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DPC Direitos Humanos

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO, CONCEITO, EVOLUÇÃO HISTÓRICA (REGIME INTERNACIONAL DE


PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS). ........................................................................... 3

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ....................... 17

3.CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS


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4. POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS


HUMANOS E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. .............................................. 32

5. NACIONALIDADE E AS REGRAS DO DIREITO BRASILEIRO .................................... 37

6. SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL .......................... 43

7. POLÍTICA NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ..................................................... 46

8. SISTEMA DE MONITORAMENTO MULTILATERAL DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS .......................................................................................................................... 49

9. DOCUMENTOS DO SISTEMA DE PROMOÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


HUMANOS .......................................................................................................................... 50

Professor: Edmundo Garcia

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Caros colegas, o presente material é uma abordagem objetiva e dirigida para seus estudos
em concursos públicos relacionado à disciplina dos Direitos Humanos.
Sinto-me honrado e grato ao convite para juntos construirmos conhecimento que permitirá a
resolução de diversas questões em futuras provas da matéria.
Estudar Direitos Humanos é aprofundar-se em uma temática inerente a todos nós. E acima
de tudo conhecermos todo conteúdo histórico desse direito tão antigo e contemporâneo ao
mesmo tempo.
A proposta é estabelecer um viés do conhecimento doutrinário aliado com normas que
positivam o conteúdo posto e as decisões jurisprudências sobre os temas.
As resoluções de questões também fará parte do nosso material como forma de abordagem
empírica do conteúdo visto.
Gratidão, pela troca! Bons estudos!

1. INTRODUÇÃO, CONCEITO, EVOLUÇÃO HISTÓRICA (REGIME INTERNACIONAL


DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS).

1.1 Introdução

Direito Internacional Público (DIP) dentre os ramos do Direito é aquele cuja destinação é
construir um arcabouço jurídico com a finalidade de orientar as nações e organizações em
âmbito internacional. Estabelecendo uma ordem (normas) comuns que regulem
comportamentos que, por vezes, extrapolem esfera da soberania estatal.
São sujeitos com os quais o Direito Internacional Público deve lidar: os Estados Nacionais
juntamente com as Organizações Internacionais, como participantes efetivos das relações
jurídicas externas.
Conforme o art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça (CIJ), de 1920, são fontes
do Direito Internacional: as convenções internacionais, os costumes internacionais, decisões
judiciárias e doutrinas dos publicitas, jurisprudência e os princípios gerais do Direito. A
doutrina e a jurisprudência são meios auxiliares, não constituindo fontes em sentido técnico.
Estas fontes funcionam como canais de elaboração de leis de âmbito internacional, sendo que
uns são mais utilizados, outros mais antigos. A saber, como exemplo, a matéria internacional
utilizava, principalmente antes da Segunda Guerra Mundial, dos costumes internacionais, da

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prática não escrita, mas seguida por tradições e gestos aceitos aquela época. Na
contemporaneidade, predominam os tratados, acordos internacionais que criam obrigações
entre os Estados Partes.

1.2 Conceito dos Direitos Humanos

A priori é necessário conceituar expressões distintas que estão conexas ao mesmo direito.
São elas: Direitos do homem, direitos humanos (em sentido estrito – stricto sensu) e os
direitos fundamentais.

a) Direitos do Homem: aqueles direitos em que há uma conexão direta natural, aqui
podendo citar direito à vida e o da liberdade.
b) Direitos Humanos: a expressão representa que direitos naturais foram positivados em
tratados, acordos e convenções internacionais.
c) Direitos Fundamentais: expressão de ordem interna, uma vez que significa que
tratados internacionais de direitos humanos foram devidamente incorporados ao
ordenamento jurídico de um determinado Estado.

DIREITOS
• PLANO INTERNACIONAL
HUMANOS

DIREITOS
• PLANO INTERNO
FUNDAMENTAIS

Para Alexandre de Moraes (2011), os direitos humanos fundamentais constituem "o conjunto
institucionalizado de direitos e de garantias do ser humano, que tem por finalidade básica o
respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o
estabelecimento de condições mínimas de vida e de desenvolvimento da personalidade
humana".
Neste mesmo sentido, SILVA (2003) afirma em sua obra “estudos em homenagem ao Ministro
Marco Aurélio Mendes de Farias Mello” que: "A previsão dos direitos humanos fundamentais
direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana em seu sentido mais amplo,
de valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na
autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão

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ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo
estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas
limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a
necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos."

1.2.1 Terminologia e Teoria Geral

Teoria geral dos Direitos Humanos: compreende os elementos fundamentais para o estudo
desse direito. Considerando que toda pessoa, sem qualquer discriminação, deve ter a sua
dignidade respeitada e a sua integridade protegida.
Toda pessoa, sem exceção, deve ter garantidos seus direitos individuais ou civis (como o
direito à vida, segurança, justiça, liberdade, igualdade e propriedade), políticos (como o direito
de votar e ser votado), sociais (como o direito à educação, trabalho, saúde e bem-estar),
culturais (como o direito à cultural e ao lazer) e ambientais (como o direito a um meio ambiente
equilibrado).

Terminologia: A nomenclatura DIREITOS HUMANOS é costumeiramente utilizada no campo


internacional, enquanto DIREITOS FUNDAMENTAIS refere-se expressão utilizada no texto
da Constituição Federal. Ambas as terminologias, em regra, pronunciam algo em comum: um
conjunto de direitos políticos, civis, sociais, econômicos e culturais garantidos pelo Estado a
todos os seres humanos.
A fundamentação dos Direitos Humanos teve como marco histórico a aprovação da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 10 de dezembro de 1848 pela
Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Construção jusnaturalista, tem-se que os direitos humanos, antes de serem positivados nas
Declarações de Direitos e nas Constituições, constituíam verdadeiros direitos morais,
intrinsecamente relacionados com a própria existência humana.
Os direitos assegurados e positivados são consequência das reivindicações e das lutas pela
afirmação dos mesmos.
A fundamentação ética dos direitos humanos fundamentais consiste na consideração destes
direitos como direitos morais, resultado de uma dupla vertente: ética e jurídica. Tem-se como
ponto de partida que a fundamentação dos mesmos não pode ser apenas jurídica, mas
baseada em valores, em uma fundamentação ética ou axiológica. Nesta fundamentação, os
direitos humanos aparecem como direitos morais como exigências éticas e direitos que os

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homens tem pelo fato de serem homens, e, portanto, com um direito igual a seu
reconhecimento, proteção e garantia por parte do poder político e jurídico.
TEORIA JUSNATURALISTA DOS DIREITOS HUMANOS

Aponta os direitos humanos em uma ordem suprema, universal, divina e


inderrogável. Para essa corrente os direitos humanos não são uma obra humana e sim,
natural.
TEORIA POSITIVISTA OU HISTORICISTA DOS DIREITOS HUMANOS

Aponta os direitos humanos como uma criação normativa, positivados, uma vez que são
construídos pela manifestação legítima da soberania do povo.
TEORIA MORALISTA OU DE PERELMAN

Aponta os direitos humanos na própria experiência e consciência moral de um


determinado povo, que acaba por configurar o denominado espiritus razonables (razão).

JUSNATURALISTA:anteriores à Constituição e
RESUMO inerentes à natureza humana.

POSITIVISTA: direitos presentes na


DAS
Constituição (norma posta)

TEORIAS MORALISTA: decorrem da consciência moral.

Para SILVA (2014) “ A incomparável importância dos direitos humanos fundamentais não
consegue ser explicada por qualquer das teorias existentes, que se mostram insuficientes. Na
realidade, as teorias se completam, devendo coexistirem, pois somente a partir da formação
de uma consciência social (teoria de Perelman), baseada principalmente em valores fixados
na crença de uma ordem superior, universal e imutável (teoria jusnaturalista) é que o legislador
ou os tribunais (esses principalmente nos países anglo-saxões) encontram substrato político
e social para reconhecerem a existência de determinados direitos humanos fundamentais
como integrantes do ordenamento jurídico (teoria positivista). O caminho inverso também é
verdadeiro, pois o legislador ou os tribunais necessitam fundamentar o reconhecimento ou a
própria criação de novos direitos humanos a partir de uma evolução de consciência social,
baseada em fatores sociais, econômicos, políticos e religiosos”.

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QUESTÃO SOBRE O TEMA

01. (CESPE/CEBRASPE PRF 2013) Conforme a teoria positivista, os direitos humanos


fundamentam-se em uma ordem superior, universal, imutável e inderrogável.
Errado. A fundamentação dos direitos humanos em uma ordem superior, universal,
imutável e inderrogável são inerentes a teoria jusnaturalista. O Direito Natural é aquele
que parte de leis não escritas, imutáveis e até mesmo eternas, como a própria natureza.
02. (FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Sobre a Teoria Geral dos Direitos Humanos
aplicada à sua previsão no plano internacional, considere as assertivas abaixo.
I. O movimento de proteção a grupos vulneráveis no campo do direito internacional dos
direitos humanos justificou a opção pelo princípio da especialidade para solucionar conflitos
entre normas de diferentes tratados de direitos humanos, ficando o princípio da primazia da
norma mais favorável como regente dos conflitos com normas nacionais. II. O princípio da
interpretação pro homine pode ser exemplificado a partir da jurisprudência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos no sentido da impossibilidade de denúncia do
reconhecimento de sua jurisdição pelos Estados, diante da ausência de dispositivo expresso
que permita tal retirada. III. O princípio da primazia da norma mais favorável ao indivíduo se
revela insuficiente para solucionar conflitos entre direitos humanos de indivíduos distintos, que
devem coexistir, abrindo espaço para a incidência da análise de proporcionalidade. IV. O
princípio da proibição do retrocesso tem aplicação vinculada ao campo dos direitos
econômicos, sociais e culturais, diante das peculiaridades de sua forma de cumprimento, não
se relacionando aos direitos civis e políticos, os quais se realizam de maneira imediata.
Está correto o que se afirma APENAS em:
A) I, II e IV.
B) I e II.
C) II, III e IV.
D) II e III.
E) III e IV.
ALTERNATIVA D. O princípio “pro homine” impõe, tanto no confronto entre normas,
quanto na fixação da extensão interpretativa da norma, a observância da norma mais
favorável à dignidade da pessoa, objeto dos direitos humanos. Impõe a aplicação da
norma que amplie o exercício do direito ou que produza maiores garantias ao direito
humano que tutela. Os tratados de direitos humanos devem ser interpretados tendo
sempre como paradigma o princípio pro homine, por meio do qual deve o intérprete (e
o aplicador do direito) optar pela norma que, no caso concreto, mais proteja o ser

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humano sujeito de direitos. Não pare até que tenha terminado aquilo que começou. -
Baltasar Gracián.-Tu não pode desistir.

1.2.2 Evolução histórica e o regime internacional de proteção dos Direitos Humanos

Antiguidade

Uma das características dos direitos humanos é a historicidade. Os valores das sociedades
mais antigas (4000 a.C. a 476 d.C.), em que pese sejam antagônicos com os hodiernos, já
expressavam uma ideia de proteção desses direitos.
Podemos citar dentre documentos do lapso temporal referido traços protetivos dos direitos
humanos no Código de Hamurabi, ligado ao povo babilônico e a Lei das Doze Tábuas, dos
romanos.
a) Código de Hamurabi – origem na Babilônia em 1694 a.C. (século XVII a.C.) constituiu-
se como um conjunto de normas da antiga Mesopotâmia e recebe este nome por que
foi elaborado pelo Rei Hamurabi (sexto na dinastia babilônica). Refere-se a um
monumento de estrutura geológica formado por uma única e maciça rocha magmática
de diorito com escrita cuneiforme. Composto por 282 dispositivos em 3600 linhas, com
matérias de cunhos processual, penal, contratual, obrigacional e patrimonial, família e
sucessão. Perdurou por mais de quinze anos e regulavam a vida em sociedade.
As penas adotadas por este código eram severas para os crimes de lesão corporal e
homicídios, adotando a lei de talião. Por esta lei a reparação do dano ao individuo seria
com a provocação de outro dano na pessoa do causador. Aplicavam-se penas de
morte por meio da forca e até de afogamento. Seus dispositivos não estabeleciam
distinções entre prescrições civis, religiosas e morais. Era o “Olho por olho, dente
por dente”.

b) Lei das Doze Tábuas: A Lei das Doze Tábuas também denominada de Lex Duodecim
Tabularum foi um conjunto de leis antigas elaboradas no período da República
romana, por pressão dos plebeus. Instituídas em 451 e 450 a.C., as Leis das Doze
Tábuas foi promulgada escrita em doze tabletes de madeira. Ali estavam escritas as
leis que determinavam como deveriam ser os julgamentos, as punições para os
devedores e o poder do pai sobre a família.
Os tabletes de madeiras foram afixados no fórum romano de forma que o povo tivesse
acesso à leitura das leis. Afirma-se que com esta conduta surgiria o principio da
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publicidade das leis. A origem seria para estabelecer a igualdade de direitos entre as
diversas classes sociais, sendo vedada a beligerância privada.
Ademais, embora a importância significativa dos documentos supra principalmente em provas
objetivas para concursos públicos e provas de ordem, as sociedades da antiguidade tanto
orientais como ocidentais limitavam a ideia de proteção somente à vida, integridade física,
honra, família e propriedade privada. O que era privilégio de poucos. Podendo citar ainda
Código de Manu e Lei Mosaica.
c) Código de Manu – origem no século XIII a.C. Composto por doze livros, protegia
propriedade privada, a honra pessoal, a vida, a integridade física das pessoas, a
família. Além disso, punia o adultério e admitia o divórcio. Prescrevia a pena de morte,
exílio e de confisco.
d) Lei Mosaica: origem no século XIII a.C. Atribuída a Moisés e reunida nos primeiros
livros da Bíblia sob o título de Pentateuco, denominados pelos judeus de Torá ou Lei.
Era composta de um conjunto de regras morais, sociais e religiosas de observação
obrigatória para o povo de Israel. Fundamentada pelas leis divinas.

Idade Média
Predominância da fusão dos pensamentos religiosos com práticas costumeiras
(consuetudinárias). Uma vez que o Cristianismo estabeleceu a dignidade humana como algo
individual, racional e livre. O homem como criatura de Deus e o poder deriva deste Deus.
Considerando que Deus deu a vida ao homem, somente ele poderia tirar, e não o Estado.
Período de 476 a 1453 e teve como marco inaugural a tomada do Império Romano do
Ocidente pelos povos bárbaros e como advento do termo a tomada de Constantinopla pelos
turco-romanos.
Neste período temos a Alta Idade Média (séculos V ao X) e a Baixa Idade Média (XI ao XV).
Entretanto no primeiro período citado não temos documento significativos de proteção aos
direitos humanos, mas já no período da Baixa encontramos nesta sociedade um documento
muito importante:
Magna Carta: documento firmado pelo rei inglês João Sem-Terra (1215 – 1225) e idealizada
para proteger os privilégios dos barões e os direitos dos homens livres. A Magna Carta é
considerada o documento básico das liberdades inglesas. Contem dispositivos acerca do
respeito à liberdade de ir e vir, propriedade privada, sucessão hereditária, matrimônio,
menores, penas pecuniárias, solução de questões jurídicas, serviço militar, entre outros. Foi
a base do constitucionalismo inglês. Garantia ainda, que nenhum individuo seria detido, preso,
despojado de seus bens, exilado, senão em virtude de julgamento de seus pares e em
conformidade com as leis do país.
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Vale citar outros documentos do período como: limitação das provisões de Oxford (1258); A
Bula Áurea (1222); As Leis de Leão de Castela (1256); A Carta das Liberdades, em 1253.

Direitos Humanos nas Idades Moderna e Contemporânea


Aqui, no século XV, muitas e profundas foram as mudanças sociais, econômicas e culturais
na Europa.
Dentre elas: expansão do comércio marítimo, reflorescimento das cidades, formação e
ascensão da burguesia mercantil, ciência de Galileu e Newton. Ainda o Humanismo
Renascentista (homem como um ser dotado de liberdade e dignidade próprias); o
racionalismo; concepção teocêntrica do mundo e da vida na Idade Média e posteriormente
concepção antropocêntrica (o indivíduo com a afirmação de suas liberdades e de seus
direitos).
Assim, na Inglaterra do século XVII, aponta-se a presença de três documentos bastante
expressivos:
a) Petition of Rights (Petição de Direitos) – documento de 1628 dirigido ao monarca, por
meio do qual os parlamentares pediram o reconhecimento de diversos direitos e
liberdades para os súditos. Homens livres deveriam ter seus direitos garantidos, sem
sofrer abusos por parte do rei. Garantia do devido processo legal.
b) Habeas Corpus Act (Ato de Habeas Corpus) – documento de 1679 precursor das
primeiras declarações de direitos. Foi instituído no reinado de Carlos II como uma
espécie de remédio judicial destinado a evitar ou fazer cessar violência ou coação na
liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder.
c) Bill of Rights (Declaração de Direitos) – marca o surgimento de uma monarquia
constitucional na Inglaterra, em 1689, submetendo à soberania popular. Declarou
ilegais atos da realeza, que sem permissão do parlamento, retirasse direitos das
pessoas ou arrecadação de dinheiro. Vedou a imposição de penas cruéis e inusitadas.

Já no século XVIII tivemos mais três documentos de similar amplitude de proteção:


d) Declaração dos Direitos do Estado da Virginia > 1776: primeira declaração de direitos
fundamentais no sentido moderno. Consagrou o princípio da isonomia, tripartição do
poder, eleições livres para representantes do Executivo e legislativo, devido processo
legal, juiz natural e imparcial, dentre outros.
e) Declaração da Independência dos Estados Unidos > 1776: afirmação dos direitos
inalienáveis do ser humano e atuação do governo conforme interesse dos governados.
Foi ratificada em 04 de julho de 1776 e representou o ato inaugural da democracia
moderna. Estabeleceu a separação entre as 13 colônias na América do Norte e o
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Reino Unido. No bojo dos seus direitos previstos determinou a representação do povo
com a restrição dos poderes do governo e a inalienabilidade dos direitos humanos.
f) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão > 1789: garante os direitos
referentes à liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão. Destaca os
princípios da legalidade e da igualdade de todos perante a lei, e da soberania popular.
Emergiu da Revolução Francesa ocorrida neste mesmo ano. Aqui estamos na Idade
Contemporânea que iniciou-se com a Revolução Francesa em 1789 e perdura até os
dias atuais.

A partir do século XX, a regulação dos direitos econômicos e sociais passou a incorporar as
Constituições Nacionais. A primeira Carta Magna, a revolucionar a positivação de tais direitos,
foi a Constituição Mexicana de 1917, que versava, inclusive, sobre a função social da
propriedade, estabelecendo os primeiros direitos sociais com finalidade de promover a
igualdade. A Constituição Mexicana representou um marco histórico na afirmação dos direitos
humanos de segunda geração ou dimensão ao traçar um elenco de direitos trabalhistas e
previdenciários e lhes imputando a qualidade de direitos fundamentais.
A Constituição de Weimar de 1919 ou Constituição Alemã, por meio do seu capítulo sobre os
direitos econômicos e sociais, foi o grande modelo seguido pelas novas Constituições
Ocidentais. A partir da segunda metade do século XX, iniciou-se a real positivação dos direitos
humanos, que cresceram em importância e em número, devido, principalmente, aos inúmeros
acordos internacionais.
Tendo sido assinada por meio do Tratado de Versalhes, documento que pôs fim a Primeira
Guerra Mundial (1914-1918), produziu um choque à população da época que por meio deste
a Alemanha foi obrigada a reconhecer a independência da Áustria. Assim como, a Mexicana
(que já foi primeiro marco dos direitos de primeira geração) reconheceu esses direitos sociais,
inclusive estabelecendo em seu primeiro artigo que “todo poder emana do povo”.

1.2.3 A Segunda Guerra Mundial e os Direitos Humanos

O advento da Segunda Guerra (1939-1945) que teve início com a invasão da Polônia e como
termo a rendição formal do Japão. Entretanto, a doutrina majoritária afirma que a guerra
começou muito antes, uma vez que logo após a promulgação da Constituição Alemã foi
fundado o partido Operário Alemão.
Dentre os jovens que estavam neste grupo encontrava-se Adolf Hitler. Em 1920, o referido
partido que já se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães preparou
um golpe de Estado, em 1923. Com o fracasso do golpe, Hitler foi preso.

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Uma vez em liberdade, cerca de oito meses depois dos cinco que deveria ter cumprido, ele
reorganizou seu partido e criou uma força armada para apoiar suas reinvindicações políticas.
Conquistando uma carreira política avassaladora e poderes extraordinários, em 1933 a
Alemanha se retira da Conferência Geral do desarmamento, reunida em Genebra. Uma
semana depois se retira da Liga das Nações (organização criada pelo Tratado de Versalhes
com objetivo de estabelecer a paz mundial e evitar um novo conflito como fora a Primeira
Guerra Mundial).
Em 1935 um exército com mais de 500 mil homens é criado. Em 1938 as tropas alemãs
ingressam na Áustria. No ano seguinte, a Alemanha atravessou a fronteira da Polônia e Hitler
desencadeia a Segunda Guerra Mundial.
Muito mais sangrenta que a Primeira Guerra que deixou o legado de oito milhões de vidas
perdidas, a Segunda Guerra deixa a terrível marca de mais de quarenta e cinco milhões de
mortos.
A situação sangrenta e aterrorizante das duas guerras serviu para demonstrar ao mundo a
necessidade imediata de proteção dos direitos humanos na dimensão internacional. Uma
resposta ao holocausto e todas as barbáries acontecidas no período.
A grande primeira manifestação do sentimento de mudança e do processo de
internacionalização dos direitos humanos foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos
de 1948, que foi base para dois outros documentos: Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966.
A união desses três documentos deu origem a Carta Internacional dos Direitos
Humanos.

1.2.4 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948

A Declaração Universal de Direitos Humanos contém um conjunto indissociável e


interdependente de direitos individuais e coletivos, civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais, sem os quais a dignidade da pessoa humana não se realiza por completo. Esta
Declaração tornou-se uma fonte de inspiração para a elaboração de cartas constitucionais e
tratados internacionais voltados à proteção dos direitos humanos e um autêntico paradigma
ético a partir do qual se pode medir e contestar ou afirmar a legitimidade de regimes e
governos. Os direitos ali inscritos constituem hoje um dos mais importantes instrumentos de
nossa civilização visando assegurar um convívio social digno, justo e pacífico.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos não é apenas um conjunto de preceitos morais
que devem informar a organização da sociedade e a criação do direito. Inscritos em diversos
tratados internacionais e constituições, os direitos contidos na Declaração Universal
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estabelecem obrigações jurídicas concretas aos estados nacionais. São normas jurídicas
claras e precisas, voltadas para a proteção e promoção dos interesses mais fundamentais da
pessoa humana. São normas que obrigam os Estados nacionais no plano interno e externo.
Com a criação da Organização das Nações Unidas em 1945 e a adoção de declarações,
convenções e tratados internacionais para a proteção da pessoa humana, os direitos
humanos deixaram de ser uma questão exclusiva dos Estados nacionais, passando a ser
matéria de interesse de toda a comunidade internacional.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu art. 6°, afirma: "Todo homem tem
direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei". Atualmente não
se pode discutir a existência desses direitos, já que, além de amplamente consagrados pela
doutrina, estão presentes também na lei fundamental brasileira: A Constituição Federal.
A adoção, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, da Declaração
Universal de Direitos Humanos, em 1948, constitui o principal marco no desenvolvimento do
direito internacional dos direitos humanos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) possui 30 artigos e apresenta em seu
bojo direitos que são costumeiramente divididos em categorias:
Direitos Humanos de Primeira Geração, também conhecidos como direitos civis e
políticos (arts. I ao XXI).
Direitos Humanos de Segunda Geração, denominados direitos econômicos, sociais e
culturais (arts. XXII ao XXX).

Vejamos o preâmbulo da DUDH:


Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família
humana e dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo;
Considerando que o desconhecimento e o desprezo dos direitos do Homem conduziram
a atos de barbárie que revoltam a consciência da Humanidade e que o advento de um
mundo em que os seres humanos sejam livres de falar e de crer, libertos do terror e da
miséria, foi proclamado como a mais alta inspiração do Homem;
Considerando que é essencial a proteção dos direitos do Homem através de um regime
de direito, para que o Homem não seja compelido, em supremo recurso, à revolta contra
a tirania e a opressão;
Considerando que é essencial encorajar o desenvolvimento de relações amistosas entre
as nações;

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Considerando que, na Carta, os povos das Nações Unidas proclamam, de novo, a sua fé
nos direitos fundamentais do Homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na
igualdade de direitos dos homens e das mulheres e se declaram resolvidos a favorecer o
progresso social e a instaurar melhores condições de vida dentro de uma liberdade mais
ampla;
Considerando que os Estados membros se comprometeram a promover, em cooperação
com a Organização das Nações Unidas, o respeito universal e efetivo dos direitos do
Homem e das liberdades fundamentais;
Considerando que uma concepção comum destes direitos e liberdades é da mais alta
importância para dar plena satisfação a tal compromisso:
A Assembleia Geral proclama a presente Declaração Universal dos Direitos Humanos
como ideal comum a atingir por todos os povos e todas as nações, a fim de que todos os
indivíduos e todos os órgãos da sociedade, tendo-a constantemente no espírito, se
esforcem, pelo ensino e pela educação, por desenvolver o respeito desses direitos e
liberdades e por promover, por medidas progressivas de ordem nacional e internacional,
o seu reconhecimento e a sua aplicação universal e efetiva tanto entre as populações dos
próprios Estados membros como entre as dos territórios colocados sob a sua jurisdição.

1.2.5 Organização das Nações Unidas

A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma reformulação do escopo das Liga das
Nações ou Sociedade das Nações, organização internacional criada por meio do Tratado de
Versalhes, em 28 de junho de 1919, logo após a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).
O surgimento da Liga das Nações teve por fundamento a ideologia dos 14 pontos básicos
para reconstrução da Europa, quais sejam:
Exigência da eliminação da diplomacia secreta em favor de acordos públicos;
Liberdade nos mares;
Abolição das barreiras econômicas entre os países;
Redução dos armamentos nacionais;
Redefinição da política colonialista, levando em consideração o interesse dos povos
colonizados;
Retirada dos exércitos de ocupação da Rússia;
Restauração da independência da Bélgica;
Restituição da Alsácia e Lorena à França;
Reformulação das fronteiras italianas;
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Reconhecimento ao direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Áustria-
Hungria;
Restauração da Romênia, da Sérvia e Montenegro e direito de acesso ao mar para a
Sérvia;
Reconhecimento da independência da Polônia;
Reconhecimento ao direito ao desenvolvimento autônomo dos povos da Turquia e
abertura permanente dos estreitos que ligam o Mar Negro ao Mediterrâneo;
Criação da Liga das Nações.

Infelizmente, ante o fracasso em sua missão mais importante, a de impedir novo conflito
mundial, a Liga das Nações acabou por ser dissolvida e reformada na atual ONU, com os
princípios básicos mantidos, porém com o cuidado de evitar os equívocos que levaram à
inefetividade da organização. A liga foi autodissolvida em 18 de abril de 1946.
Neste cenário, a Organização das Nações Unidas foi idealizada ainda na vigência da Segunda
Guerra Mundial e concebida depois de diversas negociações.
A Carta da ONU (também denominada Carta de São Francisco), elaborada pelas potências
vitoriosas da Segunda Guerra Mundial e que oficializa a constituição da organização, passou
por ratificação de dois terços dos 50 Estados representados na Conferência e pela Polônia
entrou em vigor em 24 de outubro de 1945.
A ação das potências vencedoras do referido conflito que levaram à criação da ONU deu-se
das lições aprendidas pela fraqueza política da Liga das Nações que careceu de ações
coletivas dos Estados e sim apenas iniciativas de natureza individual que se limitava a
questões administrativas e técnicas e não resolvia os problemas da comunidade internacional.
A Organização das Nações quando da sua formação contava com 51 membros e atualmente
é integrada por 193 países. Sua sede está localizada em Manhattan, Nova York. Possuindo
ainda escritórios Genebra, Nairóbi e Viena.
Financiada com contribuições avaliadas e voluntárias dos países membros. Dentre seus
objetivos incluem a manutenção da paz, segurança, auxílio no desenvolvimento econômico e
no progresso social, além da proteção do meio ambiente e promoção do combate à fome,
desastres naturais e conflitos armados.
Enquanto a Liga das Nações era composta por três órgãos principais, a ONU possui seis
órgãos de maior amplitude: Assembleia Geral (principal), Conselho de Segurança (decidir
resoluções para manutenção da paz e a segurança), Conselho Econômico e Social (auxiliar
na promoção da cooperação econômica e social internacional e desenvolvimento), Conselho
de Direitos Humanos (fiscalizar a proteção dos direitos humanos e propor tratados
internacionais sobre o tema), Secretariado (fornecimento de estudos, informações e
15
facilidades necessárias para ONU) e o Tribunal Internacional de Justiça (principal órgão
judicial). Ainda contando com órgãos complementares: Organização Mundial de Saúde
(OMS), Programa Alimentar Mundial, Fundo nas Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

QUESTÃO SOBRE O TEMA

01. (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia) Esse documento histórico de remota
conquista dos direitos humanos foi editado com o escopo de assegurar a Supremacia
do Parlamento sobre a vontade do Rei, controlando e reduzindo os abusos cometidos
pela nobreza em relação aos seus súditos, em especial declarando, dentre outras
conquistas, o direito de petição, eleições livres e a proibição de fianças exorbitantes e
de penas severas:
A) Petition of Rights, de 1628.
B) Habeas Corpus Act, de 1679.
C) The Bill of Rights, de 1689.
D) Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789.
E) Magna Carta, de 1215.
ALTERNATIVA C. Magna Carta: Limitou os poderes do Rei. Petition of rights: ampliou
a limitação. Habeas corpus Act: consagração de mecanismo processual para tutela da
liberdade. Bill of rights: consagra a SUPREMACIA do parlamento, pondo temor à
monarquia absolutista e institucionalizou a separação de poderes que foi teorizada
posteriormente por Monstesquieu.

02. (FCC/DPE-RS/2018) De acordo com a historiadora americana Lynn Hunt, os direitos


permanecem sujeitos a discussão porque a nossa percepção de quem tem direitos e
do que são esses direitos muda constantemente. A revolução dos direitos humanos é,
por definição, contínua (A Invenção dos Direitos Humanos; uma história. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009, p. 270). Em relação à evolução histórica do regime
internacional de proteção dos direitos humanos, considere as assertivas abaixo.
I. A Magna Carta (1215) contribuiu para a afirmação de que todo poder político deve ser
legalmente limitado.
II. O Habeas Corpus Act (1679) criou regras processuais para o habeas corpus e robusteceu
a já conhecida garantia.
III. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) percebe-se que a dignidade
da pessoa humana exige a existência de condições políticas para sua efetivação.

16
IV. O processo de universalização, sistematização e internacionalização da proteção dos
direitos humanos intensificou-se após o término da 2ª Guerra Mundial.
Está correto o que consta de:
A) I, II, III e IV.
B) I, II e III, apenas.
C) I, III e IV, apenas.
D) II, III e IV, apenas.
E) I e IV, apenas.
ALTERNATIVA A. I - Certo. É com a Magna Carta que nasce a essência do devido
processo legal, que nada mais é do que vincular o Estado à norma. O Estado (trem) é
obrigado a andar sobre os trilhos (legislação), portanto seu poder foi limitado. II - Certo.
O instituto do habeas corpus já existia na Inglaterra desde 1215, desde a Magna Carta,
mas não havia ainda sido instrumentalizado, procedimentalizado. III - Certo. Na
Declaração de Independência dos Estados Unidos, os direitos mais importantes eram
os direitos civis (vida, liberdade e propriedade) juntamente com os direitos políticos.
Nos Estados Unidos, o que era mais importante era a liberdade política, porque
entendiam que, caso se efetivassem a liberdade política, os demais (civis) seriam
consequência.

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Segundo o Professor José Afonso da Silva, 2003: “são aquelas prerrogativas e instituições
que o Direito Positivo concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas
as pessoas”.
São chamados fundamentais porque sem eles a pessoa humana não convive, ou até mesmo
não sobrevive. A dignidade é intrínseca ao ser humano e o respeito a ela é uma forma de
concretização desse direito.
Em virtude desse direito, que deve ser garantido além da legislação pátria também por meio
da adoção de medidas especiais (ações afirmativas e políticas públicas) para consecução
desses direitos, serão vedadas medidas que afetem a integridade física e psíquica do ser
humanos, como vedação a adoção de penas cruéis, desumanas ou degradantes.
Para BELTRAMELLI (2014) “a dignidade da pessoa humana possui caráter multidimensional
e individual. Multidimensional porque congrega diversos atributos intrínsecos do ser humano,
como a liberdade, a igualdade, a integridade física e psíquica; e individual porque, embora

17

MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


inerente a todo ser humano, é moldada com características próprias, delineadas pelo contexto
histórico-cultural que circunda o indivíduo”.

2.1 As características dos Direitos e Garantias Fundamentais

As características dos Direitos e Garantias Fundamentais são apontadas por diversos


doutrinadores, seguem algumas:
Universalidade: destinam-se a todos, independentemente da condição econômica ou
social;
Historicidade: resultam de uma evolução cultural da humanidade;
Limitabilidade: os direitos e garantias fundamentais não são absolutos, pois encontram
limites em outros direitos;
Irrenunciabilidade: não se admite a renúncia a direitos fundamentais;
Inalienabilidade: os direitos fundamentais não podem ser negociados.
Imprescritibilidade: não se perdem por falta de uso.
Inviolabilidade: não pode ser violados.
Complementariedade: complementam-se
Mutáveis: objeto de mudança

Os direitos fundamentais individuais que garantem a liberdade, privacidade, vida, propriedade


e igualdade, que limitam a atuação estatal de abusos em virtude da sua posição de
supremacia. Da mesma forma, o controle concedido aos três poderes de decisões como meio
de representatividade da sociedade limita a atuação desta, não como devesse prevalecer à
vontade da maioria, mas sim prevalecer o respeito à minoria, aos grupos de acordo com a
sua distinção, as escolhas não devem ser pautadas de acordo com a moral de um
determinado grupo da sociedade, mas respeitando as diferenças entre cada indivíduo.
A participação popular permite o aprimoramento da democracia e do dever cívico de cada um
concretizando os direitos fundamentais, a cidadania plena e a própria democracia
constitucional trazida pela Constituição Federal de 1988.
A democracia leva em consideração um contexto de atuação livre e igualitária, que essa
atuação tanto do poder público quanto do privado e todos que façam parte da sociedade
participem em sua plena capacidade igualitária, em mesmas condições, de persuadir e
influenciar.
O Título II da Constituição da República Federativa do Brasil-CRFB de 1988 que trata sobre
os direitos e garantias fundamentais estão divididos em cinco capítulos:
Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos - art. 5º, CF (Capítulo I).

18
Dos Direitos Sociais - art. 6º ao art. 11, CF (Capítulo II).
Da Nacionalidade - art. 12 e art. 13, CF (Capítulo III).
Dos Direitos Políticos - art. 14 ao art. 16, CF (Capítulo IV).
Dos Partidos Políticos (Capítulo V).

Direitos e deveres
Direitos sociais (art.
individuais e
6º ao art. 11, CF)
coletivos (art. 5º, CF)

Direitos da
Direitos políticos (art.
nacionalidade (art.
14 ao art. 17, CF)
12 e art. 13, CF)

Os direitos e deveres individuais e coletivos estão relacionados no art. 5º da Constituição.


Porém, conforme doutrina e jurisprudência, não se restringem ao rol deste artigo, podendo
ser encontrados em outras partes do texto constitucional, tanto de forma expressa, como
decorrentes de seus regimes e princípios. Eles também podem ser encontrados em tratados
e convenções internacionais de que o Brasil é parte.
Em todo o rol previsto no artigo 5º da CRFB, estão inseridos:
Princípio da igualdade
Princípio da legalidade
Proibição à tortura
Liberdade de pensamento
Proibição da censura
Inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem
Sigilo das comunicações
Liberdade de profissão
Direito ao acesso à informação
Liberdade de locomoção
Liberdade de associação
Direito de propriedade
Direito do consumidor
Extradição

19
Assistência jurídica.

2.2 A titularidade dos direitos fundamentais

A titularidade dos direitos fundamentais é ampla, pois são vinculados a condição humana, a
partir do momento da concepção até o momento da morte. De acordo com o Supremo Tribunal
Federal, os estrangeiros também são titulares de direitos fundamentais, assim como as
pessoas jurídicas por serem representadas por pessoas físicas. Podendo exercer os seus
direitos como, por exemplo, devido processo legal em relação a garantias que deveriam ser
prestadas pela União para que um estado pudesse contrair empréstimos externos.
O princípio da dignidade da pessoa humana, afixado nos fundamentos da República no art.
1° da Constituição Federal é condição sine qua non para o direito contemporâneo nacional, o
que significa que o referido princípio determina valor às normas jurídicas brasileiras. Assim
como, é núcleo exegético de todo ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que o raciocínio
interpretativo de todas as regras deve se orientar por esta máxima, já que as relações jurídicas
humanas são fragmentárias e evoluem de forma contínua. A dignidade da pessoa humana é
um princípio constitucional estruturante.
Os direitos fundamentais são os direitos do homem jurídico institucionalmente garantidos.
Seriam os direitos objetivamente vigentes em uma ordem jurídica concreta, ou seja, são os
enunciados constitucionais de cunho declaratório, cujo objetivo consistiria em reconhecer, no
plano jurídico, a existência de uma prerrogativa fundamental do cidadão. A livre expressão
(art. 5º, inciso IX), a intimidade e a honra (art. 5º, inciso X) e a propriedade e defesa do
consumidor são direitos fundamentais, que cumprem a função de direitos de defesa dos
cidadãos sob um a dupla perspectiva:

a) Constituem, num plano jurídico-objetivo, normas de competência para os poderes públicos,


proibindo, as ingerências destes na esfera jurídico-individual;

b) Implicam, num plano jurídico-subjetivo, o poder de exercer de modo positivo os direitos


fundamentais (liberdade positiva) e de exigir dos poderes públicos, omissões, para evitar
agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa).

As garantias fundamentais seriam os enunciados de conteúdo assecuratório, cujo propósito


consiste em fornecer mecanismos ou instrumentos, para a proteção, reparação ou reingresso
em eventual direito fundamental violado. São remédios jurídicos, tais como o direito de
resposta (art. 5º, inciso V), a indenização prevista, o Habeas Corpus e Habeas Data, são
garantias.
20
2.3 Direito à vida.
Além de fundamental e prioritário, é pré-requisito à existência e exercício de todos os demais
direitos. As pessoas têm direito a permanecer vivas e a terem uma vida digna. É inaceitável
uma situação na qual a pessoa humana possa perder a sua vida ou não consiga viver
dignamente. O Estado é responsável pelo direito à vida em sua dupla acepção, ou seja, o
direito a continuar vivo e o direito de se ter uma vida digna quanto à subsistência.

O direito à vida diz respeito à própria existência da pessoa humana. A Constituição garante a
existência digna de todo ser vivo, tendo o próprio nascituro seus direitos civis assegurados.
Apenas excepcionalmente a legislação brasileira admite o fim da vida, por meio da pena de
morte em estado de guerra declarada, das excludentes de ilicitude penal (legítima defesa,
estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito e da
autorização do aborto nos casos previstos no Código Penal.

A Constituição proíbe qualquer mecanismo que possa resultar na solução não espontânea da
vida. Assim, a pena de morte não pode ser institucionalizada juridicamente no país. A própria
pena de morte em caso de guerra declarada está sujeita à condição de ser esta mesma guerra
declarada pelo Presidente da República.

Neste sentido, a Suprema Corte decidiu:

Cláusula de proteção desde o momento da concepção. É certo que a Convenção


Americana sobre Direitos Humanos, ao estabelecer a inviolabilidade do direito à vida,
proclama, em seu art. 4º, § 1º, que “toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida.
Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção (...)” (...).
A Declaração Americana de Direitos e Deveres da Pessoa Humana, no entanto, promulgada
na IX Conferência Internacional dos Estados Americanos, em Bogotá, em 1948, refere-se,
genericamente, em seu art. I, ao “direito à vida”, sem qualquer menção ao instante da
concepção. Também o Pacto Internacional das Nações Unidas sobre Direitos Civis e Políticos
(1966), em seu art. 6º, § 1º, reconhece, de maneira geral, igualmente sem qualquer referência
ao momento da concepção, a inviolabilidade do direito à vida. Vê-se, desse modo, que esses
dois últimos documentos internacionais, que precederam a promulgação do Pacto de São
José da Costa Rica, não incorporaram a noção de que o direito à vida existe desde o momento
da concepção. Foi por essa razão que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ao
examinar o caso “Baby Boy” (Resolução 23/1981), advertiu que a inserção, no art. 4º, § 1º, do
Pacto de São José da Costa Rica, da cláusula “em geral” tem implicações substancialmente

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


diversas daquelas que resultariam se constasse, desse mesmo artigo, a expressão (nele
inexistente) “desde o momento da concepção”, a significar, portanto, como se reconheceu em
referido processo (Resolução 23/1981 — Caso 2141), que a Convenção Americana sobre
Direitos Humanos não acolheu nem estabeleceu um conceito absoluto do direito à vida desde
o momento da concepção. [ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, voto do min. Celso de Mello, j.
12-4-2012, P, DJE de 30-4-2013.]

Direito à vida e células-tronco embrionárias. A pesquisa científica com células-tronco


embrionárias, autorizada pela Lei 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias
e traumatismos que severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e não raras
vezes degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativamente, atrofias
espinhais progressivas, distrofias musculares, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica, as
neuropatias e as doenças do neurônio motor). A escolha feita pela Lei de Biossegurança não
significou um desprezo ou desapreço pelo embrião in vitro, porém uma mais firme disposição
para encurtar caminhos que possam levar à superação do infortúnio alheio. Isto no âmbito de
um ordenamento constitucional que desde o seu preâmbulo qualifica “a liberdade, a
segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça” como valores supremos
de uma sociedade mais que tudo “fraterna”. O que já significa incorporar o advento do
constitucionalismo fraternal às relações humanas, a traduzir verdadeira comunhão de vida ou
vida social em clima de transbordante solidariedade em benefício da saúde e contra eventuais
tramas do acaso e até dos golpes da própria natureza. Contexto de solidária, compassiva ou
fraternal legalidade que, longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embriões
in vitro, significa apreço e reverência a criaturas humanas que sofrem e se desesperam.
Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa
com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam)
significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício
concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (min. Celso de Mello).
(...) A Lei de Biossegurança caracteriza-se como regração legal a salvo da mácula do
açodamento, da insuficiência protetiva ou do vício da arbitrariedade em matéria tão religiosa,
filosófica e eticamente sensível como a da biotecnologia na área da medicina e da genética
humana. Trata-se de um conjunto normativo que parte do pressuposto da intrínseca dignidade
de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. [ADI 3.510, rel. min.
Ayres Britto, j. 29-5-2008, P, DJE de 28-5-2010.]

2.4 Princípio da igualdade.

22
O direito fundamental à igualdade ou isonomia deve produzir efeitos sobre todas as pessoas
do país. O legislador e o aplicador da lei devem tratar igualitariamente todos os indivíduos,
sem distinção de qualquer natureza.

Todos os cidadãos têm o direito ao tratamento idêntico pela lei, em consonância com os
critérios do ordenamento jurídico. O princípio da igualdade perante a lei assegura a todos os
cidadãos tratamento idêntico perante a lei.

O direito à igualdade ou isonomia é chamado de princípio da igualdade perante a lei, princípio


da igualdade formal ou princípio da equidade.

A igualdade não é absoluta, mas apenas formal, onde os desiguais são tratados
desigualmente e o Estado se apresenta perante os entes privados com relativa supremacia
legal.

Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal


quando verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim
visado.

O princípio da igualdade opera em dois planos distintos. Primeiramente em relação ao


legislador ou ao executivo, na edição de leis, atos normativos e medidas provisórias para que
não sejam criados tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas em situações idênticas.
De outra forma, na obrigatoriedade do intérprete (autoridade pública), de aplicar a lei e atos
normativos de maneira igualitária, sem estabelecimento de diferenciações em razão de sexo,
religião, convicções filosóficas ou políticas, raça, classe social.

2.5 Princípio da legalidade

O princípio da igualdade perante a lei assegura a todos os cidadãos tratamento idêntico


perante a lei.

A Carta Magna preconiza que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei. Este princípio objetiva combater o poder arbitrário do Estado. Só por
meio de espécies normativas devidamente elaboradas conforme as regras de processo
legislativo constitucional podem-se criar obrigações para o indivíduo, pois são expressão da
vontade geral.

23
Os tratamentos normativos diferenciados são compatíveis com a Constituição Federal quando
verificada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional ao fim visado.

Ele se impõe ao legislador, ao intérprete/autoridade pública e ao particular. O


intérprete/autoridade pública não pode aplicar as leis e os atos normativos de forma a criar ou
aumentar desigualdades arbitrárias.

O particular também não poderá agir de modo discriminatório, preconceituoso ou racista, sob
pena de responsabilidade civil e penal, nos termos da lei.

2.6 Reserva legal

É a exigência de lei em sentido formal (proveniente da manifestação de vontade do Poder


Legislativo) para dispor sobre matéria penal. Ela também oferece segurança jurídica em
matéria penal.

O princípio da reserva legal tem abrangência diversa e mais restrita do que o princípio da
legalidade. De natureza concreta, o princípio da reserva legal somente tem aplicação nas
hipóteses previstas constitucionalmente.

O princípio da reserva legal consiste em estatuir que a regulamentação de determinadas


matérias há de fazer-se necessariamente por lei formal. Encontramos o princípio da reserva
legal quando a Constituição reserva conteúdo específico, caso a caso, à lei. Também
encontramos este princípio quando a Constituição outorga poder amplo e geral sobre qualquer
espécie de relação.

A reserva legal é estabelecida de modo absoluto ou relativo. A reserva legal absoluta é a


exigência da Constituição de edição de lei formal para regulamentação integral da norma
constitucional. Esta lei formal é entendida como ato normativo emanado do Congresso
nacional elaborado de acordo com o devido processo legislativo constitucional. A reserva legal
relativa é a permissão pela Constituição, apesar da exigência de edição de lei formal, que esta
somente fixe parâmetros de atuação para o órgão administrativo, que poderá complementá-
la por ato infra legal, sempre, porém, respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela
legislação.

2.7 Princípio da Presunção da Inocência.

24
Em 07 de novembro de 2019, no bojo das Ações Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs
43, 44 e 54), de Rel. do Min. Marco Aurélio do Supremo Tribunal Federal, a maioria dos
Ministros concluíram que o cumprimento da pena só pode ser iniciado após o transito em
julgado de sentença penal condenatória. Tal decisão ocorreu após 3 anos de insegurança
jurídica desde que a maioria dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do
HC 126292, de Relatoria do Min. Teori Zaviscki entenderam pela possibilidade do inicio da
execução da pena mesmo que não tenha ocorrido o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória.

As ações declaratórias de constitucionalidade que foram julgadas consistiram na apreciação


do STF em declarar a compatibilidade do art. 283 do Código de Processo Penal com o art. 5º,
LVII, da Constituição Federal de 1988.

O tema central da discussão é o chamado princípio da presunção de inocência (artigo 5º,


inciso LVII, da Constituição Federal), segundo o qual “ninguém será considerado culpado até
o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.

Por sua vez, o art. 283 do CPP prevê: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em
decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou
do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

3. CLASSIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS


FUNDAMENTAIS

3.1 A classificação dos direitos humanos

A teoria das gerações foi desenvolvida por Karel VASAK por meio de um texto publicado em
1977, e por uma palestra proferida em 1979, que foi fruto de uma Conferência no Instituto
Internacional de Direitos Humanos de Estrasburgo (França) – 1979.
A classificação dos direitos humanos na doutrina majoritária irá obedecer a dois critérios
principais: as gerações ou dimensões dos direitos humanos e a classificação referente aos
direitos e garantias fundamentais.
A priori, importante destacar que parte da doutrina não utilizará a expressão “geração dos
direitos humanos” por remeter a ideia de sobreposição de uma geração sobre a outra, quando,
25

MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


em verdade, as gerações são complementares. Deste modo, este material utilizará a
denominação dimensão dos direitos humanos.

Direitos humanos de primeira dimensão (liberdade):

Os direitos humanos de primeira dimensão são resultantes, principalmente, da Declaração


Francesa dos direitos do Homem e do Cidadão e da Constituição dos Estados Unidos da
América de 1787, que surgiram após o confronto entre governados e governantes. Diz
respeito à insatisfação daqueles com a realidade política, econômica e social de sua época,
e que resultou nessas afirmações dos direitos de indivíduos em face do poder soberano do
Estado absolutista.

Referem-se às liberdades públicas e aos direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos a
traduzirem o valor de liberdade. Documentos históricos (séculos XVII, XVIII e XIX): 1) Magna
Carta de 1215, assinada pelo rei Joao sem terra;2) Paz de Westfália (1648);3) Habeas Corpus
Act (1679);4) Bill of Rights (1688); 5) Declarações, seja a americana (1776), seja a francesa
(1789).

Direitos humanos de segunda dimensão (igualdade):

Já com a consagração dos direitos de liberdade, ocorreu à passagem destas, as chamadas


liberdades negativas, para os direitos políticos e sociais, que exigiam uma intervenção direta
do Estado, para ver-se concretizados, com a passagem da consideração do indivíduo
singular, primeiro sujeito a quem se atribuiu direitos naturais, para grupos de sujeitos, sejam
famílias, minorias étnicas ou até mesmo religiosas. Os direitos sociais ou prestacionais, como
o direito à saúde, configuram, assim, um dos elementos que marcaram a transição do
constitucionalismo liberal para o constitucionalismo social.

Desta forma, pode-se dizer que de segunda dimensão, são, pois, os direitos ao trabalho, à
saúde, à educação, dentre outros, cujo sujeito passivo é o Estado, que tem o dever de realizar
prestações positivas aos seus titulares, os cidadãos, em oposição à posição passiva que se
reclamava quando da reivindicação dos direitos de primeira geração.

Documentos históricos: Constituição de Weimar (1919), na Alemanha e o Tratado de


Versalhes, 1919. Que instituiu a OIT.

26
Direitos humanos de terceira dimensão (fraternidade):

A par das dificuldades e das conquistas decorrentes da diuturna luta social pelo
reconhecimento e pela eficácia dos direitos civis e políticos, de primeira geração, e dos direitos
econômicos, sociais e culturais, direitos de segunda geração, outros valores, até então não
tratados como prioridade na sociedade ocidental, foram colocados na pauta de discussão em
período posterior ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Referidos valores, para
serem efetivados, exigiam soluções inovadoras que só o reconhecimento de direitos de
estirpe diversa dos já positivados poderia satisfazer. Estes novos direitos passaram, assim, a
serem alcunhados de direitos de terceira geração.

Tais direitos, também conhecidos como direitos da solidariedade ou fraternidade,


caracterizam-se, assim, pela sua titularidade coletiva ou difusa, tendo coincidido o período de
seu reconhecimento ou positivação com o processo de internacionalização dos direitos
humanos.

Tais direitos caracterizam-se pelo distintivo de demandarem a participação intensa dos


cidadãos, sem a qual não tem eficácia, requerendo a existência de uma consciência coletiva
na atuação individual de cada membro da sociedade, em aliança com Estado.

1ª Dimensão 2ª Dimensão 3ª Dimensão


Liberdade Igualdade Fraternidade
Direitos civis e políticos Direitos sociais, culturais e Direitos coletivos e difusos
econômicos
Revolução Francesa Revolução Mexicana II Guerra Mundial
Declaração dos Direitos Constituição de Weimar Declaração Universal dos
do Homem e do Cidadão (1919) Direitos Humanos (1948)
(1789)
Estado absolutista – Estado liberal – social Estado social –
liberal constitucional
Liberdade de expressão Educação Meio ambiente

27
Foi neste mesmo sentido, agora já no campo jurídico jurisprudencial pátrio, que o Supremo
Tribunal Federal adotou com base na decisão infra, a corrente geracional "clássica" de Karel
VASAK (primeira segunda e terceira gerações/dimensões):

“os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) – que compreendem as


liberdades clássicas, negativas ou formais – realçam o princípio da liberdade e os direitos de
segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) – que se identifica com as
liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o princípio da igualdade, os direitos de
terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente
a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um
momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos
direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de
uma essencial inexauribilidade” (STF, MS 22.164, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
30-10-1995).

Direitos humanos de quarta dimensão (democracia, informação e pluralismo):

Resultado da globalização dos direitos humanos (o universalismo), cuja qual fora criada por
Paulo BONAVIDES. Para o teórico, alguns motivos evidenciam a exigência de se criar
uma quarta geração, como, por exemplo: o direito de participação democrática (democracia
direta), o direito ao pluralismo, o direito à bioética e aos limites da manipulação genética. Isto
é, fundados na defesa da dignidade da pessoa humana contra intervenções abusivas de
particulares ou do Estado.
Sendo identificados com o direito da manipulação genética, direito de morrer com dignidade
e direito à mudança de sexo, todos pensados para a solução de conflitos jurídicos inéditos,
novos, frutos da sociedade contemporânea.

Direitos humanos de quinta dimensão:

Finalmente, os direitos humanos da quinta dimensão, como os de quarta, também não são
pacificamente reconhecidos pela doutrina, como o são os das três primeiras. No entanto, os
direitos que por essa geração são reconhecidos, quais sejam, a honra, a imagem, enfim, os
“direitos virtuais” que ressaltam o princípio da dignidade da pessoa humana, decorrem de uma
era deveras nova e contemporânea, advinda com o exacerbado desenvolvimento da Internet
nos anos 90.

Tais valores, portanto, são defendidos e protegidos por essa geração de direitos, com a
particularidade de protegê-los frente ao uso massivo dos meios de comunicação eletrônica,

28
merecendo, assim, proteção não só as pessoas naturais, mas também as pessoas jurídicas
(art. 50, Código Civil de 2002).

Continuando, a sexta geração os teóricos a colocam como direitos relacionados à bioética.


Insta salientar que BONAVIDES já a inseria no campo da quarta geração de direitos,
defendendo a participação democrática, o direito ao pluralismo, bioética, limites à
manipulação genética, como acordado supra; isto é, tudo fundado na defesa da dignidade da
pessoa humana contra intervenções abusivas de particulares ou do Estado (RAMOS, 2014).

QUESTÃO SOBRE O TEMA

01. (CEBRASPE PRF/2013) As três gerações de direitos humanos demonstram que


visões de mundo diferentes refletem-se nas normas jurídicas voltadas à proteção da
pessoa.
Certo. As gerações refletem momentos históricos distintos que complementam à
proteção do individuo.

02. (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia) Assinale a alternativa correta a


respeito das características dos direitos humanos.

A) O Princípio da ilimitabilidade garante que o Estado e a sociedade não podem limitar a


fruição dos direitos humanos já conquistados, com o objetivo de disciplinar situações
excepcionais que venham a reduzir o alcance desses direitos.

B) O Princípio da divisibilidade propõe que os direitos humanos devem obedecer a uma


classificação retórica, que divide e categoriza os vários grupos de direitos inerentes ao homem
e à sociedade, para que sejam melhor usufruídos pelos seus destinatários.

C) O Princípio da essencialidade reza que os direitos humanos devem ser vistos como aquela
categoria de direitos inerentes à sociedade em determinada época histórica, podendo ser
divididos em essenciais, que devem gozar de livre fruição, e os não essenciais, que ainda
demandam reivindicações a serem conquistadas ao longo do tempo.

D) O Princípio da inalterabilidade estabelece que os direitos humanos não sofrem alterações


com o decurso do tempo, pois têm caráter eterno, não se ganham nem se perdem com o
tempo, são anteriores, concomitantes e posteriores aos indivíduos.
29

MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


E) O Princípio da interrelacionariedade dispõe que os direitos humanos e os sistemas de
proteção se inter-relacionam, permitindo às pessoas escolher entre os mecanismos de
proteção global ou regional, pois não há hierarquia entre eles.

ALTERNATIVA E. Interrelacionariedade ou interdependência; direitos humanos e


sistemas de proteção são interrelacionados e não há hierarquia entre eles. A propósito,
tem sido cada vez mais comum o diálogo de fontes entre os tribunais de direitos
humanos.
A. INCORRETO. Na verdade, o princípio é o da "limitabilidade", já que os direitos não
comportam um uso ou exercício abusivo e são limitados por outros direitos e pelos
direitos de outras pessoas. B. INCORRETO. O princípio correto é o da "indivisibilidade",
já que a perfeita realização de um direito demanda, muitas vezes, a realização
concomitante de outros. Não se pode proteger apenas parte da dignidade humana, de
modo que, se os direitos humanos estão a ele relacionados, todos precisam ser
igualmente assegurados. C. INCORRETO. A ideia de essencialidade indica que estes
direitos são fundamentais para proteção dos direitos humanos, não havendo uma
distinção entre os direitos mais ou menos essenciais. D. INCORRETO. Pelo contrário,
direitos humanos são direitos históricos e sofrem influência do contexto em que são
realizados. A ideia de imutabilidade de direitos é típica do direito natural e não se
coaduna com o caráter dinâmico e inexaurível da proteção dos direitos humanos. A
própria percepção das diferentes dimensões de direitos afasta a ideia de que estes
direitos "não se ganham nem se perdem com o tempo."

3.2 Características dos Direitos Humanos

Universalidade: os direitos humanos atingem todos os seres humanos em qualquer tempo e


em qualquer lugar, sem qualquer discriminação de raça, cor, sexo, etnia, religião, convicção
política, estado civil ou qualquer outra. Os direitos humanos se impõem de igual modo a todos
os países, não sendo possível a eleição de direitos em detrimento de outros. Para sua defesa
e concretização é necessário que os Estados flexibilizem algumas disposições internas,
rompendo assim com a concepção tradicional absoluta da soberania Estatal, que não deverá
ser alegada para justificar o descumprimento desses direitos.

Importante ressaltar, que em contraposição à característica da universalidade dos direitos


humanos há um método de observação de cada grupo social, em virtude dos seus valores,

30
que será denominado relativismo cultural. Pelo relativismo cultural a atividade humana e
aplicação desses direitos deveriam ser interpretadas dentro de um contexto, nos termos da
sua própria cultura (expressões, normas, padrões e valores).

Ainda, contraposto a universalidade aparece a seletividade discricionária, que estabeleceria


métodos de escolhas e de emprego dos direitos humanos por critérios de conveniência e
oportunidade. Todavia, o método não é admitido.

Complementariedade: Os direitos fundamentais não são analisados sob o prisma isolado, pois
estão numa relação de complementariedade, ou seja, os direitos sociais reforçam os direitos
individuais, os direitos difusos ampliam as garantias para a tutela coletiva e é nessa simbiose
que eles devem ser compreendidos e respeitados.

Indisponibilidade: como não possuem natureza econômico-financeira, o núcleo dos direitos


fundamentais não poderá ser transacionado por inteiro, ainda que alguns aspectos concretos
dos direitos fundamentais possam ser eventualmente passíveis de negociação, como nos
contrato de reality show por exemplo.

Imprescritibilidade. Sobre os direitos humanos não incide prazo prescricional. O exercício de


boa parte dos direitos fundamentais ocorre só no fato de existirem reconhecidos na ordem
jurídica (...). Se são sempre exercíveis e exercidos, não há intercorrência temporal de não
exercício que fundamente a perda da exigibilidade pela prescrição.

Irrenunciabilidade. São irrenunciáveis, uma vez que não podem ser abdicados, rejeitados ou
recusados. Não se renunciam esses direitos. Alguns deles podem até não ser exercidos,
pode-se deixar de exercê-los, mas não se admite sejam renunciados.

Historicidade. São históricos como qualquer direito. Nascem, modificam-se e desaparecem.


Eles apareceram com a revolução burguesa e evoluem, ampliam-se, com o correr dos tempos.

Inalienabilidade. São direitos intransferíveis, inegociáveis, porque não são de conteúdo


econômico-patrimonial. Se a ordem constitucional os confere a todos, deles não se pode
desfazer, porque são indisponíveis.

31
Interdependência: os direitos fundamentais estão vinculados uns aos outros, não podendo ser
vistos como elementos isolados, mas sim como um todo, um bloco que apresenta
interpenetrações; as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas, possuem
diversas intersecções para atingirem suas principais finalidades. No intuito de exemplificarmos
a característica relacionada neste comando, podemos dizer que a liberdade de locomoção
está relacionada à garantia do habeas corpus e ao devido processo legal.

Proibição do retrocesso: por esta característica os Estados estão expressamente proibidos de


diminuir sua proteção aos direitos humanos em relação ao estágio em que se encontra. Isso
vale tanto para normas internas de cada Estado e suas respectivas Constituições, como
também para os tratados internacionais sobre a matéria.

QUESTÃO SOBRE O TEMA

(CESPE/CEBRASPE PM/AL 2017) Os Direitos Humanos, caracterizados como direitos


essenciais e indispensáveis à vida digna, variam em decorrência da transformação das
necessidades humanas e de acordo com o contexto histórico.
Certo. A evolução dos Direitos Humanos tem relação com os momentos históricos e a
necessidade dos seres humanos ao logo dos séculos. Uma das características dos
Direitos Humanos é a historicidade.

4. POSIÇÃO HIERÁRQUICA DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS


HUMANOS E O ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

Os tratados são considerados uma das fontes do Direito Internacional positivo e podem ser
conceituados como todo acordo formal, firmado entre pessoas jurídicas de Direito
Internacional Público. Tem como finalidade a produção de efeitos jurídicos.
A denominação ‘tratado’ é genérica, pois de acordo com a sua forma, o seu conteúdo, o seu
objeto ou o seu fim, podem ser adotadas outras denominações como, por exemplo:
convenção, declaração, protocolo, acordo, ajuste, compromisso.
No ordenamento jurídico brasileiro o Presidente da República tem competência para celebrar
o tratado e, posteriormente, o Congresso Nacional irá aprová-los, mediante decreto legislativo.
Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o tratado volta para o Poder Executivo para que
seja ratificado. Com a ratificação do Presidente da República o tratado internacional deverá

32
ser promulgado internamente através de um decreto de execução presidencial. Vejamos: “
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: VIII - celebrar tratados,
convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional”.

4.1 A posição hierárquica dos tratados internacionais

A Constituição brasileira de 1988 não apresenta nenhum dispositivo que expressamente


determine a posição dos tratados internacionais perante o direito interno. Consoante o artigo
102, inciso III, alínea “b” da Constituição Federal que determina que o Supremo Tribunal
Federal tem competência para julgar, mediante recurso extraordinário, “as causas decididas
em única ou última instância, quando a decisão recorrida declarar a inconstitucionalidade de
tratado ou lei federal”, a jurisprudência e a doutrina brasileira acolheram a tese de que os
tratados internacionais e as leis federais possuem a mesma hierarquia jurídica, ou seja, os
tratados internacionais são incorporado no ordenamento jurídica brasileiro como norma
infraconstitucional.

4.2 O conflito entre tratados internacionais e normas internas

Alguns doutrinadores até defendem o status supralegais dos tratados e há outros que
defendem a supra constitucionalidade dos mesmos alegando que os tratados possuem força
obrigatória e vinculante.
Para a jurisprudência pátria, adota-se a teoria da paridade entre tratado internacional e a
legislação federal. Com relação aos tratados internacionais de direitos humanos as
discussões acerca da sua hierarquia no ordenamento jurídico brasileiro são ainda maiores.

4.3 Os tratados internacionais de direitos humanos e a recente decisão do Supremo


Tribunal Federal

O artigo 5°, parágrafo 2º da Constituição brasileira de 1988 determina que os direitos e


garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do
Brasil seja parte.
Assim, diante algumas controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais acerca da temática e
buscando resolver a questão da hierarquia dos tratados internacionais de direitos humanos

33

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no ordenamento brasileiro, a Emenda Constitucional n. 45 de dezembro de 2004 acrescentou
um §3° parágrafo ao artigo 5° determinando que: os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes à emenda
constitucional.
Antes da emenda 45/2004 os tratados internacionais de direitos humanos eram aprovados
por meio de decreto legislativo, por maioria simples, conforme artigo 49, inciso I da
Constituição de 1988 e, posteriormente, eram ratificados pelo Presidente da República.
Com o advento da emenda 45/2004 os tratados sobre direitos humanos passariam a ser
equivalentes às emendas constitucionais. Como também adicionou o §4° que diz “ o Brasil
se submete à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado
adesão”.
O Supremo Tribunal Federal, em julgamento histórico de um Recurso Extraordinário, em
dezembro de 2008, modificou o seu posicionamento acerca da hierarquia dos tratados
internacionais de direitos humanos. O Supremo entendeu, majoritariamente, que esses
tratados, antes equiparados às normas ordinárias federais, apresentam status de norma
supralegal.
Logo, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento
admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde observado o
procedimento previsto no parágrafo 3º, artigo 5º da CF, acrescentado pela Emenda
Constitucional no 45/2004.
TRATADOS INTERNACIONAIS

1. TIDH (3/5 e 2 turnos)


(CF, art. 5° §3°) = status de
norma constitucional.

2. TIDH (maioria simples)


(CF, art. 47) = status
supralegal

3. Demais tratados
internacionais = status de
lei ordinária

34
4.4 Procedimentos de incorporação de tratados internacionais ao ordenamento jurídico
brasileiro

Inicialmente destacamos que as denominações dos tratados internacionais podem ser


diversas, tais como: acordo, ajuste, convenção, declaração, estatuto e protocolo. Insta,
ressaltar também que no Direito Internacional não existe qualquer hierarquia entre os tratados.
Assim, os procedimentos detalhados de incorporação dos tratados internacionais no Brasil
seguem as etapas:
a) De inicio o presidente da República após assinatura do tratado por ele (chefe de
Estado/Governo) ou dos representantes legitimados para o ato (Plenipotenciário,
Delegação Nacional, Ministro das Relações Exteriores), envia ao Congresso Nacional
uma cópia do instrumento, oficialmente, com mensagem que requer sua aprovação.
b) O Congresso Nacional, que possuem comissões especializadas para análise do
documento, antes da votação em plenário procederá com votação. A Câmara de
Deputados então vota e uma vez aprovado seguirá para o Senado Federal. Se
aprovado, cabe ao presidente do Senado, promulgar o decreto legislativo.
c) Uma vez aprovado, prossegue para ratificação do presidente da República por meio
de decreto presidencial e a publicação do seu texto no Diário Oficial da União.

Destaca-se que em caso de recusa pelo Legislativo, não há edição de decreto e não existirá
ratificação. Podendo ser rejeitado pelo Congresso. O quórum de aprovação dependerá do
status do tratado, conforme informado alhures. Se norma supralegal, por maioria simples
(status de norma supralegal); Se emenda constitucional, seguir regras do art. 5 §3° da CRFB.
A ratificação possuirá algumas características: discricionariedade (praticado de acordo com
critérios de conveniência e oportunidade da Administração Pública), unilateralidade (ato de de
competência do Estado- Parte e não se submete a imposições internacionais) e
irretratabilidade ( que após a ratificação não é possível o seu desfazimento).
O entendimento doutrinário pátrio é que não há necessidade de homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal para ter validade e vigência no nosso
território.

4.5 Interpretação dos tratados internacionais dos direitos humanos no Brasil

35
Em casos de confronto entre regras do ordenamento interno e um dispositivo de um tratado
internacional deverá prevalecer à regra mais benéfica à vítima, uma vez que os tratados por
premissa garantem direitos mínimos.

4.6 Incidente de deslocamento de competência

Para que a investigação e o julgamento de violações aos direitos humanos sejam


federalizados, é necessário que fique demonstrado que se refere a uma grava transgressão
de interesses fundamentais firmados em tratados internacionais, dos quais a República
Federativa do Brasil seja parte, podendo responder diante de instâncias internacionais.
Ademais, é fundamental que o Procurador Geral da República entre com o pedido de incidente
de deslocamento de competência perante o Superior Tribunal de Justiça, que deve julgá-lo
favoravelmente.
Atualmente, a Constituição Federal brasileira prevê o incidente de deslocamento de
competência nos seguintes termos:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
(...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,
com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.
O incidente de deslocamento de competência surgiu na Carta Maior por meio da Emenda
Constitucional n. 45 e representa um marco na tutela dos direitos humanos.

QUESTÃO SOBRE O TEMA

(CEBRASPE/PRF – 2019) Conforme a maneira como são internalizados, os tratados


internacionais sobre direitos humanos podem receber status normativo-hierárquico
constitucional ou legal.
Errado. A posição atual do STF é no sentido de que os tratados e as convenções
internacionais sobre os direitos humanos são incorporados ao ordenamento jurídico
brasileiro com natureza jurídica de norma SUPRALEGAL. Contudo, podendo assumir

36
STATUS de normas equivalentes às EMENDAS CONSTITUCIONAIS se forem aprovados
pelo rito previsto no art. 5º, § 3º, da CF/88.

5. NACIONALIDADE E AS REGRAS DO DIREITO BRASILEIRO

A nacionalidade é o vínculo jurídico que liga o indivíduo a um Estado, tornando-o nacional,


componente do povo e titular de direitos e obrigações. O conceito de nacionalidade no Brasil,
não se confunde com o de cidadania, este ligado ao exercício de direitos políticos por meio
de título de eleitor. Logo, desta forma o conjunto dos nacionais é muito maior que o conjunto
de cidadãos. Deste conceito, podemos extrair duas dimensões da nacionalidade:
a) Vertical: ligação do indivíduo ao Estado a que pertence (dimensão jurídico-política);
b) Horizontal: indivíduo como elemento que compõe o Estado, como elemento povo
(dimensão sociológica).

O conceito da Nacionalidade não deve ser confundido com conceito de cidadania. A cidadania
pressupõe a nacionalidade, pois, para ser titular de direitos políticos no Brasil é necessário a
condição de nacional. Ainda, podendo o nacional de o país perder ou ter seus direitos políticos
suspensos (art. 15 CRFB).
A democracia direta se realizará quando o cidadão, em pleno gozo de seus direitos políticos,
participa de referendos, plebiscitos, quando ajuíza ação popular, dentre outras manifestações.
Indiretamente, a democracia se manifesta quando os atos principais da vida política do país
são realizados por nossos representantes eleitos para essa finalidade.
O artigo 14 da CF dispõe que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto na forma da lei.
Nacionalidade Originária ou primária

Resulta do nascimento a partir do qual, por critérios de caráter sanguíneos, territoriais ou


mistos será estabelecida. É também conhecida como involuntária.
Mediante o critério de origem territorial (ius solis) a nacionalidade originária será estabelecida
pelo lugar do nascimento, independentemente da nacionalidade dos pais.
Já pelo critério de filiação (ius sanguinis) a nacionalidade originária é atribuída de acordo com
a nacionalidade dos pais, independentemente do local de nascimento.
Nacionalidade Derivada ou secundária

Resulta do vínculo criado em razão da manifestação de vontade do indivíduo, e em regra por


meio do processo de naturalização.

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No artigo 12 da CF estão elencadas as disposições quanto à nacionalidade.
Elementos objetivos: território, governo soberano e povo.
a) Território: elemento físico e espacial. Campo abrangido por delimitação de
determinada área geográfica de superfície terrestre com fixação de uma jurisdição
onde o Estado desempenha de forma contínua sua soberania.
b) Governo soberano: elemento político. Constituído de uma estrutura política
estruturada com estabilidade, que conserva a ordem no plano interno e representa o
Estado nas suas relações exteriores.
c) Povo: elemento objetivo pessoal e humano. As pessoas que vivem permanentemente
naquele Estado ligados a ele por vínculo da nacionalidade. Não deves ser confundido
com conceito de população, que é demográfico, e te como objetivo determinar o
conjunto de pessoas que habitam na mesma base territorial, sem distinção entre
nacionais e estrangeiros. Outrossim, o conceito de Nação são laços que unem
pessoas por questões idênticas de tradições e costumes, história, cultura, economia
ou até mesmo idioma.

No que tange ao elemento subjetivo temos a Recognição plena de sua existência,


significando dizer que o reconhecimento pleno da existência de um Estado pelos seus pares
e outros sujeitos de direito internacional público não é o elemento essencial, mas apenas
complementar para a sua configuração.

5.1 Atribuição ou aquisição da nacionalidade brasileira originária

Critérios ius soli na forma do art. 12, I, a, CRFB. Segue texto constitucional:

Art. 12. São brasileiros:

I - natos:

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros,


desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Critérios ius sanguinis na forma do art. 12, I, b e c, CRFB. Segue texto constitucional:

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer


deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

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c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela
nacionalidade brasileira;

5.2 Atribuição ou aquisição da nacionalidade brasileira derivada:

Naturalização Ordinária na forma do art. 12, II, a, CRFB. Segue texto constitucional:

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários


de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;

Naturalização extraordinária ou quinzenária na forma do art. 12, II, a, CRFB. Segue


texto constitucional:

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa


do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde
que requeiram a nacionalidade brasileira.

5.3 Distinções entre brasileiros natos e naturalizados

A lei não deve fazer distinção entre brasileiros natos e naturalizados. Exceto nos casos
determinados na própria Constituição Federal, são os cargos privativos de brasileiro nato
dispostos no art. 12, §3° CRFB:

I - de Presidente e Vice-Presidente da República;

II - de Presidente da Câmara dos Deputados;

III - de Presidente do Senado Federal;

IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

V - da carreira diplomática;

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VI - de oficial das Forças Armadas;

VII - de Ministro de Estado da Defesa.

5.4 Perda da nacionalidade

Somente o brasileiro naturalizado poderá perder a nacionalidade em virtude de atividade


nociva aos interesses nacionais, de acordo com o art. 12, §4°, I CRFB.
Se em decorrência de atribuição de outra nacionalidade, tanto o brasileiro nato quanto o
naturalizado, poderão perder a nacionalidade brasileira. A privação da nacionalidade brasileira
ocorre por meio de processo administrativo, de competência do Ministério da Justiça e
oficializado mediante decreto do Presidente da República.
Para isso, é necessária a efetiva atribuição pelo outro Estado à nacionalidade ao individuo e
que este tenha desejado adquiri-la por livre e espontânea vontade.
A perda da nacionalidade brasileira não ocorrerá se a lei estrangeira reconhecê-la ou se impor
a naturalização como condição de permanência do brasileiro naquele país ou para o exercício
de direitos civis, de acordo com o art. 12, §4°, II, CRFB.

5.5 Concessão aos portugueses de direitos inerentes aos brasileiros

Conforme texto constitucional, (art. 12, §1°, CRFB) no caso dos portugueses residentes
permanentemente no Brasil há atribuição de direitos que são inerentes aos brasileiros, desde
que haja reciprocidade Não se refere à atribuição de nacionalidade.

5.6 Extradição

O brasileiro nato jamais será extraditado, conforme art. 5°, LI, CRFB. Entretanto, de forma
excepcional o brasileiro naturalizado será extraditado na hipótese de crime comum cometido
antes da naturalização ou, a qualquer tempo, em caso de envolvimento em tráfico de drogas,
de acordo com a lei.
A extradição é a entrega do refugiado, acusado, criminoso ao governo estrangeiro que o exige
em seu próprio Estado para o julgamento de um delito ou ainda para o cumprimento de uma
pena. Insta pontuar, que a extradição exige como pressuposto a existência de um processo
penal. Via de regra a extradição é para o estrangeiro, exceto em casos de crimes políticos ou
de opinião.
O diploma legal que disciplina o tema é a lei 6.815/1980 (arts. 76 a 94) e o decreto
86.715/1981.
40
O Supremo Tribunal Federal em 2016 sobre o tema:
Perda da Nacionalidade. Brasileira naturalizada americana. Acusação de homicídio no
exterior. Fuga para o Brasil. Perda de nacionalidade originária em procedimento administrativo
regular. Hipótese constitucionalmente prevista. (...) A Constituição Federal, ao cuidar da perda
da nacionalidade brasileira, estabelece duas hipóteses: (i) o cancelamento judicial da
naturalização (art. 12, § 4º, I); e (ii) a aquisição de outra nacionalidade. Nesta última hipótese,
a nacionalidade brasileira só não será perdida em duas situações que constituem exceção à
regra: (i) reconhecimento de outra nacionalidade originária (art. 12, § 4º, II, a); e (ii) ter sido a
outra nacionalidade imposta pelo Estado estrangeiro como condição de permanência em seu
território ou para o exercício de direitos civis (art. 12, § 4º, II, b). No caso sob exame, a
situação da impetrante não se subsume a qualquer das exceções constitucionalmente
previstas para a aquisição de outra nacionalidade, sem perda da nacionalidade brasileira.
[MS 33.864, rel. min. Roberto Barroso, j. 19-4-2016, P, DJE de 20-9-2016.]
Privação de nacionalidade obtida mediante fraude e apatria. Não ignoro ser a
nacionalidade direito fundamental de primeira geração, pelo qual se estabelece o vínculo
instaurador de direitos e deveres entre o indivíduo e determinado Estado, enfatizando, com
isso, a identidade da pessoa humana no cenário internacional. Tampouco desconheço os
esforços no sentido de conferir maior efetividade a esse direito, constante da Declaração
Universal dos Direitos do Homem, a qual estabelece em seu art. 15: “1. Toda pessoa tem
direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade,
nem do direito de mudar de nacionalidade”. A adesão brasileira à Convenção sobre o Estatuto
dos Apátridas, celebrada em 28-7-1951 no âmbito das Nações Unidas, com o depósito do
instrumento de ratificação brasileiro em 30-4-1996, evidencia a importância que o Brasil
passou a conferir à matéria. Buscando dotar esse documento de maior eficácia e com o
objetivo de reduzir os casos de indivíduos sem nacionalidade, foi celebrada pelas Nações
Unidas, em 30-8-1961, a “Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia” (Convention
on the Reduction of Statelessness), cujo texto foi aprovado pelo Congresso Nacional brasileiro
em 4-10-2007 (Decreto Legislativo 274, publicado no Diário Oficial da União de 5-10-2007),
sendo esse instrumento de adesão apresentado às Nações Unidas em 25-10-2007 (...). Nesse
documento, os Estados contratantes se comprometem a não privar uma pessoa de sua
nacionalidade se essa privação vier a convertê-la em apátrida (art. 8º, § 1º). Inobstante essa
regra geral, o acordo internacional referido prevê a possibilidade de uma pessoa ser privada
da nacionalidade de Estado contratante “nos casos em que a nacionalidade tenha sido obtida
por declaração falsa ou fraude” (art. 8º, § 2º, b). Além dessa exceção, o tratado ainda admite
a reserva do direito do Estado contratante de privar o indivíduo de sua nacionalidade se, em

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condições incompatíveis com o dever de lealdade ao Estado contratante, a pessoa “tiver se
conduzido de maneira gravemente prejudicial aos interesses vitais do Estado” (art. 8º, § 3º, a,
inc. II), estando condicionada essa reserva à existência prévia, na legislação nacional, desse
motivo. Pelo art. 12, § 4º, b, da Constituição Federal, quando do depósito da adesão do Brasil
a essa convenção internacional, anotou-se reserva do direito mencionado. Quanto ao direito
de privar o indivíduo da nacionalidade obtida por declaração falsa ou fraude, não se fez essa
exigência. Tem-se, assim, o manifesto reconhecimento da comunidade internacional sobre o
direito dos Estados de assentar a invalidade de nacionalidade obtida por declaração falsa ou
fraude, ainda que disso decorra uma situação de apatria. [RMS 27.840, rel. p/ o ac. min. Marco
Aurélio, voto da min. Cármen Lúcia, j. 7-2-2013, P, DJE de 27-8-2013.]

5.7 Expulsão e deportação

A expulsão é uma forma de remoção do estrangeiro do território nacional em face de prática


de um crime, uma infração ou de atos que o tornem inconveniente aos interesses sociais, com
a finalidade de defesa e conservação da ordem interna e/ou relações internacionais. O
diploma legal que disciplina esta forma de remoção coativa é a lei 6.815//1980 (arts. 65 a 75)
e o decreto 86.715/1981 (arts. 100 a 109).
A competência para expulsão de estrangeiro em território nacional é do Presidente da
República mediante decreto, estando este ato sujeito ao controle de legalidade e
constitucionalidade por parte do Poder Judiciário.
Na deportação o estrangeiro é devolvido ao exterior por iniciativa das autoridades locais,
através da sua saída compulsória para o país de origem ou outro que consinta em recebê-lo,
quando ele entrar ou permanecer irregularmente em solo nacional e não retirar
voluntariamente, não decorrendo da prática de crime em qualquer território. O diploma legal
que disciplina esta forma de remoção coativa é a lei 6.815//1980 (arts. 57 a 64) e o decreto
86.715/1981.
A Constituição Federal estabeleceu no art. 109, X, a competência dos juízes federais para
processas e julgar os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.

5.8 Condição jurídica do estrangeiro em território nacional

O estrangeiro, que em outrora foi chamado de adventício, isto é, aquela pessoa nascida em
outro Estado e que permanecia em território alheio e mantendo sua primitiva nacionalidade
sempre foi historicamente bem recebido em território brasileiro.

42
Em alguns momentos uma receptividade mais ampla e outros não. Na Constituição Brasileira
de 1824 estabeleceu-se a liberdade de trânsito em território nacional, sem nenhuma restrição
ao estrangeiro. Em 1891 o rol é ampliado com possibilidade de ingresso e saída sem
necessidade de passaporte e posteriormente foi ratificado por meio da emenda constitucional
de 1926.
Na Carta de 1934 estabeleceram-se alguns limites percentuais de ingresso chamados de
cotas. O ato foi mantido no texto de 1937 e com pequenas alterações em 1946 e 1967.
Na Constituição de 1988 estabelece que determinadas restrições serão estabelecidas pela
União, que tem competência para legislar sobre o assunto. A temática é regida pelo Estatuto
do Estrangeiro (Lei 6.815, de 19 de agosto de 1980).

5.9 Refugiados

Refugiado é aquela pessoa que em virtude fundados temores motivados por questões de
cunho de perseguição racial, ideológica, religiosa, política ou criminal no território do seu
Estado de origem, procura asilo ou refúgio em outro com a finalidade de nunca ser molestado.
No Brasil a condição da pessoa refugiada é regida pela Lei 9.474/1997, no qual, dispõe que
não irão desfrutar dessa qualidade aqueles que tenham cometido crimes contra paz, crime de
guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participação de atos terroristas ou ainda
tráfico de drogas.
Aos refugiados é possível a concessão de asilo político. Poderá ser exercido de duas
maneiras: asilo diplomático (proteção conferida aos estrangeiros nas embaixadas, navios,
aeronaves, acampamentos militares); asilo territorial (perfaz-se no próprio território do Estado
que concede a proteção).

6. SISTEMA DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Direitos Fundamentais são os direitos do ser humanos reconhecidos e positivados na esfera


do direito constitucional, assim difere do termo direitos humanos com o qual é bastante
confundido na medida em que este se aplica aos direitos reconhecidos e positivados na esfera
do Direito Internacional, por meio de tratados, convenções que aspiram a atividade universal
a todos os tempos e povos.
Estes direitos são objetos de ponderação, na medida em que visam no caso concreto à
proteção dos indivíduos, em especial aqueles em situação de vulnerabilidade.

43
O Sistema de proteção internacional dos direitos humanos no Brasil tem seu marco na
Constituição Federal de 1988. Através dos chamados remédios constitucionais, a CRFB
proporciona garantias que tem como propósito a realização do amparo, proteção e defesa dos
direitos fundamentais.

6.1 Remédios Constitucionais.

Os remédios constitucionais são mandamentos que visam proteger o indivíduo da violação ou


desrespeito a algum direito considerado fundamental. Os direitos fundamentais incluem: os
direitos individuais (art. 5º, CRFB/88), os direitos coletivos (art. 5º, CRFB/88), os direitos
sociais (art. 6º, CRFB/88), direito de nacionalidade (art. 12, CRFB/88) e direitos políticos (art.
14 a 17, CRFB/88). Cabe ao Poder Judiciário seu processamento e julgamento.
São eles: Habeas Corpus, Habeas Data, Mandado se Segurança, Mandado de Injunção, Ação
Popular.
a) Habeas Corpus: Sua impetração é cabível nos casos em que um direito de locomoção
estiver ameaçado, resultante de abuso de poder ou de ilegalidade. Não sendo cabível
em casos de punições disciplinares. Conforme preceitua a CRFB/88 em seu artigo 5º
“LXVII – Conceder-se à Habeas Corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na
iminência de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder.”

O Habeas Corpus é uma Ação Constitucional isenta de custas, cujo objetivo é evitar ou fazer
cessar violência ou ameaça na liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder
(contra atos de autoridade).
Convém ressaltar que a Pessoa Jurídica também poderá impetrar Habeas Corpus, mas,
deverá requerê-lo em favor de pessoa física, pois somente as pessoas físicas poderão ser
beneficiadas com este Remédio Constitucional.
b) Habeas Data: O Habeas Data tem a utilidade de assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes no registro ou nos bancos
de dados de entidades governamentais ou de caráter público. Atuando também para
retificação de dados, quando não prefira fazer em processo sigiloso, judicial ou
administrativo.

Assim como o Habeas Corpus, o Habeas Data é submetido aos benefícios da Justiça Gratuita.
Porém, poderá ser ajuizado tanto por pessoa física quanto por pessoa jurídica, ressaltando
que a pessoa física poderá ser brasileira ou estrangeira.

44
Tem caráter personalíssimo, só podem pleitear informações relativas ao próprio impetrante e
nunca de terceiros exceto se herdeiros ou cônjuge supérstite.
c) Mandado de Segurança: O Mandado de Segurança é o remédio constitucional que
poderá ser impetrado por pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual,
universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito líquido e certo não
amparado por Habeas Corpus ou Habeas Data (caráter residual). A CRFB/88 em seu
artigo 5º " LXIX – Conceder-se à Mandado de Segurança para proteger direito líquido
e certo, não amparado por Habeas Corpus ou Habeas Data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica
no exercício de atribuições do Poder Público."

Estão sujeitas a responder em Mandado de Segurança as autoridades judiciárias em caso de


praticarem atos administrativos ou proferirem decisões judiciais que lesem direito individual
ou coletivo, líquido e certo do impetrante.
Poderá o Mandado de Segurança ser repressivo, no caso de ilegalidade já cometida, ou
preventiva, quando ficar demonstrado o justo receio de sofrer violação de direito líquido e
certo por parte do impetrante.
O Mandado de Segurança é coletivo nas seguintes hipóteses:
Partido político com representação no Congresso Nacional.
Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos, um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados.
d) Mandado de Injunção: A CRFB/88 em seu artigo 5º “LXXI – Conceder-se a mandado
de injunção sempre que a falta da norma regulamentadora torne inviável o exercício
dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade,
à soberania e à cidadania”. Desta forma, o MI pressupõe a existência de nexo causal
entre a omissão normativa do poder público e a inviabilidade do exercício de direito,
liberdade ou prerrogativa.

Possuem legitimidade ativa para ajuizar o Mandado de Injunção qualquer pessoa cujo
exercício de direito, liberdade ou prerrogativa constitucional esteja sendo inviabilizado em
virtude da falta de norma regulamentadora da Constituição.
É possível o Mandado de Injunção coletivo, reconhecida a legitimidade para as associações
de classe devidamente constituídas. Quanto ao sujeito passivo este será sempre a pessoa
estatal.

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


e) Ação Popular: Funciona como uma forma de exercício do povo exercer a função
fiscalizatória. Poderá ser:

Preventiva: Se ajuizada antes da consumação


Repressiva: Se ajuizada com intuito de buscar o ressarcimento do dano causado.

Tem legitimidade ativa para propor Ação Popular o nacional que esteja no gozo de direitos
políticos, não cabe aos estrangeiros e aos partidos políticos. Desta forma, deverá ser cidadão
brasileiro (nato ou naturalizado), podendo ser também o português equiparado e no gozo dos
direitos políticos.

7. POLÍTICA NACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Em 13 de maio de 1996, o então presidente, Fernando Henrique Cardoso lançou oficialmente


o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), tornando o Brasil o terceiro país, depois
da Austrália e das Filipinas, a atender a recomendação da Conferência Mundial de Direitos
Humanos de Viena de preparar um plano de ação para proteção e promoção dos direitos
humanos.
O PNDH funcionou como uma declaração inequívoca do compromisso do Brasil com a
proteção e promoção dos direitos humanos de todas as pessoas que residem no, e transitam
pelo, território brasileiro. Com a colaboração da Universidade de São Paulo, através do Núcleo
de Estudos da Violência, o PNDH tornou-se documento de referência obrigatória para o
governo e a sociedade na luta pela consolidação da democracia e do estado de direito e pela
construção de uma sociedade mais justa.

7.1 PROGRAMAS NACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS (PNDH)

O PNDH é um programa do Governo Federal do Brasil, criado com base no art. 84, inciso IV,
da Constituição Federal de 1988, pelo Decreto nº 1904, de 13 de maio de 1996, “contendo
diagnóstico da situação desses direitos no País e medidas para a sua defesa e promoção”.
Atualmente já existem três versões do PNDH. As versões I e II forma publicadas durante o
governo Fernando Henrique, e a última, ou PNDH III, foi publicada no final de 2009, no
governo Lula. As propostas deverão ser discutidas pelo Congresso Nacional, a fim de que se
transformem em lei. Os programas tinham pontos focais:

46
a) PNDH-1
Tem por desígnio identificar os principais obstáculos à promoção e proteção dos direitos
humanos no Brasil, elegendo prioridades e apresentando propostas concretas de caráter
administrativo, legislativo e político-cultural que busquem equacionar os mais graves
problemas que hoje impossibilitam ou dificultam a sua plena realização. O PNDH é resultante
de um longo e muitas vezes penoso processo de democratização da Sociedade e do Estado
brasileiro.
b) PNDH-2
Ainda no Governo FHC foi implementada a 2ª parte do Programa Nacional de
Desenvolvimento Humano, o PNDH 2 incorpora ações específicas no campo da garantia do
direito à educação, à saúde, à previdência e assistência social, ao trabalho, à moradia, a um
meio ambiente saudável, à alimentação, à cultura e ao lazer, assim como propostas voltadas
para a educação e sensibilização de toda a sociedade brasileira com vistas à construção e
consolidação de uma cultura de respeito aos direitos humanos. Ademais, foram estabelecidas
novas formas de acompanhamento e monitoramento das ações contempladas no Programa
Nacional, baseadas na relação estratégica entre a implementação do programa e a
elaboração dos orçamentos em nível federal, estadual e municipal. O PNDH II deixa de
circunscrever as ações propostas a objetivos de curto, médio e longo prazo, e passa a ser
implementado por meio de planos de ação anuais, os quais deliberarão os meios a serem
utilizados, os recursos orçamentários destinados a financiá-las e os órgãos responsáveis por
sua execução.
c) PNDH-3
A terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), por meio do decreto
7.053/2009, apresenta a Política de Estado para os temas relativos a esta área, ao estabelecer
diretrizes, objetivos e ações para os anos seguintes. O objetivo do programa desenvolvido
pelo governo federal é dar continuidade à integração e ao aprimoramento dos mecanismos
de participação existentes e criar novos meios de construção e monitoramento das políticas
públicas sobre Direitos Humanos no Brasil. O PNDH-3 tem como diretriz a garantia da
igualdade na diversidade, com respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia
da laicidade do Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal. A ação que propõe a
criação de mecanismos que impeçam a ostentação de símbolos religiosos em
estabelecimentos públicos da União visa atender a esta diretriz. O programa é ainda
estruturado nos seguintes eixos orientadores:

47
Interação Universalizar
Democrática entre Desenvolvimento e Direitos em um
Estado e Sociedade Direitos Humanos Contexto de
Civil Desigualdades

Segurança Pública,
Educação e Cultura
Acesso à Justiça e Direito à Memória
em Direitos
Combate à e à Verdade
Humanos
Violência

1. Interação Democrática entre Estado e Sociedade Civil;


2. Desenvolvimento e Direitos Humanos;
3. Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades;
4. Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência;
5. Educação e Cultura em Direitos Humanos e
6. Direito à Memória e à Verdade
O programa prevê ainda Planos de Ação a serem construídos a cada dois anos, sendo fixados
os recursos orçamentários, as medidas concretas e os órgãos responsáveis por sua
execução.
O PNDH-3 foi precedido pelo PNDH-I, de 1996, que enfatizou os direitos civis e políticos, e
pelo PNDH-II, que incorporou os direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em
2002. A participação social na elaboração do programa se deu por meio de conferências,
realizadas em todos os estados do Brasil durante o ano de 2008, envolvendo diretamente
mais de 14 mil cidadãos, além de consulta pública.

QUESTÃO SOBRE O TEMA

(FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) Dentre as diretrizes da Política Nacional para
a População em Situação de Rua, segundo o previsto no Decreto nº 7.053/2009, está
A) o atendimento humanizado e universalizado.
B) a valorização e o respeito à vida e à cidadania.
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C) o respeito à dignidade da pessoa humana.
D) a integração dos esforços do poder público e da sociedade civil para sua execução.
E) a atualização constante da contagem oficial da população em situação de rua.
ALTERNATIVA D. Dentre as diretrizes da Política Nacional para a População em
Situação de Rua, segundo o previsto no Decreto nº 7.053/2009, está: Art. 6o São
diretrizes da Política Nacional para a População em Situação de Rua: V - integração dos
esforços do poder público e da sociedade civil para sua execução

8. SISTEMA DE MONITORAMENTO MULTILATERAL DE VIOLAÇÃO DOS


DIREITOS HUMANOS

8.1 Proteção internacional.


O sistema de proteção internacional aos direitos humanos teve início com a chamada
proteção diplomática, cuja origem se deu no sistema das cartas de represálias, sistema
em que aquele que sofreu algum dano em território estrangeiro apela para o Estado de
sua nacionalidade para que este exija a reparação do Estado responsável pelo dano.
Toda ordem jurídica se presume que os sujeitos de direito seja responsabilizados por
condutas que causem prejuízos aos direitos e interesses dos demais.
A partir desta premissa, a responsabilidade internacional dos Estados surge como
integrante conjunto de elementos que irão embasar o funcionamento de uma estrutura
orgânica para o bom funcionamento de relações jurídicas recíprocas.
Assim, o desenvolvimento da responsabilidade internacional do Estado por violação dos
direitos humanos não é feito através da proteção diplomática, mas sim, através do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, que fornece ao indivíduo um rol de direitos
internacionalmente consagrados e, ao mesmo tempo acesso a instâncias internacionais
para que seja averiguada a lesão a esses direitos.
8.2 Sistema de monitoramento multilateral de violação dos direitos humanos
Neste sistema estão presentes as petições individuais, as investigações motu próprio, as
comunicações interestatais e os relatórios periódicos.
a) Petições individuais: acusações elaboradas por pessoas, grupos de pessoas ou
organizações não governamentais sobre transgressões das regras dos direitos
humanos. Este mecanismo não esta presente em todos os tratados internacionais de
direitos humanos, sendo mecanismo de cunho facultativo. Insta pontuar, que algumas
regras necessitam de observação para o peticionamento: o caso não pode ser objeto
de analise por outra instancia, o exaurimento de todos os recursos internos dos
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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


Estados Partes para soluções das controvérsias, exceto em condições de demoras
injustificadas, não admissão de petição contendo denúncias por parte do Estado ou
ainda nos casos que os procedimentos internos não forem suficientes para sanar a
transgressão. É vedado o anonimato.
b) Investigações motu proprio: o órgão fiscalizador da violação, de ofício, poderá instituir
procedimento para verificar a existência da transgressão.
c) Comunicações interestatais: são mensagens elaboradas por um Estado informando
que outro não esta cumprindo os deveres contraídos por meio de um tratado
internacional. Este mecanismo não esta presente em todos os tratados internacionais
de direitos humanos, sendo mecanismo de cunho facultativo. A unidade examinadora
irá instituir um procedimento de conciliação e arbitragem para solução pacífica da
controvérsia, com a apresentação de um relatório sobre o caso.
d) Relatórios periódicos: são instrumentos que contem uma exposição das medidas
empregadas no plano interno de cada Estado com objetivo de demonstrar as ações
tomadas e os progressos alcançados em virtude dos compromissos contraídos com
assinatura de determinados tratados internacional. Um intervalo de tempo para envio
do documento será instituído no diploma a ser cumprido, e são obrigatórios. O objetivo
do relatório e fornecer informações ao órgão fiscalizador acerca do cumprimento do
tratado. Sua eficácia, por vezes é duvidosa, uma vez que o Estado poderá não revelar
uma transgressão às normas da convenção.

9. DOCUMENTOS DO SISTEMA DE PROMOÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


HUMANOS

O sistema global de proteção dos direitos humanos, da ONU, contém normas de alcance geral
e de alcance especial:
As normas de alcance geral e destinadas a todos os indivíduos, genérica e
abstratamente, tais como: os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
As normas de alcance especial são destinadas a indivíduos ou grupos específicos, tais
como: mulheres, refugiados, crianças entre outros. Dentre as normas especiais do
sistema global da ONU, destacam-se a Convenção contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, a Convenção para a

50
Eliminação da Discriminação contra a Mulher, a Convenção para a Eliminação de
todas as formas de Discriminação Racial e a Convenção sobre os Direitos da Criança.

Nos sistema global da ONU, o Brasil ratificou a maior parte dos instrumentos internacionais
de proteção aos direitos humanos, tais como o Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos, em 24/01/92; o Pacto de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, 24/01/92; a
Convenção para a Eliminação de toda a Discriminação contra a Mulher, em 01/02/84; a
Convenção para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, em 27/03/68; e a
Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24/09/90.

O Sistema Regional de Proteção aos Direitos Humanos: instrumentos de alcance geral e


especial. O sistema interamericano de proteção aos direitos humanos, do qual participam os
estados membros da OEA (Organização dos Estados Americanos), integra o sistema regional
de proteção juntamente com os sistemas europeu e a sistema africano.

O sistema interamericano de promoção dos direitos humanos teve início formal com a
aprovação da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem em 1948 na Colômbia.
A Declaração Americana é um instrumento de alcance geral que integra o sistema
interamericano, destinada a indivíduos genéricos e abstratos, estabelecendo os direitos
essenciais da pessoa independente de ser nacional de determinado Estado, tendo como
fundamento os atributos da pessoa humana. Além da Declaração Americana, há outros
instrumentos de alcance geral que fazem parte do sistema interamericano, como a Convenção
Americana sobre os Direitos Humanos ou “Pacto de San José”(1969), ratificada pelo Brasil
em 25/09/92.

Além dos instrumentos de alcance geral, os sistemas interamericano também é integrado por
instrumentos de alcance especial, tais como: a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

9.1 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos básicos das Nações
Unidas e foi assinada em 10 de dezembro de 1948, sob a forma de uma Resolução
(recomendação). O Brasil aderiu na mesma data. A Declaração possui duas características
principais: a universalidade e a indivisibilidade.
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A primeira característica está relacionada ao fato de que a Declaração se estende a todas as
pessoas, independentemente de procedência nacional, etnia, sexo, idade ou condição social.
No que tange à indivisibilidade, a Declaração não faz distinção entre os direitos em gerações,
conferindo a todos eles uma natureza indivisível.
Não obstante a Declaração não ser tecnicamente um tratado ou acordo que cria obrigações
legais, constitui uma consolidação do direito consuetudinário para o tema nas relações
exteriores.
No preâmbulo do documento é reconhecida a dignidade inerente a todos os membros da
família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis como fundamento da liberdade, da
justiça e da paz no mundo.
A Assembleia Geral, órgão que proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) afirma a necessidade de um ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas
as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade tenha sempre
em mente a referida Declaração, e pelo esforço por meio do ensino e da educação, promover
o respeito a esses direitos e liberdades, e, a adoção de medidas progressivas de caráter
nacional e internacional.
A DUDH possui 30 artigos e apresenta em seu bojo direitos que são costumeiramente
divididos em categorias:
Direitos Humanos de Primeira Geração, também conhecidos como direitos civis e
políticos (arts. I ao XXI). Dentre estes direitos estão no rol:
Todo ser humano com capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
na Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião,
opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou
qualquer outra condição.
Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou
internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território
independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de
soberania.
Todo ser humano com direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Todo ser humano com direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio
efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela
constituição ou pela lei.
Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente
até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público
no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

52
Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na
sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito
à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse
direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa
religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.
A vontade do povo será à base da autoridade do governo; essa vontade será expressa
em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo
equivalente que assegure a liberdade de voto.

Direitos Humanos de Segunda Geração, denominados direitos econômicos, sociais e


culturais (arts. XXII ao XXX). Dentre estes direitos estão no rol:
Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à
realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a
organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.
Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas
e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de
seus interesses.
Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas
de trabalho e a férias remuneradas periódicas.
Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus
elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no
mérito.
A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana
e do fortalecimento do respeito pelos direitos do ser humano e pelas liberdades
fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre
todas as nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das Nações
Unidas em prol da manutenção da paz.
Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada
a seus filhos.
Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de
qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


A Declaração Universal dos Direitos Humanos não apresenta sanções empregáveis à sua
violação, nem dispositivos para a efetividade dos direitos previstos, tampouco instrumentos
ou órgãos próprios destinados a tornar compulsória a sua aplicação, mas inseriu o indivíduo
como sujeito de direitos no âmbito internacional. Seu escopo reflete em diversos dispositivos
legais da Constituição Federal de 1988, em especial no art. 4º , 5 º e 6º.
Dentre os princípios que regem as relações internacionais no Estado Brasileiro (art. 4º)
encontram-se: prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, solução
pacífica dos conflitos, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e
concessão de asilo político.
Neste mesmo sentido, no art. 5º, no que tange aos direitos e garantias fundamentais, a Carta
Maior afirma que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
E no art. 6ª os direitos sociais também são previstos: a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.

9.2 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS / 1969 (“PACTO DE


SAN JOSÉ DA COSTA RICA”)

Aprovada na Conferência de São José da Costa Rica em 22 de novembro de 1969 entrando


em vigor internacional somente em 18 de julho de 1978, após o depósito do instrumento de
ratificação ou de adesão de onze Estados. A Convenção reproduz a maior parte das
declarações de direitos constantes do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, ou
seja, direitos de primeira geração. Dentre os direitos assegurados pela Convenção
Americana, cabe ao Estado-parte à obrigação de respeitar e assegurar o livre e pleno
exercício desses direitos e liberdades, sem qualquer discriminação.
Foram impostas obrigações positivas e negativas aos Estados. De um lado há a obrigação de
não violar direitos e obrigações dos indivíduos, e de outro, as obrigações positivas de adotar
medidas necessárias e razoáveis para assegurar o pleno exercício dos direitos garantidos
pela Convenção Americana.
A Convenção Americana estabelece monitoramento e implementação através da Comissão
Internacional de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana.

54
Comissão Interamericana de Direitos Humanos: Função principal a observância e defesa dos
direitos humanos e, no exercício de seu mandato, tem poderes para formular recomendações
aos governos dos Estados membros.
Corte Interamericana de Direitos Humanos: Possui atribuição consultiva e contenciosa, ou
seja, também é jurisdicional. Ela examina as comunicações que contem denúncias de
violação a direito consagrado pela convenção, por Estado que dela seja parte. Além disso, a
corte julga casos. As sentenças proferidas pela Corte Interamericana são definitivas e
inapeláveis.
O Brasil somente ratificou sua adesão ao Pacto de San José da Costa Rica em 25 de setembro
de 1992, por decreto-legislativo, depositando a respectiva Carta de Adesão no dia 6 de
novembro do mesmo ano, pelo Decreto n. 678/1992, de 6 de novembro de 1992. A
morosidade em ratificar a Convenção Americana de Direitos Humanos no Brasil ocorreu em
decorrência do regime ditatorial, que vigorava na época.
Ao ratificar a Convenção Americana, o Brasil aceitou compulsoriamente a competência da
Comissão para receber denúncias de casos individuais de violações de direitos humanos.
Assim, no caso do Brasil, até o presente, o único órgão internacional que têm competência
para aceitar denúncias de casos individuais; e a Comissão Interamericana conforme
estabelece a Convenção Americana no seu artigo 44: “Qualquer pessoa ou grupo de pessoas,
ou entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros
da Organização, pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas
de violação desta Convenção por um Estado-parte.”
Além do recebimento de denúncias, a Comissão tem duas funções: promover e estimular em
termos gerais os direitos humanos através da elaboração de relatórios gerais; elaborar
estudos e relatórios sobre a situação dos direitos humanos nos países membros da OEA;
realizar visitas in loco aos países membros e, apresentar um Relatório Anual na qual são
reproduzidos relatórios finais dos casos concretos, nos quais já houve uma decisão sobre a
responsabilidade internacional dos países denunciados. A publicação de um relatório final no
Relatório Anual da Comissão divulgado para os Estados membros da Assembleia Geral da
OEA é a sanção mais forte a que pode estar submetido um Estado, que ainda não tenha
reconhecido a competência da jurisdição da corte Interamericana, proveniente do sistema
interamericano.
A Corte Interamericana, diferentemente da Comissão, é um órgão de caráter jurisdicional, que
foi criado pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos com o objetivo de supervisionar
o seu cumprimento, como função complementar a função conferida pela mesma a Comissão.

55
Assim, a legitimidade processual para o envio de casos para a Corte é somente concedida
para a Comissão os Estado-parte, não sendo permitido o envio de casos pelas próprias
vítimas de violações, seus representantes, familiares ou pelas organizações não
governamentais. Para que os casos não sejam encaminhados à Corte primeiramente terão
que passar pelo exame da Comissão, esgotando o seu procedimento:
“Art. 61-1. Somente os Estados-parte e a Comissão têm direito de submeter um caso à
decisão da Corte”.
“Art. 62-1. Todo Estado-parte pode, no momento do depósito de seu instrumento de ratificação
desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que
reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convenção especial, a competência da
Corte em todos os casos relativos à interpretação ou aplicação desta Convenção.”
A Corte possui duas funções principais: a função contenciosa, que é a análise dos casos
individuais de violações de direitos humanos encaminhados pela Comissão ou pelos Estados-
parte; e a função consultiva. A sua função consultiva refere-se a sua capacidade para
interpretar a Convenção e outros instrumentos internacionais de direitos humanos. Qualquer
dos Estados partes da OEA podem solicitar à Corte uma opinião consultiva, mesmo os que
não são partes na Convenção Americana ou outros órgãos enumerados no Capítulo X da
Carta da Organização, conforme o artigo 64 da Convenção Americana.
A função consultiva da Corte foi usada com mais frequência nos seus primeiros anos de
funcionamento, e as Opiniões Consultivas versaram sobre temas como: os limites de sua
autoridade; os limites das ações dos Estados; discriminação; habeas corpus; garantias
judiciais; pena de morte; responsabilidade do Estado, entre outros temas cruciais para a
efetiva proteção dos direitos humanos.

9.2.1 Principais destaques da Convenção Americana

Proteção do direito à vida desde o momento da concepção;


Prisão civil apenas ao devedor de alimentos;
Liberdade de atividade empresarial em matéria de imprensa, rádio e televisão;
Defesa do direito ao nome;
Vedação a todas as formas de exploração do homem pelo homem.

Adicionalmente em 1988 foi editado um protocolo adicional ao Pacto denominado Protocolo


de San Salvador, por meio deste documento foram inseridos direitos sociais de segunda
geração. Dentre eles: direitos trabalhistas (trabalho, salário justo, condições favoráveis e
direito à greve); direitos de proteção (maternidade, direitos da criança e do adolescente,
56
idosos e pessoas com deficiência); direitos de subsistência (saúde, meio ambiente saudável,
previdência social e alimentação); direitos culturais (educação, liberdade aos pais para
escolher o modelo de instrução que será ministrada aos seus filhos).
Assim, quando da sua primeira edição em 1969 o Pacto de San José da Costa Rica previu
direitos de primeira geração, o protocolo de San Salvador em 1988 ampliou este rol com a
adição dos direitos de segunda geração.

9.2.2 O Pacto e a prisão por dívidas


Para o Pacto “Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandatos de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar.”
Apesar da Convenção somente permitir a prisão por dívidas, no caso de inadimplemento de
obrigação alimentar, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso LXVII,
estabelece que “[...] não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo
inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”
(BRASIL, 1988). Assim, observa-se um aparente conflito de normas, que no sistema jurídico
brasileiro tem sido decidido pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que o dispositivo
constitucional não foi revogado, deixando apenas de ser aplicado, em decorrência do efeito
paralisante estabelecido pelo Pacto de San José da Costa Rica, em relação à matéria
infraconstitucional (SANTOS JÚNIOR, 2015). É o chamado efeito paralisante dos tratados
internacionais dos direitos humanos.
Observa-se que, em que pese, o Pacto de San José da Costa Rica admite de forma
excepcional a prisão civil por inadimplemento de a obrigação alimentar, é omisso quanto à
prisão civil do depositário infiel, permitida pela Constituição Federal de 1988.
A fim de sanar essa controvérsia, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula Vinculante nº
25, a qual prevê que “[...] é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito” (BRASIL, 2015).

9.2.3 Precedentes Representativos

(...) diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção
dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico,
por meio do procedimento de ratificação previsto na CF/1988, tem o condão de paralisar a
eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante.
Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da CF/1988 sobre os atos
normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (art. 5º,
57

MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


LXVII) não foi revogada (...), mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante
desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (...).
Tendo em vista o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação
infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem sua eficácia paralisada.
(...) Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao PIDCP (art. 11) e à CADH — Pacto
de São José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base legal para aplicação da parte final do
art. 5º, LXVII, da CF/1988, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel. [RE 466.343, rel.
min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar Mendes, P, j. 3-12-2008, DJE 104 de 5-6-2009, Tema
60.]
A matéria em julgamento neste habeas corpus envolve a temática da (in)admissibilidade da
prisão civil do depositário infiel no ordenamento jurídico brasileiro no período posterior ao
ingresso do Pacto de São José da Costa Rica no direito nacional. 2. Há o caráter especial do
PIDCP (art. 11) e da CADH — Pacto de São José da Costa Rica (art. 7º, 7), ratificados, sem
reserva, pelo Brasil, no ano de 1992. A esses diplomas internacionais sobre direitos humanos
é reservado o lugar específico no ordenamento jurídico, estando abaixo da CF/1988, porém
acima da legislação interna. O status normativo supralegal dos tratados internacionais de
direitos humanos subscritos pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com
ele conflitante, seja ela anterior ou posterior ao ato de ratificação. 3. Na atualidade a única
hipótese de prisão civil, no Direito brasileiro, é a do devedor de alimentos. O art. 5º, § 2º,
da Carta Magna expressamente estabeleceu que os direitos e garantias expressos
no caput do mesmo dispositivo não excluem outros decorrentes do regime dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte. O Pacto de São José da Costa Rica, entendido como um tratado internacional em
matéria de direitos humanos, expressamente, só admite, no seu bojo, a possibilidade de
prisão civil do devedor de alimentos e, consequentemente, não admite mais a possibilidade
de prisão civil do depositário infiel. 4. Habeas corpus concedido. [HC 95.967, rel. min. Ellen
Gracie, 2ª T, j. 11-11-2008, DJE 227 de 28-11-2008.]

9.2.4 Tese de Repercussão Geral

É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito.
[Tese definida no RE 466.343, rel. min. Cezar Peluso, P, j. 3-12-2008, DJE 104 de 5-6-
2009, Tema 60.]
O Plenário desta Corte, no julgamento conjunto dos HC 87.585 e HC 92.566, relator o ministro
Marco Aurélio, e dos RE 466.343 e RE 349.703, relatores os ministros Cezar Peluso e Carlos
Britto, sessão de 3-12-2008, fixou o entendimento de que a circunstância de o Brasil haver

58
subscrito o Pacto de São José da Costa Rica conduziu à inexistência de balizas visando à
eficácia do que previsto no art. 5º, LXVII, da CF/1988, restando, assim, derrogadas as normas
estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel.
[RE 716.101, rel. min. Luiz Fux, dec. monocrática, j. 31-10-2012, DJE 220 de 8-11-2012.]
(...) impende enfatizar — quanto ao outro fundamento do recurso em questão — que a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que inexiste, em nosso
sistema jurídico, a prisão civil do depositário infiel, inclusive a do depositário judicial a quem
se haja atribuído infidelidade depositária (...). Essa orientação, por sua vez, acha-se
contemplada em súmula desta Suprema Corte revestida de eficácia vinculante (Súmula
Vinculante 25) (...). [AI 277.940, rel. min. Celso de Mello, dec. monocrática, j. 31-5-
2011, DJE 111 de 10-6-2011.]

9.2.5 Jurisprudência selecionada


Status supralegal dos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
Esse caráter supralegal do tratado devidamente ratificado e internalizado na ordem jurídica
brasileira — porém não submetido ao processo legislativo estipulado pelo art. 5º, § 3º,
da CF/1988 — foi reafirmado pela edição da Súmula Vinculante 25, segundo a qual “é ilícita
a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito”. Tal verbete
sumular consolidou o entendimento deste Tribunal de que o art. 7º, item 7, da CADH teria
ingressado no sistema jurídico nacional com status supralegal, inferior à CF/1988, mas
superior à legislação interna, a qual não mais produziria qualquer efeito naquilo que
conflitasse com a sua disposição de vedar a prisão civil do depositário infiel. Tratados e
convenções internacionais com conteúdo de direitos humanos, uma vez ratificados e
internalizados, ao mesmo passo em que criam diretamente direitos para os indivíduos,
operam a supressão de efeitos de outros atos estatais infraconstitucionais que se contrapõem
à sua plena efetivação. [ADI 5.240, voto do rel. min. Luiz Fux, P, j. 20-8-2015, DJE 18 de 1º-
2-2016.]
Pedido de revisão da Súmula Vinculante 25 (...) para admitir-se a revisão ou o cancelamento
de súmula vinculante, é necessário que seja evidenciada a superação da jurisprudência da
Suprema Corte no trato da matéria; haja alteração legislativa quanto ao tema ou, ainda,
modificação substantiva de contexto político, econômico ou social. Entretanto, a proponente
não evidenciou, de modo convincente, nenhum dos aludidos pressupostos de admissão e,
ainda, não se desincumbiu da exigência constitucional de apresentar decisões reiteradas do
Supremo Tribunal Federal que demonstrassem a necessidade de alteração do teor redacional

59
da Súmula Vinculante 25, o que impossibilita a análise da presente proposta. [PSV 54, rel.
min. presidente Ricardo Lewandowski, P, j. 24-9-2015, DJE 199 de 5-10-2015.
Ademais, o STJ sumulou seu entendimento, publicando a Súmula 419 do Superior Tribunal
de Justiça, a qual estabelece que “(...) descabe a prisão civil do depositário judicial infiel”.
Para Porto (2011, p. 115-116) “a prisão do devedor de alimentos não é pena, mas meio
coercitivo de execução que visa compelir o devedor ao pagamento da dívida alimentícia e não
simplesmente puni-lo, tanto que pagando o devedor a prisão será levantada”.

9.2.6 O Pacto e a Pena de Morte


Para o Pacto de San José da Costa Rica a pena de morte poderá ser admitida mas seguindo
regras estabelecidas. São elas:
Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido
pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da
vida arbitrariamente.
Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta
pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente
e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antes de haver o
delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aos quais não
se aplique atualmente.
Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.
Não se deve impor a pena de morte à pessoa que, no momento da perpetração do
delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulher em
estado de gravidez.
Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos, nem a delitos
comuns conexos com delitos políticos.
Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos, nem por
delitos comuns conexos com delitos políticos.

9.3 PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS


Inicialmente elaborado em 1949, pós Segunda Guerra Mundial, e finalizado em 1966 pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas. Entrou em vigor em 1976, após
alcançar o número máximo de ratificações.
Trata-se de um diploma voltado aos indivíduos divido em duas seções: a primeira elenca os
direitos fundamentais e a segunda é referente á estrutura normativa, que é o monitoramento
à sua implementação dentro dos Estados Partes.
60
Ressalta-se que seus direitos são autoaplicáveis e que estão sujeitos á cobrança imediata,
por meio de um Comitê que recebe as denúncias de suas violações e toma as medidas
cabíveis ao Estado que ratificou o Pacto.
De acordo com o Pacto, os Estados Partes que administrem ou mantenham territórios ou
povos não autônomos devem empreender esforços para estimular o seu direito à
autodeterminação.
Dentre alguns pontos do Pacto, estão:
Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito, determinam
livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu desenvolvimento
econômico, social e cultural.
Os Estados Partes comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no
gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente Pacto.
Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas
oficialmente, os Estados Partes do Pacto podem adotar, na estrita medida exigida pela
situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto,
desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes
sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma
apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
Ninguém poderá ser submetido á escravidão; a escravidão e o tráfico de escravos, em
todos as suas formas, ficam proibidos.
Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser
preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de liberdade, salvo
pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela
estabelecidos.
Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser
posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não
deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias
que assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos
do processo e, se necessário for, para a execução da sentença.
As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com
sua condição de pessoa não condenada.

61

MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma
e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser
separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição
jurídica.
Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação
contratual.
Um estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado Parte do presente
Pacto só poderá dele ser expulso em decorrência de decisão adotada em
conformidade com a lei e, a menos que razões imperativas de segurança nacional a
isso se oponham, terá a possibilidade de expor as razões que militem contra sua
expulsão e de ter seu caso reexaminado pelas autoridades competentes, ou por uma
ou varias pessoas especialmente designadas pelas referidas autoridades, e de fazer-
se representar com esse objetivo.
Toda pessoa terá direito a liberdade de pensamento, de consciência e de religião.
Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua
escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença, individual ou coletivamente,
tanto pública como privadamente, por meio do culto, da celebração de ritos, de práticas
e do ensino.
Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de
procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza,
independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em
forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha.
O direito de reunião pacifica será reconhecido. O exercício desse direito estará sujeito
apenas às restrições previstas em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade
democrática, no interesse da segurança nacional, da segurança ou da ordem pública,
ou para proteger a saúde ou a moral pública ou os direitos e as liberdades das demais
pessoas.
Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o direito de
construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus interesses.

9.3.1 O Pacto e o direito da pessoa acusada


Nos termos do Pacto Internacional dos direitos civis e políticos todas as pessoas são iguais
perante os tribunais e as cortes de justiça e possuem o direito de ser ouvida publicamente e
com devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial. Para tanto
garante:

62
Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos,
as seguintes garantias: de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda
e de forma minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;
de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a
comunicar-se com defensor de sua escolha; de ser julgado sem dilações indevidas;
de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio de
defensor de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que
lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor
designado ex-offício gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; de interrogar
ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e de obter o comparecimento e o
interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições de que dispõem as
de acusação; de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda
ou não fale a língua empregada durante o julgamento; de não ser obrigada a depor
contra si mesma, nem a confessar-se culpada.

9.3.2 O Pacto e a Pena de Morte


O Pacto dentro do sistema global de direitos humanos admite a pena de morte mediante a
observância e cumprimento de regras pré-estabelecidas:
O direito à vida é inerente à pessoa humana. Esse direito deverá ser protegido pela
lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta
apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na
época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições
do presente Pacto, nem com a Convenção sobra a Prevenção e a Punição do Crime
de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença
transitada em julgado e proferida por tribunal competente.
Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que nenhuma
disposição do pacto autorizará qualquer Estado Parte do presente Pacto a eximir-se,
de modo algum, do cumprimento de qualquer das obrigações que tenham assumido
em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime
de Genocídio.

63
Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A
anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido em todos os casos.
A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas
menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez.
Não se poderá invocar disposição alguma do dispositivo do Pacto para retardar ou
impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do Pacto.

Ademais, estabelece através de um protocolo facultativo que a pena de morte é proibida em


qualquer hipótese, exceto mediante reserva formulada pelo Estado-parte, no ato de ratificação
do tratado, relacionada à sua aplicação apenas em tempo de guerra em virtude de
condenação por infração penal de natureza militar de gravidade extrema.

9.3.4 O Pacto de São José da Costa Rica e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e
Políticos: proteção do domicílio contra ingerências arbitrárias

Foi entendimento da Suprema Corte, 2016:


Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso forçado em casa sem determinação
judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A inexistência de controle judicial, ainda
que posterior à execução da medida, esvaziaria o núcleo fundamental da garantia contra a
inviolabilidade da casa (art. 5, XI, da CF) e deixaria de proteger contra ingerências arbitrárias
no domicílio (Pacto de São José da Costa Rica, art. 11, 2, e Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos, art. 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre tanto da interpretação da
Constituição quanto da aplicação da proteção consagrada em tratados internacionais sobre
direitos humanos incorporados ao ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter
judicial que se incorporam à cláusula do devido processo legal. (...) A entrada forçada em
domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária. Não será a constatação
de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que justificará a medida. Os agentes estatais
devem demonstrar que havia elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa)
para a medida. Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado
judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões,
devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de
flagrante delito, sob pena d e responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade dos atos praticados. [RE 603.616, rel. min. Gilmar Mendes, j. 5-11-
2015, P, DJE de 10-5-2016, rg.]

64
9.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS.

O Pacto foi elaborado em 1949, pós Segunda Guerra Mundial e finalizado em 1966 pela
Assembleia Geral das Organizações Unidas. Reconhece direitos e deveres da Declaração
Universal dos Direitos Humanos de 1948, detalhando-a e estendendo seu rol de direitos.
Trata-se de um diploma voltado aos Estados.
Dentre seus artigos, as referências são:
Autodeterminação dos povos;
Livre disposição dos seus recursos naturais e riquezas;
Compromisso dos estados de implementar os direito previstos;
Os direitos propriamente ditos;
Mecanismo de supervisão por meio da apresentação de relatórios ao Comitê;
Normas referentes à sua ratificação e entrada em vigor.

Possui em seu bojo os chamados direitos de segunda geração, mencionados na referida


Declaração de Direitos, dentre eles:
Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor livremente de
suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes
da cooperação econômica internacional, baseada no princípio do proveito mútuo, e do
Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo ser privado de seus próprios
meios de subsistência.
Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os direitos
humanos e a situação econômica nacional, poderão determinar em que garantirão os
direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto àqueles que não sejam seus
nacionais.
Reconhecimento do direito ao trabalho, que compreende o direito de toda pessoa de
ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou
aceito, e tomarão medidas apropriadas para salvaguardar esse direito.
Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e fundamental da sociedade, as
mais amplas proteção e assistência possíveis, especialmente para a sua constituição
e enquanto ele for responsável pela criação e educação dos filhos. O matrimônio deve
ser contraído com o livre consentimento dos futuros cônjuges.
Reconhecimento do direito de toda pessoa a um nível de vida adequando para si
próprio e sua família, inclusive à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


como a uma melhoria continua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão
medidas apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo,
nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada no livre
consentimento.

9.4.1 O Pacto e o direito ao trabalho

O Pacto Internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais em relação ao trabalho


reconhece o direito de toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis,
que assegurem especialmente: uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os
trabalhadores; um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual valor,
sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a garantia de condições de
trabalho não inferiores às dos homens e perceber a mesma remuneração que eles por
trabalho igual; uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com as
disposições do presente Pacto; igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu
Trabalho, à categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as de
tempo de trabalho e capacidade; o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de
trabalho e férias periódicas remuneradas, assim como a remuneração dos feridos; o direito
de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país; o direito de toda pessoa de
fundar com outras, sindicatos e de filiar-se ao sindicato de escolha, sujeitando-se unicamente
aos estatutos da organização interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus
interesses econômicos e sociais.

9.4.2 O Pacto e o direito à educação

No que tange à educação dispõe que a educação deverá visar ao pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do sentido de sua dignidade e fortalecer o respeito pelos direitos
humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda em que a educação deverá capacitar
todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão,
a tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais, étnicos ou
religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. Para
tanto reconhece as seguintes garantias:

A educação primaria deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a todos;


A educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação secundária
técnica e profissional, deverá ser generalizada e torna-se acessível a todos, por todos

66
os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino
gratuito;
A educação de nível superior deverá igualmente torna-se acessível a todos, com base
na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela
implementação progressiva do ensino gratuito;
Dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de base para
aquelas pessoas que não receberam educação primaria ou não concluíram o ciclo
completo de educação primária;
Será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede escolar em todos
os níveis de ensino, implementar-se um sistema adequado de bolsas de estudo e
melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.

9.5 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS


DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL
O documento foi adotado pela Organização das Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965.
Entrando em vigor internacional em 4 de janeiro de 1969.
Teve como fundamento as disposições da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que
define como objetivo que todas as pessoas têm capacidade para gozar dos direitos e
liberdades fundamentais nela consagrados.
Elenca medidas especiais que tem como objetivo assegurar o progresso adequado de certos
grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitam da proteção que possa ser
necessária para proporcionar igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades
fundamentais, desde que não constituam a segregação e não prossigam após ter alcançado
seus desígnios.
Dentre seus objetivos preambulares: eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas
as suas formas e manifestações, e a prevenir e combater doutrinas e práticas raciais com o
objetivo de promover o entendimento entre as raças e construir uma comunidade internacional
livre de todas as formas de separação racial e discriminação racial, e o convencimento de que
qualquer doutrina de superioridade baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa,
moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em que, não existe justificação para
a discriminação racial, em teoria ou na prática, em lugar algum.
A Convenção ainda conceitua a expressão “discriminação racial” como qualquer distinção,
exclusão restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional
ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
exercício num mesmo plano, em igualdade de condição, de direitos humanos e liberdades

67
fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de
vida pública.
Estabelece ainda um Comitê para a eliminação da discriminação racial composto de 18 peritos
conhecidos para sua alta moralidade e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos
Estados Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título individual, levando-se em conta
uma repartição geográfica equitativa e a representação das formas diversas de civilização
assim como dos principais sistemas jurídicos. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia
Geral, um relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e recomendações de
ordem geral baseadas no exame dos relatórios e das informações recebidas dos Estados
Partes. Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao conhecimento da
Assembleia Geral, e se as houver juntamente com as observações dos Estados Partes.
No Brasil, foi assinada em 7 de março de 1966 e ratificada em 1968, sem reservas,
promulgada em 1969 pelo decreto 65.810.
Em virtude de sua magnitude a convenção estabelece um viés fundamentalista na nossa
Constituição que normatiza o crime de racismo como imprescritível e inafiançável, sujeito a
pena de reclusão. Regulamentado pela lei 7.716/1989.

9.6 CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS


DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA MULHER
Adotada pela Organização das Nações Unidas em 18 de dezembro de 1979. Dentre seus
principais objetivos encontra-se erradicar qualquer forma de diferenciação, segregação,
intolerância ou preconceito contra mulher, assegurando a igualdade de oportunidades.
A Convenção ainda conceitua a expressão "discriminação contra a mulher" como toda
distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado
prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente
de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em
qualquer outro campo.
Um número significativo de reservas concentrou-se na cláusula que diz respeito à igualdade
entre homens e mulheres na família. Tais reservas foram justificadas baseadas na ordem
religiosa, cultural ou mesmo legal, havendo países, como Bangladesh e Egito, que acusaram
o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher de praticar “imperialismo
cultural e intolerância religiosa”, ao infundir a ideia de igualdade entre homens e mulheres, até
mesmo na família.

68
Dentre as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de
assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na esfera da educação e em particular
para assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres, estão:
Capacitação profissional
Acesso aos estudos e obtenção de diplomas e certificados
A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em
todos os níveis e em todas as formas de ensino
As mesmas oportunidades de acesso aos programas de educação e bolsas
As mesmas oportunidades para participar ativamente nos esportes e na educação
física

No Brasil foi ratificada em 1 de fevereiro de 1984, quando a Convenção já contava com a


adesão de 186 Estados, e promulgada em 13 de setembro de 2002 pelo decreto 4.377.

9.7 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR E ERRADICAR A


VIOLÊNCIA CONTRA MULHER (“CONVENÇÃO DE BELÉM DO PARÁ”).

Adotada em Belém do Pará, Brasil, em 9 de junho de 1994 e incorporada por meio do decreto
nº 1.973/1996. A Convenção em tela entrou em vigor internacional em 3 de março de 1995.
Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato
ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada.
E aduz que toda mulher poderá exercer livre e plenamente seus direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais, e contará com a total proteção desses direitos consagrados
nos instrumentos regionais e internacionais sobre direitos humano. Os Estados Partes
reconhecem que a violência contra a mulher impede e anula o exercício desses direitos.
A Convenção de Belém do Pará é reconhecida como o primeiro tratado internacional de
proteção dos direitos humanos das mulheres a reconhecer expressamente a violência contra
a mulher como um problema sistêmico, estrutural e generalizado na sociedade.

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9.8 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS
CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES.

A Convenção foi adotada pela Organização das Nações Unidas em 28 de setembro de 1984.
Em 2010 já contava com adesão de mais de 146 Estados. Sua ratificação no Brasil deu-se
em 28 de setembro de 1989 e incorporada por meio do decreto 40/91.
No bojo da Convenção são consagrados direitos, dentre eles a proteção contra atos de tortura
e outras formas de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, além do direito de não
ser extraditado ou expulso para um país em que a probabilidade de sofrer a pena de tortura
seja grande. Ainda garante o direito de que a denúncia de tortura seja examinada
imparcialmente e o direito a não ser torturado para fins de obtenção de provas ilícitas.
Em seu art. 1º o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos,
físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de
uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira
pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa
ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza;
quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam
consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou
delas decorram.
Ademais, em seu art. 2º garante que em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias
excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer
outra emergência pública como justificação para tortura.
O documento prevê a jurisdição compulsória e universal para os indivíduos suspeitos da
prática de tortura. É assim considera compulsória, pois obriga os Estados membros a punir
os torturadores, independente do território no qual ocorreu a violação e da nacionalidade do
violador e da vítima. Universal porque o Estado-parte onde se encontre o suspeito deverá
processá-lo ou extraditá-lo para outro Estado também signatário que o solicite e tenha esse
direito, independentemente de acordo prévio bilateral sobre extradição.

9.9 REGRAS MÍNIMAS DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O TRATAMENTO DOS PRESOS

Adotadas pelo 1º Congresso das Nações Unidas sobre Prevenção do Crime e Tratamento de
Delinquentes, realizado em Genebra, em 1955, e aprovadas pelo Conselho Econômico e
70
Social da ONU através da sua resolução 663 C I (XXIV), de 31 de julho de 1957, aditada pela
resolução 2076 (LXII) de 13 de maio de 1977. Em 25 de maio de 1984, através da resolução
1984/47, o Conselho Econômico e Social aprovou treze procedimentos para a aplicação
efetiva das Regras Mínimas.
Reconhece a Convenção que nem todas as regras poderão ser aplicadas de forma indistinta
e permanentemente pelos Estados, tendo em vista as diferentes condições legais, sociais,
econômicas e geográficas do mundo, e admite que sejam adotadas novas práticas, desde
que se ajustem aos princípios que informaram a adoção das regras.
O objetivo das regras não é descrever detalhadamente um sistema penitenciário modelo, mas
apenas estabelecer - inspirando-se em conceitos geralmente admitidos em nossos tempos e
nos elementos essenciais dos sistemas contemporâneos mais adequados - os princípios e as
regras de uma boa organização penitenciária e da prática relativa ao tratamento de
prisioneiros.
As regras que se seguem deverão ser aplicadas imparcialmente. Não haverá discriminação
alguma baseada em raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou qualquer outra opinião,
origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou em qualquer outra situação.

9.10 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS


DE DISCRIMINAÇÃO CONTRAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
A Convenção foi incorporada pelo Brasil por meio do Decreto nº 3.956 de 8 de outubro de
2001. A Convenção tem por objetivo prevenir e eliminar todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua plena integração à sociedade.
Assegura a Convenção que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e
liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não
ser submetidas a discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da
igualdade que são inerentes a todo ser humano.
De forma a garantir a erradicação da discriminação em razão de deficiência, obriga os Estados
a adotar medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer outra
natureza, para proporcionar a integração da pessoa com deficiência à sociedade.

9.11 ESTATUTO DE ROMA (TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL)

O Tribunal Penal Internacional foi criado por meio de um tratado internacional denominado
Estatuto de Roma, diferente dos tribunais de exceção que surgem mediante resolução do
Conselho de Segurança das Nações Unidas.

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O Estatuto de Roma é um tratado multilateral (stricto sensu) de caráter normativo, estático,
territorial absoluto e aberto ilimitado.
O Estatuto de Roma não é um produto imutável. Ele pode passar por atualizações com fins
de aprimoramento ao longo do tempo. Qualquer Estado-Parte pode pedir a revisão e a
mudança do documento, desde que esse empreendimento respeite os artigos relacionados à
possibilidade de alterações.
Em geral, o Tribunal Penal Internacional (TPI) atua quando os tribunais nacionais não
conseguem ou não desejam realizar os processos criminais. Sendo assim, a formação desse
foro internacional geralmente se justifica como um último recurso. De acordo com o preâmbulo
do decreto brasileiro nº 4388 de 2002, que promulga a adesão brasileira às normas
do Estatuto de Roma, ficam claras duas questões: este documento considera um dever de
cada Estado, desde que este seja um Estado-Parte, realizar sua jurisdição penal frente a um
crime considerado internacional. Ao mesmo tempo, deixa claro que o TPI tem uma função
complementar aos tribunais nacionais de cada Estado membro.
Esse Tribunal julga basicamente quatro tipos de crimes, em conformidade com o artigo 5°
do Estatuto de Roma.

9.11.1 Crimes de genocídio

Esse tipo de Crime é o mais claro de se definir. Tentativas de genocídio ocorrem quando
existe um ataque disposto a destruir, total ou parcialmente, um grupo definido por sua
nacionalidade, por sua etnia, por sua raça ou por suas práticas religiosas. Dentre eles:

O primeiro diz respeito aos homicídios atentados contra um grupo. Por exemplo,
tentativas de assassinato contra um grupo de cristãos ou muçulmanos, por sua crença
religiosa, significando uma perseguição seguida de tentativa de destruição de vidas.
Quando houver atentados graves contra as condições física ou mental de um
determinado grupo de pessoas;
Quando ocorrerem tentativas de transferência de crianças forçosamente de um grupo
para outro. Por exemplo: organizações voltadas para o roubo e venda/doação de
crianças recém-nascidas.
Tentativas impostas com o intuito de impedir o nascimento de indivíduos. Por exemplo:
sistemas organizados clandestinamente para abortos.
Submeter um grupo de pessoas a condições de vida que irão destruí-las fisicamente,
até a morte ou não. Por exemplo, escravizar pessoas ou obrigá-las a trabalhos em
locais insalubres.

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9.11.2 Crimes contra a humanidade

Esses correspondem a atos de homicídio, de extermínio, de escravidão, de transferência


forçada de uma população, prisões ilegais que violam o Direito Internacional, quaisquer
espécies de tortura, desaparecimentos de pessoas, crimes de Apartheid e crimes
relacionados a práticas sexuais não consentidas: estupros, escravidão sexual, gravidez
forçada, prostituições forçadas, ou qualquer forma de esterilizações não consentidas.

9.11.3 Crimes de guerra

O Estatuto de Roma compreende como Crimes de guerra aquelas ações que atentam contra
a Convenção de Genebra, estabelecidas em 12 de agosto de 1949. A lista de crimes nesta
modalidade é extensa, porém podemos colocar aqui alguns exemplos: privar um prisioneiro
de guerra de um julgamento justo e imparcial; deportações ou transferências ilegais; atacar
intencionalmente populações civis em geral em conflitos armados; atacar com o objetivo de
destruir os bens de uma população civil, ou seja, que não mantêm relação com a esfera militar,
como residências, estabelecimentos comerciais, praças, parques, estádios; ferir um
combatente que tenha deposto armas ou, impossibilitado de se defender, decidiu pela
rendição; causar a morte de cidadãos ou militares do país inimigo com base em traição.

9.11.4 Crimes de agressão

No caso deste tipo de crime, as disposições para o julgamento devem estar de acordo com
a Carta das Nações Unidas, estabelecida na Assembleia, em 1974.

Lendo o documento definido em Roma, nota-se que os três tipos de crimes mostrados
anteriormente estão claramente definidos em seus artigos. Porém, esta quarta modalidade de
crime não. O Brasil foi um dos países que incentivou a revisão do Estatuto de Roma – e esse
tipo de iniciativa é perfeitamente possível. O resultado dessa reunião foi uma emenda
concluída na Conferência de Campala, na Uganda. Nessa definição, afirma-se que um crime
de agressão existe quando uma pessoa ou grupo de pessoas com capacidade de controlar
as forças armadas de uma nação planejam e/ou instituem um ataque a outro país,
prejudicando sua independência política, sua condição territorial, ou abalando sua soberania.
Em outras palavras, quando a Carta das Nações Unidas é violada em algum grau, ocorre um
ato de agressão.

Todos os crimes definidos pelo Estatuto de Roma não “vencem”, como costumamos dizer.
Estamos acostumados a ver, principalmente aqui no Brasil, casos em que, com a demora da
justiça, os crimes prescrevem ao passar de alguns anos. Uma vez que o crime é definido
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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


como internacional, passa a valer a regra da imprescritibilidade. Assim, mais cedo ou mais
tarde, o processo criminal irá ocorrer.

Até hoje, apenas 21 casos foram examinados pelo Tribunal Penal Internacional. Todos eles
são referentes a países africanos. Até 2014, houve apenas duas condenações. Isso
demonstra que a grande maioria das ocorrências são realmente investigadas em nível
nacional, sem apelo ao foro internacional.

9.11.5 Precedentes Históricos

O Senegal foi o primeiro Estado a ratificar o tratado internacional em 1999. No dia 11 de abril
de 2002 foram alcançadas 60 ratificações, tendo sido, assim, superada a condição necessária
para que o Tribunal Penal Internacional fosse efetivado. Entrando em vigor internacional em
1º de julho de 2002.
O Estatuto de Roma do TPI foi aprovado por 120 Estados e teve sete votos contrários: Estados
Unidos, China, Índia, Israel, Filipinas, Sri Lanka e Turquia. Atualmente cerca de 122 Estados
são membros do Tribunal (34 são da África, 18 da Ásia, 18 são do Leste Europeu, 27 são da
América Latina e do Caribe e 25 são da Europa Ocidental e outros Estados).

9.11.6 Princípios orientadores do Tribunal Penal Internacional

Princípio da personalidade: por meio do qual as normas do Estatuto de Roma visam a


responsabilidade de indivíduos e não de Estados e nem mesmo de Organizações
Internacionais Intergovernamentais.

Desta forma, se um Estado ou organização internacional intergovernamental comete um


ato delituoso que configure genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou
crime de agressão, devem ser buscados os responsáveis físicos, que devem responder
pessoalmente perante o Tribunal Penal Internacional.
A medida é considerada importante, pois sem a responsabilidade criminal individual não
se alcança a finalidade do Direito Penal. A aplicação da sanção deve existir, em especial,
quando a pessoa age em seu próprio nome.
No julgamento, devem-se observar a individualização da pena e a proporcionalidade entre
circunstâncias agravantes e atenuantes.
Princípio da dignidade da pessoa humana: por esta vertente o TPI não terá jurisdição
sobre pessoas menores de 18 anos à época da prática de perpetração do delito.
Também por este princípio a sanção capital abolida, sendo assim inaplicável a pena
de morte.
74
A pena privativa de liberdade não superior a 30 anos, salvo em casos de extrema gravidade,
em que o elevado grau da conduta e ilicitude do ato/fato e as condições penais do condenado
justificarem, quando inclusive será possível o estabelecimento da prisão perpétua. Contudo,
haverá necessidade da revisão da pena 25 anos do seu cumprimento.
Princípio da irrelevância da qualidade oficial: pelo principio o Estatuto será aplicável
de forma idêntica a todas as pessoas sem qualquer distinção baseada em qualidade
oficial no direito interno do Estado ou no cenário das relações exteriores.
Princípio ne bis in idem: A Corte não irá atuar se a pessoa já foi julgada anteriormente
pela mesma conduta, sendo condenada ou absolvida, salvo se o objetivo do
julgamento original tenha sido subtrair o acusado da competência do Tribunal Penal
Internacional ou não tenha sido conduzido de forma independente, imparcial ou de
maneira incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça, na
forma do art. 20, §3º, alíneas a e b do Estatuto de Roma. Vejamos:

O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada
por outro tribunal, por atos também punidos pelos artigos 6o, 7o ou 8o,
a menos que o processo nesse outro tribunal:

a) Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua


responsabilidade criminal por crimes da competência do Tribunal; ou

b) Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial,


em conformidade com as garantias de um processo equitativo
reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sido conduzido de
uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatível com a
intenção de submeter a pessoa à ação da justiça.

Princípio do juiz natural: determina que devem existir regras objetivas de


competência jurisdicional, garantindo independência e imparcialidade do órgão
julgador. No TPI os juízes são eleitos dentre pessoas de elevada idoneidade
moral, imparcialidade e integridade, são pertencentes aos Estados Partes para
um mandato de nove anos e como regra, não são reeleitos.
Princípio da anterioridade: de acordo com o art. 24, I, do Estatuto de Roma,
nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de acordo com
o presente Estatuto, por uma conduta anterior à entrada em vigor do Estatuto.
Assim, o principio estabelece como critério objetivo que o TPI possui
competência e legitimidade para julgar somente os crimes previstos no
Estatuto de Roma que tenham sido praticados a partir de 1 de julho de 2002,
data da entrada em vigor do diploma internacional.

75
Princípio da legalidade: representando pelo preceito nullum crimen nulla poena
sine lege, que significa que ninguém pode ser punido por uma conduta que não
foi definida previamente como crime. Um indivíduo apenas pode ser julgado
em face de uma conduta: que já tenha sido positivada pelo tratado internacional
ao momento da sua prática, que tenha sido realizada depois da entrada em
vigor do Estatuto, que tendo sido definida com objetividade e que seja
especifica (evitando uso da analogia).
Princípio da imprescritibilidade: os crimes da competência do Tribunal Penal
Internacional não prescrevem, conforme o estabelecido no art. 29 do Estatuto
de Roma.
Princípio da irretroatividade internacional penal: a norma internacional feita
para incriminar não pode retroagir. Pelo preceito tempus regit actum, desde o
momento que um tratado internacional entra em vigor no território de um
Estado rege todos os atos compreendidos pela sua destinação até cessar sua
vigência.
Princípio da complementariedade: a complementariedade se caracteriza pela
competência residual da Corte, ou seja, ela apenas irá atuar se o Estado se
mantiver silente e inerte ou ainda se mostrar incapaz de julgar seus criminosos.
Ao contrário dos tribunais ad hoc o TPI tem competência subsidiária em relação
às jurisdições de seus Estados Partes.

9.11.7 Competência material do Tribunal Penal Internacional

A competência material, como a própria nomenclatura sugere, indica quais as matérias que
podem ser objeto de julgamento pelo Tribunal Penal Internacional.
De acordo com o artigo 5º do Estatuto de Roma, o TPI tem competência para julgar os crimes
de genocídio, contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. Vejamos:

Artigo 5º

Crimes da Competência do Tribunal

1. A competência do Tribunal restringir-se-á aos crimes mais graves,


que afetam a comunidade internacional no seu conjunto. Nos termos
do presente Estatuto, o Tribunal terá competência para julgar os
seguintes crimes:

a) O crime de genocídio;

b) Crimes contra a humanidade;


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c) Crimes de guerra;

d) O crime de agressão.

O próprio Estatuto define os crimes de sua competência.

Art. 5º. 2. O Tribunal poderá exercer a sua competência em relação


ao crime de agressão desde que, nos termos dos artigos 121 e 123,
seja aprovada uma disposição em que se defina o crime e se
enunciem as condições em que o Tribunal terá competência
relativamente a este crime. Tal disposição deve ser compatível com
as disposições pertinentes da Carta das Nações Unidas.

Artigo 6º. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se


por "genocídio", qualquer um dos atos que a seguir se enumeram,
praticado com intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo
nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tal:

Artigo 7º. 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se


por "crime contra a humanidade", qualquer um dos atos seguintes,
quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou
sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento
desse ataque:

Artigo 8.º 1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de


guerra, em particular quando cometidos como parte integrante de um
plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala
desse tipo de crimes.

QUESTÃO SOBRE O TEMA

01. Sobre Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, é correto afirmar que:
A) o Tribunal Penal Internacional poderá impor pena de expatriação se o elevado grau de
ilicitude do fato e as condições pessoais do condenado a justificarem.
B) são considerados crimes contra a humanidade os atos praticados com intenção de destruir,
no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
C) o Tribunal Penal Internacional (TPI) terá competência apenas para julgar os crimes de
genocídio, os crimes contra a humanidade e os crimes de agressão.
D) nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime de competência do
Tribunal Penal Internacional, relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo
TPI.
E) o Tribunal Penal Internacional e vinculado a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
e possui competência para julgar pessoas físicas.

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MARIA DAS MERCÊS DA SILVA MAXIMO - 07821466603 - MARIA


ALTERNATIVA D. Artigo 20 do TPI - Ne bis in idem: nenhuma pessoa poderá ser
julgada por outro tribunal por um crime de competência do Tribunal Penal
Internacional, relativamente ao qual já tenha sido condenada ou absolvida pelo TPI.

02. (VUNESP - 2018 - PC-BA - Delegado de Polícia) Nos termos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos, é correto afirmar que
A) toda pessoa tem o direito de livremente circular e escolher a sua residência no interior de
um Estado.
B) são asseguradas às presidiárias condições para que possam permanecer com seus filhos
durante o período de amamentação.
C) toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e de associação pacíficas ou militares.
D) é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato.
E) ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade, exceto no caso de iminente
perigo público.
ALTERNATIVA A. Indica exatamente o direito previsto no item 1 do Artigo XIII da
Declaração Universal dos Direitos Humanos: Todo ser humano tem direito à liberdade
de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
03. (FCC - 2018 - DPE-AP - Defensor Público) Integram a denominada Carta Internacional
dos Direitos Humanos − International Bill of Rights:
I. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
II. Carta da Organização das Nações Unidas − ONU.
III. Declaração Universal de Direitos Humanos.
IV. Convenção Americana de Direitos Humanos.
Está correto o que se afirma em
A) II e IV, apenas.
B) I e II, apenas.
C) I e III, apenas.
D) III e IV, apenas.
E) I, II, III e IV.
ALTERNATIVA C. A chamada International Bill of Rights é composta por três
documentos extremamente relevantes para a proteção dos direitos humanos: a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos e o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Considerando as opções disponíveis, estão corretos os itens I e III e a resposta é a letra
C.

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04. A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial dispõe que os Estados-partes se comprometam a garantir o
direito de cada um à igualdade perante a lei, prevendo expressamente os seguintes
direitos, entre outros:
A) direito à habitação, direito à formação profissional e direito a emprego que garanta o
sustento da família.
B) direito de casar-se e escolher o cônjuge e direito ao acesso a todo tipo de transporte
público.
C) direito ao lazer, direito à habitação e direito de casar-se e escolher o cônjuge.
D) direito de casar-se e escolher o cônjuge, direito à habitação e direito à formação
profissional.
ALTERNATIVA D. Necessário conhecer a literalidade da convenção. A alternativa A
está incorreta, pois se fala em direito ao trabalho, não em direito ao emprego que
garanta o sustento da família. As alternativas B e C estão incorretas, pois o direito ao
acesso a todo tipo de transporte público e o direito ao lazer não estão expressamente
previstos. A alternativa D está correta, porque previsto no art. 5 da referida Convenção.

Referências

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BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. 9. ed. São Paulo: Campos, 2014.
BRANDÃO, Cláudio. Introdução ao estudo dos direitos humanos. In: BRANDÃO, Cláudio
(Coord.). Direitos humanos e fundamentais em perspectiva. São Paulo: Atlas, 2014.
HERKENHOFF, João Baptista. Curso de direitos humanos: gênese dos direitos humanos. Rio
de Janeiro: Acadêmica, 1994.
JAYME, Fernando Gonzaga. Direitos humanos e sua efetivação pela Corte Interamericana de
Direitos Humanos. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais e as constituições brasileiras. In:
SILVA, Jane Granzoto Torres da (Coord.). Constitucionalismo social: estudos em homenagem
ao Ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello. São Paulo: LTr, 2003.
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. São Paulo:
Saraiva, 2003.
SILVA, André. O homem dos direitos humanos, 2014. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/27962/o-homem-dos-direitos-humanos. Acessado em março de
2021.
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______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Coletânea temática de jurisprudência STF, 2017.
Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoTematica/anexo/CTJ_Direitos_Huma
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______. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Súmula Vinculante n.° 25. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=1268 . Acesso em:
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm . Acesso em:
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COSTA RICA, 2016. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_
servicos_produtos/bibli_informativo/bibli_inf_2006/Rev-Cad-PPGD-UFRGS_v.11_n.2.09.pdf.
Acesso em: março de 2021.

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