maiores
ção, tolerância à seca e à ferrugem, uniformidade de
Grão moca 21,40%
maturação e grãos grandes (Figura 7 e Quadro 3).
Reação à ferrugem Tolerante
Déficit hídrico Tolerante
Áreas zoneadas para o café conilon
Adaptação
no ES
Fonte: Fonseca et al. (2004c).
230 Café Conilon – Capítulo 9
As cultivares Diamante ES8112, ES8122 - Jequitibá Tabela 5. Características das cultivares Diamante ES8112,
e Centenária ES8132 se diferenciam, sobretudo, ES8122 - Jequitibá e Centenária ES8132,
pela época de maturação dos frutos: precoce Incaper, 2013
(maio), intermediária (junho) e tardia (julho), Características
‘Diamante ‘ES 8122 ‘Centenária
ES 8112’ Jequitibá’ ES 8132’
respectivamente. A produtividade média de 83,95 Número de clones 9 9 9
sc. benef./ha, em condições não irrigadas das três Época de maturação Maio Junho Junho
cultivares supera em 41,15% o rendimento médio Produtividade (Sc./ha)* 80,7 88,7 82,4
das primeiras lançadas em 1993 (‘Emcapa 8111’, Vigor vegetativo 7,9 7,9 8,2
Índice Avaliação Visual 8,0 8,0 8,1
‘Emcapa 8121’ e ‘Emcapa 8131’), em 19,25% da
CHO dos grãos (%) 8,1 12,7 10,9
‘Vitória Incaper 8142’, lançada em 2004 (FERRÃO et Grãos moca (%) 18,7 24,8 26,4
al., 2013, 2014, 2015a, 2015b, 2015c, 2015d) e em Relação café CE/BE 4,3 4,2 4,2
140% a média do Estado referente a 2014, que foi Tamanho grãos (% >13) 81,3 75,2 73,6
de 35 sc. benef./ha (CONAB, 2014) (Figuras 8 e 9). Peso de 100 grãos (g) 14,9 17,2 16,9
Nota qualidade bebida 77,4 79,0 77,9
Maturação dos frutos Uniforme Uniforme Uniforme
100 Reação Ferrugem MR MR MR
88,75
82,36 Fonte: Incaper (2013b, 2013c, 2013d).
Produtividade (sc. benefic./ha)
80,73 * = produtividade média sem irrigação; CHO = Chochamento; CE/BE = Relação café
80 cereja e café beneficiado. Moderada = resistência à ferrugem.
70,4
Além das nove cultivares desenvolvidas e lançadas e noroeste do Estado de São Paulo, também, como
pelo Incaper, são registradas também no Mapa, para porta-enxerto para qualquer uma das cultivares de
o Estado do Espírito Santo, as ‘G30/G35 Verdebras’ café arábica recomendadas (CARVALHO; FAZUOLI,
(MUDAS VERDEBRAS, [198?]; VERDEBRAS, 1995), 1993; IVOGLO, 2007).
‘Ipiranga 501’, ‘SV 2010’ e ‘Colatina PR 6’.
Em experimentos realizados pela Embrapa
Esse conjunto de materiais genéticos têm sido Rondônia, em municípios do Estado de Rondônia,
multiplicados em cerca de 200 jardins clonais a ‘Apoatã’, além da adaptação e alta produtividade
implantados em instituições de ensino e pesquisa, para aquele Estado, mostrou-se com maturação
cooperativas, prefeituras municipais, associações tardia (julho, agosto); relação café maduro (cereja)
de produtores e viveiristas. Essa rede de jardins e o beneficiado igual a 5,0; peso de 1.000 sementes
clonais tem sido a base de produção de cerca de 60 do tipo chato de 141 gramas; peneira média de 16,7;
milhões de mudas/ano para a renovação de 8% da 89,5% de sementes do tipo chato; teor de sólidos
cafeicultura do conilon capixaba no mesmo espaço solúveis de 31,2% e o de cafeína nas sementes de
de tempo. 1,7% (FONSECA et al., 2008; FERRÃO et al., 2015a).
do Mapa, como passível de proteção no Brasil renovada e, assim, a cultivar cai em domínio públi-
(BRASIL, 1998). co, e nenhum outro direito poderá obstar sua livre
utilização.
A Lei de proteção de cultivares tem como objetivo
fortalecer e padronizar os direitos de propriedade Seguindo as normas vigentes, uma cultivar
intelectual. pode ser protegida com direito à cobrança ou
não de royalties, que são taxas cobradas pelos
De acordo com a legislação, cultivar é um genótipo,
titulares das cultivares protegidas sobre o valor
obtido de qualquer gênero ou espécie vegetal
da comercialização do material genético de
superior, resultante de trabalho empregando
reprodução. Esses valores são negociáveis e têm
estratégias de melhoramento genético, que
variado entre 3% e 5% sobre o valor de venda
seja claramente distinguível de outras cultivares
das sementes e mudas. Somente os pequenos
conhecidas por margem mínima de descritores,
produtores (definido em lei) e aqueles que utilizam
designada por uma denominação genérica própria,
sementes para uso próprio podem multiplicar,
descrita em publicação especializada disponível e
trocar, doar sementes e mudas de cultivares
acessível ao público em condições de ser cultivada.
protegidas entre si, sem a autorização do titular.
O processo de desenvolvimento de uma nova Entretanto, jamais poderão vendê-las (MOURA,
cultivar é longo e envolve a utilização de 2008; TEIXEIRA; ROCHA; RAMALHO, 2011).
diferentes métodos de melhoramento, ensaios
As cultivares de café conilon até então protegidas
de campo, testes de laboratório, emprego de
no Incaper foram desenvolvidas por intermédio de
métodos estatísticos, conhecimento da biologia
programas de melhoramento genético utilizando
reprodutiva e da genética da espécie. Na fase final
recursos públicos. Assim, não são cobrados os
do processo de proteção, utiliza-se os resultados
royalties dos produtores para utilizá-las em plantios
de experimentos específicos conduzidos por
no País.
melhorista de planta, denominados de Testes
de DHE (Distinguibilidade, Homogeneidade e A proteção de uma cultivar é realizada mediante
Estabilidade). a apresentação, pelos melhoristas responsáveis,
de uma série de documentos ao SNPC como
Assim, além do caráter inovador - não ter sido
pagamento de taxa, relatório técnico e formulário
oferecida à venda, no país, há menos de 12 meses
de descritores contendo os dados da avaliação de
em relação ao pedido de proteção ou não ter sido
42 características morfoagronômicas incluindo
comercializada no exterior há mais de quatro anos -
desde formato, largura e comprimento da folha até
a nova cultivar deve apresentar:
espessura das sementes, passando por aspectos
- Distinguibilidade: deve ser claramente distinta relacionados à floração, compatibilidade genética,
de qualquer outra cultivar por uma característica uniformidade de maturação, reação a doenças,
importante ou por várias características, cuja produção e qualidade. Os descritores para a
combinação lhe dê a qualidade de “nova cultivar”. proteção de cultivares de café conilon encontram-
- Homogeneidade: deve apresentar baixa variabi- se no capítulo 4 desta publicação.
lidade quando plantada, ou seja, os indivíduos de O titular de uma cultivar protegida perde o direito
uma mesma cultivar devem apresentar característi- sobre ela nas seguintes situações: expiração
cas idênticas ou muito próximas. do prazo de vigência da proteção, renúncia ou
- Estabilidade: as características da cultivar devem cancelamento do certificado de proteção se a
se manter nas sucessivas gerações de reprodução. cultivar perder a homogeneidade ou a estabilidade
de suas características, não pagamento da taxa de
O direito sobre a proteção das cultivares de café anuidade, ausência de amostra viva, geração por
tem validade de 18 anos e garante à instituição parte da cultivar, de impactos desfavoráveis ao
detentora da tecnologia vantagem competitiva ambiente e para a saúde humana (MOURA, 2008).
através do direito exclusivo de produção, repro-
dução, comercialização, importação/exportação e
posse das cultivares protegidas. Decorrido o prazo
de vigência do direito, a proteção não poderá ser
Cultivares de Café Conilon 235
Quadro 4. Cultivares de Coffea canephora registradas no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Mapa, 2014
Nº Registro*
Denominação Tipo de Registro Mantenedor
Proteção**
‘Conilon’ Cultivar Incaper 05381*
‘EMCAPA 8111’ Cultivar Incaper 05384 *
‘EMCAPA 8121’ Cultivar Incaper 05383 *
‘EMCAPA 8131’ Cultivar Incaper 05382 *
‘EMCAPA 8141- Robustão Capixaba’ Cultivar Incaper 05385 *
‘EMCAPER 8151- Robusta Tropical’ Cultivar Incaper 05386 *
‘Vitória Incaper 8142’ Cultivar Incaper 20471*
‘Diamante ES8112’ Cultivar Incaper 31002*, 21806.000118/2013**
‘ES8122’ - Jequitibá Cultivar Incaper 31003*, 21806.000119/2013**
‘Centenária ES8132’ Cultivar Incaper 31001*, 21806.000117/2013**
‘Apoatã IAC 2258’ Cultivar IAC 02958
‘BRS Ouro Preto’* Cultivar Embrapa 29486*, 21806.000058/2012**
‘Ipiranga 501’ Cultivar Francisco Luís Silva Felner 26043*
‘SV 2010’ Cultivar José Jânio Bizi 27053*
‘Verdebras G30/G35’ Cultivar Wanderlino M. Basto 06380*
‘Colatina PR6’ Cultivar Fundação Procafé 34015*
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Cultivares de Café Conilon 241
10
Jardins Clonais, Produção de
Sementes e Mudas de Café Conilon
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Abraão Carlos Verdin Filho,
Paulo Sérgio Volpi, Aldo Luiz Mauri, Maria Amélia Gava Ferrão,
Romário Gava Ferrão, Sara Dousseau Arantes e Sheila Cristina Prucoli Posse
normalmente, associados a viveiristas ou, de detentora dos materiais genéticos a cessão das
outra forma, conduzidos exclusivamente com a mudas ou estacas e as orientações técnicas
finalidade de produção e repasse de estacas, que necessárias ao sucesso do empreendimento.
se constituem nas estruturas vegetativas usadas As instituições parceiras, sejam públicas ou
para a propagação assexuada da espécie. Os privadas, por outro lado, responsabilizam-se pela
jardins clonais foram concebidos com a finalidade implantação, condução e disponibilização ou
de viabilizar o acesso mais rápido dos cafeicultores comércio das mudas ou das estacas, adotando
às cultivares clonais de café conilon recomendadas as políticas de distribuição que melhor lhes
pelo Incaper. São geralmente implantados convierem, desde que sigam a legislação
através de parcerias envolvendo o Instituto e os pertinente.
interessados na produção de mudas clonais.
Os jardins clonais têm sido de grande importância
Clones: são o conjunto de indivíduos originados e cumprido plenamente seu papel na dispersão
de uma mesma planta, através de propagação de materiais genéticos superiores em todas as
assexuada (vegetativa). As plantas de um mesmo regiões produtoras do Estado. Também podem ser
clone são, portanto, geneticamente idênticas entre considerados uma das estratégias responsáveis
si e àquela que lhes deu origem. pela expressiva evolução da cafeicultura capixaba,
tanto do ponto de vista de produtividade quanto de
Hastes ortotrópicos: são aqueles que crescem
qualidade do produto final (FONSECA et al., 2005a,
verticalmente, dando sustentação aos ramos
2005b).
plagiotrópicos ou produtivos. São os ramos
utilizados para a produção de mudas clonais. Existem atualmente no Estado do Espírito Santo
cerca de 190 jardins clonais localizados nas
Ramos Plagiotrópicas: são aqueles que crescem
principais regiões produtoras de conilon (Figura 1)
perpendicularmente às hastes ortotrópicas,
possuindo, em conjunto, capacidade de produção
responsáveis pela produção de frutos nas plantas.
de aproximadamente 50 milhões de mudas ao ano,
Esses ramos devem ser eliminados no preparo das
capaz de suprir a demanda média de mudas clonais
estacas (VERDIN FILHO et al., 2015).
necessária à renovação anual de cerca de 7 a 8%
Estacas: São os segmento retirados das do parque cafeeiro existente (FERRÃO et al., 2012,
hastes vegetativas (hastes ortotrópicas), com 2015d).
aproximadamente 5,0 cm de comprimento
No Estado de Rondônia, desde 2014, quatorze
contendo um nó com duas folhas e dois ramos
viveiristas foram credenciados pela Embrapa
plagiotrópicos.
Rondônia para a produção de mudas clonais da
cultivar Conilon BRS Ouro Preto. Cada viveiristas
2.1.2 Histórico recebeu 1,2 mil matrizes (80 de cada um dos 15
genótipos que compõem a cultivar) e com elas
A partir de 1993, vários jardins clonais vêm sendo estabeleceram seus respectivos jardins clonais.
instalados no Estado do Espírito Santo, na maioria Atualmente, mudas da cultivar em questão
dos municípios que cultivam o café conilon encomtram-se já sendo comercializadas nos
visando dar suporte à demanda de mudas de principais municípios produtores de café de
qualidade das oito cultivares clonais melhoradas Rondônia.
e recomendadas pelo Incaper: ‘Emcapa 8111’,
‘Emcapa 8121’, ‘Emcapa 8131’, ‘Emcapa 8141
- Robustão Capixaba’, ‘Vitória Incaper 8142’, 2.2 INSTALAÇÃO E CONDUÇÃO
‘Diamante ES8112’, ‘ES8122’ - Jequitibá e
‘Centenária ES8132’ (BRAGANÇA et al., 1993, 2001; Há diferentes formas de condução de jardins
FERRÃO et al., 2000a, 2000b; FONSECA et al., clonais: a tradicional (FONSECA et al., 2005a,
2004; FONSECA et al., 2005a, 2005b; FERRÃO, R.; 2005b) e a superadensada, realizadas em canteiros
FERRÃO, M.; FONSECA, 2013; FERRÃO et al., 2015a, ou em linhas duplas (VOLPI et al., dados não
2015b, 2015c). Nas parcerias estabelecidas para publicados).
implantação dos jardins clonais, cabe à instituição
246 Café Conilon – Capítulo 10
Figura 4. Esquema para o estabelecimento de jardim clonal com a cultivar Diamante ES8112, com seus respectivos
clones dispostos em talhões.
Figura 5. Esquema para implantação de um jardim clonal superadensado com a cultivar Diamante ES8112, composta
pelo agrupamento de nove clones.
2.2.2 Espaçamento e preparação das matrizes encontrarem-se com cerca dois anos ou mais, de
1,5 m de altura, pode-se iniciar os procedimentos
Conduzidos no sistema tradicional, as plantas
de preparação das matrizes para a emissão de
devem estar dispostas com espaçamentos menores
brotações abundantes (FONSECA et al., 2005a,
do que quando o objetivo é a produção de grãos.
2005b; MAURI et al., 2015).
Espaçamentos da ordem de 2,0 x 1,0 m, totalizando
5 mil plantas/ha, têm sido os mais empregados até A produção de estacas a partir de matrizes
então. Nesse sistema, quando as hastes ortotrópicas adultas pode ser iniciada com a preparação das
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 249
matrizes realizando-se o arqueamento das hastes parte do sistema radicular ativo, retardando o
ortotrópicas (Figura 6A) ou optar pela recepa alta desenvolvimento das brotações e a recuperação
de várias dessas hastes (Figura 6B). O arqueamento da parte aérea. Nas plantas matrizes, precisa ser
das hastes pode ser realizado por intermédio da mantida intacta ao menos uma de suas hastes,
fixação de sua extremidade ao solo com auxílio que agirá como “pulmão” até que as brotações se
de forquilhas de bambuí ou outro recurso, e, no desenvolvam normalmente, conforme a Figura 8
caso da recepa alta, procede-se ao corte a uma (MAURI et al., 2015).
altura de cerca de 1,2 m. Em ambas as situações, o
Espaçamentos mais adensados (1,0 x 1,0 m), com
objetivo é conferir à planta um aspecto de “taça”,
o arqueamento de plantas mais jovens, podem
aumentando a exposição das gemas vegetativas ao
ser também utilizados para a obtenção de maior
sol e concorrendo para a formação mais numerosa
precocidade na obtenção de estacas. Essa forma
de brotos vigorosos, conforme mostra a Figura 7.
de condução, entretanto, demanda um manejo
Quando as brotações apresentam entre quatro
expressivamente mais intensivo e complexo
e oito pares de folhas, devem ser destacados da
do jardim clonal (MAURI et al., 2015) e pode
planta-mãe para dar origem às estacas (FONSECA et
comprometer tanto a produção total de estacas
al., 2005a, 2005b; MAURI et al., 2015).
quanto a longevidade das matrizes (Figura 9). No
Optando-se pela recepa alta, não é aconselhável entanto, é mais recomendável que se utilize dos
que ela seja realizada em todas as hastes ao mesmo jardins clonais superadensados, já que podem
tempo, pois isso provocaria a morte de grande recompensar economicamente os custos adicionais
A B
Figura 6. Matrizes arqueadas (A), e parcialmente recepadas (B) para a estimulação da emissão de numerosas brotações
vegetativas.
Figura 7. Matrizes com numerosa brotação pela exposição das gemas vegetativas ao sol.
250 Café Conilon – Capítulo 10
Figura 9. Matrizes com cerca de um ano de idade sendo utilizadas para produção de estacas.
Figura 10. Aspectos do jardim clonal superadensado com a cultivar Diamante ES8112, conduzido na Fazenda
Experimental do Incaper em Marilândia/ES.
Fonte: Volpi et al. (dados não publicados).
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 251
2.2.4 Irrigação
É uma prática extremamente importante na
condução de jardins clonais. Deve ser realizada
seguindo os critérios recomendados para a cultura
em cada região considerando a demanda da
espécie e as diferentes condições climáticas locais.
É fundamental que não exista insuficiência do
suprimento de água, bem como de sua adequada
distribuição ao longo de todo o período de
produção de mudas, para que sejam alcançados os
resultados esperados tanto no que diz respeito ao
Figura 12. Jardim clonal superadensado conduzido em
uma das Unidades de Demonstração na Fa- número de estacas por matriz quanto à longevidade
zenda Volta Grande de propriedade do Sr. dos jardins clonais.
Adelson Rossmann, Laranja da Terra, ES.
O sistema de irrigação a ser utilizado encontra-se na
dependência, entre outros fatores, da quantidade e
O adensamento das matrizes pode favorecer o seu da qualidade da água disponível e, naturalmente,
esgotamento mais precoce, porém esse fato pode da disponibilidade de recursos para investimento.
ser compensado por permitir maior precocidade
na obtenção de estacas e o mais rápido retorno Em sistemas superadensados, a irrigação pode ser
econômico proporcionado. Ele é ainda mais notório feita utilizando-se de aspersão fixa de baixa vazão,
quando diz respeito a materiais genéticos ainda microaspersão ou ainda irrigação localizada. Deve
muito restritos pelo elevado valor das estacas e ser realizada considerando a evapotranspiração
mudas de novas cultivares melhoradas, sempre em cada época do ano e o coeficiente da cultura,
muito demandadas pelos cafeicultores. e, a partir daí, calcula-se a quantidade de água a
ser fornecida em cada aplicação e o turno de rega
correspondente. De forma geral, são efetuadas
2.2.3 Adubação entre duas a três irrigações semanais, idênticas ao
manejo de formação inicial de plantio convencional.
As adubações de implantação e formação dos
jardins clonais devem ser realizadas segundo
252 Café Conilon – Capítulo 10
2.2.5 Retirada e preparo das hastes originárias locais frescos e protegidos do sol, onde deverá
das brotações ortotrópicas ou verticais iniciar-se o processo de preparação das estacas.
As hastes coletadas de cada clone devem ser
As hastes utilizadas para a produção de mudas
preparadas por equipes bem treinadas, buscando-
clonais são as ortotrópicas ainda bem jovens,
se eliminar a possibilidade de misturas (Figura 15).
aquelas que crescem verticalmente na planta
Deve-se também, pelo mesmo motivo, trabalhar
(Figura 13). Devem ser selecionadas, destacadas
com um clone de cada vez, até o plantio no viveiro,
e transportadas (Figura 14) o mais rapidamente
em canteiros distintos e devidamente identificados
possível para as proximidades dos viveiros, em
(Figura 16).
Figura 13. Matriz com brotação vigorosa, pronta para a retirada das novas hastes para a produção de estacas.
Figura 14. Brotações destacadas da matriz a serem conduzidas para as proximidades dos viveiros.
Figura 15. Brotações sendo preparadas para a Figura 16. Canteiros individuais identificados e contendo
individualização das estacas na Fazenda cada um deles, um único clone.
Experimental do Incaper em Marilândia/ES.
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 253
Figura 20. Aspecto da haste após a retira dos ramos produtivos e de parte das folhas.
A B C
Figura 21. Aspectos da individualização das estacas (A), do corte em bisel na sua extremidade inferior (B) e do
crescimento desigual das raízes da extremidade da estaca assim preparada (C).
Foto: Figura 21C, (VERDIN FILHO et al., 2014a).
A B
Figura 22. Detalhes da estaquinha (A) e da distribuição de raízes quando as estacas são submetidas a cortes retos nas
duas extremidades (B).
Foto: Figura 22B, (VERDIN FILHO et al., 2014a).
Para alcançar a produção de estacas mais precoce- com cerca de 36 meses (se a preparação da matriz
mente e de forma mais abundante e econômica, foi iniciada aos 24 meses), o novo sistema, conduzi-
tem sido utilizado o jardim clonal superadensado. do a pleno sol, permitiu a primeira extração já com
Comparando o sistema tradicional de formação de sete meses após o plantio (Figura 25).
jardins clonais com o superadensado, os autores
Segundo Volpi et al. (dados não publicados), o
mostraram expressivas vantagens dessa nova alter-
sistema superadensado proporciona a obtenção de
nativa, verificando que, enquanto o sistema tradi-
mais de 500 mil estacas/ha já na primeira extração,
cional proporciona a primeira extração de estacas
aos sete meses de idade (Figura 26), e que aos 24
Figura 24. Aspectos do plantio das estacas em sacolas distribuídas em canteiros devidamente identificados.
A B C
Figura 25. Implantação de jardim clonal superadensado conduzido com cobertura de sombrite com 50% de sombra,
recém-plantadas e já arqueadas (A e B) e sem cobertura (C).
Figura 26. Aspecto das matrizes com sete meses após o plantio em jardim clonal superadensado.
256 Café Conilon – Capítulo 10
meses, quando se inicia a preparação das matrizes na produção de mudas destinadas à implantação
para a produção de estacas no sistema tradicional, de lavouras em áreas com nematoides, por
no novo sistema já teriam sido produzidas mais apresentarem elevada resistência ao nematoide
de 4,3 milhões de estacas. Este fato, portanto, Meloidogyne exigua e tolerância a Meloidogyne
caracteriza expressiva vantagem sobre o primeiro incognita (FAZUOLI; LORDELLO, 1977; FAZUOLI;
sistema, tanto pela quantidade produzida como COSTA; FERNANDES, 1983).
pela obtenção precoce das estruturas propagativas.
As sementes da cultivar Emcaper 8151– Robusta
Ainda de acordo com os autores, após 36 meses
Tropical são obtidas por meio de recombinação
de plantadas, a produção de estacas no sistema
de 53 clones elites do programa de melhoramento
tradicional pode proporcionar a obtenção de 1,5
genético de café conilon do Incaper (FERRÃO et
a 2,0 milhões de estacas por hectare, enquanto
al., 2000a, 2000b). Essa cultivar somente pode
no mesmo período pode-se chegar a mais de 7,0
ser obtida pelo plantio de todos esses clones em
milhões de estacas no sistema superadensado.
conjunto e em local isolado para polinização
controlada entre eles.
2.2.8 Aquisição de materiais genéticos nos Na Tabela 1, pode-se verificar os padrões de
jardins clonais produção e comercialização de sementes de C.
O material genético de cultivares propagadas canephora, conforme as especificações da IN 35, do
vegetativamente para formação de jardins clonais Mapa (BRASIL, 2012).
deve ser adquirido de instituição idônea, registrada
pelo Mapa. Tabela 1. Padrões de produção e comercialização de
sementes de Coffea canephora
No caso das variedades clonais desenvolvidas
Parâmetros Padrões
pelo programa de melhoramento genético do
Semente pura (% mínima) 98
Incaper, os pedidos de materiais para formação
Determinação de outras sementes
de jardins clonais devem ser encaminhados ao por número (nº máximo):
Departamento de Operações Técnicas (DOT) do
- Semente de outras espécies 2
Incaper (pelo e-mail dot@incaper.es.gov.br), pelo
- Sementes silvestres 2
telefone: (55) 27 3636-9802 ou diretamente na
- Semente nociva tolerada 2
sede do Instituto: Rua Afonso Sarlo, 160, Bento
- Semente nociva proibida Zero
Ferreira, CEP 29.052-010 - Vitória, ES, Brasil.
Sementes infestadas (% máxima) 3
Semente com broca viva (Hypothenemus
Zero
hampei) (% máxima)
3 PRODUÇÃO DE SEMENTES
Germinação ou viabilidade (% mínima) 60
Em virtude de muitas lavouras de café serem ainda Validade do teste de germinação ou de viabili-
2
formadas a partir de mudas oriundas de sementes, dade (máxima em meses)
há necessidade de que quando produzidas, Validade da reanálise do teste de germinação
1
apresentem boa qualidade fisiológica, física, ou de viabilidade (máxima em meses)
genética e sanitária. Mudas originadas de sementes Fonte: Adaptado de Brasil (2012).
de boa qualidade são mais vigorosas, permitem
melhor pegamento no campo e produzirão plantas As sementes de café conilon apresentam
com melhor desenvolvimento e sanidade. germinação lenta e desuniforme tanto em
condições de laboratório quanto de campo, com
Atualmente, existem três cultivares de C. canephora
o agravante de perderem rapidamente o potencial
inscritas no Mapa que podem ser propagadas
germinativo durante o armazenamento. Assim,
através de sementes, ou seja, por via seminal. São
pela dificuldade de se armazenar essas sementes,
elas: ‘Conilon’, ‘Emcaper 8151 - Robusta Tropical’ e
a semeadura visando à obtenção de mudas deve
‘Apoatã - IAC 2258’.
ser realizada o mais breve possível após a sua
Cultivares de C. canephora, notadamente a ‘Apoatã colheita e preparo (DIAS; BARROS, 1993). Permitir
- IAC 2258’, têm sido utilizadas como porta-enxerto com que sementes de C. canephora não percam a
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 257
viabilidade durante o armazenamento tem sido um Após a colheita, que deve ser feita
dos principais desafios da pesquisa nessa área. preferencialmente de forma manual, os frutos
devem ser imediatamente processados para que
O café conilon, quando propagado por sementes,
a qualidade das sementes não seja afetada (SILVA
apresenta variações quanto à sua arquitetura,
et al., 2010). As sementes devem ser submetidas ao
produtividade, resistência a doenças e pragas,
beneficiamento, que consiste no despolpamento,
época de maturação do fruto, tamanho e forma das
degomagem e secagem, antes de serem semeadas
sementes, frutos e folhas (BRAGANÇA et al., 2001).
ou armazenadas (TOMAZ et al., 2012).
De acordo com Squarezi et al. (2002), citado por com características agronômicas superiores e,
Ribeiro et al. (2005), a redução de viabilidade se deve sobretudo, de material genético recomendado e
ao avanço no processo de deterioração que, por sua devidamente registrado para as regiões nas quais
vez, ocorre em virtude principalmente da elevada as mudas serão utilizadas.
incidência de fungos. Em estudos realizados com
Os viveiros para produção de mudas de cafeeiro
sementes de café robusta (C. canephora Pierre ex
têm como objetivo atender à demanda interna
Froehner) no decorrer do armazenamento, Braccini
da propriedade ou para fins de comercialização,
et al. (1998) isolaram e identificaram cinco gêneros
apresentando grande variedade de estrutura física
diferentes de fungos infestando as sementes de café
e capacidade de produção de mudas, tanto em
robusta: Fusarium semitectum, Colletotrichum spp.,
quantidade como em qualidade. A escolha do tipo
Alternaria spp., Aspergillus spp. e Penicillium spp.
mais adequado, para cada situação, depende da
Pode-se fazer o expurgo das sementes para o finalidade do viveiro, se comercial ou uso próprio;
controle da broca-do-café (Hypothenemus hampei) do material mais facilmente disponível no local; da
e do caruncho-das-tulhas (Araecerus fasciculatus). duração desejada para a produção de mudas; e do
Para a realização do expurgo, tem sido comum conhecimento e nível tecnológico do produtor ou
a utilização de fosfeto de alumínio em pastilhas dos viveiristas (MATIELLO, 1998; MATIELLO et al.,
aplicadas em sementes cobertas sob lona plástica 2005).
de acordo com a recomendação do fabricante
(BRACCINI et al., 1998).
4.1 CONSTRUÇÃO DO VIVEIRO
Para a produção de mudas de variedades
3.4 SUPERAÇÃO DA DORMÊNCIA propagadas por sementes, o viveiro pode ser
O mecanismo responsável pela dormência construído com materiais mais rústicos, disponíveis
das sementes de cafeeiro ainda não está na propriedade, como ripas de madeira ou bambu;
completamente elucidado, a qual pode ser causada podem ser cobertos com materiais como folhas de
pelo impedimento mecânico à entrada de água ou palmeiras, capim-elefante ou outro qualquer que
restrição ao desenvolvimento do embrião. proporcione efeito semelhante.
De acordo com Guimarães e Mendes (1997), a Os viveiros devem ser construídos com cobertura
germinação de sementes de café é, de maneira voltada para o sentido norte-sul, seguindo as
geral, lenta e desuniforme. Esse fato pode ser especificações técnicas. Os canteiros devem possuir
atribuído ao pergaminho, um envoltório coriáceo e de 1,0 a 1,2 m de largura e comprimento variável,
resistente (endocarpo). separados por corredores de 0,6 m de largura
(Figura 28), para facilitar a passagem das pessoas,
A remoção do pergaminho pode ser útil para acelerar
os tratos culturais e o transporte das mudas. As vias
o processo de germinação das sementes de café.
externas devem possuir largura compatível com a
Esse processo pode ser realizado de forma manual,
movimentação dos veículos utilizados (De MUNER
mais trabalhosa e demorada ou pela imersão das
et al., 2000).
sementes por três horas, em solução de hipoclorito
de sódio com 6% de cloro (RUBIM et al., 2010).
Para produção de mudas clonais, os viveiros podem laterais devem ser protegidas com lonas plásticas
apresentar diferentes características, dependendo transparentes para a manutenção em seu interior
do propósito com que é conduzido (FONSECA et de temperatura e umidade relativa mais elevadas.
al., 2005b). Em quaisquer dos casos, requer cerca Esses fatores podem contribuir para o aumento
de 50% a 70% de sombreamento no período de do índice de aproveitamento das estacas e para
enraizamento (BRAUN et al., 2007). Necessita a redução do tempo necessário à produção das
de irrigação automatizada para manutenção da mudas, conforme mostra a (Figura 29).
umidade do substrato e do ar, evitando, assim,
Apesar dos cuidados requeridos, a produção de
perda excessiva de água por transpiração. Desse
mudas clonais também pode ser realizada pelos
modo, as mudas clonais são produzidas, na
próprios cafeicultores, mesmo em pequenas
quase totalidade dos casos, em viveiros cobertos
propriedades, utilizando-se estruturas mais rústicas
por sombrite e com sistema de irrigação por
e de baixo custo. Nesses casos, conforme descrito
microaspersão (ESPINDULA; PARTELLI, 2011).
por Silveira e Fonseca (1995), podem-se utilizar
Os comerciais, normalmente com capacidade de viveiros convencionais, com as estacas plantadas
produção de grande quantidade de mudas são, em sob coberturas ou túneis de material plástico
geral, construídos com materiais mais duradouros transparente, dispostos no interior do viveiro,
e, quase sempre, são mais bem equipados, tendo dentro dos quais são mantidos recipientes com
em vista os cuidados exigidos pelo material água para favorecer a manutenção de alta umidade
propagativo. Devem ser cobertos com sombrite relativa do ar (Figura 30).
para a redução de 50% da radiação incidente. As
A B
Figura 30. Viveiro rústico para produção de mudas, construído com materiais da própria fazenda (A); e túneis para
produção de mudas clonais em pequenas quantidades (B).
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 261
o custo de produção das mudas. Além disso, as irrigação ou mesmo das chuvas as descubra, além
variações entre os diversos produtos disponíveis de conservar a umidade e diminuir o aparecimento
dificultam a padronização de tratos culturais. de ervas daninhas (Figura 32).
Para utilização destes substratos, deve-se priorizar A germinação geralmente inicia-se cerca de 35 a 45
a o uso de fertilizantes de liberação controlada, dias após a semeadura. Nesse momento, a cobertura
de forma a favorecer a eficiência do processo aplicada diretamente sobre os canteiros deve ser
(SERRANO; CATTANEO; FERREGUETTI, 2010). retirada. Após a germinação e o desenvolvimento
inicial das novas plantas, efetua-se o desbaste,
Ao se utilizar substratos alternativos para a
deixando-se apenas uma delas em cada recipiente,
produção de mudas, especial atenção deverá
a mais vigorosa e sadia. As mudas desbastadas não
ser dispensada a nutrição das mesmas, pois
devem ser aproveitadas para replantio em outro
há a necessidade de aplicações frequentes
recipiente.
de nutrientes, devido principalmente a sua
lixiviação. Assim, a utilização de adubos de
liberação controlada dos nutrientes torna-se uma 4.6.2 Plantio das estacas para produção de
das alternativas para aumentar a eficiência das mudas clonais
adubações (SERRANO; CATTANEO; FERREGUETTI,
2010). As estacas já preparadas e prontas para o plantio
são, então, conduzidas ao viveiro, devendo ser
plantadas o quanto antes. Devem ser introduzidas
4.6 PLANTIO DAS SEMENTES E DAS ESTACAS NO no substrato, previamente preparado, até a altura
VIVEIRO da inserção das folhas (Figura 33). Visando a reduzir
as operações necessárias ao replantio de estacas
perdidas, pode-se manter, entre as mudas de um
4.6.1 Semeadura para produção de mudas por mesmo clone, estacas suspensas nos espaços
semente entre os recipientes, de modo a evitar o retorno
Para a produção de mudas de café a partir de aos jardins clonais para novas coletas de pequenas
sementes de modo a evitar o comprometimento no quantidades de estacas.
desenvolvimento do sistema radicular, recomenda- Em condições climáticas favoráveis, os “calos”
se que a semeadura seja feita diretamente nos aparecem entre 30 e 40 dias após o plantio das
recipientes. Efetua-se a semeadura de duas estacas, e as primeiras raízes a partir de 50 dias. No
sementes por sacola, próximas uma da outra, viveiro, as mudas permanecem por um período
diretamente nos recipientes, a uma profundidade de aproximadamente quatro a cinco meses,
de 1,0 cm. Em seguida, as sementes são cobertas dependendo da época do ano. Em períodos mais
com uma camada fina de areia, e os recipientes quentes, a formação dos “calos” e a emissão das
com sacos de estopa visando a evitar que a água de brotações originadas das gemas vegetativas
Figura 32. Semeadura, cobertura das sementes e dos canteiros com emprego de sacos de estopa.
264 Café Conilon – Capítulo 10
existentes nas axilas das folhas são normalmente É comum, em viveiros, a morte de mudas causada
mais rápidas, tornando possível a produção das por fatores abióticos, ou seja, onde não há o
mudas em um período total de 120 a 130 dias, envolvimento de organismos vivos. É importante a
incluindo o período de pelo menos 20 dias para realização de um diagnóstico correto para que seja
aclimatação (Figura 34). evitado o uso de medidas inadequadas, que muitas
vezes não trazem qualquer efeito, como se tem
verificado constantemente.
4.7 CONDUÇÃO DAS MUDAS SEMINAIS NO
VIVEIRO Algumas recomendações gerais podem contribuir
para reduzir o aparecimento e a disseminação
Deve-se fazer o monitoramento das mudas quanto dessas doenças em viveiros: utilizar material
à incidência de plantas daninhas, pragas e doenças. genético resistente; adubar equilibradamente, com
As sacolas com as mudas deverão ser mantidas especial cuidado para o nitrogênio, principalmente
sempre livres de plantas daninhas. As principais em aplicações foliares; evitar o excesso de
pragas são as lagartas, os grilos e as formigas e sombreamento e aplicação de água em demasia;
as doenças mais comuns são as que provocam cuidar para que haja boa drenagem da água de
o tombamento, a cercosporiose e a ferrugem. O irrigação; realizar, quando necessário, pulverizações
controle dessas pragas e doenças encontra-se com defensivos específicos em conformidade com
descrito nos capítulos 17 “Manejo de Pragas do as pragas e doenças utilizando sempre produtos
Café Conilon” e 18 “Manejo das Doenças do Cafeeiro recomendados e registrados para a cultura.
Conilon”.
Desenvolvimento
Figura 34. Evolução do sistema radicular e das brotações de mudas clonais de café conilon.
Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 265
tamanho, ou seja, as mais desenvolvidas devem processo de avaliação visando a disponibilizar aos
ser reagrupadas separadamente das menos produtores apenas as mudas de melhor qualidade.
desenvolvidas, de forma a não retardar ainda mais As características consideradas nessa etapa são
o crescimento dessas últimas (Figura 37). as seguintes: idade, altura, coloração das folhas,
sintomas de incidência de pragas e doenças,
Antes da retirada das mudas para o plantio
quantidade e distribuição do sistema radicular,
definitivo, os diferentes lotes devem passar por um
consistência do substrato, entre outras (Figura 38).
Figura 36. Processo de aclimatação de mudas clonais com exposição gradativa ao sol.
Figura 37. Mudas sendo reagrupadas durante o processo de aclimatação, de acordo com seu tamanho e vigor.
5 DISTRIBUIÇÃO DAS MUDAS CLONAIS al., 2012). Sendo assim, recomenda-se que cada
clone de uma mesma variedade seja identificado
Por ocasião da formação dos primeiros jardins
e entregue aos viveiristas em lotes separados para
clonais, ainda em 1993, as mudas das primeiras
viabilizar o plantio em linhas (Figura 39).
cultivares clonais (‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa 8121’,
‘Emcapa 8131’) eram fornecidas aos cafeicultores Mesmo para as cultivares recém-lançadas e
para o plantio definitivo, tanto separadas como recomendadas pelo Incaper para cultivo no Estado
misturadas, uma vez que todos os clones de cada do Espírito Santo, a ‘Diamante ES8112, ‘ES8122’
cultivar possuíam a mesma época de maturação - Jequitibá e ‘Centenária ES8132’ (FERRÃO et al.,
dos frutos. 2015a, 2015b, 2015c), que possuem os respectivos
clones com mesma época de maturação dos frutos,
A partir do lançamento da variedade Emcapa 8141
recomenda-se também que o plantio deles seja
- Robustão Capixaba, passou-se a recomendar
realizado em linhas individuais, com a finalidade
que cada clone fosse entregue separadamente
de facilitar os tratos culturais e garantir a presença
pela necessidade do plantio em linhas individuais,
de todos, nas mesmas proporções, nas lavouras a
pois, apesar de tolerantes à seca, esses clones não
serem formadas.
apresentavam maturação na mesma época. A
técnica do plantio em linha possibilita o cultivo de Todo material genético (estacas ou sementes)
todos os clones, independentemente da época de de café que servirão como meios de propagação
maturação de cada um, na mesma área, já que a devem ser adquiridos de instituições idôneas,
colheita é feita por linha. O plantio, seguindo essa registradas pelo Mapa. Essas instituições deverão
técnica, proporciona vantagens, como aumento da estar em conformidade com a IN 35, que estabelece
produtividade, melhoria da qualidade do produto as normas para a produção e comercialização de
e a facilidade no manejo envolvendo podas e material de propagação de cafeeiro e os seus
desbrotas (FONSECA, et al., 2005; FERRÃO et al., padrões, com validade em todo território nacional
2012; FONSECA; FERRÃO, M.; FERRÃO, R., 2013). visando à garantia de sua identidade e qualidade
(BRASIL, 2012).
De forma semelhante, recomenda-se que os
clones da variedade Vitória Incaper 8142 sejam O Incaper, visando a disponibilizar aos interes-
plantados em linhas, uma vez que, apesar dessa sados plantas matrizes de suas cultivares clonais
variedade reunir inúmeras características de grande melhoradas para implantação de novos jardins
interesse, como na ‘Robustão Capixaba’, seus clones clonais, mantém um programa de distribuição
apresentam distintas épocas de maturação dos de estacas a viveiristas registrados, associações
frutos (FONSECA et al., 2005a, 2005b; FERRÃO et de produtores, cooperativas e prefeituras muni-
cipais.
A B C
Figura 39. Mudas da variedade clonal Vitória Incaper 8142 aclimatadas (A) e sendo preparadas para distribuição (B e C)
para a formação de jardins clonais.
268 Café Conilon – Capítulo 10
O registro do produtor no Mapa, assim como a De forma geral, tem sido utilizado no Brasil o
inscrição do viveiro, deve ser realizado através das sistema de jardins clonais, nos quais as matrizes
fichas modelos, que se referem respectivamente são cultivadas com o objetivo de fornecimento
ao registro do produtor, termo de compromisso do de estacas para a propagação vegetativa de seus
responsável técnico pelo viveiro e solicitação de respectivos clones. Esse sistema, iniciado no Estado
inscrição do viveiro. do Espírito Santo, vem sendo atualmente adotado
com êxito nas principais regiões brasileiras que
Para a produção de mudas, a espécie e a variedade fazem uso de cultivares clonais, notadamente em
a ser multiplicada devem estar inscritas no Rondônia e na Bahia.
Registro Nacional de Cultivares (RNC) do Mapa1. As
informações dos produtos químicos utilizados no Utilizando-se dos jardins clonais já tradicionais, é
controle de pragas e doenças de jardins clonais e de necessário que, após a obtenção, lançamento e
viveiro devem ser obtidas pelo Sistema Integrado recomendação de uma nova cultivar, os clones de
de Agrotóxico (SAI)2. cada uma delas sejam implantados e conduzidos
por cerca de dois anos para que possam gerar as
O local de inscrições no Estado do Espírito Santo primeiras estaquinhas para a produção de mudas.
é a Delegacia Federal de Agricultura no Estado do Por esse motivo, espera-se que o desenvolvimento
Espírito Santo (DFA-ES)3. dos chamados jardins clonais superadensados
e o seu aperfeiçoamento, de agora em diante,
proporcionem concretamente aos cafeicultores a
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS possibilidade de formação de mudas dessas novas
A utilização de materiais genéticos melhorados cultivares num prazo de tempo bastante reduzido,
devido às condições ambientais predominantes cerca de sete meses após a sua implantação,
nas diferentes regiões de cultivo do café conilon reduzindo o tempo para que a tecnologia
e nos vários sistemas de produção empregados desenvolvida seja utilizada mais rapidamente.
tem sido um fator preponderante para os Adicionalmente, outras tecnologias relacionadas
expressivos avanços registrados nas principais à produção de mudas clonais (comprimento,
regiões brasileiras que cultivam a espécie Coffea espessura, posição nos ramos e formas dos
canephora. Essas áreas destacam-se por seu cortes das estaquinhas, necessidade do uso
diferenciado desempenho agronômico e por de hormônios, proporção das folhas a serem
serem consideradas como precursoras na utilização eliminadas, entre outras) se somarão ao conjunto
de outras tecnologias igualmente importantes, tecnológico disponível proporcionando a
mas que dependem do material genético para que possibilidade de maior competitividade e
maximizem a expressão de seus efeitos. sustentabilidade à atividade.
Cultivares de café conilon propagadas por
sementes têm sua multiplicação realizada de forma
semelhante à do café arábica, já muito conhecida 8 REFERÊNCIAS
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Jardins Clonais, Produção de Sementes e Mudas de Café Conilon 273
11
Manejo da Cultura do Café
Conilon: Plantio, Espaçamento,
Podas e Desbrotas
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Abraão Carlos Verdin Filho,
Cláudio Pagotto Ronchi, Paulo Sérgio Volpi, José Antônio Lani, André Guarçoni M.,
Maria Amélia Gava Ferrão e Romário Gava Ferrão
Entre as referidas práticas encontram-se: definição que se pretende implementar, para a definição
dos espaçamentos mais adequados e do número do sistema mais adequado de plantio, manejo,
de hastes por planta em cada situação, melhor espaçamento, tratos culturais e fitossanitários.
época de colheita, os cálculos de adubações e Muitos desses aspectos são abordados de forma
necessidade de controle de pragas e doenças, mais profunda em outros capítulos desta mesma
entre tantos outros (FERRÃO R.; FONSECA; FERRÃO obra.
M., 1999; FERRÃO et al., 2012a).
Ainda hoje, mesmo com os avanços obtidos com
o melhoramento genético da espécie, não se
2 PLANTIO
consegue um comportamento idêntico para todos O plantio do café conilon pode ser realizado em
os genótipos de uma mesma cultivar em relação a covas abertas diretamente na superfície do solo,
uma determinada prática. Entretanto, as diferenças previamente destocado, limpo e livre de obstáculos
de respostas entre os inúmeros genótipos ou em sulcos, preparados em locais onde a
cultivados anteriormente, oriundos de polinização topografia possibilite operações de mecanização,
aberta, não são mais tão evidentes quando nas seja motorizada ou por tração animal (Figura 1).
cultivares melhoradas, notadamente nas cultivares No primeiro caso, as covas podem ser abertas
clonais. Naturalmente, com a evolução da ciência, manualmente utilizando-se de ferramentas como
há possibilidade de que, no futuro, cada clone enxadão e cavadeiras ou com a utilização de brocas
de uma mesma cultivar receba tratamentos mais perfuradoras (FERRÃO et al., 2012a). Se a opção
específicos em função das suas particularidades for por plantios em sulcos, utiliza-se de sulcadores
e necessidades. Uma série de fatores bióticos e isoladamente ou associados a subsoladores
abióticos, isoladamente ou interagindo entre si, (SARAIVA et al., 1995). Detalhes dessas operações
é que determina a adaptação e o desempenho são encontradas adequadamente discutidas no
agronômico de determinada espécie numa dada capítulo 12 “Manejo, Preparo do Solo e Conservação
região. De início, deve-se atentar para as exigências do Cafeeiro Conilon”.
da espécie, especialmente em relação às condições
De modo geral, há duas épocas principais
edafoclimáticas. É preciso considerar também as
recomendadas para o plantio do café conilon
particularidades de cada sistema de produção
no Espírito Santo, e cada uma delas apresenta nos plantios no período mais frio, a produção tem
vantagens e desvantagens: no período mais início aos 24 meses após o plantio.
chuvoso e quente, de outubro a novembro, ou
Para a adequada formação de lavouras, é
no período mais frio e seco, entre março e abril
fundamental que as mudas, ao serem utilizadas,
(TAQUES; DADALTO; 2007; FERRÃO et al., 2012a).
possuam qualidade adequada, haja vista
Na primeira época, o plantio expõe as novas que podem comprometer todo o sucesso
plantas a um período bastante comum e rigoroso do empreendimento, ocasionando prejuízos
de estiagem (veranico), que ocorre geralmente significativos tanto de recursos investidos, no
nos meses de janeiro e fevereiro no Estado do custo das mudas e mão de obra, quanto pela perda
Espírito Santo. Assim, mesmo em se tratando de de tempo.
um período mais chuvoso, deve-se estar preparado
Não devem ser utilizadas mudas com sistema
para a necessidade de irrigação eventual (FERRÃO
radicular deformado. Rena e Guimarães (2000)
et al., 2012a). No período mais quente, é importante
relataram sérios problemas envolvendo a
que as mudas sejam protegidas do sol. Geralmente,
malformação do sistema radicular de mudas
a proteção com folhas de palmáceas, fixadas
clonais no norte do Estado do Espírito Santo.
verticalmente em um ou nos dois lados da muda
Esses autores observaram que as deformações
(Figura 2), oferece bons resultados (FERRÃO et al.,
radiculares (entrelaçamento ou “enforcamento”
2012a).
das raízes) aumentaram quando a formação
Em plantios realizados em março/abril, por outro de mudas clonais foi realizada em pequenos
lado, a maior dificuldade está na necessidade real tubetes, especialmente quando elas permanecem
de suplementação regular de água. Nessa época nesses recipientes por longos períodos antes de
de plantio, as plantas apresentam, normalmente, serem levadas para as sacolinhas ou diretamente
um desenvolvimento mais lento tanto em função para o campo (Figura 3). Nesse caso, há sério
das mais baixas temperaturas quanto pela maior comprometimento da longevidade dos cafeeiros,
escassez de água. Assim, mesmo nessas condições, notadamente após seguidos anos de boas
a complementação de água é sempre um fator produções, pelo esgotamento da planta em
de grande importância para o desenvolvimento decorrência da redução da sua capacidade de
vigoroso das plantas jovens. absorção de água e nutrientes. Segundo Silveira
(1996), em situações como essas, há muitos
De maneira geral, o plantio de verão tem sido o
registros de perdas de mais de 50% das plantas
mais recomendável e o preferido dos cafeicultores
logo após as primeiras colheitas.
do Estado do Espírito Santo em decorrência do
mais rápido e vigoroso desenvolvimento inicial A proteção das mudas recém-plantadas promove
das plantas, que, nesse caso, proporcionará a melhores condições para a sobrevivência e
primeira safra significativa, quando as plantas se desenvolvimento inicial das plantas. Em trabalhos
encontrarem com cerca de 18 meses de idade. Já conduzidos em Natividade/RJ e Mutum/MG,
Matiello (1998) observou que a proteção das mudas o plantio, à substituição de mudas mortas, mais
proporcionou redução de 49% para 10% e de 25% fracas e defeituosas (FERRÃO et al., 2001). Para
para 0%, respectivamente, na perda de mudas reduzir a necessidade de replantios, recomenda-se
avaliadas seis meses após o plantio, em ambos os a utilização de mudas novas, que tenham de três
locais. O mesmo autor relatou ser vantajoso, tanto a quatro pares de folhas definitivas, previamente
para o aumento do diâmetro do caule como para a submetidas ao processo de aclimatação. É também
altura das plantas, que o plantio seja realizado na aconselhável que no momento do plantio, as covas,
profundidade de 10 a 20 cm, quando comparado ao preparadas e adubadas, sejam reabertas apenas
plantio superficial, que proporciona maior retenção onde será introduzido o torrão contendo a muda
de umidade e redução da temperatura no colo das (Figura 4); que as sacolinhas sejam cortadas a 1,0
mudas. Entretanto, em condições irrigadas, deve- cm na parte inferior visando à eliminação das raízes
se cuidar para que o plantio mais profundo não comprometidas (Figura 5A); que o restante da
leve ao “afogamento” das mudas, conforme alerta sacolinha que envolve a muda seja eliminado (Figura
Silveira (1996). 5 B e C); que a muda seja introduzida na cova até a
altura do colo (Figura 6) e que seja feita uma leve
compactação lateral do solo ao redor das mudas,
nunca pressionando as mudas ou o solo ao redor, no
sentido de cima para baixo (FERRÃO et al., 2012a).
cultivar clonal com comportamento diferenciado cada clone de uma determina cultivar clonal em uma
em condições de deficiência hídrica mais única linha em cada talhão e, assim, sucessivamente,
acentuada, importante fator limitador do alcance de forma que não haja possibilidade de mistura dos
de maiores produtividades. Foi assim obtida frutos durante os procedimentos de colheita, dadas
a cultivar Emcapa 8141 – Robustão Capixaba, às diferenças de época de maturação entre eles.
cujos clones apresentavam o comportamento
Assim, no caso de opção pelo cultivo das cultivares
pretendido, não possuindo, entretanto, a mesma
clonais lançadas pelo Incaper a partir de 1999, o
época de maturação de frutos.
plantio deve ser realizado em linhas (Figura 7), por se
Esse fato se constituiria num retrocesso à evolução constituir numa prática de grande importância para
na qualidade obtida pelas primeiras cultivares, cujos a garantia de sucesso na produtividade, qualidade
frutos se apresentavam uniformemente maduros do produto, estabilidade, segurança e longevidade
numa mesma ocasião. Assim, foi recomendado o da atividade (FONSECA et al., 2005a, 2005b; FERRÃO
plantio em linhas, que consiste na disposição de et al., 2012a). Como o café conilon é uma planta
A B C
Figura 5. Preparação da muda para plantio em campo. Eliminação das raízes enoveladas através do corte da parte
inferior do torrão (A) e do restante da sacola (B e C).
Figura 6. Mudas sendo introduzidas nas covas e cobertas até a altura do colo das plantas.
280 Café Conilon – Capítulo 11
de fecundação cruzada obrigatória pela presença tolerância à seca, ou por serem bons “cruzadores”
do sistema de autoincompatibilidade genética, com os demais (FONSECA et al., 2004). Dessa forma,
todas as plantas originadas da mesma matriz pelo alerta-se para que cada variedade recomendada
processo de clonagem (propagação assexuada) pelo Incaper seja plantada com inclusão de todos
possuem a mesma constituição genética (FONSECA os seus respectivos clones (FERRÃO et al., 2012a;
et al., 2013a), a qual impossibilita o cruzamento e a FERRÃO et al., 2013, 2015a, 2015b, 2015c).
produção.
É um grande equívoco o plantio de lavouras com
A composição das variedades clonais do Incaper variedades clonais não utilizando todos os clones
é estudada pormenorizadamente em relação a recomendados. Esse fato pode comprometer
uma série de variáveis consideradas de grande o desempenho da cultura, particularmente em
importância para a atividade (FERRÃO R.; FONSECA; lavouras adultas, quando as próprias plantas se
FERRÃO M., 1999; FONSECA et al., 2001a, 2001b, constituírem em barreiras à passagem do vento,
2004; FERRÃO et al., 2012a, 2012b; FONSECA, et que é o principal agente polinizador, tornando o
al., 2013a). É preciso que sejam formadas a partir processo deficiente (Figura 9).
de clones homogêneos em relação a diferentes
Outro importante problema causado pela utilização
características, como arquitetura, potencial
de pequeno número de clones está relacionado
produtivo, época e uniformidade de maturação
à estabilidade do processo produtivo (FONSECA
dos frutos, entre outras (Figura 8). Contudo, é
et al., 2005b). Assim, quando são cultivados, por
fundamental que os clones apresentem boa
exemplo, os nove clones da cultivar Diamante
compatibilidade genética. Ademais, há muitas
ES8112, caso um deles venha apresentar, no futuro,
razões para que sejam recomendados em conjunto,
um determinado problema, pouco mais de 10% da
pois cada clone tem um papel a desempenhar na
lavoura poderiam ser comprometidos. Contudo, se
cultivar clonal. Uns são eleitos por sua capacidade
a lavoura for formada por quatro ou cinco clones,
produtiva, outros pela estabilidade de produção ao
o problema não seria “diluído”, mas, pelo contrário,
longo do tempo ou pela pequena variação bienal de
agravados, pois nesse caso, o comprometimento
produção ou ainda pela ampla adaptação a diversos
seria de 20% a 25% do total de plantas.
ambientes, outros pela resistência a doenças ou pela
Figura 8. Cultivares formadas de clones homogêneos em relação a diferentes características, como arquitetura,
potencial produtivo, época e uniformidade de maturação dos frutos, entre outras.
Figura 9. Em lavouras adultas mais adensadas, pode haver problemas de polinização devido à dificuldade da passagem
do vento por entre as plantas.
282 Café Conilon – Capítulo 11
Desde as primeiras recomendações de cultivares Como exemplo desse problema, um caso foi
clonais feitas pelo Incaper, em 1993, alguns acompanhado pelo Incaper no norte do Estado
cafeicultores, inadvertidamente, têm implantado e do Espírito Santo. Conforme relato de Fonseca et
conduzido lavouras com poucos clones chegando al. (2005b), por iniciativa própria e equivocada, um
a casos extremos com um único clone (FONSECA et produtor implantou uma lavoura com apenas um
al., 2005b). Ainda hoje, há cafeicultores insistindo clone. Essa lavoura foi constituída de 59 linhas, com
no cultivo de menor número de clones cultivando 120 plantas cada uma. No local, havia duas outras
linhas intercalares com o que chamam de “clones lavouras formadas por misturas de vários outros
cruzadores” (FONSECA; FERRÃO, M.; FERRÃO, R. clones. Uma delas distanciada de 30 m, e outra
2013c). separada da lavoura em questão por apenas uma
estrada com largura de, aproximadamente, 2,5 a
Tais procedimentos se devem ao fato de esses
3,0 m. A Figura 10 mostra a disposição das linhas
produtores escolherem apenas materiais genéticos
de plantio da lavoura em questão, a localização das
de elevada capacidade produtiva ou com outras
lavouras próximas a ela e a variação da produção
características que, do seu ponto de vista, sejam
de “café da roça” nas duas primeiras safras (2003 e
de interesse, desconsiderando aspectos de
2004), em litros/linha de 120 plantas.
segurança e estabilidade da cafeicultura. Ocorre
que a identificação dessas plantas consideradas Observou-se que a produção das linhas mais
superiores é, muitas vezes, realizada quando externas foi substancialmente superior às das mais
elas se encontram cercadas por outras plantas centrais. A produção média das linhas mais internas
geneticamente diferentes, que servem como foi de 400 L, chegando a quantidades inferiores a
polinizadoras. O plantio de mudas resultantes 300 L em algumas delas, valores correspondentes
de uma ou de poucas matrizes privará as plantas a menos da metade da produção alcançada nas
adultas dessa condição favorável quanto à linhas mais externas.
fertilização. Essa opção pode ocasionar resultados
Ao lado esquerdo, onde a produção das primeiras
desastrosos para o produtor e, no futuro, para a
linhas alcançou valores próximos a 650 L na média
cafeicultura capixaba pela redução da amplitude
das duas colheitas, a redução da produção foi mais
da base genética existente no café conilon
expressiva, chegando, na sétima linha, a valores de
(FERRÃO et al., 2012a), fator preponderante para a
cerca de 400 L. À direita, provavelmente em razão
sustentabilidade da atividade.
da maior proximidade com a lavoura mais antiga, a
Figura 10. Produção média de café cereja (litros de frutos colhidos/linhas com 120 plantas) nas duas primeiras safras
de uma lavoura clonal formada por apenas um clone, implantada entre duas outras lavouras compostas de
vários clones.
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 283
redução da produção média das linhas ocorreu de que proporcionam a possibilidade efetiva de
forma menos intensa, chegando a 400 L apenas na substituição dos ramos produtivos por meio das
quadragésima oitava linha. A maior proximidade podas. Também interferem na capacidade de
com a lavoura de vários clones pode também, muito produção de uma lavoura fatores relacionados aos
provavelmente, estar relacionada aos maiores níveis diferentes sistemas de cultivo, tais como a variedade,
de produção obtidos desse lado da lavoura, que o nível tecnológico empregado, a topografia, a
chegou a quase 800 L na linha da extremidade, na possibilidade de mecanização, a distribuição das
segunda safra. chuvas ao longo do ano, o emprego de irrigação,
a fertilidade do solo e os níveis de adubação, entre
Outro fator que merece também ser destacado
outros. Todos esses são fatores que influenciam de
nesse exemplo é a pequena diferença nos valores
alguma forma na recomendação do espaçamento
da primeira para a segunda safra. Em condições
a ser adotado na lavoura de café conilon (FERRÃO
normais, a segunda colheita é de, pelo menos,
et al., 2012a).
o dobro da primeira. Na situação apresentada,
aumentou de 434 para 472 L, o que corresponde No passado, espaçamentos da ordem de 4,0 a
a um crescimento de menos de 10%. Quanto 5,0 m entre linhas e de 3,0 a 4,0 m entre plantas
mais densa a lavoura, maior a dificuldade para eram bastante comuns. A partir da década de 80,
a penetração dos grãos de pólen por entre as iniciou-se uma tendência de utilização de menores
plantas, e a situação tende a ser agravada nas safras espaçamentos. Contudo, a densidade de plantas
seguintes, com o crescimento das plantas e maior por unidade de área era ainda muito baixa para
dificuldade da circulação do pólen. Vale ressaltar proporcionar índices de produtividade satisfatórios
que, após a segunda colheita, considerando a (SARAIVA et al., 1995), conforme pode observado na
produção alcançada, o produtor optou por realizar Figura 11.
uma intervenção na lavoura, o que impediu a
continuidade das avaliações.
Assim, pode-se resumir como sendo as principais
consequências do uso de pequeno número de
clones na formação de lavouras: problemas na
polinização e fertilização levando à formação de
rosetas com poucos frutos; aumento do número de
floradas contribuindo para maior desuniformização
da maturação; erosão ou vulnerabilidade genética,
que pode promover a maior incidência de pragas
e doenças, levando à necessidade do emprego de
controle fitossanitário rotineiro; menor longevidade Figura 11. Espaçamentos demasiadamente “abertos”
da lavoura; e comprometimento da produtividade utilizados no passado.
e qualidade da produção. Essas consequências,
entre outras, podem se constituir em importantes Nessas condições de cultivo, conduzidas sem
ameaças à cafeicultura de conilon, como ocorre em qualquer forma de poda ou de desbrotas, as
outros países produtores da espécie. plantas ainda com pouca idade apresentavam
número excessivo de ramos ortotrópicos, muitos
deles improdutivos, contribuindo para a obtenção
3 ESPAÇAMENTO de baixas produtividades por promoverem o
Entre as características da parte aérea do cafeeiro “fechamento” das lavouras e seu esgotamento
que interferem na capacidade de produção das precoce (Figura 12), haja vista que demandam
plantas, podem ser citadas: a altura da planta; o grande quantidade de fotoassimilados para sua
diâmetro da copa; o número e o comprimento manutenção e crescimento.
de hastes ortotrópicos e ramos plagiotrópicos; o Trabalhos conduzidos no Incaper, nas condições
número de nós; o comprimento dos internódios; ambientais mais representativas da região norte do
e a capacidade de emissão de novas brotações, Estado, demonstraram que é preciso observar uma
284 Café Conilon – Capítulo 11
combinação de fatores para se chegar aos arranjos mais nobres de suas propriedades para cultivos mais
mais adequados de espaçamentos e densidades adensados (4 a 5 mil plantas/ha). Em casos como
de plantio para uma dada condição de cultivo. esses observam-se, geralmente, altas produtividades
Considerando os sistemas predominantes, com que chegam a 150 sc. benf./ha desde que, para tanto,
utilização de tecnologias capazes de proporcionar seja ajustada a condução de um menor número de
produtividades superiores a 60-80 sc. benef./ha, os hastes por planta (de duas a três).
resultados mais promissores têm sido obtidos em
Em lavouras não irrigadas, implantadas em solos
espaçamentos em torno de 3,0 m entre linhas e de
mais pobres e conduzidas em nível tecnológico
1,0 a 1,2 m entre plantas totalizando cerca de 3.333
mais baixos, os resultados mais vantajosos vêm
e 2.777 a plantas/ha, respectivamente.
sendo alcançados, quando se mantém associação
de maiores densidades de plantas (4 a 5 mil/ha) e
densidade de hastes variando entre 16 e 20 mil/ha
(VERDIN FILHO et al., 2014).
Em função dos inúmeros sistemas de cultivo
verificados nas lavouras existentes, não é possível
o estabelecimento de um número fixo de hastes
ortotrópicas para todas as plantas, especialmente
quando se tratar de lavouras cujas mudas tenham
sido formadas por sementes, pois há grande
variação na arquitetura, vigor e altura entre as
plantas, tornando-se necessário determinar
Figura 12. “Fechamento” excessivo em lavouras não o número médio ideal de ramos para cada
podadas rotineiramente. planta, ajustando essa variável em razão dessas
circunstâncias, simultaneamente (SILVEIRA et al.,
Em todas as experiências envolvendo diferentes 1993), tendo em mente o número de hastes/área
espaçamentos, observa-se que o mais importante é desejado.
a população média de hastes ortotrópicas/ha. Assim,
supondo-se uma população de 3.000 plantas/ha, a O espaçamento influencia sobremaneira na
recomendação é que devam ser mantidas cerca de distribuição do sistema radicular do cafeeiro.
quatro a cinco hastes ortotrópicas em produção por Em plantios mais adensados, há uma tendência
planta totalizando de 12 a 15 mil hastes/ha, sendo, de maior aprofundamento das raízes principais
naturalmente, a opção do arranjo no espaçamento levando a uma utilização mais eficiente da água
em função das demais condições do sistema de e dos minerais disponíveis tanto nas camadas
produção adotado. superficiais como nas mais profundas do solo,
conforme observado por Rena e Guimarães (2000).
Em situações observadas mais recentemente,
mesmo utilizando-se desses espaçamentos, Além disso, Guarçoni M., Bragança e Lani
produtores que cultivam geralmente áreas mais (2005) verificaram incremento significativo na
extensas (onde aplicam nível tecnológico mais disponibilidade de fósforo (P) e potássio (K) no
elevado), bem estabelecidas, com plantas bem solo, quando o café conilon foi plantado numa
nutridas, adequadamente conduzidas e irrigadas, densidade de 5.000 plantas/ha, em relação às
têm alcançado bons resultados mantendo menores densidades de 2.222 e 3.333 plantas/ha. Guarçoni
densidades de hastes/ha (9 a 12 mil). Tal situação M. (2011) considera que o aumento dos teores de
se justifica pelo fato de que a manutenção de nutrientes em solos sob cultivo adensado se deve,
menor número de hastes nas lavouras facilita a notadamente, à ciclagem dos nutrientes no sistema
realização de todo seu manejo, sobretudo quando solo-planta, menor adsorção do P no solo e maior
mecanizada ou semimecanizada: tratos culturais, retenção dos nutrientes que seriam perdidos por
controle fitossanitário e as operações de colheita. erosão ou lixiviação. Observações como essas
podem ser um indicativo de que, em áreas cultivadas
Observa-se também que em alguns casos mais por pequenos agricultores, os espaçamentos ora
particulares, pequenos produtores utilizam áreas
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 285
uma única haste ortotrópica, e, mais raramente, Quando as brotações encontrarem-se com cerca 10
duas sustentarão os ramos plagiotrópicos ou a 15 cm de comprimento, as desbrotas devem ser
produtivos por ocasião das primeiras colheitas. iniciadas (Figura 15) de forma que sejam mantidas
Por outro lado, naquelas conduzidas com adoção somente as brotações mais bem distribuídas em
do arqueamento da haste ortotrópica principal, há torno do tronco da planta, em número coerente
o desenvolvimento de inúmeras brotações na sua ao espaçamento adotado, previamente definido
base induzidas pela exposição à luz solar. para a condução da lavoura em questão e outras
particularidades impostas pelo sistema de cultivo
Assim, em lavouras mais tradicionais, conduzidas
utilizado, tais como fertilidade do solo, emprego de
em livre crescimento, os frutos existentes por
irrigação, fertirrigação, entre outras.
ocasião da primeira colheita encontrar-se-ão, em
cada planta, distribuídos em apenas uma ou duas
hastes ortotrópicas, enquanto que em plantas
arqueadas, nessa mesma ocasião, encontrar-se-iam
frutos em várias hastes, dependendo da densidade
estabelecida inicialmente. Dessa forma, há uma
clara tendência de que nas primeiras colheitas
haja uma maior produção em plantas arqueadas,
quando comparadas àquelas conduzidas em livre
crescimento. Além disso, as plantas ocupariam todo
o espaço a ela reservado, reduzindo a ocorrência
de plantas daninhas e promovendo a mais rápida
cobertura do solo, melhorando as condições Figura 15. Plantas no momento adequado para serem
hídricas e a disponibilidade de nutrientes às plantas. submetidas às desbrotas visando ao
estabelecimento do número de hastes
No caso do arqueamento, cerca de 90 dias após o planejado.
plantio definitivo, procede-se à fixação da parte
superior das plantas utilizando-se de “forquilhas” A haste arqueada deverá ser retirada da planta,
de bambuí, arame ou similares, forçando-as a quando houver plena definição e desenvolvimento
voltarem-se para baixo. O arqueamento deve ser das novas hastes a serem mantidas (VERDIN FILHO
realizado voltando-se as hastes sempre no sentido et al., 2012b, 2013b) (Figura 16) ou logo após a
das entrelinhas de plantio, numa única direção, primeira colheita. Essa técnica permite uniformizar
preferencialmente no sentido do sol nascente, o número de hastes/planta a partir do primeiro ano
de forma a expor a base das plantas à luz solar do plantio, o que facilita a condução das plantas
(Figura 14). Paralelamente, é também efetuada a para as podas subsequentes e, de modo geral,
retirada dos ramos plagiotrópicos mais baixeiros permite o alcance de maiores produtividades nas
de modo a facilitar a penetração de luz e promover primeiras colheitas (FONSECA et al., 2013b).
a emissão de brotos.
De forma alternativa ao arqueamento, tem sido
bastante empregada a prática do decote das
plantas jovens que, a partir de 90 a 120 dias após
o plantio, têm sua porção superior eliminada numa
altura de 30 a 40 cm do solo. Essa prática visa a
estimular o crescimento das brotações secundárias
que formarão a copa definitiva. Dessa forma, é
possível definir as brotações mais adequadas e
padronizar a altura da abertura das copas em todas
as plantas, que se constitui num importante fator
em casos de colheitas mecanizadas, além de facilitar
os tratos culturais. Contudo, essa prática pode ser
também empregada em lavouras a serem colhidas
Figura 14. Planta submetida ao arqueamento. manualmente.
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 287
Figura 17. Plantas a partir de 90 a 120 dias após o plantio, decotadas visando ao aumento do número de hastes e à
padronização da altura de inserção das brotações.
288 Café Conilon – Capítulo 11
época do plantio. Quando realizado em outubro/ a partir daí (SILVEIRA, 1995). O conilon é uma
novembro, as plantas são decotadas em fevereiro/ planta de crescimento contínuo, apresentando
março, sendo, quase sempre, inexpressiva a florada o desenvolvimento de vários ramos verticais,
desse mesmo ano, pois os ramos terão somente denominados ortotrópicos, e horizontais, os
cerca de 5-6 meses. Contudo, no ano seguinte, produtivos, que são os plagiotrópicos (CANNELL,
haverá possibilidade de uma florada plena, tendo 1985).
em vista que os ramos estarão com cerca de 17-18
Após sucessivas colheitas, os ramos têm seu vigor
meses de idade, possibilitando uma boa colheita
reduzido e não há crescimento compensatório para
aos 27-28 meses após o plantio das mudas. Para o
manutenção de altas produtividades (Figura 18).
plantio nessa época, há de se cuidar para que as
Inicia-se, portanto, gradualmente, um desequilíbrio
matrizes dos jardins clonais possibilitem a produção
entre a área foliar da planta e a matéria seca total,
de estacas para a formação das mudas a partir de
ou seja, há uma redução na razão de área foliar
abril/maio.
e uma queda contínua na taxa de crescimento
Optando-se pelo plantio em março/abril, o decote relativo (BRAGANÇA, 2005). Assim, a matéria
é realizado em agosto, e a primeira colheita seca é constituída em grande parte pelos ramos
significativa ocorrerá em ramos de somente ortotrópicos não eliminados e pelos plagiotrópicos
cerca de 9-10 meses a partir da brotação. Sendo que suportaram muitas safras (SILVEIRA, 1995;
assim, essa primeira safra será ainda pequena e a SILVEIRA; ROCHA, 1995; BRAGANÇA, 2005; VERDIN
colheita poderá ter custo mais elevado pelo menor FILHO et al., 2008; FERRÃO et al., 2012a).
rendimento da operação, seja realizada de forma
A realização de todo e qualquer sistema de poda
manual ou mecanizada.
promove modificações na relação existente entre
A vantagem dessa prática em relação ao a parte aérea e o sistema radicular do cafeeiro, e
arqueamento é a agilidade e o custo dos essas modificações são tanto mais drásticas quanto
procedimentos, além do fato de não se expor as mais severas forem as podas, levando à morte de
plantas ainda muito novas à insolação mais intensa raízes em intensidades proporcionais à parte aérea
que, em determinadas situações mais severas, pode eliminada, sempre afetando mais intensivamente
favorecer o aumento da mortalidade. as raízes de menor diâmetro, justamente aquelas
mais ativamente envolvidas na absorção de água e
nutrientes (RENA; GUIMARÃES, 2000).
4.2 PODAS
As lavouras muito depauperadas eram eliminadas
Até o início da década de 90, as lavouras de café precocemente ou submetidas à recepa, que era
conilon eram conduzidas sem a utilização de praticamente o único sistema utilizado na tentativa
qualquer forma de poda (SILVEIRA, 1996). Lavouras de revigoramento das lavouras de conilon no
conduzidas em livre crescimento apresentam Estado do Espírito Santo e mesmo no Brasil como
curva de produção alcançando valores máximos um todo. Era adotada, de modo geral, em lavouras
entre a terceira e quinta colheitas, declinando muito antigas e desgastadas por sucessivas
Figura 18. Plantas conduzidas em livre crescimento mostrando aspectos de esgotamento em razão da não realização
de podas.
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 289
produções, com baixo vigor vegetativo e, quase 4.2.1 Poda de produção do café conilon
sempre, em lavouras com estande comprometido.
O primeiro sistema de poda recomendado pelo
A recepa consiste na eliminação de toda ou quase Incaper para o cafeeiro conilon foi apresentado
toda parte aérea das plantas. Trata-se de uma por Silveira et al. (1993), sendo complementado
prática agressiva e drástica, cuja eficiência é muito posteriormente por Silveira (1995), Silveira; Rocha
dependente das condições nas quais as lavouras (1995) e Silveira (1996). Esse sistema foi denominado
se encontram, sendo por esse motivo questionável “Poda de Produção do Café Conilon”.
quanto à sua real eficiência para o revigoramento
A poda de produção inclui seguidas desbrotas.
das lavouras. De qualquer forma, é normalmente
Constitui-se num sistema em que as lavouras,
realizada a uma altura de 20 a 40 cm a partir do
com mais de três a quatro safras, conduzidas sem
solo, podendo-se optar em deixar uma pequena
qualquer interferência anterior, têm suas hastes
quantidade de hastes intactas, o que aumenta
ortotrópicas mais velhas e improdutivas eliminadas
a produção nas primeiras colheitas das lavouras
paulatinamente e substituídas por novas, que
revigoradas por conferir maior vigor às brotações
originam-se de brotações vigorosas, selecionadas
(MATIELLO, 1998).
na base daquelas que foram retiradas (Figura 19). Os
Esse tipo de poda somente deverá ser utilizado para brotos mais centrais e aqueles que se encontravam
condições em que não seja mais viável o emprego mal localizados, impedindo a penetração de luz
de outro tipo de manejo para a renovação da no interior das plantas, devem ser eliminados,
lavoura, visto que, assim como ocorre para o café permanecendo somente os que irão recompor as
arábica, pode causar a morte de raízes, notadamente plantas (SILVEIRA et al., 1993; SILVEIRA; ROCHA,
daquelas de pequeno calibre e localizadas nas 1995).
camadas mais superficiais (MATIELLO, 1998;
THOMAZIELLO; PEREIRA, 2008), justamente as
mais ativamente envolvidas na absorção de água e
nutrientes (RENA; GUIMARÃES, 2000).
Embora a poda programada de ciclo (PPC), tratada
mais adiante neste capítulo, também cause
redução do sistema radicular funcional, as perdas
são proporcionalmente muito menores quando
comparadas às verificadas em plantas recepadas, já
que um percentual expressivo da parte aérea, em
média de 30 a 40%, é mantido por mais um ano, de
forma que, provavelmente, há redução das perdas
excessivas de raízes e recuperação mais rápida do
sistema como um todo.
Deve-se cuidar para que, após a recepa, as plantas
sejam conduzidas com o número de hastes ajustado
para que seja alcançada a densidade de hastes/ha
planejada, conforme já discutido anteriormente.
Para recomendação de qualquer sistema de Figura 19. Realização da poda de produção do café
poda em lavouras já implantadas, é necessário conilon retirando-se as hastes verticais mais
que se leve em consideração critérios como: a velhas e já improdutivas.
idade das plantas, o espaçamento, a intensidade
de fechamento, o nível de depauperamento, a Essa prática proporciona o rejuvenescimento das
evolução da produção das plantas, a tendência lavouras e favorece o aumento da produtividade por
de preços do produto e até mesmo o nível de proporcionar o estabelecimento de novos ramos,
dependência do produtor em relação às futuras revigorados e com maior potencial de produção.
produções (SILVEIRA; ROCHA, 1995). Permite ainda a condução de um número de novas
290 Café Conilon – Capítulo 11
hastes compatíveis com a população de plantas ser iniciada com a eliminação dos ramos mais
existentes numa determinada área e distribuídas velhos a cada safra e a planta vai sendo renovada
de forma equidistante ao redor do tronco (SILVEIRA paulatinamente. Em casos como esses, pode-se
et al., 1993; FERRÃO et al., 2012a). também optar pelo emprego da poda em talhões
sucessivos de forma que não haja, de um ano para
Como até então as lavouras eram conduzidas sem
outro, redução ou até mesmo interrupção na renda
adoção rotineira e ordenada de quaisquer sistemas
do cafeicultor (FERRÃO et al., 2012a).
de podas, a grande maioria delas era constituída
de plantas que apresentavam excesso de hastes Em substituição à utilização da recepa, a poda de
ortotrópicas. Assim, o sistema foi inicialmente produção pode também ser utilizada em lavouras
recomendado para lavouras adultas visando à mais envelhecidas, mas que mantenham ainda um
recuperação da sua capacidade produtiva (Figura mínimo de vigor, estande apropriado e capacidade
20), sendo, contudo, também recomendado para de suportar os procedimentos necessários. Nesse
lavouras mais jovens (Figura 21). caso, o sistema de poda pode ser operacionalizado
de uma única vez ou ao longo do tempo, em duas
Em lavouras, cujo manejo ainda não contemple
ou mais ocasiões, de modo a não causar perda
sistemas rotineiros de podas, o processo pode ser
excessiva de plantas. Ao se optar por duas ou mais
iniciado de forma gradativa. Não há necessidade de
vezes, deve-se iniciar com a eliminação das hastes
que sejam eliminados, numa única oportunidade,
mais velhas, mal localizadas e mais depauperadas.
todos os ramos pouco produtivos, caso isso seja
considerado, inadequado no que diz respeito ao A poda é operacionalizada ao se realizar o corte da
vigor das plantas ou mesmo economicamente haste ortotrópica à altura de 20 a 30 cm da superfície
inviável para determinados cafeicultores. Pode do solo (Figura 22) ou logo acima do broto de espera
Figura 20. Aspecto de planta adulta conduzida sem utilização da poda e dois anos após o início dessa prática.
Figura 21. Lavoura com a cultivar Emcaper 8151 – Robusta Tropical, em espaçamento de 3 x 1 m com plantas podadas
após a segunda colheita, mantendo-se cerca de quatro hastes ortotrópicas por planta.
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 291
eliminando-se ramos ladrões, estiolados, velhos ou da incidência direta dos raios solares, promovem
improdutivos e o excesso de brotações localizadas a redução da ocorrência de plantas daninhas no
no interior da planta. Quando esse sistema de campo, controlam a erosão e ajudam na manutenção
poda é iniciado precocemente, evitam-se perdas da umidade no solo (SILVEIRA et al., 1993).
por estiolamento dos ramos mais baixos e pode-se
Esse sistema de poda do café conilon foi adotado
dar início ao trabalho de conformação adequada
pela grande maioria dos cafeicultores capixabas até
das plantas de acordo com o arranjo adotado e o
2008, ocasião em que o Incaper apresentou um novo
espaçamento escolhido.
e mais ajustado sistema de condução das plantas,
Estudos sobre a poda de produção, conduzidos denominado Poda Programada de Ciclo (PPC).
pelo Incaper, em Linhares/ES, mostraram que ela
é uma técnica de manejo de cultura altamente
eficaz para o aumento da produção. Observou- 4.2.2 Poda programada de ciclo para o café
se um aumento de 53% na produtividade média conilon
de quatro safras sucessivas com a utilização de Os sistemas de podas, tanto de formação quanto
podas anuais (SILVEIRA et al., 1993). Segundo de produção, geram grande capacidade de
esses autores, a poda é uma das práticas mais revigoramento de lavouras pouco produtivas e, em
importantes de manejo da cultura e apresenta boa parte dos casos existentes no Estado do Espírito
as seguintes vantagens: aumenta a vida útil Santo, é certamente uma das práticas que mais
do cafeeiro; proporciona o revigoramento das benefícios podem proporcionar aos produtores
lavouras; melhora o arejamento e a penetração de em curto prazo. Tais benefícios, contudo, são mais
luz no interior da copa; facilita os tratos culturais expressivos quando a prática da poda é associada
e fitossanitários; proporciona melhor convivência a outras tecnologias, pois, mesmo que amplie o
com o estresse hídrico; reduz a percentagem potencial produtivo das plantas, é necessário que
de chochamento de grãos; diminui o efeito da se use material genético, manejo nutricional e
bienalidade; reduz a altura e o diâmetro da planta de suprimento de água adequados, capazes de
facilitando a colheita e a manutenção de maior permitir que as lavouras expressem seu potencial.
número de hastes produtivas por área; melhora
A PPC, segundo Verdin et al. (2008), constitui um
as condições físicas e químicas do solo pela
aprimoramento da poda de produção recomendada
incorporação da matéria orgânica originada das
até então. Ao longo das últimas duas décadas, os
partes vegetativas eliminadas.
trabalhos foram continuados visando à obtenção
As partes vegetativas oriundas da poda devem de benefícios adicionais, identificados, sobretudo,
permanecer na lavoura, pois promovem uma série a partir da utilização massiva do sistema da poda
de benefícios ao cafezal, servem como fonte de de produção, que pudessem ser desenvolvidos
nutrientes após sua decomposição, melhoram o em prol do mais adequado manejo das plantas
teor de matéria orgânica do solo, protegem o solo e das lavouras como um todo melhorando seu
Figura 22. Poda de hastes ortotrópicas improdutivas a uma altura de 20 a 30 cm da superfície do solo.
292 Café Conilon – Capítulo 11
somente aquelas recomendadas para cada situação. as plantas revitalizadas para mais um ciclo de
Não é apropriada a eliminação de todos as hastes produção de três a cinco safras.
(recepa), pois, em trabalhos realizados comparando
Trabalhos foram conduzidos visando a estudar a
a recuperação de lavouras de café conilon com o
influência da PPC e a densidade de plantas e de
uso da recepa com outros tipos de poda, verificou-
hastes no Município de Marilândia, Espírito Santo,
se ganhos superiores na produção ao longo dos
em experimentos implantados em lavouras clonais
anos com o uso da PPC, além de outros benefícios já
formadas pela cultivar Emcapa 8111, conduzidas em
citados (VERDIN FILHO et al., 2012a; 2013b).
condição não irrigada (VERDIN FILHO et al., 2014).
Em uma determinada lavoura, que a partir de então As lavouras foram conduzidas com a PPC, e safras
receba a orientação de ser conduzida com cinco colhidas nos anos de 2008 a 2011. No primeiro de
hastes ortotrópicas/planta, todas as demais devem dois trabalhos, foram utilizados espaçamento de 2,0
ser eliminadas, naturalmente mantendo, nesse x 1,0 m e 2,5 x 1,0 m, ambos conduzidos com duas,
caso, aquelas cinco mais novas, vigorosas e bem três e quatro hastes por planta. A produtividade
distribuídas em torno do tronco. Essa operação pode média com uso do primeiro espaçamento foi
ser realizada em uma única vez ou, paulatinamente, significativamente diferente quando eram
em anos consecutivos, dependendo de cada utilizadas duas, três ou quatro hastes por planta,
situação respectivamente 47,51; 58,38 e 68,25 Sc. benef/ha.
Já no segundo espaçamento não houve diferença
No caso de realizá-la em uma vez, já no ano
significativa nos tratamentos conduzidos com três
seguinte, pode ser iniciada a eliminação das
ou quatro hastes, sendo estas, contudo, superiores
três hastes mais centrais para que, somente no
às alcançadas em plantas conduzidas com duas
ano posterior, seja completado o processo com
hastes (Tabela 1).
A B
Figura 25. Eliminação das hastes remanescentes após a poda programada de ciclo (PPC) em sua última colheita (A); e
lavoura rejuvenescida por esse sistema (B).
Quadro 1. Épocas de realização das atividades no manejo da poda programada de ciclo (PPC) e na poda de produ-
ção do café conilon
Tipo de Colheitas
Atividades
poda 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Eliminação de hastes
Poda X X X X
verticais
programada
de ciclo (PPC) Desbrotas e eliminação de
X X X X X X X X X X
ramos horizontais
Eliminação das hastes
X X X X X X X X X
Poda de verticais
produção Desbrotas e eliminação de
X X X X X X X X X X
ramos horizontais
Tabela 1. Produtividade café conilon conduzido com 2, 3 no estabelecimento mais precoce do número
ou 4 hastes ortotrópicas/planta em diferentes de hastes/planta planejado, contudo, como
espaçamentos na Fazenda Experimental do
anteriormente mencionado, essa prática vem
Incaper em Marilândia/ES
resultando em comportamento diferenciado em
Espaçamento Produtividade (Sc. benf/ha)
(m)
função de fatores genéticos, ambientais, sistemas
2 hastes 3 hastes 4 hastes Média
2,0 x 1,0 47,51 Ca 58,38 Ba 68,25 Aa 58,05
de produção e época de plantio (FONSECA et al.,
2,5 x 1,0 39,36 Bb 53,50 Aa 60,64 Ab 51,17 2013b).
Média 43,43 55,94 64,44 54,61
Fonte: Verdin Filho et al. (2014).
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúsculas na coluna não dife- 4.2.3 Poda dos ramos plagiotrópicos ou
rem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
produtivos
Verdin Filho et al. (2014), utilizando espaçamentos Assim que foi lançada a recomendação do primeiro
de 3,0 x 1,0 m e 3,0 x 1,5 m, também em trabalhos sistema de condução de plantas e lavouras de
conduzidos sem irrigação, mas com a PPC, com conilon no Espírito Santo, pouco se conhecia sobre
três, cinco e seis hastes por planta, obtiveram a necessidade de permanência ou não dos ramos
produtividades de 30,38; 39,10 e 49,45 sc. benef./ produtivos mais velhos na planta. Prática conhecida
ha, respectivamente, para três, cinco ou seis hastes popularmente como “derrama”.
por planta espaçadas de 3,0 x 1,0 m. Utilizando-se
Trata-se de uma prática recomendável e
do espaçamento de 3,0 x 1,5 m, a produtividade foi
largamente empregada no Espírito Santo, onde
de 27,39; 41,98 e 39,78 sc. benef./ha para três, cinco
é, atualmente, aplicada em cerca de 70% das
ou seis hastes, respectivamente (Tabela 2). Esses
propriedades cafeeiras. Consiste na eliminação do
resultados indicam a possibilidade de obtenção
ramos plagiotrópicos localizados nas partes mais
de respostas positivas na produtividade do café
baixas das plantas, mais velhos e já esgotados
conilon com redução dos espaçamentos indicados
pelas produções anteriores. Trabalhos indicam
anteriormente, quando associado ao aumento do
ser vantajosa para o aumento do potencial
número de hastes por planta.
produtivo e proporcionar uma série de outros
benefícios (VERDIN et al., 2008). Facilita a realização
Tabela 2. Produtividade café conilon conduzido com 3, 5
ou 6 hastes ortotrópicas/planta em diferentes de controle de capinas, roçadas, aplicação de
espaçamentos na Fazenda Experimental do fertilizantes, controle fitossanitário e, sobretudo, as
Incaper em Marilândia/ES operações de colheita. Favorece a entrada de luz no
Espaçamento Produtividade (Sc. benf/ha) interior das copas, reduz o estiolamento das hastes
(m) 3 hastes 5 hastes 6 hastes Média ortotrópicas, o desenvolvimento vegetativo mais
3,0 x 1,0 30,38 Ca 39,10 Ba 49,45 Aa 39,65 harmônico e reduz a variação anual de produção.
3,0 x 1,5 27,39 Ba 41,98 Aa 39,78 Ab 36,39
Média 28,89 40,55 44,62 38,02 Apesar de demandar mão de obra para sua
Fonte:Verdin Filho (2011). realização, reduz a necessidade total dessa prática
Médias seguidas pela mesma letra maiúscula na linha e minúsculas na coluna não dife-
rem pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. por favorecer os fatores acima citados, cujo balanço
será determinante para a tomada de decisão que
De maneira geral, os trabalhos conduzidos visando envolve a retirada ou não dos ramos plagiotrópicos
à definição dos mais adequados espaçamentos (GUARÇONI M. et al., 2011).
e densidade de hastes para a condução do café
Há ainda, contudo, questionamentos quanto ao
conilon com a utilização da PPC são concordantes
exato momento dessa eliminação, se com mais
com a fato de que o adensamento da lavoura
de 50%, 60% ou mesmo de 70% do potencial
associado ao maior número de hastes/ha promovem
produtivo total, (Figura 26). Trabalhos em
o aumento da produtividade da cultura, ao menos
andamento poderão oferecer possibilidade de
dentro dos limites que foram estudados (LANI et
melhor elucidação a essas questões no futuro
al., 2000; VERDIN FILHO, 2011; FERRÃO, et al., 2012a;
próximo.
VERDIN FILHO et al., 2013a).
Guarçoni M. et al. (2011) compararam a
Uma série de trabalhos já realizados indicam
produtividade acumulada de três colheitas obtidas
que o arqueamento de plantas jovens auxilia
296 Café Conilon – Capítulo 11
com a retirada ou não de ramos plagiotrópicos potencial, sistema que viabiliza plenamente sua
que produziram 50% ou mais de sua extensão, em realização (VERDIN FILHO et al., 2008).
duas regiões edafoclimáticas do Espírito Santo;
Estudos estão sendo conduzidos pelo Incaper
Sul/Cachoeiro de Itapemirim (Argissolo Vermelho
para o mais adequado entendimento da eficiência
eutrófico, região classificada como acidentada,
do processo, de sua influência nos diferentes
quente e transição chuvosa/seca) e Noroeste/
sistemas de cultivo, bem como do momento mais
Marilândia (Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico,
apropriado à sua realização visando a padronizar as
região classificada como acidentada, quente e
recomendações.
seca). Os autores observaram que a retirada dos
ramos plagiotrópicos que produziram em 50%
ou mais de sua extensão reduziu a produtividade 4.3 DESBROTAS
acumulada das plantas de café conilon na lavoura
de maior vigor e mais produtiva (Sul/Cachoeiro do Com a eliminação dos ramos ortotrópicos e dos
Itapemirim). No entanto, não ocorreu efeito sobre plagiotrópicos velhos, há maior penetração de luz
a produtividade acumulada na região Noroeste/ no interior da planta, que, associada às adubações
Marilândia. Apesar desse resultado, os autores e ao período chuvoso ou em condições irrigadas,
reconhecem o valor da prática pelas vantagens já promovem intensa brotação na planta. A desbrota
relacionadas. é, portanto, a prática de eliminação do excesso
dessas brotações, principalmente daquelas
localizadas na parte interna da copa, geralmente
mais estioladas pelo sombreamento mútuo que
normalmente ocorre após a poda.
Em lavouras rotineiramente podadas,
recomendam-se que as desbrotas sejam realizadas
de 30 a 40 dias após a poda, pois o corte de ramos
causa uma intensa emissão de brotos na planta
(FERRÃO et al., 2012a).
No processo da desbrota, deve-se, inicialmente,
selecionar os brotos que serão mantidos. Assim,
eliminam-se os brotos em excesso, malformados,
Figura 26. Ramos plagiotrópicos sendo eliminados após
terem expressado cerca de 50% do seu poten- com menor potencial de desenvolvimento e aqueles
cial produtivo. localizados nas partes mais internas ao tronco
mantendo-se de um a dois brotos mais vigorosos
Os mesmos pesquisadores explicam que os ramos e mais bem localizados para cada haste eliminada.
plagiotrópicos só funcionariam como dreno,
As desbrotas devem ser realizadas tanto em
quando não possuíssem área foliar suficiente para
lavouras em formação quanto em produção,
produzir os carboidratos necessários ao sustento
todos os anos, independentemente da planta ter
de sua própria demanda energética (respiração
sido ou não podada no ano em questão, quantas
de manutenção e de crescimento em se tratando
vezes forem necessárias para que sejam mantidos
dos frutos). Nesse caso, não faria diferença se os
somente os ramos que permanecerão em
grãos de café fossem supridos por fotoassimilados
substituição àqueles eliminados. Normalmente,
produzidos por folhas do mesmo ramo
são necessárias cerca de três operações anuais,
plagiotrópico ou por folhas presentes em outros
que devem ser realizadas quando as brotações
ramos plagiotrópicos da planta. Primordial seria o
estiverem ainda pequenas, porém depende muito
balanço global de fotoassimilados, não o balanço
das condições climáticas locais, do uso ou não
dos ramos plagiotrópicos isolados. Ocorre, contudo,
de irrigação, da fertilidade do solo e nutrição das
que o referido trabalho não foi conduzido segundo
plantas, entre outros fatores.
os preceitos estabelecidos para utilização da PPC
do café conilon, que promove mais adequado A primeira desbrota deve ser feita quando as
equilíbrio entre a parte vegetativa e a produção brotações se encontrarem com, no máximo, cerca
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 297
de 12 a 15 cm de altura. Nessa etapa, pode-se optar Marilândia, com o objetivo de avaliar o efeito de
pela manutenção de um número de brotos ainda diferentes épocas de poda em clones de café conilon
maior do que o necessário para a mais eficiente de maturação precoce, intermediária e tardia. Em
seleção futura daqueles que serão mantidos e para uma lavoura, cujo espaçamento era 2,5 x 1,0 m, os
a garantia da manutenção do número de brotos clones precoces foram colhidos em maio e podados
previamente definido. em maio, junho, julho e agosto; os intermediários
foram colhidos em junho e podados em junho,
Na poda de produção, a desbrota deve ser realizada
julho e agosto; os tardios foram colhidos em julho
sempre que se proceda à eliminação de ramos mais
e podados em julho e agosto. Imediatamente após
velhos, seja em que intensidade for feita, enquanto
a poda, a lavoura permaneceu com 8.000 hastes
que na realização da PPC, voltam a ser necessárias
produtivas por hectare (duas hastes/planta) e sem
após a realização da primeira etapa, ou seja, após a
brotos. Após a poda, foram feitas duas desbrotas,
eliminação das hastes ortotrópicas mais centrais, a
sendo uma em outubro, aos 60 dias após a última
cerca de 30 dias do seu corte.
época de poda, e outra em dezembro, aos 120 dias
A operação consiste em deixar um broto vigoroso após a última época de poda. Na primeira desbrota,
para substituir cada um dos definitivos existentes foram selecionados (deixados) três brotos mais
desde o início da atividade, ou seja, se as plantas vigorosos em cada planta para a renovação da
foram mantidas desde o plantio até essa fase com lavoura (RONCHI et al. 2007c; RONCHI, 2009).
cinco hastes cada uma, então devem-se conduzir
Ronchi et al. (2007a) constataram que a poda,
cinco brotações, suficientes para substituir todas
quando realizada imediatamente após a colheita
as cinco antigas, mesmo que duas delas sejam
(maio/junho), principalmente para os clones de
mantidas para serem eliminadas somente após a
maturação precoce, estimulou o aparecimento
safra seguinte (FONSECA et al., 2013b).
e crescimento antecipado dos brotos de forma
As brotações mantidas para a recomposição que, no momento da primeira desbrota, os brotos
do número de hastes definitivas devem estar dessas plantas apresentaram-se maiores e mais
localizadas de forma distribuída e equidistante vigorosos que aqueles originados de plantas cuja
ao redor dos troncos remanescentes das hastes poda foi tardia (julho/agosto). Entretanto, ao longo
eliminadas. Por meio das podas e desbrotas, da estação de crescimento (outubro a janeiro),
seguindo-se as recomendações técnicas observaram crescimento compensatório dos
pertinentes, as lavouras manter-se-ão sempre brotos menores e, em janeiro, não mais se verificou
revigoradas, com número apropriado de hastes efeito da época de poda sobre o crescimento dos
para cada situação em particular. brotos. Constataram ainda que a época de poda
não afetou o número de brotos emitidos por planta
e que o tempo gasto na operação de desbrota se
4.4 ÉPOCA DE REALIZAÇÃO DA PODA correlacionou diretamente com a quantidade de
As podas devem ser realizadas preferencialmente brotos por planta e não com o tamanho ou vigor
em seguida às colheitas e antes da primeira deles.
florada. Essa é a época mais adequada porque Em 2007, por ocasião da colheita daquelas hastes
o cafeeiro se encontra em estado de repouso produtivas remanescentes (8 mil hastes/ha), Ronchi
vegetativo, o que coincide com a época mais et al. (2007b) não observaram efeitos das épocas de
seca. É importante que a poda seja feita antes da poda sobre a produtividade, independentemente
floração para que o agricultor não hesite em retirar do clone e da variedade (precoce, intermediária
os ramos mais velhos e improdutivos. Esses ramos, e tardia) avaliada. Em 2007, 2008 e 2009, foram
ainda que apresentem uma pequena florada, realizadas as podas anuais, sempre nas mesmas
devem ser eliminados para que não prejudiquem épocas, de forma que foram colhidas três safras
o desenvolvimento de outros mais vigorosos consecutivas nos anos seguintes (2008, 2009 e
(SILVEIRA et al., 1993; SILVEIRA; ROCHA, 1995). 2010), naquelas hastes que ser formaram a partir da
A partir de 2006, foi conduzido um trabalho brotação nova, deixada no início do trabalho (três
experimental na Fazenda Experimental de hastes por planta totalizando 12 mil hastes/ha).
298 Café Conilon – Capítulo 11
Na safra 2008 (primeira safra das hastes novas), consolidação. Na cafeicultura, não é diferente.
observaram-se efeitos significativos da época de Decidida a implantação do negócio, é preciso
poda na produtividade de clones precoces e tardios. considerar todos os meandros que o cercam e o
Por exemplo, o clone 03 produziu 17% a mais influenciam.
quando podado em maio/junho, em comparação
Assim, é necessário que o cafeicultor se oriente
à poda feita em julho/agosto, apesar de a colheita
quanto aos aspectos econômicos da atividade,
ter sido realizada na mesma data. Para o clone 19
do mercado existente, das exigências desses
(clone de maturação tardia), colhido em julho,
mercados, dos custos de produção e da
verificou-se aumento de 14% na produtividade,
possibilidade de retorno econômico e, sobretudo,
quando a poda foi feita ainda em julho, em
dos aspectos tecnológicos que deem sustentação
comparação àquela feita em agosto (RONCHI et
ao desenvolvimento competitivo da atividade.
al., 2008). Portanto, considerando apenas essa
primeira safra, os resultados apontaram para Define-se a área na qual será realizada a implantação
maiores produtividades quando a poda do conilon da lavoura, a época do plantio, o sistema de
foi realizada imediatamente após a colheita. produção a ser adotado, a cultivar, a produção ou
Todavia, esses resultados não se confirmaram nas aquisição das mudas, o preparo do solo; calculam-
colheitas seguintes (2009 e 2010) para os vários se as necessidades de corretivos e fertilizantes,
clones testados, nem quando se considerou a o espaçamento, a abertura das covas; realiza-se
média das três safras (RONCHI et al., 2010). Tomados o plantio definitivo, o sistema de condução das
em conjunto, os resultados indicam que não há plantas, os tratos culturais, o sistemas de podas, a
necessidade de se realizar a poda imediatamente colheita, o sistema de processamento, a classificação
após a colheita (RONCHI et al., 2010). dos grãos, o armazenamento e, finalmente, a
comercialização.
De fato, dois anos mais tarde, Morais et al. (2012),
trabalhando nessa mesma lavoura, em Marilândia, Neste capítulo, foram abordados aspectos do
Espírito Santo, e com esses mesmos tratamentos manejo de lavouras de café conilon focando
(clones, épocas de podas), constataram que a principalmente o plantio, o espaçamento e os
poda de lavouras adultas de café conilon, realizada sistemas de condução das plantas (podas e
imediatamente após a colheita ou mais distante desbrotas). Esses aspectos são todos essenciais para
dela, não afeta a fisiologia do cafeeiro, seja ele um que as lavouras expressem todo o seu potencial
clone de maturação precoce, intermediária ou produtivo.
tardia. Esses autores não constataram diferenças Muitos são os avanços registrados na atividade
no crescimento de ramos, na fotossíntese, na que auxiliam no entendimento do fato de que
condutância estomática, na eficiência fotoquímica as lavouras de conilon vêm experimentando
do FSII, nos teores foliares de amido e eficiência tamanha evolução em seu desempenho produtivo.
do uso da água. Tomados em conjunto, esses Destacam-se aqui os aspectos relacionados aos
resultados explicam, pelo menos em parte, porque novos sistemas de condução de plantas, frutos de
a produtividade da lavoura, independentemente investimentos em pesquisa a partir do fim da década
do clone, não foi afetada pelas épocas de poda de 1980, notadamente no Espírito Santo, o primeiro
(RONCHI et al., 2010; MORAIS et al., 2012). Assim, estado brasileiro a estudar métodos alternativos à
considerando todo o conjunto de informações condução de plantas de café conilon.
apresentado bem como da constatação dos
benefícios alcançados, recomenda-se que seja Esses sistemas vêm evoluindo rapidamente a
realizada preferencialmente logo após colheita. partir do primeiro sistema de podas proposto em
1993 com o desenvolvimento de novos trabalhos
chegando aos dias atuais com a associação de
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS podas aos sistemas de condução inicial das
plantas, o arqueamento ou o desponde das plantas
O sucesso de qualquer empreendimento requer jovens, com a poda programada de ciclo (PPC) e
que muitas decisões sejam tomadas na fase de a eliminação dos ramos plagiotrópicos já pouco
planejamento de cada etapa necessária à sua produtivos.
Manejo da Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, Podas e Desbrotas 299
O Incaper se destaca neste ano de 2016 com a J. A. ; MEDINA, D. M.; MENDES, A. J. J.; MONACO, L. C.
consolidação de nova tecnologia: a recomendação Coffee (Coffea arabica L. and Coffea canephora Pierre
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(Coffea arabica L. and Coffea canephora Pierre ex
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da qual foram utilizados os mesmos princípios que
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fundamentaram a prática para o conilon. J. S. O café conilon em sistemas agroflorestais. In:
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condução de plantas são por muitos consideradas
as que mais proporcionam o aumento da FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F. A. da.; FERRÃO, R.
produtividade e da qualidade do café, por propiciar G.; SOUZA. E. M. R.; VICENTINI. V. B; PESTANA. D. F.
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que a grande maioria das demais tecnologias
conilon. In: TOMAZ, M. A.; AMARAL, J. F. T. do; JESUS
deixem de expressar o potencial que possuem JUNIOR, W. C. de; FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, R.
ao prevenir o esgotamento precoce das plantas e G.; FERRÃO, M. A. G.; MARTINS, L. D.; RODRIGUES, W.
promover a constante renovação das lavouras. N. (Orgs.). Inovação, difusão e integração: bases para a
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Muitos outros aspectos relacionados à condução p.107- 121. 2012b.
de plantas têm sido estudados tanto no Espírito
FERRÃO, R. G.; FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F. A. da.
Santo como em Rondônia e Bahia, muitos dos Variedades clonais de café conilon: 10 passos em 12
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com o Incaper. Espera-se que novos fatores FERRÃO, R. G.; FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, M. A.
limitadores aos constantes avanços, como os até G. Programa de melhoramento genético de café
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303
12
Preparo, Manejo e Conservação do
Solo em Lavouras de Café Conilon
José Antônio Lani, Scheilla Marina Bragança, Henrique de Sá Paye,
Eduardo Ferreira Sales, Luiz Carlos Prezotti e André Guarçoni M.
importantes e revelam se as raízes encontrarão c) Não ter problemas de pragas de solo (nematoides,
ambiente favorável ou não para seu perfeito cochonilhas etc.), que atacam o cafeeiro.
desenvolvimento. Os dados do levantamento
d) Ter facilidades no acesso, favorecendo o
pedológico também serão importantes para definir
transporte de insumos para a lavoura e do
se será necessária a utilização de subsoladores para
café colhido para as instalações de secagem e
reduzir impedimentos físicos que podem dificultar
beneficiamento.
a penetração de raízes do cafeeiro conilon.
e) Estar próximo a uma fonte de água passível de
Com os resultados das análises químicas do solo
utilização para irrigação da lavoura. Dessa forma,
das camadas ao longo do perfil, é possível detectar
são reduzidos os riscos climáticos que podem afetar
se há algum impedimento químico dificultando a
a produtividade, além de haver menor dependência
penetração de raízes.
de mão de obra, uma vez que a maioria dos
fertilizantes poderia ser aplicada via fertirrigação.
3.1 LIMPEZA DO TERRENO acoplado aos três pontos, para arrancar os cafeeiros
com as raízes. Deve-se aguardar, pelo menos, 15
Para áreas com topografia que varia de plana a
dias até que as folhas sequem e caiam, quando se
ondulada, para aquelas com macega rala, pastos
pode, então, passar uma grade pesada ou roçadeira
nativos, e outras cultivadas anteriormente com
sobre as plantas para cortar a ramagem fina. Em
cultura anual, o usual é o emprego do trator com
seguida, a lenha grossa é enleirada, podendo ser
arado ou grade aradora, situação em que são mais
aproveitada para utilização no secador. Deve-se
eficientes e indicados os equipamentos maiores
examinar as raízes dos cafeeiros para constatação
e mais potentes (maior que 65 cv), traçado (4 x 4)
da presença de pragas no sistema radicular, sendo
e arados de três ou mais discos (MATIELLO et al.,
que, se for confirmada, deve-se aguardar um ano
2010).
para então efetuar o novo plantio.
As grades aradoras, conhecidas popularmente
No preparo de áreas que apresentam solos com
pelos agricultores como grades de “Rome”,
boa estrutura e em que não é necessária a prática
apresentam os discos de grande diâmetro e peso
da calagem, tem sido realizada apenas a abertura
que penetram mais profundamente no solo. São
de sulcos de plantio ou de covas, semelhante
muito usadas para substituir a aração, pois têm
ao sistema plantio direto. Na área total, caso
grande rendimento operacional e conseguem
necessário, pode-se efetuar apenas uma passagem
trabalhar em terrenos com grande infestação
de roçadeira ou aplicação de herbicida de pós-
de plantas daninhas. Para um melhor resultado,
emergência. Quando não há o revolvimento de
geralmente são necessárias duas gradagens
todo o solo da área, há maior retenção de umidade,
niveladoras na mesma área. No intuito de diminuir
maior agregação das partículas do solo e maior
a “pulverização” da camada superficial do solo,
deposição de cobertura morta junto ao sulco ou
recomenda-se efetuar a gradagem com o solo
à cova de plantio favorecendo o pegamento das
ligeiramente úmido.
mudas plantadas.
Para áreas com cobertura de capoeira ou mata,
Áreas de chapada com solos mais argilosos e com
condição rara de ocorrer, pois essas áreas
cultivos sucessivos anteriores podem apresentar
constituem reserva legal e, necessariamente,
problema de adensamento ou pé de arado ou pé
exigem liberação dos órgãos de meio ambiente
de grade. Nesses casos, deve-se efetuar um preparo
onde se prevê mecanização, é indicada a limpeza e
especial visando a atenuar esses problemas com
destoca com trator de esteira e lâmina.
aração mais profunda, de preferência com arados
Nas áreas montanhosas ou pequenas áreas de de aiveca, ou usando subsolagem em área total.
plantio, é usual a limpeza com o emprego de
O preparo deve ser feito com o solo um pouco
ferramentas manuais, como foices e machados
úmido para favorecer a penetração e o corte do
ou, quando se tratar de pastagens, a limpeza,
arado, além de permitir a fragmentação dos torrões
antes ou após a abertura das covas de plantio,
maiores. Solos excessivamente úmidos ou secos são
pode ser feita com o uso de herbicidas de pós-
prejudiciais.
emergência. Em caso de macega rala ou pasto
nativo, a limpeza pode ser apenas na linha em Para complementar o preparo, principalmente se o
que será feito o coveamento, ficando as ruas plantio for feito logo após a aração, deve-se utilizar
temporariamente cobertas pela vegetação, a qual a gradagem com a finalidade de quebrar os torrões
será eliminada gradativamente. Também é possível e acertar o terreno podendo, ainda, ajudar no
usar aração com tração animal, o que favoreceria controle de ervas remanescentes ou que surgirem
a incorporação do calcário distribuído a lanço. após a aração.
Entretanto, esse tipo de preparo tem sido pouco
usado devido à lentidão do trabalho (MATIELLO et
al., 2010). 3.2 MARCAÇÃO E ABERTURA DOS CARREADORES
No caso específico de plantio em área de cafezal A locação do cafezal compreende a localização dos
velho, deve-se efetuar a erradicação com trator carreadores (em nível e pendentes), das niveladas
munido de lâmina ou com destocador traseiro, básicas auxiliares e da marcação das linhas de
306 Café Conilon – Capítulo 12
plantio do cafezal, além de cordões, terraços, caixas barranco e, ao longo dos carreadores possibilitando
de retenção e outras práticas indicadas para o maior retenção de água. Em áreas maiores e mais
controle da erosão. planas, os carreadores devem ficar a uma distância
de 100 a 120 m entre si.
O plantio do café em áreas onduladas ou declivosas
é feito em nível para facilitar o controle da erosão. No sentido perpendicular ou ligeiramente oblíquo
Em áreas de chapada quase planas e em grandes aos carreadores em nível, devem ser abertos os
plantios nos quais a prioridade é a mecanização, pendentes ligando dois deles a uma distância de
a marcação do cafezal objetiva prioritariamente o 70 a 100 m e desencontrados para evitar que as
trânsito do maquinário. Nesse caso, mesmo com águas de enxurradas tenham curso contínuo, o que
algum desnível, é preferível traçar linhas de plantio aumenta seu volume e velocidade causando maior
longas, o que reduzirá as manobras. erosão. Os pendentes devem ter igualmente de 6 a
7 m de largura.
Em regiões mais quentes ou mais secas, nas
condições de chapada, também é indicado localizar Em áreas com declividade acima de 25%, os
as linhas na direção do movimento do sol (leste- carreadores pendentes devem ser construídos em
oeste), evitando o efeito do sol da tarde na lateral sentido bem oblíquo para facilitar as subidas com
dos cafeeiros, o que pode causar escaldaduras menor declive, aproveitando sempre as lombadas,
de folhas, seca de ramos e perda de produção depressões e outras facilidades do terreno. Nessas
(MATIELLO et al., 2010). áreas, os carreadores em nível devem ter suas
extremidades alargadas para facilitar o retorno
Nas áreas com irrigação por pivô central, quando
dos veículos. Em casos necessários, algumas partes
o plantio for feito em renque mecanizado, a
dos carreadores não precisam ficar exatamente em
marcação tem sido indicada com plantio em linhas
nível. Em áreas irregulares, com grande inclinação,
circulares para economia de água e de mão de obra
não se utilizam carreadores em nível, mas estradas
e também para facilitar a colheita semimecanizada
subindo em zigue-zague. Nesse caso, é importante
ou mecanizada.
manter essas estradas vegetadas e abrir caixas de
A locação dos carreadores e sua construção retenção para receber o excesso de água desviado
podem ser realizadas antes ou após o preparo do delas.
solo. Em áreas montanhosas não mecanizáveis,
O modo de fazer e os equipamentos indicados para
os carreadores devem ser marcados e abertos
a abertura dos carreadores ou caminhos no meio
antes do sulcamento ou coveamento facilitando o
das lavouras dependem da topografia da área. Para
controle da erosão, o trânsito na área e o transporte
áreas planas ou levemente onduladas, não é preciso
de insumos e materiais necessários ao preparo dos
usar qualquer tipo de equipamento, bastando
sulcos ou das covas.
deixar o espaço livre (6 a 7 m de largura) onde
Em áreas mecanizáveis, a marcação prévia das coincidam os carreadores em nível ou pendentes,
niveladas básicas e dos carreadores auxilia na pois ali vão transitar normalmente o trator e o
conservação do solo, pois a aração e demais maquinário. Com pequena inclinação, apenas para
operações de preparo do solo passam a ser feitas os carreadores em nível, pode-se passar a lâmina
em nível. traseira do trator ou a patrol deixando um pequeno
A locação deve ser efetuada da seguinte forma: a barranco na parte superior. Quanto menor o
cada 20 ou 30 m no sentido do declive, marca-se barranco no carreador, mais facilidade terá o trator
as niveladas básicas, que são numeradas a partir da de entrar nas ruas da lavoura que ali “morrem”.
parte superior do terreno. Sobre as de número par, Para áreas onduladas ou declivosas, a abertura
serão abertos os carreadores em nível, e as ímpares dos carreadores é indispensável, sendo realizada
servirão para a marcação das ruas de café. Desse com o uso de máquina de esteira com lâmina,
modo, os carreadores em nível ficarão distanciados pois, ao contrário, não seria possível transitar
de 40 a 60 m, mantendo a largura de 6 a 7 m, com com máquinas e veículos devido à inclinação do
pequeno declive (5%) para o seu interior. Além terreno. Os carreadores em nível devem ter leve
disso, deve-se construir caixa-secas, do lado do inclinação para a sua base (próximo ao barranco)
para facilitar a retenção de água.
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 307
3.3 PREPARO DO SOLO devendo a superfície ficar abaulada, pouco mais alta
que a boca da cova, pois essa terra solta vai acamar
O preparo deve ser feito com o terreno um pouco
em seguida.
úmido para favorecer a penetração e corte do
arado e para permitir o esboroamento dos torrões. A mistura e enchimento dos sulcos ou das covas
Umidade demais ou solo excessivamente seco são devem ser feitos, de preferência, um mês antes do
prejudiciais. A aração profunda facilita o trabalho de plantio do café, para que as chuvas no período sejam
sulcamento. suficientes à ocorrência de reação do corretivo e dos
adubos no solo visando a melhorar a nutrição inicial
Áreas de chapada, com solos mais argilosos e com
das mudas, o que tende a facilitar seu pegamento.
cultivos sucessivos anteriores podem ter algum
problema de adensamento ou pé de arado ou grade.
Nesses casos, deve-se dar um preparo especial 3.4 MARCAÇÃO E ABERTURA DOS SULCOS OU
visando a atenuar esses problemas, com aração COVAS
mais profunda, de preferência com arado aiveca, ou
usando subsolagem em área total (ripagem) com a) Marcação e abertura
máquina de maior potência. Nas áreas mecanizáveis, o espaçamento entre
Para complementar o preparo, principalmente se o as linhas de plantas é marcado através de uma
plantio for feito logo após à aração, deve-se utilizar haste de madeira (ou bambu) amarrada na parte
a gradeação, com a finalidade de quebrar os torrões anterior do trator, com o tamanho correspondente
e acertar o terreno podendo, ainda, ajudar no a duas distâncias (Ex.: 6 m para espaçamento de
controle de ervas que remanescerem ou surgirem 3 m), cujo meio coincide com o centro do trator.
após a aração. Nas duas extremidades da haste, prende-se uma
pequena corda com um peso. Assim, o tratorista
Um equipamento muito utilizado é o subsolador. vai coincidindo essa extremidade dentro do sulco
Ele não faz uma mistura da terra e dos adubos já aberto, sempre mantendo uma distância fixa
tão bem feita quanto o implemento chamado ao abrir outro sulco, que fica paralelo ao anterior.
batedor de covas, mas tem a vantagem de efetuar, O sulcamento deve ser feito com o solo úmido. O
adicionalmente, a subsolagem do terreno e, primeiro sulco deve ser aberto sobre a nivelada
ainda, alarga o próprio sulco de plantio, que básica, enquanto os demais ficam paralelos a
passa do formato de V para U. Ele deve ser usado, ela, para cima e para baixo. Os sulcos são abertos
de preferência, com tratores de potência acima através de um sulcador pesado, acoplado aos três
de 65 cv. Outro implemento, pouco usado, é pontos do trator, regulado para aprofundar cerca de
a valeteadora, na qual pode ser acoplado um 50 cm. Ele tem duas “asas” laterais ajustáveis para a
depósito de adubo. Seu rendimento é pequeno, largura do sulco, o qual deverá ter a forma de V, com
mas o serviço fica bem feito. cerca de 20 cm de largura no fundo e de 60 a 80 cm
Para os casos de plantio com máquina plantadeira, na superfície.
o preparo do sulco deve ser feito com equipamento Em solos mais duros ou mal preparados, tem-se
especial, tipo rotativo, pois a terra deve ficar bem a opção de passar o sulcador duas vezes, sendo a
solta e pulverizada para facilitar o trabalho das primeira vez para marcação do local aprofundando
conchas cavadeiras da máquina. Esse equipamento um pouco o sulco e, na segunda, até a profundidade
pode ter um depósito superior combinando a desejada. Pode-se também colocar um peso
abertura, aplicação simultânea dos adubos e sobre o sulcador facilitando a sua estabilidade e o
reenchimento dos sulcos em uma única operação, aprofundamento do implemento no solo.
deixando, ainda, um pequeno sulco para facilitar o
plantio. Embora seja possível sulcar com os tratores
cafeeiros de menor potência e de bitola estreita, o
Para áreas montanhosas, a mistura dos adubos serviço fica bem melhor e com rendimento superior
com a terra solta (retirada da cova) é feita fora das quando efetuado com tratores mais potentes e, de
covas usando enxadas. Essa mistura é puxada, a preferência, traçados.
seguir, com a própria enxada, para dentro das covas,
Em áreas montanhosas ou em pequenos plantios,
308 Café Conilon – Capítulo 12
as linhas também são marcadas paralelamente operador levanta e abaixa o brocão ao mesmo
à nivelada básica, com uma haste de bambu ou tempo que a tomada de força o faz girar retirando
corda com o espaçamento entre linhas, com dois a terra da cova. Utilizando-se de um “trator 4100”,
operadores: o primeiro caminhando sobre a linha pode-se fazer até 1.000 covas por dia (8 horas),
anterior e o segundo marcando a próxima linha. dependendo das condições do solo e da habilidade
As linhas ou as covas são marcadas com pequenas do operador. Quando se utiliza o brocão, deve-
estacas de bambu. se observar se está havendo espelhamento nas
laterais da cova. O espelhamento das laterais da
cova depende também da umidade e do tipo do
b) Preparo dos sulcos ou covas solo ou até mesmo da maneira como o sistema
Em áreas não mecanizáveis, as covas são abertas hidráulico do trator e o brocão são acionados pelo
individualmente, com o auxílio de enxadões ou operador. Para reduzir o espelhamento das laterais
brocão. No preparo mecanizado, o plantio deverá da cova, pedaços de vergalhões de cerca de 10 a 12
ser feito em sulcos, abertos com o sulcador cm são soldados na própria broca, com o objetivo
(Figura 1), a 50 cm de profundidade e realizado de escarificar as laterais. Mesmo com todos esses
no sentido do nível do terreno. O sulcamento cuidados, o produtor deverá vistoriar as covas e
visa a facilitar ou mesmo substituir a operação de verificar se houve espelhamento em algumas delas.
coveamento. A distância entre um sulco e outro Caso positivo, utilizar uma cavadeira para retirar
deve coincidir com o espaçamento entre linhas o espelhamento. A utilização ou não do brocão
desejado pelo produtor. Nesses sulcos, distribui- vai depender de testes feitos em vários pontos da
se o calcário, o adubo fosfatado, o adubo fonte de área e se realmente é mais econômico utilizar esse
micronutrientes e os adubos orgânicos, quando sistema de preparo de covas.
disponível (Figura 2). Com um subsolador de
três hastes (Figura 3) tracionado por trator,
sobre o sulco aberto e adubado, efetua-se a
subsolagem e o alargamento da área do sulco e,
ao mesmo tempo, a mistura do adubo na terra e
o fechamento do sulco. A mistura da terra com os
adubos e o fechamento do sulco podem também
ser feitos com batedor de covas (Figuras 4 e 5).
aprofundar mais 40 cm no meio da cova, com do trator e acionado pela tomada de força. É
auxílio de uma cavadeira boca de lobo, ficando constituído de um eixo central e duas alas laterais.
com 20 cm de diâmetro, os resultados serão O eixo é feito na forma de um parafuso sem fim,
melhores. Para solos mais leves ou soltos, devem- que, girando, acionado pela tomada de força,
se abrir covas com enxadões mais largos, e para mistura a terra e os adubos que se encontram
espaçamentos mais adensados entre plantas, no centro e nas laterais do sulco aberto. As duas
podem-se abrir sulcos contínuos com o enxadão. alas laterais, mais abertas na frente e fechadas
Após sua abertura, os sulcos ou covas irão receber atrás, fazem o serviço de enchimento do sulco,
os adubos e corretivos indicados de acordo com as agrupando ou concentrando a terra mais o adubo
necessidades observadas na análise do solo. Para revolvidos, fechando o sulco. O segundo, mais
isso, misturam-se os adubos e o corretivo, quando usado, consta do próprio subsolador, trabalhando
for o caso, com a terra retirada. Vale ressaltar que o com três hastes, efetuando, ao mesmo tempo, a
adubo fosfatado e o corretivo devem ser misturados subsolagem, a mistura e o enchimento do sulco.
à terra separadamente; primeiro o corretivo e O subsolador é acoplado ao trator (três pontos),
depois o adubo fosfatado. Após a mistura, retorna- ao qual deve-se ajustar uma haste subsoladora no
se a terra para dentro do sulco ou da cova. centro para aprofundar no meio do sulco aberto,
e as duas laterais tem que ficar de 30 a 40 cm de
distância uma da outra e de cada lado da central.
4 CONSERVAÇÃO DO SOLO
4.1 IMPORTÂNCIA
As lavouras de café tradicionais eram plantadas
em áreas recentemente desbravadas e exploravam
a fertilidade natural dos solos, sem a utilização de
Figura 9. Subsoladores de 1 haste para subsolagem a
profundidades de 80 a 90 cm, com aplicador práticas racionais de cultivo, entre elas, o controle
de fertilizantes em profundidade. da erosão.
312 Café Conilon – Capítulo 12
A mata dava origem a cafezais, na maioria das vezes de nível e adensados, o manejo da vegetação nativa
plantados morro abaixo facilitando as enxurradas, e o planejamento dos carreadores.
que levavam, gradativamente, a camada mais fértil
do solo. A perda provocada pela erosão, agravada
pela falta de reposição de nutrientes, via adubação, 4.2 LOCALIZAÇÃO DOS PLANTIOS
acelerava o processo de depauperamento das As lavouras cafeeiras devem ser localizadas
lavouras, que após 10, 15 anos, quando muito, eram de acordo com a capacidade de uso do solo,
abandonadas. devendo ser formadas e exploradas apenas
A renovação dos cafezais, promovida a partir da em terrenos adequados para a cultura. Devem
década de 1970, foi realizada em terras de baixa ser implantadas, preferencialmente, em solos
fertilidade, seja por ter sido mal exploradas no com boas propriedades físicas, tais como alta
passado ou por serem naturalmente pobres em profundidade efetiva, bem drenados e com alta
nutrientes. Assim, as lavouras de café atuais se retenção e disponibilidade de água. Recomenda-
encontram sobre essas terras, exigindo do produtor se o plantio preferencialmente em áreas com
investimentos em corretivos e fertilizantes, declividades de até 30% e 45% para solos com
o que torna o controle da erosão ainda mais baixa e alta tolerância à erosão, respectivamente
importante, pois reduz a perda de solo e aumenta o (DADALTO; LANI; PREZOTTI, 1995). Pode ser
aproveitamento desses insumos. considerada como tolerante à erosão a maior
parte dos Latossolos Vermelhos-Amarelos que se
Nas lavouras cultivadas em áreas declivosas, sem concentram nas regiões central e sul do Estado,
o uso de práticas conservacionistas, a perda de em razão de possuírem uma boa estabilidade de
solo por erosão é elevada. Nesse sentido, Dadalto, agregados e uma boa permeabilidade. Já os solos
Lani e Prezotti (1995) observaram uma perda da região centro-oeste e noroeste apresentam,
média de 40 t ha-1 ano-1 em uma lavoura de café normalmente, baixa tolerância à erosão por
arábica cultivado em Latossolo Vermelho-Amarelo possuírem, em sua maioria, baixa agregação e/ou
Distrófico, com declividade de 45%. Em cafeeiro baixa permeabilidade, especialmente no horizonte
conilon conduzido também sobre Latossolo subsuperficial (horizonte “B”). Em todas as situações
Vermelho-Amarelo, na região norte, com 18% de descritas, devem-se utilizar práticas de controle da
declividade, a perda média foi de 10 t ha-1ano-1. erosão que serão relatadas a seguir.
A erosão no Estado é ainda mais grave, pois os
solos, em sua maioria, são distróficos, tendo
basicamente a camada superficial como fonte de 4.3 PLANTIO EM CURVAS DE NÍVEL
nutrientes para as plantas. Consiste em dispor as fileiras de café e executar
Esses fatos explicam, em grande parte, as baixas todas as operações de cultivo no sentido transversal
produtividades obtidas em algumas propriedades. à pendente do terreno. Recomenda-se que as
Além disso, a erosão traz uma série de plantas entre fileiras fiquem desencontradas, de
consequências negativas indiretas, como poluição modo que se constituam um obstáculo ao percurso
de cursos d’água, assoreamento e destruição de livre da enxurrada diminuindo a velocidade e a
estradas. capacidade de arraste de solo. Segundo Bertoni e
Lombardi Neto (1985), o plantio em contorno, ou
Para reduzir o processo de erosão e melhorar em curva de nível, reduz a perda de solo em até
as propriedades do solo, devem ser utilizadas 50% e a de água em até 30%, quando comparado
práticas conservacionistas fundamentadas em dois ao plantio “morro abaixo”.
princípios básicos: aumento da cobertura vegetal
e da rugosidade do terreno (obstáculos contra a O plantio em contorno, se não estiver associado
enxurrada). a outras práticas conservacionistas, não é
suficiente para reduzir a erosão a níveis toleráveis,
As práticas conservacionistas que atendem a esses principalmente em terrenos acidentados, em
princípios e possuem viabilidade econômica devem regiões onde ocorrem chuvas intensas ou em solos
ser usadas nas lavouras cafeeiras, destacando-se a altamente erodíveis.
localização correta dos plantios, aqueles em curva
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 313
A prática de terraceamento da lavoura, empregada primeiros cinco anos e em 99% do quinto ano em
para combater a erosão causada pelo escoamento diante, independentemente dos espaçamentos
da água da chuva e facilitar a entrada de máquinas estudados, e que a redução do espaçamento nas
nos cafezais, pode ser uma alternativa para entrelinhas e nas linhas do cafeeiro foi importante
viabilizar a cafeicultura de montanha (SILVA, 2015). para o controle da erosão hídrica. O espaçamento
Muito utilizado em regiões de maior declive, o de 3,0 x 1,0 m foi o mais eficiente na redução da
terraceamento consiste na construção de terraços, erosão hídrica na cultura do cafeeiro, ainda que as
em formato de escada, e apresenta estrutura perdas anuais de terra e de água para o cafeeiro
composta de um dique, que poderá ser utilizado fossem de 4 t ha-1 e 18 mm, respectivamente, e para
também nas regiões de maior declive do Estado do os primeiros cinco anos, o valor médio da razão de
Espírito Santo, tanto para o café arábica como para perda de terra no cafeeiro foi de 269,6 Kg ha-1 e de
o café conilon (Figura 11). 1,7 Kg ha-1 para o quinto ano em diante.
Guarçoni M. (2011) avaliou a eficiência de adubação
em café conilon e constatou que, nas áreas onde as
lavouras estavam mais adensadas, houve aumento
na concentração de nutrientes no solo e no subsolo.
definido, desde que ofereçam segurança para sucesso dessa técnica depende do conhecimento
comportar toda a água. Por exemplo, numa estrada das ervas nativas em termos de competição
de 4 m de largura e cerca de 18 a 20% de declividade, procurando-se eliminar as mais nocivas ao cafeeiro.
observando sempre a velocidade de infiltração de
O sistema de manejo mais recomendado é o uso de
água no solo da área, devem ser construídas caixas-
faixas de retenção com a vegetação nativa herbácea
secas a cada 30 m de distância, as quais podem
entre fileiras do cafeeiro. Dadalto, Lani e Prezotti
armazenar de 10 a 12 m3 de água, incluindo toda a
(1995) relatam que, em sistema de manejo onde
borda (Figura 12).
ocorre a predominância de capim-meloso (Melinis
minutiflora), as perdas de solo foram reduzidas
em 95%, e a produtividade de café beneficiado
aumentou em 20% em áreas acidentadas.
As faixas de vegetação, no sentido perpendicular
à inclinação do terreno, podem ser constituídas
de gramíneas ou de leguminosas que apresentem
viabilidade econômica proporcionando ao produtor
renda extra e a conservação do solo. Outros tipos
que podem ser utilizados são as vegetações naturais
que crescem espontaneamente sobre o solo. As
faixas devem estar dispostas em curvas de nível e
localizadas nas linhas sem os cultivos. Essas faixas
são eficazes na redução de perda de solo e de água
e, quanto mais aumenta o número de faixas, seus
benefícios são potencializados (LANI et al., 1996).
Em um experimento realizado na região serrana
do Espírito Santo, houve redução na perda de solo
à medida que se aumentou o número de faixas
de capim-meloso (ROCHA; PREZOTTI; DADALTO,
2000). Segundo os autores, essa prática, além de
Figura 12. Caixa-seca construída na área interna da lavou- contribuir para a redução do processo erosivo,
ra para redução do fluxo superficial e captação
de água das chuvas. também favoreceu a manutenção da umidade do
solo por períodos mais longos, de tal forma que não
comprometeu o rendimento da produção de café
Outras formas de reduzir as perdas de solo e arábica no sistema com capina a cada duas e três
nutrientes em lavouras de cafeeiros conilon são: ruas (Figura 13).
a) manter a vegetação nativa (capoeira, mata) nas Lani et al. (1996) avaliaram as perdas de solo, água
cabeceiras; e a composição química dos sedimentos coletados
b) utilizar espaçamentos adequados de acordo com em solo Latossolo Vermelho-Amarelo em um
os clones que compõem a cultivar utilizada; experimento com quatro tratamentos, sendo: I -
lavoura toda capinada (sem faixas); II - uma faixa a
c) manter no meio das ruas, entre as fileiras de
cada três ruas de cafeeiros (1:3); III - uma faixa a cada
plantas, todas as hastes e brotações retiradas após
duas ruas de cafeeiros (1:2); IV - uma faixa a cada
implantação da lavoura, na época da poda.
rua de cafeeiros (1:1). As perdas de solo e de água
foram coletadas após chuvas de 70,8 mm e 49,6
4.6 MANEJO DA VEGETAÇÃO NATIVA mm, com duração de 1,5 e 2,0 horas, ocorridas nos
dias 15 e 16/03/1995, respectivamente. Os autores
O manejo adequado das plantas nativas nas lavouras concluíram que, ao comparar o tratamento sem
cafeeiras visa a minimizar o processo de erosão, faixas aos demais, a redução na perda de solo para
melhorar as características do solo, principalmente o tratamento (III) foi de 30%; tratamento (II) de 45%;
as físico-hídricas, e aumentar a produtividade. O
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 315
e tratamento (IV) de 77%. Em relação ao fator água, O manejo da vegetação deve ser realizado através
essa redução foi de 8% para o tratamento (III); 20% de capinas, desde a linha de cafeeiros até cerca
para o tratamento (II); e 55% para o tratamento de 50 cm de largura a partir da projeção da copa,
(IV). Foi sugerido, ainda, que a vegetação natural, principalmente durante a fase de formação da
apesar da concorrência com o cafeeiro no período lavoura. Deve-se ainda efetuar roçadas sempre que
de formação da lavoura e, principalmente, em áreas for necessário, de modo que não haja florescimento
pobres em nutrientes e com deficit hídricos, poderá e nem crescimento exagerado da vegetação nativa
ser uma aliada (se bem manejada) do produtor espontânea. O espaçamento máximo entre faixas,
para reduzir as perdas de solo, água e nutrientes, segundo Dadalto, Lani e Prezotti (1995), depende
além de reduzir custos com capinas e reposição de da declividade e do tipo de solo (Tabela 1).
fertilizantes (Figura 14).
Tabela 1. Espaçamento máximo entre faixas em razão da
35
declividade e tolerância do solo à erosão, na
30 fase de formação e produção da lavoura
Rendimento (sc./ha)
2
Solos com alta tolerância à erosão – solos com características físicas que desfavorecem
ção da copa. a erosão, com elevada profundidade, textura argilosa, boa infiltração d’água e boa
Fonte: Rocha, Prezotti e Dadalto (2000). estabilidade de agregados. Exemplos desse tipo de solo são os Latossolos Vermelhos-
Amarelos da região elevada do interior, que correspondem a cerca de 35% do Estado.
3
Solos com baixa tolerância à erosão – possuem características físicas que favorecem
90%
a erosão, como baixa infiltração d’água, principalmente no horizonte subsuperficial
Porcentagem de redução de perdas
Solo Água
80% (horizonte “B”), e/ou baixa estabilidade de agregados. Podem ser citados como
exemplos os solos da região elevada de clima seco.
70%
60%
50% Outra forma de manejo conservacionista de
40% plantas nativas é através do uso de herbicidas pós-
30% emergentes, que propiciam a formação de uma
20%
cobertura morta tipo mulching, que minimiza os
10%
efeitos da erosão, mantém a umidade do solo por
0%
Três ruas capinadas e a Duas ruas capinadas e a Uma rua capinada e a um período mais prolongado e aumenta o teor de
outra não outra não outra não
matéria orgânica do solo.
Figura 14. Redução das perdas de solo e de água propor-
cionada pelas faixas de vegetação após chuvas Objetivando avaliar a largura das faixas de capim-
de 70,8 mm e 49,6 mm, com duração de 1,5 e braquiária nas entrelinhas do café arábica, Souza et
2,0 horas, ocorridas nos dias 15 e 16/03/1995,
al. (2006) observaram que a largura mínima da faixa
respectivamente.
de controle a ser utilizada foi igual ou superior a 100
Fonte: Adaptado de Lani et al. (1996).
cm de cada lado da linha (área capinada), a fim de
As faixas de vegetação podem ser constituídas de manter as plantas de café livres da interferência de
gramíneas ou de leguminosas que apresentam capim-braquiária. As raízes da braquiária penetram
viabilidade econômica, proporcionando ao mais profundamente no solo, do que as de outras
produtor renda extra. Outros tipos de vegetação plantas. Depois que a braquiária foi estabelecida
que podem ser utilizados são as vegetações naturais na área, é feito o dessecamento com herbicidas, e
que crescem espontaneamente sobre o solo. As as raízes morrem no perfil do solo, o que facilita o
faixas devem estar dispostas em curvas de nível e aprofundamento do sistema radicular do cafeeiro
localizadas nas entrelinhas das plantas de café. a maiores profundidades, permitindo também a
316 Café Conilon – Capítulo 12
melhor infiltração de água, o que reduz a erosão e que, assim, mantêm o mato baixo, cobrindo e
pereniza os córregos e rios. protegendo o solo, sem muita concorrência com
o cafeeiro. Caso seja necessário, efetua-se a capina
somente na linha (trilhação mecânica ou química)
4.7 PLANTIO DIRETO mantendo a rua roçada. Outra opção é usar capinas
A presença de resíduos sobre o solo reduz o rua sim, rua não, alternando a época, sempre
impacto das gotas da chuva e, dessa forma, propicia ficando uma rua coberta e servindo de proteção
a redução do processo erosivo hídrico, mantém as (barreira de mato) para a outra limpa. Conforme a
propriedades físicas do solo e melhora as taxas de necessidade, pode-se capinar 50% das ruas ou mais,
infiltração de água (PANACHUKI et al., 2011). ficando, assim, uma suja ou roçada a cada duas ou
quatro ruas limpas.
Eliminar as operações de movimento do solo
5 MEDIDAS DE CONTROLE DA EROSÃO proporciona melhor qualidade física (FIDALSKI
As medidas de controle da erosão em cafezais et al., 2009) e maior estabilidade de agregados,
podem ser adotadas em duas situações: a) no mantendo o solo mais estruturado e assim,
planejamento e instalação da lavoura; e b) durante potencializando sua capacidade de retenção de
a condução do cafezal. água (PANACHUKI et al., 2011). Além disso, o uso
da roçada das plantas que aparecem entre as linhas
No planejamento, é necessário encarar a de café (nativas) promove formação de palhada
conservação do solo do cafezal de forma mais na superfície. Segundo Panachuki et al. (2011), a
ampla, dentro da microbacia na propriedade, presença de resíduos sobre o solo reduz o impacto
inserindo a lavoura num projeto integrado de das gotas da chuva e, dessa forma, propicia a
aproveitamento e conservação do solo, sem redução do processo erosivo hídrico, mantém as
esquecer a conservação da água e a possibilidade propriedades físicas do solo e melhora as taxas de
de contaminação de nascentes. infiltração de água.
Na implantação da lavoura, são importantes a b) Herbicidas de pós-emergência - utilizados
escolha da área e do sistema de plantio, a marcação sobre o mato, além de evitar o revolvimento do solo,
e o alinhamento adequado. Áreas muito inclinadas, promovem a formação de uma camada (manta ou
acima de 45% de declive, devem ser evitadas, pois, cobertura) de mato morto, que atua no controle à
além de facilitar a erosão, dificultam todos os tratos erosão pela redução no impacto das gotas de chuva
e a colheita. Mesmo assim, deve-se dar preferência, diretamente sobre o solo, pela barreira formada
nessas áreas, ao sistema adensado, que fecha mais contra as enxurradas e pela melhoria na infiltração
rapidamente o terreno. de água através dos canalículos deixados pelo
Durante a condução do cafezal, o plano anual apodrecimento de raízes das ervas.
das práticas, em cada lavoura, deve considerar a c) Renques de vegetação permanente - são
proteção do solo no conjunto dos tratos. indicados para áreas montanhosas, principalmente
As práticas indicadas para controle de erosão são de na fase de formação do cafezal, como auxiliares
dois tipos: vegetativas e mecânicas, as quais devem ou substitutos dos cordões ou valas, cuja abertura
ser usadas em combinação, para maior eficiência e e manutenção são onerosas. Os renques são
economia. plantados em nível, a cada quatro ou seis ruas de
café (de acordo com a declividade), com plantas
próximas formando renques ou barreiras vivas.
5.1 PRÁTICAS VEGETATIVAS Podem ser usados o capim-cidreira, a cana e a
São as mais simples e baratas, das quais podem-se bananeira. Esta última tem os seus troncos, quando
usar as seguintes: cortados os cachos, enleirados contra o declive,
na parte superior das touceiras, aumentando seu
a) Manejo do mato com roçadas, redução e efeito. A erva-cidreira e a cana devem ser cortadas
alternância de capinas - algumas capinas são no período seco, assim reduzindo a concorrência
substituídas por roçadas durante o período chuvoso com o café naquele período, também possibilitando
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 317
Nos cafezais adensados, devido à dificuldade É indicado deixar uma das paredes da caixa com
natural de transitar dentro da lavoura e à menor inclinação, pois alguns animais, silvestres
necessidade de movimentação de maior ou domésticos, que podem cair dentro das caixas,
quantidade de insumos e da safra por área, os terão, assim, condições de sair naturalmente.
carreadores devem ficar mais próximos e, entre
f) Sulcamento em nível: é uma prática temporária,
um pendente e outro, deve-se deixar um ou dois
efetuada nos dois primeiros anos da cultura para
caminhos estreitos para facilitar a entrada ou
auxiliar quando a área ainda está muito descoberta
saída de produtos da lavoura.
(com café novo e pouco mato), que consiste na
c) Cordões em contorno e valetas: são terraços de passagem de sulcadores tratorizados ou, nas áreas
base estreita, em nível ou com ligeira caída a cada declivosas, de arados de boi (aiveca) ou de burro
10 ou 15 m, distância variável com a declividade, (arado pequeno) abrindo sulcos no meio das
tendo largura total (canal + camaleão) de 1 a 3 ruas, em todas elas ou a cada duas ou três ruas,
m. Nas áreas com declividade superior a 30%, é conforme a necessidade, para melhorar a retenção
comum a substituição dos canais por valetas, mais das enxurradas. Quando apresentam escorrimento
estreitas (aproximadamente 30 cm) e fundas (40-50 de água em toda sua extensão, nos trechos que
cm), septadas, abertas com enxadão. Nessas áreas, não ficam nivelados, podem-se evitar problemas
os cordões devem ser locados em desnível de 1 a obstruindo o sulco em alguns pontos. Nas áreas
2%, despejando o excesso de água para canais montanhosas, os sulcos retêm não só o complexo
escoadouros ou para áreas vizinhas ao cafezal, água/solo, como adubos e os detritos produzidos
de pastagem ou floresta, onde essa água fica na lavoura (mato seco, folhagem), melhorando
adequadamente retida. Em áreas mecanizáveis, os a infiltração da água e o aproveitamento dos
cordões estão deixando de ser usados devido ao nutrientes. Nesses casos, principalmente quando
fato de atrapalharem a passagem e a utilização de em solos já duros, degradados, os sulcos, feitos com
equipamentos tratorizados. arado de burro, devem ser abertos mais próximos
e na parte superior da linha de cafeeiros jovens,
d) Canais escoadouros: complementam a ação dos
sendo deslocados na medida em que aumenta o
carreadores e cordões em desnível. Aqueles devem
diâmetro do cafeeiro.
ser protegidos por anteparos de vegetação, tipo
bananeira, napier etc. Fundos grotas ou depressões g) Subsolagem/escarificação: podem ser
do terreno podem ser locados ou aproveitados para utilizadas principalmente em áreas de solo
escoar a água excedente. compactado (na superfície ou subsuperfície) para
melhorar a infiltração de água e, assim, diminuir a
e) Caixas de retenção: também complementam a
erosão. É indicada para esse fim, também antes do
ação de cordões, podendo ser usadas para receber
plantio, nas lavouras em formação e nos carreadores
o excesso de água destes últimos e, ainda, recolher
pendentes para reduzir enxurradas. Também é uma
a água que escorreria pelos carreadores pendentes,
prática útil nos plantios circulares, especialmente
medida muito útil nas áreas montanhosas e que
nos dois primeiros anos da cultura para melhorar
facilita a conservação das estradas (carreadores)
a infiltração da água da própria irrigação. Nesse
dentro da lavoura. As caixas são normalmente
caso, faz-se dois riscos de subsolador margeando a
construídas com retroescavadeiras, nas dimensões
linha de cafeeiros, os quais infiltram rapidamente a
aproximadas de 2 x 2 x 2 m, em número adequado,
água e os adubos através dela aplicados evitando
calculado para atender ao excesso de água
escorrimento e perdas.
produzido na área e sem outro destino (escoadouros
em área vizinha de pasto ou floresta). O número
e a dimensão das caixas varia com a declividade, 5.3 COMBINAÇÃO DE PROCESSOS E PRÁTICAS
com o volume de chuvas, com o tipo de solo e ESSENCIAIS
com a própria disposição das lavouras, as quais
devem ser situadas nos pontos críticos, próximos à Na lavoura de café conilon, é possível adotar várias
interseção de carreadores. Sempre que necessário, alternativas de manejo e conservação do solo, mas
após o período chuvoso, as caixas devem ser para cada caso, é preciso selecionar e aplicar aquelas
limpas e desentupidas, com a retirada da terra. mais adequadas, mais econômicas e de melhor
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 319
eficiência, sendo comum, por isso, associar várias manualmente, com enxadões. Em áreas mais planas
delas na mesma área de lavoura, variando de acordo e nos plantios circulares, sob pivôs, utilizam-se
com o estágio e o sistema de cultivo no cafezal. terraços de base mais larga, também abertos com
arados.
Algumas dessas práticas são, no entanto, essenciais,
como é o caso do plantio em nível e do uso de d) A retroescavadeira ou enxadões (em áreas
renque na linha, o que já dá base e favorece as menores) são empregados na abertura de caixas de
demais práticas. retenção, usadas para absorver o excesso de água
dos cordões, carreadores ou pendentes.
A prioridade de uso de certas práticas, também,
está muito relacionada com o tipo de topografia e e) O subsolador é indicado para melhorar a
consequente manejo, com e sem mecanização. infiltração de água no solo e, assim, reter a água das
enxurradas. Ele é utilizado em cafezais, em áreas,
Para áreas montanhosas, ou não mecanizáveis, são
cujos solos apresentam camadas compactadas.
prioritários, o plantio adensado, o uso de roçadas
do mato e/ou de herbicidas de pós-emergência e,
nos primeiros anos, renques de vegetação, sulcos
e valetas, além de culturas intercalares auxiliares.
7 SUBSOLAGEM
Deve-se ainda vegetar os carreadores e fazer caixas A subsolagem é uma operação eventual na lavoura
de retenção para melhor conservação das estradas. cafeeira, realizada somente quando necessária,
consistindo na passagem de equipamento
Para áreas mecanizáveis, as prioridades são o plantio
(subsolador ou escarificador) para eliminar
em renque, os carreadores em nível, a roçada do
problemas de camadas adensadas do solo, as
mato durante o período chuvoso, complementada
quais dificultam a penetração de água, reduzem o
por herbicidas de pós-emergência. Nos primeiros
arejamento do solo e o desenvolvimento do sistema
anos, auxiliar com sulcos no meio das ruas.
radicular das plantas de café.
da saia. Quando a distância entre as linhas de café problema. Pode, também, ser feita nos carreadores,
for maior, usa-se apenas uma haste passando de especialmente nos pendentes e junto às linhas de
um lado da fileira de cada vez. cafeeiros jovens.
O equipamento sulcador pode funcionar,
eventualmente, na subsolagem, sendo necessário,
para isso, retirar as duas “asas” laterais.
8 PREVENÇÃO DE PROBLEMAS DE
ADENSAMENTO
Em cafezais onde o adensamento é mais superficial,
causado pela passagem sucessiva dos tratores com Grande parte dos solos denominados Tabuleiros
maquinário, pode-se usar o subsolador regulado Costeiros (formados do Grupo Barreiras)
para aprofundar menos (20-30 cm), para romper predominantemente Argissolos, naturalmente
a crosta do terreno ou, então, empregar um pobres em nutrientes, são planos e pouco
escarificador. permeáveis e apresentam adensamentos
dificultando a penetração das raízes e da água.
Para as lavouras de café adultas, com menor espaço Esses solos não são adequados para receber uma
para a passagem de maquinário, são usados mecanização intensiva, sendo mais apropriados
tratores cafeeiros, estreitos. Assim, deve-se operar para as culturas perenes (LANI et al., 2008). Assim,
subsoladores adequados, mais leves. é recomendável que se mantenha a cobertura
Na lavoura de café, o mais indicado é a subsolagem vegetal minimizando os problemas de degradação
na projeção da saia e de um lado da fileira de do solo (SALES, 2012).
cada vez, pois o rompimento de raízes, dos dois Existem algumas medidas auxiliares, preventivas,
lados, de uma só vez, pode prejudicar a planta, no plantio da lavoura ou no seu manejo que evitam
principalmente se demorar a chover. ou reduzem, nas áreas sujeitas, os problemas com
Não existem trabalhos de pesquisa que mostrem adensamento do solo, nas lavouras de café, sendo
a melhor frequência da prática da subsolagem, principais as seguintes:
mas verifica-se, na prática, que ela não deve ser a) Escolha da área - deve-se escolher, para plantio
feita anualmente como alguns produtores fazem. de café, áreas sem problemas de adensamento
Pode-se efetuar a operação de um lado num ano, evitando, nessas áreas, os terrenos de chapada,
no outro lado no ano seguinte e, depois, de acordo excessivamente planos. Os terrenos de encosta,
com a necessidade, repeti-la a cada período de dois com mais de 5% de declividade, favorecem a
a quatro anos. percolação e escorrimento lateral do excesso de
A época ideal de subsolar é após o período de água. Deve-se evitar, também, áreas de solo muito
colheita e o mais próximo do período chuvoso argiloso e mal estruturado.
(setembro-outubro). Para que o serviço fique bem b) Aração profunda - uma aração mais profunda no
feito, ou seja, para que o “garfo” rompa, em blocos, o preparo, antes do plantio, pode reduzir problemas
solo, é preciso que este último esteja seco ou pouco de adensamento.
úmido. Com o solo bem úmido, o “garfo” faz um
rasgo liso na terra, sem rompê-lo adequadamente. c) Subsolagem no sulco - subsolar, com três hastes,
sobre o sulco de plantio aberto, já reduz bastante o
Sempre que houver necessidade de aplicar insumos problema, pois o sistema radicular primário (“pião”)
que descem pouco em profundidade no solo, como já pode descer na abertura deixada. Em caso de
o calcário, cálcio (Ca), magnésio (Mg) e o fósforo (P) preparo manual, fazer covas grandes e profundas.
e a subsolagem for utilizada, é recomendado aplicar
esses insumos logo após a subsolagem, de forma d) Pouco revolvimento do solo - adotar este
que parte deles possa aprofundar melhor no solo procedimento durante os tratos, usando o mínimo
através da abertura feita pelo subsolador. possível os implementos desintegradores, como
grade, rotativa, etc.
Quando usada como auxiliar na infiltração de água
e controle da erosão, a subsolagem deve ser feita e) Redução do uso de implementos mecanizados
com um “garfo” no meio das ruas da lavoura, de - evitando muitas passadas de trator no ano. Uma
forma alternada ou não, conforme a gravidade do boa opção para isso é o uso de herbicidas e, ainda,
322 Café Conilon – Capítulo 12
a aplicação de defensivos via solo. Evitar alguns práticas de convivência com o uso de métodos
tratos, como capinas mecanizadas, com solo úmido. biológicos, como a utilização de espécies e
variedades mais resistentes à estiagem. O autor
f) Uso de material orgânico sempre que possível
salienta que o pequeno agricultor tende a usar com
para melhorar as condições físicas do solo.
mais frequência essas práticas de convivência.
g) Adensamento da lavoura - os cafeeiros mais
No caso das cultivares de café conilon,
juntos têm um melhor equilíbrio raiz/parte aérea
provavelmente não existe uma característica
(= produção) e, nesse sistema, os prejuízos, devido
isolada que confere tolerância à seca. A combinação
a camadas endurecidas, são menos sentidos. Além
de fatores, como a eficiência de extração de água
disso, ocorre uma maior formação de resíduos
do solo, sistema radicular profundo e a área foliar
orgânicos e a passagem de maquinário não é
podem favorecer a escolha de materiais genéticos
necessária.
mais adaptados ao deficit hídrico (FERRÃO et al.,
h) Manejo do mato - deve ser feito com herbicidas 2007; RONCHI; DAMATTA, 2007).
pós-emergentes para formar canalículos ao longo
do perfil do solo, após a morte das raízes das ervas.
10 MANEJO DA LAVOURA
A potencialização do uso de espécies adaptadas e O manejo de cafezais pode ser definido como a
tolerantes à seca, a captação de água da chuva e o forma de combinar e executar os tratos culturais no
manejo da cobertura vegetal são tecnologias que cafezal. Envolve, assim, o modo e a época de fazer,
contrapõem a idéia de combate à seca, demonstram ou seja, como, quando e onde executar os tratos ou
que as estiagens são fenômenos naturais periódicos práticas culturais.
que não se devem combater, mas com as quais é O manejo compreende dez práticas culturais,
possível conviver (BARROS, 2014). O convívio com divididas em dois tipos: as rotineiras, feitas
as condições meteorológicas adversas é um desafio usualmente por todos os produtores, e as eventuais
de implementar práticas adequadas aos ambientes realizadas em níveis e épocas diferenciadas, entre
agrícolas. os produtores.
As práticas rotineiras usadas no manejo de cafezais
a) Plantios de cultivares tolerantes à seca são: o controle do mato e a colheita/preparo. As
práticas consideradas eventuais são: a adubação/
Cultivar alimentos utilizando menor quantidade de calagem, o controle de pragas/doenças, o controle
água e terra, guardando sementes crioulas/locais à erosão, a irrigação, a subsolagem e a combinação
que priorizem a resistência a períodos de deficit de cultivos. Muitas dessas práticas “eventuais”, isso
hídrico e mantenham a biodiversidade, tem sido mesmo, entre aspas, são, hoje, práticas obrigatórias,
um desafio para milhares de famílias agricultoras tais como a adubação, imprescindível em solos
que vivem em regiões onde as mudanças do pobres.
clima estão cada mais perceptíveis. As tecnologias
sociais para guardar e resgatar sementes, água e Um grupo de práticas é considerado prioritário
alimento para famílias e animais domésticos vêm diante da sua maior influência na produtividade
sendo disseminadas como medidas preventivas e nos custos de produção, bem como sobre a
pelos programas da Articulação do Semiárido e de qualidade do produto. Esse grupo destaca a
outras organizações, que atuam na região onde adubação/calagem, o controle de pragas/doenças,
ocorrem secas periódicas (KOBIAMA et al., 2006; a irrigação, as podas e a colheita/preparo.
AGROBIODIVERSIDADE, 2015).
Resende (1998) refere-se à irrigação como prática 10.2 PLANTAS DANINHAS E SEU CONTROLE
de redução do problema da seca e exemplifica as
O mato é constituído pelas ervas que crescem no
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 323
meio das lavouras de café, aproveitando as áreas acéticos), ácidos responsáveis pela disponibilização
livres disponíveis nos cafezais, especialmente de nutrientes em formas mais acessíveis (a elas e aos
nas lavouras jovens, nas podadas e naquelas cafeeiros), especialmente para P e zinco (Zn).
conduzidas em renque abertos. No entanto, a
Nos cafezais adensados, já a partir do terceiro
população de ervas fica reduzida à medida que
e quarto anos, as ervas daninhas ficam muito
ocorre o fechamento ou adensamento das lavouras.
reduzidas, o mesmo ocorre em lavouras arborizadas.
O mato é formado por plantas herbáceas, chamadas
de ervas ou plantas daninhas, ou plantas invasoras
da cultura econômica, que, no caso, é o cafezal. 10.4 ÉPOCAS DE CONTROLE
O mato representa, por um lado, uma concorrência Quando se utiliza o sistema de plantio convencional
em água, luz e nutrientes com os cafeeiros. Por com aração e gradagem e o controle de plantas
outro lado, ele traz benefícios na proteção do solo daninhas é feito pelo método mecânico, as capinas
e na reciclagem de nutrientes. Assim, o mato deve provocam a movimentação da camada mais
ser manejado e controlado para reduzir os prejuízos superficial do solo em períodos normalmente de
que causa aproveitando, no entanto, as vantagens maior precipitação pluvial, favorecendo o processo
que as ervas oferecem ao solo e ao ambiente. Por erosivo. Assim, recomenda-se a redução do uso das
isso que, dentro do conceito atual, o termo controle capinas, as quais devem ser efetuadas somente nas
do mato deve ser entendido como manejo das faixas próximas à linha das plantas, com manejo
plantas invasoras. da faixa central das entrelinhas, principalmente
quando se utilizam maiores espaçamentos, ou
O hábito de rápido crescimento das ervas daninhas então que as plantas daninhas sejam controladas
e a agressividade do seu sistema radicular com o uso de herbicidas.
desfavorecem o cafeeiro na competição com o mato.
O controle deve ser feito para eliminar o mato
na época em que as ervas invasoras mais
10.3 BENEFÍCIOS DAS PLANTAS INVASORAS concorrem com o cafeeiro, a qual, coincide com
(MATO) o desenvolvimento e a granação dos frutos.
O mato traz benefícios pela melhoria das condições No Espírito Santo, isso ocorre no período entre
físicas, químicas e biológicas do solo. novembro e abril, principalmente de dezembro a
fevereiro. A partir de abril, com a escassez de chuvas
As ervas aproveitam e reciclam resíduos de e diminuição da temperatura, o mato fica reduzido.
nutrientes, revertidos ao solo pela decomposição A manutenção da área limpa, nesse período, é
do material orgânico formado, o que facilita o uso essencial para facilitar a colheita.
de nutrientes pelos cafeeiros.
O sistema radicular, profundo e bem distribuído
de algumas ervas pode absorver nutrientes de 11 RECUPERAR CAFEZAIS É UMA
camadas mais profundas do solo colocando-os em NECESSIDADE
disponibilidade na superfície. A lavoura cafeeira no Brasil melhorou muito nas três
O mato cobre o solo, aumentando a proteção últimas décadas, depois da renovação promovida
contra a erosão e o excesso de temperatura. Ocorre nos cafezais, havendo incorporação de novas
maior infiltração de água no solo pelos canalículos tecnologias, com variedades mais produtivas, novos
deixados pelas raízes podres das ervas (ocorrendo sistemas de plantio e de tratos mais adequados,
uma maior capilaridade do solo). com maior profissionalismo dos cafeicultores. No
entanto, persistem problemas, ainda em boa parte
As plantas daninhas podem ser aproveitadas como
das áreas, provocados pelo envelhecimento das
quebra-vento, especialmente no pós-plantio e na
plantas, pelo fechamento da lavoura e por maus
lavoura jovem de cafezal, através da manutenção
tratos, agravados pelos problemas de pragas e
do mato em uma faixa central da rua da lavoura. As
doenças e por anormalidades climáticas levando ao
raízes das ervas exudam ácidos orgânicos de baixo
desgaste da planta e do solo (MATIELLO, 2015).
peso molecular (cítrico, oxálico, málico, butírico,
324 Café Conilon – Capítulo 12
Desse modo, o cafeicultor, sempre que possível, somente continuar a dispensar os tratos normais; as
assessorado por técnico experiente, precisa, recuperáveis, nais quais é preciso efetuar práticas
anualmente, efetuar uma análise de suas lavouras especiais de recuperação e; aquelas nas quais a
para verificar a necessidade de recuperação dos recuperação não compensa, devendo, assim, ser
talhões problemáticos visando a um conjunto mais eliminadas e substituídas por novas lavouras.
produtivo nas suas lavouras de café. Deve ter em
mente que, aquelas lavouras ruins, improdutivas,
comprometem o lucro das demais. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos talhões, visando a verificar sua Várias são as ações que poderão ser utilizadas
condição e a necessidade ou não de recuperação, em conjunto visando à preservação ambiental.
passa pelo exame de três grupos de fatores a É importante a sensibilização de todos os
recuperar – o solo, as plantas e o ambiente. produtores, principalmente daqueles ligados a
pequenas comunidades situadas em microbacias
No solo - a avaliação deve se basear na análise
hidrográficas. As práticas de preparo, manejo e
química e, eventualmente, na verificação de
conservação do solo realizadas de forma integrada
impedimentos físicos. Os resultados obtidos vão
conferem maior sustentabilidade à cafeicultura. O
indicar o uso de corretivos adequados para formar
solo é um recurso natural não renovável, essencial e
a base para o desenvolvimento dos cafeeiros
que precisa ser explorado racionalmente, de modo
e para melhor funcionamento da nutrição em
a preservar sua capacidade produtiva e ainda ser
seguida. Nesse aspecto, o mais comum tem sido
recuperados caso tenham sido degradados pelo
o fornecimento de calcário ou outro material
uso e manejo inadequados.
corretivo de boa reatividade para o curto prazo
exigido promovendo, ainda, o equilíbrio nas
bases Ca, Mg e potássio (K). Em alguns casos, a
13 REFERÊNCIAS
subsolagem pode, também, ser necessária.
AGROBIODIVERSIDADE: uso e gestão
Nas plantas - o histórico da produtividade da área compartilhada no semiárido mineiro. Revista do
é muito importante, devendo-se considerar, ainda, Projeto FAO/CAA-NM (PR-26-Brazil). Disponível
a variedade, a idade dos cafeeiros, o espaçamento/ em: <http://issuu.com/aico/docs/revista_caa_-_
alinhamento, as falhas e a localização adequada. Os final_48pgs_simples>. Acesso em: 16 abr. 2016.
aspectos de pragas/doenças do sistema radicular BARROS, B. L. A. Conservação da agrobiodiversidade
e a estrutura vegetativa das plantas, a presença de por comunidades camponesas do Vale do
hastes em excesso, a ausência de ramagem lateral Jequitinhonha, MG. Trabalho de Conclusão de
e a má-formação ou “acinturamento” da copa Curso. 43f. (Graduação em Engenharia Florestal).
Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade
devem, também, ser analisados. Na recuperação Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri,
das plantas, são indicadas podas corretivas, Diamantina, MG: 2014.
controles de problemas sanitários nas raízes e,
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do
eventualmente, replantios/repovoamentos. solo. Piracicaba, SP: Livroceres, 1985. 392 p.
No ambiente - deve ser analisado o balanço hídrico, CHAVES, J. C. D. Manejo do solo, adubação e
para verificar a condição de disponibilidade de água calagem, antes e após a implantação da lavoura
para as plantas avaliando, caso haja problemas sérios cafeeira. Circular n. 120. Londrina, PR: IAPAR, 2002.
de estresse hídrico, a possibilidade de implantação 36 p.
da irrigação, sempre que possível, devendo-se optar CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento.
por uma irrigação suplementar, mais econômica. Na Acompanhamento da Safra Brasileira Café Safra.
condição de altas temperaturas, deve-se plantar Quarta estimativa, Dez/2015/Companhia Nacional
variedades mais adaptadas, além de utilizar de Abastecimento. Brasília: CONAB, 2015.
irrigação e, em último caso, arborização. DADALTO, G. G.; LANI, J. A.; PREZOTTI, L. C.
Conservação do solo. In: COSTA, E. B. da (Coord.).
A avaliação conjunta dos fatores – do solo, das Manual técnico para a cultura do café no Estado do
plantas e do ambiente – é essencial para a definição Espírito Santo. Vitória, ES: SEAG-ES, 107-110, 1995.
de três tipos de lavouras: as boas, nas quais se deve DADALTO, G. G.; BARBOSA, C. A. Macrozoneamento
Preparo, Manejo e Conservação do Solo em Lavouras de Café Conilon 325
13
Nutrição do Cafeeiro Conilon
Scheilla Marina Bragança, Luiz Carlos Prezotti e José Antônio Lani
Assim, este capítulo visa a comentar aspectos A alocação desses nutrientes depende da
relacionados à nutrição e adubação destacando os distribuição de matéria seca e dos teores de
resultados de pesquisas alcançados para o cafeeiro nutrientes. Quando ocorre um aumento em
conilon. tamanho, a proporção de matéria seca de
folhas diminui enquanto a proporção de caule e
* Enxofre (S); Ferro (Fe); Manganês (Mn); Zinco (Zn; Cobre (Cu).
328 Café Conilon – Capítulo 13
casca aumenta (KOZLOWSKI; PALLARDY, 1996). para algumas espécies, os quais estão relacionados
Consequentemente, o conteúdo de minerais aos decréscimos na taxa assimilatória líquida e na
nessas partes também deve acompanhar esse razão de área foliar. Esses resultados evidenciam
comportamento. a necessidade fisiológica da prática da poda do
cafeeiro conilon associada à fertilização.
Embora haja um padrão biológico distinto de
absorção dos nutrientes pelo cafeeiro, em função Salienta-se que os resultados referentes às taxas de
das fases fenológicas e do tipo de órgão amostrado acúmulo de nutrientes pelo cafeeiro conilon podem
(CATANI; MORAES, 1958; CATANI et al., 1965, 1967; ser utilizados, numa primeira aproximação, como
CORREA; GARCIA; COSTA, 1985; CHAVES; SARRUGE, subsídio aos cálculos das doses de adubos para
1984; SILVEIRA; CARVALHO, 1996; BRAGANÇA, lavouras fertirrigadas.
2005; BRAGANÇA et al., 2007, 2008, 2010), de modo
geral, a quantidade acumulada de nutrientes pelo
conilon é crescente com a idade (Tabelas 1 e 2),
acompanhando a curva de acúmulo do peso da
matéria seca (Figura 1). Assim, as quantidades
de nutrientes a serem fornecidas na forma de
fertilizantes devem ser crescentes em função da
idade e do manejo das plantas.
3 NUTRIENTES
Orgãos vegetativos/1
Mn 4,38 5,95 19,50 34,83 54,22 144,67 130,94 192,08 344,51 551,87 627,67 524,95 480,03 492,88 652,80 770,55 1325,52 1407,07 696,96 776,90 981,49 1445,65 1014,55 1063,57
B 1,82 1,71 5,03 6,85 41,02 105,45 91,66 78,60 112,31 116,93 140,39 131,01 110,49 160,47 174,81 111,50 222,43 314,76 281,51 372,26 249,84 299,59 146,79 342,24
Cu 0,37 0,32 1,39 2,77 12,69 25,34 66,51 60,45 50,01 49,53 55,98 42,96 36,17 50,96 62,51 57,76 91,26 158,51 60,32 69,70 45,63 183,77 83,84 96,08
N 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,76 0,00 6,09 12,72 57,02 0,00 0,00 65,45 110,41 0,00 0,00 47,29 108,56 0,00 0,00 55,81 189,73 0,00 14,82
P 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,20 0,00 0,32 0,78 3,00 0,00 0,00 4,05 5,58 0,00 0,00 3,17 5,44 0,00 0,00 3,81 9,42 0,00 0,92
K 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,61 0,00 4,11 10,74 53,72 0,00 0,00 71,29 109,85 0,00 0,00 44,22 103,34 0,00 0,00 39,59 177,64 0,00 8,57
Ca 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,00 0,00 1,32 2,32 9,08 0,00 0,00 39,96 33,41 0,00 0,00 4,11 23,62 0,00 0,00 7,08 40,81 0,00 7,75
Mg 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,18 0,00 0,45 0,82 2,56 0,00 0,00 7,40 9,59 0,00 0,00 2,99 7,12 0,00 0,00 4,11 12,45 0,00 2,09
S 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,14 0,00 0,28 0,57 3,29 0,00 0,00 3,55 6,13 0,00 0,00 3,69 3,39 6,04 0,00 4,31 10,56 0,00 0,95
Fe 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 44,29 0,00 78,10 74,88 92,60 0,00 0,00 301,28 334,41 0,00 0,00 150,63 244,23 0,00 0,00 125,63 439,88 0,00 275,29
(frutos coco)
Zn 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,56 0,00 4,14 4,60 23,24 0,00 0,00 39,98 47,35 0,00 0,00 13,71 45,74 0,00 0,00 11,14 80,18 0,00 5,88
Orgãos reprodutivos/2
Mn 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 4,76 0,00 13,37 27,07 74,83 0,00 0,00 51,46 208,82 0,00 0,00 9,54 165,70 0,00 0,00 71,25 283,30 0,00 58,62
B 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3,54 0,00 7,43 11,59 55,27 0,00 0,00 129,92 147,29 0,00 0,00 19,93 125,27 0,00 0,00 28,99 209,12 0,00 10,58
Cu 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 1,73 0,00 8,90 11,80 47,34 0,00 0,00 50,76 93,82 0,00 0,00 35,98 91,82 0,00 0,00 26,56 160,05 0,00 9,53
N 0,90 1,01 3,49 4,71 15,46 24,93 25,30 55,49 78,26 140,23 96,71 91,55 140,53 197,42 116,86 114,89 199,16 320,58 147,92 277,00 259,37 406,35 166,41 226,69
P 0,05 0,06 0,22 0,28 1,12 2,27 1,86 2,68 4,25 6,84 3,69 3,47 6,82 8,87 4,61 4,70 10,31 16,41 9,42 14,06 15,48 22,27 6,28 12,77
K 0,68 0,71 2,22 3,53 9,17 21,74 23,23 35,56 49,19 115,34 50,77 55,13 112,60 160,19 55,16 67,06 128,53 229,91 81,73 129,96 149,06 304,57 71,21 115,09
Ca 0,33 0,45 1,72 2,80 9,31 19,48 14,93 27,46 36,12 44,70 46,72 53,64 93,99 80,67 97,26 67,52 85,72 207,04 98,12 143,53 143,12 206,98 172,54 226,91
Mg 0,13 0,14 0,53 0,59 2,75 4,72 3,39 6,19 8,80 12,54 10,87 11,56 16,79 22,01 15,62 15,59 22,01 31,42 24,78 27,48 29,72 44,75 36,32 44,91
S 0,10 0,09 0,39 0,38 1,17 2,62 1,81 3,87 4,74 10,27 5,25 6,75 9,05 13,40 8,50 12,54 20,97 20,05 20,05 60,45 58,09 31,76 15,82 19,82
Total
Fe 17,59 13,52 97,44 98,40 472,43 963,65 783,72 1144,32 2140,68 1271,50 2192,01 2874,34 2083,45 3127,10 2044,79 3914,14 5986,35 5863,24 3540,44 3686,30 3354,22 4351,99 5215,60 5432,88
Zn 2,23 4,44 6,09 10,11 21,68 17,54 62,99 75,08 98,93 141,70 178,39 137,08 177,97 194,14 154,47 230,22 226,45 386,19 148,51 282,39 145,27 250,38 237,06 234,05
Mn 4,38 5,95 19,50 34,82 54,22 149,42 130,93 205,44 371,58 626,70 627,67 524,94 631,50 701,70 652,81 770,55 1435,05 1572,77 696,97 776,90 1052,74 1728,95 1014,56 1122,19
B 1,82 1,71 5,03 6,85 41,02 109,00 91,66 86,03 123,90 172,21 140,39 131,02 240,40 307,75 174,81 111,50 242,36 440,03 281,51 372,26 278,82 508,72 146,79 352,82
Cu 0,40 0,34 1,51 3,34 14,58 29,59 85,13 89,83 87,29 109,21 78,04 65,07 100,89 156,86 86,16 79,16 147,80 287,74 74,11 84,48 79,50 376,50 98,54 123,86
Produ-
tivida- 52 102 106 200
de3/
329
330 Café Conilon – Capítulo 13
Tabela 2. Acúmulo estimado de nutrientes por plantas de cafeeiro conilon em diferentes épocas, após o transplantio1/
Macronutrientes (g) Micronutrientes (mg)
Mês
N P K Ca Mg S Fe Zn Mn B Cu
3 9,24 0,43 5,85 10,97 2,15 0,49 304,37 7,46 65,15 19,71 0,00
6 11,90 0,54 7,74 12,58 2,52 0,64 373,20 10,67 80,49 24,94 0,00
9 15,29 0,69 10,20 14,43 2,94 0,84 456,15 15,17 99,09 31,44 0,01
12 19,57 0,88 13,36 16,54 3,43 1,10 555,42 21,38 121,49 39,43 0,14
15 24,92 1,12 17,38 18,95 4,00 1,44 673,24 29,82 148,20 49,13 2,65
18 31,56 1,41 22,39 21,71 4,66 1,88 811,71 40,96 179,72 60,77 32,60
21 39,67 1,77 28,51 24,86 5,43 2,43 972,58 55,18 216,44 74,49 80,60
24 49,42 2,20 35,80 28,45 6,30 3,12 1.156,96 72,54 258,56 90,34 87,40
27 60,93 2,73 44,21 32,55 7,30 3,98 1.365,07 92,65 306,06 108,27 87,80
30 74,19 3,34 53,60 37,21 8,45 5,02 1.595,93 114,56 358,61 128,03 87,80
33 89,08 4,06 63,66 42,52 9,75 6,25 1.847,13 136,88 415,51 149,20 87,80
36 105,31 4,86 74,01 48,55 11,21 7,67 2.114,82 158,13 475,70 171,22 87,80
39 122,44 5,74 84,20 55,39 12,86 9,26 2.393,79 177,09 537,84 193,42 87,80
42 139,93 6,69 93,83 63,13 14,70 10,98 2.677,86 193,05 600,39 215,11 87,80
45 157,16 7,67 102,56 71,87 16,73 12,76 2.960,37 205,85 661,76 235,66 87,80
48 173,58 8,66 110,19 81,73 18,97 14,54 3.234,79 215,72 720,51 254,57 87,80
51 188,72 9,62 116,66 92,81 21,40 16,26 3.495,36 223,09 775,41 271,52 87,80
54 202,27 10,53 121,99 105,23 24,01 17,85 3.737,46 228,47 825,58 286,35 87,80
57 214,08 11,37 126,29 119,11 26,81 19,27 3.957,92 232,34 870,49 299,05 87,80
60 224,12 12,11 129,70 134,57 29,75 20,50 4.155,00 235,09 909,98 309,73 87,80
63 232,50 12,76 132,35 151,70 32,81 21,54 4.328,33 237,02 944,13 318,58 87,80
66 239,37 13,32 134,40 170,62 35,96 22,39 4.478,56 238,37 973,27 325,82 87,80
69 244,93 13,78 135,97 191,40 39,16 23,09 4.607,16 239,31 997,83 331,68 87,80
72 249,38 14,17 137,16 214,10 42,37 23,64 4.716,05 239,96 1018,32 336,39 87,80
Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2007, 2008, 2010).
1/
Experimento não irrigado. Espaçamento: 3,0 x 1,5 m. Produtividade: 30º mês: 52 sc. benef./ha; 42º mês: 102 sc. benef./ha; 54º mês: 106 sc. benef./ha; 66o mês: 200 sc. benef./ha.
Dados estimados, obtidos por estudo de regressão.
Tabela 3. Taxas estimadas de acúmulo de nutrientes por plantas de cafeeiro conilon em diferentes épocas, após o
transplantio1/ (continua)
(conclusão)
3.2 CÁLCIO
Atua como mensageiro secundário nas respostas
das plantas a vários tipos de estímulos externos, 31%
2%
como luz, temperatura, hormônios, sais minerais e 20%
estímulos mecânicos. É essencial na divisão celular,
N P K Ca Mg S
na estabilidade da parede celular e no controle
da permeabilidade da membrana plasmática Figura 4. Partição de macronutrientes no cafeeiro
(BUCHANAN; GRUISSEN; JONES, 2000; TAIZ; conilon, aos 72 meses de idade.
Fonte: Bragança (2005).
ZEIGER, 2009; MARSCHNER, 2012). Adquirido
332 Café Conilon – Capítulo 13
inicialmente pelas raízes, a maior parte do Ca é Em C. arabica, vários autores (CATANI; MORAES,1958;
transportada via xilema embora o restante possa CATANI et al.,1965; CORREA; GARCIA; COSTA,
ser conduzido pelo floema. Depois de localizado 1985; CIETTO; HAAG; DECHEN, 1991b) também
nas folhas, o Ca torna-se imóvel. Dessa forma, os constataram que o Ca acumula-se em maior
sintomas de deficiência incluem clorose marginal proporção nas folhas e em menor quantidade nos
e internerval das folhas mais novas, assim como frutos, confirmando sua característica de baixa
diminuição do crescimento dos meristemas apicais mobilidade no floema. De acordo com Malavolta
(Figura 6). (1986), as quantidades de Ca nas raízes, caules e
ramos são da mesma magnitude que as de K; nas
folhas, é aproximadamente a metade, enquanto nos
frutos, a quantidade de Ca é por volta de 25% em
relação ao K.
3.3 POTÁSSIO
Além do seu importante papel na síntese de
proteína e regulação do potencial osmótico
Figura 5. Acúmulo total e taxa de acúmulo de N pelo das células, o K é também ativador de várias
cafeeiro conilon, em função da idade.
enzimas envolvidas na respiração e fotossíntese
Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2008).
(BUCHANAN; GRUISSEN; JONES, 2000; TAIZ;
ZEIGER, 2009; MARSCHNER, 2012). O seu papel
É o segundo nutriente mais acumulado pelo
na biossíntese de amido, através da ativação da
cafeeiro conilon, com percentual de 31% do
sintase do amido, é fundamental na obtenção
total de macronutrientes distribuídos entre os
de altos índices de colheita. Durante a formação
diversos órgãos (Figura 4). Em uma planta com
dos frutos, há decréscimo no teor de amido dos
seis anos de idade, é acumulado na quantidade
ramos e das folhas, sendo tanto mais intenso
de 215 g, aproximadamente, o que equivale a uma
quanto maior a produção, podendo esgotar-se
imobilização de 475,7 kg ha-1 de Ca. Em lavouras
antes do amadurecimento dos frutos. A correlação
conduzidas em livre crescimento, a taxa de acúmulo
entre o teor de amido e produção evidencia a
de Ca pelo conilon aumenta progressivamente até
importância do K na fisiologia do cafeeiro (RENA;
os 72 meses de idade (Figura 7), alcançando valor
CARVALHO, 2003). Um dos efeitos metabólicos
máximo de 22,70 g mês-1. Do total de Ca acumulado
de sua deficiência é a acumulação nos tecidos
entre os órgãos do conilon, aproximadamente,
de carboidratos solúveis e de açúcares redutores
33% são alocados para as folhas, 28% para o
(CARVAJAL, 1984). O sintoma de deficiência é
tronco + ramos ortotrópicos, 21% para os ramos
caracterizado pela necrose ou escurecimento das
plagiotrópicos, 9% para as raízes e 9% para os frutos
bordas das folhas mais velhas (Figura 8).
(BRAGANÇA, 2005; BRAGANÇA et al., 2008).
Figura 8. Sintoma de deficiência de K em cafeeiro Figura 9. Acúmulo e taxa de acúmulo de K pelo cafeeiro
conilon. conilon, em função da idade.
Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2008).
A exigência do cafeeiro conilon em relação a
esse nutriente aumenta com a idade, sendo
particularmente intensa quando a planta atinge a
fase de produção. Após o N e o Ca, o K é o terceiro
nutriente mais acumulado pelo conilon, com 20 %
do total de macronutrientes distribuídos entre os
diversos órgãos da planta (Figura 4). Em uma planta
de seis anos de idade, a quantidade acumulada é de
aproximadamente 137 g de K, equivalendo a uma
imobilização de 305 kg ha-1 de K (Figura 9). Do total
de K acumulado na planta, 30% são alocados para
as folhas, 25% para o tronco + ramos ortotrópicos,
19% para os frutos, 14% para as raízes e 12% para
os ramos plagiotrópicos. Em lavouras conduzidas Figura 10. Sintomas de deficiência de Mg em cafeeiro
em livre crescimento, a taxa de acúmulo de K pelo Conilon.
conilon (Figura 9) aumenta até alcançar 10,35 g Foto: José Sebastião Machado da Silveira.
ortotrópicos, 15% para os ramos plagiotrópicos (Figura 4). Aos seis anos de idade o cafeeiro
e 7% para os frutos. Em lavouras conduzidas conilon acumula, aproximadamente, 24 g/planta,
em livre crescimento, a taxa de acúmulo de Mg, correspondendo a uma imobilização de 52,53 kg ha-1
considerando-se toda a planta, é crescente até os 72 de S (Figura 13). Do total de S acumulado na planta,
meses de idade (Figura 11), alcançando 3,21 g mês-1 31% são alocados nas folhas, 24% nas raízes, 21% no
(BRAGANÇA, 2005; BRAGANÇA et al., 2008). tronco + ramos ortotrópicos, 16% nos frutos e 8%
nos ramos plagiotrópicos. Em lavouras conduzidas
em livre crescimento, a taxa de acúmulo de S
(Figura 13) aumenta progressivamente, alcançando
1,78 g mês-1, no 45o e 48o mês, diminuindo a seguir
(BRAGANÇA, 2005; BRAGANÇA et al., 2008).
3.5 ENXOFRE
Figura 13. Acúmulo e taxa de acúmulo de S pelo cafeeiro
Uma das principais funções do S nas plantas é ser conilon, em função da idade.
constituinte dos aminoácidos cisteína e metionina, Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2008).
essenciais à biossíntese de proteínas e à atividade
de certas enzimas. É componente de inúmeras
coenzimas e grupos prostéticos, essenciais ao 3.6 FÓSFORO
ciclo de Krebs, além de ser constituinte de várias É fundamental como componente dos ácidos
moléculas envolvidas na transferência de elétrons nucleicos, fosfolipídeos, coenzimas e outros
e estrutura das membranas celulares (BUCHANAN; compostos fosforilados. Desempenha importante
GRUISSEN; JONES, 2000; TAIZ; ZEIGER, 2009; papel nos processos de transferência de energia nas
MARSCHNER, 2012). Os sintomas de deficiências células, sendo constituinte molecular da adenosina
se iniciam entre as nervuras das folhas mais jovens, trifosfato (ATP) (BUCHANAN; GRUISSEN; JONES,
que se tornam cloróticas (Figura 12). 2000; TAIZ; ZEIGER, 2009; MARSCHNER, 2012).
Apresenta alta mobilidade no floema, razão pela
qual os sintomas de deficiência se manifestam
nas folhas, mais velhas, que apresentam manchas
púrpuras entre as nervuras. Dessa forma, sob
deficiência de P, o crescimento, o desenvolvimento
e a produção do cafeeiro são comprometidos. De
fato, esse aspecto foi constatado em condições
de campo por Bragança et al. (1995a), em que o
fornecimento desse nutriente, no plantio e na fase
Figura 12. Sintoma de deficiência de S em cafeeiro
de formação do cafeeiro conilon, proporcionou
conilon. acréscimo de 376% na produtividade em relação ao
Foto: Francisco Felner. tratamento sem P.
É o macronutriente menos acumulado pelo
É o quinto nutriente mais acumulado pelo conilon, cafeeiro conilon, com percentual de 2% do total
com percentual de 3% do total de macronutrientes de macronutrientes distribuídos entre os diversos
distribuídos entre os diversos órgãos da planta órgãos (Figura 4). Uma planta com seis anos de idade
Nutrição do Cafeeiro Conilon 335
acumula cerca de 14,17 g de P, imobilizando 31,48 (2005) e Bragança et al. (2007), o Fe foi o mais acu-
kg ha-1 de P (Figura 14). Em lavouras conduzidas mulado pelo cafeeiro conilon, com percentual de
em livre crescimento, a taxa total de acúmulo de P 74% do total (Figura 17). Uma planta com seis anos
para o cafeeiro conilon aumenta até alcançar 0,99 g de idade acumula, aproximadamente, 4.716 mg de
mês-1, no 48o mês, diminuindo a seguir (Figura 14). Fe, o que equivale a uma imobilização de 10 kg ha-1
Do total de P acumulado, aproximadamente 33% desse micronutriente (Figura 18). Desse total, 72%
são alocados no tronco + ramos ortotrópicos, 24% são alocados nas raízes, 9% no tronco + ramos or-
nas folhas, 16% nos frutos, 15% nas raízes e 12% nos totrópicos, 8% nas folhas, 8% nos frutos e 3% nos
ramos plagiotrópicos (BRAGANÇA, 2005; BRAGANÇA ramos plagiotrópicos. Em lavouras conduzidas em
et al., 2008). livre crescimento, a taxa de acúmulo de Fe para
o cafeeiro conilon aumenta até alcançar 284 mg
mês-1, no 42o mês, diminuindo a seguir (Figura 18).
3.7 FERRO
Aproximadamente, 80% do Fe ocorre nos
cloroplastos, onde exerce um papel importante na
Figura 16. Lavoura de cafeeiro conilon apresentando
fotossíntese e biossíntese de proteínas e clorofila.
deficiência generalizada de Fe.
É componente de sistemas redox, hemeproteínas,
ferrosulfoproteínas, além de outras enzimas Planta inteira
menos caracterizadas como as lipoxigenases 5% 1%
16% 74%
e coproporfirinogênio oxidase (BUCHANAN;
GRUISSEN; JONES, 2000; TAIZ; ZEIGER, 2009; 4%
MARSCHNER, 2012). Os sintomas de deficiência no
cafeeiro conilon caracterizam-se por clorose nas
folhas jovens, que apresentam um reticulado verde
e fino de nervuras (Figura 15). Em condição de
deficiência severa, ocasionada principalmente pela
utilização de doses altas de calcário, pode aparecer
clorose generalizada na lavoura (Figura 16). Figura 17. Partição de micronutrientes pelo cafeeiro
conilon, aos 72 meses de idade.
Entre os micronutrientes analisados por Bragança Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2007).
336 Café Conilon – Capítulo 13
Figura 19. Lavoura de conilon apresentando sintomas de deficiência de Mn (2,5 mg kg-1) induzida por pH elevado
(8,3), em áreas de carvoejamento, no norte do Espírito Santo.
Nutrição do Cafeeiro Conilon 337
de acumula cerca 1.018mg de Mn, o que equivale a do Zn, é um micronutriente que tem proporcionado
uma imobilização de 2,26 kg ha-1 de Mn (Figura 21). respostas significativas, com acréscimos de até 43%
Desse total, 38% são alocados nas folhas, 26% nos na produtividade do cafeeiro conilon (BRAGANÇA
ramos plagiotrópicos, 22% no tronco + ramos orto- et al., 1995b), quando fornecido juntamente com os
trópicos, 9% nas raízes e 5% nos frutos. Em lavou- macronutrientes, calcário e matéria orgânica.
ras conduzidas em livre crescimento, a taxa total de
Após o Fe e o Mn, o B é o micronutriente mais
acúmulo de Mn observada para o cafeeiro conilon
acumulado pelo cafeeiro Conilon com um
(Figura 21) aumenta até alcançar 62,55 mg mês-1, no
percentual de 5% do total de micronutrientes
42o mês, diminuindo em seguida (BRAGANÇA, 2005;
distribuídos entre os diversos órgãos (Figura
BRAGANÇA et al., 2007).
17). Aos seis anos de idade, o cafeeiro conilon
acumula 336,39 mg/planta de B, o que equivale a
uma imobilização de 0,75 kg ha-1 de B (Figura 23).
Deste total, 33% são alocados nas folhas, 31% no
tronco + ramos ortotrópicos, 14% nas raízes, 11%
nos frutos e 11% nos ramos plagiotrópicos. Em
lavouras conduzidas em livre crescimento, a taxa de
acúmulo de B (Figura 23), considerando-se toda a
planta, aumenta até alcançar 22,20 mg mês-1, no 39o
mês, diminuindo em seguida (BRAGANÇA, 2005;
BRAGANÇA et al., 2007).
3.9 BORO
Participa do crescimento celular, da biossíntese
de componentes da parede celular, do Figura 23. Acúmulo total e taxa de acúmulo de B pelo
metabolismo de fenóis, dos ácidos nucleicos, cafeeiro conilon, em função da idade.
dos carboidratos e do ácido indolacético (AIA), Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2007).
além de conferir estabilidade e estrutura à parede
celular (BUCHANAN; GRUISSEN; JONES, 2000;
TAIZ; ZEIGER, 2009; MARSCHNER, 2012). Por ser 3.10 ZINCO
um elemento imóvel no floema, o sintoma de Participa como cofator estrutural, funcional ou
deficiência manifesta-se nas regiões de crescimento regulatório de várias enzimas, entre elas a anidrase
ativo, causando a deformação das folhas que ficam carbônica, a Cu-Zn-superóxido dismutase, a RNA
amareladas e retorcidas (Figura 22). Ao lado do Mn e polimerase e a maioria das desidrogenases. Afeta
338 Café Conilon – Capítulo 13
3.11 COBRE
Apresenta importante papel no metabolismo
de carboidratos, lignificação da parede celular, Figura 27. Acúmulo total e taxa de acúmulo de Cu pelo
biossíntese de substâncias envolvidas em cafeeiro conilon, em função da idade.
processos de resistência das plantas a certas Fonte: Bragança (2005) e Bragança et al. (2007).
Nutrição do Cafeeiro Conilon 339
Após o Fe, Mn, B e Zn, o Cu é o quinto micronutriente O DRIS fornece o Índice de Balanço Nutricional (IBN),
mais acumulado pelo cafeeiro conilon, com um que corresponde ao somatório dos valores absolutos
percentual de 2% do total de micronutrientes dos índices DRIS de cada nutriente, permitindo-se
distribuídos entre os vários órgãos (Figura 17). Uma comparar o equilíbrio nutricional global da planta.
planta com seis anos de idade acumula 87,85 mg/ Quanto menor esse somatório absoluto, menor
planta, o que equivale a uma imobilização de 0,20 será o desequilíbrio entre os nutrientes da lavoura
kg ha-1 de Cu (Figura 26). Desse total, 37% foram amostrada. Uma das principais vantagens do DRIS
alocados no tronco + ramos ortotrópicos, 25% nas é o fato de minimizar os efeitos de diluição e de
folhas, 18% nas raízes, 18% nos ramos plagiotrópicos concentração dos nutrientes.
e 3% nos frutos. Em lavouras conduzidas em livre
No Espírito Santo, a pesquisa com o DRIS-Conilon
crescimento, a taxa de acúmulo de Cu, considerando
iniciou-se em 1986 com o trabalho de Bragança e
toda a planta, aumenta até alcançar 48,06 mg mês-
Venegas (1990), objetivando-se avaliar o estado
1
, no 21o mês, diminuindo em seguida (Figura 27)
nutricional do conilon no norte do Estado. Dentro
(BRAGANÇA, 2005; BRAGANÇA et al., 2007).
da distribuição espacial do café conilon na
região, procedeu-se à estratificação de ambientes
levando-se em consideração o relevo e o tipo de
4 AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIO- solo, obtendo-se, assim, dois grandes ambientes.
NAL O primeiro, denominado AMBIENTE I (Barreiras),
A diagnose nutricional consiste na avaliação do caracteriza-se por apresentar solos originados de
estado nutricional de uma planta tomando-se uma sedimentos de terciário. Nessa região, predomina
amostra, seja de um tecido vegetal ou do solo, o Latossolo Amarelo, com relevo variando de
e comparando-a com seu padrão que consiste plano a suave ondulado. O segundo, denominado
em uma planta ou solo apresentando todos os AMBIENTE II (Cristalino), é formado principalmente
nutrientes em concentrações e relações adequadas. por rochas gnáissicas, cujo relevo varia de ondulado
a forte ondulado e montanhoso, predomina o
A interpretação do estado nutricional do cafeeiro
Latossolo Vermelho-Amarelo. Nos dois estratos
conilon, com base na análise foliar, pode ser
identificados, foram selecionadas 65 propriedades
realizada utilizando-se o Sistema Integrado de
nos anos agrícolas 86/87, 87/88 e 88/89. Em
Diagnose e Recomendação (DRIS), nível crítico e/ou
cada propriedade, foi marcado um talhão com
faixa de suficiência.
700 covas, em média, procurando-se manter o
máximo de homogeneidade possível para garantir
representatividade das amostras. Em cada talhão,
4.1 DRIS
foram amostradas 25 plantas, ao acaso, e em cada
O Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação planta, no período de rápido crescimento dos frutos
(DRIS) é uma metodologia de interpretação da (setembro a dezembro), foram coletados quatro
análise química foliar que, juntamente com outros pares de folhas do terceiro nó, contados a partir
métodos, serve para avaliar o estado nutricional. O do ápice, na parte mediana da planta, nos quatro
DRIS avalia as interações nutricionais informando pontos cardeais. Foram analisadas as concentrações
a ordem de limitação dos nutrientes tanto por foliares de N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Mn, B e Cu e
deficiência quanto por excesso, além da intensidade avaliada a produtividade de cada talhão. Os dados
da exigência. Índice DRIS negativo indica que o teor de produtividade, juntamente com seus respectivos
do nutriente está abaixo do desejado e quanto teores foliares de nutrientes, formaram um banco de
mais negativo for o índice, mais deficiente está o dados que foi dividido em três grupos: baixa, média
nutriente; similarmente, índice DRIS positivo indica e alta produtividade. Foi adotado como grupo de
que o teor do nutriente está acima do desejado e referência lavouras com produtividade superior a
quanto mais positivo for o índice, mais excessivo 40 sc./ha de café beneficiado. Os resultados obtidos
está o nutriente em relação ao normal; e índice DRIS permitiram calcular, numa primeira aproximação, as
igual a zero indica que o teor do nutriente está no normas DRIS (média, desvio-padrão e coeficiente de
valor ótimo. variação) para o conilon (COSTA; BRAGANÇA, 1996).
340 Café Conilon – Capítulo 13
Posteriormente, com a ampliação do banco de (2001) ajustou as normas DRIS a partir de lavouras
dados por meio de amostragens realizadas nos comerciais de café conilon com produtividade
anos agrícolas 97/98, 98/99 e 99/2000, Costa acima de 60 sc./ha de café beneficiado (Tabela 4).
Tabela 4. Normas DRIS (média, desvio-padrão e coeficiente de variação) para os nutrientes e suas relações dois a
dois, em lavouras de cafeeiro conilon com produtividade superior a 60 sc./ha de café beneficiado para o
Estado do Espírito Santo (continua)
(continuação)
(conclusão)
14
Calagem e Adubação do Café Conilon
Luiz Carlos Prezotti, André Guarçoni M., Scheilla Marina Bragança e
José Antônio Lani
o período de 45 a 60 dias após a última adubação. H+ e Al3+. Assim, solos formados em locais de alta
pluviosidade tendem a ser mais ácidos do que
A cada três anos, utilizando-se os mesmos princípios
aqueles sob condições áridas.
descritos acima, deve-se coletar também amostras
simples na profundidade de 20 a 40 cm para se A adubação, principalmente com adubos
avaliar a dinâmica dos nutrientes no solo e se há nitrogenados, acelera o processo de acidificação
necessidade de aplicação de gesso. do solo. O amônio, quando aplicado ao solo, é
convertido em nitrato pelo processo de nitrificação,
liberando H+.
3 INTERPRETAÇÃO DA ANÁLISE DO A presença de H+ na solução do solo reduz o pH,
SOLO o que solubiliza o alumínio, passando da forma Al
A interpretação da análise de solo é feita utilizando- (OH)3 (inativo) para Al3+ (tóxico). Nas Tabelas 2 e 3,
se tabelas preparadas para cada estádio de são apresentadas as classes de interpretação para
desenvolvimento da cultura: plantio, crescimento o pH e outras características relacionadas com a
e produção. Tem como objetivo determinar os acidez do solo.
teores de nutrientes do solo e sua capacidade de
cedê-los para as plantas, separando-os em classes Tabela 2. Classes de interpretação para acidez ativa do
de fertilidade. Caso a quantidade de nutrientes solo (pH)
presentes no solo seja insuficiente para satisfazer a Classificacão agronômica do pH1/
exigência das culturas, devem-se aplicar corretivos Muito baixa Baixa Boa Alta Muito alta
e/ou fertilizantes. As tabelas de interpretação < 4,5 4,5 – 5,4 5,5 – 6,0 6,1 – 7,0 > 7,0
específicas para o café conilon serão inseridas nos
Fonte: Prezotti et al. (2007).
tópicos relativos a cada característica que exerce pH em H2O, relação 1:2,5, TFSA: H2O
1/
QC = T (V2 – V1) x p
QC = xp
• Aplicação de calcário em covas de 40 x 40 x 40 cm
PRNT (64 dm3) e calcário com PRNT de 80%.
Em que:
QC = Quantidade de calcário em t/ha; T (V2 – V1) x Volume da cova em dm3
QC = x
T = Capacidade de troca de cátions (CTC) a pH 7 em PRNT 2
cmolc/dm3; Ex: QC = 8 (60 – 10) x 64 dm3/2
Ex: QC = x
V2 = Saturação por bases ideal para a cultura em % 80 2
V1 = Saturação em bases atual do solo em %; QC = 160 g/cova de calcário
p = Fator de profundidade de incorporação do
calcário: • Calagem em cobertura em faixas de 1 m em
p = 0,5 para aplicação superficial sem lavouras com 3 m de entrelinhas (área de cobertura
incorporação; = 1/3 da área de 1 ha = 0,33).
p = 1 para incorporação a 20 cm de
profundidade; QC = T(V2 – V1) x p x 0,33
QC = x p x 0,33
p = 1,5 para incorporação a 30 cm de PRNT
profundidade; Ex: QC = 8 (60 – 10) x 0,5 x 0,33
PRNT = Poder relativo de neutralização total do Ex: QC = x 0,5 x 0,33
80
calcário a ser empregado.
QC = 0,82 t/ha de calcário nas faixas de 1 m
Para a cultura do café conilon, a saturação por
bases (V2) de 60% é indicada para produtividades
próximas de 60 sc./ha. Para produtividades maiores, QC = T(V2 – V1) x p x 0,75
QC = x p x 0,75
que podem alcançar 150 sc./ha, têm sido utilizadas PRNT
saturações por bases de 70 a 75%. Ex: QC = 8 (60 – 10) x 0,5 x 0,75
Ex: QC = x 0,5 x 0,75
Se a calagem for realizada em faixas, deve-se fazer 80
a correção da quantidade de calcário a ser aplicada QC = 1,87 t/ha de calcário nas faixas
proporcionalmente à superfície de aplicação.
Exemplos:
4.2 USO RACIONAL DO CALCÁRIO
• Análise de solo
P- A calagem, por elevar o pH do solo, aumenta a
Argila Al3+ Ca2+ Mg2+ H+Al SB t T V
rem
atividade microbiana, favorecendo a mineralização
% mg/L --------------------------- cmolc/dm3 -------------------------- %
da Matéria Orgânica (MO) e liberando os nutrientes
60 9,4 0,8 0,1 0,1 7,8 0,21 1,01 8,01 4,1
anteriormente ligados às cadeias carbônicas.
Tabela 3. Classes de interpretação de fertilidade do solo para cátions, enxofre (S) e matéria orgânica (MO)
Determinação Método Unidade Baixo Médio Alto
Matéria orgânica (MO) Colorimétrico dag/kg < 1,5 1,5 - 3,0 > 3,0
Cálcio (Ca2+) KCl 1M cmolc/dm3 < 1,5 1,5 - 4,0 > 4,0
Magnésio (Mg ) 2+
KCl 1M cmolc/dm3 < 0,5 0,5 - 1,0 > 1,0
Enxofre (S) CaH2PO4 0,01 M mg/dm 3
< 5,0 5,0 - 10 > 10
Soma de bases (SB) K + Ca + Mg + Na cmolc/dm3 < 2,0 2,0 - 5,0 > 5,0
CTC efetiva (t) SB + Al cmolc/dm3 < 2,5 2,5 - 6,0 > 6,0
CTC pH 7 (T) SB + H + Al cmolc/dm3 < 4,5 4,5 - 10 > 10
Saturação por bases (V) SB/T x 100 % < 50 50 - 70 > 70
Acidez trocável (Al3+) KCl 1M cmolc/dm3 < 0,3 0,3 - 1,0 > 1,0
Saturação de Alumínio (m) Al/t x 100 % < 20 20 - 40 > 40
Acidez potencial (H + Al) Correlação pH SMP cmolc/dm3 < 2,5 2,5 - 5,0 > 5,0
Fonte: Prezotti et al. (2007).
Calagem e Adubação do Café Conilon 351
Esses nutrientes, agora disponíveis, são facilmente do plantio, e, em terrenos declivosos ou com
absorvidos pelas plantas, desde que a mineralização culturas perenes já instaladas, a dose de calcário
ocorra próximo às raízes das plantas. Se a aplicação deve ser corrigida pelo fator de profundidade, uma
de calcário for realizada em local com pequena vez que não é possível a incorporação.
concentração de raízes, os nutrientes, liberados
O Estado do Espírito Santo é beneficiado pelo
pelo processo, poderão ser perdidos por lixiviação.
grande número de jazidas de calcários de excelente
A aplicação de calcário sobre toda a superfície do
qualidade e de baixo custo devido à proximidade
terreno, na implantação de uma cultura perene
das mineradoras. Por essa razão, o calcário é o
ou nas entrelinhas de lavouras em estádio inicial
corretivo mais utilizado pelos produtores. Outras
de desenvolvimento, deve ser evitada para que se
opções encontradas no Estado são as algas calcárias,
preserve a MO como “banco de nutrientes”, o qual
que ocorrem na costa marítima, e as escórias de
poderá ser utilizado conforme o desenvolvimento
alto forno da indústria siderúrgica. Entretanto, o
do sistema radicular. Além disso, a manutenção
uso desses materiais deve ser avaliado segundo
da cobertura morta pode auxiliar na redução da
perspectivas técnicas e econômicas.
erosão superficial, maior armazenamento de água
e tolerância à seca. A calagem em área total só deve
ser realizada quando as entrelinhas forem ocupadas 4.3 ESTIMATIVA DA QUANTIDADE DE GESSO
com culturas intercalares.
O gesso pode ser obtido em depósitos naturais
Na implantação da lavoura, o calcário deve ser (anidrita, gipsita) ou industrialmente. Neste último
aplicado na cova ou sulco e em faixas (Figura 2), nas caso, ele é considerado como um subproduto da
linhas das plantas, sendo tanto mais larga quanto for fabricação do superfosfato simples através da
o desenvolvimento do sistema radicular do cafeeiro. acidificação do ácido sulfúrico às apatitas. Deve ser
Em solos arenosos com baixa CTC e baixa utilizado em solos que apresentam baixos teores
capacidade tampão, como nos de tabuleiros de Ca2+ e/ou elevados teores de Al3+, em camadas
costeiros do Estado do Espírito Santo, pequenas subsuperficiais. O Ca2+, proveniente do gesso,
quantidades de calcário elevam significativamente em elevadas concentrações na solução do solo,
o pH, podendo haver, conforme a cultura, carência desloca o Al3+, K+ e Mg2+ do complexo de troca.
de Ca2+ e Mg2+. Nesse caso, é necessária uma Esses cátions reagem com SO42-, formando AlSO4+
complementação com outras fontes de Ca2+ e/ ,menos tóxico às plantas, e os pares iônicos neutros:
ou Mg2+. Pode ser realizada, também, a aplicação K2SO40, CaSO40 e MgSO40. Em razão da neutralidade,
de calcário de maneira localizada, sob a copa das esses pares iônicos são deslocados para camadas
plantas, agindo como fertilizante, e não como mais profundas do solo, o que favorece o
corretivo da acidez (PREZOTTI et al., 2007). aprofundamento do sistema radicular, conferindo
às plantas maior capacidade de absorção de
Recomenda-se, para a cultura do café conilon, que nutrientes e maior resistência a veranicos (SOUZA;
os teores de Ca2+ e Mg2+ no solo não devam ser MIRANDA; OLIVEIRA, 2007).
inferiores a 2,5 e 1,0 cmolc/dm3, respectivamente.
Em solos com baixa CTC, a movimentação de cátions
O tipo de calcário a ser aplicado dependerá da é maior que em um solo com elevada CTC. Assim, a
relação Ca:Mg do solo, determinada pela sua análise. capacidade tampão do solo deve ser considerada na
A relação exigida pelo café conilon é de 3:1 a 4:1. estimativa da quantidade de gesso a ser aplicada,
Em solos em que essa relação está alta (elevado teor para evitar o risco de movimentação além das
de Ca e baixo teor de Mg), o calcário a ser aplicado camadas exploradas pelo sistema radicular.
deverá ser o dolomítico, que possui maior teor
de Mg2+ ou, em situações extremas, até mesmo a Por não possuir carbonato, como o calcário, o
aplicação de sulfato de magnésio é justificada. O gesso não promove alteração do pH, uma vez que
calcário calcítico deve ser recomendado para solos não neutraliza o H+. Portanto, o gesso não é um
com baixa relação Ca:Mg, situação muito rara na corretivo, mas um condicionador do solo.
região produtora de café conilon. A necessidade de gesso deve ser baseada na
A calagem deve ser feita preferencialmente antes análise do solo da camada de 20 a 40 cm de
352 Café Conilon – Capítulo 14
profundidade. Por ser mais exigente em Ca2+ e aplicação da uréia, as perdas podem ser superiores
menos tolerante ao Al3+ presente no solo, do que o a 50%. Se aplicada em período chuvoso ou sob
café arábica (GUARÇONI, M.; PREZOTTI, 2009), deve- irrigação, essas perdas podem reduzir-se valores
se recomendar a aplicação de gesso quando o teor inferiores a 10%. As perdas proporcionadas pelo
de Ca2+ no solo for igual ou inferior a 0,4 cmolc/dm3 sulfato de amônio são inferiores às da uréia. As
e/ou quando o teor de de Al3+ for maior ou igual a perdas geralmente não ultrapassam a faixa de 5 a
0,5 cmolc/dm3 de Al3+ e/ou a saturação de Al (m) for 10% (CANTARELLA, 2007).
superior a 30% (ALVAREZ, 1999).
Para reduzir as perdas e proporcionar maior tempo
A quantidade de gesso (QG) a ser aplicada deve ser de disponibilização de N para as plantas, este
30% da quantidade de calcário (QC) recomendada deve ser aplicado de forma parcelada. Em culturas
para a camada de 20 a 40 cm (PREZOTTI et al., 2007). perenes esse parcelamento deve ser de, no mínimo,
três aplicações anuais em períodos de maior
QG = 0,3 QC
demanda das plantas.
A utilização de gesso não altera a quantidade de
Após a adubação nitrogenada com adubos amo-
calcário. Deve ser usado de forma suplementar
niacais, ocorre o processo da nitrificação, que é a
ao calcário, podendo ser aplicado junto ou após a
passagem do amônio (NH4+) para nitrato (NO3-).
calagem.
Com isso ocorre a liberação de H+, que provoca a
acidificação do solo. Culturas que recebem essa
adubação de forma localizada, como o café e
outras culturas perenes, podem ter o solo do local
de adubação mais ácido que os locais onde não
recebem o fertilizante, necessitando, assim, de
aplicações mais frequentes de calcário e de forma
localizada, nos locais de aplicação do fertilizante.
Deve-se evitar a adubação nitrogenada logo após
a calagem, principalmente em situações em que
o calcário é aplicado na superfície do solo, sem
incorporação, pois quanto maior o pH do solo,
maiores são as perdas de N por volatilização de
Figura 2. Calagem em faixas no início de formação amônia (NH3). Nesse caso, recomenda-se que a
do cafezal.
calagem seja feita entre um a dois meses antes
Foto: Augusto Barraque.
do início das adubações, de acordo com o regime
pluviométrico.
5 PARTICULARIDADES DA ADUBAÇÃO
NITROGENADA 6 PARTICULARIDADES DA ADUBAÇÃO
O nitrogênio (N) é o elemento mais limitante para FOSFATADA
o café conilon. Isso ocorre em razão da sua elevada A eficiência de absorção de fósforo (P) pelo
demanda e à sua suscetibilidade a perdas por cafeeiro conilon será tanto maior quanto maior
volatilização, principalmente na forma de amônia for a exploração do solo pelo seu sistema
(NH3+), e lixiviação, na forma de nitrato (NO3-) radicular. Portanto, o cafeeiro, no início de seu
(BRAGANÇA, 2005). desenvolvimento, exige elevados teores de P
O fertilizante nitrogenado que mais proporciona disponível, uma vez que seu sistema radicular
perdas por volatilização é a uréia, especialmente se ainda é incipiente. Daí a necessidade de aplicação
aplicada na superfície do solo, sem incorporação. de P solúvel na cova ou sulco para o crescimento
Ela deve ser aplicada em solo úmido e assim deve inicial. Com o avanço da idade, as raízes passam a
ser mantido para que as plantas tenham maior explorar maior volume de solo, aumentando sua
eficiência de absorção. Caso a solo seque após a capacidade de absorção de P e diminuindo seu
Calagem e Adubação do Café Conilon 353
nível de exigência (NOVAIS; SMYTH, 1999). de 28 a 30% de P2O5 total e de 4 a 5% de P2O5 solúvel
em ácido cítrico. Apresentam baixa eficiência (<
A eficiência de absorção de P pelo cafeeiro depende
30%) por serem muito pouco reativos.
também da quantidade e da qualidade das argilas
do solo, pois o P em contato com os oxidróxidos de
ferro (Fe) e alumínio (Al) e com argilas silicatadas 6.1 FÓSFORO REMANESCENTE (P-rem)
sofre rápida sorção, o que reduz sua disponibilidade
para as plantas. De modo geral, a maior adsorção de A taxa de recuperação de P pelas plantas varia
P ocorre em solos tropicais mais intemperizados e, amplamente com a quantidade e a qualidade das
de modo particular, nos mais argilosos. A adsorção argilas do solo. Assim, para a recomendação da dose
ocorre por meio de uma atração eletrostática mais adequada de P a ser aplicada, é necessário o
inicial e posterior troca de ligantes. Essa ligação é conhecimento da capacidade de retenção pelo solo
covalente (elevada energia de ligação), ao contrário do P aplicado como fertilizante. Além da análise
do NO3 ou do cloro (Cl), que são adsorvidos por textural, que determina a porcentagem de areia,
atração eletrostática, com reduzida energia de silte e argila no solo, pode ser utilizado o método
ligação (SANYAL; Da DATTA, 1991). do fósforo remanescente (P-rem), que consiste
em agitar 10 cm3 de solo com uma solução na
Portanto, quanto maior o volume de solo em concentração de 60 mg/L de P (COMISSÃO..., 1999).
contato com o fertilizante fosfatado aplicado, Quanto menor for a concentração final de P da
menor a disponibilidade de P para a planta devido à solução, maior é a capacidade de sorção do solo.
maior sorção de P pelo solo. Além da capacidade de fixar P pelo solo, o P-rem
A fosfatagem corretiva em solos argilosos desse também é utilizado para avaliar a capacidade de
modo é questionável, pois estes podem sorver fixação de zinco (Zn) e enxofre (S).
até 5.000 kg/ha de P2O5 ou 20 t/ha de superfosfato
simples. A solução seria minimizar o contato da
fonte de P com o solo pela aplicação localizada e 7 PARTICULARIDADES DA ADUBAÇÃO
pela granulação do fertilizante (NOVAIS; SMYTH, POTÁSSICA
1999). Outra opção seria a aplicação de silicatos de
Em solo arenosos, com baixa CTC , as chuvas e
cálcio, onde o ânion silicato competiria pelo sítio de
irrigações excessivas podem promover a lixiviação
adsorção com o ânion fosfato.
de potássio (K) e fazer com que o seu teor decresça
A eficiência de absorção de P pelo cafeeiro aumenta com maior rapidez, quando comparados aos solos
quando os adubos fosfatados são aplicados após a argilosos. Nesse caso, é fundamental que seja
calagem, na forma granulada e de modo localizado, realizado maior parcelamento das adubações para
em filete, em volta da planta. assegurar uma concentração adequada durante o
ciclo da cultura.
As fontes mais eficientes de P para as plantas
são as solúveis, como o superfosfato simples, o Os fertilizantes potássicos possuem elevado poder
superfosfato triplo e os fosfatos de amônio. de salinização. Na implantação de lavouras não
irrigadas, a utilização de fertilizantes potássicos nas
Os fosfatos naturais reativos (arad, atifós, norte
covas ou sulcos de plantio promove a elevação da
carolina, marrocos, daoui, gafsa etc.) possuem
pressão osmótica no solo, o que dificulta a absorção
origem sedimentar, com estrutura pouco
de água pelas plantas. Com isso, há elevada
consolidada, apresentando de 28 a 30% de P2O5
incidência de mortalidade de mudas em períodos
total e de 10 a 12% de P2O5 solúvel em ácido
de estiagem. Nesses casos, é recomendável a
cítrico. Apresentam eficiência de 60 a 70%, quando
aplicação do K somente em cobertura, de maneira
comparados aos fosfatos solúveis (NOVAIS;
parcelada, após o pegamento das mudas.
SMYTH, 1999).
Em solos com teores acima de 200 mg/dm3 de
Ainda segundo esses autores, os fosfatos naturais
K, deve-se ter atenção especial com a adubação
brasileiros (abaeté, araxá, alvorada, catalão, patos,
potássica, principalmente se esses solos
tapira etc.) são, na sua maioria, de origem ígnea,
apresentarem baixos teores de MO.
com estrutura cristalina compacta, apresentando
354 Café Conilon – Capítulo 14
Em solos orgânicos ou sob manejo orgânico, as estimativa do estado nutricional das plantas.
análises geralmente indicam elevados teores de K,
Para evitar as reações de insolubilização, lixiviação
que podem variar de 200 a 500 mg/dm3. Entretanto,
e toxidez de micronutrientes, quando aplicados
na maioria dos casos, esses teores não causam
ao solo, podem ser utilizadas as “fritas”, também
efeito depressivo no crescimento das plantas.
chamadas de FTE (Fritted Trace Elements), que
Provavelmente a MO atue minimizando o efeito
são formadas por fusão de micronutrientes
salino do K, evitando, assim, possíveis danos às
com silicatos ou vidro e posterior moagem. É
plantas. Não há, entretanto, informações científicas
uma fonte mais indicada para a manutenção
que permitam a determinação das classes de
da disponibilidade de micronutrientes do que
fertilidade que indiquem a disponibilidade de K
propriamente para a correção de deficiências
desses solos, sendo necessários, para isso, estudos
severas. Neste último caso, recomendam-se
de calibração que determinem os níveis críticos de
pulverizações foliares para correção imediata das
K para as plantas em função do teor de MO do solo.
deficiências, e a aplicação do FTE no solo para a
continuidade do fornecimento.
Tabela 5. Adubação fosfatada do cafeeiro conilon para Caso as plantas iniciem a produção antes dos dois
diferentes sistemas de plantio anos, adotar a adubação de produção.
Teor de P no solo (mg/dm3)
P-rem
Sistema Baixo Médio Alto
9.3 ADUBAÇÃO DE PRODUÇÃO
de plantio < 20 < 10 10 - 20 > 20
20 - 40 < 20 20 - 50 > 50 Na fase de produção, as quantidades de nutrientes
> 40 < 30 30 - 60 > 60 devem ser aplicadas levando-se em consideração
--- g de P2O5por cova ou metro linear de sulco ---
a produtividade esperada da lavoura e os teores
de nutrientes no solo. As quantidades de N-P-K
Cova de 40 x 40 x 40 50 40 30
sugeridas nas Tabelas 7 e 8 foram ajustadas
Sulco 80 60 40
levando-se em consideração os dados de acúmulo
de nutrientes pelo cafeeiro conilon, apresentados
Além do calcário e do P, em solos que apresentam por Bragança (2005).
teores inferiores a 0,6 mg/dm3 de boro e 6 mg/dm3
de zinco, recomenda-se aplicar 2,5 g de Zn e 1 g de Tabela 7. Adubação nitrogenada e potássica para o
B. Em regiões de solos de “tabuleiros”, aplicar 2 g de cafeeiro conilon em função da produtividade
Mn e 1 g de Fe. Essas doses são estimadas para um esperada e do teor de potássio (K) no solo
volume de solo de 64 dm3. Para plantio em sulcos Produti-
Teor de K no solo (mg/dm3)
vidade Dose de N
ou covas com volume diferente de 64 dm3, corrigir
Média < 60 60 - 120 120 - 200 > 200
as doses proporcionalmente.
(sc./ha) kg/ha/ano de N1/ kg/ha /ano de K2O1/
Havendo disponibilidade, aplicar 10 L de esterco < 20 200 170 100 30 0
de curral ou 3 L de esterco de galinha, no entanto, 21 - 30 260 230 160 90 0
nesse caso, a dose de P pode ser reduzida em 20%. 31 - 50 320 290 220 150 0
Após o pegamento das mudas, aplicar em cobertura 51 - 70 380 350 280 210 80
três parcelas de 7 g de N e 15 g de K2O por planta, 71 - 100 440 410 340 270 140
espaçadas de um mês. Em solos com teor de K 101 - 130 500 470 400 330 200
superior a 80 mg/dm3 de K, reduzir a dose de K2O 131 - 170 560 530 460 390 260
para 5 g. Para essas adubações de cobertura, pode- > 170 620 600 520 450 320
se utilizar um formulado como o 20-00-20, quando As doses devem ser divididas em, no mínimo, três parcelas e aplicadas durante o
1/
< 20 30 20 0 0
de N e K (floração).
356 Café Conilon – Capítulo 14
2007, p. 203-274.
COMISSÃO de fertilidade do solo do estado
de Minas Gerais. Recomendações para o uso
de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais – 5a
aproximação. Viçosa-MG: UFV, 1999. 359 p.
De MUNER, L. H.; LANI, J. A.; GOMES, J. A.; SALGADO,
J. S.; DARÉ, J. C. Calagem: saiba fazer e colha muitos
lucros. Vitória, ES: Incaper, 2007. (Documentos nº
103).
GUARÇONI M., A.; ALVAREZ V., V. H.; NOVAIS, R.
F.; CANTARUTTI, R. B.; LEITE, H. G.; FREIRE, F. M.
Diâmetro de trado necessário à coleta de amostras
num cambissolo sob plantio direto ou sob plantio
convencional antes ou depois da aração. Revista
Brasileira Ciências do Solo, 31:947-959, 2007.
GUARÇONI M., A.; PREZOTTI, L. C. Fertilização do
café conilon. In: ZAMBOLIM, L. (Org.). Tecnologias
para produção do café conilon. Viçosa, MG: UFV, v. 1,
p. 249-294. 2009.
NOVAIS, R. F; SMYTH, T. J. Fósforo em solo e planta
em condições tropicais - Viçosa, MG: UFV, DPS, 1999.
399 p.
SOUZA, D. M. G.; MIRANDA, L. N.; OLIVEIRA, S. A.
Acidez do solo e sua correção. In. NOVAIS, R. F.;
ALVAREZ, V. V. H.; BARROS, N. F.; FONTES, R. L. F.;
CANTARUTTI, R. B.; NEVES, J. C. L. (Eds.). Fertilidade
do solo. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciênica
do Solo, p. 203-274. 2007.
PREZOTTI, L. C.; GOMES, J. A.; DADALTO, G. G.;
OLIVEIRA, J. A. de. Manual de recomendação de
calagem e adubação para o Estado do Espírito Santo
- 5a aproximação. Vitória, ES: SEEA/Incaper/Cedagro,
2007. 305 p.
SANYAL, S. K.; De DATTA, S. K. Chemistry of
phosfhorus transformations in soil. Advances in Soil
Science, 16:1-120, 1991.
Foto: Daniel Simões
359
15
Irrigação e Manejo da Água
no Café Conilon
José Geraldo Ferreira da Silva e Edvaldo Fialho dos Reis
hectares, distribuídos, principalmente, nos Estados Matiello (1991) salienta que a deficiência hídrica é
do Espírito Santo (60 a 65%), Minas Gerais (20 a 25%) prejudicial ao cafeeiro, principalmente no período
e Bahia (10 a 15%). Apesar de ocorrer a concentração da frutificação, quando a irrigação passa a ser
de projetos de irrigação em regiões onde há necessária, e Camargo (1989) corrobora a afirmativa
restrições hídricas por um período prolongado, vale de que deficiência hídrica acentuada na fase de
destacar que existe um número considerável de granação gera frutos mal granados, que chegam até
projetos sendo implantado em áreas tradicionais de mesmo ao chochamento. Assim, a irrigação, nessas
cafeicultura, o que permite a obtenção de maiores condições, traz resultados satisfatórios, garantido a
produtividades e melhor qualidade final do produto produtividade da lavoura.
(MANTOVANI, 2001a).
Pezzopane et al. (2010), ao analisarem o risco
No Estado do Espírito Santo, mais de 50% de área climático para a cultura do cafeeiro conilon no
irrigada refere-se ao café conilon, que é cultivado Espírito Santo, verificaram que, ele é elevado,
nas regiões mais quentes, onde predomina um quando se considera o aspecto hídrico. Segundo
período com poucas chuvas de abril a setembro. os mesmos autores, 38% do Estado apresentam
Apesar do começo do período chuvoso acontecer, elevados riscos climáticos nas fases do
em média, no mês de outubro, a irregularidade florescimento, granação e crescimento vegetativo.
deste início de chuvas tem aumentado os riscos Considerando as fases de florescimento e granação,
de fortes quedas na produtividade do cafeeiro em existem 20% de área com risco climático. Além
áreas cultivadas do Estado. disso, os autores verificaram também que existem
17% das áreas com risco climático, se considerar
O uso da irrigação na cultura do café é uma
apenas a fase do florescimento. Assim, confirma-se
tecnologia que vem se mostrando viável e
a necessidade do uso de irrigação para garantia de
indispensável ao longo dos tempos, principalmente
uma boa safra.
em regiões onde a distribuição das chuvas tem
causado deficit de moderado a severo que ocorre Atentos a esses riscos climáticos, a pesquisa vem
no período do abotoamento floral à granação. Isso buscando materiais genéticos que proporcionam
ocorre, por exemplo, nas regiões norte e noroeste respostas significativas em produtividade quando
do Estado do Espírito Santo, onde normalmente irrigados, assim como materiais genéticos mais
as chuvas se concentram nos meses de outubro a tolerantes ao deficit hídrico apresentando pouca
março. resposta à irrigação. Normalmente, esses materiais
respondem respondem menos à irrigação e,
Considerando, ainda, que os processos de colheita
obviamente, os mais sensíveis respondem mais.
e de poda provocam a remoção de grande número
Em observações de campo1, comparando materiais
de folhas, ocorrendo juntamente com o início do
genéticos em condições irrigadas e não irrigadas,
período seco no Estado do Espírito Santo, as plantas
verifica-se que as respostas podem variar de 20 a
não conseguem, através de novas brotações,
260% em ganho na produtividade mantendo-se o
recuperar as folhas perdidas em tempo hábil para
mesmo sistema de produção.
garantir uma boa florada, devido ao estresse que se
estabelece. Assim, torna-se essencial, nessa época Em anos em que as chuvas ocorrem de forma bem
do ano, o uso da irrigação para fornecer água às distribuída, verifica-se que a lavoura não apresenta
plantas para que possam se restabelecerem. ganhos significativos na produtividade quando
se compara a irrigada com uma não irrigada, ou
seja, não responde significativamente à irrigação.
2 NECESSIDADES HÍDRICAS DO Mas, Santinato, Fernandes, A. e Fernandes, D.
CAFEEIRO CONILON (1996) estimam que, na ausência da prática da
irrigação, em áreas onde o deficit hídrico chega
Apesar de o Brasil ser um dos maiores produtores
a comprometer a produção, o país deixaria de
mundiais de café conilon, ainda existem poucos
produzir cerca de 2 milhões a 2,5 milhões de sacas
estudos relacionados à irrigação desse cafeeiro.
beneficiadas por ano.
Assim, muitas das informações recomendadas para
o café arábica estão sendo utilizadas na cafeicultura
do conilon. Dados observados pelo autor, não publicados.
1
Irrigação e Manejo da Água no Café Conilon 361
É importante ressaltar que novas variedades de café dos anos. Essa é a consciência da maioria dos
conilon estão sendo desenvolvidas procurando- produtores capixabas, uma vez que boa parte
se uma maior tolerância ao deficit hídrico no solo. do parque cafeeiro do Estado do Espírito Santo é
Isso passa a ser de grande importância, uma vez irrigado. Mas, em relação ao manejo, não existe o
que, assim, apenas uma irrigação suplementar entendimento de que um bom manejo da irrigação
nos períodos mais críticos do ano traz respostas pode contribuir para o aumento da produtividade,
significativas à produtividade. É bom lembrar redução de custos de produção, além de contribuir
que, para uma planta obter altos índices de para a redução de impactos sobre o meio ambiente.
produtividade, é necessário que tenha uma área
Isso pode ser comprovado analisando-se o mapa do
foliar suficiente para tal, além, é claro, de outros
zoneamento agroecológico para a cultura do café
fatores, tais como: condições meteorológicas
no Estado do Espírito Santo (DADALTO; BARBOSA,
favoráveis, nutrientes no solo, controle de pragas,
1997), no qual se verifica que toda a área possível
doenças e plantas daninhas, poda, entre outros.
de produção de café robusta é sujeita a algum
Considerando que o cafeeiro conilon é mais deficit hídrico, que pode variar de 50 a 550 mm/ano.
tolerante ao deficit hídrico que o arabica e que se Assim, pode-se afirmar que a região produtora de
tem procurado selecionar plantas cada vez mais café robusta do Estado tem alguma limitação de
tolerantes, os conceitos da irrigação nessa cultura produtividade devido ao deficit hídrico, podendo,
passam a ser um pouco diferentes, pois se pode nesses casos, ser necessário o emprego da técnica
trabalhar com a concepção de irrigação deficitária da irrigação.
e não total. O maior problema está na questão de
Santinato, Fernandes, A. e Fernandes, D. (1996),
como deve ser esse manejo. É preciso estabelecer
ao discutirem aptidão hídrica do cafeeiro robusta,
até que ponto a planta pode sofrer com o deficit
afirmaram que as regiões cujo deficit hídrico
hídrico sem, contudo, perder em produtividade,
anual varia entre 150 e 200 mm são consideradas
principalmente quando se considera também as
como aptas à cafeicultura, mas podem exigir
questões econômicas e ambientais.
irrigações ocasionais. Enquanto que as regiões
Apesar dessa tolerância, tem-se observado que as com deficit entre 200 e 400 mm também podem
lavouras irrigadas produzem consideravelmente ser consideradas como aptas, desde que se utilize
mais do que as lavouras não irrigadas, irrigação suplementar. Já em regiões com deficit
principalmente naqueles anos em que as chuvas 400 mm, o plantio de café robusta só será possível
ocorrem de forma mal distribuída. Conforme com a utilização da irrigação.
salienta Partelli (2015), a irrigação, entre outros
Saraiva e Silveira (1995), ao analisarem a
fatores tecnológicos, tem contribuído para o
variabilidade e os efeitos da irrigação na
aumento da produtividade das lavouras de conilon
produção de café conilon, nos diferentes estádios
no Estado do Espírito Santo.
fenológicos da cultura, verificaram que os
Deve-se lembrar que, devido à diversidade de melhores períodos para irrigar o cafeeiro foram
materiais genéticos do cafeeiro, o vigor da lavoura aqueles compreendidos entre o abotoamento até
e as respostas à suplementação hídrica por meio a floração e da floração ao pegamento dos frutos,
da irrigação podem ser bem diferenciadas. Existem o que corresponde, respectivamente, aos períodos
materiais genéticos que proporcionam respostas de março a agosto e de julho a outubro, período
significativas à irrigação, mas outros apresentam em que o deficit hídrico no Estado do Espírito
resultados pouco relevantes. Santo é acentuado.
Assim, ao pensar em irrigar uma lavoura, primeiro Silveira e Carvalho (1996) verificaram que o
deve-se avaliar o seu potencial produtivo antes desenvolvimento inicial do botão floral é retardado,
de qualquer decisão, pois a irrigação sozinha não mantendo-se dormente, quando o cafeeiro conilon
resolve o problema de produtividade; é apenas é irrigado durante o período que corresponde à
uma das tecnologias fundamentais do processo indução e ao desenvolvimento do botão floral. Com
produtivo. A irrigação é importante, principalmente isso, concluíram que os botões florais alcançam o
para a manutenção da produtividade ao longo mesmo grau de desenvolvimento, ocasionando
362 Café Conilon – Capítulo 15
uma florada mais uniforme. d’água. Ele armazena parte da água que infiltra por
meio de sua superfície, para que seja absorvida
Pela Figura 1, é possível observar que a fase
pelas plantas posteriormente. A Figura 2 representa
mais importante para irrigar o cafeeiro conilon é
esquematicamente o armazenamento de água nos
aquela que vai do abotoamento à floração. Nesse
poros do solo considerando-o como uma caixa
caso, obteve-se um ganho de produtividade de
com saídas.
aproximadamente 37% em relação ao não irrigado.
Isso demonstra a importância do manejo da água Quando todos os poros do solo estão cheios de
no cafeeiro para obtenção de uma florada mais água, ele está saturado; isso normalmente acontece
uniforme e assegurar uma produtividade estável ao após uma irrigação excessiva ou uma chuva. Nessa
longo dos anos. condição, ocorre a drenagem do excedente de
água, permanecendo uma parte do espaço poroso
59 sacas do solo vazio, sem água. Essa água que foi drenada
Média de produtividade (5 anos)
43 sacas
Quando ocorre extração de água a partir desse
ponto, pelas raízes das plantas, a umidade do solo
continua reduzindo, até chegar a um ponto que elas
não mais conseguem absorver água em quantidade
Sem Na fase Entre Na Da floração Do aboto-
irrigação chumbinho floração e granação ao pega- amento à suficiente para manter a planta túrgida. Quando
granação mento floração
ocorre a perda total da turgescência (murcha) e a
Figura 1. Efeito da irrigação em diferentes fases vegetati- planta não mais se recupera, sem reposição de água
vas do cafeeiro conilon.
no solo, diz-se que o solo atingiu o ponto de murcha
Fonte: Adaptado de Sales e Pinto (1998).
permanente (PM). Isso ocorre a valores de tensão
Como vantagens da irrigação do cafeeiro, próximos de 15 atm. A água que fica retida com
Mantovani (2001) cita a antecipação em até um ano tensão entre 1/10 e 15 atm (solos arenosos) e entre
da primeira colheita, redução do índice de replantio 1/3 e 15 atm (solos argilosos) é conhecida como água
de mudas, maior produção na primeira safra, total disponível para as plantas ou capacidade total
possibilidade da fertirrigação, ampliação da época de água no solo (CTA), e a água retida com tensão
de plantio, entre outras. Mas, deve-se salientar que superior a 15 atm é conhecida como água inativa.
a irrigação é uma das técnicas fundamentais para Vale ressaltar que esses valores variam com o
o aumento da produtividade, entre muitas outras tipo de solo e não devem ser adotados como um
que devem estar associadas a ela. ponto fixo de referência, pois eles são afetados pela
Aliada à irrigação, é preciso que se faça podas, interação solo-água-clima-planta e também pela
desbrotas, adubações de cobertura, o controle de variabilidade espacial e temporal do solo.
plantas daninhas, pragas e doenças e que se utilize
Solo saturado
material genético compatível com a tecnologia Água de
a ser empregada. Todos esses fatores interagem, percolação
Capacidade
contribuindo para uma alta produtividade e Água
de campo
Limite superior máximo (na faixa de
qualidade da produção. disponível
(CTA)
-0,05 a -0,33
UI atm)
Umidade
Tensão
Sabe-se que as plantas começam a perder em em toda a área do projeto, logo a percentagem de
produtividade a partir de um nível de extração de área molhada é 100%. Assim sendo, (Pam/100) = 1.
água do solo. Dessa forma, é recomendável que
À medida que a planta extrai a água do solo, o
se faça a reposição da água antes que a umidade
potencial matricial2 reduz-se, exigindo que as
do solo atinja o PM. Esse ponto é chamado de
plantas aumentem o gasto de energia para extraí-
umidade de irrigação (UI), o qual é muito difícil de
la, reduzindo, assim, a partição de fotoassimilados
ser determinado na prática, pois é variável com
que seriam convertidos em produção efetiva, que
o tipo do solo, o valor econômico da cultura, a
são os grãos de café, ou no próprio crescimento
produtividade esperada, a disponibilidade hídrica,
das plantas. Portanto, para que a produtividade da
podendo até mesmo ser influenciado pelo tipo de
cultura não seja afetada significativamente, apenas
sistema de irrigação.
uma parte do total da água disponível pode ser
A Tabela 1 fornece algumas propriedades físico- utilizada pela cultura, conforme equação 2.
hídricas de diferentes tipos de solos utilizados
na elaboração de projetos de irrigação. É válido CRA = CTA f eq. 2
destacar que esses valores devem ser utilizados
com muito critério e apenas quando não existir em que:
outra informação. No entanto o mais correto é obter CRA = capacidade real de armazenamento de água
informações para cada solo, em cada projeto. no solo, em mm; e
f = fator de disponibilidade de água no solo, sempre
A quantidade de água armazenada entre a CC e o
menor que 1.
PM, até uma profundidade Z, chama-se capacidade
total de água no solo (CTA) e pode ser definida pela O fator de disponibilidade de água no solo ou
equação 1. fator de risco define a umidade mínima do solo
(Um) a que a cultura pode ser submetida sem
-
CTA = CC PM ρ.Z. Pam eq. 1 afetar significativamente a sua produção. Muitos
100 100
aspectos influenciam os limites efetivos do fator
f e afetam o desenvolvimento e a produtividade
em que:
da cultura. Recomendam-se valores menores para
CTA = capacidade total de água no solo, em mm;
culturas sensíveis ao deficit hídrico. Outro aspecto
CC = capacidade de campo, % em peso;
a ser considerado, segundo diversos autores, é o
PM = ponto de murcha, % em peso;
desenvolvimento quantitativo e qualitativo do
ρ = massa específica do solo, em gcm-3;
sistema radicular da cultura, que implica menor
Z = profundidade da camada em estudo, em mm; e
ou maior capacidade de reação da planta para
Pam = percentagem de área molhada, em %.
enfrentar uma redução na disponibilidade hídrica.
No caso da irrigação por aspersão, aplica-se água Portanto, esse fator deve ser determinado, por meio
2
Resultante das forças de retenção de água pelos capilares e pelas partículas do solo
(seu valor é sempre negativo).
364 Café Conilon – Capítulo 15
muito adensados, esse valor pode ser ainda maior, o intervalo entre irrigações é menor.
podendo chegar até 100% de cobertura do solo.
A eficiência dos sistemas de irrigação é influenciada
O coeficiente de solo (Ks) funciona como um fator por vários fatores, tais como: qualidade do projeto,
de penalização da ETp, quando o turno de irrigação manutenção corretiva e preventiva, topografia
for maior que um dia, e é variável com o intervalo do terreno, idade do equipamento, entre outros.
entre irrigações e a profundidade do sistema Dessa forma, ela deve ser obtida em condições
radicular, como pode ser visto na Tabela 4. reais de campo. Como um indicativo de eficiência
de irrigação, pode-se considerar que, em irrigação
Tabela 4. Coeficiente de solo (Ks) em função do intervalo por aspersão convencional com movimentação
entre irrigações e a profundidade do sistema periódica, a eficiência varia entre 70 e 85%; em
radicular sistemas de irrigação autopropelido e convencional
Profundida- Dias após a última irrigação ou chuva com canhão hidráulico, a variação da eficiência é
de das raízes entre 60 e 75%, e nos sistemas convencionais fixos,
(cm) 1 2 3 4 5 6 7
a eficiência deve variar entre 70 e 88%.
0 – 20 1,00 0,96 0,93 0,88 0,83 0,78 0,71
0 – 40 1,00 0,98 0,96 0,95 0,92 0,90 0,88 No caso de irrigação por gotejamento, não há perdas
0 – 60 1,00 0,99 0,98 0,97 0,95 0,94 0,93 por arraste pelo vento, e as perdas por evaporação
Fonte: Adaptado de Mantovani e Soares (1998).
podem ser desprezadas, logo se pode considerar
que a Eap = 1. Como a tubulação normalmente é
Conhecendo-se a capacidade real de armazena- toda soldável, as perdas na condução são nulas.
mento de água, a quantidade total de água a ser Dessa forma Ec = 1, portanto a eficiência de irrigação
reposta em cada irrigação será determinada pela em sistemas por gotejamento passa a ser igual
equação 5. à uniformidade de aplicação de água. Quando o
sistema apresentar vazamentos por algumas falhas
ITN = CRA eq. 5 de montagem das conexões, é preciso estimar essa
Ef perda ou realizar os reparos necessários.
em que: O volume de água a ser aplicado por planta será
ITN = irrigação total necessária, em mm; então definido pela equação 7.
CRA = capacidade real de armazenamento de água
no solo, em mm; e Vp = ITN .Sp .Sf eq. 7
Ef = eficiência do sistema de irrigação, em decimal.
Em irrigação por aspersão essa eficiência pode ser em que:
obtida pela equação 6. Vp = volume de água a ser aplicado por planta, em L;
ITN = irrigação total necessária, em mm;
Ef = Ed.Ec.Eap eq. 6 Sp = espaçamento entre plantas na linha de plantio,
em m; e
em que: Sf = espaçamento entre linhas de plantio, em m.
Ef = eficiência do sistema de irrigação, em decimal;
Ed = eficiência de distribuição de água, em decimal; 2.1.2 Estimativa da evapotranspiração
Ec = eficiência de condução de água da fonte até a
A irrigação é atividade agrícola, cujo objetivo é
área irrigada, em decimal; e
o fornecimento de água às culturas de modo a
Eap = eficiência em potencial de aplicação de água,
atender às suas exigências hídricas nas diferentes
em decimal.
fases de desenvolvimento, as quais irão depender
No caso de irrigação por aspersão, geralmente, fundamentalmente das condições climáticas
deixa-se que a planta consuma toda a água vigentes e da disponibilidade de água no solo.
disponível, ou seja, a água equivalente à
A irrigação é normalmente utilizada para viabilizar a
capacidade real de armazenamento de água no
exploração agrícola em regiões de clima semiárido,
solo. Enquanto que, no caso de irrigação localizada,
em áreas com secas regulares ou, ainda, com secas
raramente essa condição é alcançada, uma vez que
esporádicas (veranicos), onde se provê estabilidade
Irrigação e Manejo da Água no Café Conilon 367
Tabela 5. Irradiância solar extreterrestre (Qo), expressa em mm.dia-1, para o 15o dia de cada mês, para latitude do
Hemisfério Sul
Lat S JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
0o
14.5 15.0 15.2 14.7 13.9 13.4 13.5 14.2 14.9 14.9 14.6 14.3
2o 14.8 15.2 15.2 14.5 13.6 13.0 13.2 14.0 14.8 15.0 14.8 14.6
4° 15.0 15.3 15.1 14.3 13.3 12.7 12.8 13.7 14.7 15.1 15.0 14.9
6o 15.3 15.4 15.1 14.1 13.0 12.6 12.5 13.5 14.6 15.1 15.2 15.1
8o 15.6 15.6 15.0 14.0 12.7 12.0 12.2 13.2 14.5 15.2 15.4 15.4
10o 15.9 15.7 15.0 13.8 12.4 11.6 11.9 13.0 14.4 15.3 15.7 15.7
12 o
16.1 15.8 14.9 13.5 12.0 11.2 11.5 12.7 14.2 15.3 15.8 16.0
14o 16.3 15.8 14.9 13.2 11.6 10.8 11.1 12.4 14.0 15.3 15.9 16.2
16 o
16.5 15.9 14.8 13.0 11.3 10.4 10.8 12.1 13.8 15.3 16.1 16.4
18o 16.7 15.9 14.7 12.7 10.9 10.0 10.4 11.8 13.7 15.3 16.2 16.7
20 o
16.7 16.0 14.5 12.4 10.6 9.6 10.0 11.5 13.5 15.3 16.2 16.8
22o 16.9 16.0 14.3 12.0 10.2 9.1 9.6 11.1 13.1 15.2 16.4 17.0
24 o
16.9 15.9 14.1 11.7 9.8 8.6 9.1 10.7 13.1 15.1 16.5 17.1
26o 17.0 15.9 13.9 11.4 9.4 8.1 8.7 10.4 12.8 15.0 16.5 17.3
28 o
17.1 15.8 13.7 11.1 9.0 7.8 8.3 10.0 12.6 14.9 16.6 17.5
30o 17.2 15.7 13.5 10.8 8.5 7.4 7.8 9.6 12.2 14.7 16.7 17.6
Fonte: Sentelhas (2001).
Irrigação e Manejo da Água no Café Conilon 369
Tabela 6. Valores de coeficiente de conversão do Tanque Classe “A” (Kt) para estimativa da evapotranspiração potencial
Exposição A Exposição B
Tanque circundado por grama Tanque circundado por solo nu
Vento
(Km/dia) Posição do UR% Posição do UR%
Tanque Baixa Média Alta Tanque Baixa Média Alta
R(m)* <40% 40-70% <70% R(m)* <40% 40-70% <70%
0 0,55 0,65 0,75 0 0,70 0,80 0,85
Não há uma resposta sobre qual o melhor método favoráveis. Como principais limitações, podem-se
de irrigação, mas que uma série de fatores destacar elevados custos iniciais de operação e
define qual o sistema mais adequado para uma manutenção; distribuição de água muito afetada
determinada situação. Afirma-se ainda que o pelos fatores climáticos, principalmente pelo vento;
cafeicultor dispõe hoje de uma oferta de métodos e favorecimento ao desenvolvimento de algumas
marcas de equipamentos de irrigação, comparada doenças; risco de selamento da superfície do solo;
àquela, a que qualquer produtor dos países mais e impropriedade para água com alto teor de sais.
avançados na área agrícola tem acesso.
Dependendo do comprimento da linha lateral, sua
A irrigação do cafeeiro tem sido realizada mudança de posição pode requerer de 20 minutos
normalmente com sistemas pressurizados, com a 1 hora, acarretando uma diminuição do tempo útil
destaque para os métodos de irrigação por de irrigação, além da mobilização de boa parte da
aspersão e localizada (MANTOVANI; SOARES, mão de obra disponível para executar o serviço.
2003). Entre esses sistemas, destacam-se: aspersão
A irrigação por aspersão convencional pode utilizar
convencional, pivô central, malha, gotejamento e
diferentes tipos de aspersores, que variam de
microaspersão.
tamanho (pequeno, médio ou canhão), número
É importante que o cafeicultor tenha conhecimento de bocais (1 ou 2), material (plástico, ferro), vazão,
das diversas possibilidades para que possa tamanho de gotas, entre outros.
definir de forma adequada o melhor sistema e
O fato de tal sistema ser muito comum no meio
equipamento para sua lavoura. Essa definição
rural tem implicado vários problemas, como
deve levar em consideração vários aspectos, tais
instalação de sistema sem um adequado projeto de
como: área, topografia, a quantidade e qualidade
engenharia, manejo inadequado do sistema quanto
da água, tipo de solo, clima, capacidade de
à regulagem de pressão e vazão nos aspersores,
investimento, o nível tecnológico dos produtos,
mistura de aspersores nas linhas da irrigação, entre
espaçamento da cultura, mão de obra disponível,
outros. É um método exigente em mão de obra
assistência técnica, entre outros.
para mudança das tubulações dos aspersores. No
entanto, um bom projeto pode otimizar o seu uso
3.1 SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO pela escolha correta do aspersor, utilização de linhas
de espera, adequada distribuição dos sistemas no
Na irrigação por aspersão convencional, a campo, utilização de acessórios apropriados, entre
água é lançada sobre a superfície do terreno, outros.
a qual asemelha-se a uma chuva por causa
do fracionamento do jato de água em gotas. Sistemas portáteis para irrigação do cafeeiro ainda
Esses sistemas são geralmente constituídos de tem sido utilizados, ou seja, aqueles em que a
tubulações fixas na linha principal e portáteis nas motobomba e as tubulações adutora, principal e
linhas laterais, com características que as tornem lateral, além dos aspersores, são movimentadas
de fácil transporte, instalação e montagem, de de um ponto ao outro da área irrigada. Tal
tal modo que as operações sejam exequíveis sistema, apesar de apresentar menor custo inicial,
manualmente. É um sistema de manejo simples, tem apresentado inúmeros inconvenientes a
de baixo custo, e, por esse motivo, muito utilizado uma irrigação de qualidade. O fato de a total
em pequenas e médias propriedades (MANTOVANI; mobilidade trazer uma demora na irrigação de
BERNARDO; PALARETTI, 2013). várias áreas compromete a produtividade em razão
da dificuldade de transportar os equipamentos
Na literatura, verifica-se que as principais vantagens rapidamente de um local para o outro. Em outras
desse sistema são adaptabilidade aos diversos tipos palavras, perde-se muito tempo na preparação
de solo e topografia, possibilidade de bom controle do sistema. Além disso, muitas das vezes, não é
da lâmina de água a ser aplicada e de aplicação respeitado o espaçamento de projeto para os
de fertilizantes e tratamentos fitossanitários, aspersores e nem o diâmetro das tubulações, o que
além de um baixo custo de implantação. compromete severamente a qualidade da irrigação.
Isto acontece quando o equipamento é bem
projetado e manejado em condições de ventos Diante dos aspectos levantados, recomenda-
Irrigação e Manejo da Água no Café Conilon 371
se a implantação de sistemas de irrigação por maior pressão necessária para o funcionamento dos
aspersão convencional do tipo semiportátil, ou canhões.
seja, a motobomba e as tubulações mais difíceis de
De acordo com Mantovani, Bernardo e Palaretti
montagem rápida (adutora e principal) são fixas, e
(2013), a irrigação por aspersão do tipo malha
a linha lateral e os aspersores se movimentam. Tal
refere-se a um tipo de projeto que se caracteriza
montagem encarece um pouco o custo do projeto
pela utilização de tubulações de PVC de baixo
(20 a 30%), mas garante uma irrigação no momento
diâmetro, que são enterradas e interligadas em
certo, de qualidade e com menos emprego de mão
um sistema denominado malha. Em cada um dos
de obra, em relação ao portátil Figura 3.
pontos de instalação dos aspersores, é fixado um
Os sistemas de irrigação por aspersão convencional tubo de subida, como pode ser observado nas
caracterizam-se pela exigência de mão de obra na Figuras 5 e 6.
mudança das linhas e dos aspersores, o que, em No Brasil, a aspersão em malha teve sua divulgação
muitos sistemas de produção, torna-se um fator de nos últimos anos, na irrigação de pastagem. Esse
limitação. Diversas estratégias podem ser utilizadas sistema tem se adaptado muito bem ao cafeeiro.
para minimizar ou eliminar o problema, e cabe ao Empregado inicialmente na irrigação de áreas
projetista a escolha da mais adequada para uma pequenas, atualmente está sendo utilizado para
determinada situação. Entre as possibilidades mais lavouras médias e grandes devido às seguintes
comuns podemos citar as seguintes: vantagens (DRUMOND; FERNANDES, 2004):
• utilização de canhão hidráulico (maior espaça- • adaptação a diferentes tipos de terreno;
mento); • baixo custo de implantação quando comparado a
• utilização de mangueiras e tripés; e outros sistemas;
• utilização de sistemas fixos enterrados (malha). • baixo consumo de mão de obra (sistema fixo em
O sistema de canhão hidráulico (Figuras 3 e 4) é uma que só se movimenta o aspersor; e
variação do anterior, em que a modificação consiste • Facilidade de operação e manutenção.
na utilização de aspersores de grande porte, que Como todo sistema, também apresenta desvanta-
possibilitam maior espaçamento entre linhas gens, tais como:
laterais e aspersores e, com isso, menor utilização • Impossibilidade de automação; e
de mão de obra, além de proporcionar irrigação de • Abertura de um grande número de valetas, caso o
áreas maiores. Tais sistemas exigem maior consumo sistema seja enterrado.
de energia em relação aos demais, em razão da
A B
Figura 7. Vista de um pivô central (A) e linear (B) utilizados na irrigação do cafeeiro.
central têm a capacidade de irrigar, em apenas Quanto ao ângulo de inclinação, apresentam jato
uma revolução, áreas de até 130 ha ou mais. que varia de 250 a 300, e 60 no caso de subcopa;
Preferencialmente, essas áreas devem possuir apresentam-se com um, dois ou três bocais de 2 a
relevo plano ou levemente ondulado. Há, contudo, 30 mm de diâmetro. De acordo com a pressão de
equipamentos projetados para que possam operar funcionamento, classificam-se em: baixa pressão
em áreas de relevo irregular, com declives de até (< 250 KPa), média pressão (250 KPa a 500 KPa) e
20%. alta pressão (> 500 KPa).
Os aspersores de média pressão constituem os
3.1.2 Componentes de um sistema de irrigação mais utilizados e apresentam raio de alcance de
por aspersão 12 a 36 m. A escolha é baseada, principalmente,
na precipitação por eles fornecida (função da
Um sistema de irrigação por aspersão geralmente é pressão, do diâmetro do bocal e do espaçamento).
constituído por tubulações, aspersores, motobomba A disposição no campo mais comum é a
e acessórios. retangular, podendo ser quadrada ou triangular.
As tubulações normalmente são de alumínio, O espaçamento (múltiplo de 6 m) no campo pode
aço zincado, aço galvanizado ou PVC rígido, ser definido pelas condições de velocidade do
com comprimento padrão de 6 m e diâmetro vento. Esse espaçamento, na linha de aspersores,
variando entre 2” e 8”. Outros materiais, como o pode variar de 30 a 50% do diâmetro molhado, e
ferro fundido podem ser utilizados em linhas fixas entrelinhas até 65%.
enterradas. Com a função de conduzir a vazão As motobombas mais utilizadas, em geral, em
necessária desde a motobomba até os aspersores, irrigação por aspersão convencional, são as do tipo
as tubulações, segundo a disposição no terreno, centrífugas de eixo horizontal. Elas têm a função
classificam-se em: linhas laterais – geralmente são de captar a água na fonte e impulsioná-la, sob
providas de acoplamentos rápidos, conduzem a pressão, na tubulação, para suprir o sistema de
água até os aspersores; linhas secundárias – de aspersores. Acoplado à bomba existe um motor,
alumínio, PVC ou aço zincado, alimentam as linhas normalmente elétrico ou a diesel. O conjunto deverá
laterais a partir da linha principal; linha principal – ser dimensionado para fornecer vazão suficiente
em PVC, aço zincado ou alumínio, conduz a água ao sistema à altura manométrica requerida. A
da motobomba até as linhas secundárias. altura de elevação da água, desde o manancial até
Os aspersores constituem as peças principais do a área irrigada, constitui um dos principais fatores
sistema, responsáveis pela distribuição da água envolvidos no consumo de energia, e à medida que
sob o terreno, na forma de chuva. Os aspersores aumenta essa altura, mais elevados deverão ser os
rotativos podem ser de giro completo (3600) ou níveis de eficiência dos sistemas de irrigação para
do tipo setorial, sendo estes últimos utilizados resultar em um consumo energético satisfatório.
em áreas periféricas do campo ou sob condições Os acessórios mais comuns são tampão final,
especiais. haste de subida do aspersor, engate rápido para
374 Café Conilon – Capítulo 15
aspersores com válvula de saída, curvas, válvulas de tamanho dependem da vazão aplicada, do tipo de
linha, joelhos de derivação, manômetros, registros emissor, da duração da irrigação e do tipo de solo.
de gaveta, derivação em “T”, válvula de retenção, A infiltração ocorre em todas as direções, porém no
válvula de pé, borrachas de vedação, entre outros. sentido vertical, é mais pronunciada quando o solo
apresenta características arenosas.
Figura 8. Detalhe da irrigação localizada por microspray Figura 9. Componentes da estação de controle de um
na cultura do café. sistema de irrigação localizada.
discretos e contínuos. Distinguem-se em iguais a estas últimas, pois são de múltiplas saídas.
miniaspersores (difusores ou microaspersores), São dimensionadas e devem permitir uma pressão
gotejadores, mangueiras ou tubulações de adequada no início de cada lateral derivando a
gotejadores (tubo gotejador, mangueira porosa, vazão necessária para cada uma delas.
mangueira perfurada) e o microspray, que é um
As linhas secundárias são aquelas que abastecem
emissor intermediário entre o gotejador e o
as de derivação. O dimensionamento deve-se
microaspersor. As caraterísticas fundamentais
basear em critérios econômicos, cujos diâmetros
que devem apresentar um emissor e que definem
mais comuns são de 20 a 80 mm. Podem ser
sua escolha consistem em vazão uniforme e
de polietileno ou PVC. A linha principal é a que
constante, reduzida sensibilidade a obstruções,
conduz a água da motobomba passando pelo
elevada uniformidade de fabricação, resistência à
cabeçal de controle, até as linhas secundárias.
agressividade química e ambiental, estabilidade
Podem ser de PVC ou até mesmo de polietileno
da relação pressão-vazão, reduzida perda de carga
de alta densidade, dependendo das condições de
nos sistemas de conexão, resistência ao ataque de
pressão, a qual será submetida.
insetos e/ou roedores e baixo custo de aquisição.
Os emissores, dentro do custo total de um sistema, Denomina-se cabeçal de controle o conjunto de
correspondem à parcela de 5 a 10%. elementos que permite o tratamento da água
de irrigação, sua filtragem, medição, controle de
Em sistemas de irrigação localizada, as tubulações
pressão e aplicação de fertilizantes. Sua composição
são normalmente de polietileno (baixa e média
pode variar em muitos casos. Por exemplo, há
densidade) e de PVC (linha principal), de acordo
instalações em que os fertilizantes são aplicados
com a ordem de funcionamento (Figura 10). Devem
a partir do cabeçal de controle, entretanto, em
ser muito bem dimensionadas, atendendo às
algumas instalações, as aplicações são realizadas
condições hidráulica e de operação requeridas.
nas unidades de irrigação. Muitas vezes a água
No custo do sistema, correspondem à parcela apresenta alguns problemas de qualidade que
de 60 a 70% do valor total. As linhas laterais são limitam o seu uso em sistemas localizados,
tubulações de última ordem no sistema, sobre podendo provocar a obstrução dos emissores.
as quais são conectados os emissores. Devem
Em alguns casos, antes da filtragem, é necessário
ser dimensionadas de forma a permitir que os
tratamento químico para eliminação de algas
emissores distribuam a água com um adequado
utilizando oxidantes, como hipoclorito de sódio.
grau de uniformidade minimizando a variação de
Outro caso é a aplicação de ácidos para evitar a
vazão ao longo do seu comprimento.
formação de precipitados de cálcio.
Normalmente, as linhas laterais são de polietileno
Os filtros de areia são elementos típicos e
flexível de baixa densidade, com diâmetros
indispensáveis para a eliminação de algas,
internos regularmente comercializados com 13 ou
impurezas orgânicas e vegetais e retenção de
16 mm. As linhas de derivação são tubulações que
partículas minerais. Sempre é conveniente a
alimentam as linhas laterais. Hidraulicamente são
instalação de dois filtros para facilitar a limpeza ao desenvolvimento normal das culturas, de
sem parada de todo o sistema. modo que a quantidade aplicada não exceda a
capacidade de adsorção e de aproveitamento do
Os filtros de tela são sempre necessários logo após
sistema radicular da cultura, pois tanto o excesso
o equipamento de fertirrigação, para eliminar
quanto a deficiência hídrica causam prejuízos
impurezas minerais que atravessam os filtros
econômicos na agricultura.
de areia e que são provenientes dos adubos
dissolvidos. Dos filtros disponíveis no mercado,
a maioria é provida de mecanismos que facilitam 3.2.3 Uniformidade de aplicação de água em
a limpeza. O equipamento de fertirrigação, sistema de irrigação localizada
obrigatoriamente, não poderá ser instalado antes
dos filtros de areia. De acordo com Silva, César e Silva, Cícero (2005), do
volume total de água que é aplicada ao solo, apenas
Fernandes (2013) apresenta um levantamento uma pequena parte é absorvida e aproveitada pelas
detalhado sobre os custos de implantação de culturas, pois normalmente ocorrem perdas por
sistemas de irrigação utilizados na cafeicultura vazamento e percolação profunda, dependendo
brasileira, que pode ser visto resumidamente na do manejo adotado e da uniformidade de aplicação
Tabela 7. Observa-se que os custos podem variar de água do sistema. Por isso, torna-se necessária a
de R$ 2.200,00 para o sistema de irrigação por determinação da uniformidade de aplicação de
aspersão convencional a R$ 8.000,00 para o sistema água em qualquer sistema de irrigação, pois esse
de irrigação por gotejamento autocompensante parâmetro é utilizado para medir a variabilidade de
em uma lavoura de café adensado. água aplicada.
Tabela 7. Custo de implantação (R$ ha-1) para os sistemas A uniformidade de distribuição de água de
de irrigação utilizados para o cafeeiro um sistema de irrigação é um dos principais
Custo de Implantação parâmetros para o diagnóstico da situação de
Sistema de Irrigação
(R$ ha-1) funcionamento do sistema, sendo, inclusive, um
Pivô Central 5.000,00 dos componentes para determinação do nível de
Pivô Central LEPA 5.500,00 eficiência, no qual o sistema trabalha e pelo qual a
Gotejamento Autocompensante
em plantio adensado
8.000,00 lâmina aplicada deverá ser corrigida para fornecer
Gotejamento Convencional em água de modo que a cultura irrigada tenha um
7.000,00
plantio adensado pleno desenvolvimento (MANTOVANI; BERNARDO;
Gotejamento Convencional 5.000,00 PALARETTI, 2013).
Aspersão em Malha 3.800,00
Aspersão Convencional 2.200,00 Em sistemas de irrigação localizada, a uniformidade
Fonte: Adaptado de Fernandes (2013). de aplicação de água pode ser expressa por meio
de vários coeficientes, entre os quais se destacam o
Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC)
3.2.2 Eficiência do sistema de irrigação localizada e o Coeficiente de Uniformidade de Emissão (CUE).
A eficiência de um sistema de irrigação localizada
pode ser definida como sendo a relação entre
a quantidade de água armazenada no sistema 3.2.3.1 Coeficiente de Uniformidade de Christiansen
radicular e quantidade total derivada da fonte. (CUC)
A eficiência de um sistema deve levar em O Coeficiente de Uniformidade de Christiansen
consideração a uniformidade de aplicação ou (CUC), proposto por Christiansen (1942) e
distribuição de água e as perdas que podem ocorrer apresentado por Mantovani, Bernardo e Palaretti
durante e após o funcionamento do sistema. (2013), que considera o desvio médio absoluto
Entre as perdas que podem ocorrer, destacam- como medida de dispersão, é determinado a partir
se aquelas por percolação, por evaporação e da equação 11:
devido ao vazamento no sistema de condução
de água, pois o uso eficiente da irrigação eq. 11
consiste no fornecimento de água necessária
378 Café Conilon – Capítulo 15
Tabela 9. Resultado do teste de uniformidade de distribuição de água (L h-1) do Projeto de Irrigação Localizada por
Gotejamento
1ª Linha Lateral 1/3 Origem 2/3 Origem Última Linha Lateral
Primeiro emissor da L.L. 12,64 12,46 12,50 12,56
Situado a 1/7 da L.L. 12,32 12,58 12,56 12,44
Situado a 2/7 da L.L. 11,18 12,52 12,46 12,36
Situado a 3/7 da L.L. 12,40 12,35 12,30 12,26
Situado a 4/7 da L.L. 11,28 12,34 12,18 11,98
Situado a 5/7 da L.L. 10,46 12,22 11,90 11,40
Situado a 6/7 da L.L. 12,34 11,62 11,35 11,22
Último emissor da L.L. 12,05 12,16 11,16 10,95
Fonte: Elaborada pelos autores.
Tabela 10. Resultado do teste de uniformidade de distribuição de água (mm) do Projeto de Irrigação Localizada por
Gotejamento
1ª Linha Lateral 1/3 Origem 2/3 Origem Última Linha Lateral
Primeiro emissor da L.L. 2,88 2,84 2,85 2,86
Situado a 1/7 da L.L. 2,81 2,87 2,86 2,84
Situado a 2/7 da L.L. 2,55 2,85 2,84 2,82
Situado a 3/7 da L.L. 2,83 2,82 2,80 2,80
Situado a 4/7 da L.L. 2,57 2,81 2,78 2,73
Situado a 5/7 da L.L. 2,38 2,79 2,71 2,59
Situado a 6/7 da L.L. 2,81 2,65 2,59 2,56
Último emissor da L.L. 2,75 2,77 2,54 2,49
Fonte: Elaborada pelos autores.
Tabela 11. Valores dos desvios das vazões em relação à vazão média coletada (L h-1)
1ª Linha Lateral 1/3 Origem 2/3 Origem Última Linha Lateral
Primeiro emissor da L.L. 0,62 0,44 0,48 0,54
Situado a 1/7 da L.L. 0,30 0,56 0,54 0,42
Situado a 2/7 da L.L. -0,84 0,50 0,44 0,34
Situado a 3/7 da L.L. 0,38 0,33 0,28 0,24
Situado a 4/7 da L.L. -0,74 0,32 0,16 -0,04
Situado a 5/7 da L.L. -1,56 0,20 -0,12 -0,62
Situado a 6/7 da L.L. 0,32 -0,40 -0,67 -0,80
Último emissor da L.L. 0,03 0,14 -0,86 -1,07
Fonte: Elaborada pelos autores.
Tabela 12. Valores dos desvios das vazões em relação à vazão média coletada (mm)
1ª Linha Lateral 1/3 Origem 2/3 Origem Última Linha Lateral
Primeiro emissor da L.L. 0,14 0,10 0,48 0,11
Situado a 1/7 da L.L. 0,07 0,13 0,12 0,10
Situado a 2/7 da L.L. -0,09 0,11 0,10 0,08
Situado a 3/7 da L.L. 0,09 0,08 0,06 0,05
Situado a 4/7 da L.L. -0,17 0,07 0,04 -0,01
Situado a 5/7 da L.L. -0,36 0,05 -0,03 -0,14
Situado a 6/7 da L.L. 0,07 -0,01 -0,15 -0,18
Último emissor da L.L. 0,01 0,03 -0,20 -0,24
Fonte: Elaborada pelos autores.
380 Café Conilon – Capítulo 15
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Foto: Daniel Simões
383
16
Manejo Integrado de
Plantas Daninhas
Cláudio Pagotto Ronchi, Felipe Paolinelli de Carvalho e Antonio Alberto da Silva
área, produzem grande quantidade de sementes, de todas as espécies da área durante todo o ciclo
possuem rápido crescimento e facilidade de da cultura. A melhor prática é sempre a integração
estabelecimento dentro do sistema de manejo de dos diversos métodos de controle (preventivo,
produção. Todavia, a característica principal de cultural, mecânico e químico), que, por sua
importância é a baixa susceptibilidade aos métodos vez, demanda programação e conhecimento
de controle empregados pelos produtores, dos fatores envolvidos. Isso porque as plantas
sobretudo ao controle químico tornando o método, daninhas podem acrescentar benefícios ao
quando utilizado de forma não adequada, ineficaz, cafeeiro, seja pela proteção do solo contra erosão
o que favorece o estabelecimento e predominância e aquecimento excessivo pelo sol, manutenção da
dessas espécies na lavoura. Mais adiante, neste matéria orgânica do solo, ciclagem de nutrientes
texto, serão discutidas algumas estratégias de ou por permitir maior infiltração de água no
manejo dessas espécies de plantas daninhas. solo (Figura 3). Dessa forma, as estratégias de
manejo devem ser programadas considerando
todos os benefícios e prejuízos potenciais das
plantas daninhas para o conilon, as características
3 MÉTODOS DE CONTROLE DE PLAN- da cultura, o aproveitamento dos insumos e
TAS DANINHAS recursos, a redução nos custos de produção, a
As práticas de controle de plantas daninhas no máxima segurança do aplicador e do ambiente
conilon devem visar ao manejo e não à erradicação e a sustentabilidade da produção cafeeira. Esse
A B
Figura 2. Fotos de plantas daninhas tolerantes ao glyphosate, infestantes de lavouras capixabas de conilon. Trapoeraba
(A); Capim-amargoso (B).
Foto: Cláudio Pagotto Ronchi.
386 Café Conilon – Capítulo 16
menor espaço de tempo ocorre o sombreamento AGUILAR; STAVER; MILBERG, 2003; SHIVAPRASAD
do solo e menos área de solo fica livre para et al., 2005; RONCHI; TERRA; SILVA, 2007; SANTOS;
infestação (SILVA; RONCHI, 2008). Ressalte- MARCHI, G.; MARCHI, E., 2008; ALCÂNTARA;
se que o adensamento do café conilon é uma NÓBREGA; FERREIRA, 2009; ARAÚJO et al., 2012).
prática extremamente interessante para aumento Destaca-se, entretanto, que, mesmo mantendo
de produtividade e está sendo adotada pelos a cobertura vegetal na entrelinha, é importante
produtores. Inclusive, alguns trabalhos de pesquisa conservá-la afastada da copa (ou saia) do cafeeiro
apontam maiores produtividades em cultivos (Figuras 5 e 6) para minimizar a competição por
adensados de conilon (ver capítulo 11 “Manejo da recursos, sobretudo por luz. Por isso, a exemplo
Cultura do Café Conilon: Plantio, Espaçamento, do que é feito no café arábica (MAGALHÃES et al.,
Podas e Desbrotas”). Considerando que o 2012), o controle de plantas daninhas nas lavouras
adensamento reduz a germinação de sementes das jovens de café conilon deve ser feito em faixas, na
plantas daninhas pela cobertura da área e redução linha de plantio, de forma que sua largura aumente
da luminosidade na superfície do solo, o maior progressivamente com a idade do cafeeiro.
número de hastes e o seu posicionamento menos
verticalizado também são fatores que contribuem
positivamente para o manejo de plantas daninhas
no conilon. Esses são aspectos que diferem
significamente da cafeicultura de arábica,
sobretudo daquela em renques mecanizados,
como no Cerrado, com amplos espaçamentos na
entrelinha (ARAÚJO et al., 2012; RONCHI; FERREIRA;
SILVA , 2014).
Visando ao controle cultural, outra prática que
também pode ser utilizada são as coberturas
vegetais (verdes ou mortas) nas entrelinhas Figura 4. Implantação de lavoura de café conilon em área
de pastagem.
do cafeeiro. Elas podem ser oriundas da
Foto: Wander Ramos Gomes.
própria vegetação daninha ou do plantio de Nota: A braquiária deve ser mantida na entrelinha, distante das plantas jovens, e
espécies de controle relativamente fácil, como manejada através de roçadas ou herbicidas não seletivos em jato dirigido.
se fazer o manejo de plantas daninhas na cultura manual com uso de enxada na linha de plantio
do mamoeiro, que é muito criterioso devido aos (comum em lavouras jovens de café conilon) e
problemas fitossanitários da lavoura (RONCHI et o uso de cultivadores são exemplos de métodos
al., 2008), o cafeeiro também se beneficia dessa de controle mecânico. Outras técnicas muito
operação, ficando livre dos efeitos danosos da empregadas na cafeicultura são a aração e a
competição. Nesse consórcio, o controle de plantas gradagem por ocasião do preparo do solo para o
daninhas nas entrelinhas café/mamão é feito plantio; o uso de roçadeira ou trincha no manejo das
com glyphosate; enquanto na linha, com capinas plantas daninhas, na entrelinha ou bem próximo
manuais (Figura 6). à linha de plantio; a trincha de regulagem versátil
ou a “roçadeira ecológica”, que ainda permite o
direcionamento do material vegetal cortado à linha
de plantio ou na sobreposição da copa das plantas.
Todos os métodos mecânicos possuem boa
eficiência no controle de espécies jovens, em
condições do solo mais seco, e alguns são sempre
utilizados em todas as propriedades cafeeiras,
como a roçadeira. Entretanto, a capina ou o
cultivador possuem limitações que comprometem
a eficiência do método. No cafeeiro, as restrições
Figura 5. Manejo integrado de plantas daninhas em consistem na dificuldade de controle das plantas
lavouras de conilon em formação. daninhas próximas ao caule da cultura, a baixa
Foto: Wander Ramos Gomes. eficiência quando realizado no período chuvoso e
Nota: A vegetação natural na entrelinha é manejada adequadamente para evitar a
em áreas com presença de plantas de propagação
competição por recursos, sobretudo competição por luz. vegetativa (SILVA et al., 2007b). Essas práticas ainda
podem danificar o sistema radicular superficial da
cultura, prejudicando a absorção de nutrientes e
promovendo meios de infecção de patógenos do
solo.
ALMEIDA, 2011). Algumas poucas características, Os herbicidas podem ser aplicados antes ou após
classificação e cuidados no manuseio, modo de a emergência das plantas daninhas. Nas aplicações
aplicação, dosagem e condições climáticas para em pré-emergência, é comum, por exemplo, a
pulverização desses produtos serão destacados utilização de oxyfluorfen em jato dirigido ao solo,
neste texto. De qualquer forma, as principais em faixas na linha de plantio, imediatamente após
vantagens e desvantagem precisam ser conhecidas o transplantio. É importante levar em consideração
antes da escolha desse método. o histórico de plantas daninhas na área e as
características químicas do solo na escolha e na
Todos os produtos possuem algum nível de
dose. A aplicação em pós-emergência, por sua
toxicidade ao aplicador, à cultura e ao meio
vez, pode ser realizada antes da implantação da
ambiente. Para a aplicação, é essencial a
cultura, no caso de dessecação em área total, ou
qualificação do aplicador/operador e o uso de
após a implantação da cultura, nas entrelinhas,
equipamentos de aplicação e proteção adequados.
levando em consideração as espécies que ocorrem
Qualquer descumprimento desses fatores é
na área e seu estádio de desenvolvimento, entre
causa de intoxicação e insucesso no controle.
outros fatores, para escolha do herbicida e das
O potencial de intoxicação, a seletividade do
doses. Em pós-emergência, recomenda-se seguir
herbicida, o comportamento do produto no
as recomendações da bula do produto e programar
ambiente e a tecnologia de aplicação apropriada
a aplicação nos estádios jovens da planta daninha,
são fundamentais e não podem ser negligenciados.
sempre que possível, garantindo a eficiência
Dessa forma, esses aspectos precisam ser levados
dos herbicidas e a escolha de menores doses do
em consideração e ser de domínio e conhecimento
produto.
do técnico e do aplicador antes da tomada de
decisão pelo uso de herbicidas na lavoura de café Em lavouras em produção, herbicidas podem ser
conilon. usados para o controle de plantas daninhas nas
ruas ou entrelinhas do cafezal. A necessidade é
A recomendação eficiente do controle químico se
maior em lavouras menos adensadas ou que ainda
inicia na escolha do herbicida, na sua dose e época
não fecharam toda a área e naquelas que foram
de aplicação. Para isso, a identificação do alvo, ou
podadas, em que o solo fica mais exposto. O manejo
seja, das espécies de plantas daninhas presentes
(dessecação) é feito principalmente com herbicidas
na área, seu estádio de desenvolvimento e as
aplicados em pós-emergência das plantas daninhas.
condições ambientais são fundamentais. Quando
As épocas de manejo concentram-se no período
o produto for aplicado ao solo, o conhecimento
que vai do início da estação chuvosa e quente até
de suas características físicas e químicas também
a fase de pré-colheita. As aplicações de dessecação
são de grande importância, principalmente o pH,
são realizadas em faixas próximas à saia do cafeeiro
a textura e o teor de matéria orgânica, sendo as
(mantendo a vegetação no centro da entrelinha) ou
duas últimas determinantes na escolha da dose. A
em toda a entrelinha, sobretudo na época de pré-
menor toxicidade ao homem e ao ambiente deve
colheita.
ser considerada, sempre que possível, na escolha
do herbicida pelo técnico responsável. Em várias ocasiões, produtores de café fazem
o controle na linha de plantio com herbicidas
Os herbicidas registrados para uso não causarão
seletivos aplicados em pós-emergência das plantas
problemas (intoxicação) ao cafeeiro desde que
daninhas, como os inibidores da ACCase (e.g.
respeitadas as doses (para as moléculas seletivas)
fluazifop-p-butil), obviamente para controle apenas
e utilizadas as tecnologias adequadas para sua
de gramíneas. O uso de herbicida não seletivo em
pulverização, principalmente no caso da aplicação
aplicação dirigida à linha de plantio (por exemplo,
em jato dirigido de produtos não seletivos. Neste
glyphosate) também é recomendado, desde que
último tipo de aplicação, é comum a utilização
se faça uso de tecnologia de aplicação adequada,
de barreiras físicas a fim de evitar o contato do
sem deriva à planta de café. É importante também
herbicida com o cafeeiro (RODRIGUES et al., 2003),
que as plantas daninhas estejam jovens para que
como por exemplo o chapéu-de-napoleão e as
as doses utilizadas sejam reduzidas e para que não
barras protegidas para aplicação sob a copa (saia)
haja contato entre as copas das plantas (tratadas e
da lavoura ou somente na entrelinha.
390 Café Conilon – Capítulo 16
não tratadas). Apesar da possibilidade do uso do das folhas, da penetração, da absorção foliar e da
glyphosate na linha de plantio do cafeeiro, alguns translocação na planta até os sítios de ação onde
trabalhos realizados com mudas de café arábica atua (KIRWOOD; MCKAY, 1994). Qualquer espécie
têm demonstrado que a deriva do glyphosate pode de planta daninha que apresente características
comprometer o crescimento, o status nutricional e a que dificultem esses processos poderá não ser
atividade fotossintética do cafeeiro jovem devido à controlada adequadamente, desfavorecendo,
intoxicação das mudas (FRANÇA et al., 2010a, 2010b, portanto, a eficiência do controle. A aplicação
2013; CARVALHO et al., 2013). Mas essa resposta repetitiva do herbicida glyphosate gera mudanças
não é consenso (CARVAHO et al., 2012). As plantas na comunidade de plantas daninhas da área,
jovens de café conilon também exibem maior como resultado da pressão de seleção sobre as
sensibilidade à interferência de plantas daninhas e, espécies de plantas daninhas capazes de tolerarem
da mesma forma, mostram maior sensibilidade aos o herbicida. Relatos de técnicos descrevem que
herbicidas. Segundo Yamashita et al. (2013), plantas algumas espécies sobressaem ao controle químico
de café conilon com dez folhas verdadeiras foram após o uso prolongado e intensivo do glyphosate,
sensíveis à deriva dos herbicidas glyphosate, 2,4-D e isolado ou em mistura com 2,4-D. Muitas dessas
oxyfluorfen, uma vez que eles causaram sintomas de espécies, conforme mencionado no início deste
intoxicação e comprometeram o desenvolvimento texto, ocorrem nas lavouras de café conilon e são de
em Coffea canephora. No entanto, seguindo difícil manejo.
corretamente os cuidados da recomendação dos
As espécies de trapoeraba (C. benghalensis e
respectivos herbicidas, a deriva não ocorrerá e
Commelina diffusa) possuem alta capacidade de
tampouco os danos à cultura.
tolerar doses de glyphosate que normalmente
controlariam uma população sensível. Essa
3.4.1 Manejo de espécies tolerantes ao característica de tolerância aparentemente decorre
glyphosate das reservas de amido nos caules dessas espécies,
que dificultam a translocação do herbicida para seu
O glyphosate é o herbicida mais utilizado sítio ativo (SANTOS et al., 2002b). Ademais, existem
(isoladamente ou em mistura) no Brasil e no tolerâncias diferenciais entre as espécies, uma vez
Mundo, pois apresenta ação total e é de baixo que a dose que controlou a espécie C. diffusa foi três
custo, proporciona controle rentável e prático vezes superior àquela que controlou eficientemente
de muitas espécies de plantas daninhas. O seu a espécie C. benghalensis (SANTOS et al., 2001).
registro é para recomendação do controle de Para seu controle, usa-se a mistura de tanque do
mais de 150 espécies de plantas, incluindo glyphosate com 2,4-D ou a aplicação isolada de 2,4-
monocotiledôneas e dicotiledôneas, anuais e D, sendo ambas muito eficientes (SANTOS et al.,
perenes. O herbicida possui ação sistêmica em 2002a).
aplicação em pós-emergência das plantas e largo
espectro de controle de plantas daninhas (FRANZ; Os herbicidas carfentrazone-ethil, flumioxazin
MAO; SIKORSKI, 1997), mas não é seletivo para e sulfentrazone também mostraram potencial
o cafeeiro, devendo, portanto, ser aplicado em de controle de trapoeraba, independentemente
jato dirigido, com auxílio de proteção do bico de da mistura com glyphosate (MONQUEIRO;
pulverização. A absorção ocorre preferencialmente CHRISTOFFOLETI; SANTOS, 2001). Tratamentos
pelas folhas, mas também pelas demais partes sequenciais das misturas de paraquat+diuron com
vivas da planta, sendo o processo influenciado carfentrazone-ethyl+glyphosate e duas aplicações
por vários fatores, como espécie, idade da planta, de paraquat+diuron com intervalo de 21 dias
condições ambientais, concentração do herbicida mostraram-se mais eficientes no controle das duas
e surfactante utilizado (MONQUEIRO et al., 2004). espécies de trapoeraba (RONCHI et al., 2002a). A
identificação da espécie é imprescindível no manejo
Após atingir a planta e ser absorvido pelas folhas, adequado, que deve também ser realizado antes
o glyphosate é translocado para os tecidos do florescimento (RONCHI et al., 2002b), mesmo
meristemáticos (pontos de crescimento). A eficácia porque a planta daninha adquire maior tolerância
depende da retenção da molécula na superfície nos estádios de maior desenvolvimento (DIAS;
Manejo Integrado de Plantas Daninhas 391
CARVALHO; CHRISTOFFOLETI, 2013). Uma vez que tomar os cuidados necessários para não intoxicar
produzam sementes e reservas, a capacidade de o cafeeiro durante a aplicação, o que se constata
rebrota e reinfestação por sementes (inclusive frequentemente em condições de campo.
sementes subterrâneas no caso da C. benghalensis)
aumentam, e a eficiência do controle em longo
prazo é prejudicada.
O capim-amargoso ou capim-bandeira (D.
insularis) suporta doses elevadas de glyphosate e
sua brotação é rápida após o efeito do herbicida.
A escolha de herbicidas alternativos leva em
consideração o potencial graminicida do produto.
O quizalofop-p-tefuril, combinado à aplicação
sequencial de glyphosate 15 dias após, melhora o
controle de D. insularis (CORREIA; DURIGAN, 2009).
Ensaios recentes também evidenciaram controle
eficiente de diferentes populações de D. insularis
com a mesma associação de herbicidas, mostrando
o potencial da combinação do glyphosate com
quizalofop a fim de aumentar o controle dessa
planta daninha (CORREIA; ACRA; BALIEIRO, 2015).
Barroso et al. (2014), avaliando a mistura de
glyphosate com quizalofop-p-tefuril, cletodim,
setoxydim e haloxyfop, observaram que todas as
misturas foram eficazes no controle de D. insularis
nos estádios iniciais de desenvolvimento. Contudo,
nos estádios mais desenvolvidos da planta daninha,
pode ocorrer efeito antagônico da mistura. Assim, Figura 7. Lavoura de café conilon evidenciando a presença
a associação com outros métodos de controle e a da buva (Conyza spp.), que tem apresentado
aplicação de outros herbicidas de forma sequencial tolerância ao manejo com glyphosate.
são importantes para o controle de D. insularis. Foto: Antônio de Pádua Motta.
pela deficiência na tecnologia de aplicação dos 2) Medir a largura média livre da rua, ou seja, a
herbicidas, particularmente devido à não calibração largura da faixa de aplicação (ex.: 1,0 m);
dos pulverizadores (RONCHI; FERREIRA; SILVA, 2014).
3) Calcular a área demarcada (AD) dentro da lavoura
Calibrar implica determinação do volume de calda (ex.: AD = 50,0 x 1,0 = 50,0 m2);
ou volume de aplicação (água + herbicida) a ser
4) Colocar uma quantidade de água conhecida no
aplicado por hectare, para uma determinada con-
pulverizador (ex.: 4,0 L);
dição de trabalho e de equipamentos (RAMOS; PIO,
2003; FERREIRA, L.; FERREIRA, F.; MACHADO, 2007). 5) Uma vez definido o conjunto de pulverização
Após montado o pulverizador, com barra e ponta (pulverizador, barra, reguladores de pressão, filtros
de pulverização, e abastecido com água, antes de e ponta de pulverização) e a pessoa que irá aplicar
iniciar a calibração, deve-se verificar o seu funcio- (operador), pulverizar água na AD, caminhando à
namento, se não há eventuais vazamentos e se os velocidade normal de trabalho;
equipamentos estão funcionando perfeitamente. 6) Medir o volume de água que sobrou no
A seguir, exemplifica-se a calibração de pulverizador pulverizador (ex.: 3,0 L);
hidráulico costal para duas situações: aplicação 7) Calcular o volume gasto de água (ex.: volume
de herbicidas não seletivos em pós-emergência, gasto = 4,0 – 3,0 = 1,0 L);
em lavouras de café conilon adultas (dessecação)
e aplicação de herbicidas em pré-emergência, na 8) Calcular o volume de calda (VC) necessário para
linha de plantio, em lavoura recém-implantada. aplicação em 1,0 ha (10.000 m2):
Para detalhamento sobre tecnologias de aplicação
de herbicidas recomenda-se a leitura de Ferreira, L., VC (L ha–1) =
Volume gasto na AD (L) x 10.000,0 (m2)
Ferreira, F. e Machado (2007) e Nicolai e Christoffoleti AD (m2)
(eq. 1)
(2014). VC (L ha ) =
–1 1,0 x 10.000,0
= 200,0 L ha–1
50,0
3.4.2.1 Calibração do pulverizador costal para 9) Para calcular o volume de herbicida (VH) a ser
aplicação de herbicida em pós-emergência, colocado em 20,0 L (capacidade do pulverizador
na entrelinha de lavoura adulta costal), é preciso saber qual a dose recomendada
Seguem abaixo os passos: tecnicamente do produto. Ex.: Roundup Original
1) Marcar na lavoura (Figura 8), em uma rua (ou (2,0 L ha-1):
entrelinha) representativa do talhão a ser tratado,
uma distância conhecida (ex.: 50,0 m); Dose recomendada ( L ha–1) x 20,0 (L)
VH =
VC (L) (eq. 2)
2,0 x 20,0
VH = = 0,2 L = 200,0 mL de Roundup para cada bomba de 20,0 L
200,0
2,5 x 20,0
VH = = 0,25 L = 250,0 mL de Goal para cada bomba de 20 L
200,0
Gastos com os recursos utilizados para o controle varie consideravelmente entre lavouras e entre re-
das plantas daninhas, ou seja, como mão de giões, e os métodos de controle e estratégias de
obra, herbicidas, óleo diesel ou manutenção manejo devem ser cuidadosamente recomenda-
de implementos, como roçadoras, trinchas ou dos analisando-se cada situação. Infelizmente, nas
aplicadores de herbicidas, acabam sendo baixos últimas décadas, foram insuficientes as pesquisas
quando comparados com a perda da produtividade científicas realizadas com o café conilon no que res-
das lavouras por consequência da sua má utilização. peita aos diversos aspectos do manejo integrado
Em outras palavras, a baixa participação nos custos de plantas daninhas, o que limitou, sobremodo, a
de produção não reflete os danos causados pelo erro redação deste texto. Por essa mesma razão, muitas
no controle de plantas daninhas e consequentes informações apresentadas e discutidas acima foram
prejuízos aos cafezais. Logo, espera-se uma redução extraídas de resultados obtidos em pesquisas com
significativa do custo da saca de café em lavoura livre café arábica. De qualquer forma, essa lacuna especí-
de competição em relação àquela com convivência, fica de conhecimento na cultura do conilon poderá
devido a prováveis melhores produtividades ser superada, futuramente, com investimentos em
obtidas pela primeira situação (RONCHI; FERREIRA; pesquisas científicas na área de plantas daninhas.
SILVA, 2014).
Adicionalmente às decisões técnicas (escolha
correta do herbicida, identificação das plantas 6 REFERÊNCIAS
daninhas, adequação da tecnologia de aplicação),
AGUILAR, V.; STAVER, C.; MILBERG, P. Weed
deve-se incluir o planejamento técnico e financeiro
vegetation response to chemical and manual
para a condução da atividade. Nele, devem estar selective ground cover management in a shaded
contemplados todos os recursos necessários, assim coffee plantation. Weed Research, v. 43, p. 68-75,
como a forma e momentos corretos de serem 2003.
empregados para que a atividade seja lucrativa
ALCÂNTARA, E. N.; FERREIRA, M. M. Efeitos de
e as ações para o controle das plantas daninhas
métodos de controle de plantas daninhas na
na lavoura de conilon sejam eficientes (RONCHI; cultura do cafeeiro (Coffea arabica L.) sobre a
FERREIRA; SILVA, 2014). qualidade física do solo. Revista Brasileira de
Ciências do Solo, v. 24, n. 4, p. 711-721, 2000.
ALCÂNTARA, E. N.; NÓBREGA, J. C. A.; FERREIRA,
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS M. M. Métodos de controle de plantas daninhas
no cafeeiro afetam os atributos químicos do solo.
Conforme pode ser observado no texto supracita- Ciência Rural, v. 39, n. 3, p. 749-757, 2009.
do, o manejo integrado de plantas daninhas nas
lavouras de café conilon é essencial para se garan- ARAÚJO, F. C.; RONCHI, C. P.; ALMEIDA, W. L.; SILVA,
tir o crescimento adequado da cultura, obter pro- M. A. A.; MAGALHAES, C. E. O.; GOD, P. I. V. G.
Optimizing the width of strip weeding in arabica
dutividades elevadas e, principalmente, reduzir os
coffee in relation to crop age. Planta Daninha, v. 30,
custos de produção. Todavia, os benefícios do ma-
n. 1, p. 129-138, 2012.
nejo integrado de plantas daninhas no conilon não
decorrem apenas desses aspectos, mas também da BARROSO, A. A. M.; ALBRECHT, A. J. P.; REIS, F. C.;
utilização inteligente e sustentável da presença das FILHO, R. V. Interação entre herbicidas inibidores da
plantas daninhas nas lavouras, em determinadas ACCase e diferentes formulações de glyphosate no
controle de capim-amargoso. Planta daninha, v. 32,
fases da cultura. Por exemplo, é possível preservar
n. 3, p. 619-627, 2014.
e manejar a vegetação natural nas entrelinhas das
lavouras jovens, sobretudo em terrenos inclinados, BRAGANÇA, S. M. Crescimento e acúmulo de
e fazer o controle em faixas, na linha de plantio. É nutrientes pelo cafeeiro conilon (Coffea canephora
importante ressaltar que diferentes formas de con- Pierre). 2005. 99 f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) –
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2005.
dução da lavoura são adotadas pelos produtores,
em funções do seu nível tecnológico e cultural ou CARVALHO, F. P.; FRANÇA, A. C.; LEMOS, V. T.;
mesmo das condições edafoclimáticas locais. Logo, FERREIRA, E. A.; SANTOS, J. B. dos; SILVA, A. A.
é de se esperar que o manejo de plantas daninhas Photosynthetic activity of coffee after application
Manejo Integrado de Plantas Daninhas 395
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417-476. 2008.
de glyphosate no controle de duas espécies de
Manejo Integrado de Plantas Daninhas 397
17
Manejo de Pragas do
Café Conilon
Mauricio José Fornazier, David dos Santos Martins, César José Fanton e
Vera Lúcia Rodrigues Machado Benassi
(precipitação, temperatura, umidade relativa etc.), importantes para que técnicos e produtores tenham
bem como pelo emprego correto e adequado segurança na adoção das medidas de controle,
das boas práticas agrícolas (adubação, irrigação, quando se fizerem necessárias. Na literatura
medidas de controle, entre outras). especializada, são relatadas várias espécies de
insetos e ácaros que causam danos aos cafés arábica
A correta identificação das pragas, o conhecimento
e conilon (Quadro 1).
dos fatores que favorecem sua ocorrência e a
determinação de seus níveis populacionais são
Quadro 1. Relação de artrópodes fitófagos registrados em cafeeiros arábica e conilon, no Brasil (continua)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
Pseudococcidae
Ben-Dov, Miller e Gibson (2015)
Dysmicoccus bispinosus Beardsley, 1965
Santa-Cecília e Souza (2014)
Dysmicoccus brevipes (Cockerell, 1893)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Dysmicoccus gracilis Granara de Willink, 2009
Granara de Willink (2009)
Dysmicoccus grassii (Leonardi, 1913)
Granara de Willink (2009)
Dysmicoccus neobrevipes Beardsley, 1959
Silva et al. (1968)
Dysmicoccus radicis (Green, 1933)
Fonseca, Sakiymam e Borém (2015)
Dysmicoccus texensis (Tinsley, 1900)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Ferrisia virgata (Cockerell, 1893)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Geococcus coffeae Green, 1933
Fornazier et al. (2007)
Hypogeococcus boharti Miller, 1983
Culik et al. (2013a, 2013b)
Maconellicoccus hirsutus (Green, 1908)
Ben-Dov, Miller e Gibson (2015)
Neochavesia caldasiae (Balachowsky, 1957)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Nipaecoccus coffeae (Hempel, 1919)
Fonseca, Sakiyma e Borém (2015)
Planococcus citri (Risso, 1813)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Planococcus halli Ezzat & McConnell, 1956
Fonseca, Sakiyma e Borém (2015)
Planococcus minor (Maskell, 1897)
Silva et al. (1968)
Pseudococcus comstocki (Kuwana, 1902)
Santa-Cecília e Souza (2014)
Pseudococcus cryptus Hempel, 1918
Culik e Martins (2006); Culik, Ventura e Martins
Pseudococcus elisae Borchsenius, 1947
(2009)
Pseudococcus jackbeardsleyi Gimpel & Miller, 1996
Culik et al. (2007)
Pseudococcus landoi (Balachowsky, 1959)
Ben-Dov, Miller e Gibson (2015)
Pseudococcus longispinus (Targioni Tozzetti, 1867)
Santa-Cecília, Souza (2014)
Rhizoecus caladii Green, 1933
Silva et al. (1968)
Rhizoecus coffeae Laing, 1925
Santa-Cecília, Souza (2014)
Hymenoptera
Formicidae
Acromyrmex coronatus (Fabricius, 1804) Silva et al. (1968)
Atta sexdens rubropilosa Forel, 1908 Silva et al. (1968)
Atta cephalotes (Linnaeus, 1758) Silva et al. (1968)
Atta laevigata (Smith, 1858) Silva et al. (1968)
Atta opaciceps Borgmeier, 1939 Silva et al. (1968)
Isoptera
Rhinotermitidae
Coptotermes gestroi Wasmann, 1896 Matiello et al. (2010)
Lepidoptera
Arctiidae
Bertholdia braziliensis (Hampson, 1901) Reis, Souza e Melles (1984)
Thalesa citrina (Sepp, 1848) Reis, Souza e Melles (1984)
Antarctia fusca (Walker, 1812) Silva et al. (1968)
Blastobasidae
Auximobasis coffeaella Busck, 1925 Matiello et al. (2010)
Dalceridae
Acraga moorei Dyar, 1898 Silva et al. (1968)
Dalcera abrasa Herrich-Schäffer, 1854 Matiello et al. (2010)
Zadalcera fumata Schaus, 1894 Matiello et al. (2010)
Gelechiidae
Gnorimoschema operculella (Zeller, 1873) Silva et al. (1968)
Geometridae
Glena sp. Reis, Souza e Melles (1984)
Oxydia saturniata Guenee, 1858 Matiello et al. (2010)
Thyrinteina arnobia Stoll, 1782 Reis, Souza e Melles (1984)
Limacodidae
Phobetron hipparchia Cramer, 1777 Matiello et al. (2010)
Parasa cucumenica Dyar, 1926 Silva et al. (1968)
Euclea sp. Reis, Souza e Melles (1984)
Manejo de Pragas do Café Conilon 405
(conclusão)
bioecologia das pragas e de seus inimigos naturais se agigantam as barreiras sanitárias internacionais
e direcionando para os focos das pragas e uso de em substituição às barreiras econômicas e tarifárias,
produtos via solo. A seletividade fisiológica está torna-se inadmissível a indiscriminada utilização de
relacionada à maior ou menor tolerância de cada agrotóxicos no processo produtivo. Isso contraria
um dos indivíduos que fazem parte do complexo as normatizações e exigências internacionais
dos organismos presentes na área, quando expostos demandadas pelos consumidores, o que pode
ao mesmo produto químico, ocorrendo a morte comprometer o esforço conjunto e solidário
das espécies-pragas e a preservação dos insetos empreendido no sentido de se caminhar para o
benéficos. O manejo da resistência aos agrotóxicos conceito de produção exigido pelo mercado e os
está baseado na rotação dos inseticidas e acaricidas processos de certificação da produção (ZAMBOLIM,
utilizados pelo seu modo de ação, que é o processo 2007).
bioquímico, pelo qual as moléculas dos agrotóxicos
interagem com o seu alvo, causando alterações
em processos fisiológicos normais da praga que 2 PRAGAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMI-
levam à sua morte. A grande maioria dos inseticidas CA PARA O CAFÉ CONILON
interage com alvos específicos no sistema nervoso
e são denominados neurotóxicos. Existem ainda
aqueles que interferem no processo bioquímico 2.1 BROCA-DO-CAFÉ
de síntese de quitina, no sistema endócrino Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera:
(reguladores de crescimento) e nos metabolismos Curculionidae)
energético e respiratório, além de outros que são
fagodeterrentes, desintegradores do mesêntero
ou feromônios sexuais. Para que se possa aplicar o Descrição e Biologia
princípio do manejo da resistência das pragas aos
agrotóxicos, é preciso que estejam disponibilizados Originária da África, a broca-do-café é a principal
produtos químicos registrados com diferentes praga do conilon, pois tem capacidade de atacar
modos de ação na grade de agroquímicos da os frutos em todos os estágios de maturação, de
cultura do café. verde até maduro (cereja) ou seco. Essa praga foi
constatada pela primeira vez no Brasil, em 1913,
A utilização do conceito do Manejo Integrado de no Município de Campinas, Estado de São Paulo
Pragas pode levar à sustentabilidade econômica (BERTHET, 1913). Entretanto, sua presença foi
e ambiental do cultivo de determinada espécie registrada oficialmente somente em 1924, quando
em áreas onde já existam sérios problemas de causou grandes prejuízos.
resistência de pragas aos agrotóxicos. Entretanto,
faz-se necessário trabalho de conscientização e O adulto da broca-do-café é um pequeno
mudança de paradigmas, não somente com os coleóptero preto, com o corpo cilíndrico e
agricultores, mas prioritariamente com o corpo ligeiramente recurvado para a região posterior. Os
técnico que atua na assistência técnica e extensão élitros são revestidos de cerdas e escamas piriformes
rural regional, tanto do setor público quanto do características. Os machos são semelhantes às
privado. fêmeas, mas são menores, medindo cerca de
um terço do corpo daquelas e dotados de asas
Dentro do processo de globalização, os mercados rudimentares. Por essa razão, os machos não voam
têm se tornado extremamente exigentes em e não saem dos frutos de onde se originaram. A
qualidade e segurança alimentar, caminhando para proporção na população é de um macho para dez
a comercialização de cafés superiores e especiais fêmeas (BERGAMIN, 1943; BENASSI; CARVALHO,
certificados de acordo com regulamentações 1994).
próprias. As melhorias da qualidade de vida e o
bem-estar são pontos de demanda da população O acasalamento ocorre dentro do fruto onde a
e, no processo produtivo agrícola, isso se reflete na fêmea foi originada. Logo depois, ela procura outro
valorização de alimentos que priorizem a saúde e o fruto e o perfura, geralmente na região da coroa,
respeito ao meio ambiente. Em mercados em que iniciando a escavação de uma galeria até atingir
o pergaminho da semente (Figura 1). A fêmea
408 Café Conilon – Capítulo 17
leva cerca de sete horas para penetrar totalmente ou retidos nas plantas, desde que haja condições
no fruto e pode atacar os frutos desde a fase de propícias de umidade para sua sobrevivência.
chumbinho. Assim, chuvas após a colheita propiciam condições
ideais de sobrevivência da broca, principalmente
se associadas a veranicos intensos nos meses de
janeiro e fevereiro. A desuniformidade da floração
também favorece a multiplicação da broca por
proporcionar a existência de frutos adequados para
sua alimentação por maior período.
Prejuízos
Temperaturas elevadas associadas a fatores hídricos
A B nas regiões de cultivo do conilon propiciam
Figura 1. Roseta com sintoma de ataque da broca-do- condições favoráveis ao maior desenvolvimento
café (A); e detalhe do furo da praga na região de populações da broca-do-café e permitem que
da coroa do fruto (B). a praga seja responsável por grandes perdas na
produtividade (BENASSI; CARVALHO, 1994). Depois
Entretanto, somente quando o fruto de café atinge de a fêmea perfurar o fruto e cavar as galerias com a
teor de umidade/matéria seca adequada, isto é, respectiva câmara de postura, surgem as larvas que,
passado o período de “água” (estágio de “chumbão ao se alimentar, destroem parcial ou totalmente a
verde”), as fêmeas iniciam a oviposição. No interior semente (Figura 2).
da semente, ela alarga a galeria e inicia a postura. Os
ovos são pequenos, brancos, elípticos e brilhantes.
A fêmea deposita inicialmente, em média, dois ovos
por dia. Depois de 10 a 20 dias, passa a depositar um
ovo por dia, durante período de 10 a 12 dias; a partir
daí, um ovo a cada dois dias. Uma fêmea pode ter
longevidade de 156 dias e pode ovipositar de 31 a
119 ovos. As larvas nascem depois de 4 a 10 dias da
postura do ovo e passam a se alimentar da semente,
desagregando pequenas partículas das paredes
da câmara onde nasceram. Após alguns dias e sob
condições favoráveis para a postura da fêmea e
eclosão das larvas, a semente pode ser totalmente
consumida. O período larval dura, em média, 14
dias e as larvas transformam-se em pupa. Nessa Figura 2. Grãos de café danificados pela broca-do-café
em diferentes estádios de maturação.
fase, aparecem os vestígios de asas, antenas, olhos,
peças bucais e pernas do futuro adulto. A coloração
inicial da pupa é branca e com o decorrer do tempo, No beneficiamento do café colhido podem ocorrer
as antenas, asas e peças bucais escurecem e passam as seguintes situações decorrentes da severidade
a apresentar coloração castanho-clara. O período com que a semente foi danificada: presença de
de pupa dura, em média, sete dias; o adulto é de grãos perfeitos ou sadios, não afetados pela broca;
coloração amarelo-escura nos primeiros dias e grãos broqueados, nos quais se podem observar as
escurece até a coloração preta definitiva. A evolução perfurações das galerias da broca; e café escolha,
completa de ovo a adulto ocorre entre 22 e 32 dias resultante da quebra dos grãos mais danificados
e é dependente da temperatura (BERGAMIN, 1943; pela broca.
SOUZA; REIS, 1997; LAURENTINO; COSTA, 2004). Altas infestações desse inseto na fase de produção
Os adultos e as formas imaturas sobrevivem de uma diminuem a porcentagem de grãos perfeitos
safra para outra, em grãos de café caídos no solo e aumentam a de grãos perfurados, escolha e
Manejo de Pragas do Café Conilon 409
quebrados. Assim, os danos causados pela broca além da paralisação do crescimento, apresentam
podem ser verificados diretamente na perda de peso mudança de coloração, que varia de amarelada
do café beneficiado, pois os grãos completamente a levemente avermelhada antes de cair. Quando
destruídos ou muito danificados saem junto com o ataque ocorre após o estágio de chumbinho,
a escolha e indiretamente devido à presença de os frutos infestados continuam a se desenvolver,
grãos broqueados e na depreciação do valor do mas a broca se aloja na coroa do fruto, sem dar
café beneficiado, uma vez que a cada cinco grãos continuidade à escavação da galeria, aguardando
perfurados, considera-se um defeito na classificação seu desenvolvimento até que as sementes atinjam
por tipo (NAKANO et al., 1976; YOKOYAMA et al., o teor de umidade/matéria seca adequado à
1978; LUCAS et al., 1989). Outro agravante quanto postura dos ovos. A identificação pelo produtor
à qualidade do café é a presença de resíduos, desse período em que a broca se aloja na coroa
compostos por fezes e parte dos insetos adultos, e não penetra no fruto geralmente ocorre entre
larvas e ovos que permanecem no café torrado e outubro e dezembro, no Espírito Santo e é o fator
moído. determinante no sucesso da adoção de medidas de
controle químico. É nesse período que o produtor
Levantamentos realizados no Estado do Espírito
deve iniciar os procedimentos de amostragem
Santo mostraram que em anos propícios à
e cálculos de infestação (SOARES et al., 2001;
infestação, a broca-do-café causa prejuízos
FORNAZIER et al., 2005c). No Estado de Rondônia,
superiores a R$ 40 milhões anuais (De MUNER et
as infestações de campo variaram de 33 a 40%
al., 2000). Fornazier et al. (2000a, 2000b, 2000c,
(COSTA et al., 2002).
2000d, 2000e, 2000f, 2001b) e Fornazier, Martins e
De Muner (2001); Fornazier et al. (2001b) mostraram Não tem sido fácil estabelecer critério prático para
infestações de broca em café conilon no Espírito se determinar com precisão o grau de infestação
Santo superiores a 25% de grãos brocados, após o da praga na lavoura cafeeira porque a broca não se
beneficiamento. Foram amostradas as infestações distribui uniformemente nos talhões e nos frutos
de campo em todos os municípios produtores de uma mesma planta. Todavia, o critério adotado
de café conilon, o que motivou o lançamento da na prática consiste em colher, ao acaso, de cada
Campanha Estadual para Manejo da Broca-do- talhão, certa quantidade de frutos de determinado
Café (SOARES et al., 2001). Como resultado dessa número de plantas iniciando-se em outubro-
campanha, conseguiu-se tipificar o café conilon novembro, quando os grãos estão ainda verdes.
produzido nas regiões norte e sul do Espírito Santo.
Para o levantamento de infestação da broca em
Observou-se a grande influência da broca-do-
café arábica, tem sido recomendado que sejam
café na redução da produtividade das lavouras,
amostradas 50 plantas por talhão, bem distribuídas
principalmente daquelas menos tecnificadas, da
por toda a área; colher 100 frutos por planta retirando-
qualidade intrínseca do café conilon e no aumento
se, ao acaso, 25 de cada face da planta, totalizando 5
sensivelmente da incidência de defeitos dos grãos
mil frutos por talhão (REIS et al., 2010). Para facilitar,
(FORNAZIER et al., 2000a, 2000b, 2000c, 2000d,
os frutos poderão ser misturados, formando amostra
2000e, 2000f, 2001b; FORNAZIER; MARTINS; De
única e contados separando-se os broqueados
MUNER, 2001; FORNAZIER et al., 2001b).
(com presença de insetos vivos) daqueles sadios,
obtendo-se a porcentagem de infestação. Procede-
se da mesma forma para todos os talhões e se
Infestação e Amostragem
determina a média que fornecerá a infestação. A
Apesar de atacar os frutos em todos os estágios de indicação da porcentagem de infestação é muito
maturação, a broca-do-café só inicia a perfuração importante, pois é baseada exclusivamente nela
dos frutos quando as sementes atingem o teor que se pode recomendar o tratamento do cafezal.
de umidade e o peso da matéria seca adequados Entretanto, sempre que possível, o controle deverá
à postura dos ovos pelas fêmeas. Quando a broca ser realizado por talhão e/ou clone de café quando
ataca frutos ainda no estágio de chumbinho ou atingidos os níveis de controle. Amostragem nos
muito aquosos, eles param seu desenvolvimento municípios capixabas produtores de café conilon foi
e caem posteriormente. No conilon, esses frutos realizada com 500 frutos, em talhões de 3 mil a 5 mil
ainda pouco desenvolvidos ao serem perfurados, plantas, onde obtiveram-se excelentes resultados
410 Café Conilon – Capítulo 17
Biológico
A B
Como principais inimigos naturais da broca,
destacam-se os parasitoides africanos: Prorops
nasuta Waterston, conhecido como vespa-de-
Uganda; Cephalonomia stephanoderis Betrem,
vespa-da-costa-do-marfim; Heterospillus coffeicola
Schemied e Phymastichus coffea La Salle, vespa-
do-togo. Além dessas espécies, foi registrada a
presença de Cephalonomia hyalinipennis Ashmead
no México (PÉREZ-LACHAUD, 1998; PÉREZ- C
LACHAUD; HARDY, 1999) e no Brasil, no Estado de Figura 3. Prorops nasuta - vespa-de-uganda (A); C.
São Paulo, Municípios de Ribeirão Preto, Mococa stephanoderis - vespa-da-costa-do-marfim (B);
e Campinas (BENASSI, 2007) e no Espírito Santo, e C. hyalinipennis (C).
Manejo de Pragas do Café Conilon 411
O período de duração das fases do seis dias e o larval de quatro a oito dias (BENASSI,
desenvolvimento das duas espécies é semelhante 1996, 2000, 2007).
e dependente da temperatura, variando o período
Além do parasitismo pelas larvas, os adultos têm a
de ovo de dois a seis dias, e de larva de quatro
característica predatória e se alimentam dos ovos,
a oito dias (BENASSI, 1996, 2000). Após esse
larvas pequenas e adultos da broca-do-café. Quando
período, a larva tece um casulo, no interior do
os adultos da broca são atacados, geralmente têm
qual empupa, emergindo depois o adulto. Toda
sua cabeça arrancada (BENASSI, 2007) (Figura 5).
a atividade das duas espécies ocorre no interior
dos frutos de café, onde os adultos penetram Essas espécies de parasitoides tanto se reproduzem
através da galeria feita pela broca. As fêmeas, sexuadamente como assexuadamente, por
encontrando as larvas desenvolvidas e pupas da partenogênese arrenótoca, dando origem apenas
broca, as paralisam através de injeção de veneno e a indivíduos machos. Quando esse tipo de
colocam, na maioria das vezes, apenas um ovo na reprodução ocorre, os machos acasalam-se com
região ventral das larvas ou na região dorsal das as mães dando origem novamente à nova geração
pupas. Após a eclosão, as larvas da vespa penetram com fêmeas e machos (BENASSI, 2007).
no interior da larva da broca (parte do corpo delas Essas vespas podem ser criadas em frutos de café
fica exposta) e sugam todo seu conteúdo (Figura brocados e posteriormente liberadas no cafezal
4). O período de desenvolvimento de P. nasuta e para o controle da broca. O Instituto Capixaba
C. stephanoderis é semelhante e dependente da de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
temperatura. O período de ovo varia de dois a
Do ovo, eclode A larva
uma larva que se desenvolvida
alimenta da larva transforma-se em pupa
da broca. (dentro do casulo). Da pupa
emerge uma
vespa.
A vespa coloca um
ovo sobre a larva
da broca.
A vespa coloca um
ovo sobre a
pupa da
broca.
Da pupa
emerge uma
vespa.
(Incaper) tem desenvolvido há vários anos estudos para verificar sua presença nos frutos de café (REIS
sobre o controle biológico com os parasitoides et al., 2010). Armadilhas de monitoramento, já
da broca, principalmente com a vespa-da-costa- disponíveis com o atraente específico da broca-do-
do-marfim, multiplicando-a em laboratório e café, também podem indicar o início da revoada,
liberando-a em cultivos de Coffea canephora, na época de trânsito, dos adultos que saem dos frutos
região norte do Espírito Santo. em que se desenvolveram e procuram os frutos
da safra nova para fazer a postura de seus ovos. É
importante a identificação desse período inicial
da época de trânsito, pois as brocas não penetram
imediatamente nos frutos e permanecem na
sua superfície e passíveis de ser atingidas por
inseticidas aplicados nesse momento estratégico.
2.2 BICHO-MINEIRO
Figura 5. Broca-do-café degolada pela vespa-da-costa- Leucoptera coffeella (Guérin-Mèneville & Perrottet,
do-marfim. 1842 (Lepidoptera: Lyonetiidae)
A B
C D E
Figura 6. Mariposa (A); danos na folha do café (B e C); lagarta em início de pupação (D); e casulo característico em forma
de “X” do bicho-mineiro do cafeeiro (E).
O período larval tem duração variável e oscila período seco e chuvoso. Os insetos chegaram em
entre 9 e 40 dias. Ao final desse período, as lagartas determinadas áreas de São Paulo, a causar sérios
abandonam o interior das folhas, saindo pela prejuízos e passaram a ser a principal praga do
página inferior, onde tecem fio de seda e descem cafeeiro em determinadas regiões. Seus prejuízos
para a “saia” do cafeeiro, onde irão fazer casulo resultam da redução da capacidade fotossintética
característico em forma de “X” (Figura 6D e 6E). Nesse pela destruição das folhas e, principalmente,
local, que oferece ao inseto a umidade adequada, por sua queda. Os sintomas são mais visíveis na
ocorre a transformação em pupa de grande parte parte alta da planta, onde se observa grande
das lagartas. O estágio pupal tem a duração de desfolhamento quando o ataque é intenso. As
5 a 26 dias. Após seu término, surgem novas desfolhas drásticas do cafeeiro causadas por altas
mariposas, cuja longevidade média é de 15 dias. infestações da praga podem afetar a frutificação,
O ciclo evolutivo varia de 19 a 87 dias, podendo- com má-formação dos botões florais e baixo
se obter de 7 a 9 gerações anuais. O clima exerce vingamento dos frutos. É considerada uma das
grande influência sobre a população do bicho- principais pragas do café robusta no Estado de
mineiro. Temperaturas mais elevadas e períodos Rondônia, onde foram constatados 77% das folhas
de veranico favorecem seu desenvolvimento. Esses do terço superior infestadas pelo bicho-mineiro
fatores fazem com que haja grande variação das (COSTA et al., 2001). Entretanto, o café conilon é
infestações da praga de ano para ano e na mesma considerado moderadamente resistente à praga,
lavoura (SOUZA; REIS; RIGITANO, 1998). e o nível de dano econômico, definido em 30%
de folhas minadas com lagartas vivas, para café
arábica (REIS et al., 2010), dificilmente é atingido
Prejuízos em plantações comerciais de café conilon (MEDINA
Até 1970, o bicho-mineiro era considerado FILHO; CARVALHO; MONACO, 1977; FERREIRA;
problema apenas no período seco do ano, e MATIELLO; PAULINI, 1979; AVILÉS et al., 1983;
os cafeicultores conviviam com o inseto sem PAULINO et al., 1984). Cafeeiros conduzidos em
grandes problemas. Entretanto, a partir de então, espaçamentos mais largos têm tendência de maior
a praga passou a ocorrer indiscriminadamente no infestação. Têm-se observado maiores infestações
414 Café Conilon – Capítulo 17
associadas a veranicos acentuados, comuns nos Polybia occidentalis (Olivier), P. paulista Ihering,
meses de janeiro e fevereiro. O clima quente e seco, P. scutellaris (White), Protonectarina sylveirae
característico da região norte do Espírito Santo (Saussure) e Synoeca surinama (L.)]. Essas espécies
pode favorecer o aumento da população da praga de predadores são insetos sociais que destroem
durante todo o ano acentuando-se nos meses as galerias de L. coffeella para se alimentar das
de seca prolongada. Porém, os adensamentos suas lagartas. Brachygastra lecheguana é a espécie
de lavouras que vêm sendo adotados no Estado mais frequente e chega, em determinados locais,
favorecem a manutenção de umidade mais a exercer bom controle da praga (SOUZA; REIS;
elevada e podem desfavorecer o desenvolvimento RIGITANO, 1998).
populacional dessa praga. Entretanto, até agora não
foram encontrados relatos de danos econômicos
ocasionados pelo bicho-mineiro em café conilon Químico
no Brasil. Para realizar qualquer tipo de tratamento químico
para controle do bicho-mineiro é necessário
conhecer a infestação da praga e de seus inimigos
Métodos de controle
naturais na área plantada com café.
Cultural
Amostragem da população:
Faixas de vegetação entre talhões permitem • A área deve ser dividida em talhões homogêneos
aumento da população de inimigos naturais, de 3 mil a 5 mil plantas e, quinzenalmente, princi-
sendo recomendado o manejo racional do mato, palmente nos períodos de veranico, a coleta alea-
utilização de cobertura morta e de culturas tória de cerca de 200 folhas em 20 covas, entre o se-
intercalares na formação das lavouras de café gundo e o quinto pares de folhas dos terços médio
conilon, entre outras orientações baseadas nos e superior dos cafeeiros;
princípios da agroecologia. A resistência de plantas
• Após a coleta, deve-se contar o número total de
é método genético de controle de pragas e fator
folhas amostradas e o número de folhas minadas,
que tem sido observado pelo Incaper na avaliação
determinando-se a porcentagem daquelas que fo-
de materiais genéticos disponíveis de C. canephora
ram atacadas, com presença de lagartas vivas. Ob-
para identificação de fontes de resistência que
servar o número de minas predadas e o parasitismo
possam ser utilizadas no melhoramento do conilon
nas amostras.
capixaba.
Pulverização:
As lavouras em formação devem ser monitoradas
Biológico para identificação de focos iniciais da praga, que
devem ser rapidamente combatidos. O controle
O bicho-mineiro é parasitado por grande número
pode ser realizado utilizando-se diversos inseticidas
de insetos, entretanto, o uso indiscriminado
após a constatação de índice de infestação superior
de inseticidas pode alterar o complexo de
a 25-30% de folhas infestadas com lagartas vivas.
parasitoides e predadores e, consequentemente,
Em viveiros de mudas e em lavouras até dois anos
causar explosões populacionais de L. coffeella.
de idade, o controle do bicho-mineiro deve ser
Os principais parasitoides relatados associados ao iniciado quando do aparecimento dos sintomas de
bicho-mineiro pertencem às famílias Braconidae ataque com presença de lagartas vivas, nos focos
[Colastes letifer (Mann), Eubadizon punctatus em que se constatar o desenvolvimento inicial da
(Redolfi), Mirax sp.] e Eulophidae [Closteroceus população da praga.
coffeellae (Ihering), Citrospilus sp., Horismenus
Sistêmico via solo:
aeneicollis (Ashemead), Neochrysocharis coffeae
Os inseticidas granulados sistêmicos aplicados via
(Ihering) e Tetrastichus sp.] (REIS; SOUZA; VENZON,
solo possuem eficiência para controle do bicho-
2002).
mineiro; porém, sua utilização foi extremamente
Os principais predadores são da família Vespidae reduzida com o surgimento do grupo dos
[Brachygastra lecheguana (Latreille), Eumenes sp., inseticidas neonicotinoides que possuem maior
Manejo de Pragas do Café Conilon 415
segurança para o aplicador e o meio ambiente e também a sexuada, sendo que os dois tipos de
são eficientes para o controle de diversas pragas reprodução podem acontecer simultaneamente
associadas ao cafeeiro. A formulação WG desses ou de forma isolada. As formas jovens, de estrutura
novos produtos permite a aplicação em drench, frágil, somente se locomovem nas plantas depois
via líquida. A utilização de inseticidas via solo de do endurecimento de sua pele. Após sua fixação, o
forma preventiva requer perfeito conhecimento inseto perfura as folhas com o seu aparelho bucal
do histórico da praga e seus prejuízos aos talhões e inicia a sucção da seiva. A sua ocorrência é mais
a serem tratados, a fim de evitar que seu uso frequente nos meses de novembro a janeiro, nas
se torne antieconômico. A mínima utilização épocas de chuva e em terrenos sombreados. A
de inseticidas e de forma localizada, auxiliará a postura é constituída de ovos aglomerados, de
preservação da entomofauna benéfica que atua tamanho reduzido. O período de oviposição é de
eficientemente no controle natural do bicho- 50 dias, em média. Uma fêmea põe em torno de
mineiro. dois a três ovos por dia e 150 durante a sua vida. É
importante praga em viveiro de mudas.
postura. Habitando um pequeno casulo, atingem a distâncias. O período ninfal é de cerca de 40 dias.
fase adulta em cerca de dez dias. Vivem em colônias Fêmeas adultas possuem cor rosada, corpo oval e
constituídas por indivíduos em vários estágios recoberto por cera branca e podem colocar cerca de
de desenvolvimento. Tanto as ninfas quanto os 240 ovos (MENEZES, 1973). Essas colônias podem
adultos sugam seiva em botões florais e frutos estar associadas a pequenos ninhos de formigas
em desenvolvimento (Figura 7). O ciclo evolutivo simbióticas. Surtos podem ocasionar problema.
completo é de 25 dias, em média. São relatadas no Essa espécie não induz à formação de criptas.
café conilon, em diferentes regiões agroecológicas
Pinnaspis aspidistrae: é uma cochonilha de aspecto
do Estado do Espírito Santo (FORNAZIER et al.,
pulverulento branco, vivem em grandes colônias
2000g, 2001a; SANTA-CECÍLIA; REIS; SOUZA, 2002;
e podem recobrir totalmente partes da planta,
SANTA-CECÍLIA et al., 2005), onde sua constatação
como galhos e folhas. A fêmea possui forma oval,
se deu na década de 1970, causando perdas de até
mede 3 mm de comprimento; enquanto o macho,
100% da produção de café (PAULINI et al., 1977).
apenas 1 mm. As ninfas recém-nascidas são de
Dysmicoccus texensis: São insetos com fêmeas coloração rosa pálida. O folículo (escama) da
adultas ápteras, corpo ovalado e coloração rosada, fêmea apresenta-se marrom-claro e o do macho é
recoberto com cerosidade branca finamente de cor amarelo-pálida. A capacidade de oviposição
granulada, o que lhe confere o aspecto de farinha é de cerca de 400 ovos. Eles são colocados em
e cerca de 2,5 mm de comprimento. Possuem 34 abrigo de natureza lanígera secretado pela fêmea.
apêndices filamentosos ao redor do corpo, com 17 As formas jovens do inseto surgem de 15 a 20
de cada lado, sendo os dois últimos mais longos dias após a postura, atingindo o seu completo
(SANTA-CECÍLIA et al., 2007). Sua reprodução é desenvolvimento depois de 30 dias, em média.
partenogenética, podendo gerar até 253 indivíduos Findo o período larval, as fêmeas já estão aptas à
durante período de 52 a 87 dias. A temperatura reprodução, acasalando-se com os machos que
mais favorável ao desenvolvimento populacional surgem dos casulos.
é de 20 a 25 ºC e associada à umidade relativa
Praelongorthezia praelonga: Também conhecida
elevada, com até cinco gerações anuais (NAKANO,
como cochonilha ortézia. A fêmea adulta mede cerca
1972). As primeiras infestações surgem em
de 2,5 mm e possui o corpo coberto por placas de
pequenas colônias logo abaixo do colo de plantas
cera branca, apresentando no dorso duas pequenas
novas. Com o desenvolvimento da população,
áreas esverdeadas sem cera. A cabeça é coberta por
o inseto vai se disseminando para as raízes da
duas placas salientes. Na parte posterior do corpo
planta, formam nodosidades denominadas criptas,
são encontrados diversos bastonetes alongados de
no interior das quais vivem suas formas jovens e
cera que se unem para formar o ovissaco onde as
adultas associadas a fungo do gênero Bornetina,
fêmeas alojam os ovos e as ninfas recém-eclodidas
que confere um aspecto de placa sobre as raízes
(Figura 9A). Tanto as fêmeas adultas quanto as
(Figura 8).
ninfas se movimentam na planta. No ano de 1988,
Dysmicoccus brevipes: conhecida como cochonilha- foi constatado grande surto, com disseminação da
do-abacaxi. Espécie polífaga, menos frequente em praga na maioria dos municípios da região norte
cafeeiro, pode ser encontrada nas raízes e também do Espírito Santo (MARTINS et al., 1989; MARTINS;
nas rosetas de ramos que tocam o solo. Ninfas de PAULINI; GALVÃO, 1989). Períodos secos e frios, em
primeiro instar, podem se locomover a grandes anos consecutivos de baixa precipitação, favorecem
A B C
Figura 7. Botão floral (A), ramos (B) e roseta (C) do cafeeiro infestados com a cochonilha-da-roseta.
Manejo de Pragas do Café Conilon 417
seu desenvolvimento populacional. Em altas planta, principalmente nos viveiros. Além disso,
infestações, as folhas ficam recobertas de fumagina fornecem alimento às formigas que lhes dão
(Figura 9B) e a praga pode causar a morte da planta proteção, podendo às vezes danificar a raiz do
(MARTINS et al., 1989; MARTINS; PAULINI; GALVÃO, cafeeiro com a construção do formigueiro. As
1989) (Figura 9C). picadas sucessivas nas plantas também podem
favorecer a penetração de microorganismos. As
cochonilhas-verdes causam retardamento do
crescimento das mudas no viveiro e nas recém-
plantadas. No caso da cochonilha-de-cadeia,
além dos prejuízos já citados, pode provocar o
secamento dos ponteiros do cafeeiro.
A cochonilha-da-raiz forma nodosidades e suga
seiva nas raízes do cafeeiro, causa o definhamento
das plantas, amarelecimento e queda quase total
Figura 8. Cochonilha-da-raiz do cafeeiro, Dysmicoccus das folhas, podendo ser necessário o replantio da
texensis. área afetada. O reconhecimento é feito escavando-
se parte do solo ao redor do colo da planta,
de onde surgem colônias dessa cochonilha de
coloração branca, quando a infestação é recente ou
também devido à formação de criptas em colônias
instaladas há muito tempo. Nota-se que as raízes
principais se encontram cobertas por envoltório
coriáceo, inicialmente de coloração amarelada
e, posteriormente, marrom-escura, causado por
fungo que se desenvolve às custas da substância
açucarada secretada pelas cochonilhas. As raízes
A apresentam série de nodosidade formada pela
sucessão de criptas ou pipocas em cujo interior se
aloja o inseto.
As cochonilhas-da-roseta têm aumentado sua
importância pelos prejuízos diretos à produtividade
do cafeeiro conilon (FORNAZIER et al., 2004). Seu
ataque ocorre diretamente aos botões florais e aos
B C
frutos em formação e crescimento, ocasionando
Figura 9. Colônia de Ortézia (Praelongorthezia praelonga) sua acentuada queda. Provoca o chochamento de
em folhas de cafeeiro (A); folha coberta com
fungo de coloração escura, denominado vul-
frutos mais desenvolvidos (FORNAZIER et al., 2000g,
garmente de fumagina (B); e planta de café com 2001a).
alto desfolhamento ocasionada pela praga (C).
Métodos de controle
Prejuízos Cultural
As cochonilhas causam prejuízos diretos pela O controle cultural é feito por meio da observação
sucção contínua de seiva, contribuindo para o da infestação da praga nas mudas adquiridas
depauperamento da planta. Prejuízos indiretos refugando lotes que possam apresentar infestação.
também são causados, pois são insetos sugadores
de seiva e o excesso de secreção açucarada que
cobre as folhas propicia a ocorrência de fumagina. Biológico
Esse fungo reveste a folhagem em camada preta,
prejudicando a fotossíntese e a respiração da Existem diversos inimigos naturais que podem
418 Café Conilon – Capítulo 17
Método de controle
O controle das lagartas deve ser realizado quando
elas estão pequenas, em instares iniciais, pois à
medida que se tornam maiores, o seu controle é
bastante difícil. Na fase inicial, tem-se conseguido
A B resultados satisfatórios com o inseticida microbiano
Figura 11. Formas jovem (A) e adulta (B) da lagarta-verde à base de Bacillus thuringiensis (0,5 kg/ha).
-do-cafeeiro.
desenvolvimento de populações desse ácaro é pela primeira vez no Brasil, no Espírito Santo
rápido, principalmente em lavouras em formação, (CHIAVEGATO et al., 1974). É conhecido como
em veranico. Esse ataque chega a provocar ácaro-da-rasgadura, ácaro-tropical ou ácaro-
desfolha total das plantas, com consequente branco. É de coloração branca e mede 0,17 mm
retardamento na formação da lavoura de conilon. de comprimento. Seus ovos são de coloração
branca e colocados isolados na face inferior das
folhas novas, onde passam toda a sua vida. Essa
Método de controle espécie não tece teia e o seu desenvolvimento
O controle se faz pelo uso de acaricidas específicos populacional é favorecido por temperaturas
nas “reboleiras” (COSTA et al., 2003). É importante elevadas e tempo chuvoso, podendo completar
a inspeção dos talhões para detectar a infestação uma geração no período de três a cinco dias.
da praga, principalmente em períodos que
favoreçam seu desenvolvimento populacional.
Prejuízos
Os fungicidas cúpricos aplicados para combater
a ferrugem-do-cafeeiro Hemileia vastatrix Berk & Como consequência do ataque desse ácaro, as
Br. podem contribuir para aumentar a população folhas novas tornam-se coriáceas e deprimidas na
desse ácaro (REIS; SILVA; CARVALHO, 1974). parte central com os bordos voltados para baixo
(Figura 14), devido ao crescimento desuniforme do
limbo foliar, evoluindo para necroses e rasgaduras.
2.8.2 Ácaro-branco Quando estes sintomas se manifestam, não se
Polyphagotarsonemus latus (Banks, 1904) (Acari: encontram mais ácaros nessas folhas. É importante
Tarsonemidae) em viveiros com excesso de irrigação e em plantios,
nos quais as mudas se encontram infestadas pela
praga.
Descrição e Biologia
Esse ácaro foi relatado ocorrendo em cafeeiro
A B
Figura 13. Planta atacada pelo ácaro-vermelho (A); e detalhe da perda do brilho característico da folha infestada (B).
Prejuízos Prejuízos
Danifica uma parte dos grãos secos de café A sacaria fica toda perfurada quando a infestação
em todas as suas formas: coco, despolpado e é severa, e é necessária sua renovação. A presença
beneficiado, podendo causar perda de até 30% no de lagartas, casulos e fezes no café e nas sacarias
peso. prejudica a qualidade do produto para exportação
(Figura 19).
3.2 TRAÇAS-DO-CAFÉ
Corcyra cephalonica Stainton, 1865 (Lepidoptera:
Pyralidae)
Descrição e Biologia
Entre as traças que podem ser encontradas
atacando o café armazenado, a principal é a C.
cephalonica. Seu adulto é uma mariposa com cerca
de 19 mm de envergadura e 9 mm de comprimento,
o corpo e as asas anteriores cinza. Possuem hábito
noturno e não são hábeis voadoras. Cada fêmea
pode colocar cerca de 180 ovos esbranquiçados,
elípticos e que são colocados dispersos ou em Figura 19. Danos causados por C. cephalonica.
grupos sobre o café ou nas paredes dos armazéns.
As lagartas são de coloração branco-suja,
Método de controle
cilíndricas e apresentam cabeça, escudo torácico
e último segmento abdominal castanhos. Atingem Uma série de medidas deve ser tomada para
12 mm de comprimento, quando completamente evitar a presença de insetos ou restos de insetos
desenvolvidas (Figura 18). O ciclo varia de 45 a no produto armazenado. Abrange desde a
50 dias. Durante a tarde, é possível observar as conscientização dos envolvidos na cadeia
mariposas voando entre as pilhas de sacaria, nos produtiva para a importância da presença de
armazéns. insetos nos produtos considerando-se as barreiras
sanitárias internacionais para a exportação até a
tomada de medidas profiláticas para o controle
das pragas.
O manejo das pragas no armazenamento do café
inicia-se com o correto manejo da broca-do-café
e do caruncho-das-tulhas no processo produtivo
e na colheita adotando-se as medidas para a
efetiva redução de suas populações. A observação
da umidade e das condições apropriadas
recomendadas para o armazenamento dos
grãos do café desfavorece o desenvolvimento
populacional dos insetos. Deve-se, ainda, observar
as variações da umidade dos grãos e tomar as
devidas providências para que elas possam
permanecer ao redor de 11%.
Medidas preventivas como a higienização da
unidade armazenadora devem ser observadas
Figura 18. Lagarta de C. cephalonica.
procedendo-se à limpeza e desinfestação das
426 Café Conilon – Capítulo 17
tulhas e dos armazéns com a antecedência sistemático de pesquisas que possam continuar
necessária, antes de se iniciar o processo de dando suporte ao correto manejo fitossanitário
colheita. implantado no café conilon, principalmente
voltado ao estabelecimento de técnicas de
A correta identificação dos insetos-praga é fator
controle biológico. Ainda, é preciso que técnicos
fundamental para se saber as razões e a origem
e produtores se apropriem dessas informações
das infestações, o que permite tomada de medidas
na mesma velocidade em que são desenvolvidas,
preventivas para evitar a continuidade das
por meio de treinamentos específicos visando à
infestações.
sustentabilidade e viabilidade da produção de
A vistoria periódica dos armazéns deve ser realizada, conilon.
especialmente nas regiões quentes e úmidas e no
período de outubro a abril, quando se constatam
as melhores condições para o desenvolvimento 5 REFERÊNCIAS
da população das pragas de café armazenado.
ABREU, R. L. S.; FONSECA, R. V.; MARQUES, E. N.
Em se constatando infestações já instaladas,
Análise das principais espécies de Scolytidae
medidas profiláticas devem ser tomadas, como o coletadas em floresta primária no estado do
expurgo da massa de grãos e a sua proteção com Amazonas. Anais da Sociedade Entomológica do
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significativa redução do uso de agrotóxicos e
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432 Café Conilon – Capítulo 17
18
Manejo das Doenças do
Cafeeiro Conilon
José Aires Ventura, Hélcio Costa e Inorbert de Melo Lima
pouco mais de um século após sua constatação, produtor deve estar atento para que, na escolha
o patógeno disseminou-se por todas as regiões das variedades, as plantas que compõem essas
produtoras de café da África, Ásia e Oceania. No variedades tenham resistência às principais raças
Brasil, foi constatada em 1970, na Bahia e, em da ferrugem, minimizando as perdas e evitando o
menos de uma década, atingiu toda a América controle químico com fungicidas.
Latina. A doença é causada por um fungo biotrófico
(sobrevive apenas em tecidos vivos), que ocorre
de forma generalizada em todos os estados onde Sintomas
é plantado o café conilon (Espírito Santo, Bahia, Os sintomas da doença são bem distintos e fáceis
Minas Gerais, Rondônia e São Paulo), com maior de identificar, manifestam-se principalmente na
ou menor severidade, em função das condições face inferior das folhas, onde ocorrem manchas
climáticas, carga pendente das plantas, adubações amareladas translúcidas de 1 a 2 mm de diâmetro.
desequilibradas, espaçamento e resistência ou Essas manchas evoluem rapidamente, e em poucos
suscetibilidade das cultivares e clones utilizados. dias, aumentam gradativamente de tamanho (5 a 10
Os danos da ferrugem são devastadores nas mm), formando pústulas circulares, pulverulentas,
cultivares suscetíveis, causando principalmente a de cor amarela a alaranjada, cobertas pelos
desfolha precoce e a seca dos ramos produtivos uredosporos do fungo, dando o aspecto de um “pó
do ano seguinte, o que causa perdas significativas amarelado” (Figura 1A). Pode haver coalescência
na produção que podem chegar a 45% em anos de várias manchas abrangendo grande parte do
de alta carga no café conilon suscetível à doença limbo foliar, que se mostra recoberto pela massa de
(ZAMBOLIM, 2015), afetando também a qualidade esporos. Em alguns clones de conilon, pode ocorrer
do café, o aumento do uso de fungicidas, a a queda precoce das folhas e a seca dos ramos das
elevação do custo de produção e, muitas vezes, plantas (Figura 1B). A aparência das manchas de
com impactos ambientais significativos. No ferrugem pode variar de um clone para outro de
Estado do Espírito Santo, na Fazenda Experimental acordo com a sua suscetibilidade, influenciando
do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência assim o tamanho das lesões, a porcentagem de área
Técnica e Extensão Rural (Incaper), em Marilândia, foliar afetada e a esporulação do fungo (BECKER-
verificaram-se perdas de 40 a 50% na produção RATERINK, 1991). Muitas vezes, principalmente
do clone 12V da variedade clonal ‘Vitória’, em em locais sombreados, observa-se que as pústulas
condições favoráveis à doença (CAPUCHO et al., de ferrugem estão colonizadas pelo fungo
2012, 2013). hiperparasito Verticillium hemileae Bour. e, com
O cultivo do café conilon, tradicionalmente, isso, elas apresentam o centro branco (Figura 2A). A
é desenvolvido com mudas que poderão ser interação fungo-planta pode ser expressa pela total
originadas de sementes ou mudas clonais, que ausência de sintomas (imunidade) até à formação
podem apresentar resistência à doença. Assim, o de pústulas grandes com abundante esporulação
do fungo (suscetibilidade).
A B
Figura 1. Sintomas da ferrugem em folhas de cafeeiro conilon, que podem ser observados por meio das pústulas
formadas pelos esporos do fungo (A); desfolha de plantas suscetíveis (B).
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 437
A B
Figura 2. Pústulas de ferrugem com a presença do fungo hiperparasito Verticillium hemileae, com o centro branco (A);
e pústula de ferrugem na face inferior da folha (B).
438 Café Conilon – Capítulo 18
reunidos em feixes e uredosporos reniformes, lisa, sem espinhos, com um diâmetro em média
equinados dorsalmente e lisos ventralmente de 20 a 25 µm. A criptossexualidade do fungo foi
(Figura 3). Das dezenas de raças já identificadas em demonstrada por imagem de citometria de fluxo,
H. vastatrix, no café conilon já foram constatadas as ocorrendo dentro dos uredosporos de H. vastatrix
raças I, II, III, XIII e XXIII, com predominância da raça e que pode explicar a frequência e aparecimento
II. de novas raças fisiológicas no campo (CARVALHO
et al., 2011). Além da criptosexualidade, novas
Os uredosporos constituem a fase assexuada dessa
raças de H. vastatrix também podem aparecer no
ferrugem e são responsáveis pela infecção nas
campo por outros mecanismos, como as mutações
folhas do cafeeiro. São produzidos em abundância
e heterocariose (VARZEA; MARQUES, 2005). O ciclo
nas pústulas, na face inferior das folhas, através
da doença inicia-se pelos uredosporos do fungo
dos estômatos e que se disseminam com o vento,
(Figura 4), que são dicarióticos (n+n) e que, ao
para as plantas vizinhas e mesmo para plantações
caírem na face abaxial das folhas, na presença de
mais distantes. Os uredosporos são unicelulares, de
água, germinam, penetram e infectam, produzindo
coloração amarelo-alaranjada, com a membrana
a urédia com os uredosporos, os quais podem
apresentando de um a cinco poros germinativos.
infectar novamente outras folhas da mesma planta
Possuem formas e dimensões variáveis que vão de
ou de outras. Portanto, têm grande importância
de 25 a 35 µm x 12 x 28 µm, dependendo da posição
epidemiológica e são responsáveis pelos ciclos
em que são formados, sendo os centrais geralmente
secundários da doença no campo (ZAMBOLIM,
piramidais, com o ápice convexo, e os da periferia
2015).
reniformes ou convexos em uma face e planos na
outra (Figura 3). As faces laterais, em contato com
os esporos vizinhos, permanecem lisas e planas
Epidemiologia
enquanto que as externas, livres, são convexas e
apresentam diminutas projeções (espinhos), de 3 a O conhecimento da epidemiologia da ferrugem-
4 µm de comprimento. No lado externo aos sorus, do-cafeeiro é importante, uma vez que possibilita
os esporos apresentam-se rugosos com pequenas estabelecer as condições que favorecem a
protuberâncias, enquanto que do lado interno são doença, sua incidência e severidade. Os fatores
lisos (CHAVES et al., 1970). que influenciam o desenvolvimento da ferrugem-
do-cafeeiro constituem um dos aspectos mais
Os teliosporos são produzidos ocasionalmente, não
importantes para o seu controle, já que fatores
sendo relatados com muita frequência na literatura
climáticos envolvidos condicionam a distribuição da
e também não foram observados nos cafeeiros
doença, assim como a sua incidência e severidade.
do Espírito Santo. Em condições ambientais
favoráveis, foram relatados ocorrendo no centro Os primeiros estudos da biologia de H. vastatrix
das lesões mais velhas, geralmente, de sete a dez no Brasil datam da década de 70, quando foi
semanas após serem formados os uredosporos.
Em condições de clima seco e frio, possuem formas
irregulares e são revestidos por uma membrana
Germinação
de uredosporos Haustórios
Uredosporos
Pústulas na face
inferior da folha
Teliosporos
Queda de
Reinfecção folhas
Germinação
de teliosporos
Basidiosporo
(?)
Cafeeiro desfolhado
Figura 4. Ciclo biológico da ferrugem-do-cafeeiro Hemileia vastatrix destacando os diferentes processos de infecção e
colonização dos tecidos.
Fonte: Adaptado de Becker-Raterink (1991).
440 Café Conilon – Capítulo 18
no final do período chuvoso e que, para ocorrer doença no campo (ZAMBOLIM, 2015). No Espírito
infecção, as folhas deveriam permanecer molhadas Santo, resultados com variedades clonais de
por pelo menos 48 horas (AKUTSU, 1981). conilon comparando condições de sombreamento
e a pleno sol não diferiram estatisticamente entre
Condições climáticas com temperaturas médias
si quanto à incidência e à severidade da ferrugem
entre 21,6 ºC e 23,6 ºC com molhamento foliar
(BELAN et al., 2015).
associado à alta umidade relativa do ar (> 80%) e
baixa precipitação (< 50 mm) são favoráveis para a Zambolim et al. (1999a) observaram serem
infecção e progresso da ferrugem em café conilon necessárias 24 horas de água livre e temperatura
(CAPUCHO et al., 2013; ZAMBOLIM, 2015). próxima de 24 oC para se obter o máximo
de infectividade. Em regiões cafeeiras com
A temperatura exerce, assim, um efeito significativo
temperatura média inferior a 18 oC e superior
sobre a infecção inicial e o desenvolvimento da
a 28 oC, a doença pode não causar danos
doença. A influência da temperatura e da luz
econômicos na produção, embora os sintomas
na germinação dos uredosporos, no período de
ainda possam ser visíveis em algumas folhas
geração e no grau de infectividade do fungo, foi
das plantas. Esses resultados foram confirmados
estudada em laboratório e em casa de vegetação
em experimentos de laboratório, em que discos
empregando-se mudas da cultivar Catuaí. Após
de folhas inoculados e incubados a 30 ºC não
inoculadas, as mudas foram incubadas durante
desenvolveram lesões.
24 horas, em câmaras de crescimento, com
luz e temperatura controladas. A temperatura Os uredosporos necessitam de um filme de água
ótima de germinação dos uredosporos sobre as na superfície foliar, e uma temperatura entre 15 ºC
mudas de café conilon foi estimada em 23,2 oC., e 28 ºC (ótimo a 22 ºC), com alta umidade relativa
respectivamente para as raças I e II, com um ponto do ar e ausência de luz direta para emitir cerca de
máximo para a média dos isolados avaliados em três tubos germinativos, porém apenas um deles
23,6 ºC (ZAMBOLIM, 2015). A germinação e a se desenvolve completamente. Após a emissão do
infectividade máxima de isolados das raças I e II tubo germinativo, há formação do apressório e,
obtidas no norte do Espírito Santo, ocorreram entre em seguida, do peg de penetração que passa pela
21,05 ºC e 22,8 ºC, em que o ponto máximo da média abertura do estômato, chegando à cavidade sub-
dos isolados foi de 21,6 ºC (CAPUCHO et al., 2012; estomática. O micélio do fungo cresce no mesófilo
ZAMBOLIM, 2015). O período de incubação no café e acumula-se sob a epiderme, onde origina-se a
conilon em condições controladas varia de 20 a 24 formação de soro que se rompe pelo estômato. A
dias. O período de geração variou de 33 a 50 dias e disseminação dos esporos ocorre através de vento,
esteve relacionado com o grau de infectividade. A insetos, chuva, animais e mudas contaminadas,
temperatura exerce também efeito marcante sobre sendo o homem um importante disseminador
o período latente, alterando-o de 19 a 60 dias, do inóculo a longa distância. Dentro da planta, os
dependendo da prevalência de temperaturas altas respingos da chuva, as gotas de água de irrigação por
nos meses de verão ou de temperaturas baixas nos aspersão (frequentemente observada em sistemas
meses de inverno, respectivamente (ZAMBOLIM, de irrigação por pivô central ou canhão), assim como
L.; VALE; ZAMBOLIM, E. M., 2003). É sabido que o pelo escorrimento das gotas da face superior para a
sombreamento modifica o microclima no qual o inferior das folhas, arrastando o inóculo, são muito
cafeeiro se encontra e, dependendo da intensidade importantes na disseminação do fungo de uma folha
e duração, ocasiona mudanças fisiológicas, para outra ou entre plantas na mesma linha.
anatômicas e reprodutivas nas plantas podendo
A periodicidade estacional da ferrugem difere
afetar a produção. Os estudos da influência do
marcantemente de uma região para outra,
sombreamento sobre a ferrugem-do-cafeeiro
principalmente em função das condições
ainda geram dados contraditórios. A doença é
climáticas e a forma de propagação das plantas,
mais severa em condições semissombreadas e em
sendo as variedades clonais, principalmente
lavouras irrigadas por aspersão, mas temperaturas
aquelas com poucos clones que têm maior
inferiores a 10 ºC e superiores a 35 ºC limitam o
homogeneidade genética, favorecem as epidemias
desenvolvimento das pústulas e o progresso da
em comparação com as plantas propagadas por
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 441
80,00
Colheita
70,00
60,00
50,00
Ferrugem (%)
40,00
30,00
20,00
10,00
0,00
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Dez
Meses
Figura 5. Curvas de progresso da incidência da ferrugem em café ‘conilon’ no Município de Fundão/ES, para os anos de
1995 e 1996, destacando-se os períodos de colheita nos clones precoces, intermediários e tardios.
442 Café Conilon – Capítulo 18
das células. Nesse caso, parece haver o acúmulo de com resistência à raça II do fungo destacando-
compostos fenólicos e lignificação das paredes das se os clones 3V e 5V também com resistência ou
células, o que impede a colonização dos tecidos e o tolerância à raça XXXIII, enquanto que os clones
progresso da infecção (SILVA et al., 2002). Trabalhos 6V, 7V, 8V, 11V, 12V e 13V são suscetíveis à raça II
futuros devem identificar os fatores de resistência à do patógeno (CAPUCHO et al., 2013; ZAMBOLIM,
ferrugem nos diferentes clones de conilon visando 2015). Em 2013, novas cultivares de café conilon
a identificar os genes de resistência e as proteínas foram lançadas pelo Incaper: ‘Diamante ES8112’,
relacionadas a essa resistência. Plantas resistentes de maturação precoce, a ‘ES8122’ - Jequitibá com
à ferrugem pertencentes ao grupo A de resistência maturação intermediária, e a ‘Centenária ES8132’,
(imunidade), ou seja, aquelas que não são infectadas com maturação tardia, sendo cada uma delas
pelas raças conhecidas de H. vastatrix e comumente constituída por nove clones. Nesse mesmo ano, a
encontradas em populações de robusta. Embrapa lançou a cv. BRS Ouro Preto, constituída
por 15 clones e com maturação intermediária.
Segundo Zambolim et al. (1999b), a espécie
C. canephora, além da resistência à ferrugem, Híbridos com resistência vertical às raças II e
apresenta maior produtividade e vigor do que C. XXXIII, que possivelmente tenham o fator de
arabica, daí sua denominação de robusta. resistência SH6, com fatores de virulência V5, V7 e V9
(VARZEA; MARQUES, 2005), devem ser usados nos
Os resultados do desenvolvimento de pesquisas
programas de melhoramento para obtenção de
do programa de melhoramento genético de
resistência quantitativa e qualitativa à ferrugem.
café conilon do Incaper, nos últimos 19 anos,
Na estruturação do programa de melhoramento
permitiram a obtenção e a recomendação de
genético de café conilon do Incaper, foram
nove variedades melhoradas para o Estado do
consideradas a variabilidade genética da espécie C.
Espírito Santo: ‘Emcapa 8111’ (constituída pelo
canephora, a forma de reprodução, a possibilidade
agrupamento de nove clones compatíveis entre
de multiplicação assexuada dos genótipos
si, de maturação precoce e uniforme), com
superiores, a necessidade de obtenção de
variabilidade de suscetibilidade às raças I (10%),
cultivares que apresentassem adaptação a diversos
raça II (50,5%), raça III (100%) e raça XIII (22,5%);
ambientes e à estabilidade de produção. Para
a variedade clonal ‘Emcapa 8121’ (constituída
isso, foram utilizados simultaneamente métodos
por 14 clones compatíveis entre si, de maturação
de melhoramento genético que consideram
intermediária uniforme, com colheita em junho),
a obtenção de materiais superiores a serem
com suscetibilidade às raças I (30,7%), raças II
propagados via clonagem e sementes.
e III (76,9%) e raça XIII (61,5%); a ‘Emcapa 8131’
(constituída pelo agrupamento de nove clones O agrupamento dos clones que fazem parte de
compatíveis entre si, de maturação tardia, com cada variedade clonal do Incaper foi realizado
colheita entre julho e agosto), com suscetibilidade baseando-se preliminarmente em alguns critérios
às raças I (54,5%), raças II (63,6%), III (81,8%) e raça agronômicos considerados mais relevantes, dos
XIII (10%). Outras variedades clonais são a ‘Emcapa quais destacam-se a produtividade, o vigor das
8141 - Robustão Capixaba’ (constituída pelo plantas, a incidência e severidade de doenças,
agrupamento de dez clones, compatíveis entre a uniformidade de maturação de frutos e a
si e que possuem como principal característica concentração da maturação em épocas distintas,
a tolerância à seca), a ‘Emcaper 8151 – Robusta a estabilidade de produção, o tamanho dos grãos,
Tropical’ (constituída pela recombinação aleatória a relação entre peso de frutos cereja e grãos
em campo isolado de polinização dos 53 clones beneficiados, além dos estudos de compatibilidade
elites) e ‘Vitória - Incaper 8142’ (constituída pelo genética através dos cruzamentos controlados
agrupamento de 13 clones), esta última lançada em entre os clones (FERRÃO et al., 2007).
maio de 2004. Essas variedades melhoradas de café
Alguns clones apresentam resistência às raças
conilon foram as primeiras criadas, recomendadas
de ferrugem prevalecentes no Espírito Santo,
e registradas oficialmente no país (FERRÃO et
entretanto, pesquisas recentes têm demonstrado
al., 2001; FERRÃO et al., 2004, 2007). A variedade
uma grande variabilidade em relação à resistência
clonal ‘Vitória’ tem entre os seus 13 clones 47%
entre esses clones, dos quais os mais produtivos
444 Café Conilon – Capítulo 18
também apresentam suscetibilidade à doença que ferrugem e 5,5% não apresentaram sintomas da
ocorre com alta severidade em algumas regiões doença, enquanto que, nas condições de sequeiro,
e em determinadas épocas do ano (TATAGIBA et 43,6% dos clones não apresentaram sintomas
al., 2001; ANDRADE et al., 2003). Avaliações da (TATAGIBA et al., 2001).
severidade da ferrugem nas condições da Fazenda
No caso dessas variedades clonais, verificou-se
Experimental do Incaper em Marilândia mostraram
que ocorre uma ampla variabilidade em relação à
que 96,4% dos clones selecionados no programa
ferrugem (Figura 7), determinada pelo seu período
de melhoramento genético desse instituto foram
latente (tempo em dias entre a inoculação e o
resistentes à doença e que em 61,82% deles não
aparecimento dos primeiros sintomas visíveis)
foram observados sintomas (Figura 6). Na Fazenda
e período de incubação (tempo em dias entre a
Experimental de Sooretama, sob condições
inoculação e a esporulação de qualquer pústula de
irrigadas, 70,9% dos clones foram resistentes à
ferrugem).
A B
Figura 6. Clones de café conilon do programa de melhoramento genético do Incaper, na Fazenda Experimental de
Marilândia, apresentando resistência (A) e suscetibilidade (B) à ferrugem.
Figura 7. Duração dos períodos latente (PL) e de incubação (PI) em diferentes clones de café conilon, do programa de
melhoramento genético do Incaper inoculados com a raça II de Hemileia vastatrix.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 445
Esses resultados demonstram a eficiência do Alguns fatores afetam a resistência das plantas,
processo de seleção preliminar que incluiu, além destacando-se:
de caracteres agronômicos e comerciais desejáveis,
a) Idade das folhas – folhas novas são mais suscetíveis
também a resistência às principais doenças do
que as maduras e mais velhas. Em C. canephora, as
cafeeiro. É importante que os produtores não
folhas velhas apresentam uma menor densidade de
excluam das variedades de conilon os clones
lesões que as mais jovens;
que julguem inferiores, descaracterizando,
assim, a variedade clonal, já que o programa b) Intensidade de luz – folhas expostas à luz
é focado não apenas na manifestação isolada geralmente são mais suscetíveis à ferrugem, o que
de uma determinada característica, mas no pode explicar a menor severidade dessa doença em
comportamento simultâneo de várias delas, razão plantações de café robusta plantadas sob floresta,
pela qual os clones são agrupados de acordo com ou até mesmo num lado da planta e não do outro,
as características que possuam em comum, com em função da exposição da planta ao sol;
objetivos de produção e qualidade dos grãos. c) Produção – as epidemias de ferrugem são sempre
Capucho et al. (2012) compararam as características mais severas em anos de alta produção das plantas.
das lesões de ferrugem em folhas de C. arabica e No café conilon é frequente observar a retenção,
C. Canephora, e os resultados indicaram que eram na planta, das folhas infectadas. No entanto, clones
semelhantes. Assim, para as duas espécies, pode ser com alta suscetibilidade podem perder totalmente
usada uma mesma escala para avaliar a severidade as folhas no início da epidemia (Figuras 4 e 6B).
da ferrugem, além de triagem de fungicidas e Essas observações sugerem a existência de genes
avaliação de resistência de genótipos ao patógeno de resistência “raça-específica”, incompleta nesses
para monitoramento da doença (Figura 8). clones. Por outro lado, a retenção de folhas com
lesões esporuladas nas plantas serve de inóculo
inicial, importante para o início das epidemias,
quando as condições climáticas ou prédisposição
das plantas forem favoráveis, bem como fonte de
inóculo constante, tornando as epidemias mais
severas, o que tem sido observado frequentemente
nas lavouras no norte do Espírito Santo e sul
da Bahia, principalmente quando a irrigação é
realizada por aspersão.
Com os conhecimentos adquiridos até o momento,
2,5% 5% 10% é possível propor algumas alternativas para se obter
resistência durável no café conilon destacando-se
as multilinhas, as variedades compostas (similares a
multilinhas) pela mistura de sementes e o plantio de
clones com graus diferentes de resistência.
A resistência conhecida como tipo A, obtida em
cultivares derivadas por cruzamento introgressivo
com C. canephora, tem dado proteção total.
Genótipos dos grupos de Robusta e Congolense de
C. canephora apresentam resistência total para as
raças conhecidas de H. vastatrix, o que sugere a real
20% 40% 80% possibilidade de obtenção de resistência durável
Figura 8. Representação diagramática da área padrão da (VOSSEN, 2005).
ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix) em
folhas de cafeeiro (Coffea spp.). Os primeiros trabalhos de raças fisiológicas de
Fonte: Capucho (2011). ferrugem em cafeeiro foram iniciados por Mayne, na
Nota: Os dados são expressos como a percentagem (%) da área foliar exibindo Índia, no início da década de 1930, demonstrando
sintomas da doença.
446 Café Conilon – Capítulo 18
a variabilidade genética existente nesse fungo. de uma amostragem na lavoura, para determinar
Posteriormente, graças ao trabalho pioneiro de a incidência da ferrugem e verificar a real
Branquinho D’Oliveira, que fundou o CIFC, em necessidade do uso de fungicidas. O controle
Oeiras, Portugal, foi possível caracterizar as 45 raças químico tanto em pulverização nas folhas como
hoje conhecidas, das quais cinco ainda estão em aplicado via solo é frequentemente usado em
estudo (VÁRZEA; MARQUES, 2005). lavouras com alta produtividade. O monitoramento
deve ser realizado em amostras de folhas coletadas
No Brasil, as pesquisas têm mostrado que a raça II
mensalmente, após a floração, até à colheita
é a mais frequênte nas amostras estudadas tanto
dos frutos. A amostragem deve ser efetuada no
em C. arabica como em C. canephora, atribuindo
terceiro ou quarto pares de folhas, nos ramos com
essa predominância à uniformidade genética
frutos, nos quatro pontos cardeais das plantas e
das cultivares comerciais suscetíveis a essa raça
só deve ser feito o controle quando a incidência
(ZAMBOLIM et al., 2005). Estudos de identificação
nas folhas coletadas for superior a 5%. Na época
das raças de H. vastatrix no Brasil, no período
da colheita, a incidência não deve ser superior a
de 1972 a 2002, incluindo amostras do Estado
15%. É importante o monitoramento da doença
do Espírito Santo, mostraram que a primeira
nas lavouras para evitar a aplicação desnecessária
raça identificada em folhas de café conilon pelo
de fungicidas, com consequente redução dos
CIFC, em 1972, foi a XV, obtida de plantas da
impactos ambientais, emergência de resistência
região de Linhares, que apresentavam pústulas
no patógeno e redução dos custos de produção.
de cor amarelo-avermelhada, diferentes das
Calendários fixos de aplicação de fungicidas não
observadas nas cultivares Catuaí Vermelho e de
devem ser recomendados, pela grande variação
Mundo Novo (CHIACCHIO, 1973; ZAMBOLIM et al.,
das epidemias da ferrugem.
2005). Posteriormente, não foi possível encontrar
novamente a raça XV em plantas de conilon, ao
Tabela 1. Raças de Hemileia vastatrix identificadas em
contrário da raça II, cuja presença foi constante plantas de café conilon, no Estado do Espírito
em todas as coletas realizadas no Espírito Santo Santo
(Tabela 1), o que levanta o questionamento sobre Número de Culturas Raça Fator
a primeira identificação daquela raça no Estado, Examinadas Identificada de Virulência
já que a adequada identificação depende de 19 II V5
fatores metodológicos e condições ambientais 96 II V5
adequadas (ZAMBOLIM et al., 2005). Em C. arabica, - III V1
no Espírito Santo, também já foi identificada a raça - XIII V5 V9
III, cujo fator de virulência é V1 (SILVA et al., 2000).
- XV V4 V5
Recentemente, a caracterização molecular de raças
- XXXIII V5 V7V9
de ferrugem, mostrou que o uso dos primers OPA-
Fonte: Chiacchio (1973) e Zambolim et al. (2005).
07, OPK-09 e OPK-20 possibilitou diferenciar a raça
II apresentando reprodutibilidade e polimorfismo
Para o manejo da ferrugem em conilon, deve-se
entre as raças de ferrugem pesquisadas (MAIA et al.,
levar em consideração a redução do inóculo inicial,
2006).
haja vista as características de alguns clones em
Os programas de melhoramento genético não reterem folhas infectadas de um ano para o
desenvolvidos no Incaper e em muitos outros países outro, o que é muitas vezes suficiente para controlar
tem resultado em novas variedades, muitas delas a um nível econômico adequado a doença, não
com resistência à ferrugem. justificando, assim, a utilização de calendário fixo de
aplicação de fungicidas.
Os fungicidas mais empregados no controle
Controle Químico
da ferrugem-do-cafeeiro são os sistêmicos do
A utilização de produtos químicos (fungicidas) grupo dos triazóis, nas formulações concentrado
para o controle da ferrugem só deve ser emulsionável, pó molhável e granulados. A melhor
recomendada quando a severidade da doença eficiência tem sido obtida com triazóis formulados
atingir o nível de controle, que deve ser precedida com estrobilurinas e aplicados em pulverização
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 447
(ZAMBOLIM, 2015). Porém, mesmo com o crescente granulada, também devem seguir a estratégia
uso desses produtos, aplicados tanto via foliar de não serem utilizados isoladamente e quando
como no solo, a utilização de fungicidas cúpricos em associação com inseticidas, há, no entanto,
como protetores ainda constitui uma alternativa de nesse caso um maior risco de impacto ambiental
controle (ZAMBOLIM et al., 2002; ZAMBOLIM et al., (ZAMBOLIM et al., 2015).
2015).
Pesquisas mais recentes com a coaplicação de
Na busca de uma alternativa para o controle da epoxiconazole, azoxistrobina ou piraclostrobina,
ferrugem-do-cafeeiro, Cruz Filho e Chaves (1985) pulverizados duas vezes resultaram em eficiente
desenvolveram a Calda Viçosa, uma suspensão controle da ferrugem, aumentando a produtividade
coloidal de nutrientes que atua simultaneamente do café. Os tratamentos com ciproconazol
como fungicida e como fonte de micronutrientes aplicados ao solo em novembro, seguidos por
para as plantas. Segundo Zambolim et al. (1997), a ciproconazol + azoxistrobina pulverizados sobre as
vantagem dessa mistura é que, além de controlar folhas em dezembro e fevereiro, epoxiconazole +
a ferrugem, pode também reduzir outras doenças pyraclostrobin, em dezembro e março; ciproconazol
como a mancha-de-olho-pardo e a mancha- + azoxistrobina, em dezembro, fevereiro e abril
aureolada-do-cafeeiro. viabilizaram uma produtividade superior a 39 sacas
de café beneficiado por hectare.
Para utilização de fungicidas cúpricos no controle
da ferrugem-do-cafeeiro, deve-se observar a época Uma ferramenta adicional no controle químico é a
de aplicação, sendo a maior eficiência obtida nas utilização de modelos de previsão da doença, haja
pulverizações realizadas antes do início e durante vista a necessidade do uso racional de agroquímicos
a estação chuvosa (CHAVES et al., 1970; ZAMBOLIM e uma melhor relação custo-benefício. Vários
et al., 2002). Os fungicidas cúpricos são eficientes pesquisadores desenvolveram modelos de previsão
nas doses de 1 a 2 kg de cobre (p.a.) por hectare. da ferrugem-do-cafeeiro utilizando as variáveis
O início das aplicações deve ser feito com base no climáticas, presença de água no estado líquido sobre
monitoramento da doença, ocorrendo geralmente as folhas e temperatura média durante o período de
em dezembro ou início de janeiro e indo até março- molhamento, associadas à fisiologia da planta e à
abril, fazendo-se as aplicações com um intervalo de intensidade da doença para determinar o momento
30-40 dias (ZAMBOLIM et al., 1997; ZAMBOLIM et al., mais propício para se realizar as pulverizações
2002). Esses fungicidas também são importantes na com fungicida sistêmico (GARÇON et al., 2006). A
nutrição das plantas ao fornecer o micronutriente eficiência da utilização de um modelo de previsão
cobre, bem como ao ajudar nas estratégias de foi comparada com o uso de um calendário fixo
antirresistência do fungo aos fungicidas sistêmicos. de aplicação e a recomendação de aplicação em
função da incidência de folhas doentes, tendo-se
Os fungicidas sistêmicos apresentam algumas
mostrado tão eficiente quanto o calendário fixo
vantagens sobre os protetores, como a possibilidade
para o controle da ferrugem, porém com um menor
de erradicar o patógeno em áreas não atingidas
número de pulverizações (ZAMBOLIM et al., 2002).
pela pulverização, bem como seu efeito terapêutico
(curativo). Para a ferrugem-do-cafeeiro, essas Na Tabela 2, encontram-se os valores da incidência
características são altamente desejáveis, visto que da ferrugem no início (período de enfolhamento)
a penetração do patógeno se dá pelos estômatos e no final do ano agrícola (colheita), em parcelas
que se encontram na face abaxial da folha. Quando não tratadas com fungicidas, e os produtos que se
se optar pelo uso de fungicidas sistêmicos em destacaram em diferentes localidades e épocas,
pulverização, recomenda-se sempre aplicá-los no controle da ferrugem-do-cafeeiro conilon no
em alternância com os fungicidas de contato norte do Estado do Espírito Santo. Os resultados
(preferencialmente à base de cobre), a fim de reduzir apresentados contemplam somente produtos que
a pressão de seleção exercida na população do foram testados e apresentados em congressos de
patógeno (ZAMBOLIM et al., 1997). pesquisa, desde a década de 70 até o ano 2001
(ZAMBOLIM et al., 2002).
Os trabalhos que utilizaram o fungicida sistêmico
triadimenol aplicado no solo, na formulação A incidência de ferrugem no início do mês de
448 Café Conilon – Capítulo 18
Tabela 2. Incidência inicial e final da ferrugem-do-cafeeiro na cultivar Conilon e tratamento químico mais eficiente no
período de 1970 a 2001, no controle da doença, em diversos municípios do norte do Estado do Espírito Santo
ferrugem-do-cafeeiro
Incidência
Anos Incidência inicial Fungicida mais eficiente
Município final
Mês (%) Mês (%)
1970-1976 1 Dez a Fev 7,2 a 15,0 Ago 16,5 cúprico
1977-1980 2 Jan a Fev 1,0 a 3,0 Maio 35,0 cúprico
cúprico, triadimenol
+
1990-1995 3 Jan 1,6 Agosto 22,7 a 70,0
dissulfoton
(solo)
cúprico cyproconazol
+
dissulfoton
(solo)
triadimenol
1996-2001 Dez a Jan 1,0 a 2,0 Junho a Agosto 60,0 a 77,0
(solo)
triadimenol
+
dissulfoton
(solo)
Fonte: Congressos de Pesquisa Cafeeira (1970-2001); Zambolim et al. (2002).
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 449
Terceiro ou quarto
par de folhas.
Terço médio da
planta de café.
10. Não misturar a Calda Viçosa com fungicidas e É uma doença que ocorre tanto no café arábica
inseticidas. como no conilon, com importância econômica no
Brasil, principalmente nas condições de viveiro e
De acordo com o monitoramento da ferrugem,
na fase inicial de transplantio no campo, quando
poderão ser recomendadas até três ou quatro
as lavouras são localizadas em solos com baixa
aplicações da Calda Viçosa a partir de dezembro, em
fertilidade, causando intensa desfolha. Em café
função da condução e estudo sanitário da lavoura.
conilon, a sua intensidade é muito variável, em
Com relação ao controle da ferrugem em café função do clone e condições climáticas, tendo maior
conilon, deve-se verificar qual clone foi plantado importância na fase de viveiro, em que as plantas
e as épocas de colheita (precoce, intermediária ou muitas vezes não se desenvolvem. Em caso de alta
tardia), já que frequentemente ocorre a doença intensidade, podem ocorrer perdas elevadas nas
após a colheita, o que não justifica a aplicação de mudas, pois provoca desfolha e “atrasa” sua saída
fungicidas, uma vez que será realizada a poda, que para o campo (Figura 10A).
reduz consideravelmente o inóculo inicial do fungo.
A severidade da doença está diretamente
Deve-se, assim, evitar as aplicações desnecessárias
relacionada à nutrição das plantas, principalmente
e em época inadequada.
com a deficiência de nitrogênio (VENTURA, 1995).
Os fungicidas, especialmente o pyraclostrobina, Nas lavouras com plantas adultas, a ocorrência
epoxiconazole, cyproconazole, triadimenol, da doença se dá divido à alta carga de frutos e do
strobilurina e azoxystrobina, mostraram efeito desequilíbrio nutricional das plantas. Deficiência
curativo para a ferrugem em vários estudos. hídrica (estresse hídrico), solos com textura
inadequada para a cultura do cafeeiro e plantas
A emergência de resistência a fungicidas é
com o sistema radicular comprometido favorecem
considerada uma das ameaças mais sérias à
a incidência e severidade da doença.
segurança alimentar. Desde a década de 70, a
emergência de resistência a algumas das mais
importantes classes de fungicidas seletivos sítio-
Sintomas
específicos modernos tem comprometido o
manejo das doenças de plantas, tornando limitadas Os sintomas nas folhas são manchas circulares
ou mesmo indisponíveis as opções de fungicidas. com diâmetro variável, que apresentam coloração
Produtos alternativos vêm sendo estudados, bem pardo-clara ou marrom-escura e que geralmente
como o controle biológico com determinados possui um centro branco-acinzentado, com ou sem
isolados de Bacillus subtilis, mas ainda sem ampla a presença de um halo amarelado. Com o auxílio
aplicação em lavouras comerciais. de uma lupa, pode-se observar pequenos pontos
A B
Figura 10. Sintomas da mancha-de-olho-pardo causada pelo fungo Cercospora coffeicola em mudas (A); e plantas
adultas (B) de café conilon, no norte do Espírito Santo.
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 451
escuros, que são as estruturas de frutificação do Quadro 1. Fatores que predispõem o cafeeiro às principias
fungo (Figura 10B). As lesões circulares têm o doenças foliares e dos ramos
aspecto de um “olho de passarinho”, razão pela qual Doença Fatores Predisponentes
a doença também é conhecida em algumas regiões Temperatura entre 21 ºC e 23 ºC
por olho-de-pomba. As folhas infectadas caiem, Molhamento foliar contínuo
causando a desfolha das mudas e plantas no campo. Ferrugem
Umidade relativa do ar > 90%
(Hemileia vastatrix)
Os frutos infectados apresentam manchas Alta carga de frutos nas plantas
necróticas, deprimidas, de coloração marrom- Baixa relação folha/fruto
escura. Normalmente, os frutos doentes Deficiências nutricionais
amadurecem e caem prematuramente, tendo Desiquilíbrios de nutrientes
a casca aderida ao pergaminho, dificultando Mancha-de-olho-pardo
Estresse hídrico
(Cercospora coffeicola)
o despolpamento no processamento em pós- Solos pobres e arenosos
colheita, além de grãos chochos que afetam a Deficiência hídrica
qualidade da bebida.
Deficiências nutricionais
Deficiência hídrica
Alta carga de frutos
Etiologia Seca-dos-ponteiros
Ventos fortes e frios
O agente causador da doença é o fungo Cercospora
Ocorrência de doenças e pragas
coffeicola Berk. & Cooke, da ordem Moniliales e
Problemas no sistema radicular
família Dematiaceae, que produz conídios septados
Fonte: Elaborado pelos autores.
e agrupados nas lesões de ambas as faces da folha
sendo facilmente disseminados para as outras
folhas ou plantas visinhas. O tubo germinativo do A sobrevivência do inóculo em folhas de cafeeiro,
fungo penetra nas folhas através das aberturas naturalmente infectadas por C. coffeicola, foi maior
naturais, principalmente na face superior das folhas quando as folhas ficaram acima do solo, com a
ou diretamente pela cutícula. Nos frutos, quando viabilidade dos conídios mantida após 260 dias em
ocorre a infecção, o fungo coloniza os tecidos e 33%, enquanto que nas folhas mantidas à superfície
pode atingir as sementes. O fungo produz a toxina do solo ou enterradas a 10 cm de profundidade, não
cercosporina, a qual é ativada na presença de luz e houve sobrevivência (TEIXEIRA. MAFFIA; MIZUBUTI,
funciona como fator de agressividade do patógeno. 2006).
doença, inclusive com queda de folhas. Se houver conilon no Brasil foi em 1977, no Estado do Espírito
necessidade, deve-se realizar a calagem, também Santo (MANSK; MATIELLO, 1977).
sempre com base na análise química do solo. Em
Têm-se observado diferentes espécies de fungos
casos de alta severidade da doença, podem-se
do gênero Colletotrichum colonizando os tecidos
utilizar fungicidas, principalmente os cúpricos
do cafeeiro no Brasil, estando presentes em
destacando-se sempre os seguintes cuidados de
praticamente todas as regiões produtoras tanto
manejo:
de conilon como de arábica, com destaque,
principalmente para a espécie Colletotrichum
gloeosporioides. No entanto, não se observou, entre
a) Viveiro:
as populações de Colletotrichum pesquisadas nas
•Utilizar substrato com níveis adequados de Américas do Sul e Central, o agente causal do CBD.
nutrientes;
As espécies de Colletotrichum encontradas no
•Evitar locais com alta umidade relativa;
cafeeiro, no Brasil, são consideradas como endófitos
•Utilizar fungicidas cúpricos e/ou Calda Viçosa;
e saprófitas, que habitam a casca do cafeeiro,
•Ter cuidados especiais na fase de aclimatação das
afetando os ramos, quando ocorrem ferimentos,
mudas quando produzidas em viveiro coberto.
principalmente em condições favoráveis com
No entanto, em viveiros muito sombreados,
período de umidade elevada. Embora o fungo possa
ou com alta exposição ao sol e com excesso de
ser observado na sua forma saprofítica, em lavouras
irrigação tem-se observado danos nas mudas que
mal manejadas, é comum encontrar plantas com
geralmente iniciam-se em pequenas reboleiras.
diferentes graus de severidade, inclusive em
lavouras novas e bem manejadas (MONTOYA, 1979;
b) Campo: PARADELA FILHO; PARADELA, 2001). As espécies de
•Efetuar uma adubação equilibrada (com base na Colletotrichum do cafeeiro são parasitas facultativos,
análise de solo); com uma fase parasítica e outra saprofítica. A fase
•Evitar solos arenosos e compactados; saprofítica pode-se constituir em importante fonte
•Realizar pulverizações mais frequentemente com de inóculo para a sua disseminação. A inoculação de
micronutrientes (ex.: Calda Viçosa associado a plantas e a transmissão do patógeno por sementes
fungicidas cúpricos), em anos de alta carga; foi confirmada na América Central (VARGAS;
•Evitar instalar lavouras em locais exposto a alta GONZALES, 1972; MONTOYA, 1979). No entanto,
insolação principalmente à tarde; trabalhos desenvolvidos por outros pesquisadores
•Iniciar o controle químico, em caso de necessidade, não têm confirmado esses resultados, o que exige a
na fase de frutificação, quando ocorre maior continuidade das pesquisas.
estresse nutricional das plantas.
No caso do café conilon, existem clones Sintomas
desenvolvidos pelo programa de melhoramento
O sintoma típico é observado nas folhas,
genético do Incaper que apresentam resistência
onde ocorrem pequenas manchas de aspecto
à doença tanto em condições de viveiro como no
oleoso (Figura 11), de bordas bem definidas,
campo.
normalmente com 1 a 3 mm de diâmetro, que
podem coalescer e necrosar os tecidos do limbo
2.3 MANCHA-MANTEIGOSA foliar. Nos ramos, os sintomas necróticos podem
Colletotrichum spp. evoluir no sentido descendente, ocorrendo
É uma doença que ocorre de forma esporádica lesões nos nós. Os frutos, quando infectados,
no Estado do Espírito Santo, em café conilon, apresentam lesões deprimidas, as quais podem
em determinadas variedades e clones, podendo ocasionar a sua queda de maneira prematura. Em
provocar a morte das plantas com o passar do estádio avançado da doença, ocorre a seca dos
tempo. Atualmente, a doença ocorre com baixa ramos e, consequentemente, a morte das plantas
frequência em função da seleção de clones doentes.
resistentes. O primeiro relato da doença em café
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 453
Outros sintomas são relatados no cafeeiro, como o RNA ribossomal, parte dos genes da b-tubulina
escurecimento e morte das estípulas dos nós nos 2, histona 4, glutamina sintase e gliceraldeído-
ramos, manchas irregulares necróticas próximas 3-fosfato desidrogenase (SREENIVASAPRASAD;
às margens das folhas e a queda destas. Também TALHINHAS, 2005; TALHINHAS et al., 2005).
é observado o aparecimento de manchas marrons
No Brasil, as espécies de Colletotrichum estão
no caule verde que podem levar, em alguns casos,
presentes em praticamente todas as lavouras de
à morte da planta. Nas gemas e botões florais,
café, sendo isoladas de frutos, folhas e ramos,
podem aparecer lesões necróticas que podem
sintomáticos ou assintomáticos, e acredita-se
também atingir os frutos nas fases de chumbinho,
que os fungos colonizam os tecidos após injúrias
provocando a sua queda prematura (PARADELA
mecânicas, estresses hídricos e nutricionais, ou
FILHO et al., 2001).
mesmo devido ao excesso de umidade e ventos
A doença é associada ao fungo C. gloeosporioides, e, (ZAMBOLIM, L.; VALE; ZAMBOLIM, E. M., 2003).
frequentemente, nas amostras com os sintomas da Em condições ambientais favoráveis, os conídios
doença, são isolados os fungos C. gloeosporioides germinam e emitem os tubos germinativos, na
e, em alguns casos, Colletotrichum acutatum, que extremidade dos quais se formam os apressórios,
representam ampla população presente nos tecidos com a posterior penetração no hospedeiro podendo
dos cafeeiros, com e sem sintomas da doença, sendo passar por uma fase hemibiotrófica, durante a qual as
uma presença constante nos tecidos, na região células da planta não são necrosadas. A dificuldade
apical dos ramos com coloração amarronzada. em completar os testes de patogenicidade no
A espécie C. acutatum é cosmopolita e engloba cafeeiro e a sua participação na doença ainda são
atualmente fungos causadores de antracnoses, que bastante discutidas. Pesquisas no Departamento
anteriormente estavam incluídos na espécie-grupo de Fitopatologia da UFV indicam que o fungo C.
C. gloeosporioides (Penz.) Penz. & Sacc., considerada gloeosporioides tem origem endófita nos tecidos
bastante heterogênea, sendo separada com a das plantas (ZAMBOLIM, L.; VALE; ZAMBOLIM, E. M.,
utilização de marcadores moleculares incluindo 2003).
as sequências nucleotídicas da região ITS do
A B
Figura 11. Sintomas da mancha-manteigosa em folhas de café conilon, no Norte do Espírito Santo. Face inferior (A) e
superior (B) da folha.
454 Café Conilon – Capítulo 18
caule, folhas, ramos. Nos vasos do xilema das plantas deficit hídrico, são medidas que têm contribuído
doentes, geralmente, encontram-se tiloses, células para o manejo da doença. Em algumas situações, a
bacterianas e goma bloqueando esses vasos, além poda de esqueletamento e a recepa das plantas são
do desbalanço hormonal (LEITE JÚNIOR; NUNES, também recomendadas, principalmente quando as
2003). lavouras apresentam muitas plantas debilitadas.
B C
Figura 12. Sintomas característicos da mancha-de-corynespora em folhas (A e B) e frutos (C) de café conilon no Espírito
Santo.
causada por um vírus do grupo Rhabdovirus proliferação dos ácaros, e as plantam podem resistir
(CHAGAS et al., 2003; KITAJIMA et al., 2003). melhor à queda das folhas (MINEIRO, 2004).
Plantas da família Chenopodiaceae (Chenopodium
É importante também a racionalização do uso de
ambrosioides, L. - erva-de-santa-maria) e da família
assopradores mecânicos e grades, que podem
Amaranthaceae (Amaranthus viridis L. – caruru)
provocar grande quantidade de poeira nas plantas
são suscetíveis, sendo consideradas hospedeiras
e facilitar a proliferação do ácaro, uma vez que as
alternativas para o Coffee ringspot vírus – CoRSV
fêmeas utilizam os grãos de areia para abrigar as
(CHILDERS et al., 2003). No Brasil, o ácaro da
posturas. No entanto, podem prejudicar os ácaros
mancha-anular é encontrado em diversos estados
predadores devido à abrasão. A manutenção de
tanto em C. arabica quanto em C. canephora. Em
cobertura verde nas entrelinhas do plantio como
1987, a doença foi registrada no Espírito Santo,
forma de proporcionar melhores condições para
mas com sintomas diferentes dos relatados na
a estabilidade ecológica possibilita a presença e
literatura, com lesões pequenas passando de
multiplicação de inimigos naturais que poderão
amarelas a necróticas ao longo das nervuras
auxiliar no equilíbrio biológico dos ácaros,
(MATIELLO, 1987).
além da racionalização do uso de agrotóxicos,
principalmente os inseticidas peretroide e
fungicidas cúpricos (MINEIRO, 2004).
Sintomas
Não existem ainda resultados práticos que possam
Os sintomas característicos são manchas cloróticas
orientar os produtores em relação à amostragem
nas folhas, geralmente em forma de anéis
das plantas e nível de controle do B. phoenicis em
concêntricos que se espalham junto às nervuras,
cafeeiro. Recomenda-se adaptar as estratégias
amarelecendo gradualmente e provocando a
utilizadas no controle dessa mesma espécie
queda prematura das folhas e, consequentemente,
de ácaros na cultura de citros (MINEIRO, 2004).
a desfolha gradativa das plantas (MINEIRO, 2004).
Assim, sugere-se que os produtores de café nas
A desfolha, também chamada pelos agricultores de
regiões onde o ácaro está presente passem a
“planta oca”, ocorre, geralmente do tranco para a
realizar amostragens periódicas nas lavouras (ex.:
parte externa da planta. Nos frutos, os sintomas da
semanais), principalmente no período de março a
mancha-anular caracterizam-se por lesões circulares
novembro.
deprimidas, que chegam a provocar a deformação
do pericarpo. Os frutos perdem a qualidade para As amostragens do ácaro para fins de controle
bebida e os grãos ficam predispostos à infecção são mais representativas, quando realizadas em
de outros patógenos, como é o caso do fungo C. ramos e frutos do terço inferior e folhas mais
gloeosporioides, que é encontrado em condições internas nessa mesma posição das plantas (REIS
saprofíticas no cafeeiro (REIS; CHAGAS, 2001). et al., 2000). A decisão para o controle químico do
ácaro deve ser restrita apenas aos talhões onde
o nível populacional atinja 2%, possibilitando a
Manejo da doença manutenção da população em níveis baixos e a
Para o manejo da doença é importante o controle racionalização do uso de inseticidas/acaricidas. Em
do ácaro com a adoção de estratégias que incluam associação com o B. phoenicis, ocorrem outros ácaros
vários métodos para auxiliar na redução do vetor, que são predadores, pertencentes principalmente
como o controle biológico, cultural, genético e à família Phytoseiídae, que devem ser preservados
químico. Neste último caso, deve-se racionalizar o com o uso de produtos seletivos, quando se usa o
uso de inseticidas/acaricidas. controle químico.
Das estratégias citadas, destaca-se o controle Pouco se conhece sobre a resistência de variedades
cultural, que consiste em medidas de caráter à doença ou à infestação pelo ácaro. Pesquisas
preventivo visando à eliminação ou redução das mais recentes referentes à preferência hospedeira
condições que facilitam o desenvolvimento dos de B. phoenicis em diferentes cultivares de Coffea
ácaros, bem como a adubação equilibrada das spp. mostraram que esse ácaro tem preferência
plantas, embora essa prática por si só não impeça a por certos genótipos e cultivares, destacando a
458 Café Conilon – Capítulo 18
alta incidência em C. canephora cv. Robusta, onde escura geralmente zonadas, que normalmente
foram encontrados cerca de 90% de todos os se iniciam pelos bordos da folha (Figura 13). Sob
ácaros-pragas, enquanto que nas cultivares de C. condições de alta umidade, observam-se pequenos
arabica, como Catuaí Amarelo, Icatu Vermelho, Icatu pontos pretos (picnídios) sobre as lesões. Os ramos
Amarelo e Mundo Novo, ficaram em torno de 10% atacados apresentam uma lesão escura de aspecto
(MINEIRO, 2004). deprimido. Os frutos podem também ser atacados e
tornam-se escuros.
2.5.4 Mancha-de-phoma
A doença foi inicialmente constatada em 1975, no
Estado do Espírito Santo, em lavouras da região
de Conceição do Castelo e Domingos Martins.
Normalmente, até os dias de hoje, o patógeno ocorre
na maioria das lavouras, mas com a intensidade
muito variável, pois é altamente dependente das
condições climáticas e da altitude das lavouras. A
doença também se faz presente e pode provocar
desfolhas e morte das mudas, principalmente em
viveiros. Várias espécies do fungo têm sido isoladas,
e a Phoma costaricensis é relatada como a principal
espécie que ocorre no Estado. No entanto, ainda Figura 13. Sintomas da mancha-de-phoma em mudas de
café, no Estado do Espírito Santo.
há a necessidade de realizar a identificação dos
isolados do fungo que ocorrem no Espírito Santo
utilizando as novas técnicas moleculares. Condições favoráveis
O agente etiológico foi por muito tempo relatado A doença ocorre com maior severidade sob
como sendo do gênero Ascochyta, mas estudos condições de temperatura entre 16 e 20 ºC,
taxonômicos do patógeno levaram à transferência associada com ventos frios e chuvas finas e
para o gênero Phoma, e atualmente foi aceita frequentes. A disseminação ocorre por respingos de
uma nova combinação com base em análises água. No caso de viveiros, o excesso de irrigação é
filogenéticas que o incluíram no gênero Boeremia muito favorável à doença.
(AVESKAMP et al., 2010).
Boeremia exigua var. coffeae (Henn.) Aveskamp,
Manejo da doença
Gruyter & Verkley, stat. et comb. nov. Boeremia
exigua var. coffeae foi originalmente descrito em Evitar, ao máximo, instalar as lavouras em áreas
folhas de cafeeiro arábica (C. arabica, Stewart onde ocorrem ventos fortes e frios que favorecem
1957) como espécies Ascochyta coffeae e A. tarda. a doença. Nessas áreas, é fundamental a utilização
Os resultados filogenéticos obtidos revelam de quebra-ventos. O uso da proteção química,
similaridade genética entre as espécies de Phoma isoladamente, geralmente não apresenta resultado
e o complexo de B. exigua. Algumas espécies de satisfatório. No caso de viveiros, evitar locais muito
Phoma, principalmente encontradas em associação sombreados, bem como o excesso de adubações
com C. arabica, tal como Ph. coffeae-arabicae, nitrogenadas.
Ph. coffeicola, Ph. coffeiphila, Ph. costarricensis,
Ph. excelsa, e Ph. pereupyrena, ainda não estão
completamente relacionadas ao complexo B. 2.5.5 Mancha-aureolada
exigua. Doença causada pela bactéria Pseudomonas
syringae pv. garcae, ocorre de maneira muito
esporádica em café conilon, no Estado do
Sintomas
Espírito Santo. É mais frequente em viveiros
As folhas infectadas apresentam manchas de cor muito sombreados e com excesso de irrigação,
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 459
Manejo da doença
3 DOENÇAS DE RAÍZES E CAULE
Evitar alta umidade nas condições de viveiro,
bem como excesso da adubação nitrogenada. Entre as doenças radiculares e do caule, as mais
O uso de quebra-ventos em lavouras adultas é importantes são as causadas por nematoides e
recomendado e, quando for necessário, poderão ser fungos, destacando-se as espécies de Rosellinia,
realizadas pulverizações com fungicidas cúpricos Armillaria, Rhizoctonia e Fusarium, que muitas
isoladamente ou associadas com ditiocarbamatos. vezes, em determinadas áreas, podem causar
sérios problemas. As plantas doentes geralmente
murcham, tornam-se cloróticas (amarelas) e ocorre
2.5.6 Mancha de Myrothecium a seca dos ponteiros. As raízes apresentam necroses
A doença causada por esse fungo, apesar de já ter (podridões), sendo observado o crescimento do
sido relatada em C. arabica, foi descrita pela primeira micélio dos fungos nos tecidos afetados.
vez em 2013 e 2014, em mudas de café conilon, O diagnóstico dos patógenos radiculares é de difícil
que apresentavam folhas com manchas foliares em realização, uma vez que os sintomas se expressam
um viveiro comercial no Município de Laranja da em outros órgãos da planta, como folhas, ramos ou
Terra, Espírito Santo, Brasil. Estudos morfológicos frutos. Frequentemente, os agricultores os associam
e moleculares confirmaram a etiologia como a deficiências nutricionais (KIMANI; LITTLE; VOS,
Myrothecium roridum Tode (SILVA et al., 2014). O 2002). No caso dos nematoides não é possível
fungo já havia sido relatado na Colombia em C. detectar a sua presença olhando simplesmente para
canephora. a planta, pois torna-se necessário fazer a análise
laboratorial das raízes e do solo.
460 Café Conilon – Capítulo 18
Figura 14. Raiz de cafeeiro infectada por Rosellinia sp. evidenciando sob a casca pontuações escuras típicas do patógeno.
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 461
Tabela 4. Porcentagem de propriedades (amostras) infestadas com Meloidogyne spp. em cafeeiro conilon (Coffea
canephora) no Estado do Espírito Santo
% das propriedades (amostras) positivas
No de propriedades
Municípios Fenótipos de esterase
(amostras) analisadas
I1 I2 P1
Afonso Cláudio 12 (37) 8,3 (5,4) 25,0 (16,2) -
Alegre 2 (2) 50,0 (50,0) - -
Castelo 4 (9) 25,0 (11,1) - -
Colatina 3 (4) - - -
Govenador Linderberg 5 (5) - - -
Jaguaré 15 (22) 26,7 (22,7) 13,3 (9,1) 6,7 (9,1)
João Neiva 5 (5) - - -
Laranja da Terra 5 (8) 40,0 (25,0) 20,0 (12,5) -
Linhares 8 (11) 37,5 (36,4) - 12,5 (9,1)
Marilândia 5 (5) 20,0 (20,0) - -
Muniz Freire 2 (2) - - -
Pinheiros 2 (2) - - -
São Gabriel da Palha 10 (12) 20,0 (25,0) - -
São Mateus 7 (10) 28,6 (30,0) - -
Sooretama 7 (36) 14,3 (8,3) 28,6 (41,7) 28,6 (38,9)
Vila Valério 18 (34) 33,3 (35,3) 11,1 (11,8) 11,1 (8,2)
Total 110 (204)
Fonte: Adaptado de Barros et al. (2014).
Há de se considerar que, segundo Barros et al. de cafeeiro conilon no Espírito Santo, tais
(2014), M. incognita, com predomínio da raça 1, como Rotylenchulus, Tylenchus, Helicotylenchus,
é a espécie de maior prevalência na maioria dos Pratylenchus, Mesocriconema, Xiphinema e
municípios capixabas e essa espécie ocorreu tanto Aphelenchus, mas não foram associados danos a
pura quanto em mistura com M. paranaensis. A essas espécies (BARROS et al., 2014).
raça 1 de M. incognita, segundo Lima et al. (2015),
Alguns desses gêneros também foram detectados
apresenta menor fator de reprodução na maioria
em levantamento realizado no Estado de
dos genótipos avaliados, quando comparada à raça
Rondônia, outro importante produtor nacional de
3 dessa espécie, o que talvez explicaria os diferentes
café conilon. Santiago, et al. (2005) detectaram a
níveis de agressividade observados em campo.
presença dos gêneros (Aphelenchus, Meloidogyne,
Por exemplo, observações de campo demonstram Pratylenchus, Aphelenchoides, Xiphinema,
que há comportamento distinto do clone 12V em Helicotylenchus e Tylenchus). As espécies dos
áreas infestadas com M. paranaensis. Geralmente, gêneros Aphelenchoides, Aphelenchus, Meloidogyne
o clone desenvolve-se bem até atingir a fase e Pratylenchus apresentaram índices de incidência
produtiva, e os maiores danos à produtividade de 69,2%, 53,8%, 53,8% e 46,1% respectivamente,
e a fisiologia observa-se depois da segunda nos municípios avaliados. Levantamento mais
colheita. O clone 13V (maturação tardia) apresenta recente nesse estado, realizado em 21 municípios
desenvolvimento e produtividade compatíveis (Alta Floresta, Alto Alegre dos Parecis, Alto Paraíso,
com a média esperada. No entanto, o clone 1V Buritis, Cacoal, Espigão do Oeste, Jí-Paraná,
(maturação precoce) teve 75% de mortalidade de Machadinho D´Oeste, Ministro Andreazza, Nova
plantas na área experimental, até 550 dias após o Brasilândia, Novo Horizonte D´Oeste, Ouro Preto
plantio (LIMA, 2016). do Oeste, Parecis, Pimenta Bueno, Porto Velho,
Primavera de Rondônia, Rolim de Moura, Santa
Além do Meloidogyne, outros gêneros de
Luzia, São Felipe D´Oeste e Vale do Paraíso)
fitonematoides foram detectados na rizosfera
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 463
Tabela 5. Fator de reprodução de Meloidogyne paranaensis, M. incognita e M. exigua e reação de genótipos de cafeeiros
a essas espécies
M. incognita M. incognita M. exigua M. exigua
M. paranaensis
Genótipo raça 3 raça 1 virulento avirulento
FR (R) FR (R) FR (R) FR (R) FR (R)
Catuaí IAC 81 29,33 (S) 111,8 (S) 30,83 (S) 78,92 (S) 53,4 (S)
Clone 1V* 15,45 (S) 34,0 (S) 13,8 (S) 0,84 (HR) 0,82 (HR)
Clone 2V* 0,25 (HR) 4,08 (S) 0,68 (HR) 0,02 (HR) 0,0 (I)
Clone 3V* 0,6 (HR) 6,35 (S) 0,78 (HR) 20,93 (S) 0,08 (HR)
Clone 4V* 7,96 (S) 10,01 (S) 11,18 (S) 0,02 (HR) 0,07 (HR)
Clone 5V* 8,23 (S) 6,31 (S) 2,38 (S) 0,02 (HR) 0,05 (HR)
Clone 6V* 0,20 (HR) 2,0 (MR) 0,01 (HR) 10,7 (S) 0,0 (I)
Clone 7V* 0,61 (HR) 10,61 (S) 1,01 (MR) 0,0 (HR) 0,0 (I)
Clone 8V* 2,3 (MR) 2,48 (MR) 0,28 (HR) 1,07 (MR) 0,03 (HR)
Clone 9V* 1,35 (MR) 5,76 (S) 2,35 (S) 0,02 (HR) 0,06 (HR)
Clone 10V* 8,41 (S) 9,95 (S) 4,88 (S) 7,05 (S) 3,82 (MR)
Clone 11V* 1,53 (MR) 7,73 (S) 5,1 (S) 0,05 (HR) 0,18 (HR)
Clone 12V* 7,38 (S) 16,28 (S) 1,53 (S) 0,84 (HR) 0,4 (HR)
Clone 13V* 0,35 (HR) 6,20 (S) 0,71 (HR) 2,45 (MR) 1,44 (MR)
Clone 14 0,51 (HR) 0,26 (HR) 0,04 (HR) 0,04 (HR) 0,0 (I)
Clone 22 15,06 (S) 5,10 (S) 12,05 (S) 7,9 (S) 0,08 (HR)
Clone 109 A 16,64 (S) 35,76 (S) 39,66 (S) 0,02 (HR) 0,01 (HR)
Clone 120 4,13 (S) 16,32 (S) 16,0 (S) 0,04 (HR) 0,01 (HR)
ES N2010 – 01 2,19 (MR) 21,35 (S) 9,81 (S) 0,02 (HR) 0,0 (HR)
ES N2010 – 02 1,91 (MR) 13,5 (S) 13,19 (S) 0,04 (HR) 0,01 (HR)
ES N2010 – 03 2,19 (MR) 37,16 (S) 4,60 (MR) 0,02 (HR) 0,0 (HR)
ES N2010 – 04 0,0 (HR) 2,29 (MR) 0,0 (HR) 0,02 (HR) 0,0 (HR)
ES N2010 – 05 2,32 (MR) 6,91 (S) 11,29 (S) 0,27 (HR) 0,0 (HR)
ES N2010 – 06 3,85 (S) 12,65 (S) 38,82 (S) 0,0 (HR) 0,03 (HR)
ES N2010 – 07 5,88 (S) 49,96 (S) 16,51 (S) 0,0 (HR) 0,01 (HR)
ES N2010 – 08 11,88 (S) 50,52 (S) 37,16 (S) 0,08 (HR) 0,03 (HR)
ES N2010 – 09 11,75 (S) 27,36 (S) 31,1 (S) 5,13 (MR) 23,73 (S)
ES N2010 – 10 8,47 (S) 10,84 (S) 47,83 (S) 0,26 (HR) 0,11 (HR)
ES N2010 – 11 2,04 (MR) 50,83 (S) 59,24 (S) 0,01 (HR) 0,03 (HR)
ES N2010 – 12 13,96 (S) 38,71 (S) 22,67 (S) 0,15 (HR) 0,01 (HR)
ES N2010 – 13 0,39 (HR) 17,38 (S) 4,84 (MR) 0,0 (HR) 0,0 (HR)
compromete o sistema radicular e trás consigo de 17 espécies que parasitam cafeeiro no mundo,
efeitos indiretos, como redução da eficiência na cinco ocorrem nos cafezais brasileiros: M. coffeicola,
absorção e condução de nutrientes e água, além M. exigua, M. hapla, M. incognita e M. paranaensis.
de possíveis distúrbios resultantes de condições Entre elas, destacam-se M. exigua, por ocorrer em
adversas do ambiente – há de se considerar que praticamente todas as regiões produtoras de café
a maior área de conilon plantada no Estado do arábica, além de M. incognita e M. paranaensis por
Espírito Santo encontra-se em regiões sujeitas a ocasionar os maiores prejuízos tanto em C. arabica
deficit hídrico. quanto em C. canephora (CAMPOS; VILLAIN, 2005).
Para esse gênero, de nematoides, os sintomas
Em condições controladas, foi possível dimensionar
podem-se classificar pela interação (nematoide/
esse risco. Utilizou-se o clone 12V (suscetível) e
planta) em sintomas reflexos ou indiretos
o clone 14 (resistente) a M. paranaensis. Nesses
(observados na parte aérea) e sintomas diretos ou
materiais, inocularam-se três concentrações de
típicos (observados no sistema radicular).
0; 5.000 e 50.000 ovos/vasos de 14 L. O clone
suscetível 12V apresentou uma redução de 60%
na matéria seca da parte aérea (Figura 15A) e de
Sistema radicular - Na interação Meloidogyne
40% na matéria seca dos sistemas radiculares (15-
spp. e no gênero Coffea, a estrutura interna da raiz
B e D). O clone 14, por sua vez, não apresentou
é sempre modificada no local de alimentação do
diferenças significativas entre os níveis de inóculo,
parasito, com a formação de células gigantes, que
confirmando a resistência informada por Lima et al.
são adaptações celulares altamente especializadas,
(2015) (Figura 16).
induzidas e mantidas pelo nematoide (BIRD, 1974).
Segundo Endo (1971), uma das primeiras respostas
das plantas hospedeiras aos nematoides do gênero
Sintomatologia
Meloidogyne é a formação de galhas em suas
Esta parte irá focar o gênero Meloidogyne. Das mais raízes. Porém, nem todas as espécies desenvolvem
A D
Figura 15. Desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular do clone 12V (suscetível) 420 dias após a inoculação
com Meloidogyne paranaensis. Desenvolvimento da parte aérea, da esquerda para a direita PI = 0; 5.000 e
50.000 (A); sistema radicular sem inoculação (B); sistema radicular com PI = 5.000 (C); e sistema radicular PI
= 50.000 ovos/vaso (D).
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 465
A D
Figura 16. Desenvolvimento da parte aérea e do sistema radicular do clone 14(resistente) 420 dias após a inoculação
com Meloidogyne paranaensis. Desenvolvimento da parte aérea, da esquerda para a direita PI = 0; 5.000 e
50.000 (A); sistema radicular sem inoculação (B); sistema radicular com PI = 5.000 (C); e sistema radicular PI
= 50.000 ovos/vaso (D).
B C F
A D G
Figura 17. Sintomas da interação Meloidogyne paranaensis e raízes de cafeeiro conilon, clone 12V. Sistema radicular com
deformações e engrossamento em raízes de diferentes espessuras (A e B); rachaduras e fendilhamento nas
raízes mais grossas e lignificadas (C); raiz do cafeeiro com 3,5 anos de plantio parasitada e com ausência de
raízes adventícias (D); vista superior de solo infestado com M. paranaensis apresentando ausência de raízes
absorventes ao centro, caule de cafeeiro recepado 450 dias após a inoculação (E); vista superior de solo
desinfestado apresentando raízes absorventes superficiais (F); engrossamento nas raízes mais superficiais
do cafeeiro (G).
B C
A D
Figura 18. Sintomas indiretos do parasitismo Meloidogyne paranaensis em cafeeiro conilon, clone 12V, com 42
meses de plantio. Vista geral da área com reboleiras apresentando plantas mortas ou depauperadas e
subdesenvolvidas (A); queda prematura das folhas e exposição dos frutos à radiação solar provocando
escaldadura (B); planta podada com emissão de poucos ramos ortotrópicos e sua morte (C); morte de
planta na fase de enchimento de fruto (D).
Observa-se que clones suscetíveis que apresentam colheita ou a poda programada. Geralmente, depois
por dois ciclos produtivos quantidades elevadas de da poda, os brotos que serão os ramos ortotrópicos
juvenis de segundo estádio (J2) no solo se tornam são menos vigorosos que o esperado e tendem a
fracos, depauperados e chegaram a morrer após a secar com o tempo (Figura 18C).
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 467
Em áreas capixabas, onde as lavouras e,ou tecnologia de aplicação para o cafeeiro conilon, uma
talhões atacados tornam-se gradativamente anti- vez que a cultura está cada vez mais tecnificada. Por
econômicos, ocorre a erradicação das plantas, exemplo, o ciclo produtivo, a necessidade do uso
as quais geralmente são substituídas por outras de sistema de irrigação e os tratos culturais (poda)
culturas ou outros clones. são completamente distintos do cafeeiro arábica,
de onde se importou a recomendação de aplicação.
Indiscutivelmente, o uso de cultivares/clones
Manejo e controle
resistentes é a melhor opção para o convívio com
A prática de pousio emprega dois princípios de fitonematoides, sendo a opção mais barata e segura
controle, ou seja, morte do nematoide por fome em alternativa ao emprego irrestrito de nematicida.
(uma vez que os nematoides são fitoparasitos
Em alguns clones ou populações de C. canephora,
obrigatórios) e morte por dessecação ou
são detectados genes de resistência a diversos
aquecimento (quando se faz o revolvimento
gêneros de fitonematoides. Fato que o mistifica
do solo). Devido às características agrárias da
e, de certo modo, dá a impressão errônea de que
cafeicultura do conilon (pequenas e médias
todas as progênies oriundas de C. canephora são
propriedades) e por ela ser praticada de forma
resistentes a quaisquer fitonematoide, o que
intensiva, o uso de vazio sanitário da área ou pousio
atualmente não é observado nos principais clones
como a principal tática para suprimir nematoides
comercias.
das galhas é pouco praticada. A falta de renda
em áreas em pousio é um dos principais pontos A versatilidade de C. canephora na cafeicultura
negativos, juntamente com as despesas frequentes nacional, com foco no manejo dos nematoides,
e necessárias associadas com o controle de plantas está registrada há décadas nas diversas pesquisas
daninhas hospedeiras de fitomatoides. bem-sucedidas em aéreas de C. arabica, com uso,
por exemplo, de porta-enxerto ‘Apoatã IAC 2258’
Assim como o pousio, rotação de culturas, que é
(FAZUOLI, 2004; GONÇALVES et al., 2004). Por anos,
uma prática comprovadamente bem-sucedida em
áreas aptas ao cultivo de C. arabica era limitada
cultivos anuais, é, possivelmente, pouco prática
ao plantio devido à presença de M. exigua, M.
quando aplicada em culturas perenes. Assim, é
incognita e M. paranaensis no solo. Mas a enxertia
quase consensual que o controle de fitonematoides,
hipocotiledonar de C. arabica sobre C. canephora
mais especificamente Meloidogyne spp., em um
(Figura 19A) amenizou essa ameaça e foi e é o meio
sistema de cultura perene, como por exemplo o
mais econômico de produção (CAMPOS; VILLAIN,
cafeeiro conilon, é mais desafiador e difícil do que
2005). Os custos de produção associados ao uso
em cultivo anual. Em cafeeiro arábica, algum sucesso
da enxertia hipocotiledonar seguramente são
foi observado com uso da rotação na supressão
acrescidos, mas os resultados econômicos advindos
de populações de M. exigua e M. coffeicola, não
do uso dessa técnica compensam o investimento.
observado em M. incognita ou M. paranaensis,
importantes espécies para cafeeiro conilon Assim sendo, o ‘Apoatã IAC 2258’, seguramente,
(CARNEIRO, R. M. D. G., 1982; ALMEIDA; CAMPOS, é a cultivar de C. canephora de maior relevância
1991; CARNEIRO, R. G.; CAMPOS; VILLAIN, 2005). desenvolvido no Brasil visando à resistência a
fitonematoides, mas na América Latina, a variedade
O emprego irrestrito de nematicida como principal
de porta-enxertos Nemaya (desenvolvida com
forma de controle de fitonematoides também
resistência a P. coffeae e Meloidogyne spp.) também
é desaconselhável, pois comumente não reflete
apresenta bons resultados e é recomendada
em efeito positivo para o cafeeiro. Ademais,
(ANZUETO; BERTRAND; SARAH, 2001).
os nematicidas disponíveis no mercado estão
progressivamente com uso restrito e não se No Brasil, em campos infestados com M. incognita
enquadram mais nos padrões de sustentabilidade raça 1, o cafeeiro arábica ‘Mundo Novo’ enxertado
ambiental. No entanto, desde que empregado sobre variedade porta-enxerto ‘Apoatã IAC 2258’
de forma correta e não exclusiva, o uso dessa rendeu 3,6 vezes mais do que plantas não enxertadas
ferramenta química, em algumas situações, se faz (COSTA; GONÇALVES, FAZUOLI, 1991). Embora o
necessária. Mas há a necessidade de se adaptar à uso dessa cultivar seja recomendado para áreas
468 Café Conilon – Capítulo 18
A B
Figura 19. Mudas enxertadas para plantio em área infestada com Meloidogyne. Enxertia hipocotiledonar em cafeeiro
arábica, variedade Catuaí 144 (seta superior), enxertado sobre Coffea canephora, variedade Apoatã IAC 2258
(seta inferior) (A); enxertia de clone 12V (seta superior) sobre clone 14 (seta inferior), em cafeeiro conilon (B).
Foto: 19A - Enivaldo Marinho Pereira.
Manejo das Doenças do Cafeeiro Conilon 469
A B
Figura 20. Experimento do uso do clone 14 como porta-enxerto em conilon. Área com solo infestado com M.
paranaensis e clone 48 meses de plantio depauperado decorrente do comprometimento do seu sistema
radicular (A); mesma área com plantio de clones suscetíveis enxertados sobre o clone 14 (resistente a M.
paranaensis) (B).
compor variedades clonais resistentes. Tal esforço O fungo pode causar lesões no colo, além de
garantirá uma maior segurança e sustentabilidade infectar as plantas até aproximadamente um ano
ao sistema produtivo da cafeicultura de conilon. após o transplantio, ocorrendo frequentemente o
estangulamento no limite superior dessas lesões,
com a formação de tecido cicatricial devido ao
3.3 OUTRAS DOENÇAS RADICULARES acúmulo da seiva descendente. As condições
Fungos do gênero Fusarium têm sido relatados climáticas favoráveis são a chuva ou umidade > 90%
associados a lesões no sistema radicular e colo e temperatura entre 18 ºC e 28 ºC. A irrigação por
de plantas de café, principalmente em viveiros. aspersão favorece a disseminação do patógeno nos
Embora fungos do gênero Fusarium sejam isolados viveiros. Os solos infestados são os responsáveis pela
com frequência de ramos e pedúnculos de frutos disseminação do fungo nos viveiros, razão pela qual
em condições de campo, em café arábica, não deve-se evitar como substrato o terriço oriundo de
se tem associado a sua presença com doença de mata ou aquele muito rico em materiais orgânicos
importância econômica para o café conilon no não curtidos, para o enchimento das sacolas. O
Espírito Santo. Nos frutos, principalmente em substrato recomendado é o solo proveniente do
“cerejas”, ou quando sofrem danos mecânicos, têm horizonte B de barranco, misturado com areia
sido isolados frequentemente fungos do gênero lavada na proporção de 3:1 e com composto bem
Fusarium, com destaque para F. equiseti, F. lateritium curtido, ou aquisição de substratos específicos para
e F. oxysporum. a produção de mudas. Quando a doença ocorre nos
viveiros, recomenda-se retirar as sacolas com as
Rhizoctonia solani Kuhn, na fase sexuada plantas doentes, como forma de reduzir o inóculo e
(teliomorfa) de Thanatephorus cucumeris, causa a a disseminação do patógeno.
podridão-de-colo, tombamento ou perna-preta nas
mudas em viveiros, principalmente em plântulas Para o manejo das doenças radiculares causadas
pré-emergentes até à fase de “palito-de-fósforo” e por fungos, deve-se utilizar na formação das mudas
“orelha-de-onça”, estando diretamente associada substrato isento de patógenos e a drenagem dos
às condições favoráveis para o fungo. A infecção do canteiros, enquanto que no campo deve-se evitar o
fungo pode “roletar” a haste da muda, causando a plantio das mudas em áreas de derrubada de mata
murcha e tombamento das plantas. Nos tecidos e com muita matéria orgânica ainda em fase de
doentes, observa-se o micélio do fungo e pode decomposição. Geralmente, recomenda-se aplicar
ocorrer a presença de escleródios. calcário nas covas das plantas afetadas e deixar o
solo em pousio (Figura 21).
470 Café Conilon – Capítulo 18
MANEJO DE DOENÇAS
Eliminação ou Redução da
redução do Redução da severidade taxa de doenças
inóculo inicial das doenças e das perdas no campo
Eliminação de
Histórico da área
restos culturais
Localização das
Sistema de cultivo
lavouras
Preparo e Colheita e
correção do solo pós-colheita
PRODUÇÃO
INTEGRADA
Figura 21. Representação das principais táticas de manejo das doenças em café conilon que visam à eliminação do
inóculo inicial e à redução da taxa de progresso das doenças no campo, atendendo à Produção Integrada
de grãos com qualidade.
Fonte: Ventura et al. (2007).
relatadas, principalmente em determinadas épocas A morte das raízes é um problema conhecido, desde
do ano e em determinados clones, afetando a a década de 1930, em que cafeeiros com alta carga
produtividade das lavouras e sua longevidade. de frutos podem apresentar seca-dos-ponteiros
e que esta é precedida pela morte das raízes das
As causas associadas a esses sintomas podem ser
plantas. Após um surto de seca-dos-ponteiros
várias, mas as que têm recebido mais atenção são
ocasionado por sobrecarga de frutos e a não
a deficiência de nutrientes, deficiência hídrica, altas
regeneração das raízes absorventes, principalmente
temperaturas, umidade excessiva do solo, ventos
as mais profundas, o cafeeiro perde o equilíbrio
frios e a presença dos fungos Colletotrichum spp. e
morfofisiológico e a sua capacidade produtiva
Phoma spp., estando também relacionados com os
(RENA; CARVALHO, 2003).
desequilíbrios hormonais e distúrbios na demanda
e/ou disponibilidade de nutrientes para a produção A espécie C. canephora tem maior resistência às
de frutos, principalmente os fotoassimilados como condições edafoclimáticas pela maior extensão e
os carboidratos (RENA; CARVALHO, 2003). eficiência do seu sistema radicular, principalmente
em relação à absorção de água e nutrientes,
No cafeeiro conilon no Espírito Santo, sempre que
o qual chega a ser cerca de três a cinco vezes
se observa a seca-dos-ponteiros nas plantas, há
superior ao do C. arabica (RENA; MATA, 2002). No
evidências de condições climáticas desfavoráveis e
entanto, em alguns clones, o sistema radicular é
alterações no sistema radicular das plantas.
bastante superficial, concentrando as raízes na
Um dos componentes para o depauperamento camada superior do solo com profusão de raízes
das plantas é a predisposição genética que existe alimentadoras. Essas características são peculiares
em algumas variedades e clones, que é acentuada da origem dessa espécie que, na África, ocorre
pela interação do clima e solo associada ao nas florestas onde, nas camadas superficiais do
esgotamento energético de alta carga de frutos, solo, existe uma grande quantidade de depósitos
e à não disponibilidade de área foliar na planta orgânicos formados pelas folhas e troncos das
suficiente para nutrir os frutos em desenvolvimento. árvores. Estudos realizados em Linhares/ES, com
Pesquisas têm mostrado que, para manter um fruto, conilon, mostraram que essas diferenças no sistema
a planta deve ter uma quantidade de carboidratos radicular, em comparação com o arábica, poderão
fornecidos em aproximadamente 20 cm2 de folhas estar relacionadas à variabilidade genética das
e ainda manter o crescimento normal das plantas plantas e às interações com o solo, clima e manejo
(RENA; CARVALHO, 2003). A maior demanda desses da cultura (RENA; MATA, 2002).
carboidratos na planta ocorre no período de
São bastante importantes as relações entre a parte
granação dos frutos (enchimento), que geralmente
aérea e o sistema radicular das plantas, pois, na
também ocorre nos meses em que a temperatura
parte aérea, ocorre o metabolismo dos compostos
é mais elevada e há deficit hídrico (veranicos),
orgânicos (carboidratos, aminoácidos, hormônios e
o que leva a uma redução da fotossíntese. Há,
vitaminas), e nas raízes a absorção e condução dos
contudo, a necessidade de pesquisas com cafeeiros
nutrientes minerais e da água, indispensáveis para
conilon para conhecer detalhadamente a partição
o desenvolvimento das plantas, havendo assim
dos fotoassimilados e a quantificação da razão
a necessidade do equilíbrio entre a parte aérea
folha/fruto necessária ao bom desenvolvimento
e a massa de raízes nas plantas (Quadro 3). Vários
dos frutos, sem comprometer o crescimento e
fatores podem afetar essa relação, destacando-se
desenvolvimento das plantas, principalmente em
como mais importantes a variabilidade genética
clones precoces.
das plantas, que pode ser mais acentuada pelo
As características fotossintéticas do cafeeiro são processo de formação das mudas, a produção
de espécies adaptadas a ambientes sombreados, de frutos e a disponibilidade de carboidratos,
típicos das florestas no seu centro de origem. As relacionada com a carga excessiva induzindo à seca-
folhas do cafeeiro que crescem na sombra são dos-ponteiros e morte descendente dos ramos.
fotossinteticamente mais eficientes que aquelas Cafeeiros com seca-dos-ponteiros geralmente
que crescem em condições de pleno sol (RENA; apresentam baixas reservas de carboidratos,
CARVALHO, 2003). que ocorrem principalmente durante a fase de
472 Café Conilon – Capítulo 18
granação dos frutos. A morte das raízes precede os anos de grande carga de frutos (RENA; MATA, 2002).
sintomas da seca-dos-ponteiros na parte aérea das O uso de alguns agrotóxicos via solo também pode
plantas e, se a regeneração das raízes não ocorrer, ter efeito no sistema radicular do cafeeiro induzindo
o cafeeiro perde o seu equilíbrio morfofisiológico a formação de raízes laterais (secundárias), podendo
normal, transformando-se numa planta de nutrição provocar posteriormente o desequilíbrio entre o
superficial, sendo afetada pelas variações climáticas, sistema radicular e o metabolismo da parte aérea
principalmente a deficiência hídrica e a absorção das plantas e os efeitos acima descritos, além de
dos nutrientes (RENA; MATA, 2002). afetar o sistema biótico do solo, benéfico para as
plantas.
Quadro 3. Fatores que predispõem o cafeeiro às principias
doenças abióticas
5 DOENÇAS QUARENTENÁRIAS E
Doenças Fatores Predisponentes
Deficiências nutricionais
AMEAÇAS EXTERNAS
Deficiência hídrica
A B
C D
Figura 22. Raízes de plantas de café conilon, no campo, com desuniformidade no sistema radicular em função de erros
no processo de produção em tubetes pequenos e transplantadas tardiamente. Convergência das raízes
axiais e efeito mecânico (A); Estrangulamento do sistema radicular (B e D); Planta com clorose e seca-dos-
ponteiros (C).
Estudos de biologia molecular usando a técnica de ITS do fungo (WALLER; BRIDGE, 2000; VÁRZEA et
RFLP e mtDNA com isolados de Colletotrichum spp. al., 2002).
de cafeeiros possibilitaram separar as espécies
Os sintomas do CBD em frutos verdes são lesões
de C. kahawae, C. gloeosporioides e C. acutatum,
negras deprimidas, que podem ocorrer em
mas não foi possível verificar a existência de
qualquer parte do fruto, coalescê-lo e cobri-lo
subpopulações em C. kahawae, apesar de que essa
totalmente, na superfície do qual, em condições
espécie é muito próxima de C. gloeosporioides, o
de alta umidade, desenvolvem-se massas de
que foi evidenciado por dados das sequências do
conídios de coloração rosada. Os frutos doentes
474 Café Conilon – Capítulo 18
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481
19
O Café Conilon em
Sistemas Agroflorestais
Fabio Murilo DaMatta, Cláudio Pagotto Ronchi, Eduardo Ferreira Sales e
João Batista Silva Araújo
quanto à condução de sua lavoura, principalmente mica de cafezais tanto à sombra como a pleno sol,
para os aspectos relacionados à utilização de conforme as características edafoclimáticas de uma
espécies perenes que possam ser consorciadas com determinada região e o nível tecnológico do produ-
o café, visando-se ao aumento da rentabilidade por tor. No Brasil, por exemplo, as cultivares atualmente
área cultivada e à minimização dos efeitos adversos plantadas, tanto arábicas como robustas, foram se-
do clima (particularmente seca, altas temperaturas lecionadas em ensaios de competição conduzidos
e ventos) sobre a lavoura. Nesse contexto, na região a pleno sol e sob espaçamentos largos e, portanto,
de plantio de café conilon, no norte do Espírito essas cultivares devem apresentar, potencialmente,
Santo, o cultivo consorciado tem-se tornado uma adaptações a altas irradiâncias em extensão supe-
prática cada vez mais comum. Consórcios de conilon rior às de cultivares selecionadas para cultivos som-
com fruteiras (mamoeiro e coqueiro), com espécies breados (DaMATTA; RENA, 2002; DaMATTA, 2004b).
florestais de alto valor econômico de sua madeira
No Espírito Santo, o cultivo do café conilon vinha
(cedro- australiano e teca) e com seringueira têm sido
sendo tradicionalmente feito sem a associação
praticados desde a década de 80 do século passado.
com outras culturas arbustivas ou arbóreas. Por
Registre-se que o café é uma mercadoria bastante
outro lado, é bastante comum, especialmente em
vulnerável às flutuações de preço no mercado
pequenas e médias propriedades, o plantio de
internacional, e seguramente a diversificação é uma
culturas anuais entre as linhas do cafezal visando
estratégia para manter ou melhorar o equilíbrio
ao uso mais racional do solo durante a fase de
econômico da propriedade.
formação da lavoura. Isso permite melhor nível de
Até há pouco tempo, o conilon era considerado um subsistência e a geração de renda adicional para o
“café marginal”, que, aliado à pequena quantidade produtor, com consequente redução dos custos de
produzida, não contava com o mesmo nível de implantação do cafezal. Não obstante, uma vez que
tecnologia desenvolvida para o arábica. Portanto, a lavoura esteja formada, o consórcio do café com
grande parte das informações de pesquisas hoje culturas anuais torna-se impraticável, pelo menos
disponíveis ainda dizem respeito ao café arábica. nos espaçamentos atualmente recomendados.
Neste capítulo, algumas informações sobre esse
A associação de cafeeiros com outras árvores pode
café, presumivelmente extrapoláveis para o
ser entendida como um consórcio de culturas
conilon, são utilizadas, procurando-se, sempre que
perenes, mas recebe denominações diferentes,
possível, inserir resultados originalmente obtidos
como “sistema agroflorestal” (SAF) ou “arborização
com o conilon. Procurou-se fornecer subsídios ao
do cafezal”. Os SAFs são formas de uso e manejo
técnico e ao cafeicultor para a tomada de decisões
dos recursos naturais, nas quais espécies perenes
mais fundamentadas sobre a adoção de sistemas
(árvores, arbustos, palmáceas) são utilizadas em
agroflorestais como uma alternativa promissora à
associação com cultivos agrícolas ou com animais
monocultura do café conilon.
no mesmo terreno, de maneira simultânea ou numa
sequência temporal (MONTAGNINI, 1992). Outras
definições (DUBOIS; VIANA; ANDERSON, 1996)
2 CONSÓRCIOS: SOMBREAMENTO, AR- consideram que o SAF deve apresentar pelo menos
BORIZAÇÃO E SISTEMAS AGROFLO- uma espécie florestal e que a associação do cafeeiro
RESTAIS com citros, bananeira ou cacaueiro seria meramente
Devido à sua origem em ambientes sombreados, um consórcio de culturas agrícolas. A definição mais
o cafeeiro vem sendo tradicionalmente classifica- ampla de Montagnini (1992) permite considerar
do como uma espécie tipicamente de sombra. Não o consórcio do café conilon com coqueiro, por
obstante, deve haver, muito provavelmente, consi- exemplo, como um SAF e uma melhor aproximação
derável variação genética dentro do gênero Coffea da realidade da cafeicultura no Espírito Santo, onde
quanto à plasticidade ou adaptabilidade acerca das o café conilon pode ser encontrado em consórcio
respostas do cafeeiro à intensidade da irradiância. com espécies de interesse agronômico.
Essa plasticidade parece ter sido explorada satis- O uso dos termos “árvores de sombra” ou
fatoriamente em programas de melhoramento e “sombreamento do café” não permite um
poderia explicar o sucesso da exploração econô- entendimento correto do SAF, em que o café está
O Café Conilon em Sistemas Agroflorestais 483
inserido, ou pode causar um entendimento restrito Além de reduzir a incidência de plantas daninhas,
somente ao aspecto sombreamento, per se. Por outro o sombreamento reduz também a incidência de
lado, o termo “cafezais em SAF per se, empregado cercóspora (Cercospora coffeicola), de Phoma e
para indicar um sombreamento esparso abrangendo de bicho-mineiro (Perileucoptera coffeella), mas
uma cobertura aproximada de 20% a, no máximo, tem efeito oposto sobre a incidência da broca-
50% do terreno, pode ser mais adequado, na medida do-café (Hypothenemus hampei) e da ferrugem
em que outros objetivos, como produção de látex, (Hemileia vastatrix) (BEER et al., 1998). Entretanto,
frutas ou madeira, com as árvores associadas ao café, esses autores mencionam que a sombra favorece
são também contemplados. O sombreamento do a persistência de agentes de controle biológico,
cafezal não seria, pois, o objetivo único, mas, nesse como Beauveria bassiana e a vespa parasita
caso, a diversificação da produção assume, também, (Cephalonomia stephanoderis).
papel de destaque. O mesmo pode ser aplicado aos
A manutenção de altos níveis de matéria orgânica
quebra-ventos, haja vista que as árvores interferem
no solo em SAFs ajuda a estabilizar as populações
nos cafeeiros próximos, sombreando-os e, assim,
de nematoides (Meloidogyne e Pratylenchus spp.)
reduzindo a queda de folhas e flores e a incidência de
abaixo do nível crítico para a cultura do café (ARAYA,
doenças, como Phoma, mas também podendo gerar
1994). Ao mesmo tempo, a redução de estresses
produtos adicionais para o agricultor. Registre-se, no
ambientais, devido ao sombreamento, promove
entanto, que o termo “sombreamento” é bastante
incremento na tolerância do cafeeiro a nematoides.
usual, mesmo no meio técnico e será, pois, usado ao
Entretanto, a escolha errônea da espécie a ser
longo deste capítulo, mas num sentido mais amplo
utilizada para o sombreamento poderia resultar em
de SAF.
efeito contrário, como se observa com Inga spp., que
Em suma, a adoção de SAFs deve gerar um sombre- pode ser hospedeira alternativa para nematoides
amento moderado melhorando a sustentabilidade infestadores de cafeeiros (ZAMORA; SOTO, 1976).
do ambiente e aumentando a estabilidade da pro-
Outro aspecto importante do sombreamento do
dução do cafezal, seja pela atenuação de condições
café em SAFs reside no aumento da biodiversidade,
potencialmente estressantes e consequente esgo-
na medida em que se preserva a alta diversidade
tamento das lavouras a pleno sol, seja pelas condi-
de organismos, como pássaros, artrópodes,
ções microclimáticas mais apropriadas à produção,
mamíferos e orquídeas (PERFECTO; VNDERMEER;
além de permitir ao produtor a obtenção de produ-
PHILPOTT, 2014). Ademais, o uso de árvores no
tos outros afora o café.
sequestro do carbono tem sido proposto como
um meio para aumentar a renda dos cafeicultores
(ALVARENGA; MARTINS, 2004), além de garantir-
3 ASPECTOS BIÓTICOS lhes vantagens mercadológicas, como a melhoria
A seleção adequada e o gerenciamento de da sustentabilidade do ambiente e a produção de
espécies de sombra permanentes podem reduzir café orgânico ou certificado.
a necessidade de mão de obra para o controle
de plantas daninhas de forma considerável. O
sombreamento pode alterar a composição das 4 ASPECTOS EDÁFICOS
espécies invasoras, permitindo a propagação de
Em cafezais arborizados, há melhoria ou
espécies menos agressivas (plantas daninhas de
manutenção da fertilidade do solo via aumento na
folhas largas), o que resulta em menor competição
capacidade de reciclagem de nutrientes e adição
com os cafeeiros. Além disso, dados obtidos na
de serrapilheira. A estabilidade da temperatura
Costa Rica demonstram que o crescimento de
do solo concorre para menores perdas, por
plantas daninhas em cafezais foi virtualmente
volatilização, do nitrogênio. Além disso, o solo
eliminado sob mais de 40% de sombreamento
fica mais bem protegido contra os impactos da
homogêneo da lavoura. A economia resultante
água da chuva tanto pela maior interceptação das
da redução quase absoluta nos custos de controle
águas pluviais devido à maior cobertura vegetal
das plantas daninhas foi o dobro dos custos com a
no SAF como pela maior cobertura do solo devido
manutenção das árvores de sombra, podadas duas
à maior abundância de serapilheira. Ademais, a
vezes ao ano (MUSCHLER, 1997).
484 Café Conilon – Capítulo 19
capacidade de absorção e infiltração da água é fotossíntese, com reflexos óbvios sobre a produção.
aumentada, concorrendo para reduzir a erosão do Saliente-se que o café conilon, a exemplo do
solo. De modo geral, a utilização (e a resposta) de arábica, é particularmente sensível à ação de ventos
nutrientes em cafezais sombreados é menor que (DaMATTA, 2004a). Além de seu efeito dessecante,
naqueles a pleno sol e, assim, pode-se reduzir o uso o vento pode causar abscisão de folhas e flores e
de fertilizantes (CARVAJAL, 1984), principalmente danificar brotações novas e gemas florais facilitando
os nitrogenados, para uma mesma quantidade de a ação de microrganismos patogênicos. Em lavouras
café produzida (ALVARENGA; MARTINS, 2004). Além expostas à ação de ventos, a implantação de quebra-
disso, em cafezais sombreados com leguminosas, ventos é, sobremodo, importante para garantir-lhes
quantidades apreciáveis de nitrogênio (~60 kg N ha-1 sustentabilidade e produtividade.
ano-1) podem ser fixadas, segundo dados obtidos na
As variações da temperatura do ar e da umidade
Costa Rica (BEER et al., 1998), reduzindo ainda mais a
relativa e, portanto, do deficit de pressão de vapor,
necessidade de adubação nitrogenada.
estão intimamente associadas à flutuação diária
A adubação nitrogenada inadequada pode da radiação solar. À medida que o dia avança, a
resultar na poluição do lençol freático, com transpiração, a princípio, aumenta, em resposta a
nitrito e nitrato. No Vale Central (Costa Rica), onde elevações discretas no deficit de pressão de vapor.
cerca de 50% do lençol freático encontra-se sob Todavia, incrementos adicionais na demanda
lavouras de café arábica, com intenso manejo e em evaporativa, como ocorrem principalmente à tarde,
condições de pouco ou nenhum sombreamento, a geram decréscimos na transpiração, em face da
contaminação do lençol freático por nitrito e nitrato alta sensibilidade do estômato do café à redução
ocasionalmente excede 10 mg L-1 (REYNOLDS, de umidade relativa (MARTINS et al., 2014). O
1991), nível considerado de risco para a saúde consequente decréscimo da dissipação de calor
humana (FRAZER et al., 1980). Perdas anuais por latente acarreta aumento da temperatura foliar.
lixiviação, a 60 ou 100 cm de profundidade no solo, Desse modo, o gradiente absoluto de concentração
variam de 5 a 9 kg N ha-1 em lavouras sombreadas, de vapor d’água entre os espaços internos da folha
alcançando valores em torno de 24 kg N ha-1 em e o ar adjacente (a força motora da transpiração)
lavouras a pleno sol. Logo, a utilização de árvores de aumenta, e, para impedir ou atenuar o fluxo
sombra tem o potencial de reduzir a contaminação transpiratório, o estômato se fecha ainda mais.
do lençol freático por nitrato nas áreas de cafezais Como consequência final, o influxo de CO2 para
intensamente manejados. A necessidade de se os cloroplastos diminui, e as taxas de fotossíntese
reduzir a contaminação do ambiente por pesticidas, decrescem sobremodo e, assim, reduz-se a utilização
os quais são constante e intensamente usados fotoquímica da irradiância incidente. O aumento
nas monoculturas de café, constitui outro forte da fração de energia não utilizada na fotossíntese
argumento para a utilização de consórcio das pode, potencialmente, acarretar o aparecimento da
lavouras cafeeiras com árvores de sombra. escaldadura na folhagem mais exposta. A repetição
sistemática desse processo, ao longo do tempo, deve
reduzir apreciavelmente a longevidade do cafezal.
5 ASPECTOS MICROCLIMÁTICOS E ECO- Salienta-se, ainda, que, sob condições de deficiência
FISIOLÓGICOS hídrica, essas respostas são mais contundentes.
Desde que a área foliar seja menor sob deficit hídrico,
O sombreamento afeta não somente a
em função de menor crescimento foliar e de maiores
disponibilidade de luz ao longo da copa do cafeeiro,
taxas de abscisão das folhas, o interior da copa
mas também melhora as condições microclimáticas
passa a ser exposto a maior demanda evaporativa
via redução dos extremos de temperatura do ar e
e maior radiação solar direta. Consequentemente,
do solo, reduz a velocidade dos ventos, mantém a
a ocorrência da escaldadura, mesmo na folhagem
umidade relativa do ar e tampona a disponibilidade
mais interna, é exacerbada, agravando-se, portanto,
hídrica do solo (BEER et al., 1998). Como
a abscisão foliar e a perda de vigor do cafezal
consequência, cafezais arborizados são mais bem
(DaMATTA, 2004b). Por outro lado, em cafezais
protegidos contra a ação dos ventos e encontram um
sombreados, ocorre decréscimo substancial
ambiente mais propício à manutenção das taxas de
no deficit de pressão de vapor entre a copa e a
O Café Conilon em Sistemas Agroflorestais 485
atmosfera e, em última análise, na transpiração. mais distantes dos renques de seringueira. Enfatiza-
Nessa condição, o gradiente absoluto de pressão se, todavia, que o uso de espécies arbóreas com
de vapor entre os espaços internos da folha e o ar sistema radicular pouco profundo (ou plantadas
adjacente diminui, e a transpiração passa a depender em altas densidades) pode acarretar considerável
muito mais da resistência do ar, e não da resistência competição por água (e nutrientes) limitando o
estomática (DaMATTA; RENA, 2001). Em outras sucesso de cafezais arborizados, especialmente em
palavras, o influxo de CO2 para a fotossíntese, na regiões com períodos secos prolongados.
medida em que o estômato permanece mais aberto,
O uso de espécies arbóreas adequadas, sob
não é acompanhado direta e efetivamente por
densidades apropriadas, parece não afetar, ou pode
perda de vapor d’água, em face de a contribuição da
mesmo estimular, a produção do café, dependendo
resistência do ar sobrepujar-se àquela da resistência
das condições edafoclimáticas da região (DaMATTA,
do estômato. Isso deve contribuir para otimizar a
2004a; 2004b). Enfatiza-se, aqui, que observações
utilização da água pela planta (maior eficiência do
empíricas sugerem que há variabilidade genética no
uso da água). Especialmente em regiões sujeitas a
que diz respeito à tolerância ao sombreamento, isto
períodos relativamente longos de seca e/ou com
é, diferentes clones de conilon respondem de forma
alta demanda evaporativa, maior eficiência do uso
distinta ao sombreamento, em termos de produção.
da água deve traduzir-se em vantagens óbvias na
Não se dispõem, no presente, de informações
produção e na longevidade do cafezal (DaMATTA,
concretas para uma recomendação científica sobre
2004a; 2004b).
quais materiais genéticos seriam mais ou menos
A utilização de árvores com sistema radicular promissores para cultivos sombreados. Resultados
profundo, como o da grevílea (Grevillea robusta), de experimentos em curso, no Incaper devem
pode até mesmo aumentar a disponibilidade preencher essas lacunas nos próximos anos. Não
hídrica após longos períodos secos, nas camadas obstante, como uma generalização, observa-se que,
superficiais do solo, de forma a manter o status sob condições ambientais adequadas e utilização
hídrico do cafeeiro, conforme observado no intensiva de insumos (irrigação, adubação etc.),
sudoeste da Bahia (MATSUMOTO; VIANA, 2004). plantios a pleno sol sobrepõem-se, em termos de
Portanto, desde que o consórcio seja corretamente produção, aos arborizados (DaMATTA, 2004a). Três
planejado (escolha e manejo adequados de fatores podem concorrer, pelo menos teoricamente,
espécies para a arborização; avaliação da densidade para a redução da produção, à medida que se
de plantio, do tipo de solo, dos regimes térmico aumenta a extensão da arborização: (i) menor
e hídrico etc.), a arborização do cafeeiro é viável, assimilação do carbono pela planta inteira devido
na medida em que reduziria as perdas de água à menor disponibilidade de luz sob condições de
pela transpiração excessiva. Essas considerações arborização excessiva; (ii) maior estímulo à emissão
também parecem válidas para o conilon. Em de gemas vegetativas em detrimento das gemas
cafeeiros conilon consorciados com seringueiras florais (CANNELL, 1975); e (iii) redução do número
plantadas em renque (orientação norte-sul), Ronchi de nós produzidos por ramo (CASTILLO; LÓPEZ,
et al. (resultados não publicados) observaram, 1966). Considerando-se que o número de nós
em Sooretama/ES, melhor vigor e maiores taxas formados seja o principal componente da produção
de fotossíntese nos cafeeiros mais próximos aos do café (CANNELL, 1975), pode-se presumir que,
renques, provavelmente devido a melhor hidratação aumentando-se a extensão da arborização, a
dessas plantas. Os autores verificaram, também, produção decresceria em razão do menor número de
em grande número de clones de café conilon, que nós formados e do menor número de botões florais
a porcentagem de chochamento chegou a 8,2% por nó, especialmente em locais com condições
nas plantas de café mais afastadas dos renques de ambientes próximas às ideais para a cafeicultura.
seringueira (cafeeiros a pleno sol), diminuindo para
A arborização pode reduzir sensivelmente as
apenas 2,8% nos cafeeiros próximos às seringueiras
variações bienais da produção do café. Conforme
(sombreados). Matiello e Caldas (1998) também
discute Cannell (1985), o cafeeiro produz poucas
observaram que cafeeiros conilon se apresentavam
flores em seu ambiente nativo sombreado e,
mais verdes e produtivos, com grãos maiores e
portanto, não desenvolveu, ao longo de sua
menor proporção de chochamento que as plantas
486 Café Conilon – Capítulo 19
evolução, mecanismos para manter sua carga grãos, resultando em menor “peneira” e elevada
de frutos balanceada com a disponibilidade de porcentagem de chochamento, com queda de
carboidratos e de minerais. De fato, o cafeeiro produção e, consequentemente, de renda. Além
parece ter evoluído em se tratando de levar a cabo o disso, o amadurecimento é acelerado pelo excesso
enchimento de todos os frutos formados após a fase de radiação solar e temperatura desfavorecendo o
de expansão do fruto, conforme observado em café desenvolvimento das propriedades organolépticas
conilon por Ronchi et al. (resultados não publicados), que conferem qualidade à bebida. Ao reduzir o
em Sooretama/ES. De acordo com essa linha de excesso de produção e desacelerar o processo de
raciocínio, as causas da superprodução em cafezais maturação, uma arborização bem manejada pode
a pleno sol residiriam na profusão da iniciação floral, atenuar esses problemas e propiciar a colheita de
na baixa capacidade de remoção natural de parte grãos mais bem formados, de “peneiras” maiores
dos frutos e na força do dreno (sementes), em vez e com melhor qualidade de bebida (CARAMORI et
de baixas taxas fotossintéticas per se (CANNELL, al., 2004). Além disso, o alongamento do período
1985). Essa superprodução levaria à exaustão das de maturação do fruto, conforme observado em
reservas da planta, comprometendo fortemente cafeeiros conilon sombreados com seringueira no
o crescimento e a produção do ano seguinte. Esta, norte do Espírito Santo (RONCHI et al., resultados
normalmente baixa, permitiria a recuperação das não publicados), pode propiciar mais flexibilidade
reservas do sistema tronco-raiz e das taxas de às operações da colheita.
crescimento, proporcionando novamente condições
adequadas para outra carga pesada de frutos no ciclo
subsequente de produção. Como consequência, o 6 ASPECTOS ECONÔMICOS
cafeeiro a pleno sol produz irregularmente, e, sob
O cultivo do cafeeiro em SAFs é quase sempre as-
condições adequadas de cultivo, essa irregularidade
sunto controverso de um ponto de vista econômico.
ordinariamente segue um padrão bienal. Caso a
A diversificação dificulta a mecanização, enquanto
sobrecarga de frutos esteja associada à seca-de-
o monocultivo facilita o manejo do cafezal, especial-
ponteiros, que inevitavelmente é precedida de
mente em grandes áreas. Salienta-se, também, que
morte de raízes finas absorventes e até mesmo
pequenos agricultores têm no consórcio, em pe-
de categoria superior, após ciclos sucessivos de
quenas áreas, uma estratégia econômica associada
bienalidade, o cafeeiro entra em declínio, reduzindo
à maior produção por área, maior retorno de mão
sua vida produtiva (RENA; DaMATTA, 2002).
de obra e maior segurança em períodos de baixos
Portanto, o emprego da arborização, ao permitir
preços do café. Com efeito, em um estudo conduzi-
a redução da emissão de botões florais, deve
do em países da América Central e Caribe, Current
concorrer para tamponar as flutuações bienais da
(1997) concluiu que os SAFs, em pequenas e médias
produção, evitando superproduções e atenuando
propriedades, podem ser bastante viáveis devendo-
o depauperamento da planta, permitindo-lhe
-se adotar sistemas e espécies arbóreas conforme as
produções satisfatórias por mais tempo. Em termos
condições locais, estudados mediante ferramentas
econômicos, maior número de colheitas poderia
de análise financeira e, além disso, devem-se consi-
perfeitamente compensar, entre certos limites,
derar os benefícios socioculturais.
menores produções médias por colheita naqueles
locais em que cafezais a pleno sol produzam mais Árvores de sombra produtoras de madeira
por colheita que cafezais arborizados (DaMATTA; têm baixos custos de produção e, por isso, são
RENA, 2002). Ressalte-se, apenas, que, em café consideradas opções economicamente viáveis
conilon, a bienalidade da produção é minimizada ou para consórcio em SAFs. Alternativamente, a
tamponada, dentro de certos limites, se comparada utilização de árvores frutíferas ou que possam
àquela do café arábica, pela renovação periódica das ser utilizadas para a produção de carvão vegetal
hastes ortotrópicas, por meio de um intenso e bem constituem, também, opção viável em comparação
planejado sistema de podas. com algumas árvores leguminosas habitualmente
usadas no sombreamento de lavouras de café.
Em cafezais a pleno sol e com produção
elevada, a ocorrência de altas temperaturas e de A maior problemática quanto ao consórcio entre
deficiência hídrica provocam a má-formação dos café e árvores produtoras de madeira se refere à
O Café Conilon em Sistemas Agroflorestais 487
derrubada destas para a colheita da madeira, que de café (AVILES; LIMA, 1995). Por outro lado, em
pode ocasionar danos físicos à lavoura. Entretanto, consórcios com frutíferas, como coqueiro ou
dependendo da espécie de árvore adotada, tal bananeira, ou espécies produtoras de palmito,
problemática pode ser minimizada. Por exemplo, como a pupunha, a análise econômica deve ser
a derrubada de 29 árvores de Cordia alliodora, em feita já a partir do início da colheita das frutas ou
plantações de café arábica na Costa Rica, resultou em do palmito, podendo-se estabelecer índices de
danos severos à lavoura numa extensão de apenas equivalência em relação ao monocultivo do café
9%, enquanto os restantes 91% das plantas foram ou ao consórcio. Por exemplo, Marques (2000)
apenas levemente danificadas, principalmente pela verificou um incremento de 14% na produtividade
copa das árvores (SOMARRIBA, 1992). Em todo caso, do café (primeira colheita) consorciado com a
os prejuízos gerados pela derrubada das árvores pupunha (espaçada 6 m x 2 m), em relação ao
no SAF podem ser grandemente minimizados monocultivo, obtendo, ainda, produção adicional
programando-se a derrubada das árvores durante de 1.708 kg de palmito por hectare.
períodos de quiescência da lavoura, ou em períodos
A estimativa de custos da instalação de SAFs com
de baixa produtividade, ou ainda quando os preços
cafezais deve considerar os custos adicionais de
do café estiverem em baixa no mercado. De modo
implantação, como aquisição de mudas e plantio
geral, apesar de a derrubada das árvores ocasionar
das árvores, bem como os custos adicionais para
algum tipo de dano físico ao cafezal, os custos com
manejo e poda das árvores. Há outros custos
reparo da lavoura afetada são baixos e promovem
indiretos, associados ao que se pode deixar de
apenas pequenas reduções na produção de café,
receber com o café, causados pela competição por
sendo facilmente compensados pelo ganho
água, luz e nutrientes entre o cafeeiro e a árvore
adicional com a venda da madeira obtida.
de sombra ou danos físicos potenciais ao cafezal,
A implantação de SAFs requer planejamento quando se colhe a madeira. Por outro lado, devem-
criterioso e deve-se ter sempre em mente o longo se considerar os ganhos econômicos obtidos
prazo. Ainda que as interações ecofisiológicas com as árvores, além de seus benefícios indiretos,
entre o cafeeiro e as outras espécies perenes se notadamente sobre os aspectos microclimáticos e
manifestem já no curto prazo (efeitos sobre o vantagens de marketing. Isso permitiria uma visão
solo e o microclima), os resultados econômicos holística do consórcio, como um conjunto produtivo
são ordinariamente observáveis no longo prazo, e ambientalmente sustentável, com retorno
principalmente se um dos produtos do consórcio econômico satisfatório. Em todo caso, para decidir-
for a madeira. Por essa razão, o retorno econômico se sobre a implantação ou não de SAFs, três aspectos
do sistema tem que ser calculado ou estimado centrais devem ser considerados: (i) objetivo(s) da
para prazos longos. Nesse contexto, é lícito produção; (ii) características ambientais; e (iii) nível
presumir que o plantio de árvores madeiráveis e qualidade dos insumos disponíveis para melhorar
se constitua em uma poupança verde: o valor as condições ambientes para o café (MUSCHLER,
“depositado” ou “poupado” no produto a ser obtido 1997). Assim, quando se objetiva produzir café, mas
com a venda das árvores poderia compensar a buscando-se paralelamente manter a estabilidade
redução na produtividade de café (causada pelo da produção, a biodiversidade e a conservação de
sombreamento e/ou pela redução no número recursos, ou quando se busca produzir café orgânico
de plantas de café por hectare). Por exemplo, em ou certificado, ou ainda quando se visa à obtenção
Rondônia, a bandarra (Schizolobium amazonicum), de produtos adicionais (madeira, frutos etc.), SAFs
utilizada para a fabricação de laminados, é uma são sobremodo recomendados. Considerando-
árvore muito consorciada com café conilon se os ambientes marginais, de solos pobres,
utilizando-se de 50 a 60 árvores por hectare, com declividade acentuada, sujeitos a estresses
que podem ser cortadas aos oito anos de idade, microclimáticos, como baixa disponibilidade
quando atingem 45 cm de diâmetro à altura do hídrica e ventos fortes, a implantação de SAFs pode
peito. Após 13 anos de implantação do SAF (dez ser muito vantajosa. Numa situação oposta, plantios
safras de café colhidas), o corte de 40 árvores de a pleno sol seriam mais recomendados. Além disso,
bandarra por hectare renderia o equivalente a se houver disponibilidade de insumos químicos
30% da renda bruta total obtida com as dez safras (adubos, herbicidas etc.), de irrigação e de clones
488 Café Conilon – Capítulo 19
café. As entrevistas foram realizadas em uma época ve, a recomendação dos SAFs, apontando proble-
de preços de café relativamente baixos, o que deve mas com o manejo do sistema. De acordo com as
ter acentuado essa percepção. Em contraste, 21 explicações de alguns técnicos, a produção de ca-
agricultores, entre os 58 entrevistados, apontaram fezais sem uma adubação adequada começava a
razões para o fracasso e insatisfações em relação às declinar até o ponto em que os agricultores volta-
experimentações com SAFs, como competição das vam aos sistemas convencionais. Da mesma forma,
árvores consorciadas com cafeeiros por água, luz e a introdução de árvores sem um manejo adequado
nutrientes e a consequente redução na produção de no cultivo de café foi utilizada nessa mudança, com-
café acarretando o baixo desempenho econômico prometendo, em alguns casos, a produção de café.
do cultivo. A incerteza sobre o futuro, tais como o Por outro lado, quando havia uma poda das árvores,
direito de cortar as árvores plantadas ou de obter o sistema apresentava uma melhor compatibilida-
uma colheita com preços satisfatórios para produtos de entre as espécies plantadas. Ressaltou-se, ainda,
associados, também foi destacada nas entrevistas. que, na região norte do Estado do Espírito Santo, as
Mesmo com essa situação de desânimo, ainda assim árvores competiam ainda mais com o cafeeiro devi-
alguns agricultores acreditavam na diversificação. do a secas periódicas. Em anos de seca associados
Pela exposição desses agricultores, o sistema não era ao período de outono e inverno (de abril a setem-
economicamente viável devido à grande demanda bro), que coincide com a época da colheita do café,
de mão de obra, levando-os a utilizar fertilizantes o vigor das lavouras ficava comprometido.
químicos e herbicidas para tentar aumentar a receita
Do exposto, as posições dos agricultores e dos
e a capacidade de trabalho.
técnicos foram variáveis. Entretanto, foi observado
Preocupações com os SAFs foram também compar- um compromisso com o agricultor, ou seja, uma
tilhadas pela maioria dos 14 profissionais técnicos corresponsabilidade no processo de transição
entrevistados. Alguns deles questionaram, inclusi- agroecológica. A recomendação cautelosa de SAFs
Tabela 1. Levantamento das áreas de café conilon consorciado com árvores no Estado do Espírito Santo
Nome Nome Espaçamento1 Área total (ha)/ Taxa de
Municípios Usos2
comum científico (m) (nº de propriedades) crescimento
Anacardium
Cajueiro 10 x 12 Vila Pavão 5,0 - (1) a, e Média
occidentale
Cocos
Coqueiro 9x8 São Gabriel da Palha 4,5 - (1) a, e Média
nucifera
Jerônimo Monteiro e
Cedro-australiano Toona ciliate 3 x 3 e 15 x 9 m 31,0 - (2) b, d Rápida
Sooretama
Grevillea
Grevilha 3 x 6 m e diversos Vila Pavão 0,2 - (1) a, g Média
robusta
Iconha, São
Ingá Inga sp. 9 x 6 e 11 x 10 m 1,2 - (2) a, d Rápida
Domingos do Norte
Azadirachta
Nim Indiano 6x6m Vila Valério 1,0 - (1) a Média
indica
Paratecoma
Peroba Diversos Alegre 1,5 - (1) b Lenta
peroba
Hevea 3 x 10 a 10 x 10 m (FS) Vila Valério,
Seringueira 23,4 - (5) a, f Média
brasiliensis 18 x 4 x3 m (FD) São Gabriel da Palha
Tectona
Teca 8x8m Sooretama 30,0 - (1) b Rápida
grandis
Urucum Bixa orellana 6x3m São Gabriel da Palha 4,0 - (1) a, d, e, g Rápida
São Gabriel da Palha,
Frutíferas,
2 x 2 a 12 x 10 m, e Nova Venécia, São
Madeiráveis e - 13,8 - (11) a , b, e, f Média a rápida
diversos Domingos do Norte,
Seringueira
Rio Bananal
Total - - - 115,6 - (27) - -
Fonte: Sales e Araujo (2005).
FS, Fileira simples; FD, Fileira dupla.
1
Sombreamento (a), madeira comercial (b), madeira para a propriedade (c), lenha (d), produção de frutos (e), produção de látex (f ) e quebra-ventos (g).
2
Obs.: Os dados deste levantamento foram obtidos por meio de questionários estruturados, aplicados aos agricultores, nos diferentes municípios, pelos extensionistas do Incaper
daquele município.
490 Café Conilon – Capítulo 19
foi considerada por alguns e a rejeição de alguns 7.2 ALGUNS RESULTADOS EXPERIMENTAIS COM
aspectos foi adotada por outros. Em suma, ficou SAFS
evidente a necessidade de uma melhor interação Poucos trabalhos de pesquisa têm sido conduzidos
entre técnicos e agricultores para encontrar para se avaliar a sustentabilidade e a adequação
sistemas mais viáveis. Parte dessas controvérsias de SAFs no Espírito Santo. Alguns estudos têm de-
bem ilustra a falta de informações científicas monstrado uma melhoria das condições microcli-
embasadas para a recomendação, ou não, de SAFs máticas em lavouras consorciadas. Por exemplo, Pe-
no Espírito Santo.
A B
C D
E F
Figura 1. Consórcios de café conilon com algumas espécies florestais ou frutíferas: seringueira em fileira dupla (A); teca
com um ano de idade (B); coqueiro (C); cedro-australiano (D); mamoeiro e cedro-australiano (E); consórcio
formado - café, mamão e cedro-australiano (F).
O Café Conilon em Sistemas Agroflorestais 491
zzopane et al. (2011) estudaram o consórcio de café maior produção de conilon quando as plantas de
conilon com coqueiro-anão-verde em São Mateus/ pupunha eram espaçadas 6 m x 2 m. Não obstan-
ES e verificaram uma atenuação da radiação solar, te, Souza et al. (2009), na mesma área experimental,
redução da velocidade dos ventos de até 35% e uma observaram resultados inteiramente contrastantes,
redução de até 1,7ºC na temperatura máxima no sis- na medida em que o sombreamento de pupunha,
tema arborizado em relação àquele a pleno sol. Em também no espaçamento de 6 m x 2 m, acarretou
um consórcio de café conilon com seringueiras, em redução acentuada (superior a 50%) na produção
Jaguaré/ES, Partelli et al. (2014) também verificaram do cafeeiro em relação à do monocultivo. Com efei-
uma amenização das condições microclimáticas, es- to, os dados de Souza et al. (2009) apontam para um
pecialmente nos cafeeiros próximos à seringueira, decréscimo linear na produção do cafeeiro com o
com diminuição da temperatura e da irradiância e aumento do sombreamento associado com densi-
aumento da umidade relativa do ar. Ainda segundo dades de plantios crescentes da pupunha. Em todo
esses autores a proximidade do cafeeiro em relação o caso, ressalte-se que, em todos esses estudos foi
às seringueiras fez aumentar o alongamento dos avaliada apenas uma colheita e, obviamente, os da-
ramos plagiotrópicos e ortotrópicos e da área foliar dos não podem ser extrapolados para o longo pra-
individual, mas sem afetar as concentrações foliares zo. Ademais, é provável que qualquer efeito positivo
de nitrogênio (N), potássio (K), magnésio (Mg), ferro potencial do sombreamento sobre a produção do
(Fe), Zinco (Zn) e Boro (B) no cafeeiro. cafeeiro, quando observado nas primeiras colheitas,
pode reduzir-se ou tornar-se negativo com o passar
Com relação à produção, espécies madeiráveis
do tempo, na medida em que a copa do cafeeiro se
de crescimento rápido, como a teca e o cedro-
desenvolve e o autossombreamento se intensifica.
australiano, podem competir com o cafeeiro,
especialmente em termos de água e nutrientes, Ronchi, Pereira e Fonseca (2007) estudaram o efeito
restringindo o vigor e a produção da lavoura do sombreamento promovido por seringueiras
(SALES et al., 2013a). Espécies de crescimento mais sobre o padrão de maturação de 31 clones de café
lento, como o jequitibá e a seringueira, pouco ou conilon. Em comparação aos cafeeiros cultivados a
nada afetam a produção do cafeeiro (SALES et al., pleno sol, o sombreamento retardou ou alongou o
2013a; PARTELLI et al., 2014). Pela experimentação período de maturação dos frutos de clones de café
apresentada, a produção de madeira mostrou-se conilon, principalmente daqueles de maturação
viável, porém novas espécies devem ser testadas, tardia. Esses resultados corroboram dados obtidos
principalmente utilizando outras espécies nativas em café arábica, fato que pode proporcionar
do Bioma Mata Atlântica. Percebe-se a necessidade a obtenção de frutos maiores e com melhores
de implantação de mais consórcios de cafeeiros com características físicas e sensoriais que os frutos de
outras espécies, já que existe uma grande demanda plantas a pleno sol (DaMATTA et al., 2012), com
de frutas, látex, madeira e serviços ambientais. possíveis reflexos na qualidade da bebida.
Alguns estudos sobre o consórcio entre o café coni-
lon e plantas de pupunha têm sido desenvolvidos
na Fazenda Experimental Bananal do Norte, em Pa-
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
cotuba, Cachoeiro do Itapemirim/ES. Os resultados Apesar de sua origem em ambientes sombreados,
obtidos são, entretanto, contraditórios. Marques parece haver considerável plasticidade fenotípica
(2000), por exemplo, testando diversos espaçamen- do cafeeiro em resposta à disponibilidade de luz.
tos de pupunha associada ao cafeeiro conilon, ob- O emprego da arborização, com a consequente
teve um incremento de 14% na produtividade do atenuação da radiação solar incidente, da
café (primeira colheita) consorciado com a pupunha temperatura e da demanda evaporativa, pode
(espaçada 6 m x 2 m), em relação ao monocultivo e resultar em melhores condições para a manutenção
alcançou, ainda, produção adicional de 1.708 kg de das trocas gasosas, com reflexos positivos sobre a
palmito por hectare. Resultados similares foram ob- produção, particularmente em regiões marginais
tidos por Brum et al. (2007), que também testaram ao cultivo do café, caracterizadas por sofrerem de
o consórcio com pupunha plantada nas entrelinhas extremos de temperatura e/ou deficiência hídrica.
do café, em espaçamentos variáveis, e observaram Os SAFs, conquanto adequadamente manejados,
492 Café Conilon – Capítulo 19
podem ser associados a vantagens mercadológicas sombreado com pupunheira. Revista Brasileira de
e melhoria da sustentabilidade do ambiente, além Agroecologia, v. 2, p. 1200-1203, 2007.
de propiciar ao produtor um seguro contra as CANNELL, M. G. R. Crop physiological aspects
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A despeito das considerações acima, muito pou-
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resultados claros da pesquisa para a recomendação
CARAMORI, P. H.; KATHOUNIAN, C. A.; MORAIS, H.;
de espécies mais promissoras para o sombreamen- LEAL, A. C.; HUGO, R. G.; ANDROCIOLI FILHO, A.
to, tampouco não se tem selecionado materiais de Arborização de cafezais e aspectos climatológicos.
café conilon mais promissores ao cultivo sombrea- In: MATSUMOTO, S.N. (Ed.). Arborização de Cafezais no
do. Respostas a questões simples, mas fundamen- Brasil. Vitória da Conquista, BA: Edições UESB,
tais, como o quanto se gasta, o quanto se ganha p. 19-42. 2004.
e o quanto se economiza em termos de recursos CARVAJAL, J. F. Cafeto: cultivo y fertilización. Instituto
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virtualmente inexistentes. Abordagens multidis- CASTILLO, Z. J.; LÓPEZ, A. R. Nota sobre el efecto de la
ciplinares são, pois, prementes para se entender intensidad de la luz en la floración del café. Cenicafé,
com a necessária profundidade a alta complexida- v. 17, p. 51-60, 1966.
de desses sistemas. Em última instância, isso per- CURRENT, D. Los sistemas agroforestales generan
mitirá compreender os casos de sucesso de SAFs, beneficios para las comunidades rurales? Resultados
gerando informações fundamentais que nortearão de una investigación en América Central y el Caribe.
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a recomendação para a adoção desses sistemas de
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Foto: Daniel Simões
495
20
Colheita e Pós-colheita
do Café Conilon
Juarez de Souza e Silva, Abraão Carlos Verdin Filho, Aldemar Polonini Moreli,
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, Romário Gava Ferrão,
Maria Amélia Gava Ferrão e Paulo Sérgio Volpi
desde os mais simples aos mais elaborados, Por outro lado, quanto maior for a permanência
ou mesmo no dimensionamento correto da dos frutos na lavoura após seu completo
infraestrutura necessária a cada caso em particular amadurecimento, na árvore ou no chão, maior será
(FONSECA et al., 2007). a incidência de grãos ardidos e pretos considerados,
junto com os verdes, os piores defeitos dos grãos de
café por interferir de forma negativa no tipo e na
2 COLHEITA qualidade da bebida (SILVA, 1999).
Ao se aproximar o momento da colheita do café, Frutos verdes, imaturos não apresentam o
alguns cuidados devem ser observados para a máximo acúmulo de matéria seca, bem como não
preservação da qualidade dos frutos durante os possuem ainda o desejado equilíbrio entre seus
procedimentos de pós-colheita visando à obtenção componentes. Frutos colhidos verdes originarão,
de um produto final mais competitivo e de maior na melhor das hipóteses, grãos verdes, que, além
valor agregado. de se constituírem em defeitos que depreciam o
tipo do café, pesam muito menos que os normais,
podendo reduzir expressivamente a produção.
2.1 ESTÁGIOS DE MATURAÇÃO Matiello (1998) comparou a perda de peso com
Para alcançar a boa qualidade, os frutos devem a colheita realizada com distintos percentuais de
ser colhidos após terem completado seu frutos verdes e concluiu que se perde, em média,
amadurecimento. Devido à ocorrência de diversas 18,8% do peso final do café beneficiado quando a
floradas, existem frutos em diferentes estágios de colheita é realizada com percentual de frutos verdes
maturação na mesma lavoura em determinada superior a 95%. Em café arábica, a redução de peso
época (FONSECA; FERRÃO, M.; FERRÃO, R., 2002). proporcionada pela colheita de frutos verdes é
No café conilon, existe a vantagem de os frutos ainda maior, podendo alcançar valores superiores
serem mais aderidos à planta em comparação com a 25%.
o arábica, não caindo facilmente quando maduros Souza, Santos e Venezianos (2005) verificaram que
(RENA et al., 1994). Assim, é oportuno aguardar cafés das variedades conilon e robusta, colhidos
o momento em que a maioria dos frutos estiver com 50% ou mais de frutos verdes, apresentam
madura para iniciar a colheita (Figura 1), começando sempre mais de 360 defeitos, ou seja, tipo inferior
sempre pelos talhões ou pelas linhas formadas ao aceitável para o consumo.
pelos clones com maturação mais precoce. Pode-
se também optar pela colheita seletiva dos frutos
maduros, sistema que pode interessar, sobretudo, 2.2 MÉTODO DE COLHEITA
aos pequenos cafeicultores de base familiar
A colheita deve ser realizada no pano ou em penei-
(FONSECA et al., 1995b).
ras ou, ainda, via poda dos ramos plagiotrópicos,
em lona ou no chão e depois recolhida manual ou
mecanicamente. Em qualquer dos casos, deve-se
esperar que, pelo menos, 80% dos frutos estejam
maduros. Os frutos assim colhidos não devem ser
misturados aos de varrição, caídos no chão antes do
início da colheita.
Após a colheita, o café deve passar pelo processo da
pré-limpeza, que consiste na retirada de impurezas,
como paus, pedras, terra, folhas, etc. Essa operação
pode ser feita ainda no campo, pela abanação
manual ou, posteriormente, em peneiras mecânicas
(Figuras 2 e 3).
A prática do “repasse”, ou seja, da colheita dos frutos
Figura 1. Café com percentual de maturação elevada, em que permaneceram na planta – para a redução
condições adequadas para ser colhido.
Colheita e Pós-colheita do Café Conilon 497
A B
Figura 3. Separação mecânica de impurezas no campo, com abanadora manual (A), e na unidade de beneficiamento (B).
498 Café Conilon – Capítulo 20
haja mistura de lotes de diferentes dias. Ao final do Essas vantagens se devem à remoção da casca,
processo de secagem por via seca, o café recebe a à uniformidade dos grãos e à menor quantidade
denominação de café natural em coco. de água a ser removida durante a secagem, entre
outras.
Com exceção do café colhido a dedo, passado
pelo lavador e secado corretamente, dificilmente
se consegue um café de qualidade superior
processado por via seca. Mesmo realizando
corretamente todas as operações, a colheita por
derriça faz com que o café mais denso, que sai
do lavador, seja constituído de uma mistura de
frutos maduros e de frutos verdoengos ou que não
atingiram a maturação completa.
Como é inviável, na prática diária, essa separação
de maduros e verdoengos no processo via seca,
os últimos farão com que o lote passe de uma
classificação superior para inferior.
Figura 5. Em sequência, aspectos do café conilon
desmucilado, natural e cereja descascado.
altas temperaturas têm efeitos negativos sobre 3.3.2 Manejo do café em terreiros
a composição química e as propriedades físicas,
Quando a secagem é realizada exclusivamente
como cor e densidade do café conilon (FONSECA et
em terreiros, a qualidade do produto fica
al., 2007).
mais dependente das condições climáticas
c) Secar os grãos, evitando os efeitos danosos de predominantes na região, notadamente no que
temperatura no menor tempo possível, até o teor diz respeito à ocorrência de chuvas, temperatura e
de umidade de 18% b.u. (abaixo desse teor de umidade relativa do ar e insolação.
umidade, o café é menos susceptível à deterioração
Atenção especial deve ser dada para que sejam
rápida).
evitadas fermentações indesejáveis (butíricas e
d) Procurar obter um produto que apresente propiônicas), que normalmente estão associadas
coloração, tamanho e densidade uniformes. às condições de temperatura e umidade do ar mais
Trabalhos preliminares com o sistema colheita/ elevadas e ao tempo necessário para a seca dos
poda simultâneos, realizados por pesquisadores grãos até alcançarem a umidade adequada para
do Incaper/UFV/Epamig mostraram que o serem armazenados. Assim, trata-se de uma forma
conilon seco em terreiros e em secadores com de preparo que deve ser usada em regiões com
temperaturas inferiores a 60 oC resultou em cafés umidade relativa mais baixa, nas quais o tempo
com características físicas bastante semelhantes necessário à seca é menor, o que facilita a obtenção
às do arábica, depois de separados por tamanho. de cafés naturais de boa qualidade por favorecerem
Após submetidos aos dois processos de secagem, a ocorrência de fermentações láticas e acéticas, que
acima citados, os grãos do conilon, depois de são desejáveis.
beneficiados, apresentaram uma coloração
Ao chegar ao terreiro, preferencialmente após a
verde-azulada e características físicas bastante
lavagem e separação dos diferentes lotes (Figura
semelhantes às do arábica e, portanto, muito
6), o café deve ser espalhado em camadas finas,
diferentes do café de coloração amarronzada,
de 3 a 5 cm de espessura, formando pequenas
característica comum do conilon fermentado ou
leiras sempre no sentido leste-oeste, direção do
submetido a secagem rápida sob temperaturas
caminhamento do sol (Figura 7). Ao revolver o café,
elevadas (muito acima de 100 oC).
o operário tem que se orientar pela sua sombra, que
No Brasil, segundo os aspectos tecnológicos deve estar projetada atrás ou à frente do sentido
envolvidos, utilizam-se basicamente dois métodos de seu caminhamento. Essas leiras precisam ser
para secagem de café: “quebradas” no sentido longitudinal pela ação
dos rodos, de tal forma que a porção do terreiro
- secagem em terreiros: esparrama-se o produto
umedecida pelas leiras torne-se exposta ao sol
em pisos, que devem ser, preferencialmente,
e, dessa maneira, seque e aqueça os grãos mais
cimentados por facilitar a higienização e reparos; e
rapidamente acelerando o processo (Figura 7).
- secagem em secadores: independentemente do
Os lotes com maior percentual de frutos verdes
modelo, nos secadores mecânicos, o ar aquecido
exigem cuidados especiais. Eles devem ser
é forçado, por um ventilador, a passar através da
espalhados preferencialmente à sombra, em
massa de café para realizar a secagem.
camadas mais altas, para que percam o excesso
A umidade dos grãos normalmente aceita de água mais lentamente. Somente depois de
como sendo adequada para o armazenamento bem murchos é que devem ser tratados como
e comercialização do conilon é de 13%. A seca indicado para os frutos já maduros cuidando-se
excessiva provoca perda de peso e quebra dos para que não sejam expostos a temperaturas muito
grãos no beneficiamento, enquanto, por outro lado, elevadas. Esse procedimento tende a originar os
o excesso de umidade favorece a formação de mofo chamados grãos preto-verdes, que são defeitos
(fungos) no armazenamento. mais graves (2:1) que os grãos verdes. Quando os
grãos, ainda verdes, são submetidos à secagem
em temperaturas demasiadamente altas, a película
que os envolve torna-se preta, porém seu interior
Colheita e Pós-colheita do Café Conilon 501
permanece verde. Sua identificação no momento mantida em cerca de 60 ºC sem que haja expressiva
da classificação é feita por fricção do grão sobre transformação de verdes em preto-verdes. Ressalta-
uma superfície áspera. se que a temperatura de secagem em terreiros
também necessita ser monitorada e mantida
dentro dos limites recomendados para o caso dos
secadores mecânicos. Há necessidade de que o café
seja revolvido constantemente, durante todo o dia,
pelo menos a cada hora, para favorecer a troca de
água com a atmosfera alternando-se a localização
dos frutos, ora mais expostos ao sol e ora mais
próximos da superfície do terreiro, especialmente
quando o percentual de grãos verdes é elevado.
A secagem, feita exclusivamente em terreiro, nas
condições predominantes nas regiões produtoras
de café conilon, no Espírito Santo, demanda, em
média, de 9 a 12 dias para completar o processo,
tempo bastante inferior ao necessário para a
secagem do café arábica. Esse fato se deve à
menor quantidade de mucilagem encontrada na
espécie Coffea canephora e às condições climáticas
encontradas nas regiões produtoras do arábica.
Pode-se, contudo, em locais onde as condições
predominantes sejam desfavoráveis à realização
da seca exclusivamente ao sol, associar o processo
de secagem em terreiro a secadores mecânicos.
Em quaisquer dos casos, ao chegar ao terreiro,
após a lavagem e separação dos lotes, o café deve
ser imediatamente espalhado para a retirada
do excesso de umidade e somente levado para
os secadores mecânicos para a finalização do
Figura 6. Lavagem e separação de frutos verdes e maduros
processo. Evita-se, assim, entre outros problemas,
dos secos, por densidade. o entupimento constante dos canais de ventilação
do secador, a transformação acentuada de verdes
em preto-verdes, além de ajudar no importante
processo de “homogeneização”, que consiste no
estabelecimento de um equilíbrio no teor de água
Errado Correto ou umidade entre os grãos e entre suas partes
mais internas e externas. Para lotes mais verdes,
há, normalmente, necessidade de maior tempo de
A B terreiro.
Figura 7. Revolvimento das leiras buscando expor as Cerca de três dias após o início da secagem, ao final
partes umedecidas do terreiro ao sol (A); e sua da tarde, devem ser formadas leiras de 15 a 20 cm
distribuição nas partes secas e aquecidas do de altura, que devem ser desfeitas no dia seguinte,
terreiro (B).
pela manhã evitando que o sereno umedeça muito
o café. Em caso de chuva, devem ser feitas leiras
Guarçoni et al. (1998), trabalhando em secador maiores e sempre no sentido da declividade do
mecânico com distintos percentuais de frutos terreno. Essas leiras precisam, ser trocadas de lugar
de conilon colhidos verdes, demonstraram que o maior número de vezes possível para que sejam
a temperatura da massa do café conilon pode ser evitadas fermentações.
502 Café Conilon – Capítulo 20
Figura 8. Amontoamento do café ainda quente ao final Figura 12. Detalhes das divisórias móveis para separação
das tardes. dos diferentes tipos de café.
S = [(2,4 m3 /dia) / (0,04 m3 / m2)] x 10 dias = 600 m2 A secagem do café conilon ao sol pode também ser
Ou simplesmente por meio da equação seguinte, feita em terreiros suspensos (Figura 14), cobertos ou
quando se conhece a produção média por plantas: não com plástico (Figura 15).
S= 3,33 x P x T
em que:
S = área de terreiro necessária (m2);
P = produção média de café por planta (litros); e
T = tempo médio para a seca na região (dias).
Quando o terreiro for utilizado apenas para o
processo de pré-secagem, a área calculada acima
pode ser reduzida a um terço do total calculado,
pois o tempo de utilização do terreiro é de três a
quatro dias.
Figura 14. Terreiro suspenso.
A B
Figura 16. Terreiro secador com arábica descascado (A); e terreiro ainda em construção (B) secando conilon natural
(Ouro Preto do Oeste/RO).
Colheita e Pós-colheita do Café Conilon 505
recomendada para o correto armazenamento dos (umidade) em toda massa de café em torno de
grãos. Contudo, ele afirma que a contaminação dos 13% b.u. Na medição, usar equipamento aferidos.
frutos pode ocorrer na colheita ou nas operações
Antes da comercialização, é fundamental que seja
pós-colheita, independentemente da forma de
feita a classificação do produto para conferir maior
preparo que se utilizar tanto em café arábica quanto
segurança ao produtor no momento da negociação.
em conilon ou robusta.
O preço do café depende dos seguintes aspectos
Taniwaki et al. (2005) verificaram que o aumento associados aos grãos: renda (relação entre frutos
na concentração de ocratoxina “A” é proporcional secos e beneficiados), umidade, tamanho dos grãos,
ao aumento do número de defeitos tanto em café aspecto, cor, uniformidade e, principalmente, do
arábica quanto em conilon. tipo e da bebida (FONSECA et al., 1995a).
Resumidamente, pode-se dizer que, para uma O beneficiamento somente deve ser feito após a
armazenagem segura do café, deve-se: decisão da comercialização do produto, uma vez
que nessa condição as perdas de qualidade são
•Evitar locais úmidos para construção das
intensificadas.
instalações de processamento pós-colheita;
•Impermeabilizar paredes, pisos e telhados;
•Projetar o telhado de forma a minimizar a 5 REFERÊNCIAS
transferência de calor; CORRÊA, P. C.; OLIVEIRA, G. H. H. de ; BOTELHO,
•Evitar contato direto do produto com as paredes e F. M. Armazenamento. In: FONSECA, A. F. A da;
SAKIYAMA, N. S.; BORÉM, A. (Eds.). Café conilon:
com o piso do armazém;
do plantio à colheita. Viçosa, MG: UFV. p: 231-257.
•Higienizar adequadamente equipamentos, 2015.
depósitos, tulhas e armazéns, separando resíduos FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, M. A. G.; FERRÃO,
e evitando acúmulo de sujeiras e materiais R. G. A cultura do café robusta. In: SIMPÓSIO DE
descartados antes de iniciar o armazenamento; PESQUISA DOS CAFÉS DO BRASIL, 1., 2000, Poços
•Manter um programa de controle de pragas; de Caldas, MG. Palestras... Brasília: Embrapa Café:
CBP&D/Café, p. 119-145. 2002.
•Utilizar produtos (fumigantes e inseticidas) FONSECA, A. F. A. da; SARAIVA, J. S. T; BRAGANÇA, S.
permitidos pela legislação e nas quantidades
M; BREGONCI, I. S.; PELISSARI, S. A. Classificação, In:
recomendadas; COSTA, E. B. da (Ed.). Manual técnico para a cultura
•Prevenir a recontaminação, evitando o contato de do café no Estado do Espírito Santo. Vitória, ES:
cafés beneficiados com casca, pó e embalagens SEAG-ES, p. 131-135. 1995a.
danificadas ou nunca deixar o café em contato FONSECA, A. F. A. da; SARAIVA, J. S. T; BRAGANÇA, S.
com material descartado; M; BREGONCI, I. S.; PELISSARI, S.A. Colheita, preparo
e armazenamento. In: COSTA, E. B. da (Ed.). Manual
•Monitorar continuamente a temperatura e o
técnico para a cultura do café no Estado do Espírito
teor de umidade durante o armazenamento em Santo. Vitória, ES: SEAG-ES, p. 121-130. 1995b.
intervalos regulares de forma que a umidade
relativa do ar dentro da massa de grãos seja FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, R. G.; FERRÃO, M. A.
mantida a valores inferiores a 70% durante todo o G.; VERDIN FILHO, A. C.; VOLPI, P. S. Qualidade do
café conilon: operações de colheita e pós-colheita.
período de armazenamento;
In: FERRÃO, R. G.; FONSECA, A. F. A. da; BRAGANÇA,
•Projetar o telhado de forma a minimizar a S. M.; FERRÃO, M. A. G.; De MUNER, L. H. (Eds.). Café
transferência de calor; conilon. Vitória, ES: Incaper, 702p. 2007.
•Evitar reumidificação do café dentro da tulha ou GUARÇONI, R.; SILVA, J. N.; FONSECA, A. F. A. da;
armazém; SILVEIRA, J. S. M. Influência de distintos percentuais
de frutos colhidos verdes no rendimento do café
•Separar porções do produto aparentemente conilon. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola, v.
contaminadas por fungos e enviar para análise. 17, n. 13, p. 105-109. 1998.
•Manter valores uniformes de teores de água MATIELLO, J. B. Café conillon. Rio de Janeiro: MAA;
Colheita e Pós-colheita do Café Conilon 507
21
Colheita Mecanizada do Café Conilon
Gustavo Soares de Souza, José Antônio Lani, Maurício Blanco Infantini,
Fábio Moreira da Silva, Enrique Anastácio Alves e Rafael de Lima Bueno
classificaram a colheita manual do cafeeiro arábica A coleta seletiva dos frutos é realizada
como inviável, enquanto, na colheita mecanizada, escalonadamente escolhendo-se apenas os
identificaram menor custo e maior taxa de retorno frutos maduros (cereja, passa e seco). O número
do investimento. de passadas será definido pela homogeneidade
do processo de floração, desenvolvimento e
A mecanização da colheita do café conilon é uma
maturação dos frutos. A coleta seletiva é pouco
alternativa viável que pode reduzir o tempo de
utilizada por aumentar a demanda por mão de obra
colheita, a demanda de mão de obra e os custos
e, consequentemente, os custos. É mais comum em
de produção. Isso poderá contribuir positivamente
propriedades que trabalham com cafés especiais e
para uma maior qualificação das atividades e
microlotes.
melhoria da renda para os agricultores e demais
trabalhadores autônomos envolvidos nesse - Semimecanizado: consiste no uso de máquinas
período. Ainda não existe um método de colheita apenas em parte da execução das operações de
mecanizada consolidado para o cafeeiro conilon. colheita, sendo a outra parte realizada de forma
No Estado do Espírito Santo, a partir de 2010, o manual. Na colheita do café conilon, a derriça dos
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica frutos, dependendo do sistema o recolhimento, é
e Extensão Rural (Incaper) em parceria com realizada de forma manual, enquanto as demais
instituições públicas e privadas, e cafeicultores atividades são predominantemente executadas
intensificaram esforços para estudar e viabilizar a por máquinas. Esse sistema tem potencial de
colheita mecanizada do café conilon, basicamente expandir e atender a pequenos, médios e grandes
por meio da adaptação de tecnologias de produção cafeicultores.
e melhorias de máquinas e processos já existentes.
- Mecanizado: as operações de derriça, limpeza e
Portanto, neste capítulo serão abordados os transporte, envolvidas na colheita, são realizadas
principais resultados já obtidos e a discussão de mecanicamente, as quais são viáveis em grandes
tendências futuras relacionadas ao tema em estudo. propriedades, tecnificadas e com topografia
favorável (declividade < 30%). Apesar do sistema
ser denominado de mecanizado, não dispensa
2 CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS DE totalmente o uso de serviço manual, pois as
COLHEITA máquinas não conseguem colher todos os frutos
da planta carecendo, na maioria das vezes, de
A colheita do café conilon engloba uma série de outra derriça. Assim, os frutos que permanecerem
operações realizadas em sequência para derriça após a derriça mecânica são retirados de forma
e limpeza dos frutos. Os mecanismos utilizados manual ou mesmo mecanizada, numa operação
para realizar as operações e a sua ordem definem denominada repasse, dependendo da quantidade
os sistemas de colheita. De acordo com Balastreire e viabilidade técnica e econômica.
(1987) e Silva et al. (2001), os sistemas de colheita
são classificados em: Essa classificação dada aos sistemas de colheita
tem um caráter didático, uma vez que, na prática,
- Manual: sistema em que todas as atividades isso não ocorre, já que a colheita manual utiliza
envolvidas na colheita são realizadas de forma atividades mecânicas, como no transporte, assim
manual, com exceção do transporte, necessitando como a colheita mecanizada carece de etapas
de um número elevado de trabalhadores por área. manuais, como o repasse manual. Do ponto de
Caracteriza-se, até o momento, como o sistema vista técnico, os sistemas de colheita variam de
predominante nas diferentes regiões produtoras manual a mecanizado, em função do grau de
da cultura. Esse processo de colheita pode ser em utilização de mão de obra ou de máquinas na
derriça total ou seletiva. execução das operações. A tendência que se
Na derriça total, todos os frutos são retirados das verifica na cafeicultura do conilon é uma expansão
plantas em uma única vez, o que predomina no de operações mecanizadas com o emprego
Brasil. equilibrado de trabalhos manuais e mecanizados.
Colheita Mecanizada do Café Conilon 511
A B
C D
Figura 1. Máquina usada no recolhimento de frutos do cafeeiro conilon derriçados sobre o solo (A); detalhe da derriça
associada à poda (B); da operação de recolhimento do material vegetal (C); e imagem após a passagem da
máquina (D), na safra de 2012/13, em Nova Venécia/ES.
512 Café Conilon – Capítulo 21
A B
C D
Figura 2. Trilhadora em uso no cafeeiro conilon com recepa dos ramos ortotrópicos (A); lavoura logo após a colheita
(B); lavoura renovada com a condução de novas brotações (C); e ramos ortotrópicos colhidos sete dias após o
corte (D), na safra de 2013/14, em Pinheiros e Nova Venécia/ES.
Quadro 3. Características técnicas de trilhadoras tracio- Na máquina com bastões, os frutos derriçados
nadas por trator em uso na colheita semime- caem em canecas de borracha na parte inferior
canizada do café conilon
da máquina que transportam os frutos para a
Caracterís-
Modelo parte superior (Figura 5), onde são descarregados
ticas Master Grãos Master Café Double Master em uma esteira juntamente com folhas e ramos
CR 2 CR 4 CR
plagiotrópicos removidos da planta durante o
Potência
necessária no 75 cv 75 cv 80 cv
processo da colheita. Um exaustor realiza a limpeza,
motor separando as folhas e ramos dos frutos colhidos, os
Acoplamento Barra de tração Barra de tração Barra de tração quais são transportados para um tanque graneleiro,
Acionamento TDP (540 rpm) TDP (540 rpm) TDP (540 rpm) onde ficam armazenados até serem descarregados
Transporte
-
Elevador de Elevador de por meio do basculamento do tanque. Existe
dos frutos canecas canecas
também a possibilidade dos frutos, após a limpeza
Capacidade
do graneleiro
- 3.000 L 4.000 L pelo exaustor, serem descarregados numa caçamba
Sistema de tracionada por trator mediante uma bica lateral.
- Basculamento Basculamento
descarga
Comprimento 6.660 mm 6.990 mm 8.040 mm Na máquina com varetas, os frutos derriçados
Largura 2.220 mm 2.500 mm 3.860 mm caem sobre placas de plástico, as quais se abrem
Bitola 1.450 mm 1.750 mm 2.155 mm para permitir a passagem dos ramos ortotrópicos
Altura 3.250 mm 3.150 mm 4.070 mm do cafeeiro no interior da máquina e retornam à
Altura de posição original por meio de molas tensionadas
- 2.790 mm 3.160 mm
descarga
Peso 2.150 kg 2.900 kg 4.640 kg quando as placas estão abertas. Os frutos
Pneus 7,50 x 16” 10,50 x 16” 400/60 x 15,5” deslizam sobre as placas e são direcionados para
Fonte: Miac Máquinas Agrícolas (2016). transportadores horizontais que conduzem os
frutos até os elevadores, dotados de um sistema de
Dois conceitos de máquinas podem ser destacados, ventilação e peneiras que separa as folhas e ramos
como a derriça realizada por bastões (Figura 4A) laterais dos frutos. Os frutos são transportados pelos
e por varetas (Figura 4B). Quando a máquina se elevadores até a parte superior da máquina, onde
desloca na linha dos cafeeiros, esses bastões e são descarregados por meio de uma bica lateral ou
varetas atritam e transmitem vibração às plantas, armazenados em um tanque graneleiro. Detalhes
realizando a derriça dos frutos de ambos os lados são apresentados na Figura 6.
da linha do cafeeiro (operam a cavaleiro).
A B
Figura 4. Colhedora automotriz com bastões Braud New Holland (A) e com varetas Case IH (B) em teste para o cafeeiro
conilon, nas safras de 2014/2015, em Pinheiros/ES e São Mateus/ES, respectivamente.
Colheita Mecanizada do Café Conilon 515
A B C
Figura 5. Detalhes da colhedora de bastões Braud New Holland. Canecas de borracha que recebem os frutos derriçados
na parte inferior da máquina (A); exaustor para a limpeza dos frutos (B); e tanque graneleiro (C).
A B C
Figura 6. Detalhes da colhedora de varetas Case IH com placas plásticas de vedação inferior com transportadores
laterais (A), elevadores (B) e tanque graneleiro (C).
3.4.2 Características técnicas das automotrizes Quadro 4. Características técnicas das colhedoras auto-
motrizes testadas para o café conilon nas sa-
Atualmente, as colhedoras automotrizes são fras de 2012/13 a 2015/16, na região norte do
amplamente utilizadas na colheita do café arábica Espírito Santo
e vêm sendo adaptadas também para a colheita Marca / Modelo
do conilon, considerando as diferenças das duas Características Coffee Express Braud 9090X(2)/
espécies em relação à condução da lavoura, porte 200/Case IH(1) New Holand
e arquitetura de planta, força de desprendimento Potência do motor 55 cv 175 cv
Consumo 5,0 L h-1 9,5 L h-1
dos frutos, sistema de poda, uniformidade
Rodagem 3 pneus 4 pneus
de maturação, variabilidade genética, entre
Comprimento 5.220 mm 6.500 mm
outros aspectos. No Quadro 4 estão descritas as Largura 3.500 mm 3.200 mm
principais características técnicas das colhedoras Bitola 3.285 mm 3.231 mm
automotrizes em teste para o cafeeiro conilon no Altura 3.270 mm 4.000 mm
Estado do Espírito Santo. Tanque graneleiro 2.000 L 2.000 / 4.000 L
Peso 5.000 kg 11.000 kg
Declividade de
17% 25%
trabalho
Fonte: (1)Case IH Agriculture (2016), (2)New Holland Agriculture
(2016).
516 Café Conilon – Capítulo 21
na velocidade da máquina, em geral, diminuiu 2013, SILVA, F. M. et al. 2013). Vale destacar que as
a eficiência de derriça e de colheita dos frutos lavouras não foram preparadas para as colhedoras,
de café conilon, causado pelo menor tempo com presença de irregularidades no terreno,
de contato das plantas à ação dos bastões ou plantas com crescimento desuniforme e tombadas
varetas, o que também foi observado para o e, em alguns casos, apresentando desuniformidade
cafeeiro arábica (SILVA et al., 2006; OLIVEIRA et de maturação de frutos na linha. Nesses ensaios
al., 2007c). exploratórios, a configuração das máquinas e
o número de passadas na linha, a velocidade
Essas máquinas apresentaram eficiência de
de colheita, a frequência de agitação, o grau de
derriça e de colheita variando de 85 a 94% e 70
maturação dos frutos e a arquitetura das plantas
a 89%, respectivamente, o que depende das
alteraram o processo de derriça e de colheita
perdas, principalmente dos frutos não derriçados
carecendo de ajustes específicos a cada condição
e deixados no solo. A redução da eficiência de
de lavoura.
derriça nos sistemas mecanizados resultou numa
maior carga pendente, o que justificaria o repasse
manual, conforme descrito por Santinato et al.
4.2.2 Características operacionais em lavouras
(2013).
experimentais
As perdas de chão foram inferiores na colhedora
A partir do ano de 2013, foram preparadas lavouras
Braud New Holland em relação à Case. O
de café conilon da região norte do Espírito Santo
recolhimento desse volume de frutos foi
para a colheita mecânica, sendo conduzidas com
considerado inviável para o cafeeiro arábica
um, dois e três ramos ortotrópicos e espaçamentos
(OLIVEIRA et al., 2007a), devido ao reduzido
entrelinhas de 3,2 a 3,5 m e entre plantas na linha
volume e ao elevado custo operacional. Todavia,
variando de 0,5 a 1,0 m. Assim, nas safras 2014/15
esse recolhimento do solo pode ser viável para
e 2015/16, realizou-se a avaliação do desempenho
o cafeeiro conilon, o que carece de mais estudos
e eficiência das colhedoras automotrizes (Tabela
operacionais e econômicos. O manejo de plantas
3) em plantas previamente trabalhadas para a
multicaules (três a quatro ramos ortotrópicos)
colheita mecânica, conforme descrito no tópico
dificultou a vedação do sistema de recebimento
5.2. Verificou-se eficiência de derriça e de colheita
dos frutos, resultando em perdas similares aos
variando de 85 a 97% e 75 a 92%, respectivamente,
trabalhos de Oliveira et al. (2007a, 2007b) e Silva
com média superior aos testes realizados em
et al. (2013), ambos para o cafeeiro arábica. A
lavouras tradicionais. As perdas de chão foram
presença de plantas arqueadas também contribuiu
novamente menores na colhedora Braud New
para o aumento das perdas de chão. Dessa forma,
Holland em relação à Case e reduziram em relação
o desenvolvimento de uma nova cultivar clonal de
aos testes anteriormente citados (Tabela 2). Todavia,
conilon, oriunda do agrupamento de clones com
vale ressaltar que, nas safras avaliadas, ocorreu,
crescimento ereto pode minimizar essas perdas. O
no Estado, um período acentuado de estresse
cafeeiro conilon, em geral, não apresenta queda
hídrico, notadamente na safra 2015/16, que
natural dos frutos maduros no chão como ocorre
comprometeram severamente o desenvolvimento
no cafeeiro arábica (FONSECA et al., 2007), o que
e produção das plantas. Como consequência,
favorece a eficiência de derriça e de colheita
observou-se redução na produtividade esperada
e, consequentemente, minimiza as perdas na
das lavouras experimentais e concomitantemente
lavoura. Contudo, existem relatos de cafeicultores e
na capacidade operacional de colheita, que variou
técnicos de que algumas plantas em determinadas
de 0,20 a 0,40 ha h-1 e de 90 a 120 sacos h-1.
regiões no Espírito Santo apresentariam esse
desprendimento natural, mas essas questões ainda Os resultados conjuntos são similares aos descritos
precisam ser investigadas e as causas elucidadas. na literatura científica para a colheita do café
arábica (SANTINATO et al. 2013, 2014; SILVA, F. C.
Os resultados apresentados na Tabela 2 foram
et al. 2013; SILVA, F. M. et al. 2013), o que indicam
considerados satisfatórios; contudo, ligeiramente
uma viabilidade técnica do uso das máquinas,
inferiores aos obtidos na colheita do café arábica
mas que demonstram também necessidade de
(SANTINATO et al., 2013, 2014; SILVA, F. C. et al.
518 Café Conilon – Capítulo 21
A B
Figura 7. Seletividade na colheita dos frutos do cafeeiro conilon usando uma máquina automotriz de varetas na safra
2013/14, em Pinheiros/ES. Frutos verdes aderidos nos ramos plagiotrópicos (A); e frutos maduros colhidos
pela máquina (B).
Tabela 4. Força de desprendimento dos frutos de dois Na safra 2015/16, realizou-se outro estudo para
clones de café conilon em dois estágios de mensurar a força de desprendimento de frutos de
maturação, na safra 2015/16, em São Mateus/ES
café conilon de três cultivares clonais do Incaper
Maturação dos Força de Desprendimento (N) (‘ES8122’ - Jequitibá, ‘Centenária ES8132’ e ‘Vitória
frutos Clone 1 Clone 2 Incaper 8142’) e uma cultivar de propagação por
Verde (V) 3,60 6,60 sementes (Emcaper 8151 - Robusta Tropical). As
Cereja (C) 3,00 6,00 cultivares clonais são formadas pelo agrupamento
Diferença (V - C) 0,60 0,60 de 9 a 13 clones. O trabalho foi realizado na Fazenda
Fonte: Dados de pesquisa não publicados. de Bananal do Norte, Município de Cachoeiro
de Itapemirim/ES em talhões com plantas de
A força necessária para o desprendimento dos cinco anos de plantio. Foram medidas a força de
frutos maduros foi menor que para os frutos desprendimento para colheita de frutos verdes,
verdes, o que também ocorre para o café arábica cerejas e secos (Figura 8). Os resultados foram
(SILVA et al., 2010). A diferença de força entre os similares para as quatro cultivares, com variação
frutos verdes e maduros foram similares para de resultados médios de 5,97 a 6,72; 3,61 a 4,60 e
ambos os clones (0,60 N). Quanto maior essa 1,98 a 2,40 N, para frutos verdes, cerejas e secos,
diferença, maior será o potencial de sucesso da respectivamente. A maturação dos frutos resultou
colheita seletiva (SILVA, F. M. et al. 2013). Crisosto na diminuição da força de desprendimento da
e Nagao (1991) encontraram diferença de força de planta, que foi de 32 a 40% para cereja e de 61 a
desprendimento entre frutos de arábica verdes e 71% para seco, ambos em relação aos frutos verdes.
maduros de até 7,3 N. Segundo Silva et al. (2010), Observaram-se ainda clones com uma diferença
a diferença de força entre frutos verdes e maduros na força de desprendimento de frutos verdes
deve ser maior que 3,0 N para obter uma boa e maduros de até 5,40 N, o que evidencia uma
seletividade na colheita com automotrizes no perspectiva de maior seletividade na colheita com
cafeeiro arábica. automotrizes.
520 Café Conilon – Capítulo 21
A B
Figura 9. Detalhe da lavoura do cafeeiro conilon com seleção de materiais eretos para a colheita mecanizada (A) na sa-
fra 2012/13, em Nova Venécia/ES; e poda de ramos ortotrópicos para a realização de testes com automotrizes
(B) na safra 2013/14, em Pinheiros/ES.
A B
Figura 10. Plaina acoplada ao trator usada para o nivelamento do terreno antes do recolhimento de frutos derriçados
sobre o solo (A); e detalhe do terreno após a operação do implemento (B), na safra 2012/13, em Nova
Venécia/ES.
A B
Figura 11. Soprador tracionado por trator usado no enleiramento do material vegetal antes do recolhimento de frutos
derriçados sobre o solo (A); e processo de recolhimento do chão (B), na safra 2012/13, em Nova Venécia/ES.
522 Café Conilon – Capítulo 21
também foi realizado, em Ouro Preto do Oeste/RO, no terreiro, sem prejuízo à qualidade sensorial.
um ensaio sobre o efeito da colheita com trilhadora Apesar dos resultados favoráveis, tal prática ainda
na secagem dos frutos e qualidade do café conilon não é recomendada por se tratar de uma análise
(dados não publicados). Foram analisados dois preliminar que necessita de continuidade dos
tipos de poda (recepa total da planta e corte dos trabalhos de pesquisa.
ramos plagiotrópicos) com secagem mista (campo
Ressalta-se que, até o momento, as máquinas
e terreiro) comparando-se ao sistema tradicional
estacionárias com lonas estão mais adaptadas
(derriça manual dos frutos e secagem imediata em
às características de lavouras tradicionais nas
terreiro) (Tabela 5).
regiões produtivas. Por isso, têm sido preferidas
pelos cafeicultores que utilizam os sistemas
Tabela 5. Teor de água de frutos do cafeeiro conilon e
qualidade de bebida comparando a secagem semimecanizados.
em terreiro logo após a colheita e a secagem
mista (campo e terreiro) em Ouro Preto do dia
ta
ime
Oeste/RO ecage
m )
cos ias
les ópi
nua otr te d m
Teor de
70 a e ort or se era
Qualidade ta m os p nec
hei pic voura r ma
Trata- Água dos 60 Col ró
iot na la p e
Manejo Secagem de Bebida lag que
mento Frutos a (p ram cos s
(Nota)* teir anece ópi te dia
ajuste dos bastões ou varetas na altura adequada área frontal, o que dificulta o alinhamento e a
para que removam os frutos e não danifiquem a entrada das hastes na máquina e, com isso, há a
copa das plantas. maior ocorrência de lesões nas plantas.
Com relação à maturação heterogênea na Com relação ao tombamento das hastes, pode-
linha de plantio, é importante ressaltar que, em se mencionar novamente que dificultam o
geral, os frutos verdes possuem uma força de alinhamento entre máquinas e plantas. Assim, as
desprendimento maior que os frutos maduros (ver plantas não entram adequadamente na unidade
tópico 4.2.3). Assim, quando se colhem plantas de colheita e, com isso, não são derriçadas de forma
com predomínio de frutos verdes, a eficiência de eficiente, podendo ainda ser quebradas pelas
derriça diminui em relação à colheita de plantas máquinas. O tombamento ocorre por característica
com frutos maduros, exigindo, assim, regulagens do material genético (clone ou progênie) e/ou pela
diferentes. Iniciar a colheita quando as plantas alta produtividade da lavoura, cujas hastes tendem
apresentam um estágio mais avançado de a abrir em lavouras com três hastes ou mais.
desenvolvimento (≥ 90% dos frutos cereja, passa
É importante destacar que um bom desempenho de
e/ou seco) aumentará a eficiência de derriça.
colheita com automotrizes depende da regulagem
Com relação a plantas com arquitetura multicaule, adequada das máquinas, assim como um
verificou-se que aumentam significativamente as delineamento de implantação de lavoura e ações
perdas de chão nas automotrizes, pois as placas contínuas de condução das plantas que favoreçam
plásticas ou canecas não vedam adequadamente a colheita mecanizada, conforme sintetizado no
a parte inferior das máquinas. Outro aspecto Quadro 5.
importante é que as plantas possuem uma maior
A B
C D
Figura 13. Ilustração de uma lavoura tradicional, com altura desuniforme das plantas na linha (A); maturação
heterogênea na mesma linha de plantio (B); hastes com arquitetura multicaule abaixo de 0,40 m do solo e
abertura das placas inferiores da colhedora (C); e plantas tombadas (D).
524 Café Conilon – Capítulo 21
Quadro 5. Principais ações técnicas recomendadas para preparo da lavoura de café conilon para a colheita mecanizada
com automotrizes
Ações Objetivos
- Facilitar a entrada das plantas na unidade de derriça, reduzir
Alinhar as covas no plantio. perda de chão e evitar os danos causados pela máquina às
hastes das plantas.
Plantar apenas um clone por linha, alternando a ordem de - Padronizar a altura das plantas, a altura dos frutos nas plantas e
plantio dos clones da cultivar recomendada. a maturação dos frutos.
Realizar a poda da região meristemática (ápice) entre 0,20 e
0,55 m, cerca de 6 meses após o plantio, quando a planta estiver
com aproximadamente 0,60 m de altura (Figuras 14 e 15). Após
a brotação, selecionar ramos ortotrópicos alinhados ao sentido - Padronizar a altura das plantas, a altura dos frutos nas plantas,
do plantio e próximos da região do corte apical. alinhar as hastes na fileira e reduzir as perdas de chão.
Para lavouras em renovação, realizar a recepa a 0,60 m e conduzir
a brotação conforme descrito anteriormente.
Selecionar brotos para formação de nova copa e a desbrota - Manter arquitetura das plantas com hastes alinhadas no sentido
periódica do excedente. do plantio.
Fonte: Dados de pesquisa não publicados.
A B C
Figura 15. Planta com seis meses, com poda apical a 0,55 m de altura (A); plantas com três anos recepadas a 0,60 m na
safra 2014/15 (B); e brotação alinhada (C) sendo conduzida na safra 2015/16, em São Mateus/ES.
Colheita Mecanizada do Café Conilon 525
Tabela 6. Sistemas de manejo em teste para mecanização das lavouras de café conilon
Espaçamento (m) Número de hastes por
Sistema Máquina
Entrelinha Linha planta
6 CUSTOS OPERACIONAIS DOS SISTE- 2013/14, no norte do Espírito Santo foi de R$ 15,30
MAS DE COLHEITA sacos-1 (80 L) com impostos, o que resulta num
custo por trabalhador de R$ 244,80 dia-1, para um
O tipo de colheita dos frutos, manual ou média de colheita dos trabalhadores que atuaram
mecanizada, influencia significativamente na na área em estudo de 16 sacos dia-1. Contudo, sabe-
estrutura de custos da atividade cafeeira (LANNA; se que, dependendo da região e da produtividade
REIS, 2012). No Espírito Santo, a colheita representa das plantas, muitos trabalhadores colhem acima de
de 22 a 40% do custo total de produção do cafeeiro 20 sacos dia-1.
conilon (CEDAGRO, 2016; INCAPER, dados não
publicados) dependendo do grau tecnológico e da
Tabela 7. Distribuição percentual dos custos operacionais
produtividade da lavoura. Uma das preocupações de diferentes sistemas de colheita mecanizada
dos cafeicultores é quanto à disponibilidade de na safra 2013/14, na região norte do Espírito
trabalhadores nas regiões produtoras, geralmente Santo
insuficiente para atender à demanda de serviço. Trilhadora
Automotriz Automotriz
Isso gera especulação nos preços de colheita e a Itens de Custo
estacionária
com varetas com bastões
com lona
necessidade da coleta de frutos malformados, com
-------------------------- % -------------------------
menor rendimento no beneficiamento reduzindo a
Depreciação 23,31 39,67 39,95
lucratividade e a competitividade do setor cafeeiro Juros 0,71 1,21 1,22
(LANNA; REIS, 2012). Taxa de seguros 0,52 0,88 0,89
Taxa de
Nesse aspecto, a colheita mecanizada e 0,26 0,44 0,44
alojamento
semimecanizada do cafeeiro conilon apresentam Custo Fixo 24,80 42,20 42,50
potencial para reduzir custos em relação à manual. Combustível 14,44 6,14 7,83
Em trabalhos realizados na colheita mecanizada em Lubrificante 1,73 1,54 1,23
lavouras de café arábica, reduções no custo variam Manutenção 25,90 44,08 44,39
de 24 a 62% em relação à colheita manual (SILVA Mão de obra 33,13 6,04 4,05
et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2007a; SANTINATO et Custo Variável 75,20 57,80 57,50
al., 2015). Custo Total 100,00 100,00 100,00
Fonte: Dados de pesquisa não publicados.
Os custos operacionais de três sistemas de colheita Nota: Metodologia: Balastreire (1987), Pacheco (2000) e Santinato et al. (2015).
foi atribuído à maior oferta e menores custos da Por fim, cabe destacar que o preço de mercado
mão de obra no período. Vale destacar que essas da saca beneficiada tem influência significativa
avaliações foram realizadas em condições de na viabilidade econômica do investimento de
lavouras dissimilares, com manejos, arquitetura infraestrutura do cafeeiro, sendo fundamental para
de plantas e produtividade diferentes, o que a lucratividade e competitividade do setor. Assim,
não permite comparação média entre anos dos os cafeicultores devem efetuar um gerenciamento
sistemas, mas apenas entre o potencial de redução que priorize a gestão de custos buscando a melhor
dos custos de colheita nos sistemas mecanizados destinação dos recursos produtivos aplicados
em relação ao manual. na lavoura cafeeira (LANNA; REIS, 2012), a fim de
maximizar a eficiência econômica da atividade
Os testes permitiram constatar que a colheita
agrícola.
mecanizada não é capaz de substituir totalmente
a necessidade de mão de obra, tanto nos
sistemas mecanizados com automotrizes, quanto
nos sistemas semimecanizados. No caso de 7 IMPLICAÇÕES FUTURAS
automotrizes, devido à necessidade de repasse Em face das vantagens apresentadas da colheita
manual, que representa a retirada dos frutos mecanizada, uma questão importante de se analisar
que permanecem aderidos à planta, enquanto e trabalhar concomitantemente refere-se ao
nos sistemas semimecanizados, em razão da manejo adequado de máquinas e solo para não se
necessidade de derriça sobre a lona ou por causa estabelecer ao longo dos anos um novo problema
do corte e transporte dos ramos ortotrópicos até potencial na região, decorrente do tráfego de
a unidade de derriça nas trilhadoras visando à máquinas agrícolas, que é a compactação do solo.
retirada das plantas para a renovação da lavoura
Esse efeito prejudicial é causado pelas cargas
ou a recepa em lavouras adensadas.
estáticas aplicadas sobre o solo e dinâmicas
No caso da colheita com automotrizes, o repasse resultadas da vibração das máquinas agrícolas,
manual pode ser substituído gradativamente pela patinagem dos rodados, mudanças de direção
colheita mecanizada, com a utilização da repetição bruscas e alterações na aceleração/frenagem
de operações da colhedora aumentando a (HORN et al., 1995; ALAKUKKU et al., 2003). Quando
eficiência de colheita e minimizando a necessidade a carga aplicada sobre o solo excede sua resistência
de repasse manual, conforme também observado interna, a compactação adicional ocorre com
para o cafeeiro arábica (SANTINATO et al., 2015). mudanças nos atributos do solo (HORN et al., 1995).
O custo do repasse tende a aumentar à medida A compactação aumenta a densidade do solo e
que se reduz a eficiência de derriça. Para tanto, a sua resistência mecânica (HAMZA; ANDERSON,
a viabilidade de repetidas operações depende 2005; MATERECHERA, 2009) e diminui o volume de
da carga produtiva das plantas, do estádio de poros, principalmente de macroporos (SOUZA et al.,
maturação dos frutos, da disponibilidade de 2012). Silva, A. R. et al. (2006) e Araújo-Junior et al.
máquinas (alugadas ou próprias), do preço da saca (2008) observaram mudanças estruturais do solo,
e dos danos causados às plantas (SILVA et al., 2010; associadas à compactação, causadas pelo tráfego de
SANTINATO et al., 2014, 2015). máquinas agrícolas em lavouras de café arábica, no
Os ensaios com automotrizes permitiram ainda sul de Minas Gerais. Contudo, as regiões produtoras
observar redução no custo da colheita com aumento de café conilon carecem de estudos correlatos.
da velocidade de deslocamento, considerando uma A menor porosidade e taxa de infiltração de água
eficiência de colheita constante, o que corrobora no solo, advindo da compressibilidade do solo
resultados de outros trabalhos (SILVA, F. M. et al., pela pressão imposta pelo tráfego das máquinas
2006; OLIVEIRA et al., 2007). Contudo, na prática, agrícolas, aumenta o escoamento superficial
a eficiência de colheita tende a diminuir com em períodos chuvosos, o que pode aumentar o
o aumento da velocidade (> 2,0 km h-1), sendo processo erosivo no solo.
necessários ajustes específicos de máquinas para Os principais efeitos que a compactação do solo
cada situação de campo. pode causar às culturas agrícolas são: falha ou
demora no pegamento das mudas, tamanho
Colheita Mecanizada do Café Conilon 527
reduzido da planta e dos grãos, coloração não intensificação da mecanização agrícola no processo
característica das folhas, sistema radicular produtivo, principalmente na colheita mecanizada
superficial e má-formação das raízes (BENGOUGH dos frutos do cafeeiro conilon. Isso permitirá uma
et al., 2006; SOUZA et al., 2014, 2015). A maior garantia da colheita, com maior rapidez e
compactação do solo reduz o desenvolvimento agilidade, com a derriça de uma maior proporção
do sistema radicular e o acesso à água e nutrientes de frutos maduros e uma maior redução no custo
(CHAN et al., 2006; COLLARES et al., 2008). Esse de produção, o que poderá melhorar a qualidade
impedimento físico ao desenvolvimento radicular de bebida e valorizar o produto no mercado
resulta em menor volume de raízes, concentradas nacional e internacional, contribuindo para uma
na camada superficial, o que torna a planta mais maior sustentabilidade do setor.
suscetível a veranicos. Assim, o menor volume
A colheita mecanizada não será capaz de
radicular promovido pela compactação do solo
substituir, na sua totalidade, a colheita manual,
pode reduzir a produtividade do café conilon.
mesmo em áreas com topografia favorável,
A compactação reduz a infiltração de água no como no norte do Espírito Santo, sul da
solo e pode intensificar o processo erosivo com o Bahia e Rondônia, em função principalmente
carreamento de partículas finas, matéria orgânica dos interesses dos cafeicultores, acesso às
e nutrientes no fluido erodido. As principais tecnologias, disponibilidade de recursos
consequências são o empobrecimento do solo, financeiros e aptidão agrícola. Assim, novas
perda do potencial produtivo e a contaminação pesquisas vêm sendo realizadas a fim de permitir
de rios e lagos, o que pode tornar a atividade a contínua evolução dos sistemas de colheita
cafeeira insustentável nos aspectos econômico e mecanizada, impulsionadas pelas parcerias entre
ambiental. instituições públicas e privadas e com o setor
cafeeiro.
Estudos recentes têm utilizado modelos
matemáticos para estimar a capacidade de
suporte de carga dos solos, quantificando os níveis
de pressões que podem ser aplicados para evitar 9 AGRADECIMENTOS
que a compactação ocorra (SILVA, A. R. et al., 2006; A Luiz Antônio Vizeu, da empresa Miac Máquinas
ARAÚJO-JÚNIOR, 2008, 2011). Para isso, utiliza-se Agrícolas, a Carlos Eduardo de Carvalho Visconti,
a avaliação da umidade do solo, já que quanto da empresa CNH Industrial e a Walmi Gomes
maior ela for, menor será a resistência interna Martin, da empresa Jacto Máquinas Agrícolas,
das partículas, o que o torna mais suscetível ao pelas parcerias na realização das pesquisas.
processo compressivo (SILVA, A. R. et al., 2006; Agradecemos também aos cafeicultores envolvidos
SOUZA et al., 2012). no projeto de colheita mecanizada do conilon,
Por esse motivo, monitorar a compactação e a em especial, ao Amistrong Luciano Zanotti, Jésus
qualidade física do solo são ações necessárias em Roque Lubiana, Tarcísio Duarte, Moisés Alvino
áreas intensamente mecanizadas, a fim de manter o Covre, Isaac Covre, Roberto Altoé, aos consultores
solo um ambiente propício para o desenvolvimento José Sebastião Machado Silveira e Rogério Emílio
radicular do cafeeiro e, assim, contribuir para a Chiabai, ao Consórcio Pesquisa Café - Embrapa
longevidade das lavouras e a sustentabilidade da Café, à Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de
atividade agrícola. São Gabriel da Palha (Cooabriel) e ao Sistema de
Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob).
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
10 REFERÊNCIAS
O atual cenário da cafeicultura do Coffea canephora
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531
22
Manejo da Água Residuária
do Café Conilon
Sammy Fernandes Soares, Aldemar Polonini Moreli,
Sérgio Maurício Lopes Donzeles, Luíz Carlos Prezotti, Juarez Souza e Silva e
Edvaldo Fialho dos Reis
ARC deve ser disposta no solo seguindo as diretrizes 3 GERAÇÃO DE ÁGUA RESIDUÁRIA NO
técnicas constantes da Instrução Normativa Idaf PROCESSAMENTO DO CAFÉ
n°15, de 23 de outubro de 2014. A disposição no
solo pode ser feita por fertirrigação, infiltração A maioria dos cafeicultores realiza a colheita de
subsuperficial (vala de infiltração e/ou sumidouro) uma só vez misturando frutos verdes, maduros,
e escoamento superficial em rampas. Antes de ser passas e impurezas, principalmente, folhas e
disposta no solo, a ARC deve, necessariamente, ramos, que devem ser removidos ainda na lavoura,
passar por um decantador impermeabilizado, manual (Figura 1B) ou mecanicamente evitando
com objetivo de reter parte do material sólido ali o transporte desse material para a unidade de
contido (IDAF, 2014b). processamento. A colheita pode também ser
feita de forma seletiva (“a dedo”) (Figura 1A)
A destinação da ARC deverá ser proposta mediante selecionando-se apenas os frutos maduros, o que
projeto técnico, elaborado e apresentado possibilita obter uma bebida de melhor qualidade.
por profissional habilitado. No planejamento Contudo, a colheita a “dedo” requer muita mão de
da fertirrigação, deverão ser consideradas as obra, encarecendo sobremodo essa operação.
características físico-químicas da ARC e do solo e as
exigências nutricionais da cultura a ser fertirrigada. O “café da roça” é transportado para a unidade de
No caso da infiltração em valas ou sumidouros, o processamento e descarregado na moega (Figura
desnível entre o fundo e o lençol freático deve ser 2A). Na maioria das unidades, o café é processado
de 5 m para solos argilosos e 10 m para solos de ao final da tarde e início da noite, no mesmo dia da
textura média (IDAF, 2014b). colheita. Na base da moega, existe uma abertura
com um dispositivo para controlar a saída dos
A B
Figura 1. Abanação manual do café no campo (A); colheita dos frutos de café a “dedo” (B).
A B
Figura 2. Frutos do café sendo descarregados na moega (A); abertura de saída da moega (B).
534 Café Conilon – Capítulo 22
frutos (Figura 2B). Para fazer o controle, é necessária Para realizar a lavagem de pequena quantidade
a presença frequente de uma pessoa a fim de retirar de “café da roça”, pode-se despejá-lo numa caixa
os ramos e folhas que vão obstruindo a abertura. d’água. Os frutos e as impurezas menos densos
que a água flutuam - café boia - e são removidos
O processamento inicia-se pela limpeza,
com peneira (Figura 4A), enquanto os frutos mais
envolvendo a abanação, em que são removidas
densos - verdes e cerejas - afundam e são retirados
as folhas e impurezas mais leves, e peneiramento
posteriormente. Nos lavadores mecânicos, os frutos
(Figura 3), que remove impurezas maiores e
são conduzidos pela água em uma calha até um
menores que os frutos. Na limpeza, não se usa
compartimento com fundo falso, no qual os verdes
água, mas se mal feita, ocasiona maior gasto na
e maduros afundam e são impulsionados por um
operação seguinte, a lavagem, uma vez que parte
fluxo ascendente de água que os remete à superfície
da água adere-se aos ramos e folhas que passam
em uma calha paralela (Figura 4B), enquanto os
pelo lavador. A lavagem, além de remover diversas
frutos boias flutuam e seguem pela mesma calha.
sujidades, torrões e pedras, separa os frutos mais
leves dos mais pesados. Os lavadores mecânicos gastam pouca água, uma
vez que ela é reutilizada na operação. Para isso,
dispõem de uma bomba que faz o retorno da água
durante a lavagem. É necessário repor a água que
sai aderida à superfície dos frutos e impurezas, bem
como trocar aquela do lavador, resultando num
gasto de 0,1 a 0,2 L de água por litro de frutos de
café (MATOS, 2008). Um levantamento realizado nas
regiões sul e Zona da Mata Mineira constatou que
54% das propriedades cafeeiras gastam na lavagem
menos de 1 L de água por litro de frutos, 38%
gastam de 1 a 5 L e 8% gastam mais de 5 L (VILELA;
RUFINO, 2010), neste último caso, usando lavadores
artesanais.
Na maioria das unidades de processamento, o
transporte dos frutos do lavador até o descascador
Figura 3. Abanação e peneiramento mecânico do café. é feito pela água, demandando uma parcela
A B
Figura 4. Lavagem em caixas d’água e remoção do café boia com peneira (A); separação dos frutos de café boia dos
verdes e cerejas no lavador mecânico (B).
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 535
considerável do que é gasto no descascamento, lança água sobre o cilindro descascador a fim de
estimado num volume de 3 a 5 L por litro de frutos facilitar o deslocamento dos frutos, grãos e cascas
(MATOS, 2008). O gasto pode ser diminuído se o (Figura 5B).
lavador for instalado de modo que a bica pela qual
Para facilitar o manejo do café cereja descascado,
saem os verdes e cerejas for justaposta à entrada
é comum ainda remover parte da mucilagem que
dos frutos no descascador, mediante corte/aterro
fica aderida aos grãos em desmucilador (Figura
no terreno ou construção de estrutura de suporte
6A) ou em tanque de degomagem (Figura 6B). No
para o lavador. Outra opção é fazer o transporte
desmucilador, os grãos entram pela base, em um
mecanicamente, por meio de elevadores.
cilindro com um eixo interno rugoso que eleva
No cilindro do descascador, os frutos são os grãos até o topo, por onde saem. Durante o
pressionados contra uma peneira (Figura 5A) e deslocamento, a mucilagem vai sendo removida
a casca dos frutos maduros rompe-se, liberando por meio de água que perpassa pelo cilindro.
os grãos - café cereja descascado - que passam Na degomagem, os grãos são mantidos em um
pela peneira, juntamente com a casca, enquanto reservatório, imersos em água; a mucilagem é
os frutos verdes não passam e saem por uma bica hidrolisada e consumida por microrganismos.
lateral. Um tubo com vários orifícios - esguicho -
A B
Figura 5. Cilindro descascador de frutos de café (A); tubo com orifícios para lançar água - esguicho - sobre o cilindro
descascador (B).
A B
Figura 6. Desmucilador de café (A); tanque de degomagem de café (B).
536 Café Conilon – Capítulo 22
O material sólido da ARC encontra-se em Sódio (mg.L-1) 25,5 45,0 58,3 77,1
suspensão ou dissolvido, sendo a maior parte Potássio (mg.L-1) 41,0 115,0 153,7 204,7
volátil, e sua carga orgânica, estimada pela Fonte: Garcia et al. (2008).
demanda bioquímica - DBO e química de E1 – efluente do lavador; E2 – efluente do descascador; E3 – efluente do descascador,
com reutilização do efluente E2; E4 – efluente do descascador, com reutilização do
oxigênio - DQO, chega a 29.500 e 14.340 mg.L-1, efluente E3.
corpos hídricos, qualquer dos efluentes analisados CV (%) 60 137 97 73 83 459 444 447 406 366
deveria ser tratado atendendo ao disposto na Fonte: Prezotti et al. (2012).
Resolução Conama 430.
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 537
Amostras de ARC coletadas durante e ao término da um litro de frutos de café, são gastos cerca de 3 a 5 L
jornada de processamento em diferentes unidades de água (MATOS, 2008) e para produzir um saco de
de processamento da região de Viçosa/MG e café beneficiado, são gastos de 450 a 500 L de frutos
levadas no mesmo dia para análise em laboratório (MALTA; CHAGAS; CHALFOUN, 2008). Considerando
apresentaram concentração de nutrientes bem essas relações, pode-se deduzir que para se obter
maiores que aquelas relatadas por Prezotti et al. um saco de café beneficiado, são gastos de 1.350 a
(2012) e também variaram muito (Tabela 3). Em 2.500 L de água.
duas das amostras, a concentração de N foi maior
Uma das diretrizes para a gestão dos efluentes
que a de K (SOARES et al., 2009).
constantes da Resolução 430 do Conama orienta
que “as fontes potencial ou efetivamente poluidoras
Tabela 3. Teores de nutrientes em amostras de água resi- dos recursos hídricos deverão buscar práticas
duária do café arábica coletadas em diferentes
unidades de processamento
com vistas ao uso eficiente da água, à aplicação
de técnicas para redução da geração e melhoria
Teores de nutrientes em amostras de água residuária
Amostra em mg.L-1 da qualidade de efluentes gerados e, sempre que
N P K Ca Mg Cu Mn Fe Zn possível e adequado, proceder à reutilização”
1 317 102 373 34 7,2 0,35 0,48 9,40 0,07 (CONAMA, 2011).
2 550 12 317 31 6,3 0,60 ND 4,50 ND
3 159 11 90 11 4,0 0,13 ND 0,09 0,37 A reutilização da ARC no processamento é uma
4 1194 100 410 413 14,5 0,83 14,3 8,20 7,10 opção para reduzir o gasto de água, principalmente
5 167 11 983 186 9,5 0,88 0,21 3,73 1,47
em unidades mais antigas, que operam com
6 112 5 175 323 22,3 - 0,43 7,72 2,57
equipamentos tradicionais. Para reutilizar a ARC,
Fonte: Soares et al. (2009).
é preciso bombeá-la para uma caixa de reúso
(Figura 7A), situada à montante da unidade, que
Moreli (2013) realizou o processamento de café
permite regular o fluxo de entrada no descascador.
arábica fazendo o reúso da ARC ao longo de um
Em algumas unidades de processamento, a ARC é
período de cinco dias. Os resultados das análises
bombeada do tanque de decantação para a caixa
dos teores de nutrientes após o primeiro, segundo,
de reúso (Figura 7B). Nesse caso, removem-se
terceiro, quarto e quinto dias de processamento
apenas os resíduos mais densos que a água; os mais
encontram-se na Tabela 4. Pode-se observar que
leves e aqueles com densidade próxima à da água
os teores de nutrientes aumentaram ao longo do
não são removidos e podem entupir o esguicho do
período de processamento, notadamente entre o
descascador (Figura 8A).
primeiro e segundo dia.
Existem no mercado máquinas de várias marcas,
Tabela 4. Teores de nutrientes na água residuária após 1, denominadas filtro, separador ou regenerador, que
2, 3, 4 e 5 dias de reúso na unidade de proces- dispõem de uma peneira de malha fina capaz de
samento remover impurezas muito pequenas (SOARES et
N P K Ca Mg S Zn al., 2012). Em muitas unidades de processamento,
Dia
mg.L-1 essas máquinas são posicionadas antes da caixa
1 177 14 441 41 10 10 0,80 de decantação (Figura 8B), estrangulando o fluxo
2 394 31 1031 70 22 24 2,03 da ARC. Isso pode ser evitado se o filtro, separador
3 393 37 1185 77 25 26 1,89 ou regenerador for posicionado após a caixa de
4 455 45 1316 99 26 32 1,85 decantação, pois grande parte dos resíduos já
5 483 48 1384 101 34 34 1,66 teriam sido removidos, evitando obstrução das
Fonte: Moreli (2012). malhas das peneiras.
ser construído na propriedade, foi desenvolvido de decantação, de 1.000 L, interligadas por tubos
pela Embrapa Cafe, órgão integrante da estrutura de PVC, de 100 mm (Figura 9A), e duas peneiras
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária cilíndricas, a primeira com abertura das malha de
(Embrapa), em parceria com a Empresa de Pesquisa 1,51 mm e a segunda de 1,00 mm, ambas com 1 m
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) e o de comprimento e 0,22 m de diâmetro, dispostas
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica inclinadamente após a saída da água da terceira
e Extensão Rural (Incaper) (SOARES et al., 2012; caixa (Figura 9B).
SILVA, 2015). O SLAR compõe-se de três caixas
A B
Figura 7. Caixa de reúso da água residuária (A); bombeamento da caixa de decantação para reúso (B).
A B
Figura 8. Esguicho com furos entupidos (A); filtro de resíduos sólidos (B).
A B
Figura 9. Caixas de decantação (A); peneiras do sistema de limpeza de águas residuárias (B).
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 539
A ARC gerada na unidade de processamento entra café cereja descascado com água limpa ou reusada
pela parte superior da primeira caixa e flui para as (MORELI, 2010).
seguintes através dos tubos de PVC em forma de
Em outro experimento, Moreli (2013) realizou o
L, que captam a água a 0,30 m do fundo da caixa
processamento de café arábica fazendo o reúso
antecedente. Tais tubos são fundamentais para
da ARC ao longo de um período de cinco dias. O
remover as impurezas menos densas que a água,
consumo no início do processamento, antes de
que flutuam e ficam retidas na superfície das caixas,
reutilizar a ARC, foi de 1,96 L de água por litro de
enquanto as mais densas decantam no fundo. Após
frutos, 11% menor que aquele obtido em 2010.
passar pelas caixas de decantação, a ARC passa pelas
Essa performance foi atribuída à diminuição entre
peneiras, cai em um reservatório e é bombeada
o lavador e o descascador e maior inclinação da
para a caixa de reúso, sendo então reutilizada. As
calha de condução dos frutos entre tais máquinas.
peneiras removem impurezas com dimensões
suficientes para causar o entupimento do esguicho O gasto de água diminuiu ao longo das jornadas
do descascador. Silva (2014) publicou na mídia um de processamento, atingindo um mínimo de
filme mostrando o funcionamento do SLAR. 0,278 L de água por litro de frutos no quinto dia de
processamento (Figura 10). Na avaliação sensorial,
realizada conforme protocolo da Associação
5.2 EXPERIMENTOS COM O SISTEMA DE LIMPEZA Americana dos Cafés Especiais (SCCA), não foram
O SLAR foi avaliado em experimento conduzido por detectadas diferenças significativas entre as bebidas
Moreli (2010) na Fazenda Experimental do Incaper, originadas dos cafés processados ao longo dos dias
em Venda Nova do Imigrante/ES. O intervalo de (Tabela 6). As notas finais foram superiores a 80
tempo entre o início e o final do processamento, pontos, o que, pela metodologia da SCCA, permite
a quantidade de frutos processada e o consumo classificar as bebidas como excelentes (MORELI,
de água nas quatro repetições do experimento 2013).
encontram-se na Tabela 5.
0,9
0,853
0,8
Tabela 5. Duração do processamento (DP), volume de 0,7
água consumida (AC) e de frutos processados y = 0,0513x2 - 0,4395x + 1,212
Consumo de água (L)
0,6 R2 = 0,9647
(FP) 0,469
0,5
DP AC FP AC/FP 0,4
Repetição 0,387
min L L L/L 0,3 0,301 0,278
1 144 5053 9250 0,53 0,2
Média 148 5145 9855 0,52 Figura 10. Consumo de água (litros de água/litro de
Fonte: Moreli (2010). frutos processados) ao longo de cinco dias
de processamento.
Fonte: Moreli (2013).
O consumo no início do processamento, antes de
reutilizar a ARC, foi de 2,2 L de água por litro de
Esses resultados sinalizam que a proposição de
frutos. O processamento durou 142-155 minutos,
ajustes na unidade de modo a possibilitar o
tempo suficiente para que a água fosse reutilizada
reúso da ARC no processamento é uma estratégia
quatro vezes na unidade, sem causar entupimento,
interessante dos cafeicultores na gestão do
comprovando a funcionalidade do SLAR. Foram
seu negócio e uma forte aliada para viabilizar
consumidos 0,52 L de água por litro de frutos
ambientalmente o empreendimento no que
processados, em média, muito abaixo dos 3 a 5 L
se refere à outorga de água e na obtenção do
mencionados na literatura (MATOS, 2008) e 76%
licenciamento ambiental, pois o reúso da ARC vem
menos que o consumo inicial. A avaliação sensorial
se tornado uma condicionante desses processos
não detectou diferença na bebida originada do
(REIS et al., 2013).
540 Café Conilon – Capítulo 22
Tabela 6. Características organolépticas da bebida origi- filtro, tanque de sedimentação, lagoa anaeróbia e
nária de café processado com reúso da água lagoa facultativa são usadas para fazer o tratamento
residuária, durante 1, 2, 3, 4 e 5 dias de proces-
da ARC. Uma descrição de tais estruturas e exem-
samento
Características organolépticas
plos de como dimensioná-las podem ser encontra-
Resulta-
Dias Equilí- Finali- do dos no Boletim Técnico publicado pela Universida-
Aroma Sabor Acidez Corpo Final
brio zação de Federal de Viçosa, que inclui também métodos
1 7,222 7,194 7,139 7,180 7,250 7,194 80,530
de disposição da ARC no solo, em valas, em rampas
2 7,375 7,305 7,181 7,208 7,153 7,180 80,628
3 7,375 7,264 7,167 7,208 7,222 7,139 80,419
e por meio de fertirrigação, além do tratamento em
4 7,222 7,319 7,242 7,242 7,278 7,333 80,983 áreas alagadas (MATOS; LO MONACO, 2003).
5 7,375 7,247 7,194 7,250 7,222 7,305 80,858
O tratamento da ARC é pouco comum nas
Fonte: Moreli (2013).
propriedades que realizam o processamento dos
frutos do cafeeiro devido ao elevado custo e à
carência de pessoal com domínio do processo de
6 DESTINAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA tratamento. Na maioria dos casos, a ARC gerada
Para ser lançada em um corpo hídrico, a ARC na unidade de processamento é recolhida em
precisa ser tratada, de modo a atender às condições um tanque de decantação (Figura 11A) e depois
e padrões estabelecidos pela legislação. O bombeada e descartada em valas ou lagoas de
tratamento é complexo e requer o envolvimento de infiltração (Figuras 11B e 11C).
um profissional habilitado para planejar e orientar No Estado do Espírito Santo, a legislação permite
a construção da estrutura necessária, bem como que a ARC seja descartada em valas de infiltração
monitorar as características físicas e químicas da e em sumidouro. Para minimizar o risco de
ARC visando a atender as exigências legais. contaminação das águas subterrâneas, o fundo
No tratamento preliminar, é feita a remoção de da vala deve manter um distanciamento vertical
sólidos mais grosseiros presentes na ARC, tais como mínimo de 5 m ou 10 m para solos com textura
folhas e ramos; segue-se o tratamento primário em argilosa ou textura média, respectivamente. Não
que parte dos sólidos em suspensão são removidos se autoriza a disposição da ARC em condições de
por decantação e outra parte por degradação solos arenosos ou de alta permeabilidade (IDAF,
anaeróbia; o tratamento secundário completa 2014b). A norma não menciona a distância das valas
o processo de degradação do material orgânico em relação a corpos hídricos superficiais, como
em suspensão, realizado pelos microrganismos nascentes e/ou cursos d’água, mas é preciso atentar
presentes na água residuária. para que sejam posicionadas de modo a evitar que
esses corpos hídricos sejam contaminados.
Vários equipamentos e estruturas, como peneira,
A B C
Figura 11. Tanque de decantação (A); vala de infiltração (B); e lagoa de infiltração (C).
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 541
Figura 12. Variação do pH, teores de P, K, Na, Ca, Al, Zn, matéria orgânica (MO) e saturação por bases (V) do solo em
função da aplicação de doses crescentes de água residuária.
Fonte: Prezotti et al. (2012).
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 543
de regressão, observa-se que, em média, houve Soares et al. (2010) aplicaram as doses 0, 250, 500,
um aumento de 0,078 unidade de pH para cada 1.000, 2.000 e 4.000 mL de ARC em vasos com 5 L de
10 L de água residuária aplicados por m2 de solo. substrato e, 30 dias depois, plantaram aveia preta,
Esse aumento é significativo e indica ser preciso a qual foi colhida por ocasião do florescimento.
monitorar o pH por meio de análises de solo para Os teores de K do substrato elevaram-se com o
evitar que se eleve muito com sucessivas aplicações. aumento das doses de ARC, enquanto os teores de
P, Ca, Mg e o pH do substrato não foram afetados
O K foi o elemento que apresentou maior taxa de
(Tabela 8).
elevação, calculada em 11,4 mg.dm-3 de K para
cada 10 L de ARC aplicados por m2 de solo. Houve Lo Monaco et al. (2009) usaram a ARC na
elevação de 0,42 mg.dm3 de P para cada 10 L de ARC fertirrigação de café, em doses correspondentes a 0,
aplicados por m2 de solo. Os compostos orgânicos, 2, 3, 4, 5 e 6 vezes a necessidade de K recomendada
além de apresentar P em sua constituição, para a cultura (80 g.cova-1 de K2O). A aplicação da
bloqueiam os sítios de adsorção de P, tornando-o
mais disponível (ANDRADE, 2004). Tabela 8. Características químicas do substrato com a
aplicação de diferentes doses de água residuá-
Os teores dos elementos Na e Ca aumentaram na ria do processamento do café
taxa de 0,57 mg.dm-3 e 0,03 cmolc/dm3, e o teor de Al Doses P K Ca Mg CTC V MO
diminuiu, na taxa de 0,08 cmolc/dm3 para cada 10 L mL pH
mg.dm -3
cmolc.dm -3
% dag.kg-1
de ARC aplicados por m2 de solo, respectivamente.
0 5,97 31 113 3,0 1,50 4,8 64 2,20
A redução da disponibilidade de Al3+ pode
250 6,20 29 155 2,9 1,50 4,8 68 2,42
ocorrer por sua menor solubilidade, decorrente
500 6,02 28 158 2,8 1,40 5,6 66 2,17
do aumento do pH e por sua complexação por
1000 6,07 28 217 2,9 1,47 4,9 68 2,15
ácidos orgânicos (SILVA; MENDONÇA, 2007). Entre
2000 6,05 25 335 2,9 1,42 5,2 68 2,17
os micronutrientes, o Zn foi o que apresentou
4000 6,42 25 542 2,9 1,47 5,8 75 2,32
aumento significativo do seu teor com a aplicação
Fonte: Soares et al. (2010).
da ARC, com acréscimo de 0,07 mg.dm-3 para cada
10 L de ARC aplicados por m2 de solo. ARC foi parcelada de modo a completar a dose
A aplicação de ARC elevou o teor de matéria em um período de 2 meses. Avaliou-se o pH, a
orgânica do solo, seguindo uma tendência condutividade elétrica (CE) e as concentrações de
quadrática (Figura 12). Essa elevação é importante, macro e micronutrientes no solo, nas camadas de 0
principalmente quando se considera os baixos a 20, 20 a 40, 40 a 60 e 60 a 80 cm de profundidade.
teores de matéria orgânica da maioria dos solos O pH, a CE e a concentração de K no perfil do solo
da região produtora de café do Estado do Espírito aumentaram com o aumento da dose de ARC.
Santo. O excesso de K proporcionou lixiviação de Ca e,
principalmente, de Mg no perfil do solo, reduzindo
Ressalta-se que a matéria orgânica contida na ARC
a disponibilidade e provocando a deficiência desses
necessita passar pelo processo de mineralização,
nutrientes nas folhas do cafeeiro. Houve aumento
que é realizado pelos microrganismos do solo,
na concentração de Fe, Mn e Cu e redução de Zn
os quais, para isso, demandam nutrientes,
com a aplicação da ARC.
principalmente N. Por essa razão, o acúmulo de
ARC em locais próximos às raízes das plantas,
além do problema de deficiência de oxigênio
8 EFEITOS DA APLICAÇÃO DE ÁGUA
causado pelo encharcamento, pode ocasionar
deficiências nutricionais pela competição com os
RESIDUÁRIA NAS PLANTAS
microrganismos do solo, em casos extremos, causar Em experimento realizado em vasos contendo 2 dm³
danos irreversíveis às plantas. Assim, o sistema de de um solo classificado como Latossolo Vermelho-
aplicação da ARC nas culturas deve possibilitar Amarelo, em casa de vegetação, Prezotti et al. (2012)
uma distribuição homogênea sobre a superfície aplicaram as doses de 0, 5, 10, 20, 40 e 80 L.m-2 de
do solo, evitando a formação de poças e também o ARC no solo. Após 30 dias de incubação, foram
escorrimento superficial. retiradas amostras para análise de solo e semeou-se
544 Café Conilon – Capítulo 22
milho, que foi colhido um mês depois. Observou-se das plantas. A massa seca do caule, das folhas e
um acentuado aumento de produção de biomassa das plantas de milho não foram alteradas com
de plantas de milho (Figura 13) na dose equivalente a aplicação das doses de ARC, enquanto os
a 5 L.m-2 de ARC quando comparada à testemunha. teores foliares de K elevaram-se e os de Ca e Mg
Nas doses seguintes, foram observados incrementos diminuíram com o aumento das doses (Figura 15).
menores de biomassa, e a dose responsável pela Não foram observados sintomas de queima nas
produção máxima física foi de 57 L.m-2, calculada folhas de milho.
com base na equação de regressão:
y = 29,378 + ARC + ARC-0,5 ( R2 = 0,93), em que:
y é a biomassa de milho e ARC é a dose de água
residuária aplicada.
90
79
80
72
70 67
62 62 Figura 14. Teor de K na parte aérea de plantas de milho
Biomassa de Milho
50
Fonte: Prezotti et al. (2012).
40
30 26
20
10
0
0 5 10 20 40 80
Dose de ARC (L/m2)
Figura 13. Produção de biomassa de plantas de milho em
função de doses de água residuária.
Fonte: Prezotti et al. (2012).
folhas, contudo, a massa seca das plantas e das se utilizar o método da saturação por K na CTCpH7 do
folhas diminuíram com o aumento da dose de água solo, que tem por princípio a elevação da saturação
residuária, enquanto os teores de K nas folhas não por K atual do solo até o máximo de 5%, valor este
foram afetados. considerado adequado em relação aos demais
cátions na CTCpH7 do solo.
Em uma unidade de teste e validação instalada em
propriedade cafeeira, a ARC foi aplicada sobre as Como exemplo, em um solo com saturação por K
folhas de café, com regadores, na dose de 40 L por na CTCpH7 igual a 2%, poderia ser adicionado uma
planta. A aplicação da ARC não alterou os teores dose de K equivalente a 3% da sua CTC atingindo,
de nutrientes e não foram observados sintomas de assim, a saturação máxima de 5% da CTCpH7 do
queima nas folhas das plantas (SOARES; DORNELES, solo. Considerando um solo com CTCpH7 igual a
2011). 6 cmolc dm-3, poderia ser adicionada uma dose
equivalente a 3% de 6 cmolc dm-3 resultando
em 0,18 cmolc dm-3 de K ou 70,2 mg.dm-3 de K.
9 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA Supondo que a ARC tenha um teor de K de 250
NA LAVOURA DE CAFÉ mg.L-1, deveria ser aplicada uma dose de 0,28 L
dm-3 ou 560 m3.ha-1 para fornecer 70,2 mg.dm-3.
A ARC contém elementos como N, P, K, Ca e Mg,
que podem ser aproveitados para nutrição das Para determinar a dose de ARC a ser aplicada,
plantas, além de matéria orgânica, que pode podem ser usadas as seguintes fórmulas:
melhorar condições físico-químicas e biológicas SKC = (TKS/390/CTC) x 100
do solo. Além de melhorar as condições de
fertilidade, a disposição da ARC no solo contribui DA = {[(5-SKC)/100 x CTC x 390]/ KA} x 2000, em que:
para aumentar a produtividade e melhorar a SKC = saturação de potássio (%);
qualidade dos produtos colhidos, bem como
diminui os riscos de poluição do ambiente TKS = teor de K no solo (mg.dm-3);
(MATOS; LO MONACO, 2003; LO MONACO, 2005; CTC = CTC potencial do solo determinada a pH 7
MATOS, 2008; ). (cmolc dm-3);
DA = dose de água residuária do café, em m3.ha-1;
9.1 DOSE DE ÁGUA RESIDUÁRIA A SER APLICADA KA = teor de K na água residuária do café (mg.L-1).
As doses de ARC devem ser planejadas objetivando Soares et al. (2013) aplicaram 0, 25, 50, 75 e
o fornecimento de nutrientes para as culturas, 100% da dose de ARC calculada para elevar a
e não para atender à necessidade hídrica das 5% a saturação por K na CTC do solo, igual a 200
plantas, caso em que poderia ocorrer excesso de m-³.ha-1. Os teores de K do solo e da ARC eram
alguns nutrientes, principalmente o K. Conforme 41 mg.dm-3 e 710 mg.L-1, respectivamente, e a
foi apresentado nas Tabelas 1, 2, 3 e 4, na maioria CTC de 5,75 cmolc dm-3. Usando esses dados e
dos casos, o K é o elemento encontrado em maiores as fórmulas anteriormente citadas, determinou-
quantidades nas amostras de ARC. se a dose a ser aplicada, igual a 200 m³.ha-1. A
Para calcular a dose a ser aplicada, é fundamental ARC foi aplicada sobre as folhas das plantas de
dispor dos dados da análise da ARC, uma vez que café com sete meses de idade. Quinze dias após
os teores são muito variáveis, especialmente se a a aplicação, foram coletadas amostras de solo
colheita está no início, meio ou fim, e se a unidade e folhas para determinação das características
de processamento reutiliza ou não a ARC. Isto químicas.
implica que a análise deva ser repetida ao longo Não foram constatados efeitos significativos
da colheita para que se tenha uma referência mais dos tratamentos sobre o pH, CTC e V do solo, e
adequada. sobre os teores de K, Ca e Mg nas folhas. O teor
A estimativa da dose a ser aplicada ao solo pode de K no solo aumentou com o aumento da dose
ser feita com base no teor de K da ARC. Para evitar a de ARC, contudo, não atingiu o limite de 5% da
lixiviação de K causada por doses excessivas, pode- CTC (Tabela 9). A elevação do teor de K ao limite
546 Café Conilon – Capítulo 22
de 5% da CTC é um critério que pode vir a ser o procedimento de reúso, o gasto poderá ser
adotado no cálculo da dose de ARC a ser aplicada reduzido para 0,8 L de água por litro de frutos,
na fertirrigação de culturas. A aplicação da água gerando 9,6 m3 de ARC por dia.
residuária não causou injúrias nas plantas de café
No caso da lavoura de café, a ARC pode ser
(Figura 16).
aplicada superficialmente, em sulcos construídos
entre as fileiras de plantas, em áreas planas ou em
Tabela 9. Teor de potássio (KS), pH, capacidade de
áreas com declividade, nas quais o plantio tenha
troca catiônica a pH 7,0, índice de satura-
sido realizado em curvas de nível (Figura 17A).
ção por bases no solo e teores de potássio
Supondo que a dose seja de 200 m³.ha-1, como no
(Kf ), cálcio e magnésio nas folhas de cafe-
caso do trabalho de Soares et al. (2013), citado no
eiros com a aplicação de doses crescentes
item 7.1, e que o espaçamento entre fileiras seja de
de de água residuária
3 m, seria aplicado 0,06 m3 de ARC por metro de
Ks V CTCT Kf Ca Mg
Dose
pH sulco. Admitindo que a unidade de processamento
L.m-2 mg.dm-3 cmolc.dm-3 dag.kg-1 gera 9,6 m3 de ARC por dia, esse volume poderia
0 44 4,50 29 7,59 1,35 0,85 0,24 ser usado em 160 m de sulco e seria preciso operar
5 61 4,28 23 8,22 1,29 0,80 0,27 20 dias para produzir a quantidade de ARC para
10 63 4,68 29 8,07 1,41 0,81 0,26 aplicar em 1 ha.
15 74 4,48 32 8,22 1,35 0,91 0,28
Se a unidade de processamento for posicionada à
20 92 4,32 26 10,21 1,35 0,73 0,23
montante da área a ser fertirrigada, a condução da
Fonte: Soares et al. (2013).
ARC até os sulcos pode ser feita a partir da caixa ou
tanque de recepção da ARC da própria unidade.
9.2 MODO DE APLICAÇÃO DA ÁGUA RESIDUÁRIA Caso o posicionamento seja à jusante, será preciso
uma bomba hidráulica para fazer o bombeamento
O planejamento do modo de aplicação é feito
da água até uma caixa posicionada de modo a
com base na quantidade de ARC que é gerada e
facilitar a condução da ARC até os sulcos. Para uma
vai ser aproveitada. Uma unidade que processa
distribuição mais uniforme da ARC, os sulcos devem
200 medidas de 60 L de frutos totalizando 12.000
ser subdivididos com barreiras de terra a cada 10 -
L, e gasta 3 L de água por litro de frutos, gera
15 m.
36 m3 de ARC por dia. Se essa unidade adotar
A B
Figura 16. Aplicação da água residuária (A); aspecto das plantas de café duas semanas após a aplicação da água
residuária (B).
Manejo da Água Residuária do Café Conilon 547
A B
Figura 17. Aplicação da água residuária do café em sulcos (A); aplicação da água residuária da cana com canhão
hidráulico (B).
A ARC pode ser aplicada por meio de carretas- não comprometer a sustentabilidade da produção
tanque de aplicação de adubos líquidos, do café cereja descascado.
tracionadas por trator. Essas carretas são dotadas
A diminuição do consumo de água vem
de bicos espalhadores, que possibilitam fazer a
acontecendo mediante o desenvolvimento
aplicação superficialmente, entre as fileiras de
de máquinas cada vez mais eficazes no uso da
plantas, em áreas planas ou de pouca declividade,
água, que deverão compor as novas unidades de
ou por aspersão, em faixas envolvendo várias fileiras
processamento de café. A redução do gasto de água
simultaneamente, em áreas planas ou com declive.
pode ser obtida com eficiência mediante ajustes
Nesse caso, a aplicação pode ser feita a partir dos
na unidade de processamento que possibilitem
carreadores. A ARC pode ser aplicada também
reusar a ARC no descascamento. Nesse caso, o
por meio de canhão hidráulico (Figura 17B),
gasto pode ser de 0,5 L de água por litro de frutos
por aspersão, em círculos com raio de aplicação
processados, sem comprometimento da qualidade
variando entre 30 e 100 m.
da bebida do café.
A ARC deve ser aplicada sobre a superfície do solo de
A ARC contém matéria orgânica e inorgânica
maneira homogênea, de modo a evitar a formação
constituída por elementos como N, P, K, Ca e Mg,
de poças próximas às plantas. Isso poderia causar
que podem ser aproveitados para nutrição das
deficit de O2 devido ao encharcamento e salinização
plantas; a matéria orgânica melhora as condições
do solo por excesso de nutrientes. Durante a
físico-químicas e biológicas do solo. Vários
aplicação, deve-se evitar o escorrimento superficial
autores recomendam que a ARC seja utilizada
para não causar erosão e a possível contaminação
para fertirrigação de culturas reduzindo o gasto
de corpos hídricos localizados próximos à área
com adubos. O reúso da ARC no processamento
fertirrigada.
aumenta sua concentração de nutrientes,
facilitando a logística de aplicação na lavoura.
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processamento dos frutos do cafeeiro possibilita 11 REFERÊNCIAS
obter o café cereja descascado, produto com valor ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
diferenciado no mercado; entretanto, consome NBR 13969. tanques sépticos - unidades de
muita água e gera ARC, com potencial de poluir tratamento complementar e disposição final dos
os corpos hídricos. É preciso especial esforço no efluentes líquidos: projeto, construção e operação.
sentido de desenvolver tecnologias para diminuir o Rio de Janeiro, 1997. Disponível em <http://www.
consumo de água e aproveitar os resíduos gerados acquasana.com.br/legislacao/nbr_13969.pdf>.
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548 Café Conilon – Capítulo 22
ANDRADE, F. V. Ácidos orgânicos e sua relacão com IEMA. Instituto Estadual de Meio Ambiente e
adsorcão, fluxo difusivo e disponibilidade de fósforo Recursos Hídricos. Instrução Normativa n° 19, de 4 de
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551
23
Qualidade e Classificação
do Café Conilon
Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca, José Altino Machado Filho,
Abraão Carlos Verdin Filho, Maria Amélia Gava Ferrão, Romário Gava Ferrão
e Míriam Helena Alves Eugênio
lheita (colheita seletiva, derriça no solo ou em penei- quando atende aos critérios estabelecidos pelos
ras), o tratamento pós-colheita (preparo via seca ou compradores que, valorizando adequadamente
úmida, descascado ou desmucilado, método de se- o produto de seu interesse, estimulam
cagem), o armazenamento, o beneficiamento e até o investimentos para a obtenção e manutenção da
transporte (CLIFFORD, 1985a; PRETE, 1992; TEIXEIRA, qualidade, além da estabilidade da oferta. Palacin
ALDIR; TEIXEIRA, ANA, 2001; MACÍAS; RIAÑO, 2002; et al. (2005) sumarizam que a qualidade de um
MALTA; NOGUEIRA; GUIMARÃES, 2002; MALTA et al., café no mercado pode ser definida como sendo o
2003; CHAGAS; MALTA; PEREIRA, 2005; BORÉM et al., somatório da presença de todos os atributos que
2008; EUGÊNIO, 2011; CORRÊA; OLIVEIRA; BOTELHO, satisfaçam as necessidades do consumidor.
2015).
A espécie C. canephora, apesar de introduzida
A qualidade sensorial da bebida do café é, via de no Brasil ainda no início do século XX, somente
regra, definida por seu aroma e sabor formados passou a ser explorada comercialmente a partir
durante torração, a partir de precursores presentes dos anos 60 (FONSECA, 1999; FONSECA; FERRÃO
nos grãos crus constituídos por diversos compostos M.; FERRÃO R., 2002). Sua maior expressão se deu
químicos. A presença desses precursores dependem, mais efetivamente a partir de 1970. O cultivo dessa
por sua vez, de fatores genéticos, ambientais e espécie vem se expandindo extraordinariamente
tecnológicos interagindo no decorrer do processo nos últimos anos em razão de sua participação
de produção, e sua transformação em compostos cada vez mais frequente e expressiva nos blends de
aromáticos é muito dependente das condições em torrados e moídos e do significativo aumento do
que a torra é realizada (BORÉM et al., 2008). consumo de café solúvel em todo o mundo, bem
como devido ao surgimento de inúmeras formas
Apesar da indiscutível importância da
alternativas de consumo, tendo em vista que a
caracterização da bebida para a classificação de um
espécie C. canephora é mais atrativa às indústrias
café, seja ele da espécie C. arabica ou C. Canephora,
por sua maior rentabilidade na produção dessas
esta não deve ser o único critério para a definição
formas de consumo (FONSECA et al., 2015).
da qualidade, pois ela envolve uma série de outros
aspectos que precisam ser considerados de forma A espécie, ao contrário do que pode parecer a
conjunta. Não existem critérios absolutos que princípio, confere ao produto final uma expressiva
permitam definir adequadamente a qualidade de capacidade de competição no mercado, tendo
um café considerando os pontos de vista de todos em vista seu maior rendimento industrial e por
os seguimentos envolvidos (RIBEYRE, 2007). suas propriedades, que podem auxiliar de forma
substancial na composição final de blends, com
Dessa forma, a qualidade de um café, de maneira
acidez mais equilibrada, corpo mais marcante
geral, é definida considerando-se desde os atributos
e creme mais denso nos cafés do tipo espresso
intrínsecos do produto até as características do
como também na sua comercialização, devido aos
processo através do qual foi obtido. Alguns atributos
menores preços praticados no mercado em relação
de qualidade de cafés verdes estão relacionados
aos cafés arábicas (FONSECA, 1999; RIBEYRE, 2007;
a características físicas, como tamanho dos grãos
FONSECA et al., 2015). Pode ainda ser utilizado na
(peneira) e número de defeitos (tipo) na amostra;
produção de bolos, balas, doces, sorvetes, biscoitos,
a características sensoriais, como Amargor, Acidez
compondo tanto isotônicos ou drinks com teor
e Doçura; e a características tecnológicas, como
alcoólico ou não como nas bebidas geladas, prontas
extratibilidade. São também utilizados como critérios
para o consumo ou em sachês, e até mesmo em
para a definição da qualidade a sua origem, os fatores
cosméticos, entre outras utilizações.
econômicos, sociais (comércios “justos”) e ambientais
(cafés orgânicos, ecológicos), além dos processos de Este capítulo objetiva discorrer sobre as questões
produção (boas práticas agrícolas). Podem também relacionadas à qualidade e classificação do café
ser oportunas descrições relacionadas a critérios conilon, focando, sobretudo, em suas propriedades
considerados para garantir a segurança alimentar físicas, químicas e sensoriais e buscando,
do produto (TEIXEIRA, ALDIR; TEIXEIRA, ANA, 2001; naturalmente, estabelecer paralelos com o café
RIBEYRE, 2007; BORÉM et al., 2008). arábica, além de voltar também a atenção às
características peculiares da espécie C. canephora.
Um café é classificado como de boa qualidade,
Qualidade e Classificação do Café Conilon 553
Vale ressaltar que o grande desafio da atualidade é tecnológicas (extratibilidade); d) critérios sociais ob-
constituir uma identidade para o café conilon res- servados no processo de produção; e) critérios rela-
peitando suas características próprias, descobrindo cionados ao meio ambiente; f ) segurança alimentar;
inúmeros atributos organolépticos, reconhecendo g) constância e estabilidade de oferta; h) origem; e
seu potencial e conferindo o devido valor à sua qua- i) preço.
lidade.
A Figura 1, apresentada por Ribeyre (2003), ilustra
algumas das características marcantes na distinção
2.2 ATRIBUTOS DA QUALIDADE PARA O CAFÉ entre um café conilon e um arábica. Observa-se que,
CONILON enquanto o arábica possui maior acidez e sabores
frutados, o conilon é caracterizado por corpo muito
É bastante comum, entre os produtores brasileiros mais acentuado, além de maior adstringência e
de café conilon, a crença de que a melhoria da maior amargor.
qualidade do produto não reflete em diferenciais
Corpo
expressivos no preço. A análise a ser feita, contudo,
5,0
deve levar em consideração, concomitantemente,
4,0
uma série de outros aspectos. Gosto de 3,0 Acidez
terra
É fundamental que se considere que o mercado 2,0
de café no mundo tem se tornado cada vez mais 1,0
exigente e que, tanto a recuperação dos mercados 0,0
atuais quanto a conquista de novos compradores e
a maior participação do conilon em todas as formas Gosto de
Amargor
de consumo de café, requerem que se observem verde
as preferências desses mercados, que dispõem de
muitas alternativas de fornecedores competitivos e
bastante afinados com tais exigências. Ademais, é
preciso considerar, também, que a grande maioria Frutado Adstringência
das atitudes que se traduzem em melhoria de arábica
qualidade do café não demanda custos adicionais robusta
tão expressivos a ponto de impossibilitar o Figura 1. Algumas características emblemáticas de distin-
atendimento das exigências contemporâneas ção entre os cafés arábicas e robustas.
e que, quando se evolui em qualidade, há um Fonte: Adaptado de Ribeyre (2003).
preparo, ou seja, se é um cereja descascado (CD) e a forma dos grãos. O aspecto leva em conta a
ou café natural, seco em terreiros de cimento ou homogeneidade das características. Entretanto,
em estufas. Apesar disso, indubitavelmente, o entre todas elas, destacam-se como as mais
processamento via úmida na produção de conilons importantes as avaliações quanto ao tipo,
CDs, desmucilados ou não, é uma forma que facilita peneiras e bebida, rotineiramente empregadas na
bastante o alcance da qualidade desejada. Isso se comercialização do café em todo o mundo (CLARKE;
deve ao fato de ele proporcionar redução dos riscos MACRAE, 1987; BANKS; MCFADDEN; ATKINSON,
de depreciação do produto, o que ocorre quando 1999; FRANCA et al., 2005). Detalhes dessas
do processamento para obtenção de cafés naturais, operações são apresentadas a seguir.
e por isso têm sido também comercializados com
A importância relativa de cada característica
sobrepreços expressivos (SILVA; MORELLI; VERDIN
encontra-se na destinação que se pretende dar ao
FILHO, 2015).
produto, se para a produção de café solúvel, torrado
Mesmo não sendo possível para determinados para expresso, torrado e moído, puro ou para blends,
cafeicultores o emprego imediato de todas as entre outras.
tecnologias e recomendações apresentadas nesta
obra visando a melhoria da qualidade do conilon,
sobretudo as presentes no capítulo 20 “Colheita 3.1 ASPECTOS GERAIS DA CLASSIFICAÇÃO OFICIAL
e Pós-colheita do Café Conilon”, a adoção, mesmo BRASILEIRA PARA CAFÉ (COB)
de apenas algumas delas, irá resultar em evolução A Classificação Oficial Brasileira para o Café (COB),
contínua, ainda que de forma paulatina visando à regulamentada pela Instrução Normativa nº 8,
fidelização do mercado já existente e abertura de de 11 de junho de 2003, do Mapa (BRASIL, 2003),
novas oportunidades de mercado, com a obtenção objetiva definir as características de identidade e de
de um produto de qualidade diferenciada (FONSECA qualidade para a classificação do café beneficiado.
et al., 1995). O grão cru de café beneficiado é classificado de
Desejável é que haja um despertar dos cafeicultores acordo com:
no que diz respeito às práticas apropriadas nas Categoria. Café da espécie C. arabica: categoria I;
etapas de produção do café para que haja cada vez café da espécie C. canephora: categoria II;
mais avanços na atividade como um todo, desde a
Subcategoria. Diz respeito à forma do grão cru:
produção até o consumo.
chatos ou mocas. Podendo ainda cada subcategoria
ser subdividida em função da peneira (chato
graúdo: peneiras 19/18 e 17; chato médio: peneiras
3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE E
16 e 15 e o chato miúdo: peneiras 14 e menores);
CLASSIFICAÇÃO DO CAFÉ CONILON
moca graúdo: peneiras 13/12 e 11; moca médio:
Como já mencionado anteriormente, seja para o peneiras 10; e moca miúdo peneiras 9 e menores.
café arábica ou robusta, uma série de características
Quando o café não for submetido à separação
podem ser utilizadas para a avaliação da qualidade
de acordo com o tamanho dos grãos, ou quando
do produto incluindo a cor, a forma, os métodos
se enquadrar em quatro ou mais peneiras, será
de processamento, a presença de defeitos, o
considerado bica corrida (B/C);
tamanho e a uniformização dos grãos (peneiras)
e, características químicas e sensoriais (CLARKE; Grupo. De acordo com o sabor e aroma através de
MACRAE, 1987; BANKS; MCFADDEN; ATKINSON, “prova de xícara” (Grupo I: cafés arábicas e Grupo II:
1999; FRANCA et al., 2005). cafés robustas/conilon).
Nas avaliações da qualidade quanto à cor, Subgrupo. De acordo com a qualidade da bebida,
consideram-se aspectos relacionados ao teor de os grãos de café robusta/conilon (Grupo II), podem
umidade dos grãos, índice de maturação, tempo ser classificados em quatro subgrupos: Excelente,
de exposição à luz, método de preparo e secagem Boa, Regular e Anormal.
e às condições do ambiente de armazenamento. Classe. Em função da coloração: Verde-azulada e
Já em relação à peneira, considera-se o tamanho Verde-cana, Verde, Amarelada, Amarela, Marrom,
Qualidade e Classificação do Café Conilon 557
propôs nova tabela para classificação da espécie C. e o sabor da bebida, prejudicando sensivelmente
canephora, na qual mantém as categorias (2 a 8) sua qualidade (CLARKE; MACRAE, 1987; FRANCA et
e aumenta o número de defeitos para cada uma al., 2005). Estudando o efeito da inclusão de grãos
delas. O autor propôs a seguinte classificação: a) defeituosos na composição química e qualidade
tipo 2 – até 6 defeitos; tipo 3 – até 12 defeitos; tipo do café arábica “Estritamente Mole”, Pereira (1997)
4 – até 25 defeitos; tipo 4 – até 50 defeitos; tipo 5 constatou que a inclusão desses grãos influencia
– até 100 defeitos; tipo 6 – até 200 defeitos; tipo 7 a qualidade da bebida e altera as características
– até 400 defeitos; e tipo abaixo de 8 – acima de sensoriais após a torração.
400 defeitos. Ressalta-se que essa proposta não
vem sendo utilizada rotineiramente, apesar de ter Tabela 2. Classificação oficial do café beneficiado quanto
sido útil no sentido de alertar para a necessidade ao tipo em função de defeitos em amostra de
300 g
de particularização da classificação do robusta/
conilon. Tipo Nº de defeitos/300 g
2 4
O CQI preconiza um roteiro de classificação de
2/3 8
bebida adaptado ao café conilon para a qualidade
3 12
da bebida dessa espécie seguindo, porém,
literalmente a tabela de pontos e equivalência de 3/4 19
Quadro 1. Atributos sensoriais levantados pela equipe de avaliadores, suas respectivas definições e referências que
ancoraram os extremos da escala não estruturada utilizada durante a fase de treinamento na Análise
Descritiva Quantitativa (ADQ)
Atributo Definição Referência das bebidas
Ausente: Bebida 100% conilon.
Aroma de Chocolate Associado ao aroma de chocolate.
Forte: Bebida 100% arábica (“Mole”).
Odor e sabor de grãos antigos armazena- Ausente: Bebida 100% arábica (“Mole”).
Aroma e Sabor Velho
dos em saco de estopa. Forte: Bebida 100% conilon safra 2005.
Ausente: Bebida 100% arábica (“Mole”).
Aroma e Sabor Cereal Aroma semelhante ao milho ou palha.
Forte: Bebida com 100% conilon.
Fraco: Bebida 100% conilon.
Associado à percepção de acidez refres- Forte: Bebida 100% arábica (“Mole”) adi-
Gosto Ácido
cante e efervescente na bebida. cionado de 0,05% de ácido cítrico mo-
nohidratado PA (ACS do Grupo Química).
Fraco: Bebida 100% arábica (“Mole”).
Gosto Amargo Associado ao amargor da bebida. Forte: Bebida 100% conilon com adição
de 0,1% de cafeína (Merck).
Ausente: Bebida 100% arábica (“Mole”).
Associado à sensação de secura deixada
Sensação na Boca de Adstringência Muito: Bebida 100% arábica (dura) adicio-
na boca após a ingestão.
nado de 0,1% de ácido tânico (Merck).
Tabela 3. Média de valores dos atributos sensoriais das bebidas de café obtida na Análise Descritiva Quantitativa (ADQ)
Bebidas
Para o processamento do café arábica, Lima Filho do gosto ácido e aumento da adstringência da
et al. (2011) constataram maior intensidade de bebida. A maior adstringência percebida em
aroma caramelizado na formulação 100% arábica bebidas de café conilon está relacionada com
descascado, quando comparada à formulação 100% a maior concentração de ácido clorogênico,
arábica natural (processamento via seca). Resultado também observada nessa espécie de café, quando
semelhante foi encontrado por Cortez (1996), que comparada ao arábica (DE MARIA et al., 1995).
verificou maior intensidade de aroma em bebidas Segundo Cortez (1996), a presença de grãos verdes
oriundas de grãos descascados em comparação também é responsável pela maior adstringência da
a bebidas oriundas de grãos naturais. De acordo bebida.
com Lima Filho et al. (2013b), o fundamental para
Quanto ao grau de torra, Moura et al. (2007)
obtenção de café conilon de qualidade superior é a
realizaram um estudo do efeito da variação do
qualidade da matéria-prima. O processamento dos
binômio tempo x temperatura de torração nas
grãos em estágio do cereja e realização adequada
características sensoriais do café arábica puro.
das etapas pós-colheita, evitando a ocorrência de
Foi verificado que o aumento linear do tempo
processos fermentativos indesejados, possibilitam a
e da temperatura diminuiu significativamente
obtenção de um produto final dentro dos padrões
a intensidade dos atributos aroma e sabor
para sua classificação na condição de café de
característicos, sabor chocolate e doçura, assim
qualidade superior.
como aumentou significativamente a intensidade
Para Lima Filho et al. (2013b), a grande vantagem dos atributos acidez e amargor.
do processamento via úmida está na utilização
Monteiro e Trugo (2005) avaliaram o gosto amargo,
de apenas grãos cereja e na maior facilidade de
sabor fermentado e sabor queimado de bebidas
se evitar processos fermentativos indesejados.
de café arábica com diferentes classificações
Entretanto, afirmam os autores, esse trabalho
de bebida (“Mole”, “Dura” e “Rio”) e diferentes
permitiu demonstrar que é possível obter bebida
graus de torra (clara e escura). As amostras de
encorpada e dentro dos padrões de qualidade
torra escura apresentaram maior intensidade e
utilizando a forma de processamento via seca (café
tempo de duração do estímulo nos atributos de
natural), processamento mais econômico que os
gosto amargo e sabor queimado; já as amostras
demais, desde que sejam processados apenas grãos
de torra clara obtiveram menor intensidade em
cereja e que seja evitada a fermentação indesejada
tais atributos. A amostra “Rio” obtida com grãos
do café.
de torra espresso foi a que apresentou maior
Santos (2010) verificou que o aumento da proporção intensidade de sabor fermentado. Schmidt,
de conilon nos blends contribuiu para a diminuição Miglioranza e Prudêncio (2008), em um estudo
564 Café Conilon – Capítulo 23
com arábica puro em diferentes pontos de torra quanto ao tipo, Cortez (2004) propôs também
e moagens, verificaram que as torras de média a um padrão sensorial específico para essa espécie
escura obtiveram maior aceitação por parte de (Quadro 2), mas que apesar dos esforços do autor,
consumidores. Entretanto, apesar da moagem mais também não satisfez e não vem sendo adotado de
fina ter uma maior preferência pelo aspecto, os forma ampla no comércio de café.
provadores não observaram diferenças sensoriais
no sabor. O aumento do número de trabalhos Quadro 2. Proposta de padronização para a avaliação da
visando ao estudo das características sensoriais de qualidade da bebida de café conilon
bebidas de café demonstra a maior preocupação Tipo Descrição sensorial
com a qualidade sensorial que vem ocorrendo ao Gosto característico de café conilon com
Suave
longo dos últimos anos. A proposta da Associação intensidade suave.
Brasileira da Indústria de Café (ABIC) de adoção de Média
Gosto característico de café conilon com
intensidade média.
critérios de qualidade mínima para a bebida de
Gosto característico de café conilon com
café evidencia ainda mais essa nova tendência pela Intensa
intensidade intensa.
busca da qualidade. Nessa adoção de critérios de
Outros gostos de origens diversas predo-
qualidade, os órgãos podem adotar o Nível Mínimo Gostos estranhos minando sobre o gosto característico do
de Qualidade (NMQ) igual ou maior a 4,5 pontos, café conilon.
ou se referir às categorias de qualidade: Tradicional, Fonte: Cortez (2004).
Superior ou Gourmet (ABIC, 2012).
3.4.2.3 Classificação sensorial proposta pelo CQI/
UCDA
3.4.2.1 Classificação da qualidade sensorial oficial
brasileira para o café arábica e conilon De forma geral, os provadores de café conilon
buscam, tradicionalmente, distinguir, nas avaliações
Através da IN 08 (BRASIL, 2003), a qualidade da
sensoriais, a presença de características que
bebida do café pode ser classificada em:
comprometam a qualidade do produto, atribuindo,
Arábicas: Bebidas Finas do Grupo I (Arábicas) - posteriormente, uma pontuação geral, que
“Estritamente Mole”, “Mole”, “Apenas Mole” e “Dura”. normalmente é tanto maior quanto mais neutra
for a bebida. Essa classificação está fundamentada
Bebidas Fenicadas do Grupo I (Arábicas): “Riada”,
na necessidade de levar em consideração, além
“Rio” e “Rio Zona”.
dos atributos que comprometem a qualidade, a
Robustas: Bebidas do Grupo II (Robustas): Excelente, presença daqueles que contribuem efetivamente
Boa, Regular e Anormal. para a qualidade final do café, tais como, no corpo
Essa proposta de normatização, contudo, não é mais acentuado e no equilíbrio da acidez em blends
adequada à classificação da qualidade da bebida e na maior densidade do creme em um espresso ou
do café conilon. O mercado de café tem buscado mesmo na maior extratibilidade, na industrialização
sistematicamente alternativas que satisfaçam, de cafés solúveis.
que sejam aceitas e adotadas por todos os Para que seja bem conduzida para a avaliação
seguimentos da cadeia em todas as partes do sensorial (também denominada “prova de xícara”),
mundo, especialmente nos últimos anos, quando no sentido de identificar com precisão os atributos
o crescimento da produção e do consumo de que qualificam o café, o provador deve possuir
robustas vem experimentando avanços muito adequada sensibilidade olfativa e gustativa para
mais significativos do que os apresentados pelos que possa diferenciar as várias nuances de aromas e
arábicas, detendo atualmente cerca de 40% do total sabores que se formam na bebida (ILLY, 2002).
produzido e comercializado no mundo.
Entre as metodologias empregadas, a preconizada
pela SCAA tem se tornado quase que uma
3.4.2.2 Classificação da qualidade sensorial propos- unanimidade com relação à avaliação da qualidade
ta por Cortez para o café arábica. A partir desse protocolo,
utilizado até bem pouco tempo atrás quase que
De forma semelhante à classificação do café conilon
exclusivamente para o café arábica, é que foi
Qualidade e Classificação do Café Conilon 565
adaptada a classificação sensorial para o café tempo de repouso das amostras após o volume
robusta/conilon, proposta pelo CQI, denominada do recipiente ter sido completado com água, a
de Fine Robusta Coffee Standards and Protocols: capacidade das colheres, as condições do ambiente
technical standards, evaluation procedures and e a dinâmica da operacionalização (CQI/UCDA,
reference materials for quality-differentiated Robusta 2015).
coffee (Normas e Protocolos para Classificação
Os grãos de café robusta/conilon, ao contrário dos
de Café Robusta de Qualidade: normas técnicas,
arábicas, não estralam tão acentuadamente quando
procedimentos de avaliação e materiais de
atingem o ponto de torra adequado. Segundo Lingle
referência para o café Robusta diferenciado por
(2011), seus grãos são, em geral, muito mais densos
qualidade (CQI/USDA, 2015).
que a maioria dos arábicas, além de mais resistentes
De acordo com esse protocolo, os testes sensoriais ao calor. Por isso, sua superfície deve refletir uma
tem como objetivo definir as diferenças sensoriais torra muito mais escura que a dos grãos de arábica
entre as amostras, descrever o seu sabor e, por para alcançar um desenvolvimento semelhante no
fim, determinar a preferência do degustador pelas sabor e na cor após a moagem.
amostras. Mas nenhum teste é capaz de tratar de
forma eficaz todas as questões relacionadas. É
importante que o degustador conheça os objetivos 3.4.2.3.2 A escala de qualidade (CQI/UCDA)
da avaliação que vai realizar. Os atributos de Os atributos específicos ao Flavor resultam nas
qualidade específicos são analisados com base pontuações positivas de qualidade, refletindo
na experiência do profissional, cada atributo de uma classificação pertinente ao julgamento do
Flavor é classificado numa escala numérica e, degustador, enquanto os defeitos resultam em
assim, as pontuações entre as amostras podem ser pontuações negativas, traduzindo as sensações
comparadas. desagradáveis de sabor. A pontuação geral é
Segundo Teixeira (2011), o método preconizado baseada na experiência sensorial do degustador e,
pelo Protocolo CQI de degustação para o café portanto, constitui-se em uma avaliação pessoal. Os
robusta/conilon, fornece um meio sistemático para atributos sensoriais são classificados em uma escala
a caracterização de dez atributos de qualidade no de 16 pontos que representam os níveis de qualidade
sabor do conilon como: Fragrância/Aroma Flavor, conforme apresentado na Tabela 4. A escala varia
Retrogosto, a Relação Acidez e Salinidade, Relação teoricamente a partir de um valor mínimo de 0 e um
Amargor e Doçura, Sensação na Boca, Equilíbrio, valor máximo de 10 pontos. A extremidade inferior
Corpo, Uniformidade, Limpeza e Impressão Geral. da escala (0,25 a 5,75) é aplicável a cafés comerciais,
A descrição dessas características, bem como toda que são avaliados principalmente por tipos de
a metodologia preconizada no Protocolo CQI (CQI/ defeitos e suas intensidades (CQI/UCDA, 2015).
UCDA, 2015), encontra-se transcrita nos itens que
se seguem. Os defeitos e as impurezas podem ser Tabela 4. Escala de qualidade do café segundo o Protocolo
CQI
identificados e registrados.
Bom Muito Bom Fino Excepcional
6,00 7,00 8,00 9,00
3.4.2.3.1 Preparo das amostras para degustação 6,25 7,25 8,25 9,25
k) Defeitos: São sabores negativos ou indesejáveis, 3.4.2.3.5 Passo a passo do processo de degustação e
cuja percepção depreciam a qualidade do café. São classificação sensorial
classificados em duas categorias: a) Um defeito De acordo com o Protocolo CQI (CQI/UCDA, 2015), o
leve pode ser notado, mas não predomina sobre processo de degustação e classificação sensorial do
os demais e habitualmente se encontra entre café se desenvolve seguindo-se os passos descritos
os aspectos aromáticos, recebendo a nota 2 por a seguir. As amostras devem primeiramente ser
sua intensidade; b) Um defeito grave em geral se inspecionadas visualmente para constatação da
encontra nos aspectos de gosto que predomina cor da torra. Esta é marcada no lado esquerdo
sobre os demais ou dá à amostra um paladar do formulário e pode ser usada como referência
muito desagradável e recebe a nota 4 por sua durante a verificação de um atributo de sabor
intensidade. O defeito deve primeiro ser classificado específico, particularmente se a torra da amostra
(leve ou grave), depois descrito (azedo, borracha, for muito clara ou muito escura. A sequência da
fermentado, fenólico, por exemplo), e a descrição avaliação de cada atributo se baseia em mudanças
anotada. O número de xícaras em que o defeito foi de percepção do sabor causadas pela redução da
encontrado deve então ser anotado, e a intensidade temperatura do café à medida que ele esfria.
do defeito registrada como 2 ou 4. A pontuação do
defeito é multiplicada pelo número de xícaras em 1º Passo: Avaliação da Fragrância/Aroma. Após 15
que ele é encontrado e subtraído da pontuação minutos da moagem das amostras, a Fragrância
total no cálculo do resultado final, de acordo com as Seca deve ser avaliada levantando-se a tampa e
instruções no formulário de degustação. cheirando o café moído. O tipo e intensidade da
Fragrância Seca são pontuados numa escala de 1
a 6 e então indicados no campo correspondente
3.4.2.3.4 Resultado final da avaliação sensorial pelo da escala vertical. O degustador também deve
Protocolo CQI/UCDA anotar o tipo da Fragrância Seca na pequena linha
O resultado final da avaliação sensorial pelo horizontal. Depois da infusão com água, deve-se
Protocolo CQI (CQI/UCDAO, 2015) é calculado manter a crosta, sem quebrá-la, por três minutos,
primeiro pela soma das pontuações de cada atributo no mínimo, e cinco, no máximo. A quebra da crosta
primário no campo “Total de Pontos”. O valor é feita mexendo-se três vezes, depois deixando a
correspondente aos defeitos é, então, subtraído do espuma escorrer pela parte posterior da colher e
total de pontos para se obter um resultado final. cheirando delicadamente o café. Tanto o tipo quanto
Com base na pontuação final, têm-se a chave da a intensidade do Aroma Molhado são pontuados
descrição da qualidade e respectiva classificação, numa escala de 1 a 6, depois indicados no campo
segundo os critérios do CQI (Tabela 5). correspondente da escala vertical. O degustador
também deve anotar o tipo de Aroma Molhado na
Tabela 5. Equivalência entre a pontuação total alcançada, pequena linha horizontal.
descrição da qualidade e classificação CQI Calcula-se então o total da pontuação da Fragrância
Pontuação Descrição da
Classificação
Seca e do Aroma Molhado e indica-se no formulário
Total Qualidade
o resultado conjunto de Fragrância/Aroma, com
90-100 Excepcional Muito Fino uma pontuação máxima de 10.
80-90 Fino Fino
2º Passo: Avaliação do Flavor, Retrogosto, Salinida-
70-80 Muito Bom Premium
de/Acidez, Amargor/Doçura e Sensação na Boca.
60-70 Médio Boa Qualidade Usual
Quando a amostra esfriar para 70 oC, 8-10 minutos
50-60 Razoável Boa Qualidade Usual
após a infusão, a avaliação da bebida pode começar.
40-50 Razoável Comercial A bebida é sugada para a boca de modo a cobrir a
< 40 Classificação Comerciável maior área possível, especialmente da língua e do
< 30 Abaixo da Classificação palato alto. Como os vapores convergem na área
< 20 Não Classificável retronasal em sua intensidade máxima nessas tem-
< 10 Escolha peraturas altas, Flavor e Retrogosto são avaliados
Fonte: CQI/UCDA (2015). nesse ponto.
Qualidade e Classificação do Café Conilon 569
À medida que o café continua a esfriar (entre 70ºC deve fazer um círculo no campo apropriado no
e 60ºC), os itens Relação Salinidade/Acidez, Relação formulário de degustação. Se uma mudança
Amargor/Doçura e Sensação na Boca devem ser precisar ser feita (se a percepção indicar aumento
avaliados: ou redução da qualidade de uma amostra devido
a mudanças de temperatura), fazer nova marca na
a) Relação Salinidade/Acidez é o equilíbrio relativo
escala horizontal e desenhar uma seta indicando a
entre as sensações criadas pelo sal, principalmente
direção da pontuação final.
em razão de níveis mais altos de potássio nos
Robustas, em contraste com os níveis normalmente 3º Passo: Avaliação do Equilíbrio, Uniformidade
mais baixos de ácidos orgânicos, particularmente o e Limpeza. À medida que a bebida se aproxima
ácido cítrico. Os Robustas “Finos” são caracterizados da temperatura ambiente (menos de 38 oC), os
por níveis mais baixos de sal, que produzem um atributos Equilíbrio, Uniformidade e Limpeza são
gosto “Duro” na xícara, e por níveis mais altos de avaliados:
ácidos orgânicos, que produzem um gosto “Mole” na
a) Equilíbrio é a avaliação do degustador de quão
xícara. Salinidade baixa é indicada na escala vertical
bem os atributos Flavor, Retrogosto, Sensação
de 1 a 6, em que o número mais alto representa uma
na Boca e Relação Amargor/Doçura se encaixam
percepção de um nível baixo de Salinidade. Acidez
numa combinação sinérgica. Os quatro atributos
alta é indicada na escala vertical de 1 a 6, em que
devem estar presentes em iguais intensidades
o número mais alto representa a percepção de um
para que haja “equilíbrio” na xícara. Quanto maior a
nível elevado de acidez. As duas pontuações são
intensidade, sem dispensar o Equilíbrio da bebida,
somadas para obter a avaliação total da Relação
mais alta deve ser a pontuação.
Salinidade/Acidez, com uma pontuação máxima de
10. b) Uniformidade e Limpeza são julgadas xícara por
xícara. No tocante a esses atributos, o degustador
b) Sensação na Boca é uma combinação de peso
faz um julgamento de cada xícara, dando 2 pontos
e textura. O peso provém das partículas fibrosas
pela Uniformidade e 2 pela Limpeza da Bebida
microfinas que os grãos absorvem do solo, e a
(pontuação máxima de 10).
textura provém dos óleos extraídos das partículas
de café suspensos na bebida. A avaliação tanto do 4º Passo: Avaliação do Conjunto e Total de Pontos.
peso (peso na língua comparado com água pura) A avaliação da bebida deve terminar quando a
quanto da textura (viscosidade comparada com amostra alcança 21 oC, e o Conjunto é determinado
água pura) é indicada nas escalas verticais de 1 a pelo degustador, que atribui à amostra “Pontos
6. As duas pontuações são somadas para obter a do Degustador” com base em todos os atributos
avaliação da Sensação na Boca, com uma pontuação combinados. Os pontos atribuídos a cada um dos
máxima de 10. dez atributos são então somados e indicados no
campo do lado direito do formulário, onde se lê
A Relação Amargor/Doçura é o equilíbrio relativo
“Total de Pontos”.
entre as sensações de gosto amargo e doce, em que
o resultado ideal corresponde a uma combinação 5º Passo: Avaliação final da qualidade e classificação.
de amargor baixo e doçura alta. A avaliação de Depois que se calcula o Total de Pontos, faz-se a
amargor baixo é indicada na escala vertical de 1 a 6, dedução dos pontos referentes a defeitos, leves
em que o número mais alto representa a percepção e graves, que se encontrem em qualquer uma
de um nível baixo de amargor. A doçura elevada é das cinco xícaras, e indicado no campo onde se lê
indicada na escala de 1 a 6, em que o número mais “Resultado Final”.
alto representa uma percepção de um nível alto
de doçura. As duas pontuações são somadas para
obter a avaliação total da Relação Amargor/Doçura, 3.4.3 Considerações sobre outros atributos
sensoriais característicos do café conilon
com uma pontuação máxima de 10.A preferência
do degustador por cada atributo é avaliada em O robusta/conilon tem demonstrado uma infinida-
diversas temperaturas (2 ou 3 vezes) à medida de de aromas e fragrâncias. Isso se deve às peculiari-
que a amostra esfria. Para registrar sua avaliação dades genéticas, condições edáficas de cultivo, tra-
da amostra na escala de 16 pontos, o degustador tos culturais e manejo de colheita e pós-colheita. Os
570 Café Conilon – Capítulo 23
plantios de cultivares clonais têm possibilitado ava- entre grãos efetivamente verdes e verdolengos já
liar e isolar uma gama de sabores, que podem ser próximos à adequada maturação, que apresentam
alvo de nichos de mercado altamente promissores. coloração muito próxima da normal e, por fim,
mescla de cores provenientes da secagem rápida
A maioria das salas de prova têm se utilizado de
em altas temperaturas (fogo direto), que atrapalham
vários termos para classificar sensorialmente a
a visualização da coloração natural dos grãos.
bebida do conilon. Entre eles, alguns referem-se
a nuances, como atributos positivos da bebida O defeito Fumaça é atribuído à presença de
e a defeitos como os atributos negativos, cujas forte odor característico que advém da secagem
características encontram-se descritas a seguir. utilizando madeira úmida proveniente da
combustão de espécies não indicadas, uso de casca
As nuances mais citadas do café conilon são
de café úmida e secagem com emprego de fogo
a frutada e a amadeirada. Os dois termos vêm
direto. O café que apresenta esse defeito tem sido
sendo utilizados para, de certa forma, caracterizar
rechaçado por compradores mais exigentes.
o grau de doçura ou aspereza da bebida. O sabor
frutado, muitas vezes se apresenta em amostras O defeito Borracha é uma característica
com maior nível de doçura, uma fermentação leve apresentada nos cafés processados em fornalhas
acentuando sabores análogos aos de frutas. A de fogo direto em secagens rápidas e a altas
nuance amadeirada advém de uma percepção mais temperaturas. Está também associada à presença
áspera da bebida, mais adstringente, com notas de muitos grãos verdes. Também é uma
de madeiras ou ervas. Em avaliação de qualidade característica de xícara que desvaloriza muito
de bebidas em experimentos com cultivos o café do mercado. Há também um certo fundo
sombreados e não sombreados, foram observadas rançoso, persistente, associado a esse atributo.
distinções quanto a essas nuances, onde o frutado é
O defeito Químico encontrado na xícara é atribuído,
mais observado em plantas conduzidas a pleno sol
na verdade, a uma soma de vários defeitos e na
e o amadeirado em plantas cultivadas sob efeito de
sua característica “persistência” acentuada. Ocorre
sombra de árvores (CQI/USDA, 2015).
em amostras de café que geralmente extrapolam
O Corpo é um atributo que vem sendo bastante a tabela de tipo com grande escore de pontos por
utilizado e está quimicamente relacionado aos defeitos.
teores de sólidos solúveis. Esse atributo refere-
O defeito Ranço está relacionado a uma
se ao “peso” da bebida no paladar, à sensação de
fermentação butírica, também associada a uma
preenchimento e à permanência na cavidade oral.
secagem em altas temperaturas, em que os lipídios
É a percepção táctil de oleosidade, viscosidade e
naturais do café extravasam as membranas e são
volume na boca, podendo variar de encorpado a
decompostos através de reações de oxidação pelo
semiencorpado (PAIVA, 2005).
oxigênio do ar. Assemelha-se ao que acontece com
Para o café conilon, não era muito aceitável seu a manteiga derretida e descrito como um “gosto de
uso, pois considerava-se que, em relação ao sebo” persistente na língua.
arábica, todos os “conilons” seriam considerados
O defeito Terra surge da colheita realizada jogando-
encorpados. Porém, nos últimos anos, dentro
se o café no chão ou quando há a secagem em
de um universo de amostras avaliadas de café
terreiros de terra. Essa imperfeição está associada
conilon, foram observadas variações sensíveis
a um odor de terra molhada. Não é um defeito
nessa característica, à qual podem-se atribuir
considerado grave quando acontece em níveis
graduações. Essa variação tem sido observada
leves.
em função do processamento pós-colheita
(descascamento, desmucilagem, etc). Quanto ao Fermentado, é proveniente de diversos
fatores supracitados. Vale aqui acrescentar o
O Verde Característico é um atributo conferido
cuidado na percepção desse defeito, pois há níveis
ao café que, mesmo com baixa pontuação desse
e tipos de fermentações que são aceitáveis ou
defeito na classificação por tipos, ainda assim,
mesmo desejáveis no café, conferindo-lhe atributos
apresenta certa adstringência na “prova de xícara”.
de frutas maduras ou vinhos, acidez lática, sabores
São vários fatores que dificultam a separação
exóticos e complexos.
Qualidade e Classificação do Café Conilon 571
estampadas ao lado da categoria. Define-se, assim, essas variações à luz das possibilidades da
o perfil de cada café em função da bebida, torração, influência dos fatores genéticos e ambientais e das
moagem, sabor, corpo, aroma e tipo de café. condições em que são produzidos e processados,
Explicita-se, ainda, quando se trata de arábica puro, de forma a evitar interpretações equivocadas.
robusta/conilon puro ou um blend entre ambas,
especificando-se a predominante. Tabela 6. Teores de alguns constituintes de grãos crus e
torrados de café arábica e conilon
As normas do programa em questão, bem como
todas as atualizações realizadas, encontram- Composição Média (%)
Constituintes Arábica Arábica Conilon Conilon
se disponíveis no site da ABIC, em ‘Programa
Cru Torrado Cru Torrado
de Qualidade de Café – PQC’, na aba ‘Norma de
Cafeína 0,9-1,2 1,0-1,3 1,6-2,0 1,7-2,4
Qualidade’ (ABIC, 2004, 2013).
Trigonelina 1,0-1,2 0,5-1,0 0,7-1,0 0,3-0,7
Cinzas 3,0-4,2 3,0-4,5 4,0-4,4 4,0-6,0
5 CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS DO Ácidos
5,5-8,0 2,5-4,5 7,0-10,0 3,8-4,6
Clorogênicos
CAFÉ
Outros Ácidos 1,5-2,0 1,0-2,4 1,5-2,0 1,0-2,6
O café é reconhecido como uma das commodities Sacarose 6,0-8,0 0,0 5,0-7,0 0,0
com composição química mais complexa. Os Açúcares
0,1-1,0 0,2-0,3 0,4-1,0 0,2-0,3
diferentes compostos químicos que constituem os Redutores
grãos reagem e interagem em todos os estágios do Polissacarí-
44,0-55,0 24,0-39,0 37,0-47,0 25,0-37,0
processamento do café, resultando em um produto deos
final com grande complexidade e diversidade (ILLY; Proteínas 11,0-13,0 7,8-10,4 11,0-13,0 7,8-10,4
VIANI, 2005; ALESSANDRINI et al., 2008). Aminoácidos 0,5 0,0 0,8 0,0
Lipídeos 14,0-16,0 14,0-20,0 9,0-13,0 11,0-16,0
Segundo Clifford (1975), os principais componentes
químicos presentes no café são conhecidos há Sólidos
23,8-27,3 26,8-30,1 26,0-30,0 28,0-32,0
Solúveis
muito tempo. Entre eles, a cafeína é um dos que
Fonte: Clarke (2003).
vêm merecendo atenção especial pelo fato de
posssuir efeito estimulante em função de seu
antagonismo com receptores de adenosina no Santos et al. (2013b), visando estudar o efeito da
cérebro (FREDHOLM et al., 1999) cafeína e dos ácidos clorogênicos sobre doenças
neurológicas, verificaram conteúdo de alguns
De acordo com Lima Filho et at. (2013a), a importantes componentes encontrados em grãos
composição físico-química do café está relacionada crus (Tabela 7) e torrados (Tabela 8) de ambas as
com as características sensoriais do produto final e espécies, respectivamente.
definem a qualidade final da bebida. Entretanto, as
caracterizações sensorial e físico-química do café Fonseca et al. (2011), estudando a composição
mostram-se bastante complexas, uma vez que são química de um grupo de 49 clones de C. canephora
influenciadas por diversos fatores, o que demanda selecionados pelo programa de melhoramento
inúmeros estudos a fim de elucidar os que garantem genético conduzido no Incaper, avaliaram os
cafés de melhor qualidade. teores de cafeína, trigonelina, ácidos clorogênicos
e sólidos solúveis totais. Verificaram expressiva
Segundo Clarke (2003), a composição química variação entre os diferentes clones analisados, com
(Tabela 6) varia de acordo com a espécie e essa valores extremos de 1,51% a 2,64% para cafeína; de
diferença contribui para que os grãos crus, quando 0,64% a 1,30% para trigonelina; de 3,61% a 5,64%
submetidos aos tratamentos térmicos, forneçam para ácidos clorogênicos e de 29,36% a 36,36%
bebidas com características sensoriais diferenciadas. para sólidos solúveis. Os resultados obtidos,
É bastante frequente que resultados encontrados caracterizam a existência de variabilidade genética
em trabalhos realizados com os mais diversos significativa para as características estudadas,
objetivos apresentem pequenas variações na bem como a possibilidade de seleção de plantas
composição química de cafés arábicas e robustas/ possuidoras de características qualitativas mais
conilon. Contudo, é necessário que se analisem específicas e de maior interesse comercial.
Qualidade e Classificação do Café Conilon 573
redutores, originando compostos responsáveis café, pois podem, durante a torra, ser acumulados
pela coloração marrom do café torrado, além de nas porções mais externas dos grãos, agindo como
promoverem a formação de diversos compostos protetores em relação às perdas de importantes
voláteis importantes para o aroma e sabor da substâncias envolvidas na formação do aroma,
bebida (CARVALHO; CHAGAS; SOUZA, 1997; estando quase sempre presentes nessas áreas, em
FLAMENT, 2002, RODARTE, 2008; EUGÊNIO, 2011). café de melhor qualidade, apresentando-se com
corpos lipídicos bem definidos no interior dos
Moura et al. (2007) observaram que com o aumento
protoplastos (PÁDUA et al., 2002). A distribuição
do porcentual de café conilon na composição de
de lipídeos nos tecidos em grãos torrados, de
blends com café arábica, há uma proporcional
forma dispersa e irregular, dentro das células e nos
redução da quantidade de açúcares não redutores
espaços intercelulares está quase sempre associada
no produto final, independentemente dos valores
a cafés de qualidade inferior (GOULART et al., 2007;
de açúcares totais, que permanecem inalterados
RODARTE, 2008).
com as diferentes composições.
Resultados semelhantes foram encontrados
A cafeína é um dos componentes mais conhecidos
por Ribeiro et al. (2014), que concluem que há
do café. Entre os mais divulgados atributos da
mudanças expressivas dos atributos sensoriais
substância, encontram-se, já cientificamente
em função da composição das espécies C. arabica
comprovados, seu efeito estimulante do sistema
e C. canephora nos diferentes blends. Segundo
nervoso central e da musculação cardíaca e redução
esses autores, à medida que se eleva a proporção
do sono (MONTEIRO; TRUGO, 2005). Possui sabor
de canephora nos blends, observa-se redução das
amargo, é inodora e resistente à torra, não sendo
notas para os atributos Fragrância, Aroma e Acidez,
reduzida pelo processo, mesmo que mais intenso
Extrato Etéreo e de Açúcares Totais e Não Redutores
(FARAH et al., 2005).
e aumento para os atributos Amargor e Corpo, ao
Em cafés comerciais, torrados e moídos, os mesmo tempo que se constata maiores teores de
diferentes teores de cafeína encontrados vêm cafeína, sólidos solúveis e polifenóis.
sendo atribuídos por diferentes autores à utilização
A trigonelina é uma N-metil betaína, importante
de maior ou menor porcentual de café conilon
para o sabor e aroma do café. Ela contribui para
nos respectivos blends (MONTEIRO; TRUGO, 2005;
o aroma por meio da formação de produtos de
SOUZA et al., 2010), já que Moura et al. (2007),
degradação durante a torração e, entre esses
além de muitos outros, comparando amostras
produtos, estão as piridinas e o N-metilpirrol
de ambas as espécies, concluem que a presença
(MONTEIRO; TRUGO, 2005). O café é um dos únicos
desse alcaloide é substancialmente maior em C.
produtos que, mediante um processo tão drástico
canephora, e que, devido à sua elevada estabilidade
como a torração, produz uma vitamina importante
térmica, mesmo os cafés torrados ou torrados e
para o metabolismo humano, a niacina. Durante
moídos refletem o teor original desse componente
a torração, a trigonelina sofre desmetilação para
nos grãos (SOUZA et al., 2010).
formar a niacina em quantidades próximas de 20
Durante o armazenamento, o café fica sujeito a mg 100 g-1 de café torrado (MONTEIRO; TRUGO,
uma série de alterações na sua qualidade que, 2005).
para serem evitadas, requerem cuidados diversos.
Diversos autores relatam que a variação do teor de
A deterioração da qualidade da bebida do café
trigonelina varia com a espécie do grão, sendo o
é influenciada por diversas reações químicas,
arábica o que apresenta maiores valores (CLARKE;
destacando-se entre elas a oxidação de lipídeos
MACRAE, 1989; DAGLIA et al., 2004; SOUZA et al.,
que se efetivam normalmente no decorrer do
2010). O processo de torração também influenciará
processo de armazenamento e podem favorecer
no conteúdo desse componente nos grãos. No
importantes alterações da qualidade do produto,
entanto, aqueles submetidos a processo de
notadamente no que diz respeito ao seu sabor e
torração mais drástico apresentarão menor teor
aroma (PÁDUA et al., 2002).
desse constituinte (MONTEIRO; TRUGO, 2005).
Lipídeos são capazes, por outro lado, de exercer
Farah et al. (2005) concluíram que bebidas
papel importante para a melhoria da qualidade do
Qualidade e Classificação do Café Conilon 575
Tabela 9. Conteúdo de ácidos clorogênicos em amostras de Coffea arabica e Coffea canephora expresso em porcentual,
em grama de matéria seca, encontrado por diversos autores
Amostras CQA FQA diCQA CGA Total Referências
C. arabica 5,76 0,25 0,87 6,88 Trugo e Macrae (1984)
C. arabica var. Caturra 4,63 0,33 0,66 5,62 Clifford e Ramirez-
C. arabica var. Bourbon 4,77 0,34 0,56 5,67 Martinez (1991)
Em seu estudo, Farah e Donangelo (2006) de inibir a degradação oxidativa e também pelo
acrescentam, ainda, que os principais grupos de desenvolvimento de outros compostos bioativos.
ácidos clorogênicos encontrados nos grãos de café Daglia et al. (2008), estudando o isolamento
verde são os ácidos cafeoilquínicos, dicafeoilquínicos, de componentes de alto peso molecular e a
feruloilquínicos, p-cumaroilquínicos e ésteres contribuição da atividade protetora do café contra
mistos dos ácidos cafeico e ferúlico com ácido a peroxidação lipídica no sistema de microssomos
quínico, com pelo menos três isômeros por grupo. em fígado de ratos, observaram que os compostos
E acrescentam os efeitos que eles podem sofrer de alto peso molecular (>3500dA) foram capazes
durante o processamento do café, a exemplo, a de inibir a atividade antioxidante completamente
parcial isomerização, hidrólise ou degradação a (100%), enquanto os compostos de baixo peso
compostos de baixo peso molecular. Outra questão molecular (<3500dA) inibiram em 52% a atividade
importante que Farah et al. (2005) e Monteiro e Trugo antioxidante.
(2005) discutem quanto aos ácidos clorogênicos é a
sua interferência na qualidade de bebida, pois há
expressivo aumento de seus teores em grãos que 6 DESCRIÇÃO DOS DEFEITOS, CAUSAS
apresentam defeitos, como imaturos, pretos, verdes E RELAÇÃO COM A QUALIDADE
e ardidos.
A caracterização dos defeitos encontrados no café,
De acordo com Halsted, citado por Lima et suas causas e influência na qualidade do produto,
al. (2010), o café é considerado um alimento apresentada a seguir de forma resumida, foram
singular, pois apesar da degradação parcial dos adaptadas de CQI/USDA (2015).
compostos fenólicos durante a torração, possui
atividade antioxidante por ter alta capacidade
sequestradora de radicais livres (DPPH), ou seja,
Qualidade e Classificação do Café Conilon 577
aparência do café verde e pode causar danos aos e no peso de grãos verdes e torrados e gera uma
equipamentos de torrefação. bebida fermentada, suja, mofada. É tanto mais
comprometedora quanto mais internamente no
Podem ser evitados ou removidos pela adequada
grão se instala a praga. Pode oferecer risco de
manutenção dos equipamentos, colheita seletiva,
ocratoxina (OTA).
uso de tanques de flutuação para pré-limpeza,
higienização constante dos despolpadores e Grãos severamente danificados pela broca podem
terreiros de secagem. Nos casos de processamento ser separados logo na lavagem do café usando-se
seco ou natural, devem ser usados equipamentos, tanques de flutuação e de fermentação. Podem
como catadores de pedras ou mesas de gravidade. ser também retirados por mesas dessimétricas.
Pequenos danos, por outro lado, são muitas vezes
difíceis de retirar devido à pequena diferença de
Grãos secos ou cocos
peso em relação aos grãos normais.
Causados por falta de água e/ou ocorrência de
O controle da broca pode ser feito de forma eficaz
pragas e doenças que podem provocar a seca do
integrando-se técnicas de manejo da cultura e da
fruto ainda preso à planta ou o seu desprendimento
colheita a alternativas de controle químico e, até
e queda no solo. Esses fatores acarretam grãos
mesmo, ao controle biológico. O emprego de arma-
fermentados, mofados, percepção de terra e
dilhas pode ser uma boa alternativa para redução
substâncias fenólicas nas análises de degustação.
de broca.
A presença de grãos secos ou cocos é também
resultado de falhas de remoção desse tipo de grão
nos removedores ou nos tanques de flutuação. Grãos quebrados/cortados/dilacerados
A presença de cocos afeta a aparência dos grãos São, via de regra, causados pelo processamento,
verdes. A casca, uma vez torrada, proporciona sobretudo, no despolpamento ou descascamento
aromas de fumaça e carvão, acarretando sabores mecânico dos frutos. Quando o despolpador estiver
amargos e desagradáveis. Previne-se sua ocorrência descalibrado, pode exercer uma pressão excessiva
evitando-se a colheita de grãos secos do chão ou no grão, causando sua quebra ou esmagamento.
da planta, notadamente os colhidos de galhos Podem também originar-se no processo de
secos e mortos. O contínuo manejo da lavoura, com beneficiamento, pela secagem excessiva dos grãos
fertilização adequada é recomendado para manter que se quebram mais facilmente quando em
a lavoura sadia e vigorosa. atrito com as paletas dos equipamentos. Provoca a
percepção de terra, sujeira e sabores fermentados
na bebida e afeta a aparência dos grãos verdes e a
Grãos brocados
uniformidade na torra.
Os prejuízos provocados pela broca-do-café
A colheita seletiva promove certa uniformidade no
podem ser classificados segundo a intensidade
tamanho dos frutos a serem processados e pode
do dano causado. Pequenos danos, quando são
reduzir substancialmente a ocorrência do defeito.
encontrados entre uma e duas perfurações/grão, e
Deve-se ainda ajustar os despolpadores e os
danos severos, quando são detectados três ou mais
equipamentos de beneficiamento visando a evitar
perfurações/grão.
pressão e fricção muito elevadas no processamento.
Vega et al. (2009) acrescentam que a broca-do-
café (Hypothenemus hampei Ferrari), um pequeno
Grãos imaturos/verdes
besouro, muito adaptado em áreas que cultivam
café, é praga de maior relevância à cultura do café Grãos imaturos ou verdes são aqueles colhidos sem
em todo o mundo. As fêmeas adultas depositam estar ainda totalmente desenvolvidos. Eles não
seus ovos em uma perfuração que fazem no fruto, e, atingiram seu peso ideal e a quantidade de açúcar
após a eclosão, as larvas alimentam-se das sementes, máxima. Ocorrem em consequência da colheita
reduzindo o rendimento e compromentendo a realizada muito precocemente ou devido à derriça
qualidade do produto comercial. Segundo esses de frutos provenientes de diferentes floradas em
autores, a ocorrência da praga impacta na aparência uma única ocasião.
Qualidade e Classificação do Café Conilon 579
Podem ser evitados com planejamento adequado ser provenientes de questões genéticas, de alta
das operações na lavoura utilizando-se de cultivares temperatura durante o processo de secagem,
que apresentam maior uniformidade de maturação. de desequilíbrio nutricional, de estresse hídrico
O controle da aplicação de água por irrigação pode produzido por plantas mais velhas ou de
auxiliar na concentração da florada. armazenamento em locais úmidos e muito claros, e
por muito tempo.
Grãos verdes podem ser separados dos mais secos
ou passas por densidade no procedimento de lava- No processamento, a presença de grãos
gem dos frutos, e dos maduros ou cerejas durante esbranquiçados indica uma secagem de má
o descascamento ou despolpamento. Influenciam qualidade. Contribui para nuances de madeira,
na bebida por acarretar aromas e sabores de verde, papelão, bambu, aromas de cereais e alta
grama, lembrança de bambu, cereal ou amargo, adstringência. Afeta a aparência dos grãos, os quais
além de impactar na aparência do grão torrado. tendem a queimar quando torrados com outros
normais.
Grãos chochos
Grãos malgranados/esponjosos
São causados por falta de água suficiente durante a
fase de desenvolvimento dos frutos, do vigor e da Originam-se de lavouras malnutridas, conduzidas
nutrição das plantas. Afeta a aparência do grão e a com estresse hídrico e de plantas mais velhas.
uniformidade da torra, provocando sabor de verde, Excesso de umidade, temperaturas altas, danos
grama, com lembrança de bambu, promovendo re- mecânicos e atividade microbiológica podem
trogosto adstringente, formar grãos malgranados (morte do embrião,
degradação da matéria orgânica, perda de peso).
O sombreamento e irrigação auxiliam a redução
de sua ocorrência. Sombreamento e técnicas No processamento, a presença de grãos
de manejo adequado do solo, assim como boa malgranados indica um processo pós-colheita
nutrição, reduzem os impactos dos chochos na realizado de forma inadequada. Grãos esponjosos
qualidade do produto. Contudo, como a maioria dos são causados por secagem e armazenamento
grãos chochos é menos densa, pode ser facilmente impróprios. Pergaminho ou coco presos em
retirada em tanques de limpeza. máquinas de secar ou despolpar retêm umidade
excessiva e podem contribuir para o aparecimento
de grãos esponjosos.
Grãos conchas
Esse defeito afeta a aparência dos grãos, os quais
São oriundos de um fenômeno natural causado
tendem a se queimar quando torrados com outros
pela genética do café. Conchas não conferem sabor
normais. Influencia na qualidade da bebida,
intrínseco que comprometa a bebida, porém esse
acarretando nuances amadeiradas, de papelão, de
tipo de grão pode originar uma torra desigual pela
arbustos, aromas de cereal.
facilidade de se queimar durante a operacionaliza-
ção do processo, resultando em aromas e sabores Grãos malgranados podem ser prevenidos com a
de queimado, carvão e fumaça. seleção das melhores cultivares, com a correta nutri-
ção das plantas, utilização de podas, renovação das
Deve se evitar o plantio de cultivares que
lavouras e manejo adequado do solo. Mesas densi-
sabidamente são portadoras de elevada taxa de
métricas ajudam na seleção e separação dos grãos
ocorrência desse defeito. Durante o processamento,
com esse defeito.
a separação dos grãos conchas pode ser realizada
por tamanho ou com a ajuda de uma mesa
densimétrica. Grão ‘pergaminho’
São aqueles oriundos de frutos imaturos ou
Grãos esbranquiçados deformados que permanecem muito colados ao
pergaminho. Esse defeito é indicativo de mau
A ocorrência de grãos esbranquiçados não é
processamento, devido a uma imprópria calibração
bem elucidada, porém acredita-se que podem
da máquina de despolpar ou beneficiar, além
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Qualidade e Classificação do Café Conilon 585
24
Industrialização do Café Conilon
Fernando Fernandes, Camila Régia Arcanjo Teles e Nathan Herszkowicz
em moléculas menores, como glicose, frutose, foi utilizado um tempo mínimo de 9 e máximo de
galactose, manose, sendo os mais importantes 14 minutos, conforme Protocolo CQI (Coffee Quality
os açúcares redutores que, junto com alguns Institute) para robusta, no qual é citado que nessa
aminoácidos (resultante da quebra de proteínas), espécie os grãos são geralmente mais densos que
são responsáveis pela cor marrom, descritos por os de arábica e apresentam maior resistência ao
Maillard1, e por aproximadamente 450 compostos calor, e que por essa razão precisam apresentar uma
com propriedade sensorial (FORS, 1983). torra de média à média escura, ou seja, uma leitura
#45 Agtron para grãos inteiros e #75 para moído.
A Tabela 1 mostra o teor de sacarídeos ou açúcares
Adicionalmente, sugere a espera do primeiro crack2
presentes em café verde de diferentes países.
antes de finalizar a torra.
Observa-se, no café robusta, menor teor de sacarose
e maior de frutose, o que pode influenciar de forma Na Figura 1, são mostradas curvas experimentais
direta as reações de Maillard, tanto na transformação de torra para conilon CD3 e arábica CD, utilizando
da cor verde para o amarelo palha comparados ao parâmetros semelhantes e modificados em relação
arábica como no tempo de formação de compostos ao tempo e temperatura de torra.
voláteis.
As amostras de conilon com diferentes tratamen-
Os impactos da torra em robustas sempre são tos de torra apresentados na Figura 1 e submetidas
objetos de estudos e sugerem que a blendagem à avaliação sensorial através de teste de diferença
de cafés seja feita após a torra, e não antes como não direcional (triangular) não apresentam diferen-
realizado majoritariamente. Algumas comparações ça sensorial ao nível de 5% de significância, mas al-
de processo podem indicar uma alteração na guns atributos percebidos pelos provadores, como
qualidade final do produto. aroma menos intenso, com notas de cereal ou pipo-
ca para o conilon CD (padrão),e aroma intenso, rico
Vários trabalhos vêm sendo realizados em torrador
lembrando castanha, picante e encorpado para co-
de tambor rotativo com chama direta utilizando
nilon CD (modificada), mostram que uma pequena
parâmetros de torra específicos para grãos arábicas
modificação no processo pode valorizar o uso dos
para preparar amostras de arábica CD e conilon CD
grãos C. canephora (robusta ou conilon) no blend.
(padrão). Para amostras de conilon CD (modificada),
Tabela 1. Teor de açúcar em grãos de café arábica e robusta obtidos de diferentes origens
Local/Café Sacarose Frutose Glicose Manose Arabinose Total
Café Arábica
Colômbia 8,2 0,15 <0,01 ND <0,01 8,35
Salvador 7,3 0,02 <0,01 ND 0,09 7,43
Brasil 6,65 0,15 <0,01 0,02 0,15 6,87
Quênia 8,45 0,02 <0,01 <0,01 0,07 8,55
Tanzânia 7,55 0,2 0,45 0,08 0,05 8,33
Etiópia 6,3 0,4 0,4 ND <0,01 7,1
Nova Guiné 7,7 0,07 <0,01 ND 0,06 7,84
Leste da Índia 6,5 0,04 <0,01 ND 0,1 6,64
Café Robusta
Madagascar 3,9 0,25 <0,01 ND 0,12 4,29
Camarões 3,2 0,3 <0,01 ND 0,09 3,6
Costa do Marfim 3,4 0,35 0,2 ND 0,09 4,06
Indonésia 1,25 0,25 <0,01 0,06 0,05 1,56
Filipinas 4 0,4 0,35 0,02 0,1 4,87
Fonte: Bradbury (2001).
Expresso como percentual de base seca. 2
Cracks: são picos de intensidade alcançados pelos grãos durante o processo de
torrefação (parecido com estouro de pipoca), no qual os gases em alta temperatura se
1
Louis-Camille Maillard, químico francês que descreveu, em 1912, a reação entre expandem aumentando o volume dos grãos e dando a eles aparência de café torrado.
aminoácidos e açúcares redutores. 3
CD Cereja Descascado.
590 Café Conilon – Capítulo 24
Experimental Torra Padrão Conilon CD características de sabor e aroma tão distintas nessa
Experimental Torra Modificada Conilon CD
Experimental Torra Padrão Arábica CD
bebida. O grau de torração e a maneira como o calor
Aproximação Torra Padrão Conilon CD é transferido para o grão pode acentuar ou diminuir
Aproximação Torra Modificada Conilon CD
essas características.
Temperatura
cilindro tem uma concepção fabril mais barata. É acelerado de acordo com o que se requer para uma
por isso que a escolha do equipamento de torra boa qualidade de torra. Cada um desses tipos de
torna-se extremamente técnica, devendo levar em reações químicas corresponde a fases no processo
consideração as formas de transmissão de calor e de torra e provoca nos grãos resultados distintos.
o controle de como ele é fornecido ao longo do Assim, também o controle do fornecimento de calor
processo. deve observar essas diferenças e dar o tratamento
mais adequado para cada fase.
Uma modificação importante vista nos torradores
atuais é a fonte de calor. Em vez de lenha ou carvão, Nas transformações de Maillard, tipicamente ocorre
eles usam óleo diesel ou gás, sendo este último o que a redução do teor de açúcares presentes nos grãos,
permite melhor qualidade de controle do processo. já que esse complexo conjunto de reações envolve
O gás é um combustível seguro, e o controle da sua a combinação de açúcares com aminoácidos. Essas
vazão permite que a temperatura ao longo da torra reações estão presentes na preparação de vários
varie com precisão de acordo com as preferências alimentos. Diversos processos, com seus respectivos
do mestre de torra. aromas resultantes, em que as reações de Maillard
são preponderantes, podem ser citados: pão assado
Nos processos antigos, a fonte de calor ficava di-
(aroma típico), vegetais cozidos ou grelhados
retamente abaixo do cilindro que continha os
(aromas herbáceos), bife grelhado (aroma típico do
grãos. Esses são os torradores de chama direta. Nos
churrasco) e amendoim torrado, entre outros. Esses
equipamentos com tecnologia mais avançada, o
aromas estão normalmente relacionados mais ao
queimador não está diretamente alinhado com o
aminoácido envolvido na reação do que ao açúcar.
tambor giratório que contém o lote de café sendo
A lista abaixo enumera alguns exemplos típicos:
torrado. Tampouco o ar quente entra por baixo do
• Cisteína: aroma com notas de carne;
tambor, de forma que a chama não exerce nenhuma
• Metionina: aroma de vegetais ou cozidos;
influência direta sobre a temperatura do tambor de
• Prolina: aroma de pão assado ou biscoito;
torra. Só o ar quente que circula ao longo do tam-
• Glutamina: aroma de chocolate.
bor é que transfere calor para os grãos. Como as pa-
redes metálicas do tambor não são externamente Certamente, a presença de alguns desses aromas
aquecidas pelo ar quente ou pela chama, elas não já devem ter sido percebidos por muitos em café
mais trabalham em temperaturas elevadas, elimi- torrado. Isso mostra a necessidade de controlar
nando, assim, a indesejada transferência de calor as alterações químicas, com objetivo de melhorar
por condução. o aroma do café, cujas nuances, comumente
associados a Maillard são variadas e podem apontar
em direções diversas, como pão assado, biscoitos,
3.2 REAÇÕES QUÍMICAS DURANTE A TORRA castanhas torradas ou mesmo chocolate. Estas
Durante o processo de torra, há dois tipos de duas últimas notas aromáticas são normalmente
reações químicas: as reações de Maillard e a pirólise. as mais desejadas. O Quadro 1 ajuda a enxergar a
As reações de Maillard são transformações químicas, relação entre alguns aminoácidos e o controle da
que começam mais cedo dentro do grão, mesmo temperatura de torra.
quando ele ainda se encontra em temperaturas Percebe-se pelo experimento acima, realizado
inferiores a 100 °C. A pirólise, contudo, intensifica- por Mabrouk (1979), que, apesar da importância
se a partir da fusão dos açúcares, que ocorre entre do aminoácido na definição do aroma, o controle
150 ºC e 160 ºC. A partir desse ponto, inicia-se a da temperatura de reação pode causar profundas
caramelização. mudanças no resultado final. O tempo pode ser
As reações de Maillard são endotérmicas. Isso usado no controle da exposição, mais ou menos
significa que elas absorverão calor durante todo o prolongada, do café a uma determinada faixa de
processo. A pirólise, por outro lado, é uma reação temperatura.
exotérmica, ou seja, quando ela acontece, não há Pelo que foi tratado, pode-se concluir que os
absorção, e sim liberação de calor. Isso, contudo, não açúcares presentes no café cru têm um papel
elimina a necessidade de se manter o fornecimento fundamental no processo de torra, tanto quando
externo de calor para que o processo químico seja
592 Café Conilon – Capítulo 24
pensamos nas reações de Maillard como quando cracks. O primeiro comumente acontece dentro
visamos ao processo de caramelização. O primeiro da faixa de temperatura entre 190 ºC e 205 °C, e a
está mais relacionado à formação de aromas, que temperatura exata varia de acordo com a variedade
enriquecem a complexidade da bebida, e o segundo do café cru. O segundo acontecerá em temperaturas
à doçura do grão e aos aromas relacionados ao próximas de 230 ºC. Pela intensidade das reações
caramelo. nessas etapas de torra e consequente grande
volume de formação de gases, o tamanho dos grãos
Quadro 1. Descrição do odor de café formado pela reação aumenta significativamente. Essa expansão de
de glucose com diversos aminoácidos
volume, que acontece praticamente durante todas
Aminoácido 100 ºC 120 ºC 180 ºC as fases de torra, ocorre devido à força exercida
Leucina
Chocolate Casca de pão Queijo pelos gases produzidos dentro dos grãos enquanto
doce (leve) queimado
forçam seu caminho para fora. Esse processo, mais
Treonina Chocolate Fraco Queimado intenso durante os cracks, gera um ruído típico que
Caramelo acabou por dar o nome peculiar deste fenômeno.
Glutamina Chocolate com
manteiga No processo de pirólise, grandes moléculas
Pão de centeio,
Casca de pão Chocolate orgânicas, que compõem as milhares de
Valina frutado,
(leve) (forte) substâncias presentes nos grãos de café cru,
aromático
são quebradas em moléculas menores. Como
Fonte: Mabrouk (1979).
resultado dessa degradação química, é produzida
Cafés com alto teor de açúcar podem ter seus perfis grande quantidade de moléculas menores, muitas
de torra trabalhados para que as reações de Maillard das quais são substâncias voláteis e gases, como
possam realçar notas aromáticas desejadas, como vapor de água e o dióxido de carbono. Produzidos
chocolate. É claro que, para que esse objetivo seja dentro dos grãos, eles forçam seu caminho para
atingido, é necessária a existência do aminoácido fora, expandindo sua estrutura e as membranas
correto na composição do café cru, mas se as das células do café. Essa expansão aumenta a
transformações de Maillard não acontecerem com permeabilidade do café torrado e isso é útil para
intensidade suficiente, esses aromas serão menos facilitar a extração dos componentes solúveis,
perceptíveis. quando é preparado o cafezinho usando efusão
de água quente. Essa permeabilidade também é
Os cafés com alto porcentual de açúcar também favorável para uma liberação mais fácil dos aromas
podem ser trabalhados de forma diferenciada no tão típicos do pó de café torrado. Além disso, é
processo de caramelização. Um perfil de torra mais ela que permite a migração de parte do conteúdo
lento depois que os açúcares já estejam em estado de substâncias oleosas para a superfície do grão.
líquido pode realçar a doçura do café. Percebe-se Principalmente em torras mais escuras, pode-
que esta técnica surtirá menos efeito nos cafés da se notar que os grãos torrados adquirem uma
espécie Robusta por apresentarem menor teor de aparência brilhante, que é proveniente desses óleos
açúcar. Contudo, é interessante notar também que que afloram.
este teor também é maior ou menor conforme a
origem e variedade do robusta. Devemos entender que essas duas reações típicas
podem ser controladas em sua duração e ritmo de
As reações de Maillard não deixam de acontecer em processo ao longo da torra, de maneira a realçar
temperaturas mais altas do grão, quando as reações determinadas características presentes no grão. A
de pirólise tornam-se mais intensas. Contudo, a maneira pela qual a temperatura dos grãos varia
velocidade da pirólise sobrepõe seus efeitos sobre ao longo do tempo de torra é conhecida como
Maillard e, por isso, normalmente, o controle de perfil de torra e pode ser mudada de acordo com as
torra passa a focar mais as implicações associadas a preferências de cada mestre de torra. Esse controle
ela. Na verdade, a formação de aromas e paladar da deverá levar em consideração as diferentes fases
bebida do café sempre será influenciada por esses do processo, como: as reações que ocorrem antes
dois fenômenos químicos. da caramelização, a caramelização em si, o período
Curiosamente, durante a torra, a pirólise atinge dois do primeiro crack, a fase de torra entre os cracks e,
Industrialização do Café Conilon 593
quando a torra for escura o suficiente, o segundo a vazão de gases eliminados para a atmosfera
crack. O ritmo de torra em cada um desses períodos e reaquecem os gases de torra a partir de uma
influencia as características da bebida do café de temperatura superior à ambiente. Naturalmente,
forma diferente alterando corpo, acidez, amargor e todo equipamento que consome menos energia
os aromas. também reduz a quantidade de CO2 emitida
para a atmosfera, sendo assim ecologicamente
O processo de torra termina quando se atinge a
considerado como mais correto.
cor desejada para os grãos. Nesse momento, o
café precisa ser resfriado imediatamente para que
o calor armazenado dentro dos grãos não gere
transformações indesejadas. Esse resfriamento
4 BLENDAGEM
brusco é feito com grandes volumes de ar frio e, Na industrialização de cafés, o processo de blenda-
para torradores de grande porte, com a adição de gem, normalmente realizado antes da torração, é
água pulverizada. A água adicionada ao café em voltado para se alcançar um produto de boa acei-
pequenas gotículas extrai grandes quantidades tação, que seja financeiramente sustentável e com-
de calor dos grãos ao evaporar. Um volume petitivo. Quando se trata de mistura ou combinação
controlado de água pulverizada pode resfriar o café dos grãos, é possível determinar essa etapa como
significativamente sem necessariamente adicionar uma das mais importantes, depois da torração.
umidade aos grãos, o que seria indesejável para
Existem várias técnicas de blendagem. Algumas
cafés gourmet. Já para cafés tradicionais, a adição
normas regulamentadoras (GOVERNO DO ESTADO
de umidade costuma ser intencional para reduzir os
DE SÃO PAULO, 2007a, 2007b, 2010; ABIC, 2013)
efeitos da quebra em peso que o café sofre durante
sugerem uma porcentagem máxima de impurezas,
a torra.
de fração entre C. arabica (arábica) e C. canephora
(robusta ou conilon), e o percentual máximo de
3.3 PROCESSO DE TORRA E O MEIO AMBIENTE defeitos extrínsecos e intrínsecos do café. No
entanto, o importante dessa etapa é a composição
Um dos subprodutos indesejáveis da torra é com resultado final esperado, algo como elaborar
fumaça resultante dos gases que se desprendem um perfume ou compor uma música, na qual capta-
do grão como resultado da pirólise. Apesar desses se os compostos mais leves, os de corpo e os de
gases não serem prejudiciais à saúde, são alvo do fundo, ao misturar-se espécies e cultivares de café
controle ambiental, pois seu odor pode se tornar pretendendo-se intuitivamente extrair o melhor de
incômodo para a comunidade próxima à torrefação. cada matéria-prima e o conjunto delas compor um
Por esse motivo, é acoplado aos torradores um produto esplendidamente completo, com aromas,
sistema de pós-queima que oxida esses gases sabores e sensações percebidos pelos sentidos
orgânicos, transformando-os em vapor de água humanos. Este é um resultado complexo das
e CO2, garantindo que, pela chaminé do torrador, interações entre compostos voláteis e não voláteis
saiam apenas gases inertes, incolores e inodoros. associados à natureza do aroma (ESPINOZA-DIAZ;
Normalmente, é preciso para isso um queimador e SEUVRE; VOILLEY, 1996). Por exemplo, o aroma
uma fornalha que garantam temperaturas acima de lembrando rosas, cítrico será mais perceptível
600 ºC. No caso de alguns países, como o Brasil, a no café em grão ou no moído que no café coado
legislação ambiental exige temperaturas mínimas ou percolado, do mesmo modo que aromas que
de 750 ºC. lembram nozes serão menos perceptíveis na crema
Muitos torradores, portanto, incorporam duas do espresso do que na bebida em si ou mesmo em
fornalhas, uma para gerar calor para a torra e outra cafés coados ou percolados.
para eliminar a fumaça. Contudo, equipamentos O café robusta ou conilon tem apresentado
mais modernos possuem um sistema de recirculação diferenças em matéria de composição para preparo
de gases, onde a mesma fornalha que gera calor de blends. Com o resultado da transferência de
para torra também é usada para oxidar os gases tecnologia e aumento significativo da qualidade
provenientes da torração. Esses sistemas permitem do produto surge, a necessidade de aprimorar
grande eficiência energética, já que reduzem a classificação sensorial para esse tipo de café.
594 Café Conilon – Capítulo 24
↓
0 4,5 6,0 7,3 10
Abaixo do Nível Mínimo Aceitável Tradicional Superior Gourmet
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Péssima Muito Ruim Ruim Regular Bom Muito Bom Excelente
Qualidade Global
Tabela 2. Valores médios e desvio-padrão para avaliação 10
de atributos sensoriais de blends preparados Sabor
Residual 8
com arábica e conilon finos Fragrância
parâmetros não sensoriais e sensoriais são descritos 4.1 BLEND DE CAFÉ TORRADO
na embalagem por meio de palavras, símbolos e a
O blend de café torrado apresenta vantagens
Roseta de atributos ou perfil de sabor, chamados
qualitativas com relação ao blend de café feito antes
de especificações sensoriais orientadas a produtos
da torra. A principal razão para isso é que cafés
(Figura 4). Esse programa tem como objetivo
diferentes torram em tempos diferentes. Assim,
fornecer ao consumidor informações básicas
quando a mistura é realizada antes da torra, o fato
sobre o café que está dentro da embalagem, por
desses cafés serem torrados simultaneamente faz
exemplo, cafés das categorias Tradicional, Superior
com que cada um apresente uma cor final diferente,
e Gourmet, prática que pode ser recomendada
deixando um aspecto ruim que também resulta em
nacional e internacionalmente, pois firma um
problemas do ponto de vista sensorial da bebida.
acordo voluntário entre vendedor e comprador.
Torrando cada tipo de café separadamente é
O uso de técnicas e metodologias, como possível trabalhar o processo de torra da forma mais
parâmetros de torra, técnicas de blendagem e, adequada para cada grão e exercer um controle de
principalmente, o comportamento do consumidor, cor individual. Isso certamente proporciona um
permite que a indústria de café transfira o processo ganho na qualidade da bebida e na qualidade visual
de industrialização em uma gama de combinações da torra. É muito importante mencionar que existe
para uma infinidade de públicos diferentes. Isso uma diferença significativa no tempo de torra entre
significa que, para cada situação, pode existir uma os cafés arábica e conilon. Normalmente, o tempo
mistura perfeita entre os grãos, aliada a outros do café conilon é de um a dois minutos mais longo,
temas, como marca e apresentação do produto. quando comparado ao arábica utilizando-se as
mesmas condições de troca de calor.
Figura 4. Símbolos do Programa de Qualidade do Café (PQC) da ABIC, utilizados em rótulos de marcas comerciais de
café.
596 Café Conilon – Capítulo 24
É muito comum a composição do café misturando- deixam resíduos no caminho. Tanto o transporte
se arábica e conilon. O arábica normalmente pneumático como os de canecas basculantes
apresenta uma complexidade de aromas maior garantem contaminação zero entre um lote e outro
enquanto o conilon resulta em mais corpo e cor que passe por eles. Conforme as condições de
mais intensa na bebida. Esta última característica produção de cada empresa, esse aspecto também
está associada a uma maior extração de sólidos pode ser relevante para manufatura de cafés
solúveis. Essa é uma das razões que justifica o uso tradicionais.
mais intenso do conilon na indústria de café solúvel.
Quando o objetivo é vender o café gourmet em
A composição adequada e precisa das proporções
grão, é importante se evitar a quebra dos grãos
da mistura é que vão garantir que se consiga as
durante o transporte para que se mantenha uma
características gustativas almejadas.
boa aparência do produto. Esse objetivo traz
Um sistema de blend de café torrado requer um limitações ao transporte pneumático, que deve ser
sistema de silagem com vários compartimentos, especial, buscando evitar impactos e, certamente,
um para cada tipo de grão e um meio de transporte fica limitado a distâncias mais curtas. As roscas
desses grãos até uma balança para que se possa transportadoras definitivamente não podem ser
fazer a dosagem de cada componente do blend. usadas para esse fim. Já alguns transportes por
Além disso, diferentemente do sistema de blend arraste, os de canecas basculantes e as correias
de cru, é necessária a instalação de um misturador transportadoras, não quebram grãos.
para homogeneizar a mistura. Existem sistemas
de liga que não utilizam balanças, normalmente
trabalhando a dosagem por volume, contudo 6 PROCESSO DE MOAGEM
são muito imprecisos, ocasionando variações na
Existem diversas maneiras de moer grãos de café.
composição da mistura e indesejáveis oscilações
Os métodos mais conhecidos são a moagem a
no padrão de bebida. Após passar pelo misturador,
disco, a martelos e por rolos. Cada um deles tem
o café deve ser armazenado numa silagem que
um sistema diferente de controle da granulometria
pode ter mais de um compartimento para abrigar
do pó e todos eles necessitam dispender energia
diferentes tipos de blends.
para triturar os grãos. Parte dessa energia é retida
pelo café elevando sua temperatura, sendo esse
fenômeno mais intenso quanto mais fina for a
5 TRANSPORTE DO CAFÉ TORRADO EM moagem.
GRÃO
Os moinhos de martelo usam um rotor de alta
O café torrado em grão pode ser transportado por rotação com pinos ou martelos em sua periferia.
roscas transportadoras, por transporte de arraste, Próximos a esse rotor e ao redor dele são presos
correias transportadoras e pneumaticamente. Cada pinos fixos de forma que os pinos do rotor passam
tipo de transporte é mais adequado dependendo muito perto deles, quando o rotor está em
da finalidade e do produto, mas praticamente todos movimento. O café é inserido no interior do rotor e,
eles são adequados para a produção dos cafés por ação da força centrífuga, desloca-se para a sua
tradicionais. Os transportadores mecânicos tendem periferia. Como existe uma chapa perfurada circular
a apresentar um consumo de energia menor ao redor dos pinos fixos, fechando todo o sistema de
do que os pneumáticos enquanto estes últimos moagem, o café não consegue sair, sendo forçado,
normalmente oferecem um custo de manutenção pela força centrífuga, a ficar junto da periferia do
muito menor do que os mecânicos. rotor, bem na região onde seus pinos movimentam-
Os cafés gourmets são normalmente produzidos se rentes aos pinos fixos. Dessa forma, os grãos são
em pequenas quantidades. Diferentes cafés quebrados e moídos ao passarem por entre os dois
não devem ser misturados com aqueles jogos de pinos, fixos e móveis. Na medida que a
transportados anteriormente. Para atingir esse granulometria do pó atinge dimensões menores
objetivo, normalmente, são usados os transportes do que os furos da chapa perfurada, o café começa
pneumáticos, por arraste ou canecas basculantes, a extravasar da gaiola de moagem. Como esse
pois são transportadores limpos, que não tipo de moagem envolve alto impacto, gera uma
Industrialização do Café Conilon 597
quantidade de calor muito grande e isso eleva a entre eles chega, para cafés com moagem fina, a
temperatura do café significativamente. Do ponto alguns centésimos de milímetro. São utilizados
de vista da granulometria, fica garantido o tamanho normalmente dois, três ou quatro pares de rolos
máximo dos grânulos, mas a formação de micropó, dependendo do perfil granulométrico a que o
é elevada. moinho se destina. No mesmo par de rolos, a rotação
pode ser diferenciada ou sincronizada. Mesmo nos
A moagem por discos faz com que os grãos torrados
moinhos de rotação diferenciada, o atrito gerado em
passem entre dois discos com superfícies providas
que é muito menor do que o existente nos moinhos
de ranhuras. Um é fixo e o outro trabalha em alta
de disco. Já os moinhos de rotação sincronizada em
rotação. Esse tipo de moagem gera um atrito
que o atrito é eliminado, são os de menor geração
considerável por causa do movimento relativo entre
de calor disponíveis na atualidade.
os discos e isso, como no caso anterior, também
produz muito calor. O controle para o tamanho A baixa geração de calor da moagem por rolos torna
máximo dos grânulos está associado à distância esse processo melhor porque não provoca grandes
entre os discos. A geração de micropó é menor elevações na temperatura do café e isso preserva
do que nos moinhos de martelo, pois não existe as características sensoriais da bebida, além de
impacto no processo. resultar numa menor perda de peso, a qual, nos
moinhos de rolo é, ao menos, 0,5% menor do que
A grande geração de calor das moagens feitas a
nos moinhos a disco ou martelo. Deve-se lembrar
martelo e a disco geram alguns inconvenientes
que o café conilon tem uma dureza superior à do
para o produto final. A temperatura do café se
arábica, e é natural a conclusão que irá requerer uma
eleva muito e, assim, ocorre uma perda excessiva
regulagem diferenciada do moinho com distâncias
de umidade e de aromáticos, além da alteração da
menores entre os rolos.
percepção sensorial da bebida. Os efeitos desses
métodos de moagem são tão agressivos que o café O perfil granulométrico é outra vantagem desse
escurece, e também ocorre uma redução do seu princípio de moagem. O tamanho máximo dos
peso, que gira entre 1,5% e 2,5%. Como o conilon é grãos é ajustado pelas distâncias entre os rolos. Já
normalmente mais duro do que os cafés arábicas, a a produção de micropó é bastante reduzida por
geração de calor tende a ser ainda maior. não existir nem impacto nem a atrito no processo.
A moagem feita de forma gradativa, em vários
Esses dois tipos de moagem também apresentam
estágios, também ajuda a operação ser mais suave
uma curva de granulometria problemática. A
e isso também reduz a geração de micropó. O
quantidade elevada de micropó, maior no moinho
resultado é um tempo de filtragem rápido devido
a martelos do que no moinho de discos, implica
à ausência de partículas muito pequenas. Nesses
um tempo de filtragem longo em coador de papel.
moinhos, é possível reduzir muito o porcentual
Isso acontece devido ao entupimento dos poros
de partículas de maior tamanho e ainda manter
do filtro, que ficam bloqueados pelas partículas
um porcentual de micropó muito baixo. Esse tipo
menores. Contudo, além do micropó, a dispersão
de perfil granulométrico estreito, sem partículas
granulométrica dessas formas de moagem é
muito pequenas, nem muito grandes, proporciona
ampla e também apresenta um índice elevado
uma extração de sólidos solúveis superior. O alto
de particulado grosso. Isso reduz o porcentual de
porcentual de pó grosso, prejudicial à extração, não
sólidos solúveis extraídos durante a infusão, o que
pode ser eliminado nas moagens a martelo e a disco,
reduz a sensação de corpo na bebida.
pois ajustá-los para isso geraria tanto micropó, que
A moagem por rolos utiliza um método semelhante o tempo de filtragem atingiria níveis inaceitáveis.
à moagem da cana-de-açúcar. Nesse equipamento,
existem ranhuras e veios nos rolos que cortam o
grão em vez de comprimi-lo. É possível adicionar 7 TRANSPORTE DE CAFÉ EM PÓ
estágios com rolos cada vez mais próximos entre
Os meios mais comumente utilizados no transporte
si para atingir a granulação desejada. Outra
de café em pó são arraste e, principalmente,
função das ranhuras é puxar o café forçando-os a
roscas transportadoras. O uso intensivo das roscas
passar por entre o par de rolos, já que a distância
transportadoras, tanto para o pó como em outras
598 Café Conilon – Capítulo 24
partes das torrefações, deve-se ao seu baixo custo necessário para a desgaseificação. Embalagens a
de manutenção, quando comparadas a outros vácuo, quando a moagem é feita a rolos, podem
tipos de transportadores mecânicos. O transporte permitir tempos de desgaseificação de até quatro
por correias, apesar de menos utilizado, também é horas, apesar dos números mais comuns desses
viável e pode ser usado para evitar contaminação processos variar em torno de seis horas. Contudo,
entre diferentes tipos de café. no empacotamento sem vácuo, com ou sem gás
inerte, esse tempo pode até dobrar.
8 DESGASEIFICAÇÃO E EMPACOTA-
MENTO 9 REFERÊNCIAS
O café libera, durante a torra, uma grande ABIC. Associação Brasileira de Industria de
quantidade de gases voláteis, vapor de água e um Café. Programa de Qualidade do Cafe. Norma
enorme volume de CO2. Contudo, grande parte da qualidade recomendável e boas práticas de
desses gases e do CO2, produzidos na torração, fabricação de cafés torrados em grão e cafés torrados
permanecem aprisionados dentro dos grãos. e moídos. Revisão 26, 28 agosto 2013. 18f.
Durante o processo de moagem, parte desse CO2 BRADBURY, A. G. W. Carbohydrates in coffee.
é liberada, mas ainda uma boa quantidade fica Association Scientifique Internationale du Cafe,
presa dentro dos pequenos grânulos do café em París (Francia); INTERNATIONAL SCIENTIFIC
pó. Esses gases remanescentes vão migrar para COLLOQUIUM ON COFFEE. 19. Proceedings…
fora lentamente. Como as embalagens de café Trieste (Italia). May 2001.
modernas são normalmente seladas, exceção feita
às valvuladas, o café não pode ser empacotado CARPENTER, R. P.; LYON, D. H.; HASDELL, T. A. What
imediatamente após a moagem e precisa ser is sensoy analysis used for? Guidelines for sensory
desgaseificado antes disso. Se o café recém-moído analysis in food product development and quality
for imediatamente empacotado, a embalagem control. Springer Science & Business Media, 2000.
ficará estufada mais do que o tolerável com o Cap. 1.
acúmulo de CO2. DE MARIA, C. A. B. de; MOREIRA, R. F. A.; TRUGO,
O processo de desgaseificação requer uma silagem L. C. Compostos voláteis do café torrado. Parte I:
de café em pó, em que o produto moído possa compostos heterocíclicos. Química Nova, São Paulo:
permanecer por certo tempo até que a maior parte v. 22, n. 2, p. 209-217, 1999.
do CO2 tenha naturalmente deixado as partículas do ESPINOSA DIAZ, M.; SEUVRE, A. M.; A. VOILLEY.
pó de café. Esses silos deverão ter janelas de escape Influence of physico-chemical properties of aroma
para os gases que permitam a saída do CO2, mas compounds on their interactions with other
que não sejam grandes o suficiente para permitir a constituents. Special Publication – Royal Society of
entrada de oxigênio da atmosfera, que é prejudicial Chemistry, 197 (Flavour Science), p. 442-445, 1996.
ao café por oxidá-lo. Por esta razão, alguns silos de
pó são fabricados com válvulas de via única que FARAH, A.; DE PAULIS, T.; TRUGO, L. C.; MARTIN, P. R.
permitem a saída do CO2, mas impedem a entrada Effect of roasting on the formation of chlorogenic
de oxigênio. acid lactones in coffee. Journal of Agricultural and
Food Chemistry. V. 53, n.5, p.1505-1513. 2005.
O tempo de desgaseificação depende do tipo
de moagem. As moagens do tipo a rolo, como FLAMENT, I. Coffee Flavor chemistry. Wiley, Chapter
evitam grandes porcentuais de café mais grosso, 4. p. 75. FORS, 1983. Copyright 2002.
facilitam o escape do CO2 dos grânulos, já que é GOVERNO DO ESTADO DE SAO PAULO. Secretaria
certamente mais difícil para os gases saírem de um de Agricultura e Abastecimento - SAA. Resolução
grânulo maior do que dos menores. Os tempos de SAA – 30 de 22-6-2007 – Norma de padrões mínimos
desgaseificação muitas vezes caem pela metade de qualidade para Café torrado em grão e torrado e
usando-se moagem por rolos. moído – Característica Especial: Cafe Superior.D.O.E.
O tipo de empacotamento também afeta o tempo Secao I, Sao Paulo, 117 (117), 23 jun. 2007.
Industrialização do Café Conilon 599
25
Mercado e Comercialização
do Café Conilon
Celso Luis Rodrigues Vegro, Eduardo Heron dos Santos e Paulo Henrique Leme
Tabela 2. Exportação e importação de café de países ao longo do quinquênio. Tal tendência deverá se
concorrentes (C4) no mercado de conilon, manter para os próximos anos, com expectativas
2010 a 2015
até de aumento devido à rápida ocidentalização
(em mil sacas de 60kg) dos hábitos de consumo, aceleração do ritmo de
Exportações Importações urbanização com diminuição da população rural
Ano
Robusta Arábica Total Verde (A/R) e aumento da renda per capita. Juntos, tais fatores
2010 22.846,07 1.731,10 24.577,16 1.073,45 podem alavancar a demanda interna por café
2011 24.684,86 1.412,30 26.097,16 1.163,03 naqueles países (Tabela 3).
2012 32.489,94 2.333,78 34.823,72 2.118,68
2013 32.950,12 2.118,23 35.068,35 1.683,40 Tabela 3. Consumo interno de café de países concorrentes
(C4) no mercado de conilon, 2010/11 a 2014/15
2014** 33.034,36 2.335,00 35.369,36 1.239,00
(em mil sacas de 60kg)
Fonte: Elaborado a partir de tabulação especial da OIC (2015).
Tipo 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15*
*Estimativa
Arábica 1.254 1.324 1.400 1.509 1.514
Robusta 5.779 5.893 6.326 6.893 6.988
As importações de café por parte dos membros do C4 Total 7.033 7.217 7.726 8.401 8.501
foram crescentes, superando 2 milhões de sacas em Fonte: Tabulação especial da OIC (2015).
2012. Comparando-se 2010 com 2015 (esse último *Estimativa
Tabela 4. Balanço sintético de oferta e demanda de café conilon nas exportações, Brasil, 2010 a out./2015
Conilon
Estoques Oferta
Item Área em produção Produção Produtividade 31/03 Total
(ha) (mil sc.) (sc./ha)
2010 518.159 11.271 21,75 699 11.969
2011 503.463 11.296 22,44 1.005 12.301
2012 476.913 12.482 26,17 693 13.176
2013 450.712 10.866 24,11 1.572 12.438
2014 441.279 13.036 29,54 1.054 14.091
2015* 432.852 10.853 25,07 1.386 12.239
Demanda p/exportações (mil/sc.)
Total Resíduo
Item Solubilização T&M
Exportação (mil sc.) (mil sc.)
(80% de conilon) (58% de conilon)
2010 1.169 2.690 34 3.893 8.076
2011 2.663 2.879 38 5.580 6.721
2012 1.145 2.835 23 4.003 9.173
2013 1.309 2.838 18 4.165 8.273
2014 3.452 2.767 15 6.234 7.857
2015* 3.768 2.920 14 6.702 5.537
Fonte: Conab (2015) e Cecafé (2015).
* Até outubro de 2015.
604 Café Conilon – Capítulo 25
aparentemente, é sincrônico com todos os demais no Brasil, situa-se nos vínculos que se estabelecem
ramos da agropecuária em que se constatou queda após a produção de conilon vantajosa agregação de
persistente da área cultivada com incremento valor nessa cadeia, promovida pela agroindústria
sustentável da quantidade colhida. de solubilização que se abastece com 80% de seu
suprimento dessa matéria-prima. Entre 2010 e 2014,
Desde 2010, a área em formação de lavouras
a média da produção de café solúvel foi de 3,15
de conilon no Brasil vem se mantendo estável,
milhões de sacas em equivalente verde.
somando 40 mil ha ao ano (CONAB, 2015). Tal
renovação de talhões tem potencial para reverter O encontro entre oferta global (produção mais
a queda observada na produção, graças ao estoques) e demanda da exportação (verde,
incremento de produtividade que acrescenta ao solubilizado e torrado) produz resíduo matemático,
parque produtivo, pois se assenta na substituição ou seja, produto disponível para o consumo
de materiais menos produtivos por clones de alta interno (torrefadoras) da ordem de 7,67 milhões de
produtividade. Tal hipótese mostra-se plausível na sacas na média do período 2010 a 2014. Em 2015,
medida em que se estima para 2015 rendimento há a possibilidade de que esse resíduo diminua
de 25,07 22 sc./ha, quando cinco anos antes esse substancialmente em razão do acelerado ritmo
indicador sequer atingia as 22 sc./ha. dos embarques que até outubro contabilizaram
3,77 milhões de sacas. Ademais, com a expressiva
O avanço das lavouras clonais em substituição
desvalorização do real, existe forte possibilidade
dos talhões de plantas convencionais pode,
de que o solúvel brasileiro reconquiste mercados
aparentemente, explicar a queda na área cultivada.
tomados por concorrentes em consequência do
Devido à sua maior produtividade, há tendência
reflexo do ganho de competitividade auferido pela
de o cafeicultor concentrar seu esforço em menor
variação cambial.
área cultivada, obtendo maior e melhor resultado
com redução do trabalho empreendido e, O resíduo disponível para o suprimento do
adicionalmente, diversificando sua produção com a mercado interno tem sido objeto de grande
liberação de glebas para outros cultivos e criações. controvérsia entre órgãos públicos (Conab/IBGE
e Secretarias de Agricultura) e agentes desse
Outra possibilidade que pode causar a redução da
mercado. A construção de planilhas de oferta e
área com lavouras relaciona-se com as questões
demanda, considerando como legítimos os dados
envolvendo a sucessão da exploração familiar. A
de exportação e de consumo interno, resultaria
idade média dos cafeicultores concentra-se no terço
na falta de produto para o mercado, fenômeno
final de sua vida economicamente ativa, tornado
nunca acontecido. Diante dessa inconsistência,
crucial a capacitação de sucessores para a condução
estimativas publicadas pelo Departamento de
da empresa agrícola. Entretanto, tal estratégia não
Agricultura dos Estados Unidos (USDA) ganham
tem logrado grande êxito em razão da dificuldade
enorme interesse ante aquelas publicadas pelos
em reter jovens no campo diante da atratividade e
órgãos nacionais. Considerando apenas a safra
conveniência exercida pelos centros urbanos5.
2015/16, o USDA presume que a produção de
Mesmo considerando o ajuste verificado na área em conilon no Brasil supere 14,4 milhões de sacas, ou
termos de produção, os resultados são favoráveis. seja, 3,55 milhões a mais que a estimativa oficial
Na média do período considerado, a produção (Figura 1).
registrou 11,63 milhões de sacas6 que, se somada
A diferença entre as estimativas ronda a casa dos
aos estoques contabilizados, alcança média de
3 a 4 milhões de sacas por safra. O somatório do
oferta total de 12,70 milhões de sacas. Tal montante
período 2011/12 a 2015/16 contabiliza gap de
posiciona o Brasil atrás do Vietnã, na vice-liderança
oferta entre as duas estimativas de 18,3 milhões
na oferta do produto em âmbito global.
de sacas. O melhor ajuste entre oferta e demanda
Considerando-se a exportação do agronegócio café obtido com o emprego das estimativas do USDA
é o que tem estabelecido sua preferência entre
5
O Cecafé possui importante programa de inclusão digital no campo (cinturões
cafeicultores) somando 135 laboratórios instalados no país. Essa iniciativa visa os agentes de mercado. Entretanto, não apenas
justamente a reverter esse esvaziamento do campo.
6
Neste estudo optou-se pela apreciação dos dados estatísticos oficiais divulgados as técnicas de levantamento estatístico (com
pela Conab. Outras fontes utilizando matrizes de oferta, procura e desaparecimento,
exibem montante de colheita significativamente acima da que se emprega.
emprego de imagens de satélite e evolução
Mercado e Comercialização do Café Conilon 605
climática) como também atualização dos As cotações médias mensais registradas entre janeiro
cadastros (realização de novo censo agropecuário) de 2010 e agosto de 2015 (Figura 2) evidenciam
permitirão que os números oficiais se tornem mais característica típica do mercado de commodities,
aderentes ao real. qual seja, comportamento cíclico para a trajetória
dos preços. Entre janeiro de 2010 e agosto de
18
2015, as cotações oscilaram entre US$ 1.500,00/t
17
16
e US$ 2.500,00/t. Tal variação nas cotações traz
15 implicações relevantes para a gestão dos negócios
Em milhão de sc
(ESALQ – tipo 6 sem impostos). Embora utilizando produtos que formam esse mercado, sejam eles de
metodologias e padrões de qualidades diferentes, natureza agrícola, metálica ou até para o petróleo,
ambas as curvas exibem trajetórias muito similares que é a mais importante das matérias-primas
(Figura 3). negociadas no mundo13 (Figura 4).
180
350
160
300
140
R$/sc 60 kg
250 120
200 100
US$/sc
80
150
60
100
Jan/10 Jan/11 Jan/12 Jan/13 Jan/14 Jan/15 40
Cepea/ESALQ CCCV 20
2,00
(1,1 milhão de sacas). A expectativa de exportação
1,50
do ano safra 2015/16 é de 25 milhões de sacas,
1,00
e os principais mercados são, respectivamente,
0,50
Alemanha, EUA, Itália e Espanha. Nos últimos 10
Jan/10 Jan/11 Jan/12 Jan/13 Jan/14 Jan/15 Set/15
Mês
anos, o Vietnã tem consistentemente superado
Figura 5. Paridade de preços entre arábica e robusta, expectativas de produção, exibindo produtividade
2010 a set./2015. média acima das 40 sc./ha, patamar elevado e,
Fonte: Elaborada a partir de dados do FMI compilados da OIC aparentemente, reflexo do sistema de cultivo
(2015).
sob irrigação. De acordo com a OIC e o USDA, a
produção total no ano safra de 2013/14 foi de
3 ANÁLISE DOS COMPETIDORES INTER- 29.833 milhões de sacas, um recorde histórico.
NACIONAIS A produção de robusta vietnamita destina-se
fundamentalmente às exportações. Política de
intervenção comercial no mercado (exportações
3.1 ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DOS PAÍSES centralizadas por agência estatal), adotada
COMPETIDORES DO BRASIL NO SUPRIMENTO
pelas autoridades do país, pode promover,
DO MERCADO MUNDIAL DE ROBUSTA
em determinadas situações, forte acúmulo de
estoques que inclusive chegaram a superar a
3.1.1 Vietnã produção da corrente safra como foi o caso de
2009/10.
A República Socialista do Vietnã é um país asiático
localizado na Península da Indochina. Limitado Apesar dos esforços governamentais encorajando
ao norte pela China, a leste e ao sul pelo Mar da o plantio de outros produtos em áreas marginais e
China Meridional e a oeste pelo Golfo da Tailândia, também maior cultivo de arábica, a renovação do
pelo Camboja e pelo Laos, possui população de parque cafeeiro e a utilização de novas técnicas
89,7 milhões de habitantes, sendo o 14o país mais de manejo, os cafeicultores continuam investindo
populoso do mundo. na expansão da área cultivada com robusta. Por
muito tempo, a área “oficial” de produção de café
O Vietnã ocupa uma área de 330 mil km². De sua
foi de 500 mil ha, porém, fontes extraoficiais já
fronteira com a China ao norte até sua extremidade
indicavam o crescimento da área com robusta.
inferior ao sul, são 1.650 km de distância, com
Atualmente, o número estimado pelo USDA é de
3.260 km de costas. Montanhas e florestas tropicais
670 mil ha. No entanto, o Ministério da Agricultura
cobrem cerca de três quartos do país, porém é
nas planícies que se concentra a maior parte da O café ocupa o planalto central (Central Highlands), concentrando-se nas províncias
15
e Desenvolvimento Rural do Vietnã (MARD, em sua confronta-se com Papua Nova Guiné, Timor-Leste
sigla em inglês) afirma que a área sustentável para a e Malásia. Outros países vizinhos são as Filipinas,
produção no país seria de 600 mil ha. Austrália e Ilhas Andamã e Nicobar, territórios
ultramarinhos pertencentes à Índia.
A expansão do cultivo é compreensível, pois
a atividade tem remunerado os cafeicultores Localizada na região conhecida como “anel
vietnamitas graças ao aumento dos preços no de fogo”, a Indonésia está vulnerável à ação de
mercado global e aos baixos custos de produção vulcões e terremotos. O país foi arrasado por
locais. Ademais, aproximadamente 90% do preço um tsunami em dezembro de 2004, que afetou
de exportação Free on Board (FOB) é repassado particularmente a província de Aceh (importante
para os cafeicultores, constituindo, assim, a região produtora de robusta) e causou
segunda estrutura de produção de café mais aproximadamente 100 mil mortes e um total de
competitiva do globo. Como entraves, podemos danos que chegou a US$ 4 bilhões.
citar a forte dependência da irrigação, o que torna
O café foi introduzido no país pelos holandeses no
a cafeicultura vietnamita extremamente suscetível
século XVII. A ferrugem-do-cafeeiro praticamente
às secas.
extinguiu a produção de arábica do país no
As estatísticas do MARD indicam que 86 mil ha século XVIII, abrindo espaço para a introdução do
de área colhida são de cafeeiros com mais de 20 robusta, resistente à doença. O cultivo de arábica
anos de idade, representando cerca de 13% da foi retomado através da criação de linhas de
área total de café. Ao redor de 140 mil a 150 mil financiamento para a implantação de lavouras.
ha são constituídos por árvores de 15 a 20 anos Atualmente, a produção de robusta representa
respondendo por 22% da área total. Por esse cerca de 85% do total.
motivo, a renovação do parque cafeeiro do país é
A estimativa do USDA para a safra da Indonésia
prioridade para o MARD nos próximos anos.
de 2015/16 é de 9,3 milhões de sacas de robusta
O consumo de café no país, no ano de 2015, foi e 1,6 milhão de sacas de arábica totalizando 10,9
estimado pelo USDA em 2,17 milhões de sacas, das milhões de sacas (quarto maior produtor mundial).
quais 1,91 milhão de sacas são do café torrado e O USDA, com base em dados do FAS Jakarta Coffee
torrado e moído, e 260 mil sacas de solúvel. Reports, elaborou uma correlação entre a produção
de café na Indonésia e eventos climáticos. As
Mas a competitividade do robusta vietnamita é
exportações para 2015/16 foram estimadas em
a grande ameaça à agroindústria de café solúvel
9,05 milhões de sacas (Figura 6).
brasileira. O custo baixo dessa matéria-prima
associado ao menor desembolso com fretes têm Seca afetando a
10 Excesso de
incentivado o surgimento de plantas congêneres 9,5 chuvas causou
florada. Excesso
de chuvas durante
não apenas no Vietnã como em países vizinhos e perdas no pós-
Milhões de sacas de 60 kg
9 enchimento de grãos.
colheita.
8,5
do Leste Europeu (Rússia). Ademais, constam como 8
importadores de café vietnamita países produtores 7,5 Chuvas durante
de café, que são também produtores e/ou 7 a florada,
amadurecimento
6,5 Excesso de chuvas
exportadores de café solúvel, como Índia, Indonésia 6
precoce das cerejas durante a florada.
durante a primeira.
e Equador. 5,5
5
2008/09 2009/10 2010/11 2011/12 2012/13 2013/14 2014/15 2015/16
O consumo de café, de acordo com o relatório Entre 2010 e 2015, a área em produção de
do USDA, permanece estável (apesar da entrada conilon na Bahia aumentou em 11.295 ha, ou
de cadeias internacionais no país), ao redor seja, expansão de 47,2% no período considerado.
de 1,25 milhão de sacas, um número baixo se Concomitantemente à expansão na área, houve
considerarmos o consumo potencial comparado à forte alavancagem na produção, que mais que
sua grande população. dobrou. Assim, constatou-se crescimento de
109,5% no volume da produção estadual, entre
De maneira geral, a Índia não é ameaça à produção 2010 e 2015 atingindo atualmente cerca de 1,2
brasileira, pelo contrário, tem potencial para ser milhão de sacas (Tabela 5).
grande oportunidade, já que, com o aumento do
consumo, o país se tornará grande importador. Tabela 5. Indicadores da lavoura de conilon, Bahia, 2010
Por sua vez, a experiência com o incremento da a 2015
qualidade dos robustas lavados e sua grande Área (em ha) Produtivi- Produção
aceitação pelos mercados compradores servem de Ano dade 1.000 sc.
Produção Formação sc./ha 60kg
inspiração para o conilon brasileiro.
2010 23.933 3.177 23,60 565
Além disso, analisando-se a produção de 2011 24.939 3.146 29,72 741
café indiana, pode-se dizer que seu espaço
2012 24.434 3.882 33,28 813
para crescimento, tanto em área quanto em
2013 24.179 5.255 29,92 723
produtividade, é limitado. Em relação à expansão
2014 32.600 5.255 31,90 1.040
da área cultivada, cedo ou tarde, a cafeicultura
2015* 35.228 3.763 33,60 1.184
indiana encontrará resistência governamental, pois
o café terá que disputar espaço com a produção Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de Conab (2015).
*Estimativa
de alimentos para suprir a gigantesca demanda
de seu mercado interno. Quanto ao crescimento
O formidável incremento da produção deve-se,
em produtividade, esta esbarra em questões
em grande medida, à elevação da produtividade
fitossanitárias, tecnológicas e no próprio modo de
média dos talhões. Em 2010, registrou-se 23,60
produção sombreado e diversificado com outras
sc./ha de produtividade média que salta para
culturas.
33,60 sc./ha em 2015. Certamente, essa expansão
Mercado e Comercialização do Café Conilon 611
é decorrência da adoção das lavouras clonais estimativa de área de 2015, caso Rondônia exibisse
com cultivares escalonadas por linhas nos talhões o patamar de rendimento da Bahia, por exemplo, o
permitindo aumento substancial do rendimento. potencial produtivo alcançaria 3 milhões de sacas.
Não efetivar o potencial produtivo das lavouras,
A atual tendência de expansão da lavoura de
traduziu-se em redução do faturamento bruto
conilon na Bahia deve se manter nos próximos
agrícola, em 2015, estimado em R$ 400 milhões22.
anos, tendo em vista que em média cerca de 4
mil ha são instalados ao ano, considerando a
Tabela 6. Indicadores da lavoura de conilon, Rondônia,
área em formação estimada entre 2010 e 2015.
2010 a 2015
Essas novas áreas devem acrescentar à produção
Área (em ha) Produtivi- Produção
estadual aproximadamente 150 mil sacas, Ano dade 1.000 sc
prevendo-se que até 2020 a Bahia esteja com Produção Formação sc./ha 60kg
produção acima dos 2 milhões de sacas. 2010 154.783 6.923 15,31 2.369
No entanto, também há fatores limitadores nessa 2011 153.391 6.220 9,31 1.428
direção. Uma adversidade com a qual deverão 2012 125.667 5.714 10,88 1.367
se deparar os cafeicultores baianos constitui-se 2013 102.840 5.465 13,20 1.357
na extinção do órgão responsável pela pesquisa 2014 86.004 8.040 17,18 1.477
e extensão rural no estado. Sem esse aparato 2015* 87.657 6.904 19,51 1.710
institucional operando na difusão das modernas Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de www.conab.gov.br
tecnologias, maiores obstáculos serão enfrentados *Estimativa
com ganhos incrementais de produtividade das em torno dos 3 mil ha. Contudo, o esforço desses
lavouras e crescente oferta doméstica do produto. cafeicultores não tem resultado em incremento
Em 2015, espera-se que 340 mil sacas de conilon da produtividade das lavouras. Talvez, o foco
sejam colhidas em Minas Gerais. na produção de grãos tem secundarizado a
cafeicultura no estado. Assim, construindo-se o
Tabela 7. Indicadores da lavoura de conilon, Minas Gerais, mesmo exercício efetuado para o caso rondoniense,
2010 a 2015 em Mato Grosso, a perda financeira representada
Área (em ha) Produtivi- Produção pela não aplicação de técnicas agronômicas
Ano dade 1.000 sc.
Produção Formação de ponta na lavoura (como já se faz na Bahia)
sc./ha 60kg
resulta em diminuição do faturamento bruto em
2010 14.692 1.211 17,15 252
aproximadamente R$170 milhões ao ano23.
2011 15.201 1.028 19,67 299
2012 15.291 1.098 19,62 300 Excetuando-se o Espírito Santo, os demais estados
2013 12.986 1.158 21,56 280 produtores de conilon no Brasil aportam à safra
2014 13.469 984 22,08 297
nacional entre pouco menos de 3,0 até 4,5 milhões
de sacas a depender do quão favorável tenha
2015* 13.389 947 25,43 340
sido o regime climático. Ainda que tenha havido
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de Conab (2015).
*Estimativa
crescimento da área cultivada com a lavoura, não se
deve esperar saltos substantivos no patamar dessa
produção, pois Rondônia, com todo o potencial
3.2.4 Mato Grosso
instalado, não foi ainda capaz de desenhar políticas
A crescente área com conilon em Mato Grosso de estímulo à produção voltadas para a obtenção
ainda não trouxe repercussões significativas dos ganhos de produtividade. Cinturão promissor,
na produção, pois as grandes variações na o sul da Bahia representa fronteira de expansão
produtividade média das lavouras não têm da lavoura do conilon, porém a retomada da
propiciado saltos sustentáveis que, em média, lavoura cacaueira poderá refrear seu avanço. Minas
situam-se ao redor das 140 mil sacas ao ano Gerais pode até exibir crescimento na produção e
(Tabela 8). produtividade, entretanto, o direcionamento do
esforço produtivo para o arábica deve conduzir
Tabela 8. Indicadores da lavoura de conilon, Mato Grosso, o empreendedorismo no estado. Por fim, Mato
2010 a 2015 Grosso, desde que se adote política de diversificação
Área (em ha) Produtivi- Produção de sua pauta agropecuária, poderá incrementar
Ano dade 1.000 sc.
Produção Formação sc./ha 60kg
sua participação na oferta nacional do produto, o
que, porém, atualmente, é decisão que ainda não
2010 13.582 4.797 9,28 126
se observa a partir dos resultados obtidos pelas
2011 14.056 1.323 9,25 130
últimas colheitas.
2012 13.970 6.192 13,37 187
2013 18.293 2.898 6,93 127
2014 20.892 1.718 5,82 122 4 CONILON CAPIXABA
2015* 20.805 1.201 8,17 170
A introdução do conilon no Espírito Santo ocorre
Fonte: Elaborada a partir de dados básicos de Conab (2015).
*Estimativa
ao final da década de 20 do século passado24. As
primeiras sementes foram cultivadas no então
As lavouras de conilon se concentram nos Município de Cachoeiro de Itapemirim. Todavia, a
Municípios de Colniza e Juína. Este último, forte expansão que o cultivo do conilon alcançou
inclusive, exibe plantios com rendimento similar no Estado foi, ironicamente, derivada do programa
aos do sul da Bahia e do Espírito Santo. Todavia, em de erradicação dos cafezais imposto pelo Grupo
termo gerais, as lavouras do Mato Grosso possuem Executivo de Racionalização da Atividade Cafeeira
mais de 30 anos, sendo esse o fator determinante
Considerando a produtividade da safra de 2015 da Bahia e preço recebido de
da baixa produtividade registrada.
23
R$ 320,00/sc.
Panorama histórico-econômico sobre a lavoura de conilon capixaba foi analisado
24
municipais, com apoio da extensão rural oficial e do financiamento público para a Vitória Incaper, Diamante, Jequitibá, Centenária. Há ainda a não clonal (reprodução por
instalação de unidade de fabricação de café solúvel. semente) Robusta tropical.
614 Café Conilon – Capítulo 25
Tabela 11. Informações gerais sobre emprego formal no setor agropecuário, Espírito Santo, 2010 a 2014
Vínculos ativos em 31/12 2010 2011 2012 2013 2014
Produção agrícola (café exclusive) 11.675 12.473 11.842 12.761 12.423
Cultivo de café 7.035 7.248 7.063 7.208 7.382
Atividades florestais
3.354 3.858 3.550 4.087 4.412
(plantadas e nativas)
Criações pecuárias 9.768 9.702 9.467 9.803 9.801
Subtotal agropecuária (1) 31.832 33.281 31.922 33.859 34.018
Total de estabelecimentos
Produção agrícola (exclusive café) 1.399 1.417 1.420 1.467 1.526
Cultivo de café 2.458 2.565 2.513 2.612 2.550
Atividades florestais
146 183 192 213 220
(plantadas e nativas)
Criações pecuárias 3.816 3.882 3.824 3.789 3.752
Subtotal agropecuária (2) 7.819 8.047 7.949 8.081 8.048
Média (vínculos/estabelecimentos)
Produção agrícola (café exclusive) 8,3 8,8 8,3 8,7 8,1
Cultivo de café 2,9 2,8 2,8 2,8 2,9
Atividades florestais
23,0 21,1 18,5 19,2 20,1
(plantadas e nativas)
Criações pecuárias 2,6 2,5 2,5 2,6 2,6
MÉDIA DO TOTAL (1/2) 4,1 4,1 4,0 4,2 4,2
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de banco de dados de MTE (2015).
Mercado e Comercialização do Café Conilon 615
Tabela 12. Informações gerais sobre emprego formal nas atividades conexas à cafeicultura, Espírito Santo, 2010 a 2014
Vínculos ativos em 31/12 2010 2011 2012 2013 2014
Torrefação e moagem de café 429 579 456 451 478
Fabricação de produtos
289 332 331 360 339
à base de café
Comércio atacadista
735 874 922 954 989
de café em grão
Subtotal (1) 1.453 1.785 1.709 1.765 1.806
Total de estabelecimentos
Torrefação e Moagem de Café 33 39 37 38 41
Fabricação de Produtos
1 2 1 1 2
à Base de Café
Comércio Atacadista de Café
90 91 98 106 111
em Grão
Subtotal (2) 124 132 136 145 154
Média (vínculos/estabelecimentos)
Torrefação e moagem de café 13,0 14,8 12,3 11,9 11,7
Fabricação de produtos
289,0 166,0 331,0 360,0 169,5
à base de café
Comércio atacadista
8,2 9,6 9,4 9,0 8,9
de café em grão
MÉDIA (1/2) 11,7 13,5 12,6 12,2 11,7
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de banco de dados de MTE (2015).
27
Existem esforços para a obtenção de equipamentos e máquinas que permitam
empreender a mecanização da colheita do conilon. O êxito desse esforço,
forçosamente, implicará produção de indicadores menos favoráveis ao segmento.
28
Pode-se questionar que, por não ter sido considerada a produção obtida nas
propriedades familiares, esse número estaria sobrestimado. Entretanto, é sabidamente
conhecido que há grande informalidade no segmento de torrefação e moagem de café
que, por razões óbvias, também não foi aqui considerada. Assim, temos indícios de que
a proxy firmada possui boas chances de expressar o real. 29
Informações colhidas diretamente com representação institucional do segmento.
616 Café Conilon – Capítulo 25
Ademais, lidera globalmente a fabricação desse alinharia o marco regulatório com a concorrência,
produto no mundo. Entre 2010 e 2014, o segmento incrementando novos investimentos no segmento.
produziu, em média, 4,63 milhões de sacas de
Com a desvalorização cambial ocorrida no Brasil,
solúvel30 em equivalente verde (exportações e
em 2015, e considerando o baixo endividamento
mercado interno), embora possua capacidade
em dólar do segmento, espera-se que ocorra
instalada para processar até 5,3 milhões de sacas
incremento das exportações de café solúvel. Essa
ao ano. Em 2014, o embarque de 3,46 milhões de
perspectiva poderá pressionar as origens de seu
sacas em equivalente verde propiciou a apuração
suprimento, demandando maiores quantidades
de US$ 600 milhões em divisas cambiais ao país,
com ainda melhor qualidade. O esforço das
o qual transacionou com mais de 130 países às
instituições de pesquisa e dos cafeicultores em
expensas das barreiras tarifárias impostas ao
elevar a produtividade de suas lavouras encontrará
produto de origem brasileira numa série de países
nesse segmento um caminho importante para o
importadores, especialmente, pelo bloco europeu.
escoamento de sua produção.
Ademais, responde pela geração de 5 mil empregos
diretos e 12,5 mil indiretos. Convergindo com essa previsão, recentemente
o segmento traçou planejamento estratégico no
Devido ao seu mais alto rendimento (15% a 20%
qual pretende incrementar em 50% sua produção
acima do arábica) e menor preço, o conilon é a
nos próximos 10 anos, elevando em 1,5 milhão de
matéria-prima preferencial para a fabricação do
sacas em equivalente verde as exportações que se
café solúvel31. Atualmente, no Brasil, existem cinco32
somariam a outras 500 mil sacas no consumo interno
agroindústrias atuando no segmento compondo
(LIMA, 2015). Tendo em vista a capacidade ociosa
blends que podem conter entre 70% e 90% de
existente (estimada em 28%), aparentemente, o
conilon. A qualidade do produto usualmente
plano é absolutamente plausível. Expansão dessa
adquirida pelas plantas agroindustriais classifica-se
magnitude, ainda que estendida ao longo dos
abaixo do tipo 6, ou seja, com até 100 defeitos ou
próximos dez anos, exigirá empenho redobrado da
mais33. Além disso, a massa de grãos processada pode
base agrícola visando a amparar tão decisão.
conter variável percentual (teto de 15%) de conilon
de padrão superior. Esse percentual poderia se elevar
caso as empresas não enfrentassem dificuldades no 5.2 SEGMENTO EXPORTADOR
acesso a produto com classificação mais elevada
de qualidade, tendo em vista que produto superior Nos últimos cinco anos, houve queda e recuperação
exibe melhor rendimento na extração. das exportações de conilon. Após ter registrado
embarques de 2,66 milhões de sacas em 201134,
O produto recebido pelas agroindústrias provém, as exportações declinam35. Todavia, nos anos
majoritariamente, do Espírito Santo (média seguintes, iniciou-se rápida recuperação das
acima de 50% das necessidades). Entretanto, quantidades exportadas alcançando, em 2014,
há aqueles estabelecimentos que se abastecem 3,45 milhões de sacas36. Caso se mantenha o atual
exclusivamente com produto originado no Estado. ritmo de embarques em 2015, espera-se que sejam
A vice-liderança no suprimento cabe ao produto embarcadas aproximadamente 4 milhões de sacas
oriundo de Rondônia. Embora tenha garantido seu (Tabela 13).
abastecimento, a indústria é francamente favorável
à adoção da política de drawback que seria Inovação relevante nesse comércio tem sido
implementada, somente em último caso, visando a substituição dos embarques de sacaria por
à competitividade e plena garantia de suprimento produto a granel (acondicionado no próprio
diante dos novos investimentos que se projetam container, na operação denominada de estufagem).
no segmento. A obtenção de mandato legal que
amparasse o drawback consiste em meta que A súbita elevação nas cotações do arábica, quando ultrapassou a casa dos US$ 0,02/
34
Tabela 13. Exportação brasileira de conilon por tipo de acondicionamento e total, 2010 a out./2015
Exportação brasileira de café conilon por tipo de acondicionamento (em sacas)
Ano Sacas Granel Outras vias Total Nº de contâineres
2010 623.688 408.191 137.007 1.168.886 3.185
2011 1.008.572 1.505.678 148.991 2.663.241 7.353
2012 495.707 491.714 157.836 1.145.257 2.992
2013 555.201 504.315 249.146 1.308.855 3.316
2014 1.239.262 1.546.474 666.119 3.451.855 9.665
2015* 1.007.298 2.087.568 673.427 3.768.293 10.749
Fonte: Tabulação especial do Cecafé (2015).
As exportações por via aérea e por rodovias Em 2012, por exemplo, 19% das quantidades
(países fronteiriços), sob outras modalidades de embarcadas foram de produto diferenciado e,
acondicionamento, também têm crescido em na média do período, esse percentual oscilou em
detrimento daquelas que utilizam o tradicional saco torno dos 10% da quantidade total. Novamente
de juta. Essa mudança, aparentemente, favorece em 2012, o prêmio pela qualidade atingiu 41,69%,
a competitividade do negócio incorporando acima do preço médio dos cafés comuns, situando-
significativa economia de escala e melhor ajuste às se acima dos 30% nos últimos três anos (Tabela 14).
necessidades do cliente.
3.000.000
Mudança significativa tem sido constatada
2.500.000
na preferência das firmas importadoras e dos
armadores internacionais quanto ao porto de 2.000.000
Em sc
Tabela 14. Exportações de café conilon (direrenciados e médios), Brasil, 2010 a 2015
Diferenciados Médios
Ágio
Ano Quant. Valor Preço médio Quant. Valor Preço médio (%)
1.000 sc. US$ milhão US$/sc. 1.000 sc. US$ milhão US$/sc.
2010 92,13 11,34 123,05 1.076,75 107,22 99,58 23,57
2011 197,00 33,03 167,68 2.466,24 339,06 137,48 21,97
2012 181,94 33,55 184,38 963,316 125,36 130,13 41,69
2013 162,37 26,57 163,65 1.146,29 143,33 125,03 30,89
2014 142,77 22,72 159,14 3.309,09 390,38 117,97 34,90
2015* 294,04 43,71 148,64 3.474,25 376,12 108,26 37,30
Fonte: Elaborado a partir de Banco de Dados do Cecafé (2015).
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produtividade. Balanço Social 2013 Incaper Vitória, São Paulo: 39(2):55-77, 1992.
Conservação do
solo e da água
Aumento da
produtividade
Irrigação
e uso racional
da água
Qualidade e
segurança do
Tratamento de Preservação de
alimento
esgoto nascentes e APPs
(fossa séptica)
Boas condições
de moradia e
Uso do EPI água potável
(Equipamento de
Proteção Individual)
Recarga do
lençol freático
Diversificação da
renda familiar
Agregação de
valor ao produto
621
26
Cafeicultura Sustentável
do Conilon
Lúcio Herzog De Muner, Francisco Roberto Caporal, Maurício José Fornazier,
Pedro Paulo de Faria Ronca, João Alberto Peres Brando e Maria da Penha Padovan
de base familiar. São 78 mil famílias que dependem MUNER et al., 2003). Atualmente, a produtividade
diretamente dessa cultura (FERRÃO et al., 2011; média se encontra em 35 sc./ha (CONAB, 2014). O
CONAB, 2014). Essas propriedades cafeeiras se zoneamento agroecológico para a cultura do café
caracterizam por apresentar 74% da área total no Estado do Espírito Santo mostra que as áreas
inferior a 50 ha, sendo 28% menores que 10 ha e aptas para cultivo do conilon abrangem 404.601
área média de cultivo de 9,4 ha; as famílias rurais ha (DADALTO; BARBOSA, 1997). A maior parte delas
são altamente dependentes economicamente do está localizada nas mesorregiões central e sul,
café e de 60 a 70% dos ingressos das propriedades onde não há tradição no cultivo dessa espécie e
vêm dessa cultura (TEIXEIRA, 1998; SCHIMIDT; De constitui grande potencial para o desenvolvimento
MUNER; FORNAZIER, 2004). da cafeicultura de conilon de maneira mais
sustentável.
A produtividade média de 35 sacas beneficiadas
por hectare (sc./ha) (CONAB, 2014) pode alcançar
patamares elevados (acima de 120 sc./ha),
dependendo da utilização dos corretos tratos
2 O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE
culturais e adoção de tecnologias apropriadas, A base conceitual da sustentabilidade está no
como variedades melhoradas, poda programada reconhecimento de que os recursos naturais
de ciclo, irrigação e nutrição adequada do cafeeiro são finitos e as limitações biofísicas do planeta
(FERRÃO et al., 2012). A maior necessidade por limitam o crescimento econômico. O alcance da
serviço se dá durante a colheita do café, onde a sustentabilidade tem como principal desafio a
mão de obra de maior demanda é contratada de mudança nos padrões de consumo e não pode
forma temporária. Muitas vezes isso constituiu prevalecer a lógica do mercado sobre a das
problema social, principalmente nas propriedades necessidades (FERRAZ, 2003). O ambiente, fonte
com lavouras superiores a 50 ha. As propriedades dos recursos, recebe todo o lixo decorrente da
familiares também necessitam de força de trabalho atividade humana, entretanto a disponibilidade
externa, normalmente suprida pela família em de recursos e a capacidade de assimilação desses
sistema de parceria e colaboração entre vizinhos. resíduos são limitadas. O crescimento econômico
A forma predominante de remuneração da mão de é confundido com desenvolvimento e a busca de
obra volante na época de safra na região do conilon alternativas para esse modelo conduziu à direção
capixaba é por produção (94%) ou produtividade do desenvolvimento sustentável.
(sacos colhidos de café maduro ou seco); na época
O conceito de “Ecodesenvolvimento” 1, enfatizado na
da entressafra essa remuneração se dá por diária
“Declaração de Estocolmo”/Conferência das Nações
(55%) ou por salário mensal (25%) (FETAES, 2006).
Unidas sobre o Meio Ambiente/1972 evoluiu para
O café é comercializado predominantemente “Desenvolvimento Sustentável”, preconizado pela
beneficiado, de acordo com as condições e Comissão Brundtland (ONU) no Relatório “Nosso
infraestrutura da propriedade. Entretanto, o Futuro Comum”/1987, em que foi pauta principal
serviço de processamento se realiza geralmente da Conferência do Rio/1992 e demais conferências
por proprietários estruturados, por intermediários mundiais sobre desenvolvimento que se sucederam.
compradores que prestam esse serviço e/ou No entanto, o desenvolvimento sustentável não
prestadores de serviços com equipamento móvel. é conceito acabado, mas idéia que transita entre
A maior parte da produção é comercializada com o desenvolvimento, entendido como estágio
os intermediários, exportadores e cooperativas que socioeconômico e político de uma comunidade e
atuam regionalmente. a sustentabilidade, que se refere à capacidade de
suporte da biosfera. É um fim a ser perseguido com
As intervenções públicas, em parceria com o setor
o objetivo de garantir sua preservação em uma visão
privado, na geração e adoção de tecnologias
de futuro. Entendemos desenvolvimento como
focadas na alta produtividade e na resistência à
crescimento alométrico (variação das relações entre
seca, elevaram a produtividade média do café
conilon de 9 sc./ha em 1993 para 24,12 sc./ha
1
Ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que em cada ecorregião insiste
em 2002, superando as metas do Programa de nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados
ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas como também
Revitalização da Cafeicultura Capixaba (RECAFÉ) (De as de longo prazo (...) sem negar a importância dos intercâmbios” (SACHS, 1986).
Cafeicultura Sustentável do Conilon 623
Quadro 1. Atributos, critérios e indicadores de sustentabilidade para a avaliação de sistemas de manejo dos recursos
naturais
Atributo Critérios Indicadores1 Âmbito
Rendimento; eficiência energética A
Produtividade Eficiência Relação custo-benefício; inversão (dinheiro e trabalho);
E
produtividade do trabalho; ingresso
Espécies manejadas e presentes; policultivos; rotações A
Número de cultivos; grau de integração da produção e
Diversidade E
comercialização
Número de etnias envolvidas no manejo de recursos S
Qualidade do solo e água A
Relação entre entrada e saída de nutrientes críticos A
Estabilidade; resiliência; Conservação de recursos Número de variedades crioulas utilizadas A
confiabilidade
Capacidade de reciclar e economizar no uso de
E
recursos naturais
Incidência de pragas e doenças A
Fragilidade do sistema
Tendências e variação de rendimento E
Distribuição de riscos Acesso a créditos, seguros e outros mecanismos E
Qualidade de vida Índices de qualidade de vida S
Fortalecimento do processo Capacitação e formação dos integrantes S
de aprendizagem Adaptações locais dos sistemas propostos S
Adaptabilidade
Capacidade de mudança e Evolução do número de produtores por sistema S
inovação Geração de conhecimentos e práticas S
Distribuição de custos e Número de beneficiários segundo etnias, gênero e
S
Equidade benefícios grupo social
Evolução do emprego Demanda de mudança de local de trabalho E
Implicação dos beneficiários nas distintas fases do
Participação S
projeto
Grau de dependência de insumos externos críticos A
Autossuficiência
Nível de autofinanciamento E
Reconhecimento dos direitos de propriedade
Autonomia (autogestão) S
(individuais ou coletivos)
Controle Uso de conhecimentos e habilidades locais S
Poder de decisão sobre aspectos críticos do
S
funcionamento do sistema
Organização Tipo, estrutura, processo de tomada de decisões S
Fonte: Adaptada de Masera, Astier, Lópes-Ridaura (2000).
1
A Tabela não apresenta, necessariamente, todos os indicadores, sendo adaptados para cada situação específica de manejo, levando-se em consideração as três áreas básicas:
social (S), ambiental (A) e econômica (E).
Assim, a noção de sustentabilidade não significa método foi utilizado na cafeicultura brasileira
algo absoluto, mas sim relativo. Pode-se de arábica (FERRARI, 2002; De MUNER, 2012)
avançar no sentido da sustentabilidade ou, pelo evidenciando que famílias que utilizavam técnicas
contrário, gerar mais degradação, de acordo mais agroecológicas apresentaram maior autonomia
com as práticas, tecnologias, formas de manejo e menor dependência de recursos externos em
e relações socioeconômicas presentes em cada relação àquelas com técnicas convencionais. Os
estratégia adotada. Por essa razão, é fundamental melhores retornos econômicos foram observados
o monitoramento (avaliação) sistemático dos no sistema de boas práticas agrícolas com
processos, com métodos participativos. técnicas que viabilizaram produtividades de café
economicamente aceitáveis. A diversificação das
A apresentação e integração dos resultados
atividades permitiu otimizar o uso da mão de obra
obtidos pelo método MESMIS deve ser ferramenta
e dos recursos naturais e econômicos disponíveis.
transparente, de cunho participativo e de fácil
Assim, a diversificação da produção se constitui
entendimento, para que sejam úteis na tomada
fator determinante da segurança alimentar das
de decisões quanto às mudanças necessárias para
famílias rurais (De MUNER, 2012).
melhorar os sistemas propostos de manejo. Esse
Cafeicultura Sustentável do Conilon 627
O ISA permite a geração automática de gráficos e crises cíclicas pode ser percebido de forma mais
de tabelas agregando os indicadores em temas. O dramática com os agricultores familiares. Estes
uso, ocupação do solo e a identificação das Áreas de abandonam suas lavouras ou vivem do extrativismo
Preservação Permanente (APPs) são determinados e os trabalhadores rurais perdem seus empregos.
com apoio de imagens de satélite, levantamento Entretanto, a renda originária da cafeicultura se
de campo e uso de técnicas de geoprocessamento. concentra nos países transformadores (COELHO,
Esse sistema tem demonstrado sensibilidade 2002). Isso se deve, em parte, ao desequilíbrio
a variações inter e intrarregionais relacionadas existente na cadeia produtiva. No início da década
com os diferentes padrões de manejo, sistemas de 1990, as vendas mundiais de café no varejo eram
de produção e gestão das propriedades cafeeiras de US$ 30 bilhões/ano, sendo um terço (US$ 10-
que integram diversos programas de certificação. 12 bilhões) desses valores destinados aos países
(FERREIRA et al., 2012). produtores. Em 2001, apenas US$ 5,5 bilhões, dos
US$ 70 bilhões movimentados com café, chegaram
aos países produtores. Em uma década, o negócio
4 SUSTENTABILIDADE NA mais que duplicou. Entretanto, o rendimento
CAFEICULTURA econômico dos produtores foi reduzido pela
metade, e a participação nos lucros ficou quatro
O café tem papel fundamental no desenvolvimento
vezes menor (OIC, 2002).
de grande número de países pobres em área
tropical, sendo responsável por significativa parcela A queda dos preços pagos no mercado internacional
das receitas de suas exportações e fonte primordial se reflete sensivelmente nos indicadores da
de renda para cerca de 25 milhões de famílias de sustentabilidade. Isso significa queda da receita
pequenos produtores em todo o mundo (OIC, 2004). agrícola, redução dos salários dos trabalhadores
O café é fonte geradora de numerosos empregos, rurais e menor número de empregos, sendo
não somente no meio rural, onde se constitui os agricultores sempre os mais afetados. Preço
em fator de estabilidade social, mas também em baixo do café robusta no mercado internacional
áreas urbanas dos países produtores, assim como determina diminuição de receitas e cria círculo
nos países consumidores e transformadores/ vicioso que dificulta a mobilização de recursos
reprocessadores. para investimentos, em particular nos métodos de
produção com respeito ambiental. Isso gera reflexos
O permanente desequilíbrio entre oferta e procura
nas produtividades e rendimentos, inclusive com
tem provocado oscilações históricas nos preços,
abandono das lavouras (OIC, 2006).
cujos níveis, na maioria dos países produtores,
não têm permitido cobrir os custos de produção, As quedas de preços aumentam a pressão sobre
intensificando os índices de pobreza e o aumento o meio ambiente, pois os cafeicultores se veem
do êxodo rural em direção às periferias dos centros forçados a expandir as áreas de produção para
urbanos (OIC, 2004). Isso justifica maior preocupação compensar o declínio de suas rendas. Muitos países
com as várias dimensões da sustentabilidade. da América Central abandonaram seus métodos
tradicionais de produção de café, em particular
A dimensão social é geralmente abordada apenas
o cultivo sombreado que conserva o solo, a água,
superficialmente em muitos projetos, no entanto,
espécies da flora e da fauna e se constitui em
as dimensões econômica, social e ecológica,
moderador natural do microclima. A necessidade
cultural, política e ética devem ser conciliadas na
de introduzir variedades de alto rendimento para
busca permanente de novos pontos de equilíbrio
enfrentar a concorrência dos produtores de menor
em patamares crescentes de sustentabilidade.
custo levou à utilização intensiva de agroquímicos,
Deve-se ter visão crítica quanto ao bem-estar
causando redução da biodiversidade (OIC, 2002).
social e garantia de renda dos participantes,
principalmente da família rural, elo mais frágil da A história do setor cafeeiro é marcada pelos
cadeia produtiva. inadequados desenvolvimentos de infraestrutura
e uso de técnicas agronômicas, deficiências
Esse ponto é visível na cafeicultura do conilon do
sistêmicas na cadeia de abastecimento e
Espírito Santo e o impacto social e econômico de
imperfeições mercadológicas que geraram
Cafeicultura Sustentável do Conilon 629
recreação, com relações justas e humanas entre o que devem ser buscadas estratégias que reduzam
capital e o trabalho. A organização e a participação a dependência do mercado de insumos.
social devem ser promovidas. A dimensão social
da sustentabilidade tem que ser entendida
como meio de se reduzir as desigualdades e a 5 TRANSIÇÃO DE SISTEMAS: BOAS
pobreza no meio rural, com equidade entre os PRÁTICAS AGRÍCOLAS
membros da sociedade, melhor distribuição dos
Podem ser distinguidos quatro níveis fundamentais
ativos, capacidades e oportunidades para os
no processo de transição para agroecossistemas
menos favorecidos, propiciando acesso à saúde, à
sustentáveis: a) o incremento da eficiência das
educação, aos recursos creditícios e à cultura.
práticas convencionais para reduzir o uso e
• Na dimensão ecológica: a utilização da água, consumo de inputs caros, escassos e muitas vezes
do solo e dos recursos naturais deve ser racional, danosos ao meio ambiente tem sido a principal
planejada e definida pela adoção de tecnologias ênfase da pesquisa agrícola, resultando disso
e procedimentos simples ao alcance de todos os muitas práticas e tecnologias que ajudam a reduzir
produtores. A promoção da adequação ambiental os impactos negativos da agricultura convencional;
das propriedades por meio da proteção de nascentes b) a substituição de inputs e práticas convencionais
e mananciais de água, da conservação das matas por práticas alternativas, cuja meta é a utilização
ciliares junto às nascentes e no topo dos morros, de produtos e práticas mais benignas do ponto
a correta destinação dos esgotos domésticos e de vista ecológico em substituição àquelas mais
reuso das águas residuárias do despolpamento de intensivas em uso de recursos e degradadoras do
café e criatórios de animais deve ser estimulada. meio ambiente. Nesse nível de transição, a estrutura
A degradação dos solos no interior das lavouras, básica do agroecossistema seria pouco alterada,
nas estradas e nos corredores de acesso deve ser podendo ocorrer, portanto, problemas similares
sistematicamente combatida através do uso de aos dos sistemas convencionais; c) o redesenho do
técnicas adequadas, como a roçada das ervas agroecossistema, para que funcione como novo
espontâneas e a construção de caixas-secas para conjunto de processos ecológicos. Nesse nível,
captação do excedente das águas de chuvas. buscar-se-ia eliminar as causas dos problemas
Deve haver diversificação nos cultivos e adoção que ainda continuam existindo nos dois níveis
de tecnologias que minimizem/eliminem o uso de anteriores; d) a mudança de ética e valores, que
agrotóxicos, como o manejo integrado de pragas e prioriza a relação entre produtor e consumidor,
a produção orgânica. Devem ser mantidas as áreas baseada na educação deste último, uma vez que o
de RL e as áreas degradadas devem ser recuperadas que ele consome não é somente o produto em si,
favorecendo a conservação da biodiversidade e o mas o resultado de um complexo processo que gera
estabelecimento de corredores ecológicos. impactos ambientais e socioeconômicos. Isso guiará
• Na dimensão econômica: é necessário as decisões a serem tomadas pelos agricultores.
ao produtor rural assegurar a sobrevivência Relaciona-se à produção e consumo conscientes
financeira, o bem-estar e a segurança alimentar das (GLIESSMAN, 2001; GLIESSMAN et al., 2007).
famílias sob sua dependência, monitorando seus O modelo de desenvolvimento do café conilon
gastos e receitas, evitando desperdícios por meio no Estado do Espírito Santo vem privilegiando a
da otimização das sinergias entre os sistemas de dimensão econômica em detrimento das demais
produção animal e vegetal, agregando valor aos dimensões da sustentabilidade. Observa-se o
produtos agrícolas, diversificando as atividades crescente aporte tecnológico visando aumento da
produtivas e as fontes de renda e buscando a produtividade e à redução dos custos de produção.
autogestão da propriedade. Deve ser facilitado A opção por esse modelo de desenvolvimento de
o acesso aos canais de comercialização, ao monocultura, principalmente na região norte do
crédito e à assistência técnica. Ao mesmo tempo, Estado, tem demandado expressivos investimentos
devem ser construídos canais de comercialização na aquisição de equipamentos de irrigação,
que assegurem aos agricultores maior grau de maiores doses de fertilizantes e incremento no
autonomia e renda mais elevada, do mesmo modo uso de agrotóxicos. Esse sistema tem favorecido
Cafeicultura Sustentável do Conilon 631
a incidência de pragas e doenças, como a broca- a produtividade média estadual, não impediu que
do-café, cochonilhas, lagarta-das-rosetas, bicho- muitos cafeicultores, principalmente os de base
mineiro e a ferrugem-do-cafeeiro, que assumem, a familiar, ainda conduzam suas lavouras em áreas
cada dia, maior relevância nos cultivos. pouco vocacionadas e sem a utilização dos aportes
tecnológicos disponíveis.
O sistema de produção convencional do café,
quando comparado a sistemas com maior A caracterização dos sistemas de manejo
diversificação, ou “mais agroecológicos”, indicou convencional e de manejo mais sustentável, com
ser menos sustentável, embora apresente maior boas práticas agrícolas utilizadas pelos cafeicultores
produção. A diversificação dos cultivos, no entanto, familiares capixabas é apresentado no Quadro 4.
permite o aumento do valor da renda agregada
Um dos grandes desafios ambientais consiste em
na propriedade agrícola (FERRARI, 2002). O café
buscar sistemas de produção agrícola adaptados
conilon no Espírito Santo é produzido de forma
ao ambiente de tal forma que a dependência
convencional e embora tenha mais que duplicado
Quadro 4. Características dos sistemas de manejo do café conilon da cafeicultura familiar convencional e de boas
práticas agrícolas no Estado do Espírito Santo
Determinantes do
Convencional Boas práticas agrícolas
agroecossistema
Sistema de cultivo Monocultivo com variedades tradicionais Monocultivo com variedades melhoras e uso de
predominante e/ou melhoradas sistemas associados de cultivo
Densidade de De 2 a 3 mil plantas/ha; número variável
Média de 3 mil plantas/ha; de 12 a 15 mil hastes/ha
cultivo de hastes/ha
Nível de
Baixo a médio Baixo a médio
mecanização
Familiar e contratos eventuais na fase
Mão de obra Familiar e contratos na fase colheita
colheita
Adubação dos Química e orgânica, com uso da palha do café baseada
Química; uso eventual de análise de solo
Tecnologias e Manejo
árvores (FRANCK; VAAST, 2009; PADOVAN et al., potencial de produção em sistema de consórcio
2015). Diversas experiências bem-sucedidas do parcialmente sombreado foram identificados
consórcio produtivo de café com banana, mamão, (MACHADO FILHO, 2010).
pimenta-do-reino, pupunha, seringueira, entre
O cultivo de café conilon arborizado com macadâmia
outras, são relatadas. Além dessas, é tradicional
(Macadamia integrifolia Maiden & Betche), na região
o consórcio com espécies anuais, como abóbora,
do sul da Bahia diminuiu a incidência de radiação
feijão e milho nos dois primeiros anos de formação
fotossintética ativa sobre as plantas de café, reduziu
da lavoura. Iniciativas como essas irão contribuir de
a incidência de vento e provocou alterações no
forma efetiva para a melhoria da sustentabilidade
regime térmico e de umidade relativa do ar. A média
da cafeicultura capixaba.
da temperatura máxima do ar foi 2,2 °C inferior ao
A caracterização das áreas de cultivo de café cultivo a pleno sol e indicou que a arborização dos
consorciado com árvores no Espírito Santo (SALES; cafezais pode ter possibilidade promissora para a
ARAÚJO, 2004) evidenciou que estas devem ser mitigação dos efeitos das mudanças climáticas na
compatíveis com o cafeeiro, predominando as de cafeicultura (PEZZOPANE et al., 2010).
crescimento rápido. A diversificação com espécies
Pragas e doenças se tornam uma limitação apenas
florestais, principalmente se associadas a outros
se o agroecossistema não está em equilíbrio
cultivos perenes, é investimento de baixo custo
(ALTIERI; NICHOLS, 2004; VANDERMEER; PERFECTO;
que agrega valor ao cultivo, funcionando como
PHILPOTT, 2010). Nesse sentido, a produtividade
poupança de retorno em médio e longo prazos e
não é afetada por causas específicas, e as pragas
permite a geração de renda durante a renovação
são apenas o sintoma de uma enfermidade mais
das lavouras. Maior taxa de crescimento das árvores
ecossistêmica.
levou à menor produção de café em sistemas
agroflorestais. No Espírito Santo, a principal praga do café conilon
é a broca-do-café [Hypothenemus hampei (Ferrari,
Em situações de baixa de preços do café conilon,
1867)], cujos danos anuais à safra cafeeira foram
os cultivos intercalados poderiam assegurar
estimados em mais de R$ 40 milhões, em anos
renda e representariam a transição para sistemas
favoráveis ao seu desenvolvimento populacional
mais diversificados. Brum et al. (2007) verificaram
(De MUNER et al., 2000). A principal recomendação
que o cultivo de café conilon consorciado com
adotada para seu manejo, visando à redução
pupunheira (Bactris gasipaes Kunth), na região sul
da utilização de agrotóxicos, é a utilização de
do Espírito Santo trouxe incremento econômico,
práticas mais adequadas com a manutenção da
quando comparado a cultivo solteiro de café. O
biodiversidade e o equilíbrio do sistema através
cedro (Toona ciliata M. Roem.) foi a espécie que
do controle cultura - com a retirada de todos os
mais competiu com a produção do conilon, porém
frutos da planta e da área de cultivo - e da colheita
foi a que apresentou maior crescimento vegetativo
bem feita e do repasse (FORNAZIER et al., 2000).
no período avaliado. O jequitibá [Cariniana legalis
Também, há a adoção do controle biológico por
(Mart.) Kuntze] não competiu com o cafeeiro, mas
meio da liberação de inimigos naturais nas lavouras
foi a espécie com menor desenvolvimento (SALES
(BENASSI, 1989), embora ainda seja realizado de
et al., 2013). As melhores produtividades médias de
forma incipiente. Somente após a utilização de tais
clones de café conilon cultivado em consórcio com
métodos de controle e realizado o monitoramento
seringueira foram obtidas quando a seringueira foi
sistemático da população da broca é que se admite
implantada em espaçamentos de 30 m e 40 m, em
a intervenção química, localizada em talhões de
fileiras duplas. Espaçamento de 20 m apresentou
maior incidência da praga.
menor produtividade de café devido ao seu maior
sombreamento; entretanto, mais 100 plantas de A poda de produção e a poda programada de
seringueira são acrescidas por hectare e isso deve ciclo são consideradas como práticas importantes
ser considerado em épocas de preços baixos do de manejo da cultura do café conilon capixaba,
café, além da rentabilidade ao longo do tempo útil pois, além de serem tecnologias de baixo
de vida de cultivo da seringueira. Alguns materiais custo e impacto ambiental, propiciam geração
de café conilon de origem clonal com grande de empregos. Lavouras conduzidas com
poda sistematizada mostraram aumento de
634 Café Conilon – Capítulo 26
A pós-colheita do café conilon é outro importante produtivas, como algodão, cacau, chá, madeira
fator que afeta a dimensão econômica da e soja, além do café. Seus recursos são de origem
sustentabilidade e influencia na manutenção do público-privada, e a parte pública conta com
mercado de comercialização, principalmente para contribuições dos governos da Dinamarca, Holanda
compradores mais exigentes em relação aos fatores e Suíça. Possui atuação no Brasil, Colômbia, Etiópia,
intrínsecos e extrínsecos do café, como a qualidade Indonésia, Peru, Uganda e Vietnam. No Brasil, tem
da bebida e o tamanho dos grãos. As cultivares a coordenação da P&A e como parceiros privados
Centenária, Diamante e Jequitibá foram lançadas internacionais quatro das maiores torrefadoras
visando a esse mercado. mundiais de café: D.E Master Blenders 1753,
Mondeléz, Nestlé e Tchibo, além da Federação
A etapa de secagem do café, no beneficiamento
Europeia de Café e a organização internacional
pós-colheita, tem se mostrado extremamente
Hivos. Juntas fixaram a meta global de aumentar
importante nesse competitivo mercado onde
a produção de café sustentável de 18% para 40%
ela é exigida. Visando à conservação ambiental e
e a comercialização desse café de 8% para 25% no
o redesenho do sistema, é importante o uso de
período de 2010 a 2016.
métodos mais naturais, com o aproveitamento
da energia solar para realização dessa etapa da O PCS busca catalisar energias do setor de café
secagem, seja em terreiros, estufas ou por meio de brasileiro para produzir de forma mais sustentável e
outras alternativas que reduzam o uso intensivo expandir as exportações brasileiras desses cafés. Por
de secadores mecânicos, os quais demandam meio de trabalho desenvolvido com verificadoras e
grande aporte energético. Quando a utilização de certificadoras nacionais e internacionais, ajudará a
secadores mecânicos for necessário, deve-se tomar reduzir o impacto ambiental da produção e criar
o cuidado para se utilizar fogo indireto para secagem mais oferta de café sustentável. Entretanto, o nível
da massa de grãos. Nesse sentido, é necessário o de informação sobre práticas agrícolas sustentáveis
desenvolvimento de uma matriz tecnológica que entre os produtores de café ainda é insuficiente,
permita a produção de café com maior nível de especialmente na agricultura familiar.
produtividade e qualidade superior e incorpore as
Por outro lado, muitos produtores alinhados com
outras dimensões da sustentabilidade.
práticas de sustentabilidade estão impossibilitados
de exportar sua produção como sustentável porque
não são verificados/certificados de acordo com
6 PROGRAMA CAFÉ SUSTENTÁVEL padrão de sustentabilidade internacional. Assim,
O Programa Café Sustentável (SCP, 2015) é uma constata-se que para que esses cafés possam ter
iniciativa pré-competitiva público-privada global valorização no mercado internacional, é necessário
e envolve parceiros da indústria e do comércio que possuam reconhecimento através de alguma
de café, governos locais, ONGs e organizações forma de verificação/certificação. Portanto,
verificadoras/certificadoras do setor cafeeiro. Seu desbloquear maiores volumes de café sustentável
objetivo é contribuir para que práticas sustentáveis produzido no Brasil é crucial para transformar o
de produção e compra do produto ganhem escala mercado mundial de café. Ainda, verifica-se que
por meio de alinhamento dos investimentos das os cafeicultores estão vulneráveis às mudanças
partes interessadas (stakeholders) em programas de climáticas e também enfrentam dificuldades para
suporte ao produtor. Estes visam melhorar o nível de acessar serviços financeiros que possam ajudá-los
vida dos cafeicultores, reduzir impactos ambientais, a se tornar mais sustentáveis.
mitigar efeitos da mudança climática e da perda
Apesar da produção de café sustentável ter crescido
da biodiversidade, fazer com que fiquem mais
de forma considerável no período de 2010-2013,
resilientes no mercado em constante transformação
existe significativa diferença entre a quantidade
e expandir volumes de café sustentável para atender
produzida e comercializada de café verificado/
à demanda.
certificado (Figuras 1 e 2). Além da diferença óbvia
Essa iniciativa partiu do IDH (2014) (sigla em entre oferta e demanda, existem outros fatores
holandês para Iniciativa do Comércio Sustentável), que explicam tal discrepância. A demanda por café
organização internacional que atua em 18 cadeias verde depende de vários atributos de qualidade,
636 Café Conilon – Capítulo 26
incluindo sabor e origem; não são todos os cafés 4C, a quantidade de café certificado conilon
que atendem a esses critérios dos compradores. não ultrapassou 1% do total comercializado
Portanto, para atender a demanda, é fundamental (arábica+conilon). Isso demonstra a defasagem da
ter em oferta ampla gama de qualidades e origens. introdução da sustentabilidade e de seus padrões
Ainda, existe sobreposição de dados quando o (verificação/certificação) nas áreas produtoras
mesmo café possui mais de uma certificação. Esse é do café robusta. Dada a elevada e crescente
um elemento crítico na avaliação da penetração do proporção do conilon na produção brasileira de
café verificado/certificado no mercado e isso pode café, a baixa penetração dos principais padrões
levar à sobrestimação do volume total disponível de sustentabilidade no conilon evidencia que há
(PANHUYSEN; PIERROT, 2014). oportunidades para que os produtores brasileiros
desse café incorporem práticas sustentáveis que
45.000
39318 trarão inúmeros benefícios para toda a cadeia
40.000
35.000 produtiva, além de agregar valor à sua produção.
30.000
25.000
20.000 14000
15.000 12110 10777
10.000 7583 6567 5967 7333 12000
3656
5.000
10000
0
Rainforest Alliance UTZ Certifield Fairtrade Associação 4C 8000
International
6000
2010 2011 2012 2013
4000
Figura 1. Produção de café verificado/certificado, 2010 a
2000
2013 (mil sacas).
0
Fonte: Organizado por P&A (2015). z s s ks
st
lé le B kr us ib
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M
uc ra uc UC va
z
Ne DE St rb Tc
h
rig
on Sm a La u
M St Ke
1000 Volume total comprado Volume sustentável comprado
Quadro 5. Programa Café Sustentável: Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC) e ações proibidas, recomendadas
e prioritárias (continua)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(continuação)
(conclusão)
Fonte:
P&A (2015).
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 6., 2004. Resumos
Cafeicultura Sustentável do Conilon 653
27
Certificação do Conilon e
Experiência do Espírito Santo
Lúcio Herzog De Muner, Maurício José Fornazier, Fabiano Tristão Alixandre,
Jackeline Uliana Donna, Mamen Cuéllar Padilla, Maria da Penha Padovan,
Hans Christian Schmidt e Evair Vieira de Melo
identifica exemplarmente é o Café do Cerrado, com como ação estratégica no Plano Estratégico de
abrangência em 55 municípios localizados no Alto Desenvolvimento da Agricultura Capixaba (ESPÍRITO
Paranaíba, Triângulo Mineiro e noroeste de Minas, SANTO, 2008) com o objetivo de fortalecer a cadeia
na região do Café do Cerrado, com área de 160 do agronegócio estadual de café. A normatização
mil hectares em café, cerca de 3,5 mil cafeicultores para uso do selo “Conilon Capixaba, Robusta de
e produção de aproximadamente 5 milhões de Qualidade” é outra importante ação vinculada
sacas de café por ano (IMA, 2006; LIMA; MOURA; à identificação geográfica de origem. Pequenos
SILVA, 2011; EXPOCACCER, 2015). Gradativamente, produtores podem ser incluídos via cooperativas
outras regiões cafeeiras estão se inserindo e sendo ou associações de produtores propiciando volume
certificadas como foi o Café da Serra da Mantiqueira e padrões de qualidade intrínseca superior do
em 2011, Café Norte Pioneiro do Paraná em 2012 e café que permitam reduzir custos individuais para
o Alta Mogiana de São Paulo em 2013 (INPI, 2013). certificação das propriedades de base familiar (De
MUNER et al., 2003).
O café conilon representa grande potencial para
implementação da IG no Estado do Espírito Santo Existe clara necessidade de se buscar novas formas
visando a valorizar a região e a cafeicultura familiar de certificação mais adaptadas, sejam econômica,
que mais produz esse café no Brasil. Envidar social ou culturalmente, às diferentes realidades dos
esforços nos segmentos da cadeia produtiva para pequenos produtores, principalmente caminhando
estudar o caso do “Conilon Capixaba, o Robusta para a certificação em grupo, com auditorias em
de Qualidade” seria de grande importância para o parte das propriedades. Essa é a alternativa para
futuro dessa cafeicultura no Brasil. redução de custos e envolve todos os atores da
cadeia produtiva. Outro modelo é a “verificação”,
uma versão menos rigorosa e de custo menor que a
7 CERTIFICAÇÃO DE CAFÉ: A EXPERIÊN- certificação. O modelo adota rígido controle social
CIA DO ESPÍRITO SANTO não havendo a figura do inspetor externo (SANTOS,
2004).
As certificações ganharam visibilidade no mercado
de café com iniciativas destacadas principalmente No caso da produção do café conilon orgânico,
pela Fairtrade e UtzCertified. No Espírito Santo, o Espírito Santo contava com a Associação Chão
constatou-se a certificação de café orgânico em Vivo, que atuava na certificação e assistência
Arábica e Conilon. A Cooperativa dos Cafeicultores técnica de propriedades orgânicas. Essa entidade
das Montanhas do Espírito Santo (Pronova), se foi criada em 16 de novembro de 1999, a partir
inseriu no processo de certificação Fairtrade e de uma articulação do Fórum de Agricultura
UtzCertified, a partir de 2006, procurando abrir Familiar, como entidade sem fins lucrativos.
leque de opções participativas de acesso ao Atuava nos estados do Espírito Santo, Bahia,
mercado para seus associados. Entretanto, a partir Minas Gerais e Pernambuco. Em 2005, assinou
de 2009, somente a Fairtrade foi mantida. A Pronova acordo de cooperação técnica com a empresa
foi incorporada pela Coopeavi em março de 2015, alemã Oko-Garantie GMBH – BCS, possibilitando
dando continuidade ao processo de certificação a comercialização da produção orgânica capixaba
principalmente ao mercado de cafés especiais. A nos mercados europeu, americano e japonês
certificação vem sendo implantada de forma lenta (INCAPER, 2005). Entretanto, teve que se adaptar
e dispersa na cafeicultura, o que não é diferente no às normas da Lei Federal nº 10.831/2003 e do
Espírito Santo, principalmente na área do conilon. Decreto Nº 6.323/2007 (BRASIL, 2003, 2007) que
estabelecem parâmetros de fiscalização para áreas
Com exceção da certificação orgânica e
de produção orgânica e estipulam vários critérios
principalmente, da Fairtrade, a certificação está
para que os produtores adaptem sua produção
sendo realizada por médias e grandes fazendas e
ao sistema exigido pelo Ministério da Agricultura.
cooperativas. O acesso dos pequenos produtores
Assim, foi criado o Instituto Chão Vivo de Avaliação
é dificultado devido aos custos da certificação
da Conformidade. Devidamente acreditado pelo
e, principalmente, pela dificuldade de gestão e
Inmetro e credenciado no Mapa, pode atuar na
problemas na qualidade do produto. A certificação
certificação das propriedades orgânicas em todos
do Conilon do Espírito Santo está contemplada
os estados brasileiros.
664 Café Conilon – Capítulo 27
Tabela 1. Municípios, propriedades, áreas e produção de café certificado e de Organização de Controle Social (OCS) no
Estado do Espírito Santo, 2014
Produção certificada Produção OCS Total
Município
Propriedade ha sc Propriedade ha sc ha sc
São Mateus 5 16 260 - - - 16 260
Jaguaré 2 12 340 - - - 12 340
Rio Bananal 1 6 170 - - - 6 170
Iconha 2 3 80 12 25 680 28 760
Santa Teresa 1 1 40 - - - 1 40
Boa Esperança - - - 7 10 300 10 300
Mantenópolis - - - 10 6 200 6 200
Nova Venécia 3 8 260 23 40 1200 48 1460
TOTAL 14 46 1150 52 81 2380 127 3530
Fonte: Schultz (2014).1
dessa matéria-prima, esses blends deixaram de comunidades onde atua, de acordo com decisão
ser produzidos e foram substituídos por cafés da Assembleia Geral Ordinária. A qualidade do
produzidos de forma convencional e originários café certificado comercializado foi tipo 6, 7 ou
da agricultura de base familiar. A consolidação da 8, de acordo com as exigências do comprador.
produção e comercialização do conilon orgânico Para o gerente operacional da CAFESUL, Talles da
certificado possui muitos gargalos no segmento Silva de Souza, a certificação tem se tornado cada
produtivo pela falta de tecnologias apropriadas, vez mais importante devido às exigências dos
elevados custos de produção e de certificação pela consumidores na busca de cafés sustentáveis. As
ausência de organização dos cafeicultores para empresas têm incluído essa exigência na hora de
melhor gestão e comercialização do produto, tendo adquirir a sua matéria-prima. Por isso, a perspectiva
em vista a exigência e logística desse mercado. é de aumento nas vendas de cafés certificados.
Um caso de sucesso a ser relatado é o da Fazenda Além desses, a Nespresso tem realizado o programa
Modena, de propriedade do Sr. Raimundo Paula AAA Sustainable Quality™ com foco no café conilon
Soares, localizada a 8 km de Linhares e a 130 km nas regiões norte e sul do Estado do Espírito Santo.
ao norte de Vitória. Essa propriedade é a primeira Esse é um programa de manejo integrado de boas
e única certificada Rainforest Alliance e UTZCertified práticas agrícolas que garante o atendimento a
de café conilon no Brasil. Sua produção atual é de requisitos de qualidade e de sustentabilidade. O foco
8.000 sacas de 60 kg, das quais 2.000 certificadas principal desse programa é garantir fornecimento
foram comercializadas para a Inglaterra em futuro de cafés de alta qualidade exigidos pela
2014. A produtividade das lavouras varia entre empresa e proteger a vida dos produtores de café,
70 a 80 sacas beneficiadas de 60 kg/ha. O início de suas famílias, das comunidades envolvidas e
desse empreendimento foi em 2009/2010, e o do meio ambiente local (Guilherme Malphigui
principal motivo da exploração foi o desafio para Amado, Gerente de Café Verde da Nespresso,
a produção sustentável do café conilon. Diversos 2014. Comunicação pessoal). O Programa AAA alia
clones precoces, médios, tardios e supertardios princípios de qualidade à sustentabilidade e auxilia
originados das composições clonais do Incaper os produtores na melhoraria da gestão da fazenda
são utilizados em 100 ha cultivados. O valor do e da produtividade. Prêmios para a qualidade e
café comercializado foi de US$ 165,00/saca. A sustentabilidade podem atingir de 30% a 40%
propriedade possui ainda 55 ha de área protegida. dos valores do café praticados pelo mercado. Seu
A área de processamento pós-colheita é composta objetivo é adicionar valor, não somente à empresa
por quatro secadores e um sistema completo para e aos produtores, mas também às comunidades
produção de café cereja descascado, secagem, das regiões fornecedoras de café. Estima-se que
separação, transporte, além de silos e máquinas de cerca de 1% a 2% do café produzido mundialmente
limpeza. oferecem as características sensoriais e de
qualidade que se encaixam nessas especificações.
Outro caso de sucesso que podemos citar é o
Estrategicamente, é muito importante garantir o
da CAFESUL. Essa cooperativa recebeu o selo
futuro da qualidade e volume desses cafés. A meta
de certificação Fairtrade em 2008 e, atualmente,
dessa empresa para 2020 é adquirir 100% dos
todos os seus 136 cooperados são certificados.
cafés arábica e conilon em fazendas participantes
Anualmente, são produzidas cerca de 20.000
do Programa AAA e mais de 50% desses cafés
sacas de café conilon, das quais cerca de 6.000
com certificação Rainforest Alliance, Fairtrade ou
foram comercializadas como certificadas em 2014;
Fairtrade USA.
o valor alcançado foi em média de R$ 265,00/
saca. Esse preço foi de 15% a 20% superior ao O “Programa de estímulo à produção e
praticado no mercado local. Além dessa cotação, comercialização de cafés especiais do Espírito
foi obtido prêmio de R$ 300.000,00/ano, pago Santo” foi lançado em 2014, é coordenada pelo
pelos compradores do café e destinado para Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
investimento na cooperativa. Esse valor foi aplicado Empresas no Espírito Santo (Sebrae-ES) e tem
em melhoria da produtividade e qualidade nas como público-alvo produtores de cafés e unidades
propriedades, na própria cooperativa e nas de processamento de cafés torrado e moído
666 Café Conilon – Capítulo 27
(SEBRAE, 2015). O empreendimento visa a adequar objetivando práticas mais sustentáveis e que
e certificar 2.500 propriedades cafeicultoras, garantam qualidade e produtividade em largo
produzir 500 mil sacas certificadas de café de prazo e com possibilidade de melhor remuneração
qualidade e/ou sustentável, fomentar a produção para aqueles que participam da cadeia produtiva,
de cafés especiais (superior, gourmet e sustentável) principalmente os produtores rurais que
pelas indústrias de café torrado e moído, processar constituem o elo mais frágil da cadeia.
aproximadamente 150 mil sacas no Espírito
A certificação dos cafés do Espírito Santo é
Santo, valorizar a utilização do café conilon de
condição indispensável para a inserção desses
qualidade nos blends de cafés especiais, possibilitar
produtos em mercados diferenciados, que
acesso destes últimos aos principais mercados
possam ser tanto exportados como consumidos
consumidores do Brasil e do Exterior, aumentar
no mercado interno brasileiro, atendendo aos
a integração das associações, cooperativas e
padrões de segurança do alimento exigidos pelos
indústrias torrefadoras locais com redes varejistas e
atores da cadeia produtiva.
obter a tipificação dos cafés produzidos, bem como
seu potencial de qualidade segundo as diferentes
regiões cafeeiras do Espírito Santo.
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IMA. Instituto Mineiro de Agropecuária. Portaria Nº
669
28
Arranjo Institucional da
Cafeicultura de Conilon no Estado
do Espírito Santo
Antonio Elias Souza da Silva, Enio Bergoli da Costa,
Romário Gava Ferrão e Luiz Antonio Bassani
A participação das instituições nessa rede, conforme os diversos segmentos têm que estar orientados
ilustrado na Figura 1, trouxe, sobretudo, mudanças para o conhecimento e para a inovação tecnológica,
positivas no ambiente institucional, que passou a desenvolvendo e construindo alianças para
perceber que a sociedade rural e, especificamente, melhorar a competitividade.
NHECIMENTO E SU
Instituições
AS DE CO POR
articuladoras
OR TE T
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NO
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Instituições de
S P
representação
A CIÊNCIA, GI
RE TECNOLOGIA CO
Á E ENSINO
Seag Sebrae
Ensino4
profissionalizante Rede
FOMENTO Produtores/ privada
E CRÉDITO Experimentadores Academia
3 de Ater
ASSISTÊNCIA
TÉCNICA,
Prefeituras CAPACITAÇÃO,
Embrapa INFORMAÇÃO E
Mapa TREINAMENTO
Seag CCCV
Nestlé
Incaper
Sebrae
Cetcaf Senar Amunes
CONILON
IBC
Verdebras Cetcaf
Instituições
de crédito1 Real
Sindicato dos Café OCB-ES
Cooperativas 2
corretores
COMÉRCIO/
de café Rede
SERVIÇOS
comunicação Faes
Sincafé Abic
Fecomércio PRODUÇÃO
Sindicatos
INDÚSTRIA
Abic Findes
Sincafé
SETOR
ES DA ECONOMIA
1
Instituições de crédito 2
Cooperativas de café 3
Academia 4
Ensino Profissionalizante
Banco do Brasil Cafesul Ufes (CCA, CEUNES) Mepes
Banco do Nordeste do Brasil Cafeicruz Ifes (Sta Teresa, Ceier
Banestes Cooabriel Itapina, Alegre) Ifes
Bandes Coocafé Ufes
Sicoob Coopeavi
Cresol e outras
Caixa
Figura 1. Arranjo institucional do café conilon com base nas organizações provedoras de conhecimento e suporte
tecnológico e mecanismos de articulação e de representação no Estado do Espírito Santo.
Crédito: Ilustração de Cristiane Silveira/Incaper.
672 Café Conilon – Capítulo 28
socialização, têm dado celeridade ao processo de Foram inúmeras as ações realizadas sob sua
geração, difusão e transferência de tecnologias em coordenação ao longo da história, trajetória e
todos os níveis evolução do café conilon no Estado até os dias
atuais, porém, serão enfatizadas algumas linhas
atualmente praticadas e que estão contempladas
3.1 SECRETARIA DE ESTADO DA AGRICULTURA, nos programas direcionados à atividade.
ABASTECIMENTO, AQUICULTURA E PESCA
(SEAG)
A Seag, como coordenadora e articuladora do Renovação e recuperação da lavoura cafeeira
sistema público agrícola estadual, tem como A renovação de lavouras do café conilon é feita
instituições oficiais vinculadas a ela, para execução através de novos plantios em substituição às
das políticas agrícolas destinadas à cafeicultura, lavouras velhas ou decrépitas.
o Incaper e o Instituto de Defesa Agropecuária e
Florestal do Espírito Santo (Idaf ). A disponibilização de material genético para a
renovação do parque cafeeiro de conilon tem como
Porém as ações direcionadas para essa atividade, fonte 220 jardins clonais implantados no Estado
apoiam-se no conjunto de instituições atuantes pela Seag/Incaper, através da cessão de estacas
no arranjo produtivo desse produto, que de materiais genéticos superiores fornecidas a
historicamente têm sido proativas e parceiras. viveiristas particulares, cooperativas e prefeituras
As principais ações organizadas para a cafeicultura municipais.
no Estado do Espírito Santo estão contempladas O cafeicultor tem acesso direto a essa tecnologia
nos programas Renovar Café Arábica, Qualidade através de diversos programas e projetos estaduais
Conilon, Renova Sul Conilon e Calcário Correto, ou municipais, ou podem adquirir direto de
coordenados pela Seag e executados pelo Incaper. viveiros registrados no Ministério da Agricultura,
Esses programas têm sempre como objetivos Pecuária e Abastecimento (Mapa), incentivado
principais o aumento da produtividade e a pelas campanhas sequenciais de melhoria de
melhoria da qualidade final dos produtos (arábica e produtividade e qualidade, desenvolvidas a
conilon), com enfoques nos aspectos econômicos, cada ano pelo Governo/Seag e pelo mercado
sociais e ambientais, necessários à garantia da demandador.
sustentabilidade do negócio café capixaba. Estima-se que o setor privado disponibilizou, de
Desses programas, dois estão direcionados 2011 a 2014, a partir de jardins clonais implantados
especificamente para o sul do Estado, visto que pelo Governo do Estado e de outras bases, entre
essa região necessita avançar mais na ampliação 50 e 70 milhões de mudas de café conilon, na sua
da produtividade média, que se apresenta muito maioria variedades pesquisadas e recomendadas
inferior comparativamente ao norte do Estado. pelo Incaper. Essa quantidade foi suficiente para
As orientações âncoras dessas ações têm sido renovar mais de 20 mil ha do parque cafeeiro de
o Plano Estratégico da Agricultura Capixaba conilon por ano, o que equivale a uma média de 7%
(Pedeag), construído participativamente com as ao ano de renovação.
representações da cadeia produtiva em 2003,
revisado e ampliado em 2007, com horizonte até
2025. Ações com foco regional
A Seag tem participação histórica na trajetória Sob a coordenação geral da Seag e execução técnica
do café conilon no Estado em vários momentos do Incaper, foi lançado na Fazenda Experimental de
importantes, cujo destaque recai sobre 1983 Bananal do Norte/Incaper - Pacotuba, Cachoeiro
com a criação da Coordenação Estadual de Café, de Itapemirim, em 2012, o Programa Renova Sul
assumindo uma programação de pesquisa e Conilon, que traz em seu bojo a estratégia de
assistência técnica oficial, a partir de 1985, sob a dinamizar a produção dessa espécie na região,
execução das suas instituições responsáveis por tendo em vista que os indicadores técnicos do
esses serviços à época. norte do Estado são muito superiores.
674 Café Conilon – Capítulo 28
O programa contempla 28 municípios do Sul do ES, ser seguido porque é requerida pelo mercado e
envolvendo 7 mil propriedades, 20 mil famílias e principalmente pelos consumidores. O objetivo
60 mil pessoas. A região que abrange o programa principal é avançar ainda mais em direção da
apresenta uma produtividade média 30% inferior à qualidade dos cafés conilon e arábica do Estado do
média de conilon do Estado. Espírito Santo.
As principais metas do programa até 2025, Por isso, desde 2008, anualmente, o Governo
conforme o Pedeag para a cafeicultura, é renovar do Estado, por meio da Seag e do Incaper,
e revigorar 5% do parque cafeeiro de conilon por lança edições das campanhas de promoção da
ano (6 mil ha); alcançar a produtividade média do qualidade dos cafés capixabas. A ação consiste
Espírito Santo (43 sc./ha); aumentar a produção de na realização de um conjunto de atividades que
1,6 para 3,0 milhões de sacas (87%) e produzir pelo visam a capacitar e conscientizar o cafeicultor
menos 20% do café conilon com qualidade superior sobre a importância de produzir qualidade e as
(600 mil sacas). formas para alcançá-la. Esse evento ocorre sempre
em 14 de maio, data oficial que caracteriza o início
As principais ações desenvolvidas em 2014
da colheita do café conilon, cujo tema das últimas
no programa foram: prestação de serviços
edições foi “É o Espírito Santo produzindo cafés
de assistência técnica e extensão rural aos
de qualidade”. Normalmente, há participação de
agricultores da região de abrangência do
500 a mil cafeicultores, além de representações de
programa; capacitação de cafeicultores e técnicos;
cooperativas, sindicatos, organizações privadas e
disponibilização de 500 kg de sementes da
autoridades.
variedade ‘Emcapa 8151 - Robusta Tropical’ para
renovação de lavouras; disponibilização de 500 mil
estacas das variedades superiores recomendadas
Programa Calcário Correto
pelo Incaper; disponibilização de cerca de 50
mil estacas dos 27 clones das novas variedades Com objetivo de promover o aumento da
clonais ‘Diamante ES8112’, ‘ES8122’ - Jequitibá e produtividade, melhoria da qualidade do
‘Centenária ES8132’ para viveirista registrados café através do fortalecimento das ações de
no Mapa, associação de produtores, prefeituras transferência de tecnologia, seguindo o conceito
municipais e instituições de ensino visando a de sustentabilidade, o Governo/Seag/Incaper
implantação de jardins clonais. implantaram o Programa de Incentivo à Utilização
de Calcário - Calcário Correto, focado na região sul
Foi realizado ainda um curso envolvendo
do Estado, respaldado em resultados de pesquisa
conteúdos teórico e também a parte prática para
que afirmam que esse insumo, quando aplicado
72 profissionais do Incaper, Senar, Ifes, CCA/Ufes,
corretamente, por si só, é capaz de elevar a
prefeituras municipais e cooperativas atuantes
produtividade das lavouras cafeeiras em até 30%.
na área de abrangência do programa, visando a
atualizações sobre as tecnologias associadas à Os motivos para realização desse programa
renovação e revigoramento de lavouras (mudas, assentam-se no fato de que os solos do Estado
variedades, poda, adubação, pragas e doenças). do Espírito Santo apresentam elevada acidez e
baixos teores de alguns nutrientes, principalmente
Foram implantados 40 novos jardins clonais das
cálcio (Ca) e magnésio (Mg), essenciais para o
cultivares Diamante, Jequitibá e Centenária na
desenvolvimento das plantas e obtenção de
região de abrangência do programa. Essa rede de
produtividades satisfatórias. Portanto, a aplicação
jardins clonais tem o potencial para produção em
correta de calcário como efeitos demonstrativos
2016 de cerca de 15 milhões de mudas por ano
para os agricultores é uma ótima estratégia para
que serão utilizados na renovação de lavouras do
promover a produtividade a baixo custo.
sul do Estado.
O Programa Calcário Correto foi lançado e
executado ao longo do ano de 2014, com objetivo
Campanhas de melhorias da Qualidade dos Cafés geral de incentivar a utilização de calcário
A melhoria da qualidade do café é um caminho a dolomítico, em propriedades de agricultores
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 675
São inúmeros os projetos de pesquisa, com seus difusão e transferência de tecnologia, que gerou
respectivos experimentos (mais de 2 mil materiais uma série de inovações tecnológicas importantes
genéticos), bancos de germoplasma com 500 para o agronegócio, entre elas variedades
acessos, jardins clonais, campo de produção de melhoradas, sediando, inclusive, o lançamento das
semente, unidades de observação e unidades três primeiras, em 1993.
demonstrativas, fundamentais ao processo de
Além de alojar 15 projetos e mais de 60 ações de
capacitação de técnicos da rede de extensão e de
pesquisa desenvolvidos pelo Instituto sob o ponto
cafeicultores.
de vista da transferência de tecnologias, possui
As Fazendas Experimentais, com suas estruturas unidades demonstrativas, campos de produção
de campo instaladas, têm exercido efeitos de sementes, jardins clonais, viveiros de mudas,
demonstrativos necessários ao processo de Banco Ativo de Germoplasma (BAG), unidade de
transferência de tecnologia, já que são vistas processamento e produção de sementes e sala
como “vitrine tecnológica”, pois as ações de prova de café. Essa estrutura permite capacitar
conduzidas naquelas áreas contemplam todas as produtores, técnicos e potencial para disponibilizar
tecnologias que, se adotadas pelos cafeicultores, mais de 3 mil kg de sementes por ano, com potencial
podem promover diferenciais importantes de para produção de mais de 500 mil estacas e 100 mil
produtividade e qualidade. mudas das cultivares melhoradas e lançadas pelo
Incaper.
Essas estruturas têm desempenhado papel
importante na geração e disseminação de Detém um importante BAG de café conilon do
tecnologias necessárias ao avanço da cafeicultura mundo, constituído atualmente por 500 acessos.
de conilon. Cabe, portanto, fazer uma rápida Esse banco é composto de materiais genéticos que
referência sobre elas. apresentam características de interesses, como:
clones, variedades clonais, variedades e híbridos
propagados por sementes.
Fazenda Experimental de Marilândia (FEM)
Com esse aparato tecnológico, a FEM tem
Essa propriedade conta com uma área total de sido constantemente visitada por produtores,
83,88 ha. É atualmente a principal base de pesquisa pesquisadores, técnicos, autoridades políticas,
e transferência de tecnologia para o café conilon representações de todos os segmentos do café,
no Estado do Espírito Santo e uma das mais registrando uma visitação média anual de 2 mil
importantes do Brasil. visitantes podendo alcançar até 4 mil.
Foi cedida, em 1978, à Emcapa, atual Incaper, através Essa unidade tem se apresentado como a base
de contrato de comodato pela Embrapa. referencial de avanços de pesquisa, transferência e
As ações de pesquisa que eram desenvolvidas pelo fomento de café conilon no Estado, no Brasil e no
IBC, mesmo antes dessa data, não sofreram solução mundo.
de continuidade, haja vista o acordo estabelecido
entre aquela empresa estadual e esse instituto, cujo
Fazenda Experimental de Sooretama (FES)
prazo foi encerrado em 1984.
Situada no Município de Sooretama, norte do
A partir de 1985, com o Estado incorporando ações
Espírito Santo, a 75 m de altitude, à margem
de pesquisa em café conilon em sua programação
esquerda da BR 101, km 117 - N, essa base física
oficial, a instituição de pesquisa estadual passou a
tem abrigado, desde 1987, os principais projetos de
administrar a FEM.
pesquisa responsáveis pelos arranjos tecnológicos
Localizada no Município de Marilândia, em uma do café conilon.
altitude de 140 m em relação ao nível do mar e
Com 193,60 ha ao todo, a FES aloja sete projetos e
com condições edafoclimáticas e topográficas
mais 25 ações de pesquisa, além de quatro jardins
representativas da região noroeste do Estado,
clonais com potencial para produção de 500 mil
a Fazenda Experimental, nesses 30 anos, tem
estacas por ano, unidades demonstrativas que
executado um amplo programa de pesquisa,
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 679
têm dado suporte ao trabalho de transferência de executado com sucesso nas unidades do norte.
tecnologia no Estado. Nessa fazenda, são avaliados mais de 700 materiais
genéticos de café conilon e robusta envolvendo
Sediou o lançamento das variedades clonais
clones e progênies. Também são conduzidos cinco
‘Emcapa 8141 - Robustão Capixaba’ em 1999 e
jardins clonais com potencial para produção e
‘Vitória - Incaper 8142’ em 2004, recebendo, nas
disponibilização de mais de um milhão de estacas
ocasiões, enorme contingente de cafeicultores.
por ano de variedades geradas pelo Incaper para os
Possui estrutura física básica de pós-colheita produtores do sul do Espírito Santo.
do café e estação de monitoramento
Conta com unidades demonstrativas e jardins
agroclimatológico, importantes para o suporte e
clonais de variedades melhoradas visando a facilitar
apoio à pesquisa.
o trabalho de transferência de tecnologias, seja pelo
Com esse aparato tecnológico e por tudo que efeito demonstrativo dos resultados de pesquisa,
tem representado para o trabalho de pesquisa seja pela disponibilização de materiais genéticos
e transferência de tecnologias de conilon, a FES superiores para os viveiristas e produtores da região.
constitui-se num empreendimento estratégico para Outros trabalhos de nutrição e manejo de plantas
a cafeicultura do Estado do Espírito Santo. estão também sendo conduzidos.
A estratégia, então, de construir no sul uma base
Fazenda Experimental de Bananal do Norte importante de geração e transferência de tecnologia
(FEBN) para o café conilon posiciona a FEBN como
referência aos produtores que desejam transformar
Localizada na Rodovia 482, entre as comunidades
o perfil de suas lavouras e, consequentemente,
de Pacotuba e Burarama, km 2,5, em Cachoeiro
dinamizar essa atitude naquela região.
de Itapemirim a FEBN, em altitude de 146 m, está
sob a administração do Incaper desde fevereiro de Dessa base operacional, foram selecionados
1980, graças ao contrato de comodato firmado, na diversos clones, que foram agrupados com outros,
ocasião, entre a Empresa Brasileira de Assistência de para o desenvolvimento das três últimas variedades
Técnica e Extensão Rural (Embrater), já extinta, e a clonais geradas pelo Incaper, onde inclusive foi
Emcapa. Atualmente, é administrada pelo Incaper sediado o evento de lançamento das cultivares
através de contrato de comodato com a Embrapa. Centenária, Jequitibá e Diamante, no ano de 2013.
também o maior exportador de café verde e tem 3.5 INSTITUTO BRASILEIRO DO CAFÉ (IBC)
se mantido como segundo maior consumidor.
Fundado em 1952, o IBC definiu a política cafeeira do
Esse protagonismo brasileiro é resultado, em
Brasil, coordenou e controlou sua estratégia desde a
grande parte, da ação das instituições integrantes
produção até a comercialização interna e externa,
e parceiras do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
desenvolveu pesquisas e estudos, além de oferecer
Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), criado em
assistência técnica e econômica à cafeicultura até
1997, que passou a ser coordenado pela Embrapa
1989. Foi extinto em 1990.
Café a partir de 1999.
Desenvolveu uma série de trabalhos importantes
Assim, para coordenar o CBP&D/Café, a Embrapa
para a cafeicultura do conilon, principalmente na
Café foi criada como integrante da estrutura da
introdução da multiplicação vegetativa estudada
Embrapa com a finalidade precípua de realizar,
na Costa do Marfim, a partir de 1962. Contribuiu
promover e apoiar atividades de pesquisa e
com outras pesquisas e estudos no campo da
desenvolvimento do café na empresa e nas
multiplicação e produção de mudas e seleção de
instituições do CBP&D/Café. Nesse sentido, é
matrizes da espécie (PAULINO; PAULINI; BRAGANÇA,
missão da Embrapa Café “Coordenar a execução
1994).
do programa de pesquisa em café e viabilizar
soluções tecnológicas inovadoras para o
desenvolvimento sustentável do agronegócio 3.6 SUPERINTENDÊNCIA FEDERAL DA AGRICULTU-
brasileiro do café” (EMBRAPA CAFÉ, 2012). RA NO ESPÍRITO SANTO (SFA-ES)
O CBP&D/Café é uma congregação de instituições A SFA-ES, unidade descentralizada do Mapa,
de pesquisa e desenvolvimento que têm tem como missão promover o desenvolvimento
por objetivo dar sustentação tecnológica ao sustentável e a competitividade do agronegócio
agronegócio café no Brasil. Foi criado em março de em benefício da sociedade brasileira. No âmbito da
1997 por dez instituições brasileiras de pesquisa cadeia produtiva do café (Coffea canephora Pierre
e desenvolvimento do café (EBDA, Embrapa, ex A. Froehner), destacam-se as ações realizadas na
Incaper, Epamig, IAC, Iapar, Pesagro-RIO, MA/SARC, área de fiscalização de sementes e mudas e na de
UFLA e UFV), tendo a Embrapa como instituição política e desenvolvimento agrícola.
coordenadora (Figura 4).
A fiscalização de sementes e mudas pela SFA-ES visa uma metodologia estatística científica para ser
a garantir a identidade e qualidade das sementes aplicada nos estados produtores de café, com uso
e mudas de café produzidas e comercializadas no de geotecnologia pela Conab e o Geobases do
Estado do Espírito Santo, abrangendo, atualmente, Incaper.
um universo de 278 produtores de mudas de café e
81 milhões de mudas da espécie.
Levantamento de Custo de Produção
A obrigação de realização de análise de raízes
de café visando à verificação da presença de A Conab realiza, periodicamente, reuniões
Meloydogyne sp., antes da comercialização da com produtores, técnicos do Incaper, agentes
muda, foi um avanço conquistado com a edição financeiros, cooperativas, sindicatos para definição
da Instrução Normativa nº 35, de 29 de novembro de coeficientes técnicos para a cultura do café
2012, que estabeleceu as normas para a produção conilon visando a elaboração de seu custo de
e comercialização de material de propagação de produção. Com base nesse levantamento e em
cafeeiro e os seus padrões. outros fatores, é definido pelo Governo Federal o
preço mínimo.
Com validade em todo o território nacional,
essa Normativa, a partir do conhecimento dos Através de trabalhos técnicos elaborados pela
pesquisadores e técnicos do Estado do Espírito Superintendência Regional do Espírito Santo, no
Santo acerca da cultura do café robusta, os quais ano de 2010, o café conilon foi inserido na Política
tiveram o encargo de redigir o regramento legal de Garantia de Preço Mínimo (PGPM), beneficiando
referente a essa espécie, constituiu-se em um marco milhares de produtores de café no Brasil, pois
regulatório da cultura para todo o País. até então, o Governo Federal só comprava o café
arábica.
A edição da IN 35/2012 possibilitou um
aprimoramento nas ações de fiscalização do Mapa e
de garantia de identidade e qualidade culminando Acompanhamento de mercado
com o credenciamento no Registro Nacional de
Sementes e Mudas (Renasem), do laboratório da A Conab pesquisa semanalmente os preços de café
Ufes - Campus São Mateus, para a realização das conilon no atacado e recebido pelo produtor, que são
análises de raízes enviadas pelos produtores de lançados no Sistema de Informação Agropecuária
mudas de café do Estado e de outras unidades da e de Abastecimento (Siagro). Essa pesquisa serve
Federação e de amostras fiscais do próprio Mapa. para atendimento ao Programa de Garantia de
Preços para Agricultura Familiar (PGPAF), cujo
Outra vertente importante do trabalho da SFA-ES objetivo é o atendimento ao Programa Nacional
no segmento do café robusta é a valorização do de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf ),
produto por meio de políticas públicas, como o com a liberação de bônus, quando da liquidação
Plano Agrícola e Pecuário. do custeio agrícola, caso o preço de mercado esteja
abaixo do preço mínimo de garantia na época de
liquidação.
3.7 COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO
(CONAB)
Vinculada ao Mapa, a Conab é representada no Regulação de mercado
Estado pela Superintendência Regional do Espírito
Operações de regulação de mercado são executadas,
Santo, a qual desempenha várias atividades ligadas
quando os preços recebidos pelos produtores
ao café conilon.
estiverem abaixo do preço mínimo de garantia.
O Governo Federal via Conab, utiliza-se de vários
Levantamento de Safra de Café instrumentos para intervir no mercado:
Esse trabalho é realizado em parceria com o Incaper • Aquisição do Governo Federal (AGF): quando há
e, para tanto, o órgão elaborou, juntamente com o intenção do Governo adquirir o café;
Instituto Nacional de Pesquisa Econômica (INPE),
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 683
O CCA participa de forma integrada ativamente em na área agrícola (13 professores no curso de
prol do desenvolvimento da cafeicultura do conilon Agronomia) e menor ainda atuando na cafeicultura,
no Estado do Espírito Santo viabilizando suporte vem sobressaindo-se com a realização de diversas
administrativo e envolvimento institucional formal atividades. Destaca-se na área do conilon a partir de
e qualificado. Nesse aspecto, muitos trabalhos em 2012, com uma crescente atuação, que tem como
níveis de graduação e pós-graduação têm sido exemplo a conclusão de mais de 20 dissertações
realizados em parceria com outras instituições, sobre a cultura desse café.
como Incaper, Embrapa Café, Consórcio Pesquisa
De 2013 a 2015, foram publicados (em café conilon)
Café, Empresa de Pesquisa Agropecuária de
mais de 30 artigos científicos em periódicos,
Minas Gerais (Epamig), Ifes, Coordenação de
aproximadamente 100 resumos em eventos
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
científicos e mais de 15 capítulos de livro sobre
(Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação
a cultura. Também vem, há anos, organizando o
do Espírito Santo (Fapes), CNPq e outros).
Simpósio do Produtor de Conilon, com público
Essa iniciativa permite gerar novas informações superior a 600 participantes do Espírito Santo,
em prol do desenvolvimento sustentável da Bahia e Minas Gerais.
cafeicultura do conilon contemplando requisitos
Em trabalhos com café conilon, vem desenvolvendo
direcionados à utilização racional de recursos
atividades com várias instituições (graduação e
naturais e tecnológicos, sociais, baseados no
pós-graduação), das quais destacam-se as parcerias
respeito às pessoas envolvidas na cadeia produtiva,
com Incaper, Embrapa, Universidade Estadual do
além de ambientais, que preconizam o emprego de
Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf ), Ifes, Capes,
tecnologias que não agridam o ambiente tornando
Fapes, CNPq, K-State University, Universidade
a cafeicultura mais competitiva e sustentável.
de Lisboa (Ulisboa), Instituto de Tecnologia
Química e Biológica (ITQB), Instituto Nacional de
3.10 CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO Investigação Agrária e Veterinária (Iniav), CCA/Ufes,
SANTO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO UFV, Fundação Universidade Federal de Rondônia
ESPÍRITO SANTO (CEUNES/UFES) (Unir), UFLA, Cooabriel, Coopeavi, Caliman Agrícola,
diversos cafeicultores, entre outros.
O Ceunes iniciou suas atividades em 6 de agosto
de 2006, inicialmente em estrutura cedida pela Portanto, de forma atuante, o Ceunes vem
Prefeitura Municipal de São Mateus. Com a contribuindo para o desenvolvimento regional e
doação/aquisição de uma área no Bairro Litorâneo, nacional, em prol do café conilon e do cafeicultor.
Município de São Mateus, foram iniciadas as obras
dos prédios e todas as atividades em fevereiro de
3.11 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA
2010.
E TECNOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO (IFES)
O Ceunes vem desenvolvendo atividades de ensino,
O Ifes possui três campi voltados para o ensino,
pesquisa e extensão, auxiliando no desenvolvimento
pesquisa e extensão na área agropecuária. Essas
regional. O Centro oferece 16 cursos de graduação
unidades ficam estrategicamente localizadas nas
e 4 de mestrado, exercendo liderança em ensino e
regiões norte (Colatina), central (Santa Teresa) e
pesquisa no norte do Espírito Santo.
sul (Alegre). Em suas bases físicas, encontram-se
Entre os vários cursos oferecidos à sociedade, o quadros de profissionais qualificados, fazendas
de Agronomia tem sido considerado pelo MEC/ experimentais e um conjunto de laboratórios
ENADE um dos melhores do Brasil. Voltado para e unidades didáticas que têm sido utilizados
a agricultura regional, com pesquisas aplicadas e historicamente para o desenvolvimento de
formação de recursos humanos, o Ceunes oferece diversas atividades, inclusive aquelas voltadas ao
também o curso de mestrado em Agricultura desenvolvimento do café conilon.
Tropical desde abril de 2010, que tem mais de 60
Essas instituições de ensino são tradicionais
dissertações concluídas.
formadoras de profissionais de nível médio
O Ceunes, mesmo com uma equipe pequena e superior, especialmente técnicos agrícolas,
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 685
do Espírito Santo, João Punaro Bley. Foi inaugurado conilon, com aproximadamente dois anos de idade.
a 6 de setembro de 1941, sob a denominação de Essas plantas foram irrigadas por um sistema de
Escola Prática de Agricultura (EPA), com a finalidade gotejamento e cultivadas no espaçamento de 3,0 x
de ministrar dois cursos práticos e intensivos, 1,2 m.
Administrador de Fazenda e Prático Rural, de um
Foi criada no campus a empresa júnior de
ano de duração, a trabalhadores rurais.
Agronomia, Agrifes Jr., composta por 29 alunos do
O nome Escola Agrotécnica de Santa Teresa - curso de Agronomia. Essa empresa presta assessoria
ES foi estabelecido pelo Decreto nº 83.935, de aos produtores da região, principalmente no plantio,
4 de setembro de 1979, publicado no DOU, de manutenção e pesquisa do café conilon.
5 de setembro de 1979. Ela foi transformada
O campus também conta com a parceria do
em autarquia através da Lei nº. 8.731, de 16 de
Incaper, que é um importantíssimo aliado na
novembro de 1993, publicada no DOU, de 17 de
formação de alunos, que aprendem na prática,
novembro de 1993, estando vinculada à então
através de estágios, tudo o que lhes é ensinado em
Secretaria de Educação Média e Tecnológica
sala de aula.
(Semtec).
Ressalta-se que, na história e trajetória do café
Por meio da Lei no 11.892, publicada no DOU no
conilon no Estado do Espírito Santo, desde a
dia 30 de dezembro de 2008, a Escola Agrotécnica
sua entrada em 1911/1912, há referências sobre
Federal de Santa Teresa tornou-se parte do Ifes,
a importância da Escola Agrotécnica de Santa
com a missão de realizar formação profissional
Teresa, que detinha uma coleção genética de
de jovens e adultos, por meio do oferecimento de
inúmeras espécies de café, incluindo o conilon, e
cursos de curta, média e longa duração buscando
que essa coleção foi fundamental no processo de
capacitá-los com conhecimentos e habilidades
multiplicação e distribuição dessa espécie para
gerais e específicas para o exercício de atividades
o norte do Estado, especialmente São Gabriel da
produtivas, contribuindo para o desenvolvimento
Palha, município que iniciou seu plantio em escala
tecnológico e melhoria da qualidade de vida.
comercial.
Entre os cursos oferecidos pelo campus, destacam-
se o Técnico em Agropecuária e o de Agronomia,
em que os alunos têm a oportunidade de aprender Ifes - Campus Itapina
sobre o café conilon e participar de pesquisas. O Campus Itapina é integrante do Ifes e, em
No biênio de 2013/2014, foram realizadas duas sua história, consolidou-se como autarquia
importantes pesquisas relacionadas ao conilon. São denominada Escola Agrotécnica Federal de
elas: Colatina (EAF-Colatina). Em janeiro de 2009, a
antiga EAF-Colatina, tornou-se Ifes - Campus
• Maturação e produtividade do cafeeiro conilon
Itapina. Desde sua fundação, 59 anos se passaram
submetido a diferentes épocas de irrigação, visando
e nesse período, o campus tem contribuído
a uniformizar a maturação dos frutos do cafeeiro.
significativamente para a educação profissional
O experimento foi conduzido de agosto de 2013
agrícola brasileira e desenvolvimento agrário.
a julho de 2014, em uma lavoura de cafeeiros
conilon, com aproximadamente dois anos de idade. O Campus Itapina está localizado na margem
Essas plantas foram irrigadas por um sistema de norte do Rio Doce, a 17 km do centro de Colatina.
gotejamento e cultivadas no espaçamento de 3,0 x Atende, atualmente, a cerca de mil alunos
1,2 m. provenientes, principalmente, do noroeste e
norte do Espírito Santo, leste de Minas Gerais
• Floração e crescimento do cafeeiro conilon
e sul da Bahia, oferecendo cursos técnicos de
submetido a diferentes épocas de irrigação, visando
nível médio em Agropecuária e Zootecnia e os
a uniformizar a emissão de flores do cafeeiro, sem
cursos superiores em Engenharia Agronômica,
comprometer o seu desenvolvimento vegetativo.
Licenciatura em Ciências Agrícolas e Pedagogia.
O experimento foi conduzido de agosto de 2013
a julho de 2014, em uma lavoura de cafeeiros Como parte da cadeia produtiva agropecuária
da região de abrangência do Campus Itapina,
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 687
Para essa empresa, a preocupação com a nutrição, As atividades do Nescafé Plan administradas pela
saúde e bem-estar das pessoas e com o meio Nestlé Brasil começaram em 2011, no Município
ambiente é essencial para melhorar a qualidade de de Águia Branca/ES. Como não havia experiências
vida de todos, a partir da oferta de bons alimentos anteriores de relacionamento direto entre a
e bebidas. A instituição tem o compromisso Nestlé e os cafeicultores brasileiros, a empresa
de fornecer produtos saborosos e confiáveis decidiu apostar no bom relacionamento com os
e, para isso, o respeito ao meio ambiente e às comerciantes de café para fazer essa aproximação.
pessoas envolvidas com o ciclo de produção O padrão independente de sustentabilidade
e do consumo de alimentos é extremamente desenvolvido pela Associação 4C foi a referência
importante, incluindo: produtores, colaboradores, escolhida para guiar o trabalho de desenvolvimento
consumidores e comunidades onde atua. dos cafeicultores. Em Janeiro de 2012, a primeira
licença 4C foi emitida em nome da Nestlé Brasil.
688 Café Conilon – Capítulo 28
agricultura familiar com geração de renda e melhoria atual lutou no Conselho Monetário Nacional (CMN)
da qualidade de vida do homem do campo. para conseguir o aumento do preço mínimo do
café conilon depois de anos estabilizado passando
Para o Mepes é motivo de muita satisfação ter
de R$ 156,57 a saca com 60 kg para R$ 180,80.
contribuído com o Incaper, Embrapa e outras
Isso conseguido após um período sem uma
instituições de pesquisa para o desenvolvimento do
representação oficial no CNC.
café conilon no Estado e fazer parte dessa história
de sucesso, hoje reconhecida mundialmente. Insta destacar que a OCB/ES não apoia somente a
parte técnica de suas cooperativas, e sim articula
e traça estratégias importantes para a defesa dos
3.14 CENTRO ESTADUAL INTEGRADO DE produtores de café do Estado.
EDUCAÇÃO RURAL (CEIER)
Assim, o Sistema OCB/ES se consolida, cada vez
Criados em 1982, no Município de Boa Esperança mais, como propulsor e disseminador de programas
e em 1983, nos Municípios de Águia Branca e Vila e projetos para a melhoria da qualidade dos cafés
Pavão, pela Secretaria de Educação (Sedu), os capixabas, da vida do produtor cooperado e de suas
Ceiers são escolas rurais que objetivam atender aos cooperativas.
filhos de agricultores dos municípios da região.
As escolas mantêm em suas bases físicas Unidades
de Demonstração, Experimentação e Produção 3.16 COOPERATIVA AGRÁRIA DOS CAFEICULTORES
DE SÃO GABRIEL DA PALHA (COOABRIEL)
(UDEPs) de variedades clonais de café conilon e
propagadas por sementes, que servem de base A Cooabriel, localizada na região noroeste do
para o ensino e pesquisas agroecológicas realizadas Estado do Espírito Santo, com sede no Município
naqueles centros. de São Gabriel da Palha, completou 52 anos em
2015. Foi criada em 13 de setembro de 1963, com
Todas as técnicas de condução das lavouras
a participação de 38 associados. Atualmente,
são agroecológicas e praticadas pelos jovens, o
com cerca de 4 mil associados ativos, é a maior
que reforça o compromisso da entidade com a
cooperativa de café conilon do mundo.
capacitação técnica e a difusão de tecnologias
dessa cultura. Atuando diretamente nas Para conhecer sua atuação, sua evolução
comunidades rurais, o Ceier tem contribuído para empresarial e seus pilares de sustentação ao longo
a difusão tecnológica do café conilon com base desse período, torna-se necessário compreender a
nos preceitos da sustentabilidade ambiental. trajetória da entidade e suas principais ações.
Vale ressaltar não só o apoio técnico, gerencial e
3.15 SINDICATO E ORGANIZAÇÃO DAS cooperativo aos seus associados, mas também
COOPERATIVAS BRASILEIRAS DO ESTADO DO a presença marcante dela como articuladora e
ESPÍRITO SANTO (OCB/ES) componente importante da cadeia produtiva do
café, especialmente o conilon.
O Sistema OCB/ES, como representante e
instituição parceira em diversas ações das Um dos fundamentos de sua criação foi a
cooperativas capixabas, apoia as iniciativas para necessidade dos cafeicultores da época de obterem
o aprimoramento do maior setor produtivo melhores condições de comércio do produto.
do Espírito Santo, a cafeicultura. Iniciativas Ressalta-se que o café arábica (Bourbon) constituía
como concursos de qualidade, capacitações e a base econômica de São Gabriel da Palha na época
treinamentos, programa de assistência técnica e da fundação da Cooabriel.
consultoria tecnológica para os cooperados, são Das primeiras prestações de serviços, que consistia
apoiadas e incentivadas pela OCB/ES. Nos últimos em disponibilizar um setor de consumo com
anos, foram aportados mais de 450 mil reais em objetivo de repassar insumos agrícolas e gêneros
projetos específicos. alimentícios aos sócios, a aquisição de área para
Em 2014, como representante do Estado no instalação de máquina de beneficiamento e
Conselho Nacional do Café (CNC), a administração estrutura de armazenagem, até a disponibilização
690 Café Conilon – Capítulo 28
de um portfólio de serviços que presta atualmente, ES8112’, ‘ES8122’ - Jequitibá e ‘Centenária ES8132’.
a cooperativa soube superar dificuldades e romper
Atualmente, com um jardim clonal de
na crise histórica da erradicação do café, graças
aproximadamente 28 mil matrizes das variedades
à determinação de seus sócios e dirigentes. Esse
citadas acima, a Cooabriel possui uma estrutura
empenho e dedicação fizeram com que a Cooabriel
de campo e de viveiro para produção potencial
se transformasse num dos melhores modelos de
de mais de 4 milhões de mudas por ano, cuja
organização cooperativista na área de café conilon
disponibilização ao cafeicultor é feita por meio de
do Brasil, senão do mundo.
confirmação em contrato com período mínimo
de antecedência de seis meses, dependendo do
período das encomendas.
Prestação de Serviços
Para facilitar o acesso dessa tecnologia ao associado,
Além dos serviços de armazenagem e
a cooperativa mantém uma política de preços
comercialização, que constituem suas duas
mais baixos que o mercado e um sistema de
principais atividades, a entidade agregou muitos
financiamento com conversão de mudas em café
outros benefícios na prestação de serviços aos seus
(produto) a ser pago na safra. Esse mecanismo é
sócios.
mais uma facilidade que a cooperativa disponibiliza
Está estruturada para orientar e acompanhar para incentivar os cooperados a adquirirem mudas
seus associados desde a escolha da área para de melhor qualidade.
implantação da lavoura oferecendo serviços
Por todo esse trabalho bem conduzido, o viveiro da
laboratoriais de análise de solo e planta, produzindo
Cooabriel é uma referência em produção de mudas
e fornecendo mudas de alto padrão genético e
de qualidade, que são disponibilizadas para todo o
orientando todo o processo, passando por todas as
Estado do Espírito Santo e sul da Bahia.
fases, até a comercialização e assistência jurídica,
além de outros serviços coadjuvantes.
Esse conjunto de atendimentos tem permitido Consultoria Técnica
avançar em termos de produtividade e qualidade
Esse serviço foi inicialmente realizado em parceria
do produto agregando maior valor e aumentando
com a antiga Emater, atual Incaper, por vários
a lucratividade do cooperado.
anos. Porém, no ano de 2000, identificou-se a
necessidade de ampliar essa ação contratando
três profissionais com o objetivo de atender aos
Produção e comercialização de mudas
associados de forma grupal.
Com a utilização de mudas oriundas de sementes,
A partir de 2002, expandiu-se o trabalho de
até então os produtores não conseguiam avançar
atendimento ao produtor no escritório da sede
em produtividade e uniformidade do produto,
e as visitas programadas nas filiais localizadas
haja vista a diversidade genética e a polinização
nos municípios vizinhos. Em 2005, a cooperativa
cruzada, características das plantas de café conilon.
diversificou sua forma de atendimento e
Com os resultados de pesquisa que geraram implementou programas de consultoria técnica
variedades clonais de maior desempenho e gerencial, com agendamento programado para
agronômico, o preço das mudas aumentou muito. capacitar o sócio com ferramentas de gestão e
Essa constatação levou a cooperativa a decidir empregos de tecnologias em modelo estruturado.
produzir as suas próprias mudas, com base em
Criou o sistema de consultoria técnica, que já
jardim clonal composto por matrizes registradas.
completa 10 anos de atuação, com 17 profissionais
A partir de 1993, a cooperativa vem implantando no Espírito Santo e no sul da Bahia, assistindo 794
e ampliando seu jardim clonal usando os clones sócios com calendários programados, além de
das variedades desenvolvidas e lançadas pelo 971 sócios por atendimento convencional nos
Incaper: ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa 8121’, ‘Emcapa departamentos técnicos. A consultoria técnica
8131’, ‘Emcapa 8141 - Robustão Capixaba’ e ‘Vitória agronômica objetiva motivar o beneficiário a
- Incaper 8142’. E as novas variedades: ‘Diamante conhecer e usar adequadamente as tecnologias
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 691
sendo levados para feiras internacionais, onde 2013, o Programa de Estimulo à Produção de Cafés
foram degustados e elogiados por degustadores Especiais do Espírito Santo que ganhou aprovação
renomados. Já foram vendidos lotes para pequenas de especialistas capixabas e nacionais para mostrar
e médias cafeterias e torrefações no Brasil, que ao Brasil e ao mundo a capacidade do Estado na
estão fazendo blends com cafés arábicas especiais. produção de cafés especiais.
Atualmente, está executando um projeto em Os cafés do Espírito Santo possuem atributos
parceria com a Fundação Banco do Brasil de que os diferenciam daqueles comercializados
Recuperação de Nascentes e Conservação de Solos. em bolsas de mercadorias em grandes volumes
O projeto está sendo executado por técnicos da padronizados. Tais propriedades podem estar
própria Cafesul, em parceria com os técnicos do relacionadas às suas características físicas, químicas
Incaper local. e sensoriais. Contudo, também envolvem critérios
sociais, ambientais e econômicos, relacionados à
Nesse projeto, há investimentos para construção
sustentabilidade com que a atividade é conduzida.
de um viveiro de mudas, distribuição de kits
compostos de estacas e arame para cercamento Como resultado, o Sebrae-ES pretende apoiar as
das áreas, fornecimento de mudas para os iniciativas de produção de cafés conilon especiais
produtores, capacitação de produtores e técnicos para que os principais mercados consumidores
em técnicas de preservação de água e solo, além desse produto possam conhecer essa nova
de horas de máquina para construção de caixas- especialidade capixaba, que é ser também um
secas nas estradas das lavouras dos cooperados. grande produtor de micro lotes de cafés especiais.
Até o momento, foram construídas 154 caixas-
secas com capacidade de armazenamento de 3.21 PREFEITURAS MUNICIPAIS DA ÁREA
até 1.164.000 L de água em 3,9 km de estradas PRODUTORA DE CAFÉ CONILON
preparadas para evitar a erosão e preservar o solo.
Foram atendidos 15 produtores, e a meta é atender As prefeituras, no conjunto, têm se constituído
mais 50 até o final do projeto. numa das principais parceiras na difusão de
tecnologias em geral e no fomento das variedades
melhoradas de café conilon. Atualmente
3.20 SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS contemplam, parcela significativa de jardins
EMPRESAS DO ESPÍRITO SANTO (SEBRAE-ES) clonais e viveiros de mudas de café no Espírito
Santo.
Desde a década de 90, o Sebrae vem criando
ambiente favorável para o desenvolvimento e Representadas por suas Secretarias Municipais de
aperfeiçoamento das atividades econômicas Agricultura ou afins, desenvolvem com o Incaper
do Brasil, nos aspectos de gestão, inovação, e demais entidades e representantes locais
empreendedorismo e mercado. amplos Planos Municipais de Desenvolvimento
Rural, a maioria das vezes discutidas e
Dentro desse cenário, está a agropecuária brasileira,
aprovadas pelos Conselhos Municipais, que têm
que começou a receber ações para a melhoria da
contemplado programações importantes para o
atividade, mostrando sua força e capacidade de
desenvolvimento da cafeicultura de conilon nos
inovar e acessar novos nichos de mercado para os
municípios maiores produtores de conilon.
produtos diferenciados.
Ultimamente, as prefeituras têm ampliado
Nesse mesmo momento, aparece o café conilon
sua estrutura técnica com a contratação de
ganhando alta produtividade e cada vez mais
profissionais, aquisição de equipamentos de
qualidade, carecendo de ações que possam
informática e intensificado sua atuação no campo
promover esse produto ainda mais, além de
da assistência técnica e extensão rural através de
estruturar sistemas gerenciais e mercadológicos
convênios com o Incaper, com o objetivo específico
para a sua produção.
de promover um trabalho integrado, articulado e
Foi com esse cenário que o Sebrae-ES, juntamente compartilhado desse serviço.
com os parceiros do setor, constituiu, no final de
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 695
Essa parceria com o Incaper tem proporcionado investimento, foram liberados mais de R$ 124
uma qualificação mais adequada desses milhões para a implantação e renovação dos
profissionais das prefeituras sob o ponto de vista cafezais, que ampliaram a produção e trouxeram
tecnológico, metodológico e na elaboração de mais qualidade de vida para os cafeicultores
projetos de crédito. Os resultados dessa ação (BANCO DO BRASIL, 2014).
conjunta são fundamentais para ampliar e
Para a comercialização da produção, as linhas de
qualificar a assistência técnica e a extensão rural
crédito disponíveis permitiram melhor controle do
aos produtores.
fluxo de caixa. Com dinheiro no bolso, o produtor
As prefeituras têm promovido e participado de café do Espírito Santo pôde esperar o melhor
de parcerias na organização de eventos, fóruns momento para comercializar a safra e, nessas
de debate de políticas públicas e encontros de linhas, o Banco do Brasil emprestou mais de R$ 89
produtores, com o propósito de criar um canal milhões.
de comunicação com os agricultores e acelerar a
A cafeicultura possui fundamental importância
adoção de tecnologias transformadoras.
para o desenvolvimento do Espírito Santo. Por isso,
o banco se orgulha de ser o principal parceiro do
3.22 BANCO DO BRASIL (BB) agronegócio local, oferecendo um amplo portfólio
de produtos e serviços adequados às necessidades
Desde a década de 70, o Banco do Brasil financia de todo o segmento, desde o mini e pequeno
a produção de café conilon no Espírito Santo. No produtor às grandes empresas agroindustriais.
início, foram financiamentos para a implantação
de lavouras, sob assistência do extinto IBC. Depois, Com essa parceria, estimula-se o
vieram outras linhas de crédito, nas quais os empreendedorismo no campo, viabiliza-se a
cafeicultores se apoiaram para introduzir novas incorporação de novas tecnologias e o aumento
tecnologias e vencer algumas crises de preços. da produtividade. E o resultado desse trabalho
conjunto contribui, decisivamente, para a
Atualmente, o BB dispõe de várias modalidades ampliação das oportunidades de emprego e
de financiamento para o atendimento das renda, aumento das exportações e a promoção do
necessidades da cafeicultura. desenvolvimento regional sustentável.
As linhas de custeio financiam as despesas do
dia a dia durante a produção do café, permitindo
3.23 BANCO DO NORDESTE DO BRASIL (BNB)
recursos para utilização em qualquer período
da atividade. Na safra 2013/2014, só no Espírito Desde março de 1999, o Banco do Nordeste atua no
Santo, foram assinados mais de 14 mil contratos Estado do Espírito Santo. Atende a 28 municípios
de custeio totalizando um montante de R$ 427 do norte do Estado e sete na região metropolitana
milhões (Tabela 1). da Grande Vitória. Conta atualmente com cinco
agências, das quais quatro são designadas Plenas
Nesse mesmo período, através das linhas de
Tabela 1. Recursos aplicados pelo Banco do Brasil na cafeicultura capixaba, por ano safra
Custeio Investimento Comercialização CPR Total
Ano/Safra Contratos Valor Contratos Valor Contratos Valor CPR Valor Contratos Valor
(n°) (R$) (n°) (R$) (n°) (R$) nº (R$) (n°) (R$)
2008/2009 21.089 222.816.450 611 15.814.637 183 33.560.126 - - 21.883 272.191.213
2009/2010 21.025 255.810.238 1.187 48.154.162 143 22.801.999 11 23.350.000 22.366 350.116.399
2010/2011 19.350 278.365.989 1.211 47.350.942 87 11.229.688 22 19.775.000 20.670 356.721.619
2011/2012 16.630 299.182.454 1.523 74.524.327 99 60.710.762 6 11.950.000 18.258 446.367.543
2012/2013 16.946 371.538.166 2.356 80.086.815 122 87.253.669 - - 19.424 538.878.650
2013/2014 14.702 427.166.767 4.211 124.213.025 138 89.652.491 2 17.170.000 19.053 658.202.283
Fonte: Banco do Brasil (2014).
Notas:
1. Valores com base em financiamentos totais à cafeicultura, contratados no período compreendido entre 1 de julho de um ano a 30 de junho do ano seguinte.
2. Os valores de financiamentos para investimentos não consideram os direcionados para máquinas, equipamentos, tratores e implementos.
3. Não há separação entre conilon e arábica. Todavia, o primeiro representa cerca de 75% do volume total.
696 Café Conilon – Capítulo 28
nos Municípios de Colatina, Linhares, Nova mais grave crise social – efeitos da crise cafeeira e da
Venécia e São Mateus, além de uma Especializada política de erradicação de cafezais.
em Vitória. Em 2015, outras duas do tipo Plenas
Desde então, participa de maneira efetiva na
foram instaladas nos Municípios de Barra de São
articulação e fomento da política agrícola do
Francisco e Pinheiros. A ampliação da capilaridade
Estado. Participou de vários programas nessas
no Estado contribui cada vez mais para alavancar o
últimas décadas que culminam com os bons frutos
perfil de vários negócios na região.
colhidos atualmente pela cafeicultura capixaba.
Dentro da referida área de atuação para o interior
Desde o início de suas atividades, incentivou
do estado, encontram-se os Municípios de: Água
os programas de melhoria da qualidade e da
Doce do Norte, Águia Branca, Alto Rio Novo, Baixo
produtividade do café. Nos anos 70, a sua atuação
Guandu, Barra de São Francisco, Boa Esperança,
já se voltava para o crescimento da produção sem
Colatina, Conceição da Barra, Ecoporanga,
promover o aumento da área plantada. Outro bom
Governador Lindenberg, Jaguaré, Linhares,
exemplo de seu desempenho foi a implantação da
Mantenópolis, Marilândia, Montanha, Mucurici,
Realcafé, para que ela viesse a se constituir como
Nova Venécia, Pancas, Pedro Canário, Pinheiros,
empresa âncora da cadeia do conilon comprando
Ponto Belo, Rio Bananal, São Domingos do Norte,
café, estimulando o plantio e promovendo a
São Gabriel da Palha, São Mateus, Sooretama,
melhoria da qualidade desse produto.
Vila Pavão e Vila Valério. Na região metropolitana,
atende os Municípios de: Cariacica, Guarapari, Na década de 1990, o Bandes participou da
Fundão, Serra, Viana, Vila Velha e Vitória. Câmara Setorial do Café e do Recafé (Programa
de Revitalização da Cafeicultura Capixaba).
O BNB vem apoiando as mais diversas cadeias
Nesse período, avançou-se na compreensão
produtivas do Estado através do Fundo
de que o modelo tecnológico praticado na
Constitucional de Financiamento do Nordeste
cafeicultura estadual possuía imperfeições desde
(FNE), com atendimento prioritário para a
a implantação das lavouras até o tratamento do
agricultura familiar e os micro, mini e pequenos
produto após a colheita, com reflexo negativo na
empreendimentos urbanos.
produtividade e na qualidade do produto.
Cumprindo o papel de banco de desenvolvimento,
O banco compreendia que poderia contribuir
busca constantemente fortalecer as parcerias
nesse processo de mudança de padrão
institucionais, a exemplo do acordo de cooperação
tecnológico. Assim, voltou seus financiamentos
que mantém com o Sebrae para ações conjuntas
a investimentos que promoveram o aumento da
visando a pulverização do crédito na sua área de
produtividade e a melhoria da qualidade do café,
atuação. Dessa forma, é válido registrar que nesses
reforçando seu compromisso com a agregação
15 anos de atuação no Estado do Espírito Santo,
de valor e com a diversificação das atividades no
foram aplicados R$ 1,83 bilhão, distribuídos em
meio rural, sob condições de sustentabilidade.
20.888 operações de crédito.
Nesse particular, a agricultura familiar é um dos
A cafeicultura se destaca no Espírito Santo como
principais focos de atuação do Bandes, o qual reforça
uma das principais atividades geradoras de
o relacionamento com a Seag, Incaper, secretarias
renda na área rural. Dessa forma, o BNB apoia
municipais de agricultura e demais parceiros.
os produtores da região, tendo investido, nesse
período, o total de R$ 131.942 milhões em 2.169 Em volume de recursos aplicados no setor rural,
operações (BNB, 2014). desde 2005, o banco financiou cerca de R$ 1,4 bilhão
em investimentos (corrigidos pelo IPCA), e mais de
R$ 850 milhões foram aplicados na cafeicultura, dos
3.24 BANCO DE DESENVOLVIMENTO DO ESPÍRITO quais R$ 550 milhões destinados ao café conilon.
SANTO (BANDES) Em número de operações, foram 35.650 no setor
O Bandes foi criado no final dos anos 60 com a rural, sendo 25.200 para a cafeicultura, das quais
finalidade de contribuir para a recuperação da 16.400 em apoio ao conilon (BANDES, 2014).
economia do Espírito Santo, que passava por sua
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 697
12 de fevereiro de 1958. A entidade é filiada à do Espírito Santo (Serrana, Caparaó, Sul, Noroeste
Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), e Litoral Norte) e micro e pequenas empresas de
atua como integrante do Conselho Consultivo e cafés torrado e moído.
Conselho Gestor da Instituição e participação no
Os principais objetivos do programa são: certificar
Conselho Estadual do Café.
2.500 propriedades cafeicultoras; produzir 500 mil
O sindicato compõe a Câmara Setorial das Indústrias sacas de café de qualidade e/ou sustentável, com
de Alimento e Bebidas, responsável por ações certificação; fomentar a produção de cafés especiais
voltadas para a eliminação de gargalos inibidores (superior, gourmet e sustentável) nas indústrias
da competitividade dos Arranjos Produtivos Locais de café torrado e moído; e valorizar a utilização
(APLs). Atua firmemente nas ações empreendidas do café conilon de qualidade aumentando a sua
por órgãos reguladores, principalmente nas participação nos blends de cafés especiais.
ações fiscais direcionadas a setores industriais,
Com esse programa, o Sincafé apoiará, de maneira
que requeiram a atuação política e técnica para
crescente, os produtores de café conilon especial
minimização dos impactos.
e suas associadas torrefadoras com o objetivo
O Sincafé, atualmente com 22 empresas de solidificar o produto como um diferencial do
torrefadoras associadas, tem desempenhado Espírito Santo no Brasil e no exterior.
um importante papel no que tange ao
desenvolvimento do agronegócio do café
realizando ações e programas, tendo em vista o 3.29 FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA
crescimento do consumo interno, a valorização DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (FAES)
da qualidade, o fortalecimento das indústrias e a A Faes é uma entidade privada, filiada à
união das entidades de agronegócio do café. Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil
Os avanços tecnológicos recentes voltados (CNA). Foi criada em 1951, e congrega atualmente
para a cultura do café conilon, cujo predomínio 54 sindicatos rurais patronais ativos no Espírito
produtivo localiza-se no Espírito Santo, foram Santo.
muito expressivos, principalmente com a produção Está presente em todos os municípios do Estado por
crescente do café conilon especial. extensão de base do município sede do sindicato.
A demanda do café conilon especial vem Representa cerca de 35 mil produtores capixabas,
aumentando no mercado brasileiro, e a maior grande parte dos quais trabalha com café conilon.
procura pelo produto é decorrente das indústrias de Legítima representante da classe produtora rural
cafés torrado e moído, que o utilizam em blends com em diversos organismos públicos e privados, a
o arábica. Com o crescente avanço do consumo de Faes tem assento em 83 entidades governamentais
café em cápsulas, a expectativa é de que a produção e não governamentais, com destaque para a
do conilon especial aumente. representação volante do Conselho Deliberativo da
O café conilon especial possui atributos que Política Cafeeira Nacional (CDPC) e do CNC.
vão desde características físicas, como origens, Seu poder de articulação com as entidades
variedades, cor e tamanho até preocupações componentes do agronegócio café conilon,
ambientais e sociais, como o sistema de produção associado à sua capacidade de mobilização de
e as condições de trabalho da mão de obra cafeeira. produtores através de seus sindicatos, tem se
Foi dentro desse quadro que o Sincafé, em parceria constituído em fator preponderante no processo de
com a Federação das Indústrias do Espírito Santo transferência de tecnologias aos cafeicultores.
(Findes), Sebrae-ES, Bandes, Seag, Cetcaf, Incaper, Portanto, sua representação e atuação sobre os
Faes, Centro do Comércio de Café de vitória (CCCV) cafeicultores, ao longo dos anos, posicionam e
e OCB-ES, instituiu o Programa de Estímulo à credenciam a entidade como uma das responsáveis
Produção de Comercialização de Cafés Especiais pelo avanço da cultura de conilon no Estado.
do Espírito Santo, cujo público-alvo são os
produtores de cafés sediados nas regiões cafeeiras
700 Café Conilon – Capítulo 28
30 salas, que atendem a 8.264 alunos. Tem com seu trabalho conquistado posição
de destaque no processo de transferência de
O Centro do Comércio de Café de Vitória tem
tecnologia aos cafeicultores do Estado, tanto de
participado ativamente em parceria com outras
conilon quanto de arábica.
entidades para garantir a oportunidade de
aprendizado extracurricular e proporcionar novos
conhecimentos e contato com a tecnologia, 3.33 EMPRESAS TRISTÃO - REALCAFÉ
ampliando as possibilidades de conhecimento dos
alunos das escolas rurais. Em 1935, o mundo vivia sob o impacto da grande
depressão econômica, cujas consequências
atingiram profundamente o café, mola propulsora
3.32 CENTRO DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGI- da economia brasileira de então. É nesse cenário
CO DO CAFÉ (CETCAF) que José Ribeiro Tristão chega à cidade de Afonso
O Cetcaf é uma entidade não governamental, sem Cláudio, no Espírito Santo, para abrir uma loja de
fins lucrativos e econômicos, criada em dezembro variedades que teria o nome de seu pai: a Casa
de 1993, com a função precípua de ser o órgão de Misael, berço das empresas Tristão.
ligação entre os diversos setores do agronegócio Apostando no café como moeda, Tristão expandiu
café. suas atividades comerciais. Logo, o café tornou-se
Tem sido um dos grandes articuladores no processo seu principal negócio, passando a ser exportado
de união da cadeia produtiva do café, em especial em 1960. Naquela ocasião, Jônice Tristão já
do conilon. Exemplo marcante desse trabalho é a se encontrava à frente dos negócios, dando
aproximação que promove, desde 1994, do setor prosseguimento à importante obra recebida do
de produção com os setores da indústria e da pai.
exportação, representados pelo CCCV. Em 1971, era inaugurada a Realcafé Solúvel do
As interações entre os segmentos associados ao Brasil, arrojado empreendimento que se consolidou
café têm sido efetivadas de diversas formas e como o grande incentivador da produção do café
oportunidades, especialmente nos intercâmbios conilon no Espírito Santo.
tecnológicos e científicos, através dos eventos, ou As empresas Tristão muito se orgulham de ter
mesmo nos fóruns de políticas cafeeiras, como na participado ativamente da história de sucesso
Câmara Setorial do Café. protagonizada pelos produtores capixabas que,
Tem pautado suas ações também na com muita garra e pioneirismo, conseguiram
modernização tecnológica visando à mudança vencer os mais diversos preconceitos para
de perfil da cafeicultura do Estado, com foco implantar uma nova cultura de café nas regiões do
na profissionalização do cafeicultor, através da norte do Estado.
realização de cursos, encontros e simpósios nas Na década de 1970, a apreensão era generalizada
diversas regiões produtoras do Estado. entre os sofridos cafeicultores. Foi então que
Já conta com a marca de mais de 300 cursos pioneiros locais, lideranças e autoridades
profissionalizantes realizados, além de ter promoveram uma campanha de conscientização
coordenado e executado nove edições do Simpósio entre os produtores incentivando o plantio do
Estadual do Café alcançando o patamar histórico robusta. Concluiu-se que uma possível solução era
de mais de 20 mil cafeicultores partícipes de suas a introdução de uma nova variedade de planta, o
ações (CETCAF, 2014). Contempla, ainda, em seu conilon, mais resistente às pragas e doenças que
portfólio de realizações, participações em estudos poderia ser cultivado em regiões mais baixas e de
e diagnósticos, sendo presença marcante em clima quente.
todos os fóruns, discussões e debates de interesse Mas não havia financiamento nem apoio para o
do agronegócio café. Lançou em 2006, em caráter conilon. A grande incerteza era como e para quem
pioneiro, um padrão de bebida que acabou por vender o robusta se o mercado era pequeno e os
determinar as qualidades organolépticas do café preços muito irregulares. O melhor argumento a
conilon. favor era que a indústria de solúvel, cujo consumo
702 Café Conilon – Capítulo 28
crescia nos Estados Unidos e na Europa, utilizava anos. Trata-se de um programa especializado na
esse produto como matéria-prima e poderia ser o área rural.
canal adequado para o escoamento da produção.
Ao longo desses anos, matérias técnicas, boletins
Nessa mesma época, a Tristão rompia a tendência diários, reportagens, cadernos especiais e outros
das autoridades federais de autorizar a instalação assuntos foram exaustivamente utilizados
de indústrias de café solúvel somente em São Paulo, pelos Meios de Comunicação em Massa (MCM):
Paraná e Minas Gerais e iniciava a implantação da televisão, rádio, jornal, revista e internet, com o
Realcafé, enquanto a cultura do conilon contava objetivo de difundir informações, conhecimentos
com o empreendedorismo de muitos pioneiros, e tecnologias.
que assumiram o risco, a contragosto das políticas
Por se tratar de uma cadeia produtiva em que
oficiais.
o Estado se posiciona como líder em avanços
A resistência ao conilon vinha tanto do Governo tecnológicos e pelo contingente de pessoas
quanto das regiões que cultivavam arábica. Temia- envolvidas com a atividade, o café conilon recebe
se que as lavouras de robusta viessem a substituir os atenção especial. Importantes iniciativas são
cafés finos, dados os menores custos de produção fundamentais para ampliar o espectro de ações no
e elevada produtividade. Nesse panorama, os trabalho profissional de difusão de informações.
ousados e pioneiros produtores iniciaram as suas
Assim como o Jornal do Campo, outros programas,
lavouras por sua própria conta e risco, sem qualquer
como o ES Rural, da TVE e Agronegócio Capixaba, da
auxílio financeiro do Governo.
TV Capixaba, também são exibidos semanalmente,
A Tristão apoiou e incentivou os produtores a levando ao público notícias do mundo rural. Mas no
seguirem naquela empreitada, quando o Senhor dia a dia dos capixabas, as notícias da agricultura
Jônice Tristão, ao receber nosso saudoso Dr. estão sempre presentes. Diariamente, os diversos
Eduardo Glazar, então prefeito de São Gabriel da telejornais das emissoras, além das TVs locais
Palha e líder do movimento em prol do conilon, (interior), levam às casas das famílias capixabas
afirmou: “Vocês podem plantar, que eu garanto uma série de matérias de conteúdo qualificado,
a compra de todo o café que vocês produzirem”. fundamentais ao processo de socialização da
A Realcafé, na época, estava dimensionada para informação.
processar 100 mil sacas de café ao ano, o que
Nessa mesma direção e propósitos, as rádios
absorveria toda a produção do conilon.
contribuem para o processo de difusão de
Aquele momento, segundo o próprio Dr. Eduardo, informações numa linguagem informal do
tornou-se um marco na trajetória gloriosa do cotidiano, estabelecendo um vínculo fiel e
conilon, motivo de orgulho dos capixabas. duradouro com o ouvinte cafeicultor. O café
Atualmente, mais de quatro décadas depois, a conilon no Estado é sempre um excelente tema de
Realcafé, agora sob o comando de Sérgio Tristão, discussões e debates.
industrializa cerca de 400 mil sacas de café a cada
Além do universo audiovisual, a mídia impressa
ano. O Espírito Santo, por sua vez, tornou-se o
registra a evolução da cafeicultura do conilon no
segundo maior produtor mundial de robusta, com
Espírito Santo. Espalhados pelos 78 municípios
safras que se aproximam de 10 milhões de sacas.
capixabas, jornais como A Gazeta, A tribuna, Tribuna
do Cricaré, Hoje Notícias, A Notícia, O Diário do
3.34 REDES DE COMUNICAÇÃO Noroeste, O Correio do Estado, Aqui Notícias, ES de
Fato, Parada Viva, Folha do Caparaó, o Ponto, Extra
O interesse da mídia capixaba pela atividade Noroeste dão atenção especial à atividade agrícola.
cafeeira remonta a quase três décadas. Esse Há ainda, outros jornais com periodicidades
fato é plenamente justificável pela importância semanal, quinzenal e mensal.
econômica e social que o setor representa. No
Espírito Santo, o café é notícia. Um exemplo Nos últimos anos, revistas especializadas em
marcante dessa interação é o pioneirismo do Jornal agronegócio, como a Campo Vivo, Procampo e
do Campo – TV Gazeta/Globo, que está no ar há 36 Mundo Rural reservam grande espaço para exibição
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 703
Quadro 1. Balanço dos indicadores de resultados da evolução do Arranjo Institucional do Café Conilon (AICC) no
Espírito Santo, 1970/71 e 2014/2015
Início do AICC Fase Atual do AICC
Indicadores
(1970/1971) (2014/2015)
1. Produção Científica
Adaptada do café arábica Específica para o café conilon
Não havia clones avaliados Cerca de 2 mil clones avaliados
Mais de 200 jardins clonais implantados,
Base Científica Plantio somente por “sementes”
com clones de variedades superiores, além
a partir de lavouras
de campos de sementes registrados
Banco ativo de germoplasma
Inexistência de banco de germoplasma
com 500 acessos
Variedades geradas no ES Não havia 15
Tecnologias geradas Incipiente > 50
Conhecimentos gerados Incipiente > 4000
2. Impacto Tecnológico
Área em produção 28,5 mil ha 283,1 mil ha
Produção < 200 mil sacas beneficiadas 9,95 milhões sacas beneficiadas
Produtividade média do ES < 7 sc./ha > 35 sc./ha
Potencial de produtividade < 25 sc./ha > 200 sc./ha
3. Impacto Socioeconômico
Abrangência 15 municípios 64 municípios
Famílias envolvidas (produção) 4 mil 78 mil
Pessoas envolvidas (produção) 12 mil >200 mil
Propriedades rurais 2 mil propriedades > 40 mil propriedades
Participação no total de crédito
0% sobre o total 31,5% sobre o total
aplicado na agropecuária do ES
VBP-CC (a preços médios de 2014) R$ 47,4 milhões R$ 2,36 bilhões
4. Dimensão Institucional
6
> 40
Instituições no AICC Prefeitura de São Gabriel da Palha, Cooabriel,
A maioria citada no item 3 deste capítulo
Acares, Realcafé e Igrejas Católica e Luterana
Fonte: Dados estimados pelos autores a partir de publicações geradas pelo Incaper, Conab, IBGE, artigos técnicos, científicos, entre
outros.
Arranjo Institucional da Cafeicultura de Conilon no Estado do Espírito Santo 705
patamar de vanguarda na geração de conhecimento para 78 mil famílias e de 12 mil para mais de 200 mil
para a espécie do café conilon. Nas últimas pessoas envolvidas na atividade.
décadas, foram estudados cerca de 2 mil clones,
Nos primeiros cinco anos do AICC, a cafeicultura
dos quais boa parte se encontra no banco ativo de
de conilon não era contemplada com a política de
germoplasma, disponível à ciência, e outros tantos,
crédito rural. E, dessa ausência de crédito, nos dias
já testados e incorporados em variedades clonais
atuais, os cafeicultores de conilon tornaram-se os
lançadas, encontram-se disponíveis e em uso pelo
maiores tomadores de recursos para a renovação
setor produtivo, em mais de 200 jardins clonais,
das lavouras nas novas bases tecnológicas.
distribuídos nas principias regiões produtoras.
Somente em 2014, foram aplicados R$ 850 milhões
Ainda no campo dos indicadores de produção de crédito contratado, o que representa 31,5% do
científica, já se registra mais de 50 tecnologias montante total no Espírito Santo.
geradas e em uso pelos cafeicultores, com base
O Valor Bruto da Produção de Café Conilon (VBP-
em mais de 4 mil conhecimentos desenvolvidos
CC), espécie de faturamento dos cafeicultores, pois
ao longo da formação do AICC. Nesse portfólio
mede o valor da produção agrícola a preços de
científico, destaca-se a disponibilização de 15
mercado, foi de R$ 2,36 bilhões em 2014, colocando
cultivares/variedades superiores, amplamente
essa espécie de café na liderança desse indicador,
utilizadas pelo setor de produção agrícola.
entre todas as atividades agrícolas. Esse montante
A produção científica, associada a um exemplar correspondeu a cerca de 29% do Valor Bruto da
trabalho conjunto na área de transferência de Produção Agropecuária (VBPA) de todo o Espírito
tecnologia desenvolvido pelas diversas instituições Santo.
que compõem AICC, impactou positivamente os
Contudo, pode-se inferir que essa evolução
principais indicadores do setor de produção. Em
científica, tecnológica e socioeconômica foi
pouco mais de quatro décadas, a produção ampliou
acelerada e otimizada a partir da interação e
50 vezes, saindo de menos de 200 mil para quase
integração de instituições que trabalharam em
10 milhões de sacas beneficiadas, enquanto, nesse
parceria, com foco e planejamento compartilhados,
período, a área em produção cresceu apenas 10
em que adesões espontâneas foram surgindo ao
vezes, de 28,5 mil para 283,1 mil ha.
longo do tempo, passando de seis organizações
Assim, constata-se uma verdadeira revolução pioneiras para mais de 40 atuantes no AICC.
tecnológica na cafeicultura de conilon no Espírito
Santo, pois a produtividade, que mede a eficiência na
apropriação do conhecimento gerado, aumentou, 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
em média, cinco vezes, saltando de menos de sete
Instituições compromissadas, articuladas e
para mais de 35 sacas beneficiadas produzidas por
interagindo entre si são fundamentais para o
hectare.
processo de desenvolvimento de qualquer arranjo
Esse avanço tecnológico tem reflexo positivo direto produtivo.
nos indicadores dos impactos socioeconômicos,
Entre tantos fatores que explicam o sucesso do café
que estão distribuídos na maior parte do território
conilon no Estado do Espírito Santo, alguns são
capixaba. De 15 municípios produtores no início
atribuídos à organização, ao comprometimento
do AICC, atualmente já se registra cultivo de café
e à união entre as instituições que compõem esse
conilon em 64 dos 78 municípios do Espírito Santo.
arranjo, que são plenamente notórios e que dão
Em 50 desses, é a principal atividade agrícola
robustez e visibilidade mundial ao produto.
geradora de renda e emprego no campo.
No Estado, essas instituições podem ser agrupadas
Atualmente, são mais de 40 mil propriedades rurais
didaticamente em três grandes pilares ou áreas
produzindo café conilon, um número, pelo menos,
de apoio: 1) aquelas que lidam com a geração,
20 vezes superior ao verificado no início da década
difusão e transferência de tecnologias, informações
de 1970. Nessa ampliação de abrangência, houve
e conhecimentos, incluindo nesse item as que
um incremento proporcional na ocupação das
atuam no ensino, treinamento e capacitação de
pessoas no setor de produção, que saiu de 4 mil
agentes; e 2) as que operam no importante campo
706 Café Conilon – Capítulo 28
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709
29
Geração, Difusão e Transferência de
Tecnologia para o Café Conilon no
Estado do Espírito Santo
Antonio Elias Souza da Silva, Enio Bergoli da Costa, Romário Gava Ferrão,
Lúcio Herzog De Muner, Aymbiré Francisco Almeida da Fonseca,
Liliâm Maria Ventorim Ferrão e Luiz Antônio Bassani
Estado, as políticas de pesquisas, assistência técnica Com o sucesso dessa inovação tecnológica, duas
e comercialização para o café eram de exclusiva frentes importantes de pesquisa e desenvolvimento
competência do IBC. vislumbraram-se no Estado do Espírito Santo. A
primeira motivou o IBC a dar continuidade, em
A inserção do café conilon nas ações programáticas
1984, a uma série de pesquisas e estudos sobre
daquele órgão, a abundância de recursos para o
a capacidade genética de enraizamento entre
financiamento a juros subsidiados e o evidente
plantas de conilon, tipos de substratos, embalagens,
interesse dos produtores na ampliação dos plantios,
utilização de hormônios para enraizamento, idade
agravado pelo problema da ferrugem (Hemileia
fisiológica das estacas, épocas de enraizamento,
vastatrix) nas lavouras de arábica, permitiram
tipos de viveiros, adubações, podas de plantas
significativa expansão do conilon para vários
matrizes e outros. Os principais resultados desses
municípios da região norte capixaba, a partir da
trabalhos foram publicados no XII Congresso
segunda metade da década de 70.
Brasileiro de Pesquisa Cafeeira, realizado em 1985.
Na década de 80, foi a vez de outras regiões de baixa
A segunda frente importante de pesquisa e
altitude do Estado expandirem seus plantios com
desenvolvimento para o avanço da cafeicultura
crescente intensidade, uma vez que o poder público
de conilon teve sua origem na iniciativa privada.
municipal e o Estado incorporaram em suas pautas
Também em 1983, e, coincidentemente, tendo
o apoio aos cafeicultores de conilon.
como referência o mesmo trabalho desenvolvido
Portanto, com a resistência do Governo Federal com eucalipto pela Aracruz Florestal à época, os
ou no silêncio característico da sua omissão, a empresários da atual Verdebras adotaram a técnica
mobilização social, especialmente de lideranças do e inseriram a inovação no seu processo de produção
Município de São Gabriel da Palha e a sensibilidade de mudas de café conilon, desta feita, em escala
política de autoridades do Estado fizeram incorporar comercial. Para tanto, procederam à pesquisa e
o café conilon na agenda de desenvolvimento rural seleção de plantas matrizes que geraram uma
capixaba (LOSS, 2004). base genética de 25 clones que compõem as duas
variedades clonais, a “G-30” e a “G-35” (VERDEBRAS,
[198-?]). Contudo, no Ministério da Agricultura,
2.2 LINHA DO TEMPO DA GERAÇÃO E TRANSFE- Pecuária e Abastecimento (Mapa), há registro de
RÊNCIA DE TECNOLOGIAS
apenas uma, denominada “G-30/G-35”.
A geração de informações, conhecimentos e
A partir da criação da Coordenadoria Estadual
tecnologias para café conilon no Estado tem como
de Café, em 1983, na Secretaria da Agricultura,
principal marco referencial a técnica de propagação
Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), deu-se
vegetativa iniciada em 1972, quando técnicos do
a gênese das articulações, a formulação de novas
extinto IBC conseguiram enraizar partes da planta
intervenções e o acompanhamento das ações que
como estacas de nó inteiro e meio nó, dando
já se desenhavam para esse produto, tendo como
origem a mudas com características normais.
primeiro coordenador o engenheiro agrônomo
A partir desse trabalho, cerca de 200 covas foram Frederico de Almeida Daher.
plantadas na Fazenda Experimental de Marilândia,
Mas o marco de desenvolvimento de Pesquisa,
localizada no Município de Marilândia/ES,
Assistência Técnica e Extensão Rural oficial para
concluindo-se, após 22 anos, a partir do plantio, que
o café conilon do Estado somente se deu em
a longevidade das plantas clonais é idêntica àquelas
1985, quando as empresas estaduais passaram a
produzidas por meio de sementes (PAULINO;
contemplar em seus programas essa cultura. De um
PAULINI; BRAGANÇA, 1994).
lado, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Apesar do domínio dessa técnica já ter mais de 40 Rural (Emater-ES) incluiu em sua programação
anos, ela somente foi utilizada em larga escala ou um conjunto de ações voltadas à transferência de
escala comercial em 1983, tendo como referência tecnologias aos cafeicultores de conilon. De outro,
o processo de multiplicação clonal do eucalipto, a Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária
adaptado para o café conilon. (Emcapa) passou a desenvolver uma programação
de pesquisa que contemplava inicialmente as
712 Café Conilon – Capítulo 29
áreas de melhoramento genético, nutrição e (BRAGANÇA et al., 1993, 2001), corroborado por
fisiologia vegetal, com o propósito de oferecer aos várias ações do setor privado nas áreas de fomento
cafeicultores tecnologias apropriadas para essa de mudas, empresas comerciais de fertilizantes e
cultura, da qual pouco se conhecia, exceto pelos equipamentos de irrigação.
esforços iniciais do IBC e dos próprios produtores
A ampliação da base tecnológica e o avanço da
pioneiros.
cafeicultura de conilon levaram o Estado a organizar
Registra-se que o primeiro projeto de pesquisa as ações e as atividades técnicas e institucionais,
estadual foi instalado em 1985 pelos pesquisadores lançando, em outubro de 1993, o Programa de
da Emcapa Carlos Henrique Siqueira Carvalho e Revitalização da Cafeicultura Capixaba (Recafé).
Scheilla Marina Bragança, na propriedade do Sr. Esse Programa tinha como concepção ordenar os
João Colombi e foi financiado pela Cooperativa serviços de pesquisa e transferência tecnológica,
Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel da Palha criar linha de financiamento e investir em
(Cooabriel). infraestrutura desses serviços visando a alcançar
metas projetadas para dez anos, em parceria com
O Estado não possuía um programa próprio de
várias entidades da cadeia produtiva.
multiplicação de mudas para atender à demanda
dos produtores. A Seag decidiu adquirir, por Cinco acontecimentos importantes se destacaram
licitação, de 1,0 a 1,5 milhão de mudas clonais por num período muito curto de tempo:
ano para disponibilizá-las aos produtores. O viveiro
O primeiro refere-se à criação, em 1993, da
privado, maior fornecedor naquela época, era o da
Câmara Setorial do Café, que reúne as principais
Verdebras. A demanda por mudas de qualidade e
representações do setor para elaborar e discutir
oriundas de processo de melhoramento genético
políticas e rumos para a atividade cafeeira.
era de 25 milhões por ano, e a capacidade instalada
de produção estava em torno de 8 milhões por ano, O segundo foi a criação, em 1994, do Centro de
o que deixava claro uma defasagem imensa na Desenvolvimento Tecnológico do Café (Cetcaf),
política de fomento do Estado. instituído para ser o articulador e facilitador entre os
setores público e privado.
Essa constatação levou a Seag, em 1991, a alterar
a política de fomento, adotando a iniciativa O terceiro diz respeito à realização do I Simpósio
de distribuição de mudas para as prefeituras Estadual de Café, criado para ser um dos principais
municipais, cooperativas e associações de fóruns de discussão e debates das temáticas de
produtores, entre outras entidades, para formação interesse da atividade. Esse evento é coordenado
de jardins clonais, apoiando essas instituições na pelo Cetcaf, com a participação de diversas
estruturação de viveiros de mudas, fornecendo entidades do segmento café.
sombrite e sistemas de irrigação, além de O quarto relaciona-se ao lançamento do livro
implementar um amplo programa de capacitação Manual Técnico para a Cultura do Café no Estado
na condução de jardins clonais e produção de do Espírito Santo, coordenado pela Seg, e que
mudas. Essas ações foram fundamentais para dar reuniu as principais tecnologias disponíveis,
um salto quantitativo e qualitativo na oferta de proporcionando um nivelamento técnico
mudas clonais. fundamental aos avanços da cafeicultura.
Com o café conilon inserido definitivamente na O último refere-se à ampla Campanha da Poda do
pauta do planejamento e da implementação de Café Conilon, que requereu um esforço conjunto
políticas públicas na pasta da agricultura estadual, entre as instituições de pesquisa e extensão oficial,
as programações se ampliaram com o apoio de resultando num alto nível de adoção da tecnologia,
recursos financeiros da Empresa Brasileira de com consequências marcantes, sobretudo, no
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cujos resultados aumento da produtividade e revigoramento das
começaram a mudar o padrão tecnológico através lavouras. Resultados de pesquisa obtidos pelo
da geração e transferência de informações, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica
conhecimentos e tecnologias, marcadamente pelo e Extensão Rural (Incaper) apontam, entre as
lançamento, em 1993, das três primeiras variedades diferentes vantagens da poda, o aumento de até
clonais ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa 8121’ e ‘Emcapa 8131’
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 713
53,5% na produtividade (SILVEIRA et al., 1993). foram desenvolvidos, porém, pela importância
e complexidade de sua execução, justifica-se
Em 1996, o Mapa juntamente com o Ministério
referenciar o Concurso de Produtividade de Café
da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT)
Conilon de Aracruz, realizado no período de 1988 a
criaram o Programa Nacional de Pesquisa e
2000, que, mesmo de âmbito municipal, influenciou
Desenvolvimento do Café (PNP&D/Café), cujo
e repercutiu positivamente não só na região, mas
objetivo era o desenvolvimento de um trabalho
também em todo o Estado.
conjunto entre as diversas instituições envolvidas
em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e Na continuidade do trabalho de pesquisa em
transferências de tecnologias para o agronegócio melhoramento genético, o Incaper, dessa feita, já
café brasileiro (EMBRAPA CAFÉ, 2004). contando com os serviços de pesquisa, assistência
técnica e extensão rural incorporados na mesma
Na sequência dessa decisão foi criado, em
instituição, lançou, em 1999, a variedade clonal
1997, o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e
‘Emcapa 8141 - Robustão Capixaba’, cuja principal
Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), por
característica está relacionada com a tolerância
iniciativa de dez tradicionais instituições brasileiras
à seca, permitindo que os cafeicultores que
de pesquisa cafeeira incluindo o Incaper, que tem
não dispõem de irrigação possam obter maior
aportado recursos financeiros importantes para o
produtividade em suas lavouras (FERRÃO et al.,
desenvolvimento de projetos de pesquisa e para
2000a).
transferência de tecnologias.
Da mesma forma, a estratégia de reforço e ampliação
Enquanto as ações de pesquisa e transferência
de jardins clonais voltada a entidades e viveiristas foi
de tecnologias eram cada vez mais enfatizadas
a tônica para a ação de difusão e transferência dessa
no Estado, a Seag, em articulação com o Cetcaf
nova tecnologia.
e com participações da Emater-ES, Emcapa e do
Mapa/Procafé, elaborou, em 1997, o Zoneamento À medida que o Estado imprimia uma renovação
Agroecológico para a Cultura do Café, definindo em suas lavouras com base na utilização de
em detalhes a localização espacial das diferentes variedades superiores e tolerantes à seca, uma
categorias de aptidão para orientar a implantação série de resultados de pesquisa na área de
de lavouras de conilon no Estado do Espírito Santo fisiologia vegetal, nutrição, manejo da cultura,
(DADALTO; BARBOSA, 1997). conservação de solos e tecnologias de irrigação
eram disponibilizados e incorporados ao sistema
O Estado do Espírito Santo passava por um
de produção proporcionando ganhos crescentes de
momento rico de geração de resultados de
produtividade e qualidade do produto obtido.
pesquisa agropecuária em diversas áreas
do conhecimento e, consequentemente, de Vivenciando um clima muito favorável de
desenvolvimento de metodologias de extensão progresso tecnológico para o café conilon, o
rural. A tecnologia ou o conhecimento gerado Estado do Espírito Santo necessitava não só dar
era imediatamente disponibilizado em diversas mais visibilidade a esse trabalho, mas também
formas de publicações técnicas, que, após discutir questões mercadológicas e posicionar-
veiculadas, eram utilizadas metodologicamente se quanto às políticas públicas federais para o
no processo de transferência de tecnologia pelo setor. Com esse propósito, a Cooabriel, apoiada
sistema de extensão do Estado. fortemente pelo Sicoob e pela Prefeitura Municipal
de São Gabriel da Palha, com a parceria do Governo
Nesse particular, deve-se registrar o trabalho
do Estado e demais entidades ligadas ao setor,
executado pela Emater-ES, cujo foco de ação
realizou, em 1999, o Simpósio Brasil Café Conilon,
principal foi o desenvolvimento de metodologias
que completou seis edições até 2009. Esse evento
de extensão para propiciar a transferência de
foi um importante fórum de apresentação e
tecnologia. A empresa intensificou essa ação
debates de temática de interesse do café conilon
em parceria com entidades locais motivada
do país. Através dele, o Estado do Espírito Santo foi
pelo ambiente favorável de disponibilização de
projetado como principal produtor de conilon de
tecnologias geradas para o café conilon.
qualidade em âmbito nacional e internacional.
Muitos métodos de extensão importantes
714 Café Conilon – Capítulo 29
Apesar do avanço na produtividade, observou-se em torno desses trabalhos, fizeram com que o
que era necessário trabalhar também a questão Estado marcasse posição de destaque no cenário
da qualidade. Naquela época, constatou-se que nacional.
a broca-do-café representava 50% dos defeitos
Credenciado e reconhecido pelo Consórcio
do produto na comercialização, depreciando seu
Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento de
valor pelo aspecto do tipo e da bebida (FONSECA;
Café, o Estado do Espírito Santo foi escolhido
SILVEIRA; BRAGANÇA, 1999).
para sediar, em setembro de 2001, em Vitória, o
Com base nesse diagnóstico, o Governo do Estado II Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, cujo
lançou e executou, através de suas instituições sucesso ficou patente com a participação de 827
vinculadas e um conjunto de instituições congressistas e com a apresentação de 396 novos
parceiras, uma ampla Campanha de Manejo da trabalhos de pesquisa, direcionados para todos os
Broca, implementando um forte programa de setores da cafeicultura nacional (EMBRAPA CAFÉ,
monitoramento e controle dessa praga em todo o 2004). Esse evento é realizado a cada dois anos e se
Estado, durante três anos consecutivos, de 2000 a constitui no mais importante fórum de discussão
2002, alcançando resultados altamente impactantes sobre o papel da ciência e da tecnologia da cadeia
para a cafeicultura estadual. produtiva do café.
A campanha de manejo da broca-do-café envolveu Para estimular a cafeicultura local e na trilha
161 inserções de vinhetas na televisão, 1.584 dos grandes acontecimentos que ocorriam no
inserções de spots para rádios do interior, 150 Estado, proliferaram eventos de abrangência
matérias espontâneas em jornais, rádio e televisão, municipal, especialmente em 2001 e 2002. Nesse
produção e distribuição de 7 mil cartazes de 16 período, as programações das entidades ligadas
tipos, realização de 54 cursos para cafeicultores, 47 à atividade eram repletas de eventos não só de
palestras, 880 visitas técnicas com monitoramento salão, mas também contemplavam metodologias
nas propriedades de cafeicultores e diversos outros de extensão, tais como dias de campo, cursos,
eventos de difusão e transferência de tecnologia, demonstração de métodos e resultados, excursões
com o envolvimento de 10.880 participantes. de produtores e concurso de produtividade, que
certamente ajudaram a disseminar as principais
Para priorizar as regiões com deficiências de
tecnologias que estão alterando a base técnica da
ofertas de mudas das variedades clonais até então
cafeicultura.
recomendadas e atender àqueles cafeicultores que
utilizavam seus próprios materiais genéticos como Superadas todas as metas traçadas no Programa
matrizes, o Incaper lançou a variedade melhorada Recafé, foi construído, em 2003, o Plano Estratégico
de conilon de propagação por semente, ‘Emcaper de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba
8151 - Robusta Tropical’, que pode alcançar, em (Pedeag), fruto de inúmeros debates com a
média, 50 e até 80 sc. benef./ha, com utilização de sociedade rural capixaba e que permitiu reavaliar
outras tecnologias incluindo irrigação (FERRÃO et as principais políticas para a cafeicultura no Estado.
al., 2000b). Com ele, foi rompido um ciclo de improvisações
para várias cadeias produtivas, incluída a do café,
A estratégia de transferência de tecnologia dessa
que teve suas ações estratégicas e metas renovadas
variedade, desde o seu lançamento em março de
para um horizonte de dez anos (PEDEAG, 2003).
2000, tem como base as demandas por semente
dos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural Na continuidade do esforço de transferência de
(ELDRs) do Incaper, instituições representativas tecnologia e numa atitude inovadora, a Cooabriel
de produtores rurais e as demandas diretas dos desenvolveu um programa de motivação
próprios cafeicultores. para a qualidade do café conilon para os seus
cooperados. Trata-se do Concurso Conilon de
Os trabalhos desenvolvidos com café conilon
Excelência Cooabriel iniciado em 2003, que premia
no Espírito Santo e os avanços tecnológicos
produtores com produção que apresenta as
alcançados, frutos de uma política adequada de
melhores características físicas e sensoriais.
geração, difusão e transferência de tecnologias,
além do arranjo institucional que se consolidava O trabalho continuado e incessante de pesquisa
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 715
do Incaper, resultado de uma programação realizou, em abril de 2005, o Noroeste Café Conilon.
estratégica no campo do melhoramento genético, O evento contou com a participação de cerca 800
culminou, em maio de 2004, com o lançamento cafeicultores previamente cadastrados em toda a
da variedade clonal ‘Vitória Incaper 8142’, que região noroeste do Estado, garantindo-lhes o acesso
resultou da seleção, avaliação e caracterização aos kits-mudas da variedade clonal Conilon Vitória
de clones realizadas durante 18 anos de pesquisa (Figura 1).
(FONSECA et al., 2005a). Seu lançamento e
divulgação aos cafeicultores capixabas reuniram
aproximadamente 2.500 produtores na Fazenda
Experimental do Incaper, em Sooretama. Naquela
ocasião, foram disponibilizados cerca de 2.000
kits de mudas da variedade aos produtores
previamente cadastrados pelos ELDRs do Incaper,
com representação de todos os municípios
da região produtora. Simultaneamente a esse
trabalho, foi montado um plano de reforço
e ampliação dos jardins clonais existentes e
implantação de novos para possibilitar mais
rapidamente o acesso a essa importante Figura 1. Evento Noroeste Café Conilon, Barra de São
Francisco/ES, em 2005.
tecnologia.
Juntamente com a distribuição dos materiais A performance da produção de resultados de
genéticos componentes da variedade, foi pesquisa e estratégia de fomento, difusão e
distribuído um kit de publicações técnicas que transferência de tecnologias alcançada nos últimos
contempla informações específicas sobre a anos, especialmente a partir de 1985, é conhecida e
variedade em questão, técnicas de produção reconhecida, não só pelos cafeicultores do Estado,
com variedades melhoradas e para formação e mas também por entidades e representações
condução de jardins clonais. importantes de âmbito estadual, nacional e
Com uma estratégia bem montada de difusão internacional (Figura 2A).
e transferência de tecnologia, essa variedade Se não bastassem os intercâmbios científicos que
contribuiu para o alcance de resultados ainda mais mantém como instituição de ciência e tecnologia,
relevantes na renovação do parque cafeeiro com com várias entidades do ramo, o Incaper celebrou,
impactos positivos na produtividade e na qualidade em 2005, um acordo de cooperação técnica
da produção estadual. internacional com a Nestlé (França) visando, em
Como a agenda dos principais acontecimentos primeiro plano, obter informações que subsidiem
e ações de transferência de tecnologias para o programa de melhoramento de café conilon,
o conilon apontava para o norte do Estado, o voltado mais propriamente para a qualidade do
Cetcaf e o Governo do Estado, através do Incaper, produto, para a sua composição química, bebida
organizaram e realizaram em setembro de 2004, e outras características de interesse do segmento
com apoio de entidades do setor, o Simpósio industrial. Essa parceria proporcionará as condições
Sul Capixaba de Café Conilon, em Cachoeiro necessárias para que sejam introduzidos novos
de Itapemirim. Esse evento, que é realizado materiais genéticos da espécie, mantidos em um
periodicamente, tem se tornado estratégico no banco de germoplasma dessa empresa (Figura 2B).
trabalho de transformação do perfil tecnológico Com o mesmo nível de importância, o Incaper
da cafeicultura do sul do Estado. participa de uma cooperação técnica internacional
Também com o propósito de equalizar e harmonizar juntamente com a Embrapa e o Centro de
o desenvolvimento da cafeicultura de conilon em Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica
todo o norte do Estado, o Incaper, em parceria com para o Desenvolvimento (Cirad) na França, que
o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e com o apoio tem como objetivo estudar mecanismos de
da Prefeitura Municipal de Barra de São Francisco, tolerância à seca e desenvolver novas ferramentas
716 Café Conilon – Capítulo 29
biotecnológicas que irão facilitar a seleção e o Coopeavi desde 2011, é mais um evento regional,
desenvolvimento de novas variedades de cafeeiros com grande abrangência.
com essa importante característica (Figura 2C).
A partir de 2012, o Governo do Estado passou a
Em 2007, o Incaper editou o livro Café Conilon, obra coordenar, anualmente, o Prêmio Conilon Especial
que reuniu todo o conhecimento gerado para essa - Concurso Estadual Conilon de Qualidade.
cultura até a data, que foi elaborado por 57 autores, Atualmente, além dos dois concursos regionais e do
revisado por mais de 30 especialistas, tendo a estadual, há cerca de 15 municipais em atividade, o
participação conjunta de 15 instituições. A edição que retrata essa nova fase da busca da evolução da
desse livro criou uma referência técnica e literária qualidade da principal espécie de café cultivada no
ímpar como instrumento de consulta frequente Estado do Espírito Santo.
por profissionais, estudantes e demais públicos que
Em junho de 2012, ano em que foi comemorado
trabalham com a cultura.
o centenário do conilon em terras capixabas, o
Essa obra vem cumprindo seu papel e naturalmente Governo do Estado, por meio do Incaper, coordenou
demanda uma nova edição atualizada, à luz do a realização da Conferência Internacional de Coffea
estado da arte do momento, tendo em vista que o canephora, maior evento técnico científico de todos
conhecimento é um fator dinâmico, e decorridos os tempos para essa espécie de café.
quase uma década após a primeira publicação,
Ainda nesse ano, foi lançado pelo Incaper o
atualizações, revisões, ampliações e inovações se
Programa Renova Sul Conilon, específico para
fizeram necessárias.
a região sul do Espírito Santo, que apresenta
Desde 2008, o Governo do Estado coordena uma indicadores técnicos aquém da média estadual e
ampla Campanha de Melhoria de Qualidade muito distantes daqueles verificados nas lavouras
dos Cafés Arábica e Conilon, compartilhada com de conilon da região norte do Estado. Para se ter
mais de 40 instituições, realizada todos os anos a uma ideia, a produtividade média dos 28 municípios
partir de meados de maio e que completa a nona da região norte é de 43 sc./ ha, enquanto a da região
edição em 2016. No caso do café conilon, houve a sul é de apenas 28,7 sc./ha.
necessidade de se priorizar também os aspectos
Como forma de corrigir essa desigualdade
relativos à qualidade, visto que é notório o avanço
regional, tecnológica e de renda entre os
da produtividade, mas o mercado cada vez mais
cafeicultores, o Instituto implantou uma base
demanda produtos com padrão superior de bebida
genética na região sul, que atualmente é capaz de
também para essa espécie.
disponibilizar, com apoio de viveiristas privados,
Os concursos de qualidade de café conilon, cerca de 10 a 15 milhões de mudas superiores por
tanto em nível municipal quanto regional, foram ano possibilitando a renovação de cerca de 5 mil
ganhando dimensão e participação a partir de 2009. hectares dos cafezais do sul.
O pioneirismo coube a Cooabriel, que iniciou o
No final de 2013, foi implantado pelo Governo
Concurso Conilon de Excelência Cooabriel em 2004
do Estado, sob a coordenação técnica do Incaper,
e completa a 13ª edição em 2016. O Prêmio Conilon
o Projeto Calcário Correto, também específico
Especial Pio Corteletti, realizado pela cooperativa
A B C
Figura 2. Visitas de profissionais de países da África (A), da Nestlé (B) e do Cirad-França (C) para conhecer as pesquisas
e lavouras de café conilon no Estado do Espírito Santo.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 717
para a região centro-sul do Espírito Santo, com Um montante de R$ 790 milhões, o que equivale
o objetivo principal de elevar a produtividade 72,5% do total do impacto, é resultante das
dos cafés, tanto arábica quanto conilon, nas 2 mil tecnologias relacionadas à cafeicultura, a maioria
propriedades familiares beneficiárias, selecionadas direcionada para o conilon.
em 30 municípios. Essa ação, de alto impacto e
Em 2014, coroando o trabalho desenvolvido em
baixo custo, ainda cria efeitos demonstrativos aos
ciência e tecnologia para o café conilon, o Incaper
produtores, no sentido de fazerem análise de solos
foi vencedor do Prêmio Inoves, iniciativa do
e utilizar o calcário dentro das recomendações da
Governo do Estado do Espírito Santo que estimula
pesquisa (De MUNER et al., 2013).
a cultura de inovação e empreendedorismo
Contudo, o ano de 2013 também ficou marcado no contexto do serviço público. O projeto
pelo histórico lançamento de três novas variedades Melhoramento Genético Sustentável do Café
clonais, pelo Incaper (Figura 3). ‘Diamante ES8112’, Conilon foi premiado na categoria Resultados
‘ES8122 - Jequitibá’ e ‘Centenária ES8132’ têm ciclos para a Sociedade, um reconhecimento em relação
de maturação precoce, intermediário e tardio e aos impactos socioeconômicos decorrentes da
elevadas produtividades médias, variando de 80,73 atuação do Incaper na geração e socialização
a 88,75 sc. benef./ha. Mas o grande diferencial de conhecimentos e tecnologias para o arranjo
dessas variedades é que, pela primeira vez, foram produtivo dessa espécie de café.
consideradas as demandas do consumidor e da
A história, a trajetória e os principais acontecimentos
indústria em suas concepções (FERRÃO et al., 2015a,
ocorridos ao longo de todos esses anos retratam
2015b, 2015c).
bem a origem, a evolução e a vanguarda do
Em termos de qualidade de bebida, aferida pelo desenvolvimento dessa cultura, fruto especialmente
método internacional Coffee Quality Institute do talento e da vocação dos cafeicultores e técnicos
(CQI), a ‘Diamante ES8112’ alcançou 77,5 pontos, e do espírito de cooperação e de parceria das
considerada bebida superior, a ‘ES8122 - Jequitibá’ instituições capixabas.
pontuou em 79,01 e a ‘Centenária ES8132’, 77,97,
estas duas últimas são classificadas no nível
Superior/Prêmio. 3 BASES PARA O AVANÇO DO CAFÉ
O Balanço Social do Incaper, realizado pela primeira CONILON
vez pelo Instituto, com dados relativos ao ano São vários os fatores explicativos do avanço da
de 2013, apontou um impacto socioeconômico cafeicultura do conilon nos últimos 20 anos e que
positivo de R$ 1,09 bilhão, ao aferir os ganhos de merecem ser exaustivamente analisados; porém,
produtividade, a redução de custos de produção para o que se propõe essa abordagem, serão
e a agregação de valor ou expansão da produção evidenciadas apenas duas dimensões: tecnológica e
decorrentes de 25 soluções tecnológicas metodológica.
desenvolvidas pelo Instituto (BALANÇO SOCIAL,
Na dimensão tecnológica, serão abordados os
2014).
Figura 3. Lançamento das cultivares Diamante, Jequitibá e Centenária na Fazenda Experimental de Bananal do Norte/
Incaper, Cachoeiro de Itapemirim/ES, em 2013.
Fotos: Leonardo Dalcolmo Tononi.
718 Café Conilon – Capítulo 29
seguintes pontos: questões de natureza conceitual, processos e produtos gerados pela pesquisa,
descrição sucinta das principais tecnologias incorporados ou passíveis de incorporação ao
disponíveis e de estratégias importantes, como os processo produtivo de determinado produto
jardins clonais e os viveiros de mudas utilizados para (CADERNOS..., 1984).
disseminação das variedades melhoradas.
Não raro, são usados inadvertidamente os termos
Na dimensão metodológica, expõem-se os tecnologia e inovação tecnológica como sinônimos.
principais mecanismos de transferência de Inovação é a ideia, a prática ou o objeto percebido
tecnologia e métodos de extensão disponíveis como novo por um indivíduo. Pouco importa se
utilizados, as publicações técnicas e o registro dos a ideia é objetivamente nova quando medida
principais eventos técnicos e ações mais marcantes pelo lapso de tempo desde seu primeiro uso ou
de transferência de tecnologias na cafeicultura de descoberta. É a novidade percebida. Se uma ideia
conilon. parece inédita ao indivíduo, é uma inovação.
Novo numa ideia inovadora não necessita ser
simplesmente conhecimento original. Inovação,
3.1 A BASE TECNOLÓGICA portanto, é a introdução de produtos ou processos
tecnologicamente novos que promovem algum
tipo de melhoria considerada significativa para
3.1.1 Principais tecnologias e inovações
determinado ambiente.
tecnológicas que vêm contribuindo para
evolução do café conilon O Estado do Espírito Santo construiu, ao longo
dos últimos 30 anos, uma base tecnológica sólida
Os valores que retratam a performance do
para o conilon, suficiente não só para liderar e
agronegócio do café conilon do Espírito Santo
se manter na vanguarda da produção científica.
revelam uma série de fatores responsáveis pelo
Também serviu para quadruplicar a produtividade
estágio em que se encontra. Sem eles, o Estado
média estadual nesse período. Essa conquista está
teria poucas chances de sustentar por muito tempo
associada à adoção de variedades melhoradas,
a posição de destaque que ocupa atualmente no
calagem e adubação equilibrada, podas e desbrotas
cenário nacional e internacional.
adequadas, plantios adensados, irrigação e outras,
Um dos fatores refere-se ao aparato tecnológico que foram capazes de transformar a lavoura cafeeira
gerado, adaptado e disponível. Com certeza, foram as de conilon em uma das mais competitivas do
inovações tecnológicas somadas à vocação agrícola, mundo.
especialmente para o cultivo do café conilon, à
São inúmeras as tecnologias (Figura 4 e Quadro
capacidade empreendedora dos cafeicultores e às
1) já amplamente conhecidas e incorporadas ao
competências institucionais existentes no Estado
processo produtivo. Porém, ainda existem muitas
que construíram essa realidade positiva.
inovações tecnológicas que necessitam de um
Nesse quadro, dar-se-á ênfase aos aspectos esforço maior para serem consideradas no contexto
tecnológicos como diferencial competitivo e do processo produtivo.
gerador de avanços na cafeicultura de conilon do
Estado.
A tecnologia é, de forma geral, o encontro entre
a ciência e a engenharia e, como tal, se usada
adequadamente, tem o poder de transformar
realidades. É um bem social, pois com ela se busca
encontrar soluções para problemas práticos
produzidos por forças do meio ambiente, com
impactos sobre as pessoas. Pode-se definir a
tecnologia como o conjunto ordenado e sistemático
Figura 4. Lavoura com a variedade ‘Emcapa 8141 -
de conhecimentos básicos, patenteados ou não, Robustão Capixaba’ implantada e conduzida
capazes de levar à prática uma ideia. De forma mais seguindo as recomendações técnicas da
específica, pode ser definida como procedimentos, cultura no Estado do Espírito Santo.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 719
Quadro 1. Principais tecnologias, conhecimentos e inovações e suas sínteses de descrição que vêm contribuindo para
o avanço da cafeicultura do café conilon (continua)
Tecnologias,
Conhecimentos e Descrição
Inovações
Melhoramento Genético de Biotecnologia
Variedade clonal, lançada em 1993, constituída pelo agrupamento de 9 clones de maturação
• Cultivar Emcapa 8111
precoce.
Variedade clonal, lançada em 1993, constituída pelo agrupamento de 14 clones de maturação
• Cultivar Emcapa 8121
intermediária.
• Cultivar Emcapa 8131 Variedade clonal, lançada em 1993, constituída pelo agrupamento de 9 clones de maturação tardia.
• Cultivar Emcapa 8141 -
Variedade clonal, lançada em 1999, constituída pelo agrupamento de 10 clones tolerantes à seca.
Robustão Capixaba
• Cultivar Emcaper 8151 -
Variedade propagada por semente, lançada em 2000, constituída pela recombinação de 53 clones.
Robusta Tropical
Variedade clonal, lançada em 2004, constituída pelo agrupamento de 13 clones superiores,
que apresentam concomitantemente alta produtividade, adaptabilidade geral, estabilidade de
• Cultivar Vitória Incaper 8142
produção, tolerância à seca, moderada resistência à ferrugem, grãos grandes e baixa percentagem
de moca.
Cultivar clonal protegida, lançada em 2013, constituída pelo agrupamento de 9 clones superiores
compatíveis de maturação precoce com colheita no mês de maio. Apresenta produtividades
• Cultivar Diamante ES8112 médias de 80,73 e mais de 120,00 sc./ha em condições não irrigada e irrigada, respectivamente,
uniformidade de maturação, grãos grandes, tolerância à seca, moderada tolerância à ferrugem e
qualidade superior de bebida.
Cultivar clonal protegida, lançada em 2013, constituída pelo agrupamento de 9 clones superiores
compatíveis de maturação intermediária com colheita no mês de junho. Apresenta produtividades
• Cultivar ES8122 - Jequitibá médias de 88,75 e mais de 120,00 sc./ha em condições não irrigada e irrigada, respectivamente,
uniformidade de maturação, grãos grandes, tolerância à seca, moderada tolerância à ferrugem e
qualidade superior de bebida.
Cultivar clonal protegida, lançada em 2013, constituída pelo agrupamento de 9 clones superiores
compatíveis de maturação tardia com colheita no mês de julho. Apresenta produtividades
• Cultivar Centenária ES8132 médias de 82,36 e mais de 120,00 sc./ha em condições não irrigada e irrigada, respectivamente,
uniformidade de maturação, grãos grandes, tolerância à seca, moderada tolerância à ferrugem e
qualidade superior de bebida.
• Cultivar Verdebras G 30 e
Variedades clonais lançadas na década de 80 pela Verdebras.
G 35
• Cultivar SV 2010 Variedade registrada por José Jânio Bizi.
• Cultivar Ipiranga 501 Variedade registrada por Francisco Luis da Silva Felner.
• Cultivar Colatina PR6 Variedade registrada pela Fundação Procafé.
• Estimativa de parâmetros Estimação de parâmetros genéticos para as principais características agronômicas do café conilon
genéticos caracterizando a existência de variabilidade genética entre os materiais estudados.
Estudos que mostram o comportamento diferenciado dos materiais genéticos com a variação
• Interação genótipo x
ambiental e proporciona a indicação dos locais apropriados para condução de pesquisas em
ambiente
melhoramento genético no Estado do Espírito Santo.
• Adaptabilidade e Estudos que identificam materiais de adaptação geral para ambientes favoráveis, desfavoráveis e
estabilidade de produção inferência sobre previsibilidade de comportamento e genótipos.
• Divergência genética
Estudos que identificam genitores promissores para hibridação e quantificação da variabilidade
utilizando caracteres
genética de conilon no Estado.
agronômicos
(continuação)
Tecnologias,
Conhecimentos e Descrição
Inovações
Melhoramento Genético de Biotecnologia
• Repetibilidade de Estudos que definem método mais adequado para estimar com maior acurácia o valor real de
comportamento de genótipos em avaliação, e que quatro a seis safras são suficientes para se obter de 80 a 85% de
genótipos de café conilon acurácia no valor real dos genótipos para o caráter produção de grãos.
Com base nos resultados de diferentes experimentos e de divergência genética, foram agrupados
clones superiores com diferentes épocas de maturações e formadas as populações bases precoce,
• Populações melhoradas intermediária e tardia que, desde 1998, vêm sendo submetidas em campos isolados à seleção
recorrente visando a aumentar a frequência de alelos favoráveis para os três materiais genéticos
para as diferentes populações.
• Manutenção e Estão sendo mantidos ex situ e caracterizados por descritores agronômicos e moleculares em
caracterização de um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) 500 materiais genéticos de interesse no programa de
germoplasma melhoramento genético de café conilon.
Participação no sequenciamento de genes de café conilon e estudos relacionados ao genoma
• Genoma Café
funcional.
Aprimoramento da técnica de propagação vegetativa via estaquia e o desenvolvimento do
• Propagação vegetativa
protocolo da técnica de micropropagação via cultura de tecidos.
Foram desenvolvidas e ajustadas técnicas e modelos visando à implantação e condução de jardins
clonais, para a produção de mudas de variedades clonais melhoradas. Atualmente, existem mais
• Jardins Clonais de 200 jardins clonais em 53 municípios. Esses jardins clonais têm o potencial para a produção
de mais de 50 milhões de mudas por ano, que têm sido a base da renovação das plantações de
conilon que vem ocorrendo na ordem de 6% a 7% ao ano.
Utilizando os resultados de diferentes experimentos e de divergência genética, elegeu-se genitores
superiores. Eles foram cruzados de forma controlada, obtendo, assim, 80 híbridos que foram
avaliados em experimentos em diferentes ambientes e anos. Os resultados mostram híbridos
• Híbridos de conilon
muito promissores, com produtividades médias superiores a 120 sc./ha e mais de 20% de heterose
em relação ao melhor pai. Identificou-se pais com alta capacidade geral de combinação que serão
utilizados em estratégias de melhoramento.
Após dois ciclos de seleção recorrente das populações bases de maturações precoce, intermediária
e tardia, os resultados mostram ganhos genéticos expressivos para diferentes características. Esses
• Seleção recorrente
resultados têm sido utilizados na continuidade do programa de melhoramento via estratégias
sexuadas e assexuadas.
Com base nos resultados de experimentos e de seleção recorrente, estão sendo realizadas
genotipagens em conjuntos de materiais genéticos do programa de melhoramento. Os resultados
• Genotipagem de materiais
têm sido muito importantes para acelerar com mais acurácia os trabalhos nessa área do
genéticos
conhecimento, identificar genótipos mais produtivos, resistentes à seca, resistentes a doenças e
com qualidades superiores de bebidas.
Fitotecnia e Fisiologia (implantação e manejo da cultura)
• Zoneamento das áreas Define as áreas aptas ao cultivo em altitudes inferiores a 650 m, temperaturas médias anuais entre
aptas ao cultivo 22 ºC e 26 ºC e com deficit hídrico inferior a 350 mm/ano (capítulo 3).
Define os locais mais adequados para o plantio. Os mais recomendados são aqueles com menor
declividade, menos depauperados, com solos mais férteis, livres de impedimentos físicos e
• Local de plantio
encharcamento, de fácil acesso e com menor predisposição para a infecção por patógenos ou
infestação de pragas.
Definição do sistema mais adequado de preparo de covas e tipos de mudas para implantação de
• Implantação de lavouras
lavouras de café conilon.
Técnica desenvolvida para implantação de lavouras formadas por variedades clonais. Além de
promover melhoria da produtividade e qualidade da produção, facilita o manejo da lavoura
e colheita. O plantio em linha proporciona a redução na produção e dispersão de inóculo nas
• Plantio em linha lavouras, levando assim à redução da incidência e severidade de doenças. A técnica permite
identificação dos clones mais resistentes aos ataques de pragas e doenças, sobretudo da
cochonilha e ferrugem, possibilitando o controle dirigido e diferenciado, com a redução do
inóculo, além de proporcionar redução da aplicação de produtos químicos.
Depende da cultivar, da topografia, da fertilidade do solo e do nível tecnológico a ser empregado,
entre outros (capítulo 12). O espaçamento mais adequado encontra-se em torno de 3,0 m entre
• Espaçamento e densidade
linhas e de 1,0 a 1,5 m entre plantas totalizando 2.222 a 3.333 plantas/ha. O espaçamento e a
de plantio
densidade de plantio inadequados podem ocasionar na lavoura microclima favorável à infecção
de patógenos e aumento de severidade das doenças e infestação de pragas.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 721
(continuação)
Tecnologias,
Conhecimentos e Descrição
Inovações
Fitotecnia e Fisiologia (implantação e manejo da cultura)
Técnica relacionada à estabilidade de produção e/ou revigoramento de lavouras. Recomenda-se,
de acordo com a cultivar, espaçamento, altitude, nível tecnológico, topografia, irrigação de 10 a
12 mil hastes por hectare. Além de a poda proporcionar o revigoramento da lavoura, aumento da
• Poda e desbrota produtividade, estabilidade de produção e facilidade de manejo e colheita, favorece o arejamento,
que desenvolve um microclima favorável, levando, assim, à redução de inóculo, incidência e
severidade de doenças, redução da curva de progresso da doença, como também a infestação de
pragas.
Técnica de aprimoramento da poda a ser realizada todos os anos, após a colheita, pela retirada de
ramos horizontais e verticais, seguindo as recomendações da tecnologia. A Poda Programada de
Ciclo apresenta as seguintes vantagens: redução de mais de 30% da mão de obra comparando
• Poda Programada de Ciclo com poda tradicional, facilidade de entendimento e execução, padronização do manejo da poda,
maior facilidade para a realização das desbrotas e tratos culturais, maior uniformidade de florada
e maturação dos frutos, melhoria no manejo de pragas e doenças, aumento de mais de 20% na
produção e melhoria na qualidade final do produto.
Técnica de manejo da planta desenvolvida em 2008, que consta no arqueamento e manejo
da muda de café após 90 dias de plantio visando a emissão de brotos, que após as desbrotas,
• Vergamento estabelecem-se de 3 a 4 hastes verticais por planta e de 10 a 12 mil hastes produtivas por hectares.
A principal importância da tecnologia é preparar a planta para a Poda Programada de Ciclo,
melhorar a produtividade, sobretudo, na primeira colheita e facilitar o manejo da lavoura.
Por intermédio de esforços conjuntos envolvendo instituições de ensino e pesquisa, empresas
privadas, cooperativas e produtores, tem sido trabalhado o desenvolvimento e ou adaptação
de tecnologias visando à mecanização da colheita do café conilon. Os trabalhos têm sido na
área agronômica, cujo objetivo é o desenvolvimento de tecnologias de implantação e manejo
• Colheita mecânica
da lavouras obtendo, assim, condições adequadas para esse tipo de colheita. Por outro lado,
diferentes empresas vêm desenvolvendo e/ou adaptando diferentes tipos de máquinas e sistemas
de colheitas para tal fim. Os resultados, ainda preliminares, são promissores, com eficiência de
mais de 80%, com menor tempo de operação e redução de mais de 30% do custo da colheita.
Determinação de métodos de manejo do mato por meios mecânico e químico. Tais práticas
conservacionistas contribuem para o controle da erosão, enriquecem e auxiliam a manutenção da
• Manejo e conservação de
umidade do solo, reduzem a presença de patógenos, favorecem o equilíbrio dos microorganismo
solo
no ambiente e promovem o controle biológico de patógenos e pragas. O manejo da vegetação
natural nas “ruas” do cafeeiro reduz até 80% das perdas de solo e 60% das perdas de água.
Técnica que traz muitos benefícios para as lavouras, uma vez que o café conilon não suporta
ventos fortes, frios e contínuos. Contribui para diminuição da evapotranspiração, manutenção,
• Quebra-vento
umidade do solo, redução da infeção de patógenos da parte aérea e funciona como barreira para
a disseminação do inóculo, principalmente de doenças fúngicas.
Arborização e sombreamento: vários arranjos têm sido recomendados de café associado com
mamão, seringueira, coco, banana, entre outras espécies – esses arranjos têm se mostrado técnico,
econômico e ecologicamente viáveis. Leguminosas na adubação verde, compostos orgânicos
• Manejo para produção de
e palha de café são fontes de nutrientes, conservam o solo, reduzem a presença de patógeno,
café orgânico e sustentável
favorecem o equilíbrio da microbiota e promovem o controle biológico de patógenos e pragas e a
resistência induzida das plantas às doenças. Armadilhas de cola, extrato vegetal (nim, hexânico de
chagas, mentrasto) – controle natural de pragas.
• Calda viçosa, calda Calda viçosa - controle de doenças da parte aérea da planta com destaque para a ferrugem e
sulfocálcica e supermagro mancha-de-olho-pardo. Calda sulfocálcica – controle de doenças e de pragas. Supermagro –
(CRUZ FILHO; CHAVES, 1985) controle de doenças e desinfestação de pragas.
Estudo que define a curva e taxa de crescimento do cafeeiro conilon. Conhecimentos que permitem
• Taxa de crescimento das monitorar a nutrição e a adubação do café conilon em sistemas de cultivo tradicional, orgânico e
plantas fertirrigação com desdobramentos que possibilitam uma melhor compreensão sobre a fisiologia
do crescimento e as práticas de manejo (poda) adotadas para a cultura.
722 Café Conilon – Capítulo 29
(continuação)
Tecnologias,
Conhecimentos e Descrição
Inovações
Adubação e Calagem
Os estudos levaram as 1ª, 2ª e 3ª aproximações para recomendação adequada de adubação e
calagem. Determinaram-se as doses de N, P, B, Zn e matéria orgânica para as fases de formação
• Recomendação de e produção, e também das doses de N e P em sistemas de plantios adensados. Por intermédio
adubação e calagem para das análises de solo e de folha, verifica-se o nível dos nutrientes e seu equilíbrio, que são muito
as fases de formação e importantes na recomendação da adubação e calagem e na identificação da predisposição da
produção planta para infecção por patógenos ou infestação de pragas. A adubação e calagem adequada
favorecem o equilíbrio nutricional das plantas, controla a presença de patógenos no solo e
promove a resistência induzida aos patógenos e pragas.
Estabelecimento das normas e desenvolvimento do Software DRIS. O método DRIS é utilizado para
• DRIS café conilon
diagnose nutricional da cultura e recomendação de adubação.
Determinação do nível crítico e faixas críticas de concentrações foliares, curva e taxa de acúmulo
• Diagnose nutricional de N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Mn, B e Cu em diversos órgãos da planta. Flutuação estacional dos
teores de nutrientes e sua partição nos diferentes órgãos do cafeeiro conilon.
Os estudos realizados nos tipos de solos Cristalino e Latassolo Vermelho-Amarelo Distrófico do
norte do Espírito Santo mostraram que a aplicação de gesso no fundo da cova ou a lanço em
• Uso do gesso agrícola
lavouras já implantadas promove o maior aprofundamento do sistema radicular do café. É uma
opção tecnicamente viável para maior convivência com a seca do café conilon.
Fitopatologia
• Análise sanitária e Determina a presença de patógenos e reduz o inóculo inicial que geralmente inicia epidemias de
tratamento de sementes doenças. Elimina a presença de patógenos e pragas nas sementes.
• Tratamento do substrato de Elimina patógenos e pragas presentes no substrato, impedindo o início de epidemias ou focos de
mudas pragas.
Evita a infecção por patógenos e deformações abióticas que poderão comprometer as plantas no
• Formação de mudas
futuro.
A ferrugem tem sido a principal doença do café conilon no Brasil. Pelo monitoramento da
ferrugem são estabelecidos os níveis críticos para a realização do controle e escolha do produto
• Monitoramento e controle mais adequado. A severidade da doença é determinada por uma escala de nota, que possibilita a
da ferrugem definição da resistência e as curvas epidemiológicas dos materiais genéticos. O conhecimento das
diferentes raças auxilia na definição das práticas mais adequadas. Cultivares resistentes, nutrição e
manejo adequado da lavoura são práticas eficientes no controle da ferrugem.
Determina a presença de fungos toxígenos nos grãos de café e seus efeitos na qualidade do
• Micotoxinas em grãos produto final. Estabelece as condições adequadas de condução, manejo, colheita, secagem e
armazenamento que não favorecem a presença das micotoxinas nos grãos.
Entomologia
A broca tem sido a principal praga do café conilon. Tem afetado de forma significativa a
produtividade e a qualidade final do produto. Tem sido utilizado um conjunto de ações para
redução da infestação natural da broca. O monitoramento estabelece os níveis críticos do ataque
• Monitoramento e controle
da praga, define o momento certo para realização da prática e indica a necessidade de adoção de
da broca-do-café
controle químico da praga. A colheita bem feita e o repasse, o controle biológico e a armadilha de
etanol têm sido técnicas eficientes para captura e monitoramento da broca. Tem sido recomendada
a utilização racional de produto químico, em casos extremos, após monitoramento da lavoura.
Recomenda-se o monitoramento da praga a partir da pré-floração. O controle mais eficiente, se
necessário, deve ser realizado da fase do florescimento até o período de enchimento de grãos.
• Monitoramento e controle
Para maior eficiência, recomenda-se o uso de pulverização de inseticidas com alto volume de
da cochonilha-da-roseta
calda, com uso de espalhante adesivo siliconado visando ao molhamento interno da planta e ao
atingimento da praga-alvo no interior das rosetas.
Praga, cujos danos podem ser confundidos pelo produtor com a infestação da cochonilha-da-
• Diagnóstico da lagarta-das-
roseta. Em algumas regiões, os danos são mais intensos que o da cochonilha. A praga é sensível à
rosetas
maioria dos inseticidas registrados para a cultura do cafeeiro.
Praga que geralmente aparece em períodos secos, com veranicos prolongados. O principal sintoma
• Monitoramento e controle
é o aparecimento de lesões que levam ao bronzeamento das folhas. O controle deve ser realizado
do ácaro-vermelho
com produtos à base de enxofre.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 723
(conclusão)
Tecnologias,
Conhecimentos e Descrição
Inovações
Entomologia
Praga de importância quarentenária para o café conilon. Causa grandes danos. Se não for
adequadamente manejada, pode levar à necessidade de erradicação e destruição da lavoura.
• Broca-dos-ramos Recomenda-se o controle por intermédio da remoção das partes atacadas da planta e,
consequentemente, pela eliminação das diversas fases do desenvolvimento do inseto: ovo, larva,
pupa e adulto.
Irrigação
A irrigação tem sido uma das tecnologias que tem oferecido maior segurança ao produtor na
melhoria da produtividade de qualidade da produção. Os estudos têm definido as épocas e fases
de maiores demandas de água, o turno de rega, a eficiência e as vantagens e desvantagens dos
• Manejo da irrigação
diferentes equipamentos de irrigação. O manejo inadequado da irrigação condiciona o surgimento
de microclima favorável à infecção de patógenos e aumento da severidade das doenças e
infestação de pragas.
Sistema de Informações Agrometeorológicos do Estado do Espírito Santo (Siag)
Ferramenta importante para o monitoramento climático das regiões produtoras de café conilon.
Fornece informações sobre queimadas, previsão climática, de tempo, seca, enchentes, dias
• Monitoramento do clima secos consecutivos (veranicos), temperatura, precipitação, umidade, ventos. As informações
proporcionam condições para melhor gestão da atividade cafeeira, como plantio, adubação,
irrigação, manejo e/ou controle de pragas e doenças, colheita, secagem, entre outras práticas.
Melhoria da Qualidade Final do Produto
Principais tecnologias que têm promovido a qualidade final do café envolvendo o manejo da
• Manejo da colheita e cultura, a colheita, o tempo e temperatura de secagem e o processo de produção de café conilon
pós-colheita e estudos da cereja descascado. Ultimamente, vêm sendo feitos estudos da constituição química dos grãos,
constituição química dos associados ao aroma, sabor, corpo, acidez, entre outros componentes importantes envolvidos na
grãos determinação da qualidade final do produto. As novas cultivares clonais Diamante, Jequitibá e
Centenária são constituídas por clones com comprovada qualidade superior de bebida.
• Águas residuais do processo Estudos dos destinos e utilização da água residuária originada dos processos de despolpamento
de beneficiamento de café e/ou descascamento de café.
3.1.2 A estratégia dos Jardins Clonais clonal do Estado (FONSECA et al., 2005b), com o
potencial para produção de mais de 4 milhões de
A instalação de jardins clonais de café conilon
mudas clonais por ano.
no Estado do Espírito Santo tem sido a principal
estratégia de difusão e transferência de tecnologia, À medida que as ações de difusão e transferência
notadamente aquelas oriundas do processo de de tecnologias são desenvolvidas (palestras, cursos,
pesquisa em melhoramento genético. encontros, dias de campo, visitas às Fazendas
Experimentais do Incaper, etc.), ampliam-se e
Essa programação é desenvolvida com sucesso
diversificam-se as entidades interessadas em
desde 1993, a partir do lançamento, pelo Incaper,
instalar seus próprios jardins clonais.
das primeiras variedades clonais, seguindo com
uma performance impressionante ao longo dos 22 Com critérios de atendimento claramente definidos
anos de trabalho de transferência de tecnologia pelo Estado, foram priorizadas inicialmente as
para a renovação do parque cafeeiro de conilon Prefeituras Municipais, as entidades representativas
(Figura 5). de agricultores familiares e as Escolas Agrotécnicas
da rede oficial do Movimento de Educação
Os primeiros parceiros do Estado, na implantação de
Promocional do Espírito Santo (Mepes) e do Centro
jardins clonais, foram as Prefeituras Municipais de
Estadual Integrado de Educação Rural (Ceier),
Águia Branca, Boa Esperança, Jaguaré, João Neiva e
estendendo-se posteriormente o atendimento a
São Gabriel da Palha, além da Cooabriel, que detém
outras entidades, inclusive a viveiristas particulares
atualmente cerca de 30 mil matrizes, o maior jardim
724 Café Conilon – Capítulo 29
que pagam para ter acesso às mudas. melhores que a região norte (Figura 6). Atualmente,
já são 5 jardins clonais com potencial para produção
O programa busca, prioritariamente, facilitar o
e disponibilização de mais de 1 milhão de estacas
acesso dos agricultores familiares ao conjunto de
por ano de variedades geradas pelo Incaper para os
tecnologias. Para tanto, ocorre uma distribuição
produtores do sul do Espírito Santo.
equilibrada de jardins clonais nas principais áreas
produtoras do Estado facilitando o processo Na verdade, o conjunto de jardins clonais forma
de incorporação de tecnologia aos sistemas a base multiplicadora de materiais genéticos,
de produção. Além disso, a disponibilidade de resultado das pesquisas científicas com café
materiais genéticos constantes dos campos de conilon, e compõe a estrutura e o suporte de
matrizes instalados nas Fazendas Experimentais do transferência de tecnologias para a adoção
Incaper, localizadas nos Municípios de Marilândia de variedades superiores. Esse trabalho tem
e Sooretama, não é suficiente para atender à se transformado em fator de aproximação
demanda total do Estado. e articulação do Estado com as entidades e
viveiristas que contribuem para a promoção dos
Registra-se a instalação, a partir de 2004, de mais
avanços da cafeicultura de conilon.
um campo de matrizes (jardim clonal) na Fazenda
Experimental de Bananal do Norte/Incaper - Atualmente, os jardins clonais estão sob o
Cachoeiro do Itapemirim como base importante controle de cinco grandes grupos de usuários:
para dinamizar a cafeicultura da região sul, que as prefeituras, através de suas secretarias
apresenta produtividade abaixo da média estadual, municipais de agricultura ou afins; as associações
apesar de possuir condições edafoclimáticas de produtores, incluindo as cooperativas; as
Figura 5. Treinamento para técnicos, viveiristas e produtores rurais nas Fazendas Experimentais do Incaper.
Figura 6. Jardins clonais das variedades Robustão Capixaba e Conilon Vitória, Fazenda Experimental Bananal do Norte/
Incaper - Cachoeiro de Itapemirim/ES.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 725
fazendas de pesquisas; as escolas agrotécnicas municípios, com potencial para a produção anual
e os viveiristas. Ao todo, somam-se mais de 200 de mais de 50 milhões de mudas, suficientes para
unidades, com tendência a aumentar, tendo em a renovação de aproximadamente 7% do parque
vista a demanda existente. Estão presentes em 60 cafeeiro de conilon por ano (Figura 7).
Prefeituras = 18,42%
Cooperativas = 1,05%
Figura 7. Distribuição espacial dos jardins clonais de café conilon no Estado do Espírito Santo.
Fonte: Incaper (2015).
726 Café Conilon – Capítulo 29
Tabela 1. Metodologias individuais de extensão rural desenvolvidas pelo Incaper para o café conilon no Estado do
Espírito Santo, no período 2011 a 2014
Anos Total Média/ano
Metodologias Individuais Unidade
2011 2012 2013 2014
Visita nº 5.310 4.237 4.712 5.463 19.722 4.930,5
Atendimento/Contato nº 4.207 7.019 9.182 8.972 29.380 7.345,0
Total nº 9.517 11.256 13.894 14.435 49.102 12.275,5
Fonte: Dados originais do Departamento de Planejamento e Captação de Recursos (DPC)/Incaper, 2015.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 729
pois envolve uma associação de métodos que, As primeiras consistem em se implantar uma
dependendo dos objetivos e da natureza da ação, pequena lavoura, preferencialmente em áreas
pode incluir vários outros métodos já citados. de produtores, contendo a tecnologia que se
Requer ainda, na maioria dos casos, a edição de deseja demonstrar para fins de adoção. Pode-
publicação técnica de material impresso de forma se, também, aproveitar uma lavoura de produtor
educativa e publicitária, além da inserção dos já implantada, demarcando a área com que se
meios de comunicação de massa (TV, rádio, jornal pretende trabalhar a inovação e, quando o efeito
impresso e internet), como forma de ampliação da dessa ação for positivamente contrastante, faz-
abrangência da ação. Apesar do custo geralmente se o aproveitamento metodológico da unidade
elevado, a campanha quando bem planejada e demonstrativa, planejando visitas de outros
executada apresenta resultados impactantes e produtores, promovendo excursões, dias de campo
duradouros. e outros eventos.
Ressalta-se que, mais do que qualquer outra A unidade de observação é uma metodologia que
metodologia de extensão, a campanha, por ser serve para dar segurança e certeza ao extensionista
considerada um método complexo e dispendioso, sobre uma determinada inovação, antes de
deve ter o máximo de envolvimento institucional. promover ações de transferência de tecnologia.
Como exemplo de sucesso dessa metodologia, Inicialmente, é fechada à visitação pública, mas
destacam-se as campanhas da poda do café (1994), após confirmação do desempenho da tecnologia,
do controle da broca-do-café (2000), do uso de pode ser transformada em unidade demonstrativa
calagem (2002) e de Melhoria da Qualidade e e ter o mesmo procedimento anterior.
Produtividade a partir de 2009.
São metodologias de sustentação do trabalho
Por último, duas outras metodologias, que são extensionista num local ou região, pois, por
básicas para o extensionista, foram utilizadas suas próprias características intrínsecas,
para facilitar o processo de transferência permitem comparações visuais e exercem efeitos
de tecnologia. Tratam-se das unidades demonstrativos complexos (Figura 10).
demonstrativas e das unidades de observação.
Figura 9. Dia de campo para demonstração do desempenho das variedades melhoradas do Incaper.
18.735
10.300
9.336 9.158 8.892 8.523
6.958
5.457
4.728
3.954 3.531
3.071 2.701
2.212
1.504 1.289
610
Café Conilon
Café Arábica
Organização
Social
Fruticultura
Crédito Rural
Pecuária
Recursos Hídricos
e Meio Ambiente
Culturas
Alimentares
Comercialização
Olericultura
Agroecologia
Silvicultura
Atividades Rurais
não Agrícolas
Redução da
Extrema Pobreza
Agroindústria
Aquicultura
Pesca
Floricultura
Figura 11. Público assistido pelo Incaper, por atividade, em 2014.
Fonte: Incaper (2015).
Quadro 3. Principais publicações técnicas sobre café conilon direcionadas à cafeicultura do Espírito Santo, no período
de 1987 a 2015 (continua)
(continuação)
Título Veículo Editora Ano da edição
Calagem: saiba como fazer e colha muitos benefícios Fôlder Incaper 2002
Compostagem orgânica da palha de café Fôlder Incaper 2003
Cafés de qualidade: Espírito Santo colheita e processamento Fôlder Incaper 2003
‘Conilon Vitória - Incaper 8142`: variedade clonal de café SD Incaper 2004 - 1ª ed.
Café conilon: técnicas de produção com variedades
CT Incaper 2004 - 1ª ed.
melhoradas
‘Conilon Vitória - Incaper 8142`: variedade clonal de café Fôlder Incaper 2004 - 1ª ed.
Jardins clonais de café conilon CT Incaper 2004 - 1ª ed.
Jardins clonais de café conilon (atualizada) CT Incaper 2005 - 2ª ed.
Café Relatório Incaper 2005
Cafés do Espírito Santo – Brasil Fôlder Incaper 2005
Fundução Jônice
Brava Gente Polonesa Livro 2005
Tristão
Café conilon Livro Incaper 2007
Quer fazer um café conilon de qualidade? Fôlder Incaper 2008
Seminário para a sustentabilidade da cafeicultura Livro CCA - Ufes/Incaper 2008
Poda programada de ciclo para o café conilon Fôlder Incaper 1ª/2008 - 2ª/2009
Como você quer a sua produção de café conilon: mais forte ou
mais fraco? Colha o café na hora certa e fortaleça a qualidae Fôlder Incaper 2008
do seu produto
Café conilon de qualidade Fôlder Incaper 2009
Cetcaf On Line Informativo Cetcaf A partir de 2009
Produza seu café com qualidade e colha mais lucros. Colha o
café conilon na hora certa e fortaleça a qualidade e o valor dos Fôlder Incaper 2009
seu produto
Café conilon de qualidade Fôlder Incaper 2010
Produza seu café com qualidade. Colha o café conilon na hora
Fôlder Incaper 2010
certa e fortaleça a qualidade e o valor dos seu produto
Produza seu café com excelência de qualidade e obtenha mais
Fôlder Incaper 2010
lucro e melhores oportunidades de mercado
Tecnologias para sustentabilidade da cafeicultura Livro CCA - Ufes/Incaper 2011
Inovação, difusão e integração: bases para sustentabilidade da
Livro CCA - Ufes/Incaper 2012
cafeicultura
Café conilon: Cem anos de história e evolução no Estado do
Fôlder Incaper 2012
Espírito Santo. Do Brasil para o mundo
Conilon capixaba 100 anos de desafios, crescimento e Governo do Estado do
Livro 2012
inovação Espírito Santo/Seag
100 anos de Conilon Capixaba Caderno Especial A Gazeta 2012
Conilon: técnicas de produção com variedades melhoradas CT Incaper 2012
Conilon coffee: Production techniques with improved varieties CT Incaper 2012
Café conilon: técnicas de producción com variedades
CT Incaper 2012
mejoradas
Manual da Conferência Internacional de Coffea canephora Informativo Incaper 2012
Teores de nutrientes nas águas residuárias do café e
SD Incaper 2012
características químicas do solo após sua aplicação
Renova café conilon Fôlder Incaper 2012
Conilon produza seu café com qualidade Fôlder Incaper 2013
Variedade clonal de café conilon: 10 passos em 12 anos de
Fôlder Incaper 2013
pesquisa
‘Diamante ES8112’: nova variedade de café conilon de
Fôlder Incaper 2013
maturação precoce para o Estado do Espírito Santo
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 735
(conclusão)
Título Veículo Editora Ano da edição
‘ES8122 - Jequitibá’: nova variedade de café conilon de
Fôlder Incaper 2013
maturação intermediária para o Estado do Espírito Santo
‘Centenária ES8132’: nova variedade de café conilon de
Fôlder Incaper 2013
maturação tardia para o Estado do Espírito Santo
Calagem Fôlder Seag/Incaper 2013
Cafés do Estado do Espírito Santo conilon e arábica Fôlder Seag/Incaper 2013
Calcário Correto: programa de incentivo à utilização de
calcário para a cultura do café na região sul do o Estado do Fôlder Seag/Incaper 2013
Espírito Santo
Café Conilon: Qualidade, Adubação e Irrigação Livro Ceunes/Ufes 2013
Café Conilon: Tendências de Mercado e Mecanização Livro Ceunes/Ufes 2014
Campanha de qualidade café conilon Fôlder Incaper 2014
Campanha de qualidade café conilon Fôlder Incaper 2015
Café Conilon: do Plantio à Colheita Livro UFV 2015
Nota: 1.SD = Série Documentos; CT = Circular Técnica; DQ-1 = Disquete.
café conilon e detém 37% da produção estadual e Simpósio Brasil Café Conilon e Concurso Conilon
conta com 18 mil cafeicultores. de Excelência Cooabriel
Sob o ponto de vista da organização, mobilização e Iniciado em 1999, esse evento teve seis edições
motivação dos cafeicultores, além do envolvimento realizadas na cidade de São Gabriel da Palha/ES, de
institucional, o evento se reveste de uma dois em dois anos, até 2009. Primou sempre pelo
importância fundamental para avançar no sentido debate de temáticas que ampliem a visão global do
da ampliação da média regional. agronegócio café aos participantes, notadamente
aos cafeicultores empreendedores, profissionais
de pesquisa e extensão rural, executivos do ramo
Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil e lideranças técnicas e políticas dessa importante
Iniciado em 2000, o Simpósio já é um tradicional atividade do Estado.
fórum de apresentações e discussão de trabalhos de O evento teve como promotores e realizadores
pesquisas e abordagens de temáticas importantes principais a Cooabriel, o Sicoob com parceria da
para a cadeia produtiva do café e para a área de Prefeitura Municipal de São Gabriel da Palha/ES e o
ciência e tecnologia. Governo do Estado, através da Seag.
Após primeira edição de 2000, em Poços de Caldas/ Atraído sempre pela garantia de importantes
MG, com cerca de 700 participantes e 381 trabalhos discussões temáticas, o público, que foi um dos
científicos, o evento cumpre a função de provedor fatores de sucesso do Brasil Café Conilon, recebeu
dos avanços científicos do café em nove edições, informações, conhecimentos e tecnologias
sob a promoção do Consórcio Brasileiro de Pesquisa de gerenciamento de propriedades cafeeiras,
e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), sob a tecnologias de produção e visão global de
Coordenação da Embrapa e governos estaduais nos agronegócio, fundamentais para a prática de uma
locais em que o evento se realiza. cafeicultura profissional.
Realizado sempre de dois em dois anos, são apre- Em suas últimas edições, o Simpósio Brasil Café
sentados de 450 a 500 trabalhos científicos a cada Conilon incluiu na sua programação o Concurso
edição com participação de 700 a 800 congressis- Conilon de Excelência Cooabriel, que ocorre
tas, entre eles diversos representantes dos setores anualmente desde 2004 e que, em 2015, completou
que compõem o agronegócio café, como pesqui- a 12ª edição. Esse concurso é o pioneiro no Estado
sadores, extensionistas, lideranças da cafeicultura, e no Brasil para a premiação de café conilon nos
cafeicultores, empresários do setor, representantes quesitos de qualidade. O concurso se apresenta
comerciais, corretores, imprensa especializada, es- como um mecanismo de marketing importante
tudantes e demais interessados nos avanços da ci- da qualidade do Café Robusta no Brasil, além de
ência e da tecnologia cafeeira (Figura 15). ser um importante instrumento de incorporação
de tecnologias de produção e gerenciamento de
propriedades cafeeiras (Figura 16).
Figura 15. Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil, Figura 16. Simpósio Brasil Café Conilon e Concurso
Curitiba/PR, 2015. Conilon de Excelência Cooabriel, São Gabriel
da Palha/ES, 2012.
Foto: www.embrapa.br
Foto: Assessoria de Comunicação/Seag.
738 Café Conilon – Capítulo 29
6%
Figura 17. Conferência Internacional de Coffea canephora,
Vitória/ES, 2012. Área Produtividade Produção
Figura 18. Percentual de crescimento da área, produtivi-
dade e produção de café conilon no Espírito
Santo, de 1993 a 2014.
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 739
É importante ressaltar que a produtividade, a 1966, e pela não inclusão de regiões abaixo
principal indicador de incorporação tecnológica, de 400 m de altitude no Plano de Renovação de
já ultrapassa o patamar de 200 sc. benef./ha, Lavouras Cafeeiras, lançado em 1969. Portanto,
tanto em nível experimental quanto em lavouras a saga desse produto e o embrião das ações de
mais tecnificadas. Portanto, essa amplitude de transferência de tecnologias têm como marco o
variação entre o potencial e a produtividade média ano de 1970.
verificada no Espírito Santo tende a se reduzir a
O grande saldo positivo desse processo foi a criação
partir da renovação de lavouras em novas bases
de uma rede de articulação e de decisões locais
tecnológicas.
que proporcionaram à cafeicultura de conilon um
A ampliação da produtividade é fator determinante crescimento endógeno ao Estado do Espírito Santo,
para se reduzir custos unitários de produção, ficando muito pouco dependente de decisões de
aumentar a renda bruta e líquida dos cafeicultores, âmbito federal.
além de promover uma maior eficiência nos
Embora os indicadores sociais e econômicos da
demais elos da cadeia produtiva. Em 2014, a valor
atividade tenham evoluído muito ao longo dos
bruto da produção de café conilon atingiu a cifra
anos, é preciso esclarecer que há um longo caminho
de R$ 2,36 bilhões, o que representou 29% de todo
a percorrer, tendo em vista que é contínuo tanto o
o Valor Bruto da Produção Agropecuária.
processo de geração do conhecimento quanto a
Assim, a produção ampliada, a partir do incremento busca de superação de novos gargalos e desafios.
na produtividade, aumenta renda e garante
É preciso lembrar que a produtividade média atual
estabilidade socioeconômica, o que é estratégico
do Espírito Santo de cerca de 35 sc. benef./ha ainda
para o desenvolvimento do interior do Espírito
tem muito a crescer, tendo em vista que novas
Santo, tornando a cafeicultura a atividade agrícola
cultivares foram lançadas recentemente, como são
de maior relevância para o meio rural capixaba.
os casos da Diamante, Jequitibá e Centenária, além
Considerando-se o estoque de tecnologias de um grande estoque de outros conhecimentos
existentes, a constante geração de novos e tecnologias que ainda estão em processo de
conhecimentos e o eficiente processo de difusão adoção pelos cafeicultores.
e transferência de tecnologias estruturado no
A implantação de mais de 200 jardins clonais
Espírito Santo, pode-se estimar que o cenário para
distribuídos estrategicamente no Estado ofertando
o café conilon no Estado para os próximos dez
materiais genéticos superiores, que apresentam
anos é de produção entre 16 a 20 milhões de sacas,
resultados que vão de 50 a 70 milhões de mudas
produtividade média superior a 55 sc. benef./ha e
de café conilon todos anos também é uma
área plantada praticamente estabilizada. Essa visão
garantia de renovação do parque e ampliação da
é corroborada pela maioria dos especialistas do
produtividade.
segmento.
Merecem atenção especial os projetos que o
Governo Estadual, por meio do Incaper, está
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS desenvolvendo na região sul do Estado, como
o Calcário Correto e o Renova Sul Conilon. No
A mobilização do poder local do Município de São
médio prazo, espera-se que haja uma melhoria no
Gabriel da Palha, localizado na região noroeste do
desempenho econômico, com elevação do nível
Estado do Espírito Santo deixou um legado valoroso
tecnológico empregado na cultura, o que cumprirá
na busca constante da excelência de produção do
com a meta de se reduzir as desigualdades
café conilon e, mais do que isso, conferiu maior
regionais e contribuirá, também, para o aumento
confiança e segurança na consolidação de sua
da produtividade média estadual.
cadeia produtiva.
Ressalta-se, ainda, que além das tradicionais
A perseverança foi a característica mais marcante
bases de pesquisa e transferência de tecnologias
naquele momento de crise econômica e social,
localizadas no norte, em Marilândia e Sooretama,
produzido pelo Programa de Erradicação dos
há mais de uma década, a Fazenda Experimental
Cafezais do Governo Federal, no período de 1963
de Bananal do Norte, em Cachoeiro de Itapemirim,
740 Café Conilon – Capítulo 29
no sul do Estado está consolidada também como FERRÃO, R. G.; FONSECA, A. F. A. da; SILVEIRA, J. S.
mais um polo de apoio aos cafeicultores dessa M.; FERRÃO, M. A. G.; BRAGANÇA, S. M. ‘Emcapa
região. 8141 - Robustão Capixaba’: variedade clonal de
café conilon tolerante à seca, desenvolvida para
É plenamente perceptível, atualmente, a o Estado do Espírito Santo. Revista Ceres, n. 273,
evolução das articulações entre o setor público p.555-560, 2000.
e privado, bem como a institucionalização e
FERRÃO, R. G.; FONSECA, A. F. A. da.; FERRÃO, M.
profissionalização dessas relações que visam ao
A. G.; BRAGANÇA, S. M.; FERRÃO, L. M. V. ‘Emcaper
desenvolvimento e à promoção do produto. Essa
8151 - Robusta tropical’: variedade melhorada
tem sido a principal estratégia facilitadora do de Café Conilon de propagação por semente
processo de inovação, promotora da melhoria para o Estado do Espírito Santo. In: SIMPÓSIO DE
do nível de informação e contribuidora de PESQUSA DOS CAFÉS DO BRASIL, 1., 2000, Poços
um ambiente de cooperação. Essa interação de Caldas, MG. Anais... Brasília, DF: Embrapa Café e
institucional tem sido a chave do avanço do MINASPLAN, p. 413-416, 2000.
trabalho de difusão e transferência de tecnologia FERRÃO, R. G; FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, M. A.
para o café conilon. G.; De MUNER, L. H.; VERDIN FILHO, A. C.; VOLPI, P. S;
MARQUES, E. M.; ZUCATELI, F. Café Conilon: técnicas
de produção com variedades melhoradas. 3. ed.
6 REFERÊNCIAS Vitória, ES: Incaper, 2012. 60 p. (Incaper. Circular
BALANÇO social 2013 Incaper. IN: OLIVEIRA, L. R. Técnica, 03-I).
de.; BORGES, J. (Orgs.). Vitória, ES: Incaper, 2014. 60 FERRÃO, R. G.; FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F. A.;
p. (Incaper; Documento, 230). VOLPI, P. S.; VERDIN FILHO, A. C.; LANI, J. A.; MAURI,
BRAGANÇA, S. M.; CARVALHO, C. H. S. de; FONSECA, A. L.; TÓFFANO, J. L.; TRAGINO, P. H.; BRAVIM, A. J. B.;
A. F. A. da; FERRÃO, R. G. ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa MORLLI, A. P. ‘Diamante ES 8112’ - Nova variedade
8121’, ‘Emcapa 8131’: primeiras variedades clonais clonal de café conilon de maturação precoce para o
de café conilon lançadas para o Estado do Espírito Espírito Santo. 2. ed. Revisada. Vitória, ES: Incaper,
Santo. Vitória, ES: Emcapa. 2p. 1993 (Emcapa. (Documentos 219), Jun. 2015a, 1 folder.
Comunicado Técnico, 68). FERRÃO, R. G.; FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F. A.;
BRAGANÇA, S. M.; CARVALHO, C. H. S. de; FONSECA, VOLPI, P. S.; VERDIN FILHO, A. C.; LANI, J. A.; MAURI,
A. F. A. da; FERRÃO, R. G. ‘Emcapa 8111’, ‘Emcapa A. L.; TÓFFANO, J. L.; TRAGINO, P. H.; BRAVIM, A. J. B.;
8121’, ‘Emcapa 8131’: Variedades clonais de café MORLLI, A. P. ‘ES 8122 – Jequitibá’ - Nova variedade
conilon para o Estado do Espírito Santo. Pesquisa clonal de café conilon de maturação intermediária
Agropecuária Brasileira, Brasília, DF: v. 36, n. 5, p. para o Espírito Santo. 2. ed. Revisada. Vitória, ES:
765-770, 2001. Incaper, (Documentos 220), Jun. 2015b, 1 folder.
CADERNOS de difusão de tecnologia v. 1., n.1 FERRÃO, R. G.; FERRÃO, M. A. G.; FONSECA, A. F.
(1984). Brasília: Embrapa, 1984 A. da; VOLPI, P. S.; VERDIN FILHO, A. C.; LANI, J. A.;
MAURI, A. L.; TÓFFANO, J. L.; TRAGINO, P. H.; BRAVIM,
DADALTO, G. G.; BARBOSA, C. A. Zoneamento A. J. B.; MORLLI, A. P. ‘Centenária ES 8132’ - Nova
agroecológico para a cultura do café no estado do variedade clonal de café conilon de maturação
Espírito Santo. Vitória, ES: SEAG, 1997. 28p. tardia para o Espírito Santo. 2. ed. Revisada. Vitória,
De MUNER, L. H. Calcário correto: Programa de ES: Incaper, (Documentos 221), Jun. 2015c, 1 folder.
incentivo à utilização de calcário para a cultura FONSECA, A. F. A. da; SILVEIRA, J. S. M.; BRAGANÇA,
do café na região sul do estado do Espírito Santo. S. M. Principais defeitos que interferem no tipo do
Vitória, ES: Incaper, (Documentos 225), Nov.2013, café no Espírito Santo. In: CONGRESSO BRASILEIRO
folder. DE PESQUISAS CAFEEIRAS, 21., 1994, Caxambú,
EMATER; COOABRIEL. Poda do café conilon. Vitória, MG. Anais... Caxambú, p. 45, 1994.
ES: Emater, Cooabriel, [199-]. 1 folder. FONSECA, A. F. A. da; FERRÃO, M. A. G.; FERRÃO, R.
EMBRAPA CAFÉ. Consórcio Brasileiro de Pesquisa e G.; VERDIN FILHO, A. C.; VOLPI, P. S.; ZUCATELI, F.
Desenvolvimento do Café. Brasília, DF: Embrapa café, Conilon Vitória - ‘Incaper 8142’: variedades clonais
2004. 148 p. de café Conilon. 2. ed. Vitória, ES: Incaper 2005a. 28
p. (Incaper. Documentos 127).
Geração, Difusão e Transferência de Tecnologia para o Café Conilon no Estado do Espírito Santo 741
30
Coeficientes Técnicos e
Custos de Produção do Café
Conilon no Espírito Santo
Lúcio Herzog De Muner, Edileuza Aparecida Vital Galeano, Romário Gava Ferrão,
João Luiz Perinni, Abraão Carlos Verdin Filho, Wander Ramos Gomes,
Sérgio Marins Có, Marcone Comério, Luiz Antonio Bassani,
Roberto Passon Casagrande e Levy Heleno Fassio
mas não podem deixar de ser considerados, uma custos está ligada à gestão da tecnologia, ou seja,
vez que se constituem, de fato, em dispêndios. As à alocação eficiente dos recursos produtivos e ao
mensurações se dão de maneira indireta, através conhecimento dos seus preços.
da imputação de valores que deverão representar
O domínio da tecnologia e do conhecimento dos
o custo de oportunidade de seu uso. São exemplos
resultados dos gastos com os insumos e serviços em
de custos implícitos os gastos com depreciação
cada fase produtiva da lavoura, que tem no custo
de benfeitorias, de instalações, de máquinas e de
um indicador importante das escolhas do produtor,
implementos agrícolas e de remuneração do capital
é imprescindível para se administrar com eficiência
fixo e da terra (CONAB, 2010).
e eficácia uma unidade produtiva agrícola (CONAB,
Quanto aos custos fixos, conforme Santos, Sagatti 2010).
e Marion (2009) e Crepaldi (2012), toda cultura
Na avaliação de custos, deve-se distinguir a análise
permanente que produzir frutos será alvo de
contábil da econômica. O conceito de custo de
depreciação. Nesse caso, o cálculo é feito da seguinte
produção envolve custos econômicos que se
maneira: o custo de aquisição ou formação da
referem à utilização de recursos na produção. De
cultura é depreciado em tantos anos quantos forem
acordo com Pindyck e Rubinfeld (2014), a palavra
os de produção. A depreciação passa a incidir sobre a
econômico implica que devemos distinguir os
cultura após formada (nunca em formação), a partir
custos que a empresa pode controlar daqueles
da primeira colheita. Segundo os autores citados
que não pode. O custo econômico considera os
acima, as pessoas indicadas para determinar as
custos explícitos, que se referem ao desembolso
taxas de depreciação nas atividades agropecuárias
efetivamente realizado, e os implícitos que
são agrônomos, técnicos agrícolas ou os próprios
dizem respeito àqueles para os quais não
agricultores, os quais têm conhecimento da vida
ocorrem desembolsos efetivos, como é o caso da
útil ou capacidade produtiva do empreendimento.
depreciação e do custo de oportunidade, também
A depreciação pode ser calculada pelo método chamado de alternativo. Entre os custos que não
linear, que considera a depreciação em taxas podemos controlar, temos o de oportunidade, que
anuais e constantes durante a vida útil da cultura é aquele associado às oportunidades deixadas de
ou de acordo com a produção estimada da cultura lado, caso a empresa não empregue seus recursos
permanente. De acordo com Crepaldi (2012), este da melhor maneira possível.
último método é vantajoso por implicar menores
Os custos de curto prazo se referem aos gastos
custos, uma vez que não proporciona redução
com recursos, cuja duração é inferior ao ciclo de
excessiva de lucro ou prejuízo e evita grandes
produção, ou seja, incorporam-se totalmente
oscilações nos resultados no decorrer de vários anos.
ao produto nesse período, não podendo ser
Para Santos, Sagatti e Marion (2009), a depreciação
aproveitados para outra safra. Em geral, são custos
calculada de acordo com a produção estimada, por
com fertilizantes, defensivos, combustíveis, mão
um lado, tem a vantagem de se ter menos custo de
de obra, serviços de máquinas e equipamentos
depreciação nos anos ruins já que a taxa é calculada
e despesas em geral (CÓ, 2003). São, portanto,
proporcionalmente à produção. Por outro lado, no
gastos monetários diretos realizados a curto prazo
ano de maior produção, a depreciação será maior.
e que fornecem, quando acrescidos do custo de
Para este trabalho, optou-se pelo método linear.
oportunidade, o custo variável total.
Pela análise econômica de um empreendimento,
Os custos fixos não variam com o nível da produção
podemos verificar de que forma a tecnologia de
e devem ser pagos mesmo que ela não ocorra. Eles
produção, juntamente com os preços dos insumos,
só podem ser eliminados se a empresa deixa de
determina o custo de produção. Conforme
operar. Já os custos variáveis oscilam quando o nível
Pindyck e Rubinfeld (2014), os insumos podem
de produção se altera. A distinção de quais custos
ser combinados de diferentes maneiras para
são fixos e quais são variáveis depende do prazo com
que seja obtida certa quantidade de produto. O
o qual estamos lidando. São recursos fixos aqueles
importante é escolher uma combinação ótima que
que têm duração superior ao ciclo de produção e,
minimize os custos e resulte na maior produção
portanto, não se incorporam totalmente ao produto
possível. Segundo Reis (2007), a estimativa dos
746 Café Conilon – Capítulo 30
no curto prazo, fazendo-o em tantos ciclos quantos produzir uma unidade do produto. Procedendo-se
permitir sua vida útil. Em geral, enquadram-se de forma semelhante, chega-se aos custos variável
nessa categoria terras, benfeitorias, máquinas, médio, fixo médio e operacional médio.
equipamentos, impostos e taxas fixas, formação de
lavouras, conjuntos de irrigação etc. Por não serem
facilmente alteráveis, esses recursos determinam 2.1 ANÁLISE ECONÔMICA SIMPLIFICADA E
a escala de produção da empresa, estabelecendo INDICADORES DE VIABILIDADE
o limite máximo da quantidade do produto por Os resultados das condições de mercado e
unidade de tempo que se poderá produzir. Para rendimento da empresa agrícola (ou atividade
a determinação do custo fixo total, considera-se produtiva) são avaliados pelo preço do
a depreciação dos bens duráveis e seu custo de produto ou pela receita média. Esta última
oportunidade (PINDYCK; RUBINFELD, 2014). pode ser considerada o preço do produto mais
Por custo de oportunidade, também denominado o valor das vendas de produtos secundários
custo alternativo, entende-se o retorno que o (subprodutos). Confrontando-se a receita média,
capital utilizado na atividade agrícola estaria ou o preço, com os custos totais médios, obtém-
proporcionando se fosse aplicado em outras se a análise econômica da atividade por unidade
alternativas. Permite verificar se é viável produtiva, determinando-se a lucratividade do
economicamente o empreendimento em questão, empreendimento. No caso da análise operacional,
desde que seu retorno financeiro seja igual ou ao comparar-se a receita média ou o preço com os
superior às outras alternativas de uso do capital custos operacionais, tem-se o conceito de resíduo
(taxa de juros real da caderneta de poupança, ou margem (REIS, 2007).
aluguel de terra, rentabilidade de outras atividades Considerando o curto prazo, na análise econômica
etc.). De acordo com Vasconcelos (2011), podemos simplificada dos custos, é essencial verificar
considerar dois tipos de relações entre a quantidade como os recursos empregados em um processo
produzida e a quantidade utilizada de fatores. O de produção estão sendo remunerados e como
primeiro é a análise de curto prazo que é o período a rentabilidade pode ser comparada a outras
no qual existe pelo menos um fator fixo de produção. alternativas de emprego do tempo e do capital. As
O segundo é a análise de longo prazo onde todos os variáveis receita e preços são fundamentais para se
fatores são variáveis. verificar o lucro econômico e o lucro normal (REIS,
O custo operacional inclui todos os recursos 2007).
que exigem desembolso monetário por parte A análise dos custos de produção ao longo do
da atividade produtiva para sua recomposição, tempo, em cada nível de produtividade, dados
tais como gastos com insumos, mão de obra, os coeficientes técnicos, permite a avaliação de
manutenção e despesas gerais, incluindo- quais variáveis implicam no aumento de custo, no
se as depreciações dos recursos fixos. O curto prazo para atingir menor custo de produção
custo operacional total é dividido em custo no longo prazo, ou seja, é possível observar a
operacional fixo, composto pelas depreciações, faixa mais eficiente na qual é mais econômica a
e custo operacional variável, constituído pelos produção.
desembolsos ou despesas de giro. Somando-se
Portanto, este estudo apresenta-se ao produtor
o custo operacional ao custo de oportunidade,
de café como um diagnóstico do comportamento
obtém-se o custo econômico. A sua finalidade na
econômico-financeiro da safra, com respeito à
análise é a opção de decisão em casos em que
remuneração obtida, à cobertura dos recursos de
os retornos financeiros sejam inferiores aos de
curto (custos variáveis) e longo (custos fixos) prazos
outras alternativas, representadas pelo custo de
e à comparação entre a remuneração obtida pela
oportunidade (REIS, 2007). O custo total representa
atividade produtiva e aquela que seria obtida em
a soma de todos os custos fixos e variáveis, sendo
outras alternativas (custos de oportunidade) (REIS,
também denominado custo econômico. Sua
2007).
divisão pela quantidade produzida fornece o
custo total médio ou unitário, que é o custo de se Segundo Reis (2007), ao se proceder à análise
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 747
econômica, pode-se encontrar diversas situações, o CopTMe, mas ainda superior ao custo operacional
dependendo da posição do preço (ou receita variável médio (CopVMe), a atividade está
média) em relação aos custos. cobrindo todos os custos operacionais variáveis (as
despesas de giro) e somente parte do operacional
O resultado econômico da atividade do produtor
fixo (depreciações). Nessas circunstâncias, o
pode apresentar lucro supernormal ou econômico
empreendimento poderá se sustentar apenas no
quando a atividade está obtendo retornos maiores
curto prazo, não se considerando a remuneração
que as melhores alternativas possíveis de emprego
do capital e a reposição de parte dos recursos fixos.
do tempo e capital. Nesse caso, a Receita Média
Quando o preço iguala-se ao custo operacional
(RMe) é maior que o custo total médio (CTMe), o qual
variável médio, a atividade cobre apenas as
inclui os custos alternativos. Isto indica que todos
despesas de custeio com recursos variáveis,
os recursos aplicados são pagos, proporcionando
sustentando-se também por pouco tempo. Já nos
ainda um lucro adicional, superior ao de outras
casos em que o preço for menor que o CopVMe, a
alternativas de mercado. A tendência a médio e
atividade, para cobrir as despesas de custeio com
longo prazos é de expansão e de entrada de novas
recursos variáveis, que são obrigatórias no curto
empresas na atividade atraindo investimentos
prazo, terá de injetar recursos de outras fontes, o
competitivos (REIS, 2007; PINDYCK; RUBINFELD,
que se configura como subsídio. Logo, a saída da
2014).
atividade é uma decisão que reduz os prejuízos.
O lucro normal ocorre quando a atividade está
A análise econômica também deve incluir a
obtendo retornos iguais aos que seriam obtidos
avaliação econômico-financeira do investimento
nas melhores alternativas possíveis de emprego
utilizando ferramentas que permitem aferir a
dos recursos. Significa estabilidade, mantendo-se
viabilidade do empreendimento. Tais métodos de
o nível de produção a curto e longo prazos. Ocorre
avaliação podem ser encontrados, por exemplo, em
quando a RMe (ou preço) for igual ao CTMe. O lucro
Gitman (2010). Entre as técnicas utilizadas, temos o
normal é, portanto, o próprio custo alternativo ou
payback simples, que seria o prazo necessário para
de oportunidade.
que o produtor recupere o investimento realizado,
Quando o preço do produto ou a RMe não cobrir sem considerar o valor do dinheiro no tempo, e
o CTMe, pode-se utilizar o custo operacional para o payback descontado que considera o valor do
análise de rentabilidade do empreendimento, visto dinheiro no tempo. Nesse caso, os fluxos de caixa
que o conceito de resíduo permite uma visão mais de cada ano são descontados a uma taxa mínima
detalhada da situação econômica da empresa. O de atratividade TMA que, no caso específico deste
resíduo positivo ocorre quando a RMe é inferior trabalho, foi considerada a taxa de 6% ao ano.
ao CTMe, mas superior ao custo operacional
Outro método de avaliação econômica de
total médio (CopTMe). Nessa situação, todos os
investimentos é o valor presente líquido (VPL), que
recursos aplicados no empreendimento são pagos
seria o somatório dos valores presentes dos fluxos
(custos operacionais fixos e variáveis). Porém, a
de caixa, deduzido o valor do investimento inicial.
remuneração é menor que a de outras atividades
Para a viabilidade do empreendimento, o VPL deve
(custo alternativo). A tendência é manter-se na
ser superior a zero.
atividade, entretanto, no longo prazo, o empresário
poderia buscar outras melhores alternativas de A taxa interna de retorno (TIR) é a taxa que torna
aplicação do capital (REIS, 2007). o VPL igual a zero. Segundo Gitman (2010), a taxa
interna de retorno é definida como a taxa de
Caso a RMe (ou preço) seja igual ao CopTMe, o
desconto que iguala o valor presente das entradas
resíduo é nulo. Para Reis (2007), nesse caso, a
de caixa ao investimento inicial referente a um
atividade cobre todos os custos operacionais,
empreendimento. A TIR é um dos métodos mais
mas não proporciona a remuneração do capital
utilizados na análise econômica e financeira, pois
empatado no empreendimento. A tendência é de
permite a comparação de taxas de juros e taxas
permanecer na atividade, mas o empresário poderá
de retorno obtidas em outras alternativas de
abandoná-la se os resultados não melhorarem. Nos
investimento.
casos de resíduo negativo, se o preço é menor que
748 Café Conilon – Capítulo 30
acordo com metodologia descrita em Santos, como a participação percentual dos itens que os
Sagatti e Marion (2009) e Crepaldi (2012). No caso compõem em lavouras não irrigadas. Percebe-
da terra, considerou-se apenas o seu custo de se, pelos dados apresentados que, para o nível
oportunidade. de produtividade de 25 sc./ha, os custos fixos
representaram 15,2% do custo final de produção do
Quanto aos custos variáveis, consideraram-se
café, e o custo variável 84,8%. Observa-se, também,
as despesas com insumos (fertilizantes, matéria
que à medida que se aumenta a produtividade, a
orgânica, defensivos químicos etc.), mão de
participação dos custos variáveis na composição do
obra, conservação e manutenção de benfeitorias
custo total se eleva. No caso da produção no nível
e equipamentos, energia elétrica, serviços
de produtividade de 35 sc./ha, a participação do
mecanizados, incluindo secagem e beneficiamento
custo variável chega a 87,8% que indica um maior
da colheita, e despesas gerais.
gasto com insumos e serviços.
Para efeito de análise do custo alternativo ou
Entre os componentes do custo variável total,
remuneração dos recursos produtivos variáveis
os serviços (manuais e mecanizados) foram o
aplicados na cafeicultura, considerou-se a taxa
item de maior peso representando 52,8%, 54,3%
de juros real de 3% ao ano e para os custos
e 54,2% para os níveis de 25, 35 e 45 sc./ha de
alternativos fixos, considerou-se 6% ao ano, os
conilon sequeiro, respectivamente. Dos custos
quais foram calculados com base no investimento
econômicos apresentados na Tabela 1, pode-se,
em insumos e mão de obra na implantação da
ainda, decompor os custos operacionais e os custos
lavoura, ou seja, no primeiro ano. Cabe destacar
alternativos (ou de oportunidade). Os gastos com
que a estimativa dos custos e receitas baseou-
insumos e serviços constituem o custo operacional
se nos preços vigentes no mercado regional em
variável, ou seja, os desembolsos efetivamente
dezembro de 2014, sendo a saca de café conilon
realizados no período de análise, os quais somaram
cotada a R$ 263,00, livre de impostos e taxas.
R$ 5.185,29 para o primeiro nível de produtividade,
R$ 7.283,90 para o segundo e R$ 8.370,02 para o
terceiro. O custo operacional fixo, representado
4 ANÁLISE DE RENTABILIDADE DO
principalmente pela depreciação da lavoura e de
CAFÉ CONILON
benfeitorias, foi estimado em 8,8%, 7,0% e 7,0%
Na Tabela 1, apresentam-se os custos de produção do custo operacional total para aqueles níveis de
do café conilon no quinto ano de atividade, bem produtividade, respectivamente.
Tabela 1. Custos de produção do café conilon no Espírito Santo, segundo diferentes níveis de produtividade em
lavouras não irrigadas (quinto ano de produção)
Por outro lado, os encargos financeiros, sistema irrigado respondeu por 90,0% para o nível
representados pelo custo alternativo fixo do capital de produtividade de 45 sc./ha e 92,1% para 120
investido na cafeicultura foram responsáveis por sc./ha. Devido ao maior investimento em relação
7,2% do custo de cada saca de café produzida no às lavouras não irrigadas, o custo com depreciação
primeiro nível, 5,8% no segundo e 5,8% no terceiro. representou 8,9% para um nível de produção de 45
sc./ha, maior que na condição de sequeiro.
Na Tabela 2, apresenta-se a estrutura de custos do
sistema de produção irrigado no quinto ano de A eficiência técnica e econômica é alcançada
atividade, que numa visão de conjunto, seguiu a quando o melhor aproveitamento dos fatores de
mesma tendência das lavouras não irrigadas. produção conduz ao incremento da produtividade
implicando na diluição dos custos pelo maior
Observa-se que o custo total de produção variou de
volume produzido. Isto pode ser comprovado
R$ 10.803,30 para o nível de produtividade de 45 sc./
analisando-se o decréscimo do custo total médio à
ha a R$ 20.164,86 para um nível de produtividade
medida que a produtividade se eleva (Figura 1).
de 120 sc./ha. O custo operacional variável para o
Tabela 2. Custos de produção do café conilon no Espírito Santo, segundo diferentes níveis de produtividade em
lavouras irrigadas (quinto ano de produção)
45 sc./ha 60 sc./ha 80 sc./ha 100 sc./ha 120 sc./Ha
Especificações
R$/ha/ano % R$/ha/ano % R$/ha/ano % R$/ha/ano % R$/ha/ano %
1 CUSTO TOTAL 10.803,30 100,0 13.229,02 100,0 16.132,37 100,0 18.217,93 100,0 20.164,86 100,0
1.1 CUSTO VARIÁVEL TOTAL 8.971,87 83,0 10.797,56 81,6 13.527,81 83,9 15.518,47 85,2 17.424,33 86,4
Insumos 3.143,39 29,1 3.712,41 28,1 4.656,13 28,9 5.241,81 28,8 5.663,49 28,1
Serviços 5.567,17 51,5 6.770,67 51,2 8.477,67 52,6 9.824,67 53,9 11.253,33 55,8
Custo alternativo 261,32 2,4 314,49 2,4 394,01 2,4 451,99 2,5 507,50 2,5
1.2 CUSTO FIXO TOTAL 1.831,44 17,0 2.431,45 18,4 2.604,56 16,1 2.699,46 14,8 2.740,53 13,6
Depreciação 963,91 8,9 1.279,71 9,7 1.370,82 8,5 1.420,77 7,8 1.442,38 7,2
Custo alternativo 867,52 8,0 1.151,74 8,7 1.233,74 7,6 1.278,69 7,0 1.298,15 6,4
2 CUSTO OPERACIONAL TOTAL 9.674,47 100,0 11.762,78 100,0 14.504,62 100,0 16.487,24 100,0 18.359,21 100,0
Custo operacional variável 8.710,55 90,0 10.483,07 89,1 13.133,80 90,5 15.066,47 91,4 16.916,83 92,1
Custo operational fixo 963,91 10,0 1.279,71 10,9 1.370,82 9,5 1.420,77 8,6 1.442,38 7,9
300
Lavoura não irrigada Lavoura irrigada
245 240
250 237
220
212
202
200
182
CTMe (R$/sacas)
168
150
100
50
0
25 35 45 60 80 100 120
sc./ha
Figura 1. Custo Total Médio (CTMe) de produção do café conilon no Estado do Espírito Santo, segundo diferentes
sistemas de cultivo e níveis de produtividade no quinto ano de produção.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 751
No período de estudo, o preço médio da saca de A Figura 3 apresenta os resultados econômicos para
60 kg de café conilon beneficiado foi de R$ 263,00, lavouras irrigadas. O lucro variou entre R$1.031,70
preço superior ao custo de produção observado no para o nível de produtividade de 45 sc./ha, e
quinto ano, ou seja, a receita média, representada R$11.395,14 para o nível de 120 sc./ha. É possível
pelo preço da saca, foi suficiente para cobrir os observar que o lucro aumenta a cada nível de
custos, em todas as situações, o custo total médio, produtividade maior.
que inclui serviços, insumos, depreciações e custo
14.000
de oportunidade. No entanto, é necessária a análise
do VPL para se saber se as receitas obtidas são 12.000 11.835
R$/ha
A Figura 2 apresenta os resultados econômicos, 6.575
6.114
em valores totais, para cada hectare cultivado no 6.000
30.000
26.300
25.000
21.040
20.165
20.000
18.218
15.780 16.132
R$/ha
15.000
13.229
11.835 11.395
10.803
10.000
8.082
4.908
5.000
2.551
1.032
0
45 60 80 100 120
Receita Total Custo Total Lucro sc./ha
Figura 3. Receitas, custos e rentabilidade do café conilon cultivado com irrigação considerando o quinto ano de
produção.
Fonte: Elaborado pelos autores.
752 Café Conilon – Capítulo 30
A Tabela 3 apresenta um comparativo dos resultados o terceiro, quarto e quinto anos alternadamente até
observados na produção de 45 sc./ha considerando o 15o ano. O payback nesse caso irá indicar apenas
lavouras não irrigadas e irrigadas nos anos de 2006 o ano em que o produtor poderá obter retorno do
e 2014. Os resultados de 2006 foram apresentados investimento, sem indicar precisamente o mês em
em Fassio et al. (2007). que ocorrera esse retorno.
Considerando o nível de produtividade de 45 sc./ Considerando o nível de produtividade de 25 sc./ha
ha em 2006, o lucro obtido na lavoura irrigada não irrigado, os resultados da análise econômica-
representava 14% daquele obtido na não irrigada. financeira indicam que é economicamente inviável
Em 2014, esse percentual subiu para 45%, ou seja, a produção com esse nível de produtividade, uma
maior lucratividade da lavoura irrigada em relação vez que o investimento não é recuperado no tempo
àquela observada em 2006. A relação custo total da de vida útil do empreendimento, que é de 15 anos
lavoura irrigada e não irrigada em 2006 era de 130%. de produção. A taxa de retorno obtida é negativa.
Isso significa que o custo da lavoura irrigada era Nesse caso, a receita obtida cobre apenas o custo
aproximadamente 30% superior ao custo da lavoura operacional que inclui os gastos com insumos
não irrigada. Em 2014, essa relação caiu para 113%, mão de obra e depreciações. Nessa situação, o
ou seja, o custo da lavoura irrigada para produção empreendimento poderá se sustentar apenas no
de 45 sc./ha é aproximadamente 13% superior à curto prazo, uma vez que cobre o custo operacional,
não irrigada. Esse resultado indica um decréscimo mas não a remuneração do capital.
nos custos de produção em relação a 2006. Apesar
No caso da produção não irrigada no nível de
de os resultados observados para produção de 45
produtividade de 35 sc./ha, o produtor pode
sc./ha serem melhores para o cultivo irrigado, na
recuperar o investimento no 11° ano da atividade.
análise econômica, eles indicam que essa opção de
A TIR para os 15 anos de produção foi estimada em
produção ainda é pouco rentável considerando os
11,9% ao ano. Nesse caso, a receita obtida cobre
coeficientes técnicos apresentados.
todos os custos operacionais, mão de obra, insumos
e depreciação e também os custos alternativos. A
Tabela 3. Comparativo da relação de lucro e custo total
taxa de retorno obtida é superior à taxa mínima de
para produção de 45 sc./ha considerando
lavoura irrigada e não irrigada no quinto ano 6% considerada, o que indica que o produtor poderá
de produção (em %) obter retorno maior em comparação com outras
Comparativo no alternativas de mercado. No caso da produção não
2006 2014
nível de 45 sc./ha irrigada no nível de produtividade de 45 sc./ha, a
Relação lucro lavoura irrigada/ TIR para os 15 anos de produção foi estimada em
14% 45%
não irrigada 24,6%. Para melhor visualização dos indicadores
Relação custo total lavoura
130% 113% apresentados, a Figura 4 mostra um resumo desses
irrigada/não irrigada
dados.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Os resultados indicam que para lavouras não
A Tabela 4 apresenta os resultados da análise irrigadas entre os níveis de produtividade
econômico-financeira para produção de café e coeficientes considerados, é mais viável
conilon não irrigado considerando uma taxa economicamente produzir no nível de 45 sc./ha.
mínima de atratividade de 6% ao ano. Isso significa Nele, o produtor pode recuperar o investimento no
que empreendimentos com taxa de retorno inferior sexto ano de atividade. Com esse retorno, é possível
a 6% ao ano serão considerados economicamente cobrir todos os custos do empreendimento e o
inviáveis. Para a análise da rentabilidade, foi produtor obtém lucro superior a outras alternativas
considerado o custo total, que permite uma visão da de mercado, ou seja, poderá auferir lucro
situação econômica do empreendimento e para o considerado supernormal. A Tabela 5 apresenta os
cálculo da taxa de retorno e VPL, foram considerados resultados da análise econômica-financeira para
15 anos de vida útil. Como estimativa dos custos produção de café conilon irrigado nos diversos
e receitas a partir do quinto ano, foi levada em níveis de produtividade apresentados.
consideração a mesma estrutura apresentada para Considerando o nível de produtividade de 45 sc./
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 753
ha irrigado, os resultados da análise econômico- uma taxa de retorno de 5,8%, a qual é inferior à taxa
financeira indicam que a produção cobre os custos mínima exigida, que é de 6%. Desse modo, o VPL
operacionais. No entanto, o mesmo não ocorre para obtido nos 15 anos de produção é negativo. Nesse
todos os custos alternativos considerados. Ao final caso, o retorno obtido cobre apenas o investimento
dos 15 anos de atividade, o produtor poderá obter operacional, não proporcionando remuneração
Tabela 4. Análise econômica e financeira da produção do café conilon no Espírito Santo, sob diferentes níveis de
produtividade em lavouras não irrigadas
Especificação Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
Produtividade de 25 sc./ha 0 10 25 25 25
(A) Receita Total - (R$) 0 2 .630,00 6.575,00 6.575,00 6 .575,00
(B) Custo Total - (R$) 7.768,97 4 .311,29 5.931,35 5.709,90 6 .113,66
Resultado ( A - B) - (R$) - 7.768,97 - 1 .681,29 6 43,65 865,10 461,34
Payback simples (anos) ............................................................................................................................................................................ < 15
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... < 15
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) ..................................................................................................... - 3 .488,37
TIR considerando os 15 anos de produção (%)............................................................................................................................. - 0,1
Produtividade de 35 sc./ha 0 20 35 35 35
(A) Receita Total - (R$) 0 5 .260,00 9.205,00 9.205,00 9 .205,00
(B) Custo Total - (R$) 8.491,20 5 .590,19 7.546,68 7.479,73 8 .298,58
Resultado ( A - B) - (R$) - 8.491,20 - 330,19 1.658,32 1.725,27 906,42
Payback simples (anos) ........................................................................................................................................................................... 9°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 11°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) ..................................................................................................... 4.075,13
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................ 11,9
Produtividade de 45 sc./ha 0 27 45 45 45
(A) Receita Total - (R$) 0 7 .101,00 1 1.838,00 11.835,00 11.835,00
(B) Custo Total - (R$) 9.776,78 6 .418,90 8.552,60 8.327,44 9 .538,31
Resultado ( A - B) - (R$) -9.776,78 682,10 3.282,40 3.507,56 2 .296,69
Payback simples (anos) .......................................................................................................................................................................... 6°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 6°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) .................................................................................................... 17.391,36
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................. 24,6
Fonte: Elaborado pelos autores.
17,39
VPL (R$ 1.000) 4,08
-3,49
24,63
TIR (%) 11,87
-0,08
6
Payback descontado (anos) 11
15
Tabela 5. Análise econômica e financeira da produção do café conilon no Espírito Santo, sob diferentes níveis de
produtividade em lavouras irrigadas
Especificação Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5
Produtividade de 45 sc./ha 0 25 45 45 45
(A) Receita Total - (R$) 0 6.575,00 11.835,00 11.835,00 11.835,00
(B) Custo Total - (R$) 15.326,23 7.760,92 9.766,09 9.540,94 10.803,30
Resultado ( A - B) - (R$) - 15.326,23 - 1.185,92 2.068,91 2.294,06 1.031,70
Payback simples (anos) ............................................................................................................................................................................ 12o
Payback descontado (anos) .................................................................................................................................................................... < 15
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) ..................................................................................................... - 193,03
TIR considerando os 15 anos de produção (%)............................................................................................................................. - 5,8
Produtividade de 60 sc./ha 0 30 60 60 60
(A) Receita Total - (R$) 0 7.890,00 15.780,00 15.780,00 15.780,00
(B) Custo Total - (R$) 20.347,42 9.473,99 12.302,02 12.343,22 13.229,02
Resultado ( A - B) - (R$) - 20.347,42 - 1.583,99 3.477,98 3.436,78 2.550,98
Payback simples (anos) ........................................................................................................................................................................... 9°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 12°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) ..................................................................................................... 6.227,47
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................ 9,8
Produtividade de 80 sc./ha 0 45 80 80 80
(A) Receita Total - (R$) 0 11.835,00 21.040,00 21.040,00 21.040,00
(B) Custo Total - (R$) 21.796,05 11.450,51 14.755,26 15.017,91 16.132,37
Resultado ( A - B) - (R$) - 21.796,05 384,49 6.284,74 6.022,09 4.907,63
Payback simples (anos) .......................................................................................................................................................................... 6°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 7°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) .................................................................................................... 29.454,12
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................. 20,9
Produtividade de 100 sc./ha 0 60 100 100 100
(A) Receita Total - (R$) 0 15.780,00 26.300,00 26.300,00 26.300,00
(B) Custo Total - (R$) 22.590,20 13.225,45 16.820,22 17.180,72 18.217,93
Resultado ( A - B) - (R$) - 22.590,20 2.554,55 9.479,78 9.119,28 8.082,07
Payback simples (anos) .......................................................................................................................................................................... 5°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 5°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) .................................................................................................... 58.374,36
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................. 32,4
Produtividade de 120 sc./ha 0 72 120 120 120
(A) Receita Total - (R$) 0 18.936,00 31.560,00 31.560,00 31.560,00
(B) Custo Total - (R$) 22.933,90 15.165,45 18.767,15 19.127,65 20.164,86
Resultado ( A - B) - (R$) - 22.933,90 3.770,55 12.792,85 12.432,35 11.395,14
Payback simples (anos) .......................................................................................................................................................................... 4°
Payback descontado (anos) ................................................................................................................................................................... 4°
Valor presente considerando os 15 anos de produção (R$) .................................................................................................... 90.214,51
TIR considerando os 15 anos de produção (%) ............................................................................................................................. 45,0
Fonte: Elaborado pelos autores.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 755
também para todos os custos alternativos que nível de 80 sc./ha, o valor do investimento pode
devem ser considerados no empreendimento. Os ser recuperado no sétimo ano de atividade.
produtores que produzem nesse nível, tendem Ao final dos 15 anos de produção, a taxa de
a manter-se na atividade por algum tempo. No retorno estimada foi de 20,9%. Para o nível de
entanto, no longo prazo, eles tendem a buscar produtividade de 100 sc./ha, o investimento
alternativas novas e mais rentáveis de produção pode ser recuperado no quinto ano de atividade.
que melhor remunerem o capital. Já no nível de produtividade de 120 sc./ha, o
investimento operacional pode ser obtido no
Uma das alternativas observadas na prática é o
quarto ano de atividade. Ao final dos 15 anos
plantio do café em consórcio com outras atividades,
de atividade, as taxas de retorno estimadas para
o qual deve ser acompanhado por assistência
os níveis de produtividade de 100 e 120 sc./ha
técnica especializada. A finalidade dos plantios
são respectivamente 32,4% e 45,0%. Para melhor
consorciados é fazer um melhor aproveitamento
visualização dos indicadores apresentados, a
da área para diminuir os custos de implantação e
Figura 5 mostra um resumo desses dados.
manutenção através da produção de alimentos de
subsistência e gerar renda adicional ao produtor. Os resultados indicam que para lavouras irrigadas
entre os níveis de produtividade e coeficientes
No caso da produção irrigada no nível de
considerados, é viável economicamente produzir
produtividade de 60 sc./ha, a TIR estimada para
nos níveis de 60, 80, 100 e 120 sc./ha, uma vez que,
os 15 anos foi estimada em 9,8%. Nesse nível
com as receitas obtidas, é possível pagar todos os
de produtividade, o produtor pode recuperar
custos envolvidos no empreendimento e obter
o investimento no 12° ano de atividade. Com
lucros superiores a outras alternativas de mercado.
esse retorno, é possível cobrir todos os custos
Considerando a taxa mínima de atratividade de 6%
do empreendimento e o produtor obtém lucro
ao ano, o produtor pode obter lucro supernormal
superior a outras alternativas de mercado,
produzindo nos níveis de 60, 80, 100 e 120 sc./ha.
ou seja, poderá auferir lucro considerado
supernormal. Considerando a produtividade no
90,21
58,37
VPL (R$ 1.000) 29,45
6,23
-0,19
45,0
32,4
TIR (%) 20,9
9,8
5,8
4
5
Payback descontado (anos) 7
12
15
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758 Café Conilon – Capítulo 30
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 759
7 APÊNDICES
APÊNDICE A. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 25 sc./ha, densidade de plantio de 2.000 plantas/ha e sistema de produção não
irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos e equipamentos
Mudas (1) mil 2,2
Calcário (2) t 1,2 1 1
Adubo mineral (3)
- Nitrogênio - N kg 55 135 216 216 216
- Fósforo - P2O5 kg 78 46 53 53 53
- Potássio - K2O kg 42 150 198 198 198
Matéria orgânica (4) t
Palha de café curtida m3 20 20
Formicida kg 4 2 2 2 2
Controle fitossanitário (5)
- Herbicida l 3 3 3 3 3
- Acaricida l 1 1
- Espalhante adesivo l 0,5 0,5
Sacaria plástica (6) ud 15 30 30 30
Implantação de terreiro (16) m2 33
tulha (16 sc./m²) m2 1,56
Sacaria de juta ud 10 25 25 25
Análise de solo ud 1 1 1
Proteção solar/vento UD 2.000
2 - Serviços
Limpeza de área (7)
- Mecânica h/tr 6 - - - -
- Manual d/h 15 - - - -
Marcação e covas d/h 3 - - - -
Coveamento/Sulcos (8)
- Manual (usual) d/h 20 - - - -
- Semimecânico d/h 4 - - - -
Mecânico (a) subsolador h/tr 4 - - - -
Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7 - - - -
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1 - - - -
Calagem (9)
- Mecânica h/tr 2 - - - -
- Manual d/h 1,5 - - - -
Aplicação de calcário, adubos e mistura na
d/h 6 - - - -
cova
Seleção de mudas d/h 0,4 - - - -
Transporte interno de mudas (10)
- Mecânica h/tr 0,5 - - - -
- Manual d/h 2 - - - -
Distribuição e plantio de mudas d/h 5 - - - -
Replantio d/h 0,5 - - - -
Adubação de cobertura d/h 2 2 2 2 2
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de café d/h 3 3
Capina manual em faixa d/h 13 8 4 4 4
Roçagem (11)
- Manual d/h 6 6 5 4 4
760 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 3 3 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida (12) d/h 3 2 2 2 2
Tratamento fitossanitário d/h 1 1
Poda (13) d/h 3 7 7 9
Desbrota (14) d/h 1 4 5 7 7
Colheita (15) sacos 40 100 100 100
Secagem em terreiro d/h 1 1,5 1,5 1,5
Secador: transporte, secagem e
sacas 1 2,5 2,5 2,5
beneficiamento (17)
Transporte interno d/h 0,5 0,5 0,5 0,5
Transporte e beneficiamento do café secado
sacas 0,2 0,5 0,5 0,5
em terreiro (18)
Ensacamento e pesagem d/h 0,3 0,5 0,5 0,5
Armazenamento d/h 0,15 0,3 0,3 0,3
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de uma tonelada de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores mínimos a serem considerados pelos produtores.
4 - Consideraram-se 10 l de palha de café curtida por cova.
5 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
6 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
7 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
8 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas
para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
9 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
12 - Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; 2 roçadas/ano e uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
13 - Consideraram-se para esse nível de produtividade como usual o manejo de poda tradicional.
14 - Considerou-se duas desbrotas por ano.
15 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por
saco maduro colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
16 - Na implantação do terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em
terreiro, transporte interno, transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e Ensacamento e pesagem.
17 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
18 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 761
APÊNDICE B. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 35 sc./ha, densidade de plantio de 2.000 plantas/ha e sistema de produção não
irrigado (continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1- Insumos
Mudas (1) mil 2,2
Calcário (2) t 1,3 1 1
Adubo mineral (3)
- Nitrogênio - N kg 65 233 267 267 267
- Fósforo - P2O5 kg 78 51 57 57 57
- Potássio - K2O kg 65 208 240 240 240
Matéria orgânica (4) t
Palha de café curtida m3 20 20
Formicida kg 4 2 2 2 1
Controle fitossanitário (5)
- Herbicida l 3 3 3 3 3
- Acaricida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Inseticida l 1,5 1,5 1,5 1,5
- Fungicida l 1 1 1 1
- Espalhante adesivo l 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6
Sacaria plástica (6) ud 25 42 42 42
Sacaria de juta ud 20 35 35 35
Implantação de terreiro (17) m2 47
tulha (16 sc./m²) m2 2,18
Análise de solo ud 1 1 1
Proteção solar/vento UD 2.000
2 - Serviços
Limpeza de área (7)
- Mecânica h/tr 6 - - - -
- Manual d/h 15 - - - -
Marcação e covas d/h 3 - - - -
Coveamento/Sulcos (8)
- Manual (usual) d/h 20 - - - -
- Semimecânico d/h 4 - - - -
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4 - - - -
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7 - - - -
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1 - - - -
Calagem (9)
- Mecânica h/tr 2 - - - -
- Manual d/h 1,5 - - - -
Aplicação de calcário, adubos e mistura
d/h 6 - - - -
na cova
Seleção de mudas d/h 0,4 - - - -
Transporte interno de mudas (10)
- Mecânica h/tr 0,5 - - - -
- Manual d/h 2 - - - -
Distribuição e plantio de mudas d/h 5 - - - -
Replantio d/h 0,5 - - - -
Adubação de cobertura d/h 2 2 2 2 2
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5
Ensacar e distribuição de palha de café d/h 3 3
Capina manual em faixa d/h 13 8 4 4 4
Roçagem (11)
- Manual d/h 6 5 3 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
762 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
Aplicação de herbicida (12) d/h
- Manual d/h 3 2 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário(13) d/h
- Manual d/h 2 3 3 3 3
- Mecânica costal d/h 1 2 2 2 2
- Mecânica h/tr 0,5 1 1 1 1
Poda (14) d/h 3 7 7 9
Desbrota (15) d/h 1 4 6 10 12
Colheita (16) sacos 60 140 140 140
Secagem em terreiro d/h 1,5 2 2 2
Secador: transporte, secagem e
sacas 15 35 35 35
beneficiamento (18)
Transporte interno d/h 0,5 0,8 0,8 0,8
Transporte e beneficiamento do café
sacas 0,3 0,7 0,7 0,7
secado em terreiro (19)
Ensacamento e pesagem d/h 0,3 0,7 0,7 0,7
Armazenamento h/tr 0,15 0,4 0,4 0,4
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de uma tonelada de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de
nutrição: Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se 10 l de Palha de café curtida por cova.
5 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
6 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
7 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
8 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas
para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidraulica.
9 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
11- Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; duas
roçadas/ano e uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual. Em lavoura de produção considerou-se: Fungicida - 1
aplicações/ano foliar; Inseticida - uma aplicação/ano foliar; Acaricida - uma aplicação/ano.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade como usual o manejo de poda tradicional.
15 - Consideraram-se duas desbrotas por ano.
16 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é paga por
saco maduro colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
17 - Implantação terreiro não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro,
transporte interno, transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
18 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
19 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 763
APÊNDICE C. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 45 sc./ha, densidade de plantio de 2.300 plantas/ha e sistema de produção não
irrigado (continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1- Insumos
Mudas (1) mil 2,53
Calcário (2) t 2,5 1,5 1,5
Adubo mineral (3)
- Nitrogênio - N kg 80 233 289 289 289
- Fósforo - P2O5 kg 90 51 61 61 61
- Potássio - K2O kg 80 208 262 262 262
Micronutriente kg 46 46 46
Matéria orgânica (4) t
Palha de café curtida m3 23 23
Formicida kg 4 2 2 2 2
Controle fitossanitário (5) l
- Herbicida l 3 3 3 3 3
- Acaricida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Inseticida l 0,5 1,5 1,5 1,5 1,5
- Fungicida l 0,5 1 1 1 1
Espalhante adesivo l 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6
Sacaria plástica (6) ud 34 60 60 60
Sacaria de juta ud 25 45 45 45
Implantação de terreiro (17) m2 60
tulha (16 sc./m²) m2 2,8
Análise de solo ud 1 1 1
Proteção solar/vento UD 2.300
2 - Serviços
Limpeza de área (7)
- Mecânica h/tr 6
- Manual d/h 15
Marcação de covas d/h 3
Coveamento/Sulcos (8)
- Manual d/h 26
- Semimecânico d/h 4,5
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,5
Calagem (9)
- Mecânica h/tr 2,5
- Manual d/h 2
Aplicação de calcário, adubos e mistura
d/h 7
na cova
Seleção de mudas d/h 0,5
Transporte interno de mudas (10)
- Mecânica h/tr 0,5
- Manual d/h 2
Distribuição e plantio de mudas d/h 6
Replantio d/h 0,6
Adubação de cobertura d/h 4 3 3 3 3
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de
d/h 3 3
café
Capina manual em faixa d/h 13 6 0 0 4
Roçagem (11)
- Manual d/h 6 5 4 3 3
764 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida (12) d/h
- Manual d/h 3 2 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário (13) d/h
- Manual d/h 2 3 3 3 3
- Mecânica costal d/h 1 2 2 2 2
- Mecânica h/tr 0,5 1 1 1 1
Poda (14) d/h 3 5 5 7
Desbrota (15) d/h 1 5 8 12 14
Colheita (16) sacos 100 180 180 180
Secagem em terreiro d/h 2 2,5 2,5 2,5
Secador: transporte, secagem e
sacas 27 45 45 45
beneficiamento (18)
Transporte interno d/h 0,8 1 1 1
Transporte e beneficiamento do café
sacas 0,6 0,9 0,9 0,9
secado em terreiro (19)
Ensacamento e pesagem d/h 0,8 1 1 1
Armazenamento d/h 0,4 0,6 0,6 0,6
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do ES Para cálculos de nutrição:
Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se 10 l de Palha de café curtida por cova.
5 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
6 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
7 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
8 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas
para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
9 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
11- Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; duas
roçadas/ano e uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual. Em lavoura de produção, considerou-se: Fungicida - uma
aplicação/ano foliar; Inseticida - uma aplicação/ano foliar; Acaricida - uma aplicação/ano.
14 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
15 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no quinto ano.
16 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por
saco maduro colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
17 - Implantação terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro,
transporte interno, transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
18 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
19 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 765
APÊNDICE D. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 45 sc./ha, densidade de plantio de 2.300 plantas/ha e sistema de produção irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos
Mudas (1) mil 2,53
Calcário (2) t 2,5 1,5 1,5
Adubo mineral (3)
- Nitrogênio - N kg 80 233 289 289 289
- Fósforo - P2O5 kg 90 51 61 61 61
- Potássio - K2O kg 80 208 262 262 262
Micronutriente kg 46 46 46
Matéria orgânica (4) t
Palha de café curtida m3 23 23
Formicida kg 4 2 2 2 2
Controle fitossanitário (5)
- Herbicida l 4,5 4,5 3 3 3
- Acaricida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Inseticida l 0,5 1,5 1,5 1,5 1,5
- Fungicida l 0,5 1 1 1 1
- Espalhante adesivo l 0,5 0,6 0,6 0,6 0,6
Custo implantação de sistema de irrigação (6)
- Irrigação Localizada Gotejamento un 0
- Irrigação Localizada Micro Spray un 0
- Irrigação Aspersão Fixa un 1
Energia elétrica:
- Gotejamento Kwh 250 300 385 385 385
- Micro Spray Kwh 290 350 435 435 435
- Aspersão Fixa Kwh 350 425 600 600 600
Sacaria plástica (7) ud 34 60 60 60
Sacaria de juta ud 25 45 45 45
Implantação de terreiro (18) m2 60
tulha (16 sc/m²) m2 2,8
Análise de solo ud 1 1 1
Proteção solar/vento ud 2.300
2 - Serviços
Limpeza de área (8)
- Mecânica h/tr 6
- Manual d/h 15
Marcação e covas d/h 3
Coveamento/Sulcos (9)
- Manual d/h 26
- Semimecânico d/h 4,5
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,5
Calagem (10)
- Mecânica h/tr 2,5
- Manual d/h 2
Aplicação de calcário, adubos e mistura na
d/h 7
cova
Seleção de mudas d/h 0,5
Transporte interno de mudas (11)
- Mecânica h/tr 0,5
- Manual d/h 2
Distribuição e plantio de mudas d/h 6
766 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
Replantio d/h 0,6
Adubação de cobertura d/h 4 3 3 3 3
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de café d/h 3 3
Capina manual em faixa d/h 15 8 0 0 5
Roçagem (12)
- Manual d/h 6 6 4 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida (13)
- Manual d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário (14)
- Manual d/h 2 3 3 3 3
- Mecânica costal d/h 1 2 2 2 2
- Mecânica h/tr 0,5 1 1 1 1
Irrigação (6)
- Gotejamento d/h 6 6 6 6 6
- Micro Spray d/h 7 7 7 7 7
- Aspersão Fixa d/h 7 7 7 7 7
Poda (15) d/h 3 5 5 7
Desbrota (16) d/h 1 5 8 12 14
Colheita (17) sacos 100 180 180 180
Secagem em terreiro d/h 2 2,5 2,5 2,5
Secador: transporte, secagem e
sacas 25 45 45 45
beneficiamento (19)
Transporte interno de café maduro d/h 0,8 1 1 1
Transporte e beneficiamento do café secado
sacas 0,6 0,9 0,9 0,9
em terreiro (20)
Ensacamento e pesagem d/h 0,8 1 1 1
Armazenamento d/h 0,4 0,6 0,6 0,6
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de
nutrição: Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se 10 l de palha de café curtida por cova.
5 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
6 - Considerou-se para esse nível de produtividade custo de implantação e operação do sistema de Irrigação por Aspersão Fixa.
7 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
8 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
9 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas
para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico costal. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano;
duas roçadas/ano e uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual. Em lavoura de produção considerou-se: Fungicida - uma
aplicações/ano ou uma via solo, Inseticida - uma aplicação/ano foliar ou uma via solo, Acaricida - uma aplicação/ano em lavoura de
produção.
15 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
16 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no 5o ano.
17 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por
saco maduro colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
18 - Implantação terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro,
transporte interno, transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
19 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
20 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 767
APÊNDICE E. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 60 sc./ha, densidade de plantio de 3.333 plantas/ha e sistema de produção irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos
Mudas (1) mil 3,6
Calcário (2) t 2,6 1,5 1,5 1,5 1,5
Adubo mineral: (3)
- Nitrogênio - N kg 90 256 322 322 322
- Fósforo - P2O5 kg 135 60 76 76 76
- Potássio - K2O kg 90 219 280 280 280
- Adubo foliar (4) l 1,5 2,5 3,5 3,5 3,5
Micronutriente (5) kg 67 100 100
Matéria orgânica (6) t 7,5
Palha de café curtida m3 33 33
Formicida kg 4 3 2 2 2
Controle fitossanitário: (7)
- Herbicida l 4,5 4,5 3 3 3
- Acaricida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Inseticida l 1 2 2 2 2
- Fungicida l 1 2 3 3 3
- Espalhante adesivo l 0,5 1 1,5 1,5 1,5
Custo implantação de sistema de
irrigação: (8)
- Irrigação Localizada Gotejamento un 1
- Irrigação Localizada Micro Spray un 0
- Irrigação Aspersão Fixa un 0
Energia elétrica:
- Gotejamento Kwh 450 500 800 800 800
- Micro Spray Kwh 500 600 900 900 900
- Aspersão Fixa Kwh 700 800 1.200 1.200 1.200
Sacaria plástica (9) ud 40 80 80 80
Sacaria de juta ud 30 60 60 60
Implantação de terreiro (20) m2 80
tulha (16 sc/m²) m2 3,75
Análise de solo ud 1 1 1 1 1
Proteção solar / vento ud 3.333
2 - Serviços
Limpeza de área: (10)
- Mecânica h/tr 6
- Manual d/h 15
Marcação de covas d/h 3,6
Coveamento/Sulcos: (11)
- Manual d/h 33
- Semimecânico d/h 6,6
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5
Calagem: (12)
- Mecânica h/tr 2,5
- Manual d/h 2
Aplicação de calcário, adubos, MO e
d/h 10
mistura na cova
Seleção de mudas d/h 0,5
Transporte interno de mudas: (13)
- Mecânica h/tr 0,5
768 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Manual d/h 2,5
Distribuição e plantio de mudas d/h 7
Replantio d/h 1
Adubação de cobertura d/h 4 3 3 3 3
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de
d/h 4 4
café
Capina manual em faixa d/h 15 8 0 0 5
Roçagem: (14)
- Manual d/h 6 6 4 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida: (15)
- Manual d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário: (16)
- Manual d/h 3 4 4 4 4
- Mecânica costal d/h 2 3 3 3 3
- Mecânica h/tr 1 1 1 1 1
Irrigação: (8)
- Gotejamento d/h 9 9 9 9 9
- Micro Spray d/h 10 10 10 10 10
- Aspersão Fixa d/h 10 10 10 10 10
Poda (17) d/h 4 6 6 8
Desbrota (18) d/h 3 5 10 14 18
Colheita (19) sacos 120 240 240 240
Secagem em terreiro d/h 2,5 3 3 3
Secador: transporte, secagem e
sacas 30 60 60 60
beneficiamento (21)
Transporte interno de café maduro d/h 1 1,5 1,5 1,5
Transporte e beneficiamento do café
sacas 0,7 1,2 1,2 1,2
secado em terreiro (22)
Ensacamento e pesagem d/h 1 1,3 1,3 1,3
Armazenamento d/h 0,5 0,8 0,8 0,8
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de nutrição: Fósforo
rem. 35, MO 1,5, Fósforo normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se duas aplicações foliar/ano, para lavoura em produção.
5 - Consideraram-se no primeiro ano 20 g/cova de FTE.
6 - Consideraram-se 3 l de esterco de curral por cova; 1 l de esterco de curral curtido = 750 g e 10 l de palha de café por planta.
7 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
8 - Consideraram-se para esse nível de produtividade custo de implantação e operação, o sistema de Irrigação por gotejamento.
9 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico (a) subsolador como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas
para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico costal. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; 2 roçadas/ano e
uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
15 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo manual.
16 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Em lavoura de produção, considerou-se: Fungicida - duas aplicações/ano
foliar ou uma via solo, Inseticida - duas aplicações/ano foliar ou 1 via solo, Acaricida - 1 aplicação/ano em lavoura de produção.
17 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
18 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no quinto ano.
19 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é paga por saco maduro
colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
20 - Implantação terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro, Transporte interno,
Transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e Ensacamento e pesagem.
21 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
22 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 769
APÊNDICE F. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 80 sc./ha, densidade de plantio de 3.333 plantas/ha e sistema de produção irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos
Mudas (1) mil 3,6
Calcário (2) t 2,6 1,5 1,5 1,5 1,5
Adubo mineral: (3)
- Nitrogênio - N kg 100 289 366 366 366
- Fósforo - P2O5 kg 135 70 85 85 85
- Potássio - K2O kg 100 251 326 326 326
- Adubo foliar (4) l 1,5 3 5 5 5
Micronutriente (5) kg 67 100 100 100
Matéria orgânica (6) t 12,5
Palha de café curtida m3 33 33
Formicida kg 4 3 2 2 2
Controle fitossanitário: (7)
- Herbicida l 4,5 4,5 3 3 3
- Acaricida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Inseticida l 1,5 3 4 4 4
- Fungicida l 1 2 3 3 3
- Espalhante adesivo l 0,5 1 1,5 1,5 1,5
Custo implantação de sistema de
irrigação: (8)
- Irrigação Localizada Gotejamento un 1
- Irrigação Localizada Micro Spray un 0
- Irrigação Aspersão Fixa un 0
Energia elétrica:
- Gotejamento Kwh 600 700 1.200 1.200 1.200
- Micro Spray Kwh 700 850 1.300 1.300 1.300
- Aspersão Fixa Kwh 1.000 1.200 1.700 1.700 1.700
Sacaria plástica (9) ud 60 107 107 107
Sacaria de juta ud 45 80 80 80
Implantação de terreiro (21) m2 107
tulha (16 sc./m²) m2 5
Análise de solo ud 1 1 1 1 1
Proteção solar/vento UD 3.333
2 - Serviços
Limpeza de área (10)
- Mecânica h/tr 6
- Manual d/h 15
Marcação e covas d/h 3,6
Coveamento/Sulcos (11)
- Manual d/h 33
- Semimecânico d/h 6,6
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5
Calagem (12)
- Mecânica h/tr 2,5
- Manual d/h 2
Aplicação de calcário, adubos, MO e
d/h 12
mistura na cova
Seleção de mudas d/h 0,5
Transporte interno de mudas (13)
- Mecânica h/tr 0,5
770 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Manual d/h 2,5
Distribuição e plantio de mudas d/h 8
Replantio d/h 1
Adubação de cobertura (14)
- Manual d/h 6 3,5 3,5 3,5 3,5
- Adubação via água d/h 1 1 1 1 1
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de
d/h 4 4
café
Capina manual em faixa d/h 18 12 0 0 5
Roçagem (15)
- Manual d/h 6 6 4 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida(16) d/h
- Manual d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário(17) d/h
- Manual d/h 3 5 7 7 7
- Mecânica costal d/h 2 3 4 4 4
- Mecânica h/tr 1 1 2 2 2
Irrigação: (8)
- Gotejamento d/h 12 12 12 12 12
- Micro Spray d/h 14 14 14 14 14
- Aspersão Fixa d/h 14 14 14 14 14
Poda (18) d/h 4,5 6,6 6,6 8,8
Desbrota (19) d/h 3,3 5,5 11 15,5 20
Colheita (20) sacos 180 320 320 320
Secagem em terreiro d/h 3,2 4 4 4
Secador: transporte, secagem e
sacas 45 80 80 80
beneficiamento (22)
Transporte interno de café maduro d/h 1,3 2 2 2
Transporte e beneficiamento do café
sacas 0,9 1,6 1,6 1,6
secado em terreiro (23)
Ensacamento e pesagem d/h 1,3 1,7 1,7 1,7
Armazenamento d/h 0,6 1,1 1,1 1,1
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de nutrição: Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo
normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se duas aplicações foliar/ano, para lavoura em produção.
5 - Consideraram-se no primeiro ano 20 g/cova de FTE.
6 - Consideraram-se 5 l de esterco de curral por cova; 1 l de esterco de curral curtido = 750 g e 10 l de palha de café por planta.
7 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
8 - Consideraram-se para esse nível de produtividade custo de implantação e operação, o sistema de Irrigação por gotejamento.
9 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico (a) subsolador como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas para semimecanizado; 1
h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo de adubação de cobertura via água de irrigação.
15 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; duas roçadas/ano e uma capina manual em faixa
para lavoura em produção.
16 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
17 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico costal. Em lavoura de produção, considerou-se: Fungicida - duas aplicações/ano foliar e uma via solo,
Inseticida - duas aplicações/ano foliar e uma via solo, Acaricida - uma aplicação/ano em lavoura de produção.
18 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
19 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no quinto ano.
20 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por saco maduro colhido, que varia de acordo
com a região e a produtividade da lavoura.
21 - Implantação terreiro não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro, transporte interno, transporte e
beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
22 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
23 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 771
APÊNDICE G. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 100 sc./ha, densidade de plantio de 3.333 plantas/ha e sistema de produção irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos
Mudas (1) mil 3,6
Calcário (2) t 2,7 1,50 1,50 1,50 1,50
Adubo mineral: (3)
- Nitrogênio - N kg 130 322,00 411,00 411,00 411,00
- Fósforo - P2O5 kg 135 76,00 93,00 93,00 93,00
- Potássio - K2O kg 130 283,00 369,00 369,00 369,00
- Adubo foliar (4) l 1,5 3,00 4,50 4,50 4,50
Micronutriente (5) kg 67 67,00 100,00 100,00 100,00
Matéria orgânica (6) t 12
Palha de café curtida m3 33 33,00
Formicida kg 4 3,00 2,00 2,00 2,00
Controle fitossanitário: (7)
- Herbicida l 1,5 3,00 3,00 3,00 3,00
- Acaricida l 1,5 3,00 4,00 4,00 4,00
- Inseticida l 4,5 3,50 2,00 2,00 2,00
- Fungicida l 1 1,00 1,50 1,50 1,50
- Espalhante adesivo l 0,5 1,00 1,50 1,50 1,50
Custo implantação de sistema de
irrigação: (8)
- Irrigação Localizada Gotejamento un 1
- Irrigação Localizada Micro Spray un 0,00
- Irrigação Aspersão Fixa un 0,00
Energia elétrica:
- Gotejamento Kwh 850 1.000,00 1.700,00 1.700,00 1.700,00
- Micro Spray Kwh 1.000 1.200,00 1.900,00 1.900,00 1.900,00
- Aspersão Fixa Kwh 1.500 1.700,00 2.300,00 2.300,00 2.300,00
Sacaria plástica (9) ud 0,00 80,00 134,00 134,00 134,00
Sacaria de juta ud 0,00 60,00 100,00 100,00 100,00
Implantação de terreiro (21) m2 133
tulha (16 sc./m²) m2 6,25
Análise de solo ud 1 1,00 1,00 1,00 1,00
Análise foliar ud 1 1,00 1,00 1,00 1,00
Proteção solar/vento ud 3.333
2 - Serviços
Limpeza de área (10)
- Mecânica h/tr 6,00
- Manual d/h 15,00
Marcação e covas d/h 3,60
Coveamento/Sulcos (11)
- Manual d/h 33
- Semimecânico d/h 6,6
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,50 1,50 1,50 1,50 1,50
Calagem (12)
- Mecânica h/tr 2,50
- Manual d/h 2,00
Aplicação de calcário, adubos, MO e
d/h 12,00
mistura na cova
Seleção de mudas d/h 0,50
Transporte interno de mudas (13)
772 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Mecânica h/tr 0,50
- Manual d/h 2,50
Distribuição e plantio de mudas d/h 8,00
Replantio d/h 1,00
Adubação de cobertura (14)
- Manual d/h 8,00 4,50 4,50 4,50 4,50
- Adubação via água d/h 1,50 2,00 2,00 2,00 2,00
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,50 1,50 1,50 1,50
Ensacamento e distribuição de palha de
d/h 4,00 4,00
café
Capina manual em faixa d/h 18,00 12,00 0,00 0,00 5,00
Roçagem (15)
- Manual d/h 6 6 4 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 1,5 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida(16) d/h
- Manual d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário(17) d/h
- Manual d/h 3 5 7 7 7
- Mecânica costal d/h 2 3 4 4 4
- Mecânica h/tr 1 1 2 2 2
Irrigação: (8)
- Gotejamento d/h 12,00 12,00 12,00 12,00 12,00
- Micro Spray d/h 14,00 14,00 14,00 14,00 14,00
- Aspersão Fixa d/h 14,00 14,00 14,00 14,00 14,00
Poda (18) d/h 4,50 6,60 6,60 8,80
Desbrota (19) d/h 10,00 7,00 11,00 18,00 21,00
Colheita (20) sacos 240,00 400,00 400,00 400,00
Secagem em terreiro d/h 4,20 5,00 5,00 5,00
Secador: transporte, secagem e
sacas 60,00 100,00 100,00 100,00
beneficiamento (22)
Transporte interno de café maduro d/h 1,70 2,50 2,50 2,50
Transporte e beneficiamento do café
sacas 1,20 2,00 2,00 2,00
secado em terreiro (23)
Ensacamento e pesagem d/h 1,70 2,10 2,10 2,10
Armazenamento d/h 0,80 1,40 1,40 1,40
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de nutrição: Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo
normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se duas aplicações foliar/ano, para lavoura em produção.
5 - Consideraram-se no primeiro ano 20 g/cova de FTE.
6 - Consideraram-se 5 l de esterco de curral por cova; 1 l de esterco de curral curtido = 750 g e 10 l de palha de café por planta.
7 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
8 - Consideraram-se para esse nível de produtividade custo de implantação e operação, o sistema de irrigação por gotejamento.
9 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico (a) subsolador como usual: 1d/h = 100 covas para manual; 1 d/h = 500 covas para semimecanizado; 1
h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira hidráulica.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo de adubação de cobertura via água de irrigação.
15 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; duas roçadas/ano e uma capina manual em faixa
para lavoura em produção.
16 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
17 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Em lavoura de produção, considerou-se: Fungicida - duas aplicações/ano ou uma via solo, Inseticida -
duas aplicações/ano foliar e uma via solo, Acaricida - uma aplicação/ano em lavoura de produção.
18 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
19 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no quinto ano.
20 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por saco maduro colhido, que varia de acordo
com a região e a produtividade da lavoura.
21 - Implantação terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro, transporte interno, transporte e
beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
22 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
23 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 773
APÊNDICE H. Coeficientes técnicos e operações para implantação e manutenção de 1 ha de café conilon, com
produtividade de 120 sc./ha, densidade de plantio de 3.333 plantas/ha e sistema de produção irrigado
(continua)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
1 - Insumos
Mudas (1) mil 3,6
Calcário (2) t 2,7 1,5 1,5 1,5 1,5
Adubo mineral: (3)
- Nitrogênio - N kg 150 366 455 455 455
- Fósforo - P2O5 kg 150 85 102 102 102
- Potássio - K2O kg 120 326 411 411 411
- Adubo foliar (4) l 1,5 3 4,5 4,5 4,5
Micro nutriente (5) kg 67 67 100 100 100
Matéria orgânica (6) t 12,5
Palha de café curtida m3 33 33
Formicida kg 4 3 2 2 2
Controle fitossanitário: (7)
- Herbicida l 1,5 3 3 3 3
- Acaricida l 1,5 3 4 4 4
- Inseticida l 4,5 3,5 2 2 2
- Fungicida l 1 1 1,5 1,5 1,5
- Espalhante adesivo l 0,5 1 1,5 1,5 1,5
Custo implantação de sistema de
irrigação: (8)
- Irrigação Localizada Gotejamento un 1
- Irrigação Localizada Micro Spray un 0
- Irrigação Aspersão Fixa un 0
Energia elétrica:
- Gotejamento Kwh 850 1.000 1.700 1.700 1.700
- Micro Spray Kwh 1.000 1.200 1.900 1.900 1.900
- Aspersão Fixa Kwh 1.500 1.700 2.300 2.300 2.300
Sacaria plástica (9) ud 0 107 160 160 160
Sacaria de juta ud 0 80 120 120 120
Implantação de terreiro (21) m2 160
tulha (16 sc./m²) m2 7,5
Análise de solo ud 1 1 1 1 1
Análise foliar ud 1 1 1 1
Proteção solar/vento ud 3.333
2 - Serviços
Limpeza de área (10)
- Mecânica h/tr 6
- Manual d/h 15
Marcação e covas d/h 3,6
Coveamento/Sulcos (11)
- Manual d/h 33
- Semimecânico d/h 6,6
- Mecânico (a) subsolador h/tr 4
- Mecânico (b) escavadeira hidráulica h/tr 7
Transporte interno de calcário e adubos d/h 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5
Calagem (12)
- Mecânica h/tr 2,5
- Manual d/h 2
Aplicação de calcário, adubos, MO e
d/h 12
mistura na cova
Seleção de mudas d/h 0,5
Transporte interno de mudas (13)
774 Café Conilon – Capítulo 30
(conclusão)
Especificações Unidade 1o ano 2o ano 3o ano 4o ano 5o ano
- Mecânica h/tr 0,5
- Manual d/h 2,5
Distribuição e plantio de mudas d/h 8
Replantio d/h 1
Adubação de cobertura (14)
- Manual d/h 10 7 7 7 7
- Adubação via água d/h 2,5 4,5 4,5 4,5 4,5
Aplicação de calcário em cobertura d/h 1,5 1,5 1,5 1,5
Ensacamento e distribuição de palha de
d/h 4 4
café
Capina manual em faixa d/h 18 12 0 0 5
Roçagem (15)
- Manual d/h 6 6 4 3 3
- Mecânica costal d/h 3 3 2 2 2
- Mecânica h/tr 1,5 2 1,5 1,5 1,5
Aplicação de herbicida(16) d/h
Manual d/h 3 3 2 2 2
Mecânica h/tr 2 2 1,5 1,5 1,5
Tratamento fitossanitário(17)
- Manual d/h 3 5 7 7 7
- Mecânica costal d/h 2 3 4 4 4
- Mecânica h/tr 1 1 2 2 2
Irrigação: (8)
- Gotejamento d/h 12 12 12 12 12
- Micro Spray d/h 14 14 14 14 14
- Aspersão Fixa d/h 14 14 14 14 14
Poda (18) d/h 4,5 6,6 6,6 8,8
Desbrota (19) d/h 10 7 11 18 21
Colheita (20) sacos 320 480 480 480
Secagem em terreiro d/h 5,6 6 6 6
Secador: transporte, secagem e
sacas 80 120 120 120
beneficiamento (22)
Transporte interno de café maduro d/h 2,3 3 3 3
Transporte e beneficiamento do café
sacas 1,6 2,5 2,5 2,5
secado em terreiro (23)
Ensacamento e pesagem d/h 2,3 2,5 2,5 2,5
Armazenamento d/h 1 1,7 1,7 1,7
1 - Custos das mudas: inclui o frete das mudas até a propriedade.
2 - Considerou-se a aplicação de 2,3 toneladas de calcário por hectare, mais 100 g/cova no primeiro ano.
3 - Valores com base no manual de adubação e calagem e os teores médios nos solos do Estado do Espírito Santo para cálculos de
nutrição: Fósforo rem. 35, MO 1,5, Fósforo normal 6,0, Potássio 50.
4 - Consideraram-se duas aplicações foliar/ano, para lavoura em produção.
5 - Consideraram-se no primeiro ano 20 g/cova de FTE.
6 - Consideraram-se 5 l de esterco de curral por cova; 1 l de esterco de curral curtido = 750 g e 10 l de palha de café por planta.
7 - Produtos fitossanitários: considerou-se a quantidade média utilizada para cada cultura nas principais regiões produtoras.
8 - Consideraram-se para esse nível de produtividade custo de implantação e operação, o sistema de Irrigação por gotejamento.
9 - Considerou-se que a sacaria é reutilizada por três vezes na mesma safra.
10 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
11 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico (a) subsolador como usual: 1d/h = 100 covas para manual;
1 d/h = 500 covas para semimecanizado; 1 h/t = 2.000 covas para trator com subsolador e 1 h/t = 1.000 covas para escavadeira
hidráulica.
12 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
13 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
14 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo de adubação de cobertura via água de irrigação.
15 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Consideraram-se duas aplicações de herbicida/ano; duas
roçadas/ano e uma capina manual em faixa para lavoura em produção.
16 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico.
17 - Considerou-se para esse nível de produtividade o processo mecânico. Em lavoura de produção, considerou-se: Fungicida - duas
aplicações/ano ou uma via solo, Inseticida - duas aplicações/ano foliar e uma via solo, Acaricida - uma aplicação/ano em lavoura de
Coeficientes Técnicos e Custos de Produção do Café Conilon no Espírito Santo 775
produção.
18 - Considerou-se o manejo de poda programada de ciclo (PPC).
19 - Consideraram-se duas desbrotas no segundo, terceiro e quarto ano e três desbrotas no quinto ano.
20 - Considerou-se a relação de quatro sacos maduros para uma saca beneficiada. O custo da mão de obra para colheita é pago por
saco maduro colhido, que varia de acordo com a região e a produtividade da lavoura.
21 - Implantação terreiro, não foi considerado no cálculo do custo de produção, assim como os serviços para secagem em terreiro,
transporte interno, transporte e beneficiamento do café secado em terreiro (16) e ensacamento e pesagem.
22 - Consideraram-se 10% da produção beneficiada para uma secagem superior a 18 h de duração.
23 - Consideraram-se 2% da produção beneficiada.
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Sul Caparaó
Centros Regionais
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