Unidade 01 Direitos Humanos
Unidade 01 Direitos Humanos
Unidade 01 Direitos Humanos
1 UNIDADE 1
Fonte: 123rf.
Não podemos afirmar que o conjunto de direitos que compõe nossa matéria surge em
um determinado momento. Pelo contrário, eventos como a Revolução Francesa e as
grandes Guerras Mundiais foram marcantes para o surgimento gradual e para a expan-
são de direitos humanos.
6
A dignidade humana deverá ser observada e respeitada pela simples condição humana. 1
Dessa forma, o homem é visto como um ser respeitável, detentor de direitos essenciais que
lhe são inerentes, independentemente de religião, etnia, nacionalidade, condição social,
gênero e orientação sexual, não havendo supremacia de um homem sobre o outro.
Desse modo, Direitos Humanos e Dignidade da Pessoa Humana são termos in-
dissociáveis em nosso estudo, daí residindo a sua importância elementar para
compreensão da presente unidade e das próximas que ainda estudaremos, as
quais estão alicerçadas nesta primeira.
Para que possamos compreender mais claramente esse sistema e como ele funcio-
na, convém realizar um estudo conceitual e histórico dos elementos essenciais de sua
constituição, evolução e consolidação no tempo. Tal estudo pretende dar uma visão de
conjunto sobre a temática e nos tornar capazes de vislumbrar a importância desses
direitos para o homem na atualidade.
No entanto, é mais adequado pensar nos Direitos Humanos como um conjunto de direitos
que limitam a supremacia do Estado sobre as pessoas e que se relacionam diretamente
com a dignidade da pessoa humana, de modo a criar, em determinadas situações, normas
para sua defesa. Esta é apenas uma acepção1, pois existe uma variedade de doutrinadores
que refletem a questão.
Direitos Humanos 7
Construção e Evolução Histórica dos Direitos Humanos: A Afirmação História do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana e dos Instrumentos de Reconhecimento dos Direitos Humanos
1 Para Malheiro (2016), por exemplo, os Direitos Humanos são conceituados com base
em três expressões distintas: uma tratando-os como direitos ligados à natureza do ho-
mem, outra tratando-os como direitos positivados2 em tratados e convenções interna-
cionais e uma terceira, que ocorre quando normas internacionais se incorporam na
legislação de um determinado país.
Direitos do homem
Significa que aqueles interesses que são conexos ao direito natural foram devi-
damente positivados em tratados e convenções internacionais.
Direitos fundamentais
Luño (1995, p. 22 apud RAMOS, 2016 p. 39-40) entende os Direitos Humanos também em
três acepções:
1ª) uma tautológica, ou seja, “que não aporta nenhum elemento novo que permite
caracterizar tais direitos”
2ª) uma formal “que, ao não especificar o conteúdo dos direitos humanos, limita-se a
alguma indicação sobre o seu regime jurídico especial” e
3ª) “a definição finalística ou teleológica, na qual se utiliza objetivo ou fim para definir
o conjunto de direitos humanos.”
Vejamos no esquema abaixo uma breve explanação das três acepções mencionadas:
2. Quando se fala em direito positivado, quer dizer que este direito foi inserido numa legislação de modo escrito.
3. Vide significado da expressão no glossário.
4. Numa tradução literal do latim, stricto sensu refere-se a algo tratado em sentido estrito, ou seja, de modo mais detido,
sem grande ampliação. Tal expressão contrapõe-se ao latu sensu, que se refere a algo tratado de em sentido amplo.
5. Conjunto de leis, normas e princípios que constituem e regem um país. Este conjunto é disposto em
uma hierarquia.
6. As cláusulas pétreas são dispositivos de ordem constitucional que não podem ser alterados sequer por
emendas constitucionais. Por isso são “pétreas”, relacionadas à pedra (do latim).
8
Figura 02. Esquema sobre as acepções de Direitos Humanos segundo Luño.
1
TAUTOLÓGICA FORMAL FINALISTA
Já a Organização das Nações Unidas (ONU, 2020), traz o seguinte conceito: “Os direitos
humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça,
sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição”.
Essa definição da Organização das Nações Unidas, embora possa parecer singela, é
abrangente, pois sintetiza a atual sistemática dos Direitos Humanos, trazendo implicitamen-
te o princípio da igualdade, uma das bases da Revolução Francesa e da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, que representam parte dos fundamentos do que hoje se
entendem por esses direitos.
No tocante às terminologias utilizadas para o estudo dos Direitos Humanos, convém men-
cionar que elas estão muito relacionadas aos teóricos que a formularam, bem como ao
período da história em que foram desenvolvidas. Vez ou outra, nas mais diversas produ-
ções a respeito, sejam doutrinárias7 ou documentais, aparecem expressões terminológicas
diferentes, mas que parecem se referir à mesma matéria.
Assim, é importante consignar8 que não existe um consenso nas terminologias utilizadas
para definir os Direitos Humanos. Essa situação pode nos levar a pensar que, concreta-
mente, alguma dúvida ou até mesmo insegurança jurídica9 possa pairar10 se alguma dessas
expressões forem adotadas em documentos oficiais sem uma definição estrita. Nesse caso,
com o tempo, a jurisprudência11 tende a firmar entendimentos. Por isso é importante conhe-
cer o significado das expressões envolvidas em nosso estudo.
7. A doutrina e suas derivações referem-se a teorias desenvolvidas pelos estudiosos e pensadores de deter-
minado assunto.
8. Consignar refere-se a registrar alguma ideia ou lhe dar destaque.
9. Decorre do princípio da segurança jurídica, que é derivado do Direito Constitucional. Esse princípio visa
preservar a estabilidade entre as instituições nacionais face ao desenvolvimento das normas e da interpreta-
ção sobre o direito. Portanto, insegurança jurídica é o oposto desse princípio. Assim, a insegurança jurídica
pode causar instabilidades dentro de um país, colocando em risco o próprio ordenamento jurídico. Este último
é o conjunto amplo de normas editadas no contexto de um Estado.
10. Pairar refere-se a algo que possa vir à tona, emergir ou aparecer.
11. Jurisprudência é o conjunto de decisões proferidas pelas autoridades judiciárias a fim de suprir dúvidas rela-
cionadas à lei ou doutrina. Nelas, as autoridades formam entendimentos sobre determinado assunto, que poderão
ser majoritários, minoritários ou isolados. A ONU, por exemplo, por meio de alguns de seus órgãos judiciários,
dentro das suas competências, poderá firmar entendimentos sobre algum assunto envolvendo direitos humanos.
Direitos Humanos 9
Construção e Evolução Histórica dos Direitos Humanos: A Afirmação História do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana e dos Instrumentos de Reconhecimento dos Direitos Humanos
Para efeitos didáticos, faremos menção ao significado de apenas dois conceitos indicados
nos exemplos acima e que, eventualmente, podem induzir a erro quem acredite que ambos
tenham o mesmo significado: Direitos Humanos e Direitos Fundamentais.
1º) Os Direitos Humanos são garantias e prerrogativas que fazem parte da condição hu-
mana, protegendo os seus titulares de arbitrariedades que possam ser cometidas pelo
Estado e criando condições mínimas para uma vida digna. Tais direitos são positivados
em tratados internacionais, portanto, integram a ordem jurídica internacional.
Figura 03. Esquema indicando a ordem jurídica a que pertencem os direitos humanos e os
direitos fundamentais.
10
1.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA 1
No início desta unidade fizemos menção à dignidade da pessoa humana, expressão
muito significativa utilizada quando se estuda a temática dos Direitos Humanos. Consi-
derando a sua importância, trataremos do assunto neste tópico separadamente.
O preâmbulo12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, aclamada pela Orga-
nização das Nações Unidas (ONU), documento que estudaremos na unidade 2, privilegia a dig-
nidade [da pessoa] humana como um dos seus fundamentos. Este documento, de caráter
internacional, inspirou muitas outras legislações em Estados soberanos ao redor do mundo.
Fundamentos da República
Federativa do Brasil
IV - Os valores sociais
do trabalho e da livre II - A cidadania
iniciativa
III - A dignidade da
pessoa humana
Direitos Humanos 11
Construção e Evolução Histórica dos Direitos Humanos: A Afirmação História do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana e dos Instrumentos de Reconhecimento dos Direitos Humanos
1 Assim, na qualidade de valor supremo, a dignidade da pessoa humana atrai para si,
como um dos fundamentos do Estado Brasileiro “o conteúdo de todos os direitos fun-
damentais do homem, desde o direito à vida” (SILVA, 2014, p. 107). Além disso, possui
importância central na temática dos Direitos Humanos, pois visam materializar instru-
mentos jurídicos para defender a dignidade de cada pessoa. Nesse sentido, leciona
Piovesan (2018, p. 108-109, grifo nosso):
[...] é no princípio da dignidade humana que a ordem jurídica encontra o
próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada, para a
hermenêutica constitucional contemporânea. Consagra-se, assim, a dignidade
humana como verdadeiro superprincípio, a orientar tanto o Direito Internacional
como o Direito interno.
[...]
12
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