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Brazilian Journal of health Review

O uso do pessário na prevenção do parto prematuro em gestantes com colo


uterino curto: revisão narrativa

The use of pessary in preventing premature birth in pregnant women with short
cervix: narrative review

DOI:10.34119/bjhrv3n4-353

Recebimento dos originais: 28/07/2020


Aceitação para publicação: 28/08/2020

Letícia Rezende de Morais


Estudante de Medicina, pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Instituição: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Endereço: Rua do Rosário, 1081, Bairro Angola – Betim, Minas Gerais, CEP: 32604-115
E-mail: leticiar92@hotmail.com

Andressa Cintra Ferreira


Estudante de Medicina pela Universidade de Uberaba
Instituição: Universidade de Uberaba
Endereço: Avenida Nenê Sabino, 180, Bairro Universitário – Uberaba, Minas Gerais, CEP: 38055-
500
E-mail: cintraandressa@gmail.com

Bruno Pithon Costa Souza


Estudante de Medicina, pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora
Endereço: Alameda Salvaterra, 200, Bairro Salvaterra – Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP: 36033-
003
E-mail: bruno.psouza50@gmail.com

Carolina de Paula Mangussi


Estudante de Medicina pela Faculdade Faceres
Instituição: Faculdade Faceres
Endereço: Avenida Anísio Haddad, 67, Jardim Francisco Fernandes – São José do Rio Preto, São
Paulo, CEP: 15090-305
E-mail: cpmangussi@gmail.com

Julia Werneck Paulino Soares de Souza


Estudante de Medicina pela Universidade Estácio de Sá
Instituição: Universidade Estácio de Sá (Campus Presidente Vargas)
Endereço: Avenida Presidente Vargas, 642, Centro, Rio de Janeiro- RJ, CEP: 20071-906
E-mail: juliawerneckp@gmail.com

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Letycia Limas Silva
Estudante de Medicina, pela Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora
Endereço: Alameda Salvaterra, 200, Bairro Salvaterra – Juiz de Fora, Minas Gerais, CEP: 36033-
003
E-mail: limasletycia@gmail.com

Luisa Leste Machado


Médica formada pela Universidade Federal de Minas Gerais
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais
Endereço: Avenida Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia – Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP:
30130-100
E-mail: luisa.leste@globo.com

Marina Pithon Costa Souza


Estudante de Medicina pela Universidade José do Rosário Vellano
Instituição: Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS-BH)
Endereço: Rua Boaventura, 50, Bairro Universitário – Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP: 31270-
020
E-mail: marinapithon@hotmail.com

Miguel Pedro Junger de Castro Garro


Médico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais
Endereço: Avenida Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia – Belo Horizonte, Minas Gerais, CEP:
30130-100
E-mail: miguelpjcg@gmail.com

Gustavo Mariano Rodrigues Santos


Médico formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Atuando como médico da estratégia de saúde de família da secretaria Municipal de Betim - MG.
Endereço: rua Rio Grande do Sul, 341, bairro Universal, Betim
E-mail: mariano.gustavo000@gmail.com

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RESUMO
INTRODUÇÃO: O parto prematuro possui grande importância na morbidade e mortalidade
neonatal, sendo a insuficiência cervical uma importante causa. Devido às suas complicações é
necessário o diagnóstico precoce da insuficiência cervical para que seu tratamento seja adequado.
Nesse contexto, o uso de pessários vem sendo estudado como maneira de prevenir tal condição.
METODOLOGIA: Consiste em uma revisão narrativa realizada através de pesquisa nas bases de
dados PUBMED e Portal de periódicos CAPES, com os descritores "pessaries" e "premature birth.
RESULTADOS: Os artigos analisados foram publicados em periódicos nacionais e internacionais.
Foram selecionados estudos de ensaio clínico, metanálises, revisões e estudo prospectivo.
DISCUSSÃO: A bibliografia consultada demonstrou-se inconclusiva quanto à eficácia do pessário
para evitar partos prematuros em gestações únicas de mulheres com comprimento cervical reduzido.
Além da impossibilidade de estabelecer um parecer definitivo, enfrentamos dificuldades na
interpretação dos dados, posto que fatores como ausência de padronização metodológica dos estudos
e múltiplas variáveis potencialmente envolvidas na classificação de risco de uma gestação tornam a
comparação entre os materiais acadêmicos disponíveis limitada. CONCLUSÃO: O uso do pessário
como prevenção para o parto prematuro ainda está em discussão, sendo, portanto, necessário estudos
com maior relevância para determinar as vantagens do seu uso.

Palavras-chave: “Pessários”, “Nascimento prematuro”, “Colo do útero”, “Trabalho de parto


prematuro”.

ABSTRACT
INTRODUCTION: Premature birth is of great importance in neonatal morbidity and mortality, with
cervical failure being an important cause. Due to its complications, an early diagnosis of cervical
insufficiency is necessary for its treatment to be adequate. In that context, the use of pessaries has
been studied as a way to prevent such a condition. METHODOLOGY: It consists of a narrative
review carried out through research in the databases PUBMED and Portal of CAPES journals, with
the descriptors "pessaries" and "premature birth. RESULTS: The analyzed articles were published in
national and international journals, clinical trial, meta-analyzes, reviews and prospective study.
DISCUSSION: The bibliography consulted was inconclusive as to the pessary's effectiveness in
preventing premature births in single pregnancies of women with reduced cervical length.
interpretation of the data, given that factors such as the absence of methodological standardization of
the studies and multiple variables potentially involved in the risk classification of a pregnancy make
the comparison between the academic materials available limited. CONCLUSION: The use of the
pessary as prevention for premature birth is still under discussion, therefore, more relevant studies
are needed to determine the advantages of its use.

Keywords: “Pessaries”, “Premature Birth”, “Cervix Uteri”, “Obstetric Labor, Premature”.

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1 INTRODUÇÃO
O parto prematuro ou pré-termo é o parto que ocorre antes de 37 semanas de gestação.
Globalmente, cerca de 15 milhões de nascimentos, por ano, são prematuros, e totalizam cerca de 1,1
milhão de mortes anuais (KINDINGER LM, et al., 2017). Já no Brasil, aproximadamente, 10% dos
bebês nascem antes do tempo previsto (BRASIL, 2017). O nascimento prematuro é descrito como a
principal causa de morbidade neonatal, principalmente, devido a imaturidade respiratória,
hemorragias intracranianas e infecções. A longo prazo, essas condições podem gerar sequelas do
neurodesenvolvimento, como comprometimento intelectual, paralisia cerebral, doença pulmonar
crônica, surdez e cegueira (KOULLALI B, et al., 2017a). Por isso, a prevenção do parto prematuro é
um dos maiores desafios da medicina obstétrica (BIGGIO Jr, JR 2017).
A causa do parto prematuro é multifatorial, e a disfunção cervical é um fator fisiopatológico
importante em algumas mulheres (KOULLALI B, et al., 2017b). Além disso, um parto prematuro
anterior aumenta em duas vezes o risco de o próximo parto também ser pré-termo (CROWTHER CA,
et al., 2017). Somado a isso, o comprimento do colo do útero, que pode ser medido com precisão pelo
ultrassom, tem uma relação inversa com o risco de prematuridade (CABRERA-GARCÍA L, 2015),
uma vez que o fato de ter um colo do útero curto aumenta ainda mais o risco dessa condição
(PACAGNELLA RC, 2019). Atualmente, diversos tratamentos estão sendo implantados para a
prevenção do parto prematuro espontâneo ocasionado pela disfunção cervical. Dentre as medidas
preventivas para esse caso podemos citar: a correção da disfunção cervical a partir da progesterona
suplementar, a cerclagem e o uso de pessários (HEZELGRAVE NL, et al., 2016). No entanto, cada
opção tem a sua particularidade que deve ser respeitada.
Para o uso de progesterona vaginal, as evidências sugerem, que esse método é benéfico para
mulheres com gestação única e colo uterino curto, enquanto a cerclagem parece ser útil em mulheres
com gravidez única, que apresentem simultaneamente, comprimento cervical menor ou igual a 25mm
e parto prematuro espontâneo prévio. Já o uso do pessário cervical, por sua vez, pode beneficiar
mulheres assintomáticas, com o comprimento cervical curto ao ultrassom transvaginal, sem
nascimento prematuro anterior e gravidez única, reduzindo a taxa de nascimento com menos de 34
semanas de gestação (SACCONE G, et al., 2017a).
O pessário cervical é um dispositivo de silicone, originalmente utilizado como tratamento para
prolapsos, e que atualmente vêm sendo usado para a prevenção do nascimento prematuro, pois auxilia
a manutenção do fechamento do colo do útero, aplicando uma força de contato externa que leva ao
fechamento do canal cervical. Assim, ocorre a redução do estiramento do tecido interno e o aumento
da compressão do tecido externo (KOULLALI B, et al., 2017b).

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Dessa forma, para que as medidas preventivas sejam úteis, é necessário que o diagnóstico da
insuficiência cervical seja feito, a fim de identificar as pacientes que possuem risco aumentado de
parto prematuro espontâneo. Prevenir o parto pré-termo possui clara evidência de melhora na
qualidade de vida, uma vez que diminui a possibilidade eminente de riscos, agravos e sequelas de
diversos tipos, possibilitando um adequado desenvolvimento infantil. Portanto, esse estudo objetiva
analisar a partir de uma revisão narrativa os benefícios da utilização do pessário na prevenção do
parto prematuro em gestantes que apresentam o colo uterino curto e que não apresentem gestações
múltiplas.

2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, cujo levantamento bibliográfico foi realizado
através de pesquisa nas bases de dados virtuais PUBMED e Portal de periódicos CAPES, no mês de
julho de 2020. Os Descritores em Ciência e Saúde ( DeCS) utilizados foram " pessaries" e "premature
birth" associados pelo uso do operador booleano AND. Para a seleção de artigos, definiu-se como
critério de inclusão artigos científicos publicados entre 2015 e 2020, nos idiomas inglês e português.
Adotou-se como critérios de exclusão a presença de gestações múltiplas, dando enfoque ao objetivo
principal que é o uso do pessário por gestantes com colo uterino curto. Inicialmente, a partir dos
critérios que foram definidos, obteve-se um resultado total de 80 artigos e após avaliação seguindo a
temática proposta, foram selecionados 19 estudos para este trabalho.

3 RESULTADOS
Os artigos analisados foram publicados em periódicos nacionais e internacionais. Foram
selecionados dez estudos de ensaio clínico, cinco metanálises, duas revisões sistemáticas, um estudo
prospectivo e uma diretriz. O mais recente estudo foi publicado no ano de 2019 e o mais antigo no
ano de 2015. Dos 19 estudos selecionados, 7 tiveram maior relevância e correspondem a uma síntese
dos principais referenciais teóricos obtidos na busca bibliográfica do estudo. Esses trabalhos foram
separados de acordo com o título, autoria/ano de publicação, periódico publicado e método
empregado no estudo, conforme Tabela 1.

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Tabela 1. Principais estudos que evidenciam a relação na utilização do pessário e prevenção do parto prematuro.
Título Autoria/Ano Periódico Metodologia

Prevention of preterm birth: Novel KOULLALI, B et al., Seminars in Revisão


interventions for the cervix 2017b. Perinatology

Effectiveness of progesterone, JARDE, A et al., BJOG: International Metanálise


cerclage and pessary for preventing 2017. Journal of Obstetrics
preterm birth in singleton & Gynaecology
pregnancies: a systematic review and
network meta-analysis

Use of the Pessary in the Prevention CORRÊA, TD et al., Revista Brasileira de Revisão
of Preterm Delivery 2019. Ginecologia e
Obstetrícia

Effect of Cervical Pessary on SACCONE, G et al., JAMA – American Ensaio Clínico


Spontaneous Preterm Birth in 2017b. Medical Association
Women With Singleton Pregnancies
and Short Cervical Length: A
Randomized Clinical Trial

Cervical Pessary for Prevention of JIN, X-H et al., 2017. Scientific Reports Metanálise
Preterm Birth: A Meta-Analysis

Prevention of preterm birth with DUGOFF, L et al., Ultrasound in Ensaio Clínico


pessary in singletons (PoPPS): 2018. obstetrics &
randomized controlled trial gynecology

A Randomized Trial of a Cervical NICOLAIDES, KH The New England Ensaio Clínico


Pessary to Prevent Preterm Singleton et al., 2016. Journal of Medicine
Birth

Fonte: MORAIS LR, et al., 2020.

4 DISCUSSÃO
Pessários são dispositivos endovaginais majoritariamente utilizados no manejo de prolapsos
do assoalho pélvico como alternativa à abordagem cirúrgica (KOULLALI B, et al., 2017b). Nas
últimas décadas, sua aplicação também vem sendo avaliada no contexto das gestações de risco
elevado para prematuridade, mais especificamente naquelas em que o aumento do risco se dá em

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função de um comprimento cervical curto (HOOFT J, et al., 2018). No Brasil, entretanto, o uso do
pessário como uma tentativa de evitar o desfecho do parto pré-termo ainda é pouco difundido na
prática obstétrica.
Atualmente, existe uma grande variedade de formatos de pessários disponíveis no mercado.
No mercado brasileiro, são comercializados, oficialmente, dois modelos feitos de silicone - ARABIN
e Ingámed. O primeiro, criado comercialmente na Alemanha no fim da década de 1960 pelo médico
Gretel Arabin para uso no prolapso uterino, é o modelo mais popular e também o mais usado em
estudos clínicos. O segundo, de patente brasileira, difere do ARABIN por apresentar um padrão
dentilhado em seu anel interno, enquanto o modelo alemão conta com um anel interno liso (CORRÊA
TD, et al., 2019).
A colocação de um pessário cervical para tratar o encurtamento cervical foi proposta
inicialmente no final da década de 1950 e no início da década de 1960. Mais recentemente, o pessário
ARABIN tem sido estudado como uma possível alternativa à terapia com cerclagem e / ou
progesterona vaginal (SOCIETY FOR MATERNAL-FETAL MEDICINE (SMFM)
PUBLICATIONS COMMITTEE, 2017). No entanto, ainda não é clara a forma como o pessário seria
capaz de prevenir a prematuridade, mas a teoria mais aceita é a de que o dispositivo, uma vez
implantado, seja capaz de deslocar a pressão exercida pela massa uterina sobre a cavidade vaginal e
mover o seu vetor em direção ao sacro. Dessa forma, a estrutura sacral passaria a ser o ponto de
amparo físico para o colo uterino, o que diminuiria sua chance de abertura antes do termo
(NICOLAIDES KH, et al., 2016).
Para avaliar a eficiência do uso de pessário na prevenção do parto prematuro em gestações
únicas foram avaliados alguns ensaios clínicos randomizados. Um dos estudos descrito por Corrêa
TC et al. (2019) associou o uso de pessário e progesterona complementar em gestantes com gravidez
única com comprimento cervical menor ou igual a 25 mm ou menos entre 18-22 semanas
gestacionais. Para esse estudo, um grupo fez uso combinado de pessário e progesterona e o outro,
usou somente a progesterona e ao final do estudo, conclui-se que a combinação de pessário com
progesterona complementar não teve benefício adicional quando comparado com o uso exclusivo de
progesterona na redução de parto antes da 34ª semana (CORRÊA TC, et al., 2019).
Já o estudo de Nicolaides KH et al. (2016), o único multicêntrico e com maior grupo amostral
já realizado, envolveu o uso de pessário em mulheres com gestação única e comprimento cervical
igual ou menor a 25 mm entre 20 semanas e 24 semanas e 6 dias de gestação. Além disso, todas
participantes do ensaio que apresentaram colo uterino menor ou igual a 15 mm foram submetidas ao
uso de terapia progestágena até completar 34 semanas de gestação. Esse estudo, sendo o de maior

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significância estatística dentre os ensaios já realizados, concluiu que o uso do pessário, com
progesterona complementar ou não, não apresentou benefícios adicionais na redução da frequência
de parto antes da 34ª semana (NICOLAIDES KH, et al., 2016). Um outro estudo, descrito por Jin XH
et al., (2017), comparou o uso do pessário com a conduta expectante em pacientes randomizadas entre
20 semanas e 24 semanas gestacionais, com colo menor ou igual a 25 mm, tendo observado, inclusive,
um maior número de partos antes de 34 semanas no grupo das usuárias de pessário.
Em contrapartida aos estudos já citados, o estudo de Saccone G et al. (2017b) promoveu um
ensaio envolvendo mulheres com gestação única assintomática que tiveram diagnóstico de colo
uterino com comprimento menor ou igual a 25 mm entre 18 semanas e 23 semanas e 6 dias de
gestação, excluindo mulheres com história prévia de parto pré-termo. Mulheres em que à
ultrassonografia transvaginal (USGTV) apresentassem colo inferior a 20 mm recebiam doses diárias
de progesterona até o fim da gestação. Ao final desse ensaio, notou-se que o uso de pessário cervical,
comparado com o grupo controle, resultou numa frequência menor de parto prematuro espontâneo
em menos de 34 semanas de gestação, além de também promover redução de agravos fetais pós
nascimento (SACCONE G, et al., 2017b).
Assim como o estudo de Saccone G et al. (2017b), um estudo citado por Corrêa TD et al.
(2019) realizado no ano de 2012, apresentou resultados favoráveis ao uso do pessário. Em sua análise
foram randomizadas gestantes com colo menor que 25 mm e idade gestacional entre 20 semanas e 23
semanas, separadas entre uso de pessário e conduta expectante, apresentando uma taxa 4,5 vezes
menor de parto prematuro abaixo de 34 semanas nas gestantes submetidas ao uso do dispositivo - 6%
com pessário contra 27% da abordagem expectante (CORRÊA TC, et al., 2019).
O último estudo com resultados disponíveis, de Dugoff BV et al. (2017), foi o único realizado
com o pessário Bioteque, que pouco difere do ARABIN. Seus resultados apresentaram concordância
com a maior parte dos estudos, e não apontou diferença significativa entre os desfechos em usuárias
e não usuárias de pessário. Nesse estudo foram incluídas mulheres entre 18 semanas e 23 semanas de
gestação, com colo uterino menor que 25 mm. Igualmente ao realizado por Saccone G et al. (2017b),
doses diárias de progesterona até o fim da gestação foram oferecidas às gestantes com medida do colo
inferior a 20 mm (DUGOFF BV, et al., 2017).
Diante dos dados apresentados, a diferença observada entre as conclusões dos estudos
apresentados é instigante, uma vez que, em última análise, levantam-se dúvidas sobre o real valor do
uso do pessário na prevenção de partos prematuros. Na tentativa de esclarecer essas dúvidas e elaborar
uma avaliação mais definitiva sobre o impacto do método, a elucidação de alguns pontos parece ser
determinante. Nesse contexto, é importante entender que tais divergências entre estudos podem ter

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relação com a heterogeneidades nos métodos utilizados e na condução dos ensaios, bem como a
alguns fatores que podem ter exercido influência sobre o resultado final em si.
Dentre estes fatores apresentados, o de maior destaque, talvez, seja o próprio comprimento do
colo uterino das gestantes que participaram de cada um desses estudos. Levando em consideração
que o tamanho cervical é um importante fator de risco para a ocorrência de partos prematuros, pode-
se inferir que, quanto menor é o comprimento cervical, maior será esse risco. Embora todos os ensaios
analisados tenham utilizado um mesmo valor de corte - comprimento menor ou igual a 25 mm - como
critério para diagnóstico de colo curto e inclusão nos ensaios, é compreensível que a diferença de
valores entre os grupos avaliados dentro de um estudo possa ter exercido impacto sobre os desfechos.
Para comparação, enquanto no grupo com pessário em Saccone G et al. (2017a) se observou uma
média de 11,5 mm para o comprimento de colo e de 12,5 mm no grupo sem pessário (média geral de
12 mm para o estudo), em Dugoff BV et al. (2017), a média de comprimento cervical em usuárias de
pessário foi de 17,6 mm e de 19 mm para as participantes do grupo controle (16 mm de média geral).
No estudo de Nicolaides KH et al. (2016), esse valor salta para 20 mm nos dois grupos, média
semelhante às observadas em estudos citados Corrêa TC et al. (2019), realizados nos anos de 2012 e
2013.
Somado a isso, a média de idade gestacional para implantação do pessário também pode ser
um fator de influência, variando de 21,1 a 23,5 semanas nos diferentes estudos. Contudo, a idade
média das pacientes e a idade mínima para participar dos estudos também exerce, presumivelmente,
algum grau de impacto nos desfechos, uma vez que houve uma variação média de 27,7 a 31,6 anos e
a idade mínima para participar do estudo foi de 18 anos em todos os estudos, exceto em um, que
incluiu pacientes a partir dos 16 anos de idade.
Além das informações apresentadas, também é preciso avaliar o potencial impacto de
diferenças étnicas sobre os desfechos, uma vez que, com exceção de Nicolaides KH et al. (2016),
todos os outros estudos foram realizados em um único ou em poucos centros. Como o total de
pacientes randomizadas na maioria dos estudos era relativamente baixo, fatores como comorbidades
não identificadas ou pregressas ou ainda eventuais características anatômicas, genéticas e ambientais
das gestantes podem ter tido algum grau de interferência nos resultados. Nesse sentido, não se pode
deixar de destacar o estudo de Nicolaides KH et al. (2016), que além de multicêntrico, realizou a
randomização de 935 gestantes, sendo o estudo de maior força estatística sobre o uso de pessário na
gestação. Muito em decorrência de tamanha relevância, a maioria dos resultados obtidos em meta-
análises terminam por ser concordantes com os achados deste estudo (JARDE A, et al., 2017).

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Em todos os ensaios citados é possível notar que não houve diferença significativa no desfecho
mórbido para o neonato em relação ao uso ou não do pessário pela gestante, porém é possível destacar
que seu uso reduziu as taxas de ruptura prematura de membranas ovulares e de sepse materna
significativamente (JARDE A, et al., 2017). Também é unânime entre os estudos a observação de que
o uso do dispositivo aumentou a frequência de corrimento vaginal percebido pelas pacientes, não
estando, entretanto, relacionado com aumento na frequência de eventos infecciosos. Ademais, os
relatos de perdas importantes de sangue por via vaginal e de dor pélvica foram substancialmente
menores nas usuárias de pessário (KOULLALI B, et al., 2017a).
Em relação à metodologia dos estudos, podemos destacar alguns pontos que podem ter
implicado diferenças entre resultados. O uso de progesterona é considerado, atualmente, o método
com mais evidências e também o menos invasivo na tentativa de evitar o parto prematuro, fazendo
parte da rotina terapêutica na prematuridade em vários locais. Em uma meta-análise que englobou
grande parte dos estudos que utilizaram progesterona, cerclagem ou pessário para prevenção de
prematuridade, a progesterona se mostrou a melhor opção terapêutica para a população em geral
(JARDE A, et al., 2019). Entretanto, o uso de tal método pode ter sido determinante nas divergências
entre alguns ensaios, além de dificultar a comparação entre diferentes estudos. Mesmo entre aqueles
que lançaram mão de progestágenos, a comparação de resultados é limitada, dado que doses, vias de
administração, critérios de elegibilidade para o uso e tipos de apresentação do hormônio podem
variar, dificultando o estabelecimento de evidências mais bem estruturadas a favor ou contra o uso
de pessário.
O método de aplicação e o acompanhamento da gestante com pessário é também um fator
relevante a se observar. No estudo de Nicolaides KH et al. (2016), é relatado um estrito treinamento
dos aplicadores do dispositivo, além de realização de USGTV a cada 4 semanas para avaliação de
seu posicionamento. Em Saccone B et al. (2017b) e Dugoff BV et al. (2017), há, também, relato de
treinamento rigoroso dos profissionais envolvidos, porém o controle sobre o posicionamento do
pessário foi feito através de inspeção digital. Já um estudo realizado em 2013 e citado por Corrêa TD
et al. (2019) não aborda o treinamento dos profissionais e relata não ter havido acompanhamento do
posicionamento do pessário em consultas de seguimento.
Por fim, todos os estudos excluíram gestantes com algum grau de fatores uterinos, anatômicos,
fetais ou com comorbidades que pudessem interferir na homogeneização do estudo, porém as
condições passíveis de exclusão variaram entre eles. Conforme abordado anteriormente, Saccone B
et al. (2017b) excluiu de seu ensaio gestantes com história pregressa de parto prematuro - atualmente
apontada como principal fator de risco para prematuridade - o que não foi feito em outros estudos.

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Em Nicolaides KH et al. (2016), a taxa de pacientes com parto prematuro pregresso dentre todas
participantes do estudo foi de 16,5%, enquanto que o estudo de 2012 descrito por Corrêa TD et al.
(2019), com conclusão favorável ao uso do pessário, foi de 10,8% (SACCONE B, et al., 2017b).
Ademais, Saccone B et al. (2017b) também foi o único estudo cego para avaliadores de desfecho,
algo importante para diminuir viés de aferição.
Diante desse cenário, não há, ainda, uma evidência robusta que determine o papel do pessário
na prevenção da prematuridade, e os dados disponíveis até o momento são pouco sinérgicos devido
às diversas diferenças abordadas e à pouca força estatística dos materiais existentes. Estudos que
acrescentem suporte à indicação ou não do pessário são necessários, e pelo menos dois já estão sendo
desenvolvidos, como o estudo Quadruple P, que se propõe a comparar o uso de pessário com o uso
de progesterona em mulheres com colo uterino curto (VAN ZIJL MD, et al., 2017), e o estudo PC,
que objetiva comparar o uso do pessário com a realização de cerclagem em gestantes com colo curto
e história de parto pré-termo (KOULLALI B, et al., 2017a).

5 CONCLUSÃO
O uso do pessário como forma de evitar o trabalho de parto prematuro ainda está em discussão.
Os resultados dos estudos disponíveis até o momento são divergentes acerca ao benefício do uso do
pessário nesses casos. Alguns dos fatores que podem ter contribuído para as diferenças entre os
estudos são o comprimento do colo uterino das gestantes, a idade gestacional em que o pessário foi
implantado e o número amostral dos estudos que, com exceção de um estudo contou com um número
relativamente baixo de pacientes randomizados. Dessa forma, se faz necessário estudos
multicêntricos e com maior número de voluntários para confirmar se, de fato, o uso de pessário é
benéfico.

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REFERÊNCIAS

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