Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL #1.669.638 - SP (2017/0101206-0) Relatora: Ministra Nancy Andrighi
Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL #1.669.638 - SP (2017/0101206-0) Relatora: Ministra Nancy Andrighi
Superior Tribunal de Justiça: RECURSO ESPECIAL #1.669.638 - SP (2017/0101206-0) Relatora: Ministra Nancy Andrighi
Documento: 1725480 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/06/2018 Página 2 de 4
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.669.638 - SP (2017/0101206-0)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : POMAR NOVO IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA
ADVOGADOS : MAURO CORREA DA LUZ - SP016777
CRISTIANE SANTIAGO DE ABREU CAMBAIA - SP174743
RECORRIDO : REITER TRANSPORTES E LOGÍSTICA LTDA
ADVOGADO : RICARDO KÜHLEIS E OUTRO(S) - RS062810
INTERES. : TOKIO MARINE SEGURADORA S.A
ADVOGADO : MARCIO ANUNCIAÇÃO SACRAMENTO E OUTRO(S) - SP311679
RELATÓRIO
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(noventa e três mil, cento e noventa e um reais e vinte e oito centavos) (e-STJ fls.
2-42).
Sentença: julgou parcialmente procedentes os pedidos para
condenar a recorrida ao pagamento do valor relativo à carga contratada, bem como
ao pagamento de R$ 21.998,48 (vinte e um mil, novecentos e noventa e oito reais
e quarenta e oito centavos) a título de lucros cessantes (e-STJ fls. 402-405). No
mais, julgou improcedente a denunciação da lide estabelecida entre a recorrida e a
TOKIO MARINE SEGURADORA S.A (e-STJ fls. 440-447).
Acórdão: deu parcial provimento à apelação interposta pela
recorrida, para reconhecer a prescrição da pretensão de ressarcimento dos valores
relativos às mercadorias contratadas, nos termos da seguinte ementa:
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destinatária final dos serviços de transporte, que não são repassados a outrem,
razão pela qual representa a figura legal do consumidor;
c) a comercialização posterior das mercadorias transportadas não
descarta a destinação final em relação ao serviço, que é a atividade de transporte;
d) o fato danoso ocorreu por culpa da transportadora, motivo pelo
qual deve haver a prevalência do CDC sobre a lei específica (Lei 11.442/07), já que
se trata de relação de consumo; e
e) a prescrição ânua prevista no art. 18 da Lei 11.442/07 somente é
aplicável quando a empresa transportadora presta serviços regulares de
transporte, referindo-se, por exemplo, à ação de reparação de danos decorrente
de acidente de veículos e furto ou roubo de cargas (e-STJ fls. 619-677).
Prévio juízo de admissibilidade: o TJ/SP admitiu o recurso especial
interposto por POMAR NOVO IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA e determinou a
remessa dos autos a esta Corte Superior (e-STJ fls. 822-824).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.669.638 - SP (2017/0101206-0)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : POMAR NOVO IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA
ADVOGADOS : MAURO CORREA DA LUZ - SP016777
CRISTIANE SANTIAGO DE ABREU CAMBAIA - SP174743
RECORRIDO : REITER TRANSPORTES E LOGÍSTICA LTDA
ADVOGADO : RICARDO KÜHLEIS E OUTRO(S) - RS062810
INTERES. : TOKIO MARINE SEGURADORA S.A
ADVOGADO : MARCIO ANUNCIAÇÃO SACRAMENTO E OUTRO(S) - SP311679
VOTO
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reparação de danos materiais, proposta pela recorrente.
Disto dessume-se a necessidade de se discutir a relação jurídica
estabelecida entre recorrente e recorrida, a fim de que se conclua pela
aplicabilidade ou não do CDC, a depender do reconhecimento ou não da
configuração de relação de consumo entre as partes.
Impende, por oportuno, destacar as alegações das partes quanto à
relação jurídica preestabelecida. Enquanto a recorrente defende que a
comercialização posterior das mercadorias transportadas não anula a sua
qualificação jurídica de consumidora e destinatária final do serviço de transporte
propriamente dito, a recorrida sustenta que a recorrente “não figura na relação
como destinatário final, visto que o transporte contratado (...) foi realizado em
benefício à atividade econômica desempenhada pela empresa apelada” (e-STJ fl.
797).
Em verdade, não se olvida que, sob a ótica do contrato de transporte
marítimo de cargas, há precedentes antigos da Terceira Turma deste Superior
Tribunal de Justiça no sentido de que o embarcador – e não o consignatário da
carga – é consumidor do serviço, nos termos do art. 2º do CDC, porquanto dele é
destinatário final, na medida em que não transfere aquela atividade ao terceiro
adquirente, senão apenas a mercadoria transportada. Cito, a propósito: REsp
302.212/RJ, DJ de 27/06/2005; REsp 286.441/RS, DJ de 03/02/2003.
Entretanto, mais recentemente, esta Turma, em situação análoga,
pertinente ao transporte aéreo de cargas, reconheceu que a pessoa jurídica que
contrata o referido serviço não é dele última destinatária quando transfere o seu
custo para o preço final da mercadoria transportada, realizando verdadeiro
consumo intermediário. Confira-se:
Documento: 1725480 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/06/2018 Página 9 de 4
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luz da razão pela qual foi editado o CDC, qual seja, proteger o consumidor
porque reconhecida sua vulnerabilidade frente ao mercado de consumo.
Assim, em regra, considera-se consumidor aquele que retira o produto do
mercado e o utiliza em proveito próprio.
Evidentemente, sob esse enfoque, não se pode considerar
destinatário final aquele que, de alguma forma, com propósito meramente
comercial, adquire o produto ou serviço com intuito profissional, com a
finalidade de integrá-lo no processo de produção, transformação ou
comercialização.
(...)
No caso presente, a aquisição do equipamento de raio x destina-se a
ampliar a prestação de serviços pelo hospital ao destinatário final, que é o
paciente. Em outras palavras, a aquisição do bem tem como objetivo único
incrementar a atividade da instituição hospitalar, ampliando e melhorando
a gama de serviços e aumentando os lucros.
(...)
Partindo da premissa incontroversa de que a importação – aí
incluídos todos os atos praticados e contratos celebrados ao longo do
respectivo ciclo – visa a incrementar a atividade econômica, hospitalar, não
há como considerar a importadora, Sociedade Beneficente de Senhoras
Hospital Sírio Libanês, destinatária final do ato complexo de importação
nem dos atos e contratos intermediários, entre eles o contrato de
transporte, para os propósitos da tutela protetiva da legislação
consumerista.
Documento: 1725480 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 25/06/2018 Página 11 de 4
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DJe 21/10/2016).
Destarte, em razão da inaplicabilidade do CDC à espécie, deve-se
aplicar o prazo prescricional previsto no art. 18 da Lei 11.442/07, que dispõe que
“Prescreve em 1 (um) ano a pretensão à reparação pelos danos relativos aos
contratos de transporte, iniciando-se a contagem do prazo a partir do
conhecimento do dano pela parte interessada”.
Tendo em vista que a recorrente teve ciência da ocorrência do
sinistro em 19/04/2012, mas somente ajuizou a presente ação em 25/07/2013
(e-STJ fl. 545), mostra-se imperioso o reconhecimento da ocorrência de
prescrição.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO PIMENTEL ALBUQUERQUE
Secretária
Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : POMAR NOVO IMPORTACAO E EXPORTACAO LTDA
ADVOGADOS : MAURO CORREA DA LUZ - SP016777
CRISTIANE SANTIAGO DE ABREU CAMBAIA - SP174743
RECORRIDO : REITER TRANSPORTES E LOGÍSTICA LTDA
ADVOGADO : RICARDO KÜHLEIS E OUTRO(S) - RS062810
INTERES. : TOKIO MARINE SEGURADORA S.A
ADVOGADO : MARCIO ANUNCIAÇÃO SACRAMENTO E OUTRO(S) - SP311679
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu do recurso especial e negou-lhe
provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Paulo de Tarso Sanseverino, Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco
Aurélio Bellizze (Presidente) e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora.
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