n85 - O - Doena Hemoltica Perinatal
n85 - O - Doena Hemoltica Perinatal
n85 - O - Doena Hemoltica Perinatal
2020 / 2023
Vice-Presidente
Jose Antonio de Azevedo Magalhaes
Secretário
Mario Henrique Burlacchini de Carvalho
Membros
Alberto Borges Peixoto
Carlos Henrique Mascarenhas Silva
Carolina Leite Drummond
Edward Araujo Júnior
Fernando Artur Carvalho Bastos
Guilherme Loureiro Fernandes
Jair Roberto da Silva Braga
Jorge Fonte de Rezende Filho
Marcello Braga Viggiano
Maria de Lourdes Brizot
Nádia Stella Viegas dos Reis
Reginaldo Antonio de Oliveira Freitas Junior
Rodrigo Ruano
Descritores
Aloimunização fetal; Doença hemolítica perinatal; Eritroblastose fetal; Anemia fetal
Como citar?
Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Doença
hemolítica perinatal. São Paulo: FEBRASGO; 2020 (Protocolo FEBRASGO-Obstetrícia, n. 85/
Comissão Nacional Especializada em Medicina Fetal).
Introdução
Etiopatogenia
Doença hemolítica perinatal (DHP) é o quadro de anemia fetal e do
neonato resultante da hemólise com presença de células vermelhas
jovens na circulação fetal, em razão da incompatibilidade materno-
-fetal a antígenos eritrocitários.
Para sua instalação, a aloimunização depende da intensidade
do estímulo, da via de administração, da imunogenicidade e da fre-
quência do antígeno na população. O antígeno D é o mais prevalen-
te e integra o sistema Rh, podendo provocar intensa sensibilização
na ausência de medidas profiláticas.
O sistema Rh é o mais complexo dos sistemas que compõem os
grupos sanguíneos, sendo controlado por dois genes – RHD e RHCE
– localizados em loci intimamente relacionados, no braço curto do
cromossomo 1.
* Este protocolo foi elaborado pela Comissão Nacional Especializada em Medicina Fetal e validado
pela diretoria científica como documento oficial da Febrasgo. Protocolo Febrasgo de Obstetrícia, n.
85. Acesse: https://www.febrasgo.org.br/
Todos os direitos reservados. Publicação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (Febrasgo).
Etiologia
A penetração de um antígeno em organismo com o qual nunca hou-
ve contato prévio desencadeia como resposta fisiológica uma série
de reações que vão levar à produção de anticorpos específicos, deno-
minando-se esse evento imunização. Aloimunização ou isoimuniza-
ção é a resposta imunológica a um antígeno da mesma espécie e vai
embasar todos os eventos da DHP.(3)
O processo de aloimunização se inicia a partir do contato da
mulher Rh negativo com o sangue incompatível Rh positivo, seja
por transfusão equivocada, seja por passagem transplacentária do
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Doença hemolítica perinatal
Fisiopatologia
Na circulação fetal, hemácias sensibilizadas são reconhecidas pelos
monócitos do sistema reticuloendotelial e, então, fagocitadas no
baço. Essa destruição de hemácias leva ao aumento das eritropoieses
medular e extramedular (no fígado, baço, rins e placenta), com con-
sequente hepatosplenomegalia e surgimento de células imaturas no
sangue periférico, principalmente reticulócitos e eritroblastos, ca-
racterizando o termo eritroblastose fetal.
A anemia fetal é a consequência imediata quando a intensidade
de hemólise supera a formação de novas células sanguíneas. A per-
sistência da hemólise provoca as seguintes alterações:
• hepatomegalia crescente com alteração da circulação hepática e
hipertensão portal;
• alteração da função do hepatócito com consequente hipoalbu-
minemia e ascite;
• hidropisia fetal devida à difusão prejudicada dos aminoácidos e
da síntese proteica diminuída nos hepatócitos;(4)
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CNE em Medicina Fetal
Diagnóstico
Para toda grávida, é necessário conhecer a tipagem sanguínea e o fa-
tor Rh, para identificar as gestantes Rh negativo. O acompanhamen-
to das gestantes Rh negativo compreende etapas distintas.
Etapa 1 – fazer anamnese com enfoque nos fatores de risco para
sensibilização: transfusões sanguínea prévias para identificar possí-
veis transfusões com sangue incompatível; uso de drogas ilícitas in-
jetáveis com compartilhamento de seringas; história obstétrica com
relato de DHP (icterícia neonatal, exsanguinotransfusão neonatal,
transfusões intrauterinas ou hidropisia fetal); histórico de profilaxia
anti-RH em gestações anteriores e atual.(6)
Etapa 2 – realizar teste de Coombs indireto (CI) na primeira visita
pré-natal e repetir mensalmente. O seguimento pré-natal é preconi-
zado de acordo com o resultado do CI:
• CI negativo: realizar profilaxia conforme recomendado. Não se re-
comenda realizar CI após profilaxia com imunoglobulina anti-D,
pois CI pode se mostrar positivo. Os títulos de anti-D pós-profila-
Tratamento
Para gestantes sensibilizadas com títulos de anti-D ≥ 16, deve-se
acompanhar o feto por dopplervelocimetria da ACM. Para os resul-
tados normais, pode-se levar a gestação até o termo, visto que é baixo
o risco para anemia fetal moderada ou grave.
Quando houver alteração do PVS-ACM fetal indicando anemia,
em gestações com mais de 34 semanas, o parto deverá ser indicado
de imediato. Em gestações com menos de 34 semanas e que apresen-
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CNE em Medicina Fetal
Recomendações finais
Recomenda-se a identificação de gestantes Rh negativo pela tipagem
sanguínea materna universal.
É necessário avaliar a história pessoal da gestante Rh negativo
para transfusões com sangue incompatível e uso de drogas injetáveis.
A história obstétrica das pacientes Rh negativo deve ser investi-
gada quanto à profilaxia adequada e aos antecedentes de DHP (icte-
rícia e transfusões no período neonatal).
O teste de CI deve ser preconizado a gestantes Rh negativo na
primeira visita pré-natal e nos trimestres subsequentes.
Nas gestantes Rh negativo com CI negativo, deve-se orientar a
importância da profilaxia.
Nas gestantes Rh negativo com CI positivo (sensibilização ma-
terna), deve-se solicitar painel de anticorpos irregulares e titula-
ção, pois a repercussão clínica ocorre quando a titulação é supe-
rior ou igual a 1:16.
Quando possível, deve-se oferecer DNA fetal após a quinta se-
mana de gestação para identificar fetos Rh negativo.
A avaliação do PVS-ACM fetal deve ser realizada de rotina nas
gestantes Rh negativo com CI positivo, com titulação superior ou
igual a 1:16.
Referências
1. Moise KJ Jr. RhD alloimmunization in pregnancy: management. In: Loockwood CJ,
Kleinman S, editors. [last updated: Dec 1, 2020]. [cited 2021 Apr 26]. Available
from: https://www.uptodate.com/contents/rhd-alloimmunization-in-pregnancy-
management
2. Zipursky A, Paul VK. The global burden of Rh disease. Arch Dis Child Fetal Neonatal
Ed. 2011;96(2):F84-5.
3. Eduardo Baiochi 1, Luiz Camano, Nelson Sass, Osmar Ribeiro Colas. Frequencies
of blood groups, ABO and Rh D incompatibility in post-delivery women and their
liveborn. Rev Assoc Med Bras (1992). 2007;53(1):44-6.
4. Rote NS. Pathophysiology of Rh isoimmunization. Clin Obstet Gynecol.
1982;25(2):243–53.
5. Bowman JM. Hemolytic disease (Erythroblastosis Fetalis) In: Creast RK, Resnick
R, Greene MF, Iams JD; Lockwood CJ, Moore TR, editors. Creasy and Resnik’s
Maternal-Fetal Medicine: Principles and Practice. 7th ed. Philadelphia: Elsevier
Saunders; 1999. Cap. 43. p. 736-82.
6. American College of Obstetricians and Gynecologists’ Committee on Practice
Bulletins—Obstetrics. ACOG Practice Bulletin No. 192: Management of
Alloimmunization During Pregnancy. Obstet Gynecol 2018; 131:e82.
7. Novaretti MC, Jens E, Pagliarini T, Bonifácio SL, Dorlhiac-Llacer PE, Chamone DA.
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8. Finck R, Lui-Deguzman C, Teng SM, Davis R, Yuan S. Comparison of a gel
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