Admin, BJHR Template 224
Admin, BJHR Template 224
Admin, BJHR Template 224
ISSN: 2595-6825
Marcela Chiriano
Discente em Medicina
Instituição: Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) - Campus Jaú/SP
Endereço: Avenida Antônio de Almeida Pacheco, 2945 - 2° Zona Industrial, Jaú – SP
CEP: 17.213-700
E-mail: marcela.nmb@gmail.com
RESUMO
Este artigo buscou analisar a ocorrência de complicações pós-operatórias em pacientes
submetidos à abdominoplastia, evidenciando os tipos mais frequentes, a incidência e as
possíveis etiologias. A abdominoplastia possui como objetivo remover a pele em excesso e
apertar os músculos abdominais soltos mediante a dissecção limitada do retalho abdominal,
plicatura da fáscia do reto abdominal e ressecção tridimensional de um segmento de pele e
tecido subdérmico até a fáscia de Scarpa. Mesmo sendo um dos procedimentos cirúrgicos mais
realizados no mundo, os riscos de complicações não devem ser ignorados. Esses, comumente,
se relacionam às comorbidades do paciente e à escolha técnica cirúrgica associada à experiência
do cirurgião. Dentre as possíveis complicações, destacam-se seroma, infecção da ferida
operatória, hematoma, deiscência de sutura, necrose de pele, hipertrofia cicatricial, trombose
venosa profunda, embolia pulmonar e insatisfação com o resultado. No entanto, ainda são
necessários estudos que explorem os impactos que a abdominoplastia, como cirurgia eletiva,
pode desencadear na saúde e qualidade de vida do paciente.
ABSTRACT
This literature review aims to analyze the occurrence of postoperative complications in patients
undergoing abdominoplasty, highlighting the most frequent types, incidence and possible
etiologies. Abdominoplasty is responsible for removing excess skin and for strengthening loose
abdominal muscles through limited dissection of the flap, plication of the fascia of the
abdominal flap, and three-dimensional retraction of a segment of skin and subdermal tissue up
the fascia of Scarpa. Even though it is one of the most performed surgical procedures in the
world, the risks of complications should not be ignored. The risks are commonly related to the
patient's comorbidities and the choice of surgical technique associated with the surgeon's
experience. Among the possible complications, the most common are seroma, surgical wound
infection, hematoma, suture dehiscence, skin necrosis, scar hypertrophy, deep vein thrombosis,
pulmonary embolism, in addition to dissatisfaction with the surgical result. However, studies
are still needed to explore the impacts that abdominoplasty, as an elective surgery, can have on
the health and the quality of life of the patientes.
1 INTRODUÇÃO
A abdominoplastia constitui-se na restauração da pele e do contorno da parede
abdominal, é caracterizada pela retirada de tecido adiposo e da pele do abdômen, além da
reestruturação dos músculos e da fáscia abdominal. Esses processos cirúrgicos são realizados
com o intuito de deixar o abdômen, incluindo a cicatriz umbilical, com aspectos harmônicos e
atraentes (PRESMAN et al., 2015; SALARI et al., 2021).
Ainda é uma das cirurgias estéticas mais realizadas, ocupando o quarto lugar mais
popular no mundo em 2018 de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica
Estética. O crescente número de procedimentos estéticos está relacionado a um maior número
de cirurgias bariátricas e grandes perdas de peso, associado à autoestima e à imagem corporal
relatadas pelos pacientes. Essa técnica é feita principalmente em mulheres em situações de
gestações múltiplas ou que perderam uma quantidade significativa de peso (BRITO et al., 2020;
SALARI et al., 2021).
A abdominoplastia é comumente realizada em conjunto com diversas cirurgias estéticas,
como mamoplastia, lipectomia, lifting de membros inferiores, lipoaspiração – sendo essa a mais
recorrente, ganhando o nome de lipoadominoplastia –, a fim de apresentar melhor resultado
para os pacientes. Contudo, é necessário que haja esclarecimento por meio da relação médico-
paciente sobre o procedimento, para que o paciente não se frustre caso o resultado esperado não
seja alcançado, seja pela impossibilidade de obtê-lo ou pela presença de uma complicação pós-
operatória (VIDAL; BERNER; WILL, 2017; SHERMAK, 2020).
Apesar de sua popularidade, a abdominoplastia está associada a riscos de complicações
cirúrgicas. As comorbidades comumente relacionadas à obesidade, como diabetes,
hipercolesterolemia, hipertensão e doença isquêmica do coração, têm sido atribuídas ao
aumento das taxas de complicações. Observa-se em parte desses pacientes a ocorrência de
sangramento, necrose gordurosa, deiscência da ferida, infecção de sítio cirúrgico, hematoma,
embolia pulmonar e seroma, que é conhecido como a complicação mais frequente após um
procedimento de abdominoplastia (BATAC et al., 2019; XIAO; YE, 2017).
A avaliação pré-operatória é de suma importância para a realização de um procedimento
cirúrgico seguro, compreendendo o conhecimento anatomofisiológico minucioso e a técnica
mais adequada para cada paciente, além de verificar as medicações de uso habitual, incluindo
anticoagulantes, anti-inflamatórios não esteróides, anticoncepcionais, medicamentos à base de
plantas e alergias. Ademais, achados de exames laboratoriais pré-operatórios pertinentes, por
exemplo, hemoglobina, hematócrito, testes de coagulação, podem ser preditivos de perda
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A região abdominal é uma das áreas mais comuns tratadas em procedimentos de cirurgia
plástica, sendo a abdominoplastia um dos procedimentos estéticos mais realizados, a qual
engloba não apenas o componente estético como também a reconstrução estrutural da parede
abdominal. Dentre as diversas causas para realização desse procedimento, é comumente
descrita a restauração da aparência pré-gravidez em mulheres, a manutenção da jovialidade
física na população envelhecida e o aumento na prevalência de obesidade e cirurgias bariátricas
(LOURI et al., 2020; JABBOUR et al., 2017).
O objetivo da abdominoplastia é remover a pele excessiva e apertar os músculos
abdominais soltos. Obtêm-se isso por meio de, principalmente, três características
compartilhadas entre as técnicas contemporâneas: dissecção limitada do retalho abdominal;
plicatura da fáscia do reto abdominal; ressecção tridimensional de um segmento de pele e tecido
subdérmico subjacente até a fáscia de Scarpa (VIDAL; BERNER; WILL, 2017; RICHTER;
SCHWAIGER, 2018).
A obesidade é uma condição crescente entre as mulheres. Acredita-se que pela dupla
jornada entre trabalho e família esta circunstância eleva o risco de compulsão alimentar e
estresse quando comparada aos homens. Segundo o The Worldwide Obesity Epidemic, na
maioria dos países as mulheres possuem maiores Índice de Massa Corporal (IMC) e
consequente obesidade em relação aos homens, o que justifica sua maior procura por cirurgias
abdominais (ARAÚJO et al., 2018; VIEIRA; ISER, 2018).
No Brasil, o fator que corrobora a maior busca pela cirurgia estética entre as mulheres
dá-se pelo padrão de beleza feminino imposto pelos meios midiáticos como magro. Além disso,
a idade média para a realização do procedimento varia entre 30 aos 40 anos, acredita-se que
nessa idade o entendimento sobre os risco e benefícios de uma cirurgia corrobora um maior
entendimento das pacientes (ARAÚJO et al., 2018).
Complicações cirúrgicas são quaisquer implicações que interfiram na recuperação do
paciente, sendo que normalmente estão associadas às condições orgânicas e psicológicas do
indivíduo, dimensão do procedimento e/ou técnica cirúrgica utilizada (CINTRA et al., 2020).
Apesar da abdominoplastia ainda ser um procedimento com índices relativamente altos de
complicações, apresenta um bom prognóstico na maioria dos casos (GEMPERLI; MENDES,
2019).
As complicações relacionadas à abdominoplastia podem ser categorizadas em
imediatas, precoces ou tardias, sendo locais ou sistêmicas. A trombose venosa profunda,
embolia pulmonar e embolia gordurosa são exemplos de complicações imediatas, e são também
as mais ameaçadoras à vida, porém, são eventos menos frequentes. Dentre as complicações
precoces estão os seromas, hematomas, infecções, necroses e deiscências da pele. A assimetria
abdominal, diástase recorrente e hipertrofia cicatricial são consideradas complicações tardias
da abdominoplastia (DUCIC et al., 2013).
Segundo Louri et al. (2020), o seroma é definido como uma coleção circunscrita de
líquido seroso ou hemoseroso, em que a literatura relata ser a complicação local mais frequente
da abdominoplastia. A taxa observada em estudos anteriores é estimada em 18,6%. Salari et al.
(2021) descreve uma incidência de 1 a 57% e incidência média de 10%. A fisiopatologia da
formação do seroma envolve a liberação de mediadores inflamatórios, a criação de espaço
morto durante o descolamento subcutâneo, o rompimento de estruturas vasculares e linfáticas
e as forças de cisalhamento geradas durante o ato operatório (NASSIF et al., 2018).
Mais frequentemente o seroma se desenvolve entre 10 e 20 dias após a cirurgia, por isso,
a literatura mostra que o uso do dreno no pós-operatório imediato não afeta sua formação. Essa
complicação demanda retornos ambulatoriais frequentes para tratamento, o que pode gerar
maior risco de infecções, recuperação prolongada e cirurgias adicionais (SALARI et al., 2021).
Algumas estratégias são descritas para minimizar o risco de seroma, como a elevação do retalho
abdominal e a retenção da fáscia da scarpa ligada à fáscia do músculo oblíquo externo e ao reto
abdominal, o uso de suturas de tensão progressiva e selantes de fibrina (LOURI et al., 2020).
Os pacientes submetidos à abdominoplastia podem apresentar também formação de
hematomas pós-operatórios, com incidência entre 1 e 10%, variando de assintomáticos, quando
em pequeno volume, ou com presença de dor local e edema, se em maior volume. Os casos
crônicos de hematomas em expansão são descritos como eventos raramente associados à
abdominoplastia (LOURI et al., 2020). É importante a exploração imediata de hematomas
volumosos, uma vez que estes podem evoluir com instabilidade hemodinâmica e compressão
do retalho descolado, culminando em necrose tecidual e aumento da morbimortalidade
(GEMPERLI; MENDES, 2019).
mamas, parte inferior das costas e/ou coxas, lifting de membros inferiores e lipoaspiração
(SHERMAK, 2020).
Em relação às complicações pós-operatórias, observa-se que os o índice de massa
corporal, tabagismo, idade e a quantidade de tecido removido durante a cirurgia são fatores
predisponentes de risco (SALARI et al., 2021; COHEN et al., 2017). Ainda não existe um
consenso se a realização da lipoaspiração e de outros procedimentos estéticos concomitantes
com a abdominoplastia são fatores de risco para a incidência de complicações pós-operatórias
(VIDAL; BERNER; WILL, 2017; SHERMAK, 2020).
O tabagismo é fator de risco para diversas cirurgias e na abdominoplastia está
relacionado com o aumento da incidência da necrose do retalho e deiscência de sutura, não
sendo estatisticamente significante na formação de seromas (THEOCHARIDIS et al., 2018).
Em relação à idade, percebe-se a correlação estatística entre pacientes mais velhos e maior
índice de complicações, sendo que os pacientes com complicações têm em média 50,8 anos
contra 44,7 anos de média em pacientes sem complicações (CINTRA, 2021).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Baseado nas informações obtidas a partir desta revisão, conclui-se que as complicações
associadas ao pós-operatório de abdominoplastia possuem fatores de risco inerentes ao paciente
em consonância com a técnica cirúrgica e experiência do cirurgião. Os índices de complicações
descritas na literatura indicam o seroma como a mais frequente, seguido da infecção. Mais
raramente, encontram-se casos de necrose cutânea e deiscência de sutura, além da insatisfação
com o resultado. No entanto, ainda são necessários estudos que explorem os impactos que a
abdominoplastia, como cirurgia eletiva, pode ter na saúde e qualidade de vida do paciente.
REFERÊNCIAS
BATAC, J. et al. Abdominoplasty in the Obese Patient. Plastic And Reconstructive Surgery.
v. 143, n. 4, p. 721-726, 2019.
BRITO, I. M. et al. Abdominoplasty and Patient Safety: The Impact of Body Mass Index and
Bariatric Surgery on Complications Profile. Aesthetic plastic surgery. v. 44, p. 1615-1624,
2020.
JABBOUR, S. et al. Does the addition of progressive tension sutures to drains reduce seroma
incidence after abdominoplasty? A systematic review and meta-analysis. Aesthetic Surgery
Journal. v.37, n.4, p. 440-447, 2017.
NASSIF, T. M. et al. Analysis of risk factors for the formation of seroma in classical
abdominoplasty. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica. v. 33, n. 2, p. 156-160, 2018.
PRESMAN, B. et al. Persistent Pain and Sensory Abnormalities after Abdominoplasty. Plastic
And Reconstructive Surgery - Global Open. v. 3, n. 11, p. 561-567, 2015.
SEVIN, A. et al. Antibiotic use in abdominoplasty: prospective analysis of 207 cases. Journal
Of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery. v. 60, n. 4, p. 379-382, 2007.
THEOCHARIDIS, V. et al. Current evidence on the role of smoking in plastic surgery elective
procedures: a systematic review and meta-analysis. Journal Of Plastic, Reconstructive &
Aesthetic Surgery. v. 71, n. 5, p. 624-636, 2018.
XIAO, X.; YE, L. Efficacy and Safety of Scarpa Fascia Preservation During Abdominoplasty:
a systematic review and meta-analysis. Aesthetic Plastic Surgery. v. 41, n. 3, p. 585-590, 2017.