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Breve Historia Do Saxofone - Eugénio Graça

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BREVE

HISTÓRIA
DO
SAXOFONE
Pelo Professor Eugénio Graça

EDIÇÃO PARA MASTERCLASS


2010/2011

SFL, saxophone for life – Editions


SFL, saxophone for life – Editions
Prefácio

Depois de realizar vários masterclass’s, cursos e workshops um


pouco por todo o mundo ao longo dos últimos 10 anos, analisei que
maior parte dos saxofonistas ou estudantes do saxofone não conhecem
minimamente a História do seu instrumento, assim sendo e achando que
é de grande importância para o saxofonista saber como surgiu o
saxofone, porque, como foi inventado quais os seus propósitos, decidi
compilar o resultado de alguma pesquisa e experiência que acumulei ao
longo dos anos nesta Breve História do Saxofone.
Espero que possa contribuir para que todos entendam melhor este
maravilhoso instrumento, que mistura força e suavidade, raiva e paixão
em um mesmo espaço.
“Nenhum outro instrumento transporta o público para tantos mundos
diferentes como o saxofone.”
A Breve História do saxofone estará disponível no meu site para
download: www.eugeniograca.webpt.ws.
BREVE HISTÓRIA DO SAXOFONE
(Pelo Professor Eugénio Graça)

Antoine Joseph Sax, filho de Charles Joseph Sax, nasceu a 6 de


Novembro de 1814 numa cidade belga chamada Dinant. Era uma cidade das
mais industrializadas daquele país, em que a maioria da população se
dedicava à exploração do cobre. Era de religião judaica. Como era natural na
localidade onde vivia, Sax aprendeu o ofício de seu pai, que era construtor
de instrumentos, e desde
muito novo esteve ligado ao mundo da fabricação dos mesmos.
Antoine Joseph, apelidado de “Adolphe”, estudou clarinete e flauta no
conservatório de Bruxelas com Bender (director de música do regimento de
Guides). Ao tocar e familiarizar-se com o clarinete foi-se apercebendo
daquilo que achava serem imperfeições e logo fez questão de as melhorar. O
seu trabalho estava dificultado pela falta de meios económicos, já que seu
pai também necessitava do dinheiro para as suas experiências.
Sax destacou-se nomeadamente na construção de instrumentos de sopro:
clarinetes, flautas, mas também guitarras, harpas, violinos e pianos.
Apresentou-se oficialmente pela primeira vez na Exposição Nacional de
Bruxelas entre Outubro e Novembro de 1835, exibindo um clarinete com 24
chaves.
O trabalho deste fabricante foi apoiado por muitas personalidades
estrangeiras tais como Georges Kastner (autor de obras pedagógicas e
algumas composições), Fétis (fundador da Revue Musical), Habeneck (que
estreou as sinfonias de Beethoven em Paris), Savart (professor do Colégio
de França), Berlioz e o general Rumigny.
Em Outubro de 1842, depois de obter um subsídio do governo belga, Sax
fixou-se na Rua Neuve-Saint-Georges em Paris, onde teve que competir com
outros grandes fabricantes de instrumentos, dado que estes viam nele um
perigoso adversário. Já em Paris, viu-se economicamente condicionado, pois
só tinha 30 francos com ele. Era até satiricamente visto como um homem
rico em ideias, mas economicamente pobre.
Foram bons anos para a agricultura e para a indústria - até se
construiu em França uma grande rede ferroviária - Sax acreditava no seu
futuro. Graças a um empréstimo do flautista Dorus, Sax adquire uma espécie
de armazém que lhe vai servir de alojamento. Pouco depois, em 1843 abre
uma fábrica de instrumentos onde vende os seus novos inventos. A
aceitação dos seus produtos foi rápida: em Outubro do mesmo ano a Revue
et Gazette Musicale fala do interesse despertado pelo clarinete baixo de Sax
nos clarinetistas da ópera de Paris. No ano de 1848 transformou a sua
modesta oficina numa grande fábrica, que contava com 191 trabalhadores e
de onde saíram 20.000 instrumentos entre os anos de 1843 e 1860. Nessa
mesma oficina construiu também uma sala de concertos que, pouco a pouco,
foi conseguindo uma grande reputação. Com este sucesso, não tardaram as
conspirações contra Sax.
Em Dezembro de 1843 amplia novamente o seu clarinete baixo e
desta vez Berlioz utiliza-o na sua Requiem, sendo o próprio Sax a
interpretá-la. Pouco tempo depois, o mesmo Berlioz organiza um concerto
que foi realizado na sala Herz de Paris, transcrevendo o seu Chant Sacré
para um conjunto de seis instrumentos, todos eles inventados por Sax.
Sax demonstrou que o timbre de um instrumento está determinado, não pela
natureza do material que o instrumento é construído, mas sim pela proporção
de ar que é emitida para dentro deste. Bom entendedor dessa lei, conhecida
como Lei das proporções (defende que a qualidade sonora provém da
quantidade e pressão de ar emitida para o interior do instrumento, e não da
qualidade do material que este é construído), Sax aperfeiçoou, engrandeceu
e completou grande parte dos instrumentos de sopro, madeira ou metal.
Inventou novos tipos de instrumentos, como:
-Saxtrompas ou bombardinos (corno sax), família de seis membros. Foi um
instrumento que se utilizou em bandas com frequência e foi patenteado em
1843.

-Saxtrombas, família de sete membros patenteada em 1845.

-Saxofones, família de sete membros registada em 1846.

-Saxtubas, patenteadas em 1849.

Sax também se interessou por instrumentos de percussão e, durante


os anos de 1852 e 1863, registou uma série de patentes relativas a tímbales,
bombos e tambores.
No ano de 1866, projecta uma sala de concertos em forma ovóide
(projecto em que Wagner se inspira para a construção do seu teatro em
Bayreuth).
Em 1867 ampliou a flauta de pan de uma para cinco oitavas, e
inventou um sistema de assobios, utilizada em locomotivas durante quase
um século.
Apesar dos seus repetidos êxitos nas exposições universais de 1844,
1849, 1855, 1863, 1867 (exposição em que ganhou o único grande prémio
concedido a fabricantes de instrumentos) e em Londres em 1851, Adolphe
Sax não pôde participar na Exposição Universal Internacional de Paris de
1878 por razões financeiras (causada pela terceira quebra no ano de 1877).
Sax viveu uma vida longa; ficou arruinado por três vezes, mas nunca deixou
de estudar, inventar e aperfeiçoar instrumentos. Morreu a 7 de Fevereiro de
1894 com 80 anos de idade, completamente arruinado, deixando ao mundo
da música uma grande contribuição: o saxofone!
Ao contrário de quase todos os instrumentos, o saxofone não tem
antecessores. É um instrumento jovem, nascido em meados do século XIX.
Nessa época, o fabrico de instrumentos baseava-se na afinação, na
facilidade da emissão e na digitação.
Em 1840, Adolphe Sax, já em Bruxelas e encarregue de gerir a oficina
de seu pai, teve a ideia de criar um instrumento de sopro em que a
sonoridade deste se aproximasse dos instrumentos de corda, mas que
tivesse mais intensidade e ao mesmo tempo não fosse muito difícil de tocar.
A partir dessa ideia surge o saxofone, um dos poucos instrumentos de uso
comum na música ocidental que é tão conhecido e ao mesmo tempo tão
desconhecido.
Este instrumento combina as características do oboé (tubo cónico,
mas mais largo) e do clarinete (boquilha e palheta simples). Melhor que
qualquer outro instrumento, o saxofone é capaz de modificar o seu som a fim
de lhe dar as qualidades convenientes e de lhe conservar a igualdade
perfeita em toda sua extensão.
A popularidade do saxofone deve-se à sua difusão em meios como o
teatro musical, a opereta e em movimentos musicais tais como música militar
e, sobretudo, o Jazz, apesar de ter sido criado para tocar em bandas e
orquestras sinfónicas.
Os saxofones foram construídos em várias tonalidades; em Fá e Dó,
destinados à orquestra sinfónica, e em Mib e Sib, destinados a tocar em
bandas militares.

Saxofones em Fá e Dó:

O primeiro saxofone, o saxofone baixo, foi construído na tonalidade


de Fá, e foi utilizado por Berlioz e Kastner em algumas das suas obras. Os
saxofones construídos nestas duas tonalidades tiveram uma curta existência,
mas mesmo assim aparecem mencionados em vários livros.
Ainda no âmbito da Exposição Industrial de Paris de 1855, aparece
um artigo referente a Adolphe Sax, onde o saxofone alto em Fá surge na lista
de instrumentos. No mesmo ano, a nova edição da Grand Traite
d’Instrumentations et Orchestre Moderne, de Berlioz, menciona o saxofone
alto e barítono em Fá.
O saxofone alto em Fá foi utilizado escassas vezes no repertório orquestral.
Kastner utilizou-o em três das suas obras:

-Polka Carnavalesque (1857): utiliza dois saxofones alto em Fá e dois


saxofones tenor em Dó.

-Overture de Festival (1860): utiliza dois saxofones alto em Fá.

-La saint-ulien des Menetriers (1866): utiliza dois saxofones alto em Fá, dois
saxofones tenor em Dó e um saxofone alto em Mib.

A obra mais conhecida que inclui saxofones em Fá e Dó é a Sinfonia


Domestica de Richard Strauss (1904): nesta obra o compositor utiliza o
quarteto de saxofones (soprano e tenor em Dó e alto e barítono em Fá).

A última utilização do saxofone alto em Fá na orquestra foi numa obra


do compositor inglês Joseph Holbrooke, no ano de 1910. Este compositor
estava aparentemente fascinado pelos saxofones e escreveu uma sonata,
um concerto e também obras de música de câmara, usando a família inteira
dos saxofones. A sua obra orquestral Les Hommages (sinfonia n.º 1) incluía
partes para soprano em Sib, alto em Mib e Fá, tenor em Sib e barítono em
Mib e Fá.
Embora as obras de câmara que utilizam estes saxofones sejam
escassas, os saxofones em Fá e Dó tiveram curta existência no século XIX e
quase nunca houve sucesso para eles, favorecendo assim os saxofones em
Mib e Sib. Estes foram utilizados na orquestra sinfónica, mas Sax tinha
pensado em usá-los só nas bandas militares.
Em 1841, Sax apresentou o saxofone na primeira exposição belga,
mas ao sentir que o seu trabalho não tinha sido recebido da maneira que
merecia, decidiu mudar-se para Paris, considerada, nessa época, como a
Meca da música e cidade dos maiores músicos: Berlioz, Mayerbeer, Chopin,
entre outros. Uma vez instalado em Paris, Sax convida compositores a ver e
ouvir o seu novo instrumento.
A 19 de Agosto de 1845 uma decisão do ministro francês impôs a
utilização de dois saxofones (barítono e alto) nas bandas de música dos
regimentos de infantaria, em vez dos fagotes e oboés. A revolução de 1848
suspendeu esta decisão durante seis anos, mas em Agosto de 1854 o
Decreto Imperial reorganizou a formação das bandas de música e dos
regimentos, ordenando a incorporação de oito saxofones: dois barítonos,
dois tenores, dois altos e dois sopranos.
Desde a sua invenção, o saxofone gerou uma grande polémica,
devido aos construtores franceses, aliados contra o fabricante belga, que não
queriam reconhecer a patente do instrumento de sopro. Uma larga e
interminável série de processos judiciais arruinaram ambas as partes, mas
as acusações que foram apresentadas nestes processos contra Sax foram
consideradas falsas. Devido a todos estes problemas, Sax foi incorporado e
impedido de dar aulas por várias ocasiões, pois perdia mais tempo a resolver
os seus problemas do que a leccionar.
Começa a dar aulas em 1857 no Ginásio Musical, reservado a alunos
militares, encerrando mais tarde as suas portas e dando lugar ao
Conservatório de Paris, onde era o próprio inventor que leccionava as aulas
de saxofone. Apesar das reclamações do então director do Conservatório,
Ambroise Thomas, Sax só foi substituído em 1842, quando o director era
Delvincourt. O novo titular da disciplina de saxofone foi Marcel Mule, que
demonstrou ser um grande pedagogo e também um grande virtuoso.
Apesar do saxofone pertencer a uma família de sete membros (contrabaixo,
baixo, barítono, tenor, alto, soprano e sopranino), os compositores só se
limitaram a utilizar o saxofone alto, deixando os restantes para segundo
plano.
Estes instrumentos comportam-se como uma verdadeira família,
tendo qualidades e defeitos, que se podem considerar como hereditários,
guardando cada um o seu próprio carácter e personalidade. Um é ligeiro, o
outro é sombrio, um é caprichoso, e outro é profundo.
Hoje em dia só são fabricados seis destes sete saxofones, e mesmo assim
em quantidades muito desiguais. Do sétimo, o contrabaixo, só existem cerca
de uma dezena de instrumentos, sendo alguns deles já peças de museu.
Reunidos todos os saxofones, estes atingem um âmbito igual ao de uma
orquestra.
A combinação do corpo metálico com a embocadura proporciona ao
saxofone uma vasta variedade de sons, desde a sugestão de notas
metálicas da trompa ao som profundo e melodioso do violoncelo, passando
pelos timbres agudos e delicados da flauta.
Aparte do saxofone ser utilizado nas bandas militares e nos conjuntos de
jazz, aparece também em obras orquestrais, como Le Dernier Roi de Juda
(1844) de J. G. Kastner (a primeira obra em que o saxofone surge).
Grandes compositores confiaram fragmentos das suas partituras ao
saxofone (Bizert, Strauss, Ravel, M.Phavel, Berg, etc.); outros chegaram
mesmo a confiar-lhe páginas inteiras: Glazunov, Debussy, Hindemith ou
Hector Villa-Lobos. Algumas destas composições são: L’Arlesiana (Bizet),
Sinfonia Doméstica (Strauss), Cardillac (Hindemith), Job (Vaugham Williams),
Rapsódia para saxofone (Debussy) e Bolero (Ravel).
Entre os saxofonistas que solicitaram a composição de obras solistas
para saxofone encontra-se a norte americana Elise Hall. Alguns dos
compositores que responderam ao seu pedido foram D.V’Indy com Choral
Varie (1903) e C. Debussy com Rapsodie (1903).
Uma segunda patente (1866) viria a ser registada vinte anos após a
primeira (1846), introduzindo modificações importantes nos membros da
família do saxofone:

1. Sax dá uma maior extensão a cada um dos instrumentos, tanto no registo


grave como no agudo, aproximando-o da extensão do clarinete. Fê-lo,
alargando o corpo do instrumento, e colocando uma chave de harmónicos
suplementar.

2. Melhora o mecanismo, facilitando assim algumas digitações e


conseguindo uma melhor afinação em certas notas.

3. Aperfeiçoa o tubo sonoro do instrumento.

Em 27 de Novembro de 1880 Adolphe Sax registou uma terceira


patente, onde apresentou também uma série de outras modificações no
saxofone.
Ouras empresas começaram rapidamente a fabricar saxofones: em 1871
Buffet-Crampon, François Millereau, Gautrou filho, a associação Geral de
Trabalhadores de Instrumentos de Música (que mais tarde passa a pertencer
à marca Couesnon), Arsène-Zoé Lecomte e Cia, André Thibouville, Auguste
Feuillet.
Aquando da morte de Adolphe Sax, em 7 de Fevereiro de 1897, o seu
filho Adolphe Édouard Sax (director da fanfarra da Ópera de Paris desde
1881, que chegou a ser padre durante 7 anos) passou a ser o director da
fábrica de seu pai. No final da I Guerra Mundial (1918), mais de um terço da
mão-de-obra francesa especializada na construção de instrumentos
desapareceu. Por outro lado, os Estados Unidos da América intensificaram e
aperfeiçoaram as suas próprias produções.
A aparição do Jazz alterou significativamente a situação do saxofone.
Este passou a ser introduzido tanto nas orquestras de baile como nas
orquestras de Jazz.
Em 1911 a casa Selmer torna-se proprietária da fábrica Millereau e
também das oficinas Sax da Rua Myrha. Em 1928 adoptou um procedimento
de fabricação usado somente, até então, nos Estados Unidos: as chaminés
onde são apoiadas as sapatilhas deixaram de ser soldadas ao corpo do
instrumento, passando agora a ser construídas e moldadas ao mesmo tempo
que o resto do corpo. Graças à qualidade de fabricação, a casa Selmer, que
exportava 58% da sua produção, reconquista pouco a pouco o mercado
europeu. Em 1983 as suas exportações repartiam-se por vários países: 20%
para os Estados Unidos, 20% para o Japão, 40% para a Europa, 5% para o
Canadá, e 15% para países de leste e outros mercados.
Algumas das fábricas mais antigas desapareceram devido à guerra.
Outras compravam peças soltas, montando os saxofones e colocando
apenas a marca da fábrica. Apareceram novos estabelecimentos, mas
muitos deles duraram pouco tempo:

Em França: Evette et Schaeffer, Courtois, Pélisso de Lyon, Couesnon y Cia.


Alemanha: Hammer Schidt, Franz Michl, Huller y Cia, Adler.
Inglaterra: Thomas Boosey, Gisborne, Rudall-Carte, Lewin.
Estados Unidos: Martin, Rudy, Muck, King.
Bélgica: Charles Mahillon.
Itália: Pelitti, Maldura, Grassi.
Austrália: Dickson-Maurer
Suiça: Hienzmann
URSS: Fedorov.

O saxofone é um instrumento de sopro com orifícios laterais da família


das madeiras.
Os princípios da sua sonoridade residem na vibração de uma palheta
simples colocada numa boquilha, sendo estas duas unidas por uma
abraçadeira, e por sua vez, estes juntos serão associados a um tubo cónico.
As boquilhas normalmente são construídas em ebonite, ou metal, mas
também podem ser construídas em plástico, e muito raramente em madeira
ou cristal.
Ao contrário do que se costuma pensar, o material com que as
boquilhas são construídas importa muito menos do que a sua forma. A
boquilha é constituída por várias partes: a abertura, a mesa, a câmara,
paredes laterais, bisel, túnel, janela e ponta.
A abertura é a distância que separa a ponta da boquilha da palheta. Com
uma abertura pequena, ou com uma boquilha fechada, o saxofonista tem
tendências a tocar com palhetas fortes, e o seu som será reduzido, mas
bonito. Com uma abertura grande, será difícil tocar afinada e a tendência é
em tocar com palhetas fracas. A mesa da boquilha, é a parte plana que se
prolonga até à parte curva. É sobre esta que deve ser colocada a palheta.
Convém referir que o comprimento da mesa inclui também o comprimento da
parte curva.
A câmara é a parte interior da boquilha onde nasce o som. O seu
formato é muito importante, e esta vai determinar a qualidade do som. Uma
câmara pequena com um tecto baixo dará um som rico em harmónicos. Por
outro lado, uma câmara grande com um tecto alto dará um som mais
sombrio.
Em geral, ma música erudita utiliza-se uma boquilha com uma mesa
curta ou mediana e de abertura pequena. No Jazz, as boquilhas com mesa e
abertura grande são as preferidas.
Uma boa boquilha é aquela que permite ao saxofonista mudar
facilmente de sonoridade, e que oferece um grande campo de liberdade
tímbrica.
É a palheta que classifica o saxofone como membro pertencente à
família das madeiras. É uma das partes mais delicadas e importantes da
embocadura. Da sua qualidade depende não só o som, mas também a
flexibilidade do instrumentista.
As palhetas de saxofone extraem-se duma planta chamada Arundo
Donax, cana que cresce em regiões quentes. O Arudo Donax mais apreciado
provém de da região de Var, no sul de França, junto ao Mediterrâneo.
Dependendo da parte onde é cortada (pé ou cabeça da planta), a
palheta tem qualidades diferentes, distribuindo de maneira diferente a
humidade, e resistindo de maneira diferente à temperatura.
A palheta é constituída por várias partes: talão, partes laterais, bisel,
coração e ponta.
Para fixar a palheta à boquilha, Adolphe Sax, já em meados do século
XIX, fabricou uma abraçadeira metálica com parafusos (parecida com a que
se utiliza hoje em dia). Mesmo assim, os fabricantes e saxofonistas não
param de criar novos modelos de abraçadeiras que permitam uma maior
aderência de palheta à mesa da boquilha sem ter de pressionar demasiado o
talão.

O som do saxofone é produzido quando o instrumentista envia uma


impulsão ar para dentro do instrumento através da boquilha/palheta. O ar
origina pressão dentro do tubo, e parte deste ar é expulso para fora do
instrumento pelos orifícios abertos e isto fará com que o instrumento soe. A
outra quantidade de ar volta em direcção à palheta com a mesma
velocidade.
A pressão de ar que é feita na entrada do instrumento faz com que
este entre em contacto com a palheta e a faça despegar da boquilha. O ar
que volta para trás voltará a entrar em contacto com os mesmos, e assim
sucessivamente, originando movimentos periódicos de oscilações.
Se for aberto um ou vários orifícios, o instrumento comportar-se-á
como se fosse cortado o tubo pelo mesmo lugar onde o primeiro orifício foi
aberto (a partir da boquilha), assim sendo, as idas e regressos de ar serão
mais numerosas, e por consequência, as frequências serão mais elevadas.
A palheta, que actua como válvula e bate contra a boquilha, abre-se e
fecha-se cerca de 35 vezes por segundo na nota mais grave do saxofone
contrabaixo e 1760 vezes na nota mais aguda do saxofone sopranino.

O saxofone, tal como muitos outros instrumentos, é transpositor, isto


quer dizer que não se escrevem na partitura do saxofone as mesmas notas
que o público ouve. Isto acontece para que os saxofonistas só tenham de
aprender uma digitação para toda a família dos saxofones. Por exemplo, se
se quer que um saxofonista toque o lá do diapasão, na partitura aparecerá:

Para sopranino: Fá #
Para soprano: Si
Para barítono: Fá # (agudo).

Diz-se que o instrumento está em Si b, porque quando ele toca a nota Dó, o
que se ouve é um Si b.

Apesar das possibilidades de extensão no sobreagudo (harmónicos), todos


os saxofones têm o mesmo âmbito, duas oitavas e uma sexta menor, à
excepção do saxofone barítono, que possui mais uma nota (Lá grave), que
lhe permite tocar, em som real, um Dó, que seria um Dó grave para o
violoncelo.
No dia 28 de junho de 1846, o belga Adolphe Sax recebeu a patente do
saxofone. Na época, o mestre na construção de instrumentos musicais
justificou a invenção com a falta de bons instrumentos de sopro de madeira
de timbre agudo. O sucesso do "sax", entretanto, viria com o jazz.

O sucesso chegou durante a Primeira Guerra Mundial: nos bares de jazz


de Chicago, o saxofone começou a superar a clarineta; esteve presente na
fase final do jazz de Nova Orleans e na grande era das big bands.

Não se poderia imaginar a música de Glenn Miller, de Benny Goodman


ou de Duke Ellington sem o saxofone. E, posteriormente, ele se tornou
também o instrumento de improvisação de grandes solistas do jazz, como
John Coltrane, entre outros.

O jazz foi assim o grande responsável pelo triunfo do saxofone no século


20. A invenção do instrumento se deu, no entanto, várias décadas antes de
ele obter tal êxito.

MUITO CURIOSO

O belga Adolphe Sax aprendeu ainda jovem o ofício de construtor de


instrumentos musicais, na oficina do seu pai. Posteriormente, estudou
música no Conservatório de Bruxelas. Mas logo podia-se reconhecer que a
sua paixão não era tocar música e, sim, gerar sons. Sax gostava de
experimentar e de inventar, utilizando cornetas, tubas, fagotes e clarinetas.
Fazia experimentos com quase tudo o que gerava som através de uma
coluna de sopro.

Após obter seus primeiros êxitos na terra natal, Adolphe Sax deixou a
Bélgica e foi para Paris, com pouco dinheiro mas grandes ambições. Os
compositores e músicos parisienses da época já tinham ouvido falar do
talentoso belga e o receberam de braços abertos.

Nessa época, já existia um protótipo de seu novo instrumento, o


saxofone, que ele levara consigo para Paris. Pois, em 1842, o compositor
Hector Berlioz – na época já um grande amigo de Sax – descrevera a
invenção na sua coluna de jornal: "Seu som não se compara ao de nenhum
outro instrumento agudo comum. Ele é encorpado, suave, vibrante, de uma
força enorme e apropriado para o uso com surdina. Na região superior, gera
notas de uma pungência tal que o tornam ideal para expressões melódicas".

MUITO RECONHECIMENTO, POUCA MÚSICA

Apesar do elogio entusiástico, tornou Sax conhecido no cenário musical


parisiense, o saxofone não conseguiu impor-se inteiramente nas músicas de
ópera e orquestral da época. Compositores conhecidos, como Berlioz,
Donizetti e Rossini, logo se tornaram admiradores e amigos do inventor, mas
pouco se compôs para saxofone.

No ano de 1845, Sax se apresentou diante da família real, buscando


introduzir seus instrumentos nas orquestras militares francesas. Em
conseqüência disso, foi promovido um concurso público, no Champ de Mars
em Paris, entre uma banda militar de cunho tradicional e outra com
instrumentos de Sax. A banda de Sax venceu claramente o concurso.

Baseado nesse êxito, Adolphe Sax começou a tratar também de negócios. Já


em 1843, ele havia criado uma sociedade anônima e, em 28 de junho de
1846, recebeu também o certificado francês de patente para toda a família
de instrumentos denominados "saxofone".
SEM SUCESSO NAS FINANÇAS

Na declaração que acompanhava o seu requerimento de patente nº


3226, ele justificou a invenção com a falta de bons instrumentos de sopro de
madeira de timbre agudo. Os instrumentos existentes não tinham volume
suficiente para a música ao ar livre e para as bandas militares.

A patente tinha uma duração de 15 anos, como era padrão na França, na


época. Com isto, Sax obteve um prazo durante o qual somente ele poderia
construir saxofones. A sua fábrica entrou em concordata três vezes, e ele
teve de investir muita força e dinheiro em processos judiciais contra outros
fabricantes, que contestavam o seu direito à patente.

Após uma única prorrogação possível da patente por cinco anos, a


construção de saxofones tornou-se direito geral em 1866, o que outros
fabricantes aproveitaram. Já na década de 1860, surgiram os primeiros
saxofones italianos e, em 1888, a firma Conn iniciou a sua produção nos
Estados Unidos. A construção de saxofones alemães teve início no ano
1901, através da firma Oskar Adler.

Adolphe Sax, o inventor do saxofone, morreu em 1894, pobre como


muitos dos seus colegas inventores. Ele não pôde mais presenciar o triunfo
do seu instrumento, que veio com a propagação do jazz.
Principais compositores que utilizaram o saxofone em suas obras.

• Meyerbeer 1791 – 1864 (Alemanha)


• Kastner 1810 – 1867 (França)
• A. Thomas 1811 – 1867 (França)
• Bizet 1838 – 1875 (França)
• Massenet 1842 – 1912 (França)
• Debussy 1862 – 1918 (França)
• Glazunov 1865 – 1936 (Rússia)
• Vaughan Williams 1872 – 1958 (Inglaterra)
• Shoenberg 1874 – 1951 (Alemanha)
• Ravel 1875 – 1937 (França)
• Ibert 1890 – 1962 (França)
• Prokofiev 1891 – 1953 (Rússia)
• Milhaud 1892 – 1974 (França)
• Britten 1913 – 1976 (França)
• Penderecki 1913 (Polónia)
• Stockausen 1928 (Alemanha)

Entre outros...

Principais saxofonistas de jazz.

• Anthony Braxton – James Carter


• Gato Barbieri – Ornette Coleman
• Michael Bracker – Jonh Coltrane
• Benny Carter – Paul Desmond
• Paquito d’ Rivera – Stan Getz

• Benny Golson – Dexter Gordon

• Coleman Hawkins – Jonny Hodges

• Eric Morienthal – Branford Marsales

• Gerry Mulligan – Charlie Parker

• Maceo Parker – Sam Rivers

• Sonny Rollins – Lester Young...entre muitos outros.

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