Conceitos de Avaliação Psicológica: Conhecimento de Estudantes e Profissionais
Conceitos de Avaliação Psicológica: Conhecimento de Estudantes e Profissionais
Conceitos de Avaliação Psicológica: Conhecimento de Estudantes e Profissionais
Conceitos de Avaliação
Psicológica: Conhecimento de
Estudantes e Profissionais
Concepts Of Psychological Assessment:
Knowledge Of Students And Professionals
Pontifícia Universidade
Católica de Campinas
Artigo
Resumo: A avaliação psicológica tem recebido bastante destaque nos últimos anos, embora diversos
problemas relacionados à atuação profissional inadequada na área, bem como problemas de formação,
venham sendo apontados na literatura. Nesse sentido, o presente trabalho visou a investigar o domínio de
alguns conceitos essenciais da avaliação psicológica por parte de estudantes e de profissionais. Uma amostra
composta por 40 profissionais formados e 40 estudantes de graduação respondeu a um questionário contendo
seis questões abertas que investigavam temáticas como definição da avaliação psicológica, métodos que
podem ser utilizados durante esse processo, o sistema de avaliação dos testes psicológicos (SATEPSI), os
requisitos mínimos para a aprovação de um instrumento, definição de validade e precisão. Os resultados
confirmaram as preocupações encontradas na literatura ao apontarem que, de forma surpreendente, não
puderam ser notadas diferenças importantes entre os dois grupos pesquisados em relação ao domínio das
questões investigadas, bem como também não apontaram maior conhecimento dos conceitos por parte dos
profissionais. Inúmeras respostas equivocadas foram encontradas, bem como várias respostas em branco
ou respostas que representavam o desconhecimento do que estava sendo questionado, de forma a indicar
a necessidade de maior cuidado com a formação profissional e a atualização constante dos profissionais
que se encontram atuando na área.
Palavras-chave: Avaliação psicológica. Formação do psicólogo. Formação profissional. Psicologia.
Abstract: Psychological assessment has been receiving a lot of attention in the last years, despite several issues
related to the inadequate professional performance in the area as well as issues regarding the formation, are
pointed out in the literature. For this, the present paper aimed at investigating the student´s and professional´s
domain on some essential concepts of the psychological assessment. A sample composed by 40 graduated
professionals and 40 graduation students answered a questionnaire containing six open questions that
investigated themes such as the definition of psychological assessment, the methods that can be used during
that process, the system of evaluation of psychological tests (SATEPSI), the minimal requirements for the
approval of an instrument, definition of validity and precision. The results confirmed the concerns found in
the literature by pointing that, in a surprisingly way, there are no substantial differences between the two
groups focused on the domain of the investigated aspects, as well as no more significant knowledge on
these concepts by the professionals. Many mistaken answers were found, as well as the lack of responses
and others that represented the ignorance about what was being asked. The results showed the necessity of
a greater care with the formation process and constant updating of the professionals that work in this area.
Keywords: Psychological assessment. Psychologist education. Professional education. Psychology.
Resumen: La evaluación psicológica ha recibido bastante destaque en los últimos años, aunque diversos
problemas relacionados a la actuación profesional inadecuada en el área, así como problemas de formación,
vienen siendo apuntados en la literatura. En ese sentido, el presente trabajo consideró investigar el dominio
de algunos conceptos esenciales de la evaluación psicológica por parte de estudiantes y de profesionales.
Una muestra compuesta de 40 profesionales formados y 40 estudiantes de graduación contestó a un
cuestionario conteniendo seis preguntas abiertas que investigaban temáticas como definición de la evaluación
psicológica, métodos que pueden ser utilizados durante ese proceso, el sistema de evaluación de los test
psicológicos (SATEPSI), los requisitos mínimos para la aprobación de un instrumento, definición de validez
y precisión. Los resultados confirmaron las preocupaciones encontradas en la literatura al apuntar que, de
forma sorprendente, no pudieron ser notadas diferencias importantes entre los dos grupos investigados con
relación al dominio de las cuestiones investigadas, así como también no apuntaron un mayor conocimiento
de los conceptos por parte de los profesionales. Innumerables respuestas equivocadas fueron encontradas,
así como varias respuestas en blanco o respuestas que representaban el desconocimiento de lo que estaba
siendo preguntado, de forma de indicar la necesidad de mayor cuidado con la formación profesional y la
actualización constante de los profesionales que se encuentran actuando en el área.
Palabras clave: Evaluación psicológica. Formación del psicólogo. Formación profesional. Psicología.
Instrumento
Foi aplicado um questionário elaborado pelas autoras, contendo seis questões abertas que
investigavam diretamente temas como: definição da avaliação psicológica, métodos que podem
ser utilizados durante o processo de avaliação psicológica, o sistema de avaliação dos testes
psicológicos (SATEPSI), requisitos mínimos para a aprovação de um instrumento e definição de
validade e precisão. As questões, dispostas em duas páginas com linhas em branco para resposta,
eram entregues diretamente aos participantes.
Procedimentos
A coleta de dados foi realizada durante um importante congresso nacional de Psicologia (III
Congresso Brasileiro Psicologia, Ciência e Profissão ocorrido no ano 2010). Os participantes foram
abordados durante o intervalo das atividades e convidados a participar da pesquisa. Aqueles que
concordaram em participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa
foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Campinas, sob o número 835/10.
O questionário foi entregue aos participantes, sendo solicitado que o respondessem individualmente.
Durante esse processo, o pesquisador ficou aguardando em um lugar próximo até o término da
resposta, ocasião em que recolheu o instrumento, o qual não exigia a identificação do sujeito,
somente a resposta a dados sociodemográficos (sexo e idade), coletados com a finalidade de
possibilitar a descrição da amostra. Devido ao fato de o maior interesse da pesquisa referir-se ao
tipo de formação (concluída ou em andamento), essa informação mostrou-se a mais importante
no questionário de identificação, visto que, a partir desse dado, os participantes foram divididos
em dois grupos, posteriormente comparados.
Os questionários que não foram completamente respondidos pelo participante tiveram as respostas
consideradas, excluindo-se somente as que estivessem em branco, as quais foram contabilizadas
a fim de se estimar a porcentagem de respostas desse tipo em cada questão. As respostas foram
tabuladas fazendo-se uso da análise de conteúdo, através da criação de categorias de respostas
para cada grupo, com o objetivo de se identificar semelhanças e tendências. Note-se que, em
várias questões, o número total de respostas tabuladas ultrapassa o número de participantes,
dado o fato de que algumas respostas foram enquadradas em mais de uma categoria.
Resultados
A primeira questão, que investigava a definição de avaliação psicológica, buscava conhecer
a concepção que os participantes possuíam sobre a área, visando a identificar semelhanças e
diferenças nas respostas fornecidas pelos profissionais e estudantes. A categorização das respostas
encontra-se disponibilizada na Tabela 1.
continuação da tabela 1
Os resultados mostram que as respostas dos participantes para a questão “Como você define
avaliação psicológica?” apontam a predominância de uma visão bastante estereotipada e divulgada
no senso comum, principalmente aquelas que definem avaliação psicológica de forma bastante
genérica, tais como procedimento de aplicação de testes, mensuração, utilização de instrumentos,
conjunto de métodos e técnicas, procedimento ou ainda prática psicológica. Tais categorias
mostraram-se frequentes tanto nas respostas dadas por estudantes como por profissionais, embora
fosse esperado melhor desempenho por parte dos últimos. Como exemplo de respostas, podem
ser citadas: “área da Psicologia que trabalha com processos de mensuração, utilizando-se de
vários instrumentos, inclusive testes, escalas e outros”, ou ainda “conjunto de métodos e técnicas
de análise em Psicologia”.
Ainda podem ser encontradas, nas respostas dadas pelos profissionais, categorias referentes à
avaliação específica de algum construto, como, por exemplo, aspectos emocionais, inteligência,
atenção, agressividade ou excitabilidade, de forma a demonstrar uma visão bastante restrita da
avaliação, que deixa de ser visualizada como um processo para limitar-se à utilização de um
instrumento de avaliação específico. A situação se repete nas respostas dadas pelos estudantes,
embora ampliando-se os construtos para habilidades mais amplas (cognição, comportamento,
habilidades, motricidade, psicossocial). Nota-se ainda a presença de respostas não conclusivas
dadas por dois profissionais, sendo uma delas fornecida como exemplo: “o homem é a
medida de todas as coisas, das que são e das que não são (Protágoras). A partir disso, avaliar
implica considerar que uma medida é resultado do psíquico e uma função para ser medida”,
havendo ainda uma única resposta, dada por um estudante, em que o participante assume o
desconhecimento do conceito.
Após serem indagados sobre a definição de AP, os participantes eram questionados, na segunda
questão, acerca dos métodos que o profissional pode usar durante um processo de avaliação
psicológica, com o objetivo de se investigar o conhecimento sobre os instrumentos e os recursos
disponíveis ao profissional. A categorização das respostas pode ser verificada na Tabela 2.
Tabela 2. Métodos que um profissional pode utilizar durante processo de avaliação psicológica
segundo opinião de profissionais e estudantes
continuação da tabela 2
Após a categorização e o agrupamento das respostas em cada um dos grupos, para a questão
“Quais os métodos que o psicólogo pode usar durante um processo de avaliação psicológica?”,
as respostas foram separadas em quatro blocos. O primeiro, composto pelas respostas mais
citadas por ambos os grupos, envolveu principalmente as respostas relacionadas a instrumentos
de coleta de dados (testes, entrevistas, observação, questionários, anamnese, escalas, inventários)
bem como a técnicas específicas (ludoterapia, dinâmicas), ressaltadas tanto pelo grupo de
profissionais quanto pelos estudantes. Deve-se destacar o fato de que, em muitas respostas, os
profissionais fizeram questão de citar que, embora não trabalhassem com avaliação psicológica,
achavam que essas seriam as respostas, situação explicitada por meio de dois exemplos: “Não
sou favorável a testes, prefiro entrevistas objetivas, com exceção da avaliação infantil”, ou: “Não
utilizo, porém acredito que sejam as entrevistas e testes padronizados”. Nota-se que esses tipos de
respostas parecem ter sido dadas ao acaso, não se tratando, aparentemente, de um conhecimento
trazido e apreendido na graduação ou durante a atuação profissional. Destaca-se o fato de que,
mesmo não fazendo uso da avaliação psicológica em sua prática profissional, era esperado que
o conhecimento adquirido durante o processo de formação os capacitasse a responder a esse
tipo de pergunta bastante simples.
Destaque deve ser dado à quantidade de respostas que se mostraram inadequadas, visto que não
respondiam ao que estava sendo perguntado, tais como aquelas que apontaram como métodos
da avaliação psicológica algumas respostas genéricas da atuação psicológica (escuta, anotação,
atenção, abordagem) ou do resultado da avaliação psicológica (laudo, devolutiva), bem como
outras técnicas não específicas da Psicologia (desenho, dança, teatro, música), presentes somente
nas respostas dos estudantes. Novamente são apresentadas respostas inadequadas à questão,
como, por exemplo, aquelas que se mostraram não conclusivas (exemplo: “Os métodos que
podem ser utilizados são os que a resolução do CFP aceita como válidos”), ou ainda em categorias
tais como “sindicância”, “aprovados pelo CFP” ou “não sei”.
Na questão “Você sabe qual a função do Satepsi, criado pelo CFP? Explique”, pode-se verificar
que o maior número de respostas, em ambos os grupos, atribuía ao sistema a função de validar,
avaliar, regulamentar, normatizar e fiscalizar os instrumentos psicológicos. Nesse sentido, um
questionamento se faz presente, principalmente em relação ao uso de termos como validar,
normatizar, precisão e padronização, comumente citados, isso porque, dadas as respostas bastante
genéricas à questão, resta a dúvida se os participantes se referiam a esses termos como processos
pertencentes aos estudos psicrométricos durante o processo de construção dos instrumentos, o
que não seria função do Satepsi e sim, do próprio autor do teste, ou como requisitos mínimos a
serem apresentados pelos instrumentos e, nesse sentido, fiscalizados pelo Satepsi (cuja função,
nesse caso, estaria presente nas categorias fiscalizar, julgar, revisão, controle, reconhecer a
cientificidade e punir o mau uso dos testes).
Pode-se notar as respostas equivocadas, citando-se, como exemplo, aquelas que afirmam que
a função do Satepsi seria um órgão do CRP (e não do CFP), atualização dos testes (que seria
função dos autores) e criar novos testes, todas citadas por profissionais. Nas respostas dadas
pelos estudantes, também se destaca o Satepsi como órgão do CRP, entidade responsável pela
avaliação psicológica e variância. Devido à importância dessa função que é cumprida pelo Satepsi,
é preocupante que grande parte das respostas do grupo de estudantes (25%) tenha revelado
desconhecer esse órgão, e outra porcentagem (3,03%) que deixou a questão sem resposta alguma,
somando 28,03% do total das respostas dadas por estudantes da área, de forma a confirmar a
necessidade de maior investimento, interesse e cuidado em relação à área de avaliação psicológica
durante a formação de novos psicólogos. Preocupante também se mostra a mesma questão
em relação aos profissionais, dado o fato de que boa parte também demonstrou desconhecer
as funções desempenhadas por essa comissão (8,82%, não sei; 1,47%, resposta em branco, e
1,47%, resposta não conclusiva).
A questão a seguir solicitava que os participantes destacassem quais os requisitos mínimos para
um teste estar autorizado para uso pelo psicólogo, cujas categorias apontadas por profissionais
e estudantes encontram-se disponibilizadas na Tabela 4.
Tabela 04. Requisitos mínimos para um teste estar autorizado para o uso segundo opinião de
profissionais e estudantes
As respostas à questão “Quais os requisitos mínimos para um teste estar autorizado para o uso do
psicólogo?” mostram que, em relação a essa questão, estudantes e profissionais apresentaram,
na maior parte, respostas adequadas que correspondem aos critérios mínimos exigidos pelo CFP
para autorização de uso do instrumento, tais como validade, precisão, aprovação pelo Satepsi e
existência de pesquisas, sendo esses critérios os mais citados por ambos os grupos, ao passo que
padronização e normatização foram bem mais citados pelos estudantes. Alguns pontos presentes
nas respostas indicaram, nos dois grupos, o desconhecimento da regulamentação do CFP (não sei),
bem como respostas equivocadas por parte dos profissionais (psicólogo formado, especializado ou
cursando, reconhecimento, legitimado por pares, regulamentado, elaborado por um professor da
área, não oferecer risco ao sujeito) bem como dos estudantes (lugar ideal, resultados específicos,
variância, replicabilidade, usado só por psicólogos, psicodiagnóstico, sigilo). Note-se que parte dessas
respostas se refere a cuidados a serem tomados quando da realização de avaliação psicológica (de
forma a incluir também os cuidados éticos, citados por participantes de ambos os grupos), sem,
necessariamente, referir-se aos requisitos mínimos determinados pela Resolução nº002/2003.
Ressalte-se ainda o fato de mais de 5% dos estudantes não terem respondido a questão.
A questão 5 indagava os participantes acerca de definição de validade (“O que você sabe sobre
validade de um teste?”), cujos resultados, disponíveis na Tabela 5, revelam uma situação bastante
grave. Tanto estudantes (mais de 19%) quanto profissionais (mais de 22%) definiram esse construto
como precisão, o que demonstra a confusão de conceitos, tendo sido essa categoria a mais citada
por ambos os grupos. Nesse sentido, pode-se afirmar, em relação ao domínio desse conceito,
que praticamente inexistem diferenças entre profissionais e estudantes.
Se investigarmos cada uma das categorias presentes nas respostas, veremos que nenhuma delas
define, de forma correta, o conceito, podendo-se verificar, inclusive, a confusão com outros
Por fim, a questão 6 possuía o mesmo objetivo da anterior, mas tendo como foco a definição
de precisão (“O que você sabe sobre precisão de um teste?”), cujos resultados são apresentados
na Tabela 6.
Conforme pode ser visualizado, igualmente à confusão conceitual que foi encontrada na questão
sobre validade, nessa pode-se ver que a categoria mais apontada, tanto por profissionais quanto
por estudantes, também apresenta o conceito equivocado de precisão, tido como medir o que se
destina (que, na verdade, se refere ao conceito de validade). Também são encontradas definições
que incluem palavras que são sinônimos de precisão (fidedigno, o quanto o teste é preciso), sem
que o conceito seja definido.
Novamente, assim como na questão anterior, se investigarmos cada uma das categorias presentes
nas respostas, veremos que nenhuma delas define, de forma correta, o conceito. Diversas
também são as respostas genéricas, que não respondem à questão (critérios científicos, escore,
sem o uso de uma análise crítica e mais apurada acabou por produzir grande impacto na prática
(Noronha et al., 2010). Contudo, Reppold e profissional (Primi & Nunes, 2010). Segundo
Serafini (2010) afirmam que é também uma Primi (2010) e Primi e Nunes, o Satepsi é
realidade o fato de que, nos últimos anos, uma norma de certificação de instrumentos
diversas universidades diminuíram de seu de avaliação psicológica que avalia e qualifica
currículo o número de disciplinas destinadas os instrumentos em apto ou inapto para uso
ao ensino da avaliação psicológica. profissional, a partir da verificação objetiva de
um conjunto de requisitos técnicos mínimos
No que se refere à constatação de que muitos (fundamentação teórica, estudos sobre
profissionais não demonstraram certeza sobre propriedades psicométricas, principalmente
a resposta fornecida, Noronha (1999), em validade e precisão, bem como informações
um trabalho desenvolvido com psicólogos sobre seu sistema interpretativo), definidos pela
com o objetivo de se compreender os área, cujo objetivo seria informar os profissionais
problemas mais graves e mais frequentes sobre a qualidade dos instrumentos disponíveis
no uso dos testes psicológicos, verificou (2011). Assim, essa norma busca elevar a
que aproximadamente metade da amostra qualidade dos instrumentos de avaliação
revelou que não utiliza testes em sua prática psicológica, dado o fato de que inúmeros
profissional. Alguns disseram, além disso, que testes utilizados na prática profissional não
nunca fizeram uso de instrumentos em toda apresentavam, até então, embasamento
a sua experiência como psicólogos. Assim, o em nenhum estudo que comprovasse seus
que se pode notar é que, apesar dos avanços fundamentos científicos (Noronha, Primi, &
científicos da área, ainda hoje se faz notar Alchieri, 2004), apresentando uma situação de
certo preconceito em relação à AP, de forma risco ao exercício profissional e à população
que os testes muitas vezes são discriminados que se sujeitava às avaliações. Entretanto,
pela própria comunidade psicológica, de ainda que tomada como uma medida bastante
forma que, segundo Noronha et al. (2002), importante para a retomada da área de AP,
ainda estão presentes as incorreções e as o ainda desconhecimento acerca da função
más interpretações a respeito do significado do Satepsi, mas também dos requisitos
e da importância desses testes. Tal situação mínimos para um instrumento ser considerado
mostrou-se bastante clara na presente aprovado, o que foi comprovado por meio de
pesquisa ao serem encontradas diversas respostas equivocadas, dadas principalmente
respostas acerca da não utilização da AP na pelos estudantes em formação, revela um
prática profissional, de modo que esse fato, quadro bastante preocupante, principalmente
segundo os participantes já formados, os se considerarmos que a testagem psicológica
eximiria de ter conhecimento sobre o assunto, constitui tarefa privativa do profissional da
mesmo sobre as questões que envolvem Psicologia.
conteúdos tão simples como os abordados no
questionário. Dessa forma, torna-se essencial Ressalte-se o fato de que, mesmo após dez
que os professores trabalhem no sentido de anos do seu surgimento, o desconhecimento
desmistificar a ideia, junto aos alunos, de acerca da sua função ainda se faz presente
que a avaliação psicológica é um processo entre os profissionais da área, conforme
que necessariamente faz uso de testes relato de Paula, Pereira e Nascimento (2007).
psicológicos, que é, muitas vezes, tratado de Lembre-se que o sistema disponibiliza
forma simplista, como um segmento dedicado importantes documentos sobre a avaliação
à mera aplicação de testes (Primi, 2003). de testes psicológicos feitas pelo CFP, lista de
testes com parecer favorável e desfavorável,
Um dos grandes avanços da área, nos últimos além de uma série de outros informativos
anos, se deu a partir da criação do Satepsi, relacionados ao assunto que devem ser
que consiste em um sistema de certificação constantemente checados para garantir a
dos instrumentos para uso profissional que atualização dos profissionais que utilizam
esses instrumentos, de forma que o profissional assumiram não saber a definição de validade.
que faz uso de testes psicológicos deveria Por outro lado, embora precisão tenha
acompanhar suas atualizações com frequência recebido, historicamente, inúmeros nomes,
(o que, pelo visto, não ocorre), lembrando-se tais como fidedignidade e confiabilidade, ela
que o emprego de instrumentos com parecer constitui a característica de medir sem erros,
desfavorável pelo CFP é considerado uma falta de maneira que os escores obtidos pela mesma
ética sujeita a punição. O processo, “embora pessoa em ocasiões diferentes ou em diferentes
traumático por causa da proibição do uso de conjuntos de itens equivalentes têm que ser
alguns instrumentos usados por anos a fio pelos coerentes (Pasquali, 2001). Noronha, Freitas
profissionais que se viram impossibilitados e Ottati (2002) reforçam a preocupação que
de desenvolver a prática costumeira, trouxe se deve ter com esse critério, visto que sua
medida pode predizer “em que extensão as
muitos benefícios à área” (Noronha et al.,
diferenças individuais nos escores dos testes
2010, p.141), tais como o aumento no
são atribuíveis a diferenças verdadeiras nas
número de pesquisas publicadas, no número
características em consideração e a extensão
de instrumentos disponíveis ao psicólogo, na
em que elas são atribuídas a erros causais”
criação de novos laboratórios de pesquisas e na
(Anastasi & Urbina, 2000, p. 84). Novamente
ampliação das discussões sobre a temática no
a análise das respostas apontou uma confusão
Brasil (Padilha, Noronha, & Fagan, 2007). Desse
conceitual, notadamente com o conceito de
modo, “a avaliação psicológica, hoje, voltou a
validade, ainda que vários de seus sinônimos
ter sua importância e seu status na atuação do tenham sido citados pelos participantes, sem
psicólogo, tanto no que se refere às perspectivas que o conceito fosse definido, destacando-se,
internacionais quanto nas nacionais” (Noronha, mais uma vez, uma porcentagem significativa
Primi, & Alchieri, 2004, p.89). de respostas nas quais se assumia não conhecer
o conceito.
Dentre os critérios psicométricos mais
importantes, situam-se a busca por evidências Assim, o que se pode notar é que o
de validade e a precisão dos instrumentos. desconhecimento acerca da definição
Em relação à primeira, Pasquali (2001) afirma de validade e de precisão por parte dos
que um instrumento é considerado válido participantes vai ao encontro da predominância
quando de fato mede o que supostamente de problemas frequentemente encontrados
se propõe medir, de forma que a ausência de nos manuais dos instrumentos (notadamente
estudos que evidenciem a validade impede os relacionados à ausência de estudos de
o reconhecimento científico do instrumento validade e de precisão), antes da publicação
(Noronha et al., 2003), visto que, “se um da referida resolução, relatados na literatura
instrumento não possui evidências de validade, (Noronha, Primi, & Alchieri, 2004; Noronha,
não há segurança de que as interpretações Freitas, & Ottati, 2002; Noronha & Vendramini,
sobre as características psicológicas das 2003). Pode-se perceber, dessa forma, que
pessoas sugeridas pelas suas respostas sejam não somente o usuário final demonstra
legítimas” (Noronha, Primi, & Alchieri, 2004, desconhecimento acerca dos construtos bem
p. 94). Por tais motivos, a importância desse como, durante muito tempo, os próprios
critério é salientada por diversos pesquisadores construtores de testes e editoras também não
(Anastasi & Urbina, 2000; Cronbach, 1996; se mostraram preocupados com essa questão,
Pasquali, 2001), embora sua definição e, pelos resultados da pesquisa, parcela dos
tenha sido praticamente desconhecida pelos profissionais e estudantes também se mostram
participantes dos dois grupos, verificando-se, indiferentes aos esforços que vêm sendo feitos
inclusive, a confusão com outros critérios para a melhoria da área. Apesar da formação
(notadamente precisão), além da presença em avaliação psicológica estar sendo revista,
de respostas genéricas ou errôneas, havendo ainda são necessários muitos investimentos de
ainda muitos casos em que os participantes docentes e de pesquisadores na área para que
se obtenha a melhoria da sua qualidade no não envolve somente a questão dos instru-
País (Noronha, 2006), de forma que se torna mentos, situação que foi, em parte, resolvida
imprescindível que os profissionais se tornem com a criação do Satepsi, mas também, e
mais ativos, efetivos e regulares no consumo essencialmente, o uso que se faz dele, bem
da literatura que se produz no País ou fora como a relevância de se ter clara a função da
dele (Noronha & Reppold, 2010). AP e sua importância na prática psicológica.
Assim, tratar os testes em função do seu uso,
Considerações finais considerando suas indicações e limitações, é
a informação que deveria ser divulgada entre
A presente pesquisa buscou investigar
o domínio de conceitos básicos de os profissionais.
avaliação psicológica por profissionais e
estudantes, trabalhando com a hipótese Faz-se necessária uma atitude de preo-
de que os primeiros apresentariam melhor cupação “com os avanços metodológicos,
conhecimento que os participantes ainda em tecnológicos e teóricos, com a qualificação e
processo de formação, o que infelizmente normatização dos instrumentos disponíveis,
não foi confirmado. Ainda que o número com a necessidade de contextualização
de participantes tenha sido pequeno, e não dos resultados obtidos, com a validade
se tenha investigado o período do curso consequencial e clínica dos testes e com a
que os estudantes estavam cursando, dado relevância social das avaliações realizadas”
que poderia ter influenciado os resultados
(Reppold, 2011, p. 23), bem como maior
caso a maior parte desses ainda estivesse
cuidado com a formação profissional e com
nos períodos iniciais, a situação se mostra
a atualização constante dos profissionais que
preocupante.
se encontram atuando na área, o que poderá
A melhora da área de avaliação psicológica ser investigado em estudos futuros.
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