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O Ruído No Local de Trabalho

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O Ruído no Local de Trabalho

Os trabalhadores podem ser expostos a níveis elevados de ruído em locais de trabalho


tão variados como os sectores da construção, fundições e indústrias têxteis. A exposição
a curto prazo ao ruído excessivo em níveis elevados poderá causar a perda de audição
temporária, que pode durar entre alguns segundos e alguns dias. A exposição
prolongada ao ruído pode provocar perda auditiva permanente. A perda auditiva que
ocorre ao longo do tempo nem sempre é fácil de reconhecer e, infelizmente, a maioria
dos trabalhadores não se apercebem de que estão a ficar surdos até a sua audição já ter
sofrido lesões permanentes. A exposição ao ruído industrial pode ser controlada –
muitas vezes com custos mínimos e sem dificuldades técnicas. O objectivo do controlo
do ruído industrial consiste em eliminar ou reduzir o ruído na sua origem.

Avaliação de ruído

Na Europa estima-se que mais de um terço dos trabalhadores estejam expostos a níveis
de ruído potencialmente perigosos durante pelo menos um quarto do seu tempo de
trabalho.

O Decreto-Lei n.º 182/2006, de 6 de Setembro, relativo às prescrições mínimas de


segurança e de saúde em matéria de exposição dos trabalhadores aos riscos devidos aos
agentes físicos (ruído), é aplicável a todas as actividades dos sectores privado,
cooperativo e social, da administração pública central, regional e local, dos institutos
públicos e das demais pessoas colectivas de direito público, bem como a trabalhadores
por conta própria.

Este decreto vem definir que não é permitida, em situação alguma, a exposição pessoal
diária ou semanal de trabalhadores a níveis de ruído iguais ou superiores a 87 dB(A) ou
a valores de pico iguais ou superiores a 140 dB(C), sendo estes valores definidos como
os Valores Limite de Exposição (VLE) ao ruído, em cuja determinação se passa a
considerar a atenuação dos protectores auditivos. Esta consideração significa que se
fosse possível medir os níveis de ruído no interior do canal auditivo, utilizando um
protector auditivo conveniente, a exposição do trabalhador nunca deverá ser igual ou
superior ao nível sonoro contínuo equivalente (LEX,8h) de 87 dB(A) ou a valores de
pico (LCpico) iguais ou superiores a 140 dB(C). Relativamente à legislação revogada,
em que o VLE diária era de 90 dB(A), este parâmetro sofre uma redução de 3 dB(A),
que considerando que o ruído é quantificado segundo uma escala logarítmica, significa
uma redução de 50% no nível de pressão sonora.

Para além de um VLE consideravelmente inferior, o Decreto-Lei 182/2006, de 6 de


Setembro substitui o até então denominado como nível de acção (NA) por dois níveis
distintos, denominados agora como valores de acção inferiores e valores de acção
superiores, respectivamente.

Este diploma legal passou a definir três níveis de intervenção:

 Valores de acção inferiores: LEX,8h = 80 dB(A) e LCpico = 135 dB(C);


 Valores de acção superiores: LEX,8h = 85 dB(A) e LCpico = 137 dB(C);
 Valores limite de exposição: LEX,8h = 87 dB(A) e LCpico = 140 dB(C)

 
Obrigações das entidades patronais

1. Avaliação dos riscos: Nas actividades susceptíveis de apresentar riscos de exposição


ao ruído, o empregador deve avaliar e, se necessário, medir os níveis de ruído a que os
trabalhadores se encontram expostos. Nesta avaliação devem ser tidos em consideração
os seguintes princípios:

a) Avaliar o nível, a natureza e a duração da exposição ao ruído dos trabalhadores,


considerando também a exposição ao ruído de características impulsivas;

b) A avaliação deve ser feita em concordância com os valores de acção inferiores,


superiores e os valores limite de exposição definidos pela regulamentação;

c) A avaliação deve ter particular atenção à possibilidade de haver trabalhadores com


especial sensibilidade aos riscos profissionais a que estão expostos;
d) A avaliação de riscos deve considerar a possibilidade de interacção entre o ruído,
demais vibrações e as substâncias ototóxicas eventualmente presentes nos locais de
trabalho;

e) Considerar as interferências que o ruído pode provocar na percepção adequada de


sinais de aviso, alarme e alerta necessários à redução de riscos de acidente;

f) Ter em conta as informações disponibilizadas pelos fabricantes dos equipamentos,


nomeadamente no que respeita aos riscos profissionais associados ao seu
funcionamento;

g) Garantir que os equipamentos de trabalho de substituição se encontram de acordo


com os princípios gerais de diminuição das emissões sonoras;

h) Ter em consideração a possibilidade de a exposição ao ruído dos trabalhadores se


prolongar para além da duração máxima de um período normal de trabalho;

i) Utilizar, a informação resultante da vigilância médica da saúde dos trabalhadores


expostos ao ruído laboral, respeitando as restrições definidas por legislação específica;

j) Garantir a disponibilidade de equipamentos de protecção auditiva com características


de atenuação adequadas às características do ruído em questão.

A avaliação de riscos deve ser efectuada com uma periodicidade mínima de um ano,
sempre que sejam alcançados ou ultrapassados os níveis de acção superiores (LEX,8h =
85 dB(A) e LCpico = 137 dB(C)). Deve ainda ser actualizada sempre que se introduzam
alterações significativas aos processos produtivos, nomeadamente a instalação de novos
equipamentos, alteração do “lay-out” ou criação de novos postos de trabalho. A
medição dos níveis de ruído, para além de poder ser realizada por entidades acreditadas,
pode também ser realizada por técnicos de higiene e segurança do trabalho, com
certificado de aptidão profissional válido e com formação específica em instrumentação
e metodologias de medição e avaliação da exposição ao ruído laboral.
2. Redução da exposição: De acordo com os princípios gerais de prevenção dos riscos,
a entidade empregadora deve utilizar todos os meios disponíveis para conseguir
eliminar na origem ou reduzir ao mínimo possível os riscos associados ao ruído no local
de trabalho, seguindo as seguintes principais linhas orientadoras:

a) Procurar adoptar métodos de trabalho alternativos que permitam diminuir os tempos


de exposição dos trabalhadores ao ruído;

b) Escolher equipamentos de trabalho bem concebidos, ergonómicos e que produzam o


mínimo ruído possível;

c) Conceber, dispor e organizar os locais e os postos de trabalho de forma adequada;

d) Proporcionar informação e formação aos trabalhadores, com o objectivo de garantir


uma utilização correcta e segura dos equipamentos de trabalho e reduzir ao mínimo a
sua exposição ao ruído;

e) Recorrer à implementação de medidas técnicas de redução de ruído, tais como o


encapsulamento de fontes ruidosas, instalação de painéis absorventes e equipamentos
amortecedores para evitar a transmissão de ruído para as estruturas;

f) Desenvolver, implementar e garantir uma correcta programação das actividades de


manutenção dos locais de trabalho e de todos os equipamentos a estes associados;

g) Adoptar medidas de organização do trabalho, de forma a diminuir a duração da


exposição ao ruído;

h) Ajustar os horários de trabalho e os respectivos períodos de descanso, considerando-


os como uma possível forma de reduzir a exposição dos trabalhadores ao ruído.

3. Protecção individual: Em todas as situações em que não seja possível reduzir a


exposição ao ruído através das medidas anteriormente referidas, o empregador deve
garantir a disponibilidade de equipamentos de protecção auditiva individual, sempre que
seja ultrapassado um dos valores de acção inferiores, e assegurar a sua efectiva
utilização, sempre que o nível de exposição ao ruído alcance ou ultrapasse os valores de
acção superiores.

Informação, consulta e formação dos trabalhadores

Para além das responsabilidades gerais em matéria de informação e consulta dos


trabalhadores, a entidade empregadora deve assegurar a informação, consulta e
formação aos trabalhadores expostos a níveis de ruído iguais ou superiores aos valores
de acção inferiores, considerando:

a) Os riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores expostos ao ruído no local de


trabalho;

b) As medidas já implementadas ou a implementar com o objectivos de eliminar ou


reduzir a exposição ao ruído laboral;

c) Os valores de acção inferiores, superiores e os valores limite de exposição;

d) Os resultados das medições e avaliações de ruído e o seu significado em termos de


potencial risco para a saúde e segurança dos trabalhadores;

e) A técnica adequada para colocação e utilização dos equipamentos individuais de


protecção individual;

f) A forma e a importância de detectar precocemente indícios de trauma auditivo


relacionado com a actividade laboral;

g) A necessidade de vigilância médica e a sua periodicidade em função do nível de


exposição de cada trabalhador ao ruído no local de trabalho;

h) Metodologias e práticas de trabalho seguras e com potencial para minimizarem a


exposição ao ruído e os seus consequentes efeitos.

Vigilância da saúde dos trabalhadores

Para além das obrigações gerais em matéria de saúde no trabalho, a entidade


empregadora deve garantir uma adequada vigilância médica dos trabalhadores expostos
ao ruído, com o objectivo de detectar precocemente eventuais perdas de audição e de
tomar medidas no sentido da preservação da sua capacidade auditiva. Assim, o
empregador deve garantir a vigilância médica e audiométrica da função auditiva dos
trabalhadores com a seguinte periodicidade:
 

  Anual (ou inferior se o médico o entender) para os trabalhadores que tenham


estado expostos a níveis de ruído superiores aos valores de acção superiores
(LEX,8h = 85 dB(A) e LCpico = 137 dB(C)).

 De dois em dois anos (ou inferior se o médico o entender) para os trabalhadores


que tenham estado expostos a níveis de ruído superiores aos valores de acção
inferiores (LEX,8h = 80 dB(A) e LCpico = 135 dB(C)).

A ACT disponibiliza algumas listas de verificação relacionadas com várias actividades,


que ajudam a verificar se os locais de trabalho estão em conformidade. É possível obter
a lista de verificação para controlo de ruído, através da página electrónica desta
entidade.
SABIA QUE…

O ruído pode causar acidentes, na medida em que:

 Dificulta a audição e a adequada compreensão, por parte dos trabalhadores,


de instruções e sinais;
 Sobrepõe-se ao som de aproximação do perigo ou de sinais de alerta (por
exemplo, os sinais sonoros de marcha-atrás dos veículos);
 Distrai os trabalhadores, nomeadamente os condutores;
 Contribui para o stress relacionado com o trabalho, que aumenta a carga
cognitiva e, deste modo, agrava a probabilidade de erros.

E que pode ainda causar...

 Trauma acústico?
 Impotência sexual?
 Problemas de coração?
 Problemas psicológicos?
 Gastrite?
 Otite?

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