Comportamento Cognição e Neurociência
Comportamento Cognição e Neurociência
Comportamento Cognição e Neurociência
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 4
2
7 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA .................................................................. 67
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 FUNÇÕES EXECUTIVAS
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As FEs são, portanto, recrutadas em situações novas e complexas onde o
processamento cognitivo controlado se faz necessário, permitindo que o indivíduo
ajuste suas estratégias e comportamentos a mudanças e demandas do ambiente.
De acordo com Lezak (1997), há funções cognitivas propriamente ditas, por
exemplo: percepção, memória e pensamento, e outras formas de cognição que
regulam o comportamento humano, a saber: comportamento emocional e funções
executivas.
Comportamentos que permitem ao indivíduo interagir no mundo de maneira
intencional envolvem a formulação de um plano de ação que se baseia em
experiências prévias e demandas do ambiente atual. Estas ações precisam ser
flexíveis e adaptativas e, por vezes, monitoradas em suas várias etapas de execução.
Estas operações denominadas funções executivas, visam o controle e à regulação do
processamento da informação no cérebro (Gazzaniga, Ivry e Mangun, 2002).
A primeira dificuldade quanto ao tema diz respeito à terminologia, cuja
variedade pouco tem colaborado para a compreensão dos fenômenos. Na literatura
há diversos sinônimos: funções de supervisão, funções frontais, funções de controle,
sistema supervisor etc.
Além disso, uma variedade de processos e funções são incluídos nesta
categoria, tais como inferência, resolução de problemas, organização estratégica,
decisão, inibição seletiva do comportamento, seleção, verificação e controle da
execução de uma dada ação, flexibilidade cognitiva, memória operacional, entre
outras (Majolino, 2000).
Ainda não se tem um consenso quanto aos termos apropriados ou suas
atribuições, mas algumas características das funções executivas são claras:
Referem-se ao controle voluntário e consciente sobre o ambiente
circundante e sobre a ação necessária para administrar contingências
em função de um objetivo;
A expressão de sua valência se dá no concatenar entre sensação,
cognição e ação (Mesulam, 1998);
Não é uma entidade única, englobam processos de controle de função
distintos;
Envolvem-se nos âmbitos cognitivo, emocional e social (Stuss e
Alexsander, 2000).
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“As funções executivas são aquelas que mais nos diferenciam dos animais já
que compreendem o processo cognitivo orientado a uma determinada meta.
Para tanto, nós serem humanos, temos a habilidade de processar atividades
com atenção sustentada, memória operacional, inibição dos impulsos,
fluência verbal e especialmente pensamento abstrato. A principal região
cerebral relacionada ao funcionamento executivo é o córtex pré-frontal”.
(Cherkes-Julkowski, 2005 apud Alice M; 2010).
Fonte: meucaderno-psicologia.webnode.com
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Memória: Capacidade que permite a codificação, o armazenamento e
recuperação de dados. De forma resumida a memória pode ser dividida em três
processos:
Codificação: envolve o processo de entrada e registro inicial da informação e
a capacidade de mantê-la ativa para o processo de armazenamento;
Armazenamento: envolve a manutenção da informação codificada pelo tempo
necessário para que possa ser recuperada e utilizada quando evocada;
Evocação ou reprodução: caracterizada pela recuperação da informação
registrada e armazenada, para que possa ser usada por outros processos cognitivos
como pensamento, linguagem etc.
A memória ainda pode ser classificada como memória de curto prazo, memória
de longo prazo, autobiográfica, episódica e sensorial. A perda ou dificuldade de
armazenamento ou recuperação de informações é conhecida como amnésia e deve
ser tratada, sendo comum em casos de lesões e traumas de diferentes espécies.
Fonte: ibccoaching.com
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XVIII, as duas correntes teóricas – ventricular e tecidual – ainda conviviam lado a lado,
e só o desenvolvimento da ciência moderna veio comprovar o acerto da segunda.
Tendo o cérebro se consolidado como o órgão responsável pelos processos
mentais e pelo comportamento, surgiu o problema de saber se essas funções
poderiam ser decorrentes do funcionamento de diferentes áreas da sua anatomia.
Nascia o debate entre os holistas e os localizacionistas.
Para os primeiros, não haveria especificidade regional no cérebro, que
controlaria o comportamento atuando como um todo. Os segundos acreditavam que
o cérebro atua de forma fragmentada, e cada uma de suas regiões seriam
responsáveis por uma função mental e comportamental específica. Entre os
localizacionistas, vale mencionar a teoria elaborada por Franz Joseph Gall (1757-
1828), muito difundida por seu aluno, Johann Gaspar Spurzheim (1776-1832).
Essa teoria ficou conhecida como frenologia, embora tenha sido
denominada inicialmente organologia (ZolaMorgan,1995), e tinha como
pressupostos básicos as seguintes afirmações:
Cada região do cérebro constitui-se em um “órgão” responsável por uma
função mental ou comportamental específica;
Cada região do cérebro se desenvolve de forma a moldar a superfície
craniana;
Se uma região é bem desenvolvida, ela cresce em volume, refletindo
esse crescimento no desenvolvimento do crânio.
A partir dessas hipóteses, Gall e Spurzheim inferiram que, ao analisar a
superfície do crânio seria possível saber se uma função mental é bem desenvolvida
ou não. Após estudarem centenas de crânios chegaram a um modelo em que
atribuíram ao cérebro 35 diferentes “órgãos”.
Dentre eles estariam áreas compartilhadas entre homens e outros animais,
como a área da coragem e do instinto carnívoro, além de outras áreas especificamente
humanas, como as relacionadas à sabedoria, ao senso de metafísica, à sátira, ao
talento poético etc.
A frenologia acabou por ser rechaçada na comunidade científica por apresentar
falhas em praticamente todas as suas hipóteses constituintes. Nessa mesma época,
o fisiologista francês Pierre Flourens (1794-1867), a partir de lesões provocadas em
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sujeitos animais, concluiu que não importaria a área da lesão, mas a quantidade de
material cerebral lesionado.
Para ele, qualquer área do cérebro poderia assumir, com ou sem redução de
sua eficiência, funções que estavam em uma outra área danificada. No início do século
XX, o psicólogo canadense Karl Lashley (1890- 1958) reforçou esses dois princípios
teóricos, dando a eles os nomes de princípio da ação de massa e equipotencialidade,
respectivamente.
O pêndulo da história voltou a favorecer os localizacionistas em meados do
século XIX. Isso se deu quando Paul Broca (1824-1880), entre 1861 e 1863,
apresentou à Sociedade Parisiense de Antropologia a descrição de cerca de nove
pacientes, vítimas de lesões nos lobos frontais do hemisfério cerebral esquerdo, que
apresentavam uma síndrome caracterizada por comprometimento maciço na
produção da fala e relativa preservação da compreensão da linguagem.
A síndrome foi nomeada Afasia de Broca, e a área da lesão foi chamada Área
de Broca, passando a ser conhecida como o “centro funcional da linguagem”.
Posteriormente, o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1904) descreveu
pacientes que tinham um tipo de lesão diferente daqueles descritos por Broca e que,
por sua vez, também apresentavam comprometimento de suas habilidades
linguísticas. Esses pacientes tinham lesão no córtex temporal do hemisfério cerebral
esquerdo e apresentavam dificuldade na compreensão da linguagem, quadro que
passou a ser nomeado como Afasia de Wernicke.
Essa descrição de uma nova área relacionada à linguagem impulsionou ainda
mais a noção de que o cérebro seria composto por diversos centros funcionais, cada
um responsável por uma função mental específica.
Além disso, Wernicke chamou à atenção para o fato de que as funções
cerebrais poderiam também ser comprometidas pelas lesões nas conexões entre
regiões cerebrais diferentes.
Assim, postulou a existência de outro distúrbio da linguagem, a Afasia de
Condução, que seria originada por lesões no fascículo arqueado, responsável pela
conexão entre a área de Broca e a de Wernicke.
No início do século XX, pesquisadores experimentais de renome, como Karl
Lashley, após estudos com animais, publicaram dados desanimadores sobre a
possibilidade de localização de funções, como a memória, em regiões cerebrais
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circunscritas. No entanto, começaram a surgir evidências e teorizações que iriam dar
corpo à neuropsicologia que hoje conhecemos. Dentre essas iremos destacar
algumas que nos parecem importantes.
No final dos anos de 1940, Walter Hess (1881-1973) criticou a noção de “centro”
nervoso e propôs que as diferentes atividades dependem de uma “organização”
cerebral. Atividades mais complexas recrutariam, proporcionalmente, um maior
número de estruturas, que intervêm no processo.
Na mesma época a partir dos estudos de James Papez (1883-1958) e Paul
MacLean (1913-), evoluía o conceito de “sistema límbico”, um conjunto de estruturas
cerebrais interconectadas que se revelava importante para o processamento das
funções emocionais e sua integração com a vida de relação.
Nos anos 1950 o neurocirurgião William Scoville (1906- 1984) publicou o caso
de um paciente – amplamente conhecido na literatura neuropsicológica como paciente
“H.M.” – submetido à remoção bilateral do hipocampo e das amígdalas para
tratamento de um grave quadro epiléptico e que, após a cirurgia, desenvolveu uma
incapacidade maciça de aprender novas informações.
Ficava claro que processos mentais importantes, como a aprendizagem e a
memória, dependiam da integridade de centros nervosos específicos e suas
conexões.
Nos últimos anos, o advento das técnicas de neuroimagem veio possibilitar a
confirmação de fatos já conhecidos, bem como acrescentar novas evidências que
ampliam extraordinariamente as possibilidades de correlação entre as funções
cognitivas e o funcionamento cerebral.
O localizacionismo, contudo, só viria a ser superado por um novo conceito de
função, algo tentado por vários cientistas, entre os quais se destaca o neuropsicólogo
soviético Aleksandr Luria (1902- 1977), cujo modelo é hoje amplamente reconhecido
e aceito, embora já com modificações que precisam levar em conta, entre outros fatos,
a assimetria da função cerebral, hoje mais profundamente compreendida.
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Para Luria, pode-se distinguir no cérebro três grandes sistemas funcionais. O
primeiro regula a vigília e o tônus cortical e depende de estruturas como a formação
reticular e áreas do sistema límbico. O segundo se encarrega de receber, processar
e armazenar as informações que chegam do mundo externo e interno e está situado
em áreas do córtex cerebral localizadas posteriormente ao sulco central. Ele organiza-
se em áreas corticais primárias, secundárias e terciárias.
Já o terceiro sistema regula e verifica as estratégias comportamentais e a
própria atividade mental, é constituído pelo córtex cerebral situado nas regiões
anteriores do cérebro e organiza-se também hierarquicamente em áreas corticais
primária, secundária e terciária.
O monumental trabalho de Luria incluiu o desenvolvimento de uma bateria
completa para o exame neuropsicológico, que influencia ainda hoje boa parte dos
testes usados nas atividades cotidianas dos neuropsicólogos.
A bateria de Luria, juntamente com a bateria Halstead-Reitan, foi muito usada
em meados do século XX, quando se preconizava aquela abordagem abrangente para
o exame neuropsicológico. Da bateria de Luria derivam outras, como a Luria-Nebraska
e o Teste de Barcelona, capazes de trazer uma ampla informação sobre o
funcionamento das funções cognitivas e que tem ainda utilidade, embora o arsenal de
testes neuropsicológicos tenha se tornado mais específico e se multiplicado de forma
exponencial nos anos mais recentes.
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Pode-se dizer, então, que a cognição envolve vários processos mentais: a
atenção, a percepção, a memória, o raciocínio, o juízo, o pensamento, a imaginação
e o discurso (CITI, 2006). A atenção pode ser definida como uma “abertura seletiva
para uma pequena porção de fenômenos sensoriais que se impõem” (DAVIDOFF,
1983). Assim, para que o organismo não seja sobrecarregado, considerando a enorme
quantidade de estímulos disponíveis para os seres humanos e outros animais, durante
o estado de vigília, é preciso escolher quais destes estímulos serão realmente
percebidos, papel que cabe à atenção.
Segundo os psicólogos da Gestalt (KÖHLER, 1980), dentro de um determinado
campo de estímulos, nossa atenção se dirige para um foco, que eles denominaram
figura, enquanto o restante funciona como fundo para essa figura, de forma
intercambiável. A atenção pode ser involuntária (determinada por estímulos externos)
ou voluntária (conduzida pela intenção do sujeito).
Uma vez que a atenção focalizou determinado grupo de estímulos, os sentidos,
as janelas do ser humano para o mundo entram em ação para fornecer informações
sensoriais (sensações), as quais são organizadas e interpretadas no processo de
percepção, de forma a ser desenvolvida a consciência do ambiente e de si mesmo
(DAVIDOFF, 1983). A percepção integra numerosas atividades cognitivas e envolve,
além dos estímulos presentes, a experiência anterior do sujeito que percebe.
As informações sensoriais apreendidas pelos sentidos são momentaneamente
armazenadas, de acordo com o modelo proposto por Atkinson-Shiffrin (DAVIDOFF,
1983), na memória sensorial. Boa parte destas informações desaparecerá em menos
de um segundo, mas algumas serão transferidas para a memória de curto prazo
(MCP), onde são retidos os pensamentos, informações e experiências dos quais se
toma consciência em determinado momento, geralmente por cerca de quinze
segundos, tempo que pode ser aumentado pela repetição.
Através de estratégias cognitivas é feito o processamento de informações que
serão armazenadas na memória de longo prazo (MLP). Existe uma interação
constante entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo.
O raciocínio é o processo de exercitar a mente e a faculdade de conectar juízos,
o processo de pensamento, de discussão, debate e argumentação e a manifestação
da propriedade discursiva da mente.
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“O raciocínio decorre do juízo e da apreensão, independentemente de qual
destes dois ocorra primeiro no desenvolvimento psicológico; assume a crença
na sua própria validade sem se perturbar pela dúvida e implica vários hábitos
lógicos e métodos que podem ser organizados numa doutrina lógica; requer
a referência a algum princípio último para justificar o seu progresso”. (CITI,
2006 apud Souza R; 2010).
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Um condicionamento é a criação de uma nova associação entre um sentimento,
estado fisiológico ou ação, de um lado, e um evento que constitui um estímulo, do
outro. O condicionamento respondente, ou clássico, envolve um comportamento
reflexo, o qual pode ser condicionado pela associação do estímulo que o elicia a um
outro que não exerce esse papel e que, ao final de um período de tempo, também
passará a provocar essa resposta automática (controle pelos antecedentes).
No condicionamento operante, a frequência de ocorrência de um
comportamento operante (um ato iniciado voluntariamente pelo indivíduo) é
modificada (aumentada ou diminuída) pelos eventos que seguem esse
comportamento (controle pelas consequências).
Se estes eventos forem agradáveis para o sujeito (reforço), é provável que o
comportamento se repita mais frequentemente. Já se as consequências forem
desagradáveis (punição), o comportamento tem probabilidade de ser repetido com
menor frequência.
Dentro desta abordagem, a mudança de comportamento pode ser causada
também pela observação dos atos de outro indivíduo, processo que recebe várias
denominações: aprendizagem por observação, aprendizagem vicariante,
aprendizagem social, modelação ou imitação.
17
A abordagem de processamento da informação busca compreender como a
informação é interpretada, armazenada, recuperada e avaliada através da
compreensão de processos específicos envolvidos nesta atividade, tais como
percepção, memória, inferência, avaliação de informação e uso de regras.
Um dos pontos enfocados é a retro informação, a informação recebida pelo
indivíduo quanto ao sucesso ou não de sua estratégia na resolução de um problema,
levando a uma reorganização do seu conhecimento e a uma mudança de
comportamento.
Um dos instrumentos mais utilizados nesta abordagem é o computador, cuja
aplicação na simulação de processos mentais levou ao desenvolvimento de uma área
denominada Inteligência Artificial.
Outra forma de abordar a aquisição de conhecimento é dada por Vygotsky e
Luria, que analisaram os processos mentais superiores, envolvidos na cognição, sob
uma perspectiva sócio histórica (LURIA, 1990).
Eles partiam de pressupostos do materialismo histórico de Marx, de que
quando o homem introduz uma modificação no ambiente, através de seu próprio
comportamento, esta modificação vai influenciar seu comportamento futuro. O
desenvolvimento mental, portanto, deve ser visto como um processo histórico no qual
o ambiente social e não-social induz o desenvolvimento de processos de mediação
de várias funções mentais superiores.
Para estes cientistas, a cognição é muito mais ampla que a concepção do
pensar, envolvendo percepção, emoção, ação, e, no domínio humano, a linguagem,
o pensamento conceitual e outros atributos da consciência humana.
Nesta abordagem, a cognição não envolve necessariamente o pensar, sendo
um fenômeno biológico, que só pode ser entendido como tal, dizendo respeito ao
organismo que conhece.
Maturana e Varela definem a cognição como a capacidade de a vida “construir
um sentido”, considerando os sistemas vivos como sistemas cognitivos, e a própria
vida como um processo de cognição. Esta abordagem vem se disseminando
rapidamente, como parte de um movimento global que busca encontrar uma base
comum a fenômenos e sistemas diferentes.
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4.3 Fundamentos do behaviorismo
19
O termo behaviorismo foi inaugurado por John Broadus Watson (1878 – 1958)
em seu artigo intitulado “ Psicologia: como os behavioristas a veem”. Behavior é termo
do idioma inglês, que traduzido para a língua portuguesa significa comportamento.
Assim sendo, no Brasil, outras denominações do Behaviorismo são:
Comportamentalismo, teoria comportamental, análise experimental do
comportamento, análise do comportamento e psicologia experimental: embora o
termo behaviorismo seja o mais utilizado (BOCK, FURTADO e TEIXEIRA, 2005).
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“O comportamentalismo, com acentuação no 'ismo', não é o estudo científico
do comportamento, mas uma filosofia da ciência preocupada com o tema e
métodos da psicologia”. (Skinner, 1969/1980, apud Hanna E 2010).
Behaviorismo Radical
O Behaviorismo Radical consiste numa filosofia da Psicologia, a qual se propõe
a explicar o comportamento animal (humano e não humano) com base no modelo de
seleção por consequências e nos princípios do comportamento postulados pela
Análise Experimental do Comportamento (AEC). O nome que mais fortemente está
associado a esta linha do behaviorismo é o de Burrhus Frederic Skinner.
21
Filosófico
O behaviorismo filosófico consiste na teoria analítica que trata do sentido e da
semântica das estruturas de pensamento e dos conceitos. Defende que a ideia de
estado mental, ou disposição mental, é na verdade a ideia de disposição
comportamental ou tendências comportamentais. Nesta concepção, são analisados
os estados mentais intencionais e representativos. Esta linha de pensamento
fundamenta-se basicamente nos postulados de Ryle e Wittgenstein.
A análise do comportamento não é uma área da psicologia, mas uma maneira
de estudar o objeto da psicologia. Destarte, é necessário tentar esclarecer os
significados dos termos “behaviorismo”, “análise do comportamento” e “psicologia”. O
termo “behaviorismo” tem sido utilizado de diversas maneiras e de tal modo que se
pode afirmar que há muitas variedades de significado para ele.
Desde o manifesto de Watson muitas características foram atribuídas ao termo
supracitado, sendo que muitas delas perderam-se no tempo ante as críticas
irrespondíveis, outras permanecem. Para Harzem e Miles (1978) a palavra
behaviorismo tem uma “família de significados” e, por isso, além de desnecessário, é
um equívoco esperar-se encontrar o seu “verdadeiro” significado.
Portanto, a menos que se faça a distinção entre as diversas variedades de
significados, não é útil proclamar-se “a favor” ou “contra” o behaviorismo. Harzem e
Miles (1978) utilizam uma classificação defendida por Mace (1948) para as variedades
de behaviorismo: metafísico, metodológico e analítico.
O behaviorismo metafísico afirma que mentes ou eventos mentais não existem;
o behaviorismo metodológico afirma que se mente ou eventos mentais existem, não
são objetos apropriados para o estudo científico; e o behaviorismo analítico afirma que
os enunciados feitos com o propósito de se referir à mente ou eventos mentais tornam-
se, quando analisados, enunciados acerca do comportamento.
Harzem e Miles argumentam que as discussões sobre o behaviorismo
metafísico e o behaviorismo metodológico são o resultado de erros conceituais, e que
tanto a aceitação quanto a rejeição de um ou de outro são igualmente (e logicamente)
injustificáveis.
O behaviorismo analítico é diferente dos outros dois tipos porque suas
proposições têm caráter claramente conceitual. A tese central afirma que sentenças a
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respeito de mentes e eventos mentais requerem uma tradução para sentenças sobre
o comportamento.
O behaviorismo analítico, nesse sentido, é uma proposta conceitual: não é uma
teoria sobre o que deve ser estudado, nem é um conjunto de instruções sobre como
se deve estudar, nem é um conjunto de instruções sobre como se deve fazer pesquisa
(HARZEM & MILES, 1978). A análise do comportamento origina-se de uma posição
behaviorista assumida por Skinner por motivos mais históricos que puramente lógicos.
Skinner parte da constatação de que há ordem e regularidade no comportamento.
Um vago senso de ordem emerge da simples observação mais cuidadosa do
comportamento humano. Estamos todos continuamente analisando circunstâncias e
predizendo o que os outros farão nessas circunstâncias, e nos comportamos de
acordo com nossas previsões. Se as interações entre os indivíduos fossem caóticas,
simplesmente não estaríamos aqui.
O estudo científico do comportamento aperfeiçoa e completa essa experiência
comum quando demonstra mais e mais relações entre circunstâncias e
comportamentos, e quando demonstra as relações de forma mais precisa.
Fonte: ebah.com.br
23
Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e são modificados pelas
consequências de suas ações. (Skinner, 1957/1978).
A psicologia é o estudo da interação entre organismo e ambiente.
(Harzem & Miles, 1978).
Através de análise chega-se aos conceitos de estímulo e resposta. Um
estímulo pode ser definido como ‘uma parte, ou mudança em uma parte,
do ambiente’, já uma resposta pode ser definida como ‘uma parte, ou
mudança em uma parte, do comportamento’.
Fonte: behavioristaemacao.com
24
Controle estrito do ambiente experimental;
Uso de uma resposta repetitiva que produz pouco efeito imediato no
ambiente;
Meios eficazes de controle do comportamento do sujeito;
Observação e registro contínuo do comportamento; e
Programação de estímulos e registro de eventos automáticos.
Fonte: psicoativo.com
25
empreenda a tentativa de tratar com ambos nos mesmos termos, seria igualmente
precipitado afirmar que há.
Uma análise experimental do comportamento de animais não humanos é então
uma parte e não necessariamente a inicial do trabalho. Ela também não é um fim em
si mesma.
Fonte: pt.slideshare.net
Fonte: youtube.com/watch
27
Skinner aponta a utilidade de observações casuais, observações de campo
controlada, observações clínicas, observações controladas do comportamento em
instituições, estudos em laboratório do comportamento humano e por fim, estudos de
laboratório do comportamento de animais não humanos. Não há sentido, pois, em
discutir análise experimental do comportamento sem primeiro discutir análise do
comportamento.
Fonte: estudopratico.com
Fonte:constelarflorianopolis.com
Fonte: pt.slideshare.net
30
Fonte: definicionabc.com
Um problema pode ser definido como uma situação em que “falta uma resposta
capaz de produzir alguma condição que será reforçadora” (SKINNER, 1974/1982,
p.98). Partindo desta definição, a resolução de problemas é tida como qualquer
comportamento de manipulação de variáveis que aumenta a probabilidade do
31
aparecimento de uma resposta que produza reforçamento naquela situação
(SKINNER, 1953/1989, 1974/1982).
Skinner (1974/1982) chama a atenção para o fato de que “resolver um
problema é mais do que a resposta que lhe constitui a solução; é uma questão de dar
os passos necessários para tornar tal resposta mais provável, via de regra mudando
o ambiente”.
A resolução de um problema pode demandar uma série de respostas de
manipulação do ambiente, como a classificação e reclassificação dos dados a partir
de critérios diferentes, a comparação entre os resultados obtidos, a separação em
classes diferentes e a utilização de símbolos atribuídos a cada uma das classes
elaboradas. Portanto, a resolução de problemas constitui-se numa resposta (ou
sequência de respostas) complexa.
Quanto à possibilidade de observação do processo de resolução de problema,
podemos afirmar que o responder pode ocorrer de forma aberta ou encoberta.
Considerando como exemplo uma criança que separa as peças de um quebra-cabeça
pelas cores semelhantes, na tentativa de encontrar mais facilmente a forma exata de
se encaixarem, sua ação pode acontecer diretamente no ambiente ao manipular
abertamente as peças, ou ela pode fazer isso de forma encoberta, apenas pensando
em grupos de peças separados pelas cores, sem tocá-las de fato.
Apesar de topograficamente diferente, a resposta de separar as peças de forma
encoberta pode ser tratada como uma ação funcionalmente semelhante à resposta
pública. Na verdade, o agir privadamente tem origem em um responder público
ocorrido no passado.
Uma criança só consegue pensar e visualizar de forma encoberta as peças do
quebra-cabeça em posições alteradas, porque já havia previamente aprendido a
manipulá-las de forma aberta. Ou seja, as respostas privadas de solução de problema
são aquelas mesmas aprendidas inicialmente de forma pública e que, posteriormente,
passaram a uma forma privada de ocorrência (SKINNER, 1974/1982).
Pensar frequentemente antes de agir abertamente pode ser justificado por
algumas de suas propriedades, em primeiro lugar, porque o pensar pode ocorrer de
forma relativamente independente do ambiente atual.
Uma resposta que não pode ser abertamente emitida sob determinadas
contingências pode ocorrer de forma privada ao indivíduo, permitindo o manejo de um
32
maior número de variáveis e tentativas de resposta, de modo a garantir uma maior
probabilidade de encontrar uma solução (SKINNER,1974/1982).
Uma outra vantagem estaria no fato do pensar quase sempre representar um
custo de resposta menor que a ação pública, podendo ser emitido numa frequência
muito maior. Por fim, pensar pode significar agir sem contato direto com as
consequências, o que é especialmente vantajoso naquelas situações nas quais
determinados cursos de ação podem resultar em punição.
Uma consequência da maior frequência das respostas privadas é que o
indivíduo que costuma pensar antes de agir está emitindo, privadamente, um maior
número de variações de respostas potencialmente solucionadoras, o que,
teoricamente, o deixa em vantagem sobre aquele que necessita emiti-las de forma
pública.
Skinner (1974/1982) considerou ainda a possibilidade do curso de ação
tomado se revelar inédito. Seria esse fato explicável pelo modelo da análise do
comportamento?
A resposta é positiva, pois a introdução do conceito de condicionamento
operante permitiu a Skinner uma argumentação consistente para a explicação da
ocorrência de tal comportamento. De acordo com o autor, o processo responsável
pelo surgimento de uma ação inédita é parecido com a forma pela qual a seleção
natural produz mutações que resultam na evolução das espécies, pois “assim como
traços acidentais, surgidos de mutações, são selecionados, assim também variações
de comportamento são selecionadas por suas consequências reforçadoras”
(1974/1982).
Como as variáveis ambientais responsáveis pela emissão de uma resposta
nunca são exatamente iguais, toda resposta, mesmo que se assemelhe
topograficamente a uma anterior, não é exatamente a “mesma” resposta. Portanto, o
ineditismo ou a originalidade que usualmente se atribui a uma resposta criativa ocorre
em medidas variáveis em toda e qualquer resposta. Neste sentido, a inexistência da
resposta até sua emissão não constitui um critério adequado para a definição de uma
resposta criativa.
Um outro aspecto a ser considerado na resolução de problemas refere-se ao
tipo de controle da resposta. Embora comportamentos governados por regras possam
estar envolvidos na resolução de problemas, é mais provável que um comportamento
33
criativo ocorra sob controle das contingências, pois regras costumam especificar
respostas já conhecidas e ocorridas que foram anteriormente reforçadas (SKINNER,
1969/1984, 1974/1982).
Além disso, não costumamos chamar de “originais” aquelas respostas
imitativas ou controladas por estímulos verbais explícitos (SKINNER, 1953/1989).
Além da resolução de problemas, uma análise da criatividade deve levar em conta
outros processos comportamentais. Para Skinner (1953/1989), novas ideias podem
ocorrer independentemente de uma situação problema e isso não deve causar
estranhamento, pois frequentemente manipulamos materiais no mundo que nos cerca
para gerar “novas ideias” quando nenhum problema definido está presente.
Uma criança de seis anos brincando com um baldinho de areia e uma bola de
borracha, coloca a bola apoiada na abertura do balde. Isso “dá a ela uma ideia.”
Começa a lamber a bola como se o conjunto todo fosse um sorvete, e imediatamente
refere-se a ele como tal. Não há nada misterioso a respeito deste “ato de
pensamento”.
As respostas verbais e manipulativas apropriadas a um sorvete foram evocadas
por aspectos geométricos semelhantes do balde e da bola. Não houve um problema
significativo: uma manipulação ociosa da natureza simplesmente gerou um novo
padrão, o qual, através da indução de estímulos, evocou uma resposta
caracteristicamente com alguma probabilidade de emissão em uma criança de seis
anos.
É nessa perspectiva, portanto, que se podem considerar as respostas criativas
de um artista. Ou seja, uma realização artística envolve a exploração do ambiente de
diversas formas (como a utilização de embalagens e materiais de sucata nas artes
plásticas), sem que haja necessariamente um problema a ser resolvido, a não ser a
criação de algo novo ou diferente (SKINNER, 1953/1989).
Costumamos ouvir de artistas plásticos que suas obras procuram “retratar a
realidade de uma forma diferente”. Isso nos dá indicações sobre as variáveis de
controle do seu comportamento. Ao buscar um resultado estético, o artista produz uma
“representação” diferente do real (em relação à forma usual de representá-lo), sob
controle de aspectos diferentes dos mesmos objetos daquela situação.
O que diferencia uma representação ordinária de uma representação artística,
neste caso, é que o artista procura ficar propositalmente sob controle de estímulos
34
discriminativos, que normalmente não exercem controle do comportamento de
outrem.
A fonte de controle do comportamento do artista em procurar identificar novos
estímulos ou novas relações com determinada situação pode ser atribuída a
condições socialmente estabelecidas. Para a comunidade verbal, esse
comportamento torna-se relevante à medida que permite uma maior variabilidade e,
consequentemente, uma maior probabilidade de lidar com aquela situação de forma
mais produtiva.
Portanto, a produção criativa exerce função reforçadora tanto para o indivíduo,
aumentando a probabilidade de ocorrência de ações criativas, como para a
comunidade, fazendo com que persista na cultura a valorização da criatividade.
35
dizemos uma palavra e solicitamos que outra pessoa diga uma palavra associada
àquela. Tal controle também pode ocorrer com o mesmo sujeito sendo falante e
ouvinte.
Às vezes esse controle pode ser tão sutil que nem o próprio falante é capaz de
discriminá-lo (da mesma forma como pode acontecer com outros comportamentos),
seja pelo fato do nosso comportamento ser complexamente multideterminado, seja
porque as contingências de seleção estão necessariamente no passado,
impossibilitando sua observação quando seu efeito é observado (SKINNER, 1981).
36
Quando a resposta subsequente é controlada por uma única variável, na
presença da qual a comunidade comumente reforça aquela resposta, fala-se em
controle discriminativo “formal”. Por exemplo, quando a comunidade reforça a
resposta verbal “cachorro” na presença de um cachorro ou a resposta verbal “vai
chover” na presença de muitas nuvens escuras.
Por outro lado, quando uma resposta emitida está sob o controle sutil de
múltiplas variáveis, e não é normalmente reforçada pela comunidade nessas
condições (por não exercerem ou exercerem muito pouco controle sobre o
comportamento de outras pessoas), trata-se de uma situação onde predomina o
controle discriminativo “informal” (SLOANE et. al., 1980).
Dessa forma, ao escrever:
37
Epstein (1980) critica a tentativa de definir um comportamento criativo nesses
termos. Para o autor, a identificação da noção de controle “informal” como uma
resposta determinada por variáveis múltiplas, e controle “formal” como aquele que se
estabelece pelo efeito de uma única variável, não lhe parece uma categorização
adequada, pois o número de variáveis controladoras não é o que confere um caráter
criativo à resposta.
Epstein (1980) sugere que é mais provável considerar um comportamento (ou
um produto deste comportamento) criativo quando suas variáveis de controle são
desconhecidas e não conseguimos explicar de outra forma aquela criação.
No entanto, seguindo a mesma lógica da argumentação crítica apresentada por
Epstein (1980), pode-se levantar a questão de que o controle de um comportamento
por variáveis desconhecidas tampouco o faz necessariamente criativo. Portanto, ainda
é necessário um maior desenvolvimento conceitual quanto à conceituação de
comportamento criativo que possa dar conta das questões aqui levantadas.
Finalmente, Skinner também faz referência à criatividade quando discute o ensino de
habilidades que podem desenvolver um repertório mais criativo no indivíduo.
38
prioritariamente em desenvolver habilidades capazes de levar o indivíduo a relacionar-
se produtivamente com situações novas (SKINNER, 1968).
Criticando o ensino tradicional, Skinner (1968) comenta que muitas vezes os
professores chegam a restringir a transmissão de conhecimentos já estabelecidos ao
aluno, na expectativa de que, ao buscar as respostas por si só, o mesmo tenha maior
facilidade em produzir um comportamento criativo. Mas de acordo com Skinner, a
adoção de atitudes pedagógicas pouco eficazes como esta, provavelmente está
relacionada com a crença na criatividade enquanto uma faculdade interna.
Para Skinner (1968), o conhecimento prévio até facilita a tarefa do aluno de
encontrar soluções para novos problemas, não havendo perigo de que tal
conhecimento possa sobrecarregá-lo ou possa inibir sua “criatividade”.
Além de ser uma visão equivocada do fenômeno, acreditar que o
comportamento criativo é dependente de uma faculdade interna ou de um dom inato,
pode levar a uma desconsideração da responsabilidade do educador em prover as
contingências ambientais necessárias para o seu desenvolvimento (Azevedo, 1998;
SKINNER, 1968).
“Algumas vezes, falamos sobre o que as pessoas fazem, outras sobre o que
elas sabem. Por outro lado, o que alguém faz é a única coisa que está
acessível a nós. Não há outra coisa a ser estudada, senão o comportamento.
Em um experimento de aprendizagem, por exemplo, uma pessoa pode
descrever pensamentos ou sentimentos, mais tais descrições ainda são
comportamentos (o comportamento verbal pode ser especial, mais ainda
assim é um comportamento). Independentemente de quais sejam os
fenômenos que estudamos em psicologia, nossas terminologias e teorias
devem ser, em última instância, derivadas de um comportamento, daquilo que
os organismos fazem. (...)” (CATANIA, 1998/1999 apud NETO M, 2001).
39
No entanto, a autora ressalta que dizer que é o próprio sujeito que irá arranjar
contingências para promover essas respostas não significa afirmar que o sujeito
estará agindo de forma totalmente independente e autônoma em relação ao ambiente,
mas que ele precisa aprender a manipular variáveis ambientais, de forma que estas
possam afetar seu comportamento, favorecendo a ocorrência de determinadas
respostas úteis para a solução de problemas.
As instituições de ensino têm um importante papel na realização desse objetivo,
apesar da dificuldade em estabelecer contingências capazes de prover um repertório
de manipulação de variáveis que prepare o indivíduo para responder a outras
contingências que não podem ser previstas por ocasião do ensino (NICO, 2001a,
2001b).
Embora seja uma tarefa difícil, Skinner (1968) não descarta essa
possibilidade e sugere algumas atividades pelas quais a escola pode promover
o comportamento criativo em seus alunos:
Descrever ao aluno a forma como alguém pensou, ou agiu até chegar a
uma descoberta;
Fornecer conhecimentos complementares para que o aluno possa
utilizá-los na análise de novos problemas;
Promover o comportamento exploratório individual do aluno deixando-o
em contato com as contingências referentes a um problema específico;
Solicitar que o aluno estabeleça uma proposição ou descreva um fato de
diferentes formas.
Mesmo referindo-se especificamente ao artista, Skinner (1972) apresentou
outras sugestões para o arranjo de contingências capazes de aumentar as chances
de ocorrência de produtos diferentes do comportamento, tais como um controle
aversivo ou positivamente reforçador menos rígido, o usufruto de tempo livre a fim de
possibilitar uma observação mais acurada, e o incentivo para o engajamento do artista
em respostas perturbadoras da ordem ou da forma como costuma elaborar suas
produções artísticas. Tais medidas facilitariam o surgimento de “mutações” no
comportamento que poderiam posteriormente, ser selecionadas por meio de
reforçamento diferencial.
Apesar das propostas skinnerianas datarem do final da década de 60 e do início
dos anos 70, ainda é difícil observar um planejamento escolar com o propósito
40
específico de estabelecer um repertório de habilidades e estratégias que favoreça a
ocorrência do comportamento criativo. Não por falta de ideias.
41
com os fenômenos psicológicos, ou seja, a experiência e o comportamento dos
organismos no seu ambiente físico e social.
Assim, a psicofisiologia poderia ser vista como o estudo das relações entre as
medidas fisiológicas e os estados ou processos psicológicos relacionados
normalmente com conceitos como aprendizagem, emoção, ativação (arousal) e
cognição (DAWSON, 1999).
Distinções mais primárias entre a psicofisiologia e a neurociência
comportamental são o foco da psicofisiologia em processos cognitivos superiores e a
tentativa de os relacionar com a integração de sistemas nervosos centrais e periféricos
(Cacioppo, Tassinary & Berntswon, 2007).
Assim, quando passamos de um campo fisiológico para psicofisiológico, tal
processo faz-se acompanhar da mudança de complexidade na capacidade de
compreender sistemas simbólicos de representação, como sejam a linguagem, a
matemática, para poder ser comunicada e traduzir-se na experiência humana, ou
simplesmente na nossa história, bem ainda como compreender a influência de fatores
culturais e sociais nas respostas fisiológicas e no comportamento como um todo.
Em suma, estes fatores contribuiriam para a plasticidade, adaptabilidade e
variabilidade do comportamento. Mais ainda, terminam Cacioppo, Tassinary &
Berntswon (2007), a psicologia e a psicofisiologia compartilham do objetivo de explicar
a experiência e o comportamento humano, e as construções e os processos
fisiológicos são um componente explícito e integral do pensamento teórico na
psicofisiologia. Assim depois de tudo, defendem, o objeto de estudo da psicofisiologia
deve ser visto como um fenômeno (psíquico, social, cultural e etc.) corporizado.
42
alterações mais subjetivas, sendo contudo, respostas concretas do organismo, como
sejam as emoções, os estados de humor, um pensamento etc.
Em psicologia, uma das formas de diferenciar estes tipos de respostas é defini-
la como respostas abertas (comportamentos observáveis pelos outros indivíduos) e
respostas cobertas (em que apenas o próprio sujeito pode ter a percepção que estão
a ocorrer, por exemplo: o pensamento).
Existe obviamente um conjunto sem número de respostas fisiológicas internas
que, sendo respostas corporais, não imagéticas, não poderiam ser caracterizadas
respostas cobertas, como no seio da psicologia se está acostumado: estamos a falar
das alterações da respiração, dos batimentos cardíacos, dos movimentos peristálticos
intestinais em reação, por exemplo, a uma situação de stress.
Todavia, o que importa salientar é que quando utilizarmos a palavra
comportamento, estaremos a referir-nos à toda e qualquer resposta de um dado
organismo.
43
de impulsos e da conduta especificado e transtornos disruptivo, do controle de
impulsos e da conduta não especificado.
Embora todos os transtornos inclusos especificados aqui envolvam problemas
na regulação tanto emocional quanto comportamental, a fonte de variação entre os
transtornos é a ênfase relativa que é dada a problemas nesses dois tipos de
autocontrole. Por exemplo, os critérios para transtorno da conduta focam
principalmente comportamentos pouco controlados que violam os direitos dos outros
ou que violam normas sociais relevantes. Muitos dos sintomas comportamentais (p.
ex., agressão) podem ser resultado de emoções mal controladas, como a raiva.
44
Todos os transtornos disruptivo do controle de impulsos e da conduta tendem
a ser mais comuns no sexo masculino do que no feminino, embora o grau relativo da
predominância masculina possa ser diferente entre os transtornos e em um
determinado transtorno em idades diferentes.
45
transtornos por uso de substâncias e com transtorno da personalidade antissocial. No
entanto, a natureza específica das diáteses compartilhadas que formam o espectro
externalizante permanece desconhecida.
Iremos citar abaixo três transtornos de perturbações do comportamento,
porém existe vários dele dentro dos critérios do DSM -5:
Critérios Diagnósticos:
Transtorno de Oposição Desafiante - 313.81 (F91.3):
A - Um padrão de humor raivoso/irritável, de comportamento
questionador/desafiante ou índole vingativa com duração de pelo menos seis meses,
como evidenciado por pelo menos quatro sintomas de qualquer das categorias
seguintes e exibido na interação com pelo menos um indivíduo que não seja um irmão.
Humor Raivoso/Irritável:
Com frequência perde a calma;
Com frequência é sensível ou facilmente incomodado;
Com frequência é raivoso e ressentido.
Comportamento Questionador/Desafiante:
Frequentemente questiona figuras de autoridade ou, no caso de crianças
e adolescentes, adultos;
Frequentemente desafia acintosamente ou se recusa a obedecer a
regras ou pedidos de figuras de autoridade;
Frequentemente incomoda deliberadamente outras pessoas;
Frequentemente culpa outros por seus erros ou mau comportamento.
Índole Vingativa:
8: Foi malvado ou vingativo pelo menos duas vezes nos últimos seis meses.
Nota: A persistência e a frequência desses comportamentos devem ser
utilizadas para fazer a distinção entre um comportamento dentro dos limites normais
e um comportamento sintomático. No caso de crianças com idade abaixo de 5 anos,
o comportamento deve ocorrer na maioria dos dias durante um período mínimo de
seis meses, exceto se explicitado de outro modo (Critério A8).
No caso de crianças com 5 anos ou mais, o comportamento deve ocorrer pelo
menos uma vez por semana durante no mínimo seis meses, exceto se explicitado de
outro modo (Critério A8). Embora tais critérios de frequência sirvam de orientação
quanto a um nível mínimo de frequência para definir os sintomas, outros fatores
46
também devem ser considerados, tais como se a frequência e a intensidade dos
comportamentos estão fora de uma faixa normativa para o nível de desenvolvimento,
o gênero e a cultura do indivíduo.
B: A perturbação no comportamento está associada a sofrimento para o
indivíduo ou para os outros em seu contexto social imediato (família, grupo de pares,
colegas de trabalho), ou causa impactos negativos no funcionamento social,
educacional, profissional ou outras áreas importantes da vida do indivíduo.
C: Os comportamentos não ocorrem exclusivamente durante o curso de um
transtorno psicótico por uso de substância, depressivo ou bipolar. Além disso os
critérios para transtorno disruptivo da desregulação do humor não são preenchidos.
Especificar a gravidade atual:
Leve: Os sintomas limitam-se a apenas um ambiente (em casa, na escola, no
trabalho, com os colegas).
Moderada: Alguns sintomas estão presentes em pelo menos dois ambientes.
Grave: Alguns sintomas estão presentes em três ou mais ambientes.
Especificadores:
Não é raro indivíduos com transtorno de oposição desafiante apresentarem
sintomas somente em casa e apenas com membros da família. No entanto, a difusão
dos sintomas é um indicador da gravidade do transtorno.
Características Diagnósticas:
A característica essencial do transtorno de oposição desafiante é um padrão
frequente e persistente de humor raivoso/irritável, de comportamento
questionador/desafiante ou de índole vingativa (Critério A). Não é raro indivíduos com
transtorno de oposição desafiante apresentarem características comportamentais do
transtorno na ausência de problemas de humor negativo. Entretanto, as pessoas com
o transtorno que apresentam sintomas de humor raivoso/irritável costumam também
demonstrar características comportamentais.
Os sintomas do transtorno de oposição desafiante podem se limitar a apenas
um ambiente, mais frequentemente em casa. Os indivíduos que apresentam sintomas
suficientes para atingir o limiar diagnóstico, mesmo que isso ocorra somente em casa,
podem ter prejuízos significativos em seu funcionamento social. Todavia, nos casos
mais graves, os sintomas do transtorno estão presentes em múltiplos ambientes.
47
Levando-se em conta que a difusão dos sintomas é um indicador da gravidade do
transtorno, é extremamente importante avaliar o comportamento do indivíduo em
vários ambientes e relacionamentos.
Como são comuns entre irmãos, esses comportamentos devem ser observados
nas interações com outras pessoas. Além disso, considerando que, em geral, os
sintomas do transtorno são mais evidentes nas interações com adultos ou pares que
o indivíduo conhece bem, eles podem não ficar tão evidentes no exame clínico.
Os sintomas do transtorno de oposição desafiante podem ocorrer em alguma
medida entre indivíduos sem esse transtorno. Há várias considerações importantes
para determinar se os comportamentos são sintomáticos do transtorno de oposição
desafiante. Em primeiro lugar, o limiar diagnóstico de quatro sintomas ou mais durante
os seis meses precedentes deve ser atingido. Em segundo lugar, a persistência e a
frequência dos sintomas deverão exceder os níveis considerados normais para a
idade, o gênero e a cultura do indivíduo. Por exemplo, não é incomum que crianças
pré-escolares apresentem ataques de raiva semanalmente.
Explosões de raiva para uma criança pré-escolar seriam consideradas
sintomas do transtorno de oposição desafiante somente se tivessem ocorrido na
maioria dos dias nos seis meses precedentes, se tivessem ocorrido com pelo menos
três outros sintomas do transtorno e se as explosões de raiva tivessem contribuído
para o prejuízo significativo associado ao transtorno (levassem à destruição de
propriedade durante as explosões, resultassem na expulsão da criança da pré-
escola).
Com frequência, os sintomas do transtorno fazem parte de um padrão de
interações problemáticas com outras pessoas. Além disso, geralmente indivíduos com
esse transtorno não se consideram raivosos, opositores ou desafiadores. Em vez
disso, costumam justificar seu comportamento como uma resposta às exigências ou
circunstâncias despropositadas.
Consequentemente, pode ser difícil estabelecer a contribuição relativa do
indivíduo com o transtorno para as interações problemáticas que ele vivencia. Por
exemplo, crianças com transtorno de oposição desafiante podem ter vivenciado uma
história de cuidados parentais hostis, e, com frequência, é impossível determinar se
seu comportamento fez os pais agirem de uma maneira mais hostil em relação a elas,
48
se a hostilidade dos pais levou ao comportamento problemático da criança ou se
houve uma combinação de ambas as situações.
A possibilidade de o clínico separar as contribuições relativas dos potenciais
fatores causais não deve influenciar o estabelecimento ou não do diagnóstico. Nas
situações em que a criança estiver vivendo em condições particularmente precárias,
em que poderão ocorrer negligência ou maus-tratos (em instituições), a atenção
clínica para diminuir a influência do ambiente pode ser útil.
Diagnóstico Diferencial:
Transtorno da conduta: Tanto o transtorno da conduta quanto o transtorno de
oposição desafiante estão relacionados a problemas de conduta que colocam o
indivíduo em conflito com adultos e outras figuras de autoridade (professores,
supervisores de trabalho). Geralmente, os comportamentos do transtorno de oposição
desafiante são de natureza menos grave do que aqueles relacionados ao transtorno
da conduta e não incluem agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade
ou um padrão de roubo ou de falsidade.
Além disso, o transtorno de oposição desafiante inclui problemas de
desregulação emocional (humor raivoso e irritável), que não estão inclusos na
definição de transtorno da conduta.
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH): Com frequência, o
TDAH é comórbido com o transtorno de oposição desafiante. Para fazer um
diagnóstico adicional de transtorno de oposição desafiante é importante determinar
que a falha do indivíduo em obedecer às solicitações de outros não ocorre somente
em situações que demandam esforço e atenção sustentados ou que exigem que o
indivíduo permaneça quieto.
Transtornos depressivo e bipolar: Com frequência, os transtornos
depressivo e bipolar envolvem irritabilidade e afeto negativo. Como resultado, um
diagnóstico de transtorno de oposição desafiante não deverá ser feito se os sintomas
ocorrerem exclusivamente durante o curso de um transtorno do humor.
Transtorno disruptivo da desregulação do humor: O transtorno de oposição
desafiante compartilha com o transtorno disruptivo da desregulação do humor os
sintomas de humor negativo crônico e explosões de raiva. Entretanto, a gravidade, a
frequência e a cronicidade das explosões de raiva são mais graves em indivíduos com
49
transtorno disruptivo da desregulação do humor do que naqueles com transtorno de
oposição desafiante.
Consequentemente, apenas uma minoria de crianças e de adolescentes cujos
sintomas preenchem os critérios de transtorno de oposição desafiante seria também
diagnosticada com o transtorno disruptivo da desregulação do humor. Nos casos em
que a perturbação do humor for suficientemente grave para preencher os critérios de
transtorno disruptivo da desregulação do humor, um diagnóstico de transtorno de
oposição desafiante não é feito, mesmo que todos os critérios para essa condição
tenham sido preenchidos.
Transtorno explosivo intermitente: O transtorno explosivo intermitente
também envolve altas taxas de raiva. No entanto, indivíduos com esse transtorno
apresentam agressão grave dirigida a outros, o que não faz parte da definição de
transtorno de oposição desafiante.
Deficiência intelectual (transtorno do desenvolvimento intelectual): Em
indivíduos com deficiência intelectual, um diagnóstico de transtorno de oposição
desafiante é feito somente se o comportamento opositor for acentuadamente maior
do que aquele que em geral se observa entre indivíduos com idade mental comparável
e com gravidade comparável de deficiência intelectual.
Transtorno da linguagem: O transtorno de oposição desafiante deve também
ser diferenciado da incapacidade para seguir orientações resultantes de uma
alteração na compreensão da linguagem (perda auditiva).
Transtorno de ansiedade social (fobia social): O transtorno de oposição
desafiante também deve ser diferenciado da recusa decorrente do medo de uma
avaliação negativa associada com o transtorno de ansiedade social.
Transtorno Explosivo Intermitente – 312.34 (F63.81)
A. Explosões comportamentais recorrentes representando uma falha em
controlar impulsos agressivos, conforme manifestado por um dos seguintes
aspectos:
Agressão verbal (acessos de raiva, injúrias, discussões ou agressões
verbais) ou agressão física dirigida à propriedade, animais ou outros
indivíduos, ocorrendo em uma média de duas vezes por semana durante
um período de três meses. A agressão física não resulta em danos ou
50
destruição de propriedade nem em lesões físicas em animais ou em
outros indivíduos.
Três explosões comportamentais envolvendo danos ou destruição de
propriedade e/o agressão física envolvendo lesões físicas contra
animais ou outros indivíduos ocorrendo dentro de um período de 12
meses.
B. A magnitude da agressividade expressa durante as explosões recorrentes
é grosseiramente desproporcional em relação à provocação ou a quaisquer
estressores psicossociais precipitantes.
C. As explosões de agressividade recorrentes não são premeditadas (são
impulsivas e/ou decorrentes de raiva) e não têm por finalidade atingir algum objetivo
tangível (dinheiro, poder, intimidação).
D. As explosões de agressividade recorrentes causam sofrimento acentuado
ao indivíduo ou prejuízo no funcionamento profissional ou interpessoal ou estão
associadas a consequências financeiras ou legais.
E. A idade cronológica é de pelo menos 6 anos (ou nível de desenvolvimento
equivalente).
F. As explosões de agressividade recorrentes não são mais bem explicadas
por outro transtorno mental (transtorno depressivo maior, transtorno bipolar,
transtorno disruptivo da desregulação do humor, um transtorno psicótico, transtorno
da personalidade antissocial, transtorno da personalidade borderline) e não são
atribuíveis a outra condição médica (traumatismo craniano, doença de Alzheimer), ou
aos efeitos fisiológicos de uma substância (droga de abuso, medicamento). No caso
de crianças com idade entre 6 e 18 anos, o comportamento agressivo que ocorre como
parte do transtorno de adaptação não deve ser considerado para esse diagnóstico.
Nota: este diagnóstico pode ser feito em adição ao diagnóstico de transtorno
de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno da conduta, transtorno de oposição
desafiante ou transtorno do espectro autista nos casos em que as explosões de
agressividade impulsiva recorrentes excederem aquelas normalmente observadas
nesses transtornos e justificarem atenção clínica independente.
Características Diagnósticas
As explosões de agressividade impulsivas (ou decorrentes de raiva) no
transtorno explosivo intermitente têm início rápido e, geralmente, pouco ou nenhum
51
período prodrômico. Em geral, as explosões duram menos de 30 minutos e costumam
ocorrer em resposta a uma provocação mínima por um amigo íntimo ou um colega.
Com frequência indivíduos com transtorno explosivo intermitente apresentam
episódios menos graves de violência verbal e/ou física que não causa dano,
destruição ou lesões (Critério A1), em meio a episódios mais graves,
destrutivos/violentos (Critério A2).
O Critério A1 define explosões de agressividade frequentes (duas vezes por
semana em média, por um período de três meses), que se caracterizam por acessos
de raiva, injúrias, discussões verbais ou brigas ou violência sem causar danos a
objetos ou lesões em animais ou em outros indivíduos.
O Critério A2 define explosões de agressividade impulsivas infrequentes (três
no período de um ano), que se caracterizam por causar danos materiais ou destruir
um objeto, seja qual for seu valor tangível, ou por violência/ataque ou outra lesão física
em um animal ou outro indivíduo. Independentemente da natureza da explosão de
agressividade impulsiva, a característica básica do transtorno explosivo intermitente é
a incapacidade de controlar comportamentos agressivos impulsivos em resposta às
provocações vivenciadas subjetivamente (estressores psicossociais) que em geral
não resultariam em explosões agressivas (Critério B).
De maneira geral, as explosões de agressividade são impulsivas e/ou
decorrentes de raiva, em vez de serem premeditadas ou instrumentais (Critério C) e
estão associadas a sofrimento significativo ou a prejuízos na função psicossocial
(Critério D).
Um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não deve ser feito em
indivíduos com idade inferior a 6 anos ou nível equivalente de desenvolvimento
(Critério E) ou naquelas cujas explosões de agressividade forem mais bem explicadas
por outro transtorno mental (Critério F).
Um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não deve ser feito em
indivíduos com transtorno disruptivo da desregulação do humor ou naquelas cujas
explosões de agressividade impulsivas forem atribuíveis a outra condição médica ou
a efeitos fisiológicos de uma substância (Critério F). Além disso, crianças com idade
entre 6 e 18 anos não devem receber esse diagnóstico em situações nas quais as
explosões de agressividade impulsivas ocorrerem no contexto de um transtorno de
adaptação (Critério F).
52
Diagnóstico Diferencial
Um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não deve ser feito nos
casos em que os Critérios A1 e/ou A2 forem preenchidos somente durante um
episódio de outro transtorno mental (transtorno depressivo maior, transtorno bipolar,
transtorno psicótico) ou quando as explosões de agressividade impulsivas forem
atribuíveis a outra condição médica ou aos efeitos fisiológicos de uma substância ou
medicamento.
Esse diagnóstico também não poderá ser feito, principalmente em crianças e
adolescentes com 6 a 18 anos, quando as explosões de agressividade impulsivas
ocorrerem no contexto de um transtorno de adaptação. Outros exemplos nos quais
explosões de agressividade impulsivas, recorrentes e problemáticas podem (ou não)
ser diagnosticadas como transtorno explosivo intermitente incluem os apresentados a
seguir.
Transtorno disruptivo da desregulação do humor:
Em contraste com o transtorno explosivo intermitente, o transtorno disruptivo
da desregulação do humor caracteriza-se por um estado de humor persistentemente
negativo (irritabilidade, raiva) na maior parte do dia, quase todos os dias, entre
explosões de agressividade impulsivas.
O diagnóstico de transtorno disruptivo da desregulação do humor somente
poderá ser feito nas situações em que o início das explosões de agressividade
impulsivas, recorrentes e problemáticas ocorrer antes dos 10 anos de idade. Por fim,
o diagnóstico de transtorno disruptivo da desregulação do humor não deverá ser feito
pela primeira vez após os 18 anos de idade. Além disso, esses diagnósticos são
mutuamente exclusivos.
Transtorno da personalidade antissocial ou transtorno da personalidade
borderline:
Com frequência indivíduos com transtorno da personalidade antissocial ou
borderline apresentam ataques de agressividade impulsivos, recorrentes e
problemáticos. Entretanto, os níveis de agressividade impulsiva nessas pessoas são
inferiores aos daquelas com transtorno explosivo intermitente.
Delirium, transtorno neurocognitivo maior e mudança de personalidade
causada por outra condição médica, tipo agressiva:
53
O diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não deve ser feito nas
situações em que se julgar que as explosões de agressividade são resultado dos
efeitos fisiológicos de alguma outra condição médica diagnosticável (traumatismo
encefálico associado a uma mudança na personalidade caracterizada por explosões
de agressividade; epilepsia parcial complexa). Anormalidades inespecíficas
encontradas no exame neurológico e alterações eletroencefalográficas inespecíficas
são compatíveis com o diagnóstico de transtorno explosivo intermitente, a menos que
exista alguma condição médica diagnosticável que explique melhor as explosões de
agressividade impulsivas.
Intoxicação por substâncias ou abstinência de substâncias:
O diagnóstico de transtorno explosivo intermitente não deve ser feito nas
situações em que as explosões de agressividade impulsivas estiverem quase sempre
associadas a intoxicação ou abstinência de substâncias (álcool, fenciclidina, cocaína
e outros estimulantes, barbitúricos, inalantes). No entanto, quando um número
suficiente de explosões de agressividade impulsivas também ocorrer na ausência de
intoxicação ou abstinência de substâncias e essas situações justificarem atenção
clínica independente, um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente pode ser
feito.
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno da conduta,
transtorno de oposição desafiante ou transtorno do espectro autista:
Indivíduos com qualquer um desses transtornos com início na infância, pode
ter explosões de agressividade impulsivas. Em geral, os indivíduos com TDAH são
impulsivos e, como resultado poderão ter também explosões de agressividade
impulsivas. Embora pessoas com transtorno da conduta possam ter explosões de
agressividade impulsivas, a forma de agressividade caracterizada pelos critérios
diagnósticos é proativa e predatória.
A agressividade no transtorno de oposição desafiante caracteriza-se
principalmente por ataques de raiva e questionamentos verbais com figuras de
autoridade, enquanto as explosões de agressividade impulsivas no transtorno
explosivo intermitente são respostas a um amplo grupo de provocações e incluem
violência física.
O nível de agressividade impulsiva em indivíduos com história de um ou mais
de um desses transtornos foi considerado inferior em comparação àqueles cujos
54
sintomas também preenchem os Critérios A a E do transtorno explosivo intermitente.
Da mesma forma, se os Critérios A a E também forem preenchidos, e as explosões
de agressividade impulsivas justificarem atenção clínica independente, pode-se fazer
um diagnóstico de transtorno explosivo intermitente.
Transtorno Disruptivo, do Controle de Impulsos e da Conduta Não
Especificado
Esta categoria aplica-se a apresentações em que sintomas característicos de
um transtorno disruptivo do controle de impulsos e da conduta que causam sofrimento
clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em
outras áreas importantes da vida do indivíduo predominam, mas não satisfazem todos
os critérios para qualquer transtorno na classe diagnóstica dos transtornos disruptivos,
do controle de impulsos e da conduta.
A categoria transtorno disruptivo do controle de impulsos e da conduta não
especificado é usada nas situações em que o clínico opta por não especificar a razão
pela qual os critérios para um transtorno disruptivo, do controle de impulsos e da
conduta específico não são satisfeitos e inclui apresentações para as quais não há
informações suficientes para que seja feito um diagnóstico mais específico (em salas
de emergência).
55
outras partes do “cérebro social”, tais como o Giro Fusiforme e a Amígdala
(ZILBOVICIUS et al., 2006).
Segundo Frith e Cohen (2013), de acordo com a teoria da mente, a principal
anormalidade do autismo é a falta de capacidade de construir elaborações sobre a
mente alheia. E esse circuito neuronal especializado – os neurônios espelho,
localizados no lobo frontal – é que permite pensar sobre nós mesmos e sobre o outro
e, desta forma, prever o comportamento de seus semelhantes (teoria da mente).
Para Lameira, Gawryszenwski e Pereira (2006) o entendimento de ações
(essencial para a tomada de atitude em situações de perigo), a imitação
(extremamente importante para os processos de aprendizagem) e a empatia (a
tendência em sentir o mesmo que uma pessoa na mesma situação sente, à qual é
fundamental na construção dos relacionamentos) são funções atribuídas aos
neurônios-espelho e são exatamente essas funções que se encontram alteradas em
pessoas autistas.
56
Conforme Bosa (2001); Happé e Frit (1996); Joseph (1999) (apud
CZERMAINSKI, 2012), a neuropsicologia do TEA tem tomado força nas últimas
décadas, por razão de fortes evidencias de prejuízos neuropsicológicos nessa
condição e também por se tratar de uma abordagem que propõe uma investigação de
prejuízos cognitivos e também de competências do indivíduo (funções preservadas).
A hipótese de comprometimento das funções executivas surgiu devido à
constatação de semelhanças entre o comportamento de indivíduos com disfunção
cortical pré-frontal e aqueles com TEA.
Através da neuropsicologia é possibilitado saber quais as áreas cerebrais são
responsáveis pelos componentes executivos (habilidades cognitivas necessárias para
o controle e regulação de pensamentos, emoções e comportamentos) explicando-nos
estratégias clínicas e educativas que tem por objetivo principal proporcionar ao sujeito
com o transtorno do espectro do autismo aprendizagens para o desenvolvimento da
sua própria autonomia, algumas estratégias que possam contribuir para a aquisição e
desenvolvimento de relações sociais, emocionais, comportamentais e
comunicacionais, podendo ajudar na promoção de um desenvolvimento harmonioso
e mais equilibrado destes sujeitos. (CAVACO, 2015; MORTON 2013-2015).
A avaliação neuropsicológica auxilia na constatação e também serve para
descartar a suspeita, pois uma vez que o diagnóstico de autismo tenha sido
confirmado ou desconfirmado, os profissionais precisam determinar se algum
encaminhamento ainda se faz necessário. Isso inclui encaminhamentos para diversos
profissionais. (SILVA e MULICK, 2009).
Segundo Cavaco (2015) como ciência, a neuropsicologia vem se destacando
no que diz respeito ao transtorno do espectro autista, pelas evidências apresentadas
tanto nos prejuízos cognitivos manifestados como no que diz respeito às
competências e funções preservadas na criança com o transtorno. Através da
avaliação neuropsicológica pode-se perceber quais as funções e as disfunções
desenvolvidas pelo indivíduo com autismo, permitindo uma intervenção e tratamento
nos mais diversos contextos da criança.
59
Diagnosticado maior prevalência na infância e adolescência em idade
escolar apresentam como características:
Baixo desempenho na escola, extroversão extrema, comportamentos violentos,
incapacidade de completar tarefas, distúrbios nos padrões de sono, moralidade
inconsistente com a idade e esquecimento (BROZOZOWSKI e CAPONI, 2009).
Ainda na década de 80 passa a ser aceita a interpretação neuropsicológica do
TDAH, em que este era considerado uma disfunção neuropsiquiátrica, que afetava o
desenvolvimento das funções executivas cerebrais, da capacidade de autocontrole,
de planejamento e de execução de ações orientadas por objetivos futuros (CALIMAN,
2008, p. 560).
60
Não existe uma bateria fixa de testes para avaliar o TDAH. Sendo assim os
instrumentos utilizados para avaliação variam de acordo com a demanda do paciente
e a escolha do profissional.
Os testes utilizados na avalição neuropsicológica, embora demonstrem em
alguns estudos resultados significativos na discriminação do TDAH, devem ser
ponderados ante a entrevista clínica, que visa identificar o histórico do paciente
(escolaridade, ocupação, antecedentes familiares e história da doença). (MADER –
JOAQUIM, 2010).
De acordo com Capovilha (et al., 2007), para a avaliação de crianças brasileiras
têm sido desenvolvidas versões de testes tradicionalmente usados para avaliar
componentes das funções executivas, que conforme o arrazoado teórico, avaliam
atenção seletiva, controle inibitório, flexibilidade e planejamento, respectivamente.
Os testes têm que ser testes informatizados o que traz grandes vantagens para
a análise de medidas de tempo, pois permite registrar precisamente o tempo de
reação, aumentando sua sensibilidade.
Além disso, a informatização auxilia a padronização das condições de
apresentação de estímulos e coleta de respostas, permitindo exercer maior rigor no
controle das condições de avaliação, tornando os instrumentos um recurso mais
confiável para avaliação neuropsicológica. (CAPIVILLA, 2006).
De forma a aumentar a compreensão dos comprometimentos de crianças com
TDAH, os resultados obtidos devem ser investigados mais detalhadamente em
pesquisas ulteriores.
Alguns fatores são especialmente relevantes, tais como uso de medicação
(especialmente metilfenidato), tipo escola, nível socioeconômico, idade, gênero e
comorbidades, entre outros, visto que conforme descrito na literatura (HOUGHTON et
Col., 1999; SERGEANT et col., 2002), muitas variáveis externas aos testes podem
interferir na avaliação dos comprometimentos em distúrbios neuropsicológicos
(CAPOVILLA et al., 2007).
61
6.6 Transtorno explosivo intermitente
63
E a partir desta percepção foi havendo melhoras discretas do comportamento
podendo assim orientar o tratamento para uma forma mais cognitiva. Associado a
TCC o tratamento farmacológico do comportamento agressivo e da impulsividade
encontra-se bem definido, porém ainda não há um estudo duplo-cego com placebo
que defina rigorosamente uma terapia medicamentosa para os portadores do TEI. As
classes de medicamentos que tem mostrado boa eficácia são antiepilépticos,
estabilizadores do humor, antipsicóticos e betabloqueadores.
O tratamento do comportamento agressivo com estabilizador do humor foi
eficaz na redução tanto da frequência como da gravidade da agressividade. Porém,
ainda não é possível recomendar um tipo de estabilizador, mas até o momento as
melhores respostas têm sido com a carbamazepina, a oxcarbazepina e o lítio.
Sobre a avaliação neuropsicologia esta irá depender do tipo de transtorno,
porque para cada tipo existe uma forma dentro da neuropsicologia para ser avaliado.
Utiliza testes psicométricos e neuropsicológicos organizados em baterias fixas ou
flexíveis. As baterias fixas são aplicáveis em pesquisas, em protocolos específicos
para investigação de uma população particular.
As baterias flexíveis são mais apropriadas para a investigação clínica, pois
estão mais voltadas para as dificuldades específicas do paciente. Considerando a
variação dos testes neuropsicológicos, tempo de aplicação e indicação
recomendamos organizar um protocolo básico com a possibilidade de complementar
a avaliação com outros testes sobre as funções mais comprometidas, a fim de realizar
um exame mais detalhado. A sensibilidade e a especificidade dos testes para as
funções a serem examinadas deve ser considerada nesta escolha. O psicólogo
interessado nesta área deve estar ciente da complexidade de cada função e das
formas de avaliá-la através de testes. Inteirado destas questões aprofunda seus
estudos sobre o funcionamento cerebral e as diversas patologias do Sistema Nervoso
Central.
Entre outros, os estudos sobre as epilepsias e as demências têm muito
contribuído para a investigação da sensibilidade e especificidade dos testes
neuropsicológicos.
A avaliação neuropsicológica nas demências tem por objetivos colaborar no
diagnóstico diferencial entre demências, depressão e Deficiência de Memória
Associada a Idade. Através da avaliação é possível determinar o nível atual de
64
funcionamento, as características predominantes dos quadros demenciais.
Demências consistem em distúrbios cognitivos, sensório-motores, das funções
motoras e personalidade, suficientemente importantes para comprometer o
funcionamento social e laboral do paciente. O diagnóstico é principalmente
sintomatológico e a neuropsicologia tem uma participação importante neste.
As alterações das funções cognitivas relacionadas as epilepsias motivaram os
epileptologistas a investigar as caraterísticas mais predominantes. Atualmente
considera-se que as crises iniciadas prematuramente estão mais relacionadas com
dificuldades cognitivas, assim como a localização do foco epileptogênico e alterações
estruturais, tais como esclerose mesial temporal. As drogas antiepilépticas
individualmente interferem de modo sutil no funcionamento cognitivo, mas a
politerapia tem efeitos mais comprometedores.
Estes resultados baseiam-se em testes neuropsicológicas sensíveis aos efeitos
de drogas (memória e concentração da atenção) e testes específicos para
lateralização da memória de material específico. Estes últimos são extremamente
úteis na avaliação e programação do tratamento cirúrgico das epilepsias de difícil
controle.
65
examinador um panorama geral do funcionamento cognitivo do paciente, para
posteriormente aprofundar sua avaliação com testes complementares.
O resultado final deve fornecer um perfil neuropsicológico do paciente que,
combinado a avaliação dos aspectos neurológicos, psicológicos e sociais, permitirá a
orientação do paciente ou da família sobre o melhor aproveitamento de suas
potencialidades. Conforme foi observado no decorrer da história da neuropsicologia
os métodos utilizados variam de acordo com a formação de base do profissional e os
locais de treinamento.
Os materiais disponíveis na maioria na língua inglesa abrem um amplo espectro
e devem ser selecionados de acordo com as necessidades do examinador. Este deve
também observar as particularidades de cada teste quanto a sua sensibilidade e
especificidade, considerar os aspectos culturais e limitações do método utilizado.
Citando Kevin Walsh (12), "na realidade, praticamente não existem testes
neuropsicológicos, apenas o método de elaborar inferências sobre os testes é
neuropsicológico". Sob este prisma, mais importante do que avaliar é como avaliar. A
avaliação Neuropsicológica não é apenas a aplicação de testes e sim a interpretação
cuidadosa dos resultados somada a análise da situação atual do sujeito e contexto
em que vive. Somente com base nesta compreensão global é possível sugerir um
diagnóstico.
66
pessoa vive e nas condições adaptativas da mesma, de modo a prover uma
intervenção de acordo com as demandas do paciente. O trabalho do psicólogo,
portanto é primeiramente englobar uma avaliação de acordo com o tipo de transtorno
moldando o comportamento adaptativo.
7 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA
Fonte: universoracionalista.org
67
nítidos, o que nos obriga a saltar de um nível a outro, ou seja, de uma disciplina a
outra, sempre que tentarmos compreender o funcionamento do sistema nervoso.
A Neurociência possui grandes disciplinas neurocientíficas:
A Neurociência Molecular, que tem como objeto de estudo as diversas
moléculas de importância funcional no sistema nervoso, e suas
interações;
A Neurociência Celular, que aborda as células que formam o sistema
nervoso, sua estrutura e sua função;
A Neurociência Sistêmica, que considera populações de células
nervosas situadas em diversas regiões do sistema nervoso constituindo
sistemas funcionais como o visual, o auditivo, o motor etc.;
A Neurociência Comportamental, aquela que se dedica ao estudo das
estruturas neurais que produzem comportamentos e outros fenômenos
psicológicos como o sono, os comportamentos sexuais, emocionais, e
muitos outros;
A Neurociência Cognitiva, que é objeto de nosso estudo. Esta trata das
capacidades mentais mais complexas, geralmente típicas do homem,
como a linguagem, a autoconsciência, a memória etc.
O grande avanço dado pelos estudos na Neurociência só amplia cada vez mais
o seu universo de conhecimento. Muitas pesquisas sobre o tema demonstram
aprofundar os estudos sobre o Sistema Nervoso Central.
Galeno (130–200 D.C.), divide o cérebro em vinte e sete órgãos (traduzidos
como protuberâncias ósseas da superfície do crânio). De acordo com seus estudos,
dezenove desses órgãos podem ser encontrados em todo os animais, incluindo seres
humanos. No entanto sua teoria juntamente com de outros pesquisadores que
também partilharam dela foi rejeitada categoricamente pela comunidade médica
científica europeia.
A sustentação dessa tradicional doutrina funcional do sistema nervoso (que se
sustentava nos estudos do neurônio de forma isolada, já na primeira metade do século
XX), começa a enfraquecer e dá lugar aos estudos realizados pelo psicólogo
americano Lashley (1890-1958), o qual tentava investigar em que parte do cérebro
estão guardadas as memórias, que ele denominou de “eneagrama”.
68
Com experimentos realizados em laboratório com animais, Lashley formulou
dois princípios: o primeiro chamado de “princípio da equipotencialidade” - descobriu
que os traços da memória não estão armazenados apenas em um neurônio ou num
grupo deles, porém são especializados em registrar lembranças, armazenadas e
distribuídas por toda extensão das áreas corticais primarias; o “efeito de massa
neuronal” - foi o segundo princípio estabelecido por Lashley através de suas
observações. Em suma, Lashley tentara provar que o córtex funciona de forma mais
complexa, diferente da visão localizacionista da época.
70
celulares lembram a forma de uma pirâmide e que poderiam ser divididos em seis
camadas de neurônios empilhadas uma sobre as outras.
A disciplina cito arquitetura, se valia de vários métodos de coloração do tecido
cerebral, com especial destaque para a técnica de Nissi, que se baseava na marcação
do ácido ribonucleico (RNA) encontrado em organelas intracelulares, que estudava a
distribuição do grupo de neurônios.
O médico e professor alemão Berger (1873-1941) através de seus estudos,
buscou uma forma de medir a atividade elétrica gerada pelo cérebro e depois de várias
tentativas chegou à um novo método que batizou de “eletroencefalograma” ou EEG.
Já no final do Século XIX o neurocientista brasileiro Nicolelis, em suas
pesquisas em laboratório buscou registrar as atividades elétricas dos neurônios
(chamados de células talamocorticias (TC)) no núcleo ventroposterior medial (VPM),
que consistia na construção de matrizes e feixes de microelétrodos, permitindo a
monitoragem neurofisiológa que podia se iniciar uma semana após a cuidadosa
implantação desses sensores no cérebro de ratos.
Essas experiências ajudaram a formular o princípio da incerteza na
neurofisiologia. Trata-se de um dos dez princípios que descrevem como o cérebro
relativístico produz pensamentos a partir de seu próprio ponto de vista.
No final do século XIX surgem em cena os primeiros fundadores da
neurociência moderna: Adrian (1889-1977), o qual despontou na frente com sua
discussão sobre a provável sede da inteligência que procurava os princípios de
funcionamento do cérebro humano. Suas pesquisas apontavam para a certeza de que
as informações sensoriais sobre o mundo externo e o corpo são codificadas e salvas
na mente. Após isso são transportadas por nervos periféricos para todo o cérebro.
Em mérito às suas pesquisas nessa área, Adrian ganhou o Prêmio Nobel de
Fisiologia ou Medicina, em 1932. As pesquisas na área da Neurociência com vistas à
compreensão de como o funciona o cérebro humano, ainda continuam visto que,
apesar de existirem muitas descobertas importantes, essa máquina humana ainda
tem muitos mistérios a serem desvendados.
Para Kandel, ganhador do Prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 2000 a
neurociência atual é a neurociência cognitiva, um misto de neurofisiologia, anatomia,
biologia desenvolvimentalista, biologia celular e molecular e psicologia cognitiva.
71
A sensação e a percepção são o ponto de partida para a pesquisa moderna
dos processos mentais. John Locke e cols., sustentaram que todo conhecimento é
obtido por meio da experiência sensória, daquilo que nós vemos, ouvimos, sentimos,
degustamos e cheiramos. Ele propôs que, ao nascimento a mente humana seria como
uma tabula rasa uma folha vazia onde a experiência deixaria suas marcas.
Vamos então supor que a mente pudesse ser como se diz, um papel em branco
sem quaisquer letras, sem quaisquer ideias, como então ela poderia ser mobiliada?
De onde vêm todos os materiais da razão e do pensamento? Experiência em que se
fundamenta todo nosso conhecimento e, a partir dela, em última análise, ele se
origina.
As experiências que passamos em nossas vidas são informações que chegam
ao sistema nervoso central na forma de estímulos sensoriais. O encéfalo processa
essas informações procurando compará-la com outras que já estejam previamente
guardadas, reconhecendo-as ou não.
Esse mecanismo não envolve apenas os aspectos físicos dessa informação
(cor, forma, tamanho), mas também as relacionando com os aspectos diretamente
ligados aos sentimentos e emoções. Após seu processamento, um conjunto de
sensações é memorizado com a informação recebida que pode ser agradável ou não.
Fonte: pt.slideshare.net
72
frequências sonoras são percebidas pelo nosso sistema auditivo, isto é, nem todos os
sons que percebemos são interpretados pelo nosso encéfalo.
Além disso, nossas percepções diferem qualitativamente das propriedades
físicas dos estímulos, visto que o sistema nervoso extrai somente determinadas partes
da informação de cada estímulo, enquanto ignora outras, e assim interpreta esta
informação no contexto das estruturas encefálicas e das experiências prévias. Assim,
nós recebemos ondas eletromagnéticas de diferentes frequências, mas as
percebemos como as cores vermelho, azul e verde.
Recebemos ondas de pressão dos objetos vibrando em diferentes frequências,
mas ouvimos sons, palavras e música. Cores, sons, sabores e odores são criações
mentais construídas pelo encéfalo a partir da experiência sensória. Elas não existem,
como tal, fora do encéfalo.
Mesmo que nossas percepções quanto ao tamanho, forma e cor dos objetos
sejam derivadas de padrões de luz que chegam às nossas retinas, nossas
percepções, ainda assim, parecem corresponder às propriedades físicas dos objetos.
Na maioria das vezes podemos usar nossas percepções para manipular um objeto e
predizer aspectos do seu comportamento.
A percepção permite que organizemos características essenciais de um objeto
o suficiente para podermos manipulá-lo apropriadamente. Assim, nossas percepções
não são registros diretos do mundo ao nosso redor. Ao contrário, elas são formadas
internamente, de acordo com as limitações impostas pela arquitetura do sistema
nervoso e por suas habilidades funcionais.
A realidade existente ao nosso redor, no mundo exterior, é filtrada por diversos
mecanismos, muitas vezes, distorcendo-os. Somente as informações que chegam a
ser processadas pelo nosso encéfalo é que constroem uma realidade própria dentro
da interpretação de nosso próprio sistema nervoso, sempre baseado em nossas
capacidades cognitivas.
73
Fonte:edufinanceira.org
Tem sido dito que “a beleza está nos olhos de quem vê”. Como hipótese, essa
ideia indica claramente o problema central da cognição. O mundo da experiência é
produzido pelo homem que a vivencia, e com certeza existe um mundo real de
árvores, pessoas carros e mesmo livros, que têm uma grande relação com a nossa
experiência desses objetos. Nós, no entanto, não temos acesso direto ao mundo real,
nem a qualquer de suas propriedades.
Fonte: pt.slideshare.net
74
Tudo o que sabemos sobre a realidade é mediada não somente pelos órgãos
de sentido, mas também por complexos sistemas que interpretam e reinterpretam a
informação sensória. O termo “ cognição” se refere a todos os processos pelos quais
uma aferência sensória é transformada, reduzida, elaborada, armazenada,
recuperada e utilizada (ULRIC NEISSER, 1967).
A percepção da realidade criada pelo seu cérebro (realidade subjetiva)
corresponde totalmente à realidade existente ao seu redor (realidade objetiva)
ou é apenas parcial?
E se essa realidade (subjetiva) pudesse ser influenciada ou alterada e se
tivéssemos um controle maior dos padrões de pensamentos utilizados por nossa
memória para comparar informações pré-concebidas com as novas? Não temos outra
conscientização de uma mesma realidade (objetiva)?
A realidade objetiva é aquela intangível pela restrição perceptiva de nossos
cinco sentidos. A realidade subjetiva é aquela resultante da assimilação dos estímulos
externos filtrados pela nossa capacidade cognitiva que, nem sempre corresponde à
realidade objetiva e na qual orientamos nossa vida em função da mesma tornando-
se, assim, plenamente mutável.
Fonte: youtube.com
75
dentro de nós mesmos existe a possibilidade de fazer mudanças e transformar nossas
realidades? Tudo depende da conscientização e da vontade de cada um.
A neurociência cognitiva procura estabelecer correlações entre:
a) Propriedades de estímulos apresentados ao sistema nervoso central;
b) Medidas da atividade cerebral por meio de diversas tecnologias.
Tipos de processos mentais estudados pela neurociência cognitiva:
diversos processos são enfocados na neurociência cognitiva:
a) Aprendizagem e memória;
b) Atenção;
c) Motivação e emoções;
d) Sensação e percepção;
e) Identidade pessoal (o “EU”);
f) Pensamento e funções executivas;
g) Linguagem e interpretação;
h) Motricidade e planejamento motor.
Fonte: slideplayer.com.br
76
computacional deram origem a uma abordagem funcional do encéfalo denominada
neurociência cognitiva. (KANDEL e cols, 2003).
Segundo o autor a neurociência atual é a neurociência cognitiva, “um misto de
neurofisiologia, anatomia, biologia desenvolvimentista, biologia celular e molecular e
psicologia cognitiva” (KANDEL e cols, 2003). Segundo Mora (2004), os estudos de
Kandel (1998), neurobiológico e psiquiatria, prêmio Nobel de fisiologia e medicina de
200, baseiam-se essencialmente em cinco princípios:
Todos os processos mentais, inclusive os mais complexos, deveriam de
operações do cérebro;
Os genes e seus produtos, as proteínas, são determinantes importantes
dos padrões de interconexões entre os neurônios cerebrais e dos
detalhes do seu funcionamento (como corolário, se indicaria que um dos
componentes que contribuem para o desenvolvimento dos transtornos
mentais mais graves é genético);
Da mesma forma que as combinações de genes contribuem para a
conduta (incluindo a conduta social), reciprocamente a conduta e os
fatores sociais podem exercer suas ações sobre o cérebro, modificando
a expressão dos genes e, em consequência, alterando as funções dos
neurônios e seus circuitos.
As modificações da expressão gênica, produzidas pela aprendizagem,
originam novos padrões de conexões neuronais.
De tal modo, a psicoterapia é eficaz para produzir mudanças de longo
prazo na conduta dos pacientes, fazendo isso provavelmente por meio
da aprendizagem, que deve provocar alterações na expressão dos
genes que alteram a força das conexões sinápticas e modificações
neuronais estruturais, as quais, por sua vez, mudam os padrões
anatômicos das interconexões neuronais do cérebro.
Vale a pena comentar rapidamente alguns itens. O dois e o três ressaltam a
importância das interações das dimensões biológicas e culturais dos sujeitos. O três
e o quatro referem-se ao fato de que a genética não é fator preponderante no
comportamento dos sujeitos. Se determinados genes facilitam comportamentos
sociais inadequados, pelo esforço do aprendizado podem-se mudar esses
77
comportamentos por meio de alterações sinápticas, ou seja, alteram-se a anatomia, a
fisiologia e a neuroquímica entre os neurônios que se interligam.
A Neurociência existe há mais de um século. Mas a partir de 1950 o interesse
pelo cérebro aumentou devido ao aparecimento do computador, cujo funcionamento
foi idealizado com base no funcionamento do cérebro, mais especificamente em suas
células, os neurônios. Imaginou-se que ambos, computadores e cérebros, seriam dois
sistemas de processamento de informações.
A partir de então os estudiosos do assunto começaram a utilizar o computador
simulando estados mentais; acreditavam e ainda acreditam, que poderemos vir a
conhecer os segredos da mente a partir dessas simulações. Mora (2004, p.28) cita
seis argumentos de Edelman e Tononi (2000) de que o computador mais sofisticado
não pode ser comparado ao cérebro, embora o funcionamento deste tenha idealizado
o funcionamento daquele. Um computador é distinto do cérebro.
78
magnética e de tomografia, que permitem observar as alterações no cérebro durante
o seu funcionamento.
De acordo com Talarico (2014) "a Psicologia, sem desconsiderar o papel do
cérebro, foca os significados, se pautando em evidências indiretas para explicar como
os indivíduos percebem, interpretam e utilizam o conhecimento adquirido".
79
Fonte: pt.slideshare.net
80
7.3 Plasticidade sináptica
81
7.4 Neuroplasticidade e cognição
7.5 Neurogênese
83
Adaptação a mudanças no ambiente;
Armazenamento de novas informações associadas à aprendizagem;
Reorganização de circuitos neurais em resposta à estimulação
ambiental; e
Recuperação de lesões no cérebro e na medula espinhal (Johnston,
2009).
Os mecanismos envolvidos na neuroplasticidade incluem a neurogênese, a
programação de morte celular e a atividade-dependente das sinapses. Exemplos
clínicos da neuroplasticidade adaptativa incluem a reorganização dos mapas corticais
dos dedos em resposta à prática de um instrumento, assim como a aprendizagem
facilitada de uma língua estrangeira ou esporte por uma criança, quando comparada
aos adultos. As mudanças estruturais ocorridas no cérebro são mostradas em estudos
de neuroimagem funcional (Johnston, 2009).
Esses mecanismos de plasticidade neural explicam o impacto da psicoterapia
e da reabilitação cognitiva (Johnston, 2009). A partir delas podem ocorrer uma
adaptação e uma reorganização de estruturas e funções cerebrais. Logo, o ambiente
(neste caso referindo-se às intervenções) é necessário para modulação e modificação
neural. As técnicas psicoterapêuticas e de reabilitação possibilitam a percepção das
experiências, além de prática e estimulação repetida (DUFFAU, 2006 e
ROBERTSON; MURRE, 1999).
Elas facilitam o fenômeno da plasticidade neural, promovendo o fortalecimento
de uma habilidade ou tarefa que estimula um circuito neural específico em detrimento
da inibição de outros (DUFFAU, 2006).
Os estudos de neuroimagem corroboram essa ideia mostrando que a
reativação de estruturas neurais é induzida por imagens mentais, observação
comportamental ou treinamento passivo em pacientes com problemas neurológicos e
psiquiátricos (DUFFAU, 2006).
Em outras palavras, processos cognitivos e comportamentais alteram os
processos biológicos durante a reabilitação e a psicoterapia (ROBERTSON; MURRE,
1999). Esses achados recentes da neurociência evidenciam a estreita interface entre
cognição, comportamento, emoção e cérebro.
Entre os tipos de plasticidade encontram-se a regeneração e a plasticidade
axônica, dendrítica, somática e sináptica. A plasticidade sináptica se refere à mudança
84
na força da neurotransmissão induzida por conexões sinápticas realizadas no
passado (JOHNSTON, 2009). Segundo Andrade e Junior (2005), esse tipo de
plasticidade é associado à aprendizagem.
Consequentemente, é o mecanismo de neuroplasticidade mais discutido
quando se pensa nas intervenções terapêuticas. Essas intervenções se baseiam na
construção de novos repertórios comportamentais aprendidos e na formação de novas
memórias.
Estudos empregando neuroimagem funcional e estrutural com pacientes
acometidos com transtornos de ansiedade como por exemplo, transtorno de estresse
pós-traumático (TEPT), fobias específicas, ansiedade social, transtorno obsessivo-
compulsivo e transtornos de humor, veem mostrando como a psicoterapia tem a
capacidade de produzir seus efeitos terapêuticos por meio de alterações em
determinados circuitos neurais (CALLEGARO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2007;
CRUZ; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2007; ETKIN; WAGNER, 2007; PORTO et al.,
2006).
Os estudos mostram inclusive, um padrão de funcionamento cerebral comum
a alguns transtornos de ansiedade, destacando maior ativação da amígdala e da
ínsula associada a emoções negativas e ao medo (LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011).
Etkin e Wager (2007) por exemplo, realizaram um estudo de meta-análise em
que observaram esses aspectos. Segundo Paulus e Stein (2006), o córtex insular está
relacionado com a aprendizagem de respostas aversivas, o que poderia explicar essa
ativação da ínsula, enquanto a amígdala está relacionada com a ativação de perigo,
o que explicaria a associação com respostas de medo e ansiedade. Os indivíduos
com transtornos de ansiedade apresentam uma resposta disfuncional exagerada de
medo a situações aprendidas e condicionadas ao longo da vida, o que justifica uma
maior ativação desse circuito neural.
O mesmo efeito sobre a amígdala foi observado por Goossens, Sunaert,
Peeters, Griez e Schruers (2007). A partir de um tratamento baseado em técnicas de
exposição para fobia, esses autores apontaram que a terapia cognitivo-
comportamental foi capaz de alterar a atividade da amígdala e da ínsula bem como
uma redução dos escores de ansiedade.
85
A psicoterapia, ao diminuir os sintomas de ansiedade por mecanismos de
aprendizagem e modos de interação com o ambiente, estaria modificando e
modulando a ativação dessas estruturas límbicas.
Não só os transtornos de ansiedade têm sido estudados dentro dessa
perspectiva. Por exemplo, Kumari (2006) publicou dados referentes ao transtorno de
humor. O autor mostrou em uma revisão da literatura que pacientes com transtornos
de humor modificaram sua ativação de estruturas dos lobos frontais e temporais por
meio da terapia interpessoal e da terapia cognitivo comportamental. Del-Ben (2005)
descreve também, a partir de um histórico das bases biológicas do comportamento
social e uma revisão de estudos de neuroimagem e sistemas de neurotransmissores,
a associação do comportamento antissocial com áreas frontais (porções
ventromediais) e a amígdala.
Essas revisões apontam que entre as terapias analisadas, a terapia cognitiva
comportamental promoveu alterações neurais tão consistentes quanto a farmacologia
e também demonstrou a mesma eficácia na remissão dos sintomas.
Linden (2006) reforça esses resultados em sua revisão de estudos de
neuroimagem funcional sobre os efeitos da psicoterapia, avaliando quais as possíveis
mudanças ocorridas.
Esses dados ressaltam que estruturas neurais estão associadas à ativação e à
regulação de processos emocionais. Além disso, demonstram que esses mecanismos
neurais se tornam disfuncionais nos transtornos psiquiátricos, assim como as
construções psíquicas condizentes com cada transtorno. Por fim, os principais
estudos sobre neurociências e psicoterapia buscam testar a eficácia das psicoterapias
nas alterações dessas estruturas e de seu funcionamento, promovendo algum ganho
terapêutico frente a esses transtornos.
Dentre esses estudos a psicoterapia é a que mais tem sido estudada e
apontada, em alguns casos, equivalente em eficácia à psicofarmacoterapia e à terapia
cognitivo-comportamental.
86
7.8 Modelo de intervenção neurocognitivo-comportamental
88
7.11 Terapia cognitivo-comportamental
90
A avaliação neuropsicológica possibilita uma compreensão detalhada do
funcionamento neurocognitivo-comportamental do paciente, sendo assim uma
condição fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de intervenção
psicológica. A segunda etapa consiste na orientação e psicoeducação dos familiares
e outros indivíduos que convivem diretamente com o paciente (escola, ambiente
profissional, outros profissionais da área da saúde).
Nessa etapa o terapeuta realiza algumas sessões iniciais com o objetivo de
apresentar o quadro clínico do paciente aos familiares e ensinar estratégias de
estimulação e compensação cognitiva no ambiente natural, bem como ajudar em
diferentes dificuldades no processo de adaptação. Essa etapa inclui visita à escola,
ao ambiente profissional ou a outro espaço de convívio social importante na vida do
paciente.
Esse processo de orientação ocorre durante a intervenção, pelo menos uma
vez por mês para manutenção das estratégias desenvolvidas e criação de novas em
decorrência da evolução do paciente.
A terceira etapa refere-se ao treinamento cognitivo. Nessa fase são elaboradas
técnicas de estimulação das funções neuropsicológicas comprometidas e de
desenvolvimento de formas alternativas para a realização das tarefas utilizando as
funções neuropsicológicas preservadas.
A quarta etapa envolve a aplicação de técnicas cognitivo-comportamentais para
a mudança para um repertório psicossocial mais adaptativo à nova condição do
paciente. O paciente deve aprender a controlar os efeitos secundários da ansiedade
e da oscilação do humor. O processo da autoconscientização das contingências que
controlam seu comportamento é fundamental nessa fase do tratamento.
Na maior parte das vezes a terceira e quarta etapas ocorrem simultaneamente
em uma ou duas sessões semanais. Além das atividades na clínica, o paciente realiza
em casa atividades orientadas por familiares ou estagiários de psicologia. Diversos
quadros psicopatológicos são beneficiados com este tipo de intervenção combinada.
A seguir serão exemplificados brevemente possibilidades das etapas de
intervenção neurocognitiva em 3 quadros clínicos:
Transtornos Invasivos, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH) e demências.
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Nos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento por exemplo, enfatiza-se o
déficit em leitura social. Tais déficits estariam também associados aos prejuízos em
funções executivas (FE) (OZONOFF; STRAYER; MCMAHON; FILLOUX, 1994).
De acordo com a abordagem neurocognitiva-comportamental, a
intervenção se daria através de:
Reabilitação dessas funções através de exercícios específicos, como
organização de histórias com início, meio e fim, compreensão de cenas
em filmes para estimular a organização perceptual e geração de
hipóteses sobre o comportamento do outro (3º etapa); e
Utilização de uma abordagem psicoterápica que envolve o
desenvolvimento de habilidades sociais, especialmente as empáticas,
voltadas para situações do cotidiano do paciente (4º etapa).
Já o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é definido por envolver
dificuldades de atenção, impulsividade, inibição de comportamentos e por gerar
prejuízos funcionais significativos, dentre eles os sociais (dificuldades em se
autorregular, avaliação acurada do comportamento e flexibilidade de respostas). Da
mesma forma, ele também apresenta como um dos aspectos mais relevantes o
comprometimento de funções executivas (CAPOVILLA; ASSEF; COZZA, 2007;
SEMRUDCLIKEMAN, 2007).
Neste caso, o tratamento se daria através de:
Estimulação de funções executivas - que pode envolver treinamento de
planejamento, flexibilidade, controle inibitório e, observação mais
precisa de situações sociais através de atividades lúdicas como por
exemplo, construir uma história em quadrinhos, planejar uma festa de
aniversário, ou identificar as ideias principais de um texto ou imagem
(etapa 3);
associada a intervenções cognitivo-comportamentais (etapa 4), que
priorizem autor regulação, como autoinstrução para regular a
impulsividade e avaliar as consequências dos próprios comportamentos;
resolução de problemas, com a finalidade de desenvolver estratégias
sociais mais adequadas; além de manejo de ansiedade quando há
comorbidade.
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Nas demências a combinação pode se dar através de estimulação de funções
comprometidas e intervenções com técnicas de manejo de ansiedade e de humor,
visto que é comum a depressão ser comórbida a estes quadros. Logo, técnicas que
visam à reorganização da rotina, introdução atividades prazerosas são eficazes.
Outra maneira é combinar essas técnicas com etapas da própria estimulação
como instituir como meta de reabilitação escrever um livro. Esta meta abarca
estimulação cognitiva, além de criar novas perspectivas e trazer prazer e bem-estar
ao paciente.
Por fim, as intervenções psicoterápicas podem ser usadas em comorbidades
como ansiedade ou rebaixamento de humor decorrentes de transtornos, ou, podem
ainda estar mais estritamente relacionadas, ou seja, a intervenção psicoterápica e
reabilitação cognitiva são concomitantes e entrelaçam-se no decorrer do tratamento.
Nestes casos percebe-se que muitas técnicas cognitivo-comportamentais são
também formas de estimulação cognitiva como a técnica de resolução de problemas,
onde estimula-se funções executivas (planejamento, monitorização, construção de
hipóteses); ou mesmo o desenvolvimento de habilidades sociais empática, onde
estimula-se a construção de hipóteses sobre o comportamento do outro. E, por sua
vez, a estimulação cognitiva precisa, ou seja, nas funções associadas aos déficits
comportamentais, torna o paciente mais apto a receber e utilizar as técnicas cognitivo-
comportamentais, observando com isso relação de mão dupla entre elas.
Sendo assim em alguns momentos a estimulação pode ser feita a partir de
treino cognitivo associado à psicoterapia; em outros a própria psicoterapia e atividades
voltadas para o cotidiano seriam suficientes para favorecer o desenvolvimento
cognitivo e emocional, caso a intervenção seja sempre pautada por uma avaliação
precisa dos déficits que geram as alterações de comportamento. Estas relações entre
técnicas de psicoterapia cognitivo-comportamental e reabilitação constituiriam o
modelo neurocognitivo-comportamental.
A psicoterapia neurocognitivo-comportamental propõe uma metodologia de
intervenção baseada na interface da psicologia cognitiva com a neurociência. Essa
prática clínica vem sendo utilizada em diferentes transtornos psiquiátricos e doenças
neurológicas. Modelos clínicos de avaliação e intervenção estão sendo propostos para
os casos de Transtorno do Déficit de Atenção, Síndrome de Asperger, Transtorno
Bipolar, Comprometimento Cognitivo Leve no Envelhecimento, Doença de Alzheimer,
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Doença de Parkinson, Traumatismo Craniano e Acidente Vascular Cerebral, entre
outros.
94
aprendizagem é compensadora. Por exemplo, o novo conhecimento no formato de
jogo interativo é particularmente propício para a plasticidade cerebral e aumenta a
atividade do córtex pré-frontal.
Fonte: psicologiaaplicadaets.com
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Percepção:
Fonte: slideplayer.com.br
Atenção:
Mecanismo que permite a fixação de alguns estímulos e a organização das
informações para o processo de tomada da decisão. É seletiva, já que foca alguns
estímulos e descarta os demais (estímulos constantes são ignorados e, portanto, não
participam do processo decisório).
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É influenciada pelas necessidades, motivações, interesses, personalidade e
cultura, e também por objetivo, prazer e medo.
A obtenção e permanência da atenção dependem da intensidade, movimento
e repetição.
Memória:
"Faculdade de reproduzir conteúdo inconscientes"
Fonte: vidaleve.com.br
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Fonte: andersonyankee.wordpress.com
“O senso comum até hoje dita que as expressões emocionais têm origem em
algum evento interno, ou seja, nós sentimos alguma coisa e então
expressamos uma emoção. A ordem desses fatores, porém, pode não ser
exatamente essa. Uma das primeiras referências nesse sentido foi James
(1890), que afirmava que os humanos primeiro percebem o estímulo,
havendo uma reação do organismo, e a percepção desse movimento das
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vísceras seria, então, o próprio sentimento”. (JAMES, 1890 apud MIGUEL F,
2015).
Fonte: escolapsicologia.com
100
Os TNCs são únicos entre as categorias do DSM-5, na medida em que são
síndromes para as quais a patologia subjacente e com frequência também a etiologia
pode potencialmente ser determinada. As várias entidades da doença subjacente
foram alvos de extensa pesquisa, experiência clínica e consenso de especialistas
sobre os critérios diagnósticos. Os critérios do DSM-5 para esses transtornos foram
desenvolvidos por meio de consulta rigorosa a grupos de especialistas para cada uma
das doenças, sendo alinhados o máximo possível com os critérios de consensos
atuais para cada uma delas.
A utilidade potencial dos biomarcadores também é discutida em relação ao
diagnóstico. A demência está incorporada à entidade recém-nomeada “transtorno
neurocognitivo maior”, embora não esteja excluído o uso do termo demência em
subtipos etiológicos nos quais é um termo padrão. Além disso o DSM-5 reconhece um
nível menos grave de prejuízo cognitivo o transtorno neurocognitivo leve, que pode
também ser foco de cuidado, e que no DSM-IV era parte de “Transtorno Cognitivo
Sem Outra Especificação”.
Há critérios diagnósticos para ambas as entidades sindrômicas seguidos de
critérios diagnósticos para os diferentes subtipos etiológicos. Vários TNCs costumam
coexistir, e suas relações podem ser ainda mais bem caracterizadas sob diferentes
subtítulos deste capítulo, incluindo “Diagnóstico Diferencial” (p. ex., TNC devido à
doença de Alzheimer versus TNC vascular), “Fatores de Risco e Prognóstico” (p. ex.,
patologia vascular que aumenta a expressão clínica da doença de Alzheimer) e/ou
“Comorbidade” (p. ex., patologia mista de doença de Alzheimer-vascular).
O termo demência é mantido no DSM-5 para continuidade, podendo ser usado
em contextos em que médicos e pacientes estejam acostumados a ele. Embora
demência seja o termo habitual para transtornos como as demências degenerativas,
que costumam afetar adultos com mais idade, o termo transtorno neurocognitivo é
amplamente empregado, sendo em geral o termo preferido para condições que afetam
pessoas mais jovens como o prejuízo secundário à lesão cerebral traumática ou a
infecção pelo HIV. A definição de TNC maior, além disso é mais ampla que o termo
demência, no sentido de que pessoas com declínio substancial em um só domínio
podem receber esse diagnóstico, mais notadamente a categoria do DSM-IV
“Transtorno Amnéstico”, agora diagnosticado como TNC maior devido a outra
condição médica e para o qual o termo demência não será utilizado.
101
9.1 Desenvolvimento perceptivo e cognitivo
102
Esse seria o caso de crianças pequenas que precisam manipular a realidade
que as envolve para entendê-la. Na maioria dos casos essa atividade é interna,
mental, ainda que possa se basear em objetos físicos. Ao contar, comparar,
classificar, embora haja imobilidade do sujeito, ele está ativo mentalmente.
De acordo com Piaget, todas as crianças passam por quatro estágios cognitivos
mais ou menos na mesma idade, independentemente da cultura em que vivem.
Nenhum estágio pode ser omitido, uma vez que as habilidades adquiridas em estágios
anteriores são essenciais para os estágios seguintes.
No estágio sensório-motor a criança explora o mundo e desenvolve seus
esquemas, principalmente por meio de seus sentidos e atividades motoras. Vai do
nascimento até o período de “linguagem significativa” (por volta de 2 anos).
Durante esse estágio as crianças têm conceitos rudimentares dos objetos de
seu mundo. Um conceito adquirido durante esse estágio é o de permanência do
objeto: habilidade de saber que um objeto não deixa de existir simplesmente porque
saiu de nosso campo de visão. Aos quatro meses crianças que brincam com um objeto
que será depois escondido, agem como se ele jamais estivesse existido.
Ao contrário, um bebê com 10 meses procura ativamente um objeto que foi
escondido embaixo de um pano ou por trás de uma tela. “Ele tem a consciência de
que o objeto continua existindo, mesmo quando não está visível.” (PIAGET;
INHELDER, 2003, p.20).
O sucesso em tarefas como essa marca o fim do estágio de inteligência
sensório-motora, pois é o resultado de uma habilidade recém-desenvolvida para
representar objetos e atos que não estão mais em seu campo de visão. Assim, as
crianças exibem a permanência de objetos quando não tem mais dificuldade de
conceitualizar a presença de um objeto fora do campo de visão.
Estudos sugerem que Piaget possa ter subestimado as habilidades infantis,
questionando sobre a natureza limitada das capacidades de um recém-nascido no
domínio da integração sensório-motora, da integração intermodal e da percepção de
objetos. Os críticos de Piaget argumentam que um recém-nascido tem alguma forma
de integração de experiências sensoriais por meios das modalidades da visão, da
audição e do tato.
Por exemplo, crianças recém-nascidas quando dado suporte de cabeça é
adequado, podem buscar e localizar visualmente a origem de sons emitidos no
103
ambiente. Isso sugere uma habilidade bem-desenvolvida de integração intermodal
visual e auditiva. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006).
Baillageron (1990) demonstrou que crianças pequenas de apenas alguns
meses normalmente percebem objetos parcialmente escondidos. Ela mostrava um
objeto para as crianças e colocava-o atrás de um painel vertical que impedia sua visão.
O painel era, então, derrubado, de duas formas distintas. Na primeira, o painel era
derrubado e batia no objeto colocado atrás dele, como seria esperado. Na segunda,
o painel era derrubado, mas o objeto havia sido removido secretamente, fazendo com
que o painel caísse direto na superfície da mesa. Nestas tarefas as crianças
mostravam mais surpresa na segunda condição que na primeira.
Após vários estudos em cognição, Flavell et al. (1999) assim se
manifestam a respeito da teoria de Piaget, quanto aos estágios:
“A teoria de Piaget, entretanto, não faz afirmações apenas gerais, mas muito
fortes e específicas a respeito da preponderância dos estágios da cognição
em bebês, e estas afirmações não têm se sustentado em pesquisas recentes.
Existem simplesmente muitos exemplos de competência mais precoce do
que a esperada, muitas discrepâncias no nível de desempenho que não
parecem depender dos processos construtivos de ação sobre o mundo com
os quais Piaget definiram seus estágios.” (FLAVELL, et al., 1999, apud
JUNIOR C, 2017).
105
portanto, o neuropsicólogo não trabalha sozinho, e, sim, existe uma equipe atuando
em conjunto para o bem estar do paciente.
Qualquer pessoa pode procurar a avaliação neuropsicológica. Geralmente ela
é procurada por pais que notam um comportamento diferente e alterado na criança ou
adolescente, ou ainda por professores ou profissionais que tem contato com o
paciente e percebem o benefício de passar por professores ou profissionais que tem
contato com o paciente e percebem o benefício de passar por uma avaliação
neuropsicológica.
No caso de adultos e idosos, dependendo do motivo da procura por uma
avaliação neuropsicológica, o próprio paciente, notando alguns sintomas que afetam
o comportamento e as questões cognitivas, pode procurar. Em casos mais extremos,
como idosos que podem estar impossibilitados de buscar esse tipo de ajuda sozinhos,
é necessário que outra pessoa busque um profissional especializado em exames
neuropsicológicos para fazer a análise, como o cônjuge, filhos, cuidadora ou alguém
que esteja no dia a dia e perceba a importância.
Fonte: psicologafabiola.com
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Déficit no desenvolvimento (escolar, comportamental);
Uso abusivo de substâncias (álcool, drogas);
Transtornos alimentares;
Transtornos cognitivos;
Transtornos neuropsiquiátricos (Epilepsia, demência, tumores, autismo
etc.);
Alterações comportamentais sem explicação (irritabilidade, depressão,
apatia, comportamentos inadequados).
Geralmente, quatro ou cinco sessões com uma hora cada são suficientes para
que seja feita a avaliação neuropsicológica. Se essas sessões forem realizadas
semanalmente, a avaliação dura pouco mais de um mês. Porém, a duração varia de
paciente para paciente, dependendo das necessidades específicas de cada pessoa.
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