A Presciência de Deus - Arthur W. Pink PDF
A Presciência de Deus - Arthur W. Pink PDF
A Presciência de Deus - Arthur W. Pink PDF
por
Arthur W. Pink
Que controvérsias têm sido engendradas por este assunto no passado! Mas
que verdade das Escrituras Sagradas existe que não se tenha tornado em
ocasião para batalhas teológicas e eclesiásticas? A deidade de Cristo, Seu
nascimento virginal, Sua morte expiatória, Seu segundo advento; a
justificação do crente, sua santificação, sua segurança; a Igreja, sua
organização, oficiais e disciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma porção
doutras preciosas verdades que poderiam ser mencionadas. Contudo, as
controvérsias sustentadas não fecharam a boca dos fiéis servos de Deus;
então, por que deveríamos evitar a disputada questão da presciência de
Deus porque, com efeito, há alguns que nos acusarão de fomentar
contendas? Que outros se envolvam em contendas, se quiserem; nosso
dever é dar testemunho segundo a luz a nós concedida.
Tomemos a palavra “carne”. Seu significado parece tão óbvio, que muitos
achariam perda de tempo examinar as suas várias significações nas
Escrituras. Depressa se presume que a palavra é sinônima de corpo físico e,
assim, não se faz pesquisa nenhuma. Mas, de fato, nas Escrituras “carne”
muitas vezes inclui muito mais que a idéia de corpo. Tudo que o termo
abrange, só pode ser verificado por uma diligente comparação de cada
passagem em que ocorre e pelo estudo de cada contexto, separadamente.
A primeira é Atos 2:23. Lemos ali: “A este que vos foi entregue pelo
determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o vós, o
crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. Se se der cuidadosa
atenção à terminologia deste versículo, ver-se-á que o apóstolo não estava
falando do conhecimento antecipado que Deus tinha do ato da crucificação,
mas sim da Pessoa crucificada: “A este (Cristo) que vos foi entregue”, etc.
“Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu...” (Romanos 11:2). Uma
vez mais a clara referência é a pessoas, e somente a pessoas.
Ora, em vista destas passagens (e não há outras mais), que base bíblica há
para alguém dizer que Deus “pré-conheceu” os atos de certas pessoas, a
saber, o seu “arrependimento e fé”, e que devido a esses atos Ele as elegeu
para a salvação? A resposta é: absolutamente nenhuma. As Escrituras
nunca falam de arrependimento e fé como tendo sido previsto ou pré-
conhecido por Deus. Na verdade, Ele sabia desde toda a eternidade que
certas pessoas se arrependeriam e creriam ; entretanto, não é a isto que as
Escrituras se referem como objeto da “presciência” de Deus. Esta palavra se
refere uniformemente ao pré-conhecimento de pessoas; portanto,
conservemos “... o modelo das sãs palavras. . .” (2 Timóteo 1:13).
Deus conhece de antemão o que será porque Ele decretou o que há de ser .
Portanto, afirmar que Deus elege pessoas porque as pré-conhece é inverter
a ordem das Escrituras, é pôr o carro na frente dos bois. A verdade é esta:
Ele as “pré-conhece” porque as elegeu . Isto retira da criatura a base ou
causa da eleição, e a coloca na soberana vontade de Deus. Deus Se propôs
eleger certas pessoas, não por haver nelas ou por proceder delas alguma
coisa boa, quer concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu
beneplácito. Quanto ao por que Ele escolheu os que escolheu, não sabemos,
e só podemos dizer: “Sim, ó Pai, porque assim te aprouve” (Mateus li :26). A
verdade patente em Romanos 8:29 é que Deus, antes da fundação do
mundo, elegeu certos pecadores e os destinou para a salvação (2
Tessalonicenses 2:13). Isto se vê com clareza nas palavras finais do
versículo: “... os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho”,
etc. Deus não predestinou aqueles que “dantes conheceu” sabendo que
eram “conformes”, mas, ao contrário, aqueles que Ele “dantes conheceu”
(isto é, que Ele amou e elegeu), “predestinou para serem conformes”. Sua
conformidade a Cristo não é a causa, mas o efeito da presciência e
predestinação divina.
Deus não elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razão
simples, mas suficiente, de que nenhum pecador jamais crê enquanto Deus
não lhe dá fé; exatamente como nenhum homem pode ver antes que Deus
lhe dê a vista. A vista é dom de Deus, e ver é a conseqüência do uso do Seu
dom. Assim também a fé é dom de Deus (Efésios 2:8-9), e crer é a
conseqüência do uso deste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu
alguns para serem salvos porque no devido tempo eles creriam, isso
tornaria o ato de crer num ato meritório e, nesse caso, o pecador salvo teria
motivo para gloriar-se, o que as Escrituras negam enfaticamente (veja
Efésios 2:9).
Mais uma vez, em Romanos 11:5 lemos sobre “... um resto, segundo a
eleição da graça”. Eis aí, suficientemente claro; a eleição mesma é “da
graça”, e a graça é favor imerecido , coisa a que não tínhamos direito
nenhum diante de Deus.
Vê-se, pois, como é importante para nós, termos idéias claras e bíblicas
sobre a “presciência” de Deus. Os conceitos errôneos sobre ela,
inevitavelmente levam a idéias que desonram em extremo a Deus. A noção
popular da presciência divina é inteiramente inadequada. Deus não somente
conheceu o fim desde o princípio, mas planejou, fixou, predestinou tudo
desde o princípio. E, como a causa está ligada ao efeito, assim o propósito
de Deus é o fundamento da Sua presciência. Se, pois, o leitor é um cristão
verdadeiro, é porque Deus o escolheu em Cristo antes da fundação do
mundo (Efésios 1:4), e o fez não porque previu que você creria , mas
simplesmente porque Lhe agradou fazê-lo; você foi escolhido apesar da tua
incredulidade natural. Sendo assim, toda a glória e louvor pertence a Deus
somente. Você não tem base nenhuma para arrogar-se crédito algum. Você
creu “pela graça” (Atos 15:27), e isso porque a tua própria eleição foi “da
graça” (Romanos 11:5).
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Felipe Sabino de Araújo Neto®
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