Queixa Crime
Queixa Crime
Queixa Crime
Acórdão Nº 1370752
EMENTA
1.Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto contra r. decisão proferida pelo Juízo do 3º Juizado
Especial Criminal de Brasília – DF, a qual rejeitou a queixa-crime proposta com fundamento no artigo
395, inciso III, do CPP.
3. A interposição do Recurso em Sentido Estrito no âmbito dos juizados não inviabiliza seu recebimento
como Apelação, desde que satisfeitos os requisitos legais exigidos. As Turmas Recursais possuem
entendimento pacífico acerca da aplicação do princípio da fungibilidade, devendo o recurso ser recebido.
Nesse sentido: “PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO
INTENTADO NO PRAZO LEGAL EM DESFAVOR DE SENTENÇA DO JUIZADO ESPECIAL
CRIMINAL. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL. APLICABILIDADE.
RECEBIMENTO COMO APELAÇÃO. INJÚRIA REAL. AUSÊNCIA DE QUEIXA CRIME.
DECADÊNCIA. NÃO APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO ENTRE A
CONTRAVENÇÃO DE VIAS DE FATO (ART. 21 LCP) E O CRIME DE INJÚRIA REAL (ART.
140, § 2º, CPB). HONRA SUBJETIVA. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA CASSADA. 1. Preliminar de inadequação do
recurso intentado. Com fulcro no princípio da fungibilidade recursal, o Recurso em Sentido Estrito,
intentado dentro do prazo legal, deve ser recebido como Apelação Criminal. (...)4. PRELIMINAR DE
OFÍCIO REJEITADA. Recurso CONHECIDO e PROVIDO. SENTENÇA CASSADA.5. Sem
4. As pessoas que gozam de notoriedade pública, exerçam ou não cargos públicos, estão sujeitas à crítica
e censura pelos seus atos e manifestações, sem que disso resulte qualquer conduta antissocial prevista no
direito penal repressivo. Pela influência e repercussão de suas condutas e manifestações no meio social, é
indissociável que seu comportamento seja “julgado” pelo corpo social e pelos instrumentos de formação
de opinião com maior rigor ético-moral.
5. O art. 41 do CPP elenca os requisitos formais da denúncia ou da queixa. No entanto, ao lado de tais
elementos, para a instauração da ação penal é necessária a presença de justa causa, considerada por parte
da doutrina como uma das condições da ação penal. Ainda, para que haja a configuração do crime contra
a honra, no caso a difamação, necessário se faz o dolo de difamar, sendo elementar do tipo penal. Entende
o Superior Tribunal de Justiça: “Para a configuração dos crimes contra a honra, exige-se a demonstração
mínima do intento positivo e deliberado de ofender a honra alheia (dolo específico), o
denominado animus caluniandi, diffamandi vel injuriandi.”.
6. No caso dos autos, o querelado (integrante do atual governo federal) publicou mensagem em rede
social (Twitter), com os seguintes dizeres: “O corno é sempre o último a saber’, já diz o ditado popular.
Doria anunciou, hoje, que resolverá amanhã uma situação que já havia sido resolvida nos últimos dias,
graças à boa relação do Brasil com a China, conforme anunciado pelo Emb. @WanmingYang em carta ao
Ministro Pazuello”. Tal fato configura uma “crítica” ao apelante, de cunho meramente político, com
nítido animus jocandi, sendo incapaz de ferir a honra objetiva ou subjetiva do apelante, mormente porque
ausente o elemento subjetivo específico dos crimes contra a honra.
7. Isso porque o animus jocandi descaracteriza o elemento subjetivo do tipo, porque afasta a intenção ou
vontade de macular a honra alheia. E nesse sentido: E. Magalhães de Noronha, Direito Penal, Saraiva,
11ª. ed., 2º v. p. 114/115; Damásio E. de Jesus, Direito Penal, Saraiva, 9ª ed., 2º v. p. 224/225; Julio
Fabbrini Mirabeti, Manual de Direito Penal, Atlas, 7ª ed., 2º v. p. 140/141.
8. A esse respeito, confira-se julgado do c. STJ: "[...] 2. A denúncia deve estampar a existência de dolo
específico necessário à configuração dos crimes contra a honra, sob pena de faltar-lhe justa causa, sendo
que a mera intenção de caçoar (animus jocandi), de narrar (animus narrandi), de defender
(animus defendendi), de informar ou aconselhar (animus consulendi), de criticar (animus criticandi) ou de
corrigir (animus corrigendi) exclui o elemento subjetivo e, por conseguinte, afasta a tipicidade desses
crimes. 3. A denúncia em análise não traz consigo a demonstração do elemento volitivo ínsito à conduta
criminosa, ou seja, a inicial acusatória não evidencia a existência de dolo específico necessário à
configuração dos crimes contra a honra, razão pela qual resta ausente a justa causa para o prosseguimento
da persecução criminal."(HC 234.134/MT, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado
em 06/11/2012, DJe 16/11/2012).
11. Recurso julgado na forma do ART. 82, §5º, da Lei no. 9.099/95, servindo a súmula como acórdão.
12. Custas remanescentes pelo recorrente. Condenado o recorrente vencido ao pagamento de honorários
advocatícios em favor do patrono o recorrido, fixados em R$1.000,00, corrigidos pelo INPC e mais juros
de mora de 1% ao mês a contar do trânsito em julgado, porque não se atribuiu valor à causa, sendo o
arbitramento realizado na forma do arts. 5º e 6º da Lei 9.099/95.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Juízes da Segunda Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ARNALDO CORRÊA SILVA - Relator, ANA
CLAUDIA LOIOLA DE MORAIS MENDES - 1º Vogal e MARILIA DE AVILA E SILVA SAMPAIO -
2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Juiz ARNALDO CORRÊA SILVA, em proferir a seguinte
decisão: RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento
e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
VOTOS
DECISÃO