Dissertacao Unasp
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ENGENHEIRO COELHO - SP
2023
MARCOS VINÍCIUS SANTIAGO
Linha de Pesquisa:
O sagrado na história e na cultura: Perspectivas históricas e culturais de recepção
do sagrado
ENGENHEIRO COELHO – SP
2023
SANTIAGO, MARCOS VINÍCIUS
A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO CONTINUADA E
FORMAÇÃO DE PARADIGMAS MISSIOLÓGICOS:
PERCEPÇÕES DE PASTORES ADVENTISTAS EM
EXERCÍCIO / MARCOS VINÍCIUS SANTIAGO. Engenheiro
Coelho: UNASP-EC, 2023.
185 ff.
Orientador: Silvano Barbosa
Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário Adventista
São Paulo, Mestrado em Estudos Teológicos -
Missiologia, 2023.
Banca Examinadora:
________________________
Professor Doutor Jolivê Rodrigues Chaves – FADBA
________________________
Professor Doutor Renato Stencel – UNASP- EC
________________________
Professor Doutor Silvano Barbosa – UNASP – EC
Dedico este trabalho ao maior:
Missionário, Educador, Profeta, Sacerdote...
Jesus
AGRADECIMENTOS
The learning of the Adventist community regarding its mission depends on concepts
taught from the function of the district pastor. The tendencies of the discourses of these
interpreters of the sacred define the direction and speed of the missionary fulfillment
by the members. Therefore, it requires research on the relationship between
Continuing Education and the formation of missiological paradigms, in the perception
of practicing Adventist pastors with the aim of analyzing the missiological paradigms
of Adventist pastors, active in the territory of the Brazilian Southeast Union. The study
was carried out in a population of Adventist pastors in exercise in the territory of the
Brazilian Southeast Union, with data obtained from semi-structured interviews. In all,
24 pastors were interviewed through the ZOOM digital platform during the second
week of October. After training, when assuming the district, pastors take care of
churches under the ecclesiastical expectation of fulfilling the Adventist mission.
Diversification in missiological training, within the scope of the seminar, makes pastoral
practice different in terms of form and theory that sustains it. The problem is that the
churches are missiologically influenced by the pastors themselves, who by the average
time in the district are not deep and intentional for the conception of the mission
consciousness of the members. The fact that they change regularly and have different
curriculum profiles in initial formation makes them work the mission in different and
divergent ways. Something that can lead the church to loss of identity and missiological
strength. Regardless of the ministry phase, the Adventist pastor is free in the
construction of learning, when the means of knowledge is lecture or literature.
Officially, he is free to define the curriculum of his continuing education, as long as a
ministerial commission supports it. When it wants to participate in a course at a formal
education institution, the church maintains the freedom to legislate on whether or not
to take it, based on legally agreed rights. The divergent conceptual responses about
what mission is indicate that among the pastors interviewed there is no consensus
about your definition. The most experienced ones, whose described continuing
education was mostly carried out in an Adventist educational environment, are the
ones who most describe missiological concepts based on the Bible. It will be said that
for these, the view on the subject is less secularized and more institutionalized.
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
1.1 O PROBLEMA DA PESQUISA ................................................................................... 13
1.2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13
1.2.1 Objetivo geral ............................................................................................. 13
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................. 14
1.3 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................... 14
1.4 RELEVÂNCIAS ...................................................................................................... 16
1.4.1 Relevância pessoal .................................................................................... 16
1.4.2 Relevância social ....................................................................................... 16
1.4.3 Relevância Eclesiástica ............................................................................. 17
2. EDUCAÇÃO EM TEOLOGIA: PRESSUPOSTOS ADVENTISTAS ................... 18
2.1 EDUCAÇÃO DE PASTORES ..................................................................................... 20
2.2 PERSPECTIVA HISTÓRICA ...................................................................................... 20
2.3 ATRIBUTOS DA FUNÇÃO PASTORAL ........................................................................ 22
2.4 EDUCAÇÃO CONTINUADA ENTRE PASTORES .......................................................... 23
2.5 EDUCAÇÃO DE PASTORES ADVENTISTAS: PARADIGMAS ENTRE A FORMAÇÃO INICIAL E
A EDUCAÇÃO CONTINUADA .......................................................................................... 24
2.5.1 O pastor na perspectiva da Igreja Adventista ........................................... 24
2.5.2 Educação de pastores no cenário adventista ........................................... 26
2.5.3 Formação inicial ......................................................................................... 27
2.5.4 Educação Continuada................................................................................ 29
2.5.4.1 Educação Contínua na Instituição .................................................... 30
2.5.4.1.1 Tendências em Educação Missiológica ......................................... 31
3. HISTÓRIA E DEFINIÇÃO DE PARADIGMAS MISSIOLÓGICOS ..................... 33
3.1 TEORIA DOS PARADIGMAS..................................................................................... 33
3.2 PARADIGMAS MISSIOLÓGICOS ............................................................................... 34
3.2.1 Paradigmas missiológicos: perspectiva histórico-teológica...................... 35
3.2.1.1 Paradigma da Missio Dei .................................................................. 36
3.2.1.2 Paradigma missiológico abraâmico .................................................. 37
3.2.1.2.1 Perspectivas antropológicas ........................................................... 37
3.2.1.2.2 Educação missiológica para Abraão .............................................. 38
3.2.1.3 Paradigma missiológico israelita ....................................................... 40
3.2.1.3.1 Perspectiva sacerdotal ................................................................... 41
3.2.1.3.2 Perspectiva da tradição profética ................................................... 42
3.2.1.3.3 Profetismo: uma perspectiva antropológica ................................... 44
3.2.1.3.4 Educação missiológica para a liderança no Antigo Testamento ... 44
3.2.1.4 Paradigma missiológico cristão-messiânico ..................................... 47
3.2.1.4.1 Perspectiva sacerdotal ................................................................... 48
3.2.1.4.2 Educação missiológica para a liderança no Novo Testamento..... 50
3.2.1.4.3 Perspectiva da tradição profética ................................................... 51
3.2.1.5 Paradigma missiológico cristão-apostólico – Século 1 .................... 52
3.2.1.6 Paradigma missiológico apologético - século 2 a 4 ......................... 54
3.2.1.7 Paradigma missiológico medieval ..................................................... 59
3.2.1.8 Paradigmas missiológicos na modernidade ..................................... 63
3.2.1.9 Paradigmas missiológicos transitórios – entre a modernidade e a
pós-modernidade............................................................................................... 69
3.2.1.10 Paradigma missiológico adventista .................................................... 72
3.2.1.10.1Paradigmas missiológicos na fase do desenvolvimento doutrinário
e unidade organizacional............................................................................... 73
3.3 EDUCAÇÃO MISSIOLÓGICA PARA OS PASTORES NO CONTEXTO DOS PIONEIROS ....... 75
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 78
4.1 PERFIL DO GRUPO DA AMOSTRAGEM ..................................................................... 78
4.1.1 Sujeitos da pesquisa .................................................................................. 78
4.2 COLETA DE DADOS .............................................................................................. 80
4.2.1 A entrevista semiestruturada ..................................................................... 80
4.3 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................. 82
4.4 A ANÁLISE DO CONTEÚDO ..................................................................................... 83
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 85
5.1 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO .................................................................................. 85
5.2 RELATOS INICIAIS DOS ENTREVISTADOS ................................................................ 87
5.2.1 Pastores aspirantes ................................................................................... 87
5.2.1.1 Satisfatório – P1, P3, P6 ................................................................... 88
5.2.1.2 Parcialmente satisfatório – P2, P4 .................................................... 89
5.2.1.3 Amplamente satisfeito – P5............................................................... 89
5.2.1.4 Sobre a Educação Contínua e a missiologia .................................... 90
5.2.1.5 Sobre a Educação Continuada – perfil dos cursos .......................... 90
5.2.2 Ordenados – 5 a 15 anos de ministério .................................................... 91
5.2.2.1 Durante o seminário de teologia – P8, P9, P11, P12 ....................... 91
5.2.2.2 Após o seminário de teologia – P7, P10........................................... 91
5.2.2.3 Sobre a Educação Contínua e a missiologia .................................... 92
5.2.2.4 Sobre a Educação Continuada – perfil dos cursos .......................... 93
5.2.3 Ordenados – 16 a 25 anos de ministério .................................................. 93
5.2.3.1 Satisfatório – P 13, P14 ..................................................................... 94
5.2.3.2 Parcialmente satisfatório – P15, P16, P18 ....................................... 94
5.2.3.3 Amplamente satisfatório – P17 ......................................................... 95
5.2.3.4 Sobre a Educação Contínua e a missiologia .................................... 95
5.2.3.4.1 Insatisfatória – P13, P15................................................................. 95
5.2.3.4.2 Parcialmente Satisfatória – P16, P17, P18 .................................... 95
5.2.3.4.3 Satisfatória – P14 ............................................................................ 96
5.2.3.5 Sobre a Educação Continuada – perfil dos cursos .......................... 96
5.2.4 Ordenados – acima de 26 anos de ministério .......................................... 97
5.2.4.1 Sobre a Educação Contínua e a missiologia .................................... 98
5.2.4.1.1 Amplamente satisfatório – P19, P22 .............................................. 98
5.2.4.1.2 Satisfatório – P20, P24 ................................................................... 98
5.2.4.1.3 Parcialmente satisfatório P21, P23 ................................................ 99
5.2.4.2 Sobre a Educação Continuada – perfil dos cursos .......................... 99
5.3 DETALHAMENTOS DA ENTREVISTA ...................................................................... 100
5.3.1 Pastores aspirantes ................................................................................. 100
5.3.1.1 Percepções sobre a Educação Contínua da Igreja Adventista...... 100
5.3.1.2 A formação de paradigmas missiológicos e a Educação Contínua
103
5.3.1.3 Tendências no currículo da Educação Contínua ........................... 105
5.3.1.4 A Educação Contínua e a práxis missiológica ............................... 106
5.3.1.5 Paradigma de Missão dos entrevistados ........................................ 108
5.3.2 Pastores ordenados – 5 a 15 anos de ministério.................................... 109
5.3.2.1 Percepções sobre a Educação Contínua da Igreja Adventista...... 109
5.3.2.2 A formação de paradigmas missiológicos e a Educação Continuada
111
5.3.2.3 Tendências no currículo da Educação Contínua ........................... 112
5.3.2.4 A Educação Contínua e a práxis missiológica ............................... 114
5.3.2.5 Paradigma de Missão dos entrevistados ........................................ 115
5.3.3 Pastores ordenados – 16 a 25 anos de ministério ................................. 117
5.3.3.1 Percepções sobre a Educação Contínua da Igreja Adventista...... 117
5.3.3.2 A formação de paradigmas missiológicos e a Educação Contínua
119
5.3.3.3 Tendências no currículo da Educação Contínua ........................... 121
5.3.3.4 A Educação Contínua e a práxis missiológica ............................... 122
5.3.3.5 Paradigma de Missão dos entrevistados ........................................ 124
5.3.4 Pastores ordenados – 26 a 35 anos de ministério ................................. 125
5.3.4.1 Percepções sobre a Educação Contínua da Igreja Adventista...... 125
5.3.4.2 A formação de paradigmas missiológicos e a Educação Contínua
127
5.3.4.3 Tendências no currículo da Educação Contínua ........................... 128
5.3.4.4 A Educação Contínua e a práxis missiológica ............................... 130
5.3.4.5 Paradigma de Missão dos entrevistados ........................................ 132
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 134
7. REFERÊNCIAS................................................................................................... 138
8. APÊNDICES ....................................................................................................... 153
9. ANEXOS ............................................................................................................. 183
12
1. INTRODUÇÃO
1
“O termo compliance é utilizado para designar as ações para mitigar riscos e prevenir corrupção e
fraude nas organizações, independentemente do ramo de atividade” (SANTOS, 2012, p.2).
13
1.2 OBJETIVOS
1.3 JUSTIFICATIVA
1.4 RELEVÂNCIAS
A missiologia ainda não é uma área teológica clássica e milita entre diferentes
disciplinas do currículo da formação inicial do pastor adventista. Embora haja uma
falta de preparo antropológico para o ministro, entende-se que este é um missiólogo
por função, mas tem maior efetividade se é por formação.
Ao estar em exercício, envolvendo-se com as variadas texturas culturais da
sociedade, o pastor obriga-se a construir uma grade curricular de Educação
Continuada para entender as demandas do ofício. Portanto, decifrar as
especificidades deste currículo informal é útil para a oferta de cursos que qualifiquem
os ministros.
17
2 “O conhecimento praxiológico proposto por Bourdieu (1994) busca responder a questões relativas às
ações sociais: O que desencadeia é uma pressão externa? É o indivíduo que busca fins racionais?
Bourdieu (1996) responde que a prática humana é um encontro do habitus com o campo, levando o
ator social a desenvolver um senso prático” (ANDRADE, 2014, p. 105).
21
3 Kampmann (2013, p.72) constrói uma cosmovisão de que não havia distinção hierárquica indicando
que os membros eram do mundo secular/pagão e o clérico pertencia ao mundo espiritual. Ou seja, o
pastor e os membros estavam sob a mesma condição moral, as mesmas carências espirituais e,
portanto, cuidavam uns dos outros, sendo ele um modelo de como isso deveria ocorrer. O pastor não
faz algo distinto dos demais, mas faz para que todos também façam.
22
5
O ancionato exerce a função de subpastoreio enquanto visita os membros, ministra aos enfermos,
promove ministérios de oração, providencia ou dirige cerimônias de unção de enfermos e dedicação
de crianças, encoraja os desanimados e auxilia nas demais responsabilidades pastorais (MANUAL DA
IGREJA, 2015, p. 76).
26
um pastor
ordenado.
O candidato O curso utiliza O estagiário e o A associação ou O ministro, nos
evidencia as várias experiências supervisor- missão local anos finais do
qualidades dentro e fora da capacitador se oferece opções ministério ou
pessoais, o sala de aula para encontram de educação início da
talento natural e alcançar o nível de semanalmente continuada aposentadoria,
os dons ingresso exigido. durante o cuidadosamente pode compartilhar
espirituais período de um a planejadas. sua sabedoria e
necessários Diplomas duplos e três anos para O pastor pode experiência ao
para o ministério outras opções orar, estudar a escolher fazer atuar como
(Gl 5:22-23; Rm podem preparar os Bíblia, debater e cursos formais de mentor ou
12; Ef 4:11-13). candidatos para aprender as estudos supervisor-
ministérios de habilidades avançados em capacitador de
sustento voluntário ministeriais capelania, pastores mais
ou para enriquecer (1Tm 1-2). O evangelismo, jovens por meio
a formação do supervisor- aconselhamento da escrita, do
ministro. capacitador é ou educação. ensino ou do
treinado e envolvimento no
apoiado pela ministério como
associação pastor interino.
ministerial e
administração
da associação
ou missão local.
Fonte: COMISSÃO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO MINISTERIAL E TEOLÓGICA, 2017
A maior parte do tempo em que ocorre a prática pastoral oficial, o indivíduo está
em formação sob teste vocacional. Neste período, exerce a função de mediador do
sagrado (BIRMAN, 2012; SIGNATES, 2006)6 e influencia as congregações quanto à
uma práxis missiológica adequada ou não ao paradigma teológico adventista.
6
Um mediador do sagrado é como um fiscal da verdade religiosa de determinado grupo. É um protetor
e intérprete através do qual a fé será comunicada e entendida. Atuam como mestres, motivando ou
exortando para que toda a comunidade viva os preceitos sob as mesmas condições. Materializam a
função e os ensinamentos por meio de ritos e elaboração de objetos sagrados. Ver BIRMAN, Patricia
em O poder da fé, o milagre do poder: mediadores evangélicos e deslocamento de fronteiras sociais.
Horizontes Antropológicos [online]. 2012, v. 18, n, pp. 133-153. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0104-71832012000100006>. Epub 31 Jul 2012. ISSN 1806-9983.
https://doi.org/10.1590/S0104-71832012000100006. Ver também Signates, L. (1998). Estudo sobre o
conceito de mediação. Novos Olhares, (2), 37-49. https://doi.org/10.11606/issn.2238-
7714.no.1998.51315
28
7 Este é um documento elaborado por uma comissão internacional de educação teológica e ministerial,
para a Igreja Adventista do Sétimo Dia (2017). “Os propósitos originais para a existência da IBMTE
ainda existem. São eles: a. Promover unidade teológica dinâmica dentro da igreja mundial; b. Aprimorar
o foco na mensagem e na missão adventista do sétimo dia; c. Apoiar o desenvolvimento espiritual e
profissional dos docentes envolvidos nos cursos de formação ministerial; d. Promover a excelência
profissional na formação e prática ministeriais; e. Cultivar a forte colaboração entre os líderes da igreja,
as instituições de ensino e os docentes envolvidos na formação de pastores; f. Estimular a vida
espiritual das instituições educacionais adventistas do sétimo dia por meio de um corpo docente
comprometido (Política de Trabalho da Associação Geral FE 20 20)”.
29
8
Este texto foi extraído e adaptado da dissertação de mestrado de Djalma Alves Cabral Filho, O
ministério pastoral e a Educação Continuada nos cursos de Pós-graduação: sustentação teórica
e perspectivas atuais para o pastor no campo Batista carioca, 2008. Considerar Lato Sensu como
Curso de especialização com a finalidade de ampliar os conhecimentos. O curso de pós-graduação
não dá profissionalização, enquanto que o Stricto Sensu engloba cursos de Mestrado, Doutorado e
Pós-doutorado.
30
9
As poucas pesquisas sobre a Educação Continuada do pastor adventista foram realizadas com foco
em ambiente cultural norte americano. Ver Sharon Aka, “A Quantitative Comparative Study of Employee
Engagement Among Full-Time Seventh-day Adventist Pastors in the North American Division of
Seventh-day Adventists and Its Relationship to Level of Participation in Annual Pastoral Continuing
Education.” (PhD diss., Andrews University, 2020). Conteúdo Disponível em https://
digitalcommons.andrews.edu/dissertations/1728.
31
Para que um paradigma venha a triunfar, é preciso que ele ganhe alguns
adeptos iniciais, que o desenvolverão até o ponto em que argumentos
convincentes possam ser produzidos e multiplicados. Mesmo esses
argumentos, quando surgem, não são individualmente decisivos. Visto que
os cientistas são homens razoáveis, um ou outro argumento acabará
persuadindo muitos deles. Mas não existe um único argumento que possa ou
deva persuadí-los todos. Mais do que uma única conversão do grupo, o que
ocorre é uma crescente mudança na distribuição das adesões profissionais
(KUHN, 1998, p. 157).
de um grupo pensar a realidade por um tempo, em dado local, por seus motivos
afetivos, sociais e religiosos. Enfim, “um paradigma é aquilo que os membros de uma
comunidade partilham” (KUHN, 1998, p. 219).
Em síntese, o paradigma, resultante da influência do consenso, responde aos
anseios pessoais e coletivos estabelecendo a ocorrência de experiências comuns,
algo que Kuhn chama de ciência normal (KUHN, 1998).
Portanto, ao falarmos de paradigmas missiológicos na realidade do pastor
adventista, tratamos da formação de crenças, dos axiomas morais e emocionais
relacionados ao tema da missão, bem como dos comportamentos e técnicas aplicados
à materialização e socialização dos mitos missionários (KUHN, 2015).
Escrevendo sobre o ministro, Patrícia Birman (2012, p.148) comenta que “seu
poder se constitui, em consequência, através de múltiplos mediadores humanos e
materiais que se pretendem portadores reconhecidos da agência divina na esfera
pública”. Este, continua o paradigma bíblico-judaico-cristão em que figuras como
patriarcas, sacerdotes, reis, anciãos, juízes, pastores e apóstolos exerciam papel
sagrado junto ao povo, legislando a vida em todos os âmbitos culturais.
Para Smith (2009, p. 270), “um profeta era diferente dos outros homens por que
sua mente, suas palavras e às vezes até seu corpo se tornavam um veículo pelo qual
Deus se dirigia a condições históricas imediatas”. Estes mediadores definem o que
seria crido, pensado ou vivido como verdade.
Sob este viés de qualificação da relação entre o divino e o humano, o pastor
adventista se historifica como uma figura de alta confiança denominacional. Seu papel
sagrado envolve preservar a identidade teológica e profética do grupo, mas, ao
exercer uma função missiológica autônoma, pode ser fiel na transmissão do
paradigma da Igreja ou ousar mediar sob paradigmas pessoais.
10
A FDIC é uma abordagem que promove “um sistema no qual os novos crentes adventistas não
seriam extraídos de sua cultura e poderiam permanecer dentro do seu contexto islâmico. Ao invés de
promover uma rejeição da bagagem cultural dos novos crentes, a abordagem FDIC procurou peneirar
criticamente aquele background cultural e religioso através da mensagem bíblica. Esse tipo de
ministério começa onde as pessoas estão em seu contexto, leva as pessoas a crerem nas escrituras
como a base para a fé e a vida religiosa e encoraja os crentes a aceitarem Jesus (Isa) como Senhor e
Salvador enquanto eles vivem suas vidas de fé dentro do contexto islâmico.” Rick McEdward, A Brief
Overview of Adventist Witness Among Muslims.” in A Man of Passionate Reflection (2011): 246.
36
Como o Filho foi enviado na plenitude do tempo para nascer numa família
judia da Galileia, durante a época da hegemonia romana na Palestina,
aqueles que creem no filho são enviados a encarnar-se na própria cultura. O
princípio da missão não será o de reproduzir, por imitação, os modelos
religiosos que regeram o padrão cultural da espiritualidade de Jesus (por
exemplo, a circuncisão), mas prosseguir criativamente pelo caminho do envio
do Filho, na força do Espírito (PADILLA; COUTO, 2011, p. 71).
David J. Bosch (2021) usa o conceito de Missio Dei para falar sobre o
paradigma emergente e ecumênico de missão. De forma objetiva, o conceito significa
que a missão é de Deus, assim, Ele é o primeiro e maior missionário desde que o
pecado passou a existir na realidade humana. O conceito foi primeiramente
desenvolvido por Karl Barth e Karl Hartenstein (FLETT, 2010), sinalizando que a fé e
a igreja cristã são existencialmente missionárias como consequência do seu
originador.
Bosh considera que "na tentativa de concretizar o conceito de Missio Dei, era
possível dizer o seguinte: na nova imagem, a missão não é primordialmente uma
atividade da igreja, mas um atributo de Deus" (BOSCH, 2021, p.468). Assim, o
propósito divino é "[...] transformar o mundo de forma que corresponda àquilo que
imaginou para ele" (REIMER, 2011, p. 164).
37
11
Nestes textos percebe-se Deus ensinando que o rito do sacrifício substitutivo seria um tipo para a
salvação em Cristo; Ele interage pessoalmente com Caim, oferecendo-lhe graça e misericórdia; e, atua
por meio do Espírito Santo na pregação aos antediluvianos (Gn 6:3).
12
O Antigo Testamento usa a palavra sherit para descrever três tipos de povos remanescentes. Um é
o remanescente sobrevivente de alguma catástrofe (2 Re 19:31; 25:11; 2 Cr 34:21; Jr 52:15; Ez 9:8);
outro é o remanescente fiel à aliança com Deus (Dt 30:1-3; 1 Re 19:10, 18; 2 Cr 30:6, 11) e; finalmente,
temos um remanescente escatológico nos dias finais da história (Dn 7:25, 27; 12:1; Ap 12:17; 14:12).
LaRONDELLE (2011, p. 968). Gerhard F. Hasel fez os estudos mais exaustivos sobre o remanescente
de Deus no AT. Ver: The Remnant: History and Theology of the Remnant Idea from Genesis to Isaiah,
3 ed. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1980.
39
Abrão foi um arquétipo de missionário que, quando Deus lhe muda o nome para
Abraão (pai para as nações), o declara como paradigma a ser seguido (Gn 17:6).
Wright (2014, p.343) concorda que “é por isso que as palavras de Deus a Abraão se
tornam o programa supremo da própria missão de Deus (abençoar as nações), e a
resposta prática de Abrão é um modelo muito próximo para a nossa missão (fé e
obediência – acréscimo do autor).”
Neste cenário, Abraão representa uma ruptura entre o paganismo politeísta e
o monoteísmo semita (Js 24:2,3). Também, é o primeiro que, enquanto chamado por
Deus, tem a função de se multiplicar para abençoar e não necessariamente para
encher a terra (Sl 47). Ao ser nomeado como uma benção, Abraão perpetuou uma
ontologia missiológica intrínseca à identidade do povo de Israel (Gn 12:3).
O doutor Ruppert, em Schreiner (2012, p.148), considera que “em Abraão (e
Israel), Javé quer concentrar toda a sua benção como que num foco, para que todas
as pessoas que se voltassem ao patriarca fossem alcançadas pela salvação divina”.
Por isso, a transmissão do legado da fé às novas gerações seria uma coluna da
educação missiológica a partir do patriarca (Gn 18:17-19), de modo que através do
ensino da fé aos descendentes, a salvação seria celebrada em ritos como cultos,
sacrifícios e festas (Gn 26; Ex 12; Jó 1:4,5).
O ato de abençoar o descendente era um método educacional na história de
Israel. Noé abençoou os filhos (Gn 9:20-28), Deus abençoou diretamente a Abraão e
a Isaque (Gn 12; 25:11) e Jacó foi abençoado pelo pai e proferiu bençãos aos filhos
(Gn 27; Gn 49). Este sistema se transformou em um bem cultural entre os hebreus de
todos os tempos.
40
Todas as nações, no fim, conhecerão o Deus que Israel conhece. Mas, visto
que a promessa da benção abraâmica de ser abençoado ou de abençoar a
si mesmo pressupõe o conhecimento do Deus de Abraão, e visto que
conhecer a YHWH como Deus é sem dúvida uma das maiores bençãos de
que Israel desfruta, há uma afinidade teológica entre as passagens que falam
de “conhecer a Deus” e as que falam da promessa da “benção” abraâmica
(WRIGHT, 2014, p. 236,237).
13
Ver também Gn 12:6,7; 18:20-22.
41
14
Para uma compreensão aprofundada sobre a função sacerdotal, requer-se que se compreenda a
função dos diversos modelos de santuários descritos na Bíblia. Elias Brasil de Souza vai ampliar as
possibilidades de debates sobre o tema no livro O Santuário Celestial no Antigo Testamento (2014,
pp.85 – 173).
15
Ver Nm 6:22-27; Dt 28:3-12. Para um maior aprofundamento no tema, ver “A history of Old Testament
Priesthood” de A. Cody.
42
Conforme Vanhoye (2007, p. 61), “invocar sobre uma pessoa o nome de Deus
é estabelecer uma relação pessoal entre Deus e essa pessoa. Com efeito, a benção
não é outra coisa que uma relação viva com Deus.” Nesse sentido, o povo é mediador
da aliança para a salvação dos amaldiçoados por não conhecerem Deus. Este reino
de sacerdotes é um paradigma de salvação enquanto remanescente em contextos
pagãos, sendo sua moral e ética apelos para que se viva uma relação santificadora
(kohen)16 com Deus.
Os israelitas eram conscientes de que o plano de Deus era abençoar a
totalidade das nações e entendiam que personificavam o instrumento, o modelo do
que era ser abençoado (Gn 12:3; 22:18; 1 Re 4:29-34; 10:4-9; Sl 2:7-12; 47:8,9; 72:17;
Is 11:10; 42:1,6; 49:6,7; 52:10). Por isso, educavam os descendentes formando uma
consciência de representação e mediação soteriológica, como apresentado por
Larondelle e McVay no trabalho de Hanna, Jankiewicz e Reeve (2018)17.
16
“Os textos bíblicos demonstram que as atribuições do Kohen estendiam-se dentro de um leque muito
grande. Pode-se apresentar o Kohen como o homem do santuário, aquele que tem o direito de tocar
os objetos sagrados e é admitido na presença de Deus, como o homem encarregado de oferecer
sacrifícios ou também como aquele de quem se espera um oráculo, o que dá as bênçãos e o que
decide sobre as questões de pureza ritual” (VANHOYE, 2007, p.51).
17
A representação soteriológica fez de Israel um tipo do próprio Cristo no que tange à identidade
representativa. Neste sentido, a teologia da eleição nos permitirá compreender como e por quê Deus
escolhe Israel e quais as expectativas eclesiológicas e missiológicas estão definidas no processo.
Entende-se melhor o tema no artigo Divine Election and Predestination: A Biblical Perspective, anexado
ao livro Contours of Adventist Soteriology (HANNA, JANKIEWICZ, REEVE, 2018, p. 85 - 173)
18
Hans LaRondelle enfatiza que a profecia bíblica é cristocêntrica e retrata isso na eclesiologia do
Antigo Testamento. Portanto, é impossível interpretar o Antigo Testamento destituído de uma visão
missiológica; afinal, a Igreja ou Povo de Deus são a relação híbrida entre o resultado e veículo da
comunicação da graça divina. LaRondelle, Hans K., "The Israel of God in Prophecy: Principles of
Prophetic Interpretation" (1983). AU Press Theology. 9. https://digitalcommons.andrews.edu/theology-
books/9
43
19
Ver 1 Re 18:20-40; Jr 23. Ver Norbert Lohfink, Profetas Ontem e Hoje. São Paulo: Edições Paulinas,
1979, p.9-16.
44
20
Sobre o ser profeta e sacerdote, ver sobre Zadoque em 2 Samuel 15:27. Sobre a distinção entre
vidente, visionário e mensageiro ver FARIA (2002, p.12).
21
Para um maior aprofundamento no tema, ver Ballarini e Bressan (1978, p.15).
22
Para um maior aprofundamento no tema, ver Líndez (1999, p. 29 a 38).
45
irmãos) e tinham a Torah como currículo da fé, história, lei e tradições, cujo propósito
era a formação de suas identidades como descendentes da aliança abraâmica (VAUX,
2003; BREWSTER, 2015) 23.
As crianças eram treinadas para deveres religiosos, familiares e sociais
(CHAMPLIN, 2002)24. Era intrínseco à cultura hebraica o preparo educacional para o
exercício de serviços artísticos, domésticos, religiosos, de negócios ou de liderança.
“A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um ofício como a de instruí-lo na Lei”
(ARANHA, 2006, p. 50).
Na formação missiológica dos hebreus, tanto o sacerdote como o profeta eram
mediadores a fim de instruírem o povo em nome de Deus e cunharem uma identidade
moral e ética a ser compartilhada com os diversos povos. Em termos de preparo para
o exercício das funções, como afirma Fuglister,
23
Deus dá a Abraão a responsabilidade de criar uma sistematização educacional a fim de formar os
descendentes a partir da tradição monoteísta e teocêntrica. Com a educação, formá-los-ia como povo
(Gn 18:19; Dt 11:19-25). Sobre uma perspectiva bíblica da teologia da criança, ver Brewster (2015, p.
29-36) e Vaux (2003, p.72,73).
24
Sobre a atividade de ensino e os diversos ofícios aprendidos por crianças, ver Gn 18:19; Ex 35:25;
Dt 6:4-9; Jz 4:4; 21:21; I Sm 16:11; II Sm 13:8; 2 Re 4:18; 22:14-20; Sl 78:3-6; Pv 4:3; Lm 5:14 e
Champlin (2002, p.271).
46
25
O texto aparece na obra de Vílchez Líndez (1999, p.29-36).
26
Ver I Reis 4:29-34. Gottwald (1988, p. 528) comenta que “se é que ao menos Provérbios, Jó e
Eclesiastes chegaram ao complemento depois que o escribalismo governamental de Judá
desmoronara e antes que o novo escribalismo religioso da Torá fosse plenamente desenvolvido”.
27
Ver Vílchez Líndez (1999, p.29-36).
47
28
Em 1 Reis 11 Deus diz: “(v.33) Porque Salomão me deixou e se encurvou a Astarote, deusa dos
sidônios, a Quemos, deus de Moabe, e a Milcom, deus dos filhos de Amom; e não andou nos meus
caminhos para fazer o que é reto perante mim, a saber, os meus estatutos e os meus juízos, como fez
Davi, seu pai. (v.34) Porém não tomarei da sua mão o reino todo; pelo contrário, fá-lo-ei príncipe todos
os dias da sua vida, por amor de Davi, meu servo, a quem elegi, porque guardou os meus
mandamentos e os meus estatutos. (v.35) Mas da mão de seu filho tomarei o reino, a saber, as dez
tribos, e tas darei a ti”.
29
Para compreender a ideia de sincretismo religioso em Israel, ver 2 Re 3:16; Os 7 e Storniolo (2002,
p.16).
48
deveria continuar o legado de Abraão e de Israel, restaurado por Ele, sendo benção
às nações (SPECHT, 1976) 30.
O movimento dos crentes seria tão importante quanto o monumento do templo,
aparentemente idolatrado (Mt 24:1-3). Este, “mesmo menor em extensão e
suntuosidade, tinha uma função singular de (re)criação da identidade da nação,
através da religião com seu epicentro na figura do Templo de Jerusalém” (SILVA,
2018, p.121).
30
A perspectiva adventista apresenta a Igreja como continuação do povo de Deus. Neste caso, Jesus
restaura o propósito eclesiológico e missiológico dos judeus ao incluir os gentios no processo de tornar-
se povo de Deus. Specht (1976, p.9) lembra que Paulo reforça a ideia de continuidade na metáfora da
oliveira em Romanos 11:17-24. Ver Specht, Walter F., "New Testament Israel" (1976). Faculty
Publications. 4133. https://digitalcommons.andrews.edu/pubs/4133
31
Este é um tema pesquisado por acadêmicos de diversas linhas teológicas: LaRondelle, Hans K.,
"The Israel of God in Prophecy: Principles of Prophetic Interpretation" (1983). AU Press Theology;
MAGALHÃES, Francisco Mário Lima. O sentido de “todo o Israel” em Romanos11:26 segundo Calvino.
FIDES REFORMATA XI, Nº 2 (2006): 9-22; SCHREINER, Thomas R. “The Church as the New Israel and
the Future of Ethnic Israel in Paul.”Studia Biblical et Theologica, 13, no. 1 (April 1983): 17– 38; WRITE,
N.T. The New Testament and the People of God. London: SPCK, 1992; DAVIDSON, Richard M.
"Israel y la iglesia: Continuidad y discontinuidad–II"(2015). Faculty Publications. 1877.
49
Uma vez que todo o povo é constituído por sacerdote, todos os ministérios
de liderança são referidos por termos não-sacerdotais, não cúlticos:
presbítero (do grego presbyteros), supervisor (do grego, episkopos; em
português, bispo), assistente (do grego, diakonós; em português, diácono)
(SKARSAUNE, 2004, p.161).
32
Este é um estudo sobre o sacerdócio no Apocalipse em que a autora chama a atenção para o cuidado
de se usar suposições ou anacronismos na exegese sobre o tema. Ela discute sobre respeitar-se a
existência do sacerdócio geral e do sacerdócio oficial. Começa com um estudo comparativo entre o
que se interpretou sobre Êxodo 19 e a exegese de Apocalipse 1:6; 5:10; 20:6. Para ela, a análise
precisa levar em consideração que os escritores originais eram judeus, portanto, não irão discordar
entre si. Ver Elisabeth Schüßler Fiorenza (1972, p. 127-129).
33
“No ontológico situa a filosofia, cuja função é pensar o ser. Ao caracterizar a teologia como ciência
ôntica, Heidegger visualizou o positium da teologia: a cristicidade ou a fé no Cristo crucificado. Isso
significa que a teologia pensa a fé no Cristo crucificado, exigindo credulidade do crente para ser
realizada como ciência”. Este texto é citado em Gonçalves (2014, p.953). Para uma compreensão mais
elaborada dos termos, ver Heidegger (2006) em Ser e tempo.
50
34
Referências bíblicas que confirmam que Jesus era judeu estão em Mt 5; Lc 2:21; Jo 1:49; 9:2. Para
uma discussão mais aprofundada sobre o judaísmo de Jesus, ver Aquino (1999) no livro Jesus de
Nazaré: Profeta da liberdade e da esperança, páginas 89 a 104.
51
35
Ver mais sobre o tema nos seguintes textos: Lc 12:42; At 14:23; I Co 4:2, 1 Tm 3:6; 3:10; 5:17- 22;
Tt 1:5; Hb 5:12-13; 13:7,17; Ef 4:11, I Te 5:12-13.
36
Ver informações sobre a atuação dos presbíteros nos textos de: At 11:30; 14:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4;
20:17; 21:18; 1 Tm 5:17,19; Tt 1:5; Ti 5:14; 1 Pe 5:1; 2 Jo 1; 3 Jo 1.
37
Ekkehardt Mueller, no artigo A Voz Profética no Novo Testamento: uma visão geral, evidencia a
identidade profética que continua regendo a Igreja a partir da ascensão de Jesus. De forma mais
centrada no Apocalipse, Ranko Stefanovic, no artigo O Espírito de Profecia no Apocalipse de João,
trata da etmologia do conceito de Dom de Profecia em Apocalipse, aplicando o conceito à identidade
da Igreja, conectando-a ao Israel do Antigo Testamento, como sendo sensíveis à voz do Espírito Santo
e submetendo-se à Sua liderança. O conteúdo está disponível no livro Quando Deus Fala: O Dom de
Profecia na Bíblia e na História (TIMM; ESMOND, 2017). Ver Jl 2:28; 1Co 12; 14:4 e 3; Ap 19:10.
52
A relação da igreja cristã com diferentes culturas é uma ordem histórica (Mt
28:18-20; At 1:8, 5-13; Cl 1:23; Ap 14:6). Ao expandir-se, a teologia entra em contato
com o helenismo, religiões mágicas dos pagãos e sistemas políticos como o romano,
sofrendo a sincretização do conceito de verdade e propósito existencial (Gl 1:6-9; Ap
2,3).
Como o crescimento inicial era menos dependente de hierarquias ou de
deliberações estatais, a teologia cristã era rapidamente transmitida de individuo a
individuo, etnia a etnia, cidade a cidade (BUEL, 2020)39. Como água causando
infiltração, os cristãos se espalhavam pelo Império Romano sob um projeto de paz
com todos (At 16:19-22, 35-39; 18:12-16; Rm 12:18) aproveitando-se da sensibilidade
de adaptação do evangelho aos diversos nichos culturais.
O paradigma da relação entre teologia, missão e cultura deste período é bem
representado na carta a Diogneto, do século II, onde:
38
Este é um tema que perpassa a eclesiologia e é visto em movimento dentro de uma perspectiva
escatológica e apocalíptica. Ver "The Two Witnesses of Revelation 11" de Ekkehardt Mueller.
39
D. K. Buel (2020), no livro Making Christians: Clement of Alexandria and the Rhetoric of Legitimacy,
tem a tese de que os cristãos do segundo século debatiam para a construção de um mito sobre a
identidade do discípulo cristão. Ela infere que cristãos empregaram metáforas de procriação e
parentesco na luta por reivindicações para representar a verdade da interpretação, prática e doutrina
cristãs. Ela insiste que o uso de termos de conotação de parentesco diminuía conflitos relacionados a
etnias.
53
Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra,
nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades
próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver.
Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação
de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento
humano. Pelo contrário, vivendo em casa gregas e bárbaras, conforme a
sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao
alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida,
paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo
como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é
pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram
filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas
não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra,
mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua
vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são
desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes
é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem
abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados;
são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem;
são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores;
são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são
combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que
os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio (PADRES APOLOGISTAS,
1997, p. 15,16)40.
40
Conteúdo completo em Padres Apologistas (1997), Carta a Diogneto, Capítulo 5. A Epístola de
Mathetes a Diogneto é uma resposta à indagação de um pagão que queria conhecer melhor o
cristianismo. Conteúdo disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola_a_Diogneto
41
Ver Ti 1:1-4; 1 Pe 1:1,2. Conteúdo para análise mais profunda em Teologia pela missão de Bevans
e Schroeder (2010, p. 141).
54
42
Ver 1 Co 3:16,17; 6:19; 2 Co 2:16; Gl 2:20; Hb 4: 14-16. Quando a Igreja se reúne para estudar é
para definir práticas eclesiásticas, no âmbito da soteriologia, a fim de ampliar o alcance missionário de
sua teologia (At 15). No mais, a fé era compartilhada por meio das Escrituras do já canonizado “Antigo
Testamento” e parte do “Novo Testamento” já comungadas como sagrado (2 Tm 3:16,17; 2 Pe 1:16-
21).
43
Ver Jo 16:13-15; 1 Co 12:3,8,9; Ef 4:11,12; Ap 2:7,11,17; 14:13; 22:17. O ministério da graça mostra
uma relação direta entre Deus e o povo (Mt 18:15-20; 28:20). Existe uma relação temporal entre Cristo
e a Igreja (Rm 8:1; Hb 4:14-16), de modo que a igreja só entenderá o que precisa fazer onde está se
entender o que Jesus faz onde está. Seu propósito 'deste lado do céu' inclui adoração, comunidade e
missão.
55
Se quisésseis dizer a verdade, teríeis que confessar que nós, que fomos
chamados por ele graças ao mistério da cruz, desprezado e cheio de
opróbrio, somos mais fiéis para com Deus. Nós, que por nossa confissão de
fé, por nossa obediência e nossa piedade, somos condenados a tormentos
até a morte pelos demônios e pelo exército do diabo, graças aos serviços que
vós lhes prestais, nós, que suportamos tudo para não negar, nem com a
palavra, a Cristo, por quem formos chamados à Salvação que nos foi
preparada por nosso Pai, somos mais fiéis do que vós (JUSTINO, 1995, p.
131).
A apologia construída para publicar os cristãos como substitutos dos judeus era
um mecanismo de proselitismo baseado em conceitos de família, raça, povo e
soberania divina. O uso de termos fraternais, como irmãos, eliminava as barreiras
culturais, construía bases afetivas e facilitava a comunicação da fé cristã como
superior a outros conceitos religiosos. Neste âmbito, o testemunho pessoal ainda era
autorizado e motivado como principal método missionário (BUELL, 2005)45.
44
“Acusações que se tornaram comuns na época. Da parte dos judeus, por não serem circuncisos e
não guardarem o sábado. Da parte dos pagãos, de antropofagia (comerem a carne de Cristo na
eucaristia), de incesto, por trocarem o beijo da paz na celebração” (JUSTINO, 1995, p.109)
45
Denise Kimber Buell é pesquisadora na área de religião e culturas do período imperial romano,
etnicidade e história do cristianismo primitivo. Para conhecer mais sobre suas pesquisas, indica-se os
livros: Why this new race: Ethnic reasoning in early Christianity (Columbia UP, 2005) e Making
Christians: Clement of Alexandria and the Rhetoric of Legitimacy (Princeton UP, 2020).
56
46
Entre os mártires ilustres desse período estão Inácio, bispo de Antioquia (c.110, cartas a Magnésia,
Trales, Éfeso, Roma, Filadélfia, Esmirna e a Policarpo); Policarpo, bispo de Esmirna (155); Justino
Mártir (165); e os cristãos de Lião e Viena (Gália, 177) (FRANCISCO, 2019).
47
O logos de Fílon, incorpóreo, mas com aspecto imanente, é instrumento da divindade para criar o
mundo sensível a partir dele mesmo. Em outras palavras, uma ordem inteligível de Deus que cria a
partir de si mesmo, gerando o mundo físico. Nessa esteira, como bom platônico e bom judeu, foi capaz
de aproximar a teoria platônica do mundo das ideias e das religiões monoteístas: de si mesmo Deus
gera as ideias perfeitas, os princípios lógicos com potência racional- comparados ao mundo inteligível
de Platão.
48
A cidade de Alexandria, no Egito atual, se destacou como um centro de educação teológica cristã.
Um estilo teológico característico veio a ser associado a essa cidade, o qual retrata sua antiga
associação com a tradição platônica. A segunda região é a cidade de Antioquia e a região vizinha da
Capadócia, a atual Turquia. Em uma primeira fase, uma forte presença cristã veio a consolidar-se nessa
região norte do Mediterrâneo Oriental em que algumas das viagens missionárias de Paulo o levaram
até lá. A Antioquia se destaca de maneira significativa em vários pontos da história da igreja primitiva,
conforme registrado nos Atos dos Apóstolos, se tornando posteriormente um importante centro do
pensamento cristão. Como Alexandria, foi associada a abordagens específicas com respeito à
cristologia e à interpretação bíblica. O termo “antioqueno” é frequentemente utilizado para designar
este estilo teológico característico. Os “pais capadócios” também tiveram uma importante presença
nessa região, em termos de teologia no século IV, especialmente notável por sua contribuição à
doutrina da Trindade. O norte da África Ocidental, especialmente a área da atual Argélia é a terceira
região. Nesse local, ao final do período clássico, ficava Cartago, importante cidade mediterrânea e, em
certo momento, adversária política de Roma, pois ambas disputavam o domínio da região. No período
em que o cristianismo se espalhou por essa área, essa cidade era uma colônia romana. Entre os
importantes escritores da região estão Tertuliano, Cipriano de Cartago e Santo Agostinho. Isso não
significa que outras cidades do Mediterrâneo não tinham importância, já que Roma, Constantinopla,
Milão e Jerusalém também foram importantes centros teológicos (MCGRATH, 2005).
49
Tertuliano perguntou, com indignação retórica: “O que Atenas tem realmente que ver com
Jerusalém? Que concordância existe entre a Academia [Platônica] e a Igreja? E entre hereges e
cristãos?”(OLSON, 2001, p.53).
57
50
Versão do credo apostólico, também chamado de credo romano:
Creio em Deus, Pai onipotente,
criador do céu e da terra.
58
54
“Uma das principais diferenças entre as teologias alexandrina e antioquena girava em torno da
hermenêutica (interpretação bíblica). O padrão alexandrino foi estabelecido nos tempos de Cristo por
Filo, o teólogo e estudioso bíblico judaico, que acreditava que as referências literais e históricas das
Escrituras hebraicas tinham pouca importância [...] uma segunda diferença entre as teologias
alexandrina e antioquena tinha que ver com a soteriologia, a ideia da salvação. A soteriologia
alexandrina apegava-se especialmente ao conceito oriental tradicional da deificação no decurso da
salvação e no seu alvo final” (OLSON, 2001, p.206-210).
55
“Até o século XIII, quando começa a formação das Universidades, as escolas são: 1) monacais ou
abaciais (anexas a uma abadia) e, no mais, conduzidas por monges; 2) episcopais (anexas a uma
catedral); 3) palatinas (anexas a uma corte: palatium). No período das invasões dos barbaras, as
escolas abaciais ou monacais representaram o refúgio privilegiado da cultura, tanto por meio da
transcrição como da conservação dos clássicos. As escolas episcopais se tornaram
predominantemente local da instrução elementar, necessária para o acesso ao sacerdócio ou para
assumir funções de utilidade pública e de administração. A escola que mais do que qualquer outra
destinou-se a incidir sobre a cultura medieval e que contribuiu para o despertar da cultura foi a palatina,
desejada por Carlos Magno e confiada em 781 a Alcuino de York” (ANTISSERI; REALE, 2003, p.121).
60
56
“A Igreja naturalmente assumiu uma missão política, o que se firmou quando foi criado em 756 o
"Estado Pontifício" na Itália, reconhecido por Pepino o Breve, mordomo dos francos; muitos bispos
foram incumbidos de funções sociais e políticas. Este período foi caracterizado pelo universalismo: na
política um só grande Império, que continuava o Império Romano universal; e na religião, o Papa como
o único Chefe religioso no Ocidente. Surgiu a chamada Cristandade. O mundo ocidental girava somente
em torno de valores cristãos ensinados pela Igreja.” Trecho extraído do livro de Felipe Aquino (2010,
p.28), defensor de uma revisão sobre a interpretação da atuação da Igreja Católica na Inquisição. Em
sua tese, os motivos e procedimentos de condenação eram justificáveis à época e condená-los é
anacronismo.
61
57
“Como diz a Ordinatio: "O homem, não a bem-aventurança ou a saúde, é o assunto da ciência moral
e da medicina, porque a noção de meta em ambas as ciências está contida na noção do que a prática
se refere" (Ord. Prol., p. 5, q. 2, n. 322). Texto citado em Michal Chabada. Teológia ako praktická veda
podľa Jána Dunsa Scota. STUDIA THEOLOGICA 8, č. 1 [23], jaro 2006. Disponível em
https://www.studiatheologica.eu/savepdfs/sth/2006/01/04.pdf
58
Este tema é discutido por Almeida (2021, p. 99-117). Conteúdo Disponível em:
<https://doi.org/10.20911/21768757v53n1p99/2021>.
59
Comentando a perspectiva de Dun Scutus, Cross argumenta que “o ser humano, pelo batismo,
recebe o efeito gracioso de nascer espiritualmente, ser adotado como filho de Deus e tornar-se membro
da Igreja (CROSS, 1999, p. 138).
62
60
Os “Humilhados”: foi um movimento constituído por artesãos, operários e pessoas excluídas
socialmente, todos comprometidos na evangelização testemunhada por uma vida de pobreza; Os
Valdenses: conhecidos como os “Pobres de Lyon”, foi um movimento que nasceu na França através
da escolha radical de pobreza do comerciante Pedro Valdo que se tornou um predicador itinerante; As
Beguinas e os Begardos: foram dois movimentos de intensa espiritualidade cristã, respectivamente
feminino e masculino, cujo nascimento se deu espontaneamente no contexto do despertar evangélico
do século XII na Europa; Os Franciscanos: foi um movimento nascido a partir de uma experiência
mística de Francisco de Assis na Igreja de São Damião, respondendo ao chamado de Deus: “vai e
reconstrói a minha Igreja”. É dever lembrar, como missionariamente relevante, o encontro amistoso de
Francisco com o Sultão al-Malik al-Kamil, como também a figura de Raimundo Lulo (1232 – 1316), que
adotou uma atitude de diálogo intercultural em relação aos muçulmanos, fundamentalmente distinta
das cruzadas de seu tempo; Os Dominicanos: fundados por Domingos de Gusmão no século XIII, foram
homens altamente instruídos, excelentes pregadores e de vida simples, que viajavam por toda a Europa
pregando, ensinando e enviando representantes até para a China. Assim como no movimento
franciscano, mulheres estiveram envolvidas no apostolado desde o início da Ordem. Além da Ordem
Conventual, incluíram também uma Terceira Ordem de mulheres e homens que viviam o ideal e a
espiritualidade dos movimentos mendicantes em suas vidas cotidianas (Restori; Raschietti, 2018).
Conteúdo disponível em http://www.missiologia.org.br/wp-
content/uploads/2018/03/Historia_evangelizacao_site.pdf
63
Se não sabem por que a mensagem cristã constitui uma boa notícia,
simplesmente não é para eles uma notícia boa. Com efeito, este termo boa
notícia não pode carecer de uma relação, ao menos mínima, com o intelecto,
quer dizer, com a faculdade de compreender as coisas que ela realiza em
qualquer homem, seja qual for seu grau de cultura. [...] Mas será que o
Evangelho que não é compreendido nem aceito como boa notícia, ainda é
Evangelho? [...] A causa dessa estranha omissão é que “fé” e “salvação” não
estão relacionadas, na mente dos pastores, com a noção de “intelecto”, quer
dizer, com a função pela qual o homem compreende e estrutura mentalmente
sua própria vida (SEGUNDO, 1987, p. 64).
61
Barros (2009, p.69) comenta que enquanto o império enfrentava dificuldades para se manter como
realidade política efetiva para além do fato de ser para muitos de seus contemporâneos apenas uma
‘ficção política’ – também a Igreja enfrentou no século XIV as ameaças à unidade, as cisões e os
questionamentos em relação a seus aspectos institucionais ou à autoridade papal. O século XIV foi um
século marcado pelo exílio de Avinhão (o deslocamento da Cúria Papal para a cidade de Avinhão, para
fugir ao clima político desfavorável na Itália) e pelo grande Cisma entre 1378 e 1382. Tempos estes
que anunciaram, portanto, tanto a falência do projeto universal do império quanto do projeto universal
do papado.
64
62
“Estas premissas e suas características, contudo, não ocorreram ao mesmo tempo, fazem parte, isto
sim, de etapas e correntes filosóficas distintas. O século XVI, por exemplo, viu aparecer a filosofia
naturalista e os teóricos civis de um lado, e a novidade teológica dos reformadores e
contrarreformadores de outro; já o século XVII se viu com o desafio de debater o método e o valor do
“novo” conhecimento que renascia à luz do empirismo ou do racionalismo – sobre o método, além dos
filósofos profissionais (Hobbes, Descartes, Bacon etc), também entraram em cena os filósofos-
cientistas (Galileu e Newton); no século XVIII, o pensamento moderno se realiza por completo com o
Iluminismo.” (DAMIÃO, 2018, p. 25-26).
65
63
O nominalismo configura-se como "a rejeição completa da existência de qualquer entidade universal
extramental, seja exterior às coisas, seja enquanto realidade nas coisas; afirmação de que na realidade
extramental há unicamente os indivíduos singulares" (LEITE JÚNIOR, 2001, p. 29).
64
“O espírito da Renascença pode ser resumido em um a só palavra: humanismo. O humanismo da
Renascença, no entanto, não era “secular”. Pelo contrário, era simplesmente crença na criatividade
cultural do homem, que rejeitava o pessimismo agostiniano a respeito da humanidade que reinou
soberano por mil anos” (OLSON, 2001, p.358).
65
Luis Gustavo Silva amplia o conceito de laicidade considerando que, etimologicamente, a palavra é
derivada do adjetivo latino Laicus (leigo, desconhecedor) que, por sua vez, é proveniente do termo
grego Laikós - ambos designam o indivíduo sem distinções, pertencente ao povo (Laós). Para ele “a
Igreja Católica foi responsável por popularizar o léxico de expressões procedentes de Laicus, com o
intuito de definir o que era exterior à jurisdição eclesial, isto é, as pessoas e associações que não
formavam parte do clero ou de suas iniciativas, respectivamente.” (SILVA, 2019, p. 287). Ver SILVA,
66
Ao assimilar algo alheio, sempre ficam sem efeito coisas que somente a
cultura, na qual o pensamento foi criado, pode pensar, expressar e
desenvolver, em sua totalidade. Categorias que libertavam o homem do
temor aos castigos de Deus e da busca da segurança no sagrado, diante da
ameaça desses castigos pautados pela lei, não se enquadravam com a
necessidade – e o dever – de dirigir, sólida e, às vezes, violentamente, a
conduta e o pensamento do povo a respeito de seus deveres básicos e,
cívicos e religiosos. Mas o cristianismo continuou pretendendo ser tal quando,
de fato, voltou atrás, conformando-se a ser uma religião da lei, com seus
prêmios e castigos. O povo, assim, vítima de uma pedagogia apressada,
obriga, por sua vez, por mais paradoxal que possa parecer, o cristianismo a
“atrasar-se” (SEGUNDO, 2000, p. 289).
Por último, a fé como lei do estado teve seu colapso com a queda do Império,
o que enfraqueceu o viés evangelizador da Igreja cristã-católica que perdeu o poder
político sobre os considerados povos civilizados ou os tidos como bárbaros. Se a fé
perde o status de pena capital, a Igreja não precisava mais ser seguida. Assim, não
podendo mais dialogar com o novo tempo, os grandes desafios à fé passam a serem
vistos como inimigos da fé.
Martinho Lutero simplificou a fé tornando-a compreensível e experimentável às
pessoas de quaisquer grupos sociais. Para se salvar e ter uma relação pessoal com
Deus não era mais necessária nenhuma obra por parte do pecador, nem seria por
méritos propostos pela Igreja. Assim, conforme Tillich (2000, p.235), para Lutero: “fé
significa nada mais do que a aceitação da graça” e não a apropriação dos dogmas
católicos ou da política do estado. Em síntese, para o reformador, fé era
relacionamento e não favorecimento ou conhecimento.
Conforme Tillich,
66
Confira abaixo as definições e características conforme apresenta a seguinte síntese (SAWYER,
2009):
• A Teologia Bíblica tem um foco específico de estudo, enfatizando o estudo de uma época ou escritor
em particular, levando em consideração a análise hermenêutica e exegética de textos e
contextos da Bíblia;
• A Teologia Histórica é o estudo do desenvolvimento histórico e desdobrar da teologia, levando em
consideração os principais períodos históricos de sua formação, seus personagens, concílios, credos,
confissões, ortodoxia, heresias e o processo de formação do cânon;
• A Teologia Dogmática às vezes é confundida com a teologia sistemática, mas algumas obras de
teologia renomadas têm sido intituladas como “teologia dogmática”. A mais conhecida obra
de carácter dogmático é a Dogmática da Igreja, de Karl Barth; e a Dogmática Reformada, de Herman
Bavinck;
• A Teologia Cristã é outra categorização que às vezes é usada como sinônimo com a teologia
sistemática;
• A Teologia Própria é uma categoria de estudo junto à teologia sistemática. Ela denota o estudo da
natureza e existência de Deus. Geralmente a Teologia própria, ou teologia propriamente dita refere-se
a Teontologia, podendo ser considerada o locus da teologia sistemática que trata do estudo de Deus
e, especificamente, de sua existência, seus atributos e a perspectiva da Trindade.
67
Para uma compreensão mais acadêmica sobre a histórica da globalização e o sincretismo religioso
e cultural na modernidade, ver Ramalho (2012) e Sanchis (1995).
69
68
Moreau et al. (2015, p. 19), citado em Li-M (2018, p. 19), define missiologia como “o estudo
acadêmico sobre missões e a Missio Dei”.
69
Ver o que Li-M (2018, p. 19,20) escreve no sentido de dizer que a missiologia é uma consciência
constante e um desafio à igreja, lembrando-a da agenda inacabada de Deus para estabelecer seu reino
universal crítica e contextualmente. Ela tem o papel científico único de um cão de guarda para a missão
empreendida pela igreja. Esta definição é uma reminiscência da dicotomia geralmente percebida nos
estudos de missão.
70
“On Schleiermacher, see Idealistische Missionstheorie: Schleiermacher” (WALLDORF; KÄSER;
BRANDL, 2010).
71
71
Material disponível em http://www.metodista.org.br/edinburgo comentado por Magali do Nascimento
Cunha, jornalista e leiga metodista, membro do Comitê Central do Conselho Mundial de Igrejas. Fonte:
Tempo e Presença digital, ano 5 – n. 19, março de 2010.
72
Enquanto as denominações no Ocidente lutavam, a missiologia prometia respostas para a questão
do que precisávamos fazer: ajudar a criticar o crescimento da igreja e promover a renovação da igreja,
garantir que a ação social fosse baseada mais na teologia do que na política, reivindicar a identidade
de ser missionário por nossa própria natureza e lutar com nossa compreensão de outras religiões para
que respeito e evangelismo andassem juntos. A missiologia parecia equipada para desenvolver
teologias de religiões e as distinções necessárias se as lutas com o sincretismo e a contextualização
fossem para lidar com dilemas reais, não com inimigos indizíveis. Os missiologistas poderiam ajudar
as agências missionárias a ajustar suas políticas à nova demografia do Cristianismo como religião não
ocidental.
Em 1992, Bevans e Schroeder apresentaram o primeiro de seus três volumes, Novas Direções na
Missão e Evangelização, com uma visão geral "Declarações sobre Missão e Evangelização, 1974-
1991". A data final de 1991 era fácil de explicar - estava perto do presente e do ano da Missão
Transformadora de David Bosch. Mas por que 1974? Uma possibilidade é que tenha sido o ano do
Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial, realizado em Lausanne. O Pacto de Lausanne
pode ter precisado de atualização virtualmente desde a época de sua redação e o consenso por trás
de sua formulação pode ter sido frágil, mas continua sendo uma das declarações missiológicas
influentes centrais do século XX.
Depois de Lausanne, vários missiologistas evangélicos e conciliares trabalharam para resolver as
diferenças de perspectiva de suas tradições. No início da década de 1980, alguns ainda viam o
contraste como uma crise; no entanto, uma década depois, o grau de acomodação entre as
polarizações da ação social e do evangelismo era surpreendente. Na missão transformadora, Bosch
documentou ambos: por um lado, a severidade do contraste em 1980 entre a reunião de Melbourne da
Conferência do CMI sobre Missão Mundial e Evangelismo e a Consulta Lausanne em Pattaya, por outro
lado, os termos de um paradigma ecumênico emergente evidente no encontro do CWME em San
Antônio em 1989 e no de Lausanne em Manila, também em 1989. Os paralelos com a queda do Muro
de Berlim e o fim da Guerra Fria foram apenas coincidência? Mais conteúdo sobre o tema pode ser
encontrado em http://www.internationalbulletin.org/issues/2014-03/2014-03-120-roxborogh.html
72
Nessa fase, o pioneiro e pastor Tiago White, entendendo que educação era
uma forma de preparar famílias inteiras para o adventismo, criou a lição da Escola
Sabatina na revista Youths Instructor (FORTIN; MOON, 2018). Através deste guia de
perguntas sobre temas bíblico-doutrinários, formou um consciente coletivo adventista
e organizou as congregações em consensos doutrinários (KNIGHT, 2000). Porém, “a
crise de um ministério mal pago e desmoralizado quase levou o movimento sabatista
ao colapso em 1856” (KNIGHT, 2000, p.57). Portanto, a partir desta experiência,
reconheceu-se que para a manutenção e expansão do evangelho, a figura do ministro
é determinante para o modo adventista de interpretar a missio Dei.
Inicialmente, havia intensa preocupação em se ter consenso doutrinário entre
o grupo, “requeriam liderança firme e norteada para formar uma corporação de crentes
dentro das caóticas condições do adventismo pós-desapontamento” (KNIGHT, 2000,
p.52).
Para Timm (2011, p.6) “o processo de formação doutrinária gerou crescente
consciência missionária adventista, grandemente em termos de restauração das
verdades bíblicas dentro do contexto escatológico do tempo do fim.” Algo corroborado
por Schwarz e Greenleaf (2009, p. 160) que, comentando sobre a reação dos
membros em relação ao crescimento do grupo, afirmam que “eles viam seus triunfos
não como resultado do esforço humano, mas da decisão divina de apresentar uma
última advertência ao mundo.” Ou seja, a perspectiva da Missio Dei era preservada
na perspectiva missiológica adventista.
74
73
Alberto Timm cita um artigo de Tiago White, publicado na Review and Herald, em 6 de maio de 1858.
A partir dos apelos do pioneiro “a publicação de literatura adventista sabatista em outras línguas tornou-
se um dos mais influentes meios de se alcançar populações de fala não inglesa na América do Norte
e além mar” (TIMM, 2011, p.9).
75
por meio de suas instituições e igrejas, seus líderes e membros, a tríplice mensagem
angélica em sua plenitude” (BARBOSA, 2014, p. 19). Ou seja, tudo o que a igreja tem,
desde patrimônio físico, histórico, humano e até financeiro serve-se ao cumprimento
da missão de Deus.
Missionários para o Mestre são mais bem preparados para o trabalho em uma
casa cristã, onde Deus é temido, onde Deus é amado, onde Deus é adorado.
. . onde o acaso, desatenção descuidada aos deveres domésticos não é
permitida, onde a comunhão silenciosa com Deus é vista como essencial para
o desempenho fiel dos deveres diários (WHITE, 2006, p.35).
76
Para a pioneira, a Igreja deveria continuar a educação familiar que tinha foco
em preparar os filhos para a missão, pois o ministrar o evangelho era a mais
importante obra que um jovem se envolveria74. Para Ellen G. White:
74
“Não há outro ramo de trabalho em que seja possível aos jovens receber maior benefício. Todos os
que se empenham em servir são a mão auxiliadora de Deus. São coobreiros dos anjos; ou antes, são
o poder humano por meio do qual os anjos cumprem a sua missão. Os anjos falam pela sua voz e
agem por suas mãos. E os obreiros humanos, cooperando com os seres celestiais, recebem o benefício
da educação e experiência deles. E, como meio de educação, que curso universitário poderá igualar a
este?” (WHITE, 2008, p.271). Ver também Counsels to Parents, Teachers, and Students (Mountain
View: Pacific Press Publishing Association, 1913), p. 69.
75
Ellen G. White (2007) fala sobre o tema no livro Conselho aos Pais, Professores e Estudantes, p.
519.
77
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Realizada a coleta dos dados, eles foram transcritos e analisados a partir dos
pressupostos epistemológicos da pesquisa, descritos no referencial teórico. A análise
de conteúdo usada nesta pesquisa é uma técnica construída por Laurence Bardin que
a conceitua como (1977, p.42):
76
Tabela adaptada por Luciana Correia Barbosa (2016) em sua dissertação de mestrado intitulada
“Aprendizagem organizacional na economia criativa: um processo social a partir da atuação dos
gestores”. Para ter acesso a todo o texto de onde a tabela foi extraída, ver o link do material:
https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/18578/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Luciana%20
Correia%20Final.pdf
85
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
77
Região administrativa que compreende os bairros com ou sem congregações adventistas.
86
P2 32 2018 1,5
P3 33 Administração 2017 Coach 3
(P – N/A) Latu sensu (EAD – N/A)
P4 26 2020 1
P5 32 Direito (P – N/A) 2019 1
P6 48 Design Gráfico 2016 Aconselhamento familiar 2
(P – N/A) Latu sensu (P - I/A)
Recém Ordenados (6 a 15 anos de ministério)
P7 34 2014 História 2
Graduação (EAD – N/A)
P8 45 2016 Resolução de Conflitos 2
Latu sensu (EAD – I/A)
P9 40 Administração 2016 Liderança, Inovação e 2
(P – N/A) Gestão
Latu sensu (EAD – N/A)
P10 37 Música 2014 3
Graduação (P –
N/A)
P11 40 2012 3
P12 48 Engenharia de 2011 2.75
Produção
Graduação
(P – N/A)
Ordenados Experientes (16 a 25 anos de ministério)
P13 45 2000 Ciência da Religião 3
Latu sensu (P – N/A)
Liderança Eclesiástica
Latu sensu (P – I/A)
Psicologia da Família
Latu sensu (P – I/A)
P14 46 2000 Ciência da Religião 2,5
Latu sensu (P – N/A)
Administração Eclesiástica
Latu sensu (P – I/A)
P15 40 2006 Missiologia 3.2
Latu sensu (em curso)
(EAD – I/A)
P16 54 1998 3.5
P17 53 1999 Psicologia da Família 3,3
latu sensu (EAD – I/A)
P18 51 Contabilidade 2003 Missiologia 3
(incompleto) Latu sensu (em curso)
(P – N/A) (EAD – I/A)
Ordenados em processo de jubilação (acima de 25 anos de ministério)
P19 61 1990 Administração 3,2
Graduação (P – N/A)
Docência do Ensino
Superior
Latu sensu (EAD – I/A)
Ciência da Religião
Latu sensu (P – N/A)
Psicologia da Família
Latu sensu (EAD – I/A)
87
Química
Latu sensu
(P – N/A)
P21 1991 Administração 3
Graduação (P – N/A)
Teologia Pastoral
Strictu sensu intracorpus
(P – I/A)
P22 58 1986 Teologia Pastoral 3.5
Strictu sensu intracorpus
(P – I/A)
P23 62 1985 Teologia Pastoral 2.8
Strictu sensu intracorpus
(P – I/A)
P24 58 1992 História 3,1
Graduação (P – N/A)
Teologia Pastoral
Strictu sensu intracorpus
(P – I/A)
Fonte: Elaborada pelo autor, 2022.
entre os membros voluntários e este viés da teologia, algo que poderá limitar a
atuação e entrega deles aos anseios da Missio Dei.
Sobre a quantidade de igrejas lideradas por este grupo, ao longo do ministério
estiveram à frente de 6 ou mais igrejas, distribuídas em diferentes bairros e/ou
cidades. Isso amplia a necessidade de expertise missiológica para se lidar com
tamanhas diversidades.
Quanto à idade, os participantes têm média de 34 anos. Tendo em vista que o
período em que atuam como aspirantes é de no mínimo quatro anos, pode-se inferir
que os pesquisados entraram no ministério pastoral emocionalmente maduros. Com
exceção do P4, os demais tiveram outras experiências profissionais antes da atividade
religiosa.
Há um consenso administrativo adventista que indica que o pastor aspirante
precisa ter mais de uma experiência em diferentes realidades eclesiásticas antes de
ser ordenado ao ministério (REA, L, 2019 p.544, 545). Tendo em vista que estão em
formação de pressupostos missiológicos, testados na relação entre a teoria do
seminário e prática do distrito, este formato de transferências pode interferir na relação
ensino-aprendizagem sobre missiologia estabelecida entre o pastor e as igrejas.
Quando perguntados sobre a percepção da formação do seminário em relação
a missiologia, responderam:
Não foi muito aprofundado essa questão missiológica. No momento ali foi
dada a matéria mesmo, não a prática. Ali eu achei muito fraco. Muitos
acharam fraco. E eu tive que realmente aprender quando eu vim para cá (se
referindo ao distrito). Fizemos a prática do terceiro ano, né? Depois do quarto
ano (referindo-se ao estágio). Mas, eu aprendi mesmo aqui na associação.
89
Era a primeira turma de formandos, então eles estavam num conceito mais
voltado ao sul, um conceito do discipulado. Mas, tem uma certa pressa em
que a pessoa tome a decisão e seja batizada. Lá (no seminário), trabalhavam
a teoria que não era uma realidade da igreja hoje, né? Eles trabalhavam na
teoria. Dizia, você tem que seguir isso aqui, você tem que ser fiel. Por mais
que veja a igreja trabalhando outros conceitos, falando outras coisas, você
tinha que ficar com o conceito. Então, quando você chega na prática é
diferente.
Não sei se pelo estado e tal, muito do que a gente recebeu até da prática é
diferente da realidade que eu vivo hoje. É limitado. Isso não é um defeito. Me
formei na SS(confidencialidade) e o público é diferente. O espírito de missão
é diferente. Quando a gente vem aqui para M (confidencialidade), né? Interior
a realidade é outra dificuldade. Então a formação que a gente recebe lá é
ampla, é útil, mas não vai conseguir nunca abranger todos os contextos que
a gente vai enfrentar no ministério.
78
A gestão central é coordenada pelo Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT), é
uma instituição da Igreja Adventista do Sétimo Dia responsável pela educação teológica no território da
Divisão Sul-Americana. Para conhecer mais sobre suas atribuições pode-se pesquisar no site
https://encyclopedia.adventist.org/article?id=3GOR&lang=pt
90
Entre este grupo, o tempo de atuação distrital é em média 2,5 anos. Um tempo
curto para uma atuação realizada em distritos com mais de uma igreja, podendo as
congregações estarem em diferentes cidades e requerendo abordagens adequadas
à cada realidade cultural. A tendência indica a não prática de paradigmas
missiológicos aprendidos no seminário de teologia.
Entre os entrevistados, quanto ao termo missiologia, todos afirmaram tê-lo
escutado pela primeira vez no seminário, mas dois divergiram em relação ao
entendimento pleno do termo para a prática pastoral.
Do grupo, mesmo dois tendo afirmado terem obtido conhecimento pleno sobre
missiologia após o seminário, disseram ter sido através de um pastor adventista, o
que demonstra que, após o seminário, o conceito permanece como um paradigma da
função pastoral. Nenhum dos pesquisados citou a palavra “membro” ao falar sobre
sua experiência de aprofundamento na compreensão missiológica.
Só por esse detalhe de não ser continuado. Na teoria o pastor tem a manhã
para estudar. E se tivéssemos opções, né (de ter a Educação Contínua no
período da manhã)? Vai, vai, vai estudando continuamente, melhorando seu
currículo. Tem muita gente que vai preferir, como eu, fazer um estudo fora,
pois tem a certificação...Porque queira ou não queira, precisa ser algo para o
meu crescimento ministerial e pessoal. Não é só ministerial. Eu estou dizendo
que aquilo (Educação Contínua da igreja) só serve enquanto eu sou pastor.
Este grupo envolve pastores que atuaram em seis ou mais distritos. Em média,
têm 48 anos de idade, 3 anos de atuação em cada distrito e em nenhum dos casos
indicaram terem trabalhado em região com apenas uma congregação sob sua
liderança. Sobre a primeira experiência com o termo missiologia; P14, P16, P17 e P18
tiveram sua primeira experiência com o termo durante o seminário de teologia,
enquanto P13 e P15 tiveram após o seminário.
Em relação ao entendimento pleno do termo para o ministério pastoral, todos
indicaram terem obtivo após o seminário de teologia através de seminários, cursos de
pós-graduação e, especificamente, o P15 através de leituras. O P16 indicou que a
experiência se deu em palestra fora do contexto adventista.
Quando perguntados sobre a avaliação da formação no seminário teológico no
contexto da missiologia, divergiram em três linhas de respostas:
94
Quando o tema tratado foi a Educação Contínua, não houve plena satisfação
para com a experiência ofertada pelas sedes administrativas.
O pesquisado indica que os temas são relevantes, mas afirma que “o tempo
que passamos estudando é muito pouco. Não dá para se aprofundar. Não dá para
aprender muito. Poderíamos ter duas vezes ao ano”.
Esta resposta, novamente revela que os pesquisados se interessam por um
currículo de Educação Continua com foco em missiologia e reforça o anseio e
disposição em preencherem o tempo semanal com experiências de aprendizagens
aplicadas à prática, submetendo-as à reflexão sobre a efetividade.
Para o P19, “todos os que vem aos encontros estão focados em alimentar o
pastor e chamá-lo à realidade da missão.” O P22 corroborou dizendo que a partir das
aulas na Educação Contínua “o pastor precisa entender que está sempre em contato
com o estudo, analisando o contexto em que está vivendo.”
Para o P20, “o tempo em que a gente passa estudando é muito pouco. Quando
é oferecido, são 3 dias. Então, não dá para aprofundar tanto, não dá pra gente
aprender, entende? Se tivesse 2 vezes por ano, talvez fosse mais interessante.”
O comentário corrobora com a ideia de que o pastor tem vontade de estudar
mais sobre o tema da missiologia. A expressão temporal “quando é oferecido” indica
falta de regularidade na oferta, sendo assim, não se contempla a recomendação do
Guia para Ministros Adventistas do Sétimo Dia, onde se recomenda o mínimo de “pelo
99
Talvez devido ao pouco tempo. Ali é pouco. Tem treinamentos que não são
gerais, globais, são só para um grupo. Como esse de missão urbana, de
abertura de novas igrejas em lugares não penetrados. Eles têm um conteúdo
específico. A bagagem deles é maior do que a minha, eu percebo. Não tive
oportunidade de estudar (em um grupo de estudos da Associação). Para
Educação Continuada, comparo com o que eu sei e converso e leio também
sobre o assunto. Eu vejo que o conhecimento é muito parcial.
Sobre esse assunto, os que não fizeram conexão imediata entre a pergunta e
algum programa de Educação Contínua, responderam:
As divergências nas respostas indicam que o programa não tem tido o mesmo
currículo e periodicidade, mesmo que oficial e obrigatório a todos os pastores
aspirantes. O fato cria um cenário de formação desigual entre os pastores que, pelo
sistema de transferências, poderão trabalhar nas mesmas igrejas, formando-as sob
divergentes paradigmas de missão.
A gente se envolve tanto ali na questão do dia a dia do ministério que, de fato,
muitas vezes a questão da educação, a gente não tem aquele tempo, né?
Como tinha na faculdade. Essa questão de cumprir a missão com quem não
quer e a parte prática do evangelho, diminui de certa maneira, sim, a questão
do estudo pastoral.
P2 - Acaba então que o pastor Adventista precisaria ter esses dois mundos,
conhecer essa área missiológica lá de fora. Também daqui de dentro, a
nossa, né?
P5 - A gente faz missiologia dentro das paredes da igreja. Mas, a gente vai
estudar livros de pessoas que não são da igreja, né? Então, talvez a diferença
está mais na cabeça de um terceiro que pensa assim (que não se deve
estudar fora de uma instituição adventista). Um pastor, se ele souber
ponderar, se souber usar o filtro correto, é diferente.
P1 - Eu acredito que o discurso vai ser bem antagônico, né? Bem diferente
um do outro. Então, quando você tem oportunidade de estudar na instituição
adventista, você vai aprofundar o conhecimento e melhorar sua estratégia.
Então, quando você estuda na instituição adventista favorece o tempo que
você vai consolidar dentro das bases. Falando sobre missiologia,
107
O prejuízo para a prática pastoral é que você vai ter um discurso, um sermão
e uma aceitação, talvez indevida, de pessoas que estão em práticas de
pecado. É essa ideia muito liberal, né? Que algumas instituições podem
trazer dentro da sua teologia, afetando o fato de que o pastor, vai ser também
liberal... a dificuldade que vai trazer para a práxis é que muitas vezes o pastor,
ao perder de vista essa ideia de remanescente, ele possa ser
condescendente com algumas atitudes. Ele acaba sendo influenciado pela
instituição em que estudou, né? Isso é fato. Não tem como a pessoa dizer
que não vai ser influenciado por um local que está formando aí.
108
Não vou desprezar 100% o que outras instituições, outras denominações têm
a oferecer. Mas a nossa igreja é incomparável. Ela tem um poder muito
grande na questão do “ide pregar o evangelho”, fazer discípulos e batizar. E
a gente envolve toda a igreja no processo. Não é só o pastor que tem a mente
formatada para esse trabalho. A igreja também. Essa é a missão da igreja e
ela existe por isso.
lido um pouco nesse sentido. A gente tem procurado mais focar nas metas
que são estabelecidas pela igreja.
P8 - Eu acho que ele pode crescer, pode tirar coisas boas. Porque, de tudo a
gente pode tirar algo bom, entendeu?
P10 - É, eu acho que poderia interferir positivamente. Pode agregar uma
visão. Dando uma visão mais ampla. O que pode agregar muito da
experiência de fora, do meu ponto de vista, é justamente essa visão de leitura
da sociedade, né? De você conseguir enxergar que não existe uma única
maneira de se fazer missão. Existem várias maneiras, né? Eu acho que eu
acho que isso tem também dentro da igreja, mas fora eu acho que a ênfase
é muito mais forte nisso daí.
P11 - [...] lá fora ele vai conviver com pessoas, ouvir, aprender questões do
ser humano, que certamente não vai aprender se estiver só no meio
Adventista. Porque estamos numa bolha, né, cara? A verdade é essa.
Por mais que você escolha bem a faculdade, o curso vai ter muitas coisas
para confrontar com a sua realidade, com a questão de você ser adventista.
Eu creio que a diferença pode ser boa, nos dois sentidos. Para quem estuda
dentro da instituição Adventista, vai servir para afirmar os princípios,
fundamentos, a questão da visão profética e tudo mais. Só que não é
suficiente. Porque ele vai lidar com a cabeça, com o contemporâneo, com
pós-moderno, com um cara que está cheio de filosofia. Então, penso que é
positivo estudar missiologia na instituição, mas não é suficiente. Lá fora pode
ser positivo e negativo, depende da maneira como a pessoa lida.
Cem por cento não, porque o foco a cada ano muda. Se essa Educação
contínua com foco missiológico fosse como um mestrado, tendo aula de
missão, contexto de missão, aí atenderia. Às vezes, num ano tem alguém
falando sobre missão, no outro muda para projeto de planejamento.
às vezes, você vai trabalhar teologia com a igreja que fica meio sem saber
qual a essência e relevância daquilo. Mas a missiologia é aquilo que, de certa
forma, faz com que a igreja se mova.
Às vezes sim, às vezes não. Por exemplo, sou uma pessoa que me considero
missiológico. Então, se vem um pastor que traz para mim algo que realmente
me ajude a preencher o tanque vazio, no sentido da missiologia, acredito que
seria de grande valia o programa de Educação Contínua. Agora tem alguns
convidados, por mais que trazem informações importantes para o
crescimento ministerial e para o desenvolvimento, não me alcança. Eu
entendo que é importante, mas não me alcança. A minha área é outra, a
minha praia é outra coisa. Com conceitos teológicos, tenho muita dificuldade
de compreensão, entendeu? Particularmente, não gosto de ler livros
teológicos. Não gosto de ler nada que venha com termos teológico. Eu gosto
de ler coisas práticas, entendeu? Então, para mim, quanto mais prático é um
palestrante, melhor é a educação contínua.
E quando você chega na igreja para lidar com as pessoas, estão lidando com
pessoas de tudo quanto é tipo, de todo o nível educacional, de todo o nível
financeiro, de todo tipo de pensamento. Então, não dá para você pegar um
pensamento e colocar isso para 300 pessoas num distrito pastoral, com 8
igrejas...Por exemplo, qual é o projeto que a igreja tem e a gente tenta
implantar? Mas a pergunta é: e o projeto da igreja local? A instituição tem um
projeto que a igreja local vai abraçar, olhar e falar: é a nossa cara? Esse aqui
tem o nosso jeito? Isso aqui a gente vai fazer, porque é tudo que eu sempre
sonhei para realizar.
119
O P16 foi o entrevistado que, destoando dos demais, avaliou o programa como
positivo para a formação missiológica. Do grupo, é o único sem um curso de pós-
graduação, sendo sua falta de referência para avaliar o programa da Igreja indicada
na criticidade positiva do projeto que passou a ser sua principal base de
aprendizagem.
Ao ser perguntado sobre a satisfação em relação à Educação Contínua, disse
que “auxilia muito [...] Trazem um professor de teologia e passa um tempo com a
gente. Auxilia muito para uma visão de missão mais clara, mais ampla, mais definida”.
Sua visão da relação entre teologia e missão evoca um paradigma missiológico
cristão-apostólico; as duas são faces da mesma moeda, estando sempre juntas. Neste
quesito, percebe-se que a falta de estudos formais de pós-graduação não limitou sua
capacidade individual de formar uma práxis missiológica bíblica.
P13 - Algo que, de certa forma, é sempre a mesma coisa. Uma coisa que
não muda.
P14 - É como se fosse uma coisa que já está institucionalizada, que já
está definida. É um conceito, um parâmetro que que já vem, como se fosse
o senso comum.
P15 - É uma ideia, uma tese defendida por alguém. Uma filosofia, algo que
a pessoa cria na sua mente, de acordo com aquilo que leu ou estudou. Mas,
que não se torna absolutamente clara no momento da comunicação. Ou seja,
é algo que ainda vai ser desvendado. É algo que ainda vai ser pesquisado,
estudado, compreendido.
P16 - Paradigma é uma coisa que a pessoa define para si. E, ela acredita
naquilo e não quer mudar. Acha que só tem um jeito de fazer as coisas.
Definindo uma só maneira de fazer as coisas.
P17 - É algo que nos dá um norte, né? Algo que que nos dá uma direção,
que tende a ser imitado. Fica fixado como uma tradição. Mas que algum
momento deve ser quebrado.
O P18 não conseguiu elaborar uma resposta, mas nas demais respostas
apresentadas pelos entrevistados, a partir da ênfase nos textos, suas definições são
percebidas como um padrão criado pelo indivíduo ou por uma instituição na qual está
inserido. De certa forma, o entendem como algo abstrato e incognoscível, mas forte o
120
suficiente para declararem que não muda, está institucionalizado ou ainda não foi
desvendado.
Quando perguntados sobre a relação entre a formação de paradigmas
missiológicos e a Educação Contínua, consideram que a relação é íntima e que “a
influência vai depender muito do tempo que a pessoa dedica para essas pesquisas,
para esse estudo (P16)”. Para o entrevistado P16, o indivíduo tem a maior força na
construção de paradigmas quando ele diz que “se eu continuar pesquisando,
continuar estudando isso vai me ajudar, vai me influenciar sim, na formação desse
paradigma. Agora, se eu não estudar, vou ficar fazendo do jeito que eu sempre fiz,
sem nenhuma definição e alcançando os mesmos resultados”.
Considerando que a força maior na construção do paradigma está na
instituição, o P18 considera que “a gente vive na prática e os paradigmas são
mudados constantemente. Então, precisa ter uma aproximação máxima possível da
realidade.” O P13 falou sobre isso atribuindo responsabilidade às agências de
formação inicial afirmando que:
Eu creio que começa pela base, né? Eu não sei como é que está o currículo
hoje nos seminários. A meu ver esta precisa diminuir um pouco a carga de
conceitos teológicos, envolver mais assuntos missiológicos. Por isso, na
visão de alguns, a missiologia não é tão importante. Ela deveria ser então
para quebrar esse paradigma.
Por outro lado, o P14 indica que independentemente de onde esteja a força
que forma o paradigma, a não utilização irá torná-lo obsoleto e questionável. Ele
relatou que:
Este grupo apresenta uma preocupação maior para com a forma que os
membros da igreja entendem missiologia. Deixam claro que o pastor é o mediador do
sagrado neste tópico, paradigma missiológico que pode ser interpretado no
121
movimento de missão exercido pelas igrejas que lideram. O P13 confirmou o fato ao
dizer que “a igreja tem esse paradigma de que a missiologia não é tão relevante [...]
mas eu creio que seria uma coisa repensar para que realmente a gente possa
entender que é a igreja quem faz o trabalho da igreja...não são os pastores.”
Algumas coisas que aparentemente, são até atrativas. Que de certa forma a
gente quer implementar e já percebeu que em algumas situações, algumas
realidades em que foram experimentadas, não deram muito certo. Tem
algumas outras experiências que temos aí no Brasil, de pessoas que tiveram
formações missiológicas e tentaram adaptar alguns estilos que não foram
muito saudáveis para a igreja. Ao invés de fazer com que houvesse
crescimento, expansão, acabou trazendo um problema até para a própria
instituição. Então, acho que o pastor tem que ter muita consciência de que
quando sai para fazer um curso fora e volta com uma ideia boa e tal, deve-se
perguntar: até onde isso se aplica a nossa realidade?
Entrega Sentir
Se
compadecer
Ir
Fonte: Elaborado pelo pesquisador, 2022.
Essa Educação Contínua tem mais a ver com a cabeça de quem está
presidindo a igreja. Quem está presidindo a igreja coloca a Educação
Continuada na direção que entende. Poucos têm sido os momentos em que
você, que está no dia a dia, no trabalho, ali na igreja, tem uma Educação
Continuada voltada para realmente nos dar as armas necessárias para fazer
a coisa acontecer.
dever pela falta de continuidade de reflexão e debate sobre um mesmo tema ao longo
do ano.
Eu acho que o pastor sai dali (curso de Educação Continuada) com várias
ideias, não é? Até porque ouve a experiência de professores ou de pessoas
experientes. Às vezes, o professor vem com uma experiência lá da Europa
ou de um lugar mais restrito. Então, aquilo deu certo lá, mas era necessário
fazer daquele jeito. Não funciona aqui. Se você tem um professor que foi
missionário na África, obviamente, o modelo, aquele paradigma, não vai
funcionar no Rio de Janeiro ou numa cidade do interior em que as pessoas
têm um estilo de vida diferente. Você vem do colégio com muitas ideias boas,
mas foram testadas numa região.
De uma maneira muito mais enfática só fui ter no mestrado. Na formação que
eu tive no bacharelado e na vivência não havia experimentado... Aí, quando
cheguei no mestrado e tive aula de missiologia conheci alguns experts.
Lemos muitos livros sobre eles. Não tínhamos quase nada em termos disso
no Brasil. É interessante porque a gente vai produzindo até dentro da nossa
realidade, porque todos os laboratórios ali eram americanos, né? Lá eu pude
aprender um pouco mais. O que leio e busco, a gente não tem muito suporte
ainda, né? Ainda não faz parte do ministério. Eu acredito que já caminhou
muito em relação ao passado. No passado a visão missiológica era aquela
de fazer evangelismo.
se às culturas. Estes contatos com diferentes etnias, de acordo com Ortiz (1995),
provoca a aquisição de uma nova cultura (aculturação) ou a perda da cultura anterior
(desculturação), ocasionando a fusão de conceitos que formarão novos fenômenos
culturais (neoculturação).
Em síntese, esse grupo entende que uma instituição não adventista exerce uma
força ideológica irreparável sobre a formação de paradigmas missiológicos. Todavia,
creem que a forma como o pastor interpretará o aprendizado definirá como a
comunidade será influenciada.
As respostas ficaram na zona de defesa da instituição educacional adventista,
evocando conteúdos teológicos que diferenciam os adventistas e que formam a
consciência missiológica coletiva do grupo. Enfim, as respostas apresentam que na
missiologia adventista, mensagem e mensageiro são como lados diferentes da
mesma moeda.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
tema. Também não há a confirmação de que algum deles tenha foco educacional
genuíno em missiologia. Pela diversidade dos cursos de pós-graduação, nota-se que
para eles, aprender é tão urgente quanto especializar-se, o que torna o pastor uma
espécie de generalista, conhecendo um pouco de quase tudo.
Em relação à Educação Contínua ofertada pela Igreja Adventista, a falta de
conhecimento prévio sobre datas e conteúdos diminui o envolvimento emocional,
racional e espiritual do indivíduo pastor, ao ponto de, com isso, ser limitado o impacto
do aprendizado, incluindo o da Igreja. Afinal, como os assuntos não são escolhidos
por eles, a apreensão do conhecimento somente será melhorada se o professor
conseguir ganhar a confiança afetiva dos participantes.
Então, avalia-se como negativa a experiência da Educação Contínua no
formato curricular e com a periodicidade que tem sido trabalhada. De fato, sem
reflexão sobre a ação, perde-se o potencial da formação de consensos, algo oportuno
para a construção de paradigmas missiológicos sistêmicos.
Além da diversificação nos assuntos estudados ao longo do ministério, a
missiologia não parece ser prioridade no plano institucional adventista, nem no plano
pessoal do pastor. Neste cenário, a igreja local está submissa ou refém à influência
dos mediadores do sagrado e suas divergências que, para a sobrevivência
eclesiástica, podem optar por ficar sob a tutela da Bíblia e os escritos da pioneira Ellen
White, questionando a visão de missão dos pastores.
Contudo, o fator mais significativo nesse estudo foi poder vislumbrar que os
pastores mais experientes e com formação exclusivamente adventista filtram sua
práxis missiológica sob o viés do currículo do que a denominação entende como “o
grande conflito entre Deus e Satanás”. Assim, estes veem missão de forma mais
teocêntrica que antropocêntrica.
O fato de ficarem em média três anos no distrito pastoral diminui o impacto do
paradigma missiológico do pastor sobre o vivido pelas igrejas, fator que pode levar os
envolvidos a conflitos sem terem tempo para elaborarem consensos e os membros
podem ficar ignorantes quanto aos conteúdos missiológicos essenciais para a
revitalização de comportamentos à luz dos paradigmas bíblicos.
Diante de todas essas questões, o estudo identificou que há pastores
resistentes a qualquer influência não adventista sobre sua formação e prática, bem
como, há os que não veem problemas ideológicos na relação com fontes educacionais
não denominacionais, enquanto que, um terceiro grupo enquadra o indivíduo como o
137
7. REFERÊNCIAS
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Paulus, 2011.
ZELLER, R. Luther, wie ihn keiner kennt: lutherbriefe aus dem Alltag. 2 ed. Herder:
Freiburg, 1983.
153
8. APÊNDICES
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa sobre Educação Contínua e formação
de paradigmas missiológicos entre pastores adventistas, de responsabilidade do pesquisador
Marcos Vinícius Santiago. Os objetivos desta pesquisa são:
Geral
Analisar os paradigmas missiológicos de pastores adventistas, atuantes no território da União
Sudeste Brasileira.
Específicos
(1) Contextualizar a Educação Continuada entre pastores adventistas;
(2) Mostrar a história dos paradigmas missiológicos;
(3) Identificar a relação entre paradigmas missiológicos e Educação Continuada, na percepção
de pastores adventistas da União Sudeste Brasileira.
Diante do exposto, eu concordo em participar da pesquisa, e sei que terei uma cópia deste termo.
( ) Aspirante ao ministério
( ) Ordenado ( de 5 a 10 anos de ministério)
( ) Ordenado (de 11 a 25 anos de ministério)
( ) Ordenado (acima de 25 anos de ministério)
( ) Sim ( ) Não
6. Qual a média de tempo você ficou em cada distrito (some o tempo de ministério e divida
pela quantidade de distritos por onde já atuou)?
( ) Bacharelado
( ) Licenciatura
Instituição: ______________________________________________________
Ano inicial ___________ Ano de conclusão: ______________
( ) Sim ( ) Não
Qual a área?
( )Teologia Bíblica ( )Teologia Sistemática ( )Teologia Aplicada ( ) Outra área.
Qual? _____________________________________
12. Em média, quanto você investe em projetos de educação continuada anualmente, com
foco em missiologia? Justifique.
14. Quando você passou a entender o que o termo missiologia significa para o ministério
pastoral?
156
15. Ao pensar na prática pastoral, no âmbito da missiologia, como você considera sua
formação inicial como pastor:
Por quê?____________________________________________________
16. Ao pensar na prática pastoral, no âmbito da missiologia, como você considera sua
educação continuada:
( ) Insatisfatória ( ) Satisfatória ( ) Parcialmente satisfatória ( ) Amplamente
satisfatória.
Por quê?____________________________________________________
157
Perguntas consequências:
(1) O que pode significar para a comunidade adventista, um pastor com educação continuada
realizada dentro ou fora de uma instituição da denominação?
(2) Os que tem experiência fora das instituições educacionais adventistas tendem a adotar qual
tipo de discurso missiológico? Questionam métodos adventistas?
(3) O projeto de Educação Continuada da Igreja Adventista te atende quanto à sua formação
missiológica? De que forma?
Perguntas avaliativas:
(4) O que é um paradigma? Na sua opinião, o que é missiologia?
(5) O que é um paradigma missiológico Adventista? Dê exemplos.
(6) Como você julga a relação entre formação continuada e paradigmas missiológicos, no
contexto de sua prática pastoral?
(7) Pensando em missiologia, como você interpreta sua experiência com o tema de educação
continuada?
(8) Qual a diferença entre uma formação em missiologia realizada em um curso fora da
instituição adventista e uma realizada com um projeto curricular da igreja?
Questões hipotéticas:
(9) Você crê que um curso realizado fora da instituição adventista interfere na práxis
missiológica? Como? Dê exemplos.
(10) Se te afirmassem que os pastores que fazem pós-graduação ou que tenham formação
acadêmica em outras áreas do conhecimento não possuem paradigmas missiológicos
adventistas na prática ministerial, qual seria sua resposta?
Perguntas categoriais:
(11) Em uma oportunidade para pós-graduação em instituição adventista ou não adventista, qual
área você escolheria estudar?
Área Instituição instituição
Adventista não
adventistas
Teologia Fundamental
Teologia Bíblica
Teologia Sistemática
(dogmática)
Teologia Prática
(aplicada/pastoral)
158
Teologia Prática
(missiologia)
Nada em teologia (psicologia, administração, direito,
pedagogia, etc.)
ASPIRANTES - P1
160
ASPIRANTE - P2
161
ASPIRANTE – P3
162
ASPIRANTE – P4
163
ASPIRANTE – P5
164
ASPIRANTE – P6
165
RECÉM ORDENADO – P7
166
RECÉM ORDENADO – P8
167
RECÉM ORDENADO – P9
168
9. ANEXOS