A Essência Da Iluminação - Introdução Ao Vedanta em 14 Lições (James Swartz)
A Essência Da Iluminação - Introdução Ao Vedanta em 14 Lições (James Swartz)
A Essência Da Iluminação - Introdução Ao Vedanta em 14 Lições (James Swartz)
EM 14 LIÇÕES
Tradução do livro de James Swartz: A Essência da
Iluminação
Sobre James: nascido em 1941 em Butte, Montana, EUA. James Swartz é um
autêntico professor de Vedanta . Ele foi aluno de Swami Chinmayananda, Swami Abhedananda
e Swami Dayananda, famosos professores de Vedanta. Em sua carreira de professor, em 40
anos, James atingiu milhares de estudantes em todo o mundo. Ele tem uma capacidade única
para explicar Vedanta em linguagem moderna e direta ao apresentar o ensino de forma
animada, bem-humorada e provocativa
.
D
AYANANDA
Isvara 2
paramatma 3
jagat 4
jiva
20
O que é Conhecimento?
No início do ensinamento precisamos definir uma terminologia precisa. Quando uso as
palavras, você deveria saber o que elas significam. Todo mundo concorda com o que se refere a
palavra árvore, mas nem todos concordam com que se refere a palavra Deus ou consciência.
Conhecimento é uma palavra que temos usado até agora sem uma definição adequada.
O conhecimento é algo que não pode ser negado, algo com o qual você sempre pode
contar. Informação não é conhecimento. Não é conhecimento saber que as ações da General
Motors valem $43 hoje. É apenas informação, porque amanhã podem estar $42. Você não pode
contar que seja $43 para sempre.
O conhecimento está além da experiência. Ele sempre supera a experiência. É
extremamente importante saber que você pode atuar na sua vida confiantemente, com base no
conhecimento, mas que sua confiança está sempre comprometida quando opera somente com
base no conhecimento obtido através de sua experiência. A experiência tem valor –a vida é
experiência, e a maioria de nós leva a vida baseando-se apenas na experiência. Baseamos nossas
ações na forma como nos sentimos e não no que sabemos. Não há uma lei contra isso, mas se
você quiser ser feliz, precisa saber que a experiência não é confiável. Quando você olha para o
diagrama abaixo, tem a experiência na qual as linhas horizontais têm diferentes comprimentos.
Mas se as medir, verá que elas são exatamente iguais. Conhecimento diz uma coisa, experiência
diz outra.
Consideramos nossa interpretação da experiência como conhecimento, mas não é. Se
você operar unicamente com base em seus sentimentos - medos e desejos - produzirá resultados
indesejados, porque a realidade - o mundo no qual a experiência ocorre - não se importa com
seus sentimentos. É uma matriz impessoal de objetos, forças, regras e seres conscientes, que se
comportam independentemente de você. Tendo o conhecimento como seu guia, você não
cometerá erros, porque não entrará em conflito com o que é. Por exemplo, a intuição é um
sentimento particularmente valorizado entre indivíduos espirituais, mas não é confiável. Você
pode ter um insight ou uma intuição correta sobre uma pessoa ou situação em particular num
momento e ver que esse insight é contraditório com outra intuição que surge mais tarde.
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Quando eles enviam uma sonda espacial pra Saturno, o planeta pode estar no oeste, mas
eles a enviam para o leste. A experiência nos diz para enviar para o oeste, mas o conhecimento
diz leste. Depois de um tempo, o foguete circula em volta do campo gravitacional de Marte
aumentando sua velocidade e então dispara na direção leste, mesmo que nesse momento Saturno
esteja no norte. A nave se mantém em seu curso enquanto os planetas continuamente mudam de
posição, mas anos depois ela eventualmente entrará na atmosfera de Saturno! Com a experiência
como guia, ela nunca chegaria lá. Não é maravilhoso que, depois de anos, um pequeno pedaço de
metal enviado de um planeta a milhões de quilômetros de distância possa de repente começar a
orbitar um objeto em contínuo movimento e obter informações? Somente o conhecimento torna
isso possível. Informações, crenças, opiniões, sentimentos - todas as condições humanas - não
são confiáveis.
Vivemos em um cosmos feito de conhecimento. Uma árvore é conhecimento, um
cachorro é conhecimento, os elementos são conhecimento e os seres humanos são apenas
conhecimento, programado para funcionar de determinada maneira, servindo aos interesses do
todo. É vital para nossa felicidade que entendamos a natureza da realidade. Você pode contar
com o Vedanta. Ele é tão bom hoje quanto foi três mil anos atrás, porque é embasado no
conhecimento. Assim como ocorre com os olhos, que fazem sempre o que foram programados
para fazer. Não há necessidade de um novo olho. E se um olho novo, melhorado for necessário, a
consciência universal irá desenvolvê-lo ao longo de milhões de anos. Da mesma maneira, não há
sentido em inventar um novo ensinamento para pessoas “modernas”, porque somos o que sempre
temos sido e o meio de conhecimento que tem liberado indivíduos por milhares de anos é
perfeito.
Como o Vedanta funciona?
Nosso meio normal de conhecimento funciona, porque existem objetos que podem ser
conhecidos. Mas uma vez que o ser está além da percepção ou da dedução, ele não pode ser
conhecido como objeto. Yoga e outras práticas lhe dão a experiência de vários estados sutis da
mente, mas o Vedanta não lida com a experiência do ser, porque conforme dissemos
anteriormente, você já está experienciando o ser.
Também não precisamos provar que você existe. Acredite ou não, algumas pessoas no
mundo espiritual realmente levam a sério quando lhes dizem que elas não existem. Os budistas
estão dizendo isso desde sempre - o ser não existe, é tudo vácuo, vazio, etc... - e a multidão
moderna do Neo-Advaita, Deus os abençoe, não se sente envergonhada de dizer o mesmo. Nós
dizemos que existe apenas um ser, que ele é tudo e está sempre presente.
Sendo justo, talvez eles queiram dizer que o ego não existe, mas mesmo oego existe. Não
é real, mas não é não-existente. Não é preciso dizer que você não existe, ou provar que você não
existe, porque é auto-evidente que você existe. Você não precisa de um espelho para saber que
tem olhos, pois o próprio ato de olhar prova a existência dos olhos. E você não pode negar a
existência de algo, a não ser que esse algo realmente exista. Nada é não- existente. Tão
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logo você pense sobre algo, ele existe, porque os objetos não são nada mais do que o pensamento
dos objetos. E como temos visto, a experiência somente ocorre numa mente aparentemente
consciente, como pensamentos e emoções. Portanto, não existe isso de não existência, à parte da
ideia da não existência.
Mas para saber o que você é e para saber o que significa ser o que você é, é preciso um
espelho. Minha experiência de mim mesmo não é um espelho pra você. A experiência não se
transfere de indivíduo para indivíduo. Se fosse assim, e eu estivesse apaixonado, eu poderia fazer
você ficar apaixonado. O conhecimento se transfere. Se você tem uma vela acesa e coloca o
pavio de outra vela próximo dessa, o fogo salta de uma para a outra. O Vedanta é um espelho de
palavras que revela o que você é e o que significa ser você. Ele faz isso removendo as noções
errôneas que você tem sobre quem você é. Ele te revela para si mesmo, utilizando a lógica não-
examinada de sua própria experiência. O conhecimento de si está em você e a experiência de si
está com você sempre, mas ainda há algo a ser conhecido - ou você já estaria liberto.
Você precisa da visão geral. Ela não está disponível, porque você se identifica com as
crenças e opiniões sobre quem você é, que não estão em harmonia com sua natureza como sendo
todo. Essa visão parece não estar disponível aqui, simplesmente porque você acredita que ela só
pode ser obtida em algum outro lugar.
Você não pode estudar Vedanta
Vedanta é um meio de investigação que precisa ser ensinado. O ego geralmente pensa
que é especialista em tudo relacionado a ele e não aceita a ideia de ser ensinado. Os tipos
espirituais, desiludidos pela visão experiencial, frequentemente citam Ramana Maharshi como
evidência de que nenhum professor ou ensinamento é necessário para a liberação. Talvez uma
alma altamente qualificada possa ‘sacar’ tudo de uma só vez, mas as chances são as mesmas de
ganhar na loteria, provavelmente menores. Os tipos intelectuais geralmente pensam que podem
se iluminar sintetizando informações de seus estudos da literatura de diversas tradições, mas essa
abordagem é igualmente mal concebida. Ler ou escutar alguém falar sobre o ser (Vedanta não
fala “sobre” o ser; ele o revela através de um método particular) não funciona, porque não
importa o quão esperto você pense ser, você não estaria investigando, se não fosse ignorante do
ser. A ignorância está atuante enquanto você ouve e lê, causando inevitavelmente uma
compreensão errônea.
Além disso, a maioria dos buscadores não sabe a diferença entre conhecimento e
ignorância. Eles confundem suas crenças e opiniões com conhecimento. Isso quer dizer que eu
não sou a pessoa que vai me iluminar. Eu preciso de um meio de conhecimento impessoal, livre
da ignorância, e preciso de alguém que já tenha sido liberado por esse meio para me ensinar.
Também é bom que você saiba que alguém que proclama que a iluminação é experiencial, que
cita sua experiência como prova de iluminação e espera que suas palavras sejam vistas como
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escritura, pode ou não ser iluminado, mas não é qualificado para ensinar sobre o ser. Qualquer
um pode ter uma epifania que muda sua vida e defini-la como iluminação. Aceitar seu
ensinamento e instruções sem espírito crítico é pedir por problemas.
Geralmente, as pessoas que são guiadas ao Vedanta, já estavam buscando por muito
tempo. Ele não é muito adequado para buscadores iniciantes. Quando uma pessoa chega à um
certo ponto na vida - quando ela não está mais atrás de experiências - ela é conduzida ao
Vedanta. A fruta colhida da árvore antes de estar madura nunca é boa. Por isto não fazemos
propaganda. O Vedanta surge quando você está pronto pra ele. Não podemos ensinar aqueles que
não estão prontos. É perda de tempo para ambos, professor e aluno.
Eu, sincera e entusiasticamente, tentei me liberar por três anos, em tempo integral. Lia
todos os livros, fui para a Índia, me entrosei com yogis e gurus, fiz muitas práticas, mas ainda
assim fui reprovado no teste da iluminação e falhei em me matricular. Fiquei tão saturado, que
desisti de procurar e prometi (contra todas as probabilidades) me tornar uma pessoa normal. No
mesmo dia em que encerrei a busca, encontrei meu professor e ficou óbvio que eu precisava de
mais do que uma técnica. Me senti muito pequeno e ignorante, mas ao mesmo tempo foi
impressionantemente liberador descobrir que havia um meio de conhecimento impessoal, testado
pelo tempo, e uma tradição respeitável de ensinamento, disponível para mim. Ver o
conhecimento do ser funcionando em outro ser humano e compreender que ele o havia liberado,
era tudo que eu precisava.
Escutando
O primeiro estágio é escutar. Geralmente, quando você escuta algo, imediatamente
começa a formular uma resposta em sua mente. Você ouve as palavras e reage impulsivamente,
mas você na verdade não escuta o que está sendo dito, ou de onde está vindo. Você não pode
esperar que o Vedanta funcione, se essa for sua abordagem, porque Vedanta é muito mais do que
algumas ideias espiritualistas dirigidas ao seu ego. É um corpo de conhecimento que precisa ser
assimilado em sua inteireza. Ele emprega uma metodologia particular - sobreposição e negação
- que precisa ser trabalhada em você, até que você seja capaz de trabalhar por si mesmo. Neste
estágio, você tem apenas que manter a mente aberta, o que significa deixar de lado suas crenças e
opiniões temporariamente. Não é fácil. Mas você precisa deixar o ensinamento e o professor
realizarem seu trabalho. O conhecimento tem seu próprio poder. Ele fará o trabalho por você, se
você permitir. Em algum momento, a Visão da Não-Dualidade começará a tomar forma em sua
mente e você será capaz de trabalhar em si próprio.
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Refletindo
No Segundo estágio5, você é convidado a olhar para o que você acredita e pensa que é,
sob a luz do que você escutou, e não o contrário. Para refletir corretamente, você precisa entregar
sua ideia de quem você é para o conhecimento de quem você é, conforme revelado pela escritura.
Normalmente, temos o direito de avaliar o que ouvimos, mas no caso do Vedanta, este direito foi
cedido às escrituras. Você aceita o fato de que as escrituras são a autoridade, não você. Há
muitas coisas que você entendeu corretamente e muitas que entendeu errado. Assim, este estágio
é um processo de seleção, uma triagem, durante a qual você descarta sua ignorância, baseado no
reconhecimento da lógica inatacável do Vedanta, que por sua vez é baseada na lógica não
examinada de sua própria experiência. Vedanta simplesmente te conecta com sua parte mais
profunda, a parte que sabe, a parte que vê, que contém e que resolve as dualidades da vida dentro
da visão não-dual.
Assimilando
O estágio final 6 é o resultado de ouvir e refletir. É a completa assimilação do
conhecimento, que destrói a rede dos desejos baseados na ignorância e o senso de ser aquele que
executa as ações. Isso tem um impacto experiencial dramático, à medida que a vida da pessoa se
torna livre, serena e completamente satisfatória.
Investigação não significa perguntar “Quem sou eu?”. Investigação é a aplicação diária
dos ensinamentos do Vedanta às diversas dúvidas perturbadoras sobre o ser, que aparecem na
mente como um fluxo inexorável de medos e desejos, gostos e aversões, e que a agitam.
Investigação é discriminação, é disciplinar a mente para pensar a partir de uma plataforma de
plenitude, não de falta. É preciso vigilância constante. Não estamos tentando matar ou
transcender a mente. Se você está em um corpo humano, sua mente será ativa do útero ao
túmulo. Ela pode ser educada e purificada, mas jamais destruída. A mente está aqui à mando de
um poder muito maior que você, e está aqui para ficar. Na verdade, ela não é realmente “sua”
mente.
Geralmente a mente é sua chefe. Ela pensa por você e lhe diz o que fazer. A noção
experiencial de iluminação é uma tentativa desajeitada de abordar a questão de controle, o que é
possível, mas não transcendendo ou destruindo a mente. O Vedanta ensina o que a mente é, e o
motivo pelo qual o que ela pensa está ou não em harmonia com a realidade.
Os ensinamentos incluem um corpo de conhecimento subsidiário, comentários feitos por
grandes sábios, que resolvem certas contradições aparentes, inerentes à natureza da realidade - o
aparente paradoxo apresentado pelo surgimento da dualidade sobreposta à
5 manana 6
nididhyasana
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realidade não- dual, e um método brilhante (sobreposição e negação) através do qual a
ignorância do ser é removida.
PERGUNTAS
1) Por que eu preciso de um meio de conhecimento para a Iluminação?
2) Qual meio de conhecimento eu tenho naturalmente e por qual motivo eles são
inapropriados para moksha?
3) Onde existe o conhecimento e a ignorância?
4) O conhecimento do Ser te libera? Explique.
5) Vedanta é um meio válido de conhecimento, não uma filosofia, uma religião ou
misticismo. Por que as filosofias, religiões e a experiência dos místicos não são um meio válido
de conhecimento?
6) Vedanta é conhecimento do Ser. Por que é um meio válido de conhecimento?
7) Por que ele se aplica à todo mundo?
8) Que tipo de conhecimento é o Vedanta?
9) Por que ele é científico?
10) Por que o Vedanta é o conhecimento de tudo?
11) Quais são as três ordens de realidade?
12) O conhecimento do Ser é apenas o conhecimento do Ser ou é conhecimento do Ser e
dos objetos que aparecem nele?
13) Qual é a diferença entre conhecimento e informação?
14) Por que a experiência interpretada não é útil para uma vida feliz?
15) Se o Vedanta não propicia uma experiência do Ser, como ele revela o Ser?
16) Quais formas a auto-ignorância assume?
17) Por que você não pode ler e estudar Vedanta?
18) Qual é o primeiro estágio de Vedanta e como ele funciona?
19) Por que o Vedanta é difícil?
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20) Qual é o segundo estágio e como ele funciona?
21) Por que a investigação não é apenas perguntar “Quem sou eu?”
22) Qual é a prática do Vedanta (investigação) ?
RESPOSTAS
1) Porque a realidade é não-dual. Eu já sou livre. Eu estou sempre me experienciando.
2) Percepção e decução - os sentidos, a mente e o intelecto. Eles são inadequados porque
propiciam apenas conhecimento dos objetos e o Ser não é um objeto.
3) No intelecto.
4) Não. Porque o conhecimento do Ser nega o executor, o intelecto. Um ego que vê o Ser
como um objeto de experiência e conhecimento não está livre de si mesmo. Liberação é
liberação do ego. Somente o Ser é livre. O ego está sempre apegado à alguma coisa.
5) Porque eles são crenças, opiniões e experiências interpretadas de indivíduos ou grupos
de indivíduos. O que se aplica à um indivíduo não se aplica à todo mundo. Um meio válido de
conhecimento se aplica à todos.
6) Porque se aplica à todo mundo.
7) Porque todo mundo é o Ser.
8) É o conhecimento revelado.
9) Porque pode ser confirmado à qualquer momento por qualquer um que utilize os
ensinamentos.
10) Porque é o conhecimento da Consciência e a Consciência é tudo que existe.
11) a) a pura Consciência com e sem a capacidade de criara
b) os objetos materiais
c) o indivíduo
12) O Conhecimento do Ser e os objetos que aparecem nele.
13) Você sempre pode contar com o conhecimento. Ele serve em toda situação e todas
as vezes. A informação às vezes é útil e às vezes não é.
14) Porque não é confiável.
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15) Ele remove a ignorância do Ser.
16) Crenças e opiniões sobre a natureza da realidade.
17) Porque sua auto-ignorância irá fazer com que você interprete
erroneamente o significado dos ensinamentos. Você vai confundir ignorância
com conhecimento.
18) Escutar sem interpretar o significado das palavras.
19) Porque os ensinamentos são contra-intuitivos: eles contradizem crenças muito
antigas.
20) Refletir. Olhar para aquilo que acredito sob a luz dos ensinamentos e descartar
aquelas crenças que não se alinham com o ensinamento.
21) Porque a resposta já é conhecida – eu sou a Consciência.
22) A aplicação diária dos ensinamentos aos numerosos problemas de dúvidas
sobre o Ser que aparecem na mente, na forma de um fluxo inexorável de lágrimas e
desejos, gostos e aversões, que a perturbam. É discriminar, disciplinar a mente para
pensar da plataforma da plenitude e não da carência.
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CAPÍTULO 4 - QUALIFICAÇÕES
Um Ser Humano Maduro
Ainda bem que ensinar Vedanta não é uma profissão, ainda que eu o faça profissionalmente,
porque alguns fatos desagradáveis deveriam ser evitados para torná-lo lucrativo, razão pela qual
o Vedanta nunca foi popular. Nós ensinamos somente porque amamos a verdade. Dizer a
verdade não envolve “arrebentar” o ego do aluno, mesmo que esse fosse um caminho legítimo -
o que não é. Não estamos aqui para descobrir o que está errado com você e corrigí-lo. Para isso,
você pode ir à um psicólogo. Nós revelamos o que está certo com você e te livramos do
problema de tentar se consertar. Se algum conserto for de fato necessário, a verdade fará o
trabalho.
Eis aqui um fato desagradável: são exigidas qualificações para a liberação. Que eu saiba, nenhum
professor ou ensinamento moderno insiste que os buscadores sejam qualificados. Se a
iluminação é experiencial, então presumivelmente ela pode acontecer a qualquer momento -
como quando nos apaixonamos. Assim, para permanecer no mercado, tudo que um professor
precisa fazer é sugerir que a iluminação é um acontecimento maravilhoso e possível e estimular
o aluno a buscá- la. Mas se a iluminação é uma questão de conhecimento e se a ignorância está
fortemente instalada em nós – e ela está – as qualificações são necessárias.
Essa é uma notícia indesejável para buscadores que cresceram numa época de gratificações
instantâneas. Mas as coisas mais valiosas requerem trabalho árduo. No que concerne a
investigação do ser, não existem atalhos ou soluções rápidas. Você tem que estar comprometido.
Se você disser a verdade, irá atrair alunos qualificados. Muito poucos são rapidamente liberados
por esses ensinamentos e o resto, compreendendo o valor do Vedanta, relaxa enquanto trabalha
nas qualificações, pois eles sabem que é um caminho confiável. Aqueles que não compreendem
seu valor pulam de um professor para outro, de um suposto ensinamento para outro, terminando
mais confusos do que quando começaram.
Pescando na Alemanha
Na Alemanha, você não pode simplesmente desenterrar uma minhoca, colocá-la num anzol e
pegar um peixe. Um homem das cavernas podia, mas um alemão moderno não; ele precisa estar
qualificado. Se você soubesse a complicação que é para pegar uma truta lá, desistiria de pescar.
Um amigo alemão me disse que leva quase um ano para obter uma licença.
É é direito igual a inalienável massa multiplicada de cada um pela saber velocidade o significado
da luz 29
de ao E=MC2 quadrado. ? E=MC2 Mas significa: o que quer energia dizer isso? O que é
energia? O que é massa? O que é a velocidade da luz? Como todas estas coisas se encaixam? Por
que eu deveria me importar? Eu não tenho ideia do que isso
significa – nem você – porque não estamos qualificados para compreender. Para se qualificar, a
pessoa tem que ir para o jardim de infância, ensino fundamental, ensino médio, graduação, para
então obter uma pós-graduação avançada em matemática e física. Leva cerca de dez anos para se
tornar um médico ou um advogado. As escolas de medicina e advocacia estão cheias de
candidatos. Se as pessoas estão dispostas a colocar tanta energia em buscas que nem mesmo
esbarram na questão mais importante da vida - quanto mais liberá-las - por que os buscadores
não deveriam estar dispostos a se preparar para compreender quem são?
Já que sempre existiram pessoas iluminadas e não iluminadas, houve tempo suficiente para
comparar as duas categorias e descobrir as diferenças. O iluminado desfruta de qualidades
particulares da mente e do coração que, independentemente das circunstâncias materiais, sociais
ou educacionais, os trouxeram para o conhecimento do ser. Também tem sido repetidamente
observado que, onde existe ausência de uma ou mais qualidades, ou onde uma ou mais delas
estão apenas parcialmente desenvolvidas, o conhecimento do ser não ocorre. Pessoas altamente
qualificadas são rapidamente liberadas. As parcialmente qualificadas precisam de mais tempo e
para aqueles escassamente qualificados, pode levar eras. Os não-qualificados jamais conseguem.
Não estamos tentando te aterrorizar e te mandar de volta para os braços dos gurus de iluminação
instantânea, que dizem que você pode apenas “sacar”. Se você “sacar”, irá “des-sacar” muito
rapidamente. Essas qualidades estão embutidas dentro de cada ser consciente e podem ser
desenvolvidas com compreensão e prática.
Dissemos que a ação é um meio inadequado para a liberação, porque ela é baseada na ideia de
que a realidade é uma dualidade e não resolve a questão da execução de ações, mas é um meio
adequado para preparar a mente para a liberação. O Vedanta aprova a ação para esse propósito.
Nos capítulos seguintes descrevemos várias práticas que qualificam a mente para compreender.
Você não deveria se afastar de um ensinamento que pode te liberar, por falta de qualificações.
Ao final desse ensinamento, terá clareza sobre quem você é, mas se tiver problemas na
assimilação do que tem escutado, é unicamente por falta de qualificação.
Algum tempo atrás conheci um jovem que tinha acabado de se formar numa das mais
prestigiosas universidades do mundo. Ele tinha ofertas de emprego com salário de seis dígitos de
algumas das maiores corporações do mundo. Ele tinha passado os primeiros vinte e cinco anos
de sua vida se qualificando para uma carreira materialista. Ele era extremamente brilhante e eu
podia ver que ele estava de fato motivado para descobrir quem era. Ele recusou as ofertas de
emprego e entrou no estágio de aluno da tradição, que conduz à renúncia através do
conhecimento, ou seja, da liberação. Ele passou três anos obtendo a compreensão e o estilo de
vida que serviria para qualificá-lo. Esse é um bom exemplo de duas das mais importantes
qualificações: um desejo ardente pela liberação isso? Você e vai discriminação. se afastar do
Todos sucesso querem material, ser sem livres, 30
tê-lo mas experimentado, o quanto de fato pela você liberação? quer
Você vai se comprometer, não importa o que custe? Na verdade, o desejo ardente é
discriminação. Significa que você tem clareza quanto ao que quer na vida.
Antes de listarmos as qualificações, devemos mencionar uma vez mais as duas qualificações
básicas, que são na realidade a mesma - a compreensão de que a alegria não está nos objetos, e
que a vida é um jogo de soma zero. De forma bem simples, significa que você sabe que a vida
está estabelecida para lhe ensinar quem você é, e não para lhe dar os objetos – segurança, prazer,
virtude, etc. - que você pensa querer.
Se você quer coisas da vida, vá em frente. Não há nada de errado com isso. Mas se o fizer, lute
bem por tais objetos e dê as boas-vindas ao desapontamento que inevitavelmente resultará. Isso é
um grande presente, porque lhe qualifica para a busca. Hoje em dia vemos muitos jovens
renunciando carreiras e famílias pela iluminação, sem ter na verdade batalhado por nenhum
deles. Isto não é sempre um erro, mas pode ser, porque você pode adquirir habilidades valiosas
no mundo, que servem bem à investigação do Ser. No entanto, frequentemente, se prova ser um
erro, porque sem a maturidade que vem do êxito e fracasso na vida, a busca pode facilmente
degenerar em apenas outro estilo de vida materialista - um que lhe prenda ainda mais do que a
perseguição de objetivos materiais, porque lhe instiga com a vaidade de estar buscando algo
extraordinário. Ao longo dos anos tenho conhecido muitas pessoas de meia-idade que caíram nos
braços abertos dos cultos, ou que fugiram para ashrams e zendos no início dos seus vinte anos,
somente para descobrirem, finalmente, que o desejo por amor, ou por uma família, ou por um
trabalho significativo, não foram aprimorados pelas suas buscas espirituais. Muitos questionaram
a validade da busca pela liberação e a cancelaram prematuramente, o que é sempre um erro.
Vivendo a vida com todo o coração, como ela lhe é apresentada, fará com que você
inevitavelmente perceba o quanto são vazias as buscas materialistas. A vida superficial, que
parece tão atraente, é somente um redemoinho de desejo e ação. Você quer coisas e faz coisas
para obter o que quer, e conseguindo ou não o que você quer, o querer e o agir nunca param. Os
desejos e as atividades sem fim são como areia movediça, lentamente lhe sugando a energia, te
segurando cada vez mais apertado à roda da vida. Nesse mundo há uma perda para cada ganho,
um vale para cada montanha, um fracasso para cada sucesso. Você não pode vencer. Somente
pessoas maduras compreendem isso. As outras são como crianças, eternamente querendo coisas.
Elas não estão qualificadas para saberem quem são.
1) Discriminação
A primeira qualificação é a discriminação. Nós a utilizamos todos os dias. É uma qualidade
muito valiosa. Com base em seus gostos e aversões, você escolhe se associar à uma pessoa e não
a outra. Você compra uma maçã, não uma laranja. O recente colapso do mercado de imóveis
ocorreu por falta de discriminação. As pessoas ouviam os vigaristas na TV dizendo que elas
poderiam ficar 31
ricas rapidamente e conseguir algo por
nada. Esse crescimento eterno do mercado é totalmente contrário ao bom senso. As coisas
crescem e encolhem. Também é contrário ao bom senso que você possa pegar
emprestado seu caminho para a prosperidade. Você pode fazer um empréstimo sem dúvida, mas
a vida é incerta e quando você arrisca, não pode garantir que não vai perder dinheiro.
Discriminação materialista é escolher entre duas realidades aparentes, mas discriminação
Vedantina é escolher entre o que é real e o que é aparentemente real.
Definição de Realidade
A maioria das pessoas define realidade como sendo o que elas estão experienciando. O sol, a lua,
as estrelas, o que pensam e sentem é a realidade para elas. O Vedanta tem uma definição
diferente. Realidade é ”o que nunca se modifica”. Isto significa que se uma pessoa pensa que sua
experiência e o ambiente no qual ela está experienciando – a vida como a conhecemos - é real,
ela tem um problema de discriminação. Perseguimos os objetos porque pensamos que eles são
reais. Se soubéssemos que não são, a perseguição pararia e nosso relacionamento com o mundo
iria se tornar definitivamente frutífero. Discriminar é como acordar de um sonho. Quando você
está nele, pensa que é real, mas quando acorda, você usufrui de uma perspectiva que mostra que
os eventos do sonho são irreais.
Cada ser consciente é feito de dois fatores - consciência universal e matéria. A matéria se
modifica. A consciência universal é a parte de você (é mais do que uma parte, como veremos,
mas por enquanto vamos chamá-la de uma parte) que não se modifica. Todo mundo na verdade
conhece essa parte. Ela é o que estava lá observando seu corpo e mente desde o nascimento. Ela
conhece todas as mudanças que aconteceram com o corpo e a mente, até o dia de hoje. É sua
consciência universal. Nós chamamos essa parte de real. A parte que se modifica – o corpo e a
mente – é aparentemente real. Você nunca consegue colocar o dedo em algo que não permanece
o mesmo de um momento para o outro. “Aparentemente real” significa que é experienciado, mas
não tem substância; não é real. As pessoas sofrem, porque confundem o que é aparentemente real
– seus corpos e mentes e o mundo ao redor – com a parte que é real. A parte imutável é você, o
ser. Se não souber disso, você irá dizer que se modifica, quando o corpo e a mente se modificam.
Não há nada que se possa fazer em relação à qualquer uma das partes. É a natureza da parte que
se modifica se modificar, e é a natureza da parte que não modifica, não se modificar. Se você
confundir uma com a outra, irá sofrer, porque a realidade não se importa com o que você pensa
ou sente. Por exemplo, se você se apaixona e espera que o sentimento de amor dure, ficará
desapontado, porque este tipo de amor pertence ao corpo e à mente. Quando os instrumentos de
experiência mudam, o amor muda. Se você fica bravo ou deprimido porque o amor – ou qualquer
outra coisa que esteja sujeita ao tempo – desapareceu, de quem é a culpa? Só seria sua culpa, se
você tivesse controle sobre isso. Mas você não tem. Se compreender a realidade como ela é, você
será feliz, porque não irá se confundir com os objetos que aparecem em você - o que é real - com
o que não é.
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Antes de continuarmos, é importante saber que a realidade aparente, a parte do ser que se
modifica, não é não-existente. Aparentemente real não significa não- existente. Discutimos esse
ponto anteriormente, mas é importante repetí-lo, porque se você achar que aparente significa
não-existente, poderá ficar suscetível à um mito espiritual comum: que a liberação não é
possível, se a experiência do mundo ainda existir pra você. A realidade aparente, que é uma
dualidade, não desaparece quando você sabe quem é, da mesma maneira que um sonho
desaparece quando você acorda. A parte mutável do ser sempre existe. Você tem que lidar com
ela antes da iluminação e tem que lidar com ela após a iluminação. Há uma escapatória, mas não
é a que você imagina que seja.
A discriminação que lhe qualifica para o Vedanta é o conhecimento da diferença entre o que é
real e o que é aparentemente real. Uma pessoa qualificada mantém esta distinção sempre em
mente e faz suas escolhas de vida baseada nisso. A declaração de Jesus “Sobre esta rocha
edificarei meu Templo” significa que sua vida estava centrada no que é eterno, não sobre as
areias inconstantes do tempo. Se a rocha da verdade é a fundação da minha vida, posso aguentar
qualquer tempestade.
Uma pessoa que não sabe discriminar é aquela que espera obstinadamente que a realidade se
conforme aos seus gostos e aversões. Tais indivíduos não estão qualificados para o Vedanta.
2) Desapego
A próxima qualificação é o desapego. Se a discriminação estiver desenvolvida, a pessoa estará
desapegada. Desapego é a indiferença aos resultados de suas ações e das ações que o campo da
existência apresenta.
Uma pessoa passional é sempre emocional sobre o que aconteceu, sobre o que está acontecendo
ou o que irá acontecer. Ela é apegada aos resultados de suas ações. Quando uma pessoa passional
não consegue o que quer, ela fica brava ou deprimida. Se você é muito passional, pode até ficar
zangado ou deprimido só com a ideia de que talvez você não obtenha o que quer.
Ainda que a paixão seja considerada uma qualidade maravilhosa pelos materialistas, as pessoas
passionais ficam perturbadas, a menos que sua paixão seja canalizada para a pesquisa da
verdade. Você não tem que vasculhar sua infância para descobrir porque você é uma bagunça
emocional. Você pode deixar mamãe e papai fora disso. Você é emocional porque não consegue
o que quer no presente. Uma mente perturbada não é qualificada para a investigação do ser.
33
Desapego é sinal de maturidade. É a indiferença aos resultados de suas ações. Como é que o
executor de ações que há em você se sente a respeito dessa qualificação? Ele provavelmente não
está feliz com ela, porque ele é a parte imatura, subdesenvolvida da psique: como uma criança,
ele quer o que quer, quando quer e da maneira que quer. Desapego significa não se importar se
você consegue o que quer. É uma qualidade muito rara, porque os desejos das pessoas as tornam
cegas para um dos fatos mais óbvios da vida, mas quase sempre negado - você não controla os
resultados de suas ações.
Desapego não significa não querer coisas e não trabalhar para obtê- las. Significa trabalhar
pacientemente, com uma mente tranquila, e deixar os resultados para a vida. Você compreende a
tolice de ficar chateado por algo sobre o qual você tem muito pouco controle. Essa qualidade é
absolutamente essencial para os investigadores, porque a pessoa nunca sabe quando (e se) ela se
libertará, assumindo que você acredita que a liberação é para a pessoa – o que é e não é, como
veremos depois. Se você é desapegado, pode fazer o trabalho preparatório no estado de espírito
correto.
Outra definição de desapego é objetividade. A realidade aparente tem dois aspectos: o subjetivo
e o objetivo. Dinheiro, por exemplo, tem um valor objetivo; ele pode comprar coisas práticas,
que são necessárias para a manutenção da vida. Em termos de mundo, ele é real. Mas o dinheiro
assume um valor subjetivo, se pensarmos que ele pode remover a insegurança. Projetar um valor
subjetivo num objeto é chamado sobreposição e aparece de duas formas: 1) confundindo um
objeto por outra coisa e 2) adicionando um valor ao objeto, que não é inerente à sua natureza. O
antídoto para o apego (por objetos) é o desapego. Você não pode se tornar desapegado. Você não
pode tornar alguém maduro. Tentar fazer isso é como forçar um botão de rosa a se abrir para
revelar sua beleza, antes que ele esteja pronto para florescer.
3) Controle da Mente
Você não controla a mente, controlando a mente. Se você acha que está no controle, por favor
me diga o que estará pensando em cinco minutos. Você não controla a mente, porque seu
condicionamento a controla. Então o que queremos dizer com controle da mente? Queremos
dizer que você compreende que, uma vez que os pensamentos e sentimentos surgem e de
dissolvem espontaneamente, eles não tem nada a ver com você. Compreender esse fato é
controle.
O significado de sua vida é projetado pelo seu condicionamento, seus valores. Sentimentos e
pensamentos não tem o poder de lhe perturbar, a não ser pela forma como você os interpreta.
Como você os interpreta depende de seus valores. Seus valores são seu ponto de vista. Se você
examina 34
seus valores, os maus valores
desaparecerão e os bons tomarão a dianteira, mudando seus pensamentos e sentimentos.
Simplesmente pela observação da mente, você obtém um certo domínio
sobre ela. Se sua mente não é controlável, você deveria ao menos controlar seus sentidos, a
próxima qualificação.
4) Controle dos Sentidos
Mesmo que sua mente esteja uma bagunça, se você puder controlar seus sentidos, sua vida
exterior pelo menos não estará uma bagunça. Quando sua vida exterior está alinhada com a
ordem cósmica, sua vida interna tende a seguir o mesmo caminho. Você pode pensar e sentir o
que quiser, mas uma vez que os pensamentos e sentimentos se tornem ações, elas estão nas
garras do mundo e retornarão para você de uma maneira ou de outra. Se seus pensamentos não
são felizes, o mundo não irá sorrir pra você. Se forem, o mundo irá sorrir.
Apego a qualquer órgão sensorial pode lhe trazer problemas. Se você não gosta de uma pessoa e
diz algo desagradável, você não somente irá se preocupar com as consequências exteriores, mas
também se sentirá culpado por violar o princípio da não-violência. Se você come, bebe, trabalha,
faz muito sexo ou vê televisão demais, não será bem-sucedido na investigação do ser. Portanto,
você deve conter seus órgãos do sentido - supondo que você não possa mantê-los sob controle de
forma objetiva.
O sentido mais importante para se controlar é a fala, porque é através de nossas palavras que,
tanto as emoções saudáveis como as doentias, alcançam o mundo. Não é uma coincidência que o
órgão da fala esteja conectado ao elemento fogo e que o fogo surja de rajas, um dos três blocos
básicos de construção da natureza, sobre os quais falaremos mais tarde. Sim, rajas é desejo,
anseio, e também é raiva, desejo frustrado. É um inimigo intratável, por ser uma imensa fonte de
dor psicológica. Quando você não pode aliviar a dor usando a visão não- dualística, você tentará
se aliviar de formas mecânicas – violência física, por exemplo – e irá desenvolver hábitos de fala
auto-ofensivos e ultrajantes para os outros. As regras de comunicação pedem por um discurso
verdadeiro e agradável, se quiser ter sucesso na vida. A fala deve ser apropriada ao contexto e
deve também adicionar valor à ele. Falar por falar é sinal de baixa autoestima e perda de energia.
Quando você está tomado pelo ódio, não é sábio tentar dizer palavras amorosas. Elas não serão
ditas apropriadamente. Apenas se afaste da situação.
5) Fazendo O Que É Apropriado para Sua Natureza (Svadharma)
O fracasso em se manter à altura desse valor definitivamente impedirá a iluminação. É difícil
compreendê-lo, e mais difícil ainda aceitá- lo, porque parece ir contra dois valores centrais da
sociedade - fazer o bem aos outros e se auto-aprimorar.
Dharma é um conceito maravilhoso e complexo, 35
sobre o qual muito mais será dito no Capítulo
8. Ele precisa de muitos desdobramentos e explicações, porque a palavra tem muitos
significados. Svadharma significa o dharma do ser. Essencialmente, significa
fazer seu dever para consigo mesmo. Ele pode referir-se à sua natureza essencial – a consciência
universal ilimitada – ou pode referir-se à sua natureza não- essencial, a pessoa que você pensa
que é. No contexto da discussão sobre qualificações, significa fazer seu dever para a pessoa que
você pensa que é. Se você não cuidar dessa pessoa, nunca irá perceber, ou reconhecer quem você
realmente é.
O Mundo Não Precisa de Conserto
O Bhagavad Gita, um dos três pilares do Vedanta – talvez o mais relevante – faz uma afirmação
importante. Ele diz que fazer o dever do outro é “muito perigoso”; é melhor fazer um trabalho de
terceira categoria, cuidando de si mesmo, do que um trabalho de primeira categoria, cuidando de
outra pessoa. Todo mundo quer parecer bem aos olhos da sociedade, e a sociedade define virtude
como “fazer a diferença”. É uma ideia calorosa e distorcida, que frequentemente leva à maldade,
já que isso facilmente se traduz em tentativas vaidosas de controlar e manipular a vida dos
outros, de acordo com sua ideia do que é bom para eles. A maioria de nós aprende que é nobre se
“sacrificar” pelos outros. Mas é de se surpreender que, quando os “outros”, no final das contas,
decidem seguir sua própria natureza, independentemente de nossos desejos, fiquemos frustrados,
bravos e ressentidos?
Pode ser novidade pra você, mas não estamos aqui para salvar o mundo. O mundo é perfeito
como é. O bem e o mal servem perfeitamente à plena consciência. Quando você compreender o
quadro geral, irá se acalmar e cuidar de si mesmo como deve. Mas quando você tem a vaidade
especial de que sabe mais – a qual surge, na verdade, de um sentimento de inferioridade – e se vê
“ajudando” alguém, você não está realmente fazendo um favor, porque está criando uma pessoa
dependente. O valor espiritual número um é autoconfiança. Se você pensar pelos outros e tomar
conta de suas vidas, eles não crescerão. Isto não quer dizer que necessidades ocasionais e
legítimas de ajuda não devam ser alegremente atendidas, ou que não seja dever dos pais moldar a
vida de seus filhos com amor e bons valores. No contexto da busca para a liberação, no entanto,
você deveria, idealmente, evitar relacionamentos que exijam constante atendimento, a menos que
seja de sua natureza servir, um tópico que consideraremos em breve.
Diz-se que a vida imita a arte. As novelas são um bom exemplo do problema do svadharma,
porque elas glorificam quase todos os valores ruins conhecidos pelo homem, particularmente a
manipulação. As vítimas são basicamente pessoas imaturas, não tão brilhantes, e os
vitimizadores são benfeitores do inferno. Enquanto eles esfaqueiam as vítimas pelas costas, com
sorrisos bajuladores e abraços calorosos, afirmam que é para o próprio bem das vítimas. “Estou
transando com sua esposa e te traindo nos negócios, porque te amo demais. Você não pode ver
isso. porque é estúpido”. A mensagem é óbvia: cuide de si mesmo. Se você não trabalhar em seu
próprio material, nunca irá se liberar.
36
‘Deveria’ é uma Palavra Ruim
O segundo significado de svadharma é igualmente importante. Significa não tentar se manter à
altura de um ideal. As pessoas imitam modelos padrão. Mulheres materialistas, eu suponho,
querem ser como a Angelina Jolie e os homens querem ser como Brad Pitt. As pessoas
espirituais tentam ser como Dalai Lamas, Ramanas e Amachis do mundo espiritual. É um grande
erro tentar ser qualquer outra coisa que não você mesmo.
Quando você não sabe que é pleno e completo - a consciência universal sem-ação - você quer, ou
que as circunstâncias sejam diferentes, ou que você, da forma como entende, seja diferente – ou
ambos. Todo mundo pensa “Eu deveria ser”, “Eu deveria fazer“. Deveria é uma palavra muito
ruim. Sempre que escutar a mente pensando “deveria”, aperte o botão de pausa, pense a respeito
e pressione deletar. A estrada para a liberação não tem a ver com transcender ou negar seu
pequeno ego. Tem a ver com aceitar quem você é, aqui e agora. Se você cometeu erros e fez
coisas ruins, não se castigue fazendo penitência. Compreenda que se você soubesse quem
realmente era, não teria feito o que fez e se perdoaria. Portanto, converta o desejo de ser diferente
em um desejo de saber quem você é, já que você é puro e perfeito e incapaz de ações
prejudiciais.
Minha Natureza Relativa
Ninguém vem pra cá por conta própria. Todos nós, num belo dia aparecemos aqui, pela ordem de
um poder muito maior do que nós mesmos. Chegamos programados com uma certa natureza.
Após o material biológico básico ser definido, nos diferenciamos em vários tipos. A própria
criação é um programa vasto e complexo, inteligentemente projetado, que requer as
contribuições de muitos miniprogramas ou seres. O mundo precisa de pensadores, artistas,
homens de negócio, cientistas, trabalhadores, santos, criminosos, atletas, músicos, guerreiros,
políticos, fazendeiros, administradores, contadores, etc. Plantas e animais seguem seu programa
fielmente e espera-se que os seres humanos sigam seus programas também. Se não seguem, eles
sofrem.
Entretanto, graças a um intelecto auto-reflexivo e ao desejos e medos que permeiam a ignorância
do ser, as mentes dos seres humanos não estão sempre sintonizadas com suas naturezas relativas.
Antigamente, não era difícil descobrir o que você deveria fazer. Suas ações eram mais ou menos
determinadas por fatores sócio econômicos. Seu pai era padeiro, você se tornava padeiro. Mas
com o advento da tecnologia e da prosperidade global, nem sempre está claro o que a realidade
requer, porque as opções parecem ilimitadas. Sem dúvida, algumas pessoas se sentem inclinadas
para um certo caminho desde a infância e inquestionavelmente seguem seu sonho. O que deveria
ser feito nunca é um problema para elas, porque elas são obsessivamente guiadas por seus
programas.
37
Se eu não sei qual é meu svadharma, não sei como responder apropriadamente. Viajando o
mundo como eu viajo e conhecendo centenas de pessoas, nunca deixo de me surpreender com
quantas pessoas, mesmo adultos nos seus quarenta e cinquenta anos, não estão certas do que
deveriam estar fazendo. Se este é o caso, você pode seguramente atualizar* seu ser relativo,
respondendo às regras que governam a situação imediata, num espírito desinteressado.
*Nota das Revisoras: James utiliza frequentemente o termo self- actualized (auto--
atualizado), diferenciando-o de self-realized (auto-realizado, ou aquele que reconheceu o Ser) e
no capítulo 14, no tópico “A pessoa Iluminada”, falará mais a respeito desse assunto. Mas a
diferença básica entre os termos é que o “indivíduo Svadharma é fazer o que tiver que ser feito
num determinado local e numa determinada situação, goste você ou não. Por exemplo, é um erro
deixar que uma necessidade de segurança prevaleça sobre seu svadharma. Aceitar um emprego
pouco saudável, apenas para pagar o aluguel, não é sempre o melhor a se fazer. Às vezes, é
oportuno lidar com os conflitos relacionados à segurança arriscando-se e seguindo seu coração (e
talvez sofrendo privações), ou como alternativa, trabalhar em um emprego indesejado com
espírito de karma yoga - sobre o qual muito mais será dito mais tarde. Karma yoga é o melhor
caminho para se qualificar para a liberação, independentemente do tipo de atividade que você
realiza.
Através do dharma yoga, dominamos nossos gostos e aversões. Fazer o que gostamos nem
sempre é apropriado e evitar o que não gostamos nem sempre é apropriado também. Para quebrar
o domínio de seus gostos e aversões, é preciso fazer o que a situação exige e evitar fazer o que
ela não exige. Exercitar essa compreensão em cada situação constrói autoestima. Isso lhe
fortalece e faz com que se sinta bem- sucedido, porque você fez o que é certo, não apenas o que é
conveniente. A batalha termina quando você enfrenta seus desejos e medos.
6) Capacidade de Foco
Esta qualidade destina-se a corrigir duas tendências inter- relacionadas e inúteis da mente:
múltiplas tarefas e muitos interesses. Ambos nasceram da ganância e deixam a mente
despreparada para a investigação. A mente é curiosa. É de sua natureza vagar. Se ela não
vagasse, você não saberia nada. É como uma câmera de vídeo, não uma máquina fotográfica. Ela
pega o momento, uma série de imagens energizadas. Mas esta tendência nem sempre é útil para a
investigação do ser.
atualizado” já aplica às situações cotidianas todos 38
os princípios do conhecimento e sua vida é
um reflexo desses ensinamentos, o que pode ou não ter ocorrido com o “indivíduo auto--
realizado”, que tendo alcançado uma compreensão
intelectual da sua verdadeira natureza, pode ainda não viver plenamente a vida a partir dessa
nova perspectiva.
É preciso habilidade para segurar a mente em um dado tópico por um período considerável de
tempo.
O único tópico para aqueles de nós que buscam a liberação é o ser, porque ele é a única coisa
livre!
A maneira de manter isso em mente é trazê-la de volta para os ensinamentos de novo e de novo,
até que a tendência para vagar seja contida. Contemple seus desejos e medos sob a luz dos
ensinamentos, até que a vida diária se adapte à investigação contínua. A pessoa precisa ver que a
investigação não é apenas uma atividade ocasional – ou uma entre tantas – a ser feita apenas
quando ela está entediada ou infeliz.
Todas as qualificações estão relacionadas. Os buscadores são famosos por reclamarem de sua
inabilidade em focar no ser e estão continuadamente procurando novas técnicas para facilitar o
foco. A dificuldade de focalização é uma questão de valores. Alguém tem dificuldade para focar
em sexo? Não, porque ele é altamente valorizado. A falha em focar significa que não há clareza
quanto ao que você quer, em nosso caso, a liberação; ela não é a prioridade número um. Quando
a liberação for prioridade, o valor número um, a concentração acontece por si só.
7) Tolerância
Tolerância é ter objetividade em relação à todos os tipos de dor, sem ansiedade, reclamação ou
tentativa de vingança. Isso só se aplica às situações onde não há nada a ser feito. Em outras
situações você deve agir para mudá-las, se puder. Tolerância é compreender que as pessoas não
podem ser mudadas, lhes dando liberdade de ser o que são, e estabelecer limites para proteger a
si mesmo.
Esta qualificação cria uma vida simples. A sociedade atual é altamente complicada e neurótica.
Nosso senso de direito não tem limites. Nos sentimos no direito de lamentar e reclamar, do
nascer ao por do sol, sobre coisas insignificantes. Nossos gostos e aversões estão fora de
controle. Luxos se tornaram necessidades, nossas vidas ficaram complicadas e nossas mentes
fragmentadas. As pequenas coisas não são dignas de atenção. Meu professor costumava chamá--
las de “pequenas alfinetadas da vida”. É preciso passar por elas com bom humor. Se coisas
triviais – os cheiros do corpo, paisagens desagradáveis, uma sala bagunçada, pratos sujos, roupas
amassadas, pessoas incompetentes ou carentes, barulhos na rua, uma conexão perdida, uma
observação maliciosa ou um erro na sua conta bancária – lhe chateiam, você precisa melhorar
esta qualificação.
39
Eu amo minha esposa. Minha esposa ama sua mãe. Minha sogra não me ama, por
várias razões. Ela quer visitar sua filha no fim de semana. Eu estou preso em casa devido à um
acidente de trabalho. Vamos ter que passar dois dias sob o mesmo teto. Eu deveria fazer um
estardalhaço sobre meus maus sentimentos e reagir aos dela, ou deveria deixar os sentimentos
um pouco de lado? Se os deixo um pouco de lado e trato minha sogra educadamente, sou uma
pessoa tolerante. Se busco cada oportunidade para fazer com que ela saiba como “realmente” me
sinto, não estou qualificado para a investigação do Ser.
8) Devoção
As qualificações – desapego, foco, desejo ardente, discriminação, etc. - e a devoção estão
intimamente relacionadas, mais ou menos como se fossem maneiras diferentes de observar a
mesma coisa. Devoção é amor pela verdade, amor pelo conhecimento. Significa que minha força
emocional está diretamente por trás de minha busca pela liberação. É um valor positivo. Eu não
sou devocional exclusivamente porque meu sofrimento exige – ainda que o faça; sou devocional
à investigação, porque amo a verdade.
Fico sempre intrigado com quanto tormento os pais podem sofrer nas mãos de seus filhos. Acho
quase impossível aturar minha própria mente carente por mais do que alguns minutos, portanto a
única explicação para alguém se comprometer por uns vinte anos com as mentes carentes de
duas ou três outras pessoas – sem mencionar o fato de que os pais frequentemente permanecem
dedicados á seus filhos pelo tempo que eles viverem – só pode ser a devoção. Devoção não
conhece dor. Ela é firme, profunda e supera tudo.
9) Fé
Alguns dizem que a fé é a qualificação número um. A fé que lhe qualifica para a investigação do
ser é muito simples e não é cega. Vedanta diz que não há nada errado com você em qualquer
nível. Mesmo a sua ignorância do ser não é sua falha. A fé que se pede é a crença de que você é
puro e perfeito, verificando o resultado da sua investigação baseada nas escrituras.
No final da Guerra Fria, os russos disseram “Confiem em nós, estamos destruindo nossas armas
nucleares”. E os americanos responderam “Confiamos em vocês, mas gostaríamos de ver por nós
mesmos”. Mesmo que você acredite que é limitado, você deveria viver como se fosse livre e
verificar se a realidade não lhe apoia cem por cento. A experiência pode dizer que não, mas o
conhecimento diz que sim. Se você continuar duvidando, sua dúvida comprometerá sua
habilidade de escutar, refletir e assimilar os ensinamentos. Não existe felicidade para quem
duvida.
40
Estudos de pessoas que têm fé em Deus descobriram que no balanço final, aqueles que acreditam
em Deus são mais felizes do que aqueles que não acreditam, embora
nenhum, nem outro, saiba quem ou o que é Deus. Então você tem que confiar no ensinamento e
no professor.
10) Desejo Ardente pela Libertação
Certo dia um discípulo pediu ao seu guru que falasse sobre o desejo ardente pela liberação. O
guru disse, “Não se preocupe. Não é importante”. O discípulo era muito inteligente e curioso e
não alguém para ser dispensado assim, então ele perguntou mais uma e outra vez, recebendo
sempre a mesma resposta.
Alguns dias depois, eles estavam na beira do rio tomando banho. O banho ritualístico envolve
submergir três vezes na água. Na terceira vez, o guru pulou em cima do discípulo, colocou o pé
sobre suas costas, prendeu seus braços e o segurou firmemente no fundo do rio, enquanto ele
lutava para se soltar, e só o largou alguns segundos antes dele quase se afogar. O discípulo ficou
furioso e estava prestes a lhe dar uma boa surra. O guru concordou em receber seu castigo, mas
não antes de fazer a seguinte pergunta: “No que você estava pensando quando estava lá no fundo
do rio”? O discípulo disse que definitivamente não estava pensando em nada, mas o guru insistiu
que estava. Eles discutiram por um ou dois minutos, até que o discípulo perguntou, “Ok, no que
eu estava pensando”?
“Você tinha um pensamento e um pensamento somente”, o guru respondeu. “Qual era”? Disse o
discípulo. “Ar”, disse o guru. “Seu único pensamento era 'Quero respirar'. Querer a liberação
com a mesma intensidade que você queria ar, é um desejo ardente”.
Todo mundo diz que quer ser livre, mas você precisa ser sincero consigo mesmo sobre essa
questão. O seu desejo é insignificante, mediano ou ardente?
Um Professor Qualificado
Até agora temos um meio válido de conhecimento e um aluno qualificado. Você também precisa
de um professor qualificado. Como mencionado anteriormente, você não pode ensinar Vedanta a
si próprio. Ler livros e ouvir professores não-qualificados não funciona. É natural começar a
jornada assim, mas há uma desvantagem óbvia: sua ignorância vai fazer com que você interprete
o que lê. Uma pessoa iluminada não é necessariamente um professor qualificado e um professor
qualificado não é necessariamente iluminado! Se meu ensinamento não for nada mais do que eu
e minha história de iluminação – o que fiz, o que aconteceu comigo – não vai funcionar pra você.
Minha iluminação e as conclusões que extraí disto não constituem um ensinamento, porque o
problema é a ignorância genérica. A solução para a ignorância do ser é o conhecimento do ser e
conhecimento não é pessoal.
41
Fazer o que se Fala
A iluminação não tem nenhum significado, além da maneira como você vive. É bem
surpreendente que nos dias atuais a ideia de “sabedoria maluca” ainda se sustente. “Faça como
eu digo, não como eu faço”, não é um ensinamento. Pra que serve a iluminação, se ela só
equivale à uma licença para o ego saciar seus desejos? É muito triste que tantos professores
tenham se comprometido, ao longo dos anos, e dado uma má reputação à verdade, através dos
vícios mais banais: dinheiro, sexo, fama ou poder. As pessoas imaginam que os vícios do
iluminado deveriam ser, de algum modo, mais exóticos.
Quando alguém se senta na sua frente em um trono, com centenas de pessoas a encarando e a
“energia” é maravilhosa, você fica tentado a imaginar que eles são muito iluminados. Na
realidade, você nada sabe sobre quem eles realmente são. Uma imagem agradável e bons
sentimentos é tudo que você pede. Um buscador que saiba discriminar é como uma mosca na
parede, que zune intrometidamente na vida de um professor, para ver se ele brilha também fora
dos holofotes. Descubra para onde vai o dinheiro. Escute as fofocas com discriminação;
frequentemente, onde tem fumaça tem fogo. Figuras públicas são sempre suspeitas. Elas
geralmente sofrem de baixa autoestima e são espertas para criar uma autoimagem de almas
caridosas, mas uma dose saudável de suspeita é justificada. Quanto mais “espirituais” eles são,
maior deveria ser sua dúvida. Assim como o patriotismo, a espiritualidade também é um refúgio
popular para canalhas.
Nós ensinamos por preceitos e também por exemplo. Somente uma pessoa extremamente
avançada, altamente qualificada, pode obter o conhecimento de um trapaceiro, se é que é
possível. Falar de liberação é sedutor e barato, mas quem é realmente liberto? Quando você
encontra uma pessoa liberta, você pode sentir. Existe nela uma leveza, uma despreocupação, uma
simplicidade ascética, que é inconfundível. Elas nunca têm uma programação, uma ‘agenda’.
Você deveria correr, quando um professor tenta lhe recrutar. E deveria correr duas vezes mais
rápido, quando ele lhe diz o que fazer. O professor é alguém que revela a verdade. Se você puder
ver a verdade, ela fará o trabalho. Quem é você, se sua autoconfiança está tão baixa que nem
pode decidir como viver sua vida? Um professor que lhe pede para se entregar à ele ou ela – ou
que aceita sua devoção pessoal servil – é um ser humano imaturo, não um professor, não
interessa o quão glorioso ele pareça ser, assim como você é imaturo por oferecer tal devoção.
Você só precisa ser dedicado à verdade – nada mais. Se você se dedica à verdade somente, não
receberá um professor ruim.
42 Um professor que permite que você se torne
dependente não é um professor. Ele ou ela tem fome de poder. E um professor que tenta lhe
segurar, quando você quer partir –
tenta lhe convencer que você está comprometendo sua iluminação – é um canalha. Um professor
verdadeiro ficará feliz ao ver você partir, sabendo muito bem que a vida é o melhor professor e
que você voltará, não necessariamente para ele ou ela, mas para o ensinamento. Se o professor
for de um bom nível e o ensinamento funcionar – como o Vedanta – você deveria se sentir cada
vez mais livre do professor, conforme o ensinamento progride. Algumas semanas após encontrar
meu professor, ele disse, “Sente-se e escute. Tiraremos você daqui o mais rápido possível,
porque você está ocupando um espaço valioso, que outra pessoa pode usar.”
Um professor que espera que você acredite em suas palavras, baseadas numa epifania que você
teve na presença dele, não é um professor. Um professor que lhe convence que seu ego precisa
ser explodido, ou que sua mente precisa ser destruída, é muito perigoso. A fama não faz o
professor; grupos de pessoas podem ser tão iludidos quanto indivíduos. Você notará que os
professores ao redor dos quais se desenvolvem cultos à personalidade, invariavelmente fazem da
mente um inimigo. Sempre que há uma dúvida, lhe dirão que é apena a “mente” e vão pedir que
a descarte. Se você tiver esse tipo de professor e ensinamento, saiba que ele não tem meios
válidos de conhecimento e é faminto por poder, ou carente. É surpreendente quantos professores
populares precisam de fato do seu amor. Se você sentir que um professor precisa de você por
qualquer motivo, saia correndo. Isso é problema. Um verdadeiro professor é desapegado, auto--
satisfeito e não tem nada a ganhar lhe ensinando.
Um professor que ensina silêncio não tem um ensinamento. O silêncio está feliz com a
ignorância. Um professor que ensina iluminação experiencial não é um professor, porque você
sempre está experienciando o ser; há sempre somente a consciência universal. Finalmente, um
professor que não apresenta o lado negativo de seus ensinamentos, não é um professor. Muitos
professores, por exemplo, exaltam o tantra como um meio de iluminação. Talvez o tantra, como
é concebido em sua totalidade, seja um caminho indireto útil para pessoas qualificadas.
Entretanto, o tantra sexual – a prática mais popular – mal merece menção, já que é apenas uma
entre tantas técnicas. Ele funciona, assim como funciona uma epifania não-dual, se você tiver
sorte. Entretanto, o tantra sexual - que é a configuração perfeita para egos imaturos e insatisfeitos
- tem um problema enorme. A técnica que lhe dá a experiência da não- dualidade produz apego à
técnica! Você se torna apegado ao sexo, não ao conhecimento da não-dualidade, que deveria ser
absorvido por sua mente. Fixar a mente no ser é investigação. Ao invés disto, a mente está
preocupada com o próximo episódio sexual.
É dever do professor alertar contra o apego e oferecer técnicas como karma yoga, que destroem o
apego ao invés de alimentá-lo. Mas ao contrário disso, professores inescrupulosos usam esse
ensinamento para atrair milhares e aumentarem suas perseguições por fama e fortuna, o danos
para seus seguidores. Somente que o normalmente Vedanta, 43
os conduz à ruína e à sérios destemidamente, aponta o lado negativo de tudo, para lhe ajudar a
desenvolver desapego. Se estivéssemos interessados em atrair pessoas, evitaríamos informar aos
buscadores a longa lista de
qualificações enumeradas neste capítulo.
Eu entendo que possa ser difícil ouvir essa mensagem, mas tenha em mente que essas afirmações
estão em harmonia com um ensinamento que tem dado certo por milhares de anos e que é tão
sólido quanto a verdade na qual se baseia. Sua confiança é um recurso valioso. Não a dilapide
em mercadorias estragadas.
Eu elogio o Vedanta porque funcionou para mim e tem funcionado para muitos outros, desde
épocas imemoriais, mas não pense que você precisa de Vedanta da forma que eu o apresento,
para se libertar. Embora você precise de fato do conhecimento do ser, ele virá até você. Vedanta
é somente um meio de conhecimento. Se você está qualificado e invocar a consciência universal
adequadamente, irá se libertar, seja com quem ou onde você estiver – dane-se o Vedanta. Não
desprezamos outros caminhos, nem nos sentimos superiores, por nosso veículo ser
maravilhosamente eficiente e os outros nem tanto. Faça o que tiver vontade e realize sua busca
como achar pertinente, mas não ignore estes ensinamentos.
Correndo o risco de estar dourando a pílula, eu repito: o mercado espiritual é uma instituição
humana, imperfeita de todas as maneiras. Como suas opções são limitadas, você está dentro dele,
mas não por falha sua. Você pode vagar nesse mercado por mais de vinte anos e perceber que os
meios disponíveis são falhos. E embora não fosse sua intenção e você não fizesse ideia de como
realizar a busca quando começou, pode ser que tenha se qualificado enquanto estava lá. Toda
busca é um erro, mas é um bom erro. Chamamos isso de erro condutor, porque ele pode muito
bem, indiretamente, lhe conduzir para onde você precisa estar. Não se surpreenda se o Vedanta
aparecer e você se pegar admirando a sua beleza. Anos atrás, em São Francisco, vi um pôster
com o rosto sorridente de um guru, que dizia “Venha até mim quando já estiver feliz”. Ou o
professor estava apenas saturado de pessoas infelizes, ou ele realmente compreendeu alguma
coisa, porque há verdade nisso. O Vedanta funciona quando você está pronto para parar de
procurar.
Finalmente, tenha em mente que também existem professores que conhecem a verdade, sabem
que eles são a verdade e vivem vidas dharmicas, mas não possuem um meio legítimo de
conhecimento do ser. Não é o beijo da morte se associar à eles; você pode ganhar muita coisa. E
não lamente, se tiver sido usado e abusado nas mãos de um professor espiritual. Aceite isso como
um presente e não desista. Quando for a hora certa, o professor certo aparecerá.
44
A Graça de Deus
Então, eu tenho um meio qualificado de conhecimento, eu sou qualificado e tenho um professor
compassivo, solidário, que domina o meio de conhecimento habilidosamente. Caso encerrado,
certo? Errado. É necessário levar em consideração mais um fator - a graça. Nossa iluminação
serve tanto como um serviço ao todo quanto como uma liberação pessoal. Deus conhece as
necessidades do todo e as providencia, portanto você vai ter sua iluminação quando Deus quiser,
não antes. A conclusão a ser tirada: exponha sua mente aos ensinamentos em toda e qualquer
oportunidade, trabalhe em si mesmo com sinceridade e alegria e pare de se preocupar com os
resultados.
Antes de ensinarmos o ser, deveríamos rever o que aprendemos até agora. É vitalmente
importante que você compreenda a lógica completa do ensinamento. Você deve voltar e ler os
primeiros quatro capítulos de novo, mas vamos rever o que foi dito até aqui, porque a repetição é
a melhor maneira de consolidar o conhecimento.
Um Curto Resumo
Eu sei que a felicidade não está nos objetos. Sei que a felicidade está no sujeito, eu, o ser. Eu
quero buscar o ser diretamente, para poder desfrutar da plenitude que vem do conhecimento de
quem sou, ao invés de ter instantes temporários de felicidade, vindos dos objetos e situações.
Portanto, eu me torno um buscador da liberação.
A abordagem experiencial lhe estimula a fazer práticas destinadas a lhe trazer a iluminação. O
caminho sem caminho do conhecimento é baseado na ideia de que você já é livre, mas não
reconhece este fato. Se você não compreende quem é, precisa de um meio de conhecimento que
o revele para você.
A primeira, a abordagem experiencial, é impraticável, porque as pessoas têm desejos e
conhecimento limitados e suas ações produzem resultados limitados. Elas querem um resultado
ilimitado – liberação – mas não podem realizar ações que produzam ilimitação.
A saída desse enigma é fazer o ‘fazedor’, o executor de ações, trabalhar em algo que funciona – a
investigação. Ela funciona, porque o resultado é o conhecimento, não uma ação. O conhecimento
te liberta, porque você já é livre. O conhecimento de que eu sou livre, de que sou pleno e
completo, é liberdade, supondo que esse conhecimento negue o executor e transforme o
condicionamento dele em não-compulsivo. Uma vez firme, o conhecimento do ser não requer
manutenção. A experiência requer constante manutenção, firme, a compulsão então de a busca
fazer nunca cessa, termina. e você não Uma faz 45
vez o que que faz o conhecimento pela felicidade; do você ser faz está o que faz com felicidade.
Dissemos que o conhecimento requer um meio de conhecimento e que os meios que
nos foram dados por Deus são inadequados, porque o ser não é um objeto de conhecimento.
Então a consciência universal, não as pessoas, revelou e desenvolveu o Vedanta, um meio
comprovado. Ele remove a falta de clareza quanto à sua plenitude, sua totalidade. O
conhecimento só se fixa numa mente preparada, qualificada e precisa ser trabalhado em você por
um professor qualificado.
Perguntas
1. Por que a maioria dos professores e ensinamentos “não-duais” atuais ignoram as
qualificações?
2. Por que a maioria dos buscadores não gosta da ideia de qualificações?
3. As qualificações são arbitrárias? No que elas estão embasadas ?
4. Quais são as duas qualificações básicas apresentadas no Capítulo 1?
5. Discriminar é separar o que é real do que é aparentemente real. Qual é a definição de
realidade?
6. Se a experiência não é real porque ela se modifica, qual é o estado ontológico que ela
desfruta? Dê um exemplo.
7. Por que a discriminação é necessária para a liberação?
8. O desapego é definido como indiferença ao que acontece, ou seja, aos resultados de suas
ações e das ações dos outros. Por que ele é necessário para a liberação?
9. Por que o executor de ações acha tão difícil se desapegar?
10. Dê dois exemplos de sobreposição.
11. Controle mental é controle do seu relacionamento com seus pensamentos. Por que não é
o controle dos pensamentos em si?
12. Se você não pode controlar sua mente através da observação, por que deveria controlar
suas ações?
13. Svadharma significa cumprir seus deveres para consigo mesmo. Ele aparece de diversas
formas que não contribuem. Mencione duas.
14. que é Svadharma necessário significa expressar responder seu condicionamento?
à vida, conforme 46
quem você é como pessoa. Por
15. A capacidade de realizar multi-tarefas e uma mente que vagueia desqualificam o
buscador da liberação. Qual é a solução?
16. Por que é difícil manter a mente focada no Ser?
17. O que é tolerância?
18. Vedanta exige fé. Por que não se trata de fé cega?
19. A fé Vedantina é a fé que tende ao resultado da investigação. É preciso ter fé em dois
objetos. Quais são eles?
20. Por que o ardente desejo pela liberação é a qualidade mais importante?
21. Por que você precisa de um professor e um ensinamento impessoal?
22. Por que é que um ensinamento que vem da interpretação de um indivíduo de sua
experiência espiritual não é um meio válido para a liberação?
23. Por que se sentar em silêncio não é um ensinamento adequado para a liberação?
24. Um investigador qualificado, um meio de conhecimento impessoal e testado pelo tempo,
e um professor qualificado são três fatores exigidos para a liberação. Qual é o quarto?
Respostas
1. Porque eles veem a iluminação como uma questão de experiência. Nenhuma qualificação
é necessária para a experiência. Eles não compreendem que o Ser é sempre experienciado,
que só há um Ser e ele é sempre livre, o que significa que a iluminação é a remoção da
ignorância. A ignorância acontece na mente. Para que o conhecimento remova a
ignorância, a mente precisa ser qualificada, ou seja, preparada.
2. Porque para se qualificar, a pessoa precisa fazer algum esforço e hoje em dia, a maioria
dos buscadores está condicionada à ideia de gratificação instantânea. A ideia de que
qualquer um pode simplesmente ‘pegar tudo’ se encaixa nessa crença. Os buscadores estão
apegados à suas tendências e preconceitos
3. Não são. Estão baseadas em observação e análise. Os indivíduos com mentes qualificadas
assimilam o ensinamento e aqueles que carecem das qualificações, têm dificuldade em
assimilá-lo.
4. A apreciação correta do fato de que a alegria não está nos objetos e de que a vida é um
jogo de soma-zero.
47
5. O que está sempre presente. O que nunca se modifica. A pura Consciência. A pura
existência. Meu Ser.
6. É mithya, o aparentemente real. A argila e o pote, o oceano e a onda, o ouro e os
ornamentos.
7. Porque o Ser, que é real, é confundido com os objetos aparentemente reais que nele
aparecem.
8. Falta de desapego causa emotividade. A discriminação é excepcionalmente difícil,
quando a mente está emocionalmente perturbada.
9. Porque o executor está apegado aos resultados de suas ações e a vida nem sempre traz os
resultados desejados.
10. Tomar um objeto pelo outro. Acrescentar valor à um objeto.
11. Porque o que você pensa não está sob o controle do indivíduo.
12. Porque as ações têm consequências que repercutem, perturbando a mente.
13. Cuidar do karma dos outros. Manipular os outros. Tentar mudar o mundo. Tentar
viver por um ideal. Tentar ser algo que você não é.
14. Você não pode alcançar a liberação até ter trabalhado a maior parte do karma que
trouxe nessa vida. Se você se recusar a cumprir os deveres para consigo mesmo, sua mente
estará em conflito e será incapaz de discriminar.
15. Aprender a manter a mente focada em um único tema por um longo período.
16. Falta de compromisso com a liberação. Apego à crença de que os objetos desejados
podem trazer felicidade.
17. É a objetividade quanto às dores de todos os tipos, sem ansiedade, reclamação ou
tentativa de vingança.
18. Porque liberação é liberação da ignorância do Ser. A fé não remove ignorância. Fé
significa que eu não sei.
19. Fé nos ensinamentos e fé no professor.
20. Porque a ignorância do Ser está bem instalada. Há muitos obstáculos a serem
superados e muitos reveses. A menos que seu desejo para se liberar seja intenso, você
perderá a coragem e falhará.
21. Porque sua ignorância do Ser irá fazer com que você interprete erroneamente o que lê e
escuta sobre ele e sobre como reconhecê-lo.
48
22. Porque a interpretação de um indivíduo sobre sua experiência não se aplica à todo
mundo. O conhecimento não é subjetivo. É o mesmo para todos.
23. Porque o silêncio não se contrapõe à ignorância. Quando está sentado em silêncio, você
aguarda uma experiência do Ser, sem saber que está sempre e somente experienciando o
Ser.
24. A graça de Deus.
49
CAPÍTULO 5
Consciência, o Ser
Sempre começo o ensinamento com um cântico de um dos textos fontes do Vedanta. É uma
descrição de você.
Om Brahmanandan parama sukkadam kevalm jnana murtim
Dvandvatitam gangana sad drisham tatvamasyaadhi lakshyam.
Ekam nityam vimalam achalam sarvadhi sakshi bhootam
Bhavatam triguna rahitam sad gurum tam namami.
O Ser, Consciência, é êxtase ilimitado e prazer interminável. Está além das
dualidades da mente. É o estado de ser que vê, o estado de ser que é conhecido
através da afirmação do Vedanta “Você é Aquilo”. Ele é a única, eterna, pura e
imutável testemunha de todas as coisas. Está além da experiência e das três
qualidades da natureza. Eu me curvo para aquele Ser, o que remove a ignorância.
É isso que sua mente está lhe dizendo a respeito de quem você é? Indubitavelmente existe uma
voz interna que tem outra opinião. Ela provavelmente diz algo assim: “Eu sou um vermezinho
assustado e carente, mastigando meu caminho através da pilha de lixo experiencial do mundo,
procurando por satisfação. A vida é dura e sou solitário, medroso, deprimido e guiado pelos
meus desejos na maior parte do tempo. Você diz que estou bem, mas não me experiencio desta
maneira”. Nós todos conhecemos essa voz. Ela é uma das protagonistas na guerra interna entre a
verdade de quem somos e o que pensamos que somos. Os ensinamentos não podem acabar com
essa guerra; você tem que acabar com ela, contemplando o significado dos ensinamentos.
Vedanta é seu aliado. Ele revela a verdade não-dual de sua experiência e permanece ao seu lado,
sempre vigilante.
50
Ele afirma que sua identidade é a pura Consciência, não nascida, eterna, sem ação e sem
preocupação. Ele mostra que você é a bondade além do bem e do mal, que a beleza dessa criação
– o sol, a lua e as estrelas – é apenas um pálido reflexo da beleza do seu próprio ser. O Vedanta
diz que, por ser a plena consciência, você é tudo que há. Portanto, você precisa se reconhecer
como todas as coisas. E para aqueles que ainda anseiam por algum tipo de iluminação
experiencial, o Vedanta afirma inequivocamente que o que você busca – o Ser – está “além da
experiência”. Vedanta está interessado em um único tópico – identidade. Você diria que o
ensinamento começaria com o tópico do Ser e permaneceria nele exclusivamente, mas há muito
mais na investigação do Ser do que apenas dizer que somos a Consciência, o que por si só não é
um tópico complexo. É, no entanto, um tópico sutil, que não dá margem para raciocínios
imprecisos e desajeitados, ou que necessariamente conduz a uma solução simples, como
perguntar “Quem sou eu?”. Também não é uma linha reta e direta, pelo fato de que a experiência
parece contradizê- lo, oferecendo uma resistência natural à assimilação dos ensinamentos. E já
que o problema é ignorância, e a ignorância está fortemente instalada, você não pode
simplesmente sair pela rua, apoiado por uma epifania, desperto por uma leitura rápida de um
livro popular sobre não-dualidade, ou se sentindo ótimo pelos depoimentos elogiosos de amigos,
e esperar “sacar” imediatamente. Se o fizer, irá “des- sacar” tão rapidamente quanto “sacou”.
Muitos com o QI de Einstein não conseguiram quebrar o código. A investigação do Ser é uma
busca única. Um ensinamento bem-sucedido como o Vedanta precisa configurar pacientemente o
contexto no qual a investigação do Ser se torna significativa. Isso envolve clareza com referência
aos seus objetivos, obtendo uma compreensão precisa da natureza da iluminação, eliminando
noções errôneas, avaliando a necessidade de um meio de conhecimento e providenciando suas
qualificações, antes que sequer comece a investigar. E você deveria saber que o tópico do Ser –
que em certo sentido é o único tópico – situa-se mais ou menos no meio de toda corrente lógica
que constitui a visão da não-dualidade, o que quer dizer que, embora ele seja a primeira, a última
e a única palavra, ele não é. A afirmação “é e não é” caracteriza o ensinamento. Por exemplo, há
muitas afirmações obviamente contraditórias nos textos. O que significa “É maior do que o
maior e menor do que o menor”? “Ficando parado, vai- se mais rápido do que a mente”. “A
mente é o Ser, mas o Ser não é a mente”. Não há uma resposta rápida e fácil, até que um
desdobramento cauteloso dos ensinamentos solucione as contradições aparentes e deixe explícito
o que está implícito. Imagine que você está passeando num caminhozinho na natureza e encontra
um estranho. Antes de trocar quaisquer palavras, o que você experiencia? Você vê um corpo e vê
a Consciência. Se não existisse a Consciência, o corpo não se sustentaria em pé. Ele estaria
apodrecendo no chão, servindo de alimento para os vermes. A Consciência aparece como a
centelha de vida que anima o corpo. Você não a “vê” com os olhos, mas a conhece por dedução,
que é tão válido quanto a experiência direta, já que conhecer é quase só o que é exigido. Dizemos
“quase”, porque apenas conhecer a Consciência indiretamente como um objeto não é o bastante.
Ela somente é verdadeiramente conhecida, quando você sabe o que significa conhecê-la, em
termos de sua experiência da dualidade. Geralmente, apresenta; ninguém quando senta você e
entra fica encarando em uma sala o outro e alguém sem 51
falar. está Em lá, termos você imediatamente de conhecimento se
do ser, isso traz um problema, porque o modo pelo qual estamos condicionados a interagir – que
revela o que sabemos e não sabemos – exige que sejam trocadas informações sobre
nossas respectivas identidades. Você não pode realmente viver no mundo “real” sem saber com
quem está lidando. Essa informação pode vir indiretamente, por dedução, ou diretamente, na
forma de afirmações a respeito daquele ser. Eu duvido seriamente que você já tenha encontrado
um completo estranho, que se apresentou como Consciência ordinária, sem ação, sem
preocupação, ilimitada e não-nascida. Estas são as palavras que mais precisamente identificam o
Ser que está naquele corpo à sua frente, mas não é o que o Ser irá dizer.
Eu Não Sou Minha História
A situação é um pouco mais complicada, porque mesmo embora o Ser realmente não tenha vindo
de lugar algum, um dos primeiros detalhes que surgem numa conversa é de onde a pessoa veio.
Mesmo embora ele não tenha nascido, ele fala de uma mãe e um pai. Embora seja livre de todas
as coisas, ele parece pensar que está ligado a um lugar, uma residência, um cônjuge e filhos.
Mesmo não sendo um executor de ações, porque não há nada além dele, ele lhe diz que faz um
trabalho específico. Embora nada tenha lhe acontecido, ele pode lhe entreter para sempre,
geralmente até a exaustão, sobre todas as coisas que aconteceram: “minha mãe fez isto; meu pai
fez aquilo; e então eu...” Ele tem uma história pra contar. E aquela história pretende, de alguma
forma, acrescentar algo à Consciência, que está bem na sua frente, tagarelando. A história tem o
propósito de ser “eu”. Mas há um sinal de equivalência entre eu e a minha história? Se você
acrescentasse todas as coisas que aconteceram com “você” ao longo dos anos – e o que você
pensou sobre elas - a soma equivaleria à você? Se todas aquelas palavras à seu respeito se
referiam à algo real, suas alusões estariam disponíveis para a experiência aqui e agora. A
realidade – a Consciência, que é você – está sempre presente. Mas nenhuma dessas coisas estão
presentes, além das palavras que supostamente as representam. Elas não estão coladas ao seu
corpo, para que as pessoas possam tocar. Elas não pairam ao seu redor, como uma nuvem de
mosquitos, para serem observadas. São simplesmente palavras vindas de você, que
imediatamente desaparecerão no ar.
Eu Sou a Consciência Comum
Extrair uma identidade de uma série de acontecimentos reais e imaginários não funciona. Minha
história, minha ideia de quem sou, não sou eu. Se você quer saber quem você é, subtraia a sua
história. O que sobrar é você, uma simples Consciência – um ser consciente. Não existem dois de
você, três ou dez de você. Existe somente uma sempre-presente, Consciência comum. Estamos
num outro ponto importante do ensinamento, porque tudo que temos lido e escutado -
particularmente os depoimentos superficiais de uma quantidade enorme de seres chamados de
iluminados, que inundam o mercado espiritual com seus livros, vídeos e websites - nos
convenceu de que o que buscamos é algum tipo de experiência surpreendente, transformará em
incrível, super seres que iluminados, transformará e nos nossa permitirá 52
vida, algo que ter vidas supostamente nos com as quais só podemos hoje sonhar. Sem a
pornografia espiritual hiperbólica, que se faz passar por conhecimento nos dias atuais, o mundo
espiritual gigantesco encolheria até o tamanho de
uma pequena ervilha, e os gurus modernos teriam que pendurar seus chapéus e arranjar um
emprego. A ideia de que o Reconhecimento do Ser é algo especial – que é uma ideia correta, mas
não da maneira como você pensa – é o maior impedimento imaginável para a iluminação. A
persistência deste mito é devida, exclusivamente, ao fato de que os egos dos que estão buscando
estão entediados, solitários, e geralmente desencantados com a vida, e eles só irão atrás de algo
que eles acreditam ser: Incrível! Fantástico! Inacreditável! Assim, a fantasia do Ser
extraordinário – o Ser TRANSCENDENTAL, o Ser CÓSMICO, etc. – sobrevive, de uma era
para outra. Se você se apegar à noção de que irá experienciar uma coisa especial e prosseguir
com esta investigação, ficará muito desapontado, porque – triste dizer – o Ser que você é, o Ser
que você irá reconhecer – é totalmente comum. Ele é a Consciência que está observando sua
mente assimilar estas palavras, nada mais. Não é em nada inacessível. Ela está escondida em
campo aberto. Está sempre presente e não é desfrutada por um único motivo, que é a falta de
compreensão. Nessa pura, simples e imutável Consciência que somos, os pensamentos,
sentimentos, memórias, sonhos, percepções, crenças e opiniões surgem e se dissolvem como a
névoa da madrugada. Ainda que Consciência (awareness) e consciência (consciousness) sejam
sinônimos, costumo usar a palavra consciência (awareness), porque quase invariavelmente
achamos que a consciência é a mente, ou seja, os eventos que surgem e se dissolvem na
consciência. Devido à sua associação com a mente, a palavra “consciência”, a qual
frequentemente nos referimos como uma “corrente” ou um fluxo de experiências subjetivas, não
é tão útil como a palavra Consciência, embora no uso, Consciência também se refira à mente.*
*Nota das Revisoras: Nesse capítulo, James faz uma diferenciação entre as palavras
“Consciousness” e “Awareness” que antes eram utilizadas como sinônimos, sendo
Consciousness a consciência comum, associada à mente, pensamentos e emoções e Awareness, o
Ser. Como em português as duas palavras são traduzidas como “Consciência”, decidimos utilizar
o “C” maiúsculo para fazer essa diferenciação, portanto “Consciência” (ou em alguns casos,
“Pura Consciência”) passa a ser o equivalente à Awareness, o Ser.
A Coisa Mais Óbvia
Aqui está uma investigação curta e brilhante de um dos meus amigos, Christian Leeby. Eu a
“engordei” um pouquinho, mas ele tem todo o crédito.
“Qual é a experiência mais familiar pra você? Isso não deveria ser fácil de responder? Sei que é
uma pergunta um tanto vaga, mas ainda assim, não parece que você deveria facilmente responder
o que é? Pense a respeito. Não deveria demorar mais do que alguns segundos, mas pode levar um
bom tempo, porque a resposta é tão óbvia, que a maioria das pessoas não a percebe.
53 Quando você experiencia alguma coisa
o tempo todo, algo que nunca se modifica, é quase impossível percebê-la, como acontece com a
gravidade. Ela está o tempo todo empurrando com força nossos corpos, mas você nunca a nota,
porque ela está sempre lá. O que é
interessante quanto à experiência mais familiar pra você, é que ela também é constante como a
gravidade, mas você pode conhecê-la. Ainda que ela nunca mude, você pode percebê-la. Então o
que é?
A experiência mais familiar pra você é que você existe. Cada coisinha que você experiencia e
conhece, acontece no contexto da sua existência. Isto é super óbvio, certo? Mas não vem à
mente, porque está num segundo plano e não pensamos sobre isso ou apreciamos pelo que ela é,
porque... Porque está sempre lá. Quando você pensa sobre o fato de que você existe bem agora,
você imediatamente “sente” ou “experiencia” ou “conhece” sua existência de alguma maneira,
não é? Como você sabe que existe? Bem, você apenas sabe, só isso. Não é porque você vê sua
existência, ou escuta, sente, ou pensa nela, ou por qualquer outra razão. Nenhuma outra fonte de
informação é exigida. Que você existe é o conhecimento mais importante que cada pessoa tem.
Ele é óbvio, fundamental e contínuo. E você sabe simplesmente porque sabe. Nada novo aqui;
estou apenas apontando para o que você já sabe, o tempo todo. Existe outro fato muito
importante à seu respeito, que você precisa considerar. Que você existe está claro, mas qual é a
natureza da sua existência? O que exatamente é existência? Existência é a Consciência. Estas
duas palavras significam exatamente a mesma coisa. A experiência mais familiar pra você é que
você é consciente. A existência, a consciência tem que estar lá, ou você não poderia experienciar
ou saber nada. Ou você poderia dizer que a existência ou a consciência tem que estar lá, ou você
não estaria lá. Óbvio, não é?
Algumas pessoas no mundo espiritual – a maioria, na verdade – parecem pensar que a
Consciência é algo especial, algo que está em algum outro lugar, algo para ser descoberto ou
percebido ou experienciado de alguma maneira mística. Estou mostrando como a consciência é
completamente normal e óbvia para você. Uma coisa é compreender que você é a
existência/consciência, mas outra coisa é saber o que significa ser o que você é. Isso tomará um
pouco mais de tempo, se você quiser ver por conta própria, mas se escutar o que tenho a dizer,
não vai tomar tanto tempo assim. O que isso significa é que você é sempre inteiro, pleno,
completo. Isso é o que queremos dizer com êxtase. Quer dizer que você está sempre satisfeito
consigo mesmo. Você, irá, é claro, discutir comigo sobre este assunto, porque sua experiência
não concorda com essa conclusão. Às vezes, você definitivamente se sente insatisfeito. Antes de
parar de escutar, considere isso: por que você não está satisfeito com a sua insatisfação? A
resposta é, porque você não está focado na sua existência/consciência, em você mesmo. Você
não se sente satisfeito porque conseguiu o que queria ou evitou o que não queria. Você se sente
satisfeito porque está em unidade consigo mesmo. Há algo que obstrui sua auto-apreciação –
seus medos e desejos! Se você puder deixá-los de lado, pode ficar satisfeito o tempo todo.
Existem várias soluções para este problema – karma yoga, por exemplo - mas a mais rápida, se
você estiver qualificado, é a investigação do Ser. Aplique a verdade à seu respeito – o
conhecimento que sou a consciência plena e completa, sempre-existente, sem ação – sempre que
um medo gratuito ou desejo surgirem e você irá, finalmente, derrubará-los. Toda vez que fizer
isso, ficará muito satisfeito, porque estará se colocando como você é, se colocando como a
existência/Consciência e não como os seus medos e desejos tolos querem que você pense que é –
pequeno, inadequado, incompleto e um banana.
54 É como estar na escola e um professor
lhe pedir para apagar o quadro negro do seu passado. Quando você traz a investigação do Ser
para sua mente, está apagando tudo que é velho. Passe o apagador algumas vezes e verá uma
diferença imediata, que é uma coisa maravilhosa
sobre o Vedanta. No entanto, um pouco daquele giz está lá há muito tempo e precisa de muito
mais energia no apagador e um pouco de ajuda do cotovelo. Se você duvida que o apagador irá
funcionar, não funcionará, porque você não o estará utilizando. Use-o consistentemente, com
certeza e confiança absoluta, e ele finalmente funcionará. Isso é a investigação do Ser. Outro
ponto terrivelmente importante sobre a iluminação é saber que a ideia que você tem de que ao se
reconhecer no Ser, irá descobrir algo novo, é uma mentira total. Você não irá descobrir ou
experienciar nada novo. Não irá arrumar seu karma. Se você está procurando por alguma coisa
nova – um tipo especial de experiência – você está apenas alimentando sua auto-ignorância. Na
verdade, quando você reconhece o ser, o que ocorre é que você vê que a experiência mais óbvia e
familiar pra você – sua existência/consciência – é o que você tem procurado. Por isso não é um
grande evento e não é uma experiência. Nossos pensamentos, sentimentos e corpo são óbvios
para nós. Todos nós os temos e sabemos que eles são separados de nós. Nossa
existência/consciência é super óbvia para nós agora, mas ninguém jamais nos disse que a
existência/consciência é diferente deles. Então presumimos que nosso óbvio senso de
existência/consciência vem do corpo. Não vem. Existe seu corpo, seus pensamentos, seus
sentimentos, seu ego, e então, razoavelmente à parte disso, está sua existência/consciência.
Embora eles sejam um - porque a realidade é não- dual - seu corpo, pensamentos, sentimentos e
ego são diferentes de você, existência. Eles são objetos - como árvores e montanhas. Você, a
existência/consciência, é o que os testemunha. A Consciência, a testemunha, é o que de fato você
é. Saber disto não irá necessariamente te iluminar, embora certamente possa. Mas é muito
importante, porque impedirá que sua mente se torne mágica e espiritual sobre essa misteriosa
consciência, da qual todas as pessoas no mundo não-dual estão falando. Mesmo se você não a
compreender totalmente, esteja confiante de que a Consciência sobre a qual você está pensando,
não é nada mais do que aquilo que é pra você a experiência mais familiar: sua existência.
É realmente simples assim.”
Uma Segunda Consciência
A dualidade é um negócio muito enganoso. É a crença de que a Consciência é na verdade duas
ou mais. É por isso que você escuta tanto sobre o “ser superior” e o “ser inferior”, o “ser
verdadeiro” e o “ser falso”, o “ser real” e o “ser ilusório”. A dualidade é totalmente
compreensível e você deve saber já no início desse ensinamento que a dualidade e a não-
dualidade não são incompatíveis, porque elas habitam ordens diferentes de uma mesma realidade
ou, se você preferir, a dualidade é um subsistema da não-dualidade. Elas não se contradizem, da
mesma maneira que uma onda não contradiz o oceano. Ela é o oceano, mas o oceano não é a
onda. Não precisamos destruir a dualidade. Precisamos apenas negá-la. Se experiencialmente
destruíssemos a dualidade, teríamos que inventar um jeito todo novo de viver no mundo. Na
verdade, não haveria mundo nenhum, como nós o conhecemos, para se viver. Quando você tem
consciência da verdade do seu Ser, as também coisas serão concretas diferentes continuam de
uma sendo maneira as mesmas muito boa. que 55
Paradoxos eram antes abundam.
da sua liberação, mas elas
A “segunda Consciência” é a consciência refletida. Mais tarde, quando desdobrarmos o
ensinamento dos princípios macrocósmicos, discutiremos isso em detalhes – é bem técnico –
mas agora precisamos explicá-la resumidamente, para facilitar a compreensão do por que buscar
a iluminação não é uma linha reta. Não é algo que você iria descobrir por si próprio. Se não fosse
o Vedanta, isso escaparia de sua atenção completamente. A segunda Consciência é como a lua e
a primeira Consciência é como o sol. A lua não tem luz própria. É um satélite morto. O sol é um
fogo radiante, brilhando em todas as direções, gerando luz de dentro de si mesmo. Numa noite de
lua cheia é bem possível achar seu caminho na terra. Se uma criança sai à noite, ela verá a lua e
pensará que ela está realmente brilhando. Ela está brilhando, mas não com sua própria luz. Ela
reflete a luz do sol. Quando Maya - a força criativa, sobre a qual muito será dito mais tarde - está
operante, o ser aparece como um indivíduo com um corpo denso sutil e causal. O corpo físico
conhecemos bem. Sem aprofundar muito, o Corpo Causal é seu condicionamento. Ele motiva
suas ações. O Corpo Sutil é a pessoa que você pensa que é. É a Consciência refletida. E assim
como a lua, ele não é na verdade consciente – embora ela seja considerada consciente, porque é
virtualmente impossível separar a luz que brilha nela da superfície reflexiva sobre a qual ela
incide. Para obscurecer ainda mais a verdade sobre o Corpo Sutil, ele é o lugar em você onde as
experiências acontecem, onde todos seus sentimentos e pensamentos ocorrem. Quando os
Corpos Sutis (pessoas) dizem “Eu penso” ou “Eu sinto”, não é verdade, porque a Consciência, o
“Eu”, não pensa ou sente. Os Corpos Sutis não pensam ou sentem conscientemente, porque não
eles não são na verdade conscientes. A Consciência pura, como o sol, reflete o Corpo Sutil e os
pensamentos que surgem nele são iluminados e conhecidos. Se você tirar a Consciência do
Corpo Sutil, não poderá ver os pensamentos surgindo nele. No sono profundo, a Consciência não
ilumina o Corpo Sutil, então não há “você” lá.
Antes de continuarmos você notará que estamos começando a introduzir alguns termos técnicos
- Corpos Denso, Sutil e Causal.
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