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Uma Retropectiva Da Teoria Sistêmica

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ISSN 1646-6977
Documento produzido em 31.07.2016

TEORIA FAMILIAR SISTÊMICA:


RETROSPECTIVA HISTÓRIA
E PERSPECTIVAS ATUAIS

2016

Milena Carolina Fiorini


Psicóloga e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC (Brasil)
milenacf.psicologa@gmail.com

Luciane Guisso
Psicóloga e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC (Brasil)
lucianeguisso@yahoo.com.br

RESUMO

O presente estudo corresponde a um trabalho de caráter teórico, com o objetivo de


apresentar um breve histórico da Teoria Familiar Sistêmica, além de suas perspectivas atuais.
Destaca-se que a Teoria Familiar Sistêmica pode ser compreendida com base nos pressupostos da
Cibernética de Primeira de Segunda Ordem, das contribuições da Teoria da Comunicação
Humana e da Teoria Geral dos Sistemas. Atualmente, essa teoria tem sofrido influência de outras
abordagens, como a Teoria do Ciclo Vital e a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento. No que
se refere à pesquisa com famílias, a Teoria Familiar Sistêmica tem sido considerada um grande
aporte teórico e metodológico para pensar e investigar as interações humanas. Portanto,
considera-se importante refletir e sistematizar esse conhecimento, que fundamenta a pesquisa e a
prática do psicólogo de abordagem sistêmica.

Palavras-chave: Teoria familiar sistêmica, histórico, perspectivas atuais..

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1. BREVE HISTÓRICO DA TEORIA FAMILIAR SISTÊMICA

A Teoria Familiar Sistêmica foi desenvolvida por diferentes grupos de pesquisadores e em


contextos diversificados. As abordagens que contribuíram significativamente para o seu
surgimento foram a Psicanálise, de Sigmund Freud e a Terapia Focalizada no Cliente, de Carl
Rogers (Nichols & Schwartz, 1998). Ambas as perspectivas apresentavam um enfoque
intrapsíquico em relação à compreensão dos fenômenos psicológicos. Foi a partir da década de
1950 que a Teoria Familiar Sistêmica passou a assumir maior representatividade (Cerveny,
1994). Essa abordagem delimitou uma mudança gradativa de paradigma em relação às ideias
sugeridas pelas teorias prevalecentes até então, ao propor um olhar voltado às relações
interpessoais.

O início da Teoria Familiar Sistêmica também sofreu influência da Teoria Geral dos
Sistemas, da Cibernética e da Teoria da Comunicação Humana (Osório & Valle, 2002). O
biólogo Bertalanffy (1973) concebia que as leis aplicadas aos organismos biológicos poderiam
ser ampliadas a outras áreas de conhecimento, elaborando a Teoria Geral dos Sistemas. Para o
autor, um sistema representa um conjunto complexo de elementos em interação, que formam um
todo unitário e organizado. A Teoria Geral dos Sistemas contribuiu significativamente para a
elaboração de conceitos que fundamentam a concepção de família como um sistema. Dentre
esses conceitos, destacam-se: a equifinidade, a globalidade, a homeostase, a morfogênese, a
noção de causalidade circular e o princípio da não – somatividade.
De acordo com o princípio da globalidade, todos os sistemas organizam-se como um todo
coeso, sendo que mudanças em cada uma das partes promovem mudanças no todo (Gomes,
Bolze, Bueno, & Crepaldi, 2014). O princípio da equifinidade determina que o equilíbrio de um
sistema aberto é delimitado pelos parâmetros do sistema, ou seja, “diferentes condições iniciais
geram igualdade de resultados e diferentes resultados podem ser gerados por diferentes condições
iniciais” (Gomes et. al., 2014, p. 9). A homeostase é considerada um processo de autorregularão
que protege o sistema de possíveis desvios e mudanças, com o objetivo de manter a sua
estabilidade. No contexto familiar, esse princípio se apresenta como uma tendência em manter
um padrão de relacionamento que impede a sua transformação. A morfogênese, inversamente,
refere-se à capacidade de autotransformação do sistema, de maneira criativa. Ao pensar no
sistema familiar, presume-se a existência de um potencial para a mudança, de ordem estrutural e
funcional, sendo que o funcionamento familiar sempre pode adquirir novas configurações,
qualitativamente diferentes da anterior (Cerveny, 1994).

A concepção de causalidade circular, também denominada circularidade, bilateralidade ou


não-unilateralidade (Gomes et. al., 2014) assume o lugar da premissa de causalidade linear,

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advinda do pensamento cartesiano. A causalidade circular pressupõe que cada efeito no sistema
pode retroativamente alterar a causa que o determinou, ou seja, na realidade não existem causas e
efeitos, e sim um sistema de influências recíprocas (Osório & Valle, 2002). No sistema familiar,
esse princípio é representando pelo fato de que cada membro influencia os demais, e ao mesmo
tempo é influenciado por eles (Cerveny, 1994). O princípio da não – somatividade, por sua vez,
diz respeito à totalidade do sistema, de modo que o comportamento considerado como um todo é
mais complexo do que a soma dos comportamentos de cada uma das partes (Esteves de
Vasconcellos, 2013). Portanto, segundo os pensamento subjacente da Teoria Geral dos Sistemas,
é fundamental que o foco dos estudos e intervenções com famílias sejam nas relações e nos
padrões de funcionamento do grupo familiar, sem, no entanto, que o sujeito perca a sua
individualidade (Gomes et. al., 2014).
Simultaneamente à Teoria Geral dos Sistemas, a Teoria Cibernética, criada por Wiener
(1948), procurou evidenciar a estrutura de funcionamento das máquinas (Esteves de
Vasconcellos, 2013). Na concepção do autor, as máquinas cibernéticas respondem às alterações
do meio ambiente, sendo que seu mecanismo de funcionamento pode ser comparado ao dos seres
vivos. A Cibernética fundamenta-se, portanto, nas relações comunicacionais e de controle que
caracterizam um sistema autônomo (Rapizzo, 1996). Esteves de Vasconcellos (2013) argumenta
que a Cibernética, apesar de apresentar-se como uma nova ciência, demonstrou certo
reducionismo ao pensar em sistemas vivos e antropossociais, tendo em vista que se manteve
determinista e objetivista.

Os avanços relacionados aos estudos da Cibernética demonstraram que os princípios


delegados ao funcionamento das máquinas eram limitados para a compreensão e o controle de
sistemas humanos. Percebeu-se que contrariamente às máquinas artificiais, os sistemas vivos
caracterizam-se pela espontaneidade no agrupamento, na regulação e na organização de seus
elementos. Devido ao apontamento dessas limitações, a Teoria Cibernética passou por
transformações graduais, até chegar ao momento atual, no qual é compreendida a partir de duas
perspectivas diferentes. A primeira é chamada de Cibernética de Primeira Ordem e corresponde
ao surgimento da engenharia da comunicação e das ciências de computação e automação
(Rapizo, 1996). A Cibernética de Primeira Ordem divide-se, ainda, em Primeira e Segunda
cibernética (Gomes et. al., 2014). Já a Cibernética de Segunda Ordem começou a ser concebida
na década de 1970 (Esteve de Vasconcellos, 2013).
A Cibernética de Primeira Ordem enfatizava o processo de homeostase, por meio do qual o
sistema é regulado e controlado pelo mecanismo de retroalimentação negativa (Cerveny, 1994;
Esteves de Vasconcellos, 2013). A Primeira Cibernética trata dos processos morfoestáticos, que
representam a capacidade de autoestabilização e automanutenção do sistema (Esteves de
Vasconcellos, 2013; Gomes et. al., 2014). Defende que cada produto (output) de um sistema é
um novo aporte (input) ao mesmo sistema, fazendo com que inevitavelmente ele se modifique e

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se transforme. Destaca, ainda, a presença do observador como um expert, fora do sistema


(objetividade) e a compreensão dos fenômenos sob uma ótica voltada à causalidade linear
(estabilidade). Na prática (Terapia Familiar Sistêmica), essas premissas provenientes da primeira
cibernética resultaram na concepção do princípio da complexidade, que prevê a contextualização
dos fenômenos e a exploração dos sistemas ao invés da simplificação das inter-relações (Gomes
et. al., 2014). A complexidade, por sua vez, originou o conceito de causalidade recursiva.

Já a segunda cibernética discorre sobre os processos morfogenéticos, que conduzem à


capacidade de transformação do sistema, por meio da retroalimentação positiva (Gomes et. al.,
2014). Para projetar os sistemas artificiais, os ciberneticistas precisavam compreender os
sistemas naturais, incluindo eles mesmos e os grupos sociais. A concepção formulada pela
segunda cibernética passou, então, a embasar também uma visão mais sistêmica do ser humano,
sugerindo os mecanismos de retroalimentação ou feedback e de causalidade recursiva (Esteves de
Vasconcellos, 2013). Originou-se, dessa forma, o princípio da instabilidade, que reconhece o
mundo como um processo em constante transformação, de forma que os fenômenos não são
determinados, mas imprevisíveis, irreversíveis e incontroláveis (Esteves de Vasconcellos, 2013;
Gomes et. al., 2014).

A Cibernética de Segunda Ordem propõe um movimento que ultrapassa a Cibernética,


designado Si-Cibernética (Gomes et. al., 2014). O conceito de circularidade é ampliado,
incluindo o observador como participante do sistema e constituindo, assim, o “sistema
observante” (Cerveny, 1994), que pressupõe esse observador como parte do sistema observado
(Osório & Valle, 2002). Segundo Esteves de Vasconcellos (2013), a Cibernética de Segunda
Ordem foca na retroalimentação positiva, que tende a promover a transformação do sistema,
levando-o a um novo padrão de funcionamento.
Tendo como ponto de partida a noção de sistemas observantes, a Cibernética de Segunda
Ordem (ou Si-Cibernética) passa a ser compreendida a partir do Construtivismo (Esteves de
Vasconcellos, 2013; Gomes et. al., 2014). Abre-se um caminho para uma ciência denominada
novo-paradigmática, que tem como foco três pressupostos: complexidade, instabilidade e
intersubjetividade. A noção de complexidade refere-se aos conceitos de sistemas, ecossistemas,
causalidade circular, recursividade, contradições e pensamento complexo. A concepção de
instabilidade relaciona-se aos aspectos relativos à desordem, à evolução, à imprevisibilidade, aos
saltos qualitativos, à auto-organização e à incontrolabilidade. A intersubjetividade preconiza a
inclusão do observador e envolve os fenômenos de autorreferência, de significação da
experiência na conversação e de co-construção (Esteves de Vasconcellos, 2013; Gomes et. al.,
2014).

O embasamento da Teoria Familiar Sistêmica pela Cibernética resultou em alguns


conceitos. Dentre os principais, citam-se as regras familiares e as sequências de interação
familiar. De acordo com Nichols e Schwartz (1998), as regras familiares regulam a variação

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homeostática da família, administrando a extensão de comportamentos que o sistema familiar


pode tolerar. Por meio dos mecanismos de feedback negativo, as famílias cumprem suas regras
(que podem incluir sintomas, culpas ou mensagens duplas, por exemplo). Esses mecanismos
retroalimentadores negativos representam os comportamentos familiares que podem até ser
modificados de modo superficial, porém ainda permanecem governados pelas regras anteriores.
São, portanto, condizentes com a Primeira Cibernética, no contexto da Cibernética de Primeira
Ordem. As sequências de interação familiar caracterizam os movimentos de retroalimentação,
que agem de acordo com um padrão de reação em torno de possíveis problemas. Quando a
retroalimentação negativa é ineficaz, a família desencadeia mecanismos reatroalimentadores
positivos, que possibilitam uma mudança no padrão de comportamento familiar. Tal mudança
caracteriza a transição da Primeira para a Segunda Cibernética e representa o pressuposto pela
Cibernética de Segunda Ordem.

2. DA TEORIA À PRÁTICA: A TERAPIA FAMILIAR SISTÊMICA

O início da prática embasada na Teoria Familiar Sistêmica (Terapia Familiar Sistêmica) foi
protagonizado por terapeutas da Primeira Cibernética (Cibernética de Primeira Ordem). Esse
grupo formou, na década de 1950, o Palo Alto, e elaborou as bases familiares referentes à
etiologia da esquizofrenia e à Teoria da Comunicação Humana. Os trabalhos em Palo Alto
amplificaram-se para famílias com pacientes neuróticos, quando o grupo percebeu que os
mesmos princípios interacionais estavam presentes em todas as famílias, embora em graus
diferentes (Carneiro, 1996).

Na década de 1960, formou-se a equipe MRI (Mental Reserch Institute), que criou a Teoria
da Comunicação Humana (Watzlawick, Beavin, & Jackson, 1973). Essa equipe propôs que a
comunicação, ao mesmo tempo em que transmite uma informação, também delimita a natureza
da relação entre os comunicantes (Carneiro, 1996). A comunicação familiar determina, portanto,
um modelo de interação entre os membros.
A década de 1970 foi marcada pela Teoria Estrutural, representada, em especial, por
Salvador Minuchin (Carneiro, 1996; Nichols & Schwartz, 1998). As premissas da Teoria
Estrutural se enquadram na Segunda Cibernética, ainda no contexto da Cibernética de Primeira
Ordem. Segundo Minuchin (1982, p. 57), “a estrutura familiar é o conjunto invisível de
exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem”.

Minuchin (1982) concebe a família como um sistema organizado hierarquicamente e


constituído por subsistemas que encontram-se em constante interação: o subsistema individual
(relativo a cada membro e sua individualidade), o subsistema parental (pais e filhos), o conjugal
(marido e mulher) e o fraternal (entre irmãos). A interação entre esses subsistemas define os

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limites e as trocas permitidas a cada integrante da família. Os subsistemas são demarcados por
fronteiras, que assinalam as regras sobre quem participa e como participa, e têm como função
proteger a diferenciação dos membros. As famílias funcionais tendem a apresentar fronteiras
nítidas, permitindo certas mudanças nos padrões de funcionamento para se acomodar às situações
de mudanças. Quando as fronteiras são difusas, ou seja, quando não há limites claros entre os
subsistemas, as famílias são emaranhadas (ou aglutinadas), tendo poucos recursos de adaptação
(Böing, 2014). Famílias com fronteiras rígidas, por sua vez, demonstram um padrão de
distanciamento, devido à imposição excessiva de limites (Minuchin, 1982).

Na década de 1980, emergiu a Abordagem Estratégica (Nichols & Schwartz, 1998), que
centrava-se na solução de problemas apresentados pelo cliente, ressaltando sempre o contexto
familiar. Essa teoria não formulou um método específico, porém utilizou técnicas inovadoras de
intervenção para situações particulares (Haley, 1979). Concomitantemente, desenvolveu-se a
Escola de Milão (Carneiro, 1996), contribuindo com a ideia de que a conduta de um membro da
família influencia o comportamento dos outros, porém sem o sentido de causalidade, pois o poder
não pertence a um integrante, mas se encontra nas regras do jogo familiar (Boscolo, Cecchin,
Hoffman, & Penn, 1993).

Outro estudioso muito importante na progressão da teoria e da prática sistêmica foi o


Bowen (1978), que inicialmente era seguidor da psicanalise e elaborou a Teoria dos Sistemas
Familiares. Dentre os principais conceitos de sua abordagem, podemos citar: diferenciação do
self, triângulos, processo emocional da família nuclear, processo de projeção familiar e processo
de transmissão multigeracional (Nichols & Schwartz, 1998).
A massa indiferenciada do ego familiar relaciona-se a uma fusão ou aglutinação entre os
membros da família, que gera um sentimento de pertencimento e requer certa renúncia da
autonomia (Minuchin, 1982). Bowen (1978) argumenta que em situações de aumento de tensão
ou estresse, a tendência é que a aglutinação entre os membros seja ampliada (Bowen, 1978).
O processo de desenvolvimento dos integrantes da família constitui-se, simultaneamente,
pela ligação emocional e pela necessidade de diferenciação. O funcionamento ideal da família é
alcançado quando essas duas forças se equilibram (Bowen, 1978). Essa diferenciação,
denominada diferenciação do self, é um processo contínuo e dinâmico, referindo-se à capacidade
para adquirir equilíbrio entre funcionamento emocional, intelectual, intimidade e autonomia nas
relações (Bowen, 1978).
A partir da década de 1990, a Teoria Familiar Sistêmica passou a seguir as premissas da
Cibernética de Segunda Ordem e recebeu influência do Construcionismo Social (Grandesso,
2000). As abordagens contemporâneas são determinadas Teorias Pós-Modernas e caracterizam-
se como interpretativas, pois defendem a ideia de que não existem realidades concretas, mas
interpretações da realidade. O psicólogo social Kenneth Gergen (1999), principal proponente do

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Construcionismo Social, acredita no poder da interação social na geração de significados para as


pessoas. As principais contribuições dessa abordagem referem-se a quatro aspectos: a ênfase na
cultura e na história como forma de se conhecer o mundo; a importância dos relacionamentos
enquanto fonte de produção e sustentação de conhecimento; a conexão entre o conhecimento e a
ação; e a valorização da postura crítica (Burr, 1995; Gergen, 1999).
As principais perspectivas atuais da Teoria Familiar Sistêmica são as abordagens:
Narrativa, Colaborativa, Estrutural, e Estratégica pós-moderna e Crítica). Essas teorias têm em
comum o reconhecimento da linguagem e do diálogo como ferramentas para solucionar
problemas e mobilizar o sistema familiar, gerando um potencial para a tomada de decisões e a
auto-organização (Rapizo, 1996).

3. TEORIA SISTÊMICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ATUAIS

Considera-se, com base no exposto, que o olhar da psicologia sistêmica no contexto atual,
implica pensar os avanços realizados em relação ao modelo de ciência tradicional. A partir da
compreensão do comportamento humano num contexto interacional, destaca-se que a atenção
volta-se para a comunicação, bem como ao comportamento dos membros do sistema, por meio
da observação dos elos de recursividade existentes entre os membros e aos contextos em que
estão inseridos (Böing, Crepaldi, & Moré, 2008; Aun e cols., 2005; Grandesso, 2000).
A epistemologia do pensamento sistêmico “oferece pressupostos ao pesquisador que
possibilitam o estudo de fenômenos, considerando a complexidade dos mesmos e a
intersubjetividade implicada no estudo” (Böing, Crepaldi, & Moré, 2008, p.254). Assim, pensar o
trabalho com famílias no contexto atual é de extrema importância. Refletir sobre a
interdependência do comportamento de cada um dos membros e em relação à totalidade da
família, possibilita criar hipóteses mais precisas sobre o comportamento de todos.
Ressalta-se que o pensamento sistêmico colabora para pensar o fenômeno familiar em
função da diversidade de aspectos que influenciam nessa configuração. Para tanto, a abordagem
teórica fundamentada na epistemologia sistêmica se mostra bastante adequada no
desenvolvimento de pesquisas com famílias no cenário atual (Böing, Crepaldi, & Moré, 2008).
Com base nas considerações feitas, salienta-se que várias teorias sistêmicas podem
contribuir para o embasamento teórico dos estudos com famílias no contexto atual, como: a
Abordagem do Ciclo de Vida Familiar (Carter & McGoldrick, 2001) e a teoria Bioecológica do
Desenvolvimento Humano (Bronfenbrenner, 1999; Bronfenbrenner & Morris, 1998).
Nos estudos de Carter e McGoldrick (2001), as autoras trouxeram uma classificação de
estágios do ciclo de vida familiar: (1) estágio em que os jovens solteiros saem de casa; (2) a

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união de famílias no casamento: o novo casal; (3) famílias com filhos pequenos; (4) famílias com
adolescentes; (5) lançando os filhos e seguindo em frente; e (6) famílias no estágio tardio da vida.
Ainda, as autoras relatam sugestões em relação às mudanças vivenciadas em cada estágio, bem
como nos momentos de transição.

Para Cerveny e Berthoud (2009), o ciclo vital envolve etapas pelas quais a família passa ao
longo da sua geração. Dessa forma, as famílias, independentemente das configurações (casais
heterossexuais, homossexuais e/ou recompostos) passam por essa transição ao longo do ciclo de
vida familiar. Porém, em estudos das autoras citadas, essas constataram que na realidade
brasileira existem peculiaridades em relação ao ciclo vital, sendo que a família passa pelas
seguintes etapas de transição: (1) fase da aquisição (período que contemplaria a formação do
casal até a entrada dos filhos na adolescência); (2) família adolescente; (3) família madura (saída
dos filhos de casa, entrada de agregados e netos, início das perdas e cuidados com a geração
anterior, preparo para a aposentadoria e cuidado com o corpo); e (4) última fase, correspondente
à fase em que o casal volta a ficar sozinho.

Ressalta-se que no contexto desse trabalho, as duas formulações do ciclo vital da família
são válidas. Acredita-se que cada visão pode auxiliar na compreensão das diversas realidades que
se apresentam, quando o assunto é família. Desse modo, pensar a terapia sistêmica na realidade
brasileira envolve conhecer os contextos em que essa família encontra-se inserida.

Outra teoria que vem sendo bastante usada nas pesquisas sistêmicas diz respeito à Teoria
Bioecológica do Desenvolvimento, elaborada por Bronfrenbrenner, na década de 1970 (Dessen
& Silva Neto, 2000). Conforme essa teoria, o desenvolvimento humano acontece com base em
processos complexos de interações. Portanto, o desenvolvimento é percebido como um fenômeno
complexo que se dá através da interação de quatro núcleos principais: os processos proximais; as
características pessoais; o contexto; e o tempo (Bronfenbrenner, 1999; Böing, Crepaldi, & Moré,
2008).
Os processos proximais referem-se a “interações recíprocas e ativas com base regular e
períodos prolongados no ambiente imediato” (Böing, Crepaldi, & Moré, 2008, p.255). Já a
pessoa diz respeito à percepção de que o sujeito é produto e produtor de seu contexto de
desenvolvimento. Em relação ao contexto, pode-se salientar que há participações do sujeito em
diversos níveis. O autor vai classificar o contexto em microssistema, messosistema, exosssistema
e macrossistema. A participação do sujeito vai sendo diminuída conforme a ampliação do sistema
em questão. E, sobre o tempo, esse refere-se às mudanças no ciclo de vida individual e familiar.

Cumpre-se ressaltar que a Terapia Familiar Sistêmica muito tem contribuído para o estudo
e o trabalho com famílias. Desse modo, ampliar o olhar e compreender como teorias podem
auxiliar nesse contexto é fundamental para o trabalho do pesquisador e do terapeuta familiar.
Conhecer a história e as perspectivas atuais solidifica mais a pesquisa e a prática do pensamento

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sistêmico, assim como aguça novos olhares e possibilidades de pensar os avanços dessa teoria,
conforme a articulação dos sistemas em questão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao tomar por base os pressupostos da Teoria Familiar Sistêmica, é relevante conhecer sua
trajetória, como se fez neste estudo. Mesmo com uma diversidade de olhares, a Teoria Familiar
Sistêmica é marcada por princípios comuns, como o entendimento da família e o olhar para o
comportamento de cada um dos membros do grupo familiar, e como cada comportamento
influência nos demais.

No contexto atual, pode-se apontar, dentro da Teoria Familiar Sistêmica, duas teorias
principais: a Teoria do Ciclo Vital e a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento. A primeira
volta-se para compreender as transições da família e o cumprimento das tarefas ao longo do ciclo
de vida; já a segunda refere-se ao olhar relacional, de como o sujeito articula-se com o seu grupo
mais próximo (família) e com os demais sistemas (escola, trabalho, cultural, socioeconômico,
etc).

Pode-se dizer que a preocupação da perspectiva sistêmica está associada ao


desenvolvimento humano. Esse olhar também apresenta-se na pesquisa com famílias, uma vez
que é necessário compreender o contexto de cada uma, o tempo e como se dão as relações da
mesma, afim de construir conhecimentos de maneira colaborativa e participativa.

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ISSN 1646-6977
Documento produzido em 31.07.2016

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