O Teste Sociométrico Como Meio Proativo de Melhorar As Relações Interpessoais Na Sala de Aula
O Teste Sociométrico Como Meio Proativo de Melhorar As Relações Interpessoais Na Sala de Aula
O Teste Sociométrico Como Meio Proativo de Melhorar As Relações Interpessoais Na Sala de Aula
Resumo
Para compreender a origem da violência no âmbito escolar, este artigo buscou averiguar, por
meio do teste sociométrico, como as relações interpessoais entre estudantes do 6º ano do
ensino fundamental de uma escola pública de Brasília. A pesquisa se caracteriza como um
estudo de caso. Para coleta de dados, foi aplicado o teste sociométrico, composto de quatro
questões, que permitiu fazer um mapeamento das relações estabelecidas na sala de aula.
Realizou-se ainda um grupo focal com os estudantes e conversas individuais com alguns
deles. A professora regente contribuiu com a aplicação de um questionário que continha
questões objetivas e subjetivas. Concomitante a estes instrumentos, foram realizadas a
observação in loco (sala de aula e intervalo) e a análise documental (ficha individual dos
estudantes e o Projeto Político Pedagógico da escola). Os resultados evidenciaram que o
professor não conhecia muito bem as relações estabelecidas pelos estudantes, surpreendendo-
se, pois, com as constatações do teste sociométrico. Em síntese, o resultado da investigação
confirma a validade do referido teste, hoje retomado na literatura sobre violências como meio
proativo de melhorar as relações interpessoais na sala de aula, uma vez que ele subsidia o
trabalho do professor no conhecimento de seus estudantes e no encaminhamento dos conflitos
entre eles, ensinando-os a conviver, conforme recomenda o relatório de Delors et al. (1998).
Introdução
O Art. 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (cf. Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO do Brasil, 1998) prevê a
1
Pedagoga pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: edenir.cerqueira@hotmail.com
2
Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Católica de Brasília. Professora adjunta e Secretária
Executiva da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma Universidade. E-mail:
adrianaliraucb@gmail.com
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sociometria) constitui meio eficaz para o professor no que se refere a uma ferramenta capaz
de subsidiá-lo na promoção da convivência entre os estudantes. Por meio de Comellas (2007,
2008), por exemplo, verificou que a adoção de qualquer medida para prevenção e superação
dos conflitos entre os estudantes requer que os educadores os conheçam, isto é, tenham o
mapeamento de sua turma, conheçam as preferências dos estudantes para formar seus grupos
e, assim, compreender como se relacionam. É preciso identificar a existência de preconceitos
e ainda a origem dos conflitos entre eles para encaminhar de maneira proativa os problemas
advindos da dificuldade de convivência e ainda promover um relacionamento de modo a
educar os estudantes para o respeito às diferenças, fatores esses favorecidos pelo teste
sociométrico. Por meio dele, este estudo objetivou compreender as relações interpessoais
entre os estudantes de uma sala de aula de uma escola com histórico de violências. Mais
precisamente, objetivou-se averiguar a dimensão da aceitação e não aceitação entre os
mesmos. Aspectos estes que devem ser cuidados pelos adultos para evitar que as crianças e
pré-adolescentes tenham dificuldade de viver em grupo e se transformarem em seres isolados
do restante da turma. Nesse sentido, o referido teste permite conhecer como se dá a relação
entre as crianças ou o porquê de suas aceitações ou rejeições. O que faz com que as crianças e
adolescentes queiram estar juntos? Sendo assim, o professor, de posse desses dados, pode
buscar o entrosamento dos alunos em sala de aula.
Para Rocha et al. (2003), o relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se
harmônico e prazeroso, permitindo um trabalho cooperativo, em equipe, com integração de
esforços, conjugando energias, conhecimento e experiências para se alcançar um produto um
produto maior que a soma das partes, ou seja, de plena sinergia. Ou então, tenderá a tornar-se
tenso, conflitante, levando à desintegração de esforços, à divisão de estado de energias e à
crescente deterioração do desempenho grupal, tendendo para um estado de entropia do
sistema e, finalmente, para a dissolução do grupo.
De acordo com Pimentel e Sigrist (1976), os estudantes podem aprender muito no que
se refere às relações humanas e podem ser levados a adquirir a maturidade social desejada:
saber conviver com os outros, saber dar e receber, saber falar e ouvir, sentir sua
responsabilidade perante o grupo e atuar no sentido de resolver os conflitos, entender as
outras pessoas e os seus comportamentos e adequar suas atitudes em função do bem social.
Portanto, a escola é, segundo Kauark e Silva (2008), um dos agentes responsáveis pela
integração da criança na sociedade, além da família. É um componente capaz de contribuir
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de encontrar interesses semelhantes aos seus, de forma que o colega possa vir a se tornar, de
fato, um amigo. Esses fatores, para os alunos, contribuem para que a escola seja percebida
como um espaço agradável. Os motivos pelas quais os alunos gostam da escola podem,
também, ter ligação com os professores e com a direção, que aparecem como referências.
Neste sentido, a escola cumpre importante papel na construção de capital social (cf.
ABRAMOVAY; CUNHA; CALAF, 2009).
Verifica-se em Comellas (2007, 2008) que o teste sociométrico é recurso capaz de
mapear as relações entre as pessoas, portanto, excelente ferramenta que subsidiará o trabalho
do professor comprometido com o seu papel na formação integral de seus estudantes. Porém,
esse recurso atualmente ainda não é muito conhecido, embora explorado em décadas
anteriores, quando Bastin (1966), Alves (1974), Bustos (1979) e outros já destacavam sua
importância para o estudo das relações humanas, principalmente, pelos profissionais da
Psicologia.
Rocha et al (2003), por exemplo, por meio do teste sociométrico, buscou compreender
como se processa a relação de amizade entre as crianças, identificando aspectos dessa relação
e possíveis interferências do professor na mesma. Os resultados apontaram que, na
perspectiva dos professores, os grupos são formados por afinidade, o que envolve
preconceitos entre os alunos, competições, aspectos para os quais devem estar atentos os
professores. Esses e diversos estudos realizados, não apenas na área educacional, mas
também em terapia familiar já resultaram em recomendações importantes (cf. ROCHA et al.
2003; COMELLAS, 2007, 2008; MARTINELLI, SCHIAVONI, 2009; MOLINA; VALERO;
CANALES, 2011.
Em síntese Moreno vem mostrar que a sociometria é um meio de descobrir as
indiferenças, as aceitações, e rejeições de um grupo em si (cf. ALVES, 1974). É, portanto
uma ferramenta a mais, mas não somente para os professores usarem em sala de aula, pois,
ainda conforme Alves (1974) o teste sociométrico é uma ferramenta que pode contribuir para
o trabalho dos orientadores educacionais, professores, psicólogos e, de forma geral, por todos
aqueles que tenham responsabilidade de trabalho e/ ou assistência a grupos humanos.
A literatura sobre a sociometria converge para a constatação de que se trata de um
teste versátil e universal. Teoricamente não existe grupo no qual o teste não possa ser
utilizado para fornecer preciosas informações sobre sua estrutura psicossocial, desde que haja
uma adequada verificação das técnicas. Partindo desse contexto é necessário ressaltar que no
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Brasil o teste sociométrico foi aplicado pela primeira vez pelo professor Danny José Alves,
sendo seu trabalho publicado pela Fundação Getúlio Vargas em 1964. Posteriormente,
diversos outros trabalhos foram realizados com o teste sociométrico, evidenciando a sua
eficácia na análise das relações interpessoais, como Monteiro e Carvalho (2008), Rocha et al.
(2003) e outros.
De acordo com Comellas (2007, 2008), o teste sociométrico é capaz de detectar a
dificuldade de conviver entre os estudantes o que exigirá atenção do professor e uma análise
aprofundada do que acontece, das razões por motivo pelos quais essas reações ocorrem para
buscar alternativas educacionais para ajudar os estudantes a viver em meio à diversidade.
Para Pimentel e Sigrist (1976), a técnica sociométrica consiste em apresentar aos
alunos de determinado grupo, a uma classe, por exemplo, a questão: “Com quem você
gostaria de trabalhar?” Essa questão pode variar, conforme a finalidade a que se destina e
deve ser bem objetiva. Pede-se ao aluno que escolha, entre os colegas da classe, três com os
quais gostaria de formar uma equipe, devendo ser atendida, pelo menos, uma das escolhas
formuladas. O aluno deve estar seguro de que suas escolhas serão bem recebidas pelo
professor, sejam quais forem.
Com a ajuda do teste sociométrico pode se mostrar a importância dada ao
relacionamento interpessoal e também a necessidade de se identificar o ser complexo que
somos e que, necessariamente, passa pela emocionalidade das relações sociais e suas trocas
intersubjetivas. Pois, em uma relação de afeto, encontramos talvez as formas adequadas de
lidar com o outro no processo de comunicação. A comunicação entre as mentes (razão) é
apenas o meio do caminho. É na comunicação entre os corações (afeto) que se dá a
reconstrução do ser. Compreender é insuficiente para se empreender a reconstrução do
comportamento.
Verifica-se que a falta de recursos não pode ser justificativa para o não alcance de
resultados para o problema das violências que atinge a escola, pois a sociométria constitui um
recurso barato de subsidiar o trabalho do professor no que se refere à promoção da
convivência em sala de aula. Todavia, lembra Comellas (2008) que o uso deste recurso pelo
professor exige conhecimento do teste, sua função e ainda sobre a popularidade, rejeição,
expansividade positiva e negativa dos indivíduos para entender as atitudes individuais e de
grupo, ações, bem-estar, satisfação. Assim, poderá intervir pedagogicamente no grupo, que é
onde construir estas ligações a nível pessoal para, desta forma, pode responder e melhorar o
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processo de socialização e interação. É, pois, uma técnica simples, de fácil aplicação e análise
que precisa ser, segundo Rocha et al. (2003), utilizada na avaliação das relações interpessoais
que ocorrem durante os trabalhos de desenvolvimento de grupo, ou seja, pode ser aplicada no
início e no final desses trabalhos, possibilitando analisar de que modo se encontra o
relacionamento entre os envolvidos em um grupo através da aplicação de questionários e
ainda como os sujeitos atuam dentro de um contexto grupal, de modo que se perceba o grau
de interferência que cada um exercer sobre o grupo e as consequências dessa influência para a
interação no ambiente.
A concepção do conhecimento ocorre no ser humano através de experiências e
interações entre as pessoas. Portanto, este é o momento que nos faz perceber um novo tempo
para conhecer técnicas simples para os educadores identificarem as relações interpessoais com
maiores possibilidade de participação de todos em sala de aula. Aqui começamos a vislumbrar
um novo modo de pensar, de atuar junto aos alunos isolados da turma com olhos
democráticos, que buscam garantir a melhoria do rendimento escolar dessa sala de aula.
Metodologia
Foi feita ainda uma análise documental, uma vez que se fez necessário obter dados
junto à secretaria escolar quanto ao perfil dos estudantes (idade, religião, situação escolar...) e
ainda junto ao professor, para conhecer a sua percepção sobre determinados estudantes e as
relações estabelecidas entre eles.
O contexto
O teste foi realizado numa turma do 6º ano do turno matutino de uma escola da rede
pública, localizada na periferia do Distrito Federal numa cidade com 22 anos de fundação.
Segundo a gestora, a escola que atende aproximadamente 2000 (dois mil) alunos provenientes
das adjacências, cuja população é de baixa renda já foi destaque nos jornais pelo alto nível de
violência.
A turma foi escolhida por ser considerada a mais difícil, tanto pelo gestor como pelos
professores e ainda por outras turmas da escola. A escolha desta escola se deu pelo fato de
oferecer os anos posteriores 7º, 8º e 9º ano, possibilitando, assim, que as autoras dessem o
retorno dos resultados da pesquisa, de modo a subsidiar o trabalho dos professores nos anos
posteriores no que se refere à realidade mapeada pelo teste sociométrico.
A população
da faixa etária que deveriam para cursar o 6º ano (11 anos de idade). Além disso, verificou-se
que 23,5% deles declararam-se repetentes e 74,1% estavam na turma desde o início do ano
letivo.
Quanto aos aspectos familiares, a turma era composta de estudantes com família
monoparentais e seus responsáveis (em maioria) tinham o ensino fundamental incompleto.
Um percentual de 14,0% declarou morar com o pai e a mãe, entretanto, mais da metade deles
(55,0%) declarou que seus pais eram separados e, ainda, 29,0% declararam morar com outras
pessoas que não o pai e mãe, isto é, avós, tios e /ou irmãos (29,0%), aspectos estes
importantes a ser considerados pela escola, isto é, perfil familiar e sua realidade (baixa
escolaridade).
A disposição dos alunos em sala de aula era sempre de dois em dois. Só se sentavam
separados em dia de provas. Eles constantemente se misturavam, principalmente quando
alguns deles esquecem o livro de alguma disciplina. Algumas meninas se sentavam junto de
outras meninas e meninos sentavam com meninos. Não havia lugar marcado na sala de aula.
Também, não se presenciou nos dias das visitas a organização em círculo ou em grupos, como
mencionou a professora. “Estar em grupo torna a aula um pouco mais complicada já que é
mais difícil controlá-los”, afirmou a professora. Um percentual de 37,0% dos estudantes
confirmou a fala da professora. No questionário, esses estudantes escreveram na questão
aberta as seguintes considerações: “Não é muito bom fazer trabalho em grupo, porque às
vezes tem integrante que não se compromete com o trabalho e só atrapalha o grupo e vira
aquela bagunça” (Estudante, menino, 13 anos). Porém, ao se verificar a folha das posições
sociométricas feita para a análise do teste sociométrico, verificou-se que esta fala é de um dos
estudantes mais tímidos da sala, entretanto, não revelado pelo teste. Já no grupo focal, quando
perguntado aos estudantes sobre a dinâmica do trabalho em grupo, alguns também afirmaram
que não gostavam por causa da bagunça, entretanto, a maioria preferiu estar em grupo para o
desenvolvimento das atividades: “Tipo assim, é melhor porque um estudante ajuda o outro e
a aula é mais agradável” (Estudante, masculino, 13 anos). Esta fala foi confirmada pelos
questionários, já que 63,0% consideraram gostar de trabalhar em grupo com as seguintes
justificativas “É bom estar entre os amigos”; “por ser divertido fazer trabalhos juntos”;
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“porque é melhor, mais interessante, é bom trocar ideias sobre o trabalho, fica mais fácil e
mais rápido de fazer”.
Além da falta de dinamismo das aulas, queixa dos estudantes, foi confirmado pela
observação in loco, que os estudantes eram mais ouvintes que participantes, verificou-se que a
escola não era muito apresentável. A observação in loco foi importante para perceber que o
espaço físico da escola poda ser um espaço mais atrativo para os estudantes. Ainda no que se
refere aos atrativos e à organização do espaço, Aquino (1998) destaca que essas condições
acabam por contribuir para a indisciplina dos estudantes.
Foi significativo o número de estudantes que declarou gostar da escola (88,9%) apesar
dos conflitos em seu interior. O principal motivo foi estar com os colegas e por esta mesma
razão em geral gosta da escola (55,9%). Fato este comprovado também por Abramovay,
Cunha e Calaf (2009) que consideram possível notar que as percepções dos atores (estudantes,
docentes e membros da direção) sobre as escolas estão intimamente vinculadas às interações
que conseguem estabelecer nesse ambiente. Também houve aqueles que não gostavam de sua
escola (11,1%) pelos seguintes motivos “é feia, perigosa, bagunçada e é um lixo”.
Os estudantes consideraram a sala de aula um local bastante conflituoso. Foram
unânimes em considerar que a origem dos conflitos entre eles era principalmente as
“gracinhas” ou “brincadeiras de mau gosto”, “sem noção e fora de hora”, “brincadeiras de
luta”, por motivo de ciúmes, disputas amorosas, conversas paralelas etc. Uma das estudantes
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do grupo focal informou “É assim, as brigas acontecem por qualquer coisa, por exemplo, é só
passa no corredor sem encarar as pessoas, assim não tem problemas com ninguém, mas se
você encarar, já era” (Menina, 13 anos).
Apesar dos conflitos em sala e na escola, os estudantes no grupo focal se mostraram
bem unidos, estavam sempre juntos em sala e no intervalo. Verifica-se nas opiniões entre
estudantes e professores divergências de opiniões, sobretudo, sobre a relação entre os
estudantes, que tentam explicar que a divergência entre eles é coisa comum deles e que eles se
entendem. Eles tinham consciência de que o comportamento difícil deles e ou a indisciplina
dificultavam o trabalho do professor, que passava a ter preferência pelos estudantes
“bonzinhos e obedientes”: “Tipo assim, tem professores que têm preferências pelos alunos
(confirmaram 70,3% dos estudantes no questionário), os professores gostam mais dos alunos
que são bonzinhos, estudiosos, obedientes e que não dão trabalho para eles” (Estudante,
menino, 13 anos). Para os estudantes, os mais queridos dos professores eram M. M. S, por ser
uma “nerd” e M. E. P., por ele ser legal com os professores, entretanto, estes não são os
preferidos dos estudantes.
Para resolução dos conflitos, os estudantes disseram que geralmente revidavam e
guardavam rancor: “Tipo assim, eu chamo o bonde e desço o coro” (Menino, 14 anos). No
grupo focal, informaram que “os professores não sabem resolver nada, encaminham para a
direção ou chama a direção, depois encaminha para o SOE – Serviço de Orientação ao
Estudante chamam o Silvio que é o vice-diretor (...) Os professores separam ou dão
advertências, brigam com os alunos e também põem para fora da sala de aula” (Menino, 12
anos).
De acordo com a professora, os conflitos não têm momento certo para acontecer, eles
acontecem na ausência e presença dos professores. A própria professora reconhece que não
exercem sua autoridade como deveriam. Tal justificativa se dá, segundo ela, pelo desafio de
querer que os estudantes sejam disciplinados, entretanto, os pais não conseguem hoje
disciplinar os seus filhos.
Quanto à resolução dos conflitos em sala de aula, verificou-se contradição de
informações entre os estudantes e a professora, que afirmou em primeiro lugar recorrer ao
diálogo, tal qual registram outras pesquisas (cf., p.ex., CARREIRA, 2005; LIRA, 2010)
“Converso com o aluno, Encaminho para a direção e entro em contato com os pais”. Já os
estudantes prestaram outras informações: “Os professores se metem na vida dos estudantes”
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(Estudante, menino, 13 anos). Outra estudante afirmou: “Os professores nunca resolvem
nada. Só pede para a gente ficar quieto e muda a gente de lugar” (Estudante, menino, 14
anos).
Vale à pena destacar uma observação de Pimentel e Sigrist (1976) no que se refere à
importância do professor no encaminhamento dos conflitos e na promoção da convivência
entre os estudantes: deve ter uma postura firme para que os estudantes sejam levados a uma
verdadeira vivência grupal que lhes permita um grande avanço em sua socialização e que não
se limite às situações escolares, mas que possa ser transferida para todas as circunstâncias de
vida. Ainda de acordo com Pimentel e Sigrist (1976, p. 38), o professor exerce papel
importante no acompanhamento dos estudantes para encaminhar os conflitos entre eles:
O professor mais do que ninguém, pelo contato prolongado que tem com os alunos
em situação de grupo, é quem pode perceber os problemas de um aluno, que uma
situação grupal pode revelar. O professor, atuando de forma indireta sobre o grupo,
pode levar cada membro à formação das atitudes convenientes para a vida de grupo,
que a escola, a família e a sociedade em geral tanto exigem.
Considerações Finais
O teste não identificou estudantes totalmente excluídos, ou seja, que não receberam
sequer um voto em uma das questões. Verifica-se a relação interpessoal dos alunos em sala de
aula é um pouco mais positiva do que o esperado, em vista do contexto escolar e das
informações previamente oferecidas pela gestora e professores acerca da turma como a pior
da escola. Verificou-se que os estudantes, adolescentes entre 12 e 14 anos, queriam ser
adultos fortes, populares entre os amigos, com certa dificuldade de se adaptarem as normas
estabelecidas pela escola. Assim, apresentavam-se sempre bem agitados, conversavam muito,
mas mostravam unidos: “Alguns querem até passar nas brincadeiras a imagem de que são
violentos, mas não são” (Estudante, menina, vice-representante da turma). O excesso de
energia dos estudantes acabava sendo canalizada para indisciplina e os comportamentos
indesejados, tais como as brincadeiras de mau gosto, impaciência de uma das partes,
empurrões etc., que acabavam por gerar brigas entre eles, mas no outro dia aparentemente
estava tudo bem. Assim, também confirmou a professora: “Hoje eles brigam e amanhã está
tudo certo”.
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