Dissertação - Leonardo Mattos - AFAB e PFPB - 2015
Dissertação - Leonardo Mattos - AFAB e PFPB - 2015
Dissertação - Leonardo Mattos - AFAB e PFPB - 2015
por
apresentada por
Orientação:
2
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Alaor e Maria Lucia. Muito mais do que as (motivantes) palavras de
incentivo e do que o (vital) apoio financeiro, a naturalidade, o respeito e a serenidade com
os quais vocês sempre trataram minhas decisões, das mais bobas às mais importantes,
foram ao longo de todos estes anos, e novamente no mestrado, fonte de grande
tranquilidade e confiança para seguir os caminhos que resolvi trilhar.
A Clara por todo o amor, carinho, amizade e companheirismo. Por estar ao meu lado
e por me aturar nos momentos mais delicados. Não é fácil expressar o quanto você foi
importante para mim nesse período. Mas dá pra ter uma noção quando vejo que a nossa
história, a história desse mestrado e da minha vinda para o Rio se misturam de uma forma
totalmente inseparável. Você é parte de tudo de bom que me aconteceu por aqui.
A todos os amigos que tornaram o caminho muito mais leve, divertido e cheio de
histórias. E que fizeram que os anos do mestrado fossem muito mais que anos de estudo,
mas de grandes momentos. Especialmente Mile e Mari, amigas para a vida toda.
A Vera, por tudo. E tudo é difícil de listar, até mesmo em bullet points, mas vamos
tentar. Pela disponibilidade, atenção e disposição em me orientar, desde o primeiro minuto
desse processo. Pelo aprendizado nos diversos momentos em que estivemos trabalhando
juntos, que felizmente não foram apenas na dissertação. Pelas diversas oportunidades, que
espero estar correspondendo à altura. E, principalmente, pela autonomia que recebi para
desenvolver as ideias que trago neste trabalho, sem a qual eu teria certamente me frustrado
- e esse era meu grande medo antes de vir para a ENSP. Me peguei pensando algumas
vezes durante esses dois anos, que tipo sortudo sou eu, que no meio de tantas relações
conturbadas entre orientadores e orientandos, fui cair logo com alguém como a Vera que foi
tão importante para dar consistência ao que eu pensava, que foi tão importante para minha
formação enquanto cientista, sem que me fizesse me sentir pressionado.
A Ligia, por tudo também. Falando em sorte, nunca poderia imaginar que logo na
minha primeira semana no Rio já a conheceria, pesquisadora e pensadora que eu já
admirava antes mesmo de cogitar o mestrado. Também não poderia imaginar que logo se
tornaria minha coorientadora, e que logo mais me juntaria ao grupo de pesquisa. É muito
estimulante poder trabalhar com você. Muito obrigado pelas oportunidades, pelos incentivos
e pela confiança, me sinto muito honrado.
3
Aos colegas do mestrado, e principalmente àqueles que mais tarde se tornariam
grandes amigos e até mesmo companheiros de teto. Novamente o acaso me ajudando. Não
tenho palavras para descrever o quanto foi prazeroso e fundamental ter esbarrado em
vocês na ENSP. Todas as cervejas e papos, todos os risos e angústias acadêmicas,
militantes e pessoais. Todos os questionamentos, que, compartilhados, se tornaram muito
mais fáceis de serem entendidos e em alguns casos superados, se tornando verdadeiras
descobertas. Não só descobertas sobre o universo que estávamos explorando dentro e fora
da sala de aula, mas descobertas sobre o nosso lugar e o nosso papel no mundo e na vida.
O que vivemos tão intensamente nesses dois anos, do grupo de estudos às manifestações,
certamente são marcas definitivas gravadas na trajetória de cada um de nós.
4
RESUMO
5
seletiva e abrangente e na mercantilização da saúde; o subfinanciamento e os
diferentes modelos de gestão dentro do contexto neoliberal, a expansão do mercado
farmacêutico e as relações com as políticas para o Complexo Econômico Industrial
da Saúde (CEIS). A partir da perspectiva da consolidação de um sistema de saúde
universal e redistributivo faz-se necessário ampla discussão sobre os rumos das
políticas farmacêuticas no Brasil, bem como o enfrentamento às principais questões
estruturais que a permeiam, como os altos e regressivos gastos privados, a baixa
qualificação dos serviços farmacêuticos, a regulação do setor privado e a
medicalização.
6
ABSTRACT
7
Industrial Health Complex (CEIS). From the perspective of consolidation of an
universal and redistributive health care system, it is necessary a broad discussion
about the direction of pharmaceutical policies in Brazil, as well as tackling the major
structural issues that permeate the medicines provision, such as the high and
regressive out-of-pocket spending, the low quality of pharmaceutical services, the
poor regulation of private sector and the medicalization.
8
CONTEÚDO
Siglas .............................................................................................................................. 11
Ilustrações...................................................................................................................... 12
1 Apresentação ........................................................................................................... 13
2 Introdução ............................................................................................................... 16
2.1 As Políticas de Assistência Farmacêutica no Brasil a partir de 1988. ................................................ 16
2.2 Acesso a Medicamentos Ambulatoriais no Brasil ............................................................................ 17
2.2.1 Assistência Farmacêutica na Atenção Básica (AFAB) do SUS .......................................... 19
2.2.2 Farmácias Comerciais no Brasil ....................................................................................... 21
2.2.3 O Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) .............................................................. 25
2.2.4 Perfil do Acesso a Medicamentos no Brasil e Desigualdades ......................................... 28
2.2.5 Gastos Privados com Medicamentos .............................................................................. 28
2.2.6 Disponibilidade de medicamentos no Setores Público e Privado ................................... 30
2.3 Assistência Farmacêutica na Atenção Básica e Programa Farmácia Popular do Brasil: concorrência
ou complementariedade? ......................................................................................................................... 31
2.4 Sobre a Análise e Avaliação de Políticas Públicas ............................................................................ 33
3 Metodologia ............................................................................................................. 40
3.1 Objeto e Hipótese ........................................................................................................................... 40
3.2 Perguntas do Estudo ....................................................................................................................... 41
3.3 Objetivos ......................................................................................................................................... 41
Geral ............................................................................................................................................. 42
Específicos .................................................................................................................................... 42
3.4 Etapas Metodológicas e Mapa Conceitual ....................................................................................... 43
3.5 Modelo Analítico ............................................................................................................................. 45
3.6 Definição de Categorias e Construção de Matrizes .......................................................................... 47
3.6.1 Características Assistenciais ............................................................................................ 47
3.6.2 Características Gerenciais ................................................................................................ 51
3.6.3 Caraterísticas Políticas, Econômicas e Ideológicas .......................................................... 55
3.7 Fontes e Coleta de Dados ................................................................................................................ 58
3.7.1 Revisão Bibliográfica ........................................................................................................ 58
3.7.2 Dados Secundários .......................................................................................................... 59
3.7.3 Pesquisa Documental ...................................................................................................... 60
3.7.4 Literatura Cinza ................................................................................................................ 60
3.8 Considerações éticas ....................................................................................................................... 60
9
4.5.4 Controle de Estoque, Programação e Armazenamento .................................................. 85
4.6 Disponibilidade ............................................................................................................................... 88
4.7 Atendimento, Atenção e Cuidado ................................................................................................... 92
10
SIGLAS
AB Atenção Básica
ABCFARMA Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico
AF Assistência Farmacêutica
AFAB Assistência Farmacêutica na Atenção Básica
ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ANS Agência Nacional de Saúde Suplementar
APS Atenção Primária em Saúde
ATFP Aqui Têm Farmácia Popular
BPS Banco de Preços em Saúde
CAF Central de Abastecimento Farmacêutico
CEIS Complexo Econômico Industrial da Saúde
CEME Central de Medicamentos
CGU Corregedoria Geral da União
CNES Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde
CNMAF Conferência Nacional de Medicamentos e Assistência Farmacêutica
CNS Conferência Nacional de Saúde
CONASEMS Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde
CPMF Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e
de Créditos e Direitos de Natureza Financeira
DAF Departamento de Assistência Farmacêutica
DATASUS Departamento de Informática do SUS
DCNT Doenças Crônicas Não-Transmissíveis
DRU Desvinculação das Receitas da União
EC Emenda Constitucional
ESF Estratégia Saúde da Família
FPRP Farmácia Popular Rede Própria
FIES Fundo de Financiamento Estudantil
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
FNS Fundo Nacional de Saúde
FTN Formulário Terapêutico Nacional
GBM Gerenciamento de Benefício Medicamento
IAFAB Incentivo à Assistência Farmacêutica na Atenção Básica
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICTQ Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade Industrial
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISAUM-Br Projeto Impacto das Políticas de Subsídios no Acesso e no Uso de
Medicamentos no Brasil
LAFEPE Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco
MS Ministério da Saúde
NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Panamericana de Saúde
OS Organização Social
PAC Programa de Aceleração do Crescimento
PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde
PD Preço de Distribuição
PSF Programa Saúde da Família
PFPB Programa Farmácia Popular do Brasil
PIB Produto Interno Bruto
PMAQ Programa de Valorização da Atenção Básica
11
PMC Preço Máximo ao Consumidor
PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNAF Política Nacional de Assistência Farmacêutica
PNAUM Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional
de Medicamentos
PNM Política Nacional de Medicamentos
POF Pesquisa de Orçamentos Familiares
PPP Parceria Público-Privada
PROUNI Programa Universidade Para Todos
QUALIFAR Programa de Qualificação da Assistência Farmacêutica no SUS
RCB Receita Corrente Bruta
REMUME Relação Municipal de Medicamentos Essenciais
RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais
SAGE Sala de Apoio à Gestão Estratégica do Ministério da Saúde
SCTIE Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
SES Secretaria Estadual de Saúde
SIASG Serviço de Administração de Serviços Gerais
SIOPS Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde
SMS Secretaria Municipal de Saúde
SNTP Saúde Não Têm Preço
SUS Sistema Único de Saúde
TCU Tribunal de Contas da União
UBS Unidade Básica de Saúde
URM Uso Racional de Medicamentos
VR Valor de Referência
ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Mapa Conceitual do estudo ..................................................................... 45
12
1 APRESENTAÇÃO
A assistência farmacêutica é uma das diversas áreas que integram os
sistemas de saúde modernos. A partir da lógica universalista que orienta o SUS,
esta é garantida por meio do artigo 6º da Lei nº8080 (BRASIL, 1990) que inclui entre
as responsabilidades do Estado a “assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica” – alterado pela Lei 12.401 (BRASIL, 2011) - e a “formulação da
política de medicamentos”.
13
processo de consolidação de um modelo de saúde estrategicamente referenciado
pela AB (Machado, 2008).
1Farmácias aceleram expansão, de olho na bolsa. Valor Econômico 2010 mar [acesso em 15 set
2013]. Disponível em: http://www.valor.com.br/arquivo/812573/farmacias-aceleram-expansao-de-
olho-na-bolsa
14
Entretanto, a existência de duas políticas públicas – o PFPB e a AFAB – com
público-alvo e objetivos similares, mas com características distintas, levanta uma
grande possibilidade de sobreposição e até mesmo concorrência (Machado, 2008).
Nesse caso específico, é possível que isso aconteça em diferentes níveis.
15
2 INTRODUÇÃO
16
integrar os esforços voltados para a consolidação do sistema, aumentar a
resolutividade das políticas de AF, descentralizá-las e nortear as ações das três
esferas de gestão (Oliveira, et al.,2010).
17
Frenkel (2008) atribuiu essa dicotomia à uma postura do Estado brasileiro,
que por um lado implementa políticas públicas inspiradas na assistência social
abrangente, típica do welfare state, que tem como objetivo principal permitir o
acesso a medicamentos a todas as classes sociais, e por outro mantém um
mercado com regulação semelhante ao americano, onde a principal função do
Estado seria tal regulação. Um exemplo dessa última seria a política de genéricos,
fortemente baseada no estímulo à competição visando a redução de preços, ainda
que seus efeitos não se restrinjam ao mercado privado como apontam Miranda et al.
(2009).
18
(copagamento) ou distribuição gratuita (SNTP) subsidiada pelo governo em
farmácias comerciais no ATFP (Quadro 1).
* O SNTP foi incluído na tabela para melhor visualização das diferentes formas de acesso. Entretanto para os fins deste
estudo consideramos que o mesmo está inserido tanto no FPRP quanto no ATFP, diferindo na prática apenas pela ausência
do copagamento. Portanto, não se trataria de uma outra forma de acesso. Fonte: elaboração própria.
No que diz respeito à organização dos serviços de AF, Oliveira et al. (2010)
sinalizam a convivência de duas realidades distintas: a da AF legal, consolidada e
19
estruturada pelas leis e portarias e a da AF real, atravessada por problemas de
ordem organizacional e financeira que comprometem o acesso a medicamentos.
Vieira (2008) corrobora esta visão e destaca ainda que se por um lado demorou-se
10 anos após a criação do SUS para a elaboração de uma política de
medicamentos, os esforços para reorientação e qualificação da AF são ainda mais
recentes, sendo persistentes os problemas que ainda hoje comprometem a
assistência farmacêutica na atenção básica.
20
por profissionais não capacitados através de uma “janela” ou balcão envidraçado
(Araújo, 2005; Vieira, 2007).
21
no Brasil. Portanto, aprofundar o entendimento sobre as farmácias comerciais
contribui à melhor compreensão do sistema de saúde brasileiro, razão pela qual
alguns apontamentos iniciais sobre esses estabelecimentos são necessários.
22
insuficiência de orientação ao usuário no momento da dispensação; e o profissional
farmacêutico poucas vezes está presente nas farmácias para prestar adequadas
informações e orientações.
23
crescimento acima da média mundial. Em 2014 espera-se que o tamanho mercado
farmacêutico dos pharmerging seja equivalente ao do resto do mundo (cerca de
50% do mercado mundial), incluindo Estados Unidos e Europa, sendo que em 2001
esses representavam apenas 8% do mercado mundial (IMS Health, 2010).
Todos esses dados deixam claro que o setor varejista brasileiro não apenas
cresce rapidamente como se consolida como um importante setor econômico com
grandes empresas sendo formadas pelas fusões, entrada de multinacionais do ramo
e com articulação direta com a indústria farmacêutica, em um momento de
expansão do consumo de medicamentos entre os pharmerging. Ainda que raros
24
estudos tenham abordado os aspectos levantados, sem dúvida estes devem ser
considerados e aprofundados, especialmente no que diz respeito às consequências
para o sistema de saúde.
25
A principal novidade que essa modalidade trouxe, além da centralização, indo
na direção oposta da tendência estabelecida até o momento da implantação
(Machado, 2008), foi o estabelecimento do copagamento, que pela primeira vez foi
instituído em uma ação do SUS no nível federal, inspirado em experiências
estaduais anteriores, como no caso do Programa Farmácia LAFEPE em
Pernambuco, o Programa Farmácia de Todos no Rio Grande do Norte e a Farmácia
Popular Vital Brasil, no Rio de Janeiro (Oliveira et al., 2007; Santos-Pinto, 2008).
26
Essa expansão trouxe uma mudança no direcionamento inicial da política,
uma vez em que no momento em que a modalidade ATFP passou a se expandir em
um ritmo acelerado, houve uma estagnação no número de estabelecimentos da
FPRP. Em 2008 esses eram 503 e em 2010 somavam 543, número residual se
comprado com as 14.006 de farmácias comerciais conveniadas (Pereira, 2012). Isso
claramente demonstra uma priorização da segunda modalidade e um grande
aumento na escala e impacto do programa. Dados sobre o número de municípios e
população coberta corroboram essa tendência. A partir disso, podemos assumir que
a modalidade FPRP cumpre um papel residual nas formas de acesso a
medicamentos no Brasil, tanto em comparação com a distribuição gratuita no SUS,
quanto em comparação ao ATFP e a compra por desembolso direto nas farmácias
comerciais.
Por fim, como quarto e atual momento, criou-se com a portaria nº 184/2011 o
“Saúde Não Tem Preço” (SNTP), estabelecendo que os medicamentos para
diabetes e hipertensão, e posteriormente em 2012 para asma, seriam totalmente
subsidiados pelo governo em todas as farmácias do programa, tanto na rede própria
quanto na conveniada, com valor zero de copagamento pelo usuário.
27
2.2.4 Perfil do Acesso a Medicamentos no Brasil e Desigualdades
O gasto com medicamentos, por sua vez é muito significativo. Ele não
apenas é o principal componente do gasto em saúde (Silveira et al., 2006; Garcia et
al., 2013b), representando em média 42,9% do gasto total segundo a POF 2008-
2009, como também afeta uma parcela considerável da população - cerca 77% das
famílias apresentam alguma despesa com medicamentos - e representa um impacto
28
financeiro médio de R$ 59,02 mensais por domicílio, ou R$ 17,91 per capita (Garcia
et al., 2013a).
Quando se analisa esse gasto com medicamentos por estrato de renda, uma
série de desigualdades são reveladas. Silveira et al. (2002) apontam que a renda é
fator determinante dos gastos familiares em saúde, ou seja, quanto maior a renda,
maior o gasto absoluto em saúde. Entretanto, as famílias com menor renda
comprometem proporcionalmente maior parte de seu orçamento com esses gastos.
29
2.2.6 Disponibilidade de medicamentos no Setores Público e Privado
30
2.3 Assistência Farmacêutica na Atenção Básica e Programa
Farmácia Popular do Brasil: concorrência ou
complementariedade?
Dentro do complexo contexto levantado, diversos questionamentos podem
ser realizados. Um dos mais importantes, certamente é que tipo de relação existe
entre o PFPB e a AFAB. Uma das hipóteses levantada por Santos-Pinto et al.
(2010), e corroborada por Pereira (2012) é a de que o PFPB complementa e não
substitui os canais de acesso existentes, na medida em que foca suas ações em
população que não utiliza o SUS, embora desprovida de rendimentos suficientes
para o tratamento medicamentoso no mercado convencional.
31
Outros autores levantam a hipótese oposta, de que o PFPB compete com a
AFAB. Machado (2008), ao analisar a participação da AFAB e do PFPB no
orçamento total do MS destinado à AF entre 2004 e 2007, identificou um aumento
de financiamento em valores absoluto para ambas as políticas. Entretanto, quando
analisada a participação percentual de cada uma das políticas no orçamento,
observa-se uma diminuição proporcional de recursos destinados à AFAB e um
aumento proporcional de recursos para o PFPB, sugerindo uma contradição entre
as políticas. Ainda com relação ao financiamento, Baptista et al. (2009)
corroborando da hipótese de concorrência, argumentam que o PFPB abre
precedentes para a utilização de recursos do SUS para programas e ações que não
necessariamente estejam atrelados à garantia do direito universal e integral à
saúde.
Do ponto de vista da relação entre os entes federativos, Guerra Jr. & Acurcio
(2013) argumentam que o PFPB introduz incentivos econômicos para a
desestruturação dos ainda incipientes serviços públicos de assistência farmacêutica
dos municípios, na medida em que o governo federal contrata e financia diretamente
as drogarias locais. Os autores consideram que o protagonismo público na
prestação de serviços farmacêuticos vem sendo alterado progressivamente pela
contratualização de farmácias privadas, e que a coexistência entre os modelos não
parece possível, por ter como alvo os mesmos usuários nas mesmas localidades.
32
2.4 Sobre a Análise e Avaliação de Políticas Públicas
O campo de análise das políticas públicas tem origem na primeira metade do
século XX, especialmente partir da década de 30 e do pós-guerra. Nesse período,
crescia a intervenção do Estado na economia e aumentava o protagonismo estatal
em políticas compensatórias na área social, através do pacto keynesiano (Baptista
& Mattos, 2011).
A avaliação, por sua vez, é geralmente considerada como uma das etapas
deste ciclo, que se segue à implementação. Seu papel dentro do modelo seria o de
julgamento de valor a respeito de uma intervenção ou uma etapa desta, com o
objetivo de subsidiar a tomada de decisões e monitorar os resultados (Viana &
33
Baptista, 2012). Existem diversas formas de classificar as avaliações, sem que se
saia do pressuposto de julgamento de valor e da noção de ciclo das políticas.
34
desenvolvimento do campo ao longo das últimas décadas, esses não deixam de
refletir de certo modo este entendimento (Baptista & Mattos, 2011).
35
e social e (2) tratadas de maneira simplista como apenas uma ferramenta para
resolução de problemas específicos ou isolados.
36
analista já está automaticamente inserido na política e por isso não há como não se
implicar e não se reconhecer na própria política. Em outras palavras, quem se
interessa por estudos de políticas já apresenta algum entendimento da política em
questão, já têm alguma relação com a política ou já têm algo a dizer sobre ela e
estão buscando elementos de sustentação para seu pensar. Dessa maneira, o
objeto, o foco do estudo e as estratégias de investigação refletem a capacidade do
analista de se reconhecer e de enunciar as questões que o mobilizam (Baptista &
Mattos, 2011).
No que diz respeito aos fatores que devem ser levados em conta para que
uma análise com essas características seja feita, destacamos quatro dimensões –
histórica, econômica, política e institucional. De antemão, vale ressaltar que estas
não devem ser entendidas como partes estanques e isoladas, mas como parte de
um todo profundamente articulado e dinâmico.
37
geral e também específica e constitui-se em uma institucionalidade que a condiciona
e a dá sentido. Por isso é necessário considerar primeiro onde a política em questão
se insere na história geral, bem como reconhecer sua história específica. Assim, a
partir da perspectiva histórica, a identificação de um enunciado de uma política não
pode se limitar ao tempo imediato do enunciado, mas aos sentidos, saberes e
práticas históricas que dão sentido ao enunciado em um determinado tempo.
Entretanto, deve-se reconhecer que recorrer a história não significa esgotá-la, o que
é impossível, e nem tratá-la como um dado universal da realidade, já que em última
análise se tratam de narrativas construídas por diferentes grupos.
38
ou determinados empiricamente a partir das perguntas e focos do estudo, como é a
opção aqui. A autora ressalta, entretanto, que ainda que muitos aspectos sejam
considerados, que muitas informações sejam levantadas, que diversos indicadores
sejam utilizados, a compreensão e explicitação do significado da política será
determinada pelos referencias teóricos que o autor adotar.
39
3 METODOLOGIA
Neste capítulo abordaremos todas as etapas de elaboração do estudo. No
primeiro momento apresentaremos a definição do objeto e da hipótese de trabalho,
passando para as perguntas centrais do estudo e para a escolha dos objetivos. Em
seguida, o desenho do estudo é apresentado, considerando a estratégia
metodológica de aproximação do objeto e o modelo analítico escolhido. Por fim
definimos as categorias utilizadas, as fontes de coleta de dados e os procedimentos
operacionais realizados.
Definido que o objeto do estudo são “as relações entre o Programa Farmácia
Popular do Brasil e a Assistência Farmacêutica na Atenção Básica”, passamos
então para a hipótese de trabalho.
40
são parecidos, o programa Farmácia Popular do Brasil e a Assistência Farmacêutica
na Atenção Básica. Esse processo contraditório inscreve-se em um contexto mais
amplo de dilemas e desafios do Sistema de Saúde Brasileiro no qual a privatização
da atenção e da gestão possibilitam o redesenho dos princípios constitucionais
relacionados com a garantia do direito à saúde no que se refere à assistência
farmacêutica”.
3.3 Objetivos
A partir das perguntas, foram definidos então o objetivo geral do trabalho e os
específicos.
41
Geral
Específicos
42
3.4 Etapas Metodológicas e Mapa Conceitual
Para possibilitar a problematização das relações entre a AF na AB e o PFPB
utilizamos duas etapas metodológicas que permitiram: (1) caracterizar ambas as
políticas no intuito de se aproximar da essência desses objetos e subsidiar a análise
dos pontos e mecanismos onde e pelos quais elas se relacionam, buscando atingir
os objetivos específicos 1 e 2; e (2) identificar, na atual conjuntura do sistema de
saúde e do Brasil, processos mais gerais de caráter histórico, político, econômico e
social que permitissem situar e aprofundar o entendimento sobre essas relações,
buscando atingir o objetivo específico 3 (Contextualizar as relações entre o
Programa Farmácia Popular do Brasil e a Assistência Farmacêutica na Atenção
Básica no atual momento do sistema de saúde brasileiro).
43
de dados importantes para determinados pontos do estudo eram muito extensos
para serem analisados no período que dispúnhamos, e outros foram
disponibilizados em períodos onde a utilização não era mais viável pelo tempo.
44
Figura 1 - Mapa Conceitual do estudo
45
como foi o caso neste estudo. No campo da saúde coletiva essa estratégia também
é amplamente utilizada.
46
3.6 Definição de Categorias e Construção de Matrizes
A elaboração das matrizes, específicamente para os propósitos do estudo,
bem como a definição das categorias presente em cada uma delas, foram feitas
visando atingir os objetivos específicos. Considerando a primeira etapa
metodológica descrita na seção 3.4, os dois primeiros objetivos específicos dizem
respeito à descrição dos princípios/características das duas políticas, a identificação
dos princípios/características concorrentes e complementares e a análise da relação
entre as políticas. Estes objetivos foram abordados de maneira simultânea, e deram
origem aos capítulos 6, 7 e 8 deste trabalho. As ferramentas desenvolvidas para a
operacionalização desta etapa foram as matrizes 1 e 2 (figuras 2 e 3,
respectivamente). Parte das categorias utilizadas, especialmente as variáveis, tem
sido utilizadas em diversos trabalhos da área da saúde coletiva e da assistência
farmacêutica, e parte foram incluídas por opção do autor, como será descrito nas
seções a seguir.
47
de municípios cobertos pelas políticas), e proporção de utilização de cada fonte
(porcentagem de utilização das políticas e do desembolso direto para obtenção de
medicamentos).
48
Quadro 2 - Matriz 1, Características Assistenciais
DIMENSÃO VARIÁVEL AF NA AB PFPB CONSIDERAÇÕES/REFLEXÕES/HIPÓTESES FONTES
Literatura,
Unidades de Saúde que Farmácias conveniadas Observar a quantidade de estabelecimentos que Dados
Pontos de Acesso
dispensam (quantidade) (quantidade) dispensam medicamentos em cada. secundários
(CNES, SAGE)
Unidades de saúde que Unidades RP e Conveniada. Literatura,
dispensam. Mais homogênea, Maior concentração em Observar desigualdades regionais na distribuição Dados
Distribuição Geográfica
distribuição de acordo com a grandes centros e nas regiões dos estabelecimentos Secundários
existência de unidades de saúde Sul/Sudeste. (PNAD, ISAUM)
Literatura,
Falta de informações pra AF na AB. Importante
Quantidade/ano, evolução, Dados
Atendimentos Quantidade/ano, evolução notar a evolução e crescimento PFPB. Observar o
Abrangência volume de vendas Secundários
número de beneficiados por cada um.
(SAGE, ISAUM)
Literatura,
Dados
Observar a capacidade de cada política na
Municípios cobertos Quantidade Quantidade secundários
cobertura e as diferenças entre cada uma
(SAGE, PNAD,
CNES)
Literatura,
Observar qual a proporção de usuários que
Proporção do total de usuários Proporção do total de usuários Dados
Proporção de Utilização utilizam cada uma das fontes – divisão entre as
que utilizam a fonte que utilizam a fonte Secundários
fontes de acesso
(PNAUM)
Observar se o perfil socioeconômico dos usuários
Literatura,
Renda Perfil de renda dos usuários Perfil de renda dos usuários são é semelhante ou não. PFPB a princípio foca
Documental
nas classes C e D.
Cor de Pele, Sexo,
Observar se o perfil socioeconômico para estas
Utilização de Planos de - - Literatura
características destoa ou não entre as políticas
Perfil Sócio Saúde
Econômico e Literatura,
Origem Observar diferenças regionais de cobertura e Dados
Diferenças Regionais - -
utilização associadas a renda Secundários
(ISAUM, PNAD)
Usuário da AB no SUS que não Há sobreposição de público? Parte utiliza o PFPB
Origem dos Usuários /
Usuário da AB do SUS obtiveram nas unidades de como alternativa de acesso, uma vez que tem Literatura
Receita
saúde, usuários oriundos do origem no SUS?
49
DIMENSÃO VARIÁVEL AF NA AB PFPB CONSIDERAÇÕES/REFLEXÕES/HIPÓTESES FONTES
setor privado (planos,
particulares)
Observar a disponibilidade, a proporção que é
Disponibili-
- Baixa Alta bem-sucedida em obter seus medicamentos em Literatura
dade
cada fonte, fatores associados
Atenção,
Discutir como a estrutura e os recursos humanos
Atendimento Estrutura e RH Dados tabela II (gestão) Dados tabela II (gestão) Literatura
afetam no atendimento e no cuidado
e Cuidado
Usuário tem acesso à AF a partir
da procura dos serviços de
saúde ou para manutenção de Demanda direta do usuário,
Normas específicas para validade de receita no
tratamento, em geral no mediante apresentação de Literatura,
Primeiro Contato PFPB. AF na AB é heterogêneo. Hórus como
mesmo estabelecimento. Porta receita medica de qualquer Documental
tentativa de normatização. Casos MG, ES.
de entrada para o Sistema, origem
associada à procura pela
unidade de saúde.
Atenção, A AF está articulada na identificação e resolução
Maior capacidade de
Atendimen- Orientação para a Isolado do sistema e das de problemas específicos coletivos? Está
articulação com as Literatura
to e Cuidado comunidade necessidades. articulada com as especificidades de cada
necessidades da população
localidade.
Articulada a um maior espectro Que tipo de serviços são ofertados na AB além da
Fragmentado, isolado do
de necessidades do individuais AF? Há sistema de referência? As políticas têm
Integralidade sistema, responde apenas à Literatura
e coletivas, serviços relação com a etapa de identificação do
demanda.
diversificados vinculados à AB. problema de saúde?
Refere-se ao acompanhamento do usuário para
AF vinculada à equipe de Saúde
Longitudinalidade Não há. além da demanda, com estabelecimento de Literatura
ou não.
relação. Cadastro.
Profissional que realiza, Etapa problemática para ambas as políticas, foco
Profissional que realiza,
Dispensação estrutura, processo, na distribuição, escassez de profissionais Literatura
Atenção, estrutura e processo.
conhecimento paciente qualificados
Atendimen-
Indicadores OMS (med. por Prescrição realizada no setor
to e Cuidado Avaliação do URM e do efeito das diretrizes das
Prescrição prescrição, nome genérico, % privado ou público. Poucas PMAC.
políticas farmacêuticas nos serviços
injetáveis, antibióticos e listas) informações
50
3.6.2 Características Gerenciais
51
responsáveis envolvidos); preços e pagamento (valores pagos ou não pelos
usuários, e casos existam, funções dos mecanismos de coparticipação e suas
implicações).
52
Quadro 3 - Matriz 2, Características Gerenciais
DIMENSÃO VARIÁVEL AF NA AB PFPB FONTES
Qual os princípios e características de
Administração direta
Parceria Público-Privada, cada modelo? O que levou a escolha de Documental,
Modelo (municípios),
centralizada. um ou de outro? Que modelos de gestão Literatura
descentralizada
tem sido priorizados no SUS e porquê?
Medicamentos selecionados para Refere-se à definição do elenco de
Lista municipal, Rename.
o programa, outros medicamentos medicamentos. Observar adequação à
Oferta varia de unidade para Literatura,
Seleção e Elenco e correlatos por fora do programa. realidade local da AF na AB e
unidade, e de município documental
Oferta uniforme em todas as generalização pelo PFPB, critérios de
para município
farmácias conveniadas seleção.
Deficiente. Precisa ser feita
Compras mais frequentes,
a longo prazo (licitação) Uma das etapas mais deficientes na AFAB,
estoques menores. Maior
Programação Dependente de condições que impacta entre outras coisas, na Literatura
agilidade, menos faltas. Ligação
estruturais, capacitação disponibilidade.
direta com distribuidoras
técnica.
Licitação. Dificuldades Compra pela Farmácia comercial, Literatura,
Qual mecanismo é mais vantajoso
Gestão, técnicas, falta de recursos, subsídio a cada medicamento Documental
economicamente para o Estado? Quais os
Organização e Aquisição questões políticas dispensado de acordo com valor (TCU), Dados
problemas de cada um? Quem se
Logística interfederativas, ganho de pré-definido. Custos mais elevados Secundários
beneficia em cada mecanismo?
escala. para disponibilização (SAGE)
Responsabilidade dos
Logística e Qual é mais efetiva? Quais as implicações
municípios, pode ser Totalmente terceirizada Literatura
distribuição de adotar um modelo ou outro?
parcialmente terceirizada
Deficiente. Falta sistema de
Mais eficiente. Menores estoques
Controle de informação, baixa
nas farmácias comerciais, - Literatura
Estoque capacitação, ausência de
demanda mais frequente.
registros.
Condições ruins, devida à
Armazenamento Condições melhores? - Literatura
estrutura física deficiente
Justificativa do copagamento na
RP e no ATFP. Impacto do FPRP copagamento está relacionado à
Preços e
- pagamento, para o usuário e para redução dos custos do Estado, ATFP não Literatura
Pagamento
o Estado. Redução de preços, (baixa eficiência)
dimensão do copagamento.
53
DIMENSÃO VARIÁVEL AF NA AB PFPB FONTES
Literatura,
Heterogênea, na maioria das Dados
Relativamente homogênea, A estrutura física de ambos os
Estrutura Física vezes insuficiente ou Secundários
seguindo normas sanitárias. estabelecimentos é adequada para a AF?
inadequada (PMAC),
Documental
Estrutura e A AF na AB conta com recursos humanos
Recursos Insuficientes, farmacêuticos para a consolidação de seu papel dentro
Humanos sobrecarregados ou Farmacêutico presença do modelo pretendido da atenção básica? Literatura,
Recursos ausentes, dispensação obrigatória, mas ausência em As farmácias comerciais cumprem a Dados
Humanos realizada por outros grande parte; dispensação por legislação pertinente? Existem Secundários
membros da equipe, balconistas profissionais capacitados nos dois (PMAC)
dificuldades de contratação modelos para a concretização da AF para
além da disponibilização do insumo?
Tripartite, repasse a
municípios, alguns Transferência direta do FNS para Porque a opção da centralização? Em
Literatura,
Mecanismo medicamentos Farmácias comerciais. muitos lugares há sobreposição de
Documental
centralizados. Componente Centralização. financiamento.
básico. Descentralização.
A origem dos recursos é a mesma. No
PFPB há um duplo pagamento, uma vez Dados
Fundo público (impostos), Usuário (copagamento), fundo
Origem dos que o usuário paga com impostos e direto Secundários
participação de todos os público (impostos) para o subsídio,
Recursos na farmácia. A alocação de recursos em (SIOPS, SIGA
entes federativos participação do Governo Federal
Financiamento cada política reflete prioridades e Brasil)
tendências.
Série histórica total e Série histórica total e proporcional Literatura,
Há um aumento proporcional constante
Evolução dos proporcional ao gasto com ao gasto com medicamentos da Dados
no financiamento do PFPB em detrimento
gastos med. da AB, com AB, com medicamentos, e com Secundários
da AF na AB.
medicamentos e Saúde Saúde (SAGE)
Quais atores se beneficiam dos recursos?
Destino dos Indústria Farmacêutica, Farmácias Há uma maior acumulação para o setor Dados
Indústria Farmacêutica
Recursos comerciais. privado em algum deles? Há algum setor Secundários
claramente beneficiado?
54
3.6.3 Caraterísticas Políticas, Econômicas e Ideológicas
55
abrangentes. Nesse sentido, as variáveis foram políticas de atenção básica;
assistência farmacêutica; e complexo econômico industrial da saúde.
56
Quadro 4 – Matriz 3, Características Políticas, Econômicas e Ideológicas
DIMENSÃO VARIÁVEL AF NA AB PFPB
Contribui de maneira importante para alguns medicamentos e Não há evidências que sustentem a ampliação global do acesso, quando
doenças, especialmente na população de mais baixa renda, porém considerada a proporção da população que consegue obter seus
Acesso
predominância permanece privada. Dados indicam alto acesso global medicamentos dentro do todo. Parece afetar uma pequena parte, de
à medicamentos, independente da fonte. hipertensos e diabéticos. Acesso total, independente de fonte, é alto.
Questões Centrais
Protege dos gastos privados, porém se limita a poucos Não altera a proporção e o perfil de gastos privados, e reforça as farmácias
Para o Debate em Gastos Privados
medicamentos, não ameaça predominância privada comerciais. Efeito restrito a poucas doenças.
torno das Políticas
Qualificação dos Evolução lenta. Iniciativas locais, mais o quadro geral ainda está Farmácias Comerciais tem regulação frágil, e ATFP não faz nenhuma
Farmacêuticas
Serviços distante, foco na distribuição. Cuidado insipiente. exigência. Qualificação também é agenda inconclusa.
A estrutura de gastos privados e a baixa qualificação dos serviços, Viabilização do acesso pelo mercado ainda mantém privado como principal
Direito à Saúde segmentação do sistema de saúde, além da baixa abrangência, fazem fonte de acesso. Copagamento fere universalidade. Acesso pelo mercado
com que a AFAB esteja distante da garantia do direito um direito à AF compromete visão de direito.
AF como eixo estruturante da AB. Ainda muito focada na distribuição AF pelo mercado, desintegrada da atenção básica e equipe
Atenção Básica e pouco no cuidado. Potencial para reorientação de práticas, multiprofissional, não colabora para consolidação. Reforça modelo
consolidação de AB universal. Certa coerência com políticas setoriais. curativo, mercantil, segmentado de AB. Incoerência com políticas setoriais
Coerência e
Orientações de políticas setoriais não cumpridas (qualificação), foco
Articulação com Assistência Distância de ideia inicial das políticas – parceria com setor privado não era
na disponibilização do insumo. Em certa medida cumpre (Rename,
outras Políticas da Farmacêutica uma realidade. Distância da qualificação e diversos outros aspectos
genéricos)
Saúde
Complexo Recursos estagnados. Não há controle central do governo para Claro incentivo ao consumo. “Articulação virtuosa” não se concretiza. PFPB
Industrial da induzir tipos específicos de consumo (genéricos, ex). SUS grande enquanto política de incentivo econômico (varejo e indústria). Maior
Saúde produtor de serviços, poder de compra. controle central.
Medicamento enquanto parte da atenção, meio para prevenção
Papel do Mercadoria a ser disponibilizada e consumida; reforço do medicamento
/recuperação, possibilidade de foco no cuidado e no paciente, uso
Medicamento como símbolo de saúde; separação do medicamento da atenção;
potencialmente racional, desmedicalizado e desmercantilizado
Forte lógica mercantil e comercial, pressão pelo consumo de
Modelo de Lógica de funcionamento desmercantilizada, Modelo indissociável e medicamentos e outros insumos, papel simbólico das farmácias comerciais
Papel Simbólico e
Farmácia legitimador da APS, Integração ao Sistema de Saúde, para o usuário (Status), deslegitima setor público e legitima farmácia-
Ideológico
comércio; não integração ao sistema;
Saúde como direito; equipe multiprofissional; integração dos Saúde-mercadoria; medicalização; medicina curativa; estímulo consumo;
Modelo serviços; foco na prevenção e promoção; centrada no usuário; demanda espontânea; descolamento deproblemas de saúde da população;
Assistencial humanização. Precarização, subfinanciamento, segmentação da serviços desarticulados. Alto financiamento, pouca efetividade e cobertura,
demanda, privado hegemônico. Não garante princípios do SUS segmentação, reforça privado. Contramão de princípios do SUS.
Tendências de
Processos Forte expansão do mercado farmacêutico (pharmerging); fusões e aquisições na produção e no varejo farmacêutico; alta lucratividade do varejo
Mercado
Econômicos e
Neoliberalismo PPPs, Privatização, Segmentação, Focalização, Copagamento, Direitos pelo mercado, Precarização, Subfinanciamento
Modelos de
Desenvolvimento Desenvolvimen- Expansão do mercado de consumo de medicamentos, foco nas classes C e D, fortalecimento de atores privados pelas políticas públicas, Estado
tismo como promotor; centralidade no papel econômico do medicamento
57
3.7 Fontes e Coleta de Dados
Para a construção das matrizes, foram utilizadas diferentes fontes e técnicas
de coletas de dados, de caráter quantitativo e qualitativo. O estudo baseou-se
fundamentalmente na revisão narrativa da literatura científica. Quando necessário,
recorremos também a documentos oficiais, literatura cinza e a dados secundários
de bancos de fácil acesso. A maneira como procedeu-se a busca e utilização dos
dados será apresentada a seguir, bem como a descrição das fontes de dados.
58
sobre o PFPB utilizou-se as palavras-chave “farmácia popular”; “pharmaceutical
services”; “cost sharing”; “copayment”. Foram recuperados 230 estudos. Os termos
de pesquisa detalhados são descritos no projeto.
59
Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde – CNES. Nesta base são
registrados os estabelecimentos de saúde do país, especialmente públicos, em
diferentes classificações. Estes dados foram utilizados para estimar a quantidade de
postos e unidades de saúde no Brasil ao final do ano de 2014.
60
4 A ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA NA ATENÇÃO BÁSICA
4.1 Abrangência
Partimos da premissa que na rede pública a AFAB apenas pode se
concretizar no âmbito dos postos, unidades ou centros de saúde, genericamente
aqui referidos como UBS. Em dezembro de 2014 estes totalizavam 45667
estabelecimentos, segundo dados do CNES5. Entretanto, não são todos as UBS
que realizam a dispensação de medicamentos, conforme constataram Mendes et al.
(2014), e esta é uma outra condição importante para uma estimativa plausível da
quantidade de estabelecimentos onde a AFAB acontece. Ao analisar uma amostra
equivalente a 88,3% dos centros e unidades de saúde no ano de 2013 (apenas as
que aderiram ao PMAQ), observaram que 75,3% destes estabelecimentos realizam
a dispensação de medicamentos, o que em termos absolutos representou pouco
mais de 29 mil UBS. Considerando a proporção encontrada pelos autores
supracitados e os dados do CNES, podemos estimar que existam aproximadamente
34 mil UBS que realizam a dispensação de medicamentos no Brasil. Em outras
palavras, é nesses estabelecimentos onde ocorre a AFAB.
61
De qualquer maneira, o que estas evidências mostram é que as cidades de
menor porte populacional são mais bem assistidas em termos de concentração de
UBS do que as de municípios maior porte populacional e o mesmo vale para as
UBS que dispensam medicamentos. Os que vivem em municípios com mais de cem
mil habitantes, cerca de 55% da população, são atendidos por aproximadamente
26% das unidades de saúde e por 30% das unidades que dispensam
medicamentos.
14/12/2014
62
usuários regulares de centros e postos de saúde, é possível que exista uma
proporção importante que use o sistema público, ainda que não regularmente,
sobretudo a população mais jovem.
63
4.2 Perfil Socioeconômico e Origem dos Usuários
Novamente partindo da premissa que os usuários das UBS deveriam obter
seus medicamentos prioritariamente na própria unidade de atendimento, os dados
da PNAD9 sobre utilização regular das UBS são úteis para lançar luzes sobre o
perfil dos potenciais beneficiados pela AFAB.
64
uma menor renda também está associada a uma maior obtenção de medicamentos
na AFAB. Vale a ressalva de que estes são estudos locais, e apesar de confirmarem
a tendência, não podem ser generalizados para todo o país em termos quantitativos,
dadas as diferentes e as vastas diferenças observadas entre os municípios
brasileiros. Além disso a região Sul apresenta evidências de uma melhor
organização/estruturação geral da assistência farmacêutica do que outras regiões
do país.
65
Por fim, dados nacionais sobre outros aspectos socioeconômicos associados
à obtenção de medicamentos nas UBS são apontados por Costa (2014). Segundo a
autora negros/pardos e indígenas utilizam mais as UBS para obter seus
medicamentos para hipertensão e diabetes do que brancos. O mesmo vale para
mulheres, pessoas com menos escolaridade e que não possuem planos de saúde.
4.3 Financiamento
Os mecanismos de financiamento da AF no Brasil vêm passando por
diversas mudanças ao longo dos anos. Os principais fatores que influenciaram estas
mudanças foram de caráter institucional, com a desativação da CEME e a
implementação de políticas setoriais, como a PNM e a PNAF. Estas levaram para a
AF a necessidade de descentralização das atividades de programação e aquisição
de medicamentos, especialmente na atenção básica, em consonância com as
orientações gerais das políticas de saúde.
O componente básico, por sua vez, é composto por uma parte financeira fixa,
que é um valor per capita para aquisição de medicamentos na atenção básica
transferido para estados e municípios de acordo com pactuação bipartite; e por uma
parte variável, relacionadas aos programas de hipertensão e diabetes, asma e rinite,
66
saúde mental, saúde da mulher, alimentação e nutrição e combate ao tabagismo,
que podem ser executados pelo MS ou descentralizados, também de acordo com
pactuação tripartite (Oliveira et al., 2010).
Entretanto, estes dados não são suficientes para entender como tem
evoluído o financiamento de medicamentos como um todo, incluindo os da atenção
básica. É necessário observar como tem se dado a contribuição de cada ente
federativo.
67
Entre os estudos encontrados, a tendência de avanço na descentralização
nos gastos da União é consenso, o que segue a tendência geral do financiamento
no SUS (Piola et al. 2013) e que pode ser concluído a partir de algumas evidências.
A primeira delas é o aumento proporcional expressivo, dentro dos valores
financiados pela União, das transferências de recursos a outros entes e a
diminuição da participação das aquisições diretas. Vieira & Zucchi (2013) mostram
que entre 2005 e 2009, os recursos repassados para estados e municípios
passaram de 40,6% e 4,5% do orçamento para 45,3% e 11,3%, respectivamente, ao
passo em que a participação das aquisições diretas realizadas diminuiu de 50,2%
para 41,8%. As autoras apontam que a tendência de descentralização está
relacionada principalmente ao fato de o Ministério ter deixado de comprar de
maneira centralizada diversos medicamentos, especialmente no que se refere à
atenção básica. Aurea (2011) aponta uma evolução mais acelerada - a proporção
de recursos repassada aos dois entes somados subiu de 34,3% em 2005 para
51,6% em 2008, enquanto que as aquisições diretas caíram de 65,7% para 48,4%.
Em termos absolutos, foi identificada uma tendência de relativa estagnação dos
gastos com nesta modalidade.
68
estratégicos gastou-se 2,6 reais com DST/AIDS e medicamentos especializados
para cada 1 real na atenção básica. Já o estudo de Aurea (2011), que analisa
apenas os gastos com aquisição direta do MS em cada componente, aponta que em
termos absolutos do MS, o componente básico diminuiu sua participação de 20,7%
para 11,7%, o estratégico de 65,0% para 59,5% e o especializado subiu de 14,3%
para 28,8%, tendo sido o único que teve aumento absoluto dos recursos, enquanto
que para os dois primeiros houve uma diminuição.
69
com baixíssima participação estadual (Vieira & Zucchi, 2013).Outro fato que merece
destaque é o grande aumento, entre 2005 e 2009, das transferências de municípios
para outros municípios (901%) e para os estados (232%), o que pode representar
um avanço na realização de arranjos intermunicipais e estaduais para a aquisição
de medicamentos, tema que será abordado mais adiante. Entretanto, vale ressaltar
que em termos absolutos, essas transferências são praticamente insignificantes em
termos proporcionais (menos de 1%) quando comparadas aos recursos gastos com
as compra diretas municipais.
70
básico dentro do orçamento destinado a medicamentos pelo MS. Em 2011 foram
investidos 1,02 bilhões de reais em um total de 6,99, cerca de 14,6%. Já em 2013, a
proporção foi de 1,03 em um total de 11,46 bilhões, aproximadamente 9,0%, o que
representam uma diminuição proporcional importante.
Por fim, vale destacar os parcos recursos destinados pela União para a
organização e estruturação de serviços farmacêuticos públicos. Entre 2005 e 2009,
os valores destinados a este fim passaram de 7,1 milhões para 10,1 milhões de
reais, crescimento bem abaixo dos gastos com aquisição pelas três esferas, e em
termos absolutos, praticamente nulos quando comparados ao montante destinado
71
para aquisição (Vieira & Zucchi, 2013). Mais recentemente criou-se o Qualifar-SUS,
que tem entre os seus objetivos a estruturação dos serviços farmacêuticos na AB.
No que diz respeito à estrutura física, Araújo et al. (2008) apontam que, de
maneira geral, as farmácias nas UBS ocupam espaços relativamente pequenos,
cerca de 20 metros quadrados, que servem simultaneamente como áreas de
armazenamento e dispensação. Dessa maneira, o atendimento é quase sempre
feito de maneira externa, em local de circulação da unidade de saúde, através de
uma “janela” ou balcão envidraçado.
72
Ao avaliar os centros de saúde da cidade de Brasília/DF no ano de 2001,
Naves & Silver (2005) confirmam esta tendência. O estudo identificou que na
cidade, os centros de saúde possuem estrutura física relativamente similar,
contando com farmácias de pequena escala. Nelas, o espaço para armazenamento
e dispensação eram limitados, sendo que os medicamentos de programas especiais
eram armazenados em separado, fora das farmácias. Os pacientes eram atendidos
através de janelas de vidro. Segundo os autores, a infraestrutura das farmácias não
é condizente à prática de orientação aos pacientes e de trabalho dos profissionais
da saúde
Ainda que estes estudos tenham sido realizados há alguns anos, existem
indícios que a situação não teve avanços consideráveis. Em estudo recente
realizado dentro do escopo do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da
Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), as UBS brasileiras foram caracterizadas
com relação à AF. Entre as cerca de trinta mil que praticam a dispensação de
medicamentos, 17,3% das farmácias possuem ar condicionado, 20,0% tem sala de
estocagem para medicamentos, 25,0% possuem geladeira (Mendes et al; 2014). Em
outro estudo recente, para 53,1% e 16,1% dos gestores municipais da AF de todo o
país, algumas ou nenhuma das farmácias dos serviços de saúde de seu município,
respectivamente, possuem infraestrutura adequada (Lacerda, 2013).
73
ambiente climatizado e 49,8% possuíam acesso à internet. Já nas farmácias, esta
última proporção era um pouco maior, 57,4% (Costa & Nascimento Jr, 2012).
74
além da dificuldade de acesso à internet e a necessidade de capacitação de RH
envolvidos com a gestão da AF são citados como importantes (Costa & Nascimento
Jr., 2014).
75
tinha que se dividir entre atividades relacionadas à AF, a vigilância sanitária e ao
laboratório de análises clínicas (De Bernardi et al., 2006). Em municípios baianos,
Barreto &Guimarães (2010) também identificaram a ausência do farmacêutico na
operacionalização de atividades essenciais para a gestão da AF, como a
programação, em função do número insuficiente de profissionais e pela priorização
de outras atividades.
Por fim Mendes et al. (2014) mostram um panorama mais geral do Brasil que
confirma os estudos locais. Apenas 20,1% das UBS que realizam a dispensação de
medicamentos contam com apoio matricial de farmacêutico
76
Vale registrar ainda que desde 2008 os farmacêuticos são um dos
profissionais que foram incluídos como possíveis integrantes dos Núcleos de Apoio
à Saúde da Família (NASF). Todavia não são membros obrigatórios das equipes
multiprofissionais e, como mostrado nesta seção, são raros os locais que contam
com a presença na AFAB.
77
4.5.1 Seleção e Elenco de Medicamentos
78
estes têm autonomia para selecionar os medicamentos que serão ofertados em sua
rede (Helfer et al. 2012). Além disso, existem casos onde os recursos pactuados
para o elenco de referência são utilizados para a aquisição de outros medicamentos
(Vieira, 2008; Bruns et al., 2014).
Em estudo mais recente com gestores municipais, 58,9% dizem ter uma
relação própria de medicamentos e 88,3% adotam a RENAME como referência para
disponibilizar medicamentos em seu município. Apesar disso, 65,9% deles
disponibilizam outros medicamentos para além da RENAME em seus municípios.
Em 79,2% das respostas eles ainda consideraram que o fato do medicamento
constar no elenco padronizado pela REMUME ou RENAME tem importância grande
ou muito grande para a aquisição. Os gestores ainda colocaram como um dos
fatores mais importantes para a seleção que os medicamentos “constarem na
RENAME”, ao lado de “atender a demanda da rede de serviços de saúde” e
“contemplar os programas prioritários de saúde do município” (Lacerda, 2013).
79
4.5.2 Compras Públicas (Aquisição)
80
Alguns estudos mostram que diversos municípios apresentam grandes
dificuldades para realizar propriamente a etapa da aquisição, além de enfrentarem
barreiras que nem sempre estão sob sua alçada de intervenção. Os problemas são
de ordens diversas, e vão desde questões técnicas (falta de profissionais
capacitados, falhas na programação, pequena escala de compras, dificuldades na
elaboração dos editais de licitação, etc.) à ética (corrupção, desvio de verbas,
fraudes), passando por questões políticas (falhas nas transferências de recursos) e
de mercado (falta de fornecedores, preços elevados, entre outros). Alguns estudos
mostram estas questões.
81
estados não têm participado de forma integrada aos municípios com vistas a
garantir os medicamentos da AB (Lacerda, 2013). Além disso, os problemas
relativos aos repasses se somam às dificuldades gerais de financiamento da AFAB.
Segundo 62,8% dos gestores municipais, a falta de recursos financeiros tem
importância grande ou muito grande quando não conseguem disponibilizar os
medicamentos (Lacerda, 2013)
Outros relatos trazidos pelos gestores no mesmo estudo, indicam que além
dos problemas técnicos e financeiros para realizar a aquisição, aspectos inerentes
ao mercado farmacêutico também podem dificultar o processo. Cerca de 27% dos
gestores relataram que a inexistência de fornecedores na região tem importância
“grande” ou “muito grande” quando os gestores não conseguem disponibilizar os
medicamentos que deveria (Lacerda, 2013). Isso pode ocorrer principalmente nos
municípios de pequeno porte que compram em escalas menores ou ainda naqueles
de difícil acesso geográfico, uma vez que atender a estas demandas pode ser
pouco vantajoso para os produtores e ou distribuidores. Outra possibilidade que
merece ser estudada é se a capacidade produtiva instalada no Brasil tem sido
suficiente para atender as demandas do SUS e do mercado privado. Caso haja uma
defasagem nesta capacidade, esta pode ser mais um fator explicativo para as
dificuldades encontradas por gestores nas compras de medicamentos.
10 Investigação apura cartel para encarecer remédios. O Globo, 18/05/2013. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/brasil/investigacao-apura-cartel-para-encarecer-remedios-8432284
82
se refere à aquisição. Assim, ao longo do tempo foram sendo experimentados
soluções que permitissem um aumento na eficiência nas compras públicas. Estas
soluções passam principalmente por uma maior interlocução entre os entes
estaduais e municipais, seja através de um maior protagonismo estadual enquanto
organizador e indutor da AFAB, seja através da articulação entre municípios para
realização de compras conjuntas, com consequente ganho de escala. Algumas
experiências locais demonstram êxito nestas estratégias.
83
que abordassem questões específicas. Outras experiências de protagonismo
estadual na organização da AF e na aquisição são descritas por Cosendey (2000).
84
terceirizado é geralmente uma alíquota ou porcentagem sobre o valor dos produtos
manejados e/ou sobre o volume de entregas ou transportes realizados.
Por fim, no quarto modelo os dois níveis logísticos são terceirizados, como é
o caso do PFPB. Dessa maneira, são contratadas farmácias privadas para a
realização da dispensação, e o gestor paga preços fixos de ressarcimento por
dispensação aos estabelecimentos contratados. Do ponto de vista do gestor, este
fica isento de qualquer responsabilidade direta na logística e na dispensação.
Entretanto o modelo está associado a maiores custos e dificuldades de integração
ao sistema de saúde, como será discutido mais adiante.
85
maneira confiável a partir de um controle de estoque bem feito. Vieira (2008)
adverte que a deficiência nestas atividades indica que a aquisição é feita sem se
basear em parâmetros recomendáveis, o que pode ocasionar compras de
quantidades superiores ou inferiores ao demandado, gerando por um lado
desperdício e por outro, falta de medicamentos nos serviços.
86
acima dos descritos nos estudos anteriores. Diversos estudos locais confirmam
esses problemas
Entretanto, apesar dos dados mais gerais apontarem uma situação crítica e
em lenta evolução, as diversidades regionais (como já mostrado no estudo de
Emmerick et al., 2009) e municipais novamente se manifestam.
Todas essas questões, podem em boa parte ser explicadas, como abordado
anteriormente, pelas deficiências estruturais e de recursos humanos. A melhoria nas
87
condições de armazenamento depende diretamente de espaço físico e
equipamentos adequados. A melhora no controle de estoque depende da
disponibilidade de sistemas de informação adequados e de profissionais
capacitados e sensibilizados da importância da atividade. Ainda que possa ser
argumentado que os profissionais responsáveis pela AFAB não estão devidamente
capacitados para tais atividades ou não realizam adequadamente suas funções, o
que pode também ser uma realidade, a questão precedente é outra. Como já citado
anteriormente, a escassez de recursos humanos é a regra. Apenas 20% das UBS
contam com apoio matricial de farmacêutico, e nas poucas onde o profissional está
presente há sobrecarga de demandas e funções.
4.6 Disponibilidade
A disponibilidade dos medicamentos nas unidades de saúde pode ser
considerada um indicador chave, por alguns motivos. Primeiro porque o
medicamento é parte importante do cuidado, e sua indisponibilidade pode impedir a
realização de tratamentos gerando consequências negativas para os pacientes e
para o próprio sistema de saúde. A falta de medicamentos pode também gerar
grande insatisfação nos usuários dos serviços, já que muitas vezes o medicamento
pode ser visto como símbolo de concretização do atendimento e da “cura”, o que tira
a credibilidade de todas as outras ações realizadas, especialmente quando se fala
em cuidado integral, promoção e prevenção. Uma baixa disponibilidade pode ainda
gerar impactos econômicos diretos aos pacientes que não conseguem obter seus
88
medicamentos de maneira gratuita, uma vez que nessas situações a alternativa
encontrada muitas vezes é adquirir os medicamentos por desembolso direto em
farmácias comerciais. Por fim a disponibilidade é consequência direta de ações
anteriores relacionadas principalmente ao âmbito da gestão, como financiamento,
programação, aquisição, distribuição, etc. Dessa maneira, a disponibilidade também
pode dar importantes indícios se etapas anteriores vêm sendo cumpridas de
maneira eficaz ou não.
Em estudo com idosos em regiões cobertas por UBS e em cidades com mais
de 100 mil habitantes nas regiões Nordeste e Sul, Paniz et al. (2010) identificou uma
prevalência de acesso total a medicamentos de uso contínuo para tratamento de
hipertensão e diabetes de 92,6% e 89,7% nas regiões S e NE, respectivamente.
Entretanto, a prevalência de acesso gratuito foi bem abaixo desse valor – 55,1% e
62,4%, e menor ainda foi a prevalência de acesso gratuito na UBS da região –
36,0% e 54,1%. Esses dados demonstram mais uma vez que apesar de uma boa
prevalência de acesso total, boa parte dos medicamentos não são obtidos nas
unidades de saúde. Nesse caso, vale a ressalva de que o estudo avaliou as
89
pessoas que vivem em áreas cobertas pelas UBS, e não as que tiveram
medicamentos dispensados em uma delas.
90
condicionado, geladeira, apoio matricial de farmacêutico, UBS com equipe de ESF)
estão associados aos casos de disponibilidade superior a 80% (Mendes, et al.,
2014). Estes últimos achados reforçam ainda a relação exposta anteriormente, entre
a presença de estrutura física e recursos humanos e uma maior qualidade geral dos
serviços.
Em Minas Gerias, Guerra Jr et al. (2004) identificou que entre 2000 e 2001 a
disponibilidade média de medicamentos traçadores no setor público de 46,9% em
cidades com IDH menor que 0,699. No mesmo estado, em municípios de uma
regional de saúde, resultado bem melhor foi encontrado em 2005 – disponibilidade
média de 81% (Moura & Perini, 2009). Mais recentemente, estudo em municípios
com menos de 10 mil habitantes inseridos na Rede Farmácia de Minas, pacientes
diabéticos e hipertensos obtiveram 74,5% de seus medicamentos no setor público.
Houve problema na obtenção de 22,8% dos medicamentos, sendo o maior deles a
falta deste nas farmácias do SUS (Pereira et al., 2012). No Rio Grande do Sul, em
vinte municípios do noroeste do estado, foi encontrada disponibilidade em UBS de
78% no ano de 2003 (De Bernardi et al., 2006). Outro estudo em seis municípios de
diferentes regiões do estado encontrou variação de disponibilidade no setor público
de 68,8% a 81,7%entre eles no ano de 2007, corroborando os dados anteriores
(Bertoldi et al.,2012). Nos mesmos municípios, Helfer et al. (2012) apontaram
disponibilidade ainda maior para medicamentos usados para tratar doenças
crônicas na atenção básica em 2008 e 2009. Ela variou entre 83,7% e 97,6%. Na
capital do estado, Porto Alegre, resultado muito bom também foi encontrado, 88%
dos medicamentos prescritos por médicos do PSF foram obtidos gratuitamente no
SUS em 2003 (Bertoldi et al., 2009). Em outro estudo na região Sul, na cidade de
Florianópolis, capital de Santa Catarina, identificou-se que apenas 19,8% da
população obtinham ao menos 1 medicamento pelo SUS (Boing et al., 2011). Na
Paraíba, dados da CGU apontaram que em 27,3% das auditorias realizadas entre
2003 e 2010, foi identificada a falta de medicamentos nas unidades de saúde (Bruns
91
et al., 2014). No Distrito Federal, no ano de 2001 apenas 61,2% dos medicamentos
prescritos foram dispensados nas unidades de saúde, apesar disponibilidade média
em estoque dos medicamentos avaliados ter sido de 83,5% (Naves& Silver, 2005).
Outro fato também já demonstrado é de que a maior parte das unidades não
contam com a presença de farmacêuticos, e quando contam, estes ficam
92
sobrecarregados por atividades gerenciais. Como consequência disso, diversos
estudos demonstram que a dispensação de medicamentos na AFAB raramente é
realizada por farmacêuticos, ficando a cargo de profissionais improvisados na
função, com pouca qualificação para tal (Cosendey, 2000; Costa, 2005; Arrais et al.
2007; Bittencourt, 2014; Bruns et al. 2014).
93
Tabela 1 - Indicadores de prescrição e dispensação de medicamentos, Brasil.
% pacientes
% % medicamentos com
Coleta % % prescrição Tempo de Classe de
Medicamentos prescrição padronizados
Local11 de prescrição com Dispensação conhecimento medicamento
por prescrição pelo nome (RENAME ou sobre o uso
Dados injetáveis antimicrobianos (s) mais prescrita
genérico REMUME)
correto12
10 ou
Referênciaa 2 ou menos 100 20 ou menos
menos
Brasilb 2004 2,3 84,2 6,9 40,1 78,3 77,8
Acrea 1998 2,4 55,6 29 53,4
Amazonasa 1998 2,4 69 18 48,7
Goiása 1998 2,4 72,6 10 41,3
Pernambucoa 1998 1,4 80 5,7 35,4
Rio de Janeiroa 1998 2,4 73,6 1,64 26,8
Ribeirão Preto (SP)c 1998 2,2 30,6 8,3 21,3 83,4 18 70
Campo Grande
1999 2,3 84,3 10,2 27,4 92,7 55 56,7
(MS)d
Cardiovascular
Brasília (DF)e 2001 2,3 73,2 7,5 26,4 85,3 53 18,7
(26,8%)
Ponta Grossa (PR)f 2002 2,6 71 13 33 87 88 44,9
Rio de Janeiro (RJ)g 2002 2,2 74 20 86 90 70
Piracicaba (SP)h 2002 1,2 56 1 3 70
Londrina (PR)i 2003 2,2 66,5 10,9 28,6 73,3 46,6
Analgésicos
Blumenau (SC)j 2003 1,8 8,1 12,5 84,7; 57,7
(14,3%)
20 municípios (RS)k 2003 2 64 76
11 (a) Cosendey, 2000a; (b) OPAS, 2005; (c) Santos & Nitrini, 2004; (d) Cunha et al., 2002; (e) Naves & Silver, 2005; (f) Marcondes, 2002; (g) Chaves et al., 2005; (h) Carmo
et al., 2003; (i) Menolli et al., 2009; (j) Colombo et al., 2004; (k) De Bernardi et al., 2006; (l) Emmerick et al., 2009; (m) Gierotto & Silva, 2006; (n) Farias et al., 2007; (o) Frolich
& Mengue, 2011; (p) Siqueira & Castro, 2010; (q) Laste et al., 2013; (r) Kauffmann et al., 2009; (s) Portela et al., 2012; (t) Voos & Diefenthaeler, 2011; (u) Lopes, 2008; (v)
Rempel et al., 2013; (w) Souza et al., 2012; (y) Borges & Silva, 2010; (x) Ribeiro et al., 2013; (z) Bittencourt et al., 2014.
12 Os estudos utilizados neste item apresentam variações metodológicas importantes, além de outros indicadores analisados que permitem uma melhor avaliação da
94
% pacientes
% % medicamentos com
Coleta % % prescrição Tempo de Classe de
Medicamentos prescrição padronizados
Local11 de prescrição com Dispensação conhecimento medicamento
por prescrição pelo nome (RENAME ou sobre o uso
Dados injetáveis antimicrobianos (s) mais prescrita
genérico REMUME)
correto12
Espírito Santol 2004 2,2 92,7 8,3 42,2 91,1 75,2
Goiásl 2004 2,4 83,3 6,1 43,3 86,9 86,1
Parál 2004 2,5 80,6 7,8 45 67,9 75,3
Rio Grande do Sull 2004 2,5 86,3 4,7 33,3 75,7 93,3
Sergipel 2004 2,1 87,3 7,2 39,4 78,4 60,5
Analgésicos
Ibiporã (PR)m 2004 2 70,2 7 22 58,4
(16,1%)
Campina Grande Antibióticos
2005 1,5 84,2 1,1 21,1 91,9
(PB)n (21,0%)
Santa Cruz do Sul
2006 1,8 84 3 8 81
(RS)o
Distrito Federalp 2006 2,1 84,5 89 89,4
Cardiovascular
Lajeado (RS)q 2007 2,4 86,1 1,3 9,6 85,7; 71,4
(35,8%)
Vale do Taquari
2007 2,4 81,8 4 11,9 76,5 70,7
(RS)r
Cardiovascular
Esperança (PB)s 2007 2,4 74,6 3 9,3 85,3 49
(41,6%)
Getúlio Vargas (RS)t 2008 2 72,8 2,4 21,7 80,3
Digestivo
Fortaleza (CE)u 2008 2,5 90,6 2,1 22,5 87 86,7
(15,4%)
Erechim (RS)v 2009 2,1 83 81 89,41
Não Identificado Sist. Nervoso
2009 2,4 86,8 3 19 91,5; 80,9
(SC)w (49,4%)
Cardiovascular
Anápolis (GO)x 2010 2,4 82,1 1 27 81,7
(32,5%)
Antiparasitários
Imperatriz (MA)y 2011 1,3 92 0 16 76
(17%)
Uruguaiana (RS)z 2013 1,7 75,5 3,7 9,7 67,7 18,9
95
Outro dado importante é a proporção de medicamentos prescritos que
constam nas listas nacionais e/ou municipais, que também na maioria dos casos
está acima dos 70%. Este resultado, se por um lado reforça a hipótese anterior, de
que muitos médicos prescrevem medicamentos que não estão disponíveis na rede
pública, por outro pode significar um certo êxito na adoção das listas de
medicamentos enquanto orientadoras da prescrição. Entretanto, não é possível
saber se os prescritores receitam os medicamentos da lista por serem os únicos
disponíveis ou se estas têm orientado e educado de fato as prescrições.
96
ainda existe muito espaço para evolução. Apesar da precariedade atual, se dotada
de estrutura adequada, profissionais e abastecimento contínuo de medicamentos, a
AB ainda pode vir a se tornar um espaço mais resolutivo e privilegiado para a
reorientação práticas de relacionadas à AF. Isso porque as UBS são portas de
entrada no sistema e unidades propensas à integração com os demais serviços e
níveis de atenção e, portanto, mais apropriadas práticas de cuidado mais centradas
no usuário, à garantia da integralidade, além de menos mercantilizadas e
medicalizadas.
97
5 O PROGRAMA FARMÁCIA POPULAR DO BRASIL
Para a caracterização do PFPB, um ponto de partida importante é o fato de
que a política se realiza hoje em dia quase que totalmente através das farmácias
comerciais, acontecendo dentro destes estabelecimentos. A FPRP, como já
mencionado na seção 2.2.3, é residual tanto em número de estabelecimentos
quanto de usuários. Essa relação acaba implicando em um padrão comum aos
diversos aspectos que serão analisados adiante, pelo predomínio da influência do
modus operandi das farmácias comerciais com suas consequências na dinâmica do
próprio programa, definindo diversas características do mesmo.
5.1 Abrangência
98
outro lado, desde o início da parceria com o setor privado, na modalidade ATFP,
houve uma expansão mais acelerada e em maior escala dos pontos de acesso,
superando em muito a quantidade de estabelecimentos do FPRP. No início do
ATFP, em 2006, havia 2.955 farmácias conveniadas, 6.459 em 2008, 14.003 em
2010, 25.122 em 2012 e33.264 no início de final de 2015.
99
farmácias por 100 mil habitantes, passando para 3,47 em 2008, 7,34 em 2010 e
12,87 em 2012. Esses dados mostram também que, apesar de uma maior parte dos
municípios médio/grandes serem cobertos pelo programa, os municípios de menor
porte possuem uma maior concentração média de estabelecimentos conveniados,
com tendência oposta à do início do programa, tendo sido invertida entre 2006 e
2008. Em 2006, haviam 1,36 farmácias para cada 100 mil habitantes nas cidades
maiores, e 0,15 nas menores. Já em 2012, esses números passaram para 10,78 e
21,52, respectivamente (Emmerick et al., 2015)
100
corte 20 mil habitantes), outros desequilíbrios ficam evidenciados. A cobertura nas
cidades maiores começou ainda mais desigual em 2006. As regiões S e SE tinham
aproximadamente 38% dos municípios cobertos, enquanto que nas outras regiões
esse girava em torno de 7%. Em 2010, três regiões (S, SE e CO) possuíam mais de
85% de cobertura, enquanto que a NE e N tinham, respectivamente 30,9% e 24,4%.
Essa diferença se reduziu um pouco em 2012, na medida em que neste ano as três
regiões mais cobertas atingiram praticamente 100% dos municípios com pelo
menos uma farmácia privada conveniada. Nesse mesmo ano, as regiões NE e N
apresentavam cobertura de 71,7% e 49,4%, respectivamente. Considerando a
tendência já citada de maior presença do ATFP nas cidades de maior porte, as
desigualdades ficam ainda maiores quando observados os municípios com menos
de 20.000 habitantes. Em 2006, apenas 1,3% dos municípios da região sudeste e
sul tinham farmácias conveniadas, enquanto as outras regiões não tinham
nenhuma. A expansão desigual se manteve. Em 2010, as regiões S e SE tinham
47,8% e 54,6%, a região CO tinha 16% e as regiões NE e N tinham 5,1% e 4,1%,
respectivamente. Em 2012, novamente uma pequena diminuição da diferença –
cerca de 76% dos municípios de pequeno porte das regiões S e SE tinham
farmácias conveniadas com o programa, 53,1% na região CO e apenas 25,8% e
16,1% nas regiões NE e N (Emmerick et al.,2015).
101
presentes na cidade, cerca de 14,6% do total. Enquanto isso, 38% dos bairros
possuíam apenas 1 farmácia e quase metade (47%) não possuíam nenhuma.
102
de uma estabilização. Entre 2009 e 2011 o número de hipertensos tratados oscilou
entre 550 mil e 650 mil mensais e o de diabéticos por volta dos 300 mil. A criação do
SNTP desencadeou um boom no número de usuários atendidos, que cresceu em
ritmo acelerado. Em julho de 2012, um ano e meio após esta intervenção, o número
de hipertensos tratados passou para quase 3,9 milhões mensais e o de diabéticos
para 1,4 milhões (Luiza & Emmerick, 2014). Outro estudo realizado a partir de
dados do DAF, mostrou exatamente a mesma tendência, porém levando em
consideração a quantidade anual de usuários atendidos (Silva, 2014).
103
dizem nada sobre dimensões do programa comparativamente com a das outras
fontes de acesso, que veremos a seguir.
Segundo dados das Contas Satélites (IBGE, 2012) o peso dos medicamentos
distribuídos pelo governo (excluídos quimioterápicos, medicamentos de uso
hospitalar e vacinas) dentro do valor do consumo final foi de 0,2% do PIB em 2009,
enquanto que o peso do que é financiado diretamente pelas famílias foi de 1,7%. Ou
seja, o impacto dos medicamentos distribuídos pelo governo, entre todos os
componentes (básico, estratégico e especializado) é de pouco mais de 10% do total
de medicamentos ambulatoriais consumido no país. Vale a ressalva que estes
dados não incluem o impacto do PFPB, e de que se considerados apenas os
medicamentos da atenção básica, esta proporção pode ser bem menor.
104
seguida do desembolso direto (38,3%) e do PFPB (15,9%). Para diabetes, os
números são ligeiramente diferentes: AFAB é a fonte de obtenção para 54,4%, as
farmácias comerciais para 29,4% e o PFPB para 16,2%. O mesmo estudo aponta
que estas proporções apresentam grandes variações entre as regiões e as capitais
dos estados brasileiros. Entretanto, em apenas uma das capitais (Natal/RN) a
proporção de usuários do PFPB é maior do que a AFAB, tanto para a hipertensão
quanto para diabetes. Em todos os outros casos, a primeira e segunda fonte de
acesso são o setor público e as farmácias comerciais, sendo o primeiro caso mais
frequente (Costa, 2014).
105
Pinto et al. 2011), não houveram ao longo da existência do programa medidas
concretas que restringissem o acesso apenas a esse grupo. Vale ressaltar neste
ponto, que segundo as definições do IBGE, a chamada classe C encontra-se
exatamente nesse patamar de renda familiar. Outra questão que merece destaque é
que, apesar desse público-alvo ter sido definido no início do programa, os
documentos oficiais posteriores não reafirmam esse objetivo.
106
Aproximadamente metade das receitas eram oriundas de ambulatórios privados,
45% de ambulatórios públicos e 5,0% de origem hospitalar (Bonotto & Colet, 2013).
107
Ainda que sejam necessárias mais evidências para confirmação, estes
achados apontam, em primeiro lugar que o PFPB cumpre em parte seu objetivo,
uma vez que uma parcela importante de usuários do setor privado passa a ter
acesso a medicamentos com desconto através do programa. Por outro lado, a
grande proporção de receitas oriundas do setor confirma que o programa é
realmente uma alternativa de acesso aos usuários que recebem prescrições no
SUS, principalmente quando há falhas na provisão. Além disso, uma parte
considerável de pacientes que retiravam medicamentos no SUS migraram para o
PFPB (Carraro, 2014).
Por sua vez, o perfil socioeconômico dos usuários do programa indica que os
maiores utilizadores do programa são brancos e indígenas, idosos e maior grau de
instrução. Em termos de renda, as evidências demonstram a grande maioria deles
está na faixa de renda de até 3 salários mínimos, parcela população que como
demonstrado anteriormente, é a que tem maiores gastos com medicamentos e a
que depende de maneira mais importante da provisão pública, em que pesem os
estudos que geraram estes últimos dados serem anteriores ao SNTP. Tais dados
soam um tanto contraditórios em relação aos anteriores. Ainda que o estudo não
informe diretamente dados de renda, dificultando a comparação com os
anteriormente apresentados, os dados sociodemográficos sugerem uma população
de usuários de maior poder aquisitivo.
5.3 Financiamento
Entre as principais novidades trazidas pelo PFPB, parte importante está
relacionada aos mecanismos de financiamento e à gestão dos recursos destinados.
Essas novidades foram introduzidas ao longo do desenvolvimento do programa.
108
Em seu início, a execução do Programa foi viabilizada através de parceria
com a Fiocruz. Na impossibilidade legal de que o MS executasse tal atividade, a
Fundação foi estabelecida como responsável direta por isso. Assim, na criação do
programa a gestão era realizada de maneira conjunta entre MS e Fiocruz, tendo
sido esta autorizada mediante decreto a realizar a distribuição de medicamentos por
ressarcimento. Em outras palavras, a Fiocruz passou a comercializar medicamentos
através da rede própria. Em um primeiro momento, as unidades do programa
ficavam sob administração direta da Fiocruz. No final de 2004, passaram a ser
realizadas parcerias com estados, municípios (Santos-Pinto, 2008).
109
Gráfico 1 - Evolução das transferências de recursos do FNS para farmácias comerciais
conveniadas ao ATFP
110
Quando analisada a distribuição dos recursos transferidos do programa para
as farmácias comerciais na modalidade ATFP, por regiões, cidades e empresas
outras características são observadas. As desigualdades observadas podem ser
entendidas como consequência dos padrões descritos na seção 5.1, uma vez que
os estabelecimentos estão distribuídos de maneira geograficamente desigual, é
natural que a transferências de recursos do programa vá pelo mesmo caminho.
Entretanto, em alguns casos que veremos, as disparidades na distribuição de
recursos aparentemente são ainda maiores do que na distribuição dos
estabelecimentos.
111
Outra questão bastante relevante no âmbito do ATFP é o perfil das farmácias
comerciais que recebem os recursos do programa. Entre 2006 e 2012, mais de 31%
do montante de todas transferências foram realizadas para apenas 7 redes de
farmácias. Dessas 7, três são sediadas no estado de São Paulo, uma no Rio de
Janeiro, uma no Ceará e uma no Rio Grande do Sul. Esta concentração é ainda
mais grave quando consideradas que algumas destas redes passaram pelo
processo de fusão sendo, portanto, o mesmo grupo econômico. A primeira colocada
no ranking de transferências (Jamyr Vasconcellos SA - Drogarias Pacheco),
recebeu 8,8% de todos os recursos. Em 2011 se fundiu com a quarta colocada
(Drogarias São Paulo SA), que recebeu no período 3,7% dos recursos. Já a
Drogasil SA, segunda colocada, recebeu 6,0% dos recursos e se fundiu também em
2011 com quinta colocada (Raia SA), que recebeu 3,7% dos recursos do programa.
Assim, apenas dois grupos econômicos, ainda que tenham se fundido no final do
período, concentraram mais de 22% de todos os recursos do programa.
Estas distorções podem ser ainda maiores quando analisadas dentro de cada
estado, como mostram os achados de Silva (2014) para o estado do Rio de Janeiro,
onde as farmácias comerciais receberam a terceira maior quantia em transferências
entre 2006 e 2012. Neste estado, a Jamyr Vasconcellos SA recebeu 59,3% do total
recursos do programa no estado e 84,3% no município do Rio de Janeiro.
112
5.4 Estrutura e Recursos Humanos
As diferentes modalidades do PFPB utilizam distintas estruturas físicas de
funcionamento. No FPRP as farmácias são estatais, com estrutura física sob
responsabilidade dos parceiros do programa (estados, municípios e entidades), e
com investimentos estruturais realizados pelo MS (incentivo para implantação) e
pela Fiocruz (cessão de móveis e equipamentos).
113
próximo) estavam presentes os espaços obrigatórios. As exceções são a sala da
administração presente em 63% das unidades, a sala atendimento
farmacoterapêutico em 52%, vestiários em 40% dos casos, além dos banheiros para
deficientes e vestiários, todos estes espaços opcionais segundo o manual do
programa. Com relação aos equipamentos, 78% das unidades referiram possuir
refrigeração na área de estoque, sendo que 58% tinham aparelhos de ar
condicionado. Haviam ao menos um farmacêutico em todas as unidades, sendo que
em 100% delas o farmacêutico gerente estava presente e em 90% também estava o
corresponsável. Os auxiliares de gestão (atendentes e caixas) estavam presentes
em 73% das farmácias, os assistentes de gestão em 58% e os auxiliares de
serviços gerais em 98%.
114
humanos nas farmácias como um todo, independentemente de estarem
conveniadas ao programa. Alguns trabalhos descrevem esses pontos e mostram em
certa medida como a realidade nesses estabelecimentos tem sido distante do que é
preconizado pelas normas.
115
(9,2% e 1,8%, respectivamente), assim como a administração de medicamentos por
nebulização (7,5%).
116
assistenciais e administrativas, tendo muitas vezes que abrir mão das primeiras em
função das últimas. Não é possível com as evidências regionais disponíveis avaliar
se há (e como é) a diferença entre estabelecimentos independentes ou ligados a
redes. Também não é possível avaliar como é a estrutura de funcionamento das
farmácias, incluindo espaço para medicamentos controlados, armazenamento,
refrigeração, etc. Por fim, outros fatos a serem destacados são a forte presença de
balconistas realizando dispensação, sem a qualificação adequada, e a baixa
presença de áreas de atendimento privada aos pacientes.
117
Apesar de não ser um mecanismo comum no SUS, o compartilhamento de
gastos com os usuários vem sendo utilizado em diversos sistemas de saúde na
Europa ocidental desde meados dos anos 70 e na América Latina a partir dos anos
80, como uma das ferramentas (pelo lado da demanda) de ajuste para contenção
dos crescentes gastos em saúde (Vianna et al., 2008).
118
e dispensação dos medicamentos em sua rede (Brasil, 2012), apesar de nenhum
dos documentos oficiais do programa informar como funciona precisamente o
mecanismo de cálculo do PD (Silva, 2014). Outro ponto importante é que, apesar do
mecanismo utilizado ser denominado “copagamento”, na prática o usuário no
momento da aquisição não tem a dimensão do preço total do medicamento e nem
da proporção do total que ele está arcando.
119
Em Ijuí no ano de 2010 comparou-se o preço de medicamentos genéricos e
de referência (a partir do Guia da Farmácia) e na unidade da rede própria do
município. A diferença entre os preços também variou bastante entre os 15
medicamentos analisados, sendo que a maior foi para o enalapril 20mg, que
possuía média de preço dos genéricos 20,9 vezes superior ao do PFPB. A menor
diferença foi para metildopa 250mg, que custava 2,4 vezes a mais no setor privado.
No mesmo município em 2011, observou-se uma economia de 87,1% dos gastos
médios mensais dos pacientes quanto estes optam por adquirir seus medicamentos
da unidade da rede própria no munícipio, considerando-se como comparativo os
preços do Brasíndice. Em termos monetários, os medicamentos que custariam
mensalmente em média R$ 78,70 no setor privado, foram obtidos por R$ 10,15
mensais (Bonotto & Colet, 2013).
120
No ATFP, o copagamento tampouco está relacionado à restrição da
demanda, uma vez que a diminuição dos preços proporcionada provoca justamente
o efeito oposto, o que é um objetivo explícito do programa e que pode ser
observado ao longo de sua expansão. Todavia, vale destacar que a retirada do
copagamento a partir do SNTP provocou um grande aumento na procura pelos
medicamentos que se tornaram gratuitos. Apesar de tentador, não se pode afirmar
com precisão se este boom se deve exclusivamente à retirada de uma barreira de
acesso (o pagamento) ou se outros fatores também influenciaram este fenômeno,
especialmente se considerada a constatação de Pereira (2013), que observou
aumento da demanda inclusive para os medicamentos que mantiveram o
copagamento a partir da adoção do SNTP, ainda que em menor escala dos que se
tornaram gratuitos. Caso a primeira hipótese seja verdadeira, pode-se afirmar que
os aparentemente baixos valores cobrados aos usuários vinham sendo
subestimados enquanto limitadores do acesso/consumo.
121
5.5.2 Seleção e Elenco de Medicamentos
122
disponíveis à época, 76 constavam na RENAME de 2006, 12 constavam na
RENAME de 2002 e foram retiradas, 17 constavam na RENAME de 2006 em
concentrações ou formas farmacêuticas distintas e 8 medicamentos não estavam
presentes em nenhuma das duas edições anteriores. Observou-se ainda que 70%
dos medicamentos do PFPB eram comuns ao elenco dos programas do MS.
123
estoque, dispensações e contabilidade. É através dos dados desse sistema
informatizado que a Fiocruz faz o planejamento da programação e reposição dos
estoques, a partir de estimativa da média de consumo mensal, estoque estratégico,
entre outros indicadores (Brasil, 2012). O sistema de informação do FPRP é
integrado ao DATASUS (Guerra Jr. & Acurcio, 2013).
124
pequenas e/ou independentes, enquanto que entre as grandes redes é comum que
as próprias tenham seus sistemas de distribuição ou atuem também como
distribuidoras (Ferrari 2010; Cunha, 2012).
5.5.4 Custos
125
momento comparam os custos envolvidos na aquisição de medicamentos e com o
preço final obtido pelo poder público nesta aquisição (desfecho). Nem todos os
estudos que apresentamos nesta seção se tratam de estudos de custo-efetividade.
Os que se enquadram nesta categoria serão discriminados.
126
As dúvidas de que o ATFP possivelmente gastava muito mais do que outras
modalidades de provisão pública em função da gestão terceirizada ganharam força
principalmente a partir da divulgação do resultado de uma auditoria realizada pelo
TCU no ano de 2011, tendo se tornado uma das principais polêmicas envolvendo o
programa. O relatório, entre outras importantes questões levantadas, concluiu que o
VR pago pelo MS às farmácias por medicamento dispensado era muito superior à
mediana do valor unitário pago por 26 secretarias municipais de saúde pelos
mesmos medicamentos em licitações. As diferenças positivas encontradas (12 entre
13 medicamentos) variavam de 14% a 2507%, sendo que os medicamentos com
maiores diferenças são medicamentos amplamente disponíveis no mercado
farmacêutico e de grande utilização para doenças crônicas (captopril, enalapril,
atenolol, glibenclamida, propranolol, hidroclorotiazida, metformina, entre outros). O
único medicamento mais barato no ATFP apresentou diferença de apenas 15% para
o preço de aquisição das secretarias. A média de variação de preços entre os
medicamentos foi de 814% (TCU, 2011).
Apesar dos fortes indícios apontados pelo TCU de que o PFPB era mais
custoso que a AFAB, ainda restavam dúvidas se esta relação desfavorável para o
programa persistiria caso fossem incluídos na análise os gastos governamentais
indiretos da AFAB, como infraestrutura, manutenção e logística. Esses custos
encontram-se embutidos no VR pago pelo MS no ATFP às farmácias. Entretanto na
AFAP eles são de responsabilidade dos municípios e não haviam sido considerados
no cálculo realizado pelo TCU, que estimou o gasto público apenas baseado na
aquisição
127
diferença do gasto total médio por unidade farmacotécnica no ATFP foi 150,1%
maior que na AFAB, variando de -15% à 669%.
128
apenas 5 medicamentos apresentaram variação negativa (VR menor que custos da
SMS).
Por fim, o trabalho ainda simulou quais seriam os custos da SMS-RJ caso
esta pagasse por unidade farmacotécnica o VR do ATFP. Nesse cenário, o setor
público teria gasto no ano de 2012 ao invés de 28,5 milhões de reais, 124,2 milhões,
um valor 333,5% maior. A segundo fez a estimativa inversa, de quais seriam os
custos do ATFP se o valor pago pelo MS fosse o mesmo da SMS (Mendes, 2014).
5.6 Disponibilidade
A disponibilidade, como referido na seção 4.6, é além de um indicador
importante de efetividade, também uma consequência direta de ações anteriores
relacionadas a mecanismos de organização, gestão e financiamento. Como visto
anteriormente, as duas modalidades do PFPB adotaram diferentes mecanismos de
organização, gestão e financiamento, tanto entre si, quanto quando comparadas à
AFAB. Analisar a disponibilidade dos medicamentos no FPRP e no ATFP permite
entender parte do resultado dessas diferentes opções.
129
programa é totalmente pública. Alguns estudos mostram a alta disponibilidade de
medicamentos nas farmácias da rede própria.
130
onde a disponibilidade média foi de 89,0% entre os medicamentos principais
(OPAS, 2005).
131
disponham de instrumentos para obtenção de informações, como livros, manuais,
revistas técnicas e acesso a banco de dados.
132
repassadas apenas quando solicitadas. No que se refere ao tipo de orientação as
mais frequentes são horário de administração, como utilizar o medicamento,
armazenamento do medicamento em casa, reações adversas e interações
medicamentosas.
133
programa utiliza esta estrutura para sua concretização. Essas pequenas diferenças
ocorrem por conta de algumas exigências feitas pelo programa, como a proibição de
dispensação para terceiros, entrega em domicílio, substituição dos medicamentos
de dosagens diferentes das que constam no programa, dispensação em quantidade
superior à prescrita (Brasil, 2014b). Entretanto, estes requisitos parecem estar mais
ligados ao controle interno do programa, a fim de se evitar fraudes. Além disso,
muitos destas exigências já estão previstos em lei e deveriam ser aplicadas a todas
as dispensações, o que nem sempre ocorre.
Em duas cidades do Distrito Federal entre 2004 e 2005, Naves et al. (2008)
encontrou números parecidos. Nos estabelecimentos visitados por clientes
simulados antes de intervenção, 17,8% dos atendimentos foram realizados por
farmacêuticos, 53,8% por balconistas e 28,5% por outros trabalhadores não
identificados. O trabalho analisou também as orientações dadas aos pacientes que
simulavam ser portadores de DSTs. A grande maioria das orientações (74,1%) foi
na verdade a indicação de medicamentos, sendo que muito poucos recomendaram
134
a procura de serviço de saúde (31,5%), o tratamento de parceiros (7,4%) e o uso de
preservativos (5,5%). No mesmo estudo observou-se que antes da intervenção, os
farmacêuticos recomendavam mais a procura de serviços de saúde e menos
medicamentos que os balconistas. Cerca de 48% dos balconistas recebiam
comissão por vendas.
135
6 RELAÇÕES ENTRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE
PROVISÃO DE MEDICAMENTOS
136
apenas entre o 2013 e 2014, cerca de 3700 novos estabelecimentos se
conveniaram.
Por outro lado, no PFPB nota-se que (Emmerick et al., 2015 e Silva, 2014):
(1) o ATFP estava presente em cerca de 76,9% dos municípios brasileiros em 2012;
(2) a proporção de municípios atendidos pelo ATFP é bem menor entre os de menor
porte (menos de 20 mil habitantes – cerca de 54,6%) do que nos de maior porte
(84,0%) (3) apesar disso, nos municípios menores, a proporção de
estabelecimentos por 100 mil habitantes é maior; (4) A proporção de municípios
atendidos nas regiões S, SE (mais de 80%) e CO (63,8%) é bem maior do que nas
regiões NE (41,2%) e N (29,1%), sendo que os municípios médio/grandes das
regiões S, SE e CO essa proporção chega a quase 100% e nos municípios
pequenos das regiões N e NE chega a 16,1% e 25,8%, respectivamente; (5) dentro
dos municípios, é possível que também haja grande concentração de
estabelecimentos em determinadas áreas.
137
estabelecimentos por habitantes ser maior nas cidades de menor porte. Apesar de
não haver informações mais específicas sobre a AFAB, é de se esperar, a partir dos
dados encontrados, que uma proporção maior de municípios menores sejam
atendidos pela AFAB. Mesmo as duas políticas tendo mais estabelecimentos por
habitantes nos municípios menores, nestes a falta de cobertura do PFPB é grande.
138
maior renda, e que a maior parte dos gastos em saúde entre os mais pobres são
decorrentes de despesas com medicamentos (Garcia et al. 2013). Dessa maneira,
podemos afirmar que em termos de renda, a AFAB enquanto política tem um caráter
progressivo, e tem um papel importante na proteção da população de baixa renda,
seja com relação aos gastos (já elevados), seja com relação ao acesso.
139
Com relação às outras características, Costa (2014) evidencia que, ao
contrário do que ocorre na AFAB, pessoas de pele branca, alta escolaridade e que
possuem plano de saúde utilizam proporcionalmente mais o PFPB do que negros,
de baixa escolaridade e sem planos de saúde. Estes dados mostram que o
programa acaba atingindo estratos populacionais um pouco diferentes, e pode ter
caráter mais regressivo.
O que pode ser uma hipótese razoável para justificar estas diferenças é de
que os usuários do PFPB teriam ao menos dois perfis distintos. Por um lado, o
programa atenderia uma população de baixa renda, oriunda do setor público e que
não obteve acesso na AFAB, e por outro lado o público alvo do programa, pessoas
oriundas do setor privado, de renda baixa ou intermediária, e que obtinham seus
medicamentos no setor privado principalmente (mas também no setor público), o
que explicaria as diferenças encontradas em termos de resultados.
140
sobreposição entre as políticas. Além disso, pode ser questionável sob o prisma da
universalidade que duas políticas públicas com um mesmo objetivo final, a provisão
de medicamentos ambulatoriais, tenham perfis de utilização e públicos-alvo
distintos, uma vez que isso pode significar a diferenciação entre usuários a partir da
utilização dos serviços.
A partir disso, pode-se concluir que para estas doenças a AFAB é a principal
fonte de obtenção de medicamentos e atende uma população por volta de 3 vezes
maior que o PFPB. Vale ressaltar que, principalmente os dados de Mengue (2014)
foram coletados bastante tempo após a intervenção SNTP, que ampliou bastante a
distribuição de medicamentos para estas doenças no âmbito do PFPB. Mesmo com
a forte expansão do PFPB, este ainda é a fonte menos utilizada.
141
Em outras palavras, ainda que as políticas públicas para a provisão de
medicamentos tenham mostrado resultados mais expressivos de cobertura para
hipertensão e diabetes, para outras doenças ficam evidenciadas grandes lacunas,
restando ao usuário como única opção o desembolso direto.
6.4 Financiamento
A análise do financiamento das duas políticas é um dos elementos-chave
para entendermos a relação entre elas. Isso porque os recursos destinados aos dois
programas mostram uma evolução distinta.
142
financiamento em termos absolutos para medicamentos tem crescido em todas as
esferas.
Por outro lado, o ATFP tem tido um crescimento bem mais rápido em seu
financiamento, decorrente de sua expansão. Segundo dados da SAGE, o programa
passou de 247 milhões de reais transferidos para as farmácias comerciais em 2010
para 2,19 bilhões em 2014. No ano de 2012, os valores destinados pelo MS ao
143
componente básico foram ultrapassados pelo montante aplicado no ATFP, e em
2014 esses valores já representam mais do dobro do que é destinado à AFAB pela
União.
144
6.5 Gestão, Organização e Custos
Analisar as diferenças entre o PFPB e a AFAB passa em grande parte pelo
entendimento das características gerenciais e organizativas próprias de cada uma
das políticas. Ao optar por simultaneamente ofertar medicamentos por duas políticas
diferentes, as formas de organização e gestão utilizados por cada uma delas são
inevitavelmente comparadas, uma vez que formas de operacionalização distintas
podem implicar também em resultados distintos.
145
elencos de cada município. Entretanto, a adoção de um elenco de referência para
medicamentos da atenção básica pela União e a utilização de um incentivo para a
aquisição (IAFAB) dos medicamentos deste elenco funciona como um mecanismo
indutor para que todos os municípios se restrinjam a um determinado grupo de
fármacos. Apesar de nem todos os medicamentos da atenção básica incluídos na
RENAME estarem neste elenco, todos do elenco estão na RENAME.
146
registros sobre consumo, da disponibilidade de sistemas de informação e controle
(seções 4.4 e 4.5.4).
147
auxílio técnico; e ainda por questões de mercado, como o não aparecimento de
fornecedores nos processos. Como pontos positivos, podemos citar a existência de
experiências bem-sucedidas na melhoria nas condições de aquisição, como por
exemplo a partir realização de consórcios intermunicipais ou de uma maior atuação
dos estados enquanto organizadores dos processos de aquisição.
148
Estes dados levam a um natural questionamento da opção política do poder
público pelo PFPB, especialmente quando considerado que o financiamento do MS
para o programa já ultrapassa o dobro do que é destinado à AFAB e de que o PFPB
atende cerca de 1/3 dos hipertensos e diabéticos. Além disso, mesmo com todas as
enormes dificuldades encontradas na AFAB, esta ainda é uma política mais
abrangente e econômica.
149
esforços insuficientes quando considerado o panorama nacional. A pouca atenção
dada ao problema e os parcos investimentos tem sido uma constante pelos
governos de todas as esferas.
150
6.7 Disponibilidade
Se por um lado a AFAB se mostra uma política mais econômica e efetiva a
despeito das enormes deficiências estruturais, financeiras e gerenciais
apresentadas, por outro lado todas estas questões costumam se refletir, como
consequências finais e mais importantes, na disponibilidade de medicamentos nas
unidades de saúde e no cuidado prestado.
É neste ponto onde talvez resida a maior vantagem do ATFP com relação à
AFAB. Os dados encontrados mostram que a disponibilidade no setor privado como
um todo (Guerra Jr. et al., 2004; OPAS, 2005) e também no ATFP (Santos-Pinto et
al., 2010) é bem mais alta, com o mínimo a 90%. Esta situação certamente coloca o
PFPB como uma alternativa mais garantida de acesso, apesar de abranger uma
quantidade menor de usuários. Os impactos da baixa disponibilidade podem ser
diversos, indo desde das consequências mais óbvias, como a não realização do
tratamento ou da necessidade de despender recursos próprios para que isso não
aconteça, até a efeitos mais simbólicos como a deslegitimação da AB como um todo
frente à população
151
não conseguem obter seus medicamentos na própria unidade de saúde não ficam
desassistidos, sendo desta maneira um fato positivo. Entretanto, discordamos desta
visão, por duas razões. Em primeiro lugar pela tendência já citada de migração de
usuários da AFAB para o PFPB, que aponta para o sentido oposto, para uma certa
competição entra as políticas. Em segundo lugar, porque o termo
complementariedade evoca uma conotação de uma relação virtuosa; entretanto, se
existe esta relação – usuários recorrendo ao PFPB por falhas de provisão na AFAB
– ela se dá a partir da falha de uma das políticas, e não por um desenho
complementar entre elas. Além disso, a noção de complementariedade acaba, ainda
que indiretamente, naturalizando e justificando as falhas na provisão pública.
152
Alguns outros indicadores utilizados para avaliar os serviços farmacêuticos
quanto ao URM apresentam situação um pouco melhor: a média de medicamentos
por prescrição, a proporção de antibióticos e injetáveis nas receitas, a porcentagem
de medicamentos prescritos incluídos em listas de medicamentos essenciais, de
medicamentos prescritos pelo nome genérico. De certa maneira, mostram que
alguns aspectos das políticas de medicamentos, como a utilização da RENAME e
genéricos, têm sido bem-sucedidos. Outra questão relevante que diz respeito ao
acesso, é a também já mencionada baixa disponibilidade de medicamentos na
AFAB, o que prejudica de maneira importante a resolutividade da AB.
De modo geral, pode-se afirmar que tanto na AFAB quanto no ATFP, a lógica
de atendimento ainda está totalmente focada na disponibilização do insumo, em
detrimento do paciente e do cuidado. Apesar da realidade de ambos não ser nada
animadora quando se pensa na AF enquanto parte estruturante da AB, estas
políticas sofrem de problemas diferentes. Considerando as dimensões da AB que
dependem das condições da AF (resolutividade e a reorientação da prática),
podemos dizer que o ATFP está mais próximo da primeira, uma vez que o acesso
se dá de maneira confiável, e distante da segunda, dado o caráter mercantil dos
estabelecimentos, o isolamento dos demais serviços de saúde e a ausência de
153
atividades de orientação e cuidado. Por outro lado, na AFAB a resolutividade
encontra-se altamente prejudicada pela baixa disponibilidade de medicamentos. Já
a reorientação das práticas é prejudicada por problemas na organização dos
serviços (ausência de recursos humanos capacitados e estrutura física apropriada),
em que pese a existência de iniciativas de sucesso.
154
Além de pessoal e estrutura adequada, há também uma orientação clara nos
objetivos e diretrizes da modalidade no sentido de que as farmácias funcionem
como unidades de referência na prestação de serviços farmacêuticos, com estímulo
à prática da atenção farmacêutica e foco no usuário e no cuidado. As informações
encontradas confirmam que de fato as farmácias do FPRP se assemelham muito
mais a estabelecimentos de saúde do que nos outros casos, e que o atendimento e
a orientação são feitos de maneira mais qualificada (Junges, 2009) que na AFAB ou
no ATFP, ainda que os custos deste modelo não tenha sido estudados. Dois pontos
em comum ao ATFP são o isolamento dos demais serviços de saúde e a exigência
do copagamento para diversos medicamentos.
155
7 POLÍTICAS PROVISÃO DE MEDICAMENTOS FRENTE
ÀS TENSÕES POLÍTICAS, ECONÔMICAS IDEOLÓGICAS
NO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO
156
dos pressupostos construídos pela Reforma Sanitária Brasileira. Na mesma direção,
os referenciais utilizados compartilham ao menos em partes destas visões.
157
Os principais modelos hegemônicos no Brasil seriam o modelo médico e o
modelo sanitarista. O primeiro apresenta como principais características o
individualismo (centralidade no atendimento de doentes – demanda espontânea ou
induzida), a ideia de saúde/doença como mercadoria, a medicalização dos
problemas, o privilégio da medicina curativa, o estímulo ao consumo médico, entre
outras. Já o segundo, centrado na ideia de intervenção vertical em necessidades
específicas baseadas em campanhas ou programas, com foco nos modos de
transmissão e em fatores de risco, utilização de tecnologias específicas para cada
problema, entre outras (ibidem).
158
A primeira delas é o acesso, que tem sido, ao nosso ver, o centro do debate
acadêmico e político, e objetivo prioritário das políticas de medicamentos no Brasil.
As formas utilizadas para se avaliar o acesso são variadas. Entre os principais
estudos brasileiros, existem aqueles que avaliam a disponibilidade de
medicamentos nas fontes de obtenção, o acesso de maneiro global, entre outras.
Além disso, os estudos podem ser focados em cidades ou regiões, grupos
específicos e fontes de obtenção (OPAS, 2005; Guerra Jr. et al. 2005; Paniz et al.
2008 e 2010; Bertoldi et al. 2009 e 2012; Emmerick et al., 2009; Aziz et al., 2011;
Helfer et al., 2012; Boing et al., 2013; Costa, 2014). Os estudos que avaliaram o
acesso de maneira global ao longo da década de 2000 mostraram que no geral, o
acesso a medicamentos no Brasil tem sido similar ou superior a 80% (Paniz et al.
2008; Aziz et al.; 2011). Mais recentemente, a PNAUM (Mengue, 2014) demonstrou
que a prevalência de acesso total a medicamentos para hipertensão e diabetes está
por volta dos 95% e para doenças pulmonares crônicas é de 88%, sendo que para
todos os casos, a proporção de pessoas sem qualquer acesso é menor do que 1%.
19
No momento de elaboração deste estudo, ainda não estavam publicizados todos os resultados da
PNAUM. É possível que novos dados da pesquisa ajudem a elucidar estas e outras questões.
159
estudos apontam que as políticas de medicamentos no Brasil, especialmente a
provisão gratuita através do SUS, têm sido responsáveis por amortecer este
impacto, sendo neste sentido políticas de caráter mais progressivo (Bertoldi et al.
2009 e 2011; Boing et al. 2011; Garcia et al. 2013).
160
Por último, a regulação do varejo farmacêutico também é de suma
importância. Mesmo considerando a recente aprovação da lei 13021/14 (Brasil,
2014), as farmácias comerciais têm sido de um modo geral reguladas apenas por
suas condições sanitárias – sobretudo estruturais, pela presença de profissionais e
técnicos prevista em lei e pelo adequado controle de entrada e saída de
medicamentos. Entretanto, nestas farmácias ainda prevalece um espírito fortemente
comercial, que inclui a venda de itens sem relação alguma com a saúde, a
remuneração de balconistas por vendas realizadas, a distribuição territorial
totalmente orientada pelo mercado, entre outras estratégias comerciais. Sem contar
obviamente, com a enorme distância entre estes estabelecimentos e o restante do
sistema de saúde. Esse quadro tem impactos importantes, ainda que tenham sido
pouco estudados, se levado em conta que estes estabelecimentos são os principais
responsáveis pela dispensação de medicamentos ambulatoriais no Brasil.
Assim, a partir desses eixos centrais, discutiremos nas seções seguintes uma
série de temas que colaboram para situar as políticas de públicas de provisão de
medicamentos entre as tensões políticas, econômicas e ideológicas que permeiam
o SUS nos dias atuais.
7.2 Subfinanciamento
Com relação ao financiamento, alguns autores têm apontado as dificuldades
da consolidação de um sistema de saúde universal sem a destinação de verbas
suficientes para este fim. Sobre essa questão, Mendes & Marques (2009)
consideram que a trajetória de implementação do SUS se deu em um ambiente de
tensões políticas e econômicas, onde se observa um duplo movimento permanente
e contraditório. De um lado estaria a necessidade de construção da universalidade,
que afirma o direito de cidadania às ações e serviços de saúde, viabilizando o
acesso de todos, por meio de defesa permanente de recursos financeiros seguros.
De outro, estaria o princípio da “contenção de gastos”, uma reação defensiva que se
articula em torno da defesa da racionalidade econômica, na qual a diminuição de
despesas públicas é o instrumento-chave para combater o déficit público, propiciado
por uma política fiscal contracionista e a manutenção do alto superávit primário em
todas as esferas de atuação estatal. Este último princípio estaria diretamente ligado
à política econômica nos anos 1990 e 2000. Logo, a defesa do primeiro passaria
161
pelo embate aos ditames desta política, a partir da defesa da garantia de recursos
financeiros.
20 A Lei de Responsabilidade Fiscal também pode ser considerada um dos instrumentos de ajuste
fiscal e contenção de custos no contexto citado no início da seção.
162
capacidade dos municípios na gestão da força de trabalho desde a contratação e,
consequentemente, na composição e distribuição das equipes e fixação dos
profissionais para cobrir as demandas dos serviços.
163
Aliás, podemos afirmar sem enganos, que o principal reflexo da falta de
recursos para AFAB são as terríveis condições estruturais e a falta de recursos
humanos que impactam diretamente nos serviços prestados. Se por um lado estes
fatores dificultam os processos de programação e aquisição, mas sem os
interromper, por outro lado interditam qualquer possibilidade de prática de
atendimento e cuidado que coloquem a AFAB em consonância com a proposta de
uma atenção básica abrangente, integral, centrada no paciente.
164
conclusão que se pode tirar dessa situação é a evidente priorização de uma política
frente a outra. Outra é que se por um lado o subfinanciamento ajuda a explicar a
situação atual da AFAB, o mesmo não ocorre para o ATFP.
165
reforma estava profundamente articulada com uma perspectiva política, econômica
e ideológica mais ampla, articulando todos esses setores.
21 Como destaca a autora, diversos mecanismos tem sido utilizados para a privatização dos serviços
públicos: transferência ou venda de estabelecimentos públicos para a iniciativa privada, a estratégia
do seu afastamento progressivo em ações específicas (privatização implícita), a redução da oferta de
serviços, reconduzindo a demanda para o setor privado (privatização por atribuição), até o
financiamento público do consumo de serviços privados e a desregulamentação, que permite a
entrada do setor privado em setores que antes eram monopólio do Estado (Rizotto, 2000).
166
Assim, a tônica hegemônica dada ao debate, que não se restringe aos
modelos de gestão, mas a toda dinâmica da articulação entre público e privado no
sistema de saúde, tem sido direcionada não pelo embate de ideias, mas
principalmente pela naturalização e diluição das fronteiras entre público e privado,
tornando a forma ou mecanismo de prestação de serviços questões menos
importantes. Nesse sentido, Bahia (2011) aponta que a adoção especialmente a
partir da segunda metade dos anos 1990, de um vocabulário técnico-gerencial, não
mais marcado pelas oposições clássicas entre público e privado ou estatal e
privado, mas pela “convicção” sobre a virtuosa relação entre Estado e mercado,
trouxe consigo novas conotações para o público e para o privado.
167
eram totalmente prestados pelo setor privado. Entretanto, não se pode negar que,
na prática, uma atividade anteriormente totalmente realizada pelo Estado na AFAB
passa também ser pelas farmácias comerciais.
Todavia, não nos parece realista caracterizar o ATFP como uma ação
deliberada de reforma do estado, nos termos propostos na década de 90, dentro de
uma política ampla e articulada de privatização dos serviços, seguindo uma
orientação direta de organismos internacionais. É evidente a coerência do modelo
adotado no ATFP com os princípios gerais de reorientação do papel do Estado, mas
não se pode resumir a isso sua implementação. Assim, consideramos mais razoável
e explicativo situar a modalidade como uma política que foi implementada dentro de
um contexto de hegemonia econômica-ideológica neoliberal, onde seus
pressupostos já estariam naturalizados e consolidados nos debates e formulações
sobre as políticas sociais.
168
serviços de saúde e a privatização, seja no passado durante a vigência do modelo
de privilegiamento do produtor privado (Oliveira & Teixeira, 1986), seja no presente,
onde ser verifica a intensificação da privatização do financiamento e da provisão de
serviços de saúde (Bahia, 2011).
Este pano de fundo não deve ofuscar algumas questões que ajudam a
explicar de maneira mais objetiva a opção pela parceria com o setor privado, mas
sim ajudar a entendê-las. Em um contexto em que não há indícios de disposição
para o enfrentamento aos problemas estruturais da AF, é inegável que do ponto de
vista da ampliação da distribuição de medicamentos, o modelo adotado pelo ATFP
permite uma série de facilidades à gestão.
169
Retomando ainda o debate em torno do financiamento, as questões
levantadas nesta seção ajudam na compreensão do contexto de implementação e
legitimação do ATFP pelo lado da gestão. No entanto, apenas a coerência de um
modelo gerencial com diretrizes gerais adotadas na administração pública nas
últimas décadas e as eventuais facilidades possibilitadas por sua adoção não
trazem elementos suficientes para justificar a priorização, do ponto de vista
financeiro, de uma política sobre a outra, especialmente no contexto citado de
restrição orçamentária.
170
expressão seria o crescente déficit na balança comercial da saúde. Esta
dependência, já antiga, seria decorrente de políticas macroeconômicas
liberalizantes e de deficiências na política industrial, e teria como principais
consequências na base produtiva nacional a baixa competitividade e capacidade de
inovação. Por outro lado, o setor saúde é uma área dinâmica e de abrangência
ímpar, que confere ao Estado grande poder de intervenção, tendo suas ações
grande impacto na demanda por serviços e bens e na produção. Para além do papel
econômico, a intervenção estatal no setor saúde teria o primordial papel de garantia
das condições de saúde, o que implica não apenas na promoção do acesso a bens
e serviços, mas também na imputação de limites que protejam a população das
estratégias empresariais e comerciais de organizações públicas e privadas. Como
solução para estes interesses opostos, o Estado deveria então administrar este
aparente conflito utilizando a sua capacidade de regulação, organização da
demanda, provisão de serviços e de estímulo à produção para induzir a inovação e
orientar os setores empresariais para os objetivos de natureza social e de
atendimento das necessidades de saúde (Gadelha, 2003).
171
reduzir a vulnerabilidade da política social brasileira através do fortalecimento do
CEIS; aumentar a competitividade em inovações das empresas e produtores
nacionais; promover a substituição de importações; utilizar como ferramenta para
estes fins o poder de compra do Estado; entre outros. Estas políticas articulam
diversos atores públicos e privados.
172
O ATFP tem sido de fato tomado pelo varejo farmacêutico como uma de suas
estratégias de expansão e impulsionadores do crescimento. Segundo publicação do
Valor Econômico (2014), a modalidade representou 5% do volume total de vendas
no varejo farmacêutico, e 9,3% entre as farmácias conveniadas no ano de 2013. Na
rede Pague Menos por exemplo, terceira maior do país em faturamento, 35,2% das
unidades de medicamentos vendidas são pelo programa, o que representa cerca de
4,5% do faturamento com medicamentos.
Outro indício que reforça esta hipótese foi o fato da ação SNTP ter sido
negociada diretamente com diversas entidades patronais representantes de
laboratórios nacionais e do varejo (Aragão-Junior, 2012).
173
de rentabilidade para participação das farmácias no ATFP, indicando aqueles
medicamentos mais rentáveis para o comércio no programa (Mattos, 2014).
No que diz respeito aos genéricos, pode ser que o impacto seja de fato
maior, uma vez que a maior parte dos recursos do programa se concentram nestes
medicamentos. Entretanto, algumas questões podem diluir este impacto sob um
olhar global. A primeira delas é que o impacto do programa se restringe a um
número pequeno de medicamentos, principalmente para hipertensão e diabetes, o
que representa apenas uma parte do mercado de genéricos. Outra questão é que,
ainda que dominado por empresas nacionais (alvo prioritário das políticas para o
CEIS), empresas estrangeiras também produzem genéricos no Brasil e podem ficar
com uma parte deste estímulo. Por fim, os genéricos atingiram em 2014 cerca de
http://www.guiadafarmacia.com.br/noticias/mercado/9179-mercado-farmaceutico-cresce-45-em-
quatro-anos Acesso em 11/02/2015
174
28% do mercado em faturamento24, ou seja, representa apenas uma fatia deste. De
qualquer maneira, todas estas hipóteses merecem avaliações mais detalhadas e o
que as evidências no momento mostram é que sim, o programa impacta de maneira
significativa no mercado farmacêutico brasileiro.
Não nos cabe aqui entrar no debate conceitual em torno do CEIS. Ainda que
necessária e urgente, esta é uma tarefa que exige um esforço teórico-empírico
muito maior do que nos propomos a realizar neste trabalho. Entretanto, o que
questionamos, exclusivamente no âmbito da avaliação do PFPB, é se a premissa
desenvolvimentista da articulação virtuosa tem se concretizado.
175
evidências que confirmem o impacto do programa na redução destes, uma vez que
sua cobertura é baixa e específica para determinadas doenças que representam
apenas uma pequena parte desses gastos.
Ainda neste tema, cabem outros dois questionamentos, dos quais não temos
repostas. O ATFP é um programa gerido de maneira centralizada pelo MS, que
administra os convênios e o financiamento e, portanto, tem grande controle sobre
sua expansão. O gerenciamento do programa resulta em impactos econômicos
mais diretos em dois subsistemas do CEIS, o da produção (laboratórios) e dos
serviços (farmácias). Por outro lado, na AFAB, ainda que o poder de compra seja
uma importante ferramenta, o controle federal é bem menor devido à
descentralização, tanto na expansão quanto no padrão de aquisições e consumo de
medicamentos, o que torna mais indireta e menos controlável o impacto desta
política, que se reflete economicamente apenas no subsistema produtivo.
Considerando a intenção de estímulo ao setor produtivo nacional manifestada nas
políticas para o CEIS, estaria a priorização do ATFP relacionada à uma maior
176
capacidade governamental de direcionar estímulos a um segmento específico
(mercado de genéricos, aumento do consumo), uma vez que na AFAB o baixo
controle da política pelo MS não permitiria o manejo direto do tipo e tamanho da
oferta?
Vale destacar que esta divisão, entre os que “podem pagar” e os que “não
podem pagar”, ainda que seja útil para fins explicativos, é certamente uma
simplificação que não reflete uma clivagem exata entre esses grupos. Isso porque
dentro de todas as faixas de renda existem variações entre a proporção, o volume e
a frequência de pagamento e de obtenção gratuita.
177
Criada em 1971, o órgão já nasce com o objetivo de “promover e organizar o
fornecimento de medicamentos àqueles que, por suas condições econômicas, não
possam adquiri-los a preços comuns de mercado”. No ano seguinte, se estabelece
também a possibilidade da CEME cobrar por medicamentos, de acordo com a faixa
de renda a ser atendida. O fornecimento acontecia ou em unidades próprias ou, na
maioria das vezes, nos órgãos previdenciários. Em 1977, cerca de 84% dos
municípios brasileiros eram atendidos pela CEME (Marquesini & Carmo, 1980). Por
outro lado, a lei 5991/73 que regulamentou o funcionamento das farmácias e
drogarias no Brasil até o fim de 2014, caracteriza estes estabelecimentos
comerciais, sendo esta a principal fonte de acesso à medicamentos pelos brasileiros
nos dias atuais, como mostram os dados da PNAUM apresentados por Mengue
(2014).
Como aponta Cordeiro (1980, p. 153), uma vez que a CEME participava com
apenas 3% do mercado em termos de aquisições, os efeitos político-ideológicos da
política parecem ter sido mais importantes do que a distribuição em si. Entre esses
efeitos, estariam a ampliação do mercado potencial, da demanda nos serviços de
saúde e a medicalização. Nesse sentido, a dinâmica do mercado farmacêutico,
mesmo com a CEME, mantinha-se autônoma à política governamental, face à sua
discreta e cautelosa implementação. Mesmo assim, o autor já apontava para a
necessidade de articulação da política de distribuição com as mudanças pretendidas
na assistência médica.
178
Consequentemente, se manteve como a principal fonte de provisão, tendo
obviamente se desenvolvido e consolidado neste período. Assim, a dicotomia entre
provisão pública precarizada para pobres e mercado para os que têm condições, se
manteve praticamente inalterada. Isso se reflete diretamente na manutenção da alta
proporção dos gastos com medicamentos dentro dos gastos em saúde (já elevados)
e na regressividade destes gastos, como mostram os dados das POFs de 1987 a
2003 (Diniz et al. 2007).
Assim, a demanda seria dividida em cinco classes: classe A com maior poder
aquisitivo, que acessa o mercado regular, apresenta demanda inelástica ao preço e
prefere medicamentos de última geração; classe B, que acessa o mesmo mercado,
tem poder aquisitivo menor que a anterior, mas com demanda elástica ao preço;
classe C que tem acesso ao mercado regular, mas que o procura em situações
emergenciais ou para suprir as deficiências do SUS; e classes D e E com pouco ou
nenhum acesso ao mercado regular e alta dependência do SUS (Frenkel, 2008b).
179
pelo PFPB (classes C, D e E) e a utilização de um único nível de subsídio e
copagamento, o que pode fazer com que não haja na utilização a diferenciação
esperada entre os segmentos populacionais (Frenkel, 2008a).
Ainda que a segmentação proposta pelo autor não seja a que ocorre na
prática, é inegável que o PFPB alterou a segmentação então existente, introduzindo
mais um elemento de diferenciação. Apesar de não haver maiores limitantes de
acesso ao PFPB, com exceção do copagamento, a política coloca como seu
objetivo atingir famílias com renda entre 4 e 10 salários mínimos (a classe C) e que
utiliza planos e seguros de saúde, segundo as definições do IBGE, a chamada
classe C. Isso por si só já é motivo de questionamentos, uma vez que a ampliação
da segmentação vai na contramão da universalidade.
180
que os medicamentos para hipertensão e diabetes, foco principal do programa, não
representam nem 20% dos gastos com medicamentos, como mostra Garcia et al.
(2013).
181
segmentação inclusive do acesso à medicamentos, em detrimento do direito
universal à saúde.
Por fim, vale destacar que resolução recente da ANS pode estar criando
ainda um novo nicho de segmentação no acesso à medicamentos, desta vez
envolvendo diretamente os usuários de plano de saúde e a diferenciação formal
entre os usuários. A Resolução Normativa 310/2012 incentiva a oferta de medicação
para uso domiciliaraos usuários pelos planos e seguros, serviço de caráter
facultativo e que pode ser cobrado por meio de contrato acessório. Entretanto, este
tema não será aprofundado neste estudo.
182
ações e recursos em saúde, com a utilização de recursos de baixa tecnologia,
focados em problemas e populações específicas, no geral aquelas em situação de
pobreza. Em contextos de políticas de ajuste fiscal e redução de gastos públicos,
essa concepção ganhou força por se basear fortemente na racionalidade econômica
das ações de saúde (Viana & Fausto, 2005).
183
nessa constante tensão entre diferentes concepções, onde deve se inserir também
o debate acerca das políticas de provisão de medicamentos, considerando o
pressuposto que a AF é um dos eixos estratégicos para estruturação da atenção
básica, como aponta Machado (2008).
184
(também recorrentes na AB); da ausência de profissionais qualificados envolvidos
no processo de organização, dispensação e atenção; e de uma orientação
hegemônica de foco na distribuição de medicamentos em detrimento do
atendimento e do cuidado centrado no paciente e na comunidade.
Ainda que seja difícil situar o ATFP dentro do debate em torno da APS, suas
características também apresentam um viés mais seletivo, mesmo que destoem em
certo grau das características tradicionais da APS seletiva. Um primeiro elemento
185
seria o fato do programa ter como objetivo expresso atender um segmento
específico, população com nível de renda C e D usuária de planos de saúde, que
como vimos, se concretiza em partes. Outro ponto seria a baixa abrangência
(quando comparado à AFAB e ao setor privado) e o reduzido de elenco de
medicamentos (menor que na AFAB), com forte ênfase na cobertura de doenças
crônicas específicas. Por fim, cabe destacar também a manutenção da lógica da
distribuição em detrimento do cuidado e a completa desarticulação do ATFP com os
demais níveis de atenção e, principalmente, com a própria AB, uma vez que não há
nenhum tipo de troca de informações com as unidades de saúde.
186
voltadas para as classes C e D, o fortalecimento político do varejo farmacêutico e as
possíveis tensões federativas geradas em sua evolução. Essas reflexões, ainda que
difusas e a princípio sem uma ligação direta com os pontos abordados
anteriormente, podem ajudar a contextualizar o momento e as opções feitas nas
políticas de provisão de medicamentos ou ainda servirem de ponto de partida para
futuras investigações.
187
usuários (Aragão-Junior, 2012), o que troca a noção de “direito” por “benefício” e
oculta o fato da saúde pública no Brasil ser financiada por impostos. O grande apoio
popular que o PFPB tem recebido, sendo um dos programas federais mais bem
avaliados (Pereira, 2013), reforça ainda mais esse apelo publicitário e justificam em
certa medida o seu fortalecimento.
Outra questão que merece destaque é o fato do alvo principal do PFPB ser a
população oriunda das chamadas classes C e D. Isso porque neste caso, o ATFP
demonstra certa coerência com uma série de outras políticas adotadas ao longo dos
anos 2000 que visavam ou tinham efeito principal sobre esse segmento
populacional. Sob um olhar mais geral e macroeconômico, podemos citar o aumento
da renda impulsionado pela elevação do salário mínimo, da redução do desemprego
e pelo bolsa família, e o estímulo ao crescimento econômico a partir do mercado
interno. Do ponto de vista das políticas sociais, observou-se a criação de uma série
de mecanismos de parcerias e/ou estímulo ao mercado, como forma de viabilização
da utilização de serviços privados anteriormente inacessíveis a boa parte da
população. No campo da educação podemos citar o PROUNI e o FIES, na saúde o
estímulo à proliferação de planos de saúde de baixo custo. O ponto de articulação
entre estas políticas se dá pelo consumo, que por um lado estimula a economia e
por outro permite o acesso a diversos serviços que antes eram exclusividade de
uma minoria, ainda que esta noção possa afastar as políticas sociais da
necessidade de serviços públicos de qualidade e da noção de direitos universais de
cidadania. O desenho do ATFP parece se enquadrar bem neste modelo de política
que ao mesmo tempo viabiliza o acesso e estimula o consumo, o mercado e o
crescimento econômico. Entretanto, obviamente esta hipótese precisa ser
investigada mais profundamente.
188
vão no sentido de minimizar o caráter mercantil de funcionamento desses
estabelecimentos a partir de preocupações sanitárias.
A questão que se coloca para o ATFP é que a parceria com o setor privado
pode ser mais um meio direto de influência, na medida em que passa pelas mãos
do setor uma das principais políticas governamentais, tanto em termos publicitários
quanto em termos de prioridade dentro das políticas de saúde. Isso pode levar a um
aumento do poder de barganha tanto nos rumos da política, quanto a outras
questões que venham a interessar ao setor. Além disso, é preocupante a grande
influência do varejo no poder político, considerando que, do nosso ponto de vista, a
189
regulação das farmácias comerciais é um dos pontos centrais para na melhoria
geral da AF no país.
Além disso a priorização do PFPB frente à AFAB pode soar como uma
admissão indireta de descrença do poder público quanto aos problemas enfrentados
pelo segundo modelo e um próprio questionamento aos municípios sobre sua
capacidade de ofertar medicamentos na AB.
190
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
191
pode ser útil para outros estudos no campo da análise de políticas públicas, uma
vez que através dela foi possível articular de maneira satisfatória o geral e o
específico.
Vale ressaltar que a matriz de análise proposta foi bastante útil para guiar e
manter o rumo da condução do estudo em todo o seu processo de desenvolvimento,
além de ter colaborado bastante para organização das categorias e definição dos
limites entre elas. É possível que, caso tivéssemos adotados modelos pré-
estabelecidos, teríamos encontrado grandes limitações e provavelmente não
conseguiríamos explorar de maneira satisfatória todos os elementos abordados no
trabalho. Cabe também a observação que, como consequência da própria
abordagem, na medida em que o estudo foi evoluindo e se transformando em
resultados, a própria matriz foi sendo modificada e reorganizada para se adequar
aos achados. Ao final do trabalho, ainda que tenham se conservado da proposta
inicial as três dimensões principais (assistenciais, gerenciais e política/econômicas/
ideológicas), as variáveis elaboradas inicialmente foram alteradas
consideravelmente, tendo algumas sido mantidas e outras agrupadas, separadas e
criadas.
Outra limitação foi o fato de que para alguns casos não foram encontrados
estudos com grande consistência metodológica ou abrangência adequada, sendo
que algumas vezes sequer algum estudo foi encontrado. Esta situação limitou a
extensão de possíveis conclusões e deixou lacunas e inconsistências na fase de
caracterização. Entretanto, sob uma visão geral, esta limitação não impediu ou
192
comprometeu de maneira significativa que os objetivos fossem atingidos. Ainda
dentro da revisão bibliográfica, um ponto importante de apoio foi a utilização da
base de estudos do projeto ISAUM-Br, que teve grande utilidade na fase de coleta
de dados.
193
aumento da participação de estados e municípios. No que pese o crescimento
global de recursos do MS destinados à AF, estes tem sido impulsionados
principalmente pelo componente especializado. Além disso, devido à ausência de
reajuste no valor per capita investido pelo MS no componente básico nos últimos
anos, valor esse considerado pelos gestores municipais como insuficientes, a
participação deste componente no orçamento da AF tem diminuído, representando
hoje pouco menos de 10% dos recursos, o que equivale a cerca de 1 bilhão de reais
em 2014. A esses recursos, se somam ainda em proporção parecida os recursos de
estados e municípios juntos. Além da insuficiência de recursos para a AFAB, ficou
explicitado que os investimentos na estrutura e qualificação dos serviços são
praticamente inexistentes, sendo destinados quase que totalmente para a aquisição.
194
resolutividade. O segundo é baixa qualificação dos serviços prestados, que se
resumem à distribuição de medicamentos, deixando de lado qualquer perspectiva
de cuidado e atenção relacionadas aos medicamentos, pontos centrais para
reorientação das práticas em saúde no sistema.
195
disponibilidade de medicamentos nos serviços. Todavia, as farmácias comerciais
repõem estoque de maneira frequente, compram em menor escala e contam muitas
vezes com distribuidores (próprios ou contratados) para a parte logística, o que gera
maiores custos na gestão e impacta no preço final do medicamento subsidiado pelo
governo.
196
plano de saúde, enquanto no ATFP o perfil é o oposto. Quando o parâmetro é a
renda, ambas as políticas parecem ser mais utilizadas por pessoas com
rendimentos médios e baixos. Uma possível explicação para este ponto seria o fato
do PFPB atender majoritariamente dois tipos de usuários: aqueles oriundos do SUS
que não obtiveram seus medicamentos gratuitamente e aqueles de renda média e
baixa oriundos do setor privado.
197
No geral pode se afirmar também que o ATFP apresenta condições
estruturais melhores que a AFAB, onde a precariedade é a regra. Nesta, os espaços
para armazenamento e atendimento são no geral inadequadas. Com relação aos
recursos humanos o mesmo pode ser afirmado, mas cabe o destaque que, mesmo
em menor grau no ATFP, tanto nas farmácias comerciais e nas unidades de saúde
é comum a ausência de farmacêuticos e a utilização de pessoal pouco qualificado
para realização da dispensação.
198
um contexto mais amplo de dilemas e desafios do sistema de saúde, que ajudam
em certa medida a explicar estes fenômenos.
199
o CEIS. Essa formulação, de maneira simplificada, aponta para a necessidade de
direcionar os investimentos em saúde para uma articulação virtuosa entre
desenvolvimento econômico, fortalecimento do setor produtivo nacional, estímulo à
inovação e as necessidades de saúde e do SUS. Nesse sentido, o papel do ATFP
seria estimular o mercado farmacêutico, mais precisamente de medicamentos
genéricos e ao mesmo tempo promover o acesso à medicamentos. Do ponto de
vista econômico, ainda que possa ser relativizado seu impacto, o programa tem
cumprido esse objetivo. Todavia, do ponto de vista assistencial, o ATFP colabora
pouco para o enfrentamento de problemas estruturais da AF, como os altos e
regressivos gastos privados dentro de uma hegemonia do mercado na provisão, a
frágil regulação deste setor, o foco na distribuição de insumos em detrimento do
cuidado e a medicalização. Assim, concluímos que a prevista articulação virtuosa
neste caso não se concretiza, o que reforça a hipótese que o foco econômico do
ATFP, principalmente a partir do SNTP, tem se sobressaído aos possíveis
benefícios ao sistema de saúde.
200
baixa abrangência, o ATFP altera pouco o padrão de segmentação anterior,
polarizado pela obtenção gratuita no setor público ou obtenção por desembolso
direto no setor privado. Todavia, sua institucionalização aprofunda a segmentação
dos usuários entre distintos padrões de utilização dos serviços de saúde, o que vai
na contramão da universalidade.
Por outro lado, o ATFP também reproduz a maioria desses problemas (baixa
qualidade dos serviços, foco em poucos medicamentos para doenças crônicas, foco
em população específica e menor abrangência), o que também aproxima a política
da concepção seletiva, porém com importantes agravantes: a total desarticulação
com a AB e o restante do sistema de saúde, a distância do modelo da estratégia de
organização do sistema de saúde, a cobrança por determinados medicamentos
201
(copagamento) e, principalmente, o caráter mercantil em seu ambiente de
funcionamento. Essas características colocam o ATFP invariavelmente como uma
política que reforça o lado curativo, liberal, individual e mercantil do sistema de
saúde.
8.3 Conclusão
A partir dos resultados encontrados, consideramos importante destacar de
maneira resumida algumas conclusões. A primeira delas é que existe uma grande
diferença nas características assistenciais, gerenciais, financeiras, políticas e
ideológicas da AFAB e do ATFP enquanto políticas públicas voltadas para provisão
pública de medicamentos ambulatoriais, com objetivos e público-alvo relativamente
semelhante.
202
foco na distribuição em detrimento do cuidado, ainda que em conjunto com o setor
privado têm conseguindo garantir acesso à quase totalidade da população.
203
manutenção dos altos gastos privados; e pelo reforço de uma concepção de
atenção básica seletiva e voltada para os mais pobres.
204
Nesse sentido, partindo da nossa perspectiva da defesa de um sistema de
saúde universal, público e redistributivo, consideramos que algumas questões
estruturais sejam colocadas no centro da agenda. Não acreditamos ser possível a
consolidação da proposta original do SUS e da Reforma Sanitária Brasileira sem o
profundo enfrentamento à estrutura regressiva de gastos privados com
medicamentos. Isso passa ao nosso ver pela revisão do papel restrito e focado das
políticas de provisão de medicamentos, o que depende diretamente da ampliação e
qualificação da provisão púbica via AFAB e por uma profunda redefinição do papel
majoritário do setor privado no acesso à medicamentos, apontando para a
necessidade de uma forte regulação deste setor e da diminuição de seu caráter
mercantil. De maneira resumida, acreditamos que nos dias de hoje muito mais
importante do que discutir como ampliar o acesso, deve-se discutir como se dá esse
acesso e para qual caminho apontam os mecanismos de provisão na forma em que
hoje se configuram.
205
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