Artigo Amamenta
Artigo Amamenta
Artigo Amamenta
Determinants of early
food introduction in the
|Determinantes da introdução precoce
first month of babies,
attended by the USF in
de alimentos no primeiro mês de
Vitória, Espírito Santo bebês acompanhados nas Unidades
de Saúde da Família de Vitória,
Espírito Santo
ABSTRACT| Objectives: know the prac- RESUMO| Objetivos: Conhecer a prática do aleitamento materno e identificar
tice of breastfeeding and identify the factors fatores associados à introdução de alimentos no primeiro mês de vida em
associated with the introduction of food in the
first month of life in children accompanied in crianças acompanhadas nas Unidades de Saúde da Família (USF). Metodologia:
family healthcare unit (FHCU). Methods: Foram coletados dados socioeconômicos e de saúde de gestantes no terceiro
Socioeconomic and health data were collected trimestre de gestação, cadastradas nas 20 USFs de Vitória, em visita domiciliar.
of pregnants in the third quarter, registered in
20 FHCU of Vitória, in home visit. About Aproximadamente após 30 dias do parto, nova entrevista foi realizada com as
30 days after the delivery, a new interview mães sobre condições de nascimento e aleitamento materno. No total, 168 mães
was done with the mothers about conditions e bebês foram estudados. Foi calculada prevalência de AME no primeiro mês e
of birth and breastfeeding. Informations of
analisada segundo variáveis socioeconômicas e de saúde. Foram realizados teste
168 children were obtained. The prevalence
of EBF was calculated in the first month and qui-quadrado e regressão logística e adotado p<0,05. Resultados: Foi encontrada
analyzed according to socioeconomic and health prevalência de aleitamento materno exclusivo (AME) no primeiro mês de 73,2% e
variables. Chi-square and logistic regres- associação estatística significante com história anterior de amamentação (p=0,02),
sion were performed and adopted p <0.05.
Results: The prevalence of EBF in the first uso de chupeta (p<0,001), sentimentos positivos em relação à amamentação
month was 73.2% and was found statistically (p<0,01) e apoio do companheiro (p=0,02). Após análise de regressão, verificou-
significant association with a history of breast- se que mulheres sem história anterior de AM e sem apoio do companheiro tinham
feeding (p = 0.02), pacifier use (p <0.001),
positive feelings about breastfeeding (p <0. 2,8 e 4,5, respectivamente, mais chances de introduzir alimentos no primeiro mês.
01) and support from partner (p = 0.02). Conclusão: O AME deve ser incentivado nos serviços de saúde e para o público
After regression analysis, found that women em geral a fim de mudar a concepção sobre essa prática.
without previous history of BF had been 2.8
more chance to introduce foods in the first Palavras-chave| Aleitamento materno; Fatores de risco; Nutrição infantil.
month and who had no support from partner
4.5 more chances of not being in EBF on the
first month. Conclusion: The EBF should be
encouraged in health services and the general
public in order to change the conception about
this practice.
Keywords| Breast feeding; Risk factors;
Infant nutrition.
1
Estudante de graduação em Enfermagem e Obstetrícia na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Vitória, Brasil.
2
Nutricionista e aluna do Mestrado em Saúde Coletiva da Ufes.
3
Pós-doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro; professora Associada do Departamento de Educação Integrada em
Saúde da (Ufes), Vitória, Brasil.
Neste estudo, foram estudadas as variáveis relacionadas Entre as mulheres que estão amamentando exclusivamente
com as gestantes: idade materna (em anos), trabalho fora até 30 dias, 92% amamentaram seus outros filhos. Cerca
do lar antes do nascimento do bebê, escolaridade materna, de 28% das crianças que estavam em AME usavam
nível socioeconômico, intenção de amamentar, apoio do chupeta. Já entre os que não estavam mais em aleitamento
companheiro e da família para amamentar. Quanto às materno exclusivo, 57,1% usavam chupeta.
características das crianças, foram estudadas as seguintes
variáveis: idade gestacional (em semanas), prematuridade,
Tabela 1 – Distribuição da população estudada, segundo variáveis sociodemo-
amamentação no dia do nascimento, uso de chupeta e
gráficas, Estratégia Saúde da Família, Vitória/ES
amamentação na primeira hora após o parto. A raça/cor
foi autorreferida como branco, preto, pardo, amarela ou Variável n* %
indígena e, posteriormente, para análises, dicotomizadas Faixa etária materna (anos)
em branco e não branco. ≤ 19 29 17,6
20 – 30 107 64,8
Foram testadas todas as variáveis potencialmente
associadas à variável dependente Aleitamento Materno >31 29 17,6
Exclusivo (AME), utilizando-se o teste do qui-quadrado e Raça/ Cor
Teste Exato de Fisher, quando necessário. Foram testados Branca 18 10,9
modelos de regressão logística para identificação de Não branca 147 89,1
fatores associados à introdução precoce de alimentos no Escolaridade materna
primeiro mês. Foram calculadas as razões de chance (RC) < 8 anos 40 24,2
e os respectivos intervalos de confiança (IC95%).
≥ 8 anos 121 75,8
Para as análises, utilizou-se o pacote estatístico SPSS 17.0, Ocupação materna
tendo como critério para entrada das variáveis no modelo Dona de casa 68 44,4
o nível de significância menor ou igual a 0,10. Ao final,
Empregada 62 40,5
foi aceito o modelo que melhor explicou a interrupção do
Desempregada 4 2,6
AME no primeiro mês de vida somente com as variáveis
Outros 19 12,4
que apresentaram p<0,05.
Vive com companheiro
O projeto de pesquisa intitulado “Amamentação e fatores
Sim 132 81
associados à introdução precoce de alimentos” foi
Não 31 19
aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de
Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Espírito Classe socioeconômica
Santo, sob o número de registro 149/09. B 11 6,9
C 106 63,3
D+E 42 26,9
RESULTADOS |
*Os valores de n são diferentes porque alguns dados não foram
Foram obtidos dados relativos ao primeiro mês de vida respondidos pelas mães.
do bebê de 168 participantes, 84% do total de gestantes
identificadas no terceiro trimestre nas USFs. A idade
Todas as crianças que nasceram com baixo peso não
média das gestantes foi de 25,5+5,9 anos e a mediana foi
estavam em AME. Cerca de 95% dos bebês que estavam
de 28. A média de anos de estudo das mulheres estudadas
em AME receberam, como primeiro alimento após o parto,
foi de 7,7+3 anos. Cerca de 43% das mulheres estavam
o leite materno. Foi encontrada associação entre AME e
grávidas pela primeira vez. Na Tabela 1, são apresentadas as
o relato materno de sentimentos positivos, pois 75,6%
características sociodemográficas das gestantes participantes
das mulheres que expressaram sentir alegria/felicidade,
do estudo e, na Tabela 2, são apresentadas as variáveis
satisfação em relação ao bebê estavam amamentando.
maternas segundo o tipo de AM no primeiro mês de vida
dos bebês. Foi observada associação estatística entre o AME A maior parte dos bebês (83,5%) recebeu o leite materno
nos primeiros 30 dias após o parto e as variáveis: história como primeiro alimento na maternidade ou no hospital,
anterior de amamentação (p= 0,02), sentimentos em relação 8% foram prematuros, 92% dos bebês nasceram com peso
à amamentação (p<0,01) e apoio do companheiro (p= 0,03). normal e 51,5% nasceram via parto vaginal.
Tabela 2 – Distribuição do aleitamento materno exclusivo no primeiro mês de vida da criança, segundo variáveis maternas e familiar, Estratégia Saúde
da Família, Vitória/ES
Aleitamento materno exclusivo no primeiro mês
Variável Sim Não Total Valor de P
n % n % n** %
Idade materna (anos) 0,29
≤ 19 22 75,9 7 24,1 29 17,6
20 - 30 76 71 31 29 107 64,8
≥ 31 25 86,2 4 13,8 29 17,6
Escolaridade materna (em anos)* 0,28
<8 31 77,5 9 22,5 40 23,8
8 a 10 38 65,5 20 34,5 58 34,5
≥ 11 54 77,1 16 22,9 70 41,7
Ocupação materna* 0,59
Dona de casa 51 75 17 25 68 44,4
Empregada 49 79 13 21 62 40,5
Desempregada 2 50 2 50 4 2,6
Outros 14 73,7 5 26,3 19 12,4
História anterior de amamentação* 0,02
Sim 57 77 17 23 74 86
Não 2 28,6 5 71,4 7 8,2
Não todos os filhos 3 60 2 40 8,3 5,8
Sentimento em relação à amamentação <0,01
Positivos 93 76,9 28 23,1 121 75,6
Negativos 5 35,7 9 64,3 14 8,8
Positivos e negativos 20 80 5 20 25 15,6
Apoio do companheiro* 0,03
Incentiva 86 79,6 22 20,4 108 80,6
Não incentiva 4 80 1 20 5 3,7
Indiferente 11 52,4 10 47,6 21 15,7
Apoio familiar para amamentar 0,11
Sim 89 71,8 35 28,2 124 76,1
Não 33 84,6 6 15,4 39 23,9
* Teste Exato de Fisher. **Os valores de n são diferentes porque alguns dados não foram respondidos pelas mães .
Tabela 3 – Prevalência de aleitamento materno exclusivo segundo variáveis relacionadas com as condições de nascimento da criança, Vitória/ES(continua)
Aleitamento materno exclusivo no primeiro mês
Variável Exclusivo Não Exclusivo Total Valor de P
n % n % n %
Número de consultas pré-natal 0,83
<6 28 73,7 10 26,3 38 24,4
≥6 89 75,4 29 24,6 118 75,6
Tipo de parto 0,56
Vaginal 64 75,3 21 24,7 85 51,5
Cesáreo 57 71,3 23 28,8 80 48,5
Tabela 3 – Prevalência de aleitamento materno exclusivo segundo variáveis relacionadas com as condições de nascimento da criança, Vitória/ES(conclusão)
Aleitamento materno exclusivo no primeiro mês
Variável Exclusivo Não Exclusivo Total Valor de P
n % n % n %
Prematuridade 0,25
Sim 8 61,5 5 38,5 13 8
Não 114 76 36 24 150 92
Baixo peso ao nascer 0,32
Sim 6 60 4 40 10 6
Não 116 74,4 40 25,6 156 94
Sexo do bebê 0,99
Masculino 63 73,3 23 26,7 86 51,2
Feminino 60 73,2 22 26,8 82 48,8
Amamentação na primeira hora após parto 0,92
Sim 76 73,1 28 26,9 104 63
Não 45 73,8 16 26,2 61 37
Uso da chupeta <0,001
Sim 34 58,6 24 41,4 58 35,4
Não 88 83 18 18 17 106
*Os valores de n são diferentes porque alguns dados não foram respondidos pelas mães.
Tabela 4 – Análise ajustada das variáveis associadas à introdução precoce maior de introduzir alimentos diferentes do leite materno
de alimentos no primeiro mês de vida do bebê, Vitória/ES, 2010 no primeiro mês de vida, e as que não possuíam apoio do
companheiro tinham uma chance 4,5 maior de não estarem
Variável Valor OR IC 95%
em aleitamento materno exclusivo no primeiro mês.
de p
História anterior 0,01
de amamentação DISCUSSÃO |
Sim 1 Dados mais recentes sobre a ocorrência do aleitamento
Não 2,81 (1,17; 6,198) materno no Brasil são da II Pesquisa de Prevalência
Apoio do 0,04 de Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras e no
Distrito Federal, em 2009. A duração média do AME foi
companheiro
de 54,1 dias (1,8 mês) e a duração do AM de 341,6 dias
Sim 1
(11,2 meses) no conjunto das Capitais brasileiras e do
Não 4,42 (1,103; 17,197) Distrito Federal. Houve um aumento da duração mediana
Das variáveis relacionadas com a criança, apenas o uso da de aleitamento materno exclusivo de 23,4 dias em 1999
chupeta (p<0,001) apresentou associação significativa com para 54,1 dias em 2008. Entretanto, a duração mediana
a introdução precoce de alimentos até os 30 dias (Tabela 3). do aleitamento materno total foi semelhante àquela
estimada em 1999, isto é, menor do que 360 dias. Esses
Na Tabela 4, podem-se observar os resultados da regressão
estudos corroboram a presente pesquisa já que a média de
logística. Inicialmente, foram incluídas no modelo as variáveis
pretensão de amamentação total foi de 11 meses e 5 meses
apoio do companheiro, história anterior de amamentação,
de amamentação exclusiva. Essa mesma pesquisa encontrou
uso da chupeta, apoio familiar e sentimentos da mulher em
uma prevalência de aleitamento materno exclusivo
relação à amamentação. No modelo final permaneceram
em crianças menores de seis meses no País de 41% – a
associadas à introdução de alimentos no primeiro mês
menor registrada na Região Sudeste (39,4%). Quando se
apenas duas variáveis: história anterior de amamentação
comparou o resultado da prevalência de AME, no primeiro
e apoio do companheiro. As mulheres que não possuíam
mês, encontrada neste trabalho, verificou-se que é maior
história anterior de amamentação tinham uma chance 2,8
do que a observada no País (60,7%). Vale ressaltar que as por indicar que o conhecimento sobre os elementos
pesquisas foram realizadas em períodos diferentes7. que possam interferir na lactação e no processo de
amamentação das mães de bebês propicia melhor
Os resultados do presente estudo podem contribuir para
condição para o planejamento de uma assistência mais
o diagnóstico da situação do aleitamento materno na
aproximada das necessidades. Apesar dos índices obtidos,
cidade de Vitória, subsidiando o planejamento de ações e
especialmente em relação ao aleitamento, os resultados
medidas de intervenção, embora as populações estudadas
encontram-se ainda muito aquém das recomendações
sejam apenas as que são acompanhadas na Estratégia de
oficiais. Nessa perspectiva, o investimento em ações
Saúde da Família (ESF).
estratégicas que produzam transformações em favor
Foi encontrado que o incentivo do companheiro é muito do aleitamento materno deve ser considerado como
importante para o AME no primeiro mês, pois mulheres prioritário pela política de saúde.
com apoio do companheiro amamentam mais tempo
exclusivamente. Além disso, a participação dos pais auxilia
positivamente na alimentação infantil de seus filhos15. REFERÊNCIAS|
Assim, a presença do companheiro influencia a prática da
1 - Alves CRL, Goulart EMA, Colosimo EA, Goulart
amamentação, pois, na tentativa de ajudar a resolver dúvidas,
LMHF. Fatores de risco para o desmame entre usuárias
problemas e inseguranças, pode contribuir para a não
de uma unidade básica de saúde de Belo Horizonte, Minas
interrupção do AME12. O pai/companheiro tem papel de
Gerais, Brasil, entre 1980 e 2004. Cad Saúde Pública 2008;
grande relevância no apoio à mãe e ao bebê desde o momento
24:1355-67.
de sua concepção, para que AME continue até os seis meses
de vida9. Além disso, a participação do pai em programas 2 - Araújo RMA, Almeida JAG. Aleitamento materno: o
de incentivo, apoio e aprovação ao aleitamento materno desafio de compreender a vivência. Rev Nutrição 2007;
repercutiu positivamente na intenção de amamentar17. 20:431-8.
Por outro lado, a experiência de algumas mulheres sem 3 - Balaban G, Motta MEFA, Silva Giselia AP. Early
companheiro caracterizou-se como um elemento de weaning and other potential risk factors for overweight
interferência, especialmente quando elas têm que lidar among preschool children. Clinics. 2010; 65:181-7.
com a responsabilidade no cuidado exclusivo com o filho,
influenciando implicitamente o curso da amamentação16,18. 4 - Brasil. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a
população brasileira: promovendo a alimentação saudável.
Ser multípara com experiência anterior de amamentação Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
foi outro achado importante deste estudo. Atualmente é
conhecido que experiências anteriores vivenciadas pelas 5 - Brasil. Ministério da Saúde. Saúde da criança, nutrição
mães se configuraram em um fator colaborador para o infantil, aleitamento materno e alimentação complementar.
sucesso desse processo14. No entanto, a falta de experiência Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
dificulta o estabelecimento da amamentação11. Sabe- 6 - Baptista GH, Andrade AHHKG, Giolo SR. Fatores
se ainda que não ter história anterior de amamentação associados à duração do aleitamento materno em crianças de
é a variável com maior chance de não amamentar famílias de baixa renda da região sul da cidade de Curitiba,
exclusivamente até os seis meses de vida21. Paraná, Brasil. Cad Saúde Pública 2009; 25:596-604.
Um estudo de coorte realizado com 1.309 duplas de mãe- 7 - Brasil. Ministério da Saúde. II Pesquisa de prevalência
bebê em Feira de Santana, na Bahia, identificou a falta de de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito
experiência prévia em amamentar como fator preditivo de Federal. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
interrupção do aleitamento materno exclusivo no primeiro
mês de vida da criança23, confirmando o resultado da 8 - Carrascoza KC, Costa AL, Ambrosano GMB; Moraes
presente pesquisa. ABA. Prolongamento da amamentação após o primeiro
ano de vida: argumentos das mães. Psicologia: teoria e
pesquisa 2005;3:271-7.
CONCLUSÃO | 9 - Costa CR. Representação do papel do pai no aleitamento
Este estudo motiva reflexão sobre os aspectos relevantes materno [Tese de Doutorado]. Porto: Faculdade de
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