Marco Antonio Silva VC
Marco Antonio Silva VC
Marco Antonio Silva VC
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO
2013
ii
Versão Corrigida
SÃO PAULO
2013
iv
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
CDD – 658.0072
v
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, professor Antonio Carlos Aidar Sauaia, pelo incentivo, apoio constante e
oportunidades, além de sua atenção, correção e valiosa contribuição a este trabalho.
A Minha Diiva pelo amor, carinho, compreensão e apoio incondicional, compartilhando meus
objetivos.
A minhas irmãs Márcia Helena e Marta Regina que me acompanharam diretamente nesta
jornada.
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
SÃO PAULO
2013
viii
RESUMO
Um dos desafios das escolas de Administração tem sido preparar profissionais capazes de
tomar decisões de forma crítica e criativa para atuar em um ambiente de negócios em rápida
transformação. Com vistas a nesse propósito surgiu no grupo de pesquisas SIMULAB, da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo –
FEA/USP/SP, o Laboratório de Gestão, um ambiente de ensino, aprendizagem e pesquisa
fundamentado nos três pilares conceituais: simulador organizacional, jogo de empresas e
pesquisa aplicada. O objetivo deste estudo foi averiguar a forma pela qual as atividades
desenvolvidas no Laboratório de Gestão propiciaram uma formação crítica em Administração,
à luz das diretrizes curriculares brasileiras, do pensamento crítico, da formação docente e de
estratégias de ensino e aprendizagem em Administração. Foi conduzido um estudo de caso
único, qualitativo e interpretativo, apoiado por fontes primárias de evidências: uma entrevista
em profundidade com o idealizador do Laboratório de Gestão, o professor Antonio Carlos
Aidar Sauaia, um levantamento por meio de questionário aplicado aos professores do grupo
SIMULAB, a observação direta das atividades em sala de aula e o exame dos artigos
científicos produzidos pelos estudantes de graduação em Administração da FEA/USP/SP. A
análise de conteúdo dos materiais produziu indícios e evidências de que as atividades
vivenciais no jogo de empresas e a pesquisa aplicada desenvolveram o pensamento crítico dos
estudantes. Destacaram-se como exemplos: a crítica ao modelo de Porter (inclusão do
Governo como a sexta força no modelo das 5 forças); a aplicação ampliada da teoria das
restrições de Goldratt, numa perspectiva multifuncional, para além da área de Produção. Foi
possível concluir que se faz necessário o envolvimento de dirigentes e coordenadores das
instituições de ensino superior para a construção de uma nova cultura de ensino-
aprendizagem, além da adequada preparação dos professores para a condução do Laboratório
de Gestão como estratégia promotora da formação crítica em Administração.
ABSTRACT
One of the challenges faced by Business Administration Schools has been to prepare
professionals to become creative decision makers and critical thinkers in a rapidly changing
business environment. Toward this purpose it was created in SIMULAB, a research group at
the School of Economics, Administration and Accounting, University of São Paulo -
FEA/USP/SP, the Management Laboratory: a teaching, learning and research environment
based on three conceptual pillars: organizational simulator, business game and applied
research. The aim of this study was to examine how the activities developed in the
Management Laboratory provide a critical education for Business Administration according
to the literature on management education, critical thinking, teacher training, and teaching
and learning strategies. It was conducted a qualitative and interpretative single case study,
based on the following primary sources of evidences: an in depth interview with Professor
Antonio Carlos Aidar Sauaia, the Management Laboratory creator; a survey applied to
SIMULAB professors; the direct classroom observation, and the examination of scientific
papers produced by Business Administration undergraduate students in the Management
Laboratory at FEA/USP/SP. The content analysis produced evidences that business game
combined with applied research as experiential activities developed students critical thinking
abilities. For example: a critique of Porter’s model (addition of the Government as the sixth
force in the five forces model); besides, the extended application of Goldratt’s Constraint
Theory, under a multifunctional perspective, beyond the functional area of Production. As a
conclusion higher education institutions stakeholders as directors and coordinators, could be
engaged in order to build a new teaching and learning culture, in addition to professors’
training programs for effective conduction of Management Laboratory.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. 12
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 17
1.1 Contextualização......................................................................................................................................... 17
3. METODOLOGIA ................................................................................................................ 74
4.1 Análise descritiva da entrevista com o professor Antonio Carlos Aidar Sauaia – Líder do grupo de
pesquisa SIMULAB ......................................................................................................................................... 99
4.2 Análise descritiva das respostas do questionário: o grupo A de seis professores que conduziram o
Laboratório de Gestão de 2006 a 2012 ........................................................................................................... 108
4.3 Análise descritiva das respostas do questionário: o grupo B de quatorze parceiros do grupo de pesquisa
SIMULAB ...................................................................................................................................................... 113
4.4 Análise descritiva da observação do Laboratório de Gestão na monitoria do segundo semestre de 2010 117
5.2 Contribuições do Laboratório de Gestão para a formação crítica do administrador ................................. 131
LISTA DE QUADROS
Quadro 18 – Definições operacionais dos elementos que devem estar presentes no relatório 98
Quadro 20 – Perfil dos professores que atuaram no Laboratório de Gestão .......................... 112
14
Quadro 24 - Roteiro de orientação para a pesquisa (segundo semestre 2010) ....................... 119
Quadro 28 – Análise do artigo: Análise econômica das estratégias genéricas sob diferentes
estruturas de mercado ............................................................................................................. 179
Quadro 30 – Análise do artigo: O líder presente nas equipes gerenciais no jogo de empresas
................................................................................................................................................ 181
Quadro 32– Análise do artigo: Previsão de demanda: um desafio estratégico ...................... 183
Quadro 33 – Análise do artigo: Teoria das restrições e as áreas funcionais .......................... 184
Quadro 34– Análise do artigo: Educação corporativa e geração de vantagem competitiva .. 185
Quadro 36 – Análise do artigo: Tudo sob controle (exceto o incontrolável) ......................... 187
15
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste capítulo é introduzir o leitor no contexto que levou o autor desta tese a
desenvolver uma pesquisa sobre o Laboratório de Gestão, um ambiente de educação gerencial
com pesquisa para a formação crítica em Administração. Para esse fim, são apresentados a
seguir, a contextualização, a justificativa do estudo, a pergunta de pesquisa, o objetivo geral,
os objetivos específicos, as definições dos termos e a estrutura da tese.
1.1 Contextualização
No Brasil, autores como Masetto (2003, p. 15), Castanho (2010, p. 127) e Libâneo (2011, p.
188) ressaltaram ações importantes a serem promovidas pelas IES: uma formação profissional
concomitante a uma formação acadêmica, que integre teoria e prática; a atribuição de novos
significados às atividades realizadas pelos estudantes em diferentes espaços de aprendizagem
nos cursos de graduação; ensino com pesquisa; ênfase na formação continuada, ou seja, uma
formação que se inícia na faculdade e se estende por toda a vida.
Percebe-se, assim, por meio dos conceitos de Administração, que administrar é uma tarefa
que exige conhecimentos múltiplos e específicos (marketing, produção, finanças, economia e
contabilidade), de forma integrada, para a sua consecução. Em geral, para alcançarem os
objetivos organizacionais, os gestores tomam decisões sob condições de incerteza e recursos
escassos (JONES, 2004; KREPS, 2004; BESANKO et al., 2006; BAYE, 2009; McGUIGAN
et al., 2010) tornando a atividade de gestão complexa. Subjacente a esta atividade encontram-
se inúmeras teorias sobre Administração e Economia, as quais constituem referências ou
quadros conceituais que auxiliam os administradores na tomada de decisão e a alcançar os
objetivos organizacionais (SOBRAL; PECI, 2012, p. x).
Para tal fim, verifica-se que novas competências e novas habilidades são exigidas dos futuros
administradores. Assim, historicamente, a formação em Administração no Brasil, para
adequar a formação do administrador à realidade vigente, passou pelas reformas curriculares
aprovadas em 1966 e 1993, as quais culminaram nas diretrizes para os cursos de graduação
em Administração de 2005 (ANDRADE; AMBONI, 2004, p. 1).
Adicionalmente, as IES teriam de repensar seu papel e fortalecer a articulação entre teoria e
prática, a interdisciplinaridade, a predominância da formação sobre a informação e a
indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão (OLIVEIRA, 2005, p. 32). Ademais, para
a realização das novas diretrizes sugeridas, é necessária uma reavaliação das estruturas
curriculares dos cursos de Administração e, por conseguinte, das práticas pedagógicas, com a
adoção de novas estratégias de ensino e aprendizagem.
O interesse pessoal pelo tema surgiu em 2003, durante atividade docente deste autor no
ensino superior em cursos de Administração. A observação crítica ao longo dos últimos dez
anos de experiência como professor influenciou a escolha do tema, instigada pelas mudanças
contemporâneas no ambiente de negócios, a atuação do administrador nas organizações e as
práticas docentes, fator preponderante para a formação dos futuros administradores num
contexto de mudanças e de demandas organizacionais complexas. Assim, como fruto de
observação e reflexão, emergiram algumas perguntas que motivaram a realização desta
pesquisa, tais como:
Após uma investigação preliminar sobre métodos pedagógicos para ensinar e aprender
aplicados à área de negócios, percebeu-se que as escolas de Administração, historicamente,
23
fizeram amplo uso de estratégias de ensino como aulas puramente expositivas, em que o
professor é o único a deter o conhecimento e a transmiti-lo, e o estudante é apenas um
receptor de conteúdos acabados. Em geral, as escolas de Administração têm utilizado pouco
estratégias ativas de ensino e aprendizagem, isto é, aquelas centradas no estudante, que
promovem a aproximação entre teoria e prática, uma visão sistêmica das organizações, além
de uma postura questionadora e investigativa no estudante em sua busca pelo conhecimento,
ou seja, que possibilitam ao estudante reconhecer seu papel intelectual autônomo como agente
na construção do conhecimento e na transformação da sociedade.
Ademais, esta pesquisa se justifica por que pode ser uma referência para o desenvolvimento
profissional de docentes e demais grupos acadêmicos e profissionais que queiram utilizar o
Laboratório de Gestão como ambiente de educação gerencial, fundamentado nos pilares
conceituais (simulador organizacional, jogo de empresas e pesquisa teórico-empírica).
Oferece ainda uma contribuição às instituições de ensino superior que tenham a intenção de
implantar em seus cursos de Administração esta estratégia de ensino e aprendizagem com
pesquisa.
Quanto à relevância acadêmica, esta pesquisa visa contribuir para o corpo de conhecimento
sobre Ensino e Pesquisa em Administração, área apoiada pela Associação Nacional de Pós-
Graduação em Pesquisa em Administração (ANPAD), que vem crescendo e recebendo cada
vez mais atenção científica no Brasil. Esse fato pode ser percebido pela criação de eventos
específicos sobre o tema em simpósios, congressos e periódicos acadêmicos dessa área
temática. O Simpósio de Pesquisa e Ensino em Administração, SimpEAD, da PUC-SP, os
Seminários em Administração, SemEAD, da FEA/USP/SP, o Encontro Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração, EnANPAD, e o Encontro Nacional de Ensino e
Pesquisa em Administração e Contabilidade, EnPEQ, estes dois últimos no âmbito da
Associação Nacional da Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, ANPAD, são alguns
exemplos dessa ação.
Apesar dos esforços da comunidade científica para a consolidação do tema sobre Ensino e
Pesquisa em Administração, a área de jogos de empresas como estratégia de educação
gerencial ainda se apresenta de forma tímida em eventos acadêmicos no Brasil, especialmente
no que se refere ao Laboratório de Gestão, pois as pesquisas sobre o assunto ainda são
embrionárias em razão da natureza inovadora do conceito. Na tentativa de divulgar a proposta
25
Por fim, vale ressaltar que as organizações têm um papel fundamental na geração de riqueza e
na promoção da distribuição de renda para o país. A sociedade demanda profissionais capazes
de gerir as organizações públicas e privadas de forma eficiente e que sejam sujeitos de
transformações para o bem-estar da própria sociedade. Para tal fim, é inegável que a
qualidade da formação dos administradores é de relevância fundamental. Desse modo, o curso
de graduação em Administração pode contemplar estratégias de ensino e aprendizagem atuais
que promovam uma postura crítica do estudante e lhe permitam avaliar o impacto de suas
decisões no sistema produtivo e social.
• Pensamento crítico – nesta tese, conforme a definição proposta por Ennis (1985), é
uma forma de pensamento racional, reflexivo, focado naquilo que se deve acreditar ou
fazer. Nesta definição, é a atividade consciente, direcionada a um objetivo em bases
racionais, na qual se destacam cinco palavras-chave: prática, reflexão, sensata, crença
e ação.
O segundo capítulo trata da fundamentação teórica da tese. Nesta estrutura conceitual são
apresentadas as diretrizes curriculares nacionais como orientações para o ensino de
28
O terceiro capítulo, a metodologia, é iniciado com uma discussão epistemológica tratando das
concepções filosóficas, ontológicas e metodológicas que fundamentam a escolha dos
procedimentos de pesquisa. A seguir são descritos a abordagem de investigação, o corpus do
estudo, as técnicas de coleta, análise e tratamento dos materiais coletados.
No quarto capítulo é apresentado a análise descritiva dos dados e dos materiais coletados. A
descrição consiste do relato da entrevista em profundidade com o idealizador do Laboratório
de Gestão, dos relatos do questionário aplicado aos parceiros do SIMULAB e a observação
direta das atividades realizadas no âmbito do Laboratório de Gestão como estratégias de
ensino e aprendizagem para o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes de
Administração.
O quinto capítulo traz a discussão dos resultados à luz da fundamentação teórica. Nele é
conduzido um diálogo entre os objetivos de pesquisa e os autores identificados na literatura
pertinente ao tema desta tese. Enfatiza-se os achados que sugerem como e porque o jogo de
empresas com a pesquisa aplicada são atividades promotoras do pensamento crítico no ensino
de Administração. Não menos importante, é discutido a formação do docente para a condução
do Laboratório de Gestão.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O ensino superior tem sido objeto de debate nos últimos quarenta anos em razão de uma
reflexão nos círculos profissionais e acadêmicos sobre as rápidas mudanças sociais e
organizacionais contemporâneas no cenário mundial. Essa reflexão tem levantado algumas
questões, tais como se a formação profissional oferecida pelas instituições de ensino superior
(IES) estaria em consonância com as transformações e demandas atuais do sistema produtivo
e social.
Como fruto dessa preocupação, vale citar o apelo da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em Declaração Mundial sobre a Educação
Superior para o Século XXI, de 1998 em Paris, convidando os educadores a reverem a missão
da educação superior. Esse documento revela aspectos que emergiram do debate e dos
desafios que as nações vêm enfrentando para proporcionar às populações formação adequada
a um contexto mundial dinâmico e complexo. Dentre as questões apontadas destacam-se:
No início do século XX, ressaltou Bertero (2006), o Brasil era um país predominantemente
rural, com 75% da população no campo. Em decorrência das transformações econômicas e
sociais acima referidas, o quadro descrito reverteu-se em 1980, e o percentual da população
urbana passou a ser de aproximadamente 75%. O aumento desta população gerou uma
pressão por novos serviços, dentre os quais os educacionais, para atender às necessidades das
organizações públicas e privadas, o que explicou uma expansão do ensino superior brasileiro.
estas serem o destino da maioria dos administradores. Essa importância diz respeito ao papel
que as organizações desempenham no desenvolvimento econômico e social (distribuição de
renda e bem-estar) tendo à frente profissionais capacitados e responsáveis por uma
administração eficiente, oriundos de escolas que atendam à expectativas de uma formação
com qualidade.
A literatura expõe que o ensino de Administração no Brasil passou historicamente por três
momentos distintos (ANDRADE; AMBONI, 2004; SILVA; FISCHER, 2008, BRAGA et al.
2011). O primeiro momento está relacionado ao reconhecimento da profissão de
administrador. Decorrente desse reconhecimento, a Lei nº 4.769, de 8 de julho de 1966, e o
Parecer 307 do mesmo ano, emitido pelo Conselho Federal de Educação, determinaram o
currículo mínimo do curso de graduação em Administração, a fim de garantir a uniformidade
dos cursos.
O segundo momento, de acordo com Pinto e Motter Jr. (2012, p. 14), iniciou-se com o fim da
vigência dos currículos mínimos em 1993. O Parecer 433 de 1993, regulamentado pela
Resolução nº 02 de 1993, possibilitou a criação de habilitações específicas no curso de
Administração, estruturou diferentes cargas horárias de acordo com as categorias de
conhecimento e adequou os currículos aos avanços da ciência, possibilitando uma formação
mais generalista.
O terceiro momento deu-se com a nova edição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1998, que estabeleceu o fim da
vinculação entre a formação e o exercício profissional. Até essa data, para o exercício da
profissão de administrador era necessário ser portador de diploma, portanto havia a
necessidade de estabelecer um currículo mínimo (NICOLINI, 2000; SOUZA, 2006).
32
No que diz respeito ao curso de Administração, Andrade e Amboni (2004, p. 16) destacaram
que os currículos mínimos concebidos dentro de normas rígidas não mais permitiam o alcance
da qualidade desejada. Ao contrário, inibiam a inovação e a diversificação na preparação e na
formação do administrador.
No que toca ao perfil desejado de egresso, as diretrizes específicas para o curso de graduação
em Administração instituídas por meio da Resolução CNE/CES n. 4, de 13 de julho de 2005,
estabelecem que as IES devem criar condições para que o egresso apresente:
Ao comentar as diretrizes, Oliveira (2005, p. 33) ressaltou que a implantação de uma proposta
pedagógica pelas instituições de ensino superior deve considerar os elementos curriculares em
perspectiva sistêmica. Para isso, é necessário haver uma sinergia entre as orientações das
diretrizes, tais como os conhecimentos e os saberes necessários à formação das competências
de acordo com o perfil do egresso, estrutura curricular, estratégias de ensino e aprendizagem,
docentes com formação compatível com a proposta educacional, infraestrutura e recursos
materiais e administrativos.
Souza-Silva e Davel (2005, p. 120) também observaram que novas competências são exigidas
dos futuros gestores, pois as diretrizes sugerem, além de uma formação técnica e científica,
uma formação em Administração voltada para a valorização da responsabilidade social, da
ética e do aperfeiçoamento profissional contínuo. Adicionalmente, os autores ressaltaram a
necessidade de propiciar ao estudante de Administração uma formação humana,
interdisciplinar e global, além de uma capacidade empreendedora, voltada para a reflexão e o
agir criticamente sobre a esfera da produção, para que ele compreenda sua posição e função
na estrutura produtiva sob seu controle e gerenciamento.
Decorrente do debate sobre a adequação do ensino superior aos desafios do século XXI, a
noção de formação por competências foi incorporada à educação. A formação por
competências fundamenta-se na ideia de uma educação ampla, orientada para a prática e o
desempenho, e não somente para a simples assimilação de conteúdos (ZABALZA, 2009, p.
3). Nessa direção, as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Administração apresentam, em linhas gerais, as competências e as habilidades desejáveis aos
egressos, como orientação às IES para a formação de seus estudantes. Esse tópico será tratado
na seção seguinte.
34
A compreensão de questões cada vez mais complexas para enfrentar os desafios do século
XXI demanda um novo tipo de educação (CLOSS et al., 2009, p. 150). Dentre esses desafios,
Closs e outros destacaram a velocidade e a imprevisibilidade das mudanças sociais,
econômicas e políticas, além de um mercado de trabalho em mudança e com frequentes
avanços tecnológicos. Tais questões têm exigido dos profissionais uma aprendizagem
constante e uma formação contínua.
Ruas e Comini (2007, p. 3) afirmaram que, numa conjuntura altamente competitiva e instável,
as funções dos gestores sofrem forte impacto. Dentre essas funções, a análise de cenários, a
resolução de problemas, o gerenciamento de conflitos, a negociação com clientes e
colaboradores, além do processo de tomada de decisão, tornam-se cada vez mais complexos e
difíceis, em razão tanto da concorrência intensa quanto das vicissitudes de uma conjuntura
competitiva e instável. Por conseguinte, existe uma grande expectativa quanto ao desempenho
dos gestores, ou seja, uma forte pressão por resultados.
O termo competência surgiu no âmbito empresarial para designar a capacidade de uma pessoa
de realizar determinada tarefa real e de forma eficiente (ZABALA; ARNAU, 2010, p. 17).
Segundo Nunes e Barbosa (2009, p. 32), a formação baseada em competências surgiu nos
Estados Unidos nos anos 1920, mas obteve maior atenção dos estudiosos somente a partir da
década de 1960, quando foi retomada a discussão sobre o distanciamento entre a academia e a
realidade das organizações. Um de seus precursores, David McClelland (1973) argumentava
que os tradicionais exames acadêmicos não garantiam desempenho profissional e realização
na vida. Portanto, era necessário buscar variáveis – competências – que melhor predissesem
os resultados.
35
A noção de competência tem sido tratada na literatura sob diferentes perspectivas, como a do
trabalho e a educacional. Na primeira perspectiva, o tema foi estudado sob os prismas
organizacional (PRAHALAD; HAMEL, 1995; MILLS et al., 2002; RUAS, 2003; FLEURY,
A; FLEURY, M., 2004) e individual (McCLELLAND, 1973; BOYATZIS, 1982; ZARIFIAN,
2001; LE BOTERF, 2003; DUTRA, 2010). Na esfera educacional, os estudos sobre
competências têm enfatizado quatro diferentes aspectos: 1) a formação de currículos (SILVA,
2008; SILVA; FISCHER, 2008), 2) o processo de ensinar e aprender (PERRENOUD, 2000;
PERRENOUD; THURLER, 2008; ZABALA; ARNAU, 2010); 3) as competências docentes
(MASETTO, 2003; PERRENOUD, 2008; PAQUAY et al., 2008), bem como 4) a educação
profissional (FIDALGO et al., 2007; ZABALZA, 2009).
No que diz respeito ao aspecto individual, Boyatzis (1985, p.12) especificou que
competências compreendem características ou habilidades de um indivíduo que o capacitam a
empreender certas ações. Por seu turno, Parry (1996, p. 50) definiu competência como um
conjunto ideal de qualificações, ou seja, um conjunto de conhecimentos, habilidades e
atitudes que afeta funções ou responsabilidades e se correlaciona com o desempenho dessas
funções, podendo ser medido a partir de parâmetros aceitos e melhorado por meio de
treinamento e desenvolvimento.
Fleury A. e Fleury M. (2004, p. 48) afirmaram que a noção de competência está associada a
verbos e expressões como: saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e
complexos, saber aprender, saber se engajar, assumir responsabilidades e ter visão estratégica,
de modo a agregar valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo.
A noção de competência individual entendida nas organizações, conforme Ruas (2005, p. 51),
representa uma ação efetiva e validada no ambiente de trabalho. Desse modo, o desempenho
esperado dos indivíduos é concebido não como resultado de um acúmulo de conhecimentos
adquiridos nas escolas, mas como a possibilidade de enfrentar desafios e resolver problemas
em um cenário de negócios marcado pela competitividade, incertezas e riscos, ou seja, como
articulação de capacidades adquiridas ao longo da trajetória profissional (GODOY;
D’AMELIO, 2012, p. 624).
No que toca ao enfoque educacional, Zabala e Arnau (2010, p. 17-18) ressaltaram que, não
muito depois de ter surgido na esfera empresarial, o termo competência apareceu como uma
resposta ao ensino tradicional, que reduziu a aprendizagem à memorização de conteúdos. Tal
situação, segundo os autores, dificulta a aplicação de conhecimentos na vida real. Por seu
turno, a formação inicial e continuada da maioria das profissões centrou-se na aprendizagem
de alguns conhecimentos, prescindindo das habilidades para o desenvolvimento da profissão.
Schön, em seus trabalhos de (1983) e de (1987), destacou que a competência crucial para
todos os profissionais é a reflexão. Essa competência é vista como terminante para o
desenvolvimento inicial, para a prática cotidiana e para a melhoria contínua. Nessas obras, o
autor ressaltou dois tipos de reflexão: (1) reflexão em ação (durante a atividade) e (2) reflexão
sobre a ação (após uma atividade). Essa articulação Schön denominou de “a nova
37
Para Schön (1987, p. 337), o profissional reflexivo tende a questionar suas funções, as teorias
sobre a ação ou na ação, e as medidas de desempenho pelas quais ele é avaliado. Por
consequência, também passa a questionar elementos da estrutura do conhecimento
organizacional em que suas funções estão incorporadas.
Tais questões implicam a capacitação de professores para uma nova realidade educacional. Na
visão de Perrenoud et al. (2008, p. 11), o objetivo central dos programas de formação inicial e
continuada de professores, do ensino fundamental à universidade, deveria ser torná-los
38
No que diz respeito ao curso de Administração, aos conteúdos formativos são incorporados
elementos do saber-fazer e do saber-ser, e desenvolvidos sistemas classificatórios para o
conjunto das competências necessárias ao exercício profissional dos administradores no
âmbito das empresas e daquelas tomadas como referência na organização dos currículos
escolares dos cursos de graduação (GODOY et al., 2009, p. 267).
Dada essa complexidade, as IES exigem, especialmente em seu corpo docente, profissionais
capacitados nas formas de produzir conhecimento, de ensinar os estudantes a desenvolver
competências e habilidades gerenciais e de avaliar esses processos (HOCAYEN-DA-SILVA,
2008, p. 159).
Ennis (1985, p. 46), cinquenta anos mais tarde, definiu pensamento crítico como uma forma
de pensamento racional, reflexivo, focado naquilo em que se deve acreditar ou fazer. Para
Ennis (1985) o pensamento crítico se refere a uma atividade prática e reflexiva, direcionada
para uma crença ou uma ação sensata. Nessa definição, a atividade é consciente, direcionada a
um objetivo em bases racionais, na qual se destacam cinco palavras-chave: prática, reflexão,
sensata, crença e ação.
Willingham (2007, p. 11) ressaltou que o pensamento crítico é um subconjunto de três formas
de pensamento: o raciocínio, a tomada de decisão ou a realização de juízos e a solução de
41
problemas. Para ele, pensamos sempre desse modo; entretanto, de forma crítica, somente
algumas vezes. Decidir ler um livro, por exemplo, pode não ser um pensar crítico, mas avaliar
as razões apresentadas para acreditar no que nele está escrito é um pensar de forma crítica.
Vieira et al. (2011, p. 47) destacaram que o pensamento crítico envolve capacidades e
disposições. As capacidades referem-se aos aspectos cognitivos e as disposições aos aspectos
afetivos. Essas capacidades e disposições foram descritas por Ennis (1993, p. 180) como
características do pensamento crítico que podem ser observadas por meio de dez ações
interdependentes:
Ennis (1993, p. 179) ressaltou que os três níveis superiores dos objetivos educacionais da
taxonomia de Bloom et al. (1956) – análise, síntese e avaliação – frequentemente são
apresentados como uma definição de pensamento crítico. Algumas vezes, os dois níveis
inferiores – compreensão e aplicação – também são considerados como parte da definição. A
ideia central da taxonomia é de que os objetivos educacionais podem ser hierarquizados do
mais simples (conhecimento) para o mais complexo (avaliação) conforme é apresentado no
Quadro 1.
Nível de Complexidade
crescente Definição Amostras de verbos
(de baixo para cima)
O uso da taxonomia de Bloom et al. (1956) para definir o pensamento crítico, segundo Ennis
(1993, p. 179), apesar de útil, apresenta limitações. Ennis (1993) alertou para o fato de que os
níveis propostos por Bloom et al. (1956) não são hierárquicos, mas interdependentes.
Exemplificando, para a realização da síntese e da avaliação é necessária a realização da
análise, assim como para a realização da própria análise também é necessária a realização da
síntese e da avaliação.
43
Atualmente, numa sociedade cada vez mais complexa e dita do conhecimento, em que se
exige dos indivíduos uma educação crítica (VIEIRA et al. 2011, p. 44-6), pesquisadores e
educadores têm procurado refinar a definição de pensamento crítico. Nesse passo, após
sucessivas atualizações (FACIONE, 1997, 2001, 2007, 2011, 2013), Facione (2013, p. 5)
apresentou uma definição que decorreu de um estudo conduzido junto a um painel de
especialistas. Como resultado dessa atualização, o pensamento crítico pode ser entendido
como um juízo deliberado, autorregulatório, que resulta da interpretação, da análise, da
avaliação, da inferência e da explicação de considerações. A definição apresentada por
Facione (2013) pode ser operacionalizada por meio dos seguintes componentes:
Nesse sentido, Vieira et al. (2011, p. 45) ressaltaram que, para viver em sociedade, é
necessário o uso do pensamento crítico. Numa sociedade democrática, é desejável que os
cidadãos confrontem ideias e tomem decisões racionais. Espera-se que pensem criticamente e
façam julgamentos de valor, interagindo com outras pessoas. Pensar criticamente é também
indispensável especialmente dentro de uma sociedade científica e tecnológica, em que os
44
Com base nessa tendência de integração no ambiente de negócios, McCann (2006, p. 41-2)
destacou que a próxima economia irá girar em torno de áreas tecnológicas como computação,
comunicações e engenharias. Além disso, também convergirá para as ciências da natureza,
como Física, Biologia e Química. Desse modo, os administradores estarão cada vez mais
envolvidos no processo de tomada de decisão sobre atividades relacionadas à pesquisa como
o desenvolvimento, o planejamento, o orçamento e o controle de recursos associados a
funções técnico-científicas, o que exigirá uma abordagem interdisciplinar à formação em
Administração.
Tordino (2010, p. 149) advertiu que o impacto social da atuação do administrador indica a
atenção que deveriam receber o curso e a formação em Administração. Tal atenção se daria
no sentido de propiciar aos futuros administradores discernimento para efetuar escolhas
informadas e pertinentes, nos âmbitos interno e externo da organização, para que a profissão
possa seja reconhecida por sua capacidade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
Educar profissionais para administrar organizações, segundo Lima e Silva (2013, p. 6),
capacitando-os para o enfrentamento das responsabilidades e desafios presentes, requer
processos de ensino e aprendizagem que suscitem uma transformação do pensamento que
possibilitem o tratamento não só das dimensões econômicas, mas também das dimensões
ética, política, social e ambiental. Assim, uma educação superior com esse enfoque envolveria
o desenvolvimento da reflexão crítica desses profissionais, além de seu desenvolvimento
técnico-profissional e político-social.
45
No que toca à realização da atividade científica, Terneiro-Vieira (2000, p. 10) destacou que
essa atividade contempla a análise dos procedimentos e dos resultados científicos, a aplicação
e a integração de informações, bem como o uso das capacidades e disposições do pensamento
crítico. Essas capacidades e disposições possibilitam o uso adequado do conhecimento, a sua
utilização em novas situações, a resolução de problemas e a tomada de decisão de forma
eficaz. Tornam-se, por isso, fundamentais na abordagem científica de inúmeros problemas,
nomeadamente os sociais e humanos.
como difícil e sem valor, embora ela seja vital para o desenvolvimento da aprendizagem
continuada, do pensamento crítico e das capacidades analíticas.
Nas Ciências Sociais Aplicadas, conforme Tordino (2010, p. 165), muitos não se dão conta de
que a autoria repousa não apenas na descoberta do inusitado, mas também na articulação e
rearticulação do tido como sabido, abrindo novas perspectivas propositivas, oriundas, dentre
outros fatores, da acuidade analítica, da contraposição de antagônicos, da coerência da síntese.
A tudo isso se pode denominar autoria: a resultante do entrelaçamento do saber formal com a
persistente busca de autoformação, que impede os membros da academia – estudantes e
professores – de coincidirem consigo mesmos.
instruir-se a serviço da obtenção da liberdade do espírito: dela advirão novas articulações dos
conhecimentos estabelecidos e dos sentidos dados, instituidoras de outra realidade.
A preocupação com a formação pedagógica do docente, segundo Almeida (2012, p. 71), está
relacionada às transformações sociais, às formas de organização subjacentes à produção e à
divulgação do conhecimento. Esses fatores têm demandado das IES, como espaço de
produção científica e crítica de conhecimentos, a formação de profissionais articulada com
essas mudanças e com as transformações vividas pela própria universidade, que tornam mais
complexo o seu papel formativo. Formar profissionais competentes e sintonizados com as
demandas atuais é tarefa que exige dos professores mais do que repassar conteúdos de sua
área de especialização stricto sensu (PIMENTA; ALMEIDA, 2011, p. 7).
Ao analisar a situação dos professores que atuam nas IES, Slomski (2007, p. 89) verificou
que, exceto os docentes provenientes das licenciaturas, a maioria não contou com formação
necessária à construção de saberes para a docência. Embora ministrem aulas, esses
professores nem sempre dominam as condições necessárias para atuar.
que formar é mais que transmitir informações, é propiciar novas formas de aprender e de
transformar a realidade.
Com vistas em melhorar a qualidade dos cursos de Administração, Fischer (2006, p. 193)
sugeriu que os programas para a formação de professores na pós-graduação instituíssem
linhas de pesquisa, programas ou atividades que promovessem uma reflexão sobre ensino e
aprendizagem em Administração. A preparação do professor universitário, segundo Almeida
(2012, p. 70), requer processos formativos que mobilizem teorias educacionais necessárias à
prática docente, permitindo o desenvolvimento de conhecimentos e habilidades para a
avaliação e a investigação da própria atividade e a constituição de novos saberes docentes.
Por sua natureza, “a pós-graduação enfatiza a pesquisa, tornando-se responsável, mesmo que
não intencionalmente, por reproduzir e perpetuar a crença de que para um bom professor
universitário basta a especialização crescente em determinada área do saber” (PACHANE,
2010, p. 25). Essa situação é fundamentada na ideia de que “quem sabe, sabe ensinar” sem
uma preocupação com as competências pedagógicas do professor universitário (MASETTO,
2003, p. 13), ou seja, aquelas necessárias à condução do processo de ensino e aprendizagem.
Arroio et al. (2006, p. 1387) destacaram, por exemplo, que a admissão de professores nas
IES, mesmo que por concurso, é feita sem se levar em consideração se o candidato domina ou
49
Nessa senda, Joaquim e Vilas Boas (2011, p. 1170) advertiram que seria necessário ao
professor ter conhecimentos relativos à educação e à pedagogia, para desenvolver um saber
prático com base na experiência diária construída com os estudantes, além dos conhecimentos
relativos à pesquisa. Essas realidades precisam coexistir e não serem consideradas
mutuamente excludentes. Embora essa discussão esteja centrada no ensino, há que considerar
que a supervalorização da prática do ensino em detrimento da pesquisa e da extensão também
não configura um equilíbrio dessa circunstância.
Na esteira do tema, Fischer (2006, p. 194) destacou que formar professores não é uma
atividade complementar que considera apenas a assimilação de conteúdos ou a realização do
estágio docente. Em alguns programas o estágio consiste, simplesmente, na colocação dos
estudantes de pós-graduação em aulas na graduação no lugar de seus orientadores. Essa
iniciativa, conforme Fischer (2006), pode ser contraproducente e comprometer a qualidade do
ensino de graduação, por duas razões. Primeiro, porque um professor sem preparo adequado
para organizar e conduzir as atividades de ensino não está realizando estágio. Segundo, na
ocasião, exerce a docência em caráter precário, o que pode ser impresumível e voltar-se
contra a formação pretendida.
Com relação aos conhecimentos necessários a docência, por exemplo, Garcia (1992, p. 1-6) o
entendeu como um conjunto de conhecimentos, destrezas, atitudes e disposições para ensinar.
O autor também destacou os possíveis componentes desse tipo de conhecimento: 1)
conhecimento pedagógico geral (conhecimentos e habilidades relacionados aos princípios
gerais do ensino e da aprendizagem); 2) conhecimento de conteúdo (conhecimentos
relacionados às disciplinas que ensinam).
Shulman (2005, p. 5-11) concebeu esse conhecimento como o que os professores devem
saber, fazer, compreender ou professar para que o ensino não se limite a um trabalho
individual, e destaca sete categorias de conhecimentos: conhecimentos do conteúdo ou
disciplinares; conhecimentos pedagógicos ou conhecimento didático geral; conhecimento de
currículo ou domínio de materiais e programas; conhecimento dos estudantes e da
aprendizagem; conhecimento do contexto educativo, referindo-se ao ambiente de ensino;
conhecimento didático do conteúdo, isto é, a relação entre a matéria e a pedagogia como
forma particular de compreensão profissional, e conhecimento dos objetivos educacionais,
dos valores educativos e de seus pressupostos históricos e filosóficos.
51
Ainda sobre a vertente das competências, Masetto (2003, p. 26-33) ressaltou três grandes
classes para a formação do professor de ensino superior: 1) a competência em determinada
área; 2) a competência pedagógica e; 3) o exercício da dimensão política.
A primeira envolve o domínio dos conhecimentos adquiridos pelo professor seja em sua
formação básica, seja em sua atividade profissional. Tal domínio requer constante atualização,
que é obtida pela atividade de pesquisa e pela participação em eventos científicos ou de
formação, como cursos, congressos, etc.
Na terceira, o professor exerce a dimensão política, já que, como cidadão, não deve
negligenciar a realidade social, a vida em sociedade, mas sim ter uma visão crítica e a
percepção da própria educação como processo social.
52
Relativamente ao grupo dos saberes, autores como Nóvoa (1992), Gauthier et al., (1998);
Tardif (2002) e Tardif e Lessard (2005) tratam os processos formativos de professores e
saberes a partir de abordagens que focam a análise de suas histórias de vida, suas trajetórias
profissionais e suas práticas pedagógicas. Segundo Teixeira (2009, p. 32) esta abordagem
aponta o professor como figura central dos estudos e surgiu em oposição aquelas pesquisas
que restringem a profissão docente a um conjunto de regras, competências e técnicas
prescritivas.
Na visão de Tardif (2012, p. 230), para compreender a natureza do ensino é necessário levar
em conta a subjetividade dos atores em atividade, ou seja, a subjetividade dos próprios
professores. Nessa perspectiva, a pesquisa sobre ensino tem o dever de registrar o ponto de
vista dos professores, bem como os conhecimentos e o saber fazer por eles mobilizados na
ação cotidiana, considerando os professores não como objetos de pesquisa, mas como sujeitos
competentes que detêm saberes específicos ao seu trabalho.
Sobre essa vertente, Teixeira (2009, p. 32) comentou que compreender os processos
formativos, as experiências, as trajetórias de vida possibilita esclarecer uma gama de questões
que vão desde a forma com que o professor ensina até o modo pelo qual ele estabelece os
conteúdos, práticas sua relação com os estudantes. A respeito desta abordagem, Tardif et al.
(2001) e Tardif e Lessard (2005) ressaltaram a importância dos saberes vivenciais docentes,
destacando a socialização e a identificação profissional geradas nos espaços e nas situações de
trabalho e fundamentadas em saberes e valores adquiridos a priori.
Igualmente, Almeida (2012, p. 73) destacou que entender o ensino como uma prática
complexa e socialmente contextualizada e pensar os requisitos formativos capazes de apoiar
os que nele atuam implica considerar: a) as concepções a respeito de si e do próprio papel
social que dão sustentação à identidade profissional; b) os componentes que integram os
processos formativos, como teorias e práticas, conteúdos da área específica de atuação,
conhecimentos didático-pedagógicos; c) os contextos de formação e de trabalho; d) os
processos de construção do conhecimento e de desenvolvimento profissional.
Nesse passo, a noção de saber, segundo Tardif (2012, p. 255), adquire um sentido amplo, que
engloba os conhecimentos, as competências, as aptidões e as atitudes, isto é, o que muitas
53
vezes é chamado de saber, saber-fazer e saber-ser. Esse sentido amplo reflete o que os
próprios professores dizem a respeito de seus saberes profissionais.
Para Gatti (2009, p. 98) o desenvolvimento profissional do professor vai além dos saberes
operativos e técnicos. Ele se dá tanto pela formação básica e na graduação, quanto por meio
das experiências com a prática docente, pela interação entre os pares e com o contexto
educacional como um todo. Contempla, além disso, uma integração de modos de agir e
pensar, implicando um saber que inclui a mobilização de conhecimentos e métodos de
trabalho, como também a mobilização de intenções e valores individuais e grupais, da cultura
da instituição de ensino.
O processo de formação contínuo, conforme dispôs Pachane (2010, p. 26-27), não se inicia
nos cursos de pós-graduação. Em geral, começa antes do início da carreira, quando o futuro
professor toma contato com seus primeiros exemplos de conduta docente, e continua ao longo
dela, num processo de constante aprimoramento.
Nesse sentido, no que toca à preparação do professor, “é preciso que os docentes encontrem
espaço de acolhimento e de sustentação institucional; tenham espaços coletivos para participar
de processos colaborativos de construção e reconstrução de práticas e a ação pedagógica”
(FRANCO, 2012, p. 23).
A formação docente, conforme tratada na seção anterior, vai além do mero domínio de
conteúdos específicos de áreas da ciência. O professor universitário, como agente responsável
pela formação de profissionais que vão atuar no sistema produtivo e social, necessita dominar
uma gama de conhecimentos ou saberes relativos à prática pedagógica, que compreende um
conjunto de meios e ações para a promoção do ensino e da aprendizagem do estudante.
A esse respeito, Morandi (2002, p. 9) destacou que a formação dos indivíduos está no centro
das principais dinâmicas sociais, tornando a atividade pedagógica estratégica, pois a
sociedade desenvolve cada vez mais organizações de aprendizagem. Assim, a pedagogia,
como um campo de conhecimento cada vez mais complexo, depende de competência técnica
e profissional por ser uma área de estudo e pesquisa voltada para a sistematização da prática
humana que dirige as ações de educação.
Tais ações, como práticas pedagógicas, segundo Behrens (2007, p. 440-441), são reflexos do
paradigma educacional que norteia a formação do professor, porém a concepção ou tendência
pedagógica que distingue a ação docente pode ser transformada ao longo de sua trajetória
profissional. Os paradigmas são entendidos como concepções, tendências e abordagens que os
professores apresentam em sua visão de mundo, de sociedade, do homem e da própria prática
pedagógica.
55
Nos últimos vinte anos do século XX conforme ainda ressalta Behrens (2010, p. 34), o
movimento de mudança paradigmática para uma visão complexa ganhou força entre
cientistas, profissionais da educação e alguns professores universitários. Essa influência
paradigmática atinge a educação e propõe a transformação da prática pedagógica.
Os educadores, em geral, referem-se aos paradigmas como sendo dos tipos tradicional e o da
complexidade (BEHRENS, 2007, 2010; RIBEIRO et al., 2010; ANBONI et al., 2012). O
primeiro, baseado na racionalidade newtoniana e cartesiana, preconiza a racionalização, a
fragmentação e a visão linear de ciência. Sob essa perspectiva, os fenômenos podem ser
analisados e compreendidos quando reduzidos a suas partes constituintes. Tal perspectiva tem
influenciado a educação, promovendo o ensino de forma fragmentada, o distanciamento entre
teoria e prática, a reprodução do conhecimento e a atuação do estudante como um ser passivo,
isto é, apenas receptor da informação a ser memorizada.
Nesse passo, Amboni e outros (2012, p. 306), ao comentarem a influência dos paradigmas da
ciência na educação, destacaram que um currículo concebido a partir dos princípios da
complexidade traz em sua essência o processo dialógico e o princípio da recursão
organizacional curricular, isto é, difere de um currículo planejado a partir de uma abordagem
instrucional, que concebe o ensino de forma fragmentada, sem diálogos, com conteúdos
sequenciais desconectados e sem relacão com as demais disciplinas. Para os autores, uma
visão interdisciplinar exige não o isolamento estanque defendido sob a luz do paradigma
56
tradicional da ciência, mas uma perspectiva integradora, global, enfatizada pelo paradigma da
complexidade. Sintetizando tais aspectos, o Quadro 2 apresenta as influências do paradigma
tradicional e do paradigma da complexidade na educação.
Posto esse desafio, o docente precisa reavaliar sua prática pedagógica de modo a melhor
conduzir o processo de ensino e aprendizagem. A literatura sobre pedagogia expõe diversos
métodos, técnicas, dinâmicas ou estratégias de ensino e aprendizagem (LEBRUN, 2002;
MORANDI, 2002; VIEIRA, R.; VIEIRA, C., 2005; MORIN, 2005; ANASTASIOU; ALVES,
2009). Os termos que as definem, porém, são utilizados em uma multiplicidade de contextos e
realidades, e com variadas acepções, às vezes equivalentes.
Na perspectiva de Morandi (2002, p. 17), por exemplo, o termo método refere-se àquilo que
permite ascender ao lugar que se busca e pode ser entendido como um caminho, um
procedimento organizado de uma atividade. Não é um resultado ou solução preestabelecida,
mas uma maneira de estabelecer práticas concebidas, um saber fazer que está no centro da
ação pedagógica.
Para Vieira, R. e Vieira, C. (2005, p. 16-17), método e estratégia são termos utilizados de
forma equivalente. Para eles, o termo método ou estratégia é entendido como um plano
concebido, um conjunto de ações do professor e do estudante para o desenvolvimento de
determinadas competências de aprendizagem, num contexto real. Já o termo técnica, para
Vieira, R. e Vieira, C. (2005), é mais adequado a certas áreas (disciplinas instrumentais, como
matemática e estatística) e à utilização de materiais (artefatos utilizados pelo professor para a
exposição do conteúdo ou um apoio no processo de aprendizagem).
57
Por sua vez, Morin (2005, p. 70-73) referiu-se às práticas pedagógicas como estratégias
cognitivas que são produzidas simultaneamente à ação, modificando-se de acordo com os
eventos e reações dos sujeitos envolvidos. Seria, portanto, agir na incerteza e transformar o
andamento da ação em função do acaso e do novo, uma ação própria usada em situação de
jogo, em seu contexto de imprevisibilidade, que exige escolhas e o confronto com o risco.
Anastasiou e Alves (2009, p. 75-76) chamaram a atenção para a origem dos termos técnica,
dinâmica e estratégia de ensino e aprendizagem ao se referirem a ações e procedimentos
pedagógicos. Segundo as autoras, a técnica diz respeito à “arte material ou conjunto de
processos de uma arte, modo ou habilidade de executar algo”. A dinâmica alude ao
movimento e às forças: ao organismo em atividade. A estratégia é a arte de aplicar ou explorar
os meios e as condições favoráveis à execução de objetivos específicos. No caso do ensino e
da aprendizagem, as estratégias norteiam os processos para os sujeitos envolvidos –
professores e estudantes.
Pelo exposto, a prática pedagógica pode ser entendida como um processo que envolve
indivíduos (professor e estudante) com papéis e responsabilidades definidas na construção de
conhecimentos, lidando com a incerteza e a imprevisibilidade no decorrer da ação pedagógica
(MORIN, 2005; VIEIRA, R.; VIEIRA, C., 2005; ANASTASIOU; ALVES, 2009). Nesse
sentido, o uso do termo estratégia justifica-se, tendo em vista que o professor tem que estudar,
selecionar, organizar e propor as ferramentas que melhor apoiem os estudantes em sua
apropriação do conhecimento (ANASTASIOU; ALVES, 2009, p. 76). Assim, para fins desta
tese o termo estratégias pedagógicas doravante será utilizado para se referir ao conjunto de
procedimentos utilizados pelo professor para favorecer o processo de ensino e aprendizagem,
em conformidade com a definição de Anastasiou e Alves (2009).
A breve discussão apresentada até o momento sobre as várias definições das práticas
pedagógicas docentes traz à tona a reflexão qual deve ser o foco do processo de ensino e
aprendizagem. As atuais propostas educacionais ressaltam a importância da participação
conjunta dos sujeitos envolvidos e o deslocamento do foco da ação docente do ensino para a
aprendizagem (ANASTASIOU; ALVES, 2009, p. 64).
Além disso, podem ser condicionadas pelas concepções dos professores sobre a perspectiva
de ensino, aos modelos de ensino e aprendizagem, ao papel do professor, ao papel do
estudante, bem como dos recursos disponíveis (VIEIRA, R.; VIEIRA, C., 2005, p. 10).
Quanto aos papéis dos agentes envolvidos, Knowles et al. (1998, p. 10-11) chamaram a
atenção para a distinção entre ensino e aprendizagem. Para esses autores, o ensino é uma
atividade projetada e realizada por agentes para efetuar mudanças no conhecimento,
habilidades e atitudes de indivíduos. Entretanto, o termo enfatiza o educador como o agente
de mudança que apresenta o estímulo, o reforço para a aprendizagem, e que projeta atividades
para induzir à mudança. O termo aprendizagem, por outro lado, enfatiza a pessoa na qual a
mudança ocorre ou na qual se tem a expectativa de que ela ocorra.
Nesse sentido, Tigelaar et al. (2004, p. 256) também alertaram sobre a distinção entre o
ensino centrado no professor e o ensino centrado no estudante. O primeiro é concebido tendo
o professor como o detentor do conhecimento que é transmitido aos estudantes. Em
contrapartida, o segundo é concebido tendo o estudante como sujeito da construção do
conhecimento e o professor como um de apoiador nesse processo.
Posto isto, formar profissionais para enfrentar os desafios sob o paradigma da complexidade
requer a busca de novos modelos e processos de ensino e aprendizagem que provoquem a
transformação do pensamento (CLOSS; ANTONELLO, 2010, p. 21). Tais iniciativas exigem
superar a reprodução de conteúdos e favorecer a produção de conhecimento, de modo que o
59
Em apoio aos educadores, para tais fins a literatura aponta um amplo leque de estratégias de
ensino e aprendizagem e suas fundamentações (ANDRADE; AMBONI, 2004; MARION;
MARION, 2006; DeAQUINO, 2007). Lebrun, (2002) e Vieira, R. e Vieira, C. (2005)
classificaram dois grupos delas cujo foco está na ação dos sujeitos no processo de ensino e
aprendizagem, ou seja: as centradas no professor e as centradas no estudante.
Já as estratégias centradas no estudante são denominadas ativas. Por meio delas enfatiza-se o
desenvolvimento das competências cognitivas e relacionais e a ação do estudante (LEBRUN,
2002, p. 93-94). As competências cognitivas referem-se à análise, à síntese, à avaliação e ao
60
senso crítico que os estudantes têm que apresentar no ambiente de ensino e aprendizagem. As
competências relacionais compreendem o trabalho em equipe e a comunicação, por exemplo.
Feitas essas considerações, pode-se afirmar que o desafio dos professores de Administração
consiste em compreender as práticas pedagógicas e suas aplicações no processo de ensinar e
aprender. Desse modo, a reflexão sobre as práticas pedagógicas passa a ser um fator
importante no processo, visto ser a forma pela qual se questiona o cotidiano da educação.
Nesta sentido, Terneiro-Vieira (2000, p. 15) ressaltou que promover a capacidade de definir
problemas, selecionar informação e resolver problemas de forma autônoma se sobrepõe à
simples capacidade de memorização de conteúdos. Vale destacar o conceito de estratégia
61
ativa de ensino e aprendizagem, uma vez que, de acordo com o exposto, essa estratégia pode
propiciar maior reflexão dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.
Para Mitre et al. (2008, p. 2136), as estratégias ativas utilizam a problematização com o fim
de estimular o estudante diante do problema, pois assim ele se detém, examina, reflete,
relaciona as suas concepções e passa a ressignificar suas descobertas. A problematização pode
levar o estudante ao contato com as informações e à produção do conhecimento, gerando seu
próprio desenvolvimento. Aprender por meio da resolução de problemas é uma das
possibilidades de envolvimento ativo dos estudantes em seu próprio processo de formação.
Conforme Berbel (2011, p. 29), as estratégias ativas são formas de desenvolver o processo de
aprender utilizando experiências reais ou em laboratório, para obter as condições de
solucionar, com sucesso, em diferentes contextos, desafios advindos das atividades essenciais
da prática social.
Vygotsky (1989) postulava que o desenvolvimento cognitivo tem uma relação direta com o
desenvolvimento social. Nesse sentido, tratou de verificar a interação entre indivíduos
experientes e inexperientes. Na sua teoria sociointeracionista, ele sugere que os resultados do
desenvolvimento humano ocorrem pela interação dinâmica entre indivíduos e a sociedade
mediante um sistema de sinais. Tal sistema é destinado a mediar a comunicação, para a
construção de um universo social. Para Vygotsky a colaboração entre sujeitos com
conhecimentos distintos potencializa a aprendizagem. Desse modo, os indivíduos
inexperientes aprendem gradualmente com os experientes; no entanto, esse aprendizado pode
variar de uma cultura para outra.
63
Feitas tais colocações, são apresentadas a seguir algumas estratégias ativas de ensino e
aprendizagem. As estratégias estão sumarizadas em quadros nos quais são destacados os
conceitos, as operações de pensamento, a descrição da atividade e a avaliação. Tais quadros
são referências extraídas de Anastasiou e Alves (2009), seguidas das observações feitas pelas
respectivas autoras.
O ensino com pesquisa (Quadro 6) oferece condições para que os estudantes adquiram
autonomia, assumam responsabilidades, desenvolvam disciplina para a busca da solução de
problemas, com treino de trabalho intelectual supervisionado pelo professor. Aqui algumas
observações são pertinentes: o conteúdo é tomado como provisório tal que novos estudos
podem reformular o existente. Os critérios de validação do conhecimento são os de
probabilidade, plausibilidade, demonstração, evidência lógica e empírica.
No que toca a esta tese, o Laboratório de Gestão é apresentado, a seguir, como uma proposta
de educação gerencial apoiada nos simuladores organizacionais e em duas estratégias ativas
de ensino e aprendizagem, a saber: o jogo de empresas e o ensino com pesquisa.
O Laboratório de Gestão como ambiente de educação gerencial com pesquisa concebido por
Sauaia (1990, 1995, 2006, 2008, 2010) evoluiu a partir da utilização de jogos de empresas nas
ciências sociais aplicadas, ao longo de duas décadas de pesquisa e atividades acadêmicas. A
proposta nasceu da associação entre simuladores organizacionais, jogo de empresas e
pesquisa aplicada, visando suprir duas lacunas na formação do estudante nas áreas de
Administração e Economia das Organizações (SAUAIA, 2010, p. xiv) com as seguintes
medidas:
• A primeira, segundo o autor, a falta de visão sistêmica das organizações, que seria
recuperada integrando-se os conteúdos dissociados no ensino de Administração para
tratar os conhecimentos e os problemas organizacionais. Assim, o participante do
Laboratório de Gestão é desafiado segundo a vivência em um jogo de empresas a
recombinar os conceitos tratadas isoladamente nas disciplinas ao longo do curso.
Nesse sentido, Sauaia (2012, p. 6) destacou que o jogo de empresas como ambiente para a
tomada de decisão gerencial pode favorecer uma aprendizagem por meio da prática conceitual
integrando conteúdos em um trabalho de grupo. Em razão dos diferente níveis de
envolvimento de cada membro, porém, o desempenho do grupo pode ser afetado. Assim, para
minimizar o efeito desta questão, cada participante ao assumir um papel gerencial em uma
área funcional seleciona um tema de investigação e o transforma em pesquisa participativa
aplicada ao jogo, tornando-o um laboratório de experimentos controlados em busca de
aprofundamento conceitual e criação de conhecimento para adicionar valor para si e para sua
empresa.
Como ambiente de educação gerencial com pesquisa, o Laboratório de Gestão foi concebido
sobre três pilares conceituais (SAUAIA, 1990, 1995, 2008, 2010). O Quadro 8 ilustra o
desenho conceitual do Laboratório de Gestão.
Na concepção de Sauaia (1990, 1995, 2008, 2010), inicialmente, é necessário fazer a distinção
entre simuladores e jogos de empresas, termos que por vezes têm sido utilizados de forma
intercambiável. Os simuladores (manuais ou computadorizados) são artefatos que descrevem
um conjunto de regras econômicas de um determinado mercado. Estas regras fundamentam
um modelo teórico cujos pressupostos determinam as relações de causa e efeito existentes em
um determinado mercado para a prática de seus conceitos e suas relações. Portanto, o
simulador organizacional é um instrumento de apoio à aprendizagem que viabiliza o jogo de
empresas.
Quanto ao jogo de empresas, Sauaia (1990, 1995, 2008, 2010) o caracterizou como o processo
de tomada de decisão operacionalizado pelos estudantes, no exercício de funções gerenciais,
sob condições de incerteza. Tais condições são caracterizadas por um ambiente de negócios
70
No jogo de empresas os grupos tomam decisões e competem por resultados objetivos. Apesar
de todos começarem em condições de simetria de dados e informações, o entendimento
assimétrico dos dados e os vieses cognitivos conduzem a resultados distintos em decorrência
das competências gerenciais dos integrantes dos grupos no jogo de empresas. Os ciclos se
repetem para construir uma visão gerencial dinâmica e sistêmica e propiciar aos estudantes
condições para uma a aprendizagem mediante a vivência.
Nesse sentido, tais ciclos são fundamentados na Teoria da Aprendizagem Vivencial de Kolb
(1984), na qual se destaca a interdependência entre as características internas do indivíduo
que aprende e as circunstâncias externas do ambiente de aprendizagem, isto é, entre
conhecimento de origem individual e social. Na perspectiva de Kolb (1984, p. 21), a
aprendizagem e a criação de conhecimento ocorrem a partir dos seguintes pressupostos:
Para Kolb (1984, p. 35) os ciclos se caracterizam por uma espiral, na medida em que o
conhecimento é um processo contínuo oriundo da integração entre os indivíduos e o ambiente
de aprendizagem por meio de experiências e de conceitos. Este processo de aprendizagem e
criação de conhecimento é representado em ciclos conforme a Figura 1.
A Experiência Concreta (EC) – envolve ações de contato direto com situações e problemas a
resolver. Estas ações são referenciadas em conhecimentos aprendidos e em processos mentais
preexistentes. Neste estágio se constrói condições para aprendizagens posteriores por meio da
experimentação.
71
Experiência Ativa (EA) – é a ação voltada para novas situações a partir do entendimento de
experiências prévias. Caracteriza-se pela aplicação prática dos conhecimentos oriundos de
processos de pensamento refletidos, explicados e generalizados. A ação está centrada em
relações interpessoais, na colaboração e no trabalho em equipe.
No que toca o Laboratório de Gestão, Sauaia (2010, p. xix) apresentou uma associação da
aprendizagem vivencial aos jogos de empresas, com base nos ciclos de Kolb (1984). A
Experiência Concreta é representada pela tomada de decisão inicial após o entendimento das
regras econômicas do simulador organizacional. A Observação Reflexiva é caracterizada pela
análise dos resultados e a observação dos desvios entre as metas planejadas e realizadas pelos
estudantes. A Conceitualização Abstrata é determinada pelo confronto e discussão dos
resultados organizacionais diante de uma revisão conceitual e de modelos teóricos de gestão.
A Experimentação Ativa é representada pela rediscussão dos resultados a fim de criticamente
revisar o plano anterior e tomar decisões sobre a manutenção ou não de políticas e estratégias
definidas pelos estudantes.
Considerando a pesquisa aplicada, segundo Sauaia (2006, 2008, 2010), ela é realizada pelo
estudante desde o projeto até o relatório final de pesquisa. O participante do jogo em sua
função gerencial identifica um problema de gestão a ser investigado que possa gerar valor à
empresa simulada. Na revisão da literatura examina os modelos de gestão. No jogo de
empresas coleta os dados primários sejam eles por meio dos relatórios gerenciais e setoriais a
cada ciclo e / ou a observação do comportamento gerencial, levantamentos ou entrevistas no
ambiente da vivência empresarial. Os resultados da análise são discutidos com base na teoria
adotada (modelos de gestão examinados na literatura). Por fim, na conclusão são apresentadas
as contribuições, as limitações e as sugestões de novos estudos, além das evidências da
aprendizagem vivencial que alertam para a gestão das empresas reais.
Sauaia (2013b) argumentou ainda que enquanto a assimilação das regras do simulador
organizacional é uma atividade que demanda uso do pensamento de baixa complexidade, a
síntese do conhecimento crítico refere-se a um pensamento de alta complexidade, exercitado
por meio da condução de uma pesquisa teórico-empírica relatada em um texto científico.
74
3. METODOLOGIA
O capítulo precedente tratou da fundamentação teórica desta tese. A seguir, este capítulo
apresenta a fundamentação epistemológica, ontológica e metodológica que norteou o
delineamento desta investigação científica. Por conseguinte, são apresentados o corpus e as
técnicas de coleta e tratamento dos dados deste estudo.
A realização de uma investigação científica, segundo Creswell (2010, p. 27), envolve escolhas
relativas a concepções filosóficas, a estratégias de pesquisa e a métodos específicos. O autor
ressaltou que os pesquisadores precisam pensar por meio da intersecção desses fatores para
transformar a abordagem de pesquisa em procedimentos práticos.
(2011, p. 134) advertiu que, a princípio, não há razão alguma para que essa relação seja
perfeita, ou mesmo a melhor possível.
No que toca às ciências sociais, Santos (2010, p. 34) destacou que os pesquisadores dessa área
foram influenciados por esses pressupostos. O autor esclareceu que, nos primórdios dos
estudos científicos da sociedade, o compromisso epistemológico deste campo de investigação
estava bem caracterizado pelo nome de “física social”; partia do pressuposto de que as
ciências naturais se consolidavam como um modelo de conhecimento universalmente válido e
que deveria ser seguido pelos pesquisadores das ciências humanas e sociais.
Nesse sentido, Boeira e Vieira (2010, p. 35) reforçaram a ideia de que a ciência social só pode
realmente compreender as relações sociais se incorporar em suas abordagens analíticas o
universo dos indivíduos, e advertiram que “a vida em sociedade não pode ser descrita, e muito
menos explicada, apenas levando em consideração as características exteriores e objetivas do
comportamento humano.”.
76
Em vista do debate relativo à compreensão dos fenômenos das ciências naturais e sociais, as
ideias sobre a realidade e a natureza do conhecimento têm mudado ao longo do tempo,
favorecendo o surgimento de outros paradigmas de pesquisa (COLLINS; HUSSEY, 2009, p.
55). Novos modelos surgem em resposta às incompletudes do paradigma dominante,
recebendo, em certa medida, a aceitação e o reconhecimento da comunidade científica por
explicarem melhor uma gama de problemas emergentes não resolvidos pelo paradigma
predecessor (MOREIRA; MASSONI, 2011, p. 28).
Tais modelos trazem em seu escopo pressupostos filosóficos a respeito da natureza do mundo,
do lugar ocupado pelos indivíduos e também de uma variedade de relacionamentos entre os
fenômenos (MARIZ et al., 2005, p. 3). Esses pressupostos referem-se às questões de cunho
ontológico, epistemológico e metodológico (COLLINS; HUSSEY, 2009, p. 59; CRESWELL,
2010, p. 29-34; CRESWELL, 2013, p. 19-21).
As premissas dessas questões foram sumarizadas por Guba e Lincoln (1994, p. 108). Segundo
esses autores os aspectos ontológicos referem-se à natureza da realidade e a suas
características. Nesse sentido, os pesquisadores ponderam se a realidade social é objetiva e
externa ao pesquisador, podendo assim ser apreendida pelo conhecimento de suas partes
funcionais, ou se a realidade é socialmente construída pela interação de indivíduos e grupos
que compartilham valores sociais, políticos e econômicos.
No tocante aos estudos de Administração Roesch (2007, p. 122) destacou duas tradições
relativas aos paradigmas: o positivismo e o interpretativismo. Morgan e Smircich (1980, p.
492) apresentaram uma tipologia das diferentes perspectivas dos cientistas sociais sobre o
positivismo e o interpretativismo com base nos pressupostos ontológicos, epistemológicos e
metodológicos. O Quadro 10 expõe essas perspectivas por meio de um continuum entre os
dois principais paradigmas, associados em seis categorias.
Nesta tese, tal exposição se fez necessária para fundamentar as escolhas relativas ao percurso
metodológico desta pesquisa, que examina o Laboratório de Gestão como estratégia de
ensino, aprendizagem e pesquisa teórico-empírica.
Nesse passo, Lima (2008, p. 33) argumentou que graças à natureza da pesquisa qualitativa, só
é possível atribuir significados aos fenômenos humanos com o apoio de exercícios de
interpretação e compreensão, pautados na observação participante e na descrição densa –
exercícios de apreensão da realidade que subvertem a separação epistêmica existente entre
sujeito e objeto. Para tanto, assevera a autora, é necessário intensa reflexão pelo pesquisador.
Feitas essas considerações, a abordagem qualitativa escolhida para esta tese, justifica-se por
sua melhor adequação às fontes de evidências empíricas e aos objetivos de pesquisa deste
estudo, ou seja, analisar o Laboratório de Gestão na perspectiva dos participantes desse
ambiente de educação gerencial com pesquisa por meio da interpretação de seus relatos.
A abordagem qualitativa inclui uma série de enfoques na pesquisa das ciências sociais
(FLICK, 2009, 17), os quais são condicionantes da forma pela qual a realidade será
apreendida. Tais enfoques, de acordo com Lima (2008, p. 34), têm sido apresentados ao longo
do tempo sob diferentes denominações, como, por exemplo, abordagem qualitativa idealista,
abordagem fenomenológica hermenêutica, método etnográfico, método funcionalista,
estratégia ou método de estudo de caso e método de pesquisa-ação, os dois últimos sendo os
mais utilizados pelos pesquisadores da área de Administração.
80
Adicionalmente, autores como Gil (2009, p. 14), Merriam (2009, p. 40), Hancock e Algozzine
(2011, p.15-6), Farquhar (2012, p. 7) e Creswell (2013, p. 97) assinalaram outros aspectos que
justificam a adoção da estratégia de estudo de caso nesta investigação científica, a saber:
• O uso, pelo pesquisador, de múltiplas fontes de evidências, tais como relatos dos
participantes, entrevistas e outras técnicas que expressem a complexidade das
variáveis inerentes ao fenômeno por meio de uma análise em profundidade de seu
contexto natural.
Convém ressaltar que, dependendo do propósito das investigações, é possível delinear estudos
de caso único e estudos de casos múltiplos (GIL, 2009, p. 51-2; YIN, 2012, p. 8;
CRESWELL, 2013, p. 99). Os primeiros se referem a um indivíduo, uma organização, uma
atividade ou um fenômeno. São apropriados em certas circunstâncias para determinar se as
proposições de uma teoria são corretas ou quando o caso sob estudo é raro ou extremo; em
outras palavras, quando não há muitas situações semelhantes para que sejam feitos estudos
comparativos ou ainda quando o caso é revelador, isto é, permite o acesso a fenômenos
inacessíveis a outros pesquisadores.
advertiu que isso não significa que se deva preferir a realização de estudos de casos múltiplos
em detrimento de estudos de caso único, pois há situações em que interessa pesquisar um
único caso em profundidade e outras em que um estudo de caso único é suficiente para
formular proposições a novos estudos ou para testar uma teoria.
Vale observar, no entanto, que, apesar de a estratégia de estudo de caso ser amplamente
utilizada nas ciências sociais (GIL, 2010, p. 37; HANCOCK; ALGOZZINE, 2011, p. 16),
autores como Eisenhardt e Graebner (2007, p. 27), Gibbert et al. (2008, p. 1465) e Noor
(2008, p. 1603) elencaram críticas a uma possível falta de rigor científico, referindo-se ao fato
de o pesquisador ser o principal instrumento de coleta e análise de dados, críticas à
confiabilidade, à validade interna e ao poder de generalização (MERRIAM, 2009, p. 52).
Muito embora a estratégia de estudo de caso admita flexibilidade em sua execução, Zanni et
al. (2011, p. 3) ressaltaram que se podem observar procedimentos que conferiram a esta
estratégia de investigação a robustez necessária para que ela tenha reconhecimento científico.
Nesse sentido, Eisenhardt (1989, p. 537-8), Yin (2001, p. 89), Gibbert et al. (2008, p. 1466-8)
e Vissak (2010, p. 380), influenciados pela tradição positivista, sugeriram alguns
procedimentos de pesquisa que atribuem maior rigor à estratégia de estudo de caso no que
concerne à validade interna, à validade de constructo, à validade externa e à confiabilidade.
No que tange à validade externa, ou poder de generalização, ela “será evidenciada na medida
em que os achados de um caso puderem ajudar a explicar outro caso semelhante”
(MARTINS, 2008, p. 96). Embora os estudos de caso não permitam generalizações
estatísticas, deles podem ser extraídas algumas generalizações analíticas (YIN, 2001, p. 40;
EISENHARDT; GRAEBNER, 2007, p. 27; GIBBERT et al., 2008, p. 1468) se os resultados
obtidos em uma pesquisa puderem ser aplicados num contexto diferente (GIL, 2009, p. 37). A
partir das observações empíricas, podem ser feitas, para a teoria, generalizações a serem
testadas posteriormente, mas não diretamente, na população estudada (EISENHARDT;
GRAEBNER, 2007, p. 27).
Quanto à generalização, segue Godoy (2010, p. 138), o pesquisador deve perguntar em que
medida os resultados encontrados em uma investigação precisam ser transferidos para outros
contextos. Para que o leitor tenha condições de realizar essa transferência, Godoy (2010, p.
139) e Farquhar (2012, p. 106) sugeriram que se elaborassem um relatório claro e detalhado
com descrições densas. Já a validade interna refere-se à questão sobre se o relato do caso
representa realmente o fenômeno investigado (GODOY, 2010, p. 139). Para isso as
conclusões devem estar pautadas nos dados, isto é, a descrição feita precisa estar de acordo
com os dados coletados (FARQUHAR, 2012, p. 105).
Por fim, a confiabilidade, segundo Flick (2011, p. 387) e Godoy (2010, p. 140) está
relacionada ao grau de consistência com que os códigos são atribuídos e as categorias estão
associados às informações coletadas. Para os autores, a confiabilidade pode ser verificada em
diferentes ocasiões pelo mesmo pesquisador ou por diferentes pesquisadores. Ademais, isso
“implica ainda garantir a coerência metodológica, assegurando que haja congruência entre a
questão orientadora da investigação e os componentes do método adotado.” (GODOY, 2010,
p. 140).
Gonçalves (2007, p. 66) apresentou uma classificação com base nos seguintes critérios:
segundo os objetivos, os procedimentos de coleta, as fontes de informação e a natureza dos
dados. O Quadro 12 expõe os diversos tipos de pesquisa conforme a orientação dessa autora.
Uma vez definidos os objetivos a serem atingidos, esta pesquisa classifica-se como descritiva
por ter como objetivo descrever o Laboratório de Gestão, que concilia teoria e prática num
jogo de empresas por meio da educação gerencial com pesquisa, para uma formação crítica
86
em Administração. Adicionalmente, visa descrever o perfil dos professores que atuam nesse
ambiente de ensino, aprendizagem e pesquisa e o perfil dos parceiros SIMULAB.
A busca pessoal por estratégias ativas de ensino e aprendizagem que conciliassem teoria e
prática aproximou o autor desta tese do grupo de pesquisas SIMULAB
(www.simulab.com.br) da FEA/USP/SP, que desenvolve desde 1986 pesquisas com
simuladores organizacionais e aprendizagem vivencial. O Laboratório de Gestão é um
87
O SIMULAB é liderado pelo professor Doutor Antonio Carlos Aidar Sauaia, criador e
professor da disciplina Laboratório de Gestão. Do grupo participam docentes, pesquisadores e
profissionais alinhados com a educação gerencial por meio de vivências organizacionais. O
grupo desenvolve atividades centradas no participante e publica estudos acadêmicos sobre o
tema. O SIMULAB tem oferecido também seminários de pesquisa, oficinas para capacitação
de professores e apoio metodológico para docentes criarem e conduzirem as disciplinas em
IES parceiras.
Graças à acessibilidade do autor desta tese ao ambiente das atividades e aos participantes do
Laboratório de Gestão, o estudo foi conduzido nas dependências da FEA/USP. Isso ofereceu
as condições para a observação das atividades, dos indivíduos, das instalações e de outros
artefatos que contribuíram para o alcance dos objetivos educacionais da disciplina.
A estratégia de estudo de caso requer utilização de múltiplas técnicas de coleta de dados, para
garantir profundidade necessária à pesquisa, inclusão do caso em seu contexto e credibilidade
aos resultados (GIL, 2010, p. 119). O uso de procedimentos diferentes, acrescentou Gil,
possibilita a triangulação e contribui para que se obtenha a confirmação do fenômeno.
Segundo Yin (2012, p. 10) as evidências de um estudo de caso podem advir, principalmente,
de seis fontes distintas. Tais fontes de evidências podem ser usadas em qualquer combinação
e associadas a outras técnicas relacionadas, como grupos de foco, questionários ou técnicas
quantitativas. O Quadro 13 exibe as seis fontes de evidências ressaltadas por Yin.
Para a consecução dos objetivos desta tese foram utilizadas múltiplas fontes de coleta de
dados, tendo em vista a abordagem de pesquisa qualitativa e interpretativa. Dentre as técnicas,
utilizaram-se a entrevista, a aplicação de questionário, a observação e a análise de
documentos.
89
O propósito do uso da entrevista é obter um tipo especial de informação por meio de uma
discussão orientada, de modo a levar o informante a discorrer sobre temas específicos
(ROSA; ARNOLDI, 2008, p. 17; MERRIAM, 2009, p. 88). O uso deste instrumento de coleta
de dados permite ao informante relatar suas experiências e ao pesquisador compreender o
significado atribuído a essas experiências (SEIDMAN, 2006, p. 9).
A realização de uma entrevista dessa natureza com o professor Sauaia justificou-se pelo fato
de ter ele concebido e estruturado ao longo de sua trajetória acadêmica de 25 anos esse
ambiente de educação gerencial com pesquisa. Tal experiência o dotou de um conhecimento
profundo sobre sua área de atuação, na qual se pode considerá-lo um especialista. Apesar de o
conceito de especialista em determinado campo ser relativo, Bogner, Littig e Menz, (2009, p.
54) e Laudel (2009, p. 117) destacaram que o termo pode ser utilizado para aqueles
profissionais que atuam em certas áreas e possuem profundo conhecimento delas,
principalmente para fins de pesquisa com estudos de caso em que são consideradas
específicas unidades de análise.
O questionário foi aplicado em 2013 a vinte e três parceiros SIMULAB e respondido por
vinte deles – seis professores que conduziram o Laboratório de Gestão de 2006 a 2012 na
FEA/USP/SP e quatorze professores que conduzem somente os Jogos de Empresas em suas
IES. Com o questionário, buscou-se captar o nível de entendimento dos fundamentos do
Laboratório de Gestão e a forma de condução dos jogos de empresas, o que exigiu do
90
respondente certo nível de informação e reflexão sobre o tema. Questionários com questões
abertas, segundo Vergara (2009, p. 42), são úteis se o número de respondentes é reduzido e
quando se opta por pesquisa com abordagem qualitativa.
Para capturar elementos das atividades do Laboratório de Gestão, realizou-se uma observação
direta e intensiva. Esta técnica, segundo Lima (2008, p. 121-2), implica um contato face a
face entre o pesquisador e o observado, e uma comunicação mais profunda entre os agentes
envolvidos. Este tipo de coleta permite a obtenção de informações a partir de diferentes
dimensões do fenômeno em seu contexto natural (MASON, 2004, p. 84).
Os documentos e sua análise foram utilizados como fonte complementar para produzir outras
evidências. Todavia, dependendo dos objetivos do estudo, os documentos podem ser usados
como principal fonte de coleta de dados (FLICK, 2011, p. 255). A pesquisa documental, além
de utilizar material que não é de domínio público (cartas, memorandos ou documentos
internos), pode valer-se de livros, artigos de periódicos e anais de eventos públicos como
fontes primárias de dados (MARTINS, 2008, p. 46; GIL, 2010, p. 65). Assim, para o estudo
do Laboratório de Gestão foram analisados materiais de domínio interno e examinados os
artigos produzidos e publicados nesse ambiente no período de 2005 a 2009.
As fontes utilizadas nos estudos qualitativos podem apresentar limitações. De acordo com os
objetivos de pesquisa, cada técnica pode apresentar vantagens e desvantagens, razão pela qual
é pertinente que o pesquisador pondere essas questões. O Quadro 14 descreve os tipos,
opções, vantagens e desvantagens das técnicas de coleta de dados selecionadas para esta
pesquisa.
91
Antes de entrar em campo e depois das considerações sobre as técnicas de coleta de dados, os
pesquisadores qualitativos identificam e selecionam os dados e os procedimentos que serão
registrados (CRESWELL, 2010, p. 215). No contexto da estratégia do estudo de caso, tais
procedimentos ensejam um protocolo observacional (Apêndice 4) que contenham as diretrizes
a serem seguidas no uso dessa estratégia (YIN, 2001, p. 89). O protocolo constitui-se em
elemento crucial para a confiabilidade da pesquisa (YIN, 2001, p. 89; MARTINS, 2008, p.
74; CRESWELL, 2010, p. 216).
Para tanto, coletaram-se, como material empírico, palavras de relatos transcritos de gravações
em áudio, respostas escritas em questionários abertos, anotações de observações de campo e
material de textos impressos. Portanto, os dados aqui coletados são de natureza qualitativa.
Dentre as técnicas de tratamento de dados qualitativos, optou-se pela análise de conteúdo, por
ser apropriada ao exame do material empírico desta investigação.
Como técnica de investigação, a análise de conteúdo é definida por Weber (1990, p. 9) como
um conjunto de procedimentos para realizar inferências válidas a partir de textos. Essas
inferências podem ser sobre o emissor da mensagem, sobre a própria mensagem ou sobre o
receptor da mensagem. As regras do processo de inferência, salienta Weber (1990), variam de
acordo com o referencial teórico e os propósitos da pesquisa.
Para Krippendorff (2013, p. 24), a análise de conteúdo permite fazer inferências replicáveis e
válidas de textos em seus contextos. Na mesma direção, Bardin (2011, p. 48) a define como
um conjunto de técnicas que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de
93
A análise de conteúdo tem sido amplamente utilizada nas ciências sociais e aplicada a
diversos materiais e objetos de investigação, tais como a interpretação de símbolos,
mensagens, imagens, fenômenos organizacionais e até mesmo práticas não discursivas
(KRIPPENDORFF, 2013, p. 49). Ainda como método de investigação, pode ser usada tanto
na pesquisa quantitativa como na investigação qualitativa, mas com aplicações distintas
(TRIVINOS, 2011, p. 158). Em ambos os casos o processo de análise implica categorizações
(VERGARA, 2008, p. 16).
Posto isso, observa-se que Weber (1990, p. 15) ressaltou que a questão central da análise de
conteúdo origina-se principalmente no processo de redução dos dados, pelo qual as palavras e
textos são recortados, reconstruídos e categorizados. Para a realização deste processo, Bardin
(2011, p. 125-131) assinalou três etapas para a análise de conteúdo de forma cronológica: pré-
análise, exploração do material e interpretação inferencial.
Nesse sentido, Schreier (2012, p.59) assinalou que a análise de conteúdo força o pesquisador
a focalizar os aspectos-chave do material, alguns dos quais compreendem parte do problema
de pesquisa. Ainda, Laville e Dionne (1999, p. 219) apresentaram três modos de o
pesquisador definir as categorias, dependendo de seu conhecimento da área de estudo, suas
intenções e objetivos – a análise de maneira aberta, fechada ou mista:
• No Modelo aberto as categorias não são determinadas a priori, já que tomam forma
no curso da análise;
A definição das categorias é precedida pela elaboração dos indicadores do objeto de estudo.
As categorias são destacadas numa temática sintética (SOUZA Jr. et al., 2010). O critério de
categorização, segundo Bardin (2011, p. 147), pode ser semântico (categorias temáticas),
sintático (verbos, adjetivos), léxico (segundo o seu sentido) e expressivo (perturbações da
linguagem). Para a categorização, utiliza-se a unidade de registro, a qual é uma unidade de
95
Para fins desta tese, as categorias foram definidas segundo o modelo misto de orientação
semântica. As dimensões de análise (categorias) foram identificadas a priori, a partir da
revisão da literatura (pesquisa bibliográfica e demais fontes secundárias). Entretanto, no
modelo misto, o pesquisador pode modificá-las em função do que emergiu da análise. O
Quadro 15 sumariza as categorias de análise construídas para esta investigação. As categorias
de análise desdobram-se em subcategorias ou códigos.
Após o processo de categorização, segue-se a análise do material. Para essa finalidade, Laville
e Dionne (1999, p. 227) especificaram que se pode recorrer a três estratégias de interpretação
qualitativas.
96
O preenchimento dos formulários foi orientado por definições operacionais de cada um dos
itens analisados, conforme o Quadro 17, elaborado a partir de diversos autores (DEMO, 1985,
1994, 2009; VERGARA, 2006; LIMA, 2008; SAUAIA, 1996, 2007, 2009; GIL, 2010;
MARCONI; LAKATOS, 2010) explicita os tipos de pesquisa e suas respectivas definições.
Os dezessete artigos foram analisados pelo autor desta tese e, na sequência, avaliados por um
assistente de pesquisa. As duas análises foram confrontadas e discutidas pelos avaliadores a
fim de identificar e solucionar as diferenças de interpretação. Esses procedimentos tiveram
como objetivo conferir um maior grau de confiabilidade à investigação. O Quadro 18,
elaborados a partir de diversos autores (DEMO, 1985, 1994, 2009; VERGARA, 2006; LIMA,
2008; SAUAIA, 1996, 2007, 2009; GIL, 2010; MARCONI; LAKATOS, 2010) norteou a
avaliação dos artigos, considerando os seus elementos constituintes.
Quadro 18 – Definições operacionais dos elementos que devem estar presentes no relatório
Aspectos Definições operacionais
presentes/ausentes
Objetivos Devem ser informados na forma de objetivos, questões ou problema de pesquisa.
Referencial teórico Deve ser informado na forma de modelos de gestão e estudos sobre o tema ou o
problema realizados por outros autores (dados secundários).
Método Devem ser informados os procedimentos de pesquisa, ou seja, a forma pela qual os
dados foram coletados e analisados. Não se aplica a trabalhos teóricos.
Resultados e discussão Devem ser apresentados os achados de pesquisa (o que emergiu dos dados, da
observação, da interpretação) e discutidos à luz do referencial teórico.
Conclusão Deve informar se a pergunta de pesquisa foi respondida, as limitações do estudo e
sugestões de pesquisas futuras.
Referências Deve constar a lista das obras referenciadas no corpo do texto, seguindo os nomes
dos autores ou entidades citadas no desenvolvimento do artigo.
FONTE: AUTOR DESTA PESQUISA.
99
4.1 Análise descritiva da entrevista com o professor Antonio Carlos Aidar Sauaia –
Líder do grupo de pesquisa SIMULAB
O professor Sauaia iniciou a entrevista contando sua trajetória profissional desde 1984 até os
dias atuais. Esse relato é importante para a compreensão de como foram construídos os pilares
conceituais do Laboratório de Gestão ao longo de sua carreira acadêmica na FEA/USP.
Sauaia iniciou sua fala declarando que tinha aproximadamente dez anos de experiência
profissional não acadêmica quando sentiu a necessidade de voltar à escola para estudar. Com
formação original em Engenharia, trabalhava na área de telecomunicações, com projetos e sua
implantação. Relatou que o departamento no qual estava alocado foi desmembrado da
empresa multinacional em que trabalhava. Os colaboradores daquela unidade não tinham mais
vínculo direto com a antiga organização e passaram a ser sócios de uma prestadora de
serviços, o que gerou novos desafios aos noviços empreendedores. Nas palavras do professor
Sauaia: “Como Engenheiro, eu tive a necessidade de conhecer modelos de gestão. Por conta
própria, participei na FEA/USP/SP de um curso noturno de especialização em Administração
Financeira. Quando terminei o curso, estava decidido a seguir estudando”.
O professor Sauaia relata que estava empolgado com a ideia de continuar estudando e que
identificou um programa de mestrado, oferecido na instituição onde se especializou, o qual
parecia adequar-se à sua agenda profissional, pois ele atendia clientes em São Paulo e em
100
A disciplina Política de Negócios trata da tomada de decisões nas organizações sob uma
perspectiva prática. Sauaia prosseguiu: “Eu tinha algumas competências adquiridas na
profissão que interessavam para a academia naquele momento, para aquela disciplina de
Política de Negócios, na parte prática”. Esclareceu o entrevistado que, na ocasião, o
departamento precisava de alguém que tivesse experiência profissional, por isso o seu perfil
foi percebido como adequado. Participou do concurso e foi aprovado. Ingressou em 1986 na
FEA/USP/SP para trabalhar na parte prática da disciplina Política de Negócios, conduzindo
jogos de empresas com os professores Tanabe e Dante.
Sauaia descreveu sua iniciação e preparação nos jogos de empresas como segue. A iniciação
se dava, a princípio, com a redação do plano de ensino aula a aula com os professores da
disciplina. Posteriormente, ao entrar em sala como segundo professor, observava como a
disciplina era conduzida e apoiava as atividades. Em suas palavras, revelou: “Exatamente
como estamos fazendo com vocês, na posição de monitores (mestrandos e doutorandos), só
que eu já era contratado. Dessa forma fui preparado para a condução dos jogos de empresa”.
Dando sequência ao relato, Sauaia comentou que, no mesmo semestre em que ele se iniciou
na disciplina de jogos de empresas (1º. Semestre de 1986), foi convidado a apoiar a criação e
a condução de outra disciplina, denominada Modelos de Negociação, na graduação e em
programas de especialização. Nessa disciplina, ele já procurava adotar atividades práticas
vivenciais oriundas de sua experiência organizacional de doze anos. Afirma que, ao começar
na FEA/USP/SP, em 1986, pôde conciliar as atividades acadêmicas e as atividades
profissionais não acadêmicas, pois era contratado na USP para um regime parcial de doze
horas. Assim permaneceu por cinco anos, passando posteriormente para o turno completo de
vinte e quatro horas e, em 2006, passou para o regime de quarenta horas, Regime de
Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP).
variáveis para uma tomada de decisão”. “Eu dizia, É verdade! Mas, como temos este
simulador, vamos ter que trabalhar com ele!” Para o entrevistado, a fala dos estudantes
revelava que eles não valorizavam o trabalho educacional que ele estava realizando.
Diz Sauaia que, atualmente, pode argumentar com segurança sobre as qualidades ou as falhas
de qualquer simulador, porque começou com simuladores de baixa complexidade e foi
avançando até os simuladores de alta complexidade, movimento que o fez perceber, então,
que os participantes (professores e estudantes) ficavam sufocados com um número de
variáveis que os simuladores mais complexos propunham. A consequência disso era que não
se praticavam teorias, mas apenas ações operacionais do simulador. Então, adverte Sauaia, os
participantes tornavam-se vítimas de um modelo de simulador repleto de variáveis e de
campos de entrada de dados, que criava dificuldades extraordinárias para os estudantes
entenderem as relações de causa e efeito presentes no modelo e suas conexões com as teorias.
Ao iniciar a disciplina do segundo semestre, Laboratório de Gestão II, Sauaia confessa que
tem a expectativa de que os estudantes tragam a experiência do semestre anterior para o novo
semestre. Em suas palavras: ‘“que já chegassem ‘alertas’, capazes de se antecipar aos
103
incidentes. ‘Opa’, antes que o professor tenha alguma idéia de incidente crítico, vou me
antecipar”’. Entretanto, menciona que isso nem sempre ocorre e oferece um dado recente das
turmas de 2012: das sete empresas em sala de aula nesse semestre, apenas uma estava se
antecipando. “Na semana passada seus integrantes me procuraram, dizendo: Professor,
podemos submeter projetos de melhoria para nossa empresa?” Apenas uma empresa teve essa
iniciativa, ainda que todas tenham participado do jogo de empresas da disciplina do semestre
anterior.
Por tais razões, acredita Sauaia que até o nível de prontidão manifesta-se de uma maneira sutil
na memória dos estudantes. Nota-se que quando surgem notícias, incidentes e crises no jogo
de empresas, os estudantes se lembram da proatividade. Elucidou esse aspecto o entrevistado,
lembrando a fala dos estudantes: “Puxa vida! Mas o professor já fez isso no primeiro semestre
e a gente poderia ter se antecipado e não se antecipou”. Observa-se a mesma atitude do
estudante em aulas expositivas, esperando que a aula seja conduzida pelo professor, finaliza
Sauaia.
Além disso, Sauaia chamou a atenção para as declarações de amor e ódio dos estudantes pelo
jogo de empresas. Relatou que alguns afirmam: “Poxa, me encontrei nesta vivência; quando
eu fizer um ‘pé de meia’, vou montar meu próprio negócio”. Ao mesmo tempo, outros
declaram: “Eu não via a hora de acabar a disciplina. É muito estressante esta coisa de tomar
decisões na incerteza, sem saber o que vai acontecer e tal... Eu não sirvo para isso. Sabe, foi
até bom, porque eu descobri que o meu negócio é trabalhar em uma grande empresa, ter férias
uma vez por ano, décimo terceiro salário e aposentadoria planejada”.
Observando diversos relatos ao longo de sua experiência acadêmica, Sauaia percebeu que a
vivência no jogo de empresas propicia autoconhecimento ao estudante. O entrevistado ressalta
que alguns têm perfil empreendedor, amando o jogo de empresas, ao passo que outros têm
perfil conservador, preferindo atividades sem estresse.
Sauaia relatou que ouvia os seguintes comentários de seus colegas professores: “Olha Sauaia,
os estudantes acham muito divertida sua disciplina! Parabéns!”...E se perguntava: “Poxa! Isso
foi um elogio ou uma crítica?” Tais comentários talvez fossem baseados no fato de não se
tratar de uma disciplina de conteúdo, que exige do estudante sentar-se em silêncio e anotar a
aula do professor. Os momentos clássicos de exposição e apresentação nesta disciplina
104
Para o entrevistado, no entanto, os comentários dos seus pares foram altamente estimulantes.
Enquanto ouvia alguns professores dizendo que a disciplina era divertida, ouvia outros
revelando-se cansados com as aulas expositivas, dizendo: “Sauaia, eu não aguento mais dar
aulas expositivas! Só que eu não sei fazer outra coisa!”. Para fazer diferente, Sauaia lembra
que é necessário ao professor preparar-se, investindo tempo, dedicação e aplicação. Na
ocasião da entrevista, fez questão de registrar: “logo nos primeiros anos em que conduzi os
jogos de papéis, os jogos de empresa e as negociações por meio de vivências, investi em
minha preparação ao participar de um curso de Dinâmicas de Grupo”. Outra boa decisão que
tomou e que tem sido benéfica foi investir em atividades de autoconhecimento.
A partir das observações feitas por estudantes e professores, Sauaia teceu reflexões e críticas
aos jogos de empresas com o propósito de construir processos educacionais mais robustos e
que viessem a ter mais credibilidade. Confessou que comentários como o exposto a seguir
provocava seu desconforto, mas o mobilizavam a investigar formas de melhorar a vivência:
“Ô, professor, foi legal a disciplina, hein? Pena que não teve nada a ver com as outras
disciplinas e a gente não conseguiu aplicar as teorias”. Sentia-se, assim, frustrado, porque no
programa da disciplina constava, entre outros objetivos, a integração dos conteúdos, que não
estava sendo atingida por meio dos procedimentos tradicionais para a condução dos jogos de
empresas que lhe haviam sido ensinados em sua iniciação na disciplina.
À medida que ia criticando os benefícios propiciados pelos jogos de empresas, revelou que
outros desafios operacionais surgiram, entre os quais a escolha do número adequado de
rodadas, isto é, o número de tomadas de decisão realizadas pelos participantes de cada turma.
Explica que percebeu que a ideia prevalente de que “quanto mais rodadas melhor” foi aos
poucos sendo substituída pela ideia de que “quanto mais rodadas fossem realizadas com
reflexão crítica, com mais aprofundamento e discussão dos resultados, mais eficaz seria o
aprendizado dos estudantes”.
Essa experiência evoluiu, em novas versões, para a formatação de um livro contendo artigos
baseados em pesquisas teórico-empíricas e no modelo da monografia racional (SAUAIA,
1996), uma ferramenta imprescindível para fundamentar as atividades de pesquisa no
Laboratório de Gestão. Antes disso, revelou que tentava apoiar os estudantes a produzir um
artigo em um semestre, mas não conseguia, pois os estudantes tinham muitas dúvidas.
Sua titulação como doutor, afirmou Sauaia, tornou possível construir um conjunto de
instrumentos que deram maior credibilidade aos jogos de empresas, esmaecendo as críticas
dos participantes. Como evidência desse aspecto, o entrevistado relatou as novas declarações
de seus estudantes: “Olha, professor, foi uma das melhores disciplinas das quais eu participei
aqui na FEA. Eu tive a real noção de como funcionam as teorias na prática”.
Outro ponto ressaltado pelos estudantes é a obtenção de uma visão sistêmica da organização,
complementou Sauaia. Por conta do modelo geral, os estudantes entendem melhor a relação
entre as áreas funcionais. Isso porque, na estrutura curricular as disciplinas são apresentadas
em blocos especializados e estanques sem diálogos entre si: Marketing, Produção, Finanças,
RH, Contabilidade, Economia. Nas palavras do interlocutor, “o Laboratório de Gestão
106
propicia este diálogo, por não ser uma disciplina de conteúdo, mas uma disciplina de práticas
que integra todos esses conteúdos”.
A ideia é não entregar aos estudantes soluções prontas, acrescenta o entrevistado. Eles são
desafiados à prática de conceitos e teorias. Se não praticam os conceitos para analisar os
resultados, sua empresa apresenta um desempenho ruim. Quando isso acontece, os estudantes
recorrem aos livros, contratam consultoria no jogo de empresas, veem-se impelidos a analisar
os resultados e começam sua pesquisa para melhorar o desempenho da empresa e para
escrever seu artigo. A produção do artigo, ressalta Sauaia, tornou-se crucial nesse processo de
criação de conhecimento, apropriação e compreensão do que de fato acontece no jogo de
empresas.
Sauaia destacou que o jogo de empresas deve desenvolver-se com base em grupos formados
segundo um critério intencional, definido pelo condutor da disciplina, para que os grupos
tomem decisões gerenciais em condições de incerteza por vários ciclos e compitam entre si
em busca de um resultado superior. A tomada de decisão gerencial gera resultados e relatórios
de saída, que precisam ser analisados e comparados com o planejado. Sauaia esclarece que,
assim, os participantes vivenciam o ciclo de Kolb (1984), ao planejar, tomar novas decisões,
analisar e discutir os resultados com base nas teorias. Na sequência, assinalou que lhe custou
certo tempo associar o que Kolb denominou “conceituação abstrata” com o que chamamos de
discussão dos resultados no jogo de empresas e na pesquisa aplicada.
Sauaia argumentou que a pesquisa é uma atividade que o professor lidera em sala de aula e
que propicia o processo de ensino e aprendizagem pela participação ativa do estudante,
tornando-o corresponsável pela apreensão, compreensão, aplicação, análise, síntese, avaliação
e criação de conhecimentos. Acrescenta que o jogo de empresas é um ambiente propício à
condução de pesquisas empresariais porque ele replica o que acontece no ambiente das
107
Afirmou Sauaia que por meio da pesquisa é possível instigar a curiosidade do estudante e
levá-lo a identificar problemas, propor soluções, buscar respostas e desenvolver um espírito
crítico. O resultado desse processo são relatórios científicos no formato da monografia
racional e visual que, além de terem gerado capítulos de livros, são submetidos a avaliações e
publicados em eventos acadêmicos tais como congressos e seminários. Ao longo dos últimos
cinco anos, desde que implantou integralmente o Laboratório de Gestão, tem ouvido
comentários do tipo: “Professor, esta é a primeira experiência que nós estamos tendo em
redigir de ponta a ponta uma pesquisa científica”.
Posto isso, Sauaia revelou (Quadro 19) que deseja compartilhar com acadêmicos em geral,
professores, pesquisadores e colaboradores de IES essas experiências, que lhe custaram vinte
e cinco anos de aprendizagem e desenvolvimento. Daí surgiu o que denominou de “apoio
metodológico” para a condução da disciplina. Acredita que, com esse apoio, os professores
interessados podem evitar a repetição de falhas cometidas anos atrás, acrescenta: “devemos
nos desancorar do simulador e praticar teorias, e não as regras dele, investindo na capacitação
docente e entendendo o perfil do estudante atual e quais competências ele deverá ser capaz de
praticar”.
108
4.2 Análise descritiva das respostas do questionário: o grupo A de seis professores que
conduziram o Laboratório de Gestão de 2006 a 2012
A análise das respostas dos questionários aplicados aos seis professores que atuaram
ativamente no Laboratório de Gestão revelou que estes docentes apresentam perfil distinto,
tanto no que se refere à formação acadêmica inicial quanto à experiência profissional não
acadêmica. Eles são formados em áreas do conhecimento como Administração, Economia,
Ciências Contábeis, Engenharia Mecânica e Engenharia Civil. Em geral, tiveram experiência
profissional em corporações que variou de três a quinze anos. As áreas em que cada um atuou
especificamente compreendem a administração de empresas, gestão de áreas funcionais,
gerência de produto, gestão de operações, consultoria e pesquisa, e atividades de natureza
técnica em engenharia.
Quanto à atuação acadêmica, os docentes relataram que atuam em tempo integral ou parcial
em instituições de ensino superior, sendo quatro deles em universidades públicas e os outros
dois em universidades e faculdades privadas. Todos cursaram pelo menos uma pós-graduação
stricto sensu, mestrado ou doutorado em Administração na FEA/USP/SP, exceto um deles,
que se doutorou em Ciências Contábeis, e outro que está em fase final de doutoramento na
referida instituição. Três dos seis professores cursaram pós-graduação lato sensu:
especializou-se em Gestão Empresarial, outro em Contabilidade e Finanças e o último em
Engenharia Mecânica e Administração.
109
Um dos professores respondeu que está conduzindo duas pesquisas financiadas por órgãos de
fomento oficiais, ambas com a participação de estudantes de graduação com bolsas de
iniciação científica. Concomitantemente, o professor está orientando um estudante do curso
de mestrado profissional, este com subsídios para projetos de inovação.
110
No tocante aos jogos de empresas, tiveram contato com os jogos de empresas por meio da
academia. Todos, quando estudantes na graduação ou na pós-graduação, foram apresentados
aos jogos ou participaram do Desafio SEBRAE em parceria com as IES. Quatro conheceram
os jogos de empresas em cursos de especialização lato sensu e os outros dois participaram de
jogos de empresas na graduação. Posteriormente, todos se tornaram membros do grupo de
pesquisa SIMULAB, pesquisadores ou docentes na FEA/USP/SP ou em suas IES de origem.
O entendimento dos professores sobre o que são jogos de empresas convergiu para “um
processo de tomada de decisão sob condições de incerteza, por meio de vivências em papéis
gerenciais, em ambientes simulados”. Emergiram dessas respostas aspectos conceituais como
“prática ou aplicação de conceitos” e “técnica de aprendizagem apoiada por simulador”.
A análise das respostas mostrou a compreensão dos respondentes sobre “simuladores para
jogos de empresas”. Nesse tópico, as respostas convergiram para “um conjunto de regras
econômicas que descrevem um ambiente empresarial para a prática de conceitos e relações de
111
Com base nos dados da pesquisa, o Quadro 20 apresenta o perfil observado dos professores
que atuaram no Laboratório de Gestão no período de 2006 a 2012 quanto à experiência não
acadêmica, à formação acadêmica e docente, à participação em pesquisa, à conhecimentos de
métodos de ensino e aprendizagem e à conhecimentos específicos para o Laboratório de
Gestão.
112
No que tange à formação acadêmica inicial, esses parceiros são formados nas Ciências Sociais
Aplicadas e nas Engenharias. Dez são egressos da Administração, um da Economia, um da
Engenharia Mecânica, um da Engenharia Elétrica e um da Engenharia de Produção; dois deles
tiveram formação em duas áreas distintas: um em Administração e Processamento de Dados e
o outro em Administração e Engenharia de Produção.
Esses parceiros SIMULAB tiveram experiência profissional em empresas, que variou de dois
a trinta e seis anos. As áreas em que atuaram são diversas, abrangendo direção de empresas,
gerência de áreas funcionais, de produto, de operações, logística, serviços financeiros e
atividades de natureza técnica em engenharia. Nove parceiros buscaram especialização na
área de gestão, em cursos relacionados a Estratégia, Finanças, Marketing, Gestão Empresarial
e Administração de Sistemas.
A análise das respostas revelou que todos os respondentes atuam como docentes em cursos de
Administração. Dois deles declararam-se tutores em uma instituição pública federal. Esses
professores têm um regime de trabalho de tempo parcial, como horistas, ou um regime de
contratação diferenciado, caso dos três professores que ocupam cargos de coordenação. Estes
últimos ministram aulas e são responsáveis por outras atribuições, como atividades
administrativas da gestão universitária.
Oito deles possuem mestrado em Administração, quatro dos quais iniciaram o doutorado entre
2010 e 2012, três deles na FEA/USP/SP e um na própria IES onde trabalha. Outro
respondente titulou-se mestre em Engenharia de Produção e doutorou-se em Administração.
Dos quatro restantes, professores restantes, três são especialistas e o último tem graduação.
114
Quanto à preparação para a docência superior, seis dos quatorze já participaram de cursos ou
palestras sobre formação docente. Um dos professores cursou a disciplina de Didática no
mestrado. Quando indagados sobre se suas IES oferecem programas de capacitação docente,
nove responderam que não ou que desconhecem se são oferecidos. As IES dos quatro
restantes têm iniciativas para a qualificação de professores, porém dois deles também não
puderam participar delas.
O grupo apresentou ainda entendimentos diversos sobre o que é uma pesquisa teórico-
empírica: pesquisa baseada em fatos que podem ser replicados e verificados; pesquisa em que
a fundamentação teórica deve gerar um modelo conceitual teórico; pesquisa dedicada ao
tratamento, produção e análise de dados; pesquisa fundamentada em formulações teóricas
prévias; aprofundamento de um conhecimento específico; pesquisa de um tema sem aplicação
prática; pesquisa que procura responder a alguma indagação oriunda da teoria a respeito de
um fenômeno observável; pesquisa em que se fazem presentes teoria e prática, com
115
verificação na prática do que a teoria preconiza; pesquisa com aplicação prática da teoria;
estudo sistematizado de um determinado fenômeno por meio de um referencial teórico.
No tocante aos jogos de empresas, esses professores tiveram o primeiro contato com os jogos
de empresas em programas de treinamento empresarial ou como estudantes na academia. Sete
docentes foram apresentados aos jogos em treinamentos empresariais, cinco durante a
graduação e dois na pós-graduação lato sensu.
Foi divergente o entendimento do que são jogos de empresas: um ambiente para a tomada de
decisão; disputas de empresas fictícias; um programa de simulação; simulação simplificada da
realidade; empresas formadas por estudantes que competem entre si; análise dos aspectos
práticos e comportamentais dos integrantes; interação na incerteza.
Entendimento distinto também foi observado sobre os simuladores para jogos de empresas:
regras mercadológicas – micro e macro – para a tomada de decisão; reunião de informações
gerenciais; sistema informatizado aplicado em ambiente virtual para aprendizado; software
para a geração de resultados de simulação de decisões empresariais; artefato que simula a
realidade; conhecimentos econômicos para serem aplicados – em jogos de empresas – por
meio de um software; ferramenta que permite emular o funcionamento de uma empresa. Vale
ressaltar que a palavra software e programa foram recorrentes.
O entendimento sobre o que é o Laboratório de Gestão indicou três grupos distintos: cinco
professores responderam à questão; cinco convergiram para os jogos de empresas, simulações
e tomada de decisão, sem mencionarem a pesquisa como parte desse ambiente; os três últimos
responderam “jogos de empresas com pesquisa”.
Com base nos dados da pesquisa, o Quadro 22 apresenta o perfil dos parceiros dos parceiros
SIMULAB quanto à experiência não acadêmica, à formação acadêmica e docente, à
116
A observação participante do autor desta tese se deu na disciplina Laboratório de Gestão II,
que participei como monitor sob a supervisão do professor Sauaia, no segundo semestre de
2010 (01/Ago a 30/Nov). Inicialmente, os monitores são convidados a acompanhar o
professor titular da disciplina no desenho do programa e das atividades da disciplina
Laboratório de Gestão (Anexo A). Como parte da preparação para conduzir o Laboratório de
Gestão, os monitores acompanham as aulas semanalmente em seus respectivos horários e
oferecem atendimento extraclasse aos estudantes em horário agendado.
Para melhor compreensão do leitor sobre o que foi observado, de acordo com o protocolo
(Apêndice 4), é necessário explicitar a dinâmica do Laboratório de Gestão no curso de
Administração da FEA/USP/SP.
118
Na segunda parte do livro os estudantes encontram artigos científicos que foram produzidos
no Laboratório de Gestão por participantes que vivenciaram situações gerenciais análogas.
Esses artigos referem-se à aplicação de modelos de gestão a empresas simuladas, a partir de
um quadro teórico orientador oriundo das disciplinas de Administração, Economia e Ciências
Contábeis ou de outros campos do conhecimento pertinentes às organizações. No decorrer do
jogo de empresas, o desempenho dos atores desse mercado pode se diferenciar pelas decisões,
escolhas estratégicas e competências gerenciais.
119
pelo professor e pelos monitores por meio de registros no formulário de acompanhamento dos
artigos (Anexo D).
O local onde a disciplina é conduzida compreende uma típica sala de aula, para até cerca de
cinquenta estudantes, com carteiras móveis, para facilitar a mobilidade dos grupos de acordo
com a dinâmica do jogo de empresas. A sala de aula não dispõe de computadores, porém
permite acesso à internet por meio da rede sem fio local. O acesso à internet facilita o
lançamento das decisões durante o jogo de empresas em uma plataforma virtual, seja nos
computadores dos Laboratórios da FEA/USP/SP, seja em computadores pessoais portáteis.
As atividades são apoiadas por ambiente Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learnig
Environment), um software livre de apoio à aprendizagem acessível por meio da Internet. Os
recursos e atividades disponíveis são combinados para dinamizar a disciplina.
Adicionalmente, cria-se uma versão do simulador organizacional, artefato que permite operar
o jogo de empresas. Os dados das equipes oriundos do processo de tomada de decisão são
transcritos em um formulário físico ou digitados em campos específicos pelos participantes no
portal SIMULAB. O processamento das decisões é realizado pelo professor mediante um
programa de computador, o simulador organizacional, hospedado no ambiente Moodle, que
gera relatórios gerenciais e setoriais a cada período de tomada de decisão. Após o
121
processamento dos dados, os resultados são analisados para propiciar um novo ciclo de
tomada de decisão.
Formadas as empresas, os estudantes reuniram-se grupo a grupo para escolher as funções que
exerceriam no jogo de empresas. Os cargos, em geral, são escolhidos por afinidade do
estudante com as áreas funcionais e por suas experiências acadêmicas ou profissionais. Nesse
momento surgem as lideranças e revelam-se aspectos comportamentais dos estudantes.
Alguns participantes mostraram-se inclinados a gerenciar pessoas, negociar interesses,
coordenar e delegar tarefas. Esse fato é evidenciado, por exemplo, quando um estudante toma
a iniciativa de coordenar seu grupo e sugere que cada membro se manifeste sobre o cargo. Em
razão do acúmulo de funções (os grupos tinham mais funções e menos gestores), os
participantes adotaram a rotatividade funcional, acordada mediante votação aberta.
membros determinavam quem era responsável por certas tarefas sem prévia consulta ao
colegas de grupo. Na sequência, após os participantes ocuparem suas funções gerenciais,
iniciou-se o processo de tomada de decisão para os períodos de gestão no jogo de empresas.
A cada aula foram tomadas decisões gerenciais trimestrais ao longo do período letivo nas
diversas áreas funcionais. As empresas competiram entre si, produzindo nota para aprovação
na disciplina Laboratório de Gestão. O mercado delineado é um ambiente sob incerteza,
caracterizado por um número relativamente pequeno de participantes (empresas), que oferece
um produto padronizado (um eletroeletrônico) o qual pode se diferenciar conforme as
decisões relativas ao produto tomadas pelos estudantes. Nesse mercado, as ações de uma
empresa individual podem impactar as outras, caracterizando a interdependência entre elas.
Além disso, o surgimento de um incidente crítico, como uma crise econômica, mudança na
legislação ou reivindicações trabalhistas, pode acentuar a incerteza e o risco sistêmico, além
do risco inerente a cada organização (disponibilidade de materiais, alocação de recursos e
capacidade gerencial).
O jogo de empresas semipresencial, apoiado por uma plataforma Moodle, foi realizado parte
dentro de sala de aula e parte fora, em horários ou dias distintos dos da aula regular, com
objetivos educacionais específicos (e. g. promover a articulação dos conhecimentos e a
mobilização dos estudantes diante de um fato novo, contratar consultorias). Durante a
vivência, os gestores prepararam as decisões e avaliaram as possíveis alternativas,
reformularam suas estratégias e determinaram novos cursos de ação. Ao final de cada ano
(quatro trimestres) foi conduzido um seminário para compartilhar experiências individuais e
coletivas. Neste momento, as empresas apoiadas pelos professores buscaram apreender as
relações entre as variáveis de decisão e o impacto de suas escolhas estratégicas à luz dos
modelos teóricos de gestão.
123
Diagnóstico: Nesta etapa os estudantes fazem uso da análise SWOT para identificar pontos
fortes e fracos internos e oportunidades e ameaças externas. O ponto de partida é o
diagnóstico do mercado com base na análise externa – compreensão do cenário econômico,
com suas ameaças e oportunidades – e, na análise interna – avaliação dos recursos da
empresa, capacidade gerencial, pontos fortes e fracos.
No que diz respeito às funções de organização e direção, estas foram verificadas por meio da
distribuição das tarefas, cargos e recursos entre os participantes, resultando na estrutura
organizacional das empresas, representada nos respectivos organogramas e no momento de
reestruturação das empresas. Considerando o controle da gestão, os estudantes a cada período
monitoram e comparam os resultados obtidos com os resultados planejados, a fim de corrigir
124
Quanto à estrutura dos relatórios (Tabela 2), dos 17 artigos analisados, distribuídos nas três
publicações – Livro 1 (2007), Livro 2 (2008) e Livro 3 (2010), todos apresentam a PARTE – I
completa, 9 a PARTE – II em seu todo e 9 contemplam todos os elementos da PARTE – III.
Nota-se que, dos 4 artigos do livro 1, 2 deles, apresentam conclusões e referências, sem, no
entanto, exibirem os demais elementos constituintes da PARTE – III.
Observa-se que os resumos não aparecem nos trabalhos do Livro 2 (2008) e do Livro 3
(2010). Sua ausência é devida à questão de diagramação exigida pela editora. Esse tópico,
todavia, pode ser identificado em linhas gerais no corpo dos textos, antes da introdução dos
artigos.
No que diz respeito à PARTE – I, nota-se que foi tratada de forma diferente no Livro 2 (2008)
e no Livro 3 (2010). Em ambos, a estrutura do referencial teórico é composta de três conceitos
desenvolvidos de forma a embasar os problemas organizacionais. No Livro 2 (2008) esses
conceitos aparecem com o mesmo propósito e o modelo teórico está associado a um caso de
sucesso e a outro de fracasso das ações empresariais relacionadas à sustentabilidade, à política
e à cidadania.
Quanto aos métodos e técnicas, a coleta de dados é relatada como forma de busca das fontes
primárias e secundárias. As fontes primárias declaradas referem-se aos relatórios gerenciais e
setoriais que surgem a cada estágio do jogo de empresas para análise. Outros estudos
identificam a coleta de dados como meio de observação direta dos participantes em
determinados contextos organizacionais. As fontes secundárias mencionadas foram a
literatura de Administração e artigos de periódicos, dissertações e teses coletados em base de
dados. Ainda quanto aos métodos e técnicas, os estudos indicam o experimento, a análise de
regressão linear múltipla, a pesquisa-ação e o estudo de caso como procedimentos de
pesquisa.
Neste capítulo são discutidos os resultados à luz da literatura sobre o tema em questão.
Comenta-se a fundamentação do Laboratório de Gestão como ambiente de educação, a forma
pela qual ele propicia a formação crítica em Administração, as características do docente para
este ambiente de educação gerencial e o perfil dos parceiros da comunidade SIMULAB. O
Quadro 26 apresenta os conceitos da literatura que fundamentam o Laboratório de Gestão
como um ambiente de educação gerencial para a formação crítica em Administração.
A partir da análise descritiva da forma pelo qual o Laboratório de Gestão foi concebido, nota-
se que esse ambiente de educação gerencial é fruto da evolução dos jogos de empresas
tradicionais. Tal evolução ocorreu pela combinação do jogo de empresas e da pesquisa
aplicada para uma formação crítica em Administração. Como ambiente de ensino,
aprendizagem e pesquisa, o Laboratório de Gestão propicia a conciliação entre teoria e prática
por meio de vivências gerenciais, estimulando o estudante à busca do conhecimento de forma
independente, apoiado pelo professor (SAUAIA, 2013b).
Neste sentido, a visão de Sauaia (1990, 1995, 2008, 2010) está em consonância com as
propostas educacionais de 1998 da UNESCO para o século XXI e as diretrizes curriculares
brasileiras de 2005 para o curso de Administração. Destacam-se entre tais propostas a criação
de novos ambientes de ensino e aprendizagem, a educação centrada no participante, a
promoção de uma perspectiva crítica e a educação científica na graduação.
.
Para que os professores possam conduzir o Laboratório de Gestão de forma eficaz, é
necessário o entendimento das teorias educacionais subjacentes aos pilares conceituais do
Laboratório de Gestão: o simulador organizacional, o jogo de empresas e a pesquisa aplicada.
Tais pilares conceituais são respaldados nas teorias educacionais construtivistas (AUSUBEL,
1963; KOLB, 1984; VYGOTSKY, 1989; ROGERS, 1993) utilizadas neste estudo e
detalhadas a seguir.
No que diz respeito ao jogo de empresas, a vivência é verificada por meio das ações
demonstradas pelos estudantes, tais como planejar, organizar, decidir, analisar, avaliar e
discutir os resultados organizacionais, com base nas teorias de gestão, durante e após a
tomada de decisão. Nos ciclos, as ações desencadeiam interações dos participantes. Nesse
processo encontram-se os pressupostos das teorias sócio-construtivistas (PIAGET, 1987;
VYGOTSKY, 1989). As teorias sugerem que a aprendizagem e o desenvolvimento humano
resultam da interação dos indivíduos em seu meio. Observa-se uma característica interativa e
cooperativa da aprendizagem (ROGERS, 1993) nas atividades de distribuição de funções e na
elaboração do plano de gestão.
Por fim, a pesquisa aplicada como atividade vivencial, propicia a aplicação empírica dos
princípios científicos. O Laboratório de Gestão constitui-se em um ambiente rico para a
problematização das questões organizacionais. Ao se depararem com os desafios funcionais,
os estudantes podem: questionar as ações, as práticas gerenciais e o desempenho
organizacional (identificar problemas de pesquisa); examinar os resultados obtidos no jogo de
empresas (levantar, categorizar e interpretar dados primários); discutir os resultados da análise
à luz de um quadro teórico (comparar os resultados com os dados secundários); e sintetizar o
estudo em forma de artigo científico por meio da instrumentação metodológica e da
131
Tomando como exemplo o artigo de planejamento, a autora analisou o modelo das cinco
forças de Porter aplicado à gestão de sua empresa e percebeu a ausência do Governo como
uma força do ambiente de negócios. Após uma análise crítica do modelo, a autora propôs a
inclusão do Governo no modelo como agente econômico relevante.
A atuação do professor no Laboratório de Gestão deve ser precedida de uma reflexão crítica
sobre as práticas pedagógicas. Dados os desafios contemporâneos colocados pela
complexidade, o ambiente de negócios demanda dos egressos das escolas de Administração
uma visão cada vez mais holística, sistêmica e contextualizada. Como destacou Morin (2008),
a aptidão para contextualizar tende a situar o conhecimento numa relação inseparável com seu
meio ambiente cultural, social e político, promovendo, concomitantemente, a percepção de
como ele modifica o contexto e o explica.
pedagógicas, e o fato de poucos terem envolvimento com a pesquisa acadêmica são indícios
de uma orientação para o ensino centrado na figura do professor como um transmissor de
conteúdos. Suas IES pouco ou nada oferecem de iniciativas para a reflexão da prática docente.
Mesmo nos que já conduzem jogos de empresas, percebeu-se menor rigor da terminologia e
percepção dos jogos como um instrumento lúdico. Tais constatações sugerem que, ainda para
muitos professores do ensino superior, o campo da docência sob a perspectiva teórica ainda é
uma área pouco conhecida (PIMENTA, 2011).
Vale ressaltar que, nesse sentido, todos os professores que atuaram no Laboratório de Gestão
vivenciaram um processo contínuo e cuidadoso para a autonomia na condução de jogos de
empresas com pesquisa. Os seminários da linha de pesquisa, as oficinas de aculturamento e as
monitorias promovidas pelo grupo SIMULAB são iniciativas para acolher todos os
interessados e engajá-los em uma nova forma de pensar a educação gerencial. Essas
iniciativas constituem um passo importante para a consolidação de uma epistemologia da
área, a qual poderá formar um quadro teórico para fundamentar novos estudos e uma melhor
compreensão dos jogos de empresas com pesquisa.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo são tecidas as considerações finais, levando-se em conta os objetivos traçados
para esta tese, isto é, identificar as contribuições do Laboratório de Gestão para a formação
critica do administrador. A seguir, são apresentadas as principais contribuições, limitações e
proposições para estudos futuros.
Já se formou uma consciência de que a sociedade espera novas abordagens por parte das IES.
As novas gerações são o testemunho vivo de que tais mudanças já estão em curso no contexto
social e das organizações. As IES parecem sensibilizadas, mas se encontram ainda ancoradas
no ensino tradicional, tendo em vista a maneira como constituem seu corpo docente, como as
matrizes curriculares se acham estruturadas em disciplinas estanques e o fato de não
dominarem os meios para construírem este processo de transformação paradigmática.
A sociedade avançou sobremaneira na primeira década do novo milênio, mas as IESs não
acompanharam essa acelerada evolução, o que fez surgir uma lacuna entre a academia e a
sociedade, que muitas vezes descontextualizou o conjunto de atividades do ensino tradicional.
A sociedade municiada de tecnologias de informação tornou-se progressivamente autônoma,
dando poder a todo e qualquer navegante da internet que, de maneira proativa, pode tornar-se
um aprendiz autodidata, alguém que assimila uma enorme massa de dados, mas que ainda
carece de compreensão e o que fazer com a informação.
O ato de repensar a educação sob o paradigma da complexidade não se limita a rever o uso
das práticas pedagógicas pelos professores, uma vez que avança na revisão das crenças sobre
a educação por parte de todos os atores envolvidos no processo de formação dos futuros
profissionais, como coordenadores, professores, pesquisadores e os próprios estudantes, que
precisam ser mobilizados para desancorarem das premissas do ensino tradicional. O
Laboratório de Gestão, conduzido por professores capacitados, é um ambiente que propicia tal
transformação.
Após o estudo de caso do Laboratório de Gestão foi possível constatar seu impacto sobre os
principais grupos de interesse. Ao coordenador caberá articular em seu corpo docente
professores aculturados e capacitados a apoiar essa evolução na academia. Ao professor
caberá uma reflexão sobre suas práticas pedagógicas, para que assegurem o apoio dos
estudantes em sua aprendizagem de descoberta e de criação de novos conhecimentos
(aprender a aprender).
Ao estudante caberá se sentir gradualmente mais responsáveis pela própria formação, fazendo
uso de seu natural entusiasmo e proatividade para seu crescimento pessoal e profissional. Ao
pesquisador caberá a sistematização dos resultados de pesquisas, a publicação e o apoio na
construção de conhecimentos e saberes que melhor explorem os interesses dos diversos
atores, para que colaborem enquanto aprendem. De nada adiantará para essa evolução
acadêmica termos alguns grupos preparados e outros desalinhados. Caberá a um dos grupos a
liderança desse processo e, a todos eles, a busca da harmonia para tornar sustentável essa
evolução.
137
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ANEXOS
a) Educação Gerencial (CHA) - Quando lidamos com um problema complexo, é comum dividí-lo em partes
para resolvermos problemas menores e de mais fácil tratamento. Na questão complexa da gestão de uma
organização, o programa de Graduação foi fragmentado em disciplinas que tratam as questões funcionais,
como se as decisões de uma área não tivessem reflexos sobre as demais. Apesar da grande vantagem deste
método, utilizado na solução de problemas complexos, suas limitações devem ser neutralizadas. Problemas
de gestão das organizações perpassam todas as áreas funcionais, mesmo quando tratados como
independentes (Conhecimentos), o que representa simplificação na dinâmica empresarial e dificulta uma
prática integrada (Habilidades e Atitudes).
b) Iniciação Científica - O avanço das pesquisas com jogos de empresas na pós-graduação permitiu explorar o
ambiente do Laboratório de Gestão como rica fonte de dados primários para estudos e experimentos nas
linhas de pesquisa do DA. Os alunos da graduação terão oportunidade de estudar dados robustos e produzir
pesquisas científicas para futura publicação.
II - Objetivos da Disciplina
Nesta abordagem prática os alunos protagonizam um papel gerencial de intensa vivência, com risco
limitado, sujeito a processos dinâmicos de múltiplas entradas e saídas. Escolhem um tema de pesquisa associado
ao seu papel, produzem um relatório (Sauaia, 2010 – Parte 2) com uma reflexão madura e responsável de seu
papel profissional na sociedade (atitude cidadã). Objetivos específicos:
V – Tabela dos Critérios de Notas – a ausência anula a nota prática na atividade da aula.
Dimensão Atividades Programadas Tarefa Fatores (%)
C+H+A Prova 1 (consulta ao livro-texto) Individual 15%
C + H + A Jogo de empresas (TIR da empresa=10%; TIR média do setor=20%) Coletiva 30%*
C+H Riqueza Pessoal (salário recebido em cada aula) Individual 15%*
C+H Prova Final Individual: artigo científico (físico & eletrônico) Individual 40%
TOTAL 100%
Legenda: C = Conhecimentos Gerenciais; H = Habilidades Gerenciais; A = Atitudes Gerenciais.
VI - Referências
1. Sites para cadastro do aluno: ERUDITO e Portal SIMULAB (http://www.simulab.com.br)
2. SAUAIA, A. C. A. Laboratório de Gestão: simulador organizacional, jogo de empresas e pesquisa
aplicada. 2ª Edição, Barueri: MANOLE, 2010.
3. SAUAIA, A. C. A. Monografia Racional: uma versão eletrônica. REGES - Revista Eletrônica de Gestão,
Picos, v.2, n.1, p.166-168, jan./abr. 2009. Disponível em http://www.ufpi.br/reges/edicao_jan_2009.php.
Acesso em 23/fev/2010.
4. CR-ROM ABSEL – Association for Business Simulation and Experiential Learning. FEA/USP.
5. Toda a bibliografia das demais disciplinas de graduação (http://www.ead.fea.usp.br/). Exemplo:
Planejamento (Almeida; Fischmann); Inteligência Competitiva (Prahalad); Marketing (Kotler); Produção
(Slack); RH (Robins); Finanças (Ross); Contabilidade (Iudícibus); Competição pelo futuro (Hamel e
Prahalad); Aprendizagem Organizacional (Senge); Estratégia (Porter); Economia da Estratégia (Besanko et
alii); Gestão da Estratégia: BSC (Kaplan e Norton); muitos outros.
161
Obs: Ao final apague esta página e os textos em vermelho, mantendo os textos em preto..
Título
(apresentar o conflito abordado, com o mínimo de palavras)
Autor
(Nome do autor, disciplina, orientador, instituição, e-mail)
Resumo
(até 10 linhas contendo o problema de pesquisa, o referencial teórico, o método, o principal resultado e a
principal conclusão)
162
Introdução
(Ambientação do tema no espaço e no tempo)
Conceito 1
(Apresentar 3 autores que discutem o conceito 1 - prós e contras – citar as fontes completas)
Conceito 2
(Apresentar 3 autores que discutem o conceito 1 - prós e contras – citar as fontes completas)
Conceito 3
(Apresentar 3 autores que discutem o conceito 1 - prós e contras – citar as fontes completas)
Problema de pesquisa
(dilema tratado no estudo)
Método de pesquisa
(Procedimentos para coleta dos dados primários e secundários)
Discussão
(Examinar os resultados encontrados à luz dos conceitos e das teorias da Parte I)
Conclusões
(De que maneira os achados confirmam ou negam as teorias e os estudos anteriores? Quais as implicações para
as organizações?)
Contribuições e Limitações
(De que forma o estudo contribui para a ciência? Quais limitações estão presentes?)
Referências
Fontes bibliográficas e eletrônicas ordenadas alfabeticamente e formatadas segundo ABNT ou conforme o
periódico-alvo. Incluir as fontes deste modelo, abaixo.
SAUAIA, A. C. A. Gestão da Estratégia: um guia prático (volume 1). Programa de Aprendizagem Vivencial –
Grupo de Pesquisas SIMULAB. FEA/USP. São Paulo, 2007.
163
TUTORIAL
Resumo
Para o desafio de graduandos e pós-graduandos, os cursos superiores têm demandado cada vez mais a produção
de artigos científicos em disciplinas obrigatórias, como forma de aprofundar sua formação acadêmica e prepará-
los para produzirem textos de qualidade. Neste tutorial encontra-se descrito um roteiro objetivo para apoiar os
autores a planejarem e prepararem uma monografia, seja um artigo de 15 páginas, um trabalho de conclusão de
curso (TCC), uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Apoiado nas recomendações feitas em
publicações de diversos autores da área de metodologia de pesquisa, o roteiro visual aqui proposto vem sendo
refinado ao longo de uma década e sintetiza quatro etapas assim encadeadas: 1) Revisão de literatura; 2)
Desenvolvimento da Pesquisa; 3) Conclusão; 4) Protocolo de formatação. Tem este roteiro o intuito de
sistematizar e facilitar as atividades dos autores de monografias e de seus orientadores. O método que já
completou dez anos continua sendo aprimorado com a ajuda de algumas centenas de estudos produzidos desde
1996. Apesar de os autores que adotaram o método reconhecerem sua utilidade e praticidade, a elaboração de
uma monografia é um processo caótico que exige empenho e dedicação.
Introdução
A arte de elaborar uma monografia pode ser comparada, de maneira metafórica, à arte de preparar uma refeição
para uma ocasião em que se recebe um grupo especial de convidados.
A escolha do tema deve ser coerente com a ocasião: cozinha brasileira, regional, internacional, contemporânea,
oriental. O tipo e o porte da refeição são considerados apropriados em função do período do dia em que é
servida: café da manhã, lanche, almoço, jantar ou uma ceia especial. Cada uma delas recomenda que se busque
um equilíbrio alimentar das fontes de nutrientes que a compõem: proteínas, carboidratos, fibras, vitaminas e sais
minerais. Apesar das inúmeras receitas existentes para as mais variadas ocasiões e comemorações, não há
garantias de sucesso.
Muitas decisões devem ser tomadas para compor os pratos adequados à ocasião, selecionar os ingredientes
triviais ou especiais e processá-los de forma a valorizar os alimentos para que possam ser apreciados pelo autor e
convidados como experiência única.
Assim, a monografia deve ter como primeiro beneficiário o próprio autor que estabelece a priori sua utilidade,
seja para dominar conteúdos alcançando proficiência, seja para avançar na carreira acadêmica ou profissional.
Várias decisões devem ser tomadas. A primeira escolha diz respeito ao tema que reúne um conjunto de pratos a
serem elaborados e sua adequação ao evento. A segunda, aos ingredientes representados pelas fontes
bibliográficas que serão cuidadosamente selecionadas e combinadas, em seguida processadas ou reprocessadas,
produzindo um arranjo inovador, seja no ineditismo da forma de apresentação ou do resultado final alcançado
com os ingredientes. A terceira, refere-se ao método de preparo que estabelece o encadeamento das tarefas que
transformam matérias primas em subprodutos elaborados. A quarta, diz respeito à apresentação final da refeição
para os convidados, sejam os detalhes da montagem de cada prato, seja a composição do conjunto de pratos ou a
maneira como foram dispostos à mesa.
O contexto no qual a refeição será servida: aniversário, casamento ou festa de fim de ano estabelece a demanda
por um tema e por um cardápio especialmente definido. Dentre uma ampla gama de cardápios selecionam-se os
pratos a serem preparados para valorizar o conjunto e, finalmente, a apresentação do conjunto na forma de uma
164
refeição completa com entrada, primeiro prato, segundo prato e sobremesa. A ordem de preparo da refeição não
é necessariamente a mesma ordem de serviço. Entretanto, além da natural ordem protocolar já consagrada, há
que se administrar a expectativa dos convidados para fazê-los desfrutarem plenamente da experiência inédita,
capaz de surpreender os mais requintados paladares. Entretanto, jamais se poderá agradar igualmente a todos,
pois cada convidado fará uso de critérios e elementos pessoais para apreciar a ocasião.
O mesmo ocorre com a monografia (Quadro 1). O tema da monografia deve ser coerente com o evento, o
periódico e a área à qual se submete o estudo, pois o mesmo tema pode ser objeto de pesquisas na mesma are ou
em diferentes campos do conhecimento. Deve refletir conteúdos associados a uma linha de pesquisa, da escola
em que é desenvolvido ou do orientador que apóia o processo de investigação. Ao mesmo tempo, um esforço de
tal grandeza deve ter especial significado para quem prepara o estudo, uma vez que os autores têm diante de si
oportunidade ímpar para gerar uma contribuição relevante, conquistar reconhecimento e realização pessoal.
Objetivo
Este tutorial descreve um método de elaboração de monografias testado durante 10 anos. Tem como ponto de
partida a estrutura do sumário, amplamente conhecida e disseminada nos textos sobre metodologia do trabalho
científico. Considera-se o sumário como sendo a estrutura final da monografia, agora subdivida em quatro partes
assim ordenadas:
Parte 1: Protocolo de formatação – Padrões de formato de página, margens e tipo de letra, capas,
agradecimentos, resumo, abstract, palavras-chave e apresentação.
Parte 2: Revisão da literatura – Introdução e revisão bibliográfica dos conceitos relevantes;
Parte 3: Desenvolvimento da pesquisa – Problema e método de pesquisa, coleta de dados e análise dos
resultados; discussão dos resultados à luz das teorias da Parte 1.
Parte 4: Conclusão – conclusões e contribuições; limitações e novas proposições; referências.
Tal estrutura registrada em um formulário próprio (Quadro 2) passa a operar como um roteiro (mapa visual) que
ajuda a encadear as atividades e colecionar os conteúdos específicos durante o desenvolvimento do estudo,
confirmando sua presença na versão final (check list). Uma vez definidos os tópicos na versão inicial,
recomenda-se seja estimado o número de páginas que conterá cada item da versão final da monografia, tendo por
objetivo dimensionar os esforços a serem alocados em cada parte.
Tal raciocínio reverso, muito adotado nas Ciências Exatas (considerar o problema resolvido), exige do autor um
esforço de abstração por tratar-se de um processo não trivial. Com este exercício de imaginação, o sumário
torna-se um plano completo do estudo contendo: uma coluna com os objetivos qualitativos definidos nos títulos
de cada item e outra com as metas quantitativas indicadas pela quantidade de páginas. Ficam assim sintetizados,
de forma visual e detalhada, todos os esforços de criação que se seguem a partir do plano, aqui denominado
“Monografia Visual”.
De posse do Quadro 2, pode-se considerar o problema inicial resolvido, ou seja, a estrutura da monografia pronta
e apresentada na forma de um plano visual. Apesar disso, basta o autor pesquisar na biblioteca três exemplos de
monografias para constatar que existem padrões bem variados, mas alguns elementos se repetem nos diversos
estilos de monografias acadêmicas. Variações de estilo, forma e apresentação são admitidas e bem-vindas.
Quanto ao conteúdo, devem-se cumprir algumas exigências que assegurem a presença de todos os elementos
mínimos que caracterizam a monografia.
Entretanto, a maneira de realizar uma monografia segue ordem diversa de seu relatório final, conforme mostrado
no Quadro 3, onde cada parte contribui com um percentual aproximado de páginas do estudo final.
Para apoiar a preparação da monografia na Revisão de Literatura, sugere-se sua divisão em três grandes partes,
temas ou conceitos, tendo o intuito de estruturar um suporte teórico robusto baseado em um tripé conceitual. Na
monografia caberá ao autor localizar os textos de interesse e deles retirar idéias, ilustrações, textos e afirmações
que sejam úteis para explorar os temas ou conceitos selecionados, tomando o cuidado de citar os dados
completos da fonte consultada. Nesta parte se busca apresentar a opinião de autores que já estudaram o problema
e que têm algo a oferecer. É essencial que tais opiniões sejam também divergentes, pois para a construção de
pensamentos arejados deve-se apresentar idéias favoráveis e desfavoráveis, mostrando prós e contras sobre as
vantagens e desvantagens de se adotar tal teoria, conceito, modelo ou técnica.
Vale salientar que nesta parte do estudo não cabem as opiniões do seu autor, senão as opiniões dos autores
consultados nos livros-texto, nos artigos e monografias cuidadosamente mencionados nas referências da parte 3.
Na parte 2 apresenta-se o problema de pesquisa geralmente na forma de pergunta ou conflito que se busca
examinar no estudo. Dentre os possíveis métodos para examinar o problema selecionado, elege-se um ou dois
que são aqui mencionados. A coleta de dados primários geralmente se dá por meio de busca direta em relatórios
de empresas, por meio de entrevistas ou questionário usados em surveys. Tais dados podem ser apresentados na
forma de quadros (somente textos) ou tabelas (textos e números) e nestes casos levam o título acima do quadro
ou tabela. No caso de figuras (ilustrações), levarão o título abaixo da figura.
Apresentados os dados primários, antes ou depois de cada quadro, tabela ou figura, deverá ser elaborado pelo
autor um parágrafo explicando ao leitor o que ele deve observar, assegurando assim uma lógica no raciocínio do
leitor. Nenhuma ilustração deve ficar sem explicação minuciosa sob risco de furtar ao leitor compreensão de sua
utilidade.
A discussão encerra a parte 2 com uma cuidadosa amarração com a teoria apresentada na parte 1. Cada um dos
conceitos deve ser cruzado com os resultados da pesquisa primária de forma a se refutar os resultados,
confirmando ou rejeitando os achados em estudos anteriores.
167
Conclusão
Uma monografia nunca termina. O que termina é o tempo de que dispõe o autor para submeter o relatório final.
Consome-se tempo infinito para apurar a qualidade do texto e produzir como resultado um conjunto consolidado
lógico e coerente das partes 1, 2 e 3. Como não se dispõe de tempo infinito, o corte é inevitável e com ele as
imperfeições, limitações e críticas, que sempre trazem consigo uma oportunidade de avançar o estudo em novas
direções.
Por mais que se tente planejar, os trabalhos criativos de construção das idéias e redação do texto monográfico
seguem uma ordem caótica que deve ser respeitada em nome da qualidade do novo conteúdo: deve-se criar
primeiramente e criticar somente depois, melhorando a apresentação das idéias. Entretanto as idéias se sucedem
sugerindo novas formas em alguns momentos da criação de conteúdos. Portanto, o caos é maior do que se
imagina durante a elaboração de uma monografia. Muitas idéias surgem com a mesma velocidade com que são
descartadas e o trabalho do autor é reter aquelas que podem de fato contribuir para comunicar suas idéias ao
leitor.
A elaboração de monografias produz sentimentos intensos polarizados em extremos de dor e prazer, geralmente
nesta ordem. Nenhum autor sai ileso de um processo desta natureza. Exige-se do autor disposição, coragem,
equilíbrio, determinação e sangue frio. Apesar dos inúmeros textos disponíveis que discutem os métodos para
elaboração de monografias, o intuito deste tutorial é contribuir de forma simples e fácil para a criação de um
mapa completo das quatro partes que compõem o relatório final.
Recomenda-se muita paciência aos que se aventurarem a pesquisar e a redigir textos científicos, que não se
cansem de perguntar e solicitar ajuda aos orientadores de plantão, visto tratar-se de um longo processo de
aprendizagem vivencial - aprender fazendo.
A elaboração de uma monografia é um processo que nunca termina! Sempre poderá ser retocada, revisada,
melhorada e modificada com o intuito de aprimoramento. Entretanto, o que termina invariavelmente é o tempo
disponível para que se entregue o próximo relatório, uma das obrigações acadêmicas do pesquisador.
São dois os principais beneficiários da monografia: o próprio autor e a instituição. A escolha do tema está
vinculada ao campo de interesse da instituição a que se associam determinadas linhas de pesquisa. A escolha do
problema de pesquisa está condicionada pelo tema e vinculada ao interesse do pesquisador que deverá levar em
conta a utilidade da monografia, durante e após a sua realização.
Uma monografia relata um conjunto de procedimentos de pesquisa e seus resultados sob determinadas restrições,
relatados no próprio estudo e a partir dos quais puderam ser extraídas conclusões. Portanto, para uma monografia
ter qualidade ela deve, entre outras coisas, facilitar sua replicação por qualquer outro pesquisador interessado.
Apesar de todos os esforços que possam ser empreendidos, a opinião final dos avaliadores terá uma componente
de subjetividade e dependerá, em grande parte, do conhecimento dos leitores em relação ao tema e de
entenderem a proposta do estudo.
Recomenda-se finalmente um teste ou prova do prato antes de servi-lo solicitando uma opinião externa, pois
poucos ajustes finais antes da submissão podem representar melhoria da qualidade de leitura. Mesmo que pareça
óbvio, recomenda-se a conferência das cópias depois de montadas verificando paginação e conteúdos ausentes
por falha na montagem e reprodução, frente e verso. Muitas surpresas poderão ser evitadas para autores e
examinadores.
168
Parte 2: Revisão da Literatura (não cabem aqui opiniões pessoais do autor) Páginas
Introdução
(uma metáfora)
Ambientação do
tema no espaço
e no tempo
Conceito 1
No mundo
No Brasil
Conceito 2
No mundo
No Brasil
Conceito 3
No mundo
No Brasil
Problemas de
Pesquisa
Decorrentes
Escolha de um
Problema
Para este estudo
Parte 3: Desenvolvimento da pesquisa Páginas
Metodologia
Discussão dos
métodos alternativos
169
Método escolhido
Coleta de dados
Instrumento
Análise de dados
Descritiva
Resultados
Discussão
Contribuições
Limitações
Proposições
Bibliografia
Anexos
Resultados
encontrados
Principais
conclusões
3 Palavras-chave
Apresentação
Motivação para o
estudo, problema de
pesquisa, síntese de
cada capítulo
Submissão do Apresentação do TCC encadernado à coordenação do curso, encaminhamento de artigo ou de painel
trabalho final a um Congresso ou a um periódico científico (atualizar o Currículo Lattes)
Referências
CASTRO, C. M. Estrutura e apresentação de publicações científicas. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1976.
KIDDER, L.H. (org.). Métodos de Pesquisa nas Relações Sociais. 2ª. ed. 3 v. São Paulo: EPU, 1987.
LEITE, J. A. A. Metodologia de Elaboração de Teses. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1978.
MARTINS, G.A. Manual para elaboração de monografias e dissertações. São Paulo: Atlas, 1994.
NAGEL, E; COHEN, M. Introducción a la lógica y al Método Científico. Buenos Aires: Amorrortu, 1977.
ROESCH, S. M. A. A dissertação de mestrado em Administração: proposta de uma tipologia. In: Anais do XIX
EnANPAD – Encontro da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação, João Pessoa, 1995.
SALOMON, D.V. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 4ª. ed. Belo
Horizonte: Interlivros, 1974.
Fonte: SAUAIA, Antonio C. A. Monografia Racional. Anais do 1º. SEMEAD – Seminários em Administração Volume 01, Setembro, 1996, p. 276-94 PPGA/FEA/USP/SP
EAD-673 - Laboratório de Gestão Empresarial II – Prof. Antonio Sauaia – Nov/2009
Formulário de Acompanhamento dos Artigos – Monitor: _______________________________ (PPGA/FEA/USP/SP)
Título:_____________________________________________________________________________________________________________ Cargo: _______
Autor:__________________________________________________________________________________________ Horário: _________________________
Parte Estrutura do artigo Descrição sucinta do conteúdo de cada item da estrutura N. Págs. Nota %
I Sumário ½ 1%
5p Resumo Problema; referencial teórico; método; resultado; conclusão ½ 5%
30% Introdução - histórico do tema Ambientação do tema no espaço (onde?) e no tempo (quando?) 1 6%
Conceito 1 – Modelo de Gestão Funcional Revisão de literatura – Acadêmica com citações completas (AUTOR, ano, páginas) 1 6%
Conceito 2 – Caso de Sucesso/ Fracasso Revisão de literatura – Empresarial com citações completas (AUTOR, ano, páginas) 1 6%
Conceito 3 – Sustentabilidade, Política e Cidadania - Revisão de literatura (acadêmica e empresarial) com citações completas 1 6%
II Problema de pesquisa Conflito a examinar e gerenciar para criar valor; dilema a ser examinado 1/3 6%
7p Método de pesquisa Revisão de literatura (secundários); estudo de caso; experimento; testes (primários) 1/3 3%
40% Instrumentos de coleta dados Formulários; relatórios trimestrais; questionários; entrevistas 1/3 3%
Descrição do Experimento Vivência em sala de aula; encadeamento semanal 2 8%
Análise descritiva dos dados Dados primários coletados/apresentados (quadros, tabelas, figuras, etc.) e analisados 2 10%
Discussão dos Resultados Discutir resultados da análise com base nas teorias da Parte I 2 10%
III Conclusões Conseqüências para as empresas reais 2 6%
5p Contribuições Benefícios para as empresas reais 1 6%
30% Limitações Restrições de escopo e da base de dados do laboratório ½ 6%
Proposição para novos estudos Avanços possíveis a explorar no futuro ½ 6%
Referências Fontes consultadas (bibliográficas e eletrônicas – Normas ABNT (local: editora, ano) 1 6%
Total 17p 100%
Obs.: Paginação superior direita; numerar e nomear os três tipos de ilustrações: Quadros com textos; Tabelas com números; Figuras com gráficos e imagens.
173
APÊNDICES
Atenciosamente,
1. Nome do respondente
2. Cargo/função na IES
3. Titulação (graduação; especialização; mestrado; doutorado; pós-doutorado).
4. Experiência docente
- Área
- Tempo (em anos e meses)
5. Experiência profissional não acadêmica
- Área
- Tempo
Bloco 2 – Simuladores
Entrevista
- Primeira entrevista não estruturada, aberta, com o professor Sauaia e gravação em áudio.
- Segunda entrevista, estruturada, aberta, com o professor Sauaia e gravação em áudio.
- Transcrição das entrevistas para análise.
- Identificação, interpretação e registro dos fundamentos do Laboratório de Gestão.
Questionário
- Elaboração do questionário a ser aplicado aos parceiros SIMULAB
- Apreciação do questionário (piloto) para reajustes
- Disponibilização do questionário final no Portal SIMULAB
- Análise das respostas do questionário aplicado aos parceiros SIMULAB
Observação
- Anotações de campo, observação das atividades do Laboratório de Gestão.
- Instalações, sala de aula, disposição das carteiras, recursos de apoio (Internet).
- Dinâmica do jogo de empresas.
- Formação dos grupos, organização das empresas.
- Aplicação dos princípios da Administração (Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar) pelos estudantes.
- Pesquisa aplicada
- Planejamento, execução e redação.
Documentos
- Coleta e exame de documentos
- Portal acadêmico da FEA/USP.
- Portal do grupo de pesquisa SIMULAB.
- Plano de curso da disciplina Laboratório de Gestão.
- Materiais de apoio metodológico da disciplina Laboratório de Gestão (roteiro monografia racional e visual).
- Artigos publicados dos Livros (Guia de gestão estratégica, Laboratório de Gestão 1ª e 2ª edições).
179
Quadro 29 – Análise do artigo: Gestão de estoques – efeitos da falta de estoque de matéria prima sobre a
margem da empresa
Categoria Subcategoria Unidade de Contexto
Identificar “Gestão dos estoques e planejamento e controle da produção.” (p.147).
Modelos de
gestão
Simulador (dados
organizacional secundários)
(lógica “A variável margem da fórmula será calculada na forma margem
Compreender as
econômica) operacional aplicada à gestão dos estoques, utilizando-se uma abordagem
Regras do
que engloba as variáveis do processo produtivo em questão (variáveis
simulador
componentes dos custos operacionais). (custo de mão de obra, custo de
(dados
matéria prima, custo de estocagem de matéria prima, custo de produtos
secundários)
acabados, custo de emissão de pedidos).” (p. 161).
Formular a “Levantaram-se dúvidas referentes aos impactos de uma política de
estratégia estoques inadequados e os benefícios que poderiam ser obtidos com uma
(estrutura política de estoques bem estruturada... decidiu-se mensurar... a) o custo
organizacional e ocasionado pela falta de estoques e b) o retorno sobre o investimento em
plano de gestão: estoques”. (p. 160).
dados primários)
Implementar a “Adotou-se uma abordagem prática para a mensuração do retorno sobre o
estratégia investimento em estoques e para o calculo da margem perdida pela falta
(tomar decisões de estoques... em decorrência do planejamento deficiente de seus níveis de
Jogo de sob incertezas: estoques” (p. 160-3).
empresas relatórios com
(Raciocínio dados primários)
estratégico) “Os resultados obtidos para o retorno sobre os investimentos em estoques
ocorreram conforme esperado, confirmando estudos anteriores. No
Controlar a período 2, em que a produção foi bem coordenada para atender a
estratégia demanda, o investimento em estoques proporcionou um retorno maior
(analisar e para a empresa.” (p. 164).
discutir os “ No quinto período, em que a falta de estoques de matéria prima
resultados: dados prejudicou em muito o volume de vendas...houve significativa perda de
primários) margem superando... $ 1 milhão, cerca de 50% do lucro realizado. ...Isso
forçou a equipe a redobrar os seus esforços para gerar resultados positivos
nos trimestres subsequentes. “ (p. 164).
Pesquisa Problema de “- Como mensurar o ganho obtido pela empresa ao manter determinado
teórico- pesquisa volume de estoque?”
empírica (conflito “- Como mensurar as perdas da empresa em decorrência da falta de
(educação investigado sob estoque?”
científica perspectiva “- Que tipo de análise pode se feita para melhorar o desempenho das
apoiada no crítica) equipes no Laboratório de Gestão Empresarial?” (p. 159)
roteiro da Referencial “Sistema de gestão de estoques – modelo do lote econômico, sistema ABC
monografia teórico e momento de reposição de estoques”. (p. 148-159).
181
racional (dados
eletrônica) secundários)
“O presente estudo apoiou-se na revisão da bibliografia relativa à gestão
dos estoques...Buscou-se verificar os pontos em comum entre estudos
anteriores realizados na área de produção e operações e as decisões no
jogo de empresas, na tentativa de aplicar a teoria estudada no Laboratório
de Gestão...”(p. 160). “Os instrumentos de coleta de dados ...foram os
Desenvolvimento relatórios gerenciais e setoriais trimestrais (operacionais e financeiros,...,
(dados primários) além de planilhas de controle interno do Grupo G4P por meio dos quais se
tentou prover os gestores de um sistema de planejamento de recursos” (p.
160). “Este estudo baseou-se na análise de dois períodos de decisão: o
segundo trimestre, em que houve pleno atendimento da demanda..., e o
quinto trimestre, em que houve falta expressiva de estoques e não atendeu
à demanda”. (p. 160).
“As abordagens utilizadas para a mensuração do retorno sobre o
investimento em estoques e da margem perdida em decorrência da falta de
estoques são ferramentas aplicáveis à gestão de estoques...” (p. 164).
Considerações “Abordou-se aqui os custos com a perda de vendas ocasionadas pela falta
finais de estoques na expectativa de trazer à tona alguns aspectos importantes
(conclusões, para a mensuração desses custos, além de ressaltar a relevância das
contribuições, decisões para disponibilizar os recursos onde e quando eles forem
limitações e necessários”. (p. 165).
proposições) “Algumas das limitações estão relacionadas ao fato de que a aplicação
(experimento) refere-se a uma simulação (jogo de empresas), que, por
mais fiel que seja a tradução de variáveis da realidade da gestão,
representa de maneira simplificada a realidade das organizações.” (p.
166).
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
Quadro 30 – Análise do artigo: O líder presente nas equipes gerenciais no jogo de empresas
Categoria Subcategoria Unidade de Contexto
Identificar “Modelo de liderança situacional de Hersey e Blanchard (1986)”...o
Modelos de gestão conceito de liderança (BENNIS; NANUS, 1988).
Simulador (dados
organizacional secundários)
(lógica Compreender as “O simulador EGS era utilizado para dinamizar o jogo de empresas,
econômica) Regras do com o qual os alunos competiam em sistemas de oligopólio,...” (p. 178).
simulador “No manual do jogo de empresas,... estavam descritas as
(dados responsabilidades das áreas segundo uma estrutura funcional...” (p. 179).
secundários)
Formular a “... o modelo de organização do grupo baseou-se em uma decisão
estratégia colegiada. Todas as decisões eram tomadas em conjunto, apesar de haver
(estrutura uma função para cada membro....” (p. 178).
organizacional e
plano de gestão:
dados primários)
Implementar a “...inicialmente examinou-se como a presença do presidente no jogo de
Jogo de
estratégia empresas nos momentos de decisão influenciou o desempenho da
empresas
(tomar decisões empresa no primeiro e segundo semestres...”(p. 180).
(Raciocínio
sob incertezas:
estratégico)
relatórios com
dados primários)
Controlar a “O desempenho da empresa foi melhor no segundo semestre... quando
estratégia comparado ao primeiro e, pela análise, feita isso parece decorrer da
(analisar e discutir maior presença do presidente nas aulas em que foram tomadas decisões
os resultados: importantes, baseadas nas variáveis-chave do jogo de empresas.” (p.
dados primários) 184).
Pesquisa Problema de “Como a questão da liderança pode influenciar o desempenho no jogo de
182
Quadro 31 – Análise do artigo: Aplicação e adaptação do modelo de cinco forças de Michael Porter
Categoria Subcategoria Unidade de Contexto
“O modelo das cinco forças de Porter foi adotado pela área de
Identificar
planejamento como referencial conceitual para apoiar a formulação da
Modelos de gestão
estratégia, bem como para produzir uma pesquisa aplicada, atividade que
Simulador (dados
representava uma parcela considerável dos esforços de aprendizagem
organizacional secundários)
propostos para os alunos...” (p. 76).
(lógica
Compreender as “No ambiente geográfico, político e institucional presente no Laboratório
econômica)
Regras do de Gestão Empresarial I havia duas regiões de atuação das empresas em
simulador dois estados distintos,..., um sob regime neoliberal e o outro sob regime
(dados social... este último regulamentado pelas exigências do governo” (p. 89).
secundários)
Formular a “Na equipe da empresa Bareci, a gestora foi incumbida de montar a
estratégia planilha de orçamento para estruturar as fórmulas e aprender as relações
(estrutura entre as variáveis econômicas, auxiliando e agilizando o processo de
organizacional e tomada de decisão de forma objetiva e negociando os valores decisivos
plano de gestão: para a implementação da estratégia com a presidência” (p. 90).
dados primários)
Implementar a “A equipe Bareci decidiu adotar a estratégia de menor preço e menor
Jogo de
estratégia custo, investindo na capacidade produtiva para ganhar economia de
empresas
(tomar decisões escala e competir com as empresas da indústria em volume” (p. 93).
(Raciocínio
sob incertezas:
estratégico)
relatórios com
dados primários)
Controlar a “O presidente foi responsável pelas decisões que determinaram a
estratégia mudança de estratégia da empresa. Foi muito acertada, naquelas
(analisar e discutir circunstâncias, a decisão de mudança de estratégia de preço menor para
os resultados: diferenciação do produto (preço um pouco maior), acompanhando a
dados primários) tendência de mercado em crescimento. Tornou-se necessário buscar
183
estratégia precisão, havia outros que ainda geravam certa dúvida, entre eles: as
(analisar e discutir despesas de administração e o impacto dos índices econômicos e dos
os resultados: dados investimentos em custos diretos de mão de obra e matéria prima”. (p.
primários) 185-6)
Problema de “...os mesmos resultados positivos alcançados pelas empresas reais
pesquisa podem ser observados dentro do jogo de empresas regido pelas regras
(conflito econômicas do simulador...” (p. 181)
investigado sob
perspectiva crítica)
“A metodologia adotada consistiu na coleta de dados secundários em
artigos pesquisados na internet sobre educação corporativa e livros
didáticos de autores especializados nos assuntos relacionados, a fim de
Referencial teórico
formar uma base teórica sobre o tema. Para exemplificar, foi adotado o
(dados secundários)
livro O futuro da indústria, uma coletânea de artigos sobre educação
corporativa elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (2005)”. (p. 182)
“A pesquisa participante aqui descrita resultou da ação desenvolvida
pela diretoria de recursos humanos. (p. 181)...” A coleta de dados
primários foi realizada a cada trimestre por meio dos resultados
Pesquisa
financeiros da empresa utilizada no estudo. A taxa Interna de Retorno
teórico-
(TIR), calculada ao final de cada trimestre, foi adotada para comparar o
empírica
desempenho das empresas concorrentes...” (p. 182)...O programa de
(educação
educação corporativa elaborado para aplicação na empresa Lótus S.A.
científica
tinha como objetivo proporcionar maior entendimento das regras
apoiada no Desenvolvimento
econômicas do simulador descritas na Parte 1 do livro-texto (Sauaia,
roteiro da (dados primários)
2009) para o correto funcionamento no jogo e assim melhorar os
monografia
resultados financeiros. (p. 183)...A fim de equacionar o problema e se
racional
antecipar para os trimestres subsequentes, a diretoria, de recursos
eletrônica)
humanos resolveu promover uma discussão presencial fora do horário
de aula como parte do programa de educação corporativa. (p. 185)...A
discussão teve como objetivo que todos as diretorias e o presidente
estudassem os demonstrativos financeiros,..., analisando os números e
interpretando todos os cálculos” (p. 185)
“As ações de educação corporativa implementadas na empresa Lótus
S.A. permitiram, por meio da análise dos resultados, uma sensível
Considerações
melhora nos resultados da empresa...Os primeiros problemas
finais
aparentemente eram em grande parte, relativos à falta de conhecimento
(conclusões,
das regras do jogo de empresas e causados por erros de cálculo e falta
contribuições,
de atenção às consequências das nossas decisões. (p. 195)...O presente
limitações e
estudo contribui para ilustrar como a gestão do conhecimento por meio
proposições)
da prática da educação corporativa pode constituir um elemento
essencial para o bom desempenho de uma empresa, real ou simulada (p.
196)...
FONTE: DADOS DA PESQUISA.
Quadro 35 – Análise do artigo: Gestão do capital de giro com ênfase na administração do caixa
Categoria Subcategoria Unidade de Contexto
“A teoria financeira sugere que baixos níveis de caixa podem propiciar
Identificar Modelos alta rentabilidade, mais também maior rico para a empresa. O modelo
Simulador de gestão Baumol (Damodaran, 2004, p.354) propõe um nível ótimo de caixa,
organizacional (dados secundários) mas a simplicidade deste dificulta sua aplicação. (p. 199)...
(lógica Administração do capital de giro...”(p. 201).
econômica) Compreender as “As empresas foram separadas em ambientes diferentes (social e
Regras do neoliberal), sendo que elas competiam diretamente em seus respectivos
simulador ambientes”. (p. 211)
(dados secundários)
Jogo de Formular a “As análises basearam-se no ambiente do jogo de empresas,... Após
empresas estratégia cada rodada, na qual a empresa atuava sobre as variáveis de decisão,
187
(Raciocínio (estrutura forma emitidos relatórios sobre o seu desempenho e dos concorrentes...
estratégico) organizacional e O estudo utilizou como referência básica para análise dos dados a
plano de gestão: empresa Pineapple, a qual atuou no estado social do Rio Dejanero”. (p.
dados primários) 211)
Implementar a “A princípio, a estratégia da Pineapple era a de buscar a diferenciação
estratégia do produto perante os concorrentes” (p. 211)... Inicialmente a missão da
(tomar decisões sob empresa era propiciar à população produtos diferenciados com a mais
incertezas: alta tecnologia e performance”. (p. 211)
relatórios com
dados primários)
Controlar a “Tanto a estratégia da empresa quanto seus objetivos podiam ser
estratégia separados em ano 1 e ano 2. No ano 1, o foco estava na diferenciação,
(analisar e discutir entretanto, no ano 2, descobriu-se que tal estratégia não dava mais
os resultados: dados certo, e a empresa acabou por ficar no meio do caminho entre foco no
primários) baixo custo e foco na diferenciação”. (p. 212)
“Neste estudo foram analisadas as questões relativas ao capital de giro
Problema de
e, em especial, ao caixa das empresas no ambiente do jogo de empresas.
pesquisa
(p. 209)... a questão a se analisar é quão bem o grupo consegui projetar
(conflito
o caixa para as rodadas seguintes... e a possível relação entre a TIR
investigado sob
(Taxa Interna de Retorno) dos grupos e a respectiva quantia mantida em
perspectiva crítica)
caixa pela empresa”. (p. 210)
“Os dados secundários referem-se à revisão da literatura sobre os temas
pertinentes a este estudo e foram coletados, predominantemente, a
partir dos livros-texto utilizados na disciplina de finanças. De maneira
complementar, foi utilizado material elaborado pelo professor que
Referencial teórico ministrou a disciplina, o livro-texto Laboratório de Gestão: simulador
Pesquisa (dados secundários) organizacional, jogo de empresas e pesquisa aplicada (Sauaia, 2009) e
teórico- os slides de aula. Por fim, no tópico relacionado à sustentabilidade, a
empírica bibliografia adicional foi recomendada pelo professor orientador desse
(educação estudo. O texto final segui a estrutura proposta por Sauaia (2009),
científica própria para as pesquisas aplicadas ao jogo de empresas”. (p. 211)
apoiada no “O jogo começou com as empresas dispondo dos mesmos recursos, mas
roteiro da de competências diferentes, já que cada uma tinha os seus próprios
Desenvolvimento
monografia gestores...” (p.211)... “As empresas foram separadas em ambientes
(dados primários)
racional diferentes (social e neoliberal), sendo que elas competiam diretamente
eletrônica) em seus respectivos ambientes”. (p. 211)
“De maneira geral, o referencial teórico mostrou-se muito aplicável ao
jogo de empresas... a teoria sobre administração do capital de giro pode
Considerações ser validada...” (p. 219)... “No caso do jogo, pudemos perceber, a partir
finais dos dados de todas as empresas, que flutuações de existentes
(conclusões, ofereceram grande risco às empresas. Sendo assim, caso a empresa
contribuições, estivesse em uma estratégia mais agressiva, na qual manteria baixo
limitações e caixa, haveria grande risco... Nesse sentido a manutenção de caixa em
proposições) níveis mais elevados mostrou-se uma postura muito segura...” (p.
219)...”Pelo fato do jogo não oferecer fontes alternativas para
investimento de caixa, fica limitada a aplicação de alguns conceitos
sobre aplicações de caixa”. (p. 221)
FONTE: DADOS DA PESQUISA.