Episódio 25 - O Saudoso Carlinhos 'Escovão' - PDF
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Carlos Alberto Rodrigues da Silva, apelido "Escovão". Nascido em Macaé a 11 de fevereiro de 1939. Filho de
Zenir Rodrigues e Albertino Silva. Muitos chamavam ele de Carlinhos "Escovão" e Carlinhos "mentiroso",
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porque ele gostava de contar histórias. Muitas eram verdadeiras, mas as pessoas achavam que não,
porque ele elaborava. Estudou no Colégio Lyceu, na Imbetiba. Fugia do colégio para tomar banho de mar
e pulava do trampolim. Quando o pai dele descobriu, o tirou da escola. E o professor, saudoso Quincas, fez
tudo para que ele voltasse para o colégio. Mas o pai não deixou ele voltar e o colocou para trabalhar no
trem de lenha da ferroviária. O trem chamado 'Lastro', que ia para a serra de Macaé e ainda abastecia os
trens-expresso com lenhas. Expresso, rápido e noturno, que iam para Campos dos Goytacazes e Rio de
Janeiro. E meu avô materno, Constâncio de Oliveira, chamou meu pai e começou ensinando deveres de
colégio e o convidou para estar indo à Lyra dos Conspiradores aprender música. E começou o amor pela
música.
Carlinhos cresceu em uma chácara, no bairro Botafogo, na antiga linha do Frade e começou a estudar
música em 1953, aos 14 anos, pela influência do avô. Aprendeu a tocar bateria e percussão e, pouco
tempo depois, formou seu primeiro Conjunto, o "Marabá", com os amigos que estudavam junto com ele
na Lyra dos Conspiradores.
Aos 16 anos, compôs um samba para uma Escola de Samba de um senhor de apelido "Bate-Papo", aqui na
Aroeira. E aos 18 anos foi para o Exército e lá foi motorista do major. Depois saiu, trabalhou de guarda
municipal, foi motorista do prefeito Serrano (Eduardo Serrano) e do prefeito Claudio Moacyr, do qual é
amigo e compadre também. E ele era padrinho do Luciano e foi padrinho do meu casamento, ele e dona
Sirlei (a esposa). Trabalhou de motorista na Câmara Municipal de Macaé, onde viajou com vereadores para
vários Estados no Brasil. E em 1973, Claudio Moacyr se candidatou a deputado estadual e o convidou a ser
motorista dele na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), o qual trabalhou 22 anos.
Mesmo assim não largou a música. Quando ele vinha final de semana, ele sempre tocava nos conjuntos
que ele fazia parte: Pedro e seu Conjunto, Los Românticos (de seu Hugo Garcia) e a última foi a banda
Ginga Negra. Quando Carlos Emir (pai), em 1978, foi candidato (à prefeito), papai fez uma música pra ele e
Nacif (Salim Selem). Ele era compositor também, só que ele não explorou esse lado dele. Mas ele era bom
de fazer música.
Elizete tinha 14 anos quando, em 1976, Carlos Emir se lançou como candidato à prefeito de Macaé. Ela
nos traz à memória a música e letra criadas por Escovão, usada como jingle na campanha eleitoral que
garantiu a vitória de Carlos Emir e seu vice, Nacif Salim Selem:
(2x)
Eu junto do meu povo, eu quero assegurar
depois do dia 15 eles dois vão governar
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Desfilando pelo G.R.E.S. Acadêmicos da Aroeira, na época em que Escovão foi diretor da Escola de
Samba. Na foto: Escovão, à direita, e sua esposa Marize (à época) sorrindo, à esquerda.
(Ano: 1981)
Dona Marize, com seus 81 anos e uma voz de dar inveja, lembra do samba feito por Escovão em 1955,
para a Escola de Samba da Aroeira. Ele, com 16 anos e ela, com 15. Nome do samba: "Grande Confusão":
"Grande Confusão"
Voz de Marize:
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(2x)
Coragem não é valentia
e bala não faz cosquinha
cadeia não é moradia
barriga não é bainha
Escovão, apelido de quando jogava pelo Americano Futebol Clube, e também pelo União Nacional,
onde seu avô, Constâncio de Oliveira, foi o técnico fundador do time. Alguns também afirmavam que
seu apelido tinha a ver com o trato com que tinha com os carros que dirigia como motorista das
autoridades do legislativo. Os carros eram impecáveis.
Antes mesmo dos Los Românticos, Escovão fazia parte do Conjunto 'Os Capetas da Bossa', sendo
apadrinhado pelo maestro Erlon Chaves, conhecido maestro da Banda Veneno que veio à Macaé em
algumas ocasiões, através do convite de alguns clubes como Fluminense e Ypiranga. Já com o Pedro e
seu Conjunto, participou de vários shows nas famosas domingueiras dançantes do Ypiranga. Amigo de
Zezinho do Violão, Haroldo Meireles, Eraldo Lanterneiro, dentre outros. Nos finais dos anos 1970 para 80,
Escovão criou um instrumento que era feito com um cano de PVC com três furinhos, uma boca de
lamparina na ponta e na boca um copo plástico que era muito fino e frágil. Vários foram os nomes de
batismo dados ao instrumento. Os amigos chamavam de "Claricopo" (junção de clarinete com copo); a
família chamava de "Trombone super-sônico". Uma vez, em um show de Nelson Gonçalves nas serestas
dançantes do Ypiranga FC, acompanhado por Zezinho e seu Conjunto, Escovão cismou de acompanhar os
solos das músicas de Nelson Gonçalves com seu instrumento inventado. Em um determinado momento,
Nelson chama a atenção de Escovão e pede para ele parar. Isso já era quase no final do show. Ao término,
o empresário do famoso cantor chama Escovão para conversar, curioso para saber que instrumento era
aquele. Ao que Escovão diz que um amigo o ensinou a fazer. E logo Nelson Gonçalves batizou o
instrumento com um outro nome: "Aporrinhóla". O copo de plástico usado para fazer o instrumento parou
de ser fabricado tempos depois, por isso não teve como desenvolver mais Aporrinhólas para os dias de
hoje.
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Pedro e seu Conjunto, em uma de suas formações: da esq./dir.: Pedro "muleta", Escovão, Ceceu e Ivan, no
Clube Americano FC.
(Finais dos anos 60)
Além dos conjuntos musicais mencionados, há um outro conjunto que Escovão também fez parte
como baterista, tocando em muitos bares da cidade. Quem nos conta mais detalhes é o nosso amigo
Francarlos Amaral, o Chiquinho...
Francarlos: Carlinhos Escovão era um camarada dinâmico, alegre, brincalhão. Participava muito da noite,
tocou muito com Zezinho e seu Conjunto. E por ocasião de uma bate-papo nosso eu resolvi montar um
pequeno grupo, um quarteto e a gente não tinha nem nome. Éramos eu, Carlinhos Escovão, na bateria,
Neguinho, no violão e Ceceu, no contra-baixo. E tocávamos na noite, em Macaé, nos bares, restaurantes e
tal... a gente até fazia até um grande sucesso, porque fazíamos um repertório bem variado, tocava samba-
canção, bolero, samba, rock nacional, algumas coisas internacionais. E o Carlinhos tinha uma característica
engraçada, que ele usava um instrumento criado por ele, que era um copo de plástico com um tubo de
PVC, e nós batizamos de "claricopo". Aliás, nós chamamos de "purrinhola". porque aquele som que ele
fazia imitava ora um trombone, ora um piston, ora um clarinete. Então ele tinha uma habilidade muito
grande com aquilo. A gente ficou tocando por aí e o Carlinhos, muito engraçado, tinha umas histórias
engraçadas que ele gostava de contar. Ele contava as histórias, ele aumentava, criava um factóide, e a
gente ria daquilo tudo.
Numa certa ocasião a gente saiu pra tocar em Barra de São João, num restaurante de um amigo nosso.
No caminho, ele pediu pra dar uma parada, desceu da Kombi, ficou na beira da estrada e tirou da bolsa
aquele cano de PVC e o copinho. Ficou tocando aquilo sozinho na beira da estrada. Daí parou um
camarada de carro, perguntou se tinha algum problema. E viu ele tocando aquele negócio. Era uma
família que estava indo à Cabo Frio, se não me engano. Aí ele (Escovão) disse ao camarada que nós
éramos de um Conjunto e que estávamos indo tocar em Barra de São João, num bar de amigo chamado
Neuber. O casal decidiu ir com a gente e chegando lá começou a chover muito. Nós entramos pra tocar,
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muita gente, e o casal acabou entrando e acabaram passando a noite com a gente lá. Gostaram muito de
Escovão e do instrumento e foram assistir o show só por causa disso. E foi uma história muito legal com
ele, dentre outras histórias.
Conjunto Los Românticos: Escovão (bateria); Neném (violão) e Hugo Garcia (voz)
(Ano: 1982)
Conversamos também com Luciano, filho de Escovão e também músico. Ele nos fala sobre o legado
do pai e a influência dele na família. Luciano diz que "nos anos 80, havia no Fluminense FC as tardes
dançantes com Lafaéte Paz. Era um programa de música, sorteios, e ao fundo, o acompanhamento do
conjunto Los Românticos. Nesta época, Escovão era o baterista do conjunto e me levava com Claudinho
(meu irmão) para passar a tarde com ele e a gente já ia percebendo os movimentos dele na bateria.
Depois dali, ele nos levava à vários lugares por onde ele tocava. Os carnavais nos clubes também eram
uma alegria, quando íamos mais cedo com ele, para montagem e passagem de som. Lá havia sempre um
repinique e um surdinho. E nas matinês, eu e meu irmão acompanhávamos as Orquestras dos maestros
Tinho, Charutinho, Dulcilando, Miltinho, Edervan Crespo e o Conjunto de Pedro muleta. Em 1989, uma casa
chique na praia dos cavaleiros chamada 'Corsário', que pertencia ao senhor Salvador (conhecido como
Dodô, dono também da Taberna da Praia), apresentava suas serestas ás sextas-feiras, com Zezinho e seu
conjunto, e aos sábados, com Olivier e Banda. Numa ocasião, Olivier convidou Escovão para ser baterista
em umas destas serestas. Quando todos já estavam tocando, Escovão precisou ir ao banheiro e me
chamou: "Luciano, pega aqui na bateria que vou ao banheiro". E saiu por trás do palco, que dava acesso ao
camarim. Quando voltou, entrou pela frente do palco e nisso, todos os músicos que estavam tocando,
imediatamente se viraram para trás e me viram na bateria. Acabei sendo chamado de Luciano "Escovinha".
Eu tinha 12 anos. Todos ficaram radiantes com o Escovinha na bateria. Depois tocamos juntos na Lyra dos
conspiradores; tocamos também com a Orquestra da Petrobrás, sob o comando do maestro Everaldo
Buriche, o popular maestro Charutinho. Em 1994, começou a fazer parte, junto comigo, da Banda Ginga
Negra, em várias funções. Foram muitos momentos alegres tocando juntos. Escovão foi, na minha vida
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musical, o grande influenciador. Por causa dele, me tornei o músico que sou hoje. Ele deixou um legado
musical grande para a cidade e para a nossa família. Hoje tem netos que cantam e são instrumentistas
também."
Banda Ginga Negra. Em pé, da esq./dir.: Escovão, Gian, Luciano, Adilson do Cavaquinho e Adilson do
Pandeiro. Agachados, da esq./dir.: Marquinho, Robson Monteiro, Hélio Caetano e Neguinho.
(Anos 90)
Elizete: o meu filho, que tem 27 anos - ele já estava na igreja - ele (Escovão) tocava na igreja e meu filho
ficava na frente olhando, parado. Não falava nada, só prestando atenção. Quando ele tinha 9, 10 anos, ele
falou assim: "eu toco bateria". Eu disse: "meu deus, você nunca botou a mão numa bateria!!". Quando chegou
na igreja, uhmm... mostrou que sabia e até hoje toca. Mas aí é gospel. Viaja pro Rio... e foi de geração em
geração. Um toca Baixo, outro toca teclado e bateria (o neto do meu pai), toca guitarra, outros cantam. E a
família é toda de músicos. Em seguida, passado o tempo, ele se converteu. Mas antes de se converter, ele
voltou para estudar na Lyra. Foi ele e Luciano. Ele tomava conta de tudo que entrava, todos os
instrumentos. Tudo que tinha lá dentro, ele que fazia a listagem de tudo que entrava e que saía. Se
converteu ao Evangelho mas não parou. Na Igreja louvava solo, gostava muito de cantar os louvores de
Cleber Lucas, fazia parte do louvor do coral também. Voltou novamente para a Lyra se aperfeiçoar.
Estudou Baixo (elétrico) com Guma, também. E aí foi a história do meu saudoso pai Carlinhos Escovão.
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Agradecimentos: à Elizete e Luciano, por toda a paciência, atenção e carinho que nos tem dado, ao falar
sobre a vida do saudoso Carlinhos Escovão. E também ao Francarlos, membro de nosso projeto que, mais
uma vez, traz à memória mais uma história da qual fez parte.
Referência(s):
Fundo musical:
Sá Marina, de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar. Interpretada por Wilson Simonal no disco "Alegria
Alegria, vol. 2" - 1968;
Negra Angela, de Serginho Meriti e Alexandre Rodrigues. Interpretada por Neguinho da Beija-Flor,
ao vivo no Renascença Clube (Rio de Janeiro) no projeto Conexão Rio- Manaus. 2018;
Nem vem que não tem, de Carlos Imperial. Interpretada por WIlson Simonal no disco "Alegria,
Alegria" - 1970;
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Garota de Ipanema, Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Executada pela Orquestra Tabajara no disco
"Bodas de Prata Dourada", lançado em 2006;
Deus cuida de mim, de Kleber Lucas. Do álbum "Aos pés da cruz", lançado em 2001;
Considerações finais: vamos ficando por aqui, felizes por termos cumprido mais uma missão, de registrar
mais um episódio para a memória cultural de nosso município, falando sobre pessoas, lugares e
acontecimentos marcantes da cultura de Macaé. Lembrando que nosso projeto não se trata,
simplesmente, da promoção de artistas, mas da promoção da arte, com foco na música. E isso nos leva a
conhecer melhor nosso passado, para que possamos entender que o lugar onde vivemos e trabalhamos,
hoje, tem história. Desta forma, os referenciais nos dão mais base para agir com maior ímpeto em prol da
continuidade desse fazer artístico. Isso nos fortalece e deve fortalecer também os laços humanos quando,
por exemplo, falamos sobre alguém que já nos deixou. Neste caso, o sentimento de respeito e
consideração por aquele que, dependendo do caso, nem chegamos a conhecer, pode nos trazer
inspiração para os dias de hoje, através do respeito ao trabalho de nossos colegas artistas, No mundo e no
Brasil de hoje, ou optamos em nos relacionar assim, ou nos entregamos à barbárie a qual estamos sendo
levados. Ficamos por aqui, até breve e um grande abraço!!
FIM.
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