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Dispnéia Na DPOC

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Dispneia na DPOC, exacerbação ou associação com a COVID-19?

Dr. Marcelo Fouad Rabahi – CRM-GO: 5959


Prof. Titular de Pneumologia da Faculdade de Medicina da UFG
Fellow da American Thoracic Society

Dispnéia é um sintoma complexo que potencialmente alerta para uma ameaça


à vida e, portanto, frequentemente leva a inatividade voluntária ou a procura de
atendimento médico. Por evitar atividades que precipitem a dispneia, o paciente
torna-se mais sedentário e, cada vez mais, fisicamente mal condicionado. A
dispneia afeta até 50% dos pacientes internados em hospitais terciários e cerca
25% dos pacientes ambulatoriais. A presença de dispneia é um potente preditor
de mortalidade na previsão do curso clínico de um paciente.1
A dispneia é uma sensação de desconforto respiratório, relatada pelos
pacientes das mais diversas maneiras – cansaço, falta de ar, sensação de aperto
no peito, sufocamento, incapacidade de encher o pulmão de ar. Como a dispneia
é um sintoma (isto é, percepção de um estado interno anormal ou angustiante),
no adulto, ela pode existir mesmo na ausência de sinais típicos como a
taquipnéia, o uso de músculos acessórios ou a retração intercostal. 1
Na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) a dispneia é um dos
sintomas cardinais, nas fases iniciais pode passar despercebida, contudo, à
medida que a doença evolui, pode se tornar um fator limitante às atividades de
vida diária. Embora o mecanismo de dispneia na DPOC seja multifatorial, o
aprisionamento aéreo induzido pelo exercício conhecido como “hiperinsuflação
dinâmica” provavelmente desempenha papel significativo, e durante a condução
dos pacientes com DPOC o controle da dispneia tem sido uma das metas
principais, tanto da abordagem farmacológica quanto não farmacológica. 2

Do ponto de vista da avaliação clínica, existem duas grandes categorias


de pacientes com dispneia: aqueles com dispneia de início recente, para
quem a causa subjacente da dispneia ainda não foi determinada e, aqueles
com conhecidas doenças cardiovasculares, respiratórias ou
neuromusculares que estão experimentando agravamento da dispneia.
Para a primeira, a avaliação é focada em descobrir uma anormalidade ou
doença subjacente; para a última, o objetivo é discernir se há deterioração
de um distúrbio conhecido ou surgimento de uma intercorrência.1 E é
exatamente nesse contexto que estamos inseridos, pacientes com DPOC
em distanciamento social, restrito ao domicílio e consequente inatividade
física poderá apresentar dispneia como uma deterioração da doença de
base ou associação com a COVID-19.

Uma revisão sistemática seguida de meta-análise foi realizada com estudos


publicados de dezembro de 2019 a 22 de março de 2020 para avaliar a
prevalência de Covid-19 grave em pacientes com DPOC e aqueles com
tabagismo contínuo. Foram encontrados 11 estudos com um total de 2002 casos.
O odds ratio (OR) agrupado de DPOC e o desenvolvimento de COVID-19 grave
foi de 4,38 (IC 95%: 2,34-8,20), enquanto o OR para tabagismo foi de 1,98 (IC
95%: 1,29-3,05). A conclusão foi que a DPOC e o tabagismo pioram o
prognóstico da COVID-19.3

Uma das razões para um pior desfecho da COVID entre pacientes com o
DPOC e tabagistas pode ser explicada por um estudo realizado em Vancouver
no Canadá onde através de biópsias por broncoscopia, foi evidenciado que o
tabagismo ativo e a DPOC regulam a expressão ACE-2, que é o receptor de
entrada para o vírus da COVID-19, nas pequenas vias aéreas, o que em parte
pode explicar o aumento do risco de COVID-19 grave nessas populações. Esses
achados destacam a importância da cessação do tabagismo para esses
indivíduos e o aumento da vigilância desses subgrupos de risco para prevenção
e diagnóstico rápido dessa doença potencialmente fatal.4
Portanto pacientes com DPOC devem ser orientados para que mantenham o
uso regular de suas medicações e todas as medidas necessárias para prevenção
de contaminação pelo SARS-Cov-2 como distanciamento social e o uso de
máscaras faciais, essas são recomendações oficias do GOLD 2020, que reforça
também que oxigenoterapia deve ser fornecida se necessário aos pacientes
com DPOC, seguindo as recomendações padrão de uso.5

Referências Bibliográficas
1. Porto CC e Rabahi MF, in Doenças Respiratórias in Semiologia Médica
8ª Edição. Guanabara-Koogan, 2019
2. Murray and Nadel`s Textbook of Respiratoty Medicine, 6th Edition. 2016
– Saunders, Elsevier.
3. Zhao Q, Meng M, Kumar R, et al. The impact of COPD and smoking
history on the severity of Covid-19: A systemic review and meta-analysis
[published online ahead of print, 2020 Apr 15]. J Med Virol.
2020;10.1002/jmv.25889. doi:10.1002/jmv.25889
4. Leung JM, Yang CX, Tam A, et al. ACE-2 Expression in the Small Airway
Epithelia of Smokers and COPD Patients: Implications for COVID-19
[published online ahead of print, 2020 Apr 8]. Eur Respir J.
2020;2000688. doi:10.1183/13993003.00688-2020
5. GOLD COVID-19 GUIDANCE. GOLD 2020, acessado em
www.goldcopd.org em 10 de maio de 2020.

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