Monografia Julia Botafogo
Monografia Julia Botafogo
Monografia Julia Botafogo
NITERÓI
2006
1
JULIA GRILLO BOTAFOGO
BANCA EXAMINADORA
NITERÓI
2006
2
JULIA GRILLO BOTAFOGO
NITERÓI
2006
3
Aprender é descobrir aquilo que você já sabe.
Fazer é demonstrar que você o sabe.
Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você.
Vocês são todos aprendizes, fazedores, professores.
Richard Bach (Ilusões 1977)
4
A todos moradores e amigos de Aldeia Velha.
5
AGRADECIMENTOS
6
Tadzia, Carol, Curumim, Sol, Luiza Brettas, Taissa Zim, Bárbara Vila Verde,
Tainá Del Negri, Lud, Vicente, Felipe, Aline, Leleco, Pusa, Julinha e o circo, e
os demais membros que acreditam nesta idéia. A Família de cada um que
sempre nos apóia. Em especial, Tadzia, minha querida amiga, por ter me
apresentado parte desta família e sempre me trazer muita alegria e felicidade.
Não tenho palavras para agradecer quem esteve sempre comigo durante a
realização do Aldeia Cultural, Tainá Mie, pelo companheirismo incomparável,
pela inteligência e amizade. Babi, não só pelo registro, como também pela
força e carinho. Tainá Del Negri, pela disposição e comprometimento. Sol, pela
transformação do alimento em energia. Carol, pela empolgação e alegria das
crianças. Brettas, pela presença. Curumim, pelas vibrações positivas.
Àqueles que mesmo chegando depois, abraçaram o projeto de corpo e
alma: Pedro Sodré, Gil Facchini, Luiza Cilente, André Sicuro, Bruno Diel, Pedro
Noel, Eduardo Couto, principalmente Bruno Fochi, Michael Lennertz, que
viraram noites e noites para fazer o filme, com direito à trilha sonora original e a
um acabamento de imagem sensacional. Para um primeiro trabalho ficou
matéria prima de primeira qualidade. Ao Bruno, agradeço não só pela
dedicação, mas principalmente pelo carinho e amizade que consolidamos.
À minha orientadora, Ana Enne, como diz minha amiga Babi, “professora
com P maiúsculo”, por quem tenho imensa admiração.
Nesses anos de academia, outros Professores fizeram a diferença:
Luciane Conrado, Guilherme Vergara, Antônio Serra, Tete Mattos, Jorge
Barbosa, José Maurício, Luis Augusto, Latuf, João Luis, Tunico Amâncio e
Wallace de Deus. Todos, de alguma forma, me ajudaram a descobrir muita
coisa do que sou hoje. Como também, docentes e amigos, em especial:
Larissa Karl, Ricardo Ramos, Felippe Mussel, Daniele Martins e Manu.
À minha família, pelo incentivo, admiração e amor incomensurável. Meus
pais, Ieda e Eduardo, que são essenciais na minha vida. Minha querida vovó
Lolô, pela companhia e sabedoria. Meu irmão. Minha Tia Ilma e meu Tio Ivan
que estão sempre presentes. Meus primos Sandra e André, pela amizade. Ao
meu grande amigo e primo Pedro, com quem eu aprendo todos os dias, pelo
apoio. Aos meus tios Candido e Jorginho, pelo incentivo. A minha madrinha que
mesmo distante esta presente em minha vida.
7
Àqueles que deram uma mão: Jesus e Ângela da Gráfica da UFF,
Gilberto Gouma, Lucas, João, Joice, Paula Brandão, Rovena, Carol Ramos,
Julia Reis, Gus e Branca. E estão no meu coração: Clod, Sérgio, Luis e Rosi.
Gostaria de agradecer também aos apoiadores: Pousada D’Aldeia,
Pousada Beira Rio, JM Marinho Mercearia, Escola Municipal Vila Silva Jardim,
Igreja Católica, Bar Montanhas D’Aldeia, ONG Verde Cidadania, Bioma
Soluções Ambientais, Bompreço Bazar, Safety Health, IACS, PROEX, PROAC,
DOA que encheu nossas barrigas e fizeram todos trabalharem mais felizes,
Ezequiel (Secretaria de Meio Ambiente) que sempre nos apoiou e nos recebeu
com muita atenção, Séc. de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu que
doou 200 mudas (plantas medicinais, pupunha, ipês, frutíferas entre outras),
que foram distribuídas e plantadas na beira do Rio em Aldeia Velha.
À mais singela espécie animal, o céu rosa amarelado, azul estrelado, a
energia do sol e da lua, à água que cai do céu e desce pelos rios, à força das
cachoeiras, o verde vivo das matas, a alegria dos pastos, o visual dos morros e
montanhas. Tudo aquilo que me faz sentir viva e feliz.
Por fim, a todos aqueles que me esqueci.
Foi maravilhoso!
8
SUMÁRIO
Resumo...........................................................................................................11
Abstract.......................................................................................................... 12
Apresentação................................................................................................. 13
Capítulo1................................................................................................... 14
O Projeto: “Aldeia Cultural: 1° mostra de conhecimento tradicional de
Aldeia Velha”
1.1. Introdução
1.2. Justificativa
1.3. Objetivos
1.3.1. Geral
1.3.2. Especifico
1.4. Público Alvo
1.5. Cronograma reduzido
1.6. Metodologia/Atividades previstas
1.6.1. Fase1- Mapeamento cultural
1.6.2. Fase2- Construção de Rede de Produtores Locais
1.6.3. Fase3- Vídeo Documentário
1.6.4. Fase4- Mostra Cultural de Aldeia Velha
1.6.5. Fase5- Rodas de Conversas
1.7. Metas
1.8. Orçamento
1.9. Divulgação
1.10. Benefício ao Parceiro
Capítulo2................................................................................................... 26
A localidade
2.1. Breve histórico
Capítulo3................................................................................................... 32
Ecologia, Cultura e Sustentabilidade
Capítulo4................................................................................................... 40
Ações em Cultura para a Transformação e Manutenção dos Saberes
Tradicionais
4.1. Rede de Produtores Aldeia Velha
Capítulo5................................................................................................... 54
Relação entre Memória e Identidade
5.1. “Aldeia Velha e suas raízes”: da filmagem a exibição na Vila
Capítulo6................................................................................................... 65
Conclusão
9
Capítulo7................................................................................................... 70
Parcerias
Adendos
I. 73Cronograma detalhado
II. 74
Orçamento Detalhado
III. 76
Roteiro de Entrevistas
IV. 77
Fichas de cadastros: Produtores, Fazendas e Estabelecimentos.
V. 78
Levantamento: Principais Aparelhos Locais e Agentes Sócio-Culturais.
VI. 85
Modelo de carta para solicitação de apoio
VII. 86
“Aldeia Velha e suas raízes”: Modelo Plano de filmagem, Modelo
decupagem fita e Modelo de direito de uso de imagem e som.
VIII. 88
Material Gráfico: Convite, Cartaz, Calendário e Outros Cartazes.
Bibliografia.................................................................................................. 93
Anexos
I. 96
Pesquisa Histórica de Aldeia Velha
II. 100
Mapas Êmicos
III. 101
Planta Aldeia Cultural
IV. 102
Carta de Apoio ao evento
V. 103
Projeto Escola da Mata Atlântica
Contato..........................................................................................................114
10
RESUMO: Aldeia Cultural consiste em um plano de ações em cultura realizado
em 2006 na comunidade de Aldeia Velha, segundo distrito de Silva Jardim, Rio
de Janeiro. O projeto, através do intêrcambio cultural, diálogo entre
conhecimento “tradicional” e conhecimento técnico-científico, realizou um
mapeamento histórico cultural da cidade, elaborou uma Rede de Produtores
Locais, construiu um filme documentário chamado “Aldeia Velha e suas raízes”
e exibiu na Vila e organizou a “I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia
Velha” reunindo toda produção local. Todo processo de realização buscou
trabalhar uma perspectiva sócioambiental em que a cultura local seja o
principal meio de introdução e resgate de formas ambientamente mais
favoráveis a qualidade de vida local.
11
ABSTRACT: "Aldeia Cultural" consists of a cultural action plan carried through
in 2006 in the community of Aldeia Velha, second to district of Silva Jardim, Rio
de Janeiro. The project, through cultural interchange and the dialogue between
"traditional" and technician-scientific knowledge carried through: a cultural
historical mapping of the city; a Net of Local Producers; a documentary film
called "Aldeia Velha and its roots/Aldeia Velha e suas raízes " which was
presentet to the community and also organized the "Fist Event of traditional
knowledge of Aldeia Velha/I Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia
Velha" congregating all local production. This accomplishment process worked
based on a social/environmental perspective in which the local culture would be
the main mean of introducing and rescuing a more favorable environment for
the life quality of the local people.
12
APRESENTAÇÃO
13
CAPÍTULO1.
1.1. INTRODUÇÃO
14
de multiplicadores que venham suprir boa parte de suas demandas,
preservando as riquezas naturais e histórico-culturais de Aldeia Velha. O
projeto também tem como meta organizar rodas de conversas periódicas,
tendo em vista, no futuro, a transformação da região em um pólo de turismo
agroecológico. Este projeto é um “projeto piloto”, tendo como principal meta
sua sustentabilidade, o que fará com que seja posteriormente aplicado em
outras localidades.
1.2. JUSTIFICATIVA
15
1.3. OBJETIVOS
1.3.1. Geral
1.3.2. Específicos
1.4. PÚBLICO-ALVO
16
1.5. CRONOGRAMA REDUZIDO
17
Esse levantamento será realizado mediante: Visita ao local, realizando
entrevistas, em profundidade, com os moradores e responsáveis pelas
secretarias envolvidas. Anotações, “diário de bordo”, dos pesquisadores
(observação participante). Além do registro fotográfico, áudio e ou áudio-visual.
Serão convidados especialistas (exemplo: biólogos, botânicos, geógrafos) que
farão também suas considerações sobre o local.
É nesta fase também que serão identificados os líderes locais, que
poderão mediar um contato maior com os demais membros da comunidade,
como por exemplo, membros da igreja evangélica.
18
Será confeccionado um Mapa Êmico, que consiste em um mapa
construído a partir dos conhecimentos da comunidade. Ele leva em conta não
apenas o relevo, mas também os usos dos sentimentos. O mapa êmico pode
conter dados históricos, lendas, árvores, bichos, tudo que os moradores
acharem importante. Os mapas êmicos também podem ser usados para fazer
mapas oficiais. Os principais objetivos do mapa são dois. O primeiro é valorizar
o conhecimento tradicional sobre seu território como forma de fazer um resgate
cultural. O segundo consiste em compreender as representações espaciais da
biodiversidade, principalmente das casas dos produtores, relacionadas
diretamente com a cultura local de modo a funcionar como um circuito
alternativo, colaborando para o turismo participativo.
Outro resultado desta fase será a confecção de um calendário, dando
destaque a alguns produtores, que terá como finalidade a visibilidade do
projeto. A Rede tem o propósito de estender suas ações e idéias a um universo
sempre mais amplo de interlocutores, sejam parceiros, financiadores,
colaboradores.
19
Posteriormente será transformado em um DVD com informações
adicionais, como o resgate histórico e a Rede de Produtores Locais. O
documentário também tem a intenção de entrar no circuito de festival de
cinema, principalmente os ligados à área ambiental.
20
2º dia:
- Exposição da memória de Aldeia
- Exposição fotográfica
- Oficinas realizadas pelos produtores locais, visando à troca de conhecimentos
culturais entre os membros da comunidade e visitantes.
- “Feira de Trocas” na quais os participantes das oficinas irão cambiar os
produtos gerados.
- Distribuição do calendário divulgando o projeto.
- Fórum de discussão sobre os resultados da Mostra e sugestões de propostas
para a comunidade.
- Teatro e Circo
- Exibição do vídeodocumentário.
21
1.7. METAS
1.8. ORÇAMENTO
22
1.9. DIVULGAÇÃO
23
24
25
CAPÍTULO1.
A LOCALIDADE
1
A AMLD é uma instituição não governamental e sem fins lucrativos, situada dentro da Reserva
Biológica de Poço das Antas/IBAMA, criada para promover a conservação da espécie de
primata Leontopithecus rosari e seu habitat, a Mata Atlântica de baixada costeira fluminense.
Existe há quase 30 anos na região.
2
Conta Honoraih, morador local, que o nome Quartéis seria pelo fato de Aldeia ter sido palco
de manobras militares. Numa dessas manobras, um soldado se perdeu na mata ficando
desaparecido por longo período. O acampamento permaneceu até o seu aparecimento, meses
depois, completamente louco.
26
A cidadezinha, segundo distrito de Silva Jardim3, conta
com aproximadamente 900 moradores, que são em sua
maioria famílias tradicionais rurais. Cabe ressaltar que a maior
parte da comunidade é evangélica. O lugar é considerado um
verdadeiro “Paraíso Ecológico”, repleto de rios, cachoeiras e
uma mata viva, com suas espécies endêmicas, como é o caso
do Mico Leão Dourado (Leontopithecus rosari) e de uma
espécie de bromélia, a Achmea weilbachii.
O local possui4. atualmente: escola, posto de saúde,
mercearia, bares, restaurantes, serviço de mecânica. Conta
ainda com pousadas e campings. Porém a infra-estrutura e o
investimento governamentais ainda são muito poucos. O Posto
de Saúde não atende às necessidades locais e os moradores
são obrigados a buscar tratamento em Hospitais de Casimiro de
Abreu. Não existe transporte público, apenas um ônibus escolar
e uma kombi que faz o trajeto para Casimiro de Abreu. A Escola
Municipal Vila Silva Jardim atualmente está em obras e apesar
do atual Secretário de
Educação, Jorge
Alves, residir em Aldeia,
foram necessários
protestos, abaixo-
assinado e muitas
reivindicações para
que se iniciasse a obra. Os
casarões, existentes desde o início do
século XX, estão sendo derrubados. Estes
aspectos sócio- econômicos e
culturais citados acima nos fazem conhecer e entender um pouco mais a
realidade local e são fatores essenciais para a fundamentação das ações.
3
O nome é em homenagem ao jornalista fluminense Antonio Silva Jardim. O nome anterior do
município era Capivari.
4
Levantamento dos principais aparelhos locais encontra-se no Adendo V.
27
1.1. BREVE HISTÓRICO5
28
privam até os próprios moradores do acesso às
cachoeiras, como é o caso das “7 Quedas” que fica dentro da Fazenda Sangri-
lá e a das “Andorinhas”, que fica dentro da Fazenda das Andorinhas.
Luis Nelson, ambientalista e dono da RPPN Bom Retiro, tem levantado
questões de extrema importância do ponto de vista ambiental, e articulado
diversos projetos na região, porém é muito criticado pela comunidade. “Ele
bateu de frente com a comunidade local, que acostumada a plantar e caçar
para sua sobrevivência, foi muitos prejudicados, pois sua intervenção por meio
de denúncias, seja por tirar um pedaço de madeira ou possuir um passarinho,
não soube passar a conscientização ecológica, que está muito à frente de
outras localidades”, conta Alexandre, administrador da Pousada D’Aldeia.
29
“O Mês de agosto como todos os outros também era divertido à noite: nas casas
sempre havia forró, e no meio da noite café com broa. Doralice era mais de casa, mas
durante o dia, depois da capina na rama, do café colhido, do milho já debulhado, gostava
de tomar banho de rio e andar às margens dos córregos de Aldeia Velha. Como morava
no espigão do Morro Seco, onde o Sol ardia. as quatro da tarde, gostava sempre de
passear pela baixada ouvindo o canto dos Sabiás, das Juritis, e da Cambaxirra no capim
melado.”
(...)
“Naquela época também já existiam em Aldeia velha, duas famílias bem civilizadas,
oriundas de suíços e alemães, que no século XIX, por volta de mil oitocentos e vinte,
desceram a Serra dos órgãos, chegando então à Aldeia Velha. Eram povos da colonização
de Friburgo, das cem famílias que não encontraram uma terra fértil para a lavoura no local
oferecido; por isso então migraram para Aldeia velha, encontrando nessa terra melhores
condições para o cultivo, e formaram o povoado pela miscigenação dessas duas famílias,
composta por um lado de alemães e pelo outro suíços.”
30
31
CAPÍTULO2.
A noção de
sustentabilidade como
novo paradigma do
desenvolvimento e sua
aplicabilidade vêm
crescendo desde a
década de 70 e cada vez
mais ganha importância
nos debates sobre o
Nosso Futuro Comum.
Lester Brown7 (World
Watch Institute apud Capra, p.24) deu uma definição simples e bela: “Uma
sociedade sustentável é aquela que atende suas necessidades sem diminuir as
perspectivas de gerações futuras”. Fritjof Capra, em seu livro Teia da Vida
(1996, p.24), resume dizendo que este é, na verdade, “o grande desafio de
nosso tempo: criar comunidades sustentáveis” e para realizar esta tarefa é
preciso extrair lições do ecossistema, que são comunidades sustentáveis de
animais, plantas e microorganismos, compreendendo os princípios básicos da
ecologia8.
Dentro do pensamento ambientalista contemporâneo, se faz a distinção
entre “ecologia rasa” e “ecologia profunda”. A primeira coloca o homem acima
ou fora da natureza, que adquire apenas valor de uso, em que a biodiversidade
deve ser estudada e catalogada, traduzindo-a em longas listas de espécies de
plantas e animais. Já a segunda não separa seres humanos do ambiente
natural: reconhece o mundo como rede, uma interdependência fundamental de
7
BROWN, Lester R. Building a Sustainable Society, Norton, Nova York, 1981.
8
O palavra “eco” vem do grego oikos (“lar”), foi introduzida em 1866 pelo biólogo alemão Ernst
Haeckel (Maren-Grisebach, 1982) que definiu como “a ciência das relações entre organismo e
mundo externo circunvizinho” In: CAPRA, 1996, p.43.
32
todos os fenômenos e elementos, interconectados em processos cíclicos,
concebendo valor intrínseco a qualquer ser vivo9.
Entendendo o homem (enquanto organismo) como parte comum deste
ecossistema e não fora dele, os conhecimentos adquiridos são partes
essenciais para sua sustentabilidade. Dessa maneira, a cultura assume um
papel singular e relevante. Na Agenda 21 da Cultura, assinado em Barcelona
em maio de 2004, foi dito que “a sustentabilidade cultural relaciona-se com a
capacidade de manter a diversidade cultural, valores e práticas do planeta, no
país e/ou numa região, que compõem, no decorrer do tempo, à identidade dos
povos”10. A partir desse ponto de vista, a diversidade cultural está para a
humanidade, assim como a diversidade biológica está para o meio ambiente e
têm o mesmo grau de importância e vitalidade para o futuro do planeta.
Pode-se dizer, então, que a biodiversidade11 pertence tanto ao domínio
natural quanto cultural, como conhecimento que permite às populações
tradicionais entendê-las, representá-las e manuseá-las. Segundo Lévi-Strauss
(1989, p.30), o simbolismo e as representações que as comunidades pré-
capitalistas ou tradicionais criam, constituem uma verdadeira ciência, um
“tesouro” de conhecimento. Isto quer dizer que a conservação da
biodiversidade depende de seus habitantes tradicionais e sua cultura, que têm
a capacidade de criar paisagens mistas e florestas transformadas. Esta
evidência é observada nas sociedades indígenas, como o caso do pousio,
prática agrícola, que tem resultado numa maior diversidade de espécies nesses
hábitats manipulados do que nas florestas consideradas nativas.
O Mito da Natureza Intocada, que atribui ao meio natural toda virtude e
ao homem todos os vícios, traz à tona o debate sobre a importância dos mitos
e das simbologias nas sociedades modernas. Essa idéia persiste, sobretudo,
9
CAPRA, 1996 e DIEGUES, 1998.
10
Agenda 21 da Cultura, Barcelona, maio de 2004. In: SILVA, 2006.
11
“Total de genes, espécies e ecossistemas de uma região. A biodiversidade genética refere-se
à variação dos genes dentro das espécies, cobrindo diferentes populações da mesma espécie
ou a variação genética dentro de uma população. A diversidade de espécies refere-se à
variedade de espécies existentes dentro de uma região. A diversidade de ecossistemas refere-
se à variedade de ecossistemas de uma dada região. A diversidade cultural humana também
pode ser considerada parte da biodiversidade, pois alguns atributos das culturas humanas
representam soluções aos problemas de sobrevivência em determinados ambientes. A
diversidade cultural manifesta-se pela diversidade de linguagem, crenças religiosas, práticas de
manejo da terra, arte, música, estrutura social e seleção de cultivos agrícolas, dentre outros.”
(Glossário de Termos Geológicos. <Disponível em:
http://www.mineropar.pr.gov.br/modules/glossario/conteudo.php?conteudo=B>. Acesso em: 02
de novembro de 2006).
33
entre populações que perderam, em grande parte, o contato quotidiano com o
meio rural. Para Diegues (1998), devemos descartar tanto a visão
conservacionista romântica12 do bom selvagem que atribui a “alta diversidade”
resultante da presença humana, quanto à visão estritamente preservacionista
que se baseia no pressuposto que a integridade biológica só será garantida
com a criação de um mundo natural intocado.
A questão do “bom” uso e do “mau” está estritamente ligada ao tipo de
organização social e o sistema econômico a qual participam. Enquanto a
floresta tropical representa para o índio um ambiente seguro e acolhedor, para
os colonos ele representa um obstáculo a ser derrubado para se poder plantar.
Godelier13 (apud Diegues, 2001, p.24) representa isto como dimensões
imaginárias da natureza, que tem a ver com os valores, crenças,
representações simbólicas, sobretudo as míticas que perpassam as distintas
culturas e têm vida longa, além de formas de organização social e sua relação
com o seu território.
O território pode ser definido, segundo Godelier (apud Diegues, 2001,
p.24), como espaço onde determinado grupo reivindica e garante, a todos ou
parte de seus membros, direitos estáveis de acesso, uso e controle dos
recursos existentes. Representa “laços que se definem pela apropriação e uso
das condições materiais, como também investimentos simbólicos, espirituais e
étnicos que revelam uma outra natureza social do demarcado: a cultura“14. Nele
estão fundados os sentimentos de identidades, memórias e tradições. Isto
significa que através dele o sujeito dá sentido à sua vida e se projeta na
sociedade. Individual e coletivamente. Ele também é o responsável pela
subsistência e reprodução social, resultando em um enraizamento e uma auto-
identificação coletiva da comunidade, através de gerações.
Maurice Strong, em prefácio de livro Ecodesenvolvimento: crescer sem
destruir do Sachs (1986), afirma que o conceito de “desenvolvimento
sustentável” emergiu na Conferência de Estocolmo de 1972, na época
abordado como “ecodesenvolvimento”, que seria alcançado se três critérios
12
Na visão romântica, cada povo possui uma essência, uma alma homogênea e autônoma,
cuja mais espontânea expressão representa em maior grau os valores humanos ideais e
modelos de vida que deveríamos resgatar. É no passado, no mundo rural, que se encontra a
verdadeira cultura, a tradição autêntica.
13
GODELIER,M. L’idéel et lê matériel. Paris: Fayard, 1984.
14
BARBOSA, 2005.
34
fossem respeitados simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e
eficiência econômica. Sachs acrescenta mais duas dimensões: espacial e
cultural, que também seriam interligadas e interdependentes aos demais. Ele
ressalta que o desenvolvimento perderia o sentido se ocorresse o
crescimento, em detrimento da manutenção das raízes da sociedade, ou
seja, as bases culturais.
Essa colocação é bastante pertinente, porém é preciso esclarecer o
conceito de cultura. De acordo com Hannah Arendt (1958), o conceito de
cultura colere se dá em três sentidos: o cuidado com a terra, o cuidado com
os deuses e o cultivo do espírito. Assim a cultura é reconhecida como
inerente ao ser humano, e, sobretudo, envolve objetivamente e
subjetivamente as relações em sociedade. Num sentido mais amplo, culture
representa “todo complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, moral,
leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo
homem como membro de uma sociedade” (Tylor Edward, 1871. In: Laraia,
2006). Para Aktouf (apud Silva, 2006) esses elementos são constituídos pelo
mito, que os originam e os perpetuam, está diretamente ligado à origem das
sociedades e do universo. Ele afirma “a função do mito – definida pelas
relações com a cultura, com a significação [...] e com a comunicação – é
evidentemente universal”15.
Chauí (2000) acrescenta um segundo significado, advindo do século
XVIII, das idéias iluministas, quando cultura passa a ser entendida como
medida para valorizar uma sociedade, formação e educação dos homens,
aproximando do conceito de civilização. Nessa visão, percebe-se uma
divisão entre Natureza (reino da necessidade causal) e Cultura (reino na
finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, do belo e do feio). Desse
conceito vem à idéia de pessoa culta e inculta, utilizado até hoje.
A idéia dessa dicotomia entre Homem (ser pensante) e Natureza (objeto
de conhecimento) foi proporcionada pela Revolução Industrial e a filosofia
cartesiana de Descartes, exaurindo o pensamento dos filósofos da Physis
(Grécia, VII a.C.) de que tudo era Um, em que natureza reapresentava o
princípio originário, a grande mãe criadora, onde tudo surgia e para onde tudo
15
SMITH apud AKTOUF (in CHANLAT, Jean-François. O individuo na organização. São Paulo:
Atlas: 1994) In: SILVA, 2006, p.34.
35
retornava, num movimento constante e eterno de transformação. Nessa ordem
harmônica o homem ocupava o mesmo grau de importância que as outras
coisas criadas16.
Na idéia de separação entre Homem e natureza está o cerne da visão
antropológica da cultura. A partir dessa lacuna a cultura desenvolve-se
simultaneamente ao equipamento fisiológico do homem (coisa externa) sobre
os eventos da natureza. Para Leslie White (apud Silva, p.33) o momento de
surgimento da cultura foi quando o homem foi capaz de gerar símbolos. Já
para Claude Lévi-Strauss (1989, apud Laraia, p.54) a cultura teria nascido
quando o homem convencionou a primeira regra/norma, como por exemplo, o
incesto, padrão de comportamento comum em todas as sociedades
humanas. Portanto, devemos considerar que a cultura se constrói na relação
dos próprios indivíduos entre si e com o mundo. Em conformidade, Laraia
(2006) afirma que o homem é “um ser predominantemente cultural”.
Para Chauí (2000), deve-se falar em Culturas e não em cultura, uma
vez que as leis, os valores e as crenças mudam de um grupo social para o
outro. Em Grupos Étnicos e suas Fronteiras, Barth objetiva entender a
constituição dos grupos étnicos e os mecanismos de manutenção de suas
fronteiras, critérios que definem o sentimento de pertencimento e exclusão.
Segundo Barth, as fronteiras não são definidas somente pelo
isolamento geográfico, e sim por uma auto-atribuição dos próprios indivíduos
na tentativa de normalização das relações sociais, construídas nas inter-
relações com os outros. Em sua definição “os grupos étnicos são categorias
de atribuição e identificação realizadas pelos próprios atores sociais e, assim,
têm a característica de organizar a interação entre as pessoas” (Barth, 1998).
Desse modo, a cultura não é algo imutável ou fechado, ela se constrói e se
reconstrói sempre na incorporação de novos significados simbólicos e valores
culturais, propiciado pelo contato com indivíduos e povos de diferentes
culturas, que constituem fonte de enriquecimento mutuo. Ou seja, a
persistência da unidade está no reconhecimento da diferença, essencial para
formação do universo cultural e suas riquezas.
16
BLANCO, Enrique. “Turismo Ecológico Sustentável e a Autoconsciência do Homem
Contemporâneo: uma Abordagem Filosófica da Questão Ambiental”. Disponível em:
<http://www.senac.br/INFORMATIVO/bts/index.asp>. Acesso em: 10 de dezembro de 2006.
36
Assim, sendo a identidade cultural composta por várias camadas e
intersecções resultantes de múltiplas influências que se moldam por um senso
de pertinência, Bhabha (1998) observa que a cultura “é transnacional porque
os discursos pós-coloniais contemporâneos estão enraizados em histórias
específicas de deslocamento cultural [...], é tradutória porque essas histórias
espaciais de deslocamento - agora acompanhadas pelas ambições territoriais
das tecnologias globais de mídia - tornam a questão de como a cultura
significa, ou o que é significado por cultura, um assunto bastante complexo”. A
razão de tal complexidade talvez seja o que se convencionou chamar de
multiculturalidade, expressão que reverencia o manejo da diversidade e a
dificuldade de articulá-las dentro do tecido social.
No dia a dia, vamos tomando consciência do momento complexo em
que vivemos. O desenvolvimento do capitalismo como sistema econômico
mundial dominante e desordenado aliado ao avanço da mídia-os media,
projetados sobre comunidades tradicionais, têm não só provocado a
degradação do meio ambiente como a desestruturação da comunidade, com
uma inversão de valores, mudança de todo um modo de vida e produção,
ameaçando a diversidade bio-cultural.
A maior preocupação, sob o ponto de vista do desenvolvimento
sustentável, é que “a situação atual apresenta evidências suficientes de que a
diversidade cultural no mundo se encontra em perigo devido a uma
mundialização estandardizadora e excluidora” (Agenda 21 da Cultura), pois,
dentro da globalização econômica, é resultado dos interesses de grupos de
minorias que detêm o poder.
Atualmente, com a falência do Estado, os municípios vêm ganhando
autonomia e se fortalecendo, através da valorização das potencialidades
culturais locais. Estes elementos, além de alterarem a imagem de uma área,
criam um elemento em comum, fazendo surgir um território de “segurança”.
Hall (2003) afirma que paralelamente a esse movimento de criação uma
identidade desterritorializada, além de qualquer fronteira, ou seja, de uma nova
identidade global padronizada, despertou-se um novo interesse pelo local.
Neste contexto a globalização não fará desaparecer as culturas locais, pelo
contrário, tudo o que for realmente importante e valioso culturalmente,
37
encontrará na escala mundial o terreno propício para germinar, desenvolver-se
e expandir-se.
A cultura, então, passa ter um papel determinante de cimento social,
catalisador por excelência da diferença, valorizada como cerne da resistência à
globalização. Assim, a cultura, apesar de ser um termo amplo e de vários
significados, pode ser percebida enquanto instrumento valioso na formação de
indivíduos consciente de sua identidade e das questões sociais da sua
comunidade. Levando em conta as práticas locais, os recursos culturais
possuem a capacidade de ampliar, reconstruir e revitalizar, fortalecendo assim,
os laços sociais.
A partir de comunidades fortalecidas e auto-consciêncientes17, é que
buscaremos a sustentabilidade na dimensão cultural, estabelecendo na relação
com a natureza segundo a sua tradição cultural. Para tal, é preciso considerar
a concepção ecológica que concebe ao mundo como um todo interligado,
reconhecendo a interdependência dos seres vivos como uma rede de
fenômenos articulados.
Tal contexto ganha relevância, expressando-se em propostas de projetos
voltados à revitalização e à salvaguarda de patrimônio material e imaterial,
resgates de tradições populares, modos de produção que conciliem
sustentabilidade ecológica e cultural. Tendo em vista as limitações das
contribuições do conhecimento científico e fazendo um esforço, através de
ações em cultura, para integrar o etnoconhecimento das populações
tradicionais. Trazendo à tona importantes temáticas como a questão de
identidades, re-significação de memórias coletivas e da territorialidade, desta
forma propondo soluções criativas para situações criativas.
17
De acordo com CAPRA (2002), “é uma noção de si mesmo, formulada por um sujeito que
pensa e reflete”
38
“...aqueles que fazem Aldeia Velha ser o que é...”
39
Capítulo3.
40
tem da própria comunidade. Interpretar envolve esclarecimento, pesquisa, e a
transmissão de valores de conhecimento. A comunidade, em todos seus
segmentos, deve se conhecer para poder se beneficiar Deve haver uma
consciência de seu patrimônio, tanto material, quanto imaterial. Pois é ela que
de inicio possui todo o conhecimento e a experiência do lugar. O que é
proposto pelo projeto Aldeia Cultural é uma síntese entre conhecimento
científico (sistemático e sistematizado, resultante da aplicação de métodos
específicos para cada ciência), e o tradicional (empírico, não-sistematizado,
resultante da vivência e do senso comum), uma aposta conjunta. Para tanto, é
preciso reconhecer, antes de tudo, nas comunidades tradicionais, a existência
da biodiversidade19 além daquelas oferecidas pela ciência.
Existe um intenso debate quanto ao significado de comunidades
tradicionais, sejam elas indígenas, caiçaras, caipira, que compartilham
características comuns. De maneira geral, são caracterizadas como
comunidades pré-industriais, modos de produção próprios, que se baseiam no
uso de recursos naturais renováveis, sociedades que não visam diretamente o
lucro, desenvolvem dentro do modo de produção artesanal em pequena escala,
com reduzida acumulação de capital e não utilização de mão de obra
assalariada, como agricultura familiar e pesca; coleta e artesanato. A
dependência dos recursos naturais e respeito aos ciclos da natureza é
encontrada na maioria dessas comunidades. Outras características são
moradias e ocupações através das gerações, ainda que alguns membros
possam ter se deslocado para os centros urbanos e retornado para a terra de
seus antepassados. Importância dada à unidade familiar, doméstica ou
comunal. E a importância de mitos e símbolos que estão presentes no
imaginário popular.
A manutenção do conhecimento tradicional é revelada por uma
complexidade de conhecimentos adquiridos pelas tradições e herdados pelos
mais velhos. O Prof. Antônio Carlos Diegues define o termo como conjunto de
saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural e sobrenatural, transmitidos
oralmente, de geração em geração. Diegues chama atenção, afirmando que é
este saber o grande repositório de parte considerável do saber sobre a
diversidade biológica conhecido hoje pela humanidade.
19
Como visto no capítulo anterior, pertencente à dinâmica natural e cultural.
41
Segundo Lévi- Strauss, em Pensamento Selvagem (1989) existe, nas
comunidades tradicionais, uma “atitude científica”, uma curiosidade assídua e
alerta, uma vontade de conhecer pelo prazer de conhecer, uma relação afetiva,
pois das observações, das experiências e vivências é que nascem resultados
práticos e utilizáveis. Sendo assim, é fonte significativa de informações que
devem ser partilhadas e difundidas.
É evidente que os critérios apresentados anteriormente se baseiam na
noção de um tipo “ideal”. Nenhuma comunidade tradicional, atualmente, se
apresenta no estado “puro”20. Podemos citar alguns fatores para isso. A
dependência do mercado, já existe, mas não é total. O aumento do trabalho
assalariado, que reduz o tempo disponível para atividades próprias de
produção. O crescimento do “turismo de natureza”. A criação de áreas de
preservação ambiental e entidades de conservação que em geral discriminam
ou não se preocupam com a comunidade residente, agindo através de um
ecologismo de denúncia, pois na sua visão preservacionista qualquer
interferência humana é negativa. Assim, quando certas características do modo
de vida tradicional, mesmo que seja em menor grau, estão presentes em
determinado grupo, se tornam essenciais, como visto no capítulo anterior, logo
não devem ser perdidas, esquecidas ou transformadas em “peças de museu”,
mas sim incorporadas, reinterpretadas e reinventadas.
Como foi visto, há necessidade de se resguardar a uma visão simplista,
nem todos moradores são “conservacionistas natos”, entretanto há entre eles
aqueles que armazenam um conhecimento empírico do mundo natural em que
vivem. Desta forma, Diegues destaca a “necessidade de se conhecer melhor
as relações entre a manutenção da diversidade biológica e conservação da
diversidade cultural”. Com base nas experiências e valores culturais locais,
através de uma visão interdisciplinar, onde trabalhem de forma integrada
biólogos, geógrafos, cientistas sociais, historiadores, produtores culturais, entre
outros, em cooperação com as comunidades tradicionais para elaboração e
execução de projetos. O envolvimento e a colaboração dos indivíduos locais
tornam possível fazer da experiência um aprendizado que enriquece a todos
envolvidos.
20
Provavelmente o tipo “puro”, tradicional e autêntico nunca existiu, nem no passado. Os
estudos sobre a formação das organizações sociais apontam sempre para um certo grau de
mediação e hibridização.
42
O diálogo entre saber científico e saber tradicional ganha destaque
conforme colocam Chaves e Bindá, citados no trabalho de conclusão de curso
de Paloma Sol Hertz, Cultura, Ecologia e Comunidade Tradicionais no Vale do
Rio Trombetas: Refletindo sobre a Reestruturação e sua Sustentabilidade:
21
CHAVES, M. do P. S. R.; BINDÁ, F. M. L. (2002), “Diálogo entre o saber popular e o
conhecimento científico”. In: VI Congresso Latino Americano de Sociologia Rural. Porto
Alegre, 2002.
43
Foucault, em uma cultura em um dado momento só existe uma épistéme
(daí seu aspecto globalizante) e revela a priore histórico (daí sua
profundidade) que torna possível os diversos saberes e a própria
ciência. Assim a formação dos saberes e a relação entre eles deve ser
buscada não no nível gramatical (das frases), nem lógico das
(preposições), mas sim em nível enunciados que constituem o
discurso”22.
22
FLEURI, Reinaldo Matias. “Interdisciplinaridade: Meta ou Mito?”, In: Lecciones de Paulo
Freire, Cruzando Fronteiras. Buenos Aires: Clacso, 2003. p.118.
23
A idéia do projeto surgiu junto a Disciplina Projeto Cultural IV, segundo semestre de 2005. Na
época a disciplina era ministrada pela professora substituta Luciane Conrado (Departamento
de Artes). Participou da pesquisa e elaboração do projeto o aluno de produção cultural Ricardo
Ramos. O projeto Aldeia Cultural está inserido num projeto maior chamado Escola Mata
Atlântica, anexo V.
24
No anexo VI encontra-se um mini currículo do grupo gestor, denominado Escola da Mata
Atlântica.
25
Contribui para escola de Aldeia Velha o fato de ser um local relativamente próximo ao Rio de
Janeiro, possuir um riquíssimo ecossistema e uma população extremamente hospitaleira.
Aldeia seria, então, o local ideal para a realização deste projeto.
44
Além do estabelecimento de
relações democráticas, de
confiança e de comprometimento
com um planejamento que vai se
realizando e com o projeto que se
pretende construir. Uma idéia
fundamental no processo de envolvimento com a comunidade é que ele seja
prazeroso, que consiga despertar atenção dos moradores e provocar do
encontro informal um diálogo frutífero e respeitoso. A criação desses espaços-
tempo pode ser simbólica, uma construção coletiva, como, por exemplo, plantar
uma árvore ou pintar um cartaz que fique exposto. À medida que eles
passarem e se deparar com tal objeto, eles passarão a se reconhecer no
projeto. Porém, é necessário que este espaço seja complementar, reuniões
periódicas são fundamentais e funcionam como o canal de comunicação
comunitária.
O projeto teve seu início no final de 2005 com uma pesquisa
de campo. A receptividade local foi maior que a esperada. Argeu
Peclat, morador local, atuou como indivíduo-chave, mediando
nossa entrada nas casas e apresentando todos os moradores.
Com isso, de início, não era preciso tentar explicar nossa presença
a cada um, estavamos ali para ouvi-los, traçando posteriormente
ações que viriam a suprir os anseios dos mesmos.
As conversas eram sobre a vida na roça, a história de
Aldeia, a família, o rio, as plantas, a música, as brincadeiras, as
lendas, fatos curiosos, tristes e engraçados, suas produções, as
dificuldades entre outros. A finalidade da pesquisa era levantar
dados, gerais e particulares, sobre a população aldeense. Havia
um roteiro26 prévio, porém as perguntas não eram apresentadas
diretamente, e sim extraídas das respostas, um diálogo prazeroso
travado com o universo pesquisado. Sendo assim, ele era apenas
o fio condutor da prosa, da conversa com as pessoas. Nosso
objetivo ali era estarmos atentos e interessados, extraindo o
máximo possível essas entrevistas.
26
O roteiro encontra-se no Adendo III.
45
O presente trabalho é baseado na troca entre pesquisado e pesquisador,
e na reflexão crítica dos dados obtidos. Não há de se pensar no romancear de
uma vida rural e pacata, mas sim nas bases do conhecimento comum e
empírico27.. A percepção deste senso comum, desta epistemologia do cotidiano
aldeense, é que irá mostrar a fundo os rumos a serem traçados nas ações
aplicáveis do projeto.
As entrevistas em profundidade foram muito produtivas do ponto de vista
estratégico e a partir delas foi elaborada a primeira versão do projeto, versão
apresentada em sala de aula em janeiro de 2006. Época a qual estava aberto o
edital para Projetos de Extensão da Universidade Federal Fluminense, no qual
foi inscrito o projeto28.
27
Aquilo que faz da experiência e dos dados sensoriais as fontes primárias do conhecimento e
os critérios mais adequados para a determinação da verdade. A razão funciona como um
quadro em branco cujo conteúdo será escrito pelas sensações e percepções, formadoras dos
hábitos coletivos (e individuais) e também de memória. Duas de suas máximas são: “não há
nada na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos (Locke); todo “ser” ser somente
adquire essa substancialidade quando pode ser percebido (esse est percipi, na formula do
Berkeley)”.(CUNHA, Newton. Dicionário Sesc – A linguagem da Cultura. São Paulo:
Perspectiva: Sesc São Paulo, 2003).
2822
Assinou como coordenador de projeto a professora Luciane Conrado. Posteriormente o
professor Wallace de Deus a substituiu, pois seu contrato como professora substituta havia
vencido.
46
seus componentes estão arranjados à maneira de rede. Sempre que olhamos
para a vida, olhamos para redes”29.
Esta concepção está intimamente ligada aos conceitos de relações não-
lineares e cíclicas (realimentação), que tem a capacidade de se auto-regular.
Esses princípios fazem o ecossistema se sustentar e se reproduzir. Capra, em
seus estudos sobre a organização dos sistemas vivos, apresenta-nos algumas
dessas propriedades:
47
em prol de um objetivo comum, como no caso de um grupo; as relações
se dão através de links entre os agentes, de forma interpessoal,
marcados por um fluxo de informações, bens e serviços, que irão
resultar em processos de interação cujas fronteiras não são estáticas,
mas encontram-se em permanente construção e desconstrução”.31
48
empreendimento auto-sustentável,
visa desabrochar novas dimensões
humanas e afetivas no exercício da
cidadania ativa, unindo ainda mais os
moradores locais. Significa também trabalhar um consumo crítico renovável, ou
seja, fazer com que o que normalmente se compra no supermercado, passe a
ser comprado com a própria comunidade, que pode atender a demanda (pão,
doces, queijo, manteiga, ovos, sabão etc). Isso gera oportunidades de
sustentabilidade, pois não se vai consumir de uma empresa, que em geral é
poluidora e exploradora.
O programa elaborado emerge da reflexão da realidade concreta dos
participantes e dos objetivos que se busca alcançar. “Em última instancia o que
vale, não é realizar o que se planejou e sim chegar mais próximo do objetivo
esperado” (Freire, 2004). Para isso é preciso considerar as práticas pessoais
de produção, dando visibilidades a elas e buscando integrár-las em laços que
fortaleçam a execução deste planejamento, preferencialmente realizado pelos
atores locais envolvidos.
A primeira etapa foi a realização da pesquisa 33, realizada em outubro de
2006, onde foram levantados os produtores locais. Esta pesquisa seguiu os
mesmos princípios da pesquisa realizada no início do projeto. Porém, desta
vez, com um objetivo específico. A comunidade também já estava integrada e
consciente dos objetivos, o que facilitou bastante o andamento. Procurei
valorizar todo tipo de produção. Muitos tinham dificuldade de identificar o que
produziam ou não, pelo simples fato de não comercializar.
Foram elaboradas placas34 de identificação para os produtores locais,
contendo nome do produtor e o produto por ele produzido, para ser colocado
em frente à casa de cada um.
33
Além de mim, participaram da pesquisa Argeu Peclat, morador local responsável pela
mediação, pesquisador-pesquisado, e as fotografas Bárbara Villa Verde (Graduada em
Comunicação pela UFF) e Tainá Del Negri (Graduada de Comunicação pela UERJ),
responsáveis pelo registro. Tanto a ficha de cadastro usada quanto os produtores levantados
encontram-se no adendo, IV e V.
34
Tiago Victer e Honorair Schuler, ambos os artesãos foram os responsáveis pela construção
das placas, sendo o material necessário doado a eles. Houve dificuldade de doação de
madeira de qualidade para sua confecção, por esse motivo, até agora, apenas 13 produtores
receberam as placas.
49
Outro resultado da pesquisa, complementando a identificação da Rede,
foi a elaboração de dois Mapas Emicos35, contendo as casas dos produtores
locais. O primeiro mapa foi uma confecção coletiva dos moradores, já o
segundo foi o desenho a partir do primeiro por uma desenhista local.
A primeira etapa para construção do Mapa Êmico foi a reunião das principais
lideranças e também crianças para esclarecimento do trabalho. A partir de lápis
de cor, cartolina e um mapa de referência da cidade, a área de abrangência do
mapa foi delimitada, considerando o raio de atuação das atividades produtivas,
dados históricos e recursos naturais de referência. Relevo e hidrografia foram
transcritos para uma cartolina e os moradores preencheram os espaços,
localizando, com o desenho, tudo aquilo que eles achavam importante,
construindo assim um mapa coletivo. O objetivo era resgatar o máximo
possível de informações. Além das serras, rios, ruas, comércio e casas dos
produtores, que servem de orientação, nos desenhos, nós podemos observar
uma representação da diversidade biológica através de inúmeras espécies de
animais e vegetais presentes no mapa, e também a presença de elementos
marcantes na cultura dos produtores como cipó, mel e bambu. Outros
elementos presentes são os mitos, “Mãe do Ouro” e “Saci Pererê”, o que
mostra a importância desses elementos na formação da cultura local. Tanto a
pesquisa, como os mapas e as placas foram apresentados na feira de
produtores locais, realizada dentro da 1º Mostra de Conhecimento Tradicional
de Aldeia Velha e pretende-se que fiquem fixas na cidade, construindo assim,
um circuito alternativo de visitação.
O simples fato de montar um painel
apresentando os produtores/produções
e reuni-los em uma feira aguçou a
curiosidade dos participantes, mexendo
também com seus egos. O fato curioso
é que do encontro aconteceram muitas
35
“Os Mapas Êmicos, ou seja, aqueles realizados a partir do conhecimento cognitivo, buscam
garantir uma participação local, trabalhar com dados relevantes, formar um quadro de
referências para coletar e analisar as informações, dispor de dados qualitativos, além de
facilitar a comunicação entre o pesquisador e as comunidades, por serem os mapas uma forma
de linguagem muito antiga (SCHMIDT, M.V.C. Etnosilvicultura Kaiabi no Parque Indígena do
Xingu: Subsídios ao manejo de recursos florestais. Dissertação de Mestrado. USP, São Carlos,
2001). Os Mapas confeccionados encontram-se no anexo II.
50
descobertas, produções até então desconhecidas passaram a ser conhecidas e
admiradas por todos. Honorair, morador local, aponta em roda de conversa que
“a feira foi interessante porque o grupo que o produziu consegue agregar
pessoas que já estão no mesmo lugar, mas que não se agregam por si só. E
também foi uma surpresa porque as pessoas não sabiam que as outras
produziam. Foi importante acima da possibilidade de expor e vender a
importância das pessoas se encontrarem e saberem o que as outras
produzem”.
Tendo em vista que uma das metas futuras é trabalhar a
possibilidade de multiplicadores, o evento contou também com
oficinas. Tiago, conhecido por suas luminárias, difundiu seus
conhecimentos, dando sua primeira oficina, abordando desde
diferentes espécies de bambu e épocas de colheitas até o
processo em si de produção e demonstração de como trabalha. Os
participantes interagiram e cada um construiu e levou uma luminária para casa.
Este foi o primeiro passo de uma longa caminhada. Mediações estão
sendo feitas sempre que necessárias, atividades que orientem e integrem
ainda mais os sujeitos participantes. Como uma avaliação interna econômica
de cada produção. Avaliando recursos e procedimento de produção, em quanto
tempo e qual quantidade se produz, quanto vende, quais são as despesas e
lucros, entre outros. E a criação de um selo de produtores familiares.
A rede tem o propósito de estar sempre aberta a novos integrantes, que
podem vir a fortalecer, pois “construir redes é criar relações, estabelecer
conecções, desencadear fluxos” (Mance, 2003, p.23).
51
“... um documento, onde saberes, ‘memórias’ e ‘identidades’ são capazes de
florescer, reproduzir e disseminar.”
52
53
CAPITULO5.
54
é seletiva, o que se guarda e exclui é fruto de uma organização, e quando
evocada é capaz de se construir e reconstruir.
Michael Pollack (1989) cita os lugares de memórias como contribuintes para
a reconstrução, analisados por Pierre Nora37, são eles: “o patrimônio
arquitetônico e seu estilo, (...), as paisagens, as datas, e personagens
históricas (...), as tradições e costumes, certas regras de interação, o folclore e
a música, e, (...) as tradições culinárias”38. Tudo isso funciona como lugar de
arquivo que pode ser passado de diversas formas: pelas pessoas, pelas
produções de imagens e narrativas, pelas práticas cotidianas, pelo território e
meio ambiente, entre outros. Arquivar significa preservar, conservar, possibilita
a apropriação cultural, favorece a produção de conhecimento, faz surgir novas
interpretações, idéias, sentimentos e sensações. É esse encadeamento que
nos faz compreender que a construção é coletiva.
Em prefácio do livro Memória Coletiva de Halbwachs, Jean Duvignaud
afirma que a lembrança funciona como “a fronteira e o limite: ela está na
interseção de muitas correntes do ‘pensamento coletivo’. É por isso que
sentimos tanta dificuldade de lembrar dos acontecimentos que dizem a respeito
a nós mesmos”39. Pois precisamos das memórias e dos olhos dos outros para
saber quem somos nós.
“Para que nossa memória se beneficie das memórias dos outros, não
basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que
elas não tenham deixado de concordar com a memória deles e que existam
muitos pontos de contato entre uma e outra para que a lembrança que nos
fazem recordar venha a ser reconstruída sobre uma base comum. Não
basta reconstruir pedaço a pedaço a imagem de um acontecimento
passado para obter uma lembrança. É preciso que esta reconstrução
funcione a partir de dados ou noções comuns que estejam em nosso
espírito e também nos outros, porque elas estão sempre passando destes
para aqueles e vice-versa, o que será possível somente se tiverem feito
parte e continuarem fazendo parte de uma mesma sociedade, de um
mesmo grupo”.40
Isto significa que embora precisemos dos outros e das coisas para emergir
as lembranças, as marcas já estão presentes em nós, as lembranças estão
37
NORA, P. Lês lieux de mémoire. Paris, Gallimard, 1993.
38
POLLACK, M. 1989. p.3.
39
DUVIGNAUD, Jean. In: HALBWACH, M. 2006. p.13.
40
HALBWACH M.2006. p.39.
55
alojadas no nosso consciente. Como coloca Halbwachs, nunca estamos sós,
pois sempre levamos conosco e em nós um pouco do outro41.
Ana Enne (2002) demonstra a importância da memória levantada por Jean-
Pierre Vernant, em seu sentido original entre os gregos:
41
HALBWACH M.2006. p.30.
42
VERNANT, P. apud ENNE, A. 2002. p.112.
43
LE GOFF, J.,1992. p.46.
56
habitam esse lugar se tornasse idêntico ou intercambiável”.44 Temos então a
concepção do indivíduo e sua condição individual de ser e estar no mundo, e a
concepção coletiva, de alteridade (aquilo que está fora de nós), usado para
designar sua representação em relação aos outros e ao seu território. Isto
significa, portanto, que a idéia de construção de identidade deve ser pensada
em relação ao social. Pois o sujeito é parte integrante de uma sociedade, em
grande parte determinado, modelado por esta e por sua história e, também, por
seu inconsciente. Assim, identidade está sempre sendo transformada de
acordo com as maneiras em que somos representados e tratados nos sistemas
culturais que nos cercam. Ao mesmo tempo, é considerado que toda a
formação de identidade implica no reconhecimento da diferença e se realiza
por oposição para ela.
Entendendo identidade como autoconhecimento e a diferenciação em
relação ao outro, portanto, podemos “dizer que a memória é um elemento
constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na
medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento
de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si”45. Afinal,nós somos o que lembramos e o que não
lembramos; o que projetamos e o que não projetamos, à imagem de si, para si
e para os outros.
Pollack (1992, p204) vincula a construção da identidade a três elementos
fundamentais: o lugar, o tempo e a percepção de coerência dos elementos que
formam e unificam indivíduos. “A memória, onde cresce a história, que por sua
vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para a libertação e
não para a servidão dos homens”46.
44
CANCLINI, Néstor. Culturas híbridas. São Paulo, Edusp, 1998, p.190. In: ENNE, Ana Lucia S
”Discussões sobre a intrínseca relação entre memória, identidade e imprensa”. p.4.
45
POLLACK, M. 1992. p.204.
46
LE GOFF, J.,1992. p.47.
57
sejam eles sistemas de valores, uma memória coletiva ou uma tradição
inventada” 47.
Isto servirá para que o indivíduo não só saiba quem é, mas também, se
instrumentalize para construir seu futuro.
Nesta busca pela democratização da memória social é
que nasce a idéia de se fazer o filme documentário “Aldeia
Velha e suas raízes”. Apesar do cinema ter como
característica elementar seu caráter indicial fotográfico, ele
não reproduz a realidade, e sim a reconstrói a partir de uma
linguagem legitimada pelos relatos orais. Sujeitos da
enunciação exteriorizam e transparecem para câmera
experiências e sensações. Seus modos de falar, agir, pensar
são vistos na tela como traços de sua tradição e cultura. O
diretor, mediador, primeiro capta tecnicamente essas histórias
e vivências com a câmera e depois faz um trabalho de
“manipulação” de imagens junto ao editor. Com intenções
éticas e estéticas, de forma justificada e não arbitrária, o filme
documentário é criado na sua edição, as cenas são escolhidas, selecionadas e
ordenadas em uma seqüência narrativa, seguindo uma linha de pensamento.
Portanto o documentário funciona como instrumento para um rearranjo
sucessivo das memórias coletivas, partindo do discurso oral das memórias
individuais. Assim, o cinema
se propõe a interagir,
transmitir e intermediar,
compreendendo o universo
simbólico em questão. Tem a
intenção de envolver e
enfatizar o conteúdo mais
valorativo, reconstruindo fatos
47
LÉVI-STRAUSS L’identité, 1977 apud BARBOSA, 2004.
58
que representam memórias coletivas e revelam sentimentos d
59
articula ao contexto histórico e social que o produziu, um conjunto de
elementos intrínsecos à própria expressão cinematográfica”, afirma Kornis
(1992, p.239). Uma documentação fundamentada nas histórias do imaginário
popular, que são transmitidas através do som e da imagem. O registro fílmico
“Aldeia Velha e suas raízes” pode adquirir tal importância, já que se configura
em ser o primeiro a registrar a história de Aldeia Velha, suas crenças e valores.
Contudo, reflete uma forma particular, o documento resulta do esforço
particular de quem o produz, no caso do “Aldeia Velha e suas raízes”,
moradores ‘tradicionais’ e estudantes universitários é que projetam a imagem
de Aldeia Velha. E é interessante notar o que é registrado, pois, como adverte
Enne, “o que se guarda e armazena é o que se quer lembrar, pois o não mais
visto tende ao esquecimento”.
As imagens e movimentos, ali presentes,
representam uma forma de documento, trazendo
pessoas que falam de sua localidade, suas
histórias de vida, e resgatam um passado
compartilhado, através de lembranças, emoções e
sentimentos. As lembranças dos entrevistados por
sua vez acentuam a transmissão de determinados
bens simbólicos, que representam uma situação
social. Ferro (apud kornis, p. 244) “defende assim
que através do filme chega-se ao caráter
desmascarador de uma realidade política e
social”49. O ponto fundamental dos discursos
registrados é herança a ser transferida a gerações futuras do passado vivido e
experimentado. Alguma coisa de valor que se quer salvaguardar. Neste
sentido, os mais velhos são referenciais e responsáveis pela manutenção dos
valores de histórias de vida, permitido uma visão de sua trajetória e uma
perspectiva do seu meio social.
Myriam Moraes (1989, p. 40) coloca que “a imagem não é senão o ponto de
partida para essa viagem, para um despertar de uma memória de sentimentos
e emoções”. Isto significa que as memórias ali representadas não se
Marc Ferro, “O filme, uma contra-análise da sociedade, In: the historian and film, ed. Paul
49
60
configuram como algo pronto e acabado. Como foi visto no início do capítulo, a
construção da identidade se dá através da guarda de memória comum.
Considerando o filme como objeto de registro de recordações dos indivíduos,
que se completa na sua exibição, tudo aquilo que pode suscitar um sentimento
de afetividade acentua a memória coletiva. Neste sentido, os discursos
registrados e a identificação proporcionada da sua exibição, espaço-tempo em
que essas recordações podem ser avivadas, revelam-se fundamentais na
construção da memória e identidade.
Assim, este trabalho, além de atuar como uma forma de arquivo, lugar de
memória cristalizada, “cuja função é exatamente manter ativo o pertencimento
a determinado vínculo identificatório”50, pretende colaborar como fonte de
formação da identidade local, reflexo da realidade de “ser aldeense”,
despertando o reconhecimento e conscientizando o maior número de pessoas
de suas histórias, seus personagens, suas lendas e suas tradições. O que até
então era passado oralmente, passa ser também difundido pela tecnologia do
meio áudio-visual, que tem grande poder de representação e ativação da
identificação. O filme, “fonte preciosa para compreensão dos comportamentos,
das visões de mundo, dos valores, das identidades, e das ideologias de uma
sociedade” (KORNIS, p239), vem para partilhar, multiplicar e potencializar
outros lugares de memória, ultrapassando fronteiras étnicas e culturais,
enriquecendo o presente e construindo um futuro mais consciente.
50
Pierre Nora, apud: ENNE, A. 2002. p. 119.
61
.
5.1 “ALDEIA VELHA E SUAS RAÍZES”, DA FILMAGEM À EXIBIÇÃO NA
VILA:
62
natureza, ao retorno às raízes
“tradicionais” de ligação com a
terra.
Ao longo de vinte e oito dias, as
imagens foram editadas e o filme
finalizado numa primeira versão de quarenta e três minutos. Logo após, exibido
na praça da vila, nos dias oito e nove de Dezembro, dentro do evento Aldeia
Cultural: 1°Mostra de Conhecimento Tradicional de Aldeia Velha, onde a ação
cultural desenvolvida pelo grupo teve grande êxito, não só entre os moradores
como as pessoas envolvidas de certa forma com aquela região. Foram três
exibições, todas com enorme público, moradores (em sua maioria), amigos,
políticos e visitantes. Na estréia do filme, o público estava eufórico, sentimento
e emoções apareceram com toda força, marcando certamente aquele
momento. Todos se mostraram bastante satisfeitos com o resultado final. Eles
se surpreenderam e notaram todo trabalho de edição e montagem. O sucesso
do filme, para o grupo, está na identificação e no reconhecimento da população
“tradicional” de Aldeia Velha com a visão proposta pelo documentário.
Diante da realização desse filme foi construído um laço afetivo com a
comunidade. O que uniu ainda mais o grupo Escola da Mata Atlântica.
Pretende-se estimular a realização de novos projetos, inclusive áudios-visuais,
pelos próprios moradores, para que o sentimento
despertado não se esvaia, e sim se fortifique, se
concretizando em ações que valorizem cada vez mais a
localidade em questão.
Em julho será lançado o DVD, contendo, além do filme,
a pesquisa história, a Rede de Produtores (mapa,
produtores e produtos), making of, still e extras, será
distribuído nas escolas municipais da cidade. O filme
também será enviado para os circuitos nacionais
alternativos de cinema, principalmente os ligados às áreas
de cultura, de meio ambiente e etnografia.
63
64
CAPÍTULO6.
CONCLUSÃO
65
perturbadas com o fim de desfrutar, apreciar e estudar os atrativos naturais
(paisagem, flora, e fauna silvestre) dessas áreas, assim como qualquer
manifestação cultural (do presente ou do passado) que ali se possa encontrar,
através de um processo que promove a conservação tem baixo impacto negativo
ambiental e cultural e propicia um envolvimento ativo e socioeconomicamente
benéfico das populações locais”.55
55
CEBALLOS- LASCURÁIN, Héctor. Tourism, ecotourism and protected áreas: the states of nature-
based tourism around the world and guidelines for its development. Gland, Switzerland e
Cambridge: IUCN, 1996. In: DIAS, p.110.
56
Entende-se que o turista só se torna um visitante a partir do momento em que encontra uma
comunidade consciente. Esta definição foi dada em aula na disciplina “Administração e Gerencia
Cultural II”, ministrada, na época pelo professor Guilherme Vergara.
57
CARVALHO, Evany Rita Noel. O agroturismo no Brejal. In: Desenvolvimento Sustentável em
Petrópolis. Ed. Viana & Mosley. Petrópolis, 2002. p.31.
66
histórico cultural e a divulgação das atividades realizadas no projeto Aldeia
Cultural permitem conhecer e enaltecer as oportunidades desse turismo agrário,
bem como diminuir barreiras entre o visitante e o visitado.
Sendo cultura uma construção diária e permanente, o intercâmbio entre os
"visitados" e "visitantes" é frutuoso, pois cresce e se torna complexo com o passar
dos anos. As trocas são permanentes e muito positivas, na medida em que se dá
e recebe simultaneamente. Por este motivo é muito importante manter este
fenômeno (turismo) vivo. Dele se dá não apenas o desenvolvimento econômico,
mas também o enriquecimento cultural da comunidade. O Turismo funciona como
forma de preservação de patrimônios. E é uma excelente forma de afirmação
cultural e através dele a preocupação de se manter certa identidade local.
Apesar de todo rico conhecimento que se possa ter do lugar, a maioria das
comunidades parecem estar muito mal aparelhadas para as possíveis mudanças.
Estudiosos apontam que apesar do turismo ecológico trazer menores 58 danos ao
meio ambiente, atinge as comunidades envolvidas. São elas que devem aprender
a lidar com o visitante de forma a atender suas necessidades e expectativas.
O turismo se desenvolveu de maneira bastante acelerada nos últimos anos,
e na mesma perspectiva a economia e seus segmentos (especulações de terras,
expansão das rodovias, construções de hotéis e lojas). Viajando pelo Brasil, não é
difícil encontrar uma cidadezinha como Aldeia Velha que em dois anos cresceu
desordenadamente (estrada pavimentada, uma loja ao lado da outra vendendo as
mesmas coisas, grandes redes de hotéis). Felizmente esse quadro não é
vivenciado por Aldeia Velha, apesar da grande expansão dessa atividade na
região. O tema turismo não deve deixar de ser discutido e trabalhado. Para
precaver e evitar conseqüências negativas deve haver um planejamento bem
cuidado que administre aquilo que deseja compartilhar. Um importante aspecto é
promover um protagonismo comunitário, envolver os pequenos produtores locais,
fortalecendo a produção e os saberes tradicionais. E não apenas envolver os
possuidores de renda e seus empregados, como as instituições da região fazem.
58
O impacto do turismo sobre o meio ambiente é inevitável. O que se pode é mantê-lo dentro de
limites aceitáveis, para que não provoque modificações ambientais irremissíveis.
67
Algumas das ações futuras previstas são:
Casa de Semente: Construção de um Banco de Sementes Comunitário
para o armazenamento de sementes agroecológicas e nativas da Mata
Atlântica, para fins de estudos e reflorestamento. Serão quatro oficinas, que
serão gravados em vídeo e publicados em cartilhas para serem divulgadas e
arquivadas na biblioteca. Essa atividade conta com a parceria da Bionatur
através da COONATERRA (Cooperativa Agroecológica Terra e Vida Ltda), uma
vez que esta fornecendo à Escola da Mata Atlântica uma ajuda de R$ 5 mil
reais.
Organizar um livro59. Contendo no miolo a história de Aldeia Velha,
fotografias e uma série de estórias contadas pelos moradores e ilustrações
feitas pelos próprios. Mostrando como a Aldeia surgiu, lendas, bichos, árvores,
personagens e estórias de assombração, engraçadas, curiosas, tristes e outras
mais que poderão depois de editadas de forma mais simples possível.
“Farmácia -Viva”: Construção de um Horto Florestal de plantas medicinais e
oficinas para a preparação semi-artesanal de remédios fitoterapicos simples.
Esta ação pretende formar uma parceria entre Secretaria de Saúde
(capacitação de médicos), Secretaria de Meio Ambiente (doação de mudas) e
comunidade (manutenção), que a partir do incentivo se protagoniza. As
crianças serão as principais catalisadoras.
Laboratório Cultural: consiste em um espaço com infra-estrutura para que se
realizem trabalhos, reflexões e trocas de informações. Será uma sala equipada
com televisão, dvd, computador, telefone e uma pequena biblioteca. Todo
equipamento e livros serão conseguidos por meio de doação 60. O laboratório
cultural servirá também como ferramenta de “afetividade” podendo qualquer
membro da comunidade freqüentar e utilizar o espaço. Os livros serão
colocados periodicamente na praça.
“A Mata é Nossa”: diversos cursos e oficinas feitas por universitários e
graduados que envolvam a temática ambiental. Exemplos: cinema, rádio,
59
Atualmente existem apenas dois livros e uma monografia (Geografia URRJ) que contam a
história do surgimento de Aldeia Velha, cada um com uma versão diferente.
60
Alguns livros e equipamentos (computador, scaner, câmera digital) já foram doados e encontram-
se na Escola Municipal Vila Silva Jardim.
68
“Contação de história”, fotografia, ilustração, expedição na mata entre outras.
O primeiro curso previsto é de cinema e contará com o apoio da Secretaria de
Meio Ambiente de Silva Jardim e o Porta Curtas Petrobrás.
Operacionalizar um site contendo agenda cultural e a rede dos produtores.
Debater e trabalhar a institucionalização61 do grupo.
61
Essa questão será explicada no capitulo seguinte.
62
“O Ponto de Cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva e articula todas as suas
demais ações. Ele é a referência de uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação
de iniciativas e vontades criadoras. Uma pequena marca, um sinal, um ponto sem gradação
hierárquica, um ponto de apoio, uma alavanca para um novo processo social e cultural. Como um
mediador na relação entre Estado e sociedade, e dentro da rede, o Ponto de Cultura agrega
agentes culturais que articulam e impulsionam um conjunto de ações em suas comunidades, e
destas entre si”. Disponível em: < http://www.cultura.gov.br> Acesso em: 15 de dezembro de 2006.
63
“PNATER a Ater, é considerada como um processo educativo e de fortalecimento da produção,
e, portanto, constitui-se num bem-público, cabendo ao Estado garantir a oferta gratuíta de serviços
de qualidade para aqueles que necessitam deste apoio. Assim mesmo, Política Nacional de Ater,
estabelece as bases para uma nova Extensão Rural e para um novo enfoque de Assistência
Técnica, de caráter educativo, que adote metodologias participativas e que se oriente pelos
princípios da Agroecologia, visando à implementação de estratégias de desenvolvimento
ambientalmente sustentável, economicamente viável, sócio-culturalmente aceitável e que
respeitem as diversidades existentes no país, visando à universalização do conhecimento no
campo, o resgate da cidadania, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da população,
com estímulo à produção de alimentos sadios e de melhor qualidade biológica”. Disponível em: <
http://www.pronaf.gov.br> Acesso em: 15 de dezembro de 2006.
69
CAPÍTULO7.
PARCERIAS
64
Sementes livres de modificação genéticas e sobre as quais não incida nenhuma patente.
70
A Secretaria de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu
doou 200 mudas de diversas espécies da mata atlântica e outras de
importância comercial. Foram distribuídas à comunidade e visitantes, no evento
Aldeia Cultural, ipês, abius de fruta verde, pupunhas entre outras. Além de
doarem mudas medicinais para o viveiro de plantas medicinais da Escola. As
mudas que não foram adquiridas foram plantadas nas beiras dos rios e nas
ruas da vila.
71
nenhum de nossos parceiros, ou seja, governo, ONG com financiamento
externo e instituições com fins lucrativos, impediu que fosse feita a inscrição do
projeto.
A questão possuir CNPJ gera um debate delicado entre o grupo gestor,
que entende que a sustentabilidade deve ser levantada pela comunidade local.
Porém, sabemos como é difícil o desafio de se institucionalizar, inserir em
editais e captar investimento. A institucionalização, em um primeiro momento,
traria uma sobrecarga administrativa, podendo nos desvirtuar de nosso
objetivo. Por esse motivo, as ações vêm sendo travadas por meio de parcerias
com instituições que cedem seu CNPJ, permitindo assim que recebamos
investimentos sem comprometer nossa autonomia. Posteriormente, após
consolidarmos nossa base orgânica de atuação, essa questão virá à tona e
será trabalhada incisivamente, principalmente focando e enfatizando aquilo que
queremos ser. Construir um debate é essencial, pois a forma de organização e
formalização traduz a imagem que o grupo quer ou não ser visto65.
65
Em um primeiro debate, o grupo excluiu a possibilidade ser uma ONG. Cogitando se
organizar como uma Associação de Moradores e Amigos da Mata Atlântica e futuramente em
uma Cooperativa de Pesquisadores.
72
ADENDO I: CRONOGRAMA DETALHADO
73
ADENDO II: ORÇAMENTO DETALHADO
74
Cartazes A4 1000 Cartazes 90,00 R$ 90,00
Calendário (60x20) 500 Calendário 180,00 R$ 180,00
Fotolito 1 filme 80,00 R$ 80,00
Fotocópias 1000 Xérox 0,15 R$ 150,00
Fotocópia colorida 50 Xérox color 1,00 R$ 50,00
Transporte (gasolina) 300 Litros 2,69 R$ 807,00
Transporte (ônibus Rio- 30 passagens 26,00 R$ 780,00
Aldeia Velha)
Alimentação 222 refeições 6,00 R$ 1.332,00
TOTAL R$ 17.160,13
3 Recursos Físicos
Ilha de Edição 90 horas 10,00 R$ 900,00
Hospedagem 2 mês 250,00 R$ 500,00
TOTAL R$ 1.400,00
4 Outros
Luz 3 meses 50,00 R$ 150,00
Telefone 3 Meses 60,00 R$ 180,00
Internet 3 meses 39,00 R$ 117,00
Correios vários 100,00 R$ 100,00
TOTAL R$ 547,00
Total: R$ 29.947,13
Nome:
Nome dos pais:
Data de nascimento:
Onde Nasceu:
Escolaridade:
Religião:
Quanto tempo vive em Aldeia?
Você sabe a história de Aldeia?
Por tem esse nome?
Como era antes?
O que mudou?
Algum fato que marcou a história?
Quais histórias você se lembra?
Onde se trabalhava?
Quais eram os costumes?
Havia festas e não há mais?
Como se reuniam?
Musica tradicional?
Dança?
Reza?
A mata?
As árvores?
O rio?
Os pássaros?
Os bichos?
Caçava-se? Como era?
Existia algum bicho, peixe, árvore que não se encontra mais?
As Lendas? Existem lobisomens, saci, mula sem cabeça?
Alguma história curiosa?
75
Doenças comuns?
Como se curou?
Usa plantas medicinais? Quais?
Sabe algum preparo?
Fazia roça?
Planta? O que?
Comida típica? Sabe algum preparo? O que gosta de comer?
O que mais gosta de Aldeia? O que tem de mais ‘rico’ em Aldeia?
O que menos gosta? O que falta em Aldeia?
O que faz para viver?
O que gosta de fazer?
O fazia e não faz mais?
O que produz? Especialidade
Gostaria de ensinar?
O que tem interesse de aprender?
Sabe ler?
Gosta de teatro, cinema, musica, circo?
76
ADENDO IV: FICHAS DE CADASTROS
Produtores
Nome Completo:___________________________________
Apelido: ________________________
Data de nascimento: ____/ ____/ _____
O que produz?
_____________________________________________________
Com quem aprendeu? Como se faz?
_____________________________________________________
Que material e equipamento utiliza? Quanto Custa fazer?
_____________________________________________________
De quanto e quanto tempo se produz? Qual quantidade?
_____________________________________________________
Para quem vende?
_____________________________________________________
Endereço/contato/referencia:
_____________________________________________________
Dia 26 de novembro terá a Mostra Cultural de Aldeia Velha.
Gostaria de expor seus produtos?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
Gostaria de ensinar a fazer algum produto?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
O que gostaria de aprender?
_____________________________________________________
Fazendas e Estabelecimentos
Nome do
Estabelecimento/Fazendas:________________________________
Responsável:___________________________________________
Data de fundação: ____/ ____/ ____
Descrição:
O que se produz? De quanto e quanto tempo? Qual quantidade?
_____________________________________________________
Que serviço oferece? Quanto Custa?
_____________________________________________________
Principais clientes/visitantes?
_____________________________________________________
Dia 26 de novembro terá a Mostra Cultural de Aldeia Velha.
Gostaria de expor seus produtos/serviços?
Sim ( )
Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
Gostaria de abrir para visitação?
Sim ( )Não ( )
Por que?
_____________________________________________________
O que gostaria de aprender?
___________________________________________________________________
77
ADENDO V: LEVANTAMENTO
Comércio:
Construmak
Responsáveis: Dersilio e Vanilda Shumater
Existe desde 2005
Vende-se materiais de construção
Padaria
Açougue do Zenica,
Responsável: Joseny
Existe desde 1998
Vende carne de boi da região e mel colhido em Aldeia.
Arte D’Aldeia
Responsável: Lurrielle (Lury)
Fundado em janeiro de 2003
Artesanatos dos produtores locais
Serviço:
Cabeleireiro
Responsável: Murilo Cardoso
Faz escova, hidratação, balaiagem, penteado, maquiagem e depilação. Atende, principalmente,
clientes que vem de fora.
Mecânica Tiringuinço
Bares e Restaurantes:
Bar do Jobim
Responsáveis: Inésio Salvantes (Jobim) e Araci Macedo
Existe desde 1986
Especialidades: bolinho de aipim, cachaça de barril, torresmo, peixe frito e PF.
Bar Barroco
Responsável: Maquinhos
Reabriu em novembro de 2006
78
Além de um bom Rock’n Roll, é o ponto de encontro dos jovens locais, que costumam se reunir
para um churrasco (seja de um boi morto ou de rãs catadas na beira do rio). Encontra-se
também as famosas luminárias do artesão Tiago Victer.
Bar do Calango
Bar Paraíso
Responsável: Jorge “Gordo”
Dally doces
Responsáveis: Moisés e Dalila
Existe desde 1984
Vende-se bolinho de aipim, bolo Manuê (aipim) e deliciosos sorvetes.
Pensão da Cotinha
Existe desde 1986
Responsáveis: Fernando e Cristiane
Com o tradicional PF e pratos a combinar.
Açaí Peça aí
Responsável: Ivane Neto
Fundado em outubro de 2006
Vende açaí completo
Hospedagem:
Pousada D’Aldeia
Responsável: Alexandre
Quartos, suítes e chalés a beira rio.
Tel:(22)26682694
Camping do Surucucu
Tel:26682671
79
Produtores:
Agricultores e Produtores
80
Com quem aprendeu: Aprendeu com os pais na Lavoura
Contato: Sítio Vencedor
Nome: Valdir
Produz: leite
Contato: próximo a venda Paraíso
Nome:Sirley
Produz: mel
Contato: Bar Montanhas D’Aldeia
81
Contato: Rua Projetada S/N
Banda/Musico/compositor
Banda Brejo
Contato: Eros 22- 26682777
Filhos D’Aldeia
Fernando Otz (compositor)
Serginho Vitamina (sanfoneiro)
Contato: Fernando- 22 82995323 ou 22-26682642
82
Poeta/Escritor
Lena Schuler
Contato: ao lado da igreja evangélica
Produtor Cultural
Jailton
Aldeia Rock Festival, festival de bandas de rock’n roll que acontece durante a Semana
Santa.
Contato: Barroco ou www.aldeiavelha.hpg.ig.com.br
Eros
Festa do Cavalo, competição promovido pela Pousada D’Aldeia. Acontece no mês de
dezembro. E cavalgadas, que acontecem de 2 em 2 meses, atrai muitas pessoas de fora.
Zeca
Bailes e festas
Cozinheiras
83
Nome: Zene Rodrigues Gomes
Data de Nascimento: 13/08/63
Produz: Queijo, bolinho de aipim, bolo Emanuê (trigo), pão
Com quem aprendeu: várias pessoas
Contato: Próximo à venda Paraíso (22)82485857
Costureiras
Nome: Jacira
Produz: roupas, colcha de retalho entre outros
Contato: Bar do Sirley
Segunda a Sexta
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
6:00 6:30
9:30 10:00
12:00 12:30
15:00 15:30
17:30 18:00
Sábado
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
7:00 7:30
12:00 12:30
17:30 18:00
Domingo
Saindo de Casimiro Saindo de Aldeia
12:00 12:30
17:30 18:00
84
ADENDO VI: MODELO DE CARTA PARA SOLICITAÇÃO DE APOIO
Aldeia Cultural consiste em um plano de ações em cultura que terá como objetivo mapear a região e
mobilizar os principais agentes socioculturais da comunidade de Aldeia Velha. O projeto, através do
intercambio cultural, diálogo entre conhecimento tradicional e conhecimento técnico-científico, atenderá
a população local, que junto construirá as ações do projeto. O principal enfoque é o desenvolvimento de
uma política voltada à geração de renda através de atividades menos prejudiciais ao meio ambiente,
buscando, assim, o equilíbrio entre comunidade e território. Para isso trabalharemos nossas ações com
base em princípios que objetivam a melhora da qualidade de vida, o bem estar dos moradores e o
equilíbrio ambiental. A primeira etapa consiste em um Mapeamento Cultural, para identificação dos
potenciais da comunidade e suas histórias. A partir deste contato será criada uma rede organizada dos
produtores locais, com o intuito de gerar alternativas de sustentabilidade e desenvolvimento sócio-
econômico. Além disso, realizaremos um vídeo documentário da cidade e uma Mostra Cultural que
reunirá toda produção local, possibilitando através de oficinas e palestras, a troca de conhecimento, a
manutenção de atividades e a criação de multiplicadores que venham suprir boa parte de suas
demandas, preservando as riquezas naturais e histórico-culturais de Aldeia Velha. O projeto também
tem como meta organizar roda de conversas periódicas, com convidados, que são um dos instrumentos
para mobilização, conscientização, que cria discussão, revela líderes e envolve comunidade, tendo em
vista, no futuro, a transformação da região em um pólo ecoturístico.
METAS:
Venho, através desta, solicitar a Verde Cidadania uma parceira com o projeto Aldeia Cultural,
disponibilizando:
Como parceira do projeto “Aldeia Cultural”, a Verde Cidadania terá como retorno:
A logomarca do Parceiro estará em todo material de divulgação a ser confeccionado pelo projeto Aldeia
Cultural.
Visibilidade da marca no calendário 2007 de parede da Rede.
Divulgação nos créditos filme documentário que será exibido em território nacional.
Divulgação do parceiro na mostra cultural
Possibilidade da marca ser veiculada na mídia espontânea.
Além disso, a iniciativa de utilizar o marketing cultural traz à empresa uma imagem positiva,
que se apresenta socialmente responsável, promovendo a diversidade cultural e o desenvolvimento local
da cidade de aldeia Velha. O investimento em cultura também qualifica as ações de comunicação da
empresa com o mercado e a sociedade.
Atenciosamente,
Julia Grillo Botafogo
Produção: (21)96560031
juliaotafogo@yahoo.com.br
85
ADENDO VII: “ALDEIA VELHA E SUAS RAÍZES”
86
Modelo de direito de uso de imagem e som
Nome RG Assinatura
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
_____________________ __________________ ______________________
87
ADENDO VIII: MATERIAL GRÁFICO
Convite
Cartaz
88
Calendário
Foram confecciona
preto
O material gráfico acima foi feito na gráfica da UFF com apoio da PROEX.
89
Outros Cartazes:
90
Atenção moradores e amigos de Aldeia Velha !!!
“Aldeia Cultural”
Atividades:
20 a 31 de Outubro – Reuniões históricas, levantamentos de
dados relativos à cultura local, entrevistas com os moradores.
02 a 05 de Novembro – Filmagem do vídeodocumentário
8 e 9 de Dezembro – Mostra Cultural (exposição histórica
fotográfica, cinema, oficinas dadas pelos produtores locais, feira de
trocas, teatro, circo e shows).
20 de Janeiro – roda de conversa.
Agradecemos o apoio:
POUSADAD’ALDEIA
POUSADA BEIRA-RIO
BIOMA
UNIVERSIDADE
FEDERAL FLUMINENSE
BOMPREÇO BAZAR
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE DE SILVA JARDIM
91
Mês de Outubro e Novembro vai acontecer o projeto de extensão
Aldeia Cultural na pequena Aldeia Velha – Silva Jardim/RJ
Mapeamento Cultural
Construção de Rede de produtores
Documentário
Mostra Cultural
92
BIBLIOGRAFIA
BARROS, Myriam Moraes Lins de. “Memória e Família”. In: Estudos Históricos,
2 (3). Rio de Janeiro, 1989.
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida. Uma nova concepção científica dos sistemas
vivos. Tradução: Newton Roberval Eichemberg. SP: Ed. Cultrix, 1996.
DIAS, Leila Christina. “Os sentidos da Rede: Notas para discussão”. In: Redes:
Sociedades e Territórios. Org: DIAS, Leila Christina e SILVEIRA, Rogério
Leandro Lima da Silveira. Forianópolis, 2005.
93
DIEGUES, Antonio Carlos e ARRUDA, Rinaildo S.V (org). Saberes Tradicionais
e Biodiversidade no Brasil. (Biodiversidade 4). Brasília: Ministério do Meio
Ambiente; São Paulo: USP, 2001. 176 p.
94
LOVISOLO, Hugo. “Memória e Formação dos Homens”. In: Estudos Históricos,
2 (3). Rio de Janeiro, 1989.
RUBIM, Antonio Albino Canelas; Rubim, Iuri Oliveira e Vieira, Mariella Pitombo. Atores Sociais, R
Convênio Andrés Bello e Universidade Federal da Bahia, 2004.
95
ANEXO I: PESQUISA HISTÓRICA DE ALDEIA VELHA66
Contam os mais velhos como Seu Jair, que Seu Delson contava que
artefatos indígenas haviam sido encontrados por ele. Segundo o Miudinho,
eram machadinhas amoladas e pontas lascadas que ele mesmo em sua
meninice nas beiras d´agua perto da casa de Seu Jorge, havia também
descoberto.
Livros contam que houve nesse vale do rio Aldeia Velha, um importante
aldeamento indígena. Honoraih, grande difusor dos conhecimentos sobre esse
passado indígena, contou que essa aldeia se chamava Sacra Família de Ipuca.
Nela, índios Guarulhos eram catequizados por padres, tendo ocupado também
outros aldeamentos da região norte do estado.
Ipuca seria, em tupi, água podre, ou seja, os alagadiços característicos
dessa região. Pestes espalharam os índios pelos sertões de Bananeiras, Toca
da Onça, Tenah... Quando os europeus chegaram encontraram ainda alguns
moradores e o nome Aldeia Velha se consolidou. Existem três livros contando
essa história, só que cada um tem uma versão diferente, só os documentos
poderão solucionar essas questões.
A maioria dos atuais moradores de Aldeia Velha são descendentes de
famílias alemãs, suíças, portuguesas, negras e também dos antigos moradores
neobrasileiros67 que permaceram das primeiras ocupações.
Os imigrantes que chegaram pela serra trouxeram muitos usos e
costumes e construíram moinhos, engenhos e fazendas. Dessa época antiga
ficaram histórias sobre a Mãe do Ouro, assombrações e causos como do dia
em que a Dona Sinhá foi visitar a irmã Dona Inaiá, da guerra dos ciganos, do
primeiro caminhão que entrou em Aldeia...
Dessa época as poucas casas que ficaram não estão seguras. Como a
antiga padaria que foi recentemente derrubada, casas como a pensão de Dona
66
Este texto foi escrito para o evento Aldeia Cultural e exposto nos dias 8 e 9 em Aldeia Velha.
A autoria do texto é de Tainá Mie Seto Soares graduada em história pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Escola da Mata Atlântica. Os principais informantes
locais foram: Aliandro Oliveira, Marcos Tostes e Honorair Schuller.
67
Neobrasileiros – nome que se dá aos moradores do período colonial, descendentes da
miscigenação entre índios, europeus e negros e que formaram a população rural do Brasil.
96
Cotinha, o casario velho, o antigo Barroco que já foi o Correio e a casa da
Dona Sinhá e hoje é uma loja de material de construções, não são protegidos
por nenhuma lei do patrimônio histórico e artístico ou pelo menos que algum
morador tenha conhecimento.
Uma antiga festa que também deixou saudade foi a Grande Festa da
Padroeira Sant´anna. Essa era principal comemoração da cidade, em que os
moradores das roças desciam e todos se encontravam. Com a luz elétrica e as
barracas de bebidas, a festa se descaracterizou e se inviabilizou. Mas as
antigas festas eram bonitas, com palmeiras de palmito Jussara (Euterpe edulis)
enfeitando a rua, bandeirinhas e barracas de bambu e folha de Pindoba.
Os bailes eram em casas de famílias, com apenas um sanfoneiro e os
assoalhos de madeira faziam o sapateado ficar mais vistoso. Eram tocadas
valsas, xotes e a esperada quadrilha, que fechava a festa. O café era servido
com broas de milho e todos dançavam com todos, pais, filhos, tios e vizinhos.
Pessoas de diferentes idades também dançavam e os pares iam se trocando e
os namoros se formando.
68
Etnoconhecimento – Forma de conhecimento que valoriza os saberes da população local
como forma de interpretar o mundo.
97
armazéns do Seu Mario Manduca e do Seu Onório Valadão eram pontos de
encontro, assim como as igrejas, que ficavam cheias de fiéis.
São os moradores da Aldeia que fazem com que ela seja o que é. E
suas matas, rios e cachoeiras fazem parte da família. Muitas pessoas contam
que o rio Aldeia Velha e o rio Quartéis, nome dado pela presença de
acampamentos militares, eram rios com mais água. Quem sabe se as histórias
que Seu Delson contava das canoas, não são mesmo verdade? Hoje, o curso
dos rios é definido por retroescavadeiras e o plantio da mata ciliar 69 já virou
outra lenda local.
Tem os plantadores de árvores também: Seu Zé, que com sua incrível
força de trabalhar diz: - “Quem planta, colhe.” E ele colhe mesmo as frutas das
várias árvores frutíferas que produz. Argeu, que além de medicinal, espalha
sementes, mudas e conhecimento pela Aldeia. É NATUREZA !!! Tem o
69
Mata ciliar – nome que se dá à mata que fica na beira dos rios e córregos e que possui
importante papel no controle da erosão dos rios e propagação da biodiversidade.
98
Lequinho que sempre vai conversar com seu pé de Ipê Branco, ao lado da
igreja, afinal as plantas também precisam de atenção e carinho. Tem o Neilton,
irmão do Bambu, que produz muitas mudas de Ipê de várias cores, e o Thiago
Bambu que, além de conhecido artesão, também planta os Ipês do Neilton na
beira dos rios. Seu Manoel também produz e cuida de muitas mudas, inclusive
tirando fotos de seu Ipê rosa que retrata a cada florada. Tem também Seu
Olívio Osório, que antes de partir doou um terreno para se fazer uma praça pra
vila e também plantou as árvores da entrada da Aldeia. E por fim, o Tião, que
há um tempão, traz sementes e mudas pra Aldeia, iniciando um importante
trabalho de conscientização ambiental. Trabalho também que Luis Nelson
desenvolve na sua reserva e que Seu Delson é um símbolo, por ter conservado
a matinha em volta de sua casa. Tem as crianças da escola que fizeram uma
linda gincana no dia da árvore e trouxeram muitas mudas para o viveiro
agroflorestal da escola e além desses tem todos os plantadores que plantam
em seus jardins, quintais e hortas. Afinal, Aldeia é uma vila de plantadores!
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ANEXO II: MAPAS ÊMICOS
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ANEXO III: PLANTA ALDEIA CULTURAL
Estas plantas incluindo o mapa de luz foram desenhados por Ludmilla Rolim, graduada em
cenografia e iluminação pela UNIRIO.
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ANEXO IV: CARTA DE APOIO AO EVENTO
Prezados Senhores
Cumprimentando-os, venho por meio desta informar que tendo tomado conhecimento
do conteúdo do projeto Aldeia Cultural, a ser desenvolvido na localidade de Aldeia Velha, 2º
Distrito deste Município, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Silva Jardim não se
furtará em apoiá-lo, pois o mesmo é de suma importância para o resgate e preservação da
cultura local e possui um viés sócio ambiental que é fundamental para exercermos a cidadania
ambiental nesta região.
Atenciosamente,
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ANEXO V: 1° PROJETO ESCOLA DA MATA ATLÂNTICA
Resumo
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Extensão Rural e Assistência Técnica do Ministério do Desenvolvimento
Rural e em entidades não-governamentais compatíveis com a proposta do
projeto. Os assentados da reforma agrária do entorno também fazem parte do
público alvo, que terá nos moradores os principais difusores de conhecimento
e os agentes técnicos como auxiliares. O projeto envolve democratização do
conhecimento, geração de empregos e renda qualificada no campo e
recuperação de áreas degradadas.
Introdução
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pesquisas do meio ambiente, manejo tradicional, técnicas alternativas de
produção sem agrotóxico, educação ambiental e ecoalfabetização.
Concorreu para a realização do projeto, a constatação de que já existe a
Escola Municipal Vila Silva Jardim, que está desativada por problemas
estruturais, aguardando obras. O terreno ao redor da escola é ótimo para a
instalação de hortas agroecológicas, que são o foco principal do projeto. A
transição agroecológica proposta pelo Ministério de Desenvolvimento
Agrário prevê que nos próximos anos a diretriz governamental para a
agricultura familiar se torne de matriz agroecológica, já que os níveis de
poluição no campo e de uso de agrotóxicos nas grandes lavouras colocam em
risco pequenas comunidades e até ecossistemas inteiros.
Entretanto, para que técnicas agroecológicas de combate de pragas,
através de consórcio de espécies, sejam desenvolvidas com melhores
resultados, os pequenos agricultores devem ser a peça chave desse processo.
Por isso, os cursos da Escola Mata Atlântica têm como principal objetivo a
formação de agricultores permacultores e agroflorestais, buscando aumentar a
renda com implementação de viveiros florestais e produtos artesanais e
orgânicos em suas propriedades, tendo em vista o progressivo aumento do
mercado consumidor de produtos saudáveis.
Viabilidade
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Contamos, no começo do projeto, com nossa infraestrutura particular,
mutirões comunitários e atividades sem gastos financeiros. Após a
consolidação das primeiras atividades podemos nos cadastrar no programa
nacional do Ministério do Meio Ambiente de apoio às iniciativas de
transição agroecológica em comunidades tradicionais e áreas de
proteção ambiental e ATER. Esse programa, voltado para a transformação de
agricultores familiares convencionais em agroecológicos, já apóia projetos
similares na região serrana de Petrópolis e Teresópolis. Posteriormente,
podemos buscar apoio do MEC e Secretarias de Educação municipais e
estaduais em fundos de educação extensiva e profissionalizante.
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feitos pelos alunos podem ser adquiridos na escola ou em outros postos de
exposição, sendo que será dada ênfase para o sistema de feira de trocas entre
produtores, não excluindo, porém, a forma monetária.
A escola tende a ser auto-sustentável, já que irá contar com projetos
de áreas modelo de hortas orgânicas de valor agregado (pimentas, cactos
ornamentais, orquídeas, viveiros florestais e cursos em outras regiões). É
importante ressaltar que todos os cursos serão gratuitos, da implantação
ao término do projeto, se este ocorrer. Acreditamos que apenas a
democratização do conhecimento é capaz de tornar o planeta sustentável
ambientalmente além do espaço ser público e os estudantes serem também de
universidades públicas. O que propomos é repassar esses conhecimentos
acumulados durante todos esses anos de vida acadêmica de forma a quebrar o
ciclo vicioso de educação superior separada do ensino de extensão que
favoreça a comunidade.
Os professores no início serão pagos com a produção particular de cada
aluno no sistema de feira de trocas, ou seja, se um aluno tem uma horta onde
produz alface, é justo que traga ao seu professor um numero x de alfaces por
dia que este poderá trocar ou doar se quiser a outrem, ajudando assim na
substituição de suas horas de trabalho por horas aula. Após a fase inicial pode-
se buscar patrocínio para pagar os professores, já que acreditamos que os
professores devam ser remunerados e não voluntários. O conceito de
voluntariado emana de uma visão paternalista em que o cidadão bem
remunerado doa para o mal remunerado, horas/trabalho de seu tempo livre. Na
verdade entendemos que os profissionais sejam eles acadêmicos ou
moradores devam ter seu trabalho reconhecido através de uma remuneração
capaz de colaborar para o sustento de suas famílias.
Caso existam cursos que necessitem de matérias básicos, poderão ser
organizadas atividades recreativas, almoços ou festas com o intuito de
arrecadar fundos para tais atividades, bem como no caso de visitas a outras
comunidades. Nosso grupo não tem fins lucrativos e busca a troca entre
conhecimentos acadêmicos e tradicionais, capazes de aperfeiçoar ambos
os lados, no processo de construção de um mundo mais digno, produtivo e
menos ignorante e poluído.
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Os cursos serão realizados principalmente durante os fins de semana,
durante meio período, para que os participantes, sejam moradores ou não e
educadores ou alunos possam participar dos cursos sem prejudicar seus
estudos ou trabalho. Porém, caso haja disponibilidade de ambos, cursos
durante a semana também podem ser administrados, dentro ou fora da escola.
Público-Alvo
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Metodologia
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Integrantes e Amigos:
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exposições. Desenvolve projetos de arte educação e ecologia com a visão
integralizadora. Como atriz investiga o sagrado e a ritualização, bem como
utiliza a linguagem do palhaço para diversas atuações e intervensões.
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CRÉDITOS FINAIS:
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Pesquisa Histórica: Material Gráfico Técnico de Som
Carolina Landeiras Julia Botafogo Bruno Fochi
Julia Botafogo Lequinho knupp Edição e Finalização
Tainá Mie Soares Bruno Fochi
VÍDEO “ALDEIA Michael Lennertz,
Informantes: VELHA E SUAS Finalização Som
Aliandro Oliveira RAÍZES”: Bruno Fochi
Chico Pombo Trilha Original
Honorair Schuler Direção: Bruno Fochi
Leco Julia Botafogo Eduardo Couto
Marquinhos Tostes Produção Trilha Sonora
Sandro (Leco) Executiva: Filhos D”Aldeia
Sirley Julia Botafogo Alimentação:
Zeca Tostes Produção: Eliza
e moradores de Carolina Landeiras Paloma Sol Hertz
Aldeia Velha Luiza Brettas Pousada Beira Rio
Tainá Mie Soares Vídeo “Aldeia
Levantamento Câmera: Cultural”:
Cultural: André Sicuro Bruno Fochi
Argeu Peclat Bruno Diel Lucas Quintana
Julia Botafogo Gil Facchini Julia Botafogo
Julia Botafogo Autoração DVD:
Fotos: Luiza Cilente Bruno Fochi
Tainá Del Negri Pedro Sodré Designer DVD
Bárbara Vila Verde Pedro Noel Julia Botafogo
André Sicuro Imagens de Apoio Projeção:
Gil Fachinni Argeu Bruno Fochi
Julia Botafogo Lequinho Revisão Final:
Luiza Cilente Marcelinho José Luiz Mattos
Marcus Paulo Pinóquio
Paloma Sol Hertz Sandro
Pedro Noel Still
Bárbara Vila Verde
Tainá Del Negri
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ESCOLA DA MATA ATLÂNTICA – EMA
Contato:
juliabotafogo@gmail.com
escoladamataatlantica@gmail.com
21-81244711/ 24-22211451
Est.Caititu 447-A Correas Petrópolis Cep:25720-020