07 - Negotiator - Professionals - Jessica Gadziala
07 - Negotiator - Professionals - Jessica Gadziala
07 - Negotiator - Professionals - Jessica Gadziala
Família Wings
Tradução: Criz
Revisão: Mika
Leitura: Lua
Formatação: Aurora
07/2020
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AVISO
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A Série
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Sinopse
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Miller
Maldito Bellamy.
Antes que meus olhos se abrissem, eu sabia o que tinha acontecido.
As batidas nas minhas têmporas.
A boca seca.
O giro nauseante no estômago.
Os detalhes nebulosos quando tentei juntar em que dia, semana, mês eu
estava.
Sim.
O maldito Bellamy atacou novamente.
Eu não conseguia nem me lembrar de vê-lo na noite anterior, mas esse era
um dos muitos efeitos colaterais adoráveis quando ele colocava algo em sua bebida
para, inevitavelmente, sequestrá-lo.
Onde ele teve a ideia de que tais coisas eram aceitáveis estava além de
qualquer um, mas ele sempre o atingia quando pensava que você estava
trabalhando demais ou estava tenso demais.
Era o jeito dele de dizer: — Ei, amigo, você precisa de algumas bebidas e um
bom fim de semana fora.
Ou melhor, era o jeito dele de agir quando você se recusava a seguir o sábio
conselho dele.
Se sequer houve alguém culpado de trabalhar demais, era eu. Eu não tinha
exatamente um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Era difícil aprimorar isso,
quando a natureza do seu trabalho a fazia voar em um avião em um piscar de
olhos, sem saber por quanto tempo você ficaria fora, ou mesmo se conseguiria
voltar.
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Era difícil promover relacionamentos interpessoais íntimos de qualquer tipo
quando essa era a sua vida. E a ideia de ir a algum lugar exótico perdia seu apelo
quando seu trabalho a arrastava para todos os cantos do mundo o tempo todo.
O que posso dizer?
Quando não estava trabalhando ativamente, simplesmente gostava de estar
em casa. Casa era como umas férias para mim. Era um lugar onde eu podia me
espalhar além de malas dispersas, um lugar onde as coisas realmente me
pertenciam e sempre eram familiares.
O interior dos aeroportos era mais familiar do que o meu próprio quarto neste
momento da minha vida.
O que provavelmente foi o que tentei contar a Bellamy, de qualquer forma
que acabamos juntos na noite anterior. Desde que acabei de voltar de uma
negociação particularmente cansativa em El Salvador entre uma gangue local e... e
você não inventava essa coisa... o governo, sim, eu estava pronta para descansar
na minha própria cama.
Estava fantasiando sobre a ideia de que talvez Finn exorcizasse seus
demônios limpando minha casa novamente, sabendo que eu tinha saído por quase
um mês. Quero dizer, imaginei que ele não dormisse à noite pensando na poeira
acumulada nos cantos e sob as cadeiras.
Eu nunca faria menosprezaria os problemas de Finn. Mas imaginei que se
ele tivesse que limpar, e ele limpava, seria bom se fosse a minha casa.
Ele lavava a roupa.
Lavar roupa.
A pior tarefa do mundo.
Pelo menos na minha opinião.
Ah, sim, tirando as minhas roupas, caindo em lençóis recém lavados que
cheiravam um pouco a sabão floral e muito com alvejante, depois desmaiar? Soa
como o céu.
Em vez disso, eu tinha a sensação de algodão na boca, uma dor de cabeça
infernal, um estômago revirando e absolutamente nenhum desejo de forçar meus
olhos a abrirem, e enfrentar o que diabos Bellamy havia planejado para mim.
Respirei fundo, lentamente, sentindo limpar algumas das teias de aranha do
meu cérebro.
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Eu estava considerando dizer vá a merda e voltar a dormir.
Mas então o mundo inteiro meio que... oscilou.
Sim, oscilou.
Essa era a única maneira de dizer.
Balançou um pouco de um lado para o outro.
Em vez de ser reconfortante, como um bebê contido no berço, como uma
anciã em uma cadeira de balanço, era completamente inquietante, fazendo o
conteúdo do meu estômago vibrar assustadoramente para cima.
Então, eu tive que abrir meus olhos e ver o que diabos estava acontecendo.
Tudo era possível quando se tratava de Bellamy.
Eu poderia estar em uma maldita roda gigante por tudo o que sabia.
Esperançosamente com um porquinho.
Eu esperava o dia em que acordaria drogada com um porquinho no quarto
comigo.
Isso aconteceu com outras pessoas.
Eu estava apenas esperando que isso acontecesse comigo.
Tudo seria perdoado se isso acontecesse, só estou dizendo.
Forçando minhas pálpebras a abrirem, estremeci contra a luz dolorosamente
brilhante que entrava pela janela acima de onde eu estava deitada. Lutando contra
as batidas em minhas têmporas, virei minha cabeça, olhando em volta.
Carvalho branco brilhante.
As longas janelas do teto.
O tecido azul piscina nos sofás e nas cadeiras.
— Fenway do caralho, — eu rosnei, lentamente me sentando.
Eu já vi o interior deste iate mais do que algumas vezes no passado.
Geralmente enquanto trabalhava. Tentando tirá-lo de qualquer escândalo
internacional em que ele se envolveu naquela semana.
Não havia porco.
O porco teria feito minha raiva justa se dissipar.
Como não havia nada de um rabo de saca-rolhas e nariz beijável à vista, a
raiva borbulhou forte, procurando uma saída.
Respirando fundo para acalmar meu estômago, levantei-me, meu braço
balançando para fora, batendo na parede para me equilibrar enquanto tudo
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descontrolava. Não é o iate desta vez, sou eu. Outro adorável efeito colateral das
drogas.
Eu ia matá-los quando os encontrasse.
Claramente, foi uma péssima ideia de Quin adicionar Bellamy à equipe, o
que o colocou em contato próximo com Fenway. Dois dos playboys mais ricos,
ridículos e despreocupados que o universo tinha para oferecer. Suas vidas estavam
cheias de diversão e uma completa e absoluta falta de consequência porque eles
tinham o dinheiro e influência para fazer quaisquer problemas desparecerem. Com
muito pouca retaliação.
Bem, infelizmente para eles, eu não sou alguém cuja raiva pode ser
comprada.
Eles estavam prestes a enfrentar um metro e sessenta e sete centímetros de
consequência feminina com raiva.
O iate, porque Fenway era muito rico, e nem morto teria algo tão simples
como um barco, balançou novamente, fazendo meu estômago revirar, fazendo meu
aperto tênue no equilíbrio afrouxar ainda mais.
Ibuprofeno.
Eu precisava de ibuprofeno. E algumas pastilhas de gengibre. Eu os
encontraria na minha bolsa se Bellamy foi inteligente o suficiente para pegá-la. Eu
também poderia usar água. Mas, conhecendo Fenway, não encontrarei nenhuma
água. Champanhe, vinho, licor, kombucha? Certo. Água? Não é provável.
— Só sei que é melhor estarmos perto de algum tipo de porto, para que eu
possa descer e ir para casa, — eu resmunguei alto o suficiente para que eles me
ouvissem se estivessem a um ou dois quartos de distância.
O espaço em que acordei estava no convés principal. Por trás, você podia
encontrar o espaço para refeições e cozinha, seguida pela sala de jogos. Debaixo da
escada e escondido atrás de uma porta ao lado, era onde você encontrava o capitão
do barco.
O convés inferior era onde os quartos de hóspedes e funcionários podiam ser
encontrados.
Se eu conhecia Bellamy e Fenway, eles estariam no convés superior. Sob o
sol escaldante. O que faria minha cabeça latejar ainda mais.
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Dito isto, um bom e sólido soco na cara dos dois idiotas faria maravilhas para
aliviar a dor.
Fazendo um progresso lento e doloroso pelo chão, parei em um armário ao
lado das escadas, abrindo a porta e olhando para o espelho preso.
Não era bonito.
Meus olhos estavam inchados, minha maquiagem velha manchada, meu
cabelo mole e ficando oleoso. Havia círculos sob meus olhos porque eu estava
atrasada para um sono de beleza, caramba.
Só mais algumas horas.
— Se eu finalmente voltar a Navesink Bank e receber uma ligação de Quin
sobre outro emprego antes que eu possa relaxar em casa, vocês vão sofrer, — eu
murmurei, fechando e trancando o armário, caminhando em direção às escadas.
O sol que vinha de cima parecia desnecessariamente brilhante e alegre,
fazendo um contraste estridente com o humor sombrio e irritado em que me
encontrava.
Eu tinha uma pizza de cogumelos e cebola no meu freezer que chamava meu
nome desde antes do meu último trabalho. Isso, combinado com uma boa bebida
e alguns pijamas confortáveis na frente da minha TV, parecia a felicidade.
Enquanto isso, eu estava no maldito paraíso, contra a minha vontade.
Nuvens fofas se espalharam pelo céu.
Água azul brilhante.
Ilhas desertas distantes.
Parecia-me vagamente familiar, mas as batidas nas minhas têmporas
tornavam impossível o foco, arrastar a memória para o primeiro plano da minha
mente.
— Você poderia ser mais brilhante? — eu resmunguei ao sol enquanto
respirava fundo, inundando meus sentidos com o aroma nítido e inconfundível de
água salgada e fresca.
Havia uma leve brisa provocando através do espaço aberto, flertando com as
pontas dos meus cabelos, fazendo-os dançar ao redor do meu rosto enquanto eu
olhava para a banheira de hidromassagem coberta à minha frente.
Virando, subi o bombordo do iate, indo em direção à área de estar que eu
sabia que encontraria na proa.
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Era onde achava que encontraria Bellamy ou Fenway, ou ambos, a menos
que eles ainda estivessem lá embaixo nos dormitórios.
Mas, visto que eles não haviam sido drogados, e parecia pelo menos tarde da
manhã, imaginei que era mais provável que eles estivessem acordados e esperando
por mim.
Eles desejariam ter chamado um helicóptero para buscá-los, ou saltado do
iate e arriscado com os tubarões quando eu tivesse terminado com eles.
Uma coisa era ter um, ou ambos, me arrastando por aí quando não estava
trabalhando tão duro como ultimamente. Mas roubar minha pequena chance para
ter tempo em minha própria casa?
Isso era imperdoável.
Inferno, eu poderia jogar os dois ao mar.
Eu certamente me sentia irritada o suficiente para fazê-lo.
E aqueles dois idiotas mereciam.
Seria um serviço cívico, realmente.
Havia muitas mulheres que pagariam um bom dinheiro para me ver derrubá-
los alguns degraus. Inferno, provavelmente havia um clube inteiro dedicado a isso.
Mulheres Desprezadas pelos Mega Milionários Playboys Anônimas.
Elas provavelmente distribuiriam lenços e antidepressivos nas reuniões,
enquanto alguém subia ao pódio para um discurso épico sobre suas experiências
sendo levadas para jantar, fodidas e prontamente descartadas.
Eles eram homens charmosos, vou admitir isso sobre eles. Ambos
estupidamente bonitos também. E ricos. Riqueza era um fator importante para
muitas pessoas.
Mesmo com tudo isso a favor deles, eu nunca tive nem um indício de
atração. Veja que eles eram bad boys malandros. Eles gostavam de se divertir e
explorar o mundo. Eles eram leves e divertidos a maior parte do tempo.
Eu?
Eu tinha uma queda por sombrio e pensativo. E talvez um pouco perigoso.
Certo, tudo bem.
Mais que um pouco.
Eu estava tentando desistir dos caras maus desde a adolescência. O que
posso dizer? Eles eram um hábito difícil de largar. Não era como se eles tivessem
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feito um arranjo para isso ou algo assim. Eu estava sozinha com nada além de
minha força de vontade. E como alguém que poderia, e
frequentemente comeria, uma dúzia de rosquinha sozinha, digamos que
autocontrole não era um dos meus pontos fortes.
— Pare de balançar. — Eu não tinha certeza se estava falando com meu
próprio estômago, o barco, o oceano ou uma combinação deles, mas meu tom
estava ficando cada vez mais agudo quando cheguei à proa da embarcação,
respirando fundo com a visão de uma figura masculina solitária descansando na
área de estar em forma de U, feita de sofás brancos imaculados. Eles eram o tipo
de branco que era sempre total: meticulosamente limpo, apesar das intermináveis
festas frequentemente realizadas lá e do derramamento e... espirros... de bebidas.
Uma parte de mim queria vingativamente borrar meu batom por todo o tecido
perfeito. Mas, na verdade, isso seria apenas uma punição para os empregados, não
Fenway ou Bellamy, dois homens que provavelmente nem sabiam como era um
frasco de limpador de tecidos.
— Eu sugiro correr, — eu falei à figura solitária no sofá. — Estou me sentindo
homicida, — acrescentei prestativamente, aproximando-me.
Eu culpo o sol nos meus olhos.
E as batidas na minha cabeça.
Embora, vamos admitir, na minha profissão, não havia desculpa para sair
do jogo. Nem mesmo quando você estava drogada e tonta. Nem mesmo se você
pensasse que estava entre amigos.
Era assim que você se matava.
Eu tinha um histórico bastante notável de permanecer viva até agora, dado
as confusões em que estive, cercada por homens com mais ego e temperamento do
que cérebros.
No entanto, eu não vi.
Até que estivesse bem em cima desse.
Não era Fenway.
Ou Bellamy.
Oh, infernos não.
Este homem? Ninguém jamais o confundiria por ser leve e playboy.
Não.
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Ele era todo sombrio e intenso e, bem, viril.
Eu não vou mentir: meu corpo? Sim. Fazia o que sempre fazia quando era
confrontado com um homem que exalava confiança, cuja aura tremeluzia com
perigo, cujo olhar parecia deslizar através de mim e examinar as peças.
Ele respondeu.
Fortemente.
Também não doía que esse homem em particular parecesse pertencer a
anúncios de perfume ou algo assim.
Se eu tivesse que escolher uma idade, eu o colocaria nos seus trinta e poucos
anos, com cabelos castanhos escuros, olhos castanhos pretenciosos a condizer,
emoldurados por cílios pretos grossos e ofuscados por uma sobrancelha severa. Ele
tinha uma testa e mandíbula fortes, coberta por uma barba curta, nariz reto e pele
bronzeada maravilhosamente dourada.
E esse homem?
Ele tinha o tipo de traje para o qual foi feito. Muito parecido com o azul
escuro que cobria seu corpo forte de um metro e noventa.
Os dois primeiros botões de sua camisa branca estavam abertos. Eu
conhecia homens o suficiente para chamar isso de movimento de poder. Porque
apenas um homem que estava seguro em sua posição na vida se atrevia a violar as
regras de usar terno.
Ele era magnífico.
Mas ele estava aqui.
Um lugar que ele não deveria estar.
Comigo.
Que definitivamente havia sido drogada.
Eu vi Bellamy na noite anterior?
Este iate ainda era do Fenway? Homens ricos negociavam navios marítimos
caros da maneira que alguns podem se livrar da moda da temporada passada
rapidamente.
No entanto, apesar de ser uma situação possivelmente muito perigosa, eu
estava tentando freneticamente descobrir se tinha uma arma comigo ou, em vez
disso, o que estava por perto que poderia ser usado como arma?
Não.
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Não, eu não estava.
O que eu estava pensando, então, você pode estar se perguntando.
Se meu cabelo estava tão bagunçado quanto eu pensava, se minhas roupas
eram lisonjeiras o suficiente, se minha ressaca estava me deixando mais feia?
Porque, você sabe, essas eram coisas importantes para se perguntar quando
eu poderia estar em uma situação de vida ou morte.
— Eu não sinto muita vontade de correr, kopelia mou, — ele me disse, sua
voz um arrepio sobre a pele subitamente muito quente.
Eu conhecia esse sotaque.
E eu conhecia esse termo.
Kopelia mou.
Minha menina.
Grego.
Ele era grego.
De repente, as imagens voltaram à tona. A água bonita. A casas cavernas
brancas. Os detalhes em azul.
Santorini.
Estávamos na costa de Santorini.
Quão fortes foram as drogas que me foram dadas se chegássemos de Nova
Jersey à Grécia sem que eu acordasse?
Seguindo esse pensamento levemente movido pelo pânico, e todas as
possíveis ramificações de estar fora de si... havia outra realização.
Ele estava me deixando saber que não estava intimidado. Ele queria que eu
soubesse que ele era assustador.
Ele não ia fugir de mim.
Nem mesmo com a ameaça de assassinato.
Caras como este eram complicados.
Alguns deles respondiam bem quando você avançava e ficava cara a cara
com eles. Eles respeitavam sua coragem. E se você tivesse o respeito de homens
como ele, você estaria muito mais segura do que estaria se ele pensasse que você
estava abaixo dele.
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Por outro lado, e especialmente nos países que ainda tinham papéis
masculinos e femininos muito tradicionais, você tinha melhores chances de
sobrevivência se fosse suave, doce e não ameaçadora.
Eu precisava ser as duas coisas para muitos homens diferentes na minha
linha de trabalho. E eu desempenhava um papel muito bom.
Inferno, às vezes eu tinha dificuldade em descobrir onde o eu verdadeiro e a
fachada começamos se estivesse trabalhando por tempo suficiente.
Este era um assunto complicado.
Sendo grego, ele provavelmente gostava de suave e bonita. Mulheres bonitas
em vestidos de verão andando pelas praias.
Mas como um homem no poder que claramente queria algo de mim, uma
frente forte também pode ser muito eficaz.
— Bem, tudo bem, — disse, movendo-me em direção à área de estar,
tomando uma posição o mais longe possível dele, sem parecer que estava com medo
dele. — Porque estou muito cansada e desidratada para persegui-lo de qualquer
maneira, — eu disse a ele, decidindo estudá-lo antes de escolher qualquer traço de
personalidade em particular para incorporar.
Seu braço ergueu-se no ar, estalando o dedo, chamando a atenção da
tripulante, jovem, bonita, vivaz, como todos os homens pareciam ter em seus iates.
Eu odiava estalos.
Como alguém que fez numa pequena mesa de espera, onde aprendi
rapidamente que as pessoas podiam ser idiotas completas, senti meu lábio se
curvar imediatamente quando alguém tinha a audácia de estalar para a equipe de
serviço.
— A senhora gostaria de beber algo, — ele disse à mulher que se aproximou
dele, mas ficou calada, aguardando instruções.
Os dois olhares vieram para mim.
— Qualquer coisa que não seja alcoólica. Em uma garrafa selada, —
acrescentei explicitamente.
Para isso, os lábios do homem se curvaram. Não num sorriso. Um sorrisinho
arrogante, se era alguma coisa.
— Você acha que te drogaria? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha
preguiçosamente.
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— Acho que acordei em um iate na costa de Santorini com uma boca de
algodão, uma marreta no meu cérebro e nenhuma lembrança de como cheguei
aqui. Fui drogada. E você está aqui. Que outras conclusões devo tirar?
Tudo bem, tão suave e doce parecia fora da minha capacidade com a quão
desconcertada estava me sentindo. Se isso fosse devido ao fato de as drogas ainda
estarem saindo do meu organismo, ou esse homem à minha frente que era uma
incógnita.
— Deixe-me esclarecer. Eu nunca precisei drogar uma mulher para
conseguir o que precisasse dela, — ele me disse, dobrando-se para frente, apoiando
os braços nas coxas, sem interromper o contato visual.
Precisar.
Não querer.
Precisar.
Era uma distinção pequena, mas profunda.
— Obrigada, — eu disse à mulher que voltou com uma garrafa de suco de
laranja. Eu torci a tampa, tomei um pequeno gole em vez do longo gole que
realmente queria. — E o que você precisa de mim? — eu perguntei.
— Miller! Sua criatura arrebatadora! — a voz de Fenway chamou atrás de
mim, toda alegre e fácil.
O que, como você pode imaginar, me fez ranger os dentes quando ele se
moveu ao meu lado, sentando, passando um braço em volta dos meus ombros,
dando a todo o meu corpo um empurrão brincalhão que só conseguiu fazer meu
estômago revirar, me fazendo feliz por não ter dado goladas no suco de laranja
afinal.
— Fenway, — eu rosnei, atirando punhais em seu rosto estupidamente
bonito. Seu sorriso não vacilou nem um pouco.
— Você sempre dormiu até tarde, mas eu finalmente fui para o convés inferior
para tirar uma soneca, você estava dormindo por tanto tempo.
— Puxa, talvez isso tenha algo a ver com as drogas no meu organismo.
Fenway, como era a natureza de Fenway, ignorou completamente isso. Como
regra geral, ele evitava qualquer coisa pesada ou séria. Seria quase fácil de aceitá-
lo ao pé da letra se você pensasse que era tudo o que havia, se ele apenas fosse um
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garoto rico que se tornou um adulto mais rico, que tinha uma cabeça cheia de
penas e um fígado cheio de gim de primeira qualidade.
Mas Fenway era inteligente. Quase assustadoramente inteligente às vezes. E
muito mais perspicaz do que ele jamais deixaria transparecer. Provavelmente por
medo de que, se você soubesse que ele tinha outras faces, esperaria algo diferente
de diversão dele.
— Vejo que você está compartilhando seu charme abundante com meu bom
amigo aqui, — ele seguiu, dando ao homem um sorriso que não foi devolvido.
Eu não tinha certeza de que esse homem sabia sorrir. Certamente, ficaria
fora de lugar em seu rosto severo.
— Ainda não estamos familiarizados, — informou o belo estranho a Fenway,
com tom aguçado.
— Bem, assim não dá. Esta é minha boa amiga Miller. — Todo mundo era
"bom amigo" de Fenway. — Ela tem outro nome, mas se recusa a contar para mim.
Então temos que chamá-la de Miller.
Eu nunca dei a ninguém meu primeiro nome. Eu tinha certeza de que meus
colegas de trabalho sabiam, mas nenhum deles se atreveu a me chamar na minha
cara.
Digamos apenas que existem alguns nomes que não soavam fodas. E meu
trabalho tendia a exigir intensidade. Então mantive isso simples. Somente
sobrenome.
— Você não terminou, Fenway, — lembrei-o quando ele se calou.
— Certo. Achei que você já deveria estar familiarizada com meu amigo aqui,
— disse Fenway, parecendo surpreso que eu claramente não estava. — Este é
Christopher, — ele me disse. — Christopher Adamos.
Christopher Adamos?
Este era Christopher Adamos?
Eu não o conhecia de vista.
Mas eu com certeza o conhecia pela reputação.
Merda.
Isso não seria bom.
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2
Miller
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Eu estava apenas de mau humor.
E vestindo calças quando não queria estar.
— Alguém está interessado em parar para pegar alguns frappés? — Fenway
perguntou, completamente alheio ao ar carregado entre os outros presentes. Ou,
mais provavelmente do que não, apenas ignorando.
— Eu quero ir para casa, Fenway.
— Você só está com dor de cabeça, — ele me ignorou, enfiando a mão no
bolso, jogando um frasco de comprimidos para mim.
— Não quero Percocet, Fenway. Quero que você ligue para um helicóptero,
leve-me ao aeroporto mais próximo e para casa.
— Receio que não posso fazer isso, linda.
Para o registro, ele não estava arrependido nem um pouco.
— Do que você está falando? Este é o seu iate. Você pode fazer o que quiser.
— Você acha que sim, não é? — Ele perguntou, encolhendo os ombros
enquanto mandava uma piscadela para uma das garotas da equipe enquanto ela
deixava quatro copos do que parecia uísque na mesa à nossa frente. — Mas eu não
estou no comando aqui agora. Somente forneci o barquinho.
Seu barquinho custava a minha casa cerca de trinta vezes.
Não havia nada pequeno sobre ele.
Meu olhar foi para os copos novamente quando Christopher se inclinou para
frente, envolvendo a mão gigante em torno de um.
Quatro
Quatro copos.
— Diga a Bellamy para subir aqui agora, — eu exigi.
— Bem, quando você pede tão educadamente, — a voz suave de Bellamy soou
do meu lado, passando por mim para sentar-se na nossa frente.
Mesmo em um iate na costa da Grécia, ele estava em um terno cinza
impecável com vincos nítidos da prensagem ainda visível.
Ele se inclinou para frente, derramando o conteúdo de um dos copos no que
estava à sua frente, segurando o vazio. — A senhora prefere tequila, — ele explicou
à garota que se apressou em pegá-la. Ele pegou o copo cheio, tomando um gole,
recostando-se. Tão casual quanto poderia estar.
— Não quero beber, Bellamy. Quero ir para casa.
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— Viu como meus colegas de trabalho são ingratos? — ele perguntou, se
dirigindo a Christopher. — Eu os levo em meu jato particular, trago-os a bordo do
iate do meu amigo. Trago-os para a Grécia. E rejeitam minha hospitalidade.
— Você deixou de lado a questão de me drogar e me arrastar contra a minha
vontade, — lembrei a ele.
— Pequenos detalhes, — ele disse dando de ombros. Mas quando ele
levantou o copo para tomar outro gole, havia um sorriso diabólico nos lábios.
— Eu nem tirei um mini porco do acordo, — murmurei para mim mesma,
recostando-me, cruzando os braços sobre o peito, parecendo muito com uma
criança petulante. E não me importando.
— Você quer um leitão? — Fenway perguntou, considerando. — Encherei
sua casa com eles quando voltarmos aos Estados Unidos.
Veja, o problema era que Fenway faria exatamente isso. Porque ele tratava
dos grandes gestos sem parar para considerar as repercussões dessas ações.
— Fenway, ouça, — eu disse, erguendo a palma da mão para ele. — É muito
importante que você não encha a minha casa com porcos, ok? Eu nunca consigo
estar lá. Não tenho tempo para animais de estimação.
— Ouvi dizer que eles podem ser treinados para usar uma caixa de areia
como um gato, — pensou Bellamy.
— Oh, meu Deus, não estamos tendo essa discussão como se tivéssemos
um encontro social perfeitamente normal.
— Estamos, no entanto, — insistiu Fenway.
Quando minha tequila chegou, eu a peguei, colocando-a entre as pernas
enquanto seguia em frente e abria a garrafa que Fenway havia me dado. Se eu
quisesse dar conta dessa situação, precisava parar as batidas nas têmporas. A
tequila? Bem, isso foi apenas porque eu não tinha certeza de que seria possível
lidar com esses dois ao mesmo tempo sem ela.
— Eles são Percocet, — Fenway insistiu quando peguei uma pílula,
segurando-a, apertando os olhos para as marcas.
— Certo, porque vocês dois se mostraram muito confiáveis, — eu respondi,
decidindo que era o verdadeiro negócio, tomando, engolindo-a com um longo gole
de tequila que queimava da maneira certa.
— Então... frappé? — Fenway pressionou.
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— Sim. Porque eu tenho planos de descer de um barco em um país
estrangeiro com drogados, sequestradores e o maior criminoso da Grécia.
— Parece uma noite de terça-feira normal para você, querida, — disse
Bellamy, dando de ombros.
— Exceto que é para trabalho. Isso não é trabalho. E como não é trabalho,
eu quero estar em casa. Na minha cama. Na minha casa muito limpa.
— Finn esteve trabalhando, querida, — Bellamy me disse, arruinando
algumas das minhas esperanças. — Cristo, não pareça tão desconsolada. Vou
contratar alguém para limpar sua casa enquanto estivermos fora.
— Não será o mesmo.
— Não, — ele concordou, assentindo, provavelmente tendo acordado com
aquele cheiro pesado de químico quando Finn não conseguia dormir e vinha sem
ser convidado, sabendo que literalmente cada centímetro quadrado de sua casa
havia sido lavado. — Não seria. Mas é melhor que nada.
— Nada está bem. Vendo que estarei em casa amanhã de manhã.
— Bem... — Fenway disse, parecendo sombrio.
— Não, Fenway. Não há 'bem...' sobre isso. Me mande para casa. Na verdade,
por que diabos eu estou falando com vocês? Vou pedir ao Quin para lidar com isso,
— declarei, decisão tomada, me levantei.
— Bem... — Fenway disse novamente.
— Bem, o que, Fenway? — eu assobiei.
— Bem, você poderia ligar para Quin. Se você tivesse seu telefone celular.
— Onde está o meu celular, Bellamy? — eu exigi, sentindo meu queixo
enrijecer.
— Eu acredito que você acidentalmente deixou em Nova Jersey.
— Eu não deixei nada em lugar nenhum. Desde que eu não tive parte em vir
aqui.
— E ainda assim... aqui está você. E aí está. Meio mundo de distância.
Eu sabia que não devia discutir com Bellamy. Sua teimosia combinava com
a minha.
Virando, olhei para Fenway. — Me dê seu telefone, Fenway.
— Eu não posso fazer isso.
— Você quer que eu te obrigue?
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— Você é muito sexy quando está irritada, — ele retrucou, balançando as
sobrancelhas.
— Telefone. — Ele recusou, sem coragem de desafiar o que era claramente o
grande plano de Bellamy. Meu olhar foi para alguém que eu intrinsecamente sabia
que sempre seria capaz de desafiar alguém. — Posso usar seu telefone, Sr.
Adamos? — eu perguntei, deixando um pouco de mel escorregar na minha voz, a
capacidade de fazê-lo enquanto estava irritada foi graças a anos de aprimoramento
da habilidade de obter o resultado que eu desejava.
— Você estaria disposta a manchar suas mãos não poluídas com meu
telefone de senhor do crime chantagista?
— Miller sente-se, — convidou Bellamy. — Vamos explicar por que estamos
todos aqui.
— Além de você ser um psicopata? — eu perguntei, sentando, precisando de
respostas se não conseguiria ligar para Quin.
— Sim, amor, além disso, — ele concordou, me enviando um sorriso.
— Então, por que estou aqui? — eu perguntei.
— Negócios, — Bellamy me disse.
— Se isso fosse um assunto oficial, Quin teria me enviado para cá, — rebati.
— Sim, bem, Quin não seria fã desse trabalho em particular.
— E ainda... — eu incitei.
— Christopher é um velho amigo meu.
— Metade do mundo é um velho amigo seu.
— Isso não pode estar certo, — ele meditou. — Tem que ser pelo menos dois
terços. Eu sou um cara simpático.
— Isso é discutível. Mas, Bells, trabalho para Quin. Não faço contratos
particulares. Por várias razões. Não menos importante é que Quin me fornece
segurança ao lidar com personagens obscuros, — eu disse, deixando meu olhar
deslizar em direção a Christopher.
— Estamos bem aqui, boneca, — Bellamy me assegurou.
— Sim, agora. Mas o que acontece quando uma das modelos da Victoria's
Secret dá uma festa em casa?
— Claramente, elas prevalecem, — ele me disse, os lábios tremendo.
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— Você não gostaria que perdêssemos essa diversão, gostaria? — Fenway
perguntou, colocando a mão sobre o coração.
— Acho que você se divertiu mais que o suficiente para durar cinco vidas,
Fenway. De qualquer forma, a resposta é não. Não estou fazendo contrato de
trabalho para você ou seu amigo, Bells. Sr. Adamos, desculpe se Bellamy fez
promessas a você sem primeiro me consultar. Foi um erro de julgamento da parte
dele. Se você quiser, conheço vários outros muito bons negociadores com os quais
posso colocá-lo em contato.
— Muito bons, — ele disse, prendendo-me com aquele olhar penetrante. —
Não quero muito bom. Quero a melhor. Meus colegas senhores do crime me
informam que você é a melhor.
Isso foi piada, certo?
Certamente parecia, mesmo que ele o proferisse sem um pingo de diversão.
— Ele está certo, você sabe, — Fenway falou. — Você é a melhor.
— Nossa, obrigada pelo voto de confiança, Fenway. Mas eu não estou fazendo
isso.
— Você nem sabe qual é o trabalho, — disse-me Bellamy.
— Ou quanto vale, — acrescentou Fenway.
Como regra geral, Fenway não costumava falar sobre dinheiro. Eu acho que
porque ele tinha mais do que Deus, ele nunca sentiu que era algo que valesse a
pena falar. Portanto, o fato de ele estar, pensei, significava que o pagamento por
esse trabalho em potencial seria significativamente mais do que o meu salário
habitual. E eu fazia muito dinheiro trabalhando para Quin. Compensação de risco,
se você quiser. Desde que eu geralmente lidava com as cabeças quentes, tentando
fazer com que todos chegassem a um acordo com o qual nenhuma das partes ficava
completamente feliz.
— Não se trata de dinheiro, — insisti. E eu fui incrivelmente sortuda e
agradecida por estar em um ponto da minha vida em que eu poderia dizer isso e
dizer a verdade. Eu estava confortável Graças à Quin, alguns investimentos
cuidadosos e um monte de poupança, desde que eu nunca estava em um lugar o
tempo suficiente para realmente gastar muito o dinheiro, eu sabia que, se Quin
decidisse que não precisava de mim amanhã, poderia viver confortavelmente,
23
embora de maneira alguma seria exuberante, a vida sem outros meios de renda se
decidir não trabalhar novamente.
— Dois, — disse Christopher, sem pestanejar.
Duzentos mil era um pouco mais do que fazia em meu trabalho normal.
Tentador se talvez tivessem me contatado do jeito certo. Mas esse era o princípio
da coisa.
— Milhões, — acrescentou Christopher quando percebeu que eu claramente
o entendi mal.
Isso era, bem, isso era mais do que um pouco tentador, não vou mentir.
Esse tipo de dinheiro? Isso me deixaria mais do que confortável pelo resto da
minha vida.
Mas se eu deixasse isso passar, mesmo que dessa vez por uma quantia
gigantesca, Bellamy e Fenway pensariam que eles poderiam fazer uma porcaria
assim e se safar, que o dinheiro poderia resolver questões até de moralidade.
— Por esse tipo de dinheiro, você poderia ter todos os meus concorrentes de
uma só vez. O que, combinados, daria a você o melhor.
— Você não vai torcer o nariz para dois milhões de dólares, vai? — Bellamy
perguntou, franzindo as sobrancelhas.
Embora Fenway pudesse estar meio por fora de coisas como dinheiro,
Bellamy estava um pouco mais por dentro com quanto dinheiro poderia impactar
a vida das pessoas.
— Eu estou.
— Por que razão? — Chris perguntou.
— É o princípio da coisa.
— Três.
— Sr. Adamos, — eu disse, embora minha barriga estivesse começando a
tremer com a ideia de recusar dinheiro assim: — Não estou tentando te fazer
aumentar. Não vou aceitar esse trabalho.
Para isso, ele lentamente se inclinou para frente novamente, olhos sem
piscar, tom mortalmente sério. — Quatro.
Jesus.
Eu poderia realmente recusar esse tipo de dinheiro? Só porque Bellamy e
Fenway tinham estragado as apresentações?
24
— Temos sua atenção agora, — disse Bellamy, seu sorriso do tipo vitorioso.
Como se ele soubesse que a decisão tinha sido quase tomada.
— Bom. Podemos comprar alguns frappés agora, então, — disse Fenway,
sorrindo grande, acenando para um dos membros da tripulação.
Não mais do que um momento depois, o iate começou a se mover, nos
levando para mais perto da costa.
— Você aceita o trabalho, — disse Christopher. Não perguntou. Disse.
Porque era realmente insondável que dinheiro assim pudesse ser recusado.
— Ainda nem discutimos o trabalho, — eu disse, movendo-me para sentar-
me, apenas para ser puxado de volta por Fenway quando ele se levantou.
— Haverá tempo para isso. Em um pequeno café onde me apaixonei pela
mais intoxicante das criaturas.
— Somente por hoje, — acrescentei.
— Naturalmente, — ele concordou, ignorando o meu revirar de olhos.
— Tudo bem. Podemos conversar sobre frappés, — eu concordei, decidindo
que a cafeína era muito necessária para equilibrar as drogas, a tequila e agora o
Percocet. Se eu ia aceitar esse trabalho, queria ter certeza de que estava bem
comigo enquanto tomava a decisão.
— Você quer invadir o armário de reposição no andar de baixo para colocar
algo que não a deixará suada e infeliz em cinco minutos quando estivermos em
terra? — perguntou Fenway.
Sim, Fenway era o tipo de homem que mantinha as roupas em um armário
para as mulheres, caso precisassem trocar de roupa. Eu nunca entendi muito a
prática até esse momento.
— Sim, eu vou fazer isso, — eu concordei. — Com licença, — eu disse,
virando-me e indo para o convés.
Eu estava de pé no meu sutiã e calcinha, pegando o vestido azul escuro que
por acaso era do meu tamanho, e não tão longo que estaria tropeçando nele
enquanto caminhamos, quando uma voz soou atrás de mim.
— Vou dobrar se for o que for preciso, — a voz suave de Christopher
soou. Mesmo quando meu corpo sacudiu com a invasão, meus nervos zumbiram
em resposta à maneira como seu corpo fez um calafrio se mover sobre minha pele,
agora nua, de alguma forma me aquecendo e esfriando de uma só vez. Arrepios
25
brotaram quando minha barriga nadou com algo que eu só poderia descrever como
interesse.
— Eu não estou vestida, Sr. Adamos, — eu o informei, virando-me para
encará-lo.
Seu olhar estava na minha bunda, apenas meio escondida pela calcinha de
renda rosa atrevida, e estava lentamente voltando para o meu rosto.
— Eu vejo isso.
Ignorando a antecipação em minha barriga, forcei meu queixo a
levantar, tirando todo o desejo da minha voz.
— Então você também pode ver que eu nem sonharia em trabalhar para
alguém que não respeita meu direito à privacidade. Não importa a quantia que eles
estão me oferecendo.
— Todas as suas partes delicadas estão cobertas, — ele disse, olhando para
o meu peito, onde o sutiã mal estava fazendo seu trabalho. — Bem, basicamente.
— Engraçado, — eu disse, embora não houvesse nada engraçado naquele
momento, — isso não parece um pedido de desculpas para mim.
— Você descobrirá que muitas vezes não peço desculpas.
— Estou chocada, — declarei. — O que poderia valer oito milhões de dólares,
Sr. Adamos? — eu perguntei, decidindo que o único movimento seria recusar-me
a me cobrir ou exigir que ele fosse embora novamente.
— Meu irmão.
— Seu irmão, — eu repeti, sentindo minhas sobrancelhas franzirem. — E o
que tem seu irmão?
— Parece que fiz muitos inimigos em minha linha de trabalho específica.
— Eu imagino que sim.
— E nem todos os homens têm códigos de honra, — acrescentou, protegendo-
se de uma verdade desconfortável.
— Alguém levou seu irmão, — concluí.
— Sim.
— E estou assumindo que não é apenas dinheiro que eles querem em troca
dele?
— Se fosse dinheiro, eles já teriam, — ele retrucou, frustração mal contida.
26
— Sr. Adamos, quantos anos tem seu irmão? — eu perguntei, sentindo algo,
algum pânico subjacente que um homem como ele tão raramente possuía.
— Ele tem quinze anos.
— Oh, — meu fôlego saiu de mim, finalmente entendendo por que ele pagaria
alguma coisa, por que estava disposto a se esforçar para fazer parte de um
sequestro, para conseguir o que precisava.
Encontrar alguém que pudesse recuperar o irmão por ele.
E, reconhecidamente, eu era sua melhor chance de um resultado positivo.
Certa vez, negociei por três semanas com um terrorista fanático que queria
incendiar uma cidade inteira.
Se havia alguém neste mundo que poderia recuperar seu irmão, era eu.
Também entendi outra coisa, algo que fez o desejo desaparecer, substituído
por uma resignação fria.
Bellamy provavelmente não poderia ter conhecido.
Fenway definitivamente não teria.
Mas eu sim.
Não importava se eu recusasse o dinheiro.
Não haveria recuo nesse arranjo.
Homens desesperados, mesmo honoráveis, faziam coisas desesperadas
quando os entes queridos estavam em jogo.
Quando apenas uma pessoa estava entre eles e o que eles queriam, faziam
qualquer coisa que fosse necessária para obter os resultados desejados.
Bellamy tecnicamente me sequestrou.
Mas a partir do momento em que fui colocada neste iate com esse homem,
não havia como eu me afastar.
Christopher Adamos, o maior líder do crime organizado da Grécia, acabara
de se tornar meu sequestrador.
E a única maneira de ele me libertar novamente era se eu trouxesse seu
irmão de volta.
Vivo.
27
3
Christopher
28
Advogada severa ou princesa guerreira distópica, ela não era.
Linda foi a primeira palavra que veio à mente. Seguido por jovem. Ou, pelo
menos, mais jovem do que eu imaginava. Com a reputação que ela tinha quando
perguntei sobre ela, parecia improvável que ela tivesse menos de quarenta anos.
Mas, na realidade, acho que ela talvez não estivesse na casa dos trinta.
Ela tinha uma estrutura curta e compacta, com curvas suaves, mas
generosas, cabelos castanhos escuros e brilhantes, olhos castanhos amendoados
e um rosto delicado.
Ela parecia um pouco áspera, com dor nos olhos, maquiagem borrada,
passos um pouco rígidos e incertos.
Os efeitos das drogas ainda afetam seu organismo.
Mas ainda... linda.
Sua voz, mesmo quando me ameaçava com homicídio, era suave e
reconfortante, e imaginei que isso era algo que funcionava a seu favor em uma
negociação, sendo capaz de acalmar ambas as partes, acalmar nervos desgastados
e sentimentos feridos.
E ela muito, muito claramente, não queria estar lá. Contra a vontade dela. De
frente para mim.
E isso foi justo o suficiente. Eu tinha uma reputação que me precedia às
vezes. Se ela soubesse alguma coisa sobre crime na Grécia, saberia que eu
geralmente tinha minha mão nisso. E uma reputação de ser rápido e cruel quando
alguém me desafiava.
Por outro lado, me disseram sobre alguns dos acordos que ela havia
negociado, e os homens eram a sujeira da Terra.
Mas talvez porque ela o fez a título oficial com ajuda.
Ou talvez ela estivesse chateada por não ter sido solicitada diretamente.
Ambos faziam sentido.
Nenhum importava para mim.
Ela ia fazer este trabalho.
— Ela ficará de bom humor assim que tomar um café, — disse Fenway
quando ela desceu do convés para trocar de roupa. — Eu avisei que ela poderia ser
um pouco mal-humorada.
29
— Um gatinho fica mal-humorado, — corrigiu Bellamy. — Miller pode ser
mais como uma pantera ou um leão da montanha.
Imaginei que uma mulher que trabalhava em sua profissão, cercada por
homens em seu escritório, tinha que ser dura para sobreviver.
Dura era bom.
Dura era o que eu precisaria que ela fosse.
Por que o homem que tinha meu irmão? Ele era alguém que poderia me dar
pesadelos.
— Com licença, — eu disse, movendo-me para ficar de pé, decidindo que
queria tentar de novo. Para genuinamente interessá-la. Se bastasse dinheiro, tudo
bem. Eu tinha mais do que suficiente. Sempre poderia fazer mais.
Mas, ao colocá-la de bom grado, motivada por algo que ela realmente queria,
ela trabalharia melhor.
Mesmo sabendo que ela era linda, não me preparou para o soco do desejo
quando abri a porta do quarto e a encontrei parada apenas com um sutiã e calcinha
que deixou metade de sua bunda redonda aparecendo.
Foi imediato, avassalador, fazendo visões de agarrá-la e rolar na cama com
ela piscar na frente dos meus olhos. Essa seria uma boa maneira de acabar com
um pouco do estresse que me sufocava nos últimos cinco dias.
Cinco dias.
Não tinha ideia do que ele estava passando, o que estava sendo feito com ele.
Por cinco malditos dias.
— Há quanto tempo ele é refém? — Miller perguntou, erguendo o queixo,
recusando-se a cobrir. O que eu respeitava, mas estava achando quase impossível
de me concentrar.
— Cinco dias hoje.
— E quem o tem?
— Atanas Chernev.
A maneira como seus lábios se abriram com o nome e a cabeça caiu um
pouco, me disse que ela sabia exatamente com quem eu estava lidando. E quão
ruim isso era.
— O traficante de heroína da Bulgária, Atanas Chernev? — ela perguntou
para esclarecer.
30
— Sim.
— Você tem certeza que ele tem seu irmão?
— Eu tenho um vídeo. Sim, tenho certeza.
— Como ele conseguiu seu irmão?
— Ele estuda em Atenas. Ele deveria estar seguro lá. Eu tinha homens lá.
Ninguém deveria ter conseguido pegá-lo. Mas ele conseguiu.
— O que ele quer de você? — ela perguntou, olhar direto.
— Ele quer poder operar no meu país.
— Seu país.
— Sim, meu. Ninguém opera na Grécia sem que eu saiba. Dos traficantes até
os agiotas do bairro. Tenho a palavra final sobre quem trabalha, e quem
não trabalha, no meu país.
— Por que você não quer que ele opere na Grécia?
— Porque ele não pode ser confiável. Porque não posso confiar nele. Porque
essa merda já está causando danos suficiente, não preciso de alguém cruel como
ele empurrando mais disso, arruinando vidas, famílias.
— Agora, para recuperar seu irmão, você está disposto a desistir um pouco
dessa questão?
— Não tanto quanto ele quer que eu faça.
— Essa é a parte em que devo lhe dizer que a coisa mais inteligente a fazer é
deixar meu chefe e sua equipe entrar. Sou apenas parte do pacote de acordo que
você pode conseguir com Quin. As negociações são importantes. Mas não acho que
preciso lhe dizer que, se não derem certo, você precisará de um plano de apoio.
Você precisa extrair seu irmão com segurança.
— Se chegar a isso, vou lidar com isso. Não preciso da sua equipe para isso.
Preciso que você tenha certeza de que não chegue a isso.
— Não entro com garantias, Sr. Adamos, — ela me disse, balançando a
cabeça um pouco.
— Eu não preciso de garantias. Preciso que você faça seu trabalho.
— Eu me sentiria mais confortável se você trouxesse, pelo menos, Smith da
minha equipe.
Smith, eu conhecia das histórias de Fenway e Bellamy. Ele era o General da
equipe. Ele lidava com coisas como extrações.
31
— Eu tenho meus próprios homens.
— Não tão bons quanto os homens de Quin.
— Talvez não sejam tão experientes, mas com muito menos moral, — eu
disse a ela, vendo como a compreensão cruzou seu rosto.
Eu queimaria toda a porra da Bulgária se isso significasse recuperar meu
irmão. Eu não dava a mínima para o que isso dizia sobre mim como homem.
— Quanto tempo você tem antes que uma ação seja esperada de você?
— Chernev espera receber notícias minhas amanhã à noite.
— Não há muito tempo para me preparar.
— Mas isto pode ser feito. — Não foi uma pergunta. Mas ela respondeu
mesmo assim.
— Isso pode ser feito, — ela concordou. — Fenway está certo. Vou precisar
desse café.
— Estaremos ancorados em menos de cinco minutos, — eu disse a ela,
movendo-me em direção à porta.
— Sr. Adamos, — ela chamou, me fazendo voltar.
— Sim?
— Oito, — ela me lembrou.
— Eu sou um homem de palavra, Miller. Você me devolve meu irmão,
receberá seu dinheiro.
— Receio que não seja assim, Sr. Adamos. Se sou ou não bem-sucedida, sou
paga. Ninguém trabalha de graça.
Isso era justo o suficiente.
— Se você não obtiver sucesso, receberá a taxa que seu empregador lhe paga.
Nem um centavo a mais.
Ela não gostou disso, a julgar pela tensão na mandíbula, pela maneira como
seus olhos ficaram pequenos. Mas ela também não se opôs.
— Sr. Adamos, — ela chamou novamente quando eu acabei de chegar ao
corredor.
— Sim?
— Seu irmão...
— O que tem ele?
— Qual o nome dele?
32
— Alexander, — eu disse a ela, sentindo a dor atravessar meu estômago.
— Farei tudo o que puder para proteger Alexander, — ela me disse quando
fechei a porta.
Eu não a conhecia o suficiente para dizer com certeza, mas tinha a sensação
de que era mais do que dinheiro. Talvez porque Alexander fosse tão jovem, porque
as crianças nunca deveriam se envolver em guerras entre homens adultos.
Um coração terno era ruim para os negócios.
Mas, neste caso, funcionaria a meu favor.
— Ela lhe disse explicitamente para não lhe dar um porco, — Bellamy estava
dizendo a Fenway quando eu voltei para o convés, vendo Fenway percorrendo algo
em seu telefone.
— Mas ela não quis dizer isso, — Fenway insistiu.
— Ela não pode ter um porco agora, — eu disse, ajudando Bellamy, e
provavelmente Miller. — Ela ficará na Grécia por um tempo, — acrescentei.
— Certo. Bem, anotando para o aniversário dela então, — disse Fenway,
guardando o telefone.
Eu duvidava que ele soubesse o aniversário dela, muito menos se
lembraria. Isso não era algo que você poderia esperar de Fenway, o tipo de homem
cuja vida era cheia de mulheres e festas, evitando qualquer coisa séria, nunca
fazendo conexões profundas.
Era assim que ele era.
A única coisa que o fez chegar a uma parada foi quando algum grande, ou
pequeno, homem estava ameaçando sua vida porque Fenway envolveu-se com sua
esposa, irmã, filha, ou mãe. Todas as anteriores. E ele só parava então porque a
equipe em que Miller e Bellamy trabalhavam o forçava.
Na verdade, eu conheci Fenway quando um dos meus homens o salvou de
uma surra no beco escuro por causa de uma mulher que ele paquerou na frente
de seu homem.
Ele provou ser um amigo distante, mas divertido, alguém fácil de levar,
alguém que sempre organizava uma grande festa nas raras ocasiões em que eu
estava com disposição para uma.
33
Cinco minutos depois de desembarcarmos, ele fugiria, perseguindo uma bela
mulher com uma saia esvoaçante. Eu provavelmente não o veria novamente por
meses. Ou anos.
Bellamy, imaginei que ficaria o suficiente para garantir que Miller estivesse
confortavelmente no trabalho. Então ele iria para sabe-se lá onde.
Imaginei que Miller também tivesse descoberto isso, o que provavelmente
explicaria muito de sua hesitação inicial.
— Você contou a ela sobre o garoto, — disse Bellamy, empurrando o queixo
atrás de mim.
Eu me virei para ver todo o quase um metro e setenta de Miller caminhando
em nossa direção, sua marcha rápida e determinada. — Tudo bem. Vamos fazer
isso.
Dez minutos depois, Fenway supostamente saiu para perguntar sobre um
pouco de vinho que ele queria estocar no seu iate.
Estávamos na frente da cafeteria quando o telefone de Bellamy tocou.
Ele o alcançou, erguendo uma sobrancelha, algo que imediatamente fez
Miller investir nele. — É Quin, não é? — ela perguntou enquanto ele dançava um
passo para trás. — Me dê isso. Bells! — ela gritou quando ele se afastou ainda
mais. — Bellamy, — ela rosnou quando ele subiu as escadas.
Ela tentou ir atrás dele, fazendo meu braço disparar, dedos enrolando em
torno de seu braço, puxando-a para trás.
— Solte-me, — ela exigiu, a ordem saindo entredentes. Desafiadora, mesmo
sabendo que não tinha chance.
— Nós concordamos que este trabalho não envolvia seu chefe, — lembrei-a
enquanto ela tentava se afastar, virando o pescoço, provavelmente tentando
descobrir se havia alguém por perto que a salvaria se ela gritasse.
Normalmente, sim, eles iriam.
Mas não quando a pessoa da qual ela precisava ser salva era eu.
Ninguém faria um movimento contra mim. Havia algo na maneira como seus
ombros caíam que dizia que ela estava começando a entender isso, a ver meu
alcance.
34
— Por aqui, — eu disse a ela, aliviando meu aperto, mas mantendo a mão
nela, levando-a através de uma porta azul brilhante e entrando em uma pequena
cafeteria.
— Preciso da varanda limpa, — disse ao proprietário que imediatamente saiu
de trás do balcão, para fazer isso acontecer. — E dois frappés, — acrescentei, à
esposa do homem, que rapidamente recolheu o café instantâneo e o leite.
— Você pode me soltar, — disse Miller, a voz áspera, mesmo quando ela me
lançou um sorriso falso. Se não soubesse que ela estava chateada, teria
acreditado.
— Então você pode correr atrás de Bellamy para falar com seu chefe? Não.
— Eu pensei que tínhamos um acordo de negócios.
— Nós temos, — eu concordei, acenando com a cabeça para o proprietário
enquanto levava Miller para a varanda, sentando-a perto do parapeito enquanto eu
pegava o lugar perto da porta. Sem saída.
— Então por que você está me tratando como uma prisioneira?
A esposa do proprietário saiu na varanda, colocou as bebidas junto com um
menu e depois desapareceu em silêncio novamente, fechando a porta enquanto
passava.
— Frappé, comida... sim, você está sendo terrivelmente maltratada.
— Eu só queria que minha equipe soubesse onde estou. Isso é tudo. E sei
que Bellamy mentirá para eles. Você tem entes queridos, Sr. Adamos. Você sabe
como é se preocupar quando um deles desaparece repentinamente.
— Tenho certeza que Bellamy lhes forneceu uma história que lhe dará tempo
suficiente para salvar Alexander.
Para isso, ela soltou um longo suspiro, pegando um frappé, recostando-se na
cadeira.
— Tudo bem. Vou precisar de mais detalhes.
— Sobre o que exatamente?
— Seu irmão. Atanas. A hierarquia do crime em seu país. O tipo de aliados
que Atanas tem. E você. O que você está, e não está, disposto a negociar. Tudo.
Ela ficou em silêncio então, tomando um gole tímido de seu frappé, soltando
um gemido que eu podia sentir no meu pau, porra, depois tomando um gole mais
longo.
35
— Essa é uma longa história, — eu disse a ela, deslizando o dedo pelo suor
do meu copo.
— Eu estou por sua conta agora, — ela disse com um encolher de ombros
casual.
— Meu pai começou o negócio da família. Ele subiu na hierarquia de
empréstimos para, como você diz, senhor do crime. Ele morreu cinco anos depois
que Alexander nasceu. Sua mãe foi morar com outro homem rico, deixando-me
para criar Alexander. O que eu fiz. No ano passado, ele insistiu em ir à escola em
Atenas. Ele se sentia sufocado aqui, eu acho.
— Guardas armados impedindo-o de ser criança? — ela perguntou.
— Algo assim, sim. Ele deveria estar seguro. Ninguém me desafia aqui.
— Qual é exatamente o seu negócio, Sr. Adamos?
— Acredito que eles chamariam isso de “crime organizado” nos Estados
Unidos.
— Esse é um termo abrangente.
— O meu é um negócio abrangente.
— Então, você, o que, aceita uma porcentagem de todas as transações
ilegais? Em troca de proteção?
— Na maior parte sim.
— Quem lida com heroína no seu país?
— Ninguém daqui. Ele entra furtivamente. Tantos barcos, tantos rostos, é
impossível acompanhar.
— Então você não tolera nenhum comércio de drogas?
— Eu disse que não tenho mão na heroína. Existem outras drogas, drogas
menos destrutivas e aquelas que permito. Essas têm traficantes com quem tenho
acordos.
— Portanto, seria seguro presumir que Atanas Chernev provavelmente tenha
esgueirado pessoas. Ele está encontrando um mercado para isso. Está ganancioso.
Ele quer que você o deixe monopolizar esse mercado.
— Sim.
— Ele estava pensando em lhe dar uma porcentagem?
— Originalmente, sim. Trinta por cento. Como é padrão.
— Há quanto tempo foi isso?
36
— Seis meses. Oito, possivelmente.
— Ele estava com raiva?
— Chernev não mostra tanta fraqueza. Ele me disse que entendeu minha
hesitação. Não tive notícias dele novamente. Imaginei que ele havia se mudado para
a Turquia ou a Romênia. Até a Itália. Não tinha motivos para suspeitar que ele era
uma ameaça.
— Exceto que todo mundo é uma ameaça quando quer algo de você que não
está recebendo.
— Isso é verdade, — eu concordei.
— Ok. Bem, como é Alexander?
— Muito parecido comigo nessa idade. Exceto talvez mais esperto. Mais
astuto até.
— Portanto, alguém que provavelmente não se encolhe e implora para ser
libertado, — ela adivinhou.
— Não consigo imaginá-lo fazendo uma dessas coisas.
— Ele é imprudente? Ele fará alguma coisa para estragar as negociações?
— Tudo é possível. Acho que, se ele sabe que você está envolvida, ele será
esperto, tentar deixar as coisas acontecerem.
— Exigirei provas de vida. Ele saberá que estou envolvida. Você e
Alexander têm algum tipo de código?
— Código? — eu perguntei, sobrancelhas franzidas.
— Sim, código. Para uma situação como essa. Minha equipe e eu todos temos
frases de efeito, pequenos dizeres que, quando ditos em situações de alta pressão,
como sequestros ou reféns, podemos usar para comunicar detalhes da situação.
— Infelizmente, eu nunca tinha pensado nisso antes.
— Quando ele chegar em casa, isso é algo que você desejará implementar.
Mesmo se você planeja aumentar a segurança. Essa é a natureza dos seus
negócios. Ela vem com alguns riscos e a preparação para eles é importante. Agora,
quanto você está disposto a dar a ele? Porque, Sr. Adamos, você terá que dar algo
a ele.
— Atenas, Mykonos e Lindos.
— Você desistiria de Atenas com seu irmão estudando lá?
— Meu irmão aprenderá a suportar a educação em casa no futuro.
37
— Provavelmente inteligente. E esse é um bom começo. Mas você sabe que
ele vai querer Santorini. É um dos maiores pontos turísticos.
— Ele não pode ter Santorini.
— Por que você mora aqui? Por que isso fará você parecer fraco para todos
que respondem a você?
— Sim. Você quer ver o caos, deixe que os funcionários pensem que o chefe
os deixará fazer o que quiserem. Meu irmão não terá chance. Nem eu. Alguma
ordem deve ser mantida. Ele não pode ter Santorini.
— Tudo bem, — ela disse, exalando com força. — Vou ver o que posso fazer.
Há mais alguma coisa que preciso saber?
— Chernev não vai esquecer seu rosto, — eu a avisei. — E ele é um inferno
de um inimigo.
Para isso, um sorriso lento e arrogante puxou seus lábios. — Você não ouviu,
Sr. Adamos? Fiz aliados poderosos em todo o mundo. Jantei na Páscoa com
homens que fariam Atanas Chernev mijar nas calças. Ele põe uma marca na minha
cabeça, ele coloca uma na sua própria.
— Isso é uma ameaça, Miller? — eu perguntei, sentindo meus lábios
tremerem levemente.
— É uma informação importante a ter.
Ela esticou o braço sobre a mesa, pegando meu frappé que eu não havia
tocado, tomando um longo gole.
Meu telefone tocou no meu bolso.
Cheguei a ele, encontrando uma mensagem.
— O quê? — ela perguntou, lendo minha reação.
— Bellamy. Ele diz que tem um trabalho. E me comprou uma semana com
seu chefe.
— Ele me deixou aqui.
Não foi uma pergunta.
Eu respondi de qualquer maneira.
— Somos apenas você e eu.
Era para ser uma ameaça.
Parecia muito uma promessa.
38
4
Miller
Acho que não poderia ter esperado uma boa cama e café da manhã. Ou
mesmo ir mais longe na costa e ficar em um hotel.
Não.
Eu provavelmente deveria ter previsto ser agarrada pelo braço novamente e
subir as escadas sem fim de Santorini, sentindo minhas coxas queimarem sem
piedade, enquanto Christopher parecia nem notar a tensão em seus músculos.
— Ok, chega, — eu resmunguei, puxando meu braço bruscamente,
surpreendendo Christopher o suficiente para me libertar.
Eu malhava.
De má vontade.
Não tanto quanto alguns dos meus companheiros de equipe.
Mas eu conseguia.
Fiz uma promessa aos meus pobres e doloridos pulmões para fazer mais
quando voltasse para casa.
Porque eu estava suada e meio dobrada para a frente, com as mãos nos
joelhos, tentando respirar um pouco.
— Não me dê esse olhar, — eu exigi.
— Você nem pode me ver para saber que olhar posso ou não estar lhe dando.
— Eu posso sentir, — eu insisti.
— Você vai se acostumar com as escadas, — ele me assegurou, uma sugestão
do que parecia suspeitosamente humor em sua voz.
— Eu entendo os burros agora, — eu disse, tendo zombado deles apenas
vinte minutos antes.
Realmente, eu só precisava de um minuto. Eu ainda estava desidratada e
não tinha dormido o suficiente. Eu não estava na minha melhor forma.
39
Mas ou Christopher duvidou de minhas habilidades para me recuperar, ou
ele simplesmente ficou impaciente.
Porque a próxima coisa que eu soube, um braço estava sob meus joelhos,
outro nas minhas costas, e eu fui levantada e puxada para o peito de Christopher.
— Coloque-me no chão, — exigi, mas não tinha muita certeza de quanta
convicção havia em minha voz.
Agora, se era por exaustão ou se era surpreendentemente agradável estar
nos braços de um homem forte e lindo era uma incógnita.
Mas, é claro, eu ia garantir a mim que era o primeiro.
— Você não vai conseguir outro conjunto. E ainda temos mais cinco.
— Você mora no topo da colina, não é?
— Sim.
— Claro que mora, — eu murmurei, tentando não ficar muito hipnotizada
estudando sua mandíbula. Podia cortar vidro, de tão marcada.
— Tem vantagens táticas.
— Como seus inimigos morrendo de ataques cardíacos tentando alcançar
você.
— Existe isso, — ele concordou, os lábios tremendo. — E eu e meus homens
podemos ver tudo acontecendo abaixo de nós. Ninguém pode esgueirar-se. É o
lugar mais seguro da ilha.
Se eu fosse refém, pelo menos sabia que estaria a salvo de ameaças
externas.
E, convenhamos, os homens que fariam mal a você geralmente não a
carregariam por vários lances de escada.
Eu tinha valor.
Só deixaria de ter se não pudesse salvar seu irmão.
E, bem, mesmo sendo meio refém, eu queria ajudar. Era uma coisa que me
irritava quando homens como Chernev envolviam crianças inocentes em suas
insignificantes guerras de tráficos. O dinheiro era um benefício adicional.
Alexander Adamos era a prioridade.
Mesmo sabendo que, no entanto, estava muito ciente da maneira como seus
braços me embalavam, dos músculos duros de seu peito e da maneira como ele me
carregava como se não fosse esforço sequer.
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Claro, eu era relativamente baixa e pequena, mas duvidava que alguém me
chamasse de magra ou delicada. Os homens simplesmente não me carregavam.
Foi uma sensação surpreendentemente reconfortante.
Tinha que ser algo primitivo, algo codificado no meu DNA. Querendo um
homem grande e forte para me fazer sentir pequena e delicada, ao mesmo tempo
protegida e segura.
Talvez fosse por isso que eu sempre fui tão atraída por homens perigosos.
Quero dizer, não que tenha sido atraída por Christopher Adamos, é
claro. Seria um nível novo de totalmente errado se eu gostasse de um cara que não
hesitaria em me trancar para conseguir o que precisava de mim.
Era apenas, você sabe, legal. Ser pega. Ser levada.
Eu nunca admitiria isso em voz alta.
Mas eu estava gostando.
— Você pode me colocar no chão agora, — eu disse a ele quando chegamos
ao degrau final.
Um longo, baixo e forte muro de jardim branco com um portão azul brilhante
estava diante de nós, dois homens vigiando ao lado dele.
— Quando estivermos em segurança atrás do portão, sim, — ele concordou,
acenando com a cabeça em direção aos homens que se moveram para abrir o
portão, nos permitindo passar.
A casa de Christopher era como a maioria das outras casas cavernas pelas
quais tínhamos passado no caminho, mas enorme, longa, baixa e ampla. Aqui em
cima, contra o sol direito e o céu azul, o branco era quase doloroso de se olhar,
demorou um longo momento para meus olhos se ajustarem.
Alguns metros dentro do jardim da frente, minha gravidade finalmente
mudou, meus pés encontrando o chão.
E, bem, minhas pobres e maltratadas coxas? Sim, elas meio que desistiram
de mim, fazendo meu braço disparar, agarrando o braço de Christopher,
segurando-o para manter o equilíbrio, enquanto eu desejava que minhas pernas
apenas me suportassem por mais alguns momentos. Apenas permita-me a
dignidade de fazê-lo em uma cadeira, então elas poderiam chorar e me falhar como
quisessem. Inferno, eu poderia chorar junto com elas. E não era alguém que
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chorava facilmente. O que posso dizer, foram vinte e quatro horas exaustivas. Meu
corpo e mente estavam por toda parte.
Eu precisava dormir um pouco.
Estaria em melhor forma pela manhã.
— Vamos lá, — ele ofereceu, me agarrando pelo cotovelo, me ajudando em
direção à porta.
O interior da casa era muito parecido com o exterior: paredes expostas,
brancura. O chão era de pedra arenosa quente, os móveis da sala à esquerda
tinham o mesmo tom de azul do portão do jardim e da porta da frente.
Não havia arte nas paredes ou muito pelo modo de decoração. Deveria
parecer fria. Em vez disso, achei estranhamente caseiro. A falta de estímulo era
simples. E simples era reconfortante à sua maneira.
Eu nunca esperei pensar isso.
Minha casa era uma incompatibilidade de todas as coisas que amava. Eu
tinha prateleiras cheias de bugigangas de todos os lugares que eu havia
viajado. Meus móveis eram enormes e macios. Eu tinha uma tonelada de
almofadas, nenhum dos quais combinava. Havia cobertores coloridos sobre o
encosto do sofá.
Gostava de macio e aconchegante. Provavelmente porque passei tanto tempo
em hotéis, lugares que fingiam ser essas coisas, mas sempre conseguiam falhar.
Eu não deveria gostar dessa casa de cavernas.
Mas, ao passarmos por uma sala de jantar que tinha uma mesa comprida e
vazia, sem velas, caminho ou armário chinês pendurado na parede com as xícaras
e colheres de chá favoritas da bisavó, senti-me estranhamente em casa.
— Cora, — ele chamou, levando-me para a cozinha, sem dúvida o cômodo
menor que passamos até agora. Havia um pequeno espaço de bancada, branca
com armários brancos, ligada na geladeira e fogão. Havia uma ilha pequena onde
Christopher me levou, puxando um banquinho para eu me sentar
— Christopher, — uma mulher falou, a voz quente, amorosa. Não a senhora
da casa em termos de esposa, mas mais como uma figura materna.
Cora era uma mulher provavelmente no início dos sessenta anos, com um
vestido azul simples e um tanto folgado, com um avental floral. Seus cabelos curtos
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e escuros eram cacheados. Seu rosto levemente enrugado mostrava muitos anos
de razões para rir e sorrir.
E então, ela estava sorrindo para Christopher enquanto caminhava até ele,
dando um tapinha na mandíbula dele.
— Você perdeu o café da manhã, — ela desaprovou, balançando a cabeça
para ele.
— Eu tinha negócios cedo, — ele disse, a voz ainda bastante formal, apesar
de seu carinho, me fazendo pensar que ele simplesmente não era capaz desse tipo
de gentileza e delicadeza. Apesar de me carregar pelas escadas.
Ele simplesmente estava cuidando de seu patrimônio.
Não foi gentileza.
— E você traz para casa uma mulher, — ela disse, e eu pude ouvir uma
pitada de desaprovação em seu tom quando seu olhar se moveu para mim, me
olhando como uma vaca no mercado.
— A senhorita Miller me ajudará a trazer Alexander para casa, — explicou.
Tristeza cruzou o rosto de Cora por um momento antes de seu olhar vir para
mim novamente, mostrando esperança.
— Ela é boa, sim?
— Ela é a melhor, — corrigiu Christopher. — Mas esteve em uma longa
jornada. E está com sede, fome e precisa de uma cama. Você pode fazer algo para
ela comer enquanto eu falo com meus homens?
— Sim, sim, é claro. Senhoria Miller está em boas mãos, você sabe disso, —
ela disse, acenando para ele ir embora.
— Vejo você no seu quarto em uma hora.
Isso parecia muito com uma ameaça.
Como se fosse tentar dominar a pobre Cora e fugir.
Como se minhas pernas sequer concordassem com essa ideia.
— Eu vou contar os minutos, — eu disse a ele, revirando os olhos, sendo
recompensada com um daqueles tremores nos lábios dele.
— Senhorita Miller, — disse Cora, enquanto eu observava a forma em
retirada de Christopher. — Você está com fome, sim? — ela perguntou, chamando
minha atenção de volta para ela.
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— Sim, — eu concordei, colocando a mão no meu estômago roncando. —
Posso beber um pouco de água? — eu perguntei. — Eu mesma pegaria, mas
minhas pernas se opuseram a todos os degraus para chegar até aqui. Acho que
cairia se tentasse pegar sozinha, — admiti.
— Claro, claro. Água. Depois comida. Você está muito magra, — ela me disse,
estalando a língua.
Meus lábios se curvaram com isso. — Acho que ninguém nunca me disse
isso antes. Mas vou aceitar isso como um elogio.
— Você tem um marido? — ela perguntou, enchendo um copo com água,
passando para mim por cima do balcão.
— Não. Nenhum homem.
— Não? Por que não?
— Eu trabalho muito, — admiti.
— Trabalho. O trabalho é bom. Também é a família. Um marido. Filhos.
Também são muito importantes.
— Eu ainda sou jovem, — me defendi, sem saber por que me senti
na defensiva. Eu acho que porque não tinha prática contra figuras maternas
julgadoras. Eu não tive mãe, ou tias. Ninguém para me repreender sobre o meu
relógio correndo.
— Ah, nem tão jovem, — ela disse, encolhendo os ombros enquanto ia à
geladeira, pegando os ingredientes. — Bonita, no entanto. Bons quadris.
Oh, Deusa!
Bons quadris.
Eu sabia o que aquilo significava.
Bons quadris férteis.
Que dia estranho eu estava tendo.
Apenas alguns minutos depois, uma tigela pequena estava na minha frente.
Alface, azeitonas, tomates, pepinos, queijo feta.
Eu conhecia a Grécia o suficiente para conhecer Choriatiki quando estava
na minha frente.
Tenho que admitir, eu não era, como um todo, uma pessoa de salada. Mas,
sabendo que isso era simplesmente um aperitivo para me levar a uma refeição
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maior, eu a peguei, observando Cora se mover pelo espaço com a calma eficiência
de uma mulher que cozinhava e fazia refeições com amor por muito tempo.
O que era uma coisa estranha para pensar, já que não tinha absolutamente
nenhuma experiência com essas coisas. Mas, ei, eu tinha visto TV e filmes. Eu tive
experiência cinematográfica. Quase poderia contar como real. Você sabe, se você
mentisse para si mesma, o suficiente.
Pouco tempo depois, minha tigela foi retirada e substituída por um prato
branco.
— Dolmadakia, — ela disse. — Coma, — ela acrescentou, virando-se,
limpando tudo.
Dolmadakia.
Que pareciam folhas de uva recheadas com carne e arroz e talvez
alguns vegetais.
Muito saudável.
Muito diferente de mim.
Mas cheirava bem.
Meu estômago, meio cheio da salada, roncou, exigindo que eu comesse.
Minha cabeça já estava se sentindo mais clara, os traços finais das drogas
pareciam deixar meu organismo, mesmo se eu ainda tivesse um buraco negro
gigante dos eventos do dia anterior.
— Isso é bom, sim? — ela perguntou, claramente não precisando perguntar
desde que eu limpei meu prato, apenas me impedindo de lambê-lo.
— Muito bom, — corrigi, observando enquanto ela colocava as sobras em um
prato e depois colocava na geladeira. Provável para Christopher. — Obrigada, — eu
disse a ela, oferecendo um sorriso genuíno quando ela pegou meu prato.
— Você trará Alexander de volta, sim?
— Farei tudo o que estiver ao meu alcance, — disse a ela, desconfortável com
as promessas. Eu já tinha trabalhado em muitos casos, tinha visto muitas coisas
correrem mal, para entregá-las a esmo novamente.
— Ele é um bom garoto.
— Ele é um terror, e você sabe disso, Cora, — corrigiu Christopher, entrando
ao meu lado.
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— Me lembra alguém, — ela acrescentou, mexendo as sobrancelhas para ele,
desafiando-o a contradizê-la.
— Eu nunca neguei ser assim, — ele concordou, os olhos carinhosos.
— Lembre-se de comer, — disse-lhe Cora, dando-lhe outro sorriso doce,
depois saindo da cozinha.
— Ela é muito legal. Ela acha que estou muito magra, — acrescentei. — Eu
nunca tive uma figura materna sobre mim assim. Foi gentil.
Por que eu estava lhe contando detalhes particulares da minha vida? Sim,
essa foi uma boa pergunta. Para o qual não tive respostas satisfatórias. Eu ia
continuar culpando Bellamy por isso.
— Você está cansada? — ele perguntou, evitando minha pequena
revelação. Pelo qual eu estava agradecida.
— Totalmente, — eu admiti, rangendo os dentes enquanto colocava minhas
mãos no balcão, empurrando a cadeira para trás e ficando de pé.
— Venha, — ele ordenou, a voz suave e mais gentil do que eu esperava, algo
que enviou uma pequena onda de desejo através do meu corpo. Mais uma prova
de como estava cansada.
Caminhei com ele, seguindo-o de volta para a sala de estar, por um corredor
que se abriu um pouco nos fundos como um vestíbulo, claramente o que deveria
ser a saída. Só que não era. Foi o começo de uma adição maciça construída na
parte de trás da casa da caverna, um pouco mais moderna, com linhas limpas e
abundância de janelas brilhantes.
Entramos em uma sala de estar, cores em tons azuis mais escuros do que a
frente da casa, apenas um pouco mais masculina, parecendo se adequar melhor
ao dono. Havia um banheiro, um escritório e depois um corredor de
portas. Quartos, alguém poderia imaginar. Mais do que parecia necessário, a
menos que Cora e alguns de seus funcionários de segurança precisassem de
lugares para ficar ao lado dele e de seu irmão.
Fui levada ao final do corredor, em frente ao que era claramente a suíte
master, com base no tamanho comparado aos outros.
— Você pode ficar aqui, — ele me disse, empurrando a porta para outro
quarto branco com detalhes em creme e azul claro na cama toda. — O banheiro é
por aqui, — ele me disse, caminhando até a porta, acendendo uma luz. — Sinta-se
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livre para andar dentro de casa, se você não conseguir dormir, — ele me disse. Na
superfície, parecia uma coisa agradável de se dizer. Só que eu estava lendo abaixo,
ouvindo que, enquanto eu poderia vagar pela casa, talvez obter-me uma bebida fria
ou um lanche que eu deveria precisar, eu não tinha permissão para ir lá fora.
Imaginei que, se tentasse, um guarda ficaria muito feliz em me escoltar de volta
para dentro.
Estava tudo bem, no entanto.
Era por pouco tempo.
Eu estava sendo cuidada.
Eu ia ser paga.
Se nada mais, Bellamy sabia onde eu estava. O aliado perfeito, ele não
era. Mas se Quin e os caras realmente pressionassem sobre onde eu estou, ele os
traria até mim.
Estava tudo bem.
Estive em situações muito mais difíceis na minha vida do que trancada
dentro de uma mansão de um senhor do crime em Santorini.
— Entendi, — eu concordei, assentindo.
— Vamos conversar mais pela manhã sobre negociações.
— É para isso que estou aqui, — eu concordei, assentindo. — Mas deixe-
me saber se você tiver notícias dele a qualquer momento antes disso.
— Você será a primeira a saber, — ele me assegurou, caminhando até a
porta, entrando no corredor. — Boa noite, senhorita Miller.
Tive a repentina, e totalmente irracional, vontade de deixar escapar meu
primeiro nome, para ouvir como fluiria de sua língua macia, como tremeria em
mim.
Mas isso era ridículo.
Então eu o deixei fechar a porta.
Ouvi passos se afastando e desaparecendo.
Então fui em frente e tranquei a porta.
Respirando fundo, fui para o armário. Não encontrando nada lá dentro, além
de uma camisola extra branca e macia, agarrei-a quando entrei no banheiro para
ligar a água para tomar um banho.
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Tirei meu vestido, meu sutiã e calcinha, enchendo a pia com água
e sabonete líquido. Luxo não era, mas me acostumei a lavar minhas roupas
íntimas em pias ao longo dos anos, quando me vi sem reservas para vestir.
Finalmente, banhada, enrolada na toalha como um vestido de noite
improvisado, subi na cama, imaginando que ficaria olhando o teto até que ficasse
mais escuro, mas desmaiando quase imediatamente.
****
Acordei desorientada, o que não era uma sensação totalmente nova para
mim. Quando você vivia a maior parte de sua vida na estrada, você se acostumava
a acordar em lugares estranhos, ter esse momento de pânico e incerteza até que
seu cérebro deixava todas as peças encaixarem novamente.
Voltaram lentamente.
O iate
Bellamy e Fenway, que ambos iriam ouvir isso de mim em um futuro
próximo.
Christopher Adamos.
O irmão dele, Alexander.
O emprego.
O dinheiro.
A casa
Que era onde eu estava, acomodada no quarto de hóspedes.
Um olhar pela janela dizia que ainda estava escuro, mas com a falta de
eletrônicos no quarto e meu telefone ausente, era impossível dizer se era no meio
da noite ou simplesmente nas primeiras horas da madrugada.
Tudo que eu sabia era que estava morrendo de sede.
Ao sair da cama, dei uma palestra animada para minhas pernas, prometendo
que nunca mais as submeteria a torturas, reajustei minha camisola para que nada
estivesse pendurado e caminhei para o corredor, andando discretamente pela casa
silenciosa.
Peguei uma garrafa de suco de laranja na geladeira e fui para a sala de estar
da nova edição, pegando o controle remoto da televisão, esperando algo me dizer
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exatamente que horas eram, se eu deveria voltar a dormir ou me preparar para o
dia.
Eu tinha acabado de me enrolar no sofá quando houve uma batida que fez
meu coração disparar, seguido por passos cada vez mais próximos.
Eu estaria mentalmente preparada para um guarda. Para um intruso. Pelo
maldito Atanas Chernev empunhando uma metralhadora.
Mas não estava preparado para isso.
Para Christopher Adamos, sem camisa, caminhando para a sala de estar com
um short baixo, perigosamente baixo, suor brilhando sobre o peito e os músculos
abdominais.
Era, bem, era muita coisa.
Demais, realmente.
Para o meu corpo sobrecarregado e sem sexo.
Minha pele esquentou, um rubor percorreu meu peito, subiu pelo pescoço e
depois floresceu sobre minhas bochechas.
E fiquei muito, muito consciente do fato de que não estava usando calcinha.
— Senhorita Miller, — ele disse, surpreso, parando, as sobrancelhas
franzindo. — Tinha a impressão de que você acordava tarde.
— Eu não tenho ideia de que horas são, — eu admiti, tentando não ver uma
gota de suor escorregar entre seus peitorais, descer pelo estômago, deslizando sob
a cintura do short. Claramente, eu não estava tentando o suficiente.
— São quatro e quinze.
— Da manhã? — assobiei, a boca se abrindo, os olhos se apertando. —
Por quê?
— Por que são quatro da manhã? — ele perguntou.
— Por que você já saiu e se exercitou às quatro da manhã? — eu esclareci.
— É mais fácil quando todos ainda estão dormindo. E mais frio, —
acrescentou.
— Diga-me que você corre os degraus, — eu disse, balançando a cabeça.
— Eu corro os degraus, — ele concordou, dando de ombros.
— Minhas pernas estavam tremendo quando tentei me abaixar no sofá, —
eu admiti, percebendo que isso chamou sua atenção pelo meu corpo, onde a aba
da camisola se abriu, revelando mais do que uma pequena lasca de coxa. Na
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verdade, ele estava perigosamente perto de descobrir meu segredo sem calcinha
também.
— Elas se adaptam, — ele me assegurou, respirando fundo, fazendo com que
aquele peito glorioso se expandisse enquanto seu olhar se afastava.
— Eu não acho que minhas coxas funcionam assim, — eu disse a ele.
— Tenho certeza que elas funcionam muito bem, — ele me disse, a voz um
pouco áspera, evocando imagens delas funcionando muito bem enquanto
envolviam seus quadris enquanto ele deslizava dentro de mim.
Oh, droga.
Não.
Esse não era um bom lugar para minha mente estar caminhando.
Minhas pernas pressionaram juntas, tentando ignorar o desejo crescente que
crescia entre elas.
— Elas preferem descansar na cama até as dez da manhã, — eu disse a ele,
a voz soando tão tensa quanto meu peito.
— Sinta-se livre, — ele convidou, acenando com a mão pelo corredor.
— Se você não se importa, acho que prefiro colocar algo na TV e fingir que
entendo o que está acontecendo.
Não tinha escapado à minha atenção que era sorte que Christopher e Cora
falassem inglês.
— Você deve encontrar algo em inglês na Netflix, — ele ofereceu. — Eu
preciso tomar banho.
Com isso, ele se foi.
Eu o observei ir embora, você deve estar se perguntando?
Por que sim, claro que sim, eu observei.
Eu sempre tive uma queda pelas costas dos homens. Os ombros fortes, a
inclinação para baixo, as covinhas nas costas. E, bem, Christopher Adamos tinha
uma bunda épica também.
— Oh, acalme-se, — eu murmurei para o meu sexo, agora latejando em
objeção à partida de Christopher. — Eu darei uma sessão com a varinha removível
do chuveiro mais tarde, — acrescentei, entrando na Netflix, navegando por uma
mistura de conteúdo grego e americano até encontrar algo para ver.
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— Cora vai aparecer... é isso que você assiste? — Christopher perguntou
pouco tempo depois, parando subitamente, uma mão ainda segurando a
abotoadura no lugar.
— O que há de errado com isso? — eu perguntei, dando de ombros.
— Você não prefere fazer um bolo? — ele perguntou.
— Você assiste esportes? — eu perguntei, dando de ombros. — Você não
prefere jogá-los você mesmo? — Retruquei para ele. — Eu nunca fui boa em assar.
Isso me permite pensar que talvez eu tenha esperança. Quero dizer, se esse cara
pode descobrir como fazer e usar fondant, talvez eu possa também.
Para minha surpresa, ele se moveu ao redor do sofá, sentando-se do outro
lado. — O que é fondant? — ele perguntou, olhando um pouco para as pessoas na
tela.
— É feito de marshmallow. É o que faz com que os bolos pareçam
perfeitamente lisos. Ou você pode criar design com isso. Está vendo? — eu disse
um momento depois, quando ele ainda estava sentado lá, assistindo. — É
estranhamente envolvente. Relaxante ao mesmo tempo. A única desgraça é que
deixa você com fome. Uma vez tive desejo por um bolo de casamento às duas da
manhã.
— Cora faz o café da manhã por volta das seis.
— Ela não precisa cozinhar para mim. Eu poderia fazer algo para mim.
— Não diga isso a ela, — ele avisou, olhando para mim. — Ela se sentirá
insultada.
— Bom saber.
— Você disse que não tinha uma figura materna.
— Eu, ah, não. Fui criada por meu pai. Quero dizer, se você pode chamar de
criação. Mas eu não tinha mãe. Ela morreu quando eu tinha dois anos.
— Eu sinto muito.
— Eu realmente não a conheci, — eu disse, dando de ombros. Eu nunca
poderia lamentar por ela por esse mesmo motivo, mas poderia lamentar a perda
dessa conexão. Especialmente agora, estar perto de alguém que era claramente
assim. — Cora é parente sua?
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— Ela era a empregada de meu pai. Ela ajudou meu pai a me criar, pois ele
costumava viajar a negócios. Também não tive mãe. Ela era americana. Ela foi para
casa depois de me depositar na porta do meu pai e se casou.
— Ela nunca mais te viu?
— Aqui e ali. Eu costumava visitar meus avós maternos alguns verões.
Ocasionalmente, ela passava por lá.
— É por isso que seu sotaque está desligado.
— Meu sotaque está desligado? — ele perguntou.
— Quero dizer, é grego, mas não é tão carregado quanto alguns dos outros
homens gregos que conheci.
— Você conheceu muitos homens gregos? — ele perguntou, erguendo a
sobrancelha.
— Já fiz negócios na Grécia antes. Não é frequente, mas aconteceu.
— Você trabalhou com meus homens?
— Eu trabalhei com políticos.
— Então você trabalhou com os meus homens, — ele disse, os lábios se
curvando levemente.
Talvez devesse ter sido chocante. Saber que os políticos estavam nos bolsos
dos criminosos. Mas eu estava neste mundo há tempo suficiente para saber que
praticamente todo mundo estava no bolso de algum criminoso. Policiais, políticos,
empresários. Era assim que eles se safavam do que faziam.
— Eu acho que sim, — eu concordei, dando de ombros. — Você não ouviu
mais nada de Chernev? — eu perguntei, sabendo que era inteligente voltar a tópicos
mais neutros.
— Eu não esperava.
— Como ele entrou em contato com você antes?
— Usando o telefone do meu irmão, — ele me disse, mandíbula enrijecendo.
— Você conseguiu rastrear o telefone dele?
— Não.
— Você tem alguma ideia se ele ainda está na Grécia ou se moveu seu irmão
de volta para a Bulgária?
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— Eu não sei, — ele disse, zangado com seu próprio desamparo. — A ligação
veio de dentro de uma casa. Não havia ruídos de fundo. Era impossível dizer onde
eles estavam.
— Você tem homens na Bulgária procurando por ele?
— Claro. Você acha que eu estou sem fazer nada?
— Você ficaria surpreso com o quão estúpidos alguns homens em altas
posições de poder podem ser, — eu disse a ele. — Uma vez tive que explicar a um
homem que administra um país os detalhes de como os bebês são feitos.
— Você não fala sério.
— Gostaria de não estar, — eu disse, balançando a cabeça com a lembrança
do garoto vestindo a pele de um homem. Ele tinha sido atrofiado de muitas
maneiras. — Era o caso de uma mulher com quem ele teve um filho, e ele não
conseguia entender como isso tinha acontecido. Eu não fui paga o suficiente por
esse trabalho.
— Posso garantir, senhorita Miller, que estou plenamente consciente de como
os bebês são feitos.
Realmente, nem foi um comentário sexual. Mas havia uma emoção pelo meu
corpo, independentemente.
— Tenho certeza que sim, Sr. Adamos, — eu concordei.
— Confie em mim, estou fazendo tudo ao meu alcance para encontrar meu
irmão. De preferência sem ter que fazer acordos com o diabo. Até agora, todos esses
esforços foram em vão.
— Vamos recuperar seu irmão, Sr. Adamos. Essa é a prioridade. Trazê-lo de
volta, protegê-lo. E então você pode ir em frente e não fazer esse acordo com o
diabo.
Seu olhar deslizou do meu, olhando para a televisão sem realmente vê-la,
olhos distantes. — Você está certa, — ele concordou. Ele ficou sentado por um
momento mais antes de se levantar abruptamente. — Eu estarei de volta antes do
almoço. Meus homens estarão aqui, se você precisar de alguma coisa.
Com isso, ele se foi, deixando-me no meu show de culinária até que o tédio
me mandou de volta para o meu quarto, de volta para minha cama, adormecendo
por falta de mais alguma coisa para fazer na casa grande, vazia e silenciosa.
53
Acordei com alguém cantando, com a brilhante luz do sol da manhã entrando
pela janela, me fazendo apertar os olhos para deixá-los se acostumarem.
Era Cora, ao longe, provavelmente preparando o café da manhã na cozinha.
E se havia uma coisa que você podia contar comigo para sair da cama, era
comida.
Sentando-me, eu não vi nada de início, até que algo no lado direito do quarto
atrás da porta chamou minha atenção, algo que não estava lá poucas horas antes,
quando voltei para a cama.
Caixas.
E malas.
Uma dúzia delas.
Meu primeiro pensamento foi de alívio. Eu não precisaria usar minha roupa
íntima lavada e meu vestido sujo por outro dia.
Christopher, ou provavelmente alguém que Christopher empregava, tinha
saído para me arranjar alguns suprimentos básicos.
Estava no meio da pilha quando outro pensamento me atingiu.
Eu tranquei a porta.
Eu tinha certeza disso.
Sempre tranco a porta.
Inferno, trancava a porta do meu quarto em casa quando estava sozinha.
Não havia como esquecer isso enquanto estava na casa de um homem
estranho cercada por outros homens estranhos.
De jeito nenhum.
Então, ele tinha uma chave ou havia violado a fechadura para entrar.
Havia uma pequena emoção totalmente irracional com a ideia. O que posso
dizer? Apreciava um garoto mau com algumas habilidades de abrir fechaduras.
Foi o próximo pensamento que me assustou um pouco.
E se não tivesse sido Christopher quem o fizera? E se tivesse sido um de seus
homens aleatórios?
Claro, você poderia imaginar que eles estavam sob ordens de não me tocar,
mas tinha lidado com muitos homens que empregavam muitos homens que
pensavam que não tinham que seguir as regras.
Eu teria que ter uma conversa com ele sobre isso.
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Mas, por enquanto, peguei um simples vestido de verão cor de vinho tinto,
calcinha e a escova de dentes e a navalha embaladas, e entrei no banheiro para me
recompor.
Foi quando entrei no banheiro que percebi que meus medos eram
injustificados. Que nem Christopher nem um de seus homens estavam no meu
quarto quando estive dormindo.
Não.
Foi Cora.
Porque nenhum homem na terra teria entrado no banheiro, trazido flores
frescas, dobrado as toalhas no balcão e colocado um pedaço gigante de sabão
sofisticado infundido com pétalas de flores em cima delas.
Isso era algo que as mulheres faziam para que outras se sentissem
confortáveis.
E, bem, eu me sentia.
Então tomei banho, mimei-me um pouco, vesti a calcinha que era do tipo
atrevida como Christopher tinha me visto no dia anterior, mas em uma cor de
renda marrom, depois vesti o vestido e fui para a cozinha.
— Oh, Cora. Isso é demais. — Eu insisti enquanto andava até o balcão,
encontrando uma linda mesa para mim, com pratos e tigelas sofisticados, um café
quente, um copo de suco e uma flor fresca num copo.
— Você é uma convidada. Sente-se, sente-se. Vou trazer seu café da manhã.
Você quer café? Frappé? Ambos?
— Ambos. — Porque, bem, por que não? Quando na Grécia...
— Bom, bom, — ela concordou, andando, fazendo as coisas e me fazendo
sentir culpada no processo. Mesmo se ela estivesse sendo paga para fazer esse
trabalho.
— Cora, posso ajudá-lo com alguma coisa?
— Não, não. Você se senta. Christopher diz que suas pernas estão doendo.
— Estou fora de forma, — admiti.
— Os degraus. Eles não são para todos. Você usa o burro na próxima vez.
Realmente não era uma sugestão. Mais como uma ordem.
Suco de laranja foi despejado no meu copo.
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Uma tigela grande de iogurte firme, frutas frescas, nozes e um fio de mel foi
colocada na minha frente.
— Coma. Coma. Mais chegando.
Raramente eu precisava ser instruída duas vezes para apreciar minha
comida. Então eu comi. Cada última mordida.
Antes que eu pudesse baixar a colher completamente, porém, outro prato foi
empurrado na minha frente.
— Eliopsomo, — ela me disse. — Pão de azeitona, — acrescentou.
Estava coberto com o que parecia ser um pouco de queijo e um ovo mole.
E sim, eu ia comer cada pedacinho disso também.
Mas quando cheguei à última mordida, Cora já estava voltando para mim
com mais um prato.
— Cora, sério, acho que não posso fazer isso. Vou precisar de um par de
Spanx depois disso.
— Spanx? O que é isso?
— Spanx. Como modeladores. Eles sugam toda a sua gordura, para que você
não saia por todo o lugar.
— Gordura? — ela zombou, acenando um pano de prato para mim como se
fosse a coisa mais ridícula que ela já ouviu. — Christopher, diga a ela que ela não
tem gordura.
Surpresa, virei-me, encontrando-o parado na porta, me observando.
— Você não é gorda, — ele disse com naturalidade enquanto se movia para
dentro, aceitando a tigela de iogurte da mesma forma que eu tive, quando Cora
ofereceu.
— Ela está tentando me engordar. Como um porco indo para o mercado. Este
é o meu terceiro prato. No café da manhã, — acrescentei, a voz baixa.
— Mães gregas, elas gostam de cozinhar, — ele disse, dando de ombros.
— Sim. Sim. Porque os homens gregos gostam de comer, — concordou Cora,
dando-me um firme aceno de cabeça. Como se fosse uma informação que eu
precisava saber. — Senhorita Miller. Você deve aprender a fazer boa comida grega
enquanto estiver aqui, sim?
— Eu, ah, eu não sei quanto tempo vou ficar aqui, Cora, — eu disse a ela,
dando uma mordida na salada que ela colocou na minha frente. Salada era um
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pouco estranha para o café da manhã, mas era provavelmente a coisa mais
saudável que comi em uma semana, então achei que meu corpo me agradeceria
por isso.
— Ela deveria ficar, — disse Cora, dando a Christopher um olhar firme. —
Nós nunca temos convidados. É bom ter uma mulher em casa.
Meu olhar foi para Christopher, vendo-o adequadamente envergonhado sob
o olhar firme desta figura materna e o apelo mal escondido para ele se acalmar e
trazer uma mulher para sua casa.
— Ele é bastante velho para não ser casado, certo, Cora? — eu perguntei,
sempre gostando de fazer pressão.
Para isso, uma daquelas sobrancelhas perfeitas dele se levantou lentamente.
Se ele estava divertido ou bravo, era uma incógnita.
— Sim. Eu tenho dito isso. Está na hora. Muito trabalho. Família insuficiente,
— concordou Cora, servindo as duas xícaras de café forte.
Christopher a pegou, movendo-se para ficar de pé, começando a se afastar.
— Ei! Como é que você consegue se safar com apenas um prato? — Eu
perguntei, entrecerrando os olhos quando ele se virou, lábios curvados.
— Porque eu sou páreo para Adonis, — ele me informou. E bem, não havia
como discutir isso, havia? — Cora, você sabe... algumas das costelas dela
aparecem, — ele disse a ela em uma voz grave, recebendo um olhar de indignação
de Cora.
— Você vai pagar por isso, — prometi a ele, recebendo apenas um sorriso em
troca.
— Farei um grande almoço, — disse-me Cora, assentindo. — Vou ao mercado
agora. Depois farei um grande almoço.
— Um grande almoço? Cora, já são dez. — Não havia como eu conseguir
almoçar em duas horas. — Eu não terei fome.
— Você vai comer. Você terá. Talvez, se você não estiver ocupada com
Christopher, você ajude. Eu lhe mostro como fazer boa comida grega. Você e
Christopher. Vocês têm planos?
— Temos uma... ligação. Mas mais tarde. Hoje à noite, eu acho. — Eu deveria
ter conseguido um tempo longe dele. Embora não fosse provável que ele não seria
capaz de me encontrar quando precisasse.
57
— Bom. Então você tem tempo. Nós vamos cozinhar. Você vai me contar
sobre sua vida. Sua família. Então você vai comer. Tenho que ir, — ela disse,
caminhando em direção à porta dos fundos. — Termine, — ela acrescentou, me
dando um olhar firme enquanto eu cutucava minha salada.
Eu pensei em esconder o resto debaixo de algo no lixo, mas tinha a sensação
irracional de que ela saberia exatamente o que eu estava fazendo.
Então joguei a comida no meu corpo até meu estômago doer. Lavei
minha louça. Assisti TV. Então voltei para o meu quarto para examinar o resto do
conteúdo das caixas e sacolas. E encontrar roupas suficientes para durar duas
semanas. Se não mais.
Duas semanas.
Claro, sim, às vezes as negociações podem demorar tanto. Mas este não é um
caso excessivamente complicado. Tive a sensação de que um acordo poderia ser
alcançado com alguma facilidade. Eu certamente não achei que levaria duas
semanas.
Talvez Christopher Adamos fosse o tipo de homem que se preparava demais
para tudo. Mas se ele iria se preparar demais, ele não poderia pelo menos ter
enfiado uma roupa casual?
Não me interpretem mal, trabalho duro à parte, eu gostava de coisas
femininas tanto quanto qualquer mulher. Minhas malas para minhas viagens
sempre incluíam maquiagem para o rosto, perfume, produtos para o cabelo e
modeladores, e muito mais sapatos do que o necessário.
Mas até eu podia aceitar que muito pouco na vida era tão agradável quanto
uma roupa boa, confortável e relaxada.
Por fim, cansada de esperar Cora voltar, aventurei-me para fora, onde fui
prontamente ignorada por todos os guardas de lá.
— O Sr. Adamos disse quando ele voltaria? — Perguntei ao homem alto e
forte, escaldando em um terno ao sol, perto do jardim. — Você fala inglês? — eu
perguntei, tentando pegar seu olhar, que ele parecia estar mantendo longe de
mim. O que não foi muito, você sabe, cauteloso. — Sr. Adamos, — eu disse,
enunciando cuidadosamente quando levantei meu braço, batendo no relógio
invisível no meu pulso. — Casa?
58
— Ele disse que estaria em casa às três horas, — o guarda me disse, fazendo-
me sentir-me imediatamente tola por usar mímica e também um pouco mal por
supor que ele não falava inglês.
— Oh. Eu, ah, você não me respondeu da primeira vez.
— Temos ordens, — ele disse, o olhar para o oceano, descendo as escadas,
em qualquer lugar, menos em mim.
— Você tem ordens. Não falar comigo? Ou olhar para mim? — eu adicionei.
— Sim.
— Mas por quê? — Para isso, não tive resposta. — Você tem permissão para
conversar com os hóspedes normalmente? — eu perguntei, as sobrancelhas
franzindo um pouco quando ele me deu um pequeno aceno como resposta. —
Então essa é uma ordem estranha? — Para isso, outro aceno. — Posso sair? —
perguntei, seu olhar deslizou para mim por um breve segundo, apenas o suficiente
para sacudir a cabeça, em seguida, afastar-se novamente. — Foi você que me
trouxe as roupas? — perguntei, já sabendo a resposta, mas querendo confirmação.
Recebi o sacudir de cabeça. — O Sr. Adamos fez isso sozinho? — Um aceno de
cabeça. — Isso é estranho?
— Eu não sei se o Sr. Adamos já viu o interior de uma loja antes, — o guarda
me informou, com uma pequena sugestão de humor em sua voz.
— Posso perguntar seu nome? Não se preocupe. Vou dizer que Cora me
contou.
— Niko.
— Niko. Eu sou Miller.
Para isso, recebi outro aceno.
Um momento depois, um segundo guarda saiu para o jardim conversando
em grego no telefone, olhando para mim, conversando mais um pouco e depois
novamente.
— Uh oh. Parece que estou com problemas por distrair os guardas. —
Murmurei baixinho quando o segundo guarda voltou para dentro.
— Ele estava checando você. E, sim, antes que você pergunte, — disse Niko,
os lábios se curvando mesmo enquanto evitava o contato visual. — Sim, isso é
incomum.
59
— Niko, eu sinto que vamos ser amigos rápidos. Entre você e eu, — eu disse,
afastando-me da casa para que o outro guarda não poderia me ver falando, — Cora
está tentando fazer o meu estômago explodir. Que tal eu lhe trazer algumas dessas
coisas? Ouvi dizer que os homens gregos gostam de comer.
— Isso não é mentira, — ele concordou, assentindo. — Então, somos amigos.
— Estou aqui para protegê-la, — ele corrigiu.
— Nós vamos passar por cima da pequena parte 'e me manter como
prisioneira' por enquanto, eu acho. Mas, de qualquer forma, não estou acima de
subornar uma pessoa para ser minha amiga. Vou te desgastar, Niko, — Eu prometi,
e podia jurar que havia um fantasma de um sorriso no rosto bonito enquanto
caminhei de volta para dentro para arrumar a cozinha para Cora.
No resto da tarde, passei sendo recheada com guloseimas gregas, gyros1 que
ajudei a fazer, mas ainda eram de alguma forma comestíveis (deslizando um pedaço
mais de bondade para Niko, para mantê-lo a meu favor), depois me sentei na sala
esperando Christopher chegar em casa.
Às três horas em ponto, ele estava lá.
O que eu senti ao vê-lo, você pode estar se perguntando?
Deveria ter sido ansiedade.
Ou aversão.
Mesmo antecipação do trabalho por vir.
Mas não era nenhuma dessas coisas.
Não.
O que senti foi algo muito suspeitosamente similar a felicidade.
Isso iria ser um grande problema.
Eu precisava concluir o negócio e trazer Alexander para casa antes que as
linhas de profissionalismo se tornassem muito embaçadas.
Se por nenhuma outra razão a não ser que os caras em Navesink Bank não
tivessem um motivo para me incomodar por colocar outro bandido no meu
currículo.
Então, eu estava apenas terminando o trabalho e voltando de avião para os
Estados Unidos nos próximos dias.
1
Gyros é um sanduíche de carne assada enrolada em pão árabe.
60
Ou, pelo menos, esse era o plano.
Mas você sabe o que eles dizem sobre planos...
61
5
Christopher
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Na maior parte, ela me surpreendeu pouco me incomodando para me
acalmar, encontrar uma boa mulher que cozinhasse para mim e me desse meia
dúzia de bebês.
Acho que ela entendeu que meu foco tinha sido o meu negócio, e depois criar
meu irmão depois que nosso pai faleceu.
Não era que eu não quisesse essas coisas. A esposa. As crianças. Sempre
houve um traço tradicional nos homens da minha família. Simplesmente nunca
parecia a hora certa. E as mulheres? Bem, elas nunca pareceram a mulher.
Eu não tinha planos de ter um acompanhamento no prato principal. Essa foi
uma receita para anos de erros de meu pai quando se tratava de mulheres.
Pensando com seu pau em vez de seu cérebro.
Se eu ia ter uma mulher no meu mundo, ela seria a única para quem eu
queria voltar para casa, para acordar, para dar filhos.
E até que fosse ela, eu não tinha interesse em ter uma na minha casa.
Ou assim eu pensei.
Eu precisava sair de casa porque gostava de ter uma mulher lá mais do que
deveria. Havia algo inesperadamente reconfortante voltar do meu treino matinal
para ver uma mulher... delicada e saída da cama, vestindo nada além de uma
camisola... sentada ali esperando por mim.
Havia algo certo em compartilhar uma refeição ao lado de alguém para variar,
brincar com eles, começar um dia com algo diferente de preocupações com o
trabalho.
Eu estava gostando muito da presença dela.
Especialmente por um período tão curto de tempo.
Então a distância era imperativa.
Mesmo que tudo o que fiz enquanto estive fora foi me perguntar qual roupa
ela escolheria, se ela estava enrolada no sofá assistindo seus programas culinários,
o que ela estava aprendendo a cozinhar com Cora, ou se ainda restaria alguma
coisa para mim quando chegasse em casa.
— Algo para relatar? — perguntei a Niko, que me cumprimentou enquanto
atravessava o portão.
— Ela fala muito, — ele me disse, mal contendo um sorriso. Aparentemente,
eu não era o único que gostava da presença dela.
63
— Parte do trabalho dela, eu imagino.
— Ela é uma cozinheira decente, — acrescentou.
— O que elas fizeram?
— Gyros.
— Onde elas estão agora?
— Cora está na cozinha. A senhorita Miller está na sala assistindo TV. Ela
parece ansiosa.
— Obrigado, Niko. — Eu disse a ele, entrando, indo para a cozinha para
pegar um café. Entregaram-me uma bandeja, em vez disso, com dois cafés e um
prato transbordando com Loukoumades, folhados dourados de massa muito
parecidos com donuts americanos, mas com mel, canela e açúcar.
— Vai, vai. Leve-os para ela, — exigiu Cora, acenando um pano de prato para
mim.
— Cora, — eu disse, pegando a bandeja, mas sentindo que precisava
esclarecer. — Miller está aqui apenas para trabalhar.
— Claro, claro. Se você diz. Ela é uma boa mulher.
— Eu tenho certeza que ela é. Ela também é uma mulher ocupada. Com
amigos, família e trabalho. Na América.
Para isso, ela apenas estalou a língua, não querendo admitir quando estava
errada. E como era uma qualidade que eu às vezes compartilhava com ela, fui em
frente e a deixei pasar, levando a bandeja pela casa até a sala de estar com a qual
Miller parecia mais confortável.
— Oh, Deus, — ela resmungou, os olhos caindo no prato com horror.
— Eles são bons, — eu disse a ela, colocando a bandeja sobre a mesa de café,
pegando um dos donuts e colocando-o na minha boca.
— Essa é a pior parte!
— Que eles são bons? — eu perguntei.
— Sim. Tudo o que ela faz é incrível. Você tem alguma ideia de como é difícil
recusar uma comida tão boa?
— Por que recusar então?
— Sr. Adamos, tenho certeza de que ganhei três quilos desde o café da
manhã, — ela disse, os olhos arregalados, os lábios entreabertos.
64
— Cora acha que as mulheres precisam ser macias, — eu disse, dando de
ombros.
— Acho que todo mundo pensa que as mulheres devem ser macias. Nos
peitos e bunda. E magra em todos os outros lugares. E não é assim que as coisas
funcionam. Toda essa comida está indo direto para os meus quadris, eu juro.
— Quadris macios também não são uma coisa ruim. Algo para segurar, —
acrescentei, mesmo que eu definitivamente não precisasse da imagem mental em
minha cabeça.
Ela escolheu o vestido vermelho.
E com a cor mais escura e a forma como ela a roçava nos lugares certos? Sim,
foi muito difícil não deixar minha mente ir para lá.
— Bem, eu já comi tanta porcaria, — ela disse, dobrando-se para pegar um
bolinho, cheirando e colocando-o na boca.
Então ela teve que ir em frente e gemer.
Porque era disso que eu realmente precisava.
— Oh, meu Deus. Isso é apenas. Oh, meu Deus, — ela disse, pegando
outro. — Cora, sua bruxa da cozinha, você, — ela gritou, rindo da minha
governanta. — Você não a paga o suficiente, — ela esclareceu.
— Você não sabe o que eu pago a ela.
— Não, mas seja o que for, não é suficiente. Não quando ela pode fazer coisas
assim, — ela me disse, voltando para mais, algo que fez meus lábios arquearem
levemente.
Havia muitas coisas sexy que uma mulher poderia fazer. Mas apreciar a
comida dela, isso estava bastante alto na lista para mim.
— Ouvi dizer que você fez gyros.
— Bem, pelo menos Niko fala com você , — ela disse, atirando-me um revirar
de olhos pela minha exigência de que não a envolvessem.
Realmente, tinha sido principalmente uma preocupação de segurança. Seu
trabalho era negociar o que queria. Imaginei que ela poderia fazê-lo sendo muito
charmosa. E meus homens, por mais treinados que fossem, sempre tiveram um
fraquinho por uma mulher bonita e encantadora. Eu não queria que ela pegasse
um celular deles, ligasse para sua equipe e estragasse meu plano.
Eu conhecia Chernev.
65
Ele não confiava em estranhos.
Se ele soubesse que eu trouxe alguns dos melhores negociadores do mundo,
ele ficaria chateado. E não queria contemplar o que isso poderia significar para o
meu irmão.
Tudo bem, talvez houvesse uma pequena parte de mim que não queria que
eles conversassem com ela em geral. Por razões que eu não entendia. Razões que
eu também não queria entender.
— Ele disse que eles eram bons?
Essa mulher, para alguém que parecia incrivelmente confiante, tinha uma
pitada de incerteza, de vulnerabilidade em seu tom.
Eu acho que isso fazia sentido.
Ela havia sido criada por um homem, havia se cercado de homens em seu
ambiente profissional. Ela estava incrivelmente confiante em si mesma quando se
tratava de trabalhar, quando se tratava de cuidar de si mesma.
Mas estar sem mãe ou muitas colegas de trabalho provavelmente a fez se
sentir mais insegura com as coisas tradicionalmente femininas. Como
cozinhar. Como manter a casa.
Eu podia entender isso.
Eu poderia entender muito com não me sentir seguro com coisas mais
suaves. Como sentimentos como um todo. Como os conceitos de casa e família.
Meu irmão e eu nos amamos, é claro, mas ele deixou claro que eu não era o
pai dele. E eu não era.
— Ele disse que você é uma boa cozinheira, — eu disse a ela, exagerando um
pouco, mas a meia verdade valia o olhar de completa alegria em seu rosto com a
notícia.
— Cora disse que há esperança para mim, — ela admitiu, o olhar desviando.
— Você será capaz de julgar por si mesmo.
— Como assim?
— Fizemos gyros extra. Vamos ter no jantar também.
— E pelos cheiros da cozinha, acredito que ela está fazendo baklava também.
— Ela não está, — Miller objetou, colocando outro donut em sua boca, suas
bochechas inchando como um hamster por um momento, fazendo uma risada
borbulhar na minha garganta.
66
— Ela está, — afirmei, observando como uma mistura de medo e antecipação
cruzava suas feições.
— Vou precisar dar voltas pelo jardim.
Eu não me importaria de assistir isso.
— É melhor aproveitar agora e planejar se exercitar quando chegar em casa.
— Sim, isso não vai acontecer, — ela disse, balançando a cabeça para si
mesma e tomando um café, provavelmente para não comer mais. — De qualquer
forma, como vai ser esta ligação hoje à noite?
— Nós atenderemos a ligação no meu escritório. O monitor será maior.
— Você quer ver tudo na sala, tentar ter uma ideia de onde ele está.
— Exatamente.
— E você vai me deixar assumir a liderança?
— Depois que eu a apresento, sim.
— Tudo bem. E quanto poder você vai me dar? O que posso oferecer a ele em
troca de seu irmão?
Essa era a pergunta, não era?
Se eu conseguisse identificar onde ele estava, se pudesse alinhar meus
homens para invadir o local, não precisaria me preocupar com isso. Eu poderia
prometer a ele o mundo e simplesmente matá-lo.
Mas enquanto ele ainda tinha Alexander, ele tinha muito poder e sabia
disso. Se ele era um homem de negócios inteligente, ele se mostrara bastante
perspicaz até esse ponto, ele provavelmente não me daria meu irmão até que ele
colocasse seus homens em minha cidade, e eles criassem raízes, tornando difícil,
se não absolutamente impossível, desfazer o acordo sem arriscar muitas vidas.
— Se ele ficar hostil, dê-lhe qualquer coisa. Eu posso lidar com tudo isso
mais tarde.
— Mas se ele está sendo amigável, negociar?
— Sim. Confio no seu julgamento. Você tem mais experiência com isso do
que eu.
— Eu aprecio isso. Você deve configurar seu monitor para gravar a chamada,
para que possamos examiná-la depois que ela terminar. Às vezes, as chamadas são
tão rápidas que é difícil lembrar os pequenos detalhes. Em momentos como esse,
pequenos detalhes podem salvar vidas.
67
— Eu vou arrumar isso, — eu disse, levantando-me, feliz por uma desculpa
para me afastar dela. O perfume que exalava do seu cabelo cada vez que ela mexia
o pescoço estava ficando quase narcótico.
Com isso, eu me retirei para o meu escritório, arrastando meus pés através
de algumas tarefas para esticá-los, para me dar uma desculpa para ficar sozinho.
Cora chamou para jantar.
Em seguida, desculpou-se prontamente com alguma desculpa besta de que
o marido havia chamado dizendo que sentia sua falta. Claro, eles tinham um
casamento longo, bem-sucedido em todos os termos, mas não havia como o marido
a tivesse chamado para casa por esse motivo.
Ela só queria nos deixar sozinhos, convencida de que se fizesse isso, algo
acenderia entre nós.
Eu não vou mentir. Obviamente pensei sobre isso. Mas pensar e agir sobre
isso eram duas coisas completamente diferentes. Especialmente dada a situação.
— Niko estava certo. Estão bons, Srta. Miller, — eu disse a ela depois de
notar seu olhar passando para mim, olhos cautelosamente otimistas.
— Sim? — ela perguntou, os olhos brilhando.
— Sim, — eu concordei. Eles estavam também. Eu tive gyro de Cora
inúmeras vezes na minha vida. Estes eram um pouco diferentes. Toque de
Miller. Eu não sabia exatamente qual era a diferença, mas ela infundiu seu próprio
paladar, que decidi que gostava ainda mais do que a receita original de Cora. Que
dizia alguma coisa, porque com toda a ilha inteira à disposição, eu quase sempre
escolho comer a comida de Cora a qualquer um dos muitos restaurantes.
— Tudo bem. Vou limpar isso e depois me refrescar. Alguma chance de você
fazer o café? Tentei observar Cora, mas ela se move como um raio quando está
fazendo tarefas rotineiras.
— Eu posso lidar com isso. Quente ou frappé?
— Posso convencê-lo a colocar um pouco disso no frappé? — ela perguntou,
apontando para a calda de chocolate que Cora costumava regar nas sobremesas.
— Eu posso ser convencido, — concordei, vendo o sorriso dela brilhar.
— Obrigada, — ela disse, então o sorriso se apagou enquanto ela caminhava
em direção à pia. — Sr. Adamos?
— Sim?
68
— Nós vamos recuperar seu irmão.
Não foi uma promessa. Claro, ela não poderia me dar isso. E eu gostei
disso. Mas ela estava me oferecendo algum tipo de conforto. Algo que eu também
apreciei. Um forte aperto de preocupação que estava esmagando meu peito e
estômago afrouxou um pouco com essa pequena segurança.
— De um jeito ou de outro, — eu concordei, me afastando da cozinha, para
deixá-la limpar em paz.
Quando a ouvi voltar para o quarto, saí para misturar os frappés,
encontrando-a no corredor quando ela ressurgiu, desta vez com um pouco de
maquiagem, deixando os olhos mais dramáticos e chamando muita atenção a seus
lábios. Onde meu olhar não precisou ser atraído mais do que já estava.
— Isso parece incrível, — ela me disse, estendendo as duas mãos para pegar
sua bebida, seus dedos delicados roçando os meus muito maiores, criando um
choque elétrico que se moveu por todo o meu corpo. O olhar dela disparou para
cima. Como talvez sentisse também. — Obrigada, — ela me disse, pegando a bebida
e afastando-se um metro e meio antes de tomar um gole.
Então ela teve que fazer a coisa do gemido baixo novamente, fazendo meu
pau se mexer, fazendo-me precisar tomar algumas respirações lentas e profundas
para acalmar o caos no meu organismo, enquanto eu me repreendi por sentir algo
decididamente pessoal em uma situação muito profissional.
— Agora vamos esperar, — eu disse a ela, movendo-me em direção ao monitor
situado acima da lareira. Eu mudei duas das minhas cadeiras para lá para que
pudéssemos nos sentar até a ligação chegar. Fui até o monitor, pressionando o
botão de gravação.
— Vai ficar tudo bem, — ela me disse alguns momentos de silêncio tenso
mais tarde, fazendo minha cabeça virar por cima do ombro para encontrar seu
olhar firme no meu rosto. — Respire, — ela sugeriu.
— Estou bem.
— Não, você está agitado, — ela corrigiu, a voz ganhando tensão. A voz
profissional dela, eu decidi. — E a última coisa que eu preciso é de um canhão
solto ao meu lado quando estou envolvida em uma situação complicada. Portanto,
respire fundo duas vezes, Sr. Adamos, e coloque um pouco de confiança em mim.
Há uma razão que você veio me pedir isso. Lembre-se disso.
69
Poucas pessoas falavam comigo assim. Que certamente não trabalharam
para mim. Eles valorizavam demais suas vidas.
Precisava coragem para fazê-lo.
Eu deveria estar chateado.
Mas tudo que pude sentir foi impressionado.
Então fui em frente e respirei fundo algumas vezes.
— Aqui vamos nós, — ela disse, respirando profundamente quando a tela de
chamada apareceu no monitor.
Nós dois paramos em uníssono quando eu apertei o botão de resposta.
La estava Atanas Chernev.
Ele era jovem para controlar um império como tinha. Por outro lado, era fácil
obter dinheiro e poder quando você fazia fortuna com os vícios de outros,
apostando na miséria deles.
Ele era baixo e atarracado, sem ser gordo, o cabelo preto curto, o rosto um
pouco magro e beliscado por uma barba esparsa, nariz adunco e sobrancelhas
espessas.
Ele usava um terno com um botão aberto, uma sugestão de uma corrente de
ouro podia ser vista no espaço.
Seu olhar aguçado se moveu imediatamente para Miller, seu rosto mostrando
uma pitada de surpresa e, se não me engano, uma pequena quantidade de prazer.
— Atanas, esta é a senhorita Miller. Miller, Atanas Chernev.
— Sr. Chernev, — Miller começou, sem lhe dar um sorriso, mas algo em seu
rosto conseguiu demonstrar simpatia independentemente. Era
impressionante como rapidamente ela conseguia colocar uma máscara nos traços
que eu achava legíveis a maior parte do tempo. — Eu ouvi muitas coisas sobre
você.
— Desse aí? — ele perguntou, sacudindo a cabeça para mim. — Tudo
mentira, com certeza, — acrescentou.
Flertando.
Ele estava flertando.
Eu me perguntava quantas vezes isso era realidade para Miller, quantos
desses homens com quem ela trabalhava a viam como um corpo sem cérebro. E,
bem, isso teria funcionado a seu favor.
70
— Isso provavelmente é verdade, — ela concordou, dando-lhe um pequeno
sorriso. — Mas acredito que uma coisa que ele me diz é verdade. É por isso que
estou aqui.
— É uma pena que homens razoáveis precisem recorrer a essas medidas,
mas aqui estamos, — ele disse, dando de ombros. — O que você pode fazer? — ele
perguntou, acenando com o braço para fora.
— Bem, eu estou aqui para que todos possamos chegar a um acordo que
todos os envolvidos estejam satisfeitos.
— Ele sabe o que eu quero, — disse Atanas, com os olhos duros enquanto
deslizavam para mim. Eu tive que cerrar os dentes para não explodir com ele.
— Sim, eu ouvi. Tudo, — ela disse, revirando os olhos um pouco, ganhando
a atenção dele mais uma vez. — Certamente, Sr. Chernev, você se lembra de
quando era pequeno e queria tudo na confeitaria. Mas aqueles mais velhos e mais
sábios do que você o aconselharam que a gula não era uma virtude.
— Você está me chamando de criança em uma loja de doces? — Chernev
respondeu, me deixando tenso.
— Bem, não somos todos, Atanas, quando realmente queremos alguma
coisa? — Miller perguntou, lançando lhe um sorriso quase sensual que fez a maior
parte da tensão deixar seus ombros.
— Eh, isso é justo, — ele concordou.
— Então, a Grécia é a loja de doces. Estou pedindo para você escolher as três
principais coisas que você mais deseja?
— Mykonos. Atenas. Santorini.
— E se eu lhe dissesse que Santorini está indisponível, Atanas? Você teria
um substituto em mente?
— Não.
— Isso não é sensato agora, é? A Grécia tem muitas cidades excelentes para
escolher. A maioria delas, como você pode imaginar, são atrações turísticas. Muita
gente para quem oferecer seus serviços.
— Santorini não é negociável.
— Vamos ter isso em consideração, — ela disse, franzindo as
sobrancelhas. Desde que eu fui bem explícito sobre Santorini estar fora de
questão. — Antes de continuarmos, Atanas, — ela continuou, a voz ficando
71
doce. — Seria possível eu ver o garoto? — ela perguntou. — Tenho certeza que você
entende como isso funciona, — ela acrescentou, dando de ombros, como se isso
fosse uma formalidade traquina em vez de um imperativo.
— Claro, claro, — ele concordou, virando a câmera no tablet que estava
usando para escanear a sala, acomodando-se em uma figura amarrada a uma
cadeira, com uma mordaça na boca.
Alexander parecia exausto, preocupado, mais jovem do que eu lembrava, mas
por outro lado saudável.
— Perfeito. Obrigada, Atanas. Se você não se importa, tudo bem se eu te ligar
de volta pela manhã? — ela perguntou, fazendo minha cabeça girar em sua direção
mais uma vez.
— A manhã?
— Bem, — ela disse, suspirando, balançando a cabeça.— Tenho certeza de
que você entende com quem estou trabalhando aqui, — ela disse, com total repulsa
em sua voz. — Ele é... há uma maneira agradável de dizer 'cabeçudo'? — ela
perguntou, fazendo Atanas soltar uma risada sem humor. — Ele quer seu bolo e
comê-lo também. Vai me levar um pouco de tempo para convencê-lo de que esta
vai ser a melhor situação para a todos.
— Você tem três horas, — ele disse, encerrando abruptamente a ligação.
— Que porra foi essa? — eu explodi quando a tela ficou escura.
Ela me ignorou, porém, enquanto se movia para a tela, terminando a
gravação.
— Miller, vou precisar de uma explicação. Tínhamos um acordo, —
acrescentei, aproximando-me, falando mais alto, porque ela parecia estar me
ignorando completamente. — Este não era o plano, porra, — eu rosnei.
— Se você terminou de estufar o peito, — ela disse, revirando os olhos para
mim, enquanto seus lábios se inclinavam um pouco enquanto ela exibia o vídeo,
avançando um pouco. — Eu preciso te mostrar uma coisa.
— O que eu estou vendo? Eu vi isso, — acrescentei enquanto ela reproduzia
o vídeo de onde Atanas afastou de si em direção ao meu irmão.
— Sim, mas você estava prestando atenção? — ela perguntou, sacudindo a
cabeça enquanto rebobinava novamente, batendo o play.
— Diga-me o que você vê, — exigi, ouvindo um apelo na minha voz.
72
— Isso, — ela disse, passando a mão sobre a cabeceira da cama, a arte acima
dela, as portas deslizantes envoltas em cortinas bregas azuis claros.
— Miller... — Eu implorei quando simplesmente não consegui descobrir.
— Eu fiquei em um quarto assim, — ela me disse. — Exatamente assim, —
acrescentou. — Quando eu estava trabalhando em Mykonos. No Grand Princess
Hotel. Os quartos têm essa decoração exata. E aqui, — ela acrescentou, parando a
tela no meu irmão, fazendo um soco de culpa roubar o fôlego. — Claramente, ele
foi espancado, amarrado e drogado...
— Drogado?
— Está vendo os olhos dele? Ele está desorientado. Infelizmente, eu conheço
esse sentimento muito bem.
— Ok. Estou sentindo um mas...
— Mas olhe para as mãos dele, — ela disse, apontando. — Quatro dedos em
uma mão. Os outros cinco. Imagino que ele estivesse tentando enviar a única
mensagem que pode. Quarto número quarenta e cinco.
Eu não tinha certeza do que mais ela poderia ter dito. Porque assim que
essas palavras saíram da boca dela, eu estava correndo para fora da sala, dando
ordens aos guardas.
— Sr. Adamos, — Miller falou, seguindo atrás de mim enquanto eu
conversava com meus homens. — Sr. Adamos, você não pode simplesmente ir
agora, — ela insistiu. — Christopher! — ela gritou, agarrando meu braço, me
puxando para uma parada.
— O quê? — eu perguntei, mal conseguindo pensar direito com meus
pensamentos rodopiantes de tirar meu irmão de lá.
— Você não pode ir agora.
— Eu estou indo agora.
— Seja razoável. Niko, — ela gritou, chamando a atenção dele
imediatamente. — Quanto tempo leva para chegar daqui a Mykonos?
— Duas horas e meia, se chegarmos a um barco imediatamente.
— Ele está ligando de volta em três, — ela disse, balançando a cabeça. — E
isso é se ele não ficar impaciente. Se ele ligar e você não estiver aqui, e ele começa
a suspeitar de alguma coisa, você está pondo uma bala na cabeça do seu irmão.
— Nós estamos indo. Se ele ligar, você atende. Enrole.
73
— Sr. Adamos... — ela tentou de novo quando eu puxei meu braço.
— Faça o seu maldito trabalho.
Eu me arrependi das palavras assim que elas saíram da minha boca. Eu me
arrependi mais delas quando a cabeça dela se afastou como se eu a tivesse batido.
Esse era o problema das palavras no calor do momento. Nem mesmo
arrependimento pode permitir que você as pegue de volta.
Não havia como consertar isso.
Mas eu poderia resolver a situação com meu irmão.
— Laird, você fica com Miller. — Gritei, virando e correndo pelas escadas.
Não foi até estarmos em um navio a caminho de Mykonos que alguém falou
comigo sobre algo além do plano.
— Ela nunca mais vai cozinhar para você, — Niko me disse, balançando a
cabeça.
— Ela está aqui apenas para fazer um trabalho. Nada mais, — insisti.
— Então ela está disponível, — ele concluiu, e se eu não estivesse tão
consumido com o momento atual, eu teria ouvido a provocação em seu tom.
— Você fica bem longe dela, — eu resmunguei.
— Sim. Apenas um trabalho. Claramente, — ele concordou, virando-se para
olhar o oceano.
74
6
Miller
75
Christopher e seus homens ainda não haviam chegado lá.
Meu estômago se apertou ante a ideia de ele ser interceptado,
de todos eles estarem mortos.
Mas não.
Eu não poderia perder o controle.
Eu atendi a ligação, observando Atanas borrado por um momento antes de
ficar claro. — Senhorita Miller, — ele cumprimentou, olhando ao redor. — Onde
está Adamos?
— Tendo um chilique, — eu disse a ele, revirando os olhos. Ele gostou
quando eu insultei Christopher. Foi uma reação imatura e insegura. Mas tudo
bem. Eu poderia trabalhar com imaturos e inseguros. — Ele não está feliz em
desistir de Santorini. É a casa dele. Isso o fará parecer fraco.
— Ele já é fraco.
— Como assim?
— Ter alguém que possa ser usado contra ele. Isso é fraco. Certamente, você
ouviu falar dos meus irmãos.
— Na verdade, não. O que aconteceu com seus irmãos?
— Eu os matei, — ele disse, fazendo um movimento cortante na garganta. —
Meu irmão mais velho. E meu irmão mais novo. Por volta da mesma idade que
aquele merda ali, — ele disse, gesticulando.
Ele pode ter feito isso. Ele poderia estar fingido estar orgulhoso disso, mas
havia vergonha lá, talvez uma pitada de arrependimento.
Algo que aprendi ao longo do caminho sobre as pessoas, não importa o
tamanho de monstro que se tornassem, elas já haviam sido humanas, haviam
amado, perdido, chorado. Exatamente como todos nós.
— Deve ter sido uma decisão difícil, — eu disse, sabendo que a melhor
maneira de manter as pessoas envolvidas era incentivá-las a falar sobre si mesmas
enquanto você fingia que era a coisa mais fascinante que já ouvira em sua vida.
Isso poderia me dar tempo.
Comprar tempo para Christopher.
Porque manter Chernev distraído era a única maneira de garantir que uma
bala não acabasse na testa daquele garoto.
Eu não precisava disso em minha consciência.
76
Já tinha acontecido antes.
E a lembrança ainda me fazia saltar da cama, ofegando por ar, sentindo o
pânico agarrando meu corpo, o desamparo fazendo meus olhos lacrimejarem.
Já era difícil o suficiente quando a vítima era adulta. Eu não tinha certeza se
eu poderia lidar sendo uma criança.
Então isso tinha que funcionar.
— Eu cresci vasculhando o lixo em busca de comida, vestindo roupas muito
pequenas para a escola. Tínhamos problemas. Tínhamos menos e cada vez que
minha mãe tinha outro filho. Disse a mim mesmo que nunca mais seria pobre
depois que pudesse controlá-la. Foi isso que fiz acontecer. Meus irmãos ameaçaram
isso. Eles tiveram que morrer. Melhor por mim do que uma morte lenta e torturante
por meus inimigos.
— Isso é verdade. Um pouco de piedade, — eu concordei, assentindo.
— Você tem irmãos, senhorita Miller?
De repente, fiquei muito, muito agradecida por não ter. Além do fato de
minha infância ter sido difícil o suficiente, e a adição de mais filhos só a tornaria
ainda mais infernal, tornou minha vida profissional muito menos arriscada.
— Eu não tenho, — admiti, dando de ombros.
— E você não é casada?
— Não sou. Viajo muito a trabalho. Nunca estou no mesmo lugar por tempo
suficiente para conhecer alguém.
— As mulheres estão muito ligadas às suas carreiras hoje em dia, — ele
disse, balançando a cabeça. — Minha mãe nunca trabalhou.
Eu imagino que poderia ter havido mais comida para todas aquelas crianças,
se ela trabalhasse. Mas não havia argumento contra uma afirmação ilógica sobre
papéis de gênero.
— Era a única maneira de garantir que meu estômago ficasse cheio quando
me tornei adulta, — eu disse a ele, dando de ombros. — Goste ou não.
O relógio me disse que mais oito minutos se passaram. Christopher deveria
estar chegando perto, sem complicações. E, visto que ele parecia bastante
conectado neste país, imaginei que ele tivesse seu pessoal se certificando de que
não haveria nenhuma enquanto atravessava o oceano.
— Tinha que ter homens na sua escola.
77
— Meninos, Sr. Chernev. Havia meninos na minha escola. Uns que não
conseguiam imaginar como ter atitudes adultas, muito menos saber como prover
uma família.
— Isso é verdade. Eu já estava fazendo trocos no meu empreendimento aos
dezesseis anos.
— Mas muitos jovens não são tão espertos ou empreendedores.
Outra dica profissional: os homens em posições poderosas muitas vezes não
faziam ideia de quando você estava puxando o saco deles. Eles tinham tais delírios
de grandeza que imaginavam que todo mundo pensava que eram incríveis também.
Era desagradável, mas funcionava a seu favor quando você estava tentando
levá-los no papo por algum motivo ou outro.
— Eu me saí bem, — ele concordou, balançando a cabeça, o peito inchando
um pouco. — Planejo continuar bem. É por isso que preciso expandir meu império.
Onde está o Sr. Adamos? — ele perguntou, os olhos se movendo pela tela, tentando
localizá-lo.
Boa sorte com isso, amigo. A próxima vez que você o vir, ele segurará uma
arma na sua cabeça.
— Provavelmente correndo os degraus. Ou resmungando para a governanta
dele, — eu disse, revirando os olhos.
— Você não gosta dele. Por que você trabalha para ele, então?
— Porque ele está me pagando, — eu disse a ele, deixando de fora a parte do
sequestro.
— Eu posso pagar mais.
— Talvez, mas você não tem um emprego para mim, Sr. Chernev.
— Eu posso encontrar um emprego para você, — ele disse, a voz ficando
grossa, fazendo meu estômago revirar.
Foi preciso quase cada pingo de autocontrole que tinha para não dizer 'eca'
bem naquele momento. Não havia dinheiro suficiente no mundo para isso.
Mais cinco minutos se passaram.
Onde diabos estava Christopher?
— Que tipo de trabalho é esse? — eu perguntei, deixando minha voz ficar um
pouco sensual, um pouco provocadora mesmo.
78
Quando tudo mais falhasse, galanteios faziam maravilhas com a maioria dos
homens.
— Oh, eu consigo pensar em... — ele começou, então suas sobrancelhas
franziram com um som ressoando, seu olhar se movendo para algo fora da vista.
Meu estômago deu um nó quando ele se virou e foi em direção às portas de
vidro deslizantes.
Com ele desviado, tentei acenar para Alexander derrubar sua cadeira.
— Sua puta. Sua puta de merda. — Cernev uivou quando se virou, o rosto
enfurecido enchendo a tela.
Houve um barulho alto, me dando um pouco de esperança.
— Sua puta. Você vai pagar por isso. Está me ouvindo? Você vai pagar por
isso.
Então, com isso e nada mais, ele desapareceu, deixando a conexão aberta.
Sem tiro.
— Alexander? — eu chamei, sabendo que ele estava amordaçado, mas
esperando por qualquer som. — Alexander, seu irmão deve estar aí a qualquer
segundo, ok? Apenas espere.
Houve vários ruídos de batidas, um grunhido, um arrastar.
E então lá estava ele, ainda arrancando a mordaça da boca, olhando para o
meu rosto.
Ele parecia muito com seu irmão, alto e em forma, com cabelos e olhos
escuros. Sua mandíbula não tinha a definição da de Christopher, mas achei que
isso poderia vir com a idade.
— Quem é você? — ele perguntou.
— Podemos conversar sobre isso mais tarde. Alexander, por que você não
entra no armário por um momento? Só até sabermos que seu irmão está aí, ok?
— Eu não vou me esconder, — ele disse, cuspindo a palavra como se fosse
uma maldição. E isso também era muito parecido com o irmão dele, não era?
Ele se afastou do vídeo por um momento, desaparecendo de vista. Mais uma
vez houve um arrastar, um barulho de estalo e ele voltou, brandindo a perna
pontiaguda e quebrada da cadeira como arma.
— Alexander, esses homens têm armas.
79
— Sim, — ele concordou. — Mas agora não estou desamparado. Eles são
covardes, — acrescentou, cuspindo as palavras. — Me atacaram por trás, me
drogaram.
— Sim, bem, eu tenho certeza que você não teria ido com eles se eles tivessem
lhe pedido polidamente, — eu disse a ele, lábios curvados.
— Você os desculpa?
— Não. Não estou desculpando-os. Estou dizendo que o sequestro é
inerentemente covarde. Então, é claro, eles não teriam dado a você a chance de
uma luta justa.
— Onde estou? — ele perguntou, olhando ao redor do quarto.
— Mykonos.
— Por quê? Por que aqui? Não a Bulgária?
— Eu não sei. Meu melhor palpite é que foi mais fácil chegar aí. Talvez em
um barco particular. Ou alguém os deixou usar o seu por um preço.
— Será o último ato tolo deles, — ele disse, balançando a cabeça. — Meu
irmão os fará pagar por sua deslealdade.
Oh, ser tão jovem e tão certo da vida. Para não entender que havia áreas
cinzentas, muito pouco existia em tons de preto e branco.
— Você ouve alguma coisa? — eu perguntei em vez de envolvê-lo sobre o
tema da lealdade.
— Passos.
— Sério. Você poderia... ficar contra uma parede ou algo assim? É bom ser
corajoso. Mas não seja tolo.
Houve um estrondo, alto o suficiente para eu pular.
— Quem é você para me chamar de tolo? — ele perguntou, olhos furiosos.
Um barulho fez Alexander recuar um passo, sua cabeça girando na direção,
presumi, da porta.
— Essa é a mulher que salvou sua bunda, — disse a voz de Christopher,
fazendo uma onda de alívio tomar conta de mim, deixando-me respirar fundo pela
primeira vez desde que ele partiu. — Você mostrará algum respeito, — acrescentou,
movendo-se para a tela, agarrando o rosto do irmão um pouco bruscamente,
virando-o de um lado para o outro, procurando ferimentos. — Você está
machucado?
80
— Além de seu orgulho, ele parece bem, — eu disse, observando as duas
cabeças se virarem para mim, encontrando raiva nos olhos de Alexander e humor
nos de Christopher.
— Sim, ele tem muito orgulho, — Christopher concordou.
— Puxa, eu me pergunto de onde ele tirou isso? — Perguntei, observando
enquanto seus lábios faziam a coisa tremida que eu realmente estava começando
a gostar. — Você pegou Chernev? — Perguntei. — Ou ele conseguiu sair bem a
tempo?
— Temos um dos homens dele. Vamos obter respostas. De um jeito ou de
outro.
— Você está trazendo Alexander para casa hoje à noite? — Perguntei,
sentindo uma emoção estranha ao usar a palavra "casa". O que foi ridículo.
— Sim. Será mais seguro para ele aí.
— Eu não preciso de proteção, — insistiu Alexander, me fazendo revirar os
olhos, fazendo seu irmão bufar.
— Sim, claro, — disse Christopher, a voz seca. — Diga a Laird que mais
homens chegarão à nossa frente para proteger a área. Estaremos de volta ao
amanhecer. Você deve descansar, — acrescentou, a voz um pouco mais suave,
menos mandona.
— Quero dizer, o trabalho acabou. Eu poderia pedir a Laird que me levasse
para a cidade. Não te incomodar. Você pode me transferir o dinheiro pelo trabalho.
— Não, — ele objetou, a palavra saindo rapidamente dele. — Não, — ele
continuou, um tom mais calmo. — Você ficará aí por enquanto. Conversaremos de
manhã.
Com isso, ele encerrou a ligação.
Meu olhar foi para Laird, encontrando-o me olhando com olhos ilegíveis.
— Suponho que não há chance de convencer você a me levar para a cidade.
— Eu tenho ordens, — ele me disse, sem parecer pesaroso no mínimo.
— Veja se te levo alguma comida a mais, — eu resmunguei para ele, saindo
do escritório e fazendo uma pequena parada na cozinha para pegar mais daqueles
donuts redondos no balcão e depois levando o prato para o meu quarto.
Eu deveria estar chateada.
Por ser mantida prisioneira.
81
Por receber ordens.
Mas não consegui reunir esses sentimentos.
Decidi culpar os eventos da noite, a preocupação, a emoção.
E não analisar além disso. Ouvi os homens de Christopher se reorganizando
cerca de uma hora depois, depois outro grupo duas horas depois, incluindo Niko,
que me deu um pequeno sorriso enquanto eu me dirigia para a cozinha para comer
uma fatia daquele baklava que sobrara. Quero dizer, seria uma pena desperdiçar.
Eventualmente, o sono apareceu.
****
82
— Senhorita Miller, — ele disse, acenando para mim. — Eu preciso falar com
você.
— Tudo bem. Bem, você termina de falar com eles enquanto eu tomo um
café. Então você pode falar comigo, — eu disse, correndo para a cozinha.
— Oh, aí está você, — Cora cumprimentou, empilhando azeitonas em uma
tigela pequena em uma tábua gigante. — Me ajude a organizar isso, — ela pediu,
movendo-se para me pegar um café.
— O que é isso? — eu perguntei, vendo uma estranha combinação de pães,
frutas e iogurte.
— Uma tábua de café da manhã, — ela disse, pegando algumas uvas. — É
mais fácil servir. Esses homens. Entrando e saindo, entrando e saindo. Eles nunca
se sentam.
— Eu acho que eles estão aumentando a segurança. Você já viu Alexander
esta manhã?
— Ele tropeçou aqui, sim. Ele parecia cansado. Acho que ele voltou para a
cama. Christopher me disse que você o salvou.
— Não. Quero dizer... eu apenas descobri onde ele estava. Eu não fiz nada
do salvamento real, — eu disse a ela, arrumando as fatias de pêssego em uma tigela
na tábua.
— Você o salvou, — ela corrigiu, apertando minha mão. — Christopher diz
isso, — ela acrescentou, afastando-se, deixando-me com meus pensamentos,
aqueles teimosamente presos ao fato de que eu iria embora agora, voltar à minha
antiga vida.
Sem mais Cora cozinhando para mim.
Nenhum homem suado seminu às quatro da manhã
Fazia apenas alguns dias, mas eu me encontrei estranhamente em casa aqui,
apesar de não ter nenhuma das minhas coisas por perto.
Independentemente, tinha que ir para casa.
Se por nenhuma outra razão que devia a Bellamy uma surra completa.
Ele não aprenderia com isso, mas era o princípio da coisa.
— Aqui, você traz isso, sim? — Cora perguntou, pegando o tabuleiro,
praticamente empurrando-o para mim, não me dando escolha a não ser agarrá-lo
ou jogá-lo no chão.
83
— Você fez todo o trabalho. Você deveria levá-lo, — eu insisti, tentando
devolvê-lo.
— Não, não. Não seja boba. Você vai, — ela disse, virando as costas para
começar a arrumar a louça, não me deixando outra opção a não ser levar a bandeja
gigante de volta pela casa e entrar no escritório.
— Ei pessoal, — eu falei da porta, chamando a atenção deles. Algo estranho
passou pelo rosto de Christopher, algo que parecia uma mistura de surpresa e, eu
não sei, algum tipo de prazer? Ou talvez fosse apenas minha imaginação me
seguindo. — Cora preparou algo para vocês comerem, — eu disse a eles, sentindo-
me estranhamente incerta com todos os seus olhares em mim. Como se estivessem,
não sei, avaliando meu potencial de esposa ou algo assim. — Hum, posso colocar
isso em algum lugar? Está ficando pesado, — acrescentei quando todo mundo ficou
lá parado, olhando para mim.
Eu estava pronta para verificar se eu não tinha um peito aparecendo ou algo
assim quando Christopher finalmente falou. — Niko, leve a bandeja para a sala de
estar. Eu preciso falar com a senhorita Miller, — ele disse, dispensando seus
homens.
Niko levantou a bandeja das minhas mãos, me dando um sorriso doce antes
de caminhar para o corredor. Laird fechou a porta atrás dele, fechando nós dois.
— Você dormiu bem? — ele perguntou, movendo-se para encostar na frente
da mesa.
— Você sequer dormiu? — Eu retruquei.
— Não, — ele admitiu, deixando escapar um suspiro. — Há muito a ser feito.
— Para fortalecer? — Perguntei. — Porque Chernev escapou.
— Sim, exatamente, — ele concordou, balançando a cabeça, levantando a
mão para passar a mão sobre a barba do rosto.
— Bem, ah, eu vou sair do seu caminho daqui a pouco. Para que você possa
voltar aos seus planos.
— Não.
— Não? Não, o quê?
— Não, você não vai embora daqui a pouco.
— Claro que vou.
— Não.
84
— O trabalho está terminado, Sr. Adamos.
— Eu assisti o vídeo de novo quando chegamos esta manhã, — ele me disse.
— Ele te ameaçou? Por que você não me contou isso?
— Não havia nada para te contar.
— Uma ameaça não é nada.
— Eu fui ameaçada centenas de vezes ao longo dos anos, Sr. Adamos. Eu
sinceramente já esqueci.
— Eu não.
— Realmente, não é grande coisa.
— Isto é.
— Mais uma razão para eu chegar em casa. Ele pode estar interessado em
me fazer pagar, mas duvido que ele esteja interessado o suficiente para me seguir
até aos Estados Unidos.
— Miller, não.
— Sr. Adamos. Você não pode simplesmente me manter aqui.
— É meu trabalho mantê-la segura.
— Na verdade, não é. De maneira alguma. Esse é o meu trabalho.
— Você precisa de ajuda.
— Eu tenho uma equipe inteira de pessoas em casa.
— E ainda assim, você aceitará minha hospitalidade por um tempo ainda.
Pelo menos até lidarmos com Chernev.
— Você não pode estar falando sério.
— Eu falo muito sério.
— Você não pode simplesmente me manter prisioneira aqui, Sr. Adamos.
— Eu prefiro o termo 'convidada', mas você pode chamar como quiser.
— Isso é um absurdo, — eu disse a ele, balançando a cabeça. — Deixe-me
ligar para Quin. Eles podem me manter em segurança sem me manter contra a
minha vontade.
— Possivelmente, sim. Mas não é seguro para você viajar agora.
— Vou pedir que Fenway volte. Não pode ficar mais seguro que num iate
particular.
— Não há garantia disso.
— Não há garantia de que eu esteja segura aqui também.
85
— Talvez não. Mas eu estou aqui.
— E você acha que é mais capaz do que minha equipe cheia de ex-militares?
Ele escolheu ignorar isso. Porque, bem, era difícil argumentar ilogicamente
contra uma afirmação lógica.
— Por favor, deixe Cora ou eu sabermos se há algo que você precisa para a
sua estadia.
— Sr. Adamos...
— Minha decisão foi tomada, senhorita Miller. Melhor aceitá-la do que lutar
contra ela.
— Ou o quê? Você vai me acorrentar na minha cama? — Eu cuspi de volta,
sabendo que elas eram as palavras erradas a dizer assim que saíam da minha boca
porque um calor surgiu na minha barriga com a ideia. E, se eu não estava
completamente enganada, seus olhos ficaram um pouco derretidos com a menção
também.
Ótimo.
Isso foi ótimo.
Eu provavelmente iria dormir com o cliente.
Ou, pior ainda, dormir com meu captor. Eu nunca viveria essa merda. E
Quin provavelmente insistiria em que eu recebesse aconselhamento por essa
maldita síndrome de Estocolmo.
— Se isso é necessário para mantê-la segura, sim, — ele finalmente
respondeu, com a voz um pouco mais rouca que o normal.
Realmente não haveria discussão com ele. E com a segurança aumentando,
havia uma chance muito pequena de fuga. Mesmo se eu saísse da casa, quais eram
as chances de alguém concordar em me ajudar? Seu alcance era longo. Se ele
espalhasse que se alguém me visse, ligasse para ele, eu estaria ferrada.
Eu não tinha escolha.
Eu ficaria presa aqui por enquanto.
Isso não significava que eu tinha que ser calma, não é?
— Preciso escrever uma lista das coisas que preciso, — eu disse a ele. — Você
tem caneta e papel?
Se suspeitava de alguma coisa sobre a mudança açucarada na minha voz,
ele não disse nada, apenas ficou de pé, contornando a mesa, abrindo a gaveta.
86
Esse homem até tinha papel chique.
Ele não me entregou uma pilha de folhas soltas ou mesmo um bloco de notas
com linhas amarelas. Não. Ele tinha uma pasta encadernada em couro cheia de
grossas folhas de papel com monograma. E uma caneta que provavelmente custava
um mês das prestações do meu carro, ouro branco verdadeiro.
— Apenas deixe aqui quando terminar, — ele me disse. — Eu vou conseguir
tudo o mais rápido possível.
— Tudo bem, — eu concordei, acenando com a pasta para ele, depois
caminhando pelo corredor em direção ao meu quarto, sentando-me na cama,
quebrando meu cérebro pelas coisas mais ridículas que eu poderia exigir
dele. Difícil de conseguir ou desagradavelmente caro, ou ambos.
Se ele ia me forçar a ficar aqui, eu colocaria um pequeno buraco em sua
carteira por maldade.
O que posso dizer? Eu simplesmente não sou capaz de ser uma prisioneira
modelo.
Duas horas e uma folha cheia... dos dois lados... depois, voltei a sair do meu
quarto, largando a pasta na mesa de Christopher em seu escritório vazio, seguindo
os sons e cheiros do almoço na cozinha.
Passei o resto do dia ajudando Cora no almoço, com os preparativos para o
jantar.
Eram cerca de seis horas quando Alexander finalmente entrou, com o cabelo
bagunçado de dormir, vestindo calças de basquete e uma camiseta folgada de
banda. Sua mão estava levantada, bagunçando ainda mais seus cabelos.
— Ouvi dizer que você é prisioneira aqui também, — ele me cumprimentou
enquanto caminhava até Cora, dando-lhe um pequeno sorriso enquanto ela lhe
entregava um prato de biscoitos de amêndoa.
— O quê? Prisioneira? Não. Vocês dois estão muito seguros aqui, — insistiu
Cora.
— Qual é a frase que você usa nos Estados Unidos? — Alexander
perguntou. — Sobre beber suco?
— O Kool-Aid, — eu corrigi.
87
— Sim, ela está bebendo o Kool-Aid2, — ele disse, me dando um sorriso
vacilante.
— Você conseguiu se livrar dessas drogas do seu organismo ao dormir? Eu
experimentei isso recentemente, — acrescentei quando ele começou a enrijecer,
como se eu o estivesse desafiando. Oh, o ego adolescente. Sempre tão frágil. — A
ressaca dela foi uma droga.
— Sim, — ele concordou, assentindo, sentando ao meu lado.
— Aposto que o lendário frappé de Cora pode ajudar nisso, — acrescentei. —
Eu pedi ao Sr. Adamos para colocar um pouco de cacau no meu para mim, e ficou
di-vino.
Os dois trocaram um olhar estranho, algo que achei difícil de
interpretar. Mas era algo como surpresa e curiosidade e apenas... outra coisa. Eu
não sabia, mas queria.
— Christopher fez um frappé para você? — Cora perguntou, sobrancelhas
franzidas.
— Ah... sim. Por quê?
— Não achei que ele soubesse como fazer, — Alexander me disse.
— Ele sabia. Ele não fez parecer que era um grande negócio.
Mas talvez tenha sido. Talvez ele sempre confiasse nos outros para fazer por
ele. O que tornou meio doce que ele estivesse disposto a fazer isso por mim.
— Você quer chocolate, Alexander? — Cora perguntou, estranhamente
querendo ignorar o assunto de uma maneira, quando ela geralmente gostava de
ficar poeticamente sobre o garotinho que ajudou a transformar em homem e,
portanto, tinha um amor maternal.
— Se Miller diz que é bom, deve ser. Miller, — ele disse, rolando meu nome
sobre a língua. — Esse é um nome estranho.
— Esse é meu sobrenome, — eu disse a ele. — Não gosto de pessoas na
minha vida profissional me chamando pelo meu primeiro nome, — acrescentei.
— Por que não? — ele perguntou, me oferecendo um biscoito de amêndoa. Eu
já comi três, mas o que era mais um quilo ou dois no grande esquema das coisas?
2
Beber o Kool-Aid (drink the Kool-Aid) é uma frase que significa “aceitar sem questioner”. Passou a ser usada depois
que uma seita religiosa envenenou seus seguidores adicionando cianeto ao suco em pó (kool aid) e todos que beberam,
morreram.
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— Porque é um nome realmente feminino. E às vezes os homens não levam
você tão a sério quando você é muito feminina.
— Diz a mulher que estava flertando com Chernev, — ele retrucou, recebendo
um tapa de Cora na lateral da cabeça. — É verdade, — ele insistiu, dando-lhe um
olhar duro.
— Às vezes, as mulheres precisam usar tudo à sua disposição, — ela
retrucou. — E homens, eles gostam quando as mulheres flertam. Ela fez isso para
ajudar a salvar você.
— Acredite, eu posso fazer muito melhor do que Atanas Chernev.
— Isso é certo, — Cora concordou com um aceno firme. — Ela é uma mulher
muito bonita. Um pouco magra, mas estamos trabalhando nisso.
Alexander compartilhou um sorriso divertido comigo. — Ela me diz que eu
sou muito magro o tempo todo também.
— Acho que ela secretamente só gosta de cozinhar para nós, — eu disse,
pegando outro biscoito do prato.
— Eles não o alimentam o suficiente na escola. E você come demais em
viagens.
— Cora está me ensinando a cozinhar, — eu disse a Alexander.
— Uma vantagem para a sua prisão.
— Eu não gosto dessa palavra, — disse Cora, batendo uma espátula no
balcão, fazendo com que nós imediatamente nos calássemos, castigados. Mesmo
se estivéssemos um pouco certos.
— Você conseguiu um telefone? — Perguntei-lhe quando Cora saiu para
pegar algumas ervas que ela cultivava em vasos no jardim.
— Não, ele não conseguiu, — Christopher anunciou, fazendo nossas cabeças
se virarem culpadas.
Meus lábios se apertaram para evitar um sorriso quando ele abriu a pasta
que eu havia colocado de volta em sua escrivaninha, lendo a minha lista.
Se ele tinha alguma opinião sobre os itens listados, ele não mostrava sinais
disso.
— O diretor voltou, — resmungou Alexander, afastando o prato de biscoitos.
— Tudo bem, frappé, — disse Cora, voltando. — Eu não esqueci, — ela
acrescentou, embora claramente o tenha feito por um momento. — Oh,
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Christopher. Você está em casa. Gostaria de um frappé? A senhorita Miller estava
nos dizendo que você fez um com chocolate para ela.
Isso chamou sua atenção.
Ele levantou a cabeça e, se não me engano, parecia quase um pouco tímido.
— Ela queria um, — ele disse simplesmente. — Mas não, Cora, obrigado. Eu
tenho alguns arranjos a fazer, — acrescentou, fechando a pasta, deixando claro
quais eram esses arranjos.
— O que havia na pasta? — Alexander perguntou quando meu sorriso
apareceu quando ele se foi.
— Seu irmão se ofereceu para me pegar qualquer coisa que quisesse
enquanto estava na prisã..., — eu comecei, interrompendo-me quando olhei para
as costas de Cora quando ela derramou leite em copos. — Enquanto eu estiver
aqui, — eu corrigi. — Eu fiquei um pouco... inventiva, — eu disse a ele,
compartilhando um sorriso com ele.
— Você vai ser uma má influência, não é? — ele perguntou.
— Espere, onde você está indo? — Cora perguntou enquanto ele pegava seu
frappé.
— Eu tenho uma lista para escrever, — ele disse, com os olhos brilhando.
— Acho que ele gosta de ter você aqui, — concluiu Cora ele quando saiu.
— Ele só gosta que lhe dê ideias para atormentar seu irmão.
— Ele não teve mulheres em sua vida, — ela disse, com voz triste.
— Do que você está falando? Ele tem você. — Eu lembrei, balançando a
cabeça. — Você é uma figura materna fantástica.
— Você é muito gentil. Mas eu não sou mãe. Avó, talvez. Ele precisa de uma
mãe.
— Ele é quase adulto.
— Uma criança sempre precisa de uma mãe. Mesmo que tenham quarenta
anos.
Eu não poderia concordar ou discordar disso, nunca tendo tido uma.
— Alexander revelou-se muito bem, Cora. Você e o Sr. Adamos fizeram um
bom trabalho.
90
— Nós nos esforçamos, — ela me disse, me dando um pequeno sorriso. —
Você gostaria de aprender um novo prato? — Ela perguntou, apontando para o
espaço ao lado dela.
— Claro, — eu concordei, encontrando um inesperado reforço na minha
confiança em aprender a dominar essa habilidade que sempre me escapou.
— Sabe, — ela me disse, quando nós duas começamos a cortar legumes, —
esta é a refeição favorita de Christopher.
Claro que era.
Se eu não estava completamente enganada, Cora estava determinada em me
unir com Christopher, me tornando uma figura materna para Alexander.
O que era doce, embora meio ridículo.
Uma parte de mim, mesmo uma grande parte de mim, queria fazer um tour
pelos lençóis dele?
Claro que sim.
Eu queria me mudar para a casa-caverna dele, me tornar uma mãe
improvisada, preparar refeições e dar à luz bebês?
A resposta para isso deveria ter sido simples: claro que não.
Mas tudo o que senti foi uma espécie de interesse moderado, misturado com
uma certeza profunda de que eu já estava começando a enlouquecer um pouco.
Talvez eu deva marcar uma consulta com um psiquiatra assim que chegar
em casa, em vez de esperar Quin insistir nisso.
91
7
Christopher
Ela se estabeleceu.
Um pouco relutantemente a princípio, depois com mais facilidade. Tanto que
fiquei surpreso. Especialmente considerando que tudo em Miller sugeria que ela
iria me confrontar o dia todo, na esperança de que eu fosse desistir. Claro que não
cederia, mas era agradável não ter que brigar por isso.
Fazia quatro dias desde que Alexander chegou em casa. E além do ato
rebelde de criar a lista mais ostensiva do mundo, e depois dar a meu irmão a ideia
de criar uma também, ela simplesmente se sentira em casa.
Ela dormiu até tarde, algo que todos pareciam se organizar para seguir seus
horários. Sim, até eu. Descobri que esperava entrar na cozinha para tomar meu
café depois de ouvi-la se mexer. Cora adiou o café da manhã para mais
tarde. Alexander se levantava mais cedo para que pudessem brincar no café da
manhã.
Depois do café da manhã, ela e Alexander se retiravam para a sala de estar
para assistir a filmes de ação, e então ela o aborrecia ao desmascarar muitas das
cenas por serem tão irreais, provando ainda mais que sua vida tinha sido muito
vibrante, muito perigosa.
À tarde, ela podia ser encontrada na cozinha com Cora, uma estudante
ansiosa que claramente se entusiasmava com os elogios que recebia da figura
materna que alegou nunca ter tido.
À noite, Cora insistia para jantássemos na sala de jantar, uma sala que era
inteiramente ornamental até Miller entrar em nossas vidas.
Parecia, como era provável a intenção de Cora, que uma família se reunia
para compartilhar sua refeição da noite, conversar sobre boa comida, se conectar.
Eu não poderia ter antecipado o quanto começaria a gostar. Como alguém
que costumava comer em movimento, era bom se sentar e desacelerar. Além disso,
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consegui me reconectar com meu irmão, me fazendo perceber o quanto perdi
quando ele estava fora. Eu tive que aprender nomes de amigos que não sabia que
ele tinha, sobre de onde eles eram, no que eles estavam metidos. Miller, com suas
habilidades de observação aguçada, conseguiu descobrir que um
desses amigos era um pouco mais do que um amigo, explicando mais a forma um
tanto hostil de Alexander a não ter acesso ao seu telefone celular no
momento. Depois de uma breve conversa no meu escritório, certa noite, sobre como
sua namorada estaria muito mais segura se ninguém soubesse que havia uma
conexão com ela, ele parecia concordar com o acordo.
Durante esses jantares, também conhecíamos muitas histórias
interessantes, perigosas e até ridículas do passado de Miller. Sobre os homens com
quem ela trabalhava. Aquele que limpa cenas de crime, aquele que rastreava ou
fazia as pessoas desaparecerem, um que viveu em algum lugar chamado Pine
Barrens ilegalmente com cães assassinos e cabritos. Ela nos contou sobre alguns
homens com quem havia negociado, sobre as travessuras que havia limpado para
Fenway.
Ela tinha vivido mais vida aos trinta e poucos anos do que a maioria jamais
viveria.
Eu notei que ela não falou sobre sua infância, sua juventude, nada antes de
começar a trabalhar para Quin. Inferno, ela nem explicou como ela encontrou
alguém como Quinton Baird para começar.
Por mais interessantes que tenham sido as outras histórias dela, eu me vi
querendo conhecer essas também. Eu nunca fui ganancioso por detalhes pessoais
que as pessoas pareciam não querer compartilhar. Todos nós temos nossos
segredos. Todos temos direito a eles. Mas eu queria saber como foi sua infância, o
que a ajudou a moldá-la na mulher que estava sentada do outro lado da mesa.
E, além do mais, queria que ela permanecesse tempo suficiente para se sentir
confortável compartilhando essas histórias, aquelas partes mais íntimas de si
mesma.
Eu estava escolhendo não reconsiderar se ela estava certa, se ela estaria tão
segura em ter sua equipe vindo buscá-la e levá-la para casa.
Havia uma explicação simples para isso.
Eu não queria que ela fosse.
93
Era um absurdo, mas é verdade.
Estava me acostumando a vê-la por perto, ouvi-la rir, a vê-la passando tempo
com meu irmão, saber que ela tinha ajudado a fazer a comida que eu estava
comendo.
Esse interesse, no entanto, era exatamente o motivo pelo qual eu estava
mergulhando no trabalho, dobrando meus esforços para encontrar Chernev. Não
porque isso era necessário, porque tinha uma equipe de dezenas de homens
lidando com ambas as situações, mas porque descobri que precisava de um tempo
longe dela. Eu estava pensando nela com muita frequência, estava achando mais
difícil não alcançá-la e tocá-la, agarrá-la, levá-la pelo corredor até a minha cama.
Eu nunca fui um homem que não conseguia se controlar. Mas descobri que
estava lutando para fazê-lo com Miller. Uma mulher cujo nome verdadeiro eu nem
conhecia.
Então fiquei fora mais tempo do que o necessário.
Me tranquei no escritório com alguns dos meus homens.
Corri as escadas três vezes por dia para me livrar do excesso de energia que
eu ficaria muito melhor gastando com ela na cama.
Estava me preparando para minha corrida noturna, quando Miller pulou do
sofá, correndo para bloquear o corredor antes que eu pudesse sair.
— Eu quero ir.
— Você reclamou há apenas alguns dias sobre as escadas.
— Sim, bem, isso foi antes de eu ter sido trancada em uma casa o dia inteiro,
sem nenhuma maneira de realmente me movimentar. Eu preciso de algum
exercício. Estou ficando louca.
— Você não pode deixar o local agora.
— Então por que você pode? — Ela revidou, erguendo a sobrancelha,
cruzando os braços, a imagem perfeita do desafio.
— Não fui eu quem Chernev ameaçou.
— A ameaça a você estava implícita, — ela me disse, revirando os olhos. —
Obviamente, ele quer matar você. E provavelmente Alexander.
— É diferente, — eu insisti, passando por ela.
— Por quê?
— Simplesmente é, Miller. Esquece isso.
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— Não, não vou deixar esquecer isso. Se você quer que eu esqueça, deixe-me
ir embora. Então você não terá mais que me ouvir te chatear mais.
— Você sabe que também não posso fazer isso.
— Eu não sou uma pessoa irracional, Sr. Adamos, — ela me disse, seguindo
de perto enquanto eu caminhava pela casa. — Dê-me uma razão pela qual você
pode andar tão livremente quanto quiser enquanto eu não posso, e vou aceitá-la.
— Não, você não vai, — eu disse, uma risada na minha voz, porque ela
simplesmente não era o tipo de mulher que esqueceria algo se tivesse decidida. Era
uma qualidade que eu respeitava, mesmo quando ela a usava contra mim.
— É por que sou uma mulher? — Ela perguntou, agarrando meu braço,
tentando me parar antes que eu pudesse sair para longe dela, sabendo que meus
homens a parariam e a arrastariam de volta para casa. — Essa é a razão, não é?
— ela exigiu, a voz ficando mais alta.
— Sim! — Eu gritei de volta, me virando de repente, fazendo-a recuar para
que ela pudesse erguer a cabeça para me olhar no rosto, fazendo-a pressionar as
costas contra a parede. — Sim, é porque você é uma mulher, — eu disse a ela. —
Eu não me importo se você não gosta da explicação, mas é a verdade. Você é uma
mulher. E se você soubesse o que Chernev faz para as mulheres, você estaria
caindo de joelhos agradecendo-me pela minha proteção.
Foi quando terminei de falar que percebi que tinha continuado a avançar
enquanto falava, o desejo de fazê-la entender quão perigoso adversário ele era,
havia me empurrado para seu espaço pessoal, meu peito contra o dela, prendendo-
a na parede.
Eu podia sentir a respiração expandindo seu peito, pressionando seus seios
contra mim enquanto ela lentamente respirava.
— Você poderia ter me dito isso, — ela disse, sua voz calma e quase suave
em completo contraste com a voz alta e apaixonada que eu tinha usado com ela.
— Você poderia ter confiado em mim, — respondi, a voz ficando mais baixa
também.
— Você tem que dar às pessoas razões para confiar em você, Sr. Adamos.
— Eu lhe dei abrigo. Comida. Proteção. Metade dos itens da sua lista ridícula.
— Os outros eu ainda estava trabalhando para encontrar.
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— Você ganha confiança compartilhando com as pessoas, não esperando isso
em troca de coisas físicas.
— Era uma informação feia, — eu disse a ela, momentaneamente distraído
pela maneira como sua garganta se movia enquanto ela engolia.
— Estou acostumada a viver em um mundo feio.
— Você não deveria, — eu disse a ela, meus olhos encontrando os dela.
— Você não toma essa decisão, — ela me disse, a voz ainda mais suave.
— Se eu lhe desse a informação, você ficaria de bom grado?
— Eu não sei, — ela admitiu.
— Eu sei. Você teria ido. Você estaria em risco. E se você tivesse se
machucado, eu não poderia ter vivido com isso.
— Não teria sido sua culpa.
— Eu trouxe você aqui. Coloquei você nessa situação. Teria sido minha
culpa.
— Eu sou uma mulher crescida, Christopher, — ela insistiu.
Foi o nome que fez isso.
Arrancou o pequeno controle que me restava.
Ela nunca me chamou pelo meu nome, exceto por uma vez enquanto discutia
comigo. Sempre foi o Sr. Adamos. Que, depois de um tempo, tornou-se sexy por si
só.
Mas, ouvir meu nome naquela voz suave e doce, sentindo aquele muro de
formalidade cair, tornou-se impossível me conter.
— Entendo, — eu concordei, minha mão se levantando, traçando seu ombro,
sobre sua clavícula, deslizando pela lateral de seu pescoço, dedos se estendendo
para emoldurar seu rosto.
Suas pálpebras ficaram pesadas, sua respiração acelerando imediatamente.
Seus lábios se separaram por um longo momento antes que as palavras
saíssem.
— Penso que não... — ela começou.
— Não pense, — eu exigi, meus lábios reivindicando os dela.
Não houve hesitação, nenhuma resistência.
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Toda a tensão que estava em seu corpo desapareceu, tornando-a suave e
receptiva. Seus braços se levantaram, agarrando meus braços, curvando-se,
segurando-os enquanto seus lábios pressionavam mais os meus, exigindo mais.
Um gemido baixo e gutural escapou de seus lábios, vibrou contra os meus
quando minha língua provocou a costura de seus lábios, buscando entrada.
Ao conseguir, senti um calafrio percorrê-la quando minha mão deslizou para
trás, os dedos deslizando para cima, enrolando em seus cabelos.
Suas mãos se levantaram, passando pelo meu pescoço, forçando-a na ponta
dos pés, esmagando seus seios no meu peito, fazendo meu pau esticar. O desejo
era um fio vivo através do meu corpo, me implorando para levantá-la, para levá-la
ao fundo do corredor, para deixá-la cair na minha cama, correr meus lábios e
língua sobre cada centímetro dela. Eu precisava sentir suas pernas escorregarem
ao redor dos meus quadris, deslizar dentro dela, sentir suas paredes me apertarem
enquanto ela gritava meu nome.
Fiquei momentos, não, segundos, longe de trazer tudo isso à realidade.
E então a porta de Alexander bateu na parte de trás da casa, alto o suficiente
para ambos pularmos inesperadamente, nos separando.
Meus olhos se abriram, encontrando os dela arregalados quando suas mãos
de repente liberaram meu pescoço, plantando no meu peito e me empurrando para
trás um pouco.
Bem a tempo de Alexander invadir o espaço, sua energia estalando,
agitada. Mas eu estava distraído com o desejo não realizado entre Miller e eu.
— Sobre o que vocês estão discutindo? — Alexander perguntou, jovem o
suficiente para interpretar mal a respiração pesada, a energia vibrante ao nosso
redor.
— Eu sendo capaz de sair e me exercitar, — disse Miller, recuperando-se
primeiro, respirando fundo quando sua cabeça se virou para olhar para meu
irmão. — Sem surpresa, ele está sendo teimoso.
— Sim, bem, o que você espera? — ele disse, sua raiva claramente dirigida a
mim mais uma vez.
— Eu sei , certo? — ela concordou, soltando uma risada um pouco sufocada.
— Ele não vai desistir, — disse Alexander, dando de ombros. — Ouvi dizer
que Cora deixou alguns Loukoumades na cozinha para nós, no entanto, — ele
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disse, tentando confortá-la. — Quer compartilhar um pouco e dissecar um filme
comigo?
— Parece bom, — ela concordou, afastando-se um pouco de mim
rigidamente, o olhar propositalmente evitando o meu, não me deixando ver o que
estava acontecendo com ela.
O que provavelmente foi o melhor.
Porque se eu ainda visse necessidade lá, provavelmente teria dito a Alexander
para se foder, a jogado por cima do ombro e terminado o que começamos.
E isso não era uma boa ideia.
Meu corpo, no entanto, claramente não estava de acordo.
E quando consegui resolver o desejo no meu corpo, minhas coxas estavam
queimando da escada, tão fracas e instáveis quanto as de novas aves.
Mas depois que tomei banho e me deitei, percebi que tudo tinha sido por
nada.
Porque o desejo ainda estava lá.
Eu estava começando a entender que não ia desaparecer até conseguir o que
realmente precisava.
E essa era ela.
98
8
Miller
Merda.
Merda.
Merda dupla.
Sim, esse era um tipo de situação de merda dupla.
Quero dizer, já era ruim o suficiente apenas suspeitar que nossa química
seria explosiva. Era completamente outra coisa saber com certeza.
Inferno, a discussão em si já tinha sido suficiente preliminares. Quando ele
se voltou contra mim com toda a raiva e paixão mal contidas? Eu quase levantei
minha saia e disse para ele me levar naquele momento.
No geral, eu não era alguém que achava homens gostosos quando estavam
com raiva. Na minha linha de trabalho, homens raivosos eram algo a ser temido.
Acho que porque sabia que não tinha nada com o que temer com
Christopher, fui capaz de apreciar esse tipo de emoção vinda dele.
Então ele teve que ficar todo suave e me beijar como se fosse a última coisa
que ele conseguiria fazer nesta Terra.
Eu nunca fui uma pessoa melosa. Poderia respeitar a pieguice nos
outros. Kai e Jules eram um excelente exemplo disso. Eles eram todo melosos. E
fiquei feliz por eles com isso. Mas não poderia afirmar que já me senti assim.
Mas quando ele me beijou?
Eu me senti melosa.
Foi ao mesmo tempo emocionante, divertido e novo, além de assustador,
estranho e desconhecido.
Provavelmente foi uma coisa boa que Alexander escolheu aquele momento
para ficar chateado com o irmão remover o notebook do quarto porque, se as coisas
continuassem, sim, estaríamos nus, transando ali mesmo na porta.
Cora teria ficado emocionada.
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Ela não fez absolutamente nenhum esforço para manter seu desejo de me
ver com Christopher em segredo.
Era fofo. Realmente era. Mesmo que fosse loucura para mim que ela não
visse as variadas e numerosas razões pelas quais eu não poderia ficar com
Christopher. Principalmente porque toda a minha vida estava nos Estados Unidos.
Mas eu?
Eu estava apenas confusa.
E mais sexualmente frustrada do que jamais estive em minha vida. O que
realmente estava dizendo algo, porque certa vez tive uma seca durante dezoito
meses.
Eu estava chegando aos dez no momento, mas nem era isso.
Era apenas... ele.
Não ajudou que o bastardo se exercitasse três vezes por dia e chegasse em
casa sem camisa e gloriosamente suado após cada sessão.
Ou que ele sempre cheirasse bem.
E ele parecia realmente bom pra caralho de terno.
E toda a seriedade que ele tinha? Todo esse autocontrole? Isso me deixava
quase obcecada com a ideia de vê-lo despojado de tudo isso, vê-lo desequilibrado,
ver como ele era quando realmente se soltava.
Provavelmente era uma visão magnífica.
Era uma obsessão minha na cama, me revirando com um peso opressivo na
minha barriga, apenas implorando para ser liberado.
Depois de uma breve discussão, e muitos doces, com Alexander na cozinha,
arrastei minha bunda insatisfeita de volta para a cama antes de Christopher voltar
de sua corrida, porque, francamente, eu não tinha certeza de que meu corpo
pudesse suportar vê-lo daquela maneira naquele momento.
Então, tomei um banho frio e deslizei para um dos conjuntos de pijama de
seda que estavam no estoque original que havia sido deixado para mim.
Christopher, entre muitas outras coisas, parecia ter um gosto bastante
impecável em roupas de dormir femininas.
Veja, eu era uma mulher simples. Eu costumava dormir com uma camiseta
velha e rasgada, e calcinha. Essa era apenas a minha roupa normal. Se eu
100
estivesse trabalhando com os caras, usaria uma calça de ioga ou algo assim,
mas na verdade não tinha roupa para dormir.
Mas os itens que Christopher havia escolhido me fizeram reavaliar essa
postura.
Eles não eram tão chiques, realmente. Eram conjuntos de regatas e shorts
em cores suaves e femininas... rosas, cremes, azuis claros, verdes, um amarelo
claro... e enfeitadas com rendas que eram de alguma forma macias, não
arranhavam.
Fizeram-me sentir suave e sexy, inteira. Como se eu pudesse servir um jantar
no meio da noite e parecer que estava perfeitamente apresentável.
Talvez eu devesse ter acrescentado meia dúzia deles na minha lista que eu
havia dado a Christopher.
Ei, ele ofereceu.
Eu ia tirar proveito disso.
Estava até pensando em comprar um par de sapatos “Não, oficial, eu
não matei meu marido rico” com salto baixinho e peludinho em cima para
completar o visual.
Quero dizer, se você fosse fazer isso, seria melhor fazer direito.
Ouvi Christopher chegar quase duas horas depois que ele saiu. Eu estava
fraca e patética o suficiente para ir até o final da minha cama para ouvir quando ele
entrou em seu quarto, quando o som revelador de seu chuveiro ligou.
Eu não pude deixar de me perguntar se ele pensou em mim enquanto estava
lá. Eu pensei nele. Mas eu não tinha conseguido acertar o humor para aliviar a
tensão sozinha. O que apenas conseguiu me deixar ainda mais carente do que eu
estava depois do beijo.
A imagem mental dele nu no chuveiro com a mão em torno de seu pênis não
estava ajudando a situação.
— Agh, — eu resmunguei, me jogando de volta na cama em uma posição de
estrela do mar, respirando fundo algumas vezes, tentando me lembrar de todas as
razões pelas quais essa era uma ideia terrível.
Gunner me provocaria.
Quin gostaria que eu fosse aconselhada.
Bellamy e Fenway pensariam que me fizeram algum tipo de favor.
101
Havia muitas razões, mas nenhuma delas parecia bastante convincente.
O que me manteve na cama foi a ideia de Christopher ser um cara de uma
vez e acabou. E então ficar presa em sua casa com ele até só-Deus-sabe quando.
Eu não lidava bem com esse tipo de constrangimento.
Uma única vez seria bom.
Se vocês nunca mais tivessem que se ver.
Não sei como consegui adormecer com a cabeça girando como estava, mas a
inconsciência acabou me reivindicando, tirando-me da minha miséria.
****
103
Mas eu não estava acima de ser uma garota estereotipada e usar minhas
unhas.
Assim como uma mão livre teve a audácia de abaixar e fechar sobre meu
peito através da blusa, meu braço voou para cima, as unhas cortando o que parecia
um pescoço.
Houve um assobio, mas meu alvo estava errado.
Mas isso me deu um bom indicador de onde estava o rosto dele.
Seu outro braço se afastou, agarrando meu pulso, puxando-o alto o
suficiente para meu ombro gritar, prendendo-o na cama.
Nenhuma quantidade de puxões poderia me libertar.
Eu tinha mais uma mão, mais uma chance.
Fazer dano suficiente para fazê-lo soltar minha garganta, para que eu
pudesse gritar.
Eu não gostei de não poder derrubá-lo, mas entendi que era estúpido não
aproveitar a oportunidade para aumentar suas chances, se você tivesse, não
importa o quanto uma parte de você se irrite com a ideia de ser salva por qualquer
um.
Salva era melhor que morta, isso com certeza.
Tentei respirar fundo, fechando os dedos da mão esquerda em um punho
apertado, mirando e atacando.
Mesmo que você não tenha feito um contato perfeito, um soco na garganta
tem uma reação e tanto.
Sufocante.
Ofegante.
Um desejo involuntário de agarrar o pescoço.
A mão dele deixou minha boca.
Respirei profundamente.
E fiz o que tinha que fazer.
Eu gritei por ajuda.
— Christopher!
A dor explodiu na minha bochecha quando meu atacante se recuperou,
quando ele atacou.
Tinha acabado.
104
Até eu sabia que tinha acabado.
Certamente ele conhecia bem o chefe para saber disso também.
Mas seu peso me pressionou contra a cama enquanto suas mãos tentavam
parar minha agitação, tapas, arranhões.
Eu nem tinha ouvido os passos, a porta se abrindo.
A próxima coisa que percebi foi a luz piscando, quase me cegando com sua
intensidade por um momento.
Até meus olhos se ajustarem.
E eu pude ver meu atacante.
Niko.
Niko?
Mesmo quando a percepção começou a ser absorvida, a mão de Christopher
estava agarrando a parte de trás do paletó dele, puxando com força o suficiente
para jogar o homem para trás, liberando seu peso de mim.
Instintivamente, subi na cama, o braço disparando, pegando alguma coisa,
qualquer coisa que pudesse ser usada como arma.
Caso Niko não estivesse agindo sozinho.
Caso mais homens se mostrassem desleais.
Eu deveria estar vigiando a porta por essa possível ameaça, mas me vi
incapaz de desviar o olhar de um Christopher sem camisa enquanto ele puxava o
corpo de um deles, batendo-o contra a parede, a cabeça de Niko batendo na
guarnição ao redor da janela.
O que mais me impressionou quando os dois homens começaram a brigar
foi o silêncio de Christopher.
Imaginei que se encontrasse um homem que deveria ser leal a mim fazendo
algo horrível, eu estaria gritando com ele enquanto acabava com ele.
Christopher não.
E, se alguma coisa, seu silêncio era muito mais arrepiante.
Seu silêncio.
E sua violência.
Não havia nada contido ou misericordioso nele quando ele agarrou Niko pela
garganta e bateu a cabeça contra a janela, vidro quebrando, sangue jorrando,
espirrando no rosto de Christopher enquanto Niko gritava.
105
Também não houve piedade, quando Christopher o puxou para frente e o
jogou contra a parede.
Uma vez.
Duas vezes.
Três.
Quatro
Cinco.
Dez vezes.
Os gritos de Niko cessaram quando o crânio foi esmagado, enquanto a vida
deixava seu corpo.
— Christopher, — a voz de Alexander chamou, um pouco hesitante, um
pouco incerta, arrastando minha atenção para onde ele estava parado no corredor,
uma arma na mão, vários outros homens de Christopher atrás dele, todos os rostos
mostrando caras de choque idênticas
Se era por causa da traição de Niko, ou a reação de Christopher a isso, era
uma incógnita.
— Christopher, — Alexander tentou novamente, a voz um pouco mais forte,
arrastando a atenção de seu irmão para longe do cadáver que ele ainda estava
segurando de pé contra a parede, a raiva cegando-o do fato de que havia
acabado. Quando teve a atenção de seu irmão, seu queixo saltou em minha direção
na cama, fazendo o olhar de Christopher o seguir, pousando em mim.
A raiva cega em seus olhos se afastou, parecendo me ver pela primeira vez.
A tensão escapou de seus ombros. Seu peito ofegante se expandiu enquanto
ele respirava gananciosamente, diminuindo a respiração, trazendo-o de volta para
seu corpo.
Seu corpo encharcado de sangue.
Preocupação encheu seus olhos escuros quando ele deu alguns passos
hesitantes em direção à cama, olhando para cima e para baixo em mim,
procurando ferimentos.
Não havia, não realmente.
Não os externos.
Os internos? Bem, eram antigos, cicatrizados. Isso só arrancou algumas
crostas, deixando-me em carne viva e sangrando.
106
Não que eu tenha mostrado isso a ele, no entanto. Pelo menos, eu esperava
que não. Mas, de alguma forma, senti meu lábio inferior tremer.
Eu não era um tipo de pessoa que tremia os lábios.
Mas ele tremeu.
— Você está machucada? — Ele perguntou, a voz tão suave que mal podia
ouvi-lo a vários metros de distância.
Minha cabeça balançou, as palavras ficaram presas na minha garganta.
— Você tem certeza? — Ele perguntou, movendo-se para dar um passo à
frente, apenas para ser parado por uma mão em seu ombro.
Girando, ele encontrou seu irmão, mais calmo, mais concentrado. — Você
está coberto de sangue, — ele disse a Christopher, com a voz baixa, mas se
propagou pelo quarto silencioso.
O olhar de Christopher se moveu sobre ele, depois foi em direção ao corpo
desfigurado de Niko, depois voltou para o irmão. — Coloque-a no meu quarto, —
ele exigiu. — Não a deixe, — acrescentou, passando pela cama. — Lide com isso,
— ele gritou para Laird na porta, enquanto se fechava no banheiro, a água jorrando
imediatamente.
— Miller, ei, — Alexander chamou, me fazendo perceber que eu
estava olhando a porta do banheiro por tempo suficiente para que Alexander
pudesse se aproximar do lado da cama sem eu perceber. — Ei, vamos lá, — ele
exigiu, estendendo a mão para mim, em seguida, puxando-a para trás quando me
afastei, então estendendo a palma da mão. — Está tudo bem, — ele me disse, a voz
baixa. — Vamos lá. Vamos sair daqui, — ele ofereceu, apontando para a porta.
Meu corpo respondeu ao comando, mesmo quando minha mente estava lenta
e tensa, dificultando o surgimento de quaisquer pensamentos.
Percebi enquanto caminhava em direção à porta que os homens de
Christopher haviam entrado, criando uma espécie de muro humano em frente ao
corpo sem vida de Niko.
Sua mão estava visível, no entanto.
A mesma que esteve sobre minha boca.
Eu olhei para ela por tanto tempo que Laird se moveu na frente dela
enquanto Alexander finalmente agarrou meu pulso, me pressionando para a frente,
107
para o corredor, através dele, depois para o quarto de Christopher, fechando a
porta enquanto acendia a luz.
Muito parecido com o seu escritório, este quarto era inegavelmente
masculino. A cama era king size, coberta com lençóis e edredom pretos, tudo
mostrava Christopher pulando para fora quando eu gritei.
Havia portas de cada lado da mesa de cabeceira de madeira escura. Armário
e banheiro.
— Miller, você está bem? — Alexander perguntou, perdendo um pouco da
calma que tinha demostrado em meu quarto, parecendo muito mais com o garoto
que ele ainda era. Um garoto que tinha uma arma na mão sem hesitar durante
uma situação tensa. Um garoto que parecia perfeitamente confortável com isso
ainda ali.
Eu dei um aceno tenso com a cabeça, caminhando em direção à cama,
deslizando nela e puxando as cobertas sobre o meu corpo, enrolando-me em uma
bola apertada, respirando fundo o perfume que sempre se apegava a
Christopher, uma colônia picante ou sabonete, algo distintamente masculino, mas
não avassalador.
Reconfortante.
Achei reconfortante enquanto minha mente corria de um lado para o outro
do passado para o presente, pois ficou difícil distinguir os dois incidentes distintos
da minha cabeça, fazendo meu estômago revirar, me deixando suada e fria ao
mesmo tempo.
Eu podia sentir o olhar de Alexander passando por mim ansiosamente
enquanto esperava um adulto vir e tomar seu lugar, claramente não capacitado
para lidar com essa situação sozinho.
Eventualmente, o que pareceu uma vida depois, a porta se abriu.
Nada foi dito, mas você praticamente podia ouvir a conversa silenciosa entre
irmãos, Christopher fazendo um gesto para Alexander voltar para o quarto,
Alexander balançando o queixo na direção do meu amontoado debaixo das
cobertas.
Pés arrastados, a porta bateu, desta vez trancando.
A cama cedeu na minha frente quando Christopher deslizou nela, apagando
a luz, gentilmente me alcançando, parando, esperando para ver se havia alguma
108
resistência, antes de me abraçar, seus braços se apertando firmemente ao meu
redor.
— Eu estou bem, — insisti, uma parte primitiva de mim precisava dizer,
mesmo que não parecesse muito verdade.
— Tudo bem, — ele concordou, embora ele claramente não acreditasse em
mim quando sua mão se moveu para cima, acariciando meus cabelos.
Lentamente, pareci capaz de separar os dois eventos muito distintos
da minha vida. Daquele que passou há muito tempo para o mais recente. A divisão
permitiu que a clareza aparecesse, permitindo que eu processasse o que havia
acontecido sem que as coisas ficassem confusas na minha cabeça.
Considerando tudo, não foi a pior coisa que aconteceu comigo. Inferno, talvez
nem estivesse entre as cinco primeiras. Minha vida tinha sido dura e difícil quando
era jovem. Ficou perigosa quando fiquei mais velha.
As coisas aconteceram.
Às vezes eram coisas feias.
Às vezes eu saía delas ensanguentada.
Às vezes eu tinha que ser carregada para longe delas.
Essa era a vida que eu levava.
E com algumas respirações profundas, eu pude perceber que o evento no
meu quarto era provavelmente o número sete na lista de coisas ruins com as quais
havia lidado na minha vida.
Nada bom.
Mas não o suficiente para me levar a uma espiral ruim também.
Às vezes, na maioria das vezes, era mais difícil, demorava muito mais tempo
para resolver tudo no meu organismo cheio de adrenalina, na minha cabeça em
turbilhão. E isso foi com meus colegas de trabalho treinados ao meu redor, pessoas
que passaram por muitos de seus próprios traumas, que sabiam como lidar comigo
e com os meus.
Então, chegou-se à conclusão de que esse rápido retorno ao pensamento
racional tinha muito a ver com o homem cujos braços estavam ao meu redor, cujo
corpo quente estava me cercando, cujo batimento cardíaco era lento, constante e
bem perto da minha orelha.
109
Eu nunca fui realmente uma pessoa sensível. Com amigos, com alguém
realmente. Eu definitivamente nunca fui muito de aconchegar. Eu nem sabia dizer
o porquê. Nunca pareceu algo que quisesse. Esse nível de intimidade, eu acho.
Não havia como negar que, nesse momento, com este homem, era
reconfortante, estava ajudando minha mente e corpo a trabalhar com algumas
coisas.
E, bem, parecia muito bom, na verdade.
Eu estava começando a ver o motivo de todo o alvoroço.
Eu gostei o suficiente para que estivesse realmente adiando dizer a ele que
estava me sentindo melhor, porque a maneira como seus dedos passavam pelo meu
cabelo era quase viciante. Tinha certeza de que isso curaria todas as formas de
insônia em questão de minutos.
Eventualmente, porém, eu sabia que tinha que falar, tinha que deixá-lo saber
que não estava traumatizada por toda a vida e não o culpava pela situação. E, bem,
o homem também precisava voltar ao trabalho, não? E como alguém que esteve em
muitas situações difíceis, que trabalhava para uma empresa especializada nelas,
entendia perfeitamente como esses primeiros minutos, ou mesmo as primeiras
horas, poderiam ser realmente imperativas.
Eu precisava deixá-lo ser o chefe que ele era.
E precisava parar de me agarrar a ele por mais razões do que gostaria de
pensar.
— Eu estou bem, — disse a ele depois de respirar fundo, certificando-me de
colocar um pouco de confiança em minha voz. — Sério, — acrescentei quando ele
bufou. —Isso nem ficou entre os cinco primeiros, — acrescentei.
— Os cinco primeiros, o quê? — Ele perguntou, se afastando o suficiente
para me olhar nos olhos, procurando meu rosto.
— Experiências traumáticas, — eu disse a ele, dando de ombros.
— Você não ignora algo assim, — ele me disse, as sobrancelhas franzindo.
— Por que não? É verdade. Não é grande coisa.
— Se isso não foi dos três primeiros, Miller, isso é grande coisa.
— Melody, — eu disse a ele, sentindo a surpresa inundar meu corpo ao me
ouvir dizer isso, admitir isso, compartilhar isso com ele. Eu nem compartilhei isso
com meus colegas de trabalho mais próximos, com aquelas pessoas que eram como
110
família. Não compartilhei com os homens com quem dormi. Com ninguém. Pelo
menos não por vontade própria.
— O quê? — Ele perguntou, balançando a cabeça um pouco.
— Meu nome, — esclareci, já que não havia como recuperá-lo agora. E,
francamente, eu não queria. — Melody, — eu repeti. — Agora você vê por que odeio
tanto, — eu disse a ele, tentando acrescentar alguma leveza. Mesmo se eu estivesse
mentindo. Na verdade, gostava secretamente do som dele. Agradável e doce,
lírico. Coisas que as pessoas muito raramente diriam sobre mim, coisas que eu
talvez às vezes quisesse ouvi-las dizer.
— Melody, — ele repetiu, e a maneira como rolou de sua língua foi ainda
melhor do que eu imaginava. — Lindo, — acrescentou.
— Ele realmente não combina comigo, mas é o que é.
— Combina com você, — ele corrigiu, balançando a cabeça, deixando-me
me afastar um pouco, pensando que esse era o momento perfeito para uma
pequena distância física, já que as coisas pareciam emocionalmente bastante
próximas.
— Você não deveria ter feito isso, — eu disse a ele, limpando a garganta um
pouco sem jeito, não querendo que minha voz continuasse soando tão, bem, rouca.
— Feito o quê? Consolado você? — Ele perguntou.
— Não, bem, sim, mas não. Você não deveria tê-lo matado, — esclareci,
movendo-me para me sentar, cruzando as pernas, sentindo meu cabelo cair para
cobrir meu rosto. — Você deveria tê-lo mantido para interrogatório. Por qualquer
meio necessário. Você sabe disso, — acrescentei.
— Ele tocou em você. Ele tinha que morrer.
— Isso é ridículo.
— Não é ridículo, — ele retrucou, sentando-se contra a cabeceira da cama.
Caso você esteja se perguntando, sim, sim, observei como os músculos
abdominais se contraíam com o movimento. Como as coisas não eram
problemáticas o suficiente entre nós dois, eu tive que ir e reacender a resposta
natural do meu corpo ao seu corpo muito bem tonificado.
— Sim, é. Então ele provavelmente veio me matar, deu alguma apalpada,
você ainda teria conseguido algumas informações úteis dele se o mantivesse vivo.
111
— Ele fez o quê? — Ele perguntou, me fazendo perceber que a pequena
informação que ele não estava a par escapou dos meus lábios, transformando seus
olhos em pequenas fogueiras.
— Nada. Não foi nada. Ele provavelmente estava apontando para o meu braço
ou algo assim.
— E ele pegou sua bunda? — Ele perguntou, parecendo completamente
confuso.
— Ele pegou meu peito. Realmente, não é nada. Relaxe. — Eu exigi quando
seu corpo ficou tenso novamente. — Não é como se você pudesse trazê-lo de volta
à vida para matá-lo novamente, mais lentamente, — eu disse, balançando a
cabeça. — Quero dizer, entendi. Era um dos seus homens. Ele traiu você. Isso é
péssimo. Mas teria sido um ativo valioso para interrogar, sabe? Nós nem sequer
sabemos quanto tempo ele estava trabalhando para Chernev.
Para isso, recebi um suspiro. Do tipo sofredor.
— O quê? — Perguntei quando ele saiu da cama, irritado, mas eu não
conseguia entender o porquê.
— Nada. Fique aqui. Eu tenho que lidar com algumas coisas. Alexander
estará do lado de fora da sua porta com Laird, se você precisar de alguma coisa, —
acrescentou, entrando em seu armário, pegando uma camisa branca de botão,
vestindo-o, mas deixando desabotoado enquanto se dirigia para a porta.
— Christopher, — eu chamei, parando-o, virando para olhar para mim.
— Sim?
— Obrigada, — eu disse a ele.
Ele me deu um aceno tenso antes de desaparecer no corredor.
Alguns minutos depois, houve uma batida hesitante, me fazendo pular. —
Sim?
— Quer algo para comer? — Alexander perguntou, parecendo exausto.
— Não, eu estou bem.
— Café então? Vai ser um longo dia a partir do som das coisas.
— Se alguém fizer um pouco, traga-me uma xícara. Mas não deixe ninguém
me fazer uma.
— Ok.
112
— Estou falando sério, Alexander, — eu disse a ele, tentando uma voz severa,
ganhando um pequeno sorriso.
— Eu ouvi você, — ele me disse, fechando a porta.
Sozinha novamente, fui para o banheiro, encontrando tons quentes e
arenosos, uma entrada grande o suficiente para dez pessoas com três chuveiros
separados e uma banheira de imersão que parecia que um ménage poderia
acontecer nela confortavelmente.
Tive uma súbita vontade de entrar nela, mas optei por não. Caso alguém
precise de mim na área principal ou algo assim.
Em vez disso, lavei meu rosto e pescoço, limpando a sensação das palmas
úmidas de Niko.
Eu não percebi que estava ali olhando para o meu reflexo, distraída, até ouvir
um tilintar na minha frente, me fazendo pular, o olhar encontrando Christopher
no espelho.
— Qual é o problema? — Perguntei, vendo-o olhar para o meu reflexo.
— Trouxe um frappé para você. Com chocolate, — acrescentou.
— Eu disse a Alexander apenas para me pegar um café se alguém já tivesse
feito.
— Alexander não pegou. Eu fiz, — ele me disse, dando de ombros.
— Obrigada, — eu disse, agarrando-o, virando-me, encontrando-o muito
mais perto do que eu previa. — O que está acontecendo lá fora?
— Estamos fazendo planos.
— Que tipo de planos?
— O tipo de mantê-la, e a Alexander, seguros, — ele me disse, voltando-se,
afastando-se, deixando-me antes de eu pudesse fazer quaisquer outras perguntas.
O que aconteceu nas próximas horas foi uma incógnita. Eu podia ouvir o
timbre baixo das vozes, alguns passos arrastados, telefones celulares tocando. Mas
nada disso estava perto o suficiente para descobrir alguma coisa.
Eventualmente, eu me encontrei de volta na cama, enrolando-me nos lençóis
que cheiravam tanto a Christopher, encontrando-me fantasiando não dele me
excitando nesses lençóis ridiculamente macios, mas simplesmente me
aconchegando, me abraçando.
Isso me fez dormir em minutos.
113
A próxima vez que eu estava consciente de alguma coisa, houve uma
sensação de cócegas no lado da minha bochecha, me fazendo levantar meu ombro
para afastá-lo, mas prendendo um dedo lá em seu lugar.
Com os olhos arregalados, encontrei Christopher sentado na beira da cama,
completamente vestido com um terno cinza escuro. Significando que ele estava se
movendo no quarto se vestindo enquanto eu estava desmaiada.
— Que horas são? — Eu perguntei, a voz grogue.
— Depois das dez, — ele me disse.
— O que está acontecendo? Meu quarto está pronto para eu voltar?
— Sim, está pronto. Mas, não, você não vai voltar para ele.
— Por que não?
— Vamos lá. Vamos tomar seu café da manhã, — ele ofereceu, em vez de
responder, a cama balançando um pouco quando ele se levantou, estendendo a
mão para tirar minhas cobertas.
Com um resmungo, me sentei, deslizando para fora da cama. — Tudo bem.
Apenas me deixe ir me vestir.
— Você está bem, — ele insistiu, me levando para o corredor. — Vamos lá.
Ele deixou pouco espaço para debate. E eu estava honestamente com fome o
suficiente para não me importar com a quase nudez perto de seus homens.
A casa, no entanto, estava surpreendentemente quieta em comparação com
a agitação da noite anterior.
— Ah, aí está ela! — Cora cumprimentou, correndo em minha direção, os
braços estendidos, me puxando para um abraço tão forte que achei difícil
respirar. — Como você está? Você está bem? Sua pobre menina!
— Estou bem, Cora, — insisti, oferecendo a ela um sorriso convincente. —
Sério, — acrescentei quando ela continuou me olhando entrecerrado.
— E pensar, — ela disse, virando-se, fazendo um prato para mim, — você
deu a aquele homem comida extra.
O sorriso foi imediato e grande. Voltando-me para Christopher, vi uma luz
semelhante em seus olhos.
— Ele nos enganou, Cora, — disse Christopher, em tom de desculpas. —
Acima de tudo a mim.
114
— Boa viagem para ele, — retrucou Cora, virando-se, colocando uma tigela
de frutas frescas e iogurte na minha frente. — Coma, querida, você tem um longo
dia pela frente.
— Eu tenho? — Perguntei, voltando minha atenção para Christopher,
esperando uma explicação.
Ele se moveu pelo outro lado do balcão, aceitando os cafés de Cora que se
desculpou saindo para o jardim, nos deixando sozinhos.
Christopher passou um café para mim, pegando o dele e encostando-se na
pia. — Estamos saindo, — ele me disse. — Em uma hora.
— Saindo para ir aonde? Você está me mandando para casa? — Isso foi
decepção no meu tom? Quando deveria ter havido alívio?
— Eu não estou, — ele me disse, e não havia explicação para a onda de alívio
que senti.
— Então para onde estamos indo?
— Em algum lugar mais seguro por enquanto, — ele me informou.
— Você vai me dizer onde?
— Quanto menos pessoas souberem agora, melhor.
— Seus homens sabem?
— Eles sabem que estamos indo. Apenas três sabem para onde. Apenas três
farão a viagem conosco.
— E sobre Cora?
— Cora ficará com o marido. Ela estará segura.
— Você tem certeza?
— Eu não a deixaria em perigo.
— Como vamos comer? — Perguntei, fazendo uma risada estranha, um bufo
escapar dele.
— Você esteve aprendendo.
— Eu não tenho receitas.
— Nós vamos descobrir algo.
— Onde está Alexander?
— Laird o levou para a cidade alguns momentos atrás. Até termos certeza
das coisas, nem todos os movimentos de uma vez são mais seguros. Você comerá.
Vamos arrumar suas coisas e depois iremos.
115
— Eu não tenho voz nisso, hein?
— Tenho que mantê-la segura, Melody.
Eu quase tinha esquecido que lhe disse meu nome. E o choque causou um
arrepio no meu corpo. Felizmente, apenas por dentro.
— Eu entendo, — concordei.
— Você não vai discutir comigo?
— Não desta vez, não, — eu disse, terminando meu café da manhã, levando-
o para a pia, sentindo uma pontada momentânea de arrependimento por não poder
mais cozinhar com Cora por um futuro próximo. — Eu vou me vestir. Você tem
alguma mala extra? Ou, eu não sei, uma caixa ou algo assim? Eu só posso arrumar
algumas coisas."
— Arrume tudo. Coloquei mala no seu quarto.
— Oh, ok. Ótimo. Hum... eu só preciso de vinte minutos, — eu disse a ele,
indo em direção ao meu quarto.
Parei dentro da porta, olhando imediatamente para o local em
que Christopher havia batido a cabeça de Niko na parede.
A janela tinha sido reposta.
O sangue se foi completamente.
Havia cortes na madeira, no entanto, evidências dos eventos da noite
anterior.
Respirando fundo, cheirei lixívia.
Forçando meu foco para longe de toda a provação, peguei a mala enorme que
Christopher havia me deixado, enchendo-as de todas as coisas que ele havia
adquirido para mim, escolhendo uma saia longa branca e uma blusa preta para o
dia, e me arrumando.
— Eu posso levar uma, — insisti quando Christopher pegou as malas.
Ele não disse nada, apenas se virou e saiu do quarto, esperando que eu o
seguisse.
E sem mais nada para fazer, fiz exatamente isso.
Uma vez lá fora, ele entregou as malas para dois de seus homens, os dois
que eu imaginei estavam vindo conosco, junto com Laird.
— Estamos fazendo isso rapidamente, — Christopher me informou, deixando
um dos homens ir à nossa frente, e eu pude sentir o outro se mover atrás.
116
Christopher estendeu a mão, agarrando a minha, apertando com força.
Antes que eu pudesse processar completamente isso, estávamos saindo.
E por sair, quero dizer correndo.
Estávamos todos correndo.
Descendo as escadas estreitas e sinuosas a um ritmo vertiginoso.
Instintivamente, sem conhecer os degraus como Christopher, que os
percorria com tanta frequência, minha mão apertou a dele, sabendo que ele poderia
me impedir de cair de cara ou rolar se eu tropeçasse. Por incrível que pareça,
quando descemos, homens de todas as outras casas-cavernas estavam em pé em
seus jardins, olhando ao redor. Quase como, eu não sei, vigias improvisadas.
Parecia ridículo. Mas, novamente, um homem com o tipo de poder que
Christopher tinha claramente poderia ter feito isso acontecer. E, ao fazer isso,
ganhou um pequeno exército para ajudá-lo a planejar sua fuga.
Minha mão livre se levantou, limpando o suor da minha testa enquanto os
homens continuavam seu ritmo implacável, fazendo minha respiração começar a
sibilar, meu peito ficando apertado.
Bem quando pensei que não aguentava mais, passamos o último degrau, e
Christopher me puxou para frente, me empurrando para dentro de um carro à
espera, me fazendo quase cair no colo de Alexander.
Christopher deslizou atrás de mim, deixando-me apertada entre os dois
homens quando um dos guardas entrou na frente ao lado de Laird e o outro jogou
minhas malas na traseira do SUV e subiu com eles.
— Você vai conseguir? — Alexander perguntou, sorrindo para mim, que
tragava ar.
— Não a provoque, — exigiu Christopher, pegando uma garrafa de água
entregue a ele por Laird, torcendo a tampa e passando para mim. — Ela não foi
capaz de sair de casa. Seu corpo não está acostumado a atividades.
Se Alexander achou o comentário de seu irmão incomum, ele não disse
nada. Ambos os irmãos afastaram sua atenção de mim enquanto eu bebia a água.
A viagem de carro foi curta, deixando-nos em uma pista de pouso vazia,
exceto pelo jato particular estacionado ali, esperando por nós.
— Estarei de volta, — o guarda no banco do passageiro nos disse, pegando
uma arma no bolso do peito, o sol refletindo nele, cegando com o sol do meio-dia.
117
Ele cumprimentou o piloto e depois entrou, presumi, para inspecionar o
avião para garantir que não havia ninguém a bordo que não deveria estar.
Ele voltou, dando um aceno a Laird. Chegamos mais perto. A mão de
Christopher agarrou a minha novamente, me puxando para fora do carro quando
Laird levou Alexander para dentro do avião.
Christopher disse algo em grego ao piloto quando passamos, um de seus
homens se movendo atrás de nós como um escudo humano até ficarmos fora de
vista.
Eu estive em alguns jatos particulares na minha vida. Era o que eu esperava.
Havia cerca de uma dúzia de lugares para se sentar entre banco, a mesa, as
cadeiras e as espreguiçadeiras. As cores eram brancas e bétulas, claras e arejadas,
o que a tornava menos claustrofóbica.
Christopher me levou para uma das espreguiçadeiras mais próxima da
janela, para que eu pudesse ver a vista.
Uma vez que estávamos todos sentados e afivelados, o piloto falou pelo alto-
falante em grego, a maior parte passando pela minha cabeça. Eu conhecia algumas
frases no idioma, mas não o suficiente para acompanhar seu discurso rápido.
— Isso foi impressionante, — eu disse a Christopher, seu olhar se movendo
para mim, os lábios tremendo um pouco.
— Sim?
— Sim.
— Espere até ver a próxima parte.
118
9
Miller
119
— É como estar em um país diferente, — concluí, balançando a cabeça
quando saímos do avião.
— Pensei o mesmo algumas vezes em que visitei os Estados Unidos, —
Christopher me disse, olhando a paisagem. Um pouco paranoico, decidi, mas
realmente não podia culpá-lo. Se alguém da minha equipe tentasse me matar, eu
não tinha certeza de que alguma vez poderia confiar em alguém novamente. —
Nova York e Montana também poderiam ser países diferentes.
— Isso é justo. É um país grande.
— Você cresceu em... Nave-eh...
— Nav-eh-sink, — eu corrigi. — Navesink Bank? Não. Eu cresci na cidade de
Nova York.
— Por que você saiu? — Ele perguntou, e talvez tenha sido o momento em
que mais tentou me envolver em uma conversa desde que nos conhecemos.
— Más lembranças, — disse, porque era verdade, e descobri que queria
compartilhar isso com ele.
— Os lugares de um a cinco? — Ele perguntou.
— O primeiro e o quarto lugares, pelo menos, — eu concordei, encolhendo os
ombros quando entramos em outro SUV, a proximidade dos outros tornando a
conversa privada impossível, então nós dois ficamos em silêncio.
A viagem durou cerca de quarenta e cinco minutos, a estrada acidentada,
fazendo nossos corpos serem empurrados, fazendo-me precisar cerrar os dentes
para impedir que batessem.
Passamos pela cidade final e subimos uma montanha, uma longa casa com
telhado de ardósia aparecendo.
Lar era um tanto suave pelo o que era.
Realmente, provavelmente foi originalmente construído como uma espécie de
resort.
Como todas as outras casas da região, as paredes e os telhados também eram
de pedra. Uma varanda comprida e murada envolvia todo o edifício, provavelmente
oferecendo vistas deslumbrantes do mundo abaixo. Vasos de flores gigantes
alinhavam-se na varanda, um jardim em miniatura com várias hortaliças e flores,
algumas das quais eu estava começando a reconhecer por Cora mostrando-as na
120
casa-caverna. Orégano. Manjericão. Alecrim. Se eu ia estar no comando da
cozinha, eu iria precisar de toda ajuda das especiarias que poderia receber.
— Temos que correr e nos esconder aqui também? — Perguntei, sentindo o
pavor penetrar na ideia de apenas ver essa vista através de uma janela.
— Não, — Christopher me disse, saindo do carro, pegando minha mão para
me ajudar. — Esta casa ainda está em nome do proprietário, embora eu paguei-
lhe por ela. Costumava ser um retiro de bem-estar. Ele ficou velho demais para
mantê-la. E eu precisava de um lugar seguro, caso Santorini se tornasse perigosa.
— Inteligente, — eu disse a ele, percebendo que ele ainda tinha que largar
minha mão, mesmo quando começamos a caminhar pelo longo caminho em direção
a casa. Mesmo percebendo isso, eu escolhi manter minha mão na dele, mesmo que
cada parte de mim soubesse que as coisas só ficariam cada vez mais complicadas
se eu não mantivesse limites firmes no lugar.
No momento em que estávamos pisando na varanda, a porta da frente se
abriu, trazendo à tona um trio de cachorros latindo e um homem baixo e robusto,
com a charmosa cabeça careca e a barriga caída.
— Aí está você! — Ele disse, os braços levantados, indo direto para
Christopher. E, não estou brincando, ele pegou as bochechas, puxando-as para
baixo e beijando-as.
Não havia como parar o sorriso que se espalhou pelo meu rosto, mesmo
quando o leve rubor percorreu o de Christopher. Porque, realmente, quem em sã
consciência agarrava o rosto de um lorde do crime e beijava suas bochechas? Foi
fantástico. E o fato de Christopher ter ficado tão claramente balançado e
envergonhado por isso tornou tudo ainda melhor. — Este, — disse o homem,
olhando para mim, — este é um homem bom, sim?
— Eu, ah, sim, — eu concordei, assentindo. Eu queria afirmar que era
porque fui encurralada. Mas não havia muita discussão sobre o assunto,
havia? Ele era um bom homem. Um homem que se esforçou ao máximo para salvar
seu irmão, que defendia os que estavam sob seus cuidados, que tratava seus
funcionários com respeito, que se certificava de que você estivesse o mais
confortável possível em sua casa? Essas eram características de bons homens.
Quanto a me manter um pouco contra a minha vontade? Bem, eu tinha que
admitir, foi uma jogada que provavelmente poderia ter visto um dos caras do meu
121
trabalho fazendo se achasse que era a única maneira de conseguir o que precisava,
ou para proteger suas mulheres. E se eu não os culparia por fazê-lo, era difícil
continuar encontrando defeitos em Christopher por fazer a mesma coisa.
— Este é Antony. Antony, esta é a Srta. Miller, — Christopher explicou.
— Prazer em, ah, conhecê-la — disse Antony, me dando um sorriso caloroso.
Supondo que ele era o proprietário anterior, dei outro exame ao local e depois
sorri. — Esta é uma linda casa, — eu disse a ele.
— Oh, obrigado, obrigado. Não era tão legal quando o Christopher aqui
chegou. Ele deixou tudo muito agradável de novo.
— Antony, eu lhe disse que você não precisava vir até aqui em cima, — disse
Christopher. — Está muito fora do seu caminho, — acrescentou.
— Oh, não. Não tem problema. Trouxe minha filha. Ela está preparando a
casa para os convidados.
— Isso não era necessário, — disse Christopher. — Mas eu agradeço.
— Tínhamos que torná-la agradável, — insistiu Antony. — Oh, esse é o
pequeno Alexander? — Ele se emocionou, correndo em sua direção, fazendo os
olhos de Alexander se arregalarem quando o homem o abraçou e o beijou como
velhos amigos.
— A última vez que estivemos aqui, Alexander tinha apenas nove anos, —
explicou Christopher.
— Você tem uma casa assim e não vem aqui há seis anos?
— Eu estive ocupado, — ele disse, dando de ombros. — E é melhor manter
isso o mais secreto possível. Você não pode fazer isso se tirar férias aqui todo verão.
Isso era justo. Mesmo que fosse uma vergonha.
— Ele deve vir aqui frequentemente, — eu disse, afastando-me de
Christopher, verificando as plantas na varanda. Entre as especiarias, havia plantas
resistentes de tomate com grandes frutas vermelhas, abobrinha, vários vegetais,
berinjela e feijão.
— Ele gosta do lugar. Ele provavelmente fica aqui de vez em quando. Mas ele
manteve uma pequena equipe cuidando dos terrenos para impedir que o local se
tornasse muito cheio de ervas daninhas.
— Eu entendo o carinho dele. Este é um pequeno oásis, — admiti. O que eu
disse foi um pouco florido, mas era verdade mesmo assim. Eu podia ver esse lugar
122
funcionando absolutamente como um retiro de bem-estar. Os hóspedes que
ficavam sobre esta varanda e olhavam para a visão que eu estava olhando teriam
sido capazes de tomar a sua primeira respiração profunda em um longo tempo,
respirando nada além de ar limpo e o cheiro de terra com árvores e plantas.
— Estou feliz que você gostou, — ele disse, movendo-se ao meu lado. —
Podemos ficar aqui um tempo, — acrescentou.
— Você está preocupado com o resto de seus homens, — concluo.
— Se fui capaz de ignorar a traição de Niko, não me sinto confiante de que
tenho, qual é a palavra...
— Examinado, — sugeri.
— Sim, examinado, todos os meus homens corretamente.
— Como você vai fazer isso daqui? — Perguntei, sobrancelhas franzidas.
— Eu terceirizei esse problema em particular, — ele me disse.
— Quem você contratou? — Perguntei. — Eu provavelmente o conheço.
Todos nós, solucionadores de problemas, costumamos seguir os mesmos círculos.
— O nome dele é Holden. Ele foi altamente recomendado.
Ele seria.
Ele era o melhor no que fazia.
E a única razão pela qual ele não trabalhava na Quinton Baird & Associados
era porque Quin não era o maior fã de seus métodos. O que geralmente incluía
várias formas de contra interrogatório que às vezes podiam se tornar violentas.
Cruelmente assim, se ele achava que alguém estava escondendo algo dele. E Quin
gostava de saber que seu povo tinha um pouco mais de restrição do que isso. Eu,
pessoalmente, pensei que o Inquisidor tinha um toque muito bom nisso.
— Então, você definitivamente terá as respostas que precisa.
Para isso, ele assentiu. — Nós apenas precisamos dar um pouco de tempo.
— Bem, se tivermos que ficar presos em algum lugar, este é o lugar para
estar, — eu disse a ele, encontrando seu olhar no meu, olhos intensos, lábios
prestes a dizer algo.
Mas então Alexander se moveu entre nós. — Maneira de me abandonar, —
ele resmungou. — Ele me beijou seis vezes.
— Ele é doce, — concluí.
— A filha dele beliscou minhas bochechas, — acrescentou, encolhendo-se.
123
— Deve ser horrível ser tão adorado, — eu provoquei, recebendo um olhar
semicerrado.
— Vou fazer uma caminhada. Ou estou preso, diretor? — Ele perguntou.
— Suma, — disse Christopher, dispensando-o. — Gostaria de um passeio
pela casa? — Ele me perguntou.
— Certamente, — respondi.
Esta casa estava em completo contraste com a casa-caverna. Por muitas
razões. Uma delas era que a maior parte da casa-caverna era arredondada nos
cômodos. Esta casa era uma arquitetura típica com linhas limpas. A casa-caverna
era quase surpreendentemente branca, mas essa era toda em tons de
terra, marrons, cremes, verdes, uma pitada de laranja e amarelo nas almofadas no
sofá secional que dava para uma enorme lareira de pedra.
A sala da frente, que eu acho que chamaríamos de sala de estar, embora com
o tamanho da casa, me atrevi a adivinhar que haveria pelo menos três ou quatro
salas com funcionamento semelhante, estava cercada por grandes janelas.
Grandes plantas em vasos enormes estavam espalhadas, deixando as folhas
absorverem o sol.
Como a casa-caverna, ela imediatamente pareceu acolhedora, mas de uma
maneira diferente e mais rústica.
Havia algumas bugigangas sobre a lareira, o que me lembrou de casa, da
minha coleção de coisas.
— Por aqui é a sala de jantar, — disse Christopher, colocando a mão na parte
inferior das costas, fazendo-me pensar que ele havia tentado chamar minha
atenção com pouco sucesso enquanto eu olhava para a sala de estar.
Muito parecida com a sala de estar, este era um espaço enorme e forrado de
janelas, dominado por uma mesa de tábuas de madeira maciça com acabamento
em mogno, ladeada com cadeiras estofadas em branco. Do outro lado de onde
estávamos, contra a parede oposta, havia um aparador comprido com um espelho
emoldurado em madeira.
E naquele espelho, eu não pude deixar de ver nós dois refletidos. Também
não pude deixar de notar que fazíamos uma imagem muito boa. Ele um pouco mais
do que eu porque, vamos ser sinceros, o homem literalmente saiu da cama e
cometeu homicídio enquanto parecia um maldito modelo da Gucci.
124
— Aqui por trás é a cozinha, — acrescentou, levando-me através de um
conjunto de portas em vaivém.
Eu me acostumei com a eficiência de sua cozinha reduzida na casa-
cavernas. Esta não era aquela. Era uma cozinha gourmet. Era o tipo de lugar
destinado a uma equipe de pessoas para trabalhar confortavelmente em conjunto
para criar refeições para dezenas de convidados.
Havia uma ilha longa e larga no centro com um tampo de aço inoxidável,
combinando os dois refrigeradores enormes, a máquina de lavar louça, o fogão
sofisticado com dez bocas e a pia. Os armários eram uma cor de mel quente, e
como as outras salas principais, o sol entrava por uma miríade de janelas.
— Cora já viu esse lugar? — Perguntei, avançando, passando a mão pela
borda fria do balcão.
— Infelizmente não.
— Ela poderia fazer maravilhas aqui.
— Você também pode.
— Eu posso tentar, — eu corrigi, balançando a cabeça. — Mas não sou como
a Cora. Não tenho uma dúzia de receitas memorizadas.
— Você vai descobrir.
— Ou todos nós vamos morrer de fome, — eu disse, bufando. — Tudo bem.
O que mais esse lugar tem? — Perguntei.
Descobriu-se ser muito.
O andar principal também tinha uma biblioteca cheia de livros e cadeiras
implorando para se afundar nela. Havia uma sala de jogos com mesa de sinuca,
mesa de air hockey e mesa de baralho.
— Confie em mim, você não quer jogar cartas comigo, — eu lhe disse quando
ele sugeriu que era provavelmente a única coisa na sala que ele já havia usado.
— Não? Má perdedora? — Ele perguntou, os lábios tremendo. Provocando.
Ele estava me provocando.
— Eu não saberia, — respondi, levantando um pouco o queixo. — Eu nunca
perco.
— Isso parece um desafio, — concluiu.
— Não podemos jogar por dinheiro. Já que parece que estou sem todos os
meus pertences pessoais.
125
— Vamos jogar por algo muito mais valioso, — ele disse, em tom profundo.
— O que seria? — Perguntei, sentindo meu coração acelerar com a
intensidade em seus olhos.
— Informação.
— Que tipo de informação?
— Escolha do vencedor.
Isso era arriscado.
Por muitas razões. Eu tinha muitas histórias que nunca havia contado a
ninguém. A ideia de fazer isso fez meu estômago sentir uma cólica dolorosa.
Dito isto, eu tinha que imaginar Christopher se sentia da mesma maneira
em relação a um pouco de seu passado, a partes sensíveis de sua vida.
E se ele estava disposto a correr esse risco, por que eu deveria desistir?
— Tudo bem, — eu concordei, assentindo. — Depois do jantar.
Depois de me levar ao andar inferior, onde encontrei uma piscina coberta,
uma banheira de hidromassagem e uma sauna, voltamos para cima, encontrando
o nível dos quartos.
— O que você quer dizer com escolha um? Onde você está ficando? Onde
Alexander está ficando? Eu não posso simplesmente escolher qualquer um.
— Alexander está no quarto do sótão. Ele o reivindicou quando era jovem.
Quando ele estava interessado em astronomia. Ele ainda tem seu telescópio lá em
cima. Você pode escolher qualquer um desses.
— Tudo bem, bem, este tem vista para onde você pode ver o rio. Então... eu
vou com esse aqui, — concluí depois de olhar do segundo para o último no
corredor. — O quê? — Perguntei, as sobrancelhas franzindo.
— Nada, — ele me disse, mas não foi nada convincente.
Não foi até muito mais tarde, depois de desfrutar de uma refeição preparada
por Antony e sua filha, Maria, quando eu tinha ido ao meu quarto para me trocar
por algo um pouco mais quente, que eu percebi o que Christopher tinha achado
tão interessante sobre a minha escolha de quarto
Porque, enquanto eu estava de pé no banheiro de calcinha e camiseta, uma
porta se abriu, revelando Christopher e o quarto atrás dele.
Quartos adjacentes.
Isso era... completamente tentador demais agora, não era?
126
— Você escolheu aquele quarto por causa disso? — Eu acusei, os olhos
semicerrados.
Ele deu um passo para trás, acenando com um braço dentro de seu quarto,
me convidando para investigar.
E não havia como negar que esse tinha sido o quarto dele por muitos
anos. Ele tinha uma mesa instalada, completa com outra daquelas elegantes
pastas de couro, uma TV de gigante que faltava em todos os outros quartos e um
armário cheio de ternos.
— Apenas uma coincidência interessante, — ele me disse, me observando
enquanto eu me movia, lembrando-me da minha falta de roupa na parte inferior
do meu corpo. — Mas também é bom. Estamos seguros aqui, mas é inteligente do
ponto de vista logístico estar por perto.
— Alexander está no sótão, — lembrei a ele.
— Com uma escada que se recolhe e trava por dentro. Ninguém pode subir
lá a menos que ele queira deixá-los. Eu sei disso por experiência própria.
— Ele está aceitando tudo isso muito bem. Todas as coisas consideradas.
Não pode ser fácil ser retirado da escola, longe de amigos e meninas. Especialmente
na idade dele.
— Pelo menos aqui, ele pode ir à cidade, se quiser. Contanto que mantenha
a boca fechada sobre quem somos e por que estamos aqui.
— Ele é inteligente o suficiente para isso.
— Você pensaria isso. Mas então pode haver uma garota bonita. E garotos
de quinze anos são notoriamente estúpidos em torno de garotas bonitas de quinze
anos.
— Ele já tem uma namorada, — lembrei a ele.
— Garotos de quinze anos também podem ser inconstantes.
— Homens de trinta anos podem ser inconstantes, então acho que não
podemos culpá-lo demais.
— Ele aprenderá com seus erros. Muito parecido com o resto de nós.
— Você planeja que ele trabalhe para você quando for mais velho? — Eu
soltei, sem saber por que estava perguntando, como eu poderia considerar isso da
minha conta.
127
— Isso seria com ele. Depois do ensino médio. Depois da faculdade. Então
ele pode decidir. Você está decepcionada, — ele concluiu enquanto eu passava por
ele, de volta ao banheiro e depois para o meu quarto com sua cama tamanho queen
size com edredom creme e cerca de uma dúzia de travesseiros.
— Eu não disse isso, — disse a ele, caindo na cama.
— Você não precisava. Você é fácil de ler.
— Eu literalmente nunca ouvi alguém dizer isso sobre mim antes, — disse a
ele, me sentindo um pouco surpresa com a ideia. Todo o motivo pelo qual eu era
tão boa no meu trabalho era porque era ótima em não mostrar emoção. Você nunca
saberia se eu estava te sacaneando durante uma negociação, ou se estava sendo
genuína. Eu teria sido morta há muito tempo se não tivesse aperfeiçoado
cuidadosamente essa habilidade em particular.
Ele deu de ombros. — Seus olhos te denunciam. Você acha que eu deveria
querer algo melhor para o meu irmão do que tenho, — concluiu.
— Esse é geralmente o objetivo das figuras paternas em relação aos rapazes
e moças que criam.
— Quero para ele as mesmas coisas que queria para mim quando tinha a
idade dele. Uma profissão estável. Uma renda que o impedirá de se preocupar. A
liberdade de desfrutar de um tempo de inatividade, de tirar férias. Talvez ele ache
isso ao iniciar um negócio por si próprio. Talvez ele encontre um propósito em ser
médico, salvar vidas. Talvez escreva livros ou abra um bar. Ou talvez decida
encontrar essas coisas da mesma maneira que eu.
— Trabalhar para você seria muito mais perigoso do que escrever livros ou
administrar um bar.
— Estar vivo é perigoso, — ele retrucou.
— Sim, mas sua vida mais ainda.
— E a sua não é? — Ele perguntou, erguendo a sobrancelha.
— Nós não estamos falando de mim.
— Quando você tiver uma filha, dirá a ela para não fazer o que você faz para
viver?
Quando.
Não se.
128
Foi uma distinção interessante à qual meu corpo respondeu fisicamente,
meu estômago revirando, minha respiração presa.
Eu não tinha pensado muito nas crianças. Nunca houve qualquer razão para
isso. Minha vida é muito louca para crianças. Sem mencionar minha completa e
absoluta falta de homem com quem eu gostaria de misturar meu DNA para formar
um ser humano.
Apenas a menção de uma filha evocou imagens estranhas, que achei
estranhamente fascinantes.
Uma barriga redonda.
A sensação flutuante de um chute.
Um bebê enrolado em meus braços.
Uma garotinha olhando para mim com um rosto que se parecia muito com o
meu.
Era uma coisa estranha, mas fascinante de se considerar. Mesmo que
houvesse poucas chances de se tornar realidade.
— Eu gostaria que ela fosse amada, apoiada e protegida o suficiente para
nunca precisar escolher uma profissão perigosa.
Percebi que tinha conseguido revelar muito das partes cuidadosamente
escondidas do meu passado quando os olhos de Christopher ficaram pensativos,
parecendo penetrar em mim, analisando.
Eu pensei que ele iria pressionar, exigir mais. Mas quando ele falou, o
que saiu de seus lábios foi inesperadamente doce.
— Qualquer criança teria sorte em ter você como mãe, Melody.
O impacto dessas palavras foi algo que achei difícil de processar, e muito
menos rotular. Mas senti calidez sob esse tipo de elogio. Tranquilizada.
Reconfortada.
Mas não queria que ele visse isso, expondo esse tipo de vulnerabilidade a
ele.
— Você só diz isso porque não sabe que uma vez ensinei uma criança de um
dos meus clientes como desfazer o controle parental em seus computadores para
que pudesse assistir Game of Thrones.
— Quantos anos ele tinha? — Ele perguntou, os lábios se curvando um
pouco.
129
— Ela tinha treze anos.
— Agora estou começando a me perguntar se eu deveria ter controle parental
nos dispositivos de Alexander.
— Eu vi as pessoas terem membros serrados aos dez ou onze anos. E eu me
tornei meio decente.
— Meio decente é muito bom, — ele concordou.
— Além disso, se um garoto adolescente quiser assistir pornô, ele encontrará
uma maneira de assistir pornô. Então, na verdade, eles são inúteis de qualquer
maneira.
— Estamos longe dos dias de tentar convencer um adulto a te comprar uma
revista sacana.
— Tentou subornar velhotes para comprar revistas sacanas, não é? — Eu
perguntei, observando aquele rubor subir em seu pescoço.
Fascinante.
Era isso que era.
Ver um homem tão composto se tornar inconfundivelmente tímido.
Era encantador, na verdade.
Quem teria pensado?
— Pedi aos adultos para me conseguirem muitas coisas quando era menor
de idade. Mas quando se tratava de mulheres, eu gostava de aprender coisas... em
primeira mão.
Isso não deveria ter sido sexy.
Era apenas uma afirmação, nem mesmo uma insinuação.
Mas o que posso dizer, qualquer coisa que envolva a ele e suas mãos, e o que
ele pode ter aprendido a fazer com elas ao longo dos anos? Sim, isso era excitante.
Eu sabia exatamente o que aqueles lábios eram capazes. Só se podia
imaginar que suas mãos eram igualmente hábeis. Junto com algumas outras
partes muito específicas de sua anatomia.
Deus.
Não.
Eu precisava parar de pensar nisso. Especialmente com ele parado ali,
parecendo todo orgulhoso de si mesmo em um terno que poderia parecer melhor
no chão do meu quarto.
130
Felizmente, Christopher interrompeu o silêncio, tirando esses pensamentos
sensuais de minha cabeça.
— Tequila, certo? — Ele perguntou.
— Desculpa, o quê?
— Sua bebida preferida, — ele esclareceu, me fazendo perceber que ele
guardou essa informação no iate de Fenway. Você tinha que respeitar um homem
que tinha muita atenção aos detalhes. Havia algo muito atraente em um homem
que prestava atenção, não havia? Não que eu precisasse de mais razões para achar
este homem em particular atraente.
— Sim, tequila.
— Vou pegar um pouco enquanto você se troca. Então temos um jogo para
jogar, — ele me disse, indo até a porta, me deixando em paz.
Para lembrar que jogo estávamos jogando.
E quão altas eram as apostas.
Eu deveria estar pirando.
Deveria ter suado minhas costas de nervosismo.
Com a ideia de dar a ele algumas das partes feias do meu passado, as partes
de mim e da minha história que escolhi não compartilhar com os outros.
Tudo o que eu podia sentir naquele momento era uma antecipação
inesperada.
Porque talvez, apenas possivelmente, eu tivesse encontrado alguém para
quem queria dar todas essas partes de mim.
Era aterrorizante.
Mas, de alguma forma, sabia que podia confiar nele com essas informações.
Eu sabia que ele não me olharia de maneira diferente por causa disso.
O que isso dizia sobre mim, sobre ele, sobre essa dinâmica entre nós, bem,
eu não fazia ideia.
Mas, pela primeira vez em toda a minha vida, me vi querendo perder, saber
que minha cara que esconde emoções falhou comigo.
Porque eu queria que Christopher soubesse tudo sobre mim.
131
10
Christopher
132
— O que aconteceu com ela?
Para isso, soltei uma risada sem humor, estremecendo um pouco com a
memória. — Entrei no quarto de meu pai algumas semanas depois para vê-la na
cama com ele. Quando lhe contei, ele a substituiu. Nunca mais toquei nas
empregadas.
— Perceber que você estava compartilhando alguém com seu pai é muito
nojento. Você sabe que Fenway perdeu o cartão V para uma rainha de verdade?
Você pode imaginar? — Ela perguntou, balançando a cabeça quando ela começou
a jogar.
Isso foi inesperadamente agradável.
Eu tinha passado um tempo com mulheres antes. Nos cafés. Em
bares. Tivemos conversas muito casuais.
Mas não foi nada assim. Porque sempre houve o entendimento subjacente
de que a conversa era simplesmente um prelúdio para o sexo. Sexo sem
compromisso.
Não havia nada disso com Melody.
Claro, eu queria isso com ela. Estava ficando mais difícil a cada hora manter
o controle sobre mim mesmo sobre essa situação. Mas essa interação foi divertida
e fácil. Apenas dois amigos se conhecendo.
Era agradável.
Era algo que eu poderia me acostumar.
Era algo que eu queria me acostumar.
— Oh, vamos lá, — ela retrucou vinte minutos depois, batendo seu terceiro
copo de tequila com um pouco de refrigerante de limão.
— É verdade, — eu insisti, sentindo meus lábios se curvarem quando ela me
olhou entrecerrado.
— Ninguém prefere bolo simples a todas as outras sobremesas possíveis, —
ela insistiu. — Quero dizer, você já comeu aqueles donuts redondos que Cora faz?
— Eu gosto de coisas que não são tão doces.
— Seu louco, — ela retrucou, balançando a cabeça. — Você já comeu um
bom cheesecake? Você conhece com cereja por cima? Ou um pouco de caramelo?
— Minha avó materna era uma confeiteira. Acho que ela exagerou comigo
quando criança e me fez desistir dos doces desde então.
133
— Acho que faz sentido. Trabalhei em um local de fast food por cerca de cinco
segundos. Ainda não consigo olhar para um nugget de frango sem fazer careta.
Foi na quinta rodada que eu fiz. Quando fiquei realmente pessoal. Quando
fiz a ela a pergunta que estava em minha mente desde que ela fez aquele comentário
sobre experiências traumáticas anteriores.
— Qual foi a sua segunda experiência mais traumática? — Perguntei,
imaginando que ela tinha mais probabilidade de responder a essa pergunta do que
sobre a primeira.
Ela pareceu assustada por um momento, os olhos arregalados, os lábios
entreabertos.
Ela se recuperou rapidamente, porém, recostando-se, pegando sua bebida.
— Eu estava trabalhando na Rússia com Kai. E nenhuma das partes queria
ceder nem um centímetro. Foi uma trapalhada. Estávamos no quarto dia de
negociações. O cliente acabou nos fodendo mentindo para nós, deixando-nos para
lidar com o outro cara e seu grupo. Eles me seguraram na cadeira e quase
espancaram Kai até a morte bem na minha frente.
— Eu fui torturada mais vezes do que estou disposta a admitir. E isso foi
assustador. Mas tudo empalideceu em comparação com ver alguém que me
importo sendo socado, chutado e jogado no chão enquanto eu fiquei lá gritando,
mas não pude fazer nada. Eu ainda não consigo tirar essa imagem da minha
cabeça. Kai tinha cabelo comprido e o homem o pegou por ele, prestes a bater a
cabeça no chão pelo que seria o momento final. Nos meus pesadelos, eles fazem
isso.
— Na realidade, o que aconteceu? — Perguntei, vendo como ela engoliu em
seco.
— Na realidade, eles exigiram o dobro da solicitação. Prometi que teriam. E
então chantageamos o cliente com provas que tínhamos que ele traia sua esposa
dominante, que certa vez atirou nele por olhar para outra mulher.
— Vocês chantageiam os clientes? — Perguntei, os lábios se curvando.
— Quando eles quase matam um dos meus melhores amigos? Foda-se, sim.
Foda-se sim.
Eu gostei disso.
— Como foi isso?
134
— Ele estava tão aterrorizado com a esposa que deu um bônus para cobrir
as contas médicas de Kai. Ouvimos falar dele novamente três anos depois, quando
sua amante tentou contar à esposa sobre o caso.
— Você levou uma vida interessante, — eu disse a ela.
— Foi memorável, com certeza. Muitas histórias para contar em um bar
quando estiver velha.
— Ou para seus netos, — eu ofereci.
— Se eu me acalmar tempo suficiente para ter filhos.
— Você precisa trabalhar tão duro assim?
— Não. Quero dizer, sim, meu trabalho é exigente. Costumo ser mais
ocupada do que muitos caras da equipe. Se quisesse, poderia diminuir a
velocidade. Mas não tenho realmente uma razão sólida para não trabalhar. Não
tenho família para passar tempo nem nada.
— Mas se você não desacelerar, como pode construir uma família?
— Essa é a questão, não é? Deve ser bom ser um cara.
— Por que isso?
— Você é o quê? Dez anos ou mais velho que eu?
— Mais ou menos, — eu concordei, assentindo.
— E ninguém te diz 'quando você vai se estabelecer e ter filhos?
— Você conheceu Cora? — Perguntei, sorrindo.
— Tudo bem, tudo bem, mas você não tem um relógio nisso. Isso deve ser
bom.
— Você ainda é jovem.
— Por enquanto, — ela concordou, passando as cartas para embaralhar. —
Você percebe que Alexander simplesmente escapou, certo? — Ela perguntou alguns
minutos depois, sem sequer tirar os olhos das cartas.
— Sim, — eu concordei, assentindo.
— Você não vai detê-lo?
— Laird o seguirá.
— Então ele recebe a ilusão de rebelião.
— Algo assim, — eu concordei. — No entanto, eu tive muitos problemas com
os homens do meu pai me seguindo na idade dele.
— Ah, sim? Como o quê? Bebendo com seus amigos na praia?
135
Meus lábios se curvaram com isso, — Como começar uma agitação por conta
própria.
— Que tipo de agitação?
— Trabalhei como vigia de um ladrão de carros. Ganhei um bom dinheiro
que não precisei pedir ao meu pai.
— Ele descobriu?
— Claro que sim.
— O que ele fez?
— Pegou uma parte dos meus ganhos.
— Ele não fez.
— Ele fez. Me disse que era uma lição.
— Qual foi a lição?
— Que ninguém ganhava dinheiro na Grécia sem ele conseguir alguma coisa.
Nem mesmo o próprio filho.
— Uma pequena visão do homem que você se tornou, — ela disse, parecendo
satisfeita em me conhecer melhor.
Ou talvez isso fosse uma ilusão.
Embora porque eu estava desejando coisas como essa estivesse além de mim.
Ela era uma mulher fascinante. Mas ela era passageira. Mesmo se eu
estivesse no mercado por aquela esposa que sempre considerara parte do
meu futuro, Melody não era uma opção.
Talvez fosse apenas a frustração sexual, o fato de eu a querer. Eu não
conseguia lembrar de uma única instância no passado em que queria ir para a
cama com uma mulher e depois não fui. Quando nós dois claramente o desejamos.
As próximas duas rodadas foram para ela, fazendo-me questionar seriamente
minhas habilidades no poker e fazê-la ficar mais barulhenta e mais orgulhosa de
suas vitórias. Ela fez perguntas cada vez mais invasivas, mas principalmente sobre
minha infância, sobre minha educação.
Ninguém nunca me perguntou coisas assim. Se eles iam me fazer perguntas,
queriam saber sobre o homem que eu era. Ou, mais precisamente, sobre minha
profissão, sobre como consegui ser o que sou.
Era estranho, de fato, refletir sobre minha educação por conta própria,
quanto mais com outra pessoa e suas contribuições.
136
Descobri que gostei do interesse dela, de seus comentários alegres, do jeito
que ela aceitou a infância incomum que tive sem muito julgamento. Estar exposta
a tantos homens a partir de... estilos de vida alternativos a fez imune à estranheza
da minha vida no início, e atual.
— Droga, — ela sussurrou quando eu coloquei minhas cartas na mesa,
balançando a cabeça.
— Onde você vai? — Perguntei quando ela se levantou e se afastou.
— Pegar outra bebida. Vou precisar.
— Por quê? — Perguntei, observando enquanto ela ia até a garrafa de tequila,
derramando três dedos, deixando cair uma fatia de limão no copo, depois pegando
a garrafa de uísque e trazendo de volta para mim.
— Porque eu sei o que você está prestes a me perguntar, — ela disse, parando
ao meu lado, derramando a garrafa no meu copo. — E eu tenho a sensação de
que você também pode querer uma bebida, — acrescentou, com o rosto cauteloso.
Foi a primeira vez que vi seu rosto completamente fechado, totalmente
ilegível.
Foi então que realmente entendi como ela conseguia fazer seu trabalho, como
conseguia se virar e lidar com homens que não queriam se comprometer, como ela
encarava uma pessoa terrível na cara e nunca mostrou seus verdadeiros
sentimentos.
— Como você sabe que eu vou te perguntar isso? — Perguntei, levantando
meu copo para tomar um gole.
— Porque está incomodando você desde que eu deixei escapar.
— Você poderia me dizer para me foder, — eu ofereci.
— Isso não seria justo, agora, seria? — Ela perguntou, tomando um longo
gole. — Tudo bem, — ela disse, colocando o copo sobre a mesa. — Pergunte-me, —
ela exigiu, levantando o queixo, mantendo o contato visual irritante, desafiando-
me a perguntar, querendo que eu fizesse.
Terminei minha bebida, me inclinei para frente e descansei os braços sobre
a mesa.
— O que aconteceu com você, Melody?
137
11
Miller
138
Nós estabelecemos isso. Todo mundo sabia disso.
Meu pai não valia nada.
Mencionei o fato aos meus colegas de trabalho. Alguns de nós lamentamos
isso. Os outros, aqueles com vidas domésticas felizes que não podiam relacionar,
se simpatizaram.
Eles não poderiam ter sabido, na verdade, não mesmo.
Você não podia fazer alguém entender como era ter a única pessoa em sua
vida, a pessoa da qual você era totalmente dependente, não ser confiável. Sem
experiência, não dava para entender verdadeiramente a barriga vazia, os hábitos
de vida incertos, a vergonha de ter um pai que era um desastre. Quando todo
mundo sabia disso.
Lembrei-me das cozinhas da minha infância, com detalhes perfeitos. Os
pisos de linóleo que estavam tão desgastados que os padrões eram difíceis de
distinguir, os armários pendurados nas dobradiças e a sujeira endurecida na parte
superior do fogão.
Não importava em que apartamento estávamos, todos pareciam variações do
mesmo espaço.
Tudo horrível.
Tudo imundo.
Sempre que eu queria um lanche, se houvesse um disponível naquele dia ou
semana, eu entrava na cozinha e alcançava o armário, me preparando. Porque
sabia o que ia acontecer. Baratas iriam cair quando abrisse a porta.
Lembrei-me de uma vez quando tinha seis ou sete anos, uma das baratas
caindo na minha blusa.
Lembrei-me de gritar e chorar.
Lembrei-me de meu pai xingando quando ele se arrastou do sofá cheio de
buracos de queimadura de cigarro.
Lembrei-me dele vindo em minha direção.
Lembrei-me de pensar que ele iria me ajudar, tirar o inseto, matá-lo, me dizer
que estava tudo bem.
Porque pensei nisso estava além de mim, porque nada sobre meu pai jamais
sugeriu que ele me oferecesse palavras reconfortantes.
139
Mas, eu acho, as crianças perdoavam, não importa o quão fodidos seus pais
estivessem, quantas vezes eles os decepcionassem.
Ele não pegou o inseto.
Não.
Ele me bateu com as costas da mão pela cozinha, gritou comigo por gritar,
dizendo que estava com dor de cabeça. Meu pai sempre teve dor de cabeça. Ele
quase sempre estava com raiva. E ele costumava me bater.
Porque essa lembrança se destacou mais do que as outras vezes estava além
de mim. Talvez por causa do inseto. O duplo trauma de tudo.
Meu lábio se abriu, e lembrei-me de provar o gosto de cobre enquanto
sacudia a barata da minha blusa, pisei nela com o sapato, limpei o corpo e fui
chorar silenciosamente na cama, de barriga vazia, alma igualmente nua.
Foi só aos dez ou onze anos que entendi por que meu pai passava tanto
tempo vomitando, balançando no sofá, encharcado de suor, gemendo, xingando,
gritando comigo se eu ousasse estar em qualquer lugar perto dele.
Eu vi o padrão primeiro.
Toda sexta-feira à noite, ele nunca voltava para casa do trabalho. Muitas
vezes não o via novamente até domingo à noite, trazendo para casa algo em uma
sacola para jogar para eu comer, talvez me ajudando com algum dever de casa ou
até mesmo limpando obsessivamente.
Mas na segunda-feira à noite, tudo acabara.
E veio a espiral descendente.
Eu entendi que na sexta-feira ele tinha dinheiro. E todo o fim de semana, ele
ia embora, gastando. Sobre o que, levei um tempo quase embaraçosamente longo
para descobrir.
Que meu pai era viciado.
Que ele gastava esse dinheiro em drogas.
Quando eu tinha treze anos, entendi que era heroína.
E então, ele estava em uma espiral realmente descendente. Mal mantendo
qualquer emprego. Constantemente nos fazendo ser despejados. Perdendo peso.
Tudo realmente veio à tona quando eu tinha dezesseis anos e ele foi preso
sob acusação de posse, recebendo oito meses. O que significava que eu precisava
passar algum tempo no sistema.
140
Eu tinha ouvido todas as histórias de horror sobre assistência social
crescendo. Inferno, meu pai costumava me ameaçar com isso, me dizendo o quanto
era pior do que estar com ele.
Na realidade, porém, eu estava pelo menos alimentada. Os cheques do
governo garantiram de que eu soubesse que havia um teto sobre minha cabeça. E
estive no inferno por muito menos.
Mas então ele saiu.
Ele estava 'limpo'.
E eles me mandaram de volta.
Eu estava cansada o suficiente da vida para não me surpreender. Ou ser
muito decepcionada.
Eu estava apenas aproveitando meu tempo até que pudesse me mudar, até
que talvez pudesse entrar na faculdade comunitária local, criar uma vida melhor
para mim. Ficar longe do meu pai.
Tudo pareceu um pouco melhor por algumas semanas.
De alguma forma, ele enganou seu chefe para lhe devolver seu antigo
emprego. Ele trouxe seus cheques de pagamento para casa, encheu a geladeira,
até me comprou algumas roupas novas e uma mochila que não estava presa com
fita adesiva que 'emprestei' do síndico.
Não havia abrandamento nisso, nem descida lenta. Um dia, tudo estava bem.
No outro, ele estava de volta no lado ruim da farra, olhos pequenos,
vomitando no banheiro.
Eu gostaria de dizer que estava tão acostumada a isso que minha barriga
não gelou.
Mas gelou.
Talvez uma parte de mim tenha visto que isso era diferente, que aquilo estava
piorando.
Eu pisava em cascas de ovos.
Algo estava vindo.
Eu não sabia o que ou quando.
Eu não poderia ter antecipado a realidade, no entanto.
Por mais terrível que meu pai tenha sido, na maior parte, ele foi mais
destrutivo para si do que para mim. Levei surras e estive machucada e nunca me
141
senti segura ou estável, mas tinha certeza de que ele se machucava mais do que
me machucava.
Tudo mudou naquela tarde.
Era uma quarta-feira depois de uma sexta-feira que ele havia perdido o
emprego novamente. O que significava que não haveria dinheiro. O que significava
que ele estaria no fundo de um buraco de desintoxicação.
E desesperado.
— Eu não sabia o quão desesperado, no entanto, — eu disse a Christopher,
respirando de novo com firmeza. Porque todas essas coisas que eu disse a ele para
iniciar, foram preâmbulos, constituídas para o grande evento.
Eu estava atrasada na escola naquele dia, ficando presa no armário por esse
cara que eu estava de olho em toda a minha aula de biologia, falando sobre sair
um dia, talvez. Fazendo meu pequeno coração adolescente pular todas as
possibilidades, a chance de algo normal, algo bom, algo feliz em uma vida tão
desprovida disso.
Quando entrei, lembrei que estava cantarolando. Apenas um hit pop-rap
bobo sobre me apaixonar.
Eu nunca mais ouvi aquela música sem me sentir mal.
Parei de cantarolar quando entrei na porta para encontrar meu pai na sala
de estar. Mas, pela primeira vez, ele não estava sozinho.
A porta se fechou atrás de mim.
E meu estômago deu um nó imediatamente.
— Meu pai não tinha amigos, — informei Christopher.
Ninguém se tornava amigo de um buraco negro de uma pessoa.
Algo dentro de mim disse para fugir.
Eu nunca vou entender por que não confiei nesse instinto.
— Você era criança, — Christopher me disse, balançando a cabeça, os olhos
já ficando tristes.
Eu era uma criança.
Mas eu já tinha idade suficiente para pensar que meu pai iria, você sabe, ser
pai, cuidar de mim, me proteger.
Quando tentei voltar e me lembrar daquele momento, não consegui descobrir
o que estava na minha cabeça, o que pensava ao ver o homem.
142
Ele tinha a idade do meu pai, atarracado, pele oleosa e manchas, com
aquelas mãos estranhas e dedos curtos. Lembrei-me de me concentrar nas mãos
por algum motivo. E suas unhas irregulares. E a sujeira debaixo delas.
— Mel, por que você não coloca a bolsa no seu quarto? — Meu pai pediu.
Havia algo estranho em sua voz. Eu não conseguia assimilar, mas parecia
estranho, enviou um calafrio através do meu corpo.
Eu fiz isso, no entanto, entrei no meu quarto.
Fechei a porta.
Eu não tranquei, no entanto.
Estava vagamente consciente da porta da frente do apartamento se
fechando. E acho que assumi que era o "amigo" do meu pai saindo.
Houve um pouco de alívio nessa suposição.
Mas então a porta do meu quarto se abriu, me fazendo sacudir quando me
virei, preocupada de estar no fim da ira de meu pai novamente.
Mas não.
Eu estava no fim do desespero do meu pai.
Eu tinha razão, ele não tinha amigos.
Ele tinha alguém que gostava de meninas jovens.
Ele tinha alguém que lhe pagaria dinheiro para ter acesso a mim.
Para que ele pudesse ficar apenas mais um dia drogado, mais um dia sem
estar doente.
Isso foi tudo o que valia para ele.
— Seu pai me fez um bom negócio, — disse o homem quando entrou no meu
quarto, virou-se para fechar a porta atrás dele, trancá-la e encostar-se nela.
Eu sabia o suficiente sobre o mundo, sobre como as mulheres poderiam ser
usadas pelos homens, para entender exatamente o que aconteceria a seguir.
Talvez houve um momento de hesitação antes de eu me virar, correr para a
janela, para a escada de incêndio que eu sabia que encontraria fora dela, pela
chance de evitar esse horror.
Mas a janela tendia a grudar.
E o quarto era pequeno.
As mãos me agarraram por trás, puxaram, me fizeram voar para trás,
aterrissando na minha cama com um grunhido.
143
O pânico aumentou através do meu organismo, fazendo meu coração
acelerar, fazendo minha respiração acelerar, diminuir, fazendo minha pele parecer
elétrica.
Tentei rolar do outro lado da cama, mas meus tornozelos ficaram presos em
mãos fortes, puxados para trás.
Aqueles dedos curtos e gordos seguraram firme enquanto eu chutava,
enquanto gritava.
Gritar era inútil, porém, visto que o cara no apartamento ao lado estava
tocando uma porcaria metal como ele sempre fazia. Mesmo que alguém me ouvisse
gritando, eles teriam assumido que fazia parte da música.
E muito rapidamente, uma daquelas mãos veio sobre minha boca, abafando
qualquer um dos sons.
A outra mão vagou sobre mim, agarrou, beliscou, puxou a roupa e o que
estava embaixo enquanto minhas mãos bateram, arranharam, tentaram machucá-
lo o suficiente para afrouxar o aperto.
Assim que uma mão deslizou dentro da minha calça, dentro da minha
calcinha, minha cabeça virou para o lado, vendo minha mochila, lembrando o que
estava escondido no bolso da frente.
Na verdade foi um presente.
Daquele garoto que eu conheci em um orfanato.
Ele era mais velho e se via como uma espécie de ancião, cheio de sabedoria
e experiência.
Ele andou até mim, todo de casaco de couro e as juntas marcadas, abrindo-
o, girando-o nos dedos, depois estendendo-o para mim, com a lâmina voltada para
si.
— As coisas podem ficar feias, — ele me disse. — Você pega isso, mantém
com você e o usa quando precisar.
Lembro-me de pensar que parecia dramático da parte dele dizer 'quando ' em
vez de 'se'.
Acabou que o garoto tinha sido realista.
Minha mão disparou, cavando dentro, tentando encontrar a alça enquanto
minhas calças e calcinhas eram puxadas para baixo, quando senti um peso se
mover sobre mim.
144
Os joelhos abriram os meus no momento em que meus dedos se enrolavam
nele, tiraram e abriam.
Eu não pensei além de senti-lo se curvando sobre mim, sentindo seu peso,
sentindo seu pau contra minha coxa.
Eu apenas balancei com toda a força que possuía.
A faca se alojou no meio do pescoço do homem.
Lembrei-me do abaulamento dos olhos dele, do pânico interno ao ver a
lâmina presa no centro da traqueia do homem, do instinto de puxá-la de volta, do
ofegar e do chiado depois que fiz isso.
E o fato de que ele ainda estava se movendo.
Ainda estava me agarrando.
Uma mão atingiu minha bochecha, enviando faíscas através da minha visão,
criando uma enxaqueca imediata.
Meu braço bateu novamente, esfaqueando.
Uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.
Sangue espalhado por toda parte.
Sobre o meu rosto, pescoço, a cama ao meu redor.
Seu corpo desabou para frente, inconsciente, me prendendo.
Eu lutei contra o seu peso quando ele lentamente sangrava, encharcando
minhas roupas.
— Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. Oh, meu Deus. — Eu ofeguei, finalmente
empurrando seu corpo de mim, me afastando, caindo do lado da cama, tropeçando
nas calças em volta dos meus tornozelos.
Caí para trás contra a porta do meu quarto, ofegando, tentando pensar
durante choque do meu organismo, meu cérebro acelerado.
Não sei quanto tempo permaneci lá assim. Eventualmente, porém, o choque
diminuiu em lágrimas que secaram e me deixaram com pavor.
Independentemente do meu raciocínio, eu matei alguém.
Às vezes, eles não se importavam com o porquê. Eles apenas se preocupavam
com o resultado. Eles só se preocupavam em fechar um caso. Conseguir uma parte
culpada.
145
Eu poderia ir para a cadeia por isso.
Eventualmente, levantei-me com as pernas trêmulas, vesti minhas calças de
volta, me obriguei a respirar devagar e profundamente.
E então meu pai chegou em casa.
— Eu sempre pensava que era ridículo quando alguém que havia sido
acusado de assassinato dizia que ficou inconsciente, — eu disse a Christopher. —
Mas, juro por Deus, fiquei apagada. A próxima coisa que soube foi que estava de
pé sobre meu pai, que tinha facadas no peito e no pescoço.
Eu parecia estar no piloto automático depois disso, tomando banho,
juntando minhas roupas ensanguentadas em um saco, pegando a faca e apenas...
indo embora.
Eu saí.
Joguei as sacolas em uma lixeira atrás de um restaurante chinês.
E eu não voltei.
— Onde você foi? — Christopher perguntou, invadindo minhas memórias,
ajudando meu estômago a relaxar.
— Eu morei nas ruas por um tempo. O que não foi tão ruim quanto pensei
que seria. Era primavera. Imagino que teria sido um inferno no inverno. Mas era
primavera. As pessoas tinham pena de mim e me davam comida. Aprendi a lavar o
cabelo em uma pia com sabonete.
— Como você entrou no mundo em que está agora?
— Eu encontrei aquele cara que conhecia no colegial. Ele estava mexendo
com drogas nas dependências da escola há tanto tempo quanto eu me lembrava. E
ele estava entrando em uma briga com algum outro traficante. De uma gangue
legítima de verdade. Eu intervim. Intermediei um acordo que ambos estavam
felizes. Obtive dinheiro. Saí da rua. A próxima vez que seu chefe queria algo de
algum outro revendedor, ele me pediu para ajudar. Eventualmente, a notícia saiu
de boca em boca. Eu tive alguns negócios.
— Ei, — ele disse, chamando minha atenção de volta para o momento
presente.
— Sim?
— Você fez o que tinha que fazer para sobreviver, Melody. Ninguém jamais
usaria isso contra você.
146
— Sim, — eu concordei. — Aprendi algo quando Quin me tornou legítima,
quando voltei ao mundo real novamente.
— O que foi?
— Eu não o matei. Meu pai, — esclareci. — Eu pensei que sim. Tudo
apontava que fiz isso. Mas ele viveu. E ele disse à polícia que alguns caras
entraram, atacaram ele e seu amigo e me levaram.
— Ele merecia morrer, — declarou Christopher, com voz gelada.
— Ele merecia. E três meses depois de toda essa provação, ele morreu.
Overdose. Com as drogas do traficante com quem eu estudara.
O braço de Christopher se estendeu sobre a mesa, fechando a mão sobre a
minha.
— Obrigado por me dizer, — ele disse, a voz suave.
Foi bom, eu percebi.
Dizer a alguém.
Dando a alguém aquelas partes do meu passado.
— Por que você não contou aos seus entes queridos? — Ele perguntou um
momento depois, a mão ainda cobrindo a minha.
— Eu não sei, — admiti, balançando a cabeça.
Agora que terminei, eu não conseguia entender por que havia sentido a
necessidade de guardar esses segredos tão escondidos.
O que aconteceu não se refletiu em mim.
Talvez sempre houvesse um pouco de constrangimento, e vergonha por ser
filha de um viciado tão destrutivo. Talvez eu não quisesse que as pessoas
pensassem que era possível eu seguir o mesmo caminho. Talvez uma pequena
parte insegura de mim estivesse aterrorizada com o que as pessoas pensariam ao
saber que nem meu próprio pai tinha sido capaz de me amar. Que isso significava
que algo falta em mim.
Era um absurdo.
Mas não importa o quanto tenha amadurecido, não importa a terapia que eu
tenha me submetido ao longo dos anos, havia uma parte de mim que era uma
garotinha pequena e não amada em um mundo sombrio e assustador, que queria
que alguém desse a mínima, que achava que havia algo fundamentalmente
147
desagradável nela se o pai dela não pudesse amá-la mais do que as drogas que
tomaram conta de sua vida.
Não importava que a parte mais velha e racional em mim entendesse que o
vício dele, e as ações por causa deles, não tinham absolutamente nada a ver
comigo.
Houve danos causados naqueles primeiros anos.
E, ao fugir deles, recusando-me a aceitá-los, enfrentá-los, permitiu-me,
mesmo que um pouco, continuar acreditando naquelas coisas feias sobre mim. As
repercussões disso foram provavelmente longas, amplas e irreconhecíveis.
Mas, seguindo em frente, tive a sensação de que as coisas mudariam.
Abrir-se era algo que não podia ser desfeito.
Agora que eu desenterrei aquelas partes enterradas de mim, percebi que elas
não eram tão feias quanto pensava. Elas só precisavam de uma limpeza, alguns
reparos, algum amor e atenção.
Eu descobri que estava comprometida em fazer isso.
E não pude deixar de me perguntar o que significava que Christopher foi o
responsável por essas mudanças.
Tive a sensação de que, se analisasse, perceberia que isso significava muito.
Foi por isso que fui em frente e, você sabe, não fiz isso.
Porque esse padrão de enterrar e evitar as coisas funcionou tão bem para
mim no passado...
148
12
Miller
149
— Temos fé em você, — Alexander me assegurou, indo em direção à porta
dos fundos.
— Oh, claro, vá para a cidade e se alimente antecipadamente, — gritei a
ele. — Eu não ficarei insultada absolutamente!
— Ele te insultou? — Christopher perguntou, movendo-se para o local, de
alguma forma parecendo melhor do que parecia esta manhã, quando esbarrei nele
a caminho do banheiro compartilhado, enquanto ele saía com uma calça de pijama
preta, cabelos bagunçados da cama.
Ele usava calça cinza, cinto preto e uma camisa branca, os dois primeiros
botões abertos, mas sem paletó.
Não havia trabalho real a ser feito aqui, ninguém o vendo, exceto o resto de
nós, mas ele ainda sentia a necessidade de se vestir.
O que achei estranhamente cativante, para ser sincera. E como todas as
roupas que ele comprou para mim eram vestidos, nós meio que combinamos. Eu
me sentiria realmente deslocada se estivesse sempre de vestido e ele estivesse
andando de moletom.
— Não. Ele está tentando me convencer de que tenho alguma ideia do que
estou fazendo aqui, — eu disse a ele, acenando para os possíveis ingredientes
espalhados pela ilha.
— Você vai se sair bem. Pense no que você gosta de montar com bom gosto
e combine essas coisas, — ele ofereceu, dando de ombros.
— Eu esqueci o gosto de tudo, — eu disse a ele, grave, algo que fez um sorriso
aparecer em seu rosto.
Foi tão inesperado, tão incomum em seu rosto severo, que senti como se meu
peito estivesse apertado ao testemunhar isso.
Isso foi brega pra caramba.
Mas era verdade mesmo assim.
Talvez eu goste das coisas um pouco bregas hoje em dia.
— Tudo bem. Que tal eu fazer um frappé para você? — Ele ofereceu, já se
movendo para fazê-lo, pegando o leite, o café instantâneo e o xarope de
chocolate. — Então você pode se lembrar de como são os sabores das coisas, e pode
se concentrar na sua comida novamente.
150
— Isso soa como um bom plano, — eu concordei, observando-o enquanto ele
se movia.
Eu nunca pensei muito em alguém me fazendo café antes. Kai tinha feito isso
muitas vezes para mim. E eu tinha feito isso por ele, para muitos caras no
escritório. Era apenas um gesto normal do dia a dia.
De alguma forma, porém, isso parecia especial. Talvez porque Christopher
não fosse amigo, porque meus sentimentos em relação a ele estavam se
transformando em algo mais do que amigável.
E porque o fato de ele saber fazer um frappé, quanto mais fazer isso por outra
pessoa, havia sido chocante para Alexander e Cora, duas pessoas que pareciam
conhecê-lo melhor do que qualquer outra.
Então, talvez realmente significasse algo que ele fez para mim.
Claro, eu poderia estar fantasiando um pouco a questão, mas parecia algo
um pouco a mais, um pouco especial.
E como ser alvo desse sorriso, fazer com que um homem como ele me fizesse
café parecia realmente muito bom.
De fato, quase tudo sobre Christopher estava começando a parecer bom.
— Ok, tente isso, — ele ofereceu, estendendo o copo suado enquanto enfiava
um canudo de aço inoxidável nele.
Obediente, tomei um longo gole, provando o leite, o café, o chocolate e uma
pitada de outra coisa.
— Algo está diferente, — eu disse a ele, olhando para ele.
— Sim? O que é? — Ele perguntou, inclinando a cabeça um pouco para o
lado, me fazendo perceber que ele estava me desafiando a tentar me lembrar como
eram os sabores das coisas, como combinavam.
Essa foi fácil.
O que ficava muito bem com leite e chocolate?
— Caramelo, — eu disse a ele, recebendo outro daqueles sorrisos quentes.
— Pronto, você entendeu, angele mou, — ele disse, passando por mim,
apertando um pouco meu quadril e desaparecendo do lado de fora.
Angele mou.
Eu não conhecia essa.
Mou era 'meu'.
151
E 'angele' parecia quase muito com 'anjo'.
Meu anjo?
Poderia ser possível ele ter dito isso para mim? Me chamando assim?
Eu praticamente podia ouvir os caras do trabalho zombando. Que alguém
pensaria em mim como um anjo, que alguém ousaria dizer isso na minha cara.
Eu teria zombado com eles apenas algumas semanas antes.
Mas agora?
Agora, eu tinha que admitir, meu estômago deu um pequeno salto inesperado
com o carinho.
Eu queria ouvir de novo.
De preferência com os lábios perto da minha orelha enquanto ele estava
dentro de mim.
Eu deveria ter me importado com as linhas do decoro, em manter separados
assuntos profissionais e pessoais, em não dormir com alguém que meio que me
sequestrou e me mantinha afastada do mundo exterior.
No entanto, eu não fiz.
Em absoluto.
Por um segundo.
Eu ia colocar aquele homem na cama.
E ia adorar cada segundo disso.
Depois que descobrisse como alimentar esses caras.
Com mais alguns goles do delicioso frappé no meu corpo, eu parecia começar
a avançar no piloto automático.
Forrei uma assadeira com peito de frango, cenoura, batata, pimentão, um
pouco de limões no frango, um pouco de alecrim e alho e reguei tudo com azeite de
oliva.
Cerca de uma hora depois, eu estava arrumando algumas azeitonas no prato
assado, espalhando um pouco de queijo feta porque, bem, por que não?
E então, completamente relaxada comigo mesma, fui para a sala de jantar
onde Christopher, Alexander, Laird, Collis e Marco estavam todos sentados,
esperando por mim.
152
Eu nunca gostei da ideia de servir homens antes. Sempre parecia vir com
uma espécie de tom sexista interno. Servir homens. Como se fosse o trabalho de
uma mulher fazer isso.
Mas não havia como negar que, quando entrei com a travessa, e todos
aqueles rostos masculinos ansiosos se viraram para mim, famintos, empolgados
com o que eu tinha feito com tanto cuidado para eles, havia uma onda de orgulho
por poder alimentá-los, por impressioná-los com a minha mistura.
Coloquei a travessa no centro da mesa ao lado da pequena salada que
Alexander já havia trazido para mim, regada com um molho que eu havia feito com
azeite e temperos com uma pitada de limão.
— Tudo bem, bem, comam, — sugeri quando todo mundo ficou lá.
Com isso, eles fizeram, enchendo seus pratos, comendo, fazendo barulhos
de aprovação, repetindo.
Até eu tinha que admitir, e eu estava sendo crítica comigo mesma, ficou
muito bom. Todo ele também. A única coisa que poderia torná-lo ainda
melhor teria sido um pouco de pão caseiro. Que prometi aprender a fazer.
— Eu disse que você poderia fazer isso, — Christopher me disse, entrando
na cozinha onde eu estava esfregando a assadeira na pia.
— Estava bem comestível, certo? — Perguntei, dando-lhe um sorriso
hesitante quando ele se aproximou de mim, arregaçando as mangas, pegando uma
toalha e começando a secar os pratos que eu já havia lavado.
— Estava perfeito, — ele corrigiu, fazendo uma sensação quente florescer no
meu peito. — Cora ficaria tão orgulhosa, — acrescentou, apenas fazendo com que
essa sensação se movesse por todo o meu corpo até afastar qualquer canto frio
dentro.
— Eu não teria sido capaz de fazê-lo sem o frappé, — eu disse a ele,
subitamente ciente da maneira como seu braço roçou o meu enquanto secava os
pratos, sentindo-me profundamente sem fôlego pelo contato casto.
Se o roçar de seu braço contra o meu fosse suficiente para enviar uma
sacudida de prazer através do meu corpo, eu não poderia imaginar como seriam as
mãos dele na minha pele nua, como seriam os lábios, a língua, o arranhar da sua
barba.
153
Quando me movi para passar a assadeira para ele, sua mão se fechou sobre
a minha. Se foi proposital ou acidental, era uma incógnita. Ainda assim, meu olhar
se elevou, encontrando o dele já em mim, olhos escuros, entrecerrados. Se não me
enganei, excitado. Assim como eu inegavelmente estava.
Alexander e Laird tinham ido à cidade buscar a sobremesa.
Collis estava na varanda da frente, fumando um charuto.
Marco estava fazendo uma caminhada.
Estávamos tão sozinhos quanto conseguiríamos.
Parecendo chegar à mesma conclusão que eu, ao mesmo tempo exato, a
assadeira encontrou o caminho para o escorredor quando suas mãos se moveram
e emolduraram meu rosto, seus lábios descendo nos meus.
Minhas mãos molhadas se enroscaram em suas mangas, segurando-o
enquanto ele inclinava minha cabeça mais para trás, quando sua mão
deslizou pelos meus cabelos, enquanto sua língua reivindicava a minha.
Um som baixo e gutural me escapou, fazendo um ruído passar pelo peito de
Christopher.
Suas mãos me soltaram por alguns segundos antes de afundar na minha
bunda, me puxando para cima e para fora dos meus pés, me depositando
no balcão.
Seu corpo pressionou meus joelhos, fazendo-os se espalharem para os lados
do corpo, os tornozelos cruzados sobre a parte inferior das costas, enquanto sua
dureza pressionava contra mim, fazendo um arrepio de antecipação percorrer
minha parte inferior da barriga.
Sem vergonha, minhas pernas apertaram ao redor dele enquanto meus
quadris esfregavam contra ele, obtendo o atrito que eu precisava
desesperadamente.
Igualmente carente, os quadris de Christopher se esfregaram com os meus
quando ele me curvou para trás, enquanto seus lábios soltaram os meus, descendo
pela minha mandíbula, pelo meu lóbulo, pelo meu pescoço.
Sua língua roçou, a barba raspou, lábios fecharam e sugaram, enviando um
choque de prazer ao meu núcleo, fazendo seu nome ser gemido entre meus lábios.
Em um grunhido, seus lábios reivindicaram os meus novamente quando
seus braços ancoraram em volta das minhas costas, me segurando para ele quando
154
ele me levantou do balcão, virou-se, levou-me pela casa, fazendo-o cegamente
enquanto seus lábios continuavam seu ataque implacável, fazendo os meus
parecem inchados e excessivamente sensíveis.
Minhas costas bateram contra a parede no corredor, seu pau triturando
contra mim inquieto, atiçando as chamas da necessidade no meu corpo, tornando
a pressão na minha parte inferior da barriga quase insuportável antes que ele me
afastasse mais uma vez, subindo as escadas, indo por outro corredor, em uma sala,
a porta batendo atrás de nós.
Lá dentro, ele caminhou até a cama, virando-se, caindo comigo montando
nele, me dando todo o poder.
E eu usei. Para me erguer, mover-me contra ele até meus gemidos se
tornarem demais para ele, deixando suas mãos gananciosas, puxando a saia do
meu vestido de verão, levantando-a, permitindo que sua mão deslizasse por baixo,
sobre o pedaço de tecido que me cobria, tocando meu clitóris através dele, me
enlouquecendo e além antes que eu pudesse respirar firmemente.
— De novo, — ele exigiu, os dedos deslizando sob o tecido, subindo pela
minha mancha escorregadia, circulando sobre meu clitóris até ele parecer inchado
e sensibilizado demais, depois voltando para baixo.
Dois dedos bateram contra a entrada do meu corpo, fazendo minhas coxas
apertarem os lados de seus quadris, fazendo barulhos baixos e gemidos escaparem
de mim, querendo a pressão, precisando da invasão.
— Christopher, por favor, — exigi enquanto ele continuava o tormento.
Olhos escuros em mim, seus dedos pressionados por dentro, lentos, por todo
o caminho, parando, recusando-se a agir.
Em um resmungo, levantei um pouco, depois rolei meus quadris, sentindo
seus dedos pressionarem contra minha parede superior enquanto fazia isso,
fazendo aquele choque de contato com o ponto G apertasse as minhas paredes em
torno de seus dedos quando ele começou a empurrar suavemente enquanto eu
continuei os círculos, nós dois me enlouquecendo, em seguida, enviando-me pelo
precipício mais uma vez.
As mãos de Christopher me deixaram mais uma vez, agarrando meu vestido,
juntando o tecido esvoaçante para cima, subindo devagar, expondo minha barriga,
meu sutiã, puxando-o sobre minha cabeça.
155
Dedos gananciosos se estenderam, mexendo nos botões da camisa, puxando
o tecido da camisa para libertá-la da cintura, para que eu pudesse espalhá-la bem,
deslizá-la dos ombros magnificamente bronzeados.
Ele sempre parecia bem sem camisa. De manhã, antes de se vestir para o
dia. Durante e após os treinos. Mas ele parecia especialmente bem ali, naquele
momento, apenas para meus olhos e mãos.
Meus dedos traçaram sobre seus ombros, depois para dentro e para baixo
em seu peito, sobre os músculos de seu abdômen, sentindo-os contrair-se
ao contato.
Meus dedos agarraram a lateral de seu cinto, tirando-o do passante,
deslizando a ponta para fora do buraco, deslizando-a para fora do resto dos
passantes, jogando-o no chão ao meu lado. Quando meus dedos procuraram seu
botão e zíper, então, ele se moveu atrás de mim, deslizou pelas minhas costas,
agarrou meu sutiã, liberando os fechos, me expondo e depois me distraindo da
minha tarefa enquanto as pontas dos dedos roçavam a parte inferior dos meus
seios, polegares movendo-se para acariciar os picos endurecidos, trabalhando-os
em botões mais tensos.
Um calafrio começou na base da minha espinha, subiu e se espalhou,
tomando conta de todo o meu corpo enquanto ele se inclinava para frente, os lábios
selando sobre um dos meus mamilos, sugando com força. Então, antes que eu
pudesse respirar fundo, ele se moveu pelo meu peito para continuar o doce
tormento antes de repentinamente ancorar o braço em volta da minha parte inferior
das costas, me levantar, girar, me deixar cair no colchão, o corpo se movendo sobre
o meu, os lábios deslizando entre os meus seios, a língua movendo-se para
acariciar um caminho sem pressa para baixo, parando somente quando ele
encontrou o cós da minha calcinha, levantando-se para removê-la antes de descer
novamente.
Seus dedos traçaram círculos lentos sobre a pele ultrassensível das minhas
coxas internas até que me fez contorcer, implorando por mais.
Então e só então, sua cabeça mergulhou novamente, os lábios se fechando
ao redor do meu clitóris, sugando em ritmos curtos e irregulares, mantendo meu
corpo necessitado, recusando-se a deixá-lo se acostumar com o movimento.
156
— Ainda não, — ele disse em voz baixa e rouca quando implorei um orgasmo,
raspando os dedos em seu pescoço, ombros, braços enquanto ele se afastava de
mim, indo para o lado de fora da cama, os olhos vagando sobre mim com avidez.
Olhar encontrando o meu, eles seguraram quando ele estendeu a mão para
baixo, soltou o botão e o zíper, deslizou as calças e a cueca boxer sobre os quadris,
coxas, descartando-as, depois ficou ali gloriosamente nu.
Meus olhos quebraram o contato primeiro, desesperados demais para
absorvê-lo todo para não apreciar toda a visão. As grossas linhas de músculos
tensos, um punhado de cabelos escuros, o desespero duro do pênis, prometendo
satisfação.
Meu olhar voltou para cima, vendo o ardor em seus olhos quando ele colocou
os joelhos no final da cama, se moveu em minha direção, se aproximou de mim, o
corpo pressionando o meu no colchão, o peso que não percebi que precisava tanto.
Seus lábios reivindicaram os meus mais uma vez, mas mais suaves, menos
exigentes. Quase... mais gentil.
Carinho e sexo não eram coisas que eu realmente pensei que combinavam
muito bem.
Até agora.
Até Christopher.
Não sei quanto tempo demorou, onde tudo estava no mundo, seus lábios nos
meus, a pressão de seu corpo, o ardor que parecia ultrapassar cada centímetro de
mim.
Mas então seu peso mudou, equilibrado em um braço enquanto o outro
alcançava a mesa de cabeceira.
Ele colocou o preservativo e tomou meus lábios novamente, a exploração
gentil e sem pressa me deixando nesse estado flutuante e sonhador, altamente
sensível, um lugar que eu nunca tinha certeza de ter estado antes, onde senti tudo
de uma só vez e profundamente, todos os sentidos me dominando.
Seus lábios se afastaram de mim quando ele pressionou um pouco, olhando
para mim, esperando minhas pálpebras pesadas se abrirem.
Então, o olhar faminto no meu, seus quadris se moveram, pressionaram, seu
pau empurrando dentro de mim em um impulso lento e profundo, reivindicando-
me inteiramente.
157
Minhas costas arquearam quando meus dedos se curvaram em seus ombros,
unhas fincando em suas costas quando um gemido baixo escapou de mim, fazendo
seu pênis se contrair, fazendo minhas paredes apertarem.
Ele se retirou um pouco, devagar, pressionando de volta, roubando minha
respiração, fazendo o mundo inteiro desaparecer.
Novamente.
Duas vezes.
Três vezes.
Dez.
Vinte vezes.
Antes que a necessidade parecesse nos agarrar, fazendo meus pés
plantarem, meus quadris subindo contra ele, enquanto ele empurrava mais rápido,
mais forte, mais profundo, meus choramingos se tornaram gemidos, meus dedos
percorrendo suas costas enquanto ele me enlouquecia, enquanto me empurrava
para o limite.
— Goze comigo, Melody, — ele exigiu, a voz rouca e suave de alguma forma
ao mesmo tempo.
Seus quadris empurravam.
E eu apenas... quebrei.
Ondas batiam repetidamente enquanto ele empurrava através delas, apenas
plantando, enrijecendo o corpo, meu nome xingado entre seus lábios depois que
ele sentiu meu orgasmo diminuir.
Ele rolou para o meu lado, me puxando com ele, enganchando minha perna
sobre o quadril, me puxando para o peito, o queixo apoiado no topo da minha
cabeça enquanto nós dois trabalhamos para equilibrar a respiração, diminuir a
velocidade do coração, processar o que havia acontecido.
Algo mais do que parecia, decidi imediatamente.
Sexo era sexo.
Poderia ser agradável e descomplicado, corpos apenas buscando alívio um
no outro. Nada mais.
Mas isso não era apenas sexo.
Isso foi intimidade.
158
Era algo mais profundo do que eu estava acostumada. Havia uma conexão
aqui.
Onde, no passado, o sexo era sempre o fim de algo, isso parecia
inegavelmente um começo.
A parte de mim que sempre desconfiou de sentimentos com os homens disse
para fechar a porta, levantar a guarda, para ter certeza de que ele não poderia
se aprofundar o suficiente para causar algum dano.
A outra parte, porém, era curiosa.
E talvez até, eu não sei, esperançosa.
As pontas dos dedos de Christopher acariciaram preguiçosamente minha
coluna vertebral, um movimento quase meditativo, cada volta trazendo mais calma
ao seu corpo.
— Fique, — ele exigiu suavemente enquanto se afastava de mim, se levantava
e caminhava em direção ao banheiro.
Fique.
Como se eu fosse capaz de me mover, muito menos de sair.
E isso era estranho, não era?
Porque esse seria o momento em que eu normalmente estaria pulando da
cama, vestindo as roupas, provavelmente colocando meu sutiã e calcinha nos
bolsos ou na bolsa na minha tentativa desesperada de sair de lá antes que alguém
me pedisse para passar a noite.
Mas não havia uma única parte de mim que quisesse sair desta cama, sair
deste quarto, fugir deste homem.
Na verdade, eu queria que ele voltasse, se enrolasse em mim, me envolvesse
nele, senti-lo me abraçar como havia feito em seu quarto em Santorini. Mas por
mais tempo. Por toda a noite.
Eu queria acordar no meio da noite para ver seu rosto mais suave durante o
sono.
Eu queria que ele me acordasse antes de sua corrida de manhã deslizando
dentro de mim, levando-me a um orgasmo matinal preguiçoso, deixando-me dormir
enquanto ele seguia seu dia.
Nada disso foi o que eu me imaginava querendo com alguém, muito menos
todos de uma vez, com esse homem.
159
Eu não tinha ideia do que isso significava. Em um nível mais profundo. Tudo
que eu sabia era que isso era bom no momento. Parecia certo.
Pareceu ainda mais certo quando ele saiu do banheiro, ainda perfeitamente
nu, voltando para a cama, inclinando-se para desligar a luz, afundando os dentes
na lateral da minha bunda de brincadeira antes de deitar comigo, puxando-me
para perto.
— Você vai ficar aqui esta noite, — ele me disse.
Normalmente, eu me irritaria com essa ordem.
Mas, em vez disso, meus lábios se curvaram para cima, grandes o suficiente
para fazer minhas bochechas doerem.
— Ok, — eu concordei, inclinando-me para pressionar um beijo em sua
mandíbula antes de me aninhar.
E então fiz isso.
Eu fiquei.
E, quando adormeci, tive a sensação de que tudo acabou de mudar.
Obviamente, a vida tende a gostar de rir de seus planos.
Christopher, eu, nosso relacionamento de amizade, isso não era exceção à
regra, parecia.
Mas naquele momento, por um curto período de tempo, tudo que eu conheci
foi felicidade.
E esperança.
Por mais curto que tudo isso fosse.
160
13
Christopher
161
E eu apenas explodi, porra.
Não havia outra maneira de dizer isso.
Algo dentro de mim explodiu.
O controle em que eu geralmente mantinha sob forte domínio desapareceu.
Eu não precisava matá-lo, eu queria. Tive uma satisfação doentia com o
sangue fluindo, as rachaduras de seus ossos esmagando, o último suspiro.
Porque ele colocou as mãos nela.
Porque ele fez uma mulher forte se sentir fraca, assustada e desamparada.
Porque ele não tinha o direito de fazer isso.
Não tinha nada a ver com sua deslealdade. Isso foi um efeito colateral de
trabalhar com indivíduos obscuros que queriam entrar em uma empresa ilegal.
Tinha a ver com ela.
No início, naquelas horas depois, enquanto planejava nos mudar para um
novo local para aumentar a segurança até que a ameaça pudesse ser neutralizada,
me convenci de que era simplesmente porque ela estava sob meus cuidados e que
eu devia isso a ela, mantê-la segura enquanto a mantinha em minha casa.
Não foi até a manhã seguinte que comecei a entender que era mais do que
isso, que ela era mais do que apenas uma convidada, mais do que alguém que eu
precisava proteger.
Suspeitei que fosse uma afeição genuína, enquanto visitávamos minha outra
casa, enquanto jogávamos cartas, enquanto ela se abria para mim, enquanto fazia
comida para nós.
Mas eu só soube com certeza quando coloquei minhas mãos nela novamente,
quando tiramos as coisas completamente do âmbito profissional.
Que isso era alguma coisa.
Algo grande.
Algo com um futuro.
O qual tinha sido uma revelação chocante quando estava deitado na cama
na manhã seguinte, com o braço em volta das costas dela, seu corpo envolto em
mim, ainda desmaiada, pois ela sempre parecia dormir até tarde.
Mas de repente eu não conseguia imaginar a próxima semana, o próximo
mês, o próximo ano sem ela exatamente lá. Sem vir do meu treino para encontrá-
la com os olhos turvos, café nas mãos, olhos vagando pelo meu torso. Sem
162
encontrá-la na cozinha comendo algo doce. Sem ela na mesa da sala de jantar. Sem
ela lá durante a noite assistindo TV, jogando cartas, para falar sobre as nossas
histórias de vida variadas e interessantes. Sem ela na minha cama novamente à
noite.
Era muito cedo para dizer que ela era a pessoa escolhida, mas ela era algo
mais do que somente uma transa de uma noite. E isso por si já era chocante o
suficiente.
— O quê? — Perguntei, sentindo o olhar de Alexander em mim na cozinha.
Quando ele se moveu ao meu lado pela janela, percebi que ele me pegou
olhando para Melody enquanto ela se inclinava para frente sobre um vaso de
orégano, colhendo especiarias para o jantar.
Macarrão com molho caseiro, porque você não pode esperar milagres de mim
todas as noites, ela nos disse com ovo e torradas no café da manhã quando
Alexander perguntou o que havia no cardápio do dia.
— Então, devo chamá-la de minha cunhada? — Ele perguntou, estalando a
língua. — Minha cunhada, senhorita Miller? Parece um pouco formal.
— O nome dela é Melody, — eu lhe disse, olhando por cima, encontrando
seus lábios curvados, seus olhos dançando. — E ninguém disse nada sobre nós
dois sermos mais do que profissionais.
— Oh, certo, — ele disse, apertando os lábios. — Então, aqueles gemidos que
ouvi no seu chuveiro esta manhã, foi uma reunião de negócios?
Ele ia ser um pouco difícil ao estar em casa, percebi. Bem como eu era na
idade dele.
— Cuidado, — eu exigi, tom um pouco cortante, não gostando dele
falando sobre ela dessa maneira.
Primeiro, porque ele era criança.
Segundo, porque lhe dava uma imagem mental dela.
Terceiro, porque, bem, eu não queria que ninguém pensasse nela dessa
maneira, exceto eu. Independentemente de quão irracional isso fosse.
— Eu não gosto da ideia de você tratá-la como você tratou outras mulheres.
— Você não sabe nada sobre como tratei outras mulheres, — lembrei a ele. O
que era verdade. Porque eu nunca trouxe mulheres para casa.
163
— Eu sei que você saía por uma noite, e então você nunca as via novamente.
Eu não quero isso para Melody.
— Eu também não, — disse honestamente.
— Então é mais do que isso.
— Embora não ache apropriado você perguntar, eu respeito o seu desejo de
protegê-la. E, no interesse da divulgação completa, não sei o que é isso, mas é mais
do que uma transa de uma noite. Além disso, eu não sei.
— Porque a vida dela está a meio mundo de distância.
— Exatamente.
— As pessoas podem mudar de casa, você sabe, — ele disse, revirando os
olhos.
Oh, ser jovem e tolo novamente.
— Não é tão fácil, Alexander, — eu disse a ele, olhando para longe da
janela. — Ela tem uma vida lá. Ela tem amigos que são como a família. Ela tem
uma conexão com aquele país, aquela cidade. Você não pode pedir a alguém que
deixe tudo isso.
— Por amor? — Ele perguntou, balançando a cabeça. — Eu acho que você
poderia, — ele me disse, saindo, correndo pelo caminho, Laird seguindo-o de perto.
Talvez por amor, você poderia.
Talvez.
Ainda era pedir muito. Mais do que eu estava disposto a desistir. Como eu
poderia esperar isso de outro?
Mas isso não era amor.
Ainda não, disse uma pequena voz na minha cabeça.
E provavelmente nunca.
Eventualmente, e eu odiava admitir isso, ela teria que ir embora. Eu
precisaria deixá-la ir.
Chernev não estaria fugindo para sempre.
Nós o desenterraríamos.
Eu faria meus homens segurá-lo para que eu pudesse ir em direção a
qualquer pedra sob a qual ele estivesse vivendo, e exigir justiça.
E então, eu teria que contar a ela.
Que era seguro.
164
Para ir para casa.
Para deixar-me.
Eu não queria, é claro. Queria encontrar uma desculpa para mantê-la aqui
onde eu a tinha ao alcance o tempo todo.
Eu não poderia fazer isso, no entanto.
Lembrei-me de uma vez quando era menino. Meu pai me levou para a casa
de um colega na Austrália. E havia aquelas araras de cores brilhantes que subiam
na varanda dos fundos para pedir comida, porque ele as alimentava desde que
eram bebês. Perguntei por que ele não as levava para dentro, transformava-as em
animais de estimação.
Ele disse algo que sempre ficou comigo.
Quando você ama e respeita algo, nunca a engaiola, nunca a diminui, nunca
a força a se encaixar no seu mundo apenas porque você a quer lá.
Eu nunca tive um animal de estimação depois disso.
E eu não poderia tornar Melody um.
Ela tinha uma vida. Por todos os aspectos, uma grande vida. Cheia de
aventura e intrigas. Ela tinha pessoas que a amavam.
Não seria correto pedir a ela que desistisse de algo disso, e muito menos de
tudo, porque eu gostava de vê-la na minha frente na mesa da sala de jantar.
Seria como cortar suas asas.
Como enfiá-la em uma gaiola.
Como quebrar seu espírito.
Eu não poderia fazer isso com ela.
Assim como o amigo de meu pai e seus pássaros, eu a respeitava demais.
— Esse é um rosto sombrio, — disse Melody, invadindo meus pensamentos
em turbilhão. Eu olhei para encontrar sua cabeça inclinada para o lado, olhando
para mim com curiosidade. — No que você estava pensando?
— Papagaios.
— Papagaios, — ela repetiu, franzindo as sobrancelhas. — Isso é, ah,
estranho, — ela decidiu, largando as ervas frescas que juntara, indo até a pia para
lavar a sujeira dos dedos.
— Você já os viu?
165
— Papagaios? — Ela repetiu, me lançando um olhar quase preocupado. —
Claro que vi.
— Em gaiolas, ou na natureza?
— Ambos, — ela disse, dando de ombros. — Por quê?
— É errado prendê-los, não é?
— Bem, quero dizer, — ela começou, os olhos ficando atenciosos. — Acho
que depende, não é?
— De quê?
— Se ele cresceu na natureza? Porque tirar algo da floresta, não importa o
que seja, está errado. Acho que todos podemos concordar com isso. Mas se o
pássaro foi criado e chocado em cativeiro? Não sei. Acho que não o veria com
qualquer diferença de um porquinho da índia, um gato ou um cão, eles foram todos
selvagem uma vez. Mas eles estão felizes comendo a alface, derrubando seus copos
do balcão, e lambendo seu rosto quando você chegar em casa do trabalho.
— Você acha que eles são mais felizes?
— Acho que existem diferentes tipos de felicidade. Há felicidade selvagem e
felicidade doméstica. Os dois são diferentes, mas não são necessariamente
melhores que os outros. Do que se trata? Esta é uma discussão muito filosófica a
se ter antes do meio dia, — ela me disse, balançando a cabeça.
— Eu estava lembrando dos papagaios selvagens que comiam nozes na
varanda do amigo do meu pai quando eu era jovem.
— Tive um ganso me bicando na bunda uma vez, — ela me disse, me
surpreendendo o suficiente para conseguir uma risada sufocada.
— O quê?
— Sim. Bem na bunda, — ela declarou, dando de ombros. — Quero dizer, eu
rio sobre isso agora. Mas aqueles filhos da puta são cruéis. E doeu.
— Hum, — eu disse, aproximando-me dela, mãos dando a volta, deslizando
para baixo, afundando em sua bunda. — Essa bunda? — Perguntei, apertando.
Seus olhos passaram de divertidos para derretidos em um piscar de olhos.
Eu nunca vi uma mulher ganhar vida com o menor toque da maneira que ela
fez.
Mas com certeza não estava dando como certo.
166
— Hummm, — ela disse, inclinando a cabeça para o lado, o sorriso ficando
diabólico quando meus dedos pegaram sua saia, puxaram para cima, apertando-a
enquanto minha outra mão a agarrava, girava, empurrava contra a pia, o rosto
olhando para a janela, costas para mim.
Seus braços dispararam, mãos apoiadas na parte de trás da pia enquanto
minha mão agarrava sua calcinha, descia, expondo sua bunda para mim.
Meus dedos espalmaram as bochechas macias e redondas por um segundo
antes de uma mão deslizar para frente, para o meio, acariciar seu clitóris, empurrar
dentro de sua vagina, sentindo suas paredes apertarem imediatamente,
implorando por mais.
Havia um tempo e lugar para lento, doce e exploratório, para tortura divina,
para construir vagarosamente múltiplos orgasmos.
Com Collis a apenas dez metros de distância, com Alexander e Laird
eventualmente voltando, esse não era o momento nem o lugar para isso.
Era a hora e o lugar para rápido, duro, desesperado.
A julgar pela maneira como seus quadris balançaram contra mim quando
meu dedo virou e passou por cima de sua parede superior, ela estava nessa.
Meus dedos saíram dela, agarrando um de seus pulsos, levantando-o,
prendendo-o na moldura da janela para segurá-la, depois pegando o outro pulso,
guiando a mão entre as pernas, pressionando-a contra o clitóris.
— Não pare, — eu exigi quando minha mão se afastou e seus dedos pararam.
Com uma inspiração instável, ela continuou trabalhando seu clitóris
enquanto eu agarrava um preservativo da minha carteira, então desabotoava e
abria o zíper da minha calça, protegendo-nos, depois me movendo atrás dela, meu
pau pressionando contra sua bunda por um segundo até que ela ficou na ponta
dos pés, arqueando perfeitamente, me convidando para dentro de seu aperto
escorregadio.
Uma mão ancorada em seu quadril, a outra se moveu em torno de seu rosto
para segurar sua boca para não alertar meu guarda enquanto eu batia dentro dela.
Mesmo abafado, o som que ela fez foi alto, desesperado, quase me fazendo
descontrolar e gozar ali mesmo.
167
Um calafrio se moveu através dela quando minha mão pressionou contra sua
em seu clitóris novamente, quando meus quadris começaram a se retirar, depois
batendo profundamente novamente. E de novo. Repetidamente.
Até que cada fio de controle estalou, me fazendo transar com ela com mais
força, mais rápido, seus quadris batendo contra o armário, provavelmente
deixando contusões. Minha palma pegou seus choramingos quando sua respiração
ficou irregular na frente da minha palma. Sua vagina ficou cada vez mais apertada,
até todo o seu corpo ficar tenso, oscilando no limite.
Minha mão pressionou contra a dela.
Meus quadris empurraram.
E ela gritou seu orgasmo contra a palma da minha mão enquanto me
conduzia tão fundo quanto seu corpo permitia, sentindo sua vagina ordenhar meu
orgasmo fora de mim, parecendo minar todas as minhas forças ao fazê-lo, meu
corpo meio dobrado sobre ela enquanto eu lutava para recuperar o fôlego.
Eventualmente, voltei para o meu corpo, minha mão liberando sua boca,
minha outra deslizando entre suas pernas enquanto saía dela, dando-lhe um tapa
forte na bunda enquanto recuperava minhas calças.
Ela soltou um grito agudo com o contato, os braços abertos nas laterais da
pia, respirando devagar e deliberadamente, sem se preocupar em tentar recuperar
sua calcinha enquanto eu descartei a camisinha e coloquei minha calça no lugar.
Havia algo mais do que um pouco cativante na maneira como ela parecia
esquecer tudo quando a fazia gozar.
Mesmo quando Alexander e Laird voltaram subindo o caminho,
provavelmente seguindo em nossa direção.
Eu me abaixei, arrastando sua calcinha de volta ao lugar, abaixando a saia
e me afastando antes que a porta se abrisse, deixando entrar um Alexander agitado
e um Laird exasperado que estava preso no serviço de babá de adolescente desde
que chegamos.
— O que ele fez? — Perguntei, olhando entre eles, mantendo Melody no meu
periférico enquanto sua mão deslizava para a pia, ligando-a, lavando.
— Aquela garota que pensávamos que ele estava visitando na cidade? Ela é
uma divorciada de trinta e poucos anos.
168
— Bem, mulheres mais velhas são uma tradição familiar na primeira vez, —
Melody ofereceu, me dando um sorriso provocador quando se virou, secando as
mãos.
— Quem disse que é a minha primeira vez? — Alexander revidou, o peito
estufando. O que praticamente provou que era. A verdadeira confiança, como a que
vinha com a experiência sexual, era quieta. Ser espalhafatoso apenas dizia que
ainda não tinha ideia do que estava fazendo com uma mulher.
— Ela sabe que ele é menor de idade? — Perguntei, balançando a cabeça. Ele
era alto e forte para a idade dele. Ainda havia um pouco de gordura infantil no
rosto, mas fora isso, eu podia vê-lo sendo confundido com alguém de dezoito anos.
— Ela sabe, — Laird me disse. — Eu disse a ela.
— Daí o mau humor, — eu concordei, empurrando meu queixo em direção
ao meu irmão.
— Eu não estou de mau humor, caralho, — ele respondeu, claramente
confirmando minha opinião.
— Veja como você fala com seu irmão, — Melody o repreendeu antes que eu
pudesse.
— Isso é uma questão familiar, — ele retrucou, no modo total de adolescente
intolerável.
— Cuidado, Alexander, — eu gritei, fazendo-o enrijecer um pouco,
percebendo que ele estava passando por cima de uma linha, uma que eu pensei
ter deixado claro apenas uma hora antes. — Você quer provar que é maduro o
suficiente para passar tempo com mulheres adultas, aprenda a falar com as
pessoas desta casa com um pouco de respeito.
— Às vezes eu te odeio, — Alexander sussurrou quando passou por mim,
indo direto para o quarto.
Quando ele foi, foi perseguido pela voz de Melody: — Então ele deve estar
fazendo algo certo! — Ela gritou ante sua forma em retirada. — Ele é um garoto
perfeitamente legal. Até que ele seja um merda, — ela disse, sorrindo.
— Bem-vindo à adolescência, — eu concordei.
— Eu meio que entendo por que todos os meus clientes ricos enviam seus
filhos em idade de ensino médio para um colégio interno ou outro. Deixe-os lidar
com a resposta malcriada e a idiotice, envie-os de volta quando forem indivíduos
169
mais formados. Que não toca uma música terrível, — ela adicionou quando o
aparelho de som veio em alguns andares acima, fazendo as paredes tremer.
— Vou conversar com a mulher, — eu disse ao Laird de aparência cansada.
— Obrigado, — ele disse, saindo, deixando-nos sozinhos mais uma vez.
A música acima de nós mudou para algo mais alto, mais angustiado, com
um padrão que atravessava seu cérebro mesmo alguns andares abaixo.
— Se eu tiver filhos, você acha que eles serão tão desagradáveis?
— Provavelmente, — eu concordei, movendo-me ao lado dela.
— Isso realmente faz você desenvolver um entendimento para aquelas
espécies que comem seus filhotes, sabe? — Ela acrescentou quando Alexander
decidiu emprestar seus vocais ao refrão, fazendo nossos ombros subirem aos
nossos ouvidos. Ele nem conseguia seguir a melodia. Em decibéis altos, eles se
espalhavam sem tom.
— Ouvi dizer que são doces quando são pequenos, — eu disse a ela.
— É assim que eles pegam você, — ela disse, assentindo. — Eles chegam
gordos, mole e completamente apaixonados por você. Depois, eles se transformam
em monstros hormonais com mais opinião do que cérebros. É por isso que os pais
tiram tantas fotos e vídeos da fase gorda e mole. Para ajudá-los a se lembrar de
que amam os terroristas adolescentes que tomam seu corpo aos quinze anos.
Ouvindo sua tagarelice, assistindo a confusão animada, a diversão e a
maravilha se manifestarem em seu rosto, eu alterei meu pensamento de antes.
Talvez eu já estivesse um pouco apaixonado por ela.
Só um pouco.
Mas tinha começado.
E eu queria ver para onde iria.
Então ele apareceu.
E tudo mudou.
170
14
Miller
171
Onde eu tinha certeza de que enfiaria os dedos nos ouvidos e zuniria como
alguém prestes a receber spoilers de um filme muito esperado, se alguém sequer
sugerisse notícias do mundo exterior.
Porque eu estava feliz.
Sinceramente, não fui capaz de nomeá-lo por muito tempo. Sete dias se
passaram depois que chegamos à cama antes que eu pudesse finalmente identificar
o sentimento leve e flutuante por dentro, como tudo parecia mais brilhante e mais
bonito.
Mas eu me vi olhando para fora da janela uma noite após o jantar, os braços
mergulhados em água morna e detergente, observando Christopher correr pela
varanda para perseguir a forma rapidamente desaparecendo de seu irmão mais
novo, que parecia muito determinado a obter a sua educação sexual de uma
mulher quase velha o suficiente para ser sua mãe.
E um grande sorriso estúpido e idiota se espalhou até minhas bochechas
doerem.
Foi então que reconheci o sentimento que vinha inundando meu organismo
há dias.
Felicidade.
Foram aproximadamente cinco segundos depois que o sorriso se apagou, e
uma sensação de desânimo se instalou no meu estômago. Porque se isso era como
feliz se parecia, eu não estava inteiramente certa se já fui feliz antes. Pelo menos
não por mais de alguns momentos.
Isso era triste, não era? Chegar aos trinta anos sem conhecer nenhum tipo
de alegria duradoura.
Isso pareceu triste.
Mas fazia muito sentido.
Porque persegui o prazer fugaz de um trabalho bem-feito, o orgulho de
respeito entre homens e mulheres importantes, elogios de meu chefe e colegas.
Porque isso me deu o suficiente para continuar, para me convencer de que
minha vida estava bem equilibrada, que eu estava feliz com isso.
Quando, se eu tivesse dois dias inteiros em que não estava correndo para
algum lugar estrangeiro para resolver o problema de outra pessoa, descobriria que
tinha mais do que alguns dos meus que precisava cuidar.
172
Como o vazio da minha existência.
Como o fato de que, se você me pedisse para descrever a felicidade, eu não
teria conseguido chegar a uma única definição convincente.
E, eu acho que, se pensasse sobre isso, realmente cavasse fundo e me
sujasse por toda a feiura da minha vida, teria que admitir que não senti nada além
de um tipo vago de satisfação.
Nada como isso.
Talvez seja possível argumentar sobre a dopamina e quaisquer outros
hormônios que tenham sido liberados quando você está tendo orgasmos
regulares, e alucinantes, regularmente.
Mas era mais do que isso.
Eu nem gostei de rebaixá-lo a isso por um momento.
Porque havia o sexo. Que era incrível. Havia companheirismo com um
homem que estava achando que respeitava profundamente, realmente gostava de
conhecer em níveis mais profundos. Havia o prazer de provocar um adolescente,
cutucando nos lugares certos para obter uma reação, mas também compartilhando
momentos de sabedoria transmitida, de interesse mútuo. Havia satisfação nas
pequenas coisas. Como uma cozinha limpa. Como uma refeição caseira. Como
compartilhar conversas e comida, e estar totalmente, completamente presente para
uma mudança.
Minha mente sempre corria por todo lado. Pensando em empregos. Em
colegas de trabalho. No meu passado. No meu futuro possível. No que eu ia assistir
na TV enquanto enchia a cara de comida entregue.
Eu nunca estava totalmente imersa no momento.
Até que eu vim aqui.
Percebi, com um pequeno sentimento de culpa, que nem sequer pensava na
minha equipe em casa há dias. Aquelas pessoas que ocuparam os lugares
dominantes na minha cabeça. E quase esqueci por um curto período de tempo.
Mesmo percebendo isso, porém, os pensamentos se afastaram,
imediatamente substituídos por novos.
Como o que significava que, depois de todos esses anos, foi aqui que
encontrei minha felicidade.
Nesta casa.
173
Neste país.
Com essas pessoas.
Especialmente Christopher.
Eu sabia que as coisas eram novas.
Entendi que as conexões profundas costumavam levar muito tempo. Mas
mesmo sabendo disso, tive que admitir que o que sentia por ele era mais profundo
do que qualquer conexão que tivesse com mais alguém.
O que estava dizendo algo. Porque eu passei o inverno russo em uma cabana
com minha equipe, sem ter como fugir deles. Eu tinha acampado em inúmeros
quartos de hotel com Kai, falando besteira sobre a vida. Eu tinha ido a aniversários,
Natais e chás de bebê com essas pessoas.
Eles tiveram mais do meu tempo.
Mas não havia como negar que Christopher tinha mais de mim.
Eu tinha dado a ele. Totalmente. Sem hesitar. Todas as minhas histórias
despejadas, tropeçando umas nas outras em seu desespero de finalmente serem
contadas, ouvidas e compreendidas.
E ele fez.
Deus, sim.
Ele entendeu.
Eu nunca poderia ter antecipado quão bom isso seria. Ser vista. Ser
ouvida. Ser compreendida. E apreciada não apesar de tudo isso, mas por causa
disso.
Não havia como negar o fato... e acredite, uma voz insegura havia
tentado, que Christopher o fez. Gostava de mim.
Ele costumava me procurar primeiro.
E não apenas sexualmente.
Pegava minha mão. Agarrava meu joelho debaixo da mesa. Me puxava contra
ele quando todos assistimos filmes na sala de estar. Ele estava sempre encontrando
desculpas para estar perto de mim, para colocar as mãos em mim.
Ele dava-se ao trabalho de me fazer café. Para me trazer doces quando ia à
cidade. Elogiar minhas refeições, mesmo quando elas não saíram nem comestíveis.
Ele se importava.
174
Quanto, bem, eu não pude responder isso. Porque não perguntei. Parecia
invasivo e prematuro fazê-lo quando eu ainda não tinha entendido completamente
o quanto me importava com ele, o que significava que eu gostasse tanto.
Eu não era estúpida.
Este tempo gasto neste lugar, estávamos brincando de casinha. Esta não era
a vida real. Não seria assim que nossa realidade seria.
Se nós dois chegarmos à conclusão de que isso era algo sério, algo que não
queríamos deixar de lado quando finalmente emergimos desse paraíso, o que isso
significava para o futuro?
Porque nós dois tínhamos vidas.
Em diferentes cantos do mundo.
A ideia de desistir da minha carreira e meus amigos me perfurava. No
entanto, a ideia de voltar para eles e deixar Christopher para trás era igualmente
dolorosa.
Mas eu sabia uma coisa sobre a vida.
“Ter tudo” era uma ilusão.
Ninguém ficava com tudo.
Somente crianças e tolos pensavam que podiam.
O resto de nós entendia que a vida envolvia sacrifícios.
Mas o que eu deveria sacrificar aqui? O que eu poderia desistir sem sentir
que uma parte de mim estava sendo roubada? Sem sentir que eu estaria vivendo
meia vida depois?
— Eu desisto, — Christopher declarou. Essas eram grandes palavras para
um homem como ele, tão acostumado a conseguir tudo o que queria. — Ele é como
um cachorro correndo atrás de uma cadela no cio. Ei, — ele chamou, a voz
perdendo a ponta da frustração misturada com a menor sugestão de humor que
costumava ter ao falar de seu irmão. — Você está bem? — Ele acrescentou,
aproximando-se, olhos escuros cravados em mim.
Normalmente, eu me orgulhava da minha cara impassível, no fato de que
ninguém podia ver nada que eu não quisesse mostrar a eles.
Mas isso era outra coisa sobre Christopher. Ele via através de mim. Eu não
podia esconder dele.
E, além do mais, eu não queria.
175
— Eu estou bem, — disse a ele.
— Acho que podemos fazer melhor do que bem, — ele decidiu, com os olhos
cheios de promessas enquanto se aproximava, enquanto pegava uma toalha de
mão, estendendo-a para mim, me fazendo perceber que minhas mãos ainda
estavam na água constantemente esfriando. Quando as tirei, elas estavam
enrugadas e rígidas enquanto as secava.
Mal tive a chance de pendurar a toalha na alça do lado da ilha antes que ele
estivesse lá, puxando meus braços sobre a cabeça, prendendo-os contra o armário
com uma mão, enquanto a outra ancorava em torno de minhas costas e os lábios
selado sobre os meus.
Eu já tinha sido beijada antes.
Eu tinha sido beijada bobamente antes.
Mas com Christopher, era a única vez que algo tão simples quanto um beijo
podia limpar completamente minha mente, sem deixar vestígios de nenhuma das
preocupações que eu estava contemplando no momento anterior.
Eu não sei quanto tempo ficamos lá assim, mas eu sabia que meus lábios
estavam inchados e doloridos, que meu corpo estava vivo, recebendo todo tipo de
ideias sobre o que poderíamos fazer para evitar que minha mente pensasse demais
em algo por um tempo muito longo.
Foi o pigarrear de uma garganta que conseguiu interromper o nada flutuante
na minha cabeça.
Não o suficiente para parar de beijá-lo de volta, mas o suficiente para estar
ciente de que provavelmente precisávamos mudar nossas atividades para algum
lugar com uma porta. Talvez até uma cama.
— Vou precisar que você tire as mãos dela, — disse uma voz.
Eu conhecia aquela voz.
Eu conhecia essa voz, assim como conhecia minha própria voz.
Ouvi-la foi um banho gelado para o meu sistema superaquecido.
Porque não pertencia aqui.
Neste mundo.
Nesse mundo novo, isolado, privado e feliz que eu viera a conhecer e amar.
Pertencia ao meu outro mundo. Um que foi gratificante, mas dolorosamente
status quo.
176
Christopher pareceu recuperar a compostura completa apenas um segundo
antes de eu conseguir fazê-lo, lábios e mãos me liberando, girando tão rápido que
eu mal conseguia captar o movimento, todos os músculos do corpo tensos com a
voz desconhecida enquanto ele usava o corpo como escudo para o meu.
Se eu não estivesse tão completamente e totalmente chocada, eu poderia
ter apreciado o quão gentil isso foi.
Mas tudo que eu conseguia pensar era: que diabos Quin estava fazendo aqui?
— Quin? — Minha voz saiu resmungada, fazendo Christopher meio que virar,
olhando por cima do ombro para mim, as sobrancelhas franzidas.
— Quin? — Ele perguntou.
— Meu chefe, — eu concordei, dando-lhe um aceno de cabeça.
Seu corpo não perdeu a tensão. De qualquer forma, ficou ainda mais rígido
quando ele se moveu para o lado, permitindo que eu olhasse do outro lado da
cozinha, encontrando Quin ali em um terno azul ligeiramente amarrotado, com os
olhos manchados de roxo por falta de sono.
— Aí está você, porra, — ele disse, relaxando um pouco os ombros.
A culpa era esmagadora, forte o suficiente para quase dobrar meus joelhos
ali.
Porque ele parecia cansado, preocupado e desarrumado por minha causa.
Porque ele percebeu que eu estava desaparecida. Seja porque ele não tinha ideia
de onde eu estava, o que poderia ter acontecido comigo. Por tantos amigos que eu
havia feito na minha vida, eu havia acumulado muitos inimigos também, aqueles
que ficariam felizes em me pegar, me afastando da minha vida.
E Quin, sendo o homem que ele era, se sentiria responsável por me
recuperar. Ele não seria capaz de comer, dormir, pensar direito até conseguir uma
pista.
Enquanto eu brincava de casinha.
Embora eu nunca, nenhuma vez perguntei a Christopher pela possibilidade
de ligar para casa e dizer-lhes que eu estava bem.
Deus, eu era uma idiota.
— Quin... — comecei, sem saber o que eu poderia dizer, que palavras
existiam que poderiam desculpar por deixar que todos se preocupassem comigo.
— Você está bem? — Ele perguntou, a voz um pouco sensível.
177
— Estou bem, — assegurei a ele, dando um passo à frente, sentindo a mão
de Christopher me agarrar no pulso, me parando.
E Quin? Ele não perdeu isso.
Seu corpo ficou rígido, o olhar se movendo sobre Christopher, avaliando-o.
Se tudo se resumisse a esses dois homens, eu não tinha ideia em quem eu
colocaria meu dinheiro.
— O que eu disse sobre colocar as mãos nela? — Quin perguntou entre os
dentes cerrados.
— Você está invadindo minha propriedade e acha que pode me dizer o que
fazer? — Christopher perguntou, a voz baixa, letal.
— Ok, ok, — eu disse, me libertando do aperto de Christopher, movendo-me
para o centro da cozinha, diretamente entre os dois, os braços levantando como se
eu pudesse segurá-los se eles decidissem que queriam ir para alguns rounds. —
Eu acho que houve um mal-entendido.
— Houve um maldito crime, — Quin corrigiu.
— Quero dizer, todos nós sabemos como Bellamy é, — comecei, observando
quando seu olhar passou para mim.
— Eu não estou falando do maldito Bellamy, Miller, — ele corrigiu, olhando
de volta para Christopher.
— Tudo bem, espere, — tentei novamente, me perguntando onde diabos
minhas habilidades de negociação confiáveis estavam escondidas.
Provavelmente, em algum lugar, ficando agradáveis e enferrujadas, decidi,
pois não havia boas ideias.
— Não tente me dizer que ele não te segurou contra a sua vontade, — Quin
atirou em mim.
— Ok, bem, talvez.
— Talvez? — Ele perguntou, a voz um sussurro abafado. — Você está zoando
comigo? Como é que há um talvez sobre isso?
— Bem, quero dizer, Bellamy me drogou e me sequestrou. Ele me levou para
a Grécia com Fenway...
— Maldito Fenway, — Quin resmungou baixinho, fazendo meus lábios se
curvarem. Maldito Fenway. Eu já ouvi essa frase mais vezes do que gostaria de
lembrar.
178
— Sim, mas esses dois meio que... fugiram assim que estávamos na praia
em Santorini. Onde Christopher e eu... tivemos uma discussão.
— Uma discussão? — Ele perguntou quando eu não continuei.
— Eu tinha uma proposta de negócios para Melody, — Christopher disse.
Quin visivelmente chocado com o som do meu nome, seu olhar disparando
para mim.
Ele sabia.
Claro, ele sabia.
Ele era meu chefe.
Ele conhecia todas as minhas informações pessoais.
Mas ele nunca usou.
E ninguém mais também.
Eu nunca ofereci a ninguém.
Então, obviamente, ele estava começando a juntar as peças.
— Se você não se importa, eu preferiria ouvir essa história de Melody, —
disse Quin, seu olhar segurando o meu, me desafiando a não dizer a ele toda a
verdade.
— O irmão de Christopher foi sequestrado, sendo mantido como refém por
Chernev.
— O figurão da heroína? — Quin perguntou, conhecendo aproximadamente
todos os principais jogadores do mundo.
— Sim.
— Bastardo cruel.
— Sim, bem, foi por isso que eu era necessária. Para negociar um acordo.
Por um bom preço.
Deus, eu nem pensava no dinheiro há mais de uma semana. Honestamente,
eu não tinha certeza se tinha pensado no dinheiro desde que voltei ao iate.
— Diga-me, Miller, você realmente teve alguma palavra a dizer nessa
transação? — Quin perguntou, esperto demais para o seu próprio bem. Ou o meu
nesta situação.
— Ok, não, — eu admiti, observando o queixo dele enrijecer. — Mas, na
verdade, foi um bom negócio. Melhor do que alguém já me ofereceu. E o trabalho
parecia bastante fácil.
179
— E você ainda está na porra da Grécia, por que motivo?
— Temos Alexander, o irmão de Christopher, de volta. Mas Chernev escapou.
E, aparentemente, ele tinha convertido um dos homens de Christopher. O qual não
descobrimos até que ele me atacou na cama.
— Ele o quê? — Quin perguntou, sua voz um silvo quase inaudível quando
suas mãos se fecharam em punhos.
— Está tudo bem. Eu estou bem. Realmente, não houve, você sabe, nenhum
dano físico ou qualquer coisa. Christopher entrou e lidou com isso.
Eu conhecia Quin bem o suficiente para interpretar o olhar em seus olhos
naquele momento, para saber que ele percebeu minhas palavras cuidadosamente
escolhidas.
Nenhum dano físico.
Mas continuei, porque não estava pronta para ir para lá. Se eu alguma vez
estaria.
— E porque Christopher não tinha certeza se algum de seus homens poderia
ser confiável naquele momento, ele juntou seu irmão e eu com apenas três guardas
e se dirigiu aqui para se esconder enquanto ele tinha Holden chamado para... fazer
alguns interrogatórios.
— Por que foi você que foi quase morta? — Quin perguntou, virando os olhos
acusadores para Christopher.
— Porque eu estava em uma ligação com ele, para distraí-lo enquanto
Christopher e seus homens estavam a caminho para recuperar Alexander.
— E ele odeia mulheres, — acrescentou Christopher. — Especialmente
aquelas em posições de poder.
— Há isso também, — eu concordei, assentindo.
— Há quanto tempo você está aqui? Em vez de Santorini? — Ele perguntou,
olhos afiados pousando em mim mais uma vez.
— Muito tempo para não encontrar uma maneira de ligar para você, — eu
disse a ele, balançando a cabeça. — Eu não estava pensando direito, — admiti.
— Aposto, — concordou Quin, olhando novamente para Christopher, a
acusação clara em seus olhos.
Eu sabia que tinha razão.
Quando voltasse a Navesink Bank, ele me forçaria a fazer terapia.
180
E eles jogariam em torno dessas palavras.
Síndrome de Estocolmo.
Mais surpreendente do que a ideia disso foi a ideia de partir.
— Como você me achou? — Eu perguntei, procurando algo para me distrair
dos pensamentos sobre ir embora.
— Começamos a nos preocupar quando não tínhamos notícias suas.
Ninguém a tinha visto. Nenhuma atividade em seus cartões de crédito. Finalmente,
Nia pegou um sinal no seu telefone. E você nunca vai adivinhar onde ela o
encontrou.
— Na casa de Bell, — eu assumi.
— E ele estava, oh, tão convenientemente fora em um trabalho e 'incapaz de
ser contatado' até novo aviso. Mas você conhece Nia, ela não se contenta em não
descobrir nada. Ela localizou alguns dos registros telefônicos dele na Grécia.
Arrisquei e pulei em um avião.
— Há quanto tempo você está no país?
— Mais ou menos quatro dias. Uma coisa é certa sobre aquele bastardo, —
ele disse, apontando o queixo em direção a Christopher. — Ele tem essas pessoas
em uma lavagem cerebral ao pensar que ele é um cara decente que nunca
sequestraria alguém.
— Ele fez muito por eles, — defendi imediatamente, automaticamente.
Uma sombra cruzou o rosto de Quin enquanto ele me ouvia. — Vou precisar
falar com você sozinho, Miller. Lá fora, — acrescentou. — Isso irá ser um problema?
— Ele perguntou, o tom fervente enquanto olhava para Christopher.
— Eu preciso falar com ele, — acrescentei a Christopher em voz baixa.
— Tudo bem, — ele disse, para mim, não para Quin. — Envie Collis para
dentro para que você possa ter um pouco de privacidade.
Eu dei-lhe um aceno tenso enquanto seguia meu chefe lá fora.
— Seu chefe disse para entrar, — ele disse a Collis, que voltou seu olhar para
mim, erguendo a sobrancelha.
— Ele disse, — eu disse a ele, dando-lhe um aceno tranquilizador.
— Olhe para isso, — disse Quin quando estávamos sozinhos. — Eles ouvem
a mulher da casa.
— Quin...
181
— Olha, Miller. Eu sei. Você tem uma queda pelos clientes às vezes. Eu
entendo. Eles são seu tipo. Alto, sombrio, e perigoso o suficiente para ser um pouco
divertido. Entendi. Mas esse homem teve seus amigos a drogando e sequestrando-
a, arrastando-a para um país estrangeiro e forçando você a trabalhar para ele.
— Foi estabelecido um acordo financeiro, — eu disse, erguendo o queixo.
— Você teve uma escolha ou estava simplesmente aproveitando uma
situação ruim?
Quin não chegou a ser o chefe porque ele era burro. O homem tinha grandes
habilidades de observação. E ele conhecia todos nós muito bem.
— Eu não tive muita escolha, — admiti. — Eu sabia que assim que chegamos
à costa, não havia volta para casa até que o trabalho estivesse concluído. E desde
que Bellamy e Fenway já haviam se decidido sobre com quem eram leais nessa
situação...
— Eu vou lidar com Bellamy e Fenway, — ele disse, uma promessa em sua
voz, e eu nunca quis ser o receptor da ira de um homem como Quin. — Mas, merda,
Miller, você está transando com um homem que a manteve contra sua vontade? O
que diabos está acontecendo com você?
— Eu não tenho uma boa resposta para isso. Simplesmente... aconteceu.
Muita coisa aconteceu desde aquele dia no iate, Quin. E acho que todos podemos
concordar que a preocupação com um ente querido pode nos deixar fazendo coisas
loucas, que normalmente nem sequer consideramos. Quer dizer, você pode me
olhar na cara e me dizer com cem por cento de certeza que se alguém tomasse
Aven, você não moveria o céu e a terra para trazê-la de volta? Que se você soubesse
de alguém como eu, alguém que poderia ajudar, você não faria exatamente o que
Christopher fez?
Eu sabia que ele não podia.
— Existem canais, Miller.
— Ele não tinha tempo.
— Lidamos com situações de emergência todos os meses, querida. Ninguém
está mais preparado para lidar com negociações de reféns num piscar de olhos do
que nós.
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— Ele não sabia disso. Ou ele não queria se arriscar com nós dizendo que
não. E ele tinha Bells no ouvido dizendo que poderia cortar o intermediário. Acho
que nós dois podemos ver por que ele fez dessa maneira.
— Isso não significa que está certo.
— Não, — eu concordei, assentindo.
— E isso não significa que você deve ignorar isso o suficiente para cair na
cama com ele.
Como regra geral, poucas pessoas poderiam me afetar. Eu tinha trabalhado
muito duro para me recompor, feito de materiais que ninguém podia enfraquecer.
Mas Quin, o homem que me deu uma chance, o homem que me ofereceu
uma vida que eu sabia que nunca poderia ter conseguido sem ele, ele poderia me
fazer sentir muito pequena e realmente quebrável.
— Ele tem sido bom para mim.
— Ele manteve você contra sua vontade.
— Para me manter segura.
— Eu mantenho você em segurança, — Quin respondeu, levantando a voz. —
Gunner, Smith, Kai, Finn, Lincoln e até mesmo o maldito Ranger, se necessário, te
mantêm segura. Mas ele não te deu essa opção, deu?
Não, não, ele não deu.
Mas naquele momento, eu nem estava o questionando.
— Olha, eu entendi, — ele disse, embora eu realmente não achasse que
sim. — As coisas têm sido sobrevivência, vida e morte. E ele alimentou e vestiu
você, e a manteve viva. Eu entendo como isso pode estimular sentimentos que a
Miller que eu conheço, a Miller que ajudei a treinar, a Miller que eu tenho
trabalhado lado ao lado há anos, nunca se sentiria em relação a alguém que fez
isso com ela. E eu estou pedindo que você veja essa situação através dos olhos da
mulher que você era apenas algumas semanas atrás.
Esse era o problema, não era?
Eu não era a mulher que era algumas semanas atrás. Muita coisa havia
mudado. Partes de mim se abriram. Baixei a aguarda. Aprendi novas habilidades,
explorei novas paixões.
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Aprendi que um homem poderia ser um lugar duro e macio, de alguma forma,
ao mesmo tempo. Aprendi que eles poderiam me querer por mais de uma noite. E
que eu poderia querê-los por mais do que isso também.
Eu não conseguia pensar como a Miller de algumas semanas atrás. Porque
eu não era mais ela.
— Mills, — Quin tentou, a voz ficando mais suave, os olhos implorando
para mim. — Você tem que sair comigo. Você vê isso, certo? Você tem que voltar
para casa.
— Chernev está guardando rancor contra mim, — disse a ele, incapaz de
dizer o que ele queria ouvir.
— E você, mais do que qualquer outra pessoa, sabe que estamos equipados
não apenas para mantê-la segura, mas para perseguir esse desgraçado e agarrá-
lo. Eu sei que você tem algum tipo de... sentimentos por aquele homem lá dentro,
— ele disse, lançando olhares furiosos para a casa. — Mas você sabe que somos
melhores nisso do que ele.
Provavelmente isso era verdade.
Afinal, éramos as pessoas, que homens e mulheres como Christopher
procuravam quando não conseguiam resolver seus próprios problemas.
Precisamente porque éramos bons nisso, porque podíamos produzir os resultados
desejados.
E se Quin, para não mencionar Smith, Gunner, Kai, Lincon e
Ranger, quisesse que Chernev estivesse extirpado e pendurado, era exatamente o
que eles conseguiriam. Eles não descansariam até que acontecesse.
— Você tem uma vida, Miller, — ele tentou, a voz mais suave, mais
persuasiva. — Acho que você se divertiu um pouco com esse cara, mas você
precisa voltar para a sua vida.
O problema era que ele estava certo, não estava?
Eu tinha um emprego.
Eu tinha uma casa
Eu tinha amigos
Eu tinha uma vida.
E estava a meio mundo de distância.
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E eu sabia que não devia pôr tudo de mim em um homem. Eu já tinha visto
o contragolpe disso muitas e muitas vezes na minha carreira. Quando terminou. E,
convenhamos, geralmente terminava. As cartas são contra o amor e os
relacionamentos. As pessoas mudavam. A vida os separavam. E haveria
devastação e incerteza.
E se eu fosse estúpida o suficiente para jogar tudo pelo que tinha trabalhado
tanto, lutando com unhas e dentes, para estar com um homem que poderia
eventualmente me jogar de lado, eu ficaria com absolutamente nada.
Nada.
Para fazer o quê?
Começar tudo de novo?
Um ano, cinco, dez, vinte anos mais velha?
Nem seria possível.
Sim, me sentia diferente. E sim, me importava mais profundamente com
Christopher Adamos do que qualquer outro homem que já conheci.
Isso valia todo o resto?
Era romântico pensar assim.
Mas também era tolice.
E eu estava velha demais para fixar meu futuro em esperanças e desejos de
menina, em vez de fatos e certeza de adultos.
— Eu sei, — sussurrei, minha voz uma imitação vaga e patética de garantia.
Eu nunca estive mais em conflito.
Eu nunca tive menos certeza de mim mesma.
— Ei, não, — disse Quin, a voz embargada quando olhou para mim, me
fazendo perceber que meus olhos haviam inundado, lágrimas ameaçando
transbordar e deslizar pelas minhas bochechas. — Não faça isso, — ele exigiu,
parecendo desesperado.
Eu já tinha visto esse homem lidar com mulheres chorando quase
diariamente. Ele fazia isso com diplomacia, com profissionalismo calmo.
Tudo isso foi arrancado agora, no entanto.
Ele era apenas um homem confrontado com lágrimas femininas. E ele não
tinha ideia do que fazer ou dizer sobre elas.
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— Cristo, Mills, eu não sei o que fazer com isso, — ele admitiu, os olhos
arregalados. — Eu, ah, você sabe, vou mandá-la embora, — ele decidiu, correndo,
fazendo o que os chefes faziam melhor: delegando.
Afastei-me das janelas, olhando para fora da varanda, a paisagem
deslumbrante embaçada através das lágrimas nos meus olhos.
Eu senti Christopher antes de ouvi-lo. Seu corpo se movendo atrás de mim,
perto, mas sem tocar.
— Você está indo, — disse Christopher, sua voz baixa, impossível de
interpretar.
O som de sua voz conseguiu arrancar o controle que eu estava segurando,
fez as comportas falharem, fez as lágrimas fluírem, trazendo com elas esse ruído
horrível, sufocado e choramingado que eu nunca tinha me ouvido fazer antes.
Com isso, suas mãos afundaram nos meus quadris, me virando, me
abraçando, me esmagando em seu peito.
— Eu sei, — ele murmurou no meu cabelo, os lábios pressionando lá. — Eu
sei, — ele repetiu, uma mão subindo e descendo minha espinha enquanto minha
alma limpava a incerteza, o medo, a perda potencial prestes a abalar meu mundo.
Muito tempo depois, tanto tempo que fico com vergonha de considerar
quanto tempo se passou, as lágrimas pararam, deixando-me frágil por dentro.
Os braços de Christopher me soltaram, seus pés dando dois passos para
trás, removendo a tentação do contato, seus olhos escuros fechados, encerrados,
impossíveis de ler.
Mas eles seguraram os meu quando seu rosto caiu em linhas sombrias.
— Isso sempre ia acabar.
Com isso, rasgando um pedaço do meu coração que eu não sabia que tinha
começado a pertencer a ele, e indo embora, deixando-me sangrando na varanda, a
mão pressionada sobre o peito, incapaz de me convencer de que a dor era apenas
na minha cabeça.
Foi algo como vinte minutos depois quando Quin reapareceu, malas que
realmente não me pertenciam em suas mãos.
— Vamos lá, Mills, — ele disse, me dando um sorriso tenso. — Vamos levá-
la de volta para casa.
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E sem outra opção mais uma vez, segui um homem em direção a um futuro
incerto que não tinha certeza de que queria.
187
15
Christopher
Sempre ia acabar.
Independentemente da verdade nelas, me arrependi de ter dito essas
palavras. Se não quando saíram da minha boca, então no segundo que senti o
impacto que elas tiveram na mulher que passou a significar muito para mim.
Ela parecia... destruída.
E isso foi depois que ela já tinha chorado no meu peito, encharcando minha
camisa.
Não havia razão para minhas palavras precisarem adicionar mais mágoa a
uma situação já dolorosa.
Eu não tinha desculpa.
Exceto que eu também estava sofrendo.
Era uma explicação de merda, se você pudesse chamá-la disso. Estar com
dor não era desculpa para infligir aos outros.
Tudo o que posso dizer em minha defesa era... esse era um território
desconhecido para mim. Era solo estranho em uma terra traiçoeira. E eu estava
sem um mapa ou bússola, ou uma estrela do norte para me guiar.
Eu me atrapalhei como o pioneiro não qualificado que era.
Nem disse adeus a ela.
Eu entrei, fui ao quarto dela, coloquei as malas na cama e comecei a enchê-
las lentamente.
Não demorou muito para que seu chefe, um homem chamado Quinton Baird,
estivesse no quarto comigo.
— Permita-me dar um conselho, Sr. Adamos, — ele disse, movendo-se em
direção à cama, fechando as malas às pressas, puxando-as para fora da cama. —
Se você levar essa mulher pelo pescoço assim novamente, eu não dou a mínima
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para quem você é, que aliados você pensa que tem, eu vou fazer você sofrer por
isso.
Com isso, ele saiu, pegou Melody na varanda dos fundos e a levou com ele
em direção ao carro que o esperava.
Eu nem disse adeus a ela.
Essa mulher que significou mais para mim em poucas semanas do que
alguém já significou na minha vida.
— Você apenas a deixou ir? — Alexander retrucou um pouco mais tarde,
quando chegou em casa e não a encontrou.
— Eu deveria acorrentá-la à cama, Alexander? — Perguntei, sem me importar
com a hora do dia, seguindo direto para o armário de bebidas.
— Talvez brigar por ela? — Ele sugeriu, indignado com a minha falta de ação.
— E qual seria o meu argumento? — Perguntei, servindo uma bebida,
virando. — Vir morar comigo, desistir de sua carreira, deixar seus amigos para
trás, esquecer sua terra natal e vir me fazer o jantar e aquecer minha cama. Por
que sou egoísta e quero que você faça isso por mim?
— Você poderia pelo menos ter dito a ela que queria que ela ficasse.
— Realizando o que, exatamente? — Perguntei, servindo outra bebida. —
Fazendo-a se sentir culpada por ter que ir?
— Talvez ela não tivesse ido embora. — Sua voz estava ficando mais alta e
com um tom estridente, como costumava fazer quando ele estava chateado.
— Contos de fadas são bons, Alexander, mas a vida real não é um. A vida
real torna o amor difícil. — Sim, amor. Não adianta nem tentar negar. Eu não tinha
energia, mesmo que quisesse. — Nunca é conveniente e fácil. E não supera todo o
resto.
— Talvez devesse, — ele sugeriu, o rosto desanimando.
— Talvez, — eu concordei, assentindo. — Mas isso não acontece. Eu não
podia esperar que Melody desistisse de coisas que não estou disposto a desistir.
Isso não é justo. Então, eu não a faria escolher.
— Então, é isso? Acabou? Você nunca vai vê-la de novo?
— O trabalho dela pode levá-la a Santorini algum dia. Nunca diga nunca.
Mas, não, eu não vou procurá-la, — eu disse a ele, caminhando em direção a ele
para ir até a porta.
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— Por que não?
— Porque eu não sou masoquista, — eu disse a ele, invadindo o corredor,
caindo na cama que estávamos compartilhando, cheirando-a nos lençóis.
Eu não poderia procurá-la.
Vê-la novamente.
Então a perder novamente.
Por causa dessa dor, que se espalhava pelo meu peito, serpenteando até
atingir cada centímetro de mim, afundando até sentir a dor na minha medula?
Eu não tinha certeza se conseguiria sobreviver uma segunda vez.
****
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A situação com ele não melhorou com o passar dos dias. Pelo menos em
Zagori, ele foi capaz de sair e explorar. De volta a Santorini, ele estava novamente
preso. E ele estava atirando seu mal humor e irritação em mim.
Como se eu não tivesse minhas mãos cheias com os meus.
Eu consegui afogar os meus. Ao me punir com atividade física, em pesquisas
incansáveis sobre Atanas Chernev, seus associados, seu paradeiro conhecido.
Não era perfeito, mas conseguiu manter minha mente focada durante a maior
parte do dia.
Se eu evitasse Alexander e Cora, não deixasse que os pensamentos de Melody
entrassem até que eu estivesse sozinho na cama novamente, desejando que
os cobertores ainda cheirassem a ela, querendo mais uma noite, chateado por não
poder pegar o telefone e perguntar a ela se estava bem, verificar se estava segura.
Eu ficava acordado imaginando, preocupando, coisas que normalmente não
eram naturais para mim, por horas, muitas vezes desmaiando uma ou duas horas
antes do nascer do sol, quando eu arrastava minha bunda da cama e atacava as
escadarias por uma hora ou duas.
— Você sabe, — disse Cora quando entrei na cozinha para pegar água, todos
os músculos do meu corpo doendo.
— Cora, por favor, — exigi, ouvindo a situação precária da minha voz. — Não.
— Eu estava conversando com Alexander esta manhã. Ele me disse que você
disse amor. Sobre a senhorita Miller.
— Estava crescendo, sim, — admiti, já que ela era a coisa mais próxima que
eu tinha no mundo de uma mãe, e era bom conversar com alguém que fosse
racional e lógica, e não cheio de tolices juvenis como Alexander. — Mas então
precisou terminar.
— Precisou, — ela repetiu, pressionando os lábios em linhas finas enquanto
se virava para olhar para mim.
— Sim.
— Eu te conheço desde que você era pequeno, Christopher, — ela começou,
me dizendo coisas que já sabia. — Eu sempre pensei que você era um garoto
esperto, um homem esperto. Não mais, — ela declarou, tirando um pano de prato
do ombro e batendo no balcão.
— Cora...
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— O amor não tem que acabar. Você mata. É assim que termina. E se você
fez isso, você é um homem muito burro, — ela me disse, levantando as mãos,
saindo pela porta dos fundos.
— Ela não está errada, — Alexander concordou, pegando uma garrafa de
refrigerante na geladeira e seguindo Cora para fora.
— Cristo, — explodi, inclinando a cabeça, me perguntando por que eu não
tinha um único aliado em minha própria casa.
Eles gostaram de Melody.
Eu entendi.
Pelo amor de Deus, ninguém gostava mais dela do que eu.
Mas isso não mudava que essa era a nossa realidade.
Todo mundo precisaria viver com isso.
Eu mais do que ninguém.
Eu precisaria encontrar uma maneira de lidar com isso que não envolvesse
quase me matar com exercícios, me afogar no trabalho, depois tomar uma bebida
ou cinco antes de dormir para tentar desmaiar.
Talvez eu tivesse ido mais longe se todos ao meu redor não estivessem
constantemente me chamando de burro por deixá-la ir.
Ninguém se sentia mais burro do que eu.
Deixar a única mulher que já significou algo para mim, significou muito para
mim de fato, ir embora. Sem briga.
Mas o que está feito está feito.
— Chefe, — Laird chamou, tirando-me dos meus pensamentos em repetição.
— Sim?
— Temos algumas informações sobre Chernev, — ele me disse, parecendo
satisfeito. E ele estaria. Por mais que eu estivesse me esforçando, estava
pressionando minha equipe. Para localizá-lo. Para eliminar a ameaça que ele
apresentava.
Eu não poderia dar muito a Melody.
Mas eu poderia lhe dar segurança.
— Tudo bem. Me dê dez minutos para tomar banho, e eu já volto.
Imaginei que o encontraríamos na Bulgária. Talvez, se ele estivesse com
medo, se escondendo na Turquia.
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Eu até me demorei no banho, deixando minha mente vagar para Melody, a
sensação dela, os sons dela, a necessidade por ela, sua fome por mim.
Quando finalmente entrei no escritório meia hora depois, não estava
preparado para o arquivo que meus homens haviam compilado para mim.
— Você tem certeza disso? — Disparei, virando as páginas do arquivo.
— Sim, — Laird me assegurou, assentindo.
— Quando ele entrou no avião? — Perguntei, meu coração batendo forte,
meu estômago revirando, me perguntando por que diabos isso não tinha sido algo
que eu tinha considerado anteriormente.
— Sete da noite de ontem, — disse-me Laird, dando-me a dura verdade não
considerada.
— Porra, — eu assobiei, jogando o arquivo, pegando meu telefone. — Baird.
Alguém tem o número de Quinton Baird?
Eles se mexeram por um momento antes de conseguirem um número,
repetindo-o enquanto meus dedos desajeitados batiam meu teclado, trazendo o
telefone até meu ouvido enquanto eu andava pelo meu escritório, sentindo um suor
frio irromper pela parte de trás do meu pescoço.
— Quinton Baird & Associados, — respondeu uma voz masculina
cortante. Eu esperava a gerente do escritório. Jules. Melody a fez parecer
diplomática e equilibrada. Os homens com quem ela trabalhava? Não muito. E
todos eles provavelmente guardam rancor contra mim.
— Aqui é Christopher Adamos, — comecei, ouvindo o tom desesperado da
minha voz.
— Sim? — Ele me interrompeu, parecendo muito mais interessado de
repente. — Bem, nesse caso, você pode ir se foder.
— Melody está em peri... — eu comecei antes de perceber que ele havia
encerrado a ligação.
— Foda-se, — eu esbravejei, tentando novamente. Tocou uma vez, foi
atendido e desligado novamente. Na terceira ligação, encontrei meu número
bloqueado. — Deus, droga, — eu assobiei, saindo correndo do escritório, entrando
no meu quarto, pegando uma mala, jogando coisas do meu armário nela.
— Sr. Adamos? — Laird perguntou, me seguindo.
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— Consiga um voo para sair de Santorini hoje à noite. Preciso pousar em
Nova Jersey, se possível. E preciso de um carro quando chegar lá.
— Certo, — ele concordou, já pegando seu telefone. — E Alexander?
— Leve-o de volta para Zagori. Mas não o deixe fora de vista. Não acho seguro
para todos nós estarmos no mesmo lugar agora. Não tenho muita influência política
nos Estados Unidos. Se eu for pego, cumprirei pena. Eu preciso saber que
Alexander está aqui e seguro. Pelo menos, Cora pode assumi-lo.
— Algo mais? — Ele perguntou, anotando em seu telefone.
— Continue tentando chegar a Baird enquanto estou viajando, — exigi,
saindo correndo pela porta, descendo as escadarias.
Se eu estivesse pensando racionalmente, teria percebido que minha melhor
opção seria ficar parado, tentar completar a ligação ao escritório ou qualquer
membro da equipe dela. Não entrar em um avião e perder dezesseis horas no ar.
Mas eu não estava pensando racionalmente.
Tudo o que eu conseguia pensar era que Chernev havia embarcado em um
voo para os EUA um dia antes de mim. E que havia apenas uma coisa nos Estados
Unidos que ele queria.
Melody.
Eu não podia deixá-lo pegá-la.
Tinha que fazer alguma coisa.
Não conseguia ficar girando os polegares em minha casa enquanto Deus
sabia o que estava acontecendo com ela a meio mundo de distância.
Eu tinha que chegar lá.
Tinha que fazer alguma coisa.
Tinha que proteger minha mulher.
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16
Miller
— Explique a lógica de proteger seu pau, mas não sua cabeça ou peito, — eu
disse, quando Bellamy entrou na casa segura acima do escritório, segurando um
dos coletes à prova de balas do primeiro andar sobre sua virilha.
— Sou valioso demais para você me matar, mas não colocaria uma castração
acima de você, — ele disse, dando-me um daqueles sorrisos que tornaram fácil
esquecer que ele te drogou e sequestrou.
— Você sabe, uma boa apólice de seguro contra ter seu pênis cortado por
uma mulher irritada não seria tão idiota, — sugeri enquanto ele jogava o colete
para o lado, movendo-se para a sala.
Eu estava no sofá com calças de ioga e um agasalho branco enorme que Finn
me emprestou depois de limpar o espaço no dia anterior. Mesmo que já estivesse
imaculado. Eu tinha um cobertor macio que Jules havia me trazido e um café em
minhas mãos graças a Kai.
Apenas um café quente comum.
Fingi que eu gostei, porque Kai era Kai, o que significava que ele se lembrava
desse tipo de coisa, mas não era o que eu queria.
Eu queria um frappé.
Com calda de chocolate. E talvez um pouco de caramelo. Mas queria um feito
especialmente para mim por Christopher.
Agh.
Mesmo dias depois, seu nome era como uma facada nas entranhas.
Não, isso não estava certo.
Uma vez eu tinha levado uma facada nas entranhas.
Aquilo foi ruim.
Isso era pior.
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Era como uma facada nas entranhas, a lâmina sendo tirada e depois tendo
ácido derramado dentro.
— Quero dizer, mas minha idiotice é metade do meu charme, — declarou
Bellamy, sentando-se no sofá ao meu lado, ocupando mais espaço do que
precisava, como costumava fazer. Bellamy não era fã de espaço pessoal. De
qualquer tipo de fronteira civil, realmente. Sim, ele estava certo, tudo fazia parte
do seu charme. Mas isso não significava que, quando você estava com raiva dele,
isso não lhe incomodava.
— Posso te perguntar uma coisa, Bells? — Perguntei, olhando para a TV que
estava teimosamente fixa em um grande documentário sobre tigres que não era
realmente sobre grandes tigres, mas um estudo de caráter de indivíduos cada vez
mais loucos. E, você sabe, deixando o público em geral saber que tipo de óleo usar
se você queria um tigre para comer um corpo. O que certamente era útil para
alguém lá fora.
Sem mais programas de culinária.
Porque eu os compartilhei com Christopher.
Sem mais filmes de ação.
Porque os compartilhei com Alexander.
E nada romântico por razões muito óbvias.
— Quão grande é? — Ele perguntou, chamando minha atenção de volta.
— Quão grande é o que?
— Minhas não mencionáveis, — ele esclareceu, os olhos brilhando. — Está
tudo bem perguntar. Não fique tímida. É natural imaginar. E fantasiar...
— Você não é do meu tipo, Bells, — eu disse a ele, mas senti meus lábios se
curvarem, e essa era a coisa mais próxima de um bom humor que senti desde que
Quin apareceu em Zagori para me trazer para casa.
— Eu sei, — ele concordou, o humor deixando seu tom, a cabeça balançando.
— Espere... — eu disse, sentindo meu corpo enrijecer.
— Agora ela está começando a entender, — ele me disse, os lábios se
levantando, mas principalmente sem humor.
— Você armou para mim? Quero dizer, não com apenas com um trabalho.
Mas tipo... você estava tentando armar para mim com Christopher?
— O que posso dizer? Vi algo lá.
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— Mas... por quê? — Perguntei.
Bellamy era absolutamente o tipo de pessoa para se intrometer. Tudo faz com
que ele enfie o nariz na sua vida. Até em seus relacionamentos. Ele seria o primeiro
a arrastá-lo para fora na cidade, se ele pensasse que você não tinha transado por
muito tempo.
Isso parecia diferente, no entanto.
Contrário a ele.
— Eu estava faminto por diversão ultimamente, — ele me disse, se
esquivando, apenas me dando uma verdade parcial. Eu conhecia esse movimento
muito bem. Os clientes tentavam fazê-lo o tempo todo.
— E você pensou que foder minha vida seria divertido?
— Melhorar, é mais como isso. Foder é um pouco dramático, você não acha?
— Não, na verdade, eu não acho. Na verdade, sei que não é dramático,
porque sou eu quem está vivendo isso.
— Vamos lá, você se divertiu. Admita.
— Fui mantida contra minha vontade. Fui isolada do mundo exterior. Quase
fui morta.
— Mas você teve Adamos entrando e salvando o dia, todo 'cavaleiros de
armadura brilhante' e coisa assim. Isso deve ter sido divertido.
— Sim, ativar um pouco do meu TEPT foi uma jogada estrondosa, Bells.
Seu rosto, geralmente tão calmo, tão despreocupado, tão incrivelmente
satisfeito consigo mesmo, parecia estranhamente sério, preocupado.
— Eu não sabia.
— Quero dizer, ninguém poderia prever que alguém entraria e tentaria me
matar na minha cama. Não posso ficar muito brava com você por causa disso.
— Eu quis dizer sobre você ter TEPT, menina bonita. Eu não sabia disso.
— Sim, bem, apenas uma pessoa realmente sabe. Então você não podia
ter nenhuma ideia. Eu não queria que ninguém soubesse.
— Essa pessoa é Adamos? — Ele perguntou, esperto demais para o seu
próprio bem, às vezes.
— Jogamos poker. O vencedor escolheu a pergunta pessoal.
Eu não mencionaria que, mesmo que Christopher não tivesse perguntado,
eu queria dizer a ele, queria que ele soubesse.
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— Você não pode simplesmente jogar strip poker como uma pessoa normal?
— Então você pode trapacear para me deixar de calcinha como da última
vez? — Eu retruquei, olhando semicerrado para ele.
— Se você queria um jogo justo, não deveria ter decidido jogar com um truque
conhecido, — sugeriu, me cutucando com o ombro.
— Acho que me apaixonei por ele, Bells, — admiti, com a voz baixa, porque
era surpreendentemente difícil de admitir. Como se fosse algum tipo de fraqueza.
Algo pelo qual outros poderiam me julgar.
— Eu estava começando a suspeitar disso, — ele concordou, assentindo. —
Passou muito tempo congelando as pálpebras para diminuir o inchaço. Você quase
conseguiu. Quase, — ele me disse, abaixando o queixo, me dando olhos tristes. —
Eu não quis que você se machucasse. Eu apenas pensei que vocês dois se dariam
bem. Ele convenientemente teve essa situação com seu irmão. Você estava entre
os casos. Foi afortunado.
— Exceto que não foi. Acredito que as palavras dele foram 'Sempre ia acabar’.
— Parece que ele também estava sofrendo.
Eu mesma tinha chegado a essa conclusão.
Eu estava passando por ciclos.
Uma parte desse ciclo era completa miséria e egoísmo, sendo completamente
consumida pela minha infelicidade. O próximo era aborrecimento comigo mesma
por me envolver. Então havia uma insegurança devoradora, a garantia de que eu
tinha meio que exagerado as coisas, e criado essa grande fantasia em minha
cabeça. E então, finalmente, havia a pequena e irritante ideia de que
talvez, possivelmente, o que tínhamos não era bobo ou unilateral, que ele gostava
de mim. Mesmo que suas palavras de despedida tivessem sido um pouco frias.
Frieza era um mecanismo de defesa.
Eu sabia disso muito bem.
Talvez ele estivesse usando isso para encobrir sua dor, possivelmente até
para me poupar mais dela. Desde que eu tinha enlouquecido naquele convés com
ele.
Não foi um dos meus melhores momentos, com certeza. Iria me assombrar,
para ser perfeitamente honesta.
Eu não gostava de estar tão fraca, tão vulnerável.
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Graças a Deus foram apenas Christopher e Quin que testemunharam.
Eu não via Christopher diariamente. E Quin era um homem muito bom para
me provocar com o meu colapso.
— O que você estava pensando, Bells? — Perguntei, balançando a cabeça. —
Quero dizer, sério. Se você quisesse que eu transasse, poderia ter me levado
a qualquer bar aleatório em qualquer canto deste país, encontrado alguém com
problemas escritos em sua testa. Você sabe, alto, moreno, bonito, coberto de
tatuagens, alguns deles talvez até mesmo símbolos de gangues. Então me encher
com tequila. E as coisas teriam se resolvido. Por que você me arrastou para o outro
lado do mundo para me apresentar a esse cara especial? Quando você sabia que
era condenado ao fracasso?
— Eu sabia que você poderia arranjar transas, Mills. Eu não estava tentando
te conseguir orgasmos. Se esse fosse o objetivo, eu teria conseguido um vibrador
para você. Ou uma daquelas coisas que sopra ar em seu clitóris. Eu li os
comentários mais brilhantes de um deles em um site uma vez, que dizia...
— Bells, — eu o interrompi. — Concentre-se. Estávamos conversando sobre
porque você armou para mim com Christopher, não recomendando brinquedos
sexuais.
— Bem, deixe-me dizer, esse estimulador veio altamente recomendado. De
qualquer forma, olhe, — ele disse, suspirando. — Entendo que nem todo mundo
veio da origem que eu vim. Nem todo mundo tem facilidade no departamento
financeiro, no departamento de carreira. Entendo que você teve que abrir caminho.
E até entendi que era mais difícil você. A única garota, na época, naquele clube só
de garotos. Assim, você deu uma surra neles. Você abandonou tudo o mais que a
vida tinha para oferecer. Você se definiu pelos sucessos da sua carreira. Você
construiu essa persona dessa garota viciada em trabalho malvada que evitava
homens como a praga, exceto pelas duas horas de diversão que eles podiam
proporcionar a ela na cama.
— Nossa, maneira de me fazer parecer uma viciada em trabalho com uma
triste vida pessoal que tem mais de alguns quilômetros rodados.
— Está tudo bem, Mills. É uma vida perfeitamente boa. Mas você não é
uma boa pessoa. Você é melhor que isso. Você merece melhor que isso. Você é
magnífica, Melody Miller, — ele me disse. Agora, todos pareciam confortáveis me
199
chamando pelo meu primeiro nome de repente. Também não conseguia decidir
como me sentia a respeito. — E você merece uma vida magnífica. Meu objetivo era
sacudir o status quo, para fazer você ver que o mundo tem outras coisas a oferecer
do que os problemas das pessoas que eles querem que você resolva. Mais do que
uma casa na qual você nunca passe algum tempo, do que raízes superficiais
enquanto você voa para lugares aleatórios a qualquer momento. Não por diversão,
nem por aventura ou experiência. Mas para trabalhar. Você precisava desacelerar
e se aprofundar na vida.
— E a única maneira de eu fazer isso era com um homem? — Eu desafiei,
apenas por princípio. Como um todo, não achei que alguém acusaria Bellamy de
ser sexista ou atrasado. Ele era um cara progressista.
— Acho que às vezes aprendemos lições mais rapidamente quando estamos
com o sexo oposto. Algo a ver com nossos instintos de homens das cavernas ou
alguma coisa assim. Mas acelera o processo de mudança. Quanto tempo você
demorou para perceber que não estava tão satisfeita com sua vida como pensava
que estava?
A verdade não era fácil de admitir. Mas o fiz independentemente. — Não
muito.
— Quanto tempo, após a sua inevitável resistência, demorou para você
começar a imaginar uma vida totalmente diferente para si mesma?
— Novamente, não muito.
— Eu não sabia que você se apaixonaria por ele, Mills. Pensei que talvez você
tivesse alguns sentimentos calorosos e começasse a pensar em coisas como
desacelerar, se acalmar e encontrar um homem estável?
— Eu aprendi a cozinhar, — admiti.
— Neste mundo de entrega-vinte-e-quatro-horas, por que diabos você
gostaria de saber como cozinhar?
— É relaxante. E é bom servir as pessoas com algo em que você dedica tempo,
esforço e pensamento. O quê? — Perguntei quando seus lábios tremeram.
— Estou apenas pensando em todos os aventais que posso comprar para
você no seu aniversário. Em rosa. Com babados. Aposto que eles até combinam,
oh como são chamados, as coisas que você coloca em suas mãos para não queimá-
las...
200
— Luvas de forno, — eu forneci.
— Olhe para você com a linguagem, — ele me disse, dando um tapinha na
minha coxa. — Você vai cozinhar para mim algum dia?
— Você teria que ficar no mesmo lugar por mais de algumas horas.
— Onde está a diversão nisso?
— Você já teve uma refeição caseira, Bells?
— Os cozinheiros em casa cozinhavam o tempo todo.
— Você sabe o que eu quero dizer. Uma refeição preparada com amor e você
em mente.
— Então nunca, — ele admitiu.
— Você já parou para pensar como isso é triste?
— Não.
— Você está considerando isso agora?
— Por quê? Então eu posso ficar realmente deprimido?
— Você quer que eu enfrente essas duras realidades, mas não quer fazer isso
você mesmo?
— Eu pensei que nós já falamos disso, — ele disse, batendo uma mão no
meu joelho para usá-lo para se levantar. — Você é incrível.
— Você também é incrível, Bells, — eu disse a ele, mesmo que ainda estivesse
um pouco brava com ele.
— Você pode não querer ser muito gentil comigo, — ele me disse, indo até a
porta.
— Por que não? — Perguntei, observando enquanto ele pegava o colete do
chão.
— Porque te arranjei com Christopher porque perdi uma aposta com Fenway,
— ele me disse, saindo, fechando a porta, sabendo que eu não deveria segui-lo.
Eu estava me acostumando desconfortavelmente a ficar presa. Embora, eu
tivesse que admitir, ser trancada na Grécia fosse preferível a Navesink Bank.
Não me interpretem mal, amava minha cidade.
Mas se olhasse pela janela, via uma mistura de vitrines e prédios de
apartamentos.
Pelo menos na Grécia, tinha uma visão épica da minha prisão.
E, você sabe, Christopher.
201
Aqui, eu tinha meus amigos.
Cada um deles apareceu. Finn tinha limpado, me trouxe algumas coisas da
minha casa, incluindo itens que eu sabia que tinham visto na cesta de roupa suja,
o que significava que ele tinha estado na minha casa também, fazendo sua habitual
limpeza profunda.
Jules, a cola que mantinha toda a nossa empresa unida, abasteceu a
geladeira e os armários, certificando-se de que eu tinha uma cesta cheia de itens
essenciais do banheiro.
Quin, Smith, Gunner e Lincoln apareceram periodicamente para me
atualizar sobre sua busca por Chernov. O que tinha sido frustrantemente
lento, produzindo quase nada.
Até Nia, nossa hacker residente e pesquisadora obsessiva, chegara a um beco
sem saída. Eu tinha certeza de que a distância não estava ajudando. Não pude
deixar de me perguntar se Christopher e sua equipe estavam tendo melhor sorte.
Tudo que eu sabia era que sentia falta da minha casa.
Sentia falta da minha cama.
Eu sentia falta de ar fresco.
Pelo amor de Deus, eu sentia falta de me exercitar.
O que estava dizendo alguma coisa.
Eu estava tentando me distrair. Assisti filmes. Brinquei no meu telefone,
salvando receitas que eu queria experimentar. Passei algum tempo cozinhando
com os itens que encontrei na geladeira e nos armários.
De repente, porém, senti muito mais simpatia pelos clientes que mantivemos
nesse espaço por semanas e semanas seguidas. Eu sempre revirava os olhos com
as queixas deles, já que estavam seguros e tinham um quarto adorável, todos os
programas de TV e filmes disponíveis, além de comida entregue na porta. Eram
uma espécie de férias forçadas. Nada para reclamar.
No entanto, eu estava na fase da reclamação.
Quin tinha saído algumas horas antes porque estava cansado por eu
choramingar por querer ir para casa.
— Quero saber por que Bellamy tinha um colete à prova de balas? — Smith
perguntou, parado na porta.
202
— É Bellamy, — eu disse a ele, dando de ombros. — Alguém sempre quer
colocar uma bala nele.
— Isso é verdade, — ele concordou.
— Você está aqui para me dar outra nenhuma-notícia?
— Na verdade, estou aqui para levá-la para casa.
— Espera? Sério? — Perguntei, animando-me um pouco.
— Todos nós vamos nos revezar ficando em sua casa. Mas todos
concordamos que você seria muito mais tolerável à distância, — ele me disse,
sorrindo calorosamente.
— Se soubesse que ser um pé no saco me daria o que eu queria, teria
começado muito mais cedo, — disse a ele, pulando do sofá, já correndo pelo
corredor, pronta para empurrar todas as minhas coisas de volta as malas que
Christopher me emprestou.
— Você é o primeiro? — Perguntei, entregando-lhe uma mala alguns minutos
depois.
— Sim.
— Você quer pedir uma pizza? — Perguntei, levando-o para fora da porta,
descendo as escadas, cada passo me fazendo sentir cada vez mais como um ser
humano real.
— Eu deveria estar em patrulha.
— Acho que você está mais em serviço de proteção. E você não seria mais
protetor se estivesse por perto? Quero dizer, há uma razão pela qual o Serviço
Secreto está, você sabe, ao lado do presidente.
— Você está comparando-se ao presidente agora? — Ele brincou, tirando a
mala de mim, jogando-a no porta-malas de sua caminhonete.
— Eu sou muito importante, — eu insisti, subindo no lado do passageiro.
— Aparentemente, sendo sequestrada. Duas vezes, — ele brincou, me
levando de volta para minha casa.
Fazia tanto tempo que o lugar parecia curiosamente estranho para mim. E
depois de Santorini, com todos os seus brancos, minha casa parecia um pouco
escura. Não de uma maneira ruim, mas era algo que eu nunca havia notado antes.
203
Minhas paredes eram uma paleta que eu havia escolhido em uma revista que
eu fingi ler quinze vezes, vigiando um cliente em um hotel. Era principalmente
marrom e creme, com um pequeno toque de verde sálvia.
Minha sala de estar era o mais escuro dos cômodos. Eu tinha escolhido a
amostra que era apenas uma sombra e meia escura demais para o espaço que
tinha apenas duas pequenas janelas voltadas para o pátio lateral arborizado. Para
ser perfeitamente honesta, eu estava com preguiça de voltar à loja para clarear a
tinta e depois passar por cima da parede que já havia terminado antes de perceber
que não era o melhor tom para o espaço.
A escuridão foi exacerbada pelo grande sofá marrom chocolate que estava
coberta por uma incompatibilidade de cobertores que Finn havia dobrado. Cada
um dos cobertores tinha sido presente de meus amigos que sabiam que, na minha
opinião, eram o melhor presente possível. Parecia que dizia algo doce quando
alguém lhe presenteava com conforto.
Havia uma infinidade de almofadas também. Honestamente, eu nem sabia
de onde elas vieram. Se tivesse que adivinhar, seria que Jules as deixou enquanto
eu estava fora trabalhando.
A sala inteira cheirava a alvejante, limão e o cheiro familiar de lavanda do
limpador de carpete que eu havia comprado alguns meses atrás e prontamente
esquecido.
— Vou abrir uma janela, — disse Smith imediatamente, franzindo o nariz.
Ele estava certo, os aromas eram um pouco opressivos. Eu não sabia como
Finn tolerava isso o tempo todo. Acho que era uma fonte de conforto para ele, parte
do ritual, parte de sua própria terapia pessoal.
— Ok, você pede a pizza. Eu vou tomar um banho. No meu próprio banheiro,
— eu disse, percebendo o luxo que era.
Eu consegui passar por esse ritual. Lavando meu cabelo. Raspando minhas
pernas. Fazendo um tratamento de condicionamento profundo. Espalhando loção
suave. Escovando meu cabelo.
Fui até o meu quarto, encontrando as malas ao lado da minha cama, trazidas
pelo prestativo Smith. Meu olhar foi imediatamente para um dos conjuntos de
pijama que Christopher havia comprado para mim. Minha mão alcançou o material
sedoso, tirando-o da mala.
204
E assim, a dor me atravessou mais uma vez, roubando meu fôlego, fazendo
um gemido acuado subir pela minha garganta.
Eu consegui me levar para cima da minha cama muito grande e vazia,
deslizando sob os cobertores pesados, me curvando para o lado, puxando um
travesseiro sobressalente para me aconchegar, principalmente para abafar os sons
do meu choro quando eles vieram com força e rapidez.
Eu não deveria ter sentimentos tão profundos por ele em tão pouco tempo. O
meu lado racional sabia disso.
O lado irracional, no entanto, não dava a mínima para o que era típico, sobre
o que a sociedade nos dizia sobre como, e quando, era apropriado se entregar
completamente a alguém.
Acontecia em seu próprio tempo, com suas próprias regras. Eu tinha certeza
de que a situação com Christopher e eu era um excelente exemplo disso.
Nenhum de nós estava procurando por isso.
Nenhum de nós realmente queria isso.
E, com certeza, nunca pensamos que encontrar isso de alguma forma nos
mudaria, nos impactaria tão profundamente.
Eu não poderia falar por Christopher, é claro. Pelo que eu sabia, ele estava
de volta à sua vida normal, levando para cama mulheres aleatórias, nunca as
deixando entrar em sua vida, enterrando lentamente a memória de mim sob um
desfile perfumado de outros corpos.
Mas, para mim, não havia como negar.
Eu mudei
Possivelmente para sempre.
De maneiras grandes, mas também pequenas.
Encontrei parte de mim mesma que não sabia que estava faltando ou que
tentava tanto enterrar. E agora que estavam recuperadas, eu não queria perdê-las
novamente, enterrá-las novamente. Eu queria sentá-las tomando café e pedir
desculpas por negá-las. Queria convidá-las para a minha vida.
Eu queria cozinhar refeições para os entes queridos.
Eu queria desacelerar um pouco o trabalho.
Eu queria ter amor e talvez até ter filhos.
Eu queria uma vida.
205
De alguma forma, eu havia conseguido fazer uma lavagem cerebral durante
anos de que o que eu tinha era uma vida. Era ocupada, agitada, interessante e
desafiadora. E todas essas coisas somavam um tipo distante de realização,
satisfação.
Mas não era felicidade.
Nem satisfação.
Não havia nada de errado em ter sua carreira sendo prioritária, mas, a menos
que você estivesse curando câncer ou erradicando doenças infecciosas que
poderiam acabar com metade da nossa população, eu estava começando a pensar
que não era saudável o trabalho ser seu tudo.
Especialmente para pessoas como eu.
Em carreiras como a minha.
Eu não era idiota. Meu trabalho tinha uma data de validade. Eu não seria
capaz de fazer isso até que a segurança social aparecesse quando tivesse, o que,
sessenta e sete. Eu seria forçada a me aposentar bem antes disso.
E depois o quê?
Não, sério, e depois o quê?
O que eu teria?
Quem eu teria?
Amigos, claro.
Mas eles tinham suas próprias vidas, suas próprias famílias. Eles só
estariam por aí. Eles nunca seriam capazes de preencher as longas horas de vigília.
Algo tinha que mudar na minha vida.
Eu já tinha começado a mudar.
Queria as coisas que tinha pensado por tanto tempo que não fossem para
mim.
Uma vida mais lenta.
Raízes mais profundas.
Família.
Crianças.
Christopher.
Meu coração jogou esse último aí.
E por mais irracional que fosse, não podia negar que era verdade.
206
Eu o queria.
Eu queria essas coisas com ele.
Mesmo que não fosse possível.
A dor por isso era algo devorador às vezes, um buraco negro com um plano
de sugar tudo para suas profundezas.
— Mills... — a voz de Smith chamou o que pareceu uma vida mais tarde, seu
tom cauteloso, triste, me fazendo perceber que o travesseiro não estava fazendo um
trabalho tão bom quanto pensava em manter os soluços e os choramingos
silenciosos.
— Estou bem, — opus, respirando fundo.
— Você não está bem, — ele objetou, fazendo a cama ceder quando se sentou
na beira. — Mas acho que você não vai falar comigo sobre isso.
— Eu estava começando a amá-lo, — admiti, achando que era mais fácil me
abrir quando tinha o rosto enfiado no travesseiro. — Eu sei que Quin pensa que
tenho Estocolmo ou algo assim, mas não é isso. Foi real.
Houve uma risada sem humor quando sua mão bateu na minha coxa. —
Deixou se apaixonar por um senhor do crime, hein? — Ele perguntou, fazendo um
pequeno sorriso puxar meus lábios, encontrando conforto em suas provocações. —
Por que você não liga para ele? — Ele sugeriu.
Eu odiava admitir que nem sequer tinha o número dele, que poderia estar
realmente fraca o suficiente para ligar para ele, se tivesse.
— Não faz sentido, — eu disse. — Ele mora na Grécia, — acrescentei, —
balançando a cabeça.
— Ouvi dizer que ele realmente tem dupla cidadania, mas, sim, ele mora lá.
Você gosta da Grécia.
— Eu gosto daqui também.
— Talvez ele gostaria também.
— Eu sei que você está tentando ser um bom amigo, mas você está fazendo
parecer que é possível. Só... não é, — eu disse, sentando-me, suspirando.
Seu olhar mudou para o meu rosto, provavelmente observando os olhos
inchados, as bochechas manchadas de lágrimas, tão diferente de mim, mas eu não
conseguia nem dar a mínima sobre isso.
207
— Acho que muitos de nós percebemos que coisas que pensávamos
impossíveis na verdade não são.
— Você e Jenny são uma história única, — insisti.
— Sim? E Quin e Aven? Gunner e Sloane? Kai e Jules? Lincoln e Gemma?
Ranger e Meadow? Somos todos apenas, o que, mais únicos? Do que você com um
senhor do crime grego?
— Vocês todos pelo menos moravam no mesmo país desde o início, — insisti,
revirando os olhos.
— Isso é verdade, — ele concordou, movendo-se para ficar de pé. — Eu só
estou dizendo, coisa como a distância? Isso é superficial. Se esse é o único
obstáculo, não é o que deveria te derrubar.
— Você me viu tentando me exercitar, certo? — Retruquei, fazendo-o se
voltar, um sorriso grande e pateta em seu rosto geralmente muito sério.
— Quer saber, você está certa. Precisamos começar com algo pequeno. Como
um curso de adestramento para cães, ou algo assim.
— Idiota, — falei, jogando o travesseiro em sua forma em fuga.
Apreciei Smith por seu apoio incansável. Mesmo que estivesse
equivocado. Mesmo que fosse tóxico, porque me incentivou a considerar as coisas
que meu coração esperava também, mas minha mente sabia que não era possível.
Eu saí da cama, tirando minha toalha, vestindo o pijama que Christopher
havia me trazido.
Eu provavelmente deveria ter feito Jules doá-lo ou algo assim.
Mas a ideia fez meu estômago doer.
— Vou comer essa pizza inteira sem você, Mills, — Smith disse, me
arrastando para fora dos meus pensamentos tristes.
Muita coisa havia mudado.
Uma coisa que não tinha, no entanto, era meu amor por comida.
Então, comi pizza com Smith.
De manhã, tomei café da manhã com Kai e Jules.
Então almocei com um Gunner invulgarmente quieto. Tão quieto, na
verdade, que ele nem sequer me provocou por dormir com Christopher. O que,
bem, se você conhecia Gunner, ele simplesmente não era assim.
208
— E aí? — Perguntei. — O que você está escondendo de mim? — Eu
esclareci. Seu olhar se afastou, sua cabeça sacudindo. — Você não vai escapar tão
facilmente, — acrescentei. — Você vai me fazer ligar para Sloane? — Perguntei.
— Olha, ele ligou, certo? Ele ligou para o escritório, — ele me disse,
levantando-se, andando em direção à porta.
— Espere, o quê? Quem ligou? Christopher? — Perguntei, meu coração
disparando inesperadamente.
— Sim, esse bastardo.
— Ele não é um bastardo, — opus. — Bem, não mais do que você é, de
qualquer maneira. — Eu provoquei enquanto minha barriga tremia com a ideia de
que ele havia ligado, que ele havia contatado, que ele havia tentado me
encontrar. — O que ele disse?
— O nome dele.
— O nome dele?
— Então eu desliguei e o bloqueei.
— Gunner, que porra é essa? — Perguntei, meu tom enganosamente
silencioso.
Como ele pôde desligar o telefone? Como ele poderia pensar que tinha
o direito de tomar uma decisão como essa?
— Ele sequestrou você, Mills. Sequestrou. Entendo que você ainda está
encantada sobre o pau daquele idiota, mas receber ligações do seu sequestrador é
estúpido pra caralho.
— Bem, talvez, — eu concordei, embora não concordasse. — Mas essa era a
minha decisão estúpida a tomar, Gunner. Não sua. Você não é meu pai, irmão ou
guardião.
— Eu sou seu amigo, — ele objetou. — Eu sou a coisa mais próxima de
família que você tem. E acho que você está fodida na cabeça, se você estiver bem
com o fato de que ele a manteve contra sua vontade. Quero dizer, mas que porra?
— Foi um trabalho.
— Sim? Então, onde está o maldito salário, Miller?
— Não se envia um cheque de oito milhões de dólares, — declarou uma voz
através da porta de tela no final da cozinha.
Não apenas qualquer voz.
209
Aquela voz.
A voz dele.
Houve uma fração de segundo de preocupação que eu poderia finalmente ter
quebrado, que estava alucinando com ele aparecendo na minha casa, que estava
realmente tão louca quanto Gunner alegou.
Até ouvir Gunner xingar, ver sua mão entrar no coldre de cinto, pegando
uma arma.
Meu olhar disparou em direção à porta, encontrando um Christopher vestido
de terno do outro lado, seu olhar escuro focado em mim, ignorando completamente
a arma apontada para ele.
— Eu lido com você mais tarde, — disse Christopher, abrindo a porta, dando
a Gunner um olhar de desdém enquanto se dirigia para mim.
Mas, bem, Gunner era Gunner. Protetor daqueles que ele amava. Mesmo que
chamasse as pessoas que amava como fodidas na cabeça.
Ele se moveu diretamente no caminho de Christopher.
— Dê o fora dessa casa, — ele exigiu, inclinando a arma.
— Acredito que esta seja a casa de Melody, — disse Christopher. — O que
significa que ela é quem pode permitir as pessoas. Não você.
"Melody”? — Gunner perguntou, virando-se para poder me olhar com uma
confusão clara em seus olhos. — Melody? — Ele perguntou novamente, mas desta
vez, perguntou para mim.
— É o meu nome, — eu disse, assentindo.
— Claro, é o seu nome. Mas você nunca diz isso a ninguém.
— Ela me disse, — disse Christopher.
— Sim? Ela fez isso enquanto estava drogada? Ou sendo mantida prisioneira
em sua casa?
— Ela me disse seu nome na cama, — Christopher disse a ele, sem pestanejar
— Seu filho da puta... — Gunner começou.
— Ok. Ok. — Eu berrei, avançando, levantando minhas mãos. — Não vamos
a isso, — sugeri, olhando entre eles.
— Despeça o seu cão de guarda, kardia mou, — exigiu Christopher em voz
baixa.
Kardia mou.
210
Eu não conhecia essa.
Mas gostei de como isso soou.
— Ele não é meu cão de guarda. Ele é mais como um vira-lata com sarna e
raiva no estágio final, — eu disse a ele, dando a Gunner um sorriso. — Abaixe a
arma, pelo amor de Deus, — exigi, revirando os olhos. — O que você está fazendo
aqui? — Perguntei a Christopher, minha voz um som baixo e estranho.
— Eu liguei. Algumas dúzias de vezes, — acrescentou, lançando a Gunner
um olhar assassino.
— Você não precisava falar com ela, — objetou Gunner.
— Eu precisava conversar com alguém, — ele disse, fazendo meu coração
doer um pouco, imaginando se isso era apenas uma coisa técnica. Como se ele
precisasse de um endereço para enviar meu cheque. — Para lhe dizer que Atanas
embarcou em um avião para os Estados Unidos há um dia e meio.
Com isso, Gunner ficou subitamente muito sério, seu corpo endurecendo. —
O quê? Como você sabe disso?
— Porque meus homens e eu temos comido, dormido e respirado rastreando-
o desde que Melody se foi. E desde que seu escritório se recusou a atender minha
ligação, — ele disse, voltando sua atenção para mim. — Tinha que vir e avisar você
eu mesmo.
— Como você conseguiu o endereço dela? — Gunner exigiu, acusação clara
em sua voz.
— Felizmente, Quinton administra uma empresa respeitável. Uma empresa
registrada. Então eu fui ao seu escritório.
— Jules nunca daria seu endereço, — objetou Gunner. Por mais que esses
dois nunca se dessem muito bem, ambos tinham um respeito relutante um pelo
outro.
— Não, — Christopher concordou. — Mas um homem chamado Smith deu.
Oh, bom e velho Smith.
Um barulho rosnado escapou de Gunner, completamente indignado com o
nosso colega de trabalho, a seus olhos, traidor.
— Devo a Smith uma nova ferramenta para sua marcearia ou algo assim, —
decidi em voz alta.
— Tudo bem. Certo. Você veio e nos avisou. Agora saia, — exigiu Gunner.
211
Christopher ficou completamente sossegado com a raiva de Gunner, voltando
sua atenção para mim mais uma vez, com um olhar ilegível. Quando ele falou, sua
voz era suave, como uma carícia na minha pele.
— Você quer que eu saia?
— Sim, — respondeu Gunner, mas sua voz estava se tornando um ruído de
fundo.
— Não, — eu disse a ele, balançando a cabeça suavemente. — Você parece
cansado, — acrescentei.
— Não consegui dormir desde que meus homens me deram a notícia.
— A culpa brinca com o seu horário de sono, — concordou Gunner.
— Gunn, — eu exigi suavemente. — Esquece isso.
— Absolutamente não.
Para isso, Christopher soltou um pequeno suspiro, voltando sua atenção
para Gunner mais uma vez.
— Sua objeção à mim é que você pensa que pretendo machucar sua amiga?
— Ele perguntou.
— Minha objeção começa com você sequestrando-a, cobre você aprisionando-
a e termina quando você der o último suspiro.
Para isso, um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Christopher.
Eu conhecia esses dois homens.
E ambos valorizavam altamente a lealdade. Então, por mais que Gunner
estivesse sendo um idiota com ele, Christopher apreciou sua lealdade a mim.
— E se eu lhe dissesse que se tornou muito mais do que isso? — Christopher
perguntou.
— Eu diria que a lavagem cerebral é um crime.
— Não acho que tecnicamente seja, — eu entrei na conversa.
— Você não está ajudando, Mills.
— Não, — Christopher interrompeu, tom cortante, — fale com ela assim.
— Eu posso falar com ela como quiser. Sou seu colega de trabalho e amigo
há anos. Você é apenas um idiota que a fodeu.
Eu me preparei, quase certa de que isso iria acabar em socos, me
preocupando com a minha capacidade de acabar com isso quando acontecesse.
No entanto não poderia estar preparada para o que realmente aconteceu.
212
Pelo que foi dito.
O olhar de Christopher nivelou com Gunner, mantendo contato visual.
— Eu a amo.
Ele poderia muito bem ter atacado, porque Gunner parecia ter levado um
soco no rosto. Ele ficou de queixo caído. Os olhos dele se arregalaram. Havia um
olhar completamente vazio em seu rosto.
Enquanto isso, me senti similarmente atingida.
As palavras me fizeram sacudir fisicamente.
Houve um disparo no meu peito e uma queda no meu estômago simultâneo.
Esperança.
E medo.
Que ele não falava sério.
O que era ridículo. Porque se havia uma coisa que eu havia aprendido em
meu tempo com Christopher Adamos, era que o homem era impecável com sua
palavra.
Quero dizer, ele gastou centenas de milhares de dólares para me comprar os
itens absurdos que eu havia colocado naquela lista. Porque ele não voltou atrás em
sua palavra para me conseguir o que eu precisava. Mesmo que soubesse que eu
estava ferrando com ele.
Gunner, no entanto, não sabia disso sobre Christopher.
— Nunca diga merdas assim quando não estiver falando sério, — ele exigiu.
— Ele fala sério, — opus.
— Mills, — disse Gunner, de cabeça baixa, balançando, se desculpando,
provavelmente pensando que eu estava sendo patética.
Talvez estivesse.
Mas eu também estava certa.
— Ele pode ser um monte de coisas que você não aprova, Gunn. Mas ele não
mente.
O olhar de Gunner se moveu entre nós dois, o rosto uma mistura de
confusão, desconfiança e, finalmente, resignação.
— Quer saber, tudo bem, — ele disse, levantando a mão. — Mas não vou
ficar aqui para isso. Vou lá fora ligar para Quin. Bem aí fora, — ele acrescentou
como um aviso enquanto passava por Christopher.
213
— Eu gosto dele, — decidiu Christopher quando Gunner saiu do cômodo.
— Claro que sim, — eu disse, revirando os olhos. — Sinto por você ter que
vir até aqui, — eu disse depois de um silêncio constrangedor que estava fazendo
minha barriga começar a tremer.
— Eu não, — ele disse, a voz um som suave, fazendo meu olhar se
levantar. — Eu queria ver você, — ele me disse, levantando a mão, colocando meu
cabelo atrás da orelha.
— Eu pensei que as coisas deviam acabar, — eu disse, incapaz de evitar,
precisando que ele contestasse esse comentário.
— Dizer e querer são coisas muito diferentes, — esclareceu. — Só porque eu
sabia que você iria embora eventualmente, não significava que quisesse que você
fosse. Gostaria que tivesse ficado.
— Por que você não disse isso?
— Para conseguir o quê? Fazer você se sentir em conflito por partir? Que bem
isso teria feito?
— Teria me dito que era mais do que um pequeno caso para você.
— Foi mais do que um caso para mim, — esclareceu. — Mas eu não poderia
pedir que você deixasse tudo o que importava para você e passar mais tempo
comigo. Não posso afirmar que sei algo sobre amor, Melody, mas tenho certeza de
que não deve ser tão egoísta.
— Você não tinha que me pedir para desistir de nada.
— Vivemos em diferentes partes do mundo.
— Sim, e na era de ouro da internet.
— Eu não quero ter um relacionamento através da tela do telefone, Melody.
— Você não sabe que tipo de relacionamento você quer, Christopher. Mais
do que eu. Isso é algo novo para nós dois.
— Eu sei que gosto de ter você em minha casa. Na minha cama.
— Eu gosto de estar lá também. Mas acho que somos adultos razoáveis que
podem aprender a equilibrar a vida e o trabalho e tudo o mais.
— Então, você quer tentar fazer isso? — Ele perguntou, parecendo
esperançoso.
— Não sei se você já ouviu falar, mas sou muito boa em negociar um acordo
para que todas as partes envolvidas partam felizes.
214
— Eu acho que isso pode ser útil, — ele concordou, sorrindo enquanto seus
braços passavam ao meu redor.
Sim.
Eu negociei para tirar suas roupas.
E na minha cama.
Todo o resto poderia esperar.
215
Epílogo
Christopher - 3 dias
216
Era muito parecido com Zagori. Mas, em vez de ficarmos contornando os
sentimentos que brotavam entre nós, estávamos encarando-os abertamente,
falando sobre eles, analisando-os.
Não havia nada de sexy nos calendários e horários de trabalho, mas havia
algo inegavelmente empolgante em sentar e discutir os detalhes de como faríamos
isso funcionar. Quanto tempo nós passaríamos em Nova Jersey, quanto na Grécia,
o que aconteceria se ela fosse chamada para um trabalho.
— Você precisará relaxar a mandíbula, — ela exigiu quando abordou o
assunto. — Goste ou não, eu vou continuar trabalhando. Se você queria uma
mulher descalça na sua cozinha até o fim dos tempos, não deveria ter decidido
sentir algo por mim.
Para isso, meus lábios se curvaram um pouco para cima.
Apreciava a sua determinação.
Eu respeitava seu desejo de ter uma carreira, mesmo que não fosse mais
necessária para ela. Ela não precisaria trabalhar uma vez que o cheque fosse
liberado para seu trabalho mais recente para mim. Mas eu entendi que o trabalho
poderia se tornar parte de você, que você não se sentiria mais como você mesmo
se não o tivesse.
Mesmo que a ideia de seu trabalho em particular coloque um poço de
incerteza no meu estômago.
Especialmente depois de ouvir como alguns desses trabalhos tinham sido.
— O que acontece se, algum dia no futuro, você decidir que está pronta para
ter filhos? — Eu perguntei. Se dependesse de mim, começaríamos imediatamente.
Mas ela era mais nova. Ela tinha tempo para decidir.
— Obviamente, eu não estaria me colocando em situações perigosas se
estivesse grávida. E, bem, depois disso... eu teria que pensar um pouco, — ela
admitiu. — Eu não me prevejo sempre sem trabalhar. Mas posso me ver abrandar,
ou tendo apenas trabalhos que sei que seria seguro.
— Como tirar Fenway de algum novo acidente internacional?
— Exatamente, — ela concordou, me dando um sorriso. — Ainda não
descobri como vou fazê-lo pagar por seu envolvimento em me sequestrar.
217
— Não? — Perguntei, estendendo a mão para agarrá-la, puxando-a para o
meu colo. — Porque acho que vou entregar a ele um suprimento vitalício daquele
vinho grego que ele estava procurando.
Eu nunca pararia de dever a ele e Bellamy.
Mas imaginei que tínhamos uma vida inteira para pagá-los por nos reunir.
Miller - 2 semanas
218
— Sim, Aven o queria em casa. Ele sabia que tínhamos tudo sob controle. Vá
para casa com sua mulher.
Meia hora depois, ele fez exatamente isso, enquanto Christopher e eu
comíamos nosso pão caseiro que usamos para passar no molho em um prato de
macarrão assado que encontrei no Pinterest para experimentar.
— Qual é o problema? — Ele perguntou enquanto eu estava na pia, lavando
os pratos antes de colocá-los na máquina de lavar louça, fazendo-me perceber que
eu havia soltado o resmungo que senti por dentro.
— Há um assunto muito sério que esquecemos de discutir, — eu o informei,
a voz grave quando me virei para encará-lo, recostando-me no balcão.
— Qual? — ele perguntou, franzindo as sobrancelhas.
— Os degraus.
— Os degraus? — ele repetiu, perdido.
— Para a casa-caverna, Christopher. Os degraus. Prometi às minhas coxas
que nunca mais as colocaria neles
Para isso, seus olhos dançaram, seus lábios se contraíram. — Teremos que
treiná-las para endurecer.
— Parece que isso envolve exercício, — eu disse, curvando os lábios.
— Bem, — ele disse, o olhar ficando sensual. — Existem algumas formas de
exercício melhores que outras, — ele me disse, curvando-se, jogando-me por cima
do ombro e me carregando para o meu quarto.
Ele estava certo.
Se pudesse escolher o sexo como uma maneira de tonificar o tempo todo, eu
o faria. E, eu imaginei, agora que tinha um cara firme, realmente podia.
Definitivamente, havia muitas vantagens em ter uma pessoa significativa que
eu nunca havia considerado antes.
Uma das minhas partes favoritas, no entanto, era a maneira como ele me
alcançava depois que nossos corpos estavam exaustos, uma vez que conseguíamos
voltar sob os lençóis novamente, me puxando para cima de seu peito,
preguiçosamente passando os dedos sobre mim até que eu estivesse muito
relaxada para fazer outra coisa senão cair no sono.
— Isso não é aconchegante?
219
Eu gostaria de poder dizer que fiquei chocada ao acordar assim. Que soube
instantaneamente o que estava acontecendo. Que imediatamente entrei em ação.
Mas tudo o que notei imediatamente foi uma pequena onda de
aborrecimento, imaginando qual dos meus colegas de trabalho havia desativado
meu sistema de segurança apenas para esgueirar-se e provocar-nos enquanto
estávamos na cama.
Demorou quase um tempo embaraçosamente longo para perceber que
nenhum deles faria uma coisa dessas.
E que o corpo inteiro de Christopher estava tenso embaixo de mim, seus
dedos cutucando meu quadril.
Meus olhos se abriram, e eu estava agradecida por ter discutido com
Christopher sobre a necessidade de deixar a TV baixa enquanto eu dormia à noite,
porque fazia o quarto, que de outra forma estaria escuro como breu, iluminado
com um tom arroxeado, tornando-o possível distinguir Chernev inclinado
casualmente na porta, o olhar sobre o meu corpo quase completamente nu.
Na verdade, eu podia sentir o caminho que seus olhos seguiram, deixando
uma prova viscosa em seu rastro.
— Nem pense nisso, Adamos, — ele exigiu enquanto o corpo de Christopher
se movia levemente, provavelmente tentando se aproximar da arma na mesa de
cabeceira sem Chernev perceber.
— Senhorita Miller, — ele disse, fazendo meu estômago revirar. — Por que
você não desliza do outro lado da cama para mim? — Ele perguntou, e ficou claro
que não era uma sugestão. Desde que ele era atualmente o único de nós segurando
uma arma.
— Não, — Christopher retrucou, passando o braço com mais força ao meu
redor.
— Acho que não depende de você, — disse Atanas, com palavras geladas.
— O que espera conseguir aqui, Sr. Chernev? — Perguntei, desembaraçando
meu corpo de Christopher, tentando juntar os lençóis para cobrir meu corpo nu
enquanto me sentava na cama.
— Fazê-lo sofrer, — ele decidiu, com os dentes cerrados. — E você, —
acrescentou, atirando-me olhos desdenhosos. — Venha aqui, — ele exigiu.
Havia duas escolas de pensamento aqui.
220
A de Christopher e a minha.
Não tive que perguntar a ele para saber que ele pensava que eu chegar perto
do homem era um erro gigante.
Mas a minha dizia que chegar perto significava que talvez eu pudesse
controlar sua arma. Ou, se nada mais, distrai-lo bastante para permitir que
Christopher pegue sua arma e ponha um fim a tudo isso.
Respirando firme, decidi optar pela distração.
Estômago revirando, deslizei para fora dos lençóis, saindo do lado da cama,
mantendo o olhar em Atanas enquanto eu me movia ao redor da cama, a bunda
completamente nua.
— É isso que você queria, Atanas? — Perguntei. Não consegui reunir o tom
sugestivo que sabia que deveria usar, me sentindo um pouco enjoada com toda
essa interação para estar no meu auge.
Ele não disse nada.
Ele nem olhou para mim.
Nem mesmo quando eu estava ao lado dele.
Seu olhar permaneceu em Christopher.
Até que, num piscar de olhos, estava em mim. Mas só porque a mão dele
estava no meu pescoço. E a arma estava pressionando meu crânio.
Eu podia ouvir o assobio de respiração de Christopher sobre as batidas do
meu próprio coração.
Fechei os olhos com força, procurando algum tipo de calma interior, tentando
evocar lembranças das aulas de autodefesa, de brigar com Smith e os caras para
ter certeza de que todos éramos capazes de escapar de vários ataques básicos.
— Derruba essa mesa de cabeceira com o pé, Adamos, — exigiu Chernev,
querendo afastar a arma dele sem que ele pudesse enganá-lo.
Embora eu tivesse certeza de que Christopher não arriscaria. Ele tinha que
saber tão bem quanto eu que, se tentasse, eu estaria morta antes que ele pudesse
apontar a arma.
Com os olhos fechados, ouvi o clamor da minha mesa de cabeceira batendo
no chão.
— Olhe para mim, sua vadia, — exigiu Atanas, um hálito quente no meu
rosto.
221
Engolindo em seco, meus olhos se abriram.
— Você pensou que tinha algum poder sobre mim, sim? — Ele perguntou,
pressionando a arma um pouco mais forte na minha têmpora. — Agora vou
mostrar quem tem o poder. Fique de joelhos.
— Isso não vai acontecer, Chernev, — rosnou Christopher.
— Não vai? — Atanas perguntou, inclinando a arma, fazendo meu estômago
revirar. Um dedo escorrega e eu estaria morta. — Eu acho que vai.
Ambos estavam certos.
E ambos estavam errados.
Eu me ajoelharia. Inferno, estava fazendo isso enquanto pensava nas
palavras, mas arrancaria seu pênis antes de fazer o que ele queria que eu fizesse
com ele.
Se ele não achasse que eu fosse perfeitamente capaz disso, subestimou muito
o meu desejo de nunca ter um homem usando seu poder contra mim outra vez.
Meus joelhos encontraram o chão frio do meu quarto quando deixei meus
olhos olharem em volta, tentando descobrir o meu próximo passo.
— Tudo vai dar certo, — eu disse.
Não para Atanas.
Para Christopher.
Não era a garantia que parecia.
Era parte do código que eu havia elaborado com ele duas noites antes, um
que eu queria que ele compartilhasse com o irmão e os homens, caso alguém se
encontrasse novamente em uma situação ruim e precisasse comunicar coisas
muito específicas.
Não achei que fosse entregue tão cedo.
E eu estava rezando para que sua memória fosse tão boa quanto eu estava
apostando.
“Tudo vai dar certo” era uma frase que Smith havia treinado todos nós para
expressar que estávamos prestes a fazer um movimento. Era para ser interpretado
como “Você está pronto?”
— Sim, — Christopher concordou, repetindo a fase que eu o havia
ensinado. Isso significava que ele estava pronto. Se ele dissesse “não sei disso”,
222
significava que havia muitas variáveis, para esperar, estar seguro. Se ele dissesse
“Espero que sim”, significava que já havia um plano em prática, para esperar.
— Cabe a mim decidir, — declarou Atanas.
Ele estava muito distraído com sua fantasia doentia, com sua viagem de
poder para descobrir que havia alguma maneira de as coisas acontecerem
exatamente como ele queria.
Tomei uma respiração lenta e firme, levantando minha mão para que ele
pensasse que eu ia abrir sua calça, para que não reagisse ao meu levantamento de
braços.
Quando ele percebeu minha intenção, já era tarde demais.
Minha cabeça se abaixou para o lado de sua coxa quando minhas duas mãos
agarraram seu pulso, girando com cada força que eu tinha, ouvindo um assobio,
uma maldição, um estalo.
A arma caiu da mão dele, batendo no chão.
Mas isso não importava.
Porque estava fora de suas mãos.
E Christopher estava fora da cama, mergulhando em Atanas enquanto eu
me afastava, minha respiração saindo de mim, tentando me acalmar.
Houve um estrondo quando os homens bateram na minha cômoda.
Christopher teve a vantagem. Ele era mais alto. Mais forte. Mais em forma.
Mas Atanas tinha sua humilhação para alimentá-lo.
Meu olhar se moveu pelo chão, encontrando uma das armas, rastejando em
direção a ela, querendo garantir que Christopher e eu mantivéssemos a vantagem.
Houve um assobio e um estrondo, Christopher batendo no chão apenas um
ou dois passos de mim.
Mesmo enquanto ele ofegava, sem fôlego, uma mão fechou ao redor do meu
tornozelo, puxando.
Meus braços dispararam, minhas pontas dos dedos mal conseguiram agarrar
o punho da arma enquanto ele continuava me puxando.
Por uma fração de segundo, vi o pânico nos olhos de Christopher quando ele
se moveu para rolar, para que ele pudesse se levantar novamente.
Ele poderia me salvar, sim.
Mas eu nunca seria uma mulher com necessidade de ser salva.
223
Chutei uma perna sobre a outra, me jogando de costas, meu tornozelo
gritando com o movimento, provavelmente exigindo uma visita à sala de
emergência, mas isso era algo para se preocupar mais tarde.
De volta ao chão duro, levantei os braços, mirei, respirei fundo e puxei o
gatilho.
Uma vez.
Duas vezes.
Três.
Quatro vezes.
Eu não era a melhor atiradora.
Mas Smith me ensinou que, se você colocasse buracos suficientes em
alguém, um deles provavelmente o mataria.
Um o atingiu no peito.
Dois na cabeça.
Um na garganta.
Ele estava morto antes de seu corpo cair no chão.
Mesmo assim, eu vi Christopher correndo e passando por mim, indo até seu
corpo, verificando seu pulso, certificando-se de que ele estava bem morto antes de
voltar para mim, os olhos arregalados de preocupação.
— Você está bem? — Ele perguntou, caindo ao meu lado, estendendo a mão
para tirar a arma das minhas mãos levemente trêmulas.
— Acho que ele quebrou meu tornozelo, — eu disse a ele, sentindo a sensação
ardente e latejante, como se toda a área parecesse ter um pulso próprio enquanto
meu corpo a inundava com fluido.
— Tudo bem, — ele concordou, uma mão se estendendo, pressionando
minha garganta, sentindo minha pulsação por algum motivo, me fazendo perceber
que eu estava hiperventilando. — Você está machucada em outro lugar? — Ele
perguntou, as mãos já se movendo em cima de mim, procurando por qualquer
coisa.
— Eu acho que tenho uma assadura na bunda do tapete, — eu admiti,
pegando-o desprevenido, fazendo uma risada estrangulada escapar dele. — Acho
que vou precisar que você esfregue pomada. Duas vezes por dia. Por pelo menos
uma semana.
224
— Cristo, Melody, você não precisava entrar em uma briga com armas para
me fazer massagear sua bunda, — ele me disse, os lábios se curvando por um
segundo. — O que fazemos agora? — Ele perguntou. — Este não é o meu país. Não
sei o que acontece agora.
Eu descobri que gostava que ele ficasse tão facilmente rendido a mim,
confiando para lidar com a situação.
— Precisamos ligar para Quin. E Finn. Finn vai... lidar com isso, — eu disse,
acenando com a mão em direção ao corpo. — Mas Quin precisa estar envolvido.
— Tudo bem, — ele concordou, movendo-se para ficar de pé, indo até a cama,
arrancando o lençol e alguns travesseiros, me cobrindo, depois cuidadosamente
levantando minha perna, deslizando os travesseiros sob o tornozelo para elevá-lo
acima do meu coração e retardar o inchaço. — Eu já volto. Preciso encontrar o seu
telefone, — ele me disse, parecendo arrependido.
— Christopher? — Eu o chamei quando ele se afastou.
— Sim, kardia, mou?
— Você deveria vestir uma calça, — eu disse a ele, sentindo meus lábios se
curvarem um pouco. — Quero dizer, eu não estou reclamando, mas os caras podem
não apreciar o seu corpo tanto quanto eu. — Eu disse, observando um sorriso
tímido puxar seus lábios enquanto ele pegava as calças do chão, vestindo-as
rapidamente antes de encontrar meu telefone, percorrer os contatos e ligar para
Quin. Então Finn.
— Onde está Fenway quando você precisa dele? — Resmunguei um momento
depois, ainda esparramada no chão, Christopher sentado ao meu lado, dedos
acariciando meus cabelos.
— Por que você precisa do Fenway? — Ele perguntou.
— Como ele sempre pode contar em ter Percocet para situações como
essa, — eu disse a ele, ficando mais chateada com o tornozelo latejante a cada
momento, e sabia que tínhamos que esperar até Quin e Finn aparecerem antes que
pudéssemos me vestir e ir à sala de emergência para uma tala e minha própria
receita de remédios para dor muito necessária.
Demorou mais cinco minutos para Quin entrar correndo no quarto, olhando
rapidamente para avaliar a situação antes de se aproximar de nós, agachando-se
225
ao meu lado no chão. — Você está bem, Mills? — Ele perguntou, com olhos
pesarosos, mesmo que isso claramente não fosse culpa dele.
— Meu tornozelo dói. E eu tenho assadura de tapete na minha bunda, —
acrescentei, observando enquanto ele me dava um pequeno sorriso.
— O médico cuidará do seu tornozelo. E acho que seu homem pode cuidar
do seu traseiro, — acrescentou.
Meu homem.
Eu gostei daquilo.
Muito mais do que eu jamais poderia imaginar algumas semanas antes.
Quin se afastou para a sala de estar e pude ouvi-lo no
telefone. Provavelmente com Smith, que ligaria para o resto dos rapazes e meninas
para informá-los sobre os eventos da noite.
Passos seguiram em nossa direção alguns momentos depois disso, me
fazendo inclinar minha cabeça para ver Finn parado ali na porta, olhando tudo.
— A TV está arruinada, — ele declarou calmamente. Então prontamente
caminhou de volta para fora do quarto.
— Onde ele está indo? — Christopher perguntou, sobrancelhas franzidas.
— Conhecendo Finn, para conseguir uma TV nova para mim. Ele limpa
as cenas, mas também substitui as coisas. Vou até ganhar alguns lençóis novos
com o negócio, — eu disse a ele, percebendo que a borda daquele que cobria meu
corpo nu estava escuro em um canto com o sangue de Atanas. — E muito melhores
do que os que eu tenho. É tudo parte do pacote que ele oferece.
— Acho que estamos contratando oficialmente a Quinton Baird &
Associados, ele declarou.
— Na verdade, — eu disse, — acredito que eu os estou contratando. Visto
que fui eu quem fez a coisa do tiro. Felizmente, — continuei quando ele começou a
se opor, — em cerca de cinco a sete dias úteis. Eu serei uma mulher muito, muito
rica, — eu disse a ele, significando depois que ele finalmente me der o cheque que
ele continuava achando necessário.
Para isso, seus olhos ficaram carinhosos.
— Sim, sim, você estará.
— E você estará muito mais pobre, — acrescentei, amando a maneira como
seus olhos dançavam.
226
— Sim, muito pobre, — ele concordou, embora nós dois soubéssemos que o
dinheiro que ele estava me pagando era uma gota no seu balde muito fundo.
— Você pode até ter que trocar para blocos de anotações normais em vez de
pastas de couro chiques, — sugeri.
— Claramente, a dor está começando a perturbar seu cérebro, — ele me
informou. — Vamos vestir você com algo para que possamos levá-la ao hospital. O
que você vai dizer a eles que aconteceu? — Ele perguntou enquanto deslizava uma
camiseta por cima da minha cabeça, me ajudando a deslizar meus braços nos
buracos.
— Que estávamos fazendo sexo e minha perna ficou presa nos lençóis
quando eu caí da cama, é claro. Isso também explica a assadura do tapete, — eu o
informei enquanto ele cuidadosamente deslizava o short pelas minhas pernas,
ajudando a levantar meus quadris para poder ajustá-lo no lugar. — Nós seremos o
assunto do hospital, — acrescentei, dando-lhe um sorriso fraco.
— Você sabe que poderíamos dizer a eles que você ficou presa embaixo da
cama enquanto se levantava no meio da noite, — ele me disse enquanto me
levantava em seus braços.
— Sim, mas onde está a graça nisso? — Perguntei quando ele me levava pela
minha casa.
— Pervertidos sexuais então, — ele concordou, me colocando no carro.
Foi nesse momento que eu tive certeza.
Eu suspeitava disso há semanas.
Mas esse foi o momento que eu sabia com cem por cento de clareza e certeza.
Eu estava estupidamente, loucamente, totalmente consumida pelo amor por
esse homem.
Também não havia um indício de hesitação em contar a ele, assim que
percebi.
— Christopher? — Chamei quando ele quase pegou o meio-fio.
— Sim? — Ele perguntou, me olhando rapidamente.
— Eu te amo, — eu disse a ele, sentindo o carro estremecer loucamente. —
Mesmo que você não possa dirigir bem, — acrescentei, fazendo um bufo escapar
enquanto ele ignorava completamente um sinal de pare.
227
— Cuidado, ou vou dizer ao seu possível fisioterapeuta que você adora subir
escadarias para reabilitação.
— Você não iria.
— Eu iria, — ele me disse, me dando um sorriso diabólico. — E eu te amo
também, kardia mou.
Meu coração.
Era isso o que significava.
Eu estava delirantemente feliz por ser o coração dele.
E então, algumas pílulas para dor e uma tala mais tarde, eu estava
simplesmente delirante.
Poucas horas depois, Christopher estava esfregando óleo de coco na minha
bunda da assadura do tapete em uma suíte de luxo que Jules havia reservado para
nós, um carrinho carregado com serviço de quarto meio comido parado ao lado da
cama.
Foi uma noite épica incrível, invasão e assassinato à parte.
Christopher - 1 ano
Ela nunca se acostumou às escadas.
Não importava quantas vezes as subia, ela resmungava e as amaldiçoava a
cada passo do caminho. E eu, às vezes, por decidir viver no topo de todas elas.
Ela ainda estava bufando e limpando o suor da testa quando entrou na porta
da frente, deixando cair as sacolas de compras no chão com um bufo.
— Qual é o problema? — Perguntei, observando enquanto ela levantava o
cabelo, ventilando um pouco de ar no pescoço.
— Os malditos turistas, — ela declarou.
Sim.
Ela era oficialmente uma local se estava reclamando deles. Mesmo se
tecnicamente dividíssemos nosso tempo entre Santorini, Zagori, e New Jersey. Com
alguns pontos de férias misturados. Ainda significava que passamos pelo menos
228
um terço do ano aqui nesta casa. Onde tudo tecnicamente começou. Para minha
alegria. E a de Alexander. E não vamos esquecer, da Cora.
Lentamente, mas com certeza, mais e mais bugigangas que ela pegou em
suas viagens encontraram o caminho para as superfícies desta casa. Havia
cobertores novos, TVs nos quartos, tapetes.
Ela aqueceu o lugar.
Ela fez da casa um lar.
Brega, mas é verdade.
— Bem, talvez isso ajude, — sugeri, acenando com a cabeça para Laird, que
balançou a cabeça e se moveu para abrir a tampa do caixote.
O que enviou um porco guinchando correndo pelo espaço.
— Oh, meu Deus. Oh, meu Deus! — Ela gritou, caindo de joelhos,
estendendo as mãos para a coisa rosa ainda zunindo ao redor do espaço, um borrão
de pés com cascos e uma cauda torta. — Oh, meu Deus. Seu doce, doce bebê, —
ela murmurou, pegando-o enquanto ele fazia barulhos grunhidos para ela. — Você
me deu um porquinho? — Ela perguntou, sorrindo para mim.
— Na verdade, não. Tivemos uma visita. Que imediatamente avistou alguém
em um vestido apertado e desapareceu.
— Fenway? — Ela perguntou, sorriso brilhante.
— Eu acho que ele nunca esqueceu.
— Esqueceu o quê? — Ela perguntou, as sobrancelhas se unindo por um
segundo antes de derramar beijos por toda a cabeça do porco.
— Aquele dia no iate, — comecei, sabendo que ela sabia em que dia e qual
iate. — Você disse a ele que um porco teria melhorado a situação.
— E eu disse a ele para não me arranjar um porque era muito ocupada, —
ela concordou, dando um tapinha no nariz achatado do porco, soltando um grito
de alegria ao fazê-lo.
— Ele estava procurando porcos em seu telefone antes de Bellamy e eu o
convencemos a desistir. Ele disse que estava fazendo uma anotação para mais
tarde.
— Isso é aleatório, mesmo para ele.
— Não é, — eu disse a ela, balançando a cabeça.
229
O porco pulou de seus braços, fazendo outro passeio rápido pela sala, para
o deleite de Melody, mas ela me lançou um olhar. — Não é?
— Faz um ano, — eu disse a ela. — Desde que você veio aqui pela primeira
vez.
— Desde que você me drogou e me sequestrou, você quer dizer, — ela
especificou, me dando um sorriso.
— Sim, desde então, — eu concordei, sem me arrepender nenhum pouco.
— Isso é inesperadamente doce da parte dele que se lembrou, — ela decidiu
quando o porco desceu até a sala de jantar. E então, a julgar pelo grito de surpresa,
entrou na cozinha com Cora.
— Eu também me lembrei, — eu disse a ela, enfiando a mão no bolso quando
ela se levantou. — Fenway meio que passou na minha frente aqui, — acrescentei,
tirando a pequena caixa de joias, observando enquanto seus olhos foram a ela. —
Mas eu estou planejando isso há um tempo, então vou fazê-lo de qualquer maneira,
— eu disse a ela, abrindo a tampa enquanto me aproximava e me ajoelhava.
— Oh, meu Deus, — ela disse, parecendo sem fôlego quando seu olhar caiu
no simples diamante em forma de pera em um anel de ouro branco. Jules, Gemma,
Aven, Jenny, Meadow, Sloane e Nia estiveram todas reunidas numa ligação
enquanto eu visitava a joalheria, me ajudando a escolher. — Sério? — Ela
perguntou, levantando a mão, traçando os dedos sobre o diamante.
— Eu nunca tive tanta certeza de nada na minha vida, — eu disse a ela,
deslizando o anel em seu dedo, gostando ainda mais do que eu esperava, vendo-o
lá.
Seus braços envolveram meu pescoço, seus lábios colidiram com os meus,
me beijando com força e muito antes de abaixar-se estavelmente, afastando-se.
— Bem, agora você passou na minha frente, — ela me disse, me fazendo
franzir as sobrancelhas.
— O quê?
— Bem, eu também não esqueci, — ela me disse, pegando minhas mãos,
agarrando-as pelas costas. — Eu também estava pensando em contar uma coisa
para você, — ela me disse, descansando minhas mãos em sua barriga.
A compreensão subiu através do meu corpo, roubando meu fôlego.
230
— Sério? — Perguntei, olhando nos olhos dela, encontrando seus olhos
brilhantes e um pouco chorosos.
— Sério, — ela concordou, assentindo.
Não sei se realmente entendi como era a maravilha até aquele momento. Mas
não havia como negar que era exatamente a sensação que subia no meu peito.
— Eu te amo, — eu disse a ela, sem mais nada a dizer.
— Eu te amo também, — ela me disse, sorrindo por um momento antes de
sentirmos a força do leitão entre nossos pés, fazendo-a se afastar e se inclinar para
pegá-lo. — Eu também te amo, sua coisa preciosa.
Como em tudo que tem a ver com Fenway, esse porco teve algumas
consequências inesperadas.
Miller - 8 anos
231
O problema era que não descobrimos esse fato até ele ter vários meses de
idade, treinado para o banheiro e um membro feliz e amoroso de nossa pequena
família, cujo passatempo favorito era implorar a Cora por restos de comida e
tirar cochilos no tapete da sala.
Nós pensamos que ele estava apenas crescendo, como os leitões.
Até que ele simplesmente... nunca parava de crescer.
Então o veterinário confirmou o que começamos a suspeitar.
Ele era um porco de fazenda.
Mas este porco de fazenda estava vivendo uma vida bem ajustada,
principalmente em ambientes fechados. Não havia como forçá-lo a ir morar no
quintal, só porque ele não era exatamente o que esperávamos.
Então aqui estava eu, tentando tirá-lo do caminho do local escolhido para a
soneca, diretamente em frente à porta dos fundos.
— Vamos, cara, eu preciso chegar lá, — tentei novamente, batendo no casco
da frente com o dedo do pé.
Ele apenas continuou dormindo.
— Tudo bem, — suspirei, me virando, indo ao armário, tirando a caixa de
cereal, mexendo dentro dela.
Eu poderia contar com muitas coisas na vida.
As crianças sempre sentiam quando eu e seu pai estávamos prestes a ter um
tempo necessário para adultos.
Alexander sempre nos deixava preocupados com sua imprudente vida
adulta.
A receita de Loukoumades da Cora sempre agradaria a todos.
E Oliver sempre vinha correndo para lanches.
Especialmente se fossem da variedade Cheerio.
— Esse é um bom garoto, — eu disse a ele, largando um punhado no chão e
pegando a bandeja que eu tinha carregado com lanches para levar parar fora.
Estávamos em Navesink Bank para o outono e o inverno, descobrindo que
as crianças gostavam de ter invernos tradicionais com neve e família. E por causa
da linha de trabalho do pai deles, e da minha, embora com muito menos frequência
hoje em dia, decidimos há muito tempo que o ensino em casa era a aposta mais
segura para eles, o que nos permitia levar vidas em diferentes continentes sem nos
232
preocuparmos com a educação deles. Eles conseguiram o melhor dos dois mundos
e tinham amigos nos dois países dos quais nunca se cansaram.
Acabamos precisando vender minha casinha velha e apertada, comprando
algo maior com um belo quintal para as crianças e vamos ser sinceros, o porco.
Era uma casa vitoriana antiga, mas cuidadosamente restaurada, em vinte
mil metros quadrados alinhados por pinheiros, o que conferia perfeita privacidade,
algo que não tínhamos muito na Grécia.
— Acho que sua filha acabou de xingar um inseto em grego, — Gunner me
informou, acenando com a cabeça em direção a nossa mais velha, uma menina de
seis anos, cabelos e olhos escuros, um querubim com a severidade de seu pai e
meu ódio por insetos.
— Isso parece totalmente plausível, — eu concordei, assentindo. — Onde
estão os meninos? — Perguntei, olhando em volta, sem ver meus muito
desordenados de cinco e quatro anos de idade.
Eu não me via como uma máquina de fazer bebês. Mas, assim como
cozinhar, depois de provar a maternidade, fui vencida. Tínhamos três, outro a
caminho, provavelmente o último, mas você nunca sabe.
— Eu não acho que você queira saber a resposta para isso, — disse-me
Gunner, balançando a cabeça.
— Oh, Deus. Eles não estão debaixo da varanda de novo, estão?
— Não é uma varanda, — ele me informou. — É o clube deles.
— Sim, bem, diga isso ao guaxinim que chama lá de lar, — eu disse a ele,
balançando a cabeça. Eu fiz Christopher escorar as entradas na parte inferior da
varanda três vezes. Cada vez, os meninos encontram uma maneira de contornar
as barricadas.
Parte de mim ficava irritada.
A outra ficava meio orgulhosa por termos produzido crianças tão
voluntariosas.
— Qual é o problema? — Christopher perguntou, subindo as escadas da
varanda.
— Seus filhos, — eu disse a ele, balançando a cabeça.
— Eles são só meus quando são ruins, — ele disse, sorrindo. — O que eles
fizeram agora?
233
— Provavelmente pegaram raiva, — eu disse a ele.
— Você sabe, eles provavelmente deixariam a varanda em paz se você
construísse um clube de verdade, — observou Smith.
— Você sabe... isso soa muito como uma oferta para fazer um! — Eu declarei,
batendo com os pés com força na varanda. — Meninos, tio Noah vai fazer um clube
para vocês! — Gritei, ouvindo um guincho, depois arrastar de pés, seguido de um
estrondo e choro.
Sendo garotos desordenados, o choro normalmente significava que alguém
estava sangrando ou algo estava quebrado.
— Eu cuido disso, — Gemma falou, acenando para que eu ficasse na varanda
enquanto ela caminhava até a pequena entrada para ajuda-los a sair.
— Nunca houve um momento de tédio com todas essas crianças por perto,
— observou Gunner, acenando com a cabeça para o quintal cheio de todas as
crianças de várias idades que todos acumulamos ao longo dos anos. — Ei, olha
quem é, — acrescentou, apontando o queixo em direção ao pátio lateral. Onde
Fenway estava subindo a estrada com a sua mulher ao seu lado.
Sim, você leu certo.
A mulher dele.
Como em uma delas.
Com quem ele realmente fez o impensável.
Casou-se.
A história deles também era demais.
Meu olhar deslizou para Christopher, um sorriso nos meus lábios.
No entanto, a minha e a de Christopher sempre seria a minha favorita.
— O quê? — Ele perguntou, se aproximando, passando os braços em volta
de mim, colocando a mão na minha barriga gigante.
— Só pensando.
— Sobre o quê?
— Nós, — eu disse a ele.
— Um dos meus tópicos favoritos, — ele declarou, pressionando um beijo no
topo da minha cabeça.
— Minha também, — eu concordei. — Quer saber? — Perguntei, inclinando
minha cabeça nele.
234
— O quê?
— Eu sou uma boa negociadora, afinal de contas, — eu disse a ele, inclinando
minha cabeça para olhar a maneira como suas sobrancelhas franziam.
— Sim? — Ele perguntou, sabendo que eu estava insinuando alguma coisa.
— O acordo sempre foi apenas os oito milhões, certo?
— Certo, — ele concordou.
— Bem, eu tenho tudo, — eu disse a ele, sorrindo.
E eu tinha.
Consegui absolutamente tudo o que nunca percebi que queria tanto.
A casa
As crianças.
O porco.
E Christopher.
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