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Aula 12 - Cheiro Bom, Cheiro Ruim

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AULA
Cheiro bom, cheiro ruim
Meta da aula
Apresentar noções sobre a diversidade de aromas
produzidos pelos vegetais, sua função como
atrativos para a polinização, sua importância
na fabricação de perfumes e os problemas
relacionados à extração não planejada de
espécies nativas produtoras de aroma.
objetivos

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:


• apontar a importância da produção de aromas
pelas flores;
• descrever a utilização potencial de insumos da
nossa flora nativa na fabricação de perfumes.
• relacionar meios para a produção de perfumes a
partir da flora nativa, de forma a preservar
os ecossistemas e as culturas regionais.
O Incrível Poder dos Seres Clorofilados | Cheiro bom, cheiro ruim

INTRODUÇÃO Como você já sabe, as flores das angiospermas exibem uma grande variedade
de formas, tamanho, coloração e exalam uma infinidade de aromas. Toda essa
complexidade é, como se acredita, adaptada para a função reprodutiva que as
flores exercem. Assim, cada parte da flor possui um ou vários papéis durante
os eventos relacionados à produção e dispersão de gametas e sementes.
Dentre esses eventos, está a atração de polinizadores e dispersores, onde
o aroma tem função de destaque, ao lado da forma, tamanho e coloração.
Além das flores, os demais órgãos vegetais podem produzir substâncias
odoríferas, como você viu na Aula 5.
Nesta aula, abordaremos a importância do aroma na polinização, na fabricação
de perfumes e, ainda, os problemas associados à extração indiscriminada de
espécies produtoras de “cheiro bom”.
Você certamente não usará perfume sem pensar nessas questões!

O AROMA DAS FLORES

O aroma das flores consiste, geralmente, em uma mistura de vários


componentes como terpenóides, compostos aromáticos e alifáticos.
Dentre os componentes da mistura, existem alguns extremamente
voláteis, ao lado de outros menos voláteis. O aroma pode, ainda, variar
nos diferentes órgãos florais, bem como durante as diferentes fases da
OSMÓFOROS
floração. A grande maioria das flores libera o aroma de forma difusa
São órgãos florais
com tecidos secretores por toda a sua superfície, embora, em algumas, ocorram OSMÓFOROS
bem definidos.
especializados para a sua produção e liberação.
O aroma específico de uma flor auxilia o seu polinizador a
localizá-la e reconhecê-la. Aromas específicos podem, dessa forma,
estimular a fidelidade dos insetos a determinadas espécies, aumentando,
dessa forma, a eficiência da transferência intra-específica de pólen.
±Você já reparou que as flores que se abrem durante a noite
(vitória-régia, por exemplo) podem apresentar odor bastante intenso,
além de agradável para nós? Por que isso ocorre?
² Porque o aroma adquire importância especial na atração de
polinizadores noturnos, que recebem menor estímulo visual.

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!
Embora o olfato humano possa detectar muitos odores, é menos sensível do que os

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órgãos receptivos da maioria dos visitantes das flores. Devido à alta sensibilidade desses
visitantes, mesmo as flores que aparentemente não têm cheiro produzem quantidades
suficientes de aroma. Assim, para estudar a composição qualitativa e quantitativa dos
aromas, são utilizados aparelhos sofisticados como o cromatógrafo a gás e o cromatógrafo
a gás acoplado ao espectrômetro de massas. Várias técnicas são utilizadas para coletar
amostras de fragrâncias.

O cromatógrafo a gás é o aparelho utilizado para separar misturas de substâncias


gasosas e analisar seus componentes. O aparelho possui um fluxo de gás, chamado gás
de arraste ou de fase móvel. Possui também uma fase estacionária, que é uma coluna
cromatogáfica para a separação da mistura. A mistura de substâncias introduzidas
no injetor do cromatógrafo é separada na coluna e levada pelo gás de arraste até
um detector. O tempo em que cada substância fica retida (tempo de retenção) é
menor quanto mais volátil for a substância.
O detector gera um sinal proporcional à quantidade da substância na mistura. Assim
é produzido um cromatograma. Veja na Figura 12.1 a representação esquemática de
um cromatógrafo a gás, e na Figura 12.2, a reprodução de um cromatograma.

Injetor
Registro
R tó i de sinal

Coluna Amplificador
cromatográfica de sinal

Figura 12.1: Representação esquemática de um cromatógrafo a gás.

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Figura 12.2: Cromatograma do óleo essencial de Lippia alba. Cada sinal, na forma de um pico, corresponde a
uma das substâncias da mistura, as quais foram separadas no cromatógrafo a gás. À direita, estão representadas
as substâncias mais voláteis, que chegaram mais rápido ao detector. Os números, que estão pouco visíveis,
mostram o tempo de retenção das substâncias.

O tempo de retenção é utilizado para discriminar as substâncias


quando comparado a um padrão de substâncias. Para uma análise
mais primorosa, é utilizado o espectrômetro de massas acoplado a um
cromatógrafo a gás. O espectrômetro de massas fornece dados sobre a
composição atômica e molecular de cada substância.
A espectrometria de massas utiliza o movimento de íons em
campos elétricos e magnéticos para classificá-los de acordo com sua
relação massa-carga. A técnica se baseia no princípio de que os íons são
desviados por esses campos.

CHEIRO RUIM

Nem todas as flores que exalam aromas intensos têm cheiros


agradáveis para nós, humanos. Algumas possuem odores bem
desagradáveis. Você imagina o motivo?
Várias espécies de angiospermas são polinizadas exclusivamente
ou principalmente por moscas. Tais plantas podem ser miiófilas ou
sapromiiófilas.
As plantas miiófilas geralmente possuem flores pequenas, de
coloração clara e opaca e de odor agradável. O néctar e os órgãos
reprodutivos são expostos, sendo, dessa maneira, acessíveis para
visitantes de língua curta. A mosca, por exemplo, aprende a associar

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o odor com a presença de néctar, que é utilizado para a sua alimentação.
Algumas também se alimentam de pólen.

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As plantas sapromiiófilas, porém, costumam apresentar flores
com simetria radial, as quais possuem, com freqüência, cavidades que
funcionam como armadilhas. A coloração das flores é escura, marrom
ou esverdeada, e o odor é bastante desagradável para os humanos, mas é
irresistível para espécies de moscas que se alimentam e reproduzem sobre
matéria orgânica em decomposição. As moscas são atraídas e caem nas
armadilhas onde se debatem para se libertar, fazendo, assim, com que
grandes quantidades de pólen fiquem presas em seus corpos. Quando,
finalmente, conseguem deixar a armadilha, são novamente atraídas por
outra flor da mesma espécie, fazendo, assim, a polinização. Nas flores
sapromiiófilas, raramente há néctar, pois o atrativo é a ilusão de presença
de matéria decomposta.
Você deve conhecer alguma planta sapromiiófila, como por
exemplo, espécies de papo-de-peru (Aristolochia spp.), apresentada
na Figura 12.3. Elas possuem flores-armadilha, de odor desagradável e
coloração semelhante aos de matéria decomposta.

Figura 12.3: Flor de Aristolochia sp (papo-de-peru), que exala odor desagradável


e possui armadilha.

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OUTROS TIPOS DE FLORES COM ODORES DESAGRADÁVEIS


PARA NÓS

Existem outros exemplos de flores que exalam aroma desagradável,


mas que não apresentam armadilhas, como diversas espécies de Araceas
(Figura 12.4). Os polinizadores das Araceas são abelhas, besouros e
moscas, dentre outros. O odor exalado pelas inflorescências é o principal
fator na atração dos polinizadores. O odor costuma ser comparado, pelos
humanos, a fezes, estrume, peixe podre, gás sulfuroso, bicho morto,
queijo, fruto deteriorado etc.

Figura 12:4: Flor de Anturium sp, a qual exala odor bastante desagradável.

ATIVIDADE

1. Como você já viu, algumas flores “enganam” os polinizadores em vez de


oferecer recompensas como o néctar. Faça uma pesquisa e explique como
isso pode estar relacionado com a reprodução do polinizador.
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RESPOSTA COMENTADA
Alguns compostos, produzidos e liberados por flores de determinadas
espécies de orquídeas ((Ophrys spp
p), imitam feromônios sexuais
e atraem machos de abelhas (Andrena spp)
p que promovem

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a polinização ao tentarem copular com a flor, como se fosse uma

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fêmea. Além de liberarem aromas atrativos, as flores podem,
também, assemelhar-se, na aparência, por sua forma e cor, aos
insetos polinizadores.
Caso você não lembre, feromônios são sinalizadores químicos, na
forma de substâncias voláteis. São ativos em quantidades mínimas
e, quando liberados por um inseto, são percebidos pelos demais.
Constituem mensageiros químicos importantes para alimentação,
acasalamento, defesa, estabelecimento, reconhecimento
de caminhos, oviposição etc. Podem ter natureza terpênica,
assemelhando-se, assim, às essências produzidas pelas plantas.

CHEIRO BOM

Quando lemos esse subtítulo, fica difícil deixar de pensar em


perfume. A palavra em português, (perfume) em francês (parfum)
em italiano (profumo) e em inglês (perfum) deriva de per fumus, que
em latim significa “pela fumaça”. Acredita-se que tão logo aprendemos
a manipular o fogo, descobrimos que poderíamos queimar algo para
liberar fumaça perfumada.
Na Antigüidade, os rituais religiosos envolviam a utilização de
incensos, velas aromáticas e bálsamos, a maior parte produzida a partir
de essências de plantas. As velas aromáticas e incensos eram comumente
oferecidos aos deuses e aos mortos, sendo, inclusive, citadas em orações.
Uma das etapas dos rituais de mumificação, comuns no Egito, a partir
do terceiro milênio antes de Cristo, consistia em substituir o cérebro
e demais órgãos internos do morto por estopa embebida em resina
perfumada. Já durante o transporte do sarcófago até a tumba, eram
acesos incensos que representavam o sopro da vida imortal.
Mais tarde, por volta do segundo milênio antes de Cristo,
os perfumes deixaram de ser privilégio dos deuses e mortos, e passaram
a ser utilizados e apreciados por todos no Egito.
Na Idade Média, inicialmente, por serem muito caros e difíceis
de se conseguir, os perfumes eram privilégios dos nobres. Por volta
do século XVIII, na França, o perfume passou a ser consumido em larga
escala, sendo extremamente apreciado.

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Com o desenvolvimento da química orgânica, foi possível


desvendar a composição dos óleos e extratos, possibilitando, dessa forma,
a produção de fragrâncias sintéticas, as quais foram exaustivamente
utilizadas.
BIOPROSPECÇÃO Atualmente, existe uma grande demanda por fragrâncias novas
Atividade exploratória e naturais, o que estimula o trabalho de BIOPROSPECÇÃO. As empresas de
que tem por objetivo
a identificação de perfumaria estão constantemente buscando novos insumos a partir de
componentes do produtos de plantas provenientes de diferentes ecossistemas. Nesse sentido,
patrimônio genético
da biodiversidade, a biodiversidade brasileira vem atraindo a atenção de pesquisadores e
além da obtenção de
informações sobre empresas de todo o mundo. As empresas internacionais predominam no
o conhecimento
setor de perfumaria, porém empresas nacionais como a Natura, empresa
tradicional associado
a esse patrimônio. de cosméticos, demonstram nosso sucesso e competitividade no setor.

!
No período entre 1990 e 2003, a indústria brasileira apresentou uma taxa de
crescimento anual de 5,2% no segmento “higiene pessoal, perfumaria e cosméticos”,
com um crescimento acumulado, no mesmo período, de 103,4% nas exportações
(MARINHO, 2004).

!
Sempre é bom lembrar que os estudos acadêmicos e o desenvolvimento de produtos
costumam ter por base o conhecimento popular, como você viu na Aula 6. Devemos
sempre ter em mente também que a utilização de produtos a partir da nossa flora deve
levar em consideração o desenvolvimento sustentável, ou seja, a extração das espécies
deve ser feita baseada em planejamento para que não seja danosa e predatória e para
que traga qualidade de vida para as populações que dela vivem.

CONFECCIONANDO UMA COLÔNIA

O perfume continua a despertar os mais variados sentimentos e


sensações, lembrando que o olfato não é apenas um dos cinco sentidos,
mas algo capaz de, em frações de segundo, nos conduzir no tempo e
espaço. Você quer aprender a fazer uma colônia floral?

Material para confeccionar 240mL de colônia (você pode comprar


esse material em lojas de produtos de perfumaria):
– 10mL de essência de alfazema;
– 200mL de álcool de cereal;
– 10mL de água filtrada (não use água com cloro);
– vidro com tampa (limpo e seco);
– funil de bico fino.

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Obs. Prefira o álcool que já tenha fixador diluído, pois se mistura
de forma mais homogênea (só pedir assim na loja de produtos para

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perfumaria). Em geral é vendido em litro.

A combinação de fragrância de um perfume, segundo os perfumistas, forma as


diferentes notas do perfume. Um bom perfume possui três notas: os componentes
mais voláteis do perfume formam a nota superior, são aqueles que detectamos
nos primeiros 15 minutos de evaporação. A nota do meio leva mais tempo para
ser percebida. A nota de fundo, também chamada base do perfume ou fixador, é
a parte menos volátil e leva de quatro a cinco horas para ser percebida. O fixador
é o componente mais caro do perfume.

Como fazer:
1. Coloque 10mL de essência no vidro.
2. Em seguida, 200mL de álcool.
3. Envolva o vidro num saco plástico e deixe-o na geladeira por
24 horas.
4. Retire o vidro da geladeira e coloque 10mL de água, retorne-o
para a geladeira até completar uma semana.
5. Está pronto, agora é só engarrafar.

Você poderá engarrafar a sua colônia em diferentes tamanhos


de vidro, como, por exemplo, o de 60mL, que neste caso lhe dará 4
frascos.

NOSSA FLORA PERFUMADA

A seguir, apresentamos alguns exemplos de espécies da flora nativa


utilizadas por empresas nacionais em perfumaria:

Priprioca
A empresa CHAMMA desenvolveu uma água de colônia,
o “Banho de Chamma”, que tem em sua composição uma mistura de
cascas de árvores e raízes da Amazônia. Dentre as raízes utilizadas, está
a de priprioca (Cyperus articulatus L.). O óleo essencial dessa espécie
SESQUITERPENOS
é constituído principalmente por SESQUITERPENOS pertencentes às classes São terpenos com 15
do cipereno, cariofilano, eudesmano, patchoulano e rotundano. átomos de carbono.

A priprioca está entre as principais ervas aromáticas vendidas no estado

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do Pará, onde costuma ser cultivada em quintais para uso próprio, ou em


sistema de consórcio com outras culturas, para comercialização. A espécie
é comercializada principalmente no mercado Ver-o-Peso, em Belém, para
uso em banhos perfumados e fabricação de fragrâncias domésticas.
A priprioca é utilizada, também, no “Perfume do Brasil”,
desenvolvido pela Natura. Também fazem parte da composição desse
perfume o breu branco e o cumaru.

Breu branco
O breu branco é produzido por uma árvore, de mesmo nome,
da Floresta Amazônica (Protium pallidum). Seu tronco é fino, em
comparação com o das grandes árvores da floresta, porém pode crescer
tanto como elas. O breu é exsudado pelo tronco da árvore. Com o tempo,
solidifica-se, formando uma massa dura, esbranquiçada e cinzenta, ou
cinza-esverdeada, de aroma extremamente agradável. É quebradiço e
facilmente inflamável. Tem vários usos na cultura cabocla local – todos
de herança indígena. O principal é como defumador e incenso em rituais
religiosos. É usado também como combustível para o fogo – para ajudar
a acender o fogão a lenha, por exemplo – e como ingrediente, para a
calafetação de canoas.

Cumaru
A árvore do cumaru é tão cheirosa que seu nome científico é
Dypterix odorata. As sementes são muito utilizadas em perfumaria.
Os nossos índios costumavam confeccionar colares e pulseiras de
sementes de cumaru e o seu óleo era aplicado nos cabelos para dar
perfume e brilho.
A madeira do cumaru apresenta grande valor econômico, sendo
muito utilizada. Ainda bem que essa espécie adapta-se muito bem no
reflorestamento de áreas devastadas, porém, nesses casos, a árvore atinge
um porte menor. Outra coisa boa é que a planta desenvolve-se e já produz
sementes para a extração de óleo aos quatro anos de idade.

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ATIVIDADE

AULA
2. Agora, que tal fazer outras experiências perfumadas? Pesquise e descubra
outras essências nativas as quais estão sendo utilizadas na indústria de
perfumaria por empresas brasileiras.
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RESPOSTA COMENTADA
Você certamente encontrou outros exemplos, como a baunilha, da
qual já falamos na Aula 5. Por que você não entra em contato com os
seus colegas? Assim vocês podem utilizar os exemplos encontrados
por cada um, e experimentar misturas de essências para fazer
colônias com cheirinho bem brasileiro.

A PRODUÇÃO DE PERFUMES EM LARGA ESCALA E A


UTILIZAÇÃO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE

Loureiro (1992) nos chama atenção, em seu trabalho, para o fato


de que a história da região amazônica tem sido, da chegada dos primeiros
europeus até os nossos dias, uma trajetória de perd as e danos. A região
tem sido, segundo a autora, vítima de sua exuberância e sua riqueza.
Ao longo da história, a região foi explorada por causa dos índios,
para servirem de escravos, como produtora e exportadora de borracha,
ou como fonte de ouro, como em Serra Pelada, apenas para citar alguns
exemplos.
Com relação à perfumaria, a região possui muitas espécies vegetais
produtoras de substâncias responsáveis pelos aromas e perfumes da
floresta. Uma das espécies famosas por sua utilização em perfumaria,
o pau-rosa (Aniba roseodora), pagou um preço caro por produzir linalol,
um monoterpeno utilizado na fabricação do famoso perfume Chanel
nº 5, o qual era usado por Marilin Monroe. A planta hoje está na lista
de espécies ameaçadas de extinção.

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!
Na década de 1960, exportávamos mais de 500 toneladas por ano do óleo retirado do
pau-rosa. Atualmente, conseguimos exportar apenas 4 toneladas ao ano. Como o óleo
costuma ser extraído do tronco, é necessário matar a árvore. Pesquisadores calculam
que, para atender à demanda mundial, de 1930 até os dias de hoje, mais de 2 milhões
de árvores do pau-rosa foram retiradas da Floresta. Hoje, estão sendo desenvolvidas
técnicas para retirar o óleo de galhos e folhas, preservando, dessa maneira, a árvore.
Outras espécies vegetais também estão sendo estudadas como potenciais produtores de
linalol. Mas, enquanto isso, continua a exploração ilegal do pau-rosa.

O pau-rosa foi citado apenas como um exemplo de como a


biodiversidade da Amazônia e dos demais ecossistemas de nosso país
tem sido devastada. Essa devastação acarreta enormes desperdícios de
nossos recursos naturais, que podem atingir grande valor econômico.
É comum que políticas públicas estabeleçam oposição entre
desenvolvimento, conservação ambiental e respeito às culturas regionais.
Loureiro (1992) nos lembra de que os índios, negros (quilombolas) e
caboclos têm sido considerados nos planos e nos projetos econômicos
como portadores de uma cultura pobre, primitiva, tribal e, portanto,
inferior. Assim, eles nada teriam a aportar de positivo ao processo
de desenvolvimento.
Essas pessoas são convencidas de que a aculturação as levará a
um nível maior de progresso e desenvolvimento. Perdidas a identidade
e o modo de vida tradicional, acabam eles próprios a vender suas terras
e suas matas, reforçando o preconceito já estabelecido contra eles.
Freqüentemente, após a desestruturação de sua forma de vida e trabalho
anteriores, e, sem alternativas, engajam-se em atividades predatórias,
como a conhecida exploração madeireira e a garimpagem. Passam, eles
mesmos, a defender essas atividades que agora constituem seu meio de
subsistência. Dessa forma, o saber acumulado pelas populações regionais
no que tange ao uso dos recursos naturais, e que poderia constituir meio
de subsistência e fonte de conhecimento para todos nós, é perdido.
Embora esse paradigma venha mudando muito lentamente,
o extrativismo vegetal não predatório é considerado primitivo e
antieconômico. Dessa forma, a destruição de ecossistemas nativos para
a implementação de atividades econômicas consideradas mais
“modernas” é freqüente no nosso modo de vida.
Assim, perdemos e continuamos perdendo a maior parte de nosso
banco genético. Continuamos a perder espécies que possibilitariam o
desenvolvimento e a produção de produtos economicamente valiosos

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em vários setores da indústria, como o de perfumaria, sobre o qual
estamos conversando nesta aula.

AULA
Devemos também nos lembrar de que faltam investimentos
suficientes em pesquisa e produção de novos produtos a partir de espécies
nativas, e que nosso patrimônio genético tem sido contrabandeado para
o exterior.

CONCLUSÃO

Como você pôde ver nesta aula, existem diversas espécies nativas de
nosso país com potencial para serem utilizadas na indústria de perfumaria,
e o desenvolvimento sustentável como uma forma de desenvolvimento que
satisfaça as necessidades do presente sem comprometer as necessidades
das futuras gerações precisa integrar as políticas públicas como condição
essencial para o nosso progresso econômico.

ATIVIDADE FINAL

Imagine que você é responsável por uma indústria de perfumaria e pretende


investir na exploração econômica de uma grande área, a maior parte com mata
nativa e alguns povoados. Como você planejaria a exploração de forma que
trouxesse lucro para você, seus filhos e netos?

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COMENTÁRIO
Na sua resposta, você deve ter abordado as seguintes questões:
1. respeito às populações locais e sua cultura;
2. exploração baseada na sustentabilidade do ecossistema, de modo
a preservá-lo para as gerações futuras;

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3. busca de parcerias com setores responsáveis pela pesquisa, visando


ao aproveitamento de espécies florestais e/ou seus produtos, levando
em consideração o saber regional;
4. geração de emprego e renda na própria região.
Escreva sua resposta e troque idéias a respeito do tema com seus
colegas. Essa é uma discussão bem interessante e com certeza
enriquecerá suas aulas no futuro!

RESUMO

Existem diversas espécies vegetais que produzem substâncias odoríficas em seus


diferentes órgãos. A produção dessas substâncias nas flores está geralmente
associada à polinização. Dependendo da espécie que poliniza determinada flor,
os aromas podem ser considerados desagradáveis, por nós, humanos, ou tão
agradáveis a ponto de serem utilizados na fabricação de produtos para perfumar
pessoas e ambientes. Porém, o uso indiscriminado dessas fragrâncias tem colocado
em risco diversas espécies nativas, enquanto outras espécies com potencial
utilização em perfumaria sequer são cogitadas. O respeito ao saber acumulado por
populações regionais aliado a pesquisas visando ao desenvolvimento sustentável
de novos produtos de perfumaria nos traria grandes benefícios econômicos a
curto, e especialmente, a longo prazo.

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você verá que, além da utilização em perfumaria, as plantas e


ainda as algas são muito utilizadas na indústria de cosméticos. Quem não quer
ficar bonito?

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