Ensino em Vale de Cambra
Ensino em Vale de Cambra
Ensino em Vale de Cambra
Cambra
(Século XX)
Introdução
Ao elaborar este pequeno trabalho sobre o Ensino em Vale de Cambra, tive a
preocupação de, para além das referências e notas relativas ao município, contextualizar
o mesmo no período da Primeira República até ao final do século XX, informando dos
valores e princípios dominantes, das ideologias presentes.
Tive a preocupação de referir-me à figura do “Regente Escolar”, como alternativa ao
professor diplomado, quer no tempo da Primeira República quer no período do Estado
Novo
Os primeiros professores, as primeiras escolas, o surgimento do ensino liceal, a
escola comercial e industrial e a Escola Secundária,tinham que ser obrigatoriamente
mencionadas.
As principais fontes de informação foram os Jornais Locais, o Arquivo Histórico da
Câmara Municipal, o Arquivo da Escola Primária de Macieira de Cambra, um trabalho
do Prof. Adelino Augusto de Almeida e um outro de Maria Clara P. V. Marques.
Utilizei também as entrevistas efectuadas a alguns valecambrenses.
Sobre o espólio fotográfico, servi-me de três fotos publicados por na obra Portugal
do século XX, as restantes do espólio da Câmara Municipal e ainda de arquivos
pessoais.
Trocam-se alguns paralelos com o ensino de ontem e o de hoje.
Propositadamente, não se faz qualquer referência à Escola Apostólica de Macieira de
Cambra, que funcionou entre os anos de 1935 a 1958, porque entendemos que este deve
ser objecto de um estudo particular.
Concluiu-se este trabalho com alguns princípios que deveriam nofrtear a educação
das nossas crianças.
Marquês de Pombal (1882), as quais foram objecto de grande agitação política (Sousa,
J. M. (2000).
Acusada de servir a Inglaterra, a monarquia começava a ser vista como responsável
pela decadência militar e financeira do País. Um dos momentos mais sérios da agitação
política foi, sem dúvida, a Revolução de 31 de Janeiro, no Porto, em 1891, onde se
chegou mesmo a hastear uma bandeira republicana no edifício da Câmara Municipal
(Sousa, J. M. (2000).
A partir de 1902, o Partido Republicano, ajudado pela Maçonaria, recebeu um novo
alento com a adesão dum antigo ministro da monarquia, Bernardino Machado, que se
tornou num dos seus líderes. Entretanto, o aparecimento dum novo partido, o Partido
Regenerador Liberal, também conhecido como Franquista - de João Franco - e a luta
acérrima entre estes Regeneradores e os chamados Progressistas criavam obstruções
constantes à governação. O rei D. Carlos propôs, então, a João Franco a dissolução do
Parlamento e a constituição dum governo de ditadura a que este acedeu. Isso foi o
suficiente para se gerar uma conspiração de raíz republicana para o afastar do poder.
Com o regicídio e a morte do príncipe herdeiro, a 1 de Fevereiro de 1908, subiu ao
trono o irmão deste último, D. Manuel, tendo o Conselho de Estado decidido afastar
João Franco do governo e criar um outro em que tivessem assento todos os partidos que
apoiassem a monarquia – o governo de Ferreira do Amaral (Sousa, J. M. (2000).
No entanto, as eleições para deputados que tiveram lugar a 5 de Abril de 1908 deram
a maioria, na capital, ao partido republicano. O mesmo aconteceu para as eleições
municipais em Lisboa. Os conflitos no seio do governo e entre este e o parlamento
tornavam a situação insustentável. Em Agosto de 1910, o partido republicano voltou a
ganhar, mas desta feita, em Lisboa e no Porto. Preparava-se já uma revolução para o dia
4 de Outubro na capital, quando, um dia antes, foi assassinado Miguel Bombarda, um
dos chefes republicanos. Nessa mesma manhã, o Palácio das Necessidades começou a
ser bombardeado, tendo o rei conseguido se retirar para Mafra. A 5 de Outubro, tanto as
tropas governamentais como a guarda municipal renderam-se e foi proclamada, da
varanda da Câmara Municipal, a República Portuguesa.
Com a família real a caminho do exílio, constituiu-se um governo provisório, até à
aprovação da nova Constituição política.
Com base essencialmente na Constituição da República Brasileira de 1891 e as
Constituições Portuguesas de 1822 e 1838, o novo texto legislativo da Constituição de
1911 deu uma grande incidência aos direitos e garantias individuais. A soberania da
Nação exercia-se através dos três poderes tradicionais: o executivo, o legislativo e o
judicial. Era, no entanto, dado um maior relevo ao poder legislativo que o Congresso da
República detinha, subdividido em duas Câmaras: a dos Deputados e o Senado.
Assistia-se assim ao triunfo do parlamentarismo em Portugal, com o Congresso a
escolher o Presidente da República e a se pronunciar sobre as políticas ministeriais. O
primeiro Presidente da República eleito foi Manuel de Arriaga, candidato das facções
mais conservadoras da assembleia (Sousa, J. M. (2000).
Refira-se, a título de curiosidade, que em Macieira de Cambra, na altura sede do
concelho, em Outubro de 1910, tomou posse uma nova Comissão Municipal.
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- Efectivos:
«Presidente, António Tavares Coutinho;
Vogaes, Manuel de Almeida Pinheiro, Manoel Fylidio d’ Almeida Relvas, Francisco
José da Costa e Francisco José Paes.»
- Substitutos
«Padre Thomaz Corrêa do Amaral, Manuel Joaquim da Costa, José Augusto
Ferreira, Manoel Soares Formoso e Francisco Tavares Vieira Ramos.
As sessões da Câmara continuam a efetuar-se às Quintas-feiras, ao meio dia.
Ficou com a administração do concelho o sr. António Tavares Coutinho» (Jornal de
Cambra, 143, Nova Câmara, 16 Outubro, 1910).
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Uma das primeiras medidas, tomada pelo novo Governoda República, foi a
separação entre a Igreja e o Estado . Mais tarde consagrada pela “Lei de Separação”, de
20 de Abril de 1911 (Sousa, J. M. (2000). A laicização total da sociedade passou por um
combate permanente contra a influência da igreja católica sobre a nação portuguesa.
Todas as casas de ordens religiosas foram fechadas e, uma vez mais, a Companhia de
Jesus foi expulsa. O ensino da religião católica foi suprimido das escolas; o registo civil
passou a ser obrigatório e o divórcio foi legislado. De acordo com a Lei da Separação, o
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1
- Vieira, Joaquim (1999).
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O professor surgia assim, neste tempo, como alguém cujo comportamento se devia
pautar pela moralidade republicana. E essa moralidade assentava nos seguintes
princípios fundamentais:
Este professor aparecia assim como o professor de uma “Nova Escola”pois a análise
do discurso pedagógico desta Reforma revelou-se, em muitas passagens, semelhanças
notórias com o prescrito nos trinta princípios da Carta da Educação Nova. Quando, no
capítulo III, “da orientação do ensino", o artigo 12.º refere que:
«todo o ensino primário deve ser essencialmente pratico, utilitário e quanto possível
intuitivo...» como o princípio nº. 6 quando, referindo-se aos trabalhos manuais,
menciona a sua “utilidade prática e educativa".
O ensino primário passou a ter um curso de quatro anos, comum aos dois sexos, veio
acentuar esse carácter mais prático, com disciplinas como Legislação, e especialmente a
escolar, Economia, Agricultura, Higiene geral, em especial higiene escolar, Desenho e
Modelação, Música e canto coral, Educação Física; generalidades de educação militar e
Conhecimentos gerais acerca do comércio e indústria; «contabilidade commercial,
industrial e agrícola.»
Para além disso, o sexo feminino contaria com «Jardinagem e horticultura,
Trabalhos manuais e economia doméstica, Frequência de uma maternidade nos últimos
meses do curso e Aulas de habilitação para a regência das escolas infantis para as
professoras que se destinassem a estas escolas.»
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«Sessão do 10 do corrente
Presidência do sr. António Tavares Coutinho.
Assistiram os cidadãos Manoel d’ Almeida Pinheiro, Francisco José da Costa,
Francisco José Paes,Accacio de Jesus Cunha e Manoel Joaquim da Costa.
Foi apresentado um ofício do sub-inspector escolar participando à Câmara a
criação para este concelho , de duas escolas primárias : uma para o sexo masculino, na
Gandra de Vila Chã, a outra, para o feminino, em Sandiães de Rôge» (Jornal de
Cambra, 147, 13 Novembro , 1910).
Nesta mesma altura foram dados novas designações à avenida do Calvário, al largo
em frente ao edifício da Câmara e ao largo da Feira.
A imprensa local, noticiava o facto:
«Resoluções camararias
A Cãmara municipal deste concelho na sua última, e por proposta do sr. Presidente,
resolveu dar o nome de Praça da República ao Largo Municipal; Avenida Bombarda à
Avenida do Calvário; Largo Cândido dos Reis ao Largo da Feira dos Nove…» (Jornal
de Cambra, 144, 23 Outubro, 1910).
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(...) «Lutando pelo ideal do partido democrático, fá-lo-emos com a sinceridade com
que o abraçamos, sim, mas sem hostilizarmos os que seguem outra orientação (...)»
Por razões diversas, este regime veio a sucumbir perante a revolução militar de “28
de Maio de 1926”, a que se seguiu um regime de ditadura militar, até 1933.
Uma das suas principais características foi a constante instabilidade, com constantes
tentativas de derrube do regime, que se reflectiu, negativamente, no desenvolvimento
económico e cultural do País.
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Vieira, Joaquim (1999). Portugal Século XX - Crónica em Imagens
1920-1930.
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A ela deveriam pertencer, obrigatoriamente, os jovens dos sete aos catorze anos. Os
seus membros encontravam-se divididos por quatro escalões etários: os luzitas (dos 7
aos 10 anos), os infantes (dos 10 aos 14 anos), os vanguardistas (dos 14 aos 17 anos) e
os cadetes (dos 17 aos 25 anos).
Através do Decreto-Lei n.º 28262, de 8 de Dezembro de 1937, foi criada a Mocidade
Portuguesa Feminina (MPF).
De acordo com o texto deste diploma, esta organização «cultivará nas filiadas a
previdência, o trabalho colectivo, o gosto da vida doméstica e as várias formas do
espírito social próprias do sexo, orientando para o cabal desempenho da missão da
mulher na família, no meio a que pertence e na vida do Estado.»
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Um discurso e uma prática anti comunistas, tanto na ordem interna como na externa
que leva o regime a combater o Comunismo e a aliar-se ao lado dos estados Unidos,
durante a “Guerra Fria”, juntando-se à NATO, em 1949.
O sistema educacional é controlado pelo regime (uma educação nacionalista e
ideológica) e centra-se na exaltação dos valores nacionais (o passado histórico, o grande
Império Colonial Português, a religião, a tradição, os costumes, o serviço à comunidade
e à Pátria, a solidariedade humana numa perspectiva cristã, o apego à terra...), no
ensinamento e difusão da ideologia estatal aos jovens.
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Doutos as boaa-
«Aqui dentro, prestai toda a atenção às lições, que dessa forma, vos parecerão fáceis
e agradáveis as matérias que ides estudar; e assim, tudo aprendereis sem grande
esforço.
Sobre o Estado Novo reproduz-se um pequeno excerto do livro da3ª classe de 1956:
dinheiro bastante para todas as despesas do Estado, e ainda para desenvolver a nossa
riqueza e levar benefícios a todas as terras, mesmo às mais humildes e distantes. Os
nossos campos foram mais bem cultivados e deram mais frutos. A nossa indústria
tornou-se próspera. Desenvolveu-se o comércio. Repararam-se as estradas existentes e
fizeram-se outras. Rearmou-se o exército. Restaurou-se a marinha de guerra e a
mercante. Melhoraram-se as instalações dos portos. Levou-se o telégrafo e o telefone a
muitas localidades. Reconstruíram-se e repararam-se edifícios públicos, templos,
castelos e outros monumentos que se encontravam em ruínas. Deu-se água potável, em
fontes de construção simples mas elegante, a muitas povoações que tinham dificuldade
em a obter. Nas principais cidades construíram-se grandes hospitais e até em muitas
outras povoações se têm fundado instituições de assistência aos pobres e doentes.
Construíram-se muitas escolas, e hão-de construir-se as que forem precisas para que
todas as crianças em idade escolar tenham onde educar-se e instruir-se.
Os patrões e operários entraram em boas relações, e passaram a estimar-se e
auxiliar-se uns aos outros, do que resultou maior riqueza e bem-estar(…) ».
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Vieira, Joaquim (1999
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rejeição (no segundo caso), visto que ele se orientava pela doutrina Social da Igreja, que
defendia uma solução económica de pequena iniciativa privada (para maior distribuição
de riqueza) e de maior protecção dos assalariados/trabalhadores do que aquela que
existia normalmente nos sistemas capitalistas de então.
Um projecto nacionalista e colonial que pretende manter à sombra da bandeira
portuguesa vastos territórios dispersos por vários continentes, "do Minho a Timor", mas
rejeitando a ideia da conquista de novos territórios (ao contrário do expansionismo do
Eixo) e que é mesmo vítima da política de conquista alheia (caso da Índia Portuguesa) e
no qual radica a manutenção de uma longa guerra colonial começada em 1961, uma das
causas do desgaste e queda do regime, para proteger os seus territórios ultramarinos.
O regime era extremamente cauteloso nas relações diplomáticas, principalmente
durante a década 30 e 40, que leva Salazar, por um lado, a assinar um pacto com a
vizinha Espanha franquista e anticomunista e, por outro, a hesitar longamente entre o
Eixo (compostos por ditaduras) e os Aliados (compostos por democracia se pela União
Soviética, um regime Comunista ) durante a Segunda Guerra Mundial.
Uma economia capitalista controlada e regulada por cartéis constituídos e
supervisionados pelo Governo, detentores de grandes privilégios, conservadores,
receosa da inovação e do desenvolvimento, que só admitirá a abertura da economia e a
entrada regulada de capitais estrangeiros numa fase tardia da história do regime, na
década de 50.
O regime era muito conservador, tentando controlar o processo de modernização do
País, pois Salazar temia que se esta não fosse controlada, iria destruir os valores
religiosos, culturais e rurais da Nação. Este medo de uma modernização segundo os
modelos capitalistas puros que imperavam no Mundo Ocidental contribuiu, depois da
Segunda Guerra Mundial, para o distanciamento progressivo de portugal em relação a
outros países ocidentais, principalmente nas áreas das ciências, da tecnologia e da
cultura.
O regime, devido sobretudo ao carácter conservador e algumas vezes arrogante de
Salazar, teimava e prevenia a sua evolução a par das tendências políticas mundiais,
optando por se isolar quando sujeito a pressões externas que exigiam a sua mudança, e
somente nos seus últimos anos, durante o período de Marcelo Caetano, experimentou
uma renovação "liberal" tentativa, logo fracassada pelo bloqueio da extrema-direita.
Uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos,
exceptuando aqueles controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais), e procurando
organizar os operários e os patrões de cada profissão em corporações, organizações
controladas pelo Estado que pretendiam conciliar harmoniosamente os interesses do
operariado e do patronato, prevenindo assim a luta de classes e a agitação social e
protegendo os interesses/unidade da Nação (objectivo principal do regime).
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4
- Vieira, Joaquim (1999
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Grande parte das escolas do Plano dos Centenários ainda está hoje em
funcionamento como escolas básicas do 1º ciclo. Na década de 1990, no entanto, muitas
delas foram desactivadas, por um lado devido à falta de alunos decorrente da
desertificação das regiões do interior e por outro no âmbito da política de concentração
dos alunos do 1º ciclo do ensino básico em escolas de maior dimensão e com melhores
condições. Algumas das escolas desactivadas foram convertidas para outros fins, sendo
transformadas em museus, restaurantes, estabelecimento hoteleiros e outros.
As escolas do Plano dos Centenários, com a sua arquitectura típica, acabaram por se
tornar numa imagem de marca de Portugal, existindo pelo menos um exemplar em
quase todas as povoações do país.
As escolas foram construídas, segundo o estilo arquitectónico conhecido como
"Português Suave”5 , incorporando características da arquitectura tradicional. Foram
estabelecidas tipologias base, que seriam adaptadas às condições locais, segundo o
número de alunos a receber e o clima da região. Normalmente, cada escola englobava
duas ou quatro salas de aula, uma cozinha, instalações sanitárias e um alpendre.
Os projectos, baseavam-se nos projectos-tipo regionalizados de escolas primárias,
aprovados pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais em 1935 e
elaborados pelos arquitectos Raúl Lino e Rogério de Azevedo. O primeiro arquitecto
projectou os edifícios destinados às regiões do Sul e o segundo às regiões do Norte. As
escolas seriam construídas em série, mas cada escola seria adaptada às características da
arquitectura local, tendo em conta os materiais aplicados e as condições climatéricas,de
certa forma enquadrar os edifícios no panorama arquitectónico do local onde se
encontravam; as escolas do sul eram caracterizadas pelos arcos e pelas paredes caiadas
5
- Conhece-se como Estilo Português Suave ao estilo arquitectónico utilizado em
edifícios públicos e privados portugueses, essencialmente durante a décadas de 1940 e
1950. Este estilo arquitectónico é também conhecido como Estilo Nacionalista, Estilo
Tradicionalista ou Estilo Estado Novo, ainda que esta última denominação não é de todo
correcta, já que durante o Estado Novo se aplicaram diversos estilos arquitectónicos em
edifícios públicos. O Estilo Português Suave surgiu de uma corrente de arquitectos que,
já desde o início do século XX, procurava criar uma arquitectura "genuinamente
portuguesa". Um dos mentores desta corrente era o arquitecto Raúl Lino, teórico da casa
portuguesa. O resultado foi a criação de um estilo que utilizava as características
modernas da engenharia decoradas com uma mistura de elementos estéticos exteriores
recolhidos da arquitectura portuguesa dos séculos XVII e XVIII e das casas tradicionais
de várias regiões de Portugal.
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(a grande parte das casas no sul são caiadas desde os tempos da ocupação muçulmana),
e a norte pelos alpendres e a utilização de granito.
Para aplicação ao Plano dos Centenários, os projectos de Raúl Lino e de Rogério de
Azevedo seriam revistos pelos arquitectos Manuel Fernandes de Sá, Joaquim Areal,
Eduardo Moreira dos Santos e Alberto Braga de Sousa.
Ter-se-á optado pelo mínimo para se conseguir a máxima cobertura pelo ensino
primário das crianças em idade escolar. E a consequência é a nossa rede actual de
escolas do 1º ciclo do ensino básico, constituída em grande parte por edifícios dessa
época, resistentes em termos físicos mas isolados, sem ligações a outros graus de ensino
e com falta de espaços adequados às práticas pedagógicas e educativas actuais.
- presente na concentração das verbas afectas àquele fim numa rúbrica única e
autónoma do orçamento do MOP, ao contrário da anterior dispersão de verbas por
várias rúbricas orçamentais.
O modelo de expansão caracterizou-se também pelo seu carácter de extrema
racionalidade e minimalismo na utilização de recursos e nos procedimentos.
As conclusões apontam ainda nas seguintes direcções:
Optou-se por um recurso maciço aos postos escolares,6 que chegam a constituir um
terço do parque escolar nacional.
Os “mestres” destes postos designavam-se “regentes escolares” e iriam ser
escolhidos, com o assentimento do ministro da Instrução Pública, entre pessoas a quem
não se exigiria qualquer habilitação mas apenas a comprovação de possuírem a
“necessária idoneidade moral e intelectual”. Assim se procedeu, defacto" (Carvalho,
1996 , p. 736).
A estes mestres ou regentes, mais do que uma formação académica, exigia-se uma
irrepreensível conduta moral e uma adesão sem reticências aos princípios que
norteavam o novo regime. O decreto 20.604, no seu artigo 3º, determinava que "para a
regência de cada posto será designada pelo Ministro da Instrução Pública pessoa que
para o efeito possua a necessária idoneidade moral e intelectual". Claro que, na prática,
estas condições se poderiam encontrar, cumulativamente, num bom número de
indivíduos, mas não necessariamente nos mais habilitados para o ensino. Para além
disso, a remuneração era escassa (300$00 durante os meses de efectivo funcionamento
do posto) e, apesar de eventualmente atractiva para quem queria fugir ao desemprego ou
a trabalhos fisicamente mais árduos, empurrava o recrutamento destes regentes para
estratos da população com um horizonte relativamente modesto de ambições
profissionais e de encargos financeiros.
Por isso, ainda mais do que a docência oficial diplomada, a regência de postos
escolares se tornaria uma ocupação feminizada quase por completo.
6
- Decreto 20.604 de 30 de Novembro de 1931) cujos mestres mais não eram do que os referidos
“regentes escolares”;
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A execução destas determinações não seria imediata, mas em 1937, pela portaria
8.731, seriam finalmente regulamentadas as citadas provas de aptidão, cujo exame seria
constituído por provas escritas de cultura compostas por um ditado, um exercício de
redacção e da resolução de seis problemas. Poder-se-á, e com fundamento, argumentar
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que isto era muito pouco como prova de acesso à função docente, mas também não
devem ser ignorados os efeitos práticos da exigência de realização desta prova.
"a rêde escolar do País é pois constituída pelas escolas complementares e pelas
escolas elementares regidas pelos regentes diplomados. Essas escolas é que constituem
a rede geográfica do País. Nestas condições, organizar-se-á um mapa de Portugal,
onde se encontrarão marcados todos os lugares do País em que funcionarão ou deverão
vir a funcionar escolas complementares e escolas elementares. Nesse mapa não
figurarão, porém, os postos escolares. Por consequência, parece-me que os postos
escolares nada têm que ver, directamente, com a rede geográfica das escolas. E é
natural e lógico que assim seja, porque o número dessas escolas será flutuante, quere
dizer, será o que a divulgação do ensino tornar necessário, dentro das possibilidades
financeiras" (Diário das Sessões da Assembleia Nacional nº 179, sessão de 30 de Março
de 1938, p. 608).
Poucos dias depois, é a vez do deputado Diniz da Fonseca tentar estabelecer uma
categorização do que se deveria entender como regentes escolares, conforme os
estabelecimentos de ensino em que exerciam a docência:
Maria Pinho Gouveia Soares Albergaria, de Vila Chã, passando o lugar para Padre
António Tavares coelho e Pinho, do Paço, freguesia de Rôge, que em 1 de Junho de
1898, assume vitaliciamente o lugar de Macieira onde permanece apenas um mês, sendo
transferido para Rôge.
É da Cadeira de Rôge que vem Bazílio António Ferreira, solteiro, residente, no lugar
de Quintã, freguesia de Macieira de Cambra. O professor Bazílio chega à Escola de
Rôge em 12 de Junho de 1895, transferido da freguesia de Tresmundes, concelho de
Vila Pouca de Aguiar e é novamente transferido para Macieira em 1 de Julho, por troca
com o Padre António Pinho. (Fundo C.M. Macieira de Cambra, Educação, cit. por
Almeida, 2001).
«Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1856, aos vinte e um dias do
mês de Abril na Administração do Concelho de Macieira de Cambra, perante António
Soares Leite Ferraz de Albergaria, Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra,
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por Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa e Administrador deste dito
Concelho, aí compareceu o Reverendo Manoel Corrêa, que apresentou perante o
Administrador, o diploma como professor, passado pelo Conselho Superior de Instrução
Pública, datada em Coimbra a sete do corrente e registada a folhas trinta e duas do
livro de assentamento do Governo Civil deste Distrito, pela qual fora indicado para
professor da Instrução Primária de Arões, com assento em Vila Cova, mas somente pelo
tempo de três anos cujas cadeiras ultimamente fora ocupada por Francisco Tavares de
Almeida, requerendo outro professor em substituição da sua posse.
Esse administrador atendendo antes ao requerido e apreciando da referida Profissão
lhe conferiu posse admitindo-o ao exercício da mesma cadeira, sob os encargos do
juramento que prestou no Governo Civil deste Distrito, em dezasseis do corrente de que
se lavrou termo no livro terceiro a folhas seis, a qual posse declaram fosse dada por
este Administrador, o dito Professor tomou e aceitou este auto, sendo testemunhas
presentes José Tavares de Pinho, casado, oficial de diligências desta Administração,
Joaquim de Pinho, casado, ...... , ambos do lugar de Areias, Freguesia de
Castelões...........»
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«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1865, aos dezanove dias do
mês de Setembro do dito anno, nas casas de aula da freguesia de Arões deste concelho
onde foi vindo o Administrador do mesmo Bernardo José de Souza e amigo Joaquim
Borges da Cunha, Escrivão da Comarca, nomeado e no impedimento da Administração,
para o efeito de nova e conferir posse a João dos Santos do lugar e freguesia de Arões
da Cadeira de Ensíno Primário desta mesma freguesia prova que foi nomeado
temporáriamente, por Despacho de 26 de Agosto último, como consta do Diário de
Lisboa número 195, de 31 de referido Agosto, e sendo presente o mesmo Professor João
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dos Santos, logo o Meretíssimo Administrador na presença das testemunhas...... lhe deu
e conferiu posse da indicada cadeira,.......por esforço de três anos...»
«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1868, aos três de Dezembro
do dito ano, na Administração do Concelho de Cambra, perante o Administrador do
mesmo Concelho, o Doutor José Gomes de Almeida, compareceu presente João dos
Santos da Freguesia de Junqueira........ e tomar posse da Cadeira de Ensino Primário
da freguesia de Arões na qual foi promovido por três anos.............»
«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1869, aos 12 dias do mês de
Janeiro do dito anno, na Casa da Escola do lado feminino da freguesia de Castelões, no
lugar de cabril da dita freguesia deste concelho de Macieira de Cambra compareceu o
Doutor José Gomes de Almeida Administrador do dito Concelho, apareceu, também
presente Dona Rozalia Augusta d' Oliveira, da cidade de Aveiro, para prestar
juramento e tomar posse da Cadeira de Ensino Primário do ...........por 3 anos...»
«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1869 dos 7 dias do mês de
Junho, ............. Manoel d' Almeida Gomez do Chão da Nogueira do lugar da Mouta,
freguesia de Castellões........... posse da Cadeira de Ensino primário da freguesia de
Rôge.............»
«Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1870, aos trêz dias do mês
de Novenbro do dito anno,........... o Reverendo Joaquim Tavares d' Oliveira Coutinho do
lugar de Cabril freguesia de Castellões ....... da Cadeira de Ensíno primário da
freguesia de Macieira deste mesmo Concelho......... por despacho de 17 de Outubro
último.................».
Mais à frente, verificamos que existem, desde 1904, registos da tomada de posse por
professores nas escolas de Castelões (10 de Dezembro de 1904 e 4 de Maio de 1918),
Macieira (16 de Setembro de 1916), Junqueira (22 de Janeiro de 1929), Rôge (24
Outubro de 1929)e Gandra de Vila Chã (26 de Novembro de 1929).
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Desse livro de registos, pelo interesse que pode haver em se conhecer os nomes das
pessoas envolvidas, transcrevemos o seguinte:
Arminda Pinto
Tomaz Correia do Amaral» (Verso página 20).
«Auto de posse conferida a D. Maria Benilde Nunes Aço Ferreira para professora
interina da escola primária elementar mixta da freguesia de Roge.
Aos vinte e quatro dias do mez de Outubro de mil novecentos e vinte e nove na
Secretaria da Câmara Municipal d'este Concelho de Vale de Cambra, perante mim
Tomaz Correia Amaral, chefe da Secretaria da Câmara, compareceu D. Maria Benilde
Nunes Aço Ferreira, a fim de tomar posse, como professora interina da escola primária
elementar mista da freguesia de Roge, d'este Concelho, para que foi nomiada por
despacho de vinte e um deste mez, posse que eu, usando do direito que me confere o
artigo vinte e quatro, parágrafo único, do Decreto número dezasseis mil e vinte e quatro
e na falta do Secretário da Junta Escolar lhe conferi, depois de ela ter prestado o
competente compromisso de honra, entrando desde já no exercício das suas funções.
Para constar se lavrou este auto que vai ser assinado pela agraciada e por mim depois
de lido em voz alta.
Maria Benilde Nunes Aço Ferreira
Tomaz Correia Amaral» (página 21).
«Auto de posse conferida a José Henrique Mário da Luz Madeira para professor
provisório da escola primária elementar do sexo masculino de Gandra, da freguesia de
Vila Chã.
Aos vinte e cinco dias do mês de Novembro de mil novecentos e vinte e nove na
Secretaria da Câmara Municipal deste Concelho de Vale de Cambra, perante mim,
Tomás Correia do Amaral, chefe da secretaria da Câmara compareceu José Henrique
Mário da Luz Madeira, a fim de tomar posse, como professor provisório da escola
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O Conde de Ferreira, de seu nome, Joaquim Ferreira dos Santos, filantropo, nascido
em Vila Meã, Amarante, em 1782 e falecido no Porto a 1866, também emigrante no
Brasil, onde constituiu fortuna, viria a ser um caso paradigmático no apoio à construção
de edifícios escolares. (Cfr. G.E.C., 2001, p. 1046, cit. Por Almeida, 2001)
« O Conde Ferreira deixou um legado para a construção e mobília de 120 escolas
primárias de ambos os sexos em terras que fossem cabeças de concelhos, todas com a
mesma planta e com habitação para o professor, sendo depois de terminadas, entregues
às respectivas juntas de paróquia. O seu custo por unidade não deveria exceder
1200$00» (ALVES, 1994, p. 317, cit. Por Almeida, 2001).
« (...) A planta do edifício e do terreno onde houver de ser construído. O terreno não
deve Ter menos de 600 metros quadrados além da área que for ocupada pelo edifício.
- O orçamento da obra projectada.
- Cópia do orçamento geral ou suplementar devidamente aprovado, onde esteja
votada uma verba não inferior a 400$00 réis para construção da escola pretendida.
- Deliberação competentemente aprovada de como se obrigam a executar fielmente
a planta no termo de um ano contado desde o dia em que for concedido o subsídio do
governo» (...) (Decreto de Lei nº 163 de 23 de Julho de 1866).
Recorde-se que Macieira de Cambra, à data do legado era sede de concelho, que só
mais tarde, pelo decreto nº 12 976 de 31 de Dezembro de 1926 e num processo
conturbado, passa para o lugar da gandra, na freguesia de Vila Chã, Vale de Cambra,
embora tenha existido algumas anexações ao concelho de Oliveira de Aseméis. Aqui se
encontra a razão pela qual a Escola Conde Ferreira não se encontra na actual sede do
concelho.
O concelho de Macieira de Cambra data do ano de 1832 por Decreto de 16 de Maio.
No ano de 1867 o concelho de Cambra é suprimido e anexado ao de Oliveira de
Azeméis, com excepção de Junqueira e Arões que passaram ao concelho de Albergaria.
Em 13 de Janeiro de 1898 foi restaurado o concelho de Macieira de Cambra .
António Martins Ferreira, refere, contudo, que poucos anos após a primeira anexação
a Oliveira de Azeméis o concelho foi restaurado, tendo sido reanexado em 21 de
Novembro de 1895, assim permanecendo até 13 de Janeiro de 1898 (FERREIRA, 1942,
p. 8).
A escola Conde Ferreira teve que ser, pois, construída fora do período de anexação
(antes de 1895ou depois de 1898), com a qual, Macieira de Cambra não seria sede do
concelho e não poderia, inclusive, candidatar-se ao legado do conde Ferreira.
O professor Bazílio Ferreira, é ainda um dos professores que em 1913, começará a
leccionar na escolaLuiz Bernardo de Almeida, abandonando as instalações da escola
Conde Ferreira.
A nova escola, a escola Luiz Bernardo de Almeida, fica pronta em pouco mais de
dois anos e será inaugurada em 1913, no dia do aniversário da esposa do Comendador
(3 de Junho de 1913; nasceu a 3 de Junho de 1867). O edifício «com amplas salas de
aulas, residência para professores, cantina, recreios e balneários dotados de água
corrente, foi considerada escola modelo, naquela época (MARQUES, 1993, p. 185, cit.
Por Almeida, 2001).
42
A escola, com cerca de 600m2 de área coberta, denuncia traços comuns a outros
projectos contemporâneos, nomeadamente à “Quinta Progresso”, de 1915, habitação do
comendador e essa comprovadamente do projectista João José Gomes 7.
O primeiro documento oficial que nos aproxima da escola que haverá de ser doada
pelo Comendador é na sessão de 14 de Setembro de 1910, da Câmara Municipal de
Macieira de Cambra, sob a presidência de Manuel de Oliveira Campos.
Aí é o próprio Manuel de Oliveira Campos, que por si e representando o
Comendador Luís Bernardo, António dos Santos Marau, Comendador de Almeida Pinho
e o seu próprio irmão, Agostinho de Oliveira Campos, requerem licença para construir
um edifício na Avenida do Calvário, (depois Av. Miguel Bombarda), exactamente no
local onde esta avenida cruza com a estrada para Rôge e ainda autorização para colocar
aí os materiais. Esta petição foi deferida.(Cfr. Actas C.M., 1910.
A seguir, no Jornal O Povo de Cambra,número 4, de 18 de Junho de 1913, no resumo
das deliberações municipais, pode ler-se o seguinte:
7
- Ver alçados e plantas em anexo;
43
Uma carta do ex.mo snr. Luiz Bernardo d'Almeida, de Macieira Velha, freguezia de
Macieira, de este concelho, comunicando ser seu desejo entregar á auctoridade
competente o edifício escolar para ambos os sexos que mandou construir na Avenida
Bombarda, no próximo dia 3 de junho.
A comissão deliberou providenciar no sentido de se fazer a escritura de doação no
dia indicado por aquele benemérito ».
«Aos três dias do mês de Junho de mil novecentos e treze, reunidos os presentes no
edifício das escolas oficiais desta freguesia, sito à Avenida Miguel Bombarda,
generosamente doado ao Estado pelo benemérito cidadão Luiz Bernardo de Almeida, os
Ex.mos Senhores Governador Civil do Distrito e Inspector do Círculo Escolar,
autoridades civis e grande multidão de pessoas, além do referido doador, procederam
com todas as formalidades legais à inauguração e abertura solene do dito edifício,
declarando neste acto o Ex.mo Inspector Escolar que aceita a doação pelo Estado,
ficando desde esta data autorizada a transferência das escolas para o mesmo edifício,
onde continuarão desde hoje abertas à frequência escolar.
E, para constar, foi lavrada esta acta que depois de lida em voz alta, vai ser assinada
por todas as pessoas presentes e colocada no salão nobre do Edifício».
8
Câmara Municipal de Vale de Cambra, Estudo sobre escolas Pré-Primárias, Jardins
de Infância, Primárias, Telescolas, Vale de Cambra, 1987.
- Carta Escolar de Vale de Cambra, Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1995.
47
9
Câmara Municipal de Vale de Cambra, Estudo sobre escolas Pré-Primárias, Jardins
de Infância, Primárias, Telescolas, Vale de Cambra, 1987.
- Carta Escolar de Vale de Cambra, Câmara Municipal de Vale de Cambra, 1995.
48
Escola EB 23 do Búzio)
Escola de Codal
Escola de Cabrum
As escolas cujo projecto foi elaborado pelos serviços técnicos da Câmara Municipal,
estão adaptadas ao seu programa específico e ao terreno em causa, foram construídas a
partir da década de 80:
Cepelos – nº 2 de Merlães (Irijó) e Tabaçó, construída em 1988, sendo que a antiga
escola primária pertencente ao tipo centenário rural, de 1961, não estava em uso.
Junqueira – Chã, construída em 1987.
S. Pedro de Castelões - Côvo, construída em 1981; Cavião, construída em 1993 e o
Complexo Escolar das Baralhas com Pré-escolar e 1º Ciclo a funcionar desde 1995.
57
Vila Chã - Lordelo, construída em 1989 e o Complexo Escolar de Vila Chã com
Polidesportivo, Pré-escolar e 1º Ciclo.
Existe, ainda, um caso que não se enquadra em nenhum dos tipos de construção
mencionados, a escola nº 2 da Lomba, situada no lugar de Agualva, cuja escritura data
de 1989, trata-se de uma casa particular, adquirida pela Câmara Municipal. Esta escola
inclui alojamento para o professor.
Jardins de Infância
A implementação do ensino pré-escolar, que se traduziu na criação de Jardins-de-
infância no concelho, teve o seu início nos primeiros anos da década de 80.
Em 1995, a Carta Escolar de Vale de Cambra referia o funcionamento de 27
estabelecimentos da rede pública de ensino Pré-escolar, um estabelecimento de
iniciativa autárquica, a funcionar em Irijó e uma Instituição Particular de Segurança
Social, a Santa Casa da Misericórdia de Vale de Cambra.
Nesse ano era também referida a suspensão de funcionamento de outros 7
estabelecimentos, por falta de matrículas: Casal Velide, nº1 da Lomba, Paraduça, Vila
Cova, Cabanelas, Tabaçó e Calvela.
Nos finais do século, os Jardins de Infância distribuíam-se da seguinte forma pelas
freguesias do concelho:
Arões – Arões, Cabrum, Novas e Souto Mau;
Cepelos – Casal, Merlães, Irijó e Vilar;
Codal – Codal;
Junqueira – Cabanes e Junqueira;
Macieira de Cambra – Algeriz, Pintalhos, Praça, Ramilos e Santa Cruz;
59
Nos casos em que a escola é do tipo centenário rural e em que houve uma redução do
n° de alunos, a antiga sala da primária encontra-se utilizada pelo pré-e - escolar. Quanto
as instalações sanitárias, as mesmas encontram-se em uso sem qualquer adaptação.
Salvo raras excepções, nas escolas primárias com jardim de infância, integrados ou
implantados no logradouro, não existe qualquer definição dos espaços para recreio
destinadas ao diferentes graus de escolaridade, assim como é praticamente inexistente
caixa de areia, parque infantil, vedações adequadas ou mesmo recreios cobertos
(Divisão de Planeamento ,Isabel da Costa Bastos,1998 ).
10
In jornal “A Voz de Cambra”, nº 559, 1 de Setembro de 1994.
11
Idem.
12
Ibidem.
13
Ibidem.
14
Ibidem.
61
Em 1 de Agosto de 1947 foi constituída uma sociedade por quotas: “Pinho e Mendes,
Lda.”. Entre os sócios contavam-se Padre Manuel Rodrigues Lírio, Arnaldo Soares de
Pinho, Bernardino Tavares da Silva e José Marques Mendes. Nessa altura o Colégio de
Vale de Cambra deu lugar ao “Externato Cambrense”, com o alvará de 1 de Outubro de
194615.
Desse alvará provisório nº. 119, emitido pela Inspecção do Ensino Particular, consta
o seguinte:
15
Ibidem.
62
Colégio Cambrense 17
16
Ibidem.
17
- mais tarde funcionou aqui a Escola Industrial e comercial e o Tribunal Judicial;
63
Pelo Dr. Arnaldo, com o fundamento de que uma solução capaz implicava a
demolição do edifício, comprometeu-se o mesmo, perante o Inspector Superior do
Ensino Particular, a construir um edifício próprio segundo um projecto orientado pela
mesma repartição e sujeito à aprovação do Ministério da Educação Nacional .
Em face deste compromisso é dada uma autorização para se continuar com o ensino
nas antigas instalações pelo período de um ano. Entretanto foi requerido um novo
alvará, com um novo nome para o colégio que passa a designar-se "Externato Alexandre
64
Herculano", por vontade do proprietário que nutria por Alexandre Herculano uma
enorme admiração (Marques, 1998).
Como os outros sócios se tivessem afastado, Arnaldo Soares de Pinho decidiu
continuar, construiu um outro edifício num terreno à margem da E.N. 227, em Ramilos,
e nele instalou o “Externato Alexandre Herculano”, já nos inícios da década de 60 (em
1965).
18
Ibidem.
66
19
A VOZ DE CAMBRA – 15 de julho de 1973
67
Foi instalada nas antigas instalações do Colégio Cambrense, na casa pertencente aos
“Coutinhos” de Cabril.
O Ensino Secundário
20
- Diário da república, 26 de Maio de 1975, I Série, nº. 121;
69
Depois disto, face ao disposto na lei e dentro deste novo contexto, surgem na gestão
dos estabelecimentos de ensino os Conselhos Directivos, em substituição dos antigos
Directores.
Esta mesma autora, refere que em relação aos cursos em funcionamento, leccionou-
se o Ensino Unificado (7º.e. 8º.e 9º.- anos), até 1977/78, dado que no ano seguinte,
1978/79, são criados os primeiros cursos complementares (10º e 11º anos), das áreas de
Económico-Sociais e Científico-tecnológicos, bem como os cursos complementares
nocturnos de Contabilidade e Administração e de Mecanotecnia. Também os cursos
liceais nocturnos começam a funcionar nesse ano.
No ano seguinte surge o complementar de Científico, em 80/81 o de Humanísticas, e
em 1981/82 é criado o 12º. Ano, substituindo oaquele a que se denominou de
“propedêutico” (considerado um ano de preparação para o ensino superior)
A abertura dos cursos complementares dá-se com a mudança para as actuais
instalações, inauguradas em 1978.
Marques (1998) refere que na altura da mudança para as novas instalações,
construídas pela Direcção Geral dos Equipamentos Educativos sob “modelo
californiano”, o edifício era constituído por cinco blocos, surgindo mais um, no ano de
1987/88, data também da construção do Pavilhão Gimnodesportivo.
Escola Secundária
dezassete turmas do complementar, oito turmas do 12º.ano, nos cursos diurnos e ainda
oito turmas dos cursos gerais, cinco dos complementares e dois do 12º. ano nocturnos.
Quanto ao quadro da escola, o número de professores era de 246, 12 funcionários
administrativos, 24 funcionários auxiliares de apoio e 7 funcionários contratados
(Marques, 1998).
21
Entrevista realizada a Ernesto Barbosa.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
72
22
Entrevista realizada a Ernesto Barbosa.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
73
tinha dinheiro ia descalço ou com tamancos!) e, quando chovia, íamos para a escola
com um saco de batatas (de serapilheira) pela cabeça porque não havia dinheiro para
guarda-chuvas! Descalços, mal vestidos, à chuva e ao frio, lá íamos aprendendo as
primeiras letras “.23
23
Entrevista realizada a Eurico Barbosa Abrantes, Manuel Tavares, Tomás Santos Silva, Tomás António
Martins de Castro.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
24
Entrevista realizada a António J. C. Braga.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
74
25
Entrevista realizada a António J. C. Braga.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
76
Os exames eram feitos por um inspector que vinha de fora. Eram poucos os alunos
que os faziam (15 ou 16 de cada vez) e juntavam-se de várias freguesias.
Estes eram momentos decisivos quer para alunos quer para professores que também
mostravam o seu valor. Havia casos de professores que davam explicações aos sábados
à tarde aos alunos que prestariam provas, na maioria dos casos os alunos não pagavam
nada.
No entanto, era frequente os pais dos alunos darem presentes aos professores, ovos,
galinhas, feijões, etc., o que a vida lhes permitia.
26
Entrevista realizada a Ernesto Barbosa.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
77
27
Entrevista realizada a Manuel da Silva, José Soares e Abel Martins de Castro.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
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Entrevista realizada a António J. C. Braga.
Câmara Municipal de Vale de Cambra, trabalho de recolha no âmbito do projecto Memórias do Século
XX, S. Pedro de Castelões, 1999.
78
Quem podia tinha livros das várias disciplinas: Leitura, Geografia, Aritmética,
História e a Gramática. Para além destes era habitual existirem Mapas diversos com as
serras de Portugal e os rios, o mapa de Portugal , Insular e Ultramarino, o Corpo
Humano e outros. A caixa métrica também existia.
Corpo humano
No recreio, as brincadeiras eram só com coisas que não obrigasse a gastar dinheiro
porque não o havia e resumiam-se a brinquedos improvisados, feitos com os materiais
disponíveis: madeira, pedrinhas e tecidos. Faziam-se jogos simples como a cabra-cega,
ó minha mãe dá licença e o anelzinho; jogava-se o mata, a macaca, o arco e a barra,
entre outros.
Actualmente, numa tentativa de cultivar mais o saber, o Estado pretende prolongar a
escolaridade obrigatória até ao 12º Ano.
Em relação ao sistema de ensino antigo, o actual possui algumas melhorias, mas
também várias lacunas. Se por um lado, se aspirava para ter acesso aos estudos, hoje
com as coisas mais facilitadas verifica-se uma elevada taxa de abandono escolar. No
Estado Novo, um dos principais objectivos do ensino era estimular nos jovens a
formação do carácter, a cultura do espírito e a devoção ao serviço social, no amor de
Deus, da Pátria e da Família; no actual sistema, apesar da existência das áreas
curriculares não disciplinares, essencialmente a Formação Cívica, em geral, os jovens
são alheios à educação para a cidadania, desmotivados para a moral e bons costumes.
Hoje, à semelhança do que existiu em 1980, continua o ingresso ao ensino superior a
ser limitado.
O poder vigente sabe o que está a fazer, e mal, mas escolhe os meios através dos
dissimulados critérios escolares, avaliações forçadas e das pretensas melhorias do
ensino. E o povo assiste incrédulo e espantado ao assalto.
Relativamente à segunda obra, « Les Héritiers. Les étudiants et la culture », os
autores criticaram a ideia generalizada de que “estudantes e o meio estudantil seriam
uma classe social à parte na sociedade. E seriam responsáveis, em razão de sua
juventude e de sua disposição para a acção, pela liderança da transformação social.”
A resposta a este desafio de estímulo involuntário da juventude vimo-la em Maio de
1968, em Paris. Os autores provocaram a maior mobilização de revoltados estudantes,
dos intelectuais e dos franceses.
E tudo mudou.
Precisamos de um 28 de Maio (Boaventura, João, Diário de Coimbra, 16 de Julho,
2010).
Conclusão
Note-se que o ensino actual nas escolas não é o único local do “saber”, não tem o “
monopólio” do saber exclusivo, há muitas outras fontes de informação igualmente
credíveis. Nestas novas fontes de informação estão incluídas as novas tecnologias que
são excelentes meios para a construção do conhecimento.
Hoje, o papel do professor, no ensino, é no mínimo de dupla responsabilidade em
relação ao da época do Estado Novo, não é só o detentor ou transmissor do
conhecimento mas tem como papel principal criar e estimular o ambiente educativo.
Neste novo perfil de escola, o ensino tem de se processar ao nível da coordenação e
acompanhamento, das informações (conteúdos) devendo fornecer os contextos e o
conhecimento base que promova uma verdadeira autonomia.
No entanto, a maior parte das vezes os professores não estão motivados para uma
mudança de atitudes pedagógicas que levem o aluno a pensar, reflectir e a desenvolver-
se como um cidadão pleno.
Há necessidade de pôr ordem e estabilidade no ensino, porque se ainda durante o
Estado Novo, a reforma de Veiga Simão unificou os ensinos liceal e técnico, não faz
sentido o que se passa actualmente no ensino secundário: a separação dos cursos gerais
dos cursos tecnológicos e profissionais e a política que encaminha «os melhores» alunos
para os cursos gerais e daí para a Universidade e «os piores» para os cursos
tecnológicos e profissionais.
Actualmente, numa tentativa de cultivar mais o saber, o Estado pretende prolongar a
escolaridade obrigatória até ao 12º Ano. Em relação ao sistema de ensino antigo, o
actual possui algumas melhorias, mas também várias lacunas. Se por um lado, se
aspirava para ter acesso aos estudos, hoje com as coisas mais facilitadas verifica-se uma
elevada taxa de abandono escolar. No Estado Novo, um dos principais objectivos do
ensino era estimular nos jovens a formação do carácter, a cultura do espírito e a devoção
ao serviço social, no amor de Deus, da Pátria e da Família; no actual sistema, apesar da
existência das áreas curriculares não disciplinares, essencialmente a Formação Cívica,
84
em geral, os jovens são alheios à educação para a cidadania, desmotivados para a moral
e bons costumes.
Hoje, à semelhança do que existiu em 1980, continua o ingresso ao ensino superior a
ser limitado.
(Made. José Eduardo ;2008, pag. 4).
Enquanto crianças em crescimento e em processo de desenvolvimento , sabemos que
a Escola desempenha um papel determinante na formação social de todas estas.
Sabemos que a escola tem um papel fundamental na aprendizagem e
desenvolvimento pessoal e social da criança. Sabemos também que a escola de ontem,
não é uma escola desejada nem tão pouco cumpriu o seu papel. Não é uma escola
inclusiva, não promove o bem comum, interesse público e a autonomia pessoal.
As de hoje também não!
Tem sido um espaço de reprodução de saberes sim, mas também um espaço de
reprodução de cultura e de mentalidades discriminatórias que marcam o indivíduo para
toda a vida. As recomendações internacionais, exigem que se mudem práticas e que
escola cumpra um papel diferente, reformulado e que ao ensinar matérias básicas para a
vida, tenha também uma contribuição relevante na formação da personalidade da
criança. Exige-se a mudança de atitudes que contribuam para a aceitação da diferença e
que ao mesmo tempo, desenvolva mecanismos de aprendizagem e de ensino para todos.
Embora a palavra de ordem seja reformar o nosso ensino, em todos os seus níveis, o
que verificamos quase sempre é que ainda predominam formas de organização do
trabalho escolar que não se alinham na direção de uma escola de qualidade para todos.
Se queremos, de fato, reformar o ensino, a questão central ao nosso ver é: Como criar
contextos educacionais capazes de ensinar todos os alunos? Mas, sem cair nas malhas
de sistemas e programas vigentes, que nada têm servido para que as escolas se
transformem.
Outras interrogações derivam desta questão principal, tais como: que práticas de
ensino ajudam os professores a ensinar todos os alunos de uma mesma turma, atingindo
a todos, apesar de suas diferenças? De que qualidade e de que escolas estamos falando,
quando nos referimos a essas reformas?
Nesse sentido, pensamos que, de antemão, as reformas educacionais e todas as
interrogações sobre o papel da escola exigem que se repense a prática pedagógica tendo
a Ética, a Justiça e os Direitos Humanos como eixos. Este tripé sempre sustentou o
ideário educacional, mas nunca teve tanto peso e implicação como nos dias actuais, em
que se luta para vencer a exclusão, a competição, o egocentrismo e o individualismo,
em busca de uma nova fase de humanização e de socialização, que supere os
pressupostos hegemônicos do liberalismo, baseada na interatividade, na superação de
barreiras físicas, psicológicas, espaciais, temporais, culturais e acessível a todos (Maria
Teresa Eglér Mantoan, Diferenças da Escola).
Referências bibliográficas
Almeida, Adelino Augusto, Vida e obra de Luiz Bernardo Almeida, tese de
mestrado, , 2001;
Marques, A.H. de Oliveira, História de Portugal - Volume III, Lisboa: Pala Editores,
1981;
Sousa, J. M. (2000). O Professor como Pessoa (pp. 77-83). Porto: Asa Editores;
87
Tiago Fernandes. Nem ditadura nem revolução. A Ala Liberal e o Marcelismo (1968-
1974), Lisboa, D. Quixote, 2006.