Ebook Analfabetos Digitais
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Madeleine Lacsko
“O maior inimigo do conhecimento não é a ignorância,
é a ilusão do conhecimento.”
Daniel Boorstin
MADELEINE LACSKO
Jornalista, especialista em
Media Literacy e
tendências do debate
público na era digital
Com 23 anos de experiência
em comunicação, é colunista
da Gazeta do Povo. Atuou na
Jovem Pan, Antagonista e
Rádio Trianon. Foi consultora
internacional do UNICEF
Angola, assessora no Supremo
Tribunal Federal, na
Assembleia Legislativa de São
Paulo e na CCR. Trabalhou na
Change.org.
2
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 4
CAPÍTULO 1
Media Literacy - que bicho é esse? 6
As novas gerações 7
CAPÍTULO 2
O mais importante dos conhecimentos 10
Como saber meu nível de Media Literacy? 11
CAPÍTULO 3
O algoritmo 20
Anonimato x Pseudônimo 34
CAPÍTULO 4
Redes Sociais: heróis ou vilões? 39
CAPÍTULO 5
Guia de Media Literacy nas redes sociais 42
RESUMO DA ÓPERA 48
BIOGRAFIA DA AUTORA
49
3
APRESENTAÇÃO
5
MEDIA LITERACY - QUE BICHO É ESSE?
Media Literacy é a capacidade de ENCONTRAR, ANALISAR,
AVALIAR, CRIAR e AGIR usando todas as formas possíveis de
comunicação.
6
Um dos maiores erros que uma liderança pode cometer nos dias
de hoje é tomar decisões de comunicação como se ainda vivesse
no mundo analógico. A pessoa dá entrevista para divulgar um
assunto em uma mídia, participa de um debate para contrapor
uma visão oposta, faz uma declaração nas mídias sociais porque
pretende que aquela mensagem chegue ao máximo possível de
pessoas. Às vezes, arrisco dizer, comete todos esses erros ao
mesmo tempo e não percebe as consequências a tempo, já que
não consegue ler a relação entre as mídias de hoje, as marcas e
tendências.
AS NOVAS GERAÇÕES
7
fazer para que seu raciocínio opere na frequência do mundo
digital.
Tomo aqui como exemplo algo bem específico que sempre faz
parte do debate público brasileiro, o PISA. Falo do Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), feito nos
países membros anualmente com estudantes de 15 anos de
idade.
8
incluiu agora? Capacidade de encontrar informações e de avaliar
fontes.
9
O MAIS IMPORTANTE DOS CONHECIMENTOS
Quando pensamos naquela divisão clássica de conhecimentos
feita nas escolas, podemos até pensar que a leitura e a
comunicação são tão importantes quanto ciências e
matemática, por exemplo. Segundo os educadores, trata-se de
graus diferentes de importância. Capacidade de leitura é o
conhecimento mais importante de um ser humano.
10
"Capacidade de leitura é entender, usar , avaliar, refletir sobre e
interagir com textos escritos, de forma a que o indivíduo atinja os
próprios objetivos de desenvolvimento de conhecimento e
potencial e participe na sociedade".
11
nível de Media Literacy. O que sugiro é ler os requisitos e os níveis
de classificação detalhadamente. É por meio da compreensão
desses critérios e das diferenças sutis entre os 7 níveis de Media
Literacy que podemos, de maneira honesta, descobrir em que
ponto estamos e quais são as habilidades que precisamos
trabalhar para nos manter no mais alto.
13
Nível 3: Localizar e, em alguns casos, reconhecer relações entre
várias peças de informações. Integrar várias partes de um texto
em ordem para identificar a ideia principal, entender a relação ou
interpretar o significado de uma frase ou palavra. É preciso levar
em conta vários fatores para comparar, contrastar ou
categorizar. A informação não é tão evidente ou há competição
de informações, como obstáculos no texto, por exemplo, ideias
que são contrárias às expectativas ou expressas em formato de
negação. A reflexão requer conexões, comparações e
explicações ou a avaliação de um elemento do texto. Necessário
demonstrar bom conhecimento do texto com relação ao
conhecimento familiar e cotidiano. Não chega a requerer
compreensão detalhada do texto, mas pelo menos busca de
apoio em senso comum.
14
capaz de lidar com conceitos que são contrários às suas
expectativas ou crenças.
Saber que não há motivação para aquilo de ruim que você sente
e, muitas vezes, pensa sobre uma pessoa tem impacto na forma
como você age com ela e fala dela. Imagine se você não fosse
capaz de perceber essa diferença? Se você confundisse um
ranço besta, desses imotivados mesmo, com o sentimento que
você tem por alguém que já traiu sua confiança ou já te
prejudicou. Nesse caso, sua forma de agir socialmente seria um
16
tanto confusa e geraria problemas ou pelo excesso de
desconfiança ou pela falta de abertura ao outro.
17
Qual é a minha OPINIÃO sobre a segurança das urnas
eletrônicas?
Pelo contrário! Todos nós somos livres para dizer tudo isso que
sentimos diante de uma situação, afirmação ou pessoa. O que
18
não podemos é pensar que esse sentimento serve como
contestação de uma OPINIÃO (a avaliação de quem conhece os
fatos) ou pior ainda, para desdizer um FATO em si.
19
O ALGORITMO
Há um elemento importantíssimo que passou a ser parte do
debate público: o celular. Cada vez mais ele passa a ser um
instrumento mediador de relações humanas e, pelas
características do seu uso e da nossa relação com ele, há
alterações significativas na forma de interagir com as outras
pessoas, seja individualmente, seja no debate público.
20
Vamos começar pelo encontro pessoal, suponhamos uma mesa,
com um sentado de cada lado, olho no olho. Você primeiro avalia
a situação levando em conta o estado emocional do seu
interlocutor, daí encontra a melhor forma de contar o que precisa.
À medida em que vai contando, mede pelas reações segundo a
segundo a modulação do tom, a escolha das palavras, o
caminho da conversa ou até mesmo desistir dela. O olhar é muito
poderoso para conectar pessoas a despertar empatia, é parte
importante do processo de comunicação.
Agora uma outra situação: comunicar algo difícil por email a uma
pessoa com quem você tem relações pessoais. Se for uma
questão muito pessoal ou envolvendo emoções, a decisão de
comunicar por email pode ser lida como uma bela de uma
canalhice. Nesses casos, a gente se prepara, escreve o texto,
relê, verifica o que pode e, muitas vezes, pede para alguém de
confiança revisar antes de mandar. Mesmo com todo cuidado, já
sabemos que há um risco grande de haver ruído e necessidade
de explicação de algum detalhe. Muitas pessoas lêem
imaginando a voz de quem conhecem, a entonação, o olhar. Isso
21
compromete a compreensão do texto, já que algo dito de uma
forma pode ser lido de outra por diferença de tom, ainda que com
as mesmas palavras.
23
que possibilite que o produto final, já lapidado, seja dito em
público. Mas e os impulsos?
Esses dados são cada clique que damos, o que postamos, o que
fingimos não ter visto no perfil dos outros, o que compartilhamos,
em que tela passamos muito tempo, as postagens das quais
falamos com as pessoas na vida real (os sites captam os
microfones, lembra?), o que nos fez vibrar, rir, xingar, calar.
Estima-se que são pelo menos 7 mil pontos os necessários para
elaborar os perfis e prever, até melhor que nossos conhecidos,
como cada um de nós vai agir diante de alguma situação.
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Não se trata de maldade, mas de viabilizar uma indústria
bilionária cuja matéria-prima, os dados pessoais, precisa ser
voluntariamente entregue por seus donos.
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Foi criado um vídeo viral de protesto contra a corrupção. Era uma
música em que influencers inauguravam um sinal específico com
os braços para dizer que não iriam votar. Esse vídeo foi
distribuídos especificamente para os jovens que já haviam
demonstrado reagir bastante às discussões sobre corrupção. É
importante saber que o vídeo não é distribuído e simplesmente
não aparece para as demais pessoas. Os jovens impactados
começaram a fazer suas próprias versões do vídeo.
30
muita interação, mesmo que seja artificialmente promovida,
acabam priorizando.
31
nas mídias sociais. Alimentadas por aquilo que deixa seus nervos
à flor da pele, as pessoas perdem o limite da civilidade e, de tanto
isso ser repetido, passa a se tornar cada vez mais comum. As
próprias plataformas percebem que, se acelerarem demais,
tornam-se inviáveis. Por isso, as próprias redes estão tomando
providências.
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Sempre que alguém ousa tocar no assunto de controle dos
desvios e desviados de rede social, os que mais utilizam esses
mecanismos gritam com apelo emocional que a intenção é o
controle da internet e um atentado contra a liberdade de
expressão. Obviamente, como eles usam toda a estrutura de
manipulação, sabem bem como provocar pessoas reais e fazer
com que se engajem na gritaria.
ANONIMATO X PSEUDÔNIMO
34
expressão tentando fazer uma simetria falsa entre anonimato e
pseudônimo.
35
liberdade das pessoas por não compreender a dinâmica do
universo virtual. Quem ganha com isso? Os fora-da-lei.
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pistas que invariavelmente termina sem identificar quem
efetivamente recebe o dinheiro pelos golpes.
Você pode ter uma opinião formada sobre este tema ou não, o
importante é iniciar a discussão, a pesquisa e o raciocínio.
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REDES SOCIAIS: HERÓIS OU VILÕES?
Há um dito antigo de que a diferença entre o remédio e o veneno
está na dosagem. As redes sociais trouxeram muitas inovações
excelentes e melhoram a vida de muita gente, mas há distorções
por uso inadequado. Elas ocorrem propositalmente, com a
intenção de manipular os outros ou obter vantagem, mas
também por desconhecimento ou ilusão de conhecimento.
39
Toda vez que escolhemos interagir com alguém, seja para
concordar ou execrar, estabelecemos um vínculo com essa
pessoa e todo seu grupo. Um erro comum de pessoas públicas é
espalhar a forma de contato com quem faz ofensas rasteiras e
provocações. Ao imaginar que está criticando a pessoa ou ou
ato, na verdade está aumentando sua base de seguidores e
mostrando a quem tem vergonha de dar vazão a esses impulsos
que isso existe.
40
Obviamente, para quem já se iniciou em Media Literacy, aquilo foi
um golpe duro na imagem pública daquele acadêmico. Falava
sobre controle, critérios, cuidado e ilegalidades mas confiava
cegamente em gente pilantra e não percebia a diferença entre
os enganos que produziam e divulgações com critério jornalístico.
Isso não significa que ele reproduza esse desleixo em sua área
acadêmica, mas deixa essa impressão, ainda que injusta.
41
GUIA DE MEDIA LITERACY NAS REDES SOCIAIS
A tecnologia nos encanta e dá a impressão de ser algo
completamente novo. No caso das redes sociais, essa impressão
não é de todo verdadeira. Estamos falando de relações
humanas, uma mescla daquilo que está na luz com o que é
deixado nas sombras.
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Se você chegou até aqui, já deve ter pensado bastante essa
dinâmica. Vamos nos concentrar em outro ponto, que ainda não
abordei, e que creio ser o fundamental para reger a forma como
você se comporta nas redes: a diferença entre o público e o
privado.
GRAUS DE PRIVACIDADE
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que saiba que está fazendo isso no meio da missa da pessoa e
quais são as consequências. Nas redes sociais, muita gente faz
isso achando que está cochichando bem baixinho com a
cunhada.
Sabe aquelas coisas que a gente pensa mas tem até vergonha
de ter pensado? Que, se a gente olhar no olho de alguém, não
tem coragem de falar aquilo daquele jeito? Que a gente sabe que
vai repensar e se arrepender dali a dois passos? Pois é, todo
mundo sabe muito bem, principalmente quando estamos
reagindo a algo que nos tira do sério ou toca em feridas da alma.
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GRAU 1 - MINHA GENTE
- Mensagem direta
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GRAU 3 - COLEGA NÃO É AMIGO
GRAU 4 - SELVA
Aqui é a praça pública, onde você pode ou não ser visto por todo
mundo que você conhece, inclusive seus inimigos. O que estiver
aí pode tanto ser compreendido quanto distorcido. Têm livre
acesso todas as pessoas da sua família, do seu trabalho, de onde
você estuda, da sua igreja, do futebol, do grupo de voluntários, do
clube do livro.
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Imagine que você reuniu todas as pessoas que você conhece, as
que gosta e não gosta, as que você ama e que odeia, as que lhe
acolhem e que lhe tratam mal, as que te dão apoio e as que
podem decidir sobre coisas importantes na sua vida. Agora
escolha o que, em que tom, de que forma e acompanhado de
quem vai ser apresentado a elas por você.
Perceba que não estou falando que você deve ser de uma forma
ou outra, melhor ou pior. Há dias em que queremos mesmo tocar
fogo em tudo e temos esse direito. O importante é ter a
consciência do que estamos fazendo. Pense nesse cenário
principalmente quando estiver reagindo a algo que mexe com
você emocionalmente.
Quando o que você tem a dizer ou a sua reação a algo que viu
estiver nessa categoria, use:
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RESUMO DA ÓPERA
Produzi este e-book com base em experiências pessoais nos
últimos 4 anos, troca de informações com quem também viveu a
turbulência das redes sociais e muita leitura sobre o assunto.
Seja qual for o caso, espero que essa pequena contribuição para
sistematizar ideias possa fazer uma diferença positiva na sua
vida e na vida das pessoas com quem você se importa.
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BIOGRAFIA DA AUTORA
www.madeleinelacsko.com.br
www.estudarpolitica.com
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Ao viver a experiência de ser gestora no setor público e privado,
no Brasil e exterior, a jornalista conheceu por dentro - e aprendeu
a utilizar - as principais técnicas de propaganda e manipulação
que impedem a informação de chegar da forma correta ao
público comum. Driblar essas táticas de comunicação faz com
que saiba exatamente como pegar no pé dos poderosos.
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Foi repórter da Rádio Trianon durante 2 anos, repórter e
apresentadora da Rádio Jovem Pan durante 10 anos, blogueira
do Huffington Post e primeira apresentadora da TV Antagonista.
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Janeiro de 2020
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