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Ana Paula Ladeira Correção

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SUDOESTE PAULISTA – UNIFSP

INSTITUIÇÃO CHADDAD DE ENSINO – ICE

PSICOLOGIA

ANA PAULA SEVERINO LADEIRA

INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DE LUTO


VIVENCIADO POR PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVO

ITAPETININGA – SP
2020
ANA PAULA SEVERINO LADEIRA

INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DE LUTO


VIVENCIADO POR PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro


Universitário Sudoeste Paulista de Itapetininga -
UNIFSP – ao curso de graduação em Psicologia como
requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em
Psicologia.

Orientador (a): Prof. Esp. Fabiana Toledo de Oliveira

ITAPETININGA – SP
2020
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional
ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.

LADEIRA, Ana Paula Severino

Intervenção do Psicólogo no processo de luto vivenciado por pacientes em cuidados


paliativos/Ana Paula Severino Ladeira. – Itapetininga – SP, 2020, 27 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Psicologia) – Centro Universitário


Sudoeste Paulista, Campus Itapetininga, Itapetininga, 2020.

Orientador (a): Prof. Esp. Fabiana Toledo de Oliveira

1. Cuidados Paliativos. 2. Intervenção Psicológica. 3. Pacientes terminais. 4. Luto.


FOLHA DE APROVAÇÃO
AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por me manter forte e guiar meus passos
durante esse ciclo que sempre sonhei.

Minha eterna gratidão pelo encontro com essa ciência que é a Psicologia, que me
permitiu vivenciar mudanças cognitivas, e também mudanças no meu mundo interno.

Sou grata à minha família que sempre me apoiou e me incentivou, em especial meu
marido Leonardo e meu filho Joaquim, pelo amor incondicional e por sempre compreenderem
minha dedicação e comprometimento com esse projeto.

Ao meu marido Leonardo agradeço por ter segurado minhas mãos e se dedicado junto
comigo dia a dia para que esse sonho se tornasse realidade, agradeço por ter sido meu maior
apoio no cuidado com o Joca, por todo carinho e amor. Ao Joaquim, meu pequeno que me
acompanhou desde o ventre as aulas e estudos, você é fonte de toda minha força e minha
dedicação, obrigada por me ensinar diariamente a ser uma pessoa melhor.

Agradeço aos meus pais Conceição e Luiz (in memoriam), minhas irmãs Roselena, Edna
e Karen, minhas sobrinhas Nicole, Maria Fernanda e Isabele, minha sogra Ana Claudia e minha
cunhada Gabriela pelo incentivo e por sempre estarem a disposição para me ajudarem a concluir
essa jornada.

Aos meus colegas do curso de Psicologia Bruna e Everton, agradeço as trocas, o apoio
e a linda amizade que construímos.

Agradeço a minha orientadora Fabiana Toledo pela confiança e por ter dedicado
inúmeras horas para sanar minhas dúvidas e me guiar pela direção correta. Você é minha grande
inspiração.
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INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DE LUTO


VIVENCIADO POR PACIENTES EM CUIDADOS PALIATIVO

Ana Paula Severino Ladeira¹; Fabiana Toledo de Oliveira²


¹Graduanda em Psicologia em Centro Universitário Sudoeste Paulista; ²Docente de Psicologia em Centro
Universitário Sudoeste Paulista.
Endereço eletrônico: anapaula.ladeira22@gmail.com

RESUMO
O objetivo desse trabalho é elucidar as contribuições do profissional de psicologia frente ao
processo de luto vivenciado por paciente em cuidados paliativos. O método de busca para a
realização do estudo foi através de pesquisas em bases de dados como Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), CAPES e livros acadêmicos dos
principais autores sobre o tema. A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a novembro
de 2020. A busca totalizou no portal da Scielo dois artigos, sendo descartado um por meio de
leitura seletiva, já que não contemplava o assunto da pesquisa; no portal CAPES foram
encontradas 25 publicações as quais foram selecionadas apenas duas delas. No portal da BVS
foram encontrados 2 artigos os quais foram descartados por não conterem os objetivos da
pesquisa. Conclui-se que ainda são poucos os estudos realizados nesse campo no Brasil,
principalmente na área da psicologia, porém com o material levantado observa-se a
contribuição do profissional de psicologia na elaboração do processo de luto, ofertando a
possibilidade de o paciente viver uma boa morte, além da cooperação no diagnóstico e na
resolução de desordens psíquicas.

Palavras-chave: Cuidados Paliativos; Intervenção Psicológica; Pacientes Terminais; Luto.

PSYCHOLOGIST’S INTERVENTION IN THE MURING PROCESS


EXPERIENCED PATIENTS IN PALLIATIVE CARE

ABSTRACT
The objective of this work is to elucidate the contributions of the psychology professional facing
the grieving process experienced by patients in palliative care. The search method for
conducting the study was by searching databases such as the Virtual Health Library (VHL),
Scientific Electronic Library Online (SCIELO), CAPES and academic books by the main
authors about the subject. The research was carried out from February to November 2020. The
search totaled two articles on the Scielo portal, one of them was discarded through selective
reading which didn´t contemplate the research subject, in the CAPES portal were found 25
publications, and only two articles were selected. In the VHL portal, two articles were found,
both of them were discarded as they didn´t contain the research objective. It´s concluded that
there are still few studies carried out in this topic in Brazil, mainly in the area of psychology,
but with the material surveyed, is noticed the contribution of the psychology professional in the
elaboration of the grieving process, offering the possibility of the patient to live a good death,
besides the cooperation in the diagnosis and resolution of psychic disorders.

Keywords: Palliative Care. Psychological Intervention. Terminal Patients. Mourning.


7

1 Introdução

Conforme o avanço das ciências médicas e das tecnologias, o cuidado com a saúde
tornou-se assíduo, sendo gerada uma maior expectativa de vida. Entretanto, as intervenções
médicas executam práticas com o único objetivo de salvar vidas, desalinhando o método de
cuidar com o de curar. Por esse motivo, a morte deixou de ser aceita como um processo natural
da vida e começou a ser vista como algo que deve ser adiada de todas as formas possíveis
(GOMES; OTHERO, 2016).
Observa-se na História do Ocidente que a morte era aceita como parte do ciclo da
vida, preservando o respeito pelo processo natural e também proporcionando conforto nessa
passagem da vida para a morte (MELO et al., 2013). Sendo assim, é de suma importância
destacar a história dos cuidados paliativos.
A palavra paliar é originária do termo em latim palliare que significa cobrir com um
manto, usada para se referir aos mantos usados por cavaleiros para se proteger de chuvas nos
seus trajetos. Essa palavra fala sobre abrigo, algo que traz conforto, diminuindo o sofrimento.
Os cuidados paliativos tem essa finalidade de trazer cuidados diante de necessidades físicas,
psíquicas, espirituais e sociais (ANCP, 2020).
Devemos compreender o termo Hospice, o qual tem origem do latim hospes e foi por
muito tempo usado para descrever as intervenções de cuidados paliativos. Essa palavra, Hospice
era utilizada para definir tipos de abrigos que recebiam viajantes, pobres e peregrinos. O relato
mais antigo desse vocábulo foi registado no século V por Fabíola, discípula de São Jerônimo,
pois ela recebia no Hospício do Porto de Roma romeiros vindos da Ásia, África e de países do
Lestes (CARVALHO; PARSONS, 2012).
A prática de cuidados em Hospice se expandiu na Europa no século XVIII, porém essa
prática era norteada pelas instituições religiosas católicas e protestantes, tornando-se hospitais
a partir do século XIX, os quais ofereciam cuidados para pacientes com patologias como
Tuberculose e Câncer, no entanto, as intervenções eram direcionadas para questões espirituais
e a fim de amenizar a dor (FIGUEIREDO, 2008).
Foi em uma instituição como essa que Dame Cicely Saunders, enfermeira e Assistente
Social, que posteriormente estudou medicina, demonstrou-se insatisfeita com o sofrimento
vivenciados pelos indivíduos que atendia, dedicando seus estudos no alívio da dor dos pacientes
com patologias terminais. Saunders cuidou de um paciente que recebeu uma colostomia
paliativa, oferecendo sua atenção e cuidados até a morte desse paciente. Como demonstração
de gratidão recebeu uma pequena herança desse paciente que lhe disse “Eu serei uma janela na
8

sua casa” (CARVALHO; PARSONS, 2012, p. 24). Foi por meio dessa herança que Saunders
fundou em 1967, em Londres, o St. Christopher Hospice, dando assim início ao Movimento do
Hospice Moderno (CARVALHO; PARSONS, 2012). Na década de 1970, Saunders encontrou
nos Estados Unidos com a psiquiatra norte-americana Elizabeth Klüber-Ross, desencadeando
assim o crescimento do movimento do Hospice Moderno por lá. Em 1975, em Connecticut, foi
fundado o primeiro Hospice americano (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Já em 1982, o Comitê de Câncer da Organização Mundial de Saúde desenvolveu um
grupo de trabalho que tinha como objetivo definir políticas para o controle do alívio da dor
utilizando os métodos de instituições como Hospices, esses cuidados deveriam ser direcionados
a pacientes com câncer em todos os países. A expressão Cuidados Paliativos já era utilizada no
Canadá e passou a ser utilizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) devido à
dificuldade de tradução correta da palavra Hospice em alguns idiomas. A primeira publicação
sobre o conceito de cuidados paliativos feito pela OMS ocorreu em 1990 e definia:

Cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva a tratamento de
cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais
é primordial. O objetivo do Cuidado Paliativo é proporcionar a melhor qualidade de
vida possível para pacientes e familiares. (CARVALHO; PARSONS, 2012, p.25).

Em 2002, essa definição foi retificada e substituída pela OMS por uma definição atual
a qual descreve que os Cuidados Paliativos devem ser realizados em pacientes acometidos por
patologias não mais responsivas ao tratamento curativo. Essa assistência deve ser realizada por
uma equipe multidisciplinar com foco em proporcionar qualidade de vida à pacientes e à
familiares destacando a assistência exclusiva ao ser humano e não à doença, objetivando
proporcionar autonomia, suporte psicossocial e espiritual, alívio do sofrimento físico e
psicológico, diagnóstico precoce e atenção individualizada, sendo possível realizar esse
atendimento em ambiente hospitalar ou domiciliar (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Os cuidados paliativos ainda são uma especialidade nova na saúde brasileira, sua prática
foi regulamentada em 2002 pela OMS. No Brasil, essa técnica só tomou força a partir de 2005
e foi incluída no Conselho Federal de Medicina em seu Código de ética médica em 2009
(ANCP, 2020). Já o Conselho Federal de Psicologia não promove nenhuma cartilha específica
para os profissionais que atuam nessa área, estando à disposição apenas a Resolução nº13, de
14 de setembro de 2007, que orienta as práticas de Cuidados Paliativos com familiares e
pacientes na área clínica e hospitalar (CFP, 2007).
Apesar dos avanços na prática de cuidados paliativos, ainda são poucos os pacientes que
recebem uma assistência adequada para o alívio dos sintomas físicos e psíquicos. Segundo a
9

ONU (2014), por meio de um relatório feito por ela e pela Aliança Mundial de Cuidados
Paliativos, constaram que apenas 10% de pessoas recebem o atendimento médico necessário a
fim de minimizar a dor, os indicativos de estresse e de doenças graves (ONU, 2014).
O número de pessoas que necessitam de cuidados paliativos no fim da vida chega a ser
superior a 20 milhões, sendo 6% crianças, contudo, esse número subiria para aproximadamente
40 milhões se todos os pacientes fossem atendidos logo no início do diagnóstico de doença
terminal. Levando em consideração que esse atendimento também é necessário para os
membros mais próximos do doente, então, esse número dobraria (ONU, 2014).
Ainda segundo dados da ONU (2014), destaca-se que em 2011, por volta de 3 milhões
de pacientes receberam cuidados paliativos (C.P.) necessários, sendo que estavam na fase final
de suas vidas. Nota-se que a maioria das intervenções em C.P. foram proporcionadas por países
de alta renda, entretanto, 80% da necessidade global também deveria ser fornecida por países
de baixa e média renda, mas somente 20 países no mundo estão bem alinhados com as práticas
de Cuidados Paliativos aos seus sistemas de saúde.
Vale ressaltar que segundo Maria Cecilia Sepúlveda Bermedo (Assessora Sênior da
OMS), muitos pacientes e familiares não possuem informações sobre a intervenção de C.P., do
mesmo modo que profissionais de saúde não sabem como integrar esses cuidados na prática
clínica, tendo impactos também pela falta de medicamentos para o alivio da dor (ONU, 2014).
Os cuidados paliativos configuram uma especialidade na saúde que visa a promover
cuidados para pacientes com diagnósticos de patologias terminais. Entretanto, segundo a
Academia Nacional de Cuidados Paliativos:

Ainda são poucos os serviços de Cuidados Paliativos no Brasil. Menor ainda é o


número daqueles que oferecem atenção baseada em critérios científicos e de
qualidade. A grande maioria dos serviços ainda requer a implantação de modelos
padronizados de atendimento que garantam a eficácia e a qualidade. (ANCP, 2020).

Para promover cuidados paliativos, geralmente, estabelece-se uma equipe


multidisciplinar, que visa oferecer cuidados e contribuir na adaptação do paciente nessa fase do
tratamento (ANCP, 2020). Ademais, esse trabalho focará na contribuição do profissional de
psicologia, e em como suas intervenções podem auxiliar o paciente paliativo a passar por esse
processo e encarar a finitude de frente.
A contribuição da psicologia nessa fase de tratamento deve auxiliar o paciente para o
entendimento do processo ajudando a minimizar o sofrimento, proporcionando autonomia
frente às decisões do seu tratamento e auxiliando em problemas psicossociais, como também
10

ser um elo na comunicação do paciente com familiares e equipe médica (OLIVEIRA, et al.,
2010).
Um estudo realizado pela ANCP e divulgado no último Congresso Nacional de
Cuidados Paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, revelou através de um
questionário respondido por 172 profissionais de psicologia que a maioria dos profissionais de
psicólogos paliativistas no Brasil estão reunidos na região Sudoeste. Os estados com maior
número de profissionais é São Paulo com 67, Rio de Janeiro com 18, Bahia com 15, Minas
Gerais com 14 e Rio Grande do Sul com 10. O estudo ainda identificou que a maioria desses
profissionais não possuem especialização em C.P. ou Luto e são os únicos em suas equipes
(ANCP, 2020).
A inserção do profissional de psicologia na área de cuidados paliativos tem sido
discutida nos últimos anos com objetivo de apontar sua contribuição no quadro de doenças
crônicas e fatais. Esse processo requer uma articulação atenciosa e participativa, pois o
psicólogo terá que auxiliar nas adaptações de perspectivas do paciente e família, informar
notícias dolorosas, comunicar prognósticos e sequelas que podem impossibilitar autonomia
física, além de entender problemas socioeconômicos, manifestações do paciente e familiares
pelo processo da morte anunciada, questões desencadeadas pelo luto, entre outras necessidades
que possam surgir nesse período (ANCP, 2020).
A psiquiátrica Elisabeth Kübler-Ross faz referência em estudos sobre a morte,
destacando em seu livro Sobre a Morte e o Morrer (1996), cinco estágios que observou por
meio de entrevistas com pacientes que receberam diagnósticos que colocavam em ameaça a
continuação de suas vidas. Esses estágios são descritos como negação e isolamento; raiva;
barganha; depressão e aceitação. É importante ressaltar que esses estágios podem ser
vivenciados em ordem aleatórios não só pelo paciente, mas também pelos seus familiares.
Todo esse processo que o paciente enfrenta exige do profissional de psicologia uma
interpretação de sentimentos, imagens, sonhos, símbolos e comunicações verbais que ocorrem
de forma espontânea após o estabelecimento do vínculo do paciente e terapeuta. Essas análises
devem contribuir para aceitação do adoecimento, auxiliar o encontro com a consciência e
ressignificar esse processo (OLIVEIRA, et al., 2010).
Geralmente, quando se tem a compreensão clara da morte, questões sobre
espiritualidade acabam tendo certa relevância na vida do ser humano. Porém, quando essas
questões são vividas e buscadas com objetivos de recompensa, podem desencadear sofrimentos
pelo sentimento de abandono por Deus ou com aquilo que se considera Sagrado (ARANTES,
2019).
11

Através dos cuidados e atenção com essas manifestações psíquicas que podem ocorrer
no processo de morte, é possível ofertar uma “boa morte”. O Institute of Medice, em 1997,
definiu a “boa morte” ou “morte apropriada” como: “Aquela que é livre de uma sobrecarga
evitável e de sofrimento para o paciente, as famílias e os cuidadores que, em geral, ocorrendo
de acordo com os desejos dos pacientes e das famílias; e razoavelmente consistente com as
normas clínicas, culturais e éticas” (ARANTES, 2020, p. 215).
Por certo, com esses dados, pode-se ponderar a necessidade de investigar a prática dos
cuidados paliativos assim como seus efeitos na qualidade de vida dos pacientes. Portanto, esse
trabalho tem como objetivo geral analisar e identificar as contribuições do profissional de
psicologia na intervenção dos cuidados paliativos. Também buscou-se identificar e
contextualizar a história dos cuidados paliativos até a atualidade; descrever a possibilidade de
se ofertar ao paciente uma “boa morte”; instituir o trabalho realizado pelo psicólogo na
elaboração do luto e descrever o trabalho e as contribuições do profissional de psicologia frente
às desordens psíquicas do paciente em cuidados paliativos.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 LUTO
O luto é um período de reações que ocorre após a morte física ou simbólica, através do
rompimento de um vínculo de afeto. A pessoa enlutada sofre sintomas físicos e emocionais. Ao
vivenciar o rompimento de uma conexão importante, vive-se a sensação de insegurança, a perda
da instabilidade e a crença de autocontrole. A perda de alguém importante que fez parte da
construção da nossa própria vida, deixa a dificuldade de nos reconhecermos sem essa pessoa.
A vida após a perda não será a mesma de antes, e a restruturação só será possível quando o
indivíduo vivenciar o processo do luto (ARANTES, 2019).
O processo de luto não é somente vivido por familiares ou amigos do paciente, mas por
ele próprio de formas e dimensões diferentes. Quando se recebe o diagnóstico de uma doença,
vivencia-se manifestações físicas e emocionais. E aos poucos o paciente vai se conectando com
questões de um futuro incerto. Diante de uma doença que ameaça o percurso de sua vida, o
indivíduo entra em contato com diversos lutos internos como o papel que ocupava em sua
família, o profissional que era, a autonomia e os planos que tinha. Nesse período, o paciente já
vivencia um luto simbólico. Entretanto, uma outra dimensão é se deparar com a morte de frente,
e tomar consciência que em algum momento ela ocorrerá, essa é uma questão por muitas vezes
nunca refletida ao longo da vida e que causa grande sofrimento no processo de uma doença
12

terminal (SBGG, 2014). Elisabeth Kübler-Ross cita no livro Sobre a Morte e o Morrer (1996,
p. 41) que “Deveríamos criar o hábito de pensar na morte e no morrer de vez em quando, antes
que tenhamos de nos defrontar com ela na vida”.
Ana Claudia Quintana Arantes, médica especialista em Cuidados Paliativos, ressalta no
seu livro A morte é um dia que vale a pena viver (2019), que o sofrimento ocorre logo no
diagnóstico de uma doença que pode comprometer a continuidade da vida, destacando que a
dor é vivida de forma individual por cada paciente. A morte anunciada leva a oportunidade de
descoberta do sentido da vida, entretanto, traz sentimentos de aflição pela possibilidade de não
haver mais tempo suficiente para experimentar dessa descoberta. A intervenção de Cuidados
Paliativos oferta, através de uma equipe multidisciplinar, a possibilidade do cuidar físico e de
sequelas que podem ser ocasionadas pelo tratamento, dos sintomas gerados pelo avanço da
patologia e também do cuidado com as manifestações emocionais, que são muito penosas nessa
fase, pois se acaba de compreender a própria mortalidade, e isso leva a buscar o sentindo da
vida.
Essas manifestações podem ser vivenciadas em cinco fases de forma não linear e elas
são enfrentadas pelo paciente e seus familiares. Como já citadas acima, são descritas como
negação e isolamento; raiva; barganha; depressão e aceitação (KÜBLER-ROSS, 1996).
A negação geralmente ocorre logo na comunicação do diagnóstico de uma doença
terminal e é marcada por reações de ordem negativa e recusa em acreditar na notícia. Nessa
fase, é comum o paciente e familiares procurarem outros profissionais e até realizar outros
exames. Essa negação ocorre como uma forma de proteção para uma má notícia, entretanto, ela
é uma defesa transitória e não impedirá o paciente de entrar em contato com o fato realístico
(KÜBLER-ROSS, 1996).
O segundo estágio é a raiva que desencadeiam reações como revolta, mágoa e inveja;
culminando na reflexões do porque estar passando por isso. A raiva é um estágio que contrasta
com a negação e, geralmente, é projetada nos familiares e profissionais que exercem o cuidado.
É preciso compreender o paciente ou o familiar e suas manifestações raivosas, esse
entendimento contribuirá para a aceitação do fim (KÜBLER-ROSS, 1996).
O terceiro estágio é a barganha, diferente das primeiras fases, neste momento o paciente
ou familiar busca uma tentativa de adiar o fim. Geralmente, essa troca é feita com aquilo que é
sagrado para o paciente, tentando estabelecer uma recompensa por bom comportamento ou por
sentimentos associados a culpa. Nesta fase, é importante ter a intervenção de um Capelão que
possa identificar reações de culpabilidade pelo distanciamento de sua religião, ou outros
13

sentimentos que desencadeiam a necessidade de buscar essa compensação (KÜBLER-ROSS,


1996).
Já o quarto estágio é a depressão, nesta fase o paciente já está imerso na questão do
adoecimento e não se pode mais contestar a sua doença. Muitos fatores podem causar
sentimento de perda como a fisionomia do paciente devido ao tratamento, questões
relacionamos a estabilidade financeira, entre outros. Um outro fator importante é a consciência
que o paciente em fase avançada da doença começa a ter da proximidade do fim. Esse
pensamento gera muita aflição (KÜBLER-ROSS, 1996). Elisabeth cita no livro Sobre a Morte
e o Morrer (1996, p. 92) “Que classificaria a primeira como depressão reativa e a segunda como
uma depressão preparatória”. Ambas devem ser tratadas de forma diferente.
O último estágio do luto é a aceitação, esta fase será vivida quando o paciente receber
ajuda nas outras fases, permitindo assim que seu sofrimento seja acolhido e suavizado. Esta
última fase não representa um estágio de felicidade, mas sim um cenário de tranquilidade,
evitando os estágios anteriores. Existem pacientes que brigam com esse fim até o último
momento, dificultando atingir essa aceitação, ou seja, quanto mais o paciente foge da morte ou
tenta evitá-la, mais difícil será chegar neste estágio de paz e tranquilidade (KÜBLER-ROSS,
1996).
A partir da manifestação desses estágios, cabe ao psicólogo identificar e realizar
intervenções a fim de amenizar o sofrimento do paciente e de seus familiares. É importante que
o profissional identifique a duração e a intensidade do sofrimento. As complicações do luto
podem ser manifestadas por comportamentos e por reações somáticas. Nessa situação, cabe ao
profissional apontar quais tarefas ainda precisam ser vividas nesse processo de luto e o que
dificulta essa resolução. Além disso, é possível ofertar um aconselhamento com o objetivo de
conduzir o sofrimento desencadeado pelo processo de luto (WORDEN, 2013).
No caso do luto antecipatório, pode ser vivenciado pelo paciente ou familiar de um
indivíduo com uma doença em estado avançado. Nesses casos, a consciência dessa realidade
permite ao paciente e familiares a resolução de pendências de suas relevâncias como ir de
encontro com esse fato de forma gradativa, realizar desejos e despedidas necessárias nessa etapa
da vida (FRANCO, 2008).
Além dessas manifestações psicológicas desencadeadas pelo processo de luto, existe
também um sofrimento espiritual. A palavra espiritualidade vem do latim que significa spiritus,
que quer dizer sopro da vida, princípio que anima. A atenção para questões da alma, é
extremamente importante no tratamento da saúde psicológica no processo de luto ou
adoecimento (MACIEIRA; LIBERATO, 2008).
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A espiritualidade tem uma estrutura fundamental na vida do paciente, podendo facilitar


o significado pessoal da doença, das limitações e também da morte (MACIEIRA; LIBERATO,
2008). Já no caso de uma doença terminal, a espiritualidade pode oferecer segurança e conforto
para o paciente no fim da vida, essa questão tem sido ampliada e é muito pertinente na prática
de cuidados paliativos (MACIEIRA; LIBERATO, 2008).
Geralmente, diante de uma doença que ameaça a continuidade da sua própria vida ou de
algum ente querido, as dimensões religiosas acabam tomando uma proporção importante,
trazendo a necessidade de se conectar com Deus (ARANTES, 2019). Entretanto, a religião
também pode trazer um enfretamento negativo, provocando sentimento de culpa e fracasso no
paciente, como também incentivar uma busca curativa, que interfere no tratamento médico,
fermentando o sofrimento físico, psíquico e espiritual. O paciente também pode interpretar sua
doença como um castigo divino (MACIEIRA; LIBERATO, 2008).
O significado da fé, quando se enfrenta um momento difícil, pode trazer um novo
significado sobre quem é Deus, pois cada um tem uma imagem desse divino internamente. É
importante que os profissionais que praticam cuidados paliativos respeitem a espiritualidade do
paciente e de seus familiares (ARANTES, 2019). No seu livro Histórias lindas de morrer
(2020, p.165) a Dra. Ana Claudia Arantes declara que “É preciso abrir a porta do sagrado, não
do que é sagrado para nós, e sim para o outro”.
Apesar da identificação dessas fases e reações do processo de luto, o mesmo é
enfrentado de forma singular. Portanto, cada paciente e familiar irão reagir conforme suas
crenças, culturas e significados diante da morte, todos esses fatores podem contribuir com uma
melhor integração da situação ou não (FRANCO, 2008). A jornalista Ana Michelle Soares,
paciente de câncer de mama desde 2011 e em tratamento paliativista, relata em sua obra
Enquanto eu respirar (2019) que:

Ver alguém morrer ao lado da família, cercado de amor, tendo dito tudo o que era
preciso e ouvido tudo o que havia para ser ouvido, é, de fato, lindo. Não diminui a dor
da ausência, mas encerra uma história de forma que será reproduzida sem o luto dos
arrependimentos sobre o que não foi feito, vivido ou dito. (SOARES, 2019, p.227).

Diante dessas situações desencadeadas no processo de luto, cabe ao psicólogo


paliativista contribuir para um processo de morte, uma vez que o paciente possa ter autonomia
e dignidade, podendo compartilhar suas necessidades com a equipe e com seus familiares.
Entretanto, para poder se ofertar esse espaço para o paciente, é preciso reorganizar o ambiente
e favorecer um espaço intensamente Humano (KOVÁCS, 2008).
15

A intervenção em cuidados paliativos é fundamental e pode ofertar ao paciente e


familiares viverem esse espaço que antecede o momento da morte, a fim de proporcionar uma
resolução benéfica ao processo de luto. Essa intervenção contribuirá para a não complicação do
luto (FRANCO, 2014).

2.2 BOA MORTE


A boa morte foi confundida até o início dos anos 90 com a evitação da morte
(BARRETO, 2010). O objetivo dos Cuidados Paliativos não é ocasionar a morte do paciente,
mas sim ofertar o cuidado e reduzir o sofrimento, visto que sua patologia não é curativa. Existe
uma grande dificuldade dos profissionais de saúde em lidar com esse processo de morte, o que
acaba motivando uma sedação paliativa desnecessária. É comum ainda nos dias atuais que os
cuidados paliativos sejam confundidos com homicídio, por isso, é importante ressaltar as
diferenças das práticas de eutanásia, distanásia, ortotanásia e a kalotanásia (ARANTES, 2019).
A eutanásia é a técnica de abreviar a vida, com objetivo de aliviar o sofrimento do
paciente, essa prática é proibida no Código de Ética Brasileira. Já a distanásia tem um conceito
de morte difícil e tem por objetivo o prolongar a vida, com foco nos aspectos físicos, mesmo
quando o paciente não tem prognóstico. A ortotanásia é a morte no momento certo, o qual o
paciente não recebe intervenções invasivas a fim de evitar o seu momento de finitude (FELIX,
et al. 2013).
A kalotanásia é o tipo de morte que ocorre de forma ideal com a história de vida de cada
paciente (ARANTES,2019). Ela pode ser compreendida de duas formas, tem origem grega e
vem de eu, thánatos (eu: boa, thánatos: morte), esse termo deu origem a palavra eutanásia, que
inicialmente podia ser compreendida como a morte suave, indolor, rápida, o morrer bem. Já a
segunda compreensão também de origem grega, vem de kalós, thánatos (kalós: bela, thanatos:
morte) que quer dizer morte bela (FLORIANI, 2013).
A boa morte deve ser ofertada respeitando as singularidades dos pacientes, frente as
suas necessidades no momento. Essas diferenças podem ser atendidas ofertando alívio de dores
e sofrimentos, proporcionando acolhimento ou até mesmo realizando uma festa de despedida
(BARRETO, 2010). Além disso, devem ser atendidas as vontades do paciente quanto aos seus
cuidados pessoais, o ambiente que quer estar, desejo de doação de órgãos e cremação, e também
o modo como deseja seu funeral, tudo isso só é possível quando se tem conversas claras com o
paciente e seus familiares (ARANTES, 2019).
A vontade do paciente deve ser documentada no seu prontuário, a constituição Brasileira
fornece grande amparo para a boa prática dos cuidados paliativos, sendo assim é possível que
16

a equipe médica respeite a autonomia do paciente, a função do amparo nesse período que
antecede a morte não é antecipar e nem adiar o momento que a morte ocorre, mas sim promover
alívio do sofrimento físico, psíquico e espiritual no instante correto da morte. Para que essa
vontade do paciente possa ser documentada, é preciso ser descartado sintomas de
psicopatologias, déficit cognitivos e influências emocionais, também é preciso que termos e
intervenções médicas sejam esclarecidas pelo profissional de medicina para a elucidação do
paciente (ARANTES, 2019).
O respeito pelo paciente, o cuidado com seus desejos e com todas suas necessidades,
além de fornecer amparo para familiares, amigos e cuidadores no período após morte também
são práticas para se ofertar uma boa morte (ARANTES, 2020). A morte pode ser bela quando
ocorre no tempo ideal, além de se permitir que o paciente mantenha o controle de seus desejos
em todo o processo de morte e após a mesma (BARRETO, 2010).

2.3 DESORDENS PSÍQUICAS


Quando o paciente recebe um diagnóstico de uma doença terminal, é comum a
manifestação de quadros de ansiedade e depressão. A compreensão de que se chegou em uma
fase a qual o tratamento será apenas paliativo e não curativo causam sofrimento demasiado. A
consciência da proximidade do fim, medo da morte, temor por perder a autonomia, além das
mudanças físicas, podem excitar sintomas ansiosos (GRANEAR, et al.2008).
A dor quando não controlada em pacientes com progressão da doença, também é um
elemento importante para ansiedade porque causa prejuízos na qualidade de vida do indivíduo.
A dor quando não contida poderá levar o paciente a ter pensamentos suicidas ou até a executar
o suicídio. Vale ressaltar aqui que quando o paciente está com dor não é possível realizar um
diagnóstico de quadro ansioso ou depressivo devido as semelhanças desencadeadas pelo quadro
de sofrimento físico e psíquico. Outro fator a se considerar no quadro do paciente são sintomas
físicos desencadeados pela doença terminal, complicações no quadro que podem prejudicar não
somente o físico, como também a individualidade do paciente, suas finanças, suas relações
familiares e sociais, fatores que também geram muita ansiedade. Além disso, existem vários
medicamentos utilizados em Cuidados Paliativos que também favorecerem quadros ansiosos.
A priori, é importante compreender a história de vida do paciente, o quadro atual da sua doença
e seus sintomas, assim como se atentar às esferas físicas, psíquicas, espirituais e ao ambiente o
qual o mesmo se encontra (FERREIRA; MENDONÇA, 2017).
A ansiedade pode aparecer em diversas etapas do percurso da doença, entretanto na fase
paliativa a complexidade da situação pode acentuar os sintomas. Os pacientes paliativos
17

geralmente desenvolvem sintomas de ordem cognitiva e somática, de forma antecipatórias


como inquietação e temor. Sendo os sintomas de posição somáticas os mais visíveis, causando
diversos sintomas físicos (GRANEAR, et al.2008).
A complexidade dos casos paliativos pode prejudicar o diagnóstico, pois no caso de
depressão os sintomas são confundidos com o processo de morte, normalizando as
manifestações psicossociais da doença. A depressão nessa fase da doença, pode dificultar a
adesão ao tratamento, aumentar o período de internação hospitalar, atrapalhar a maneira como
o paciente lidará com o avanço da patologia, além de aumentar o risco de suicídio, causando
prejuízos na qualidade de vida do paciente e culminando em grande sofrimento no mesmo e em
seus familiares. Os sintomas depressivos podem diminuir a sobrevida do paciente e levar a
pedidos de antecipação da morte (Eutanásia) (JULIÃO; BARBOSA, 2011).
Quando esse tipo de transtorno surge, a intervenção do profissional de psicologia pode
ampliar a atenção para essas desordens psíquicas com objetivo de oferecer uma escuta que
promova acolhimento e continência. Deve-se respeitar os limites do paciente, assim como
acolher questões relacionadas à morte, pois conversas abertas sobre esse tema podem favorecer
o controle dos sintomas psicopatológicos (GRANEAR, et al. 2008).
Frente aos diagnósticos de desordens psíquicas é necessário o uso de instrumentos para
avaliação psicológica como DSM-V que pode identificar possíveis transtornos
psicopatológicos. A leitura desses sintomas devem ser analisadas por um profissional de
psicologia que contempla a equipe de Cuidados Paliativos, podendo oferecer entendimento
técnico para a compreensão das crises emocionais manifestadas conscientemente ou não por
esses pacientes. (MELO, et al. 2013).
O psicólogo paliativista poderá contribuir para as questões psicológicas desencadeadas
após o diagnóstico da doença física, com o objetivo de proporcionar resolução nos sintomas
ansiosos e depressivos. Com isso, é possível que o paciente alcance integração sobre si mesmo,
ampliação de sua autonomia, além de uma melhor aceitação ao tratamento que contribuirá para
uma melhor qualidade de vida (CUNHA, RUMÉN, 2008).

3 METODOLOGIA
O método utilizado foi de pesquisa bibliográfica, os processos utilizados foram de
investigação de materiais existente na literatura, manuais e artigos de revisões em formato de
análise explicativa. Esse tipo de pesquisa buscara identificar os fatores que determinam que os
fenômenos ocorram. Segundo Gil relata em sua obra Como elaborar projetos de pesquisa
(2002):
18

Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que determinam
ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa que
mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das
coisas. Por isso mesmo, é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer
erros aumenta consideravelmente. (GIL, 2002, p.42).

Os descritores utilizados foram cuidados paliativos, intervenção psicológica, pacientes


terminais sendo encontradas publicações nas bases de dados eletrônicos como SciELO, CAPES
e Biblioteca Virtual em Saúde. Nesses portais foram selecionados artigos publicados entre 2010
a 2020, utilizando descritores apenas em português. Utilizou-se também fichamentos de
literatura das principais referências do assunto, e registros encontrados em outras bases de dados
(sítios na internet) com objetivo de contribuir para a pesquisa.
Os principais fichamentos utilizados foram das autoras Elizabeth Kübler-Ross (1996) e
Ana Claudia Quintana Arantes, sendo dessa última suas publicações dos anos de (2019 e 2020).
O trabalho de ambas autoras são referência no tema de luto e de cuidados paliativos.
A busca totalizou no portal da Scielo, dois artigos, sendo descartado um por meio de
leitura seletiva o qual não contemplava o assunto da pesquisa; no portal CAPES foram
encontrados 25 publicações, porém foram selecionados apenas dois artigos. No portal da
Biblioteca Virtual em Saúde BVS, utilizando os descritores citados acima, não foram
encontrados materiais, entretanto, foi alterado o descritor pacientes terminais por luto, e foram
encontrados 2 artigos, mas foram descartados por não conterem os objetivos da pesquisa.

4 Resultados

No decorrer do processo de revisão foi constatado o pouco material existente na prática


de cuidados paliativos, leva-se em consideração que esse tipo de intervenção só passou a constar
no Código de Ética Médica Brasileira a menos de 2 décadas, o que pode explicar o pouco
material encontrado nos portais de pesquisa. Já na área de psicologia, a intervenção dos
profissionais é norteada apenas pela Resolução nº 13 de 2007 (CFP), que esclarece através da
psicologia clínica e hospitalar as intervenções dos profissionais a pacientes terminais e seus
familiares.
Além disso, observou-se o pouco material redigido por profissionais de psicologia,
sendo a maioria elaborado por profissionais de outras áreas como medicina e enfermagem, vale
ressaltar que esses profissionais praticam cuidados a muito mais tempo em paciente com
diagnósticos de terminalidade. Foi identificado também a pouca mão de obra dos profissionais
de psicologia na integração de equipes multiprofissionais, sendo a maioria desses profissionais
19

encontrados na região sudoeste do nosso país, e que ainda são poucos os profissionais que
possuem especialização em Cuidados Paliativos ou Luto.
A maior parte dos estudos específicos da área de psicologia sobre luto e cuidados
paliativos foram encontrados em fichamentos de literatura e em bases de dados específicos
sobre o tema. Observando a reincidência de alguns nomes importantes da área.
No quadro 1, observa-se os resultados encontrados nos artigos selecionados, assim
como o ano da publicação, nome dos autores e o periódicos o qual foram publicados. Os artigos
estão apresentados por data de publicação em ordem crescente.

Quadro 1: Apresentação dos artigos e os seus resultados.

ANO AUTORES PERÍODICO RESULTADOS


2010 Oliveira, Santos e Psicologia em O estudo mostra as
Mastropietro. Estudo. etapas do adoecer até o
momento da morte. Os
resultados foram
sistematizados em três
eixos: 1) A vida à luz do
adoecimento,2) O toque
da doença e 3) O último
atendimento: as
estações da viagem. O
artigo apresenta os
estágios vivenciados no
processo do luto e traz a
compreensão desse
momento, além de
possibilidades de
intervenção psicológica
afim de facilitar a
proximidade da morte.
2010 Schmidt², Gabarra e Paidéia O artigo traz a atuação
Gonçalves. do psicólogo em
situações de morte em
contexto hospitalar,
20

ampliando esse
processo nas
perspectivas do paciente
e seus familiares. Foi
possível identificar
mudança na dinâmica
familiar nesse momento
e uma maior autonomia
do paciente. Esse
processo de elaboração
contribuiu para o
enfretamento do luto
para todos os
envolvidos com o
paciente.
2013 Melo, Valero e Psicologia, Saúde & Constata-se que o artigo
Menezes. Doenças. traz intervenções
psicológicas
importantes nas práticas
de cuidados paliativos
frente ao sofrimento
vivenciado por
pacientes e familiares.
Destaca também os
poucos estudos na área
de psicologia sobre o
assunto. O estudo
também mostra a
importância de falar
sobre a morte e ampliar
estudos nessa área e a
contribuição do
21

profissional de
psicologia.
Fonte: Elaborado pela autora do artigo.

5 DISCUSSÃO

A partir disso, essa pesquisa elucidou que a intervenção psicológica é de suma


importância e pode contribuir para o bem estar do paciente, familiares e também dos cuidadores,
além de colaborar no diagnóstico e tratamento de doenças psicopatológicas desencadeadas no
processo de adoecimento. O psicólogo também pode ajudar os envolvidos a passar pelo
processo de luto, de forma que não ocorra complicações, por conseguinte garantindo a
experiência de uma boa morte para o paciente adoecido, como também contribuir para que
familiares possam elaborar de forma gradativa o luto anunciado de seus familiares (MELO et
al., 2013).
Além disso, é comum não validar o sofrimento psicológico nesse processo de luto,
normalizando as desordens psíquicas desencadeadas pelo processo de morte anunciada, esse
processo causa grande sofrimento no paciente, tanto físico como psíquico e pode gerar sintomas
de ansiedade e depressão (GRANEAR, et al. 2008).
Também é importante que a sociedade desmistifique que cuidados paliativos estão
ligados com pouco tempo de vida, pois há pacientes que convivem com doenças sem
possibilidade de cura por anos, e que através da assistência direcionada pelos cuidados
paliativos, conseguem ter qualidade de vida e serem protagonistas do seu próprio tratamento
(SOARES,2019).
Observou-se também a dimensão do trabalho realizado por duas grandes mulheres nas
áreas de Luto e Cuidados Paliativos. Elisabeth Kübler Ross foi pioneira no século XIX no
trabalho com pessoas adoecidas e que enfrentavam o processo do luto anunciado, entrevistando
diversos pacientes desenvolveu as cinco fases do luto, que contribui até hoje para o diagnóstico,
compreensão e elaboração desse processo. As cinco fases do luto foram encontradas em
diversas literaturas e publicações revelando sua importância e efetividade no entendimento
dessa fase.
Além disso, Kübler Ross voltou o seu olhar para pacientes que eram deixados afastados
dos cuidados e atenção dos profissionais de Saúde. Já o trabalho da Dra. Ana Claudia Quintana
Arantes traz esperança para o crescimento da prática de cuidados paliativos no Brasil, visto que
22

a mesma tem sido pioneira nesse campo atualmente desenvolvendo cursos, palestras e
proporcionando conhecimento sobre a importância de falarmos da morte e de como é possível
morrer bem, mantendo sua autonomia e realizando desejos até mesmo na hora de nossa
despedida.
Nossa cultura ainda não olha para a morte, entretanto essa fuga distanciou a sociedade
de poder viver bem até o último minuto de escolher onde morrer, ou quem estará ao nosso lado
e de olhar para a finitude como algo natural da nossa história. O avanço das ciências
movimentou uma busca pela eternidade, que é inexistente, porém não amenizou o sofrimento
ocasionado nesse período, ou seja nossa população ainda tem muita pouca qualidade no
tratamento de doenças e no processo de morte (ARANTES, 2019). “Não importa a origem do
ser humano que adoece, o sofrimento vai fazer morada em sua vida e, se não houver como
amenizar tudo isso, o fim será quase sempre um horror.” (ARANTES,2019, p.187).
O apoio psicológico no processo de morte é muito importante, pois a morte é um fato
rodeada de crenças, preconceitos e ideologias que acabam por dificultar a aceitação desse
processo humano (OLIVEIRA, et al., 2010). Porém, quando o paciente pode manifestar
fenômenos psíquicos e conteúdos simbólicos desencadeados nesse processo de morte, é
possível desempenhar princípios básicos que norteiam a prática dos cuidados paliativos,
proporcionando qualidade de vida desde o diagnóstico até a morte concreta, isso, sem dúvidas,
permite que o paciente tenha uma boa morte.
Portanto, é necessário que psicólogos e outros profissionais de saúde tenham por meio
da sua formação estudos que dialoguem sobre questões relacionadas com a morte e com
cuidados paliativos, de forma que possa preparar esses profissionais para trabalhar com esse
tipo de temática que são pertinentes à humanidade (MELO et al., 2013).
Essa revisão buscou elucidar a contribuição do profissional de psicologia no processo
de luto por morte anunciada, porém foi encontrado dificuldades na identificação de referenciais
teóricos direcionados na intervenção psicológica, pois poucos foram os materiais direcionados
para a área da psicologia.
A psicologia como ciência, poderia se aprofundar nas manifestações emocionais
desencadeadas no processo de luto anunciado tanto dos pacientes, como familiares e
cuidadores, buscando compreender esse fenômeno que faz parte da sociedade e das relações
interpessoais, a fim de contribuir na estruturação científica dessas expressões ocasionadas
quando se tem a compreensão da própria finitude. Espera-se que essa revisão possa elucidar a
história dos cuidados paliativos e de como sua intervenção pode trazer benefícios para o
paciente, e que através desse estudo outros profissionais e estudantes possam se encorajar para
23

o conhecimento dessa área nova e crescente no meio Brasileiro, em especial, com enfoque na
psicologia.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O profissional de psicologia pode contribuir no processo de luto anunciado para


pacientes com doenças terminais, promovendo uma escuta terapêutica, auxiliando na resolução
de conflitos internos e externos, sendo ponte para as relações familiares e também da equipe.
Além disso, o profissional pode através de seu conhecimento prestar assistência para
manifestações psicopatológicas desencadeadas pelo sofrimento dessa etapa do tratamento. O
psicólogo visará direcionar seu olhar ao paciente e não à doença, sua intervenção auxiliará o
paciente a manter autonomia e a resolver questões de sua importância, encontrar conforto e
segurança nesse momento de despedida.
O profissional de psicologia pode auxiliar na resolução de conflitos vivenciados pelo
paciente e seus familiares, dessa forma é possível ter uma melhor adesão ao tratamento e
aceitação do processo natural da morte, além de contribuir para a resolução de questões
espirituais desalinhadas, prestando uma escuta sem julgamentos e acolhimento. Nesse processo
de morte anunciada, o psicólogo poderá identificar as fases do luto e direcionar a intervenção
necessária a fim de facilitar esse processo e possibilitar o paciente a viver uma morte tranquila.
Os cuidados paliativos são úteis em todas as fases da doença, contudo, nos momentos
finais da vida, pode viabilizar uma qualidade de vida nesse processo de morte (ARANTES,
2019).
Os cuidados paliativos são uma prática antiga na nossa história, pois permitiram que
pacientes com doenças terminais recebessem alívio do sofrimento e da dor. Porém, no meio
Brasileiro ainda existem muitos pacientes morrendo sem nenhum amparo para questões
psicológicas, físicas, sociais e espirituais. Nota-se que o acesso a essa especialidade vem
crescendo no nosso país desde que foi inserida no Código de Ética Médica, e existem locais
que oferecem esse tipo de assistência com qualidade.

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