Manual Professor Livro
Manual Professor Livro
Manual Professor Livro
do
Professor
filosofias) e a participar dos nossos fóruns de discussão. Que uma amizade intelectual
nasça e cresça entre nós!
O autor
403
UNIDADE 2
Temas tratados
Sumário
2. A felicidade 439
Objetivo 439
Considerações metodológicas 439
Respostas aos exercícios 439
Proposta de esquema visual 440
UNIDADE 1 Esquema didático da natureza
da alma segundo Aristóteles 440
Portas para a Filosofia Proposta de atividade complementar 441
Sugestões bibliográficas 444
407
tantos outros gregos e pensadores de épocas diferentes, não Não se trata, porém, de entender a Filosofia como hábito
buscava um sentido para existir, mas pretendia compreen- para “melhorar” as pessoas, sobretudo se por “melhorá-las”
der a noção mesma de ser, para além dos “recortes” do ser se entende transmitir a elas algo como um pensamento
operados pelos saberes particulares. Se nos concentramos filosófico específico, uma postura ética determinada ou
na Modernidade e na Contemporaneidade, o debate em algo do tipo (pois tal atitude incorreria em doutrinação,
torno do “sentido” fica ainda mais complexo. Aqui, ao falar algo profundamente antifilosófico). Se, porém, “melhorá-
de sentido, pretende-se apenas concentrar a atenção nos las” significa ampliar seus horizontes de compreensão de
resultados da atividade de conhecer (ou de saber), enfati- si mesmas e dos outros, bem como de suas capacidades co-
zando o trabalho filosófico como pensamento do pensa- municativas (o que não deixa de ter óbvias consequências
mento ou ainda conhecimento do pensamento; trata-se éticas, epistemológicas etc.), então nada parece impedir
da investigação das expressões que o pensamento constrói que se atribua esse papel ao hábito da Filosofia.
para designar a experiência do próprio pensamento ou os Mas aqui se requer redobrada atenção, pois importa
diferentes aspectos da experiência humana (aspectos cien- saber como se constitui tal hábito. Empregando o voca-
tíficos, estéticos, ontológicos, políticos, éticos, religiosos). bulário de alguns autores clássicos, pode-se perguntar: se
Aliás, é como problema filosófico (e não como resposta o que gera um hábito é a prática de determinados atos,
dogmática) que o Capítulo 1 da Unidade 2 do Livro do então quais atos produzem o hábito filosófico? Além dis-
Aluno se dedica ao tema do sentido da existência. so, se um ato é sempre uma reação a certo objeto, quais
Numa palavra, este livro procura concretizar uma objetos determinariam os atos filosóficos e o hábito da
postura de formação filosófica, cujo teor é dado pela Filosofia? A Filosofia teria um objeto específico?
frequentação da História da Filosofia e pelo estudo de Certamente alguns filósofos diriam que o objeto da
temas, problemas e conceitos filosóficos, sem adotar uma Filosofia é o ser; outros, a verdade; outros, a linguagem.
linha especificamente metafísica, existencialista, mar- Alguns diriam que a Filosofia não tem objeto, resposta
xista, hegeliana, fenomenológica ou outra que as valha. que talvez seja mais adequada em contexto contemporâ-
Certamente caberia perguntar como isso é possível, uma neo. Como não se trata, neste livro, de adotar nenhum
vez que o autor do livro possui suas próprias preferências estilo filosófico preciso nem o pensamento de algum(a)
filosóficas. Tais preferências se manifestam na escolha de autor(a) particular, deve-se evitar a identificação de um
assuntos, de autores e de textos, por exemplo. A resposta objeto preciso que determine os atos filosóficos e o há-
consistiria em dizer que a postura de formação filosófi- bito da Filosofia. Porém, sem objeto não se despertam
ca aqui adotada se explica por dois esforços: o de propor atos nem se produzem hábitos. Faz-se necessário, então,
caminhos formativos em torno de questões recorrentes encontrar, de modo “universal” (com muito cuidado para
nos ambientes filosóficos (por exemplo, o bem e o amor evitar o autoritarismo e a autorreferência), um objeto co-
em Ética, o Poder em Política, a experiência na filoso- mum ou um conjunto comum de objetos sobre os quais
fia da religião, o papel da representação nas teorias do se possa estabelecer a formação filosófica (o despertar de
conhecimento etc.) e o de basear-se em trabalhos atua- atos filosóficos e do hábito da Filosofia).
lizados de História da Filosofia para suscitar análises e Dado que o nosso contexto é o da escola aberta a todos e
interpretações adequadas a cada autor ou tema estudado. orientada pelos valores da democracia, do republicanismo,
Se há uma “tendência” do autor deste livro no seu modo da laicidade e da pluralidade, convém que tal base objetiva
de construir sua proposta de formação filosófica, ela seja marcada justamente pela abertura à multiplicidade
consiste em buscar possibilidades reais de pôr diferentes das filosofias e das experiências. Desse ponto de vista, o
filósofos em diálogo, evitando, todavia, arbitrariedades objeto ou o conjunto de objetos que permitem suscitar
nesses diálogos. Para tanto, adota-se a metodologia da atos filosóficos e o hábito da Filosofia não é outro senão o
identificação de questões em rede, tal como será expli- conjunto composto (i) pelos textos dos próprios filósofos,
citado na sequência. (ii) pelas narrativas da História da Filosofia e (iii) pelos
problemas, temas e conceitos filosóficos (que nascem dos
Atos filosóficos e hábito da Filosofia textos dos filósofos ou do modo como a comunidade fi-
O que parece haver de universal nas filosofias é o fato losófica reelabora tais textos). Em outras palavras, dados
de elas procurarem perscrutar diferentes sentidos que são esses objetos, é pela frequentação dos textos dos próprios
encontrados e/ou construídos na experiência humana, filósofos e das narrativas da História da Filosofia, além
com atenção especial ao modo como tais sentidos são ex- do estudo de problemas, temas e conceitos filosóficos,
pressos. Dessa perspectiva, parece possível caracterizar a que nós e nossos estudantes praticamos atos filosóficos
Filosofia ou a atitude filosófica geral como um hábito que e desenvolvemos o hábito da Filosofia em um primeiro
se desenvolve (o da investigação dos sentidos e do modo nível; afinal, é muito difícil, e talvez mesmo desaconse-
como eles são expressos; numa palavra, o hábito de pensar lhável, pretender praticar Filosofia em um fechamento ao
o pensamento). Ensinar Filosofia, por sua vez, pode ser en- diálogo com o patrimônio que nos precede. No entanto,
tendido como a atividade de possibilitar que os estudantes em um segundo nível, nós e nossos estudantes podemos
entrem em contato com esse hábito da Filosofia e tenham intensificar o hábito da Filosofia, passando a produzir
a oportunidade de desenvolvê-lo eles mesmos. uma reflexão filosófica em continuidade com algum(a)
Filosofia. Princípios, v. 12, p. 145-156, 2005. Cebrap, v. 15, p. 148-153, 1976. Disponível
Disponível em: <http://www.principios.cchla. em: <http://www.cebrap.org.br/v2/files/
ufrn.br/arquivos/17-18P-145-156.pdf>. Acesso upload/biblioteca_virtual/por_que_filosofo.
em: 19 abr. 2016. pdf >. Acesso em: 15 abr. 2016.
ARANTES, P. E. et al. A filosofia e seu ensino. 2. ed. São MAAMARI, A. et al. Filosofia na Universidade. Ijuí, RS:
Paulo: Vozes/Educ, 1995. Ed. da Unijuí, 2006.
AZAR FILHO, C. M.; CUNHA RIBEIRO, L. A. Para que MARTINS, M. F.; REIS PEREIRA, A. (Orgs.). Filosofia
Filosofia? Um guia de leitura para o Ensino Médio. Rio de e educação – ensaios sobre autores clássicos. São Carlos:
Janeiro: Nau, 2014. EdUFSCar, 2014.
CERLETTI, A. O ensino de filosofia como problema filosó- MEDINA SILVA, I. Avaliação no ensino Acesse:
fico. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. de Filosofia. Philosophica 7, Lisboa, p.
CHAUI, M. Ideologia e educação. Acesse: 151-162, 1996. Disponível em: <www.
Educação e pesquisa, v. 42, p. 245-258, cent rodef ilosof ia.com/uploads/pdf s/
2016. Disponível em: <http://www.scielo. philosophica/7/8.pdf>. Acesso em: 19 abr.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517- 2016.
97022016000100245&lng=en&tlng=en>. MERLEAU-PONTY, M. Em toda e em nenhuma parte.
Acesso em: 19 abr. 2016. In: Textos selecionados. Tradução Marilena de Souza Chaui.
CHAUI, M. Percursos de Marilena Chaui: São Paulo: Nova Cultural, 1989. (Coleção Os Pensadores).
Acesse:
Filosofia, Política, Educação. Educação e MURCHO, D. Avaliação em Filosofia e Acesse:
pesquisa, v. 42, p. 259-277, 2016. Disponível em: subjetividade. Crítica na rede, jun. 2003.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ Disponível em: <http://criticanarede.com/
arttext&pid=S1517-97022016000100259&ln fil_avaliacao2.html>. Acesso em: 19 abr.
g=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 19 2016.
abr. 2016.
NOBRE, M.; TERRA, R. Ensinar Filosofia: uma conversa
GOLDSCHMIDT, V. Tempo histórico e Acesse: sobre aprender a aprender. Campinas: Papirus, 2007.
tempo lógico na interpretação dos sistemas
filosóficos. In: . A religião de Platão. NOGUEIRA, R. O ensino de Filosofia e a Lei 10.639. Rio
Tradução Oswaldo e Ieda Porchat. São Paulo: de Janeiro: Pallas, 2014.
Difusão Europeia do Livro, 1963. p. 139-147. NOVAES, J.; AZEVEDO, M. A. O. (Orgs.). Filosofia e seu
Disponível em: <http://www.dfmc.ufscar. ensino: desafios emergentes. Porto Alegre: Sulina, 2010.
br/uploads/documents/5078a0dc6a473.pdf>. Acesso em: PIOVESAN, A. et al. Filosofia e ensino em debate. Ijuí:
12 abr. 2016. Unijuí, 2002.
Procedimento
filosófico
porta da existência
Intersubjetividade
Há ricos e pobres porque o mundo é injusto. Há ricos e pobres porque alguns não trabalham.
Período em que uma oração é registrada Período em que uma oração é registrada
em dependência de outra oração em dependência de outra oração
Já se explicou que o fato de o mundo ser injusto Já se explicou que o fato de alguns não trabalharem
é a causa de haver ricos e pobres. é a causa de haver ricos e pobres.
OU
Ou há ricos e pobres porque o mundo é injusto ou há ricos e pobres porque alguns não trabalham.
EMBORA
Há ricos e pobres porque o mundo é injusto, embora alguns também não trabalhem.
Duchamp se demitiu do Conselho Diretor da Sociedade. A escreveu um artigo com o título “O buda do banheiro” e
pintora Katherine Dreier (1877-1952), ao entender a história, brincou com a pergunta: “O mictório era sério ou uma pia-
desculpou-se com Duchamp e justificou que votou contra da?”, que ela mesma respondeu: “Talvez as duas coisas”.
porque o mictório não tinha originalidade e porque nada Sua resposta evocou a liberdade do artista em jogar com a
garantia que não fosse obra de um farsante. Ela chegou a realidade, com o que parece fixo e definido. Essa liberdade,
propor que Duchamp desse uma conferência sobre o mictó- aliás, foi um ponto de honra para Duchamp, que fez foto-
rio e explicasse que se tratava de um ready-made, ou seja, de grafar a Fonte diante do quadro The Warriors, de Marsden
um objeto tirado do uso comum, sobretudo industrializado, Hartley (quadro que representava combatentes no ano 1918,
para ser usado como obra de arte. Duchamp não atendeu à exatamente quando soldados norte-americanos começavam
sugestão de Dreier. Um artigo, porém, foi publicado numa a entrar nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial em
revista satírica, chamada The Blind Man (O homem cego), nome da democracia).
fundada na ocasião da primeira exposição da Sociedade. O
artigo era anônimo e causou grande impacto na imprensa 2. Ler o texto abaixo, tendo em mente que, para muitas
nova-iorquina, porque, ao tomar a defesa de R. Mutt, dizia pessoas, a reflexão filosófica não pode se relacionar com a
que, na verdade, as únicas obras de arte produzidas naquele religião, a não ser para criticá-la (a religião seria sinal de atraso
momento na América do Norte eram de fato encanamen- intelectual, de violência etc.). No entanto, a Filosofia seria
tos e pontes. Louise Norton, esposa do poeta Allen Norton, uma antifilosofia se se recusasse a analisar sem preconceitos
OBJETIVO
Apresentar outro elemento bastante valorizado em compreensão da Filosofia como mera análise de discursos
muitas filosofias: a construção do pensamento. Se houvesse ou de visões de mundo, nem em uma defesa da Filosofia
apenas uma ênfase no aspecto da desconstrução (Capítulo como “produtora de sentido”. Procura-se, na verdade, tratar
1), poder-se-ia dar a impressão de que a atividade filosófica esses dois aspectos como possivelmente coexistentes e talvez
nunca é propositiva, mas se reduz apenas a uma análise complementares. A fim de contribuir com a reflexão dos
de discursos ou, quando se baseia na História da Filosofia, professores, sugere-se aqui com insistência a leitura dos
não passa de uma análise de pensamentos mortos. Em artigos escritos pelos professores Carlos Alberto Ribeiro
vez disso, há inúmeros pensadores que defendem uma de Moura (1988), “História stultitiae e história sapientiae”,
concepção da Filosofia como atividade que tem algo a e Franklin Leopoldo e Silva (1992), “Por que Filosofia no
dizer (sobre o funcionamento do mundo, da percepção Segundo Grau”.
humana, do pensamento, das artes etc.). O debate é intenso
e complexo; e, mesmo quando se faz História da Filosofia, CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
é possível pensar que há proposições ou propostas na Para chamar a atenção ao trabalho construtivo ou re-
atividade filosófica. Por fim, há pensadores que ainda se construtivo em Filosofia, o capítulo está estruturado sobre
comprometem com uma visão da Filosofia como produtora a estratégia de comparar o exemplo dado por Karl Marx e
de “visões de mundo”, embora sua maior força esteja em por Epicteto. Enquanto Marx se dedica à análise (descons-
ser a crítica das visões de mundo. A fim de permitir aos trução) e proposta (reconstrução) de um sentido para algo
colegas professores a liberdade de tomar a posição que mais que depende da liberdade humana, Epicteto faz um trabalho
lhe pareça coerente, este livro não se fecha nem em uma parecido, mas se dedicando a algo que não depende dela.
Procedimento
filosófico
Construção e reconstrução
(além da desconstrução)
de expressões de sentidos que
não dependem de nós (ex.: Epicteto)
Quando vamos à escola, uma das coisas que Vamos à escola para desenvolver nossas ca-
Vamos à escola para nos prepararmos construímos é o nosso autoconhecimento e o pacidades de conhecer e de criar relações,
para a vida e entrarmos no mundo do conhecimento da vida em sociedade, permitin- embora essas capacidades possam ser de-
trabalho. do-nos crescer como indivíduos e como mem- senvolvidas de outras maneiras, diferentes
bros do conjunto social. da escola.
Quando amamos, estabelecemos relações que Preocupamo-nos com o amor porque nos
podem ser interesseiras ou generosas. É difícil sentimos bem quando estamos com quem
Preocupamo-nos com o amor porque só
separar claramente o interesse pessoal da ge- amamos, mas isso não quer dizer que pesso-
assim não ficaremos sozinhos.
nerosidade e vice-versa. De todo modo, o amor as que vivem sozinhas ou que são solitárias
evita a solidão. não amam.
Nem todas as pessoas têm a mesma opinião Devemos cuidar do corpo a fim de fazer o que
sobre a beleza. Cuidar do corpo é também uma está ao nosso alcance para manter a saúde,
Devemos cuidar do corpo para termos
forma de ter saúde, embora, em alguns casos, sabendo que também podemos nos traba-
beleza e saúde.
mesmo cuidando de seu corpo, algumas pesso- lhar para nos sentirmos belos, sem tomar por
as não conseguem ter saúde. beleza modelos impostos pelos outros.
Nem sempre somos determinados pelo funcio- Não tenho o corpo que gostaria de ter por-
Não tenho o corpo que queria porque
namento da Natureza, assim como nem sem- que talvez não cuide dele o suficiente, mas
a Natureza me fez assim ou porque não
pre podemos fazer o que queremos com nosso também porque, em alguns aspectos, minha
me cuido.
corpo. constituição física não permite mudança.
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
LEOPOLDO E SILVA, F. Por que filosofia RIBEIRO DE MOURA, C. A. História stultitiae e
Acesse: Acesse:
no Segundo Grau. Estudos Avançados, São história sapientiae. Discurso 17, São Paulo, p. 151-
Paulo, v. 6, n. 14, 1992. Disponível em: 171, 1988. Disponível em: <http://www.revistas.
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ usp.br/discurso/article/view/37935/40662>.
arttext&pid=S0103-40141992000100010>. Acesso em: 12 abr. 2016.
Acesso em: 12 abr. 2016.
Método intuitivo
MÉTODO
RACIONAL
∙ “só” a razão
∙ razão e emoção
Não posso dizer que me sinto aliviado ou contente; ao SARTRE, J.-P. La nausée. Paris: Gallimard Poche, 1938. p. 110-
contrário, isso me esmaga. Pelo menos meu objetivo foi 116. (A náusea. Tradução nossa.)
OBJETIVO
Tratar de maneira filosófica o tema do sentido da existência, percepção imediata das coisas, requerendo um trabalho que
esclarecendo que o primeiro papel da Filosofia não é oferecer alia observação e reflexão. Já significado remeteria aos con-
uma resposta para a pergunta sobre tal sentido, mas investigar teúdos que percebemos diretamente (independentemente da
o que está implicado nela e analisar se há uma possibilidade preocupação com o estatuto da percepção).
estritamente racional de justificar alguma resposta dada. Como estratégia complementar, insere-se uma breve re-
flexão sobre o modo como os textos bíblicos são muitas vezes
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS utilizados como fonte de debate científico a respeito da origem
A estratégia do capítulo é explorar três atitudes filo- e do destino do mundo. Cabe situar filosoficamente, e com
sóficas “clássicas”, dando a estrutura mesma do texto: grande respeito pela sensibilidade religiosa dos estudantes, o
1) não é possível falar sobre algo como um sentido da existência; papel dos textos bíblicos no campo do sentido que cada cida-
2) é possível falar filosoficamente sobre o sentido da existência dão pode dar à existência, e não no campo de um significado
e também justificar racionalmente essa fala; 3) afirmar que a que seria óbvio, embora em diferentes contextos esse seja o
existência é absurda, quer dizer, não tem sentido. O núcleo teor identificado na Bíblia. Daí a necessidade de uma atitude
dessa abordagem é o esclarecimento da diferença que se pode duplamente respeitosa, pois, a rigor, não há nada de irracional
estabelecer entre sentido e significado. Aqui é importante ter ou antifilosófico em ter fé religiosa e pautar a existência por um
em mente que essa diferença (tal como assumida neste capí- sentido encontrado nos textos bíblicos. O que se apresenta como
tulo) não seria adotada por todos os filósofos. Por isso mesmo, inadequado é pretender que o discurso científico e o discurso
trata-se de uma diferença estabelecida de maneira ampla, a fim bíblico sejam do mesmo tipo (o que resultaria em contradição).
de tomar o termo sentido como indicação de uma experiência Ao se explicitar a diferença entre os dois discursos, é possível
em “segundo grau”, isto é, que vai além do grau primeiro da até pensar em formas de diálogo entre ambos.
chamado à responsabilidade
(Hans Jonas)
Capítulo 2 A felicidade
OBJETIVO
Os seres vivos procuram o prazer e fogem da dor.
Tratar do tema da felicidade, mostrando, por um lado, que O prazer deve ser nossa finalidade porque a Natureza nos
é possível investigar filosoficamente a felicidade por meio da leva a isso desde a infância.
sua relação com o tema do prazer e, por outro lado, que a feli- Essas duas frases são os fundamentos da conclusão de que a
cidade pode ser entendida como atividade (e não como estado felicidade é a soma de todos os prazeres, pois, se os seres vivos
psicológico, a despeito do uso corrente do termo). procuram o prazer e fogem da dor; se a Natureza os leva a essa
procura e a essa fuga desde a infância; e se felicidade pode ser
vista como a finalidade da vida humana (algo que se manifes-
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
taria desde a infância), então há condições para afirmar que a
A estratégia adotada no capítulo é iniciar pela concepção soma dos prazeres é a felicidade.
de prazer e passar à compreensão da felicidade como soma dos
prazeres ou como algo diferente da soma dos prazeres. O item 2. Por que a tranquilidade ou a ausência da dor não são a
2, A felicidade e o conjunto dos prazeres, pode ser subdividido felicidade, segundo os cireneus?
em quatro partes: (a) o utilitarismo; (b) a revisão do utilitarismo; Se todos os prazeres são corporais, não havendo um mais
(c) a posição de G. E. Moore; (d) o problema dos universais. sensível que outro, então o prazer é algo que se sente, provo-
Essa última parte pode ser estudada logo depois do item (b), cando satisfação e sensação agradável. Se a felicidade é ligada
tal como aparece graficamente no capítulo; tudo depende do ao prazer e se a tranquilidade como ausência de dor é indife-
andamento de cada turma segundo a percepção dos professores. rente (não é prazer, já que não proporciona satisfação), então
A vantagem de tratá-la logo depois de (b) é esclarecer melhor a a tranquilidade ou a ausência de dor não são a felicidade.
revisão do utilitarismo; mas o grau de abstração que ela exige
pode ser uma dificuldade. Por esse motivo, ela talvez deva ser 3. Indique o aspecto em que Epicuro concorda com os cire-
tratada em quarto lugar ou mesmo ao final do capítulo. neus e o ponto em que ele discorda deles.
Para passar da reflexão sobre a felicidade em relação aos Epicuro concorda com os cireneus ao dizer que a felicidade
prazeres ao último item do Capítulo 3 (A felicidade como ativi- é o prazer, mas discorda ao afirmar que ela também é composta
dade e plenitude), a estratégia é explorar a concepção corrente pela tranquilidade ou pela ausência de dor.
da felicidade como algo que se possui (assim como os prazeres
seriam “possuídos”). A partir daí, torna-se mais compreensível, 4. Por que Epicuro tem necessidade de defender a tranqui-
por contraposição, a felicidade como atividade cujo sentido lidade ou a paz da alma?
é dado por um ideal de plenitude. Numa palavra, trata-se de Porque os prazeres, na compreensão de Epicuro, não são
passar do item 2 ao 3 por meio da análise crítica da felicidade capazes de satisfazer completamente a alma. Eles não duram,
como estado psicológico e da proposta de entendê-la como levando os seres humanos a uma constante busca e insatisfa-
exercício ou atividade de que cada indivíduo pode cuidar ção. Por essa razão, a tranquilidade deve ser vivida no corpo
ou descuidar. Especificamente no tocante ao problema dos e na alma: no corpo, como ausência de dor, e na alma, como
universais, é possível também estudá-lo em outros momentos ausência de perturbação.
do livro, sobretudo no Capítulo 5, na apresentação da Teoria
das Ideias ou das Formas de Platão, pois as Ideias ou Formas 5. O que significa afirmar que, segundo Epicuro, a prudência
constituem rigorosamente realidades universais. é condição necessária e suficiente para a felicidade?
Na página 440 propõem-se dois esquemas: uma síntese do A prudência torna o ser humano apto para ponderar e es-
capítulo e a natureza da alma segundo Aristóteles. colher o melhor encaminhamento de seus desejos, buscando
prazeres úteis ao bem do corpo e da alma e evitando os prazeres
inúteis (os que não são nem necessários nem naturais). Dessa
RESPOSTAS AOS EXERCÍCIOS perspectiva, a prudência é condição necessária (pois sem ela não
EXERCÍCIO A (p. 94) se tem felicidade) e suficiente (porque, com ela, envolvem-se
1. Releia o texto de Diógenes Laércio e mostre o papel os prazeres e a tranquilidade do corpo e da alma). A vida feliz,
das frases abaixo na argumentação que leva a considerar segundo Epicuro, corresponde não apenas à busca dos praze-
a felicidade como a soma de todos os prazeres: res, mas também à ponderação sobre o melhor (prudência).
PRAZER FELICIDADE
Felicidade
Prazeres
=
Virtude
completude
Perfeição
inclusiva dos
Mediedade
prazeres
FELICIDADE
hábito
(“cultura”)
Alma
ouve a razão virtude
apetitiva/ (modelo: moral
desiderativa ouvir pai e amigos)
irracional
+
vegetativa não ouve a razão [virtude física] natureza
Corpo
Capítulo 3 A amizade
OBJETIVO
Partindo da concepção clássica da pessoa amiga como não é apenas algo que brota em nós ou “algo que se sente”,
“outro eu”, analisar criticamente a compreensão da ami- apesar de ela nascer de um interesse nem sempre controlado.
zade como simples experiência psicológica ou como “algo A amizade pressupõe que uma relação seja construída. Daí a
que se sente”, para apresentar a possibilidade de entender sua concepção como amor (possível até mesmo em relação a
a amizade propriamente como uma relação ou como uma alguém que não nos ama, como defende Tomás de Aquino)
atividade livre. e como atividade (Aristóteles), chegando a poder ter uma co-
notação política bastante intensa (Hannah Arendt). Os profes-
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS sores podem explorar separadamente os itens que compõem
A partir do relato da escritora brasileira Hilda Hilst, explora- o capítulo. Além de cada um deles poder ser trabalhado em
se o fato de que entre amigos há semelhanças e diferenças. As aulas diferentes, eles não se pressupõem entre si. Em função
semelhanças levam a pensar que uma pessoa amiga é “outro do contexto e da sensibilidade dos estudantes, pode-se co-
eu”. No entanto, é importante frisar que em uma relação de meçar, por exemplo, pelo texto de Hannah Arendt (ênfase
amizade não se identificam apenas semelhanças nas pessoas no papel político ou republicano da amizade), pelo texto de
amigas; se fosse assim, não haveria verdadeira relação, mas Tomás de Aquino (ênfase na essência da amizade e mesmo em
um “ensimesmamento a dois” ou um redobro de uma úni- certa concepção religiosa) ou ainda pelo texto de Aristóteles
ca pessoa. Há, então, diferenças entre pessoas amigas que (debate sobre o caráter natural da amizade). De todo modo,
permitem uma complementação entre elas. A partir dessa é também estratégico explorar a confluência entre dados na-
observação, introduz-se a compreensão de que a amizade turais e dados culturais na formação da relação de amizade.
Movimento natural
Diferenças Semelhanças
AMIZADE
O amigo é outro eu
AMIZADE
Diálogo Humanização
Necessidades sociais
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES (p. 118) Um grupo de porcos-espinhos, num frio dia de inverno, se
1. Recapitulação aglomerou para, através do aquecimento recíproco, não morrer
Espera-se que os estudantes apresentem as linhas de pensa- de frio. Contudo, logo começam a sentir os espinhos uns dos
mento explanadas no capítulo, desenvolvendo sua argumenta- outros, o que os leva então a se afastar novamente. Quando a
ção de acordo com os movimentos do próprio capítulo. A partir necessidade de aquecimento os aproxima mais uma vez, repe-
do primeiro tópico – a amizade como jogo de espelhos –, é te-se um segundo infortúnio. Nesse vaivém em meio aos dois
possível compreender que a amizade não reconhece apenas sofrimentos, seguem até encontrar uma distância segura entre
semelhanças, mas diferenças entre os indivíduos; do que se eles, na qual podem melhor suportá-los. Do mesmo modo,
extrai que ela não pode ser reduzida a uma satisfação do âm- os homens são impelidos uns aos outros pelas necessidades
bito psicológico (como algo que apenas “se sente”), mas deve da Sociedade, de cujo seio surgem o vazio e a monotonia.
consistir numa relação a ser construída gradualmente. Desse Entretanto, suas particularidades assaz desagradáveis e defeitos
modo, a amizade passa a ser entendida como atividade, sendo insuportáveis os afastam mais uma vez. A distância mediana
explicitadas quatro concepções nesse sentido: a de Aristóteles ao fim encontrada, na qual podem se reunir, são a polidez e
(amizade como philía), a de Cícero (amigo como outro eu), a os bons costumes.
de Tomás de Aquino (amizade entendida como amor-amizade
ou amizade-amor) e a de Hannah Arendt (amizade voltada para SCHOPENHAUER, A. Parerga e Paralipomena II. Tradução
o bem comum, efetivada por meio do discurso). Jarlee Salviano apud SALVIANO, J. Labirintos do Nada: a
crítica de Nietzsche ao niilismo de Schopenhauer. 2006. Tese
2. Entrevista e reflexão em grupo: a experiência da amizade (Doutorado em: Filosofia) – Faculdade de Filosofia, Letras
A entrevista pode ser feita simplesmente no modo como está e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo,
apresentada no enunciado do exercício (com a organização e 2006. p. 2.
VIVÊNCIA DA AMIZADE
REAÇÃO DOS TEMPO DEDICADO SENTIDO DA
DIFICULDADE REDES SOCIAIS
AMIGOS AOS AMIGOS AMIZADE
Os estudantes podem ser instruídos sobre o fato de É diferente dizer: “Ou está chovendo ou não está choven-
que, em pesquisas desse tipo (que envolvem informa- do”, pois, neste caso, a alternativa é verdadeira: estar chovendo
ções pessoais), convém preservar a identidade das pes- ou não estar chovendo são as duas únicas alternativas possíveis
soas entrevistadas. Em vez de indicar seus nomes, em qualquer situação.
podem-se utilizar pseudônimos, letras ou números. Ao fi- A falácia da falsa alternativa lembra os discursos do ex
nal das entrevistas, organiza-se uma plenária em sala para -presidente norte-americano George Bush, durante a Guerra
partilha dos dados. Uma tabela geral, com todas as informa- do Iraque. Para defender a guerra, ele dizia: “Quem não é
ções dos diferentes grupos, pode ser montada e divulgada a favor dos Estados Unidos é contra os Estados Unidos!”.
na escola. A atividade pode ser encerrada com a projeção Outro exemplo: “Ou se é a favor dos patrões ou se é a fa-
do filme (para a turma ou para a escola toda, se houver vor dos trabalhadores”. No caso da guerra, alguém podia
condições físicas) Minhas tardes com Margueritte (direção ser contrário a ela, mas não necessariamente contrário aos
Jean Becker, França, 2010). Antes de iniciar a projeção, al- Estados Unidos, assim como pode ocorrer que haja alguém
gumas questões podem ser levantadas como forma de con- a favor tanto dos patrões como dos trabalhadores, e mes-
tribuir para despertar a atenção: (a) A diferença de idade mo trabalhadores a favor dos patrões ou patrões a favor dos
entre Germain e Margueritte foi importante ou indiferente trabalhadores.
para a amizade entre eles? (b) A amizade entre Germain O que permite decidir se uma alternativa é correta ou não
e Margueritte teve algum momento de tensão? (c) As duas é a análise cuidadosa da situação que essa alternativa traduz.
personagens principais sempre concordavam em tudo? (d) Se realmente só houver duas opções, a alternativa é verdadeira.
As personagens precisaram fazer algum esforço para que a Do contrário, é falsa.
amizade acontecesse ou ela simplesmente “brotou” entre
elas? (e) Em que sentido se pode dizer que entre Germain
e Margueritte nasceu um sentimento de amor? SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
ORTEGA, F. Genealogias da amizade. São Paulo: Iluminuras,
2 Estudo da falácia da falsa alternativa 2002.
Não é em todas as circunstâncias que se pode considerar
GUIMARÃES ROSA, J. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro:
como verdadeira uma frase do tipo “Ou alguém é amigo
Nova Fronteira, 2015.
ou é inimigo”. A própria alternativa ou... ou nem sempre é
verdadeira: em uma situação que comporta mais de duas al- ROHDEN, L. Amizade entre filosofia e educação. In: PIOVESAN,
ternativas, se alguém pensa e fala como se só houvesse duas, A. Filosofia e ensino em debate. Ijuí: Ed. da Unijuí, 2002. p. 113-134.
comete o erro ou a falácia da falsa alternativa. WIZISLA, E. Benjamin e Brecht: história de uma amizade.
Pode ser o caso de que a frase “Ou você é meu amigo ou é Tradução Rogério Silva Assis. São Paulo: Edusp, 2013.
meu inimigo” seja falsa, porque alguém pode não ser amigo,
mas também não ser necessariamente inimigo.
Psicanálise sexualidade
(≠ reprodução)
MOTOR DA Winnicott ausência de sexualidade
EXISTêNCIA antes de a criança
INDIVIDUAL ver-se como indivíduo
SEXUALIDADE
E necessidade de
FORÇA VITAL reconhecimento
Filosofia
corrente geral da vida
Evolução dos Algumas espécies animais para comparação da complexidade do sistema nervoso e endócrino
fatores biológicos da
sexualidade humana e Hominídeos
do comportamento Roedores Primatas
sexual animal Macaco Ser humano
Reflexos
Feromônios
Hormônios
Recompensa
Cognição Cultura
Quadro inspirado em: GEORGIADIS, J. R.; KRINGELBACH, M. L.; PFAUS, J. G. Sex for Fun: a Synthesis of Human and Animal Neurobiology.
Nature Reviews (Urology), v. 9 , p. 498, 2012.
TEXTOS DE APROFUNDAMENTO
Os seguintes textos podem colaborar para o aprofunda- A Psicanálise não é ciência
mento da formação dos colegas professores a respeito do Karl Popper
debate filosófico em torno da cientificidade da Psicanálise.
Para melhor compreensão da tese de Karl Popper, sugere-se a Quanto às duas teorias psicanalíticas [de Freud e Adler],
leitura do Capítulo 14 do Livro do Aluno, sobretudo a parte elas pertencem a outra categoria [diferente da ciência]. Elas
relativa à verdade nas ciências naturais. Eventualmente, de são pura e simplesmente impossíveis de testar e de refutar.
acordo com o grau de interesse dos estudantes, os mesmos Não há nenhum comportamento humano que possa contra-
textos podem ser utilizados como leituras complementares: dizê-las. É claro que isso não permite concluir que Freud e
FORMAS
AMOR/DESEJO (interpretação platônica)
consciência de carência modelos universais
busca de satisfação inteligíveis
busca de beleza
eternas
sem atenção ao modo como presentes na Natureza
se busca suprir a carência revelam o Bem
OBJETIVO
O segundo dos três capítulos sobre o amor, embora in- platonismo-cristianismo, os professores têm ocasião de de-
dependente do anterior (Capítulo 5), oferece elementos da ter-se no próprio pensamento de Nietzsche, sobretudo pelo
continuidade histórica da reflexão filosófica sobre o amor. estudo das noções de força e decadência, exploradas neste
Nesse sentido, ele visa apresentar a relação intrínseca entre capítulo, bem como da noção de forças cósmicas, apresen-
amor e amizade em Aristóteles, para, na sequência, estudar tada no Capítulo 12. Por fim, guiado pela ideia de contra-
a aplicação dessa relação (amor-amizade) à compreensão dição e com base em pesquisas atualizadas de História da
da relação com Deus, operada por pensadores cristãos da Filosofia, o capítulo oferece um exercício de contradição
Era Patrística. Por fim, busca-se fazer um contraponto da da contradição nietzschiana, levantando a possibilidade
concepção cristã de amor com as críticas a ela dirigidas de entender o platonismo e o cristianismo fora do mode-
por Nietzsche, não apenas para apresentar o pensamento lo de leitura proposto por Nietzsche. Tudo gira em torno
do filósofo alemão, mas também para permitir maior com- dos temas do desprezo do mundo e do corpo e da “culpa
preensão do próprio pensamento filosófico cristão de acordo judaico-cristã”.
com trabalhos mais atualizados de História da Filosofia. Como esses temas se tornaram culturalmente impor-
tantes no século XX, manifestando-se mesmo no linguajar
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS cotidiano, o estudo deste capítulo pode ter especial signifi-
O núcleo do capítulo reside na concepção aristotélica cação. Sugere-se enfaticamente que os colegas professores
do amor de amigo e na ampliação cristã dessa concepção não adotem expressões como “Nietzsche errou”, “Platão
para a compreensão do tipo de relação que o ser humano tinha razão” ou outras do tipo. Em vez de sintetizar a pro-
pode estabelecer com o ser divino. Por esse motivo, é es- blemática histórica dessa maneira, é mais adequado escla-
tratégica a retomada da definição aristotélica da amizade recer que, do ponto de vista da história e da historiografia
e a introdução de um dado filosófico que era inteiramente do platonismo e do cristianismo, Nietzsche só contava com
novo para os filósofos antigos, tanto gregos como romanos: a os recursos disponíveis no século XIX. Isso, no entanto, não
possibilidade filosófica de pensar que o mundo talvez tenha diminui em nada a relevância, por exemplo, da crítica da
sido criado por um ser livre e consciente. Essa possibilida- cultura realizada por Nietzsche ou da sua concepção de
de vai ao encontro da experiência religiosa monoteísta da consciência, razão, moral etc. Esse tipo de consideração
crença em Deus como um ser pessoal (um ser com o qual levanta um tema extremamente instigante: o que é a ver-
se pode estabelecer uma relação e que corresponde a essa dade em Filosofia e em História da Filosofia? O que pen-
relação), justificando a ampliação do conceito de amizade sar sobre o pensamento de um filósofo que não reconstrói
para exprimir o amor sagrado. A fim de ressaltar algumas fielmente o pensamento de outro filósofo? Mais ainda: o
características dessa concepção, introduz-se o pensamento que pensar de um filósofo que cai em contradição? Ou de
do filósofo que talvez tenha sido o seu mais forte crítico: filósofos que, mesmo caindo em contradição sob certos as-
Friedrich Nietzsche. pectos, concordam em outros? Realizar esse tipo de estudo
A crítica nietzschiana associa o pensamento cristão ao pode ser uma ocasião privilegiada para tratar dos procedi-
pensamento platônico e concentra-se, principalmente, no mentos de pesquisa em Filosofia e mesmo da construção
que o filósofo alemão chamava de desprezo do mundo efe- de pensamentos filosóficos.
tivo e do corpo, e de inversão da moral realmente “huma- Os colegas professores encontrarão elementos preciosos
na” em nome de uma moral dos fracos e da culpabilidade. no vídeo Filosofia e verdade, de 1965, com Alain Badiou,
Ao desconstruir e reconstruir a crítica nietzschiana ao Dina Dreyfus, Georges Canguilhem, Jean Hyppolite,
Revelação bíblica:
criação
ágape
Cristãos
(amor sagrado
e universal)
Ponto de partida: Ponto de partida:
experiência do amor como busca experiência de vida feliz
OBSERVAÇÕES METODOLÓGICAS
ESPECÍFICAS
1 A canção All is Full of Love, de Björk
O clipe da canção de Björk é muito interessante para nosso uma cena em que dois robôs são produzidos por máquinas
estudo. Os colegas professores podem assistir ao clipe com numa sala de montagem; o ambiente é frio e chocante, dan-
os estudantes e analisá-lo com base no que pretendeu o pró- do destaque aos movimentos das máquinas que terminam a
prio diretor do clipe, Chris Cunningham: o clipe apresenta montagem dos robôs. A luz de neon também é fria. Tudo é
Maybe not from the sources Talvez [o amor] não venha das fontes
You have poured yours Nas quais você derramou o seu [amor]
Maybe not from the directions Talvez [o amor] não venha das direções
You are staring at Para onde você olha
OBJETIVO
Mesmo sendo conceitualmente independente dos capí- polo que atrai todas as coisas e desperta a ação humana
tulos anteriores (e, portanto, podendo ser estudado por si qualificada como amor.
mesmo), o capítulo tem como objetivo completar o itinerá- Cada um dos itens que compõem o capítulo pode ser es-
rio de apresentação histórica da reflexão filosófica sobre o tudado separadamente. Cabe aos colegas professores operar
amor, partindo da concepção do amor cortês e chegando a a escolha por um estudo separado ou de conjunto. A vanta-
visões contemporâneas. gem de um estudo separado é enfatizar aspectos que mais
interessam ao programa curricular traçado para cada turma.
Por sua vez, a vantagem de um estudo de conjunto está em
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS permitir um maior ganho compreensivo por meio da cons-
O eixo que estrutura o capítulo é a ideia de que, com a tatação das articulações históricas e conceituais dos diversos
concepção do amor cortês, lançam-se as raízes da associa- tratamentos do amor. Outra vantagem está em oferecer uma
ção do amor a uma paixão específica (no limite, por opo- visão englobante da abordagem filosófica do amor, pois, caso
sição à “razão”), tal como se revelará em diferentes formas os professores, por razões de tempo, optem por não estudar
filosóficas modernas e contemporâneas. A fim de ressaltar os Capítulos 5 e 6, eles terão a ocasião de recuperar elemen-
essa associação e de mostrar que na Contemporaneidade tos antigos, patrísticos e medievais no Capítulo 7, sobretudo
algumas formas filosóficas retomam elementos antigos, pa- pela retomada de certo platonismo crítico no pensamento
trísticos e medievais da compreensão do amor em unidade de Iris Murdoch. Além disso, dada a atualidade dos temas de
com a busca de plenitude (envolvendo o pensamento e a neurociência, o capítulo pode ser também a ocasião para um
liberdade), termina-se o capítulo com um estudo do pensa- estudo do debate em torno do aparelho neurológico como ori-
mento da filósofa inglesa Iris Murdoch, principalmente por gem ou como meio das experiências humanas (ver Exercícios
sua ênfase em uma “metafísica naturalista” do Bem como Complementares, item 3. Exercício hermenêutico).
AMOR CORTês
AMOR PAIXão
AMOR romântico
crítica/reabilitação do amor
éros
Séc. XI Séc. XII Séc. XIII Séc. XIV Séc. XV Séc. XVI Séc. XVII Séc. XVIII Séc. XIX Séc. XX Séc. XXI
Philía
ágape
Modelo
Modelo rousseauísta
platônico de
renascentista educação
(micro e
macrocósmico)
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
A relação amorosa
Jean-Jacques Rousseau COMTE-SPONVILLE, A. O amor. Tradução Eduardo
Brandão. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011.
Apesar do bom entendimento, não deixam de ocorrer LÖWY, M.; SAYRE, R. Revolta e melancolia: o Romantismo
às vezes, dissensões e até brigas; ela não é isenta de capri- na contracorrente da Modernidade. São Paulo: Boitempo, 2015.
chos, nem ele de irritações; mas essas pequenas borrascas MAY, S. Amor: uma história. Tradução Maria Luiza X. Borges.
passam depressa e não fazem senão solidificar a união; a Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
experiência mesmo ensina a Emílio a não as temer dema-
SIMMEL, G. Filosofia do amor. Tradução Eduardo Brandão.
siado; as conciliações são-lhe sempre mais vantajosas do que
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
as disputas são nocivas. O fruto da primeira briga fez-lhe
OBJETIVO
Estudar filosoficamente as noções de indivíduo e sociedade O que move a metodologia adotada no capítulo é uma
em interdependência com a noção de liberdade, mostrando especial atenção ao pensamento por contrariedade e/ou por
que é mais universal (e, portanto, racional) uma abordagem contradição, razão pela qual se compôs um box específico
em que essas noções são compreendidas umas em função das sobre o tradicional quadro das oposições. A metodologia
outras, em vez de serem definidas por si mesmas. do capítulo pode ser tomada como um caso explícito do
procedimento dialético. No que se refere ao quadro das
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS oposições, caso os colegas professores queiram ir além
A estratégia do capítulo consiste em “desnaturalizar” a com- dele, sugere-se a leitura do Capítulo 11 do livro Filosofia
preensão das noções de indivíduo, sociedade e liberdade, permi- das lógicas, de Susan Haack (2002), no qual a autora estuda
tindo perceber que o sentido de cada uma delas é mais adequa- algumas lógicas que, embora comunguem de certos dados
damente captado em correlação com as outras. Faz mais sentido da lógica tradicional, buscam superar a dicotomia absoluta
entender o indivíduo em relação à sociedade e vice-versa. Ao mes- entre o verdadeiro e o falso. A partir da correlação entre
mo tempo, como o ser individual possui elementos determinados ser individual-social e liberdade, o capítulo se dedica ao
socialmente, mas também naturalmente, é mais adequado abordar estudo de duas concepções também clássicas a respeito do
o tema da liberdade em correlação direta ao ser individual e social sentido das desigualdades na vida individual-social (Locke
(o que implica também uma relação direta com os aspectos na- e Marx), abrindo a possibilidade de operar algo como uma
turais). Pode-se dizer que, de certa maneira e empregando-se um síntese entre elementos verdadeiros de ambas as concep-
vocabulário fenomenológico, trata-se de operar uma intersecção ções (o comunitarismo). A fim de ressaltar o pensamento
entre ontologias regionais (ontologia social e ontologia individual). por contrariedade e/ou contradição, o item dedicado ao
Ou, em vocabulário mais epistemológico-analítico, trata-se de debate sobre o caráter natural ou histórico da sociedade
situar-se em um cruzamento possível da dimensão pública com é estruturado em forma de exercício de múltipla escolha,
a privada. Por essa razão, o capítulo inicia com o estudo de duas para que os estudantes conheçam esse tipo de exercício
posições clássicas sobre o caráter natural ou histórico da vida em e se treinem nessa modalidade. Cada um dos itens que
sociedade (Aristóteles e Kant), para, na sequência, articular esse compõem o capítulo pode ser estudado separadamente,
estudo com uma possível afirmação da liberdade (via Espinosa sem nenhum prejuízo para a compreensão, uma vez que
e Merleau-Ponty). são autoexplicativos.
SOCIEDADE
não há contradição
desigualdades
justas injustas
(liberalismo) (marxismo)
(I) Algum brasileiro é simpático (O) Algum brasileiro não é simpático (O)
(Verdadeira) (Verdadeira)
OBJETIVO
Estudar o tema que se tornou clássico a partir do final principalmente porque grupos pelo mundo todo exigem que
da Modernidade – a distinção entre Natureza e Cultura – suas “identidades” sejam respeitadas, mesmo que tal respeito
considerando razões que permitem opor os dois conceitos implique diferentes formas de violência contra as pessoas.
(identificando um domínio natural e um domínio cultural Tal conflito, na verdade, sempre ocorreu na História
na experiência humana), bem como razões que permitem da Humanidade, mas atualmente ele ganha uma impor-
associá-los (por exemplo, pelo conceito de pessoa, que enfa- tância redobrada. Um caso evidente em nossos dias é o da
tiza o modo humano de ser, isto é, o modo humano de viver identidade religiosa, que muitos tentam impor como iden-
aquilo que se recebe da espécie natural). tidade “natural”. Têm surgido grupos cada vez mais violen-
tos, defendendo identidades “tradicionais”, a fim de evitar
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS transformações históricas. Essa prática também sempre foi
Partindo da concepção que se tornou corriqueira no recorrente na História, ainda que, na maioria das vezes, as
pensamento e no vocabulário cotidianos, segundo a qual a transformações tenham acabado por se impor, levando à re-
Natureza seria regida pela lei da concorrência ou da adap- visão das “tradições”. Em nossos dias, é bastante conhecida
tação dos seres mais fortes, o capítulo introduz a possibili- a atuação de alguns grupos muçulmanos (fiéis da religião
dade científica de identificar também a colaboração como islâmica) que, para manter fidelidade ao que consideram a
lei natural. Com base nesses dois modelos explicativos da verdadeira “tradição”, defendem a guerra como forma de
Natureza, passa-se à especificidade da reflexão filosófica ação. Nessa prática, eles se baseiam em trechos do seu livro
como investigação do modo como se constroem diferen- sagrado, o Corão, para justificar a guerra contra os infiéis.
tes modelos para exprimir o conhecimento da Natureza. Mas eles ocultam ou ignoram que há outros trechos que
Após apresentar o modelo mecanicista, o capítulo levanta defendem a convivência pacífica. Aliás, historicamente, a
o modelo que, de certa maneira, poderia ser chamado de religião muçulmana nem sempre foi anunciada com base
vitalista. A estratégia é mostrar a relatividade desses tipos de na guerra contra os infiéis. Na Indonésia, por exemplo, o
descrição, articulando tal relatividade com a possibilidade islamismo chegou já durante o século XI e integrou-se às
de não dissociar Natureza e Cultura ao menos no que con- culturas locais, com respeito visível pelas outras práticas
cerne ao ser humano. religiosas. Além disso, a imensa maioria dos muçulmanos
Nesse quadro, o conceito de pessoa – tradicionalmente é pacífica nos dias de hoje e defende a conversão religiosa
empregado em Filosofia desde a definição dada por Boécio por convencimento e não por imposição.
(“pessoa é uma substância individual de natureza racional”), Dessa perspectiva, o que significaria “defender a tradi-
embora criticado por certos autores contemporâneos – apa- ção”? Ainda: o que se entende por “tradição” e “identidade”?
rece como uma forma de referir-se a cada indivíduo huma- Os colegas professores são convidados a tratar com redobra-
no como um ser dotado de um modo específico (cultural e do cuidado a tensão entre a continuidade das “tradições” e
singular) de realizar o que tem em comum com sua espé- “identidades” e a necessidade de que elas sejam “atualiza-
cie (natural). A singularidade permite identificar em cada das”, a fim de dar respostas adequadas aos novos tempos.
indivíduo um núcleo ou um “ponto de irradiação” de onde Algo análogo ao que se dá com o islamismo em outras par-
brota o modo inteiramente único e “irrepetível” com que tes do mundo ocorre em nosso país com relação ao cristia-
cada pessoa é sua animalidade e humanidade. A metáfora nismo. Usam-se muitas vezes a Bíblia judaica (Primeiro ou
do coração retrata bem esse núcleo, mas cabe aqui enfatizar Antigo Testamento) e a Bíblia cristã (Primeiro e Segundo
que coração não deve ser associado ao músculo cardíaco nem Testamentos ou Antigo e Novo Testamentos) para justificar
à afetividade (por oposição à razão), mas ao que é próprio de práticas muitas vezes violentas em nome da conservação das
cada indivíduo em seu modo de existir operando com fatores “tradições”. Há até quem não acredite que o ser humano foi
determinantes de ordem “natural” e “cultural”. à Lua, pois dizem que, segundo a Bíblia, isso é impossível.
Esquecem que muitos trechos bíblicos, quando tirados de
OBSERVAÇÃO METODOLÓGICA ESPECÍFICA seus contextos e interpretados ao gosto individual, funda-
O risco da ideologia identitária mentam práticas de intolerância, falta de diálogo e mesmo
Ao tratar do tema da Cultura (em conexão direta ou in- de cegueira intelectual. Outro caso curioso, por exemplo, é
direta com o tema da Sociedade, trabalhado no capítulo o apego ao dinheiro, pois, embora a Bíblia fale da utilidade
anterior), apresenta-se um grande desafio em nossos dias: dos bens materiais e das ofertas a Deus, ela também de-
evitar a ideologia identitária, isto é, a crença de que existem nuncia a preocupação exagerada com a riqueza, afirmando
identidades “naturais” nos grupos humanos, sem ver que essas claramente que o sentido da vida não está nas posses nem
identidades nascem em circunstâncias determinadas e mu- no dinheiro. Muitas igrejas cristãs, em nossos dias, esque-
dam com o passar do tempo, mesmo quando os grupos não cem ou ignoram os versículos que tratam do tema. Por fim,
percebem rapidamente. Trata-se de um tema muito delicado, há quem se baseia na Bíblia para defender, por exemplo,
Natureza Cultura
máquina ou organismo? oposta ou unida à Natureza?
SENTIDO
Indivíduo Pessoa
ser natural e construído ser psicofísico e cultural
modo singular de realizar a espécie
OBJETIVO
Estudar as duas maiores concepções da Política: a Política concepções às quais estamos mais habituados). Acentuando a
como atividade concebida em função do bem comum e como especificidade moderna que marca as visões políticas atuais,
prática cujo fim está nela mesma (sem, no entanto, afastar- o capítulo termina por fazer um estudo da democracia tal
se totalmente de algum ideal, como o de bem comum, nem como ela pode ser entendida em nossos dias, com suas van-
se tornar uma prática aética ou amoral). Esclarecer também tagens e mesmo com seus limites. Nesse quadro, desponta
que a noção de Política como fim em si relaciona-se direta- também a noção de cidadania, cujo sentido se manifesta
mente, na maioria das sociedades atuais, com as noções de com mais clareza justamente quando se pensa no porquê
Poder e de Estado, conduzindo à necessidade de enfatizar de, em nossos dias, dar-se a articulação entre Política, Poder
o papel da cidadania. e Estado de modo diferente do que ocorria no pensamento
antigo, patrístico e medieval.
O capítulo é também ocasião para que os professores,
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS caso considerem adequado, abordem as relações entre Ética
Partindo da noção de interesse e desvinculando-a de algu- e Política, explorando, por exemplo, a vinculação direta da
ma conotação necessariamente egoísta, o capítulo articula o Política com o Bem no pensamento antigo e a autonomia
tema do interesse pessoal pela Política com o sentido da pró- que a Política ganhou com relação à noção metafísica de
pria Política: “classicamente”, ela pode ser entendida como Bem na Modernidade. É possível remeter aos itens sobre
um serviço ao bem comum (Platão) e como um fim em si a Beleza, o Bem e a dialética, segundo Platão, tal como se
mesmo (Maquiavel). Por sua vez, concebê-la como fim em si aborda no Capítulo 5, e sobretudo à possibilidade de conside-
mesmo requer o esclarecimento da noção de Poder (alvo ou rar o Bem e o amor como temas contemporâneos, tal como
objeto da Política, principalmente a partir da Modernidade) estudado na apresentação do pensamento de Iris Murdoch,
e de Estado (forma mais comum na maioria das sociedades no Capítulo 7. Também é possível remeter à crítica dos
atuais, herdeiras do pensamento político moderno). fundamentos do pensamento platônico (e cristão), tal como
Para esclarecer a articulação entre Política, Poder e operada por Nietzsche e estudada nos Capítulos 6 e 12, o
Estado, o capítulo opera com uma distinção com o pensa- que requer a compreensão da Política em um registro mais
mento político antigo e medieval, para o qual fazia sentido próximo ao de Maquiavel ou mesmo em um registro total-
falar de governo, e não de Poder e de Estado (segundo as mente novo (e independente do Poder é institucionalizado).
CIDADANIA
POLÍTICA PODER – ESTADO E
DEMOCRACIA
fim em si mesmo
(Maquiavel)
interesse
2. Identifique, nos raciocínios abaixo, os casos de genera- 3. Maquiavel pensava que os fins justificam os meios?
lização apressada e os casos de generalização justificada. Explique.
Explique o porquê de suas respostas: Não exatamente. Ele pensava apenas que, se não houver
(a) Quando viajei para o Rio Grande do Sul, vi muitas churras- outro recurso legal, por meio dos tribunais e das leis, o gover-
carias. É porque todos os gaúchos comem muita carne. nante deve fazer o que for necessário para manter o poder e
Generalização apressada. O fato de haver muitas chur- defender a unidade social.
rascarias em uma região não significa que toda a população
come muita carne. EXERCÍCIO D (p. 258)
(b) Toda religião é violenta, porque judeus, cristãos, muçulma- 1. Comente a diferença entre Platão e Maquiavel no tocante
nos e até budistas praticam guerras religiosas. à concepção de Poder.
OBJETIVO
Apresentar a possibilidade de compreender filosoficamente Faria sentido ainda apontar para polos como o bem ou
a prática ética como uma realização de atos e uma criação de algo que magnetiza todas as ações (ao modo do que George
hábitos, repondo o tema da cidadania nos termos da tensão Edward Moore ou Iris Murdoch afirmavam, tal como vimos
entre o ser individual e o ser social, e apontando para o modo nos Capítulos 2 e 7)? Ou para o campo dos valores como
como cada indivíduo, em relação com outros indivíduos e constructo histórico-social (ao modo de Hegel, como se in-
grupos sociais, constrói o sentido de sua própria existência. dica no item 3 do presente capítulo)? Seja como for, ambas
opções requerem que se esclareça o papel das possibilida-
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS des humanas na determinação do sentido da prática ética,
Concretizada na frase do Profeta Gentileza: Gentileza gera sobretudo o papel da razão ou da capacidade de autorrefle-
gentileza, a temática da possibilidade de despertar nos outros xão, em conjunto com a capacidade da autodeterminação
indivíduos atos que geram hábitos é o fio condutor do capítulo. ou da escolha (a vontade). Nesse conjunto, é indispensável
A dinâmica ato/hábito, tematizada desde os gregos (eminen- dedicar atenção às paixões, a fim de não se propor uma vi-
temente Aristóteles), parece ser um elemento que reaparece na são cindida e dualista do ser humano, como se a dimensão
reflexão ética da maioria dos filósofos. Por analogia com o que espiritual (razão e liberdade) e a dimensão passional não
se costuma supor quando se afirma que, diferentemente da estabelecessem intercâmbios mutuamente.
metafísica, a ética de Aristóteles perdurou durante os séculos Com essa preocupação, o capítulo parte dos fundamen-
e guarda atualidade ainda hoje, assim também parece possível tos antigos e medievais da concepção do ato e do hábito
que a dinâmica ato/hábito pôde e pode ser “assimilada” pelas (virtude/vício) e passa a dois modelos clássicos de pensar
mais diversas filosofias. Por exemplo, ela combina satisfato- a vinculação entre ética, razão e paixão (Kant e Hume,
riamente mesmo as filosofias que não se comprometem com que não são necessariamente opostos), a fim de introduzir
a concepção de um sujeito (seja cognoscente, seja ético). No a análise hegeliana do inquestionável papel da influência
entanto, especificamente sobre essa dinâmica articula-se um social sobre a prática ética. Dado esse quadro, o capítulo se
debate, digamos, “metafísico”, concernente ao que determina dirige a um debate sempre mais delicado: o da relação entre
ou ao que dá sentido aos atos e hábitos. Em outras palavras, e as instituições sociais e a liberdade individual, algo que se
dito de maneira bastante geral, trata-se de saber como nascem deixa melhor esclarecer por meio das noções de cidadania
os valores que orientam a prática ética. e de direitos humanos.
universal – particular
EXERCÍCIO B (p. 271) 3. Por que se pode dizer que Hegel vincula a Ética e a Política?
1. Apresente o pensamento moral de Kant com base em seu Porque para Hegel os valores morais devem ser fundamenta-
projeto de uma filosofia crítica. dos em instituições sociais, em práticas socialmente construídas,
Kant, antes de propor uma interpretação da realidade, bus- uma vez que mesmo o significado desses valores são construções
cou analisar nossas reais possibilidades de conhecimento. Por históricas e sociais.
essa razão, seu pensamento ficou conhecido como filosofia
crítica. No que diz respeito ao tema da moral, Kant observou EXERCÍCIO D (p. 276)
que não é possível conhecer os objetos da moral como conhe- 1. Comente o descompasso que pode haver entre as ações dos
cemos realidades físicas e matemáticas. O Bem não é algo que Estados e os desejos dos indivíduos.
possa ser conhecido e definido racionalmente. Por isso, ele não Os governos podem reforçar seu poder em nome da defesa
é um critério claro e comum que possa orientar a ação de todos. de seus membros mesmo quando agem na contramão dos an-
Fazia-se necessário formular um princípio ou uma lei que fosse seios de muitos de seus próprios membros. É o caso que ocorre
compreensível por todos e orientasse a ação em todas as circuns- atualmente, quando, a despeito da grande diversidade cultural
tâncias. A estratégia de Kant foi discutir se é possível encontrar, proporcionada pela globalização e pelas mídias virtuais, muitos
pelo entendimento, um princípio a priori, ou seja, anterior às países reforçam suas definições territoriais e o controle sobre
experiências e às situações específicas. Desse esforço surgiu o suas fronteiras, caminhando na contramão das tendências e
imperativo categórico kantiano: “Você deve agir somente se- dos interesses dos indivíduos cada vez mais “globalizados”. No
gundo uma máxima que lhe permita também querer que a sua século XX, a filósofa Hannah Arendt apontou também para
própria máxima seja tomada como lei universal”. as práticas autoritárias de Estados que exploraram a crença de
seus cidadãos em seu poder (caso da Alemanha e o nazismo,
2. Por que o imperativo categórico kantiano precisa ser a priori? da Rússia e o stalinismo etc.).
Como as ações dependem sempre das circunstâncias, seria
preciso encontrar um princípio necessário que não dependesse 2. O que significa a cosmopolítica defendida por Étienne
das circunstâncias e valesse para todas elas; um princípio, portanto, Balibar?
a priori, anterior à experiência e às circunstâncias. É uma prática em que os governos e as instituições contri-
buem para que a cidadania de seus cidadãos não seja orientada
3. Considere o pagamento na mesma moeda, de que trata Kant por uma identidade dada pela Natureza, pelo território ou por
no final de seu texto, e explique a incoerência da falsa promessa costumes ancestrais, mas pela possibilidade de criação dessa
em momentos de apuro. mesma cidadania a partir da contribuição e da interação com
O pagamento na mesma moeda permite a Kant mostrar que outros povos e culturas, ampliando os horizontes dos cidadãos
uma falsa promessa ou uma mentira, mesmo quando são apa- para a superação dos limites dos territórios, das culturas e das
rentemente “boas”, não são justificadas, pois levam a pensar que fronteiras, unindo o que há de universal na Humanidade com
há situações falsas e mentirosas que podem ser boas e, portanto, os anseios dos indivíduos.
acionadas por qualquer pessoa. Assim, como eu mesmo posso
decidir fazer uma promessa e mentir, qualquer outra pessoa pode 3. Como entender a cidadania em rede?
fazer o mesmo. Qualquer pessoa poderia me “pagar na mesma A cidadania em rede diz respeito à possibilidade de mesclar
moeda”, o que não me agradará nem do ponto de vista de mi- identidades e de dar sentido à própria existência e à existência de
nhas expectativas particulares, nem do ponto de vista do que seu grupo social a partir da contribuição de outras culturas e do
espero que seja o comportamento de todos em relação a mim. diálogo com outros grupos sociais. Isso não significa que o indi-
A minha máxima de ação (a justificativa de “boas” mentiras víduo simplesmente escolhe sua identidade, pois todo indivíduo
ou de “boas” falsas promessas) destruiria a si mesma, portanto. é devedor das construções sociais nas quais nasce e cresce, mas
que essa construção pode ser ampliada para além dos limites do
EXERCÍCIO C (p. 274) território e da cultura local.
1. Por que, segundo Hume, não é adequado enfatizar a ra-
cionalidade como característica do ser humano visto como 4. O que pretende a Declaração Universal dos Direitos Humanos?
agente moral? A Declaração Universal dos Direitos Humanos pretende garantir
Segundo Hume, não é a razão que leva os seres humanos a direitos mínimos para todos os indivíduos de todos os lugares do
agir, mas as emoções. Para ele, o entendimento humano não é mundo, a partir da tentativa de alcançar uma visão sobre o que
capaz de controlar as emoções. é bom para o ser humano em geral. Entre esses direitos estão o
Renascimento
Arte Moderna
aprendizado
e contexto
Felizmente nem todas as imagens me interessam. Se todas Você poderia, por favor, situar-se no campo do pensamen-
me interessassem, eu já teria enlouquecido há muito tempo... to contemporâneo? Ou você permanece impossível de ser si-
Há tantas imagens; há imagens demais e elas se acumulam tuado, longe de uma posição fixa? O que define melhor sua
frequentemente para matar o nosso olhar, ofuscar nossa vi- carreira seria o princípio de circulação entre as obras, entre
são, abafar nosso pensamento... É preciso saber escolher. os discursos, entre as disciplinas...?
“Saber é saber decidir”, era mais ou menos o que dizia Michel
Foucault. Então, eu escolho. Mas não segundo critérios que De cara, eu teria vontade de responder à sua pergunta com
correspondem ao que eu definiria como “imagens boas”, e sim outra pergunta: não caberia a você me “situar”? Será que cabe
segundo encontros que me abrem de repente a uma dimen- realmente a mim dizer o lugar que eventualmente eu ocupo?
são inesperada da experiência visual. O que “me interessa”, Se eu ocupo um lugar, então você, do lugar em que está e
como você diz, não é fatalmente o que é mais belo. Como como observador, verá melhor do que eu qual é o meu lugar.
diziam os filósofos gregos, é a potência que me interessa de Eu poderia também lhe responder de um modo completamente
início nas imagens. As imagens “extremas” em todos os sen- diferente: não vejo nada de tão “impossível de ser situado” ou
tidos possíveis, seja por sua doçura (Vermeer), seja por sua de “longe” em meu trabalho. Tenho a grande sorte de ensinar
violência (imagens dos campos de concentração), seja por sua na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e
diafaneidade (como em James Turrell), seja por sua opacidade isso já é bastante “situável” na paisagem intelectual, mesmo se
(como nas diversas camadas de Goya). Eis também por que essa instituição não quisesse me “habilitar”, como se diz. Posso
não é somente para “a Arte” ou para a “grande Arte” que dou acrescentar que nessa mesma instituição eu participei dos cursos
minha atenção: a potência de uma imagem não depende da de Roland Barthes, de Louis Marin, de grandes linguistas, e aí
sua inscrição no registro das Belas Artes. convivi com pessoas maravilhosas, como Pierre Vidal-Naquet
e Nicole Loraux. Não sou, portanto, nem um pouco “impossí-
Você diz frequentemente que não aprecia as formas defi- vel de ser situado”. Apenas continuo obstinadamente a recorrer
nitivas, como se nada bastasse para reduzir uma imagem a às tradições de pensamento como a iconologia de Warburg, a
uma dimensão única. Deixando de lado uma definição (que crítica literária de Walter Benjamin, a filosofia de Deleuze e
é impossível), há mesmo assim tipos de imagens pelas quais Foucault, e muitas outras coisas mais. Porém, é verdade que a
você é obcecado? Quais? “circulação”, como você disse, estremece um pouco as lógicas
territoriais que, no mundo universitário, têm vida dura.
É verdade que eu gosto de apreciar a variedade infinita
que as imagens são capazes de produzir. Tentando responder LES INROCKUPTIBLES. Paris, 12 abr. 2014. Entrevista
honestamente à sua questão, constato que há uma espécie de concedida por Georges Didi-Huberman. Acesse:
ligação entre meus primeiros objetos de trabalho e os mais Original francês disponível em: <http://www.
recentes: eu me orientei livremente – quando era jovem – lesinrocks.com/2014/02/12/arts-scenes/tout-est-
para certa relação entre a imagem e a dor (sem dúvida há la-rien-nest-cache-11472282/>. Acesso em: 10
algo de autobiográfico nisso, mas não vem ao caso agora). out. 2015. (Tradução nossa.)
É por isso que Goya me fascinou com tanta potência. É
por isso que pude fazer trabalhos sobre os doentes mentais
do hospital La Salpêtrière: as fotografias documentavam
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
ao mesmo tempo o “charme” deles e um sofrimento mais
profundo. Digamos, então: éros (desejo) e tánathos (mor- DANTO, A. O descredenciamento filosófico da arte. Tradução
te). Mais do que isso, digamos: páthos (paixão). A monta- Rodrigo Duarte. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
gem de filmes projetados no chão, durante a exposição do HELLOT, E. O homem: a vida, a ciência e a arte. Tradução
Palais de Tokyo, em Paris, tem como tema a lamentação Roberto Mallet. São Paulo: Ecclesiae, 2015.
pelos mortos e, mais particularmente, a energia dos vivos LACOSTE, J.-Y. A filosofia da arte. Tradução Álvaro Cabral.
– a dança dos vivos – em torno desses mortos. O desafio Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
não é mórbido ou mortífero; ele consiste, ao contrário, em RAGO CAMPOS, M. J. Arte e verdade. São Paulo: Loyola,
mostrar que os “povos em lágrimas” – como vemos em uma 1992.
cena famosa do filme O encouraçado Potemkin, de Sergeï
Eisenstein – podem transformar sua queixa em apelo à jus- SCRUTON, R. Beleza. Tradução Hugo Langone. São Paulo:
tiça: eles, então, “dão queixa” perante a História e podem É Realizações, 2015.
tornar-se povos revolucionários. Mas, para dizer tudo isso, WISNIK, J. M. O som e o sentido. São Paulo: Companhia
é preciso também um lógos: uma língua, uma lógica, uma das Letras, 1989.
análise, um ato de conhecimento. A ligação entre páthos WOLFE, G. A beleza salvará o mundo: redescobrindo o ho-
e lógos – essencial no pensamento de Warburg e em um mem numa era ideológica. Tradução Marcelo G. de Oliveira.
autor fundamental a meu ver e ao qual já consagrei um São Paulo: Vide, 2015.
OBJETIVO
Apresentar a possibilidade de compreensão filosófica da Sem pressupor a necessidade de uma linha histórica
experiência religiosa como percepção e nomeação (interpreta- progressiva, mas com atenção à continuidade temática, é
ção) de uma dimensão suprarracional na realidade (chamada de grande importância filosófica o exercício de escuta dos
de “Deus” por grande parte das religiões), sem que tal percep- pensadores contrários à religião e/ou à afirmação religiosa
ção e tal nomeação sejam entendidas como necessariamente da existência de Deus. Metodologicamente, é adequado
irracionais ou absurdas. Por outro lado, visa-se compreender distinguir entre autores irreligiosos (contrários à religião) e
também algumas das principais reflexões do ateísmo, em cli- autores ateus. Esse exercício permite identificar em autores
ma de diálogo e debate filosófico com o teísmo e o deísmo. religiosos (teístas) ou deístas elementos nem sempre percep-
tíveis quando eles são lidos segundo clichês interpretativos
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS estabelecidos sem crítica. É nesse sentido que os textos de
A estratégia central do capítulo consiste em compreen- Tomás de Aquino e de Karl Rahner são apresentados ape-
der o tema da experiência religiosa por meio de atenção à nas ao final do capítulo como elaborações filosóficas, re-
vivência das pessoas de fé. É por esse motivo que o capítulo sultantes não apenas de um esforço analítico-racional, mas
se inicia pela leitura do poema de Paul Claudel, e não por também de um diálogo universal que vai além da simples
alguma teoria filosófica sobre religião. Por analogia com a tentativa de provar a existência daquela realidade que as re-
relação entre os filósofos e a arte (caso em que se corre o ligiões consideram divina. Por fim, dada essa base comum
risco de teorizar sobre o fazer artístico sem conhecê-lo “por de inteligibilidade, o tema da experiência religiosa requer
dentro”), parece mais adequado um tratamento filosófico da imediatamente uma reflexão sobre a convivência humana
religião pela atenção à experiência das pessoas religiosas. Esse (aqui acentuada como convivência republicana).
cuidado metodológico implica, no entanto, uma dificuldade: Na página ao lado propõe-se um esquema visual de sín-
a possibilidade de pensar que a experiência religiosa (assim tese do capítulo.
como a artística) seja compreensível apenas para quem tem
tal experiência. Se fosse assim, toda tentativa de reflexão OBSERVAÇÃO METODOLÓGICA ESPECÍFICA
filosófica sobre a religião seria impossível ou mesmo anti- A respeito da noção de experiência (e da distinção entre
filosófica, uma vez que a experiência religiosa mesma não experimentar e experienciar), segue um texto do filósofo bra-
seria universal nem acessível a todos. Essa problemática tem sileiro Henrique Cláudio de Lima Vaz, que pode servir de
uma longa história em Filosofia e já recebeu tratamentos aprofundamento teórico aos colegas professores:
que, em vez de oferecer interpretações sobre a “essência” da
experiência religiosa (caso em que esta é analisada “de fora”, Experiência e consciência
com o risco de projetar-se nela o que ela não é, ou é reduzi- Henrique C. de Lima Vaz
da a meros códigos de conduta moral), procuram explorar
experiências humanas universais que dão inteligibilidade à A oposição entre experiência e pensamento é o primeiro
experiência religiosa. Em outras palavras, trata-se de consi- falso lugar-comum que convém remover. [...] Com efeito, a
derar a possibilidade de identificar uma base “objetiva” de experiência não é senão a face do pensamento que se volta
tal experiência: o mistério, o incondicionado ou o indeter- para a presença do objeto. Daqui se infere imediatamente
minado a que se costuma chamar de Deus. Se a dimensão uma proporção direta entre a plenitude da presença e a pro-
incondicionada da realidade constitui a base “objetiva” da fundidade da experiência, ou seja, a penetração dessa ple-
experiência religiosa, essa experiência só é possível na volta nitude pelo ato de pensar. [...] [É o caso, por exemplo, do]
do sujeito sobre si mesmo, o que dá a “demonstrabilidade” sentimento de presença que acompanha a percepção de um
da base objetiva da religião, fazendo com que a experiência objeto exterior, a emoção ou a vivência que nascem desse
religiosa seja inteligível e universal. Por fim, essa universa- sentimento. [...] As origens etimológicas do termo experiência
lidade legitimamente racional ou filosófica confirmaria, do oferecem-nos o melhor caminho para alcançarmos a sua es-
ponto de vista histórico, a universalidade do fato religioso e sência. Seja o grego empeiría seja o latim experientia falam-
seria também confirmada por ele. nos de “tentar”, “comprovar”, “assegurar-se”, o que significa
Tendo em vista essa delicada articulação entre expe- percorrer o objeto em todos os sentidos. O que caracteriza,
riência e inteligibilidade, o capítulo explora a necessidade pois, a experiência é a penetração e como que a transfixão
de refinamento das noções de percepção e de experiência, do objeto, o que, de um lado, libera o conhecimento do
apontando para o mistério (ou a dimensão racionalmente caráter lábil, precário ou confuso da simples sensação e,
inesgotável) que envolve a existência humana e suscita uma de outro, suprime o vazio das formas puramente lógicas. A
reação específica. Essa reação foi chamada por Friedrich partir desse ponto de vista, a experiência articula-se entre
Schleiermacher de sentimento religioso; e o seu objeto foi dois polos bem definidos: o objeto que é fenômeno ou que
chamado de Sagrado ou Numinoso por Rudolf Otto. aparece, e o sujeito que é ciência ou consciência que retorna
SENTIDO TRANSCENDENTE
Acolhido na Recusado na
experiência religiosa irreligiosidade e no ateísmo
2. Por que Friedrich Schleiermacher defendeu a necessida- 3. Com base no uso da analogia, explique a seguinte frase:
de de identificar um sentimento especificamente religioso? “Uma pessoa religiosa pode crer que conhece Deus, mas
Porque as formas modernas de referir-se aos diferentes não pode ter a pretensão de dizer que Deus é só aquilo
tipos de experiência não eram suficientes para retratar a que ela pensa que ele é”.
experiência religiosa, uma vez que a reduziam a algo de Como mistério transcendente, Deus não é algo que pode
caráter metafísico (compreensão intelectual do modo de ser ser dominado conceitualmente (retratado segundo os limites
das coisas) ou a algo de caráter moral (um código de normas da razão humana). Dessa perspectiva, tudo o que se afirma
de conduta). Considerando que sentimento é diferente de sobre ele, inclusive nas diversas religiões (com ou sem livros
emoção, Schleiermacher propõe chamar de sentimento reli- sagrados), é afirmado por analogia. A analogia, ao mesmo
gioso a experiência relativa à percepção do mistério divino. tempo que permite falar sobre o transcendente tal como o
percebemos, evita a pretensão de que se acredite que aquilo
3. Qual o conteúdo do sentimento religioso segundo que se pensa sobre ele corresponde exatamente ao que ele
Schleiermacher? é. Assim, por exemplo, quando se afirma que o ser divino é
A percepção da dependência total do ser humano com “pai”, “amoroso”, “fonte de equilíbrio” etc., isso quer dizer
relação aos outros seres e à totalidade do mundo ou o infi- apenas que ele é “como um pai” (imaginando que todo pai
nito, uma dependência que não pode ser definida nem in- deveria ser bom), “como um ser que ama”, “como uma fonte
teiramente explicada, mas sentida. Essa percepção causa a de equilíbrio”, mas ele não é exatamente um “pai” (se ele
aceitação amorosa da totalidade da existência. fosse um pai, teria todas as falhas que os pais humanos têm e
teria ainda um pai, um avô etc., deixando de ser o princípio
4. Observando sua própria vida, você considera que possui divino de tudo), nem “amoroso” ao modo do amor imperfei-
sentimento religioso? Justifique sua resposta. to que percebemos no mundo, nem uma “fonte”, que pode
Resposta pessoal. se esgotar. Aliás, Deus também pode ser visto como “mãe”
(imaginando que toda mãe deveria ser boa), já que ele não
EXERCÍCIO C (p. 317) é nem “pai” nem “mãe”, pois não tem sexo.
1. Por que Rudolf Otto viu a necessidade de comple-
mentar a filosofia da religião desenvolvida por Friedrich 4. Explique o Princípio de Clifford e o Outro Princípio
Schleiermacher? de Clifford.
te legítimo perguntar em que sentido se fala de “experiência”, do Estado, disponível no site < http://www.
uma vez que essa noção parecer referir-se ao conhecimento por laicidade.org/documentacao/textos-criticos-
meio dos cinco sentidos. O que alguns filósofos enfatizam, para tematicos-e-de-reflexao/aspl/> (Acesso em:
responder a essa pergunta, é o fato de que a experiência religiosa 31 maio 2016).
não é experiência de “algo”, mas experiência da “própria pessoa
em relação a algo”: ela experimenta, em sua vida, os efeitos da
relação que ela interpreta como uma relação com o ser conside- PROPOSTA DE ATIVIDADE COMPLEMENTAR
rado transcendente. Friedrich Schleiermacher chamava a aten- Algumas das críticas mais duras à religião foram feitas
ção para a especificidade dessa experiência (por ele denominada por Karl Marx e por Sigmund Freud. Elas foram tão bem
“sentimento religioso”), associando-a a um sentimento de total formuladas que grande parte dos pensadores passou a afir-
dependência em relação ao conjunto dos seres e ao mistério in- mar que, depois de Marx, não há mais espaço para Deus e
finito que envolve a existência. Em continuidade com o traba- para a religião em Filosofia e em Ciências Humanas. Do
lho de Schleiermacher, porém atento ao risco da acusação de mesmo modo que, depois de Freud, também a Psicologia
“subjetivismo”, Rudolf Otto procurou esclarecer melhor a espe- e a Psicanálise só poderiam tratar o tema Deus como re-
cificidade da experiência religiosa, não se concentrando apenas sultado de uma doença psíquica. No entanto, pensadores
nos aspectos subjetivos, mas também nos objetivos. Com base inspirados pelo mesmo trabalho de Marx e Freud chegaram
em uma análise comparativa de diferentes religiões, Otto identi- a conclusões diferentes. É o caso, por exemplo, de Claude
ficou características comuns ao modo como o ser transcendente Lefort, em Filosofia, e de Donald Winnicott, em Psicologia
ou divino “apresenta-se” nas religiões ou como é visto por elas: e Psicanálise. Lefort não acreditava em Deus, mas também
ele sempre provoca um sentimento de estado de criatura; é um não via na experiência religiosa, como Marx, apenas o “ópio
mistério que transcende o mundo, fascina e produz uma nova do povo”, quer dizer, uma droga que alucina e impede as
energia na vida de quem com ele depara. Ao objeto transcen- pessoas de enxergar a realidade. Por sua vez, Winnicott
dente que se apresenta à experiência religiosa, Otto denominou compreende como algo positivo e autenticamente huma-
“Sagrado” ou “Numinoso”, de modo que, embora pareça uma no aquilo que Freud considerava doentio: a capacidade de
tautologia ( p. 101), resulta filosoficamente legítimo dizer que recriar o sentido da realidade sem se concentrar apenas no
“a experiência religiosa é uma experiência do Sagrado”. que parece “natural” e “objetivo”. A fim de apontar para os
debates no interior da tradição marxista e psicanalítica, se-
2. Debate público guem quatro textos para serem lidos em paralelo. Os colegas
O objetivo central desta proposta de debate é chamar a professores podem servir-se deles tanto para seu aprofun-
atenção para o fato de que o núcleo autêntico das religiões damento pessoal como para uma atividade complementar
é sempre a sua visão do ser transcendente, divino. É com com os estudantes:
O fundamento da crítica irreligiosa é este: é o ser hu- Seria querer dar um salto impossível pretender que o elemento
mano que inventa a religião; não é a religião que faz o ser religioso como tal possa e deva apagar-se na sociedade moderna
humano. A religião é, a bem da verdade, a consciência de ou fechar-se nos limites da opinião privada. Com efeito, como
si e o sentimento de si típicos de quem ainda não se con- admitir isso sem perder precisamente a noção de sua dimensão
quistou ou que se perdeu novamente. Mas “ser humano”, simbólica, de uma dimensão constitutiva das relações do ser
aqui, não é uma essência abstrata, fixada fora do mundo. humano com o mundo? [...] O que ela [a Filosofia] descobre
O ser humano é seu mundo, o Estado, a Sociedade. Esse na religião é um modo de figuração, de dramatização das re-
Estado e essa Sociedade produzem a religião, uma cons- lações que os humanos estabelecem com aquilo que vai além
ciência invertida do mundo; afinal, o próprio Estado e a do tempo empírico, o espaço no qual se amarram seus próprios
própria Sociedade são um mundo invertido. [...] A religião vínculos. Esse trabalho da imaginação põe em cena outro tem-
é a realização imaginária da essência humana, porque a po e outro espaço. Não faria sentido querer reduzi-lo a apenas
essência humana não possui realidade verdadeira. A luta um produto da atividade humana. [...] A filosofia moderna não
contra a religião é, portanto, imediatamente, a luta contra pode ignorar o que ela deve à religião; ela não pode manter-se à
esse mundo cujo perfume espiritual é a religião. A miséria distância do trabalho da imaginação, querendo submetê-la a si
religiosa é, pois, ao mesmo tempo, a expressão da miséria mesma como um puro objeto de conhecimento. [...] Apesar de
real e o protesto contra essa miséria. A religião é o suspiro sua pretensão ao Saber absoluto, a substituição do conceito pela
da criatura oprimida, a alma de um mundo sem coração, imagem deixa intacta para o filósofo a experiência de uma alte-
do mesmo modo que ela é o espírito de um estado de coisas ridade na linguagem, aquela de um desdobramento entre uma
desprovido de espírito. A religião é o ópio do povo. Abolir criação e um desvelamento, entre a atividade e a passividade,
a felicidade ilusória do povo oferecida pela religião é o re- entre a expressão e a impressão do sentido. Talvez toquemos,
quisito para sua felicidade real. por essas últimas observações, na razão mais secreta da ligação
do filósofo ao dado religioso. Por mais fundamentada que seja a
MARX, K. Critique de La Philosophie du Droit de Hegel. reivindicação de seu direito a pensar, retirando-o de debaixo de
Tradução E. Kouvélakis. Paris: Ellipses, 2000. p. 7-8. (Crítica da toda autoridade instituída, ele não somente tem a ideia de que
Filosofia do Direito de Hegel. Tradução nossa para o português.) uma sociedade que esquecesse seu fundamento religioso vive-
ria na ilusão de uma pura imanência a si mesma e apagaria, ao
mesmo tempo, o lugar da Filosofia, mas também pressente que
a Filosofia está ligada à religião por uma aventura da qual ela, a
Filosofia, não possui o segredo.
As ideias religiosas que se apresentam como dogmas não são As memórias são construídas a partir de inúmeras impressões
um resíduo da experiência ou o resultado final da reflexão: elas sensoriais, associadas à atividade da amamentação e ao encontro
são ilusões, a realização dos desejos mais antigos, os mais fortes, do objeto. No decorrer do tempo surge um estado no qual o bebê
os mais prementes da humanidade; o segredo de sua força é a sente confiança em que o objeto do desejo pode ser encontrado;
força desses desejos. Nós já o sabíamos: a impressão aterrorizante isso significa que o bebê gradualmente passa a tolerar a ausência
da impotência infantil tinha despertado a necessidade de ser do objeto. Dessa forma, inicia-se no bebê a concepção da reali-
protegido – protegido sendo amado –, necessidade à qual o pai dade externa, um lugar de onde os objetos aparecem e no qual
deveria satisfazer. O reconhecimento de que essa impotência eles desaparecem. Podemos dizer que o bebê, por meio da magia
dura toda a vida fez com que o ser humano se agarrasse a um do desejo, tem a ilusão de possuir uma força criativa mágica; e a
pai, mas, dessa vez, um pai mais potente. A angústia humana onipotência existe como um fato, através da sensível adaptação da
em face dos perigos da vida apazigua-se com o pensamento do mãe. O reconhecimento gradual que o bebê faz da ausência de
reino benfeitor da Providência divina; a instauração de uma um controle mágico sobre a realidade externa tem como base a
ordem moral do Universo assegura a realização das exigências onipotência inicial transformada em fato pela técnica adaptativa
de justiça, tão frequentemente irrealizadas nas civilizações da mãe. No dia a dia da vida do bebê, podemos observar como
humanas; e o prolongamento da existência terrestre por uma ele explora esse terceiro mundo, um mundo ilusório que nem é
vida futura enriquece o quadro do tempo e o lugar onde esses sua realidade interna, nem é um fato externo, e que toleramos
desejos serão realizados. [...] É um formidável alívio para a alma num bebê, ainda que não o façamos com adultos ou mesmo com
humana ver os conflitos da infância emanados do complexo crianças mais velhas. Vemos o bebê chupando os dedos [...] ou
paterno – conflitos jamais inteiramente resolvidos – serem ti- agarrando um pano [...] prologando a onipotência originalmente
rados daí e receberem uma solução aceita por todos. satisfeita pela adaptação realizada pela mãe. Considerei útil de-
nominar “transicionais” os objetos e fenômenos que pertencem
FREUD, S. L’avenir d’une illusion. Tradução Marie Bonaparte. a esse tipo de experiências. [...] Como são importantes, então,
Paris: PUF, 2002. p. 43. (O futuro de uma ilusão. Tradução nossa.) esses primeiros objetos e técnicas transicionais! Sua importância
se reflete em sua persistência, uma persistência feroz por anos a
fio. A partir desses fenômenos transicionais, desenvolve-se grande
parte daquilo que costumamos admitir e valorizar de várias ma-
neiras sob o título de religião e arte [...]. Entre o subjetivo e aquilo
que é objetivamente percebido, existe uma terra de ninguém,
que na infância é natural e que é por nós esperada e aceita. [...]
Na religião e nas artes vemos essa reivindicação socializada, de
modo que o indivíduo não é chamado de louco e pode usufruir,
no exercício da religião ou na prática e apreciação das artes, do
descanso necessário aos seres humanos em sua eterna tarefa de
discriminar entre os fatos e a fantasia.
Capítulo 14 O conhecimento
OBJETIVO
Apresentar algumas das mais influentes concepções filosó- novas possibilidades conceituais, centradas na linguagem,
ficas do conhecimento, por meio de uma dupla possibilidade mais do que em faculdades do sujeito cognoscente (como
de compreensão: o conhecimento é uma representação da fez a maioria dos filósofos modernos, se não a totalidade
realidade; o conhecimento é uma relação com a realidade. deles). Apesar disso, no entanto, é um dado inegável que
Com base nesse debate, visa-se apresentar também o modo a filosofia wittgensteiniana suscitou diferentes epistemolo-
como hoje os diferentes tipos de conhecimento da reali- gias, as quais, mesmo sendo “linguísticas”, não deixam de
dade são divididos, de modo geral, em ciências naturais e ser epistemologias. Por essa razão, o presente livro toma a
ciências humanas. liberdade de introduzir elementos da filosofia da linguagem
de Wittgenstein no capítulo sobre o conhecimento, embora
CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS seja conveniente deixar claro que essa apropriação não pode
O capítulo adota um par de concepções que, apesar de sugerir um compromisso de Wittgenstein com a afirmação
bastante amplas, permitem apresentar algumas das mais de alguma estrutura subjetiva humana. A esse respeito,
influentes posições filosóficas a respeito do conhecimento: os colegas professores lerão com enorme proveito o livro
a ideia de representação da realidade e a ideia de relação Wittgenstein: o eu e sua gramática, de Sílvia Faustino de
direta com a realidade e na presença dela (por meio daquilo Assis Saes, e os capítulos “Epistemologia”, “Filosofia da lin-
que, de modo mais geral, se chama de consciência). Nesse guagem” e “Wittgenstein”, do livro Compêndio de Filosofia,
sentido, o capítulo se inicia por uma breve apresentação do organizado por Nicholas Bunnin e E. P. Tsui-James (2002).
racionalismo, do empirismo e da filosofia crítica de Kant, Também por contraposição à ideia de representação (na ver-
extraindo deles a ideia de representação. Obviamente, essa dade, à concepção de conhecimento como elaboração do sujei-
ideia não aparece do mesmo modo nas três filosofias e talvez to), o capítulo passa a uma apresentação geral de duas maneiras
nem fosse adequado dizer que ela se aplica a autores como de entender o conhecimento como uma relação estabelecida
Descartes e Hume. A esse respeito, os colegas professores entre quem conhece (o sujeito) e aquilo que é conhecido (o
são convidados a nuançar o estudo, percebendo que o que objeto). Basicamente se apresenta a posição da fenomenologia
interessa não é o conceito técnico de representação, mas a de Edmund Husserl e o modo como a consciência deixa de ser
compreensão geral do conhecimento como algo que se pro- descrita como uma operação ou uma “capacidade” do sujeito,
duz no sujeito ou no indivíduo que conhece. para ser entendida como a relação estabelecida no presente do
Na sequência, o capítulo apresenta, por um lado, o estudo encontro entre o sujeito e aquilo que é conhecido (“externo”
crítico da ideia de representação, tal como operado desde a ou “interno” ao sujeito). Aqui também os colegas professores
Antiguidade pela postura cética; e, por outro, o deslocamento são convidados a redobrar a atenção, a fim de não sugerir que o
do tema da relação com a realidade, fazendo-o sair do regis- conhecimento, segundo Husserl, é dado “na presença” da coisa
tro de um conhecimento propriamente dito para o do uso conhecida, pois o que opera desse modo é o que se pode chamar
da linguagem, tal como operado por Ludwig Wittgenstein. de consciência ou o fluxo da consciência. O conhecimento,
Para esse aspecto, os colegas professores são convidados a propriamente falando, se dá na investigação que o sujeito opera
redobrar a atenção, pois, de acordo com os especialistas, não sobre o objeto que ele “contém” (não como representação, mas
é uma tarefa simples inserir a filosofia de Wittgenstein em como objeto intencional).
uma “teoria do conhecimento”. Para alguns, é até mesmo Esse cuidado metodológico permite que se introduza
impossível. Com efeito, o filósofo austríaco buscava explorar um breve estudo sobre as semelhanças entre o pensamento
Racionalismo
Representação
e Exame crítico
Empirismo
realidade (Cetismo)
Filosofia Transcendental
Fenomenologia
Consciência e realidade
Tradição medieval
O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas BERGSON, H. Le rire. Paris: PUF, 1997. p. 115. (O riso.
sombras. Nunca é imediato e pleno. As revelações do real são Tradução nossa.)
recorrentes. O real nunca é “o que se poderia achar”, mas é
sempre “o que se deveria ter pensado”. O pensamento empírico
torna-se claro depois, quando o conjunto de argumentos fica
estabelecido. Ao retomar um passado cheio de erros, encon- SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
tra-se a verdade num autêntico arrependimento intelectual. ALFIERI, F. Pessoa humana e singularidade em Edith Stein.
No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento Tradução Clio Francesca Tricarico. São Paulo: Perspectiva, 2014.
anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, supe- ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O
rando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização. método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa
A ideia de partir do zero para fundamentar e aumentar o e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1999.
próprio acervo só pode vingar em culturas de simples justa- BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Tradução
posição, em que um fato conhecido é imediatamente uma Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
riqueza. Mas, diante do mistério do real, a alma não pode,
por decreto, tornar-se ingênua. É impossível anular, de um BERGSON, H. O riso. Tradução Ivone C. Benedetti. São
só golpe, todos os conhecimentos habituais. Diante do real, Paulo: Martins Fontes, 2004.
aquilo que cremos saber com clareza ofusca o que devería- BUNNIN, N.; TSUI-JAMES, E. P. (Orgs.). Compêndio de
mos saber. Quando o espírito se apresenta à cultura científica, Filosofia. Tradução Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Loyola,
nunca é jovem. Aliás, é bem velho, porque tem a idade de seus 2002.
preconceitos. Aceder à ciência é rejuvenescer espiritualmen- BURKE, P. Uma história social do conhecimento. Tradução
te, é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado. Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Zahar, 2002. 2 v.
DE MURALT, A. Metafísica do fenômeno: as origens medie-
BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Tradução Estela vais e a elaboração do pensamento fenomenológico. Tradução
dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. p. 17-18. Paula Martins. São Paulo: Editora 34, 1998.
FAUSTINO, S. Wittgenstein: o eu e sua gramática. São Paulo:
De acordo com Henri Bergson, nem todos somos artistas;
Ática, 1995.
e nosso conhecimento é, em geral, menos profundo do que o
conhecimento dos artistas, pois quem não é artista está acostu- HABERMAS, J. Conhecimento e interesse. Tradução Luiz
mado a perceber somente aquilo que é necessário para viver, Repa. São Paulo: Unesp, 2014.
estabelecendo um intermediário entre si mesmo e a realida- RIBEIRO DE MOURA, C. A. Crítica da razão na fenomeno-
de: o intermediário do interesse. Dessa perspectiva, é possível logia. São Paulo: Edusp/Nova Stella, 1989.
O objetivo da Unidade 3 é oferecer alguns dados his- dá sentido à própria existência. Além disso, do ponto de
tóricos e historiográficos atualizados que permitam obter vista da classificação marxista, o Japão continuou com o
uma visão de conjunto da História da Filosofia, de acordo modo de produção feudal até praticamente o século XIX,
com a divisão tradicional da História nos períodos Antigo, o que dificultaria chamá-lo de “medieval” ou afirmar que
Medieval, Renascentista, Moderno e Contemporâneo, a Idade Média continuou até o século XIX. Porém, como
sem subscrever propriamente essa divisão e sem sugerir a maioria dos livros de História e de História da Filosofia
a ideia de que as concepções filosóficas possuem desen- adotam a classificação tradicional nos períodos Antigo,
volvimento linear. Medieval, Renascentista, Moderno e Contemporâneo, este
Com efeito, no tocante à divisão tradicional dos períodos livro, alertando para a fragilidade dessas etiquetas metodo-
históricos, ela não é a única maneira de dividir a História da lógicas, também adota tal classificação, com o objetivo de
Humanidade, nem certamente hoje a mais indicada. Basta simplesmente facilitar a comunicação.
pensar, por exemplo, que a palavra moderna, em nosso vo- No que toca ao tratamento histórico dos temas filosó-
cabulário cotidiano, faz pensar no período em que vivemos; ficos e à suposição de que eles possuem desenvolvimento
nós nos consideramos modernos, não antigos nem medie- linear, vários aspectos merecem ser ressaltados. Um deles
vais... Além disso, só em contextos mais “técnicos” fala-se consiste no que Henri Bergson (2006), na Introdução da
de Contemporaneidade. Mas, na escrita historiográfica, a obra O pensamento e o movente, chamou de “efeito retroa-
palavra moderna refere-se aos séculos XVI-XVIII, pois essa tivo da afirmação do verdadeiro” ou “movimento retroativo
divisão foi criada no século XVIII, quando aqueles que a do verdadeiro”: dito de modo simplificado e bastante geral,
propuseram consideravam-se precisamente modernos. trata-se da atitude dos filósofos ou filósofas que, ao produzir
Posteriormente, para marcar a diferença entre o nosso período sua filosofia, muitas vezes “constroem” a tradição com a
e o período dos séculos XV-XVIII ou XVI-XVIII, criou-se a qual querem pôr-se em continuidade ou com a qual querem
expressão história contemporânea ou Contemporaneidade, romper. Numa palavra, os filósofos costumam “projetar”
quer dizer, o momento histórico do nosso tempo. Esse é só sua visão filosófica para o passado, seja para identificá-la
um exemplo de dificuldade. Outro poderia ser o seguinte: em autores que os precederam, seja para dizer que sua vi-
como falar de História Antiga e de História Medieval para são é original e sem precedentes. Ocorre, porém, que essa
o mundo todo, se não houve propriamente nem período “licença filosófica” (ao modo de uma licença poética) não
antigo nem Idade Média nos continentes não europeus? permite afirmar que aquilo que é identificado ou negado
Diante de dificuldades como essas surgiram outras pro- no passado realmente existiu ou não existiu. As projeções
postas de dividir os períodos históricos, como o trabalho se devem ao modo como os filósofos interpretam o passado
marxista, que classifica os modos de vida dos diferentes e, nesse sentido, são perfeitamente legítimas. Cabe, porém,
grupos sociais tomando por base a maneira como eles pro- a quem estuda a História da Filosofia, sobretudo com os
duzem sua subsistência, o seu modo de produção. Essa recursos mais atualizados e que estão à disposição de todos
classificação permite identificar sociedades muito diferentes no momento presente, distinguir o que, de fato, correspon-
coexistindo ao mesmo tempo e, muitas vezes, no mesmo de ao passado e o que é projeção sobre o passado. Alguns
espaço: há grupos que praticam o que os marxistas chamam exemplos são bastante conhecidos: nem tudo o que Tomás
de modo de produção comunitário (produção em conjunto, de Aquino encontra nos textos de Aristóteles corresponde
divisão comum dos bens produzidos etc.), enquanto outras ao que o Estagirita realmente pensou e escreveu; Hegel diz
vivem no modo de produção capitalista (industrialização, que Heráclito é o criador da dialética, mas hoje se sabe que
mercado, mundo financeiro etc.). Considerando essas a dialética de Heráclito é bastante diferente da dialética
diferenças, o que significaria dizer que essas sociedades hegeliana; Nietzsche identifica uma oposição entre o es-
são “contemporâneas”? Só significa que estão no mesmo pírito apolíneo e o espírito dionisíaco em Platão, mas hoje
tempo cronológico (que, no fundo, tem um forte compo- se sabe que Platão não os opôs; Wittgenstein pretendeu
nente de convenção). Às vezes, essas sociedades não têm edificar sua filosofia da linguagem sobre a recusa do mo-
nada em comum quanto ao estilo de vida. Obviamente, delo representacionista de Agostinho de Hipona, embora
uma comparação entre elas não permite dizer que uma hoje se saiba que há claros elementos de intersubjetividade
é melhor ou pior do que a outra, pois tudo depende de na concepção agostiniana da linguagem; Deleuze afirma
como cada sociedade é estruturada e de como cada grupo que sua concepção da diferença já estava em Duns Escoto,
formação e compromisso. Trans/Form/Ação, v. 25, VIEIRA PINTO, A. Consciência e realidade nacional. Rio
n. 1, p. 7-18, 2012. Disponível em: <http://www2. de Janeiro: ISEB, 1962.
marilia.unesp.br/revistas/index.php/transformacao/ VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais. São
article/view/820/733>. Acesso em: 15 abr. 2016. Paulo: Cosac Naify, 2015.
AGOSTINHO DE HIPONA. A vida feliz. Tradução Nair A. Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998.
ALMEIDA, J. M. (Org.). Subjetividade, Filosofia e Cultura. São Paulo: Liber Ars, 2011.
ARANTES, P. E. et al. A filosofia e seu ensino. 2. ed. São Paulo: Vozes/Educ, 1995.
ARENDT, H. Entre o passado e futuro. Tradução Mauro W. Barbosa de Almeida. São Paulo:
Perspectiva, 1972.
AZAR FILHO, C. M.; CUNHA RIBEIRO, L. A. Para que Filosofia? Um guia de leitura para
o Ensino Médio. Rio de Janeiro: Nau, 2014.
BACHELARD, G. A formação do espírito científico. Tradução Estela dos Santos Abreu. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1996.
BERGSON, H. O pensamento e o movente. Tradução Bento Prado Neto. São Paulo: Martins
Fontes, 2006. cap. 1. Introdução, Primeira parte.
BERGSON, H. O riso. Tradução Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BERGSON, H. O riso. Tradução Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
1
Para os casos de material disponibilizado na Internet, os respectivos links são indicados na página em
que se dá sua referência neste Manual do Professor.
BOFF, C. O livro do sentido: crise e busca de sentido hoje. São Paulo: Paulus, 2015. Parte
crítico-analítica.
BURKE, P. Uma história social do conhecimento. Tradução Denise Bottmann. Rio de Janeiro:
Zahar, 2002. 2 v.
CERLETTI, A. O ensino de filosofia como problema filosófico. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
CARVALHO, M.; SANTOS, M. Debate com Marilena Chaui, João Carlos Salles e Marcelo
Guimarães. In: CARVALHO, M.; DANELON, M. Filosofia: Ensino Médio. Brasília: MEC/
Secretaria de Educação Básica. p. 13-44. (Coleção Explorando o Ensino). v. 14. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=7837-2011-
filosofia-capa-pdf&category_slug=abril-2011-pdf&Itemid=30192>. Acesso em: 15 abr. 2016.
COLLINGWOOD, R. G. Toute histoire est histoire d’une pensée. Paris: EPEL, 2010. Tradução
de: An Autobiography.
CONTO chinês anônimo. In: PIQUEMAL, M. Les philo-fables. Paris: Albin Michel, 2008.
p. 45-47.
DEBRAY, R. Manifestos midiológicos. Tradução João de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes, 1999.
DELEUZE, G. A lógica do sentido. Tradução Luiz Roberto Salinas Fortes. São Paulo:
Perspectiva, 2015.
DORTIER, J.-F. La perception, une lecture du monde. Revue des Sciences Humaines, n. 7,
p. 22, 2007.
DUARTE, R. Varia aesthetica: ensaios sobre arte e sociedade. Belo Horizonte: Relicário, 2014.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. Tradução Paulo Neves. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
DUSSEL, E. Filosofia da libertação. Tradução Georges I. Massiat. São Paulo: Paulus, 1995.
ESPINOSA, B. Tratado político. Tradução Diogo Pires Aurélio. São Paulo: Martins Fontes,
2009.
FILOSOFIA e verdade. Direção Jean Flechet. França, 1965. Documentário. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=bmWhgV6RAVU>. Acesso em: 12 abr. 2016.
FREUD, S. L’avenir d’une illusion. Tradução Marie Bonaparte. Paris: PUF, 2002.
FREUD, S. O mal-estar na cultura. Tradução Renato Zwick. Porto Alegre: L&PM, 2010.
GADAMER, H.-G. Verdade e método. Tradução Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 1999.
GALLO, S. Metodologia do ensino de filosofia: uma didática para o ensino médio. Campinas,
SP: Papirus, 2012.
GRANGER, G.-G. Filosofia, linguagem, ciência. Tradução Ivo Storniolo. Aparecida: Ideias
e Letras, 2013.
GREGÓRIO DE NISSA. A criação do homem & A alma e a ressurreição & A grande cate-
quese. Tradução Bento Silva Santos. São Paulo: Paulus, 2011.
GRONDIN, J. Que saber sobre filosofia da religião? Tradução Lucia M. E. Orth. Aparecida:
Ideias e Letras, 2012.
GUIMARÃES ROSA, J. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
HAACK, S. Filosofia das Lógicas. Tradução Cezar A. Mortari e Luiz Henrique A. Dutra.
São Paulo: UNESP, 2002.
HABERMAS, J. Conhecimento e interesse. Tradução Luiz Repa. São Paulo: Unesp, 2014.
HELLOT, E. O homem: a vida, a ciência e a arte. Tradução Roberto Mallet. São Paulo:
Ecclesiae, 2015.
HINTIKKA, J. Gaps in the Great Chain of Being: An Exercise in the Methodology of the
History of Ideas. Proceedings and Addresses of the American Philosophical Association, v. 49,
p. 22-38, 1975-1976.
JOAS, H. A sacralidade da pessoa. Tradução Nélio Schneider. São Paulo: Ed. da Unesp, 2012.
JORNALISMO e ética. São Paulo: TV Cultura, 2011. Reportagem. Disponível em: <http://
tvcultura.com.br/videos/132_jornalismo-e-etica-vitrine-06-09-2011.html>. Acesso em: 18
abr. 2016.
JUSTINO DE ROMA. I e II Apologias & Diálogo com Trifão. Tradução Ivo Storniolo. São
Paulo: Paulus, 2009.
JUSTINO DE ROMA. Dialogue avec Tryphon 7,2 – 8,3. Tradução Philippe Bobichon.
Friburgo: Academic Press, 2003.
KNUUTTILA, S. Time and Modality in Scholasticism. In: (Ed.). Reforging the Great
Chain of Being. Studies of the History of Modal Theories. Londres: Reidel, 1981. p. 163ss.
KOHAN, W. (Org.). Filosofia: caminhos para seu ensino. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.
LACOSTE, J.-Y. A filosofia da arte. Tradução Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.
LEBRUN, G. Por que filósofo? Estudos Cebrap, v. 15, p. 148-153, 1976. Disponível em:
<http://www.cebrap.org.br/v2/files/upload/biblioteca_virtual/por_que_filosofo.pdf>. Acesso
em: 15 abr. 2016.
LENOIR, F. Sobre a felicidade: uma viagem filosófica. Tradução André Fontenelle. São
Paulo: Objetiva, 2016.
LEOPOLDO E SILVA, F. Bergson: intuição e discurso filosófico. São Paulo: Loyola, 1993.
LE PENVEN, F. Marcel Duchamp dans les collections du Musée National d’Art Moderne.
Paris: Centre Georges Pompidou, 2001. p. 62-65.
LEOPOLDO E SILVA, F. Por que filosofia no Segundo Grau. Estudos Avançados, São
Paulo, v. 6, n. 14, 1992. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0103-40141992000100010>. Acesso em: 12 abr. 2016.
LES INROCKUPTIBLES. Paris, 12 abr. 2014. Entrevista concedida por Georges Didi-
Huberman. Disponível em: <http://www.lesinrocks.com/2014/02/12/arts-scenes/tout-est-la
-rien-nest-cache-11472282/>. Acesso em: 10 out. 2015.
LIMA VAZ, H. C. Consciência e História. In: . Ontologia e História. São Paulo: Loyola,
2001. p. 219-230.
LIMA VAZ, H. C. Consciência e realidade nacional [Sobre o livro de Álvaro Vieira Pinto].
Síntese, Belo Horizonte, v. 4, p. 92-109, 1962. Disponível em: <http://faje.edu.br/periodicos2/
index.php/Sintese/article/view/3186/3266>. Acesso: 24 maio 2016.
LIMA VAZ, H. C. Escritos de Filosofia I: problemas de fronteira. São Paulo: Loyola, 1986.
LIMA VAZ, H. C. Itinerário da ontologia clássica. In: . Ontologia e História. São Paulo:
Loyola, 2001. p. 62-63.
LOVEJOY, A. A grande cadeia do ser. Tradução Aldo Fernando Barbieri. São Paulo: Palíndromo,
2005. Tradução de: The Great Chain of Being: A Study of the History of an Idea.
MARTINS, M. F.; REIS PEREIRA, A. (Orgs.). Filosofia e educação: ensaios sobre autores
clássicos. São Carlos: EdUFSCar, 2014.
MAY, S. Amor: uma história. Tradução Maria Luiza X. Borges. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
NOBRE, M.; TERRA, R. Ensinar Filosofia: uma conversa sobre aprender a aprender.
Campinas: Papirus, 2007.
PAVIANI, J. Éros, desejo e Bem em O Banquete de Platão. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2015.
PLATÃO. Sofista. In: . Diálogos. Tradução Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo:
Nova Cultural, 1984. p. 177-179 e 181 (números 254b-255e; 256d-e). (Coleção Os Pensadores).
POLANYI, M. A lógica da liberdade. Tradução Joubert O. Brizida. São Paulo: Topbooks, 2003.
PORTA, Mario. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Loyola, 2003.
PRADO JÚNIOR, B. Erro, ilusão e loucura. São Paulo: Editora 34, 2004.
PRADO JÚNIOR, B. Um convite à falsificação. Folha on line. 19 dez. 1999. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_2_2.htm>. Acesso em: 18 abr. 2016.
ROUSSEAU, J.-J. Emílio ou da Educação. Tradução Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.
SACHS, J. A Economia da Felicidade. Valor Econômico, São Paulo, 30 ago. 2011. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/opiniao/992070/economia-da-felicidade>. Acesso em: 14 maio 2015.
SAFATLE, V. O circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo e fim do indivíduo. Belo
Horizonte: Autêntica, 2016.
SAVIAN FILHO, J. Religião. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010. (Coleção Filosofias:
o prazer do pensar).
SAVIAN FILHO, J. Seria o sujeito uma criação medieval? Temas de arqueologia filosófica.
Trans/Form/Ação, v. 38, n. 2, p. 175-204, 2015. Disponível em: <http://www2.marilia.unesp.
br/revistas/index.php/transformacao/article/view/5239/3690>. Acesso em: 15 abr. 2016.
VIVEIROS DE CASTRO, E. Metafísicas canibais. São Paulo: Cosac & Naif, 2015.
WIZISLA, E. Benjamin e Brecht: história de uma amizade. Tradução Rogério Silva Assis.
São Paulo: Edusp, 2013.