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Pós Operatório de Cirurgia Cardíaca

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www.arquivosonline.com.br Sociedade Brasileira de Cardiologia • ISSN-0066-782X • Volume 103, Nº 2, Supl.

1, Agosto 2014

DIRETRIZ SUL-AMERICANA DE
PREVENÇÃO E REABILITAÇÃO
CARDIOVASCULAR
Diretriz Sul-AmericAnA De
Prevenção e reAbilitAção
cArDiovASculAr

Autores da Diretriz:

Herdy AH, López-Jiménez F, Terzic CP, Milani M, Stein R, Carvalho T, Serra S, Araujo CG,
Zeballos PC, Anchique CV, Burdiat G, González K, González G, Fernández R, Santibáñez C,
Rodríguez-Escudero JP, Ilarraza-Lomelí H.
www.arquivosonline.com.br REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA - Publicada desde 1948

Diretora Científica Cardiologia Cirúrgica Métodos Hipertensão Arterial


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Cardiologia Intervencionista Carlos E. Rochitte Ergometria, Exercício
Editor-Chefe Pedro A. Lemos e Reabilitação
Luiz Felipe P. Moreira Pesquisa Básica Cardíaca
Cardiologia Pediátrica/
Congênitas ou Experimental Ricardo Stein
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Primeiro Editor
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Arquivos Brasileiros de Cardiologia

Volume 103, Nº 2, Suplemento 1, Agosto 2014


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Sumário

Preâmbulo...........................................................................................................................................página 1
I - INTRODUÇÃO.................................................................................................................................página 2
Justificativa para reabilitação cardiovascular/prevenção secundária ........................................................página 2
Comitê de redação ....................................................................................................................................página 2

II - METODOLOGIA ............................................................................................................................página 2
Definição de reabilitação cardiovascular/prevenção secundária ...............................................................página 2
Definição de pacientes elegíveis para reabilitação cardiovascular/prevenção secundária.........................página 2
Pacientes não elegíveis para reabilitação cardiovascular extra-hospitalar .................................................página 3
Objetivos da reabilitação cardiovascular ...................................................................................................página 3

III - DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA DE REABILITAÇÃO


CARDIOVASCULAR ...........................................................................................................................página 3
Estratificação de risco dos pacientes que são indicados para um programa de reabilitação cardiovascular ... página 3
Segurança e monitoramento dos pacientes ..............................................................................................página 4
Componentes do programa de reabilitação cardiovascular .......................................................................página 5
Competência do recurso humano..............................................................................................................página 5
Fases da reabilitação cardiovascular .........................................................................................................página 5
Avaliação inicial do paciente .....................................................................................................................página 5
Prescrição do exercício ..............................................................................................................................página 5
Fase 1........................................................................................................................................................página 5
Fase 2........................................................................................................................................................página 7
Fase 3 e 4 ..................................................................................................................................................página 8
Componentes do exercício ........................................................................................................................página 10
Componente de cada sessão ....................................................................................................................página 10
Tipos de exercício ....................................................................................................................................página 10
Educação ..................................................................................................................................................página 11
Obesidade e sobrepeso............................................................................................................................página 11
Sedentarismo (inatividade física) .............................................................................................................página 12
Estresse psicossocial e estados depressivos ............................................................................................página 12
Tabagismo ................................................................................................................................................página 13
Dislipidemia .............................................................................................................................................página 14
Hipertensão arterial .................................................................................................................................página 15
Diabetes melito ........................................................................................................................................página 15
Síndrome metabólica ...............................................................................................................................página 17
Recomendações para reiniciar a atividade sexual posterior a eventos cardiovasculares ........................página 17

IV - REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR EM POPULAÇÕES ESPECIAIS.......................página 18


Reabilitação em adultos com menos de 55 anos ......................................................................................página 18
Reabilitação em idosos .............................................................................................................................página 18
Reabilitação em crianças e adolescentes..................................................................................................página 18
Reabilitação em mulheres ........................................................................................................................página 19
Reabilitação em pacientes com diabetes melito .......................................................................................página 19
Reabilitação em pacientes com insuficiência cardíaca .............................................................................página 20
Reabilitação em pacientes portadores de valvopatias ...............................................................................página 21
Reabilitação em pacientes com doença arterial periférica ........................................................................página 21
Reabilitação em pacientes pós-transplante cardíaco ................................................................................página 23
Reabilitação em pacientes portadores de marca-passo e cardiodesfibriladores........................................página 23
Reabilitação em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica .......................................................página 24
Reabilitação em pacientes coronários (pós-infarto do miocárdio, pós-revascularização coronária percutânea
ou cirurgia de revascularização miocárdica) ..............................................................................................página 25
Reabilitação em pacientes com síndrome vasovagal ................................................................................página 25
Custo-efetividade de um programa de reabilitação cardiovascular ............................................................página 26

V - CONCLUSÕES ...............................................................................................................................página 26
Referências .........................................................................................................................................página 27
Diretriz Sul-Americana de Prevenção e
Reabilitação Cardiovascular

reAlizAção
Posição Conjunta da Sociedade Sul-Americana de Cardiologia e do Comitê Interamericano de Prevenção e Reabilitação
Cardiovascular - Versão em português revisada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia

conSelho De normAtizAçõeS e DiretrizeS


Álvaro Avezum Junior; Anis Rassi; Carisi Anne Polanczyk; Gilson Soares Feitosa

coorDenADor De normAtizAçõeS e DiretrizeS


Luiz Carlos Bodanese

comitê De reDAção
Herdy Artur (Brasil); López Jiménez Francisco (EUA); Pérez Terzic Carmen (EUA); Zeballos Paula Cecilia (Argentina); Anchique
Claudia Victoria (Colômbia); Burdiat Gerard (Uruguai); González Karina (Venezuela); González Graciela (Paraguai); Fernández
Rosalía (Peru); Santibáñez Claudio (Chile); Rodríguez Escudero Juan Pablo (Equador)

comitê De reviSão (PortuguêS)


Artur Haddad Herdy (SC); Claudio Gil Soares de Araújo (RJ); Mauricio Milani (SP); Ricardo Stein (RS);
Salvador Serra (RJ); Tales de Carvalho (SC)

Esta diretriz deverá ser citada como:


Herdy AH, López-Jimenez F, Terzic CP, Milani M, Stein R, Carvalho T; Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Diretriz Sul-Americana de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular. Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31.

Correspondência:
Sociedade Brasileira de Cardiologia
Av. Marechal Câmara, 160 – sala 330 – Centro – Rio de Janeiro-RJ – CEP 20020-907.

DOI: 10.5935/abc.2014S003
Declaração de potencial conflito de interesses dos autores/colaboradores da Diretriz Sul-Americana de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular
Se nos últimos 3 anos o autor/colaborador das Diretrizes:

Participou de
estudos clínicos
Foi palestrante Foi (é) membro
e/ou experimentais Participou
em eventos do conselho Elaborou textos
subvencionados de comitês Recebeu auxílio
ou atividades consultivo científicos em
Nomes Integrantes pela indústria normativos de pessoal ou Tem ações da
patrocinadas ou diretivo periódicos
da Diretriz farmacêutica ou estudos científicos institucional da indústria
pela indústria da indústria patrocinados pela
de equipamentos patrocinados pela indústria
relacionados à farmacêutica ou indústria
relacionados indústria
diretriz em questão de equipamentos
à diretriz em
questão

Artur Haddad Herdy Não Não Não Não Não Não Não
Carmen Pérez Terzic Não Não Não Não Não Não Não
Claudia Victoria
Não Não Não Não Não Não Não
Anchique
Claudio Gil Soares
Não Imbrasport Não Não Imbrasport, Polar Não Não
de Araújo
Claudio Santibáñez Não Não Não Não Não Não Não
Francisco López
Não Não Não Não Não Não Não
Jiménez
Gerard Burdiat Não Não Não Não Não Não Não
Graciela González Não Não Não Não Não Não Não
Juan Pablo
Não Não Não Não Não Não Não
Rodríguez Escudero
Karina González Não Não Não Não Não Não Não
Mauricio Milani Não Não Não Não Não Não Não
Medical Scientific
Paula Cecilia Liason Leader
Não Não Não Não Não Não
Zeballos Cardiovascular Astra
Zeneca Argentina
Ricardo Stein Não Não Não Não Imbrasport Não Não
Rosalía Fernández Não Não Não Não Não Não Não
Salvador Serra Não Não Não Não Não Não Não
Tales de Carvalho Não Não Não Não Não Não Não
Diretriz Sul-Americana de Prevenção e
Reabilitação Cardiovascular

Diretrizes

Preâmbulo
Com este documento, o Comitê Interamericano de Prevenção e Reabilitação Cardiovascular, em posição conjunta com
a Sociedade Sul-Americana de Cardiologia, mostra seu interesse no desenvolvimento de estratégias, medidas e intervenções
para a prevenção e a reabilitação cardiovascular. Com o objetivo de implementar na América Latina uma política de saúde
regional e nacional dos países membros, tem-se o objetivo de promover a saúde cardiovascular e, consequentemente,
diminuir a morbimortalidade. O grupo de estudos em Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica do Departamento de
Exercício, Ergometria e Reabilitação Cardiovascular de Sociedade Brasileira de Cardiologia (DERC/SBC) criou uma comissão
de experts para revisar a versão em português e adaptá-la à realidade nacional.
Este documento tem como missão principal auxiliar os profissionais de saúde a alcançarem medidas efetivas de prevenção
e reabilitação cardiovascular (RCV) na prática clínica diária. Com a difusão deste documento, bem como com a sua
implementação de forma mais abrangente, contribuiremos com a meta da Organização Mundial de Saúde de diminuir a
mortalidade cardiovascular no mundo em 25% até o ano de 2025.
As prioridades deste grupo de trabalho são:
• Enfatizar o caráter prioritário da RCV como instrumento de prevenção secundária com importante impacto na
morbimortalidade cardiovascular;
• Unir esforços para melhorar o conhecimento da RCV, sua difusão e aplicação na maioria dos centros e institutos
cardiovasculares da América do Sul, priorizando a utilização de um método de prevenção cardiovascular integral, prático,
de fácil aplicação e de custo/benefício comprovado;
• Melhorar a educação do pessoal da saúde e dos pacientes por meio de programas educativos dirigidos, que permitam
envolver diretamente os sistemas de saúde, pessoal médico, pacientes e líderes comunitários sobre a importância dos
serviços de RCV, a fim de diminuir as barreiras para a sua implantação.

1 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


Diretriz Sul-Americana de Prevenção e
Reabilitação Cardiovascular

Diretrizes

I - INTRODUÇÃO 7. O baixo número de pacientes indicados para os


programas de reabilitação cardiovascular, por parte dos
Nas últimas quatro décadas, tem se reconhecido a
médicos, ocorre tanto na América Latina quanto no
RCV como um instrumento importante no cuidado dos
restante do mundo;
pacientes com doença cardiovascular (DCV). O papel
dos serviços de RCV na prevenção secundária de eventos 8. Não existem diretrizes de RCV específicas que englobem
cardiovasculares é reconhecido e aceito por todas as e que considerem as particularidades dos países da
organizações de saúde, porém não existem, até o momento, América Latina;
guias que direcionem a implementação da RCV adaptada 9. Não existe atualmente um programa de certificação de
às necessidades e aos recursos da América Latina. Por tal serviços de RCV na América Latina.
razão, a Sociedade Sul-Americana de Cardiologia teve a O desenvolvimento desta diretriz inclui uma detalhada
iniciativa de desenvolver esta diretriz. revisão dos diferentes temas expostos, bem como uma
classificação das recomendações e níveis de evidências
Justificativa para reabilitação cardiovascular/prevenção utilizadas (Tabela 1).
secundária
As razões pelas quais se devem desenvolver uma Comitê de Redação
estratégia preventiva na prática clínica, sendo esta baseada O comitê de redação foi nomeado em março de 2010
na reabilitação cardiovascular, são as seguintes: pela Sociedade Sul-Americana de Cardiologia, em um
1. As DCV são as principais causas de morte na maior parte dos trabalho conjunto com a Clínica Mayo de Rochester,
países do mundo. São causa importante de incapacidade Minnesota, nos Estados Unidos da América. Esse comitê
física e de invalidez e contribuem significativamente para é constituído por um membro das seguintes Sociedades
o aumento de despesas com saúde; de Cardiologia de América Latina: Venezuela, Brasil,
2. A aterosclerose se desenvolve de forma insidiosa durante Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Uruguai e Paraguai. Além
décadas e suas manifestações clínicas só se fazem notar destes, o comitê contou com a cooperação de um grupo
nos estágios avançados da doença; de especialistas da Clínica Mayo.
3. Em sua maior parte, as DCV possuem uma estreita relação
com estilo de vida, assim como com fatores fisiológicos II - METODOLOGIA
e bioquímicos modificáveis;
4. As modificações dos fatores de risco, promovidas pela Definição de reabilitação cardiovascular/prevenção
RCV, reduzem a morbimortalidade por DCV, sobretudo secundária
para os indivíduos classificados como de alto risco; De acordo com a Organização Mundial da Saúde
5. A carga das DCV tem crescido nas últimas décadas, (OMS), a reabilitação cardiovascular é: “o conjunto de
paralelamente ao incremento da prevalência de fatores atividades necessárias para assegurar às pessoas com doenças
de risco, como obesidade, tabagismo, diabetes melito cardiovasculares condição física, mental e social ótima, que
(DM) e hipertensão arterial sistêmica; lhes permita ocupar pelos seus próprios meios um lugar tão
6. Apesar do conhecido benefício da RCV para os normal quanto seja possível na sociedade”1.
pacientes com DCV, uma fração muito pequena, algo
entre 5 a 30% dos pacientes elegíveis para participar Definição de pacientes elegíveis para reabilitação
de um programa de reabilitação, é encaminhada para cardiovascular/prevenção secundária
o mesmo. É provável que cifras menores do que essas A evidência tem demonstrado que tanto o exercício formal
reflitam a realidade brasileira; quanto o incremento informal nos níveis de atividade física

Tabela 1 – Classificação de recomendações e níveis de evidência

Classes de recomendações
Classe I: Há acordo geral de que o método ou procedimento é benéfico, útil e efetivo. Uma indicação classe I não significa que o procedimento seja o único aceitável
Classe II: Há divergência de opinião em relação à justificativa ou utilidade do método ou procedimento. É aceitável, pode ser controverso
Classe IIa: O peso da evidência favorece a utilidade ou eficácia
Classe IIb: O peso da evidência não está muito bem estabelecido no que respeita à utilidade ou eficácia
Classe III: Há acordo geral de que o método ou procedimento não está indicado ou justificado. Em alguns casos, pode até ser perigoso
Níveis de evidência
A: Evidência sólida, proveniente de múltiplos estudos clínicos aleatórios ou metanálises, com desenho adequado para alcançar conclusões estatisticamente significativas
B: Evidência fraca, derivada de um simples estudo não aleatório, ou numerosos estudos não aleatórios
C: Opinião de especialistas, pequenos estudos ou registros

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 2


Diretriz Sul-Americana de Prevenção e
Reabilitação Cardiovascular

Diretrizes
se associam a uma acentuada redução da mortalidade em Por isso, os objetivos da reabilitação cardiovascular são:
indivíduos com e sem doença coronária2-6. Roger e cols.7, 1) Auxiliar àqueles pacientes com DCV conhecidas ou em
em estudo realizado em Olmsted - Minnesota, arrolando alto risco de as desenvolverem;
pacientes que participaram de programas de RCV, constataram
2) Reabilitar o paciente de forma integral, oferecendo suporte
uma redução de 25% na taxa de eventos cardiovasculares
para cada incremento de um equivalente metabólico (MET) nos aspectos físico, psíquico, social, vocacional e espiritual;
na capacidade funcional. Sabe-se que o incremento por cada 3) Educar os pacientes para que possam criar e aderir
mL/(kg.min) do consumo máximo de oxigênio, mediante um permanentemente à manutenção de hábitos saudáveis,
programa de RCV, produz uma diminuição da mortalidade com mudanças de estilo de vida associadas ou não ao
de aproximadamente 10%8,9. Os pacientes elegíveis para tratamento farmacológico e/ou cirúrgico;
reabilitação cardiovascular em um contexto de prevenção 4) Reduzir a incapacidade e promover uma mudança no
secundária são aqueles que apresentaram pelo menos um dos estilo de vida por meio de atitudes pró-ativas do paciente
seguintes quadros cardiovasculares no último ano: na sua saúde;
• Infarto agudo do miocárdio (IAM)/Síndrome coronariana 5) Melhorar a qualidade de vida;
aguda (SCA)
6) Prevenir eventos cardiovasculares desfavoráveis;
• Cirurgia de revascularização miocárdica
7) Adequado controle dos fatores de risco em geral.
• Angioplastia coronária
É essencial para o sucesso do programa de RCV, que as
• Angina estável intervenções sejam realizadas de comum acordo com o
• Reparação ou troca valvular provedor de saúde, o cardiologista e/ou o médico de família, a
• Transplante cardíaco ou cardiopulmonar fim de otimizar e supervisionar as intervenções a longo prazo.
• Insuficiência cardíaca crônica
• Doença vascular periférica III - DESENVOLVIMENTO DE UM PROGRAMA
• Doença coronária assintomática DE REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR
• Pacientes com alto risco de doença cardiovascular
O’Connor et al. realizaram uma metanálise de 22 Estratificação de risco dos pacientes que são indicados
estudos em pacientes pós IAM, observando uma redução de para um programa de reabilitação cardiovascular
mortalidade total, mortalidade cardiovascular e IAM fatal de Para conhecer o risco de possíveis complicações durante
20%, 22% e 25%, respectivamente10. Em estudo que incluiu o exercício, os pacientes devem ser estratificados mediante
600.000 beneficiários do sistema Medicare americano,
Suaya e cols.11 observaram que aqueles que participaram de
programa de RCV apresentaram uma redução da mortalidade Tabela 2 – Contraindicações absolutas para prática do exercício
de 34% após um a cinco anos de seguimento. físico em programa de reabilitação cardiovascular extra-hospitalar
(Fases 2, 3 e 4)
Pacientes não elegíveis para reabilitação cardiovascular
extra-hospitalar 1. Infarto agudo do miocárdio muito recente (< 72 h)
As contraindicações para realizar exercício físico 2. Angina instável (< 72 h da estabilização)
em programa de reabilitação cardiovascular têm se
3. Valvopatias graves sintomáticas com indicação cirúrgica – Reabilitar somente
modificado e são cada vez menos definitivas com o passar
após o procedimento cirúrgico
do tempo. Ainda que listadas como contraindicações
absolutas (Tabela 2), várias destas condições podem ser 4. Hipertensão arterial descontrolada: PAS > 190 mmHg e/ou PAD > 120 mmHg
consideradas só como temporárias, já que depois de 5. Insuficiência cardíaca descompensada
superado o quadro agudo, os pacientes poderão iniciar 6. Arritmias ventriculares complexas, graves
ou retomar programas regulares de exercício físico.
7. Suspeita de lesão de tronco de coronária esquerda, instabilizada ou grave
Objetivos da reabilitação cardiovascular 8. Endocardite infecciosa, miocardite, pericardite
Os pilares da reabilitação cardiovascular e da 9. Cardiopatias congênitas severas não corrigidas, sintomáticas
prevenção secundária são: mudanças no estilo de vida 10. Tromboembolismo pulmonar e tromboflebite – fase aguda
com ênfase na atividade física programada, adoção de
11. Dissecção de aorta – tipo A ou fase aguda do tipo B
hábitos alimentares saudáveis, remoção do tabagismo e do
uso de drogas em geral, além de estratégias para modular 12. Obstrução severa sintomática do trato de saída do ventrículo esquerdo com
o estresse. Um programa de RCV deve ter como objetivo, baixo débito esforço-induzido
não só melhorar o estado fisiológico, mas também o 13. Diabetes melito descontrolada
psicológico do paciente cardíaco, baseando-se em uma 14. Todo quadro infeccioso sistêmico agudo
intervenção multidisciplinar (programa de exercício,
PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica.
educação, avaliação médica, avaliação nutricional etc.).

3 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


Diretriz Sul-Americana de Prevenção e
Reabilitação Cardiovascular

Diretrizes
a classificação proposta pela Associação Americana de Segurança e monitoramento dos pacientes
Reabilitação Cardiopulmonar (AACVPR)12 (Tabela 3). As possíveis complicações cardíacas durante os
Os pacientes classificados como de baixo risco poderiam programas de reabilitação cardiovascular são: parada
ser monitorados, durante as primeiras 6 a 18 sessões, através cardíaca, arritmias, infarto agudo do miocárdio (IAM),
do uso do eletrocardiograma ou por frequencímetros e, entre outras (Tabela 4). A incidência de parada cardíaca
preferencialmente, com supervisão clínica. A redução é relativamente baixa. De acordo com estudos realizados
no monitoramento entre as sessões 8 e 12 é desejável, por Van Camp e Peterson 13, com dados de 167 programas
ocorrendo progressivamente. Esses pacientes de baixo risco, de RCV americanos, que incluíram 51.303 pacientes,
dependendo da avaliação individual, também poderiam ser mais de duas milhões de horas de exercício durante o
candidatos a programas de RCV semissupervisionados ou período entre 1980-1984 foram realizadas. Nesse período,
com supervisão a distância. detectaram-se 21 paradas cardíacas, sendo 18 pacientes
reanimados e tendo como desfecho sobrevivência
Os pacientes classificados como de risco intermediário (somente três eventos foram fatais)13. Estima-se que o risco
deveriam ser monitorados durante as primeiras 12 a 24 sessões, de uma complicação maior, como parada cardíaca, morte
preferencialmente com monitoramento eletrocardiográfico ou IAM, seja de um evento por cada 60.000-80.000 horas
contínuo e supervisão clínica permanente, com diminuição para de exercício supervisionado14.
uma forma intermitente depois da última sessão. A frequência
Para conseguir uma maior segurança durante o exercício
e os métodos de monitoramento dependem também dos
físico em uma sessão de reabilitação, aconselha-se realizar
recursos disponíveis, da capacidade e volume de pacientes
avaliação integral do paciente, com o objetivo de conhecer
em cada instituição, além da evolução e estado do paciente12.
o grau de risco cardiovascular, a prescrição individual do
Uma supervisão maior dever ser realizada em pacientes exercício e o monitoramento adequado. A supervisão médica
estratificados como alto risco e quando existir alguma mudança no é o fator de segurança mais importante na RCV. Durante a
estado de saúde, surgimento de novos sintomas ou outra evidência sessão de exercício, sugere-se preferentemente a presença
de progressão da doença. O monitoramento também pode ser de um médico especialista em RCV com conhecimento na
uma ferramenta útil para avaliar a resposta, especialmente quando gestão das complicações. Na ausência de tal especialista,
se aumenta a intensidade do exercício aeróbico. é indicada a presença de pessoal capacitado na reanimação

Tabela 3 – Estratificação para risco de eventos segundo AACVPR

Baixo risco
1. Sem disfunção significativa do ventrículo esquerdo (fração de ejeção > que 50%)
2. Sem arritmias complexas em repouso ou induzidas pelo exercício
3. Infarto do miocárdio; cirurgia de revascularização miocárdica, angioplastia coronária transluminal percutânea, não complicados
4. Ausência de insuficiência cardíaca congestiva ou sinais/sintomas que indiquem isquemia pós-evento
5. Assintomático, incluindo ausência de angina com o esforço ou no período de recuperação
6. Capacidade funcional igual ou > que 7 METS (em teste ergométrico incremental)*

Risco Moderado
1. Disfunção ventricular esquerda moderada (fração de ejeção entre 40% e 49%)
2. Sinais/sintomas, incluindo angina em níveis moderados de exercício (5 - 6,9 METS) ou no período de recuperação

Alto risco
1. Disfunção grave da função do ventrículo esquerdo (fração de ejeção menor que 40%)
2. Sobreviventes de parada cardíaca ou morte súbita
3. Arritmias ventriculares complexas em repouso ou com o exercício
4. Infarto de miocárdio ou cirurgia cardíaca complicadas com choque cardiogênico; insuficiência cardíaca congestiva e/ou sinais/sintomas de isquemia pós-procedimento
5. Hemodinâmica anormal com o exercício (especialmente curva deprimida ou queda da pressão arterial sistólica, ou incompetência cronotrópica não medicamentosa com
o incremento da carga)
6. Capacidade funcional menor a 5 METS*
7. Sintomas e/ou sinais, incluindo angina a baixo nível de exercício (< 5 METS) ou no período de recuperação
8. Infradesnível do segmento ST isquêmico durante exercício (maior a 2 mm)
Considera-se de alto risco a presença de algum dos fatores de risco incluídos nesta categoria
*Se não se pode dispor da medida da capacidade funcional, esta variável não deve ser considerada isoladamente no processo da estratificação de risco. No entanto, é
sugerido que se o paciente é capaz de subir dois lances de escadas apresentando boa tolerância, pode-se inferir que sua capacidade funcional é pelo menos moderada.

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 4


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Tabela 4 – Taxa de eventos em reabilitação cardiovascular3 no manejo de fatores de risco cardiovascular, avaliação e
intervenção básica no aspecto psicossocial e modificação de
Em pacientes com doença cardíaca que realizam atividade física regular tem condutas e estilo de vida.
sido descrito:
Taxa de eventos de um por 112.000 pacientes/hora Fases da reabilitação cardiovascular
Taxa de infarto do miocárdio de um por 300.000 pacientes/hora
Taxa de mortalidade de um por 790.000 pacientes/hora
Numerosas investigações têm demonstrado a importância
da atividade física precoce e progressiva dentro de um
O risco de morte é de aproximadamente um por cada 60.000 participantes/
hora durante os programas de reabilitação cardiovascular com exercício físico
programa de RCV, depois de um IAM ou procedimento de
supervisionado e médico presente no local da mesma revascularização miocárdica. O programa consiste de 3 a 4
fases (Tabela 7), segundo as diferentes escolas12,17.

Avaliação inicial do paciente


cardiovascular de emergência. É importante salientar que A avaliação inicial do paciente, ao ingressar em um
os pacientes devem ser educados quanto a sua autoavaliação, programa de reabilitação, deve incluir uma coleta de dados
que inclui a presença de sintomas, percepção de esforço mediante uma exaustiva e minuciosa história clínica, que
durante o exercício, bem-estar, limites de risco e medidas deve conter antecedentes do paciente que incluam cirurgias
imediatas que deverão adotar, tais como informar ao grupo e comorbidades, tais como: doenças cardiovasculares, renais,
de reabilitação sua sintomatologia, assim como proceder pulmonares, musculoesqueléticas, depressão e outras. Caráter
com a suspensão imediata do exercício15,16. primordial na valoração inicial é a identificação de fatores
As orientações relacionadas com a supervisão clínica dos de risco cardiovasculares: tabagismo, hábitos alimentares,
pacientes durante os programas de prevenção secundária pressão arterial, DM, dislipidemia, obesidade, sedentarismo
continuam sendo uma área de discussão 12. O grau de e estresse. Além das informações sobre uso de medicamentos,
supervisão médica está relacionado à idade, ao diagnóstico é importante conhecer a situação econômica, educativa e
e às comorbidades do paciente que participa do programa social do paciente.
de reabilitação, além do momento em que ele se encontra O exame físico incluirá uma avaliação do sistema
face ao evento cardiovascular e à evolução que ocorra cardiovascular completo: PA, frequência cardíaca, ruídos
durante as sessões. e sopros cardíacos, palpação de pulsos periféricos,
O número de sessões monitoradas através do mudanças da coloração da pele, além de descartar
eletrocardiograma não é medida de valor clínico do alterações musculoesqueléticas que impeçam seu
programa de exercício. Este tipo de monitoramento serve ingresso ao programa ou gerem restrições à execução de
como uma das técnicas que o grupo pode empregar para a alguns exercícios. Exame do sistema respiratório avaliará
supervisão dos pacientes12,15. frequência respiratória, presença ou não de ruídos
anormais, característicos de patologias pulmonares16,18.
Componentes do programa de reabilitação cardiovascular
Um “centro” é considerado centro de reabilitação quando
Segundo a declaração do consenso da Associação conta com uma área para realizar atividade física, recursos
Americana do Coração, a Associação Americana de humanos competentes e treinados, equipamentos adequados
Reabilitação Cardiopulmonar e o Colégio Americano de para a realização de exercícios físicos, equipamento para
Cardiologia (AHA/AACVPR/ACC)12, um programa de RCV situações de emergência (material de suporte básico e
compreende o cuidado integral de pacientes com DCV e avançado de vida com desfibrilador) e pessoal médico
insuficiência cardíaca crônica (evidência classe I). A RCV disponível na área para cobrir situações de emergência, além
deve incluir uma abordagem multidisciplinar consistente, não de considerar a implementação de protocolos de manejo de
somente em relação aos exercícios, mas também quanto ao pacientes em reabilitação segundo a patologia.
trabalho educativo, visando o controle dos fatores de risco,
mediante uma modificação do estilo de vida. Os componentes Prescrição do exercício
do programa de RCV estão na Tabela 5.
A prescrição do exercício sempre deve ser considerada
individualmente de acordo com cada etapa e levando em
Competência do recurso humano
conta as limitações individuais ou comorbidades (ortopédicas,
Um programa de RCV é integrado por uma equipe neurológicas, respiratórias, nefrológicas, entre outras).
multidisciplinar (Tabela 6), que requer as seguintes
competências: conhecimento básico nas áreas cardiovascular,
pulmonar e musculoesquelética, interpretação do Fase 1
eletrocardiograma, manejo de emergências médicas e Durante a Fase 1, ou seja, nos hospitais, temos a
conhecimentos em teoria e prática do exercício físico. oportunidade de ver o paciente em um momento muito
O núcleo da equipe é formado por médicos, enfermeiras receptivo. Na maioria dos casos, as pessoas estão muito
e especialistas em exercícios, com a opção de agregar vulneráveis e contemplativas a novas propostas para a
especialistas em outras disciplinas para fornecer ao paciente mudança do estilo de vida. Além dos exercícios, que se
atendimento e educação completa (Nutricionista, Psicólogo realizam sempre em baixa intensidade com o objetivo da
entre outros). O núcleo da equipe deve ter experiência movimentação precoce, também temos a oportunidade de

5 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Tabela 5 – Componentes de um programa de reabilitação cardiovascular

Classe
Intervenções Metas/resultados
(Nível de Evidência)
• História clínica • No curto prazo, documentar evidências
Avaliação do paciente I(A) do atendimento ao paciente que guiem
• Exame físico
o desenvolvimento de estratégias de
• Exames auxiliares: prevenção
• ECG, Teste de exercício* I(A)
• Evitar complicações durante as
• Teste de Caminhada de 6 min* sessões de reabilitação cardiovascular
• Análise de Laboratório** e outros***
• Informe psicológico de depressão e II(B) • Conseguir a adesão do paciente
qualidade de vida ao programa de Reabilitação
• Prescrição do exercício Cardiovascular

Educação • Conselho nutricional à família e ao • Controle do peso e modificação de


paciente sobre: fatores de risco

• Controle da diabetes I (A) • Abstinência de fumar a longo prazo


• Controle do peso
• Controle do tabagismo I (B) • Conseguir uma PA < 130/80
• Controle da pressão arterial
• Manejo psicológico • Controle da glicemia em jejum < de
100 mg/dl

• Dieta I (C) • Em caso de obesidade, elaborar uma


estratégia para redução de peso de no
mínimo 5% a 10% do inicial
Recursos Humanos:
• Dirige o programa e prescreve os • É importante que cada programa de
Médico cardiologista ou médico do limites de segurança do exercício; faz reabilitação cardiovascular possua
exercício habilitado avaliação do paciente e elabora história uma equipe formada, especializada e
clínica. Realiza o teste de exercício comprometida

• Executa as indicações do médico • O médico a cargo de reabilitação,


• Contribuí na educação do paciente em preferentemente, deve estar presente
relação ao conhecimento da própria durante as sessões de exercício ou
Enfermeira doença, sinais e sintomas, uso correto disponível imediatamente
de medicações, adoção de hábitos de
vida saudáveis e importância da prática
regular dos exercícios, sempre em
conjunto com a equipe multidisciplinar

• Deve ter conhecimentos em


reanimação cardiopulmonar básica e
avançada
• Educa os pacientes em relação aos
exercícios e hábitos de vida saudáveis
• Aplica o exercício físico aeróbico, de
Especialista em exercício (Educador resistência muscular e de flexibilidade
físico e/ou fisioterapeuta) • Prescreve o modo de execução dos
exercícios de acordo com os limites
de segurança definidos pelo médico,
quadro clínico do paciente, preferências
individuais, experiências prévias
com exercício e eventuais limitações
osteo-mio-articulares
• Avalia e fornece ao paciente uma dieta
individualizada para controlar os fatores
Nutricionista
de risco, além de abordar aspectos
educativos sobre o assunto
• Realiza o exame de qualidade de
vida e o teste de depressão, assim
Psicólogo como proporciona apoio psicológico
e terapias de relaxamento para os
pacientes que as requeiram
Continuação
• Educa e aconselha o paciente e a
família para enfrentar a doença;
Assistente • Coordena, com o paciente e a
social família, os problemas relativos à sua Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 6
hospitalização ou ao seu trabalho, além
de lidar com a suspensão do fumo.
Academia de reabilitação
cardiovascular:
• Esteiras ergométricas
• Bicicletas estáticas
físico e/ou fisioterapeuta) • Prescreve o modo de execução dos
exercícios de acordo com os limites
de segurança definidos pelo médico,
quadro clínico do paciente, preferências
individuais, experiências prévias
com exercício e eventuais limitações
osteo-mio-articulares.
• Avalia e fornece ao paciente uma dieta
individualizada para controlar os fatores
Nutricionista
Diretriz Sul-Americana de Prevenção e de risco, além de abordar aspectos
Reabilitação Cardiovascular
educativos sobre o assunto.

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• Realiza o exame de qualidade de
vida e o teste de depressão, assim
Psicólogo como proporciona apoio psicológico
e terapias de relaxamento para os
pacientes que as requeiram.
Continuação
• Educa e aconselha o paciente e a
família para enfrentar a doença
Assistente • Coordena, com o paciente e a
social família, os problemas relativos à sua
hospitalização ou ao seu trabalho, além
de lidar com a suspensão do fumo
Academia de reabilitação
cardiovascular:
• Esteiras ergométricas
• Bicicletas estáticas
• Simulador de caminhadas
• Macas
• Pesos
Recurso materiais • Ergômetro de mão
• Bandas elásticas
• Cronômetros
• Carro de parada totalmente equipado
• Esfigmomanômetros
• Estetoscópios
• Eletrocardiógrafo
• Outros
*Teste de exercício (ergometria, teste cardiopulmonar ou teste da caminhada dos 6 minutos): embora não seja indispensável para começar com a reabilitação, é um
exame por demais recomendado, já que colabora com uma prescrição de exercício otimizada e ajuda a evidenciar as mudanças na capacidade funcional do paciente.
O momento ideal para realizar o teste é no começo e no final da fase 2. Está claro que é mais útil em algumas patologias, tais como pós-infarto, insuficiência cardíaca,
pós-transplante, e menos útil em pacientes que foram submetidos à cirurgia de revascularização cardíaca recente.
**Hemoglobina, glicemia, perfil lipídico, CPK, ácido úrico, hemoglobina glicosilada, transaminases hepáticas e outros exames bioquímicos segundo o caso.
***Ecocardiograma, se possível incluindo a avaliação da fração de ejeção.

trabalhar na educação, repassar informação sobre a doença frequência22. A duração da Fase 2 é variável, dependendo
e sobre a importância de controlar os fatores de risco19. de cada paciente, mas em média dura de um a três meses23.
Os exercícios podem ser iniciados imediatamente depois da Os exercícios devem ser iniciados com baixa intensidade
estabilização da doença: e baixo impacto nas primeiras semanas, para adaptação
• Nos casos de síndromes coronarianas agudas, depois das inicial e prevenção de lesões musculoesqueléticas24,25.
primeiras 24 a 48 horas, com ausência de sintomas; Exercício aeróbico: a intensidade do exercício aeróbico
• Nos casos de insuficiência cardíaca, depois da melhoria deve se ajustar ao quadro clínico, estratificação de risco e
da dispneia, exercícios suaves de movimentação e objetivos do paciente. Idealmente, deve-se realizar um teste
alongamentos também podem ser iniciados tão logo o de esforço (teste ergométrico ou teste cardiopulmonar) para
paciente possa deambular; avaliar a resposta eletrocardiográfica, capacidade física,
resposta cronotrópica e pressórica ao esforço para permitir
• Nos casos de cirurgias cardíacas, especialmente nos dias
melhor individualização da intensidade da prescrição dos
anteriores à intervenção, um programa de exercícios de
exercícios físicos. Para não atrasar o início da reabilitação, as
respiração, alongamentos e movimentação progressiva,
avaliações iniciais dos fisioterapeutas ou educadores físicos
seguido da terapia física depois da cirurgia, proporciona
nas primeiras sessões de familiarização ajudam a prescrever
uma redução significativa das complicações respiratórias,
o exercício antes da realização do teste de exercício22, caso
arritmias e a duração da permanência hospitalar depois
este seja imediatamente indisponível.
do procedimento cirúrgico19-21.
A intensidade dos exercícios aeróbicos, os quais são
Embora seja difícil generalizar a recomendação, no
orientados para a obtenção de maiores benefícios para o
momento de começar os exercícios no hospital, pode-se
sistema cardiovascular e para o metabolismo, tem sido objeto
avaliar o paciente e determinar os melhores exercícios
de investigações26. Os exercícios mais intensos são mais
a serem realizados naquele momento, desde exercícios
eficazes na melhoria de resistência à insulina, redução da PA
passivos a ativos e caminhadas de intensidade leve, que serão
e para promover uma maior redução de peso em comparação
progredidos individualmente até a alta hospitalar.
com os moderados27,28.
Se o teste cardiopulmonar estiver disponível,
Fase 2 a frequência de treinamento pode ser aquela frequência
Nesta etapa, o paciente necessita vigilância e cardíaca observada neste exame, até que tenha sido
atendimento de forma individualizada, já que está na fase atingido o limiar anaeróbico. Em caso de teste ergométrico
de convalescença e, com frequência, sem nenhum contato sem análise dos gases expirados, utiliza-se 60-80% da
prévio com as atividades físicas formais. A prescrição frequência cardíaca máxima alcançada ou entre 50 a
de exercício deve incluir o tipo, intensidade, duração e 70% da FC de reserva. Nas primeiras sessões, sugere-se

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Tabela 6 – Competência do recurso humano em um programa de reabilitação cardiovascular

Recurso humano Competência

• Sua função principal é ser o líder da equipe multidisciplinar


• Deve ser um médico com experiência em exercícios, de preferência cardiologista. Caso não haja esse profissional, será um médico
com experiência em exercício e prevenção secundária, conhecedor do manejo das doenças cardiovasculares
Diretor médico
• Experiência, treinamento e habilidades em gerenciamento
• Responsabilidade específica na avaliação e no manejo de pacientes que ingressam no programa
• Treinamento aprovado em reanimação cardiopulmonar avançada
• Demonstrar competência e experiência em reabilitação cardiovascular
• Demonstrar treinamento em reanimação cardiopulmonar
• Colaborar com os testes de esforço na preparação da pele para adesão dos eletrodos
Enfermeira • Embora preferentemente realizada pelo médico, poderá, em alguns casos específicos, realizar, individualmente ou com reuniões em
grupo, a educação do paciente em relação ao conhecimento da doença, sinais e sintomas, uso correto de medicações, adoção de
hábitos de vida saudáveis e a importância da prática regular dos exercícios, em conjunto com a equipe multidisciplinar
• Demonstrar conhecimentos básicos do exercício e treinamento físico
• Executar a prescrição do médico (somente a nível hospitalar em relação às medicações)

• Possuir conhecimento do sistema cardiovascular e as suas doenças


• Ter conhecimentos de prevenção cardiopulmonar primária e secundária
• Ter conhecimento de reanimação cardiopulmonar básica e avançada
• Saber reconhecer sinais e sintomas de instabilizações cardiovasculares
Especialista em exercício • Realizar a rotina de exercícios
(Fisioterapeuta e educador físico) • Dar informações ao paciente acerca dos problemas e benefícios do exercício e da atividade física
• Educar o paciente em relação à adoção de hábitos de vida saudáveis
• Ser o responsável pela coordenação e condução do programa supervisionado de exercícios
• Prescrever o modo de execução dos exercícios de acordo com os limites definidos de segurança estabelecidos pelo médico, quadro
clínico do paciente, preferências individuais, experiências prévias com exercícios e eventuais limitações osteo-mio-articulares

• Ter conhecimento do sistema cardiovascular e suas doenças, assim como sobre o exercício físico
• Conhecer o programa de reabilitação cardiovascular e seus objetivos
Nutricionista
• Avaliar o paciente e identificar seus fatores de risco
• Dar informações ao paciente acerca da modificação de fatores de risco e traçar metas para conseguir uma dieta saudável

• Possuir conhecimento do sistema cardiovascular e suas doenças


• Possuir conhecimento em programa de reabilitação cardiovascular e seus objetivos
Assistente social • Realizar a coordenação com o paciente e a família, a fim de manter as condições necessárias para a reabilitação do paciente
• Trabalhar com o psicólogo no apoio ao paciente
• Dar informações ao paciente acerca das suas obrigações e seus benefícios sociais

executar os exercícios no limite inferior da prescrição para e sem desconfortos, sempre respeitando as limitações
que ocorra posterior progressão nas sessões seguintes, de musculoesqueléticas. Podem ser realizados no começo e,
acordo com a resposta e evolução individual. Os exercícios principalmente, no final das sessões de reabilitação29.
também são realizados abaixo do limiar isquêmico, ou
seja, abaixo da FC e carga que levem a indução de sinais
clínicos e/ou eletrocardiográficos de isquemia miocárdica Fase 3 e 4
quando no esforço. Estas fases têm uma duração indefinida23. A diferença
A duração deve ser de no mínimo 30 minutos, podendo entre ambas está, principalmente, no fato de que a Fase 4
progredir até uma hora de exercício contínuo ou intermitente. se consegue com controle a distância, também conhecida
As sessões podem ser de duas a cinco vezes por semana, como reabilitação sem supervisão. Em essência, a prescrição
ficando em uma média de três vezes. destas duas fases é muito similar porque os exercícios
prescritos são parte da vida cotidiana. A prescrição deve
Exercício de resistência: exercícios de fortalecimento
ser atualizada periodicamente para adaptar-se ao perfil e
muscular devem ser iniciados gradativamente com cargas leves
comorbidades de cada paciente. Sugere-se, para iniciar a
e progredidos ao longo das sessões12,22. Nesta fase, os objetivos
são familiarizar-se com os exercícios, executando com a terceira fase, uma reavaliação, que se pode ser repetida
postura correta e a progressão gradual das cargas. Podem ser a cada 6 a 12 meses.
realizados de duas a três vezes por semana, com repetições de Exercício aeróbico: Em pacientes assintomáticos, a FC
6 a 15 por grupo muscular, a intervalos de 30 segundos a um de treinamento deve estar entre 70% a 90% da FC máxima
minuto. Exercícios de flexibilidade: Também conhecido como alcançada no teste ergométrico, entre 50% a 80% da FC de
alongamentos. Devem ser realizados de maneira progressiva reserva ou entre o primeiro e o segundo limiar obtido no TCP.

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Tabela 7 – Fases de um programa de reabilitação cardiovascular12.

Fases Duração Objetivos Recomendações Alcance

• Realiza-se na cama do
paciente, no quarto ou
• Prevenir perda de corredor do hospital
capacidade física • Pode-se utilizar
Fase 1: • Evitar efeitos do repouso monitoramento
Hospitalizado prolongado • Realiza-se uma avaliação
depois de um evento
• Evitar a depressão prévia
cardiovascular: síndrome Inicia desde as 48 horas
coronária aguda ou • Evitar complicações • Podem-se realizar várias
posteriores ao evento agudo respiratórias e sessões ao dia, mas de
pós-intervenção (ACTP) ou até a alta hospitalar
uma cirurgia cardíaca de tromboembólicas curta duração
revascularização, prótese • Facilitar a alta precoce • Inicialmente, os
valvular ou correção de • Dar informações ao exercícios serão • Chegar em condições
cardiopatia congênita paciente e família sobre passivos e progredidos de iniciar a Fase II da
a doença e os cuidados gradativamente, com reabilitação cardiovascular
básicos exercícios ativos,
caminhadas e outros, até a
alta hospitalar

• Melhorar a capacidade
Fase 2: funcional do paciente
Reabilitação cardiovascular Média de duração de três • Chegar em condições
• Conseguir modificações
após a alta meses, com três a cinco físicas e psicológicas
dos fatores de risco
Realiza-se em academia ou sessões semanais adequadas para começar
• Conseguir recuperar a a fase 3 de reabilitação
centro de reabilitação autoconfiança do paciente
depois do evento cardíaco

• O paciente ingressa nesta


• Aumentar ou manter a etapa quando atinge
capacidade funcional estabilização do quadro e
evolução nos exercícios
• Continuar com o plano de
exercícios • Os pacientes controlam a
Três a cinco sessões intensidade do exercício
• Controle da pressão • Conseguir realizar
Fase 3: semanais e duração de três realizado segundo a
arterial atividade física de forma
Manutenção precoce a seis meses (podendo se escala de Borg (Tabela 10)
• Controle da glicemia e segura, com normas
estender em alguns casos) e mediante o controle da
colesterol básicas de autocuidado
frequência cardíaca
• Controle do peso e
• É necessária a avaliação e
adequada nutrição
seguimento da adesão ao
• Busca e garante o tratamento medicamentoso
bem-estar psicológico e às medidas não
farmacológicas
• Reforçar a educação dada
Seu término é indefinido e • Ajudar o paciente
Fase 4: sua periodicidade dependerá • Conseguir mudanças
nas dificuldades para
Manutenção tardia do estado clínico, da permanentes com um estilo
• Ajudar o paciente a manter desprender-se dos
Início depois de completar patologia e da evolução de de vida saudável, atividade
um estilo de vida saudável maus hábitos
Fase 2 e 3 cada paciente, tal como dos física e controle adequado
• Motivar e gerar dos fatores de risco
componentes do seguimento estratégias para manter
estilo de vida saudável

Os exercícios também são realizados abaixo do limiar repetições, porém, sem falha do movimento. Idealmente,
isquêmico, ou seja, abaixo da FC e da carga que levem devem ser realizados três vezes por semana. Como alternativa
a indução de sinais clínicos e/ou eletrocardiográficos de ao exercício convencional com pesos livres ou aparelhos de
isquemia miocárdica em esforço. Em casos selecionados de musculação, pode-se utilizar o método Pilates, com práticas
pacientes com sintomas como angina estável, a frequência de resistência combinadas com flexibilidade e respiração12,30.
cardíaca máxima pode ser logo abaixo àquela na qual A flexibilidade deve ser parte das aulas de ginástica
apareçam os sintomas, mesmo que o ECG mostre sinais podendo ser no começo e/ou, preferencialmente, no final
indiretos de isquemia. de cada sessão. Pode haver combinação de práticas como
Exercícios de resistência: Os exercícios de resistência devem a Ioga, o Tai Chi Chuan ou outras, as quais podem auxiliar
ser executados em séries de 8 a 15 repetições, com cargas na redução da PA31, assim como o incremento no consumo
progressivas, suficientes para causar fadiga nas últimas três máximo de oxigênio32.

9 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Exercícios de equilíbrio: São de caráter fundamental e os exercícios são realizados em intensidade em que se
se recomenda realizá-los de duas a três vezes por semana, sente a respiração mais ofegante, porém, sem um grau de
principalmente na população de idade avançada, com o taquipneia que impeça o paciente de completar uma frase.
objetivo de manter a autossuficiência nesse grupo etário e • Especificidade do treinamento: Considerar, em alguns
ajudar a prevenir fraturas em consequência de quedas13. casos, treinar o paciente levando em conta os grupos
musculares que utiliza habitualmente no seu dia a dia
Componentes do exercício laboral, gerando desta maneira maior força muscular
O programa de treinamento deverá levar em conta os para o trabalho diário12,25.
seguintes pontos:
• Frequência de treinamento: Ela deverá ser de, no Componente de cada sessão
mínimo, três vezes por semana. Seria ideal incentivar a) Aquecimento: Momento no qual se incorporam grupos
o paciente a realizar atividade física diária (caminhar, musculares de forma progressiva; primeiro, pequenos grupos e,
subir escadas, pedalar)12,22. depois, são envolvidos grupos musculares de maior envergadura.
• Duração de cada sessão: A duração aconselhada é de Inicialmente, realizam-se exercícios de forma lenta, para depois
40 a 60 minutos/dia. aumentar as repetições cada vez em menor tempo. Depois de
cinco minutos aproximadamente, realiza-se um aquecimento
• Intensidade do treinamento: Esta pode ser controlada pela mais intenso, que inclui trote ou algum outro exercício de maior
frequência cardíaca de treinamento (FCT). Nesta estratégia, intensidade (duração de um a três minutos). Em geral, quando um
busca-se realizar os exercícios prescritos entre 70% e paciente inicia a reabilitação, o aquecimento é mais prolongado.
90% da frequência máxima (FCM) alcançada no teste de Antes da primeira sessão é conveniente que algum teste seja
exercício. Outra prática comum é a utilização da FC de realizado. O objetivo do exame é o de permitir uma análise
reserva, utilizando-se a fórmula de Karvonen (50% a 80% objetiva do estado atual do paciente (teste da caminhada dos
da FCR)33,34. 6 minutos, por exemplo)12,29,36,37.
Fórmula de Karvonen: FCT = FC repouso + (0,5 a 0,8) x b) Treinamento propriamente: Pode-se realizar
(FCM - FC repouso). com cicloergômetro, esteiras rolantes, escalador ou
A percepção subjetiva do esforço por parte do paciente simplesmente com caminhadas/trote guiado por pessoal
sempre deverá ser interrogada. Para isso, utiliza-se a treinado. Habitualmente se começa com um treinamento
escala de percepção de esforço de Borg35 (RPE ou Rating de curta duração (15 minutos) durante a primeira sessão
Perceived Exertion) (Tabela 8). e com uma progressão semanal ou por sessão, de acordo
Subjetivamente, também se pode considerar o teste com o caso. Esta fase deverá estar atrelada ao tempo e
da fala, com a percepção da própria ventilação, ou seja, intensidade do exercício.
A frequência de cardíaca de treinamento é determinada de
acordo com o método de prescrição e/ou resultado do teste de
Tabela 8 – Escala de Borg para classificar o esforço percebido35 exercício, conforme discutido previamente. O objetivo é atingir
e manter esta FC durante a execução dos exercícios aeróbicos
6 Nenhum esforço
contínuos ou intervalados. Além disso, é conveniente agregar
exercícios de resistência a cada sessão12.
7 Muito, muito leve
c) Volta à calma: Todas as sessões devem levar em conta
8 Muito leve que, nos últimos minutos, o paciente deve recuperar os valores
9 Muito leve de frequência cardíaca e PA iniciais. O método usado para
10 conseguir este objetivo é variado, mas não devem faltar alguns
elementos, tais como: redução gradual da carga de exercício
11
aeróbico, utilização do alongamento, repouso em cadeira ou
12 Moderado colchão e técnicas de respiração (respiração abdominal)12,29.
13
14 Forte ou duro Tipos de exercício
15 Os exercícios podem se dividir em isotônicos ou
16 Muito forte ou muito duro dinâmicos e isométricos ou estáticos:
17 • O exercício isotônico ou dinâmico gera mudanças
no comprimento muscular com contrações rítmicas,
18
movimentos articulares e escasso desenvolvimento de
19 Muito, muito forte força. Este exercício provoca um aumento importante
20 Exaustão total no consumo de oxigênio, volume sistólico e frequência
cardíaca. A pressão arterial sistólica aumenta e a diastólica
As equivalências entre a sensação subjetiva de esforço (Borg) e a
intensidade de exercício poderiam resumir-se em: < 12: leve = 40-60% pode diminuir pela queda da resistência periférica total16.
do máximo; 12-14: moderado, levemente forte = 60-75% do máximo; • O exercício isométrico ou estático provoca um
> 14: forte intenso = 75-90% do máximo. incremento da força muscular com pouca mudança

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no comprimento do músculo. Durante este exercício, físicos programados, como também a educação que se
a pressão arterial sistólica aumenta de forma proporciona ao paciente, seja ela em relação à prevenção
significativa, a frequência cardíaca e o volume sistólico cardiovascular, mas também no que diz respeito ao adequado
sofrem incrementos menores do que os observados no manejo dos fatores de risco12.
exercício dinâmico16.
Entretanto, na prática, a maioria das atividades apresenta Obesidade e sobrepeso
uma combinação destes dois tipos de exercícios em
magnitudes variadas e a resposta hemodinâmica depende de
qual será executado com maior intensidade. Definição e fatos
Quanto aos tipos de treinamento, os mais relevantes são O sobrepeso e a obesidade têm aumentado sua
o contínuo e o intervalado: incidência e prevalência em todo o planeta em níveis
alarmantes. A obesidade é considerada uma epidemia
• Treinamento contínuo: É aquele que se baseia em um
mundial, tanto em crianças quanto em adultos, alcançando
esforço constante durante um tempo determinado.
quase um terço da população mundial. Segundo o estudo
Preferentemente, é de moderada intensidade para que
INTERHEART, o fator de risco cardiovascular mais
possa durar por mais tempo. Relaciona-se, geralmente,
prevalente é a obesidade abdominal, cuja prevalência é
à caminhada ou à corrida de intensidade moderada
constante, sendo que a velocidade de execução e de 48,6% na América Latina, comparada com 31,2% dos
o comportamento das variáveis cardiopulmonares outros países participantes41. A alimentação com excesso
dependerão do quadro clínico e da capacidade física de calorias, rica em carboidratos simples e gorduras
individual. O tempo mínimo sugerido para se manter saturadas, associada ao sedentarismo são responsáveis
este tipo de esforço oscila entre 20-30 minutos por por esta epidemia mundial.
sessão38,39. O mesmo se pode realizar em diferentes O aumento da gordura se associa ao aumento dos ácidos
intensidades (Tabela 9). graxos livres, hiperinsulinemia, resistência à insulina, DM,
• Treinamento intervalado: Define-se como um exercício hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. Os efeitos da
ou uma série deles, composto por períodos de esforço obesidade sobre o risco cardiovascular global impacta de
alternados com períodos de recuperação ativos ou forma muito marcada. O obeso tem maior frequência e
passivos. Quando o esforço é de alta ou moderada incidência de outros fatores de risco. No entanto, o risco
intensidade, usam-se intervalos ativos, com exercícios manifesta-se também de forma direta, uma vez que a gordura,
iguais ou diferentes daqueles com os quais se está particularmente a visceral intra-abdominal, é um órgão
trabalhando, mas com intensidade menor40. Caso a endócrino, metabolicamente ativo, que sintetiza e libera na
capacidade funcional do paciente seja baixa, podem ser circulação sanguínea diferentes peptídeos e outros compostos
utilizados intervalos de recuperação passivos. Em tais não peptídicos que participam da homeostase cardiovascular.
pacientes, esse modo de treinamento com alternância de O obeso perde em maior ou menor grau esse equilíbrio e
cargas pode ser a única forma de começar um programa assim o risco também aumenta.
de exercício em virtude da baixa tolerância à aplicação de O cálculo do índice de massa corporal (IMC) tem sido
cargas contínuas. A progressão realiza-se gradativamente, proposto pelo Instituto Nacional da Saúde dos Estados Unidos
incrementando os períodos de atividade e diminuindo (NHLBI)42 e pela Organização Mundial da Saúde (OMS)43
os de descanso ou substituindo-os por atividade de como o método convencional para diagnosticar sobrepeso
menor intensidade (mudança para recuperação ativa). e obesidade. Em adultos, o sobrepeso é definido por um
Antes de iniciar esta atividade, é preciso realizar um aumento do valor do IMC de 25 a 29,9 kg/m2 e obesidade
pré-aquecimento prolongado e, ao terminar a sessão, quando o valor é igual ou superior a 30 kg/m2 42,43.
uma recuperação de baixa intensidade38. Embora o IMC seja um método simples para detectar
sujeitos com aumento considerável de gordura corporal,
Educação particularmente em âmbito populacional, estudos
Como se mencionou anteriormente, um programa recentes têm questionado a sua validade para diagnosticar
multidisciplinar de RCV não só inclui o plano de exercícios obesidade individual 44-46 . Numerosos estudos têm

Tabela 9 – Exemplos de treinamento contínuo

Tipo de atividade Velocidade Comportamento


Caminhada lenta 4-5 km/hora Consegue conversar
Caminhada moderada 5-6 km/hora Mantém uma conversação com dificuldade
Caminhada rápida > 6 km/hora Conversa com frases curtas
Trote leve 6 a 7 km/hora Consegue conversar
Trote mais intenso 7 a 9 km/hora Conversa com frases curtas

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demonstrado que medidas de obesidade central se Sedentarismo (inatividade física)
correlacionam melhor com risco de DCV que o IMC47.
Portanto, é mais importante determinar se existe aumento
Definição e fatos
da gordura abdominal que definir peso corporal em
relação à altura. Uma maneira simples de sabê-lo é A percentagem da população inativa na América Latina
medindo o perímetro de cintura com uma fita métrica, oscila entre o 25% e 75%, faixa muito alta devido à diferença
seja no nível do umbigo ou 2,5 cm acima da crista ilíaca. que existe entre os estudos realizados em cada região. As
Os pontos de corte recomendados para diagnosticar pessoas que permanecem sedentárias têm maior risco de
obesidade central, usando a circunferência de cintura, morte e um risco duas vezes maior de padecer de doenças
são: ≥ 94 cm para o homem e ≥ 80 cm para a mulher. cardiovasculares se comparadas a pessoas fisicamente ativas51.
Se for utilizado o índice de cintura-quadril, os valores para
diagnosticar obesidade central são: ≥ 0,9 para o homem Desafios e objetivos
e ≥ 0,85 para a mulher. Todos estes cálculos têm sido
• Iniciar, recondicionar e educar o paciente quanto à
estabelecidos para a raça branca. Outros parâmetros e
prescrição do exercício;
outras determinações seriam necessários para a variedade
de raças da América Latina48,49. • Motivar a manutenção do exercício de forma indefinida
(30-60 minutos de exercício moderado de 5 a 7 dias por
Outros métodos de medição da gordura corporal
semana) (classe I, nível de evidência B);
utilizados são a tomografia axial computorizada, o ultrassom,
a ressonância magnética e a pletismografia corporal por • Assegurar que a totalidade dos integrantes da equipe
deslocamento de ar. O perímetro de cintura tem a vantagem dos programas de RCV conheça, eduque e motive os
de ser uma medida simples e é superior ao IMC, mas deve pacientes sobre a realização do exercício conforme
se levar em conta que é propensa a erros de medição48-50. sua prescrição.

Desafios e objetivos Recomendações especiais


A redução do peso está recomendada em pacientes com • Realizar história clínica completa;
obesidade (IMC ≥ 30 kg/m2) ou com sobrepeso (IMC ≥ 25 • Determinar o risco cardiovascular de forma individual;
e < 30 kg/m2). • Realizar prescrição do exercício (aeróbico, resistência e
Valores entre 94 e 101 cm para o homem e entre 80 flexibilidade);
e 87 cm para a mulher consideram-se como de alerta e • Realizar supervisão do exercício de acordo com os riscos
representam um limiar a partir do qual não se deve ganhar e prescrições.
mais peso. A restrição da ingestão calórica total e o exercício
(Vide a secção de Exercício Físico para mais detalhes no que
físico regular são as pedras angulares do controle do peso.
se refere às recomendações e prescrições de exercício.)
É provável que com o exercício se produzam melhorias no
metabolismo da gordura central, inclusive antes que ocorra
uma redução do peso. Estresse psicossocial e estados depressivos

Recomendações especiais Definição e fatos


Educação alimentar é primordial, com ênfase na redução O estresse tem sido definido como a “situação de um
da quantidade calórica e diminuição drástica de gorduras indivíduo ou de algum dos seus órgãos ou sistemas que, por
e carboidratos simples. Estímulo ao consumo de mais exigir deles um rendimento superior ao normal, os põe em
frutas, vegetais, alimentos integrais e gorduras mono e risco de adoecer”. É uma resposta ou reação do organismo
poli-insaturadas deve ser feito. O hábito do consumo leve a que obriga a adaptações nem sempre bem toleradas ou
moderado de álcool não deve ser desaconselhado, mas esta aceitas, podendo ser agudas ou crônicas52. Todas essas
é uma área do conhecimento que ainda necessita de mais alterações incluem a ansiedade, a exaustão emocional,
estudos para se definir a melhor conduta. a despersonalização, a insegurança emocional, medo do
A frequência, duração, intensidade e o volume de fracasso, estresse laboral crônico, fatores de personalidade,
exercícios empregados devem adequar-se à aptidão física caráter e isolamento social, que levam à depressão. O estresse
do sujeito. Os exercícios prolongados e de intensidade elevado está claramente associado com o IAM. O estresse
moderada são preferidos, embora seja necessário iniciar se considera na atualidade um fator de risco tão importante
os planos com intensidade leve e progressão de acordo quanto a HAS, o tabagismo ou as dislipidemias.
com os resultados que forem sendo obtidos. Os exercícios Infelizmente, não existem dados suficientes para se saber
preferidos são os dinâmicos, que empregam amplos com certeza a prevalência de estresse elevado, depressão e
territórios musculares e se realizam com metabolismo outros problemas psicossociais na América Latina. Dados do
predominantemente aeróbico. estudo INTERHEART mencionam que, na América Latina,

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a prevalência de estresse crônico e de depressão seja, Desafios e objetivos
respectivamente, 6,8% e 36,7%41. O objetivo geral é conseguir a suspensão completa do
As respostas ao estresse produzem aumento da atividade consumo de cigarro59,60. Isto implica que os programas de
autonômica por ativação do sistema simpático e liberação RCV e de prevenção secundária incluam medidas integrais de
de catecolaminas, ocasionando um aumento da frequência cessação do tabagismo, além de se educar o cidadão fumante,
cardíaca, da contratilidade, do volume minuto e da resistência promovendo e implementando medidas de saúde pública
vascular periférica, além de promover inibição na secreção de relacionadas à supressão do hábito56 (IB).
insulina, aumentar a liberação de glicose hepática e de ácidos
graxos na corrente sanguínea. Concomitantemente, ocorre
incremento da aglutinação de plaquetas e uma diminuição Recomendações específicas
do limiar para a fibrilação ventricular52. Toda história clínica deve incluir o diagnóstico de
tabagismo, de acordo com a definição acima. Há que se
verificar ainda se existe exposição ambiental, medição de
Desafios e objetivos dependência física, interesse de abandono, fazer um plano
É importante saber o grau de estresse e depressão que e manter seguimento e retroalimentação59,60.
sofrem os pacientes em busca de um programa de RCV, para Algumas recomendações úteis em relação ao tabagismo são:
o qual se recomenda o uso de questionários padronizados,
como o de depressão PHQ-9, que é grátis e disponível na • Realizar questionário de rotina sobre hábitos de fumar;
Web. Uma vez que se conhece a situação do paciente, • Indicar a quantidade de fumo consumido e as tentativas
o mesmo deve ser encaminhado para a assistente social, para parar de fumar;
psicólogo e/ou psiquiatra, segundo a gravidade do problema • Classificar a escala de adição física, psicológica, social,
emocional que apresente. gestual e dependência da nicotina (testes de Fagerstrom,
de teste Glover e de Nilson)61;
Recomendações especiais • Identificar a fase de interesse de abandono segundo
As recomendações apontam pela identificação destes Prochazka and Diclemente (Pré-contemplação,
grupos de pacientes para intervir de forma prematura, Contemplação, Preparação, Ação, Manutenção)62;
mediante apoio de psicoterapia e mudanças do estilo de • Estabelecer conversação para gerar consciência (IA);
vida, não só dirigidos ao indivíduo especificamente, mas • Acompanhar o processo para parar de fumar (“5As”):
também a membros da família. Estas medidas podem incluir Indague sobre o estado de fumador; Aconselhe que
terapia de grupo, medicação específica, atividade física e pare; Analise os desejos para tentar parar de fumar;
apoio social, tudo a cargo de profissionais especializados53 Ajude no intento de parar; e Marque próxima consulta63;
(classe I, nível de evidência B).
• Oferecer ajuda independentemente da motivação
do paciente64;
Tabagismo • Gerar intervenções que permitam ao paciente avançar
nas fases de interesse de abandono do cigarro;
Definição e fatos • Oferecer e orientar as terapias farmacológicas para a
O tabagismo é a dependência crônica ocasionada pelo cessação de tabagismo (troca de nicotina, Bupropiona,
consumo excessivo do fumo, desencadeada por seu principal Vareniclina e/ou combinações correspondentes)65.
componente, a nicotina. O tabagismo é um fator de risco Embora o uso de medicamentos para auxiliar os
independente da DCV54, além de ser considerado como uma fumantes a deixarem de fumar tenha sido utilizado
das principais causas de mortalidade evitável no mundo55. em pacientes cardiovasculares, sua prescrição deve
ser deixada a cargo do cardiologista responsável;
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
um fumante é uma pessoa que tem exercido esse hábito, • Realizar terapias não farmacológicas, tais como:
diariamente, durante o último mês, seja qual for a quantidade – Assessoria prática (resolução de problemas/
de cigarros, nem que seja um só. O fumante passivo, por treinamento de habilidades);
outro lado, define-se como aquele que se expõe à fumaça do – Apoio psicológico e social como parte do tratamento;
fumo nas suas diferentes formas, tais como cachimbo, cigarro
e outros. Não há uma exposição mínima inócua à fumaça – A terapia de grupo é cerca de duas vezes mais eficaz
de cigarro: a “fumaça de segunda mão” aumenta o risco de que terapias de autoajuda64;
DCV de 25% a 30%56. – Estabelecer estratégia de acompanhamento e
Houve mudanças significativas com a implementação de seguimento integral para o paciente.
políticas de zonas livres de fumo, conseguidas através de um O alcance do manejo total para a cessação do fumo nos
convênio histórico da organização mundial da saúde e países programas de RCV representa uma oportunidade para o resto
da América Latina e Caribe57. A prevalência do tabagismo dos integrantes do núcleo familiar. Desta forma, evitar-se-ia
nesta zona se situa ao redor de 31% para homens e 17% para o início do consumo de cigarro (filhos, netos, irmãos, outros
as mulheres, a qual nos motiva a seguir trabalhando em prol familiares) e/ou até considerar sua completa erradicação do
de melhorias nesta situação58. núcleo familiar (IB).

13 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Dislipidemia Tabela 10 – Classificação de HDL, LDL e colesterol total segundo ATP III66

Definições e fatos Colesterol total (mg/dl)

As dislipidemias são um fator de risco maior para o < 200 Desejável


desenvolvimento de aterosclerose. Cada redução de 1% no 200-240 Limite alto
valor de proteínas de baixa densidade (LDL) se traduz em uma ≥ 240 Alto
redução de risco de 1% de ocorrerem eventos cardiovasculares
futuros. Um aumento de 1% nas lipoproteínas de alta LDL (mg/dl)
densidade (HDL) está associado a uma redução de risco de 2 < 100 Ótimo
a 4%41. A prevalência de dislipidemias na América Latina é de 100-130 Desejável
42%, segundo o estudo INTERHEART, comparado com 32%
130-160 Limite alto
de prevalência dos outros países participantes do estudo41.
> 160 Alto
> 190 Muito alto
Desafios e objetivos
Estratificação de risco: HDL (mg/dl)

De acordo com a guia para o tratamento das dislipidemias < 40 Baixo


no adulto, Adult Treatment Panel III (ATP-III)66, definem a ≥ 60 Desejável
classificação de LDL, HDL e colesterol total segundo seus HDL: lipoproteínas de alta densidade; LDL: lipoproteínas de baixa
valores plasmáticos (Tabela 10). Este documento também densidade; ATP III: guia para o tratamento das dislipidemias no adulto,
tem identificado no LDL o primeiro objetivo de tratamento Adult Treatment Panel III.
(classe I, nível de evidência A).
O ATP-III identificou categorias de risco segundo a presença
ou ausência de outros fatores de risco. A presença de DCV ou alcançados de acordo com a categoria de risco. Para conseguir
outras formas clínicas de aterosclerose, ditas categorias de risco, as referidas metas, muitas vezes devemos ser agressivos no
determina a meta de LDL-C que se deve alcançar (Tabela 11). tratamento. As opções terapêuticas são:
Fica ainda por definir se as metas de colesterol LDL, em • Medidas não farmacológicas: redução de carboidratos
prevenção primária, seguirão sendo as mesmas, dado os simples e em geral, da ingestão de gorduras saturadas e trans,
resultados do estudo Jupiter67, no qual se randomizou para e do peso em caso de obesidade, além de incremento da
tratamento com rosuvastatina ou placebo pacientes sem atividade física (classe I, nível de evidência B). O exercício
doença coronária que apresentavam valores de LDL menor de tipo aeróbico de intensidade moderada é considerado
de 130 mg/dl e proteína C-reativa (PCR) ultrassensível maiores de maior impacto sobre os níveis de triglicérides, em menor
do que 2 mg/l. O referido estudo foi finalizado antes do medida sobre o HDL e menos ainda sobre o LDL66.
tempo por ter exibido um benefício claro a favor do grupo • Medidas farmacológicas: a meta primária no manejo de
tratado com rosuvastatina, mostrando uma redução de 44% dislipidemias é conseguir uma redução do nível LDL de
no objetivo primário (desfecho combinado) de reduzir morte acordo com as metas descritas na Tabela 11. As estatinas
cardiovascular, acidente vascular encefálico não fatal, IAM não são as drogas mais utilizadas pelo impacto sobre a
fatal, angina instável ou revascularização coronária. redução do risco. Além destas drogas, existem outras,
tais como a niacina, fibratos, resinas e a ezetimiba66.
Considerações especiais Outras metas de tratamento:
Como já mencionado previamente, estratificar o risco • No caso de o valor de triglicérides estar entre 200 a 499
global do paciente define os objetivos de LDL que devem ser mg/dl, e depois que a meta de LDL for alcançada, pode

Tabela 11 – Objetivos, níveis, mudanças no estilo de vida e tratamento nas diferentes categorias de LDL, segundo ATP III66

Níveis de LDL para início de mudanças Níveis de LDL para iniciar tratamento
Categoria de risco Objetivo LDL (mg/dl)
no estilo de vida (mg/dl) farmacológico (mg/dl)
Risco de DC ou equivalente a DC
< 100 ≥ 100 ≥ 130 (100-129: opcional)
(risco em 10 anos > 20% )
Risco 10 anos
+2 fatores de risco (risco em 10-20% : ≥ 130
< 130 ≥ 130
10 anos ≤ 20%) Risco 10 anos
< 10%: ≥ 160
≥ 190
0-1 fatores de risco < 160 ≥ 160
(160-189: opcional)
LDL: lipoproteína de baixa densidade; DC: doença coronária.

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se aceitar a adição da medicação para se chegar à meta (JNC VII) para adultos 69. A classificação está baseada na média
de colesterol não HDL (classe I; nível de evidência B), de duas ou mais medidas de PA, efetuadas na posição sentado
o qual deve ser menor que o valor de LDL+ 30. Isto pode em duas ou mais visitas.
ser conseguido intensificando a terapia com estatinas e
somando ácido nicotínico ou fibratos66. Caso os triglicérides
Desafios e objetivos
sejam > 500 mg/dl, deve-se priorizar a redução de seu
valor como primeiro objetivo, a fim de diminuir o risco de O objetivo de tratamento para os hipertensos sem outras
pancreatite (classe I, nível de evidência C). patologias associadas é PA < 140/90 mmHg (classe I, nível de
evidência A). Já em pacientes hipertensos com doença renal
• Outro objetivo importante é aumentar os valores de
ou DM, o objetivo da PA é < 130/80 mmHg, embora estudos
HDL, particularmente em pacientes com valores de HDL
recentes tenham demonstrado que conseguir tais níveis de
extremadamente baixos e DCV aterosclerótica. Pode-se
controle, provavelmente, não seja tão crucial para reduzir o
utilizar niacina, a qual deve ser iniciada com dose baixa
risco de DCV, particularmente em diabéticos70.
(500 mg) e aumentada de acordo com a tolerância (até
a dose máxima de 2 g). As estatinas também aumentam
os valores de HDL, mas em menor percentagem66. Recomendações específicas
A evidência apoiada no uso de fármacos para aumentar Para conseguir as metas, é fundamental implementar
o HDL não é forte, sendo que estudos recentes têm mudanças no estilo de vida (Tabela 13). Tais condutas devem
questionado o uso de niacina com este propósito, ser recomendadas também às pessoas normotensas com carga
enquanto outros têm demonstrado que a elevação genética hipertensiva (p. ex., ambos pais com idade < do que
de HDL, utilizando inibidores da CTP, pode inclusive 60 anos medicados para HAS).
aumentar a mortalidade cardiovascular68.
Quanto ao exercício físico, os ideais são aqueles com
predomínio dos componentes dinâmicos. Seus benefícios
Hipertensão arterial começam a partir da terceira semana após iniciados.
Os exercícios de força muscular não têm demonstrado benefício
sobre a HAS como método isolado, já que devem somar-se aos
Definições e fatos
exercícios dinâmicos (classe I, nível de evidência B)69.
Um dos problemas mais frequentes no atendimento
Em relação ao tratamento medicamentoso, uma redução da
médico primário é a falta de detecção, tratamento e controle
PA deve ser considerada a meta do tratamento farmacológico
da HAS, a qual é, sem dúvida, um dos fatores de risco com
da HAS, independentemente do fármaco utilizado. Como é
maior impacto nas doenças cardiovasculares.
habitual na prevenção cardiovascular, a decisão de começar
A prevalência mundial é de aproximadamente um bilhão de com tratamento medicamentoso depende do risco global do
indivíduos, causando algo em torno de 7,1 milhões de mortes ao paciente. Já que a maioria dos pacientes hipertensos requererá
ano69. Na América Latina, 13% das mortes podem ser atribuídas dois ou mais medicamentos anti-hipertensivos para conseguir
à HAS. De acordo com o estudo INTERHEART41, a prevalência o controle da pressão arterial, a adição de um segundo
de HAS na América Latina é de 29,1%, mais alta que os 20,8% fármaco de uma classe diferente deveria ser indicada quando,
encontrados nos outros países participantes. O problema da apesar do uso de um agente individual em adequadas doses,
HAS também é que, aproximadamente, 30% dos adultos a PA esteja mais de 20 mmHg acima da meta da PAS ou mais
desconhecem serem portadores desta enfermidade. Mais de de 10 mmHg acima da meta da PAD69.
40% dos hipertensos não estão tratados e dois terços não têm os
níveis pressóricos controlados (níveis menores de 140/90 mmHg).
Diabetes melito

Classificação da pressão arterial


Definição e fatos
A Tabela 12 mostra a classificação da HAS segundo os
lineamentos do VII Relatório do Comitê Nacional Conjunto Denomina-se diabetes melito (DM) uma desordem
metabólica de múltiplas etiologias, caracterizada por
hiperglicemia crônica com distúrbios no metabolismo dos
carboidratos, gorduras e proteínas, que resulta em defeitos
Tabela 12 – Classificação da hipertensão arterial em adultos
na secreção e/ou na ação da insulina.
segundo JNC VII69
A principal causa de morte da pessoa com DM tipo 2 é
Classificação de PA PAS (mmHg) PAD (mmHg)
cardiovascular e, portanto, prevenir a DCV implica um manejo
integral de todos os fatores de risco. Todos os fatores de risco
Normal < 120 < 80
cardiovasculares, exceto o hábito de fumar, são mais frequentes
Pré-hipertensão 120-139 80-89 nos diabéticos e o seu impacto sobre a DCV também é maior72.
Hipertensão estágio 1 140-159 90-99 Ao redor de 25,1 milhões de pessoas padecem de DM tipo 2,
cifra correspondente a 8,7% da população adulta na América
Hipertensão estágio 2 ≥ 160 > 100
Latina, conforme censo de 2011. Estima-se que esta cifra
PA: pressão arterial; PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; chegará a alcançar aproximadamente 40 milhões de pessoas
mmHg: milímetro de mercúrio.
(60% da população adulta) nos próximos 20 anos. Além disso,

15 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Diretrizes
é importante mencionar que, atualmente, 15,1 milhões de Para o diagnóstico na pessoa assintomática é essencial ter
pessoas (5,2% da população adulta) sofrem de intolerância pelo menos um resultado positivo de glicemia igual ou maior
à glicose, situação que deve ser tomada como alerta para que as cifras dos critérios 3 e 4.
determinar medidas mais eficientes para a prevenção deste
flagelo72 (International Diabetes Federation).
Desafios e objetivos
Para o diagnóstico da DM, segundo a Associação Americana
da Diabetes (ADA)73, podem ser utilizados quaisquer um dos Recomenda-se estrito controle da glicemia (classe I, nível de
seguintes critérios: evidência A) (Tabela 14). O Estudo Prospectivo Inglês sobre DM
(UKPDS)74 e o Estudo sobre o Controle e Complicações da DM
1. Valores de HbA1c ≥ 6,5.
(DCCT)75 mostraram que a relação linear entre a hemoglobina
2. Sintomas de DM mais uma glicemia casual medida em glicosilada estável (HbA1c) e o risco de complicações, sem
plasma venoso igual ou maior que 200 mg/dl (11,1 mmol/l). poder identificar um nível em que o risco desapareça.
3. Glicemia em jejum, medida, igual ou maior que 126 mg/dl Atualmente, a meta terapêutica de níveis da HbA1c é menor
(7 mmol/l). que 8%, podendo ser inferior a 7% em pacientes coronariopatas
4. Glicemia medida em plasma venoso igual ou maior jovens. O estudo ACCORD demonstrou que, em pacientes com
que 200 mg/dl (11,1 mmol/l) duas horas depois de DM tipo 2, não existe benefício adicional quando se reduz a
uma carga de glicose, durante um teste de tolerância HbA1c a níveis estrito baixos (menor que 6,5%) e que, pelo
oral à glicose (TTOG). contrário, poder-se-ia aumentar a mortalidade76.

Tabela 13 – Modificações de estilo de vida para prevenir e manejar a hipertensão arterial69

Medida Objetivo Redução da PA

Redução do peso Manter IMC < 24,9 5-20 mmHg/10kg

Dieta rica em frutas, vegetais e baixa em


Adoção de dieta DASH* 8-14 mmHg
gorduras totais e saturadas.
Redução do consumo de sódio Consumir < 2,4 g/dia de sódio** 2-8 mmHg
30-45 minutos/dia (a maior quantidade
Atividade física aeróbica 4-9 mmHg
de dias por semana)
Não mais que duas porções de álcool por dia (30 ml)
em homens. Ex.: 700 ml de cerveja, 300 ml de vinho ou
Moderação do consumo de álcool*** 60-90 ml de whisky 2-4 mmHg
Não mais de uma porção (15 ml) em mulheres e
pessoas de baixo peso
*Dieta DASH: Tendência dietética para deter a hipertensão arterial71.
**A Associação Americana do Coração recomenda um consumo diário de sódio menor de 1500 mg.
***Não se recomenda que uma pessoa abstêmia inicie o consumo de álcool como maneira de controlar a hipertensão.
PA: pressão arterial; IMC: índice de massa corporal; kg: kilograma; mmHg: milímetro de mercúrio; g: grama.

Tabela 14 – Metas para o controle dos parâmetros de controle glicêmico77

Nível Normal Adequado Inadequado


Risco de complicações crônicas Baixo Alto
Glicemia jejum < 100 (1) 70-100 ≥ 120
Glicemia 1-2 horas pós-prandial < 140 70-140 (2) ≥ 180
HbA1c (%) <6 (3)
<6,5 (4)
≥ 7 (4)
(1) O risco de hipoglicemia aumenta significativamente quando se mantêm níveis dentro da faixa de uma pessoa não diabética, mediante o uso de hipoglicemiantes.
O risco deve ser evitado em idosos, permitindo metas menos estritas.
(2) A redução a limites normais da glicemia pós-prandial costuma ter menor risco de hipoglicemia. Por este motivo, ela é também uma meta adequada.
(3) A HbA1c normal também pode ser definida como o valor médio para a população não diabética de referência. + 2 desvios-padrão, usando-se o método de referencia
do DCCT que é de 6,1%. A faixa normal não é a meta terapêutica em pacientes com DM.
(4) Com os novos tratamentos, já é possível obter e talvez manter uma HbA1c quase normal. Embora todas as Associações Internacionais de DM concordem que se
deve tratar de alcançar esta meta, a maioria propõe que se baixe a menos de 7% e que um valor mais alto já obriga a atuar para iniciar ou mudar uma terapia.
Os valores de glicemia estão expressos em mg/dl (para converter a mmol/l, dividi-los por 18).
HbA1c: hemoglobina glicosilada.

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 16


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Recomendações específicas Recomendações especiais
O tratamento da DM inclui medidas farmacológicas e não • Redução do peso corporal;
farmacológicas. As medidas não farmacológicas compreendem • Redução do perímetro de cintura;
três aspectos básicos: plano de alimentação, exercícios
• Exercício predominantemente aeróbico de intensidade
físicos e hábitos saudáveis12. A redução de peso no obeso,
moderada, que procure atingir 80% da frequência
em pacientes com DM e sobrepeso, continua sendo o único
cardíaca máxima (segundo teste de exercício), assim
tratamento integral capaz de controlar simultaneamente a
como exercício de resistência com repetições frequentes
maioria dos problemas metabólicos da pessoa com DM tipo
e séries que exercitem diversos grupos musculares;
2 (classe I, nível de evidência C). Deve-se iniciar tratamento
farmacológico em toda pessoa com DM tipo 2 que não • Reduzir a ingestão de açúcar agregada, de bebidas
tenha alcançado as metas do controle nos níveis de glicemia adocicadas e de carboidratos simples.
mediante as mudanças terapêuticas no estilo de vida.
Na secção de Populações Especiais, estão recomendações Recomendações para reiniciar a atividade sexual
adicionais para a reabilitação cardiovascular de posterior a eventos cardiovasculares
pacientes diabéticos. A falta de confiança para realizar a atividade sexual,
diminuição da libido, disfunção erétil e transtornos na
Síndrome metabólica ejaculação são pontos importantes a considerar após
um evento cardiovascular. A orientação e o manejo
terapêutico devem iniciar-se desde as primeiras fases
Definição e fatos dos programas de RCV81. A seguir, citamos algumas das
A síndrome metabólica representa em um aglomerado de recomendações práticas82:
fatores de risco que incluem obesidade central, PA elevada, • Se o paciente é capaz de alcançar 6 METs de esforço
níveis elevados de triglicérides, glicose e HDL baixo (Tabela 15). físico num teste de esforço, ou o correspondente
A fisiopatologia desta síndrome é constituída pela resistência nas atividades do dia a dia, não deve ter restrições
à insulina. Isto significa que o metabolismo da glicose a nível para atividade sexual, já que nem a duração ou
celular está alterado e se faz necessária maior quantidade de a intensidade do esforço físico, durante a atividade
insulina para metabolizar a mesma quantidade de glicose. Dito sexual, são o suficientemente arriscados para provocar
de outra forma: existe uma diminuição da sensibilidade dos complicações cardiovasculares.
tecidos periféricos, principalmente o músculo esquelético, à
• É aconselhável prevenir o consumo excessivo de
ação da insulina, produzindo-se então uma hiperinsulinemia
alimentos e bebidas alcoólicas algumas horas antes da
secundária. Os pacientes com esta síndrome têm duas vezes
atividade sexual.
mais risco de sofrer um evento cardiovascular e cinco vezes
mais risco de desenvolver DM 78,79. Além das anomalias • Recomenda-se realizar a atividade sexual com método
metabólicas descritas, ultimamente se demonstrou que esta apropriado, no qual o paciente se sinta tranquilo e
síndrome é acompanhada por um aumento do inibidor do com uma boa disposição para realizar a atividade.
ativador do plasminogênio (PAI-1), que provoca aumento Além disso, é aconselhável adotar posturas que não
potencial da trombogênese e, portanto, um elemento a mais resultem em um esforço exagerado do paciente.
que se soma ao risco de se sofrer um IAM66,80. É importante que o paciente saiba que a maior parte dos
infartos do miocárdio relacionados à atividade sexual
parecem ocorrer em situações de infidelidade conjugal
Desafios e objetivos e/ou em uso concomitante de drogas ou em o paciente
• Conseguir as metas propostas para cada componente da vivenciando episódios de alto nível de estresse.
síndrome; • A orientação psicológica é peça fundamental na
• Medir o perímetro de cintura em todos os pacientes; recuperação da confiança do paciente.
• Conscientizar o paciente sobre a forte influência que • O uso de sildenafil e outros inibidores da fosfodiesterase
exerce a mudança do estilo de vida nesta síndrome. não estão contraindicados em pacientes cardiovasculares,

Tabela 15 – Definição da síndrome metabólica segundo ATP III66

Deve cumprir pelo menos três dos seguintes cinco componentes:


• Obesidade central: perímetro da cintura > 102 cm em homens e > 88 cm em mulheres
• Triglicérides elevados: ≥ 150 mg/dl ou em tratamento farmacológico
• HDL baixo: < 40 mg/dl em homens e < 50 mg/dl em mulheres ou em tratamento farmacológico
• Aumento da tensão arterial: PA sistólica ≥ 130 mmHg e/ou PA diastólica ≥ 85 mmHg ou tratamento de hipertensão previamente diagnosticada
• Alteração da glicemia em jejum: glicose plasmática em jejum 110 mg/dl [≥ 100 mg/dl] ou DM tipo 2 previamente diagnosticado
ATP III: guia para o tratamento das dislipidemias no adulto, Adult Treatment Panel III; PA: pressão arterial; HDL: lipoproteína de alta densidade; DM: diabetes melito.

17 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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a menos que exista angina classe IV, estenose valvular grave Desafios e objetivos
ou arritmias ventriculares persistentes. Tais medicamentos • Estimular o encaminhamento dos idosos para os
estão também contraindicados se o paciente usa programas de reabilitação cardíaca;
nitroglicerina ou outros nitratos de maneira regular.
• Minimizar as barreiras para a assistência e permanência
no programa;
IV - REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR EM • Manejar as comorbidades de forma integral;
POPULAÇÕES ESPECIAIS • Alcançar maior grau de independência, autocuidado e
adaptação social;
Reabilitação em adultos com menos de 55 anos • Fomentar exercícios de resistência para prevenir ou
reverter sarcopenia;
Definição e fatos • Considerar a possibilidade de que exista certa
As patologias que geram a indicação de RCV neste tipo de deterioração cognitiva que possa representar um desafio
paciente correspondem, em sua maioria, a doença coronária na aprendizagem de técnicas de exercício, dieta e outros
(pós-infarto do miocárdio, cirurgia de revascularização princípios incluídos no programa de RCV.
miocárdica, angioplastia, manejo médico de doença
coronária, seguido de valvopatias, insuficiência cardíaca e
Recomendações específicas
cardiopatia congênita).
• Enfatizar a motivação pela aprendizagem, não só de
Este grupo etário tem características próprias que geram
exercícios, como também pela informação relacionada
algumas recomendações específicas adicionais, somadas
à sua doença;
às descritas em cada uma das patologias mencionadas.
Tais características incluem: maior probabilidade de • Considerar que se devem repetir ordens, indicações e
estarem economicamente ativos, com atividades que precauções;
podem requerer esforços físicos significativos; uma maior • Incluir exercícios que favoreçam o autocuidado;
probabilidade de ter filhos em casa com as responsabilidades • Combinar o exercício aeróbico com prescrição
que isso implica; alta probabilidade de que os rendimentos individual e exercícios de alongamento, flexibilidade,
financeiros sejam reduzidos durante o episódio agudo. coordenação e equilíbrio. Prescrever exercícios de
Tudo isto gera barreiras importantes, tanto para o acesso resistência com baixa carga87 e múltiplas repetições,
aos programas de RCV, quanto para a manutenção deles,
abrangendo diversos grupos musculares.
além de dificuldades na adesão aos hábitos saudáveis e ao
tratamento farmacológico em geral83.
Reabilitação em crianças e adolescentes

Desafios e objetivos
Definições e fatos
• Diminuir as barreiras de acesso aos programas de RCV;
As patologias com indicação de RCV nessa população
• Fomentar e favorecer as estratégias que permitam correspondem às derivadas de cardiopatias congênitas, com ou
melhorar a manutenção nos programas de RCV; sem insuficiência cardíaca, além da síncope neurocardiogênica.
• Implementar estratégias que consigam o conhecimento e Há evidência de que a atividade física regular pode ser benéfica,
a compreensão dos hábitos saudáveis, da prescrição do inclusive em crianças com cardiopatia congênita complexa,
exercício e da importância do uso de medicamentos12,25. obtendo-se mudanças significativas na capacidade funcional,
comportamento, autocuidado e o estado emocional87,88.
Recomendações específicas
As recomendações dentro do programa de RCV em geral Desafios e objetivos
são as mesmas que se realizam para cada patologia12. • Diminuir as barreiras de inclusão deste grupo de
pacientes;
Reabilitação em idosos • Considerar o componente educativo relacionado aos
hábitos saudáveis;
Definição e fatos • Alcançar o maior nível de autocuidado e adaptação ao
Com frequência, os idosos, definidos como aqueles com contexto familiar e social do paciente.
idade superior a 65 anos de idade, são excluídos dos programas
de RCV, porém, são conhecidos os benefícios obtidos em Recomendações específicas
função da melhoria da capacidade funcional, qualidade de
vida e modificação de fatores de risco nesta faixa etária84. É uma • Orientar e motivar a atividade física recreativa de predileção
população com um nível de capacidade física reduzida, com do paciente e que cumpra com as recomendações
diminuição da flexibilidade, que apresenta alteração dos sentidos específicas para cada patologia e estado clínico;
e diminuição do equilíbrio. Nesse cenário, a implementação de • As recomendações de nutrição devem contemplar tanto
recomendações específicas têm um papel primordial85,86. a idade dos pacientes, a etapa de crescimento em que se

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 18


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encontram, assim como a patologia de base, pelo qual é sua realização como parte da sua rotina independente do
muito importante incluir assessoria e acompanhamento programa (caminhada, dança, ciclismo, natação ou outros)87.
de especialistas em nutrição.
Reabilitação em pacientes com diabetes melito
Reabilitação em mulheres
Definição e fatos
Definição e fatos Um adequado diagnóstico e um tratamento da DM
Existe limitação de informações específicas nas mulheres, estão associados à redução da morbimortalidade. Parte do
pois elas se encontram sub-representadas nos estudos clínicos tratamento é o exercício físico, o qual se deve realizar de
de investigação. forma adequada e com os cuidados que este tipo de pacientes
A recomendação atual de RCV para as mulheres requer. Por isso, o grupo interdisciplinar participante de um
em prevenção secundária é classe I, nível de evidência programa de RCV deve conhecer a adequada abordagem
A (mulheres com evento coronário agudo recente, de um paciente com esta patologia93,94.
intervenção coronária, doença cardiovascular)89.
Na maioria dos países da América Latina, a DCV ocupa Desafios e objetivos
os primeiros lugares de morbidade, porém, é reconhecido O pessoal vinculado à RCV deve:
que, em média, menos de 10% do total de participantes em
• Conhecer a história clínica do paciente diabético,
programas de RCV são mulheres90,91.
levando em conta:
Com relação aos fatores de risco para doença coronária,
– Presença de doença cardiovascular;
existem algumas características que podem ter diferença de
gênero, como ocorre com a inatividade física, estresse e DM. – Presença de comorbidades, retinopatia,
Sabe-se que as mulheres chegam com mais idade aos programas neuropatia, nefropatia;
de reabilitação cardíaca (com uma média de 10 anos a mais), – Resultados dos últimos exames (glicemia em
além de manifestarem maior ansiedade que os homens e de jejum, teste de tolerância oral à glicose, HbA1c,
terem condicionamento físico menor, assim como um maior exame oftalmológico, controle lipídico, etc.);
número de comorbidades e pior qualidade de vida. Em geral, – Medicação atual do paciente, destacando
os benefícios dos programas de RCV são similares aos dos especialmente aquela medicação que gera
homens, embora alguns estudos sugiram que, nas mulheres, hipoglicemia 95 (Tabela 16). No caso de que o
haja maior impacto da classe funcional na qualidade de vida. paciente esteja sob tratamento com insulina, o tipo,
Ainda assim, a permanência no programa é menos provável dose e forma de administração.
que a dos homens92.
• Conhecer história de hipoglicemia prévia: Frequência,
circunstâncias associadas que possam contribuir para
Desafios e objetivos a aparição da hipoglicemia, sintomas, tratamento
• Aumentar a participação das mulheres com DCV nos de hipoglicemias prévias (uso de carboidratos) 95,96.
programas de RCV; Recomenda-se que cada centro gere protocolos próprios
de monitoramento glicêmico, desenvolva políticas e
• Aumentar a permanência das mulheres no programa
procedimentos adequados, adaptados a cada instituição;
de RCV;
• Conhecer o uso do automonitoramento glicêmico:
• Manter os hábitos saudáveis posteriores à saída do
Frequência e momento do dia do automonitoramento
programa de RCV.
glicêmico, interpretação e tratamento caso seja necessário95;
• Educar o paciente acerca do cuidado com os pés:
Recomendações específicas Deve-se aconselhar o paciente sobre a correta higiene
A recomendação atual de atividade física para mulheres é nos pés e a importância de utilizar calçado cômodo
30 minutos diários de 5 a 7 dias por semana, aumentando para para evitar a aparição de atritos, feridas, queimaduras
60 a 90 minutos de atividade moderada durante a maioria e lesões que possam complicar o estado do paciente96.
dos dias da semana. O exercício deve incluir atividades
de resistência, equilíbrio, coordenação, flexibilidade e
alongamento (classe I, nível de evidência B). Tabela 16 – Medicação hipoglicemiante e risco de hipoglicemia93
Além disso, deve-se:
• Ajustar a prescrição do exercício às comorbidades Neutra Baixo Moderado Alto
da paciente; • Biguanidas
• Colocar a paciente em um grupo compatível para realizar • Tiazolidinedionas
as sessões de exercício; • Acarbose Metiglinidas Sulfonilureias Insulina

• Levar em conta os sintomas atípicos que podem apresentar; • Análogos de GLP-1


e Gliptinas
• Determinar durante as sessões, o tipo de exercício aeróbico
GLP-1: peptídeo similar ao glucagón tipo 1 DDP4.
com o qual mais se identifica a paciente e assim favorecer

19 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Recomendações especiais Em caso de hiperglicemias:
Indicação do exercício: • Paciente diabético tipo 1 com glicemia > 300 mg/dl e
O exercício deverá cumprir com as seguintes metas: cetose, deve-se suspender o exercício físico, dado que
este pode agravar a cetose. Não é necessário suspender
• A curto prazo: mudar o hábito sedentário mediante
o exercício, baseando-se simplesmente na hiperglicemia,
caminhadas diárias no ritmo do paciente.
se a cetose for negativa.
• A médio prazo: a frequência mínima deverá ser três
• Paciente diabético tipo 2 com glicemia > 300 mg/dl pode
vezes por semana em dias alternados, com uma duração
realizar exercício, mas com precaução.
mínima de 30 minutos por vez.
Recomendações e pontos chaves no manejo dos pacientes
• A longo prazo: aumentar a frequência, se for possível
diabéticos na Tabela 17.
diariamente, e com intensidade moderada, de 45
a 60 minutos de duração, conservando as etapas
Reabilitação em pacientes com insuficiência cardíaca
de aquecimento, manutenção e volta a calma.
Recomenda-se o exercício aeróbico (caminhar, trotar,
nadar, ciclismo, etc.)92. Definição e fatos
O exercício intenso ou o esporte competitivo requerem A insuficiência cardíaca tem-se constituído em um
medidas preventivas, tais como: problema de saúde maior, especialmente na população
• Avaliação do estado cardiovascular em pacientes com de idade avançada 85. Embora a patologia primária da
mais de 30 anos ou com DM com mais de dez anos de insuficiência cardíaca resulte das anormalidades na função
evolução (há risco maior em caso de existirem retinopatia cardiovascular, as alterações no fluxo sanguíneo periférico,
proliferativa, neuropatia autonômica e outras). o metabolismo e morfologia muscular esquelética (na sua
• Evitar exercício muito intenso se existir evidência de força e resistência) contribuem, em grande parte, para a
retinopatia proliferativa. sintomatologia (fluxo periférico).
• As pessoas insulino-dependentes devem consumir uma Os resultados de estudos sistemáticos indicam que
refeição ou merenda rica em carboidratos complexos o exercício regular em pacientes com insuficiência
antes de iniciar o esporte e ter à sua disposição cardíaca é seguro e se associa a um aumento de 16% do
uma bebida açucarada pelo risco de hipoglicemia. consumo de oxigênio pico. Em relação aos mecanismos
Eventualmente, o médico indicará um ajuste da dose de hemodinâmicos centrais, os pacientes que ingressam na
insulina para os dias da prática esportiva. RCV apresentam incremento no débito cardíaco pico e
frequência cardíaca máxima.
• Não se recomendam os exercícios de alto risco, onde
o paciente não possa receber auxílio de imediato O treinamento físico induz a uma série de adaptações nos
(alpinismo, asa-delta, mergulho, entre outros). músculos esqueléticos, que inclui aumento da massa muscular,
aumento do conteúdo de mitocôndrias, incremento da
atividade das enzimas oxidativas, maior extração de oxigênio
Controle do valor glicêmico durante a sessão de do sangue e mudança na distribuição do tipo de fibras.
reabilitação cardiovascular
As respostas inflamatórias e imunológicas desempenham
Não existe consenso em relação à frequência nem à um papel central no desenvolvimento e na progressão da
indicação do monitoramento da glicose prévia, durante insuficiência cardíaca: níveis circulantes aumentados de
ou posterior a uma sessão de RCV. Porém, é útil o controle algumas citoquinas têm sido detectados nestes pacientes.
glicêmico durante as primeiras sessões para se conhecer O exercício afeta beneficamente tais marcadores
a resposta glicêmica ao exercício. Desta maneira, é inflamatórios, melhorando a tolerância à atividade física e
possível se conseguir prevenir as hipoglicemias e ajustar atenuando o processo inflamatório. Assim, produz-se uma
adequadamente o exercício físico a cada paciente, definindo liberação de fatores de relaxamento derivados do endotélio,
se é necessário o automonitoramento prévio ou posterior cujo principal representante é o óxido nítrico, que permite
a cada sessão. Caso seja necessário o monitoramento maior vasodilatação103.
da glicose posterior ao exercício, este deve ser tomado
15 minutos após o mesmo. Se o valor de glicemia obtido nas Os pacientes com insuficiência cardíaca também apresentam
primeiras sessões for < 100 mg/dl ou > 300 mg/dl, deve-se múltiplas alterações na função respiratória, que pode ocorrer
informar ao médico de referência para que este indique o como resultado da força muscular diminuída, sendo esta
tratamento que considere adequado ao paciente. Aqueles secundária à inatividade, o que causa aumento no trabalho
pacientes que usam insulina ou hipoglicemiantes orais que ventilatório, tanto em repouso quanto durante o exercício. Daí a
possam gerar hipoglicemias devem manter uma glicemia necessidade de realizar treinamento dos músculos respiratórios,
prévia ao exercício maior que a 100 mg/dl. o qual melhora o fortalecimento e a resistência destes músculos,
contribuindo para aumentar a tolerância ao exercício104.
Em caso de hipoglicemia:
• Administrar ao paciente 15 g de carboidratos (p. ex: uma
fruta ou um copo bebida com açúcar, suco adocicado Desafios e objetivos
ou uma xícara de leite). Avaliar o paciente 15 minutos Apesar dos benefícios conhecidos gerados pelo
depois da ingestão de carboidratos. exercício físico, os pacientes com insuficiência cardíaca

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 20


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Tabela 17 – Resumo de recomendações/pontos chaves no manejo de pacientes diabéticos em reabilitação cardiovascular94

Objetivos • Uma das recomendações chaves para o paciente com diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2 é o controle ótimo da glicemia; a qual tem
demonstrado uma diminuição na incidência das complicações microvasculares relacionadas à diabetes97

• O exercício regular ajuda a manter níveis apropriados de glicemia e é uma indicação classe I no manejo dos pacientes com
diabetes melito73
• O ambiente da reabilitação cardiovascular é uma excelente oportunidade para a equipe médica monitorar e manejar a diabetes
melito, devido ao contato frequente e próximo que, tanto o pessoal médico como o paciente, necessitam desenvolver
Reabilitação Cardiovascular • Os exercícios aeróbicos e de força podem desencadear hipoglicemia em pessoas com diabetes, particularmente naqueles
indivíduos com controles estritos de glicemia. Isto fornece uma retroalimentação positiva com respeito aos efeitos do exercício
quanto ao controle da glicemia98
• Educação e orientação são dadas aos pacientes identificados com risco de hipoglicemia e hiperglicemia e se deve
apropriadamente tratar a hipoglicemia, para, assim, evitar um consumo desnecessário de calorias e aumento de peso99

• Diabetes é um fator de risco maior para doença cardiovascular. Pessoas com diabetes são 2 a 4 vezes mais propensas a ter
doença cardiovascular que pessoas não diabéticas. Além disso, a doença cardiovascular ocorre em pessoas mais jovens com
diabetes, que tendem a desenvolver lesões mais difusas. Pessoas com diabetes têm uma alta prevalência de hipertensão
(cerca do 50%) e dislipidemia, que contribui para incrementar seu risco de doença cardiovascular
• Pessoas com diabetes, particularmente aqueles de longa data, são susceptíveis a neuropatias autonômicas e são menos prováveis
Complicações de ter sintomas, por exemplo, angina, enquanto desenvolvem um infarto do miocárdio. Por isso, exercícios de treinamento adaptados
para o reconhecimento de sintomas de infarto do miocárdio neste tipo de paciente não é fácil. Alguns pacientes podem ter extensas
áreas de isquemia do miocárdio antes de desenvolver qualquer dor torácica ou o equivalente a uma angina
• Algumas pessoas com diabetes podem desenvolver complicações a longo prazo, o que torna ainda mais desafiante a reabilitação
cardiovascular. Eis alguns exemplos: cegueira, nefropatias, neuropatia periférica com diminuição da sensibilidade, doença vascular
periférica com claudicação significativa ou amputações de dedo(s)/membro(s), incapacidade de reduzir o ritmo cardíaco em
resposta ao exercício e hipotensão ortostática100-102

são poucos em programas de RCV. Tais pacientes têm baixa sintomas têm como fator desencadeante e limitante o esforço,
adesão a estes programas, dadas as limitações físicas que existem poucos trabalhos nos quais se estude a resposta e
apresentam. Por isso, é importante aumentar a participação limitação destes pacientes aos exercícios.
e permanência dentro do programa. Ademais, para uma
mais acurada avaliação prognóstica, assim como para
Desafios e objetivos
prescrição otimizada do exercício, é importante contar com
um teste cardiopulmonar. Na ausência desta possibilidade, É um desafio aumentar a participação de pacientes com
o teste ergométrico pode proporcionar informações úteis, valvopatias nos programas de RCV. Para isso, é importante
ainda que menos robustas que as do TCP. A realização do conscientizar os médicos encaminhadores sobre a segurança
teste de caminhada de 6 minutos com oximetria de pulso destes programas, já que o temor é a principal causa da baixa
também pode contribuir para a avaliação e prescrição. indicação de atividade física indicada a esses pacientes.

Recomendações especiais Recomendações específicas


Neste tipo de pacientes, recomendam-se exercícios As orientações ou recomendações sobre o exercício
predominantemente aeróbicos, podendo utilizá-los tanto de neste grupo de pacientes se dirigem fundamentalmente
forma contínua como em intervalos, com incrementos leves e às lesões que têm um grau moderado ou severo, já que as
gradativos da frequência e intensidade, regressando ao nível leves e assintomáticas, sem repercussão hemodinâmica, não
prévio quando exista tolerância reduzida ao se aumentar têm restrição para praticar atividade física não competitiva
a intensidade. Também se podem realizar exercícios de (Tabela 18)29,107.
resistência dinâmica, com um alto número de repetições e As doenças valvulares podem ser acompanhadas de certo
baixa carga105. grau de severidade de hipertensão pulmonar e, embora os
pacientes possam ser beneficiados pelos programas de RCV,
Reabilitação em pacientes portadores de valvopatias não existe suficiente evidência científica para recomendar
sua utilização.
Definição e fatos
Reabilitação em pacientes com doença arterial periférica
A prevalência das doenças valvulares tem mudado em
nosso meio nas últimas décadas. Não obstante, a patologia
valvular segue tendo uma importância relevante em qualquer Definição e fatos
serviço de cardiologia, sendo mais frequente a etiologia A aterosclerose nos membros inferiores, chamada
degenerativa ou não reumática, persistindo com menor habitualmente doença arterial ou vascular periférica, possui
incidência as valvopatias congênitas106. Apesar de a patologia uma incidência anual que se calcula em 20 por 1.000 indivíduos
valvular ser tão comum, e que, na maior parte dos casos, os maiores de 65 anos. Esta patologia gera dor isquêmica

21 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Tabela 18 – Exercício físico em valvopatias

Exercício aeróbico Exercício isométrico Exercício competitivo Comentários


• Assintomático com boa função • Assintomático com boa função
Insuficiência aórtica • Prévia avaliação com teste
ventricular: exercício físico • Evitar ventricular: aceito em muitos
de esforço
moderado casos (prévia avaliação)
• As recomendações estão
• Estenose aórtica leve
• Estenose aórtica leve • Estenose aórtica leve baseadas na determinação
assintomática: sem restrições
Estenose aórtica assintomática: sem restrições assintomática: sem restrições da severidade hemodinâmica
• Estenose aórtica moderada
• Estenose aórtica moderada a • Estenose aórtica moderada a da estenose
a severa: só exercícios com
severa: exercício moderado severa: evitar • Deve-se realizar teste de
muito baixa carga
esforço prévio

Estenose mitral • O exercício está muito limitado


pelos sintomas.

• Assintomáticos, ritmo sinusal,


boa função ventricular,
• Assintomáticos, ritmo sinusal, • Assintomáticos, ritmo sinusal,
dimensão auricular esquerda
boa função ventricular, boa função ventricular,
Insuficiência mitral e pressão na artéria pulmonar
dimensão auricular esquerda dimensão auricular esquerda
normal, não têm restrições.
e pressão na artéria pulmonar e pressão na artéria pulmonar
• Pressão atrial esquerda > 60 mm,
normal, não têm restrições normal, não têm restrições
hipertensão pulmonar, disfunção
ventricular: evitar

(claudicação intermitente) que pode provocar limitações físicas questionários de qualidade de vida e de percepção de dor
nos indivíduos afetados, com risco de perda da extremidade. no momento do ingresso na reabilitação e depois do término.
A claudicação intermitente dos membros inferiores se define Em geral, 75% dos indivíduos melhoram a claudicação
como uma dor de suficiente intensidade que obriga a interromper intermitente com exercício mais vasodilatadores periféricos
a caminhada. Ela é causada pelo exercício, é aliviada pelo e antiagregantes plaquetários, enquanto os 25% restante
repouso e é originada por doença arterial oclusiva108. pioram. Deles, 5% requereram uma intervenção vascular
A incidência do sintoma na população geral oscila entre e 2% sofrem uma amputação110.
0,9% e 6,9% em homens e de 1% em mulheres109. É necessário
considerar que o achado de claudicação intermitente em um Recomendações específicas
paciente não deve ser tomado como um fato isolado, senão
Um dos erros mais frequentes neste grupo de pacientes
como a manifestação evidente nos membros inferiores de
é forçá-lo a caminhar em um ritmo próximo à dor máxima
uma doença sistêmica, que tem agredido o sistema locomotor,
de claudicação. Isto abala o paciente, deixa-o com
e que, provavelmente, tal paciente tenha risco de outros
desconfortos que não cedem depois do repouso e lhe tira a
eventos cardiovasculares não necessariamente relacionados
vontade de aderir ao programa. Recomendações acertadas
a este sintoma. De fato, de 5% a 10% dos pacientes terão um
na caminhada programada no claudicante seriam111:
evento cardiovascular não fatal em cinco anos.

• Intensidade: moderada e progressiva. Descansar por


Desafios e objetivos
períodos breves até que a dor desapareça e depois
Os Programas de RCV são parte do tratamento médico. reiniciar a progressão;
No momento do ingresso, os integrantes do serviço de • Duração: pode-se começar com 5 minutos de caminhada
RCV devem: intermitentes, depois progredir até chegar a 50 minutos;
• Realizar o interrogatório do paciente, conhecer os • Tipo de exercício: esteira rolante e caminhada abaixo da
antecedentes pessoais dos pacientes: presença de dor máxima;
fatores de risco cardiovasculares, coexistência de doença
• Os exercícios de resistência podem somar-se aos
coronária, medicação habitual, etc;
aeróbicos, mas não substituí-los;
• Realizar e/ou solicitar um teste de esforço em esteira
• Componentes de cada sessão: períodos de aquecimento
ergométrica com o objetivo de identificar:
e esfriamento, com uma duração de 5 a 10 minutos
a) O limiar de aparecimento da dor isquêmica nas cada um, com caminhada em campo ou esteira;
extremidades;
• Frequência: 3 a 5 vezes por semana. O ideal seria
b) A resposta hemodinâmica periférica ao exercício; diariamente.
c) A coexistência de doença coronária. Os programas de exercício com caminhada são um
É importante repetir tal teste para avaliar a melhoria sucesso quando apresentam uma duração não menor
do paciente. Concomitantemente, podem se realizar que meses22.

Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31 22


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Reabilitação em pacientes pós-transplante cardíaco A meta é chegar a fazer 5 sets de 10 repetições com 70% da
contração voluntária máxima e uma recuperação total.
Definição e fatos A duração total do exercício será de 30 a 40 minutos diários,
combinando exercícios de resistência e aeróbicos, progredindo
Apesar de receber um coração com função sistólica
lentamente do aquecimento até as atividades de resistência.
normal, o receptor experimenta intolerância ao exercício
depois da cirurgia. Esta intolerância é devida à ausência de Também é importante desenhar uma dieta para manter
inervação simpática do miocárdio, anormalidades do músculo o peso ideal, assim como para controlar o colesterol, a DM
esquelético, desenvolvidas previamente ao transplante por e PA, dado que estes pacientes são muito sensíveis ao sal.
conta da insuficiência cardíaca e da diminuição da força Também é necessário informar o paciente em relação à
muscular esquelética112. adoção de medidas para reduzir o risco de infecção depois do
transplante. Um adequado apoio psicossocial é de muita ajuda
Os pacientes transplantados se caracterizam por ter:
para manejar a depressão aumentada pelo uso de corticoides
• Diferenças na resposta cardiopulmonar e neuroendócrina; e o alto nível de ansiedade gerada pelo transplante112.
• Elevada frequência cardíaca de repouso (acima de
90 batimentos por minuto); Reabilitação em pacientes portadores de marca-passo e
• Elevada PAS e PAS em repouso, devido ao incremento cardiodesfribriladores
da norepinefrina plasmática e aos medicamentos
imunossupressores, tais como a ciclosporina, fármaco Definições e fatos
que gera um incremento da PA em repouso e durante o Já foi demonstrado o benefício destes dispositivos na
exercício submáximo. diminuição de episódios de morte súbita e na melhoria na
qualidade de vida, porém, tem se descrito uma importante
Desafios e objetivos incidência de depressão, síndrome de ansiedade e fobias.
Por esta razão, a maioria dos trabalhos de investigação
• Conseguir a diminuição da frequência cardíaca basal com
coincide quanto à recomendação de adequado e contínuo
o treinamento;
suporte e acompanhamento psicológico e educativo114,115.
• Conseguir um incremento na frequência cardíaca durante
o trabalho submáximo;
Desafios e objetivos
• Evitar o sobrepeso ou diminuir o peso, obtendo deste
modo um equilíbrio nos efeitos colaterais da terapia Devido ao fato de que as mudanças fisiológicas do exercício
imunossupressora; possam aumentar a probabilidade de disparo do desfibrilador
(CDI), existe temor por parte do grupo médico encarregado
• Conseguir manter a PA em cifras menores a 130/80 mmHg;
e mesmo do paciente para realizar exercícios. Por isso, é um
• Oferecer ao paciente um suporte para seu manejo desafio vencer esse medo e aumentar o número de pacientes
psicossocial. encaminhados12.
Devemos conhecer antes de começar o exercício:
Recomendações específicas • A patologia de base do paciente.
O médico deve avaliar o paciente com ecocardiograma • A informação básica do marca-passo, como o tipo de
para descartar derrame pericárdico e avaliar a função sensor que adapta a frequência cardíaca, dado que
ventricular, ademais de proporcionar informações ao isto determinará, em alguns pacientes, a resposta
paciente e à família sobre as mudanças nas suas funções da frequência cardíaca ao exercício, especialmente
vitais, derivadas do transplante. em pacientes sem resposta cronotrópica adequada.
Quanto à atividade física, o ideal é iniciar as suas Este fator deverá ser levado em conta na hora de
caminhadas a passo lento, entre 1,5 a 2 km e ir aumentando prescrever o exercício.
a distância devagar, mantendo a percepção do esforço de • A programação do dispositivo, como a frequência máxima
acordo com a escala de Borg, entre 12-14. O exercício à que está programada o choque do CDI.
aeróbico deve ser realizado no início com uma intensidade É importante determinar os limites de exercício (de 10 a 20
menor que 50% do VO2 de pico ou 10% abaixo do limiar bpm abaixo da FC que está programado o choque do CDI).
anaeróbico (guiado pela frequência cardíaca). O treinamento Mediante um teste de esforço, conheceremos a sua frequência
deve iniciar-se desde a hospitalização, seguindo na fase II cardíaca de treinamento, trabalhando com a mesma 75% no
entre a 2ª e 3ª semana pós-transplante. primeiro mês e a 85% no segundo mês.
Deve ser interrompido o exercício durante o período de O trabalho em grupo produz grandes benefícios
administração de terapia com pulsos esteroides112. psicológicos, facilita a troca de experiências e sensações,
O exercício de resistência será adicionado já ao se entrar na ajudando a perder o medo. A formação dos grupos se faz
6ª e 8ª semana. Em um primeiro momento, serão com banda de forma paulatina, fazendo coincidir pacientes novos
elástica (2 a 3 circuitos com 10 a 12 repetições, com período com outros. Estes últimos servem de guia para os novos,
de recuperação acima de um minuto entre cada circuito e com demonstrando-lhes que é possível realizar importantes esforços
intensidade de 40 a 70% da contração voluntária máxima113). que melhoram o nível físico, sem riscos de complicações115.

23 Arq Bras Cardiol 2014; 103(2Supl.1): 1-31


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Recomendações especiais de RCV, requerendo-se apenas que estejam estáveis e
Dependerão do tipo de marca-passo implantado: com medicação adequada. Estes pacientes desenvolvem
limitações progressivas, muitas das vezes, sem acometimento
• Tipo Uni-cameral (VVI) sem frequência adaptável (R),
do coração. A doença pulmonar obstrutiva crônica danifica
mas com boa resposta cronotrópica: age-se de forma
progressivamente o tecido pulmonar e as vias aéreas com o
similar como com os pacientes convencionais. Pode-se
transcurso dos anos, resultando finalmente em deterioração
antecipar melhoria no consumo máximo de O2 e no limiar
da reserva ventilatória de curso lento. Este quadro se complica
anaeróbico, com aumento na capacidade funcional.
com hipoxemia e elevação das pressões vasculares pulmonares
• Tipo Uni-cameral VVI sem frequência adaptável e sem levando à disfunção do ventrículo direito.
resposta cronotrópica: é indicado para treinamento físico
Todos estes fatores contribuem para a sensação de
sem restrições. Porém, nestes enfermos, embora melhore
dispneia e piora da capacidade ao exercício, o qual gera
a capacidade funcional, existe um menor incremento no
redução da atividade física diária. A ausência de exercício
consumo de O2 pico e do débito cardíaco.
leva a uma perda de condição física periférica e, finalmente,
• Tipo Uni-cameral VVIR (com resposta adaptável) se à diminuição da resistência, aumento da fraqueza e atrofia
adequará à frequência cardíaca do exercício. Porém, se o muscular, gerando uma maior diminuição da capacidade
sensor do marca-passo é baseado em acelerômetro que funcional. Porém, pacientes com severa piora ventilatória
detecta movimento axial, é possível que a adaptação da e fraqueza dos músculos respiratórios beneficiam-se
frequência cardíaca não seja adequada em exercícios significativamente da reabilitação pulmonar intensiva.
com intensidade moderada ou alta que não induzam Da mesma forma, a hipoxemia ao exercício tem sido
movimento axial, como bicicleta estacionária. considerada por alguns como uma contraindicação para um
Recomenda-se não realizar exercícios com pesos ou se programa de exercícios e isto pode ser um caso particular
elevem excessivamente os braços até pelo menos 6 semanas para o paciente com doença coronária agregada, mas pode
do implante. Deve-se manter sempre uma relação direta ser feita com um paciente compensado e monitorizado
com o arritmologista encarregado pelo manejo do paciente, adequadamente. É desejável contar com um oxímetro de
com o fim de definir ajustes de programação. Na maioria pulso para medir a saturação de O2 durante o exercício.
dos casos e principalmente nos sobreviventes de morte Uma diminuição da saturação abaixo de 88% é indicação
súbita, os efeitos psicológicos são muito importantes. Será de pausa transitória117 ou necessidade se suplementação de
necessário um tratamento específico e individualizado por oxigênio durante o treinamento físico, seja com o uso de
parte dos psicólogos e psiquiatras da unidade, com o fim de cateter nasal ou mesmo com máscara de Venturi.
melhorar a qualidade de vida e o prognóstico, já que existe
evidência da relação entre afetação psicológica, arritmias
Desafios e objetivos
ventriculares e descargas do CDI116.
• Conseguir que o indivíduo tolere o programa de
É adequado realizar um teste de funcionamento do
exercício prescrito;
marca-passo em cada paciente, anterior ao ingresso no programa
de RCV, de tal maneira que nos permita monitorar com certeza • Realizar uma avaliação conjunta com o pneumologista
os sinais vitais, sintomas em resposta ao exercício e alterações para conseguir uma medicação adequada que lhe
do ritmo. Além de se considerar a programação do marca-passo, permita realizar um programa de exercícios; Quantificar
dependendo da idade e o nível de atividade física do paciente116. adequadamente o nível de incapacidade para, desta
forma, prescrever a carga adequada de exercício;
A percentagem de frequência cardíaca alcançada,
os METS e a sensação subjetiva de esforço por parte do • Conseguir o controle dos fatores de risco cardiovascular;
paciente, calculada por meio da escala de Borg, servirão • Conseguir controlar a depressão e ansiedade produzidas
para determinar o cálculo da intensidade do exercício. Uma pela sensação de dispneia;
adequada planificação do treinamento trará como resultado • Melhorar a resistência muscular e diminuir a atrofia
que a melhoria na capacidade funcional e na morbidade muscular;
siga em relação direta com a etiologia e a gravidade da DCV
• Melhorar a qualidade de vida do paciente mediante a
subjacente. Para os pacientes que são incluídos em programas
melhora da capacidade funcional em função do exercício;
de RCV, um dos objetivos principais é dar-lhes confiança e
segurança, ante a aparição de possíveis arritmias ou descargas • Conseguir reduzir o período de descanso entre cada
durante o exercício ou durante a sua vida cotidiana e ajudá-los período de exercício.
a superar seus medos e ansiedades, pela mudança na sua
qualidade de vida115. Recomendações específicas
• É importante a avaliação dos parâmetros respiratórios
Reabilitação em pacientes com doença pulmonar
e cardiovasculares antes de começar com o programa.
obstrutiva crônica
Aconselha-se realizar um exame físico, radiografia
padrão de tórax, espirometria e ecocardiograma,
Definição e fatos além de teste cardiopulmonar ou a caminhada
O paciente com doença cardíaca associada à doença de 6 minutos. A realização de teste ergométrico
pulmonar e estável não deve ser excluído de um programa convencional com suplementação de oxigênio pode

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ser útil em pacientes com hipoxemia significativa em Recomendações especiais
repouso ou induzida no esforço. • Recomenda-se realizar um teste de esforço e uma
• O exercício deve estar balanceado em três tipos de avaliação neuromusculoesquelética, quando o paciente
exercícios: flexibilidade, exercícios de resistência e começar com o programa de RCV. Caso o paciente inicie
aeróbicos. O alongamento é parte de uma rotina de no programa antes do teste de esforço, este deve ser
exercícios que desenvolvem flexibilidade, melhorando realizado nas primeiras 4 a 7 semanas, cujos resultados
a faixa de movimento e ajudando o aquecimento geral. serão utilizados para ajuste da prescrição do exercício.
Podem se incluir exercícios com peso livre, de baixa Todos os pacientes pós síndrome isquêmica aguda ou
intensidade e alta frequência, assim como caminhadas, procedimento de revascularização devem submeter-se a
remo, natação, hidroginástica, ciclismo, subir escadas um teste de exercício com análise do ECG (quando seja
e outros, capazes de produzir um nível de estresse tecnicamente factível) ou a um teste equivalente não invasivo
cardiopulmonar importante118,119. para avaliar a isquemia nas primeiras 4-7 semanas após a alta
• A carga inicial prescrita a partir do ponto de vista hospitalar (Nível de Evidência, IIa-C)29.
pulmonar deve ser de intensidade suficientemente baixa • Como regra geral, a atividade física (atividade durante
para que o paciente não sinta desconforto. o lazer, atividade profissional e atividade sexual) deve
• A intensidade apropriada de trabalho desejado reiniciar-se a 50% da capacidade máxima de exercício,
para estes pacientes deve ser determinada com o expressa em METS, e ser aumentada gradativamente.
treinamento, isto é, de 70 a 80% da frequência cardíaca • Um paciente que tenha a função sistólica ventricular
máxima, se for possível118. esquerda preservada e não apresente isquemia
• Nas primeiras semanas, as sessões não devem prolongar-se induzível ou arritmias em um teste de esforço pode
além de 20 minutos. Portanto, as estratégias com retornar à sua atividade profissional. Se o trabalho
intensidades para alcançar o mais alto nível no exame for de escritório, pode reiniciar uma atividade
de esforço inicial deve ser a última meta119,120. de oito horas diárias. Se o trabalho for manual e
• O paciente com obstrução evidente deve ter indicação envolver atividade física com esforços moderados ou
de uso de broncodilatador de ação rápida, 15 minutos intensos, a carga de trabalho não deve exceder 50%
antes de iniciar os exercícios. da capacidade máxima de exercício avaliada no teste
de esforço. A jornada de trabalho não deve exceder
• Quando o paciente tolera cargas de exercícios, estas
quatro horas no primeiro mês, com progressivos
podem ser aumentadas em torno de 12,5 watts para a
aumentos mensais de dois horas29.
bicicleta ergométrica e 9 watts para o ergômetro de mão
e aumentar a cada 6 sessões. • Um paciente que apresente disfunção sistólica ventricular
esquerda moderada ou com isquemia leve num teste de
• Manejo psicossocial: já que as alterações psicológicas são
esforço pode reiniciar o trabalho de escritório, mas a sua
comuns nesses pacientes, é importante uma avaliação
atividade deve limitar-se a trabalho manual estático.
psicológica prévia ao ingresso no programa de RCV.
• Um paciente com disfunção sistólica ventricular
Reabilitação em pacientes coronariopatas (Pós-infarto do esquerda severa ou isquemia significativa em um
miocárdio, pós-revascularização coronária percutânea ou teste de esforço pode realizar trabalho de escritório
cirurgia de revascularização miocárdica) sempre que a capacidade de exercício seja > 5 METS
sem sintomas. Se não for, o paciente deve abster-se
de trabalhar29.
Definição e fatos
Depois de um evento coronário agudo, os pacientes Reabilitação em pacientes com síndrome vasovagal
começarão a realizar atividade física segundo a sua tolerância
(caminhadas, cicloergômetro, etc.) e compatível com a
A síncope vagal ou neurocardiogênica é uma entidade
gravidade do quadro. Geralmente, em uma semana, todos
comum com uma prevalência estimada em torno de 35%123-126.
os pacientes estarão desenvolvendo uma atividade que, no
começo, será suave e indicada pelo profissional a cargo do O uso de líquidos e o sal têm sido amplamente
seu programa121. recomendados para o tratamento desta patologia 127,128.
Alguns exercícios isométricos (contrapressão) têm
sido utilizados como abortivos dos episódios que vêm
Desafios e objetivos precedidos por um pródromo. Esses exercícios são
O exercício baseado em RCV reduz os eventos fatais entre destinados a aumentar rapidamente a resistência arterial
25% a 40% a longo prazo. Apesar do indiscutível benefício da periférica e, portanto, prevenir uma síncope devido à
RCV, só 15 a 30% dos pacientes que têm sofrido um evento queda da PA. Os principais exercícios de contrapressão
cardiovascular participam deste tipo de programas, além da são a empunhadura, a tensão das extremidades superiores,
diminuição da adesão que têm os pacientes que decidem unindo as duas mãos e tratando de separá-las e a contração
participar. Desse modo, é importante fomentar a constância das extremidades inferiores 129-131. Outro método eficaz
e permanência dos mesmos no programa12,122. para a prevenção de novos episódios são exercícios

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supervisionados, nos quais se permanece em posição V - CONCLUSÕES
ortostática, apoiado na parede, de duração progressiva,
Hoje sabemos que a RCV é segura e eficaz, diminui a
chegando a 30 minutos132. O exercício aeróbico regular
mortalidade total e de origem cardíaca, além do número de
deve ser recomendado porque são quase sempre eficazes
eventos cardiovasculares, diminui também as internações
na diminuição dos sintomas, uma vez que aumentam o
hospitalares, melhora os sintomas e a qualidade de vida, além
volume de sangue, a massa muscular nas extremidades
de ser custo-efetiva. Ela é recomendada em todos os guias
inferiores e melhoram o retorno venoso130. A evidência tem
de prática clínica, porém, sua implantação em nosso meio é
demonstrado que um programa regular de exercícios com
subótima e frustrante.
atividade aeróbica e exercícios de resistência aumenta a
sensibilidade dos barorreceptores arteriais, em comparação Devem-se garantir os recursos humanos e materiais para
com o tratamento farmacológico133. desenvolver estes programas de forma padronizada, acessível
e universal. A atitude e a colaboração dos médicos na fase de
Custo/Eficácia de um programa de reabilitação hospitalização é elemento chave para o encaminhamento e co
cardiovascular sucesso dos programas. Uma atitude favorável para a reabilitação
facilitará a alteração de rotina de um maior número de pacientes.
O custo eficiência mede os anos e a qualidade de vida
ganha e expressa-se preponderantemente em termos O “desenho” dos programas e a atitude dos profissionais
monetários sobre os anos ganhos. Ao falar de custo/ benefício podem influir no abandono do programa, exatamente por não se
ou custo-efetividade, medem-se também os custos de ajustarem às circunstancias dos pacientes. Devem-se considerar
uma intervenção, acrescidos aos custos relacionados com programas reduzidos e/ou domiciliares semissupervisionados para
a doença em questão, incluindo complicações ou eventos casos que assim o requeiram. As mulheres se incorporam menos
a longo prazo. Os resultados se expressam em termos de e abandonam antes os programas, por serem mais idosas, por
benefícios clínicos (anos de vida ganhos) divididos pelo valor apresentar patologias associadas à depressão, menor suporte social
monetário (custo), resultando no custo que tem cada ano de e mais cargas familiares. Algo parecido sucede com pacientes
vida a mais, em comparação com o tratamento alternativo deprimidos e de baixo nível social. A falta de exercício físico e os
ou à ausência de tratamento. maus hábitos alimentares estão criando uma mudança do perfil
Vários estudos têm demonstrado que a RCV é cardiovascular da população, o que implica em uma aparição
custo-efetivo e, inclusive, pode chegar a ser custo-poupança, mais precoce das manifestações clínicas da DCV e aumento da
porque não só aumenta a sobrevida, como abaixa os custos. prevalência dos fatores de risco, como sedentarismo e sobrepeso.
Ades e cols.134 analisaram o custo/benefício em 21 meses Estas circunstâncias acarretam grave problema de saúde pública, o
de RCV e encontraram um valor de U$ 739 a menos que o qual deve ser corrigido com medidas de educação dirigidas a toda
grupo controle, enquanto que Oldrige e cols.135 mostraram a população, fomentando predominantemente os programas de
U$ 9.200 a menos que no grupo controle, em um período prevenção primária. Consideramos, portanto, que os governos,
de 12 meses. Se quisermos comparar o custo/eficiência por meio de suas políticas de saúde, devem envolver-se mais,
gerado por a RCV com o gerado por outras intervenções, promovendo e realizando ações de real impacto na sociedade.
como por exemplo, podemos citar o tratamento médio da Em declaração feita no ano 1993, a Organização Mundial
HAS que tem um custo/efetivo de U$ 9000. Isto comprova da Saúde (OMS) propunha que a reabilitação cardíaca não
que a RCV é útil em termos de sobrevivência, eventos poderia ser considerada como uma terapia isolada, mas sim
cardiovasculares, qualidade de vida e também sob o ponto ser integrada no tratamento global da cardiopatia e ser parte
de vista econômico. ativa da Prevenção Secundária.

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