PGSS0218 T
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Florianópolis/SC
2018
À Lavínia, amor para uma vida
inteira – que, no auge de seus 2 anos e 10
meses, já está aprendendo sobre resistência e
luta.
Este estudo tem como objeto as lutas sociais em defesa da saúde pública
estatal, materializadas por meio da atuação do Fórum Catarinense em
Defesa do SUS e Contra as Privatizações, constituído no ano de 2012,
impulsionado pela Frente Nacional Contra a Privatização da Saúde
(FNCPS). Objetivou analisar seu processo de organização, resistência e
luta, enquanto espaço de mobilização da sociedade civil frente ao
avanço das contrarreformas no âmbito das políticas sociais,
especialmente, da política de saúde. Por meio de pesquisa documental e
de campo, verificou-se que o Fórum Catarinense tem atuado, de forma
incisiva, em relação às contrarreformas decorrentes da gestão e
execução da política de saúde pelos “novos modelos de gestão”,
especialmente as Organizações Sociais e a Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares (EBSERH). O projeto de atenção em saúde
defendido remete às bandeiras construídas pelo Movimento da Reforma
Sanitária Brasileira na década de 1980, atrelado a uma análise crítica em
relação às medidas regressivas em curso. Militantes com vinculação a
entidades sindicais, ao Movimento Estudantil, e a espaços/projetos de
formação ligados à universidade e ao debate da saúde, numa perspectiva
ampliada, têm incidido diretamente na construção das pautas e processos
de resistência, sendo as profissões que perpassam a área da saúde e das
ciências sociais aplicadas, com ênfase ao Serviço Social, as que se
mostraram mais orgânicas ao movimento. Os principais desafios
identificados são: ampliação do quantitativo de participantes que
contribuem organicamente e da participação a partir da representação de
entidades e movimentos; descentralização das ações e agregação de
outros sujeitos políticos; fundamentação teórico-metodológica das
ações; ampliação das lutas para além da pauta da saúde; construção de
unidade no campo da esquerda; conjuntura regressiva para os direitos
sociais e condições objetivas do movimento; atuação da mídia
dominante a favor da privatização da política de saúde, enquanto
“aparelho privado de hegemonia” do capital; e, por fim, destacadamente
em evidência, o diálogo com a população, a mobilização e organização
frente às contrarreformas em curso. A articulação com a FNCPS ocorre
na perspectiva de consolidação de estratégias e táticas frente às lutas
comuns, ao tempo que a ocupação de espaços de controle social,
especialmente das conferências, tem se dado com vistas à edificação de
trabalho de base e do “controle do controle social”. Os principais
avanços estão relacionados à construção de consciência junto à
população acerca do direito à saúde e dos mecanismos utilizados pelo
capital para a sua precarização. Tais elementos confluem para a
afirmação de que o Fórum Catarinense tem sido construído enquanto
movimento não institucionalizado, que defende a garantia da saúde
enquanto direito social, resultante das condições de vida e de trabalho,
na perspectiva construída a partir da Reforma Sanitária. Por meio de
ações diversas, as lutas desencadeadas contribuem para ampliar as
possibilidades de disputa de hegemonia, todavia, permeadas por um
conjunto complexo de obstáculos face à ofensiva burguesa e à retração
do Estado; cenário este que evidencia ameaças efetivas à saúde pública e
aos preceitos constitucionais.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................25
1.1 CAMINHOS DA INVESTIGAÇÃO: OS PRESSUPOSTOS
TEÓRICOS DE BASE...........................................................................27
1.2 O PERCURSO METODOLÓGICO E A FORMA DE
EXPOSIÇÃO..........................................................................................34
2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL: DO MOVIMENTO DA
REFORMA SANITÁRIA ÀS CONTRARREFORMAS NO
SUS.........................................................................................................39
2.1 AS POLÍTICAS SOCIAIS NO ESTADO
BURGUÊS..............................................................................................39
2.2 O MOVIMENTO DA REFORMA SANITÁRIA E A DEFINIÇÃO
DE UMA POLÍTICA DE ESTADO......................................................48
2.3 DESCONTINUIDADES DA POLÍTICA DE SAÚDE E A LÓGICA
PRIVATISTA.........................................................................................60
2.4 GOVERNOS LULA, DILMA E TEMER, OS NOVOS MODELOS
DE GESTÃO E AS REPERCUSSÕES NO DIREITO À
SAÚDE...................................................................................................79
3 O FÓRUM CATARINENSE EM DEFESA DO SUS E CONTRA
AS PRIVATIZAÇÕES ENQUANTO INSTRUMENTO DE
RESISTÊNCIA E MOBILIZAÇÃO POPULAR............................101
3.1 A FNCPS ENQUANTO PRECURSORA DO FÓRUM
CATARINENSE..................................................................................101
3.2 O FÓRUM CATARINENSE: CRIAÇÃO E
COMPOSIÇÃO....................................................................................110
3.3 A PRIVATIZAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE E SUAS
CONSEQUÊNCIAS PARA A POPULAÇÃO....................................135
3.4 A ORGANIZAÇÃO E ARTICULAÇÃO DO FÓRUM
CATARINENSE NA CONSTRUÇÃO DE UMA AGENDA DE
RESISTÊNCIA.....................................................................................158
3.5 O SINDSAÚDE ENQUANTO ESPAÇO AGLUTINADOR DE
SUJEITOS PROTAGONISTAS DE PROCESSOS DE
RESISTÊNCIA.....................................................................................188
3.6 A FUNÇÃO DA UNIVERSIDADE NO FORTALECIMENTO DO
FÓRUM CATARINENSE...................................................................201
3.7 A ARTICULAÇÃO DO FÓRUM CATARINENSE COM OS
ESPAÇOS DE CONTROLE SOCIAL NA ÁREA DA
SAÚDE.................................................................................................211
3.8 A ARTICULAÇÃO DO FÓRUM CATARINENSE COM A FNCPS
PARA AS LUTAS COMUNS E PERTINENTES...............................231
4 O FÓRUM CATARINENSE EM DEFESA DO SUS E CONTRA
AS PRIVATIZAÇÕES NO CONTEXTO DAS LUTAS
ANTICAPITALISTAS E O TRABALHO DE BASE.....................243
4.1 ESTRATÉGIAS DE ATUAÇÃO DO FÓRUM CATARINENSE:
INTERFACE DE CONCEPÇÕES TEÓRICAS E POLÍTICAS COM O
MOVIMENTO PELA REFORMA SANITÁRIA...............................243
4.2 A ATUAÇÃO DO FÓRUM CATARINENSE FRENTE ÀS
CONTRARREFORMAS EM CURSO: DESAFIOS E LIMITES.......257
4.2.1 Participação a partir da representação de instituições e
movimentos..........................................................................................258
4.2.2 Ampliação do quantitativo de participantes orgânicos ao
movimento...........................................................................................262
4.2.3 Descentralização das ações e agregação de outros sujeitos
políticos................................................................................................272
4.2.4 Fundamentação teórico-metodológica das ações....................277
4.2.5 Ampliação das lutas para além da pauta da saúde.................278
4.2.6 Construção de unidade no campo da esquerda......................285
4.2.7 Conjuntura regressiva para os direitos sociais e condições
objetivas do movimento......................................................................286
4.2.8 Atuação da mídia dominante a favor da privatização da
política de saúde..................................................................................290
4.3 TRABALHO DE BASE, MOBILIZAÇÃO E ORGANIZAÇÃO
FRENTE ÀS CONTRARREFORMAS EM CURSO..........................309
4.4 AVANÇOS E POSSIBILIDADES DE ATUAÇÃO DO FÓRUM
CATARINENSE NA PERSPECTIVA DA REFORMA
SANITÁRIA.........................................................................................323
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................343
REFERÊNCIAS..................................................................................351
APÊNDICE A – Formulário de entrevista aplicado junto a
integrantes do Fórum Catarinense em Defesa do SUS e Contra as
Privatizações........................................................................................373
25
INTRODUÇÃO
1
Com vistas a tornar mais confortável a leitura deste trabalho, dado o quantitativo de vezes que
teremos a demanda de mencionar o Fórum Catarinense em Defesa do SUS e Contra as
Privatizações, o designaremos tão somente por “Fórum Catarinense”, sempre que possível.
2
Atualmente, a FNCPS reúne um conjunto significativo de entidades e movimentos, bem como
abarca uma ampla agenda de lutas na área da saúde, conforme será melhor explicitado no item
3.1 deste estudo.
26
3 Para Gramsci (2017, p. 338), “é questão vital não o consenso passivo e indireto, mas o
consenso ativo e direto, ou seja, a participação dos indivíduos, ainda que isto provoque uma
aparência de desagregação e tumulto”.
4
Segundo Gramsci (2011, p. 270): “[...] Todo Estado é ético na medida em que uma de suas
funções mais importantes é elevar a grande massa da população a um determinado nível
cultural e moral, nível (ou tipo) que corresponde às necessidades de desenvolvimento das
29
forças produtivas e, portanto, aos interesses das classes dominantes. A escola como função
educativa positiva e os tribunais como função educativa repressiva e negativa são as atividades
estatais mais importantes neste sentido: mas, na realidade, para este fim tende a uma
multiplicidade de outras iniciativas e atividades chamadas privadas, que formam o aparelho da
hegemonia política e cultural das classes dominantes”.
5
Cf. Simionatto (2010a), Durighetto (2007), Nogueira (2003), Coutinho (2012), dentre outros
autores.
30
6
Vale registrar, com base em Coutinho (2011, p. 51), que o Estado que Marx descreve e critica
é o Estado que o primeiro liberalismo propõe e defende: “um Estado restrito, que representa
não o interesse de todos, mas sim o dos proprietários, e que tem um meio básico para exercer
sua ação de arbitragem entre os interesses individuais eventualmente conflitantes: a coerção”.
Muitos Estados autoritários da época assumiam essa perspectiva, sendo pertinente até mesmo
aos Estados constitucionais liberais ou semi-liberais da primeira metade do século XIX. Desta
forma, “não é de surpreender que Marx descreva o Estado de seu tempo, e o combata, como
um ‘comitê executivo’ para gerir os negócios da burguesia. Nesse momento, Marx tinha
certamente uma visão restrita do Estado; mas essa visão correspondia não só à formulada pela
própria teoria liberal, como também à realidade do Estado realmente existente na época em
questão. Marx não podia ter uma visão ampliada do Estado, pela simples razão de que o
Estado, objetivamente, ainda não se ampliara, não adquirira as novas determinações que
adquiriria mais tarde; ele se apresentava efetivamente como um ‘comitê executivo’ dos
proprietários, baseado como era em critérios de seletividade restritos e na defesa irrestrita do
mercado capitalista. Contudo, ao definir esse Estado, Marx introduz certamente um elemento
profundamente novo na problemática da representação de interesses, inexistente no
pensamento liberal [...]. Ele vê que o verdadeiro sujeito da história não é o indivíduo, mas são
as classes, e que os indivíduos têm interesses comuns enquanto são membros de uma mesma
classe [...]. Portanto, ao definir o Estado em sua relação com os interesses, Marx vai defini-lo
como a instituição que representa o interesse comum de uma classe, o interesse da classe
burguesa, dos proprietários dos meios de produção. E mais: diz que o Estado não só representa
o interesse da burguesia, mas é também o instrumento da materialização e da organização
desse interesse comum da classe dominante” (COUTINHO, 2011, p. 51-52).
31
7
De acordo com Bravo (2002, p. 59), a contrarreforma do Estado atingiu a saúde por meio das
proposições de não financiamento e da dicotomia entre ações curativas e preventivas,
rompendo com a concepção de integralidade. Foram constituídos dois sub-sistemas: a) Sub-
sistema de entrada e controle: construído pelo atendimento de atenção básica, de
responsabilidade do Estado, uma vez que tal tipo de atendimento não figurava entre os
interesses do setor privado; b) Sub-sistema de referência ambulatorial e especializada:
constituído por unidades de maior complexidade que seriam transformadas em Organizações
Sociais (OSs). Nesta perspectiva, deu-se ênfase a programas focalizados, como o Programa de
Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o Programa Saúde da Família (PSF); bem como, à
utilização de cuidadores e agentes comunitários com a finalidade de barateamento dos custos
das ações básicas.
33
8 O Projeto de Pesquisa referente a este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
com Seres Humanos (CEPSH) da UFSC, conforme Parecer Cosubstanciado nº 2.345.875.
35
11
A devolutiva da pesquisa será realizada por meio da socialização dos resultados junto ao
movimento pesquisado, bem como, pelo fortalecimento de tal discussão no meio acadêmico e
na sociedade em geral, mediante viabilização de debates e a consolidação de publicações de
produção bibliográfica resultante da pesquisa em anais de eventos e/ou periódicos e/ou livros,
dentre outros.
38
12
Desde final dos anos 1990, Boschetti (2016, p. 23) utiliza o termo “Estado Social” para
referir-se à regulação estatal das relações econômicas e sociais no capitalismo, que tem nas
políticas sociais uma determinação central.
40
13 Conforme vasta literatura, o Projeto de Reforma do Estado brasileiro de Luiz Carlos Bresser
Pereira, Ministro no Governo de Fernando Henrique Cardoso, apontou, especialmente, na
direção do repasse de serviços considerados não exclusivos para uma sociedade civil acrítica e
amorfa.
42
14
Em uma acepção restrita, o conceito de “política” aparece em Gramsci em seu sentido
habitual, isto é, como o “conjunto de práticas e de objetivações que se referem diretamente ao
Estado, às relações entre governantes e governados” (COUTINHO, 2012, p. 93).
43
16
Mauro Serapione, pesquisador do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de
Coimbra, em razão do Seminário Desigualdades Sociais e Saúde no Brasil: o impacto das
reformas do Governo Lula (CES, 2011), proferiu: “O Brasil, embora tenha desenhado um
sistema de saúde universal a partir das referências da Constituição de 1988 e apesar dos
progressos alcançados nos últimos 15 anos, ainda não conseguiu enfrentar com determinação o
problema das desigualdades sociais e regionais de saúde. Tais desigualdades se expressam
60
tanto em termos de recursos distribuídos e de acesso aos serviços como em relação ao estado
de saúde entre os diferentes grupos sociais da população”.
61
17
Bresser Pereira (1997, p. 07-08) apontou quatro problemas centrais para justificar a
"reforma": necessidade de delimitação do tamanho do Estado com ênfase na privatização,
“publicização” e terceirização (âmbito econômico-político); necessidade de redefinição do
papel regulador do Estado mediante redução do seu grau de intervenção no funcionamento do
mercado (âmbito econômico-político); demanda pela recuperação da governança ou capacidade
financeira e administrativa de implementar as decisões políticas tomadas pelo governo,
redefinição das formas de intervenção no plano econômico-social e superação da forma
burocrática da administração pública (âmbito econômico-administrativo); necessidade de
aumentar a governabilidade ou capacidade política do governo de intermediar interesses,
garantir legitimidade e governar (âmbito político).
67
18
“[...] Convém demarcar a diferença entre as duas figuras jurídicas, inéditas no marco legal
brasileiro, que são as Organizações Sociais, OS, e as Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, OSCIP, criadas pelas leis nº 9.637/98 e nº 9.790/99. As OSCIPs são
instituições ou entidades pré-existentes que podem receber recursos públicos através de um
Termo de Parceria, que estabelece como, e em que condições, os recursos podem ser
destinados às mesmas, para assumir algumas funções especificas do Estado. Há uma
transferência financeira, mas não a de gestão do patrimônio público. Contrariamente, nas OS, o
instrumento regulatório é o contrato de gestão do patrimônio público, que é repassado à
instituição para desenvolver as atividades do setor estatal. A lei que instituiu as OSCIPs é
conhecida como a Lei do Terceiro Setor. As duas cumprem o mesmo papel, de fornecer
sustentação jurídico-institucional para a transferência dos Serviços Não Exclusivos do Estado
para a sociedade civil, na esteira da reforma do setor público. As OS assemelham-se, em sua
estrutura jurídica, às Fundações Públicas de Direito Privado” (NOGUEIRA, 2002, p. 231-232).
19
No que toca à legislação que embasa a atuação de um “terceiro setor” no Brasil e que
regulamenta as atividades das organizações, destacam-se as seguintes: Lei 91, de 28/08/1935 –
declara como de utilidade pública as sociedades civis, associações e fundações, constituídas no
país, com o fim exclusivo de servir desinteressadamente à coletividade; Lei 9.637, de
15/05/1998 – dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais, a criação do
Programa Nacional de Publicização, a extinção dos órgãos e entidades que menciona e a
absorção de suas atividades por organizações sociais. Nisto, qualifica como organizações
sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e
preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, culminando na transferência de atividades
estatais para o setor privado; Lei 9.790, de 23/03/1999 – dispõe sobre a qualificação de pessoas
jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de
Interesse Público, e institui e disciplina o Termo de Parceria.
68
21
São enfáticos, neste sentido, os documentos publicados, pelo BM, nos anos de 1993 e 1997;
os quais incitam para a redução do Estado e a ampliação da atuação do mercado na
implementação de serviços na área da saúde.
22
A exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS) que, juntamente com a Comissão
Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), a partir de 1994, formula documento
também dando indicativos no mesmo sentido expresso no texto.
23
O Estado liberal representa objetivamente os interesses de uma classe: a dos proprietários
dos meios de produção (COUTINHO, 2011, p. 50). Neste contexto, o pensamento hegemônico
tem relação direta com a manutenção da legitimidade dos interesses desse grupo.
80
24
“[...] Quanto às organizações partidárias, as dissidências do PT e outras organizações de
esquerda inseridas na classe trabalhadora com um programa socialista, são hoje ainda muito
pequenas em suas dimensões, limitadas em sua capacidade de impulsionar lutas da classe e
enredadas nas contradições herdadas da própria cultura petista. Podem desempenhar,
entretanto, um papel essencial, e mais necessário do que nunca. Trata-se de demonstrar que
existe sim uma esquerda socialista que continua a apontar o caminho revolucionário,
apresentando-se como alternativa para os setores da classe trabalhadora decepcionados diante
dos rumos atuais do PT. O problema é que as organizações partidárias hoje existentes não se
mostraram ainda à altura do desafio” (MATTOS, 2013, p. 165)
84
25
Tal Emenda, enquanto Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, foi aprovada pelo
Senado Federal em 13/12/2016, e sob a nomenclatura de PEC 241, foi anteriormente aprovada
no âmbito de duas votações realizadas na Câmara dos Deputados.
85
26
Seminário acerca do Impacto das OSs nos Serviços Públicos, realizado em Florianópolis/SC,
em 2011, pelo Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde Privado
da Grande Florianópolis e Público Estadual de Santa Catarina (SINDSAÚDE/SC) e pelo
Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Serviço Público Federal no Estado de
Santa Catarina (SINDPREVS∕SC).
87
27
O Relatório analítico das irregularidades e dos prejuízos à sociedade, aos trabalhadores e ao
erário causados pela EBSERH, emitido pela FNCPS (2014), referencia como fonte da
informação descrita o Processo nº 23477005362201408, tendo como objeto: “Contratação de
instituição para execução do Programa de Capacitação Internacional de Gestores dos Hospitais
92
28
De acordo com Fontes (2010, p. 257), o cenário em tela também infletiu em direção a uma
cidadania da urgência e da miséria, convertendo as organizações populares em instâncias de
“inclusão cidadã” sob intensa atuação governamental e crescente direção empresarial.
Consolidou-se uma subalternização direta da força de trabalho, mediada, porém, por entidades
associativas empresariais, que procurava conservar nominalmente os elementos anteriores,
doravante subordinados à dinâmica da reprodução da vida social sob o capital-imperialismo.
29
A Frente, por intermédio de seus representantes, realizou audiências com alguns ministros do
Supremo Tribunal Federal (STF); visitou os gabinetes de todos os ministros e entregou a
seguinte documentação: abaixo-assinado pela procedência da ADIn 1.923/1998, Carta aos
Ministros do STF com assinatura de entidades e o documento “Contra fatos não há argumentos
que sustentem as organizações sociais no Brasil”. Em 31/03/2011, representantes da Frente
acompanharam de perto a votação da ADIn 1.923/1998, no plenário do STF. Realizou-se uma
sustentação oral em defesa da referida ADIn, fruto da amicus curiae do SINDSAÚDE/PR. Este
foi um momento importante para a luta em defesa do caráter público da saúde, ficando evidente
a posição contrária às OSs, diferente da atitude da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC), que fez sustentação oral a favor das mesmas. O ministro relator da ADIn,
Ayres Britto, deu o voto pela sua procedência parcial, quando afirmou, ao tratar do Programa
Nacional de Publicização, nos termos da Lei 9.637/1998, que é: “Fácil notar, então, que se trata
mesmo é de um programa de privatização. Privatização, cuja inconstitucionalidade, para mim,
é manifesta [...] os serviços públicos não poderão ser extintos e a função de executá-los é do
Estado”. Tais dados foram adensados a partir de Bravo e Correia (2012, p. 142). A votação
desta ADIn foi concluída no STF, com resultado desfavorável à posição assumida pela Frente.
104
30
Composta por diversas entidades, movimentos sociais, fóruns de saúde, centrais sindicais,
sindicatos, partidos políticos e projetos universitários, sendo em 2014: Associação Brasileira de
Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS); Associação Nacional do Ministério Público
de Defesa da Saúde (AMPASA); Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior (ANDES-SN); Sindicato dos Trabalhadores da FIOCRUZ (ASFOC-SN); Central de
Movimentos Populares (CMP); Conselho Federal de Serviço Social (CFESS); Central Sindical
e Popular (CSP-CONLUTAS); Executivas Nacionais dos Estudantes de Medicina,
Enfermagem, Farmácia e Serviço Social; Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das
Universidades Públicas Brasileiras (FASUBRA); Federação Nacional dos Sindicatos de
Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (FENASPS); Fórum das
Entidades Nacionais de Trabalhadores da Área da Saúde (FENTAS); Fórum Nacional de
Residentes; Frente Nacional de Drogas e Direitos Humanos; Frente Independente Popular
(FIP); Instrumento de Luta e Organização da Classe Trabalhadora (Intersindical); Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST); Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
(MTST); Seminário Livre pela Saúde; os Fóruns Estaduais e Distrital de Saúde (Rio de Janeiro,
Alagoas, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Pernambuco, Minas
Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraíba, Goiás, Maranhão, Santa Catarina, Pará, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Espírito Santo e Sergipe) e os Fóruns Regionais e
Municipais (Londrina-PR, Duque de Caxias-RJ, Campos-RJ, Rio das Ostras-RJ, Niterói-RJ,
Região Serrana-RJ, Santos-SP, Campinas-SP, Marília-SP, Sorocaba-SP, Barretos-SP,
Mossoró-SP, Campina Grande-SP, Recife-PE, Palmeira dos Indios-AL e Joinville-SC); os
setoriais e/ou núcleos dos seguintes partidos políticos: Partido Socialismo e Liberdade (PSOL),
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU);
alguns militantes da Consulta Popular; alguns militantes do Partido dos Trabalhadores (PT), do
Partido Democrático Trabalhista (PDT) e do Partido Comunista do Brasil (PC do B); e projetos
universitários (BRAVO e CORREIA, 2012, p. 139; BRAVO e MENEZES, 2014, p. 78).
105
32
Em alguns documentos, consta Fórum Catarinense em Defesa do SUS e Contra a
Privatização da Saúde.
113
33
Vale ressaltar que uma das entrevistadas está realizando uma segunda graduação e, por isso,
foi classificada em duas categorias diversas.
114
34
A entrevistada que está realizando uma segunda graduação foi classificada em duas
categorias distintas.
115
36
Para maiores informações sobre o Fórum Popular de Saúde mencionado, sugerimos consulta
à dissertação de mestrado “Um Drama Estratégico: O Movimento Sanitário e sua Expressão
num Município de Santa Catarina”, de Marco Aurélio da Ros, orientada por Sérgio Arouca e
defendida em 1991, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
128
Vale indicar que, conforme Batista Junior (2014, p. 22), uma das
áreas onde a população tem sofrido à exaustão é a assistência
farmacêutica. Em 2005, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aprovou
uma proposta polêmica e que foi discutida à exaustão, o Programa
Farmácia Popular. A proposta aprovada no CNS estava inserida numa
perspectiva de, por meio do poder público, começar a estruturar uma
rede pública de farmácias que atuariam como efetivos serviços de saúde,
atendendo a população de forma diferenciada e qualificada, criando uma
142
37
“Para termos uma ideia, o Programa, que começou com um financiamento de aproximados
300 milhões de reais, alcançou 914 milhões em 2011, R$ 1,400 bilhão em 2012 e ultrapassou
os dois bilhões de reais em 2013, um crescimento de 120% no período de dois anos apenas e de
mais de 700% desde a sua criação e implantação. Enquanto isso, o Farmácia Básica teve um
bilhão de reais em 2011, R$ 1,150 bilhão em 2012 e apenas R$1,230 bilhão em 2013, um
crescimento de meros 16% no período. É a prova indiscutível da opção pela privatização em
todas as áreas da saúde. Enquanto isso, nos pregões que realizam para a aquisição de
medicamentos, os municípios conseguem adquirir os mesmos medicamentos por preços
infinitamente menores. De outro lado e em função da opção pelo desfinanciamento do
Programa Farmácia Básica, todos os municípios do Brasil sem exceção, enfrentam dificuldades
para atender a suas populações nessa área tão vital e decisiva ao SUS e à saúde das pessoas.
Além disso, muitos gestores começam a se desresponsabilizar pela aquisição dos
medicamentos que são da sua alçada, orientando os pacientes a buscarem nas “Farmácias
Populares” o que seria do seu direito na rede pública” (BATISTA JUNIOR, 2014, p. 22).
143
39
Granemann (2015), em debate com professores/as, técnicos/as e estudantes da Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), realizado no Anfiteatro da 9ª Enfermaria do
Hospital Gaffré e Guinle (HUGG), um dia após o reitor da universidade, Luiz Jutuca, assinar o
contrato com a EBSERH, sem a anuência do Conselho Universitário (CONSUNI), instância
máxima da universidade, lastima que a “população somente saberá disso quando estiver
instalado o caos que já está em vários outros hospitais universitários de universidades federais,
de excelentes universidades federais”. Ou seja, a população fica a mercê do processo durante
sua ocorrência, na medida em que não tem conhecimento de que se trata, efetivamente, de um
processo de privatização.
147
41
As professoras universitárias e assistentes sociais Maria Inês Bravo (UERJ) e Tânia Regina
Krüger (UFSC) foram destacadas pela sua trajetória orgânica junto às lutas da área da saúde,
denotando importante vinculação de classe. As mesmas têm contribuído para a canalização e
integração da espontaneidade do movimento numa direção consciente.
211
toda a forma, isso não deixou de ser apontado como um grande desafio
ao Fórum, de forma geral (o que será retomado em item específico).
No período em que ocorreu a luta contra a adesão do HU à
EBSERH, com a criação do Comitê Estudantil em Defesa do HU, o qual
integrava o Fórum Catarinense, por vezes, ocorreram algumas
dificuldades de compreensão das atribuições dos dois movimentos, mas,
sem implicância diante da articulação que se estabeleceu:
42
Vide em: https://www.facebook.com/forumdosservidoressc/.
289
relações sociais, etc –, vive-se uma vaga histórica pouco propícia para se
reconstruir uma projeção societária assentada em valores radicalmente
antagônicos aos burgueses. O ser concreto do trabalho encontra-se
intensamente fragmentado, favorecendo todo tipo de saídas individuais e
corporativistas. As próprias formas de reprodução social do trabalho se
acham profundamente degradadas pelas modalidades contemporâneas
da produção capitalista que engendram numa ponta o desemprego
massivo e, noutra, o aviltamento salarial e as formas de trabalho
desprovidas de qualquer proteção social (DIAS, 2006, p. 137).
Muitas das principais dificuldades que tem perpassado a atuação
do Fórum Catarinense são ressaltadas no depoimento abaixo, as quais,
em suma, reforçam a demanda de ampliação do diálogo com a
população:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
http://blogjunho.com.br/o-papel-da-fundacao-roberto-marinho-na-busca-
do-consenso-capitalista/. Acesso em: 03 jul. 2018.
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA
FORMULÁRIO DE ENTREVISTA
PÚBLICO: Integrantes do Fórum Catarinense em Defesa do
SUS e Contra as Privatizações