Boletim 27
Boletim 27
Boletim 27
Comissão
Maranhense
de Folclore
SUMÁRIO Editorial
...................................................................................................................... 02
Mídia e manifestações culturais
Ester Marques ............................................................................................. 02
Identidade cultural maranhense na perspectiva da Antropologia
Sérgio Ferretti .. ......................................................................................... 06
Reminiscências
Carlos de Lima ............................................................................................ 08
Narrativas e investigações de uma experiência em dança
Júlia Emília ................................................................................................ 12
Romaria das carroças a Ribamar
Raimundo Rocha ........................................................................................ 14
Notícias ....................................................................................................... 15
Perfil Popular – Antônio Vieira
Josimar Silva ................................................................................................16
CORRESPONDÊNCIA
Página 02
Editorial
O ano de 2003 chega ao seu final, abrindo um período propício para uma
avaliação de objetivos e atividades.
Cremos que o saldo da nossa atuação foi positivo, pois a Comissão Maranhense
de Folclore – CMF marcou presença na realidade cultural de São Luís. Há a destacar a
tradicional parceria com o Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho/Gerência de
Estado da Cultura no desenvolvimento dos projetos do Carnaval, Divino, São João e Natal,
que contribuíram para a dinamização desses ciclos festivos.
E, no dia a dia da programação deste órgão parceiro, podemos enfatizar a
promoção da Semana da Cultura Popular, cujas variedades ou antigas novidades bem
repercutiram. Nela e em outros momentos chamamos atenção para a participação dos grupos
do interior do Estado que na mostra do seu saber nos revelaram um rico universo.
Ressaltamos, também, o lançamento do livro “Olhar, memória e reflexões sobre a
gente do Maranhão”, com 45 artigos de 37 estudiosos e pesquisadores publicados nos 20
primeiros números (de agosto de 1993 a agosto de 2001) deste boletim, com 11 blocos de
assuntos, que se constituiu num importante referencial para aqueles que desejam se
aprofundar no conhecimento da nossa cultura popular. E, a continuidade deste veículo, com
três números anuais, é igualmente indicativo de alcance dos nossos objetivos.
O que foi feito exigiu sempre muito esforço, mas acreditamos que a luta vale a
pena e o saldo positivo nos impulsiona a continuá-la, na certeza de que ainda temos muito a
fazer. Que o ano de 2004 renove as esperanças e energias de todos nós!
Nota
Recebemos e-mail do Senhor José Eduardo informando que a Discoteca Oneyda Alvarenga
dispõe de alguns exemplares do livro Melodias, que no Levantamento Bibliográfico publicado
na edição do boletim 26, encontra-se sem localização, conforme o original do referido
documento.
Ester Marques 1
1
Ester Marques é mestra em Comunicação e Cultura pela Universidade de Brasília – UnB, professora do
Departamento de Comunicação social da Universidade Federal do Maranhão-UFMA e autora do livro Mídia e
experiência estética na cultura popular.e
3
educativa e por vezes, estratégica, porque pressupõe que o saber cultural pode ser transmitido
sem qualquer referência com a experiência artística que o gerou e com a experiência cotidiana
que o condicionou sob a regras de um saber ao mesmo tempo material e simbólico.
Este equívoco é, por um lado, normalmente o resultado de um discurso
perfomático, pretensamente globalizante que se traduz por regras universais de enunciação,
por uma linguagem específica e única, cujo relato permite-nos acessar os ecos do mundo,
atingir a experiência da vida e alcançar a sua inteligibilidade e compreensão, através da
narração recente de fatos, acontecimentos, ações e palavras, visibilizados por meio dos
diferentes dispositivos da informação. Por outro lado, este equívoco é reforçado pelo fato de
que a cultura, desde que se tornou uma indústria, passou a tratar as manifestações culturais
como simples expressões de um consumo hedonista, como informações ocasionais de uma
tradição museificada e esteticizada pela própria produção cultural. Neste mercado, como bem
lembra Godard, a cultura é a regra e a arte é exceção - a regra sempre tentando exterminar a
exceção.
O que proponho discutir neste texto é, em um primeiro momento, a caracterização
da própria idéia de manifestação como uma produção cultural, isto é, que a manifestação de
qualquer fenômeno é sempre o resultado de um processo de criação, elaboração e circulação
de uma determinada comunidade, grupo ou pessoa, cujo enraizamento simbólico é
determinante para a troca de sentidos com outras manifestações, com outros atores sociais e
com a mídia. Num segundo momento, pensar como a relação entre as manifestações culturais
e a mídia é dinamizada, modificada e registrada pelas regras de funcionamento dos
dispositivos midiáticos, tendo como base a própria dinâmica cultural. Por último, estimular a
idéia de que esse processo de interrelação pode ser reinterpretado pelos
receptores/consumidores, a partir de alguns critérios de participação democrática.
Cultura e Manifestação
Não tenho a pretensão, neste curto espaço de tempo, de elaborar uma discussão
sobre a definição de cultura e suas dimensões subjetiva e objetiva. Tenho em conta que esta
discussão já tem um lugar próprio na academia e, por isso, a minha intenção é apenas verificar
como a cultura, pensada simbolicamente 2 , pode ser entendida como o padrão de significados
incorporados nas formas simbólicas, incluindo expressões, ações, manifestações verbais e
objetos significativos de vários tipos. Significados que possibilitam aos indivíduos
partilharem as suas experiências, concepções e crenças num espaço de visibilidade,
aparentemente comum a todos. «O conjunto das expressões e as ações significantes,
enunciados, símbolos, textos e artefatos de vários tipos, bem como os indivíduos que se
exprimem por meio destes artefactos e que procuram compreender-se a si mesmos e aos
outros interpretando as expressões que produzem e que recebem»(Esteves 2003:1)
Nesta perspectiva, penso que é possível imaginar a cultura como um conjunto
variado de modos de fazer e proceder (rituais) que se deve compreender em função das
2
A concepção simbólica da cultura é uma corrente de pensamento, inicialmente pensada pelo antropólogo americano Clifford
Geertz na obra “A Interpretação das Culturas”, ao sistematizar os diversos conceitos de cultura, tendo como eixo estruturante
os diversos sentidos que os homens adquirem ao longo da sua existência, a partir das interpretações que efetuam nas relações
com o seu meio, com o seu mundo e com os outros homens. Para este autor, o homem é um animal suspenso em teias de
significados que ele mesmo tece ao longo de sua existência social e histórica. São essas teias que definem a cultura como
uma ciência interpretativa em busca de significados para os sujeitos da ação. A seu ver, a cultura engloba, no interior da
prática social, todo um conjunto de códigos e convenções simbólicas onde as mediações são feitas, fundamentando relações
de sentidos explícitos e implícitos segundo os significados dados em cada momento. Assim, interessa perguntar não qual o
status ontológico de um fenômeno, mas o que foi transmitido com a ocorrência de cada teia dentro do sistema simbólico.
Onde e para quem cada teia diz o que, em que momento, com qual intenção?
4
diversas situações, e consoante as exigências colocadas pelas várias estratégias nas relações
sociais concretas. Um conjunto de maneiras de pensar, de sentir, de expressar e de agir mais
ou menos formalizadas que, sendo apreendidas e partilhadas por uma pluralidade de pessoas,
serve de maneira simultaneamente objetiva e subjetiva para organizar essas pessoas num
espaço distinto e específico, através das dimensões simbólica e normativa da cultura.
Assim, cultura pode ser entendida como a base modelar do processo social, da vida
em sociedade. Ela não diz respeito apenas a um conjunto de práticas, concepções e expressões
como se poderia dizer da arte. Não é somente uma parte da vida simbólica, como se poderia
falar da religião, mas diz respeito a todas as dimensões da vida humana, onde aparece como
fundamento de todos os significados cotidianos, de todos os sentidos simbólicos. Nesta
perspectiva, a cultura assume um caráter mítico, atemporal, universal, funcionando como
locus de referência de todas as experiências individuais e coletivas, como fundo arcaico por
onde todas as ações são singularizadas, todas as identidades são constituídas e todos os papéis
são consolidados.
Pensar deste modo, significa referenciar a cultura como o espaço material e
simbólico, onde as manifestações ocorrem. Manifestação nesta condição tem o sentido de
aparecer, permanecer, expressar, representar, tomar posição, adquirir identidade, assumir um
papel na história, atualizar o tempo imaginário da tradição. Isto é assim porque a lógica que
legitima a manifestação funciona como um elemento aglutinador da memória coletiva,
entranhado num determinado território, com a sua história própria- exigindo para a sua
sobrevivência processos de repetição, de esquecimento, de naturalização e de rememoração de
uma tradição que atravessa o tempo, cortando-o em lapsos que atualizam o presente, sem
perder a referência com o passado e com o futuro.
Assim a manifestação, na sua dimensão formal, aparece e permanece na cultura
como uma celebração, um ritual, uma dança, um teatro, um objeto ou um acontecimento,
resultado da produção estética criadora do artista, do grupo, da comunidade, gerando um
sentido original ritualístico. Esta dimensão, no entanto, só se totaliza quando a manifestação
adquire uma dimensão simbólica, isto é, quando os elementos formais adquirem sentido
perene para os seus criadores/produtores/receptores através da naturalização da experiência
artística. É através da manifestação que a memória formal se atualiza, ao mesmo tempo em
que a memória mítica se eterniza configurando a tradição, enquanto conjunto de práticas,
representações e expressões artísticas.
A manifestação é assim uma experiência artística diretamente ligada ao ritual3 , à
interiorização de regras vivenciadas por quem delas participa como uma realização cultural,
como um posicionamento simbólico de pertencimento, resultado de um domínio específico de
competência, com discursos, ações e práticas próprios. Um domínio que gera a sua volta o
consenso em torno de um conjunto de valores que se impõe a todos com força vinculativa,
assumindo assim de maneira, mais ou menos visível e coerciva, a função ambivalente de
inclusão e de exclusão, de abertura e de clausura que caracteriza a função normativa do seu
poder de influência.
3
O ritual não opera uma transformação mágica, mas confere a força para que o ser se desenvolva, através da fé e das obras -
rincípios interiores do aperfeiçoamento espiritual. Assim na repetição de um procedimento convencional o ritual é uma
aniquilação do valor, do sentido, da verdade, porque se resolve aí mesmo, neste instante preciso da reiteração do gesto, do
mesmo ato, assinalando a singularidade do momento vivido pelo grupo.
5
nela. É nesses dramas plásticos que os homens atingem sua fé, na medida em que
a retratam.» (Geertz 1989:30)
É por isso que a manifestação surge sempre como uma expressão totalizante da
cultura oferecendo na sua representação valores de permanência, de continuidade, de
identidade, de violência, de territorialidade, de afetividade e de adesão. É como uma
experiência totalizante que as dimensões estética, ética e de verdade funcionam como um
núcleo simbólico por onde a comunidade se relaciona consigo mesma, com o mundo e com os
outros, num processo de enraizamento eterno, de semelhança e diferenciação de outras
manifestações.
Deste modo, a manifestação artística funciona no campo cultural4 como um
movimento de tensão que ora coexiste com outras práticas culturais organizadas, o que facilita
a troca de experiência comum a todas elas; ora afasta-se das demais práticas num processo de
distinção, situando-se num sistema de hierarquização social que legitima a identidade
individual de cada uma. Essa distinção simbólica corresponde às representações políticas,
estéticas, religiosas que cada manifestação possui; representações que são constantemente
recriadas pela mídia em função da natureza perfomática dos novos dispositivos tecnológicos.
4
Conforme a discussão proposta pelo sociólogo francês Pierre Bordieu na sua obra La distintion.
5
A mídia inicia o processo instaurador da sua simbólica ao utilizar tópicos do discurso narrativo e adicionar recortes de
supressão, inversão, permuta ou extinção para dar a idéia de credibilidade e transparência universal; para ampliar a cópia dos
elementos da gramática cultural; para produzir um texto, cuja legitimidade e consenso seja incontestável diante do
público.Essas possibilidades ocorrem pelo fato de a mídia ser regida pelo princípio da mediação, o que lhe permite utilizar
dimensões arqueológicas particularmente inesgotáveis do fundo arcaico, através de um processo naturalizante da tradição,
adaptado à sua estrutura de funcionamento. Uma estrutura que promove o esquecimento cuidadoso das dimensões simbólicas
que integram o processo de enunciação das manifestações para, em seu lugar, privilegiar as dimensões de representação e de
transparência universal, através de um processo ritual de dessacralização, o que lhe permite inscrever-se na vida cotidiana e
impor-se ao funcionamento regular da sociedade, por meio de mecanismos de habituação específicos.
6
formação de uma opinião pública acrítica e afetiva, pautada muitas vezes pelos níveis de
audiência e pelo consumo indiferenciado.
Assim, a eternidade do mito e o rito comunitário passam a ser vulgarizados e
comercializados como discurso folclórico, propagandístico, através das regras serializadas do
consumo mercadológico. A mesma manifestação pode ser representada de vários modos,
conforme o gênero jornalístico (jornal, rádio, TV) ou segundo as regras de enunciação do
discurso midiático (novela, jornal de notícias, documentários, talk-shows etc). O discurso
totalizante da manifestação é fragmentado em inúmeros outros discursos ou segundo a pauta
(seleção/angulação do assunto) 6 da instituição midiática ou segundo a circunstância temporal
(festejos, eventos) ou ainda conforme o interesse do grupo/comunidade/artista em divulgar a
manifestação em função de suas próprias estratégias de visibilidade (o lançamento de um CD/
programação de apresentações/festa comunitária).
A mídia reinterpreta os ritos e as simbólicas adequando-os em cenários teatrais
específicos, criando um prazer efêmero em que se desfruta o que é convencional sem críticas,
e critica-se o novo sem desfrutá-lo. «O aqui e o agora do original que constitui o conteúdo da
sua autenticidade» 7 é neutralizado ou suprimido de sua dimensão funcional/ritualística por
uma dimensão expressiva, capaz de produzir cópias destituídas de suas singularidades míticas.
Deste modo, a manifestação torna-se intimamente ligada à sua pura expressão, às
vezes como espetáculo, às vezes como perfomance, às vezes como um ritual desvinculado do
seu contexto, num processo redundante em que o sensacional alimenta permanentemente o
novo, o sedutor. A manifestação, tradicionalmente ligada ao drama, a magia, ao
encantamento, a celebração, a catarse, ao mistério e a poesia refuncionaliza o seu poder
criativo de identificação e de compensação, para tornar-se apenas um acontecimento público,
uma expressão híbrida de uma festa, de um espetáculo, de uma perfomance.
Nas sociedades tradicionais, a manifestação assinala o seu próprio conteúdo, seu
espaço de abrangência, através da celebração religiosa, da hierarquização de papéis, da
definição de identidades, do confronto de poder entre dois extremos. Funciona como um ritual
permanente de sedimentação dos saberes adquiridos através da narração, num processo
interativo de reciprocidade com os seus criadores, tendo como base os hábitos, rotinas e
representações herdadas da cultura. O tempo mágico e o espaço perene determinam a
continuidade das ações desenvolvidas pelas manifestações, legitimando a cultura local e
universalizando o saber específico da tradição.
Na contemporaneidade, o tempo fantástico da manifestação é abolido, a ação
acelerada e o espaço reduzido para transformar o caráter histórico em zapping das massas,
num constante processo de esteticização da experiência. Deste modo, a manifestação volta-se
para a fugacidade e a efemeridade, sem qualquer vinculação com o enraizamento vital
originário que definia a sua expressão anterior. Assume a aparência de perfomance, de
realização individual/coletiva, cujo valor-efeito, é o puro acontecimento de uma ação
elaborada; natureza combinatória de formas heteróclitas que se esgota porém na sua própria
realização, na sua representação especular. Há uma lógica dissuasora na estetiticização que
faz com que, uma vez realizadas como sugestões de atos criadores, as manifestações sofram
os efeitos da ação que as gerou porque uma nova manifestação está a caminho, conforme a
natureza heteróclita da indústria cultural.
O espaço e o tempo próprios da manifestação são diluídos aparecendo em seu
lugar um tempo real e uma vivência virtual em que novas formas de sociabilidade são
6
Assim, a escolha dos termos, a ordem de sua apresentação, a seleção dos fatos narrados pressupõem a existência de juízos
de valores estabelecidos por um acordo prévio, espécie de silêncio constitutivo partilhado pela comunidade na assimilação da
manifestação como uma experiência estética. Por isso, ao relatar um acontecimento a mídia para além deste relato, produz ao
mesmo tempo um novo relato sobre o acontecimento, a partir de uma espécie de gramática cultural por onde todos os
acontecimentos são validados e todas as manifestações interpretadas.
7
Cf. Benjamin, em “A Obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, 1985:167.
7
É evidente que as trocas simbólicas que ocorrem entre a mídia e a cultura são
apenas “percebidas” metalinguisticamente no cotidiano, a partir de uma visão simbólica do
espaço midiático, porque normalmente a tendência na discussão acadêmica é pensar os dois
campos em permanente tensão e conflito, sem uma crítica 8 mais apurada da produção de
sentidos dessa recepção. Isto ocorre porque as trocas simbólicas são efeitos da estruturação de
um sistema único de produção/difusão/recepção que expressa os processos e as relações
vividas na sociedade, dentro de um determinado contexto cultural; um sistema que privilegia
predominantemente a produção e a difusão e que resiste a uma crítica mais ampla por parte
dos atores sociais.
No entanto, é óbvio que as trocas entre as duas áreas têm implicações mútuas para
o desenvolvimento social e, mais especificamente, para o usuário/receptor que apenas é
levado a aceitar ou rejeitar determinadas manifestações, em função de critérios exteriores ao
seu modo de apreensão da realidade ou, a partir de críticas intelectuais ou acadêmicas. Por
isso, em vez de optar por uma visão apocalíptica ou integrada, isto é, pela recusa ou
encantamento de uma determinada posição, acho preferível pensar como as manifestações
culturais são construídas em uma dada realidade histórica e, a partir daí, como podem ser alvo
de uma crítica mais apurada por parte dos usuários no espaço público.
Neste caso, o usuário aqui não é simplesmente um “receptor ativo”, que precisa ser
“educado” para adquirir uma leitura crítica da cultura e da mídia como propõem alguns
8
A crítica considerada neste texto não é somente a crítica, vista como uma posição externa aos processos culturais e
midiáticos, mas principalmente vista em suas interações (equilibradas, tensas ou conflitivas) com os processos de produção e
de recepção.
8
autores (media education, éducation aux médias), tendo como base «interpretações feitas por
setores intelectualmente mais desenvolvidos da sociedade- com a pretensão de serem as mais
verdadeiras» (Braga 2000:3). O usuário nesta análise é o receptor que tem competência e
autonomia interpretativa 9 para selecionar, criticar e compreender as variadas manifestações
que o sistema produtor/difusor/receptor/crítico 10 promove para o desenvolvimento de uma
opinião pública democrática e transparente.
Com efeito, o usuário nesta condição não teria somente que entender uma
manifestação (e expressar os seus significados em função de critérios previamente
assumidos), mas de saber relacioná-la com outras manifestações iguais ou diferentes, observar
suas especificidades e inseri-la em um conjunto de relações interativas para fazer uso dela,
segundo os seus próprios interesses. Deste modo, em vez de uma crítica asséptica, sem
consistência e baseada em generalizações, o usuário poderia desenvolver critérios para julgar,
selecionar e avaliar as diversas manifestações dispersas no espaço público, ou seja, perceber
diferenças e sutilezas para que possa expressar o estado das coisas referentes à produção, à
circulação e à recepção.
Esta parece ser uma das possibilidades de o usuário ter uma incidência direta e
mais participativa sobre o que é produzido tanto pela cultura, quanto pela mídia. Só tendo um
maior acesso às manifestações - desde a sua produção até a sua expressividade pública, isto é,
como ocorrem, porque ocorrem, que interações produzem com sua ocorrência, como são
apreendidas pela recepção, que efeitos geram na sociedade-, o usário poderá perceber
estruturações diferenciadas, fazer julgamentos mais apurados no sentido de aperfeiçoar e
qualificar uma cultura de opções pessoais e de grupos, mais próximas da realidade de cada
um. Esta perspectiva, antes de ser uma posição otimista da produção/consumo e recepção da
cultura midiática é a busca por novas formas de participação democrática do cidadão no
espaço público que, através da crítica, teria competências para julgar coerentemente o que lhe
é colocado pela cultura e pela mídia e autonomia para escolher o que lhe convêm e o que não
lhe convêm, segundo os seus próprios padrões de gosto.
Bibliografia
9
Para o autor, a questão é perguntar: «como, em que condições, através de que processos (midiáticos e extra-midiáticos), os
usuários são (ou podem se tornar) competentes para fazer boas edições sobre a profusão de materiais informativos, estéticos,
e de entretenimento, de modo a utilizá-los no seu melhor interesse».
10
Este sistema teria uma multiplicidade de instâncias - universidades, instituições públicas e privadas, não-governamentais,
grupos de interesse auto-organizados, críticos individuais -, para uma multiplicidade de objetivos, enfoques, tendências
exprimindo as distinções e comparações qualitativas das diferentes manifestações que aparecem no cotidiano.
9
Página 06 e 07
11
Depoimento apresentado no Seminário de Identidade Cultural do Maranhão – Projeto Cara Brasileira,
organizado pelo SEBRAE no Hotel Sofitel, no dia 21/11/2003.
12
Sérgio Ferretti é Doutor em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, professor do Departamento
dee Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão e autor dos livros Querembentã de
Zomadonu e Repensando o Sincretismo.
10
Maranhão. Logo que aqui cheguei, vindo de outras terras, me apaixonei pelas coisas, pelos
mistérios, pela cultura popular, pelas lendas, pela ruínas, pelas redes, pelas frutas do
Maranhão e fui ficando até hoje. Naquela época, em geral, os jovens e as pessoas da terra não
se interessavam por nada da cultura local, não gostavam dos casarões de azulejos, detestavam
viajar até Alcântara. Não conheciam o bumba-meu-boi, o tambor de crioula, o tambor de
mina, a festa do Divino, que eram consideradas como coisas do povo, sem nenhum valor
cultural. Com o tempo essa situação foi aos poucos se transformando. A partir dos anos 90,
com a intensificação do interesse no desenvolvimento do turismo, com o reconhecimento de
São Luís como Patrimônio da Humanidade, com a obrigação dos universitários redigir
monografias de conclusão dos cursos de graduação, pela expansão dos cursos de pós-
graduação e por outros fatores, felizmente tem se desenvolvido, entre os mais jovens, um
interesse maior pelas coisas da terra.
De modo geral, o maranhense não gosta e não aceita que se fale mal de sua terra,
gosta dos que o elogiam, mas conhece pouco e não sabe apreciar devidamente as tradições
locais. Creio que isso se deve a deficiências na educação dos jovens e a preconceitos
inculcados de longa data, que ainda permanecem. A cultura popular e as religiões afro-
maranhenses foram perseguidas no passado, continuam discriminadas e ainda são pouco
conhecidas. Elas podem nos ajudar a descobrir e a construir a identidade do Maranhão.
É claro que o homem do Maranhão possui muitas faces, além das que indicamos,
relacionadas com o campo das religiões afro-maranhenses. Podemos identificar outras
fisionomias do maranhense, como referimos no início. Podemos lembrar a cara do brincante
do boi, do dançante do tambor de crioula, do pescador, do carroceiro, do vendedor de cuscuz
Ideal, do vendedor de sorvete, da mulher mineira, que dança tambor de mina, pois, como diz
uma canção popular, “terra de mina é o Maranhão”. São caras do homem do povo, das classes
dominadas. Existem, evidentemente, outras faces, talvez mais claras, que também refletem o
homem do Maranhão, e espelham nossa diversidade. Mas se quisermos ver o que é mais
típico temos que procurar a cara do homem do povo, que no Maranhão é sobretudo a do afro-
descendente.
Como mostra a Antropologia, a identidade cultural de um povo é algo dinâmico,
que se constrói e se modifica, é uma estratégia que surge quando se necessita acentuar a
diversidade. A identidade cultural maranhense tem múltiplas dimensões e mencionamos
apenas algumas que nos parecem importantes. Apresentamos apenas um rascunho e não um
quadro acabado. As idéias e opiniões que rapidamente esboçamos, precisam ser mais
discutidas e não as estamos apresentando como verdade indiscutível. Parece oportuno e muito
interessante que possamos debater abertamente, com a participação de diversos especialistas e
interessados, o que faz o Maranhão ser o que é e o que torna o maranhense diferente dos
demais brasileiros.
Carlos de Lima 13
13
Carlos de Lima é historiador, folclorista, pesquisador da cultura popular maranhense e autor dos livros A Festa
do Divino Espírito Santo em Alcântara, Caminhos de São Luís, História do Maranhão e Vida, paixão e morte da
cidade de Alcântara-MA.
14
I - Rua Grande
“ Só as pedras
(Testemunhas}
guardam o sonho
antigamente.”
Aurora da Graça.
A Rua Grande (Estrada Real, Rua Larga, Caminho Grande, Oswaldo Cruz) foi a
primitiva e principal via de São Luís, a que estabelecia ligação entre o perímetro urbano e a
zona rural. Começa no Largo do Carmo e, segundo Domingos Vieira filho, termina na
Estação de Bondes, em Monte Castelo. Terminava, pois, hoje, ninguém sabe onde lhe fica o
fim. Da rua do Outeiro (ou seja, da esquina do Colégio Marista) possuía, antigamente,
magníficas quintas e chácaras, com jardins e pomares que encantaram Spix e Martius.
Com os olhos da saudade vejo-a nos meus tempos de jovem e de menino e ponho-
me a pisar, de novo, seus paralelepípedos antigos.
Seu primeiro prédio, no canto da Rua Formosa (Afonso Pena) era o da loja de
tecidos do sírio-libanês Wady Nazar, pai de Emílio, Michel e Jorge, este último meu colega
no Liceu. Seguia-o o “Salão Pompeu”, o famoso salão de barbeiros que ombreava com o do
“Macaco”, na rua de Nazaré. Vinham, depois, o “Centro Elétrico”, a “Sapataria Pontes”.
Todas estas casas desapareceram para dar lugar à Avenida Magalhães de Almeida, que desce
para o Mercado Central.
Na nova esquina, surgida com esta reforma, funcionou a “Casa dos Tecidos”, do
Sr. Raul Alves dos Reis, depois o Banco de Crédito Real e hoje o “Sucatão”, uma loja de
artigos importados. Apegado, a importante loja “Rianil”, de Paulo Gondim de Abreu e José
Rego, e, adiante, a “Sapataria Dieguez”, cujo proprietário residia nos altos com a família. Aí
também foi, mais tarde, o bazar dos Nahuz - Jorge, Miguel e José. Junto dele a “Sapataria
Principal”, de seu Romualdo Carvalho, e no andar de cima morou, por muitos anos, o dentista
Dr. Vancrílio Gonçalves.
Quando do casamento das filhas do Vancrílio (as duas casaram na mesma
cerimônia, uma com o capitão-médico-aviador Alcindo Nova da Costa, outra com o advogado
Dr. Carlos Viana de Carvalho) assistimos, eu e minha mulher, estarrecidos, à seguinte cena:
Estava à nossa frente, na fila de despedidas, um nosso muito conhecido desembargador. Ao
estender a mão, descuidou-se e deixou escorregar de dentro do jaquetão o litro de uísque que
ocultara e que se espatifou no chão, aos pés dos anfitriões!
Nessa mesma casa, em 8 de outubro de 1863, nasceu o grande poeta Catulo da
Paixão Cearense, incomparável, magnífico, até hoje com sua obra discriminada... por tratar de
temas populares! Também Coelho Neto, maranhense, está esquecido, este por ser considerado
escritor de elite... entenda-se essa gente!
No prédio comprido e térreo ao lado, onde meu sogro Leôncio Castro teve o
“Ponto Chic”, estabeleceu-se depois o Narciso, um português gentil e prestimoso, com um
excelente bar onde se bebia a cerveja mais gelada de toda a São Luís. Então vinham as “Lojas
Pernambucanas” e a “Folha do Povo”, jornal do Dr. Tarquínio Lopes Filho, cujo redator era o
grande jornalista e teatrólogo Renato Viana, e no qual Tito Novais (Raimundo Moraes Rego)
publicava hilariantes crônicas em versos sobre vários acontecimentos da cidade. Sua coluna
“Policiais” deu conta do acidente provocado por uma vela acesa, levada por um devoto na
15
procissão realizada no lugar do interior da Ilha chamado “Furo”, e que queimou as roupas da
beata que caminhava à frente dele. Tito Novais comentou a notícia fazendo um trocadilho e
concluiu alertando o leitor sobre o perigo de se levar uma vela no Furo. Na esquina da Rua
Godofredo Viana (Beco do Teatro) ficava o “Bar do Pataquinha”, que encerrava o quarteirão.
A propósito de Renato Viana, vale a pena referir um episódio: a luta política no
Maranhão sempre foi acirrada e inconveniente. Diariamente os jornais rivais trocavam
insultos e acusações, isto desde os tempos da colônia, tempos dos “homens versistas” e dos
pasquins afixados nas paredes. A “Folha do Povo”, de Renato Viana, e “O Imparcial”, de João
Alfredo Mendonça, não divergiam do modelo. Mendonça, pela manhã, fizera um artigo
extremamente virulento contra Renato. A cidade aguardou, ansiosa, a resposta que, viria, à
tarde, e decerto, ainda mais contundente. Quando a “Folha” saiu, todos procuraram, açodados,
o artigo de fundo da primeira página, de Renato Viana. Intitulava-se “Marieta” e era,
estranhamente, um hino de louvor à sua esposa. Começava: “Eu tenho uma mulher. Ela é só
minha.” E continuava num discurso elogioso à sua consorte. Os leitores se perguntavam,
intrigados, o significado daquele despropósito... a cidade inteira procurou explicação para
aquele despropósito... O ofendido nem pôde responder para não aceitar a carapuça!
A quadra do lado oposto começava com o cinema “Odeon”, especialista nos
célebres “seriados” de mocinho versus bandido, sucedido pelo cinema “Rival”, do Sr. Moisés
Tajra. Hoje lá está o Banco Excel-Econômico. Aí, enfileiravam-se a loja de artigos religiosos
do Sr. Valente, a “Casa White”, de D. Lisoca Nunes (declamadora de raros méritos, sempre
presente em todos os saraus lítero-musicais e onde trabalhava também Maria Emília Holanda,
cantora da PRJ-9, Rádio Timbira do Maranhão). Seguiam-nas a “Padaria Cristal”, “A
Exposição” dos Motas (pai e filhos), a “Farmácia Garrido”, do Sr. Antônio Ferreira Garrido
(que residia nos altos) e o “Bazar Valentim Maia”, no prédio de esquina, cujo andar superior
era ocupado pelo “Casino Maranhense”, de tantas e tão gloriosas tradições. Entre a farmácia e
o bazar ficava um dos “passos” da Paixão, parada obrigatória das procissões da Quaresma.
A “Exposição” era um magazine de alto luxo, que disputava com a “Casa Branca,
de Albino Nogueira (em frente à igreja do Carmo) e a “Casa Dias”, de J. B. Dias (no mesmo
largo, esquina da rua de Nazaré) a preferência da freguesia. Não há hoje estabelecimento que
se compare a estas casas de moda masculina, só sobrepujadas, até uma década antes, pela
extraordinária “Casa Emílio Lisboa”, para o fim da rua Formosa (Afonso Pena), onde se
encontravam desde pregos e ferragens até a mais fina seda da China, camas de metal polido,
artigos de cama, mesa e banho da melhor qualidade, louça inglesa, bebidas estrangeiras,
perfumes de Paris! Conta-se que certo dia apareceu na vitrina da “Casa Branca” este cartaz:
“Não se deixe enganar em outra casa. Entre aqui!”
Aliás, esse comércio “de elite” sofreu radical transformação, há uns 20 anos
passados, quando comerciantes nordestinos começaram a tomar conta da rua Grande:
cearenses, paraibanos, pernambucanos, etc. Não vinham de Recife, João Pessoa, Fortaleza,
mas do Crato, de Campina Grande, de Palmeira dos Índios, de Caruaru, sei lá? acostumados
ao comércio de feira do Interior. Lembro-me bem da algazarra que faziam os caixeiros do
Armazém Gonçalves Dias, apregoando a plenos pulmões preços e mercadorias, postados na
calçada, enquanto outros, de dentro, completavam a barulheira, batendo com as varas de
metro nos tampos dos balcões! Nem os árabes, que marcaram efetiva presença no comércio
antes deles, nem os árabes, mascates por tradição, usaram esse tipo de propaganda ruidosa. A
“Casa Paris”, a “Loja Otomana”, mantinham pessoas à porta, convidando, com gentileza e em
voz baixa, os passantes a visitar-lhes os estabelecimentos. Nada tenho contra os nordestinos e
nem poderia ter, eu próprio filho desta região.
(A propósito, por vontade do IBGE está o Maranhão incluído no Nordeste. Mais
consentâneo seria inseri-lo no Norte, pois ele já figurou ali juntamente com o Grão-Pará. Pela
maior facilidade de comunicação com a Europa do que com o resto do Brasil, o Maranhão
16
forjou por dois séculos sua identidade, tornando-se um Estado singular, inclusive com uma
“facies” que difere significativamente de seus vizinhos e que só recentemente se vem
modificando).
Quero deixar patente que não condeno nossos irmãos nordestinos, apenas
constato fatos. Eles não têm culpa dessa revolução que provocaram; tão somente trouxeram
para cá o tipo de comércio que tinham em seus pagos natais. Ricos, ou remediados,
penetraram aos poucos na sociedade, deixando nela os traços de sua educação ao mesmo
tempo, em que, com a modificação dos costumes, por influência da TV, da liberação geral, da
falência da escola e da família, as boas maneiras foram banidas do convívio regular. Onde
mais o cavalheirismo e a lhaneza de trato de um Albino Nogeira, do velho Mota, de um
Carolino alfaiate, de um Pinho Rosa, de um Abraão Skeff, de um José Francis? Onde mais o
refinamento e a fidalguia das tradicionais famílias maranhenses? Aonde foi a gentileza e a
higiene da pobreza de então? morando nos baixos-de-sobrado e nas portas-e-janelas, ou
casebres da Cambôa e do Cavaco, mas mantendo sua sala disposta com asseio, ao tempo em
que, por sua vez, a cidade era ajardinada e limpa? São Luís era uma cidade civilizada, onde
havia respeito pelos mais velhos, atenção especial às senhoras e moças, quando os filhos não
fumavam na presença dos pais! Isto mesmo comentava para mim meu vizinho Cézio
Assunção, cearense, gerente da Gaz Butano e diretor do Rotary, uma noite, em sua residência
da João Pessoa, constatando ele próprio a diferença cultural entre os maranhenses e os
nordestinos de outros Estados... Tudo se perdeu; voltamos ao primitivismo da caverna, na
educação, nas artes, no convívio social; já furamos os beiços, as orelhas, os peitos e as
barrigas para orná-los com toda sorte de penduricalhos e cobrimos o corpo com mil tatuagens,
na moda dita “legal” e avançada! (Mas, ora, aqui estou eu “cantando saudades”, na feliz
expressão do mestre Machado de Assis!)
O “Casino Maranhense” funcionava no prédio, hoje retalhado, e onde está, entre
outras, a loja “Sabrina”, sobrado de azulejos portugueses, que pertenceu à lendária matrona
Donana Jansen, cujo perfil eu intentei traçar no conto “O preto fugido”, de meu livro “As
minhas e as dos outros”. Mais referências ao “Casino” encontram-se disseminadas aqui e ali
no relato destas memórias e no “Convite à contradança” do citado livro.
Defronte do “Casino” (cuja entrada era pelo beco do Teatro (Rua Godofredo Viana),
onde estiveram as “Lojas Pernambucanas”, houve uma casa pequena e baixa, na qual nasceu,
em 24 de janeiro de 1799, o poeta, político e escritor Manoel Odorico Mendes, falecido na
Inglaterra em 17 de agosto de 1864, tradutor de Virgílio e Homero. Também aí existiu a loja
“A Mariposa”, de Filomeno Tavares, que atendia as melindrosas da época, que, porém, já não
existiu para mim.
Depois, era o Bazar de Heitor Heluy (o “Xixa-engole-cobra”, meu colega de
Liceu, que morreu tragicamente baleado por causa de uma discussão besta). Esse edifício de
três andares era residência da família Pires de Castro. Lembro-me bem do major Pires de
Castro debruçado na balaustrada do terraço, apreciando o movimento da rua, vendo passar os
bondes da antiga Ulen... Não consigo recordar o que havia na esquina da Travessa da
Passagem, mas a quadra defronte começava com o imponente cinema “Éden”, de bela fachada
encimada por um globo iluminado sobre o qual pousava uma águia de asas abertas, seu
comprido balcão decorado com as estatuetas de bronze de duas mulheres semi-nuas.
Mais velho do que eu, o saudoso cinema nasceu em 19 de abril de 1919 e
pertencia à Empresa Teatral Cinematográfica Maranhense, da qual eram sócios os Srs. Raul
Serra Martins, Henrique e Guilherme Blum. Ali se reunia a nata da sociedade que, terminada
a sessão, ia cear no restaurante “Ponto Chic”. Então se exibiam as caras toaletes de Paris, os
ternos elegantes de casimira inglesa. Jóias de família, diamantes de muitos quilates brilhavam
nos colos empoados e nas delicadas orelhas de madames e donzelas, porque a cidade era
tranqüila e risonha, todo mundo se conhecia e imperava a cordialidade e a educação que se
17
primeira vez, conforme conto em outra ocasião. Para fechar o quarteirão erguia-se o
imponente sobrado do Sr. Éden Saldanha Bessa, alto comerciante, um dos homens ricos da
época, com armazém na rua da Palma (Herculano Parga), esquina com Santana (José Augusto
Corrêa), grande exportador de algodão, peles e babaçu. Era também o “dono” da “Pensão da
Lolita”. De vez em quando fechava o lupanar para receber os amigos em noitadas memoráveis
de bebedeira e sexo.
Uma noite, o padre Astolfo Serra acabara de deixar o palácio do governo,
aclamado pelo povo e fora conduzido à casa do Bessa. Fazia um discurso, no balcão do
sobrado, quando passaram por lá uns quatro ou cinco comunistas (Devet, os dois Perdigão
(José Maria e Fernando) etc. que, aliás, constituíam, juntamente com Dra. Maria José Aragão,
todo o P.C.). Os vermelhos gritaram “morras” e alguns palavrões. O padre revidou, escutou-
se um tiro e logo se estabeleceu o tiroteio entre o sobrado e a rua. Meu pai nos empurrou às
pressas (a mim e a minha mãe) para o beco das Crioulas, mas ainda pude ver o padre Serra
com a batina arregaçada, escanchado no peitoril da sacada, de revólver em punho,
respondendo ao ataque.
Começando a quadra fronteira, ficava, nos altos, a residência do Sr. Aziz Sekeff,
um carcamano muito instruído, poliglota e que, segundo Olavo Correia Lima, colaborava
freqüentemente em jornais do Sul. Não sei o que ocupava o térreo, mas, junto, ainda lá está o
belo sobrado azulejado da família Amaral de Matos, da qual descende o Dr. Odorico Amaral
de Matos, o maior e mais conceituado médico-pediatra do Maranhão, por cujas mãos
passaram, e continuaram a passar, várias e várias gerações. Adiante, há outro sobrado que não
sei a quem pertence; lembro-me que em certo ano abrigou um baile carnavalesco. Depois, era
a morada-inteira do Sr. Baltazar Pereira, das “meninas” Castelo, hoje o “Shopping Colonial”,
e, na esquina, por muitos anos, a loja de meu amigo e vizinho José Ribamar Maciel.
Passando a Rua das Flores, o bazar do Sr. Andrade. Apegado, outro soberbo
sobrado, do médico Dr. Basílio Franco de Sá. Havia outras casas das quais não me lembro
bem, e encontrava-se o Bar e Restaurante “Colombo”, do espanhol Peleteiro (ou
Barroqueiro?) e por último, a “Mercearia Reis”, do português Sebastião Reis, barrigudo e de
uma palidez doentia. Vejo-o à porta, como que afrontado, a boca semi-aberta a procurar o ar.
Suponho que sofresse do coração. Neste mesmo local esteve, depois, o bar do Seu Santos,
onde, conforme conto em outro lugar, íamos os “Coringas” tomar uma cachaça chamada
“Juízo” com “Cola-guaraná Jesus”.
Ao lado do palacete Bessa, do outro lado da rua das Crioulas, abriam-se as três
portas da “Padaria Duas Nações” dos portugueses Amorim, que residiam numa casinha baixa
e pequenina que lhe era anexa. Aí estendia-se o Largo da Conceição, empoeirado e feio, em
cujo centro se erguia o cruzeiro de ferro, sempre cercado de velas.
A igreja de Nossa Senhora da Conceição dava a frente para o largo e oferecia o
oitão de pedra como limite da Rua Grande; ali os bondes passavam a um palmo da parede e
muitos acidentes ocorreram aos pingentes. Assim, sempre que se aproximava o perigo, o
condutor alertava os passageiros, tocando insistentemente a sineta e gritando: “ - Olha a
direita! Conta-se que um português, atento ao chamado, olhou na direção do largo e só viu,
no terreno maltratado, dois cachorros copulando. Dias depois, viajava no bonde ao lado de
uma senhora, quando foi novamente advertido: - Olha a direita! Não teve dúvidas; virou-se
para a senhora e apressou-se em avisá-la: “ - Não olhe, minha senhora, não olhe que é só
safadeza de cachorro! Demolida a igreja, em seu lugar erigiram o edifício “Caiçara”.
Terra esta nossa, de dissidências e rompimentos e brigas! A Igreja da Conceição
teve origem no desentendimento entre as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário e da
Conceição. Esta última levantou a igreja em 1805, tendo como vigário o padre Bento José
Tavares. Ali conheci como pároco o padre João dos Santos Chaves. Parece que o vejo,
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moreno, risonho, os cabelos grisalhos, à porta do templo, ou debruçado na janela de sua casa,
na Rua da Cruz, entre Sol e Afogados.
Os bondes elétricos foram inaugurados em 13 de setembro de 1924, no governo de
Godofredo Mendes Viana e as linhas eram, quando desapareceram, G. Dias, E. Ferro,
Estação, S. Pantaleão, J. Paulo, Jordoa e Anil.
Mas, transposta a rua dos Craveiros (Pereira Rego), chegava-se à “Funerária
Maranhense”, do português Carlos Martins. O irmão, primeiro dono, que o mandara buscar
em Portugal, morreu inesperadamente. O Carlos casou-se com viúva, D. Zélia, que conheci:
uma senhora bonita, de olhos azuis, elegante, muito chegada à igreja e às obras pias. Junto,
funcionava a “Farmácia Rosa”, de Seu João Rosa, um homem baixo, gordo e narigudo, que
sempre, eu menino, associava às bruxas das estórias da Carochinha, com seus sinistros olhos
azuis e penetrantes, de águia... A seguir, o lindo palacete de mais de século, construído pelo
Sr. Inácio Botão, que depois o vendeu ao comerciante Nhozinho Jansen. (Manoel Jansen
Pereira Júnior) e onde até hoje residem seus descendentes. A entrada se faz por um jardim
com magnífica escadaria e suas paredes são decoradas com murais de paisagens bucólicas.
Toda a casa guarda ainda um pouco da aristocrática beleza do século passado e Dona
Terezinha Jansen e sua irmã Antonina resistem bravamente aos estragos do progresso. Deve
ser a última, se não a única, residência remanescente. “Por que permaneces de pé, velho
epônimo dos campos, quando os teus coévos já tombaram? perguntaria Arinos. No sobrado ao
lado morou Dr. Lourival Fernandes Bogéa, médico e meu contemporâneo no Liceu, e,
apegado, a casa da família do Sr. Chilon Lobo, dono de Cartório. A grande morada-inteira da
esquina abrigou a família de meu saudoso primo Sílvio Parga e foi na sua cozinha que um de
seus endiabrados filhos esguichou um lança-perfume no fogão, o que, por pouco, não lhe
causou gravíssimas queimaduras.
Na quadra defronte havia outra grande morada-inteira, na qual morou meu tio
Nava, onde Paulo Ramos entrava, com tanta intimidade, sem se fazer anunciar. (Tempos
depois, como interventor, mandou prendê-lo por motivo fútil. “Queres conhecer o vilão...)
Próximo, o imponente sobrado da família Cunha, cujo chefe, o farmacêutico-proprietário (pai
de meu colega de B.B., Antônio Cunha, o “Cara de Cavalo”) ocupava o andar térreo com a
farmácia. Tempos mais tarde, reformado (e para pior), nele habitou o Sr. José Nunes, com
mulher e os filhos.
Bem na esquina da Rua da Mangueira (hoje “Casa Saldanha”) havia um
sobradinho onde morava meu concunhado Oldemar Desterro e Silva. Quando meu filho
Netinho morreu não voltamos para casa. Oldemar e Rosê nos levaram para a casa deles.
Quisemos ficar sós e eles se mudaram para casa de Seu Castro. Foi uma noite horrível! Eu e a
Zelinda (não conseguimos dormir) ficamos a noite toda na janela dos fundos, abraçados, a
olhar o céu, incrivelmente estrelado naquela noite, a nos perguntar qual daquelas estrelas era o
nosso filho! Chorávamos, inconsoláveis, desesperados, sem conseguir despregar os olhos
daquele firmamento pontilhado de estrelas! No dia seguinte fomos para o sobrado da 14 de
Julho até podermos viajar: Rio, Bom Clima, Petrópolis, Teresópolis, São Lourenço, outra vez
Rio... andamos a-tôa pelo mundo, fugindo, fugindo... lêdo engano! daquilo de que não
podíamos fugir, pois aprendemos: fugíamos de nós mesmos, da dor que carregávamos
conosco, dentro de nós. Cometemos um grande erro em deixar nossa casa e nossa gente. E a
prova tivêmo-la quando regressamos, para entrar novamente na sala em que ele fora velado,
no quarto onde dormira. Procurei expressar estes sentimentos no livro que lhe dediquei,
“Requiem para um menino”.
A casa de Francisco Coelho de Aguiar, a seguir, abria para a Rua Grande 4 ou 5
janelas grandes e o acesso ao interior fazia-se por um bem cuidado jardim. Era casa de gente
rica, o Chico Aguiar sócio majoritário de Francisco Aguiar & Cia., firma poderosa que
explorava vários negócios - fábrica de óleo, casa bancária, indústria têxtil, comércio e
21
representações, revenda de veículos, gasolina, motores, etc. Numa casa baixa, que fechava o
quarteirão, era o Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, sempre em dificuldades
financeiras e então sob a direção de Antônio Lopes da Cunha. Em frente a Chico Aguiar
residia a família Borges - José da Silva Borges - dono da “Mercearia Neves”, pouco distante
dali. Era uma casa grande, uma morada-inteira bonita e o Zé Borges, um português simpático,
vermelho e sorridente, irmão de Domingos (Lusitana) e Antônio (Batista Nunes), também
comerciantes.
A mercearia, que ficava no canto, do lado oposto, e começava o quarteirão (hoje
“Lojas Americanas”) era um empório de alta categoria, com comidas, gêneros e bebidas da
melhor qualidade, quase tudo importado. Tinha panificadora própria e oferecia aos fregueses
os mais finos artigos e vinhos estrangeiros, o legítimo bacalhau norueguês e o então
sofisticadíssimo caviar russo. Contígua à mercearia era a casa do comerciante Chico Matos, o
“Príncipe Moreno”, o maior conquistador de São Luís, elegantíssimo no seu terno de linho
branco, imaculado, colete, a gravata vistosa, sapatos de pelica da última moda, um homem
bonito, que realmente impressionava as mulheres. Era pai de minha colega liceísta Daise
Matos. Junto, alta e digna, a residência do Sr. Abílio Lima (que não era meu parente), sócio
de Lima Faria & Cia., firma especializada em tecidos de seda e linho, no Beco de Catarina
Mina, na Praia Grande. Finalmente, na esquina, a “Padaria Veneza”, de Seu Manezinho -
Manoel Ferreira da Silva - cuja deliciosa bolachinha ainda não encontrou substituta à altura de
sua fama.
A quadra fronteiriça começava com a residência do Sr. Afonso Matos, pai do
médico Dr. Afonsinho, que foi deputado federal várias vezes. Numa morada inteira, adiante,
morou Dr. Durval Paraíso, locutor da Rádio Timbira e artista amador, o Judas que quase
morreu enforcado de verdade numa apresentação da Paixão de Cristo, no cine-teatro “Rival”.
Depois, ao que me lembra, existiu uma Funerária não sei como ligada ao meu mestre Luís
Gonzaga dos Reis, de quem falo no capítulo “Liceu”.
Para começar a última quadra da Rua Grande (até à Rua do Passeio), citarei a
“Mercearia Brasil”, de Seu Amorim (não lhe guardei o primeiro nome), seguida da meia-
morada de minha primeira namorada Nanci Belo, o bangalô do médico Dr. Geraldo Melo e
da bela morada-inteira, de magníficos azulejos antigos, propriedade do Dr. Araújo Costa,
desembargador de grande conceito, meão de estatura e que cultivava com carinho grandes
bigodes brancos. Magno Bacelar, quando Secretário de Educação, cometeu o imperdoável
crime de destruir o belo palacete para erigir, no lugar, o horroroso prédio-sede da Secretaria,
um mostrengo esquisito, sem gosto e sem estilo. Encerrando o quarteirão, o bar “Canto da
Viração”, que teve entre outros donos, o Sr. Luvino d’Almeida Mota, pai de Benzinho Mota,
personagem importante destas memórias.
Mas, atravessemos a rua de Santaninha para tomar a calçada fronteira. A casa do
canto abrigou a “Cooperativa de Consumo dos Bancários”, de saudosa memória e cujo fim
ali mesmo se consumou. Quem morou antes na bela casa ao lado, de azulejos coloridos, não
me lembro. Recordo-a já ocupada pela família do tabelião Osvaldo da Silva Soares, que ali
mantinha os remanescentes de seu grande museu, vindos do sobrado da Rua do Sol, esquina
da de São João. Hoje, completamente reformada, é casa de comércio. Mas, aonde foram parar
seus valiosos azulejos? (Aqui, del Rei! Serviço do Patrimônio Histórico e Arquitetônico!
Federal e Estadual! Por onde andais? Em que mundo ou estrela vos escondeis?)
Depois, vem a moradia da família do Sr. Bernardino Ferreira Lima; o prédio onde
se instalou o “Laboratório Salomão Fiquene”, de análises clínicas. E por fim, o extraordinário
“palácio de porcelana”, de 5 janelas de frente e 17 de lado, onde residiu Gentil Homem de
Almeida Braga, cronista que em seus folhetins, “num estilo mordente e loução, numa prosa
agradável de se ler, levemente pontilhada de humorismo... fixou aspectos pitorescos da vida
da cidade, criticando costumes e fatos quotidianos”. Foi juiz, tradutor e poeta e, no mirante
22
dessa casa, em 1869, escreveu “Entre o céu e a terra” - reminiscências, fantasias, contos e
pontos e traços e meias tintas.” (Antologia da Academia Maranhense de Letras). Gentil Braga
faleceu em 1876 e nessa casa já conheci morando a família do Sr. Inácio Oliveira. Hoje
pertence à Universidade Federal do Maranhão.
Transposta a rua do Passeio, a residência do Sr. Gomes de Castro, então gerente do
Banco do Maranhão, na rua do Giz. Mais para frente, entre outras casas ilustres, figuram a
velha “Quinta das Laranjeiras”, conhecida como a “Quinta do Barão”, do Alacaide-mor José
Gonçalves da Silva, O Barateiro, sogro do Barão de Bagé, que já encontrei decadente: umas
casinhas ordinárias na esquina da Rua do Outeiro e um imenso chão vazio, onde os moleques
da redondeza jogavam bola e tomavam banho no poço abandonado. Aí os padres Maristas
construíram seu Colégio, bastante recuado da rua e com entrada pela rua lateral. Na Rua
Grande há o heráldico portão de cantaria lavrada, que permanece altaneiro, às vezes bem
tratado, às vezes pichado e esquecido. Alcancei ainda a casa do Dr. Brito Passos e a de
Amadeu Aroso, substituídas pelo feíssimo prédio da antiga sede da AABB - Associação
Atlética Banco do Brasil. Vem depois a “Capela das Laranjeiras”, capela particular onde os
antigos donos da Quinta, tinham sua devoção a São José das Laranjeiras. A seguir, a casa em
que residiu Dr. César Augusto Marques (autor do célebre “Dicionário Histórico e Geográfico
da Província do Maranhão”) e a casa de moradia de Domingos Berlie Mendes, a primeira,
senão das primeiras piscinas da cidade, e que lhe tirou a tranqüilidade e a paciência. ( “ -
Carlos, dizia-me, quando eu me levanto, no domingo, já encontro meus amigos na piscina e só
se retiram lá de casa depois de noite fechada... E haja uísque e frios e tira-gostos, e alguns
mais caras-de-pau até se convidam para jantar...!” )
No quarteirão fronteiro, na esquina da rua do passeio, o sobrado do
desembargador João Nepomuceno de Souza Machado, marido de Dona Caluzinha, irmã do
também desembargador Domingos Américo de Carvalho; um chão vazio e a porta-e-janela do
José Magalhães, um pequeno comerciante premiado na loteria e que, como novo rico, aceitou
a honra de ser padrinho do nosso bloco carnavalesco “Coringa” e, naturalmente, financiar a
farra...
Depois da rua do Oiteiro, as casas do Dr. Warwick Trinta, juiz, e do Dr. Djalma
Marques, médico, pai de nossa querida Elis Caracas.
O “Galpão”, mais adiante e do outro lado, era um grande mercado de carnes, frutas
e verduras, onde, pelo Carnaval, nós, os foliões ressacados, íamos tomar mingau de milho,
após o banho de tanque no “Veloso”, uma quinta agradável na Baixinha. (rua Senador João
Pedro.)
Conforme a recepção por parte dos leitores, darei, ou não, continuidade ao passeio
pelas ruas da Paz e do Sol.
Página 12 e 13
Júlia Emília*
*
Júlia Emília é coreógrafa e diretora teatral, pesquisadora da cultura popular e movimento corporal, em dança e
consciência do movimento.
23
mundo para o espaço cênico e da dança contemporânea que fez essa ação tornar-se
consciente.
No decorrer dessas décadas de estudos e práticas, adquiri a certeza de que
movimentos e gestos devem ser instrumentalizados num contexto histórico-social. Essa
concepção me levou à aproximação com as ações rituais das manifestações populares
respaldada por autores como Fernandes (1) que conceitua o folclore como componente da
cultura de uma sociedade. Para ele, o folclore compreende aspectos que são transmitidos
informalmente e relacionados com fatores psico-sociais e sócio-culturais do comportamento
humano. Assim, as ações rituais são fenômenos da cultura popular de natureza religiosa ou
não, que podem ser vistas como atos onde predominam aspectos simbólicos de seus
produtores.
A idéia da elaboração de uma pesquisa que correlacionasse técnicas acadêmicas e
expressões populares iniciou-se em 1989, quando percebi a necessidade de documentar meu
processo de estudo sobre composição coreográfica. Apesar da escola de dança – a Oficina do
Corpo, em São Luís – ser um investimento nessa época seguro para mim, inclusive para
financiar as experiências com o grupo Teatrodança (fundado em 1983), optei por fechá-la
abrindo, a partir daí, uma escola itinerante, haja vista minha necessidade de mais tempo
disponível para experimentar processos pedagógicos e cênicos que constituíssem as etapas
desse meu projeto de pesquisa em dança, ainda sem título na época.
Consegui finalmente colocar no papel a pesquisa com as etapas pretendidas para
apresentá-las no Congresso Internacional de Abordagens Corporais, em 1997, na Bahia. Essas
etapas, desenvolvidas nessa pesquisa, ficaram divididas em trabalho educativo e trabalho
cênico, embora experimentadas de modo interligado em seu desenvolvimento.
O trabalho educativo seria a elaboração de uma metodologia pedagógica que
correlacionasse os elementos cênicos – corpo, espaço, ritmo, tônus – pertencentes às danças
populares com as técnicas corporais. Para estabelecer como método essa correlação contei
com o apoio de vários profissionais, tanto na área de Música como Francisco Pinheiro,
Erivaldo Gomes, Ana Neusa Araújo e Alberto Pedrosa, quanto na área de corpo como a Dra.
Maria José Santos, que trabalha com Equilibração Corporal, e Maurício Junqueira que junta
em suas aulas a capoeira de Angola e a Técnica de Alexander(2).
As minhas observações e experimentações me permitiram estabelecer alguns
exemplos da correlação entre as técnicas corporais e as expressões populares como o uso dos
ombros e da pélvis, incorporando a noção de fluxo e controle em dança moderna. Além disso,
a força do apoio dos pés no chão, ou a rotação externa da articulação da coxa com o quadril,
bem como as torções da coluna são comuns tanto nas danças populares quanto nas técnicas
acadêmicas. A mecânica motora das articulações com uso do peso são experimentadas em
práticas nos grupos de alunos orientados por mim no Brasil e no exterior 14 na construção de
uma terceira linguagem corporal.
Já o trabalho cênico seria a transformação para a cena coreográfica dos mesmos
elementos – corpo, espaço, ritmo e tônus – existentes nas expressões coreográficas populares
para a composição de um novo desenho coreográfico, mantendo a construção da terceira
linguagem. Dentro da realidade própria do rito, busquei a expressão que atravessaria o tempo
até o batuque dançado contemporâneo, reafirmação dos valores culturais brasileiros.
Numa perspectiva dinâmica de cultura, esta pesquisa de composição coreográfica
em dança contemporânea trata de combinar a matéria estética da manifestação popular e a
noção histórica de corpo com a busca visceral de uma nova concepção da dança, em sua
pedagogia e cena. Não se trata de estudar as características das ações rituais, mas de vivenciar
14
Em 1999, a bolsa Virtuose do Ministério da Cultura financiou um período de intercâmbio de experiências na
Argentina. De lá segui por conta própria para a Itália, através da Fondación Rio Abíerto para a Fondazione Rio
Aberto – integrazione corpo/mente.
24
as correlações entre as técnicas corporais ditas acadêmicas e as expressões das danças ditas
populares.
Em montagens anteriores como “Coração Terreiro”, “Poema”, “Embarcações” e
“Berlim-33”, coreografando e dirigindo o Grupo Teatrodança, já eram meus objetivos
mergulhar nos conflitos das relações humanas e pesquisar questões da cultura brasileira. Mas,
foi com o espetáculo “Bicho Solto Buriti Bravo” que consegui definir a transcriação do
universo das manifestações populares, misturando literatura oral, drama, música e dança,
contando com as parcerias do poeta Ferreira Gullar e do músico Zeca Baleiro.
Curiosa pela sensualidade que transpirava no tambor de crioula, amadureci
acompanhando seus movimentos e toques em grupos15 que brincavam tanto na Ilha quanto no
interior do Estado. Além do contato com os brincantes do tambor e rodas de capoeira 16 ,
participei de oficinas e grupos de estudo com outros pesquisadores de linguagens populares,
descobrindo a similaridade étnica do tambor de crioula, do bumba-meu-boi de zabumba, do
samba de roda e da capoeira.
Nessa época, 1996, surgiu a idéia do espetáculo “Sagração Coureira”. Duas
referências bibliográficas, a pesquisa de Sérgio Figueiredo Ferreti(3) e a tese de Letícia Vidor
de Sousa Reis(4), se fizeram presentes nessa minha montagem coreográfica porque estão
relacionadas às origens comuns do tambor de crioula e da capoeira, descrevendo suas práticas
e funções, e também analisando seus significados sociais.
Identificada a origem comum da capoeira e do tambor, a movimentação que
permeia a “Sagração” são os trancamentos dos joelhos, as rasteiras pelos tornozelos e as
derrubadas pelos quadris, tempo histórico do tema da coreografia (Édison Carneiro(5) fala da
proveniência do antigo batuque dos escravos).
Outra questão bastante abrangente e complexa seria montar a trilha sonora que
complementa a movimentação. A idéia de juntar a imolação proposta em “ A Sagração da
Primavera”, de Igor Stravinsky, aos tambores populares sempre me pareceu perfeita nestes
tempos em que “... o preço de cada passo de nosso progresso é a ruína de mais uma tribo.”
(6) O poeta Celso Borges e o arranjador Paulo Le Petit, meus parceiros desde o “Projeto
XXI”, arriscaram mexer com as sonoridade, ligadas à cultura popular e mixaram em colagens
ousadas que aproximaram o universo sonoro de informações urbanas ligadas ao rock, ao
techno e à música erudita. A estrutura conceitual da coreografia – nascimento, sacrifício,
morte e ressurreição – foi construída ao mesmo tempo em que a trilha era composta em São
Paulo.
Embora me parecesse impossível era imprescindível para a montagem localizar
um projeto já existente e de abrangência social, onde o disciplinado exercício da capoeira
acoplasse a consciência do movimento 17 e ainda estudasse o tambor de crioula. Encontrei tudo
isso no “Projeto Criação” desenvolvido com jovens carentes dos bairros do São Francisco e
Ilhinha, em São Luís, coordenado por Sérgio Costa e Samme Sraya, na prática da capoeira, e
por Mestre Felipe, na prática do tambor de crioula.
15
Grupos observados indicando a comunidade e o produtor: Vila Ivar Saldanha, de seu Lauro; Floresta,
Apolônio; Coroadinho, Felipe; Fé em Deus, Terezinha Jansen; Liberdade, Leonardo; Madre Deus, Erivaldo e
Lazico.
16
Rodas: Maranhão: Laborarte, Patinho e Nelson; Acapus, Senzala; Matroá, Marco Aurélio; Criação, Sérgio e
Samme.
Rio de Janeiro: Santo Cristo, Marujo; Catete e Largo do Machado, Mano e Braga; Lapa, Urubu; Santa Tereza,
Neco; Niterói, Formiga.
17
Os pressupostos são da Eutonia técnica de investigação corporal criada por Gerda Alexander, Alemanha,
1908. Visa o equilíbrio das tensões do corpo, objetivando a harmonização do tônus muscular. Experimentei
trabalhos correlatos de Sensopercepção com Patrícia Stokoe e Maria Fux; de Consciência do Movimento com
Angel e Klauss Vianna; de Movimento Vital Expressivo com Maria Adela Palcos.
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Durante seis meses, assessorada por Eline Cunha na coordenação para música e
cena, trabalhei com integrantes desse projeto, selecionados de acordo com o interesse e o
desempenho dos mesmos em oficinas de expressão corporal e musical. Numa segunda etapa,
desenvolvi todas as possibilidades de improvisação da movimentação já exercitada por eles.
A minha idéia era analisar a linguagem dos movimentos corporais dos capoeiristas
e coureiros(as), procurando desvendar a lógica do movimento existente no grupo. Para isso,
era necessário que eles descobrissem seus significados próprios da movimentação que faz
parte da capoeira e do tambor, exercitando novas propostas para que eu, como coreógrafa,
extraísse uma forma interior de movimento corporal. Os motes utilizados para isso foram:
“panha laranja no chão, tico-tico” para a imagem relacionada à capoeira, e “mulher derruba
homen na areia” para o tambor de crioula, estrofes de seus cantos característicos e adequados
aos objetivos de ampliar o repertório de movimentos conscientes. Em seguida meu processo
de direção seria modelar a forma interior e a forma exterior do movimento original até que
fossem uma só forma de movimento corporal.
Tomemos como exemplo a recriação do movimento da ginga. Considerando a
ginga como movimentação básica do ambivalente jogo da capoeira, o tema foi exercitado até
encontrar um movimento original que agrupasse a oposição entre braços e pernas,
sincronizasse os movimentos para o lado, para frente e para trás, tanto no apoio no solo
quanto no giro no ar, no que denominamos
GINGA
= GINGA PIRUETA
PIRUETA
“Cheguei, cheguei
cheguei com a minha turma, cheguei.”
Bibliografia
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Raimundo Rocha
Os carroceiros da Ilha de São Luís do Maranhão festejam o seu dia, todos os anos,
com muito entusiasmo e até mesmo com grande sacrifício. O seu dia é comemorado com a
Romaria das Carroças à cidade de Ribamar. Essa romaria constitui uma das festas
tradicionais mais bonitas do Maranhão, ao lado do Divino e do Bumba-meu-boi. É
inteiramente ligada a quantos trabalham em carroças movidas por animais. Data de tempos
imemoráveis, a sua existência. Desconhece-se por completo quando ela nasceu e a quem
pertence a sua paternidade.
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Este trabalho foi citado por Alceu Maynard Araújo em "Folclore Nacional", de 1964, e publicado em 1967 em
Jornais do Maranhão.
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Vestida de branco
Ela apareceu...
trazendo no cinto
as cores do céu...
Ave, Ave, Ave, Maria...
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Notícias
Uma extensa programação natalina foi realizada pelo Centro de Cultura Popular
Domingos Vieira Filho no mês de dezembro como parte do Projeto Natal 2003: Paz na nossa
Terra. Como parte do projeto foram realizados duas exposições, uma cantata de grupos de
canto coral, dois cortejos de grupos natalinos tradicionais, shows e espetáculos teatrais com a
temática do Natal.
O projeto foi lançado com o I Concerto para o Menino, no dia 12 de dezembro, em
frente à Casa do Maranhão, com a apresentação dos grupos infantis e infanto-juvenis de canto
coral Encantando com as Mãos, FUNAC (Florescer e Lírios do Vale), São Joãozinho, Kid’s
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Voices in Harmony, Amor e Vida, Angellus Vox, Quialttera,/Paz e Bem, Filhos do Rei,
Recriando o Lúdico/Descobrindo o saber e Canto dos Rouxinóis.
Na Galeria Zelinda Lima e na varanda da Casa da Festa está a sexta exposição
Arvoredo, com os trabalhos dos participantes do concurso Arvoredo VI: onde canta o sabiá,
com 46 árvores de Natal confeccionadas com materiais alternativos. A exposição foi aberta à
visitação pública desde o dia 16 de dezembro e contou com a apresentação dos grupos de
canto coral infantis São Joãozinho e Kids Voices in Harmony.
Na Galeria do Cofo da Casa de Nhozinho, foi aberta, no dia 18, a exposição
“Lapinha: o Natal de cada qual”, de presépios em várias versões, com apresentação do coral
Amor e Vida, que encenou o nascimento do Menino Jesus. Para a montagem foram
convidados artistas plásticos, artesãos e produtores da cultura popular. A Cantata Natalina,
realizada pelo quinto ano consecutivo, no dia 20 de dezembro, contou com a participação de
07 corais adultos (Antônio Rayol, ICBEU, São João, UFMA, Arte e Canto, Madrigal Santa
Cecília e Madrigal Som das Águas); 02 corais infanto-juvenis (Colun Vox e Encantando com
as Mãos); e 02 corais infantis (Kid’s Voices in Harmony e São Joãozinho), em igrejas de São
Luís seguido de cortejo pelas ruas do Centro Histórico e encerrando-se com um grande
concerto final com todos os corais na Praça Nauro Machado. Foram realizados concertos nas
igrejas da Sé, do Rosário, de Santo Antônio, de São João, de Santana, de São Pantaleão, do
Carmo, do Desterro e Praia Grande.
Os cortejos com grupos natalinos tradicionais aconteceram nos dias 23 e 26 saindo
do Largo do Desterro até a Praia Grande, onde os grupos se apresentaram em pontos da Praia
Grande e em frente à Igreja do Desterro. Participaram do primeiro cortejo o Pastor do Menino
Deus, a Pastoral Filhas de Belém, o Pastor Estrela do Oriente, o Pastor Y Bacanga, o Reis do
Alecrim, o Reis Sempre Viva, o Reis do Oriente (Anil), o Reis das Flores (Tajaçoaba), o Reis
das Flores (Porto Grande) e o Reisado Folias de Natal. Do segundo cortejo participaram o
Pastor Filhas do Oriente, o Pastor Estrela Guia, o Reis das Nuvens, o Reis do Oriente (Bairro
de Fátima), o Pastor de Guimarães, o Pastor de Penalva, o Pastor de Rosário, o Reis de Brejo,
o Boi de Reis de Caxias e a Dança de Reis de Icatu.
Receberam o apoio do CCPDVF com a inclusão na programação natalina do
Governo do Estado os espetáculos teatrais Auto da Estrela Esperança, encenado pelo
Laborarte, e Natal na Praça, do grupo Ensaio Geral, do município de Colinas, dirigido por
Ubiratan Teixeira.
Foram incluídos na programação os shows Serenatal, com concerto de grupos
musicais e cantores da escola de Música do Estado do Maranhão Lilah Lisboa (Orquestra Big
Band, Metal e Cia., Grupo de Câmara, Coral e cantores individuais), Simplesmente Natal,
com apresentação do sopranista Fernando de Carvalho e participação do Coral São João, do
tenor Tadeu Carvalho e dos cantores Plínio Fontenelle e Célia Maria.
A Missa de Natal ao Menino Jesus e à Virgem Maria pelas crianças de São Luís do
Maranhão também recebeu apoio com a inclusão na programação do Projeto Natal 2003: Paz
na nossa Terra, e foi celebrada na Igreja da Sé pelo Padre Cláudio Correa. A missa consistiu
num espetáculo litúrgico-poético-musical concebido pelo poeta Luis Augusto Cassas que
também lançou o livro Em nome do filho, de sua autoria. O lançamento teve a participação
especial do tenor Vitor Vieira e sopranos Caroline Campos e Silvia Seixas.
Queimação de Palhinhas
FERREIRA, Euclides M. Pajelança: o registro da memória oral dos 51 anos da prática de Pai
Euclides no ritual de Cura. São Luís: 2003, 99p. Ilustrado.
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Josimar M.Silva19
Luduvicense nascido na rua São João perto da Fonte das Pedras, filho de Wilson
Vieira e Itamar Farias Vieira, com um ano de idade Antônio Vieira foi morar com seus
padrinhos João Alves Lomba e Odila Alves Lomba, na rua São pantaleão. Compositor
talentoso por natureza e dono de uma voz harmoniosa, Antônio Vieira traz no sangue a
música e a poesia.
Com 8 anos de idade fez sua primeira composição e deixava as brincadeiras de
rua para ouvir os ensaios de uma orquestra perto de sua casa. Aos 15 anos Vieira ingressou no
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Josimar Silva é licenciada em História.
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mundo da música participando do conjunto vocal Anjos do Samba. Conviveu com músicos
mais antigos como Alcino Bílio e maestro Chaminé.
Após uma parada de 30 anos, quando ficou apenas compondo, ele reiniciou sua
carreira com o conjunto Regional Tira Teima e, mais tarde, participou do Trio JB. Fez sua
estréia na Rádio Timbira com a música Mulata Bonita e vem mostrando seu trabalho em
shows, programas de rádio e televisão. Participou do programa Som Brasil com a música
Cocada e retornou ao programa a convite, por mais duas vezes. A música Nordeste Seco,
interpretada por Hamilton Rayol, ficou em quarto lugar no concurso promovido pela Voz de
Ouro ABC, do qual participaram 8 mil concorrentes. Apresentou vários shows no Teatro
Arthur Azevedo com a participação de Zeca Baleiro, Elza Soares e Sivuca. Em Brasília e São
Paulo apresentou o show O Samba é Bom com CD gravado ao vivo e já esgotado.
Simples na sua grandiosidade, Antonio Vieira gosta de elogiar seus parceiros de
composição e colegas músicos como seu amigo Lopes Bogéa. Tem parcerias com Pedro
Giusti, Nascimento Moraes Filho, Lago Burnett, Jorge Barros e outros.
Trabalhador aos 16 anos de idade, Vieira gostava de observar o movimento do
prédio onde funcionava o Tesouro do Estado, o porto com as alvarengas chegando com as
mercadorias e desembarcando, diz ele referindo-se às mudanças ocorridas na Praia Grande
desde a década de trinta do século XX até os dias atuais: “Liguei-me ao lugar, ainda hoje me
sinto bem naquele local, embora esteja muito mudado. Antes era um ambiente de comércio e
hoje é cultural, mas mudou para melhor essa é a verdade.”
Formado em Contabilidade no ano de 1939 pela Escola Superior de Comércio do
Centro Caixeiral, Antônio Vieira nunca viveu exclusivamente da música, trabalhou e, várias
firmas comerciais, na Companhia Telefônica do Maranhão e foi diretor administrativo do
Hospital Geral. Também foi motorista , sargento do exército, mecânico e professor de
natação. “É muito difícil viver de arte no Maranhão e eu descobri isso cedo e logo tratei de
estudar”, diz Vieira.
Para compor, Antonio Vieira primeiro escolhe um tema, faz pesquisas para
desenvolver a letra e a música, procura falar das coisas sob um ângulo que ninguém tenha
falado antes e todas as suas músicas têm história. Para ele, compor “é escrever o que o povo
não vê, mas cantando é possível fazê-lo enxergar.” O compositor Sivuca, que conhece a
música de Antonio Vieira desde 1930, considera as composições dele avançadas para sua
época, portanto, sua música continua sempre atual.
Apelidado pelos amigos de “faz chorar” e “rouba show”, devido ao seu poder de
emocionar as pessoas, Vieira tem grande capacidade de comunicação com o público, em
quem busca inspiração, porque, segundo ele, “a sua fonte de cultura é a rua.”
Em 1985 foi homenageado pelo Centro de Cultura Popular Domingos Vieira
Filho pela passagem de seus 65 anos de idade, dos quais 50 anos foram dedicados à música
popular maranhense.
Tesoureiro da Associação de Apoio à Música e Arte do Maranhão (AMARTE),
Antonio Vieira recebeu convite de Rodrigo Caracas, presidente dessa entidade, e de sua
esposa Fátima Caracas, para registrar sua obra. Foi idealizado um projeto de Documentação e
Registro Fonográfico da obra musical de Antônio Vieira, patrocinado pela Companhia Vale
do Rio Doce que consta de 18 CDS com cerca de 337músicas, dois livros (um com biografia e
outro com as letras das músicas) e um documentário em vídeo.
Para Antonio Vieira, “projetos desse tipo deveriam ser feitos com todos os artistas
maranhenses porque o Maranhão é uma terra sem memória musical e pouco sabemos dos
grandes valores que temos.”
Em dezembro de 2003, Vieira fez um show para a produção e elenco da novela A
cor do pecado e recebeu convite para ir ao Rio de Janeiro gravar as músicas “Tem quem
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queira” e “Banho de cheiro,” previstas para compor a trilha sonora da novela. Também foi
homenageado pela Rádio Universidade.
Antonio Vieira se define como um homem simples através do seu viver, do seu
trabalho e do seu proceder. Ao ser perguntado que nome daria ao seu perfil, respondeu:
“Simplicidade, musica feita por Ubiratan Sousa que define minha pessoa, ser simples com
muito orgulho.”
Bibliografia