Parecer Inconstitucionalidade MP 1068
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PCO/OAB
I. CONTEXTO FÁTICO
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Além disso, forçoso reconhecer que limitam a atuação das redes sociais na
prevenção e repressão aos atos de preconceito ou de discriminação praticados contra pessoas
integrantes de grupos sociais vulneráveis, uma vez que só autoriza a moderação de conteúdo
quando há incitação de atos de ameaça ou violência ou se enquadrem exclusivamente em
tipos penais de ação pública incondicionada, não abarcando o discurso de ódio de maneira
geral.
1
“Art. 8º-aB Em observância à liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, a exclusão,
o cancelamento ou a suspensão, total ou parcial, dos serviços e das funcionalidades da conta ou do perfil de
usuário de redes sociais somente poderá ser realizado com justa causa e motivação.
§ 1º Considera-se caracterizada a justa causa nas seguintes hipóteses:
I - inadimplemento do usuário;
II - contas criadas com o propósito de assumir ou simular identidade de terceiros para enganar o público,
ressalvados o direito ao uso de nome social e à pseudonímia e o explícito ânimo humorístico ou paródico;
III - contas preponderantemente geridas por qualquer programa de computador ou tecnologia para simular ou
substituir atividades humanas na distribuição de conteúdo em provedores;
IV - prática reiterada das condutas previstas no art. 8º-C;
V - contas que ofertem produtos ou serviços que violem patente, marca registrada, direito autoral ou outros
direitos de propriedade intelectual; ou
VI - cumprimento de determinação judicial.
§ 2º O usuário deverá ser notificado da exclusão, do cancelamento ou da suspensão, total ou parcial, dos serviços
e das funcionalidades da conta ou do perfil.
§ 3º A notificação de que trata o § 2º:
I - poderá ocorrer por meio eletrônico, de acordo com as regras de uso da rede social;
II - ocorrerá de forma prévia ou concomitante à exclusão, ao cancelamento ou à suspensão, total ou parcial, dos
serviços e das funcionalidades da conta ou do perfil; e
III - conterá a identificação da medida adotada, a motivação da decisão e as informações sobre prazos, canais
eletrônicos de comunicação e procedimentos para a contestação e a eventual revisão pelo provedor de redes
sociais.
§ 4º As medidas de que trata o caput também poderão ser adotadas a requerimento do próprio usuário, de seu
representante legal ou de seus herdeiros, ressalvadas as hipóteses de guarda obrigatória de registros previstas na
legislação." (NR)
"Art. 8º-C Em observância à liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, a exclusão, a
suspensão ou o bloqueio da divulgação de conteúdo gerado por usuário somente poderá ser realizado com justa
causa e motivação.
§ 1º Considera-se caracterizada a justa causa nas seguintes hipóteses:
I - quando o conteúdo publicado pelo usuário estiver em desacordo com o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de
julho de 1990;
II - quando a divulgação ou a reprodução configurar:
a) nudez ou representações explícitas ou implícitas de atos sexuais;
b) prática, apoio, promoção ou incitação de crimes contra a vida, pedofilia, terrorismo, tráfico ou quaisquer
outras infrações penais sujeitas à ação penal pública incondicionada;
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ii. Há flagrante violação aos artigos 1º, inciso IV, 170, caput e inciso IV, da
Constituição Federal, os quais asseguram a livre concorrência e a livre
iniciativa;
iii. Há violação dos artigos 1º, inciso IV, que traz como fundamento da
República a dignidade da pessoa humana, e artigo 3º. inciso IV, que traz
como objetivo fundamental promover o bem de todos sem quaisquer tipos
de preconceito ou moderação, ao limitar a moderação do discurso de ódio
restringindo apenas à possibilidade de moderação a violência ou ameaça ou
quando configurar crime sujeito a ação penal incondicionada;
iv. Há violação dos artigos 5º, incisos XIV (acesso à informação), XXIII
(função social da propriedade) quando impede que os provedores de redes
sociais possam agir espontaneamente para combater campanhas de
desinformações que comprometem a saúde pública e a ordem democrática;
v. E, por fim, violação ao artigo 5º, incisos IV, IX, XIV, ao art. 206, II, e ao
art. 220 e §§ 1º e 2º, todos da Constituição Federal, quando, à pretexto de
defender a liberdade de expressão nas redes sociais, a Medida Provisória
cria sanções a serem aplicadas pela administração pública federal, que
supervisionará a atividade de moderação sem transparência ,sem debate
público ou previsão de qualquer forma de controle social podendo as
sanções previstas serem aplicadas dando toda a margem para arbitrariedade
uma vez que o texto prevê a aplicação de sanções “pela autoridade
administrativa, no âmbito de suas competências, isolada ou
cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou
incidente de procedimento administrativo.” Nota-se que as sanções são
gravíssimas, chegando à proibição do exercício das atividades. O efeito
de tal medida é o controle da moderação do conteúdo pela administração
pública federal, uma vez que as sanções do diploma legal foram construídas
de modo a limitar os provedores a adotarem a visão do órgão sancionador,
para sua segurança jurídica, caracterizando controle prévio e apriorístico do
debate público nas redes sociais (2).
2. Art. 28-A. Sem prejuízo das demais sanções cíveis, criminais ou administrativas, as infrações às normas
previstas nos art. 8º-A, art. 8º-B, art. 8º-C, art. 10 e art. 11 ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções:
I - advertência, com indicação de prazo para adoção de medidas corretivas;
4
II - multa de até dez por cento do faturamento do grupo econômico no País em seu último exercício, excluídos os
tributos, considerados a condição econômica do infrator e o princípio da proporcionalidade entre a gravidade da
falta e a intensidade da sanção;
III - multa diária, observado o limite total a que se refere o inciso II;
IV - suspensão temporária das atividades que envolvam os atos previstos no art. 11; ou
V - proibição de exercício das atividades que envolvam os atos previstos no art. 11.
§ 1º Na hipótese de empresa estrangeira, responde solidariamente pelo pagamento da multa de que trata ocaputa
filial, a sucursal, o escritório ou o estabelecimento situado no País.
§ 2º As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de suas
competências, isolada ou cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de
procedimento administrativo.
§ 3º As sanções previstas neste artigo serão aplicadas de forma proporcional, de acordo com as peculiaridades do
caso concreto, e dependerão de procedimento administrativo, assegurados a ampla defesa e o contraditório."
(NR)
Com efeito, a redação das regras e diretrizes que regem o uso dos provedores
de redes sociais – pessoas jurídicas de direito privado – e a vinculação de seus usuários a elas
compreendem contratos e, portanto, devem ser regulados pela autonomia da vontade e pela
liberdade contratual, amparadas pela Constituição Federal como resultado da livre
iniciativa, fundamento da ordem econômica e da própria República.
Essa escolha do Marco Civil garante um ciclo virtuoso em que a livre iniciativa
e a livre concorrência favorecem a competição entre as plataformas, inclusive no que se refere
à moderação de conteúdos, permitindo maior poder de escolha aos consumidores. Estes
tenderão a optar por plataformas que propiciem um ambiente adequado aos seus interesses e
perfil, o que, portanto, favorecerá a pluralidade, a diversidade do discurso público e as
liberdades de expressão e informação.
3
É o caso do anteprojeto de lei de iniciativa do Senado Federal, que pretende (i) definir o que deva ser
considerado fake news, (ii) alterar o Código Penal para tipificar a conduta de divulgação ou compartilhamento de
fake news como crime; e (ii) alterar o Marco Civil da Internet para prever a obrigação de remoção, pelas
plataformas online e pelas redes sociais, de conteúdo que pode caracterizar fake news, mediante mera notificação
de qualquer interessado e sem qualquer valoração de sua ilicitude pelo Poder Judiciário.
6
As medidas provisórias são atos normativos que têm caráter e força de lei.
Por força do artigo 62 da Constituição Federal, o Presidente da República pode, em situações
de relevância e urgência, editar medidas provisórias, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional: “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar
medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.”
4
V., e.g., Edilson Pereira Nobre Júnior, Medidas provisórias, 2000, p. 201; Clèmerson Merlin Cléve, Atividade
legislativa do Poder Executivo, 2011, p. 182.
5
Alexandre de Moraes, Direito constitucional, 2020, p. 750. Como apontou Paulo de Barros Carvalho, em obra
anterior à EC nº 32/2001, “o expediente que o constituinte afastou das mãos do Presidente da República, por
meio de lei delegada, forma legítima e tradicional de manifestação do Poder Legislativo, certamente que não o
entregaria para que fosse utilizado por intermédio de medida provisória” (Paulo de Barros Carvalho, Medidas
provisórias, Revista de Direito Administrativo e Infraestrutura 4 (12):385-392, 2020. Disponível em:
https://rdai.com.br/index.php/rdai/article/view/270. Acesso em: 27 ago. 2021).
8
6
ADI nº 2213-MC, Rel. Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, DJ 23/04/2004
10
Esses pressupostos, como bem observados pela I. Ministra CARMEN LÚCIA, não
são “conceitos vagos ou despojados de conteúdo comprovável em cada caso; antes, são
conceitos cuja precisão se põe como possível e imprescindível em cada situação na qual se
pretendam utilizá-los”.8
7
“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória
de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal”
8
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Medidas provisórias e princípio da separação de poderes. In: Direito
contemporâneo: estudos em homenagem a Oscar Dias Corrêa, p. 44-69. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2001. p. 62)
11
Urge salientar que a relevância é, pois, da situação social sobre a qual incidirá
o cuidado normativo trazido na medida provisória adotada. Não se
considerará jamais caso de relevância aquele que se traduza em interesses,
12
Somente para a sociedade deverá ser relevante o caso e é apenas em face dela e
para ela que será apurada a ocorrência objetiva de tal qualidade das circunstâncias
alegadas. Grupos particulares ou interesses, ainda que partidários, não se
enquadram na hipótese prevista constitucionalmente e definidora da competência
presidencial excepcional.
12. Mas não somente apenas o caso é que haverá de ser relevante para ser possível
a deflagração da competência normativa presidencial, como haverá de ser, ainda,
pesquisado quando um caso autoriza o seu exercício, para, então, se ter o quadro
dos pressupostos do desempenho válido e legítimo daquela atribuição.
9
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Medidas provisórias e princípio da separação de poderes. In: Direito
contemporâneo: estudos em homenagem a Oscar Dias Corrêa, p. 44-69. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2001. p. 58-60)
13
10
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 20ª edição. São Paulo-SP; Editora
Malheiros; 2006; p. 118.
14
11
E ainda: ADI 2.418, Relator Ministro Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe 17.11.2016; ARE 704.520, Relator
Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, DJe 2.12.2014; ADC 11-MC, Relator Ministro Cezar Peluso Tribunal
Pleno, DJe 29.6.2007; ADI 1.910-MC, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, DJ 27.2.2004; ADI
1.717-MC, Relator Ministro Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ 25.2.2000; ADI 1.647, Relator Ministro Carlos
Velloso, Tribunal Pleno, DJ 26.3.1999; ADI 1.753-MC, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno,
DJ 12.6.1998; ADI 162-MC, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, DJ 19.9.1997.
15
16
17
Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
(...)
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (...)”
.........................................................................................................................
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na
livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
IV - livre concorrência;
(...)
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade
econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei.
12
STF – Repercussão geral no RE 1.054.110/SP – Rel. Min. Luís Roberto Barroso - DJe 13.11.2017 – sem
ênfase no original (a ação tem por objeto o exame da constitucionalidade da proibição do serviço de transporte
individual remunerado de passageiros intermediado por aplicações de Internet).
18
13
Luís Roberto Barroso, Temas de direito constitucional, tomo II, 2 ed. rev., Rio de Janeiro: Renovar, 2009, p.
49/51.
14
Art. 2o A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão,
bem como: (...) V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; (...)”
19
Vale conferir, nesse sentido, trecho de voto do I. Ministro LUIZ FUX, no âmbito
da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 499/DF, proposta para
questionar lei municipal de Fortaleza que proibia o uso de carros particulares cadastrados ou
não em aplicativos para o transporte remunerado individual de pessoas no Município de
Fortaleza:
20
Logo, não há dúvida de que a Medida Provisória viola os artigos 1º, inciso IV e
170, inciso IV, da Constituição Federal.
21
“Cumpre considerar, neste ponto, até mesmo para efeito de exame da questão ora
em análise, a advertência de Ingo Wolfgang Sarlet (...): ‘uma opção por uma
eficácia direta traduz uma decisão política em prol de um constitucionalismo
da igualdade, objetivando a efetividade do sistema de direitos e garantias
fundamentais no âmbito do Estado Social de Direito, ao passo que a concepção
defensora de uma eficácia apenas indireta encontra- se atrelada ao
constitucionalismo de inspiração liberal-burguesa (...)
É por essa razão que a autonomia privada – que encontra claras limitações de
ordem jurídica – não pode ser exercida em detrimento aos direitos e garantias
de terceiros, especialmente aqueles positivados em sede constitucional, pois a
15 SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e relações privadas. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris,
2006.
22
O artigo 179, inciso IV, da Constituição de 1824 estabelecia que “Todos podem
comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos, e publica-los pela Imprensa, sem
dependência de censura; com tanto que hajam de responder pelos abusos, que cometerem no
exercício deste Direito, nos casos, e pela forma, que a Lei determinar”.
16
“Art. 5º. (...) IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) IX – é livre a
expressão da atividade intelectual, artística, científica ou de comunicação, independente de censura ou licença;
(...) XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao
exercício profissional; (...)”.
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação sob qualquer forma, processo ou
veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º Nenhuma lei conterá
23
dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de
comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. § 2ª É vedada toda e qualquer censura
de natureza política, ideológica e artística”.
17
citado por Alexandre de Moraes. Direito Constitucional – 23 ed. – São Paulo: Atlas, 2008, p. 45.
18
Konrad Hesse, Elementos de direito constitucional da República Federal da Alemanha, p. 305.
19
Robert A. Dahl, Sobre a democracia, p. 110.
24
20
Tatiana Stroppa. As dimensões constitucionais do direito de informação e o exercício da liberdade de
informação jornalística. Belo Horizonte: Fórum, 2010, p. 92.
21
José Afonso da Silva. Comentário Contextual à Constituição. 8 ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 112.
22
“Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão,
bem como: (...) V - a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e (...)”.
23
“Art. 3º A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios: I - garantia da liberdade de
expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal; (...) VIII - liberdade
dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios
estabelecidos nesta Lei”.
25
Em nenhum momento o Marco Civil determina que precise existir uma ordem
judicial para que um conteúdo seja removido da internet. O provedor apenas será obrigado a
remover um conteúdo caso, em regra, exista uma ordem judicial ordenando isso. Antes da
ordem judicial, cabe ao provedor, no exercício de sua autonomia privada e liberdade
contratual, gerir a sua plataforma e decidir se removerá ou não determinado conteúdo,
quando constatadas violações ao contrato pactuado entre as partes.
Nessa linha, é preciso não perder de vista que o freedom of speech (liberdade
de expressão), não obstante sua inegável relevância constitucional, precisa ser
conjugado com o right of privacy (direito à privacidade), expressão cunhada
por Samuel D. Warren e Louis Brandeis, em artigo veiculado na prestigiada
Revista de Direito da Harvard Law School, em 1890.
26
Com efeito, ao não permitir que as empresas de tecnologia possam por ato
próprio e no exercício de sua autonomia, proibir o discurso de ódio e/ou as denominadas “fake
news”, a Medida Provisória violenta o right privacy, vale dizer, coloca o cidadão na condição
vulnerável de poder sofrer ataques nas redes sociais e ter que aceitar essa violência sob o salfo
manto do “exercício regular da liberdade de expressão”, em flagrante desrespeito ao seu
direito à privacidade. Ocorre que, como já exposto, essa exacerbação do direito de
manifestação e da liberdade sem imposição de qualquer limite e ponderações, já foi superado
há algum tempo com o advento dos Estado de bem estar social, sendo aprimorado e
consagrado pelo Estado Democrático de Direito, a partir do surgimento da fraternidade como
um valor norteados dos direitos e garantias dos indivíduos e da coletividade.
24
SOUTO, João Carlos. Suprema Corte dos Estados Unidos - Principais Decisões. São Paulo: Atlas, 4ª
edição, 2021, p. 272/273.
27
Nesse sentido, o artigo 8-A, em seu parágrafo único, dispõe que: “É vedada
aos provedores de redes sociais a adoção de critérios de moderação ou de limitação do
alcance de conteúdo que impliquem censura de ordem política, ideológica, científica,
artística ou religiosa, observado o disposto nos art. 8-B e 8-C.”
25
ROBL FILHO, Ilton; SARLET, Ingo Wolfgang. Estado democrático de direito e os limites da liberdade de
expressão na constituição federal de 1988, com destaque para o problema da sua colisão com outros direitos
fundamentais, em especial, com os direitos de personalidade. Constituição, Economia e Desenvolvimento:
Revista da Academia Brasileira de Direito Constitucional. Curitiba, 2016, vol. 8, n. 14, Jan.-Jun. p. 112-142.
28
III. CONCLUSÃO
29
É o parecer, s.m.j.
Estela Aranha
Presidente da Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB-RJ
OAB-RJ 202221
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