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Monografia Julia Botafogo

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

CENTRO DE ESTUDOS GERAIS


GRADUAÇÃO EM PRODUÇÃO CULTURAL

JULIA GRILLO BOTAFOGO

“Aldeia Cultural: I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia Velha”


Uma proposta ecológica

NITERÓI
2006

1
JULIA GRILLO BOTAFOGO

“Aldeia Cultural: I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia Velha”


Uma proposta ecológica

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Produção Cultural da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Bacharel.

Aprovada em abril de 2007

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Ana Lucia Enne –0rientador


Universidade Federal Fluminense

Prof. Msc. Antonio Serra


Universidade Federal Fluminense

Prof. Msc. Jorge Luis Barbosa


Universidade Federal Fluminense

NITERÓI
2006

2
JULIA GRILLO BOTAFOGO

“Aldeia Cultural: I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia Velha”


Uma proposta ecológica

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Produção Cultural da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Grau
de Bacharel.

Orientadora: Dra. Ana Lucia Enne

NITERÓI
2006

3
Aprender é descobrir aquilo que você já sabe.
Fazer é demonstrar que você o sabe.
Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.
Vocês são todos aprendizes, fazedores, professores.
Richard Bach (Ilusões 1977)

4
A todos moradores e amigos de Aldeia Velha.

5
AGRADECIMENTOS

Muito obrigada a todos que contribuíram de alguma forma para a


realização do Aldeia Cultural. Fiquei muito feliz com a concretização deste
projeto. Todo processo, desde a idéia inicial até a realização, foi feito com muito
amor, dedicação e compartilhamento.
Em primeiro lugar a toda comunidade de Aldeia Velha, que desde o
primeiro momento me encantou com seus conhecimentos e alegrias, e me fez
sentir um pouco parte deste paraíso ecológico. Argeu, Honorair, Marquinhos,
Zeca, Thiago, Cíntia, Miudinho, Leco, Sandro, Aílton, Lequinho, Pinóquio,
Marcelinho, Igor, Alexandre da Pousada, Will, Lurry, Fernando, Emi, Tia linda,
Maquinhos, Renata, Deusa, Anice, Alceline, Zene, Valdir, Vagner, Sabrina,
Maria, Jacira, Sirley, Jobi, Ari, Moisés, Dalila, Yara, Chiquinho, PI, Sapo, Chico
Pombo e seus filhos, Márcia Medeiros, Serginho, Lara, Banda Brejo, Filhos
D’Aldeia, dona Erminda, Antonio Pintor, Neide, Maeco, Cenira, Marlene, Aluísio,
Lena, Jorge, Grazi, Shimit, Danga, Irim, Irene, Alcides, Nedir, Maria do queijo,
Carmita, Ismael, Jailton, Neilton, Vanessa, Danga, Gisele, Felipe, Anderson,
Priscila, Manoel, Nael, Jorge gordo, Evantoil, Alneir, Eros, Dodô, Mario
Manduca, Cristiano Knupp, Marcelo, Marla, Plínio e sua irmã, Caverna, Maria,
Lies, Zenica, Carli, Credi, Lenira, Altino, Elenice, Matias, Glória, Nestor, Lenira,
Jair, Neide, Luzia, Alvino, Adriano, João, Deil, Celso, Fabinho, Nori, Nana
Nogueira, Biribinha, Roberto, Mario Ventura, Gustavo, Ozeia Braut, Mauro,
Marcio Macharete, Luiz Calango, Anilce, Joani, Didi cardoso, Daniel, Augusto,
Zé abóbora, Valdinéia, Genézio, Deir, Bianca, Ricardo, Pedro Figueredo, Mario,
Dalva, Maroni, Enéas, Adriana, Marcílio, Genílton, Decildes, Vanides, Tete,
Adriana, Devalcir, Andréa Mendonça, Salvador, Denimila, Carlito, Pedrinho,
Karen Pintor, Ana Paula Boy, Maria Letícia Boy, Lucas Frez, Beatriz Frez,
Hoffman, Luquinhas, Leonardo Boy, Douglas Boy, Jenifer, as demais crianças e
todos aqueles que esqueci. Muito obrigada por vocês fazerem Aldeia Velha ser
o que é. Sem vocês nada disso teria acontecido.
A todos os membros da Escola da Mata Atlântica e Canaã, que se
dedicam com muito amor à comunidade de Aldeia Velha e mesmo quando
ausentes mandam aquele axé que com certeza faz a tudo fluir bem. Tainá Mie,

6
Tadzia, Carol, Curumim, Sol, Luiza Brettas, Taissa Zim, Bárbara Vila Verde,
Tainá Del Negri, Lud, Vicente, Felipe, Aline, Leleco, Pusa, Julinha e o circo, e
os demais membros que acreditam nesta idéia. A Família de cada um que
sempre nos apóia. Em especial, Tadzia, minha querida amiga, por ter me
apresentado parte desta família e sempre me trazer muita alegria e felicidade.
Não tenho palavras para agradecer quem esteve sempre comigo durante a
realização do Aldeia Cultural, Tainá Mie, pelo companheirismo incomparável,
pela inteligência e amizade. Babi, não só pelo registro, como também pela
força e carinho. Tainá Del Negri, pela disposição e comprometimento. Sol, pela
transformação do alimento em energia. Carol, pela empolgação e alegria das
crianças. Brettas, pela presença. Curumim, pelas vibrações positivas.
Àqueles que mesmo chegando depois, abraçaram o projeto de corpo e
alma: Pedro Sodré, Gil Facchini, Luiza Cilente, André Sicuro, Bruno Diel, Pedro
Noel, Eduardo Couto, principalmente Bruno Fochi, Michael Lennertz, que
viraram noites e noites para fazer o filme, com direito à trilha sonora original e a
um acabamento de imagem sensacional. Para um primeiro trabalho ficou
matéria prima de primeira qualidade. Ao Bruno, agradeço não só pela
dedicação, mas principalmente pelo carinho e amizade que consolidamos.
À minha orientadora, Ana Enne, como diz minha amiga Babi, “professora
com P maiúsculo”, por quem tenho imensa admiração.
Nesses anos de academia, outros Professores fizeram a diferença:
Luciane Conrado, Guilherme Vergara, Antônio Serra, Tete Mattos, Jorge
Barbosa, José Maurício, Luis Augusto, Latuf, João Luis, Tunico Amâncio e
Wallace de Deus. Todos, de alguma forma, me ajudaram a descobrir muita
coisa do que sou hoje. Como também, docentes e amigos, em especial:
Larissa Karl, Ricardo Ramos, Felippe Mussel, Daniele Martins e Manu.
À minha família, pelo incentivo, admiração e amor incomensurável. Meus
pais, Ieda e Eduardo, que são essenciais na minha vida. Minha querida vovó
Lolô, pela companhia e sabedoria. Meu irmão. Minha Tia Ilma e meu Tio Ivan
que estão sempre presentes. Meus primos Sandra e André, pela amizade. Ao
meu grande amigo e primo Pedro, com quem eu aprendo todos os dias, pelo
apoio. Aos meus tios Candido e Jorginho, pelo incentivo. A minha madrinha que
mesmo distante esta presente em minha vida.

7
Àqueles que deram uma mão: Jesus e Ângela da Gráfica da UFF,
Gilberto Gouma, Lucas, João, Joice, Paula Brandão, Rovena, Carol Ramos,
Julia Reis, Gus e Branca. E estão no meu coração: Clod, Sérgio, Luis e Rosi.
Gostaria de agradecer também aos apoiadores: Pousada D’Aldeia,
Pousada Beira Rio, JM Marinho Mercearia, Escola Municipal Vila Silva Jardim,
Igreja Católica, Bar Montanhas D’Aldeia, ONG Verde Cidadania, Bioma
Soluções Ambientais, Bompreço Bazar, Safety Health, IACS, PROEX, PROAC,
DOA que encheu nossas barrigas e fizeram todos trabalharem mais felizes,
Ezequiel (Secretaria de Meio Ambiente) que sempre nos apoiou e nos recebeu
com muita atenção, Séc. de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu que
doou 200 mudas (plantas medicinais, pupunha, ipês, frutíferas entre outras),
que foram distribuídas e plantadas na beira do Rio em Aldeia Velha.
À mais singela espécie animal, o céu rosa amarelado, azul estrelado, a
energia do sol e da lua, à água que cai do céu e desce pelos rios, à força das
cachoeiras, o verde vivo das matas, a alegria dos pastos, o visual dos morros e
montanhas. Tudo aquilo que me faz sentir viva e feliz.
Por fim, a todos aqueles que me esqueci.
Foi maravilhoso!

8
SUMÁRIO

Resumo...........................................................................................................11

Abstract.......................................................................................................... 12

Apresentação................................................................................................. 13

Capítulo1................................................................................................... 14
O Projeto: “Aldeia Cultural: 1° mostra de conhecimento tradicional de
Aldeia Velha”
1.1. Introdução
1.2. Justificativa
1.3. Objetivos
1.3.1. Geral
1.3.2. Especifico
1.4. Público Alvo
1.5. Cronograma reduzido
1.6. Metodologia/Atividades previstas
1.6.1. Fase1- Mapeamento cultural
1.6.2. Fase2- Construção de Rede de Produtores Locais
1.6.3. Fase3- Vídeo Documentário
1.6.4. Fase4- Mostra Cultural de Aldeia Velha
1.6.5. Fase5- Rodas de Conversas
1.7. Metas
1.8. Orçamento
1.9. Divulgação
1.10. Benefício ao Parceiro

Capítulo2................................................................................................... 26
A localidade
2.1. Breve histórico

Capítulo3................................................................................................... 32
Ecologia, Cultura e Sustentabilidade

Capítulo4................................................................................................... 40
Ações em Cultura para a Transformação e Manutenção dos Saberes
Tradicionais
4.1. Rede de Produtores Aldeia Velha

Capítulo5................................................................................................... 54
Relação entre Memória e Identidade
5.1. “Aldeia Velha e suas raízes”: da filmagem a exibição na Vila

Capítulo6................................................................................................... 65
Conclusão

9
Capítulo7................................................................................................... 70
Parcerias

Adendos
I. 73Cronograma detalhado
II. 74
Orçamento Detalhado
III. 76
Roteiro de Entrevistas
IV. 77
Fichas de cadastros: Produtores, Fazendas e Estabelecimentos.
V. 78
Levantamento: Principais Aparelhos Locais e Agentes Sócio-Culturais.
VI. 85
Modelo de carta para solicitação de apoio
VII. 86
“Aldeia Velha e suas raízes”: Modelo Plano de filmagem, Modelo
decupagem fita e Modelo de direito de uso de imagem e som.
VIII. 88
Material Gráfico: Convite, Cartaz, Calendário e Outros Cartazes.

Bibliografia.................................................................................................. 93

Anexos
I. 96
Pesquisa Histórica de Aldeia Velha
II. 100
Mapas Êmicos
III. 101
Planta Aldeia Cultural
IV. 102
Carta de Apoio ao evento
V. 103
Projeto Escola da Mata Atlântica

Créditos Finais............................................................................................. 112

Contato..........................................................................................................114

10
RESUMO: Aldeia Cultural consiste em um plano de ações em cultura realizado
em 2006 na comunidade de Aldeia Velha, segundo distrito de Silva Jardim, Rio
de Janeiro. O projeto, através do intêrcambio cultural, diálogo entre
conhecimento “tradicional” e conhecimento técnico-científico, realizou um
mapeamento histórico cultural da cidade, elaborou uma Rede de Produtores
Locais, construiu um filme documentário chamado “Aldeia Velha e suas raízes”
e exibiu na Vila e organizou a “I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia
Velha” reunindo toda produção local. Todo processo de realização buscou
trabalhar uma perspectiva sócioambiental em que a cultura local seja o
principal meio de introdução e resgate de formas ambientamente mais
favoráveis a qualidade de vida local.

PALAVRAS-CHAVE: desenvolvimento sustentável, diversidade cultural,


conhecimento tradicional, rede, memória, identidade.

11
ABSTRACT: "Aldeia Cultural" consists of a cultural action plan carried through
in 2006 in the community of Aldeia Velha, second to district of Silva Jardim, Rio
de Janeiro. The project, through cultural interchange and the dialogue between
"traditional" and technician-scientific knowledge carried through: a cultural
historical mapping of the city; a Net of Local Producers; a documentary film
called "Aldeia Velha and its roots/Aldeia Velha e suas raízes " which was
presentet to the community and also organized the "Fist Event of traditional
knowledge of Aldeia Velha/I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia
Velha" congregating all local production. This accomplishment process worked
based on a social/environmental perspective in which the local culture would be
the main mean of introducing and rescuing a more favorable environment for
the life quality of the local people.

KEYWORDS: sustainable development, cultural diversity, traditional


knowledge, net, memory, identity.

12
APRESENTAÇÃO

Conhecer Aldeia Velha, cidadezinha localizada entre os municípios de


Casimiro de Abreu e Silva Jardim, foi uma experiência transformadora. Com
sua atmosfera acolhedora e bucólica, ao cruzarmos o Portal, nos despimos de
toda correria e “stress” que nos massacram cotidianamente. O tempo lá é
outro, o pensamento flui diferente, pois a música que emana da natureza é
intimista e nos encanta com tanta beleza e paz. Assim, aprendemos a caminhar
lentamente, permanecer em silêncio e observar e escutar tudo que nos cerca.
No principio, final de 2005, era apenas um lugar aonde eu e um grupos
de amigos íamos para nos divertir. Alugamos uma casa, “Canaa”, e com
freqüência nos reuníamos. Porém o contato com a localidade, repleto de
matas, rios e cachoeiras e principalmente seus habitantes, surpreendeu com
sua riqueza cultural.
Desse encontro nasceu uma enorme vontade de aliar todos esses
fatores na criação de um projeto que pudesse contribuir para fortalecer a
comunidade local. O que começou, para mim, com um trabalho de campo, de
uma disciplina do curso de Produção Cultural da Universidade Federal
Fluminense, se tornou um Projeto de Extensão e posteriormente um projeto de
união entre moradores da comunidade local e estudantes das universidades
federais do Rio de Janeiro, chamado “Escola da Mata Atlântica”.
Ao longo de 2006, timidamente fomos de casa em casa, conversando e
conhecendo as pessoas, lugares e, consequentemente, a cultura local e suas
riquezas. Argeu, morador e amigo de todos do grupo, foi o principal
responsável pela mediação entre nós (pesquisadores) e os agentes da
comunidade local. Conhecemos vários artesãos, um poeta, artistas,
agricultores e verdadeiras lendas vivas, que fazem de Aldeia um lugar
maravilhoso de se viver, apesar das dificuldades. Todos foram profundamente
instrutivos, do ponto de vista ambiental, cultural e humano. Saímos de lá
comprometidos com aquelas pessoas, cientes de que esse contato está muito
além de um simples projeto. Certamente cruzou a fronteira da amizade, carinho
e respeito àquelas pessoas.

13
CAPÍTULO1.

O PROJETO: “ALDEIA CULTURAL: 1° MOSTRA DE CONHECIMENTO


TRADICIONAL DE ALDEIA VELHA”

1.1. INTRODUÇÃO

Aldeia Cultural consiste em um plano de ações em cultura que terá como


objetivo mapear a região e mobilizar agentes socioculturais da comunidade de
Aldeia Velha, segundo distrito de Silva Jardim, situada na divisa (Rio Aldeia)
com Casimiro de Abreu, Rio de Janeiro.
Com 80% da Mata a Atlântica, muitos rios e cachoeiras e uma população
hospitaleira, a escolha da vila Aldeia Velha é fortalecida pelo apoio da
população local, estudantes de universidades federais ligados a diferentes
áreas, entidades locais e movimentos ambientalistas (AMLD-Associação Mico-
Leão-Dourado, Fazenda RPPN Bom Retiro, GAE - Grupo de Ação
Agroecológica da Rural). O projeto, através do intercambio cultural, diálogo
entre conhecimento “tradicional” e conhecimento técnico-científico, atenderá
aos moradores, que juntos construirão as ações do projeto.
O principal enfoque é o desenvolvimento de uma política voltada à
geração de renda através de atividades menos prejudiciais ao meio ambiente,
buscando, assim, o equilíbrio entre comunidade e território. Para isso
trabalharemos nossas ações com base em princípios que objetivam a
melhoria da qualidade de vida, o bem estar dos moradores e o equilíbrio
ambiental. A primeira etapa consiste em um Mapeamento Cultural, para
identificação dos potenciais da comunidade e suas histórias. A partir deste
contato será criada uma rede organizada de produtores locais, com o intuito de
gerar alternativas de sustentabilidade e desenvolvimento sócio-econômico.
Além disso, realizaremos um vídeo documentário da cidade, uma Mostra
Cultural que reunirá toda produção local, possibilitando através de oficinas e
palestras, a troca de conhecimento, a manutenção de atividades e a criação

14
de multiplicadores que venham suprir boa parte de suas demandas,
preservando as riquezas naturais e histórico-culturais de Aldeia Velha. O
projeto também tem como meta organizar rodas de conversas periódicas,
tendo em vista, no futuro, a transformação da região em um pólo de turismo
agroecológico. Este projeto é um “projeto piloto”, tendo como principal meta
sua sustentabilidade, o que fará com que seja posteriormente aplicado em
outras localidades.

1.2. JUSTIFICATIVA

O propósito de qualquer plano de ação em cultura é o de possibilitar o


desenvolvimento sócio-econômico de uma localidade, corroborando para a
melhoria da qualidade de vida de seus habitantes. Para isso, é necessário
estar atento às demandas dos mesmos, para que possamos alterar
qualitativamente a realidade, suprindo suas necessidades mais emergenciais.
A localidade em questão é Aldeia Velha que, - pela falta de infra-estrutura para
o pequeno agricultor desempenhar seu trabalho e tirar o seu sustento, pela
falta de apoio governamental devido ora ao descaso, ora à escassez de
recursos e à rígida fiscalização de agentes ambientais do IBAMA, que
impedem que se faça uso da terra, criando um ponto de discussão delicada
entre pontos de vista pertinentes -, chama pela necessidade de que se elabore
uma proposta alternativa de sustentabilidade para sua comunidade. Por tratar-
se de um Paraíso Ecológico, repleto de histórias e de uma cultura
extremamente rica e interessante, centraremos nossa política de ações na
conscientização da comunidade e no intercâmbio cultural, objetivando sempre
o bem-estar de seus moradores e o equilíbrio ambiental.
Acreditamos que o protagonismo da comunidade local pode dar
resultados satisfatórios para esse tipo de projeto. Reconhecer sua capacidade
de transmissão e recepção de conhecimento torna os moradores capazes de
interagir no grau necessário para que trabalhos futuros possam ser realizados.

15
1.3. OBJETIVOS

1.3.1. Geral

Através de um Mapeamento Cultural, organizar e estimular a produção


local, a fim que esses produtores acreditem em seu potencial e capacidade de
promover transformações na sua vida e em sua comunidade. Dar valor a suas
habilidades e talentos, possibilitando o envolvimento de indivíduos e grupos
para promover o desenvolvimento sustentável da cidade.

1.3.2. Específicos

-Fazer o Mapeamento Cultural (resgate histórico e levantamentos de dados


relativos à cultura local) de Aldeia Velha;
-Realizar um vídeodocumentário da cidade;
-Criar uma Rede dos Produtores Locais (artistas, agricultores, artesãos etc.);
-Realizar uma Mostra Cultural (exposição, oficinas, palestra, feira de troca,
shows);
-Promover Rodas de Conversas periódicas com membros da Rede.

1.4. PÚBLICO-ALVO

O Público-Alvo são os moradores de Aldeia Velha e adjacências, seus


visitantes e amigos. Tendo como meta atingir diferentes faixas etárias, sejam
crianças, jovens, adultos ou idosos.

16
1.5. CRONOGRAMA REDUZIDO

Atividades Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro


Pré-produção x
Mapeamento Cultural x
Construção da Rede x
Vídeo Documentário x
Mostra Cultural x
Rodas de Conversa x
Cronograma detalhado: Adendo I

1.6. METODOLOGIA/ ATIVIDADES PREVISTAS

Local: Aldeia Velha-Silva Jardim/RJ


População: 900 habitantes
Previsão quantitativa da população alvo: 300 habitantes
Carga Horária Ação-cultural: 640h
Carga Horária Evento: 18h

1.6.1. Mapeamento cultural

A primeira etapa consiste em um Mapeamento Cultural através de


diagnóstico participativo e pesquisa de acervo, registros municipais e da RPPN
Fazenda Bom Retiro, centro de pesquisa local. Serão levantados dados
relativos à cultura local: resgate histórico, festas folclóricas, celebração
religiosa, eventos culturais, produtos locais, atrativos naturais, matrizes
endêmicas, artistas, produtores e personagens da cultura local. Levantamento
de dados sócio-culturais, ambientais, do patrimônio material e infra-estrutura,
não apenas do que existe atualmente como o que já existiu. Ou seja, identificar
as principais lacunas/carências. É importante estar atento às demandas para
conduzir as ações do projeto.

17
Esse levantamento será realizado mediante: Visita ao local, realizando
entrevistas, em profundidade, com os moradores e responsáveis pelas
secretarias envolvidas. Anotações, “diário de bordo”, dos pesquisadores
(observação participante). Além do registro fotográfico, áudio e ou áudio-visual.
Serão convidados especialistas (exemplo: biólogos, botânicos, geógrafos) que
farão também suas considerações sobre o local.
É nesta fase também que serão identificados os líderes locais, que
poderão mediar um contato maior com os demais membros da comunidade,
como por exemplo, membros da igreja evangélica.

1.6.2. Construção de Rede de Produtores Locais

A segunda atividade é a construção da Rede de Produtores Locais


uma alternativa prática de organização, capaz de responder às demandas de
flexibilidade, conectividade e descentralização. A construção da Rede consistirá
no cadastro (nome, observações, estilo, contato) dos produtores (artesãos,
artistas, agricultores e outros) mediante a visita a cada um para o
conhecimento do trabalho, identificando estilo, características, técnica e
especialidade (dificuldade para as suas criações).
O cadastro tem o intuito de organizar e estimular a produção, revelar
potenciais. Fazer com que esses produtores acreditem em seu potencial e
capacidade de promover transformações com que sonham na sua vida e em
sua comunidade. Dar valor às suas habilidades e talentos, estimulando-os a se
unirem a outros indivíduos e grupos, visando promover o desenvolvimento
sustentável da cidade.
A partir das informações coletadas, serão elaboradas placas para
identificação das casas desses produtores. O objetivo da colocação das placas
é fazer com que se reconheça a história e a cultura de cada produtor, criando
assim uma identidade comunitária. Esse reconhecimento deve ser coletivo e
será fundamental para os sentidos de pertencimento dos seus cidadãos e
desenvolvimento comunitário.

18
Será confeccionado um Mapa Êmico, que consiste em um mapa
construído a partir dos conhecimentos da comunidade. Ele leva em conta não
apenas o relevo, mas também os usos dos sentimentos. O mapa êmico pode
conter dados históricos, lendas, árvores, bichos, tudo que os moradores
acharem importante. Os mapas êmicos também podem ser usados para fazer
mapas oficiais. Os principais objetivos do mapa são dois. O primeiro é valorizar
o conhecimento tradicional sobre seu território como forma de fazer um resgate
cultural. O segundo consiste em compreender as representações espaciais da
biodiversidade, principalmente das casas dos produtores, relacionadas
diretamente com a cultura local de modo a funcionar como um circuito
alternativo, colaborando para o turismo participativo.
Outro resultado desta fase será a confecção de um calendário, dando
destaque a alguns produtores, que terá como finalidade a visibilidade do
projeto. A Rede tem o propósito de estender suas ações e idéias a um universo
sempre mais amplo de interlocutores, sejam parceiros, financiadores,
colaboradores.

1.6.3. Vídeo Documentário

A terceira é a construção de um Vídeo Documentário junto à


comunidade. Neste caso, os interessados na produção do vídeo serão co-
autores, e participarão da construção do filme, mostrarão suas estórias,
práticas e suas vivencias.
O objetivo da produção do vídeo não é apenas fazer com que o
indivíduo aprenda a fazer um documentário, e sim, fazer com que o indivíduo
faça uma leitura de sua própria identidade e de seus conhecimentos mais
“tradicionais”, participando e interagindo de modo mais consciente com seu
habitat.
O vídeo consistirá no registro audiovisual de informações históricas,
sócio-culturais e ambientais da região. O material captado será editado e
transformado em um vídeodocumentário da cidade e exibido na vila Aldeia
Velha.

19
Posteriormente será transformado em um DVD com informações
adicionais, como o resgate histórico e a Rede de Produtores Locais. O
documentário também tem a intenção de entrar no circuito de festival de
cinema, principalmente os ligados à área ambiental.

1.6.4. Mostra Cultural de Aldeia Velha

A quarta etapa consistirá em Mostra Cultural de Aldeia Velha, um


evento de dois dias e reunirá toda pesquisa realizada. A idéia é unir cultura,
consciência ambiental e práticas sustentáveis de convivência, estimulando
desde o primeiro momento a troca e a reciprocidade com a comunidade local.
O ambiente projetado seguirá princípios da permacultura e da bioconstrução, o
que significa dizer que prezará pelo uso de material natural e biodegradável.
A consciência do território será estimulada através de oficinas, feira de
trocas, distribuição de mudas e sementes. Além de uma exposição histórica e
fotográfica, inauguração da Rede de produtores locais e exibição do filme
documentário. O evento contará também com performances teatrais, poéticas,
circenses e shows.
A idéia da Mostra também vem para conscientizar e integrar mais os
membros da vila, fortalecendo assim a identidade “Aldeia Velha”. É importante
ressaltar que este será um evento gratuito, aberto à comunidade, amigos e
visitantes. A mostra também tem a intenção de entrar no calendário anual da
cidade.

Programação “Aldeia Cultural: 1° mostra de Conhecimentos Tradicionais de


Aldeia Velha”:
1°dia:
- Exposição da memória de Aldeia
- Exposição fotográfica
- Estréia do vídeodocumentário.
- Inauguração da Rede.
- Show com a Banda Brejo e Serginho Vitamina

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2º dia:
- Exposição da memória de Aldeia
- Exposição fotográfica
- Oficinas realizadas pelos produtores locais, visando à troca de conhecimentos
culturais entre os membros da comunidade e visitantes.
- “Feira de Trocas” na quais os participantes das oficinas irão cambiar os
produtos gerados.
- Distribuição do calendário divulgando o projeto.
- Fórum de discussão sobre os resultados da Mostra e sugestões de propostas
para a comunidade.
- Teatro e Circo
- Exibição do vídeodocumentário.

1.6.5. Rodas de Conversas

Após essas etapas teremos as Rodas de Conversas, encontros que


servirão para acompanhar o fluxo de informação e a organização operacional
dos agentes locais, ou seja, estimular uma articulação interna que busque
ações conjuntas para a troca de informações, e a implementação de projetos
em comum, discutindo barreiras e oportunidades. Eles serão orientados para
que aconteçam em três momentos: problematização, troca de informações e
reflexão sobre a ação. As rodas de conversas são um dos instrumentos para
mobilização, que cria discussão, envolve comunidade e revela líderes. Será
também incentivada a construção de uma agenda comunitária.

21
1.7. METAS

àEnvolver universitários de diferentes áreas no trabalho “Aldeia Cultural”.


àProdução de 1 vídeo documentário e exibição em Aldeia Velha.
Posteriormente enviar para Festivais Nacionais e Internacionais de Cinema.
àRealização de uma Mostra Cultural com oficinas dadas pelos produtores
locais, exposição, feira de trocas, mostra histórica e fotografia, show,
apresentação teatral e circo.
àConfecção de 25 placas indicativas para colocar na entrada da casa de cada
produtor.
àDistribuição de 500 calendários divulgando o projeto.
àOrganização de 1 roda de conversa com os produtores locais.
àElaboração de 1 Mapa Êmico da cidade, incluindo a casa dos produtores.
àDivulgação do trabalho em formato DVD. a ser disponibilizado na escola
Municipal Vila Silva Jardim e na Universidade Federal Fluminense.
àApresentação do projeto “Aldeia Cultural” como trabalho de conclusão de
curso Bacharel em Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense
àDocumentação fotográfica da arquitetura, dos moradores, da fauna e flora
local.

1.8. ORÇAMENTO

Recursos Humanos: 10.840,00


Recursos Materiais: 17.160,13
Recursos Físicos: 1.400,00
Outros: 547,00
Total: R$ 29.947,13

Orçamento detalhado: Adendo II

22
1.9. DIVULGAÇÃO

Do Projeto: 500 cartazes e 2000 convites.


Dos Resultados e/ou Produtos:
25 placas indicativas
500 calendários 2007 divulgando a rede e dando destaque a 12 produtores;
1 vídeo documentário que será posteriormente enviado para festivais
nacionais, principalmente os ligados a meio ambiente;
1 catálogo/banco de dados com o mapeamento cultural que será
disponibilizado na escola municipal, na Universidade Federal Fluminense, na
Prefeitura e em “home-page” já existente.

1.10. BENEFÍCIO AO PARCEIRO

A logomarca do Parceiro estará em todo material de divulgação a ser


confeccionado pelo projeto Aldeia Cultural.
Divulgação da marca no calendário 2007 de parede da Rede.
Visibilidade da marca nos créditos do filme documentário que será exibido em
território nacional.
Distribuição de materiais de divulgação do parceiro na mostra cultural
Possibilidade da marca ser veiculada na mídia espontânea.
Além disso, a iniciativa de utilizar o marketing cultural traz à empresa uma
imagem positiva, que se apresenta socialmente responsável, promovendo a
diversidade cultural e o desenvolvimento local da cidade de Aldeia Velha. O
investimento em cultura também qualifica as ações de comunicação da
empresa com o mercado e a sociedade.

23
24
25
CAPÍTULO1.

A LOCALIDADE

Aldeia Velha está a 138 km da cidade do Rio de Janeiro, seguindo pela


BR-101, sentido Vitória/Campos, sua entrada fica exatamente em frente a
Reserva de Poço das Antas, onde se encontra a AMLD (Associação Mico-
Leão-Dourado)1. Consta nos mapas, cartórios e em contas telefônicas o nome
de registro: Quartéis2.

1
A AMLD é uma instituição não governamental e sem fins lucrativos, situada dentro da Reserva
Biológica de Poço das Antas/IBAMA, criada para promover a conservação da espécie de
primata Leontopithecus rosari e seu habitat, a Mata Atlântica de baixada costeira fluminense.
Existe há quase 30 anos na região.
2
Conta Honoraih, morador local, que o nome Quartéis seria pelo fato de Aldeia ter sido palco
de manobras militares. Numa dessas manobras, um soldado se perdeu na mata ficando
desaparecido por longo período. O acampamento permaneceu até o seu aparecimento, meses
depois, completamente louco.

26
A cidadezinha, segundo distrito de Silva Jardim3, conta
com aproximadamente 900 moradores, que são em sua
maioria famílias tradicionais rurais. Cabe ressaltar que a maior
parte da comunidade é evangélica. O lugar é considerado um
verdadeiro “Paraíso Ecológico”, repleto de rios, cachoeiras e
uma mata viva, com suas espécies endêmicas, como é o caso
do Mico Leão Dourado (Leontopithecus rosari) e de uma
espécie de bromélia, a Achmea weilbachii.
O local possui4. atualmente: escola, posto de saúde,
mercearia, bares, restaurantes, serviço de mecânica. Conta
ainda com pousadas e campings. Porém a infra-estrutura e o
investimento governamentais ainda são muito poucos. O Posto
de Saúde não atende às necessidades locais e os moradores
são obrigados a buscar tratamento em Hospitais de Casimiro de
Abreu. Não existe transporte público, apenas um ônibus escolar
e uma kombi que faz o trajeto para Casimiro de Abreu. A Escola
Municipal Vila Silva Jardim atualmente está em obras e apesar
do atual Secretário de
Educação, Jorge
Alves, residir em Aldeia,
foram necessários
protestos, abaixo-
assinado e muitas
reivindicações para
que se iniciasse a obra. Os
casarões, existentes desde o início do
século XX, estão sendo derrubados. Estes
aspectos sócio- econômicos e
culturais citados acima nos fazem conhecer e entender um pouco mais a
realidade local e são fatores essenciais para a fundamentação das ações.

3
O nome é em homenagem ao jornalista fluminense Antonio Silva Jardim. O nome anterior do
município era Capivari.
4
Levantamento dos principais aparelhos locais encontra-se no Adendo V.

27
1.1. BREVE HISTÓRICO5

Aldeia Velha desenvolveu-se significativamente com a vinda de um grupo


de colonos suíços e alemães, que desceram de Nova Friburgo, no inicio do Séc
XX. Entretanto em 1918 a febre amarela e a gripe espanhola provocaram uma
grande queda e evasão
populacional. Nos anos 30, com a
baixa do café, houve o
agravamento da situação
econômica; pequenos
agricultores venderam suas terras
para grandes proprietários. Toda
infra-estrutura existente, como
farmácia, padaria e cartório,
desabou. O renascimento da economia local deu-se com o cultivo da banana,
que ganhou impulso com a construção da BR-101, nos anos 50.
Após décadas de relativa exploração do
solo, a questão ambiental ganhou destaque.
Mediante uma severa lei de proteção ambiental,
lavradores e pequenos agricultores foram muitos
prejudicados e obrigados, até hoje, buscar
alternativas para seu sustento.
Hoje as terras dividem-se praticamente
entre quatro grandes fazendeiros, que já
transformaram ou estão transformando
sua propriedade em RPPN’s6.E
5
A pesquisa histórica realizada pelo grupo Escola MA encontra-se em anexo I. A autoria do
texto é de Tainá Mie Seto Soares graduada em história pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ) e membro da Escola da Mata Atlântica. Os principais informantes locais foram:
Aliandro Oliveira, Marcos Tostes e Honorair Schuller.
6.
RPPN (Reserva Particular de Patrimônio Natural) é uma área voluntariamente destinada à
proteção dos recursos naturais, por seu proprietário e reconhecida pelo Poder Público, como
Unidade de Conservação. No caso do Rio de Janeiro cabe somente ao IBAMA reconhecer
estas Unidades de Conservação. A idéia de se proteger áreas particulares surgiu em 1977 no
Rio Grande do Sul, mas somente em 1990 as Portarias criadas “foram aprimoradas pelo
Decreto 98.914, que institui a Reserva Particular do Patrimônio Natural, sendo atualizado pelo
Decreto 1.922/96. Mais recentemente, o SNUC – Sistema Nacional de Unidade de
conservação – (Lei 9.985/00), em seu Artigo 14, inclui a RPPN no grupo de Unidades de

28
privam até os próprios moradores do acesso às
cachoeiras, como é o caso das “7 Quedas” que fica dentro da Fazenda Sangri-
lá e a das “Andorinhas”, que fica dentro da Fazenda das Andorinhas.
Luis Nelson, ambientalista e dono da RPPN Bom Retiro, tem levantado
questões de extrema importância do ponto de vista ambiental, e articulado
diversos projetos na região, porém é muito criticado pela comunidade. “Ele
bateu de frente com a comunidade local, que acostumada a plantar e caçar
para sua sobrevivência, foi muitos prejudicados, pois sua intervenção por meio
de denúncias, seja por tirar um pedaço de madeira ou possuir um passarinho,
não soube passar a conscientização ecológica, que está muito à frente de
outras localidades”, conta Alexandre, administrador da Pousada D’Aldeia.

Conservação de Uso Sustentável, cujo objetivo básico é compartilhar a conservação da


natureza como o uso sustentável de seus recursos”(Fonte: RPPN – A Participação da
Sociedade na Proteção da Mata Atlântica. Folder AMLD, 2006).

29
“O Mês de agosto como todos os outros também era divertido à noite: nas casas
sempre havia forró, e no meio da noite café com broa. Doralice era mais de casa, mas
durante o dia, depois da capina na rama, do café colhido, do milho já debulhado, gostava
de tomar banho de rio e andar às margens dos córregos de Aldeia Velha. Como morava
no espigão do Morro Seco, onde o Sol ardia. as quatro da tarde, gostava sempre de
passear pela baixada ouvindo o canto dos Sabiás, das Juritis, e da Cambaxirra no capim
melado.”

(...)

“Naquela época também já existiam em Aldeia velha, duas famílias bem civilizadas,
oriundas de suíços e alemães, que no século XIX, por volta de mil oitocentos e vinte,
desceram a Serra dos órgãos, chegando então à Aldeia Velha. Eram povos da colonização
de Friburgo, das cem famílias que não encontraram uma terra fértil para a lavoura no local
oferecido; por isso então migraram para Aldeia velha, encontrando nessa terra melhores
condições para o cultivo, e formaram o povoado pela miscigenação dessas duas famílias,
composta por um lado de alemães e pelo outro suíços.”

(Trecho extraído do romance Doralice, de Aliandro Oliveira – jovem escritor local)

30
31
CAPÍTULO2.

ECOLOGIA, CULTURA E SUSTENTABILIDADE

A noção de
sustentabilidade como
novo paradigma do
desenvolvimento e sua
aplicabilidade vêm
crescendo desde a
década de 70 e cada vez
mais ganha importância
nos debates sobre o
Nosso Futuro Comum.
Lester Brown7 (World
Watch Institute apud Capra, p.24) deu uma definição simples e bela: “Uma
sociedade sustentável é aquela que atende suas necessidades sem diminuir as
perspectivas de gerações futuras”. Fritjof Capra, em seu livro Teia da Vida
(1996, p.24), resume dizendo que este é, na verdade, “o grande desafio de
nosso tempo: criar comunidades sustentáveis” e para realizar esta tarefa é
preciso extrair lições do ecossistema, que são comunidades sustentáveis de
animais, plantas e microorganismos, compreendendo os princípios básicos da
ecologia8.
Dentro do pensamento ambientalista contemporâneo, se faz a distinção
entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. A primeira coloca o homem acima
ou fora da natureza, que adquire apenas valor de uso, em que a biodiversidade
deve ser estudada e catalogada, traduzindo-a em longas listas de espécies de
plantas e animais. Já a segunda não separa seres humanos do ambiente
natural: reconhece o mundo como rede, uma interdependência fundamental de

7
BROWN, Lester R. Building a Sustainable Society, Norton, Nova York, 1981.
8
O palavra “eco” vem do grego oikos (“lar”), foi introduzida em 1866 pelo biólogo alemão Ernst
Haeckel (Maren-Grisebach, 1982) que definiu como “a ciência das relações entre organismo e
mundo externo circunvizinho” In: CAPRA, 1996, p.43.

32
todos os fenômenos e elementos, interconectados em processos cíclicos,
concebendo valor intrínseco a qualquer ser vivo9.
Entendendo o homem (enquanto organismo) como parte comum deste
ecossistema e não fora dele, os conhecimentos adquiridos são partes
essenciais para sua sustentabilidade. Dessa maneira, a cultura assume um
papel singular e relevante. Na Agenda 21 da Cultura, assinado em Barcelona
em maio de 2004, foi dito que “a sustentabilidade cultural relaciona-se com a
capacidade de manter a diversidade cultural, valores e práticas do planeta, no
país e/ou numa região, que compõem, no decorrer do tempo, à identidade dos
povos”10. A partir desse ponto de vista, a diversidade cultural está para a
humanidade, assim como a diversidade biológica está para o meio ambiente e
têm o mesmo grau de importância e vitalidade para o futuro do planeta.
Pode-se dizer, então, que a biodiversidade11 pertence tanto ao domínio
natural quanto cultural, como conhecimento que permite às populações
tradicionais entendê-las, representá-las e manuseá-las. Segundo Lévi-Strauss
(1989, p.30), o simbolismo e as representações que as comunidades pré-
capitalistas ou tradicionais criam, constituem uma verdadeira ciência, um
“tesouro” de conhecimento. Isto quer dizer que a conservação da
biodiversidade depende de seus habitantes tradicionais e sua cultura, que têm
a capacidade de criar paisagens mistas e florestas transformadas. Esta
evidência é observada nas sociedades indígenas, como o caso do pousio,
prática agrícola, que tem resultado numa maior diversidade de espécies nesses
hábitats manipulados do que nas florestas consideradas nativas.
O Mito da Natureza Intocada, que atribui ao meio natural toda virtude e
ao homem todos os vícios, traz à tona o debate sobre a importância dos mitos
e das simbologias nas sociedades modernas. Essa idéia persiste, sobretudo,
9
CAPRA, 1996 e DIEGUES, 1998.
10
Agenda 21 da Cultura, Barcelona, maio de 2004. In: SILVA, 2006.
11
“Total de genes, espécies e ecossistemas de uma região. A biodiversidade genética refere-se
à variação dos genes dentro das espécies, cobrindo diferentes populações da mesma espécie
ou a variação genética dentro de uma população. A diversidade de espécies refere-se à
variedade de espécies existentes dentro de uma região. A diversidade de ecossistemas refere-
se à variedade de ecossistemas de uma dada região. A diversidade cultural humana também
pode ser considerada parte da biodiversidade, pois alguns atributos das culturas humanas
representam soluções aos problemas de sobrevivência em determinados ambientes. A
diversidade cultural manifesta-se pela diversidade de linguagem, crenças religiosas, práticas de
manejo da terra, arte, música, estrutura social e seleção de cultivos agrícolas, dentre outros.”
(Glossário de Termos Geológicos. <Disponível em:
http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/conteudo.php?conteudo=B>. Acesso em: 02
de novembro de 2006).

33
entre populações que perderam, em grande parte, o contato quotidiano com o
meio rural. Para Diegues (1998), devemos descartar tanto a visão
conservacionista romântica12 do bom selvagem que atribui a “alta diversidade”
resultante da presença humana, quanto à visão estritamente preservacionista
que se baseia no pressuposto que a integridade biológica só será garantida
com a criação de um mundo natural intocado.
A questão do “bom” uso e do “mau” está estritamente ligada ao tipo de
organização social e o sistema econômico a qual participam. Enquanto a
floresta tropical representa para o índio um ambiente seguro e acolhedor, para
os colonos ele representa um obstáculo a ser derrubado para se poder plantar.
Godelier13 (apud Diegues, 2001, p.24) representa isto como dimensões
imaginárias da natureza, que tem a ver com os valores, crenças,
representações simbólicas, sobretudo as míticas que perpassam as distintas
culturas e têm vida longa, além de formas de organização social e sua relação
com o seu território.
O território pode ser definido, segundo Godelier (apud Diegues, 2001,
p.24), como espaço onde determinado grupo reivindica e garante, a todos ou
parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, uso e controle dos
recursos existentes. Representa “laços que se definem pela apropriação e uso
das condições materiais, como também investimentos simbólicos, espirituais e
étnicos que revelam uma outra natureza social do demarcado: a cultura“14. Nele
estão fundados os sentimentos de identidades, memórias e tradições. Isto
significa que através dele o sujeito dá sentido à sua vida e se projeta na
sociedade. Individual e coletivamente. Ele também é o responsável pela
subsistência e reprodução social, resultando em um enraizamento e uma auto-
identificação coletiva da comunidade, através de gerações.
Maurice Strong, em prefácio de livro Ecodesenvolvimento: crescer sem
destruir do Sachs (1986), afirma que o conceito de “desenvolvimento
sustentável” emergiu na Conferência de Estocolmo de 1972, na época
abordado como “ecodesenvolvimento”, que seria alcançado se três critérios

12
Na visão romântica, cada povo possui uma essência, uma alma homogênea e autônoma,
cuja mais espontânea expressão representa em maior grau os valores humanos ideais e
modelos de vida que deveríamos resgatar. É no passado, no mundo rural, que se encontra a
verdadeira cultura, a tradição autêntica.
13
GODELIER,M. L’idéel et lê matériel. Paris: Fayard, 1984.
14
BARBOSA, 2005.

34
fossem respeitados simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e
eficiência econômica. Sachs acrescenta mais duas dimensões: espacial e
cultural, que também seriam interligadas e interdependentes aos demais. Ele
ressalta que o desenvolvimento perderia o sentido se ocorresse o
crescimento, em detrimento da manutenção das raízes da sociedade, ou
seja, as bases culturais.
Essa colocação é bastante pertinente, porém é preciso esclarecer o
conceito de cultura. De acordo com Hannah Arendt (1958), o conceito de
cultura colere se dá em três sentidos: o cuidado com a terra, o cuidado com
os deuses e o cultivo do espírito. Assim a cultura é reconhecida como
inerente ao ser humano, e, sobretudo, envolve objetivamente e
subjetivamente as relações em sociedade. Num sentido mais amplo, culture
representa “todo complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral,
leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade” (Tylor Edward, 1871. In: Laraia,
2006). Para Aktouf (apud Silva, 2006) esses elementos são constituídos pelo
mito, que os originam e os perpetuam, está diretamente ligado à origem das
sociedades e do universo. Ele afirma “a função do mito – definida pelas
relações com a cultura, com a significação [...] e com a comunicação – é
evidentemente universal”15.
Chauí (2000) acrescenta um segundo significado, advindo do século
XVIII, das idéias iluministas, quando cultura passa a ser entendida como
medida para valorizar uma sociedade, formação e educação dos homens,
aproximando do conceito de civilização. Nessa visão, percebe-se uma
divisão entre Natureza (reino da necessidade causal) e Cultura (reino na
finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, do belo e do feio). Desse
conceito vem à idéia de pessoa culta e inculta, utilizado até hoje.
A idéia dessa dicotomia entre Homem (ser pensante) e Natureza (objeto
de conhecimento) foi proporcionada pela Revolução Industrial e a filosofia
cartesiana de Descartes, exaurindo o pensamento dos filósofos da Physis
(Grécia, VII a.C.) de que tudo era Um, em que natureza reapresentava o
princípio originário, a grande mãe criadora, onde tudo surgia e para onde tudo

15
SMITH apud AKTOUF (in CHANLAT, Jean-François. O individuo na organização. São Paulo:
Atlas: 1994) In: SILVA, 2006, p.34.

35
retornava, num movimento constante e eterno de transformação. Nessa ordem
harmônica o homem ocupava o mesmo grau de importância que as outras
coisas criadas16.
Na idéia de separação entre Homem e natureza está o cerne da visão
antropológica da cultura. A partir dessa lacuna a cultura desenvolve-se
simultaneamente ao equipamento fisiológico do homem (coisa externa) sobre
os eventos da natureza. Para Leslie White (apud Silva, p.33) o momento de
surgimento da cultura foi quando o homem foi capaz de gerar símbolos. Já
para Claude Lévi-Strauss (1989, apud Laraia, p.54) a cultura teria nascido
quando o homem convencionou a primeira regra/norma, como por exemplo, o
incesto, padrão de comportamento comum em todas as sociedades
humanas. Portanto, devemos considerar que a cultura se constrói na relação
dos próprios indivíduos entre si e com o mundo. Em conformidade, Laraia
(2006) afirma que o homem é “um ser predominantemente cultural”.
Para Chauí (2000), deve-se falar em Culturas e não em cultura, uma
vez que as leis, os valores e as crenças mudam de um grupo social para o
outro. Em Grupos Étnicos e suas Fronteiras, Barth objetiva entender a
constituição dos grupos étnicos e os mecanismos de manutenção de suas
fronteiras, critérios que definem o sentimento de pertencimento e exclusão.
Segundo Barth, as fronteiras não são definidas somente pelo
isolamento geográfico, e sim por uma auto-atribuição dos próprios indivíduos
na tentativa de normalização das relações sociais, construídas nas inter-
relações com os outros. Em sua definição “os grupos étnicos são categorias
de atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores sociais e, assim,
têm a característica de organizar a interação entre as pessoas” (Barth, 1998).
Desse modo, a cultura não é algo imutável ou fechado, ela se constrói e se
reconstrói sempre na incorporação de novos significados simbólicos e valores
culturais, propiciado pelo contato com indivíduos e povos de diferentes
culturas, que constituem fonte de enriquecimento mutuo. Ou seja, a
persistência da unidade está no reconhecimento da diferença, essencial para
formação do universo cultural e suas riquezas.

16
BLANCO, Enrique. “Turismo Ecológico Sustentável e a Autoconsciência do Homem
Contemporâneo: uma Abordagem Filosófica da Questão Ambiental”. Disponível em:
<http://www.senac.br/INFORMATIVO/bts/index.asp>. Acesso em: 10 de dezembro de 2006.

36
Assim, sendo a identidade cultural composta por várias camadas e
intersecções resultantes de múltiplas influências que se moldam por um senso
de pertinência, Bhabha (1998) observa que a cultura “é transnacional porque
os discursos pós-coloniais contemporâneos estão enraizados em histórias
específicas de deslocamento cultural [...], é tradutória porque essas histórias
espaciais de deslocamento - agora acompanhadas pelas ambições territoriais
das tecnologias globais de mídia - tornam a questão de como a cultura
significa, ou o que é significado por cultura, um assunto bastante complexo”. A
razão de tal complexidade talvez seja o que se convencionou chamar de
multiculturalidade, expressão que reverencia o manejo da diversidade e a
dificuldade de articulá-las dentro do tecido social.
No dia a dia, vamos tomando consciência do momento complexo em
que vivemos. O desenvolvimento do capitalismo como sistema econômico
mundial dominante e desordenado aliado ao avanço da mídia-os media,
projetados sobre comunidades tradicionais, têm não só provocado a
degradação do meio ambiente como a desestruturação da comunidade, com
uma inversão de valores, mudança de todo um modo de vida e produção,
ameaçando a diversidade bio-cultural.
A maior preocupação, sob o ponto de vista do desenvolvimento
sustentável, é que “a situação atual apresenta evidências suficientes de que a
diversidade cultural no mundo se encontra em perigo devido a uma
mundialização estandardizadora e excluidora” (Agenda 21 da Cultura), pois,
dentro da globalização econômica, é resultado dos interesses de grupos de
minorias que detêm o poder.
Atualmente, com a falência do Estado, os municípios vêm ganhando
autonomia e se fortalecendo, através da valorização das potencialidades
culturais locais. Estes elementos, além de alterarem a imagem de uma área,
criam um elemento em comum, fazendo surgir um território de “segurança”.
Hall (2003) afirma que paralelamente a esse movimento de criação uma
identidade desterritorializada, além de qualquer fronteira, ou seja, de uma nova
identidade global padronizada, despertou-se um novo interesse pelo local.
Neste contexto a globalização não fará desaparecer as culturas locais, pelo
contrário, tudo o que for realmente importante e valioso culturalmente,

37
encontrará na escala mundial o terreno propício para germinar, desenvolver-se
e expandir-se.
A cultura, então, passa ter um papel determinante de cimento social,
catalisador por excelência da diferença, valorizada como cerne da resistência à
globalização. Assim, a cultura, apesar de ser um termo amplo e de vários
significados, pode ser percebida enquanto instrumento valioso na formação de
indivíduos consciente de sua identidade e das questões sociais da sua
comunidade. Levando em conta as práticas locais, os recursos culturais
possuem a capacidade de ampliar, reconstruir e revitalizar, fortalecendo assim,
os laços sociais.
A partir de comunidades fortalecidas e auto-consciêncientes17, é que
buscaremos a sustentabilidade na dimensão cultural, estabelecendo na relação
com a natureza segundo a sua tradição cultural. Para tal, é preciso considerar
a concepção ecológica que concebe ao mundo como um todo interligado,
reconhecendo a interdependência dos seres vivos como uma rede de
fenômenos articulados.
Tal contexto ganha relevância, expressando-se em propostas de projetos
voltados à revitalização e à salvaguarda de patrimônio material e imaterial,
resgates de tradições populares, modos de produção que conciliem
sustentabilidade ecológica e cultural. Tendo em vista as limitações das
contribuições do conhecimento científico e fazendo um esforço, através de
ações em cultura, para integrar o etnoconhecimento das populações
tradicionais. Trazendo à tona importantes temáticas como a questão de
identidades, re-significação de memórias coletivas e da territorialidade, desta
forma propondo soluções criativas para situações criativas.

17
De acordo com CAPRA (2002), “é uma noção de si mesmo, formulada por um sujeito que
pensa e reflete”

38
“...aqueles que fazem Aldeia Velha ser o que é...”

39
Capítulo3.

AÇÕES EM CULTURA PARA A TRANSFORMAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS


SABERES TRADICIONAIS

Na tentativa de construir um projeto que propicie


satisfação local, com base na melhoria de qualidade de
vida, autonomia cultural e conservação ambiental, é
fundamental considerar a participação do sujeito local,
levando em questão seu conhecimento tácito18.. Sujeito
seria aquele que pratica alguma ação. Por este motivo,
devemos ter como objetivo principal a motivação de
cada indivíduo daquela comunidade, tanto
transformando o mero indivíduo em sujeito/participante,
fazendo pertencer aquilo que já pertence (Santos, 2002),
ou seja, fazendo-o ter consciência e valorizando aquilo
que faz parte dele, como também elaborando as
estratégias de ação para a comunidade. Transformar
uma comunidade significa ampliar a interpretação que se
18
CAPRA (2002). O conhecimento tácito é adquirido pela experiência, transmitido através da
oralidade e de práticas (comunicação verbal e não verbal), de geração em geração. Em geral
não se manifesta exteriormente, é um saber local. De acordo com o autor ele é criado pela
dinâmica cultural dentro de uma comunidade.

40
tem da própria comunidade. Interpretar envolve esclarecimento, pesquisa, e a
transmissão de valores de conhecimento. A comunidade, em todos seus
segmentos, deve se conhecer para poder se beneficiar Deve haver uma
consciência de seu patrimônio, tanto material, quanto imaterial. Pois é ela que
de inicio possui todo o conhecimento e a experiência do lugar. O que é
proposto pelo projeto Aldeia Cultural é uma síntese entre conhecimento
científico (sistemático e sistematizado, resultante da aplicação de métodos
específicos para cada ciência), e o tradicional (empírico, não-sistematizado,
resultante da vivência e do senso comum), uma aposta conjunta. Para tanto, é
preciso reconhecer, antes de tudo, nas comunidades tradicionais, a existência
da biodiversidade19 além daquelas oferecidas pela ciência.
Existe um intenso debate quanto ao significado de comunidades
tradicionais, sejam elas indígenas, caiçaras, caipira, que compartilham
características comuns. De maneira geral, são caracterizadas como
comunidades pré-industriais, modos de produção próprios, que se baseiam no
uso de recursos naturais renováveis, sociedades que não visam diretamente o
lucro, desenvolvem dentro do modo de produção artesanal em pequena escala,
com reduzida acumulação de capital e não utilização de mão de obra
assalariada, como agricultura familiar e pesca; coleta e artesanato. A
dependência dos recursos naturais e respeito aos ciclos da natureza é
encontrada na maioria dessas comunidades. Outras características são
moradias e ocupações através das gerações, ainda que alguns membros
possam ter se deslocado para os centros urbanos e retornado para a terra de
seus antepassados. Importância dada à unidade familiar, doméstica ou
comunal. E a importância de mitos e símbolos que estão presentes no
imaginário popular.
A manutenção do conhecimento tradicional é revelada por uma
complexidade de conhecimentos adquiridos pelas tradições e herdados pelos
mais velhos. O Prof. Antônio Carlos Diegues define o termo como conjunto de
saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitidos
oralmente, de geração em geração. Diegues chama atenção, afirmando que é
este saber o grande repositório de parte considerável do saber sobre a
diversidade biológica conhecido hoje pela humanidade.
19
Como visto no capítulo anterior, pertencente à dinâmica natural e cultural.

41
Segundo Lévi- Strauss, em Pensamento Selvagem (1989) existe, nas
comunidades tradicionais, uma “atitude científica”, uma curiosidade assídua e
alerta, uma vontade de conhecer pelo prazer de conhecer, uma relação afetiva,
pois das observações, das experiências e vivências é que nascem resultados
práticos e utilizáveis. Sendo assim, é fonte significativa de informações que
devem ser partilhadas e difundidas.
É evidente que os critérios apresentados anteriormente se baseiam na
noção de um tipo “ideal”. Nenhuma comunidade tradicional, atualmente, se
apresenta no estado “puro”20. Podemos citar alguns fatores para isso. A
dependência do mercado, já existe, mas não é total. O aumento do trabalho
assalariado, que reduz o tempo disponível para atividades próprias de
produção. O crescimento do “turismo de natureza”. A criação de áreas de
preservação ambiental e entidades de conservação que em geral discriminam
ou não se preocupam com a comunidade residente, agindo através de um
ecologismo de denúncia, pois na sua visão preservacionista qualquer
interferência humana é negativa. Assim, quando certas características do modo
de vida tradicional, mesmo que seja em menor grau, estão presentes em
determinado grupo, se tornam essenciais, como visto no capítulo anterior, logo
não devem ser perdidas, esquecidas ou transformadas em “peças de museu”,
mas sim incorporadas, reinterpretadas e reinventadas.
Como foi visto, há necessidade de se resguardar a uma visão simplista,
nem todos moradores são “conservacionistas natos”, entretanto há entre eles
aqueles que armazenam um conhecimento empírico do mundo natural em que
vivem. Desta forma, Diegues destaca a “necessidade de se conhecer melhor
as relações entre a manutenção da diversidade biológica e conservação da
diversidade cultural”. Com base nas experiências e valores culturais locais,
através de uma visão interdisciplinar, onde trabalhem de forma integrada
biólogos, geógrafos, cientistas sociais, historiadores, produtores culturais, entre
outros, em cooperação com as comunidades tradicionais para elaboração e
execução de projetos. O envolvimento e a colaboração dos indivíduos locais
tornam possível fazer da experiência um aprendizado que enriquece a todos
envolvidos.
20
Provavelmente o tipo “puro”, tradicional e autêntico nunca existiu, nem no passado. Os
estudos sobre a formação das organizações sociais apontam sempre para um certo grau de
mediação e hibridização.

42
O diálogo entre saber científico e saber tradicional ganha destaque
conforme colocam Chaves e Bindá, citados no trabalho de conclusão de curso
de Paloma Sol Hertz, Cultura, Ecologia e Comunidade Tradicionais no Vale do
Rio Trombetas: Refletindo sobre a Reestruturação e sua Sustentabilidade:

“Desenvolvimento e conservação da natureza, tradição e


modernidade (...), é preciso, de um lado, conhecer as formas tradicionais
de apropriação e utilização do espaço e dos recursos naturais,
resgatando toda a sabedoria que as comunidades tradicionais detêm no
trato com a natureza (...), de outro, significa a incorporação e atualização
desse saber no bojo de um projeto amplo e contemporâneo que seja
sustentado, tanto em sentido econômico, ecológico e social” E ainda
“Posto que seja preciso não perder de vista o fato de que os saberes
tradicionais e suas práticas requerem contribuições práticas que
potencializem as formas de organização sócio-cultural e políticas locais.
Faz-se necessário ampliar os conhecimentos sobre esses povos que
demonstram possuir um imensurável saber sobre seu território, com
habilidade e potencialidades para instituir importantes ações de
desenvolvimento”21.

A reprodução de diversos saberes se amplia e potencializa quando


trabalhada conjuntamente, além de contribuir para riqueza cultural e
sustentabilidade do projeto. Assim, se torna também relevante a
Interdisciplinaridade, “diálogo e confiança mútua”, vincular e interagir com a
colaboração de diferentes olhares e saberes que se complementam na prática,
em torno de um objetivo em comum. Ivani Fazenda, em sua Tese “Integração e
Interdisciplinaridade/PUCSP”, defende que seria uma relação de reciprocidade,
mutualidade e co-propriedade que iria possibilitar o diálogo entre os
interessados. E que a interdisciplinaridade depende basicamente de uma
atitude, seguida da colaboração entre diversas partes que conduz a interação.
Reinaldo Fleuri (2003) vai acrescentar às dimensões de uma ordem
interna do saber, tomando por base Michel Foucault, a noção de épistéme:

“Foucault (1990) constata que elas são um produto de uma


inter-relação de saberes, que revela uma ordem interna, constitutiva do
saber, a qual ele chama de épistéme –é a ordem específica do saber, a
configuração que o saber assume em determinada época e que lhe
confere uma positividade enquanto saber (Machado, 1982). Para

21
CHAVES, M. do P. S. R.; BINDÁ, F. M. L. (2002), “Diálogo entre o saber popular e o
conhecimento científico”. In: VI Congresso Latino Americano de Sociologia Rural. Porto
Alegre, 2002.

43
Foucault, em uma cultura em um dado momento só existe uma épistéme
(daí seu aspecto globalizante) e revela a priore histórico (daí sua
profundidade) que torna possível os diversos saberes e a própria
ciência. Assim a formação dos saberes e a relação entre eles deve ser
buscada não no nível gramatical (das frases), nem lógico das
(preposições), mas sim em nível enunciados que constituem o
discurso”22.

Assim se fundamenta o projeto Aldeia Cultural23, na união entre


estudantes universitários de diferentes universidades24 do Rio de Janeiro e
moradores de Aldeia Velha25.
A metodologia proposta pelo projeto Aldeia
Cultural traz a proposta de se construir junto e de
se reconstruir sempre, com base na ousadia, na
criatividade, na vontade e no desejo e na ação
política das pessoas comprometidas com o fazer.
A participação de todos integrantes é autônoma,
tanto quando seu grau de comprometimento, ou
seja, o indivíduo decide quando e quanto vai se
envolver. O projeto vem para integrar,
independentemente da idade ou religião.

22
FLEURI, Reinaldo Matias. “Interdisciplinaridade: Meta ou Mito?”, In: Lecciones de Paulo
Freire, Cruzando Fronteiras. Buenos Aires: Clacso, 2003. p.118.
23
A idéia do projeto surgiu junto a Disciplina Projeto Cultural IV, segundo semestre de 2005. Na
época a disciplina era ministrada pela professora substituta Luciane Conrado (Departamento
de Artes). Participou da pesquisa e elaboração do projeto o aluno de produção cultural Ricardo
Ramos. O projeto Aldeia Cultural está inserido num projeto maior chamado Escola Mata
Atlântica, anexo V.
24
No anexo VI encontra-se um mini currículo do grupo gestor, denominado Escola da Mata
Atlântica.
25
Contribui para escola de Aldeia Velha o fato de ser um local relativamente próximo ao Rio de
Janeiro, possuir um riquíssimo ecossistema e uma população extremamente hospitaleira.
Aldeia seria, então, o local ideal para a realização deste projeto.

44
Além do estabelecimento de
relações democráticas, de
confiança e de comprometimento
com um planejamento que vai se
realizando e com o projeto que se
pretende construir. Uma idéia
fundamental no processo de envolvimento com a comunidade é que ele seja
prazeroso, que consiga despertar atenção dos moradores e provocar do
encontro informal um diálogo frutífero e respeitoso. A criação desses espaços-
tempo pode ser simbólica, uma construção coletiva, como, por exemplo, plantar
uma árvore ou pintar um cartaz que fique exposto. À medida que eles
passarem e se deparar com tal objeto, eles passarão a se reconhecer no
projeto. Porém, é necessário que este espaço seja complementar, reuniões
periódicas são fundamentais e funcionam como o canal de comunicação
comunitária.
O projeto teve seu início no final de 2005 com uma pesquisa
de campo. A receptividade local foi maior que a esperada. Argeu
Peclat, morador local, atuou como indivíduo-chave, mediando
nossa entrada nas casas e apresentando todos os moradores.
Com isso, de início, não era preciso tentar explicar nossa presença
a cada um, estavamos ali para ouvi-los, traçando posteriormente
ações que viriam a suprir os anseios dos mesmos.
As conversas eram sobre a vida na roça, a história de
Aldeia, a família, o rio, as plantas, a música, as brincadeiras, as
lendas, fatos curiosos, tristes e engraçados, suas produções, as
dificuldades entre outros. A finalidade da pesquisa era levantar
dados, gerais e particulares, sobre a população aldeense. Havia
um roteiro26 prévio, porém as perguntas não eram apresentadas
diretamente, e sim extraídas das respostas, um diálogo prazeroso
travado com o universo pesquisado. Sendo assim, ele era apenas
o fio condutor da prosa, da conversa com as pessoas. Nosso
objetivo ali era estarmos atentos e interessados, extraindo o
máximo possível essas entrevistas.
26
O roteiro encontra-se no Adendo III.

45
O presente trabalho é baseado na troca entre pesquisado e pesquisador,
e na reflexão crítica dos dados obtidos. Não há de se pensar no romancear de
uma vida rural e pacata, mas sim nas bases do conhecimento comum e
empírico27.. A percepção deste senso comum, desta epistemologia do cotidiano
aldeense, é que irá mostrar a fundo os rumos a serem traçados nas ações
aplicáveis do projeto.
As entrevistas em profundidade foram muito produtivas do ponto de vista
estratégico e a partir delas foi elaborada a primeira versão do projeto, versão
apresentada em sala de aula em janeiro de 2006. Época a qual estava aberto o
edital para Projetos de Extensão da Universidade Federal Fluminense, no qual
foi inscrito o projeto28.

.4.1 REDE DE PRODUTORES ALDEIA VELHA

Tratando-se de uma comunidade rural, aquela que vive na


terra e da terra, e que esta representa o elemento fundamental de
sua reprodução e de todo modo de vida, o conceito de
sustentabilidade adquire extrema importância. Assim, sob a
perspectiva de se construir uma “comunidade sustentável” elaborou-
se um plano de construção de uma Rede de produtores locais.
Numa multiplicidade de sentidos é imprescindível considerar
uma reflexão teórica do conceito rede. Do ponto de vista topológico,
uma rede é caracterizada por suas múltiplas conexões. Fritjof Capra
(1996) identifica a rede como padrão de organização dos organismos
vivos, “Onde quer que encontremos sistemas vivos, podemos observar que

27
Aquilo que faz da experiência e dos dados sensoriais as fontes primárias do conhecimento e
os critérios mais adequados para a determinação da verdade. A razão funciona como um
quadro em branco cujo conteúdo será escrito pelas sensações e percepções, formadoras dos
hábitos coletivos (e individuais) e também de memória. Duas de suas máximas são: “não há
nada na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos (Locke); todo “ser” ser somente
adquire essa substancialidade quando pode ser percebido (esse est percipi, na formula do
Berkeley)”.(CUNHA, Newton. Dicionário Sesc – A linguagem da Cultura. São Paulo:
Perspectiva: Sesc São Paulo, 2003).
2822
Assinou como coordenador de projeto a professora Luciane Conrado. Posteriormente o
professor Wallace de Deus a substituiu, pois seu contrato como professora substituta havia
vencido.

46
seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos
para a vida, olhamos para redes”29.
Esta concepção está intimamente ligada aos conceitos de relações não-
lineares e cíclicas (realimentação), que tem a capacidade de se auto-regular.
Esses princípios fazem o ecossistema se sustentar e se reproduzir. Capra, em
seus estudos sobre a organização dos sistemas vivos, apresenta-nos algumas
dessas propriedades:

"A primeira e mais óbvia propriedade de qualquer rede é a sua


não-linearidade – ela se estende em todas as direções. Desse modo, as
relações num padrão de rede são relações não-lineares. Em particular,
uma influência, ou mensagem, pode viajar ao longo de um caminho
cíclico, que poderá se tornar um laço de realimentação. (...) Devido ao
fato de que as redes de comunicação podem gerar laços de
realimentação, elas podem adquirir a capacidade de regular a si
mesmas. Por exemplo, uma comunidade que mantém uma rede ativa de
comunicação aprenderá com seus erros, pois as conseqüências de um
erro se espalharão por toda a rede e retornarão para a fonte ao longo de
laços de realimentação. Desse modo, a comunidade pode corrigir seus
erros, regular a si mesma e organizar a si mesma. Realmente, a auto-
organização emergiu talvez como a concepção central da visão
sistêmica da vida, e, assim como as concepções de realimentação e
auto-regulação estão estreitamente ligadas a redes"30.

Mas a rede também é social e política, ou seja, uma construção das


relações sociais, composta por indivíduos que irão se articular. Ana L. Enne,
em seu artigo O conceito de rede e as sociedades contemporâneas, através de
diferentes abordagens, apresenta o conceito de rede em sua relação com os fluxos de bens

social. Usando por base J. A. Barnes,


Radcliffe-Brown, Adrian Mayer, Elizabeth Bott, J.C. Mitchell, Epstein, entre
outros, afirma:

“Trata-se de um tipo de configuração social que não pode ser


considerado um grupo ou agrupamento, por seu caráter fluido e pela
ausência de uma unidade entre os membros, pois estes não estão
necessariamente todos em contato uns com os outros, de forma direta,
29
Capra, “Teia da Vida”, p. 77.
30
Capra, “Teia da Vida”, p. 78.

47
em prol de um objetivo comum, como no caso de um grupo; as relações
se dão através de links entre os agentes, de forma interpessoal,
marcados por um fluxo de informações, bens e serviços, que irão
resultar em processos de interação cujas fronteiras não são estáticas,
mas encontram-se em permanente construção e desconstrução”.31

Após apresentar diversas conceituações, Enne faz uma reflexão


associando à sociedade contemporânea e os meios de comunicação,
proporcionando diferentes sentidos para se pensar rede, “ou como sistema de
integração entre pessoas, através de práticas de interação, em um sentido
mais social; ou como um sistema de troca de mercadorias e bens materiais, em
um sentido mais econômico; ou em um sentido de trocas de informações e
bens simbólicos, em um sentido mais cultural”.32

Dada às possibilidades, pode-se destacar, no caso da Rede de Produtores de


Aldeia Velha a sua implementação. No cotidiano, apesar de todos estarem
interligados, é possível uma organização de interesses coletivos que almejem o
crescimento e consolidação desta Rede. Além de colaborar com a manutenção
dos conhecimentos tradicionais e geração de trabalho e renda em um
31
ENNE, O conceito de rede e as sociedades contemporâneas. Revista Comunicação e
Informação, Univ. Federal de Goiás, v. 7, n. 2, p. 264-273, 2004.
32
Idem

48
empreendimento auto-sustentável,
visa desabrochar novas dimensões
humanas e afetivas no exercício da
cidadania ativa, unindo ainda mais os
moradores locais. Significa também trabalhar um consumo crítico renovável, ou
seja, fazer com que o que normalmente se compra no supermercado, passe a
ser comprado com a própria comunidade, que pode atender a demanda (pão,
doces, queijo, manteiga, ovos, sabão etc). Isso gera oportunidades de
sustentabilidade, pois não se vai consumir de uma empresa, que em geral é
poluidora e exploradora.
O programa elaborado emerge da reflexão da realidade concreta dos
participantes e dos objetivos que se busca alcançar. “Em última instancia o que
vale, não é realizar o que se planejou e sim chegar mais próximo do objetivo
esperado” (Freire, 2004). Para isso é preciso considerar as práticas pessoais
de produção, dando visibilidades a elas e buscando integrár-las em laços que
fortaleçam a execução deste planejamento, preferencialmente realizado pelos
atores locais envolvidos.
A primeira etapa foi a realização da pesquisa 33, realizada em outubro de
2006, onde foram levantados os produtores locais. Esta pesquisa seguiu os
mesmos princípios da pesquisa realizada no início do projeto. Porém, desta
vez, com um objetivo específico. A comunidade também já estava integrada e
consciente dos objetivos, o que facilitou bastante o andamento. Procurei
valorizar todo tipo de produção. Muitos tinham dificuldade de identificar o que
produziam ou não, pelo simples fato de não comercializar.
Foram elaboradas placas34 de identificação para os produtores locais,
contendo nome do produtor e o produto por ele produzido, para ser colocado
em frente à casa de cada um.

33
Além de mim, participaram da pesquisa Argeu Peclat, morador local responsável pela
mediação, pesquisador-pesquisado, e as fotografas Bárbara Villa Verde (Graduada em
Comunicação pela UFF) e Tainá Del Negri (Graduada de Comunicação pela UERJ),
responsáveis pelo registro. Tanto a ficha de cadastro usada quanto os produtores levantados
encontram-se no adendo, IV e V.
34
Tiago Victer e Honorair Schuler, ambos os artesãos foram os responsáveis pela construção
das placas, sendo o material necessário doado a eles. Houve dificuldade de doação de
madeira de qualidade para sua confecção, por esse motivo, até agora, apenas 13 produtores
receberam as placas.

49
Outro resultado da pesquisa, complementando a identificação da Rede,
foi a elaboração de dois Mapas Emicos35, contendo as casas dos produtores
locais. O primeiro mapa foi uma confecção coletiva dos moradores, já o
segundo foi o desenho a partir do primeiro por uma desenhista local.
A primeira etapa para construção do Mapa Êmico foi a reunião das principais
lideranças e também crianças para esclarecimento do trabalho. A partir de lápis
de cor, cartolina e um mapa de referência da cidade, a área de abrangência do
mapa foi delimitada, considerando o raio de atuação das atividades produtivas,
dados históricos e recursos naturais de referência. Relevo e hidrografia foram
transcritos para uma cartolina e os moradores preencheram os espaços,
localizando, com o desenho, tudo aquilo que eles achavam importante,
construindo assim um mapa coletivo. O objetivo era resgatar o máximo
possível de informações. Além das serras, rios, ruas, comércio e casas dos
produtores, que servem de orientação, nos desenhos, nós podemos observar
uma representação da diversidade biológica através de inúmeras espécies de
animais e vegetais presentes no mapa, e também a presença de elementos
marcantes na cultura dos produtores como cipó, mel e bambu. Outros
elementos presentes são os mitos, “Mãe do Ouro” e “Saci Pererê”, o que
mostra a importância desses elementos na formação da cultura local. Tanto a
pesquisa, como os mapas e as placas foram apresentados na feira de
produtores locais, realizada dentro da 1º Mostra de Conhecimento Tradicional
de Aldeia Velha e pretende-se que fiquem fixas na cidade, construindo assim,
um circuito alternativo de visitação.
O simples fato de montar um painel
apresentando os produtores/produções
e reuni-los em uma feira aguçou a
curiosidade dos participantes, mexendo
também com seus egos. O fato curioso
é que do encontro aconteceram muitas

35
“Os Mapas Êmicos, ou seja, aqueles realizados a partir do conhecimento cognitivo, buscam
garantir uma participação local, trabalhar com dados relevantes, formar um quadro de
referências para coletar e analisar as informações, dispor de dados qualitativos, além de
facilitar a comunicação entre o pesquisador e as comunidades, por serem os mapas uma forma
de linguagem muito antiga (SCHMIDT, M.V.C. Etnosilvicultura Kaiabi no Parque Indígena do
Xingu: Subsídios ao manejo de recursos florestais. Dissertação de Mestrado. USP, São Carlos,
2001). Os Mapas confeccionados encontram-se no anexo II.

50
descobertas, produções até então desconhecidas passaram a ser conhecidas e
admiradas por todos. Honorair, morador local, aponta em roda de conversa que
“a feira foi interessante porque o grupo que o produziu consegue agregar
pessoas que já estão no mesmo lugar, mas que não se agregam por si só. E
também foi uma surpresa porque as pessoas não sabiam que as outras
produziam. Foi importante acima da possibilidade de expor e vender a
importância das pessoas se encontrarem e saberem o que as outras
produzem”.
Tendo em vista que uma das metas futuras é trabalhar a
possibilidade de multiplicadores, o evento contou também com
oficinas. Tiago, conhecido por suas luminárias, difundiu seus
conhecimentos, dando sua primeira oficina, abordando desde
diferentes espécies de bambu e épocas de colheitas até o
processo em si de produção e demonstração de como trabalha. Os
participantes interagiram e cada um construiu e levou uma luminária para casa.
Este foi o primeiro passo de uma longa caminhada. Mediações estão
sendo feitas sempre que necessárias, atividades que orientem e integrem
ainda mais os sujeitos participantes. Como uma avaliação interna econômica
de cada produção. Avaliando recursos e procedimento de produção, em quanto
tempo e qual quantidade se produz, quanto vende, quais são as despesas e
lucros, entre outros. E a criação de um selo de produtores familiares.
A rede tem o propósito de estar sempre aberta a novos integrantes, que
podem vir a fortalecer, pois “construir redes é criar relações, estabelecer
conecções, desencadear fluxos” (Mance, 2003, p.23).

51
“... um documento, onde saberes, ‘memórias’ e ‘identidades’ são capazes de
florescer, reproduzir e disseminar.”

52
53
CAPITULO5.

RELAÇÃO ENTRE MEMÓRIA E IDENTIDADE

Um fato passado pode ser narrado de diferentes formas e suscitar diversas


memórias quando recontado. Nesse sentido, é importante destacar que a
memória é um processo coletivo. “As lembranças individuais são apenas
pontos de vistas sobre o coletivo, e esse ponto de vista varia de acordo com o
lugar social que é ocupado; este lugar, por sua vez muda em função das
relações que se tem com os outros meios sociais”, afirma Halbwachs (2006). O
que significa que o sujeito pensa e lembra de acordo com o grupo social a que
se vincula. Somos influenciados no imaginário por outros acontecimentos
vividos pela coletividade, que, quando a identificação é tamanha, sentimos
pertencer. Michael Pollack (1992, p201) fala neste caso de acontecimentos
“vividos por tabela”. É uma espécie de “memória quase herdada”. As
lembranças estão enraizadas em diferentes contextos e são aproximadas pela
trama sincrônica do tecido social em que vivemos. Halbwachs ainda diz que ela
faz parte de um jogo de interesses, dependendo de qual grupo social se
emerge, ela se projeta de diferentes formas. Cada grupo atualiza sua memória
de acordo com seus interesses do presente e tendo em vista o futuro desejado.
Halbwachs destaca que nossa memória se apóia num tempo vivido, o
pensamento se apóia no recordar e no conservar de imagens de seu passado.
Podemos admitir que muitas lembranças reaparecem porque os outros e certos
elementos nos fazem recordá-las. Geralmente as lembranças reaparecem
misturadas com imagens, relacionadas às pessoas e aos grupos. Pois sempre
absorvemos um pouco de tudo que observamos e constantemente fazemos
referência a um outro momento vivido. Por esse motivo, “não nos lembramos
de nossa primeira infância, pois nossas impressões não se ligam a nenhuma
base enquanto ainda não nos tornamos um ser social”36. Pollack vai
acrescentar que a “memória é uma operação coletiva dos acontecimentos e
das interpretações do passado que se quer salvaguardar”, ou seja, a memória
36
HALBWACH M., 2006. p.43.

54
é seletiva, o que se guarda e exclui é fruto de uma organização, e quando
evocada é capaz de se construir e reconstruir.
Michael Pollack (1989) cita os lugares de memórias como contribuintes para
a reconstrução, analisados por Pierre Nora37, são eles: “o patrimônio
arquitetônico e seu estilo, (...), as paisagens, as datas, e personagens
históricas (...), as tradições e costumes, certas regras de interação, o folclore e
a música, e, (...) as tradições culinárias”38. Tudo isso funciona como lugar de
arquivo que pode ser passado de diversas formas: pelas pessoas, pelas
produções de imagens e narrativas, pelas práticas cotidianas, pelo território e
meio ambiente, entre outros. Arquivar significa preservar, conservar, possibilita
a apropriação cultural, favorece a produção de conhecimento, faz surgir novas
interpretações, idéias, sentimentos e sensações. É esse encadeamento que
nos faz compreender que a construção é coletiva.
Em prefácio do livro Memória Coletiva de Halbwachs, Jean Duvignaud
afirma que a lembrança funciona como “a fronteira e o limite: ela está na
interseção de muitas correntes do ‘pensamento coletivo’. É por isso que
sentimos tanta dificuldade de lembrar dos acontecimentos que dizem a respeito
a nós mesmos”39. Pois precisamos das memórias e dos olhos dos outros para
saber quem somos nós.

“Para que nossa memória se beneficie das memórias dos outros, não
basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que
elas não tenham deixado de concordar com a memória deles e que existam
muitos pontos de contato entre uma e outra para que a lembrança que nos
fazem recordar venha a ser reconstruída sobre uma base comum. Não
basta reconstruir pedaço a pedaço a imagem de um acontecimento
passado para obter uma lembrança. É preciso que esta reconstrução
funcione a partir de dados ou noções comuns que estejam em nosso
espírito e também nos outros, porque elas estão sempre passando destes
para aqueles e vice-versa, o que será possível somente se tiverem feito
parte e continuarem fazendo parte de uma mesma sociedade, de um
mesmo grupo”.40
Isto significa que embora precisemos dos outros e das coisas para emergir
as lembranças, as marcas já estão presentes em nós, as lembranças estão

37
NORA, P. Lês lieux de mémoire. Paris, Gallimard, 1993.
38
POLLACK, M. 1989. p.3.
39
DUVIGNAUD, Jean. In: HALBWACH, M. 2006. p.13.
40
HALBWACH M.2006. p.39.

55
alojadas no nosso consciente. Como coloca Halbwachs, nunca estamos sós,
pois sempre levamos conosco e em nós um pouco do outro41.
Ana Enne (2002) demonstra a importância da memória levantada por Jean-
Pierre Vernant, em seu sentido original entre os gregos:

“Pela memória, reconstruímos nosso elo com o mundo, com nossa


origem, e menos com uma temporalidade. A memória seria matéria menos
de uma cronologia e mais de uma cosmogonia. Memória e esquecimento
seriam fontes nas quais tanto homens quanto deuses haveriam de beber,
sendo a segunda marcadamente uma entrada para o ‘inferno’, para a não
superação, e a primeira uma maneira de garantir o tempo cíclico, um
caráter mítico em relação ao pertencimento ao mundo desde sempre.”42

Assim, a memória, valorizada é a principal formadora de nossa identidade.


Tudo que a fundamenta está intrinsecamente relacionado à identidade e aos
laços de identificação. É aquela que faz nos conhecermos, nos conectarmos
com nossas raízes e marcarmos sensivelmente nosso território nesse mundo,
em que estão presentes valores partilhados sincronicamente com nossa
família, nossos amigos e grupos, laços afetivos e morais que fortalecem e
emancipam uma comunidade.

“A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar


identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades
fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na
angústia. Mas a memória coletiva é não somente uma conquista, é também
um instrumento e um objetivo de poder. São as sociedades cuja memória
social é sobretudo oral ou que estão em vias de construir uma memória
coletiva escrita que permitem esta luta pela dominação da recordação e da
tradição, esta manifestação da memória”43

O conceito de identidade mudou com o passar dos séculos. O senso


tradicional de identidade pressupõe unidade, homogeneidade interna, e, em
alguns casos, a existência de um “eu” estável e igual ao longo dos anos. Ter
uma identidade significa também “antes de mais nada, ter um país, uma cidade
ou um bairro, uma entidade em que tudo o que é compartilhado pelos que

41
HALBWACH M.2006. p.30.
42
VERNANT, P. apud ENNE, A. 2002. p.112.
43
LE GOFF, J.,1992. p.46.

56
habitam esse lugar se tornasse idêntico ou intercambiável”.44 Temos então a
concepção do indivíduo e sua condição individual de ser e estar no mundo, e a
concepção coletiva, de alteridade (aquilo que está fora de nós), usado para
designar sua representação em relação aos outros e ao seu território. Isto
significa, portanto, que a idéia de construção de identidade deve ser pensada
em relação ao social. Pois o sujeito é parte integrante de uma sociedade, em
grande parte determinado, modelado por esta e por sua história e, também, por
seu inconsciente. Assim, identidade está sempre sendo transformada de
acordo com as maneiras em que somos representados e tratados nos sistemas
culturais que nos cercam. Ao mesmo tempo, é considerado que toda a
formação de identidade implica no reconhecimento da diferença e se realiza
por oposição para ela.
Entendendo identidade como autoconhecimento e a diferenciação em
relação ao outro, portanto, podemos “dizer que a memória é um elemento
constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na
medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento
de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si”45. Afinal,nós somos o que lembramos e o que não
lembramos; o que projetamos e o que não projetamos, à imagem de si, para si
e para os outros.
Pollack (1992, p204) vincula a construção da identidade a três elementos
fundamentais: o lugar, o tempo e a percepção de coerência dos elementos que
formam e unificam indivíduos. “A memória, onde cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e
não para a servidão dos homens”46.

“Para Lévi-Strauss, a identidade é uma espécie de morada virtual, à


qual nos é indispensável referir para explicar certo número de coisas, mas
sem que ela tenha jamais uma existência real. Entretanto os indivíduos e os
grupos exigem referências concretas para o sentimento de identificação,

44
CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas. São Paulo, Edusp, 1998, p.190. In: ENNE, Ana Lucia S
”Discussões sobre a intrínseca relação entre memória, identidade e imprensa”. p.4.
45
POLLACK, M. 1992. p.204.
46
LE GOFF, J.,1992. p.47.

57
sejam eles sistemas de valores, uma memória coletiva ou uma tradição
inventada” 47.

Isto servirá para que o indivíduo não só saiba quem é, mas também, se
instrumentalize para construir seu futuro.
Nesta busca pela democratização da memória social é
que nasce a idéia de se fazer o filme documentário “Aldeia
Velha e suas raízes”. Apesar do cinema ter como
característica elementar seu caráter indicial fotográfico, ele
não reproduz a realidade, e sim a reconstrói a partir de uma
linguagem legitimada pelos relatos orais. Sujeitos da
enunciação exteriorizam e transparecem para câmera
experiências e sensações. Seus modos de falar, agir, pensar
são vistos na tela como traços de sua tradição e cultura. O
diretor, mediador, primeiro capta tecnicamente essas histórias
e vivências com a câmera e depois faz um trabalho de
“manipulação” de imagens junto ao editor. Com intenções
éticas e estéticas, de forma justificada e não arbitrária, o filme
documentário é criado na sua edição, as cenas são escolhidas, selecionadas e
ordenadas em uma seqüência narrativa, seguindo uma linha de pensamento.
Portanto o documentário funciona como instrumento para um rearranjo
sucessivo das memórias coletivas, partindo do discurso oral das memórias
individuais. Assim, o cinema
se propõe a interagir,
transmitir e intermediar,
compreendendo o universo
simbólico em questão. Tem a
intenção de envolver e
enfatizar o conteúdo mais
valorativo, reconstruindo fatos

47
LÉVI-STRAUSS L’identité, 1977 apud BARBOSA, 2004.

58
que representam memórias coletivas e revelam sentimentos d

O enfoque do filme “Aldeia Velha


através
e suas
dos discursos
raízes” está
revela
no de
a
cidade chamada Aldeia Velha, segundo distrito de Silva Jardim - RJ. A equipe
estava empenhada em valorizar tudo aquilo que há de mais vivo e peculiar da
região. Explicitando na tela imagens de um lugar cheio de mistérios e riquezas,
com potenciais até então desconhecidos, os fatos narrados configuram uma
auto-imagem do lugar através de múltiplas facetas de vida. Podem-se perceber
várias relações e integrações que consubstanciam comunidade e território.
Cabe ressaltar que o documentário esboça uma importância político-cultural,
na medida em que trata os aspectos mais populares e cotidianos. O filme
rompe com o poder local, grandes fazendeiros, e dá voz à comunidade,
personagens que fazem Aldeia Velha ser o que é. Inspirados no conceito
romântico de cultura popular, o filme valoriza o conhecimento mais “tradicional”:
o resgate da história do lugar, os modos de vida da roça, a culinária, as lendas,
as brincadeiras e cantigas de roda. Porém, abre espaço para o positivismo,
retratando mudanças e melhorias do ponto de vista ambiental e
proporcionando um diálogo entre o conhecimento “tradicional” e “moderno”.
“Aldeia Velha e suas raízes” se constitui como lugar de memória, uma forma de
arquivo, onde memórias, histórias, conhecimentos, até então transmitidos
oralmente, foram registrados e difundidos, contribuindo para o processo de
conscientização identitária. Pretende ser um espaço histórico legitimado por
sua condição de representação, ou seja, um documento, onde saberes,
“memórias” e “identidades” são capazes de
florescer, reproduzir e disseminar.
Para Le Goff (in kornis, p.238), “há que
tomar a palavra ‘documento’ no sentido mais
amplo, documento escrito, ilustrado,
transmitido pelo som, a imagem ou qualquer
outra maneira”48. “Isto significa que o filme
pode tornar-se um documento para a
pesquisa histórica, na medida em que

Le Goff, “Documento/Monumento” In: Enciclopédia Einaudi. Porto, Imprensa Nacional, Casa


48

da Moeda, 1984 Vol 1: Memória-História.p.98.

59
articula ao contexto histórico e social que o produziu, um conjunto de
elementos intrínsecos à própria expressão cinematográfica”, afirma Kornis
(1992, p.239). Uma documentação fundamentada nas histórias do imaginário
popular, que são transmitidas através do som e da imagem. O registro fílmico
“Aldeia Velha e suas raízes” pode adquirir tal importância, já que se configura
em ser o primeiro a registrar a história de Aldeia Velha, suas crenças e valores.
Contudo, reflete uma forma particular, o documento resulta do esforço
particular de quem o produz, no caso do “Aldeia Velha e suas raízes”,
moradores ‘tradicionais’ e estudantes universitários é que projetam a imagem
de Aldeia Velha. E é interessante notar o que é registrado, pois, como adverte
Enne, “o que se guarda e armazena é o que se quer lembrar, pois o não mais
visto tende ao esquecimento”.
As imagens e movimentos, ali presentes,
representam uma forma de documento, trazendo
pessoas que falam de sua localidade, suas
histórias de vida, e resgatam um passado
compartilhado, através de lembranças, emoções e
sentimentos. As lembranças dos entrevistados por
sua vez acentuam a transmissão de determinados
bens simbólicos, que representam uma situação
social. Ferro (apud kornis, p. 244) “defende assim
que através do filme chega-se ao caráter
desmascarador de uma realidade política e
social”49. O ponto fundamental dos discursos
registrados é herança a ser transferida a gerações futuras do passado vivido e
experimentado. Alguma coisa de valor que se quer salvaguardar. Neste
sentido, os mais velhos são referenciais e responsáveis pela manutenção dos
valores de histórias de vida, permitido uma visão de sua trajetória e uma
perspectiva do seu meio social.
Myriam Moraes (1989, p. 40) coloca que “a imagem não é senão o ponto de
partida para essa viagem, para um despertar de uma memória de sentimentos
e emoções”. Isto significa que as memórias ali representadas não se

Marc Ferro, “O filme, uma contra-análise da sociedade, In: the historian and film, ed. Paul
49

smith, Cambridge University Press, 1976. p. 213.

60
configuram como algo pronto e acabado. Como foi visto no início do capítulo, a
construção da identidade se dá através da guarda de memória comum.
Considerando o filme como objeto de registro de recordações dos indivíduos,
que se completa na sua exibição, tudo aquilo que pode suscitar um sentimento
de afetividade acentua a memória coletiva. Neste sentido, os discursos
registrados e a identificação proporcionada da sua exibição, espaço-tempo em
que essas recordações podem ser avivadas, revelam-se fundamentais na
construção da memória e identidade.
Assim, este trabalho, além de atuar como uma forma de arquivo, lugar de
memória cristalizada, “cuja função é exatamente manter ativo o pertencimento
a determinado vínculo identificatório”50, pretende colaborar como fonte de
formação da identidade local, reflexo da realidade de “ser aldeense”,
despertando o reconhecimento e conscientizando o maior número de pessoas
de suas histórias, seus personagens, suas lendas e suas tradições. O que até
então era passado oralmente, passa ser também difundido pela tecnologia do
meio áudio-visual, que tem grande poder de representação e ativação da
identificação. O filme, “fonte preciosa para compreensão dos comportamentos,
das visões de mundo, dos valores, das identidades, e das ideologias de uma
sociedade” (KORNIS, p239), vem para partilhar, multiplicar e potencializar
outros lugares de memória, ultrapassando fronteiras étnicas e culturais,
enriquecendo o presente e construindo um futuro mais consciente.

50
Pierre Nora, apud: ENNE, A. 2002. p. 119.

61
.
5.1 “ALDEIA VELHA E SUAS RAÍZES”, DA FILMAGEM À EXIBIÇÃO NA
VILA:

O processo de realização do documentário “Aldeia Velha e suas raízes” se


iniciou com a pesquisa de campo e um reconhecimento de líderes locais já
mencionadas no capítulo anterior. A pesquisa se propôs a uma abordagem
sobre a importância estratégica da possibilidade dos moradores estarem
tornando-se agentes socioculturais de seu município, fazendo uma leitura
sobre sua identidade e a forma pela qual se relacionam com seu território. Os
moradores foram estimulados a contar a história de Aldeia, como surgiu, o que
existia e não existe mais, o que existe na mata, suas espécies, matrizes e
outras estórias engraçadas, tristes, assombradas, principalmente quanto às
histórias “tradicionais” locais, que fazem parte do enraizamento da
comunidade, sem a qual não seria possível a realização do documentário. Uma
outra abordagem foi a conscientização de que eles são os personagens
principais que constroem e contribuem para a manutenção da história cultural e
ambiental de Aldeia Velha. Os métodos utilizados visaram estimular uma
circulação interna de informação entre todos os participantes da produção do
vídeo, tanto moradores de Aldeia quanto os estudantes universitários.
O filme “Aldeia Velha e suas raízes” foi filmado durante o feriado de dois de
novembro, foram quatro dias de filmagem, utilizando três câmeras, o que
resultou em quinze horas de material captado. Todo processo de realização
conseguiu mobilizar e despertar o interesse de participação da população na
construção do documentário. Líderes locais participaram ativamente da
construção do documentário sugerindo histórias, personagens, lugares,
escrevendo idéias e ainda pegando na
câmera e fazendo imagens que fazem parte
do filme. Além disso, ele fortaleceu o
sentimento em cada morador da
importância de se valorizar a manutenção
dos saberes “tradicionais” da localidade,
estimulando-os, enquanto produtores de conhecimento e guardiões da

62
natureza, ao retorno às raízes
“tradicionais” de ligação com a
terra.
Ao longo de vinte e oito dias, as
imagens foram editadas e o filme
finalizado numa primeira versão de quarenta e três minutos. Logo após, exibido
na praça da vila, nos dias oito e nove de Dezembro, dentro do evento Aldeia
Cultural: 1°Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia Velha, onde a ação
cultural desenvolvida pelo grupo teve grande êxito, não só entre os moradores
como as pessoas envolvidas de certa forma com aquela região. Foram três
exibições, todas com enorme público, moradores (em sua maioria), amigos,
políticos e visitantes. Na estréia do filme, o público estava eufórico, sentimento
e emoções apareceram com toda força, marcando certamente aquele
momento. Todos se mostraram bastante satisfeitos com o resultado final. Eles
se surpreenderam e notaram todo trabalho de edição e montagem. O sucesso
do filme, para o grupo, está na identificação e no reconhecimento da população
“tradicional” de Aldeia Velha com a visão proposta pelo documentário.
Diante da realização desse filme foi construído um laço afetivo com a
comunidade. O que uniu ainda mais o grupo Escola da Mata Atlântica.
Pretende-se estimular a realização de novos projetos, inclusive áudios-visuais,
pelos próprios moradores, para que o sentimento
despertado não se esvaia, e sim se fortifique, se
concretizando em ações que valorizem cada vez mais a
localidade em questão.
Em julho será lançado o DVD, contendo, além do filme,
a pesquisa história, a Rede de Produtores (mapa,
produtores e produtos), making of, still e extras, será
distribuído nas escolas municipais da cidade. O filme
também será enviado para os circuitos nacionais
alternativos de cinema, principalmente os ligados às áreas
de cultura, de meio ambiente e etnografia.

63
64
CAPÍTULO6.

CONCLUSÃO

Como firma Paulo Freire (2004), “onde há vida, há inacabamento”. Partindo


deste pressuposto, a construção do projeto é permanente e suas ações
continuadas. Logo entendo conclusão como continuidade. O “Aldeia Cultural”
fechou um ciclo, o que não quer dizer que terminou. As ações continuarão sendo
trabalhadas e consolidadas. Ou seja, elas são construídas num processo,
desencadeiam fluxos, é como “em um organismo vivo, que vai ganhando
musculatura e estrutura óssea na medida em que se desenvolve” 51. Fortalecendo,
integrando e conscientizando cada vez mais a comunidade. Com as ações
desencadeadas, um tema a ser trabalhado é o ecoturismo.
O ecoturismo não é apenas o turismo que procura a natureza, e sim aquele
que reflete sobre os objetivos da sustentabilidade, incluindo os aspectos citados
no capítulo 1: “equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica”.
Conceitualmente é definido como “segmento da atividade turística que utiliza de
forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservarão e
busca a formação de uma consciência ambientalista, promovendo o bem-estar
das populações envolvidas”52. Resumidamente, é a “viagem responsável que
conserva o ambiente natural e mantém o bem-estar da população local” 53.
Ceballos (in Dias, 2003) faz uma revisão desta definição, que foi adotada pela
UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza)54 em 1996:

“O ecoturismo é aquela modalidade turística ambientalmente responsável,


que consiste em viajar a, ou visitar áreas naturais relativamente pouco
51
TURINO, Célio. Disponível em: <http://www.interblogs.com.br/celioturino>. Acesso em: 15 de
dezembro de 2006.
52
MILHOMENS, Allan. Turismo na mata atlântica: alternativa para a sustentabilidade. In:
Desenvolvimento Sustentável em Petrópolis. Ed. Viana & Mosley. Petrópolis, 2002. p.19.
53
WOOD, Megan Epler. Ecotourism: principlis, practices & policies for sustainability. Paris: Unep,
2002. In: DIAS, p.107.
54
Organização não-governamental atualmente conhecida como World Conservation Union.

65
perturbadas com o fim de desfrutar, apreciar e estudar os atrativos naturais
(paisagem, flora, e fauna silvestre) dessas áreas, assim como qualquer
manifestação cultural (do presente ou do passado) que ali se possa encontrar,
através de um processo que promove a conservação tem baixo impacto negativo
ambiental e cultural e propicia um envolvimento ativo e socioeconomicamente
benéfico das populações locais”.55

Pretende-se com o ecoturismo oferecer uma opção real de


desenvolvimento sustentável para Aldeia Velha. Fazer com que o
turista/participante56 venha para beneficiar a comunidade. Assim como gerar
recursos para proteger efetivamente o ecossistema.

“O turismo contemporâneo supõe o desenvolvimento sustentável das


localidades com base na inter-relação equilibrada dos ambientes social,
econômico, cultural e ecológico, bem como no planejamento e organização
intersetorial e integrada. A preservação da natureza, o respeito e valorização da
cultura local, a participação permanente das comunidades e a eqüidade na
distribuição dos benefícios e custos dos agentes promotores do turismo e da
sociedade são fatores fundamentais no processo de planejamento e
desenvolvimento turístico.”57

No caso de Aldeia Velha, com a Rede de Produtores, o agroturismo seria a


categoria mais adequada, pois pressupõe um turismo rural com interesse no
“diferente”, atrações e atividades que não encontram no cotidiano. Mais do que a
procura pelo verde e pelo ar puro, se tem a curiosidade por culturas locais,
hábitos, patrimônio, costumes, gastronomia, artesanato, produções etc. Esse
turista/visitante não quer somente visitar, ver e assistir, ele quer participar e
interagir. A visita do turista nas propriedades para conhecer técnicas de produção,
além de agregar valor à atividade produtiva e desenvolver uma fonte de renda
alternativa e complementar para o produtor, proporciona oportunidades de
aprendizagem, respeito e interação com comunidade local. O levantamento

55
CEBALLOS- LASCURÁIN, Héctor. Tourism, ecotourism and protected áreas: the states of nature-
based tourism around the world and guidelines for its development. Gland, Switzerland e
Cambridge: IUCN, 1996. In: DIAS, p.110.
56
Entende-se que o turista só se torna um visitante a partir do momento em que encontra uma
comunidade consciente. Esta definição foi dada em aula na disciplina “Administração e Gerencia
Cultural II”, ministrada, na época pelo professor Guilherme Vergara.
57
CARVALHO, Evany Rita Noel. O agroturismo no Brejal. In: Desenvolvimento Sustentável em
Petrópolis. Ed. Viana & Mosley. Petrópolis, 2002. p.31.

66
histórico cultural e a divulgação das atividades realizadas no projeto Aldeia
Cultural permitem conhecer e enaltecer as oportunidades desse turismo agrário,
bem como diminuir barreiras entre o visitante e o visitado.
Sendo cultura uma construção diária e permanente, o intercâmbio entre os
"visitados" e "visitantes" é frutuoso, pois cresce e se torna complexo com o passar
dos anos. As trocas são permanentes e muito positivas, na medida em que se dá
e recebe simultaneamente. Por este motivo é muito importante manter este
fenômeno (turismo) vivo. Dele se dá não apenas o desenvolvimento econômico,
mas também o enriquecimento cultural da comunidade. O Turismo funciona como
forma de preservação de patrimônios. E é uma excelente forma de afirmação
cultural e através dele a preocupação de se manter certa identidade local.
Apesar de todo rico conhecimento que se possa ter do lugar, a maioria das
comunidades parecem estar muito mal aparelhadas para as possíveis mudanças.
Estudiosos apontam que apesar do turismo ecológico trazer menores 58 danos ao
meio ambiente, atinge as comunidades envolvidas. São elas que devem aprender
a lidar com o visitante de forma a atender suas necessidades e expectativas.
O turismo se desenvolveu de maneira bastante acelerada nos últimos anos,
e na mesma perspectiva a economia e seus segmentos (especulações de terras,
expansão das rodovias, construções de hotéis e lojas). Viajando pelo Brasil, não é
difícil encontrar uma cidadezinha como Aldeia Velha que em dois anos cresceu
desordenadamente (estrada pavimentada, uma loja ao lado da outra vendendo as
mesmas coisas, grandes redes de hotéis). Felizmente esse quadro não é
vivenciado por Aldeia Velha, apesar da grande expansão dessa atividade na
região. O tema turismo não deve deixar de ser discutido e trabalhado. Para
precaver e evitar conseqüências negativas deve haver um planejamento bem
cuidado que administre aquilo que deseja compartilhar. Um importante aspecto é
promover um protagonismo comunitário, envolver os pequenos produtores locais,
fortalecendo a produção e os saberes tradicionais. E não apenas envolver os
possuidores de renda e seus empregados, como as instituições da região fazem.

58
O impacto do turismo sobre o meio ambiente é inevitável. O que se pode é mantê-lo dentro de
limites aceitáveis, para que não provoque modificações ambientais irremissíveis.

67
Algumas das ações futuras previstas são:
 Casa de Semente: Construção de um Banco de Sementes Comunitário
para o armazenamento de sementes agroecológicas e nativas da Mata
Atlântica, para fins de estudos e reflorestamento. Serão quatro oficinas, que
serão gravados em vídeo e publicados em cartilhas para serem divulgadas e
arquivadas na biblioteca. Essa atividade conta com a parceria da Bionatur
através da COONATERRA (Cooperativa Agroecológica Terra e Vida Ltda), uma
vez que esta fornecendo à Escola da Mata Atlântica uma ajuda de R$ 5 mil
reais.
 Organizar um livro59. Contendo no miolo a história de Aldeia Velha,
fotografias e uma série de estórias contadas pelos moradores e ilustrações
feitas pelos próprios. Mostrando como a Aldeia surgiu, lendas, bichos, árvores,
personagens e estórias de assombração, engraçadas, curiosas, tristes e outras
mais que poderão depois de editadas de forma mais simples possível.
 “Farmácia -Viva”: Construção de um Horto Florestal de plantas medicinais e
oficinas para a preparação semi-artesanal de remédios fitoterapicos simples.
Esta ação pretende formar uma parceria entre Secretaria de Saúde
(capacitação de médicos), Secretaria de Meio Ambiente (doação de mudas) e
comunidade (manutenção), que a partir do incentivo se protagoniza. As
crianças serão as principais catalisadoras.
 Laboratório Cultural: consiste em um espaço com infra-estrutura para que se
realizem trabalhos, reflexões e trocas de informações. Será uma sala equipada
com televisão, dvd, computador, telefone e uma pequena biblioteca. Todo
equipamento e livros serão conseguidos por meio de doação 60. O laboratório
cultural servirá também como ferramenta de “afetividade” podendo qualquer
membro da comunidade freqüentar e utilizar o espaço. Os livros serão
colocados periodicamente na praça.
 “A Mata é Nossa”: diversos cursos e oficinas feitas por universitários e
graduados que envolvam a temática ambiental. Exemplos: cinema, rádio,
59
Atualmente existem apenas dois livros e uma monografia (Geografia URRJ) que contam a
história do surgimento de Aldeia Velha, cada um com uma versão diferente.
60
Alguns livros e equipamentos (computador, scaner, câmera digital) já foram doados e encontram-
se na Escola Municipal Vila Silva Jardim.

68
“Contação de história”, fotografia, ilustração, expedição na mata entre outras.
O primeiro curso previsto é de cinema e contará com o apoio da Secretaria de
Meio Ambiente de Silva Jardim e o Porta Curtas Petrobrás.
 Operacionalizar um site contendo agenda cultural e a rede dos produtores.
 Debater e trabalhar a institucionalização61 do grupo.

A “Escola da Mata Atlântica” pretende se inserir nos programas de governo


para viabilizar suas ações. Um dos editais previstos é o do “Ponto de Cultura”62, do
Ministério da Cultura. Inscrever-nos-emos também no “Programa Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural” (PNATER)63 do Ministério do
Desenvolvimento Rural e em entidades não-governamentais compatíveis com a
proposta do projeto.

61
Essa questão será explicada no capitulo seguinte.
62
“O Ponto de Cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva e articula todas as suas
demais ações. Ele é a referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação
de iniciativas e vontades criadoras. Uma pequena marca, um sinal, um ponto sem gradação
hierárquica, um ponto de apoio, uma alavanca para um novo processo social e cultural. Como um
mediador na relação entre Estado e sociedade, e dentro da rede, o Ponto de Cultura agrega
agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades, e
destas entre si”. Disponível em: < http://www.cultura.gov.br> Acesso em: 15 de dezembro de 2006.
63
“PNATER a Ater, é considerada como um processo educativo e de fortalecimento da produção,
e, portanto, constitui-se num bem-público, cabendo ao Estado garantir a oferta gratuíta de serviços
de qualidade para aqueles que necessitam deste apoio. Assim mesmo, Política Nacional de Ater,
estabelece as bases para uma nova Extensão Rural e para um novo enfoque de Assistência
Técnica, de caráter educativo, que adote metodologias participativas e que se oriente pelos
princípios da Agroecologia, visando à implementação de estratégias de desenvolvimento
ambientalmente sustentável, economicamente viável, sócio-culturalmente aceitável e que
respeitem as diversidades existentes no país, visando à universalização do conhecimento no
campo, o resgate da cidadania, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da população,
com estímulo à produção de alimentos sadios e de melhor qualidade biológica”. Disponível em: <
http://www.pronaf.gov.br> Acesso em: 15 de dezembro de 2006.

69
CAPÍTULO7.

PARCERIAS

A primeira parceria estabelecida foi com a Universidade


Federal Fluminense, que através do Programa de Extensão Universitária,
aprovado o projeto, apoiaria as ações do Aldeia Cultural. O que facilitaria o
apoio de outros setores, como IACS, PROAC e DOA dentro da própria
universidade.

A segunda conquista seria com a Secretaria de Meio Ambiente


de Silva Jardim. A Escola da Mata Atlântica conseguiu a doação, pela Receita
Federal, de uma maquina fotográfica Sony 7.2 pixels, para o trabalho de
documentação das atividades da escola e que fica sob a guarda da escola
municipalizada Vila Silva jardim, a escola local. E disponibiliza, sempre que
necessário, o data-show para projeção de filmes na vila.
Foi firmada uma parceria com a Ong francesa Sementes Kokopelly,
que trabalha em várias partes do mundo, principalmente na Índia. Seu trabalho
visa fomentar o cultivo de espécies agrícolas que estão em extinção por serem
sementes caboclas, de agricultores familiares. A Ong enviou 15 tipos de
espécies selecionadas e higienizadas de sementes de espécies tradicionais
como milho, tomates e abóboras.
E outra com agricultor agroecológico Amilton Munari de Maquine/RS, de
sementes criolas64 que estão sendo distribuídas até o fim do período agrícola,
através do banco de sementes.

64
Sementes livres de modificação genéticas e sobre as quais não incida nenhuma patente.

70
A Secretaria de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu
doou 200 mudas de diversas espécies da mata atlântica e outras de
importância comercial. Foram distribuídas à comunidade e visitantes, no evento
Aldeia Cultural, ipês, abius de fruta verde, pupunhas entre outras. Além de
doarem mudas medicinais para o viveiro de plantas medicinais da Escola. As
mudas que não foram adquiridas foram plantadas nas beiras dos rios e nas
ruas da vila.

Outra parceria construída é com o Movimento de Software Livre,


que se propôs a construção de uma radio livre na comunidade, além do
fornecimento de sementes criollas pelo seu programa de Sementes Livres.

Recentemente foi estabelecida outra parceria, com ONG Verde


Cidadania, que inscreverá o projeto no programa Agente Cultura Viva do
Ministério da Cultura, para transformar a Escola em um Ponto de Cultura.
Novas parcerias estão sendo buscadas, como a Associação do Mico
Leão Dourado que iniciará o plantio de mata ciliar no Rio Aldeia, Secretaria de
Saúde de Silva Jardim, Grupo de Bioconstrução Tibá, ONG Negócios
Ambientais, Ministério da cultura e Ministério do Desenvolvimento
Agrário, a Secretaria de Turismo de Silva Jardim, que vem mediando ações
junto ao MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário) às quais pretendemos
estar nos inserindo, entre outros que venham a somar e fortalecer nossas
ações.
Houve a tentativa de se estabelecer uma parceria com SAAP - Serviço
de Análise e Assessoria a Projetos, que é um programa da FASE criado para
fortalecer grupos populares Dentro da SAAP tem o FPP, Fundo de Apoio a
Pequenos Projetos que apóia projetos pontuais, como o evento Aldeia Cultural,
sem burocracia ou prazo. Porém a falta de um CNPJ, pois não poderia ser de

71
nenhum de nossos parceiros, ou seja, governo, ONG com financiamento
externo e instituições com fins lucrativos, impediu que fosse feita a inscrição do
projeto.
A questão possuir CNPJ gera um debate delicado entre o grupo gestor,
que entende que a sustentabilidade deve ser levantada pela comunidade local.
Porém, sabemos como é difícil o desafio de se institucionalizar, inserir em
editais e captar investimento. A institucionalização, em um primeiro momento,
traria uma sobrecarga administrativa, podendo nos desvirtuar de nosso
objetivo. Por esse motivo, as ações vêm sendo travadas por meio de parcerias
com instituições que cedem seu CNPJ, permitindo assim que recebamos
investimentos sem comprometer nossa autonomia. Posteriormente, após
consolidarmos nossa base orgânica de atuação, essa questão virá à tona e
será trabalhada incisivamente, principalmente focando e enfatizando aquilo que
queremos ser. Construir um debate é essencial, pois a forma de organização e
formalização traduz a imagem que o grupo quer ou não ser visto65.

65
Em um primeiro debate, o grupo excluiu a possibilidade ser uma ONG. Cogitando se
organizar como uma Associação de Moradores e Amigos da Mata Atlântica e futuramente em
uma Cooperativa de Pesquisadores.

72
ADENDO I: CRONOGRAMA DETALHADO

Atividades Setembro 1°semana 2°semana 3°semana 4°semana


Providenciar memorandos necessários para x
apoio (Proex/gráfica/Proac/Doa)
Reservar equipamentos cinema x
Marcar reunião secretaria de Meio ambiente e x
Turismo Silva Jardim
Elaborar carta de apresentação e projetos para x
parcerias locais
Atividades Outubro
Parcerias locais (pousadas, Sec Casimiro) x x
Alugar casa x
Reunião secretaria Silva Jardim x
Divulgar projeto nas universidades x
Reunião grupo gestor x
Ida para campo x
Apresentação do projeto para comunidade e x
divisão de atividades
Início da pesquisa x
Identificar produtores rede/ fotógrafo x
Contato bandas locais x
Definir plano de filmagem x
Retirada equipamento uff x
Oficina de cinema e convidar moradores x
interessados
Desenhar lugar do evento (pontos de luz) x
Contato equipamento som x
Atividades Novembro
Filmagem do documentário x
Fazer relatório do documentário x
Devolução do equipamento uff x
Fechar programação (oficinas de produtores) x x
Confecção do material gráfico x x
Edição filme x x x
Confecção das placas x x
Enviar material para gráfica x
Divulgação da mostra x x
Atividades Dezembro
Montagem da exposição (impressão textos e x
fotos)
Confecção cartazes do evento - crianças x
Disponibilizar infra-estrutura mesas, cadeiras, x
palco, telão, projetor etc
Mostra x
Devolução dos equipamentos x
Atividades Janeiro
Realização da roda de conversa sobre os x
resultados do Aldeia Cultural com a
comunidade-construção de uma agenda
comunitária para 2007
Organização da pesquisa Aldeia Cultural x x x

73
ADENDO II: ORÇAMENTO DETALHADO

Item Descrição Quantidade Medida Valor Unitário ou Fonte Total da linha


1 Recursos Humanos
Coordenação 5 Meses 600,00 R$ 3.000,00
Produção 2 Meses 600,00 R$ 1.200,00
Pesquisa 2 Meses 400,00 R$ 800,00
Historiador 1 Mês 300,00 R$ 300,00
Geógrafo 1 Mês 300,00 R$ 300,00
Botânico 1 diária 80,00 R$ 80,00
Ornitólogo 1 diária 80,00 R$ 80,00
Mastozoólogo 1 diária 80,00 R$ 80,00
Ecólogo 1 diária 80,00 R$ 80,00
Biólogo 1 diária 80,00 R$ 80,00
Fotógrafos 2 fotógrafos 80,00 R$ 160,00
Designer gráfico 1 serviço 300,00 R$ 300,00
Artesão placas 1 Estudante 100,00 R$ 100,00
Circo 2 Grupos 300,00 R$ 600,00
Produtos vídeo 2 trabalho 300,00 R$ 600,00
Diretor 1 Trabalho 400,00 R$ 400,00
Técnico de som 1 Trabalho 200,00 R$ 200,00
Fotografo vídeo 2 trabalho 200,00 R$ 800,00
Editor vídeo 1 serviço 400,00 R$ 400,00
Assistente de edição 1 serviço 200,00 R$ 200,00
Finalização som 1 serviço 200,00 R$ 200,00
Finalização imagem 1 serviço 200,00 R$ 200,00
Editor livro 1 serviço 300,00 R$ 300,00
Web Designer 1 serviço 300,00 R$ 300,00
Palestrante 1 serviço 80,00 R$ 80,00
TOTAL R$ 10.840,00
2 Recursos Matérias
2.A Material Permanente
Computador 1 equipamento 1.000,00 R$ 1000,00
Impressora 1 equipamento 400,00 R$ 400,00
2.B Equipamentos
Câmera mini dv 1 câmeras 3.000,00 R$ 3.000,00
Microfone direcional (kit) 1 Microfone + kit 1.000,00 R$ 1.000,00
Lapela 2 equipamentos 60,00 R$ 60,00
Rebatedor (pizza) 1 rebatedor 40,00 R$ 40,00
Isopor 2 isopores 0,60 R$ 1,20
Tripé de alumínio 2 tripés 100,00 R$ 200,00
Bateria extra 1 bateria 450,00 R$ 450,00
Data show 1 equipamento 5.000,00 R$ 5000,00
Telão (6x4) 1 tecido 50,00 R$ 50,00
Aparelho de DVD 1 equipamento 100,00 R$ 100,00
Amplificador 1 equipamento 300,00 R$ 300,00
Equipamento som vários equipamentos 500,00 R$ 500,00
Câmera digital 2 equipamentos 600,00 R$ 1200,00
Gravador digital 2 equipamentos 169,00 R$ 338,00
2.C Material de Consumo
Fita mini-dv 15 unidades 22,00 R$ 330,00
Dvd-R 1 Cake c/ 25 199,90 R$ 199,90
Cartucho de hp 57 1 unidades 100,99 R$ 100,99
Cartucho hp 56 P&B 1 Unidades 59,99 R$ 59,99
Filme fotográfico 36 8 unidades 11,90 R$ 95,20
poses 400 asas
Material de papelaria vários compra 300,00 R$ 300,00
Pilha Alcalina AAA 3 Embal c/2 4,49 R$ 13,47
Pilha Alcalina AA+ 2 Embal c/4 4,49 R$ 8,98
Material oficinas vários compra 500,00 R$ 500,00
Placa de madeira 25 Placas (40x20x4) 17,70 R$ 442,50
maçaranduba
Verniz para madeira 1 Latas 3,6l 32,90 R$ 32,90
Adesivos 25 adesivos 5 R$ 75,00
Parafuso e porca 50 unidades 0,60 R$ 30,00
Mudas e sementes Vários unidades 1000,00 R$ 500,00
Revelação 388 serviço 0,79 R$ 306,52
Ampliação 10 serviço 8,25 R$ 82,50

74
Cartazes A4 1000 Cartazes 90,00 R$ 90,00
Calendário (60x20) 500 Calendário 180,00 R$ 180,00
Fotolito 1 filme 80,00 R$ 80,00
Fotocópias 1000 Xérox 0,15 R$ 150,00
Fotocópia colorida 50 Xérox color 1,00 R$ 50,00
Transporte (gasolina) 300 Litros 2,69 R$ 807,00
Transporte (ônibus Rio- 30 passagens 26,00 R$ 780,00
Aldeia Velha)
Alimentação 222 refeições 6,00 R$ 1.332,00
TOTAL R$ 17.160,13
3 Recursos Físicos
Ilha de Edição 90 horas 10,00 R$ 900,00
Hospedagem 2 mês 250,00 R$ 500,00
TOTAL R$ 1.400,00
4 Outros
Luz 3 meses 50,00 R$ 150,00
Telefone 3 Meses 60,00 R$ 180,00
Internet 3 meses 39,00 R$ 117,00
Correios vários 100,00 R$ 100,00
TOTAL R$ 547,00

Total: R$ 29.947,13

ADENDO III: ROTEIRO DE ENTREVISTAS

 Nome:
 Nome dos pais:
 Data de nascimento:
 Onde Nasceu:
 Escolaridade:
 Religião:
 Quanto tempo vive em Aldeia?
 Você sabe a história de Aldeia?
 Por tem esse nome?
 Como era antes?
 O que mudou?
 Algum fato que marcou a história?
 Quais histórias você se lembra?
 Onde se trabalhava?
 Quais eram os costumes?
 Havia festas e não há mais?
 Como se reuniam?
 Musica tradicional?
 Dança?
 Reza?
 A mata?
 As árvores?
 O rio?
 Os pássaros?
 Os bichos?
 Caçava-se? Como era?
 Existia algum bicho, peixe, árvore que não se encontra mais?
 As Lendas? Existem lobisomens, saci, mula sem cabeça?
 Alguma história curiosa?

75
 Doenças comuns?
 Como se curou?
 Usa plantas medicinais? Quais?
 Sabe algum preparo?
 Fazia roça?
 Planta? O que?
 Comida típica? Sabe algum preparo? O que gosta de comer?
 O que mais gosta de Aldeia? O que tem de mais ‘rico’ em Aldeia?
 O que menos gosta? O que falta em Aldeia?
 O que faz para viver?
 O que gosta de fazer?
 O fazia e não faz mais?
 O que produz? Especialidade
 Gostaria de ensinar?
 O que tem interesse de aprender?
 Sabe ler?
 Gosta de teatro, cinema, musica, circo?

76
ADENDO IV: FICHAS DE CADASTROS

Produtores

Nome Completo:___________________________________
Apelido: ________________________
Data de nascimento: ____/ ____/ _____
O que produz?
_____________________________________________________
Com quem aprendeu? Como se faz?
_____________________________________________________
Que material e equipamento utiliza? Quanto Custa fazer?
_____________________________________________________
De quanto e quanto tempo se produz? Qual quantidade?
_____________________________________________________
Para quem vende?
_____________________________________________________
Endereço/contato/referencia:
_____________________________________________________
Dia 26 de novembro terá a Mostra Cultural de Aldeia Velha.
Gostaria de expor seus produtos?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
Gostaria de ensinar a fazer algum produto?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
O que gostaria de aprender?
_____________________________________________________

Fazendas e Estabelecimentos

Nome do
Estabelecimento/Fazendas:________________________________
Responsável:___________________________________________
Data de fundação: ____/ ____/ ____
Descrição:
O que se produz? De quanto e quanto tempo? Qual quantidade?
_____________________________________________________
Que serviço oferece? Quanto Custa?
_____________________________________________________
Principais clientes/visitantes?
_____________________________________________________
Dia 26 de novembro terá a Mostra Cultural de Aldeia Velha.
Gostaria de expor seus produtos/serviços?
Sim ( )
Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
Gostaria de abrir para visitação?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
O que gostaria de aprender?
___________________________________________________________________

77
ADENDO V: LEVANTAMENTO

Principais Aparelhos locais:

Comércio:

JM Marinho Mercearia ( Mercado do Leco)


Responsáveis: Leco e Sandro
Existe desde 1984
Encontra-se: babana, aimpim, nhame, queijo, manteiga e verduras da localidade.

Construmak
Responsáveis: Dersilio e Vanilda Shumater
Existe desde 2005
Vende-se materiais de construção

Padaria

Açougue do Zenica,
Responsável: Joseny
Existe desde 1998
Vende carne de boi da região e mel colhido em Aldeia.

Arte D’Aldeia
Responsável: Lurrielle (Lury)
Fundado em janeiro de 2003
Artesanatos dos produtores locais

Serviço:

Cabeleireiro
Responsável: Murilo Cardoso
Faz escova, hidratação, balaiagem, penteado, maquiagem e depilação. Atende, principalmente,
clientes que vem de fora.

Mecânica Tiringuinço

Bares e Restaurantes:

Bar Montanhas D’Aldeia (Bar do Sirley)


Responsável: Sirley
Existe desde 1983
Conhecido pela famigerada sinuca, cachaça própria e o bolinho ou pizza de kakawi (espécie de
fruta pão).

Bar do Jobim
Responsáveis: Inésio Salvantes (Jobim) e Araci Macedo
Existe desde 1986
Especialidades: bolinho de aipim, cachaça de barril, torresmo, peixe frito e PF.

Bar Barroco
Responsável: Maquinhos
Reabriu em novembro de 2006

78
Além de um bom Rock’n Roll, é o ponto de encontro dos jovens locais, que costumam se reunir
para um churrasco (seja de um boi morto ou de rãs catadas na beira do rio). Encontra-se
também as famosas luminárias do artesão Tiago Victer.

Bar do Calango

Bar Paraíso
Responsável: Jorge “Gordo”

Dally doces
Responsáveis: Moisés e Dalila
Existe desde 1984
Vende-se bolinho de aipim, bolo Manuê (aipim) e deliciosos sorvetes.

Restaurante Toca da Natureza


Responsáveis: Nael e Mariselma
Self-serve e pizzaria

Pensão da Cotinha
Existe desde 1986
Responsáveis: Fernando e Cristiane
Com o tradicional PF e pratos a combinar.

Açaí Peça aí
Responsável: Ivane Neto
Fundado em outubro de 2006
Vende açaí completo

Hospedagem:

Pousada Beira Rio,


Responsáveis: Willian e Ana Cláudia
Suítes, com destaque para o café da manhã: bolo de laranja e torta de maça da Elenice, aipim
e nhame cozidos, banana da terra.
Tel: (22)26682628

Pousada D’Aldeia
Responsável: Alexandre
Quartos, suítes e chalés a beira rio.
Tel:(22)26682694

Pousada e Camping Montanhas D’Aldeia


Responsável: Sirley
Localizam-se no centro do vilarejo

Camping do Surucucu
Tel:26682671

Pousada e Centro de Lazer Vale do Paraíso


Responsável: Marcelo Macedo
5 chalés, oferece o turismo rural (passeios a cavalos, trilhas e cachoeiras)

Fazenda Bom Retiro


Responsáveis: Luis Nelson ou Sonali
Quatro cabanas, área de lazer (duchas, pesca, campo de futebol, templo de meditação) e uma
farta alimentação.

79
Produtores:

Agricultores e Produtores

Nome: Ismael Lopes de Oliveira (Maeco)


Data de Nascimento: 20/06/48
Produz: Nhame, babana, milho, coco, aipim, tudo orgânico
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Citio Capixaba (estrada para Aldeia Velha)

Nome: Osail Garcia de Miranda


Data de Nascimento:
Produz: Nhame, babana, feijão, aipim, tudo orgânico
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Av. Luiz Carneiro

Nome: Alneir (Neir) Fonseca Rodrigues


Data de Nascimento: 19/08/1973
Produz: Cultivo de Mel
Com quem aprendeu: DVD explicativo
Contato: Est. Macharet/ Lumiar S/N (22) 26682651

Nome: Neilton Garcia de Fonseca


Data de Nascimento: 05/06/69
Produz: Mudas (ipê), aipim, banana, nhame, jardim
Com quem aprendeu: Aprendeu com o pai
Contato: Av. Luiz Carneiro

Nome: Mezair Rodrigues Netto


Data de Nascimento: 12/06/61
Produz: Cultivo de Mel
Com quem aprendeu: Sozinho
Contato: Est. Santana S/N (22)81163514

Nome: Maria das Graças F Batista (Gracinha)


Data de Nascimento: 02/12/51
Produz: Queijo
Com quem aprendeu: Aprendeu com um tio
Contato: Fazenda Uirapuru (22) 26682771

Nome: Clemente Alcides Rodrigues (Alcides)


Data de Nascimento: 23/11/40
Produz: Farinha, nhame, mandioca, feijão
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Rua Santana SN

Nome: Alci Luis Baloneque


Produz: leite
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Sítio Cezar

Nome: Antonio Jorge Pintor


Produz: nhame, abacaxi etc
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: estrada, entrada a direita, próximo ao portal

Nome: Vanderli e norma


Produz: banana, leite, aipim, cana, ovo caipira

80
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Sítio Vencedor

Nome: Valdir
Produz: leite
Contato: próximo a venda Paraíso

Nome:Sirley
Produz: mel
Contato: Bar Montanhas D’Aldeia

Artesão e artista plástico

Nome: Thiago Rangel Victer


Data de Nascimento: 02/07/81
Produz: Luminárias, camas, estantes, redes, sofás , móveis, tudo em
bambu.
Com quem aprendeu: sozinho, observando
Contato: Rua Santana SN (22)81297742

Nome: Carmita Rodrigo Grativol (Carminha)


Data de Nascimento: 14/06/57
Produz: Sabão, detergente e pasta para lavar louça e outros
Com quem aprendeu: escola
Contato: 2° Rua depois da Igreja Batista

Nome: Honorair Schuler Valadão


Data de Nascimento: 13/01/49
Produz: quadros, boneca de palha, sino dos ventos e outros
Com quem aprendeu: sozinho
Contato: Rua da Assembléia S/N Cond. Arco Verde (22) 26682622

Nome: Marcos Antoni Tostes (Marquinhos)


Produz: constrói brinquedos artesanais com madeira e sucata, pernas de
pau com bambus entre outras coisas. Um profundo conhecedor e
preservador das brincadeiras de cantigas de roda.
Com quem aprendeu: sozinho
Contato: Principal

Nome: Clemente Alcides Rodrigues (Alcides)


Data de Nascimento: 23/11/40
Produz: Cavalos em madeira
Com quem aprendeu: Sozinho
Contato: Rua Santana SN

Nome: Nedir Rodrigues


Data de Nascimento: 14/11/55
Produz: Vassouras de Cipó Timbó e Eiri
Com quem aprendeu: Sozinho
Contato: Rua Santana SN

Nome: Felipe Rodrigues Netto


Data de Nascimento: 20/06/86
Produz: Tapete de Retalho colorido
Com quem aprendeu: Aprendeu com a vó

81
Contato: Rua Projetada S/N

Nome: Priscila da Silva Gomes


Data de Nascimento: 04/02/87
Produz: Bijuteria, e crochê
Com quem aprendeu: Sozinho
Contato: Rua Santana SN (22)26682858

Nome: Vanessa Laterza


Data de Nascimento: 10/07/1976
Produz: Bijuteria
Com quem aprendeu: Com a sogra.
Contato: Rua Projetada s/nº

Nome: Inti Macthikan Castro Marins


Data de Nascimento: 18/04/82
Produz: Artesanato em cerâmica, arame e material natural.
Com quem aprendeu: Com o pai. Manual.
Contato: Rua Augusto Victer s/nº

Nome: Gisela Vieira Macedo


Data de Nascimento: 11/11/77
Produz: Artesanato
Com quem aprendeu: Com a mãe
Contato: Rua August Coronel Belmiro Marchon. Fazenda Uirapurú

Nome: Ivane Neto


Produz: Fribra de bananeira e utensílios em jornal
Com quem aprendeu: escola
Contato: Açaí Completo

Nome: Anilce Macedo Costa


Data de Nascimento: 25/01/57
Produz: bordado e crochê
Com quem aprendeu: curso

Banda/Musico/compositor

Banda Brejo
Contato: Eros 22- 26682777

Filhos D’Aldeia
Fernando Otz (compositor)
Serginho Vitamina (sanfoneiro)
Contato: Fernando- 22 82995323 ou 22-26682642

82
Poeta/Escritor

Aliandro Oliveira (Miudinho)Publicou o livro “Um Pouco das Coisas” e


escreveu o romance “Doralice”Contato: Rua da Assembléia s/n
(22)81163398 ou 26682663

Lena Schuler
Contato: ao lado da igreja evangélica

Produtor Cultural

Jailton
Aldeia Rock Festival, festival de bandas de rock’n roll que acontece durante a Semana
Santa.
Contato: Barroco ou www.aldeiavelha.hpg.ig.com.br

Eros
Festa do Cavalo, competição promovido pela Pousada D’Aldeia. Acontece no mês de
dezembro. E cavalgadas, que acontecem de 2 em 2 meses, atrai muitas pessoas de fora.

Zeca
Bailes e festas

Cozinheiras

Nome: Erminda Martins Pintor


Data de Nascimento:26/06/39
Produz: cozinha orgânica: paçoca de semente de abóbora, salada de casca de abóbora com
casca de aipim, risole, pães diversos (integral, nhame, aipim, “segura marido”), cavaca, doces
diversos (cocada, pudim de fruta pão, mamão, pé de moleque, bolinho de chuva), bolos
diversos (casca de banana, abacaxi), biscoitos (polvilho, trigo) entre outros.
Com quem aprendeu: mãe
Contato: estrada, entrada a direita, próximo ao portal

Nome: Cenira de Oliveira e Marlene Lopes Soares Antoni


Data de Nascimento: 08/05/49
Produz: comida tradicional (biju, angu de milho branco, angu de banana
verde)
Com quem aprendeu: Aprendeu com a mãe
Contato: Citio Capixaba (estrada para Aldeia Velha)

Nome: Neide Martins Pintor


Data de Nascimento: 25/11/66
Produz: bolo, pão de nhame, bolo de casca de banana, broa, pão integral, pão de minuto,
pastel de nata, pastel de forno, geléias etc
Com quem aprendeu: mãe
Contato: estrada, entrada a direita, próximo ao portal

83
Nome: Zene Rodrigues Gomes
Data de Nascimento: 13/08/63
Produz: Queijo, bolinho de aipim, bolo Emanuê (trigo), pão
Com quem aprendeu: várias pessoas
Contato: Próximo à venda Paraíso (22)82485857

Costureiras

Nome: Elenice de Oliveira Santos Garcia


Data de Nascimento:14/08/71
Produz: roupas
Com quem aprendeu: mãe
Contato: Av. Luiz Carneiro

Nome: Jacira
Produz: roupas, colcha de retalho entre outros
Contato: Bar do Sirley

Horários das Vans

Segunda a Sexta
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
6:00 6:30
9:30 10:00
12:00 12:30
15:00 15:30
17:30 18:00

Sábado
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
7:00 7:30
12:00 12:30
17:30 18:00

Domingo
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
12:00 12:30
17:30 18:00

84
ADENDO VI: MODELO DE CARTA PARA SOLICITAÇÃO DE APOIO

Rio de Janeiro 09 de Outubro de 2006

A/C Sra. Thatiana

Aldeia Cultural consiste em um plano de ações em cultura que terá como objetivo mapear a região e
mobilizar os principais agentes socioculturais da comunidade de Aldeia Velha. O projeto, através do
intercambio cultural, diálogo entre conhecimento tradicional e conhecimento técnico-científico, atenderá
a população local, que junto construirá as ações do projeto. O principal enfoque é o desenvolvimento de
uma política voltada à geração de renda através de atividades menos prejudiciais ao meio ambiente,
buscando, assim, o equilíbrio entre comunidade e território. Para isso trabalharemos nossas ações com
base em princípios que objetivam a melhora da qualidade de vida, o bem estar dos moradores e o
equilíbrio ambiental. A primeira etapa consiste em um Mapeamento Cultural, para identificação dos
potenciais da comunidade e suas histórias. A partir deste contato será criada uma rede organizada dos
produtores locais, com o intuito de gerar alternativas de sustentabilidade e desenvolvimento sócio-
econômico. Além disso, realizaremos um vídeo documentário da cidade e uma Mostra Cultural que
reunirá toda produção local, possibilitando através de oficinas e palestras, a troca de conhecimento, a
manutenção de atividades e a criação de multiplicadores que venham suprir boa parte de suas
demandas, preservando as riquezas naturais e histórico-culturais de Aldeia Velha. O projeto também
tem como meta organizar roda de conversas periódicas, com convidados, que são um dos instrumentos
para mobilização, conscientização, que cria discussão, revela líderes e envolve comunidade, tendo em
vista, no futuro, a transformação da região em um pólo ecoturístico.

METAS:

à Envolver universitários de diferentes áreas no trabalho “Aldeia Cultural”


àDocumentação fotográfica da arquitetura, dos moradores, da fauna e flora local.
à Produção de 1 vídeo documentário e exibição em Aldeia Velha. Posteriormente enviar a Festivais
Nacionais e Internacionais de Cinema.
àRealização de uma mostra cultural com oficinas dadas pelos produtores locais, exposição, feira de
trocas, mostra histórica fotografia, show, apresentação teatral e circo.
àConfecção de 25 placas indicativas para colocar na entrada da casa de cada produtor
àElaboração de um Mapa (Emico) divulgando o circuito de produtores locais
àDistribuição de 500 calendários divulgando o projeto
àOrganização de 1 roda de conversa com os produtores locais
àDivulgação do trabalho realizado em formato de dvd. Disponibilizando na Escola Municipal Vila Silva
Jardim e na Universidade Federal Fluminense.

Venho, através desta, solicitar a Verde Cidadania uma parceira com o projeto Aldeia Cultural,
disponibilizando:

10 fitas mini –dv’s

Como parceira do projeto “Aldeia Cultural”, a Verde Cidadania terá como retorno:

A logomarca do Parceiro estará em todo material de divulgação a ser confeccionado pelo projeto Aldeia
Cultural.
Visibilidade da marca no calendário 2007 de parede da Rede.
Divulgação nos créditos filme documentário que será exibido em território nacional.
Divulgação do parceiro na mostra cultural
Possibilidade da marca ser veiculada na mídia espontânea.

Além disso, a iniciativa de utilizar o marketing cultural traz à empresa uma imagem positiva,
que se apresenta socialmente responsável, promovendo a diversidade cultural e o desenvolvimento local
da cidade de aldeia Velha. O investimento em cultura também qualifica as ações de comunicação da
empresa com o mercado e a sociedade.

Atenciosamente,
Julia Grillo Botafogo
Produção: (21)96560031
juliaotafogo@yahoo.com.br

85
ADENDO VII: “ALDEIA VELHA E SUAS RAÍZES”

Modelo plano de filmagem

PLANO DE FILMAGEM - DOCUMENTÁRIO ALDEIA VELHA E SUAS RAIZES


quinta-feira
HORARIO AÇÃO PERSONAGENS LOCAL DURAÇÃO
7H Café EQUIPE POUDADA 1H
8H VASSOURA NEDIR CASA DO NEDIR 2H
8H COTIDIANO VARIOS (comunidade) CENTRO 4H
10H COTIDIANO VARIOS (câmera direção) CENTRO 2H
12H Almoço EQUIPE Pousada 2h
14H HISTÓRIA Honorair/Marquinhos/Zeca Casa Honorair 3H
17H MÃE DO OURO Titio Moisés CENTRO 30 min
17:30 Por do sol x Morro Seco 30 min
19H Lanche e Reunião EQUIPE + COMUNIDADE CASA 2H
sexta-feira
HORARIO AÇÃO PERSONAGENS LOCAL DURAÇÃO
5H AMANHECER X BAMBUZAL 1H
7H Café EQUIPE POUSADA 1H
8H LEITERO VALDIR CENTRO 1H
10H PLÍNIO PLÍNIO MASCATE 2H
10H COTIDIANO VARIOS (comunidade) MASCATE 2H
13H Almoço EQUIPE Pousada 1h
15H POEMAS MIUDINHO Casa Miudinho 2H
17H Mulheres Anice Casa do Argeu 2H
19H CANAA VARIOS PEROBA X

Modelo decupagem fita

Dia ____/ ____/ _____

Time Code Local Pessoa (s) Fotografia Som

86
Modelo de direito de uso de imagem e som

DECLARAÇÃO DE CESSÃO DE DIREITOS DE USO DE IMAGEM

Aldeia Velha e Suas Raízes

A Escola Mata Atlântica em parceria com a Universidade Federal Fluminense


(UFF) está produzindo um vídeo documentário sobre a vila Aldeia Velha e suas raízes,
que será posteriormente editado e transformado em um DVD, exibido na cidade e nas
escolas com fins didáticos e ou publicitários (divulgação). Também com a
possibilidade de veiculação em sistemas de televisão, circuito alternativo e comercial
de cinema, inclusive por meio da internet.
Para todos os fins e efeitos de direito, a utilização das imagens para as finalidades
citadas acima não decorrerá qualquer tipo de ônus para Escola Mata Atlântica e
Universidade Federal Fluminense (UFF), advindos de pagamento de direitos de uso de
imagem e/ou direitos autorais.
Os que abaixo assinam este termo concordam em autorizar a Escola Mata Atlântica e
a Universidade Federal Fluminense (UFF) o uso de sua imagem e som para a
realização deste DVD, referente à produção de filmagens realizadas em Aldeia Velha -
Silva Jardim / RJ, do dia 02 de novembro de 2006 a 05 de novembro de 2006.

Nome RG Assinatura
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________

87
ADENDO VIII: MATERIAL GRÁFICO

Convite

Convite impresso em papel kraf. 2000 cópias

Cartaz

Cartaz impresso em papel kraf. 500 cópias distribuídas na localidade e redondezas


(Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Macaé, Silva Jardim, São Gonçalo, Niterói e Rio
de Janeiro entre outras) e nas Universidades: Unigranrio, IACS/Praia
Vermelha/Gragoatá/Valonguinho-UFF, IFCS-UFRJ, UERJ, UNIRIO.

88
Calendário

Foram confecciona
preto

O material gráfico acima foi feito na gráfica da UFF com apoio da PROEX.

89
Outros Cartazes:

Nossos cordiais cumprimentos a todos os


moradores, amigos e amigas de Aldeia Velha.

A ESCOLA MATA ATLÂNTICA vem construindo, passo a passo, os


alicerces de um sonho. Criar um centro de estudos que busque
aliar o conhecimento popular tradicional às novas tecnologias.
Motivados pela beleza da natureza e pela sabedoria das pessoas da
Aldeia, caminhamos. Almejamos investigar e experimentar as
soluções ecologicamente sustentáveis. Conhecer e difundir o antigo
saber das plantas medicinais.
Somos convidados a repensar o nosso papel na realização de uma
sociedade mais ética e consciente da sua responsabilidade para
com o ambiente em que vive e para com todos os elementos que o
compõem. Acreditamos que rios, matas, animais, pessoas, enfim,
tudo que vive pode coexistir em harmonia e respeito.

Aproveitamos esse momento de atenção para comunicar as mais


recentes atividades e acontecimentos relacionados à Escola
Mata Atlântica:

- Construção de um viveiro de mudas medicinais e florestais no


terreno da antiga escola.
A gincana do dia da árvore que a Dalila promoveu na escola,
encheu o viveiro de mudas florestais, trazidas pelas crianças, muito
legal!

- Doação de um micro-computador para escola de Aldeia.

- Doação de uma máquina fotográfica digital para escola de Aldeia.

- Criação do banco de sementes da Escola.


Foram distribuídas sementes criollas (sementes livres de
modificações genéticas e de agrotóxicos), entre os moradores de
Aldeia. Vamos multiplicar as sementes!

- Realização de sessões de cinema, no espaço gentilmente cedido


pelo Sr. Jobinho.
Os equipamentos utilizados para a projeção foram cedidos pela
Escola Vila Silva Jardim e pela Secretaria de Meio Ambiente de
Silva Jardim.

- Elaboração e realização do projeto “Aldeia Cultural” em parceria


com a UFF – Universidade Federal Fluminense.

Cartaz informativo a comunidade de Aldeia Velha

90
Atenção moradores e amigos de Aldeia Velha !!!

A Escola Mata Atlântica em parceria com a Universidade


Federal Fluminense (UFF) estarão realizando nos meses de
Outubro, Novembro e Dezembro aqui em Aldeia Velha, o projeto:

“Aldeia Cultural”

Convidamos a todos para participar


da realização deste projeto.

Mapeamento cultural; construção de rede de produtores;


vídeodocumentário; Mostra Cultural.

Atividades:
20 a 31 de Outubro – Reuniões históricas, levantamentos de
dados relativos à cultura local, entrevistas com os moradores.
02 a 05 de Novembro – Filmagem do vídeodocumentário
8 e 9 de Dezembro – Mostra Cultural (exposição histórica
fotográfica, cinema, oficinas dadas pelos produtores locais, feira de
trocas, teatro, circo e shows).
20 de Janeiro – roda de conversa.

Participe da atividade de seu interesse!

Mais Informações: Julia ou Tainá – Casa de Valdir e Zene

Agradecemos o apoio:

POUSADAD’ALDEIA
POUSADA BEIRA-RIO
BIOMA
UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSE
BOMPREÇO BAZAR
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DE SILVA JARDIM

Cartaz comunicando o início do “Aldeia Cultural”

91
Mês de Outubro e Novembro vai acontecer o projeto de extensão
Aldeia Cultural na pequena Aldeia Velha – Silva Jardim/RJ

Mapeamento Cultural
Construção de Rede de produtores
Documentário
Mostra Cultural

Situada entre os municípios de Casimiro de Abreu e Silva


Jardim, com 80% da Mata Atlântica, muitos rios e
cachoeiras e uma população hospitaleira a escolha da vila
Aldeia Velha é fortalecida pelo apoio da população local,
estudantes de universidades federais ligados a diferentes
áreas, entidades locais e movimentos ambientalistas. O
projeto, através do intercambio cultural, diálogo entre
conhecimento tradicional e conhecimento técnico-científico,
busca trabalhar a relação comunidade território,
objetivando sempre o bem estar dos moradores e o
equilíbrio ambiental.

Os projetos “Escola Mata Atlântica & Aldeia Cultural” e o projeto do


“Documentário Aldeia Velha e Suas Raízes” encontram-se na xérox!
Participem!! Sexta-Feira dia 20- Reunião para esclarecimento do projeto,
datas e divisão das atividade. Rua Silvio Romero 32/104 – Lapa
Mais informações: Julia Botafogo 96560031 ou
juliabotafogo@yahoo.com.br

Cartaz colocado nas universidades para formação de equipe

92
BIBLIOGRAFIA

ARENDT, Hannah. A condição Humana. Tradução: Roberto Raposo. 10°ED.


Rio de Janeiro: Forense Universitário, 2005.

BARROS, Myriam Moraes Lins de. “Memória e Família”. In: Estudos Históricos,
2 (3). Rio de Janeiro, 1989.

BARTH, F. “Grupos Étnicos e suas Fronteiras”. IN: BARTH, F. O guru, o


iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro, Contracampo,
2000.

BHABHA, Homi. O local da Cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

BARBOSA, J. L. “Considerações sobre a relação cultura, território e


identidade”. In: Leonardo Guelman. (Org.). Interculturalidades. 1 ed. Niterói:
EDUFF, 2004, v. 1, p. 100-1004.

BLANCO, Enrique. “Turismo Ecológico Sustentável e a Autoconsciência do


Homem Contemporâneo: uma Abordagem Filosófica da Questão Ambiental”
Disponível em: <http://www.senac.br/INFORMATIVO/bts/index.asp>. Acesso
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CANCLINI, N. Culturas Hibridas. SP, Edusp, 1998.

CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Uma nova concepção científica dos sistemas
vivos. Tradução: Newton Roberval Eichemberg. SP: Ed. Cultrix, 1996.

CUNHA, Newton. Dicionário Sesc – A linguagem da Cultura. São Paulo:


Perspectiva: Sesc São Paulo, 2003.

CUNHA, Paloma Sol Hertz. Cultura, Ecologia e Comunidade Tradicionais no


Vale do Rio Trombetas: Refletindo sobre a Reestruturação e sua
Sustentabilidade. Monografia de conclusão do curso de graduação do
Departamento de Geografia da UFRJ – Orientadora: Dra. Maria Célia Nunes
Coelho. Rio de Janeiro, 2006.

DIAS, Leila Christina. “Os sentidos da Rede: Notas para discussão”. In: Redes:
Sociedades e Territórios. Org: DIAS, Leila Christina e SILVEIRA, Rogério
Leandro Lima da Silveira. Forianópolis, 2005.

DIAS, Reinaldo. Turismo Sustentável e Meio Ambiente – São Paulo: Atlas,


2003.

93
DIEGUES, Antonio Carlos e ARRUDA, Rinaildo S.V (org). Saberes Tradicionais
e Biodiversidade no Brasil. (Biodiversidade 4). Brasília: Ministério do Meio
Ambiente; São Paulo: USP, 2001. 176 p.

DIEGUES, Antonio Carlos. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo:


2°EdHucitec, 1998.

ENNE, Ana Lucia S. “Lugar, meu amigo, é minha Baixada”: memória,


representação social e identidade. Tese de Doutorado em Antropologia pelo
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95
ANEXO I: PESQUISA HISTÓRICA DE ALDEIA VELHA66

Contam os mais velhos como Seu Jair, que Seu Delson contava que
artefatos indígenas haviam sido encontrados por ele. Segundo o Miudinho,
eram machadinhas amoladas e pontas lascadas que ele mesmo em sua
meninice nas beiras d´agua perto da casa de Seu Jorge, havia também
descoberto.

Livros contam que houve nesse vale do rio Aldeia Velha, um importante
aldeamento indígena. Honoraih, grande difusor dos conhecimentos sobre esse
passado indígena, contou que essa aldeia se chamava Sacra Família de Ipuca.
Nela, índios Guarulhos eram catequizados por padres, tendo ocupado também
outros aldeamentos da região norte do estado.
Ipuca seria, em tupi, água podre, ou seja, os alagadiços característicos
dessa região. Pestes espalharam os índios pelos sertões de Bananeiras, Toca
da Onça, Tenah... Quando os europeus chegaram encontraram ainda alguns
moradores e o nome Aldeia Velha se consolidou. Existem três livros contando
essa história, só que cada um tem uma versão diferente, só os documentos
poderão solucionar essas questões.
A maioria dos atuais moradores de Aldeia Velha são descendentes de
famílias alemãs, suíças, portuguesas, negras e também dos antigos moradores
neobrasileiros67 que permaceram das primeiras ocupações.
Os imigrantes que chegaram pela serra trouxeram muitos usos e
costumes e construíram moinhos, engenhos e fazendas. Dessa época antiga
ficaram histórias sobre a Mãe do Ouro, assombrações e causos como do dia
em que a Dona Sinhá foi visitar a irmã Dona Inaiá, da guerra dos ciganos, do
primeiro caminhão que entrou em Aldeia...
Dessa época as poucas casas que ficaram não estão seguras. Como a
antiga padaria que foi recentemente derrubada, casas como a pensão de Dona

66
Este texto foi escrito para o evento Aldeia Cultural e exposto nos dias 8 e 9 em Aldeia Velha.
A autoria do texto é de Tainá Mie Seto Soares graduada em história pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Escola da Mata Atlântica. Os principais informantes
locais foram: Aliandro Oliveira, Marcos Tostes e Honorair Schuller.
67
Neobrasileiros – nome que se dá aos moradores do período colonial, descendentes da
miscigenação entre índios, europeus e negros e que formaram a população rural do Brasil.

96
Cotinha, o casario velho, o antigo Barroco que já foi o Correio e a casa da
Dona Sinhá e hoje é uma loja de material de construções, não são protegidos
por nenhuma lei do patrimônio histórico e artístico ou pelo menos que algum
morador tenha conhecimento.
Uma antiga festa que também deixou saudade foi a Grande Festa da
Padroeira Sant´anna. Essa era principal comemoração da cidade, em que os
moradores das roças desciam e todos se encontravam. Com a luz elétrica e as
barracas de bebidas, a festa se descaracterizou e se inviabilizou. Mas as
antigas festas eram bonitas, com palmeiras de palmito Jussara (Euterpe edulis)
enfeitando a rua, bandeirinhas e barracas de bambu e folha de Pindoba.
Os bailes eram em casas de famílias, com apenas um sanfoneiro e os
assoalhos de madeira faziam o sapateado ficar mais vistoso. Eram tocadas
valsas, xotes e a esperada quadrilha, que fechava a festa. O café era servido
com broas de milho e todos dançavam com todos, pais, filhos, tios e vizinhos.
Pessoas de diferentes idades também dançavam e os pares iam se trocando e
os namoros se formando.

O leilão da festa de Sant´anna era o ponto alto das comemorações da


santa, quando bois, galinhas, porcos e cachaças satíricas eram doados e
disputados ferrenhamente. Com o dinheiro arrecadado, a Igreja católica pôde
ser reformada, foi construída a cantina e o clube, hoje fechado.

O povo de antigamente se juntava sempre, além dos bailes, nas rezas,


nas fogueiras e nas brincadeiras. Seu Marquinho Tostes, grande incentivador
das brincadeiras aldeenses, lembra com carinho das crianças e adultos
sentados na porta da igreja brincando de gurufa: “Gurufa passou por aqui,
passou por ali, manjou Piau! - Piau não manja! – Quem manja! – Perna de
moça!” E por aí o etnoconhecimento68 era passado através de jogos e
brincadeiras.

Antigamente se fazia muita farinha em Aldeia, hoje apenas Seu Alcides


mantém essa produção. Aos domingos, a rua ficava cheia de pessoas que
vinham das serras para vender, comprar e trocar a produção das roças. Os

68
Etnoconhecimento – Forma de conhecimento que valoriza os saberes da população local
como forma de interpretar o mundo.

97
armazéns do Seu Mario Manduca e do Seu Onório Valadão eram pontos de
encontro, assim como as igrejas, que ficavam cheias de fiéis.

Segundo Seu Milton, pai de Gaúcho e Piti, Aldeia tinha farmácia,


cartório, padaria e ferraria. Ele contou que o primeiro casamento civil do Brasil
foi feito em Aldeia, por Seu Maneco da Pedra, que inclusive foi preso por causa
disso e os noivos seriam os pais de Vino Schumacker. Nessa aldeia antiga,
existiam muitos caçadores como Seu Eduardo Basílio, seu filho Leí, Seu
Eduardo Neto, avô de Mesaí, Seu Onório Valadão e outros. Eram grandes
conhecedores das matas e de seus mistérios, dormiam nas tocas como a Casa
da Pedra e a Serra Grande.

São os moradores da Aldeia que fazem com que ela seja o que é. E
suas matas, rios e cachoeiras fazem parte da família. Muitas pessoas contam
que o rio Aldeia Velha e o rio Quartéis, nome dado pela presença de
acampamentos militares, eram rios com mais água. Quem sabe se as histórias
que Seu Delson contava das canoas, não são mesmo verdade? Hoje, o curso
dos rios é definido por retroescavadeiras e o plantio da mata ciliar 69 já virou
outra lenda local.

Nas matas que sobreviveram às décadas de cultivo do café, da banana


e do gado, Seu Antonio Schimit ainda encontra muita Copaíba para fazer óleo
medicinal e Seu Emi conta que na mata atrás da sua casa tem muito Vinhático,
que pode ser reconhecido por ter as folhas mais claras que o resto da mata.

Muitos moradores também cultivam em seus quintais muitas plantas


medicinais. Argeu, a exemplo de seu pai e sua mãe, nossa querida Dona Anice
e sua irmã, possuem Saião, Guaco e Capim Cidreira. Dona Zeni tem poejo, Tia
Linda tem hortelã, Seu Irinho, que cuida da nossa horta de medicinais, tem
Caxalau, Artemísia e Confrei. Seu Plínio e sua irmã, lá no alto perto da Serra
Grande, são um tesouro medicinal, têm quase de tudo no seu quintal!

Tem os plantadores de árvores também: Seu Zé, que com sua incrível
força de trabalhar diz: - “Quem planta, colhe.” E ele colhe mesmo as frutas das
várias árvores frutíferas que produz. Argeu, que além de medicinal, espalha
sementes, mudas e conhecimento pela Aldeia. É NATUREZA !!! Tem o
69
Mata ciliar – nome que se dá à mata que fica na beira dos rios e córregos e que possui
importante papel no controle da erosão dos rios e propagação da biodiversidade.

98
Lequinho que sempre vai conversar com seu pé de Ipê Branco, ao lado da
igreja, afinal as plantas também precisam de atenção e carinho. Tem o Neilton,
irmão do Bambu, que produz muitas mudas de Ipê de várias cores, e o Thiago
Bambu que, além de conhecido artesão, também planta os Ipês do Neilton na
beira dos rios. Seu Manoel também produz e cuida de muitas mudas, inclusive
tirando fotos de seu Ipê rosa que retrata a cada florada. Tem também Seu
Olívio Osório, que antes de partir doou um terreno para se fazer uma praça pra
vila e também plantou as árvores da entrada da Aldeia. E por fim, o Tião, que
há um tempão, traz sementes e mudas pra Aldeia, iniciando um importante
trabalho de conscientização ambiental. Trabalho também que Luis Nelson
desenvolve na sua reserva e que Seu Delson é um símbolo, por ter conservado
a matinha em volta de sua casa. Tem as crianças da escola que fizeram uma
linda gincana no dia da árvore e trouxeram muitas mudas para o viveiro
agroflorestal da escola e além desses tem todos os plantadores que plantam
em seus jardins, quintais e hortas. Afinal, Aldeia é uma vila de plantadores!

99
ANEXO II: MAPAS ÊMICOS

Este Mapa foi desenhado pelas crianças de Aldeia Velha

Mapa desenhado por Yaha Pinheiro

100
ANEXO III: PLANTA ALDEIA CULTURAL

Estas plantas incluindo o mapa de luz foram desenhados por Ludmilla Rolim, graduada em
cenografia e iluminação pela UNIRIO.

101
ANEXO IV: CARTA DE APOIO AO EVENTO

Estado do Rio de Janeiro


PREFEITURA MUNICIPAL DE SILVA JARDIM
Secretaria Municipal de Meio Ambiente
Rua: Rua Pinto de Figueiredo 168- Centro- Silva Jardim- RJ- CEP.
28.820-000
Tel: (22) 2668-1246 CNPJ
28.741.098/0001-57
Home Page: http://www.silvajardim.rj.gov.br e-mail: semma@silvajardim.rj.gov.br

Ofício 036/06 Silva Jardim, 11 de outubro de 2006.

Ref: Carta de apoio

Prezados Senhores

Cumprimentando-os, venho por meio desta informar que tendo tomado conhecimento
do conteúdo do projeto Aldeia Cultural, a ser desenvolvido na localidade de Aldeia Velha, 2º
Distrito deste Município, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Silva Jardim não se
furtará em apoiá-lo, pois o mesmo é de suma importância para o resgate e preservação da
cultura local e possui um viés sócio ambiental que é fundamental para exercermos a cidadania
ambiental nesta região.

Ao ensejo, nossos votos de elevada estima e distinta consideração.

Atenciosamente,

Ezequiel Moraes dos Santos


Secretário Mun. de Meio Ambiente

102
ANEXO V: 1° PROJETO ESCOLA DA MATA ATLÂNTICA

Escola Mata Atlântica - Centro de Estudos de Plantas Medicinais,


Agroecologia e Conhecimentos Tradicionais - Aldeia Velha – Silva Jardim - RJ

Resumo

Na vila de Aldeia Velha, a possibilidade de se organizar uma escola que


funcione como centro de estudos, pesquisa e resgate da cultura tradicional, é
fortalecida pelo apoio da população local, de estudantes e profissionais ligados
à academia, e entidades e pessoas ligadas aos movimentos ambientalistas.

A Escola Mata Atlântica busca, através do diálogo entre conhecimento


tradicional e conhecimento técnico-científico, estudar as plantas medicinais
com a comunidade local, a divulgação das técnicas agroecológicas e
permaculturais para os agricultores do entorno, e o resgate cultural e inserção
de práticas de saúde e artes corporais para a comunidade.

Todos os itens relacionados se interligam e têm em comum o objetivo de


melhorar a qualidade de vida e do ambiente comunitário, através de cursos
livres e de cursos técnicos, tendo em vista, no futuro, a transformação dos
agricultores convencionais da região em um pólo de produção de orgânicos e
de agroecoturismo. A primeira etapa consiste na apresentação da Escola e
recolhimento das idéias iniciais propostas pelos moradores. A etapa seguinte
se realiza em um Diagnóstico Rural Participativo, para identificação dos
potenciais da comunidade. Nessa etapa há um contato mais íntimo com os
familiares, para esclarecimento e troca de idéias sobre a Escola. A viabilidade
da escola se insere num conceito de participação autônoma dos
proponentes, em atividades inicialmente sem maiores gastos financeiros.
No decorrer das etapas, contamos com o sistema de trocas, funcionando como
um laboratório para a análise de formas de economia solidária. Na
continuidade do projeto, nos inscreveremos no Programa Nacional de

103
Extensão Rural e Assistência Técnica do Ministério do Desenvolvimento
Rural e em entidades não-governamentais compatíveis com a proposta do
projeto. Os assentados da reforma agrária do entorno também fazem parte do
público alvo, que terá nos moradores os principais difusores de conhecimento
e os agentes técnicos como auxiliares. O projeto envolve democratização do
conhecimento, geração de empregos e renda qualificada no campo e
recuperação de áreas degradadas.

Introdução

No município de Silva Jardim, na divisa com o município de Casimiro de


Abreu, se encontra a vila de Aldeia Velha. Nesta, diversos fatores contribuem
para o desenvolvimento de projetos educativos ligados ao meio ambiente e
cultura popular. Em primeiro lugar, o grau de conscientização ambiental e
receptividade dos moradores; depois a longa ação dos ambientalistas da RPPN
Bom Retiro de reintrodução do Mico Leão Dourado, aliados à presença da
maior concentração de RPPNs do estado e a proximidade de uma Reserva
Biológica, a de Poço das Antas, bem como sua divisa com assentamentos de
reforma agrária onde projetos de agroecologia vêm sendo introduzidos.
Desde o ano de 2002, universitários, em sua maioria de universidades
públicas, conheceram a Aldeia e por ela se encantaram. Não apenas pelo
ecossistema rico em matas de encosta, cachoeiras e riachos, mas também
pela população local, que com sua riqueza cultural surpreendeu e tornou
perceptível a possibilidade de um equilíbrio entre a mata e as pessoas.
Desse encontro, uma enorme vontade se fez presente, a de aliar todos
esses fatores na criação de um projeto que pudesse não só contribuir para o
processo de adaptação das técnicas desenvolvimentistas poluentes para
as não poluentes, como também fortalecer a cultura local através da história
local, conhecimentos locais como cestaria, bambu arte, crochê, pintura,
brinquedos, panelas de barro, fotografia, hortas e jardins.
Além disso, a Escola Mata Atlântica pode se tornar um centro de

104
pesquisas do meio ambiente, manejo tradicional, técnicas alternativas de
produção sem agrotóxico, educação ambiental e ecoalfabetização.
Concorreu para a realização do projeto, a constatação de que já existe a
Escola Municipal Vila Silva Jardim, que está desativada por problemas
estruturais, aguardando obras. O terreno ao redor da escola é ótimo para a
instalação de hortas agroecológicas, que são o foco principal do projeto. A
transição agroecológica proposta pelo Ministério de Desenvolvimento
Agrário prevê que nos próximos anos a diretriz governamental para a
agricultura familiar se torne de matriz agroecológica, já que os níveis de
poluição no campo e de uso de agrotóxicos nas grandes lavouras colocam em
risco pequenas comunidades e até ecossistemas inteiros.
Entretanto, para que técnicas agroecológicas de combate de pragas,
através de consórcio de espécies, sejam desenvolvidas com melhores
resultados, os pequenos agricultores devem ser a peça chave desse processo.
Por isso, os cursos da Escola Mata Atlântica têm como principal objetivo a
formação de agricultores permacultores e agroflorestais, buscando aumentar a
renda com implementação de viveiros florestais e produtos artesanais e
orgânicos em suas propriedades, tendo em vista o progressivo aumento do
mercado consumidor de produtos saudáveis.

Viabilidade

O grupo gestor do projeto é formado por moradores nativos e/ou


residentes, estudantes e profissionais já graduados em áreas afins como das
Ciências Sociais, Antropologia, Sociologia, História, Geografia, Jornalismo,
Teatro, Produção Cultural, Engenharia, Botânica e com o tempo, esperamos
que mais profissionais de outras áreas do conhecimento juntem-se ao projeto.
Alguns do grupo já possuem experiência em projetos como Hortas
Comunitárias, Feira de Trocas, Manejo Participativo de Comunidades
Tradicionais, Alfabetização de Adultos, Cultura Popular Local, Agrofloresta,
Controle de Voçorocas e implementação de viveiros florestais.

105
Contamos, no começo do projeto, com nossa infraestrutura particular,
mutirões comunitários e atividades sem gastos financeiros. Após a
consolidação das primeiras atividades podemos nos cadastrar no programa
nacional do Ministério do Meio Ambiente de apoio às iniciativas de
transição agroecológica em comunidades tradicionais e áreas de
proteção ambiental e ATER. Esse programa, voltado para a transformação de
agricultores familiares convencionais em agroecológicos, já apóia projetos
similares na região serrana de Petrópolis e Teresópolis. Posteriormente,
podemos buscar apoio do MEC e Secretarias de Educação municipais e
estaduais em fundos de educação extensiva e profissionalizante.

O apoio de organizações não-governamentais, ONGs, será também


possível caso estas não recebam financiamento de instituições poluidoras
como a Fundação Ford, a Souza Cruz e a Shell. Buscamos parceiros
coerentes com a proposta de transição de poluentes para não poluentes,
buscando primeiro apoio governamental, e depois de ONGs com trabalhos
públicos reconhecidos academicamente como a ASPTA e Mico – Leão Dourado
entre outras.
Na primeira fase do projeto, de estruturação do espaço físico, serão
realizados cursos com a comunidade local, sendo eles os educadores e
educandos. Os técnicos servirão de condutores e apoio para a realização das
atividades e alguns outros cursos secundários.
Acreditamos que apenas o protagonismo comunitário local pode dar
resultados satisfatórios para esse tipo de projeto educacional. Reconhecer sua
capacidade de transmissão e recepção de conhecimento torna os moradores
capazes de interagir no grau necessário para que trabalhos futuros possam ser
realizados. Além disso, o custo com tais cursos é muito baixo, já que não são
necessários grandes deslocamentos, alimentação e/ou alojamento.
Nosso maior objetivo é capacitar os próprios moradores de Aldeia Velha
a se tornarem agentes da transição agroecológica através da valorização dos
conhecimentos tradicionais, aliados a novas tecnologias de substituição de
poluentes, por técnicas de manejo dos ecossistemas e práticas permaculturais.
Após essa primeira fase, moradores de regiões vizinhas podem vir dar outros
cursos geradores de renda, como cestaria, conservas e cerâmica. Os produtos

106
feitos pelos alunos podem ser adquiridos na escola ou em outros postos de
exposição, sendo que será dada ênfase para o sistema de feira de trocas entre
produtores, não excluindo, porém, a forma monetária.
A escola tende a ser auto-sustentável, já que irá contar com projetos
de áreas modelo de hortas orgânicas de valor agregado (pimentas, cactos
ornamentais, orquídeas, viveiros florestais e cursos em outras regiões). É
importante ressaltar que todos os cursos serão gratuitos, da implantação
ao término do projeto, se este ocorrer. Acreditamos que apenas a
democratização do conhecimento é capaz de tornar o planeta sustentável
ambientalmente além do espaço ser público e os estudantes serem também de
universidades públicas. O que propomos é repassar esses conhecimentos
acumulados durante todos esses anos de vida acadêmica de forma a quebrar o
ciclo vicioso de educação superior separada do ensino de extensão que
favoreça a comunidade.
Os professores no início serão pagos com a produção particular de cada
aluno no sistema de feira de trocas, ou seja, se um aluno tem uma horta onde
produz alface, é justo que traga ao seu professor um numero x de alfaces por
dia que este poderá trocar ou doar se quiser a outrem, ajudando assim na
substituição de suas horas de trabalho por horas aula. Após a fase inicial pode-
se buscar patrocínio para pagar os professores, já que acreditamos que os
professores devam ser remunerados e não voluntários. O conceito de
voluntariado emana de uma visão paternalista em que o cidadão bem
remunerado doa para o mal remunerado, horas/trabalho de seu tempo livre. Na
verdade entendemos que os profissionais sejam eles acadêmicos ou
moradores devam ter seu trabalho reconhecido através de uma remuneração
capaz de colaborar para o sustento de suas famílias.
Caso existam cursos que necessitem de matérias básicos, poderão ser
organizadas atividades recreativas, almoços ou festas com o intuito de
arrecadar fundos para tais atividades, bem como no caso de visitas a outras
comunidades. Nosso grupo não tem fins lucrativos e busca a troca entre
conhecimentos acadêmicos e tradicionais, capazes de aperfeiçoar ambos
os lados, no processo de construção de um mundo mais digno, produtivo e
menos ignorante e poluído.

107
Os cursos serão realizados principalmente durante os fins de semana,
durante meio período, para que os participantes, sejam moradores ou não e
educadores ou alunos possam participar dos cursos sem prejudicar seus
estudos ou trabalho. Porém, caso haja disponibilidade de ambos, cursos
durante a semana também podem ser administrados, dentro ou fora da escola.

Público-Alvo

Nosso público alvo são os moradores de Aldeia Velha e adjacências, e


seus visitantes e amigos. Pode haver cursos com alvo em uma faixa etária
exclusiva, mas buscamos, sobretudo, a integração entre as diferentes
idades, sejam jovens, adultos, idosos ou crianças. Nos cursos livres de
atividades manuais, artes, hortas, expressão corporal a freqüência será livre.
Nos cursos técnicos com certificado de conclusão, como Agroecologia,
Permacultura, Cinema, Fotografia e Botânica, a presença será verificada e o
aluno avaliado de forma não-burocrática a atestar os conhecimentos
adquiridos, caso contrário deverá repetir os módulos ou o curso inteiro.
Além dos moradores da vila, os assentados da reforma agrária
previamente selecionados nos projetos agroecológicos desenvolvidos pela
ONG Mico Leão Dourado ao redor da REBIO de Poço das Antas devem
participar, principalmente, dos cursos técnicos e em uma fase secundária do
projeto.
Estudantes urbanos e pesquisadores de áreas ambientais, bem como
ambientalistas, e visitantes também podem tomar parte nos cursos, de
preferência os cursos livres e nos técnicos, caso se responsabilizem pela
freqüência e tenham possibilidade de estar trocando algo com os professores,
o que pode ser alguma informação técnica relevante sobre o assunto ou o
envio pelo correio livros ou revistas para nossa biblioteca.

108
Metodologia

A metodologia aplicada será basicamente a de Paulo Freire, da


educação crítica, tomada de consciência do agente histórico e educador-
educando e educando-educador, com a utilização de palavras geradoras e do
universo do educando, valorizando o conhecimento pessoal do aluno, as
práticas tradicionais, e suas vivências. Buscamos a diferenciação de uma
educação bancária onde o aluno é apenas receptor de informações
desconectadas de seu dia-a-dia, passadas de forma burocrática e cobradas
através de testes que estressam o indivíduo e são incapazes de provar se
conhecimento foi absorvido ou apenas decorado. O método Paulo Freire
utilizado por diversos países para alfabetização de adultos e recentemente
adaptado para a eco-alfabetização utiliza o conceito de uma educação
libertadora em que o educando-educador não apenas recebe mas
principalmente troca com o mestre conhecimentos e práticas capazes de
aumentar sua auto-estima para que apreenda o conhecimento e o utilize em
seu dia-a-dia.
Como diz Paulo Freire, não é necessário que o individuo aprenda a ler, é
necessário que o indivíduo aprenda a ler criticamente, situando o indivíduo no
mundo em que participa e o capacite a interagir de modo mais consciente
fazendo escolhas que sejam analisadas de forma a trazer mais benefícios para
si, para sua família, para sua comunidade e para seu mundo. Nesse processo
de aprendizado as palavras utilizadas devem ser as do mundo do educando,
sendo capazes de ser apreendidas em menos tempo e com maior eficácia.
Outra influência é da Pedagogia Waldorf e da Pedagogia Freinet, que
estudam as interações do homem com o meio ambiente em que habita. Sua
metodologia lúdica afirma que o aprendizado não deve ser chato e cansativo, o
que apenas atrapalha, ao contrário, deve estimular a criatividade dos alunos,
com atividades lúdicas e descontraídas com métodos de avaliação dinâmicos.
O aluno não é avaliado apenas no fim do curso, mas a todo momento,
elaborando questões, participando em voz alta e estimulando a interação em
grupos e a formação de projetos, sempre através de círculos em que todos
possam se olhar nos olhos, assim como no método Paulo Freire.

109
Integrantes e Amigos:

Carolina Landeira - Graduada em História pelo IFCS/UFRJ,


pesquisou a importância das feiras na manutenção da
memória viva, especificamente a feira de Caruaru. É
professora e trabalha com projetos sócios culturais com crianças e
adolescentes em comunidade carentes do Rio de Janeiro. Produtora de tapetes
artesanais.

Carlos Henrique Nicolau – Graduando em Antropologia IFCS/UFRJ. Graduado


em Gastronomia, com especialidade na alimentação orgânica e balanceada.
Atuante das áreas de Antropologia Alimentar e Segurança Alimentar de
Comunidades Tradicionais. Possui experiência em permacultura e
agroecologia.

Gustavo da Motta Pollmann - Graduando em Engenharia Florestal na UFRRJ,


integrante do Grupo de Agricultura Ecológica da Rural (GAE), integrante da
Associação Erva Doce. Atuação em projetos ligados a Agroecologia,
recuperação de áreas degradadas e sistemas Agroflorestais. Experiência em
práticas de viveiros e hortas orgânicas e comunitárias. Dispersor de sementes.
Cozinheiro, Dj, decorador de festas e artesão como hobbie.

Julia Grillo Botafogo- Graduada em Produção Cultural da


Universidade Federal Fluminense (UFF), com interesse na área de
Gestão Cultural ligados a área de meio ambiente e
sustentabilidade. Produziu o “I Festival Experimental
Eletrorganico”. Produziu e dirigiu o documentário “Aldeia Velha e
suas raízes”. Trabalhou em diversos festivais de cinema e música. Experiência
em produção e administração de projetos federais alocados nos Pontos de
Cultura.

Ludmilla Reis Rolim - Graduada em Artes Cênicas pela UNIRIO. Iluminadora


cênica e cenógrafa de espetáculos teatrais, shows musicais, performances e

110
exposições. Desenvolve projetos de arte educação e ecologia com a visão
integralizadora. Como atriz investiga o sagrado e a ritualização, bem como
utiliza a linguagem do palhaço para diversas atuações e intervensões.

Paloma Sol Hertz Cunha - Graduada em Geografia pela Universidade Federal


do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente produzindo um livro sobre lendas e
conhecimento dos indígenas Kaxinawás. Desenvolve projetos de
Reestruturação eco-social e educação construtivista com comunidades
tradicionais em áreas preservadas, estruturados em metodologias
participativas, na visão de mundo da cultura local, na permacultura e
na recuperação agroflorestal de áreas degradas.

Tadzia de Oliva Maya - Graduada em jornalismo pela Universidade Estadual de


Rio de Janeiro (UERJ). Pesquisadora da Propriedade Intelectual, Software
Livre e Economia da Cooperação. Membro do Coletivo Interface Pública com
pesquisa em Produção Audiovisual Livre, com sede na rua Joaquim Silva,
numero 71, Lapa, Rio de Janeiro. Jornalista da Incubadora Phoenix de
Empresas da UERJ.

Tainá Mie Seto Soares – Graduada em História pelo


IFCS/UFRJ, especializada em História Ambiental desenvolve
trabalho na área de pesquisa sobre a interação dos dados
produzidos nas pesquisas acadêmicas e sua possível interação com trabalhos
nas comunidades pesquisadas. Trabalha com resgate de técnicas
agroecológicas nas comunidades caiçaras de Paraty e na comunidade de
Aldeia Velha.

Taissa Zin – Graduanda de Comunicação Social na Faculdade Estácio de Sá.


Trabalhou por 6 anos na Dueto Produções e Publicidade Ltda, tendo
participado da produção de eventos como Free Jazz Festival, Cinema Open Air,
Tim Festival, Rolling Stones’n Rio. Ajudou na implementação do “I Festival
Experimental Eletrorganico” Atualmente trabalha como assistente pessoal de
Paula Lavigne, na Natasha Enterprises.

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CRÉDITOS FINAIS:

PRODUÇÃO E Apoio: Orientação Teórica:


REALIZAÇÃO: Bioma Soluções Ana Lucia Enne
Escola da Mata Ambientais;
Atlântica; ONG Verde Agradecimento
Universidade Federal Cidadania; especial:
Fluminense Safety Health Prof. Luciane
Conrrado
ESCOLA DA MATA Apoio Institucional: Ricardo Ramos
ATLÂNTICA DOA;
Coordenação: Escola Municipal Vila Coordenação Geral:
Julia Botafogo Silva Jardim, Julia Botafogo
Tainá Mie Soares Departamento de
Tadzia Maya Cinema- IACS/UFF; Produção:
PROAC; Julia Botafogo
UNIVERSIDADE PROEX; Tainá Mie Soares
FEDERAL Secretaria de Meio
FLUMINENSE Ambiente; Assistentes:
Reitor: Séc. de Agricultura e Aliandro Oliveira
Cícero Mauro Fialho Pesca de Casimiro Argeu Peclat
Rodrigues Ailton Knupp
Pró-Reitoria de Apoio Local: Carolina Landeiras
Extensão: Bompreço Bazar; Honorair Schuler
Jorge Barbosa Igreja Católica, Luiza Brettas
Direção IACS: JM Marinho Ludmilla Rolim
Antônio Serra Mercearia; Tadzia Maya
Direção GAT: Pousada D’Aldeia; Paloma Sol Hertz
Wallace de Deus Pousada Beira Rio Pinóquio
Coordenação Sandro
Produção Cultural: Professor Tiago Victer
Guilherme Vergara Coordenador Proj. Vicente
de Extensão: e membros da Escola
Wallace de Deus da Mata Atlântica

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Pesquisa Histórica: Material Gráfico Técnico de Som
Carolina Landeiras Julia Botafogo Bruno Fochi
Julia Botafogo Lequinho knupp Edição e Finalização
Tainá Mie Soares Bruno Fochi
VÍDEO “ALDEIA Michael Lennertz,
Informantes: VELHA E SUAS Finalização Som
Aliandro Oliveira RAÍZES”: Bruno Fochi
Chico Pombo Trilha Original
Honorair Schuler Direção: Bruno Fochi
Leco Julia Botafogo Eduardo Couto
Marquinhos Tostes Produção Trilha Sonora
Sandro (Leco) Executiva: Filhos D”Aldeia
Sirley Julia Botafogo Alimentação:
Zeca Tostes Produção: Eliza
e moradores de Carolina Landeiras Paloma Sol Hertz
Aldeia Velha Luiza Brettas Pousada Beira Rio
Tainá Mie Soares Vídeo “Aldeia
Levantamento Câmera: Cultural”:
Cultural: André Sicuro Bruno Fochi
Argeu Peclat Bruno Diel Lucas Quintana
Julia Botafogo Gil Facchini Julia Botafogo
Julia Botafogo Autoração DVD:
Fotos: Luiza Cilente Bruno Fochi
Tainá Del Negri Pedro Sodré Designer DVD
Bárbara Vila Verde Pedro Noel Julia Botafogo
André Sicuro Imagens de Apoio Projeção:
Gil Fachinni Argeu Bruno Fochi
Julia Botafogo Lequinho Revisão Final:
Luiza Cilente Marcelinho José Luiz Mattos
Marcus Paulo Pinóquio
Paloma Sol Hertz Sandro
Pedro Noel Still
Bárbara Vila Verde
Tainá Del Negri

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ESCOLA DA MATA ATLÂNTICA – EMA

Centro de estudos de Plantas Medicinais, Agroecologia e Cultura Livre

Aldeia Velha – Silva Jardim / RJ

Contato:
juliabotafogo@gmail.com
escoladamataatlantica@gmail.com
21-81244711/ 24-22211451
Est.Caititu 447-A Correas Petrópolis Cep:25720-020

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