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n19 - O - Oligoidrmnio

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DIRETORIA DA FEBRASGO

2020 / 2023

Agnaldo Lopes da Silva Filho Marta Franco Finotti


Presidente Vice-Presidente
Região Centro-Oeste
Sérgio Podgaec
Diretor Administrativo Carlos Augusto Pires C. Lino
Vice-Presidente
César Eduardo Fernandes Região Nordeste
Diretor Científico
Ricardo de Almeida Quintairos
Olímpio B. de Moraes Filho Vice-Presidente
Diretor Financeiro Região Norte

Maria Celeste Osório Wender Marcelo Zugaib


Diretora de Defesa e Valorização Vice-Presidente
Profissional Região Sudeste

Jan Pawel Andrade Pachnicki


Vice-Presidente
Região Sul

Imagem de capa e miolo: passion artist/Shutterstock.com


COMISSÃO NACIONAL ESPECIALIZADA EM MEDICINA
FETAL - 2020 / 2023
Presidente
Roseli Mieko Yamamoto Nomura

Vice-Presidente
Jose Antonio de Azevedo Magalhaes

Secretário
Mario Henrique Burlacchini de Carvalho

Membros
Alberto Borges Peixoto
Carlos Henrique Mascarenhas Silva
Carolina Leite Drummond
Edward Araujo Júnior
Fernando Artur Carvalho Bastos
Guilherme Loureiro Fernandes
Jair Roberto da Silva Braga
Jorge Fonte de Rezende Filho
Marcello Braga Viggiano
Maria de Lourdes Brizot
Nádia Stella Viegas dos Reis
Reginaldo Antonio de Oliveira Freitas Junior
Rodrigo Ruano

2021 - Edição revista e atualizada | 2018 - Edição anterior


Oligoidrâmnio

Descritores
Distúrbio do volume de líquido amniótico; Ultrassonografia; Índice de líquido amniótico;
Oligoidrâmnio

Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Oligoidrâmnio.
São Paulo: FEBRASGO; 2021. (Protocolo FEBRASGO-Obstetrícia, n. 19/Comissão Nacional
Especializada em Medicina Fetal).

Introdução
O líquido amniótico é importante componente do ambiente in-
trauterino, pois envolve o produto conceptual durante todo o seu
desenvolvimento. Entre as suas funções principais, destacam-se a
proteção fetal e do cordão umbilical contra traumatismos externos.
Permite, ainda, uma adequada movimentação corporal fetal, que é
importante para o desenvolvimento normal dos membros inferiores
e superiores. Também é responsável pela manutenção da homeosta-
se térmica dentro da cavidade amniótica; tem participação no equilí-
brio hidroeletrolítico fetal, além de ser elemento relevante na matu-
ração dos pulmões e intestinos fetais, por participar da diferenciação
dos seus epitélios.(1,2)

* Este protocolo foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada em Medicina Fetal e
validado pela Diretoria Científica como Documento Oficial da FEBRASGO. Protocolo FEBRASGO de
Obstetrícia, n. 19. Acesse: https://www.febrasgo.org.br/
Todos os direitos reservados. Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (FEBRASGO).

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Portanto, a diminuição do volume do líquido amniótico pode


prejudicar esses processos, relacionando-se a deformações fetais,
compressão do cordão umbilical e, em último caso, óbito fetal. Por
sua grande importância no contexto do desenvolvimento conceptu-
al, alterações do volume de líquido amniótico estão associadas, de
forma direta ou indireta, a complicações perinatais.(3,4)
Nesse contexto, oligoidrâmnio ou oligoâmnio referem-se ao vo-
lume de líquido amniótico menor que o esperado para a idade ges-
tacional. As classificações no atual Código Internacional de Doenças
(CID-10) ligadas a essa situação incluem: 041.0 (Oligoâmnio); P01.2
(Feto e recém-nascido afetados por oligoâmnio). A incidência dessa
intercorrência varia de acordo com os critérios diagnósticos adota-
dos, o perfil de risco populacional e o período da gestação avaliado.
De maneira geral, sua prevalência é estimada em 1% das gestações
abaixo de 24 semanas, entre 1% e 5% no termo e acima de 8% após
40 semanas.(5)

Etiologia
No primeiro trimestre da gestação, a etiologia do oligoâmnio, geral-
mente, não pode ser estabelecida. Já no segundo trimestre, a rotura
prematura de membranas explica 50% dos casos de oligoâmnio, se-
guido pela restrição de crescimento fetal em 18% das vezes e distúr-
bios relacionados ao sistema urinário fetal em 15%, sendo apenas 5%
considerados de causa idiopática.(6) Observam-se casos de oligoâm-
nio no terceiro trimestre relacionados ao pós-datismo.(7) Pode, ainda,
haver associação entre a redução do volume do líquido amniótico e
estados de desidratação materna.(8)
Didaticamente, pode-se dividir as causas em três grupos princi-
pais, de acordo com o quadro 1.

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Oligoidrâmnio

Quadro 1. Causas de oligoâmnio


Causas
Placentárias ou de membranas
Rotura prematura de membranas
Síndrome da transfusão feto-fetal
Fetais
Não malformativas: restrição de crescimento fetal, gestação prolongada, infecção fetal por
citomegalovírus, entre outras
Malformativas: obstrução do trato urinário (obstrução ureteral bilateral, válvula de uretra
posterior), doença renal (agenesia renal bilateral, rins multicísticos bilaterais, rins policísticos
infantis, displasias tubulares congênitas), aneuploidias
Maternas
Insuficiência uteroplacentária
Uso de medicações (anti-inflamatórios inibidores da síntese de prostaglandinas, hipotensores
inibidores da enzima conversora de angiotensina)

Fisiopatologia
O mecanismo de regulação que determina a quantidade de líquido
amniótico não é completamente conhecido, entretanto sabe-se que é
possível que seja determinado pela interação de diversos fatores que
controlam isoladamente cada uma das vias de produção e reabsor-
ção de líquido da cavidade amniótica.
As principais fontes de líquido amniótico são a produção uriná-
ria fetal e o fluido pulmonar. Já as vias de reabsorção são represen-
tadas pela deglutição e absorção intestinal, trocas através da pele,
superfícies do cordão umbilical e placenta. As secreções das cavida-
des oral e nasal, além das trocas através das membranas amnióticas,
participam, em menor escala, do balanço dinâmico final do volume
do líquido amniótico. Distúrbios fetais que comprometam qualquer
um desses eventos podem afetar o volume de líquido amniótico.

Diagnóstico
Clinicamente, a suspeita de oligoâmnio é baseada no achado de altu-
ra uterina inferior à esperada para a idade gestacional e pela maior
facilidade na palpação das partes fetais. O diagnóstico é confirmado

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por ultrassonografia. Em várias situações, é achado ultrassonográfi-


co incidental em exame realizado por outras indicações. Os métodos
quantitativos de avaliação ecográfica são preferíveis por permitirem
comparação entre diferentes exames realizados.
No primeiro trimestre da gestação, a suspeita de oligoâmnio
pode ser realizada pela diferença menor que 5 mm entre as medidas
do diâmetro médio do saco gestacional e do comprimento crânio-
-nádega, embora não haja evidências consistentes que corroborem
esse diagnóstico e, geralmente, a etiologia não poder ser estabeleci-
da nesses casos precoces.
No segundo e terceiro trimestres, a técnica, há muito tempo
referendada e ainda utilizada em vários serviços, para avaliação do
volume do líquido amniótico, baseia-se na determinação do índice
de líquido amniótico (ILA). Significativa morbidade foi associada ao
achado de ILA menor que ou igual a 5 cm, utilizando-se esse valor
de corte, durante a gestação, para definição de oligoâmnio. Ressalta-
se que, mesmo constituindo um parâmetro objetivo de avaliação, há
considerável variabilidade das medidas.
A mensuração isolada do maior bolsão vertical (MBV) de líquido
amniótico observado é outro método recomendado para avaliação
quantitativa e valores menores que 2 cm configuram oligoâmnio.
Alguns serviços optam pela técnica do MBV, já que apresenta a van-
tagem de ser de fácil execução.
A medida do ILA tem maior sensibilidade para o diagnóstico do
oligoâmnio, mas com maior número de falso-positivos, aumentan-
do, dessa forma, o número de intervenções desnecessárias, como
induções de partos e cesarianas, sem melhora nos resultados peri-
natais em relação à medida do MBV. Embora, em 2014, o American
College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) tenha reafirmado

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sua recomendação de utilização da medida do MBV, menor que 2


cm, como critério para diagnóstico de oligoâmnio, em detrimento
do ILA menor que 5 cm,(9,10) percebe-se que o método escolhido varia
de acordo com cada instituição. Na faixa de medida do ILA interme-
diária, entre 5 e 8 cm, a conduta expectante com seguimento pelo
ultrassom geralmente tem bom prognóstico.
Em gestações múltiplas, não se realiza avaliação pelo método de
ILA. Nessas gestações, o volume de líquido amniótico é quantificado
somente pela medida do MBV observada em cada uma das cavidades
amnióticas. Utiliza-se o mesmo critério (MBV < 2 cm).(10)
Anidrâmnio é definido como a ausência de líquido amniótico
mensurável à ultrassonografia. É importante salientar que quando
a quantidade de líquido é muito diminuída, pode-se confundir bol-
sões de líquido com alças de cordão umbilical, o que nos faz utilizar
sistematicamente o Doppler colorido nessas situações.

Tratamento
As complicações específicas das gestações associadas ao oligoâmnio
possuem seguimento e tratamento individualizados de acordo com
a condição etiológica desencadeante associada ao caso. Após a rea-
lização da suspeita diagnóstica, deve-se verificar o cenário e a histó-
ria clínica materna para identificar fatores de risco (uso de drogas,
comorbidades ou rotura prematura das membranas) que possam
justificar o achado de diminuição do líquido amniótico. Ressalta-se
a importância da avaliação ultrassonográfica fetal detalhada com
análise da biometria fetal, pesquisa de malformações estruturais,
marcadores de aneuploidias e alterações placentárias. A pesquisa
genética fetal pode ser oferecida aos pais diante da identificação de
anomalias estruturais.

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Alguns estudos não randomizados sugerem amnioinfusão


como técnica útil nos casos de oligoâmnio precoce (menos de 26
semanas), para diminuir o risco de hipoplasia pulmonar e mortali-
dade neonatal relacionadas à diminuição do líquido amniótico.(11)
Entretanto, trabalhos mais recentes com melhores desenhos esta-
tísticos não demonstraram diferença nos resultados perinatais nos
grupos que realizaram ou não amnioinfusão,(12) o que sustenta atual-
mente a não recomendação desse procedimento na prática habitual.
Por outro lado, a hidratação materna por via oral parece aumentar o
volume de líquido amniótico nas horas seguintes à ingestão de um
grande volume de água (até 2 litros), mesmo que os potenciais bene-
fícios a longo prazo, assim como o grau de satisfação materna, não
tenham sido avaliados.(13)
A idade gestacional da detecção do oligoâmnio e sua etiologia
determinarão o manejo dessas situações. Pacientes com volume re-
duzido de líquido amniótico no terceiro trimestre podem ser hospi-
talizadas para investigação de possíveis causas e monitorização da
vitalidade fetal.

Conduta no oligoâmnio idiopático


Nos casos de oligoâmnio idiopático, sem causa aparente, o momento
de interrupção da gestação é controverso. Antes do termo, a condu-
ta expectante é, em geral, a decisão a ser seguida, dependendo das
condições materna e fetal, o que justifica a avaliação da vitalidade
semanalmente por meio de parâmetros biofísicos e/ou de Doppler.
O acompanhamento do crescimento fetal deverá ser realizado a
cada duas semanas. Em função do risco potencial de desfecho adver-
so, em gestações com oligoâmnio isolado, sugere-se que o parto seja
realizado a partir de 37 semanas.

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Oligoidrâmnio

Na assistência ao trabalho de parto, deve-se realizar monitori-


zação contínua da frequência cardíaca fetal.(14) A realização de am-
nioinfusão no intraparto é descrita para pacientes com alterações
da frequência cardíaca fetal e/ou com líquido amniótico meconial,
entretanto não é mais preconizada na prática.(15)
Um recente protocolo do ACOG reforça a recomendação de que
o parto nas situações de oligoâmnio isolado ou não complicado deve
ser realizado no chamado pré-termo tardio ou no termo precoce (36
0/7 a 37 6/7 semanas de gestação) ou ao diagnóstico, quando este for
feito após esse período.(16)

Referências
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pregnancy. Clinical significance. J Reprod Med. 1992;37(9):789–92.
2. Seeds AE. Current concepts of amniotic fluid dynamics. Am J Obstet Gynecol.
1980;138(5):575–86.
3. Ott WJ. Reevaluation of the relationship between amniotic fluid volume and
perinatal outcome. Am J Obstet Gynecol. 2005;192(6):1803–9.
4. Mercer LJ, Brown LG, Petres RE, Messer RH. A survey of pregnancies complicated
by decreased amniotic fluid. Am J Obstet Gynecol. 1984;149(3):355–61.
5. Sherer DM, Langer O. Oligohydramnios: use and misuse in clinical management.
Ultrasound Obstet Gynecol. 2001;18(5):411–9.
6. Lopez M, Illa M, Palacio M, Figueras F. Patologia del liquid amniótico. In: Figueras
F, Gratacós E, Puerto B. Actualización en medicina maternofetal. Belo Horizonte:
Ergo; 2015. p.123-6.
7. Locatelli A, Zagarella A, Toso L, Assi F, Ghidini A, Biffi A. Serial assessment of
amniotic fluid index in uncomplicated term pregnancies: prognostic value of
amniotic fluid reduction. J Matern Fetal Neonatal Med. 2004;15(4):233–6.
8. Feldman I, Friger M, Wiznitzer A, Mazor M, Holcberg G, Sheiner E. Is
oligohydramnios more common during the summer season? Arch Gynecol Obstet.
2009;280(1):3-6.
9. Practice bulletin no. 145: antepartum fetal surveillance. Obstet Gynecol.
2014l;124(1):182–92.
10. Reddy UM, Abuhamad AZ, Levine D, Saade GR; Fetal Imaging Workshop Invited
Participants. Fetal imaging: Executive summary of a Joint Eunice Kennedy Shriver
National Institute of Child Health and Human Development, Society for Maternal-
Fetal Medicine, American Institute of Ultrasound in Medicine, American College

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CNE em Medicina Fetal

of Obstetricians and Gynecologists, American College of Radiology, Society for


Pediatric Radiology, and Society of Radiologists in Ultrasound Fetal Imaging
Workshop. Am J Obstet Gynecol. 2014;210(5):387–97.
11. De Santis M, Scavo M, Noia G, Masini L, Piersigilli F, Romagnoli C, et al.
Transabdominal amnioinfusion treatment of severe oligohydramnios in preterm
premature rupture of membranes at less than 26 gestational weeks. Fetal Diagn
Ther. 2003;18(6):412–7.
12. Roberts D, Vause S, Martin W, Green P, Walkinshaw S, Bricker L, et al.
Amnioinfusion in very early preterm prelabor rupture of membranes (AMIPROM):
pregnancy, neonatal and maternal outcomes in a randomized controlled pilot
study. Ultrasound Obstet Gynecol. 2014;43(5):490–9.
13. Hofmeyr GJ, Gülmezoglu AM, Novikova N. Maternal hydration for increasing
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Cochrane Database of Systematic Reviews 2002, Issue 1. Art. No.: CD000134.
DOI: 10.1002/14651858.CD000134
14. Morris RK, Meller CH, Tamblyn J, Malin GM, Riley RD, Kilby MD, et al. Association
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15. Hofmeyr GJ, Xu H, Eke AC. Amnioinfusion for meconium-stained liquor in labour.
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16. ACOG Committee Opinion No. 764: Medically indicated late-preterm and early-
term deliveries. Obstet Gynecol. 2019;133(2):e151-e155.

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