Estudo Diário - Daniel Kovacich
Estudo Diário - Daniel Kovacich
Estudo Diário - Daniel Kovacich
organizar a prtica
diria do Instrumento"
ndice
Introduo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03
Planejamento dos Estudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 04
Comentrios e sugestes sobre cada tpico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07
Dicas e conselhos prticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Transcries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . 16
Links . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Introduo
Se voc perder um dia de prtica ningum vai perceber. Se voc perder dois dias
voc percebe. Se voc perder trs dias os seus amigos iro perceber. Mas se voc
perder quatro dias ou mais... todo mundo ir perceber.
"Existem apenas trs maneiras de ser um bom msico: praticar, praticar e
praticar!"
Ambas so frases que provavelmente todos ns j ouvimos em algum momento de algum
professor, e tambm citada por Jerry Coker, em seu livro "How to Practice Jazz ". E ele
continua dizendo: "Essas frases so muito comuns, com certeza, mas pouco ou nada
dito ou escrito sobre COMO praticar"
Eu acho que um dos elementos mais importantes para o progresso de um estudante de
msica, ou um msico j formado que busca evoluir o talento, e tambm a maneira
como ele organiza o estudo e a prtica diria.
to importante o COMO praticar como tambm O QUE e O QUANTO se prtica.
Muitas vezes encontramos algum tempo todos os dias para a pratica do nosso
instrumento e no sabemos por onde comear, quanto de tempo praticar de cada coisa,
o que praticar e como praticar.
Enquanto voc pode aprender muitas coisas de vrios livros dedicados ao aprendizado, e
talvez (espero eu!) tambm deste artigo (que tambm inclui vrios conceitos desses
livros), parece-me essencial a orientao de um "Professor" experiente, que vai ser capaz
de sugerir o melhor para cada aluno, de acordo com suas caractersticas pessoais e/ou
necessidades.
Tenha em mente que quanto mais ocupado voc (ensinando, trabalhando, etc.) mais
eficiente e concentrado deve ser o seu estudo, a fim de aprender o mximo possvel no
pouco tempo que se tem disponvel. Ser, portanto, muito importante para os alunos, que
em muitos casos ainda possuem o privilgio de viver com seus pais ou ainda no
precisam trabalhar, adquirir o mais rapidamente possvel em sua evoluo hbitos de
estudo produtivos.
Neste artigo vou oferecer vrias idias, exemplos prticos de planos possveis,
recomendaes, etc, pensando em estudantes com interesses diferentes: tocar o
instrumento fluentemente com um bom som e uma boa tcnica, improvisar sobre qualquer
progresso de acordes, ler com facilidade qualquer partitura que lhe foi proposta, etc...
Mais uma frase, do filme Matrix
Morpheus: "Neo, mais cedo ou mais tarde voc vai perceber, como eu fiz, que existe uma diferena
entre conhecer o caminho e percorre-lo ..."
Aquecimento e Sonoridade
Leitura de estudos clssico e/ou popular
Transcries
Tcnica
Improvisao
Repertrio
Teoria e percepo auditiva
Tocar Livre (momento de lazer/distrao)
Tambm pode-se aumentar o tempo destinado para cada tpico, e distribu-los em dois
dias, fazendo um "Plano A" e um "Plano B". Por exemplo:
Tcnica: 20 minutos
DESCANSO (5 minutos)
Tcnica: 20 minutos
DESCANSO (5 minutos)
Repertrio: 20 minutos
DESCANSO (5 minutos)
Teoria e percepo auditiva: 30 minutos
DESCANSO (5 minutos)
Tocar Livre: 10 minutos
Domingos: descanso
Mais uma vez insisto que muito importante "personalizar" o plano, de acordo com as
necessidades e capacidades de cada aluno. As combinaes so infinitas.
Muitas pessoas me perguntam quantas horas devem praticar diariamente? No tenho
resposta para isso, porque esse tempo depende inteiramente de cada um de seus
objetivos, suas habilidades, e do seu tempo disponvel, etc...
A resposta seria: "o mximo possvel". Mas no s o tempo, mas tambm o que e como
feito, como disse anteriormente. 30 minutos por dia, bem praticados, significaram,
depois de um ms, cerca de 13 horas de prtica (incluindo um dia de descanso semanal).
Isso muito melhor do que nada!
Recomendo estudar aproximadamente mesma quantidade de tempo todos os dias, em
vez de estudar muito em um dia e nada no seguinte. Ena medida do possvel, sempre no
mesmo horrio. Dessa forma, o corpo vai adquirir um hbito que muito mais produtivo
do que se desgastar e depois ter que dar tempo para o corpo (e a mente) se recuperar.
Este hbito no estudo tem de ser desenvolvido. Um aluno pode se acostumar a praticar
todos os dias ou a praticar de vez em quando. Alguns dos meus alunos demonstram
ambos os casos maravilhosamente.
De qualquer forma, mesmo uma pessoa acostumada a prtica diria pode no sentir
vontade de fazer isso um dia. Nestes casos recomendamos o item "8" acima: "Tocar
Livre". Basta pegar o instrumento e tocar o que voc quiser. Em alguns casos aps um
tempo pode se sentir vontade de praticar outra coisa. Mas, se no, no importa.
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Tambm pode acontecer que depois de alguns dias praticando o mesmo estudo o nvel
de satisfao atingido. Nesse caso, eu recomendo duas alternativas: a) mudana de
rotina e voltar mais tarde em um momento que o material seja necessrio, b) alguns dias
de descanso. Muitas vezes, ao fazer o ltimo volta-se mais ansioso para estudar o
instrumento, e at mesmo a sensao de tocar melhor do que antes, o que
provavelmente verdade.
No o objetivo deste artigo esgotar o assunto. Alguns alunos j sabero o que eu quero
dizer quando lerem a parte a seguir, enquanto outros no tero a menor idia. Mas a
minha esperana de que, pelo menos, todos possam entender a idia ou o "esprito" do
que eu estou tentando passar aqui. So oferecidos apenas alguns comentrios e
exemplos de estudos possveis em cada tpico, mas cada um deles tambm merecia um
"COMO" fazer, porque? para citar alguns exemplos: existem muitas maneiras de se
praticar escalas, aquecimento, afinao, leitura ...
1) Aquecimento e Sonoridade
muito importante comear o estudo de forma gradual, de modo que os msculos que
so usados para tocar o instrumento e que no estamos acostumados a utilizar na nossa
vida cotidiana possam comear a trabalhar lentamente. tambm aqui se prepara
mentalmente para estudar e atingir a concentrao adequada que vai nos permitir ter um
estudo produtivo.
Obviamente, o tipo de exerccio vai depender muito do instrumento que voc est
estudando. Os exerccios mencionados aqui so principalmente para saxofone/clarinete.
Exerccios respiratrios
Exerccios para fortalecer a embocadura
Intervalos de quintas lento em todo o registro
Notas longas, vrios intervalos.
Exerccios de flexibilidade
Harmnicos: Exerccios Joe Allard.
Afinao: com notas pedais, afinando unssonos e intervalos. O uso inteligente do afinador
eletrnico (no treinar os olhos, mas o ouvido)
o saxofonista americano Bob Reynolds tem uma idia bem interessante de um exerccio de
aquecimento/alongamento.
Os estudos clssicos so muito teis para aqueles que querem se dedicar msica
popular, enquanto os estudos de msica popular tambm vo ser de grande utilidade para
aqueles que tem a msica clssica como sendo o principal objetivo. Eu acho que os dois
estilos podem muito bem se complementar e oferecer diferentes benefcios para o aluno.
Diversos estudos para clarinete e/ou saxofone
Diversos exerccios lendo primeira vista
Transposio (Ler partes de clarinete em "A" no "Bb", ler temas do Real Book ou outros livros
temticos que so escritos em "C" com o sax alto , tenor, etc...)
3) Transcries
Ler o artigo especfico para transcrio ao fim deste ttulo (pag. 16)
4) Tcnica
So muitos e importantes os tpicos listados abaixo. Mas vai depender da inteligncia e/
ou estratgia do professor e do aluno saber administrar o tempo gasto em cada um deles.
muito importante memorizar escalas, arpejos, modos, etc, etc, etc... porque essas so
as bases de construo da msica.
Stacatto / Detach
Escalas maiores e menores em todos os tons (ligado e articulado)
Modos e outras escalas
Escalas cromticas
Escalas em intervalos (2, 3, 4...)
Diferentes tipos de articulaes
Arpejos (trades e ttrades)
Articulaes (estudos staccato - combinaes diferentes)
Glissandos, multifnicos, efeitos "especiais"
"Patterns of Jazz" (Jerry Coker), muito bom tambm para os msicos "clssicos"
5) Improvisao
Aspecto essencial para o estudante de jazz e outros gneros populares, que penso eu
tambm muito til para os estudantes que querem tocar apenas msica clssica, uma vez
que isso d mais facilidade e musicalidade com o instrumento. claro que, neste ltimo
caso, o material escolhido e o tempo dedicado a estudar no deva ser o mesmo.
Standards (Temas)
Trabalhos sobre a harmonia dos Temas: Arpejos sobre as notas dos acordes. Praticar tambm
com o play-alog Aebersold Vol. 21 ou com os aplicativos iReal Pro e "Band in a Box". - Jerry
Bergonzi (Inside Series Improvisation) - Relaes de acordes. Movimento meldico na mudana
de acordes.
Solos com notas fixas (ex.: mesma figura rtmica ou alguma nota especfica de cada acorde)
II V I (progresses)
Temas Modais
Blues e Rhythm Changes em todos tons
Temas baseados em "Tonic Systems" ou multitonicas.
Patterns e expresses idiomticas em todos tons
6) Repertrio
A nfase dever ser colocada sobre os estilos de maior interesse para o aluno. Mas incluir
outros estilos tambm vai contribuir para a formao do msico. Ser importante aqui
tambm dedicar algum tempo para Memorizar obras.
Standards
Blues
Rhythm Changes
Temas Modais
Choros
Peas Especficas para Saxofone
Obras clssicas do repertrio
Este ponto pode (e deve) tambm ser includo na prtica diria. Ir alm da teoria: tentar
aplicar os tpicos aqui estudados no prprio instrumento ou no piano ou violo (se esses
no forem os primeiros instrumentos).
8) Tocar Livre
Basta tocar o que quiser, sem qualquer exigncia, sozinho ou com outros msicos. Esse
tipo de atividade muito importante no final de um dia de estudo, por que lentamente
muitos dos elementos estudados no dia, ainda na nossa mente e ouvidos, vo ser
incorporados de uma forma inconsciente execuo.
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Algumas contribuies muito boas do meu amigo Daniel Blech, que complementam
ou reforam as idias deste artigo:
Existe uma velha frase que diz: "dividir para reinar". Ou seja: resolver os problemas
separadamente. Os outros fatores permanecem iguais no subconsciente. Por exemplo, se
um estudante tem um bom som, que vai continuar bom enquanto ele pratica outra
coisa,ele no deve prestar ateno ao som (porque se ele fizer isso, ele estar desviando
sua ateno do objetivo especfico do exerccio). Se voc est estudado afinao
(quintas, por exemplo) no deve se distrair com a respirao, ou a dureza ou suavidade
da palheta, etc..., mas exclusivamente dedicado para afinar as quintas. Se voc est
estudando tcnica, no deve se distrair com o som ou o fraseado. E assim por diante. Na
minha experincia, esse esforo e essa concentrao da muito resultado.
O Plano de Estudos pode parecer bom no papel, mas na prtica ele pode no
funcionar, ou funcionar parcialmente (claro sempre falando de situaes particulares, cada
pessoa funciona de uma maneira diferente, etc...) Se for este o caso, convencer o aluno a
fazer as alteraes necessrias e/ou busca-las com a ajuda de um professor, mas em
todo caso no se contente mecanicamente com uma programao diria auto-imposta ,
mas sim desenvolva uma de forma flexvel, auto-crtica e de acordo com as metas
especficas que voc deseja alcanar . E claro, projetar outra se os objetivos so outros.
Parece bvio, mas eu conheo muita gente que repetiram ao longo de sua vida o mesmo
grupo exerccios como um ritual, sem ao menos se perguntarem o porque o faziam. E
como voc sabe se o plano escrito esta funcionando ou no? Se no houver nenhum
resultado (ou mnimo) em 10 ou 15 dias, algo deve ser mudado.
Tcnica, warm-ups (aquecimentos), afinao, sonoridade: Para evitar a rotina e o
tdio, fazer um rodzio (por perodos) dos exerccios entre as muitas alternativas que
temos disponveis. No clarinete por exemplo temos: Klose, Brmann, Albert, Kroepsch,
David Weber, Burke entre outras mil... Incentivar o aluno a criar e escrever seus prprios
exerccios, e que os leve ao professor e aos colegas para que eles possam analisar,
criticar e expandir. A idia manter a mente ativa e no presa em um nico ponto de
vista. "
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Repertrio: pegar uma pea, ou um movimento ou uma parte dela e tentar tocar de
forma diferente. Por exemplo: a primeira frase do Adagio do concerto para clarinete de
Mozart considerado um exemplo perfeito de legato. Bem, tentando tocar Detach de
uma forma to doce e expressiva como no seu original (ou que soe totalmente
inexpressivo). Ou tocar a frase de abertura do 1 movimento do Concerto No. 2 de Weber
a tempo, mas pianssimo. Ou coisas mais loucas como adicionar ornamentao barroca
ao concerto de Copland. As variaes so infinitas. Eu no estou dizendo que voc tem
que tocar as peas assim no concerto. A idia de "deformar" pode ajud-lo a v-las de
uma forma mais clara e achar algum detalhe que foi esquecido. Como olhar uma imagem
atravs de uma cmera , coloca-la fora de foco, e ir corrigindo gradativamente at que a
imagem aparece claramente.
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para outro (pratica que pode ocorrer eventualmente em situaes de Big Bands,
Musicais entre outros trabalhos).
Use roupas confortveis, tire o relgio. Mesmo quando voc est preparando um
concerto que exija roupas de "concerto" no faz mal para a prtica, por vezes, se vestir
dessa forma (sapatos, casaca, terno, gravata, etc.), Para evitar uma sensao estranha
no dia da apresentao (essa ltima uma idia que eu li no livro "Flauta", do grande
James Galway).
No toque com dor !!! Pare ao menor sinal de problema, faa alguns alongamentos,
corrija sua postura e confira a tcnica/dedilhado, etc. Se a dor persistir procure a ajuda
de algum especialista no assunto.
Procure sempre a posio mais confortvel, anatmica e "correta" possvel para tocar.
Note que voc pode se acostumar a uma m postura e sentir-se relativamente
confortvel nela, mas com o tempo podem e iro aparecer problemas fsicos/dores
irreversveis . Sempre consulte algum especialista no assunto.
Sempre ajuste a altura da estante e cadeira, procurando conforto.
Dedique algum tempo antes e depois do estudo dirio para alongamento e conscincia
corporal/atividade fsica. Yoga, Feldenkrais, Eutonia, Tai-chi, etc, etc. Isso vai ajud-lo a
se sentir melhor e evitar dores e leses que podem se tornar muito graves.
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Transcries
Decidi escrever este artigo com a inteno de aproxim-los de uma prtica que considero
essencial para o desenvolvimento integral de um msico improvisador.
muito comum encontrar pessoas tocando um instrumento h anos (e at mesmo
vivendo da msica que no so capazes de cantar ou tocar "de ouvido" nem mesmo uma
pequena melodia infantil. Isso me prova que h uma grande falha na formao desses
msicos que poderia, creio eu, na maioria dos casos (sim, existem "casos perdidos"!), se
beneficiar muito com o tipo de trabalho que desenvolvo nesta seo.
Voc notar que eu menciono muitas vezes a palavra "jazz" abaixo. Isso porque essa
prtica muito comum dos msicos desse estilo, e que algo que eu sempre incorporo
nas minhas aulas, mas vo perceber que transcrever no precisa estar limitado a um
determinado estilo de msica.
Outro ponto: Em geral, me refiro neste artigo a transcrio meldica, pois acredito que a
maioria dos leitores desse artigo tocam instrumentos meldicos, como eu, e que isso
venha ser prioridade nesses casos. Mas as transcries no precisam ser restritas
apenas as melodias, como voc pode rapidamente assumir. Ser til tambm transcrever
harmonias e por que no somente certas divises rtmicas.
Claro, eu no estou inventando nada, mas apenas dando o meu ponto de vista sobre algo
que foi praticado e/ou ainda praticado pela maioria dos bons msicos que eu admiro.
Lembro-me que alguns dos grandes professores que tive na Berklee insistiram bastante
sobre isso. Existem vrios vdeos e livros sobre o tema. Mas aqui tambm vo encontrar,
espero, algumas boas idias e recomendaes para principiantes no assunto. E de
graa! :-)
Segundo o Dicionrio Aurlio da Lngua Portuguesa:
Transcrever:
(latim transcribo, -ere)
Copiar
Escrever a mesma coisa noutro local. = COPIAR, REPRODUZIR
Escrever o que foi ouvido.
Fazer uma transcrio.
Copiar:
(de Cpia)
Fazer cpia
Reproduzir uma obra
Produzir algo muito similar ou idntico, imitar
Copiar ou imitar algum.
Produzir uma imagem fotogrfica em papel, a partir de um negativo ou de um registro
digital
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O que transcrever ?
Alguns acham que bom transcrever frases que se possa vir a usar, e depois transpo-las
para vrios (ou todos) tons. Ouvi de Michael Brecker, mesmo pouco antes de sua morte,
dizendo que ele ainda fazia essa prtica.
Outros acreditam que o mais adequado seria transcrever solos completos, o que trar
muitas outras coisas, como o desenvolvimento meldico, a forma, o uso das pausas,
fraseado, etc. Dizem que o grande pianista e professor Lennie Tristano pedia isso aos
seus alunos. Sabe-se tambm que Charlie Parker memorizava no sax alto nota por nota
dos solos de tenor de Lester Young.
Pessoalmente acredito que ambas as prticas (frases ou solos completos) so muito
importantes e extremamente teis.
Isso acontece com todos ns, ouvimos um solo ou uma frase qualquer e aquilo nos
chama a ateno e desperta nossa curiosidade. Bem, essa frase /solo vai ser uma tima
opo para ser isolada e trabalhada (transcrita/estudada).
Alm disso, alguns intrpretes/solistas tm a capacidade de nos prender a ateno do
incio ao o fim de seus solos. Nesses casos, eu penso que seria uma boa idia
transcrever o solo na ntegra. Aos que transcrevem msica clssica/erudita podem optar
pelos compositores/composies que acham mais interessantes.
Para comear, quando no se tem muita prtica, acho conveniente transcrever frases
simples ou fragmentos de melodias, em vez de solos ou temas inteiros.
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Saxophone Transcriptions
Neff Music
Transcries de Bob Berg
Site Frans de Trasncries
Altamente recomendado
O vdeo The Improvisor's Guide to Transcription, de David Liebman (Caris Music
Services). Na verdade, neste pequeno artigo eu no estou dizendo nada que ele j no
tenha falado em seu vdeo, mas eu o fao em portugus. Enfim: assista-o, vale a pena!
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Aqui segue uma matria com o saxofonista Ademir Junior (um grande incentivador da
prtica da transcrio) falando sobre a sua experincia em todos esses anos de
transcrio e dando algumas dicas.
Obs: alguns dos pontos de vista dele so diferentes dos meus mas ns dois
visamos o mesmo objetivo, que voc adentre no universo da transcrio, por isso
leia e escolha o seu caminho.
Ademir Junior:
Imitao
Se tem uma escola que funciona em pases que no dispem de educao acadmica de msica
popular, a transcrio de solos. Essa prtica se tornou cada vez mais popular depois dos
belssimos solos tocados pelos pais do jazz. No se pode ignorar que a imitao pertence ao
aprendizado humano em reas como falar, danar, cantar e tocar. Ningum cria algo que j no
esteja sendo feito de outra forma por algum, portanto o que fazemos pode ser a extenso de algo
j feito e assim podemos refazer ou construir algo novo com fragmentos j existentes.
Imitar faz parte da cultura humana, pois imitando que se pode aprender algo para se comunicar
em uma mesma linguagem e de forma que todos sejam compreendidos. Isso faz parte das
linguagens preexistentes e estabelecidas para a comunicao social do homem. Porm, a imitao
tem o seu tempo de eficincia e isso se d como no caso de uma criana que fala nos primeiros
anos de vida e at que se alfabetize, a imitao ser uns dos instintos prticos para sua
sobrevivncia. Traduzindo toda essa teoria para msica, podemos entender que a transcrio de
solos algo to importante para um estudante de improvisao quanto a imitao o para uma
criana que imita as primeiras frases dos pais.
A experincia de tirar as mesmas notas e tocar o solo de um msico que voc tanto admira
essencial para a formao da linguagem na improvisao. Passar por cada nota, uma por uma,
pacientemente trar experincias maravilhosas ao msico que sonha um dia fazer de forma
semelhante o que faz o artista que tanto admira.
Tecnologia
De uma forma sensvel, a tecnologia pode no ser to benfica quando se refere transcrio de
solos, pois os recursos disponveis para a diminuio do andamento e at a escrita virtual em
programas de edio de partituras privam o ouvido e o crebro de passar por momentos de grande
importncia para a evoluo do ouvido musical. Pode ser que com menos facilidade ao seu redor
voc desenvolva mais instintos para a percepo meldica, harmnica e rtmica. o caso de tocar
um solo ou uma frase na metade do seu andamento. Que bom poder ouvir ligeiramente todas as
notas, mas a deficincia se instala quando voc de- pende de ouvir sempre de forma lenta cada
passagem, quando sabemos das riquezas e diversidades de andamentos que cada frase pode ter,
uma sempre diferente da outra.
Outra questo importante que o contato do lpis com o caderno guiado pela mo causa no
crebro uma informao que aos poucos forma o reconhecimento ou domnio de determinadas
alturas, e estas podem se estender para o ritmo e harmonias. Logo, o msico pode desenvolver seu
ouvido musical em trs diferentes percepes; nesse caso, a repetio dar a segurana no
reconhecimento de intervalos e divises. Imagens sonoras tambm se formam medida que se
desenvolve a percepo nos trs quesitos. Isso seria semelhante ao que se faz com crianas ao lhes
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ensinar o nome de cada objeto; nesse caso, uma identificao visual, e no nosso caso, a
identificao auditiva aprendendo a dar nome a tudo que se escuta.
Mos obra
O que nos faz querer tocar o que ouvimos que gostamos e nos identificamos com um solo, ento
basta escolher algo no muito complicado e de preferncia de andamento mdio para lento, at que
se acostume com a velocidade das passagens meldicas. Os msicos de instrumentos meldicos
podero ter mais facilidade para essa prtica, mas isso no regra.
No incio voc pode usar o seu instrumento, at que depois de algum tempo isso j no ser to
necessrio, dependendo da dificuldade do solo e do tanto que seu ouvido evoluiu em percepo.
Resultados
O trabalho poder demorar dias, mas o importante no se desesperar se o solo parecer muito
difcil. claro que seu ouvido ter um nvel de percepo para poder se aventurar em cada solo,
mas se o que voc escolheu o fizer suar bastante, isso valer a pena. Por vezes voc poder passar
uma melodia 20 vezes e no ouvir o ritmo ou as notas com clareza. Isso normal at que voc
desenvolva mais sua percepo. Faz parte do processo e no deve ser motivo de preocupao.
Cuidado para no se viciar em tirar notas erradas e no conferir, se- no a escrita fica errada e o
ouvido vicia. Isso perfeitamente possvel, e poder ser um auto-engano. Por isso, ao tirar, voc
dever tocar vrias vezes para conferir todos os sons. A prova dos nove pedir para algum tocar
com a gravao. Se for um bom executante, logo voc mesmo perceber as diferenas. Se voc
tocar e viciar em se enganar, com o tempo arrumar um problemo.
Com esses cuidados ser possvel obter um nvel satisfatrio em cada solo. Com o passar dos anos,
tudo vai clareando e aquela velha frase do quebrou tudo vai dando lugar a um melhor
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entendimento, em que voc perceber cada escala, diviso e passagem harmnica executada.
Acredite, tudo possvel, basta praticar, e de forma exaustiva poder chegar a um nvel que jamais
imaginou. Com um empurrozinho, objetivo, pacincia e auto-estima, as coisas vo ficando cada
vez mais acessveis, e depois de algum tempo voc acabar entendendo as linhas de solo e
analisar tudo por cima, sem a necessidade de esmiu-las.
Concluso
Sei que existem vrias linhas de pensamento sobre tirar ou no solos, mas deixo aqui a minha
contribuio dizendo que para mim tudo isso funcionou, pois sempre pensei que no somos
autossuficientes. Nossa inspirao vem das mnimas coisas at as mais complexas. Nesse caso,
copiar solos como gerar imagens musicais e contedo, para que voc os tenha em seu crebro e
acesse sempre que precisar. importante relembrar o legado de cada msico, mesmo que seja em
uma frase, pois isso mostra a importncia e a grandeza do que eles so para todos ns, estudantes
e profissionais da improvisao.
Terminando essa dica, lembro que importante ir dificultando o nvel para chegar a msicas
tecnicamente mais complexas, e tornar esse exerccio uma prtica saudvel. Nenhum msico cria
todas as situaes musicais de forma instantnea e sim acessa informaes que esto no crebro,
pois se elas no estiveram l, de onde se pode tirar?
Nesses 13 anos cheguei a tirar cerca de cem solos. Entre eles, cito os seguintes msicos: Oliver
Nelson, Freddie Hubbard, Miles Davis, John Coltrane, Michael Brecker, Branford Marsalis, Kenny
Garrett, Joshua Redman, Eddie Daniels, Wynton Marsalis, Pat Metheny, Vitor Assis Brasil, Idriss
Boudrioua, Lula Galvo, Alexandre Carvalho, Widor Santiago, Marcelo Martins e Moiss Alves.
Lembro que um dos nossos maiores saxofonistas de todos os tempos disse que 90% do que ele
tocava era tirado de John Coltrane. Quem ele? Michael Brecker. E deixo aqui uma frase que a
Elizabeth Taylor disse sobre Michael Jackson se inspirar em James Brown: Um artista sempre se
inspira em outro bom artista.
Para mim, a diferena que o que voc pode fazer expandir o conhecimento adquirido uma vez
que toma emprestada a inspirao de outros para seu laboratrio musical. Por fim, tenho certeza
de que por mais que se copie, no existem dois DNAs idnticos. Sua assinatura e alma estaro l,
soando sempre de uma nova forma.
Boa Sorte, Ademir Junior
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Sites Interessantes:
Saxophone.org
Saxopedia
Saxophone Players Guide
The Vintage Gallery
Saxophone WebSite
Material de estudo:
Seo "Material" da pgina de Daniel Kovacich.
Saxlessons.com
Antosha Haimovich
Sax on the Web
Bob Keller
Tcnica Alexander
Eutonia
Feldenkrais
Livros Recomendados
Existem vrios livros excelentes (em ingls) relacionados ao tema da prtica diria. Entre
eles eu ainda gostaria de mencionar How to Practice Jazz" (Jerry Coker), "How to
Improvise" (Hal Crook) e "Ready, Aim, Improvise!" (Hal Crook). Apesar desses livros
serem direcionados ao Jazz sinto que apresentam muitos elementos que podem ser
aplicados a qualquer tipo de msica com alguns ajustes que o aluno e/ou o professor
podem fazer sem problemas.
Existem muitos outros livros com materiais de estudos, e muito importantes, que veem
sendo utilizados h muitos anos e com excelentes resultados na formao do msico
clssico.
Falando especificamente em jazz indico os livros de David Liebman, Jamey Aebersold,
Lennie Nihaus, David Baker e Jerry Coker.
Entre os livros mais recentes sobre improvisao, linguagem jazzstica e organizao dos
estudos considero muito importante os de Jerry Bergonzi, Hal Crook (outros que aqui no
foram mencionados) e do Bob Mintzer.
Enjoy !!
Daniel Kovacich
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