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Apostila LITERATURA

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Literatura africana em língua portuguesa: tendências. A literatura não se preocupa em


tocar apenas o coração do leitor, mas também sua consciência. Por isso, muitas vezes
denuncia aspectos problemáticos da realidade, a fim de contribuir para que se
produzam mudanças na sociedade. Quando tal objetivo predomina numa produção
literária, fala-se em literatura engajada. Na literatura africana em língua portuguesa,
sobressai esse engajamento, que se centra nas lutas pela libertação dos territórios
colonizados pelos portugueses, concluída somente em 1974, com a Revolução dos
Cravos, em Portugal (muitos escritores africanos do séc. 20, inclusive, participaram
ativamente na luta pela libertação de seus países). Cada uma à sua maneira, as
literaturas africanas de expressão portuguesa foram e são instrumentos de afirmação
da identidade, de denúncia da exclusão causada pelo sistema colonial, de superação da
relação tensa entre colonizador e colonizado, de construção de uma língua própria,
fincada nas raízes populares dos diversos falares. Em Angola, o projeto literário está
intimamente ligado à luta armada (guerrilha). Em Moçambique, destaca-se o
aproveitamento literário da oralidade. Em Cabo Verde, onde há proximidade poética
com o Brasil, os objetivos maiores são fugir da pressão colonialista e afirmar a
identidade do país, valorizando o modo de vida do cabo-verdiano. Guiné-Bissau aborda
a pobreza, decorrente da colonização, e também a etnicidade e a oralidade (crioulo),
tudo isso ligado à influência do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné
e Cabo Verde). Finalmente, em São Tomé e Príncipe, a tensão anticolonial, fortemente
marcada pela mestiçagem, constitui uma chave de leitura de sua produção. De um
modo geral, os principais projetos dos autores das literaturas africanas em língua
portuguesa são: 1) Influenciados na maioria por culturas de tradição oral, adotam o
ponto de vista do colonizado (“de dentro para fora”); 2) Consideram a literatura uma
forma de resistência, militância política e denúncia, sobretudo da relação
colonizador-colonizado; 3) Entendem a literatura como instrumento de afirmação da
identidade, operando principalmente com a mestiçagem linguística; 4) Apesar da
censura do regime fascista português, o salazarismo (1926-1974), e das condições

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precárias de acesso à leitura até o início do séc. 21, tornaram-se leitores dos
neorrealistas portugueses e dos modernistas brasileiros. Divulgada no Brasil de forma
mais sistemática apenas nas 2 últimas décadas, a literatura africana é uma fonte
bastante consistente de conhecimento a respeito de algumas nações africanas, assim
como de nossas raízes cultural e da notável interação Brasil-África. Os autores que mais
se destacam na literatura africana de expressão portuguesa contemporânea são: José
Luandino Vieira, Ondjaki, Pepetela, José Eduardo Agualusa, Mia Couto, José Craveirinha
e Paulina Chiziane.

[...]

[...]

3
[...]

[...]
Fragmentos de CHIZIANE, Paulina. Eu, mulher... por uma nova visão de mundo.
Belo Horizonte: Nandyala, 2013. p. 8-10,15.
1) Na etnia Tsonga, o que significa o nascimento de uma menina?
2) Qual a única carreira destinada à mulher da etnia Tsonga?
3) Pode-se dizer que a visão sobre as personagens femininas nas histórias da avó
materna da narradora é maniqueísta? Explique.
4) Existe alguma similitude entre a educação familiar e a educação escolar que a
narradora recebeu? Por quê?
5) Segundo o texto, por que a carreira de pintora não era indicada para uma
mulher? Você concorda com isso? Explique.

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TENDÊNCIAS (PÓS-)MODERNAS DA LITERATURA PORTUGUESA. A literatura
portuguesa no séc. 20 trilhou caminhos parecidos com os da literatura brasileira. A 1ª
fase do Modernismo português teve início em 1915, com a publicação da revista
Orpheu. Vivia-se em Portugal um momento de mudanças, em virtude do início da
República (1910) e da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Assim como no Brasil, as
primeiras manifestações modernistas portuguesas foram bastante influenciadas pelas
vanguardas europeias, mas apresentavam ainda alguns traços do Simbolismo e do
Decadentismo do final do séc. 19. Participaram dessa geração, entre outros, Mário de
Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. Em 1927, um novo grupo de
escritores lançou a revista Presença, que, sem romper com a geração anterior, tinha o
objetivo de renovar a literatura por meio de uma pesquisa estética que explorasse
novas formas de expressão literária e introduzir questões levantadas pela filosofia de
Bergson e pela psicanálise de Freud. Entre os integrantes desse grupo, destacam-se
principalmente José Régio, Miguel Torga, Adolfo Casais Monteiro e Branquinho da
Fonseca. Os temas sociais e o engajamento político, que marcaram a produção literária
brasileira no início dos anos 1930, surgiram em Portugal alguns anos mais tarde, entre
as décadas de 1930 e 1940, com o Neorrealismo. Nesse momento, a literatura se
voltou para problemas do contexto social, dominado pela 2ª Guerra Mundial e pela
ditadura de Salazar. Surgiram nesse momento, em Portugal, importantes escritores,
entre eles, Ferreira de Castro, Alves Redol e Manuel da Fonseca. A partir da década de
1960, convivem na literatura portuguesa várias tendências, como o Neorrealismo e o
Surrealismo. Com a Revolução dos Cravos (1974), o fim da ditadura salazarista e o início
do processo de independência das colônias portuguesa na África, a literatura
portuguesa começou a buscar novos rumos, seja produzindo uma literatura de guerra,
seja produzindo uma literatura experimental. Os principais nomes desse período são
Antônio Lobo Antunes, Wanda Ramos, Jorge de Sena, Augusto Abelaira e José
Saramago. Fernando Pessoa (1888-1935). Ao lado de Camões, é um dos maiores
poetas da literatura portuguesa e uma das principais expressões literárias em nossa
língua. O aspecto mais intrigante da poesia de Pessoa é a heteronímia: ele criou não
apenas obras, mas também escritores, cada um com uma biografia, traços físicos,
profissão e estilo literário próprios. Especialistas atestam que, além de Fernando
Pessoa ele-mesmo, isto é, do ortônimo, há mais de 100 heterônimos,
semi-heterônimos e heterônimos pouco desenvolvidos do autor. Os mais
bem-acabados e conhecidos são Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. José
Saramago (1922-2010). Mais importante escritor da literatura portuguesa
contemporânea. Estreou com o romance Terra do pecado (1947), mas seu prestígio
como escritor veio quando tinha 58 anos, com a publicação de Levantado do chão
(1980), obra com estilo muito particular, que seria sua marca literária. Foi, porém, com
Memorial do convento (1982) que o autor ganhou fama internacional. Em seu texto, há
uma grande subversão no uso dos sinais de pontuação. Utiliza apenas a vírgula e o
ponto; sem travessões ou aspas e com pouco uso de verbos dicendi (perguntou,
respondeu etc.), as vozes das personagens se misturam à voz do narrador. Os
parágrafos podem ser longos ou curtos, seguindo uma lógica interna. O uso constante
do fluxo de consciência torna a narrativa ainda mais complexa. Assumido até o fim da
vida como homem de esquerda e ateu, Saramago produziu obras em geral reflexivas,
filosóficas, críticas em relação aos comportamentos sociais e que, muitas vezes, criam
atmosferas surrealistas, como em Ensaio sobre a cegueira (1994). Saramago escreveu

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obras sobre temas históricos, religiosos e existenciais, além de uma obra intrigante
sobre um dos heterônimos de Fernando Pessoa: O ano da morte de Ricardo Reis
(1984). Produziu ainda teatro, conto e poesia.

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TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA POESIA BRASILEIRA. Concretismo. Primeira das
tendências da poesia brasileira contemporânea. Ganhou força a partir da década de
1950, radicalizando o despojamento vocabular e a racionalidade da linguagem. O
movimento, que nasce oficialmente em 1956, com a Exposição Nacional de Arte
Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, provocou uma revolução
na maneira de fazer poesia, mas não teve apelo popular. Ainda assim disseminou a
poesia visual, que até hoje tem adeptos (vide Arnaldo Antunes, por exemplo). Os 3
grandes nomes do Concretismo no Brasil são: os irmãos Haroldo (1929-2003) e
Augusto de Campos (1931) e Décio Pignatari (1927-2012). A poesia concreta foca
exclusivamente na realidade urbana. Prega a “crise do verso tradicional”, sintoma de
uma crise geral do artesanato diante da revolução industrial. Defende a abolição da
subjetividade, da rima, da métrica, do lirismo, do engajamento político. Prefere a
linguagem não verbal à linguagem verbal. Enfatiza os recursos gráficos, o design do
poema, utilizando-se inclusive do branco do papel como espaço significativo. Propõe o
poema-objeto: algo a ser “visto” mais do que lido. O poema concreto muitas vezes
permite leituras múltiplas, na vertical e mesmo na diagonal, exigindo do leitor uma
participação ativa na construção do sentido. Poesia social. Como o Concretismo
mantinha-se alheio à realidade de perseguição, tortura e censura instalada após o
golpe militar de 1964, alguns poetas romperam com o movimento e começaram a
produzir poemas que diziam respeito à situação imediata em que vivia o país. Eles
propuseram o retorno ao verso tradicional, o emprego de uma linguagem mais simples
e direta e o uso da poesia como instrumento de participação política. Não houve
exatamente um grupo reunido em torno dessa poesia social, e sim vozes que seguiram
nessa direção. É o caso de Ferreira Gullar (1930-2016). Poesia marginal. Sem abrir mão
das preocupações sociais, mas tratando de novos temas e retomando o poema-piada
da 1ª fase modernista, o grupo da poesia marginal começou a produzir na década de
1970. A poesia marginal se relaciona com transformações culturais ocorridas no mundo
todo, como a criação de novas mídias (comunicações via satélite, internet) e o
fortalecimento da cultura de massa. Essa poesia era denominada marginal porque sua
divulgação fugia do esquema das grandes editoras: os livros eram feitos
artesanalmente, em tiragens reduzidas, e vendidos de mão em mão, na porta dos
espaços públicos. Os temas tratados variavam muito: o cotidiano, a denúncia contra a
ditadura, o amor etc. Poesia dos anos 1980 até hoje. Não dá para enquadrar a
produção literária das últimas décadas sob rótulos. A multiplicidade de tendências é
enorme: autores inovadores convivem lado a lado com poetas que cultivam estilos
consagrados. E a diversidade só aumenta. Muitos assimilaram a lição dos modernistas,
outros optaram por retornar ao lirismo romântico ou escolheram se manter na
vanguarda da crítica social.

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TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS DA PROSA BRASILEIRA. Ao lado das formas
tradicionais, a prosa contemporânea apresenta “gêneros híbridos”, que não se definem
exatamente como conto, romance, novela etc. Os temas são os mais diversos: o
isolamento das pessoas nas grandes cidades, a exclusão social, a violência urbana, as
reflexões intimistas. A literatura acompanha e reflete as mudanças político-sociais do
país. Literatura verdade. A resistência à ditadura militar inspirou parte das obras das
décadas de 1960-1970. Fazer literatura era uma forma de protestar. O chamado
romance-reportagem tem uma linguagem jornalística, seu enredo revela a violência
das torturas e das perseguições políticas. Outra vertente dessa literatura engajada
eram as memórias. Alguns nomes marcantes desse período são: Ignácio de Loyola
Brandão (1936), Fernando Gabeira (1941) e Marcelo Rubens Paiva (1959). Prosa
intimista. É herdeira de Clarice Lispector. Volta-se para a solidão e os dramas pessoais.
São nomes de destaque nessa vertente: Autran Dourado (1926-2012), Lygia Fagundes
Telles (1923) e Osman Lins (1924-1978). De 1980 para cá. Além da permanência de

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autores antigos, dá-se a estreia de diversos novos escritores. Prevalece a temática
urbana, flagrando a violência, a exclusão social e os desequilíbrios psicológicos
decorrentes de um contexto social caótico. A partir de 1990, com a volta da
democracia, a literatura politizada e de protesto perde força, mas continuam presentes
nas obras a violência urbana e a exclusão social. Nos anos 2000, começa a surgir uma
nova literatura marginal, dessa vez documentando a vida em bairros violentos das
grandes metrópoles e nas prisões. Ainda jovens autores retomam alguns
procedimentos da prosa do passado e nela introduzem inovações. Fica evidente a
multiplicidade de estilos na prosa brasileira contemporânea e a dificuldade de agrupar
autores em tendências. Os nomes que sobressaem nesse período são: Paulo Lins
(1958), Marçal Aquino (1958), Fernando Bonassi (1962), Ferréz (1975) e André
Sant’Anna (1964). Entre os autores de tendências contemporâneas do gênero literário
romance, destacam-se Bernardo Carvalho e Milton Hatoum. Literatura na era da
internet. A partir de 1980, as artes plásticas incorporaram a linguagem digital, abrindo
espaço para uma forma de arte própria a essa nova tecnologia, chamada de ciberarte.
No caso da literatura, a linguagem digital possibilitou a grande difusão da
hipernarrativa e da poesia digital. A hipernarrativa possibilita ao leitor escolher vários
começos e diferentes finais para a história. A poesia digital é herdeira do poema
concreto e do poema objeto. Distingue-se por ser criada na linguagem digital, ser
veiculada por essa linguagem e poder ser acessada apenas por meio de interfaces
digitais. A arte digital é entendida como processo, e não como produto finalizado: é
uma arte que só passa a existir quando o receptor interage com ela. Conto curto. Foi
Dalton Trevisan (1925), contista que estreou na década de 1960, o primeiro a publicar
contos muito curtos. De curto, o conto passou a miniconto e, depois, a microconto (de,
no máximo, 50 letras). Tendência marcante da narrativa contemporânea brasileira, os
contos curtos já mereceram uma antologia: Os cem menores contos brasileiros do
século (2004), organizada por Marcelino Freire. O miniconto e o microconto são
narrativas em que se tenta, com o mínimo de recursos, sugerir, com o máximo de
expressividade, uma história. Pelo tamanho, deve impactar o leitor. Esse tipo de
narrativa exige do leitor o desvendamento da história, que deve ter começo, meio e
fim, mas que é quase sempre subentendida. Além do suporte de papel, os contos
curtíssimos têm na internet (blogs, redes sociais, Twitter etc.) uma poderosa mídia.

Em grupo, discuta com seus colegas e elabore um começo e um final para essa história.

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