LIPMAN MAtthew Dramatizando A Filosofia PDF
LIPMAN MAtthew Dramatizando A Filosofia PDF
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EDITOR
NILSON SANTOS
CONSELHO EDITORIAL
ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO
CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND
ARTUR MORETTI – Física - UFRO
CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO
HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP
JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP
MARIO COZZUOL – Biologia – PUC-RGS
MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO
ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP
VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC
nilson@unir.br
Quando eu falo da dramatização da filosofia, eu antevejo um vasto espectro de atividades designadas a mexer com o interesse de populações variadas –
estudantes universitários, crianças da escola fundamental, aqueles que buscam graduar-se nas escolas noturnas como adultos, pessoas aposentadas, e outras – na
disciplina de filosofia.
Estas atividades podem ter a forma das biografias dos filósofos, das autobiografias feitas pelos filósofos, filosofia escrita mais na forma literária do que
argumentativa – como alegoria, parábola, drama, filme, poesia, conto ou romance – histórias populares da filosofia, a representação teatral da filosofia ou a sua
combinação com outras formas de expressão tais como a música, a dança ou a ópera.
Nós podemos distinguir entre a filosofia que já está em forma dramática quando é apresentada pela primeira vez, tal como o notável poema de Parmênides,
ou a República ou Simpósio de Platão, e a filosofia que é originalmente não-dramática no modo ou apresentação, mas adquire a dramatização subseqüentemente. Eu
estou pensando aqui do trabalho de Demócrito sendo relançado em forma poética por Lucrécio, ou no re-lançamento de muitos filósofos notáveis no currículo de
filosofia que tem sido designado às crianças. (Há uma analogia aqui com a distinção entre as artes de uma etapa, como a pintura, e as artes de duas etapas, como a
música. Neste sentido, o trabalho de Parmênides é uma dramatização de etapa única; aquele de Lucrécio é uma dramatização de segunda etapa.)
Nós podemos seguir distinguindo a dramatização da vida dos filósofos da dramatização dos seus trabalhos, e podemos distinguir a dramatização dos seus
trabalhos da dramatização do ensinamento dos seus trabalhos.
Não muitos anos atrás, a Divisão de Mídia da Fundação Nacional para as Humanidades solicitou propostas para projetos que poderiam tornar as disciplinas
das humanidades mais populares, através do desenvolvimento de uma série de programas de televisão. Pareceu-me que poderia ser feita uma série de 13 partes da
vida de Platão, e eu discuti esta idéia muitas vezes com Gregory Vlastos, que tinha, desde o início, expressado um interesse favorável pela Filosofia para Crianças.
Vlastos gostou da idéia das séries, e sugeriu que eu incluísse seguramente, Terence Irwin no meu grupo de trabalho para preparar a proposta para o programa
piloto.(Vlastos sugeriu também que Charles Kahn fosse considerado para o papel de Platão.) Irwin aceitou o meu convite conforme a sugestão, como também o fez
Volto-me agora para o redesign dos textos filosóficos, como este é feito com o objetivo de torná-los mais dramáticos, e logo mais interessantes a cada vez
maiores audiências. Eu gostaria também de considerar os trabalhos originais em filosofia, cujo design é mais literário ou dramático do que normalmente é
encontrado nas exposições estritamente escritas da tradição filosófica.
Deixe-nos considerar a última questão primeiro. Ela levanta, certamente, algumas intrigantes questões de estética: existem formas puras de arte, como
argumentou Lessing – pintura é puramente espacial e música puramente temporal – ou são gêneros amalgamados capazes de tanta autenticidade como os gêneros
isolados? O trabalho de Lucrécio, digo, poesia disfarçada de filosofia, filosofia disfarçada de poesia, ou nenhum caso de disfarce, absolutamente, mas uma autêntica
mistura das duas? Existe uma rivalidade entre filosofia e poesia, que decisivamente as previne de cooperarem na mesma ventura artística? Estão aqueles professores
de literatura corretos ao afirmar que a filosofia é necessariamente deficiente de um ponto de vista literário, e estão aqueles professores de filosofia corretos ao
afirmar que a literatura (por exemplo, novelas, drama, poesia) é necessariamente deficiente de um ponto de vista filosófico? A parada de tais questões ameaça
evoluir, portanto eu colocarei um ponto final nisto aqui, e considerarei alguns dos modelos que expressam uma perspectiva filosófica ou argumento através dos
meios usualmente reservados às articulações não-filosóficas. Eu direi somente que, em minha opinião, a filosofia pode ser legitimamente expressada através de
modalidades não-filosóficas quando tais expressões triunfam em tornar evidentes certas relações que teriam sido negligenciadas, de outra forma, exatamente como as
figuras de linguagem, como as metáforas tem uma autenticidade expositiva e não meramente decorativa quando elas chamam a nossa atenção para relações sutis e
recônditas que, de outra forma, nós poderíamos não percebê-las completamente. Assim, quando nós emprestamos termos derivados de outros modos de percepção
para descrevermos cores como quentes ou frias, suaves ou deliciosas, nós estamos capazes de trazer à tona os aspectos daquelas cores que, de outra forma, não
teriam sido notados; assim Platão, usando mitos, pode ter mostrado aspectos de sua filosofia que, de outra maneira, teria chamado muito menos a nossa atenção.
Eu não tomo Homero como um filósofo que tenta expressar suas idéias filosóficas através da poesia ou como um poeta tentando dar aos seus versos épicos
algum lastro filosófico. Eu o vejo mais como aquele que oferece uma perspectiva imparcial seu a qual a filosofia futura poderia não ter desenvolvimento. Os pré-
Socráticos, por outro lado, cultivaram uma espécie de minimalismo filosófico, no qual eles procuravam sugerir vistas globais ou cósmicas da forma mais concisa e
mais eficaz de aforismas. Em contraste, as alegorias, tal como Ésopo, oferecem meramente um bocado de mensagem, um pouco de sabedoria proverbial servindo
como arremate precedido de uma estória ao invés de um sermão.
SUGESTÃO DE LEITURA
PAUL THOMPSON
Paz e Terra