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Organização e Funcionamento Do SUS

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Ministério da Educação – MEC

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior – CAPES
Diretoria de Educação a Distância – DED
Universidade Aberta do Brasil – UAB
Programa Nacional de Formação
em Administração Pública – PNAP
Especialização em Administração Pública

ESPECIALIZAÇÃO EM
GESTÃO EM SAÚDE

Organização e
Funcionamento do SUS
Márcio Augusto Gonçalves

2021
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Ph.D. em Administração, pela Aston University. É


professor Associado do Centro de Pós-Graduação e
Pesquisa em Administração (CEPEAD) da Faculdade
de Ciências Econômicas da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). É coordenador da Rede de
Observatório de Custos em Saúde e Líder do Núcleo
Observatório de Custos em Saúde (NOCES).

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

G635o Gonçalves, Márcio Augusto


Organização e funcionamento do SUS / Márcio Augusto Gonçalves
– Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração / UFSC;
[Brasília]: CAPES : UAB, 2014.
98p.

Especialização em Gestão em Saúde


Programa Nacional de Formação em Administração Pública
Inclui referências
ISBN 978-85-7988-243-2

1. Sistema Único de Saúde (Brasil). 2.Saúde Pública – Administração. 3.Serviços


de saúde – Aspectos econômicos. 4. Saúde – Custos. 5. Atenção primária à saúde.
6. Educação a distância. I. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Título.
CDD 614:35

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071


PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR | CAPES

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDÁTICOS


Universidade de Pernambuco | UPE

AUTOR DO CONTEÚDO
Márcio Augusto Gonçalves

EQUIPE TÉCNICA – UPE | NEAD

COORDENAÇÃO DO NEAD - UPE


Renato Medeiros de Moraes

COORDENAÇÃO DO PROJETO
Roberto Luiz Alves Torres

PROJETO GRÁFICO
José Marcos Leite Barros

EDITORAÇÃO
Anita Maria de Sousa
Aldo Barros e Silva Filho
Enifrance Vieira da Silva
Danilo Catão de Lucena

REVISÃO TEXTUAL
Maria Tereza Lapa Maymone de Barros
Geruza Viana da Silva

CAPA
José Marcos Leite Barros
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 7

CAPÍTULO 1 - O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 9


O Sistema Único de Saúde (SUS) 9
O SUS 9
O Processo de Planejamento e Programação em Saúde 14

CAPÍTULO 2 - AS INFORMAÇÕES NO SETOR DA SAÚDE 23
As Informações no Setor da Saúde 23
A Informação na Saúde 24
Principais Fontes de Informação 26
Informações Disponibilizadas pelo DATASUS 26
Outras Fontes de Informações em Saúde 30

CAPÍTULO 3 - OS NÍVEIS DE ATENÇÃO À SAÚDE 33


Os Níveis de Atenção à Saúde 33
Modelos de Atenção 34
A Atenção Básica à Saúde 36
A Média Complexidade no SUS 39
A Alta Complexidade no SUS 40

CAPÍTULO 4 - A GESTÃO ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA


DO SUS 45
A Gestão Administrativa e Financeira do SUS 45
A Gestão Financeira do SUS 45
Gestão Administrativa do SUS 54

CAPÍTULO 5 - GESTÃO COMPARTILHADA NO SUS 67


Gestão Compartilhada no SUS 67
A Gestão do SUS em cada Esfera de Governo 68
Pacto pela Saúde 71
Participação da Comunidade na Gestão do SUS 75

CAPÍTULO 6 - REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE 79


Redes de Atenção à Saúde 79
Os Fundamentos das RAS 81
Os Elementos Constitutivos das RAS 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS 90

REFERÊNCIAS 91
ORGANIZAÇÃO E
FUNCIONAMENTO DO SUS
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Apresentação da Disciplina
O Sistema Único de Saúde (SUS) é a melhor proposta de sistema de
saúde do mundo. Esta não é uma afirmação precipitada ou exagerada.
Nosso SUS é o melhor sistema de saúde por nele estarem preconizadas
a universalidade e a integralidade a todos os cidadãos em território bra-
sileiro e representar, em termos constitucionais, um compromisso do
Estado brasileiro com seus cidadãos, sendo uma das políticas de maior
inclusão social já implementada no Brasil. A sua organização e o seu fun-
cionamento constituem uma rica área do conhecimento, que nos levará
a conhecer a grandeza de sua proposta. Ainda assim, há muito a ser feito
para implementarmos de fato todos os princípios dessa proposta.

Podemos considerar que a saúde é um bem de demanda infinita, isto é,


quanto mais saúde temos, mais saúde queremos. Por isso, proporcionar
o acesso aos serviços de saúde sempre de melhor qualidade deve cons-
tar na agenda de compromissos de todos os gestores de Saúde Pública e
também dos gestores prestadores de serviços de saúde privada.

A disciplina Organização e Funcionamento do SUS integra o módulo es-


pecífico do Curso de Especialização em Gestão em Saúde e propõe-se
a fundamentar a discussão e o conhecimento sobre o SUS. Tem como
objetivo específico a compreensão do processo de gestão em saúde, par-
ticularmente em serviços de saúde, tomando por referência o arcabouço
legal, as diretrizes e o funcionamento do SUS.

Você está convidado a “mergulhar” no universo do SUS, em sua forma


de planejamento, sua organização em relação às esferas de governo; e a
compreender os principais aspectos relacionados ao seu funcionamento.

Nesta disciplina vamos apresentar, em seis Capítulos, os fundamentos e


a organização do SUS, de forma a gerar uma base de conhecimento que
possibilite a sua compreensão da complexidade da organização do siste-
ma de atenção à saúde e a subsidiá-lo, gestor de serviços de saúde, para
atuar em diferentes cenários da rede de atenção à saúde.

No Capítulo 1, vamos discutir com você sobre o SUS, seus princípios


doutrinários e seu processo de planejamento e programação.

No Capítulo 2, vamos abordar os conceitos de informação, dado, co-


nhecimento e informação na saúde, apresentando importantes fontes de
dados em saúde, como o DATASUS.
No Capítulo 3, vamos apresentar os diversos níveis de atenção, sendo
eles a atenção básica, a de média e a de alta complexidade, especificando
as particularidades de cada nível.

No Capítulo 4, dividida em duas seções, vamos analisar a Gestão Finan-


ceira e Gestão Administrativa. No primeiro tópico, abordamos a Gestão
Financeira do SUS, sua estrutura básica e o financiamento da saúde com
base nas abordagens macroeconômica e microeconômica, apresentando
suas especificidades. No tópico Gestão Administrativa, apresentamos as
funções administrativas, enfatizando a gestão de suprimentos, o controle
de estoques, o controle patrimonial, o suporte logístico e a Gestão de
Recursos Humanos no SUS.

O Capítulo 5 vai permitir a você o entendimento da gestão do SUS em


cada esfera de governo, apresentando as competências de cada ente fe-
derado e a participação da comunidade. E o Capítulo 6 vai apresentar os
conceitos de Redes de Atenção à Saúde (RAS), enfocando seus funda-
mentos e elementos constitutivos.

O SUS é um sistema de saúde com particularidades que precisam ser co-


nhecidas pelo profissional da saúde, seja ele gestor de unidade de saúde,
de clínica prestadora de serviço ou de hospital. O conhecimento sobre
o SUS também é fundamental a todos os que produzem informações
de saúde, que alimentam os diversos sistemas de informações disponí-
veis e que se inter-relacionam, como um pesquisador ou um gerente ou
mesmo um gerente de um prestador de produto ou serviço para o SUS
(como as empresas de produção de medicamentos e os fornecedores de
equipamentos).

O SUS tem uma clientela potencial de quase 200 milhões de pessoas,


com acesso gratuito à saúde garantido pela Constituição de 1988. Con-
forme dados apresentados pelo Ministério da Saúde, 70% da população
depende do SUS como único meio de acesso aos serviços de Saúde. Não
temos como ficar indiferentes a esses números.

Enfim, esperamos que o conhecimento da organização do SUS acres-


cente a você, gestor, uma visão da complexidade desse relevante setor,
seja por sua importância para a população, seja pelo grande volume de
recursos consumidos, seja pelas inter-relações com outros setores eco-
nômicos brasileiros.

Também convidamos você a compreender a importância de cada partici-


pante desse movimento de melhora na qualidade da saúde, tão necessá-
rio atualmente no Brasil. Precisamos entender que não existe um modelo
pronto, ideal a ser seguido. Por isso é necessário ampliar a discussão, o
conhecimento e o debate, no sentido de garantir o melhor funcionamen-
to e a melhor atenção ao usuário cidadão, que somos todos nós. Este é
o seu desafio. Bons estudos!

Professor
Márcio Augusto Gonçalves
CAPÍTULO I

CAPÍTULO 1
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
(SUS)
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao final deste Capítulo, você deverá ser capaz de:


9
• Entender os princípios doutrinários do SUS e sua fundamentação
legal;

• Conhecer o processo de planejamento e programação em saúde; e

• Identificar os instrumentos desse planejamento utilizados no SUS.

O Sistema Único de Saúde (SUS)

Prezado estudante,
Iniciamos o nosso primeiro Capítulo convidando você a conhecer o universo de
atuação do nosso Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo deste Capítulo é
aprofundar o seu conhecimento sobre o SUS, discutindo desde a sua criação,
os seus princípios norteadores, como se dá o planejamento das ações em saúde
até os instrumentos elaborados para tal. Esse conhecimento básico sobre o SUS
é fundamental para o entendimento dos próximos Capítulos.

Por isso, muita atenção, se surgir alguma dúvida, releia o conteúdo e busque
esclarecê-la com os materiais complementares e com o tutor no Ambiente Vir-
tual de Aprendizagem (AVA). Boa leitura!

O SUS

Nosso estudo quanto à organização e ao funcionamento do SUS inicia


com o entendimento da origem desse modelo de saúde pública e de seus
princípios e diretrizes estruturadores. Convidamos você a conhecer a his-
tória da constituição do SUS no Brasil.

Antes de 1930, os direitos sociais no Brasil não eram reconhecidos. A


partir do governo de Getúlio Vargas foi introduzido o direito à assistência
médica somente para os trabalhadores urbanos com carteira assinada.
Assim, os direitos sociais estavam atrelados a vinculação profissional.
CAPÍTULO 1

Nesse período foram criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões


(IAP).

O Sistema Nacional de Saúde implantado no Brasil no período militar


(1964-1984) caracterizou-se pelo predomínio financeiro das instituições
previdenciárias e pela hegemonia de uma burocracia técnica que atuava
no sentido da mercantilização crescente da saúde. Em 1966, os IAPs
foram unificados ao Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). As
reformas institucionais implantadas no governo militar afetaram profun-
damente a saúde pública e a medicina previdenciária (Brasil, 2011). Em
1977 foi criado o Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência
Social (INAMPS) em um contexto de contradições do sistema previden-
ciário, devido a ampliação progressiva da cobertura e pelas dificuldades
de reduzir os custos da atenção médica no modelo curativo e privatista
vigente.

10 Somente na década de 1980, com a implantação das Ações Integradas


de Saúde (AIS) e dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde
(SUDS) que a ideia da saúde como direito começa a ganhar corpo.

Na 8ª. Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, foi aprova-


do o projeto democrático de reforma sanitária voltado para a universa-
lização do acesso, equidade no atendimento, integralidade da atenção,
descentralização, regionalização, hierarquização da rede de serviços e
participação da comunidade. Assim em 1988, foi elaborado a Consti-
tuição Federal do país, também conhecida como Constituição Cidadã,
representou o direito ao acesso universal e igualitário aos serviços de
saúde e o processo de democratização da saúde.

Vale ressaltar que antes da criação do Sistema Único de Saúde, o Mi-


nistério da Saúde desenvolvia quase que exclusivamente ações de pro-
moção da saúde e prevenção de doenças, como campanhas de vaci-
nação e controle de endemias. A atuação do setor público na chamada
assistência médico-hospitalar era prestada por intermédio do Instituto
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), autar-
quia do Ministério da Previdência e Assistência Social, e a Assistência à
Saúde desenvolvida beneficiava apenas os trabalhadores da economia
formal, segurados do INPS e seus dependentes, não tendo caráter uni-
versal (SOUZA, 2002apud Brasil, 2011).

A Constituição Cidadã passa a definir que

“[...] saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas


sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua pro-
moção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988).

Corroborando com o definido na Constituição de 1988 (CF/88), a Lei


n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, tanto fundamenta a proposta de
saúde como direito de todos quanto regulamenta o SUS em seu artigo

CAPÍTULO 1
4º como o:

[...] conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e insti-


tuições públicas federais, estaduais e municipais da administração direta e
indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público [...] (BRASIL, 1990a).

A Lei n. 8.142, de 28 de dezembro de 1990, e, posteriormente, o Decreto


n. 7.508, de 28 de junho de 2011, também fundamentam os princípios
definidos na CF/88, estabelecendo a organização do SUS, o planejamento
da assistência à Saúde Pública no Brasil e a articulação interfederativa,
com a criação das Regiões de Saúde. Cada região deve oferecer serviços
de atenção primária, urgência e emergência, atendimento psicossocial,
atenção ambulatorial especializada e hospitalar, além de vigilância em
saúde (BRASIL, 2011d).

SAIBA MAIS 11

A articulação interfederativa refere-se à articulação entre os entes


da federação, isto é, compartilhada pela União, Estados e muni-
cípios. O Decreto n. 7.508/11, Capítulo II, Seção I, define que a
assistência à saúde será prestada por Regiões de Saúde, as quais
serão instituídas pelo Estado, em articulação com os Municípios,
respeitadas as diretrizes gerais pactuadas na Comissão Intergesto-
res Tripartite (CIT) a que se refere o inciso I do artigo 30. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/
decreto/d7508.htm>. Acesso em: 20 set. 2021.

O SUS agrega todos os serviços estatais das esferas federal, estadual


e municipal e os serviços privados (desde que contratados ou conve-
niados). A Lei n. 8.080/90 dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos
serviços correspondentes e dá outras providências. Além disso, como
dito, regulamenta praticamente todo o sistema de saúde: disposições ge-
rais e preliminares, objetivos e atribuições, princípios e diretrizes, orga-
nização, direção e gestão, competências e atribuições, serviços privados
de assistência à saúde (funcionamento e participação complementar),
recursos humanos, financiamento (dos recursos, da gestão financeira, do
planejamento e do orçamento) e, finalmente, das disposições transitórias
(BRASIL, 1990a).

Inicia-se, assim, um sistema de atenção que oferece assistência desde a


prevenção até a recuperação da saúde, tendo como única exigência que
o usuário seja cidadão brasileiro.

Agora vamos detalhar os princípios reguladores estabelecidos


em lei que fundamentam o SUS.
Os princípios do SUS, regulamentados pela CF/88, são divididos em
CAPÍTULO 1

dois grupos: o primeiro é composto de três princípios doutrinários –


que asseguram a identidade do SUS e seus objetivos, conforme deter-
minado pela CF/88; e o segundo grupo é composto de quatro princípios
organizativos.

Princípios Doutrinários do SUS

Os princípios doutrinários do SUS, como dito, asseguram a identidade


do sistema e seus objetivos, conforme determinado pela CF/88. São eles:

• universalidade: prevê o acesso universal e igualitário a todos os ci-


dadãos. Esse princípio significa simplesmente que o SUS deve ser
gratuito e acessível a qualquer pessoa que dele precise, independen-
temente de contribuição previdenciária;

• integralidade: prevê que o SUS deve prover um conjunto de ações


12 voltadas para a promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos,
assistência e recuperação. Esse princípio faz com que o foco do sis-
tema de saúde não se restrinja somente ao indivíduo, mas também
abarque a coletividade à qual ele pertence, prevendo assistência de
forma integral; e

• equidade: prevê o oferecimento de igualdade de condições ao ci-


dadão, isto é, o reconhecimento de que as condições econômicas,
sociais e de saúde das pessoas são desiguais e, por isso, é preciso
investir mais em indivíduos e comunidades que estejam em piores
condições.

Perceba que os princípios doutrinários do SUS são a base do seu


funcionamento; porém, muito ainda deve ser feito para que sejam
efetivamente uma realidade para o cidadão brasileiro.

Princípios Organizativos do SUS

Os princípios organizativos se referem aos meios utilizados para atingir


os fins determinados pelos princípios doutrinários. O segundo grupo de
princípios diz respeito à organização do sistema de saúde (CARVALHO,
2007)

• regionalização e hierarquização: diz respeito a forma de organização


dos estabelecimentos entre si e com a população usuária. A regiona-
lização dos serviços pressupõe a delimitação de uma base territorial
pra o sistema de saúde, levando em consideração a divisão político-
-administrativa do pais, mas contemplando a delimitação dos espa-
ços territoriais específicos para a organização das ações de saúde. A
hierarquização dos serviços refere-se à possibilidade de organização
das unidades de acordo com o grau de densidade tecnológica dos
serviços, ou seja, a instituição de uma rede que articula as unidades
de menor densidade tecnológica às unidades com maior densidade
tecnológica, por meio de um sistema de referencia e contrareferencia

CAPÍTULO 1
de usuários e de informações (Teixeira et al, 2014);

• participação social: a participação da comunidade está garantida nas


questões do SUS por meio dos Conselhos e das Conferências de Saú-
de, divididos em segmentos de acordo com a natureza de sua inser-
ção no sistema de saúde (usuários, gestores e trabalhadores). Esses
segmentos, por lidarem diretamente com questões relativas à saúde
da comunidade e por conhecerem as necessidades locais, devem ter
voz ativa na formulação das políticas locais e na fiscalização de sua
execução (o que é garantido no nível municipal pelos Conselhos Mu-
nicipais de Saúde e pelas Conferências Municipais de Saúde). A parti-
cipação da comunidade é uma diretriz do SUS assegurada pelo artigo
198 da CF/88 e regulamentada pela Lei n. 8.142/90.

O SUS pode ser também apresentado pelos seus pressupostos, confor-


me o Manual Básico de Gestão Financeira do SUS. As diretrizes vão defi-
nir a orientação que o SUS deve seguir, ou seja, os critérios de conduta; 13
e os pressupostos são as hipóteses preestabelecidas para essa condução.
A Figura 1 apresenta as diretrizes e pressupostos do SUS.

Figura 1 – Diretrizes e pressupostos do SUS


Fonte: BRASIL (2003, p. 12)

Em suma, podemos apresentar os princípios do SUS da seguinte forma:

• essencialidade: a saúde como direito fundamental do cidadão e de-


ver do Estado;

• universalização: a saúde como direito de todos;

• integração: a participação conjunta e articulada das três esferas de


governo no planejamento, financiamento e execução;
• regionalização: o cidadão tem o município como referência e deve
CAPÍTULO 1

ser atendido o mais próximo possível de sua residência;

• diferenciação: representa que cada ente – União, Estados e municí-


pios – tem autonomia na gestão e características distintas de presta-
ção de serviço;

• autonomia: cada esfera de governo tem independência para gerir


seus recursos;

• planejamento: representa que os recursos da saúde devem estar pre-


vistos e devem fazer parte do orçamento da Seguridade Social nas
três esferas de governo;

• financiamento: garantido com recursos das três esferas de governo; e

• controle: controle das ações e dos serviços de saúde.

14 O Processo de Planejamento e Programação em Saúde


Você já ouviu falar no Sistema de Planejamento do SUS? Quando da
elaboração do Plano Nacional de Saúde em 2004–2007, ficou evidente a
necessidade de se construir um sistema de planejamento que definisse
e aperfeiçoasse as bases organizacionais e o funcionamento do SUS. Em
2005 e 2006 foram realizadas oficinas macrorregionais com dirigentes
e técnicos atuantes na área de planejamento nas três esferas do SUS. O
produto dessas oficinas e discussões se constituiu no Sistema de Plane-
jamento do SUS – conhecido como PlanejaSUS (BRASIL, 2009c).

SAIBA MAIS

Conheça a íntegra do texto Sistema de Planejamento do SUS (Plane-


jaSUS): uma construção coletiva – trajetória e orientações de opera-
cionalização. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/pu-
blicacoes/planejaSUS_livro_1a6.pdf>. Acesso em: 15 out. 2021.

Sistema de Planejamento do SUS

O PlanejaSUS objetiva dotar os gestores, segundo as especificidades de


cada esfera, do planejamento necessário para ofertar ações e serviços
aptos a promover, proteger e recuperar a saúde da população: “Define-
-se como Sistema de Planejamento do Sistema Único de Saúde a atuação
contínua, articulada, integrada e solidária das áreas de planejamento das
três esferas de gestão do SUS.” (BRASIL, 2009c).

Os pontos prioritários desse sistema, segundo o item 4, da Portaria n.


399, de 22 de fevereiro de 2006, são:

• adotar as necessidades de saúde da população como critério para o


processo de planejamento no âmbito do SUS;
• integrar os instrumentos de planejamento tanto dentro do contexto de

CAPÍTULO 1
cada esfera de gestão quanto no contexto do SUS em sua totalidade;

• institucionalizar o fortalecimento do PlanejaSUS;

• adotar o processo de planejamento, neste incluído o monitoramento


e a avaliação, como instrumento estratégico de gestão do SUS;

• revisar e adotar um rol de instrumentos de planejamento – como pla-


nos, relatórios e programações – a ser utilizado pelas três esferas de
gestão, com adequação dos instrumentos legais do SUS no tocante a
esse processo e instrumentos dele resultantes; e

• realizar cooperação entre as três esferas de gestão, com a finalidade


de fortalecer e de garantir a equidade do processo de planejamento
no SUS (BRASIL, 2006b).
15
O processo de planejamento do SUS se fundamenta em um grande ar-
cabouço legal, direcionando normas para processos, métodos de formu-
lação e requisitos para fins de repasse financeiro. Vejamos as principais
contribuições para nosso conteúdo:

• Lei n. 8.080/90 – estabelece que a elaboração do planejamento é de


responsabilidade da direção nacional do SUS; porém o processo de
planejamento e orçamento do SUS deve ser ascendente, isto é, deve
ser realizado do nível local ao federal.

• Lei n. 8.142/90 – estabelece os requisitos para o recebimento dos re-


cursos provenientes do Fundo Nacional de Saúde, de forma contro-
lada e em conformidade com a programação acordada e aprovada.

• Portaria n. 399/06 – define o Pacto pela Saúde e o Pacto de Gestão,


os quais apresentam importante normatização do planejamento do
SUS em diversas áreas de atuação e responsabilização por cada ente
federativo.

• Portaria n. 2.135, de 25 de setembro de 2013 - Estabelece diretri-


zes para o processo de planejamento no âmbito do SUS.

SAIBA MAIS

O Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada gestor


em razão das necessidades de saúde da população e na busca da
equidade social. E o Pacto de Gestão objetiva consolidar o processo
de descentralização na perspectiva da solidariedade e da autonomia
dos entes federados (BRASIL, 2009a).
Além dos itens mencionados, existem outros instrumentos que precisam
CAPÍTULO 1

estar alinhados com o Plano de Saúde, como o Plano Plurianual, a Lei


de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual. E todos devem
guardar a uniformidade de objetivos, diretrizes e metas.

Para aplicação de ferramentas de planejamento e programação, nosso


cenário em saúde é desafiador. Isso por prever o processo ascendente de
planejamento, isto é, ter como base o planejamento de cada município,
que fundamenta o planejamento dos Estados, que, por sua vez, funda-
menta o planejamento do Governo Federal.

Esse processo é complexo por diversos motivos.


Entenda o porquê a seguir.

A grande maioria dos municípios brasileiros (90%) tem menos de 50 mil


habitantes, e 48% possuem menos de 10 mil. Para fazer o planejamento
do SUS são necessários recursos humanos qualificados e em número su-
16 ficiente nos municípios, nos Estados e no Governo Federal. Além disso,
são necessários conhecimentos do funcionamento do SUS e de técnicas
e métodos para elaboração do planejamento.

O PlanejaSUS não envolve uma forma de subordinação entre as áreas


de planejamento das três esferas de governo e deve ser resultante de
pactos, com observância no papel específico de cada esfera, de neces-
sidades e realidades sanitárias. A promoção da participação social e a
busca da intensificação da articulação intra e intersetorial também são
necessárias.

Da formulação de instrumentos básicos para o processo de planejamen-


to devem constar: pactuar diretrizes, formular metodologias unificadas e
modelos de instrumentos básicos do processo de planejamento, imple-
mentar e difundir a cultura de planejamento, promover a integração do
processo de planejamento e orçamento no âmbito do SUS e monitorar
e avaliar o processo de planejamento das ações e dos resultados, contri-
buindo para a transparência e o fortalecimento do PlanejaSUS.

Objetivos do PlanejaSUS

Agora que já conhecemos a proposta de planejamento do SUS,


vamos estudar seus objetivos.

Os objetivos do PlanejaSUS referem-se às três esferas de gestão do SUS:

• proporcionar fundamentação aos gestores para formular as propos-


tas e pactuar as diretrizes gerais do processo de planejamento no
âmbito do SUS;

• propor as metodologias e os modelos para os instrumentos básicos


do processo de planejamento que sejam adaptáveis às particularida-
des de cada esfera administrativa;
• proporcionar apoio à implementação de instrumentos de planeja-

CAPÍTULO 1
mento que permitam planejar, monitorar e avaliar as três esferas de
gestão do SUS e que sirvam de parâmetro mínimo para o processo
de monitoramento, avaliação e regulação do SUS;

• proporcionar a institucionalização, possibilitando o fortalecimento


e o reconhecimento das áreas de planejamento no âmbito do SUS,
como instrumento estratégico de gestão do SUS, nas três esferas de
governo;

• apoiar a avaliação periódica relativa à situação de saúde da população


e ao funcionamento do SUS, provendo os gestores de informações
que permitam o seu aperfeiçoamento e/ou redirecionamento;

• implementar e difundir uma cultura de planejamento que integre e


qualifique as ações do SUS nas três esferas de governo, com vistas a
subsidiar a tomada de decisão por parte de seus gestores;
17
• promover a educação permanente em planejamento para os profis-
sionais que atuam neste âmbito no SUS;

• promover a eficiência dos processos compartilhados de planejamen-


to e a eficácia dos resultados;

• incentivar a participação social como elemento essencial dos proces-


sos de planejamento;

• promover a análise e a formulação de propostas destinadas a adequar


o arcabouço legal no tocante ao planejamento no SUS;

• implementar uma rede de cooperação entre os três entes federados


que permita amplo compartilhamento de informações e experiências;

• identificar, sistematizar e divulgar informações e resultados decor-


rentes das experiências em planejamento, sobretudo no âmbito das
três esferas de gestão do SUS, assim como da produção científica;

• fomentar e promover a intersetorialidade no processo de planeja-


mento do SUS;

• promover a integração do ciclo de planejamento e gestão no âmbito


do SUS, nas três esferas de governo;

• monitorar, avaliar e manter atualizados o processo de planejamento


e as ações implementadas, divulgando os resultados alcançados de
modo a fortalecer o PlanejaSUS e a contribuir para a transparência do
processo de gestão do SUS;

• promover a adequação, a integração e a compatibilização entre os


instrumentos de planejamento do SUS e os de governo;
• promover a discussão visando ao estabelecimento de política de in-
CAPÍTULO 1

formação em saúde; e

• promover a discussão e a inclusão do planejamento na proposta de


planos de carreira, cargo e salários do SUS.

Instrumentos de Planejamento no SUS

O que significa planejamento para você?

Planejar implica mobilizar recursos e vontades para que as propostas se


concretizem e os objetivos sejam atingidos (BRASIL, 2009c). Para o fun-
cionamento do PlanejaSUS são utilizados os seguintes instrumentos de
planejamento, aplicáveis às três esferas de gestão:

• Plano de Saúde.

18 • Programações Anuais de Saúde.

• Relatórios Anuais de Gestão.

Podemos compreender esses instrumentos seguindo a lógica dos três


instrumentos de planejamento: o Planejamento do que será feito, a Pro-
gramação anual do que se pretende fazer e o relatório do que foi efetiva-
mente feito. Com maior detalhamento, os instrumentos de planejamento
devem ser ferramentas que visem a promover, proteger e recuperar a
saúde da população.

O Plano de Saúde (PS)

O Plano é um instrumento que apresenta as intenções e os resultados


a serem buscados, a partir de uma análise situacional*, isto é, do que
foi percebido como ações prioritárias e necessárias para o período de
quatro anos, contendo os objetivos, as diretrizes e as metas, no âmbito
do SUS. O último ano de vigência do Plano é o primeiro ano de um novo
governo.

SAIBA MAIS

*Análise Situacional – consiste no processo de identificação, for-


mulação e priorização de problemas de uma determinada realida-
de. O objetivo da análise situacional é permitir a identificação dos
problemas e orientar a definição das medidas a serem adotadas.
No âmbito do planejamento em saúde, entende-se como problema
uma situação que se afasta, negativamente, de um estado desejado.
Por exemplo: uma taxa de mortalidade infantil que supere os valores
esperados em razão dos conhecimentos e das técnicas disponíveis.
Fonte: Brasil (2009c).
A construção do Plano de Saúde é feita de forma ascendente – o Plano

CAPÍTULO 1
Estadual deve refletir as necessidades e o planejamento dos municípios,
e o Plano Nacional deve atender às prioridades definidas pelos Estados.
Isso significa que as particularidades das diferentes realidades devem
estar refletidas no Plano de Saúde. Esse instrumento de planejamento
comporta adaptações que se fizerem necessárias, em cada esfera de ges-
tão, em consonância com a política nacional de saúde. Esse critério visa
a assegurar aos usuários a participação social.

Assim o Plano de Saúde deve conter:

• objetivos: expressam o que se pretende fazer, com a finalidade de


superar, reduzir, eliminar ou controlar os problemas identificados na
análise situacional;

• diretrizes: são formulações que indicam linhas de ação a serem se-


guidas. São expressas de forma objetiva e visam a delimitar a estraté-
gia geral e as prioridades do Plano de Saúde; e 19

• metas: são expressões quantitativas de um objetivo e quem irá reali-


zá-lo em razão do tempo – “o que”, “para quem”, “quando”.

SAIBA MAIS

Para conhecer a íntegra do Plano de Saúde 2020-2023, acesse: <ht-


tps://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/plano_nacional_sau-
de_2020_2023.pdf>. Acesso em: 30 out. 2021.

Após essas etapas, há o desmembramento em ações, metas anuais e


recursos financeiros, identificando quais são as áreas responsáveis pela
execução. Além desses elementos, o PS deve apresentar os indicadores,
que “[...] é um índice que reflete uma situação determinada, a partir da
relação entre variáveis, que permite medir mudanças e determinar o grau
de cumprimento de metas.” (BRASIL, 2009c, p. 28).

O Plano de Saúde norteia a elaboração do planejamento e orçamento do


governo no tocante à saúde. Cabe ressaltar que o Plano Plurianual (PPA)
deve ser compatível com o Plano de Saúde em cada esfera de governo.

Programação Anual de Saúde (PAS)

“A Programação de Saúde é o instrumento que operacionaliza as intenções


expressas no Plano de Saúde.” (BRASIL, 2009c, p. 19)

Nesse instrumento de planejamento, os objetivos, as diretrizes e as metas


apresentados no PS são detalhados em ações, metas anuais e recursos
financeiros, identificando quais são as áreas responsáveis pela execução.
Ou seja, a PAS representa o conjunto de iniciativas a serem implementa-
das para uma esfera de gestão, no ano específico (BRASIL, 2013).
A Programação pode ser compreendida como um processo estabelecido
CAPÍTULO 1

no âmbito do SUS, derivado da definição, negociação e formalização dos


pactos entre gestores.

A PAS apresenta um horizonte temporal que coincide com o período de-


terminado para o exercício orçamentário e possui como bases legais para
a sua concepção a Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária
Anual.

Relatório Anual de Gestão

O Relatório Anual de Gestão é o instrumento de planejamento que apre-


senta os resultados quantitativos e qualitativos da PAS. Ao final do ano de
gestão são realizadas a avaliação e a descrição dos resultados que foram
efetivamente alcançados, como também a evidenciação dos obstáculos
que dificultaram a execução. Os resultados apresentados nesse relatório
servem como base para a elaboração do novo PS, com a possibilidade de
20 inserir novas propostas e desafios; contudo, fundamentadas nos objeti-
vos, nas diretrizes e nas metas do Plano de Saúde.

Os Relatórios Anuais de Gestão são de suma importância, pois expres-


sam a avaliação contínua da aplicação do PNS; para tal, o primeiro deve
ter estreita relação com os eixos direcionadores de ações do segundo.

O RAG é a principal ferramenta para auxiliar o processo de monitora-


mento e avaliação da gestão e deve ser apreciado e aprovado pelo Con-
selho de Saúde.

TEXTO COMPLEMENTAR

Caso deseje ampliar seu conhecimento ou necessite de mais es-


clarecimentos, relacionamos importantes referências bibliográficas
fornecidas pelo Ministério da Saúde que fundamentam os conceitos
apresentados neste Capítulo.

• Biblioteca do Conselho Nacional de Saúde – manuais técnicos,


textos de referência e publicações avulsas. Disponível em: <ht-
tps://conselho.saude.gov.br/biblioteca/index.htm>. Acesso:
em 16 out. 2021.

• Constituição da República Federativa do Brasil – Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui-
cao.htm>. Acesso em: 16 out. 2021.

• Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde – Disponível em: <ht-


tps://www.gov.br/ebserh/pt-br/hospitais-universitarios/regiao-
CAPÍTULO 1
-nordeste/hulw-ufpb/acesso-a-informacao/programas-e-pro-
jetos/carta-dos-direitos-dos-usuarios-da-saude.pdf>. Acesso
em: 16 out. 2021.

• Sistema de Planejamento do SUS (PlanejaSUS): uma constru-


ção coletiva – trajetória e operacionalização. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/planejaSUS_
livro_1a6.pdf>. Acesso em 16 de outubro de 2021.

21
Resumindo

Neste Capítulo, iniciamos nossa trajetória de compreensão do SUS estu-


dando desde as fases anteriores à sua criação até a sua organização. Para
tal, apresentamos os princípios que lhe servem de base, como os doutri-
nários de universalidade, integralidade e equidade, e os organizacionais
de regionalização, hierarquização, descentralização, municipalização e
participação social. Também apresentamos as principais ferramentas de
gestão do sistema: o Plano de Saúde, que apresenta os objetivos e as
metas para o período de quatro anos; as PAS, que apresentam as metas
e os recursos para a execução do planejamento no período de um ano;
e os Relatórios Anuais de Gestão, que apresentam, após a execução do
planejamento, como foram realizadas as ações.

Reforçamos, em alguns momentos, que o processo de planejamento e


orçamento do SUS deve ser ascendente, ou seja, atender do nível local
ao federal de tal forma que a política de saúde seja compatível com a
disponibilização dos recursos nos três níveis de gestão. Isso é muito
importante.

Compreendemos, ainda, que qualquer planejamento precisa de funda-


mentação, informações confiáveis e entendimento do funcionamento do
setor para que as ações sejam efetivas.

No próximo Capítulo, vamos estudar os recursos, processos, resultados


e levantamentos importantes para o funcionamento de um bom sistema
de informação.
CAPÍTULO 1

ATIVIDADES

Se você compreendeu plenamente o conteúdo deste Capítulo, não


terá dificuldade para responder às questões a seguir. Se, eventual-
mente, restar dúvida, volte, releia o Capítulo ou procure dirimi-la
com seu tutor.

1. Identifique e contextualize os principais avanços e dificuldades


dos princípios do SUS para implementação do sistema de saúde.

2. Descreva como é feito o planejamento do SUS, apresentando


algumas características importantes.

3. Quais os instrumentos de planejamento do SUS?

22 4. Descreva o que é o PlanejaSUS.

5. Sabemos que planejar implica mobilizar recursos e vontades


para que propostas sejam concretizadas e objetivos sejam atin-
gidos. Nesse contexto, o Plano de Saúde representa a formali-
zação de objetivos, diretrizes e metas almejadas; a PAS realiza o
desmembramento do Plano em ações, metas e recursos finan-
ceiros e identifica a área responsável pela sua realização; e o
Relatório Anual de Gestão apresenta os resultados das ações.

Levando em consideração essas etapas e simulando a seguinte


situação: você é o gestor responsável pela elaboração do pla-
nejamento do Plano de Saúde; como você administraria essa
situação? Quais ferramentas utilizaria? Quais informações se-
riam base para elaboração do Plano? Quais outras ferramentas
e tecnologias em gestão você utilizaria?
CAPÍTULO II

CAPÍTULO 2
AS INFORMAÇÕES NO
SETOR DA SAÚDE
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao finalizar este Capítulo, você deverá ser capaz de:


23
• Compreender os conceitos de dado, informação e conhecimento;

• Conhecer as principais bases de informações da saúde no Brasil; e

• Entender o uso da informação em saúde no processo de decisão e


análise de resultados.

As Informações no Setor da Saúde

Prezado estudante,
Este Capítulo tem como objetivo apresentar o conceito de dado, informação
e conhecimento, as principais bases de dados disponibilizadas pelo SUS e a
Política de Informações em Saúde. É necessário que você leia este conteúdo
com atenção, buscando seu pleno entendimento. Para ampliar e dinamizar seu
aprendizado, leia os materiais complementares – textos e indicações de sítios –
sugeridos ao longo do Capítulo. Além dessa ação, realize as atividades indicadas
ao seu final. Em caso de dúvida, conte conosco, pois estamos aqui para auxiliá-
-lo neste processo de construção do conhecimento e no desenvolvimento de
habilidades que caracterizarão seu novo perfil profissional ao final deste curso.
Portanto, aproveite e bons estudos!

Vamos iniciar este estudo apresentando os conceitos de dado, informa-


ção e conhecimento para que possamos determinar seu uso no setor
saúde.

Dados se são elementos mais próximos da realidade empírica* e cons-


tituem na “matéria-prima” para as informações da informação, ou me-
lhor, é a informação não tratada que ainda não apresenta relevância. Por
sua vez, a informação pode ser definida como a combinação, estrutura-
ção e análise desses dados produzindo conhecimento pertinente. Co-
nhecimento, portanto, é a informação processada e transformada em
experiência pelo indivíduo (Silva, 2004). Informações são insumos no
processo decisório e são transmitidas e recebidas por elementos em uma
CAPÍTULO 2

rede de comunicações; são conteúdos de uma mensagem comunicada a


um receptor; e possuem qualidades intrínsecas – associadas à sua porta-
bilidade e aplicabilidade, e extrínsecas – associadas aos receptores. Entre
as propriedades da informação, sem dúvida, a mais importante está vin-
culada ao receptor. As informações são também insumos para a criação
de conhecimento.

SAIBA MAIS
*Empírico – baseado na experiência e na observação, metódicas ou
não. Fonte: Houaiss (2009).

Nos dias de hoje muito falamos de informação, mas nem sempre apro-
fundamos nosso conhecimento sobre o que é efetivamente e como a
utilizamos. Na sociedade globalizada atual, entendemos que a informa-
24 ção, baseada em tecnologias de comunicação e processamento, é in-
sumo vital à qualidade do processo decisório como recurso-chave das
organizações.

É de conhecimento geral que a modernização das tecnologias da infor-


mação proporcionou o crescimento de informações, tanto em volume
quanto em acesso. Porém, para a utilização de informação nas organiza-
ções, especialmente no setor de saúde, no ambito do SUS, é necessária
uma percepção dos conhecimentos dela provenientes, de forma a subsi-
diar os processos decisórios estratégicos, gerenciais e operacionais.

Os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) são instrumentos utilizados


para processar os dados e produzir a informação (Santos et al, 2017). Se-
gundo a OMS, o SIS é um mecanismo de coleta, processamento, análise
e transmissão da informação necessária para se organizar e operar os
serviços de saúde e, também, para a investigação e o planejamento com
vistas ao controle de doenças.

As informações de saúde são essenciais para estudos epidemiológicos,


para análises de demanda por serviços e para fundamentar políticas de
saúde.

A Informação na Saúde

A importância da informação já é discurso comum atualmente, consi-


derando-se a quantidade e a facilidade de acesso a ela de diversas for-
mas e em diversas situações, não é verdade? Essa assertiva nos acom-
panhará no entendimento da informação na saúde. Confira a seguir.

Existem no Brasil diversos Sistemas de Informações em Saúde voltados


à gerencia de redes de serviços, à investigação, ao controle de doen-
ças e à operação de estabelecimentos assistenciais. As informações em
saúde no Brasil são processadas por diversas instituições, num proces-
so de inter-relação entre elas, compreendendo variados mecanismos de

CAPÍTULO 2
gestão e financiamento, conforme apresentado pela Rede Interagencial
de Informações para a Saúde (RIPSA) (RIPSA, 2014). A construção das
informações envolve diversas estruturas governamentais nos três níveis
de gestão do SUS, além de envolver outros órgãos, como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e outros setores da Adminis-
tração Pública, como institutos de pesquisa, associações de categorias
profissionais ou funcionais e organizações não governamentais (ONGs).

SAIBA MAIS
O RIPSA tem como coordenador-geral o Secretário Executivo do Mi-
nistério da Saúde e é composto de 40 entidades de representação
técnica e científica nacionais na produção e na análise de dados,
como o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).

O Ministério da Saúde desenvolveu nas últimas décadas importantes sis- 25


temas nacionais de informação informatizados que permitiram avançar
na disseminação eletrônica de dados representativos na área de saúde,
como número de nascimentos e óbitos, de doenças de notificação com-
pulsória, como número e tipo de atendimentos hospitalares e ambula-
toriais; de informações sobre atenção básica e orçamentos públicos em
saúde, entre outros. A disponibilidade desses dados tem motivado sua
crescente utilização nas instituições de ensino de saúde pública. Infor-
mações adicionais também têm resultado de estudos amostrais sobre
temas específicos de saúde.

SAIBA MAIS
São doenças ou agravos à saúde que devem ser notificados à auto-
ridade sanitária por profissionais de saúde ou por qualquer cidadão,
para fins de adoção de medidas de controle pertinentes (BRASIL,
2009a).

A necessidade de padronização dos procedimentos e de obtenção e tra-


tamento dos dados, ou até mesmo a inexistência de informações em
muitos municípios brasileiros, fez com que o Ministério da Saúde bus-
casse a adoção de aplicativos desenvolvidos internamente. São sistemas
de informações nacionais utilizados em todas as esferas de gestão do
SUS e de alimentação obrigatória. Apesar de todos esses sistemas serem
subordinados ao Ministério da Saúde, muitos mantêm diferenças em sua
concepção, por terem sido desenvolvidos em épocas e equipes técnicas
distintas. A possibilidade de integrá-los é um sonho antigo do Ministério
(BRASIL, 2011d).

Utilizar intensamente a informação na gestão da saúde é, o que cada vez


mais, o que confere o diferencial na qualificação qualidade do processo
decisório. faz parte da Política Nacional de Informação.
A Política Nacional de Informação em Saúde é definida num fórum tri-
CAPÍTULO 2

partite e contempla a gestão, a capacitação, o desenvolvimento tecnoló-


gico e a qualidade da informação em todos os níveis do SUS. Também é
importante lembrar a estratégia de compromisso com a democratização
e a transparência. A sociedade brasileira tem o direito de acessar as infor-
mações em saúde e participar das decisões sobre o seu funcionamento
(BRASIL, 2011c).

Principais Fontes de Informação

A produção e a disseminação de informações em saúde vêm sendo pro-


cessadas em um contexto fragmentado e fragmentador, com informa-
ções geradas de modo desarticulado por vários órgãos/setores/ institui-
ções. Por isso, o grande desafio é buscar a intersetorialidade e superar
essa fragmentação da informação. Com esse objetivo, foi criada a RIPSA,
26
formalizada em 1996.

Diversas são as informações intersetoriais que se complementam e


influenciam o seu melhor aproveitamento pelos gestores do sistema
de saúde. Apesar da ampliação do acesso às informações e da quanti-
dade de informações, o desenvolvimento qualitativo dos sistemas de
informação e a sua análise nem sempre orientam a gestão de políticas
de saúde. Conforme apresentado pela RIPSA (2014), é necessário me-
lhorar a articulação das instituições atuantes na área de informações,
bem como utilizar de maneira mais efetiva a massa crítica nacional de
profissionais capacitados.

A informação em saúde é uma área estratégica para o conhecimento do


funcionamento do SUS, pois possibilita a análise do perfil dos pacientes,
dos indicadores de saúde, da produção de serviços do SUS e da gestão
dos recursos. Algumas bases de dados estão aqui apresentadas dada a
sua importância no setor de saúde.

O Ministério da Saúde está no processo de construção da Política de In-


formação e Informática em Saúde, que visa à integração das informações
disponíveis e à melhoria no acesso e incentivo aos registros eletrônicos
e ao uso das informações de saúde, entre outros.

Informações Disponibilizadas pelo DATASUS

O Departamento de Informática do SUS (DATASUS), do Ministério da


Saúde, é responsável por disponibilizar informações que podem servir
para fundamentar análises objetivas da situação da população que repre-
sentem ferramentas de evidência nas tomadas de decisão e elaboração

CAPÍTULO 2
de programas de ações de saúde (BRASIL, 2014a).

Conforme apresentado no Portal da Saúde (BRASIL, 2014b), medir o


estado de saúde da população é uma tradição em saúde pública. Os
primeiros dados coletados de forma sistematizada foram dados de
mortalidade e de sobrevivência no controle das doenças infecciosas.
A análise da situação de saúde é essencial para informar a tomada
de decisão dos gestores, nas diversas esferas de governo, visto que
traz evidências relevantes para o esclarecimento de pontos funda-
mentais à ação.

É imprescindível, portanto, que os dados sejam fidedignos e comple-


tos. Os dados considerados importantes para a análise de situação de
saúde são inúmeros e de fontes diversas. Entre eles podemos citar os
27
dados sobre a população (número de habitantes, idade, sexo, etc), os
dados ambientais (poluição, abastecimento de água, entre outros), os
dados socioeconômicos (renda, ocupação, classe social, condições de
moradia, etc), os dados sobre serviços de saúde (hospitais, ambulató-
rios, unidades de saúde, acesso aos serviços), os dados de morbidade
e os eventos vitais (óbitos, nascimentos vivos e mortos, principal-
mente) (CONASS, 2011).

Veremos, a seguir, os principais dados e informações


disponibilizados no site do DATASUS.

O DATASUS disponibiliza o banco de dados, que pode ser consultado


com informações mensais de produção, e informa as configurações mí-
nimas necessárias para gerar os dados por ele disponibilizados. Além
das informações de produção por prestadores, são disponibilizadas as
informações de saúde, tais como indicadores de saúde, indicadores de
assistência e indicadores financeiros.

Importante lembrar que algumas bases de dados são de alimentação


obrigatória por serem de grande importância para a saúde pública e
base da geração de indicadores para avaliação das condições de saúde
da população. O Quadro 1 apresenta as bases de dados de alimentação
obrigatória e as penalidades previstas pelo seu descumprimento. Ape-
sar de haver muito questionamento sobre a qualidade das informações
prestadas, a diversidade e o volume expressivo dessas informações fa-
zem com que essas bases sejam um recurso de valor incalculável para o
planejamento e a gestão, reconhecido por profissionais e por organismos
internacionais (BRASIL, 2011d).
CAPÍTULO 2

Sistemas de Descrição Penalidade


Informação
Sistema de Informações videncia os procedimentos ambulato- Suspensão da transferência
Ambulatoriais do SUS riais prestados, dotando o gestor de do Bloco de financiamento da
(SIASUS) instrumentos rápidos e confiáveis para a Atenção Básica nos casos da
organização da rede de Serviços Ambula- não-alimentação por dois me-
toriais e de Serviço de Apoio Diagnóstico ses consecutivos ou três meses
e Terapia (SADT) e as estruturas estadu- alternados.
ais e municipais das Secretarias de Saúde
de informações para decisões gerenciais
imediatas.
Sistema de Infor- mação Informações epidemiológicas e morbida- Suspensão da transferência do
de Agravos de Notificação de são informações sobre doenças de no- Componente de Vigilância e
(SINAN) tificação compulsória, dados nutricionais Promoção do Bloco de Financia-
e outros agravos. mento da Vigilância em Saúde
nos casos da não alimentação
por dois meses consecutivos.
Sistema de Informação Objetiva propiciar aos gestores funda- Suspensão da transferência
do Programa Nacional de mentação para avaliação dinâmica do do Bloco de Financiamento da
Imunização (SI-PNI) risco quanto à ocorrência de surtos ou Atenção Básica nos casos da
28 epidemias. Essa análise é feita a partir não-alimentação por dois me-
do registro das imunizações aplicadas e ses consecutivos ou três meses
do quantitativo populacional vacinado, alterandos.
agregados por faixa etária e por período
de tempo, em uma área geográfica. Além
disso, possibilita o controle do estoque
de insumos e são base para programação
de sua aquisição e distribuição (BRASIL,
2014a).
Sistema de Informação de Apresenta o cadastro de estatís- ticas vi- A manutenção do repasse dos
Nascidos Vivos (SINASC) tais no qual são incluídas informações de recursos do Componente de
todos os nascimentos vivos. Vigiância e Promoção da Saú-
de do Bloco de Financiamento
em Saúde condicionada à sua
alimentação regular conforme
regulamentação específica des-
te Sistema.
Sistema de Informação de Representa a unificação de mais de 40 Suspensão da transferência do
Mortalidade (SIM) modelos de instrumentos utilizados, ao Componente de Vigiância e
longo dos anos, para coletar dados sobre Promoção do Bloco de Finan-
mortalidade no País. A partir da causa ciamento da Vigilância em SAú-
mortis atestada pelo médico, permite-se de caso não ocorra transferênci
construir indicadores e processar análi- dentro do quantitativo esperado
ses epidemiológicas utilizadas na gestão dos dados das Declarações de
em saúde (BRASIL, 2014a). Óbitos para o módulo nacional
do SIM no prazo de até 60 (ses-
senta) dias após o encerramen-
to do Mês de ocorrência dos
óbitos.
Sistema de Informação Evidencia o atendimento hospitalar. Foi Suspensão da transferência do
Hospitalares do SUS concebido como artifício para operar o Bloco de financiamento da Mé-
(SIH-SUS) pagamento das internações e para instru- dia e Alta Complexidade nos ca-
mentalizar ações de controle e auditoria sos da não alimentação por dois
(CARVALHO, 2007). meses consecutivos ou três me-
ses alternados.
Sistema de Informação do Subsistemas do Sistema de Informação Suspensão do pagamento dos
Câncer de Colo do Útero Ambulatorial (SIA/SUS) utilizados para procedimentos referentes à ci-
(SISCOLO) cadastrar os exames citopatológicos topatologia, à histopatologia e
e histopatológicos do colo do útero e ao controle de qualidade (am-
mama, e também mamografia, no âmbi- bulatoriais, informados no SIA-
to do SUS. -SUS).
CAPÍTULO 2
Sistema de Informação do Subsistema de informação do Sistema de Faturamento dos procedimen-
Controle do Câncer de Informação Ambulatorial (SIA/SUS) para tos referentes à mamografia
Mama (SISMAMA) monitoramento das ações de detecção bilateral, exame citopatológico
precoce do câncer de mama. de mama, exame anatomopa-
tológico de mama – biópia e
exame anatomopatológico de
mama – peça cirúrgica, vincula-
do á prestação de informações
de cadastro e de laudo.
Cadastro Nacional de Es- Cadastro atualizado de dados dos esta- Suspensão da transferência do
tabelecimentos de Saúde belecimentos de saúde, hospitais e am- PAB e MAC nos casos de não
(CNES) bulatórios, das redes pública e privada, alimentação por três meses
nas três esferas de governo, possibilitan- consecutivos.
do a avaliação e o acompanhamento do
perfil da capacidade instalada e o poten-
cial do atendimento à população.
Cadastro do Cartão Na- O cadastramento consiste no processo Suspensão do pagamento dos
cional de Saúde (CNS/ por meio do qual são identificados os procedimentos vinculados pela
Cadsus) usuários do SUS e seus domicílios de Portaria n.174, de 11 de março
residência. de 2004.
Sistema de Informação Apresenta a tabulação de dados sobre Suspensão das transferências
sobre Orçamentos Públi- os orçamentos públicos relativos ao SUS constitucionais e suspensão das 29
cos em Saúde (SIOPS) declarados pelos Estados, Distrito Fede- transferências voluntárias.
ral e municípios.
Quadro 1 – Bases de dados de alimentação obrigatória e penalidades previstas pelo seu descumprimento
Fonte: CONASS 2011.

O SIASUS e o SIH-SUS são os sistemas básicos de informação para o


pagamento de faturas de produção de serviços (BRASIL, 2007). Esses
sistemas têm como base o Sistema de Gerenciamento da Tabela de Pro-
cedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do
SUS (SIGTAP) (BRASIL, 2011h).

O SIGTAP é uma ferramenta para consulta de todos os procedimentos


que podem ser realizados no âmbito ambulatorial e hospitalar do SUS.
Apresenta, de forma sintética, a descrição dos aspectos operacionais
fundamentais e relevantes de cada procedimento, inclusive os valores
mínimos a serem pagos para cada procedimento. Também apresenta os
atributos exigidos durante o processamento dos sistemas de produção.

Os atributos, por sua vez, são características inerentes aos procedimen-


tos constantes da Tabela do SUS, necessários para operacionalizar o pro-
cessamento dos sistemas de produção ambulatorial e hospitalar, e estão
relacionados: diretamente ao próprio procedimento; ao estabelecimento
de saúde por meio do CNES; ao usuário do SUS; e à forma de financia-
mento definida nas políticas de saúde do SUS. Esses sistemas são de
grande importância para conhecermos a produção de serviços dos pres-
tadores e para outras informações de saúde da população.

Informações Financeiras

As informações financeiras disponibilizadas pelo DATASUS são aquelas


referentes aos recursos, aos financiamentos da saúde. São importante
fonte de informação para subsídio de políticas de saúde e acompanha-
mento dos recursos consumidos no sistema de saúde. As principais in-
CAPÍTULO 2

formações são, conforme apresentado pelo DATASUS (BRASIL, 2014a):

• recursos do SUS – disponibiliza informações financeiras dos recursos


federais transferidos aos Municípios oriundos do Fundo Nacional de
Saúde (FNS) e também dos valores das transferências aos municípios
vinculados à produção ambulatorial e hospitalar e de prestadores;

• SIOPS – apresenta a tabulação de dados sobre os orçamentos públi-


cos relativos ao SUS declarados por todos os entes federados;

• Banco com Dados Armazenados de cada Autorização de Interna-


ção Hospitalar (BDAIH) – apresenta informações relativas ao proces-
samento de Autorização de Internação Hospitalar (AIHs) até a com-
petência de março de 2006. Era uma das formas de disponibilizar
os dados do Sistema de Internações Hospitalares (SIH/SUS). Até a
implantação do CNES – Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
30 Saúde, abrangia o cadastro de hospitais e o cadastro de terceiros;

• transferências a municípios – permite identificar os recursos do FNS


transferidos fundo a fundo para os municípios; e

• créditos a prestadores – possibilita a consulta de repasses de valores


referentes à produção hospitalar por prestadores de serviços.

Outras Fontes de Informações em Saúde

No Brasil temos outras importantes fontes de informações que merecem


ser citadas e consultadas por você. A Biblioteca Regional de Medicina
(BIREME) é um centro especializado da Organização Pan-Americana da
Saúde (OPAS) orientado à cooperação técnica em informações científicas
em saúde. A BIREME tem por objetivo a melhora contínua dos sistemas
de saúde e educação e saúde para a região das Américas por meio da
promoção de cooperação entre países, democratizando o acesso à infor-
mação científica e técnica, à legislação e ao intercâmbio de conhecimen-
to e evidências (BIREME, 2014).

SAIBA MAIS
A BIREME localiza-se no Campus Central da Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP), desde a sua criação em 1967, segundo
acordo da OPAS com o Governo do Brasil. Disponível em: <www.
bireme.org>. Acesso em: 23 jun. 2014.

Uma área de importância para a gestão do SUS é a de Economia da Saú-


de*. O Portal Nacional de Informação em Economia da Saúde é um canal
de divulgação e troca de informação e conhecimento para integração
entre pesquisadores, gestores e outros técnicos interessados Especiali-
zação em Gestão em Saúde nessa área. O Ministério da Saúde disponi-
biliza atualmente a Rede de Economia da Saúde, ou Rede ECOS (BRASIL,

CAPÍTULO 2
2014b), cujas importantes informações podem subsidiar discussões e
políticas de saúde.

SAIBA MAIS
*Economia da Saúde – é o ramo do conhecimento que tem por
objetivo a otimização das ações de saúde, ou seja, o estudo das con-
dições ótimas de distribuição dos recursos disponíveis para assegu-
rar à população a melhor assistência à saúde e o melhor estado de
saúde possível, tendo em conta meios e recursos limitados. Fonte:
Brasil (2009a).

A Rede Ecos é uma rede de cooperação técnica que objetiva, principal-


mente, contribuir para o desenvolvimento do campo da Economia da
Saúde no SUS e tem como principais vertentes a implementação de po- 31
líticas públicas em Economia da Saúde, a produção e a disseminação
da informação e o fomento à formação de técnicos e gestores do SUS.
É coordenada pelo Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvi-
mento/SE do Ministério da Saúde e constituída dos Núcleos de Economia
da Saúde das Secretarias de Estado da Saúde, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), de outros institutos de pesquisa, da Associa-
ção Brasileira de Economia da Saúde (ABRES), de universidades e escolas
de saúde pública (BRASIL, 2014b).

TEXTO COMPLEMENTAR
O Ministério da Saúde disponibiliza na internet informações sobre
todos os estabelecimentos em saúde, sua infraestrutura, profissio-
nais atuantes na saúde, equipes, habilitações do estabelecimento
hospitalar, entre outras.

• Portal do DATASUS – disponível em <https://datasus.saude.


gov.br>. Acesso em: 26 out 2021.

• Portal RIPSA – disponível em: <http://www.ripsa.org.br>. Aces-


so em: 26 out 2021.

• Portal do CNES – disponível em: <http://cnes.datasus.gov.br>.


Acesso em: 26 out. 2021.

• Biblioteca Virtual em Saúde – disponível em: <https://bvsalud.


org>. Acesso em: 26 out. 2021.
Resumindo
CAPÍTULO 2

Neste Capítulo apresentamos os conceitos de dado, informação e conhe-


cimento, salientando a importância de sua qualidade e confiabilidade.
Relacionamos os principais sistemas de informações em saúde, princi-
palmente os de preenchimento obrigatório, dada a sua relevância como
base de conhecimento para estudos, fundamentação de políticas de saú-
de e acompanhamento epidemiológico. Descrevemos ainda as funcio-
nalidades de cada banco de dados, assim como as penalidades pelo seu
não preenchimento.

Por fim, indicamos outras fontes de informação e importantes sistemas


para a obtenção de informações em saúde.

32
ATIVIDADES

É muito importante que você tenha compreendido os conceitos de


dado, informação e conhecimento para poder relacioná-los às prin-
cipais bases de informações da saúde no Brasil e ao uso da infor-
mação em saúde no processo de decisão e análise de resultados.
Para saber se o conteúdo elaborado alcançou esse êxito, propomos
algumas atividades para sua resolução.

1. Identifique, com base no que foi relatado a respeito de dado,


informação e conhecimento, situações em que é possível aplicar
esses conceitos.

2. Alguns sistemas de informação em saúde têm preenchimento


obrigatório. Identifique dois deles e dê a sua opinião quanto à
obrigatoriedade.

3. Descreva outros sistemas de informação de saúde que a seu ver


são também importantes.

4. O uso da informação de saúde tem sido cada vez mais relevante


na saúde. A seu ver, quais cuidados devemos ter na produção de
informações válidas para a área de saúde e como isso pode ser
implementado?
CAPÍTULO III

CAPÍTULO 3
OS NÍVEIS DE
ATENÇÃO À SAÚDE
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao finalizar este Capítulo, você deverá ser capaz de:


33
• Contextualizar os conceitos de modelo de atenção à saúde apresen-
tando conceitos de níveis de atenção; e

• Compreender a articulação entre os pontos de atenção à saúde.

Os Níveis de Atenção à Saúde

Prezado estudante,
Seja bem-vindo a mais uma etapa do nosso estudo. No Capítulo 3 vamos es-
clarecer o significado de “níveis de atenção à saúde” e conhecer os elementos
que os compõem, no âmbito do SUS. Nosso objetivo é ampliar a discussão
sobre o sistema de atenção à saúde, fundamentado no atendimento por níveis
de atenção.

Desejamos que você obtenha o máximo de proveito das ideias e dos conteúdos
apresentados neste Capítulo, de forma a obter subsídios para análise da maneira
como vêm sendo realizadas as atividades nessa área e a refletir sobre a maneira
de produzir seu trabalho no serviço público de saúde no Brasil. Bons estudos!

A previsão legal de que a saúde é direito de todos e dever do Esta-


do explicita que o Brasil optou por um sistema público, universal e de
atendimento integral para todos os cidadãos. Ao conhecermos sobre os
modelos de atenção em saúde atualmente utilizados no SUS, estamos
perpassando por todos os níveis de complexidade de atendimento: des-
de a prevenção, os atendimentos ambulatoriais, até o atendimento mais
complexo possível nos grandes hospitais do SUS.

Precisamos entender a complexidade do atendimento para compreen-


dermos o grande desafio da implantação do SUS de forma efetivamente
integral: como garantir o atendimento à população historicamente de-
sassistida em saúde e, ao mesmo tempo, garantir a redução das desigual-
dades e o acesso ao atendimento?
Compreender as áreas de atenção à saúde torna-se, assim, fundamental
CAPÍTULO 3

para subsidiar a discussão, pelos gestores do SUS, da operacionalização


e implementação dos serviços prestados nas áreas de atenção em saúde,
garantindo que o sistema público de saúde no Brasil atenda de forma
integral a toda a população e não se converta em um “SUS para pobres”.

Neste Capítulo apresentaremos as definições adotadas pelo Ministério


da Saúde como forma de melhor delimitar o entendimento das áreas
de atenção primária, de média e de alta complexidade no SUS. Apesar
do conceito de atenção por níveis receber algumas críticas, o enten-
dimento do seu funcionamento e da lógica proposta é importante.
Vamos lá!

Modelos de Atenção

A lógica da organização do SUS pressupõe a constituição de uma rede


de serviços organizada de forma regionalizada e hierarquizada, com a
34
finalidade de se conhecer os problemas de saúde de cada população.
Essa lógica favorece a realização de ações de vigilância epidemiológi-
ca, sanitária; de controle de vetores; e de educação em saúde, além do
acesso aos demais níveis de complexidade, como atenção ambulatorial e
hospitalar (SOLLA; CHIORO, 2008).

A forma de organização pode ser entendida como modelo de atenção,


que é apresentado por Paim (2008) como a forma de organização de uni-
dades de prestação de serviços de saúde, incluindo estabelecimentos*,
redes, sistemas. Outra concepção apresentada pelo autor é a forma de
organização do processo de prestação de serviços: atenção à demanda
espontânea; oferta organizada/ações programáticas*; vigilância da saú-

SAIBA MAIS
*Estabelecimentos – unidades de produção de serviços. Redes –
conjunto de estabelecimentos voltado à prestação de serviços co-
muns ou interligados mediante sistemas de referência e contrar-
-referência. Sistema – conjunto de instituições de saúde submetidas
a leis e normas que regulam o financiamento, a gestão e a provisão
dos serviços. Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.

*Ações programáticas – programas de controle de doenças e pro-


gramas de atenção a grupos popula- cionais específicos. Fonte:
Paim (2008).

de, contemplando território, condições e modos de vida; e integralidade.


Para o autor, os modelos de atenção refletem combinações tecnológicas
dispostas nos meios de trabalho. São a lógica que orienta e organiza os
meios de trabalho (saberes e instrumentos) utilizados nas práticas de
saúde (PAIM, 2008). Além disso, como dimensões gerenciais e organi-

CAPÍTULO 3
zativas podem ser alvo de uma conjunção de propostas e estratégias
sinérgicas com vistas à transformação do modelo de atenção (TEIXEIRA,
2002 apud PAIM, 2008).

Os modelos de atenção à saúde são definidos por Mendes (2010, p.


2.302) como:

Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à


saúde, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas
subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sis-
tema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias,
definidos em função da visão prevalecente da saúde, das situações demo-
gráfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em
determinado tempo e em determinada sociedade.

Os modelos de atenção à saúde, conforme apresentado por Mendes


35
(2010), podem ser basicamente voltados ao atendimento de condições
agudas de saúde ou ao atendimento de condições crônicas de saúde.

A seguir, vamos explicar as diferentes propostas de atendimento


desses modelos.

Apesar de o modelo hierarquizado ser o mais difundido e o cuidado


à saúde no SUS estar organizado em atenção básica, atenção de mé-
dia complexidade e de alta complexidade, não existe relevância entre
os níveis de atenção. É importante aqui apresentar a interação entre os
diversos níveis de atenção e o funcionamento integrado entre eles. Enfa-
tizamos esse tópico por termos, erroneamente, o senso comum de que
a prestação de serviços de um hospital, por exigir mais tecnologia, mais
recursos, tem mais importância do que o atendimento realizado na uni-
dade de saúde, por exemplo.

Para atender às necessidades dos municípios de garantir a integralidade


do atendimento à sua população, nem sempre é necessário que haja, em
seu território, todos os níveis de atenção à saúde. Esse é o caso dos pe-
quenos municípios, os quais, para suprir essa necessidade, podem fazer
pactos entre municípios. As prefeituras, por meio de consórcios, podem,
por exemplo, fornecer o serviço de ultrassonografia ou ressonância, de
forma a atender toda uma microrregião e assim otimizar os recursos,
através de pactos regionais, garantindo às populações dessas localidades
acesso a todos os níveis de complexidade do sistema. A prioridade para
todos os municípios é ter a atenção básica operando em condição plena
e com eficácia. A Figura 2 apresenta o modelo da pirâmide: hierarquiza-
do e regionalizado do SUS.
CAPÍTULO 3

Figura 2 – Modelo da pirâmide, hierarquização e regionalização do SUS


Fonte: Mendes (2011, p. 56)

A descrição dos níveis de atenção será apresentada com maiores deta-


36 lhes a seguir. Porém, vamos salientar aqui que seu entendimento é de
suma importância para que você possa compreender a complexidade
existente no âmbito do SUS. Inicialmente, entendia-se os níveis como
complexidade da atenção básica ou complexa, pela incorporação de
tecnologias de saúde. Nesse entendimento, a atenção básica, por não
utilizar equipamentos de alta tecnologia, como tomógrafos, por exem-
plo, estaria apresentada como baixa complexidade e teria procedimentos
definidos na tabela de faturamento do SUS também de baixa complexi-
dade. Já o atendimento hospitalar, pela necessidade de equipamentos
e tecnologias complexas, é definido como de alta complexidade, ou
atenção terciária. Para Mendes (2011), a atenção ambulatorial primária
pode ser considerada complexa, apesar de não utilizar equipamentos de
alta tecnologia, por trabalhar diretamente com mudanças de hábitos dos
pacientes, como no caso de tratamento de obesidade e hipertensão, o
que é bastante complexo, por exemplo.

SAIBA MAIS
Esse entendimento é discutido principalmente por Mendes (2011)
conforme será, apresentado no Capítulo 6, quando formos discutir
as Redes de Atenção em Saúde.

Como está seu entendimento sobre os modelos de atenção à saúde?


Caso você tenha alguma dúvida, não hesite em contatar seu tutor ou
retomar os pontos não compreendidos. Somente depois, continue
a leitura deste Capítulo.

A Atenção Básica à Saúde

A atenção básica à saúde é também apresentada como atenção primária


à saúde, sendo o primeiro nível de atenção à saúde, de acordo com o
modelo adotado pelo SUS, conforme demonstrado pela Portaria n. 648,
de 28 de março de 2006, do Ministério da Saúde.
CAPÍTULO 3
SAIBA MAIS
Um marco histórico mundial de atenção primaria à saúde é a Con-
ferência Internacional sobre Atenção Primária em Saúde, organizada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações
Unidades para a Infância (UNICEF), em Alma-Ata, cidade do Caza-
quistão, em 1978. No evento, foi definida a Declaração de Alma-
-Ata, que afirma ser responsabilidade dos governos a saúde de seus
povos, por meio de medidas sanitárias e sociais, reiterando a saúde
como direito fundamental e uma das mais importantes metas so-
ciais mundiais (GIOVANELLA; MENDONÇA, 2008).

A atenção primária refere-se, segundo Giovanella e Mendonça (2008, p.


575), a um “[...] conjunto de práticas em saúde, individuais e coletivas
que, no Brasil, durante o processo de implementação do SUS, passou
a ser denominado de atenção básica de saúde”. É definida pelas auto-
ras como atenção ambulatorial de primeiro contato que tem diferentes 37
concepções em sua implementação, direcionada a cobrir as afecções e
condições mais comuns e a resolver a maioria dos problemas de saúde
de uma população.

Conforme apresentado em BRASIL (2011b), o nível de atenção primária à


saúde é a porta de entrada do sistema e o nível que emprega tecnologia
de baixa densidade.

A atenção primária inclui um rol de procedimentos menos complexos


caracterizados por apresentar tecnologia de baixa densidade. A atenção
primária é subentendida como sendo capaz de atender à maior parte dos
problemas comuns de saúde da comunidade. Porém, sua organização,
desenvolvimento e aplicação nem sempre são de simples compreensão,
exigindo profundo conhecimento da realidade da população atendida.
Como infraestrutura necessária para a atenção primária, destacamos a
unidade básica de saúde, com ou sem o Estratégia Saúde da Família.

SAIBA MAIS
Estratégia Saúde da Família – É a estratégia adotada pelo Ministério
da Saúde como prioritária para a organização da atenção básica; é
formada por equipe multiprofissional composta de médico, enfer-
meiro, cirurgião-dentista, auxiliar de consultório dentário ou técnico
em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de enferma-
gem e agente comunitário de saúde, entre outros. Para conhecer a
cobertura atual da Estratégia de Saúde da Família, acesse o Portal
Saúde. Fonte: Brasil (2014b).

Cabe à atenção primária o encaminhamento dos usuários para os atendi-


mentos de média e alta complexidade. Segundo Brasil (2011b), é possí-
vel suprir até 80% das necessidades e problemas de saúde da população
de um município se a atenção básica estiver organizada. Isso mostra a
CAPÍTULO 3

importância desse nível de atenção no contexto do SUS.

A oferta de serviços de atenção primária é de responsabilidade do gestor


municipal, sendo o financiamento para essas ações de responsabilidade
das três esferas de governo.

Os atributos da atenção primária à saúde apresentados por Giovanella e


Mendonça (2008) estão demonstrados no Quadro 2.

Atributos da atenção Definição


primária à saúde
Primeiro Contato Serviços procurados regularmente cada vez que
o paciente necessita de atenção em caso de ado-
ecimento ou para acompanhamento rotineiro de
sua saúde.

38 Porta de entrada preferencial do sistema de saú-


de: ponto de início da atenção e filtro para acesso
aos serviços especializados.
Longitudinalidade Exige uma responsabilidade longitudinal pelo
usuário com continuidade da relação equipe-pa-
ciente ao longo da vida, independentemente da
ausência ou da presença de doença.
Abrangência ou Reconhecimento de amplo espectro de neces-
integralidade sidades, considerando-se os âmbitos orgânicos,
psíquicos e sociais da saúde, dentro dos limites
de atuação pessoal de saúde.
Requer a oferta de serviços preventivos e cura-
tivos e a garantia de acesso a todos os serviços
para todas as faixas etárias, procurando solucio-
nar grande parte das demandas ou encaminhan-
do, quando necessário.
Coordenação Coordenação das diversas ações e dos serviços
essenciais para resolver necessidades menos fre-
quentes e mais complexas.
Orientação para Conhecimento das necessidades de saúde da po-
a comunidade pulação adscrita em razão do contexto econômi-
co e social, dos problemas de saúde e dos recur-
sos disponíveis na comunidade.
Participação da comunidade nas decisões sobre
sua saúde.
Centralidade na família Consideração do contexto e da dinâmica familiar
para bem avaliar como responder às necessida-
des de cada membro.
Conhecimento dos membros e de seus proble-
mas de saúde.
Competência cultural Reconhecimento de diferentes necessidades dos
grupos populacionais, suas características étni-
cas, raciais e culturais, entendendo suas repre-
sentações dos processos saúde-enfermidade.
Quadro 2 – Atributos da atenção primária à saúde
Fonte: Giovanella e Mendonça (2008, p. 577)
A Média Complexidade no SUS

CAPÍTULO 3
A média complexidade no âmbito do SUS, com relação ao seu papel e
poder organizativo, é definida, por exclusão, pelas ações que transcen-
dem aquelas da atenção básica e as que ainda não se configuram como
alta complexidade. Vem sendo compreendida como serviços de apoio
diagnóstico e terapêutico de atenção especializada de menor complexi-
dade tecnológica.

A Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), do Ministério da Saúde, define


complexidade em saúde como:

[...] ações e serviços que visam atender aos principais problemas e agravos
de saúde da população, cuja complexidade da assistência na prática clíni-
ca demande a disponibilidade de profissionais especializados e a utilização
de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e tratamento. (BRASIL, 39
2011b, p.12).

Os procedimentos da média complexidade encontram-se relacionados


na tabela do SUS, em sua maioria no SIA, como: cirurgias ambulatoriais
especializadas; procedimentos traumato-ortopédicos; ações especializa-
das em odontologia; entre outros.

No Brasil, a oferta de serviços de média complexidade constitui- se em


um dos maiores pontos de estrangulamento do sistema e tem sido orga-
nizada com base na lógica da oferta de procedimentos, desconsiderando
as necessidades e o perfil epidemiológico, ou conjunto de doenças e
agravos, da população. Existe uma baixa capacidade de regulação sobre
a oferta e enorme dificuldade de aquisição de serviços, configurada em
uma oferta muitas vezes insuficiente e, em outras, desregulada, mais
condicionada por razões de mercado e menos pelas necessidades de
atenção à saúde. Os efeitos do estrangulamento da oferta da atenção
ambulatorial de média complexidade forçam, de certa forma, a amplia-
ção da demanda para a alta complexidade, com graves prejuízos à po-
pulação e repercussão nos custos do sistema. Nesse estrangulamento,
destacamos as consultas médicas especializadas e os procedimentos de
patologia clínica e diagnóstico por imagem – principalmente radiologia e
ultrassonografia (SOLLA; CHIORO, 2008).

Segundo Mendes (2011), os municípios, buscando superar as dificulda-


des de realização de procedimentos de maior complexidade, tentaram
construir sistemas de saúde autônomos, muitas vezes em articulação
regional, sem observar a necessidade de economia de escala, com ser-
viços mal dimensionados para as necessidades da população que se tor-
nam ociosos, custosos e inviáveis técnica e financeiramente.
CAPÍTULO 3

SAIBA MAIS

Economia de escala é quando ocorre aumento do volume de produ-


ção e, em contrapartida, ocorre redução dos custos. Segundo Possas
(1993), a redução pode se dar, por exemplo, pela possibilidade de
utilização de métodos produtivos mais automatizados ou avançados.

Por essa razão, discussões sobre a adoção de critérios de organização


que não a lógica da hierarquia são frequentes atualmente no Brasil,
conforme será apresentado no Capítulo 6.

A Alta Complexidade no SUS

O nível de atenção de alta complexidade é representado pelos procedi-


mentos que, no contexto do SUS, abrangem alta tecnologia e alto custo
40 (BRASIL, 2009a). O objetivo é proporcionar à população acesso a servi-
ços qualificados e integrados à atenção básica e de média complexidade.
Os procedimentos de alta complexidade são, em sua maioria, relaciona-
dos na tabela do SUS como procedimentos hospitalares. Porém, alguns
procedimentos ambulatoriais, também definidos como de alta comple-
xidade, são responsáveis por grande consumo de recursos financeiros,
apesar do menor número de incidências, como é o caso de procedimen-
tos de diálise, quimioterapia, radioterapia e hemoterapia.

Não obstante todas as mudanças nos sistemas de saúde e os questio-


namentos sobre o papel dos hospitais, estes seguem ocupando papel-
-chave na prestação de serviços em saúde (BRAGA NETO; BARBOSA;
SANTOS, 2008). No Brasil, os hospitais são o centro do setor saúde, são
hospitais públicos e privados prestando serviço à população, o que faz
com que nosso sistema de saúde seja hospitalocêntrico (LA FORGIA;
COUTOLLENC, 2009).

SAIBA MAIS
No modelo hospitalocêntrico de atenção à saúde prevalece a hege-
monia das práticas hospitalares e curativas, em detrimento de práti-
cas extra-hospitalares, em especial de atenção básica, tanto preven-
tivas quanto curativas (BRAGA NETO; BARBOSA; SANTOS, 2008).

A organização hospitalar pode ser entendida por seu caráter preventivo,


curativo ou reabilitador a pacientes em regime de internação ou ambu-
latorial (GONÇALVES et alli, 2010). Nos hospitais são utilizadas tecno-
logias de ponta e constituem, ainda, um espaço de prática de ensino-
-aprendizagem e produção científica.

Os hospitais podem ser classificados quanto ao tipo de administração ou


ao nível de atenção do serviço prestado. Na classificação quanto ao tipo
de administração, podem ser públicos – administrados por autoridades

CAPÍTULO 3
federais, estaduais ou municipais – e privados – subdivididos em con-
vênios, ou contratados pelo SUS, ou não contratados pelo SUS (BRASIL,
2011b).

Dos recursos gastos no setor da saúde, os hospitais consomem cerca


de 2/3 do total, e aproximadamente 70% desse total é financiado com
recursos públicos, via SUS. Segundo dados apresentados por Marinho,
Cardoso e Almeida (2009), os hospitais do SUS já realizaram mais de
11 milhões de internações/ano, que custaram aproximadamente R$7,6
bilhões, prestando assistência à saúde para aproximadamente 95% da
população brasileira, incluindo algo em torno de 70% dos cuidados se-
cundários e 90% dos cuidados mais complexos. O SUS responde por
68% das internações, 73% dos atendimentos de emergência e 67% do
atendimento ambulatorial brasileiro, sendo a maioria dos hospitais de
pequeno porte (60%, com menos de 50 leitos), e a maioria privada (65%)
responsável por 70% dos leitos (LA FORGIA; COUTTOLENC, 2009).
41
Após apresentarmos a assistência à saúde por níveis de atendimento,
iremos aprofundar os conceitos de Redes de Atenção à Saúde
no Capítulo 6, para fazermos um contraponto a essa abordagem
como nova proposta de assistência.

TEXTO COMPLEMENTAR
Agora que você conhece os modelos e os níveis de atenção à saúde
e compreende a articulação entre os pontos de atenção à saúde,
poderá aprofundar seus conhecimentos por meio da leitura comple-
mentar dos links que relacionamos a seguir:

• DATASUS – traz informações sobre serviços de saúde e situação


de saúde da população brasileira. Disponível em: <https://da-
tasus.saude.gov.br>. Acesso em: 26 out. 2021.

• Departamento de Atenção Primária à Saúde – acesso direto aos


sistemas de informação da atenção primária da Secretaria de
Atenção Primária do Ministério da Saúde. Disponível em: <ht-
tps://aps.saude.gov.br>. Acesso em: 26 out. 2021.

• Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SB-


MFC) – entidade nacional que congrega os médicos que atuam
em postos e outros serviços de Atenção Primária à Saúde, in-
cluindo os do Programa de Saúde da Família (PSF). Disponível
em: <http://www.sbmfc.org.br/default.asp>. Acesso em: 26
out. 2021.

• Rede de pesquisa em APS – portal desenvolvido com o objetivo


de propiciar a comunicação e articulação entre pesquisadores,
CAPÍTULO 3

profissionais, usuários e gestores da APS. Disponível em <ht-


tps://redeaps.org.br/rede-aps/>. Acesso em: 26 out.de 2021.

• Atenção Primária e Promoção da Saúde – esse livro aborda o


conceito de Atenção Primária à Saúde (APS), o seu papel na
construção do SUS, seus princípios e sua importância para a
eficiência e efetividade dos sistemas de saúde, bem como des-
taca alguns desafios para o seu fortalecimento. Disponível em:
<http://www.conass.org.br/biblioteca/atencao-primaria-e-
-promocao-da-saude/>. Acesso em: 26 out. 2021.

• Assistência de Alta e Média Complexidade no SUS – esse livro


aborda a legislação que orienta a organização das ações de mé-
dia e alta complexidade do SUS, as responsabilidades dos ges-
tores e a forma de financiamento, com o objetivo de apoiar a
gestão estadual. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/
42 bvs/publicacoes/colec_progestores_livro9.pdf>. Acesso em:
26 out. 2021.

Resumindo

Neste Capítulo, vimos que os modelos de atenção em saúde são formas


de organização dos serviços, tendo como referência a sua complexidade
tecnológica. Conforme definido pelo Ministério da Saúde, o modelo de
atenção atualmente mais disseminado é o modelo hierarquizado, que
apresenta três níveis de atendimento à população:

a) atenção básica à saúde, ou atenção primária, definida como o con-


junto de práticas em saúde, individuais e coletivas, referentes ao
primeiro contato e de menor densidade tecnológica, entre outras
atribuições;

b) atendimento de média complexidade que corresponde a consultas a


especialistas, a exames diagnósticos, entre outros, e representam o
maior gargalo do sistema de saúde no Brasil; e

c) o atendimento de alta complexidade, que são aqueles aten- dimentos


maiores, consumidores de recursos de grande monta e de elevada
densidade tecnológica.
CAPÍTULO 3
ATIVIDADES
Preparamos para você algumas atividades com o objetivo de refor-
çar o conteúdo que você estudou neste Capítulo. Em caso de dúvi-
da, não hesite em fazer contato com seu tutor.

1. Com suas palavras, explique o significado dos níveis de atenção


existentes no SUS e descreva o funcionamento de cada um.

2. Quais são os objetivos da estruturação do sistema de saúde em


níveis de atenção?

3. Pontue os tipos de procedimentos assistenciais relacionados


com os níveis de atenção.

4. Com a sua experiência na área da saúde (e como usuário de 43


serviços de saúde), tente organizar, por ordem de complexidade
(nos três níveis de atenção, por exemplo), as unidades e os ser-
viços de saúde que você e sua família utilizam para resolver os
problemas de saúde que eventualmente os acometem.

5. Nas imagens, a seguir, identifique o tipo de nível de atenção


existente e discorra a respeito.

a)

Fonte: Brasil (2009d)

b)

Fonte: News Rondônia (2012)


CAPÍTULO 3

c)

Fonte: Barreto (2011)

d)

44

Fonte: Secretaria de Saúde (2011)

e)

Fonte: Vilela (2013)

f)

Fonte: Farmácia Popular (2014)


CAPÍTULO IV

CAPÍTULO 4
A GESTÃO ADMINISTRATIVA
E FINANCEIRA DO SUS
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao finalizar este Capítulo, você deverá ser capaz de:


45
• Conceituar gestão administrativa e financeira no SUS;

• Identificar os conceitos e a importância da gestão de suprimentos;

• Identificar os conceitos e a importância da gestão de recursos huma-


nos no âmbito do SUS; e

• Analisar a relação público-privada na saúde.

A Gestão Administrativa e Financeira do SUS

Prezado estudante,
Neste Capítulo, você vai perceber que conhecer a gestão de recursos do SUS,
sejam eles administrativos, financeiros ou humanos, é de grande relevância para
os gestores de saúde, em qualquer esfera de gestão. Os recursos são escassos e
a demanda por serviços de saúde é infinita, conforme reforçamos aqui. Por isso,
a gestão assume a importância necessária para que possamos realizar mais com
os recursos que temos. É o que podemos chamar de Melhor Valor do Dinheiro.

Os pontos aqui apresentados são fundamentais para que você possa compreen-
der a amplitude da nossa discussão sobre financiamento, utilização de recursos,
gestão, relação público-privada, entre outros. Aproveite e bons estudos!

A Gestão Financeira do SUS

O financiamento da saúde tem sido apontado como um dos desafios para


a implementação do SUS e como preocupação permanente dos gestores
e dos envolvidos diretamente com a construção do sistema de saúde,
tornando-se tema constante em todas as discussões das instâncias ges-
toras. A compreensão e mensuração do cenário do financiamento, mais
especificamente da sustentabilidade financeira do setor saúde, é tema
necessário. Isso pela necessidade de garantir a fundamentação legal de
universalidade e integralidade na prestação de serviços em saúde em um
CAPÍTULO 4

cenário de restrições orçamentárias e financeiras e de diversidades de


um Brasil com tantas desigualdades sociais e regionais.

Nesta seção, apresentaremos a estrutura básica da área financeira, al-


guns conceitos de financiamento da saúde.

Com isso, não pretendemos esgotar o assunto sobre o financiamento


da saúde, mas evidenciar ferramentas utilizadas para gestão
financeira no Brasil. Vamos lá!

Estrutura Básica da Área Financeira

As instituições de saúde no setor público são fundamentalmente:

• os órgãos de Estado, responsáveis pela arrecadação de receitas, realiza-


ção de despesas e fiscalização dos gastos (controle interno) – são aque-
46 les investidos de autoridade, como o Poder Executivo (Administração
Direta), o Poder Judiciário e o Poder Legislativo;

• os fundos ou contas independentes (fundos de saúde, por exemplo) ou


extraorçamentárias, cujas receitas e despesas são administradas com
certa autonomia;

• os organismos auxiliares, constituídos por empresas cujas gestões obe-


decem à autoridade política. Estão à margem do mercado e sua finalida-
de consiste em fornecer bens e serviços aos organismos estatais. Exem-
plo disso são as fábricas de medicamentos nos diversos níveis de gestão
do SUS;

• outras entidades da Administração Indireta, como autarquias, empresas


estatais (como fundações hospitalares, por exemplo) e sociedades de
economia mista. (BRASIL, 2011a, p. 78).

Nos sistema de atenção à saúde, a expressão captação de recursos* é


mais utilizada no contexto da consecução de recursos por meio de coo-
peração técnica e financeira entre órgãos ou entidades; e o termo recur-
so a fundo perdido era associado à falta de uso e descontrole do gasto
público. Atualmente, com a incidência de maior controle e governança
no setor público, esse termo está em desuso.

SAIBA MAIS
*Captação de recursos – termo utilizado para descrever a mobili-
zação dos recursos para a operacionalização das diversas atividades
inerentes ao funcionamento das organizações governamentais e não
governamentais (estas sem fins lucrativos), em apoio à sua finalida-
de principal, independentemente da fonte ou do método utilizado
para gerá-los. Fonte: Brasil (2011e).
As principais fontes de recursos identificadas no sistema de saúde são:

CAPÍTULO 4
• recursos governamentais, próprios ou transferidos;

• renda gerada pela venda de serviços; e

• recursos captados através de doações (de indivíduos ou instituições).

O termo mobilizar recursos está sendo mais utilizado que o termo capta-
ção de recursos, sendo identificado com a otimização dos recursos exis-
tentes (aumento da eficácia e eficiência dos planos), a conquista de novas
parcerias e a obtenção de fontes alternativas de recursos financeiros, se-
jam eles recursos humanos, de equipamentos, materiais ou serviços.

Financiamento da Saúde

Na construção do SUS, o financiamento destaca-se como preocupação


permanente de todos os envolvidos diretamente no seu processo de
implementação. 47

O financiamento de ações e serviços de saúde tem despertado atenção


e preocupação crescentes nos mais diversos segmentos da sociedade
brasileira, seja pela importância em si, seja pela participação, cada vez
maior do setor não só na economia nacional, mas em particular nas con-
tas públicas e nos orçamentos das famílias (BRASIL, 2011i).

Os recursos financeiros para o SUS tem sido insuficientes para estruturar


um sistema público universal de qualidade, mesmo com uma legislação
construída ao longo dos anos.

O Brasil, possui uma composição de gasto em saúde incompatível com


o financiamento de um sistema público universal.

Os gastos públicos correspondem a 45,7% dos gastos totais em saúde


em 2011, valor muito inferior se comparado com países que possuem
sistemas públicos universais, tais como, o Reino Unido (82,8%) e tam-
bém com Estados Unidos (47,8%), Argentina (66,5%) e Chile (48,4%)
(BRASIL, 2015).

Recursos do SUS

Antes da promulgação da CF/88, as ações de saúde de caráter curativo


eram financiadas pelo sistema previdenciário, e as ações de saúde pú-
blica por recursos fiscais. Após a CF/88, o Sistema de Saúde Brasileiro
(SUS), integrou as ações curativas às preventivas e passou a ser financia-
do, nos termos do artigo 195, por recursos do orçamento da Seguridade
Social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, além
de outras fontes (RADICCHI, 2004).

O artigo 31 da Lei n. 8.080/90, também chamada Lei do SUS, define que


o orçamento da Seguridade Social destinará ao SUS, de acordo com a
receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalida-
CAPÍTULO 4

des, previstos em proposta elaborada pela sua direção nacional, com a


participação dos órgãos da Previdência Social e da Assistência Social,
tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO).

Segundo o Ministério da Saúde, o financiamento do SUS é feito pelas três


esferas de governo – federal, estadual e municipal –, conforme determi-
na a CF/88, que estabelece as fontes de receita para custear as despesas
com ações e serviços públicos de saúde (BRASIL, 2012b).

O setor da saúde brasileiro é financiado por várias fontes e através de


diversos tipos de arranjos e fluxos financeiros. As fontes que asseguram
o maior aporte de recursos ao Ministério da Saúde são: a Contribuição
sobre o Faturamento (Fonte 153 – COFINS) e a Contribuição sobre o
Lucro Líquido (Fonte 151). Os aportes provenientes de Fontes Fiscais
48 são destinados praticamente à cobertura de despesas com Pessoal e En-
cargos Sociais.

Além dos recursos oriundos do Tesouro, nas esferas estadual e munici-


pal, o financiamento do SUS conta com recursos transferidos pela União
aos Estados e pela União e Estados aos municípios. Os repasses só são
possíveis se previstos no orçamento e identificados nos fundos de saú-
de estadual e municipal como receita operacional proveniente da esfera
federal e/ou estadual e utilizados na execução de ações previstas nos
respectivos planos de saúde e na Programação Pactuada e Integrada (PPI)
(BRASIL, 1996).

A Emenda Constitucional n. 29 (EC n. 29/2000) de 13 de setembro de


2000 determinou a vinculação e definiu a base de cálculo e os percen-
tuais mínimos de recursos orçamentários que a União, os estados, o
Distrito Federal e os municípios são obrigados a aplicar em ações e ser-
viços públicos de saúde. Os estados e municípios devem destinar, como
percentual mínimo para o gasto próprio em saúde, respectivamente 12%
e 15% de suas receitas. Já a participação da União ocorre pela variação
nominal do Produto Interno Bruto (PIB).

A Lei Complementar n. 141, de 13 de janeiro de 2012 regulamentou o


art 198 da Constituição Federal, definiu os valores mínimos a serem apli-
cados anualmente pela União, estados e municípios em ações e serviços
públicos de saúde; estabeleceu critérios de rateio dos recursos de trans-
ferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle
das despesas com saúde nas três esferas de governo (Brasil, 2015).

Apesar de não ter modificado os percentuais da União para aplicação dos


recursos, a regulamentação da lei trouxe, entre os pontos positivos, a de-
finição do que se entende por ações e serviços públicos de saúde (ASPS),
para fins de verificação do cumprimento da emenda.
O subfinanciamento do setor público continua a ser um fator impediti-

CAPÍTULO 4
vo para o cumprimento dos preceitos constitucionais de acesso univer-
sal e atendimento integral. Mais recentemente, em 2016, foi aprovada
a Emenda Constitucional n° 95, estabelecendo um Novo Regime Fiscal
(BRASIL, 2016). Determinou-se um teto de gasto para as despesas pri-
márias da União, sem definição de limite para as despesas financeiras.

O ajuste fiscal implementado no Brasil, na prática, segundo Santos e


Vieira (2018), não apresentou como principal finalidade o controle do
equilíbrio momentâneo nas contas públicas, mas impôs uma diminuição
da participação do Estado na oferta de bens e serviços à população, pela
redução do gasto com políticas públicas, o que irá diminuir a participa-
ção das despesas primárias no PIB de cerca de 20% em 2016 para 16% a
12% do PIB até 2026, a depender do tamanho da economia.

A EC 95 age diretamente no gasto federal e isso, por 19 anos, impactará


na estabilidade do SUS e na sua progressiva expansão, gerando descom-
passo entre o gasto federal, em trajetória de redução, e o crescimento 49
econômico e as mudanças demográficas e seus efeitos nas condições
sanitárias e nas demandas de saúde da população (JACCOUD; VIEIRA,
2018).

A transferência dos recursos, em quaisquer das modalidades de financia-


mento do SUS, é processada pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS). Es-
ses recursos são repassados de forma regular e automática, tendo como
base os sistemas de informação, proporcionais à agilidade necessária ao
atendimento dos objetivos definidos no Planejamento do SUS, de forma
segura e controlada.

O SIAFI é o principal instrumento de administração orçamentária e finan-


ceira da União. Nele são registradas todas as transferências realizadas
pelo FNS (BRASIL, 2003):

SAIBA MAIS
Para saber mais sobre o SIAFI visite o site: <https://www.gov.br/
tesouronacional/pt-br/siafi>.

• Transferências fundo a fundo: os repasses dos recursos federais


para financiamento de ações e serviços de saúde são realizados prin-
cipalmente por meio de transferências fundo a fundo para Estados,
municípios e Distrito Federal. São feitos por meio de repasse direto
dos recursos do FNS para os Fundos Estaduais e Municipais de Saú-
de, fundamentados nas condições de gestão – qualificação e certifica-
ção dos programas e incentivos do Ministério da Saúde e respectivos
tetos financeiros (BRASIL, 2003).

• Pagamento direto aos prestadores: consiste na transferência de re-


cursos de financiamento para pagamento de incentivos específicos
a prestadores de serviços ou em casos de programas específicos,
CAPÍTULO 4

como o Programa Nacional de Incentivo à Parceria entre os Hospitais


Filantrópicos e sem fins lucrativos e o Sistema Único de Saúde (IN-
TEGRASUS), que permite o repasse de recursos com base em termos
de compromisso de gestão.

Os repasses do SUS são realizados geralmente levando em conta a dis-


tribuição per capita, a implantação das políticas nacionais e a produção e
prestação de serviços de saúde.

As transferências SUS instituídas pelo Pacto de Gestão em 2006 apresen-


tavam seis blocos de financiamento: atenção básica, assistência farma-
cêutica, vigilância em saúde, média e alta complexidade, gestão e investi-
mentos. Os recursos vinculados a cada bloco de financiamento deveriam
ser utilizados exclusivamente em ações pertencentes ao próprio bloco e
aplicados de acordo com a programação elaborada com base nos instru-
mentos legais orçamentários (Plano Plurianual – PPA, Lei de Diretrizes
50 Orçamentárias – LDO e Lei Orçamentária Anual – LOA).

Em 2017, o repasse de recursos federais para estados e municípios rela-


tivos aos seis blocos foi alterado e substituído por dois blocos: custeio e
capital. Essa proposta foi chamada de SUS Legal e apresentada pelo Mi-
nistério da Saúde sob alegação da necessidade de aumentar a autonomia
municipal e agilizar a gestão financeira da política. Essa mudança do me-
canismo de transferências federais para as unidades subnacionais teve o
apoio da CIT sob o argumento de que os recursos eram transferidos de
uma forma engessada e que isso dificultava a gestão local, fazendo com
que em determinadas áreas sobrassem recursos e em outras faltassem
(JACCOUD; VIEIRA, 2018).

SAIBA MAIS
Para saber mais, acesse:

• JACCOUD, L.; VIEIRA, F. S. Federalismo, Integralidade e Autono-


mia no SUS: desvinculação da aplicação de recursos federais e
os desafios da coordenação. Disponível em: <http://www.ipea.
gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&
id=33855>.

• Mudanças no Financiamento da Saúde – DisponÍvel em: <ht-


tps://www.cnm.org.br/biblioteca/exibe/3540>.

• No site do FNS - <https://portalfns.saude.gov.br> - você con-


segue consultar pagamentos (últimos pagamentos efetuados
pelo fundo) e portarias que dizem respeito a gestão financeira
dos entes federativos.
Utilização dos Recursos

CAPÍTULO 4
Muito se tem falado sobre a fonte de recursos para o financiamento do
SUS, na lógica do onde serão provisionados os recursos e quem paga a
conta. A discussão sobre para onde estão indo os recursos não tem sido
estudada com a mesma intensidade, apesar de haver fundamentação le-
gal que exige o conhecimento da utilização dos recursos na prestação de
serviços.

A remuneração dos serviços prestados pelos prestadores de serviços


deve possibilitar o equilíbrio financeiro desse prestador, conforme está
definido na Lei n. 8.080/90.

O pagamento aos prestadores de serviços de saúde, conforme funda-


mentado pela normatização do SUS, deve possibilitar o equilíbrio finan-
ceiro das instituições prestadoras de serviço. Para sabermos o que é esse
equilíbrio, precisamos saber quanto custa o serviço prestado e como 51
são feitos os repasses aos prestadores. Os mecanismos de remuneração
ou de transferências financeiras, conforme Andreazzi (2003), podem ser:

• Ex post (pós-pagamento) – quando o pagamento é feito após a pres-


tação do serviço. Nesse caso, quanto mais procedimentos e mais
complexo o atendimento em um hospital, mais recursos ele recebe-
rá. O incentivo para o hospital é manter o custo de tratamento do
caso abaixo do valor estabelecido em tabela (ANDREAZZI, 2003; LA
FORGIA; COUTTOLENC, 2009).

• Ex ante (pré-pagamento) – os valores que serão repassados são cal-


culados com base em critérios prévios, independentemente da pro-
dução, em geral populacionais. O financiamento dessas unidades
está contemplado em um contrato de gestão entre a organização e
o agente financiador, no contexto dos orçamentos globais, com base
em um programa de trabalho.

• Esquemas mistos – são aqueles que agregam o pagamento global e


por produção, de forma complementar.

Até alguns anos atrás, antes do Pacto de Gestão do SUS, a quase totali-
dade dos repasses aos prestadores era feita por meio de pagamento pós-
-produção, tendo como base os valores dos procedimentos definidos na
tabela do SUS (ALEMÃO, 2012). Porém, o Ministério da Saúde, buscando
a melhor utilização dos recursos, tem incentivado o repasse por meio de
esquemas mistos. Os sistemas de produção do SUS, conforme apresen-
tamos no Capítulo 2, com base nos valores definidos na tabela do SUS,
não são atualmente a única forma de repasse aos prestadores de serviços
do SUS. Os valores repassados a título de incentivo e incremento, por
meio de pagamento global ou contratualização, são importantes formas
de repasse aos prestados.
Essa é uma questão que necessita de maiores discussões e evidências
CAPÍTULO 4

empíricas, por ser ainda uma fala comum a de que o SUS paga mal, os
valores da tabela do SUS são inferiores aos custos dos tratamentos,
entre outras.

Lembre-se de que precisamos ser cautelosos quanto a fazermos um


paralelo entre valores de repasse do SUS via tabela SUS e custos
de produção dos serviços prestados.

Nesse sentido, é necessária a produção de estudos que apresentem efe-


tivamente como os recursos financeiros estão sendo utilizados pelos
prestadores de serviços e o que isso representa em termos de qualidade
e quantidade dos serviços prestados ao usuário cidadão sem deixar de
lado a necessidade de buscar o equilíbrio financeiro que viabilize aos
prestadores de serviços atenderem às diretrizes do SUS.

Vamos apresentar aqui como são efetivamente comprados os serviços


52 de saúde. Conforme definido no Pacto pela Saúde, os gestores do SUS
necessitam integrar os serviços de saúde ao planejamento de saúde de
sua região. Dessa forma, o gestor municipal e o gestor estadual definem
os serviços que serão comprados para atendimento à população. Para
prestarem serviços ao SUS, os prestadores são credenciados como servi-
ços públicos em saúde, nos tipos de regime: federal, estadual ou muni-
cipal, da Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional. Serviços
da iniciativa privada também podem ser credenciados para participar
do SUS, sendo a preferência das entidades filantrópicas. A participação
se dá por meio de convênio, para serviços filantrópicos, ou contrato de
prestação de serviços de saúde, para entidades lucrativas. A participação
é firmada com o gestor do SUS estadual ou municipal.

SAIBA MAIS
Conforme o Planejamento do SUS e o Programa Anual de Saúde,
que estudamos no Capítulo 1.

Para prestar serviços ao SUS, os prestadores e os gestores públicos defi-


nem um Termo de Compromisso de Gestão, ou Termo de Contratualiza-
ção, dos serviços a serem prestados, ou seja, um contrato de prestação
de serviço que permite ao gestor a regulação, a fiscalização e o controle
e a avaliação do prestador de serviços.

A Contratualização define as responsabilidades sanitárias e as atribuições dos


respectivos gestores, definindo eixos temáticos e questões centrais, as metas
e os objetivos definidos em cada ano e os indicadores de monitoramento,
alinhados ao Pacto de Gestão. O gestor analisa a estimativa de necessidade
com base na população e distribuição geográfica (ALEMÃO, 2012).

A Contratualização é trabalhada sempre de forma tripartite, consolidan-


do a definição das responsabilidades do gestor municipal, estadual e fe-
deral do SUS, de acordo com a necessidade do município e região. Nela

CAPÍTULO 4
são pactuadas, conforme apresentado em Brasil (2006b):

• metas físicas de produção – o prestador de serviços oferece o ser-


viço com base na sua capacidade instalada e sua série histórica de
produção. O gestor compra o serviço conforme a necessidade da
população local e referenciada;

• metas de valor do contrato – são definidos os valores a serem re-


passados ao prestador considerando a produção real realizada, tendo
como base a produção acordada e os valores de tabelas vigentes; e

• metas de qualidade – são aquelas que têm por objetivo avaliar a qua-
lidade do serviço prestado. São metas baseadas em indicadores que
representam a avaliação da assistência médica, da gestão da unidade
e da formação dos seus recursos humanos. Dessa forma, não basta
apenas produzir, mas o prestador tem de atender também à exigência
de qualidade, como atender à taxa de infecção hospitalar acordada 53
ou taxa de mortalidade.

A Eficiência do SUS

O livro SUS: avanços e desafios, publicado pelo Ministério da Saúde,


apresenta como um dos objetivos centrais dos sistemas de saúde a efi-
ciência. Essa eficiência pode ser medida em duas dimensões principais:
técnica e alocativa.

Os sistemas de saúde são eficientes tecnicamente quando produzem o máxi-


mo de serviços para um determinado nível de recursos ou quando produzem
um dado nível de serviços a um custo menor; e são eficientes alocativamente
quando designam os recursos à atividade sem que estes apresentem valor
máximo. (BRASIL, 2006a, p.79).

A Ineficiência de Escala

O Ministério da Saúde define que os serviços de saúde devem ser or-


ganizados em redes de forma a concentrar alguns recursos e dispersar
outros (Brasil, 2006a). Segundo a Organização Mundial de Saúde, os
serviços que devem ser concentrados são os que beneficiam a economia
de escala. Em geral, os serviços de atenção primária à saúde devem ser
dispersos; ao contrário, serviços de maior densidade tecnológica devem
ser concentrados.

São necessários estudos sobre escalas no setor saúde com o intuito de


aumentar a eficiência dos sistemas de saúde. Um tipo de serviço de saú-
de muito suscetível à escala são os hospitais, e os que apresentam maior
economia de escala são os hospitais que têm entre 100 a 450 leitos.

Além dos tipos de eficiência, há também os tipos de ineficiência, como


a subutilização de leitos hospitalares, por exemplo. Temos hoje, no Bra-
sil, uma taxa de ocupação baixa, gerando grande desperdício de recur-
CAPÍTULO 4

sos, que são escassos. Existe no setor da saúde uma relação estreita entre
escala e qualidade: geralmente os serviços de saúde ofertados em maior
volume apresentam melhor qualidade. Quando temos, por exemplo, um
hospital que faz um volume maior de cirurgias cardíacas, a tendência é
que esse hospital apresente uma qualidade maior nesse tipo de serviço.

A Ineficiência Alocativa

As ineficiências alocativas serão analisadas na perspectiva dos gastos em


procedimentos de alta complexidade. Para obtenção de um sistema de
atenção à saúde eficiente, é necessária uma alocação equilibrada dos
recursos, sejam eles financeiros, humanos, tecnológicos e de materiais,
nos diversos níveis de atenção à saúde. Essa proposta foi apresentada
por Mendes (2011) quando o autor propôs o modelo de saúde em redes
de atenção – que veremos no Capítulo 6. Conforme o Ministério da Saú-
de, a estruturação das redes implica equilibrar as ações e os gastos do
54 sistema de saúde nos níveis de atenção primária, secundária e terciária à
saúde (BRASIL, 2011a).

Observamos que 43% dos gastos da saúde são para atendimento à as-
sistência hospitalar e ambulatorial (ações de média e alta complexidade).
Como o setor hospitalar é o que consome mais recursos no SUS, o Mi-
nistério da Saúde apresenta alguns pontos de discussão sobre a inefici-
ência no setor hospitalar, que são: o forte subfinanciamento das ações de
média complexidade, gerando restrições quanto ao atendimento, além
de uma migração interna desses recursos para os procedimentos de alta
complexidade, e também a falta de oferta de alguns serviços de alta com-
plexidade pelo sistema de saúde suplementar, isto é, pelos prestadores
privados, por apresentarem altos custos (BRASIL, 2011a). Esses serviços,
como é o caso do fornecimento de medicamentos de alto custo, são
impossíveis de serem pagos pelos planos de saúde, e muito menos pelo
desembolso do usuário. Nesse caso, o que ocorre é um crescente pro-
cesso de judicialização da saúde.

SAIBA MAIS
Judicialização é termo utilizado para os diversos processos que tra-
mitam na justiça brasiliera com objetivo de acesso a medicamentos
e a tratamentos médicos.

Gestão Administrativa do SUS


Vamos agora discutir sobre a gestão administrativa do SUS.

A complexidade do SUS, suas particularidades e regulamentações exi-


gem do gestor de saúde conhecimento das funções administrativas para
a organização dos serviços prestados, de forma a obter melhores resul-
tados. A gestão administrativa e financeira do SUS representa um dos te-
mas de maior relevância para os gestores da saúde pública, seja no nível
municipal, estadual ou federal. As fundamentações legais do SUS pre-

CAPÍTULO 4
veem a organização dos sistemas públicos de saúde em tópicos, como
planejamento e orçamento; financiamento e recurso – sejam financeiros
ou humanos –; descentralização, municipalização; e outros pontos que
exigem uma otimização na gestão dos recursos. Nesse sentido, recur-
sos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, Estados
e municípios devem ser mobilizados para a prestação de serviços de
assistência à saúde da população. O objetivo é a melhoria da capacidade
de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência e adequada
organização dos serviços públicos, evitando a duplicidade de meios para
fins idênticos.

Em relação à organização, à direção e à gestão do SUS, a lei estabelece o


princípio da direção única exercida em cada esfera de governo, definindo
atribuições e competências para a União, o Distrito Federal, os Estados e
os municípios, comuns ou específicas.

Funções Administrativas 55

A gestão, ou a ação administrativa, pressupõe o desenvolvimento de um


processo que envolve as funções de planejamento, execução, direção e
controle. A Figura 4 apresenta o conceito simplificado de cada função,
enfatizando o seu significado básico.

Figura 4 – Elementos do processo de gestão


Fonte: Brasil (2011a, p. 20)

A implantação de programas de qualidade é um instrumento de moder-


nização na gestão pública e deve enfatizar os princípios da qualidade
e da participação, incorporando práticas de gestão por excelência, por
resultados, e baseadas no desempenho, na prevenção de erros e na par-
ticipação de servidores na definição dos processos de trabalho.

Gestão de Suprimentos

A gestão de suprimentos, como materiais e medicamentos, equipamen-


tos e instalações, envolve transferir materiais da fonte (fabricante) ao
usuário (transferir material insumos ao serviço para que o produto final
seja a qualidade do paciente, sala cirúrgica) e sua disponibilização última
(para um paciente, programa ou serviço).

A gestão de materiais envolve compra, distribuição, estocagem, orça-


mentação, controle e processamento. Na saúde, a gestão de materiais
serve a um propósito duplo: proporcionar maior eficiência na utilização
dos recursos orçados e retroalimentar a elaboração do orçamento e do
planejamento de compras (BRASIL, 2011a).
Para o Ministério da Saúde, a gestão de compras visa a fundamentar as
CAPÍTULO 4

políticas de compras, a distribuição de materiais e medicamentos, além


de gerenciar a compra e manutenção de equipamentos e instalações,
para que haja a melhor utilização dos recursos.

A CF/88 explicita a obrigatoriedade de execução de processo de licitação


pública nas compras públicas, incluindo aqui as do setor da saúde, por
meio da Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Essa lei, dividida em cinco
Capítulos, descreve em seus artigos as condições, restrições, modalida-
des de licitações e sanções pertinentes à contratação de obras, serviços,
inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios
(BRASIL, 1993). As formas de a Administração Pública contratar e as mo-
dalidades de contratação estão apresentadas na Figura 5.

SAIBA MAIS
56 A Lei n. 8.666/93, a Lei n. 10.520, de 17 de julho de 2002, Lei do
Pregão, e a Lei 14133/21 constituem a legislação básica sobre lici-
tações e contratos para a Administração Pública. Conheça a íntegra
dessas leis no Portal do Planalto. Disponível em: <http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm> e <http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10520.htm>; <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8666compilado.htm>; <http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10520.htm> e <http://www.planal-
to.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14133.htm>. Acesso
em: 27 set. de 2021.

Figura 5 – Formas de contratação e modalidades de licitação


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro
Em 01 de Abril de 2021 foi sancionada a Lei 14.133, ao qual estabelece

CAPÍTULO 4
normas gerais de licitação e contratação para as Administrações Públicas
diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

O Processo de compras nacional na área pública deve obedecer à Lei


8666/93, Lei 14.133/21, Lei n. 10520/02 – pregão, Lei 12.462/11 – Regi-
me Diferenciado de Compras (RDC), Decreto 3.555/00 pregão, Decreto
5450/05 pregão e cotação eletrônicos, Decreto 9178/17, entre outras
legislações.

O processo de compras em saúde nem sempre apresenta a eficiência


requerida. A complexidade de um processo típico de compras aumen-
ta a importância do planejamento futuro. As principais áreas da gestão
de insumos materiais são: materiais e medicamentos, equipamentos e
57
instalações.

O Banco Mundial (2007) pontua algumas questões sobre a gestão de


materiais:

• a aquisição de materiais e medicamentos representa 20% dos recur-


sos financeiros no setor saúde e é geralmente de responsabilidade
das secretarias de saúde estaduais e municipais; e

• quanto maior o valor das aquisições, mais complexos são os mé-


todos e requerimentos para a realização da compra, no intuito de
evitar a corrupção e o favoritismo de certos fornecedores. Essas
dificuldades frequentemente resultam na falta de materiais e medi-
camentos ou na realização de compras de emergência, com preços
bem mais altos para atender às necessidades imediatas. Isso pode
ser evitado por meio de um melhor controle de estoques e aquisi-
ções em tempo hábil.

A área de saúde necessita de insumos, ou materiais básicos, como


medicamentos, equipamentos médicos e materiais logísticos a serem
utilizados em ações e serviços de atenção primária, de média e alta
complexidade, de urgência e de emergência. Logo, a gestão de recur-
sos envolve um processo mais abrangente do que a aquisição e con-
trole de estoques de materiais: envolve o processo de gestão logística
dos materiais.

A Figura 6 demonstra a visão do processo de aquisição de materiais


na saúde.
CAPÍTULO 4

58

Figura 6 – Visão do processo de aquisição de materiais na saúde


Fonte: Brasil (2011a)

Essa visão expressa que as estimativas das necessidades de material para


futuras aquisições devem depender da análise da população a ser aten-
dida combinada com a demanda de serviços, fundamentadas em dados
epidemiológicos, séries históricas e projeções de consumo. É um traba-
lho complexo que exige análise de especialistas e deve ser orientado para
a tomada de decisão quanto às compras ou à melhoria das condições de
armazenamento e distribuição dos materiais.

Controle de Estoques

Estoques são todos os bens e materiais mantidos por uma organização


para suprir demandas futuras. A efetiva gestão de estoques está prevista
na Lei de Licitações, que apresenta ser de responsabilidade do órgão o
controle dos bens estocados, de forma a não incorrer no mau uso dos
recursos públicos.

A função predominante na gestão de estoques no setor público é a de


alimentar a produção, no sentido de prover os materiais para a prestação
dos serviços. A questão da aquisição e do controle de estoque deve levar

CAPÍTULO 4
em conta o acesso aos materiais, seja dos usuários do SUS, seja dos ór-
gãos prestadores de serviços.

Segundo Relatório do Banco Mundial (2007), o controle inadequado dos


estoques e a existência de vários estoques paralelos dentro das unidades
de saúde, além de métodos ineficientes de dispensar os medicamentos
aos pacientes hospitalizados, contribuem para desperdícios, perdas e
desvios significativos, possivelmente chegando a 10% do total.

Controle Patrimonial

O controle patrimonial representa o procedimento de controle dos bens


de durabilidade superior a dois anos: móveis, equipamentos e outros
classificados como material permanente (BRASIL, 2011a).

Segundo o Ministério da Saúde, os bens que são incorporados na carga


59
patrimonial são os adquiridos por compra, comodato, doação (BRASIL,
2011h). Para controle desses bens, é necessário que se tenha um siste-
ma que possibilite o monitoramento de suas movimentações. Nas movi-
mentações internas é imprescindível o registro no sistema de patrimônio
para garantir o controle físico dos bens; e, nas movimentações externas,
entre órgãos, é necessária autorização formal do órgão que está cedendo
o bem. O procedimento de baixa, isto é, de retirada quando das aliena-
ções por venda, doação ou permuta, sinistros furto, roubo, incêndio,
entre outros, também exige procedimento específico.

O controle patrimonial é feito com base em leis federais, estaduais e


normas internas dos órgãos, ou entidades, e dos responsáveis pelo seu
controle interno e externo.

Suporte Logístico

Segundo o Ministério da Saúde, o planejamento logístico é responsá-


vel por monitorar e otimizar toda a cadeia logística, com o objetivo de
garantir a distribuição de insumos estratégicos nos prazos previstos e
necessários para atendimento eficiente e eficaz ao SUS (BRASIL, 2011g).

A cadeia logística de insumos estratégicos para saúde compreende, além


do planejamento, a aquisição, a armazenagem e a distribuição dos Insu-
mos Estratégicos em Saúde (IES).

O Ministério da Saúde possui um Sistema de Logística em Saúde (SILOS)


idealizado no Departamento de Logística em Saúde (DLOG), pela Coor-
denação-Geral de Gestão e Planejamento Logístico em Saúde (CGGPL) e
desenvolvido pelo DATASUS. Esse sistema busca suprir a necessidade de
automação dos processos de planejamento, controle e monitoramento
das compras de insumos estratégicos em saúde realizadas pelo Ministé-
rio da Saúde (BRASIL, 2012c).
O SILOS tem como objetivos gerir o processo de logística integrada do
CAPÍTULO 4

Ministério da Saúde, planejando, coordenando, orientando e avaliando


o armazenamento e a distribuição dos produtos IES; aperfeiçoar, reduzir
e agilizar os fluxos de compras; garantir a segurança e a integridade das
informações; consolidar o plano de demanda do Ministério da Saúde; e
assessorar as áreas demandadas.

Para contratação do fornecimento de bens e prestação de serviços re-


lativos a IES, é necessária a criação do Termo de Referência eletrônico.
Os procedimentos que devem ser adotados, por meio do DLOG, foram
fixados pela Portaria n. 2.710, de 17 de novembro de 2011.

SAIBA MAIS
Essa legislação pode ser estudada por meio do link disponí-
vel em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
60 prt2710_17_11_2011.html>. Acesso em: 27 set. 2021.

Gestão de Recursos Humanos

O setor de saúde, conforme apresentado por Silva (2009), tem como


característica a utilização intensiva de profissionais que exercem autono-
mia técnica. A autonomia técnica corresponde à liberdade de julgamento
e de tomada de decisão frente às necessidades de saúde dos usuários. A
organização e o fluxo do trabalho ficam sob a responsabilização dos pro-
fissionais técnicos. A autora apresenta uma relação direta entre a função
recursos humanos e o processo de trabalho, o que implica uma relação
entre a gestão de recursos humanos e os resultados esperados.

Na gestão de serviços de saúde, a importância dos recursos humanos


é de conhecimento universal. A complexidade da área de saúde exige
uma grande e complexa variedade de ocupações profissionais, sejam
elas assistenciais ou administrativas. Isso complica o desenvolvimento
e a implementação das principais funções de recursos humanos, como
recrutamento, retenção, remuneração, educação, qualificação e avalia-
ção de desempenho.

Apesar da relevância da gestão de recursos humanos, esse aspecto nem


sempre tem a atenção devida dos gestores públicos, mas com certeza é
um de seus maiores desafios, devido às características do setor. A com-
plexidade das funções torna a definição das competências e o monitora-
mento das atividades algo complexo.

Mais do que em qualquer outro setor, a promoção da qualidade nos


recursos humanos no setor saúde é muito importante, pois a
adequação da qualificação do pessoal está relacionada com possíveis
consequências de vida ou morte. Você concorda com essa assertiva?
Reflita sobre ela e discuta sua conclusão com seus colegas de curso.
No setor público de saúde, o recrutamento e a retenção de pessoal

CAPÍTULO 4
competente podem ser desafiantes pela presença de um forte mercado
de trabalho privado. Além disso, o gasto com pessoal é considerado
de peso no orçamento geral do setor e varia de 60 a 65% dos gastos
hospitalares e de 85 a 90% dos gastos em unidades ambulatoriais, sem,
contudo, haver uma boa administração de recursos humanos (BANCO
MUNDIAL, 2007).

O Banco Mundial apresenta alguns aspectos do perfil da gestão de


recursos humanos no SUS. São importantes considerações que nos
permitem entender como se dá a gestão desses recursos, uma vez
que aponta a precariedade do controle de pessoal, a pouca supervisão
das horas de trabalho e do absenteísmo (BANCO MUNDIAL, 2007).
Também foi registrada a baixa qualificação e motivação dos profissio-
nais e uma estrutura de incentivos que desestimula a produtividade
e a eficiência. 61
Segundo Banco Mundial (2007), esses são problemas endêmicos, ou
próprios, das secretarias e também das unidades de saúde. Para obten-
ção de melhora na qualidade do atendimento aos recursos humanos
existentes e de seu alavancamento, é necessária maior responsabilização
pela prestação de contas e pelo controle, treinamento e estrutura de in-
centivos que motive a eficiência dos colaboradores.

Também fica evidente que a legislação rígida que governa os recursos


humanos no setor da saúde dificulta a gestão e a torna onerosa. Porém,
esse não o único problema identificado. A prática de gestão inadequada
ou a ausência de gestão são apontadas como causa do uso ineficiente de
recursos e implicam: a composição de pessoal ineficiente, a adoção de
práticas inadequadas, a ausência de sistema efetivo de incentivos e ava-
liação de desempenho e o baixo nível de remuneração para profissionais
qualificados, resultando em alta rotatividade em muitas unidades, o que
compromete a continuidade dos trabalhos.

Já abordamos neste capítulo o financiamento da saúde, a transferência


e utilização de recursos, a eficiência do SUS, e a gestão administrativa
com suas funções administrativas. Vamos falar no próximo tópico sobre
a interrelação do público e do privado para a assistência à saúde.

O Público e o Privado na Saúde

O SUS, como já falado anteriormente, está fundamentado nos princípios


de integralidade, universalidade, igualdade e financiamento por meio de
tributos. No entanto, herdou do período anterior à Constituição de 1988,
um forte segmento de prestadores e de empresas de assistência privada
de saúde, os planos e seguros privados.
A permissão da iniciativa privada na assistência à saúde de forma com-
CAPÍTULO 4

plementar admite a contratação das instituições prestadoras privadas


pelo Estado, pelas empresas que comercializam os seguros privados e,
ainda, diretamente pela população, sendo que grande parte dos presta-
dores privados e dos médicos pode atuar tanto no sistema público como
no privado (Santos, Santos e Borges; 2013).

Entre as características apresentadas pelo mix público -privado está


a prestação e produção de serviços no SUS. Este produz serviços em
unidades de saúde, incluindo os hospitais públicos e privados comple-
mentares, que podem ser conveniados ou contratados. Segundo Santos,
Santos e Borges (2013), há diversas formas de imbricamento público
-privado no campo da prestação de serviços:

1. nos casos em que os serviços de saúde não são prestados em uni-


dades próprias (públicas). Nessa situação, a compra e a venda de
62 serviços se dão entre o poder público e os prestadores privados;

2. devido a superposição de demandas aos prestadores privados, os


quais prestam serviços às operadoras privadas de assistência à saúde
e, paralelamente, vendem também serviços ao poder público (SUS);

3. pelo pagamento privado direto de empresas e indivíduos a prestado-


res privados de serviços de saúde, já que tais pagamentos constituem
outro grande segmento de consumo de mercado;

4. pela compra junto a estabelecimentos públicos, seja por meio de se-


guros privados ou pelo pagamento privado direto, de serviços mé-
dico-hospitalares de média e alta complexidade, como os hospitais
universitários e de ensino, que realizam serviços de saúde para o
SUS. Esse arranjo é possível porque, embora o SUS não permita o
financiamento privado de seus serviços, há uma lacuna na legislação
que possibilita a venda dos serviços para o setor privado por meio
das fundações criadas ou contratadas para gerenciar serviços desses
hospitais, as quais não tem impedimento para vender serviços para o
setor privado.

De acordo com as autoras (Santos, Santos e Borges, 2013), existe ainda


outras formas de imbricamento público-privado que ocorrem no campo
do financiamento, tais como:

• pelas desonerações fiscais a prestadores privados e consumidores


dos seus serviços;

• pelo gasto de órgãos públicos com prestadores privados e operado-


ras de seguros de saúde para a assistência à saúde de seus trabalha-
dores e familiares, e:
• pelo uso de serviços do SUS por clientes de operadoras privadas, nos

CAPÍTULO 4
casos em que não ocorre o ressarcimento ao sistema público.

O setor privado prestador de serviços de saúde soube acomodar-se


às novas regras estabelecidas no interior da política de saúde a partir
do final da década de 80. Com a instituição do SUS e a definição da
iniciativa privada ter um caráter complementar no funcionamento do
sistema, este grupo (hoje composto também por novos segmentos em-
presariais) foi capaz de desviar seus investimentos para outras esferas
da prestação de serviços de saúde, além dos convênios tradicionais
com o sistema público, consolidando sua posição na política setorial
(Bodstein e Souza, 2003).

O capital privado na saúde encontra-se diversificado em diversas frentes


de atuação, por meio dos chamados planos de saúde, das cooperativas
que mantêm convênio com os sistemas municipais ou, ainda, por inter- 63
médio da manutenção de convênios com o SUS. É certo que este seg-
mento, visto no seu conjunto, mantém enorme vitalidade e capacidade
de dinamização interna e de adaptação a mudanças nas regras do jogo.

O cenário hoje exibe um arranjo complexo, onde coexistem novas for-


mas de relação entre a área pública e a área privada, mas também entre
os parceiros dentro do próprio setor público. Neste setor, com a con-
solidação do processo de descentralização, determinam-se experiências
locais assentadas em modelos de gestão diversos, com maior ou menor
incorporação do setor privado ao sistema, bem como formas distintas
de tratar com mecanismos de controle sobre os serviços prestados pela
estrutura conveniada (Bodstein e Souza, 2003).

Estão cada vez mais frequentes na pauta da política de saúde os meca-


nismos de regulação, como os para a contratualização, as centrais de
regulação de leitos e de procedimentos especializados. Também au-
mentam os questionamentos, disseminação da implantação de diver-
sas experiências de formas de gestão cada vez mais imbricadas entre o
público e o privado na saúde, como as Organizações Sociais, e surgem
sugestões de revisões do modelo jurídico dos prestadores públicos e
privados, como por exemplo a proposta de Fundação Estatal (Santos,
Santos e Borges, 2013).

As questões levantadas neste tópico são apenas algumas pinceladas re-


ferentes sobre a relação público-privada na saúde que necessita de mais
pesquisas na área. O assunto é muito mais longo e profundo. Esperamos
que tenha atiçado a vontade de aprender ainda mais sobre esta relação
tão complexa e que envolve muitos atores e situações.
CAPÍTULO 4

TEXTO COMPLEMENTAR
Se você deseja aprofundar seu conhecimento sobre a gestão admi-
nistrativa e financeira do SUS, aproveite as indicações de leitura a
seguir:

• Manual Instrutivo do Financiamento da Atenção Primária à Saú-


de – disponível em: <http://189.28.128.100/dab/docs/portal-
dab/publicacoes/manual_financiamento_aps.pdf>. Acesso
em: 24 set. 2021.

• Gestão Administrativa e Financeira do SUS – disponível em:


<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/para_entender_
gestao_sus_v.8.pdf>. Acesso em: 27 set. 2021.

• Portal da Transparência do Governo Federal – nesse portal são


64 apresentadas informações quanto à utilização de recursos públi-
cos na saúde e de assuntos relacionados à gestão pública. Dis-
ponível em: <https://www.portaltransparencia.gov.br/sobre/o-
-que-e-e-como-funciona>. Acesso em: 27 set. 2021.

Resumindo

Neste Capítulo apresentamos a você a Gestão Administrativa, Financeira


e de Recursos Humanos do SUS, assim como a relação público-privada
na saúde. Estes são tópicos de maior relevância para os gestores da saú-
de pública em quaisquer esferas de gestão. Demonstramos a estrutura
básica das áreas administrativa e financeira do SUS no que diz respeito
as entradas e utilização de recursos.

Também vimos como se constitui o SUS – planejamento, orçamento,


financiamento e recursos humanos –, conforme dispositivos contidos na
Lei Orgânica de Saúde, ou Lei n. 8.080/90.

As formas de gestão apresentadas nesta Unidade buscam propiciar a


você, gestor público, subsídios para a adequação do seu trabalho, privi-
legiando a implementação de serviços necessários à atenção à saúde em
seus âmbitos de atuação.
CAPÍTULO 4
ATIVIDADES

Agora que apresentamos os conceitos de gestão de recursos, abor-


dando aspectos referentes ao financiamento no SUS que fundamen-
tam discussões sobre a gestão da operacionalização de recursos no
SUS, você já tem subsídios para responder às atividades a seguir.

1. Os recursos para o financiamento da saúde são provenientes de


onde? Comente sobre as principais leis e a sua importância para
o financiamento da saúde?

2. Descreva as principais formas de transferência de recursos.

3. A ineficiência no setor saúde é discutida no dia a dia do cidadão


brasileiro. Exemplifique o que você considera como ineficiência
e apresente propostas para melhorar a alocação dos recursos da 65
saúde.

4. Como as funções administrativas, a exemplo do controle de su-


primentos, podem impactar na gestão financeira e na eficiência
da prestação de serviços do SUS?

5. Especifique algumas situações da relação público-privado na


prestação de serviços em saúde.
CAPÍTULO V

CAPÍTULO 5
GESTÃO COMPARTILHADA
NO SUS
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao finalizar este Capítulo, você deverá ser capaz de:


67
• Entender a gestão do SUS sob a ótica das responsabilidades e atribui-
ções dos diversos entes federados;

• Identificar as atribuições dos conselhos e colegiados no SUS; e

• Compreender o conceito de Contratualização e suas implicações nos


resultados dos serviços de saúde no SUS.

Gestão Compartilhada no SUS

Prezado estudante,
Neste Capítulo, discutiremos a gestão do SUS considerando as dificuldades que
possam advir de uma gestão compartilhada entre os entes federados, com inte-
resses políticos muitas vezes diversos. Nesse contexto, foram criados mecanis-
mos de negociação e pactuação para harmonizar e fortalecer a atuação das três
esferas de governo nos processos de formulação e implementação de políticas
de saúde.

Demonstraremos, também, a forma de contratação de serviços, com enfoque


na Contratualização.

Para seu pleno entendimento, leia este Capítulo atentamente, pesquise os con-
teúdos sugeridos que possam complementar seu conhecimento e interaja com
seus colegas de curso no AVA. Bons estudos!

Conforme apresentamos no Capítulo 1, o SUS foi regulamentado pela


Lei n. 8.080/90 como um conjunto de ações e serviços de saúde que
são prestados aos cidadãos pelos órgãos e instituições públicas das três
esferas de governo (BRASIL, 1990a). Essa definição apresenta importante
característica proposta para o SUS: a operacionalização do SUS requer
uma atuação coordenada, e constantemente pactuada, entre as três esfe-
ras de governo – União, Estados e municípios.
A Gestão do SUS em cada Esfera de Governo
CAPÍTULO 5

O SUS, desde a sua instituição pela Lei Orgânica da Saúde, vem sofren-
do profundas mudanças, principalmente em razão do processo de des-
centralização das responsabilidades, das atribuições e dos recursos para
Estados e municípios.

A concepção de gestão do SUS é de um sistema de saúde descentrali-


zado, administrado democraticamente com a participação da sociedade
organizada e das distintas esferas de governo. Podemos compreender o
processo de descentralização em saúde no Brasil não apenas no âmbito
das transferências de serviços, mas também das responsabilidades, do
poder e dos recursos da esfera federal para a estadual e a municipal
(BRASIL, 2011d).

68 Essa concepção de descentralização, a definição dos gestores e suas


competências são importantes na discussão do papel de cada esfera de
governo no SUS.

As funções do Executivo na saúde são desempenhadas, no âmbito na-


cional, pelo Ministro da Saúde; no âmbito estadual, pelo Secretário de
Estado da Saúde; e, no âmbito municipal, pelo Secretário Municipal de
Saúde. E os gestores da saúde desempenham práticas de gestão neces-
sárias à implementação de políticas na área de saúde, como:

• a formulação de políticas e de planejamento;

• o financiamento da saúde;

• a coordenação, regulação, controle e avaliação (do sistema/redes e


dos prestadores públicos ou privados); e

• a prestação direta de serviços de saúde.

Essas são consideradas macrofunções gestoras na saúde e cada uma de-


las compreende um conjunto de subfunções e de atribuições dos gesto-
res do SUS em cada esfera governamental (Brasil, 2011).

Conforme já foi apresentado, em relação à organização, à direção e à


gestão do SUS, a Lei n. 8.080/90 estabelece o princípio da direção única
exercida em cada esfera de governo.

No Quadro 3, sintetizamos as atribuições e as competências de cada


esfera de governo na gestão do SUS.
CAPÍTULO 5
Gestor Federal Gestor Estadual Gestor Municipal
• formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação • promover a descentralização para • planejar, organizar, controlar e
e nutrição; os municípios dos serviços e das avaliar as ações e os serviços de
• participar na formulação e na implementação ações de saúde; saúde e gerir e executar os ser-
das políticas de controle das agressões ao meio • acompanhar, controlar e avaliar as viços públicos de saúde;
ambiente, de saneamento básico e relativas às redes hierarquizadas do Sistema • participar do planejamento, da
condições e aos ambientes de trabalho; Único de Saúde (SUS); programação e da organização
• definir e coordenar os sistemas de redes integra- • prestar apoio técnico e financeiro da rede regionalizada e hierar-
das de assistência de alta complexidade, de rede aos municípios e executar suple- quizada do Sistema Único de
de laboratórios de saúde pública, de vigilância tivamente ações e serviços de Saúde, em articulação com sua
epidemiológica e de vigilância sanitária; saúde; direção estadual;
• participar da definição de normas e mecanismos • coordenar e, em caráter comple- • participar da execução, do con-
de controle, com órgãos afins, de agravo sobre o mentar, executar ações e serviços trole e da avaliação das ações
meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham de: vigilância epidemiológica, vi- referentes às condições e aos
repercussão na saúde humana; gilância sanitária, alimentação e ambientes de trabalho;
• participar da definição de normas, critérios e nutrição e saúde do trabalhador; • executar serviços de vigilância
padrões para o controle das condições e dos • participar, junto com os órgãos epidemiológica, vigilância sa-
ambientes de trabalho e coordenar a política de afins, do controle dos agravos do nitária, alimentação e nutrição,
saúde do trabalhador; meio ambiente que tenham reper- saneamento básico e saúde do
• coordenar e participar na execução das ações de cussão na saúde humana; trabalhador;
vigilância epidemiológica; • participar da formulação da políti- • dar execução, no âmbito mu-
• estabelecer normas e executar a vigilância sani- ca e da execução de ações de sane- nicipal, à política de insumos e
tária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo amento básico; equipamentos para a saúde; 69
a execução ser complementada pelos estados, • participar das ações de controle e • colaborar na fiscalização das
pelo Distrito Federal e pelos municípios; avaliação das condições e dos am- agressões ao meio ambiente
• estabelecer critérios, parâmetros e métodos bientes de trabalho; que tenham repercussão sobre
para o controle da qualidade sanitária de pro- • formular, executar, acompanhar a saúde humana e atuar junto
dutos, substâncias e serviços de consumo e uso e avaliar a política de insumos e aos órgãos municipais, estadu-
humano; equipamentos para a saúde, em ais e federais competentes para
• promover articulação com os órgãos educacio- caráter suplementar; controlá-las;
nais e de fiscalização do exercício profissional, • identificar estabelecimentos hos- • formar consórcios administrati-
bem como com entidades representativas de for- pitalares de referência e gerir vos intermunicipais;
mação de recursos humanos na área da saúde; sistemas públicos de alta comple- • gerir laboratórios públicos de
• formular, avaliar, elaborar normas e participar xidade, de referência estadual e saúde e hemocentros;
na execução da política nacional e produção de regional; • colaborar com a União e com os
insumos e equipamentos para a saúde, em arti- • coordenar a rede estadual de la- estados na execução da vigilân-
culação com os demais órgãos governamentais; boratórios de saúde pública e he- cia sanitária de portos, aeropor-
• identificar os serviços estaduais e municipais de mocentros e gerir as unidades que tos e fronteiras;
referência nacional para o estabelecimento de permaneçam em sua organização • celebrar contratos e convênios
padrões técnicos de assistência à saúde; administrativa; com entidades prestadoras de
• controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e • estabelecer normas, em caráter serviços privados de saúde,
substâncias de interesse para a saúde; suplementar, para o controle e a bem como controlar e avaliar
• prestar cooperação técnica e financeira aos esta- avaliação das ações e dos serviços sua execução;
dos, ao Distrito Federal e aos municípios para o de saúde; • controlar e fiscalizar os proce-
aperfeiçoamento da sua atuação institucional; • formular normas e estabelecer dimentos dos serviços privados
• elaborar normas para regular as relações entre o padrões, em caráter suplementar, de saúde;
Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços pri- de procedimentos de controle de • normatizar complementarmen-
vados contratados de assistência à saúde; qualidade para produtos e subs- te as ações e os serviços públi-
• promover a descentralização para as Unidades tâncias de consumo humano; cos de saúde no seu âmbito de
Federadas e para os municípios dos serviços e • colaborar com a União na execu- atuação.
das ações de saúde, respectivamente de abran- ção da vigilância sanitária de por-
gência estadual e municipal; tos, aeroportos e fronteiras;
• normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema • acompanhar a avaliação e a divul-
Nacional de Sangue, Componentes e Derivados; gação dos indicadores de morbida-
• acompanhar, controlar e avaliar as ações e os de e mortalidade no âmbito da UF.
serviços de saúde, respeitadas as competências
estaduais e municipais;
• elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no
âmbito do SUS, em cooperação técnica com es-
tados, municípios e Distrito Federal;
• estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e
coordenar a avaliação técnica e financeira do
SUS em todo o território nacional, em coopera-
ção técnica com estados, municípios e Distrito
Federal.

Quadro 3: Atribuições e competências dos entes federados


Fonte: Brasil 2011p. 35.
Além das competências específicas de cada esfera de governo citadas no qua-
CAPÍTULO 5

dro 3, podemos citar como atribuições comuns da União, dos estados, do


Distrito Federal e dos municípios em seu âmbito administrativo, tais como:

• definir as instâncias e os mecanismos de controle, de avaliação e de


fiscalização das ações e dos serviços de saúde;

• administrar os recursos orçamentários e financeiros destinados, em


cada ano, à saúde;

• acompanhar, avaliar e divulgar o nível de saúde da população e as


condições ambientais;

• organizar e coordenar o sistema de informação em saúde;

• elaborar normas técnicas e estabelecer padrões de qualidade e parâ-


metros de custos que caracterizam a assistência à saúde;

• e a promoção da saúde do trabalhador;


70
• participar na formulação da política e na execução das ações de sa-
neamento básico e colaborar na proteção e na recuperação do meio
ambiente;

• elaborar e atualizar periodicamente o Plano de Saúde;

• participar na formulação e na execução da política de formação e


desenvolvimento de recursos humanos para a saúde;

• elaborar proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS) em


conformidade com Plano de Saúde;

• elaborar normas para regular as atividades de serviços privados de


saúde, tendo em vista a sua relevância pública;

• realizar operações externas de natureza financeira de interesse da


saúde, autorizadas pelo Senado Federal;

• atender as necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorren-


tes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou irrup-
ção de epidemias – para tanto, a autoridade competente da esfera ad-
ministrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto
de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa
indenização;

• implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;

• propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacio-


nais relativos à saúde, saneamento e meio ambiente;

• elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recupe-


ração da saúde;

• promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício pro-


fissional e outras entidades representativas da sociedade civil para
a definição e o controle dos padrões éticos para pesquisa, ações e

CAPÍTULO 5
serviços de saúde;

• promover a articulação da política e dos planos de saúde;

• realizar pesquisas e estudos na área de saúde;

• definir as instâncias e os mecanismos de controle e fiscalização ine-


rentes ao poder de polícia sanitária;

• fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e


de atendimento emergencial.

A Figura 7 mostra os níveis de gestão do SUS nas três esferas de Governo


e destaca as competências políticas e financeiras de cada gestor.

71

Figura 7 – Níveis de gestão do SUS


Fonte: Brasil (2003)

Pacto pela Saúde

O Pacto pela Saúde é um marco importante na gestão do SUS, tanto ad-


ministrativa quanto financeiramente, e foi regulamentado pela Portaria n.
399/06 (BRASIL, 2006b).

O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS


acordado entre as três esferas de gestão (União, Estados e municípios)
que objetivou promover inovações nos processos e nos instrumentos de
gestão, visando a alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do
SUS. Ele redefiniu as responsabilidades de cada gestor em virtude das
necessidades de saúde da população e da busca pela equidade social
(BRASIL, 2006d).
As Diretrizes Operacionais do Pacto pela Saúde consolidaram-se em três
CAPÍTULO 5

dimensões: Pacto Pela Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão.

A seguir, vamos detalhar os compromissos assumidos pelos entes


federativos no Pacto pela Saúde, sempre preocupados com a realida-
de social, política e administrativa do País e com suas especificidades
regionais. Confira!

O Pacto pela Vida

O Pacto pela Vida representa o compromisso do gestor do SUS com as


prioridades que mais impactam a saúde da população, conforme apre-
sentado na Portaria n. 399/06 do Ministério da Saúde. Esses compromis-
sos prioritários de assistência derivam da situação da saúde da popula-
ção e devem ser cumpridos pelos três entes federados. No Pacto pela
Vida também são detalhados os objetivos propostos, os processos e os
resultados pretendidos, bem como os compromissos orçamentários e
72 financeiros.

Ao longo dos anos, desde a sua criação, as prioridades foram sendo alte-
radas. Em 2006, por exemplo, as prioridades eram:

• saúde do idoso;

• câncer de colo de útero e de mama;

• mortalidade infantil e materna;

• doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue, hanseníase,


tuberculose, malária e influenza;

• promoção da saúde; e

• atenção básica à saúde.

Em 2008 algumas dessas prioridades foram alteradas e outras inseridas


no programa, a exemplo das hepatites e da AIDS, na área de doenças
emergentes e endemias.

Além dessas doenças, novas linhas foram inseridas, como:

• saúde do trabalhador;

• saúde mental;

• busca de maior resposta do sistema de saúde às pessoas com


deficiência;

• atenção integral às pessoas em situação de risco ou de violência; e

• saúde do homem.
Pacto em Defesa do SUS

CAPÍTULO 5
O Pacto em Defesa do SUS expressa os compromissos dos gestores com
a consolidação da Reforma Sanitária Brasileira, explicitada na defesa dos
princípios do SUS, estabelecidos na CF/88. Esse Pacto buscou ações que
visam a qualificar e a assegurar o SUS como política pública, tendo como
uma de suas iniciativas a garantia de financiamento, de acordo com as
necessidades do sistema.

No Pacto em Defesa do SUS, o fortalecimento da mobilização social por


meio da promoção e desenvolvimento da cidadania é uma prioridade
que toma a saúde como um direito. Por meio dele, buscou-se maior diá-
logo com a sociedade, para além dos limites institucionais do SUS. Tam-
bém é prioridade desse Pacto elaborar e divulgar a Carta dos Direitos
dos Usuários do SUS, a qual tem como princípios (BRASIL, 2007a, p. 3):

SAIBA MAIS 73
Leia a íntegra da Carta dos Direitos dos Usuários do SUS no ende-
reço eletrônico: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/car-
tas_direitos_usuarios_saude_3ed.pdf>. Acesso em: 09 out. 2021.

1. Todo cidadão tem direito ao acesso ordenado e orga- nizado aos sistemas
de saúde.
2. Todo cidadão tem direito a tratamento adequado e efetivo para seu
problema.
3. Todo cidadão tem direito ao atendimento humanizado, acolhedor e livre
de qualquer discriminação.
4. Todo cidadão tem direito a atendimento que respeite a sua pessoa, seus
valores e seus direitos.
5. Todo cidadão também tem responsabilidades para que seu tratamento
aconteça da forma adequada.
6. Todo cidadão tem direito ao comprometimento dos gestores da saúde
para que os princípios anteriores sejam cumpridos.

E você, já conhecia os princípios da Carta dos Direitos dos Usuários


do SUS? Reflita sobre como o Pacto em Defesa do SUS como política
pública pode mobilizar a sociedade em prol do seu desenvolvimento
e compartilhe suas ideias com seus colegas de curso do AVA.

O Pacto de Gestão

O Pacto de Gestão objetiva consolidar o processo de descentralização


administrativa na perspectiva da solidariedade e da autonomia dos entes
federados. Isso implica compartilhar responsabilidades, com a finalidade
de qualificar a gestão pública do SUS, buscando maior efetividade, efici-
ência e qualidade de suas respostas (BRASIL, 2006b).
O Pacto de Gestão estabeleceu diretrizes que valorizam a relação so-
CAPÍTULO 5

lidária entre os gestores do SUS. Os eixos de ação pactuados incluem


a descentralização dos processos administrativos relativos à gestão nas
Comissões Intergestores Bipartite, a partir de diretrizes e normas esta-
belecidas nessa Comissão; à regionalização do atendimento à saúde; ao
financiamento da saúde, que considera o financiamento responsabilida-
de das três esferas de governo; à redução das iniquidades regionais e
repasses fundo a fundo; entre outros.

O Pacto pela Saúde estabeleceu as “responsabilidades coletivas dos três


entes gestores e o compromisso com resultados sanitários a serem atin-
gidos em âmbito setorial” (LIMA; QUEIROZ, 2012, p. 235).

As relações federativas do SUS e a forma de atuação federal se modifi-


caram a partir do Pacto pela Saúde, pela necessidade de maior coopera-
ção intergovernamental na política de saúde e um maior protagonismo
dos estados e municípios na condução da regionalização, por meio da
74 flexibilização dos critérios a serem utilizados no planejamento regional
(VIANA; LIMA, 2011).

Em 2011, o Decreto 7.508 regulamentou a Lei 8080/90, e propos a or-


ganização do sistema, com destaque para as funções de planejamento,
assistência à saúde e relações interfederativas no SUS. Ressaltou a orga-
nização do SUS de forma regionalizada e hierarquizada, e considerou a
região de saúde, com a finalidade de agregar o planejamento e a execu-
ção de ações e serviços de saúde.

Para maior fortalecimento da articulação interfederativa, foram criadas as


Comissões Intergestores Regionais (CIR), antigas Comissões de Gestão
Regional (CGR), e reafirmado o papel das Comissões Intergestores Tri-
partite (CIT) e Comissões Intergestores Bipartite (CIB).

A Comissão Intergestora Tripartite (CIT)

A Comissão Intergestora Tripartite (CIT) é responsável pela definição de


diretrizes, estratégias, programas, projetos e alocação de recursos do
SUS. É coordenada pelo Ministério da Saúde, tem caráter nacional e con-
ta com 15 membros, representantes das três esferas de governo, sendo
cinco conselheiros do Ministério da Saúde, cinco do CONASS e cinco do
CONASEMS. A representação de Estados e municípios nessa Comissão
é regional, sendo um representante para cada uma das cinco regiões do
País (BRASIL, 2011a).

A CIT teve papel importante na regulamentação do processo de descen-


tralização do SUS – que, por ser complexo, exigiu muitas negociações.
Ela também foi relevante na discussão sobre os mecanismos de repasse
de recursos financeiros federais do SUS a Estados e municípios. Muitas
vezes são formados grupos técnicos dentro da CIT, compostos de repre-
sentantes das três esferas, para o reconhecimento de demandas, confli-
tos e problemas comuns a elas. Na CIT não existe o mecanismo de voto
para a tomada de decisão: as resoluções devem ser tomadas por consen-

CAPÍTULO 5
so, de forma a estimular o debate e a negociação (BRASIL, 2011d).

Comissão Intergestora Bipartite (CIB)

A Comissão Intergestora Bipartite (CIB) é a instância para negociação de


aspectos operacionais do SUS em nível estadual, como a descentraliza-
ção regional, com participação paritária. É composta de representantes
da respectiva Secretaria Estadual de Saúde e dos municípios de cada
Estado, indicados pelos COSEMS, existentes em cada unidade da federa-
ção (BRASIL, 2011d).

A Figura 8 apresenta o modelo institucional do SUS, representando as


interligações entre os entes federados, os gestores, as instituições de
pactuação e os órgãos de controle.

75

Figura 8 – Modelo institucional do SUS


Fonte: Mendes (2011)

Participação da Comunidade na Gestão do SUS

A participação da comunidade na gestão do SUS está definida na Lei n.


8.080/90, cujas normas gerais orientam essa participação por meio de
Conferências e Conselhos de Saúde, regulamentados pela Lei n. 8.142/90
(BRASIL, 2011d).

Segundo o Ministério da Saúde, as duas principais formas de participa-


ção da sociedade na gestão do SUS são:
• Conferências de Saúde – são instâncias colegiadas, de caráter con-
CAPÍTULO 5

sultivo, por meio das quais é possível o controle social no âmbito


do Poder Executivo. Têm como objetivo avaliar a situação da saúde
e propor as diretrizes da política de saúde nos diversos níveis de go-
verno. A Conferência Nacional de Saúde acontece de quatro em qua-
tro anos, após a realização das conferências estaduais e municipais
(BRASIL, 2011d).

• Conselhos de Saúde – têm atuação independente do governo, em-


bora façam parte de sua estrutura e busquem participar da discussão
de políticas de saúde. São órgãos do controle do SUS pela sociedade
nas esferas municipal, estadual e federal. Os Conselhos têm cará-
ter permanente e deliberativo e são compostos de representantes do
governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários.
Os Conselhos atuam na formulação de estratégias e no controle da
execução da política de saúde, em sua área de atuação, controlando
até mesmo os aspectos econômicos e financeiros. As decisões dos
76 Conselhos serão homologadas pelo chefe do poder legalmente cons-
tituído em cada esfera do governo (BRASIL, 2011d).

Nas Conferências e nos Conselhos de Saúde participam os seguintes


segmentos da sociedade: usuários dos serviços de saúde, prestadores
de serviços, profissionais de saúde e representantes do governo. Existem
outras instâncias colegiadas responsáveis pelo gerenciamento do SUS,
apreciando, entre outras questões, os pactos e as programações entre
gestores e buscando a integração entre as esferas governamentais.

As principais instâncias para condução das negociações são as Comis-


sões Intergestoras, subordinadas aos Conselhos de Saúde, que as fiscali-
zam e sobre elas deliberam. Surgiram a partir da necessidade de conciliar
as características do sistema federativo brasileiro com as diretrizes do
SUS (BRASIL, 2011c).

TEXTO COMPLEMENTAR
Toda sugestão de leitura complementar visa a engrandecer o seu
processo de aquisição do conhecimento; portanto, uma ação que
aprofunda o conteúdo elaborado pelo professor para cada Capítulo.

• Diretrizes Operacionais para os Pactos pela Vida, em defesa do


SUS e de Gestão – da Série A Normas e Manuais Técnicos. Dis-
ponível em: <https://conselho.saude.gov.br/webpacto/regula-
cao.pdf>. Acesso em: 30 out. 2021.

• Pacto pela Saúde: aproximações e colisões na arena federativa.


Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csc/a/nBxQX8FRrFjT
s6jb7YSVW6d/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 30 out.
2021.
Resumindo

CAPÍTULO 5
Neste Capítulo discutimos a gestão compartilhada do SUS para com-
preender de que forma a Lei n. 8.080/90 preconiza a participação da
sociedade no planejamento e controle da execução das ações e serviços
de saúde. Participação esta que se dá por intermédio dos conselhos pre-
sentes na União, nos Estados e municípios.

Também compreendemos que a CIB, com a participação dos Estados e


municípios, e a CIT, com a participação da União, Estados e Municípios,
são os fóruns de discussões mais importantes para a efetiva participação
da sociedade na gestão do SUS.

ATIVIDADES

Neste Capítulo você conheceu a gestão do SUS sob a ótica do com- 77


partilhamento das responsabilidades e atribuições entre os diversos
entes federados. Confira se você teve bom entendimento do que
lhe apresentamos realizando as atividades propostas a seguir. Se
precisar de auxílio, não hesite em contatar seu tutor.

1. Defina o conceito de gestão compartilhada do SUS.

2. Delimite as atribuições e competências dos entes federados em


relação à gestão do SUS.

3. Identifique as formas de participação da comunidade na gestão


do SUS e descreva-as.

4. Demonstre como funciona a participação da comunidade na


gestão do SUS em sua/seu cidade/Estado.
CAPÍTULO VI

CAPÍTULO 6
REDES DE ATENÇÃO
À SAÚDE
Prof. Márcio Augusto Gonçalves

Objetivos Específicos de Aprendizagem

Ao finalizar este Capítulo, você deverá ser capaz de:


79
• Entender o conceito de Rede de Atenção à Saúde;

• Compreender os principais elementos constitutivos da Rede de Aten-


ção à Saúde; e

• Refletir sobre os modelos de atenção e os níveis de atenção desse


arranjo organizacional.

Redes de Atenção à Saúde

Prezado estudante,
Neste Capítulo, vamos apresentar o funcionamento das Redes de Atenção à
Saúde buscando fundamentar a discussão sobre os modelos de atenção à saúde.
Nosso objetivo é facilitar seu entendimento por meio de um modelo de atenção
diverso do modelo hierarquizado, apresentado nos Capítulos anteriores.

Assim, convidamos você a trilhar mais alguns passos nesta disciplina a fim
de concluirmos nossos estudos sobre Organização e Funcionamento do SUS.
Boa leitura!

A proposta de organização do SUS em Redes de Atenção à Saúde (RAS) é


um conceito que está sistematizado de forma abrangente no livro Redes
de Atenção à Saúde, de Eugenio Villaça Mendes, publicado em 2011.

A organização em redes propõe um arranjo organizacional que integra


os diversos níveis de atenção à saúde de forma a buscar a otimização
dos recursos em saúde. Diversas ações estão sendo implementadas para
reforçar o atendimento em rede, como a Política Nacional de Atenção às
Urgências e Emergências.

As RAS têm por fundamento buscar a produção de serviços de saúde


com maior eficácia e a melhoria na eficiência da gestão do sistema de
saúde no espaço regional, além de contribuir para o avanço do processo
CAPÍTULO 6

de efetivação do SUS.

O Ministério da Saúde apresenta as RAS como arranjos organizativos de


ações e serviços de saúde que apresentam diferentes densidades tecno-
lógicas integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de
gestão, objetivando a garantia à integralidade do cuidado (BRASIL, 2014).

Para que a proposta de um sistema integrado de saúde, fundamentado


na assistência em rede, tenha mais resolutividade, devemos considerar a
economia de escala, a qualidade na assistência, o acesso aos recursos e
a sua disponibilidade (MENDES, 2011). Para o autor, essa é a assistência
sem “muros”, isto é, sem barreiras de acesso entre os níveis de atenção:
do domicílio ao hospital, dos generalistas aos especialistas, do setor pú-
blico ao privado, ambos interligados, de forma a otimizar os recursos e a
ampliar as oportunidades de cuidados adequados.

80
SAIBA MAIS
Discutimos economia de escala ao longo do Capítulo 4 deste livro.
Se necessário, retome essa leitura.

Vamos entender como a proposta de atenção em rede difere do


modelo hierárquico – piramidal – formado segundo as complexidades
relativas de níveis de atenção?

Conforme demonstrado por Mendes (2011), o modelo hierarquizado é


apresentado como um sistema fragmentado cujos pontos de atenção à
saúde trabalham isolados e incomunicáveis, sendo, portanto, incapazes
de prestar atenção contínua à população. Nesse modelo, a população
atendida não está vinculada, ligada, ao atendimento na região dela. Dife-
rentemente, as RAS são organizadas através de um conjunto coordenado
de pontos de atenção à saúde que prestam assistência contínua e integral
a uma população definida.

O sistema de atenção à saúde brasileiro, como está atualmente norma-


tizado, vige numa visão de estrutura hierárquica definida por níveis de
complexidade crescentes, estabelecendo que a atenção primária à saúde
seja menos complexa do que a atenção nos níveis secundário e terciário,
o que leva a uma banalização da atenção primária à saúde e uma sobre-
valorização, seja material ou simbólica, das práticas que exigem maior
densidade tecnológica (MENDES, 2011). Para o autor, é um sistema frag-
mentado que apresenta sérios problemas teóricos e operacionais e está
fundamentado num conceito equivocado de complexidade, incoerente
com a situação de saúde, o que explica os parcos resultados sanitários
obtidos no controle das condições crônicas pelo SUS.

O Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta as RAS,


define que cada região deve oferecer serviços de atenção primária, ur-
gência e emergência, atendimento psicossocial, atenção ambulatorial es-

CAPÍTULO 6
pecializada e hospitalar, além de vigilância em saúde (BRASIL, 2011a).
Também define que, em relação à hierarquização, as portas de entrada
do SUS, pelas quais os pacientes podem ter acesso aos serviços de saú-
de, são: atenção primária; atenção de urgência e emergência; atenção
psicossocial e, ainda, especiais, de acesso aberto.

Os Fundamentos das RAS

Para Mendes (2011), o sistema de atenção à saúde em rede deve apre-


sentar as seguintes fundamentações: estar voltado para a atenção às con-
dições crônicas; utilizar intensiva tecnologia da informação, de forma a
eliminar os registros clínicos feitos à mão; promover a educação perma-
nente dos profissionais de saúde; coordenar a assistência ao longo de
toda a rede de atenção, incentivando o trabalho multidisciplinar e moni-
torando os processos e os resultados do sistema.
81
As RAS, como dito anteriormente, devem fundamentar-se em economia
de escala, disponibilidade de recursos, qualidade e acesso; integração
horizontal e vertical; processos de substituição; territórios sanitários; e
níveis de atenção (MENDES, 2011).

A proposta de organização em RAS está ilustrada na Figura 9 e apresenta


as mudanças do sistema de atenção à saúde da forma hierárquica para o
modelo de RAS, tendo como ponto central a atenção primária em saúde.

Figura 9 – A mudança do sistema piramidal e hierárquico para as RAS


Fonte: Mendes (2011)

Os Elementos Constitutivos das RAS

Mendes (2010) apresenta três elementos fundamentais das RAS: a po-


pulação, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde. Uma
mudança fundamental apresentada pelo autor é a da gestão com base na
oferta para a gestão com base na população.
A População
CAPÍTULO 6

A população sob a responsabilidade sanitária e econômica das RAS é


apontada por Mendes (2011) como seu primeiro elemento e sua razão
de ser – sua marca.

A atenção à saúde baseada na população é a habilidade de um sistema em es-


tabelecer as necessidades de saúde de uma população específica, sob sua res-
ponsabilidade, segundo os riscos, de implementar e avaliar as intervenções
sanitárias relativas a essa população e de prover o cuidado para as pessoas no
contexto de sua cultura e de suas preferências. (MENDES, 2010, p. 2.300).

Para que uma população seja de responsabilidade das RAS, deve haver
a organização do cadastramento das famílias, de forma a poder identifi-
car informações que permitam avaliar os fatores de riscos e estratificar
as condições de saúde estabelecidas. Essas informações devem estar em
sistemas informatizados que permitam vincular as famílias à unidade de
atenção primaria à saúde/equipe da Estratégia de Saúde da Família, con-
82
forme definido no Programa Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2012a).

A Estrutura Operacional

A estrutura operacional é o segundo ponto essencial das RAS e constitui-


-se dos nós das redes e das ligações materiais e imateriais que comuni-
cam esses diferentes nós (MENDES, 2010). A estrutura operacional com-
põe-se de cinco elementos, conforme apresentado por Mendes (2011):
o centro de comunicação das redes de atenção; os pontos de atenção à
saúde secundários e terciários; os sistemas de apoio; os sistemas logís-
ticos; e o sistema de governança. Esses componentes serão detalhados
mais à frente.

Os componentes da estrutura estão representados na Figura 10. Os três


primeiros correspondem aos nós das redes, o quarto corresponde às
ligações que comunicam os diferentes nós e o quinto componente go-
verna as relações entre os quatro primeiros.

Figura 10 – Estrutura operacional das RAS


Fonte: Mendes (2011)
Centro de Comunicação das RAS

CAPÍTULO 6
É o nó que coordena os fluxos e contrafluxos do sistema de atenção à
saúde. É constituído pela atenção primária à saúde – a unidade de aten-
ção primária à saúde ou a equipe do Programa de Saúde da Família.

Os Pontos de Atenção à Saúde Secundários e Terciários

São os nós da rede que ofertam determinados serviços especializados.


Em geral, os pontos de atenção secundária e terciária são constituídos
por unidades hospitalares e por unidades ambulatoriais, estas podendo
estar situadas em hospitais ou fora deles.

Os nós secundários têm menor densidade tecnológica que os nós ter-


ciários e tendem a ser mais concentrados espacialmente (MENDES,
2010) e, por isso, ofertados nas microrregiões sanitárias, compondo o
nível de atenção secundária, ou de média complexidade. Os pontos de
atenção terciária, por sua alta densidade tecnológica, são ofertados nas 83
macrorregiões sanitárias, compondo o nível de atenção terciária, ou de
alta complexidade. Contudo, ao comporem as RAS, não há subordinação
entre eles, uma vez que são igualmente importantes para a conquista de
objetivos comuns.

Na proposta das RAS, os pontos de atenção secundária e terciária traba-


lham de forma integrada, planejada e articulada com os demais níveis de
atenção. Nos pontos de atenção secundária de uma RAS, durante todo
o tempo, são estabelecidas linhas-guias de condução do atendimento,
construídas com base em evidências e protocolos clínicos, que normali-
zam, em detalhes, toda a carteira de serviços ofertada.

Para Mendes (2011), os hospitais, nas RAS, devem desempenhar função


diferenciada das definidas atualmente. Eles devem estar inseridos siste-
maticamente e de forma integrada nos demais pontos de atenção das
diferentes redes temáticas de atenção à saúde; cumprir principalmente a
função de atender às condições agudas e aos momentos de agudização
das condições crônicas, conforme estabelecido em diretrizes baseadas
em evidência; ter seus recursos reorganizados, para que possam pres-
tar atenção hospitalar no lugar certo, com custo certo e com qualidade
certa; introduzir tecnologias de gestão da clínica, a partir do desenvol-
vimento e da incorporação de diretrizes clínicas, construídas com base
em evidências.

Serviços de Apoio

Mendes (2011) afirma que os serviços de apoio são o terceiro compo-


nente das RAS, sendo apresentados como os lugares institucionais onde
são prestados serviços comuns a todos os pontos de atenção à saúde. Os
pontos de apoio estão organizados em três campos distintos: do apoio
diagnóstico e terapêutico, da assistência farmacêutica e dos sistemas de
informação em saúde.
O Sistema de Apoio Diagnóstico e Terapêutico
CAPÍTULO 6

O sistema de apoio diagnóstico e terapêutico envolve os serviços de


diagnóstico por imagem, os serviços de medicina nuclear diagnóstica e
terapêutica, a eletrofisiologia diagnóstica e terapêutica, as endoscopias,
a hemodinâmica e a patologia clínica (anatomia patológica, genética, bio-
química, hematologia, imunologia e microbiologia e parasitologia). De-
vem estar organizados em rede, integrados nas RAS como componen-
te transversal de todas as redes temáticas, conjugando, dialeticamente,
escala, qualidade e acesso e distribuídos, otimamente, pelos territórios
locais, microrregionais e macrorregionais, de acordo com suas densi-
dades tecnológicas e com a disponibilidade de recursos para operá-los
(MENDES, 2011).

O Sistema de Assistência Farmacêutica

O sistema de assistência farmacêutica, conforme apresentado por Men-


84 des (2010), envolve:

[...] organização complexa exercitada por um grupo de atividades relacionadas


com os medicamentos, destina- das a apoiar as ações de saúde demandadas
por uma comunidade, englobando intervenções logísticas relativas à seleção,
à programação, à aquisição, ao armazenamento e à distribuição dos medi-
camentos, bem como ações assistenciais da farmácia clínica e de vigilância,
como o formulário terapêutico, a dispensação, a adesão ao tratamento, a con-
ciliação de medicamentos e a farmacovigilância. (MENDES, 2010, p. 2.301).

Para o autor, os dois grandes componentes do sistema de assistência


farmacêutica são a logística dos medicamentos e a farmácia clínica.

Os Sistemas de Informação em Saúde

A construção social das RAS, para serem consequentes, devem estar su-
portadas por informações de qualidade, ofertadas por bons sistemas de
informação em saúde (MENDES, 2010). O autor assevera que os sis-
temas de informação em saúde constituem-se num esforço integrado
para coletar, processar, reportar e usar informação e conhecimento para
influenciar as políticas, os programas e a pesquisa em saúde.

Os Sistemas Logísticos das RAS

Mendes (2011) apresenta um quarto componente das RAS: os sistemas


logísticos. Os sistemas logísticos são soluções, fundamentadas em tec-
nologias da informação, que visam a garantir a organização racional dos
fluxos e contrafluxos de informações, produtos e pessoas nas RAS. Isso
permite um sistema de referência e contrarreferência ao longo dos pon-
tos de atenção à saúde e dos sistemas de apoio, nessas redes. Estão
ligados ao conceito de integração vertical, obtendo menores custos de
transação no sistema e aumento da produtividade pela otimização dos
recursos.
Os principais sistemas logísticos das RAS são o cartão de identificação

CAPÍTULO 6
dos usuários, o prontuário clínico, os sistemas de acesso regulado à
atenção à saúde e os sistemas de transporte em saúde (MENDES, 2010).

O Sistema de Governança Único

O quinto componente das redes de atenção à saúde é o sistema de go-


vernança. Mendes (2010) apresenta a governança das RAS como o arran-
jo organizativo uni ou pluriorganizacional que possibilita definir objeti-
vos de curto, médio e longo prazo. Esse arranjo articula os nós de forma
a permitir a gestão de todos os componentes das RAS e objetiva maior
cooperação entre eles, aumento de interdependência e melhores resul-
tados sanitários e econômicos para a população atendida. Para o autor, a
governança de redes deve ser feita por meio de arranjos interfederativos,
materializados por meio das Comissões Intergestores. Dessa forma, ha-
veria a definição da missão e dos objetivos de todos os nós da rede, num
trabalho conjunto para melhoria da assistência. 85

O Modelo de Atenção à Saúde

O terceiro elemento constitutivo das RAS são os modelos de atenção à


saúde. Os modelos de atenção à saúde são definidos por Mendes (2010,
p. 2.302) como:

Sistemas lógicos que organizam o funcionamento das redes de atenção à


saúde, articulando, de forma singular, as relações entre a população e suas
subpopulações estratificadas por riscos, os focos das intervenções do sis-
tema de atenção à saúde e os diferentes tipos de intervenções sanitárias,
definidos em função da visão prevalecente da saúde, das situações demo-
gráfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em
determinado tempo e em determinada sociedade.

Os modelos de atenção à saúde, conforme apresentado por Mendes


(2010), são basicamente voltados ao atendimento de condições agudas
de saúde ou ao atendimento de condições crônicas de saúde.

Acompanhe, a seguir, as diferentes propostas de atendimento


desses modelos.

Atualmente, o modelo de atenção à saúde foca o atendimento das con-


dições agudas. Isso significa que o modelo é centrado na doença, no
atendimento; e os hospitais têm maior importância.

O modelo de saúde proposto pela RAS está centrado no atendimento das


condições crônicas e foi definido por Mendes (2010) como Modelo de
Atenção Crônica (MAC), centrado na Unidade Primária de Saúde.

Vamos exemplificar o MAC para facilitar a sua compreensão.


Considere o caso do senhor José, paciente diabético e hipertenso. To-
CAPÍTULO 6

mando como base o modelo de atenção às condições agudas, o senhor


José, no caso de ter uma crise de pressão arterial ou uma crise glicêmica,
seria atendido em um hospital. No MAC, centrado na Atenção Primária
à Saúde (APS), o senhor José seria identificado em sua comunidade, faria
parte do cadastro da Unidade Primária de Saúde, ou da equipe de Estra-
tégia de Saúde da Família (ESF), que identificaria que ele é um paciente
crônico (por apresentar hipertensão e diabetes). Assim, seria possível
identificar o grupo de risco do senhor José, que teria o acompanhamen-
to sistematizado da equipe da ESF, com a disponibilização dos medi-
camentos e exames necessários para o controle da sua doença. Caso
houvesse a necessidade de hospitalização, a equipe de ESF encaminharia
e acompanharia o tratamento a ser realizado no hospital e também após
a internação.
86
O exemplo esclareceu o funcionamento do MAC? Em caso de restar
alguma dúvida, contate seu tutor antes de continuar sua leitura.

Essa é a proposta de rede integrada e centrada na população de risco,


e não nas condições de agudização da doença. Mendes (2010, 2011)
apresenta diversos estudos empíricos que evidenciam que os modelos
centrados na APS apresentaram resultados melhores e mais equitativos;
foram mais eficientes; tiveram custos menores e produziram mais sa-
tisfação para as pessoas usuárias quando comparados com sistemas de
fraca orientação para a APS. No MAC apresentado por Mendes (2011), o
modelo de rede está centrado na atenção primária, o que implica superar
o paradigma atual da atenção básica.

E nesse contexto, o modelo proposto só prestará serviços de qualidade


se a APS apresentar todos os atributos e funções. Atualmente, no Brasil,
a ESF representa um ciclo de APS, sem contudo ter a qualidade neces-
sária no atendimento prestado. Isso pela necessidade de investir mais
na atenção primária, com maior disponibilização de recursos, criação
de equipes multiprofissionais e aumento nas condições tecnológicas, de
forma a melhorar a qualidade do serviço prestado.

Essa é uma mudança paradigmática prioritária para os gestores do SUS,


nas três instâncias federativas. E, muito importante, não será uma mu-
dança tão barata, pois exigirá investimentos adicionais consideráveis.

O Quadro 4 apresenta uma síntese comparativa entre o modelo hierar-


quizado, fragmentado, e o modelo integrado, que traz a proposta de RAS.
CAPÍTULO 6
87

Quadro 4 - Diferenças entre o sistema fragmentado e as RAS


Fonte: Mendes (2011)
Política de Urgência e Emergência
CAPÍTULO 6

A política de urgência e emergência do SUS e a ESF constituem uma


organização dos serviços de saúde em rede. A Rede de Atenção às Ur-
gências no SUS, inicialmente fundamentada pela Portaria n. 1. 863, de 29
de setembro de 2003, está regulamentada pela Portaria n. 1.600, de 7 de
julho de 2011. Essa portaria reformula a Política Nacional de Atenção às
Urgências e institui a Rede de Atenção às Urgências visando a organizar
o atendimento de urgência no SUS e a definir suas diretrizes: melhoria
do acesso, regionalização, garantia do atendimento de caráter multipro-
fissional, entre outros.

A Rede de Atenção às Urgências tem a finalidade de articular e inte-


grar todos os equipamentos de saúde, objetivando ampliar e qualificar
o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e
emergência nos serviços de saúde, de forma ágil e oportuna. A base do
processo e dos fluxos assistenciais da Rede de Atenção às Urgências são
88 o acolhimento com classificação do risco*, a qualidade e a resolutivida-
de na atenção e deve ser requisito de todos os pontos de atenção, tendo
como prioridade as linhas de cuidados cardiovascular, cerebrovascular
e traumatológica. A operacionalização da Rede de Atenção às Urgências
será gradual e seguirá fases para sua execução (MENDES, 2011).

SAIBA MAIS
*Acolhimento com Classificação de Risco – é um modo de operar
os processos de trabalho em saúde assumindo uma postura capaz
de acolher, escutar e dar respostas adequadas aos usuários. Fonte:
Brasil (2009b).

TEXTO COMPLEMENTAR
Para saber mais sobre as RAS e, assim, refletir com propriedade
sobre os modelos de atenção à saúde mencionados neste Capítulo,
leia as obras sugeridas a seguir.

• Redes de Atenção à Saúde – de Eugenio Vilaça Mendes. Dis-


ponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/re-
des_de_atencao_saude.pdf>. Acesso em: 26 ago. 2021.

• Política Nacional de Atenção às Urgências e Emergências – da


Série E Legislação da Saúde. Disponível em: <https://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_urgencias.pdf>.
Acesso em: 26 ago. 2021.
Resumindo

CAPÍTULO 6
Neste último Capítulo demonstramos os conceitos e a proposta de or-
ganização e funcionamento das RAS, modelo idealizado principalmente
por Eugênio Villaça Mendes e apresentado no seu livro Redes de Atenção
à Saúde. Esse modelo contrapõe-se ao sistema fragmentado implemen-
tado pelo SUS e vigente no País.

ATIVIDADES

Preparamos para você algumas atividades com o objetivo de reforçar


89
o conteúdo apreendido neste Capítulo. Caso tenha alguma dúvida,
faça uma releitura cuidadosa dos conceitos ainda não entendidos
ou, se achar necessário, entre em contato com seu tutor.

1. Segundo Mendes (2010), o sistema de atenção à saúde em rede


deve apresentar as seguintes fundamentações: estar voltado
para a atenção às condições crônicas; utilizar intensiva tecnolo-
gia da informação, de forma a eliminar os registros clínicos fei-
tos à mão; promover a educação permanente dos profissionais
de saúde; coordenar a atenção ao longo da rede de atenção; in-
centivar ao trabalho multidisciplinar; e monitorar os processos
e os resultados do sistema. Identifique situações e ações que re-
forcem as fundamentações das RAS nos meios de comunicação
disponíveis.

2. Quais são os atributos de uma RAS?

3. As RAS constituem-se de três elementos fundamentais: a popu-


lação, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde.
Delimite as características de cada elemento.

4. Baseado no conteúdo aprendido durante todo o curso, busque


uma situação ocorrida no SUS e a analise nas diversas perspec-
tivas existentes: planejamento, gestão de recursos, princípios
do SUS, gestão da informação, consulta em sistemas existen-
tes, gestão administrativa do SUS, RAS, níveis de atenção à
saúde etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estamos finalizando a nossa disciplina Organização e Funcionamento do


SUS. Esperamos que o conteúdo disponibilizado a você sobre a comple-
xidade do sistema de saúde brasileiro, que é único e integral, permita-lhe
refletir sobre quais práticas tornam o atendimento em saúde eficiente,
eficaz e efetivo. Como dissemos na apresentação deste livro, o SUS é a
melhor proposta de sistema de saúde do mundo. No entanto, não está
livre de inadequações.

Não pretendemos aqui esgotar esse assunto, pois muito ainda precisa
ser pesquisado, analisado e melhorado, como será feito complementar-
mente por meio do estudo das demais disciplinas deste curso.

Desejamos que esta disciplina tenha aguçado a sua curiosidade e, cada


vez mais, que você se aprofunde nos conhecimentos em torno da gestão
dos serviços da saúde. Esperamos, ainda, que você tenha compreendido
que todos somos usuários do SUS, conforme apresentado no I Seminário
Nacional do Observatório de Custos por um dos grandes construtores
do processo de gestão do SUS, o professor e consultor da OPAS/MS Elias
Antônio Jorge, “[...] o SUS será ‘SUStentável’ quando toda a comunidade
se comprometer em exigir a qualidade e a transparência dos recursos
utilizados”. Sucesso!
REFERÊNCIAS
REFERÊNCIAS

ALEMÃO, M. M. Financiamento do SUS paralelo aos gastos na Fundação


Hospitalar do Estado de Minas Gerais: um estudo de caso compreensi-
vo fundamentado na base de conhecimento gerada com metainformação
custo. 2012. 186 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Univer-
sidade Federal de Minas Gerais, 2012. Disponível em: <http://cepead.
face.ufmg.br/btd/files/366/a366t1.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2014.

ANDREAZZI, M. F. S. Formas de remuneração de serviços de saúde.


Texto para Discussão n. 1.006. Brasília, DF: PEA, 2003. Disponível em:
<https://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/TDs/td_1006.pdf>.
Acesso em: 9 jan. 2014.

BANCO MUNDIAL. Relatório N. 36.601–BR. Brasil. Governança no Sis-


tema Único de Saúde (SUS) do Brasil: melhorando a qualidade do gasto
público e gestão de recursos. 2007. Disponível em: <http://www.aids.
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BARRETO, Mena. Heliponto do Hospital João XXIII agiliza atendimen-


tos e salva vidas, em MG. 2011. Disponível em: <http://www.pilotopo-
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BIREME. Portal Biblioteca Regional de Medicina. 2014. Disponível em:


<http://www.bireme.br/local/Site/bireme/P/descricao.htm>. Acesso
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BODSTEIN, R.; SOUZA, R.G. Relação Público e privado no setor saúde:


tendências e perspectivas na década de 90. In: GOLDENBERG, P., MAR-
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scielo.org/id/d5t55/pdf/goldenberg-9788575412510-19.pdf>. Acesso:
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BRAGA NETO, F. C.; BARBOSA, P. R.; SANTOS, I. S. Atenção hospitalar:


evolução histórica e tendências. In: GIOVANELLA, L. et alli. Políticas e
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BRASIL. Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. O SUS


de A a Z: garantindo saúde nos municípios. 2009a. 3. ed. Brasília,
DF: Editora do Ministério da Saúde. 480 p.: il. color. Disponível em:
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________. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Assistência de


média e alta complexidade no SUS. 4. ed. Brasília, DF: CONASS, 2011b.
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REFERÊNCIAS
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da saúde. 2. ed. Brasília, DF: CONASS, 2011c. v. 2. (Coleção Para Enten-
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