Ana Paula Ladeira Correção
Ana Paula Ladeira Correção
Ana Paula Ladeira Correção
PSICOLOGIA
ITAPETININGA – SP
2020
ANA PAULA SEVERINO LADEIRA
ITAPETININGA – SP
2020
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho por qualquer meio convencional
ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada à fonte.
Primeiramente gostaria de agradecer a Deus, por me manter forte e guiar meus passos
durante esse ciclo que sempre sonhei.
Minha eterna gratidão pelo encontro com essa ciência que é a Psicologia, que me
permitiu vivenciar mudanças cognitivas, e também mudanças no meu mundo interno.
Sou grata à minha família que sempre me apoiou e me incentivou, em especial meu
marido Leonardo e meu filho Joaquim, pelo amor incondicional e por sempre compreenderem
minha dedicação e comprometimento com esse projeto.
Ao meu marido Leonardo agradeço por ter segurado minhas mãos e se dedicado junto
comigo dia a dia para que esse sonho se tornasse realidade, agradeço por ter sido meu maior
apoio no cuidado com o Joca, por todo carinho e amor. Ao Joaquim, meu pequeno que me
acompanhou desde o ventre as aulas e estudos, você é fonte de toda minha força e minha
dedicação, obrigada por me ensinar diariamente a ser uma pessoa melhor.
Agradeço aos meus pais Conceição e Luiz (in memoriam), minhas irmãs Roselena, Edna
e Karen, minhas sobrinhas Nicole, Maria Fernanda e Isabele, minha sogra Ana Claudia e minha
cunhada Gabriela pelo incentivo e por sempre estarem a disposição para me ajudarem a concluir
essa jornada.
Aos meus colegas do curso de Psicologia Bruna e Everton, agradeço as trocas, o apoio
e a linda amizade que construímos.
Agradeço a minha orientadora Fabiana Toledo pela confiança e por ter dedicado
inúmeras horas para sanar minhas dúvidas e me guiar pela direção correta. Você é minha grande
inspiração.
6
RESUMO
O objetivo desse trabalho é elucidar as contribuições do profissional de psicologia frente ao
processo de luto vivenciado por paciente em cuidados paliativos. O método de busca para a
realização do estudo foi através de pesquisas em bases de dados como Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), CAPES e livros acadêmicos dos
principais autores sobre o tema. A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a novembro
de 2020. A busca totalizou no portal da Scielo dois artigos, sendo descartado um por meio de
leitura seletiva, já que não contemplava o assunto da pesquisa; no portal CAPES foram
encontradas 25 publicações as quais foram selecionadas apenas duas delas. No portal da BVS
foram encontrados 2 artigos os quais foram descartados por não conterem os objetivos da
pesquisa. Conclui-se que ainda são poucos os estudos realizados nesse campo no Brasil,
principalmente na área da psicologia, porém com o material levantado observa-se a
contribuição do profissional de psicologia na elaboração do processo de luto, ofertando a
possibilidade de o paciente viver uma boa morte, além da cooperação no diagnóstico e na
resolução de desordens psíquicas.
ABSTRACT
The objective of this work is to elucidate the contributions of the psychology professional facing
the grieving process experienced by patients in palliative care. The search method for
conducting the study was by searching databases such as the Virtual Health Library (VHL),
Scientific Electronic Library Online (SCIELO), CAPES and academic books by the main
authors about the subject. The research was carried out from February to November 2020. The
search totaled two articles on the Scielo portal, one of them was discarded through selective
reading which didn´t contemplate the research subject, in the CAPES portal were found 25
publications, and only two articles were selected. In the VHL portal, two articles were found,
both of them were discarded as they didn´t contain the research objective. It´s concluded that
there are still few studies carried out in this topic in Brazil, mainly in the area of psychology,
but with the material surveyed, is noticed the contribution of the psychology professional in the
elaboration of the grieving process, offering the possibility of the patient to live a good death,
besides the cooperation in the diagnosis and resolution of psychic disorders.
1 Introdução
Conforme o avanço das ciências médicas e das tecnologias, o cuidado com a saúde
tornou-se assíduo, sendo gerada uma maior expectativa de vida. Entretanto, as intervenções
médicas executam práticas com o único objetivo de salvar vidas, desalinhando o método de
cuidar com o de curar. Por esse motivo, a morte deixou de ser aceita como um processo natural
da vida e começou a ser vista como algo que deve ser adiada de todas as formas possíveis
(GOMES; OTHERO, 2016).
Observa-se na História do Ocidente que a morte era aceita como parte do ciclo da
vida, preservando o respeito pelo processo natural e também proporcionando conforto nessa
passagem da vida para a morte (MELO et al., 2013). Sendo assim, é de suma importância
destacar a história dos cuidados paliativos.
A palavra paliar é originária do termo em latim palliare que significa cobrir com um
manto, usada para se referir aos mantos usados por cavaleiros para se proteger de chuvas nos
seus trajetos. Essa palavra fala sobre abrigo, algo que traz conforto, diminuindo o sofrimento.
Os cuidados paliativos tem essa finalidade de trazer cuidados diante de necessidades físicas,
psíquicas, espirituais e sociais (ANCP, 2020).
Devemos compreender o termo Hospice, o qual tem origem do latim hospes e foi por
muito tempo usado para descrever as intervenções de cuidados paliativos. Essa palavra, Hospice
era utilizada para definir tipos de abrigos que recebiam viajantes, pobres e peregrinos. O relato
mais antigo desse vocábulo foi registado no século V por Fabíola, discípula de São Jerônimo,
pois ela recebia no Hospício do Porto de Roma romeiros vindos da Ásia, África e de países do
Lestes (CARVALHO; PARSONS, 2012).
A prática de cuidados em Hospice se expandiu na Europa no século XVIII, porém essa
prática era norteada pelas instituições religiosas católicas e protestantes, tornando-se hospitais
a partir do século XIX, os quais ofereciam cuidados para pacientes com patologias como
Tuberculose e Câncer, no entanto, as intervenções eram direcionadas para questões espirituais
e a fim de amenizar a dor (FIGUEIREDO, 2008).
Foi em uma instituição como essa que Dame Cicely Saunders, enfermeira e Assistente
Social, que posteriormente estudou medicina, demonstrou-se insatisfeita com o sofrimento
vivenciados pelos indivíduos que atendia, dedicando seus estudos no alívio da dor dos pacientes
com patologias terminais. Saunders cuidou de um paciente que recebeu uma colostomia
paliativa, oferecendo sua atenção e cuidados até a morte desse paciente. Como demonstração
de gratidão recebeu uma pequena herança desse paciente que lhe disse “Eu serei uma janela na
8
sua casa” (CARVALHO; PARSONS, 2012, p. 24). Foi por meio dessa herança que Saunders
fundou em 1967, em Londres, o St. Christopher Hospice, dando assim início ao Movimento do
Hospice Moderno (CARVALHO; PARSONS, 2012). Na década de 1970, Saunders encontrou
nos Estados Unidos com a psiquiatra norte-americana Elizabeth Klüber-Ross, desencadeando
assim o crescimento do movimento do Hospice Moderno por lá. Em 1975, em Connecticut, foi
fundado o primeiro Hospice americano (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Já em 1982, o Comitê de Câncer da Organização Mundial de Saúde desenvolveu um
grupo de trabalho que tinha como objetivo definir políticas para o controle do alívio da dor
utilizando os métodos de instituições como Hospices, esses cuidados deveriam ser direcionados
a pacientes com câncer em todos os países. A expressão Cuidados Paliativos já era utilizada no
Canadá e passou a ser utilizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) devido à
dificuldade de tradução correta da palavra Hospice em alguns idiomas. A primeira publicação
sobre o conceito de cuidados paliativos feito pela OMS ocorreu em 1990 e definia:
Cuidado ativo e total para pacientes cuja doença não é responsiva a tratamento de
cura. O controle da dor, de outros sintomas e de problemas psicossociais e espirituais
é primordial. O objetivo do Cuidado Paliativo é proporcionar a melhor qualidade de
vida possível para pacientes e familiares. (CARVALHO; PARSONS, 2012, p.25).
Em 2002, essa definição foi retificada e substituída pela OMS por uma definição atual
a qual descreve que os Cuidados Paliativos devem ser realizados em pacientes acometidos por
patologias não mais responsivas ao tratamento curativo. Essa assistência deve ser realizada por
uma equipe multidisciplinar com foco em proporcionar qualidade de vida à pacientes e à
familiares destacando a assistência exclusiva ao ser humano e não à doença, objetivando
proporcionar autonomia, suporte psicossocial e espiritual, alívio do sofrimento físico e
psicológico, diagnóstico precoce e atenção individualizada, sendo possível realizar esse
atendimento em ambiente hospitalar ou domiciliar (CARVALHO; PARSONS, 2012).
Os cuidados paliativos ainda são uma especialidade nova na saúde brasileira, sua prática
foi regulamentada em 2002 pela OMS. No Brasil, essa técnica só tomou força a partir de 2005
e foi incluída no Conselho Federal de Medicina em seu Código de ética médica em 2009
(ANCP, 2020). Já o Conselho Federal de Psicologia não promove nenhuma cartilha específica
para os profissionais que atuam nessa área, estando à disposição apenas a Resolução nº13, de
14 de setembro de 2007, que orienta as práticas de Cuidados Paliativos com familiares e
pacientes na área clínica e hospitalar (CFP, 2007).
Apesar dos avanços na prática de cuidados paliativos, ainda são poucos os pacientes que
recebem uma assistência adequada para o alívio dos sintomas físicos e psíquicos. Segundo a
9
ONU (2014), por meio de um relatório feito por ela e pela Aliança Mundial de Cuidados
Paliativos, constaram que apenas 10% de pessoas recebem o atendimento médico necessário a
fim de minimizar a dor, os indicativos de estresse e de doenças graves (ONU, 2014).
O número de pessoas que necessitam de cuidados paliativos no fim da vida chega a ser
superior a 20 milhões, sendo 6% crianças, contudo, esse número subiria para aproximadamente
40 milhões se todos os pacientes fossem atendidos logo no início do diagnóstico de doença
terminal. Levando em consideração que esse atendimento também é necessário para os
membros mais próximos do doente, então, esse número dobraria (ONU, 2014).
Ainda segundo dados da ONU (2014), destaca-se que em 2011, por volta de 3 milhões
de pacientes receberam cuidados paliativos (C.P.) necessários, sendo que estavam na fase final
de suas vidas. Nota-se que a maioria das intervenções em C.P. foram proporcionadas por países
de alta renda, entretanto, 80% da necessidade global também deveria ser fornecida por países
de baixa e média renda, mas somente 20 países no mundo estão bem alinhados com as práticas
de Cuidados Paliativos aos seus sistemas de saúde.
Vale ressaltar que segundo Maria Cecilia Sepúlveda Bermedo (Assessora Sênior da
OMS), muitos pacientes e familiares não possuem informações sobre a intervenção de C.P., do
mesmo modo que profissionais de saúde não sabem como integrar esses cuidados na prática
clínica, tendo impactos também pela falta de medicamentos para o alivio da dor (ONU, 2014).
Os cuidados paliativos configuram uma especialidade na saúde que visa a promover
cuidados para pacientes com diagnósticos de patologias terminais. Entretanto, segundo a
Academia Nacional de Cuidados Paliativos:
ser um elo na comunicação do paciente com familiares e equipe médica (OLIVEIRA, et al.,
2010).
Um estudo realizado pela ANCP e divulgado no último Congresso Nacional de
Cuidados Paliativos da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, revelou através de um
questionário respondido por 172 profissionais de psicologia que a maioria dos profissionais de
psicólogos paliativistas no Brasil estão reunidos na região Sudoeste. Os estados com maior
número de profissionais é São Paulo com 67, Rio de Janeiro com 18, Bahia com 15, Minas
Gerais com 14 e Rio Grande do Sul com 10. O estudo ainda identificou que a maioria desses
profissionais não possuem especialização em C.P. ou Luto e são os únicos em suas equipes
(ANCP, 2020).
A inserção do profissional de psicologia na área de cuidados paliativos tem sido
discutida nos últimos anos com objetivo de apontar sua contribuição no quadro de doenças
crônicas e fatais. Esse processo requer uma articulação atenciosa e participativa, pois o
psicólogo terá que auxiliar nas adaptações de perspectivas do paciente e família, informar
notícias dolorosas, comunicar prognósticos e sequelas que podem impossibilitar autonomia
física, além de entender problemas socioeconômicos, manifestações do paciente e familiares
pelo processo da morte anunciada, questões desencadeadas pelo luto, entre outras necessidades
que possam surgir nesse período (ANCP, 2020).
A psiquiátrica Elisabeth Kübler-Ross faz referência em estudos sobre a morte,
destacando em seu livro Sobre a Morte e o Morrer (1996), cinco estágios que observou por
meio de entrevistas com pacientes que receberam diagnósticos que colocavam em ameaça a
continuação de suas vidas. Esses estágios são descritos como negação e isolamento; raiva;
barganha; depressão e aceitação. É importante ressaltar que esses estágios podem ser
vivenciados em ordem aleatórios não só pelo paciente, mas também pelos seus familiares.
Todo esse processo que o paciente enfrenta exige do profissional de psicologia uma
interpretação de sentimentos, imagens, sonhos, símbolos e comunicações verbais que ocorrem
de forma espontânea após o estabelecimento do vínculo do paciente e terapeuta. Essas análises
devem contribuir para aceitação do adoecimento, auxiliar o encontro com a consciência e
ressignificar esse processo (OLIVEIRA, et al., 2010).
Geralmente, quando se tem a compreensão clara da morte, questões sobre
espiritualidade acabam tendo certa relevância na vida do ser humano. Porém, quando essas
questões são vividas e buscadas com objetivos de recompensa, podem desencadear sofrimentos
pelo sentimento de abandono por Deus ou com aquilo que se considera Sagrado (ARANTES,
2019).
11
Através dos cuidados e atenção com essas manifestações psíquicas que podem ocorrer
no processo de morte, é possível ofertar uma “boa morte”. O Institute of Medice, em 1997,
definiu a “boa morte” ou “morte apropriada” como: “Aquela que é livre de uma sobrecarga
evitável e de sofrimento para o paciente, as famílias e os cuidadores que, em geral, ocorrendo
de acordo com os desejos dos pacientes e das famílias; e razoavelmente consistente com as
normas clínicas, culturais e éticas” (ARANTES, 2020, p. 215).
Por certo, com esses dados, pode-se ponderar a necessidade de investigar a prática dos
cuidados paliativos assim como seus efeitos na qualidade de vida dos pacientes. Portanto, esse
trabalho tem como objetivo geral analisar e identificar as contribuições do profissional de
psicologia na intervenção dos cuidados paliativos. Também buscou-se identificar e
contextualizar a história dos cuidados paliativos até a atualidade; descrever a possibilidade de
se ofertar ao paciente uma “boa morte”; instituir o trabalho realizado pelo psicólogo na
elaboração do luto e descrever o trabalho e as contribuições do profissional de psicologia frente
às desordens psíquicas do paciente em cuidados paliativos.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 LUTO
O luto é um período de reações que ocorre após a morte física ou simbólica, através do
rompimento de um vínculo de afeto. A pessoa enlutada sofre sintomas físicos e emocionais. Ao
vivenciar o rompimento de uma conexão importante, vive-se a sensação de insegurança, a perda
da instabilidade e a crença de autocontrole. A perda de alguém importante que fez parte da
construção da nossa própria vida, deixa a dificuldade de nos reconhecermos sem essa pessoa.
A vida após a perda não será a mesma de antes, e a restruturação só será possível quando o
indivíduo vivenciar o processo do luto (ARANTES, 2019).
O processo de luto não é somente vivido por familiares ou amigos do paciente, mas por
ele próprio de formas e dimensões diferentes. Quando se recebe o diagnóstico de uma doença,
vivencia-se manifestações físicas e emocionais. E aos poucos o paciente vai se conectando com
questões de um futuro incerto. Diante de uma doença que ameaça o percurso de sua vida, o
indivíduo entra em contato com diversos lutos internos como o papel que ocupava em sua
família, o profissional que era, a autonomia e os planos que tinha. Nesse período, o paciente já
vivencia um luto simbólico. Entretanto, uma outra dimensão é se deparar com a morte de frente,
e tomar consciência que em algum momento ela ocorrerá, essa é uma questão por muitas vezes
nunca refletida ao longo da vida e que causa grande sofrimento no processo de uma doença
12
terminal (SBGG, 2014). Elisabeth Kübler-Ross cita no livro Sobre a Morte e o Morrer (1996,
p. 41) que “Deveríamos criar o hábito de pensar na morte e no morrer de vez em quando, antes
que tenhamos de nos defrontar com ela na vida”.
Ana Claudia Quintana Arantes, médica especialista em Cuidados Paliativos, ressalta no
seu livro A morte é um dia que vale a pena viver (2019), que o sofrimento ocorre logo no
diagnóstico de uma doença que pode comprometer a continuidade da vida, destacando que a
dor é vivida de forma individual por cada paciente. A morte anunciada leva a oportunidade de
descoberta do sentido da vida, entretanto, traz sentimentos de aflição pela possibilidade de não
haver mais tempo suficiente para experimentar dessa descoberta. A intervenção de Cuidados
Paliativos oferta, através de uma equipe multidisciplinar, a possibilidade do cuidar físico e de
sequelas que podem ser ocasionadas pelo tratamento, dos sintomas gerados pelo avanço da
patologia e também do cuidado com as manifestações emocionais, que são muito penosas nessa
fase, pois se acaba de compreender a própria mortalidade, e isso leva a buscar o sentindo da
vida.
Essas manifestações podem ser vivenciadas em cinco fases de forma não linear e elas
são enfrentadas pelo paciente e seus familiares. Como já citadas acima, são descritas como
negação e isolamento; raiva; barganha; depressão e aceitação (KÜBLER-ROSS, 1996).
A negação geralmente ocorre logo na comunicação do diagnóstico de uma doença
terminal e é marcada por reações de ordem negativa e recusa em acreditar na notícia. Nessa
fase, é comum o paciente e familiares procurarem outros profissionais e até realizar outros
exames. Essa negação ocorre como uma forma de proteção para uma má notícia, entretanto, ela
é uma defesa transitória e não impedirá o paciente de entrar em contato com o fato realístico
(KÜBLER-ROSS, 1996).
O segundo estágio é a raiva que desencadeiam reações como revolta, mágoa e inveja;
culminando na reflexões do porque estar passando por isso. A raiva é um estágio que contrasta
com a negação e, geralmente, é projetada nos familiares e profissionais que exercem o cuidado.
É preciso compreender o paciente ou o familiar e suas manifestações raivosas, esse
entendimento contribuirá para a aceitação do fim (KÜBLER-ROSS, 1996).
O terceiro estágio é a barganha, diferente das primeiras fases, neste momento o paciente
ou familiar busca uma tentativa de adiar o fim. Geralmente, essa troca é feita com aquilo que é
sagrado para o paciente, tentando estabelecer uma recompensa por bom comportamento ou por
sentimentos associados a culpa. Nesta fase, é importante ter a intervenção de um Capelão que
possa identificar reações de culpabilidade pelo distanciamento de sua religião, ou outros
13
Ver alguém morrer ao lado da família, cercado de amor, tendo dito tudo o que era
preciso e ouvido tudo o que havia para ser ouvido, é, de fato, lindo. Não diminui a dor
da ausência, mas encerra uma história de forma que será reproduzida sem o luto dos
arrependimentos sobre o que não foi feito, vivido ou dito. (SOARES, 2019, p.227).
a equipe médica respeite a autonomia do paciente, a função do amparo nesse período que
antecede a morte não é antecipar e nem adiar o momento que a morte ocorre, mas sim promover
alívio do sofrimento físico, psíquico e espiritual no instante correto da morte. Para que essa
vontade do paciente possa ser documentada, é preciso ser descartado sintomas de
psicopatologias, déficit cognitivos e influências emocionais, também é preciso que termos e
intervenções médicas sejam esclarecidas pelo profissional de medicina para a elucidação do
paciente (ARANTES, 2019).
O respeito pelo paciente, o cuidado com seus desejos e com todas suas necessidades,
além de fornecer amparo para familiares, amigos e cuidadores no período após morte também
são práticas para se ofertar uma boa morte (ARANTES, 2020). A morte pode ser bela quando
ocorre no tempo ideal, além de se permitir que o paciente mantenha o controle de seus desejos
em todo o processo de morte e após a mesma (BARRETO, 2010).
3 METODOLOGIA
O método utilizado foi de pesquisa bibliográfica, os processos utilizados foram de
investigação de materiais existente na literatura, manuais e artigos de revisões em formato de
análise explicativa. Esse tipo de pesquisa buscara identificar os fatores que determinam que os
fenômenos ocorram. Segundo Gil relata em sua obra Como elaborar projetos de pesquisa
(2002):
18
Essas pesquisas têm como preocupação central identificar os fatores que determinam
ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Esse é o tipo de pesquisa que
mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das
coisas. Por isso mesmo, é o tipo mais complexo e delicado, já que o risco de cometer
erros aumenta consideravelmente. (GIL, 2002, p.42).
4 Resultados
encontrados na região sudoeste do nosso país, e que ainda são poucos os profissionais que
possuem especialização em Cuidados Paliativos ou Luto.
A maior parte dos estudos específicos da área de psicologia sobre luto e cuidados
paliativos foram encontrados em fichamentos de literatura e em bases de dados específicos
sobre o tema. Observando a reincidência de alguns nomes importantes da área.
No quadro 1, observa-se os resultados encontrados nos artigos selecionados, assim
como o ano da publicação, nome dos autores e o periódicos o qual foram publicados. Os artigos
estão apresentados por data de publicação em ordem crescente.
ampliando esse
processo nas
perspectivas do paciente
e seus familiares. Foi
possível identificar
mudança na dinâmica
familiar nesse momento
e uma maior autonomia
do paciente. Esse
processo de elaboração
contribuiu para o
enfretamento do luto
para todos os
envolvidos com o
paciente.
2013 Melo, Valero e Psicologia, Saúde & Constata-se que o artigo
Menezes. Doenças. traz intervenções
psicológicas
importantes nas práticas
de cuidados paliativos
frente ao sofrimento
vivenciado por
pacientes e familiares.
Destaca também os
poucos estudos na área
de psicologia sobre o
assunto. O estudo
também mostra a
importância de falar
sobre a morte e ampliar
estudos nessa área e a
contribuição do
21
profissional de
psicologia.
Fonte: Elaborado pela autora do artigo.
5 DISCUSSÃO
a mesma tem sido pioneira nesse campo atualmente desenvolvendo cursos, palestras e
proporcionando conhecimento sobre a importância de falarmos da morte e de como é possível
morrer bem, mantendo sua autonomia e realizando desejos até mesmo na hora de nossa
despedida.
Nossa cultura ainda não olha para a morte, entretanto essa fuga distanciou a sociedade
de poder viver bem até o último minuto de escolher onde morrer, ou quem estará ao nosso lado
e de olhar para a finitude como algo natural da nossa história. O avanço das ciências
movimentou uma busca pela eternidade, que é inexistente, porém não amenizou o sofrimento
ocasionado nesse período, ou seja nossa população ainda tem muita pouca qualidade no
tratamento de doenças e no processo de morte (ARANTES, 2019). “Não importa a origem do
ser humano que adoece, o sofrimento vai fazer morada em sua vida e, se não houver como
amenizar tudo isso, o fim será quase sempre um horror.” (ARANTES,2019, p.187).
O apoio psicológico no processo de morte é muito importante, pois a morte é um fato
rodeada de crenças, preconceitos e ideologias que acabam por dificultar a aceitação desse
processo humano (OLIVEIRA, et al., 2010). Porém, quando o paciente pode manifestar
fenômenos psíquicos e conteúdos simbólicos desencadeados nesse processo de morte, é
possível desempenhar princípios básicos que norteiam a prática dos cuidados paliativos,
proporcionando qualidade de vida desde o diagnóstico até a morte concreta, isso, sem dúvidas,
permite que o paciente tenha uma boa morte.
Portanto, é necessário que psicólogos e outros profissionais de saúde tenham por meio
da sua formação estudos que dialoguem sobre questões relacionadas com a morte e com
cuidados paliativos, de forma que possa preparar esses profissionais para trabalhar com esse
tipo de temática que são pertinentes à humanidade (MELO et al., 2013).
Essa revisão buscou elucidar a contribuição do profissional de psicologia no processo
de luto por morte anunciada, porém foi encontrado dificuldades na identificação de referenciais
teóricos direcionados na intervenção psicológica, pois poucos foram os materiais direcionados
para a área da psicologia.
A psicologia como ciência, poderia se aprofundar nas manifestações emocionais
desencadeadas no processo de luto anunciado tanto dos pacientes, como familiares e
cuidadores, buscando compreender esse fenômeno que faz parte da sociedade e das relações
interpessoais, a fim de contribuir na estruturação científica dessas expressões ocasionadas
quando se tem a compreensão da própria finitude. Espera-se que essa revisão possa elucidar a
história dos cuidados paliativos e de como sua intervenção pode trazer benefícios para o
paciente, e que através desse estudo outros profissionais e estudantes possam se encorajar para
23
o conhecimento dessa área nova e crescente no meio Brasileiro, em especial, com enfoque na
psicologia.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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