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Sarna Demodecica (Demodicose)

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LUSA, F.T. e AMARAL, R.V. Demodicose canina. PUBVET, Londrina, V. 4, N. 24, Ed. 129, Art.

875, 2010.

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Demodicose canina

Fabrieli Tatiane Lusa1 e Rodrigo Vieira do Amaral2

1
Médica Veterinária, pós-graduanda em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos
Animais (UNIGRAN/QUALITTAS)
2
Acadêmico da 9ª fase de Medicina Veterinária, Universidade do Estado de
Santa Catarina (Udesc)

Resumo
A demodicose é também conhecida como sarna demodécica, sarna folicular ou
sarna vermelha. É causada pelo ácaro Demodex canis, um ácaro escavador,
que se localiza nos folículos pilosos e glândulas sebáceas. A transmissão ocorre
da mãe para os neonatos lactentes, através de contato direto. A demodicose
pode ser localizada ou generalizada, juvenil ou adulta. No diagnóstico se faz
uso dos raspados de pele, cultura e antibiograma e biopsia. No tratamento são
utilizadas drogas como amitraz e as alternativas avermectinas e milbemicinas.
Pacientes recuperados não devem ser utilizados como reprodutores.
Palavras-chave: cão, Demodex canis, sarna demodécica.

Demodicosis canina
Abstract
The demodicosis is also known as demodectic mange, follicular mange or red
mange. It is caused by the mite Demodex canis, a burrowing mite, which is
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located in the hair follicles and sebaceous glands. The transmission occurs
from mother to newborn infants through direct contact. The demodicosis may
be localized or generalized, juvenile or adult. In the diagnosis is made use of
skin scrapings, and biopsy culture and sensitivity. In the treatment drugs are
used as amitraz and milbemycin and avermectin. Recovered patients should
not be used as breeders.
Keywords: dog, Demodex canis, demodectic

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A demodicose, também conhecida como sarna demodécica, sarna


folicular ou sarna vermelha (MULLER; KIRK,1996) é uma dermatose primária
(DELAYTE et al., 2006). Conforme Muller e Kirk (1996) é mais comum em
cães púberes e as raças onde há maior incidência são: Shar Pei, West Highland
Terrier branco e Buldogue Inglês. Idade, estresse, endoparasitos e doenças
debilitantes são fatores predisponentes a demodicose. No entanto, o tamanho
e atividade das glândulas sebáceas, sexo do animal e a deficiência de biotina
não apresentaram efeito no desenvolvimento da demodicose.

2. ETIOLOGIA

O ácaro Demodex canis pode ser encontrado na pele normal canina,


presente em pequenos números na maioria dos cães saudáveis (MULLER;
KIRK, 1996). São ácaros escavadores, os quais têm como hospedeiros todos
os mamíferos domésticos e o homem, sendo de distribuição mundial,
localizam-se nos folículos pilosos e glândulas sebáceas. Possuem o corpo
afilado e alongado, de até 0,2 mm de comprimento, com quatro pares de patas
dilatadas anteriormente.(URQUHART et al., 1998).
Todo o ciclo vital acontece na pele (MULLER; KIRK, 1996), podendo
demorar de 20 a 35 dias, sendo formado por cinco fases: ovos fusiformes;
pequenas larvas com três pares de patas; protoninfas com três pares de
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patas; ninfas com quatro pares de patas; adultos com cabeça, tórax e quatro
pares de patas (HARVEY; MCKEEVER, 2001).

3. EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO

A transmissão ocorre da mãe para os neonatos lactentes, por contato


direto (MULLER; KIRK, 1996). As primeiras lesões surgem no focinho, face,
região periorbital e membros anteriores (URQUHART et al., 1998). Conforme
Muller e Kirk (1996), a transmissão in útero não ocorre e os ácaros não podem
ser demonstrados em filhotes natimortos.
Segundo Harvey e McKeever (2001), não está claramente definido qual o
motivo pelo qual alguns animais desenvolvem a enfermidade clínica. Alguns
estudos demonstram existir um fator no sangue de cães com demodicose
generalizada que provoca supressão linfocitária, a qual pode ser induzida por
uma infecção bacteriana secundária. Também parece haver um fator
hereditário que desempenha um certo papel.

4. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Para Delayte et al. (2006), a demodicose pode ser classificada segundo


sua distribuição corpórea (localizada ou generalizada) e faixa etária de
ocorrência das primeiras manifestações (juvenil ou adulta).
A forma localizada é mais freqüente em cães jovens (3-11 meses)
(HARVEY; MCKEEVER, 2001). Os autores Muller e Kirk (1996), explicam que
ocorre uma ou diversas áreas de alopecia, sendo pequenas, eritematosas,
circunscritas, escamosas, com prurido ou não, principalmente na região
periocular e comissuras bucais. Para Harvey e McKeever (2001), quando a
doença está controlada, o pêlo começa a crescer novamente, em um período
de 30 dias. As lesões podem aparecer e desaparecer em um período de
diversos meses. Aproximadamente 90% dos casos curam por si só, no entanto
10% do restante progridem para e enfermidade generalizada.
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A forma generalizada aparece como uma progressão das lesões


localizadas, com manifestações clínicas variadas. Um cão com cinco ou mais
lesões localizadas, com envolvimento de uma região inteira do corpo ou
acometimento completo de dois ou mais membros possui demodicose
generalizada. Geralmente a forma generalizada acomete grandes áreas do
corpo, tendo diversas lesões na cabeça, membros e tronco. O abdome é menos
acometido, talvez por possuir um menor número de folículos pilosos. Aparecem
extensas zonas de alopecia com seborréia, eritema, pústulas, pápulas, crostas
e úlceras (HARVEY; MCKEEVER, 2001; MULLER; KIRK, 1996).
Conforme Harvey e McKeerver, pode haver infecção bacteriana
secundária por Staphylococcus intermedius, Pseudomonas aeruginosa e
Proteus mirabilis, facilitando o desenvolvimento de úlceras e lesões
exsudativas e crostosas. Os pacientes com demodicose generalizada
apresentam-se debilitados, anoréxicos, letárgicos, febris e deprimidos.
Para Urquhart et al. (1998), a demodicose generalizada pode assumir a
forma escamosa, sendo menos grave, caracterizada por ser uma reação seca,
com pouco eritema, alopecia difusa, descamação, espessamento da pele e em
alguns casos, comprometendo apenas a face e as patas; ou a forma pustular
ou folicular, mais grave, onde há invasão bacteriana das lesões
(principalmente por Staphylococcus SP), espessamento da pele e esta se
apresenta com muitas pústulas, das quais flui soro, pus e sangue (o que
explica o nome comum “sarna vermelha”), os cães acometidos têm odor
desagradável, sendo necessário tratamento prolongado, onde os sobreviventes
podem ficar gravemente deformados.
De acordo com Muller e Kirk (1996), os proprietários devem ser
alertados de que mesmo com a cura da demodicose generalizada, é
fundamental o acompanhamento do paciente, observando o desenvolvimento
de doenças sistêmicas e neoplasia maligna no futuro.
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5. DIAGNÓSTICO

Os raspados de pele podem estabelecer o diagnóstico, devendo ser


profundos e em diversos locais do corpo, objetivando atingir os ácaros no
fundo dos folículos pilosos e glândulas. Deve-se evitar as áreas fragilizadas,
pois a hemorragia resultante geralmente dificulta a interpretação dos
resultados (MULLER; KIRK, 1996; URQUHART et al, 1998).
Segundo Muller e Kirk (1996) o teste tireóideo adicional deve ser
realizado, uma vez que o hipotireoidismo pode desencadear a demodicose no
cão adulto. Os autores Harvey e McKeever (2001) indicam o cultivo e
antibiograma para pacientes que tenham infecção bacteriana secundária.
Conforme Urquhart et al. (1998), a biopsia é usada em cães gravemente
afetados.

6. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Segundo Muller e Kirk (1996), deve-se suspeitar de demodicose quando


houver foliculite. A piodermatite generalizada pode parecer com a demodicose
e a dermatofitose lembra manchas da forma localizada. Determinadas pústulas
demodécicas no abdome e na superfície interna das coxas parecem com o
impetigo canino
Para Harvey e Mckeever (2001), a demodicose também deve ser
diferenciada de dermatite por sensibilidade ao zinco, infecção micótica
profunda, erupção por fármacos e pênfigo foliáceo.

7. TRATAMENTO

Para Urquhart et al. (1998), devido a localização profunda dos ácaros na


derme, estes não são facilmente acessíveis a acaricidas tópicos. Conforme
Delayte et al. (2006), o amitraz é utilizado há mais de duas décadas no
tratamento da demodicose canina e como alternativas terapêuticas às
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situações de insucesso no tratamento com este, novas drogas têm sido


preconizadas como ivermectina, milbemicina oxima, moxidectina e lufenuron.

7.1 Tratamento da demodicose localizada

Um parasiticida médio usado para tratar ácaros da orelha ou gel peróxido


de benzoíla podem ser aplicados na área alopécica, uma vez ao dia (MULLER;
KIRK, 1996), como terapia de eleição ou adjuvante, onde se faz necessário
ação comedolítica (LARSSON, 2002). Uma outra opção são produtos à base de
rotenona (HARVEY; MCKEEVER, 2001). Para Muller e Kirk (1996), é importante
controlar o estado geral de saúde, dando atenção especial à dieta, presença de
endoparasitos e necessidades de vacinação. Para estes autores, o amitraz não
é um tratamento racional. Conforme Harvey e McKeever (2001) é importante
marcar visitas de controle com intervalos de duas a três semanas, avaliando se
o caso está em fase de resolução ou generalização.
Para Muller e Kirk (1996), após quatro semanas de tratamento, os
raspados de pele dos casos curados devem demonstrar menor número de
ácaros e formas imaturas e algumas vezes nenhum ácaro vivo.

7.2 Tratamento da demodicose generalizada

Como sugestão de Muller e Kirk (1996), antes da instituição de qualquer


tratamento, o estado geral de saúde e o manejo devem ser melhorados,
principalmente naqueles pacientes com a doença estabelecida na fase adulta.
Deve-se ter cuidado ao escolher agentes bactericidas, devido o estado
imunossuprimido que pode estar presente. Os corticosteróides não devem ser
utilizados.
O protocolo de tratamento aplicado inicia com a tosa dos cães que
tenham pêlos longos ou médios, banhos com xampu à base de peróxido de
benzoila e uma vez por semana, a cada duas semanas, com solução de
amitraz (HARVEY; MCKEEVER, 2001). Por via oral, o amitraz é rapidamente
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hidrolisado no estômago, sua biotransformação ocorre no fígado e os


metabólitos excretados na urina e bile. A absorção pela pele relaciona-se com
o grau de lesão (SARTOR; BICUDO, 2002). Para uso crônico do amitraz, a
diluição deve ser iniciada com 2,5 ml/l de água, aumentando 0,5 ml a cada
semana até atingir o limite de 4 ml/l (VIANA, 2000). Comparado aos
organofosforados e carbamatos, é considerado pouco tóxico (SARTOR;
BICUDO, 2002). A intoxicação causada pelo amitraz é de baixa letalidade, no
entanto diluições, vias de administração incorretas e distúrbios pré-existentes
como cardiopatia ou diabetes podem complicar o quadro clínico (ANDRADE et
al., 2007). Os principais sintomas são: ataxia, depressão, perda dos reflexos,
letargia e incoordenação motora, hipotermia, distúrbios gastrintestinais e em
alguns casos, bradicardia. Eritema, hemorragia nas patas e prurido também
podem ocorrer. As reações graves e intoxicações podem ser tratadas fazendo
uso de ioimbina (MULLER; KIRK, 1996; SARTOR; BICUDO, 2002; ANDRADE et
al., 2007).
Para Muller e Kirk (1996), a demodicose generalizada é hereditária em
cães jovens, portanto pacientes recuperados não devem ser usados como
reprodutores, estendendo este cuidado aos filhotes de ninhadas nas quais um
ou mais estejam clinicamente acometidos.
Outras alternativas terapêuticas para a demodicose generalizada podem
ser encontradas no grupo das avermectinas e milbemicinas. As avermectinas e
milbemicinas são lactonas macrocíclicas, classificadas como endectocidas
(DELAYTE et al., 2006), são produtos obtidos a partir da fermentação de
fungos do gênero Streptomyces (AYRES; ALMEIDA, 2002). As avermectinas
utilizadas como ectoparasitos são ivermectina, abamectina e doramectina,
dentre as milbemicinas tem-se a milbemicina e a moxidectina (SARTOR;
BICUDO, 2002).
Conforme Harvey e Mckeever (2001), a milbemicina pode ser utilizada na
dose de 0,5 mg/kg, durante 90 dias, com visitas de retorno a cada 30 dias. A
maioria dos pacientes apresenta resultados negativos de ácaros em raspados
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em torno de 30 a 90 dias, sendo prudente manter o tratamento durante 30


dias após os raspados negativos.
Como sugestão de Ayres e Almeida (2002), a ivermectina é utilizada na
dose de 0,006 mg/kg, via oral. Para Delayte et al. (2006), cães das raças
Collie, Old English Sheepdog, Pastor de Shetland e Pastor Australiano, quando
submetidos à terapia com ivermectina e milbemicina podem manifestar
sintomas de intoxicação. Para Harvey e McKeever (2001), amostras de
raspados cutâneos devem ser feitos com intervalos de 42 dias, continuando o
tratamento por 45 dias após o último raspado negativo.
Conforme Delayte et al. (2006), o sucesso de qualquer tratamento da
demodicose generalizada, além de envolver uma resposta à terapia pelo
paciente, conta com a disposição do proprietário em realizar o protocolo e
comparecer aos retornos até a obtenção da alta e não utilizar os animais em
cruzamentos, evitando a propagação da doença.

REFERÊNCIAS

ANDRADE et al. Uso tópico do amitraz em concentração terapêutica em gatos. Ciência Rural,
Santa Maria, v. 37, n. 4, p. 1027-1028, jul/ago, 2007. Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-84782007000400017&script=sci_arttext >.
Acesso em: 10 janeiro 2008.

AYRES, M.C.C.; ALMEIDA, M.A.O. Agentes antinematódeos. In: SPINOSA, H. S.; GÓRNIAK, S.
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DELAYTE, et al. Eficácia das lactonas macrocíclicas sistêmicas (ivermectina e moxidectina) na


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HARVEY, Richard; MCKEEVER, Patrick J. Manual ilustrado de enfermedades de la piel en


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LARSSON, C. E. Farmacologia dermatológica. In: SPINOSA, H.S.; GÓRNIAK, S.L.; BERNARDI,


M. M. Farmacologia aplicada à medicina veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
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MULLER, C. E. V.; KIRK, G. H. V. Doenças parasitárias da pele. In: SCOTT, D.W. et al.
Dermatologia de Pequenos Animais. 5.ed. Rio de Janeiro: Interlivros. 1996. 385-388, 390-
392, 394-397, 399p.
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SARTOR, I. F; BICUDO, P. L. Agentes empregados no controle de ectoparasitos. In: SPINOSA,


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URQUHART, G. M. et al. Parasitologia veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,


1998. 169-170, 175p.

VIANA, Fernando A. B. Fundamentos de terapêutica veterinária. Universidade Federal de


Minas Gerais. Escola de Medicina Veterinária. Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias.
Belo Horizonte, 2000. 58p.

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