Neurofisiologia PDF
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autora
RITHIELE CRISTINA DE OLIVEIRA
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial sergio augusto cabral; roberto paes; gladis linhares
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-5548-120-8
Prefácio 5
2. Comunicação Neuronal 39
4. Envolvimento Supra-Espinal
no Controle Motor 111
5.1 Plasticidade 154
5.2 Plasticidade e aprendizagem 169
5.3 Plasticidade induzida pela lesão e recuperação da função 172
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
5
ideias através da linguagem, seja verbal, seja gestual ou escrita. Essas capacidades
que nos diferenciam de outras espécies nos classificaram taxonomicamente como
Homo sapiens, termo que provém do Grego e significa homem sábio.
Nosso sistema nervoso em inter-relação com o sistema esquelético nos permite
movimentos harmoniosos e ordenados que são adequados às atividades, desde o
caminhar até usar uma tesoura ou um lápis, que requerem maior controle e destre-
za. Além disso, temos a capacidade de buscar o entendimento sobre o desconheci-
do e, assim, influenciar o meio ambiente em que vivemos, como, por exemplo, criar
o fogo.
Nossas habilidades associadas ao conhecimento que adquirimos nos mais di-
versos campos ao longo do tempo e a capacidade que temos de explorar e modificar
o meio ambiente tem nos auxiliado na solução de problemas, melhorando nossa
qualidade de vida e aumentando sua expectativa.
Esta amplitude de características, respostas, pensamentos, sensações, emo-
ções, memórias, fazem parte do intrigante e inebriante universo do sistema ner-
voso, que é complexo, mas não incompreensível, e a busca dessa compreensão é
o objetivo deste livro, onde iremos explorar este vasto universo, em uma jornada
através da introdução ao estudo de sua função para a execução, organização e ajus-
tes do movimento humano.
Bons estudos!
1
Introdução ao
Estudo do Sistema
Nervoso
O sistema nervoso é um conjunto de elementos responsáveis por eventos cons-
cientes e inconsciente. Ele coordena a nossa percepção, nossas ações, aprendi-
zado e memória. Com sua evolução houve o desenvolvimento de estruturas en-
cefálicas, o surgimento de células especializadas e a interação intersegmentar
tornando as funções motoras e sensoriais mais complexas e elaboradas, assim
como as comportamentais, intelectuais.
Os elementos que constituem este sistema trabalham simultaneamente e
são integrados. Possuem células capazes de comunicar-se entre si. Estas unida-
des microscópicas, devido a sua organização e interconexão, formam circuitos
neurais que desempenham funções específicas e precisas e permitem que as
informações sejam conduzidas por curtas e longas distâncias formando uma
rede de comunicação que se distribui pelo organismo.
Neste capítulo, faremos uma introdução ao estudo do sistema nervoso,
abordaremos relevantes conceitos acerca de suas funções, sua classificação
e seus componentes celulares, os quais oferecem subsídios que são impres-
cindíveis para que possamos compreender os primeiros passos rumo à sua
complexidade.
OBJETIVOS
• Entender as funções gerais do sistema nervoso e identificar os neurônios que participam do
processo.
• Identificar as divisões do sistema nervoso de acordo com critérios anatômicos.
• Identificar as divisões do sistema nervoso de acordo com critérios funcionais.
• Identificar as classificações morfológicas e funcionais neuronais.
• Identificar um neurônio e diferenciar suas características das demais células.
• Identificar as partes do neurônio e suas funções
• Diferenciar as neuróglias do Sistema Nervoso Central e do Sistema Nervoso Periférico assim
como suas funções.
• Identificar os envoltórios protetores do Sistema Nervoso Central e do Sistema Nervoso Pe-
riférico.
• Diferenciar a disposição da substância branca e da substância cinzenta no Sistema Nervoso
Central.
8• capítulo 1
1.1 Funções gerais do sistema nervoso
O sistema nervoso é formado por uma complexa malha de bilhões de neurônios
que são células especializadas e por células da glia ou neuróglia. Ele coordena
as atividades corporais recebendo informações provenientes do meio interno e
externo, integrando essas informações e definindo as respostas a serem execu-
tadas. Portanto ele detecta, processa, transmite, utiliza as informações, além
de estabilizar as condições internas do organismo.
Existem três propriedades celulares que estão intimamente relacionadas às
funções gerais do sistema nervoso, que são:
capítulo 1 •9
A partir destas propriedades celulares e da evolução filogenética neuronal
em três tipos fundamentais de neurônios, podemos relacionar três funções bá-
sicas do sistema nervoso:
CONEXÃO
Leia um pouco mais sobre mecanismo neural de controle cardiovascular em uma revisão
publicada na Revista Brasileira de Hipertensão por Irigoyen e colaboradores em 2001.
Disponível em: <http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/8-1/007.pdf>. Acesso em:
02 maio 2015.
10 • capítulo 1
Está relacionada ao processamento, armazenamen-
to das informações aferentes transmitidas ao sistema
nervoso central através dos neurônios sensoriais, de-
INTEGRATIVA terminando a resposta mental e motora adequada. Os
interneurônios ou neurônios de associação são respon-
sáveis por estas funções e seu surgimento aumentou a
complexidade do sistema nervoso.
CONEXÃO
Para compreender melhor sobre a evolução filogenética do sistema nervoso, há uma in-
teressante revisão publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria. Ribas, 2006, abor-
da esse assunto e correlaciona o desenvolvimento evolutivo das estruturas ence-
fálicas e o comportamento dos seres. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S1516-44462006000400015&script=sci_arttext>. Acesso em: 30 abr. 2015.
capítulo 1 • 11
Segue abaixo uma figura esquemática sobre as principais funções do siste-
ma nervoso.
Função sensorial
Estímulo
(interno
ou
externo) Neurônios
Receptores sensoriais ou
sensoriais aferentes
Integrativa
Sistema Nervoso
Função
Central
(Interneurônios)
Neurônios
Função motora
motores ou
eferentes
Efetor (célula
RESPOSTA glandular ou
fibra muscular)
Figura 1.1 – Esquema representativo das funções básicas do sistema nervoso e da partici-
pação dos neurônios envolvidos.
12 • capítulo 1
Podemos classificar o Sistema Nervoso de acordo com alguns critérios:
Quando nos referimos a gânglios, estamos falando sobre dilatações, que são compos-
tas principalmente de corpos de neurônios existentes em nervos e raízes nervosas,
portanto, no Sistema Nervoso Periférico que podem ser classificados funcionalmente
como gânglios sensitivos e gânglios motores viscerais (fazem parte do sistema nervoso
autônomo). Há também aglomerados de corpos neuronais disseminados no Sistema
Nervoso Central, porém, devido à localização são denominados núcleos.
capítulo 1 • 13
Espinais
Nervos Cranianos
Sistema Nervoso
Periférico Gânglios
Terminações
nervosas
Cérebro
Sistema Nervoso
Central Cerebelo
Tronco Ponte
Bulbo
Encefálico Mesencéfalo
14 • capítulo 1
onde trafegam os impulsos nervosos, originados em receptores sensoriais vis-
cerais – esses receptores são chamados visceroceptores e tem a função de infor-
mar ao Sistema Nervoso Central as condições dos órgãos internos. Do Sistema
Nervoso Central partem os neurônios motores que constituem o componente
eferente, eles são condutores dos impulsos nervosos que se direcionam até as
glândulas, músculos lisos ou para o músculo cardíaco. A resposta eferente vis-
ceral não se submete a controle consciente, sendo então involuntária. O com-
ponente eferente visceral é denominado Sistema Nervoso Autônomo e é dividi-
do em Simpático e Parassimpático.
Visceroceptores
Glândulas, Músculo
Liso e Cardíaco
Receptores sensoriais
Músculo Estriado
Esquelético
capítulo 1 • 15
1.3 O tecido nervoso
Os órgãos são constituídos por tecidos que são formados por células. As células
são unidades vivas que desempenham determinadas funções.
O tecido nervoso é formado por dois principais componentes celulares:
• neurônios
• vários tipos de célula da glia ou neuróglia
Os neurônios
• Os dendritos
• O corpo celular
• Os axônios
16 • capítulo 1
Corpo celular
Dendritos
Bainha de mielina
Núcleo
Axônio
Terminais do axônio
Direção
do impulso
Figura 1.4 – Figura representativa de um neurônio. Note o corpo celular, a rede dendríti-
ca e seu axônio. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nerve.nida.jpg,. Acesso em
27/04/2015.
O neurônio é uma célula nervosa, e, como todas as outras células, possui mem-
brana plasmática, o plasmalema, envolvendo o citoplasma com dois principais
componentes: o citosol e as organelas. Distingue-se das demais células por sua
habilidade em processar informações e também por sua diversidade morfológica.
No citosol, há a presença de proteínas com funções gerais de manutenção
celular, comuns em todos os neurônios, e proteínas peculiares em tipos distin-
tos de neurônios.
As organelas citoplasmáticas incluem as mitocôndrias e peroxissomos que
utilizam oxigênio molecular. As mitocôndrias geram ATP, cuja molécula está
envolvida na transferência e gasto energético celular, já os peroxissomos estão
relacionados à desintoxicação por reações de peroxidação.
O citoplasma do corpo celular avança até os dendritos, não havendo deli-
mitação funcional entre ambos, embora algumas organelas estejam menos
capítulo 1 • 17
presentes na árvore dendrítica, como o retículo endoplasmático rugoso, o com-
plexo de Golgi e os lisossomos que estão envolvidos com a síntese, transporte
e degradação de proteínas e fosfolipídios, respectivamente. No axônio, porém,
há uma diferenciação morfofuncional, há uma escassez de organelas que sinte-
tizam proteínas como ribossomos, retículo endoplasmático rugoso e complexo
de Golgi, assim como lisossomos e algumas proteínas. No entanto, as vesículas
sinápticas são abundantes nos axônios. As vesículas sinápticas são pequenas
bolsas membranosas onde os neurotransmissores inibitórios ou excitatórios
ficam armazenados, sendo liberados diante do impulso nervoso. As mitocôn-
drias e o retículo endoplasmático liso também estão presentes no axônio. O
retículo endoplasmático liso, além de atuar no metabolismo lipídico, participa
como estoque regulador de cálcio.
As formas e dimensões neuronais podem ser inconstantes e são determi-
nadas pelo citoesqueleto, que é formado por microtúbulos, neurofilamentos e
microfilamentos de actina.
Os microtúbulos são como alicerces de sustentação dos neurônios, atuando
no desenvolvimento e manutenção dos processos neuronais.
Os ossos do citoesqueleto são representados pelos neurofilamentos que es-
tão relacionados aos filamentos intermediários de outros tipos celulares, sen-
do pertencentes a um grupo de proteínas chamadas citoqueratinas. São impor-
tantes para a forma do neurônio e árvore dendrítica, crescimento do axônio e
transporte de organelas e moléculas no sistema nervoso.
Os microfilamentos de actina estão envolvidos com a formação das espícu-
las dendríticas e a transmissão sináptica.
De acordo com Poulain e Sobel (2010), o funcionamento adequado do sis-
tema nervoso está associado ao arranjo das redes neurais durante seu desen-
volvimento, assim como a formação do corpo celular, dendritos e axônios. Este
arranjo morfológico e funcional está relacionado à dinâmica do citoesqueleto.
Os microtúbulos e os filamentos de actina atuam também no deslocamento
de organelas e proteínas pelo neurônio, fornecendo uma trilha onde as organe-
las se movimentam.
O tecido neural do Sistema Nervoso Central não possui tecido de sustenta-
ção (estroma) e, por isso, apresenta um aspecto flácido.
A seguir falaremos especificamente sobre cada parte do neurônio.
18 • capítulo 1
• O corpo celular
• Os dendritos
capítulo 1 • 19
Geralmente são curtos e com contornos irregulares, seu citoplasma pode
apresentar-se semelhante ao corpo celular neuronal, exceto pelo aparelho de
Golgi que está ausente. Possuem polirribossomos e por isso, podem sintetizar
suas próprias proteínas.
Os impulsos nervosos são recebidos nos dendritos por espículas ou espi-
nhos dendríticos, que são pequenas projeções e primeiro local de processa-
mento das informações.
Os dendritos no Sistema Nervoso Periférico são responsáveis em receber os
estímulos e assim propagá-lo ao centro integrador neuronal, porém no Sistema
Nervoso Central sua função é mais complexa, pois as espículas dendríticas po-
dem atuar como compartimentos independentes enviando sinais bidirecio-
nais para outros neurônios encefálicos.
As espículas estão relacionadas também à adaptação, memória e aprendiza-
gem, participam da plasticidade neuronal e por isso, alterações em seu desen-
volvimento ou em sua morfologia, estão associadas à deficiência mental e pato-
logias degenerativas sendo objeto de estudo no meio científico na investigação
de determinadas doenças.
• O axônio
20 • capítulo 1
gatilho recebe inúmeros estímulos, que podem ser inibitórios ou excitatórios,
originando o potencial de ação, e sua propagação se caracteriza como impulso
nervoso.
Os axônios podem emitir ramos laterais, chamados colaterais axônicos. Os
axônios, assim como seus colaterais dividem-se e ramificam-se afunilando-se,
formando os terminais axônicos ou telodendro, cujas extremidades dilatam-
se em botões terminais com muitas “bolsas” revestidas por membranas. Essas
“bolsas” são as vesículas sinápticas, que tem a função de armazenamento de
neurotransmissores. Os neurotransmissores podem ser de natureza inibitória
ou excitatória e quando liberados são capazes de influenciar a atividade de ou-
tros neurônios.
Há nos axônios um intenso e constante fluxo de proteínas e organelas. Isso
ocorre, visto que o corpo celular é rico em organelas sintetizadoras de proteí-
nas e por isso é o centro de síntese proteica neuronal, portanto, toda proteína
necessária para a preservação da integridade do axônio e das funções de seus
terminais são provenientes do corpo celular. Além disso, os terminais axônicos
necessitam de algumas organelas como as mitocôndrias e o retículo endoplas-
mático liso. Para suprir a escassez desse aparato fundamental para a atividade
neuronal, o axoplasma precisa movimentar-se para transportar proteínas e or-
ganelas aos axônios. Há dois mecanismos para o transporte axonal, O transpor-
te axoplasmático rápido e o transporte axoplasmático lento.
As organelas são transportadas através do transporte axoplasmático rápido,
bidirecionalmente. O fluxo proveniente do corpo celular direcionado ao terminal
axônico é denominado fluxo axoplasmático anterógrado. No entanto, essas orga-
nelas que são transportadas para o terminal axônico, precisam ser restauradas e
muitas vezes reutilizadas pelo corpo celular, então, torna-se fundamental que o
fluxo ocorra no sentido oposto, chamado fluxo axoplasmático retrógrado. O fluxo
axoplasmático retrógrado também transporta para o corpo celular materiais para
serem degradados pelos lisossomos.
As proteínas do citosol, assim como os elementos do esqueleto, também
movimentam-se, porém, através do transporte axoplasmático lento que é uni-
direcional, somente anterógrado, a partir do corpo celular em direção ao termi-
nal axônico.
Através da utilização dos fluxos axoplasmáticos houveram grandes avanços
científicos acerca de estudos neuroanatômicos, utilizando-se técnicas de mar-
cação para identificar os trajetos de projeções das fibras nervosas.
capítulo 1 • 21
Estruturalmente os neurônios são classificados de acordo com os processos
que surgem a partir de seu corpo celular, podendo ser:
Figura 1.5 – Figura representativa da classificação estrutural dos neurônios. Note neurônio
multipolar, bipolar, pseudo-unipolar e unipolar.
22 • capítulo 1
Além da classificação estrutural, os neurônios podem ser agrupados funcio-
nalmente como:
capítulo 1 • 23
contém axônios, porém, seus inúmeros prolongamentos comunicam-se com
capilares sanguíneos e células nervosas.
Embora as células da glia não participem intrinsecamente da propagação
do impulso nervoso, elas conectam-se com os neurônios circundando-os e ofe-
recendo suporte físico e químico para a condução do impulso nervoso.
O tecido nervoso possui pequena quantidade de material extracelular, e as
células da glia proporcionam um microambiente neuronal apropriado, além de
desempenharem outras funções que são específicas a cada tipo de neuróglia.
Alguns tipos de células da glia são encontrados somente no Sistema Nervoso
Central, como: os astrócitos, oligodendrócitos, microgliócitos e células ependi-
márias. Dois tipos, no entanto, são identificados apenas no Sistema Nervoso
Periférico, são as células de Schuwann e as células satélites.
Abordaremos os tipos de células da glia individualmente devido a sua diver-
sidade morfológica e funcional.
Figura 1.6 – Esquema representativo das neuróglias que constituem o Sistema Nervoso
Central e Periférico, e suas principais funções.
24 • capítulo 1
Os astrócitos e oligodendrócitos são classificados coletivamente como ma-
cróglia e os microgliócitos como micróglia.
• Astrócitos
São células gliais encontradas em maior quantidade cujo corpo celular tem
forma de estrela (astron proveniente do Grego) por possuírem inúmeras rami-
ficações. Além de desempenhar diversas funções, elas formam uma rede fun-
cional e alguns astrócitos mantém comunicação direta com a superfície dos
neurônios, através de longos prolongamentos chamados pés terminais.
Alguns astrócitos por intermédio dos pés terminais suprem de nutrientes
os neurônios. Outros, por sua vez, comunicam-se com vasos sanguíneos ence-
fálicos estruturando estreitas junções com células epiteliais, compondo a bar-
reira hematoencefálica.
capítulo 1 • 25
©© WIKIPEDIA
• Microgliócitos
26 • capítulo 1
Os microgliócitos tornam-se reativos quando há injúria ou invasores no te-
cido nervoso. As células aumentam de tamanho e podem ser encontrados va-
cúolos digestivos com restos celulares.
©© WIKIPEDIA
• Células ependimárias
São células da glia, porém com disposição epitelial que podem apresentar-
se como células epiteliais cuboides ou cilíndricas.
Remanescentes do neuroepitelio, revestem a superfície dos ventrículos en-
cefálicos, o aqueduto cerebral, e o canal central da medula espinal que são cavi-
dades por onde o líquido cefalorraquidiano flui. Apresentam microvilosidades
e geralmente são ciliadas.
Nos ventrículos, as dobras da pia-máter e os capilares sanguíneos envolvidos
por células ependimárias constituem os plexos corióides que formam o líquido
cefalorraquidiano ou líquor, a partir da filtração seletiva do sangue e sua secre-
ção no interior do ventrículo. As células ependimárias representam o principal
capítulo 1 • 27
elemento na produção do líquor. A justaposição de suas membranas formam
junções oclusivas que separam o líquido cefalorraquidiano do sangue selecio-
nando a passagem de substâncias, formando a barreira hematoliquórica.
O líquor é imprescindível para a proteção e a manutenção da homeostase
do tecido nervoso. O Sistema Nervoso Central flutua no líquor, o que reduz seu
peso. Funciona também como um “acolchoado” atenuando impactos internos
e externos.
Atua como veículo de comunicação química, através de trocas entre o líqui-
do cefalorraquidiano e o compartimento intersticial do tecido nervoso.
Exerce outra importante função, mimetizando uma “circulação linfática”,
a qual é inexistente no sistema nervoso, excretando produtos do metabolismo
neural. O líquor circula pelos ventrículos, canal central da medula espinal e
pelo espaço subaracnoideo transportando os nutrientes e oxigênio e removen-
do o gás carbônico e as escórias, então, o líquor é reabsorvido para o sangue
através de seios venosos, e a partir daí para a circulação sistêmica.
As células ependimárias, além de participarem da formação do líquor e da
barreira hematoliquórica, são fontes de células-tronco neurais, cooperando na
neurogênse. As células-tronco neurais fazem parte do neuroepitélio combina-
do com células ependimárias diferenciadas, que quando são estimuladas con-
vertem-se em neurônios e células da glia.
• Oligodendrócitos
São células menores que os astrócitos, com corpo celular pequeno e arre-
dondado e com um número menor de prolongamentos e ramificações carac-
terizando a procedência de seu nome oligo = pouco, e dendro = ramificações.
Seus prolongamentos enrolam-se em espiral nos axônios formando diver-
sas camadas que são as bainhas de mielina. Quando os axônios são envolvidos
pela membrana dos oligodendrócitos, são denominados axônios mielinizados.
Muitos axônios do Sistema Nervoso Central podem ser mielinizados por ape-
nas um oligodendrócito. As fibras nervosas que não são revestidas de bainha
de mielina, são amielínicas.
A bainha de mielina isola o axônio, criando uma barreira de alta resistên-
cia que impede o fluxo de íons para o meio extracelular, assim, possibilitando
maior velocidade de condução do impulso nervoso através do axônio. Além dis-
so, a mielina produzida pelos oligodendrócitos é predominantemente lipídica
28 • capítulo 1
e possui algumas proteínas específicas. Moléculas proteicas presentes na mie-
lina do Sistema Nervoso Central promovem um bloqueio na capacidade de re-
generação dos axônios.
Os oligodendrócitos podem ser encontrados tanto na substância branca
quanto na substância cinzenta do Sistema Nervoso Central, porém, na subs-
tância cinzenta estão próximos aos corpos celulares neuronais e na substância
branca envolvem os axônios, atribuindo a ela a coloração branca.
A bainha de mielina não envolve continuamente a fibra nervosa; existem
interrupções na mielina, e essas áreas do axônio nuas ou desprovidas de bainha
de mielina são denominadas nódulo ou nó de Ranvier, onde estão presentes os
canais de Na+. A porção revestida pela bainha de mielina entre dois nódulos de
Ranvier é chamada internódulo.
Visto que a bainha de mielina é um isolante, as alterações da polaridade
ocorrem nos nódulos de Ranvier, proporcionando a característica do impulso
nervoso como condução saltatória, o que aumenta a velocidade da propagação
do impulso nervoso com menor gasto energético.
capítulo 1 • 29
CONEXÃO
A Esclerose Múltipla é uma doença autoimune, que acomete mais comumente o Sistema
Nervoso Central, provocando a desmielinização, ou seja, a destruição da bainha de mielina
em algumas regiões, sendo um processo neurodegenerativo e progressivo que ocasiona um
atraso ou interrupção no impulso nervoso, com consequências neurológicas e incapacidades
significativas e gradativas. Leia mais sobre a Esclerose Múltipla no link: http://www.cadastro.
abneuro.org/site/publico_esclerose.asp. Acesso em: 04 maio 2015.
São células que estão localizadas ao redor dos corpos celulares dos neurô-
nios dos gânglios nervosos sensitivos e do Sistema Nervoso autônomo. São pe-
quenos e possuem núcleos claros esferoides ou ovóides. Podem ser lamelares
ou achatadas. Exercem funções semelhantes aos astrócitos, promovendo sus-
tentação aos neurônios, nutrindo-os e protegendo-os.
• Células de schwann
30 • capítulo 1
axônio, formando múltiplas camadas de membrana celular de Schwann, iso-
lando eletricamente o axônio. Por esse motivo, cada célula de Schwann forma
bainha de mielina em torno de um segmento de apenas um neurônio.
A região não isolada, o nódulo de Ranvier, no Sistema Nervoso Periférico
possui revestimento parcial formado por projeções citoplasmáticas de células
de Schwann circunvizinhas.
Uma outra característica das células de Schwann é possuir o neurilema, for-
mado pelo citoplasma e o núcleo.
Quando há uma lesão no Sistema Nervoso Periférico, o axônio e a mielina
degeneram e são fagocitados pelas células de Schwann e por macrófagos, no
entanto, diferentemente dos oligodendrócitos, as células de Schwann partici-
pam da regeneração dos axônios, em virtude de suas células apresentarem o
neurilema que diante de uma lesão, forma um tubo de regeneração que estimu-
la e guia o crescimento do axônio até o órgão efetor.
©© DESIGNUA | DREAMSTIME.COM
capítulo 1 • 31
Diante da abordagem dos aspectos celulares do sistema nervos, podemos iniciar nossa
reflexão com a questão: Por que estudar o aparato celular do sistema nervoso? Qual o
objetivo em se fazer esse estudo? E a transmissão do impulso nervoso? Como ocorre?
32 • capítulo 1
assim a substância branca do Sistema Nervoso Central é composta prevalente-
mente por axônios e alguns corpos celulares.
No Sistema Nervoso Central, esses axônios (fibras nervosas) estruturam-se
em feixes ou tratos, cujos nomes geralmente descrevem sua origem e termi-
nação (por exemplo: o trato espinotalâmico, que leva informações oriundas da
medula espinal até tálamo). contudo, quando essas fibras nervosas agrupam-se
no sistema nervoso periférico, recebem o nome de nervo.
O termo via é semelhante a trato, porém é mais utilizado para sugerir uma
função, como por exemplo via motora.
Regiões que reúnem um profuso número de corpos neuronais, dendritos,
neuróglias, terminais axônicos, axônios amielínicos e pouco ou nenhum axônio
mielínico, possuem característica acinzentada. A substância cinzenta é mais vas-
cularizada do que a substância branca, devido a sua intensa atividade metabólica.
Quando há um aglomerado de corpos celulares e dendritos aglomerados no
Sistema Nervoso Central, é chamado núcleo. No entanto, se o aglomerado de
corpos celulares e dendritos aglomerados ocorre no Sistema Nervoso Periférico,
ou seja, fora do Sistema Nervoso Central, seu nome passa a ser gânglio.
Os corpos celulares e dendritos organizados em camadas constituem o córtex,
que recobre toda a superfície dos hemisférios cerebrais como se fosse uma “casca”.
Figura 1.11 – Figura representativa de uma secção tranversal do hemisfério cerebral direito,
ilustrando a substância cinzenta e a substância branca encefálica. Fonte: http://upload.wikime-
dia.org/wikipedia/commons/9/91/Telencephalon-Horiconatal.jpg. Acesso em: 05 maio 2015.
capítulo 1 • 33
Na medula espinal, a substância branca circunda a substância cinzenta,
que apresenta forma de borboleta ou da letra H.
©© IIIIIIMAX | DREAMSTIME.COM
Figura 1.12 – Figura representativa de uma secção tranversal da medula espinal. Note a
substância branca contornado a substância cinzenta que se apresenta em forma de borbo-
leta ou da letra H.
34 • capítulo 1
Localizada mais externamente, é espessa e resistente. Sua
inervação é abundante. É composta por tecido conjuntivo denso
não modelado. Possui duas faces. A face externa da dura-máter
DURA-MÁTER que recobre o encéfalo é contínua com o periósteo dos ossos
da caixa craniana, porém, a face externa que reveste a medula
espinal é separada do periósteo vertebral pelo espaço epidural.
Dura-mátet (externa)
Menbramas de tecido
conjuntivo: Meninges Aracnóidea (média)
Pia-máter (interna)
capítulo 1 • 35
Envoltórios protetores do sistema nervoso periférico
REFLEXÃO
Fizemos, neste capítulo, apenas uma introdução geral do sistema nervoso que exerce domí-
nio sobre quase todas as funções corporais, participando direta ou indiretamente. Você viu
uma breve evolução do sistema nervoso e observou como o sistema ficou mais especializado
36 • capítulo 1
e com funções muito mais elaboradas através de sua encefalização e integração que propor-
cionou o surgimento de amplas e profusas redes neurais, possibilitando maior interação com
o meio ambiente. Compreendeu também a importância na manutenção da estrutura celular
desse sistema que é capaz de funcionar como ou até melhor do que um computador, haja
vista que somos dotados de raciocínio, sensibilidade, emoções e outras características que
nos define como homo sapiens ou homens sábios. Esse foi o primeiro e imprescindível passo
para a compreensão das particularidades e funcionalidade do sistema nervoso.
LEITURA
KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSEL, T.M. Princípios da Neurociência. 4 ed. Barueri: Editora
Manole, 2003. 1412 p.
MONTEIRO, M.R.; KANDRATAVICIUS, L.; PEREIRA-LEITE, J. O papel das proteínas do
citoesqueleto na fisiologia celular normal e em condições patológicas. 2011. J Epilepsy Clin
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POULAIN, F.E.; SOBEL, A. The microtubule network and neuronal morphogenesis: Dynamic and
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MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2000. 363 p.
MONTEIRO, M.R.; KANDRATAVICIUS, L.; PEREIRA-LEITE, J. O papel das proteínas do
citoesqueleto na fisiologia celular normal e em condições patológicas. 2011. J Epilepsy Clin
Neurophysiol, 17:17-23.
POULAIN, F.E.; SOBEL, A. The microtubule network and neuronal morphogenesis: Dynamic and
coordinated orchestration through multiple players. 2010. Molecular and Cellular Neuroscience,
43:15-32.
capítulo 1 • 37
38 • capítulo 1
2
Comunicação
Neuronal
Realizamos um fascinante percurso através da constelação celular que habita
nosso sistema nervoso. Vimos como essas células possuem particularidades e
habilidades que lhes conferem notável peculiaridade. Mas você deve estar se per-
guntando: Como elas se comunicam? Quais estruturas celulares permitem essa
intercomunicação? Como essa informação é conduzida?
Neste capítulo, daremos continuidade à nossa jornada, para compreender-
mos como funciona esta máquina química que controla nossas principais fun-
ções e nos diferencia de outras espécies.
As células nervosas diferenciam-se das outras células do organismo por pos-
suírem duas particularidades: a primeira especificidade é que essas células são
capazes de conduzir sinais bioelétricos; a segunda característica dessas células
é que elas possuem conexões com outras células que podem ser outras células
nervosas, células musculares ou células glandulares.
Abordaremos as duas principais características das células nervosas, sua comuni-
cação e como essa comunicação é executada e conduzida, resultando em uma respos-
ta. Assim como, os neurotransmissores envolvidos nessa comunicação intercelular.
OBJETIVOS
• Entender o processo de excitabilidade celular.
• Compreender noções básicas de eletricidade aplicadas aos sistemas biológicos.
• Entender a funcionalidade dos canais iônicos.
• Entender o potencial de repouso.
• Diferenciar os fenômenos envolvidos durante a fase de polarização, despolarização, repolari-
zação e hiperpolarização da membrana.
• Compreender o que é limiar.
• Compreender o que é período refratário.
• Entender como o impulso nervoso é transmitido de um neurônio para outro.
• Compreender a função das sinapses.
• Identificar os tipos de contatos sinápticos.
• Diferenciar uma sinapse elétrica de uma sinapse química.
• Identificar as estruturas de uma sinapse química
• Diferenciar uma sinapse excitatória de uma sinapse inibitória.
• Identificar um neurônio pré-sináptico de um neurônio pós-sináptico.
• Identificar os receptores pós-sinápticos.
• Identificar os principais neurotransmissores envolvidos nas sinapses químicas.
40 • capítulo 2
2.1 Excitabilidade celular
Algumas células possuem uma relevante característica - a excitabilidade celu-
lar. Essas células são:
• Neuronais;
• Células musculares (lisas, cardíacas, esqueléticas);
• Células endócrinas.
Potencial
de ação
elétrico LAR
CELU
ÃO
XC ITAÇ TRANSMISSÃO
E
ÍONS QUÍMICA
LIBERAÇÃO DE
CÉLULA Íons TRANSMISSORES RECEPTORES
PEQUENA intracelulares QUÍMICOS OU ESPECÍFICOS
HORMÔNIOS
ÍONS
Figura 2.1 – Esquema representativo dos eventos que seguem após a excitação celular pelo
potencial de ação elétrico envolvendo uma célula.
capítulo 2 • 41
A comunicação neuronal se faz por meio do local de contato entre dois
neurônios através da sinapse, assim a informação é transmitida de uma neurô-
nio para outro. Esta propagação do impulso nervoso é definida como transmis-
são sináptica. Teoricamente, esses termos são definidos de forma simples, no
entanto, há um complexo processo molecular e bioeletroquímico envolvido na
interação neuronal.
Podemos notar, então, que o processo de excitação celular e transmissão
das informações é dependente de fenômenos elétricos e químicos. A partici-
pação da sinalização iônica está relacionada à rapidez no transporte e na pro-
pagação para longa distância da informação. Portanto, é necessário conhecer
princípios básicos sobre eletricidade, para entender o potencial de membrana
durante o repouso e a origem e propagação do potencial de ação.
42 • capítulo 2
Existem alguns princípios básicos sobre eletricidade que são aplicados aos
sistemas biológicos:
Os canais iônicos
capítulo 2 • 43
plasmática celular, e os canais iônicos estão adaptados para promover a rapi-
dez necessária exigida para garantir respostas específicas e precisas.
Além disso, os canais iônicos são locais de ação de drogas e neurotoxinas.
Possuem três funções básicas:
• Condução de íons;
• Especifidade aos íons;
• Abrem-se e fecham-se diante de sinais elétricos, mecânicos ou químicos.
Há também outros canais que são menos seletivos como o canal que permi-
te a passagem de Na+ e K+.
Os canais iônicos dividem-se em duas categorias:
CANAIS IÔNICOS
são altamente seletivas e podem ser
abertos ou fechados. A presença desses
COM COMPORTA canais na membrana plasmática neuronal
e muscular proporciona às suas células
excitabilidade elétrica
44 • capítulo 2
Abrem-se mediante forças físicas
como pressão e estiramento. São
encontrados em neurônios sensoriais
MECANICAMENTE
Abrem-se em resposta à ligantes como:
CANAIS IÔNICOS neurotransmissores, neuromoduladores
COM COMPORTAS POR LIGANTE extracelulares ou moléculas sinalizadoras
CONTROLADOS: intracelulares. Maioria dos neurônios
respondem à grande variedade de ligantes.
POR VOLTAGEM
Respondem a mudanças no potencial
de membrana celular. Importante
no início e condução de sinais elétricos.
Zona de disparo ou gatilho é o centro integrador neuronal, onde há uma grande con-
centração de canais de Na+ controlados por voltagem. Em neurônios eferentes e inter-
neurônios, a zona gatilho está localizada na junção entre o cone axônico e o segmento
inicial. Neurônios sensoriais apresentam a zona gatilho localizada próxima ao receptor,
na união dos dendritos com o axônio.
capítulo 2 • 45
O potencial de repouso
46 • capítulo 2
O potencial de repouso da membrana corresponde ao valor do potencial no
meio intracelular, pois atribui-se para o potencial no meio extracelular o valor
zero. Então no repouso:
K+ Pr– K+ Pr–
Pr– K+
MEIO INTRACELULAR
Pr– Pr–
K+ K+ K+
Cl– Cl–
Na+ Na+ Na+ Cl–
Na+ Cl– Cl–
MEIO EXTRACELULAR
Figura 2.3 – Esquema representativo de uma célula em repouso, onde K+ e Pr– (proteínas
aniônicas), cátions e ânions, respectivamente, estão presentes no meio intracelular e Na+ e
Cl–, cátions e ânions, que estão presentes no meio extracelular.
capítulo 2 • 47
completamente impermeável, pois possui canais iônicos e proteínas transpor-
tadoras que permitem a mobilidade iônica seletiva.
O K+ é importante para a manutenção do potencial de membrana durante o
repouso. Na membrana plasmática há um canal de vazamento permeável aos
íons K+. A tendência é que ocorra o efluxo de K+ para o ambiente extracelular, ou
seja, a favor de seu gradiente de concentração. Como a membrana plasmática
não é permeável às proteínas aniônicas, elas permanecem no interior do com-
partimento celular, tornando-o negativo gradativamente, proporcionalmente
ao efluxo de K+. A perda celular de íons positivos origina um gradiente elétrico,
como cargas opostas atraem-se, as proteínas aniônicas intracelulares tendem a
“puxar” o K+ para o interior celular. Por conseguinte, a força elétrica que atrai o
K+ para o ambiente celular se torna igual à força do seu gradiente de concentra-
ção químico que promove seu efluxo. Então, a taxa de íons K+ que saem da célu-
la a favor de seu gradiente de concentração é igual à taxa de íons que entram na
célula a favor do gradiente elétrico.
A membrana plasmática celular atua como uma “barreira” seletiva que separa o com-
partimento intracelular do extracelular. A diferença entre as concentrações de um com-
ponente químico entre os dois compartimentos é denominado gradiente de concen-
tração químico. A membrana plasmática também separa os íons com carga positiva e
negativa nos dois lados da membrana, criando uma diferença de concentração iônica,
chamado gradiente de concentração elétrico.
48 • capítulo 2
que vai promover o equilíbrio de acordo com a diferença de concentração de
íons pode ser determinada pela equação de Nernst.
CONEXÃO
Leia mais sobre o potencial de Nersnt, este instrumento utilizado para estabelecer o poten-
cial de equilíbrio de cada íon, ou seja, o valor do potencial nos compartimentos intra e extra-
celulares que impede a movimentação efetiva de um íon através da membrana plasmática.
Link: http://www.cerebromente.org.br/n09/fundamentos/transmissao/electrical.htm. Aces-
so em: 15 maio 2015.
capítulo 2 • 49
O canal de Na+ regulado pela voltagem é imprescindível na despolarização e repolariza-
ção da membrana nervosa. O canal de Na+ é ativado quando o potencial de membrana
torna-se menos negativo do que no repouso, o que promove uma mudança confor-
macional no canal, fazendo com que o mesmo permaneça aberto, ou ativado. Após a
abertura dos canais, devido ao aumento da voltagem intracelular, o canal é fechado,
ou inativado, impedindo o influxo de Na+. Assim, o potencial de membrana volta a se
aproximar de seu estado de repouso, o que permite a reabertura do canal inativado. O
canal de K+ também representa um papel fundamental, aumentando a rapidez na repo-
larização da membrana. Durante o repouso o canal de K+ permanece fechado, então,
os íons de K+ são impedidos de atravessar para o compartimento extracelular. Esses
canais abrem-se no momento em que os canais de Na+ começam a se fechar, também
devido ao aumento do potencial de membrana, permitindo o efluxo do K+. Portanto, a
redução do influxo de Na+ na célula e o aumento do efluxo de K+ acontecendo simulta-
neamente, acelera o processo de repolarização. Esse canais atuam auxiliando a bomba
de Na+ – K+ e os canais de vazamento de K+ – Na+.
Fluxo de cátion e
Modificação na Alteração da
ânions entrando e
separação de cargas Polarização
saindo da célula
Modificação na Potencial
DESPOLARIZAÇÃO
separação de cargas MENOS negativo
Modificação na Potencial
HIPERPOLARIZAÇÃO
separação de cargas MAIS negativo
50 • capítulo 2
O fluxo de cátions e ânions entrando ou saindo da célula provoca uma mo-
dificação na separação de cargas que é feita pela membrana plasmática, alte-
rando sua polarização, gerando um sinal elétrico. Se houver uma redução na
separação de cargas, estará ocorrendo uma despolarização, então, o potencial
de membrana será menos negativo. Se o inverso ocorrer e houver um aumento
na separação de cargas, e o potencial de membrana tornar-se mais negativo,
estará ocorrendo uma hiperpolarização.
Podem ocorrer pequenas despolarizações e hiperpolarização sendo grande
parte passivas. No entanto, quando a despolarização atinge seu limiar ou nível
crítico, há uma resposta ativa celular com a abertura de canais iônicos depen-
dentes de voltagem, desencadeando o potencial de ação.
capítulo 2 • 51
da membrana igual ou acima do limiar é capaz de gerar o potencial de ação.
O potencial de ação segue o princípio do tudo-ou-nada, isto é, ou o estímulo
é suficientemente capaz de despolarizar a membrana além do limiar e desenca-
dear o potencial de ação, ou nada acontece.
Pico
~ + 40
Potencial de membrana (mV)
Overshoot
Fase desce
ntee
0
scend
ndente
Fase a
Limiar Estímulo
~ – 55 sublimiares
Potencial de repouso
~ – 70
Hiperpolarização
Estímulo
0 1 2 3 4 5
Tempo (ms)
Figura 2.5 – Figura esquemática representativa do potencial de ação. Note a membrana plas-
mática em repouso -70 mV, onde no tempo de 1ms surgem exemplos de estímulo. Observe
os estímulos sublimiares (em amarelo) que são incapazes de desencadear um potencial de
ação, assim o potencial de membrana permanece em repouso. Repare no outro estímulo (em
laranja), que atinge o limiar (-55 mV) produzindo o potencial de ação, onde o potencial trans-
membrana é convertido progressivamente para positivo, devido ao influxo de Na+ através da
ativação dos canais de Na+ atingindo seu pico em +40mV, onde há a inativação dos canais de
Na+ e simultaneamente a ativação dos canais de K+, permitindo seu efluxo. Com a redução do
influxo de Na+ e o aumento do efluxo de K+ associados à bomba de Na+ – K+ e os canais de
vazamento de K+ – Na+, ocorre uma aceleração da repolarização, onde a membrana plasmá-
tica reverte continuamente seu potencial, tornando-se hiperpolarizada e assim, restabelecen-
do novamente o potencial de repouso. Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Potencial_de_a%-
C3%A7%C3%A3o#/media/File:Potencial_de_acao.png Acesso em: 14 maio 2015.
Fase de despolarização
52 • capítulo 2
esquematizado na figura 16, como fase ascendente do potencial de membrana.
Cada canal de Na+ regulado por voltagem possui duas comportas – de ativa-
ção e de inativação. Na membrana em repouso, a comporta de inativação está
aberta e a comporta de ativação está fechada.
Quando a membrana é despolarizada alcançando o seu limiar, há a ativação
dos canais de Na+ regulados por voltagem, favorecendo assim, seu influxo para
o meio intracelular, a favor de seu gradiente eletroquímico. A despolarização
também provoca o fechamento da comporta de inativação, que ocorre milé-
simos de segundos após a abertura dos canais de ativação, como isso, há um
considerável aumento no potencial de membrana e uma inversão em sua pola-
ridade, passando por 0mV e avançando até seu pico, aproximadamente +30mV.
Fase de repolarização
Fase de hiperpolarização
capítulo 2 • 53
Potencial de repouso da membrana,
antes do potencial de ação. A
Estágio de Repouso Membrana está POLARIZADA
devido potencial de membrana estar
negativo.
Período refratário
54 • capítulo 2
as comportas dos canais que ainda não encontram-se em repouso, ocorrendo
assim um novo potencial de ação.
REFLEXÃO
Vimos até agora como é originada a mudança de potencial na célula nervosa, como os canais
iônicos possibilitam a entrada de cargas positivas no compartimento intracelular, alterando
o potencial de membrana até atingir o limiar e assim gerar o potencial de ação. Porém, para
que a informação gerada diante de um estímulo que desencadeou o potencial de ação seja
processada pelo resto do sistema nervoso, é preciso que essa informação seja conduzida de
um neurônio para outro ou para alguma outra célula. Então, surge a questão:
Como é feita essa passagem de estímulo de um neurônio para outro?
capítulo 2 • 55
2.3 As sinapses
São junções microscópicas e especializadas, onde um terminal axônico faz con-
tato com outro neurônio ou tipo de célula como células musculares e glandula-
res, sendo exclusivas do sistema nervoso.
As sinapses são responsáveis pela transmissão dos impulsos nervosos que
são gerados no neurônio através da despolarização de sua membrana plasmáti-
ca. Portanto, a sinapse é o “telefone” que permite a comunicação e a transferên-
cia de informações (impulso nervoso) de um neurônio com outro.
Durante a transmissão, essas informações podem ser modificadas, atri-
buindo ao sistema nervoso grande flexibilidade. Embora haja transmissões si-
nápticas mais simples, onde o estímulo é somente transmitido de uma célula
a outra, grande parte das sinapses do sistema nervoso é capaz, além da pro-
pagação do potencial de ação, de promover sua transformação, visto que são
habilitadas a converter um impulso nervoso de natureza elétrica no neurônio
precursor, em uma mensagem química através de neurotransmissores especí-
ficos que são liberados, e posteriormente em impulsos elétricos no neurônio
subsequente. Sendo assim, se o sistema nervoso assemelha-se a um sofisticado
computador, a sinapse é o chip, de transmissão e integração de informações.
A propagação do impulso nervoso através das sinapses é denominado trans-
missão sináptica.
O impulso nervoso ao ser transmitido pode ser:
56 • capítulo 2
Principais contatos sinápticos relacionados às junções sinápticas:
Entre um axônio e o
Axossomático
corpo celular.
Entre um axônio e
Axodendrítico
um dendrito.
Entre a terminação
Neuroefetora nervosa e a célula
efetora.
As sinapses elétricas
capítulo 2 • 57
Com a evolução das pesquisas, observou-se a presença dessas sinapses no siste-
ma nervoso dos vertebrados inferiores e invertebrados, sendo raras nos mamíferos.
As sinapses elétricas ocorrem através de pequenas estruturas tubulares protei-
cas chamadas de junções gap ou junções comunicantes, ou seja, entre duas células
próximas, separadas por um restrito espaço. As junções comunicantes permitem
a passagem de íons de uma célula para outra, pois suas membranas apresentam
canais iônicos específicos denominados conexons, os quais são formados por seis
subunidades proteicas que são as conexinas, que acomplam-se quimicamente. Os
conexons se agrupam formando as junções, havendo assim, uma conexão elétrica
e a consequente transmissão instantânea do impulso. Além disso, as junções co-
municantes permitem que a corrente iônica tenha sentido bidirecional.
1 A
Figura 2.6 – Esquema representativo de uma sinapse elétrica entre a célula A e a célula B.
Note que o número 1 representa uma mitocôndria, em 2 podemos observar junções comuni-
cantes formadas pelas conexinas e em 3 o sinal elétrico bidirecional. Fonte: http://commons.
wikimedia.org/wiki/File:Synapse_diag2.png> Acesso em: 15 maio 2015
• pH;
• Concentração de Ca++;
• Potencial de membrana das células acopladas.
58 • capítulo 2
Apenas um pequeno número dessas junções é encontrada no Sistema
Nervoso Central. Por outro lado, essas junções desempenham importante fun-
ção na transmissão sináptica dos músculos lisos e cardíacos que requerem ve-
locidade e precisão na transmissão. É por meio dessas junções comunicantes
que o potencial de ação é transmitido de uma fibra muscular lisa para a próxi-
ma no músculo liso visceral, e também de uma célula muscular cardíaca para a
próxima no músculo cardíaco.
Embora instantâneas e sincronizadas, essas sinapses são incapazes do
processamento de informações, sendo aptas somente para a transmissão. No
sistema nervoso, as junções comunicantes são vantajosas durante os estágios
iniciais da embriogênese, onde os neurônios “imaturos” diferenciem-se sin-
cronizadamente. Além disso, elas são encontradas entre as células gliais e entre
neurônios. Relacionado às células da glia, as junções comunicantes parecem
mediar a comunicação entre elas. Este fenômeno é mais observado tratando-se
dos astrócitos, que se conectam uns aos outros através das junções comuni-
cantes. Há evidências também que essas junções estão presentes nas células
de Schuwann, onde conectam camadas de bainha de mielina, intensificando a
comunicação entre elas.
As sinapses químicas
capítulo 2 • 59
NEURÔNIO PRÉ NEURÔNIO PÓS
SINÁPTICO SINÁPTICO
UA
AT
Transfroma
SINAL ELÉTRICO SINAL QUÍMICO
SINAPSE
RETARDO SINÁPTICO
Célula A
Junção
comunicante
Célula B
• Excitatórias;
• Inibitórias.
60 • capítulo 2
Provoca uma descarga no neurônio pós-sináptico que se pro-
paga por seu axônio;
SINAPSES Fenda sináptica mais larga;
EXCITATÓRIAS Vesículas sinápticas esféricas;
Sinapses através de espinhos dendríticos.
• O terminal pré-sináptico;
• Fenda sináptica;
• Membrana pós-sináptica.
1 A 6
2 7
3 8
4
capítulo 2 • 61
O terminal pré-sináptico
62 • capítulo 2
vesículas sinápticas à membrana plasmática celular pré-sináptica, e a liberação
de moléculas de neurotransmissor na fenda sináptica. Essas moléculas têm
ação na membrana plasmática neuronal pós-sináptica, alterando a sua perme-
abilidade, ocasionando a excitação ou inibição do neurônio pós-sináptico.
O neurônio pós-sináptico
capítulo 2 • 63
do sua abertura e, consequentemente, esses canais permitem a passagem de
íons para dentro ou para fora da membrana plasmática do neurônio pós-sináp-
tico, aumentando transitóriamente sua permeabilidade. Dependendo do neu-
rotransmissor envolvido, a ligação com o receptor ionotrópico pode ocasionar
influxo de cargas positivas e uma pequena despolarização na membrana plas-
mática neuronal ou o influxo de cargas negativas favorecendo uma pequena
hiperpolarização. O potencial despolarizante da membrana plasmática é de-
nominada de potencial pós-sináptico excitatório (PPSE) e a hiperpolarização
é chamada de potencial pós-sináptico inibitório (PPSI). Assim, quando o neu-
rotransmissor liberado pelo neurônio pré-sináptico provocar uma despolariza-
ção, este neurônio é chamado de excitatório e a sinapse, portanto, é excitatória.
Mas se o neurônio promover uma hiperpolarização, o neurônio pré-sináptico é
chamado de inibitório e a sinapse é inibitória.
Esses receptores não expressam tanta especificidade para o íon que atraves-
sará a membrana como a seletividade que acontece com os canais iônicos de-
pendentes de voltagem. Sendo assim, a passagem de diferentes íons através do
receptor pode ocorrer. Se houver entre os íons maios quantidade de influxo de
Na+ o receptor promove uma despolarização ou excitação da membrana pós-si-
náptica. No entanto, se o houver o predomínio de influxo de íons Cl– ou o efluxo
de K+ ocorrerá uma hiperpolarização ou inibição da membrana pós-sináptica.
Alguns neurotransmissores não provocam diretamente a abertura de ca-
nais iônicos, mas indiretamente através de reações químicas intracelulares.
Estes neurotransmissores se ligam a receptores específicos que não possuem
canais iônicos, os chamados receptores metabotrópicos.
Os receptores metabotrópicos estão acoplados a sistemas efetores intra-
celulares por intermédio da proteína G. Há diversos tipos de proteínas G, que
interagem com diferentes receptores controlando diferentes efetores. Ela é for-
mada por três componentes:
64 • capítulo 2
impulso nervoso induz a porção alfa a se desprender dos outros componentes,
deslocando-se pelo citoplasma e executando algumas funções como:
CONEXÃO
Leia mais detalhadamente acerca dos receptores metabotrópicos, de sua ligação com os neu-
rotransmissores e da cascata de eventos ocasionadas pela liberação da proteína G no meio in-
tracelular, desencadeando a abertura de canais iônicos no link: http://odontologiareview.blogs-
pot.com.br/2012/09/gpcr-receptor-metabotropico-acoplado.html. Acesso em: 15 maio 2015.
capítulo 2 • 65
REFLEXÃO
Vimos que existe um complexo e sistemático processo para que o impulso nervoso seja
gerado, transmitido e que produza uma ação neuronal. Mas, depois dessas etapas, o que
acontece com o neurotransmissor que foi liberado na fenda sináptica?
66 • capítulo 2
É o mecanismo mais comum de inativação sináptica, que
além de interromper a sinapse, recapta a molécula trans-
missora para reutilização. Este fenômeno ocorre através
da atuação de proteínas transportadoras específicas
localizadas na membrana plasmática do neurônio pré-
RECAPTAÇÃO DO sináptico. A especificidade do neurônio está relacionada
NEUROTRANSMISSOR ao mecanismo de recaptação que pode ser influenciado
por diversas drogas, como a cocaína que bloqueia a re-
captação de noradrenalina no Sistema Nervoso Central.
Alguns medicamentos antidepressivos também atuam
bloqueando a recaptação de serotonina, produzindo o
efeito terapêutico.
capítulo 2 • 67
O Sistema Nervoso Periférico utiliza dois neurotransmissores: a acetilcoli-
na e a norepinefrina. Já o Sistema Nervoso Central utiliza diversos neurotrans-
missores e também peptídeos neuroativos. Os peptídeos neuroativos possuem
função moduladora e podem ser transmitidos com os neurotransmissores.
Embora o Sistema Nervoso Central utilize uma ampla variedade de neurotrans-
missores para desempenhar suas funções, existem dois neurotransmissores
que estão presentes em elevadas concentrações no Sistema Nervoso Central e
que são muito potentes em alterar a descarga neuronal. São o glutamato e o
ácido-gama-aminobutírico (GABA).
Apesar do glutamato e do GABA serem aminoácidos, e após diversas con-
testações iniciais em classificá-los como neurotransmissores, evidências apon-
taram para o importante papel dessas substâncias como neurotransmissoras.
O GABA é um aminoácido monocarboxílico e é o principal neurotransmis-
sor inibitório do Sistema Nervoso Central. Ele é sintetizado através da remoção
enzimática de um grupo carboxílico do ácido glutâmico. Pode ser encontrado
em interneurônios e em projeções axonais longas, e está presente em todo o
Sistema Nervoso Central. Está envolvido em diversos circuitos neurais e partici-
pa da modulação de inúmeras funções como:
68 • capítulo 2
A acetilcolina, o primeiro neurotransmissor identificado, interage com re-
ceptores colinérgicos muscarínicos e nicotínicos, que estão mais caracteriza-
dos perifericamente.
Os receptores colinérgicos nicotínicos estão localizados na placa motora
que é a junção entre o neurônio motor (motoneurônio) e o músculo estriado
esquelético, estando presentes também nos gânglios autonômicos. Os recep-
tores colinérgicos muscarínicos estão localizados nas junções neuroefetoras.
Sistema Nervoso Central, no entanto a acetilcolina participa de várias fun-
ções, colaborando ativamente em inúmeros processos através de suas amplas
projeções colinérgicas. Entre eles podemos ressaltar o envolvimento de vias
colinérgicas no sistema ativador reticular ascendente (SARA), que tem função
ativadora sobre o córtex. Além disso, a acetilcolina está relacionada com pro-
cessos afetivos, de memória e comportamentais.
A redução nas enzimas que sintetizam acetilcolina é encontradas na doença
de Parkinson e da doença de Alzheimer.
As aminas biogênicas são dividas em:
capítulo 2 • 69
por neurônios bulbares e pontinos, sendo o locus coeruleus, considerado o
mais importante centro noradrenérgico. O locus coeruleus está relacionado
com reações comportamentais como o medo e a dor, participando também do
sistema endógeno de inibição da dor.
A adrenalina está fortemente envolvida na modulação da medula supra-re-
nal ou glândulas adrenais. Sua liberação ocorre em consequência a ativação
simpática em resposta a situações estressantes. No Sistema Nervoso Central
sua ação é pouco conhecida.
Os neurônios contendo serotonina estão localizados no mesencéfalo, ponte
e bulbo. Os núcleos da rafe são os principais núcleos serotoninérgicos ainda que
possuam também outros neurotransmissores. O tálamo e hipocampo recebem
projeções aferentes originárias do núcleo mediano da rafe. Estas vias estão rela-
cionadas à tolerância ao estresse persistente, inibição comportamental diante de
estímulos aversivos e impulsividade. O núcleo dorsal da rafe envia projeções as-
cendentes a núcleos envolvidos na modulação dos comportamentos defensivos e
que participam do sistema endógeno de inibição da dor. Importantes são as vias
oriundas do núcleo magno da rafe que se projetam diretamente ao corno dorsal
da medula espinal, exercendo um relevante papel na modulação da dor.
Muitos peptídeos também são caracterizados como neurotransmissores, os
neuropeptídeos como: a substância P que possui efeito excitatório lento e dura-
douro, a neurotensina que se encontra difundida no Sistema Nervoso Central
e possui ação neuroendócrina, e os opióides endógenos que colaboram na mo-
dulação de diversas funções do Sistema Nervoso Central, como o controle da
dor e cardiovascular.
Além dos neurotransmissores, há outras substâncias químicas que me-
deiam a transmissão sináptica como:
70 • capítulo 2
São os segundos mensageiros, participam do po-
NEUROMEDIADORES tencial de ação pós-sináptico mediante a libera-
ção de um neurotransmissor.
REFLEXÃO
Neste capítulo, conhecemos o universo intrínseco que habita nosso sistema nervoso. Vimos
como o neurônio é “ativado” individualmente gerando uma resposta celular. Mas vimos tam-
bém que somente essa resposta não é suficiente para que nosso sistema nervoso controle
nossas funções. As células precisam comunicar-se, para que essa ativação possa ser trans-
mitida e, assim, produzir uma resposta funcional. Essa comunicação intercelular é mediada
pelas sinapses, e através dessa comunicação interneuronal o impulso nervoso percorre os
tratos que levam e trazem informações ao Sistema Nervoso Central. Mas como esses impul-
sos nervosos atingem e agem nos efetores produzindo respostas funcionais tão elaboradas
e harmoniosas?
LEITURA
GRAEFF, F.G.; GUIMARÃES, F.G. Fundamentos de Psicofarmacologia. 1 ed. São Paulo: Editora
Atheneu, 2005. 238 p.
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KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSEL, T.M. Princípios da Neurociência. 4 ed. Barueri: Editora
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capítulo 2 • 71
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Manole, 2003. 1412 p.
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Atheneu, 2002. 698 p.
SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5 ed. São Paulo: Artmed, 2010. 957p
72 • capítulo 2
3
Envolvimento do
Sistema Sensorial e
da Medula Espinal
no Controle Motor
Vimos até aqui quais são e como são as células do tecido nervoso. Contempla-
mos como um estímulo é capaz de gerar um impulso nervoso e provocar altera-
ções eletroquímicas em cada neurônio e como é feita a comunicação entre eles,
resultando na transferência de informações. Neste instante, ingressaremos em
uma das funções do sistema nervoso, a motricidade.
No homem, diferentemente dos animais, as características dos movimen-
tos são mais complexas e elaboradas, e as tarefas motoras são executadas mais
facilmente. Nossas mãos, por exemplo, são capazes de movimentos extrema-
mente refinados quando solicitados pelo comando motor. Não pensamos em
quais músculos vamos contrair e quais articulações vamos ter que movimentar
e qual seria a força necessária para teclar em um computador. Mas tudo isso é
sincronizado e acontece em perfeito sinergismo. Já pensou se você tivesse de
parar para pensar quais os músculos deveriam ser recrutados para que você pu-
desse escovar os dentes? Desta maneira, podemos inferir que os movimentos
ocorrem automaticamente, sem que tenhamos a consciência do que é exigido
do sistema muscular e osteoarticular para que o movimento seja executado
harmoniosamente. Além disso, temos a habilidade de executar os movimentos
com agilidade e realizar tarefas cognitivas concomitantemente como por exem-
plo, caminhar e falar ao telefone celular.
Como os músculos estriados esqueléticos não se comunicam diretamente
entre si, eles enviam mensagens ao Sistema Nervoso Central, para que os cen-
tros superiores controlem os movimentos com perfeição.
Os movimentos podem ser classificados em: reflexos, voluntários e rítmicos.
Os movimentos reflexos são os mais simples e são integrados principal-
mente na medula espinal, sendo que nos reflexos monossinápticos os sinais
sensoriais não ascendem para os centros encefálicos superiores, sendo inte-
grados somente na medula espinal. Há também os reflexos posturais, que nos
auxiliam a manter o posicionamento de nosso corpo na posição estática ou em
movimento, a integração desses reflexos ocorre no tronco encefálico.
Os movimentos voluntários são mais complexos e necessitam de integração
no córtex cerebral, tornando-os conscientes, ou seja, são realizados com a nos-
sa vontade, sem a necessidade de um estímulo externo.
74 • capítulo 3
Os movimentos rítmicos exibem uma combinação de movimentos reflexos
e voluntários, como andar e correr. Eles são iniciados e finalizados por estímu-
los provenientes do córtex cerebral, porém a manutenção da atividade rítmica
é feita por uma rede de interneurônios do Sistema Nervoso Central denomina-
dos geradores de centrais de padrões (CPGs).
Nosso sistema nervoso sensorial nos posiciona acerca do ambiente externo
e do estado interno do corpo e o processamento motor se inicia com a imagem
do movimento desejado que se expressa em comportamento motor. Assim, as
informações trazidas pelo sistema nervoso sensorial direcionam o compor-
tamento motor. Então podemos concluir que os movimentos não dependem
exclusivamente de ossos, articulações e músculos. Eles resultam de uma com-
plexa e coordenada interação sensorial e motora que envolvem regiões perifé-
ricas, espinais, do tronco encefálico, cerebelar e cerebral que são adequadas
para cada situação específica e direcionadas pelas intenções do executor. Essas
regiões desempenham simultaneamente suas funções para que o movimento
voluntário seja executado com destreza e maestria.
O movimento é controlado hierarquicamente do sentido superior para infe-
rior, ou seja, sentido crânio-caudal. Mas para que possamos entender os níveis
superiores se faz necessário um prévio conhecimento dos níveis inferiores e do
sistema sensorial envolvido no controle motor.
OBJETIVOS
• Entender o sistema sensorial de forma geral.
• Entender o envolvimento do sistema sensorial nas funções motoras.
• Compreender as características do receptor sensorial.
• Identificar as modalidades sensoriais e as sensações somáticas.
• Compreender o sistema somestésico ou somatossensorial.
• Diferenciar o sistema da coluna dorsal-lemnisco medial do sistema anterolateral.
• Compreender o que é propriocepção.
• Entender a via de propriocepção consciente.
• Entender a via de propriocepção inconsciente.
capítulo 3 • 75
• Identificar os receptores proprioceptivos.
• Entender a importância da propriocepção no sistema motor.
• Identificar a anatomia da medula espinal.
• Identificar os neurônios localizados na substância cinzenta da medula espinal.
• Identificar os reflexos que são integrados na medula espinal.
• Compreender o mecanismo de atuação do fuso muscular nos movimentos.
• Compreender o mecanismo de atuação do órgão tendinoso de Golgi nos movimentos.
• Compreender o mecanismo neural do reflexo flexor.
• Compreender o mecanismo neural do reflexo de retirada.
• Compreender o mecanismo neural do reflexo extensor cruzado.
• Entender o que é inibição recíproca.
• Conhecer as teorias relacionadas às vias descendentes do sistema motor.
76 • capítulo 3
3.1 O sistema sensorial e seu envolvimento
na motricidade
• Visão;
• Audição;
• Tato;
• Paladar;
• Olfato.
• Dor;
• Temperatura;
• Propriocepção;
• Equilíbrio.
capítulo 3 • 77
a transdução do energia física do estímulo ser transduzida em sinais elétricos,
ela é transmitida para o Sistema Nervoso Central.
Possuímos quatro classes de receptores que são específicos a determinados
estímulos:
78 • capítulo 3
Quanto ao estímulo, sua amplitude determina a intensidade com que ele é
sentido, e sua intensidade está relacionada com os disparos neuronais assim
como com o tempo de disparo, a velocidade e a quantidade de neurônios recru-
tados pelo estímulo.
Os receptores possuem uma importante característica chamada adaptação,
que consiste na capacidade do receptor de se adaptar a um estímulo que per-
manece contínuo, sem alteração em sua amplitude ou posição, e essa adapta-
ção faz com que o estímulo deixe de ser percebido. Esta adaptação pode ocorrer
de maneira lenta ou rápida.
Os neurônios sensoriais têm como função comunicar o Sistema Nervoso
Central sobre a energia de um estímulo que foi recebido pelo receptor em algu-
ma região. Os receptores específicos captam os inúmeros estímulos que ocor-
rem simultaneamente. Os sinais captados são integrados e veiculados por uma
população neuronal através de vias sensoriais para os centros superiores, dian-
te de estímulos que ocorrem simultaneamente nos receptores individualmen-
te que são integrados e transportados. Essas vias são organizadas em séries,
onde os receptores projetam-se para neurônios de primeira ordem do Sistema
Nervoso Central, e a partir daí, para neurônios de segunda ordem, e de ordem
superior, de acordo com uma hierarquia funcional. Nesta hierarquia funcional,
há a participação de núcleos que atuam no pré-processamento selecionando
as informações que serão transmitidas ao córtex, são os núcleos relês. Assim
como os neurônios receptores, os neurônios dos núcleos relês tem áreas recep-
tivas que são definidas pela população de células pré-sinápticas.
Podemos encontrar também nestes núcleos interneurônios inibitórios que
se conectam com neurônios e projeções adjacentes, transformando a informa-
ção e reforçando os sinais mais fortes.
Fizemos uma explanação geral sobre o sistema sensorial, e destacaremos o
sistema somatossensorial ou somestésico, mais especificamente o sistema que
veicula as informações proprioceptivas que estão relacionadas com os meca-
nismos envolvidos na motricidade.
capítulo 3 • 79
O termo somestésico é proveniente do latim soma, que significa corpo, e
aesthesia, que significa sensibilidade. Portanto, somestésico designa um con-
junto de informações que somos capazes de receber sobre as diferentes partes
do nosso corpo.
O sistema somestésico tem um importante papel para a realização e contro-
le de movimentos suaves e precisos, prevenção ou redução de lesões muscula-
res e articulares e para a interação com o mundo externo.
Os receptores somáticos estão espalhados por todo o corpo originando a
sensação somática. Há quatro modalidades para a sensibilidade somática:
80 • capítulo 3
Neurônios Primários: situados em
gânglios periféricos;
Tato fino: recptores Neurônios de Segunda Ordem:
situados na pele bulbo do mesmo lado e cruzado
Sistema coluna Rápido; e nas mucosas o plano mediano;
dorsal-lemnisco Discriminativo; Neurônios de Terceira Ordem :
medial Detalhada informação Propricepção: receptores tálamo somestésico do lado oposto;
temporal e espacial. situados nos Neurônios de Quarta Ordem:
músculos earticulações giro pós-central no córtex cerebral.
Temperatura: receptores
Lento; situados na pele Neurônios Primários: situados
Sistema Sem fidelidade na e nas mucosas em gânglios periféricos;
anterolateral informação temporal Neurônios de Segunda Ordem:
e espacial; Dor ou Nocicepção: todos quase sempre na medula espinal,
Impreciso. os tecidos do corpo, cruzando plano mediano;
exceto o tecido nervoso Neurônios de Terceira Ordem:
tálamo do lado oposto;
Neurônios de Quarta Ordem:
córtex cerebral.
capítulo 3 • 81
Mecanoceptores
Raízes dorsais de
nervos espinais
Núcleos intralaminares
do tálamo Cótex somatossensorial
82 • capítulo 3
A origem das fibras do sistema da coluna dorsal-lemnisco medial apresenta
acurada organização espacial possibilitando a veiculação de informações mais
precisas, mais discriminadas e com fidelidade espacial e temporal. Suas fibras
também possuem maior diâmetro e são mielinizadas o que caracteriza maior
velocidade na veiculação sensorial até o encéfalo. Este sistema transmite ape-
nas modalidades sensoriais mecanoceptivas discriminativas, como o tato e a
propriocepção.
Apesar da importância das sensações somáticas do sistema somatossenso-
rial, nosso enfoque será no sistema coluna dorsal-lemnisco medial que é res-
ponsável pela transmissão de informações proprioceptivas que participam do
controle dos movimentos.
O estímulo é detectado pelos mecanoceptores especializados e mediante fi-
bras nervosas sensoriais penetram na medula espinal através das raízes dorsais
de nervos espinais, dividindo-se em um ramo medial e um ramo lateral. O ramo
medial dirige-se medialmente e ascende pela coluna dorsal tendo como alvo o
encéfalo. O ramo lateral adentra pelo corno posterior da medula espinal e di-
vide-se fazendo sinapse com os neurônios locais que apresentam três funções:
(1) originam fibras que penentram na coluna dorsal da medula espinal ascen-
dendo para o encéfalo, (2) originam fibras curtas que terminam localmente na
substância cinzenta da medula espinal produzindo relexos medulares locais,
(3) originam os tratos espinocerebelares.
As fibras nervosas que penetram as colunas dorsais da medula espinal seguem até a
região dorsal do bulbo, fazendo sinapse com os núcleos grácil e cuneiforme, originando
os neurônios de segunda ordem que cruzam o plano mediano para o tronco encefálico
do lado oposto, ascendendo até a região ventral póstero-lateral do tálamo através dos
lemniscos mediais, que durante o percurso recebe fibras dos núcleos sensoriais do
nervo trigêmeo (informações sensoriais provenientes da cabeça). Neurônios de tercei-
ra ordem partem do tálamo projetando-se para o giro pós-central do córtex cerebral
ou área somatossensorial primária e córtex parietal lateral ou área somatossensorial
secundária.
capítulo 3 • 83
Mecanoceptores
Feche seus olhos agora. Pense como está posicionado seu pé direito. Viu?
Você consegue identificar exatamente em que posição está seu pé direito. Trata-
se da propriocepção consciente. Portanto, a informação sobre o posicionamen-
to de seu pé direito percorreu a via representada na figura 23 de propriocepção
consciente, informando exatamente em qual posição ele está.
Os neurônios primários da via de propriocepção consciente estão locali-
zados nos gânglios espinais, seu prolongamento periférico conecta-se com o
84 • capítulo 3
mecanoceptor que está localizado no fuso muscular ou no órgãos tendinosos de
Golgi e o prolongamento central penetra na medula espinal através da divisão me-
dial da raiz dorsal dividindo-se em dois ramos: um ramo ascendente longo e um
ramo descendente curto, que estão localizados nos fascículos grácil e cuneiforme.
O ramo ascendente faz sinapse com os segundos neurônios ou neurônios de se-
gunda ordem localizados nos núcleos grácil e cuneiforme no bulbo. Seus axônios
formam as fibras arqueadas internas que cruzam o plano mediano e ascendem
cranialmente formando o lemnisco medial que fazem sinapse com os terceiros
neurônios ou neurônios de terceira ordem no núcleo ventral póstero-lateral do
tálamo. Os axônios do terceiro neurônio constituem as radiações talâmicas que
através da cápsula interna e coroa radiada atingem a área somestésica do córtex.
Por esta via também chegam impulsos nervosos relacionados ao tato e sensibili-
dade vibratória.
Receptores Proprioceptivos;
fusos musculares e
órgãos tendinosos
Divide-se
Cápsula interna Ramo ascendente Ramo
em descendente
e coroa radiada longo curto
Ramos ascendente e
Núcleo ventral Axônio formam as descendente situados
Bulbo: Sinapse com
póstero-lateral do fibras arqueadas no fascículo grácil
Neurônio II nos e cuneiforme
Tálamo: Sinapse internas e cruzam
núcleos Grácil e
com neurônio III plano mediano
Cuneiforme
Axônios
formam
radiações Ascendem
talâmicas craniamente
formando o
lemnisco medial
capítulo 3 • 85
A propriocepção possui também um componente inconsciente que partici-
pa do controle da motricidade.
Os mecanoceptores da via de propriocepção inconsciente também são os
fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi que estão localizados nos mús-
culos estriados esqueléticos e tendões musculares, respectivamente. Os meca-
noceptores conectam-se com os neurônios primários da via de propriocepção
inconsciente que estão localizados nos gânglios espinais nas raízes dorsais. O
prolongamento central do neurônio primário penetra na medula através da di-
visão medial da raiz dorsal dividindo-se em um ramo ascendente longo e um
ramo ascendente curto, ambos fazendo sinapse com os segundos neurônios
ou neurônios de segunda ordem localizados na coluna posterior ou no núcleo
cuneiforme acessório do bulbo. Os segundos neurônios podem localizar-se em
três locais, todos projetando-se em direção ao cerebelo por três diferentes vias:
86 • capítulo 3
Receptores Proprioceptivos:
fusos musculares e órgãos tendinosos
Neurônios I - gânglios
espinais das raízes dorsais
CEREBELO
capítulo 3 • 87
Ruffini respondem principalmente ao movimento passivo. Embora os corpús-
culos de Paccini também sejam sensíveis à variação de amplitude de movimen-
to, eles são ativados quando a posição articular não está constante.
Os receptores relacionados aos ligamentos são análogos ao órgão tendino-
so de Golgi pois, são sensíveis à tensão aplicada ao ligamento.
As terminações nervosas livres são ativadas quando há um processo infla-
matório articular.
88 • capítulo 3
veicula informações do Sistema Nervoso Central para os efetuadores que são os
músculos e glândulas.
Em uma secção transversal da medula espinal podemos observar a substân-
cia cinzenta da medula espinal, a qual tem a forma da letra H, circundada pela
substância branca. Na substância cinzenta da medula espinal estão localizados
os corpos neuronais, células da glia e fibras predominantemente amielínicas.
As fibras sensoriais da raiz dorsal fazem sinapses com interneurônios nos
cornos posteriores da substância cinzenta.
Os cornos ventrais da substância cinzenta contem corpos celulares de
neurônios motores que medeiam informações eferentes para músculos e glân-
dulas, deixando a medula espinal pela raiz ventral.
A substância branca que se localiza em torno da substância cinzenta é divi-
dida em colunas por onde os feixes organizados em tratos percorrem a medula,
transferindo bidirecionalmente informações entre os centros encefálicos su-
periores e a periferia, através de tratos ascendentes e tratos descendentes.
12 6
13 2 9
5
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3
11 1
8 7
capítulo 3 • 89
Os sinais sensoriais que atingem a substância cinzenta da medula espinal
podem ter dois destinos:
Raiz posterior
Nervo sensorial
Raiz anterior
Nervo motor
Músculo
Figura 3.7 – Esquema representativo do circuito neuronal básico de um reflexo espinal sim-
ples (monossináptico) envolvido no reflexo de estiramento muscular. Fonte: http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fe/Patelar.JPG. Acesso em: 25 maio 2015. Adaptado
Raiz posterior
Interneurônio
Fibra sensorial
Raiz anterior
Fibra motor
Músculo
90 • capítulo 3
Na substância cinzenta de cada segmento medular, com exceção de alguns
neurônios sensoriais, estão localizados neurônios de dois tipos:
Unidade motora: constituída por um único neurônio motor alfa e das fibras muscula-
res que esse neurônio motor inerva.
capítulo 3 • 91
Os neurônios motores gama são menores que os neurônios motores alfa e
dão origem a fibras nervosas do tipo A gama (Aγ) com menor diâmetro do que
as fibras nervosas Aα. Essas fibras nervosas Aγ inervam pequenas fibras mus-
culares esqueléticas especializadas, as fibras intrafusais do fuso muscular que
participam da modulação do tônus muscular.
92 • capítulo 3
Os interneurônios
CONEXÃO
Leia sobre a descoberta, a fisiologia e embriologia das células de Renshaw no link: http://
finslab.com/enciclopedia/letra-c/celula-renshaw.php. Acesso em: 05 jun. 2015.
A medula espinal além de alojar os tratos que ascendem para o encéfalo, e tratos
que descendem rumo aos efetuadores, ela é uma importante área de integração
e controle da atividade muscular. As respostas motoras geradas pela integra-
ção que ocorre no Sistema Nervoso Central acerca dos estímulos sensoriais tem
capítulo 3 • 93
início na medula espinal por meio de reflexos musculares simples. Embora o
sinal de comando para o início do movimento seja proveniente do encéfalo,
na medula espinal existem circuitos neuronais capazes de gerar movimentos
sincronizados, como o movimento de andar que alterna o movimento das per-
nas. O encéfalo exerce um importante papel no controle dos movimentos, pois
exerce comando sobre os movimentos e controle das atividades sequenciais
medulares. Porém os circuitos neurais medulares são imprescindíveis para a
execução do movimento, através de sua conexão direta com os músculos estria-
dos esqueléticos.
Para que o músculo exerça sua função adequadamente, além da excita-
ção muscular pelos neurônios motores anteriores, é necessário também um
feedback das informações sensoriais de cada músculo. Essas informações sen-
soriais são enviadas para o sistema computacional da medula espinal e regiões
superiores da coluna dorsal para que haja sincronia entre os neurônios moto-
res e a fibra muscular esquelética.
Existem receptores sensoriais especializados presentes em todos os múscu-
los estriados esqueléticos e articulações, que transferem informações específi-
cas sobre essas estruturas para os neurônios motores anteriores. Estes recep-
tores são:
94 • capítulo 3
RECEPTORES Respondem à deformação mecânica da cápsula ar-
ARTICULARES ticular e de ligamentos.
Os fusos musculares
Os fusos musculares são formados por uma cápsula de tecido conjuntivo que
separa o espaço contendo fluido e fibras musculares modificadas, as fibras
intrafusais.
Dois tipos de terminações sensoriais aferentes são encontrados na porção
central do fuso muscular.
• Fibras musculares com saco nuclear: cada fuso muscular possui de uma
a três desse tipo de fibra. Nelas, os núcleos da fibra muscular estão dispostos
em sacos na região central da área receptora. São capazes de excitar somente as
fibras sensoriais primárias.
• Fibras musculares com cadeia nuclear: cada fuso muscular apresenta de
três a nove. Os núcleos encontram-se alinhados em cadeia na área receptora.
São capazes de excitar as fibras sensoriais primárias e secundárias.
capítulo 3 • 95
Algumas fibras intrafusais são longas e espessas e outras menores e mais
finas e geralmente não possuem ou possuem pouca actina e miosina e por isso
não se contraem junto com as extremidades, funcionando como receptores
sensoriais. A região central do fuso muscular funciona como receptora onde as
fibras nervosas sensoriais penetram os fusos musculares, detectando as modi-
ficações relacionadas ao comprimento muscular. As extremidades que se con-
traem são excitadas pelas fibras nervosas motoras A gama (Aγ), formadas por
neurônios motores anteriores do tipo A gama.
Os neurônios motores gama podem ser de dois tipos:
96 • capítulo 3
Contração das regiões ter-
Comprimento muscular ESTIRAMENTO
minais das fibras intrafusais
EXCITA
RECEPTOR
Figura 3.9 – Esquema representativo dos estímulos que provocam o estiramento da fibra
muscular e das fibras intrafusais resultando na excitação do receptor.
CONEXÃO
Leia e entenda mais sobre o tônus muscular no link: https://tathianatrocoli.wordpress.
com/2009/05/28/tonus-muscular/. Acesso em: 07 jun. 2015.
capítulo 3 • 97
O reflexo de estiramento ou miotático pode ser dividido em:
Distensão no
Liberação CONTRAÇÃO DAS
músculo e no
Acetilcolina FIBRAS MUSCULARES
fuso muscular
Estimula
Fibras nervosas
Junção
primárias do
neuromuscular
fuso muscular
Propagação Potencial do Ação
Afrências Despolarização
primárias neurônio motor alfa
98 • capítulo 3
É provocado por sinais contínuos que são transmitidos por
terminações primárias e secundárias, mantendo o grau de
contração muscular constante. Pode ser desencadeado
quando há uma flexão passiva da articulação. Os recepto-
res para esses reflexos são as terminações nervosas pri-
márias e secundárias no fuso muscular que são disparadas
diante da manutenção do alongamento e o potencial de
ação é conduzido para a medula espinal pelas aferências
primárias e secundárias. As aferência secundárias fazem
conexões excitatórias monossinápticas e polissinápticas
com os neurônios motores alfa. Normalmente essas afe-
rências primárias e secundárias estão em constante ativi-
dade mantendo a frequência basal de disparos dos neurô-
ESTIRAMENTO nios motores alfa, assim, o reflexo de estiramento tônico
TÔNICO contribui para a manutenção do tônus muscular. Quando
o sistema nervoso está íntegro, as aferências primárias e
secundárias que transmitem a informação sobre o alonga-
mento sustentado ajustam a atividade muscular, e a atu-
ação pré-sináptica inibitória dos interneurônios e outros
estímulos, exercem sua ação sobre os neurônios motores
anteriores inibindo a contração muscular. Este reflexo de
estiramento é encontrado quando há lesão do neurônio
motor superior também chamado primeiro neurônio ou cor-
tical. O reflexo de estiramento tônico permanece mesmo
quando o alongamento é mantido. Diante de uma lesão do
neurônio cortical, a perda da inibição pré-sináptica produz
uma contração muscular contínua durante o alongamento
lento e constante do fuso muscular.
capítulo 3 • 99
CONEXÃO
Leia mais sobre lesão do neurônio motor superior ou cortical em um artigo que discute a
etiopatogenia da Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) publicado na Revista Neurociências
em 2006. Link: http://services.epm.br/dneuro/neurociencias/neurociencias_v14_02_su-
plemento.pdf#page=35. Acesso em: 25 maio 2015.
100 • capítulo 3
tronco encefálico. As fibras nervosas motoras gama transmitem o sinal excita-
tório para as fibras intrafusais do fuso muscular encurtando as terminações do
fuso e estirando sua região receptora central, assim, o sinal é enviado para a me-
dula espinal ocasionando o movimento reflexo. Se os fusos musculares dos mús-
culos que envolvem a articulação são ativados e a excitação reflexa desses múscu-
los aumenta, os músculos tornam-se tensos e firmes estabilizando a articulação.
capítulo 3 • 101
A propriedade inibitória do órgão tendinoso de Golgi propicia equilíbrio
às forças de contração muscular, pois, quando há excessiva tensão aplicada ao
tendão, as fibras musculares responsáveis por essa tensão são inibidas pelo re-
flexo, por outro lado, as fibras musculares que exercem pouca tensão ficam ex-
citadas pela ausência de inibição proporcionada pelo órgão tendinoso de Golgi.
Estimulam terminais Ib
entrelaçados
102 • capítulo 3
Quanto maior é a tensão aplicada sobre o tendão, maior é o potencial receptor
e há uma maior frequência no disparo da fibra aferente para a medula espinal.
POTENCIAL DE
POTENCIAL
TENSÃO AÇÃO PARA
RECEPTOR
MEDULA ESPINAL
POTENCIAL DE
POTENCIAL
TENSÃO AÇÃO PARA
RECEPTOR
MEDULA ESPINAL
Centros Centros
encefálicos encefálicos
superiores superiores
Órgão tendinoso
Fuso muscular
de Golgi
capítulo 3 • 103
O reflexo flexor, reflexo de retirada e reflexo extensor cruzado
104 • capítulo 3
Os interneurônios que atuam no reflexo de flexão também atuam no pro-
cesso de locomoção. Estes neurônios participam do gerador de padrão central
(GCPs).
O gerador de padrão central é um conjunto de neurônios e circuitos que são
responsáveis em gerar atividade rítmica que ocasiona uma ação, mesmo na au-
sência de estímulo sensorial. A ativação dos neurônios das fibras aferentes do
reflexo de flexão exibem um padrão de excitação flexora e inibição extensora de
um lado e o inverso no lado contralateral, se houver alternância entre os inter-
neurônios das fibras aferentes do reflexo de flexão de cada lado da medula apa-
recerá um padrão de passos. Então o movimento de andar é um resultado da
alternância na ação dos flexores e extensores em cada perna. A alternância na
ativação dos interneurônios das fibras aferentes do reflexo de flexão nas duas
pernas caracteriza a assincronia na ativação dos flexores.
Podemos concluir que a medula espinal desempenha um crucial papel no
controle motor, pois pela medula trafegam vias sensoriais e motoras, por onde
as informações que vão originar os movimentos trafegam. Na medula espinal
também ocorre a integração dos reflexos espinais e a comunicação neuronal
entre neurônios sensoriais e motores direta ou indiretamente por meio de
interneurônios.
capítulo 3 • 105
pirâmides bulbares que estão localizadas na face ventral do bulbo. De acordo
com essa organização, a via piramidal seria formada pelo córtex motor e pelo
trato corticoespinal que percorrem longitudinalmente as pirâmides bulbares,
cruzando o plano mediano na decussação das pirâmides, sendo responsáveis
pelos movimentos voluntários. Todo o restante foi dito extrapiramidal, cuja
função seria o comando dos movimentos involuntários.
Vários motivos tornaram essa classificação arcaica. Apesar de ser simples,
não há uma organização funcional e existem algumas divergências quanto às
fibras.
O feixe dito piramidal, composto pelo trato corticoespinal não contém so-
mente fibras que participam do sistema motor, fazem parte deste feixe fibras
provenientes do córtex somestésico direcionadas a núcleos somestésicos do
tronco encefálico e corno posterior da medula espinal, participando assim do
sistema sensorial.
Quanto à designação de sistema extrapiramidal como todo o resto que não
percorre as pirâmides bulbares e que segundo esta classificação é responsável
pelo controle dos movimentos involuntários, é um tanto quanto equivocada
visto que agrupam regiões responsáveis pelo controle dos movimentos como
núcleos da base e cerebelo e regiões responsáveis pelo comando de diferentes
funções como colículo superior, núcleo rubro e outros. As projeções rubro-espi-
nais que possuem função semelhante ao trato corticoespinal foram designadas
como extrapiramidais. Podemos notar que houve uma miscelânea entre estru-
turas que participam do controle de movimentos voluntários com estruturas
que participam do controle de movimentos involuntários, onde tanto o sistema
piramidal quanto o extrapiramidal participam de ambos, sem haver a distinção
proposta na divisão de sistema piramidal e sistema extrapiramidal.
Embora muitas literaturas ainda utilizem a classificação tradicional para
abordar as vias motoras, esta classificação tornou-se ultrapassada e imprecisa.
No entanto, surgiu outra classificação atualmente mais utilizada, relaciona-
da à funcionalidade das vias motoras, que foi estruturada por um neuroanato-
mista holandês Henricus Kuypers, na década de 60. Kuypers organizou os mo-
toneurônios do corno anterior da medula espinal em motoneurônios laterais e
motoneurônios mediais.
De acordo com pesquisas desenvolvidas por Kuypers através de lesões nos
funículos lateral e anterior de gatos, há uma separação funcional relacionada
106 • capítulo 3
aos padrões de lesão. As lesões do funículo lateral causaram perda de movimen-
tos finos das extremidades com postura preservada, enquanto lesões no funí-
culo anterior mostraram déficits posturais com movimentos nas extremidades
preservados. Em virtude dos achados de Kuypers, foi proposto por pesquisa-
dores outra classificação, pertinente à funcionalidade das vias descendentes e
baseado no local da medula espinal que elas terminam.
capítulo 3 • 107
Terminam em grupos de interneurônios mediais da porção me-
dial do corno anterior da medula espinal. Estes interneurônios
SISTEMA se conectam bilateralmente com os neurônios motores que
MEDIAL controlam a musculatura axial (cabeça e tronco), geralmente
associados à postura e ao equilíbrio.
108 • capítulo 3
O sistema lateral e o sistema medial são caracterizados como ordenadores
do sistema motor, fazendo parte de elementos que são responsáveis pela pro-
dução dos movimentos e estando em contato direto com os efetuadores mus-
culares. Estes sistemas atuam para a correta execução do comando motor em
conjunto com os fusos musculares e órgãos tendinosos de Golgi que fornecem
informações sensoriais sobre os músculos e os tendões. Entre os ordenadores
encontram-se ainda regiões neurais da medula espinal, tronco encefálico e cór-
tex cerebral.
Os controladores estão relacionados com o controle sequencial dos mo-
vimentos representados exemplarmente pelo cerebelo e núcleos da base. Os
controladores comunicam-se com os ordenadores através do tálamo no córtex
cerebral. Mas para que todos esses elementos trabalhem em sincronia é neces-
sário uma programação e um planejamento para as atividades motoras a serem
executadas, e essa função é exercida pelo córtex cerebral. Estes aspectos serão
abordados no próximo capítulo.
REFLEXÃO
Neste capítulo conhecemos um pouco dos aspectos gerais do sistema sensorial e seu en-
volvimento no sistema motor. Vimos os reflexos, sua importância e como eles são integrados
na medula espinal para executar movimentos simples e mais elaborados. Mas como será que
conseguimos realizar movimentos coordenados? Como se inicia os movimentos? Quando
queremos realizar uma função motora quem comanda?
LEITURA
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12 ed, Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda,
2011. 1151 p.
KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSEL, T.M. Princípios da Neurociência. 4 ed, Barueri: Editora
Manole, 2003. 1412 p.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios-Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. 698 p.
LUNDY-EKMAN, L. Neurociência-Fundamentos para a Reabilitação. 3 ed, Rio de Janeiro: Editora
Elsevier, 2008. 473p.
capítulo 3 • 109
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNE, R. B.; LEVY, M. N. Tratado de Fisiologia Humana. 4 ed, Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2000.
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12 ed, Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda,
2011. 1151 p.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios-Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. 698 p.
MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2 ed, São Paulo: Editora Atheneu, 2000. 363 p.
SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5 ed, São Paulo: Artmed, 2010. 957p.
110 • capítulo 3
4
Envolvimento
Supra-Espinal no
Controle Motor
Como notamos no capítulo anterior, a medula espinal desempenha um papel
importante no controle da função motora. Ela é responsável pela passagem de
vias sensoriais que ascendem cranialmente em direção aos centros encefálico
superiores. Estas vias sensoriais ascendentes veiculam sinais sensoriais pro-
venientes da periferia. Após atingirem regiões encefálicas específicas onde o
sinal sensorial é processado pelos centros superiores, é realizada a tomada de
decisão e o planejamento do movimento a ser executado. Essas informações
sobre a execução do movimento é enviada para a medula espinal através de vias
motoras eferentes ou descendentes, que fazem sinapse com neurônios moto-
res localizados no corno anterior da substância cinzenta da medula espinal
onde as informações motoras são integradas. Os neurônios motores partem da
medula espinal pela raiz ventral até a fibra muscular estriada esquelética, e o
movimento voluntário é executado.
Os reflexos proprioceptivos são fundamentais para o controle dos movi-
mentos, ajustando a eferência motora de acordo com os sinais sensoriais que
são captados sobre o corpo e os membros. A integração reflexa e os automatis-
mos rítmicos também são feitos na medula espinal. Porém os comandos mo-
tores centrais são capazes de alterar a transmissão das vias reflexas espinais.
Neurônios eferentes de centros superiores, assim como mecanismos medula-
res podem modular os reflexos espinais, alterando o nível basal, o tônus mus-
cular, regulando a força do reflexo.
Os sistemas motores podem realizar ações motoras distintas com destreza
como: voluntárias, reflexas e rítmicas. Isso ocorre devido a interconexão hierár-
quica de suas áreas: medula espinal, tronco encefálico e cérebro. Os circuitos
de cada nível podem organizar e regular respostas motoras. Além disso, os si-
nais sensoriais relacionados aos movimentos são processados em diferentes
sistemas e atuam em parceria.
Hierarquicamente a medula espinal é o nível mais inferior, o próximo nível
é representado pelo tronco encefálico que recebe aferências do córtex cerebral
e núcleos subcorticais. Os neurônios do tronco encefálico são classificados em
dois sistemas: medial e lateral. Os sistemas descendentes mediais relacionam-
se com o controle postural e a integração de informações visuais, vestibulares e
somestésicas. Já os sistemas descendentes laterais estão envolvidos no contro-
le de músculos distais dos membros. O circuito tectoespinal do tronco encefá-
lico é responsável pelo controle do movimento da cabeça e dos olhos.
112 • capítulo 4
O nível superior da hierarquia motora é ocupada pelo córtex cerebral. O cór-
tex motor primário e áreas pré-motoras enviam projeções diretamente para a
medula espinal, através dos tratos corticoespinais. Modulam também tratos mo-
tores de origem no tronco encefálico. As áreas pré-motoras do córtex recebem
informações do córtex de associação parietal posterior e do córtex pré-frontal, co-
ordenando e planejando os movimentos. As áreas pré-motoras do córtex, por sua
vez, projetam-se para o córtex motor primário e para a medula espinal.
Além dessas áreas, há duas áreas encefálicas que regulam o planejamento e a
execução do movimento. São o cerebelo e os núcleos da base. Eles fornecem cir-
cuitos de retroalimentação que estão envolvidos na modulação de áreas motoras
corticais e do tronco encefálico. Eles recebem sinais de diversas regiões do córtex
cerebral e projetam por intermédio do tálamo para áreas motoras corticais.
Concluímos, então, que existem muitos circuitos essenciais envolvidos no
controle dos movimentos que requerem elaboração, modulação e ajustes para
que sejam realizados de maneira funcional e esta é a função dos centros supra-
-espinais que será discutida neste capítulo.
OBJETIVOS
• Identificar a constituição do tronco encefálico e sua importância no controle da função motora.
• Identificar as vias motoras descendentes originárias no tronco encefálico e suas funções.
• Identificar as composição da citoarquitetura do cerebelo e as características de suas cama-
das e sua função do cerebelo no controle motor.
• Entende o circuito intrínseco cerebelar, assim como identificar suas fibras e células.
• Identificar as aferências e eferências cerebelares.
• Entender os mecanismos cerebelares responsáveis pela manutenção do tônus, postura e
equilíbrio.
• Identificar os núcleos da base e sua função no controle motor.
• Compreender as vias direta e indireta dos núcleos da base e como essas vias atuam na
modulação dos movimentos.
• Compreender os circuitos intrínseco e extrínseco dos núcleos da base na modulação dos
movimentos.
• Identificar a função da substância negra e do núcleo subtalâmico e seu envolvimento no
circuito subsidiário dos núcleos da base.
• Identificar a função do tálamo.
• Identificar as áreas motoras corticais, suas funções e conexões.
capítulo 4 • 113
4.1 O tronco encefálico
O tronco encefálico localiza-se entre a medula espinal e a porção inferior do
cérebro. Possui corpos neuronais agrupados em núcleos e fibras nervosas agru-
pados em tratos. É constituído pelo bulbo que está situado caudalmente, pelo
mesencéfalo situado cranialmente e pela ponte que se situa entre os dois. Co-
nectam-se com ele dez dos doze pares de nervos cranianos, sendo que nele es-
tão localizados núcleos motores dos nervos cranianos que alojam neurônios
motores da musculatura dos olhos, da cabeça e do pescoço.
A manutenção do tônus axial do corpo e a modificação dos graus do tô-
nus muscular nos diferentes músculos visando a permanência do equilíbrio
corporal são as duas principais funções do tronco encefálico no controle dos
movimentos.
O tronco encefálico relaciona-se com o cerebelo e ambos são responsáveis
pelo controle dos reflexos posturais, pois os proprioceptores (fuso muscular e
órgão tendinoso de Golgi) além de enviar sinais sensoriais para a medula espi-
nal enviam também para o tronco encefálico e o cerebelo.
São importantes as vias motoras que têm origem no tronco encefálico que
estão associadas aos reflexos posturais.
No bulbo estão localizados os núcleos vestibulares que recebem aferências
do nervo vestibulococlear originárias de mecanoceptores do labirinto.
O sistema vestibular é o responsável na detecção de sensações relacionadas
ao equilíbrio. Ele é constituído por um sistema de tubos e câmaras ósseas cha-
mado de labirinto ósseo e no interior do labirinto ósseo encontra-se localizado
o labirinto membranoso, que é a porção funcional do sistema vestibular. O la-
birinto membranoso é composto pela cóclea (órgão sensorial da audição); três
canais semicirculares; e duas câmaras: o utrículo e o sáculo que estão envolvi-
dos com o equilíbrio.
Os axônios dos neurônios vestibulares do núcleo vestibular formam os fei-
xes vestibuloespinais que são vias descendentes que se direcionam à medula
espinal e estão relacionadas à manutenção da postura e do equilíbrio. Através
desta via são feitos ajustes no grau de contração muscular mantendo o equilí-
brio mesmo diante de movimentos súbitos de partes do corpo
114 • capítulo 4
Labirinto
Nervo vestibulococlear
Núcleos vestibulares
(BULBO)
Axônios formam Via descendente relacionada
os feixes vestibuloespinais a manutenção da postura e
do equilíbrio
Medula espinal
capítulo 4 • 115
Relaxam os músculos axiais antigravitacionais por meio
de sinais inibitórios pelo trato reticuloespinal bulbar termi-
NÚCLEOS nando também em neurônios motores anteriores mediais.
RETICULARES Recebem aferências que ativam o sistema inibitório bulbar
BULBARES do trato corticoespinal, trato rubroespinal, outras vias mo-
toras. Essa via é importante, pois promove equilíbrio dos
sinais excitatórios do trato reticuloespinal pontino
Formação reticular
Axônios formam os
feixes reticuloespinais Via descendente relacionada
a mecanismos posturais
Medula espinal
116 • capítulo 4
Córtex motor Trato
corticoespinal
Núcleo rubro
Axônios formam os
Via descendente relacionada
feixes rubroespinal
ao comando motor dos
membros
Medula espinal
Aferências sensoriais,
visuais, auditivas e
somestésicas
Colículo superior
capítulo 4 • 117
Todas essas vias motoras descendentes originam-se em núcleos do tronco
encefálico e se projetam para a medula espinal.
As fibras dos tratos tectoespinal, vestibuloespinal e reticuloespinal termi-
nam fazendo sinapse com interneurônios mediais da porção medial do corno
anterior da medula espinal. Estes interneurônios se conectam bilateralmente
com os neurônios motores que controlam a musculatura axial (cabeça e tronco)
e proximal dos membros.
Já o trato rubroespinal através de interneurônios faz sinapse com neurônios
motores situados lateralmente na coluna anterior que controlam a musculatu-
ra distal dos membros.
Como vimos no capítulo anterior, o controle do tônus e da postura acontece
em grande parte à nível medular por intermédio do reflexo miotático, que são
modulados por estruturas supra-espinais, através dos tratos vestíbuloespinais e
retículoespinais que atuam em neurônios motores alfa e gama. Quando ocorrem
desequilíbrios entre os estímulos inibitórios e facilitatórios provenientes destes
tratos, podem intercorrer em alterações musculares como hipertonia muscular.
118 • capítulo 4
responsáveis pela evocação destes reflexos são o sistema vestibular que é estimu-
lado pela movimentação da cabeça e os receptores de estiramento do pescoço.
Há três tipos de reflexos posturais:
Rotação da cabeça
Ativa
Receptores sensoriais nos
canais semicirculares do
aparato vestibular
Tratos Tratos
vestibuloespinais reticuloespinais
lateral e medial
Medula espinal
Reajustes posturais
capítulo 4 • 119
O trato vestibuloespinal medial gera o reflexo vestibulocólico através de
contrações dos músculos do pescoço que se opõem ao movimento induzido.
Ativa músculos do
Trato vestibuloespinal pescoço que se opõem
medial ao movimento induzido
Inclinação da cabeça
muda
Aceleração linear das células
ciliadas dos órgãos otolíticos do
aparato vestibular
Quando o utrículo, que é uma das estruturas que compõem o órgão otolítico
do sistema vestibular é estimulado, ocasiona a reação vestibular do posiciona-
mento. Voltando ao exemplo do quadrúpede, quando ele cai de determinada
altura, ocorre extensão dos membros anteriores, preparando-se para apoiar os
membros no chão.
Reação vestibular de
Órgão otolítico
posicionamento
Queda
120 • capítulo 4
• Os reflexos tônicos do pescoço são gerados pelos fusos musculares dos
músculos do pescoço. Ocorre quando o pescoço é flexionado ou estendido (do-
brado) sem inclinação da cabeça. Os fusos musculares do pescoço geram os
reflexos sem participação do sistema vestibular.
Reflexo de
endireitamento
capítulo 4 • 121
modificações necessárias no gerador de padrão central, evitando o obstáculo.
Podemos também desligar ou ligar o gerador de padrão central, parando ou
iniciando o movimento voluntariamente. Esta decisão voluntária tem origem
no córtex cerebral, porém a maior parte da influência cortical na modulação da
locomoção é mediada por projeções direcionadas para regiões locomotoras do
tronco encefálico. Existem diversas regiões locomotoras no tronco encefálico
que são interconectadas. A região do tronco encefálico que organiza os coman-
dos para dar origem ao movimento é a região locomotora do mesencéfalo, sob
comando do córtex cerebral que envia projeções corticobulbares em direção à
região locomotora do mesencéfalo, os comandos são trensferidos para a forma-
ção reticular a por intermédio do trato reticuloespinal atinge a medula espinal.
Córtex motor
Fibras corticobulbares
Região locomotora do
mesencéfalo
Formação reticular
Fibras reticuloespinais
Medula espinal
4.2 O cerebelo
O cerebelo localiza-se na fossa posterior do crânio e inferior ao lobo occipital.
Conecta-se ao tronco encefálico por três pedúnculos: pedúnculo cerebelar su-
perior, médio e inferior. A maioria das fibras aferentes cerebelares direcionadas
para o córtex cerebelar e os núcleos penetra o cerebelo através dos pedúnculos
cerebelares médio e inferior. Já as vias eferentes originárias em núcleos cerebe-
lares deixam o cerebelo por intermédio do pedúnculo cerebelar superior.
O cerebelo e o cérebro apresentam uma organização bem semelhante e di-
ferente das demais estruturas do Sistema Nervoso Central. Ambos possuem um
córtex envolvendo a substância branca, o centro medular, onde estão dispostas
massas de substância cinzenta, os núcleos centrais do cerebelo (fastigial, glo-
boso, emboliforme e denteado). O núcleo globoso e emboliforme constituem o
núcleo interpósito.
122 • capítulo 4
Embora haja uma semelhança organizacional entre o cerebelo e o córtex ce-
rebral, o cerebelo foi chamado por muito tempo de área silenciosa do cérebro,
pois a estimulação elétrica cerebelar não produz qualquer sensação consciente
e não produz comportamento motor na grande maioria das vezes, visto que o
cerebelo fisiologicamente atua involuntariamente. Por isso, a remoção do cere-
belo provoca movimentos anormais, causando ausência da coordenação moto-
ra quase que total principalmente em atividades musculares rápidas.
O cerebelo atua como um sistema motor acessório, ele:
Zona Medial
Zona Intermédia
Zona Lateral
capítulo 4 • 123
Todo o córtex cerebelar possui citoarquitetura homogênea com três cama-
das dispostas da superfície para o seu interior:
• Camada molecular;
• Camada de células de Purkinje;
• Camada granular.
As fibras musgosas:
• São excitatórias;
• Transferem informações extereoceptivas e proprioceptivas do corpo e da
cabeça, formando mapas somatotópicos no córtex cerebelar;
• As fibras musgosas que veiculam informações do sistema vestibular estão
localizadas no lobo floculonodular e áreas do vérmis;
124 • capítulo 4
• Os núcleos pontinos representam a maior fonte de células musgosas;
• As fibras musgosas penetram o cerebelo através dos três pedúnculos ce-
rebelares, veiculando para o cerebelo uma grande variedade de informações
sensoriais.
Impulsos Nervosos
Fibras musgosas
Ativam (Glutamato)
Neurônios dos Células granulares Neurônios dos
núcleos centrais e de Purkinje núcleos centrais
Inibem (GABA)
Células em cesto,
Golgi e estreladas
As fibras trepadeiras
capítulo 4 • 125
cipalmente com as células de Purkinje. Os neurônios olivares são modulados
intrinsecamente por aferências olivares excitatórias e inibitórias, modulando
também o potencial oscilatório dos neurônios olivares produzindo atividades
sincrônicas no córtex cerebelar enviando sinal de controle para sincronizar co-
mandos motores para diversos grupos musculares.
As fibras trepadeiras possuem esse nome porque elas terminam enrolando-
se nos dendritos das células de Purkinje exercendo ação excitatória.
CONEXÕES AFERENTES
Essas fibras atingem o cerebelo por intermédio do fascí-
ORIGEM culo vestíbulo-cerebelar que trazem informações da parte
VESTIBULAR vestibular do ouvido interno sobre posição da cabeça (im-
portante para o equilíbrio e postura).
126 • capítulo 4
trato olivocerebelar
Complexo olivar Fibras
inferior trepadeiras
fas
cícu
lo V
esti
Núcleos bul
o-c Córtex cerebelar
vestibulares ere
bel
ar
s
lare
Núcleos rebe
pontinos o ntoce
s p
fibra
Conexões eferentes
capítulo 4 • 127
ação motora dos feixes vestíbulo-espinal e reticuloespinal. Assim, concluímos
que as eferências da zona medial controlam a ação motora do sistema descen-
dente medial na manutenção do equilíbrio e tônus muscular nas mudanças de
posição da cabeça e do corpo.
Equilíbrio
postural
Figura 4.7 – Esquema representativo das eferências cerebelares provenientes da zona medial.
128 • capítulo 4
Neurônios Controla
Células Purkinje Trato rubro-espinal motores do
(zona intermédia) Núcleo rubro grupo lateral musculatura
da coluna distal dos
anterior membros
Via interpósito-rubro-espinal
Trato corticoespinal
Núcleo
Intermósito
Via interpósito-tálamo-cortical
Tálamo Área motora do
(lado oposto) Córtex cerebral
Figura 4.8 – Esquema representativo das eferências cerebelares provenientes da zona in-
termédia.
Denteado
rti Tra
Figura 4.9 – Esquema representativo das eferências cerebelares provenientes da zona lateral.
capítulo 4 • 129
manutenção do tônus muscular através dos tratos corticoespinal e rubro-espi-
nal que ativam os neurônios motores espinais.
ação sobre
Núcleo dentado tratos corticoespinal
neurônios motores
Núcleo interpósito rubro-espinal
Manutenção do
tônus muscular
Contação dos
músculos axiais
e proximais dos
membros
Manutenção
da postura e
do equilíbrio
130 • capítulo 4
A aprendizagem motora
• Caudado;
• Putâmen;
• Globo pálido.
capítulo 4 • 131
O núcleo caudado e o putâmen são classificados como corpo estriado, por
possuírem estriações produzidas pelos feixes de fibras da porção anterior da
cápsula interna.
O corpo estriado é a porta de entrada dos núcleos da base, pois recebe o in-
fluxo de informação através de projeções provenientes de inúmeras regiões do
córtex cerebral. Dele emergem axônios que se direcionam aos demais núcleos
da base, para o processamento das informações recebidas, o que possibilitará
o controle dos movimentos.
O globo pálido recebeu esse nome por ter uma coloração mais clara do que
os núcleos adjacentes. Divide-se em duas porções: interna e externa e, junta-
mente do putâmen, recebem a denominação de núcleo lentiforme. O estágio
final da participação dos núcleos da base no processamento das informações
é realizado pelo globo pálido, visto que do globo pálido interno emergem os
axônios eferentes para o tálamo.
Núcleo caudado
Corpo estriado
putâmen
putâmen
Núcleo
lentiforme interno
Globo pálido
externo
O corpo estriado foi relacionado com a doença de Huntington, em 1872, por um mé-
dico americano George Huntington. O exame anátomo-patológico dos encéfalos dos
pacientes acometidos pela doença revelaram degeneração de neurónios do estriado,
que às vezes atinge também algumas regiões do córtex cerebral. A doença de Hun-
tington é caracterizada por movimentos incontroláveis e sem funcionalidade realizados
pelos pacientes sem interrupções. Esses achados anátomo-patológico confirmam o
envolvimento do corpo estriado no controle dos movimentos.
132 • capítulo 4
• Esses eferentes são inibitórios (e não excitatórias, como os do cerebelo).
Núcleo ventral
anterior
Componentes
área intralaminar
Há também outros núcleos envolvidos com os núcleos da base que são dien-
cefálicos e mesencefálicos.
Núcleo Núcleos
Diencéfalo
subtalâmico da base
Núcleos
Mesencéfalo Substância negra
da base
Parte compacta
Substância negra
Parte reticuar
capítulo 4 • 133
Fisologia circuito extrinseco
Córtex pré-frontal
Pré-motor e
Motor
Figura 4.13 – Fisiologia das conexões extrínsecas que atuam na modulação do comando
motor que envolvem os núcleos da base.
Via direta
134 • capítulo 4
Os neurônios que se localizam no corpo estriado em estado basal possuem
pouca atividade e durante os movimentos esses neurônios são ativados pelo
córtex cerebral através das projeções glutamatérgicas que são excitatórias.
Quando o corpo estriado é ativado há liberação gabaérgica (inibitória) em sua
conexão com o globo pálido interno que mantém grande atividade basal de
seus neurônios e como a conexão do globo pálido interno para as áreas ventral
anterior e ventral lateral do tálamo são também inibitórias, haverá uma inibi-
ção da inibição entre o globo pálido interno e as áreas ventral anterior e ventral
lateral do tálamo. Então, nesta via, a ativação do corpo estriado provoca uma
desinibição sobre os neurônios talâmicos resultando em excitação dos neurô-
nios das áreas motoras corticais ativando os neurônio motores alfa e gama da
medula espinal e tronco encefálico.
Córtex
Via glutamatérgica +
Estriado
+ Via Gabaérgica –
Substância negra parte
Globo pálido interno
reticular
Via Gabaérgica –
Núcleo ventral anterior e
ventral lateral do tálamo
Figura 4.14 – Esquema representativo da modulação da função motora exercida pelos nú-
cleos da base através da via direta.
Via indireta
Esta via reduz a atividade dos neurônios localizados em áreas motoras do cór-
tex cerebral.
A via indireta envolve projeções inibitórias do estriado para o globo pálido,
porém para sua porção externa, que conecta-se através de projeções inibitórias
com o núcleo subtalâmico. A projeção inibitória do corpo estriado inibe a inibi-
ção dos neurônios do núcleo subtalâmico pelo globo pálido externo, ativando
sua via que geralmente encontra-se ativa. O núcleo subtalâmico envia proje-
ções excitatórias (glutamatérgicas) para o globo pálido interno, promovendo
capítulo 4 • 135
sua ativação. Como os neurônios do globo pálido interno são inibitórios e emi-
tem conexões para as áreas ventral anterior e ventral lateral do tálamo, ocorre
uma inibição dos neurônios das áreas ventral anterior e ventral lateral do tála-
mo, diminuindo a atividade dos neurônios motores corticais.
Note que as vias direta e indireta de modulação do controle motor pelos nú-
cleos da base possuem funções antagônicas essenciais para a atividade motora.
Córtex
Via glutamatérgica +
Estriado
– Via Gabaérgica –
Via Gabaérgica –
Nécleo subtalâmico
+
Núcleo ventral anterior e
Globo pálido interno
ventral lateral do tálamo
–
Figura 4.15 – Esquema representativo da modulação da função motora exercida pelos nú-
cleos da base através da via indireta.
136 • capítulo 4
Fisiologia circuito intrínseco
+
Córtex
+ –
–
Globo pálido externo Estriado
+
– + – –
+
Substância Substância
Globo pálido
Nécleo subtalâmico interno negra parte negra parte
reticular compacta
–
Núcleo ventral anterior e
ventral lateral do tálamo
Inibitória Excitatória
Figura 4.16 – Esquema representativo da via intrínseca de modulação dos movimentos dos
núcleos da base com os circuitos subsidiários e circuitos básicos, mostrando também a via
indireta que resulta em inibição dos neurônios motores corticais e da via direta que resulta
em excitação dos neurônios motores.
capítulo 4 • 137
projetando-se para globo pálido interno, enquanto os receptores D2 são encon-
trados nas células do estriado que estão envolvidos na via indireta conectam-se
com o globo pálido externo. A ação da dopamina nos dois casos, tanto na via
direta quanto indireta é a ativação de neurônios motores do córtex cerebral.
As vias nigroestriatais quando apresentam déficit dopaminérgico causam a
doença de Parkinson.
+
Córtex
+ –
–
Globo pálido externo Estriado
+
– + – –
+
Substância Substância
Globo pálido
Nécleo subtalâmico negra parte negra parte
interno reticular compacta
–
Núcleo ventral anterior e
ventral lateral do tálamo
Figura 4.17 – Esquema representativo da lesão das fibras nigroestriatais que ocasionam
uma modificação no circuito básico ocasionando a doença de Parkinson.
A doença de Parkinson é causada por uma lesão geralmente na substância negra com
um déficit dopaminérgico nas vias nigroestriatais, havendo uma interrupção na ativi-
dade moduladora que essas fibras exercem no corpo estriado causando um distúrbio
hipocinético. A doença de Parkinson é caracterizada por tremor, rigidez e lentidão e
redução da atividade motora espontânea.
CONEXÃO
Leia mais sobre a neurotransmissão dopaminérgica e entenda a fisiopatologia da doença de
Parkinson no link: http://www.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/Farmacologia%20
da%20neurotransmissao%20dopaminergica.pdf. Acesso em: 10 jun. 2015.
138 • capítulo 4
A relação do núcleo subtalâmico se faz também por conexão recíproca
com o globo pálido externo e conecta-se também com o globo pálido interno.
Através deste circuito palido-subtálamo-palidal, o núcleo subtalâmico é capaz
de modificar a atuação do circuito básico. Quando há lesão do núcleo subtalâ-
mico há um déficit de glutamato (excitatório) no circuito subtálamo-palidal
proporcionando uma interrupção neste circuito no qual a neurotransmissão
gabaérgica (inibitória) do globo pálido interno deixa de atuar inibindo os núcle-
os ventral anterior e ventral lateral do tálamo causando distúrbios hipercinéti-
cos - o hemibalismo.
+
Córtex
+ –
–
Globo pálido externo Estriado
+
– + – –
+
Substância Substância
Globo pálido
Nécleo subtalâmico negra parte negra parte
interno reticular compacta
–
Núcleo ventral anterior e
ventral lateral do tálamo
Figura 4.18 – Esquema representativo da lesão das fibras subtálamo palidal que ocasionam
uma modificação no circuito básico ocasionando o hemibalismo.
CONEXÃO
Veja como são os movimentos ocasionados pelo hemibalismo no link: https://www.youtube.
com/watch?v=t9jcccWzVPse. Acesso em: 10 jun. 2015.
capítulo 4 • 139
Podem ocorrer também lesões que acometem o corpo estriado, então a le-
são deixa de ser em circuitos secundários e passa a ser no circuito básico. A
lesão do corpo estriado ocasiona também distúrbios hipercinéticos – a doença
de Huntington, que é uma doença neurodegenerativa que causa a morte dos
neurônios estriatais ocasionando atrofia deste núcleo, ocasionando perda do
efeito inibitório das vias gabaérgicas estriatais levando a movimentos incontro-
lados característicos.
+
Córtex
+ –
–
Globo pálido externo Estriado
+
– + – –
+
Substância Substância
Globo pálido
Nécleo subtalâmico negra parte negra parte
interno
reticular compacta
–
Núcleo ventral anterior e
ventral lateral do tálamo
CONEXÃO
Leia sobre a doença de huntington e entenda sua fisiopatologia nesta interessante revi-
são link: http://revistaneurociencias.com.br/edicoes/2011/RN1904/revisao%2019%20
04/595%20revisao.pdf. Acesso em: 10 jun. 2015.
4.4 O tálamo
O tálamo situa-se no diencéfalo, acima do sulco hipotalâmico e é constituído
por duas massas ovóides: o tubérculo anterior do tálamo, anterior e o pulvinar
do tálamo, posterior. O tubérculo anterior do tálamo e o pulvinar do tálamo
estão unidos pela aderência intertalâmica.
140 • capítulo 4
É constituído de substância cinzenta, onde encontram-se localizados vários
núcleos. Sua superfície dorsal é revestida por uma lâmina de substância bran-
ca chamada de lâmina medular externa que se estende até a porção lateral do
tálamo.
O tálamo é responsável pela transmissão de informações sensoriais para
áreas sensoriais primárias corticais, selecionando e intensificando a passagem
de informações específicas. Há núcleos talâmicos que não apresentam cone-
xões diretas com o córtex, embora seja uma minoria. As conexões talâmicas
com algumas áreas corticais geralmente são recíprocas constituindo as fibras
tálamo-corticais e córtico-talâmicas, formando as radiações talâmicas que fa-
zem parte de uma grande área da cápsula interna e a maioria de suas fibras
projetam-se à áreas corticais sensoriais. As projeções de áreas corticais direcio-
nadas ao tálamo são responsáveis pelo controle das informações que são rece-
bidas pelo córtex motor.
Os núcleos talâmicos são muito numerosos e por este motivo foram dividi-
dos em grupos (anterior, medial, ventrolateral, e posterior) e classificados de
acordo com sua posição em relação à lâmina medular interna que é um feixe
que percorre a extensão rostrocaudal do tálamo.
Os núcleos talâmicos envolvidos com a motricidade pertencem ao grupo
ventral, são eles: os núcleos ventral anterior e ventral lateral do tálamo. Esses
núcleos são importantes para o controle motor e transmitem informações dos
núcleos da base e do cerebelo para áreas motoras corticais. O núcleo ventral
póstero-lateral conduz informações sensoriais ao córtex somestésico.
capítulo 4 • 141
Núcleo ventral Áreas
Globo pálido anterior do motoras Motricidade
tálamo corticais
Fibras lemnisco
Trato medial Núcleo ventral Giro pós-central
espinotalâmico póstero-lateral (área somestésica
lateral e anterior Fibras lemnisco do tálamo cortical)
espinal
142 • capítulo 4
O córtex cerebral
capítulo 4 • 143
• Córtex motor primário: localizado no giro pré-central no lobo frontal;
• Área pré-motora: localizada rostral e lateralmente ao córtex motor
primário;
• Córtex motor suplementar: localizado na porção medial do hemisfério
cerebral;
• Áreas motoras cinguladas: são três e estão localizadas nas paredes do sul-
co cingulado do lobo frontal;
• Regiões relacionadas aos movimentos oculares.
144 • capítulo 4
• O dorso foi representado mais superior e o membro inferior na porção
medial do hemisfério.
©© WIKIPEDIA
Esta área está localizada anterior ao córtex motor primário, na superfície me-
dia do hemisfério cerebral. Ela subdivide-se em duas regiões: uma porção mais
caudal chamada de AMS própria e uma porção mais caudal chamada de pré-AMS.
A AMS própria participa da formação do trato corticoespinal e conecta-se à outras
capítulo 4 • 145
áreas corticais. A área pré-AMS embora esteja conectada ao córtex pré-frontal não
exibe conexões com outras áreas motoras e a medula espinal.
Assim como o córtex motor primário, a área motora suplementar possui re-
presentação somatotópica, visto que estimulação de determinadas áreas pro-
voca movimentos isolados bilaterais, embora mais complexos, além de vocali-
zações e movimentos posturais. Geralmente esta área trabalha em associação
com a área pré-motora, para gerar movimentos posturais.
Área pré-motora
146 • capítulo 4
Áreas especializadas do controle motor
Estímulos Córtex
somestésicos e parietal Córtex motor
visuais posterior
capítulo 4 • 147
Núcleo ventral
Cerebelo e lateral do tálamo
Córtex motor
núcleos da base Núcleo ventral
póstero-lateral
do tálamo
Tálamo
Cerebelo e
núcleos da base Núcleo rubro e
formação
reticular
REFLEXÃO
Vimos a complexidade e como o sistema motor é lapidado minuciosamente para a execução
adequada dos movimentos. Mas será que depois de completo o neurodesenvolvimento, nos-
so Sistema Nervoso Central não muda?
148 • capítulo 4
LEITURA
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12 ed, Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda,
2011. 1151 p.
KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSEL, T.M. Princípios da Neurociência. 4 ed, Barueri: Editora
Manole, 2003. 1412 p.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios-Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. 698 p.
NETTER, F.H. Atlas of neuronatomy and neurophysiology- Selections from the Netter Collection
of Medical Illustrations. Special edition, USA: Icon Custom Communications, Elsevier, 2004. 98p.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNE, R. B.; LEVY, M. N. Tratado De Fisiologia Humana. 4 ed, Rio de Janeiro: Editora Guanabara
Koogan, 2000.
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12 ed, Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda,
2011. 1151 p.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios-Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. 698 p.
MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2 ed, São Paulo: Editora Atheneu, 2000. 363 p.
SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5 ed, São Paulo: Artmed, 2010. 957p.
capítulo 4 • 149
150 • capítulo 4
5
Bases Fisiológicas
do Aprendizado
Motor e da
Recuperação da
Função
A personalidade, as habilidades e o comportamento, são consequência das
características individuais do cérebro humano.
O sistema nervoso desde o período embrionário até a sua maturação está
em constante mudança. Surge no período embrionário como células ectodér-
micas que se proliferam intensamente e formam o tubo neural e assim sucessi-
vamente transformações estruturais vão acontecendo.
A circuitaria do sistema nervoso é arquitetada passo-a-passo onde as áreas
encefálicas são estabelecidas, os neurônios são formados e posteriormente os
axônios dão origem aos tratos que direcionam-se aos seus alvos, ocorrendo a
sinaptogênese que é o processo de formação e estabelecimento das sinapses.
Após o nascimento, o padrão básico das estruturas neurais já está pratica-
mente formado, porém as sinapses ainda não estão totalmente estabelecidas, e
essa condição possibilita alterações da circuitaria sináptica que ocorre em fun-
ção da interação com o mundo que acontece após o nascimento. É dessa forma
que as estruturas cerebrais podem ser influenciadas pelo ambiente.
No período de desenvolvimento, há uma janela temporal onde o sistema
nervoso está mais vulnerável à essas mudanças, propiciando as alterações neu-
ronais morfofuncionais, e esta fase é chamada de período crítico.
Durante o crescimento mudanças gradativas vão ocorrendo no ser humano,
principalmente nos aspectos cognitivos. Na infância há um ajuste no número de
neurônios e um aumento no número de sinapses, de circuitos neuraise um au-
mento na quantidade de mielina que favorecem a aprendizagem, sendo uma via
de mão dupla, visto que aprender significa recrutar sinapses ainda não utilizadas.
O processo de mielinização tem início no quinto mês de desenvolvimento
fetal e seu término é considerado um parâmetro que sugere o final da etapa de
maturação ontogenética do sistema nervoso, assim como a eliminação seleti-
va de neurônios e sinapses excedentes. Embora não seja possível determinar o
momento preciso dessa fase, visto que as transformações pertinentes ao siste-
ma nervoso continuam a acontecer, porém de forma mais lenta.
Por muito tempo assumiu-se a ideia de que após o seu desenvolvimento o
Sistema Nervoso Central não poderia mais ser modificado e que suas lesões
seriam permanentes devido à incapacidade de reorganização de suas células.
Mas atualmente sabe-se que o Sistema Nervoso Central não é uma estrutura
definitiva e inalterada, que possui grande capacidade de adaptação, principal-
mente na tentativa de recuperação.
As conexões neurais estão constantemente sendo iniciadas e desfeitas de
152 • capítulo 5
acordo com nossas experiências externas e internas e a plasticidade neural ou
neuroplasticidade é a capacidade de mudanças morfológicas e funcionais que
o sistema nervoso possui, ou seja, a capacidade do neurônio em mudar sua fun-
ção, suas características químicas e sua estrutura em resposta a alterações am-
bientais. Na plasticidade neural há uma reorganização na dinâmica do sistema
nervoso
O envelhecimento também faz parte das mudanças que ocorrem no sistema
nervoso, onde uma sequência de etapas degenerativas culmina na morte do sis-
tema nervoso e do indivíduo.
Embora o grau de plasticidade neural esteja relacionado com a idade do in-
divíduo, e as constantes mudanças que ocorrem dificultem a compreensão de
seus mecanismos, ela proporciona a possibilidade da recuperação de lesões e o
aprendizado de novas experiências.
OBJETIVOS
• Entender o que é plasticidade neural.
• Compreender a plasticidade no período crítico.
• Identificar os tipos de plasticidade.
• Diferenciar a plasticidade do Sistema Nervoso Central do Sistema Nervoso Periférico.
• Entender os aspectos da aprendizagem.
• Entender os mecanismos de plasticidade sináptica que ocorrem nos processos de apren-
dizagem.
• Entender os aspectos relacionados à memória e suas classificações.
• Identificar a correlação entre aprendizagem e memória.
capítulo 5 • 153
5.1 Plasticidade
As modificações comportamentais que ocorrem por influência do meio am-
biente e das experiências vividas foi motivo de muitos questionamentos e espe-
culações, visto que acreditava-se que a organização do sistema nervoso era imu-
tável. Surgiu assim a hipótese da plasticidade para explicar estes fenômenos.
O termo plasticidade provém de plasticus e significa o que pode ser molda-
do. É a característica que as células possuem de se adaptar diante de algumas
situações, que vão desde resposta a lesões até alterações ocasionadas pelo pro-
cesso de aprendizagem e memória.
Assim, podem ocorrer mudanças morfológicas ocasionadas por alterações
ambientais. Há alteração no trajeto das fibras nervosas, surgimento de nova ra-
mificação dendrítica ou alteração do número de células nervosas, formando no-
vos circuitos neurais. Estes fenômenos caracterizam a plasticidade morfológica.
Podem ocorrer também modificações funcionais sem que haja alterações
morfológicas, geralmente relacionadas à atividade sináptica de um circuito ou
grupo neuronal, são as plasticidades funcionais.
A plasticidade é grande no período embrionário quando há formação ex-
cessiva de novos neurônios, sendo que os que não estabelecem sinapses são
eliminados. A fase no desenvolvimento onde o sistema nervoso está mais plás-
tico, ou seja, mais susceptível aos fatores e influências ambientais específicas,
é caracterizada como período crítico.
Qual o padrão das atividades para que elas provoquem modificações em cone-
xões neurais no período crítico?
Os sinais gerados pela atividade sináptica relacionadas às experiências sen-
soriais e motoras são fundamentais para o início do processo de plasticidade.
Além disso, não podemos descartar o papel dos neurotransmissores e dos fato-
res neurotróficos no processo relacionado à repetição de atividades.
Há uma teoria relacionada à uma série de fenômenos celulares e molecula-
res que poderiam explicar como as modificações acontecem.
Evidências sugerem que os neurotransmissores e outras moléculas como
as neurotrofinas são capazes de iniciar o processo de plasticidade com ou sem
atividade repetida, por atuarem na concentração de cálcio (Ca2+) intracelular.
154 • capítulo 5
O aumento da concentração de Ca2+ ativa algumas proteínas quinases como,
a Ca2+/calmodulina quinase (CaMK) tipo II que são enzimas que catalisam a fos-
forilação de moléculas alvo que são dependentes de cálcio-calmodulina ocasio-
nando modificações no citoesqueleto e nas ramificações dendríticas e axonais.
A Ca2+/calmodulina quinase (CaMK) está presente em todos os tecidos, porém
os neurônios apresentam esta quinase em abundância.
Há também outras proteínas quinases que podem ser ativadas e que são
encontradas no núcleo. Entre elas está a CaMK do tipo IV. As proteínas quina-
ses encontradas no núcleo são capazes de ativar fatores de transcrição como
o CREB, que são proteínas que regulam o DNA celular, ativando ou inibindo
a transcrição de determinados genes através de fosforilação. Estes eventos al-
teram a transcrição gênica celular produzindo alterações no DNA neuronal e
consequentemente atuando nas alterações funcionais relacionadas à aquisi-
ção de experiências. A fosforilação, assim como a desfosforilação viabilizam o
aparecimento de uma memória molecular intracelular. Este processo tem sido
implicado nos efeitos mediados pela neurotrofina BDNF.
CaMK II CaMK IV
Alteração
funcional
capítulo 5 • 155
As neurotrofinas são peptídeos encontrados no Sistema Nervoso Central e são me-
diadoras de várias funções como: a regulação do crescimento axonal, modulação da
atividade sináptica, diferenciação, mielinização, promoção de sobrevivência e regulação
de morte neuronal. O BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro) faz parte de uma
família de neurotrofinas, sendo a mais abundante no Sistema Nervoso Central. Altera-
ções nos níveis desta neurotrofina estão relacionadas com algumas doenças neuroló-
gicas, entre elas: depressão, epilepsia, doença de Alzheimer, Huntington e Parkinson.
CONEXÃO
Leia mais e entenda melhor sobre a atuação das proteínas quinases na modulação neuronal
no Link: http://www.neurofisiologia.unifesp.br/proteinacinase.pdf. Acesso em: 16 jun. 2015.
156 • capítulo 5
Existem alguns tipos de plasticidade:
Sináptica Somática
Dendrítica
Plasticidade axônica
Plasticidade sináptica
capítulo 5 • 157
e memória os quais atuam através da habituação, sensibilização e do condicio-
namento clássico no comportamento.
Tanto a habituação quanto a sensibilização estão relacionadas com a apren-
dizagem sobre um único estímulo (não associativa), que pode diminuir ou faci-
litar a transmissão sináptica entre dois neurônios.
Habituação
É quando há uma diminuição na tendência para a produção de uma respos-
ta diante de estímulos repetitivos.
Estudos mostraram que os neurônios sensoriais estabelecem sinapses ex-
citatórias diretamente com neurônios motores ou indiretamente através de
interneurônios, sendo estas sinapses excitatórias e inibitórias. O estímulo nos
neurônios sensoriais geram um potencial de ação e um potencial pós-sinápti-
co excitatório (PPSE) no neurônio motor. A repetição do estímulo provoca uma
progressiva diminuição da amplitude do PPSE devido ao decréscimo na libera-
ção de glutamato no terminal pré-sináptico excitatório no neurônio sensitivo,
que acaba por desaparecer.
Estímulo Sinapse
excitatória ou
Interneurônio inibitória
Repetição
do estímulo Sinapse
Interneurônio excitatória ou
inibitória
Gera PA Progressiva
Neurônio no PPSE Neurônio
sensorial motor
Sinapse excitatória
( Glutamato)
158 • capítulo 5
de Ca2+ e consequentemente a diminuição do influxo de íons Ca2+ no terminal
pré-sináptico, assim as vesículas sinápticas não se fundem com a membrana
plasmática celular pré-sináptica, e não há liberação de moléculas de neuro-
transmissor na fenda sináptica.
Repetição
do Estímulo
Inativação dos
canais de cálcio
Sensibilização
É uma resposta diante de um estímulo de grande magnitude e qualquer que
seja o estímulo subsequente irá gerar a mesma resposta. É o oposto da habitu-
ação, embora utilize o mesmo circuito básico, porém de forma mais complexa.
Na sensibilização há a presença de um interneurônio facilitador seroto-
ninérgico que estabelece sinapses axoaxônicas com os terminais pré-sinápti-
cos do neurônio sensorial.
Forte estímulo
Interneurônio
facilitador
Sinapse Neurônio
Neurônio motor
serotoninérgica sensorial
Sinapse excitatoria
( Glutamato)
capítulo 5 • 159
A interação da serotonina com os receptores metabotrópicos na membrana
plasmática do terminal pré-sináptico do neurônio sensorial acionam duas vias
de sinalização intracelular: adenilil-ciclase, que produz o segundo mensageiro
AMPc, e da fosfolipase C (PLC), que produz diacilglicerol (DAG) e ambos ativam
proteínas quinases que fecham os canais de K+, retardando a repolarização e
aumentando a duração dos PAs, que atingem o terminal. Além disso, promo-
vem a abertura dos canais de Ca2+ e consequentemente o influxo de íons Ca2+ no
terminal, provocando a fusão das vesículas sinápticas com a membrana plas-
mática do terminal pré-sináptico e liberação do neurotransmissor, no caso o
glutamato, na fenda sináptica. Estes eventos caracterizam uma ação facilitado-
ra da sinapse entre um neurônio sensorial e um neurônio motor e relaciona-se
com a memória de longa duração.
Retarda a repolarização
Fecha
e prolonga duração do
Interação Canais de K+
Produz Ativam potencia de ação
serotonina
AMPc e proteínas-
receptor Fusão das vesículas
DAG quinases Aber
metabotrópico sinápticas com a
Canias de
Ca2+ membrana plasmática
pré-sináptica
Liberação de
neurotransmissores
(Glutamato)
Condicionamento clássico
Corresponde ao aprendizado sobre dois estímulos, um condicionado e um
incondicionado, sendo caracterizado como associativo.
Um estímulo de menor magnitude é aplicado (incapaz de produzir respos-
ta) e em seguida um estímulo de maior magnitude é aplicado (capas de produ-
zir uma resposta), se a estimulação pareada for aplicada repetitivamente, há a
associação do estimulo fraco (condicionado, porque há uma resposta somen-
te quando associado ao estímulo forte) com o estímulo forte (incondicionado,
porque não depende de nada), assim a resposta passa a ser produzida quando o
estímulo fraco é aplicado sozinho.
160 • capítulo 5
No condicionamento clássico a sinapse axoaxônica do interneurônio faci-
litador e o terminal pré-sináptico do neurônio sensorial também exerce sua
atuação.
Quando é aplicado o estímulo condicionado há um abundante influxo de
íons Ca2+ que ativa uma proteína dependente a Ca2+/calmodulina, que interage
com a adenilil-ciclase sintetizando AMPc. A serotonina atinge o terminal pré-
sináptico do neurônio sensorial devido à chegada do estímulo incondicionado
no terminal do interneurônio facilitador. A serotonina também interage com a
adenilil-ciclase, o que aumenta a produção de AMPc. Assim, o glutamato é libe-
rado pelo terminal pré-sináptico do neurônio sensorial atuando nos receptores
do neurônio motor, provocando o influxo de íons Ca2+, liberando um mensagei-
ro retrógrado (óxido nítrico) que age no neurônio sensorial aumentando a libe-
ração de glutamato. Todos estes eventos contribuem para o aumento do PPSE
no neurônio motor. Esta alteração sináptica é breve, portanto se relaciona com
a memória de curto período.
Estímulo
incondicionado
capítulo 5 • 161
sinapse entre eles se torna mais fortalecida, e esse processo poderia produzir
alterações estruturais. Assim, este é um tipo de plasticidade sináptica decor-
rente da sincronia dos neurônios pré e pós-sinápticos, onde o disparo elétrico
em alta freqüência ocasiona por associação o fortalecimento das respostas si-
nápticas, caracterizando o processo de aprendizagem.
APRENDIZAGEM
Neurônio Neurônio
SINAPSE
A B
Alteração
estrutural
Fibras
perfurantes
Af
er
ên
cia
s
HIPOCAMPO
Células granulares
do giro denteado
CA3 CA1
eferências
eferências
162 • capítulo 5
Estudos mostraram que as sinapses LTP ocorrem somente entre os colate-
rais de Schaffer e as espinhas dendríticas das células piramidais da área CA1.
O estado da membrana pós-sináptica é determinante para a ocorrência do
LTP dos colaterais de Schaffer, que ocorre somente se houver um pareamento
da atividade pré-sináptica com a atividade pós-sináptica, ou seja, a membra-
na pós-sináptica deve estar fortemente despolarizada assim, possibilitando a
transmissão pré-sináptica.
Outra característica da LTP é que ela possui especificidade, quando a LTP é
induzida por uma sinapse, há a inativação dos contatos sinápticos com o mes-
mo neurônio. Além disso, se há somente a estimulação de uma via, que é insu-
ficiente para gerar a LTP, mas for pareado com um forte estímulo de alguma via
adjacente, ambas submetem-se ao LTP.
CA3 Sinapse
Espinhais dendríticas células
Colaterais de Schaffer CA1
piramidais
GLUTAMATO NMDA
AMPA
METABOTRÓPICO
Pré-sináptico
Pós-sináptico
capítulo 5 • 163
e de Ca2+ para o interior das espinhas dendríticas. O aumento de íons Ca2+ no
neurônio pós-sináptico de CA1 ativa uma cascata de transdução de sinal, que
incluem proteínas quinases no neurônio pós-sináptico. Pelo menos duas pro-
teínas quinases ativadas pelo Ca2+ têm sido relacionadas à indução da LTP: a
Ca2+ /calmodulina (CaMKII) e a proteína quinase C.
A CaMKII parece desempenhar um papel e importante: Esta enzima é a
mais abundante proteína pós-sináptica nas sinapses colaterais de Schaffer, e
sua inibição farmacológica impede a LTP.
As proteínas quinases dependentes de Ca2+ ativam uma enzima localizadas
nas espinhas dendríticas das células piramidais de CA1 – as NO-sintase que são
responsáveis pela síntese de um gás, o óxido nítrico (NO) que é um mensageiro
retrógrado. O óxido nítrico depois de sintetizado, como é um gás, difunde-se e
atinge o terminal do neurônio pré-sináptico aumentando e prolongando a libe-
ração de glutamato, prolongando também a LTP.
Potencial
de ação
CA3
Interação receptores Abertura de canis Despolarização
Colaterais Remoção íons
GLUTAMATO AMPA membrana e passagem de da membrana
de Schaffer Mg2+
pós-sináptica íons Ca2+ /K+ pós-sináptica
Abertura de
NO aumenta liberação de
164 • capítulo 5
A LTD foi encontrada nas sinapses entre os colaterais Schaffer e as células
piramidais CA1 no hipocampo. A LTP requer uma estimulação breve e de alta
frequência, a LTD ocorre quando os colaterais de Schaffer são estimulados em
uma baixa frequência (cerca de 1 Hz) mas por longos períodos (10 -15 minutos).
Este padrão de atividade deprime o potencial pós-sináptico excitatório durante
várias horas.
Assim como a LTD pode extinguir o potencial pós-sináptico excitatório, o
aumento, inversamente a LTP pode extinguir a diminuição do potencial pós-
sináptico excitatório, ambos interagindo entre si, porém reversivelmente.
A LTP e a LTD nas sinapses entre os colaterais de Schaffer e CA1 comparti-
lham de importantes elementos. Ambos exigem ativação de receptores de glu-
tamato do tipo NMDA resultando no influxo de Ca2+ para o neurônio pós-sináp-
tico. O fator determinante entre uma e outra, é a quantidade do influxo Ca2+ no
neurônio pós-sináptico.
Pequenos aumentos na concentração intracelular de íons Ca2+ ocasio-
nam a depressão e um grande aumento na concentração intracelular de íons
Ca2+desencadeiam a potenciação.
A LTP está relacionada à ativação de CaMKII, que fosforila as proteínas alvo,
no entanto a LTD, parece resultar da ativação de fosfatases dependentes de Ca2+
que cliva grupos fosfato a partir de moléculas alvo.
Embora os importantes substratos da fosfatase para a LTD ainda não te-
nham sido identificados, a LTP e a LTD fosforila e desfosforila o mesmo grupo
de proteínas que controlam a sinapse entre os colaterais de Schaeffer e CA1.
Assim como a LTP está associado com os receptores do tipo AMPA, a LTD
está associada com a perda sináptica de receptores AMPA pela internalização
destes receptores no neurônio pós-sináptico.
A LTD também é observado no cerebelo que está envolvido com a memó-
ria motora. No cerebelo a LTD é associativa e ocorre somente quando as fibras
trepadeiras e paralelas são ativadas ao mesmo tempo. Ocorre a partir de ações
combinadas de dois sinais intracelulares através de distintas vias de transdu-
ção do sinal que são ativados na célula de Purkinje (pós-sináptica).
Primeira via:
O glutamato é liberado pelo terminal pré-sináptico das fibras paralelas e
interage com os receptores AMPA despolarizando a membrana pós-sináptica
das células de Purkinje e com os receptores metabotrópicos sintetizando os
capítulo 5 • 165
segundos mensageiros trifosfato de inositol (IP3) e o diacilglicerol (DAG). A
cascata de segundos mensageiros quando ativadas ocasiona o fechamento de
parte dos canais despolarizantes.
Segunda via:
As fibras trepadeiras são ativadas, o que promove um grande influxo de Ca2+
e Na2+ através de canais voltagem-dependentes aumentando a concentração in-
tracelular de Ca2+ e Na2+. Esta associação produz grandes potenciais pós-sináp-
ticos excitatórios (PPSEs) nas células de Purkinje.
Abertura canais de
Ca2+ e Na2+
Influxo de
Grande PPSEs
Ca2+ e Na2+
Fibras trepadeiras Sinapse Dendritos das fibras de Purkinje
166 • capítulo 5
Células paralelas PKC
Internalizar os receptores
AMPA no terminal do
neurônio pós-sináptico
Plasticidade dendrítica
Estabelecimento
e consolidação
da memória
capítulo 5 • 167
Estudos de Matsuzaki, Honkura, Ellis-Davies e Kasai (2004) sobre a indu-
ção de LTP nas espinhas dendríticas, sugeriram que eles estão localizadas nos
dendritos de neurônios excitatórios do hipocampo e do córtex e desempenham
importante papel nos mecanismos de aprendizagem. Indicam também, que o
fenômeno da LTP pode induzir mudanças morfológicas nas espinhas dendrí-
ticas. Foram utilizados neste estudo neurônios do hipocampo de roedores que
foram estimulados com pulsos tetânicos de alta frequência capazes de gerar a
LTP. As alterações no volume das espinhas dendríticas foram registradas com o
auxílio de um microscópio multifotônico que produz imagens de alta resolução
tridimensionais. Os autores concluíram que as pequenas espinhas são os lo-
cais preferenciais para a indução da LTP e que as espinhas maiores apresentam
características de memória já consolidada.
LTP
Mudanças
morfológicas
nas espinhas
dendríticas
Plasticidade somática
168 • capítulo 5
capacidade proliferativa, são as células-tronco que se proliferam e depois diferen-
ciam-se em células da glia ou neurônios. Estas células-tronco foram encontradas
no encéfalo, após o término do desenvolvimento neural, em regiões em torno dos
ventrículos laterais que geram neurônios para o hipocampo e áreas telencefálicas.
Células tronco
Proliferam-se
Diferenciam-se
Neuróglias Neurônios
Plasticidade regenerativa
capítulo 5 • 169
A aprendizagem é o processo onde adquirimos o conhecimento que é codi-
ficado, retido e recuperado através da memória.
MEMÓRIA: codificação,
APRENDIZAGEM: é a
retenção e recuperação
capacidade de aprender
do conhecimento
algo novo
adquirido
MEMÓRIA
170 • capítulo 5
É uma área de armazenamento limitado. Sempre que um
CURTA estímulo chega ao Sistema Nervoso Central ele vai para a
DURAÇÃO memória de curta duração, que logo desaparece.
capítulo 5 • 171
O aprendizado pode ser classificado em dois tipos:
TIPOS DE APRENDIZAGEM
Condicionamento
clássico Habituação Sensibilização
172 • capítulo 5
Em lesões periféricas que são comumente ocasionadas por traumas, os axô-
nios podem ser reparados e voltar a estabelecer sinapse com seu alvo que está
localizado na periferia, onde a função é reestabelecida.
Ao contrário do Sistema Nervoso Periférico os axônios do Sistema Nervoso
Central raramente são reparados.
Existem algumas diferenças entre o Sistema Nervoso Central e o Sistema
Nervoso Periférico que podem explicar a discrepância entre a regeneração de
nervos periféricos e a regeneração de axônios encefálicos e medulares.
A regeneração que ocorre nos nervos periféricos dependem de dois relevan-
tes fatores:
capítulo 5 • 173
com outras proteínas inibitórias inibindo a regeneração neural. Os astrócitos
respondem à lesão liberando inibidores de crescimento do axônio e as micro-
glias liberam citocinas em resposta a inflamação que também diminuem o
crescimento do axônios.
Regeneração periférica
O Sistema Nervoso Periférico é alvo de lesões traumáticas, visto que seus axô-
nios percorrem longas distâncias e estão localizados por todo o corpo, além
disso, não possuem a proteção óssea que o Sistema Nervoso Central possui, po-
rém, quando lesados, seus axônios podem ser regenerados.
174 • capítulo 5
As lesões nervosas traumáticas podem causar duas situações nas fibras
nervosas:
esmagada
transeccionada
O coto distal por estar separado do corpo celular, sofre o processo de dege-
neração e vai se fragmentando em porções menores. A fragmentação acontece
também com a mielina que o reveste, que se desorganiza. O produto da degene-
ração é removido por macrófagos presentes na corrente sanguínea.
Por outro lado, as células de Schwann começam a se proliferar e formam
uma nova bainha de mielina e moléculas que constituirão a matriz extracelular
também são sintetizadas. Estas moléculas estimulam o crescimento do axônio
lesado e participam da composição do cone de crescimento que será formado
no coto proximal.
capítulo 5 • 175
O processo de crescimento do axônio lesado é denominado de brotamento.
Há duas formas de brotamento:
Estimula
Células da corrente Síntese matriz
crescimento
sanguínea extracelular
Corpo axônio lesado
celular
Formação do cone
Coto Proliferação células de crescimento Alvo
proximal de Shwann do coto proximal
Trancecção
axônica Remoção por
Coto distal Degeneração
macrófagos
Alvo denervado
ex: músculo
176 • capítulo 5
O cérebro adulto permanece em constante mudança para processar infor-
mações e desenvolver novas funções. As sinapses se alteram reorganizando
o cérebro, podendo alterar suas funções. As áreas de representação cortical
podem ser modificadas diante de estímulos sensoriais, aprendizado e lesões
cerebrais.
Através de pesquisas realizadas em macacos adultos observou-se uma reor-
ganização do córtex somatossensorial.
Estudos definiram a organização espacial de mapas topográficos nos ani-
mais pré-lesão para controle e depois seccionaram um dos nervos responsáveis
pela inervação da mão. Semanas depois reexaminaram os mapas topográficos
nos mesmos animais e observaram plasticidade no córtex somatossensorial.
Os neurônios corticais correspondentes à área cortical relacionada aos estí-
mulos que haviam sido interrompidos apresentavam respostas diante de esti-
mulações de outras partes da mão do animal, que assumiu a região cortical que
havia perdido sua função.
Este remapeamento funcional é encontrado também em núcleos somatos-
sensoriais talâmicos e do tronco encefálico, apontando para a possibilidade de
uma reorganização de circuitos encefálicos.
Esta reorganização do sistema somatossensorial também ocorre após am-
putações, onde há uma alteração sensorial ocasionando a sensação de membro
fantasma.
Os córtices visual, auditivo e motor também apresentam essa característica
de reorganização.
Experiências sensoriais e motoras repetitivas também podem alterar as re-
presentações corticais.
Você já notou como a sensação da pele fica esdrúxula quando você toma
anestesia no consultório dentário? E que depois que passa o efeito da anestesia
tudo volta ao normal?
Pois, então, o que aconteceu foi que o bloqueio temporário do nervo perifé-
rico com a anestesia local alterou a área receptiva dos neurônios somatossen-
soriais e a perda temporária de entrada de informações sensoriais da área da
pele ocasiona uma reorganização das áreas receptivas de neurônios corticais e
subcorticais. Porém esta reorganização é reversível, pois, ao término do perío-
do da anestesia, tudo volta ao normal.
Embora haja mudanças no Sistema Nervoso Central do indivíduo adulto,
elas são limitadas e seus mecanismos são pouco conhecidos.
capítulo 5 • 177
Além disso, quando há uma lesão traumática de axônios do Sistema Nervoso
Central ocorre a morte da maioria dos neurônios atingidos.
Se houvesse uma maior capacidade de plasticidade cortical, a recuperação
após as lesões seriam mais bem sucedidas.
A reabilitação e a plasticidade
Existem dois fatores que são importantes para a reabilitação nos casos de
lesão encefálica:
• Intensidade da reabilitação;
• Tempo entre a lesão e o início da reabilitação.
Reabilitação
Aprendizagem ou
reaprendizagem motora
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CONEXÃO
Leia esta revisão e entenda mais sobre o papel do exercício físico sobre o BDNF e a plas-
ticidade sináptica. Link: http://hdl.handle.net/10183/116112. Acesso em: 24 jun. 2015.
REFLEXÃO
Abordamos neste livro os aspectos morfológicos e funcionais gerais do sistema nervoso e
a base neuroeletroquimica da comunicação neuronal, que são pré-requistitos fundamentais
para o entendimento da complexidade da neurofisiologia do sistema motor, no qual aden-
tramos minuciosamente, onde discutimos o substrato neural e neuroquímico envolvidos na
elaboração e no controle dos movimentos, no qual cada importante estrutura desempenha
seu papel tendo como objetivo comum a precisão, funcionalidade e harmonia do movimento.
Vimos também as modificações que são possíveis ao sistema nervoso através dos mecanis-
mos da neuroplasticidade que são imprescindíveis para a aquisição de novas experiências
e restauração neural diante de lesões do sistema nervoso, embora haja limitações quanto à
capacidade de remodelação do Sistema Nervoso Central. O fenômeno da neuroplasticida-
de ainda possui muitas questões a serem elucidadas e muitos estudos a serem realizados
contribuindo cada vez mais para a compreensão dos mecanismos neurais e bioquímicos
envolvidos principalmente na reabilitação.
Podemos concluir que nosso sistema nervoso funciona com maestria, sincronismo e
harmonia possibilitando nossa interação com o mundo, cujas habilidades são superiores às
de um computador, pois existem características que dificilmente poderiam ser inseridas em
máquinas, como a inteligência, a consciência, os aspectos emocionais e sensoriais e a plasti-
cidade, embora pesquisas no campo da computação tentem criar computadores inteligentes
através de softwares com mecanismos de inteligência similar à dos seres humanos.
capítulo 5 • 179
LEITURA
BRANDÃO, M.L. Psicofisiologia: As Bases Fisiológicas do Comportamento. 1 ed. São Paulo:
Editora Atheneu, 2002. 245 p.
KANDEL, E.R.; SCHWARTZ, J.H.; JESSEL, T.M. Princípios da Neurociência. 4 ed. Barueri: Editora
Manole, 2003. 1412 p.
KATZ, L. C.; SHATZ, C. J. Synaptic activity and the construction of cortical circuits. 1996.
Science, 274:1133-1138.
LAMPRECHT, R.; LEDOUX, J. Structural plasticity and memory. 2004. Nature Neuroscience
Reviews, 5:45-53.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 12 ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda,
2011. 1151 p.
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Manole, 2003. 1412 p.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios-Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo: Editora
Atheneu, 2002. 698 p.
MACHADO, A.B.M. Neuroanatomia Funcional. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2000. 363 p.
MATSUZAKI, M.; HONKURA, N.; ELLIS-DAVIES, G. C. R.; KASAI, H. Structural basis of long-term
potentiation in single dendritic spines. 2004. Nature, 429:761-766.
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ANOTAÇÕES
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ANOTAÇÕES
182 • capítulo 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 183
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