A Gramatica Do Design Visual
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A Gramatica Do Design Visual
DOI 10.26512/discursos.v3i2.2018/10763
Data de submissão: 28 de julho de 2018
Data de aceite: 10 de novembro de 2018
Resumo: Esta pesquisa fundamenta-se na abordagem Sociossemiótica e tem, por base teórica, a Gramática do Design Visual
(GDV) de Kress e Van Leeuwen (1996). Objetiva investigar a pertinência das interações entre palavras e imagens nas tiras da
Turma do Xaxado, do cartunista Antônio Cedraz. O corpus tematiza as problemáticas do sertão nordestino brasileiro,
especificamente, aqui tratadas as da relação sertão-sertanejo-universo de trabalho e do coronelismo. Tais problemáticas estão
intimamente relacionadas às relações de poder, às desigualdades sociais e aos interesses ideológicos ainda persistentes nessa
região. Metodologicamente, a pesquisa circunscreve-se na exposição dos quadros teóricos – quadros comunicacionais, paisagem
semiótica e esquematização das metafunções representacional, interacional e composicional – aplicando-os à prática, de modo a
favorecer a compreensão, a sensibilização e a notoriedade da ampliação da produção de sentidos estabelecida por esses
recursos semióticos comunicativos. Examinam-se, portanto, como resultados obtidos, as transgressões e as rupturas permissivas
nessas semioses por intermédio das relações dialógicas via negociações e acordos entre esses recursos semióticos que remetem
ao cômico, ao risível e, por fim, ao crítico.
Palavras-chave: Produção de Sentidos. Paisagem Semiótica. Relação Palavra-Imagem.
Abstract: This research is based on the Sociossemiotica approach and is theoretically based on the Visual Design Grammar, Kress
and Van Leeuwen (1996). It aims to investigate the pertinence of the interactions between words and images in the strips comics
of Xaxado’s gang, created by Antônio Cedraz. The corpus contains themes related to the problems of the Brazilian North eastern,
specifically here dealt with the relation sertão-sertanejo-universe of work and coronelism. Such problems are closely related to
power relations, social in equalities and ideological interests still persisting in this region. Methodologically, the research is limited
to exposing the theoretical frameworks – communication tables, semiotic landscape and schematization of representational,
interactional and compositional metafunctions – applying them to practice in order to favor the understanding, sensitization and
notoriety of the amplification of the production of meanings established by these communicative semiotic resources. We
examine, therefore, as results obtained the permissive transgressions and ruptures in these semioses through the dialogical
relations through negotiations and agreements between these semiotic resources that refer to the comic, laughable and, finally,
to the critic.
Keywords: Production of Meanings. Semiotic Landscape. Relation Word-Image.
Resumen: Esta investigación se fundamenta en el enfoque Sociossemiótica y tiene como base teórica la Gramática del Design
Visual - GDV - de Kress y Van Leeuwen (1996). Objetivo investigar la pertinencia de las interacciones entre palabras e imágenes
en las tiras de la clase del Xaxado, del dibujante Antônio Cedraz. El corpus contiene temáticas relativas a las problemáticas del
sertão nordestino brasileño, específicamente aquí tratadas a la relación sertão-sertanejo-universo de trabajo y el coronelismo.
Tales problemáticas están íntimamente relacionadas con las relaciones de poder, las desigualdades sociales y los intereses
ideológicos aún persistentes en esa región. Metodológicamente, la investigación se circunscribe en la exposición de los cuadros
teóricos – cuadros comunicacionales, paisaje semiótico y esquematización de las metafunciones representacional, interacional y
composicional – aplicándolos a la práctica de modo a favorecer la comprensión, sensibilización y notoriedad de la ampliación de
la producción de sentidos establecida por esos recursos semióticos comunicativos. Se examinan, por lo tanto, como resultados
obtenidos las transgresiones y rupturas permisivas en esas semiosis por intermedio de las relaciones dialógicas vía negociaciones y
acuerdos entre esos recursos semioticos que remiten al cómico, risible y, por último, al crítico.
Palabras clave: Producción de Sentidos. Paisaje Semiótico. Relación Palabra-Imagen.
1 Doutoranda em Língua Portuguesa pela PUC-SP; desenvolve pesquisas em Análise de Discurso Crítica e em
Sociossemiótica.
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Considerações iniciais
2Entorno comunicativo produtor de sentidos estabelecidos por dois ou mais códigos semióticos que se combinam
em declarações e em afirmações visuais, em maior ou menor complexidade e extensão (KRESS; VAN LEEUWEN,
1996, p.15).
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Figura 1 – Esquema do modelo comunicacional de Shannon e Weaver (1949), citado por Kress e van Leeuwen (1996)
Fonte: https://colegiomedianeirablogdoquintoano.wordpress.com/2014/10/07/turma-do.xaxado.
Fonte: https://colegiomedianeirablogdoquintoano.wordpress.com/2014/10/07/turma-do.xaxado.
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9 Dado: elemento à esquerda, não idêntico ou parecido ao elemento evidenciado na lateral oposta, em uma
composição polarizada.
10 Novo: elemento à direita, não idêntico ou parecido ao elemento evidenciado na lateral oposta, em uma
composição polarizada.
11 Ideal: elemento centralizado no topo de uma composição centrada, não idêntico ou parecido ao elemento
As análises
acordos das semioses expostas por meio das interações estabelecidas entre os interactantes.
Portanto, o nível interacional desdobra-senão somente entre os PR, mas volta-se para os PI –
produtor e leitor. Dessa forma, os temas selecionados, ao serem esquematizados conforme
quadros teóricos da GDV, retratam parte das estruturas sociais nordestinas nas quais os
recursos semióticos pertinentes são intercambiáveis entre o que já é conhecido de seus
significados e a instituição de novos significados mediante interesses envoltos nessas relações.
Quanto às estruturas sociais, pinceladas nas análises, recorreu-se a conceitos da
Psicologia Social, basicamente, aqueles expressos em Moscovici (2007). Dessa forma, cabe
ressaltar o papel das representações sociais conforme Moscovici (2007) as analisa, na condição
de fenômenos que:
Os quadros comunicacionais
Fonte: http://tirasemquadrinhos.blogspot.com/.
Fonte: http://tirasemquadrinhos.blogspot.com/.
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real
Fonte: a autora.
com as semioses em destaque: cactos (ao redor de todo o campo), ossadas (distribuídas em
volta do PR) e solo seco, em comparação à ausência de todas essas semioses no primeiro.
Essa escolha altera o distanciamento – metafunção interacional –: de íntimo do PR Zé
Pequeno, na qual se vê apenas a face do menino (vetor da fisionomia expressa no primeiro
quadro), para o social, em perspectiva aérea do PR de corpo inteiro em sua pequenez e em seu
estado de indignação ao se posicionar com os braços abertos perante sua incapacidade de
alcançar a posição de um super-herói. Essa postura denota, igualmente, a incapacidade de
lutar contra um inimigo invisível (vetores em preto e vermelho relativos ao PR Zé, no segundo
quadrinho).
A forma de exposição do campo da experiência escolhida pelo PI produtor proporciona,
ao PI leitor, a expansão dos sentidos expressos parcialmente pela fisionomia do PR no primeiro
quadro, escancarando a temática da tira: a problemática social do sertão-sertanejo-universo de
trabalho e a tentativa de sobrevivência naquela região. O olhar em demanda (vetores em
vermelho posicionados na altura dos olhos do PR Zé, no segundo quadrinho) busca um
interlocutor fora do campo da experiência, evidenciando desejo de encontro com um PI leitor
disposto a dialogar com ele a respeito de sua indignação.
Na polarização direita/esquerda – dado/novo –, sobressai o dado como o já instituído e
sabido dessa região: solo seco, improdutivo, causador de mortes e fome; daí o novo ser
representado na figura do próprio sertanejo de costas demonstrando, dessa maneira, a
tentativa de persistir na busca por outros locais de trabalho (linha do horizonte) como saída
para se manter na luta pela sobrevivência.
O real está disposto em todo o campo da experiência, todavia, a saliência dessa
realidade está denotada na parte inferior direita, conforme indica o quadro relativo à
metafunção composicional – valor da informação, proposto pela GDV, onde se vê um cacto
maior com seus espinhos bem-delineados em primeiro plano. O ideal – a esquerda e acima –
prefigura-se no sertanejo de costas para o PR Zé Pequeno e o PI leitor encarando a linha do
horizonte como possível resposta para a dureza da realidade experienciada e vivida,
representada pelas semioses já então mencionadas.
Mediante o analisado, os enquadres, os distanciamentos, o campo da experiência,
aliados às semioses expressas por palavras e às imagens distribuídas e salientadas na tira,são
passíveis de discussões, de negociações e de acordos com os PI leitores, tendo em vista a
discussão da problemática da seca e do sertanejo nordestino que emigra para outras regiões à
procura de sobrevivência.
O coronelismo
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Os quadros comunicacionais
Fonte: http://pigarts.blogspot.com/2013/08/.
Fonte: http://pigarts.blogspot.com/2013/08/.
Os modelos comunicacionais apontam que, tanto a fonte de informação (SHANNON;
WEAVER, 1949), quanto a origem (WATSON; HILL, 1980) centram-se, nessa tira, na postura
expressa pela figura do codificador. Há, nela, primeiramente, a inversão das noções relativas a
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tanto pelas semioses expressas pela imagem do garoto – que, em vez de mandar, deveria
brincar –, quanto pelas palavras – especificamente, correr.
Dessa forma, o personagem Saruê, antes visto como defensor dos bens do patrão e
pronto para servi-lo com o enunciado de subserviência – Sim, sinhô! –, assume a postura de
criança que brinca e entretém a plateia dos inimigos do coronel/menino, os sem-terra,
legitimados a atletas por meio da renegociação do enunciado do coronel, embora não
acordada previamente com ele.
Essa renegociação ocorre especificamente nas semioses botar e correr, esta última
exposta em negrito com outro sentido que não o de expulsar, porém, legitimada, conforme se
verifica nos significados 4 e 18 do dicionário Aulete (2011. p. 406):
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Dado
novo
Fonte: a autora.
A estrutura da tira está distribuída em dois quadrinhos. Dessa forma, é possível verificar a
existência de uma relação de sucessão temporal evidenciada em causa/consequência
inusitada, do primeiro para com o segundo quadro. Portanto, a polarização dado/novo
conjuga-se nessa construção, tendo em vista que a distribuição e o valor das semioses se
encaixam com o quadro teórico da GDV.
Mediante essa explicação, considera-se o quadro 1 correspondente ao dado, não
apenas por se caracterizar como o já instituído socialmente, conforme exposto no item “As
análises”, mas por ser temporalmente um ato pretérito em relação ao segundo; e o quadro 2,
correspondente ao novo, não apenas como o vir a ser discutido, mas, temporalmente
considerado assim, por ser o segundo em relação a uma ação pretérita evidenciada no
primeiro.
Quanto à metafunção representacional, evidenciam-se os PR e suas respectivas posições.
A postura de obediência e de disposição do PR Saruê em servir prontamente ao PR coronel
corresponde a vetores de reação – metafunção interacional – especificamente, as delimitadas a
seu corpo e a seu braço direito aliados à interação expressa no enunciado: “Sim, sinhô!”.
A arma corresponde a uma semiose significativa, isto é, possui valor na distribuição das
informações inseridas na paisagem semiótica: no primeiro quadrinho, como arma de fogo,
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Considerações finais
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Das análises realizadas, conclui-se, portanto, que ações como romper, modificar e
transgredir são apenas exemplos obtidos das negociações e dos acordos estabelecidos
socialmente entre os interactantes. Dessa forma, é verificável que tais ações e reações
partilhadas discursivamente, tendo a observação da paisagem semiótica aliada aos quadros
teóricos da GDV, demonstraram que palavras e imagens atuam em uma rede complexa de
ações que se refletem linguisticamente e que, por consequência, também se colocam a serviço,
não apenas da reflexão das representações sociais partilhadas pelas interações denunciando,
revelando atitudes e comportamentos, mas também da discussão conforme as proposições da
vertente da Sociossemiótica.
Referências
KRESS, G.; VAN LEEUWEN, T. Reading images: the grammar of visual design. London:
Routledge, 1996.
LANDOWSKI, E. Sociossemiótica: uma teoria geral do sentido. Revista Galáxia (São Paulo,
Online), v.14, n. 27. 2014, p. 10-20, jan./jun. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1982-
25542014119609>. Acesso em: 12 set. 2018.
WATSON, J.; HILL, A. A dictionary of communication and media studies. London: Edward
Arnold, 1980.
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URL consultadas:
<https://colegiomedianeirablogdoquintoano.wordpress.com/2014/10/07/turma-do-xaxado/>.
Acesso em: 17 jul.2018, 14h23.
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