Apontamentos Manual Diogo Leite Campos P
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Apontamentos Manual Diogo Leite Campos P
O Código Civil é a principal fonte do Direito das Sucessões. O livro V, do artigo 2024 ao artigo 2334 ocupa-se desta
matéria.
Conceito de sucessão
A sucessão com o sentido que lhe atribuí, corresponde à aquisição derivada translativa. O direito do sucessor é o
mesmo que pertencia ao anterior titular. Não basta porem a qualificação da sucessão com aquisição derivada
translativa. A sucessão que vai ser estudada é mortis causa a morte do titular do direito é a causa da aquisição deste
direito por outrem.
O CC no seu artigo 2024 consagra a perspectiva da sucessão por morte como sucessão (e não como aquisição
derivada translativa):
ARTIGO 2024º
(Noção)
Diz-se sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente
devolução dos bens que a esta pertenciam.
A característica da sucessão não estará, pois na transferência dos direitos de uma pessoa para outra, mas no
chamamento de uma pessoa à titularidade das relações jurídicas patrimoniais que pertenciam a outrem. Com efeito
os herdeiros estão vinculados a um certo numero de direitos e deveres de carácter não patrimonial, cujo núcleo
essência é constituído pela defesa dos direitos da personalidade do falecido. Deverão ser assim os herdeiros, a
defender o direito do falecido ao seu bom nome, à sua integridade física, o seu direito à sepultura etc. continuando a
ser representado o falecido.
Verifica-se que a “quota” de herdeiro é uma quota ideal ou abstracta da herança, podendo compreender bens ou
valores determinados por exclusão.
O legatário é um sucessor a título singular ou particular, enquanto o herdeiro é um sucessor a título universal. O
legatário só sucede nos bens para que foi chamado, o herdeiro sucede nos bens para que foi chamado e em
quaisquer outros que se venham a encontrar sem titular.
A figura do herdeiro moderno inspira na figura do herdeiro romano. O herdeiro continua a ser alguém que vem
ocupar a posição jurídica do de cuius quanto ao conjunto das suas relações jurídicas (direitos, obrigações e mesmo
situações jurídicas de carácter não patrimonial).
O herdeiro é um “sucessor”, o único sucessor no sentido romano da expressão. Enquanto o legatário, como qualquer
adquirente, só recebe bens determinados.
ARTIGO 2028º
(Sucessão contratual)
1. Há sucessão contratual quando, por contrato, alguém renúncia à sucessão de pessoa viva, ou dispõe da sua própria sucessão ou da sucessão de terceiro ainda não
aberta.
2. Os contratos sucessórios apenas são admitidos nos casos previstos na lei, sendo nulos todos os demais, sem prejuízo no disposto no nº 2 do ARTIGO 946º.
A família é o quadro normal da devolução sucessória. Primeiro porque a sucessão legal, legitimária ou legítima é uma
sucessão familiar: os bens são devolvidos aos familiares mais próximos segundo uma certa ordem. Depois porque a
sucessão legal é a mais importante na prática. Uma parte importante dos bens, que pode chegar a dois terços,
pertence legitimamente a certos parentes mais próximos. O autor da sucessão não pode dispor destes bens, a título
gratuito, ente vivos ou pró morte, em prejuízo destes herdeiros necessários.
Quanto às pessoas colectivas – no artigo 166 CC vem enunciado o princípio geral quanto ao destino dos bens das
pessoas colectivas no caso de estas se extinguirem e não ter havido deliberação quanto ao destino dos seus bens.
Assim se existem no património da associação ou fundação bens que lhe tenham sido deixados ou doados com
certos fins, tais bens devem ser entregues com o mesmo encargo ou afectação a outra pessoa colectiva, que
prossiga fins idênticos. Se não se verificam os pressupostos do encargo ou da finalidade os bens serão atribuídos a
outra pessoa colectiva ou ao Estado devendo, tanto quanto possível, assegurara-se que esses bens continuam
afectados aos fins da pessoa extinta.
ARTIGO 166º
(Destino dos bens no caso de extinção)
1. Extinta a pessoa colectiva, se existirem bens que lhe tenham sido doados ou deixados com qualquer encargo ou que estejam afectados a um certo fim, o tribunal,
a requerimento do Ministério Público, dos liquidatários, de qualquer associado ou interessado, ou ainda de herdeiros do doador ou do autor da deixa testamentária,
atribuí-los-á, com o mesmo encargo ou afectação, a outra pessoa colectiva.
2. Os bens não abrangidos pelo número anterior têm o destino que lhes for fixado pelos estatutos ou por deliberação dos associados, sem prejuízo do disposto em
leis especiais; na falta de fixação ou de lei especial, o tribunal, a requerimento do Ministério Público, dos liquidatários, ou de qualquer associado ou interessado,
determinará que sejam atribuídos a outra pessoa colectiva ou ao Estado, assegurando, tanto quanto possível, a realização dos fins da pessoa extinta.
Prova de morte
A morte prova-se em princípio por uma certidão do registo de óbito. Se o cadáver não for encontrado, mas se
verificarem circunstancias que assegurem o falecimento da pessoa, esta considere-se falecida (art. 68/3 CC) devendo
o MP promover, através da Conservatória do Registo Civil a justificação judicial do óbito (art. 207 CRC), de cujo
assento se extrairá a necessária certidão de óbito.
ARTIGO 68º
(Termo da personalidade)
Morte presumida
Quando alguém se ausenta sem dar notícia, o primeiro interesse a acautelar é o património do próprio ausente (e
indirectamente dos seus herdeiros presumidos e credores) na administração dos seus bens. Com este fim, institui-
se-à uma curadoria provisória (art. 89 a 98 do CC e 1451 e seg. do CPC), requerida pelo MP ou qualquer interessado.
O curador provisório praticará só actos de administração ordinária (art. 94 CC).
SUBSECÇÃO I
Curadoria provisória
ARTIGO 89º
(Nomeação de curador provisório)
1. Quando haja necessidade de prover acerca da administração dos bens de quem desapareceu sem que dele se saiba parte e sem ter deixado representante legal ou
procurador, deve o tribunal nomear-lhe curador provisório.
2. Deve igualmente ser nomeado curador ao ausente, se o procurador não quiser ou não puder exercer as suas funções.
3. Pode ser designado para certos negócios, sempre que as circunstâncias o exijam, um curador especial.
ARTIGO 90º
(Providências cautelares)
A possibilidade de nomeação do curador provisório não obsta às providências cautelares que se mostrem indispensáveis em relação a quaisquer bens do ausente.
ARTIGO 91º
(Legitimidade)
A curadoria provisória e as providências cautelares a que se refere o artigo anterior podem ser requeridas pelo Ministério Público ou por qualquer interessado.
ARTIGO 92º
(A quem deve ser deferida a curadoria provisória)
1. O curador provisório será escolhido de entre as pessoas seguintes: o cônjuge do ausente, algum ou alguns dos herdeiros presumidos, ou algum ou alguns dos
interessados na conservação dos bens.
2. Havendo conflito de interesses entre o ausente e o curador ou entre o ausente e o cônjuge, ascendentes ou descendentes do curador, deve ser designado um
curador especial, nos termos do número 3 do artigo 89º.
ARTIGO 93º
(Relação dos bens e caução)
1. Os bens do ausente serão relacionados e só depois entregues ao curador provisório, ao qual será fixada caução pelo tribunal.
2. Em caso de urgência, pode ser autorizada a entrega dos bens antes de estes serem relacionados ou de o curador prestar a caução exigida.
3. Se o curador não prestar a caução, será nomeado outro em lugar dele.
ARTIGO 94º
(Direitos e obrigações do curador provisório)
1. O curador fica sujeito ao regime do mandato geral em tudo o que não contrariar as disposições desta subsecção.
2. Compete ao curador provisório requerer os procedimentos cautelares necessários e intentar as acções que não possam ser retardadas sem prejuízo dos interesses
do ausente; cabe-lhe ainda representar o ausente em todas as acções contra este propostas.
3. Só com autorização judicial pode o curador alienar ou onerar bens imóveis, objectos preciosos, títulos de crédito, estabelecimentos comerciais e quaisquer
outros bens cuja alienação ou oneração não constitua acto de administração.
4. A autorização judicial só será concedida quando o acto se justifique para evitar a deterioração ou ruína dos bens, solver dívidas do ausente, custear benfeitorias
necessárias ou úteis ou ocorrer a outra necessidade urgente.
ARTIGO 95º
(Prestação de contas)
1. O curador provisório deve prestar contas do seu mandato perante o tribunal, anualmente ou quando este o exigir.
2. Deferida a curadoria definitiva nos termos da subsecção seguinte, as contas do curador provisório são prestadas aos curadores definitivos.
ARTIGO 96º
(Remuneração do curador)
ARTIGO 97º
(Substituição do curador provisório)
O curador pode ser substituído, a requerimento do Ministério Público ou de qualquer interessado, logo que se mostre inconveniente a sua permanência no cargo.
ARTIGO 98º
(Termo da curadoria)
Decorridos dois anos sobre as ultimas notícias (ou cinco se o ausente tiver deixado representante legal ou
procurador) pode ser requerida pelo MP ou por qualquer dos interessados referidos no art. 100 CC a curadoria
definitiva (art. 99 a 113 CC e 1103 e seg. do CPC). Os bens são entregues aos que viriam a recebe-los no caso de
morte do ausente, ficando a administra-los em termos semelhantes aos do curador provisório. Os bens são
partilhados, e os legatários, bem como todos aqueles que, por morte do ausente, teriam direito a bens
determinados, podem requerer que estes lhe sejam entregues independentemente de partilha (art. 102 CC)
SUBSECÇÃO I
Curadoria definitiva
ARTIGO 99º
(Justificação da ausência)
Decorridos dois anos sem se saber do ausente, se este não tiver deixado representante legal nem procurador bastante, ou cinco anos, no caso contrário, pode o
Ministério Público ou algum dos interessados requerer a justificação da ausência.
ARTIGO 100º
(Legitimidade)
São interessados na justificação da ausência o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens, os herdeiros do ausente e todos os que tiverem sobre os bens
do ausente direito dependente da condição da sua morte.
ARTIGO 101º
(Abertura de testamentos)
Justificada a ausência, o tribunal requisitará certidões dos testamentos públicos e mandará proceder à abertura dos testamentos cerrados que existirem, a fim de
serem tomados em conta na partilha e no deferimento da curadoria definitiva.
ARTIGO 102º
(Entrega de bens aos legatários e outros interessados)
Os legatários, como todos aqueles que por morte do ausente teriam direito a bens determinados, podem requerer, logo que a ausência esteja justificada,
independentemente da partilha, que esses bens lhes sejam entregues.
ARTIGO 103º
(Entrega dos bens aos herdeiros)
1. A entrega dos bens aos herdeiros do ausente à data das últimas notícias, ou aos herdeiros dos que depois tiverem falecido, só tem lugar depois da partilha.
2. Enquanto não forem entregues os bens, a administração deles pertence ao cabeça-de-casal, designado nos termos dos artigos 2080º e seguintes.
ARTIGO 104º
(Curadores definitivos)
Os herdeiros e demais interessados a quem tenham sido entregues os bens do ausente são havidos como curadores definitivos.
ARTIGO 105º
(Aparecimento de novos interessados)
Se, depois de nomeados os curadores definitivos, aparecer herdeiro ou interessado que, em relação à data das últimas notícias do ausente, deva excluir algum deles
ou haja de concorrer à sucessão, ser-lhe-ão entregues os bens nos termos dos artigos anteriores.
ARTIGO 106º
(Exigibilidade de obrigações)
A exigibilidade das obrigações que se extinguiriam pela morte do ausente fica suspensa.
ARTIGO 107º
(Caução)
1. O tribunal pode exigir caução aos curadores definitivos ou a algum ou alguns deles, tendo em conta a espécie e valor dos bens e rendimentos que eventualmente
hajam de restituir.
2. Enquanto não prestar a caução fixada, o curador está impedido de receber os bens; estes são entregues, até ao termo da curadoria ou até à prestação da caução, a
outro herdeiro ou interessado, que ocupará, em relação a eles, a posição de curador definitivo.
ARTIGO 108º
(Ausente casado)
Se o ausente for casado, pode o cônjuge não separado judicialmente de pessoas e bens requerer inventário e partilha, no seguimento do processo de justificação da
ausência, e exigir os alimentos a que tiver direito.
ARTIGO 109º
(Aceitação e repúdio da sucessão;
disposição dos direitos sucessórios)
1. Justificada a ausência, é admitido o repúdio da sucessão do ausente ou a disposição dos respectivos direitos sucessórios.
2. A eficácia do repúdio ou da disposição, assim como a aceitação da herança ou de legados, ficam, todavia, sujeitas à condição resolutiva da sobrevivência do
ausente.
ARTIGO 110º
(Direitos e obrigações dos curadores definitivos
e demais interessados)
Aos curadores definitivos a quem os bens hajam sido entregues é aplicável o disposto no artigo 94º, ficando extintos os poderes que anteriormente hajam sido
conferidos pelo ausente em relação aos mesmos bens.
ARTIGO 111º
(Fruição dos bens)
1. Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge que sejam nomeados curadores definitivos têm direito, a contar da entrega dos bens, à totalidade dos frutos
percebidos.
2. Os curadores definitivos não abrangidos pelo número anterior devem reservar para o ausente um terço dos rendimentos líquidos dos bens que administrem.
ARTIGO 112º
(Termo da curadoria definitiva)
ARTIGO 113º
(Restituição dos bens ao ausente)
1. Nos casos previstos nas alíneas a) e b) do artigo anterior, os bens do ausente ser-lhe-ão entregues logo que ele o requeira.
2. Enquanto não for requerida a entrega, mantém-se o regime da curadoria nos termos desta subsecção.
Decorridos dez anos sobre a data das ultimas noticias (ou cinco anos se o ausente entretanto tiver completado
oitenta anos de idade), as pessoas mencionada no art. 100 podem requerer a declaração de morte presumida (art.
114) esta declaração produz os mesmos efeitos jurídicos da morte: abre a sucessão e permite ao outro cônjuge
contrair novo matrimónio (art. 116)
Note-se porem, que no caso de o ausente regressar ou haver noticias dele, o chamamento das sucessores se resolve, embora só ex nunc, sendo devolvido ao
ex ausente apenas o património no estado em que se encontrar, com o preço dos bens alienados ou com os bens directamente sub-rogados, e, bem assim,
com os bens adquiridos mediante o preço dos alienados, quando no titulo de aquisição se declarar expressamente a proveniência do dinheiro (art. 119)
SUBSECÇÃO III
Morte presumida
ARTIGO 114º
(Requisitos)
1. Decorridos dez anos sobre a data das últimas notícias, ou passados cinco anos, se entretanto o ausente houver completado oitenta anos de idade, podem os
interessados a que se refere o artigo 100º requerer a declaração de morte presumida.
2. A declaração de morte presumida não será proferida antes de haverem decorrido cinco anos sobre a data em que o ausente, se fosse vivo, atingiria a maioridade.
3. A declaração de morte presumida do ausente não depende de prévia instalação da curadoria provisória ou definitiva e referir-se-á ao fim do dia das últimas
notícias que dele houve.
ARTIGO 115º
(Efeitos)
A declaração de morte presumida produz os mesmos efeitos que a morte, mas não dissolve o casamento, sem prejuízo do disposto no artigo seguinte.
ARTIGO 116º
(Novo casamento do cônjuge do ausente)
O cônjuge do ausente casado civilmente pode contrair novo casamento; neste caso, se o ausente regressar, ou houver notícia de que era vivo quando foram
celebradas as novas núpcias, considera-se o primeiro matrimónio dissolvido por divórcio à data da declaração de morte presumida.
ARTIGO 117º
(Entrega dos bens)
A entrega dos bens aos sucessores do ausente é feita nos termos dos artigos 101º e seguintes, com as necessárias adaptações, mas não há lugar a caução; se esta
tiver sido prestada, pode ser levantada.
ARTIGO 118º
(Óbito em data diversa)
1. Quando se prove que o ausente morreu em data diversa da fixada na sentença de declaração de morte presumida, o direito à herança compete aos que naquela
data lhe deveriam suceder, sem prejuízo das regras da usucapião.
2. Os sucessores de novo designados gozam apenas, em relação aos antigos, dos direitos que no artigo seguinte são atribuídos ao ausente.
ARTIGO 119º
(Regresso do ausente)
1. Se o ausente regressar ou dele houver notícias, ser-lhe-á devolvido o património no estado em que se encontrar, com o preço dos bens alienados ou com os bens
directamente sub-rogados, e bem assim com os bens adquiridos mediante o preço dos alienados, quando no título de aquisição se declare expressamente a
proveniência do dinheiro.
2. Havendo má-fé dos sucessores, o ausente tem direito a ser indemnizado do prejuízo sofrido.
3. A má-fé, neste caso, consiste no conhecimento de que o ausente sobreviveu à data da morte presumida.
Comoriência
A prova do momento da morte interessa para determinar a ordem dos sucessores. Portanto haverá que provar a
morte do de cuius para que se abra a sucessão e o momento da morte para se determinar a ordem dos sucessores.
Por exemplo o pai e o filho seguiam no mesmo avião que explodiu no ar. Terá morrido antes o pai ou o filho? A
resposta a esta pergunta é decisiva para efeitos de direitos sucessórios. Se o pai morreu primeiro, o filho é chamado
a suceder e depois de sua morte (mesmo que esta se tenha verificado segundos depois) são chamados a suceder-lhe
os seus herdeiros (por exemplo os filhos). Agora se o filho morreu antes do pai, já não será chamada a suceder a
este.
Interessa provar a ordem dos falecimentos, podendo ser mesmo utilizados presunções de facto (por exemplo um
dos falecidos era muito mais resistente fisicamente do que o outro) para formar a convicção do juiz. Se não se fizer
prova, então a lei presume a morte simultânea (art. 68/2). Presumindo-se que o autor da herança e os seus
herdeiros ou legatários faleceram ao mesmo tempo, daqui deriva a consequência de que entre eles (no exemplo pai
e filho) não haverá transmissão de herança ou legado. Assim no caso de morte simultânea do pai e do filho, a
herança do pai será deferida aos seus herdeiros (com a exclusão do filho morte simultaneamente) e a do filho
também aos seus herdeiros, com exclusão do pai (morto simultaneamente).
ARTIGO 68º
(Termo da personalidade)
ARTIGO 2031º
(Momento e lugar)
A sucessão abre-se no momento da morte do seu autor e no lugar do último domicílio dele.
O artigo 2031 CC diz que a sucessão se abre no momento da morte do seu autor, ou seja no primeiro momento de
ausência de vida. É no momento da abertura da sucessão que a designação sucessória se fixa na vocação: o chamado
a suceder é o titular da designação sucessória prevalecente no momento da abertura da sucessão.
A vocação é feita em regra no momento da abertura da sucessão e mesmo quando é subsequente retroage àquele
momento (art. 2032 CC). Os efeitos da aceitação retroagem ao momento da abertura da sucessão (art. 2050/2)
ARTIGO 2032º
(Chamamento de herdeiros e legatários)
1. Aberta a sucessão, serão chamados à titularidade das relações jurídicas do falecido aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, desde que
tenham a necessária capacidade.
2. Se os primeiros sucessíveis não quiserem ou não puderem aceitar, serão chamados os subsequentes, e assim sucessivamente; a devolução a favor dos últimos
retrotrai-se ao momento da abertura da sucessão.
ARTIGO 2050º
(Efeitos)
1. O domínio e posse dos bens da herança adquirem-se pela aceitação, independentemente da sua apreensão material.
Para o cálculo da legítima, os bens são os existentes no património do de cuius na data da sua morte e o respectivo
valor é o que eles têm neste momento (art. 2162/1). Também o valor dos bens doados, tanto para efeito de cálculo
da legítima, como para efeitos de colação, é o valor que eles tenham na data da abertura da sucessão (art. 2169/1)
ARTIGO 2162º
(Cálculo da legítima)
1. Para o cálculo da legítima, deve atender-se ao valor dos bens existentes no património do autor da sucessão à data da sua morte, ao valor dos bens doados, às
despesas sujeitas a colação e às dívidas da herança.
2. Não é atendido para o cálculo da legítima o valor dos bens que, nos termos do ARTIGO 2112º, não são objecto de colação.
ARTIGO 2069º
(Âmbito da herança)
ARTIGO 82º
(Domicílio voluntário geral)
1. A pessoa tem domicílio no lugar da sua residência habitual; se residir alternadamente em diversos lugares, tem-se por domiciliada em qualquer deles.
2. Na falta de residência habitual, considera-se domiciliada no lugar da sua residência ocasional ou, se esta não puder ser determinada, no lugar onde se encontrar.
ARTIGO 2270º
(Entrega do legado)
Na falta de declaração do testador sobre a entrega do legado, esta deve ser feita no lugar em que a coisa legada se encontrava ao tempo da morte do testador e no
prazo de um ano a contar dessa data, salvo se por facto não imputável ao onerado se tornar impossível o cumprimento dentro desse prazo; se, porém, o legado
consistir em dinheiro ou em coisa genérica que não exista na herança, a entrega deve ser feita no lugar onde se abrir a sucessão, dentro do mesmo prazo.
Em primeiro lugar, dentro da sua legitima estão os herdeiros legitimários (cônjuge sobrevivo, descendentes e
ascendentes) e neste quadro sucedem primeiro os descendentes e o cônjuge, depois este com os antecedentes, e
depois o cônjuge.
Em segundo lugar estão os herdeiros ou legatários contratuais. A designação contratual prevalece sobre a
designação testamentária anterior (art. 2311 e 2313) ou posterior (art. 1701/1). A designação contratual não pode
ofender a quota dos herdeiros legitimários.
ARTIGO 2311º
(Faculdade de revogação)
1. O testador não pode renunciar à faculdade de revogar, no todo ou em parte, o seu testamento.
2. Tem-se por não escrita qualquer cláusula que contrarie a faculdade de revogação.
ARTIGO 2313º
(Revogação tácita)
1. O testamento posterior que não revogue expressamente o anterior revogá-lo-á apenas na parte em que for com ele incompatível.
2. Se aparecerem dois testamentos da mesma data, sem que seja possível determinar qual foi o posterior, e implicarem contradição, haver-se-ão por não escritas em
ambos as disposições contraditórias.
1. A ordem por que são chamados os herdeiros, sem prejuízo do disposto no título da adopção, é a seguinte:
a) Cônjuge e descendentes;
b) Cônjuge e ascendentes;
e) Estado.
2. O cônjuge sobrevivo integra a primeira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer sem descendentes e deixar ascendentes, caso em que integra a
segunda classe.
3. O cônjuge não é chamado à herança se à data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens, por sentença
que já tenha transitado ou venha a transitar em julgado, ou ainda se a sentença de divórcio ou separação vier a ser proferida posteriormente àquela data, nos termos
do nº 3 do ARTIGO 1785º.
Vocação sucessória
A vocação sucessória é o chamamento à sucessão, no momento da morte do de cuius, feita pela lei ou por força de
negócio jurídico, dos titulares da designação sucessória prevalecente. No caso de vocação de herdeiro, este é
chamado a suceder na totalidade das relações jurídicas do de cuius ou numa quota ali quota destas. O legatário é
chamado a suceder em relações jurídicas certas e determinadas.
ARTIGO 2026º
(Títulos de vocação sucessória)
A sucessão é deferida por lei, testamento ou contrato.
Sucessão legitimária
Quando aos designados legitimários, a lei já concede alguma tutela jurídica à sua expectativa de virem a herdar a sua
quota legitimaria. Trata-se de um interesse protegido juridicamente, não em termos de um direito sobre os bens, ou
em relação aos bens, mas de uma simples expectativa jurídica. Com efeito, os herdeiros legitimários têm a faculdade
de revogar ou reduzir, depois da morte do de cuius as disposições gratuitas mortis causa ou entre vivos, que este
tenha feito em prejuízo da sua legitima.
Esta faculdade traduz uma importante limitação dos poderes de disposição dos seus bens por parte do respectivo
titular. O direito atribuído ao donatário ou ao herdeiro e legatário testamentários está sempre sujeito a ser revogado
ou limitado quando ao seu objecto. Tudo dependera de saber se no momento da morte do de cujus o valor dos bens
doados ou deixados afectou ou não a quota destinada aos herdeiros legitimários.
Para além desta tutela, outra existe, embora de muito menor relevo. O artigo 242/2 CC atribui aos herdeiros
legitimários a faculdade de arguirem a nulidade dos negócios simulados celebrados pelo autor da sucessão com o
intuito de os prejudicar (ou por extensão analógica, mantidos com esse intuito), podendo faze-lo ainda em vida do
de cuius. Bastará nos termos da lei a possibilidade de uma lesão futura, traduzida normalmente pelo facto de o
negócio simulado comprometer a situação patrimonial do autor da sucessão em termos de naquele momento a
quota legitimaria ser afectada.
ARTIGO 242º
(Legitimidade para arguir a simulação)
1. Sem prejuízo do disposto no artigo 286º, a nulidade do negócio simulado pode ser arguida pelos próprios simuladores entre si, ainda que a simulação seja
fraudulenta.
2. A nulidade pode também ser invocada pelos herdeiros legitimários que pretendam agir em vida do autor da sucessão contra os negócios por ele simuladamente
feitos com o intuito de os prejudicar.
ARTIGO 66º
(Começo da personalidade)
Surgindo a personalidade jurídica com a concepção e coincidindo a capacidade sucessória em principio com a
personalidade jurídica, mesmo na falta de disposição legar expressa seria de entender que o nascituro já concebido
mas ainda não nascido tem capacidade sucessória.
Mas a lei é clara e neste sentido: tem capacidade sucessória (podendo adquirir por sucessão testamentaria ou legal)
todas as pessoas concebidas ao tempo da abertura da sucessão (art. 2033/1 CC). Não interessa que o nascituro
venha a nascer viço. Só releva que fosse uma pessoa viva no momento da abertura da sucessão). Ao ser chamado a
suceder, o nascituro é-o como pessoa já existente, com todas as consequências jurídicas que daqui derivam. Assim
se falecer (antes ou depois do nascimento) os bens adquiridos transmitem-se para os seus herdeiros. Presumir-se-á
concebido no memento da abertura da sucessão, o ser humano que nasça nos trezentos dias seguintes.
ARTIGO 2033º
(Princípios gerais)
1. Têm capacidade sucessória, além do Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, não exceptuadas por lei.
2. Na sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade:
a) Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão;
b) As pessoas colectivas e as sociedades.
1. Se o herdeiro for instituído sob condição suspensiva, é posta a herança em administração, até que a condição se cumpra ou haja a certeza de que não pode
cumprir-se.
2. Também é posta em administração a herança ou legado durante a pendência da condição ou do termo, se não prestar caução aquele a quem for exigida nos
termos do ARTIGO anterior.
ARTIGO 2239º
(Regime da administração)
Sem prejuízo do disposto nos ARTIGOs anteriores, os administradores da herança ou legado estão sujeitos às regras aplicáveis ao curador provisório dos bens do
ausente, com as necessárias adaptações.
ARTIGO 2240º
(Administração da herança ou legado a favor de nascituro)
1. O disposto nos ARTIGOs 2237º a 2239º é aplicável à herança deixada a nascituro não concebido, filho de pessoa viva; mas a esta pessoa ou, se ela for incapaz,
ao seu representante legal pertence a representação do nascituro em tudo o que não seja inerente à administração da herança ou do legado.
2. Se o herdeiro ou legatário estiver concebido, a administração da herança ou do legado compete a quem administraria os seus bens se ele já tivesse nascido.
Capacidade sucessória
Para ser chamado à sucessão o titular da designação sucessória prevalente tem de ser capaz perante o de cuius.
Capacidade sucessória é a aptidão para se ser chamado a suceder em relação a uma certa pessoa, como herdeiro ou
legatário. São capazes de suceder todas as pessoas singulares ou colectivas que a lei não declare incapazes (artigo
2033)
A capacidade sucessória deve existir no momento da morte do de cuius e só neste, não sendo necessário que se
prolongue (art. 2033 e 2035/1).
ARTIGO 2033º
(Princípios gerais)
1. Têm capacidade sucessória, além do Estado, todas as pessoas nascidas ou concebidas ao tempo da abertura da sucessão, não exceptuadas por lei.
2. Na sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade:
a) Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da abertura da sucessão;
b) As pessoas colectivas e as sociedades.
ARTIGO 2035º
(Momento da condenação e do crime)
1. A condenação a que se referem as alíneas a) e b) do ARTIGO anterior pode ser posterior à abertura da sucessão, mas só o crime anterior releva para o efeito.
2. Estando dependente de condição suspensiva a instituição de herdeiro ou a nomeação de legatário, é relevante o crime cometido até à verificação da condição.
Assim no caso de concepturos, com estes não existem no momento da abertura da sucessão terão só que ter
capacidade sucessória no momento da vocação que é o da sua concepção. No caso de a instituição de herdeiro ou
legatário estar sujeita a condição suspensiva, a capacidade sucessória devera existir em dos momentos:
1. No da morte do de cuius
2. No da verificação da condição
É o que resulta do artigo 2035/2 CC que releva um princípio geral.
Contudo a existência de uma vocação (condicional) assenta no facto de a designação produzir alguns efeitos desde o
momento da morte do de cuius: o sucessor condicional pode aceitar desde o momento da abertura da sucessão e
verificam-se os efeitos previstos no artigo 2238.
ARTIGO 2238º
(A quem pertence a administração)
1. No caso de herança sob condição suspensiva, a administração pertence ao próprio herdeiro condicional e, se ele a não aceitar, ao seu substituto; se não existir
substituto ou este também a não aceitar, a administração pertence ao co-herdeiro ou co-herdeiros incondicionais, quando entre eles e o co-herdeiro condicional
houver direito de acrescer, e, na sua falta, ao herdeiro legítimo presumido.
2. Não sendo prestada a caução prevista no ARTIGO 2236º, a administração da herança ou legado compete àquele em cujo interesse a caução devia ser prestada.
3. Contudo, em qualquer dos casos previstos no presente ARTIGO, o tribunal pode providenciar de outro modo, se ocorrer justo motivo.
Por outro lado há diversas causas de incapacidade sucessória que se verificam depois da abertura da sucessão. São
os casos de atentado contra o testamento (art. 2034 al. d)) o chamado era capaz no momento da abertura da
sucessão e veio a tornar-se incapaz por vir a atentar contra o testamento.
ARTIGO 2034º
(Incapacidade por indignidade)
Incapacidade sucessória
As incapacidades sucessórias estão reguladas pelo artigo 2034. Porém existe uma disciplina especial para a sucessão
legitimária (artigos 2166 e 2167). Trata-se de incapacidades relativas que funcionam só em relação ao autor da
sucessão, e que se fundam numa ideia de indignidade do sucessível, em virtude da prática de actos deste, directa ou
indirectamente, contra o autor da sucessão.
ARTIGO 2034º
(Incapacidade por indignidade)
ARTIGO 2166º
(Deserdação)
1. O autor da sucessão pode em testamento, com expressa declaração da causa, deserdar o herdeiro legitimário, privando-o da legítima, quando se verifique alguma
das seguintes ocorrências:
a) Ter sido o sucessível condenado por algum crime doloso cometido contra a pessoa, bens ou honra do autor da sucessão, ou do seu cônjuge, ou algum
descendente, ascendente, adoptante ou adoptado, desde que ao crime corresponda pena superior a seis meses de prisão;
b) Ter sido o sucessível condenado por denúncia caluniosa ou falso testemunho contra as mesmas pessoas;
c) Ter o sucessível, sem justa causa, recusado ao autor da sucessão ou ao seu cônjuge os devidos alimentos.
2. O deserdado é equiparado ao indigno para todos os efeitos legais.
ARTIGO 2167º
(Impugnação da deserdação)
A acção de impugnação da deserdação, com fundamento na inexistência da causa invocada, caduca ao fim de dois anos a contar da abertura do testamento.
As hipóteses previstas nos artigos 2192 e seguintes não configuram incapacidade (indignidade do sucessível do
designado, mas antes incapacidades de dispor, fundadas na necessidade de preservar a plena liberdade de testar).
ARTIGO 2192º
(Tutor, curador, administrador legal de bens e protutor)
1. É nula a disposição feita por interdito ou inabilitado a favor do seu tutor, curador ou administrador legal de bens, ainda que estejam aprovadas as respectivas
contas.
2. É igualmente nula a disposição a favor do protutor, se este, na data em que o testamento foi feito, substituía qualquer das pessoas designadas no número
anterior.
3. É, porém, válida a disposição a favor das mesmas pessoas, quando se trate de descendentes, ascendentes, colaterais até ao terceiro grau ou cônjuge do testador.
Sucessão legítima e sucessão testamentária
O comportamento indigno do sucessível, tipificado no artigo 2034, releva identicamente para efeitos de sucessão
legítima e de sucessão testamentária. São de distinguir as seguintes hipótese de comportamento indigno:
Atentado conta a vida do autor da sucessão e seus familiares próximos;
Atentado contra a liberdade de testar;
Atentado contra o próprio testamento;
Atentado contra a honra do autor da sucessão e os seus familiares próximos.
Incapacidade das pessoas colectivas
Não há normas especiais sobre as incapacidades sucessórias das pessoas colectivas. Assim aplicar-se-ão as normas
gerais, por analogia, sempre que esta exista.
Incapacidades na sucessão legitimária
Parece que a única norma que regula a incapacidade dos herdeiros legitimários, enquanto tais é o artigo 2166. Com
efeito este artigo regula a deserdação, o acto pelo qual o autor da sucessão priva da legitima os seus herdeiros
legitimários, em termos tão diversos dos do artigo 2034 que revelam uma oposição entre estas duas normas.
A causa de deserdação prevista no artigo 2166 al. c) não encontra paralelo no art. 2034. E as incapacidades
sucessórias previstas no artigo 2034 al. c) e d) não encontram eco nas causas de deserdação.
O artigo 2166 será assim uma norma especial que derroga, para a sucessão legitimária, as normas dos artigos 2034 e
seguintes, nos limites do seu âmbito de aplicação. Casos há que recaem fora do seu âmbito. Assim aquando de
prática de homicídio por um herdeiro legitimário contra o autor do testamento será necessário aplicar as normas do
artigo 2034 e seguintes para que o mesmo seja afastado da sua quota legitimaria, uma vez que o disposto no artigo
2166 não contempla esta situação.
Declaração de indignidade; deserdação
As indignidades sucessórias (sucessão legítima e testamentaria devem ser declaradas judicialmente, por força e nos
prazos do artigo 2036. A acção caduca nos dois anos subsequentes à abertura doa sucessão ou dentro do ano
seguinte à condenação pelos crimes das alíneas a) e b) do artigo 2034 ou do conhecimento das causas de
indignidade previstas nas alíneas c) e d) do mesmo artigo.
ARTIGO 2036º
(Declaração de indignidade)
A acção destinada a obter a declaração de indignidade pode ser intentada dentro do prazo de dois anos a contar da abertura da sucessão, ou dentro de um ano a
contar, quer da condenação pelos crimes que a determinam, quer do conhecimento das causas de indignidade previstas nas alíneas c) e d) do ARTIGO 2034º.
ARTIGO 2034º
(Incapacidade por indignidade)
Reabilitação do indigno
O herdeiro e o legatário, indignos (mesmo que a indignidade já tenha sido judicialmente declarada), podem
readquirir a capacidade sucessória se o autor da sucessão expressamente os reabilitar em testamento por escritura
pública (art. 2038). E poderá haver reabilitação tácita, sempre que o testador faça uma deixa ao indigno quando já
conhecia a causa da indignidade, sucedendo o indigno nos limites da disposição testamentária.
ARTIGO 2038º
(Reabilitação do indigno)
1. O que tiver incorrido em indignidade, mesmo que esta já tenha sido judicialmente declarada, readquire a capacidade sucessória, se o autor da sucessão
expressamente o reabilitar em testamento ou escritura pública.
2. Não havendo reabilitação expressa, mas sendo o indigno contemplado em testamento quando o testador já conhecia a causa da indignidade, pode ele suceder
dentro dos limites da disposição testamentária
Vocação pura e Simples e vocação condicional
A vocação condicional está sujeita a condição, suspensiva ou resolutiva, enquanto a vocação pura e simples não lhe
está submetida.
As especialidades das deixas testamentárias condicionais vêm referidas nos artigos 2236 a 2239.
ARTIGO 2236º
(Prestação de caução)
1. Em caso de disposição testamentária sujeita a condição resolutiva, o tribunal pode impor ao herdeiro ou legatário a obrigação de prestar caução no interesse
daqueles a favor de quem a herança ou legado será deferido no caso de a condição se verificar.
2. Do mesmo modo, em caso de legado dependente de condição suspensiva ou termo inicial, o tribunal pode impor àquele que deva satisfazer o legado a obrigação
de prestar caução no interesse do legatário.
3. O testador pode dispensar a prestação de caução em qualquer dos casos previstos nos números anteriores.
ARTIGO 2237º
(Administração da herança ou legado)
1. Se o herdeiro for instituído sob condição suspensiva, é posta a herança em administração, até que a condição se cumpra ou haja a certeza de que não pode
cumprir-se.
2. Também é posta em administração a herança ou legado durante a pendência da condição ou do termo, se não prestar caução aquele a quem for exigida nos
termos do ARTIGO anterior.
ARTIGO 2238º
(A quem pertence a administração)
1. No caso de herança sob condição suspensiva, a administração pertence ao próprio herdeiro condicional e, se ele a não aceitar, ao seu substituto; se não existir
substituto ou este também a não aceitar, a administração pertence ao co-herdeiro ou co-herdeiros incondicionais, quando entre eles e o co-herdeiro condicional
houver direito de acrescer, e, na sua falta, ao herdeiro legítimo presumido.
2. Não sendo prestada a caução prevista no ARTIGO 2236º, a administração da herança ou legado compete àquele em cujo interesse a caução devia ser prestada.
3. Contudo, em qualquer dos casos previstos no presente ARTIGO, o tribunal pode providenciar de outro modo, se ocorrer justo motivo.
ARTIGO 2239º
(Regime da administração)
Sem prejuízo do disposto nos ARTIGOs anteriores, os administradores da herança ou legado estão sujeitos às regras aplicáveis ao curador provisório dos bens do
ausente, com as necessárias adaptações.
No caso de condição resolutiva, o juiz poderá submeter o herdeiro ou o legatário (que são administradores dos bens
até ao momentos da verificação da condição), à obrigação de prestar caução. A prestação de caução que é
evidentemente no interesse dos que receberão os bens se a condição se verificar, pode ser dispensada pelo testador
(art. 2236/1/3). No caso de a caução imposta não ser prestada, a administração dos bens passara para ao
beneficiário da verificação da condição resolutiva (art. 2238/2).
Se a condição for suspensiva, os bens são administrados pelo herdeiro condicional até a condição se cumprir, ou
houver a certeza de que não se cumprirá (art. 2237/1). A administração será realizada pelo herdeiro condicional, ou
pelo seu substituto, se aquele não aceitar (art. 2238/1).
Se o legado tiver sido sujeito a condição suspensiva, aquele que deva, eventualmente, satisfazer o legado, pode ser
submetido a obrigação de prestar caução (art. 2236/2) se este último não cumprir tal ónus, a administração do
legado será diferida ao legatário (art. 2238/2). As normas aplicáveis à administração do curador provisório dos bens
do ausente valem nesta matéria (art. 2239).
Vocação directa e indirecta, originária e subsequente
A vocação indirecta dá-se quando uma pessoa não quis ou não pode suceder (falta de capacidade, repudio, pré-
morte). Na vocação indirecta, não há, ao contrário do que o nome poderia indicar, duas transmissões sucessórias,
fundando-se a segunda na primeira, por força da qual será realizada. Só há uma transmissão sucessória, que é
realizada por força da vocação indirecta.
Sucede só e é esta circunstância que justifica a designação de indirecta, que a posição jurídica do que não quis ou
não pode suceder serve de referência para a posição jurídica do sucessor. Esta vai receber o que receberia o
chamado em primeiro lugar.
Direito de representação
O direito de representação dá-se quando a lei chama os descendente de um herdeiro ou legatário a ocupar a posição
daquele que não pode ou não quis aceitar o legado (art. 2039). No direito de representação, o parente mais
afastando substitui o parente mais próximo que não quis ou que não pode suceder, sucedendo em vez dele. Embora
haja uma ordem na transmissão dos bens (cônjuge e filhos, depois o netos etc.), bem vistas as coisas são todos eles
são herdeiros legitimários. Assim, se circunstancias imprevistas vêm impedir que um deles suceda nos quadros da
ordem estabelecida, não há razão para alterar essa ordem, excluindo os que naturalmente, viriam a suceder depois
dele (os filhos, a seguir aos pais). Assim são chamados, um pouco mais cedo, os que acabariam por suceder mais
tarde.
ARTIGO 2039º
(Noção)
Dá-se a representação sucessória, quando a lei chama os descendentes de um herdeiro ou legatário a ocupar a posição daquele que não pôde ou não quis aceitar a
herança ou o legado.
Na sucessão legal, a representação tem sempre lugar, na linha recta, em benefício dos descendentes de filho do autor da sucessão e, na linha colateral, em benefício
dos descendentes de irmão do falecido, qualquer que seja, num caso ou noutro, o grau de parentesco.
ARTIGO 2133º
(Classes de sucessíveis)
1. A ordem por que são chamados os herdeiros, sem prejuízo do disposto no título da adopção, é a seguinte:
a) Cônjuge e descendentes;
b) Cônjuge e ascendentes;
c) Irmãos e seus descendentes;
d) Outros colaterais até ao quarto grau;
e) Estado.
2. O cônjuge sobrevivo integra a primeira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer sem descendentes e deixar ascendentes, caso em que integra a
segunda classe.
3. O cônjuge não é chamado à herança se à data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens, por sentença
que já tenha transitado ou venha a transitar em julgado, ou ainda se a sentença de divórcio ou separação vier a ser proferida posteriormente àquela data, nos termos
do nº 3 do ARTIGO 1785º.
1. Gozam do direito de representação na sucessão testamentária os descendentes do que faleceu antes do testador ou do que repudiou a herança ou o legado, se não
houver outra causa de caducidade da vocação sucessória.
2. A representação não se verifica:
a) Se tiver sido designado substituto ao herdeiro ou legatário;
b) Em relação ao fideicomissário, nos termos do nº 2 do ARTIGO 2293º;
c) No legado de usufruto ou de outro direito pessoal.
Por outro lado, a representação não se admite na sucessão testamentária em qualquer das circunstâncias prevista
no nº 2 do artigo 2041, que são as seguintes:
O testador designou um substituto para o herdeiro e legatário (al. a));
Se o fideicomissário não puder ou não quiser aceitar a herança, fica sem efeito a substituição, e a
titularidade dos bens hereditários considera-se adquirida definitivamente pelo fiduciário desde a morte
do testador. Assim o direito do fiduciário, limitado no tempo pelo fideicomisso, retoma a sua plenitude no
caso de falta do fideicomissário (al. b));
A representação não se verifica no legado de usufruto ou de outro direito pessoal (al. c)).
Tem eficácia constitutiva, antes dela, os bens não entraram no património do sucessor. Os bens que eram do de
cuius transmitir-se-ão directamente para o património dos transmissários, desde que estes aceitem. Daqui resulta
que os transmissário têm de ser capazes, não só em relação ao transmitente, de quem são herdeiros, como perante
o autor da sucessão de quem recebem os bens.
Carlos sucede por direito de representação, na falta do qual o único herdeiro seria Afonso, parente de grau mais
próximo.
ARTIGO 2044º
(Partilha)
1. Havendo representação, cabe a cada estirpe aquilo em que sucederia o ascendente respectivo.
2. Do mesmo modo se procederá para o efeito da subdivisão, quando a estirpe compreenda vários ramos.
Assim suponha-se que Carlos faleceu, deixando um neto, Pedro, filho de Afonso, pré-falecido, e mais dois netos,
Guilhermina e Miguel, filhos de Josefina, também pré-falecida.
CARLOS (+2)
Se não houvesse direito de representação, seriam chamados Pedro, Guilhermina e Miguel, e a partilha feita por
cabeça, recebendo cada um deles, um terço da herança. Por força do direito de representação, cada estripe vai
suceder no que caberia ao ascendente, ou seja, em metade da herança. Assim, Pedro recebe metade da herança e
Guilhermina e Miguel recebem a outra metade, ficando, assim cada um destes com um quatro do total.
Substituição directa
A substituição directa ou vulgar é outra forma de vocação indirecta. Vem descrita no artigo 2281.
ARTIGO 2281º
(Noção)
1. O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro instituído para o caso de este não poder ou não querer aceitar a herança: é o que se chama substituição
directa.
2. Se o testador previr só um destes casos, entende-se ter querido abranger o outro, salvo declaração em contrário.
Direito de acrescer
O instituto do direito de acrescer visa regulamentar a hipótese de dois ou mais herdeiro terem sido instituídos na
totalidade ou numa quota dos bens, fosse ou não conjunta a instituição e algum deles não poder ou não querer
aceitar a herança. Para esta hipótese, o artigo 2301 dispõe que a parte do que não pode ou que não quis aceitar a
herança vai acrescer à dos outros herdeiros instituídos na totalidade ou na quota.
Também há direito de acrescer entre os legatários que tenham sido nomeados, seja ou não conjunta a nomeação,
em relação ao mesmo objecto (art. 2302)
ARTIGO 2301º
(Direito de acrescer entre herdeiros)
1. Se dois ou mais herdeiros forem instituídos em partes iguais na totalidade ou numa quota dos bens, seja ou não conjunta a instituição, e algum deles não puder
ou não quiser aceitar a herança, acrescerá a sua parte à dos outros herdeiros instituídos na totalidade ou na quota.
2. Se forem desiguais as quotas dos herdeiros, a parte do que não pôde ou não quis aceitar é dividida pelos outros, respeitando- se a proporção entre eles.
ARTIGO 2302º
(Direito de acrescer entre legatários)
1. Há direito de acrescer entre os legatários que tenham sido nomeados em relação ao mesmo objecto, seja ou não conjunta a nomeação.
2. É aplicável, neste caso, com as necessárias adaptações, o disposto no ARTIGO anterior.
ARTIGO 2306º
(Aquisição da parte acrescida)
A aquisição da parte acrescida dá-se por força da lei, sem necessidade de aceitação do beneficiário, que não pode repudiar separadamente essa parte, excepto
quando sobre ela recaiam encargos especiais impostos pelo testador; neste caso, sendo objecto de repúdio, a porção acrescida reverte para a pessoa ou pessoas a
favor de quem os encargos hajam sido constituídos.
No mesmo sentido dispõe a impossibilidade de o sucessor repudiar só a parte acrescida a não ser no caso de caírem
sobre essa parte encargos especiais impostos pelo testador (art. 2306).
1. O domínio e posse dos bens da herança adquirem-se pela aceitação, independentemente da sua apreensão material.
2. Os efeitos da aceitação retrotraem-se ao momento da abertura da sucessão.
Assim é possível a transmissão dos bens do de cuius para os transmissários sem passarem pelo património do
transmitente. Este ponto de vista só é possível com base numa concepção da aceitação como acto constitutivo.
Como o transmitente não chegara a aceitar, não cegara a adquiri os bens que, assim, passam do de cuius para o
transmissários, nunca tendo penetrado na esfera jurídica do transmitente.
Objecto de devolução sucessória
É necessário saber quais os direitos transmissíveis mortis causa e quais não o são. Quais os que constituem o objecto
da devolução sucessória. O artigo 2025 estabelece o princípio geral nesta matéria: só não constituem objecto de
sucessão as relações jurídicas que devem extinguir-se por morte do respectivo titular, em razão da seu natureza ou
por força da lei. A intransmissibilidade pode ser:
Intransmissibilidade natural – não são transmissíveis os direitos de personalidade e os direitos familiares
pessoais. Também se inserirá aqui o direito de pedir o divórcio ou a separação de pessoas e bens. Contudo
os direitos de personalidade não se extinguem completamente com a morte do seu titular. O direito moral
de autor, impedindo adulterações da obra, o direito ao bom nome, o direito à integridade física etc.
persistirão. Continuarão a pertencer ao de cuius embora devendo ser exercidos em benefício deste pelos
seus herdeiros.
Intransmissibilidade legal – são os direitos ineriditáveis por força da lei, direito criados em atenção à pessoa
do seu titular tais como o direito de alimentos e a obrigação de os prestar (art. 2013), os direitos de
usufruto, (artigo 1476), de uso e habitação (art. 1485 e 1490), direito do titular de uma renda vitalícia (art.
1238) etc.
Intransmissibilidade negocial – os direitos renunciáveis não se transmitirão por morte se tal for a vontade
do seu titular. Esta vontade pode ser manifestada em negócio jurídico inter vivos (nomeadamente no acto
constitutivo do direito) ou em testamento.
ARTIGO 2025º
(Objecto da sucessão)
1. Não constituem objecto de sucessão as relações jurídicas que devam extinguir-se por morte do respectivo titular, em razão da sua natureza ou por força da lei.
2. Podem também extinguir-se à morte do titular, por vontade deste, os direitos renunciáveis.
Diz-se sucessão o chamamento de uma ou mais pessoas à titularidade das relações jurídicas patrimoniais de uma pessoa falecida e a consequente devolução dos
bens que a esta pertenciam.
Diz-se jacente a herança aberta, mas ainda não aceita nem declarada vaga para o Estado.
ARTIGO 2155º
(Declaração de herança vaga)
Reconhecida judicialmente a inexistência de outros sucessíveis legítimos, a herança é declarada vaga para o Estado nos termos das leis de processo.
A herança jacente é a herança vaga, mas ainda não aceite. O problema que há aqui a resolver é o da sua
administração durante este período.
Se não houver quem legalmente administre a herança, e para evitar a perda ou deterioração dos bens, nomear-se-á
um curador à herança (art. 2048/1). O curador será nomeado pelo tribunal, a requerimento do MP ou de qualquer
interessado, tendo, os mesmos poderes do curador provisório dos bens do ausente (art. 2048/2)
ARTIGO 2048º
(Curador da herança jacente)
1. Quando se torne necessário, para evitar a perda ou deterioração dos bens, por não haver quem legalmente os administre, o tribunal nomeará curador à herança
jacente, a requerimento do Ministério Público ou de qualquer interessado.
2. À curadoria da herança é aplicável, com as necessárias adaptações, o disposto sobre a curadoria provisória dos bens do ausente.
3. A curadoria termina logo que cessem as razões que a determinaram.
Se o sucessível chamado à herança a não aceitar ou repudiar nos quinze dias subsequentes à vocação o tribunal,
requerido pelo MP ou qualquer interessado, mandará notificar esse sucessível para no prazo que lhe for fixado
declara se aceita ou repudia (art. 2049). Na falta de declaração de aceitação, e desde que não seja apresentado
documento legal do repudio dentro do prazo fixado, a herança tem-se por aceite (art. 2049/2). Se o notificado
repudiar a herança, serão notificados os sucessíveis imediatos, até alguém aceitar a herança ou esta ser declarada
vaga para o Estado (art. 2049/3)
ARTIGO 2049º
(Notificação dos herdeiros)
1. Se o sucessível chamado à herança, sendo conhecido, a não aceitar nem a repudiar dentro dos quinze dias seguintes, pode o tribunal, a requerimento do
Ministério Público ou de qualquer interessado, mandá-lo notificar para, no prazo que lhe for fixado, declarar se a aceita ou repudia.
2. Na falta de declaração de aceitação, ou não sendo apresentado documento legal de repúdio dentro do prazo fixado, a herança tem-se por aceite
3. Se o notificado repudiar a herança, serão notificados, sem prejuízo do disposto no ARTIGO 2067º, os herdeiros imediatos, e assim sucessivamente até não haver
quem prefira a sucessão do Estado.
A aceitação da herança é anulável por dolo ou coacção, mas não com fundamento em simples erro.
ARTIGO 2067º
(Sub-rogação dos credores)
1. Os credores do repudiante podem aceitar a herança em nome dele, nos termos dos ARTIGOs 606º e seguintes.
2. A aceitação deve efectuar-se no prazo de seis meses, a contar do conhecimento do repúdio.
3. Pagos os credores do repudiante, o remanescente da herança não aproveita a este, mas aos herdeiros imediatos
Há que levar em conta as especialidades da aceitação da herança deixada a menor (art. 1888 e 1889, 1891, 1893/1
al. d)), a interdito (art. 1938/1 al. c), 1940 e 1941), e ausente (art. 109).
ARTIGO 1888º
(Exclusão da administração)
ARTIGO 1889º
(Actos cuja validade depende de autorização do tribunal)
ARTIGO 1891º
(Nomeação de curador especial)
1. Se o menor não tiver quem legalmente o represente, qualquer das pessoas mencionadas no nº 2 do ARTIGO anterior tem legitimidade para requerer ao tribunal a
nomeação de um curador especial para os efeitos do disposto no nº 1 do mesmo ARTIGO.
2. Quando o tribunal recusar autorização aos pais para rejeitarem a liberalidade, será também nomeado oficiosamente um curador para o efeito da sua aceitação.
ARTIGO 1893º
(Actos anuláveis)
1. Os actos praticados pelos pais em contravenção do disposto nos ARTIGOs 1889º e 1892º são anuláveis a requerimento do filho, até um ano depois de atingir a
maioridade ou ser emancipado, ou, se ele entretanto falecer, a pedido dos seus herdeiros, excluídos os próprios pais responsáveis, no prazo de um ano a contar da
morte do filho.
2. A anulação pode ser requerida depois de findar o prazo se o filho ou seus herdeiros mostrarem que só tiveram conhecimento do acto impugnado nos seis meses
anteriores à proposição da acção.
3. A acção de anulação pode também ser intentada pelas pessoas com legitimidade para requerer a inibição do poder paternal, contanto que o façam no ano
seguinte à prática dos actos impugnados e antes de o menor atingir a maioridade ou ser emancipado.
A aceitação é um acto irrevogável (art. 2061), puro e simples (art. 2054/1) e indivisível (art. 2054/2 e 2055)
ARTIGO 2061º
(Irrevogabilidade)
A aceitação é irrevogável.
ARTIGO 2054º
(Aceitação sob condição, a termo ou parcial)
ARTIGO 2055º
(Devolução testamentária e legal)
1. Se alguém é chamado à herança, simultânea ou sucessivamente, por testamento e por lei, e a aceita ou repudia por um dos títulos, entende-se que a aceita ou
repudia igualmente pelo outro; mas pode aceitá-la ou repudiá-la pelo primeiro, não obstante a ter repudiado ou aceitado pelo segundo, se ao tempo ignorava a
existência do testamento.
2. O sucessível legitimário que também é chamado à herança por testamento pode repudiá-la quanto à quota disponível e aceitá-la quanto à legítima.
A aceitação pode ser expressa ou tácita, pura e simples. A aceitação é expressa quando em documento escrito o
chamado declara aceitar a herança, ou assuma o título de herdeiro com a intenção de a adquirir (art. 2056/2). É
tácita quando resulta de factos concludentes.
ARTIGO 2056º
(Formas de aceitação)
O direito de aceitar a herança caduca ao fim de dez anos (art. 2059/1) prazo que se conta a partir da data em que o
sucessível teve conhecimento de que foi chamado à herança.
ARTIGO 2059º
(Caducidade)
1. O direito de aceitar a herança caduca ao fim de dez anos, contados desde que o sucessível tem conhecimento de haver sido a ela chamado.
2. No caso de instituição sob condição suspensiva, o prazo conta-se a partir do conhecimento da verificação da condição; no caso de substituição fideicomissária, a
partir do conhecimento da morte do fiduciário ou da extinção da pessoa colectiva.
O repúdio é o acto pelo qual o chamado responde negativamente ao chamamento, declarando que rejeita os bens
colocados à sua disposição (art. 2062). O repúdio é um direito potestativo, com eficácia retroactiva em relação ao
momento da abertura da sucessão (art. 2062).
ARTIGO 2062º
(Efeitos do repúdio)
Os efeitos do repúdio da herança retrotraem-se ao momento da abertura da sucessão, considerando-se como não chamado o sucessível que a repudia, salvos para
efeitos de representação.
O repúdio é um direito potestativo, exercendo-se através de um acto jurídico unilateral, não receptício. Valem em
relação a ele, em princípio as regras gerais sobre os actos jurídicos, podendo ser inválido (nulo ou anulável).
O repúdio está sujeito à forma exigida para a alienação da herança (art. 2063 que remete para o artigo 2126). Nestes
termos, o repúdio só deve revestir a forma de escritura pública se na herança, houver bens cuja alienação deva ser
feito por essa forma, caso contrário bastará documento particular.
ARTIGO 2063º
(Forma)
ARTIGO 2126º
(Forma)
1. A alienação de herança ou de quinhão hereditário será feita por escritura pública, se existirem bens cuja alienação deva ser feita por essa forma.
2. Fora do caso previsto no número anterior, a alienação deve constar de documento particular.
Encargos da herança e sua liquidação
Se houver encargos com a herança, haverá que começar pró proceder à sua liquidação. Os encargos da herança
compreendem, não só as dividas do falecido, assumidas enquanto este vivo, como também as despesas que vão ser
assumidas pela herança, enquanto património autónomo: despesas com o funeral, sufrágios do de cuius, os
encargos com a testamentária, administração e liquidação do património hereditário e os legados (art. 2068).
ARTIGO 2068º
(Responsabilidade da herança)
A herança responde pelas despesas com o funeral e sufrágios do seu autor, pelos encargos com a testamentaria, administração e liquidação do património
hereditário, pelo pagamento das dívidas do falecido e pelo cumprimento dos legados.
Por força do número dois do artigo 2070 os referidos encargos serão liquidados pela ordem por que estão
enunciados no artigo 2068: despesas com o funeral e sufrágio do seu autor, seguindo-se os encargos com a
testamentaria, a administração e liquidação do património hereditário, passando-se ao pagamento das dividas do
falecido e terminando-se pelo cumprimento dos legados.
ARTIGO 2070º
(Preferências)
1. Os credores da herança e os legatários gozam de preferência sobre os credores pessoais do herdeiro, e os primeiros sobre os segundos.
2. Os encargos da herança são satisfeitos segundo a ordem por que vêm indicados no ARTIGO 2068º.
3. As preferências mantêm-se nos cinco anos subsequentes à abertura da sucessão ou à constituição da dívida, se esta é posterior, ainda que a herança tenha sido
partilhada; e prevalecem mesmo quando algum credor preterido tenha adquirido garantia real sobre os bens hereditários.
Os credores da herança e os legatários gozam de preferência sobre os credores pessoais do herdeiro, e os primeiros
sobre os segundos (art. 2070/1). Estas preferências mantêm-se durante os cinco anos subsequentes à abertura da
sucessão ou à constituição da divida, se esta é posterior, ainda que a herança tenha adquiro garantia real sobre os
bens hereditários (art. 2070/3).
Para além dos herdeiros e em certos termos, dos legatários, também o usufrutuário da herança deve pagar por
inteiro o legado de alimentos ou pensão vitalícia; e o usufrutuário de quota na herança deve contribuir para pagar os
alimentos ou pensões vitalícias em proporção da sua quota (art. 2073/1/2). Trata-se de encargos que devem ser
pagos com os rendimentos dos bens, devendo portanto recair sobre o usufrutuário que é o titular do direito a esses
rendimentos.
ARTIGO 2073º
(Legado de alimentos ou pensão vitalícia)
1. O usufrutuário da totalidade do património do falecido é obrigado a cumprir por inteiro o legado de alimentos ou pensão vitalícia.
2. Incidindo o usufruto sobre uma quota-parte do património, o usufrutuário só em proporção dessa quota é obrigado a contribuir para o cumprimento do legado de
alimentos ou pensão vitalícia.
3. O usufrutuário de coisas determinadas não é obrigado a contribuir para os sobreditos alimentos ou pensão, se o encargo lhe não tiver sido imposto
expressamente.
Depois da partilha, cada herdeiro só responde pelos encargos em proporção da quota que lhe tenha cabido na
herança (2098/1).
ARTIGO 2098º
(Pagamento dos encargos após a partilha)
1. Efectuada a partilha, cada herdeiro só responde pelos encargos em proporção da quota que lhe tenha cabido na herança.
2. Podem, todavia, os herdeiros deliberar que o pagamento se faça à custa de dinheiro ou outros bens separados para esse efeito, ou que fique a cargo de algum ou
alguns deles.
3. A deliberação obriga os credores e os legatários; mas, se uns ou outros não puderem ser pagos integralmente nos sobreditos termos, têm recurso contra os outros
bens ou contra os outros herdeiros, nos termos gerais.
A Partilha
Qualquer dos co-herdeiros tem o direito de exigir partilha (art. 2101/1), embora se admita, nos termos o art. 2101/2
que se estipule que o património hereditário se conservará indiviso por certo prazo que não chegue a cinco anos:
sendo licito renovar esse prazo, uma ou mais vezes, por novos acordos.
ARTIGO 2101º
(Direito de exigir partilha)
1. Qualquer co-herdeiro ou o cônjuge meeiro tem o direito de exigir partilha quando lhe aprouver.
2. Não pode renunciar-se ao direito de partilhar, mas pode convencionar-se que o património se conserve indiviso por certo prazo, que não exceda cinco anos; é
lícito renovar este prazo, uma ou mais vezes, por nova convenção.
A partilha pode fazer-se judicial ou extrajudicialmente (art. 2102). A partilha extrajudicial é feita se houver acordo
entre os interessados, e nos temos deste acordo, embora tenha de revestir a forma de escritura pública, se da
herança dizerem parte coisas imóveis. A partilha judicial, realiza-se em processo e inventário, quer facultativo, quer
obrigatório.
ARTIGO 2102º
(Forma)
1. A partilha pode fazer-se extrajudicialmente, quando houver acordo de todos os interessados, ou por inventário judicial nos termos prescritos na lei de processo.
2. Procede-se ainda a inventário judicial quando o Ministério Público o requeira, por entender que o interesse do incapaz a quem a herança é deferida implica
aceitação beneficiária, e ainda nos casos em que algum dos herdeiros não possa, por motivo de ausência em parte incerta ou de incapacidade de facto permanente,
outorgar em partilha extrajudicial.
Segundo o artigo 2104 os descendentes que pretendam entrar na sucessão do ascendente devem restituir à massa
da herança, para igualação da partilha, os bens ou valores que lhes foram doados por aquele. Estão sujeitos à
colação, os descendentes que eram á data da doação presuntivos herdeiros legitimários do doador (art. 2105). A
colação assenta na presunção de que o de cuius ao fazer em vida alguma liberalidade a um seu presuntivo herdeiro
legitimário, não quis avantajá-lo em relação aos outros. Só terá pretendido antecipar-lhe alguns bens, por conta da
sua quota hereditária.
ARTIGO 2104º
(Noção)
1. Os descendentes que pretendem entrar na sucessão do ascendente devem restituir à massa da herança, para igualação da partilha, os bens ou valores que lhes
foram doados por este: esta restituição tem o nome de colação.
2. São havidas como doação, para efeitos de colação, as despesas referidas no ARTIGO 2110º.
ARTIGO 2105º
(Descendentes sujeitos à colação)
Só estão sujeitos à colação os descendentes que eram à data da doação presuntivos herdeiros legitimários do doador.
Sucessão legítima
A sucessão legítima abre-se quando não há testamento, ou o testador só dispôs a parte dos seus bens, mas também
quando o testamento não é valido, ou não é eficaz porque foi revogado ou caducou (art. 2131)
ARTIGO 2131º
(Abertura da sucessão legítima)
Se o falecido não tiver disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, dos bens de que podia dispor para depois da morte, são chamados à sucessão desses
bens os seus herdeiros legítimos.
São herdeiros legítimos o cônjuge, os parentes e o Estado, pela ordem e segundo as regras constantes do art. 2132.
ARTIGO 2132º
(Categoria de herdeiros legítimos)
São herdeiros legítimos o cônjuge, os parentes e o Estado, pela ordem e segundo as regras constantes do presente título.
1. A ordem por que são chamados os herdeiros, sem prejuízo do disposto no título da adopção, é a seguinte:
a) Cônjuge e descendentes;
b) Cônjuge e ascendentes;
c) Irmãos e seus descendentes;
d) Outros colaterais até ao quarto grau;
e) Estado.
2. O cônjuge sobrevivo integra a primeira classe de sucessíveis, salvo se o autor da sucessão falecer sem descendentes e deixar ascendentes, caso em que integra a
segunda classe.
3. O cônjuge não é chamado à herança se à data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens, por sentença
que já tenha transitado ou venha a transitar em julgado, ou ainda se a sentença de divórcio ou separação vier a ser proferida posteriormente àquela data, nos termos
do nº 3 do ARTIGO 1785º.
Sucessão legitimária
Entende-se por legítima a porção de bens de que o testador não pode dispor, por ser legalmente destinada aos
herdeiros legitimários (art. 2156). Coincidem, assim as noções de legítima (para os herdeiros legitimários) e de quota
indisponível (para o autor da sucessão).
ARTIGO 2156º
(Legítima)
Entende-se por legítima a porção de bens de que o testador não pode dispor, por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários.
O herdeiro legitimário tem o direito a uma quota abstracta da herança. Este ponto de vista resulta, não só da
definição de legitima como porção de bem (art. 2156), como do principio da intangibilidade da legitima (art. 2163)
ARTIGO 2163º
(Proibição de encargos)
O testador não pode impor encargos sobre a legítima, nem designar os bens que a devem preencher, contra a vontade do herdeiro.
São herdeiros legitimários o cônjuge, os descendente e os ascendente, pela ordem e segundo as regras
estabelecidos para a sucessão legitima (art. 2157).
A legítima do cônjuge, se não concorrer com descendentes nem ascendente, é de metade da herança (art.
2158);
A legítima do cônjuge e dos filhos, em caso de concurso, é de dois terços da herança (art. 2159/1);
Não havendo cônjuge sobrevivo, a legitima dos filhos é metade de dois terços da herança. Conforme exista
só um filho ou existam dois ou mais (art. 2159/2);
Os descendentes do segundo grau e seguintes têm direito à legítima que caberia ao seu ascendente, sendo a
parte de cada um fixado nos termos prescritos para a sucessão legítima (art. 2160)
A legítima do cônjuge e dos ascendentes, em caso de concurso, é de dois terços da herança.
Se o autor da sucessão não deixar descendentes nem cônjuge sobrevivo, a legitima dos ascendentes é de
metade ou de um terço da herança conforme forem chamados os pais ou os ascendentes do segundo grau e
seguintes (art. 2161)
ARTIGO 2157º
(Herdeiros legitimários)
São herdeiros legitimários o cônjuge, os descendentes e os ascendentes, pela ordem e segundo as regras estabelecidas para a sucessão legítima.
ARTIGO 2158º
(Legítima do cônjuge)
A legítima do cônjuge, se não concorrer com descendentes nem ascendentes, é de metade da herança.
ARTIGO 2159º
(Legítima do cônjuge e dos filhos)
Os descendentes do segundo grau e seguintes têm direito à legítima que caberia ao seu ascendente, sendo a parte de cada um fixada nos termos prescritos para a
sucessão legítima.
ARTIGO 2161º
(Legítima do cônjuge e dos ascendentes)