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8 - Cadernos - Extenso - Volume 06 n.01 2021

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VOLUME 06, NÚMERO 1 (2021)


ISSN 2675-9314

SOCIEDADE,
AMBIENTE VIRTUAL,
SAÚDE E
BEM-ESTAR
PRÓ-REITORIA DE
ASSUN TO S ESTUDAN TIS
E EXTEN SÃO
1
A Revista “Cadernos de Extensão”, vinculada à Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e Extensão (PRAE)
da Universidade Federal de Roraima (UFRR) é um periódico de publicação anual, que visa contribuir
com a socialização da prática extensionista por meio da publicação de relatos de experiência nas
seguintes áreas temáticas: comunicação; cultura; direitos humanos e justiça; educação; meio ambiente;
saúde; tecnologia e produção; e trabalho.

Revista Cadernos de Extensão


Universidade Federal de Roraima
CONSELHO EDITORIAL
JOSÉ GERALDO TICIANELI
Reitor Membros do Conselho Editorial da Revista Cadernos de
Extensão - Edição 2021
SILVESTRE LOPES DA NÓBREGA
Vice-reitor
 ADRIANA REGINA DA ROCHA CHIRONE – UFRR
ADRIANE MELO DE CASTRO MENEZES – UFRR
GILSON DE SOUZA COSTA ANA PAULA DA ROSA DEON – UFRR
Pró-reitor de Assuntos Estudantis e Extensão ANDERSON DOS SANTOS PAIVA – UFRR
BIANCA MAÍRA PAIVA OTTONI BOLDRINI – UFRR
SELMAR DE SOUZA ALMEIDA LEVINO CAROLINE GOMES COELHO NASCIMENTO – UFRR
Diretora de Extensão EDGAR JESUS FIGUEIRA BORGES – UFRR
ELIABE DOS SANTOS PROCOPIO – UFRR
BRENDA RODRIGUES DA SILVA FERNANDA AX WILHELM – UFRR
Diretora de Assistência Estudantil FRANCISCA SILVA E SILVA – UFRR
GRACIETE GUERRA DA COSTA – UFRR
FABIO ALMEIDA DE CARVALHO HECTOR JOSE GARCIA MENDOZA – UFRR
Diretor da Editora da UFRR
IGOR CALAZANS DUARTE DE MENEZES – UFRR
IJANÍLIO GABRIEL DE ARAÚJO – UFRR
RONI PETTERSON DE MIRANDA PACHECO

Coordenador de Comunicação – CoordCom JÉSSICA MILANEZ TOSIN LIMA – UFRR
JIMMY IRAN DOS SANTOS MELO – UFRR
JOANI SILVANA CAPIBERIBE DE LYRA – UFRR
MARCELO NAPUTANO – UFRR
MARCUS VINICIUS DA SILVA – UFRR
MARIA ALEJANDRA ROSALES VERA BARBOSA – UFRR
MARIA DA CONCEIÇÃO LOPES – UFRR
PATRICIA SOCORRO DA COSTA CUNHA – UFRR
RAPHAELA FERNANDES DOS SANTOS BORGES DE
QUEIROZ – UFRR
RAQUEL ENDALÉCIO MARTINS – UFRR
RAQUEL VOGES CALDART – UFRR
ROBERTO CAMARA DE ARAUJO – UFRR
RONI PETTERSON DE MIRANDA PACHECO – UFRR
ROSINILDO GALDINO DA SILVA – UFRR
SANDRA DO NASCIMENTO MOURA – UFRR
SILVESTRE LOPES DA NOBREGA – UFRR
THAISY BENTES DE SOUZA – UFRR
PRÓ-REITORIA DE VANIA GRACIELE LEZAN KOWALCZUK – UFRR
ASSUN TO S ESTUDAN TIS
VERÔNICA FAGUNDES ARAÚJO – UFRR
E EXTEN SÃO
VERONICA PRUDENTE COSTA – UFRR
Editorial
A edição 2021 da Revista Cadernos de Ex-
tensão, no contexto da pandemia da CO-
VID-19, foi desafiadora para todos nós, pois as
ações extensionistas tiveram que se reinventar
na forma, conteúdo e estratégias de comunica-
ção, sem perder o foco no compromisso social de
promover a troca de saberes entre a comunidade
acadêmica e a sociedade em geral.
É unânime entre a Comunidade Universitária
a importância das ações de Extensão Universi-
tária na formação pessoal, acadêmica e profis-
sional. Ao desenvolver programas e projetos de
Extensão, os participantes, em especial os discen-
tes, têm a oportunidade de colocar em prática os
assuntos abordados durante as aulas e atividades
de pesquisa. Além de adquirirem essas experiên-
cias, eles compartilham ideias com a população
atendida, o que contribui para fortalecer a missão
da Universidade em capacitar cidadãos ativos na
transformação social.
Esta Revista constitui o volume 06, número
01 e traz 12 relatos de experiências com a te-
mática “Sociedade, Ambiente Virtual, Saúde e
Bem-Estar”, com o propósito de ser um canal de
divulgação e interlocução das ações extensionis-
tas desenvolvidas por docentes, discentes e téc-
nicos administrativos da Universidade Federal
de Roraima (UFRR) com os diversos segmentos
da sociedade.
Na oportunidade, parabenizo a todos os auto-
res dos relatos que se dispuseram a compartilhar
os resultados das suas ações e experiências. Agra-
deço aos integrantes da Comissão Editorial da
Revista envolvidos pelo empenho e comprometi-
mento técnico na organização, revisão, avaliação
e elaboração do projeto gráfico.

GILSON DE SOUZA COSTA


Pró-reitor de Assuntos Estudantis e Extensão


   


Comissão Editorial

Gilson de Souza Costa


Editor-chefe

Bianca Maira de Paiva Ottoni Boldrini


Editora

José Otávio Coelho da Silva


Projeto Gráfico e Diagramação

Maria da Conceição Lopes


Editora e Revisora

Raphaela Fernandes dos Santos Borges de Queiroz


Editora e Revisora

Selmar de Souza Almeida Levino


Editora

PRÓ-REITORIA DE
ASSUN TO S ESTUDAN TIS
E EXTEN SÃO
Sumário
CONTEÚDO
ALEITAMENTO MATERNO E A TRANSMISSÃO VERTICAL DE INFECÇÕES
SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS.................................................................................. 6

EPISTEMOLOGIAS DA CURA: ENCONTRO DE SABERES EM TEMPOS DE


COVID-19.............................................................................................................................. 10

ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS NOS CURSOS DE LETRAS: VENCENDO


DESAFIOS NA PANDEMIA............................................................................................... 14

SOMOS MIGRANTES: EXPERIÊNCIA DE UMA REDE DE APOIO A MIGRANTES


E REFUGIADOS MEDIADA PELAS PLATAFORMAS DIGITAIS.............................. 17

TERTÚLIA LITERÁRIA FEMINISTA: PRÁTICA FORMATIVA E PEDAGÓGICA.20

RODAS DE CONVERSA “SOBRE-VIVÊNCIAS” – ESCOLA E FAMÍLIAS NA


PANDEMIA........................................................................................................................... 23

CONEXÃO FOTOCRIAÇÃO NOS ENCONTROS CRIATIVOS VIRTUAIS E


AFETIVOS DA BRINQUEDOTECA................................................................................ 26

FOCA NA TV: UMA EXPERIÊNCIA DE MOBILE JOURNALISM NA UFRR......... 30

MAIS LIBRAS: UMA AÇÃO DE INCLUSÃO SOCIAL DURANTE A PANDEMIA E


O ENSINO REMOTO.......................................................................................................... 34

XXVIII SEMANA ACADÊMICA DE QUÍMICA DA UFRR: QUÍMICA E SAÚDE.38

AZEVICHE: REDE DE APOIO PARA ENLUTADOS.................................................... 42

O TRABALHO INTERDISCIPLINAR COM HISTÓRIA E BIOLOGIA NA


LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO: UMA EXPERIÊNCIA
VIVENCIADA EM RORAIMA.......................................................................................... 45
Cadernos de Extensão | Edição 2021

ALEITAMENTO MATERNO E A
TRANSMISSÃO VERTICAL DE
INFECÇÕES SEXUALMENTE
TRANSMISSÍVEIS
Curso de Medicina da Universidade Federal de
Roraima, Boa Vista, Roraima, Brasil. O aleitamento materno é, incontestavelmente,
uma das formas mais eficazes para reduzir a
morbimortalidade infantil, além de conferir inú-
Carla Mariana de Melo Beeck - Discente do curso de
Medicina da Universidade Federal de Roraima - UFRR meros benefícios, tanto para a mãe quanto para
o bebê. A Organização Mundial de Saúde (OMS)
Karoline Gabriely Sergio de Sena Costa - Discente do
curso de Medicina da Universidade Federal de Roraima -
recomenda que o Aleitamento Materno (AM) seja
UFRR exclusivo nos primeiros seis meses de vida e, com-
plementado até os dois anos de idade da criança
Tariana Lucena dos Santos - Discente do curso de
Medicina da Universidade Federal de Roraima - UFRR
(GENEV; WHO; 2003). Essa prática é considerada
a melhor escolha para nutrição, promovendo pro-
Vinícius da Costa Faustino - Discente do curso de
teção imunológica contra doenças respiratórias e
Medicina da Universidade Federal de Roraima - UFRR
infecções gastrointestinais, além do vínculo afetivo
Simone Lopes de Almeida - Mestre em Ciências da entre mãe e filho (LANCET, 2016).
Saúde. Docente do curso de Medicina da Universidade
Para ratificar e promover a importância da
Federal de Roraima - UFRR
amamentação, o mês de agosto foi estabelecido
como o mês do Aleitamento Materno, princi-
palmente através de campanhas como o Agosto
Dourado. Essa campanha simboliza a luta pelo
incentivo à amamentação – a cor dourada está
relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite
materno. De acordo com a OMS e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), por
ano, cerca de seis milhões de vidas são salvas por

6
Universidade Federal de Roraima

causa do aumento das taxas de amamentação ex- micos do curso de Medicina da UFRR organiza-
clusiva até o sexto mês de idade (BRASIL, 2021). ram a ação para abordar, com mais destaque, o
A amamentação pode tornar-se contraindica- tema. Nesse ensejo, foi feito um convite para as
da devido ao risco de exposição do bebê a possí- gestantes e, separado um ambiente para recebê-
veis comorbidades maternas, como é o caso das -las, servindo-se um lanche com alimentos nu-
Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). As tritivos e palestras sobre a forma correta de ama-
ISTs são infecções causadas por microorganis- mentar; mitos e verdades sobre a amamentação;
mos – especialmente vírus e bactérias - com a serviços de apoio as mães que não conseguem
transmissão ocorrendo por meio do contato se- amamentar; nutrição; infecções transmissíveis na
xual, sendo ele anal, oral ou vaginal, sem o uso da amamentação; entre outros. Cada grupo que fi-
camisinha feminina ou masculina. Não obstante, cou responsável por um tema estava acompanha-
pode ocorrer também por meio da transmissão do por um supervisor. Destinou-se um tempo
vertical para a criança durante a gestação, o parto para que cada grupo pudesse transmitir o conhe-
ou a amamentação, quando medidas de preven- cimento da melhor maneira à população.
ção não são realizadas (BRASIL, 2020). Para abordar sobre as ISTs na amamentação,
Devido ao atual contexto pandêmico mundial foram distribuídos panfletos elaborados pela
relacionado à COVID-19, muitas doenças têm sido equipe da Extensão, contendo informações sobre
negligenciadas pelos profissionais da saúde. Isso se essas doenças, o que são e, principalmente, se po-
deve ao aumento exponencial da demanda de trata- dem ou não amamentar em detrimento de deter-
mento das complicações que o vírus SARS-CoV-2 minada infecção, além da realização de palestra
ocasiona, o que contribui para o retardo no diag- sobre o tema com retirada de dúvidas.
nóstico e investigação de infecções, entre elas, as O intuito da ação sobre amamentação, realiza-
ISTs encontram-se como algumas das principais da em alusão ao Agosto Dourado, foi orientar as
com as quais a comunidade sofre diariamente. As- gestantes e puérperas da comunidade atendida pela
sim, o Projeto de Extensão “Orientações acerca das UBS Arminda Gomes sobre os riscos da mãe soro-
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) negli- positiva para o HIV e para o vírus T-linfotrópico
genciadas no contexto da Pandemia da COVID-19” Humano (HTLV) em realizar a lactação, bem como
visa abordar sobre a importância do Aleitamento alertar para as outras situações que a amamentação
Materno, os riscos que ele pode trazer em situações deve ser interrompida (MELO, et. al., 2016).
de infecções sexualmente transmissíveis e os cuida- De acordo com Gomes e Koifman (2021), os
dos necessários para prevenção de complicações ao benefícios da amamentação são amplamente
binômio mãe-filho. conhecidos não só pelos profissionais de saúde
Estudo descritivo do tipo relato de experiência como também pela população em geral. O lei-
com abordagem qualitativa que teve com o pro- te humano tem uma composição rica em nu-
pósito descrever a experiência do Aleitamento
trientes, além de uma complexidade de células,
Materno e a transmissão vertical das infecções
membranas e moléculas que atuam na proteção
sexualmente transmissíveis.
do recém-nascido.
O cenário do estudo foi a Unidade Básica de
O Agosto Dourado é uma ação em incentivo
Saúde (UBS) Arminda Gomes, localizada no
à amamentação, definida pela Lei Nº 13.435, de
bairro Jóquei Clube, na cidade de Boa Vista (RR).
2017 (BRASIL, 2017). É um mês marcado por
A unidade oferece serviços de atenção básica à
saúde, pautados em um trabalho multidiscipli- campanhas de conscientização e esclarecimento
nar, que se orienta pelos princípios do Sistema sobre a importância do aleitamento para a crian-
Único de Saúde (SUS), (BRASIL, 2017), visando ça. Conforme o Estudo Nacional de Alimentação
o atendimento às necessidades de saúde da popu- e Nutrição Infantil (ENANI), a prevalência do
lação referida. A experiência em questão ocorreu aleitamento materno exclusivo entre as crianças
no dia 18 de agosto de 2021.O público contou com menos de seis meses de idade foi de 45,7% no
com a participação de mulheres, primigestas ou Brasil (UFRJ, 2010). Por isso, uma rede de apoio é
não, que aguardavam para consulta pré-natal de fundamental para o esclarecimento de dúvidas a
rotina e consultas médicas. respeito do assunto e para conhecimento das ad-
Agosto é considerado o mês da amamentação, versidades da lactação, tais como a transmissão
nesse contexto, a UBS juntamente com os acadê- vertical de algumas ISTs.

7
Cadernos de Extensão | Edição 2021

Apesar das várias vantagens do aleitamento suficientemente capaz de responder (TEIXEIRA


materno, as ISTs podem constituir-se como um et. al., 2017). Além disso, de acordo com o Minis-
obstáculo para essa relação entre a mãe e o bebê. tério da Saúde, nas mães infectadas por doenças
No Brasil, o Ministério da Saúde aconselha que como Hepatite virais, Herpesvírus humano, Ci-
em casos da mãe infectada pelo Vírus da Imu- tomegalovírus (CMV) e Herpes simples, a ama-
nodeficiência Humana (HIV), por exemplo, a mentação deve ser interrompida. (GIACOMINI
amamentação seja interrompida, devido ao ris- et. al., 2017).
co adicional de transmissão do vírus para o bebê Por fim, durante a ação foi levantada uma dú-
(MELO, 2016). vida acerca dos meios alternativos para aquelas
Segundo Levandowski et al., (2017), a trans- mães que, devido a alguma dessas ou outras co-
missão vertical pode ocorrer durante a gestação, morbidades, tenham contraindicação da lacta-
trabalho de parto ou durante a lactação, sendo o ção. Quanto a isso foi esclarecido que a melhor
risco de 75% no parto e 25% na fase intrauterina. alternativa é recorrer ao Banco de Leite Huma-
Deve-se considerar também o risco adicional de no Dra. Marilurdes Albuquerque, centro de re-
transmissão durante a amamentação que varia ferência em aleitamento materno para o estado
entre 7% a 22% de acordo com a oferta de mama- de Roraima. Esse estoque é mantido pela doação
das. Durante o aleitamento, a transmissão do ví- do leite excedente de mães saudáveis e que não
rus pode ocorrer em qualquer fase, porém parece estejam fazendo uso de medicamentos que inter-
ser mais frequente nas primeiras semanas e além firam na amamentação, sendo processado e, pos-
disso, a carga viral do colostro (leite primário ou teriormente, encaminhado aos recém-nascidos
inicial) é mais elevada que nos leites posteriores. internados na UTI neonatal do Hospital Materno
Na ação realizada, ressaltou-se ainda a impor- Infantil Nossa Senhora de Nazaré.
tância do rastreamento e da assistência no Pré-na-
tal, já que o diagnóstico precoce é eficiente para
um melhor tratamento e para evitar as transmis- De modo geral, é possível notar, na prática
sões conhecidas (PAULA et. al., 2015). Obser- clínica, que dúvidas sobre a transmissão ver-
vou-se o conhecimento das gestantes e puérperas tical de infecções sexualmente transmissíveis
ouvintes sobre o assunto e sobre a relevância da durante o aleitamento são muito frequentes.
realização de testes rápidos e da prevenção con- Ao lado disso, são cientificamente comprova-
tra as ISTs, feita principalmente pelo preservativo dos os benefícios do leite materno, alimento
masculino e feminino. A ação contou com a pre- exclusivo e suficiente para o recém-nascido
sença do médico generalista atuante na UBS que nos primeiros seis meses de vida. Nesse cená-
alertou sobre a importância de realizar o Pré-na- rio, a escassez de ações de educação em saúde
tal e fazer o acompanhamento correto. voltadas para essa temática mostra-se preo-
As consultas Pré-natal são oportunidades para cupante. Assim, encontros como esse, envol-
o aconselhamento sobre dúvidas da gestação e a vendo profissionais, discentes e docentes da
amamentação, bem como um momento impor- área da Saúde são de elevada importância no
tante para adoção de medidas de prevenção e contexto da prevenção de possíveis doenças
controle de IST. Porém, nem sempre esses servi- que podem ser transmitidas da mãe ao lac-
ços são suficientes. A dificuldade de acesso aos
tente durante a amamentação.
serviços de saúde, início tardio do Pré-natal e fal-
A fim de tornar o puerpério um período
ta de orientações acerca das doenças e do uso do
agradável e seguro para a lactante e seu con-
preservativo constituem problemas que devem
cepto, dúvidas e mitos quanto ao aleitamento
ser superados (VILELA et. al., 2019).
materno devem ser sanados ainda durante o
Cabe ainda afirmar que não apenas o HIV e o
HTLV têm importância na transmissão vertical. Pré-natal. Assim, ações de Extensão univer-
A sífilis, uma IST causada pela bactéria Trepo- sitária de Educação em Saúde voltadas para
nema pallidum, tem transmissão por via sexual esse público são imprescindíveis na forma-
(sífilis adquirida) e vertical (sífilis congênita), ção de conceitos sólidos no que tange às va-
sendo que o risco de contágio durante a gestação riadas temáticas, aumentando a qualidade de
depende do estágio em que o feto está sendo ex- vida das populações atingidas.
posto à infecção e se seu sistema imunológico é

8
Universidade Federal de Roraima

REFERÊNCIAS MELO, A. C., et al. Infecções Sexualmente Transmissí-


veis rastreadas pela assistência pré-natal na atenção bási-
ALVES, J.S., et. al. Orientações sobre amamentação na ca. Mostra Interdisciplinar do curso de Enfermagem, vol.
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Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente VASCONCELOS, Isis Tamires de. O sentimento em relação
Transmissíveis (IST). Brasília: Ministério da Saúde, 2020 a não amamentação de puérperas portadoras do vírus HIV
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LEVANDOWSKI, D. C., et. al. Maternidade e HIV: revisão VILELA, L. S.; LEMOS, C. A., et al. O pré-natal como fer-
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veis e o impacto na transmissão vertical: uma revisão inte-
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tions/i/item/9241562218. Acesso em: 06/10/2021.

9
Cadernos de Extensão | Edição 2021

EPISTEMOLOGIAS
DA CURA:
ENCONTRO DE
SABERES EM
TEMPOS DE
COVID-19

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Pablo de Castro Albernaz - Doutor em Antropologia pela
Eberhard Karls Universität Tübingen (EKU), Alemanha.
E ste relato discute o projeto Encontro de Sabe-
res, desenvolvido pelo Instituto Nacional de
Ciência e Tecnologia de Inclusão (INCTI) no En-
Professor adjunto do curso de Antropologia (INAN- sino Superior e na Pesquisa, iniciado na Universi-
UFRR).
dade de Brasília (UNB), em 2010. O foco central
Paolla Bentes Ferreira - Graduanda do Curso de Ciências do Encontro de Saberes é possibilitar que mestres
Sociais (UFRR). Bolsista do projeto de extensão “Encontro e mestras dos saberes tradicionais atuem como
de Saberes: artes e ofícios das populações tradicionais”.
docentes nas universidades.
Dalila Dantas Simões - Graduanda do Curso de Na Universidade Federal de Roraima (UFRR),
Antropologia (UFRR). Bolsista do projeto de extensão a primeira oferta do projeto ocorreu em 2019,
“Encontro de Saberes: artes e ofícios das populações
tradicionais”.
com a participação de mestras e mestres das re-
ligiões de matriz afro-brasileira e um xamã indí-
Os demais participantes foram: Prof. Dr. José Jorge de
gena. Em 2021, o Encontro de saberes foi ofer-
Carvalho (UNB), Prof.ª Drª. Letícia Cao Ponso (FURG),
Prof. Dr. Edgar Rodrigues Barbosa Neto (UFMG), tado em dois semestres, como Tópico especial e
Prof. Dr. Cesar Guimarães (UFMG), Prof. Ms. Amilton Projeto de extensão. No semestre 2020.2, o cur-
Pellegrino (UFAC), Prof.ª Drª. Indira Caballero (UFG), so teve o formato de rodas virtuais de conversas
Prof. Dr. Alessandro Oliveira (UNB), Prof. Dr. Bruno com mestres, mestras, acadêmicos indígenas e
Goulart (UNILAB), Profª. Drª. Cristiane Tavares (UFSC), afrodescendentes, e pesquisadores de diversas
Prof. Dr. Mario Maia (UFPel), Profa. Dra. Luciana Prass
universidades do Brasil. A disciplina contou com
(UFRGS). Todas as aulas do Projeto Encontro de Saberes
estão disponibilizadas em canal no Youtube e podem a participação de Ibã Huni Kuin, Jaime Diakara
ser assistidas através do link: https://www.youtube.com/ Desana, João Paulo Tukano, Viviane Ye’kwana,
channel/UC17J29wHEapz2Fi4U2SlYpw/videos Célia Xakriabá, Davi Kopenawa Yanomami, Mãe
Michele de Oxum, Mestre Cica de Oyó, Yasho-
dan Abya Yala, Tata Bokùlê e Antônio Bispo dos
Santos, o Nêgo Bispo, dentre outros. No semestre
2021.1, o projeto contou com o auxílio de duas
bolsistas e se centrou em atividades assíncronas
baseadas nas aulas do primeiro semestre e em en-
contros síncronos de debates, o que possibilitou a
transcrição prévia de cada encontro e a organiza-
ção do material para futura publicação.
Ibã Sales Txana é um mestre de cantos Huni
Kuin. Os Huni Kuin pertencem à família linguís-

10
Universidade Federal de Roraima

tica Pano, e habitam a fronteira brasileira-peru- za os conhecimentos indígenas em três grandes


ana na Amazônia ocidental, no estado do Acre. conceitos: “mitologia, benzimentos e rituais”. O
Professor desde a década de 1980, Ibã incorpo- primeiro conceito, “mitologia”, ultrapassa a no-
rou os saberes ancestrais aprendidos com seu ção do que se denomina por lendas e fábulas,
pai aos conhecimentos ocidentais, dando início pois para os indígenas a mitologia é um modelo
a pesquisas sobre cantos tradicionais (Ibã, 2006 de entender, compreender, organizar e extrair as
e 2007). Ibã abordou os conhecimentos do povo práticas políticas e sociais. O conceito de “ben-
Huni Kuin a partir dos cantos e das músicas do zimentos” busca descrever “a manipulação meta
nixi pae (ayahuasca). A ayahuasca, os cantos e as química e metafísica das coisas pelas palavras”. O
histórias, são elementos centrais da epistemologia terceiro conceito são os “rituais”, conjunto de prá-
Huni Kuin. O nixi pae é uma planta de poder que ticas relacionada às dinâmicas sociais, às práticas
funciona como uma espécie de terapeuta, pois sociais organizadas ao longo do ciclo anual de
ajuda a sentir, a resgatar lembranças, “coisas que acordo com o complexo calendário astronômico.
você não lembra”. Ibã chega a comparar o nixi pae Todas as práticas indígenas estão, para o autor,
à máquina de raio x, por ser uma tecnologia de interligadas nesses três grandes conceitos.
obtenção de diagnósticos sobre doenças físicas e Célia Xakriabá é professora e ativista indígena
mentais. As letras dos cantos huni meka falam os do povo Xakriabá, que vive na margem esquerda
idiomas dos animais, trazem cura e encantamen- do rio São Francisco, em Minas Gerais. Ela abor-
to através da língua que é música e poesia, e busca dou em sua aula a importância da ancestralidade,
compreender a fala de animais como os pássaros, do papel das mulheres indígenas na criação e pre-
a onça, o jacaré, a jiboia e o macaco. servação dos saberes e dos territórios. As refle-
Outra aula que abordou a epistemologia da xões de Célia visam traduzir a educação escolar a
ayahuasca foi proferida por Jaime Diakara De- partir da perspectiva indígena (Correa, 2018). Ela
sana, doutorando em antropologia pela Univer- afirma que as epistemologias dos povos indígenas
sidade Federal do Amazonas (UFAM). Os Desa- estão centradas no corpo, nos pés e no caminhar.
na são um povo de língua Tukano, que vive na Desse modo, não só sua oralidade, mas também
região dos rios Tiquié, Papuri, Uaupés e Negro, sua escrita está fundada no caminhar. Por isso, ao
bem como seus afluentes, no estado do Amazo- invés de literatura, os povos indígenas produzem
nas. Assim como Ibã, Jaime é filho de um grande “luta-litura”, “antropo-litura”. E essa produção se
conhecedor tradicional, e foi a partir do aprendi- dá através do corpo, não somente pelas mãos,
zado com ele que desenvolveu sua pesquisa sobre mas também pelo útero, no caso das mulheres.
os diversos mundos que compõem o sistema de Sobre a crise política e climática, Célia nos lem-
pensamento Desana (Diakara, 2018). O mestre bra que ela deriva de uma crise epistemológica, e
em Antropologia disse que com esse trabalho fei- que o conhecimento indígena é um “potente ca-
to com a ajuda de seus colegas e do seu orienta- minho para pensar a ciência da cura”.
dor, almeja fazer uma antropologia diferenciada: Viviane Rocha é professora da etnia Ye’kwana
uma antropologia indígena que explique o que é e mestre em antropologia social pela UFMG. Os
a ayahuasca para os indígenas e seus significados, Ye’kwana são um povo indígena de língua caribe
e que possa ser entendida pelas correntes domi- habitante do estado de Roraima, na fronteira en-
nantes da disciplina. tre o Brasil e a Venezuela. Em sua aula, proferida
João Paulo Barreto é indígena da etnia Tukano, poucos dias antes da defesa de sua dissertação,
que vive às margens do Rio Uaupés e seus afluen- Viviane nos falou de seu trabalho de mestrado
tes, no Amazonas. Ele é doutor em Antropologia acerca das histórias mitológicas do seu povo so-
pela UFAM, e criador do Centro de Medicina da bre a origem dos alimentos cultivados. É impor-
Floresta. Em sua aula, João Paulo contrastou dois tante salientar que essas histórias, denominadas
modelos de construção de conhecimentos: o da Watunna, possuem um aspecto central na vida
oralidade (indígena) e o da escrita (ocidental). dos Ye’kwana, pois, junto com os cantos, plantas
O modelo de conhecimento escrito nega que o de poder e alimentos, são os pilares da criação
conhecimento dos indígenas tenha teoria, en- e proteção da pessoa (Albernaz, 2020). Viviane
tretanto, João Paulo se contrapõe a isso, e afirma descreveu como sua pesquisa acadêmica a fez
que o conhecimento indígena é uma teoria sobre aprender coisas que desconhecia de sua própria
o mundo (Barreto, 2021). O antropólogo sinteti- cultura, como os fundamentos das regras, inter-

11
Cadernos de Extensão | Edição 2021

dições alimentares, dos cantos e histórias relacio- fortemente politizado à fala sobre sua trajetória e
nadas às roças e aos alimentos Ye’kwana. Além sobre a importância dos saberes ancestrais afro-bra-
disso, alertou sobre os cuidados com os saberes sileiros. Tatá falou sobre sua experiência dentro das
que não são de acesso para todos, mas apenas das religiões de matriz africana nas comunidades tradi-
mulheres e homens sábios. cionais de terreiro e afirmou que os negros oriundos
Davi Kopenawa, xamã Yanomami, abordou da mãe África foram trazidos em navios negreiros
em sua aula temas narrados em seu livro “A Que- como escravos, mas descendem de reis e de rainhas
da do céu” (Kopenawa e Albert, 2015) e no lon- africanos. Bokùlê disse que trouxe o Candomblé
ga-metragem “A última floresta”, no qual atuou do Amazonas para Roraima, em 1989, como mo-
como roteirista e ator . Os Yanomami vivem em vimento de resistência e luta por igualdade racial.
aldeias localizadas em regiões da floresta ama- A aula do mestre Cica retomou alguns conceitos
zônica nos estados de Roraima e Amazonas, na das aulas da Mãe Michele e Tatá Bokùlê, dando ên-
fronteira entre Brasil e Venezuela. Na aula, Davi fase maior na ancestralidade. Mestre Cica é escritor,
Kopenawa narrou alguns mitos de origem dos Ya- Bàbálórìsà e Mestre Griô, Olùkó (professor do idio-
nomami, enfatizando que os povos indígenas pos- ma Yorùbá). O mestre iniciou sua aula abordando o
suem saberes diferentes, que se referem à proteção conhecimento da sua bacia e sua linhagem descri-
da floresta amazônica como entidade viva. Os povos tas no seu livro “O Batuque de Nação Òyó no Rio
indígenas são os melhores guardiões das florestas, Grande do Sul” (2020). Cica não vê Òríşá/Inquice/
justamente porque seus saberes são assentados nos Vodu como religião, vê como tradição, sendo todo
conhecimentos tradicionais locais. Para os Yanoma- conhecimento adquirido através da oralidade pe-
mi, os espíritos zeladores da floresta são os xapiri, los seus antepassados, aprendido no terreiro/casa/
que garantem a saúde da terra. Os xamãs trabalham tradição, na convivência, nos costumes, ouvindo os
junto com os xapiri para proteger as florestas, que antigos conhecedores de Òríşá (Orixá).
estão sendo poluídas por mineradores, fazendeiros Yashodan Abya Yala, da nação Muzunguê, falou
e garimpeiros, com suas atividades que buscam ex- sobre a cosmovisão dos moradores do “Kilombo”
trair e importar matérias-primas. Por isso, para o Morada da Paz, território de Mãe Preta, localizado
xamã, é importante que o povo da cidade aprenda no Rio Grande do Sul (Okaran, 2020). Para Yasho-
com os povos indígenas, para que sua educação não dan, quilombo escrito com “Q” é uma forma de
seja voltada apenas para o mercado e o lucro. colonização, já que a língua bantu não possui essa
Mãe Michele de Oxum, sacerdotisa do batuque letra, sugerindo “Kilombo” com “K”. Por isso, o
no Rio Grande do Sul, ministrou aula sobre o tema termo “Kilombo” é uma expressão política contra
da pandemia e os Orixás . Os Orixás, segundo Mi- hegemônica. É digno de nota as matrizes que fun-
chele, são forças da natureza, e cada Orixá com sua damentam essa comunidade afrodiaspórica, que
força, protege seus filhos. Mas, com a pandemia, se autodenomina “afrobudígena”: fruto da recupe-
que também é uma força da natureza, os Orixás es- ração de uma memória ancestral que alia a matriz
tão voltados à cura e proteção. “O vírus é uma força indígena M’Mbyá Guarani, a matriz africana Iorubá
da natureza e ele é desconhecido, diferente dos nos- e a matriz do Budismo tibetano mahayana.
sos Orixás, que são conhecidos e cultuados”, afirma Nêgo Bispo, lavrador e morador do Quilombo
Mãe Michele, pedindo respeito a essa força que é a Saco-Curtume, no Piauí, é um importante mestre
doença, reafirmando a importância da fé nos Orixás quilombola, escritor de diversos livros e artigos
e dos cuidados para prevenir o contágio e a prolife- (Bispo 2015, 2018 e 2020). Ao falarmos sobre a
ração do vírus. Mãe Michele também mostrou aos crise decorrente da COVID-19, Bispo afirmou
alunos os okutás, que são as pedras onde se assen- que o povo da cidade sempre viveu isolado, dife-
tam os Orixás, além de outros artefatos guardados rente do povo quilombola, que vive distanciado,
no quarto de santo. mas não isolado. Esse isolamento demasiado dos
O mestre Tatá Bokùlê, fundador da primeira povos das cidades, impede que eles percebam o
casa de Candomblé Nação Angola, em Roraima sincronismo dos animais, das plantas, das flores,
em 1989, retomou em sua aula alguns temas abor- das vidas humanas. O povo quilombola, ou afro-
dados pela Mãe Michele, da Nação Cabinda. Tatá confluente, se comunica com o mundo através da
Bokùlê possui décadas de formação religiosa e de linguagem cosmológica, que lida com os saberes
militância no movimento negro e movimento das orgânicos, da natureza, e não com a natureza sin-
religiões de matriz afro-brasileira, o que dá um tom tetizada. Essa ênfase nas relações de alteridade,

12
Universidade Federal de Roraima

na confluência da comunicação dos humanos REFERÊNCIAS


com as demais espécies, faz Bispo entender que o
ALBERNAZ, P. C. The Ye’kwana cosmosonics a musical eth-
povo quilombola possui certa imunização diante
nography of a North-Amazon people. Tese de doutorado.
da COVID-19, por compartilhar o território com Universitätsbibliothek Tübingen: TOBIAS-lib. 2020.
tantas vidas não-humanas, em biointeração.
BARRETO, J. P. L. Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria”
Ao falar das pandemias, Bispo lembrou que o sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas in-
veneno jogado na terra pela agricultura, o esgoto dígenas do Alto Rio Negro. 2021. 190 f. Tese (Doutorado em
jogado nos rios ou os resíduos gasosos dispersos na Antropologia Social) - Universidade Federal do Amazonas,
atmosfera provocam diversas pandemias: “porque Manaus (AM), 2021.
você está levando uma doença para as demais vi- BASTIDE, R. O candomblé da Bahia: rito nagô. São Paulo:
das e as demais vidas não estão imunizadas contra Companhia das Letras, 2001 (1958).
aquela doença, os pássaros, as abelhas, as plantas, as BISPO DOS SANTOS, A. “Colonização, quilombos, modos
outras vidas no geral não estão imunizadas contra o e significados”. Instituto de Inclusão no Ensino Superior e na
veneno, então morrem muitas vidas e muita gente Pesquisa CNPQ/Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
também”. Por isso, é de se esperar que surjam pan- ___________. SANTOS, A.B. Somos da terra. PISEAGRA-
demias que também afetem as pessoas e a sociedade MA, Belo Horizonte, número 12, página 44 - 51, 2018. (Dis-
capitalista, responsáveis por tantas pandemias dire- ponível em: https://piseagrama.org/somos-da-terra/).
cionadas às outras espécies. Para Bispo, o problema __________. Cupim que vai pra festa de tamanduá. In: Re-
do nosso mundo está no pensamento monológico: vista Praia Vermelha, 30(2), 2020. (Disponível em: https://re-
vistas.ufrj.br/index.php/praiavermelha/article/view/36041).
“Eu costumo dizer que como eu não sou mono, sou
várias coisas e quase nada”. Para o autor, as letras no CARVALHO, J. J. Encontro de Saberes e descolonização: para
uma refundação étnica, racial e epistêmica das universidades
papel são como sementes; ele se vê semeando letras brasileiras. In: J. BERNARDINO-COSTA; N. MALDONA-
que nascem na forma de palavras, como sementes DO-TORRES; R. GROSFOGUEL. (org.). Decolonialidade e
de um lavrador no papel, polidas pela audição, e as- pensamento afrodiaspórico. 1. ed. Belo Horizonte, Autêntica
sim ele vai criando conceitos e confluindo saberes. Editora, 2018. p.79-106.
CARVALHO, JJ; KIDOIALE, M; CARVALHO, E; COSTA,
O objetivo deste texto foi relatar alguns S. Sofrimento psíquico na universidade, psicossociologia e
encontro de saberes. Revista Sociedade e Estado – Volume
dos temas, conceitos e reflexões trazidas pelos
35, Número 1, Janeiro/Abril 2020.
convidados do Encontro de Saberes, ofertado
na Universidade Federal de Roraima (UFRR) CORREA, C.N. O barro, o jenipapo e o giz no fazer episte-
mológico de autoria Xakriabá: reativação da memória por
como Projeto de Extensão durante a crise sa-
uma educação territorializada. Dissertação de mestrado,
nitária da COVID-19. Apesar das dificuldades UNB, 2018.
inerentes ao ensino remoto, os participantes,
CORRÊA, N. O batuque do Rio Grande do Sul: antropologia
oriundos de diversas regiões do país, expres- de uma religião afro-rio-grandense. Porto Alegre: Editora
saram a importância do curso com os mestres Cultura e Arte, 2006 (1992).
e mestras, no contexto da pandemia. O curso,
DIAKARA, J. Gaap: elemento fundamental de acesso aos co-
era, para a maioria, uma espécie de terapia, au- nhecimentos sobre esse mundo e outros mundos. Disserta-
xiliando no combate ao adoecimento psíquico ção de mestrado, UFAM, 2018.
tão presente no cotidiano da vida acadêmica
KOPENAWA, D., ALBERT, B. A queda do céu: palavras de
e intensificado pelo isolamento social (Carva- um xamã Yanomami. São Paulo: Companhia das Letras,
lho, 2020). 2015.
Como ficou demonstrado nas falas dos
IBÃ, I. S. Nixi pae, O espírito da floresta, Rio Branco, CPI/
mestres resumidamente descritas, é preciso OPIAC, 2006.
que as universidades e os saberes acadêmicos
___________. Huni Meka, Os cantos do cipó. IPHAN/CPI,
se abram para essas outras epistemologias, de 2007.
modo a criar alternativas para que possamos
OKARAN, C.P.P.K. Um jeito de ser e viver no Kilombo da
sair da crise social, política, ambiental e, prin- Mãe Preta [recurso eletrônico] / Organização Coletivo de
cipalmente, epistêmica, que vivemos no mun- pesquisadores Kilombolas Okaran.- São Leopoldo: Casa Lei-
do de hoje, e que tem colocado em risco a pró- ria, 2020.
pria conservação da espécie humana na terra, OYÓ, M.C. O Batuque de Nação Oyó no Rio Grande do Sul.
sendo a COVID-19 um exemplo disso. São Paulo: Hucitec, 202o.

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Cadernos de Extensão | Edição 2021

ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS NOS


CURSOS DE LETRAS: VENCENDO
DESAFIOS NA PANDEMIA

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Eliaine de Morais Belford Gomes - Doutora em
Linguística pela UFRJ. Professora de Língua Inglesa na
O semestre de 2020.1 começou normalmente
em março. Uma semana após o início das
aulas, todos foram pegos de surpresa com a sus-
UFRR. pensão das aulas presenciais. Com o crescimento
Thami Amarilis Straiotto Moreira - Doutora em da pandemia de COVID-19 pelo País, a volta às
Linguística pela USP. Professora de Linguística na UFRR. aulas presenciais parecia cada vez mais distante.
Ancelma Barbosa Pereira - Mestra em Letras Neolatinas Após dois meses de aulas suspensas e sem previ-
pela UFRJ. Professora de Língua Espanhola na UFRR. são de retorno presencial, devido ao avanço da
Elenize Cristina Oliveira da Silva - Doutora em pandemia, começaram inúmeras reuniões sobre
Educação pela UFAM. Professora de Língua Francesa na o retorno às aulas, mas de maneira remota. Após
UFRR. muita discussão e planejamento, formulou-se
Luzineth Rodrigues Martins - Doutora em Linguística uma Resolução, em agosto de 2020, implemen-
pela UnB. Professora de Linguística na UFRR. tando o Calendário Suplementar para a realiza-
Parmênio Camurça Citó - Doutor em Linguística e ção dos semestres de 2020.1 e 2020.2.
Língua Portuguesa pela UnEsP. Professor de Língua Em setembro de 2020, o 1º semestre desse
Inglesa na UFRR. ano foi reiniciado, sendo denominado período
Sandra Moraes da Silva Cardozo - Doutora em Educação de Ensino Remoto Emergencial (ERE). A prin-
pela UFSCar. Professora de Políticas Educacionais na cípio, muitos professores participaram de cursos
UFRR. de capacitação para que pudessem adaptar suas
Sheila Praxedes Pereira Campos - Doutora em Estudos aulas ao contexto virtual. Entre encontros síncro-
Literários pela UFF. Professora de Literaturas na UFRR. nos e atividades assíncronas, como gravações de
videoaulas e envio de tarefas, as aulas do semestre
foram iniciadas.
Contudo, as disciplinas de estágio supervisio-
nado depararam-se com uma grande dificuldade:
inseridas nesse contexto remoto, essas disciplinas
só supririam a parte teórica. Como os estagiá-
rios lidariam com o período de observação e de
regência, uma vez que as escolas da educação bá-
sica continuavam fechadas e sem um trabalho de
ensino remoto adequado às necessidades para a
realização de um estágio?
Diante disso, este relato de experiência mostra-
rá a solução encontrada para a dificuldade e fala-
remos sobre a metodologia utilizada, descrevendo
onde, quando e como ocorreu a nossa experiência.

14
Universidade Federal de Roraima

A Ação ocorreu nos cursos de Licenciatura entrelinhas à redação crítica” (Língua Portugue-
em Letras da UFRR, mais especificamente, na sa), “Brasil, qual é a tua cara?” (Literaturas), “La
Comissão de Estágios e Práticas Docentes. A gotita de agua – dialogando en español” (Língua
Comissão é composta por professores das disci- Espanhola). Após a definição de todas as oficinas
plinas de Estágios Supervisionados, dos cursos que seriam ministradas por cada curso, a etapa
de letras: Língua portuguesa, Literaturas, Inglês, seguinte foi a divulgação para que alcançássemos
Espanhol e Francês. A ideia inicial era suprir as o maior número de alunos da faixa etária alvo.
necessidades do semestre de 2020.1, o primei- Terminado o período de inscrição, as oficinas fo-
ro a ser ofertado de modo remoto. Mas como a ram iniciadas, seguindo o mesmo procedimento
ideia funcionou e conseguimos alcançar nossos de trabalho que as aulas na graduação: encontros
objetivos, decidimos prolongar a Ação enquanto síncronos e atividades assíncronas. De modo ge-
perdurasse o Ensino Remoto Emergencial. Então, ral, cada oficina teve a duração de 30h.
o projeto também foi realizado em 2020.2, em Por sua natureza extensionista interdiscipli-
2021.1 e, a princípio, terminará em 2021.2, uma nar, as oficinas de estágio e formação docente
vez que o ERE foi prorrogado para o cumprimen- apresentam-se, consoante o Plano Nacional de
to dos dois semestres letivos de 2021. Extensão Universitária (PNEU), como “[...] via
Presencialmente, os graduandos realizam cada de mão dupla, com trânsito assegurado à comu-
estágio no período de um semestre, que é dividi- nidade acadêmica, que encontrará, na sociedade,
do em dois bimestres: no 1º, eles realizam um pe- a oportunidade de elaboração da práxis de um
ríodo de observação e no 2º, assumem a regência. conhecimento acadêmico [pouco difundido; qui-
Com o fechamento das escolas da Educação Bá- çá conhecido].” Especificamente, as Oficinas de
sica, a maior dificuldade foi providenciar o local estágio e formação docente atendem aos seguin-
e o público para que os estagiários pudessem re- tes objetivos (PNEU, 2001, p. 9):
alizar suas atividades. Após inúmeros encontros
e discussões, surgiu a ideia de organizar oficinas 1. Reafirmar a extensão universitária como
virtuais, constituídas por alunos do 6º ao 9º ano e processo acadêmico definido e efetivado
do Ensino Médio, cujas temáticas a serem traba- em função das exigências da realidade [da
lhadas estariam consoantes ao conteúdo específi- pandemia do novo coronavírus], indis-
co de cada ano. Uma vez que a atividade alcança- pensável na formação do aluno, na quali-
ria a comunidade externa, resolvemos aproveitar ficação do professor e no intercâmbio com
a ideia e transformá-la em uma Ação de Extensão a sociedade;
que foi intitulada: “Oficinas de estágio e forma- 2. Assegurar a relação bidirecional entre a
ção docente – Integrando teorias e práticas”. universidade e a sociedade, de tal modo
Neste sentido, os cursos de Licenciatura em que os problemas sociais urgentes rece-
Letras promoveram a Ação de Extensão, em bam atenção produtiva por parte da uni-
parceria com o Núcleo de Estudos em Línguas versidade.
Estrangeiras (NucELE), que, a princípio, ficou
responsável pela organização da inscrição dos Por esta razão, as oficinas de estágio e forma-
alunos externos e certificação das oficinas. Rece- ção docente abrem espaço de interlocução com
beram certificados: os orientadores, os estagiários a sociedade civil e contemplam, direta e/ou in-
que ministrariam as oficinas e os alunos inscritos diretamente, objetivos presentes no Plano Estra-
que computassem 75% de frequência. tégico Institucional 2015-2025/UFRR (Resolução
No 1º semestre de 2020, realizado de forma 022/2016-CUni, de 20 de agosto de 2016), que,
remota e emergencial, os professores orientado- por sua vez, estabelece na página 147:
res desenvolveram o período de discussão teó-
rica como base para a organização das oficinas. • Fortalecer e ampliar ações de formação ci-
Os graduandos, então, tiveram o suporte teórico dadã na UFRR;
para escreverem seu Plano de Ensino a ser exe- • Realizar [discussões que visem à] conscien-
cutado no trabalho com as oficinas. Dentre as tização e promoção de Direitos Humanos e
oficinas ofertadas, podemos citar: “Da leitura Justiça, Preservação e Sustentabilidade do

15
Cadernos de Extensão | Edição 2021

Meio Ambiente [dentre outros temas rele-


vantes]; Essa atividade extensionista contribuiu
• Fortalecer e ampliar as ações de qualifica- para o fortalecimento do estágio como ver-
ção ofertadas aos alunos da rede pública tente de formação que possibilita construir a
para ingresso na UFRR; identidade, aprimorar competências e habi-
• Fortalecer e ampliar os canais de diálogo lidades de produção e compreender a escri-
entre a UFRR e a sociedade; ta e a oralidade nas discussões por meio do
• Fortalecer e ampliar as ações de extensão Ensino Remoto de Espanhol, Francês, Inglês,
que intensifiquem a integração e interação Português e Literatura Brasileira. A Ação de
da UFRR com a sociedade; Extensão “Oficinas de Estágio e Formação
• Fortalecer e ampliar as ações de promoção, Docente – Integrando teorias e práticas”, pro-
preservação e incentivo à cultura regional; movida pela CCL/CCLA, em parceria com
[e] o NucELE, alcançou os objetivos propostos,
• Ofertar aos discentes qualificações comple- uma vez que possibilitou aos acadêmicos dos
mentares. cursos de Letras (nas áreas de Português, Li-
teraturas, Inglês, Espanhol e Francês) realiza-
Como resultado da realização das Oficinas de rem seus estágios durante o ERE, pela UFRR,
Estágio e Formação Docente, como ação exten- para a realização do semestre 2020.1. A ideia
sionista interdisciplinar, atendemos não só às de- prosseguiu nos semestres posteriores, pro-
mandas dos estagiários dos cursos de Letras, que porcionando condições de estudo a diversos
precisavam cumprir as disciplinas obrigatórias de alunos de Ensino Fundamental e Médio que
Estágio Supervisionado, bem como oferecemos estavam, com pouco ou nenhum contato,
ao público externo (em particular, estudantes do com as disciplinas da grade curricular. Den-
Ensino Fundamental e Médio) condições de es- tre as dificuldades encontradas, citamos a fal-
tabelecer um diálogo sobre assuntos atuais com ta do contato pelo Whatsapp dos inscritos no
a socialização de conhecimentos pelo estudo de 1º semestre. A solicitação apenas de endereço
línguas e literaturas, como nos propusemos ao de e-mail dificultou o contato com os parti-
estabelecer nossos objetivos. Ressaltamos a re- cipantes. Algumas oficinas, com vários ins-
levância desse trabalho, que se configurou como critos, nenhum compareceu quando as aulas
um grande desafio, por ter sido realizado em foram iniciadas. Um grande desafio, citado
meio a um momento pandêmico, na modalida- pelos graduandos, foi o ineficiente funciona-
de de Ensino Remoto Emergencial. Além disso, mento da internet no estado de Roraima.
como resultado final, estamos preparando um Como anteriormente citado, os relatos de
e-book que está em fase de elaboração, com os experiência serão publicados em um livro.
textos dos Relatos de Experiência, apresentados Diante da permanência do Ensino Remoto
nos Seminários Integrados de Relatos de Expe- Emergencial na UFRR, a ação foi prorrogada
riências em estágio de formação docente (even- para a realização das disciplinas de Estágio
tos também originários do trabalho realizado na supervisionado, com novas oficinas oferta-
organização das oficinas). Por fim, o projeto foi das ao público externo.
apresentado no 9º Congresso Brasileiro de Exten-
são Universitária (CBEU), realizado entre os dias
8 e 11 de março de 2021. REFERÊNCIAS

FÓRUM DE PRÓ-REITORES DE EXTENSÃO DAS UNI-


VERSIDADES PÚBLICAS BRASILEIRAS. Plano Nacional
de Extensão Universitária. Ilhéus: Editus, 2001. (Extensão
Universitária, v.1).

Resolução 022/2016-CUni, de 20 de agosto de 2016). Plano


Estratégico Institucional 2015-2025/UFRR.

16
Universidade Federal de Roraima

SOMOS MIGRANTES:
EXPERIÊNCIA DE UMA REDE
DE APOIO A MIGRANTES E
REFUGIADOS MEDIADA PELAS
PLATAFORMAS DIGITAIS
Universidade Federal de Roraima - UFRR
Gersika do Nascimento Bezerra - Jornalista da
Universidade Federal de Roraima, mestre em
E sse relato é de uma caminhada que busca ir
ao encontro de imigrantes e refugiados que
chegam em Boa Vista. No caso dos venezuelanos,
Comunicação pelo Programa de Pós-Graduação maioria da população estrangeira em Roraima,
Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom/UFPA) e
uma jornada de 215 quilômetros na BR-174, con-
membro do projeto Somos Migrantes.
siderando a distância entre Pacaraima, primeira
Vângela Maria Isidoro de Morais - Professora do curso cidade ao Norte do Brasil que faz fronteira com
de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação na Universidade Federal de Roraima.
a Venezuela, até a capital Boa Vista (RR). Partin-
Coordenadora do projeto Somos Migrantes. E-mail: do da característica humana de se movimentar,
vangela.morais7@gmail.com apresentamos a trajetória do projeto Somos Mi-
Carmen Alejandra Munoz Luengo - Imigrante grantes, uma ação de Extensão que visa se consti-
venezuelana, membro do projeto de extensão Somos tuir em uma rede de apoio aos imigrantes e refu-
Migrantes, acadêmica do 1º semestre de Estética e giados em Roraima.
Cosmetologia, na Faculdade Claretiano. Considerando o fluxo migratório de vene-
Laiwany Adairalba Dantas - Acadêmica do curso de zuelanos para Roraima, iniciado em 2015, agra-
Jornalismo da Universidade Federal de Roraima e bolsista vado a partir de 2016 e com pico em 2018 (BE-
do projeto Somos Migrantes.
ZERRA e MORAIS, 2018), o Somos Migrantes
Lisiane Machado Aguiar - Professora do curso de realiza um movimento de inserção e difusão de
Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em informações pelas plataformas digitais, ocupan-
Comunicação na Universidade Federal de Roraima.
Membro do projeto Somos Migrantes. E-mail: lisiaguiar@
do o ciberespaço.
gmail.com A ideia da plataforma digital e das Redes So-
ciais surgiu, inicialmente, devido à necessidade
Timóteo Westin de Camargo César - Professor do curso
de Jornalismo e membro do projeto Somos Migrantes. de organizar um conjunto de ações de apoio aos
E-mail: timcamargo@gmail.com imigrantes e dados pesquisados no âmbito do
Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Frontei-
ras (Geifron) da Universidade Federal de Rorai-
ma (UFRR). Posteriormente, a proposta expan-
diu-se no contexto das experiências do curso de
Comunicação Social - Jornalismo.

Ampliando a rede de solidariedade


As primeiras ações de apoio aos imigrantes e
refugiados em Roraima partiu da sociedade civil
organizada, por meio de instituições religiosas e
educacionais, que buscou meios para amenizar
as dificuldades daqueles que chegam em estado

17
Cadernos de Extensão | Edição 2021

de vulnerabilidade. Nesse contexto, atividades No perfil do Somos Migrantes no Facebook,


desenvolvidas no âmbito da UFRR foram funda- 582 pessoas curtiram a página e 589 seguem a
mentais no processo de acolhimento. página. As publicações com melhor desempenho
O projeto Somos Migrantes iniciou em 2017, foram aquelas que direcionaram o público para
por meio do site somosmigrantesrr.org e do blog notícias sobre o projeto. A postagem “Cineasta
somosmigrantesrr.blogspot.com que divulgavam venezuelana produz série audiovisual sobre in-
informações sobre o processo migratório, locais dígenas migrantes da Venezuela”, por exemplo,
de acolhimento, campanhas solidárias, cartilhas, alcançou 78 pessoas.
ações de parceiros e um conjunto de notícias O Instagram tem apresentado aumento de vi-
sempre na perspectiva da proteção, dos Direitos sualizações e seguidores, conforme é atualizado.
Humanos e da inserção dos imigrantes em Rorai- Ressaltamos que este crescimento se deu de forma
ma, combinando ações sociais à pesquisa acadê- orgânica. Ou seja, espontaneamente, sem estraté-
mica. Após algumas descontinuidades, em agos- gias pagas. Atualmente, conta com 201 seguidores
to de 2021, essa iniciativa foi institucionalizada efetivos. Percebemos, especificamente no Insta-
como um projeto de Extensão e passou a priori- gram, que as publicações em vídeo com o relato de
zar publicações para as redes sociais Instagram e imigrantes tiveram maior alcance e engajamento
Facebook. O site segue em fase de reformulação. do público. Como referência, destaca-se o vídeo
Apoiado pela Diretoria de Extensão da Pró- publicado, no dia 26 de agosto de 2021, em que a
-reitoria de Assuntos Estudantis e Extensão imigrante venezuelana Carmen Luengo conta sua
(Prae) da UFRR, o Somos Migrantes conta com história e experiência migratória, com 2.659 im-
31 pessoas envolvidas. A composição do projeto pressões, 2.127 contas alcançadas, 99 curtidas, 25
é formada por professores dos cursos de Jornalis- comentários, 34 compartilhamentos e 4 salvamen-
mo, Ciências Sociais e História, discentes, técni- tos, sendo reproduzido 694 vezes.
cos administrativos e membros imigrantes. Carmen Luengo tem 19 anos e migrou para
Ressaltamos que o surgimento da pandemia Boa Vista em abril de 2018. Ela conta um pouco
da COVID-19 impôs o distanciamento social, sobre sua experiência no projeto:
além de várias outras limitações, mas, ao mesmo A experiência no Somos Migrantes tem sido
acolhedora, cheia de sentimentos bons. O fato de
tempo, a internet transpõe os limites territoriais e
mostrar para as pessoas, outra perspectiva dos
ultrapassa diversas barreiras, chegando às popu-
imigrantes me deixou entusiasmada e muito feliz.
lações migrantes e aos grupos de acolhimento, le-
Através dos conteúdos e vídeos percebi que temos
vando informações sobre legislações, Direitos Hu-
alcançado isso, é muito difícil se sentir acolhida
manos, iniciativas de solidariedade etc. Assim, o
em um país que não é seu país natal, mas através
uso das plataformas digitais tornou-se ainda mais desse projeto eu me senti assim, acolhida. A pro-
frequente e necessário na difusão de conteúdo. dução dos conteúdos é muito bem pensada e exe-
Desde que retomou as atividades, o projeto de cutada, todos que fazem parte do grupo têm um
Extensão realizou 40 postagens nas redes sociais. olhar de empatia à causa. Desejo que o projeto
O conteúdo conta com a co-criação dos imigran- continue crescendo. É muito importante mostrar
tes e inclui informações sobre Direitos Humanos, às pessoas outra perspectiva da imigração, dessa
Saúde Mental, Relatos de Experiência, Produção forma conseguiremos combater a xenofobia.
Cultural, entre outros temas. As postagens se- Observou-se que um post no Instagram, em
guem um cronograma de publicação que inclui vídeo, sobre xenofobia publicado no dia 13 de
conteúdos em vídeos (Reels e IGTV), fotografias, setembro, chegou a ter 4.071 visualizações e re-
imagens e textos. cebeu 35 curtidas e três comentários, com 367
contas alcançadas.
Conforme a ferramenta Business Suite de aná-
lise do Facebook e do Instagram, a página chega
majoritariamente a Boa Vista, mas também trans-
põe fronteiras chegando a outras cidades do País,
Conteúdo do Facebook como Recife, João Pessoa, São Paulo e Belém, e do
Fonte: Business Suite , em 23 de outubro de 2021. mundo, como Colômbia, Venezuela e Espanha.

18
Universidade Federal de Roraima

O projeto realiza ainda a interlocução com as construir suas narrativas, numa teia de colabo-
atividades de ensino, por meio da disciplina de ração entre eles, alunos, técnicos e professores
Jornalismo Comunitário, do curso de Comunica- da UFRR. Assim, a educação em suas diferen-
ção – Jornalismo (UFRR), que orienta outros for- tes frentes, incluindo os dispositivos tecnoló-
matos jornalísticos não-hegemônicos, priorizan- gicos de comunicação, vive o princípio da so-
do os processos de comunicação como expressão lidariedade que deve ser a base de todo saber.
Entendemos que o princípio solidário deve
reger o trabalho humano, especialmente no
campo educacional e da produção de conhe-
cimento. Essa forma de atuação comunicativa
voltada aos (e com os) imigrantes e refugiados
em Roraima permite acionar outros campos
semânticos, dificilmente pautados pelos meios
tradicionais de comunicação. São formatos que
Postagens do Projeto Somos Migrantes passam a ser sugeridos e dinamizados pelos
Fonte: Reprodução do Instagram @somosmigrantes.rr integrantes do projeto em reuniões semanais e
que conta com as potencialidades dos dispositi-
de cidadania e de intervenção nas realidades dos
vos digitais. “A tecnologia é um vetor impulsio-
segmentos socioculturais mais desassistidas pe-
nador das ações humanas, industriais, institu-
los poderes públicos.
cionais e mercadológicas e, tem, portanto, um
Em setembro de 2021, o projeto Somos Mi-
papel importante nos processos de mudança
grantes foi convidado a compor a equipe organi-
das sociedades” (PERUZZO, p. 45, 2018).
zadora do I Encontro Nacional de Extensão Uni-
Com o fortalecimento da ação de Exten-
versitária com Imigrantes e Refugiados, passando
são, fazendo chegar informações apuradas e
a fazer parte da Rede Reunir e mapeando ações
em linguagem acessível, esperamos que o pro-
semelhantes no Norte do Brasil.
jeto Somos Migrantes seja reconhecido como
O estado de Roraima, constituído por uma in-
um canal de expressão social e cultural para os
migrantes e refugiados e à sociedade de acolhi-
mento, com base no princípio de que a comu-
nicação é um direito fundamental e base para o
exercício da cidadania. Dessa forma, as razões
tricada rede de processos migratórios internos,
que movimentam o Somos Migrantes se ba-
resiste por meio de seus agentes públicos, de
seiam na importância de promover um espaço
modo geral, e de uma grande parcela de sua po-
de discussão e prática comunicacional sobre o
pulação a compreender essa involuntária mo-
processo migratório e seus sujeitos no interstí-
bilidade humana na fronteira Venezuela-Brasil
cio da universidade e da sociedade.
como um desafio a ser equacionado COM e
não CONTRA os migrantes venezuelanos. REFERÊNCIAS
Como dissemos, nos primeiros momen-
BRAIGHI, Antônio; CÂMARA, Marco. O que é Mi-
tos desse processo, foi a sociedade civil or-
diativismo? Uma proposta conceitual. In: BRAIGHI,
ganizada que buscou meios para amenizar as Antônio; LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco (org.).
dificuldades daqueles que chegam em estado Interfaces do Midiativismo: do conceito à prática. Belo
de vulnerabilidades, indocumentados, sem Horizonte: CEFET-MG, 2018. p. 25-42.
recursos financeiros, sem segurança alimen- LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de
tar, habitacional e de saúde. Nesse contexto, a experiência. Universidade Estadual de Barcelona, Espa-
UFRR também historicamente erguida com a nha, 2002.
contribuição de muitos migrantes brasileiros PERUZZO, Cicília. Cidadania comunicacional e tec-
e de outras nacionalidades passou a sistema- nopolítica: feições do midiativismo no âmbito dos mo-
tizar ações de acolhimento. vimentos sociais populares. In: BRAIGHI, Antônio;
Espera-se que o Somos Migrantes se torne LESSA, Cláudio; CÂMARA, Marco (org.). Interfaces
referência e local de protagonismo onde os do midiativismo: do conceito à prática. Belo Horizonte:
CEFET-MG, 2018. p. 43–61.
imigrantes e refugiados venezuelanos possam

19
Cadernos de Extensão | Edição 2021

TERTÚLIA LITERÁRIA FEMINISTA:


PRÁTICA FORMATIVA E
PEDAGÓGICA
Universidade Federal de Roraima - UFRR obras de ficção, e a edição atual (agosto-outubro
Martha Julia Martins - Doutora em Estudos Linguísticos de 2021): textos exclusivamente literários.
e Literários do Inglês pelo Programa de Pós-Graduação Na seção seguinte, trataremos da metodologia
em Inglês (PPGI) da Universidade Federal de Santa aplicada nos encontros virtuais; logo em seguida,
Catarina (UFSC).
faremos uma breve discussão sobre a ação exten-
Thami Amarilis Straiotto Moreira - Doutora em sionista como prática formativa feminista, e, por
Semiótica e Linguística Geral pelo Programa de Pós- fim, traremos algumas considerações finais sobre
Graduação em Linguística (FFLCH) da Universidade de
São Paulo (USP).
a experiência de se conduzir tal prática na Uni-
versidade durante o período de ensino remoto.

DEBATE FEMINISTA: UM BREVE PERCUR-

A gênese do projeto de extensão “Feminismo


na Universidade” deu-se em 2019, antes da
pandemia de COVID-19. A ideia original tinha
SO METODOLÓGICO

Os encontros, que ocorreram telepresencial-


como base uma série de minicursos e palestras mente via sala do Google Meet, tiveram duração
de teor educativo e introdutório voltado para de cerca de 2 (duas) horas e funcionaram no for-
diversas áreas, mais especialmente, aquelas cujo mato de Tertúlia Literária, em que a figura do me-
exercício de suas funções exigem convivência e diador inicia o diálogo, ao abordar um panorama
interação com mulheres vítimas de violência, sobre a obra analisada, o/a autor/a, o contexto em
como enfermeiros/as, médicos/as, profissionais que a obra se insere e finaliza com considerações
da área policial, como atendentes de delegacia, que suscitem a interação com os participantes.
etc., além dos alunos dos cursos de Letras inte- Após esse momento inicial, que também funcio-
ressados em conduzir, futuramente, pesquisas de na como um aquecimento para a discussão, os
graduação ou Mestrado. participantes se inscrevem para falar, usando o
Entretanto, com a eclosão da pandemia de chat do Google Meet ou o mecanismo da própria
COVID-19, as duas proponentes precisaram plataforma chamado “levantar a mão”.
adaptar, as atividades oferecidas no projeto, uma As coordenadoras do projeto e as professo-
vez que as restrições sanitárias exigiram. Assim, ras convidadas/mediadoras mantém suas câme-
o projeto “Feminismo na Universidade” já nasce ras abertas durante todo o encontro, para que
em formato de tertúlia literária (no estilo clube a interação seja mais dinâmica e agradável. Os
do livro) e remoto, tendo início a partir de julho participantes, também, são encorajados a per-
de 2020. A divulgação foi feita inteiramente via manecerem com suas câmeras ligadas, pois no
WhatsApp, com cartazes confeccionados pelas entendimento das coordenadoras, o ambien-
pesquisadoras, às vezes com o auxílio de alunos, te virtual torna-se menos distante e a interação
e as inscrições foram feitas a partir de formulá- mais prazerosa para todos/as os/as envolvidos/
rio do Google que também serve de controle de as. Quando as câmeras estão desligadas, torna-se
presença. Os encontros foram conduzidos por impossível para as professoras e mediadoras rece-
meio do Google Meet e as edições versaram so- berem algum tipo de feedback dos participantes
bre: I edição (julho-outubro de 2020): textos teó- – um sorriso, um balançar de cabeça ou qualquer
ricos na área de Estudos de Gênero / Feministas; outro gesto que indique aceitação e compreensão
II edição (abril-junho de 2021): textos teóricos e do que está sendo discutido virtualmente.

20
Universidade Federal de Roraima

Como a interação é feita em formato de Ter- A mediação do livro Identidade foi feita pela
túlia Literária, todas as falas dos participantes são coordenadora do projeto, Martha Julia Martins
bem-vindas, contanto que sejam respeitosas e de Souza, enquanto A praça do diamante foi me-
amigáveis, além de condizentes com o tema pro- diado pela coordenadora adjunta da ação Thami
posto e a obra trabalhada durante o encontro. A Amarilis Straiotto Moreira, ambas da UFRR. O
proposta é que os envolvidos façam inferência a olho mais azul teve mediação da docente Adria-
leituras prévias – inclusive as que foram trabalha- na Araújo da Universidade Federal do Amazonas
das no projeto – e consigam correlacionar com (UFAM). Posteriormente, as obras Amora será
suas próprias pesquisas e áreas de interesse. São mediada pela professora Renata Gomes da Uni-
desencorajadas falas prolongadas com relatos versidade Federal da Paraíba (UFPB) e Conversas
pessoais, pois além de tomarem muito tempo do entre amigas pela docente Mariana Bolfarine da
debate, roubam o turno daqueles que também Universidade Federal de Rondonópolis (UFR).
gostariam de contribuir, focando pouco na aná- O projeto conta também com a participação
lise da obra propriamente dita. de uma bolsista, selecionada mediante Edital n°
O debate ideal é aquele em que cada partici- 007/2021-PAE/PRAE/UFRR. A acadêmica é res-
pante pode contribuir de forma sucinta, algo em ponsável por controlar o chat do Google Meet e
torno de 10-15 minutos por vez, que esse consiga auxiliar na divulgação das ações do projeto em
escutar com consideração e respeito a seus co- redes sociais, como o Instagram do projeto (cf.
legas de sala virtual, pois a aprendizagem, nesse Figura 1). O perfil do Instagram mostra algumas
tipo de atividade formativa, surge do comparti- publicações que anunciam as ações do projeto, a
lhamento de visões e conhecimento, a partir da fim de servir como um meio de comunicação en-
leitura crítica do texto proposto, pois, como bem tre potenciais interessados na Extensão.
aponta Dalvi (2013, p. 68, grifo do autor), “litera-
tura não se ensina, se lê, se vive – e que, portanto,
o que possa ser ensinado seja algo ‘sobre’ literatu-
ra e não literatura ‘propriamente dita’”.
Outra questão metodológica importante é a
escolha das obras. Nessa terceira edição do pro-
jeto “Feminismo na Universidade”, as obras es-
colhidas foram pensadas levando em conta: (i) o
tamanho da obra, pois deveriam ter no máximo
350 páginas, uma vez que os leitores deveriam ler
em um prazo curto, pois os encontros são quin-
zenais; (ii) a escrita feminina / feminista, visto
que essa é a proposta inicial do projeto, discutir
obras que suscitem o debate em torno das ques-
tões femininas, de gênero e de sexualidade; (iii)
as obras deveriam contemplar tanto literaturas
estrangeiras (anglofônica, hispanofalante) quan-
to nacional.
Sendo assim, para essa edição, foram escolhi-
das as seguintes obras: Figura 1: Instagram do projeto Feminismo na Universidade
• Identidade, da estadunidense Nella Larsen; Fonte: Acervo pessoal do projeto
• A praça do diamante, da catalã Mercà Ro-
doreda; Todos os textos foram escolhidos de acordo
• O olho mais azul, da estadunidense Toni com a temática do grupo de pesquisa do CNPq
Morrison; e o Grupo de Estudos de Gênero (GREG), apre-
• Amora, da brasileira Natália Polesso; sentando correlação com as temáticas de pesqui-
• Conversa entre amigas, da irlandesa Sally sa das coordenadoras, além de dialogarem com
Rooney. situações reais vivenciadas por mulheres em seu

21
Cadernos de Extensão | Edição 2021

dia a dia, em consonância com questões relacio- literários, em formato de clube do livro, com o
nadas à raça, classe e gênero, em que os principais conhecimento formal acerca do pensamento con-
objetivos são aqueles que Dalvi (2013), ao anali- temporâneo nas questões de raça, classe e gênero
sar o contexto escolar, aponta como essenciais ao de forma interseccional, decolonial, antiliberal,
se trabalhar Literatura em ambientes educacio- anticapitalista e antihegemônica.
nais, quais sejam:
1. garantir a (ou se esforçar pela) apropriação
O presente Relato apresentou as principais
das ferramentas críticas para o fortaleci-
características do projeto de Extensão “Femi-
mento do leitor;
nismo na Universidade”, ação promovida pelo
2. democratizar as salas de aula de literatura;
GREG ligado ao CNPq.
3. reconhecer o poder político-pedagógico
Foram apresentadas as dinâmicas, os livros
da literatura” (Dalvi, 2013, p. 76).
usados, as participantes envolvidas na ação e
os principais objetivos da atividade. Além dis-
ESTUDOS FEMINISTAS E EXTENSÃO
so, foi exposto a relevância desse projeto para
FORMATIVA
o alunado e para as pesquisadoras envolvidas.
Os principais desafios foram apontados,
A ação extensionista apresentou aspectos po- assim como a relevância da atividade para a
sitivos e negativos. Dentre as características po- formação crítica e pedagógica dos/as parti-
sitivas é possível citar a promoção de parcerias cipantes. Este projeto justifica-se não apenas
entre a UFRR e docentes de outras instituições; devido ao seu valor acadêmico, pedagógi-
maior visibilidade dos projetos do GREG, que co e formativo, mas também, por contribuir
devido a pandemia, puderam ser realizados de para interromper discursos de preconceito,
forma remota, atraindo participantes de institui- ódio e intolerância contra mulheres e pesso-
ções de outros estados. Além disso, o projeto é as não-binárias que sofrem as mais variadas
uma oportunidade para o letramento feminista, violências na comunidade em nosso entorno.
de conscientização, formação de docentes e alu- Além disso, olhar para a Literatura como um
nado mais críticos e sensíveis às causas da desi- espelho da sociedade e refletir as condições
gualdade estrutural de gênero e suas violências de desigualdades estruturais e históricas em
materiais, físicas e simbólicas. que mulheres e indivíduos não-binários estão
A iniciativa propiciou a alunos/as e professo- submetidos há gerações, ajudam-nos a fazer
ras um espaço confortável de alívio em tempos sentido de nosso lugar no mundo, como mu-
tão difíceis, em meio ao isolamento social e à lheres, pesquisadoras e professoras em uma
pandemia, para ler e compartilhar leituras. Ade- Instituição Pública Federal brasileira.
mais, muitos participantes relataram que o pro-
jeto fomentou um compromisso de ler um livro
a cada 15 (quinze) dias, promovendo um hábito
REFERÊNCIAS
saudável que culmina nos encontros para com-
DALVI, Maria Amélia; REZENDE, Neide Luiza de; JO-
partilhamento e diálogo em torno da obra. As
VER-FALEIROS, Rita (org). Leitura de literatura na escola.
reuniões eram descontraídas e ofereciam a opor- São Paulo: Editora Parábola, 2013.
tunidade de aumentar o repertório acadêmico e
hooks, bell. Teoria Feminista: da Margem ao Centro. São
literário dos participantes envolvidos/as. Paulo: Perspectiva, 2019.
Ademais, como bem aponta bell hooks , é im- LARSEN, Nella. Identidade. Harper Collins, 2020.
portante aliar o conhecimento da teoria a ações
MORRISON, Toni. O olho mais azul. Companhia das Le-
que aproximem mulheres a realidades de outras tras, 2019.
mulheres, pois para a autora “experiências pesso-
POLESSO, Natalia. Vó, a senhora é lésbica?. In: Amora:
ais são importantes para o movimento feminista, Não Editora, 2015.
mas não podem substituir a teoria” (hooks, 2019,
RODOREDA, Merce. A praça do diamante. Planeta, 2019.
p. 64-65). Dessa forma, o projeto aqui apresen-
tado busca aliar a descontração dos encontros ROONEY, Sally. Conversas entre amigos. Alfaguara, 2017.

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Universidade Federal de Roraima

RODAS DE CONVERSA “SOBRE-


VIVÊNCIAS” – ESCOLA E FAMÍLIAS
NA PANDEMIA

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Marcelo Naputano - Doutor em Psicologia Social pela
Universidade Estadual Paulista – UNESP.
E m 2020, ocorreu a pandemia pelo Corona-
vírus, que trouxe várias transformações po-
líticas, econômicas e sociais em todo o mundo.
Alexandra de Oliveira Rodrigues Marçulo - Doutora Na ocasião, o atual diretor-geral da Organização
em Psicologia pela Universidade Salgado de Oliveira - Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreye-
UNIVERSO sus, denominou-a como uma emergência de saú-
Maria Andrelina do Nascimento Oliveira Gonçalves - de pública de importância internacional, o mais
Mestre em Saúde pela Universidade Federal de Roraima alto nível de alerta dessa organização. As orien-
– UFRR. tações da OMS têm sido baseadas na higiene
Robélia Cristina Saraiva Hahn - Especialista em Gestão pessoal e nos locais de trânsito de pessoas, dis-
do Trabalho Pedagógico pela Faculdade Internacional de tanciamento social mínimo de dois metros e a
Curitiba – FAINTER.
permanência em casa por maior tempo possível.
Vanessa de Paiva Campos - Psicologa pela Universidade As instituições educativas tiveram a difícil
Federal de Roraima – UFRR. tarefa de promover a continuidade da educação
em seus diversos aspectos de desenvolvimentos
cognitivos relacionais e, ao mesmo tempo, pro-
teger docentes, funcionários, discentes e familia-
res. Para enfrentar essa situação de emergência,
a solução encontrada foi a elaboração do ensino
remoto, segundo a Portaria do MEC nº 544, de
17 de junho de 2020, publicada no Diário Oficial
da União.
A normativa foi desafiadora para os educado-
res e alunos, principalmente, na adoção de novas
tecnologias. Dentre as dificuldades está em con-
ciliar as atividades domésticas com a educação
dos filhos em casa, por meio das atividades de
modo remoto.
Esse contexto provocou aumento do sofrimen-
to psíquico e atenção psicossocial durante o iso-
lamento social. Os projetos de atenção psicosso-
cial são uma possível resposta, ainda que parcial,
à atual condição “pandêmica” que, infelizmente,
ainda não vislumbra uma condição passageira.
A Psicologia move-se em ações de acolhimen-
to aos novos desafios, que provocam o atual so-
frimento psíquico, manifestado por muitas pes-
soas em nossa comunidade e, em particular, nas
comunidades educacionais que foram nosso foco
de ação (NAPUTANO, 2017).

23
Cadernos de Extensão | Edição 2021

Neste contexto, criamos o projeto de Extensão sados, por meio da plataforma Conferência Web .
“Rodas de conversa sobre-vivências” – Escola e Com carga horária de 40 horas, distribuídas
Famílias na Pandemia”, no Colégio de Aplicação em reuniões de supervisão com os promotores
(CAp/UFRR) e no Instituto Federal de Roraima e 10 Rodas de Conversa, com 2 horas de dura-
(IFRR), com encontros virtuais que possibilitas- ção cada, o projeto foi coordenado pelo Prof.
sem um espaço de escuta e compartilhamento Dr. Marcelo Naputano, e contou com a presença
de vivências. A proposta nasceu a partir da de- da Prof.ª Dra. Alexandra de Oliveira Rodrigues
manda de uma Organização Não-governamental Marçulo e do Prof. Me. Emílio Luiz Faria Ro-
(ONG), que solicitou o atendimento psicológico drigues – todos na qualidade de mediadores do
para pessoas adoecidas durante a pandemia. encontro – e a participação da discente Vanessa
A Psicologia é uma área multifatorial e mul- de Paiva Campos, colaboradora e formanda em
tifuncional. Na clínica individual, há um senti- Psicologia da UFRR, além da presença de pais e
do epistemológico e prático de ser, mas que não filhos da comunidade vinculada à instituição. A
pode ser compreendido como única possibilida- ação também foi mediada pela psicóloga Me. Ma-
de. Como uma ciência comportamental, trabalha ria Andrelina do Nascimento Oliveira Gonçalves
no âmbito da formação humana, na construção e a Prof.ª Robélia Cristina Saraiva Hahn, além da
de uma subjetividade capaz de atuar na preven- presença de pais e filhos da comunidade vincula-
ção ao sofrimento psíquico. da à instituição.
Ao ofertar a Roda de Conversa, a ação permi- O objetivo geral foi criar um espaço de in-
tiu o compartilhamento de vivências em momen- tervenção psicológica preventiva e criativa, com
to pandêmico, construindo, por meio da media- base socioconstrucionista e sistêmica relacional.
ção entre psicólogos e público-alvo, um processo Do ponto de vista específico, facilitamos as rela-
para manutenção da saúde mental como cons- ções interpessoais, por meio do compartilhamen-
trução coletiva (WITTGENSTEIN, 1967). Após to de vivências, e sensibilizamos o público sobre a
o contato com as instituições de ensino, organiza- importância dos cuidados com a Saúde Mental e
mos um calendário dos encontros virtuais, no qual a promoção do autoconhecimento.
foram disponibilizadas às inscrições, aos interes-

24
Universidade Federal de Roraima

Com o nosso projeto “Rodas de Conversa


Sobre-vivências – Escola e famílias na pande-
mia”, contribuímos com uma ação prática e uma
reflexão sobre uma modalidade de intervenção REFERÊNCIAS
psicológica construcionista social e sistêmica BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São
relacional, que coloca em evidência a Psicolo- Paulo, Hucitec, 2006.
gia, enquanto uma ciência e profissão relacio-
nada à prevenção ao sofrimento psíquico. BRASIL. PORTARIA Nº 544, de 16 de junho de 2020.
As Rodas de Conversa foram realizadas com Dispõe sobre a substituição das aulas presenciais por
aulas em meios digitais, enquanto durar a situação de
base nas duas teorias citadas, como os elemen- pandemia do novo coronavírus Covid-19, e revoga as
tos construtores de uma epistemologia das rela- Portarias MEC nº 343, de 17 de março de 2020, nº 345,
ções humanas a posteriori, ou seja, construções de19 de março de 2020, e nº 473, de 12 de maiode
teóricas que manifestam uma forte conexão 2020. Brasília: Casa Civil, 2020. Disponível em;
entre si, na consolidação de uma análise, e in- <https://abmes.org.br/legislacoes/detalhe/3185/porta-
ria-mec-n-544-2020>. Acesso em: 25 de Janeiro de 2021.
tervenções sociais baseadas em seus processos
de criação de significados ontológicos, a partir GERGEN, K. J. Movimento do construcionismo social
do locus concreto de inscrição dos sujeitos, por na psicologia moderna. R. Inter. Interdisc. INTERthe-
meio das relações e das ações coletivas (NAR- sis, Florianópolis, v.6, n.1, 2009, p. 299-325, Disponível
DONE & WATZLAWICK, 2015). em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/interthesis/
article/view/1807-1384.2009v6n1p299>. Acesso em: 05
As atividades foram baseadas em princípios/ de Março de 2021.
reflexões, a saber: o princípio de que “falar em
relação” não é o mesmo que “ter uma relação”; NARDONE, G. & WATZLAWICK, P. L’arte del cambia-
a constatação de que as relações psicológicas, mento. La soluzione dei problemi psicologici personali e
como relações humanas, devem ser reais e não interpersonali in tempi brevi. Milano : Ponte Alle Grazie,
2015, p 13-29.
ideais; o direito a relações humanas ambivalen-
tes; a compreensão de que os possíveis signifi- NAPUTANO, M. Intervenções psicossociais com jovens
cados das relações não são anteriores a elas, em migrantes das segundas gerações na Itália. (Tese Douto-
sua dinâmica de conflitos e resolução pacífica rado em Psicologia) – Faculdade de Ciências e Letras,
desses conflitos, e, por fim, o princípio de que, Universidade Estadual Paulista – UNESP. Orientador:
Dr. José Sterza Justo, Assis, 2017. 235 f. + anexos.
no universo das negociações relacionais, inter-
pretar não é entender. PARTON, N. & O’BYRNE, P. Costruire soluzioni sociali.
Os resultados possibilitaram a melhoria Costruzionismo e nuove pratiche di lavoro sociale. Tren-
das relações interpessoais e o compartilha- to: Centro Studi Erickson, 2005.
mento de vivências pandêmicas, por meio de
WITTGENSTEIN, L. Ricerche Filosofiche. Torino: Ei-
nossa mediação, que fortaleceram o lugar da naudi, 1967.
Psicologia enquanto uma ciência e uma pro-
fissão que pode atuar efetivamente em pro-
jetos de prevenção ao mal-estar psíquico na
construção de uma saúde mental para todos.
(PARTON & O’BYRNE, 2005).

25
Cadernos de Extensão | Edição 2021

CONEXÃO FOTOCRIAÇÃO
NOS ENCONTROS CRIATIVOS
VIRTUAIS E AFETIVOS DA
BRINQUEDOTECA

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Larissa Silva Gonçalves - Doutora em Sociedade e
O Programa de Extensão Brinquedoteca CriA-
ção - Laboratório do Brincar em atuação
desde 2018, envolve atividades estéticas, artísti-
Cultura pela UFAM. Professora Adjunta Curso de
Artes Visuais UFRR. Coordenadora Geral Programa
cas e lúdicas, voltadas para a comunidade acadê-
de Extensão Brinquedoteca CriAção – Laboratório do mica e em geral. Dentre suas ações, se destacam
Brincar. os Encontros CriAtivos com diversas linguagens
Laryssa Vilela Gomes - Graduanda Curso Artes Visuais artísticas, em espaço próprio no Centro de Edu-
da UFRR. Monitora voluntária Programa de Extensão cação e no Laboratório de Cerâmica, do Curso
Brinquedoteca CriAção - Laboratório do Brincar. de Artes Visuais da UFRR. E os Seminários de
Sensibilização do Potencial CriAtivo realizados
semestralmente, com convidados locais e inter-
nacionais. Em seus anos de existência, o Progra-
ma já recebeu mais de 100 pessoas, dentre elas
crianças, jovens, adultos e idosos, nas atividades,
que até 2019 foram realizadas presencialmente na
UFRR. Com o reconhecimento pela Organização
Mundial de Saúde, do estado de pandemia causa-
da pelo vírus SARS-CoV-2 e em função dos Pla-
nos de Segurança de Saúde adotados pelas insti-
tuições de ensino, as atividades presenciais foram
suspensas e diante do apelo das famílias, que já
participavam das atividades presencialmente e
que sentiam falta dos Encontros CriAtivos, pas-
samos por um período de readequação criativa e
instrumentalização em ferramentas tecnológicas
virtuais, para propor ações em formato remoto.
Assim, no primeiro semestre de 2021 iniciamos
com os Encontros Criativos Virtuais e Afetivos,
que culminaram com a realização da atividade
Conexão Fotocriação, proposta pela acadêmica
do Curso de Artes Visuais e monitora voluntá-
ria da Brinquedoteca CriAção, Laryssa Vilela. É
o Relato desta Experiência, que partilhamos nas
próximas linhas.

26
Universidade Federal de Roraima

No mês de abril de 2020 eram encerradas as A acadêmica do curso de Artes Visuais da


atividades presenciais do Programa de Extensão UFRR, durante a disciplina Arte e Formação da
Brinquedoteca CriAção – Laboratório do Brin- Criança, mostrou-se interessada em realizar pro-
car, devido ao contexto de saúde que nos assola posição de atividade criativa, com as crianças da
até hoje. Desde então ficamos sentindo e pensan- Brinquedoteca. E o fez reunindo dimensões da
do, como retomar as atividades com a vitalida- linguagem tecnológica, com a fotografia, para
de da vivência nos espaços concretos, por onde experimentar vivência criativa com o tema Co-
as crianças circulavam, brincavam, criavam na nexão Fotocriação. A atividade caracterizou-se
UFRR. Como a experiência com o espaço físico como uma proposta lúdica, interativa, sensível e
da Brinquedoteca não nos é permitida no mo- virtual, que foi planejada de início tendo em vista
mento, resolvemos apostar na nutrição do espaço a questão do espaço virtual a ser desenvolvida, os
afetivo, que na realidade é o que nos alimenta. possíveis participantes, as metodologias e possi-
Assim, motivadas por reencontrar as crianças, bilidades de aprendizagem. A realização ocorreu
que conhecemos e queremos conhecer, em par- por meio de sala virtual, criada na plataforma de
tilha de momentos sensíveis-lúdico-expressivos, videochamada Google Meet estando presentes a
decidimos retomar os Encontros CriAtivos da professora Larissa Gonçalves, a acadêmica Larys-
Brinquedoteca CriAção, de maneira remota, no sa Vilela, as crianças e seus responsáveis, em um
primeiro semestre de 2021. Os Encontros acon- total de treze participantes. O grupo de WhatsA-
teceram quinzenalmente, entre os meses de abril pp Galeria Brinquedoteca CriAção foi ferramen-
e maio, no horário das 10 às 11h, pela plataforma ta de apoio importante, durante a realização da
virtual Google Meet. Para divulgação das ativi- atividade, ajudando na interação entre os partici-
dades foi criada uma página na mídia social Fa- pantes, compartilhamento do link da atividade e
cebook, com o nome do Programa de Extensão. auxílio caso alguém precisasse.
E para inscrição foram partilhados Formulários A metodologia utilizada resultou de pesquisa
via Workspace Google, onde além dos dados da acadêmica, de referenciais sobre o desenvolvi-
pessoais, registrou-se o aceite para cessão de mento criativo da criança, embasado no estudo
direitos de imagens, dos trabalhos realizados ao
de Lowenfeld (1977) e Educação Estética, com
longo dos encontros. O acervo visual se comple-
base nos estudos da Pedagogia Waldorf (LANZ,
tou, com a partilha das imagens dos trabalhos
2013). Ambos referenciais relacionam a arte-e-
desenvolvidos pelos participantes, no Grupo de
ducação com a autoexpressão, tendo em vista o
WhatsApp Galeria Brinquedoteca CriAção, cria-
desenvolvimento do potencial criador e de liber-
do como mais um lugar de trocas virtuais, entre
os participantes. dade expressiva da criança, priorizando o prota-
Os Encontros CriAtivos, tanto presencial gonismo de meninas e meninos. Nestas propos-
quanto virtualmente, são abertos e de livre par- tas teórico-metodológicas, o adulto/educador
ticipação para crianças, jovens, adultos e idosos, atua como auxiliar de um processo, que é viven-
interessados em partilhar a CriAção. Em cada ciado em conjunto com as crianças. É importante
Encontro Virtual e Afetivo, uma palavra geradora esclarecer que essas metodologias são tendências
era lançada visando movimentar o diálogo entre progressistas libertadoras, que propõem a trans-
os participantes e especialmente, para pesquisar formação dos indivíduos, levando a educação ar-
os sentidos que as crianças manifestavam, sobre tística como instrumento de mudança.
cada palavra. No primeiro Encontro conversamos No início da atividade Conexão Fotocriação
sobre a delicadeza, no segundo a palavra gerado- foi apresentado um vídeo criado pela acadêmica,
ra foi tranquilidade, no terceiro pesquisamos so- disponível em seu canal no YouTube Laryssa Vi-
bre a bondade e encerramos o primeiro semestre lela, com a apresentação da proposta e o convite
de atividades remotas, com a palavra amor. Mui- à participação. Todos os participantes assistiram
to teríamos para comentar sobre os resultados de o vídeo, por meio do compartilhamento da tela e,
cada encontro, mas pelos limites deste texto, nos ao término, a monitora realizou um resumo apre-
deteremos no último, realizado dia 24 de maio de sentando palavras-chaves a serem imaginadas pe-
2021, que contou com a participação da acadêmi- los participantes. Estas palavras eram o mote para
ca Laryssa Vilela. compor elementos visuais, que os participantes

27
Cadernos de Extensão | Edição 2021

tivessem afinidade e que representassem para eles, caracterizando a importância de encontros entre
a palavra proposta. Qualquer objeto pôde ser ma- gerações distintas, em variadas situações (GON-
nipulado e explorado, para a criação da imagem. ÇALVES, 2018). Se, em virtude da pandemia, vi-
Durante intervalos de aproximadamente cinco venciamos o isolamento social, a afetividade pode
minutos, todos os participantes, crianças e adul- continuar sendo nutrida, por meio de encontros
tos, se organizavam e preparavam sua composição mediados pela tecnologia. Trazer a linguagem fo-
para a foto, registrada através da captura de tela tográfica, como tema do último Encontro CriAti-
no computador. Cada nova composição, fruto de vo da Brinquedoteca CriAção foi uma maneira de
nova palavra, gerava novo registro e, ao final de to- exercitar a percepção, sobre os processos de pro-
das as capturas, foi feita uma montagem através de dução de imagem, reunindo a dimensão afetiva,
colagem, no software Adobe Photoshop, reunindo fomentada pelas palavras geradoras e pelos afetos
as capturas de tela ao longo do processo e palavras com os objetos, que serviram para composição dos
geradoras, com o resultado a seguir: cenários registrados nas fotografias.
Elementos da linguagem fotográfica foram sen-
sibilizados, ao chamar atenção para as imagens das
câmeras do celular e do computador, que funcio-
nam como “espelho”, um reflexo do semblante dos
participantes, do espaço, símbolos e figurações, es-
colhidos durante a proposta de atividade. Salien-
tou-se que as imagens criadas no encontro, por
meio das câmeras do computador, seriam repre-
sentações, ou seja, outras imagens, para demons-
trar as palavras e ideias, de maneira diferente, ao
utilizar a manipulação da câmera fotográfica. A
fotografia do cotidiano é diferente do exercício de
manipular uma foto, com intenções lúdicas e artís-
ticas. A câmera do fotógrafo está vinculada ao seu
meio social, econômico, estético e ao objetivo de
realização da imagem. (SONTAG, 2004)
Este aprofundamento não era o foco da ativida-
de realizada, mas sim a sensibilização das poten-
cialidades do registro fotográfico, possível de ser
experimentada pelo material que temos e que es-
tamos utilizando com bastante frequência durante
a pandemia, que são as câmeras do computador e
celular. Existem vários tipos de câmeras, que po-
dem ter funções e resultados diferentes, uma câ-
Figura 1: Resultado Encontro Conexão Fotocriação mera de celular, por exemplo, tem mais facilidade
Crédito: Laryssa Vilela. Fonte: Acervo Pessoal.
de manuseio e deslocamento, podendo também
ser explorado ângulos e contrastes de luz. O obje-
Todo o processo foi vivenciado coletivamente, tivo da atividade não foi apenas de um registro, das
quer dizer com crianças e adultos criando conjun- cenas individuais criadas por cada participante,
tamente. Conforme indicam os referenciais teó- mas sim, a criação de uma imagem do conjunto.
ricos da proposta, o desenvolvimento intelectual Trabalhamos em uma plataforma com recur-
cognitivo, resulta das experiências sensíveis e lúdi- sos limitados de edição de imagem, no entanto,
cas, vivenciadas desde a mais tenra idade (LANZ, a realização da atividade Conexão Fotocriação
2013). E estas vivências serão tanto mais significa- apresentou soluções criativas, ao explorar as pos-
tivas, quanto mais liberdade tenham as crianças, sibilidades da fotografia a distância e virtual, em
para experimentarem momentos criativos e afe- composição com elementos gráficos, para compor
tuosos (LOWENFELD, 1977). A afetividade por uma imagem integrada. E os resultados sensíveis,
sua vez, se desenvolve em meio a conexões inter- criativos e intelectuais, deste processo, apresenta-
geracionais e com o meio sociocultural e natural, remos a seguir.

28
Universidade Federal de Roraima

As crianças foram espontâneas durante o lidade das imagens e agir criativamente com os
processo, ao compartilhar sensações e impres- significados relacionados, aos símbolos escolhi-
sões de seu ambiente pessoal, em um ambiente dos para fotografar. Experimentando um com-
virtual, buscando afinidade com as palavras. plexo exercício simbólico que, mesmo não acla-
Durante a atividade não foram feitas muitas rado pela racionalidade das crianças, germina no
perguntas, pois as crianças participaram com interior de sua imaginação criadora, para brotar
bastante desenvoltura. Demonstraram segu- ao longo de seu desenvolvimento intelectual.
rança e motivação com as proposições, agindo A proposta de Encontros CriAtivos Virtuais
de acordo com seu impulso expressivo. As pro- e Afetivos, oportunizou também o bem-estar
posições se seguiam e a cada tema, as crianças de crianças e adultos, demonstrando o valor da
se entusiasmavam mais com a brincadeira. Al- Arte, mais especificamente, de atividades sensí-
gumas tinham o seu tempo para criar e isso foi veis e criativas, que mesmo por meio digital, pro-
respeitado, para oportunizar maior segurança porcionaram Saúde Emocional e bem-estar, aos
na criação. A brincadeira não era uma com- participantes, ao longo do processo. Conforme
petição, de quem faria a melhor imagem, mas manifestaram os familiares das crianças e os pró-
sim de como os temas impulsionavam, os pro- prios adultos, que vivenciaram dos Encontros.
cessos de sensibilização e criação. Sabemos da importância da Arte para o de-
O exercício da ludicidade com a fotogra- senvolvimento da humanidade, pois toda ação
fia virtual, dialoga com o desenvolvimento humana é resultado de uma ação criadora. A Ci-
da imaginação e bem-estar da criança, funda- ência, a Cultura, a Economia e a Espiritualidade,
mentais para o desenvolvimento da cognição são frutos da criatividade e nosso trabalho de En-
e inteligência. A monitora fotografava, através sino, Pesquisa e Extensão, possibilita a divulga-
de uma captura de tela, e os participantes fica- ção do conhecimento em Arte, contribuindo de
vam livres para escolher os objetos, que melhor maneira ampla, com o desenvolvimento da socie-
encaixavam, sensível e visualmente, na com- dade, especialmente a Roraimense, que tem tido
posição de cada cenário criado. Desse modo acesso às atividades desenvolvidas no Programa
foi possível vivenciar também, a relação entre de Extensão Brinquedoteca CriAção.
uma equipe, onde cada um tem sua participa-
ção, para beneficiar o coletivo. E cada etapa do
processo, clarificava possibilidades criativas
diversas. Como o trabalho é um registro em
conjunto, muitas narrativas foram agregadas, REFERÊNCIAS
e um ambiente de colaboração se formou. Ao GONÇALVES, Larissa Silva. Trajetórias do imaginar: mi-
grações de afetos, memórias e sentidos. 2018. 188 f. Tese
mesmo tempo em que o participante cria, co- (Doutorado em Sociedade e Cultura na Amazônia) - Uni-
labora para quem assiste a se inspirar e seguir versidade Federal do Amazonas, Manaus, 2018.
no desenvolvimento do processo.
Acreditamos que atividades como esta pos- LANZ, Rudolf. A pedagogia Waldorf: caminho para um en-
sibilitam as crianças o transbordar de narrati- sino mais humano. 11. ed. São Paulo: Antroposófica, 2013.
vas, com qualidade sensível e interativa, mo- LOWENFELD, Viktor; BRITTAIN, W. Lambert. Desen-
vimentando-se com liberdade e interesse, pelo volvimento da capacidade criadora. São Paulo: Mestre Jou,
território dos símbolos. Por exemplo, uma 1977.
criança participante quis associar o exercício
de criar imagem, com uma fotografia físi- SONTAG, Susan. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
ca emoldurada. Em meio às proposições, ela
trouxe uma foto para sua composição, a ser re- VILELA. Laryssa. Conexão fotocriação - Projeto Lúdico.
gistrada em captura de tela. Desse modo, criou Youtube, 6 de out. 2021. Disponível em: <https://www.you-
um hipertexto, ao trazer o registro de uma tube.com/watch?v=WVF8sh0veaw >. Acesso em: 6 de out.
imagem física, dentro de outra digital. 2021.
Compondo sensível e ludicamente foi pos-
sível exercitar a transformação da funciona-

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Cadernos de Extensão | Edição 2021

FOCA NA TV: UMA


EXPERIÊNCIA DE MOBILE
JOURNALISM NA UFRR

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Sandra Gomes - Lotada no Curso Comunicação Social-
Jornalismo. Professora das disciplinas de Telejornalismo 1
O Foca na TV é um produto da disciplina de
Telejornalismo, que se transforma no projeto
de Extensão do curso de Comunicação Social/Jor-
e 2. Coordenadora do projeto FOCA NA TV DIREX No nalismo da UFRR. Tem como característica prin-
23129.017.531/2020-59. cipal o uso da plataforma mobile, através da pro-
Ayan Ariel - Acadêmico do Curso de Comunicação dução de reportagens com smartphones, aliando o
Social/Jornalismo. Monitor das disciplinas de formato tradicional de telejornalismo com produ-
Telejornalismo 1e 2 nos semestres de 2020.1 e 2020.2 ção em estúdio com equipamento profissional. O
Camila Costa - Acadêmica do Curso de Comunicação objetivo é favorecer a prática jornalística, ao mes-
Social/Jornalismo. Monitora da Disciplina de mo tempo que inicia a elaboração de novos pro-
Telejornalismo 1 e 2, semestres 2020.2 e 2021.1 dutos e novas práticas com a tecnologia mobile.
Willian Dias - Acadêmico do Curso de Comunicação O projeto é vinculado às disciplinas de Tele-
Social/Jornalismo. Monitor da disciplina de jornalismo 1 e 2, que ocorrem nos dois semes-
Telejornalismo 1, semestre 2021.1. tres da graduação, respectivamente. É vinculado
ao curso de Comunicação Social/Jornalismo da
UFRR. A ação é pautada pelas mudanças trazi-
das por meio das Tecnologias Digitais. Novas lin-
guagens em multiplataformas traduzindo-se na
convergência midiática (JENKYNS, 2009), com
novas linguagens e um novo fazer jornalístico.
Para elaborar esta ação, buscamos apoio em
estudos recentes nacionais e internacionais, que
apontam o uso da tecnologia mobile como pro-
missora em possibilidades narrativas, com maior
alcance, transmissão e engajamento. Embora re-
cente, já ocupa espaços nos mais variados veícu-
los de comunicação. A mídia tradicional geral-
mente aguarda que novas tecnologias e formatos
se consolidem antes de efetivar sua apropriação,
neste caso vem adotando as novas plataformas
de comunicação para gerar conteúdo. Essa adap-
tação gera novas linguagens e formatos, com
possibilidades variadas para produção e trans-
missão da informação, muitas vezes em tempo
real. É importante destacar que ainda estamos
no estágio inicial de desenvolvimento de lingua-
gens e formatos para a plataforma. (TEIXEIRA,
2019), CANAVILHAS (2015); MARTINS, 2012);
(SQUIRRA & FEDOCI, 2011)

30
Universidade Federal de Roraima

Assim, não há uma ruptura com a linguagem problemas reais, assumindo responsabilidades
televisiva, mas um caminho híbrido, entre os dois crescentes, compatíveis com seu grau de autono-
formatos. É ainda um território amplo de possi- mia profissional (PPC, 2015. P. 8).
bilidades, propício a experimentações e busca Como se percebe, esta atividade possibilita a
de novas narrativas elaboradas especificamente convergência de várias áreas do Jornalismo e suas
para cada tela nos dispositivos móveis. “Este é o disciplinas correspondentes: prática na criação e
momento de investigarmos e pensarmos sobre elaboração de pauta; redação jornalística, ciber-
quais as transformações sofridas pelo jornalismo jornalismo, edição de vídeos e telejornalismo,
audiovisual, a fim de se produzir conteúdo dife- possibilitando ao curso um laboratório prático
renciado frente aos novos desafios” (TEIXEIRA, com inserções diárias de conteúdo publicadas
2019, p. 16). na TV Universitária e nas Redes Sociais do pro-
Desta maneira, o Foca na TV cumpre a fun- grama e do Curso de Comunicação Social, ga-
ção didática ao ensinar os conceitos do fazer de rantindo visibilidade à produção das disciplinas,
um telejornal na televisão, apontando a história interação entre discentes/jornalistas atuando no
da televisão no Brasil, conceitos e práticas, carac- mercado e sociedade em geral.
terísticas do veículo e demais conceituações so- As mudanças trazidas pela Tecnologia Digital
bre a formação do repórter de televisão. Aliado têm transformado o mundo das comunicações. A
a esse aspecto, propõe-se refletir os impactos da possibilidade de transmitir conteúdo para múlti-
tecnologia digital no mundo contemporâneo, nos plas telas traz vários desafios e mudanças de lin-
costumes individuais e na profissão do repórter guagem. A convergência das mídias (JENKYNS,
e comunicador. O projeto leva essa reflexão para 2009) chega ao Jornalismo e ganha fôlego com o
além ao propor a realização de um produto jor- impulso dos smartphones, cujo consumo cresce
nalístico, com todo o processo consolidado, des- a cada ano. Começa aí uma transformação nos
de a elaboração, produção, edição final e publica- conteúdos audiovisuais, que agora tem produção
ção em emissora de televisão e nas redes sociais. feita para múltiplas telas, com vídeos produzidos
Enquanto projeto de Extensão, o Foca na TV nos formatos adaptáveis aos dispositivos móveis.
se alinha ao Plano de Desenvolvimento Institu- O Telejornalismo é uma narrativa que faz a
cional UFRR (2016-2020) e ao Plano Nacional de mediação e interpretação com a realidade social.
Extensão Universitária, no que diz respeito ao pa- Tomando por pressuposto a afirmação de que o
pel da Universidade de unir Ensino, Pesquisa e Ex- noticiário de televisão é um local de referência,
tensão, ampliando sua ação para além dos muros onde todos se veem, homens, mulheres, consu-
institucionais, ao levar informação para a comu- midores, atores de uma sociedade diversa, plural
nidade e sociedade em geral. Fornece também o e complexa. Sob o aspecto do conhecimento te-
desenvolvimento de novos formatos e fazeres. Sua órico, se encaixa no conceito de práxis, com sua
realização está em consonância com as evoluções visão e mediação da realidade. É uma forma de
tecnológicas e de linguagem ocorridas no merca- conhecimento que tem por função interpretar a
do e segue a premissa de formar profissionais qua- realidade social. Apresenta como resultado um
lificados não só para desempenhar as funções de trabalho feito por profissionais que apresenta a
Jornalista, mas para analisar e pensar a sociedade realidade dentro de normas e regras jornalísticas,
e o mercado de forma crítica, como consta no Pro- mediando o contexto (VIZEU, 2009).
jeto Político Pedagógico (CCOS, 2015). A narrativa horizontal, e a produção de no-
O projeto surge com o propósito de dar visi- tícias nesse formato, tem se tornado cada vez
bilidade às produções dos alunos da disciplina de mais comum, de acordo com Relatório do Digital
Telejornalismo do curso de Comunicação Social/ News Project (2018). Essa mudança já vem sendo
Jornalismo da UFRR. Esta ação envolve várias assimilada pelas emissoras de TV desde antes da
áreas do jornalismo (PPC 2015) e possibilita a pandemia pela COVID-19 e cresce cada vez mais
interação permanente dos acadêmicos com fon- (TEIXEIRA, 2019).
tes, profissionais e sua relação com os diversos A História é pródiga em apontar mudanças
públicos do Jornalismo desde o início de sua for- e transformações ao longo dos séculos. Um dos
mação. Esse aspecto estimula o aluno a lidar com profissionais mais exigidos na era digital é o jor-

31
Cadernos de Extensão | Edição 2021

nalista. A Rede digital torna o mundo cada vez a parte prática, tanto em sala de aula para debater
menor e noticiar ganha novas e desafiadoras nu- e desenvolver as pautas e sua produção, quanto
ances. Uma delas é a mudança do receptor, que durante a gravação e edição das reportagens e es-
hoje está multifacetado em várias plataformas e caladas com o apresentador. A edição final é feita
sites, com variados hábitos e costumes, em todos pela TV Universitária.
os lugares. A proposta é atender aos princípios da Exten-
O cidadão deixa de ser um ente passivo, são, ao promover a prática e atualizações técnicas
e passa a produzir – e compartilhar – o que o necessárias aos futuros profissionais, bem como
rodeia, participando direta e efetivamente da informar a comunidade externa.
construção da notícia. Tal aspecto impõe, cada O Foca na TV é veiculado na grade de pro-
vez mais, a necessidade de uma imprensa ética e gramação da TV Universitária da instituição, na
pluralista, que seja livre, honesta e ética, tornan- página institucional do Curso de Comunicação
do-se um valor para a construção da democra- Social-Jornalismo e no YouTube do Curso.
cia e da cidadania. O projeto foi dividido em três etapas: Etapa 1
A credibilidade é o maior ativo de uma empre- – referencial teórico e Capacitação dos alunos em
sa jornalística e o profissional trabalha com essa relação a: Conceitos de Telejornalismo, história e
premissa, enfrentando ainda um leitor que atua formatos, elaboração e produção de pautas e b)
também como produtor e, além disso, um fiscali- o uso do smartphone para produção (enquadra-
zador natural desta atividade. mento, áudio); Etapa 2 – Produção das matérias
Alguns questionamentos têm sido enfrentados com entrevistas, gravação, edição do material pro-
pelo fazer jornalístico e referem-se à convergên- duzido por grupo; Etapa 3 – Gravação da escalada
cia midiática, seus efeitos na linguagem e estética pelo(s) apresentador(es) do Foca e edição final.
do Jornalismo Audiovisual, rotinas profissionais A turma é dividida em grupos de três a cin-
e o perfil do jornalista, além das mudanças com a co alunos que, com a supervisão do professor e
audiência e as mudanças nos processos de produ- apoio dos monitores, elaboram todos os proces-
ção jornalísticas (MARTINS, 2012) sos de produção da notícia, desde a discussão da
Trata-se, portanto, de um novo cenário no pauta e sua angulação até os critérios de noticia-
qual se concede um inédito poder de expressão bilidade, bem como a produção – que envolve a
à sociedade, com canais de comunicação abertos locação das imagens e agendamento com entre-
e atentos aos cidadãos/consumidores de notícias. vistados, edição da notícia nos laboratórios do
Esta condição exige maior especialização por curso , com uma versão de aplicativos de edição
de vídeo, como o Adobe Premiere.
parte dos jornalistas e, ao mesmo tempo, maior
As aulas são remotas e as gravações das re-
capacidade para dialogar com temas universais
portagens/passagens são divididas em grupos de
e transdisciplinares ou transversais ao campo da
forma a não haver aglomerações ou mais de três
Comunicação. Tais jornalistas são chamados não
alunos na pauta.
apenas à presteza técnica e a ações éticas bem de-
A gravação da escalada é feita nos estúdios
finidas, mas à reflexão e à reorganização da ati-
da TV Universitária, cuja estrutura de estúdio,
vidade como um todo – dos fundamentos mais
ilha de edição e profissionais, como cinegrafista
primitivos, aos novos paradigmas da era da In-
e editor final, são essenciais para a realização do
formação. (PPC, p. 9, 2015)
programa. A veiculação é semanal e a duração de
Neste sentido, o jornalismo móvel consiste
cada programa é de 20 minutos, em média.
em uma dessas mudanças, ao utilizar tablets e
Nossa experiência continuou durante o perío-
smartphones para a produção, compartilhamen- do de Ensino Remoto Emergencial (ERE). Aten-
to e consumo de notícias, o que transformou o tos às normas sanitárias de afastamento social,
Telejornalismo, que tem um público muito mais estão presentes, no estúdio, apenas o apresenta-
ativo e exigente. dor, o cinegrafista e o professor ou monitor da
Durante a disciplina de Telejornalismo, ocorre disciplina. Com esta parceria, inserimos o pro-
a produção do Foca na TV que é amparado forte- grama na grade de programação da emissora, re-
mente nos smartphones de cada aluno. A meto- forçando seu caráter extensionista ao ampliar o
dologia utilizada envolve pesquisa bibliográfica e alcance de público, na capital e interior.

32
Universidade Federal de Roraima

tre d’Etudes des Images et des Sons Médiatiques/CEISME,


Aliar a teoria e a prática é parte essen- Université Sorbonne-Nouvelle, em 05 de abril de 2007. Re-
cial na formação do jornalista, sobretudo no vista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Gra-
mundo contemporâneo, com as mídias digi- duação em Comunicação, COMPÓS, Abril de 2007 - 2/31.
Disponível em: www.compos.com.br/e-compos.
tais e sua hiperconectividade. As rápidas mu-
danças e transformações socioeconômicas e JENKYNS, Henry. A cultura da Convergência. Editora
culturais são apontadas pelo PPC (2015) que Aleph, 2009.
busca atender às novas exigências nas rela-
ções pessoais e no mundo do trabalho.
KRAEMER, Karen Cristina. Script: a organização da pro-
Neste sentido a Extensão universitária dução audiovisual no telejornalismo. Disponível em: http://
tem papel decisivo na formação do acadê- www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-kraemer-jornalismo.pdf
mico de Comunicação Social, ao fomentar
e para garantir a prática e a inserção social MARTINS, Elaide. Telejornalismo na era digital: aspectos
e profissional do egresso de jornalismo da da narrativa transmídia na televisão de papel. Copyright ©
2012 SBPjor / Associação Brasileira de Pesquisadores em
UFRR. Jornalismo. BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH -
A criação do Foca na TV, produto criado Volume 8 - Número 2 – 2012.
e desenvolvido na disciplina de Telejornalis-
mo, está em consonância com os avanços das MELLO, Jaciara Novaes. Telejornalismo no Brasil. Dispo-
Tecnologias Digitais de Informação e Comu- nível em: www.bocc.ubi.pt.
REZENDE, Guilherme Jorge de. Telejornalismo no Brasil:
nicação, DTICs, e suas transformações so- um perfil editorial. São Paulo: Summus, 2000. 289 p
ciais. Parte das atividades realizadas em sala
de aula, através do Ensino e Pesquisa, amplia PATERNOSTRO, Vera Íris. O texto na TV, Manual de Tele-
seu alcance de atender as diretrizes extensio- jornalismo. II Edição. Rio de Janeiro, Elsevier, 2006.
nistas, ao incluir no mercado, profissionais
REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNA-
capacitados de forma ética e preocupados LISM. Digital News Report 2018. Disponível em: http://
com o interesse social. www.digitalnewsreport.org/survey/2018/brazil-2018.
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rim Jacinto. TJ UFSC, o Telejornal diário da Universidade ticle/viewFile/2264/2248. Acesso em: 20.02.2021.
Federal de Santa Catarina. Trabalho submetido ao XX Prê-
mio Expocom 2013, na Categoria Jornalismo, modalidade TEIXEIRA, Juliana Fernandes. Jornalismo audiovisual
Produção laboratorial em videojornalismo e telejornalismo para e com dispositivos móveis. Um estudo das aplicações
(conjunto ou série). dos smartphones nos processos e produtos jornalísticos das
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mo e dos jornalistas no Século XXI: Entrevista com Suza-
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sitivos móveis: produção, distribuição e consumo. Livros
LabCom, Covilhã, UBI, LabCom, 2015. Disponível em:
www.livroslabcom.ubi.pt

GOMES, Itania Maria Mota. Questões de método na aná-


lise do telejornalismo: premissas, conceitos, operadores de
análise. Este artigo foi apresentado em encontro do Cen-

33
Cadernos de Extensão | Edição 2021

MAIS LIBRAS: UMA AÇÃO DE


INCLUSÃO SOCIAL DURANTE A
PANDEMIA E O ENSINO REMOTO
Universidade Federal de Roraima - UFRR
Alessandra Cruz - Mestra em Letras pela UFRR. E-mail:
alessandra.cruz@ufrr.br
O Programa Mais Libras surgiu a partir da
oferta da disciplina de “Introdução à Libras”
para as licenciaturas da Universidade Federal
Jaelson da Silva Santos - Mestre em Letras pela UFRR. de Roraima (UFRR); por meio dessa disciplina,
E-mail: jaelson.santos@ufrr.br cumpre-se a obrigatoriedade de uma carga horá-
Felipe Aleixo - Doutor em Linguística e Língua ria mínima de 60 horas de ensino de Libras para
Portuguesa em Letras pela UNESP. E-mail: felipe.aleixo@ os acadêmicos dos cursos de Graduação em Fo-
ufrr.br noaudiologia, Normal Superior, Pedagogia e to-
dos os cursos de licenciatura e formação de pro-
fessores, conforme disposto na Lei n. 10.436/2002
e no Decreto n. 5.626/2005. A disciplina, porém,
é optativa aos demais cursos, recebendo discentes
de praticamente todos os cursos da Universidade.
Nesse sentido, é notório o interesse de alunos ma-
triculados nos cursos de Medicina e Enfermagem,
cuja presença, a cada semestre, vem aumentando
consideravelmente, tanto que turmas passaram a
ser compostas apenas por esses graduandos. Isso
facilitou o desenvolvimento de ações com foco
nas necessidades desses futuros profissionais.

34
Universidade Federal de Roraima

A procura pela disciplina de Introdução à Li- Logo, neste Relato de Experiência, temos o ob-
bras quase sempre se justifica pelo mesmo propó- jetivo de apresentar, às comunidades acadêmica e
sito: oportunizar a comunicação com o paciente civil, como tem sido desenvolvido o trabalho do
surdo. Todavia, é importante destacar que, infe- Programa “Mais Libras: a saúde em nossas mãos”,
lizmente, uma disciplina de 60 horas não é su- detalhando as ações realizadas em suas duas fases
ficiente para oferecer proficiência comunicativa, iniciais e expondo as conquistas adquiridas até o
nem é capaz de suprir todas as necessidades de presente momento.
entendimento sobre a cultura e identidade ex- Segundo Aragão et al. (2014), há uma expres-
pressas pela comunidade surda. Nesse sentido, siva demanda de surdos brasileiros que buscam
em 2019, decidimos oficializar uma ação de Ex- atendimento na Saúde e que não conseguem ter
tensão voltada para esse público – surgia, assim, seus problemas resolvidos em virtude do des-
o até então Projeto de Extensão “Mais Libras: a conhecimento da Língua Brasileira de Sinais,
saúde em nossas mãos”. a Libras, por parte dos profissionais dessa área.
A proposta inicial era atender somente alu- Outra situação que dificulta o acesso efetivo de
nos dos cursos de Medicina e Enfermagem da pessoas surdas aos serviços de Saúde diz respeito
UFRR. Todavia, em razão da pandemia, optamos à interação profissional da saúde-paciente, pa-
por abrir inscrições para outros cursos da área da ciente-profissional da saúde, uma vez que, sem
Saúde e de outras instituições, assim como para conhecimento da língua de sinais, a comunicação
profissionais já graduados. Assim que divulga- é comprometida.
mos as novas diretrizes de inscrição, tínhamos, A partir do início das ações do Mais Libras, al-
em poucos dias, o equivalente a mais de 600 ins- guns alunos do curso de Letras Libras Bacharelado
critos; desses, após uma criteriosa seleção, elege- desenvolveram – e ainda desenvolvem – suas pes-
mos 200 pessoas, que estavam aptas a participar quisas de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC)
do projeto. voltadas para contextos clínico-hospitalares.
No decorrer do primeiro semestre das ativida- Dessas pesquisas, algumas já nos trouxeram
des do projeto, todavia, percebemos que a dificul- dados importantíssimos, e que nos possibilitam
dade com as tecnologias fez muitas pessoas de- uma atuação mais efetiva e significativa na socie-
sistirem do curso. As aulas aconteciam de forma dade roraimense em prol da comunidade surda.
síncrona, o que também se tornou uma barreira, Por exemplo, conforme Silva (2021), nas UBSs
visto que os horários disponíveis por aqueles que (Unidades Básicas de Saúde) da capital Boa Vista,
já atuavam na área da Saúde, principalmente em não há contratação de Tradutores e Intérpretes
hospitais, eram alternados durante a semana. Por de Libras; identificou-se, porém, que, em quatro
essa razão, decidimos, para a segunda fase, gravar unidades, há alguns servidores que conseguem se
as aulas com antecedência e disponibilizá-las se- comunicar com os pacientes surdos. Destacamos
manalmente aos participantes. As aulas da segun- que esses servidores não têm formação na área,
da fase foram divididas em cinco módulos; cada de modo que o conhecimento da língua provém
um deles com quatro videoaulas, ministradas por do contato com familiares surdos ou de estudos
cinco professores: três ouvintes e três surdos. independentes. Silva (2021) identificou, ainda,
Recentemente, após aprovação em colegiado, a dificuldade no atendimento de imigrantes sur-
o Projeto tornou-se um “Programa de Extensão”, dos, oriundos da Venezuela. Em virtude disso,
em decorrência das inúmeras ações realizadas ampliamos as ações do nosso Programa, ofere-
para além do ensino de Libras, como, por exem- cendo curso de Português escrito como língua de
plo, a criação de grupos estudos e a organização acolhimento às pessoas surdas que migraram do
de palestras. Destacamos que essas ações têm país vizinho para Roraima.
sido facilitadas pela oportunidade de o Programa Na primeira fase do Mais Libras, enfrentamos
poder contar com professores colaboradores tan- dificuldades para encontrar uma plataforma que
to de Roraima quanto de outras instituições bra- atendesse a todas as nossas necessidades e, ainda,
sileiras, alunos bolsistas remunerados e voluntá- facilitasse o acesso dos alunos inscritos no Pro-
rios do curso de Letras Libras Bacharelado e do grama, tendo em vista que utilizamos uma língua
Programa de Pós-graduação em Letras da UFRR. visual. Além disso, a falta de materiais adequa-

35
Cadernos de Extensão | Edição 2021

dos para a gravação, de suporte para edição, entre importantes para que a comunidade surda tenha
tantas outras dificuldades que nos traziam um acesso a diferentes informações sobre a pande-
sentimento de desânimo, poderia ter nos levado mia de COVID-19, entre outras questões que en-
a desistir, mas mesmo com o psicológico abalado, volvem a saúde do ser humano. Assim, todos os
devido à perda de amigos, fomos mais fortes. meses, as três alunas monitoras – duas remune-
Vale mencionar que, para nós, esses desafios radas e uma voluntária – desenvolvem a tradução
não foram negativos, mas, sim, circunstâncias de vídeos informativos, conforme apresentamos
que precisávamos vencer para que a aprendiza- na Figura 3 e que podem ser acompanhados pelas
gem acontecesse. Nesse momento, tornamo-nos redes sociais do programa: @maislibras.ufrr, no
também alunos, pois não estávamos preparados Instagram, e MaisLibras.ufrr, no Facebook.
para essa situação tão repentinamente. Isso nos Cabe mencionar, ainda, que há muitas bar-
trouxe, também, novas reflexões: reavaliamos reiras que essas alunas enfrentam diariamente
nossas práticas, vencemos e alcançamos um pú- para continuar participando do programa Mais
blico que jamais imaginávamos. Libras, mas elas estão superando as adversida-
Apresentamos, em forma de mosaico, um re- des, visto que atuar na tradução de uma língua
corte das primeiras atividades de interação que apenas com orientações a distância não é fácil,
nos fizeram ter a dimensão do alcance do Mais e ainda dão apoio aos inscritos no Programa.
Libras e que nos impulsionou a não desistirmos
do Programa em meio ao caos e ao sofrimento
que a pandemia de COVID-19 trouxe a todos
nós.
Alunos de outros estados continuam partici-
pando do Programa, o que nos alegra muito, pois,
além de levar o nome do estado para o restan-
te do Brasil, apresenta o comprometimento da
UFRR com seu papel social.
Atualmente, seguimos com palestras minis-
tradas especificamente por professores surdos
que atuam na área da Saúde.
Em nosso Programa, as aulas de Libras têm
como público principal os acadêmicos dos cursos
de Medicina, Enfermagem e Psicologia da UFRR
e profissionais da área da Saúde. Porém, como
dissemos, também é permitida a participação de
inscritos de outros estados e universidades, pois
entendemos que esse contato possibilita conhe-
cer realidades diferentes e, assim, compartilhar-
mos conhecimento.
As aulas de Português escrito como língua de
acolhimento acontecem uma vez por semana, de
maneira assíncrona, com a colaboração da Pro-
fessora Ana Paula Arja, que é também aluna do
programa de Pós-graduação em Letras da UFRR
e também colabora com o ensino de Libras com
os demais professores. Nessa ação, o Mais Libras
atende aproximadamente cinquenta surdos imi-
grantes, que acessam as aulas, também, de forma
assíncrona. Assim, os conteúdos das aulas são re-
visitados sempre que o aluno necessita.
Lembramos, ainda, as ações realizadas pelas Participação das monitoras em vídeos informativos sobre
a COVID-19
bolsistas do Mais Libras, sob orientação dos coor- Fonte: arquivo pessoal.
denadores do programa, que são extremamente

36
Universidade Federal de Roraima

Diante de tal cenário, o Programa de Ex-


tensão “Mais Libras: a saúde em nossas mãos”
segue firme no intuito de construir, dentro da
UFRR, um espaço clínico-hospitalar bilíngue
para atender a comunidade surda. Além disso,
grupos de estudo focados em sinais-termos,
bem como em tradução e interpretação, estão
sendo desenvolvidos e pensados para que pos-
samos tornar a Libras uma língua de uso co-
mum, nos mais diversos ambientes sociais de
Roraima, possibilitando que a pessoa surda te-
nha seus direitos linguísticos garantidos.

Por meio deste Relato de Experiência, expu-


semos como o Programa de Extensão “Mais Li-
bras: a saúde em nossas mãos” tem sido desen-
volvido em suas duas fases iniciais. Por meio da
apresentação do Programa, evidenciamos sua
importância para a sociedade civil e acadêmica
não só de Roraima, como também nos demais
estados do Brasil.
É necessário enfatizar a importância e a
valorização do profissional TILS (Tradutor e
Intérprete de Libras) em todo e qualquer am- REFERÊNCIAS
biente social. Todavia, o que buscamos com o ARAGÃO, J. S. et al. Acesso e comunicação de adultos
Programa não é formar Tradutores e Intérpre- surdos: uma voz silenciada nos serviços de saúde. Revis-
tes de Libras – para isso, faz-se necessária a for- ta de Pesquisa e Cuidado Fundamental (On-line), v. 6,
mação em um curso de graduação. Buscamos, n. 1, p. 1-7, 2014. Disponível em: <http://www.index-f.
com/pesquisa/2014/6sumario.php>. Acesso em: 10 out.
na verdade, difundir a Libras, que é um dos 2021.
deveres das Instituições de Ensino Federais, e
assim proporcionar que profissionais de outras LACERDA, C. B. F. Tradutores e intérpretes de Língua
Brasileira de Sinais: formação e atuação nos espaços
áreas consigam se comunicar com a pessoa sur- educacionais inclusivos. Pelotas: Cadernos de Educa-
da, pensando, por exemplo, que uma consulta ção, 2010. p. 133-153.
médica é algo muito particular – nem sempre
desejamos ter a presença de uma terceira pes- OLIVEIRA, Y. C. A.; CELINO, S. D. M.; COSTA, G.
M. C. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 25, n. 1, p.
soa (como um intérprete, por exemplo) nos 307-320, 2015. Disponível em: Comunicação como
acompanhando. Dessa forma, a privacidade é ferramenta essencial para assistência à saúde dos sur-
também um direito do cidadão surdo; e como dos. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/physis/
garanti-la se não soubermos Libras? v25n1/0103-7331-physis-25-01-00307.pdf>. Acesso
Por fim, acreditamos que as ações do Mais em: 14 out. 2021.
Libras continuarão trazendo para todos os ins- SILVA, Célia Pereira da. O perfil do tradutor e intérprete
critos, membros e colaboradores muito conheci- de língua de sinais e o atendimento ao imigrante surdo
mento e, sobretudo, transformações sociais não na unidade básica de saúde Dr. Dimitre Ramos Gon-
zalez. 2021. 56 f. TCC (Graduação) - Curso de Letras
só dentro da UFRR, mas além de seus muros.
Libras Bacharelado, Universidade Federal de Roraima,
Boa Vista, 2021.

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Cadernos de Extensão | Edição 2021

XXVIII SEMANA ACADÊMICA DE


QUÍMICA DA UFRR: QUÍMICA E
SAÚDE
Universidade Federal de Roraima - UFRR
Ednalva Dantas Rodrigues da Silva Duarte - Doutora
em Biodiversidade e Biotecnologia pela UFRR. Docente
A Extensão universitária está prevista no Art.
207 da Constituição Federal (BRASIL,1988),
deve ser realizada de forma indissociável com
do DQUI/UFRR. as atividades de Ensino e Pesquisa. A Semana
Luciana Araújo Xavier - Doutoranda em Biodiversidade de Química é projeto anual do Departamento
e Biotecnologia pela UFRR. Técnica de laboratório do de Química desde 1991 (UFRR, 2018, p.22). Os
DQUI/UFRR. temas do evento são variados e visam abordar
Habdel Nasser Rocha da Costa - Doutor em assuntos de interesse atual, para disseminar e
Biotecnologia pela UFAM. Docente do DQUI/UFRR. discutir o conhecimento científico com a comu-
Viviane Araújo Cardoso - Doutora em Química pela nidade em geral e está em consonância com as
UFPE. Docente do DQUI/UFRR. diretrizes previstas no Plano de Desenvolvimento
Carlos Ramon Franco - Doutor em Química pela Institucional (PDI) da UFRR (UFRR, 2021, p.24),
UNICAMP. Docente do DQUI/UFRR. bem como atende as orientações do Projeto Po-
Enaile Alves Moura - Bacharel em Direito pela Faculdade lítico Pedagógico do Curso de Licenciatura em
Estácio da Amazônia. Assistente administrativo do DQUI/ Química (UFRR, 2018, p.22).
UFRR. A Semana possibilita a divulgação das pesqui-
Eliandra Lourenço Rodrigues - Discente do Curso de sas realizadas na área de Química e estreita as re-
Licenciatura em Química da UFRR. lações entre o público envolvido, propiciando tro-
Ellen Caroline Silva Lima - Discente do Curso de ca de conhecimentos entre os alunos, professores
Licenciatura em Química da UFRR. e técnicos da UFRR, com diferentes profissionais
Ewellin Anny Gomes Monteiro - Discente do Curso de de outras instituições e comunidade em geral.
Licenciatura em Química da UFRR. A temática desta edição foi “Química e Saú-
de” e teve a proposta de debater o papel da Quí-

38
Universidade Federal de Roraima

mica na elaboração de medicamentos, vacinas e nos do Departamento de Química, de outros


tratamentos de doenças de forma geral, levando setores da UFRR, com a parceria do Instituto
a compreensão da sociedade sobre a importân- Federal de Roraima (IFRR) e apoio de egressos
cia das pesquisas químicas na área da Saúde e da do curso de Licenciatura em Química, empresas
contribuição desta ciência para o desenvolvimen- roraimenses e cearenses.
to e evolução da sociedade, principalmente, no Os envolvidos produziram mais de 2.500 litros
contexto pandêmico. de álcool etílico a 70% na forma líquida e em gel,
Além disso, promoveu a integração entre Co- que foram distribuídos para várias entidades pú-
munidade Universitária e público externo ao in- blicas, entre elas, a Secretaria de Justiça (SEJUC),
centivar a busca por conhecimento e contribuir Secretaria de Saúde, Hospitais, agentes da polícia,
com o esclarecimento das pesquisas químicas na bombeiros, etc.
área da Saúde. Durante o minicurso, abordou-se também
Durante a programação da XXVIII Semana sobre a arrecadação de garrafas opacas para ar-
Acadêmica de Química foram ministradas pales- mazenamentos de saneantes, garrafas pets, caixas
tras, exposições de trabalhos, videoaulas e rodas Tetra Park, etc., óleos oriundos de frituras para
de discussões por meio das plataformas de vide- produção de sabão caseiro e sabão líquido. A se-
oconferências Google Meet e Rede Nacional de gunda palestra, intitulada “Cobre: Bioquímica
Ensino e Pesquisa (RNP). O evento foi transmi- medicinal e material de superfície”, tratou sobre
tido ao vivo no canal do Youtube da UFRR , as a Bioquímica Inorgânica, área da Bioquímica
exposições dos banners foram possíveis no site Medicinal, com relatos de uma pesquisa desen-
do curso de Química . Para a transmissão, utili- volvida na UFRR com o emprego de metais, em
zou-se o programa do OBS Studio (Open Broa- especial os de transição como o cobre (Cu), em-
dcaster Software), um programa de streaming e pregados em formulações de medicamentos, e
de gravação gratuito e de código aberto. O mi- como esses metais interagem no sistema biológi-
nicurso “Química dos cosméticos e relação com co no combate de doenças como Câncer, dando,
a COVID-19” foi ministrado pela pesquisadora uma visão geral, ao público, sobre a contribuição
Dra. Samanta Monzem. de estudos químicos na Saúde.
O evento teve 91 inscritos nas palestras, 21 A palestra “Química, saúde e desenvolvimen-
inscritos no minicurso, 40 participantes em mé- to de fármacos”, abordou a experiência de um
dia ao vivo e, aproximadamente, 100 visualiza- pesquisador químico sobre a Química Medicinal
ções e 130 acessos aos banners. Inorgânica e sua interfaces com a atividade farma-
Devido à pandemia do Coronavírus, a Semana cológica, coleções de compostos e as substâncias
Acadêmica de Química foi on-line com a partici- químicas bioativas. Destaca-se que o tema, ainda
pação do público via webconferência. O primeiro novo, apresentou informações sobre o processo
dia contou com a palestra “A química no com- de descoberta dos fármacos, as fases desses (far-
bate ao COVID-19”. Na ocasião, falou-se sobre macêutica, farmacocinética e farmacodinâmica),
o começo da pandemia e a grande procura por as estratégias para descoberta de novos fármacos,
produtos saneantes, por exemplo, álcool a 70% para doenças tropicais, toxicidade aguda, admi-
INPM líquido ou em gel, hipoclorito de sódio, nistração, dose ideal, confidencialidade, a busca
entre outros. Por conta da alta demanda, houve pela patente, como por exemplo, a pesquisa sobre
escassez desses produtos nos supermercados e o esquema de síntese da tetraamina de rutênio
comércios em geral. Neste cenário, os docentes, (II) como transportadora de óxido nítrico e ben-
técnicos e discentes de Química mobilizaram-se znidazol e sua ação sobre o T. cruzi avaliando a
por meio do Projeto de Extensão “Produção de atividade tripanocida in vivo.
Saneantes no Combate ao Coronavírus”. A quarta palestra abordou os “Saneantes do-
A iniciativa buscou produzir e doar álcool etí- missanitários e seu potencial risco a saúde”, com
lico a 70% INPM líquido e em gel, conforme os foco nos cuidados e atenção aos riscos à Saúde
padrões de alcoometria (método oficial), e água do Homem e ao Meio Ambiente que devemos ter
sanitária hipoclorito de sódio diluído a 0,1 e 0,5 com as diferentes substâncias químicas usadas no
%. A ação foi desenvolvida por professores e alu- nosso dia a dia, como por exemplo, os produtos

39
Cadernos de Extensão | Edição 2021

de limpeza (alvejantes, branqueadoras, detergen- reflexiva, atento às necessidades coletivas e locais.


tes), finalizadores (amaciantes, lustradores, ceras, Em outro momento, foi abordado o tema:
neutralizadores), polidores de metais, removedo- “Nanopartículas poliméricas contendo produtos
res, sabões e saponáceos, produtos de ação anti- naturais e sua aplicação no tratamento de doen-
bacteriana (algicidas, desinfetantes, esterilizantes, ças neurodegenerativas”, em que explanou uma
fungicidas, germicidas, sanitizantes), produtos visão geral do assunto com foco no uso de produ-
desinfetantes domésticos e industriais (insetici- tos naturais aplicados no tratamento de doenças
das, raticidas, repelentes). Para ter esse conheci- neurodegenerativas. Com a palestra foi possível
mento, o palestrante recomendou a leitura dos compreender como os medicamentos podem ser
rótulos dos produtos químicos comercializados e apresentados e comercializados em nanocápsu-
chamou a atenção para a importância dos profes- la, bem como conhecer como são manipulados e
sores e professoras de química realizarem a alfa- produzidos dentro da nanotecnologia.
betização científica das pessoas de modo a educar No último dia do evento, a palestra “Drogas
para a leitura dos rótulos com atenção, identifi- utilizadas em tempos de pandemia”, trouxe uma
cando o princípio ativo e buscando informações retrospectiva dos dados da COVID-19 no Mun-
sobre a classe toxicológica desse princípio. do e informou sobre as drogas que estão sendo
A palestra seguinte tratou sobre “Química e usadas no tratamento dessa doença, os protoco-
saúde”, destacando as reações químicas relacio- los recomendados pela Organização Mundial de
nadas à saúde do corpo, com enfoque na consti- Saúde (OMS) e no Brasil, além das recomenda-
tuição química das células e suas funções para o ções do Conselho Nacional de Secretária Munici-
equilíbrio e funcionamento dos órgãos. Na oca- pais de Saúde e do Ministério de Saúde. Durante
sião, abordou-se sobre a importância da água, das a palestra, falou-se sobre o desenvolvimento de
proteínas e outras substâncias para a saúde e as vacinas no mundo e no Brasil e enfatizou a im-
propriedades físico-químicas como a temperatu- portância do distanciamento social, uso de más-
ra e pressão. cara e de sanitizantes para higiene das mãos para
Durante o evento, os participantes assistiram o enfrentamento a pandemia.
a palestra “Super GENES ativar! Epigenética: A última palestra, intitulada “A pesquisa no
suas escolhas, sua saúde”, com foco na Epigené- CLQ - contribuição de conhecimento para téc-
tica, área da Biologia que estuda mudanças no nicas e fármacos no meio científico”, tratou sobre
fenótipo que não são causadas por alterações na as bases legais nacionais do PPCL da UFFR, que
sequência de DNA, que se perpetuam nas divi- orienta a pesquisa na formação dada no curso de
sões celulares, meióticas ou mitóticas. No pri- licenciatura em Química, a fim de formar profis-
meiro momento foi dada uma visão histórica do sionais conscientes da contribuição da ciência para
termo, cunhado por volta de 1940, e engloba os o desenvolvimento da Saúde e do meio ambiente.
processos que afetam o DNA, mas não implicam
na mudança da sequência do mesmo, pois tais Foram apresentadosos seguintes banner’s:
modificações alteram diretamente a expressão 1. Uma proposta para o ensino de química
de um gene, transmitidas para próxima geração. – o ensino de ácido e bases por meio da
Essa atividade enfatizou que o meio ambiente é experimentação investigativa (ROCHA,
extremamente capaz de levar as alterações epi- CARDOSO, 2020);
genéticas no DNA, podendo ser repassadas ao 2. Atividade Experimental Investigativa no
longo das gerações, por exemplo, as modificações Ensino de química-pilha de Daniel (SIL-
que podem ocorrer no organismo por conta de VA; CARDOSO, 2020);
nossas escolhas e estilo de vida contribuem ao li- 3. Separação dos pigmentos naturais por cro-
gar ou desligar determinados genes, ocasionando matografia em coluna (XAVIER; SOUZA;
consequências para nossas células, nossa Saúde e REBOUÇAS, 2020);
para as futuras gerações. 4. Produtos químicos e seus danos à saúde
A palestra “Pesquisas científicas no ensino (XAVIER; SOUZA, 2020).
médio” versou sobre a importância de desper-
tar, nos estudantes de Ensino Médio, o desejo de O minicurso “Química dos cosméticos e rela-
trabalhar em pesquisa científica de forma ética e ção com a COVID-19” pertinentes à produção,
confecção e eficácia dos produtos higiênicos.

40
Universidade Federal de Roraima

O evento expôs as pesquisas químicas de-


senvolvidas no campo da saúde, permitindo
troca de conhecimentos, discussões, compre-
ensão e debate destes estudos entre os partici-
pantes, em especial no combate à pandemia da
COVID-19.
Com a realização da Semana foi possível
socializar experiências científicas na área de
química e afins e influenciar de forma positi-
va, a formação do futuro professor de química
de modo a formar cidadãos mais curiosos, éti-
cos e comprometidos.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Brasília, DF: Presidência da Republica. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 11 de out. 2021.

SANTARELLI, Iohana S.; VENTURI, Gabriela; PEREIRA,


Catarine D.; NAIDDECK, Karine P.; OLIVEIRA, Brenno R.
M. Cietifi-CIDADE: estimulando a divulgação da Ciência
por meio da extensão universitária. Química Nova na Es-
cola, São Paulo, v. 43, n.3, 224-253, 2021

SOUZA, Gahelyka Agtha Pantano; SANTOS, Bianca Mar-


tins; GHIDINI, André Ricardo. Experiências de extensão
universitária na formação de professores de ciências. Scien-
tia Naturalis, Rio Branco, v.1, n. 5, 10-19, 2019.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA. Projeto de


Desenvolvimento Institucional 2021-2025. Boa Vista, RR:
Parte da equipe organizadora de trabalho; Disponível em: <https://ufrr.br/plano-de-desenvolvimen-
Sala de transmissão, equipamentos e monitoramento do evento;
to-institucional-pdi>. Acesso em: 11 de out. 2021.
Palestra online.
Fonte: Habdel Nasser R. Costa
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA. Câmara de
Ensino do Conselho de Ensino Pesquisa aprova o Projeto
Pedagógico do Curso de Licenciatura em Química. Reso-
lução no. Resolução nº 006/2018/CENS-CEPE, 24 de maio
de 2018. Disponível em: <https://ufrr.br/conselhos/cama-
ra-de-ensino/category/245-resolucoes-2018?start=20>.
Acesso em: 11 de out. 2021.

41
Cadernos de Extensão | Edição 2021

AZEVICHE: REDE DE APOIO PARA


ENLUTADOS

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Maria do Socorro Lacerda Gomes - Doutora em
Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP),
S egundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), uma pandemia ocorre quando há
a disseminação mundial de uma nova doença.
Campus Assis-SP. O Coronavírus pertence a uma grande família
André Luiz de Oliveira Andrade - Graduandos em de vírus, que pode circular tanto entre pessoas,
Psicologia na Universidade Federal de Roraima (UFRR). como entre animais e é bastante conhecido e
Bianca Karoline da Silva Pizzano Beltran - Graduandos estudado. Apesar disto, a Infecção Respiratória
em Psicologia na Universidade Federal de Roraima Aguda (IRA) causada pelo coronavírus “SARS-
(UFRR). -CoV-2”, denominada COVID-19, surpreendeu
Evelyn Caroline Silva da Costa Pinotte - Graduandas em o mundo e foi apresentada pela OMS (Organiza-
Psicologia na Universidade Federal de Roraima (UFRR). ção Mundial de Saúde) como um desafio face a
Gabriela Pires Menezes Feijó - Graduandas em Psicologia sua capacidade de contaminação rápida que, em
na Universidade Federal de Roraima (UFRR). sua forma mais grave, poderia levar à morte em
Idelcira Maria Berredo dos Santos - Graduandas em curto espaço de tempo.
Psicologia na Universidade Federal de Roraima (UFRR). O primeiro caso aconteceu na cidade de
Maria de Nazaré dos Santos Veras - Graduandas em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Não se
Psicologia na Universidade Federal de Roraima (UFRR). limitando as fronteiras daquele País, novos e nu-
Raquel Veras de Paula - Graduandas em Psicologia na merosos casos surgiram em países asiáticos, tais
Universidade Federal de Roraima (UFRR). como Tailândia, Japão, Coreia do Sul e Singapura
(AQUINO et al., 2020). Em seguida, na Europa, a
Itália tornou-se o epicentro da pandemia e acen-
deu o sinal de alerta com as mortes em massa,
principalmente da população idosa, que impac-
tou o mundo e mostrou a gravidade da doença.
A partir desse momento, houve a propagação
rápida nos demais continentes e, em 11 de março
de 2020, a OMS declarou tratar-se de uma pan-
demia, sem possibilidade de refrear seu contágio,
buscou-se a adoção de medidas profiláticas como
a utilização de máscaras de proteção facial, o uso
do álcool etílico 70% e o distanciamento social,
que representa uma das poucas estratégias de
proteção diante da séria ameaça à vida humana.
A população inicia o distanciamento social
sem uma real compreensão da dimensão tempo-
ral e dos sentimentos que seriam experienciados
a partir daquele momento. Por conta disto, houve
uma profusão de informações, muitas delas suge-
rindo formas saudáveis de alimentação, ativida-
des físicas, acadêmicas e psíquicas para realizar

42
Universidade Federal de Roraima

durante este período como estratégia de Saúde dade, um ideal, etc” (p. 249). De acordo com o
Mental. Tais orientações são benéficas e funcio- autor, no processo de luto, há a inibição do Ego
nam como uma forma de amenizar o sofrimento. em razão da grande energia gasta na elaboração
Entretanto, podem mascarar o reconhecimento da perda do objeto amado. Concluído o “trabalho
de sentimentos não autorizados, como medo da do luto”, termo cunhado por Freud, o Ego ficará
doença e da morte, uma vez que senti-los pode livre e a libido será deslocada para outro objeto.
representar fraqueza ou incapacidade. Este processo será vivido pela maioria das pes-
Nas primeiras semanas de distanciamento, soas e, quando bem-sucedido, trará maturidade.
houve uma sensação de normalidade e de que se- Embora seja importante destacar que, mesmo
ria um período momentâneo. No entanto, diante o luto considerado normal, é doloroso e exige es-
da indefinição e da falta de referências seguras, foi forço de adaptação do Ego (Freud, 1917 [1915]),
natural o aparecimento de sentimentos de ansie- há certas disposições patológicas que definem,
dade e angústia. Diante disso, os profissionais de como consequência de uma perda significativa,
Saúde e Saúde Mental, dentre estes, os psicólogos, o adoecimento de algumas pessoas. Isto é o que
organizaram-se em grupos com o intuito de ofere- diferencia o luto da Melancolia. Na Melancolia, a
cer intervenções nas mais diversas áreas do saber principal ação consiste na conservação, uma es-
e do sofrer humano, tais como: violência, violên- pécie de identificação com o objeto perdido, in-
cia doméstica, medo da morte, luto, entre outros. ternalização para ser mantida a qualquer custo.
Isto posto, frisamos que na, Universidade Fe- O Luto como fenômeno é difícil de ser explica-
deral de Roraima (UFRR), diversas ações foram do, por isso consideramos importante a implan-
implementadas neste período, dentre estas o tação deste projeto de intervenção. O “Azeviche”
projeto “Azeviche: rede de apoio para enlutados”, foi uma iniciativa implantada em 11 de maio de
cuja proposta inicial versava sobre a criação de 2020, a fim de oferecer apoio a pessoas enlutadas
uma rede de apoio, mas teve que ser adaptado às através de encontros para a partilha das vivências
condições do momento. A alteração na proposta da dor pela perda com a morte por COVID-19,
deu-se pela necessidade de oferecer um serviço mas não apenas por esta causa mortis.
de atenção à saúde num modelo mais aprazível. As redes de apoio para pessoas enlutadas são
Conceberam e executaram este Projeto de Ex- grupos formados por profissionais de Psicologia
tensão: uma professora/coordenadora da ação, e pessoas da comunidade que vivem ou viveram
quatro alunos/estagiários e três psicólogas egres- perdas significativas. Estes grupos oferecem mo-
sas do curso de Psicologia da UFRR. Para este mentos de acolhida e partilha da dor daqueles que
grupo, a iniciativa possibilitou vivenciar várias passam por situações semelhantes, neste caso, a
formas de superação, reinvenção, solidariedade e morte. Estas ocasiões são significativas para os
autocuidado, o que ofereceu uma oportunidade participantes, pois há a dinâmica de receber e dar
singular nas vidas dos participantes. suporte, uma vez que a cada partilha os sujeitos
A vivência do Luto varia entre as pessoas, sen- espelham-se e servem de modelo uns aos outros.
do considerada singular e irrepetível. Caracte- Estimulando os participantes a percepção dos
riza-se como uma prova dolorosa e intensa que meios de superação através do sentido de perten-
qualquer pessoa pode vivenciar após a perda ou cimento a um grupo, que partilhasse dos mesmos
a morte de um ente querido e não tem como ser sentimentos, os trabalhos iniciaram-se pela realiza-
evitado, embora possa ser adiado. Por conseguin- ção de reuniões semanais sobre a temática do Luto,
te, a prática dos profissionais que atuam junto a divulgação da ação e inscrição dos interessados.
pessoas enlutadas mostra a necessidade de “ofere- Paralelo a estas etapas, a coordenadora do
cer cuidados como medida de prevenção em saú- projeto participou de reuniões de integração e
de mental” (LISBÔA & CREPALDI, 2003, p. 98). treinamento na Rede API (Apoio a Perdas (Ir)
Durante a I Guerra Mundial, Freud publicou reparáveis), pois, ao entrar em contato com a sua
o importante texto intitulado Luto e Melancolia presidente, foi informada sobre a obrigatoriedade
(1917 [1915]), no qual descreve o luto como a de participação em reuniões de treinamento para
“reação à perda de uma pessoa amada ou de uma submeter uma proposta de implantação de uma
abstração que ocupa seu lugar, como pátria, liber- Seção da Rede API na cidade de Boa Vista. Esta

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Cadernos de Extensão | Edição 2021

foi a ideia inicial e, nos meses de abril, maio e ju- Diversos estudos e intervenções realizadas
nho de 2020, a coordenadora do projeto partici- no Brasil e no mundo demonstram que as es-
pou de reuniões on-line nos grupos da Rede API tratégias emergenciais em Saúde Mental ofe-
dos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. recidas durante a pandemia da COVID-19,
Simultaneamente, iniciou-se as ações de di- sobretudo no início, favoreceram a redução
vulgação e agendamento das primeiras reuniões do estresse, tensão e angústia.
locais. O plano consistia em oferecer dois encon- Esta experiência foi especialmente desafia-
tros semanais à noite. Após as inscrições, consta- dora face à dificuldade em implementar um
tou-se o predomínio de enlutadas recentes e das serviço de suporte terapêutico para enlutados
profissionais de saúde em atuação na Ala COVID. no município de Boa Vista (Roraima). Diante
As tentativas de realização das reuniões ocor- do imperativo de redimensionar os objetivos
reram durante o mês de julho de 2020. Embo- iniciais do projeto, infere-se a necessidade de
ra as inscritas confirmassem suas intenções em entender os limites no trabalho com o Luto,
participar, estas, não permaneciam na sala. Este pois nem todas as pessoas enlutadas reúnem
comportamento, que pode sugerir uma resistên- condições emocionais para compartilhar seus
cia, pode impedir o sujeito de participar de ati- sentimentos coletivamente, sendo importante
vidades que acessem seus sentimentos. Diante oferecer intervenções individuais. Desse modo,
deste dado, que sinalizava a dificuldade em com- embora a rede de apoio promova a oportunida-
partilhar a dor do Luto, optou-se por respeitar a de de ressignificar as perdas para dar lugar a no-
impossibilidade de participar destas pessoas e re- vas experiências, esta não é um modelo único,
direcionar o projeto. nem consiste em resultado garantido.
Constando a necessidade de redimensionar É possível indicar que, mesmo após o térmi-
a ação para realização de lives públicas, a coor- no da pandemia, a reflexão e revisão da atenção
denadora do projeto convidou profissionais da psicossocial deverá ser permanente, uma vez
Psicologia no Brasil e em Portugal, cujas adesões que não se sabe quais sequelas de longo prazo
em sua diversidade foi um elemento positivo des- se revelarão. Neste sentido, a equipe de trabalho
ta atividade. Participaram das lives psicólogas do deste projeto de Extensão enseja refletir sobre
Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul uma futura atividade que agregue valor a temá-
e uma psicóloga de Braga (Portugal). Para cada tica do enlutamento.
live foi solicitado um tema de interesse do parti-
cipante e de relevância para o estudo da Tanato-
logia e da vivência da pandemia por COVID-19.
As lives foram realizadas às quintas-feiras, a
cada três semanas; nos meses de setembro a de-
zembro de 2020, no horário noturno, com cerca REFERÊNCIAS
de duas horas de exposição e debate. Dessas lives, AQUINO, E. M. L. et al. Medidas de distanciamento social
quatro ocorreram no horário noturno e uma no no controle da pandemia de COVID-19: potenciais impac-
horário vespertino, devido ao fuso horário Bra- tos e desafios no Brasil. Revista Ciência & Saúde Coletiva. v
sil-Portugal. Inscreveram-se, nas cinco lives, 215 25 (suppl 1). Jun 2020. Disponível em: <https://www.scie-
pessoas, em sua maioria estudantes e profissionais lo.br/j/csc/a/4BHTCFF4bDqq4qT7WtPhvYr/?lang=pt>.
Acesso em: 22 jul. 2021.
da Psicologia. Destaca-se que a temática do luto
sensibiliza, mas também provoca estranhamento FREUD, S. (1917 [1915]). Luto e Melancolia. In: FREUD, S.
e resistência, posto que o Luto é uma experiência Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas comple-
limite que deve ser incorporada ao existir, para tas de Sigmund Freud. v. XIV. Tradução de Jayme Salomão.
ressignificar esse sentimento. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 245-263.

LISBÔA, M. L., & CREPALDI, M. A. (2003). Ritual de


despedida em familiares de pacientes com prognóstico
reservado. Revista Paidéia, v. 13 (25), 97-109. Disponível
em: <https://www.scielo.br/j/paideia/a/4nL7kbrXkHNPf-
TF8yLZhtgB/?lang=pt>. Acesso em: 22 jul. 2021.

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Universidade Federal de Roraima

O TRABALHO INTERDISCIPLINAR
COM HISTÓRIA E BIOLOGIA NA
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO
DO CAMPO: UMA EXPERIÊNCIA
VIVENCIADA EM RORAIMA

Universidade Federal de Roraima - UFRR


Alessandra Rufino Santos - Pós-douranda e Doutora
em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Docente da Universidade Federal do Roraima
A ação de Extensão, na modalidade projeto,
intitulada “A Interdisciplinaridade na Licen-
ciatura em Educação do Campo de Roraima: diá-
no curso de graduação em Educação do Campo e no logos entre a História e a Biologia na formação de
Mestrado Profissional em Ensino de História.
professores” foi cadastrada, em 2019, na Pró-Rei-
Arlene Oliveira Souza - Pós-doutoranda em Ecologia toria de Assuntos Estudantis e Extensão (PRAE)
e Conservação pela Universidade Estadual da Paraíba;
Doutora em Biotecnologia pela Universidade do Estado
da Universidade Federal de Roraima (UFRR),
do Amazonas e docente da Universidade Federal do com o propósito de construir metodologias in-
Roraima no curso de graduação em Educação do Campo e terdisciplinares entre a Biologia e a História no
no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais. processo de formação de professores, sendo essa
Maria Nádia Cruz de Souza - Discente do curso de alicerçada no conhecimento científico e na sua
graduação em Educação do Campo / Ciências Humanas e interface com as questões sociais, ambientais, po-
Sociais da Universidade Federal de Roraima. líticas, econômicas e históricas das comunidades
Ana Aliny Gonçalves Dias - Estudante do curso de para estabelecerem uma relação entre o aprender
graduação em Educação do Campo / Ciências Humanas e e o ensinar.
Sociais da Universidade Federal de Roraima. Neste sentido, a experiência aqui relatada a
partir das atividades desenvolvidas na disciplina
História Geral I, entre os meses de abril e julho
de 2019, reforçam que a reflexão acerca da prática
docente pode contribuir significativamente para
a implementação das práticas didático-pedagó-
gicas interdisciplinares na Educação do Campo.
Esta experiência também é resultado das ativida-
des científicas do Grupo de Pesquisa Interdisci-
plinar Natureza, Educação e Cultura (GPINEC),
criado em 2018 e vinculado ao curso de Licen-
ciatura em Educação do Campo da Universidade
Federal de Roraima (UFRR). Além de ser um es-
paço de debate a respeito das tendências teórico-
-metodológicas que se vinculam, principalmente,
à Educação do Campo, também permite que os
estudantes e professores/pesquisadores desenvol-

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Cadernos de Extensão | Edição 2021

vam pesquisas sobre as diversas relações entre a logo ocorreu, precisamente, com o conteúdo do
natureza e cultura em uma interface com a edu- Absolutismo. Foi levada em consideração a vida
cação, considerando os seus diferentes aspectos. do Rei Luís XIV, a partir do eixo temático “Saúde
Em um contexto de Ensino Superior, em que se e Meio Ambiente”. Portanto, a leitura da biblio-
postula a necessidade de formar educadores que grafia específica permitiu as bolsistas voluntárias e
possam ir além do modelo de ensino que frag- aos alunos cursistas um embasamento teórico só-
menta o conhecimento, alguns aspectos no curso lido para que tivessem contato com os temais mais
de Licenciatura em Educação do Campo se mos- trabalhados na área de História Geral.
tram como alternativas para exercer com mais O projeto estabeleceu novas práticas e expe-
eficiência a interdisciplinaridade. Em outras pala- riências pedagógicas, fortalecendo a articulação
vras, verificamos nas aulas da disciplina História entre teoria e prática. Dentre as atividades pro-
Geral I que o diálogo estabelecido com a Biologia, postas nos minicursos pelas bolsistas voluntárias,
através do auxílio da ação de Extensão, possibili- foram trabalhados em sala de aula a pesquisa
tou que os alunos desenvolvessem reflexões e aná- com base em textos e vídeos que explicavam as
lises históricas e biológicas dos conteúdos progra- místicas da Educação do Campo. Geralmente, as
máticos da disciplina mencionada, alcançando, bolsistas voluntárias auxiliavam a professora nos
desse modo, um dos princípios da Educação do trinta minutos finais das aulas da disciplina His-
Campo, que é a interdisciplinaridade. tória Geral I, expondo algumas questões sobre o
Diante do exposto, este relato de experiência, tema da aula (Figura 1; Fonte:Santos, 2019).
que dará ênfase ao eixo temático Saúde e Meio A escolha da abordagem era livre no contexto
Ambiente, parte do princípio de que os futuros dos temas “Saúde e Meio Ambiente”. Durante as
educadores/educadoras da Educação Básica, for- aulas ministradas pelas bolsistas sob orientação
mados pelo curso de Licenciatura em Educação da professora da disciplina, os alunos contribu-
do Campo da Universidade Federal de Roraima íam com as atividades sugeridas ao alinhar os
(UFRR), precisam receber uma formação que conteúdos de História Geral, explicados pela pro-
estabeleça relações entre as disciplinas das duas fessora, com os da Educação do Campo, focados
áreas do curso, as Ciências Humanas e Sociais na aproximação com a Biologia (Figura 2; Fonte:
e as Ciências da Natureza e Matemática. Além Santos, 2019).
disso, precisam relacionar o que se ensina com o Durante uma aula do tempo universidade, as
que se aprende, tendo em vista que as mudanças bolsistas voluntárias realizaram o planejamen-
curriculares no sistema educacional brasileiro, to de aula, no qual fizeram um cartaz com uma
tanto por meio de diretrizes curriculares, quan- mensagem de Paulo Freire, para ser fixado em
to por meio de reformulações, como é o caso da sala; selecionaram e confeccionaram o material
Base Nacional Curricular Comum (BNCC), tem para mística; construíram os slides; e seleciona-
exigido dos profissionais de Educação do Campo ram o vídeo “O homem e os micróbios”, sugerido
reflexões sobre a construção de identidades na pela professora de Biologia. Após essa atividade,
Educação do Campo a partir de uma proposta o material produzido foi apresentado para as pro-
dialógica de educação. fessoras de História e Biologia para avaliação.
Ao realizar o minicurso, as bolsistas volun-
A ABORDAGEM DO PROJETO tárias expressaram as suas vivências como es-
tudantes do curso de Educação no Campo. Por
Nesta proposta, as aulas da disciplina História conseguinte, elas iniciaram uma interação com
Geral I, ministradas no semestre 2019.1, foram os alunos para ouvi-los e compreender o con-
trabalhadas com a participação de integrantes texto em que vivem. No transcorrer da aula, as
do projeto de Extensão, que desenvolveram mi- acadêmicas explanaram o conteúdo planejado
nicursos com a finalidade de aproximar os temas por meio de slides e também exibiram o filme “O
“Saúde e Meio Ambiente” com as disciplinas de homem e os micróbios”, que apresentou a trajetó-
“História e Biologia”. A disciplina História Geral I ria de um médico dedicado ao combate de uma
ofereceu aos alunos um debate em torno da Idade febre que acarretou milhares de mortes. A época
Moderna e da Idade Contemporânea. Esse diá- em que se aborda o longa-metragem não havia

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Universidade Federal de Roraima

conhecimento científico apurado e, por conta


disso, não era possível saber a causa das mortes.
Assim, as doenças e as mortes eram atribuídas a
castigos divinos.
A aula interdisciplinar também contou com
a exibição de trechos do filme “O absolutismo:
a Ascenção de Luís XIV”, marcado por algumas
curiosidades que aconteciam neste período na
França, mais precisamente no Palácio de Ver-
salhes. O filme promoveu um debate acerca do
cotidiano, da Saúde e do Meio Ambiente no perí-
odo da Idade Moderna, no século XVII. Também
foram feitas reflexões sobre os dias atuais para
que os estudantes compreendessem as mudanças
obtidas ao longo do tempo com o auxílio da His-
tória e da Biologia.
A atividade também disponibilizou um
breve resumo sobre a Revolução Científica e
explicaram sobre a importância da Interdisci-
plinaridade. Ao fim do minicurso, abordou-se
sobre a história e as conquistas da Educação do
Campo ao longo do tempo. A interdisciplinaridade entre História
O minicurso, abordagem escolhida pelas mo- e a Biologia são instrumentos importantes
nitoras para executar o projeto de Extensão nas na Licenciatura em Educação do Campo, a
aulas da disciplina História Geral I, trata de um fim de que os alunos e camponeses conhe-
importante instrumento de diálogo e construção çam suas origens e também sobre a natu-
de saberes entre docentes e discentes (PAVIANI; reza, formando docentes mais preparados
FONTANA, 2009). Neste sentido, cabe ressaltar,
para a Educação Básica, ou seja, com um
que os alunos ingressos no curso de Licenciatura
olhar crítico sobre questões sociais e polí-
em Educação do Campo da UFRR, são orienta-
ticas do Brasil.
dos, nas aulas das disciplinas de História e Biolo-
gia, que o professor e a professora do campo, in-
dependente da área do conhecimento, necessitam
conhecer o processo histórico do surgimento da Referências
Educação do Campo e saber que não existe refor- AQUINO, Rubim Santos Leão de Aquino; LOPES, Oscar
ma agrária sem Educação do Campo, como não Guilherme Pahl Campos; FRANCO, Denize de Azevedo;
existe Educação do Campo sem reforma agrária ALVARENGA, Francisco Jacques Moreira de. História das
(CALDART, 2004). sociedades: Das sociedades modernas às sociedades atuais.
Com o auxílio da interdisciplinaridade (FA- 41 ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2009.
ZENDA; 1999; JAPIASSU, 1976), nota-se que a CALDART, Roseli S. Pedagogia do Movimento Sem Terra.
Educação do Campo contribui para o camponês e 3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
seus povos tradicionais. De um modo geral, os mi- FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e
nicursos abordados neste relato contribuíram para pesquisa. 4.ed. Campinas: Papirus, 1999.
que os extensionistas, o Grupo de Pesquisa Inter- JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do sa-
disciplinar Natureza, Educação e Cultura (GPI- ber. Rio de Janeiro: Imago, 1976.
NEC), além dos estudantes da Licenciatura em PAVIANI, Neires Maria Soldatelli; FONTANA, Niura Ma-
Educação do Campo, compreendessem o espaço ria. Oficinas pedagógicas: relato de uma experiência. Con-
que estão inseridos e suas identidades. As disci- jectura. v. 14, n. 2, maio/ago. 2009.
plinas de História e Biologia são fundamentais no PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de
cotidiano dos estudantes e devem ser voltadas à re- História. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2015.
alidade e especificidades dos povos do campo.

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prae.ufrr.br

@ufrroficial @ufrroficial

@ufrroficial @ufrroficial

PRÓ-REITORIA DE
ASSUN TO S ESTUDAN TIS
E EXTEN SÃO

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