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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO I TRIBUNAL DO JURI DE

BELO HORIZONTE- MINAS GERAIS

José Wilker, já devidamente qualificada nos autos do processo criminal


em epígrafe que lhe move o Ministério Público, por sua advogada que esta
subscreve, não se conformando com a respeitável decisão de pronúncia, vem
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor o presente
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, com fulcro no artigo 581, IV do Código
de Processo Penal.

Nesse sentido, requer que seja conhecido e provido o recurso e


procedido o juízo de retratação, nos termos do artigo 589 do Código de
Processo Penal. Se mantida a decisão, requer seja encaminhado o presente
recurso ao Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, para o devido
processamento. O presente recurso é tempestivo, uma vez que interposto
dentro do prazo de 5 (cinco) dias, previsto no artigo 586 do Código de Processo
Penal. Recorrente: José Wilker

Recorrido: Ministério Público de Minas

Gerais Egrégio Tribunal de Justiça

Ínclitos Desembargadores

I- SÍNTESE DO OCORRIDO

Consta nos autos que, no dia 02 de novembro de 2021, o recorrente,


movido por uma discussão territorial, efetuou um disparo contra a vítima,
causando-lhe lesões no braço esquerdo. O Ministério Público denunciou contra
o autor, por infração prevista no artigo 121, caput e artigo 14, inciso II, do
Código Penal, ou seja, tentativa de homicídio. Conforme consta na denúncia, o
delito não se consumou por circunstância alheias à vontade de José, o que não
condiz com a realidade, como passarei a demonstrar. A denúncia foi recebida
pelo I Tribunal do Júri de Belo Horizonte- Minas Gerais e, após, o réu
apresentou tempestivamente a resposta a acusação, como consta nos autos.
Durante a instrução, foram ouvidas quatro testemunhas, sendo duas delas
arroladas pela defesa, esses presentes na hora do fato e que confirmaram a
desistência voluntária do recorrente. O autor foi intimado da referida decisão na
data de 27 de março de 2023, sendo tempestivo o presente recurso.
II- FUNDAMENTOS JURÍDICOS

a) DA IMPRONÚNCIA E DESQUALIFICAÇÃO DO CRIME

Segundo o artigo 414 do CPP, não se convencendo da materialidade do


Fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o
juiz, fundamentadamente, impronunciará o acusado. No caso em tela, não há
indícios suficientes de que o recorrente havia, no momento do disparo, intenção
de matar a vítima. Não é possível (e muito menos aceitável) afirmar que o autor
do delito queria tirar a vida da vítima apenas pela oitiva das testemunhas. Se
olharmos para o Direito, ciência estritamente rígida e que não permite erro,
tendo em vista tratar-se de um direito inviolável, a liberdade, não há provas
suficientes para pronúncia do réu em tentativa de homicídio. Vejamos, as
provas apresentadas são infundadas, assim como há testemunhas (não-
presenciais) que afirmam terem ouvido o autor dizer que pretendia matar a
vítima, há, também, testemunhas que presenciaram os fatos, que afirmam com
certeza que o réu disparou apenas uma vez contra a vítima, em seu braço. Ora,
alguém com animus necandi não iria disparar uma única vez, em um membro
não fatal como ocorreu. Trata-se, claramente, de um crime de lesão corporal de
natureza grave, e não um crime de tentativa de homicídio como o
entendimento do juízo de origem.

É inaceitável permitir que uma testemunha, que não presenciou os fatos,


possa decidir o futuro e a liberdade de um indivíduo assim. Além dos
depoimentos, não há provas cabais que determinem a real intenção do
recorrente no momento da ação e, como já dito, caso o juiz não encontre
indícios suficientes, não deverá pronunciar o réu.

Diante do exposto, resta claro que as provas testemunhais juntadas aos


autos não são suficientes para comprovar a autoria do crime de tentativa de
homicídio, devendo, o presente recurso ser julgado PROCEDENTE, para
desqualificar o delito de tentativa de homicídio para o crime de lesão corporal,
tipificado no artigo 129, § 1º, inciso I do Código Penal, qual seja:

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

b) DA DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

Prevê o artigo 15 do Código Penal que quando agente, voluntariamente,


desistir de prosseguir com a ação responderá apenas pelos atos praticados. Nos
termos da denúncia, o delito de homicídio não se consumou por circunstâncias
alheias à vontade de José Wilker, sendo evitado porque a vítima recebeu pronto
atendimento médico. Porém em audiência de Instrução e Julgamento foram
ouvidas duas testemunhas que presenciaram os fatos e afirmaram que o réu
disparou apenas uma vez contra a vítima e não prosseguiu com a ação. Ainda,
conforme informações da polícia técnica, a arma utilizada no momento do crime
havia 7 (sete) cartuchos disponíveis, ou seja, o agente não deixou de
prosseguir com a ação por circunstâncias alheias, e sim por desistência
voluntária.

Logo, considerando a desistência voluntária, prevista no artigo 15 do


Código Penal, o réu deve responder apenas pelo crime que praticou, ou seja,
lesão corporal de natureza grave, previsto no artigo 129, §1º, inciso I do
Código Penal, uma vez que a lesão ocasionou à vítima a incapacidade de
exercer suas atividades por 40 dias, mas não pela prática do crime de homicídio
tentado, como entendeu o juízo de origem.

III- DOS FUNDAMENTOS

Ante o exposto, requer seja CONHECIDO e PROVIDO o presente


recurso, com a reforma da decisão de 1º grau, para o fim de que:

A) Seja desclassificado o delito de homicídio tentado para o crime de


lesão corporal grave, com a consequente remessa para o juízo comum, na
forma do artigo 419 do Código de Processo Penal.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Local, 03 de abril de 2023.


Advogado
OAB

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