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Historia Do Tribunal e Escorco

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Raul da Costa Braga

HISTÓRIA DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO PARÁ E
ESCORÇO BIOGRÁFICO DOS
DESEMBARGADORES
1874 A 1963

Reedição Histórica

Belém - Pará
2023
IEL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARÁ
GESTÃO DO BIÊNIO 2023-2025
CELEBRAÇÕES DOS 150 ANOS DE INSTALAÇÃO

PRESIDENTE: DESA. MARIA DE NAZARÉ SILVA GOUVEIA DOS SANTOS


VICE-PRESIDENTE: DES. ROBERTO GONÇALVES DE MOURA
CORREGEDOR-GERAL DE JUSTIÇA: DES. JOSÉ ROBERTO PINHEIRO MAIA BEZERRA JÚNIOR

CONSELHO DA MAGISTRATURA: DESA. MARIA DE NAZARÉ SILVA GOUVEIA DOS SANTOS,


DES. ROBERTO GONÇALVES DE MOURA, DES. JOSÉ ROBERTO PINHEIRO MAIA BEZERRA JÚNIOR,
DESA. EZILDA PASTANA MUTRAN, DESA. KÉDIMA PACÍFICO LYRA,
DES. AMILCAR ROBERTO BEZERRA GUIMARÃES, DESA. MARGUI GASPAR BITTENCOURT.

COMPOSIÇÃO DO PLENO
DESEMBARGADORES:
RÔMULO JOSÉ FERREIRA NUNES ROBERTO GONÇALVES DE MOURA
LUZIA NADJA GUIMARÃES NASCIMENTO MARIA FILOMENA DE ALMEIDA BUARQUE
VANIA VALENTE DO COUTO FORTES BITAR CUNHA LUIZ GONZAGA DA COSTA NETO
VÂNIA LÚCIA CARVALHO DA SILVEIRA MAIRTON MARQUES CARNEIRO
CONSTANTINO AUGUSTO GUERREIRO EZILDA PASTANA MUTRAN
MARIA DE NAZARÉ SILVA GOUVEIA DOS SANTOS MARIA ELVINA GEMAQUE TAVEIRA
RICARDO FERREIRA NUNES ROSILEIDE MARIA DA COSTA CUNHA
LEONARDO DE NORONHA TAVARES JOSÉ ROBERTO PINHEIRO MAIA BEZERRA JÚNIOR
CÉLIA REGINA DE LIMA PINHEIRO ROSI MARIA GOMES DE FARIAS
MARIA DE NAZARÉ SAAVEDRA GUIMARÃES EVA DO AMARAL COELHO
LEONAM GONDIM DA CRUZ JÚNIOR KÉDIMA PACÍFICO LYRA
GLEIDE PEREIRA DE MOURA AMILCAR ROBERTO BEZERRA GUIMARÃES
JOSÉ MARIA TEIXEIRA DO ROSÁRIO MARGUI GASPAR BITTENCOURT
MARIA DO CÉO MACIEL COUTINHO PEDRO PINHEIRO SOTERO

Comissão Especial do Sesquicentenário do Tribunal de Justiça do Estado do Pará:


Desembargadora Célia Regina de Lima Pinheiro, Diretora-Geral da Escola Judicial do Poder Judiciário do Estado do
Pará - Coordenadora da Comissão; Desembargadora Rosi Maria Gomes de Farias, presidente da Comissão de Gestão
da Memória; Juíza de Direito Antonieta Maria Ferrari Miléo, Auxiliar da Presidência; Juiz de Direito Cesar Augusto
Puty Paiva Rodrigues, Auxiliar da Vice-Presidência; Juíza de Direito Sílvia Mara Bentes de Souza Costa, Auxiliar da
Corregedoria-Geral de Justiça; Juíza de Direito Ana Lúcia Bentes Lynch, Auxiliar da Coordenadoria dos Juizados
Especiais; Will Montenegro Teixeira, Diretor do Departamento de Comunicação; Nadime Sassim Dahás, Coordenadora
de Cerimonial e Relações Públicas; Adil Bahia da Silva Rezende, Coordenador de Imprensa; Linomar Saraiva Bahia,
Assessor Técnico da Presidência; Walbert da Silva Monteiro, Assessor lotado no Serviço de Museu e Documentação
Histórica; Patrícia do Socorro Campos Casseb, Assessora de Juiz Auxiliar da Presidência - Secretária da Comissão.

Revisão: Joseane de Lima Abreu


Projeto Gráfico: Eliane Miotto Nemer
Raul da Costa Braga

HISTÓRIA DO TRIBUNAL
DE JUSTIÇA DO PARÁ E
ESCORÇO BIOGRÁFICO DOS
DESEMBARGADORES
1874 A 1963

Belém - Pará
1963 (original)
HOMENAGEM

Ao Magnífico Reitor da Universidade do Pará, dr. JOSÉ


DA SILVEIRA NETTO por seu elevado descortino como estrê-
nuo zelador das tradições paraenses ao determinar a edição do
presente livro: “História da Justiça do Pará e escorço biográfico
dos desembargadores” – trabalho de pesquisa por dez anos a
fio, através de bibliotecas, principalmente a do Estado, onde
avulta a figura impar de Ernesto Cruz, na cata de informes pelos
jornais da época: - “Grão Pará”, “Jornal do Pará”, “Diário de Be-
lém”, “Liberal”, “Constituição”, “Provincia”, “Folha do Norte”, -
livro elaborado sem vislumbre de interesse de qualquer espécie
a não ser aquele de devido preito ao Egrégio Tribunal de Justiça
de que fomos um de seus membros humildes.
SUMÁRIO

13 A História
15 Relação de Belém
17 Instalação da Relação de Belém
21 Relatório do Dr. Pedro Vicente de Azevedo
22 Discurso do Presidente da Relação
26 Tribunal Superior de Justiça
32 Tribunal Superior de jsutiça do Pará
36 Constituição do Estado do Pará de 22 de junho de 1891
40 Revolução de 1930
44 Juízes da capital
44 Secretaria do Tribunal
45 Repartição Criminal
45 Juízes de direito do Interior
47 Instalação do novo Tribunal de Justiça

53 Constituições — Organizações Judiciárias — Leis — Decretos


66 Prédios do Tribunal
72 Designações do Tribunal
72 Prédios da relação e Tribunal de Justiça
73 Paróquias
74 Presidentes do Tribunal
74 Procuradores da Coroa
74 Procuradoes Gerais do Estado
76 Secretários do Tribunal
76 Quadros Estatísticos
77 Juízes de Direito da Capital
77 Quadro das Comarcas
78 Primeiros Juízes do Pará
79 Principais Solenidades
83 A missa campal
83 No Templo da Justiça
85 Transunto do Discurso Passos de Miranda
87 Cristo no Tribunal de Justiça
88 Festa à Bandeira do Brasil
93 O Dia da Justiça
101 Palavras que ficam
106 Reciproca Simpatia nas Relações entre Executivo e Judiciário
108 Fala o Presidente do TRE
110 Honrosa Homenagem
111 Perfil de Magistrado
115 O Tribunal da Relação nos Festejos da Abolição
116 As Revistas do Tribunal de Justiça
116 Tempos Negros
118 A majestade dos Juramentos
119 A Magistratura no Brasil Colônia
120 O Decreto da Revolução de Pernambuco de 1817
121 Relatório Paes de Carvalho ao deixar o Governo em 1901
125 Livro de Ouro do Tribunal da Relação
126 O Poder Judiciário
129 Revistas do Tribunal
129 Memória Histórica Sôbre a Organização da Justiça do Pará
133 Vencimentos da Magistratura do Estado
133 Homenagem do Tribunal de Justiça do Estado ao Chefe do
Poder Executivo Moura Carvalho
137 A Relação em Sessão Agitada
139 Movimento Revolucionário de 1930
141 Comemoração do Dia Nacional da Justiça

143 Escorço Biográfico dos Desembargadores

145 Conselheiro Ermano Rodrigues do Couto


148 Francisco de Assis Bezerra de Menezes
151 Francisco da Serra Carneiro
153 João Paulo Monteiro de Andrade
155 Sebastião José da Silva Braga
157 João Caetano Lisboa
159 Conselheiro Manoel Jansen Ferreira
163 Antonio de Souza Mendes Junior
165 Ignacio Carlos Freire de Andrade
167 Antonio Buarque de Lima
169 Felippe Raulino de Souza Uchoa
171 Conselheiro Antonio Augusto da Silva
174 Domingos Ribeiro Folha
175 Conselheiro Vicente Alves de Paula Pessoa
179 Delfino Augusto Cavalcante de Albuquerque
181 José Quintino de Castro Leão
185 Conselheiro José Ascenso da Costa Ferreira
187 Francisco Urbano da Silva Ribeiro
189 Manoel Joaquim de Mendonça Castelo Branco
191 Manuel Clementino Carneiro da Cunha
194 Umbelino Moreira de Oliveira Lima
196 João Ladislau Japi-Assú de Figueiredo Melo
198 Gervasio Campelo Pires Ferreira
201 Conselheiro João Rodrigues Chaves
203 Cons. Salustiano Orlando de Araujo Costa
207 Pedro Antonio da Costa Moreira
210 Conselheiro Francisco Leite da Costa Belém
211 Conselheiro Romualdo de Souza Paes de Andrade
217 Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda
222 Conselheiro João Coelho Bastos
224 Mathias Antonio da Fonseca Morato
225 Constantino José da Silva Braga
227 Gastão Ferreira de Gouvea Pimentel Belleza
228 Conselheiro José Antonio Rodrigues
229 José Secundino Lopes de Gommensoro
231 Casimiro de Sena Madureira
233 Abel Graça
235 Francisco Luiz Correia de Andrade
241 Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques
246 José de Araujo Roso Danin
254 Manoel Januário Bezerra Montenegro
255 Ernesto Adolpho de Vasconcellos Chaves
259 Augusto de Borborema
263 Antonio Bezerra da Rocha Morais
265 Gentil Augusto de Moraes Bittencourt
268 José Gomes Coimbra
271 Feliciano Henrique Hardman
274 Napoleão Simões de Oliveira
276 Fulgencio da Rocha Viana
279 Afonso Barbosa da Cunha Moreira
282 Manoel José Mendes Bastor Junior
287 Antonio Clementino Accioly Lins
290 Manoel Francisco Honorato Junior
293 Alfredo Raposo Barradas
298 Santos Estanislao Pessoa de Vasconcelos
303 José Anselmo de Figueiredo Santiago
305 Thomaz de Paula Ribeiro
308 Julio Cezar de Magalhães Costa
311 Vicente Epaminondas Pires dos Reis
315 Eloy de Souza Simoes
318 Ignacio de Loyola Henriques Virgolino
324 Emilio Americo Santa Rosa
325 José Martins de Miranda Filho
327 João Borges Pereira
330 Arthur Theodulo Santos Porto
333 Manoel Buarque da Rocha Pedregulho
335 Manoel Maroja Neto
337 Curcino Loureiro da Silva
340 Francisco Dantas de Araujo Cavalcante
343 Alcebiàdes Marques Buarque de Lima
347 Antonio de Hollanda Chacon
350 Raimundo Nogueira De Faria
355 Henrique Jorge Hurley
358 Eladio da Cruz Lima
362 Augusto Rangel de Borborema
364 Arnaldo Valente Lobo
368 Raul da Costa Braga
372 Mauricio Cordovil Pinto
374 Inacio Carvalho Guilhon de Oliveira
377 Antonino de Oliveira Melo
380 Silvio Pellico de Araujo Rego
382 Ignacio de Souza Moitta
385 Sadi Montenegro Duarte
387 Alvaro Pantoja Pimentel
389 Lycurgo Narbal de Oliveira Santiago
391 João Bento de Souza
392 Milton Leão de Melo
394 Aluisio da Silva Leal
395 Anibal da Fonseca Figueiredo
396 Osvaldo Pojucan Tavares
397 Oswaldo Brito Farias
398 Hamilton Ferreira de Souza
399 João Gualberto Alves de Campos
401 Manoel Pedro de Oliveira
403 Agnano De Moura Monteiro Lopes
405 Eduardo Mendes Patriarcha
407 José Amazonas Pantoja

409 Homenagem aos Magistrados que, merecedores, não


atingiram a Desembargatoria
A
Justiça de segunda instância em todo território do
Brasil-Colônia sediava-se na velha — Bahia de To-
dos os Santos — como primitiva Capital da Terra de
Santa Cruz. Dera-lhe criação a Lei de 7 de março
de 1609 de Felipe III de Espanha e segundo de Portugal, deter-
minador do Código Filipino, então promulgada sob dominação
espanhola e denominação: Relação do Brasil.
Pelo decaimento dêsse Tribunal de Justiça por falta de
ministros, D. João IV o reinstaurou, dando-lhe novo regimento a
12 de setembro de 1652.
Surgiu depois a Relação da Côrte, criada por D. José I, o
Reformador em 13 de outubro de 1751 e alvará de 10 de março
de 1808, sob impulso do braço forte de Sebastião José de Car-
valho e Melo, conde de Oeiras e marquês Pombal.
Todo Norte do país se jurisdicionava à Relação da Bahia,
quando em albores do século XIX foi criada à Relação de S. Luiz
do Maranhão pelas resoluções de 23 de agosto de 1811 e 5 de
março de 1812, então com os distritos do Pará, Rio Negro, Piauí
e Ceará Grande.
Uma quarta Relação ocorreu pelo alvará com força a Re-
lação de lei de 6 de fevereiro de 1821 por D. João VI, de Recife,
composta das províncias de Pernambuco, Paraíba e Alagoas, de
igual alçada que a maranhense e instalada a 13 de agosto de
1822.
Assim, em perto de meio século, em todo território do
Império do Brasil, somente existiam as quatro Côrtes de Justiça,
quais fossem S. Salvador, Rio de Janeiro, S. Luiz e Recife.
Tão poucas e distanciadas essas Casas de Justiça, des-
servidas por difíceis e dispendiosos meios de transporte em
ação tardilonga às decisões dos litígios, carência e angústia que

Raul da Costa Braga 13


alarmavam imprensa e Ministérios com reduzida justiça em tão
vasto Império, foi motivo a quando do gabinete Rio Branco de 7
de março de 1871, do providencial e jamais esquecido, tais os
benefícios proporcionados, o Decreto Legislativo de n. 2342, de
6 de agosto de 1873, referendado pelo Ministro da Justiça Duar-
te de Azevedo em que se criaram mais 7 Relações que enumerou
na seguinte ordem Relação de Belém, compreendendo Pará e
Amazonas; de Fortaleza: Ceará Rio Grande do Norte; de S. Pau-
lo: S. Paulo e Paraná; de Porto Alegre S. Pedro do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina; de Ouro Preto, com sede em Minas Gerais;
de Cuiabá, em Mato Grosso; e de Goiás, em Goiás.
Em consequência dêsse Decreto 2.342 advieram o Decre-
to 5.456, de 4 de novembro de 1871, que designava o dia 3 de
fevereiro de 74, para a instalação das Relações criadas, à exce-
ção das de Goiás e Cuiabá para a data de 1 de maio desse ano e
o Decreto 5618, de 2 de maio de 74, que dividiu o território do
Império em 11 Distritos de Relação.
As velhas Relações anteriores ficaram: Maranhão e Piauí,
com séde em S. Luiz; Bahia e Sergipe, em S. Salvador; municí-
pio neutro — Rio e Espirito Santo com séde na Côrte e Pernam-
buco, Paraíba e Alagoas com séde em Recife.
A Relação da Côrte contava com 17 desembargadores, a
de Salvador e Recife com 11 e as demais com 7, à exceção das
de Goiás e Cuiabá que se faziam de 5 membros, números êstes,
estipulados no artigo 1º, parágrafo II do Decreto 2342 e artigo
5º do Decreto 5618, de 2 de maio de 74 que deu novo regula-
mento às Relações do Império. Por êsse último Decreto a Rela-
ção do Pará ficou classificada como o 6º distrito de Relações que
funcionavam com a maioria de seus membros e na falta dêsse
número legal eram chamados os Juizes de Direito mais antigos
da Comarca, séde da Relação e os das Comarcas mais próximas,
designados pelo Presidente da Relação em jurisdição plena.

14 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Relação de Belém

Urgia para a instalação dessa Côrte de Justiça, a nomea-


ção de seus sete membros componentes.
Para isso, pelo Decreto de 6 de novembro de 1873 foram
removidos da Relação de S. Luiz para a de Belém, quatro de
seus mais novos desembargadores, por força do Decreto 2342,
de 6 de agosto de 1873 (art. 2º, § 2.º) então excedentes do nº -
sete - recem-marcado à mencionada Relação maranhense, bem
como de um desembargador da Bahia.
Os desembargadores removidos foram: Sebastião José da
Silva Braga, Francisco da Serra Carneiro, Manoel Jansen Ferreira
e João Paulo Monteiro de Andrade.
Ermano Rodrigues do Couto foi removido a pedido da Re-
lação baiana por Decreto de 7 de novembro de 1873 e para
completar aquêle número legal de membros da Relação foram
nomeados Francisco de Assis Bezerra de Menezes e João Cae-
tano Lisboa, êste juiz de Direito da Comarca de Belém e êsse,
Juiz de Direito de Quixeramobim do Ceará, cujos compromissos
do novo cargo prestaram no ato da instalação da Relação, fato
que se deu com o Des. Sebastião José da Silva Braga no cargo
de procurador da Côrte, perante o presidente Ermano Rodrigues
do Couto.
Assim se fêz integrada à Relação paraense, ocupando a
Presidência por nomeação legal, Decreto de 7 de novembro de
73, o desembargador Ermano Rodrigues do Couto e no cargo de
Procurador: Geral da Coroa e Soberania Nacional, o desembar-
gador Sebastião José da Silva Braga que já o exercia em S. Luiz.
A Secretaria se constituiu de:
Secretário: Dr. Antônio Magno.
Amanuense: Cipriano Teodoro Pereira de Melo Junior.
Continuo José Gonçalves Monteiro.

Raul da Costa Braga 15


Porteiro Francisco Frederico Ferreira.
Oficiais de Justiça: Manoel José da Fonseca e Domingos
Rodrigues de Novais.
Em janeiro de 1874 foram chegando a esta capital os srs.
desembargadores removidos e os recentemente nomeados. Os
jornais da época noticiaram-lhes a vinda.
O “Diário do Grão-Pará” publicou: “O vapor “Baía” aqui
aportado do Sul em 16 de janeiro de 1874, trouxe Manoel Jan-
sem Ferreira, Juiz de Direito de Belém, vindo do Rio, acompa-
nhado de sua excelentíssima esposa, um filho e quatro escravos;
Sebastião Braga, de S. Luiz, conduzindo quatro escravos. No
vapor “Ceará”, chegado a 30 de janeiro aludido, vieram Ermano
Couto, Monteiro de Andrade, Serra Carneiro e Bezerra de Mene-
zes», tendo o precitado jornal os recebido com a seguinte notícia:
“Saudamos reverentes os egrégios Magistrados e con-
gratulamo-nos com os nossos concidadãos pela honra
com que é dada à nossa Belém de ter entre seus habi-
tantes tão distintos cavalheiros”.
Por essa época, também, chegou a Belém o Dr. Pedro
Vicente de Azevedo, nomeado Presidente da Província do Pará.
Dessa primeira turma de membros da Relação de Belém,
Ermano Couto era baiano; Serra Carneiro, Caetano Lisboa e Jan-
sem Ferreira, maranhenses; Bezerra de Menezes, cearense; Se-
bastião Braga e Monteiro de Andrade, pernambucanos, cujos
juramentos à investidura das funções foram prestados no ato
da instalação, exceto daquêles já desembargadores, sob o velho
compromisso legal.

16 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Instalação da Relação de Belém

Chegara o dia 3 de fevereiro designado em lei para a ins-


talação do Tribunal da Relação de Belém.
As festas que se fizeram no ato solene da inauguração da
Alta Côrte de Justiça local foram abundantemente noticiadas pe-
los jornais dêsse tempo: “Diário do Grão-Pará”, órgão do Partido
Conservador; “A Constituição”, órgão de Siqueira Mendes; “Jor-
nal do Pará”, órgão oficial; “Diário de Belém”, órgão de oposição
e “Liberal do Pará”, órgão do Partido Liberal.
O “Grão-Pará” no dia seguinte estampou:
“Teve lugar ontem, como fôra decretado pelo Governo
Imperial em 5 de novembro último, a instalação do
Egrégio Tribunal da Relação de Belém, criado por ato
do Poder Legislativo de n. 2342, de 6 de agosto do
ano passado. A solenidade não faltaram as pompas
oficiais. As nossas principais autoridades, os excelen-
tíssimos senhores presidente da Província1, Bispo Dio-
cesano2, representantes do Pará e Amazonas no Par-
lamento Nacional, presidente e vereadores da Câmara
de Belém3, Generais Comandantes das Armas e da
Estação Naval, magistrados, advogados, oficialidade
do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, chefes
de repartições públicas, comerciantes e distintos cida-
dãos abriIhantavam o ato com suas presenças. Uma
guarda de infantaria 11ª postada em frente do edifício
fazia as continências militares às autoridades.
Às 10 1/2 horas da manhã, tendo chegado sua excelência
o sr. Presidente da Província, constituiu-se em sessão o Tribu-
nal com os excelentíssimos senhores desembargadores Ermano
Rodrigues do Couto, como presidente; Sebastião José da Silva
1 Dr. Pedro Vicente de Azevedo.
2 Jeronimo Tomé da Silva.
3 Comendador Alvaro Pinto de Ponte e Souza.

Raul da Costa Braga 17


Braga, procurador da Corôa e Soberania Nacional; Manoel Jan-
sen Ferreira, Francisco da Serra Carneiro, João Paulo Monteiro
de Andrade, João Caetano Lisboa e Francisco de Assis Bezerra
de Menezes.
Tinham tomado assento à direita do exmo. senhor presi-
dente o excelentíssimo reverendíssimo Bispo Diocesano e o ex-
celentíssimo senhor presidente da Província.
Aberta a sessão, prestaram juramento de bem servir A os
cargos de desembargadores, os exmos. senhores João Caetano
Lisboa e Francisco de Assis Bezerra de Menezes..
Depois, leu o excelentíssimo Presidente do Tribunal uma
eloquentíssima alocução com relação à solenidade que se cele-
brava e antes de suspender a sessão, agradeceu o concurso de
autoridades e povo que tanto contribuiram para a pompa daquê-
le ato, congratulando-se com a população das Províncias do Pará
e Amazonas pela criação do Tribunal.
Seguiu um “Te-Deum” na Catedral, à cuja porta estava
postada uma guarda de honra do Corpo de Polícia Paraense. No
fim da solenidade deu o Forte do Castelo uma salva de 21 tiros
de artilharia. Este Tribunal tem de fazer duas conferências ou
sessões por semana, às terças-feiras e sábados, segundo precei-
túa o artigo 1º do Decreto 40, de 6 de fevereiro de 1840.”
O “Jornal do Pará” deu a seguinte notícia: “Ontem, con-
forme anunciamos, teve lugar o ato solene da inauguração do
Egrégio Tribunal da Relação, presidido pelo excelentíssimo se-
nhor desembargador Ermano do Couto. Sua excelência leu ao
começar o ato um breve mas eloquente discurso, digno, por cer-
to, de ser apreciado. Findo êste, e depois de lida pelo senhor
Secretário a ata da instalação do Tribunal, o excelentíssimo se-
nhor desembargador Ermano convidou seus colegas para assis-
tirem, na Catedral, ao “Te-Deum Laudamus” mandada celebrar
em ação de graças por tão faustoso acontecimento. A esta e
áquela cerimônias, assistiram um luzido concurso de pessoas de

18 A História do Tribunal de Justiça do Pará


tôdas as classes da nossa sociedade, notando-se entre elas, os
exmos. Presidente da Província, Bispo Diocesano, senador Leitão
da Cunha4, General Comandante das Armas, Cônego Siqueira
Mendes5 e Coronel João Wilkens de Matos6. De há muitos anos
era reclamada a criação de uma Relação nesta Capital, a fim de
se atender com mais presteza as urgentes necessidades de nosso
fôro.
Ei-la, pois, criada e inaugurada. Estão, portanto, nesta
parte satisfeitos os justos desejos de nossa população, vendo a
realização de tão memorável acontecimento. O ministério Rio
Branco junta mais um florão de glórias ao seu nome hoje, por
muitos títulos abençoado por todos os brasileiros que, de cora-
ção, desejam o engrandecimento e prosperidade de nossa Pátria.
Confiados na sabedoria e inteireza de tão ilustres e conspícuos
cidadãos lhes apresentamos nossas sinceras e cordiais felicita-
ções pelos imensos benefícios que esperamos da criação dêsse
Egrégio Tribunal.”
“Diário de Belém”: “Está finalmente satisfeita uma das
nossas maiores aspirações.
Efetuou-se ontem, nesta Capital, a instalação do Egrégio
Tribunal de Relação, criado pelo Decreto 2342. de 6 de agôsto
de 1873, tendo por distrito os territórios desta e da Província do
Alto Amazonas.
É um acontecimento êste digno de ser festivamente cele-
brado pelas grandes vantagens que êle permite à nossa socieda-
de que dóra em diante verá melhor garantidos os seus direitos,
sua fortuna e sua liberdade. Se a Justiça é a condição primária
de todas as sociedades é evidente que tanto mais profícua, será,

4 Ambrozio Leitão da Cunha, parlamentar, presidente de Província, Ministro de


Estado, Senador do Império, Barão de Mamoré.
5 Manoel José de Siqueira Mendes, cônego, 1º Vice-Presidente do Pará, em
1868, Senador do Império e jornalista.
6 João Wilkens de Matos, engenheiro civil, Presidente de Província, Parlamen-
tar e Diplomata.

Raul da Costa Braga 19


quanto mais severamente administrada, e tanto mais benéfica
ainda, quanto mais oportunamente distribuída.
Disseminada por uma superfície vastíssima, a população
do Pará e Amazonas e demais a mais separada por uma dis-
tância imensa da capital do Maranhão onde estava a séde do
Tribunal da Relação que devia julgar seus pleitos, é intuitivo os
grandes prejuizos que sofriam desde os sacrifícios pecuniários,
até ao desespêro, das delongas inevitáveis. todos os litigantes
forçados a levarem suas causas até o último julgado.
Presentemente êsses graves inconvenientes desaparece-
ram. O estabelecimento do Tribunal de 2ª instância aqui, en-
curtando a distância e o tempo, diminui considerável. mente as
despesas dos recursos e sobretudo pela brevidade das decisões e
rápida distribuição da justiça, assegura maior garantia contra os
esbulhos da propriedade particular como em favor da liberdade
individual incessantemente ameaçadas e a cada passo, capri-
chosamente imoladas aos rancores. e vinganças ignóbeis das
prepotências políticas.
A instalação teve lugar no prédio de 2 andares, sito à rua
dos Mercadores (1), pertencente aos senhores Geraldo Antonio
Alves & Filho, honrados comerciantes desta praça.
As 10 1/2 da manhã, achando-se presentes o exmo. Pre-
sidente da Província, o exmo. Bispo Diocesano, todos os altos
funcionários civís e militares, e grande número de pessoas de
todas as categorias e profissões, o exmo. desembargador Ermano
do Couto, Presidente do Tribunal, deferiu os juramentos aos dois
desembargadores ultimamente nomeados, exmo. sr. desembar-
gador Caetano Lisboa e Bezerra de Menezes e Sebastião Braga,
êste como Procurador da Corôa, proferindo um breve e eloquente
discurso, em que, agradecendo ao governo de S.M.I. a honra
com que o distinguiu nomeando-o presidente desta Relação, de-
monstrou grandes vantagens que resultam do estabelecimento
dêste Tribunal de 2ª instância desta Província. Concluindo por

20 A História do Tribunal de Justiça do Pará


lamentar que a despeito da independência que a Constituição do
Império promete ao poder judiciário continue essa independência
a ser um desideratum, o que é realmente uma calamidade que
desautorando os tribunais e juizes, enerva a justiça e desarma
a sociedade. Findo êste discurso sua excelência agradecendo a
todas as pessoas que concorreram com sua presença para o bri-
lhantismo do ato, convidou-os para comparecerem à Catedral e
darem graças ao Todo Poderoso por tão faustoso acontecimento”.

Relatório do Dr. Pedro Vicente de Azevedo,


Presidente da Província do Pará em 1874

“No dia 3 do corrente mês efetuou-se nesta Capital a ins-


talação do Tribunal da Relação, criado pela Lei 2342 de 6 de
agosto de 73, tendo por distrito os territórios desta Província e do
Alto Amazonas, o qual se acha funcionando no prédio de 2 an-
dares, situado à rua dos Mercadores, pertencente aos senhores
comerciantes Geraldo Antonio Alves & Filhos e que foi para este
fim, expressamente contratado por ordem do Governo Imperial.
Congratulo-me convosco, por esse importante acontecimento. A
Justiça de 2ª Instância, colocada, até então, em S. Luiz do Ma-
ranhão, era dificilmente administrada, atendendo as distâncias
que nos separam, o que demorando a decisão dos pleitos e tor-
nando-se dispendiosos davam causa a que a maior parte das
vezes deixavam os litigantes de usar o competente recurso.
A extinção dêsses embaraços foi de incontestável vanta-
gem. A capital de nossa Província, com uma população de perto
de 40.000 habitantes e sendo essencialmente comercial, não
pode deixar de ocupar o fôro com questões judiciais de muita
consideração e valor. Será, portanto, a prontidão da justiça mais
uma garantia da fortuna, da vida e da liberdade individuais.

Raul da Costa Braga 21


Discurso do Presidente da Relação

No ato da instalação do Tribunal da Relação, o desem-


bargador Presidente Ermano Couto leu o discurso que o jornal
“Constituição” do dia imediato transcreveu ipsis litteris: “Hon-
rado pela confiança do governo de S.M. o Imperador com a no-
meação de presidente dêste Egrégio Tribunal eu devo, antes de
tudo, na lealdade do meu reconhecimento agradecer a bene-
volência da Corôa e congratulando-me.com os meus dignos e
ilustres colegas pela instalação dos nossos trabalhos, pedir e es-
perar que todos nos auxiliemos no desempenho da nossa árdua e
importante missão. Senhores desembargadores, no concurso de
vossas luzes, no vosso acrisolado patriotismo, na vossa consu-
mada prudência, conto achar a fortaleza que robusteça a minha
consciência; o exemplo vivo das gloriosas tradições, que fazem
da magistratura um sacerdócio augusto, venerado em todos os
cultos entre os povos civilizados.
É na Justiça, senhores, que as sociedades humanas re-
pousam; sem ela os nobres instintos dos povos grandiosas aspi-
rações do homem, os destinos das principais necessidades dos
povos, a boa distribuição da Justiça tem sempre sido a preocu-
pação dos governos inteligentes; por isso os Supremos Poderes
do Estado em sua solicitude pela causa pública estabeleceram
novas Relações em diversas províncias do Império. A utilidade
de semelhante medida é incontestável: Tornar a justiça fácil e
accessível a todos, encurtar a distância dos tribunais revisores
é benefício que os povos reconhecem, porque vêem nelas mais
uma garantia de seus direitos. Tal é a importância do nosso Tri-
bunal: envidemos, pois, todos os nossos esforços em corres-
ponder aos intuitos dos legisladores, em justificar a expectativa
das esperançosas províncias que constituem o distrito de nossa
jurisdição.
Se me fôra lícito, eu não perderia esta ocasião para ex-
pender algumas idéias acêrca do estado e das condições da

22 A História do Tribunal de Justiça do Pará


magistratura em nosso país. Debalde a Carta fundamental deu-
-lhe o caráter de poder independente no mecanismo, porém, do
nosso regime o poder judiciário que põe em prática a expressão
da razão social, vive sob a dependência dos outros.
Nesta situação o magistrado entre nós não tem, por exem-
plo, a alta preponderância do magistrado inglês, não lhe é com-
parável na eficácia e elevação de seus privilégios, entretanto que
não lhe é somenos na força e inteireza do caráter.
É esta, no meio de seu abandono e dificuldade, a glória de
nossa magistratura; e se melhor fosse a sua sorte, poderia ser a
mais segura garantia das liberdades públicas, onde a justiça não
só é uma realidade, mas é eficaz e independente em sua ação
como a base da liberdade civil.
Presidindo êste Tribunal eu só tenho uma ambição, é a de
ser o órgão da majestade da justiça e da sabedoria das vossas
decisões; é a de merecer, senão a honra da vossa confiança, ao
menos a vossa simpatia e profícuo auxílio. Encetamos, senhores,
os nossos trabalhos, convencidos de que na retidão dos nossos
julgamentos deparemos sempre com uma honra para nossos no-
mes, como a mais nobre e gloriosa recompensa dessa benéfica,
às vezes terrível e dolorosa missão de fazer justiça.
Nosso primeiro presidente da Relação recem-nascida não
se enganaria com pressonhada honra aos magistrados que fun-
daram nesta gloriosa terra da Amazônia a elevada tarefa, sempre
benéfica, mas às vezes terrível e dolorosa missão de distribuido-
res da justiça.
Em sua oração o provecto magistrado presidente foi como
velho patriarca ao distender as taboas da lei para deixar ao Brasil
inteiro, na lembrança de seu nome impoluto, o nome de seus
magnos companheiros como vivos exemplos da vida pública dos
homens juizes que hoje sucedemos e cultuamos.
É de notar, já de aquêle tempo, a angústia do magistra-
do emérito ao focalizar o estado e condições da magistratura

Raul da Costa Braga 23


nacional, atinentes ao caráter de independência dêsse poder
constitucional, tão necessário ao equilíbrio de um governo e de
um povo.
É sempre ao poder judiciário que os demais poderes invo-
cam sua atuação segura e decidida nas situações prementes em
que se encontram.
Êsse poder, em caso equipolente, não tem aso de reci-
procidade, vivendo à margem de seus congêneres e em perene
dependência dos outros.
Do legislativo, jungido às leis que lhe afligem os parcos
vencimentos a título de impostos gerais, qual o malfadado im-
posto de renda, extraído de um labor permanente, sem origem
no capital que não possuem os magistrados, são reconhecíveis
professos da confraria de S. Francisco de Assis.
Dizemos labor permanente porque, até as leis trabalhistas
estacionam a faina em oito horas diárias, quando o magistrado
está sujeito a um esforço em determinado espaço de tempo,
tanto quanto necessário ao cumprimento de seus continuados
deveres.
Em consequência da criação do Tribunal da Relação de
Belém, o dr. Presidente da Província, Pedro Vicente de Azevedo,
teve de dar execução ao disposto no art. 2º do Decreto 4824,
de 22 de novembro de 71, dividindo a comarca de Belém por
ato de 5 de fevereiro de 74 em dois distritos especiais, ficando
o 1º distrito composto das paroquias da Sé, S. Trindade, Acará,
Mojú, Barcarena, Beja, Conde, Igarapé-Mirí, Abaeté e Cairarí,
e o 2º das de S. Ana, Nazaré, Benfica, Mosqueiro, S. Miguel e
Inhangapí, Bujarú, S. Domingos, Capim, Irituia e Ourém.
Estava a Relação com menos de dois meses de existência
e já o “Diário de Belém” em 31 de março noticiava a remoção de
seu ilustre presidente em retôrno à Bahia, terra de seu nascimen-
to, onde se reempossou em maio do ano seguinte.

24 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Esse regresso ocorreu em face do preceituado no art. 2º, §
2º, do Decreto 2342, permissivo do mesmo retorno, desde que
vaga aberta na Relação de origem e pedido competente.
Assim também aconteceu com o desembargador Bezerra
de Menezes ao pedido de regresso para a Relação de Fortaleza,
deferido por Decreto de 13 de junho de 74. Com Serra Carneiro,
removido para S. Luiz por Decreto de igual tempo, tendo embar-
cado pelo vapor “Ceará”.
O desembargador Monteiro de Andrade voltou para S.
Luiz, por Decreto de 18 de julho de 74, ali se empossando 30
dias depois.
De sorte que no primeiro ano de instalação do Tribunal
Paraense deixaram esta Côrte de Justiça quatro dos sete com-
ponentes de sua instalação, cuja substituição se fez pelos de-
sembargadores: Antonio de Souza Mendes, piauiense, então de-
sembargador no Ceará; Inácio Carlos Freire de Carvalho, baiano,
removido da Relação de seu Estado; Antonio Buarque de Lima,
Juiz de Direito de Caruarú, em Pernambuco, e Felipe Raulino de
Souza Uchôa, Juiz de Direito da 2ª Vara em Belém.
Destarte o tempo foi andando e novas remoções e nome-
ações sucediam-se de magistrados advindos do Sul, porque, so-
mente em 14 de fevereiro de 1883 é que foi nomeado Romualdo
Paes de Andrade, o 1º desembargador paraense, que tanto bri-
lho e valor esparziu como presidente do Tribunal e Conselheiro
de Sua Majestade Imperial nas terras do berço.
As estadias dos nobres desembargadores no Pará, em ge-
neralidade, não criavam raizes, chegando-se ao fato de ter tido
a nossa Relação um desembargador de um só dia do exercício,
— aquêle dia da posse — para logo entrar em gôzo de licença
e regresso: o barão de Anadia, desembargador Manoel Joaquim
de Mendonça Castelo Branco das Alagoas, bem como a do de-
sembargador João Ladislau Japiassú de Figueiredo Melo, aqui
permanecendo por oito meses, depois de que se transferiu para

Raul da Costa Braga 25


S. Salvador, e Salustiano Orlando de Araujo Costa, o grande Or-
lando, comentarista do Código Comercial, que empossado a
5 de setembro de 82, se removêra para Porto Alegre em 7 de
novembro seguinte.
O Tribunal da Relação Paraense perdurou com essa deno-
minação de 1874 até 1889 quando o movimento revolucionário
republicano em vitória derribou o trono dos Braganças, passando
para a denominação.

Tribunal Superior de Justiça

Proclamada a República em 15 de novembro de 89, logo


no dia seguinte em Belém do Pará era deposto, não sem protesto
à atuação levada a efeito pelas forças armadas, o presidente da
Província, dr. Silvino Cavalcante de Albuquerque pelo dr. José
Paes de Carvalho, daí nascendo o governo provisório regional
composto do dr. Justo Leite Chermont, do Capitão de Fragata
José Maria do Nascimento e do Tenente- Coronel Bento Fernan-
des, em Poder Executivo que se distendeu até 17 de dezembro
seguinte, quando tomou conta da administração paraense por
nomeação do Governo da República o dr. Justo Leite Chermont.
Êsse ilustre paraense esteve à testa da administração lo-
cal, até quando chamado para ministro das Relações Exteriores,
entregou o governo ao dr. Gentil Augusto de Moraes Bittencourt,
na qualidade de 3º Vice-governador que, por sua vez, o retrans-
mitiu ao governador nomeado pelo poder central, o Capitão-Te-
nente Duarte Huet de Bacelar Pinto Guedes, chegado a Belém
pelo vapor “Alagoas” a 25 de março de 91, tendo nêste mesmo
dia prestado o necessário compromisso, perante o Conselho da
Intendência Municipal, logo se dirigindo a Palácio, onde assumiu
o exercício de seu cargo.

26 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Huet de Bacelar recebera de seu antecessor Chermont
uma Constituição do Estado promulgada e a ser discutida pelo
Congresso Constituinte.
Assim é que na mensagem enviada em 11 de junho ao
dito Congresso dizia Bacelar sobre a aludida Constituição:
“Sem dúvida alguma, apesar de lançada em moldes
nimiamente liberais. ela carece de ser moldes nimia-
mente liberais, ela carece de ser modificada em alguns
pontos não só para estar de acôrdo com a Constituição
Federal como para mais acentuadamente satisfazer
as justas aspirações do Povo. É por isso que chamo a
vossa atenção para a organização do Poder Judiciário
— garantia suprema de todos os direitos. Uma magis-
tratura independente, reta, desligada completamente
dos élos partidários, mas ao mesmo tempo responsá-
vel pelos abusos ou desvios que possa cometer é, sem
dúvida, a segurança da ordem e por consequência dos
direitos públicos e individuais.”
Nessa mesma data, 11 de junho de 1891, irrompia pela
madrugada nesta Capital uma sedição, nascida do seio do Par-
tido Democrata, tendo por chefes Vicente Chermont de Miranda
e o major honorário Frederico Augusto da Gama. e Costa, com o
apoio nos órgãos de publicidade local: o “Democrata” e o “Diário
do Grão-Pará” e como chefe ostensivo, o intemerato Francisco
Xavier da Veiga Cabral, cognominado o “Cabralzinho”, revolta
que durou um dia inteiro, sob 4 horas de cerrado tiroteio, afinal
destroçada, voltando a legalidade após às escaramuças e deban-
dada do troço revoltado em armas.
É isso o que relata o “Diário Oficial” de 3 de julho seguinte.
Andou, porém, na época um opúsculo de publicação do
Partido Democrata em que se desvaneceram as cores negras
da propalada sedição de caráter político, pois que não passara
de um grupo de amotinados que invadindo o quartel do Corpo

Raul da Costa Braga 27


Militar da Polícia do Estado, de lá saiu com a música na frente,
dando vivas pelas ruas que percorriam. O motim da madrugada
de 11 de junho não foi um movimento sério, porque não é a
toques de música, gritarias e vivas que se faz uma revolução, tal
como se fizera em 16 de novembro de 89, quando a Comissão
Republicana foi intimar o presidente Silvino a entregar o governo.
Veiga Cabral queria a deposição, tão só, de Huet de Ba-
celar, aquele mesmo governador que dias atrás deixára fôssem
empastelados o “Gram Pará” e o “Democrata”.
As refregas da Conceição e Cacaoalinho não passaram de
desvairada defesa de acoitados, longe de portas.
Finalize-se o quadro com o descritivo do dr. Felipe José de
Lima pessoa de destacada atuação daquêles dias:
“Depois de combinar certos fatos e boatos compreendi
que o sr. Huet de Bacelar precisava de um grande feito
d’armas. Êsse feito não passou de um tragi-comédia
principiada na Conceição aonde todas as fôrças de
mar e terra dispararam muitas dezenas de milhares de
tiros esgotando as munições, sem que fosse ferido ao
menos um revoltoso e terminada no Largo da Pólvora
onde foram fotografadas as forças vitoriosas”.
É de notar no relatório da última expedição fluvial que
114 tiros das peças da canhonheira “Cabedelo” foram detona-
dos contra o troço em debandada.
Lembramo-nos do descritivo forte de Euclides nos
“Sertões”:
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em tôda a
história, resistiu até ao esgotamento completo. Expug-
nado, palmo a palmo, caiu quando caíram os seus
ultimos defensores que todos morreram. Eram quatro
apenas na frente dos quais rugiam raivosamente cinco
mil soldados”.

28 A História do Tribunal de Justiça do Pará


A história se repetiu tal como no Pará.
Então, o Tribunal da Relação, em sessão plena no dia
12 de junho, sob a presidência e palavras do des. Joaquim de
Paula Pessoa de Lacerda e presença dos desembargadores Ma-
tias Antonio da Fonseca Morato, Casemiro de Sena Madureira
e Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques apresentou a
seguinte moção:
“Se no regimem monarchico êste tribunal por mais de
uma vez mandou consignar na ata de seus trabalhos
voto de louvor a alguns funcionários públicos por ha-
verem cumprido seus deveres, hoje com maioria de
razão, em vista dos graves acontecimentos que acaba-
ram de se dar neste Estado não pode deixar de cumprir
o agradavel e imperioso dever de mandar consignar na
ata da sessão de hoje, um voto de louvor ao primeiro
magistrado deste Estado. O sr. Capitão Tenente Duarte
Huet de Bacellar Pinto Guedes pelas prontas, energi-
cas e acertadas providencias que tomou para salvar
esta Capital, quicá este Estado das devastacões e hor-
rores de uma guerra civil. Não proponho para irmos
incorporados cumprimentar o mesmo sr. governador
porque já o fizemos.”
Essa moção foi o canto de cisne, mas também a mani-
festação de indiferença para uns, de convivência à garantia dos
cargos para outros, aquilo que a boca pequena já andava prog-
nosticando, quanto ao Decreto 359-A, de 19 de junho.
Não se passára com efeito uma semana, quando a 19 de
junho baixava o governo o Decreto 359-A, desta data, concer-
nente a organização judiciária, em cujo art. 39 reproduzindo o
número antigo dos 7 desembargadores, sob mudança apenas o
muna da relação para o de Tribunal Superior de Justiça, foi es-
tabelecido no art. 6.º de suas disposições transitórias que “nas
primeiras nomeações de magistrados, quer para o Tribunal de

Raul da Costa Braga 29


Justiça, quer para os cargos de Juizes de Direito, fossem preferi-
dos, tanto quanto permitisse o interêsse de melhor composição
da magistratura, os desembargadores da Relação então existen-
tes em Belém e aqueles juizes que funcionavam no Estado.
Nêsse memorável dia 19 de junho certamente já espalha-
da na cidade corria a notícia do Decreto 359-A, dava o Tribunal
em seu expediente duas dezenas de feitos, enquanto agonizava
a Relação.
No art. 80 das disposições transitórias do citado Decreto
359-A reservou então o governo para si a faculdade da afirma-
ção aos magistrados que fossem aproveitados em a nova organi-
zação judiciária do Estado.
Logo no dia seguinte, 20 de junho, baseado naquêle mes-
mo Decreto 359-A, mas somente publicado no “Diário Oficial”
de 27 de junho, foi pelo expediente desse dia baixado o ato de
nomeação dos desembargadores ao novo Tribunal que se com-
pôs do conselheiro Romualdo de Souza Paes de Andrade, único
desembargador aproveitado por advindo do extinto Tribunal da
Relação; do desembargador nomeado para a Relação de Porto
Alegre José de Araujo Roso Danin que não chegou a se empossar
ali pela recente nomeação ao tribunal de sua terra e dos juizes
de direito Gentil Augusto de Moraes Bittencourt; Ernesto Adolfo
de Vasconcelos Chaves; Manoel Januário Bezerra Montenegro;
Antonio Bezerra da Rocha Moraes e Augusto de Borborema, de-
terminando-se-lhes por ato de 29 que entrassem em exercício do
Tribunal no dia 1 de julho seguinte.
Esse Decreto 359-A em seu art. 39 entrou, de logo, clau-
dicando, de vez que o dr. Manoel Januário Bezerra Montenegro,
então nomeado, nem era desembargador atual em Belém, nem
juiz com função no Estado como de seu contexto. Era, apenas,
chefe de Polícia por nomeação de Huet de Bacellar que o havia
chamado do Maranhão para êste cargo.
A “A Provincia do Pará” do dia 2 de julho, publicou:

30 A História do Tribunal de Justiça do Pará


“Começou ontem a vigorar o Decreto do governo do
Estado sobre a organização judiciária.
Às 11 horas da manhã foi instalado o Superior Tribu-
nal de Justiça que funcionará no compartimento do
Palacete, onde celebravam suas audiências o antigo
Tribunal da Relação. Achavam-se presentes os srs. de-
sembargadores Romualdo de Souza Paes de Andrade,
José de Araujo Roso Danin, Gentil Augusto de Mora-
es Bittencourt, Ernesto Adolfo de Vasconcelos Chaves,
Manoel Januário Bezerra Montenegro, Antonio Bezerra
da Rocha Moraes e Augusto de Borborema. Também
esteve presente o Procurador Geral do Estado, dr. João
Hosana de Oliveira.”

Raul da Costa Braga 31


Tribunal Superior de Justiça do Pará

Êsse novo Tribunal iniciou suas sessões ordinárias em 3


de julho seguinte. O venerando conselheiro Romualdo Paes de
Andrade como Presidente do novo Tribunal e primeiro paraense
a exercer tão alto pôsto na judicatura de sua terra, após o desa-
parecido Tribunal da Relação, servido até então por magistrados
sulinos, ficou no papel sagrado dos velhos rabinos bíblicos, como
depositário e defensor da “Arca Santa da Justiça”, na dignidade e
inconspurcada atuação detentoras da tradição gloriosa do antigo
tribunal desaparecido.
É fato notável, digno de registro e exemplo de uma época
que se foi e de uma nova época que se ostentou, o espetáculo
apresentado por esses tão respeitáveis magistrados componentes
da Relação do Pará, portadores de prestimosos serviços incontá-
veis em anos sucessivos de dedicação e labor serem despedidos
da terra seareira, despejados e despoja- dos que foram, barra
a fóra, para não mais voltarem, despedidas de último adeus às
plagas marajoaras, a caminho de seus destinos, ao léu da sorte
e cançados das idades avelhantadas, injustiçados por tamanho
infortúnio que o regime nascente lhes proporcionara, de golpe,
sem defesa nem remédio.
Debalde a expressão de quase boa fé, a equidistância par-
tidária, a provável e usada diplomacia do presidente Pessôa de
Lacerda transparecidas e manifestadas na recente oração do dia
12 pelo retorno da legalidade como antevisão de do fato se pro-
cessando nos arcanos governamentais. O poder judiciário, por
seus representantes, caira sem poder e sem forças nas mãos
do executivo em ânsias de reorganizações, transformações, mo-
dificações sem plano assentado como quem tateia no vácuo, o
mundo das novidades.
Então os velhos magistrados aceitaram os fatos con-
sumados e deixaram Santa Maria de Belém, onde se haviam

32 A História do Tribunal de Justiça do Pará


aboletado, para viverem e talvez para também morrerem na terra
boa o seu último quartel de existência.
Só pelo vapor “Brasil”, daqui partido a 7 de julho, segui-
ram os venerandos conselheiros José Antonio Rodrigues, último
presidente da Relação e os não menos venerandos desembarga-
dores Mathias Antonio da Fonseca Morato, residente nesta ca-
pital desde 1885 e Casemiro de Sena Madureira, aqui aportado
em 88 e que se retirou acompanhado de sua digna consorte e
cinco filhos, sem falar em Segundino Gomensoro daqui ausenta-
do em 27 de outubro de 90 para receber no Sul a notícia de ter
perdido sua desembargatoria.
Eram os retirantes da debandada do Tribunal da Relação,
vítimas de um assomo que caiu como tempestade sobre aves
amedrontadas, tangidas pelos ventos fatídicos. Ainda assim, a
retirada se fez na majestade daquêles homens que aprenderam
da juventude à velhice a sofrer e perdoar como professos magis-
trados, circunspectos e solenes.
Para cúmulo de tamanha ofensa, raiando em descorte-
sia, seus embarques fizeram noticiados pelos jornais nas páginas
marítimas de passageiros com os desataviados apelidos de José
Antonio Rodrigues e F. Morato, sendo que o jornal “República”
nem isso sequer noticiou.
Recebidos de comêço com aplausos e reconhecimento de
suas personalidades destacadas foram, oceano a fóra, na indi-
ferença com que se deitam à distância as pessoas indesejáveis.
Tudo isso, porém, faz parte, como não pode deixar de
fazer, da fé de ofício dos magistrados no juramento da carreira.
Somente um desembargador, — Antonio da Trindade An-
tunes Meira Henriques, pelo sangue nordestino de paraibano,
protestou:
“Ilustríssimo excelentíssimo senhor governador. Es-
bulhados hoje do exercício os desembargadores da

Raul da Costa Braga 33


Relação desta cidade pela posse, ali dada aos cidadãos
nomeados por ato de 20 de junho ultimo do antecessor
de V. Excia. para constituírem o Supremo Tribunal de
Justiça, instituído por ato do dia anterior de reorgani-
zação da magistratura deste Estado, venho respeitosa-
mente protestar por minha parte contra essa violência
feita aos direitos dos membros daquêle tribunal de que
sou o ultimo, já porque tais atos foram promulgados
com infração da Constituição Federal que não cogi-
ta de reorganização judiciaria nos Estados pelos seus
governadores provisórios, antes de decretadas as res-
pectivas constituições como evidenciam os arts. 2 a 6
das disposições transitorias da dita Constituição; e já
porque ainda, quando se possa reputá-los ratificados
e legitimados pelo tacito consentimento de V. Excia.
não podiam êles ter efeito em relação à investidura dos
referidos cidadãos nos cargos judiciarios, senão depois
que o Governo Federal fizesse a este Estado a entrega
dos serviços da administração da Justiça que passa-
riam a lhe pertencer nos termos do art. 3.º das citadas
disposições transitorias e não antes de verificada essa
condição constitucional como praticou V. Excía. que
assim procedendo, fora do prazo e das convicções da
lei, violou direitos que o art. 74 da dita Constituição
Federal garante em toda sua plenitude, violação tanto
mais revoltante pela omissão por parte de V. Excia.
da comunicação oficial do Tribunal da Relação sobre
aquela providencia que privava aos seus membros das
importantes funções judiciarias, que ocupavam neste
Estado. Como é do estilo oficial e aconselhava a corte-
sia que reciprocamente se devem aos poderes publicos
e que o atual regimen não aboliu nem podia abolir,
porque entende ele com a bôa educação política indis-
pensável à marcha regular do serviço publico. Protes-
tando, pois, contra esse procedimento que jamais terá

34 A História do Tribunal de Justiça do Pará


o efeito de atingir a minha probidade individual e nem
marcar a minha modesta toga que conservo tão limpa
e pura como a vesti pela primeira vez e tanto quanto
mais limpa possa ser a farda de V. Excia., peço se dig-
ne transmiti-lo ao Exmo. Sr. Generalíssimo Presidente
da República por intermédio do Ministerio da Justiça.”
A êsse ofício protesto transmitido ao Governador S. Excia.
o sr. dr. Lauro Sodré êste o despachou no seguinte teor:
“Tratando-se de um ato da competencia exclusiva do
Governo do Estado feito de acordo com o disposto
na Constituição Federal não tem lugar a intervenção
dos Poderes da União. Recorra em têrmos ao Poder
Legislativo do Estado, único competente para tomar
conhecimento dos atos do governo tendente a organi-
zar os serviços que pela Constituição pertencem aos
Estados.”
O ato discrionário de Huet de Bacellar se consolidou. To-
davia, a justiça de Deus na voz da história, transparece a quem
se der à leitura no “Direito”, volume 66, fls. 396:
“Habeas-corpus requerido pelo advogado João Mar-
ques a favor do capitão reformado Duarte Huet de Ba-
cellar Pinto Guedes, preso a 20 de setembro do ano
findo (1893) na fortaleza da Lage, depois removido
para a escola militar e em seguida para a Casa de Cor-
reção, donde baixou a enfermaria militar de Andarahy.
O impetrante é acusado por ter tomado parte no aten-
tado do vapor “Jupiter” contra forças legais e se achar
militarmente preso pela sua qualidade de oficial re-
formado da Armada, conquanto ao tempo do delito
que lhe é imputado não exercesse cargo ou função de
carater militar.
A simples condição de oficial reformado, por si só, não
basta para sujeitar o delinquente á jurisdição militar.

Raul da Costa Braga 35


Deferem a petição e mandam que a favor do paciente
se passe alvará de soltura.
Supremo Tribunal Federal, 26 de setembro de 94.”
Êsse capitão tenente Huet de Bacellar que sem explicação
de motivos deitára por terra velhos aplicadores de justiça, tivera
de ir bater às mesmas portas da Justiça e aos mesmos irmãos de
sacerdócio para invocar reparação à violência que estava sofren-
do. E esta reparação se fez na manifestação silenciosa de que a
Justiça é sempre a mesma.
Mais uma vez a história se fez em sua rudeza inalterável,
sem resquício algum de imutabilidade.
É que a implantação do regime republicano mais se os-
tentou no país como ferrenha ditadura do Poder Executivo contra
o Poder Judiciário que lhe sofreu tôdas as investidas da primeira
hora.
Não quiseram os implantadores da República ver que o
Brasil era, é e será o mesmo, talhado à sua marcha progressiva
de grandeza e prosperidade e não um país que impensadamente
se quís atirar à megalomania de reformas atulhadas de estran-
geirismos, teorismos fôfos e vãs experiências, desatendidos de
que a vida político-social de um povo não se constróe de um
golpe e a história deve ser a mestra da vida em tôdas as esferas
humanas.

Constituição do Estado do Pará


de 22 de Junho de 1891

Entre outras disposições estatuiu:


O Poder Judiciário tem como órgãos:
1.º - Um Tribunal Superior de Justiça com sede na Capi-
tal, composto de sete membros com tratamento de
desembargadores;

36 A História do Tribunal de Justiça do Pará


2.º - Juizes de Direito e seus substitutos nas Comarcas;
3.º - Jurados que decidirão de fato em matéria criminal;
4.º - Tribunais Correcionais como fôr determinado em lei
ordinária.
A promoção do Juiz de Direito ao Tribunal será regulada
em lei e de tal modo que prevalecendo a antiguidade do serviço
não seja prejudicado o merecimento.
A nomeação do Juiz de Direito será feita pelo Governa-
dor do Estado, mediante as condições e formalidades que a lei
determinar.
Aos magistrados vitalícios que forem aproveitados por
ocasião da nova organização, será garantida para todos os efei-
tos, a antiguidade que lhe tiver sido reconhecida em virtude de
leis e decisões anteriores.
Para representar os interêsses do Estado, da Justiça, dos
menores, dos ausentes e das massas falidas perante os Juizes e
Tribunais foi criado o Ministério Público, que se comporá:
1.º - de um Procurador Geral do Estado;
2.º - de Promotores Públicos, curadores gerais de ór-
fãos, interditos, ausentes, das massas falidas e de
promotores de resíduos.
Os membros do Tribunal, o Procurador Geral do Estado e
os Juizes de Direito serão vitalícios, só podendo perder o cargo
em virtude de sentença passada em julgado.
Todos êles, assim como os oficiais de justiça, os membros
do Ministério Público e quaisquer outros funcionários de ordem
judiciária serão responsáveis pelos abusos que cometerem no
exercício de seus cargos.
As comarcas são tôdas de um só tipo e categoria, cessan-
do a classificação de entrâncias.

Raul da Costa Braga 37


São suspensas as custas.
O Tribunal Superior de Justiça elegerá anualmente, do seu
selo, o seu Presidente e organizará a respectiva Secretaria.
Pelo expediente do dia 20 de junho o Governador do Esta-
do, de acordo com o Decreto 359-A, fez as seguintes nomeações:
Membros do Tribunal Superior de Justiça.
Desembargador Romualdo de Souza Paes de Andrade, de-
sembargador José de Araujo Roso Danin, Juiz de Direito Gentil
Augusto de Moraes Bittencourt, Juiz de Direito Ernesto Adolfo
de Vasconcelos Chaves, Juiz de Direito Manoel Januário Bezerra
Montenegro, Juiz de Direito Antonio Bezerra da Rocha Moraes e
Juiz de Direito Augusto de Borborema.
Procurador Geral do Estado, bacharel João Hosanna
d’Oliveira.
Juízes de Direito da Comarca da Capital: 1.ª Vara —
Napoleão d’Oliveira. 2.ª Vara — Geraldo de Souza Paes de An-
drade. 3.ª Vara — João Batista Ferreira de Souza. Promotores
Públicos da Capital 1.º Promotor — Antonio Martins Pinheiro.
2.º Promotor — Americo Lins Meira de Vasconcelos.
Juízes de Direito do Interior:
Ponta de Pedras — Fulgencio da Rocha Vianna.
Muaná — João Evangelista de Souza Franco.
Igarapé-Miry — Jorge Victor Ferreira Lopes Neto.
Cachoeira — José da Silva Miranda.
Guamá — José Anselmo de Figueiredo Santiago.
Soure — Inácio de Loyola Henrique Virgolino.
Vigia — Manoel José Mendes Bastos.
Cametá — Feliciano Henrique Hardman.
Baião — Francisco José Meira Sobrinho.

38 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Breves — José Antonio Nunes.
Gurupá — Bonifácio Pinto de Castro.
Pôrto de Móz — Manoel Francisco Honorato Junior.
Mazagão — João Clímaco Lobato.
Macapá — José Ferreira Teixeira.
Curuçá — Alfredo Raposo Barradas.
Cintra — Aristides Carlos de Moraes.
Bragança — Felisberto Elisio Bezerra Montenegro
Afuá — Camerino Facundo de Castro Menezes.
Chaves — Francisco Severino Duarte.
Monte-Alegre — Joaquim José Rodrigues Collares.
Santarém — Turiano Lins Meira de Vasconcelos.
Alenquer — Antonio Clementino Accioly Lins.
Óbidos — Manoel Pinto Brandão de Vasconcelos.
Vigia — Manoel José Mendes Bastos.
Itaituba — Vicente de Leirins Ferreira Landim.
Escrivães: Provedoria - Odorico Epaminondas de Lima.
Órfãos — Joaquim Martins da Silva, Antonio Rodrigues do Cou-
to e Anicto Rodrigues da Gama Malcher. No Cível — Juvencio
Tavares Sarmento e Silva, Benjamin Ferreira Vale, Bernardino
do Espirito Santo de Araujo e Antonio de Deus de Oliveira Melo.
Crime — Antonio Baião Raulino. Privativo do juri — Antonio
d’Araujo de Andrade Figueira. Feitos da Fazenda - Mathias Lídio
de Souza Pereira. Tabeliães da Capital — Theodorico de Lacerda
Chermont, Jaime Augusto de Oliveira Gama e Arthur Soares da
Costa.
Cont. Part. Distribuidor Antonio Firmino da Silva Lavareda.

Raul da Costa Braga 39


Bem se vê que a nomeação em bloco dos quadros da Jus-
tiça do Estado constante do expediente governamental de 20 de
junho de 91, baseado no Decreto 359-A do dia anterior, antece-
deu de 2 dias apenas a Constituição Política do Estado decretada
e promulgada pelo Congresso Constituinte. Foi patente o aço-
damento naquela organização do corpo judiciário evidenciado
como ato peculiarmente discricionário do Governo do Estado, às
vésperas da Carta Magna do Estado do Pará.
Do expediente governamental do dia 10 de julho seguinte
se fez comunicação à Diretoria da Fazenda tornando-a ciente de
que em virtude da nova Organização Judiciária deixaram de ser
aproveitados: 1º - José Antonio Rodrigues; 2º - Joaquim de Pau-
la Pessoa de Lacerda; 3º - Mathias Antonio da Fonseca Morato;
4º - Casimiro de Sena Madureira; 5º - José Segundino Lopes de
Gomensoro; 6º - Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques,
todo desembargadores da extinta Relação.
E os Juizes de Direito: também Afonso de Moura, Vara da
Provedoria; Francisco Mendes Pereira, Vara de Casamentos; Au-
gusto Abel Peixoto de Miranda Henriques, de Breves; Benevenu-
to Alves de Carvalho, da Vigia; José Gomes de Souza Portugal,
de Itaituba; Belarmino Pereira de Oliveira, de Cachoeira; Catão
Guerreiro de Castro, de Chaves, e Antonio Lopes de Mendonça,
de Afuá,
Assim, seis desembargadores e oito juizes de direito fo-
ram degolados em sua função judicante pelo governo Huet de
Bacellar.

Revolução de 1930

A República de Deodoro da Fonseca e Benjamin Cons-


tant amanhecera nêsse ano efervescente, trabalhada em seus
alicerces numa obra destrutiva. Entrava naquela fase aguda, sob
novos princípios denunciadores de mudança de regime, ou pelo

40 A História do Tribunal de Justiça do Pará


menos de transferência de seu governo. Começava de pagar na
mesma moeda os velhos embates que havia provocado ao trono
e Império, até que estalou, enfim, no Rio Grande do Sul e nor-
deste brasileiro. Em menos de uma quinzena, tempo algo maior
que o da queda da monarquia, a República de 89 passou a
figurar nos anais da Pátria com o cognome de República Velha.
Quase novo regime, novos princípios, muitos anseios,
idéias, sonhos, quiméras, pairando no ar em busca de sua
justaposição.
Fizera-se tal como tôda mudança política sabe provocar e
estabelecer. E quem primeiramente lhe sofreu os embates como
historicamente não podia deixar de ser escapando à regra co-
mum, foram os homens da Justiça.
Desta vez, porém, é justo que se diga, as modificações na
Justiça não se fizeram tão profundas e alarmantemente radicais
como as de 91, em que da velha Relação seis desembargado-
res foram excluidos para somente permanecer um de seus sete
componentes.
A revolução de 30 excluiu a metade dos membros do Tri-
bunal que o compunham naquela época.
Deixaram de ser aproveitados os desembargadores Vi-
cente Epaminondas Pires dos Reis, Emilio Américo Santa Rosa,
Manoel Buarque da Rocha Pedregulho e Arthur Theodolo dos
Santos Porto. Então, ficaram ainda como zeladores da Arca San-
ta do Templo, o grande venerando e mais velho guardião da Ara
Sacrossanta do tabernáculo, o insígne Santos Estanislao Pessoa
de Vasconcelos, na mesma incidência do mesmo fato, outrora
representado por Paes de Andrade a quando da transposição do
regime monárquico ao republicano. Ficaram, pois, em compa-
nhia de Santos Estanislao, como presidente os da velha guarda:
Martins Filho, Júlio Costa e Borges Pereira a nortearem os re-
cém-nomeados: Maroja Neto Juiz de Direito da Capital; Curci-
no Silva - Juiz de Direito da Vigia, e ainda do velho respeitável

Raul da Costa Braga 41


Augusto Borborema - Desembargador aposentado e retornado à
judicância.
À Constituição da organização da Justiça, a Junta Gover-
nativa Provisória do Estado do Pará estatuiu pelo Decreto nº 4,
de 30 de outubro de 1930:
“Considerando que a República Brasileira se organizou
dentro do Regime de garantias sob sagração de liber-
dade jurídica;
Que dêsse modo criou como sustentáculo indeclinável
de demonstração de ordem e progresso sob os aus-
pícios abnegados de Ruy Barbosa, o Poder Judiciário
com o fim ostensivo de proclamar os direitos e deveres
dos cidadãos que outra não é a orientação atual da
Revolução triunfante sob a égide tutelar de Juarez Tá-
vora, Osvaldo Aranha e Getulio Vargas;
Que todos esses predicados constitutivos do regime
livre e adiantado necessitam assim de uma Justiça ca-
paz de dar relevo a tão grandiosos ideais;
Que seria antitese dessa doutrina a insegurança dos
juizes indicados para aplicarem a Lei em tão significa-
tivos moldes;
Que é princípio inconcusso ser infeliz a terra e servil o
povo cuja condição fica reduzida a não ter certeza de
seus direitos, ou serem estes meramente vagos que
para que assim não suceda se faz indispensável a in-
dependência do Poder Judiciário, onde reside a grande
força de efetividade e a essa deva acompanhar a certe-
za da inviolabilidade dos direitos e deveres de que fôra
investida para o exercício da função:
DECRETA:
Art. 1º - Ficam em vigor todas as leis e regulamen-
tos, relativos ao funcionamento do Poder Judiciário

42 A História do Tribunal de Justiça do Pará


do Pará, até que a Nação Brasileira adote disposições
compatíveis com o novo regime republicano instituido
pela Junta Governativa na Capital do País personifican-
do a Revolução vitoriosa em 24 de outubro corrente,
observadas as alterações aqui contidas e respeitadas
quaisquer restrições por essa impostas.
Art. 12 - O Tribunal Superior de Justiça compor-se-á
de sete desembargadores, sendo um dêles, Procurador
Geral do Estado, por designação do Governo.
Art. 13 - O Presidente do Tribunal de Justiça será o de-
sembargador mais antigo, sendo substituído nas suas
faltas e impedimentos pelo seu imediato.
Art. 14 - Na primeira organização dependente desta
Lei o Governador escolherá livremente todos os mem-
bros do Poder Judiciário, aproveitados da magistratura
atual.
Art. 15 - Os juizes vitalícios que não forem aprovei-
tados na atual organização, ou cujas comarcas forem
extintas, serão postos em disponibilidade, nos termos
da lei vigente, sem prejuizo da verificação da respon-
sabilidade funcional.
Art. 16 - Qualquer vaga que se verificar no Poder Ju-
diciário será preenchida, de preferência, por juizes em
disponibilidade.
Palácio do Governo, 30 de outubro de 1930. (D. O.
1-XII-30).
A Junta Governativa:
Capitão de Fragata Antonio Rogério Coimbra
Tte.-Cel. Octavio Ismaelino Sarmento de Castro
Dr. Mário Midosi Chermont.”

Raul da Costa Braga 43


Em consequência dêsse Decreto passou o Tribunal de Jus-
tiça a funcionar com os membros:
Santos Estanislao Pessoa de Vasconcelos (Presidente). Jú-
lio Cezar de Magalhães Costa (Procurador Geral do Estado).
José Martins de Miranda Filho.
João Borges Pereira.
Augusto de Borborema.
Manoel Maroja Neto.
Curcino Loureiro da Silva.

JUIZES DA CAPITAL:

Francisco Dantas de Araujo Cavalcante — Vara Cível, Co-


mércio, Casamentos, órfãos e Ausentes.
Oscar de Gouvêa Cunha Barreto - Vara Cível, Comércio,
Casamentos e Feitos da Fazenda, do Estado e Município, Prove-
doria e Resíduos.
Raul da Costa Braga - Vara Cível, Comércio, Casamentos
e Acidentes no Trabalho.
Raimundo Nogueira de Faria - Vara Menores Abandona-
dos e Delinquentes.
Mariano Antunes de Souza - Vara Crime.

SECRETARIA DO TRIBUNAL

Secretário - Dr. Casemiro Gomes da Silva.


Oficiais - João da Cunha Lobão e Joaquim Manoel de
Barros.
Porteiro Arquivista - Raimundo Maciel do Vale.

44 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Contínuos - José Antonio da Silva e Raimundo Valtrudes
do Vale.
Oficiais de Justiça - Glicério José Soares de Souza e João
Gomes de Sena.
Servente - João Gregório Corrêa.
Datilógrafo - Izabel da Costa Barros.
Escrivães - João de Deus de Castro Goulart e Armando de
Magalhães Costa.

REPARTIÇÃO CRIMINAL

1.º Oficial - Carlos Barros de Souza.


2. os Oficiais - João Gomes da Silva, Odilon Caetano Cor-
rêa, João Delduck de Bulhões Pinto.
Porteiro - Angelo de Carvalho Brito

JUIZES DE DIREITO DO INTERIOR:

Abaeté - Osvaldo Octacilio Gomes.


Altamira - Antonio de Holanda Chacon.
Alenquer - João Tertuliano de Almeida Lins.
Aricarí - Anibal da Fonseca Figueiredo.
Bragança - Alarico Barros Barata.
Breves - Abel Augusto de Vasconcelos Chaves.
Cametá - Alcebíades Marques Buarque de Lima.
Chaves - Fernando Ferreira da Cruz.
Guamá - Licurgo Narbal de Oliveira Santiago.
Macapá - Alvaro de Magalhães Costa.

Raul da Costa Braga 45


Maracanã - Manoel Pinto Guimarães de Vasconcelos.
Monte-Alegre - Felinto Alves de Souza.
Muaná - D’Artagnan Cruz.
Óbidos - Abdias de Arruda.
Santarém - Augusto Rangel de Borborema.
Soure - Milton Leão de Melo.
Vigia - Silvio Pelico de Araujo Rego.
Vizeu - Francisco da Costa Palmeira.
Em face das nomeações feitas pelo Decreto 4º acima
deixaram de ser aproveitados os seguintes Juizes de Direito :
Aureliano de Albuquerque Lima, da 4ª Vara da Capital. Balduino
Hardman, de Baião.
Francisco de Carvalho Nobre, de Gurupá.
Alberto de Gouvêa Cunha Barreto, de Igarapé-Mirí.
Pio Ramos, de Porto de Moz.
Luiz Velho Barreto de Mendonça, de Faro.
Luiz Campos, da 5ª Vara da Capital.
Henrique Jorge Hurly, de Curuçá.
Modesto Costa, de Alenquer.
Ignacio de Souza Moitta, de Marabá.
Horacio de Oliveira Mello, de Cametá.
Ignacio Carvalho, da 2ª Vara da Capital.
Foram excluidos ao todo treze juizes de direito, que aos
poucos foram reintegrados em comarcas do interior, sendo que
seis dêles jamais retornaram à judicatura.
É de frisar sem comentários o inaproveitamento de Auré-
liano de Albuquerque Lima, com 24 anos e meses de judicatura

46 A História do Tribunal de Justiça do Pará


em sua linha reta de dignidade sem vislumbre de mancha, frente
à ascenção ao Tribunal de Juiz do interior, embora talentoso com
a antiguidade de oito anos e meses na judicatura, bem assim de
nomeação ao cargo de Juiz de Direito de bacharéis estranhos ao
quadro de magistrados, em contrário ao próprio disposto no já
aludido artigo 14, do Decreto nº 4, de 30 de outubro de 1930.

Instalação do novo Tribunal de Justiça

Ata da sessão solene da instalação do Tribunal Superior


de Justiça em virtude da reforma judiciária baixada pelo Decreto
n. 4, de 31 de outubro do ano corrente.
Aos cinco dias do mês de novembro de 1930, às 9 horas
da manhã, presentes na sala de reunião do Tribunal Superior
de Justiça do Estado os srs. desembargadores Santos Estanis-
lao Pessoa de Vasconcelos - Presidente; Augusto de Borborema,
João Borges Pereira, Julio Cezar de Magalhães Costa Procurador
Geral do Estado; Manoel Maroja Neto e José Martins de Miranda
Filho foi iniciada a sessão solene de instalação do Tribunal, de
acordo com o que dispõe o Decreto nº 4, de 31 de outubro do
corrente ano, baixado pela Junta Governativa Provisória do Pará.
Assumindo a Presidência do ato, o sr. desembargador Pre-
sidente convidou a ladeá-lo à mesa dirigente dos trabalhos o sr.
tenente-coronel Octavio Ismaelino Sarmento de Castro, membro
da Junta Governativa do Estado e representante do coronel Lan-
drí Salles Gonçalves, governador militar e padre Leandro Pinhei-
ro, Secretário Geral do Estado.
Deixou de comparecer por motivo de força maior o de-
sembargador Curcino Loureiro da Silva. Perante as autoridades
e inúmeras pessoas expressamente convidadas para assistirem
à sessão de instalação, o desembargador Santos Estanislau, ini-
ciando os trabalhos, proferiu empolgante discurso, sob o atu-
al momento por que passa o País, apreciando devidamente os

Raul da Costa Braga 47


resultados colhidos com o triunfo revolucionário que deu margem
à reorganização judiciária dêste Estado, reorganização essa que
entrava em vigor com o início dos trabalhos pelo novo Tribunal.
Em seguida, pediu a palavra em nome da classe dos advogados
o dr. Genaro Ponte e Souza que proferiu importante oração. O
desembargador Julio Costa, Procurador Geral, também usou da
palavra para justificar e requerer na ata desta sessão a inscrição
da entrevista do general Juarez Távora já retificada pelo atual
presidente Getulio Vargas, entrevista esta que consubstancia os
princípios da nova éra republicana.
Esse requerimento foi deferido pelo Tribunal sendo a se-
guinte a entrevista do general Juarez Távora:
“RIO, 30 - Os vespertinos publicam longos resumos
da entrevista coletiva concedida pelo general Juarez
Távora, a qual foi minuciosa, abordando uma série
enorme de problemas, isso atendendo as perguntas
de cada um dos presentes. Começando, definiu ràpi-
damente as caracteristicas dos objetivos da corrente
revolucionária da mocidade e remanescentes da re-
volução de 922, os quais cooperando com os quais
grupos revolucionários políticos levaram à vitória atu-
al, o movimento. Notava-se essa compreensível preo-
cupação em evitar declarações sobre as “demarches”
relativas à constituição do futuro governo provisório.
Conservou-se o general num terreno de generaliza-
ções. Depois, ao sabor das perguntas, entrou a discor-
rer sobre os problemas políticos, sociais e econômicos.
Reproduzimos alguns trechos dessa palavra, os pontos
mais palpitantes. Disse o general que compreendendo
que fosse impossível fazer a revolução, apenas com
elementos de 922, era necessário valermo-nos com
êstes, saídos da luta política nos justos princípios que
se consubstanciam no programa da Aliança Liberal.

48 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Também não podíamos, consagrado o triunfo, deixar
de respeitar os compromissos que respeitávamos an-
tes da campanha e fôra indigno esquecer depois da
vitória.
O programa da Aliança não corresponde ao radicalis-
mo dos nossos propósitos em virtude da fé empenha-
da. O que se pretende, ou o que pretendem os moços
de 922, é conciliar tudo de jeito que possam ser in-
cluidos no programa político de que falo algumas das
idéias da bandeira radical que há oito anos me levou à
revolução. Desejamos assentar um governo que seja,
antes de tudo, uma ditadura provisória, onde os prece-
dentes legais não sejam reconhecidos.
Firmamos os pontos que reputamos essenciais: a dis-
solução do Congresso, o expurgo da magistratura que
temos. Queremos a sua unificação e a unificação do
ensino; que tudo seja nesse período de reconstrução,
resolvido por conselhos de técnicos. Fiquem de lado
os oniscientes do Congresso e os problemas do ensino
sejam resolvidos por professores; os de medicina pelos
médicos; os de engenharia pelos engenheiros; e as leis
e justiça pelos bacharéis e assim por diante.
Há muitas idéias que são comuns a todos os revolucio-
nários identificados pelo sentimento comum do bene-
fício da coletividade. A revolução em que colaboramos
seria impossível, sem Minas e Rio Grande do Sul; sem
êste sobretudo e temos a felicidade de encontrar ali
com Osvaldo Aranha, um excelente elemento de liga-
ção entre a mentalidade política e a revolucionária,
participando duma e doutra, compreendendo a neces-
sidade da solução nacional.
O Brasil deve, quanto antes, acabar o regimen de pro-
tecionismo que nos tem sacrificado, em benefício de

Raul da Costa Braga 49


meia dúzia de indivíduos amparando as indústrias na-
cionais, cuja exploração vale por crime, porque dei-
xamos em virtude dessa política fornecer ao povo por
preço inferior, produtos que êle consome e vai adqui-
rir em mercados nacionais por não se importarem os
estrangeiros que poderiam chegar por um terço, mui-
tas vezes do preço cobrado pelos nossos industriais.
O Brasil deve manter uma política de intercâmbio,
baseada em benefícios recíprocos dos povos. Assim,
por exemplo, nos deixamos mão falsa a indústria para
importarmos a verdadeira do estrangeiro, muito mais
barata, destruídas as muralhas das tarifas, tendo em
compensação, lá fóra, favores que beneficiassem o
nosso café, aumentando-lhe a exportação.
Falando sobre a emigração, Juarez Távora frisou a
necessidade de cuidarmos antes de tudo do movi-
mento das populações brasileiras, garantindo- lhes
o trabalho em certas zonas de maior produção, me-
diante os favores que concedemos aos estrangeiros,
cujos núcleos poderiam ser alternados com brasileiros
que aproveitassem dêles os elementos de técnicos.
Não possuimos emigração. Como temos feito só serve
para darmos tudo sem lucrar nada. É com êsse modo
impatriota que temos resolvido as coisas, num país
extenso como êste, onde o general Rondon constroe
milhares de quilômetros de linhas telegráficas para
que os índios de regiões despovoadas as cortem e re-
cebem por isso aplausos de todos, quando num país
policiado teriam que responder por um crime ou pelo
crime de deixar de construir linhas de comunicação
nas localidades e povoados. sem aquêles benefícios,
sem comunicações combinadas entre êles fluviais, es-
tradas e caminhos de ferro. Estes problemas muitos
temos de resolver, abandonando os planos artificiais
de valorização dos produtos ou moedas de processos

50 A História do Tribunal de Justiça do Pará


burocráticos e administrativos, dando especial atenção
a certos departamentos como o Conselho Nacional do
Trabalho, que em vez de ser um órgão técnico em que
se cuida dos problemas sociais, onde se representam
sobretudo os interesses do operariado e dos patrões e
órgãos de administração e de consulta.
Não menos importante é o problema fiscal. Sou parti-
dário do imposto único, que seria o da renda, porém
acho mais justo cobrar do milionário que ganha dez mil
contos para ver morrer à fome o pobre que percebendo
cem mil réis dá metade à Fazenda Nacional. Também
Juarez Távora analizou a situação dos Estados que não
trabalham sequer para o próprio sustento ou indepen-
dência, mostrando a necessidade de transformá-los
em território federal como é o caso do Amazonas, ou
ligá-los a outros Estados, como é o caso da Paraíba e
Rio Grande do Norte que, unidos, poderiam constituir
um Estado rico e forte, uma vez que as suas popula-
ções estivessem de acordo com semelhante solução”.
Estavam presentes, além dos representantes de todos os
jornais cariocas e de vários Estados, alguns estrangeiros, inclu-
sive portuguêses e argentinos. Palestrando com êsses o general
Juarez Távora frisou o propósito da revolução e de estreitar os
vínculos de amizade do Brasil com os demais países. Finalmen-
te, como nota interessante, frisamos a intervenção na entrevista
de várias senhoras, inclusive uma escritora que pediu a opinião
do general Juarez Távora sobre o problema de igualdade de direi-
tos da mulher, idéia que o chefe nortista mostrou-se partidário.
E, nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão às
10 horas da manhã, lavrando eu, João da Cunha Lobão, oficial,
a presente ata.

Raul da Costa Braga 51


OCTAVIO ISMAELINO SARMENTO DE CASTRO
Membro da junta Governativa na Revolução de 1930, quando
presente à instalação do Novo Tribunal de Justiça,
nessa mesma data.

52 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Constituições — Organizações Judiciárias —
Leis — Decretos

A primeira organização judiciária paraense foi aquela do


Decreto 359-A, de 19 de junho de 91 (Diário Oficial de 27-6-
91) que estabeleceu em seu art. 5º o número de sete desem-
bargadores ao Tribunal Superior de Justiça e três juízes de direito
na Capital pelas seguintes Varas:
1.ª - Com jurisdição criminal, cível, comercial, de casa-
mentos e privativa de órfãos e ausentes.
2.ª - Com igual jurisdição e privativa dos feitos da Fa-
zenda, do Estado e do Município.
3.ª - Com igual jurisdição e privativa da provedoria e
resíduos.
O Estado foi dividido em 25 comarcas de um só tipo e
categoria, subdivididas as comarcas em distritos judiciários. Três
dias após a precitada organização judiciária foi soncionada a
Constituição Política do Estado de 26 de junho de 91, que tam-
bém precisou o mesmo número de sete desembargadores ao Tri-
bunal de Justiça.
Na integração dessa organização judiciária veio o Decreto
373, de 31 de julho de 91, dividindo ainda o Estado em 25 co-
marcas, subdivididas em distritos judiciários tantos quantos os
antigos Distritos de Paz.
Em seguimento à organização judiciária de 91, adveio a
Lei 455, de 11 de junho de 1896, que reformou quase com-
pletamente o primitivo decreto de organização da magistratura
paraense.
Esta segunda organização judiciária, preceituou: o Tribu-
nal Superior de Justiça será composto de sete desembargadores,
dos quais, um será Presidente. A promoção dos juizes de direito

Raul da Costa Braga 53


a desembargadores do Tribunal Superior de Justiça far-se-á por
antiguidade ou merecimento. Quando por antiguidade, o Tribu-
nal indicará ao governador os nomes de três dentre os cinco jui-
zes de direito mais antigos do Estado, e quando por merecimento
o Tribunal enviará a lista de três juizes de direito do Estado, que,
por sua moralidade, correção e ilustração, mereçam a promoção,
dando sobre cada um, precisas informações.
O regimento do Tribunal de 19 de dezembro de 96, em
seu artigo 2º, também estabeleceu: êste Tribunal compõe-se de
sete desembargadores.
A Lei 789, de 16 de outubro de 901, do governador Au-
gusto Montenegro, estatuiu:
A prommoção de juiz de direito a desembargador, far-se-á
enviando o Tribunal Superior de Justica ao governador do Esta-
do, dentro de 8 dias após o da vaga, uma lista tríplice de cinco
nomes escolhidos entre os juizes de direito que tiverem de cinco
anos para cima, até o mais antigo de efetivo exercício.
Fez revogados os artigos 11 e 12 da lei de Organização
Judiciária 455, de 11 de junho de 96.
Em 1º de setembro de 1904, as duas Câmaras do Con-
gresso Legislativo do Estado, promulgaram nova Constituição
política em cujo art. 47, estatuiu:
O Poder Judiciário terá por órgãos:
I- Tribunal Superior de Justiça, com sede na Capital,
composto de sete desembargadores no mínimo, e
com jurisdição em todo o Estado.
II - Juizes de Direito, com jurisdição nas Comarcas.
III - Juizes substitutos, com jurisdição nos Distritos
Judiciários.
IV - Tribunal do Juri.
V- Tribunais Correcionais.

54 A História do Tribunal de Justiça do Pará


A 3.ª organização judiciária paraense, se fez com a Lei
930, de 25 de outubro de 1904, e que vigorou por mais de duas
décadas :
Art. 1.º Haverá em cada comarca um Juiz de Direito em
cada distrito um Juiz substituto e em cada circunscrição dois
suplentes.
Parágrafo único A Comarca da Capital terá quatro juizes
de direito.
Art. 11.º Esses juizes funcionarão nas seguintes Varas:
1.ª - Cível, Comércio, Casamentos, órfãos e Ausente
2.ª - Cível, Comércio, Casamentos, Feitos da Fazenda
do Estado e Municipal.
3.ª - Cível, Comércio, Casamentos, Provedoria e
Resíduos.
4.ª - Crime.
Art. 18 - O Tribunal Superior de Justiça compor-se-á de
sete desembargadores.
A Lei 1251, de 30 de setembro de 1912, em seu artigo
único, estabeleceu:
Ficam desde já criados dois lugares de desembargadores
no Tribunal Superior de Justiça, que serão preenchidos de acordo
com a lei vigente.
No expediente do governador Dr. João Coelho em 2 do
mês seguinte, para aquêles lugares foram nomeados Elói de Sou-
za Simões Juiz de Direito da 4.ª Vara, então na chefia de Polícia
e a 10 seguinte, Ignacio de Loyola Henriques Virgolino Juiz de
Direito da 3.ª Vara, ambas da Capital.
Passou, em consequência, o Tribunal a se compor de nove
desembargadores.

Raul da Costa Braga 55


A Lei 1629, de 5 de outubro de 1917, governo Lauro
Sodré, revogou a anterior 1251 para fixar em sete o número de
desembargadores, retornando, assim, ao número antigo desde a
fundação da Relação.
Para êsse efeito, estabeleceu no art. 1.º parágrafo único,
não se preencher a vaga ocorrente, seja a do desembargador Elói
Simões, falecido em 16 de julho de 1917, beneficiário da lei
revogada, bem como a que viesse posteriormente ocorrer.
A Lei 1923, de 6 de novembro de 1920, pelo próprio
governador Sodré fez revogada a Lei 1629 acima para restabele-
cer o número nove de desembargadores de criação da então lei
revivida de 1251, de 1912.
Essa lei preceituou que o oitavo desembargador fosse Ime-
diatamente nomeado, restando a nona vaga para ser preenchida
a quando a situação financeira do Estado o permitisse.
Esse oitavo desembargador foi nomeado em 17 de no-
vembro de 1920 recaindo na pessoa de Emilio Américo Santa
Rosa Juiz de Direito da Capital.
Autorizado por essa Lei 1923 o Tribunal Superior de Jus-
tiça reorganizou o seu Regimento Interno em 5 de novembro de
1921, reproduzindo-a em seu artigo 1.º O Tribunal Superior de
Justiça do Estado do Pará, tem sua sede na cidade de Belém, e
se compõe atualmente de 8 membros, número que poderá ser
elevado a nove, quando a situação financeira do Estado permitir.
O Decreto revolucionário n. 4, de 30 de outubro de 1930,
apresentou a 4.ª organização judiciária, cujos têrmos essenciais
são os seguintes:
O Superior Tribunal de Justiça compor-se-á de sete de-
sembargadores, servindo um deles como procurador geral do
Estado, por designação do governo, sendo o presidente aquele
mais antigo. Os juizes não aproveitados ou de comarcas extin-
tas, serão postos em disponibilidade, com preferência a qualquer

56 A História do Tribunal de Justiça do Pará


vaga. A escolha livre de todos os membros do poder judiciária é
do governo, aproveitando-se os da magistratura atual.
Essa organização judiciária excluiu quatro dos antigos de-
sembargadores e treze juizes de direito do interior, como já ficou
dito páginas atrás. Estipulou o número de dezoito comarcas.
O Decreto 73, de 27 de dezembro de 1930, estabeleceu
a “divisão e organização judiciária do Estado, em face da enorme
extensão territorial e dificuldade de transporte de modo a mais
facil e equitativa distribuição da justiça’, assim criando novas
comarcas e modificando as existentes de maneira a que pudes-
sem ter tôdas elas o amparo protetor da lei. Então esse decreto
classificou as comarcas como de 1.ª e 2.ª entrâncias.
1.ª Entrância: Abaeté, Afuá, Alenquer, Altamira, Ararí,
Amapá, Aveiro, Bragança, Breves, Cametá, Chaves, Guamá,
Gurupá, Macapá, Maracanã, Marabá, Monte Alegre, Muaná,
Obidos, Santarém, Soure, Vigia, Vizeu.
Ao todo vinte e três comarcas.
2.ª Entrância: A Comarca da Capital composta de um
Distrito Único, com sede em Belém, dividido em circunscrições:
Belém; 2.ª, Ananindeua; 3.ª , Benfica; 4.ª, Benevides; 6., Santa
Izabel; 6.ª Americano; 7.ª, Apeú; 8.ª, Castanhal; 9.ª, Anhanga;
10.ª Bujarú; 11.ª, Inhangapi; 12.ª, Caraparú; 13.ª, Guajará-
-Açú; 14.ª., Guajará-Mirí; 15.ª, Itapicurú; 16.ª, Aiacaraú; 17.ª,
Conde; 18.ª, Barcarena; 19.ª, Ilha das Onças; 20.ª, Pinheiro
(Icoaraci); 21.ª, Mosqueiro; 22.ª, São Domingos da Boa Vis-
ta; 23.ª, Capim; 24.ª, Acará; 25.ª, Baixo- Acará; 26.ª, Miritipi-
ranga; 27.ª, Rio Pequeno; 28.ª, Caratateua; 29.ª, Val-de-Cães;
30.ª, Itupanema; 31.ª, Janipaúba; e 32.ª, Badajós.
O Decreto 608, de 10 de fevereiro de 1932, criou o Jui-
zado de Direito e Correção das Comarcas, tendo sido nomea-
do Henrique Jorge Hurly, Juiz de Direito de Breves, para estas
funções.

Raul da Costa Braga 57


O Decreto 615, de 16 de fevereiro de 1932, D. O. de 18-
2-32, estatuiu a 5.a organização judiciária do Estado. São de
suas disposições: Art. 1.º O Tribunal Superior de Justiça do Es-
tado é constituido pelo menos de oito desembargadores, nome-
ados pelo chefe do Poder Executivo em lista tríplice organizada
por escrutinio secreto e maioria absoluta de votos pelo mesmo
Tribunal. Art. 2.º Dentre os desembargadores, um exercerá a
Presidência por eleição de seus pares na primeira sessão do ano.
Art. 3.º O Tribunal funcionará em câmaras reunidas e separadas.
Art. 4.º o Governo, na execução desta reforma, poderá aposentar
com os vencimentos a que tiver direito pela vigente legislação,
os magistrados que não foram aproveitados na presente organi-
zação. Parágrafo único mento os desembargadores: idade avan-
çada, enfermidade, — São motivo de não aproveitamento os de-
sembargadores: idade avançada, enfermidade, ou outro motivo
relevante que os prive de bem exercer as suas funções. Art. 11.º
- As vagas de desembargadores e juizes decorrentes da exceção
desta reforma serão preenchidas livremente pelo Governo, dentre
os magistrados e membros do Ministério Público do Estado.
Esta nova organização judiciária, bem se vê, quase que
totalmente incidiu em referência à reorganização do Tribunal. As-
sim é que na parte de seus considerandos se lê: “As experiências
colhidas nos quatro últimos decênios no sistema judiciário do
Estado aconselham a reforma do Tribunal Superior de Justiça”.
As experiências acima aludidas não foram, todavia, reve-
ladas no considerando, de modo a justificar o expurgo levado a
efeito de três dos desembargadores: João Borges Pereira, pelo
Decreto 616, de 16 de fevereiro de 32, que consignou idade
avançada; Santos Estanislao Pessoa de Vasconcelos, pelo Decre-
to 599-A, de 26 de janeiro de 932, e Augusto de Borborema,
pelo Decreto 599-B, de igual data, sob designação de aposenta-
doria a pedido.
Foram beneficiários dessas vagas: Francisco Dantas de
Araujo Cavalcante, Alcebíades Marques Buarque de Lima e

58 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Raimundo Nogueira de Faria, Juizes de Direito da Capital, e An-
tonio de Holanda Chacon, Juiz de Direito de Bragança, sendo
que o dr. Nogueira de Faria entrou no 8.º lugar, criado pelo De-
creto 615 referido.
De 930 até 935 o Estado do Pará ficou sem uma Cons-
tituição para somente ser regido através de Decretos federais. A
interventoria Magalhães Barata promulgou a Constituição de 2
de agosto de 1935.
É de seu artigo 48: São órgãos do Poder Judiciário: a Côr-
te de Apelação, Juizes de Direito, Juizes substitutos e suplentes
e Tribunal do Júri.
Art. 49 - São asseguradas aos desembargadores e jui-
zes de direito a estabilidade, a inamovibilidade e
a irredutibilidade dos vencimentos nos têrmos do
art. 64 da Constituição Federal, ficando fixado em
68 anos o limite de idade para a aposentadoria
compulsória.
Art. 50 - A Lei poderá dividir a Côrte de Apelação median-
te proposta dêste, em Câmaras ou Turmas.
Art. 52 - A Lei de Organização Judiciária distribuirá as
comarcas do Estado em duas entrâncias.
Quando o Decreto federal 1608, de 18 de setembro de
939, pôs em evidência o Código de Processo Civil a vigorar em 1
de fevereiro de 1940, o Tribunal de Apelação botou dispositivos
reguladores aos seus serviços internos em acordo com o aludido
Código de Processo Civil, até que uma nova Organização Judici-
ária se fizesse ajustada ao precitado Código.
O Decreto-lei 3485, de 19 de abril de 940, do interven-
tor José Carneiro da Gama Malcher, estatuiu a 6.ª organização
judiciária que vigorou por 5 anos. Então, para a administração
da Justiça, o território do Estado foi dividido em comarcas, estas
em têrmos, os têrmos em distritos e os distritos em zonas. As

Raul da Costa Braga 59


comarcas foram classificadas de primeira e segunda entrâncias
para efeito de administração da justiça e promoção de juizes de
direito.
O Tribunal de Apelação passou a se compor de oito de-
sembargadores, podendo dividir-se em turmas para o julgamento
das causas cíveis. A comarca da Capital passou a ter cinco juizes
de direito.
Instituiu um Conselho Disciplinar com a atribuição da
inspeção suprema da magistratura, composto do Presidente do
Tribunal e de dois desembargadores, sorteados anualmente e
secretariado por um juiz de Direito da Capital, sob designação
do Presidente. Instituiu também a Corregedoria com o fim de
verificar a boa administração da justiça nas comarcas, exercida,
geral e periodicamente pelos juizes de direito designados pelo
Conselho Disciplinar da Magistratura, dividindo o território do
Estado em zonas compostas, no máximo, de cinco comarcas,
fazendo as correições obrigatórias e anuais.
Afinal, formulou o quadro da divisão territorial do Estado
em zonas para o efeito das aludidas correições:
1.ª Zona - Vigia, Curuçá e Castanhal - Corregedor, o juiz
de Direito de Bragança.
2.ª Zona - Igarapé-Açú, Bragança e Vigia - Corregedor, o
Juiz de Direito de Castanhal.
3.ª Zona - Igarapé-Miri e Guamá - Corregedor, o Juiz de
Direito de Cametá.
4.ª Zona - Cametá, Marabá e Conceição do Araguaia -
Corregedor, o Juiz de Direito do Guamá.
5.ª Zona - Soure, Ponta de Pedras e Muaná - Corregedor,
o Juiz de Direito de Afuá.
6.ª Zona - Chaves e Afuá - Corregedor, o Juiz de Direito
de Ponta de Pedras.

60 A História do Tribunal de Justiça do Pará


7.ª Zona - Breves e Altamira - Corregedor, o Juiz de Di-
reito de Muaná.
8.ª Zona - Macapá e Monte-Alegre - Corregedor, o Juiz de
Direito de Santarém
9.ª Zona - Santarém, Óbidos e Alenquer - Corregedor, o
Juiz de Direito de Monte Alegre.
A Lei 3902, de 23 de outubro de 1941 (Estatuto do Fun-
cionário Público Civil do Estado) estipulou Poderá ser aposenta-
do, independentemente de inspeção de saúde, a pedido ou “ex-
-officio” o funcionário ocupante de cargo de provimento efetivo,
que contar mais de 35 anos de efetivo exercício e fôr julgado
merecedor desse prêmio pelos bons e leais serviços prestados à
administração pública.
Em base nêsse decreto, ocorreu em 31 de dezembro de
943 a aposentadoria do desembargador Francisco Dantas de
Araujo Cavalcante, tendo sido elevado ao Tribunal, Raul da Cos-
ta Braga, Juiz de Direito da 2.ª Vara da Capital, por ato de 13
de janeiro de 944.
O Regimento do Tribunal de Apelação de 21 de outubro
de 942, em seu artigo 1.º, precisou: O Tribunal de Apelação do
Estado do Pará compor-se-á de oito juízes nomeados na forma
da lei, com o tratamento de desembargadores.
A Lei de Organização Judiciária acima, foi substituida por
outra de igual natureza, a 7.ª, em virtude do Decreto- lei 4739,
de 2 de janeiro de 945, da interventoria Magalhães Barata.
Estatuiu o número de oito desembargadores ao Tribunal,
elevando o de juizes de direito da Capital a seis, aumento de que
resultou a criação de mais um juiz de direito na Vara Criminal
a já existente, tendo sido para a mesma. nomeado o juiz Sílvio
Pélico de Araujo Rêgo, então em disponibilidade.
Uma nova Constituição Política do Estado do Pará foi pro-
mulgada pelo governo Magalhães Barata em 26 de outubro de

Raul da Costa Braga 61


945, sob a invocação preambular do nome de Deus. Estatuiu
como Poder Judiciário: o Tribunal de Apelação, Juizes de Direito,
Tribunais do Júri, Pretores e Suplentes de Juizes.
Fez novidade quanto à expressão “pretor”, cuja função
destacada não é aquela do pretor romano.
Estabeleceu o número 10 de desembargadores do Tribu-
nal, devendo um quinto desta corporação ser preenchido por
advogado ou membro do Ministério Público, de notório mereci-
mento e reputação ilibada, nos termos da Constituição Brasileira
de 1937, em seu artigo 104, e Constituição de 1946, art. 124,
item V, mediante lista tríplice organizada pelo
Tribunal.
Presidente e vice-presidente passaram a ser nomeados.
pelo governador.
Notamos que a criação de desembargadores que não
aquales do quadro habitual da magistratura passou a se classis-
tas foi obra do Estado Novo e que denominar infelizmente o País,
já constitucionalizado legalmente, inadvertidamente encampou,
fazendo-se aceita pela Constituição do Estado de 945, em des-
prezo à forma tradicional desde o Império, das nomeações aos
magistrados de carreira.
A Lei 5071, de 6 de julho de 946, pela interventoria Dr.
Otávio Meira estatuiu: Ficam criados mais dois cargos de desem-
bargador no Tribunal de Apelação do Estado, de acordo com a
proposta motivada ao governo pelo mesmo Tribunal nos termos
do art. 103, alínea C, da Constituição Federal. Para provimento
dos cargos criados providenciará a citada Côrte Judiciária nos
termos do Decreto-lei que rege a organização da justiça, ficando
aberto crédito especial de sessenta mil cruzeiros para ocorrer ao
respectivo encargo que correrá à conta dos recursos financeiros
e disponíveis do Estado.

62 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Pelo expediente governamental após 6 dias, o dr. inter-
ventor nomeou Ignacio Carvalho Guilhon de Oliveira, juiz de di-
reito da 4.ª Vara da Capital, como indicado ao 2.º quinto cons-
titucional às duas vagas acrescidas.
O Decreto-lei n. 8, de 27 de maio de 947, do governo
Moura Carvalho, retificou disposições da 7.ª organização judici-
ária (Decreto 4739, de 1945).
Entre elas, as mais expressivas:
Dividiu os juizes de direito da Capital em seis Varas.
1.ª Vara - Cível, Comércio, órfãos, Inteditos e Ausentes.
2.ª Vara - Cível, Comércio, Feitos da Fazenda Pública da
União, Estado e Município.
Cível, Comércio, Provedoria, Resíduos e
3.ª Vara - Cível, Comércio, Provedoria, Resíduos e
Fundações.
4ª Vara - Menores Abandonados e Delinquentes, Aciden-
tes no Trabalho e Assistência Judiciária.
5.ª Vara - Casamentos e Feitos da Família.
6.ª Vara - Criminal.
O Tribunal passou a se compor de dez desembargadores,
e o juiz de direito da 5.ª Vara sem atribuição à substituição das
outras Varas.
A Lei 189, de 20 de dezembro de 949, daquêle govêrno,
alterou e retificou disposições do Decreto-lei 4505, de 30 de
dezembro de 943; do Decreto 4839, de 2 de janeiro de 945 e
do Decreto n. 8, de 27 de maio de 947.
É da Lei 189: o Poder Judiciário terá os seguintes órgãos:
Tribunal de Justiça, Juizes de Direito, Pretores, Suplentes
de Pretores, Tribunal do Júri, Conselho da Justiça Militar, Júri

Raul da Costa Braga 63


Especial de Imprensa na forma da Lei Federal, Tribunais de alça-
da inferior que vierem a ser criados.
Dividiu os Juizes de Direito da Capital em 6 Varas:
1.ª Vara - Cível e Comercial, Ófãos, Interditos e Ausentes.
2.ª Vara - Cível, Comercial, Feitos da Fazenda Pública Pú-
blica da União, Estado e Município e Autarquias.
3.ª Vara - Cível, Comercial, Provedoria, Resíduos e
Fundações.
4.ª Vara - Cível, Comércio, Menores Abandonados e De-
linquentes, Assistência Judiciária
5.ª Vara - Casamentos e Feitos da Família.
6.ª Vara - Feitos Penais
A Lei 448, de 10 de dezembro de 951, do governo do
general Zacarias de Assumpção, criou duas Varas outras na co-
marca da Capital.
As Varas passaram a se constituir:
1.ª Vara - Cível, Comércio, órfãos, Interditos e Ausentes
2.ª Vara - Feitos da Fazenda Federal, Autarquias, Orga-
nizações Paraestatais e Sociedades de Economia Mista, Fede-
rais, Naturalização, Direito Marítimo e Aeronáutica, Acidentes
do Trabalho.
3.ª Vara - Cível, Comércio, Provedoria, Resíduos e
Fundações.
4.ª Vara - Cível, Comércio, Menores Abandonados e De-
linquentes, Assistência Judiciária.
5.ª Vara - Casamentos e Feitos da Família.
6.ª Vara - Cível, Comércio, Registros Públicos, Feitos da
Fazenda Estadual e Municipal, Sociedade de Economia Mista,
Organizações Paraestatais, Estaduais e Municipais.

64 A História do Tribunal de Justiça do Pará


7.ª Vara - Cível, Comércio, Falência e Concordatas, Cri-
mes Falimentares, Crimes contra a Economia Popular, Liquida-
ção e Execução de Reparações Civís, Ordenadas em Sentenças
de Juizes Criminais.
8.ª Vara - Crime, excluida a competência privativa deter-
minada em lei.
A Lei 469, de 18 de fevereiro de 952, criou mais um
Jugar de desembargador no Tribunal de Justiça do Estado, que
passou, assim, a se constituir de 11 membros. Ao encargo a
essa nova desembargatoria foi aberto o crédito suplementar de
noventa e nove mil cruzeiros anuais na verba consignada ao
mesmo Tribunal.
Logo, em 21 de fevereiro de 952, o governador resolveu
nomear o juiz de direito da 6.ª Vara da Capital, Ignacio de Souza
Moitta para o lugar recém-criado.
A Lei 761, de 8 de março de 954, instituiu o Código Ju-
diciário do Estado, estipulando como órgãos do Poder Judiciário:
o Tribunal de Justiça, Juizes de Direito, Pretores, Suplentes de
Juizes e de Pretores, Juizes de Paz, Tribunais de Júri, Conselho
de Justiça Militar e Tribunais de alçada inferior.
A comarca da Capital foi constituida de 8 Juizes de Di-
reito, e o Tribunal de Justiça de 11 desembargadores, dividido
em câmaras, para o julgamento das causas cíveis e penais. As
comarcas ficaram de 1.a entrância (as do interior) e de 2.ª en-
trância a da Capital.
A seguir, o Regimento Interno do Tribunal, aprovado em
29 de setembro de 954, registrou aquêle número 11 de desem-
bargadores referido no Código Judiciário.

Raul da Costa Braga 65


Prédios do Tribunal

A criação da Relação regional evidenciou a necessidade


de um prédio condizente para servir de local à morada da Justiça
da 2.ª Instância.
O dr. Domingos José da Cunha Junior, ao passar a admi-
nistração da Província ao 3.º vice-presidente, Guilherme Ferreira
da Cruz, disse em seu relatório de 17 de janeiro de 1874:
“Tendo sido promulgada a Lei 2343, de 6 de agos-
to de 1973 findo, criadora de mais de sete relações,
recomendou o governador imperial a este presidente
em aviso do Ministério da Justiça de 21 do mesmo
mês que mandasse preparar aqui para o Tribunal do
distrito um edifício apropriado onde pudessem ter lu-
gar as audiências dos Juízes de Direito e substitutos
autorizou-me pelo mesmo aviso a dispender até a im-
portância de 2 contos de réis com mobília e objetos de
decorações para o referido Tribunal.
Na impossibilidade de obter um edifício em melho-
res condições, ordenei ao Inspetor da Tesouraria da
Fazenda que contratasse com o Tesouro provincial o
arrendamento do prédio em que esteve estabelecido o
Museu Paraense, depois de feitos no mesmo os repa-
ros, de modo a poder ali acomodar-se o referido Tribu-
nal que tem que ser instalado no dia 3 próximo mês
de fevereiro.
Quanto a mobília, ordenei fosse feita no Instituto Pa-
raense de Educandos Artífices, mas reconhecendo-se
ultimamente que por ser insuficiente o tempo que res-
ta e pequeno o pessoal da respectiva oficina era difí-
cil prontificá-la toda no mesmo instituto, autorizei o
respectivo diretor a comprar em oficinas particulares

66 A História do Tribunal de Justiça do Pará


as peças da referida mobília que não possam ser ali
executadas”.
Por seu turno, o 3.º vice-presidente Guilherme da Cruz ao
transmitir o governo ao 3.º vice-presidente dr. Pedro Vicente de
Azevedo em seu relatório de 15 de março de 1874, consignou:
“Direi algumas palavras sobre a casa da Relação do
Distrito. Sabendo eu que estava destinada para a Re-
lação a casa situada à estrada de Nazaré, em que fun-
cionou o Museu Paraense e conhecendo que seme-
lhante prédio não se prestava ao fim, quando mesmo
fosse substituida a cobertura, o que trazia muitas des-
pesas e não ficaria pronta para o dia marcado, tratei
de procurar melhor acomodação e em melhor local.
O honrado comerciante de nossa praça, Joaquim An-
tonio Alves, propôs o arrendamento dos dois andares
de seus dois prédios misticos na Rua dos Mercadores
por três mil e seiscentos mil réis anuais, obrigado a
apropriação dos prédios para o fim por quatrocentos
mil réis. Ouvido o digno e grande inspetor da Fazenda
concordou com a proposta, substituindo-se o prazo de
8 anos proposto pelo de 3, e foi lavrado contrato pelo
qual o proprietário se obriga a entregar os prédios an-
tes do dia 3 de fevereiro vindouro”.

NOTA EXPLICATIVA: A Rua dos Mercadores é hoje chamada Conselheiro


João Alfredo, ainda centro de comércio e os dois prédios anexos ainda se
encontram de pé, ocupadas pela firma Massud & Cia., com armazens de
fazendas, ora sob o número 56, pertencentes à atual proprietária Maria de
Lourdes Brito Mendes de Oliveira Coelho e Souza, residente em Portuga.

Raul da Costa Braga 67


O dr. Pedro Vicente de Azevedo, em relatório de 28 de
março de 74 à Assembléia:
“No dia 3 do corrente mês efetuou-se nesta Capital
a instalação do Tribunal da Relação, criado pela Lei
2342, de 6 de agosto de 73, tendo por distritos os
territórios desta Província e do alto Amazonas, o qual
se acha funcionando no prédio de 2 andares situa-
do à Rua dos Mercadores, pertencentes aos senhores
comerciantes Geraldo Antônio Alves & Filho e que foi
para êste fim expressamente contratado por ordem do
governo imperial.
Congratulo-me convosco por êste importante aconteci-
mento. A Justiça de 2.ª instância, colocada como até
então em S. Luiz do Maranhão, era dificilmente admi-
nistrada, atendendo às distâncias que nos separavam,
o que demorando a decisão dos pleitos e tornando-se
dispendiosas, davam causa a que na maior parte das
vezes deixassem os litigantes de usar do competente
recurso.”
Francisco Maria de Sá e Benevides, em relatório de 15 de
fevereiro de 76:
“O Egrégio Tribunal continua no prédio de 21 andares
à Rua dos Mercadores, e que para esse fim foi contra-
tado em virtude de ordem do Governo Imperial.”
***
João Capistrano Bandeira de Mello, na fala de 15 de fe-
vereiro de 77:
“O Tribunal continua a funcionar na Rua dos Merca-
dores, cujo arrendamento7 findou em 16 de janeiro
último, ali funcionam o Júri e Juizes de 1.ª instância.”
7 O arrendamento foi renovado pela presidência Gama Malcher em 1878, pela
quantia de três contos e seiscentos mil réis anuais.

68 A História do Tribunal de Justiça do Pará


José da Gama Malcher em relatório de 78:
“O Tribunal continua a funcionar no mesmo prédio à
Rua dos Mercadores, tendo findado em 16 de janeiro
do ano passado o contrato de arrendamento, foi reno-
vado a prazo de cinco anos com o preço anterior de
três contos e seiscentos mil réis anuais.”
João Coelho da Gama e Abreu (Barão de Marajó), em re-
latório ao Congresso de 15 de fevereiro de 80:
“Continua a funcionar o Tribunal da Relação na mes-
ma casa que em tudo é imprópria para tal fim; se a
Assembléia provincial me atender no que peço em re-
lação ao Paço provincial e municipal poderá êste Tri-
bunal ser melhor colocado.”
O conselheiro Francisco José Cardoso Junior, em relatório
à Assembléia Legislativa, em 20 de outubro de 87:
“Achando justos os motivos do digno presidente do Tri-
bunal, a conveniência da mudança de sua instalação
para o novo Palacete por ser difícil, senão impossível
encontrar uma casa decente e com acomodações ne-
cessárias, pelo preço arbitrado pelo governo, entendi-
-me com o honrado presidente da Câmara Municipal
e com o da Mesa dessa Assembleia, a fim de serem
cedidos os salões do pavimento superior da parte sul
em que trabalham a Inspetoria de Higiene e a Secção
de Obras, para aí funcionar o Tribunal da Relação e a
Junta Comercial.
Obtida a cessão, e o assentimento do Ministro da Jus-
tiça mandei fazer para ali a transferência de ambas
as repartições, sob condição de ser paga à Câmara
Municipal de Belém o aluguel anual de dois contos
e quinhentos mil réis por semestres vencidos, fican-
do entretanto êste ato dependente de aprovação da
mesma Câmara. Desde o dia 12 de julho de 1887

Raul da Costa Braga 69


acham-se instalados convenientemente o Tribunal e a
Junta Comercial.”
“Província do Pará” n. 19.347, de 6 de setembro de 1959
(domingo), 2.º caderno, 1.ª página, título “Fatos e curiosidades
da história do Pará”, de Ernesto Cruz.
“62 O Palacete Municipal, parte pertencente à
Prefeitura.
No Auto de recebimento, posse e instalação do Paço
Municipal de Belém, que é o atual Palacete da Prefei-
tura, consta este esclarecimento:
“... teve lugar às onze horas da manhã depois da
benção solene do edifício, feito pelo mesmo Exmo.
Sr. Prelado Diocesano, o Ato de recebimento, posse e
instalação do novo Paço Municipal da Capital na Ala
Ocidental do pavimento nobre do Palacete Provincial,
a qual fica pertencendo à Câmara em virtude da Lei
n. 980, de 5 de abril de 1880 e para cuja constru-
ção concorreu a mesma Câmara com a importância
de sessenta contos, produtos da venda do antigo pró-
prio municipal sito à Rua dos Mercadores, recolhidos
aos cofres do Tesouro Provincial em 20 de janeiro de
1866”.
A cerimônia a que se refere o Auto (recebimento, posse
e instalação do novo Paço Municipal, na ala Ociden-
tal do Palacete Provincial) foi realizada no dia 15 de
agosto de 1883. A Lei n. 980, de 5 de abril de 1880,
sancionada pelo Presidente da Província do Pará, Dr.
José Coelho da Gama Abreu, elucidou que o governo
provincial ficava autorizado a contratar a conclusão
das obras do Palacete, começando pela parte Oeste,
para “ser entregue à Câmara Municipal, logo depois
de sua conclusão, sendo considerada essa parte como
próprio municipal”.

70 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Como se vê do auto do recebimento, posse e instalação,
o Paço Municipal, auto lavrado em 15 de agosto de 1883, e do
texto da Lei n. 980, de 5 de abril de 1880 (3 anos antes), a
parte do Palacete Provincial que pertence à Câmara Municipal
(hoje Prefeitura) é a parte Ocidental ou parte Oeste para cuja
construção “concorreu” dita Câmara com setenta contos de réis,
moeda da época.
Coleção de Leis da Província do Gram-Pará, tomo XLII,
ano 1880, parte primeira:
LEI N º. 980, DE 5-4-880
Autorizo o presidente da Província a contratar a conclusão
das obras do Palacete.
José Coelho da Gama e Abreu, presidente da Província do
Pará, etc. Faço saber a todos os meus habitantes que a Assem-
bléia Legislativa provincial resolveu e eu sanciono lei seguinte:
Art. 1.º Fica o Presidente da Província autorizado a con-
tratar, com quem melhores vantagens ofereça, a conclusão das
obras do Palacete, começando pela parte Oeste do edifício, que
será entregue à Câmara Municipal, logo depois de sua conclu-
são, sendo considerada essa parte como própria municipal.
Art. 2.º Revogam-se as disposições em contrário à pre-
sente lei. Sendo, portanto, a todas as autoridades, a quem o
conhecimento e execução desta lei pertencer, que a cumpram e
façam cumprir tão inteiramente como nela contém. O secretário
da Província a faça sua primeira publicação e correr. Dada no
Palácio do Presidente da Província do Pará, aos 5 dias do mês
de abril de mil oitocentos e oitenta, quinquagésimo ano da Inde-
pendência e do Império.
O Presidente da Relação, desembargador Antonio Rodri-
gues, em relatório apresentado ao conselheiro Mac-Dowell, mi-
nistro e secretário de Estado dos Negócios da Justiça, em 2 de
janeiro de 88, aludiu:

Raul da Costa Braga 71


“Mudança da Relação: Sendo a casa particular em que
funcionava o Tribunal, além de mal colocada, inteira-
mente falha de acomodações indispensáveis, consegui
mudá-lo para uma parte do Palacete Provincial, onde
funcionam os Juizes de 1.ª Instância e o Júri, ficando
assim bem instalado e com as comodidades desejá-
veis, acrescendo ainda a economia que se pode fazer
no aluguel que se pagava pelo prédio particular.”

NOTA EXPLICATIVA: O Presidente da Relação reclamante foi desembargador


Romualdo Paes de Andrade, e o presidente da Câmara Municipal, o comen-
dador Alvaro Pinto de Ponte Souza.

Designações do Tribunal

De 1874 a 1891 - Tribunal da Relação.


Em 1904 - Tribunal Superior de Justiça.
Em 1934 - Côrte de Apelação.
Em 1937 - Tribunal de Apelação.
Em 1945 - Tribunal de Justiça.

Prédios da Relação e Tribunal de Justiça

A criação da Relação regional evidenciou a necessidade


de um prédio condizente para servir de local à morada da Justiça
da 2.ª Instância.
O dr. Domingos José da Cunha Junior, ao passar a admi-
nistração da Província ao 3.º vice-presidente, Guilherme Ferreira
da Cruz, disse em seu relatório:

72 A História do Tribunal de Justiça do Pará


“Tendo sido promulgada a Lei 2342, de 6 de agosto
de 1873, mais sete relações, recomendou o governa-
dor imperial a esta presidência em aviso do Ministé-
rio da Justiça de 21 do mesmo mês que mandasse
preparar aqui para o tribunal do distrito um edifício
apropriado onde possam ter lugar as audiências dos
Juizes de Direito e substitutos autorizou-me pelo mes-
mo aviso a dispender até a importância de 2 contos
de réis com mobilia e objetos de decorações para o
referido Tribunal.
“Na impossibilidade de obter um edifício em melho-
res condições, ordenei ao Inspetor da Tesouraria da
Fazenda que contratasse com o do Tesouro provincial
o arrendamento do prédio em que esteve estabeleci-
do o Museu Paraense, depois de feitos no mesmo os
reparos, de modo a poder ali acomodar-se o referido
Tribunal que tem de ser instalado no dia 3 do próximo
mês de fevereiro.”
A Relação funcionou primeiramente à Rua dos Mercado-
res, passando em 12 de julho de 1887 para o Palacete Provin-
cial, onde ainda permanece, ocupando o andar superior, lado
sul, conjuntamente com sua Secretaria, Órgão do Ministério Pú-
blico; lado norte e oeste pela Prefeitura Municipal e leste pela
Câmara dos Deputados. No andar térreo: Sala do Júri, Reparti-
ção Criminal, Cartórios, Sala dos Juizes de Primeira Instância e
Salão Nobre de Casamentos.

Paróquias

Em consequência da criação do Tribunal da Relação tive


de dar execução ao disposto no art. 2.º do Decreto 4824, de 23
de dezembro de 1871, dividindo por ato de 5 do corrente em
dois distritos especiais, ficando o primeiro composto das paró-
quias da Sé, SS. Trindade, Acará, Mojú, Barcarena, Beja, Conde,

Raul da Costa Braga 73


Igarapé-Mirí, Abaeté e Cairarí e o segundo das de Sant’Ana, Na-
zaré, Benfica, Mosqueiro, S. Domingos, Capim, Irituia e Ourém.
(Relatório de Pedro Vicente de Azevedo, de 15-2-74).

Presidentes do Tribunal

1874 - Ermano Rodrigues do Couto.


1875 - Manoel Jansen Ferreira.
1878 - Antonio Buarque de Lima.
1879 - Vicente Alves de Paula Pessoa.
1882 - João Rodrigues Chaves.
1884 - Romualdo de Souza Paes de Andrade.
1887 - José Antonio Rodrigues.
1889 - Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda (interino).
De 1891 até 1921 Gentil Augusto de Moraes Bittencourt,
Napoleão Simões de Oliveira, Fulgêncio da Rocha Viana e Alfre-
do Raposo Barradas. Daí por diante um desembargador por um
ou dois anos, à exceção de Manoel Maroja Neto, que permane-
ceu por cinco anos consecutivos.

Procuradores da Coroa

1.º - Sebastião José da Silva Braga.


2.º - Ignacio Carlos Freire de Carvalho.
3.º - Domingos Ribeiro Folha.
4.º - Delfino Augusto Cavalcante de Albuquerque.
5.º - Gastão Ferreira de Gouvêa Pimentel Beleza.
6.º - Mathias Antonio da Fonseca Morato.

74 A História do Tribunal de Justiça do Pará


7.º - João Segundino Lopes de Gomensoro.

Procuradores Gerais do Estado

1891 - João Hosana de Oliveira.


Augusto Olímpio de Araujo e Souza.
Antonio Acatauassú Nunes.
Julio Cezar de Magalhães Costa.
Ignacio de Loyola Henriques Virgolino.
Artur Teodulo dos Santos Porto.
1928 - Avertano Barreto da Rocha.
1930 - Manoel Maroja Neto.
1932 - Alcebíades Marques Buarque de Lima.
1934 - Henrique Jorge Hurly.
1934 - João Guilherme Lameira Bittencourt.
1925 - Eládio da Cruz Lima.
1935 - Lauro Chaves.
1935 - Samuel W. Mac-Dowell Filho.
1939 - Lauro Chaves.
1942 - Genuino Amazonas de Figueiredo
1942 - João Batista Ferreira de Souza.
1943 - Antonino de Oliveira Melo.
1946 - Lourenço do Vale Paiva.
1951 - Ernestino de Souza Filho.
1956 - Oswaldo de Brito Farias.
1957 - Oswaldo Freire de Souza.

Raul da Costa Braga 75


Secretários do Tribunal

1873 - Antonio Vicente Magno.


1882 - Antonio Rodrigues do Couto.
1884 - Antonio Teixeira Mendes.
1891 - Augusto Egídio de Castro Jesus.
1903 - Antonio Franco de Sá.
1904 - Tranquilino Graciano de Melo Leitão.
1907 - Alvaro Adolfo da Silveira (interino).
1909 - Carlos Pontes Marques de Carvalho.
1914 - Horacio de Oliveira Melo.
1925 - Joaquim Pinto de Castro (interino)
1926 - Salustio de Oliveira Melo.
1930 - Casemiro Gomes da Silva.
1930 - Carlos Pereira de Carvalho.
1947 - Moacyr Uberaldo Ribeiro Santiago.
1949 - Luís Ercilio do Carmo Faria.

Quadros Estatísticos

Número de desembargadores:
De 1874 a 1911 - Sete.
De 1912 a 1916 - Nove.
De 1917 a 1929 - Oito.
De 1930 a 1931 - Sete.
De 1932 a 1945 - Oito.

76 A História do Tribunal de Justiça do Pará


De 1946 a 1951 - Dez.
De 1952 - Onze.

Juizes de Direito da Capital

De 1891 a 1905 - Três Varas.


De 1906 a 1923 - Quatro Varas.
De 1924 a 1931 - Cinco Varas.
De 1932 a 1933 - Quatro Varas.
Em 1934 - Cinco Varas.
Em 1935 - Seis Varas.
De 1936 a 1937 - Oito Varas.
De 1938 a 1939 - Sete Varas.
De 1940 a 1941 - Seis Varas.
De 1942 a 1943 - Cinco Varas.
De 1944 a 1950 - Seis Varas.
De 1951 a 1955 - Oito Varas.

Quadro das Comarcas

1859 - Sete Comarcas.


1866 - Oito Comarcas.
1868 - Nove Comarcas.
1871 - Dez Comarcas.
1873 - Onze Comarcas.
1876 - Doze Comarcas.
1878 - Catorze Comarcas.

Raul da Costa Braga 77


1883 - Dezesseis Comarcas.
1884 - Dezessete Comarcas.
1891 - Vinte e cinco Comarcas.
1904 - Vinte e seis Comarcas.
1905 - Vinte e sete Comarcas.
1914 - Vinte e oito Comarcas.
1917 - Vinte e nove Comarcas.
1930 - Vinte Comarcas.
1931 - Vinte e três Comarcas.
1932 - Vinte e cinco Comarcas.
1934 - Vinte e sete Comarcas.
1950 - Vinte e seis Comarcas.
1954 - Trinta e três Comarcas.

Primeiros Juizes do Pará

Dr. José Ricardo da Costa Aguiar de Andrade, nascido em


São Paulo, nomeado (17-XII-1811) Juiz de Fóra e aqui passando
às funções de Provedor da Fazenda, Resíduos e Capelão e final-
mente Ouvidor da Comarca de Marajó em 6-2-1818.
Dr. Joaquim Francisco Porciumcula de Leon, Juiz de Fóra
em Cametá em 1823.
Dr. Manoel Inácio Cavalcanti de Lacerda, Barão de Pira-
pama, Juiz de Fóra no Pará em 1822.
Dr. Lourenço José da Silva Santiago, Juiz de Direito
na Comarca do Grão Pará em 1834.
Dr. João Batista Gonçalves Campos, Juiz Municipal de ór-
fãos em Santarém em 1846.

78 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Dr. Tristão de Alencar Araripe, Juiz de Direito em Bragan-
ça em 1847.
Dr. Viriato Bandeira Duarte, Juiz de Direito em Cametá
Dr. Francisco de Farias Lemos, Juiz de Direito em Santa-
rém em 1864.
Dr. Joaquim Pedro Vilaça, Juiz de Direito em Belém em
1865.
Dr. Artur Antonio de Andrade e Albuquerque, Juiz de Di-
reito em Belém em 1850.
Dr. José Ascenso da Costa Ferreira, Juiz de Direito em
Belém em 1876.
(Anotação de Uchôa Viegas).

Principais Solenidades

O Egrégio Tribunal de Justiça, várias vezes se tem engala-


nado de festividades esplendentes, dedicadas à sua majestade,
transluminadas no Augusto Templo da Justiça.
Várias oportunidades tem ocorrido como que advindas
ao culto sempre vivo ao órgão estabilizador dos três renomados
axiomas - Juris praecepta - de Upiano (Digesto I, I, X, I.).
Então no Salão Nobre dos Pontífices do Direito, extrava-
sando o cotidiano dos julgados e dos acórdãos com que se terra-
planou, foram abertos seus portais ao trânsito da sociedade em
ovações e oblatas.
Dentre essas solenidades magnas, sem falar naquelas
de instalação da Relação, do Tribunal Superior de Justiça, uma
avulta em grandiosidade e magnificência a aposição de Cristo na
sala do Júri em Belém, em dias de fevereiro de 1909.

Raul da Costa Braga 79


O jornal da terra “A Província do Pará” se fez pródigo
em publicar o magno acontecimento em tôdas as suas fases
decorrentes.
Primeira notícia em 18 de fevereiro de 1909:

“CRISTO NO JURI”
A cerimônia da colocação de Cristo na sala das sessões do
Tribunal do Júri efetuar-se-á amanhã, após a missa campal que
será celebrada às 7 e meia horas do dia à Avenida da Liberdade.
Revestirá toda a solenidade o ato para o qual foram convi-
dadas as principais autoridades do Estado e Município. Celebra-
rá o santo sacrifício o reverendíssimo Monsenhor Hermenegildo
Perdigão, governador do Arcebispado, devendo a linda imagem
que foi gentilmente cedida pelo senhor senador Antonio José de
Lemos ser acompanhada em importante romaria pela Escola de
Soldados da Sociedade de Tiro Brasileiro, além de inúmeras ir-
mandades religiosas da Capital, bem como colégios e povo.
A Escola de Soldados daquela Sociedade formará também
sob o comando do Tenente Solerno Moreira, durante a missa.
As filhas de Maria das Paróquias de Sant’Ana, Santo Antonio e
Nazaré, assim como uma grande comissão de senhoras, aguar-
darão no Palacete a Imagem do Crucificado, para recebê-la e
cobri-la de flôres.
Antes de partir o majestoso préstito, proferirá uma alo-
cução o nosso confrade Dr. Elizeu Cezar, orador da comissão e
depois da aposição da imagem na Sala do Juri, usará da palavra
o Dr. Passos de Miranda Filho, deputado federal por éste Estado.
Ao chegar o préstito àquêle local, serão queimadas girân-
dolas de foguetes e salvas de morteiro oferecidos pelo sr. Eduar-
do Moreira.

80 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Durante as primeiras horas da manhã, o comércio conser-
vará cerradas as suas portas. O préstito fará o seguinte itinerário:
Avenida da Liberdade, Avenida 15 de Agosto, Ruas Santo Anto-
nio, Conselheiro João Alfredo, Avenida 16 de Novembro, Praça
da Independência até o Palacete.
O formoso altar, onde será celebrada a missa campal foi
preparado pela casa Benjamin Lamarão. A Associação dos Ve-
teranos do Paraguai conservará durante o dia hasteado o seu
pavilhão, e iluminará à noite a fachada de sua séde social. É
êste o convite dirigido por esta patriótica associação aos seus
membros:
Convidamos os dignos consócios desta benemérita as-
sociação para tomar parte nos seguintes atos da nossa
Santa Religião:
1.º Assistir a bênção que será dada por Monsenhor
Perdigão, digníssimo governador do Arcebispado, à
linda Imagem de Cristo, obra artística oferecida pelo
nosso benemérito consócio e presidente honorário se-
nador Antonio Lemos.
2.º Assistir à missa que será celebrada na mesma
ocasião em ação de graças por tão importante acon-
tecimento e triunfo de nossa Santa Religião. Estes
atos terão lugar à Avenida da Liberdade e à Praça da
República.
3.º Acompanhar a procissão que terá de seguir ao
Palacete Municipal a fim de ser colocada na Sala do
Tribunal do Júri a imagem de Nosso Divino Salvador.
Como homenagem a tão gloriosa data a Associação
dos Veteranos do Paraguai, composta de velhos ca-
tólicos da antiga guarda salvos da morte nas inóspi-
tas campanhas do Paraguai pelo Deus dos Exércitos,
hasteará sua gloriosa bandeira no Palacete Gama e
Costa, desde às seis horas da manhã, reunindo-se os

Raul da Costa Braga 81


veteranos à noite para festejar tão solene data, ilumi-
nando a fachada da referida séde social à Avenida São
Jerônimo, 127. Tenente coronel Frederico Augusto da
Gama e Costa, cavaleiro da Ordem de Cristo do Brasil,
presidente; Antonio Delfino da Silva Guimarães, Capi-
tão de Fragata (1.º Secretário).”

“A Província do Pará” de 20 de fevereiro de 1909:


“Para todos os católicos, para a grande maioria da popu-
lação da Capital, a festiva solenidade de trasladação da imagem
de Cristo para o Tribunal do Júri constituiu uma ativa e conso-
ladora afirmação da grande, prestigiosa e inabalável fé católica.
Com efeito à extraordinária procissão associou-se o povo,
associaram-se todas as classes, imprimindo-lhe um admirável
e impressionante aspecto de movimentação popular que dificil-
mente será esquecido, por quantos tiveram a ventura de assistir
ao desfile. Ao mesmo tempo que nos é grato sublimar o esplen-
dor que coroou a festa, é de nosso dever louvar com o maior
entusiasmo a idéia da colocação do Crucificado na Sala do Júri.
Um quarto antes das sete da manhã chegaram à resi-
dência do senador Lemos, os membros da comissão festiva: Ca-
pitães Honorino de Almeida, Paulo Albuquerque, Francisco de
Paula Oliveira e Dr. Domingos Acatauassú Nunes.
Na sala estava o bronze poisando sôbre uma salva de
prata forrada com uma toalha de fino linho, bordada a retroz de
sêda. Jarras com lindas rosas e parasitas entrelaçadas das mais
belas e raras das nossas matas, formando elegante e original
docél cobriam o magnífico bronze de Lionetti.
O capitão Paulo Albuquerque, tomando piedosamente a
imagem e osculando-a com profundo respeito, colocou-a num
porta-bandeira ornado das côres nacionais.

82 A História do Tribunal de Justiça do Pará


O préstito seguiu pela Avenida Gentil Bittencourt, Traves-
sa Benjamin Constant, Avenida Nazaré, Praça da República e
Avenida da Liberdade, onde fôra armado o bonito altar para a
celebração da missa campal, erguido quase à esquina da Traves-
sa Santo Antonio, em forma de trono que se elevava um metro
acima do solo, com a frente para a entrada da avenida.
Ao fundo avultava finíssima oleografia representativa do
Calvário, com Jesus suspenso do madeiro, ladeado pelos vultos
angustiados de Maria Santíssima e de Madalena. Ali chegando a
comissão com a imagem que iria simbolizar no Tribunal do Júri,
o perdão e a misericórdia aos infortunados impelidos ao veredito
dos homens, ficou o crucificado durante a missa sob uma guarda
de honra.

A MISSA CAMPAL

Subiu ao altar Monsenhor Perdigão revestido de ricos pa-


ramentos, acolitado pelo Padre Memória, pelo irmão Fernando
Barnabita e por dois menores. Terminada a cerimônia e lançada
a benção a imagem foi esta apresentada ao povo que vibrou em
delirantes aclamações a Cristo, ao Exército Nacional, à Repúbli-
ca e ao Estado do Pará.

No Templo da Justiça

Quando a procissão chegou ao Forum, já era difícil o aces-


so à sala do Tribunal do Júri, cheia de senhoras e cavaleiros da
nossa melhor sociedade.
Das janelas do edificio desceu copiosa chuva de rosas e
trevos sobre a sagrada imagem que foi igualmente coberta de
novas e perfumadas flores pela comissão de senhoras e associa-
ções das Filhas de Maria das paróquias de Belém, que aguarda-
vam a chegada e às quais foi entregue a imagem então deposta

Raul da Costa Braga 83


sôbre um maciço de flôres, graciosamente arranjado à mesa da
Presidência, ocupando a tribuna o dr. Passos de Miranda, que
em vibrante discurso arrebatqu a compacta multidão, interrom-
pido de momento a momento com calorosas aclamações.
Falou em seguida o dr. Julio Costa, juiz de direito da 4.ª
Vara, e Presidente do Tribunal do Júri. De seu discurso, conse-
guimos apanhar os períodos seguintes:
Católicos de minha terra! Com a mais viva satisfação
recebo o depósito sagrado que me acabais de confiar e
saber dar, de acordo com a comissão organizadora da
idéia, o destino justo que a vossa vontade que também
é a minha, teve em vista. Quero, porém, tornar públi-
co com a máxima sinceridade o que penso e externei
à comissão incumbida da colocação de Cristo nesta
sala. Vacilei, logo que me foi solicitada a permissão
para este ato solene. Sabeis por que? Entendo que
o povo é quem mais tem direitos. Se a Constituição
Republicana mantém a instituição do Júri, igualmen-
te mantém a liberdade de cultos. Se quís que o povo
decidisse nas suas mais importantes questões, permiti
que externasse suas idéias religiosas sem limitação de
lugar. Assim, se no júri impera o voto popular é justo
que neste mesmo Júri, possa o povo externar um senti-
mento católico. Não era, pois, necessária a permissão,
porque o povo tem o direito de fazê-lo. Se o deixei foi
para mostrar que a apoiava de todo coração.”

“A Província” do dia 21 de fevereiro:


“A Comissão pede declararmos não ter dispendido quantia
alguma para levar a efeito a simpática idéia.

84 A História do Tribunal de Justiça do Pará


TRANSUNTO DO DISCURSO PASSOS DE MIRANDA

O orador sente-se bem ao lado do povo naquela solenida-


de, estabelece a comparação entre o germen e a idéia; um que
vai da planta à floresta, o outro, do desejo à realidade e ao su-
cesso. Foi o que se deu com a generosa idéia aventada dias atrás
naquela sala do Júri por um abalizado professor de Direito. Ela
movimentou lares, estalou na imprensa, explodiu nas massas e
se cristalizou na marcha triunfal que foi a procissão efetuada.
Por entre aplausos repetidos da assistência referiu-se ao
juiz anuente a que a alma popular tinha de mais intimo e que
desclavou na hipocrisia ateista que tenta medrar entre nós, sob
as instituições de um especioso liberalismo. Estado leigo não é
Estado ateu.
Este último predicado atribuido ao Estado compromete a
sua atividade neutral e inter-constitucional em relação aos diver-
sos credos, pois o ateu afirma pela negação, e se caracteriza pela
descrença absoluta que os outros combatem. E para mostrá-lo
faz considerações sobre o que é o povo, sobre o que é a Na-
ção, sôbre o que é o Estado Este último é apenas uma socieda-
de especial com dado povo e determinada noção politicamente
organizada.
Assim não pode desconhecer o fator irredutível, a idéia
fundamentada, a força social que é a religião poderosamente
influenciada no povo e na pátria pela adesão voluntária e livre
das consciências.
A liberdade religiosa não atéa, antes é profundamente
cristã, essencialmente cristã como os americanos de nosso mo-
delo sempre o entenderam. Faz citações nêsse particular dos
comentadores constitucionais da Norte América e, entre nós, de
Ruy Barbosa, a quem chama o pontífice máximo, o constitucio-
nalista brasileiro. Passa o orador a traduzir os sentimentos que o
povo levava no ato de fé pública presenciado.

Raul da Costa Braga 85


A sagrada imagem entregue ao juiz não representava para
a multidão, ali aglomerada, o Cristo da crítica hodierna, com
seus elogios fementidos e as suas filigranas literárias, mas sim,
o Cristo — Homem-Deus que reuniu e exaltou a humanidade,
o Cristo cuja pessoa e nome adoram e repetem os céticos reve-
rentes, o Cristo glorificado nas ciências, artes e letras, profunda-
mente ligado à civilização que dêle promanou e sempre perpetu-
ados no mundo e na sociedade pela prédica do Evangelho que é
luz de todos os tempos e a verdade de todos os povos.
Aquêle ato de fé evolava-se numa prece fervorosa pela
prosperidade dêste Estado.
Apontou o que o influxo de Cristo podia fazer nos Juizes
de fato, nos denunciados, nos condenados e ainda, na Justiça
em geral pela responsabilidade do magistrado e pela dignidade
do advogado.
Muito interessante e sugestivo foi o seguinte trecho do
discurso:
Passou afinal a falar dos benefícios que Cristo por sua
divindade e doutrina poderia derramar sobre tôda a sociedade
paraense. Cristo verdade remediaria a lepra social que é a des-
crença, cujos tristíssimos efeitos o orador desenvolve.
Quanto aos povos disse: Só a crença impede as tradições,
santifica os costumes, vincula os corações, agremia as vontades,
provoca as virtudes, une as forças sociais, gera ações a um reno-
me fulgurante no conceito universal.
Cristo santidade continuaria a derramar a abundância de
seus dons, a abundância de suas graças, sobre o admirável e
primoroso lar paraense a que o orador tece os maiores elogios,
sendo os seus períodos entrecortados de palmas. Cristo Autori-
dade, admiração, inspira o honrado paraense que inicia o seu
governo por entre justas e frementes esperanças, ao ilustre che-
fe do município que ali estava intimamente associado ao povo
naquela solenidade tão significativa e também a todos os outros

86 A História do Tribunal de Justiça do Pará


que estivessem investidos do poder, infundindo-lhes o espírito
de concórdia, prudência ela, confiança, zelo, moderação, justiça
e outras virtudes recomendadas e necessárias à direção das co-
munidades sociais.
Assim o Pará constituiria parcela notável e valiosa na soma
das vinte responsabilidades estaduais que se devem empenhar
no desenvolvimento da nação. Por entre aplausos ruidosos o dr.
Passos de Miranda perorou deste modo: E tú, ó Cristo, inclina-te
propicio à intensidade de nosso civismo e à excelência de nossos
votos. Faze-nos prósperos e grandes pela tua misericórdia e para
tua glória !”

Cristo no Tribunal de Justiça

Em dois de outubro de 1941 no Tribunal de Justiça reali-


zou-se pela manhã significativa sessão solene, a fim de ser feita
ali a aposição da imagem de Jesus Crucificado. Essa cerimônia
teve a presença das altas autoridades do Estado, comparecendo
também todos os magistrados e elementos da classe de advoga-
dos em Belém, representantes do clero, funcionários públicos e
inúmeras famílias.
Iniciando a sessão, falou o desembargador Buarque de
Lima que fez brilhante exposição sobre a solenidade, enaltecen-
do a sua significação.
Em seguida, D. Antonio Lustosa, arcebispo do Pará. A
convite do desembargador Presidente desvendou a imagem de
Jesus Crucificado que se achava coberta pela Bandeira Nacio-
nal. Em nome da magistratura falou o desembargador Augusto
Bangel de Borborema, e pela classe dos advogados o dr. Samuel
Mac Dowell que proferiu eloquente oração na qual descreveu o
julgamento a que foi submetido o Divino Mestre, relatando todas
as fases do seu processo.

Raul da Costa Braga 87


A oração brilhante do dr. Mac-Dowell foi bastante aplau-
dida. Terminado o ato foi encerrada a sessão.
(Do “O Estado do Pará”, de 2 de outubro de 1941)

FESTA À BANDEIRA DO BRASIL


REALIZADA EM 8-12-1943
NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Foi este o discurso pronunciado em nome dos juizes da


capital, pelo dr. Raul Braga, juiz de Direito da 2.ª Vara:
“Exmo. sr. coronel Magalhães Barata, digno interven-
tor federal no Estado do Pará. Exmas., autoridades mi-
litares exponenciadas por s. excia. o sr. general Paula
Cidade — almirante chefe da Base Naval do Norte,
coronel comandante da 1.ª Zona Aérea, coronel co-
mandante da Polícia Militar do Estado.
Exmo. sr. desembargador presidente do Tribunal Ape-
lação. Demais autoridades.
Colegas meus e meus senhores.
Hasteamos hoje com pompa e muita honra, na fronta-
ria do Edifício da Justiça, o Pavilhão Nacional auriver-
de precisamente no dia da Justiça auri-rubra.
Bendito êste dia, por abençoada inspiração do acon-
tecimento, graças a Magalhães Barata e Buarque de
Lima na evidência da mais acendrada expressão de
civismo.
Temos a Bandeira da Pátria a se agitar nos ângulos de
nossa casa de trabalho pelo Direito, nos dias festivos
nacionalidade brasileira.
Envaidecido e admirado, como que me pergunto a
mim mesmo porque, somente agora e somente hoje,

88 A História do Tribunal de Justiça do Pará


tamanha prova de vibração cívica é ostentada. Vivere-
mos, pois, com o culto à Bandeira em manifestacão
íntima de respeito veneração, mas sem a bandeira da
Pátria, refletida nos olhos. Aparecíamos, até então,
nos grandes dias festivos, como templo fechado, sem
lâmpada votiva acêsa, ao maior amor de Brasil culto
de tradição, canto patriótico de séculos afora expres-
são colorida de encantamento e grandezas que tudo
isso representa e afirma, estúa e canta, esbravece e
ameiga no símbolo sagrado, na Bandeira do Brasil.
Éramos templo cerrado às louçanías da voz da Pátria,
como se aqui dentro só pudesse entrar o ideal do Di-
reito, uno, sòzinho, absoluto, na invocação da deusa,
filha do Céu e da terra, mãe da lei e da paz, imagem de
legenda grega efetividade da máxima latina do Corpus
Juris, como se a lei não culminasse pela força, como
se a paz adquirida por estagnação não fosse uma paz
de Mar Morto. Eu quero uma paz viva, uma paz de
fortes e um direto em seu perene evolver de perfeição.
Templo esquecido como se nós não fossemos, antes
de magistrados, homens da toga e depois de magistra-
dos, cada um de nós — um cidadão do Brasil. Por que
alhear de nossa retina em as ocasiões mais árduas de
nossa função como — reta de horizonte — aquilo que
nos chama à mais palpitante compreensão de nossos
destinos?
Como não seria — maravilhoso todo um Tribunal, ca-
beças levantadas, sabendo de cór o hino heróico da
terra do berço, como de cór nos ensinaram as táboas
da lei romana em veneração ao grande símbolo!
Por que esse comediamento que não explico, essa
meia alheação às santas emoções que todo brasileiro,
em qualquer oportunidade nobre é tangido a ostentar
ufano?

Raul da Costa Braga 89


Porventura, não é o pavilhão nacional um pedaço de
nós mesmos, — lar de nossos antepassados, lar de
nossos descendentes fincado aqui, ali, acolá, nos con-
fins das fronteiras, no Pão de Açucar, centro vital que
a natureza estilizou em pedra, no coração do Brasil?
Essas minhas interrogações estão respondidas pela so-
lenidade de hoje.
O Tribunal de Apelação do Pará se orgulhecerá com
sua bandeira nas comemorações cívicas da Pátria.
Mostraremos, de ora em diante, aos que passarem
lá por fora — jovens desatentos, varões descuidados,
estrangeiros indiferentes que aqui dentro existe, além
do culto à Justiça, primacialmente existe o culto vivo
da Pátria, porque não há Direito brasileiro, sem pátria
brasileira.
Bandeira de meu céu e de minha terra:
Vejo-te como exteriorização viva da nacionalidade, na
continência do tempo, na grandeza do território, no
valor de nosso destino.
És para nós todos, a significação de três ciclos e de
três épocas: na passada pela tradição de nossos maio-
res; na presente pelo progresso incontido de nossa
marcha ascensional de progresso; na futura pela certe-
za absoluta de nosso evolver nacional. Foste para nós,
aquela primeira bandeira das náus cabralinas: cruz
branco-vermelha do Redentor engastada noutra cruz
- símbolo de coragem e fé a panejar nas embarcações
dos Vascos da Gama, navegantes de Portugal.
Em 1647, quando elevado o Brasil à categoria de Prin-
cipado, retornaste, branca e esfera armilar de ouro ao
centro!

90 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Eras, já, uma parte essencialmente nossa, no ouro das
terras nativas, aflorando a mancheias, nos Gurupís de
cristalinos veios e correntes.
Em 1816 vieste com as armas lusitanas, entrelaçadas
às armas de nosso Reino reconhecido.
Dir-se-ia um velho gigante, trazendo à mão o novo gi-
gante que vinha de nascer. Em 1822, pouco depois do
grito de nossa emancipação política, vieste integral-
mente nossa, salvaguardada à emblemática de nossa
ascendência que nos enche de confraternização e or-
gulho ao povo que nos deu uma expressão verbal que
é esbravejamento de cataduplas e rebôjos, ciclos de
zefiros em coqueirais enluarados e cantigas maternais
de adormecer do glorioso descobridor de mundos, do
intrépido povo português.
Bandeira excelsa.
Nêsse quadrilátero verde, nêsse losango de ouro, nes-
sa encurvada faixa branca, nessa estrelada esfera azul,
estás mostrando ao mundo - pelos quatro matizes -
que te engalanam como expressivas manifestações de
nossa raça e de nossa terra, o mais sagrado pano do
Brasil.
No amarelo - ouro das culturas e das colheitas; no
verde-esperança de Nuno Alvares com o estandarte
da destemerosa “Ala dos Namorados” na Batalha de
Aljubarrota; no azul filiação histórica do povo e casa
dos Braganças em que veio aflorar a vibratilidade épi-
ca de Pedro I, a evangélica magnitude de Pedro II, a
flôr arquiangélica de Isabel - princesa e mulher — de
cujas mãos dadivosas partiram, como aves felizes, tô-
das as asas da Redenção para que a bandeira do Im-
pério não cobrisse livres e cativos. Como bandeira de
emancipação, passaste pelos dias mais gloriosos de

Raul da Costa Braga 91


nossa história guerreira que a escrevemos não sob de-
sígnios imperialistas que jamais tivemos, acobertados
no eufemismo do espaço vital-campo talado por Atilas,
antes em defesa e amparo ao direito de humanidade,
aos arreganhos dos tiranos.
Então, como bandeira de guerra no Império, pelejaste
nas Campanhas do Pará, investiste contra a tirania de
Rosas e de Oribe; foste cantando para as batalhas do
Paraguai, onde te encheste de glórias tremulando em
Uruguaiana, em Riachuelo, em Tuiutí. Com Osório à
frente e com o soldado que jamais voltou com batalha
perdida, êsse homem que encheu uma tradição e cem
séculos de glórias — Caxias.
Tempos depois, remoçaste na forma republicana de
89, bandeira de Deodoro e de Rui, de Aristides Lobo e
Benjamin Constant.
Lembro-me que pelos idos de 30 pequeninas bandei-
ras rubras despontaram nos Pampas, ganharam as
montanhas do planalto, surgiram nas planícies do nor-
deste e afloraram nas glébas do setentrião.
Esses pequeninos símbolos, todavia, como que se in-
tegravam nos teus designios, Bandeira republicana!
É que nos últimos tempos, a Pátria era esquecida pelo
Individualismo interesseiro nas deturpadas fortunas de
governo.
Os cargos eletivos, sôbre se tornarem de nomeação se
faziam, sobretudo, hereditários.
Era preciso novo grito de emancipação — alerta da
Pátria ao estremecimento do coração brasileiro.
Veio a Revolução e, novamente, a bandeira republica-
na se integrou em seus legítimos destinos.

92 A História do Tribunal de Justiça do Pará


O que tem sido o Brasil, de 13 anos a esta parte é o
Direito que o declara:
O país intensificado em seus códigos, tôdas as clas-
ses irmanadas no mesmo anseio de engrandecimento,
todos marchando reta batida nesta estrada segura de
realizações que se sucedem e todos os dias se multi-
plicam. Não preciso esbater a personalidade ímpar de
Getulio Vargas.
Os dias que correm, bem o testificam na segurança de
juizo do dia de amanhã. Bandeira do Brasil:
Jamais regressaste das contendas com a ignominia de
uma fuga ou com a tristeza de uma derrota. Sem éstos
expansionistas, hás de ser sempre a pátria brasileira
vivendo em si mesma, bastando-se a si própria, sobe-
rana em sua soberania.
Assim, jamais ficarás vencida, bandeira de nosso amor
e de nosso orgulho, invencida como viva afirmação de
nossa nacionalidade, que é hoje uma explendente rea-
lidade para o assombro de amanhã.
Que sempre Deus te proteja, bandeira de minha terra!
Que sempre Deus te abençôe, bandeira de meu país!”

O Dia da Justiça

Solenidade ocorrida em 8 de dezembro de 1944, presen-


tes o coronel interventor Magalhães Barata, general comandan-
te da 8ª. Região Militar, almirante comandante da Base Naval,
representante do vigário capitular, Prefeito Municipal e demais
autoridades. O desembargador Augusto Rangel de Borborema
proferiu, então, o seguinte discurso: “Martins Junior, invocando
erudito e completo estudo de Clóvis Bevilaqua, assegura-nos,
na sua História do Direito Nacional, obra de grande valor literá-
rio, que os silvícolas brasileiros, antes mesmo de seu primeiro

Raul da Costa Braga 93


contacto com a civilização, já possuiam instituições juridicas,
reguladoras da família e da punição, mais ou menos severa, de
certos atos praticados pelos componentes da mesma tribunal.
Varnhagem nega, entretanto, êsse fato; mas Rocha Pom-
bo — incontestàvelmente o mais profundo, o mais completo e o
mais moderno dos historiadores do Brasil, impugna vantajosa-
mente Porto Seguro e se coloca franca e decididamente ao lado
daqueles dois saudosos juristas e mestres, que, por sua vez,
tiveram outros sectários de pêso. Não invoco êsse significativo
costume dos povos primitivos do Brasil para relacioná-lo com a
origem do nosso direito escrito.
De todos é sabido que as nossas instituições juridicas fo-
ram preciosos legados que nos deixou o velho Portugal que por
sua vez foi buscá-las no Direito Canônico e no Direito Romano,
abandado por aquêle, fontes cristalinas que, até hoje ainda po-
demos dizer, nos inspiram não obstante a grande e profunda
evolução e transformação que o direito, em todos os ramos, vem
suportando, graças a influências várias, entre as quais o intenso
e trepidante progresso dos nossos dias quer nas indústrias, quer
no comércio, quer nas ciências e artes, com repercussão profun-
da nas sociedades politicamente organizadas do que resulta a
necessidade de outras normas legais reguladoras.
Intento, porém, assinalar na hora evocativa dêste dia,
delicado oficialmente pelo governo federal à comemoração da
Justiça que aqueles curiosos fatos da vida, rústica dos nossos
habitantes das selvas eram bem um prenúncio do que foi e é, a
vida política da nação brasileira, que nunca se deixou agitar por
idealismos contrários ao espírito de justiça e das garantias de
todas as liberdades, honra e dignidade dos cidadãos da Pátria.
Registra-se em nossa história, na verdade, um passado
de glória, de martirios, de lutas mais ou menos cruentas, pela
causa da Justiça dentro e fóra do nosso território. As violências
ilegais inúteis, os cerceamentos de tôda a espécie no Brasil, só

94 A História do Tribunal de Justiça do Pará


tem produzido um efeito: a revolta santa e justa das consciências
bem formadas, colocadas a serviço dos bens mais apreciáveis
do homem: — honra, vida, liberdade, propriedade. Percorramos
todo o período colonial, quando ainda não tinhamos uma justi-
ça organizada, porque os homens encarregados de distribuí-las
eram escolhidos entre os próprios degradados e, portanto, sem
o imprescindível caráter e sem formação moral; e quando, mais
tarde, na época dos vice-reis nos foram enviados outros magis-
trados recrutados, como diz a crônica, entre os homens sem
cultura e sem integridade moral; e até mesmo na época que vai
de 1808 a 1821 em que hospedamos a Côrte de D. João VI
que tantos benefícios nos trouxe, mas que poucos introduziu na
organização judiciária do Brasil, essa revolta, a que acima me
referi, se fez sentir surda, mas efetiva, porque ninguém confiava
nêsses magistrados, e geralmente, praticava-se a justiça direta e
pessoal ou por intermédio dos “seus negros” como diz Pedro Cal-
mon, do que resultaram aquêles tristes dissíduos entre famílias
brasileiras, dissidios que se prolongaram alguns, até dias que
testemunhamos.
O brasileiro não se conformava com êsse abandono em
que vivia por parte da metrópole portuguêsa. Urgia. portanto,
emancipar-se politicamente e adquirir fóros de nação indepen-
dente e autônoma para poder, à sombra da lei, experimentar
todas as garantias jurídicas com que sonhava. Quando mais se
ilustravam seus filhos, quanto mais se disseminava a instrução
e o ensino em todos os graus, quanto maior era o número dos
homens ilustrados e cultos que chegavam ao Brasil, tanto mais
acentuada e incontida era essa sede de justiça e de liberdade.
A idéia da nossa emancipação política nasceu principal-
mente desse fenômeno psicológico, porque sem êle, isto é, m
uma justiça perfeita e organizada, nenhum progresso material ou
moral era possível, como impossível também era de se esperar o
desenvolvimento econômico.

Raul da Costa Braga 95


E quando chegou o dia de ser proclamada a nossa inde-
pendência política, não na tivemos ao modo daquelas nações
européias de regime absolutista, aliás em plena revolução e de-
cadência, e sim, desde logo, sob a égide duma Constituição que
foi o próprio príncipe a nô-la outorgar, jurando-lhe fidelidade,
fidelidade que observou até o dia da sua abdicação, tendo dissol-
vida, por motivos políticos que não vêm ao caso, nêste momen-
to, referir a Constituinte que êle mesmo convocara.
Essa Constituição, a de 1824, a primeira que tivemos,
libérrima e avançada como era para a sua época, não sòmente
cercava o cidadão de garantias especiais, como também con-
feria ao Poder Judicial, segundo a expressão que usava, certas
medidas que já importavam, por si só, na esperança duma jus-
tiça mais perfeita pelas prerrogativas dispensadas aos juizes e
tribunais.
Foram criados o Supremo Tribunal da Justiça, com séde
na capital do Império, e Tribunais de Relação nas províncias, e
juizes perpétuos removíveis é verdade, não ad libitum do Impe-
rador, e sim mediante informação, defesa, parecer do Conselho
do Estado e outras formalidades.
Com o Código Criminal de 1830, com o Código de Proces-
so Criminal de Primeira Instância de 1832 e leis subsequentes,
com a instituição do habeas-corpus, passou o Brasil do primeiro
para o segundo Império, não sem agitação, dada a deficiência,
que ainda subsistia, das garantas conferidas aos magistrados
e da rápida e boa distribuição da justiça, principalmente, com
a reforma de 1841, que era a expressão mais pura do regime
centralizador dominante; mas, ao contrário, sob protestos gerais,
mais ou menos veementes, emanados quer do Parlamento, quer
da imprensa, do que nos dá notícia circunstanciada Joaquim Na-
buco, quando escreveu a história de seu venerando pai — “Um
Estadista do Império”.

96 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Surgiram, entretanto, nesse período em que o Brasil tenta-
va os seus primeiros passos de nação independente, Juizes emi-
nentissimos, que se impuseram à consideração dos seus coévos
e da posterdiade, pelo aprumo inconfundível da sua compostura
moral e alto valor do seu saber juridico O próprio Imperador D.
Pedro II, homem de dotes intelectuais lustração incomuns e de
princípios rígidos de mora! Elevada primava em escrúpulos rigo-
rosos quanto à nomeação inicial e à seleção para as promoções.
Juiz venal ou prevaricador, ignorante ou ocioso, podia estar cer-
to que mofava nas comarcas, porque S. M., conhecendo-lhe a
vida, não o escolheria nunca nas listas tríplices; assim como o
bacharel, que fazia mal o curso nas Faculdades do Recife ou de
São Paulo, únicas, então, em funcionamento, dificilmente seria
aproveitado para a nobilissima carreira de magistrado.
Essas providências, entretanto, adotadas pessoalmen-
te pelo Imperador, não condiziam com as aspirações nacionais
duma magistratura cercada de garantias, porque a Constituição
e as leis em vigor se prestavam, mediante interpretações mais
ou menos sofisticas e grosseiras, a punir o magistrado integro
e independente, arma de que, não raras vêzes, se serviram os
partidos políticos.
Foi preciso, entretanto, que outros acontecimentos sur-
gissem no país, agitando-o, como, por exemplo, a propaganda
republicana e a campanha da abolição, para que, em 1871, o
Imperador aquiecesse a essas justas reclamações em pról das
garantias judiciárias e consentisse na lei dêsse ano, que consig-
nava, já, alguma liberdade e tranquilidade aos magistrados, que
o eram por inclinação natural.
Cêdo complicou-se a vida interna da nação com a aboli-
ção da escravatura, com a intensidade da propaganda republi-
cana, com a velhice e doença do Imperador, prevendo-se dias
angustiosos para o Império, em franca decadência. quando os
nossos pró-homens — Deodoro, Floriano, Benjamin Constant à
frente, apressaram a proclamação da República.

Raul da Costa Braga 97


É de salientar-se que nenhuma manifestação de rancor ou
ódio contra a familia imperial se registrara nessa ocasião; mas
ao contrário: decretado o seu exilio, é ela cercada de todas as
considerações e até lhe é oferecida uma dotação.
Vem a Constituição de 89, a primeira do período republi-
cano, proporcionando ao Poder Judiciário prestigio, consideran-
do o órgão da soberania nacional em perfeita igualdade com o
Executivo e o Legislativo, e, em nome do regime federativo, que
adotou, criando a dualidade da justiça — a federal e a estadual,
e das leis adjacentes.
Organizam-se os Tribunais com a fina flor da cultura ju-
ridica, bem como os juizes seccionais. Mas, as justiças locais,
também servida, na sua generalidade, por homens dedicados ao
serviço judiciário, talentosos, integros e apaixonados cultores do
direito; em geral com uma remuneração ridícula e vil, e expostos
a todas as vicissitudes, desde as endemias reinantes nas longin-
quas comarcas onde ser viam, até o virus terrível das intrigalha-
das políticas ema nadas dos chefetes de roça.
É de ontem a história do heroismo dessa magistratura,
digna de todas as considerações, porque bem poucos se deixa-
ram enxovalhar, e a maioria preferiu o caminho do verdadeiro
heroismo, dêsse heroismo que santifica a alma, por que obscuro
e íntimo, só de poucos é conhecido. Aqui mesmo, em nosso Es-
tado, poder-se-iam citar fatos edificantes de magistrados dessa
têmpera, que nas horas caladas das madrugadas trabalhavam
em roças que construiram, ou entregavam-se à caça e à pesca,
para auferirem o alimento para si e a família, a fim de não caí-
rem endividados ou sem prestígio, nas mãos dos politiqueiros ou
dos comerciantes inescrupulosos. Dum, certa vez, recebi de um
colega, a dolorosa confidência de que três dias faziam já, que se
alimentava de chá de erva-cidreira e café de mangirioba, sem
açucar, por estar completamente desprovido de numerário.

98 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Esses fatos ocorreram em plena República de 89, quando
os governos do Estado deixavam passar meses a fio, senão anos,
sem pagar um vintém dos vencimentos do funcionalismo públi-
co, em geral, e dos magistrados em particular.
Páro aqui. Não prossigo nesta página triste, embora bri-
lhante, da história do Poder Judiciário paraense. Os fatos são
os de ontem, as testemunhas ainda estão vivas e alguns dêsses
dignos juizes permanecem em exercício.
Veio a Revolução de 30, bendita revolução, que inscre-
veu, como primeiro ítem do seu programa, essa bela palavra
— Justiça. Getulio Vargas à frente; todos os seus auxiliares re-
volucionários irmanados no mesmo ideal, edificando-nos com o
primeiro ato de após a vitória: manteve em vigor a Constituição
Federal, suspensa, apenas, naqueles dispositivos que entravam
o trabalho reconstrutor da vitória. Nenhuma vingança pessoal foi
permitida; e os acusados compareciam perante os tribunais de
exceção com todas as garantias de defesa.
Os próprios Interventores tiveram o seu Código, não obs-
tante os poderes discrecionários de que estavam investi possível.
Um tato, entretanto, deve registrar-se, desde já, dos, e as garan-
tias da magistratura voltaram logo que foi é que os minguados
vencimentos da magistratura paraense foram consideravelmente
melhorados. Arrebenta em São Paulo uma revolução pró-Consti-
tucionalização do país. Divide-se a opinião pública: uns opondo-
-se, por considerá-la prematura; outros batendo-se por esse ide-
al. Dominada, porém, a revolta paulista, convoca-se o eleitorado
com um Código definindo as atribuições de uma justiça eleitoral;
e fere-se o pleito e reune-se a Constituinte; e se trabalho e o País
em 34 recebe a 3.ª Constituição Republicana, diploma eclético,
é verdade, porque vários crédos políticos se fizeram sentir.
Nela o Poder Judiciário é, porém, contemplado sob ou-
tros moldes, considerado coordenador com outros poderes, e
não em harmonia com êstes como dizia a Constituição de 69.

Raul da Costa Braga 99


mas todos independentes entre si, conservando a magistratura
as suas garantias e prerrogativas de modo que, o merecimento
do juiz sobrepujava a antiguidade e estabelecendo a investidura
nos primeiros gráus mediante concurso para melhor avaliação da
capacidade intelectual do candidato, além de outras providên-
cias apreciáveis e acertadas.
Com o golpe de 10 de novembro foram mantidas também
tôdas essas garantias em a nova Constituição como indispen-
sáveis a um bom funcionamento da Justiça, mas unificando a
magistratura da 1.ª Instância com a supressão dos juízes seccio-
nais mantendo, entretanto, um Tribunal Federal de recursos — o
Egrégio Supremo tribunal federal.
O que tem sido a magistratura brasileira nêste novo regi-
me politico abstendo-me de referir, porque estão na consciência
de todos, o apreço e o carinho que ela vem merecendo do Poder
Federal e dos governos estaduais em geral. Como prova desse
fato tenho a referir o caso, inédito no Brasil, duma Conferência
de Desembargadores, convocada no ano próximo passado na
Capital do Pais para estudo das novas leis em vigor e confrater-
nização da classe de magistrados brasileiros.8
Consequência dessa unificação da magistratura são os có-
digos modernos do Processo Civil e Processo Penal e o Código
Penal, todos moldados em principios científicos adiantados e nos
quais muitos se exige da experiência, cultura, atividade e dedica-
ção dos magistrados.
Vou terminar, meus senhores, pedindo desculpas da fa-
diga que vos impus; e não quero fazê-lo, sem assegurar que o
Tribunal de Apelação do Estado de Pará se manifesta gratíssimo

8 Conferência de Desembargadores no Rio realizada de 19 a 25 de julho de


1943. Representantes do Tribunal do Pará os excelentíssimos desembarga-
dores Augusto Rangel de Borborema e Eládio da Cruz Lima que ombrearam
em brilhantismo como os renomados valores dentre êles: José Duarte, Nelson
Hungria, Nogueira Itagiba, Seabra Fagundes, Vicente Piragibe, Florencio de
Abreu, em téses e discussões destas.

100 A História do Tribunal de Justiça do Pará


à S. Excia. o senhor Coronel Interventor Federal9, por todas as
atenções que lhe tem sido dispensadas, do que são patentes
provas, as novas instalações que aqui se e a continuação duma
biblioteca atualizada.
Em discurso recente pronunciado nêste recinto em visita
de cordialidade com que honrou esta Côrte, S. Excia teve a opor-
tunidade de, recordando um fato de sua agitada e brilhante vida
pública, afirmar que se tornára revolucionário por causa duma
injustiça que presenciára. Os atos de S. Excia. estão realmente
impregnados dêsse espírito de justiça a que me venho referindo.
Todos os habitantes desta terra sabem que S. Excia. quando se
convence de que um ato seu é injusto não hesita de nobremente
reconsiderá-lo. têsse exemplo de serenidade e superioridade de
vistas — que o torna admirado e querido por todos nós. Que
Deus sempre o inspire a continuar assim, apaixonado cultor da
Justiça para maior realce de sua administração. Disse.”

Palavras Que Ficam

Quando, em 1934, voltou à interventoria do Pará o exmo.


sr. coronel Magalhães Barata, o Egrégio Tribunal de Justiça se fez
representar em seu desembarque. Ao ato da posse de S. Excia. e
Tribunal também compareceu incorporado. Em agradecimento o
sr. coronel Magalhães Barata visitou o Tribunal que o recebeu em
sessão plena, tendo sido saudado pelo desembargador Buarque
de Lima, seu Presidente. Respondeu S. Excia. em vibrante e elo-
quente discurso, do qual extraímos os seguintes trechos:
“Senhores desembargadores: Antes de penetrar nês-
te recinto indaguei de mim para mim, no silêncio do
meu pensamento, se eu poderia fazê-lo de consciên-
cia inteiramente tranquila, se por êste ou por aquêle
motivo, quando governo há sete anos passados, um
ato meu se pusera em atitude hostil ou desrespeitosa
9 Joaquim Cardoso de Magalhães Barata.

Raul da Costa Braga 101


à Justiça de minha terra. Fiquei satisfeito com a res-
posta de minha consciência, na certeza de que, com
assento na verdade, juiz algum me acusará de ter in-
terferido, direta ou indiretamente, em seu oficio, em
suas atribuições, durante todo tempo em que governei
o meu Estado. Senhores desembargadores: Foi a dôr
de uma injustiça que me transformou num rebelado
contra as autoridades de meu país. Os revolucionários
de 22 e 24 constituíram-se em dois grupos: um, o dos
injustiçados; outro, o dos revoltados contra tais injus-
tiças. Pertenci ao primeiro grupo, sentindo a revolta, a
indignação dos segundos. Como, pois, desrespeitar a
Justiça?
Como pois, tentar influir, ainda que de longe, em suas
decisões? Não: ao contrário; brasileiro e paraense
sempre sonhei para meu país, para meu Estado, uma
Justiça realmente justa, impondo-se tanto ao cidadão,
mais simples como à inteligência mais culta; uma jus-
tiça sumamente dignificada, em que até a pompa exte-
rior fôsse mantida em alto gráu, porque indispensável
ao seu maior prestígio; vestindo de majestade a fôrça
íntima de suas decisões, fazendo parte de sua existên-
cia, dando-lhe mais vida, enfim, como sucede à igreja
católica que desde a sua fundação deve muitíssimo
da influência que exerce sôbre o espírito das massas
a pompa exterior de que reveste os seus atos, as suas
cerimônias. Não! eu nunca desrespeitei a Justiça, eu
nunca lhe neguei o merecido apoio.
O Poder Judiciário, mesmo pelo fato de ser um po-
der constitucional, sempre teve o meu acatamento de
chefe de Estado. Nem deveria ser de outra forma, pois
só marchando a par e passo, harmônicos e indepen-
dentes entre si, o Poder Judiciário e o Poder Executivo
realizarão a missão que lhes cabe no interêsse comum

102 A História do Tribunal de Justiça do Pará


do bem público. Dêsse respeito recíproco de atribui-
ções nascerá a sonhada harmonia e desta harmonia,
a cooperação imprescindível tanto a um como a outro
poder. Eu nada mais solicito, senhores desembargado-
res, do que essa cooperação e nada mais lhe ofereço
do que ela mesma, limitada pelas minhas atribuições
para maior grandeza do Estado. De minha parte eu a
prometo sincera e lealmente. E como estou vendo pela
numerosa assistência que nos escuta, muitos outros
magistrados e serventuários da Justiça, quero deixa
aqui, por julgá-la oportuna, esta solene declaração “Se
alguém (seja êsse alguém quem fôr) levar qualquer de
vós, em meu nome, um pedido, uma sugestão, enfim,
a mais leve insinuação, podeis repelí-la, porque será
falsa e ardilosa.”

(Da “Revista do Tribunal, de 1949).

Raul da Costa Braga 103


Des. AUGUSTO RANGEL DE BORBOREMA

104 A História do Tribunal de Justiça do Pará


General JOAQUIM DE MAGALHÃES CARDOSO BARATA

Raul da Costa Braga 105


Recíproca Simpatia
Nas Relações Entre Executivo E Judiciário

HOMENAGEADOS OS DESEMBARGADORES PELO GOVERNA-


DOR DO ESTADO — ASSUNÇÃO: O PREJUIZO DO DESACATO
A UMA SENTENÇA, AINDA QUE INJUSTA, É MAIOR DO QUE
DO SEU DESACERTO — ANTONINO MELO PELO CULTO DA
LIBERDADE APROXIMOU-SE QUICA, V. EXCIA. DOS SACERDO-
TES DO DIREITO

Pelo general de Exército Alexandre Zacarias de Assunção,


governador do Estado, foram homenageados com um almoço, no
“Grande Hotel”, às 13 horas, os membros do Poder Judiciário,
tendo como convidados o dr. Severino Duarte, chefe do Gabinete
Governamental, e os jornalistas credenciados junto ao Gabinete
do Governador.
O almoço contou com a presença dos seguintes magistra-
dos: desembargadores Antonino Melo e Arnaldo Lobo, respecti-
vamente, presidente do Tribunal de Justiça do Estado e do Tri-
bunal Regional Eleitoral, Augusto Borborema, Raul Braga, Inácio
Sousa Moita, Licurgo Santiago e Alvaro Pantoja.
Esteve presente ainda o dr. Osvaldo Freire de Sousa, pro-
curador geral interino do Estado, enquanto deixou de comparecer
o desembargador Sadí Montenegro Duarte, que atualmente se
acha ausente da capital, em gozo de licença.

“JAMAIS PRETENDI GOVERNAR SÓ”


A sobremesa, às 14 horas, levantou-se o governador Za-
carias de Assunção, que ofereceu aquela significativa homena-
gem aos ilustres membros do Poder Judiciário, pronunciando o
seguinte discurso:

106 A História do Tribunal de Justiça do Pará


“Este é o último dos cordiais encontros de Ano Novo, que
promovi entre os principais responsáveis pelo Governo Paraense.
Desde 1951 cabem-me as honras e dificuldades de che-
fiar o Poder Executivo, funções que se aproximam de seu termo,
em princípio de 1956. Pareceu-me, assim, oportuno reunir os
representantes dos demais Poderes e meus auxiliares imediatos
para testemunhar-lhes apreço pelo esforço dispendido e agrade-
cer-lhes a colaboração que me dispensaram.
Pela índole do regime democrático, à qual sou e serei
fiel, por dever e por temperamento, jamais pretendi governar só.
Sempre respeitei a independência e harmonia dos poderes cons-
titucionais, e também, a personalidade e iniciativa dos próximos
elementos subordinados ao Executivo.
Pela justiça, particularmente, habituei-me a cultivar uma
deferência inviolável. As suas características de órgão — inerme,
equidistante, refletido, minuciosa e solene — exigem de todos
nós consideração especial se desejamos com sinceridade unifi-
car o nosso país. De minha parte, assim o entendo e tenho pro-
curado demonstrá-lo, dia a dia, nêste quatriênio de Govêrno. Fiz
o que pude pela melhoria de sua instalação, pela remuneração
condizente aos seus titulares e, sobretudo, pela segurança do
acatamento a suas decisões. Nunca provoquei e nunca aplau-
di a menor rebelia, o mais leve acinte a qualquer de seus atos
ou representantes. Dessa linha não me desviarei. Uma sentença
embora injusta, deve prevalecer enquanto não modificado pelo
recurso legal. O prejuizo do seu desacato é maior do que do seu
desacerto.
Da parte de V. Excias. no Tribunal, no Ministério Público,
na Consultoria, tenho recebido e espero receber um poderoso
estímulo na dura tarefa do meu cargo. Estímulo que não des-
conheço nem mesmo quando decido contra o Poder Executivo.
Desde que ressalvam a boa fé do ato judicialmente corrigido, tal
correção não me deixa sombra da menor mágua. Jamais tive

Raul da Costa Braga 107


feitio para a Ditadura. O meu Governo não é perfeito, mas é ho-
nesto nas intenções, nas palavras e nas atitudes. Com a minha
ordem ou o meu apôio, na Capital ou na mais remota Comarca
do interior um Juiz nunca será desrespeitado ou coagido, e é
porque posso dizer isso a Vv. Excias. que me sinto tranquilo e
feliz nessa homenagem. Recebam o meu cordial agradecimento,
formulando votos de bem estar a cada qual e brindando confian-
ça que o povo paraense deposita em sua Justiça”.

FALA O PRESIDENTE DO TRE

Agradecendo a homenagem prestada pelo Executivo ao


Judiciário, falou o desembargador Antonino Melo, presidente do
Tribunal de Justiça, pronunciando o seguinte discurso: “Exmo. Sr.
General Zacarias de Assunção, eminente Governador do Estado.
Tenho a honra de, pelos meus amados colegas do Tribunal
de Justiça e por mim, pessoalmente, agradecer as amáveis pala-
vras com que V. Excia, vem de nos ofertar êste agradável ágape.
Esta demonstração de particular cordialidade vem coroar
as inúmeras provas dadas por V. Excia, do apreço que, do seu
aureolar Governo, sempre mereceu o Poder Judiciário, vinculan-
do-nos à pessoa de V. Excia., por uma amizade que nos será
grato conservar.
Nós, magistrados da mais alta Corte Judiciária do Estado,
nos rejubilamos com esta manifestação de estima com que V.
Excia. retribui a justa admiração que lhe votamos, assistindo ao
desenrolar do fecundo programa da sua administração prestes a
encerrar seu ciclo de admirávels realidades, culminandas na prá-
tica da liberdade democrática que, entre as nações jovens, como
a nossa, tomam aparentemente, a feição da anarquia. Lembre-
mo-nos, porém, desta observação do grande jurista e sociólogo
francês Jean Cruet — Beau coup d’anarchie c’est le désordre,
mais um peu d’anarchie c’est le progrès.

108 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Se o direito está no seu máximo, quando o constrangi-
mento está no seu mínimo, como dissera Fouillée, concluamos
com Alfred Vingny: Vous m’appelez la loi, je suis la liberté.
Pelo culto da liberdade aproximou-se, quiça, V. Excia. dos
sacerdotes do direito e dai a recíproca simpatia que, ao primeiro
contacto com a sua administração, inspirou as relações dos Po-
deres Executivo e Judiciário.
O Governo da República vem de promover V. Excia. ao
mais alto posto do glorioso Exército Brasileiro. Tem, as sim, V.
Excia., honra de sua nobre classe, o justo galardão dos seus re-
conhecidos méritos. Nenhuma ocasião, pois, seria mais propicia
às congratulações com que patenteamos o mais elevado apreço
em que temos a pessoa de V. Excia., louvando a distinção de
que vem de ser alvo, do que esta, em que a inata amabilidade
de V. Excia. nos reuniu nêste almoço de expressiva cordialidade.
Receba, assim, a nossa gloriosa homenagem, que, si se ressente
da falta de brilho na simplicidade destas palavras, contém os
veementes votos que todos nós, os obsequiados neste agape,
fazemos pela felicidade pública e privada de V. Excia

“GOVERNO QUE DA SEGURANÇA AO REGIME”


A seguir, desculpando-se por achar que estava quebrando
o protocolo de praxe, pronunciando rápidas palavras, o desem-
bargador Arnaldo Lobo, presidente do Tribunal Regional Eleito-
ral, disse reconhecer o entrelaçamento recíproco da harmonia
que une o Executivo ao Judiciário, formulando votos ao governo
do general Zacarias de Assunção. Prosseguindo, adiantou que os
desembargadores recebiam aquela homenagem com grande sa-
tisfação, muito satisfeitos em tomar contacto com as palavras do
governador Zacarias de Assunção, quando ressaltou que jamais
também fôra propenso ao regime ditatorial. Lembrou que o ge-
neral Assunção estava realizando um govêrno que dá segurança
ao atual regime constitucional, registrando finalmente seus votos

Raul da Costa Braga 109


pela continuidade do ambiente democrático em que vivemos, no
Estado. No final, levantou um brinde em honra ao governador
Zacarias de Assunção.

Honrosa Homenagem

(DO PODER LEGISLATIVO AO JUDICIARIO)


“No momento em que, pela terceira vez na República,
Os representantes do Povo Paraense se reunem em Assembléia
Constituinte, para promulgar a Lei Básica dêste Estado, impõe-
-se aos Delegados dêsse Povo em nome do qual os poderes cons-
titucionais são exercidos, congratular-se com os demais órgãos
que integram a essência do regime democrático restaurado pela
Constituição Brasileira de 18 de setembro de 1946.
Assim é que, a Assembléia Legislativa dêste Estado, por
meio desta MOÇÃO DE CONGRATULAÇÕES, pelo fato histórico
de sua instalação como Constituinte, saúda o povo do Pará na
pessoa do governador eleito, major Luiz Geolás de Moura Carva-
lho, como órgão que é do Poder Executivo e nas dos magistrados
que compõem o Egrégio Tribunal de Justiça, como órgão máximo
do Poder Judiciário Paraense fazendo votos para que, mantidas
inalteráveis entre êles à harmonia e a independência estatui-
da por preceitos constitucionais possam, os três poderes, sob
a proteção de Deus, trabalhar eficientemente pela garantia dos
princípios de Liberdade e de Justiça que constituem a base da
verdadeira Democracia, único regime capaz de salvar os povos,
notadamente o brasileiro, da ruina que lhes oferecem os siste-
mas totalitários.
(a.a.) Aldebaro Cavaleiro de Macédo Klautau - Abel Nunes
de Figueiredo - Joaquim Serrão de Castro - Licurgo de
Freitas Peixoto Juvencio de Figueiredo Dias José Ma-
ria Lins de Vasconcelos Chaves Mario Midosi Chermont
Prisco dos Santos - José Rodrigues Viana Celso Malcher

110 A História do Tribunal de Justiça do Pará


- Silvio Meira Valdir Bouhid Alberto Engelhard Joaquim
Lobão da Silveira Santana Marques Valdemir Alves San-
tana - Célio Dacier Lobato - Enéas Lalor Barbosa João Ca-
margo João de Paiva Menezes - Balduino Athaide Lauro
dos Santos Melo Antonio Carlos de Saboia Pedro Nunes
Rodrigues Antonio Gueiros - Padre Cupertino Contente.
Belém, 10 de março de 1947.

Perfil De Magistrado
(DA REVISTA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE 1949)
(RAUL BRAGA)
Ando à cata de biografias dos homens que ilustraram e
envaideceram a Justiça Paraense no Tribunal de Justiça como
lídimos sacerdotes venerandos.
Aquilo que meus olhos têm em vista através das notas de
família e em audição de seus próprios descendentes, é de encher
o mundo de sentimentos que vão da alegria enternecida a mais
cruciante emoção d’alma.
Tenho-lhes encontrado solteiras filhas envelhecidas, so-
frendo agruras na grandeza de um estoicismo absoluto, na con-
formada linha de recato que uma pobreza envergonhada Ihes dá.
Vivem sofrendo e calando aquilo que seus pais jamais
pensaram lhes viesse acontecer na vida, e nunca tiveram em
mãos julgadoras tamanhas páginas de lances tão tristes. É pre-
ciso irmos às barracas da Caripunas e Covões de São Braz para
encontrar êsses entes que a bonança esqueceu, porque vivem
em larga penúria como gente que o sofrimento pegou para nunca
mais largar.
É de confranger o coração mais duro.

Raul da Costa Braga 111


Como é que essas criaturas nascidas numa classe de élite
foram sendo arrastadas ao fim de vida tão amargo?
Que destino cruel ferreteia a memória e despresa a lem-
brança daquêles que na terra foram grandes, quando julgavam
seus concidadãos?
Porventura não espalharam a mancheias o benefício a to-
dos os que tinham fome e sêde de justiça?
Não verberaram o mal, não desagravaram o justo nêsse
mar revôlto das paixões humanas?
É bem por isso mesmo que seus descendentes padecem.
Parece o dito um inegável dislate, mas não é. Tivesse o
magistrado negado a missão profanando a toga e outra situação
lhe aguardaria aos filhos.
Ninguém avalia o quanto de fortaleza de ânimo e espírito
assenta na consciência do magistrado como dom que somente
os eleitos possuem e que passa despercebido aos falhos em al-
cance da justeza do mérito. Daí, o desejo simplório para que o
magistrado seja tudo, menos o homem réto que julgue em cons-
ciência pura e apegado respeito a si mesmo, à Pátria e a Deus.
A maré dos interêsses de ocasião turbilhonantes não deixa
de vasar e encher.
Quem vai ser juiz assenta voto de resignação e pobreza na
ordem de São Francisco de Assis.
A penúria ronda-lhe a porta na velhice; e se não a inva-
de em vida de apostolado, rompe-lhe os gonzos para quebrar o
sacrário do lar que êle deixara intangido aos descendentes, no
desbarato das mais caras relíquias.
Tudo vai de roldão, a começar pelos trastes da casa nas
mãos dos leiloeiros.

112 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Cordial palestra dos desembargadores homenageados pelo
Governador Assunção, após o almoço de congraçamento entre os
poderes do Estado do Pará

Aspecto do almoço, vendo-se os desembargadores que no mesmo


tomaram parte

Raul da Costa Braga 113


Em cada investida, um adorno da família, um carafeu de
ancestral, um velho brinco de orelha lá se vai. Algum dia a casa
desguarnecida e o fogo quase morto ficará casa de ninguém.
Restam sombras trêmulas de pessoas que só a morte
esperam.
É de magoar o coração mais duro.
A realidade da vida é tremenda. Nenhum magistrado
guarda ilusões desses acontecimentos porque em resto de vida a
aposentadoria forçada reflete o fato de alguém que caiu ao mar
como pêso morto que só o mar esconde.
É assim. Foi assim. Será sempre assim.
Vivemos numa grandeza que não chega à unidade por-
que no dia seguinte, quando surge o imprevisto nos encontra
como soldado que desguarnecido dormiu no pôsto sem arma de
defesa.
O remédio é ficar no sofrimento e mostrar aos outros que
se está feliz.
É a única vez em que andamos mentindo.
Vamos perlustrando, em silêncio, um estado de conforma-
ção que a carreira nos galardoa.
Arrebanhados por designios secretos, mais divinos à sa-
grada missão, os magistrados aceitam a corôa do sacrifício com
a mesma firmeza e docilidade com que Jesus aceitou a corôa de
espinhos das legiões de Pilatos.
Não só de pão vive o homem...

***
NOTA — Na carta de bacharel do velho desembargador Accioly Lins,
o maior praxista de seu tempo e que se defrontava intemerato

114 A História do Tribunal de Justiça do Pará


com o grande Barradas, encontrei na tampa da caixa de sinete
em placa de ouro:
“Ao meu prezado Pai e à minha carinhosa Mãe, em testemunho
de respeito e gratidão.”
No lado interno, aquêle de mais evidente recato:
“A minha futura consorte, tributo do mais puro acrisolado
amor.”
Agora vejo a razão por que sua viúva, em olhos baços e mãos
trêmulas acariciava, em lágrimas, a carta de gráu de seu
marido.
É que ela sustinha na primeira vaidade de moça e na última
certeza de ancia, a prova santamente viva de um amor verda-
deiro que só a morte acabou.

O Tribunal da Relação nos Festejos da Abolição

Esses solenes festejos comemorativos pela queda do cati-


veiro no Brasil, tiveram lugar em Belém do Pará aos 15 de maio
de 1888.
As 10 horas da manhã realizou-se a sessão solene promo-
vida pela Liga Redentora, cujo presidente era o dr. Assis (1) no
salão nobre da Câmara Municipal, onde em frente estava posta-
da uma guarda de honra.
Tomaram assento na mesa, o presidente da Liga Reden-
tora, dr. Tito Franco, o Governador do Bispado, Cônego Muniz,
o Presidente da Assembléia Provincial, o Senador Siqueira Men-
des, presidente da Câmara.
Oraram o dr. Justo Leite Chermont, o cônego Dr. Macedo
Costa, em nome do clero, e o dr. José Agostinho, pelo Centro
Abolicionista da Côrte.
Em meio à sessão, os srs. desembargadores Pessoa de
Lacerda, Paes de Andrade, Morato, Madureira e Gomensoro, tra-
jando suas becas, fizeram sua entrada no salão. Foi imponente
essa entrada. A Justiça, mais uma vez, enfilierava-se às glórias

Raul da Costa Braga 115


do País, aplaudindo uníssona, tão alviçareiro evento. Tudo vibrou
de contentamento nessa festividade magnífica.
— Glória a Isabel Redentora.
— Glória ao Império Brasileiro.
— Glória a Deus nas Alturas.
JOAQUIM JOSÉ DE ASSIS, Chefe liberal.

As Revistas do Tribunal de Justiça

A primeira revista de Jurisprudência do nosso Egrégio Tri-


bunal, é do ano de 1891, a quando do governo e do incentivo do
dr. Lauro Sodré, publicação que perdurou até 1897, sob o nome:
“Julgados do Tribunal do Pará”.
Do ano de 1898, em diante passou a nossa jurisprudên-
cia a constar de publicação no “Diário Oficial” do Estado. So-
mente em 1917, pelo esforço do provecto juiz de Direito em
disponibilidade, Morisson de Faria, sob incentivo ainda de Lauro
Sodré, novamente no governo do Estado, é que surgiu a revista
“A Justiça”, tendo por objeto doutrina, Jurisprudência e legisla-
ção de que saíram alguns números.
Estancada a publicação da “Justiça”, sòmente em 1920 é
que começou a se editar a Revista do Tribunal Superior de Justi-
ça (único número), a “Revista do Tribunal de Apelação” (como II
volume), em 39, o III em 44; IV em 48 e o V em 51; revista cujo
nome passou ao de “Jurisprudência do Tribunal de Justiça” com
o 1.º volume em 1952, e o 2.º em 1953.

Tempos Negros

Depois do ciclo áureo da borracha, quando os ordena- dos


do funcionalismo público eram satisfeitos ao câmbio de esterli-
nos, o reverso da medalha pelos tempos negros espocou.

116 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Então, tudo decaiu e quase todos sofreram na queda.
Foi um nunca acabar nas desesperanças, necessidades e
agonias...
De 1911 em diante e foi mais de um decênio o calote
oficial generalizou-se sem parada nem remédio. Os governos fi-
caram num círculo estreito de reconhecida potência. O Tesouro
Público esvaido, ia esvaindo todos aqueles que lhe mendigavam
uma insignificante prestação que beirava ao ridículo do ordenado
ganho por trabalhos já prestados e esquecidos.
O regime dos “vales” que nada mitigavam, porque conce-
didos à custa de humilhações sem conta, desvalorizou-se por si
mesmo. Daí, o deprimente expediente de um cerbéro à porta da
repartição, outróra pagadora, chamada Tesouro do Estado, guar-
dião de tal estôfo que o próprio inferno havia enjeitado. Enquan-
to isso houve autoridade do Estado que com charuto Havana à
bôca, desculpava-se:
— Belém é a terra das mangueiras, cujos frutos não dei-
xam que se morra à fome. Houve representante do Tesouro, que
envergando fatos de linho H.J. ia quotidianamente à Recebedo-
ria de Rendas do Estado à colheita da arrecadação, num raspão
de cuteleiro, de todo numerário que ali ia pingando. Contava-se
com o impôsto causa-mortis dos agonizantes ricos. Houve gavião
de penacho que se “refastelou” com a angústia de necessitadas
pedintes. Os lupanares da Padre Prudêncio alarmaram-se com
a sucursal de alto coturno dos comensais da Praça do Palácio.
Dentre outras, houve, porém, uma classe que se não ven-
ceu, nem se vilipendiou: aquelas envergonhadas esposas dos
magistrados, porque, pobres sempre tinham sido e pobres con-
tinuaram a ser. Elas, esposas fidedignas, tinham feito com os
maridos o itinerário dos desambicionados, dos conformados, dos
resignados da sorte.

Raul da Costa Braga 117


No pranto sufocado que vertiam no lar, estava consubs-
tanciada a primeira lágrima que lhes pingara dos olhos, à primei-
ra desventura.
É que os degráus da escada das necessidades não têm
a sensação do último degráu descido, porque, são os mesmos,
todos êles, e trazem o destino da perpetuidade. De uma delas,
beneficiária do montepio deixado pelo marido, a fome The atra-
vessou os batentes de casa, forçando-a a enviar um bilhete tra-
çado a lapis à outra esposa de magistrado vivo, com o seguinte:
“Minha amiga: Manda-me qualquer coisa para meus fi-
lhos, porque hoje em casa só me resta a água do pote.”
Foi tal estado de coisas que o governador Dionísio Bentos
em gesto de humanidade e dignidade da função acabou, situa-
ção que a Revolução de 30 continuou, salvo a exceção passa-
geira de um govêrno, situação que, graças a Deus, até hoje em
dia perdura.
Felizmente, daquela éra maldita tudo passou e o povo
esqueceu...

A Majestade Dos Juramentos

Damos a seguir o juramento prestado pelo desembargador


Procurador da Corôa, Gastão Belleza:
“Ao 1.º dia do mês de fevereiro do Ano do Nascimen-
to de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil oitocentos e
oitenta e sete, nesta cidade de Belém, casa do Tri-
bunal da Relação, deferiu o Sr. Presidente do mesmo
Tribunal ao sr. desembargador Procurador da Corôa,
Fazenda e Soberania Nacional interino Gastão Ferreira
de Gouvêa Belleza, o juramento dos Santos Evange-
lhos, em o livro dêles em que pôs a sua mão direita em
teôr e devida forma e sob o cargo do qual encarregou
que com boa e sã consciência exercesse as funções do

118 A História do Tribunal de Justiça do Pará


cargo para o qual fora nomeado, desempenhando as
obrigações que por lei lhe são impostas.”
E recebendo êle o dito juramento, assim o prometeu
cumprir do que para constar faço éste têrmo. Eu, Se-
cretário Augusto Egydio de Castro Jesus, o subscrevi.
(a.) José Quintino de Castro Leão.
(a.) Gastão Ferreira de Gouvêa Pimentel Belleza.”

Os juramentos dos tempos antigos bem dizem da respon-


sabilidade em ato solene de quem os prestava e daquêle que os
recebia.
A par da dignidade das duas pessoas em palavras expres-
sivas e modelares de uma conduta expungida de senti- mentos
encobertos, ali estava presente, a palavra do Divino Mestre, que
a tudo preside no fortalecimento das convicções sem mácula.
O tempo moderno que tudo modificou, transformou e in-
felizmente abastardou todos os desígnios na palavra expressa
travestem-na de mentira vã e deslavada. O juramento é prestado
com a flexão de um simples verbo: Prometo — que tem a dura-
bilidade de sua fonação, mesmo porque as promessas de hoje,
constituem expressão maleável em sua sinceridade.

A Magistratura No Brasil Colônia

No Brasil colônia preexistente à chegada de D. João VI, as


terras brasileiras, existia como órgão colegial ordinário em 1609,
a Relação da Bahia.
Aos seus membros o Alvará de 22 de novembro de 1610,
impôs não poderem casar no Brasil.
Era, certamente, o receio afrontoso da “mistura” de tão
nobres titulares da justiça com a classe das gentes da terra.

Raul da Costa Braga 119


Assim, nêsse mesmo sentido, da Casa da Suplicação do Brasil,
criada por D. João VI, o Corregedor deveria ser homem fidalgo,
de limpo sangue, sã consciência, prudente, de muita autoridade
e letrado.

O Decreto da Revolução de Pernambuco de 1817

O Governo Provisório da República baixou a respeito da


composição da Justiça, entre outros dispositivos, os seguintes:
“A administração da Justiça na 1.ª entrância fica a car-
go de dois juizes ordinários que serão eleitos em cada
cidade e vila pelo Povo de seu distrito.
A um dêles pertencerá o expediente do crime e da polí-
cia; do outro o das contendas cíveis e bom regime dos
órfãos e enjeitados.
Não terão salário algum do público, nem coisa alguma
das partes pelo desempenho de suas funções, conten-
tando-se com o respeito que lhes resulta do exercício
dos seus cargos.
Dêles se agravará e apelará em direitura para o Colégio
da Justiça.
São extintos os Ouvidores e Corregedores das Comarcas.
Cria-se na Capital do Govêrno um colégio Supremo de
Justiça para decidir em última instância, as causas
cíveis e criminais.
Será composto o dito Colégio de 5 membros litera-
tos, de bons costumes, prudentes e zelosos do bem
público.
Serão pagos os membros do Colégio pelo Erário, sen-
do-lhes vedado receber salários algum, assinaturas ou
prós das partes que perante êles requererem, a fim de
evitar as concessões.

120 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Os magistrados uma vez empregados, não poderão
mais ser removidos senão por sentença em pena de
suas prevaricações.
(Sebastião Galvão, Dicionário Pernambucano)”.

Relatório Paes de Carvalho ao deixar o


Governo em 1901

“Sinto-me feliz de poder, no fim de meu governo, con-


firmar o conceito que por vêzes tenho espendido a respeito da
magistratura. O Tribunal Superior especialmente, por sua inde-
pendência e correção, é verdadeiramente o paládio de todos os
direitos. Juizes há em seu seio que em qualquer parte dariam
honra ao Tribunal a que pertencessem.
A organização que desde a mudança do novo regime, deu-
-se à magistratura, até agora mantida, afastando-a inteiramente
de intervir nas questões políticas, permite-lhe dedicar-se, livre de
apreciações apaixonadas à sua sagrada missão. De bom conse-
lho é todavia de cogitar nos meios de impedir que a magistratura
desça dêsse plano elevado porque a justiça sendo uma garantia
para todos, muito importa que ela atinja ao maior grau de per-
feição possível.
É condição indispensável em tôda parte para que haja boa
administração da Justiça que ela seja servida por juizes ilustra-
dos e probos. Mas é comum entre nós, que aqueles que pode-
riam dedicar-se à magistratura, distinguindo-se por suas habili-
tações comprovadas, mesmo quando para ela tenham natural
pendor, evitam-na e vão procurar na advocacia e em outras pro-
fissões vantagens mais compensadoras do que aquela lhes pode
oferecer. Si, pois, os competentes lhes fogem é natural que seja
frequentada pelos menos hábeis e pelos que se acham impoten-
tes para a luta em carreiras em que a habilitação é condição de
êxito.

Raul da Costa Braga 121


O remédio para acudir a êste mal, que em pouco se fará
irremissivelmente sentir, está a impor-se e outro não pode ser
que dotar a magistratura de vantagens que a tornam ambiciona-
da por quem possa honrá-la. Tais vantagens se reduzem a tor-
nar o magistrado verdadeira e perfeitamente independente, não
somente pela vitaliciedade e inamovibilidade que já tem e não
basta, com incentivo em uma carreira tão cheia de sacrifícios,
mas lhe dando também proventos que lhe permitam viver de
modo compatível com a sua posição social e, embora com rigo-
rosa economia, curar sua posição social e, embora com rigorosa
economia, cuidar da educação dos filhos e garantir o futuro da
família; dar, enfim, independência material ao juiz, sem a qual,
a outra é incompleta e por isso mesmo improficua.
Sou do número dos que pensam que é um dever prestigiar
a magistratura, cercando-a da veneração e dando-lhe todos os
meios de poder cumprir desassombradamente os seus sagrados
deveres. Vai nisso o interêsse da própria sociedade para quem
são inapreciáveis os benefícios que tem a colher, confiando a
juizes ilustrados e provectos a dificílima tarefa da guarda de seus
direitos?”
O insigne governador Paes de Carvalho naquêle ano de
1901 a quando deixava a administração do Estado do Pará
como que falou no deserto.
Décadas escoaram ininterruptas sem que a magistratura
entrasse naquêle regime de acalmia econômica preconizado pelo
estadista paraense. O magistrado na raridade de alguns Estados
brasileiros, ainda continua aquêle trabalhador de parcos salários
que o retém à vida irremissível de exemplar pobreza. Tem vivido
com proventos quase de fome. Quando se fala em aumento dês-
tes proventos, embora parcos e a mêdo de maior pedir, torna-se
o bode expiatório da maldade humana.

122 A História do Tribunal de Justiça do Pará


O quadro abaixo é sobremodo expressivo:
Quadro dos Vencimentos Mensais dos Desembargadores
ANO IMPORTANCIA
1892.............................. 833$000
1900.............................. 500$000 (ouro)
1911.............................. 430$000 (papel)
1911.............................. 1.000$000
1914.............................. 1.620$000
1924.............................. 3.420$000 10
1930.............................. 1.600$000 11
1941.............................. 3.000$000 Gov. Malcher
1944.............................. 4.000$000 “ Barata
1946.............................. 5.000$000 “Otávio Meira
1949.............................. Cr$ 6.750,00 “ Moura Carvalho
1951.............................. Cr$ 9.000,00 12 Gov. Assunção
1955.............................. Cr$ 12.000,00 Gov. Assunção
1956..............................
1957.............................. Cr$14.666,00 “ Barata
1958.............................. Cr$ 18.800,00 “ Abel Figueiredo
1959.............................. Cr$ 28.000,00 “ Moura Carvalho
1960.............................. Cr$ 40.000,00 “ Moura Carvalho
1961.............................. Cr$ 60.000,00 “ Aurélio do Carmo
1962.............................. Cr$ 65.000,00 “ Aurélio do Carmo
1963.............................. Cr$ 140.000,00 “ Aurélio do Carmo

Dos governos bem se vêm os aumentos: Dr. José Malcher,


Cr$ 1.400,00; Magalhães Barata, Cr$ 1.000,00; Otávio Meira,
idem; Moura Carvalho, Cr$ 1.750,00; General Assunção,

10 Inclusive pró-labore 1.800$000


11 A revolução de 30 suprimiu o pró-labore.
12 Criado o adicional de 10 % em cada decênio de serviços prestados.

Raul da Costa Braga 123


Cr$5.250,00; Magalhães Barata, Cr$ 2.666,00; Moura
Carvalho, Cr$ 2.280,00; Aurélio do Carmo, Cr$ 25.000,00 e,
afinal, mais Cr$ 75.000,00.
Todos esses aumentos beiram a sovinice à exceção dos
dois últimos governos: Moura Carvalho e Aurélio do Carmo.
Méritos lhes sejam dados.13

AURÉLIO CORREA DO CARMO


Foi dos governadores aquê-
le que mais sentiu o estado de
quase penúria a que estava rele-
gada a magistratura do Estado,
frente à inflação de nossa moeda,
incapacitada do poder aquisitivo
de qualquer natureza necessária
à subsistência.
Daí, o benefício da Lei nº
2.809, de 21 de junho de 1963,
elevando os vencimentos mensais
dos desembargadores a cento e
quarenta mil cruzeiros, numa ele-
vada compreensão atualizada de
desafogo.

13 Aurélio Correa do Carmo.

124 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Livro de Ouro do Tribunal da Relação

No velho arquivo da Secretaria do Tribunal, que descura-


do andou desta repartição de onde jamais deveria ter saído para
a Biblioteca Pública, onde também encontrou o desapreço de
tal tesouro, de vez que fôra relegado ao rez do chão na poeira
dos estios e nas enxurradas das invernias, arquivo retornado há
pouco tempo por instâncias de alguém à casa antiga, já muita
coisa, aliás esfacelada e atas ilegíveis, ainda assim, restou salvo
ao desbarato pelo quietismo de fundo de estante o Livro de Ouro
da Relação.
É, com efeito, um Livro de Ouro, pela contextura externa
de sua capa em couro velho, nas letras douradas epigrafando
Tribunal da Relação, e no conteúdo nêle existente, os termos de
juramentos dos desembargadores.
Esse livro contém os termos de abertura e encerramento
lavrado do próprio punho pelo primeiro Presidente desembarga-
dor Ermano Rodrigues do Couto, que os datou e assinou, preci-
samente no dia da instalação da Relação paraense.
Como presidente nomeado por ato Imperial compromis-
sou-se o presidente, perante o desembargador João Caetano Lis-
boa, iniciando a série de juramentos por ocasião da posse ao
cargo de cada um deles.
Contém o livro os juramentos em ordem cronológica pres-
tados e pessoalmente assinados pelos desembargadores seguin-
tes: Ermano Rodrigues do Couto - Francisco de Assis Bezerra
de Menezes - Sebastião José da Silva Braga - Antonio de Souza
Mendes Junior Ignacio Carlos Freire de Carvalho Antonio Buar-
que de Lima - Filippe Raulino de Souza Uchôa - Antonio Augusto
da Silva - Domingos Ribeiro Folha Vicente Alves de Paula Pes-
soa Delfino Augusto Cavalcanti de Albuquerque - Manoel Jansen
Ferreira José Quintino de Castro Leão Francisco Urbano da Silva
Ribeiro Barão de Anadia Manoel Clementino Carneiro da Cunha

Raul da Costa Braga 125


Umbelino Moreira de Oliveira Lima João Ladislau Japi-Assú de
Figueiredo Melo - Gervasio Campelo Pires Ferreira João Rodri-
gues Chaves Salustiano Orlando d’Araujo Costa Pedro Antonio da
Costa Moreira Francisco Leite da Costa Belém Romualdo Souza
Paes d’Andrade José Coelho Bastos Mathias Antonio da Fonseca
Morato - Constantino José da Silva Braga -Gastão Ferreira de
Gouvêa Pimentel Belleza José Antonio Rodrigues - Joaquim de
Paula Pessoa de Lacerda José Segundino Lopes de Comensoro
Francisco Luiz Corrêa de Andrade Antonio da Trindade Antunes
Meira Henriques.
As fôlhas dêsse livro sem pauta encontram-se marginadas
a ouro na imponência de seu destino. Foi esse album primoro-
so que os céus não permitiram fôsse desbaratado às vistas dos
porvindouros, como primeiro livro autêntico da grandeza da ins-
tituição judiciária na alta Câmara de Justiça no Estado do Pará.
E êle aí está a demonstrar a magnitude de uma época de
que somos sucessores: claro, nítido, brilhante, sempre redivivo.

O Poder Judiciário

MENSAGEM Lauro Sodré, lida perante o Congresso Le-


gislativo ao tomar posse do Governo a 1 de fevereiro de 1917.
“Não me cansarei de clamar por que tenhamos a Justiça
integra e sã, fóra e acima da ação da política, livre da influên-
cia perturbadora dos outros poderes, quando as suas sentenças
devem ser a palavra que ensine o bom caminho aos que saem
do circulo traçado pelas leis escritas, dada a competência que
cabe aos que tem em mãos o poder de julgar, de dizer, si alguma
vez sairam de sua esfera de ação os que foram pela constituição
incumbidos de fazer a lei e de a executar.
Cabem aqui, repetidas, as minhas palavras escritas no
documento politico, que dei a público aos 9 de novembro do ano
passado:

126 A História do Tribunal de Justiça do Pará


“E o primeiro passo para conseguir esse desideratum, é
pôr a justiça acima de tudo, tendo sempre diante dos olhos a
sentença do conhecido publicista francês, ensinando que o juiz
submisso ao nuto dos poderosos, rebaixando a sua nobilissima
função e descendo do seu alto pedestal para se fazer o instru-
mento do poder executivo, é no seio da sociedade mais perigoso
do que a seta envenenada do selvagem ou o dente agudo da
víbora”.
E para que todos vejam como acertei ao dizer que a mi-
nha missão, chamado agora ao governo, era continuar a obra, a
que o meu nome ficou ligado anos atrás, devo apografar da mi-
nha mensagem de 1895 as opiniões que foram sempre o móvel
da minha conduta nêsse respeito com que cerquei o poder Judi-
ciário durante todo o tempo em que dirigi os destinos do Pará.
É desnecessário encarecer diante de vós a importância da
missão que cabe ao juiz, que deve ser um verdadeiro apóstolo
da lei, em quem encontrem garantia todos os direitos, a quem
possam pedir reparação todas as ofensas.
É conhecida a palavra de David Hume: “Todo o nosso sis-
tema politico e cada um de seus órgãos, o exército, a armada e
as duas Câmaras, isto tudo não é senão um meio para conseguir
um só e único fim, a conservação da liberdade dos doze grandes
juizes da Inglaterra”.
E o sr. René Goblet, deputado republicano, dizia na Fran-
ça: “A independência da magistratura é necessária, sobretudo
em um governo republicano: porque? Porque não há regime mais
forte, eu não direi mais tirânico, porém mais capaz de vir a sê-lo,
do que aquele em que uma maioria é senhora absoluta do po-
der... Pois bem! Contra os abusos possiveis de um tal poder, eu
digo que não há garantias para os direitos individuais, sinão na
força e na independência do poder judiciário”.
Assim o compreendeu a República brasileira; assim
compreenderam os legisladores constituintes do Estado, que

Raul da Costa Braga 127


cercaram de garantias o Juiz, que deram-lhe com a inamovibili-
dade e com a vitaliciedade, a independencia necessária para agir
na esfera da sua ação, colocado acima das paixões politicas e
dos arrastamentos populares.
Story formulou com acerto êste principio fundamental:
“Todo Governo onde não existe um Poder Judiciário investido de
atribuições iguais em extensão às do Poder Legislativo, é pouco
seguro, e pouco digno de um povo livre”.
Nós fomos pedir à República de Washington o segredo
da sua organização política. Nós fomos copiar da grande carta
americana essa disposição, que fez do Poder Judiciário um poder
politico independente, que deu ao Tribunal Superior de Justiça a
faculdade de defender a pureza constitucional contra as leis do
Congresso.
Como assertou Laboulaye: “A grande reforma feita na
América consiste em colocar entre a Constituição e a Legislação,
um poder, que diz ao legislador: A Constituição feita pelo povo é
tua lei como é minha. Nós não devemos violá-la, nem um, nem
outro”.

***

Em teoria é isso que se lê. Na prática, sem alusão ao


grande paraense, nem é sempre isso que se vê. A palavra demo-
cracia é uma jovem cheia de pedrarias finas, mas bastas vezes,
atirada por pedradas de granito.
Ressentido, Nogueira de Farias declarou público e bom
som: “o judiciário é um poder que não pode”.

128 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Revistas do Tribunal

1ª - “Julgados e Decisões” do Superior Tribunal de Justiça


- 1891.
2.ª - “A Justiça” (Morisson Faria) Diretor -1917.
3.ª - “Revista do Tribunal Superior de Justiça do Pará” (Modes-
to Costa) - 1929.
4.ª - ”Revista de Jurisp. e Administração” (Nogueira de Faria) -
1930, 2.º vol.
5.ª – “Revista da Côrte de Apelação do Pará” - 1937.
6.ª - “Revista do Tribunal de Apelação do Pará” - 1939 a
1944.
7.ª - Revista do Tribunal de Justiça do Estado do Pará” - 1949.
8.ª - “Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de Pará”
- 1952 e 1953.

Memória Histórica Sôbre


A Organização Da Justiça Do Pará

“Descoberto o Brasil em 1500 sob o Reinado de D. Ma-


noel, só no meado do século XVI, reinado de D. João 3.º foi
deliberada a sua colonização.
Sob o ponto de vista judiciário deve ser rememorada a
figura de Martin Afonso de Souza que veio em 1530. Fundou
algumas vilas com juizes ordinários, vereadores, almotacés, al-
caides pequenos, tabeliães e mais oficiais, tudo na forma dos
ordenados. Em 1534, D. João 3.º dividiu o Brasil em 12 capi-
tanias hereditárias. Em 1587 o governo da Metrópole criou o 1º
Tribunal da Relação na Bahia.

Raul da Costa Braga 129


Ao iniciar Francisco Caldeira Castelo Branco a obra de
colonização das terras amazônicas com a fundação da cidade
de Belém em 1616 e durante o primeiro periodo da organização
apenas alterada a sua modalidade em virtude do Ato da Carta
91 por Decreto de 13-6-1621 tornou as capitanias do Pará in-
dependentes do Govêrno Feral para constituir com ela o Estado
do Maranhão do Grão Pará e, posteriormente Estado do Grão
Pará Maranhão e Rio Negro ou governo do Pará e Rio Negro, ou
ainda Provincia do Pará, o 1.º a exercer o cargo de Ouvidor Geral
no Estado do Maranhão foi Francisco Barra- das de Mendonça.
Em carta régia de 28-8-1758 foi criada uma Junta de
Justiça no Pará com jurisdição ampliada pela de 18-6-1860 ou
1861 em consequência de uma solicitação feita pela Câmara
para o processo e julgamento de réus de delitos menores.
Pela Resolução Régia de 23-8-1811 foi criada a Relação
do Maranhão para substituir a Junta de Justiça de 4-2-1777
por Carta Rei de 19-1 (ou junho) de 1813 foi mandado executar
o seu regimento sendo instalado o Tribunal em 4-11 do mes-
mo ano quando governador geral do Maranhão o vice- almirante
Paulo José da Silva Gama.
A Junta do Pará entendeu continuar a exercer as suas
funções não obstante a criação da Relação do Maranhão tendo o
Ouvidor Joaquim Clemente da Silva Pombo se aposto a remessa
dos presos e processos para o Maranhão o que deu lugar a sua
extinção por um Aviso do Ministério da Justiça no ano anterior à
promulgação da Carla Constitucional. Aconteceu, porém que o
Primeiro Presidente da então promoção do Pará, José de Araujo
Rosa em oficio de 25-3 ao Ministro Estevam Ribeiro de Resende
ponderou que não punha dúvida em cumprir a portaria, mandan-
do extinguir a dita Junta acentuando o seguinte:
“Não posso deixar de lembrar a V. Excia. os incal-
culáveis incômodos e prejuizos que hão de sofrer o
Povo da Provincia do Pará e Rio Negro tendo aquele de

130 A História do Tribunal de Justiça do Pará


caminhar por mais de 250 léguas 370 e 260 léguas
— de cadeia em cadeia a de Maranhão para ali serem
julgados, faltando-lhes mas em mais, em terra estra-
nha, além das provas prontos para a sua defesa — o
socorro dos parentes e amigos”.
Em consequência disso, foi por Portaria de 28 de setem-
bro de 1625 restaurada a Junta do Pará.
Em 1811 foi criado o cargo de Juiz de Fora do Civel, Cri-
me e órfãos. Em 1816 o do Ouvidor da Comarca de Marajó. Em
1821 o de Juiz de Fora, Crime, etc. de Cametá. Emancipado o
Brasil pelo Brado do Ipiranga (7-set. 1822) o do Pará fêz adesão
em 15 de agosto de 1823.
Em 15 de março de 1824 foi promulgada a Constituição
do Império em cujo artigo 151 estabeleceu a independência do
poder judiciário.
O Pará continuou sujeito à Relação de São Luiz do Ma-
ranhão como era desde o Alvará que assim dispusera até que a
criação da Relação de Belém veio dar vida autônoma à Justiça
paraense.
(Excerto do desembargador Santa Rosa na Revista do Tri-
bunal de Justiça do Pará - 1929).

Raul da Costa Braga 131


Desembargador ARTUR PORTO, Presidente do Tribunal, em relatório
de 1929, quanto à exiguidade de vencimentos da magistratura

132 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Vencimentos Da Magistratura do Estado
Com raras excessões têm os juizes arrostado com bravura,
as necessidades de independência, confôrto e cultura para bem
se desempenharem, sem falta de exação no cumprimento de seus
deveres por lhes serem exiguos os vencimentos abonados, aliás
desde o inicio do periodo republicano, acrescentando que hoje os
magistrados paraenses se acham em pé de grande desigualdade
nesse tratamento com os juizes federais, cujo substituto como
é notório, na Secção do Pará, trabalha menos que qualquer juiz
da capital e recebe talvez mais do que um desembargador. E
não preciso prosseguir no assunto, porquanto a justificação da
necessidade do — aumento — dos vencimentos dos juizes já foi
feita brilhantemente do des. Martins Filho, constituindo no Esta-
do uma reclamação generalizada. Apenas devo acrescentar que,
como consequência deste mal, acham-se vagas com prejuizo da
Justiça e da administração 12 juizados subscritos nas sedes e
nos Termos de Comarcas do interior do Estado, havendo ainda
paraenses formados em Direito que estão emigrando para outros
Estados que lhes oferecem melhores proventos.
(Relatório do desembargador ARTUR PORTO, presidente
do Tribunal em 1929).

Homenagem Do Tribunal De Justiça do Estado Ao Chefe Do


Poder Executivo Moura Carvalho
Em a noite de 16 de agosto de 1960 realizou-se uma
sessão solene ao Exmo. Sr. Governador Moura Carvalho em vir-
tude das novas instalações por si autorizadas n’aquela Casa de
Justiça.
Então o presidente do Tribunal disse:
“O Tribunal acha-se reunido extraordinariamente
não para julgar um processo, mas para expressar o

Raul da Costa Braga 133


julgamento da gratidão do Poder Judiciário, poder es-
quecido para só ser lembrado nas horas de agonia. Alí
estava na unanimidade de seus membros o Tribunal
reunido para proclamar que o Governador Moura Car-
valho tem-se conduzido com elevado acerto à frente
do Executivo estadual, respeitando as sentenças que
lhe eram favoráveis ou não.
Emocionado o governador homenageado proferiu de
improviso:
“É uma das maiores emoções de minha vida falar nes-
te momento que me acolhe para prestar uma home-
nagem que tanto me confunde. Recebo-a porque sei
que ela é ditada por aqueles que jamais insensaram
alguém e que hoje expontaneamente homenageiam o
governante que tem, modéstia à parte, tudo feito para
harmonizar e construir em beneficio da coletividade,
que tudo tem feito para prestigiar a Justiça e cumprir
as suas decisões, sem outro qualquer intuito senão o
do cumprimento do dever. Jamais podia esperar uma
homenagem de tão alto significado, de tão alta expres-
são; que fiz para merecê-la, senão estar permanente-
mente com as vistas voltadas para o interêsse público,
procurando acertar para dar progresso e tranquilidade
ao povo?
Pela segunda vez assumi as rédeas do governo paraen-
se n’um momento dos mais tocantes para mim porque
substituir aquele que foi meu Chefe, amigo e guia de
trinta anos. Assumi o compromisso comigo mesmo de
me conduzi de maneira a merecer a gratidão e o reco-
nhecimento do povo paraense.
Todavia, jamais podia supor que a minha conduta fôs-
se de tal natureza observada que merecesse o prê-
mio máximo do Tribunal de Justiça do Pará que é esta

134 A História do Tribunal de Justiça do Pará


sessão de que participo. Sempre desde quando lutan-
do pelos ideais revolucionários como simples tenente
eu almejava se algum dia tivesse participação decisiva
nos destinos do Estado, prestigiar a Justiça de minha
Pátria, a Justiça de minha terra. É das maiores emo-
ções a que sinto, vendo Vs. Excias. agora reunidos.
Poderia encerrar hoje as minhas atividades de governo
e de homem público. Esta homenagem é um marco
em minha vida porque é a homenagem d’aqueles que
distribuem a Justiça, que fazem um julgamento since-
ro e independente. Poderia considerá-la o jubileu com
que encerro as minhas atividades públicas. Agradeço
as expressões dos oradores, guardando a recordação
da homenagem como estimulo para que prossiga na
jornada de sempre bem servir ao povo de minha que-
rida terra”.
(Da “Folha do Norte” de 17-8-1960).

Raul da Costa Braga 135


Gen. LUIZ GEOLÁS DE MOURA CARVALHO

136 A História do Tribunal de Justiça do Pará


A Relação Em Sessão Agitada
Foi agitada a sessão de ontem do Tribunal da Relação.
Anunciado pelo desembargador Uchôa, como relator, o recurso
eleitoral de Abaeté, como recorrente o Major Maués perguntou o
Presidente :
— Quer juizes?
— O que quero é que V. Excia. me diga, quando entra em
execução aqui no Tribunal a nova Lei Eleitoral.
Falou o presidente Ascenso Ferreira:
— Por um Aviso de 1873 os decretos entram na Côrte
publicação. em execução, 15 dias e nas Provincias, 3 meses
depois de sua publicação.
Uchôa:
— Então a Lei está regulamentada; o governo já mandou
AVISO, pondo-a em execução; os jornais de hoje publicaram um
outro Aviso do Ministro da Justiça no mesmo sentido e nós aqui
estamos condenados a esperar ainda 3 meses? Pois eu proponho
a preliminar de se saber na forma do artigo 20 da Lei de 9 de
Janeiro último si deve votar todo Tribunal nesse recurso.
O desembargador Castro Leão:
— Peço a palavra.
O Presidente Ascenso:
— Não dou a palavra. Vou proceder ao sorteio e sob apar-
tes veementes, são sorteados adjuntos os desembargadores Um-
belino e Japiassú.
Uchôa, relator:
Agora vou propor a preliminar. Antes, porém, chamo a
atenção do Tribunal para um oficio do Presidente da Provincia
lido na hora do expediente, oficio que a Relação deve repelir por

Raul da Costa Braga 137


ser um ataque à sua dignidade e um atentado ao livre exercicio
do poder judiciário.
Desembargador Umbelino:
— Respeito muito o sr. Presidente da Provincia, mas o seu
oficio ameaça o Tribunal e é ofensivo aos seus brios.
Desembargador Uchôa:
— Nem deveria ter sido lido aqui.
Desembargador Umbelino:
Protesto contra a manifestação do poder executivo que é
uma ameaça ao Tribunal.
Desembargador Japiassú:
— O Presidente da Provincia é o fiscal da execução das
Leis. O oficio em questão não é uma ameaça ao Tribunal, mas
um pedido de informação ao Presidente que não tinha que o
trazer ao conhecimento da Casa.
Desembargador Ascenso:
— Para outra vez não apresento mais os oficios que rece-
ber. O desembargador Castro Leão começa a ler o oficial no qual
o Presidente da Provincia diz pouco mais ou menos: Constando
que está submetido ao julgamento da Relação, um recurso sôbre
a eleição de Abaeté, e que já são decorridos 6 meses depois
dessa eleição e os eleitos já empossados, quer saber em que lei
o Tribunal funda a sua competência para conhecer do feito”.
Este oficio, continúa o desembargador Castro Leão, é ain-
da a continuação da série de atentados do executivo sôbre o
Judiciário ultimamente praticados pelo governo. com todas as
forças de sua alma contra uma tal violência: Protesta “Com que
direito vem um Presidente de Provincia perguntar a um tribunal:
“Onde está a vossa competencia?”
Desembargador Umbelino:

138 A História do Tribunal de Justiça do Pará


— Isso é o mesmo que dizer, o Tribunal não é competente.
Desembargador Castro Leão:
— O sr. Abreu não soube mesmo o que assinou. Abusa-
ram de sua bôa fé.
NOTA — O Presidente da Provincia era o senhor José
Coelho da Gama e Abreu, Barão de Marajó. O relato acima, é do
“Grão Pará” de 19 de fevereiro de 1881.

Movimento Revolucionário De 1930

Estalada a Revolução, o governador Eurico Vale passou as


rédeas do governo à Junta Revolucionária Provisória em 25 de
outubro, composto dos primeiros tenentes Ismaelino de Castro,
Alvaro Cabo e dos civís Abel e Mario Chermont.
A Brigada em Operações do Norte do Brasil aportou em
Belém, dois dias após, sendo comandante das forças, o coronel
Landry Sales a quem dita Junta, passou o governo do Pará.
O valente idealista Landry Sales aceitou no dia de sua
chegada a renúncia d’aquela Junta, nomeando, em seguida,
nova Junta composta de Ismaelino pelo exército, Antonio Rogé-
rio Coimbra pela marinha e Mario Chermont, pelo elemento civil
e Leandro Pinheiro pelo religioso, ficando Landry Sales como
governador Militar do Estado do Pará.
Em 30 de outubro êsse governador militar baixou a se-
guinte RESOLUÇÃO:
“O Governo Militar mandará passar pelas armas em Pra-
ça Pública, todo aquêle que estrangeiro ou não propalar ou der
curso a boatos sobre assuntos de propaganda comunista. ten-
tando enxovalhar os grandes e nobres principios da Revolução
Brasileira”.

Raul da Costa Braga 139


O Diário Oficial de 7 de novembro publicou o decreto n.
3: “Fica criado o TRIBUNAL REVOLUCIONARIO composto de 3
oficiais superiores da B-O-N nomeados pelo governador militar
no sentido de processo e julgamento de todos àqueles que forem
acusados de delapidação da Fazenda Pública, ou que exercendo
função pública violaram direitos assegurados pela Constituição,
ou procederem com manifesta improbidade.
O decreto n. 2 já havia nomeado Delegado Militar o coro-
nel Julio Veras.
O Diário Oficial não cita os nomes das pessoas d’aquele
Tribunal Revolucionário. A respeito dêsse Tribunal ou do repre-
sentante Delegado Militar,, à boca pequena guardou em relato o
seguinte episódio:
Foi notificado a prestar declarações o desembargador Pi-
res dos Reis, como fora Antonino Melo, Procurador Fiscal do
Estado. Antonino Melo, de pronto se desvencilhou das acusações
pela comprovação documentada d’aquelas funções.
A desembargador Pires dos Reis foi-lhe feita a seguinte
explicação:
— O sr. des. foi notificado a vir prestar declarações de sua
fortuna.
O grande magistrado sem estremecer, aduziu: — De mi-
nha fortuna? E na austeridade de sua pessoa, respondeu:
— Sim, tenho fortuna. Embora resida em casa alugada
eu tenho a fortuna de minha esposa, meus filhos, de meus livros
e de um canário madrugador.
Não foi preso, por tal declaração e não se lhe abriu
inquérito.
Eram assim os homens d’aquela época...

140 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Comemoração Do Dia Nacional Da Justiça

Entre 7 e 10 de dezembro do ano findo foi solenizado nes-


ta capital o DIA NACIONAL DA JUSTIÇA, local designado pela
Associação dos Magistrados do Brasil ao conclave que se reune,
cada ano, em uma capital do país, em festa de confraternização
de classe.
O programa constou de Missa na Catedral Metropolitana,
às 8 da manhã, celebrada pelo Bispo Auxiliar, D. Milton Perei-
ra; de sessão solene na Assembléia Legislativa às 10 horas; e
de sessão no Auditorium da Faculdade de Medicina, promovida
pelo Magnifico Reitor da Universidade, tendo sido orador o pro-
fessor catedrático Aldebaro Klautau. Já no dia 5 o Lions Clube
pela voz do dr. Isaac Soares homenageára o dia festivo da Jus-
tiça, o mesmo tendo acontecido, um dia após, pelo Rotary Club
de Belém, no salão majestoso do Clube do Remo.
Em 7 de dezembro estava sendo aguardadas as delega-
ções de vários Estados, compostas dos excelentissimos desem-
bargadores: Ministro Afrânio Costa, do Tribunal de Recursos;
Delfim Moreira, do Tribunal Superior do Trabalho: Guarita Car-
taxo e Segismundo Gradowich, do Paraná; Nelson Negreiros e
Aureliano Albuquerque, da Paraíba; Pedro Morais Brito e Vicente
Ribeiro Gonçalves, do Piauí; João da Fonseca. de Mato Grosso;
Eutiquiano Reis, do Rio Grande do Norte: Arruda Sampaio, de
São Paulo e vários outros.
É digna de registro a oração proferida pelo ministro Ge-
raldo Bezerra de Menezes, que foi distinguido, então, com a
“Cruz do Mérito Judiciário”, a mais alta insignia da Magistratura
Brasileira:
“Dia feliz este que se escolheu para unir mais intensa.
mente a quantos vestem a toga por este Brasil a fóra, porque
hoje a Cristandade, de joelhos, celebra a festa mágna da Virgem
Santissima Speculum Justitiae) espelho da justiça”.

Raul da Costa Braga 141


Esse conceito é digno de um Bezerra de Menezes, nome
de familia d’aquele varão de Quixeramobim que pontificou na
função de desembargador no Pará, no Tribunal da Relação a que
veio como um de seus constituintes fundadores eméritos.
O desembargador paraense Mauricio Pinto foi também ga-
lardoado com a “Condecoração do Mérito Judiciário” no gráu de
Cavaleiro e com a medalha comemorativa do “Dia Nacional da
Justiça”.

142 A História do Tribunal de Justiça do Pará


Escorço Biográfico dos
Desembargadores
CONSELHEIRO ERMANO RODRIGUES DO COUTO

Ermano Rodrigues do Couto nasceu na província da Bahia


em 1820, tendo-se formado em Direito na Faculdade de Olinda
em 1844.
Uma vez de posse de seu titulo de bacharel inclinou-se
à carreira política em seu Estado fazendo-se eleito deputado à
Assembléia Provincial nas 7.ª e 8ª. legislaturas de 1848 a 1849
e 1850 a 1851.
Somente em 22 de junho de 1855 se vê sua entrada na
magistratura por ato desta data como nomeado Juiz de Direito
da comarca de Ilhéus e Olivença de sua província de que tomou
posse inicial em 24 de agosto de 1855.
Dessa primeira judicatura passou a servir na 2ª. vara de
São Pedro do Rio Grande por decreto de 18-3-1859.
Em 1864 estava como Juiz de Direito de Nazaré de 3ª,
entrância, pelo seu retorno à Bahia, onde foi nomeado desem-
bargador da Relação por ato de 15 de outubro de 1868 e posse
em 7 de novembro seguinte. Encontrava-se nesse posto elevado
quando foi distinguido como um dos membros componentes à
instalação da futura Relação de Belém na qualidade de seu pre-
sidente, conforme decreto de 7-11-1873.
Para esse fim, aqui chegou em 30 de janeiro de 1874
pelo vapor “Ceará” acompanhado de seus colegas: Monteiro de
Andrade, Bezerra de Menezes e Serra Carneiro.
No dia designado à instalação, seja em 3 de fevereiro
de 1874, compareceu à casa destinada à moradia da Justiça,
assumindo a presidência, tomando juramento aos escolhidos à
Relação e proferindo o discurso oficial, cuja íntegra se encontra
na primeira parte dêste livro.

Raul da Costa Braga 145


Sua permanência na capital guajarina e presidência em
de tempo de menos de três meses, pois que o “Diário de Belém”
sua Relação foi de curta demora, apenas preenchendo o espaço
de 31-3-1874 noticiára:
“Por telegrama da Côrte de ontem tivemos notícia de
que o Exmo. Sr. Conselheiro Ermano Rodrigues do
Couto, presidente da Relação desta cidade foi remo-
vido para a Bahia. Felicitando o distinto magistrado,
por êsse fato, sentimos profundamente que tão pouco
tempo se demorasse entre nós. O vácuo deixado na
Relação com a retirada do sr. conselheiro Couto será
dificil de preencher com tanto acêrto como a sua no-
meação para o mesmo. A sua proverbial independên-
cia, indefectivel retidão, integridade e ilustração, alia
S. Excia. uma delicadeza fina que deixa penhorados a
todos que tem a ventura de tratar com êle”.
O retorno à Bahia adveio de ato de 27 de março de 74
ex vi do Dec. 2342 que isso autorizára de que novamente alí se
empossou em 2 de maio de 1874.
Ainda era componente da Relação baiana, quando a mor-
te o surpreendeu aos 4 de abril de 1876.
A êsse respeito noticiou o “Diário da Bahia”:
“Ontem pelas 4½ horas da manhã faleceu o des. da
Relação desta provincia, conselheiro Ermano Rodri-
gues do Couto. A moléstia de que veio a sucumbir,
manifestou-se depois de sua chegada da Côrte há
poucos dias. Atribue-se o seu começo a qualquer des-
cuido no curativo de um fonticulo que tinha em um
dos braços de que resultou uma absorção purulenta.
O finado contava 56 anos e deixou viuva e dois filhos.
Era condecorado com a comenda da Ordem de Cristo
e oficialato da Rosa. Seu cadáver foi depositado na

146 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Igreja dos Aflitos e sepultado às 4 horas da tarde no
cemitério de Campo Santo.
Ontem não funcionou o Tribunal. Em sessão posterior
o Conselheiro Gois, presidente, comunicou aos seus
colegas e com lágrimas, o passamento do dito con-
selheiro, seu especial e distinto amigo e propos que
em demonstração de profundo pesar se toma se luto
por três dias e se consignasse na ata o testemunho de
sentimento do Tribunal”.

Raul da Costa Braga 147


FRANCISCO DE ASSIS BEZERRA DE MENEZES

Filho da antiga freguezia de N. S. das Candeias de Riacho


do Sangue, reerguida em vila com o nome de Riachuelo, hoje
Frade, na Comarca de Jaguaribe, nasceu na fazenda Santa Bár-
bara, Francisco de Assis Bezerra de Menezes e Ana Bezerra de
Menezes, neto pelo lado paterno de José Bezerra de Menezes e
Maria Borges da Fonseca e materno do coronel Antonio Bezerra
de Souza Menezes e Ana Maria da Costa.
Começou seus estudos de latim na cidade de Icó, trans-
portando-se para Olinda em 1832, onde completou o curso de
humanidades em fevereiro de 1833 e o de ciencias jurídicas e
sociais na Academia dessa cidade onde recebeu gráu em 21 de
outubro de 1827. Logo no dia seguinte, foi nomeado juiz muni-
cipal e órfãos em seu torrão natal Riacho do Sangue — em abril
de 1838.
Em abril do ano seguinte esteve interinamente no juiza-
do de direito do Crato. No domínio da lei de 3 de dezembro de
1841 foi nomeado juiz municipal dos termos Quixeramobim e
Riacho do Sangue em abril de 1842, cargo que assumiu em
maio. Nomeado secretário da presidência da provincia do Ceará
em 5 de junho de 1846. Em 28 de janeiro de 1852 foi removido
como juiz municipal ainda de Quixeramobim que não assumiu.
Sua primeira nomeação efetiva como juiz de Direito, obte-
ve-a por ato do 3 de fevereiro de 1852 para a comarca paraense
de Santarém que a assumiu em 13 de julho seguinte. Em 3 de
maio de 1854 foi distinguido pelo presidente do Pará, dr. Sebas-
tião do Rego Barros à chefia de policia em Belém.
De Santarém foi por decreto de 20 de outubro de 54,
removido para a comarca cearense de Granja, empossando-se
em 10 de abril do ano seguinte. Naquele ano de 1854 em 12

148 Escorço Biográfico dos Desembargadores


de dezembro foi condecorado com o Oficialato da Rosa por S. M
Imperial.
De Granja onde teve remoção para Quixeramobim que as-
sumiu em julho ou agosto de 1857 onde se demorou por espaço
de dezesseis anos a fio, pois alí esteve até principios de janeiro
de 1874, quando nomeado por decreto de 6 de janeiro des-
te ano desembargador a recém-criada Relação de Belém, aqui
chegou a 30 dêsse mês, seja três dias anteriores à instalação da
Relação aludida.
O “Grão Pará” de 31 de janeiro de 1874 noticiou:
“No vapor “Ceará”, ontem fundeado vieram para esta
cidade os excelentissimos senhores desembargadores
— Ermano Couto, Monteiro de Andrade, Bezerra de
Menezes e Serra Carneiro, membros do Tribunal da
Relação de Belém, ultimamente criada cuja inaugura-
ção solene terá lugar no dia 3 de fevereiro vindouro.
Saudamos reverentes os Egrégios Magistrados e con-
gratulamo-nos com os nossos concidadãos pela honra
que é dada à nossa Belém de ter entre seus habitantes
tão distintos cavalheiros”.
De fato em 3 de fevereiro instalou-se a Relação, prestando
o juramento devido o des. Bezerra de Menezes.
Como desembargador paraense foi de curto prazo sua
estadia pois que, a pedido, foi removido por decreto de 13 de
junho de 1874 para a relação do Ceará em que se empossou à
29 de julho desse ano, onde também foi procurador da corôa em
1877.
Por motivo de agravação de seus incômodos de saúde,
seguiu licenciado em 3 de abril de 1878 para a povoação de
Providência na Serra de Baturité, tendo alí sido acometido de
um insulto cerebral em 1°. de junho e, assim, transportado no
dia seguinte para Baturité, aí falecendo dois dias após, em casa

Raul da Costa Braga 149


de seu primo Antonio Furtado de Mendonça, deixando viuva e 4
filhos.
Euzébio de Souza (Tribunal do Ceará) escreve:
“Espírito profundamente religioso, deu positivas de-
monstrações de seu devotado amor à religião de Cris-
to. Em Quixeramobim em 1870 começou a construção
de uma capela sob a invocação de N. S. de Sant’Ana,
fazendo vir da Itália uma imagem de tamanho natural,
talvez, uma das mais belas do Ceará, capela que seus
filhos concluiram”.
O Barão de Estudart personaliza o homem na seguinte
frase:
“Bezerra de Menezes não deixou bens a partilhar, mais
também não deixou dívidas a pagar”.
Está nisso o Brazão do venerando magistrado para todo
o sempre.

150 Escorço Biográfico dos Desembargadores


FRANCISCO DA SERRA CARNEIRO

Nasceu na provincia do Maranhão, tendo-se formado em


Direito na Faculdade de Olinda em 1839. Sua entrada na ma-
gistratura se fêz pela nomeação como Juiz de Direito da comar-
ca do Alto Amazonas em 1850. Passou ao cargo de Chefe de
Policia do Pará de 1 de abril até 21 de agosto de 1853, tendo
sido transferido para a comarca de Caxias de sua provincia ainda
nêste mesmo ano (1853).
Dessa cidade maranhense foi removido para a Comarca
de Recife por ato de 2 de outubro de 1858 nela se empossando
a 5 de abril de 1859. Nêsse ano de 1859 foi deputado Geral de
1 de janeiro a 15 de abril retomando ao juizado então da comar-
ca de Viana em 27 de julho de 1859.
Vemo-lo Juiz de Direito de Alcantara em 1863. Alcançou
sua nomeação como desembargador da Relação de São Luiz por
ato de 24 de março de 1874, de que tomou posse a primeiro de
abril seguinte.
Encontrava-se na Relação Maranhense quando pelo de-
creto 2342 de 6 de agosto de 1873 foi designado à instalação
da Relação paraense como um de seus membros componentes,
aqui chegando a 31 de janeiro de 1874 ao lado de outros com-
panheiros ao mesmo designio.
Sua permanência em Belém em tão altas funções foi de
cinco meses e meio, de vez que ao seu pedido e em consonância
com aquêle decreto 2342 retransferiu-se por ato de 13-7-1874
para a sua velha Relação Maranhense.
Não quiz deixar a cidade guajarina sem deixar sua despe-
didas, através do “Grão Pará”, edição de 21 de julho:
“No vapor “Ceará” que de nosso porto seguiu sábado
passado (18) foi passageiro o Exmo. Sr. Des. Francisco

Raul da Costa Braga 151


da Serra Carneiro a tomar posse no Tribunal da Relação
de São Luiz. O talento, ilustração e integridade são os
seus predicados com os quais o Sr. des. Serra Carnei-
ro tem-se feito admirar por seus jurisdicionados e são
também os que os tem recomendado à alta considera-
ção do Governo Imperial e do público. É um dos mais
belos ornamentos da magistratura brasileira o exmo.
des. Serra Carneiro e, portanto, sentindo-lhe a sua fal-
ta na Relação de Belém, damos-lhe os parabens por ir
funcionar na terra de seu berço e fazendo-lhe nossas
despedidas, desejamos-lhe de coração bôa viagem”.
No livro de termo de posse e juramento dos desembarga-
dores, do Tribunal da Relação do Maranhão às fls. 19 se lê:
“Em virtude do dec. de 1 de abril do corrente, jurei
e tomei hoje posse e entrei no exercicio de desem-
bargador da Relação desta provincia. Maranhão 29-4-
1871. Francisco da Serra Carneiro”.
Presidiu como 1º. vice-presidente sua provincia natal em
17-2-1878.

152 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOÃO PAULO MONTEIRO DE ANDRADE

Era natural de Pernambuco onde fêz seus estudos até o


curso de Direito que o concluiu em 1848 na Faculdade de Olinda.
Entrou na carreira da magistratura pela nomeação como
juiz de Direito para a comarca de Pão de Açucar, provincia das
Alagoas por dec. de 22 de 3 de 1856, empossando-se em 22
de agosto seguinte.
Passou em 1859 para a comarca de Mata Grande da
mesma provincia. Em 1863 em Vitória do Espirito Santo de 2ª
entrância.
Em 1866 foi Juiz de Direito da importante comarca de
Nazaré da Mata em Pernambuco, terra que ainda hoje, a tradi-
ção lhe respeita o nome. Em 1871 estava exercendo o Juizado
de Direito de Maceió. Ascendeu à desembargatoria na Relação
de São Luiz do Maranhão por ato de 27 de 3 de 1873 assumin-
do-a em 1-6-1873.
Foi dessa Relação que recebeu o ato de 6-11-1873 que
o nomeava como um dos sete desembargadores a comporem o
quorum necessário à instalação da Relação de Belém marcada
para o de 3 de fevereiro de 1874, aqui aportando pelo vapor
“Ceará” a 30 de janeiro desse ano para o fim aludido.
No ato da instalação da Relação belemense, entrou em
função com o juramento de seu cargo de desembargador ma-
ranhense, passando a exercer o seu nobilissimo ministério pelo
espaço de cinco meses e 21 dias porque retransferido ex vi legis
para sua antiga Relação de São Luiz.
De Belém, embarcou em 18 de agosto de 1874 via Recife
de onde retornou para o Maranhão reimpossando-se em 4 de
dezembro de 1874. Ali foi vice-presidente da Provincia de 17 de
outubro de 1881 até 28-1-1882.

Raul da Costa Braga 153


Fez-se, afinal, removido de São Luiz para a Relação re-
cifense por ato de 8-4-1882 empossando-se 21 dias após a
remoção pedida.

154 Escorço Biográfico dos Desembargadores


SEBASTIÃO JOSÉ DA SILVA BRAGA

Sebastião José da Silva Braga, nasceu em Recife, a 26 de


outubro de 1827, filho de Sebastião da Silva Braga, natural de
Braga em Portugal e da pernambucana Joaquina de Souza Bra-
ga, e formado em Olinda, em 1848, ano da famosa revolução
Praieira.
Era irmão mais velho de Constantino José da Silva Braga,
(pai do eximio pintor paraense dr. Teodoro Braga, ultimamente
falecido em São Paulo) que também aqui fôra desembargador
em 1885.
Entrando na carreira da magistratura encontramo-lo no-
meado Juiz de Direito de Turi-Açú por ato de 21 de dezembro de
1855, ano em que se casou no Maranhão com D. Maria Alexan-
drina de Magalhães.
Dessa comarca de Turi-Açú de que tomára posse a 10 de
maio de 1856, passou a 2 de julho de 1867 a juiz de Direito de
São Luiz.
Estava em plena vigência de sua judicatura, quando foi
transferido nas mesmas funções para compor o número legal
de 7 desembargadores da futura Relação de Belém de que fêz
parte como um de seus membros efetivos e instaladores desta
Alta Corte de Justiça na data magna de 3 de fevereiro de 1874
à vida jurídica paraense.
Para isso, chegou a Belém, vindo de São Luiz a 16 de
janeiro de 1874, companheiro de viagem também de seu colega
Jansen Ferreira que para aqui vinha ao mesmo fim, no que ante-
cipou a três outros de seus colegas fundadores, aqui aportados a
30 dêsse mês e ano.
Logo em 20 de março de 74, foi retransferido para São
Luiz, onde novamente se reempossou sete dias decorrido Aqui,

Raul da Costa Braga 155


portanto, exercitou sua magna judicatura por espaço de ano e
meio, deixando o nome e o grande serviço prestado no Pará,
como membro instalador de seu Tribunal da Relação. Sebastião
Braga, faleceu em São Luiz do Maranhão em 6 de outubro de
1883, ali ficando sepultado. Em sua lousa resta o nome do ma-
gistrado digno que sempre o fôra.

156 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOÃO CAETANO LISBOA

Era maranhense e se formou em Olinda no ano de 1838.


Encontramos sua carreira de magistrado pela nomeação ao car-
go de Juiz de Direito de Alto Mearim da província do Maranhão
sob posse de 27 de outubro de 1853.
Em 1862 era Juiz de Direito de Carolina ainda de 1ª. en-
trância em sua provincia natal. Por decreto de 8 de novembro de
1862, dali foi transferido para a 2ª vara da comarca de Belém
do Pará entrando em exercicio a 27 de janeiro de 1863. Nesta
vara permaneceu por espaço de 10 anos, pois que ainda em 3
de abril de 1873 presidira uma sessão do juri em Belém.
Foi nesse mesmo juizado que se julgando desautorizado
no processo de concessão de habeas-corpus impetrado pelo dr.
Pedro Chermont de Miranda em favor de Inácio Costa, apresen-
tou denúncia contra o presidente da provincia, Barão de Santa-
rém, por excesso e abuso de poder, uma vez que tinha ordenado
ao capitão fiscal da policia provincial somente de- ver cumprir
ordens, quando emanadas do presidente provincial no que se
referisse às praças o Corpo de Policia.
A questão cingia-se, como se vê, no fato em que o indivi-
duo quando já alistado no serviço militar devia escapar à provi-
dência do habeas-corpus, por que só atinente aos ilegal- mente
presos e mesmo aos detidos a titulo de recrutamento, quando
ainda não alistados no exército ou armada, circunstância o Supe-
rior Tribunal Federal a “julgou improcedente por não se deduzir
do fato questionado intenção de cometer crime. acórdão que é
de 16 de julho de 1873 (Direito I fls. 58).
Foi nomeado desembargador do Pará, por dec. de 6 de
novembro de 1873 como um dos sete componentes à Relação
de Belém a ser instalada a 3 de fevereiro de 1874, em cuja data
prestou perante o presidente nomeado, desembargador Ermano

Raul da Costa Braga 157


Domingues do Couto, o respectivo juramento dos Santos Evange-
lhos, ato lavrado pelo Secretário do Tribunal dr. Antonio Vicente
Magno, as fls. 1 do Livro de “Ouro da Relação”, ainda hoje exis-
tente na Secretaria do Tribunal como padrão de magnificencia do
ato e dignidade da função judiciária, sob assinaturas autênticas e
legíveis nada obstante a longevidade do termo.
Da Relação de Belém foi Caetano Lisboa, transferido para a
de São Luiz empossando-se aos 22 de dezembro de 1876 na de-
signação especial de Procurador da Corôa e Soberania Nacional.
Nesta última Relação de sua judicatura foi por dec. de 29
de abril de 1882 nomeado seu presidente e assim no livro de
termo de posse e juramento dos desembargadores no Tribunal de
Relação do Maranhão às fls. 21 se encontra:
“Jurei e tomei posse e entrei em exercicio do cargo de Pre-
sidente desta Relação para o qual fui nomeado por decreto de 29
de abril dêste ano hoje 2 de junho de 1882. (a.) João Caetano
Lisboa”.
A quando juiz de direito em Belém o Barão de Arari de-
signou em 1866 para chefe de policia em comissão, até que se
apresentasse o titular nomeado.
No Livro de Atas do Tribunal do Pará da 27ª, sessão reali-
zada em 20 de maio de 1884 está consignada:
“Disse o sr. Presidente por telegrama ter falecido na cidade
de São Luiz do Maranhão o sr. des. Conselheiro João Caetano Lis-
boa presidente daquela Relação e que aqui exerceu um lugar de
Juiz de Direito e um dos distritos desta Capital e mais tarde como
desembargador desta Relação da qual foi um dos membros que a
instalaram, merecendo pelas suas qualidades pessoais e integri-
dade de caráter como magistrado ser justamente considerado e
respeitado, pelo que indicava que se consignasse na Ata um voto
de profundo pesar pela perda que acabava de ter a magistratura
em cuja carreira encarnava o finado seus nobres dotes, indicação
unanimemente aprovada.

158 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO MANOEL JANSEN FERREIRA

Nasceu Manoel Jansen Ferreira na provincia do Maranhão


em 1807, filho legitimo de Bernardo Ferreira e dona Maria Jan-
sen Ferreira.
Concluídos seus estudos em São Luiz embarcou para o
Provincia de Pernambuco, matriculando-se na Academia de Di-
reito de Olinda, onde recebeu o grau de bacharel em 1837. Teve
ali, como companheiros de estudos juridicos o cearense Francis-
co de Assis Bezerra de Menezes e o baiano Inácio Carlos Freire
de Carvalho, ambos, afinal desembargadores no Pará, bem como
de Cotegipe, Zacharias de Goés e do grande jurisconsulto Teixei-
ra de Freitas.
Encontramo-lo Juiz de Direito de Alcântara por ato de 27
de dezembro de 1853 e posse a 30 de março do ano seguinte e
ainda em igual cargo de 1863 na Comarca de Carolina, também
da provincia natal.
Como 1º, vice presidente governou o Maranhão de 10
de agosto de 1866 a 31 de julho de 1868. Alcançou o juizado
de direito em São Luiz a 22 de outubro de 1872, sendo, afinal,
nomeado desembargador de sua terra por ato de 23 de outubro,
ainda de 1872 de que tomou posse a 7 de dezembro dêsse ano.
Em virtude da criação das sete Relações do Império ex vi
do decreto 2342 de 6 de agosto de 1873 como fosse um dos
mais novos desembargadores maranhenses e, assim, como ex-
cedente do número sete aos componentes dessa Relação, foi por
ato de 6 de novembro de 1873 removido para a futura Relação
de Belém a se instalar em 3 de fevereiro de 1874, aqui chegando
ao Rio de Janeiro em 1º de janeiro de 1874, acompanhado de
sua esposa, um filho e quatro escravos, fato notável, de vez que
a maioria de seus colegas, companheiros de Relação paraense,
aportou sozinha. Foi-lhe companheiro de viagem, Sebastião José

Raul da Costa Braga 159


da Silva Braga, nomeado então Procurador da Corôa e Soberania
Nacional.
Já em abril do ano festivo da instalação de nossa Côrte
de Justiça, retornava seu presidente, Ermano Rodrigues do Couto
para o Tribunal baiano de onde proviera.
Foi então nomeado presidente de nossa Relação, o desem-
bargador Jansen Ferreira. A esse respeito publicou o “Grão Pará”
de 18 de abril de 1874:
“Por telegrama de ontem soubemos da nomeação do
desembargador Manoel Jansen Ferreira para presidente
de nossa Relação. Magistrado probo, ilustrado e enca-
necido na prática de julgar, a nomeação do govêrno im-
perial não podia ser mais honrosa para si e nomeado.
S. Excia. cuja vida pública tem sido brilhantada pelos
inquestionáveis atos de justiça e prudência, quer como
magistrado, quer como administrador, saberá colher no-
vos titulos à estima e veneração dos povos das duas
provincias, (Pará e Amazonas) sujeitos ao tribunal de
que é mui digno presidente”.
O decreto dessa nomeação foi de 24 de abril de 1874
quando também S. M. o Imperador o agraciou com o titulo de
conselheiro.
Exerceu a presidência o nobre maranhense até 28 de maio
de 1878, — última sessão a que compareceu, aconchegando-se
ao recesso do lar para falecer em 24 de junho seguinte:
Ao dia imediato do transpasse de Jansen Ferreira, elevou-
se na Relação enlutada o seguinte voto:
“O desembargador Delfino Cavalcante com a palavra,
disse que exprimia os sentimentos de seus colegas re-
querendo na ata um voto de profundo pesar com que
o tribunal recebera a noticia do passamento de seu
presidente, sr. Conselheiro Manoel Jansen Ferreira,

160 Escorço Biográfico dos Desembargadores


nomeando-se uma comissão de três membros. inclusi-
ve o presidente interino para apresentar à Exma, viuva
os sentidos pêsames de seus colegas”.
O desembargador Paula Pessoa propôs que os membros
do tribunal e empregados tomassem luto até o sétimo dia do
passamento.
O desembargador Buarque de Lima, presidente interino,
consagrou também sentidas frases à memória do extinto, con-
cluindo por propor o levantamento da sessão.
A comissão se compôs dos desembargadores Delfino, Pau-
la Pessoa e Souza Uchôa.
A respeito do passamento do provecto magistrado a “Pro-
vincia do Pará” de 26 de julho de 1878 estampou:
“Faleceu ante-ontem à tarde e foi levado ontem ao Ce-
mitério da “Soledade” o conselheiro Manoel Jansen Fer-
reira, do Tribunal da Relação. O finado militou sempre
nas fileiras liberais. Ao saimento concorreram as primei-
ras autoridades. O Onze Batalhão de Infantaria fêz as
honras fúnebres militares a que tinha direito o finado”.
O “Diário de Belém” se fêz mais noticioso:
“Foi ontem pelas 8 horas da manhã dado à sepultura no
Cemitério da “Soledade” o cadáver do sr. conselheiro,
presidente da Relação do Distrito Manoel Jansen Ferrei-
ra, falecido a 1 hora da tarde do dia antecedente.
Fêz-lhe as honras fúnebres o Onze Batalhão de Linha
que formou à porta de sua residência e deu três des-
cargas de mosqueteria. Ao sair da casa mortuária, foi o
cadáver conduzindo à mão até ao cemitério, ornando as
fitas do ataúde, os membros do Tribunal da Relação e
mais o senador Ambrózio Leitão da Cunha.
Da capela do cemitério até o lugar da sepultura segu-
raram as fitas, alguns juizes de Direito e advogados.

Raul da Costa Braga 161


Um grande acompanhamento de pessoas das mais
qualificadas seguiu o féretro. S. Excia, sucumbiu a
uma longa e penosa enfermidade, agravada por um
grande antraz na região lombar que lhe esgotou as fôr-
ças e o levou ao túmulo, na idade avançada, perto dos
setenta anos. O morto dedicou-se à vida de juiz, ainda
bem moço e nesta carreira tão penosa, quanto modes-
ta, deu constante prova de talento superior e amôr ao
estudo, revelando um fundo de justiça admirável que
o tornou distinto entre os seus colegas”.
O atestado de óbito de varão conspicuo, encontra-se
no livro do arcebispado — freguesia da Trindade na seguinte
anotação:
1878 — 25 de Junho: Conselheiro Manoel Jansen Ferrei-
ra, 70 anos, filho de Bernardo Ferreira e Maria Jansen Ferreira,
natural do Maranhão, casado, sepultado no Cemitério da “So-
ledade”. Cônego Domiciano Perdigão. O livro do Cemitério da
Soledade registra a sepultura 503, atualmente sem mais locali-
zação desde que se fechou o Cemitério da “Soledade” e aberto o
de “Santa Izabel” para onde algumas famílias transportaram os
mausoléus de seus entes desaparecidos.
O de Jansen Ferreira caiu no esquecimento dos sete pal-
mos para somente se precisar o Cemitério da “Soledade”.
É que ao insigne varão era mister para seu descanso defi-
nitivo, todo perimetro do campo sagrado.
No “Liberal” que lhe não deu necrológio, a viuva D. Maria
Egypciana de Carvalho Ferreira fêz convite à missa do 7°. dia à
Igreja da Trindade.
O extinto pertencia à familia maranhense dos Jansen Fer-
reira de tão nobres tradições. E assim, na terra paraense, morreu
o primeiro presidente do Tribunal da Relação, deixando em tra-
ços luminosos seus últimos anos de vida.
Foi um grande que passou na grandeza da terra amazônica.

162 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO DE SOUZA MENDES JUNIOR

Nasceu o piaiense Antonio de Souza Mendes Junior na


cidade de Oeiras então capital da provincia, fóros que perdeu
em 1852, pela transferência à cidade de Terezina. Diplomou-se
bacharel em 1848 na Academia de Olinda, precisamente época
da Revolução Praieira em que perdêra a vida, martir de seus
ideais políticos e fiel à palavra empenhada aos correligionários,
o grande vulto pernambucano, des. Joaquim Nunes Machado.
Diz Euzébio de Sousa (História do Tribunal de Apelação
do Ceará) não ter encontrado participação de Souza Mendes na
famosa rebelião que avassalou professores e estudantes.
Formado que se achou, inclinou-se Souza Mendes à car-
reira da magistratura, recebendo pelo decreto imperial de 23
de agosto de 1849 a nomeação de juiz municipal e órfãos dos
termos reunidos de Campo Maior e Barras de sua provincia natal
de onde foi transferido por decreto de 15 de dezembro de 1854
para os termos de Oeiras e Valença. Completado o quatrienio es-
tatuído em lei, recebeu a nomeação de juiz de direito da comarca
de São Gonçalo de Amarante por decreto de 26 de março de
1857 de onde foi removido para Terezina por decreto de 26 de
março de 1857 e Viana por decreto de 1 de dezembro de 1866.
Criadas as sete novas Relações do Império pelo decreto
2342 de 6 de agosto de 1876 foi Souza Mendes nomeado de-
sembargador da Relação de Cuiabá em decreto de 9 de novem-
bro de 1874 e como desembargador à novel Relação do Pará,
na vaga de Ermano do Couto que retornára a Relação da Bahia.
Aqui aportou o novo magistrado da Relação em 18 de
abril de 1874 pelo vapor “Ceará” tomando posse nêste mesmo
dia.
No Pará permaneceu Souza Mendes, pelo espaço de um
ano e dias, pois que foi removido para a Relação cearense por

Raul da Costa Braga 163


decreto de 17 de abril de 1875, ali exercendo também o cargo
de Procurador da Coroa por nomeação de 12 de julho de 1880.
Sua carreira não terminou em Fortaleza porque o decreto
de 21 de novembro de 1888 fê-lo Ministro do Supremo Tribunal
Federal na vaga por aposentadoria do Barão de Assú. Filiado a
um dos partidos da época, governou como vice-presidente a pro-
vincia do Ceará pelo curto espaço de dezoito dias.
N’uma sentença passada em julgado, mas por um dos
réus apelado, exarou o seguinte parecer a respeito da situação
do réu não apelante: “Sentença nula não logra efeito pois do con-
trário, dar-se-ia um contracenso revoltante e o absurdo de poder
um processo e sentença serem ao mesmo tempo nulos e válidos,
o que a boa razão repele. A teoria contrária inevitavelmente não
pode deixar de naufragar no semel esse et non esse”.
Era assim a circunspecção, o comedimento, a proficiência
do cultor do direito.
Sua figura venerando, na serenidade do rosto aureolado
completamente de cabelos brancos, bem monstrára o varão dos
sentimentos elevados e puros que o enobreciam.
Pedro II o agraciou por ato de 26 de janeiro de 1889 com
o titulo de Conselheiro. Faleceu no Rio de aneiro a 11 de dezem-
bro de 1905 sendo sepultado no cemitério de São João Batista.

164 Escorço Biográfico dos Desembargadores


IGNACIO CARLOS FREIRE DE ANDRADE

Natural da provincia da Bahia, formou-se em Olinda em


1837.
Seu ingresso na magistratura adveio do ato imperial de 31
de dezembro de 1885, que o nomeou Juiz de Direito de Caiteté,
de sua provincia de nascimento, assumindo o cargo em 9 de
junho de 1856.
Ali, foi removido por decreto de 1 de fevereiro de 1859
para a comarca de Caravellas, ainda na Bahia. Exerceu a depu-
tação à 13.ª legislatura à Assembléia Provincial baiana nos anos
de 1860 e 1861.
Foi Juiz de Direito de Cachoeira, dez anos depois, seja em
1871.
Alcançou o juizado de direito de São Salvador de 3ª en-
trância em 6 de dezembro de 1873, com exercicio na vara crime.
Dessa comarca da capital baiana, passou a desembarga-
dor na Relação de Cuiabá, por ato de i de maio de 1874, tendo
sido logo transferido para a Relação de Belém em 4 de julho de
1874. Nesta capital prestou juramento de seu novo cargo, pe-
rante o presidente Jansen Ferreira em 6 de outubro seguinte. Foi
ainda procurador da Corôa em Belém a 28 de julho de 1875.
Permaneceu na capital guajarina até 16 de novembro de
1875 mesmo já ciente de sua nova nomeação para desembar-
gador em São Salvador, conforme decreto de 23 de outubro de
1875, ali se empossando a 10 de dezembro. Foi na capital de
sua provincia de berço que a morte o veio surpreender aos 27 de
julho de 1877.
A respeito de seu passamento o “Grão Pará” de 22 de
agosto de 1877, publicou: “Faleceu o desembargador
Ignácio Carlos Freire de Carvalho. O presidente ao dar

Raul da Costa Braga 165


ao respectivo Tribunal ciência do inesperado passa-
mento do des. Freire de Carvalho, disse: A pouco mais
de um ano este Tribunal viu uma de suas cadeiras co-
berta de crepe, em virtude do passamento do nosso
distinto colega o sr. conselheiro Ermano Domingues do
Couto e já hoje, vertemos sentidas lágrimas pelo nos-
so não menos distinto colega o sr. des. Ignácio Carlos
Freire de Carvalho, tão inesperadamente arrancado à
familia e ao serviço do país. Ao ilustrado finado ca-
biam com justiça as palavras do sábio Ferrieri quando
enumerou os atributos de um perfeito juiz: Espirito es-
clarecido e reto, integridade e firmeza inquebrantável.
Atributos tão primorosos e diàriamente revelados entre
nós, asseguram lembrança perene de nosso colega, le-
gitimam o nosso profundo pezar e me levam a propor
a suspensão da sessão com o fechamento do Tribunal
por três dias e expressa menção na ata do sentimento
que nos oprime”.
Esta menção sendo aprovada levantou-se a sessão do Tri-
bunal. Os desembargadores e os empregados da secretaria re-
solveram tomar luto por oito dias em demonstração de profundo
pezar pela morte do desembargador Freire de Carvalho.

166 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO BUARQUE DE LIMA

Natural de São Bento de Porto Calvo então provincia de


Pernambuco no engenho Sambá a 15 de fevereiro de 1820, filho
de José Inácio Buarque e sua mulher D. Maria Lima Buarque.
Matriculou-se na Faculdade de Olinda em 1837, formando-se
em outubro de 1841.
Sua primeira nomeação foi como Promotor Público da 5ª.
Comarca de São Paulo por decreto de 29 de outubro de 1842
passando a Junta Municipal e órfãos do têrmo de Sorocaba por
decreto de 26-5-1844 e dos têrmos de Porto Calvo e Ponta de
Pedras por decreto de 8-8-1846.
Esta portaria de 24 de abril de 1850 foi nomeado 3º. su-
plente de Juiz Municipal do termo da capital de São Paulo. Em
decreto de 30-1-1854 foi nomeado juiz Municipal e Provincia.
Juiz de Direito de Carolina no Maranhão por decreto de 20 de
setembro de 1855, empossando-se a 10 de março de 1856.
Removido, no mesmo cargo para Bôa Vista, em Pernam-
buco por decreto de 23 de julho de 1860 e para Caruarú da
mesma provincia por decreto de 9 de outubro de 1867. Juiz de
Direito de Caruarú em 1871-1872 até 1873.
Por ocasião da guerra do Paraguai organizou dois ba-
talhões de Voluntários da Bahia e à frente deles seguiu para
Recife entregando-os ao presidente dr. João Lustosa da Cunha
Paranaguá.
De Caruarú passou em 1874 para a 1ª. vara da capital da
Bahia de onde foi nomeado desembargador do Pará por decreto
de 4-7-1874 empossando-se sob o devido juramento dos Santos
Evangelhos perante o presidente Jansen Ferreira a 27-10-1874.
Nessa função exerceu os cargos de presidente de Relação
e Procurador da Corôa em sessão de 25 de julho de 1879. Foi

Raul da Costa Braga 167


desembargador em Belém por 5 anos. Em sessão de 14-11-
1879, declarou-se removido para Pernambuco acrescentando
que lhe fora penosa a retirada do Tribunal, onde deixava cole-
gas, amigos aos quais protestava, de novo, sua estima, decla-
ração que o Presidente Costa Ferreira, do Tribunal agradeceu,
pesaroso pela ausência do colega.
Foi removido a pedido para a Relação de Pernambuco por
Dec. de 18-10-1879 e posse a 5-1-80. Aí permaneceu por 10
anos.
Por decreto de 18-5-1889 foi nomeado Ministro do Su-
premo Tribunal de Justiça, empossando-se a 17-6-1889, subs-
tituindo o Visconde de Jari.
Aposentado por decreto de 21-3-1891. Foi agraciado
pelo governo imperial com as comendas das ordens de Cristo e
da Rosa e o titulo de Conselheiro.
Morreu no Rio a 6 de setembro de 1899 e foi sepultado
no cemitério de São João Batista.

168 Escorço Biográfico dos Desembargadores


FELIPPE RAULINO DE SOUZA UCHOA

Filho da provincia do Maranhão foi titulado em Direito no


ano de 1836 pela Faculdade de Olinda.
Muito custou em entrar na carreira da magistratura pois
que somente em 1855 ocupava o Juizado de Direito na comarca
de primeira entrância de Bragança do Pará por ato de 22-3-
1855 e posse em 22 de maio de 1856 de onde foi removido
para a comarca da capital do Amazonas de 2ª. entrância por
decreto de 4 de setembro de 1871.
Já em 1873 retomou ao Pará para exercer o juizado de
Direito da 2ª. vara de Belém, privativa de órfãos, provedoria, ca-
pelas e resíduos na vaga de João Caetano Lisboa que ascendera
à Relação Paraense. Nomeado em maio de 1874 desembarga-
dor da Relação Paraense.
Nomeado em maio de 1874 desembargador da Relação
de Cuiabá daqui embarcou em 8 de agosto pelo vapor “Mer-
ri-mack”,partida que o “Grão Pará” do dia 9 deu publicidade:
“No vapor norte-americano “Merri-mack” que ontem saiu para
os portos do sul, foi passageiro para o Rio o nosso amigo e ilus-
tre desembargador Felippe Raulino de Souza Uchôa, nomeado
ultimamente magistrado para a Relação de Mato Grosso. Dese-
jamos ao venerando magistrado próspera e feliz viagem”.
Aquela nomeação à desembargadoria em Cuiabá foi dada
sem efeito por decreto de 28 de outubro daquele ano de 1874
para se fazer outra nesta mesma data com exercicio na Relação
do Pará em que se empossou em 17-11-1874, perante o presi-
dente Jansen Ferreira como se vê no livro de compromissos às
fls. 4, na vaga de Sebastião Braga. Permaneceu em sua judicatu-
ra n’êsse último Tribunal da Relação até 4-2-1884, última data
em que recebeu distribuição de feitos. A nota da sessão do dia

Raul da Costa Braga 169


18-2-1881 na primeira parte dêste livro bem esteriotipa o vulto
desassombrado do emérito julgador.
Foi aposentado por decreto de 23-11-1884. O desem-
bargador Felippe Uchôa residiu em Belém, cerca de dez anos,
aqui deixando muitos de seus dependentes, cujo representante,
hoje em dia é o dr. Emilio Uchôa Martins que guarda o nome e a
dignidade de seu bisavô provecto.

170 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO ANTONIO AUGUSTO DA SILVA

Antonio Augusto da Silva, conselheiro e ministro do Su-


premo Tribunal Federal como seu pai também o fôra, nasceu
na capital da Bahia aos 11 de julho de 1821 filho de Antonio
Augusto da Silva e de dona Libania Cândida de Athayde Sei-
xas, também baianos, neto paterno de Sebastião José da Silva e
Inácia de Souza e materno de Caetano Alberto de Seixas e Ana
Lúcia de Athayde.
Tendo recebido o gráu de bacharel em ciências jurídicas
e sociais na academia de Olinda, em 1844, sob a diretoria do
Bispo D. Thomaz de Noronha, casou-se nêsse mesmo ano, em
Recife com Maria Adelaide de Mello Martins, filha do brigadeiro
Francisco José Martins, irmão de Domingos José Martins, um
dos chefes da malograda revolução de 1817 em Pernambuco.
Além dos cargos de Delegado de Policia e 1º. suplente
de juiz municipal em Salvador, logo após sua formatura, ocupou
o juizado municipal de Itaparica de 1846 a 1849 de onde foi
removido a pedido para os termos de Estância de Santa Luzia
em Sergipe, exercendo cumulativamente as funções de delegado
de policia.
Nomeado Secretário de governo de Sergipe em 16 de ju-
lho de 1853, função que exerceu até abril seguinte, aceitou jui-
zado municipal de Nazaré na provincia natal, em 12 de outubro,
empossando-se em 16 de dezembro e nêle permanecendo até
3 de maio de 1857. Por decreto de 28 de março de 1857 foi
nomeado juiz de direito da comarca de la entrância de Nossa
Senhora da Graça, da provincia de Santa Catarina em que ser-
viu até 1864, onde deixou honrosa tradição de integridade de
caráter e vivos sentimentos de justiça e retidão, para ir servir
como chefe de policia do Rio Grande do Norte, de 3-10-1864 a
20-12.1865.

Raul da Costa Braga 171


Designado para a comarca de Anadia nas Alagoas por de-
creto de 18-11-1865 foi êste ato tornado sem efeito, sendo-lhe
designada a comarca de Porto Calvo e ainda a chefatura de Po-
licia dessa provincia (ato de 21-6-1866) e a do Maranhão por
ato de 25-7-1868 em que serviu até 16 de fevereiro de 1870.
Já em decreto de 22-12-1869 tivera nova designação, desta vez
para a 2ª. Vara Crime em São Luiz de que se passou por decreto
de 15-2-1871 para a vara privativa da Provincia de Capelas e
resíduos dessa mesma capital por ocasião da reforma judiciária
de 1871. Em 1874 era um dos 15 juizes de direito do Império
indicados a desembargadoria.
Em decreto de 14-11-1874 foi nomeado desembargador
da Relação de Cuiabá, ato que ficou sem efeito porque, nome-
ado para a Relação de Belém por ato de 24-4-1875 de que se
emposso em 4 de junho seguinte.
Desembargador em Belém com 21 dias de empossado
entrou no gôso de três meses de licença, concedida pelo presi-
dente da Relação e renovado pelo Governo Imperial, até que foi
transferido, a pedido, para a Relação de São Luiz, por ato de 18-
12-1875, tomando posse em 31 de janeiro de 1876.
Nessa provincia exerceu a desembargatoria por 11 anos,
quando foi removido para a da Côrte por decreto de 4 de dezem-
bro de 1886, em que, mais de uma vez em muitos anos exerceu
como desembargador mais antigo, a presidência.
Meses antes da proclamação da República foi por decreto
de 20 de julho de 1889 nomeado Ministro do Supremo Tribunal
de Justiça, juramentando-se três dias após. Não tendo sido con-
templado na organização do Supremo Tribunal Federal de então
foi aposentado em 21 de março de 1891 nos termos da segunda
parte do artigo 6°. das disposições provisórias da Constituição da
República.
Durante a epidemia de cólera morbus em 1855, na cida-
de e termo da sua jurisdição, seja Nazaré da Bahia, assinalou-se

172 Escorço Biográfico dos Desembargadores


por infatigável zêlo e medidas tendentes contra a propagação
do flagelo, e prestação de socorros aos doentes, serviços de co-
nhecidos pela população e pelo governo que lhe conferiu uma
distinção honorifica. Foi ainda agraciado por D. Pedro com o fôro
de fidalgo cavalheiro em decreto de 18 de junho de 1875 e titulo
do Conselho em decreto de 30 de julho de 1889.
Em sua biografia (“Direito” vol. 59) disse Macedo Soares:
“Em todos os cargos que ocupou deu provas de inteli-
gência orientada por seguro critério, adquirido na prá-
tica de julgar, angariando muitas simpatias e atenções
entre os que dêle se acercavam, a lhaneza a modéstia
do trato, unidas a natural bondade que formava o fun-
do do seu caráter”.
Foi colega de ano de Ermano Couto e do conselheiro Sa-
muel Mac Dowell. Faleceu no dia 3 de outubro de 1892 no Rio
de Janeiro sendo sepultado no cemitério de São João Batista.

Raul da Costa Braga 173


DOMINGOS RIBEIRO FOLHA

Nasceu Domingos Ribeiro Folha na provincia da Bahia,


tendo-se titulado em Direito na Faculdade de Olinda no ano de
1845.
Sua entrada na magistratura teve lugar com a nomeação
como juiz de Direito da comarca de primeira entrância de Urubú
em sua terra de nascimento, tendo por termos: Urubú, Macaú-
bas, Carinhanha e Monte Alto, por ato de 26 de março de 1857
do que entrou em exercicio em 20 de julho.
Em 1871 encontrava-se em sua judicatura na comarca de
Valença: em 1872 na de Maragogipe e Cachoeira; em 1874 na
de Abrantes.
É de notar que toda carreira como juiz de Direito percor-
rida por Domingos Folha teve como campo de judicatura e pro-
vincia da Bahia, de que somente se afastou quando de sua no-
meação para desembargador da Relação de Belém por ato de 29
de abril de 1875 aqui chegando e logo se empossando em 6 de
junho. Pouco tempo contava como membro da bancada, eis que
o ato de 20 de novembro dêsse ano o designára Procurador da
Corôa e Soberania Nacional, perante a Relação paraense a que
servia em dignidade e cultura, de que prestou juramento em 18
de dezembro perante o presidente da Relação Jansen Ferreira.
Requereu licença em 31 de agosto de 1877 por trinta
dias em cujo gôso o veio alcançar o decreto de 19 de setembro
dêste ano que o designou para a Relação da Bahia empossando-
-se em 5 de outubro seguinte.

174 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO VICENTE ALVES DE PAULA PESSOA

Na cidade sertaneja, norte cearense, de Sobral nasceu


Vicente Alves de Paula Pessoa, a 29 de março de 1828, filho do
Senador Francisco de Paula Pessoa, figura destacada na Revolu-
ção do Equador e d. Francisca Maria Carolina de Paula Pessoa.
Iniciou seus estudos primários na cidade natal, indo con-
cluir os preparatórios em Recife, matriculando-se na tradicional
Academia de Olinda, onde se diplomou bacharel em direito aos
25 de novembro de 1850, após brilhante curso que seu talento
proporcionava na mesma gama de Tito Franco de Almeida e Braz
Florentino, seus colegas de turma de igual porte.
De volta ao Ceará foi por decreto de 2 de março de 1852
nomeado juiz municipal de Ipú. Ainda nessa função e decre-
to de 4 de junho de 1852 serviu na Comarca de Aquiraz e,
depois, em Fortaleza, atingindo seu quatrienio. Por decreto de
18 de junho de 1876 foi ali reconduzido, o governo imperial,

Raul da Costa Braga 175


reconhecendo-lhes o mérito, premiou-o com a nomeação de juiz
de direito da comarca de lagarto na provincia de Sergipe, em
decreto de 11 de setembro de 1858.
Nessa elevada judicatura, percorreu em remoções suces-
sivas as comarcas de São José de Mipibú, no Rio Grande do
Norte. Saboeiro Aracati, e Sobral, no Ceará. Nesta última comar-
ca em judicatura de 11 anos seguidos 1865 a 1876- obras de
Direito que alargaram os horizontes de cultura jurídica brasileira
nos comentários explicativos às nossas leis básicas. tais como a
Reforma Judiciária e o Código Criminal. preparou às méritos e
reconhecimento ao brilho de sua carreira, o destinou.
De Sobral, o Governo Imperial, ainda em galardão aos
a desembargatoria na Relação do Pará, por decreto de 18 de
dezembro de 1875 e em que se empossou a 24 de fevereiro do
ano seguinte.
Ao deixar a cidade Natal, no dia de sua despedida, diz nos
Lino da Justa: “a população inteira por todas as classes sociais
prestou-lhe uma homenagem especial como preito à sua cons-
ciencia imaculada”.
Na Relação de Belém atingiu a presidência em 3 de agos-
to de 1878.
Foi distinguido com o titulo de Conselheiro de S. M. o
Imperador D. Pedro II em 22 de março de 1879.
A nostalgia pela terra do berço, o impeliu a pedir sua apo-
sentadoria que lhe foi concedida por decreto de 24 de outubro de
1880. E retornou para Sobral como límpida água de fonte que à
fonte volta. E voltou para morrer alí, porque alí foi que nascera.
Partira jovem e regressou no ocaso da vida.
Diz ainda Lina da Justa: “Sobral foi o seu ponto de partida
e o seu ponto de chegada”.
Minado por moléstia pertinaz e prolongada, sucumbiu às
7 e meia da manhã de 31 de março de 1889 e msua Sobral

176 Escorço Biográfico dos Desembargadores


querida. A quando de sua aposentadoria, féz-se Senador do
Império como o fôra seu pai, por carta imperial de 2 de maio de
1881.

FATOS DA VIDA INTIMA


Consorciou-se por três vezes. Em 20 de novembro de
1852 em Fortaleza com D. Maria Barbosa de Paula Pessoa. Em
4 de fevereiro de 1865 na cidade de Canindé com sua cunhada
D. Ana Barbosa de Paula Pessoa. Em 5 de junho de 1870 com
D. Mariana Barbosa de Magalhães, de cujos consórcios teve 11
filhos.
Quando em 1865 estalou a guerra do Paraguai, ofereceu
ao governo 10% de seus ordenados para a campanha, tendo
sido aceitos e agradecidos.
Em São José de Mipibu a quando assolado pelo cólera
fez-se visitador, proporcionando remédios e conforto aos pesti-
lentos, desapercebido do próprio risco em que incorria.
Em 1877 a quando da grande sêca do Ceará aos “apor-
tados peregrinos da fome” chegados em Belém constituiu-se:
Cônsul dos retirantes.
Foi 1.° Vice-Presidente em 27-7-1863 da Provincia do
Rio Grande do Norte.
Foi 2.º Vice-Presidente em 6-2-1864 da Provincia do
Ceará.
Senador do Império em 2-5-1881. Dizeres do titulo de
nomeação:
Vicente Alves de Paula Pessoa. Amigo. Eu o Imperador
Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil vos envio muito
saudar, atendendo ao distinto merecimento, letras e mais requi-
sitos que concorrem em vossa pessoa e usando da autoridade
que me compete: Hei por bem e me apraz nomear-vos Senador

Raul da Costa Braga 177


do Império pela Provincia do Ceará. E com êste emprêgo have-
reis o subsidio estabelecido e gozareis de tôdas honras que como
tal vos pertencem. Escrita no Palácio do Rio de Janeiro em 2 de
maio de 1881 sexagésimo da Independência e do Império.
Imperador.
Barão Homem de Mello.

Nada mais é preciso dizer do grande varão cearense, es-


trela de brilho ofuscante nas letras jurídicas do Brasil.

OBRAS PUBLICADAS
Anotações à Reforma Judiciária em 1874. Uma
preciosidade.
Anotações à Lei do Elemento Servil em 1875.
Anotações ao Código Criminal do Império em 1877. Re-
gulamento das Relações do Império em 1879. Código do Proces-
so Criminal em 1882.
Dicionário Jurídico, (inacabado).

178 Escorço Biográfico dos Desembargadores


DELFINO AUGUSTO CAVALCANTE
DE ALBUQUERQUE

Era pernambucano formado em Olinda no ano de 1844,


tendo tido como companheiro de turma Ermano do Couto que
foi fundador como presidente do Tribunal da Relação do Pará.
Sua carreira na magistratura foi iniciada como Juiz de Direito da
comarca de Maioridade, provincia do Rio Grande do Norte por
ato de 4 de outubro de 1858 e posse seis dias decorridos.
Em 1865 encontra-se no Juizado de Direito da comarca
pernambucana de Páu d’Alho.
Foi presidente da provincia do Rio Grande do Norte onde
já estivera judicando de 28 de junho até a 17 de agosto de
1871. Igual função desempenhou na provincia de Piauí de 28
de abril de 1875 a 3 de agosto de 1875.
Ainda nesse ano de 1875 passou para judicar na cidade
de Olinda de seus velhos tempos acadêmicos.
Estava na bela e histórica cidade pernambucana como
seu juiz de direito quando o ato do governo imperial de 23 de
outubro de 1875 e designou como desembargador a sevir na
Relação paraense em que se empossou perante seu presidente
Jansen Ferreira apondo sua assinatura no livro de juramentos às
fls. 7.
Permanecia em sua alta missão de sacerdote da justiça
quando o ato de 1º. de novembro de 1877 mais o galardoou,
designando-o Presidente da Coroa e Soberania Nacional perante
o Tribunal onde servia, cargo que assumiu em 11 de dezembro
seguinte.
Do Tribunal da Relação paraense foi transferido para o de
Recife por ato de 4-12-1885 deixando o exercicio no Pará em
27-12-1885.

Raul da Costa Braga 179


Nêsse último Tribunal permaneceu vários anos para se
tornar Senador Estadual em 1903.

180 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOSÉ QUINTINO DE CASTRO LEÃO

Nas terras do “Leão do Norte”, a gloriosa provincia de


Pernambuco, nasceu José Quintino de Castro Leão, aos 31 do
mês de outubro de 1815 do casal José Quintino Leão de Castro
Francisca X. da Cunha e Castro.
Em Recife concluiu seu tirocinio escolar formando-se em
ciencias jurídicas e sociais na velha Academia de Olinda, a 9 de
novembro de 1839.
Iniciou sua vida pública em 23 de março de 1842 como
promotor público de Flores e como juiz municipal de Olinda em
24 de junho de 1845, ambas em Pernambuco sendo nesta últi-
ma reconduzido.
Habilitado ao cargo de Juiz de Direito obteve nomeação
em 24 de julho de 1851 para a comarca de Cavalcante na pro-
vincia de Goiás, da qual foi removido a pedido em 15 de março
de 1859 para a de Seridó no Rio Grande do Norte.
Foi Juiz de Direito no Brejo da Madre Deus e Limoeiro
ambas ainda em Pernambuco, sendo que em Limoeiro assumiu
o exercicio a 20 de novembro de 1861, de onde foi removido
por ato de 17 de fevereiro de 1866 para a comarca de Breves
na provincia do Pará, recém-criada, com a categoria de 2a, en-
trância, onde se empossou em 16 de junho de 1866, judicando
por quase 8 anos.
O governo imperial o premiou em 2 de maio de 1874 com
a vara de Juiz de Direito de órfãos de Belém que a assumiu em
13 de junho seguinte.
imperial de 19 de setembro de 1877 com juramento pres-
tado Por fim atingiu a desembargatoria em Belém por alo em 19
de outubro, galgando a Presidência da Relação em 3 de fevereiro

Raul da Costa Braga 181


de 1887, quando a morte o colheu com duas décadas de pro-
ficua função no Pará, o dedicado fundador de familia paraense.
A propósito do lutuoso acontecimento publicou a Provin-
cia do Pará” em 11 de março de 1887:
“Ante-ontem à noite faleceu nesta capital o sr. con-
selheiro José Quintino de Castro Leão, presidente do
Tribunal de Relação. O saimento teve lugar ontem
à tarde, sendo numeroso o concurso de amigos que
acompanharam os restos do finado ao cemitério de
Santa Izabel. A família e aos amigos do des. Castro
Leão apresentamos nossos pêsames. Em sinal de pe-
sar, o fôro interrompeu seus trabalhos e a Câmara Mu-
nicipal suspendeu a sessão.”
O “Grão Pará” de 11 de março de 1887 dedicou-lhe uma
página inteira em tipo grosso:
“Baixou ontem ao túmulo o cadáver do exmo. sr. conse-
lheiro Castro Leão, digno presidente da Relação de Belém. Aco-
metido a muito tempo de grave enfermidade que, dia a dia, lhe
minava a existência, procurou S. Excia., combater o mal, mas
foram improficuos todos os recursos para salvá-lo, vindo a fale-
cer ante-ontem à noite.
Caráter austero, vasado em molde de fina têmpera, o con-
selheiro Castro Leão profetizava em si tudo quanto pode elevar
um homem na sociedade hodierna, tornando-se por isso, digno
do respeito e consideração de todos.
Isso quanto ao seu caráter de homem público como chefe
de familia S. Excia. soube pelo exemplo que aqui fica, transmitir
aos filhos o mais precioso dos legados, claras virtudes. Homens
como S. Excia., si é certo que por uma lei inevitável desaparecem
da terra que enobreceram com seus fatos, não é menos certo que
deixam atrás de si, um rastro luminoso que sempre aviventará a
sua memória tornando-a perdurável para aquêles que tiveram a
ventura de conhecê-lo e apreciar a nobreza de seus sentimentos.

182 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Por qualquer prisma que seja encarada a longa e laboriosa
vida do ilustre magistrado, ver-se-á sempre brilhantes nas suas
fases uma modéstia caracteristica numa inteligência fecunda;
completa ilustração envolvendo tudo isto, num conjunto harmo-
nioso, mais severo e mais inquebrantável probidade.
Castro Leão morreu como vivera, — pobrissimo. Lega à
sua familia porém, um nome honrado e impoluto que servirá
para ela de mais glorioso titulo. Castro Leão por isso mesmo
tinha o caráter austero e inquebrantável, não se deixando as
soberbar pelo receio de desagradar a quem quer que fosse, que
desnorteasse das raias da justiça, único farol que sempre guiou
na vida de magistrado, podia ter desafetos.
Homem de luta, via n’aqueles, apenas o reflexo das con-
trariedades que os animavam, quando diante da sua serenidade,
da sua intransigência de juiz perdiam as esperanças de pode-
-lo arrastar para uma injustiça. Armado unicamente de uma sã
consciência, passava por entre êles, o ilustre finado, deixando-
os com os seus olhos, com os seus preconceitos...
S. Excia. teve a morte dos justos. Na hora extrema deviam
refletir-se no seu semblante, a severidade de seus costumes, as
suas honrosissimas virtudes. Deus, Supremo árbitro de nossas
ações, o julgador eterno dos nossos atos, já lhe terá dado a re-
compensa das suas virtudes”.
O enterramento realizou-se pelas 5 horas da tarde, saindo
o préstito fúnebre da casa da residência, sita ao lado do quartel.
A beira do túmulo orou o sr. Raimundo Ciriaco Alves da Cunha,
como particular amigo e o dr. Santos Campos, Juiz de Direito da
2a Vara de Belém, em nome da magistratura que acabava de
perder um de seus mais respeitáveis e antigos membros, orando
ainda o major Gama e Costa, deputado provincial em nome da
Assembléia Legislativa.
Assinaram o convite à missa do 7º, dia: Guido de Cas-
tro Leão, José Quintino de Castro Leão Junior, Hugolino A. de

Raul da Costa Braga 183


Castro Leão, Francisca Betina Leão Condurú, Etelvino A. de Cas-
tro Leão Martins e Leoncio Quintino de Castro Leão, todos filhos
do magistrado extinto que honrára a toga e a provincia de seu
nascimento.
Faleceu o insigne magistrado em 9 de março de 1887,
aos 71 anos de idade e jaz sepultado em mausoléu próprio sob
n. 8663, quadro 2-F no cemitério de Santa Izabel.
De seus netos contam-se existentes nesta capital Abelar-
do Leão Condurú, atual tabelião de notas e que tem exercido no
país elevadas funções, qual a de Prefeito Municipal de Belém e
Senador Federal e que não desmerece a ascendência, homem de
combate que é, tal como o fôra seu grande avô.

184 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO JOSÉ ASCENSO
DA COSTA FERREIRA

José Ascenso da Costa Ferreira nasceu na cidade de Al-


cântara, da provincia do Maranhão a 10 de fevereiro de 1822,
filho legítimo do dr. Antonio Pedro da Costa Ferreira (Barão de
Pindaré) e d. Francisca da Costa Ferreira e neto por lado paterno
do tenente coronel Ascenso José da Costa Ferreira e Maria The-
reza Ribeiro da Costa Ferreira.
Bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais na velha
Academia de Direito de Olinda em 1845.
De sua biografia (S. T. da Justa) por L. Lage não consta as
funções que exerceu antes de se fazer Juiz de Direito.
Assim, o vemos mencionado como J. D. da Comarca de
Chapada em sua provincia natal por decreto de 9-9-55 e 10-2-
1856 onde serviu durante seis anos. Foi, em seguida removido
para a comarca de Sobral no Ceará em decreto de 8-1-1861 e
daí, para a capital da Paraíba em decreto de 17-8-1864 e 1ª.
v. civil em São Luiz do Maranhão em decreto de 15-10-1871.
Alcançou a desemb. da Relação de Goiás em dec. de 16-
11-1873 de onde foi removido para a de Belém em decreto de
22-11-1873 de onde foi removido para a de Belém em dec. de
22-11-1876, assumindo em 5 de dezembro de 1876, e por Sua
vez removido para a de São Luiz em decreto de 30-11-1883,
tendo, então ocupado a presidência em virtude do decreto de 14
de fevereiro de 1885.
Em 27-4-1889 foi nomeado Ministro do Supremo Tribu-
nal de Justiça na vaga ocorrida pela aposentadoria de José Tava-
res Bastos, tomando posse a 24 de julho do ano referido.
Foi deputado à Assembléia Legislativa por sua provincia
na 9ª. legis. 1853 a 1856 e por Carta Imp. de 6-2-1864 então

Raul da Costa Braga 185


J. D. de Sobral nomeado vice-presidente da provincia do Ceará
de que se exonerou em 5 de outubro por ter de exercer cargo em
outra provincia (J. D. J. Pessoa).
Foi agraciado por D. Pedro 2º. com o titulo de conselheiro
em decreto de 8-8-1885. No livro de juramento da Relação de
São Luiz consta a anotação.
“Em virtude do decreto de 30-11-1883 que houve por
bem remover-me da Relação de Belém para a desta provincia,
entrei em exercicio de Presidente desta Relação a 29 de outubro
dêste corrente mês sendo o mais antigo dos meus colegas”. Ma-
ranhão 29-10-1884.
a) José Ascenso da Costa Ferreira.
Noutro assentamento:
“Jurei e tomei posse a 17-3-1885 como presidente dêste
Tribunal nomeado por decreto de 14 de fevereiro próximo pas-
sado. Foi o excelentissimo sr. des. Augusto que me deu posse.
São Luiz 17-3-85. a) José Ascenso da Costa Ferreira”. Escrevem
- Lições de Econ. Polit. S. Luiz 1872. Com 194 pág. 8°.
Faleceu no Rio em 29-7-1897 com 75 anos, solteiro de
Congestão Cerebral, residente à rua D. Ana n. 8.

186 Escorço Biográfico dos Desembargadores


FRANCISCO URBANO DA SILVA RIBEIRO

Francisco Urbano da Silva Ribeiro nasceu na cidade de


Sobral aos 20 de fevereiro de 1822. Bachareluo-se em direito
pela faculdade de Olinda no ano de 1853, tendo por colegas de
turma os paraenses Roso Danin e Romualdo Paes de Andrade e
do pernambucano Gervásio Campelo Pires Ferreira, todos eles
desembargadores em Belém.
Antes de sua formatura dedicou-se ao professorado em
várias matérias, inclusive latim na cidade de Caxias, no Mara-
nhão onde fundára residência. Encontrando-se bacharel em Di-
reito dedicou-se à magistratura, aceitando a nomeação de juiz
municipal e de órfãos de Rosário na provincia do Maranhão, até
5 de janeiro de 1859 quando foi nomeado juiz de Direito em
Piauí, lugar em também exerceu a chefatura de policia e em cuja
função, escreveu o livro: “Chefatura de Polícia na Provincia do
Piauí” editado 4°. em São Luiz.
O relatório do império de 1864 (Sinimbú) o consigna para
cargo idêntico da comarca de Acaraú no Ceará em 1871 como
juiz de direito avulto. Retornou a carreira pela nomeação e daí
para a comarca de Granja, ainda do Ceará em 1875.
O decreto imperial de 10 de agosto de 1878 o nomeou
desembargador da Relação de Belém, empossando-se em 8 de
novembro seguinte, na vaga recém-aberta pelo falecimento do
desembargador presidente Jansen Ferreira.
Aqui esteve por 4 anos consecutivos, quando se fêz re-
movido a pedido para a Relação de São Luiz por decreto de
4 de abril de 1882, vindo encontrá-lo o Advento da República
em o número 1°. da lista para Ministro do Supremo Tribunal de
Justiça.
Foi casado por duas vezes, tendo tido do 1º. leito 21 fi-
lhos e 8 do segundo, dos quais segundo jornal “República” do

Raul da Costa Braga 187


Ceará, de 4 de fevereiro de 1903 que lhe fez o necrológio sub-
sistiam 14.
Faleceu o venerando ancião na cidade de São Luiz, ca-
pital do Maranhão a 31 de janeiro de 1903. Aos 81 anos de
existência.
A quando de juiz de direito de Acaraú o governador da
Província, o conselheiro Antonio Joaquim Rodrigues Júnior o
chamou a exercer interinamente a chefia de polícia cearense,
cuja gestão foi de 21 de abril a 31 de julho de 1868.
A “República” de 4-2-1903 publicou:
“Quando nesta província foi sempre liberal, filiado ao se-
nador Thomaz Pompeu, o chefe político de maior prestígio na-
quêle tempo, como magistrado tinha a Justiça em grande aprêço
passando como um caráter dos mais puros e uma das ilustrações
de superior nota. No Maranhão onde viveu por longos anos, não
desmereceu do conceito em que era tido por seus conterrâneos,
culminando alí pelo seu critério e saber como uma das primeiras
figuras do Tribunal”.
Era já transferido como desembargador do Pará, para
idênticas funções em São Luiz, quando o governo paraense, re-
presentado pelo desembargador Barradas seu colega de Relação
em S. Luiz ao se firmar na lei 1236 de 11 dezembro de 1886
supriu o cartório do cível e comércio de que era serventuário
vitalício, seu genro Juvencio Tavares Sarmento e Silva, fato que
impeliu o desembargador Urbano a um desabafo na “Pacotilha”
do Maranhão aqui transcrito no “Liberal” do Pará de 13 de mar-
ço de 1887 e que motivou a catilinaria do “Grão Pará” três dias
depois, jornal conservador de Siqueira Mendes.
Da família Sarmento e Silva existem no Pará muitos de
seus descendentes.

188 Escorço Biográfico dos Desembargadores


MANOEL JOAQUIM DE MENDONÇA
CASTELO BRANCO

Era alagoano nascido em Porto Calvo e filho do tenente


coronel Bernardo Antonio de Mendonça e de sua mulher d. Ana
Bárbara de Matos Castelo Branco. Era neto pelo lado paterno do
des. José de Mendonça de Matos Moreira, natural de Albujeira,
Algarve, Portugal e lado materno do des. Joaquim Pereira de
Matos Castelo Branco.
Formou-se em direito na Faculdade de Olinda em 1839.
De 1850 a 1864 foi deputado em três legislaturas por Alagoas.
Seu ingresso na carreira da magistratura se encontra registrado
no relatório do império em 1860 de Paranaguá como Juiz de
Direito com 3 anos, 7 meses e oito dias sem nomenclatura de
comarca.
Em 1863 no relatório Sininbú, é encontrado em o estado
de juiz avulso até o ano de 1871 em que aparece como juiz de
Direito de Camarajibe de 2.ª instância da provincia de Alagoas.
Em 1877, estava judicando na comarca de Cachoeira, na Bahia.
Foi deputado por Alagoas da 8.ª a 11.ª legislatura de
1850 a 1864.
Enfim, foi distinguido com a nomeação para desembar-
gador da Relação de Belém por ato de 18 de outubro de 1879
de que prestou o devido juramento em 5 de dezembro seguinte.
perante o presidente Jansen Ferreira.
O relatório do presidente da provincia do Pará, de José
Coelho da Gama e Abreu, barão de Marajó, apresentado a As-
sembléia Legislativa local em 15 de fevereiro de 1880, consigna:
“O desembargador Barão de Anadia prestou juramento e
tomou posse no dia 5 de dezembro de 1879 e se retirou para
fora da Provincia com licença por moléstia no dia 6”.

Raul da Costa Braga 189


Isso importa declarar que o Barão de Anadia, Manoel Jo-
aquim de Mendonça Castelo Branco foi desembargador do Pará
tão somente pelo curtíssimo espaço de um dia, aquele dia de
sua posse.
Logrou o ilustre magistrado o baronato em 23 de novem-
bro de 1870 e assim passou a assinar os atos públicos com a
chancela: Barão de Anadia como se vê do livro de ouro de ju-
ramento da Relação do Pará em curcivo diminusculo quase que
ilegível.
O Barão Smith de Vasconcelos em seu Arquivo Nobiliár-
quico escreveu:
“Faleceu o Barão de Anadia em 5 de setembro de 1886.
Magistrado. Foi deputado pela provincia de Alagoas nas 8ª. a
11ª. Legislatura de 1850 a 1864 e nas 14ª., 16ª., 18ª., e 19ª.,
de 1869 a 1885. Era Oficial da Ordem da Rosa”.

190 Escorço Biográfico dos Desembargadores


MANUEL CLEMENTINO CARNEIRO DA CUNHA

Natural da Paraíba do Norte, nasceu Manuel Clementino


Carneiro da Cunha a 14 de novembro de 1857, filho legítimo do
agricultor Diogo Soares de Albuquerque e D. Cândida Esmeria
Lins de Albuquerque, primo de Joaquim Manoel o revolucionário
de 1817 e tio de Silvino Elvidio Carneiro da Cunha, barão de
Abiahi.
Iniciou seus estudos na cidade paraibana de Brejo de
Areia com seu tio materno padre Cassiano Alvares da Costa Ma-
chado, continuando-os em 1841 na capital de seu Estado e os
indo concluir em Olinda. Ai se matriculou em 1844 na academia
onde recebeu o gráu de bacharel em 24 de outubro de 1848 ao
lado do piauiense Antonio Souza Mendes e dos pernambucanos
João Paulo Monteiro de Andrade e Sebastião José da Silva Bra-
ga, todos desembargadores no Pará. Já em 1849 por portaria de
10 de novembro foi nomeado suplente de Juiz de órfãos de Reci-
fe e em portaria de 3-6-1850 oficial maior da Secretaria do Go-
verno. Por decreto de 9-12-1850. Foi nomeado Juiz Municipal
de 1.ª vara de Recife quando em 1853 ocupou interinamente a
1a, vara de Juiz de Direito. Em 22 de abril dêsse ano recebeu
a nomeação de chefe de polícia, enquanto ausente seu titular o
desembargador Caetano José da Silva Santiago passando a de-
legado de polícia do 1º distrito segundo portaria de 13-5-1853
tudo no governo de Cunha Figueiredo. Nos biênios de 1854 a
1857 foi eleito deputado à Assembléia Prov. chegando a ser seu
presidente em 1855, tendo completado seu quatriênio de Juiz
municipal. Foi por decreto de 27 de outubro Juiz de Direito da
6.ª, comarca da provincia da Paraíba. Em 1857 foi por decreto
de 11-11-IX nomeado chefe de policia e em 1857 por carta im-
perial de 17 de fevereiro segundo vice-presidente de sua provin-
cia natal e posse em 9-4-1857, de onde foi removido para chefe
de policia em 1860 para o aranhão. Nesse ano a 16 de junho

Raul da Costa Braga 191


foi-lhe concedida a venera de Oficial da Imperial ordem da Rosa.
Com ligeira estadia, pois a 13 de agosto recebeu a nomeação
de Presidente do Amazonas, posse a 24-11-1860 recebeu a no-
meação de Presidente do Amazonas, posse a 24-11-1860. Em
1862 foi-lhe designada a comarca de Rio Formoso em Pernam-
buco para nela ter exercício por ter deixado os cargos que havia
ocupado fóra da magistratura, e dai removido para a comarca do
cabo por decreto de 7 de maio de 1864, exercendo interinamen-
te a chefia de policia em 1865 por portaria de 17 de junho. Por
carta imperial de 7-2-1866 foi nomeado 1.º vice-presidente de
Pernambuco tomando posse a 6 de março seguinte e governan-
do até 3 de novembro quando passou o exercicio de conselheiro
de Paula da Silveira Lobo. Nas legislaturas de 1869 a 1875
ocupou uma das cadeiras da Câmara dos Deputados do Império.
Em 1871 foi removido por decreto de 15 de dezembro de
Comarca do Cabo para a de provedor de capelas e Residuos em
Recife. Por carta Imperial de 12-4-1876 nomeado presidente
de Pernambuco com posse a 1-5-1876 até 15 de novembro do
ano seguinte quando entregou ao desembargador. Francisco de
Assis de Oliveira Maciel. Quando nessa presidência foi removi-
do em 12-7-1876 da vara da provincia para a de comarca em
Recife. No segundo governo pernambucano foi aberto a 7 de
setembro de 1876 à serventia pública o jardim da praça da Boa
Vista, atual Maciel Pinheiro a 2-12-1876 inaugurada a parte da
Boa Vista, reaberto o teatro Santa Izabel com a estréia da com-
panhia italiana Thomaz Passini. Foi o criador das comarcas de
Taquaritinga, Ingazeiro e Glória de Goità. Atingiu afinal a desem-
bargadoria para a Relação de Belém por ato de 18-4-1880 em-
possando-se a 16 de julho seguinte. Aposentou-se nesse cargo
a 10-11-1880. Aposentado ainda foi distinguido pelo Governo
Imperial com a nomeação de Vice-Diretor da Faculdade de Direi-
to de Recife por decreto de 28-8-1896.
Durante dois biênios foi provedor da Santa Casa de Mi-
sericórdia do Recife desde 1864 se fizéra sócio do Instituto

192 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Arqueológico de Geografia de Pernambuco e depois honorário em
12-7-1877 e seu presidente a 5-2-1888. Em 1/4/1898 deu-se
como impedido por doença ao comparecimento das sessões sen-
do aposto o seu retrato na sala apropriada. Déle asseverou Pedro
Celso: Na sua vida pública, assinalou.se pela correção sem falha
de proceder sempre honesto e bondoso, pela cultura de espirito e
pureza de instintos revelados no desempenho da missão social”.
Após a queda do regime Monárquico por escrúpulos res-
peitáveis acolheu-se a modesto retraimento tal qual o barão de
Penedo que recusou a Ruy Barbosa seus serviços à República
pela fidelidade a Pedro II.
Escreveu: Relatórios — Reflexos sobre o fundamento da
divisão do poder legislativo em duas Câmaras.
Casou em 25-11-1865 com d. Olindina Vieira Carneiro da
Cunha de quem enviuvou a 29.4-1896. Constituindo a seguinte
prole Manoel Clementino, aspirante da Marinha (falecido); João
Severiano, desembargador aposentado da Côrte de Apelação do
Rio; Antonio Clementino, engenheiro civil, bacharel e professor
matemática no colégio Estado de Pernambuco; José Clementino,
bacharel falecido em 1937; Francisco Clementino, médico e d.
Cândida Esméria Carmo da Cunha, que lhe guardam o nome e o
brazão da família.
Morreu o desembargador Manoel Clementino na cidade
de Recife onde fêz o auto de sua vida a 5-2-1899 no prédio 63 à
rua da Aurora. Está sepultado no cemitério de Santo Amaro. Foi
incansável na vida ativa e majestoso na vida particular. Honrou
a Paraíba e o Brasil.

Raul da Costa Braga 193


UMBELINO MOREIRA DE OLIVEIRA LIMA

Nasceu Umbelino Moreira de Oliveira Lima na paróquia de


Sant›Ana de Independência, quando esta localidade pertencia à
provincia do Piauí, antes, pois, da Lei Geral de 22 de outubro de
1880 que a transferiu para a do Ceará.
Recebeu o gráu de bacharel em Direito na Faculdade de
Olinda em 1852 tendo como colegas de turma o pernambucano
Constantino José da Silva Braga e o alagoano Francisco Leite da
Costa Belém, todos afinal desembargadores em Belém, todos
afinal desembargadores em Belém do Pará.
Iniciou sua vida pública em sua provincia como Diretor
da Instrução Pública. Integrou-se na carreira da magistratura ao
aceitar o cargo de Promotor Público em São Gonçalo do Amarante
de onde passou como juiz municipal do termo de Prety, ainda do
Piauí, por decreto de 4-3-1859.
Vêmo-lo Juiz de Direito da São Gonçalo em 1863; de
Baturité em 1871; em Alcântara em 1872 e em São Luiz do
Maranhão em 1874 na 3ª vara civil.
Ascendeu a desembargatoria no Tribunal da Relação de
Belém por ato imperial de 20-11-1880 de que se empossou
em 16-11-1880 prestando o devido juramento em termo que
assumir no livro competente perante o presidente Jansen Ferreira.
Decorridos anos e meio de sua judicatura em Santa Maria
de Belém, pediu sua remoção para a Relação de Fortaleza no
que foi atendido por decreto de 23-6-1882, embarcando a 26 de
julho pelo vapor «Ceará» para a terra de sua afeição de homem
feito, ali assumindo suas novas funções no último dia desse mês
de julho de 1882. E nessa alta instância aposentou-se, indo fixar
residência em Quixadá onde cerrou os olhos à existência terrena
aos 11 de março de 1901.

194 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Raimundo Lira no «Ceará» o nomeia dentre os filhos ilustres
de Independência e Euzébio de Souza no «Tribunal de Apelação
do Ceará» classifica-o como vigéssimo segundo desembargador
do Ceará», apresentando-lhe a fotografia de um vulto legitimo de
envergadura moral revestido da toga.

Raul da Costa Braga 195


JOÃO LADISLAU JAPI-ASSÚ
DE FIGUEIREDO MELO

Teve como terra de nascimento a provincia da Bahia e de


onde, já rapaz, procurou a Faculdade de Direito de Olinda, ao
curso de bacharelato que o concluiu em 1851.
Ao regressar ao seio dos seus, começou como juiz muni-
cipal e órfãos da cidade sertaneja de FEIRA DE SANT’ANA por
ato de 22 de junho de 1857 assumindo o exercicio em 28 de
agosto.
Entrou na magistratura pela nomeação de Juiz de Direito
da Comarca de BANANAL da provincia de São Paulo no ano de
1863.
Passou em 1875 a servir na comarca Arsenal de Marinha
da Côrte de 3.ª entrância. Em 1877 era Juiz de órfãos da Bahia.
Afinal foi nomeado desembargador com função na Rela-
ção de Belém por ato de 25-11-1880 e posse em 18 de feverei-
ro do ano seguinte:
A propósito de sua chegada à terra paraense o “Diário de
Belém” do dia 18 de fevereiro de 1881 noticiou:
“Chegou ontem, o distinto sr. des. João Ladislau Japi-
-Assú de Figueiredo de Melo, nomeado para servir na
Relação de Belém desta Capital. Cumprimentamos S.
Excia”
Aqui aportou, conduzido pelo paquete norte-americano
“City Of Rio de Janeiro” em 16 de fevereiro de 1881.
Logo no dia 18 prestou juramento de seu novo cargo ad-
vindo do ato de sua nomeação datado de 25-11-1880 perante
o presidente da Relação desembargador Jansen da Costa Ferrei-
ra, seja, em 18-2-1881, segundo faz certo o termo respectivo

196 Escorço Biográfico dos Desembargadores


constante do livro próprio às fls. 12 grafando seu nome por in-
teiro em cursivo pequenino sobremodo bem legivel e letra boa.
O ilustre magistrado permaneceu em Belém do começo
de 1881 até fim dêste ano, embora já transferido para a Rela-
ção da Bahia por decreto de 6-10-81 até se empossando em
18-2-1882.
Mostrou-se juiz ponderado e seguro, pois em primeira ses-
são a que acesas dentre seus membros como da noticia pelo
“Grão Pará” de 19-2-1881, transcrita na primeira parte dêste
livro.

Raul da Costa Braga 197


GERVASIO CAMPELO PIRES FERREIRA

Nasceu na cidade de Recife em 1830, formando-se em


direito no ano de 1853 na Faculdade de Olinda.
Era filho de Domingos Caldas Pires Ferreira e de D. Fran-
cisca de Barros Campelo, neto lado paterno de Gervásio Pires
Ferreira o relembrado revolucionário de 1817.
Casou-se a 5 de junho de 1867 em Porto Alegre com D.
Zelinda Cristina Fioravanti.
Logo depois de formado, foi em 1857 juiz municipal de
Pilar e Ingá da Paraíba e de Serinhahêm da provincia de Pernam-
buco, onde prestou e grande serviço como apreensor de uma
leva de escravos africanos ilegalmente importados, nada obstan-
te a proibição do tráfico negro, instituida pela lei de 1850. Esse
fato que contribuiu influentemente na instinção do contrabando
negreiro, criou-lhe antipatias e inimizades por parte daquêles es-
cravagistas interessados, contrariados que ficaram no tal comér-
cio ilícito, mas que também elevou o magistrado no conceito dos
homens de bem.
Foi chefe de policia em Belém no ano de 1868 e ainda do
Piauí, Paraíba e Rio Grande do Sul.
Em 1863, presidira a Provincia do Piauí.
Tendo completado na magistratura seu quatriênio, foi no-
meado juiz de direito de Teresina em 1870, de onde passou para
idêntico juizado na cidade de Caxias do Maranhão, ali perma-
necendo até 1874, passando-se para a comarca de Aracaju em
1875 daí se fazendo removido a pedido para Nazaré da provin-
cia da Bahia por decreto de 28 de maio de 1881.
Sua ascenção ao Tribunal da Relação de Belém adveio
do ato de 6 de outubro de 1881 em posse de 15 de novembro
dêste ano.

198 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Nessa última Relação foi presidente por vários anos até a
data de sua aposentadoria.
A quando juiz de Direito em Caxias, foi ameaçado de mor-
te, por ter dado sentença contra interesses de mandões locais,
que por isto combinaram assaltar-lhe a residência, disso lhe dan-
do aviso. Como sua esposa prudentemente pretendesse fechar a
casa ameaçada e tomar outras providências necessárias, o ma-
gistrado não consentiu no propósito e assim pondo um revólver
no bolso se foi sentar, como de costume, à calçada a espera dos
valentaços que não apareceram.
Era pai do professor de Direito Penal da Faculdade de
Direito de Recife, dr. Gervásio Fioravante Pires Ferreira e de João
Fioravante Pires Ferreira, colega de ano do autor dêste livro, cujas
formaturas ocorreram em 1808. Do emérito professor Gervásio
existem os filhos Rui e Luís fornecedores das notas de familia
acima transcritas.
Nas efemérides de “Almanaque de Pernambuco” de 1902,
se lê:
“O desembargador Gervásio Campelo Pires Ferreira, fale-
ceu com a idade de 63 anos. Logo após sua formatura dedicou-
-se à magistratura como juiz municipal até a desembargatoria,
sempre com honra e dignidade. Sempre que se tinha de falar de
magistrados natos, incapazes de transigir com os interesses da
Justiça era o nome do desembargador Pires Ferreira o 1.° que
acudia à mente de todos, amigos e inimigos”.
Pelos serviços prestados à nação foi agraciado com o Há-
bito de Cavaleiro da Ordem de Cristo com o Oficialato e Comen-
da da Rosa. Quando se deu a renúncia de Deodoro foi seu nome
indicado para governador de Pernambuco, que por telegrama
recusou. Ao ser inaugurado o majestoso edificio do Tribunal de
Justiça em Recife foi homenageado com aposição de seu busto
como legitimo representante da integridade da justiça.

Raul da Costa Braga 199


Faleceu Pires Ferreira em Recife aos 13 de setembro de
1893 vitimado por uma síncope cardíaca no momento em que
se preparava para ir a uma sessão do Diretório do Partido Re-
publicano de que fazia parte e na qual ingressára, após a sua
aposentadoria.

200 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO JOÃO RODRIGUES CHAVES

O Conselheiro João Rodrigues Chaves nasceu na província


da Paraíba do Norte e se formou bacharel em Direito na Faculda-
de de Olinda em 1853.
Retornando à Paraíba, recebeu sua primeira nomeação
para servir como promotor público da importante cidade de Ba-
naneiras por ato de 1 de junho de 1955, cargo que assumiu no
dia sete imediato.
Quasi dez anos decorridos foi contemplado com a nome-
ação de Juiz de Direito da comarca sertaneja de Flores da 1.ª
entrância em Pernambuco em 1863 e daí, comissionado Chefe
de Polícia de sua província natal em 1865.
Em 1867 passou para a comarca de Bonito, em Pernam-
buco, de 1.ª entrância, como a anterior. Foi removido por ato de
7 de agosto de 1872 para a comarca paraense de Santarém, de
2.ª entrância, assumindo-a em 24 de dezembro desse ano.

Raul da Costa Braga 201


Em 1875 estava judicando na comarca de Estância em
Sergipe da que se removeu a pedido para a de Santo Amaro, na
Bahia por decreto de 24 de julho de 1881.
Foi em Santo Amaro que recebeu a nomeação para de-
sembargador na Relação de Cuiabá por decreto de 9 de agosto
de 1891.
Primeiro vice-presidente do Pará em ato de 20-5-1882
que se empossou em 26 de junho e em dezembro pela segunda
vez.
Atingiu a desembargatoria em Belém por decreto de 4 de
abril de 1383 e posse em 27-5-1882 de onde se transferiu a
Relação da Bahia por ato de 18-8-1883 e posse a 14-4-1884.
Foi em 8 de abril de 85 o quinquagésimo presidente de
Pernambuco tendo passado o exercício em 7 de setembro de
18x85.
De Rodrigues Chaves disse Sebastião Galvão em seu Di-
cionário Pernambucano: “Foi magistrado chegando a honrosissi-
ma tradição de juiz intergerrimo ao elevado posto de desembar-
gador e presidente da Relação da Bahia.
Notas do historiador paraibano Celso Muniz :
“Deixou em João Pessoa uma sobrinha, D. Mariana Cha-
ves de Holanda, viuva do general dr. Camilo de Holanda que foi
presidente da Paraíba de 1916 a 1920.
Esta respeitável matrona que conhecêra o tio no auge de
seu prestígio, já não recorda datas e certos fatos preciosos. Disse
que seu tio foi presidente de Pernambuco e que faleceu na Bahia
já na República, aos 69 anos de idade tendo recusado um alto
cargo ou representação novo regime, irredutível monarquista que
fôra até a morte.
A Paraíba cultúa a memória do grande filho que se finou
no Estado da Bahia no ano de 1902.

202 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONS. SALUSTIANO ORLANDO DE ARAUJO COSTA

Filho de Manoel Joaquim de Araujo e de d. Maria Vitória


de Araujo nasceu Salustiano Orlando na cidade de São Cristovão
a êsse tempo capital da provincia de Sergipe aos oito dias do
mês de agosto de 1834.
Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de Recife em 7
de novembro de 1855, então situada à Rua do Hospicio pela
transferência da cidade de Olinda.
Em 1856 foi nomeado promotor pública da cidade de La-
ranjeira, vila essa Sergipana por ato de 10 de outubro de 1856
e exercicio em 9 de junho de 1857.
Em 1862, ocupou igual juizado em Mangaratiba provin-
cia do Rio. Sua entrada efetiva na magistratura teve lugar em
1864 a quando da nomeação ao cargo de Juiz de Direito em
Macapá provincia do Pará.
Estavam reservados a esta última provincia os impulsos
mais vigorosos na ascenção judiciária do grande cultor do Direito
como futuro conselheiro de S. Majestade o Imperador D. Pedro
II, pois que retornado ao juizado em São Paulo e Rio Grande do
Sul, novamente retornára ao Pará como portador de merecida
nomeação como desembargador à Relação de Belém.
Como Juiz de Direito em Macapá foi de curta demora sua
permanência de vez que ainda em 1864 recebia a designação
para chefe de Policia no Amazonas, alí passando em 1865 à
Diretoria Geral de Instrução Pública que a deixou em razão de
nova comissão em 1867 para chefe de Policia da provincia do
Ceará tempo em que foi agraciado com o titulo de cavaleiro da
Ordem de Cristo e logo em 1870 comendador da Ordem Militar
Portuguesa de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.

Raul da Costa Braga 203


Em 1861, é consignado em relatório do Império como
Juiz de Direito em Jacareí, em São Paulo e transferido em 1872
para São Pedro de Porto Alegre. Nêsse ano de 1872 foi-lhe con-
ferido titulo de fidalgo cavalheiro da Real Casa de S. M.
Fidelissima. Em 1873 recebeu a nomeação de Auditor de
Guerra em Porto Alegre.
Afinal em 3 de agosto de 1882 o decreto de sua nomea-
ção como desembargador em Belém, empossando-se em 5 de
setembro seguinte.
A propósito dessa última nomeação publicou o “Diário do
Grão Pará”, de 3-8-1882:
“O desembargador Salustiano Orlando de Araujo Costa
honrado para a Relação de Belém, foi alvo de uma imponente
manifestação popular em Porto Alegre onde serviu como Juiz de
Direito de sua comarca. Si a manifestação feita ao exmo. desem-
bargador Orlando, di-lo um jornal riograndense, não tivesse tido
o esplendor das grandes festas ela assinalou notadamente nos
anais gaúchos não só pela espontaneidade como dos que a mes-
ma compareceram um brilho invulgar porque foi êle o primeiro
magistrado que a motivou”.
O nóvel desembargador paraense aqui aportou a tomar
conta de suas novas e nobilissimas funções a 4 de setembro de
1882 tendo viajado pelo vapor “Espirito Santo”, assumindo-as
nêsse mesmo dia de sua chegada.
O jornal belemense “A Constituição” também noticiou:
“Acha-se entre nós o distinto magistrado desembargador
Orlando de Araujo Costa ultimamente nomeado para servir em
nosso Tribunal da Relação. Cumprimentamos a S. Excia”.
De Belém o conselheiro Orlando se transferiu por seu pe-
dido para a Relação de Porto Alegre por decreto de novembro de
1882 e posse a 21 dêsse mês.

204 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Frente a essas novas funções deduz-se que o grande Or-
lando emérito anotador do Código Comercial Brasileiro apenas
perdurou em Belém por dois meses e dias.
Com o advento da República e emérito magistrado com
tão elevados titulos e serviços e tamanha capacidade de traba-
lho, inteligência e cultura não foi aproveitado pela nova Organi-
zação Judiciária Riograndense.
Sua altivez respondeu a descortesia dos aflorados em o
novo regime subscrevendo o protesto, mas transparecido de sua
autoria em que se encontram periodos como estes:
“Fundou-se o governo para extinguir o Tribunal da Re-
lação tão inesperada brusca e violentamente, não só
no fato de se achar um de seus membros envolvido
no último plano sedicioso havido nesta cidade como
também no fato de ter o mesmo Tribunal mandado li-
bertar os indiciados na dita sedição, presos pelo chefe
de policia.
O que tem uma instituição pública criada por neces-
sidade pública com as pessoas que nelas funcionam
Parece que a lógica não é elemento que tivesse entra-
do nessa resolução no governo provisório.
O governo no desatino de sua marcha opressora com
as prisões preventivas efetuadas pelo chefe de polícia
sem saber si legais ou não, nem consente que o Tri-
bunal competente, legalmente provocado as examine;
ao contrário, extingue-se tão simplesmente por ukase
ditatorial, mas o cobrindo com os mais vergonhosos
baldões.
Os abaixo assinados, portanto, folgando de terem
cumprido seu árduo dever nas tristíssimas circunstân-
cias em que infelizmente se acha o país não lamento
o infortúnio de que foram vitimas, sinão pela calúnia

Raul da Costa Braga 205


com que os procuram denegrir; consolam-se com a
lembrança de que em tempos tão dificeis não deixa de
alguma sorte, de ser glorioso para o magistrado ocu-
par uma posição neutra entre o temor e a esperança,
procurando ainda que de mui longe conformar-se com
o pensamento do poeta:
— Si fractus ilabatur orbis
Impavidum me ferient ruinoe”.

Não chegamos a descobrir o nome do Pina Manique, rio-


grandense que se atreveu a decretar uma ordem de prisão pre-
ventiva contra Orlando por tentativa de uso de documento falso,
legalmente afiançável si não fosse capciosa imputação.
Nêsse ponto a atuação Bacelar no Pará foi quase infantil,
frente aquela dos poderosos do extremo sul, cuja extinção da
Relação Portoalegrense, culminou extra raias do ditatorialismo
que a história registrou para a mácula do regime dealbado em
fagueiros sonhos de alguns, mas esteriorizada abusiva e absurda
de quantos outros.
Do poderio incomensurável e da deslavada prepotência de
1891, ficára a vergonha de 1892.
Vitima de artério esclerose generalizada faleceu a 1 hora
da tarde de 23 de agosto de 1908 em sua residência à rua Se-
nador Dantas, número 47, no Rio de Janeiro.

NOTA: — O governador eleito para o Rio Grande do Sul


fora o dr. Julio de Castilhos.

206 Escorço Biográfico dos Desembargadores


PEDRO ANTONIO DA COSTA MOREIRA

Natural da cidade de Nossa Senhora do Rosário do Pilar,


da provincia de Alagoas, nasceu Pedro Antonio da Costa Moreira,
em 1831, diplomando-se em 1848 na velha Faculdade de Direi-
to de Olinda, na mesma turma de Manoel Clementino Carneiro
da Cunha, Souza Mendes, Monteiro de Andrade e Sebastião Bra-
ga, todos afinal desembargadores do Pará.
Vêmo-lo juiz de Atalaia em sua provincia por ato de 16 de
setembro de 1858, e posse em 24 de abril de 1859.
Em 1870, era Juiz de Direito em Gurupá, provincia do
Pará, de onde retornou para Pilar em 1871, até que foi nomea-
do desembargador em Cuiabá, por decreto de agosto de 1881,
logo depois removido à Relação de Belém por decreto de 11 de
novembro de 1882, assumindo o exercicio em 15 de dezembro
seguinte, em cujas funções ficou investido, tão só, por vinte e
um dias de vez que em 6 de janeiro do ano seguinte veio a fale-
cer nesta capital. É que chegára em Belém com saúde precária,
consequente de velhos padecimentos, estado que continuou a se
alterar para pior, até que veio a falecer.
Todos os jornais da época, publicaram-lhe o necrológio. A
“Provincia do Pará” estampou:
“Na tarde de 6 do corrente, faleceu nesta capital o
desembargador Pedro Antonio da Costa Moreira, a
pouco despachado para a Relação dêste distrito, aqui
chegado ultimamente. O desembargador Moreira ape-
nas prestara juramento e assumira o respectivo exer-
cicio, sem que a moléstia de que já viera afetado, lhe
desse ensejo a tomar parte nos trabalhos do Tribunal.
Achando-se hospedado num hotel, o seu ilustre colega
e amigo desembargador Delfino Cavalcante, queren-
do prodigalizar-lhe todos os cuidados que exigia o seu

Raul da Costa Braga 207


melindroso estado de saúde, levou-o para o seio de
sua familia, onde, não obstante os maiores desvelos e
os recursos de que lançou mão a ciência, expirou no
referido dia, sendo o cadáver depositado à noite na
capela de São João de onde saiu às nove horas da ma-
nhã do dia seguinte e funeral muitissimo concorrido”.
O “Grão Pará”:
“Faleceu no dia 6 do corrente o desembargador Costa
Moreira que havia pouco mais de um mês chegado
das Alagoas e tomára posse de seu lugar, mas logo no
dia imediato agravaram-se os seus incômodos a ponto
de não mais voltar ao Tribunal, até que tendo obtido
licença para regressar a sua procedência, expirou na
casa do desembargador Delfino”.
A “Constituição”
“Finou-se e foi sepultado nesta capital o honrado e
integro magistrado desembargador Costa Moreira,
membro da Relação de Belém. O distinto juiz chegou
a esta cidade no dia 15 de dezembro findo, já bastan-
te enfermo e apenas lhe foi possivel tomar posse de
seu alto cargo. Foi Juiz de Direito de Gurupá, sendo
removido para a comarca de Pilar, nas Alagoas que a
presidiu várias vezes como seu vice- presidente. Era
um homem de bem e sempre estimado até por seus
adversários politicos. Era oficial da ordem da Rosa e
deputado geral em várias legislaturas”.
“Diário de Belém”:
“Desembargador Pedro Antonio da Costa Moreira, aqui
chegado recentemente, faleceu de tuberculose pulmo-
nar no domingo último. Sua saúde era precária ao
embarcar para esta província e se agravou, disse-nos
sua excelência, por um golpe de ar apanhado no Ce-
ará. Pensava em se retirar no vapor que desferrou no

208 Escorço Biográfico dos Desembargadores


mesmo dia e mesmas horas em que era seu cadáver
conduzido ao cemitério. Morreu moço, ainda na idade
de 52 anos. Era magistrado distintissimo pelo saber,
pelo caráter sempre igual, pelo sentimento de justi-
ça muito pronunciado em seu espirito. Administrou
seu povo onde tinha a estima de ambos os partidos,
porque sua severidade de costume e seu espirito pelo
direito nunca consentiram no sacrificio da justiça em
suas mãos. Era conservador, mas a politica era meio
e não fim. Tal o magistrado que o país acaba de per-
der. O Barão de Santa Candida, Francisco de Souza
Silva e Lima Juiz de Direito em Belém, descobrindo-se
no momento em que ia descer o cadáver à sepultu-
ra, pronunciou uma pequena oração que recordava as
qualidades do morto, pondo em relevo os méritos que
lhe ornavam o coração. O “Diário de Belém” cumpre
um dever, desfolhando uma saudade sobre a campa
que encerra os despojos do magistrado integro que se
chamou Pedro Antonio da Costa Moreira”.
No livro de óbitos da freguesia da Sé, se encontra:
“Seis de janeiro de 1883. Aos seis dias do mesmo mês
e ano, desembargador Pedro Antonio da Costa Morei-
ra, com 52 anos, natural de Alagoas, branco, solteiro.
Sepultou-se em Santa Izabel. Cônego José Lourenço
da Costa Aguiar”.
A sepultura tem o número 3.650 na aludida necrópole.

Raul da Costa Braga 209


CONSELHEIRO FRANCISCO
LEITE DA COSTA BELÉM

É o conselheiro Francisco Leite da Costa Belém, natural


da provincia das Alagoas, tendo-se formado em 1852 no velho
convento de São Bento de Olinda.
Sua atuação na vida pública encontra-se com a nomeação
de Juiz Municipal de Sabará de Minas Gerais, em que foi
reconduzido por decreto de 15-2-1859.
Ingressou na magistratura em 1863 pela aceitação ao
cargo de Juiz de Direito da Comarca do Rio Pardo, em Minas
Gerais.
Em 1871 foi transferido para a de Piranga ainda em
Minas. Galgou o juizado de segunda entrância por ato de 1873
que o promoveu para a comarca de Mariana e Rio das Mortes.
Passou em seguida para São João del Rei por ato de 4-11-1876.
Seis anos decorridos foi nomeado desembargador da Relação de
Belém por ato imperial de 30-9-1882 tendo assumido o cargo
e prestado o compromisso devido em 27-12-1882 perante o
desembargador o presidente João Rodrigues Chaves.
Em Belém permaneceu em suas altas funções cerca de
três anos, quando foi transferido para a Relação de Ouro Preto
por ato de 10-10-1885, ali se empossando em 21-12-1885.
Foi vice-presidente de Minas Gerais, onde mais se
desenvolveu em sua vida pública em 1871 a 1875 por cinco
vezes.
Afinal foi aposentado em dias de março de 1891 como
desembargador de Ouro Preto.
O Governo Imperial o galardoou com o título de Conselheiro
pelos serviços prestados ao país.

210 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSELHEIRO ROMUALDO DE SOUZA
PAES DE ANDRADE

Nasceu às margens do Lago Grande de Juruti aos 17 dias


de maio de 1827 e alí passou a sua primeira infância, segundo
sua própria estrofe que corre impressa:
“Nos amenos vergeis, nas frescas margens
Do pátrio Juruti
Com lêdos companheiros descuidosos Minha infância
frui”.
Foi seu pai, o capitão de milícias Romualdo de Souza
Paes de Andrade, alí estabelecido e que os cabanos destruíram
em 1835 e de D. Felisbela Maria de Souza, ambos oriundos de
antigas e honradíssimas famílias.

Raul da Costa Braga 211


Tinha, então, 8 anos, quando a cabanagem obrigou seus
pais a abandonarem seu estabelecimento comercial que foi qua-
se totalmente arrasado.
Levado para Óbidos, alí não encontra escola onde pudes-
se aprender a ler, porque tudo havia desaparecido com a anar-
quia daquêles tempos calamitosos.
Em 1830, em virtude dessa falta absoluta de estabeleci-
mento de instrução primária no sertão do Pará, foi entregue por
seu pai, ao cônego Antonio Manoel Sanches de Brito. seu padri-
nho que o conduziu para a então vila de Cametá. Ai principiou
para éle uma série de obstáculos e de desgostos que serviram
para fortificar o seu caráter.
Tinha apenas 11 anos, quando deixou o seio da família,
que reduzido a pobreza pela revolução, não podia de modo al-
gum, socorrer-lhe.
Só o ardente desejo de saber, poderia mantê-lo no meio
das mil privações que se lhe antolhavam.
Chegado a Cametá, foi abandonado pelo cônego Sanches,
que perseguido pelo general Andréa, então presidente da provin-
cia, foi processado e metido a bordo da CHEM-CHEM”, apesar
de ter sido o principal motor da pacificação do Baixo Amazonas.
O conselheiro Paes de Andrade, então menino de 11 anos,
encontrou por sua felicidade um parente, o tenente coronel José
Lopes de Mendonça, que o achando em tal abandono, o arreca-
dou para sua casa, mandando-o a escola do padre Vito- rio Pro-
cópio Serrão, que lhe ensinou gratuitamente as primeiras letras.
Foi tal o progresso feito pelo jovem estudante, que em
1839 já tinha completado o curso primário.
Foi no fim dêsse ano, que o cônego Sanches, já livre das
perseguições, na cidade de Belém, o reclamou, sendo imediata-
mente remetido por Lopes de Mendonça.

212 Escorço Biográfico dos Desembargadores


De novo, tinha de ser abandonado em Belém pelo referido
cônego que o entregou ao comerciante Cipriano Antonio de As-
sunção, para o ter em seu estabelecimento até 1842. Nêsse ano
indo a Belém o padre Sanches de novo o reclamou conduzindo-o
para Óbidos, onde o entregou à familia. Ali perdeu êle três anos
— os melhores para os seus estudos — agregado ao estabele-
cimento paterno no Paraná-Miri de Cima. Em 1845 finalmente
seu velho pai, a instância dêle filho, resolveu remetê-lo ao seu
avô materno, Manoel ePreira de Souza, brasileiro e que exercia
o cargo de escrivão do selo na Alfândega, tendo nessa época 18
anos de idade.
Em companhia dêsse seu avô fêz rápido progresso nos
estudos de preparatório. Quando ainda se achava em tais estu-
dos, veio a morte roubar-lhe seu protetor em junho de 1846. Um
novo abandono viria interromper a brilhante carreira do jovem,
se não fosse aparecer-lhe um novo protetor com quem até alí não
tinha tido relações — José Pinto de Araujo, escrivão dia Mesa
Grande da Alfândega que o recebeu em sua casa como se fôra
um filho, e lhe deu muitas relações de amizade em Belém.
Então, nova era se abriu ao estudante que fez nesse ano
no Liceu paraense diversos exames, sendo laureado com o 1º.
prêmio em latim e filosofia. No ano seguinte, prestou exames de
matemática, retórica e francês com os primeiros prêmios.
Assim preparado tomou a firme resolução de prosseguir
na carreira. Com essa boa vontade e cheio de coragem seguiu
para Pernambuco a 17 de fevereiro de 1848 no vapor “Impera-
triz”. Chegou a Olinda no dia 27 seguinte, prestando todos os
exames, até o dia 15 de março quando se matriculou no curso
juridico.
Sempre lutando com as privações de vidas e insuficiência
de recursos conseguiu fazer até o 4 ° ano, sempre respeitado
como um dos primeiros de sua turma. Nêste ano sobreviveu-lhe
uma grave enfermidade que o obrigou a deixar os estudos, tendo

Raul da Costa Braga 213


perdido o 4 ° ano, motivo por que veio a se formar em Olinda em
1853 aos 26 anos de idade. c. v.
De volta ao Pará foi nomeado promotor público da co-
marca de Santarém em 1853 e removido para a de Cametá em
outubro do mesmo ano. Por decreto de 3 de janeiro de 1855, foi
nomeado juiz municipal de órfãos do termo de Óbidos, onde fêz
seu quatriênio, findo em 10 de abril de 1859.
Foi deputado provincial por um biênio.
Por decreto de 14 de outubro de 1862, recebeu a nome-
ação de juiz de direito da comarca de Solimões, na província do
Amazonas, assumindo o exercicio em 13 de maio do mesmo
ano.
Dessa comarca fez-se removido para a de Parintins da
mesma provincia de 8 de agosto de 1878 e para a comarca de
São Bento dos Perises por ato de 14 de janeiro de 1882.
Afinal, por decreto de 14 de fevereiro de 1883, foi nome-
ado desembargador da Relação de Belém de que tomou posse
em 27 de março seguinte, Relação de que se fêz presidente em
17 de novembro de 1883 e que a assumiu em 20 de dezembro
seguinte.
Pela reforma Huet de Bacelar foi o único desembargador
que restou em seu cargo na qualidade de 1.º presidente. Em 30
de junho de 1891 assumindo o governo Lauro Sodré, ratificou a
nomeação de desembargador dias antes feita por seu antecessor.
Paes de Andrade foi agraciado por Carta Imperial de 29
de dezembro de 1883 com o titulo de conselheiro.
Eis a integra desse título:
“D. Pedro por graça de Deus e unânime aclamação
dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Per-
pétuo do Brasil. Faço saber aos que essa minha car-
ta virem que atendendo ao merecimento e letras do

214 Escorço Biográfico dos Desembargadores


desembargador Romualdo de Souza Paes de Andrade,
presidente da Relação de Belém e de conformidade
com o disposto no artigo 12 do decreto no 5618 de
2 de maio de 1874 hei por bem fazer-lhe mercê do
titulo do meu Conselho com o qual gozará de todas
as honras, prerrogativas, autoridades, isenções e fran-
quezas que hão e tem os do meu Conselho e como
tal lhe compete, prestando o juramento do estilo na
conformidade da Lei de 14 de dezembro de 1830 e
que lhe dará Conselho fiel e tal como dou, quando eut
lh’o mandar. E para firmeza de tudo o que dito é e lhe
mandar dar esta carta por MIM assinada, a qual será
selada com as Armas Imperiais.
Dada no palácio do Rio de Janeiro em 29 de dezembro
de 1883, sexagenário II da Independência e Império.
Com al rubrica de S. M. o Imperador.
(ass.) Francisco Antonio de Maciel”.
Durante a guerra do Paraguai, serviu interinamente por
duas vezes 1864 e 1868 como chefe de Policia do Amazonas e
ainda em 1878 onde foi 3°. vice-presidente, segundo vice-presi-
dente de 1879 a 1882.
Casou-se em 24 de março de 1859 com D. Maria Tere-
za Lima, filha do capitão Manoel Pereira Lima com D. Ana de
Lira Pereira Lima, esposa que, 33 anos decorridos de seu feliz
consórcio foi a pezarosa declarante de seu estremecido marido,
vulto que se finou em Belém, aos 8 de novembro de 1892 à
rua São Mateus nº. 102, canto com a Santo Amaro, em casa de
sua residência aos 65 anos de idade, vitima de arterio esclerose
generalizada de diabetis com um tumor gangrenado conforme
atestado do médico Luciano Castro.
Como doloroso reverso de medalha que ninguém levou
em conta o “Grão Pará” de 24 de fevereiro de 1887 o cognomi-
nára: “o juiz mais partidário dêste país”.

Raul da Costa Braga 215


O “Popular” em 11 de novembro de 1889 deu uma edi-
ção especial com o retrato do conselheiro Paes de Andrade e sua
biografia repleta de conceitos honrosissimos relativos às diver-
sas fases brilhantes de sua vida pública, especialmente como
magistrado.
O “Diário de Noticias” de 10 de novembro de 1892 ao
noticiar o falecimento de Paes de Andrade disse:
“Fôra Presidente do Tribunal, vice-presidente do Senado
e 2º. vice-presidente do Estado. Era liberal mas enquanto exer-
cesse cargos politicos de tão elevada importante o cará ter de
juiz era o que nêle sobrelevava aos outros, e podemos dizer sem
receio de contestação, que na sua vida de magistrado foi orgulho
e ornamento de sua classe e robustissima garantia do direito e
da justiça em toda parte onde exercitasse a jurisdição. A sua
probidade e retidão, os seus vastos conhecimentos e os serviços,
grangearam-lhe o respeito e a estima pública. O seu falecimento
foi uma grande perda para o estado”.
Eis aí a razão da ofensiva do “Grão Pará”, — a função
politica do conselheiro, uma e outro dignos por todos os títulos.
Antes do glorioso movimento abolicionista do Império pela
formosissima Lei Aurea de 13 de maio de 1888, promoveu Paes
de Andrade a libertação da paróquia da Trindade onde residia,
tomando assim parte bem saliente nêsse movimento pro liberda-
de do homem escravo.
Foi o primeiro paraense com assento na Relação de Belém
e o único que sobrestou o bota-abaixo do capitão tenente Huet
de Bacelar ao despejar, barra afóra, os demais componentes da
alta instância de justiça paraense.
Deixou 3 filhões varões, sendo um dêles — Geraldo —
Juiz de Direito em Belém, e todos êles, herdeiros honrados do
nome e virtude paternas.
Honra ao varão, simbolo de nobreza de uma época.

216 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOAQUIM DE PAULA PESSOA DE LACERDA

Nasceu Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda, na provin-


cia de Pernambuco no ano de 1829, filho legítimo de Antonio
Ribeiro Pessoa de Lacerda e D. Paula Joaquina Pessoa de Lacer-
da, onde fêz seus estudos iniciais e complementares, matricu-
lando-se, afinal, na velha Faculdade de Direito de Olinda, onde
se formou bacharel em Direito em 1851.
Propenso à carreira da magistratura, nela ingressou em
primeira investidura com a nomeação de juiz municipal de Por-
tel, Breves e Cametá na província do Pará, em 1853.
Foi assim, um dos primeiros nordestinos a emigrar para
a Amazônia, em cuja esteira foi levantado vôo a coorte de levas
e levas de bachareis intemeratos aos quadrantes de um destino
ignoto, até a ocorrência da última arribada em 1911, quando
a queda econômica do preço da borracha sob padecimento de
toda ordem e sem conta, estancou o manancial.

Raul da Costa Braga 217


Daquêle primeiro juizado municipal retornou para cargo
idêntico na comarca de Cabo de sua terra natal, ai completando
seu segundo quatriênio.
Sua primeira nomeação como Juiz de Direito ocorreu em
1863, para a comarca de Parnaíba no Piauí. Daí, passou para a
comarca de Seridó no Rio Grande do Norte e por seu pedido para
a de Granja, no Ceará, essa última por decreto de 6 de maio de
1865.
Em 1871 encontramo-lo Juiz de Direito da comarca de
Alcantara no Maranhão e a seguir na de São Luiz por decreto de
1o. de junho de 1864.
Atingiu enfim o ponto maximo da carreira nobilitante por
dec. de 28 de Agosto de 1988 que o nomeou desembargador na
relação de São Luiz em que se empossou em 14 de Setembro
seguinte.
Foi por decreto de 30 de novembro de 1883 removido
para a Relação do Pará, empossando-se em 26 de dezembro.
Estava nêste alto posto exercendo a presidência, quando
a reforma Huet de Bacelar o não aproveitou, como também não
aproveitára os demais desembargadores seus colegas, postos
barra afóra, a exceção de Paes de Andrade, único remanescente
a transmitir aos porvindouros a tradição do Tribunal e o vivo do
oprobio cometido.
O desterro fêz seus resultados quanto à partida dos desti-
tuídos, mas Pessoa de Lacerda ficou. Já estava paraense queren-
do bem como sua heróica esposa D. Zulima Torreão de Lacerda
à terra que os acolhera e os estimava.
Ficou o querido casal de velhos aqui residindo à travessa
de Alenquer no. 26 no bairro da Cidade Velha, até que a morte
apagou a personalidade do varão insigne.
O fato da visita que fez ao governante constituinte, já em
quase certeza da “debacle avisinhada”, longe está de demonstrar

218 Escorço Biográfico dos Desembargadores


um ato de fraqueza, sim de indiferença e exercicio de uma no-
bre função que o decoro próprio não estremece sob qualquer
circunstância. É mesmo possivel que o fizesse por aquiescência
aos colegas, porque de si, Pessoa de Lacerda, não mudou de sua
linha austera.
Entrou na pobreza e uma rude aposentadoria com o âni-
mo. forte, jamais desmentido dos homens fortes. Restou para a
vida exclusiva do lar na estima infinita à esposa, D. Yayá e sua
filha única, Josefa de Lacerda Redigues, Pepita na intimidade,
casada com o médico Redigues de Cametá. E D. Yáyá, enviuva-
da, ficou proporcionando aos paraenses que a procuravam, um
cartão Ordem de Coração ao presidente Epitácio Pessoa, afeiço-
ado, aparentado de seu marido.
De Pessoa de Lacerda como ato intimo de indignação a
destituição sofrida, conta se ter mandado queimar no quintal de
sua casa sua vasta biblioteca.
Há outro fato como homem de estirpe pediu que se lhe
juntasse ao ataúde a bandeira Imperial que êle guardava habitu-
almente em baixo do travesseiro.
A “Folha do Norte” de 17 de março de 1916 estampou:
“Realizaram-se ontem os funerais do desembargador
Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda, falecido ante-
-ontem nesta capital às 8,30 da noite em sua residên-
cia à travessa de Alenquer no 26.
Após a encomendação do corpo, cerimônia religiosa
feita pelo Cura da Sé, padre Melibeu Lima, teve lugar
o saimento do cadáver, formando-se então o préstito
fúnebre à direção a necrópole de Santa Izabel, onde
ficou enterrado na sepultura 207, quadro dos Irmãos
da Santa Casa, alí ficando os despojos do venerando.
magistrado.

Raul da Costa Braga 219


Da casa mortuária para o côche fúnebre que era de
primeira classe, tocaram nas alças do caixão, Dr.
Enéas Martins, Governador do Estado, drs. Augusto de
Borborema, José Augusto de Pinho, Alfredo Chaves e
Artur Redigues. Vimos sobre o ataúde duas ricas gri-
naldas com as seguintes inscrições: “Saudosa recorda-
ção da família Pinho”. “Ao vovô La- cerda, saudades
de Stélio”.
O “Estado do Pará” de 17 de março de 1916:
“A sociedade paraense, recebeu sob profunda impres-
são de mágoa, a nova da morte do ilustre desembar-
gador Joaquim de Paula Pessoa de Lacerda, ocorrida à
noite de ante-ontem em Belém.
Magistrado de uma inquebrantável linha de conduta
com um largo tirocinio de vida pública, pautada na
honra e no dever, toda a cidade o sabia o nome limpo,
um caráter ilibado, uma envergadura moral sem má-
cula. Daí a aureola de consideração que lhe cercava a
personalidade e agora lhe rodeia a memória.
Logo que se espalhou a noticia do seu falecimento le-
vando ao espirito de quantos o conheciam a amargura
e uma sincera consternação, afluíram senhoras e ca-
valheiros amigos à casa enlutada a velar o cadáver na
demonstração piedosa das últimas homenagens.
Os funerais realizados à tarde de ontem foram um
atestado eloquente pela distinta e avultada concorrên-
cia desse sentimento de simpatia da nossa sociedade
ao magistrado extinto”.
A “Palavra” de 19 de março de 1916:
“Confortado com os sacramentos faleceu no dia 16 à
noite o venerando desembargador Pessoa de Lacerda.
Percorreu o saudoso morte a escala de sua carreira,

220 Escorço Biográfico dos Desembargadores


dando sempre sobejas provas de um caráter integro
e talento superior. Ao seu enterro compareceu grande
número de amigos da família, achando-se presente o
exmo. sr. dr. Governador do Estado. e sob representa-
ção o exmo. sr. Arcebispo Metropolitano”.

Foi esse vulto que a prepotência de um governo de im-


provisação não conseguiu abater e cuja memória os pósteros se
curvam em profundo sinal de respeito.

Raul da Costa Braga 221


CONSELHEIRO JOÃO COELHO BASTOS

João Coelho Bastos formou-se na Faculdade de Direito de


São Paulo em 1857.
Ingressou na carreira judiciária como juiz municipal e de
órfãos em Maceió, capital das Alagoas por decreto imperial de
17 de janeiro de 1859 e daí para as mesmas funções no termo
de Laguna em Santa Catarina.
Foi nomeado juiz de Direito da Comarca de Catalão em
Goiás onde continuou a demonstrar em mais elevado posto as
salientes qualidades de magistrado grave e justiceiro pelas quais
se recomendou perante Pedro II que de perto acompanhava a
marcha da Justiça e de seus sacerdotes a sua transferência para
a comarca de maior projeção, seja a de Jaguarão, fronteira do
Rio Grande do Sul.
Passou para o juizado de direito da comarca de Paraíba
por decreto de 6 de maio de 1865. Escolhido em 1868 pelo ga-
binete conservador de Paulino de Souza, por ato de 16 de julho
a chefe de policia do Rio Grande do Sul de onde após três anos
de bons serviços, foi transferido para o mesmo cargo em Minas
Gerais.
Em 1875, era Juiz de Direito em Araruama do Rio de Ja-
neiro onde mais se demorou, deixando nessa comarca os traços
mais evidentes de seu caráter e dignidade apreciados, respeita-
dos e sempre lembrados por liberais e conservadores daquela
época.
O ato imperial de 23 de outubro de 1883 o galardoou por
fim com a nomeação para desembargador a Relação de Belém
de que tomou posse perante seu presidente Paes de Andrade em
15 de julho de 1884, na vaga do conselheiro João Rodrigues
Chaves, que se removera para a Relação de São Salvador.

222 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Foi no Pará onde pontificava com seus notáveis predica-
dos de julgador emérito que o gabinete Barão de Cotegipe o foi
buscar para chefe de policia da capital do pais.

Raul da Costa Braga 223


MATHIAS ANTONIO DA FONSECA MORATO

Na cidade de Caxias, provincia do Maranhão nasceu Ma-


thias Antonio da Fonseca Morato aos 10 dias do mês de outubro
de 1829, tendo sido batisado na freguesia de N. S. da Conceição
e São José de sua terra natal.
Era filho de Antonio José da Fonseca Morato e de D. Feli-
ciana Maria Benedita Fernandes dos Reis.
Feitos seus estudos preliminares do curso de bacharel em
Direito demandou em 1850 a Faculdade sediada em São Paulo,
formando-se nêsse curso jurídico em colação de gráu em 18 de
novembro de 1854.
Iniciou sua vida na magistratura como Juiz de Direito da
comarca de FRANCA daquela provincia sulista pelo dec. de 6 de
maio de 1865 para um lustro decorrido retornar ao norte do país
a superintender a comarca de ROSARIO do Maranhão em 1871
e MACAU 2.ª entrância em 1875 e daí, transferido para a 3.ª
vara em NATAL 3ª. entrância, todas no Rio Grande do Norte ex-
-vi do ato de 20 de julho de 1878 e Macahyba em 17-12-1884.
Como vice-presidente governou a provincia do Rio Grande
do Norte nos anos de 1879 e 1882.
Juiz de Direito em Macahyba em 17-12-1884.
Foi dessa última comarca que alcançou a sua nomeação
como desembargador da Relação de Belém por ato de 14-3-
1885 e posse em 15 de maio seguinte. Funcionou até 4 de
junho de 1891 quando foi deposto por Huet de Bacelar, embar-
cando no vapor “BRASIL” em 7 de julho dêsse ano, fatídico à alta
magistratura paraense.

224 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CONSTANTINO JOSÉ DA SILVA BRAGA

Na cidade de Recife, nasceu Constantino José da Silva


Braga em 19 de novembro de 1829, filho legítimo do casal Se-
bastião da Silva Braga, natural da cidade de Braga em Portugal
e da pernambucana com quem ali se casou em 14-8-1824 D.
Joaquina de Souza Braga.
Feitos os seus estudos iniciais na cidade natal, ainda aí,
se matriculou na famosa Academia de Direito de Olinda, onde
se formou em 1852 recebendo o gráu em sua nova instalação,
componente da primeira turma no Palacio dos antigos governa-
dores em Recife.
Por decreto de 18-8-1854 e carta imperial de 5-155 foi
nomeado J. municip. e órfãos do termo de Uberaba em Minas
Gerais, ali chegando a 13 de fevereiro, e tomando posse a 2 de
abril, seguinte, substituindo por força do cargo, o juizo de Direito,

Raul da Costa Braga 225


até 6 de julho e ainda em nova interinidade no juizado de 1 de
maio a 31 de agosto de 1859 e sejam 7 meses e quatro dias,
em seu quatriênio de novel magistrado em tão árduas funções e
comarca de 2.a entrância que a não desmereceu, pelos conheci-
mentos que o ornavam no estudo e linhagem de magistrados de
sua família. Nesse cargo de sua inicial carreira sem ter gozado li-
cença alguma foi reconduzido por carta imperial de 17-1-1859.
Por decreto de 24-8 ainda de 1859 foi, a pedido de sua familia
removido para Itacú na provincia do Maranhão, decreto que ficou
sem efeito em virtude do dec. de 8-1-1860 que o romoveu de
Uberaba para o termo de Bagagem ainda em Minas composta
11 de julho seguinte, termo e funções em que foi reconduzido e
em substituição ao titular do juizado de direito por mais de uma
vez. Nesses 2 termos e dois quatriênios lhe foram contados 8
anos e 10 meses de serviço.
Em Bagagem acumulou a Delegacia de Policia de Outu-
bro de 1860 a igual mês de 1863. Ocupou mais os seguintes
cargos:
Inspetor municipal da Instrução de 1864; Diretor das
Obras da Cadeia e membro da comissão de Obras da Igreja ma-
triz de 1861 a 1864 quando foi despachado Juiz de Direito.
Era pai do pintor, historiador e ilustre paraense, Teodoro
Braga, falecido ultimamente em São Paulo e fornecedor da bio-
grafia paterna.

226 Escorço Biográfico dos Desembargadores


GASTÃO FERREIRA DE GOUVEA
PIMENTEL BELLEZA

Teve Gastão Ferreira de Gouvêa Pimentel Belleza, como


terra de seu nascimento, a provincia das Alagoas.
Recebeu o diploma de bacharel em Direito pela Faculdade
de Recife em 1855, tendo dentre os colegas de sua turma, José
Antonio Rodrigues que também lhe fôra companheiro de Relação
do Pará.
Ingressou na magistratura como Juiz de Direito da comar-
ca de Pombal de 1ª. entrância da provincia da Paraíba do Norte
de onde, a pedido, foi removido para a comarca de Príncipe Im-
perial no Piauí por decreto de 29 de novembro de 1865, ainda
de 1º entrância.
Passou em seguida, a presidir a comarca de Valença tam-
bém do Piauí no ano de 1871 onde se demorou até 1874, quan-
do o decreto de 6 de junho dêste ano aludido o removeu para a
comarca Alto Mearim no Maranhão.
Alcançou sua nomeação como desembargador da Rela-
ção de Belém por ato de 26 de dezembro de 1885 em que se
empossou a 1°. de fevereiro do ano seguinte, sob compromisso
prestado perante o Presidente Castro Leão constante de folhas
19 do “Livro de Ouro” da Relação paraense em assinatura firme
e bem legivel.
Na Relação do Pará permaneceu por ligeiro tempo, de vez
que o Ato Imperial de 18 de agosto de 1887 o removêra para a
Relação de São Luiz.
Deixou aqui um Pimentel Beleza, avaliador do foro.

Raul da Costa Braga 227


CONSELHEIRO JOSÉ ANTONIO RODRIGUES

A cidade cearense de Araçaty foi lugar de nascimento do


Conselheiro José Antonio Rodrigues.
Uma vez completados os seus estudos de humanidades se
dirigiu à Faculdade de Direito de Recife, sita à rua do Hospício,
matriculando-se em 1851 para completar seu curso jurídico em
1855.
Após o quatriênio como juiz municipal, entrou na carreira
da magistratura em 1866, que a interrompeu por ter aceito a che-
fia de policia da provincia do Amazonas em 1871 para em 1875,
novamente aparecer como juiz de Direito da comarca de Mossoró
então provincia do Rio Grande do Norte.
Passou depois a presidir como Juiz de Direito da comarca
de Lorena em São Paulo.
Por decreto de 24 de dezembro de 1886, foi nomeado para
o cargo de desembargador do Tribunal da Relação em Belém do
Pará, cujo compromisso prestou perante o presidente José Quinti-
no de Castro Leão em 3 de fevereiro de 1887.
A respeito da chegada de S. Excia. a Belém, para onde
veio sozinho, o jornal “O Grão Pará” de 4 de fevereiro de 1887,
publicou:
“No vapor americano “Alliance” entrado nêste porto a 2 de
fevereiro, chegou o excelentissimo sr. desembargador José Antonio
Rodrigues, nomeado membro do Tribunal da Relação de Belém. S.
Excia, um dos ornamentos da magistratura brasileira, vem de sua
provincia natal cheio das mais honrosas recomendações”.
Galgou a presidencia da Relação Belemense a 27 de maio
de 1887 e em 1891 foi um daqueles que o governo Huet de Ba-
cellar despejou barra afóra, por inaproveitado a continuidadade
das funções que nobremente exercera.

228 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOSÉ SECUNDINO LOPES DE GOMMENSORO

O desembargador José Secundino Lopes de Gommensôro


é natural da provincia do Maranhão e formado em Direito em
1861.
Encontramo-lo na comarca de sua judicatura que abra-
çou com a nomeação de Juiz de Direito de Guaratinguetá da
2.ª entrância, provincia de São Paulo em 1871 já com serviços
prestados em perto de quatro anos que faz presumir não tivesse
sido a primeira em sua vida pública.
Dessa importante cidade, marginal à estrada de ferro cen-
tral do Brasil foi removido para a capital de Santa Catarina em
1879 a ainda removido para a comarca de Iguassú no Rio de
Janeiro por decreto de 7 de maio de 1881.
Estava nessa comarca fluminense quando por decreto im-
perial de 9 de abril de 1887 foi distinguido com a nomeação
para desembargador perante o Tribunal da Relação de Belém de
que tomou posse em 5 de julho de 1887 sob juramento prestado
perante o presidente Conselheiro Antonio Rodrigues que o no-
meou interinamente Procurador da Coroa e Soberania Nacional,
função em que se efetivou por ato de 29 de fevereiro de 1888 e
exercicio em 4 de abril.
Teve sua nomeação de Chefe de Policia do Pará em co-
missão, em janeiro de 1890 tendo sido recebido ao assumir o
cargo por parte do “Jornal República” de 22 dêsse mês com as
seguintes referências:
“Este cidadão é um dos magistrados ilustres que desde
1887 compõem o Tribunal da Relação do Distrito e no
julgamento das causas e feitos que lhe são submeti-
dos, tem dado prova cabal do muito mérito profissio-
nal a par de caráter integro e consciente reta. Espera-
mos que continuará, com vantagem, a grande obra da

Raul da Costa Braga 229


garantia da ordem social tão perfeitamente mantida
pelo seu antecessor”.
Estava o desembargador Gommensôro em gôso de licença
no Rio, quando ali recebeu a noticia da dissolução da nobre Re-
lação de Belém de que era um de seus brilhantes corifeus, ex vi
do art. 6.° das disposições transitoriais da Constituição Estadual
de 22 de junho de 1891 e golpe Huet de Bacelar.
A descortezia imotivada do ato do governo não lhe atingiu
de cheio, porque já distanciado da séde do Tribunal ex-deposto,
o trevoso de um embarque a toque de caixa, no estilo tinto, não
tendo por isto, sofrido como os outros seus colegas daquêle de-
sabusado imperante que o regime novo tangera para as terras do
Grão Pará.
Ficou o ilustre magistrado no Rio, aquela mesma persona-
lidade nortista, criando e educando uma descendência que hoje
em dia é de almirantes da esquadra brasileira, honrando o nome
e o brilho inofuscado da paternidade.

230 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CASIMIRO DE SENA MADUREIRA

Casemiro de Sena Madureira nasceu na Provincia de


Pernambuco formado na Faculdade de Direito de Olinda em
se estabeleceu na cidade sergipana de Vila Nova em 1871 e
1859.
A sede de sua primeira câmara na carreira que abraçou
logo depois em 1872 para a de Propriá na mesma provincia. Aí
permaneceu por dois anos, quando a pedido foi removido para
a comarca de Maroim por dec. de 17 de dezembro de 1881.
Dessa provincia foi removido para a comarca da capital
do Rio Grande do Norte por ato de 25 de abril de 1885 onde
permanecia em sua judicatura quando recebeu a nomeação
para a alta instância como desembargador de GOIÁS por de-
creto de 3 de agosto de 1887 de que tomou posse em 3 de
outubro sob compromisso prestado na Relação Goiana.
Estava em plena atividade fisica, mental e moral que sua
personalidade corporificava em galhardia e dignidade quando
aqui vinha trabalhando sem goso de qualquer licença, quando
o Dec. 359. A que estabeleceu uma nova organização judiciá-
ria do Estado do Pará pôs na rua do mesmo gesto com que se
despede um serviçal ineficiente, seis dos sete membros compo-
nentes da Relação de Belém, que por este modo se extinguiu,
vencida de golpe, por um autoritarismo cégo e sem explicação
devida.
E o fato se consumou sem remédio.
Casemiro de Sena Madureira, desiludido da situação
deflagrada e dos homens inconscientes que nela abrolharam
como produto inevitável de novos regimens vitoriosos, buscou
as terras sulinas, daqui embarcando aos 7 dias de julho de
1891 com sua dignissima e sofredora esposa e cinco filhos,
tendo por companheiros de viagem e incerteza de destinos,

Raul da Costa Braga 231


o velho conselheiro José Antonio Rodrigues, último presidente
da Relação e seu amigo de bancada Mathias da Fonseca Mo-
rato. E a justiça paraense ficou chorando o mal que se lhe fêz,
nesse episódio de prepotência e absurdo que ainda hoje o não
esqueceu.

232 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ABEL GRAÇA

Nascido na cidade cearense de Icó em 20 de janeiro de


1840, filho do Conselheiro José Pereira de Graça, Barão de Ara-
caty formou-se em Direito no ano, de 1862, na Faculdade de
Recife, nêsse tempo situada à rua do Hospicio
Na vida pública iniciou sua carreira como promotor pú-
blico das Comarcas de Itapicurú-Mirim e da Capital, ambas no
Maranhão.
Em 1868 foi nomeado juiz municipal na comarca de Be-
lém do Pará, onde ingressou na magistratura pela aceitação ao
cargo de Juiz de Direito da Comarca de Santarém desta provincia
em 1871. Dessa comarca do Baixo Amazonas foi removido para
a de Goiana, em Pernambuco em judicatura no ano de 1873.
Demandou o Rio de Janeiro, ali exercendo o juizado em
Santa Maria Madalena em 1874, Rezende em 1875 e Niteroi. A
quando em Santarém entrou em comissão de chefe de Polícia do
Pará no periodo de 22 de setembro de 1870 a 16 de novembro
desse ano.
Alcançou a desembargatoria no Tribunal da Relação de
Belém por ato imperial de 3 de agosto de 1889 de que entrou
em posse aos seis dias de setembro.
Essa nomeação está registrada no livro competente do Tri-
bunal da Relação de Belém às fls. 2:
“Hei por bem nomear o Juiz de Direito Abel Graça para
o lugar de desembargador da Relação de Belém. Palá-
cio do Rio de Janeiro em 3 de Pedro Segundo Candido
Luiz Maciel de Oliveira”.
Administrou por duas vezes a provincia do Pará, sendo
que a primeira teve sua posse em 1 de dezembro de 1869 con-
forme referência em seu próprio relatório.

Raul da Costa Braga 233


Foi também deputado provincial no Ceará.
Aposentou-se em 1890 com o ordenado inteiro em con-
sideração aos serviços prestados na carreira da magistratura e
pela impossibilidade física de continuar no exercício de seu tão
nobre cargo.
Veio a falecer no Rio em 26-9-1897

234 Escorço Biográfico dos Desembargadores


FRANCISCO LUIZ CORREIA DE ANDRADE

Nasceu Francisco Luiz Corrêa de Andrade, na velha cida-


de de Goiana em Pernambuco aos 3 dias de janeiro de 1835,
filho do consórcio do coronel Luiz Ferreira da Silva com a exma.
sra. dona Maria Francisca Correia.
Fêz seus estudos primários com seu parente o padre Jo-
aquim Camello de Andrade e o de humanidades com o padre
Beltrão e depois, em Olinda, com o saudoso educador dr. José
Lourenço Meira de Vasconcelos.
Matriculou-se em 1854 na Academia de Olinda, bachare-
lando-se em 1858 já no prédio à rua do Hospicio em Recife, de-
pois de um brilhante tirocinio em que sempre obteve aprovações
plenas, maior grau daquela época.
Formado que foi, recusou a promotoria de Boa Vista e
Juizado Municipal de Ouricury, em Pernambuco para abraçar
a carreira liberal de advogado. Só mais tarde, em 1860 é que
resolveu dedicar-se à carreira da magistratura e aceitando a no-
meação de juiz municipal de Maioridade na provincia do Rio
Grande do Norte de onde foi removido, após o quatriênio para
Santa Luzia do Norte em Alagoas.
Em 1871 foi nomeado Juiz de Direito da comarca de Mato
Grosso, nessa provincia não chegando, porém, a tomar posse
por lhe ter sido designada a comarca pernambucana de Pajeú
de Flores. Demandando a terra natal pois que nessa ocasião
se encontrava no Rio de Janeiro, foi, ao chegar, convidado pelo
presidente dr. Manoel Portella para a chefia de Polícia, distinção
que não aceitou preferindo seguir para a sua nova comarca onde
se demorou até julho de 1873 quando a seu pedido foi removido
para a comarca de Triunfo onde esteve até 1874 e depois, Vila
Bella em 1875 e, afinal, transferido para a das Alagoas (1876)
provincia do mesmo nome.

Raul da Costa Braga 235


Com o advento republicano foi nomeado desembargador
da Relação de Belém, em ato de 5 de setembro de 1890, em-
possando-se a 24 de outubro seguinte.
Essa nomeação está no livro-de-Registro de Titulos do Tri-
bunal do Pará:
“O generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca chefe do
governo Provisório constituído pelo Exército e Armada
em nome da Nação resolve nomear o Juiz de Direito T.
C. Luiz Correia de Andrade para o lugar de desembar-
gador da Relação de Belém. Sala das sessões do go-
verno Provisório em 5 de setembro de 1890, Manoel
Deodoro da Fonseca e Manoel Ferraz de Campos Sa-
les. Cumpra-se. Palácio do Governo do Estado do Pará
em 24 de outubro de 1890. Justo Leite Chermont”.
No tribunal paraense, o desembargador Correia de Andra-
de, somente esteve por alguns meses por haver sido transferido a
pedido para o de Recife, já figurando como signatário de acórdão
de 20 de março de 1891 (Direito, vol. 57 fls. 15). Ali, reorgani-
zada a justiça pelo governo de Barbosa Lima, o desembargador
Correia de Andrade foi por seus pares, nomeado presidente; fato
ocorrido a 1.º de outubro de 1892.
Como desembargador em Recife, esteve Correia de An-
drade por espaço de cinco anos, vindo-se aposentar em 1897.
Encerrada a sua nobre carreira judiciária, o ilustre homem
não se deixou dormir nos louros de sua magnífica história de
homem público.
É da Revista do Instituto Histórico Arqueológico de Per-
nambuco :
“O T. C. Luís era detentor de vasta cultura jurídica e
já chegado à velhice com a alma sempre jovem, con-
tinuava a produzir substanciosos discursos e escrever
artigos sobre palpitantes assuntos, muitos dos quais

236 Escorço Biográfico dos Desembargadores


encontrados no velho órgão de imprensa de nossa ter-
ra: O Diário de Pernambuco Sócio de nosso Institu-
to desde 1893 aqui prestou valiosos serviços, tendo
ocupado por fim a cátedra de presidente da qual se
exonerou em 1916 por motivo de moléstia que enfim
o levou ao túmulo e perante este, o nosso grêmio vem
rezar agora oração de despedida”.
A quando da chegada do novel desembargador à Belém
jornal “Diário de Noticias” (25-10-1890) publicou:
“No vapor “Maranhão’ chegou ontem do sul o dr. F.
Luiz Correia de Andrade nomeado desembargador. O
Gutemberg de Alagoas, despedindo-se de S. Excia.
disse: Deve seguir para o norte no próximo vapor o
distinto magistrado F Luiz Correia de Andrade ex-juiz
de Direito da Comarca de Alagoas nêste Estado e atu-
al desembargador da Relação de Belém. O T. C. Luiz
cerca de 15 anos que residiu neste Estado. deu-nos as
mais robustas provas de seu talento e erudição como
magistrado, salientando-se ainda por sua honestidade
e cavalheirismo pelo que deira fundas simpatias entre
nós. Ao ilustrado cidadão nosso adeus e sinceros votos
por sua felicidade”.
Clovis Bevilaqua na História da Faculdade de Direito do
Recife lhe anota:
Autor do Código Criminal Teórico e praticamente anotado
e de um processo criminal da primeira instância (1888) e que
gozaram da estima dos juristas. Sua nomeação ocorrera na vaga
do desembargador Abel Graça. Jurista de alto valor, as revistas
de seu tempo em especial “Gazeta Jurídica” e o “Direito” estão
cheios de suas sentenças, votos, acórdãos e pareceres. Sem des-
merecer qualquer ramo da ciencia do direito era, todavia, um
apaixonado do Direito Penal, cujas teorias se faziam todas de seu
aprimorado conhecimento e estudo acurado.

Raul da Costa Braga 237


Como Juiz de Direito da comarca das Alagoas, remeteu ao
Presidente da Provincia, dr. Antonio dos Passos Miranda, em 12
de Junho de 87 “Direito” vol 13, pags, 675 o relatório em cuja
exposição mais destaca o seguinte:
“Haja vista no desenvolvimento da tese em 1879
quanto ao enquadramento daqueles que delinqui-
ram obrigados pela fome ao citar Grotius, Puffendorf,
Boyrac, Burlamaqui, Benthan, Rossi, Chaveau et Helli,
Ortolan e o conselheiro Dias de Toledo para concluir,
— não sendo legítimo o procedimento dos que come-
tem crimes deixar de apenas ser justificados ou atenu-
ados, mediante certas e determinadas circunstâncias
ou condições, salvo o praticado para evitar mal maior,
qual o da própria morte”.
Ainda naquêle cargo das Alagoas e relatório ao mesmo
Presidente escreveu:
“Com um bom sistema penitenciário do nosso Códi-
go Criminal devem desaparecer as penas de morte,
galés, açoites e prisão simples e somente devem sub-
sistir as de prisão com trabalho, multa, degredo, ba-
nimento e desterro, muito suficientes à correção de
todo e qualquer crime e de todo e qualquer criminoso
por mais perversa que seja a sua índole. A pena de
prisão simples habitua o delinquente à curiosidade,
origem de todos os vicios e delitos. A de açoite já se
acha como pena cruel, abolida pela Constituição. A
de galés, sujeitando-os a andarem com calceta ao pé
e corrente de ferro, prontamente os embrutece, abate
e desmoraliza. A de morte, além de irreparável, não
corrige: os condenados ou a azòntam com arrogado
cinismo, ou sofrem-na inanimados e semi-mortos de
pavor, ou oferecem a cabeça com profundo e since-
ro arrependimento. E, pois, insuficiente para os que a
afrontam; inutil para os que estão moralmente mortos;

238 Escorço Biográfico dos Desembargadores


exagerada para os que se arrependem. A sociedade
que fuzila, arcabuza, guilhotina e enforca é a primeira
a dar o funestissimo exemplo do que se pode matar
uma fonte de produção, reduzir a um punhado de cin-
za um ser humano, porventura ainda cheio de vida e
atividade que bem dirigido, moralizado e regenerado
ainda poderia tornar-se util a si, aos seus e à mesma
sociedade. Sujeita como é de erro, a justiça humana
e a sociedade não devem tirar o que em caso de erro,
não podem restituir. O fuzil, o arcabuz, a guilhotina,
a forca, o cadafalso, não comovem, horrorizam; não
instruem, embrutecem; não moralizam, corrompem. A
morte pela morte é pena de Talião; a violência pela
violência, inutil barbaridade; as contorsões das vitimas
um insulto a humanidade; o sangue humano derra-
mado, um desacato ao Creador”.
Quando da chegada do desembargador Correia de Andra-
de a Belém, o “Diário de Noticias” de 25 de outubro de 1890,
estampou:
“Chegou ontem do sul o desembargador Francisco Luiz
O “Gutemberg”, jornal de Alagoas pedindo-se de S. Ex-
cia. consignou ter o digno magistrado em cerca de 15
anos alí residido e onde proporcionou as mais robustas
provas de seu talento e erudição como magistrado, sa-
lientando-se ainda por sua honestidade e cavalheiris-
mo pelo que deixava fundas simpatias regionais”.
Fora assim Correia de Andrade o homem da lei, o sacer-
dote da justiça, o magistrado impoluto que não desapareceu na
lembrança dos que o seguem e o abençoam. Disse Payot: Ha
mortos que são mais vivos e capazes de transmitir a vida que os
próprios vivos.
Correia de Andrade bem foi o varão incorruptivel em sã mo-
ral na linha reta do dever, nos gestos puros de um espiritualismo

Raul da Costa Braga 239


pleno de fé e humanidade, vendo o homem particula do mundo,
vendo a criatura, particula do Creador.
Faleceu em Recife no ano de 1920 aos 85 anos de vida
proveitosa e exemplar.

240 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO DA TRINDADE ANTUNES
MEIRA HENRIQUES

Nasceu Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques,


na Paraíba, antiga capital da provincia do mesmo nome a 11 de
março de 1836, cursando as primeiras letras em sua provincia
e recebendo grau de bacharel em Direito na velha Faculdade de
Olinda em 1859 em companhia de Aristides Lobo e Casemiro
de Sena Madureira, este último por fim desembargador no Pará.
Ingressou na vida pública como juiz municipal do Ingá e
uma vez atingindo o quatriênio, foi elevado ao juizado de Direito
da comarca de Bananeiras e daí removido por dec. de 29 de
novembro de 1872 para a de Campina Grande, todas de sua
terra natal.

Raul da Costa Braga 241


Estava na judicatura de Campina Grande quando irrom-
peu a sedição dos “Quabra Kilos”, movimento que teve por cau-
sa, ou pretexto, o novo sistema de pesos e medidas. Acusado
pelo então chefe de policia Manoel Caldas Barreto, da Paraí-
ba pela pecha de conivente ao mesmo movimento escreveu um
opúsculo em sua defesa, pulverizando com documentos fidedig-
nos, a infundada arguição que se lhe impingira, tendo alcançado
resonância nos circulos da magistratura e da própria política.
Por decreto de 25 de abril de 1885 foi removido por aces-
so para comarca de Pitimbu, onde pouco demorou, passando
para a capital paraibana por ato de 4 de dezembro de 1886. Foi
por decreto de 25 de janeiro de 1891 do Marechal Deodoro da
Fonseca, nomeado desembargador do Pará.
Reza o aludido decreto:
“O generalissimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe
do Governo Provisório, resolve nomear o juiz de Di-
reito, Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques,
para o lugar de desembargador da Relação de Belém,
Sala das sessões, etc. em 21 de janeiro de 1891. (a.)
Manoel Deodoro da Fonseca. Barão de Lucena. Cum-
pra-se, Belém, 20 de abril de 91. Huet de Bacelar”.
Tomou posse nêsse mesmo dia. Ainda a 8 de maio de
1891. Bacelar o nomeou para exercer interinamente o
cargo de Procurador da Fazenda, Justiça e Soberania
Nacional, deixando, logo após, de o aproveitar na de-
sembargatoria, por ocasião da Reforma Judiciária, que
baixou em 19 de junho seguinte.
Então, Meira Henriques, levou seu veemente protesto
datado de 1 de julho com publicação no “Democrata”
em 2 de agosto. Eis o protesto:
“Excelentissimo senhor. Esbulhados hoje do exercicio
os desembargadores da Relação desta cidade pela
posse ali dada aos cidadãos nomeados por ato de 20

242 Escorço Biográfico dos Desembargadores


de julho último, do antecessor de V. Excia, para cons-
tituírem o Superior Tribunal de Justiça, instituído por
ato do dia anterior de reorganização da magistratura
dêste Estado, venho respeitosamente protestar pela
minha parte, contra essa violência feita aos direitos
dos membros daquêle Tribunal de que sou o último,
já porque tais atos foram promulgados com infração
da Constituição Federal que não cogita de reorgani-
zação judiciária nos Estados pelos seus governadores
provisórios, ante de decretadas as VI respectivas Cons-
tituições como evidenciam os artigos II a das disposi-
ções transitórias da dita Constituição, já porque ainda,
quando se possa reputá-los, ratificados e legitimados
pelo tácito consentimento de V. Excia., não podiam
êles ter efeito em relação à investidura dos referidos
cidadãos nos cargos judiciários, senão depois que o
governo federal fizesse a este Estado a entrega dos
serviços da administração da justiça que passariam
a lhe pertencer nos termos do artigo 3.º das citadas
disposições transitórias e não antes de verificada essa
condição constitucional como praticou V. Excia., que
assim procedendo fora do caso e das convicções da
lei, violou direitos que o art. 74 da dita Constituição
Federal garante em toda a sua plenitude, violação tan-
to mais revoltante pela audição por parte de V. Excia.
da comunicação oficial ao Tribunal da Relação sobre
aquela providencia que privava aos seus membros das
importantes funções judiciárias que ocupavam neste
Estado, como é do estilo oficial e aconselhava a corte-
sia que reciprocamente se devem os poderes públicos
e que o atual regime não aboliu, nem podia abolir,
porque entende êle com a boa educação política, inde-
clinável à marcha regular do serviço público.
Protestando, pois, contra esse procedimento que ja-
mais. terá o efeito de atingir a minha probidade

Raul da Costa Braga 243


individual e nem marcar a minha modesta toga que
conservo tão limpa e pura como a vesti pela primeira
vez, e tanto quanto mais limpa possa ser a farda que
veste V. Excia., peço se digne transmiti-lo ao exmo.
senhor generalissimo Presidente da República, por in-
termédio do Ministério da Justiça. Ilustríssimo e exce-
lentíssimo major Lauro Sodré, digno governador deste
Estado.
(a) o des. Antonio da Trindade Antunes Meira
Henriques”.
O Governador do ato demissionário foi o capitão tenente
Huet de Bacelar.
Ao protesto enviado ao governador sucessor, Lauro Sodré
logrou o seguinte despacho:
“Protesto Meira Henriques. Tratando-se de um ato da
competência exclusiva do governo dos Estados feito
de acordo com o disposto na Constituição Federal não
tem lugar a intervenção dos poderes da União. Recorra
em termos ao Poder Legislativo do Estado, único com-
patível para tomar conhecimento dos atos do governo
tendentes a organizar os serviços que pela Constitui-
ção pertencem aos Estados”.
Despojado como se viu de sua nobre carreira de magis-
trado voltou Meira Henriques à terra do berço e aos seus velhos
pendores politicos, militante que fora do partido conservador.
Era um dos quatro membros principais de sua familia dos Meira
Henriques conselheiro Tertuliano, Antonio José, cônego dr. Leo-
nardo e êle Antonio da Trindade.
No antigo regime fêz parte de mais de uma legislatura a
Assembléia.
De sua personalidade escreveu Liberato Bittencourt, no
livro “Paraibanos Ilustres”:

244 Escorço Biográfico dos Desembargadores


“Trindade Henriques não foi apenas magistrado justo e
enérgico. Em várias legislaturas foi eleito para a Câma-
ra Provincial de sua terra e em diversas outras, os vo-
tos livres de seus concidadãos lhe sufragaram o nome
para a Câmara dos Deputados Federais. Homem de
têz morena, regular estatura, superior na inteligência
e na atividade foi um magistrado severo e competente
ao mesmo tempo que um politico equilibrado e nobre”.
Já velho e com pouca saúde, Meira Henriques retira-se
da arena política para restar o querido patriarca da familia, vindo
a falecer em João Pessoa em 11 de fevereiro de 1911 em con-
sequência de um ataque de uremia.
Católico praticante morreu cercado pelo devotamento e
afeição de sua familia, amigos e correligionários, tendo minis-
trado os últimos sacramentos o arcebispo D. Adauto Aurélio de
Miranda Henriques que era seu primo e primeiro bispo da arqui-
diocese regional. A Paraíba promoveu-lhe sentidas e merecidas
exéquias e seu corpo jaz sepultado no mausoléu da familia Meira
Henriques no cemitério da Boa Esperança. Era o extinto casado
com D. Geltrudes de Albuquerque Andrade Henriques, de cujo
consórcio houve os filhos: Maria Amélia Pessoa da Costa, Fran-
cisco da Trindade, Geltrudes Henriques de Oliveira, Apolinário
da Trindade, Vitorina Henriques Freire, Ana Henriques Stadler,
Laura Henriques Teixeira e Joana Henriques de Pinho. De sua
numerosa prole existem 23 netos e 48 bisnetos. Dos netos é de
se destacar o médico Severino Cruz que serve no Hospital Pedro
I em Campina Grande, a velha comarca de seu valoroso e nobre
avô.

Raul da Costa Braga 245


JOSÉ DE ARAUJO ROSO DANIN

Natural do Pará onde nasceu aos 23 dias de junho de


1828. Formou-se em Olinda em 1853. Era filho legitimo de Jo-
aquim Francisco Danin e D. Izabel de Araujo Roso Danin, am-
bos também paraenses, tendo se casado com D. Leopoldina
de Gusmão Danin com quem houve três filhas Amália Izabel e
Leopoldina.
Após sua formatura regressou a Belém, recebendo sua
nomeação como promotor público desta capital, de que passou
em seguida ao cargo de Juiz Municipal, ainda em Belém por ato
de 19 de março de 1855, e posse em 6 de outubro.
Ingressou na carreira da magistratura a quando de sua no-
meação como Juiz de Direito da comarca de Macapá de primeira
entrância, no ano de 1863, logo suspendendo sua judicatura por
ter chamado à comissão de chefe de policia do Pará em caráter
interino em 1.° de outubro de 1863, assumindo-a a 2 de feve-
reiro de 1864, ano em que passou a efetivo, dessas mesmas
funções que as desempenhou até 8 de julho de 1866.
Por decreto de 21 de outubro de 1868 foi-lhe indicada a
comarca Rio Corumbá de 1.ª entrância, que a não aceitou por se
considerar com direito à comarca de 2.ª entrância, tornando-se
por isto Juiz avulso.
Passou a Juiz de Direito da Comarca de Belém com exer-
cicio da primeira vara em 1881.
De 1884 a 14 de novembro de 1889 esteve como vice-
-governador do Pará, função que deixou precisamente na véspera
da proclamação da República por have-la transmitido a Silvino
Cavalcante de Albuquerque e este por sua vez, à Junta Provisó-
ria composta de Justo Leite Chermont, do capitão de fragata,
José Maria do Nascimento e do tenente coronel de Linha Bento
José Fernandes Junior. Essa Junta Provisória transmitiu a 25 de

246 Escorço Biográfico dos Desembargadores


março de 1891 o govêrno do Estado ao tenente Duarte Huet
de Bacelar Pinto Guedes, nomeado pelo governo federal em 7
de março de 1891 e este tenente de Marinha fazendo baixar o
decreto 359 A de 19 de junho de 1891, nomeou no dia seguinte
o então Juiz de Direito da primeira vara da capital, Roso Danin,
como um dos sete desembargadores a comporem o Superior Tri-
bunal de Justiça do Estado.
Foi no interegno revolucionário de 1889, que Roso Danin
encontrou sua nomeação para desembargador em Porto Alegre,
que a não exerceu porque nomeado para igual cargo em Belém,
sua terra natal.
Nessa função da mais alta instância judiciária paraense
se manteve na dignidade viril de sua personalidade, até que atin-
gido pelo mal que o vitimou se fêz aposentado por ato de 2 de
julho de 1894 do governo Lauro Sodré, ex vi do art. único da lei
estadual 148 de 16 de maio de 1894:
“Fica o Governo do Estado autorizado a conceder ao
desembargador José de Araujo Roso Danin, membro
do Tribunal Superior de Justiça, que a contar de 1853
até agora tem exercido exclusivamente neste Estado
os cargos de Justiça, desde o de Promotor até o que
atualmente exercem a aposentadoria com ordenado e
duas terças partes da gratificação, logo que comprovar
sua invalidez para continuar no serviço. Revogadas as
disposições em contrário. Palácio do Governo, 16 de
maio de 1894”.
Na sessão do Tribunal de 4 de julho de 1894, relatou o
desembargador Presidente:
“Recebida a comunicação feita pelo sr. governador do
Estado, de haver concedido a aposentadoria requerida
pelo desembargador Roso Danin, presidente do Tri-
bunal foi por indicação do desembargador Coimbra,
unanimemente aprovada e resolvido que se lavrasse

Raul da Costa Braga 247


na ata da sessão, um voto de pesar pela ausência do
colega aposentado que soube se fazer considerado e
estimado por suas distintas qualidades, tendo presta-
do relevantes serviços a causa pública”.
Como Juiz de Direito da Capital Roso Danin funcionou
no Tribunal nos anos de 1882, 1883, 1884 e 1887 também
deputado geral.
Faleceu Roso Danin em Belém a 19 de outubro de 1895
à avenida Nazaré, n.º 82 tendo o registro de óbito sido declarado
por sua enlutada esposa viuva, cujo profundo estado d’alma não
lhe permitiu pudesse assinar o termo de tão doloroso aconteci-
mento para ela, filhas e o Pará inteiro.
Os jornais da época: “República”, “Democrata” e “Pro-
vincia do Pará”, fizeram-lhe detalhados e sentidos necrológicos:
A “República” de 20 de outubro de 1895 consignou:
“Após uma vida de constante labuta e tendo exerci-
do tão altos cargos o desembargador Danin lega ape-
nas à sua família a fortuna inestimável de seu nome
imaculado”.
O “Democrata” também na primeira página e em duas
colunas abertas fêz um noticiário completo da vida e sofrimento
do grande paraense”.
Fôra agraciado em 1890 com a comenda da Ordem de
Cristo por S. M. Fidelissima do Governo Português.
Esse nobre varão está sepultado no cemitério público de
Santa Izabel.
Reverenciemos a memória do magistrado insigne que se
dignificou por todos os titulos.

248 Escorço Biográfico dos Desembargadores


“A REPÚBLICA” — 20 de outubro de 1895
DESEMBARGADOR DANIN
“Após longos meses de cruéis sofrimentos, deixou on-
tem de existir o dr. José de Araujo Roso Danin, desembargador
aposentado do Superior Tribunal de Justiça dêste Estado. Vá-
rios foram os cargos quer de eleição, quer de nomeação, exerci-
dos pelo finado no regime transacto, durante o qual militou no
partido liberal, dispondo de grande prestigio no seio dos seus
correligionários.
Por longos anos foi juiz de uma das varas de direito desta
capital, sendo depois elevado ao cargo de desembargador.
Na qualidade de vice-presidente governou por algumas
vezes esta antiga provincia.
Era um homem inteligente e a quem este Estado deve
relevantes serviços.
A noticia de seu passamento a todos consternou, pois
inúmeras eram as afeições que em nosso meio tinha o desem-
bargador Roso Danin, que as conquistou pelo, seu caráter e âni-
mo em extremo prestativo, quer aos amigos politicos quer aos
particulares.
Após uma vida de constante labuta e tendo exercido tão
altos cargos, o desembargador Danin lega apenas à sua família
a fortuna inestimável do seu nome imaculado.
Apresentamos sinceros pêsames à exma. familia do Ilus-
tre finado.

***

O saimento do desembargador Danin teve lugar ontem às


4 horas da tarde da casa em que residia à estrada de Nazaré, n.
82, sendo grandemente concorrido.

Raul da Costa Braga 249


***

O Tribunal Superior de Justiça fêz inserir um voto de pro-


fundo pesar na ata da sua conferência de ontem, cujos trabalhos
suspendeu, tomando luto por oito dias.

***

O forum cerrou as suas portas e suspendeu também os


seus trabalhos.

***

Os membros do Ministério Público resolveram tomar luto


por oito dias e depôr uma corôa sôbre o ataúde, em sinal de
lembrança dos relevantes serviços prestados pelo ilustre extinto
à causa da justiça.
O sr. dr. desembargador procurador geral do Estado desig-
nou os drs. Américo Chaves, Guilherme Silveira e Sérgio Meira
para apresentarem pêsames à família do finado”.

***

“O DEMOCRATA” - 20 de outubro de 1895


DR. JOSÉ DE ARAUJO ROSO DANIN
Finou-se na madrugada de ontem, depois de longas horas
de cruciante agonia o integro magistrado, dr. José de Araujo Roso
Danin, presidente aposentado do Superior Tribunal de Justiça.
Há muitos meses prostara-o no leito da dôr uma afecção
cancerosa na face, contra a qual esgotaram-se todos os recursos
da ciencia n’uma luta improficua.

250 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Prosseguindo em sua marcha destruidora o mal trouxe-lhe
a cegueira, para cúmulo dos seus acerbos sofrimentos.
Enchera-se a medida da desgraça; o vigoroso lutador, a
que nunca tinham abandonado as esperanças da cura, desfale-
ceu envolvido nas trevas, que lhe obscureciam os olhos.
Estavam desvanecidas todas as suas ilusões, e a certeza
do fim próximo da existencia clara em seu espirito.
E o que lhe importava a vida, no tristissimo estado, a que
se via reduzido, privado da luz dos olhos, consumido pelas dôres
pungentes de todos os dias e de todas as horas?
Entretanto se lhe ouviu uma queixa, uma imprecação
contra a fatalidade do destino. Para não ter um momento de
fraqueza emudeceu, e só as vozes amigas da familia conseguiu
arrancar-lhe alguma palavra.
Com verdadeira resignação cristã, levou a cruz do seu
martirio até a hora tremenda em que Deus apiedou-se de tanto
sofrer e chamou-o para junto de si, arrebatando-o aos cuidados
da desvelada esposa, e das filhas extremosissimas, que esquece-
ram o mundo para valer noite e dia à cabeceira do enfermo sem
esperança de salvação.
A morte, pois, não o surpreendeu; êle a esperava com
ansiedade para termo de seus padecimentos.
Até o último momento dr. José de Araujo Roso Danin não
desmentiu o vigor de ânimo que o distinguira nas lutas da vida
agitada.
Formado em ciencias jurídicas e sociais pela Academia de
Olinda, o jovem bacharel regressou à terra natal para dedicar-se
à carreira da magistratura, sendo logo nomeado para o cargo de
promotor público da capital.
A politica abriu-lhe um campo vasto para sua atividade,
dentro em pouco tempo, o partido liberal oferecia-lhe um lugar

Raul da Costa Braga 251


na sua Comissão Central ao lado dos beneméritos patriotas drs.
José Maria de Moraes, José da Gama Malcher, Joaquim Frutuoso
Pereira Guimarães e Major José Joaquim da Gama e Silva.
São inolvidáveis os seus serviços prestados a esse partido
até o dia em que nomeado para exercer o cargo de juiz da 1.ª
Vara e do Comércio da Capital, julgou-se incompatibilizado para
continuar na atividade politica, como chefe de partido.
O sufrágio popular distinguira-o, elegendo-o mais de uma
vez membro d’Assembléia Provincial e Deputado à Assembléia
Provincial e Deputado à Assembléia Geral, cargos que desem-
penhou com grande satisfação dos seus correligionários, que
tinham no dr. Danin a cega confiança, que só os chefes desinte-
ressados sabem conquistar.
A sua adesão foi para os republicanos motivo de grande
júbilo, porque êles sabiam aquilatar o seu prestigio e influência
tanto na Capital como no interior.
Na organização judiciária feita depois da proclamação da
República, o seu nome foi incluído como era de direito, entre os
dos membros do Superior Tribunal de Justiça, e seus colegas
não tardaram e escolhê-lo presidente do mesmo Tribunal, em
substituição do Desembargador Romualdo Paes de Andrade que
falecera.
Dedicado inteiramente aos deveres do seu cargo, o dr.
José de Araujo Roso Danin, não tomou mais parte ativa na vida
politica, e como todos os dias se agravassem os seus sofrimentos
foi-lhe concedida a aposentadoria pelo Congresso Estadual.
Não foi só na vida pública que refulgiram os méritos do
praneatdo morto; na vida particular êle não foi menos exemplar.
Como chefe de familia desvelado, como amigo dedicado
até ao sacrificio o dr. José de Araujo Roso Danin, deixa um nome
aureolado da estima pública na terra que lhe foi berço.

252 Escorço Biográfico dos Desembargadores


***

“DIÁRIO DE NOTÍCIAS” — 28 de outubro de 1890


DESEMBARGADOR DANIN
O governo de Sua Majestade Fidelissima agraciou com a
comenda da Ordem de Cristo ao Exmo. Sr. Desembargador José
de Araujo Roso Danin.
Foi um ato de justiça que acaba de praticar o governo
português.

Raul da Costa Braga 253


MANOEL JANUÁRIO BEZERRA MONTENEGRO

Nasceu em Maceió, capital das Alagoas, formando-se na


Faculdade de Direito do Recife na rua do Hospicio no ano de
1862. Era filho legítimo do capitão Manuel Januário Bezerra.
Encontramo-lo em sua primeira atuação de bacharel como juiz
municipal da comarca de Campina Grande na Paraíba por nome-
ação de 4 de dezembro de 1863.
Passou em seguida a advogar na comarca de Maceió até
quando em 1878 foi nomeado vice-governador por duas vezes,
sendo a última em 1879 função que deixou para ingressar na
magistratura pela aceitação de juiz de direito da comarca de São
Miguel na provincia de Santa Catarina no ano de 1880 e logo em
seguida neste mesmo ano para a comarca de Blumenau também
de primeira entrância ainda dessa provincia onde permaneceu
até 1888.
Foi nomeado chefe de policia do Pará aqui chegando no
vapor “Espirito Santo” a 7 de março de 1891, vindo do Ma-
ranhão acompanhado de sua esposa e três filhos assumindo o
exercicio dêste cargo no mesmo dia de sua chegada.
Afinal foi nomeado desembargador no Tribunal de Justiça
em Belém com sua posse a 1 de julho de 1891 data da instala-
ção solene do Tribunal Superior de Justiça do Pará, recentemente
criado pela organização judiciária Huet de Bacelar.
Nossa Superior Instância permaneceu até 30 de maio de
1895 quando no governo Lauro Sodré foi aposentado a seu pe-
dido pelo decreto nº. 47 de 31 de maio de 1891 com todo o
ordenado em face da lei estadual 231 de 6 de março de 1895
que isto determinára.
Ao deixar as suas nobres funções na magistratura paraen-
se fêz oferta a Biblioteca do Tribunal de 104 volumes de obras
de Direito que em oficio o desembargador presidente respondeu

254 Escorço Biográfico dos Desembargadores


agradecendo, sob afirmativa de que a oferta iria perpetuar o
nome de seu ilustre ofertante.
Ainda na Biblioteca essas obras oferecidas se encontram
para lembrança do alagoano desembargador aposentado.
Bezerra Montenegro cursou a Faculdade de Direito de São
Paulo onde publicou: “Lições Acadêmicas” do professor Mano-
el Dias de Toledo; “Exposição sobre o seu ato de terceranista”
(Recife 1873); “Refutação à pastoral do bispo pernambucano
atinente de injúria — estudo analítico” (Recife 1875).
Uma vez aposentado retornou à sua antiga comarca de
Blumenau vindo alí falecer aos 16 de julho de 1916 deixando 6
filhos, sendo um dêstes barão. Aqui em Belém, tem um contra
paraente, desembargador Sadi Montenegro Duarte, ora com as-
sento no Tribunal alí perpetuar a carreira e o nome.

Raul da Costa Braga 255


ERNESTO ADOLPHO DE VASCONCELLOS CHAVES

Paraibano de nascimento da capital da provincia hoje


João Pessoa, Ernesto Adolpho de Vasconcellos Chaves veio ao
mundo aos 20 de julho de 1845, do casal Joaquim Gonçalves
Chaves e D. Maria Gonçalves Chaves.
Completou os estudos preliminares na Paraíba, seguiu
para Recife em cuja Faculdade de Direito recebeu gráu de ba-
charel no ano de 1866.
Sua primeira nomeação se fez como promotor público da
comarca lindeira — Pernambuco Paraíba — de Pedras de Fogo
de onde se transferiu para a vizinha comarca do Pilar nomeado
seu juiz municipal de que se empossou em 28 de agosto de
1868 até que voltou a cargo de promotor em 1873 nesta mesma
comarca.
Já em 2 de Agosto de 1874 entrou na carreira da ma-
gistratura com exercício como Juiz de Direito da comarca de
Bananeiras.
Em 14 de fevereiro de 1877 esteve como Chefe de Polícia
do Rio Grande do Norte.
Em 1880 vemo-lo juiz de Direito de Santarém por no-
meação de 6 de Dezembro de 1879. A título de acesso, foi-lhe
indicada em remoção a comarca do Guamá, por ato de 3 de
maio de 1884 que não aceitou. A dignidade de seu carater es-
tampado na rebeldia da recusa ao juizado de Guamá, burgo sem
possibilidade de confronto àquela progressista cidade amazônica
não desmereceu-lhe os méritos, antes os avantajou e realçados
ficaram pela nomeação como presidente da província do Amazo-
nas (25º) por ato de 19 de Setembro de 1885 e posse em 28
de outubro seguinte, função que desempenhou com descortino
e clarividência até 1-2-1887 quando se demissionou para vir

256 Escorço Biográfico dos Desembargadores


exercer a vara dos Feitos da Fazenda em Belém, cargo em que
se encontrava quando foi proclamada a República.
Em virtude da organização judiciária decretada pelo re-
presentante do governo federal no Pará, Huet de Bacellar cons-
tante do Dec. 359 A de 19-6-91 foi nomeado desembargador
do Supremo Tribunal de Justiça, função em que tomou posse a
1.º de Julho seguinte, dia de sua instalação por extinta a Relação
de Belém.
Aposentou-se por motivo de molestia por Dec. n.º 12, de
23 de Setembro de 1895 pelo governo Lauro Sodré.
O Diário Oficial do Pará de 29-3-95 a seguinte notícia que
bem esboça a fibratura do venerando magistrado que honrou a
toga sob todo e qualquer ponto de vista:
O Estado do Pará de 21-X-34:
“Cercado dos carinhos de sua numerosa prole e con-
fortado com todos os sacramentos da Egreja faleceu
ontem nesta capital um dos nomes de maior valor ju-
rídico nesta terra, o des. Ernesto Chaves que desde
1880 fixou residência neste Estado”.
A “Folha do Norte” de 21-X-34:
Quando proclamada a República foi um dos redatores
de projeto da 1.ª Constituição do Estado tendo por
companheiro o Conselheiro Samuel Mac Dowell. Apro-
veitando pela nova organização judiciária foi nomeado
desembargador em Belém em que serviu até 1895,
então na presidência data em que se aposentou. Pos-
teriormente, empregou sua atividade como advogado
no foro desta capital. Foi com outros dignos colegas,
fundador do Instituto Teixeira de Freitas cujo fim re-
dundou na Faculdade Livre de Direito do Pará, hoje fe-
deralizada, exercendo a cadeira de teoria do processo

Raul da Costa Braga 257


civil e comercial e o cargo de seu diretor sem remune-
ração alguma.
Contraiu nupcias com D. Carolina Lins Chaves exemplo de
virtudes peregrinas de quem houve a sorte de dez filhos: Améri-
co, Alfredo, Anizio, Paulino, Maria Celestina, Maria Jose, Maria
Eugenia, Maria Cristina, Maria da Gloria e Maria Pia.
Deixou cerca de sessenta bisnetos.
O cortejo funebre saiu de sua residência à Travessa 14
de Abril, n. 889 para S. Izabel onde foi inhumado ao lado das
cinzas de sua dileta esposa.

258 Escorço Biográfico dos Desembargadores


AUGUSTO DE BORBOREMA

Nasceu Augusto de Borborema, na tradicional cidade do


Salvador, província da Bahia em 29 de janeiro de 1856, sendo
seus pais Antonio Borborema e Carolina Borborema, aí estudan-
do o curso de humanidades.
Matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife, em Mar-
ço de 1872, formando-se em 6 de novembro de 1876 e ao
regressar a terra natal foi nomeado promotor público da comarca
de Camisão, após removido para a de Ilhéus em 6 de junho de
78 e Valença a 13 de Dezembro seguinte, tôdas na Bahia. Por
carta imperial de 30 de agosto de 1884, foi nomeado secretário
da província de Sergipe e em seguida para igual cargo na provín-
cia da Bahia, por carta imperial de 28 de fevereiro de 85.

Raul da Costa Braga 259


Recebeu sua primeira nomeação de juiz de direito da co-
marca de Cachoeira de 3ª. entrância no Pará por dec. de 2 de
maio de 85, fixando-se, então, neste estado por toda sua vida
profícua e trabalhosa.
Dessa comarca foi removido para a da Vigia de 2ª entrân-
cia na vaga de Napoleão de Oliveira também baiano, por dec.
do governo provisório de 26 de março de 1890. Dessa comarca
passou para a de Ponta de Pedras de igual entrância, onde o foi
buscar nosso governo para Chefe de Policia do Pará, por nome-
ação de 23 de setembro de 90, cargo que deixou a pedido em
março do ano seguinte. Foi nessa chefia que recebeu sua remo-
ção para Juiz de Direito da 2ª. vara em Belém por dec. de 14 de
novembro de 1890.
de Justiça do Pará, por dec. de 27 de junho de 91, a quan-
do de Enfim foi nomeado desembargador do Tribunal Superior
sua primeira composição e instalação no Regimen Republicano.
Nêsse cargo foi aposentado a seu pedido por dec. de 3 de
Abril de 1902.
Em conferência do Tribunal e por unanimidade foi a 4 de
março de 99, escolhido para representar o mesmo Tribunal no
Congresso Jurídico Americano no Rio de Janeiro instalado em
3 de maio de 1900, que resolveu distinguí-lo, sem voto discre-
pante, com uma comunicação ao Tribunal que o enviára elogian-
do o seu esforço, competência e assiduidade nos trabalhos do
Congresso.
A 11 de janeiro de 1902, foi nomeado professor cate-
drático do então Instituto Teixeira de Freitas, hoje Faculdade de
Direito do Pará, para a cadeira de Direito Civil. Nessa Faculdade
foi diretor por espaço maior de 10 anos de que se exonerou em
janeiro de 1916.
Exerceu o cargo de Governador do Estado em substituição
a Eneas Martins e foi eleito senador ao Congresso Constituin-
te do Pará por 6 anos por não estar incompatibilizado como

260 Escorço Biográfico dos Desembargadores


desembargador. Depois de aposentado foi outra vez eleito sena-
dor do Estado por mais 9 anos função em que se achava, quan-
do se tornou vitoriosa a Revolução de Outubro de 30.
Foi fiscal do governo federal perante o Ginásio Paes de
Carvalho, cargo que exerceu gratuitamente.
Em 1925, foi nomeado Presidente do Conselho Penitenci-
ário que ocupou até sua morte.
A revolução de 30 fê-lo retornar a uma das cadeiras do
Egrégio Tribunal de Justiça de que se fêz aposentar pelo dec.
599 B de 27 de janeiro de 32.
Faleceu o des. Borborema, nesta capital aos 30 de no-
vembro de 1932, quando a “Folha do Norte”, o necrologiou:
“A nossa sociedade e a magistratura paraense per-
deram uma das suas mais eminentes figuras com o
passamento do venerando sr. desembargador Augusto
Borborema. Magistrado, mestre de Direito de várias
gerações, legislador, advogado, alto funcionário do
Executivo Estadual, as funções destes cargos o ilustre
extinto ocupou no Pará, desempenhando-se com a sua
relevada cultura jurídica e sempre acentuado espírito
de retidão. O venerando homem público, faleceu em
plena atividade de advocacia, aos 78 anos de idade.
No dia 2 de outubro último o des. Borborema acamou
em consequência de um ataque de gripe de que duas
semanas depois recaiu, novamente acamando para
não mais se levantar sendo baldados os esforços de
seus médicos Ápio Medrado e Matos Cascaes. Rece-
beu a Santa Comunhão e o Sacramento da Igreja e
mais tarde, ainda no goso de suas faculdades mentais
foi confortado pela extrema-unção. Faleceu cercado de
sua virtuosa esposa, filhos, nora e netos”.
Várias homenagens lhe foram devidamente prestadas, se-
jam pelo Tribunal de Justiça, Instituto Histórico do Pará, Tribunal

Raul da Costa Braga 261


Regional Eleitoral e Prefeitura Municipal de Belém que hasteou
sua bandeira a meia verga, durante 3 dias.
Remigio Fernandez da Academia Paraense de Letras,
escreveu:
“Nas Vidas Paralelas de Plutharco não encontrei um
antepassado de Augusto de Borborema.
Os homens paralelos do inclito des. Borborema, de-
vem se procurar entre os patriarcas, os senobitas e
os iluminados e simples que vivendo no tumulto das
paixões e dos vícios puderam e souberam afastar o
espírito o coração para o remanso e o silêncio: para o
estudo e a prática de todas as virtudes”.
O saudoso magistrado deixou viuva D. Jesuina Rangel de
Borborema, com quem houve os filhos: Desembargador Augus-
to Rangel Borborema, os advogados Raul e Salvador Rangel de
Borborema o agronomo Hugo de Borborema e a senhorinha Ma-
ria da Gloria.
Descansa o nobre varão no cemitério de Santa Izabel no
sono das reliquias sagradas.

262 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO BEZERRA DA ROCHA MORAIS

Paraense, nascido na cidade de Soure, fêz seus estudos


nesta capital embarcando para Recife em cuja Faculdade de Di-
reito titulou-se bacharel em 1871.
De volta ao Pará, sem demora, aceitou a promotoria pú-
blica da capital por ato de 19-12 dêsse mesmo ano.
Dois anos decorridos nessa função do ministério público
foi por decreto de 31-7-1873 nomeado juiz municipal da terra
de seu nascimento, de onde passou para idênticas funções em
Belém por ato de 6-6-1874 e posse a 22 do mês seguinte.
Entrou na carreira da magistratura como Juiz de Direito
da Comarca de Igarapé-Miri da 1.ª entrância por nomeação de
23-8-1886.
Retornou à velha comarca de Soure, classificada de 2ª.
entrância em Dec. de 22-8-90.
Exerceu a Chefia de Polícia em Belém por nomeação de
1-7-98 até 17-1-99 quando estalou o caso Vitoria de Paula de
Soure.
Salgou a desembargatoria do Tribunal de Belém por ato
de 30-6-91 a quando da restruturação dêsse novo Tribunal que
deixou por terra a velha Relação de Belém, cargo em que se em-
possou em 1-7, dia da instalação dêsse novo Tribunal de Justiça.
Exerceu sua judicatura nessa última instância pelo espaço
de dez anos que o teve de interromper pela disponibilidade que
requerera por motivo de molestia em 17-3-901 que não mais
lhe permitiu voltar à atividade judicante.
Faleceu o magistrado sourense, representante lidimo
da tradicional familia Bezerra Morais no Rio de Janeiro em
27-XI-908.

Raul da Costa Braga 263


A “Folha do Norte” necrologiou:
“Foi um sourense destemido que sempre e muito pug-
nou por sua terra que jamais esquecia. Ocorrido o obi-
to, foi o cadáver embalsamado e trazido pela família
para Belém, em cuja necropole de Santa Izabel, dorme
o último sono em jazigo próprio, o culto magistrado”.

264 Escorço Biográfico dos Desembargadores


GENTIL AUGUSTO DE MORAES BITTENCOURT

No distrito de Carapajó, município de Cametá, nasceu


Gentil Augusto de Moraes Bittencourt a 22 de setembro de 1847,
sendo filho legítimo de José Justino de Moraes Bittencourt e D.
Maria do Carmo de Boraes Bittencourt.
Fêz seus estudos primários no colégio do professor José
Felice Vicente de Leão e o de humanidade em Belém, segundo
para Recife onde recebeu o gráu de bacharel em 1873 como
único paraense formado neste ano e companheiro de turma de
Venâncio Neiva.
De volta ao Pará, em 74 nêsse mesmo ano foi nomeado
Promotor Público da comarca da Vigia, onde também exerceu
função de delegado Literário.
Por ato de 6 de fevereiro de 75 passou ao Juizado Muni-
cipal e de órfãos de Cachoeira de Monsares e dali removido para
igual cargo na comarca de Bragança por dec. de 4 de Dezembro
ainda de 75 e após em Cametá.
Em 17 de Janeiro de 80 assumiu a promotoria pública da
Capital em Belém.
Exerceu em 1882 o cargo de inspetor do Tesouro do Es-
tado. Ao iniciar-se a propaganda do novo regimem, colocou-se a
frente do movimento fundando ao lado de Manuel Barata, Justo
Chermont e outros, o Clube Republicano.
Com a proclamação da República foi nomeado Juiz de
Direito de casamentos da Capital por dec. de 16 de abril de 90.
Passou para nova judicatura por ter assumido o Juizado
Seccional do Pará em 15 de Dezembro de 90.
Por ocasião da Reforma Judiciária decretada por Huet de
Bacellar, foi nomeado em 20 de Junho de 91 como um dos
desembargadores a comporem o Superior Tribunal de Justiça,

Raul da Costa Braga 265


cargo em que se empossou a 21 de Julho e, destarte, não com-
pareceu a sessão inaugural do novo Tribunal ocorrida a 1.º dêsse
mencionado mês, funções que desempenhou até a sua aposen-
tadoria a pedido, concedida pelo dec. 1454 de 20 de setembro
de 1906 com todos os vencimentos em vista da lei 977 de 27
de agosto de 1906.
Eleito senador na 1a. Câmara viu-se depois elevado as
funções de 3.º vice-governador do Estado, quando aqui aportara
Huet de Bacellar em 25 de Março de 91 a quem entregou nêsse
mesmo dia a administração do Pará.
O “Diário de Noticias” de 26 de Março de 91 disse:
“O dr. Gentil Bittencourt, fêz uma administração im-
parcial, moderada e criteriosa. A máquina oficial
não trabalhou decapitando o funcionalismo público,
cujas crenças políticas fossem infensas ao Partido
Republicano”.
Ainda se fizera 1.º vice-governador a quando da investi-
dura de Lauro Sodré no cargo de governador do Pará em sessão
solene de 24 de Junho de 91 no congresso do Estado.
Aposentado, fixou residência no Rio de onde retornou a
terra natal a que tudo dera de seu valor como um dos maiores
filhos de Cametá.
Exerceu interinamente o cargo de Intendente de Belém
nos anos de 21 a 23 tendo dado provas constantes de sua capa-
cidade de administrador zeloso e de inatacavel probidade.
Foi durante muitos anos provedor do antigo e modelar
Colegio do Amparo, educandário de órfãs de sua particular de-
dicação e que hoje passou a se denominar Gentil Bittencourt,
homenagem do Governo do Estado ao merecimento do grande e
valoroso cidadão.
O des. Gentil Bittencourt morreu nesta capital aos 76 anos
completos de idade em estado de viuvo de D. Francisca Ribeiro

266 Escorço Biográfico dos Desembargadores


de Moraes Bittencourt de quem houve 2 filhas: Mary Bittencourt
Chermont de Brito, casada com o provecto advogado Theodoro
Chermont de Brito e Consuelo Bittencourt Torreão Roxo, casada
com o renomado clínico Torreão Roxo.
O óbito verificou-se às 9 e 30 da manhã de 30 de Março
de 1924 na casa 173 E à Travessa Benjamim Constant desta
capital, vitimado por arteriosclerose tendo sido inumado na ca-
tacumba 106, concedida pela municipalidade de Belém, cujo
intendente Barroso Rebello fêz baixar o seguinte ato:
“O intendente municipal de Belém atendendo que fa-
leceu “des. Gentil Augusto de Moraes Bittencourt que
por mais de uma vez desempenhou o cargo de inten-
dente deste município, resolve como pleito de home-
nagem ao ilustre morto, suspender o expediente e de-
terminar que durante três dias seja observado luto em
todas as repartições municipais, devendo permanecer
hasteado a meia verga o pavilhão nacional”.
Do salão mortuário ao coche, tocaram nas alças Dr. Souza
Castro, governador do Estado, Pires dos Reis, pelo Tribunal, Bar-
roso Rebello, intendente, Luiz Estevão, Juiz Seccional, Francisco
Raimundo Leão comandante da força pública.
No túmulo féz-lhe a despedida o dr. Luiz Barreiros.
Gentil Bittencourt era presidente da “Sociedade Cameta-
ense”, Presidente do Senado e do Tribunal de Justiça e sócio da
Sta. Casa de Misericórdia.
Deixou o venerando cidadão o traço luminoso de sua des-
tacada e invulgar individualidade como honra aos seus descen-
dentes e padrão histórico da invicta cidade de Cametá e ufania
da terra paraense a que tudo legou de espirito e coração, inclusi-
ve seus augustos despojos.
Descança o renomado paraense no cemitério de Santa
Izabel, numa perpetuidade inabalável pelos tempos.

Raul da Costa Braga 267


JOSÉ GOMES COIMBRA

É da província de Pernambuco, onde se formou no ano de


1875.
Uma vez titulado em Direito encontrou sua primeira fun-
ção judicante como Juiz Municipal da comarca de Cachoeira,
logo removido para igual cargo na de Bragança, em 1879, am-
bas do Pará.
Em 13 de dezembro dêsse ano de 1879 passou a fun-
cionar, ainda como juiz municipal da comarca de Cabo em Per-
nambuco para a comarca de Igarapé-Miri de 1.ª entrância de
13-12-82 no Pará, já de seu conhecimento e estadia judicante.
Em 1886 encontrava-se no juizado de Direito de Óbidos,
ainda do Pará. Foi nessa comarca atingido pelo ataque jornalís-
tico do Grão Pará de 16 de Fevereiro de 87 que o chamou de
«ferrabraz, ultrapartidário a fazer de Óbidos um eden liberal» a
que não deu trela. Foi Juiz de Direito em Bom Jardim em Per-
nambuco e ainda Juiz de Direito de Santo Antonio de Padua no
Rio em 1890.
A Província do Pará em 10 de Setembro de 1891 noticiou:
“Veio do Rio no paquete «Maranhão» o sr. dr. José
Gomes Coimbra, distinto magistrado que já aqui serviu
o cargo de Juiz de Direito nas comarcas de Igarapé-
-Miri e Obidos. Deixou impresso em todos os seus atos
como juiz, o cunho de sua retidão profunda ilustração
jurídica. Folgamos de ver novamente entre nós sr. dr.
Gomes Coimbra que segundo ouvimos terá de exercer
neste Estado um cargo de muita importância”.
Com efeito o cargo de muita importância referido pela
Provincia foi o de Chefe de Polícia por ato do governo de 14 de
Setembro de 1991 em que serviu até 21 de Novembro de 1992,

268 Escorço Biográfico dos Desembargadores


dois dias após à sua nomeação como desembargador do Tribunal
de Justiça do Pará por ato de 19 de novembro de 92 e posse
dois dias posteriores.
Já dias antes a nomeação ao posto mais elevado da
228 magistratura regional o «Correio Paraense» de 11-X1-92
noticiára:
“Conta que vai ser nomeado desembargador do Su-
perior Tribunal de Justiça do Pará, o dr. José Gomes
Coimbra, atual chefe de Segurança Pública. Caso isso
se realize, será uma boa aquisição. Mais de uma vez
temos tido ocasião de reconhecer em S. Excia. a inten-
ção do bem. Dado combate as tendências autoritárias
da época, criticando com severidade, atos emanados
da Polícia, talvez parecendo que francamente o hosti-
lizavamos. tivemos ocasião de descobrir no ânimo do
dr. Coimbra um certo amor a Justiça, um certo res-
peito alheio. Transportado para a cadeira de Juiz, êste
respeito alheio pode dar o bom resultado que se deseja
alcançar, quando se cuida de um cargo como o de que
se trata”.
As expressões da Província e do Correio, plenamente res-
gatam aquelas do Grão Pará, órgão conservador, vasadas qua-
tro anos antes em declarado interesse partidário. Da cadeira de
desembargador paraense passou Gomes Coimbra para o juizado
seccional do Pará, por ato do Presidente da República de 95.
Do valor mental do magistrado é de se recomendar dentre
outras as sentenças que publicou referentemente ao caso ma-
nutenção de posse da igreja das Mercês e a de assunto fiscal
publicadas em 28 de 1 de 96 e no dia seguinte.
De tão distinguido homem público disse Sebastião Galvão
em seu Dicionário Pernambucano:

Raul da Costa Braga 269


“José Gomes Coimbra foi um dos paladinos da campa-
nha abolicionista, encabeçada por Nabuco e sub-chefe
José Mariano”.
Basta a nomeação dessa faceta do homem público para
demonstrar o caráter e a fibratura moral que lhe coroavam a
personalidade.

270 Escorço Biográfico dos Desembargadores


FELICIANO HENRIQUE HARDMAN

Do súdito inglês Samuel Hardman que se casara com a


paraibana Rosa dos Prazeres Meira Henrique, irmã do conselhei-
ro Manoel Tertuliano Meira Henriques, deputado geral no Império
e do cônego Meira Henrique, um dos mais. valorosos chefes do
Partido Conservador local, nasceu Feliciano Henrique Hardman.
Feitos os seus estudos elementares e complementares na
capital Paraibana onde nascera matriculou-se na Faculdade de
Direito de Recife recebendo o grau de bacharel no ano de 1860.
Convolou núpcias com D. Luzia Gomes da Silveira, des-
cendente dos Gomes da tradicional família de Mamanguape de
quem teve 5 filhos: Antonio, Maria do Rosário, Ana, Santinha e
Joaquim, médico cirurgião de nota, falecido em 1920.

Raul da Costa Braga 271


Iniciou a carreira judiciária como juiz municipal de órfãos
de Imperatriz, na província do Maranhão em 1870, passando
para Ingá por ato de 30 de Janeiro de 71 e posse em 16 de
março deste ano.
Em 74 passou para Independência e Alagoa Grande da
Paraiba e novamente reconduzido para Ingá em 30 de janeiro de
75, tôdas da Paraiba do Norte.
Ocorreu sua 1.ª nomeação ao cargo de Juiz de Direito com
a designação para a comarca de Cajazeira ainda nessa província
por ato de 18 de Janeiro de 77 e dali se transportou ao Pará
para assumir a comarca da Vigia de 2.ª, entrância, removido por
áto de 30 de dezembro de 89. Na Vigia não demorou siquer um
ano, pois que foi removido para Obidos em 25 de Outubro de
90 e para a comarca de Cametá por decreto de 20 de Junho de
91 de Huet de Bacelar pela organização judiciária dêsse tempo.
Como Juiz de Direito de Cametá foi convidado a assumir
a chefia de Policia paraense em que assumiu o exercicio a 22
de novembro de 92 pela vaga de José Gomes Coimbra elevado
a desembargadoria no Tribunal do Pará, cargo que exerceu até
5 de Julho de 94, quando também foi nomeado desembargador
no Pará e de que se empossou no dia seguinte pela vaga de Rozo
Danin por aposentadoria.
Estava em função na Policia quando permutou sua Co-
marca de Cametá com o Juiz de Direito de Baião, Santos Esta-
nislao, isso em março de 94. Igual permuta ainda fêz com o Juiz
de Direito Bruno Jansen Ferreira, de Mazagão por ato confirmado
de 5 de junho de 94.
Em 28 de Junho de 95 obteve um ano de licença que a
não exgotou porque em 11 de setembro desse ano, governo Lau-
ro Sodré, requereu sua aposentadoria que o dec. 120 de 20 de
setembro seguinte concedeu sob ordenado de 8 contos de reis
anuais, relativamente ao tempo do serviço prestado.

272 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Hadman foi nomeado desembargador por dec. de 5 de
Julho de 94 de que se empossou logo no dia imediato.
O Tribunal de Justiça no dia seguinte ao dec. de aposen-
tadoria do desembargador Hadman por indicação do des. Ful-
gêncio da Rocha Viana unanimemente aprovou um voto de pezar
pela ausência do estimado colega ao convivio dos que ainda
ficaram.
Com 35 anos de formatura e serviços forenses retornou
o ilustre paraibano a terra do nascimento acompanhado de sua
digna família que no Pará deixou inapagaveis afeições e dedica-
das provas de estima nas relações de amizade contraidas e man-
tidas principalmente em Belém que hoje se fazem relembradas.
O des. Hadman figura respeitavel veio a falecer em João
Pessoa aos 4 de setembro de 1908.

Raul da Costa Braga 273


NAPOLEÃO SIMÕES DE OLIVEIRA

Nasceu esse ilustre desembargador em Itiuba da província


da Bahia, de tradicional família sertaneja, a 1o. de agosto de
1854, tendo por pais o coronel João Balduino de Oliveira e D.
Silveria Simões de Oliveira.
Feitos seus estudos primário e secundário na Bahia, trans-
portou-se para a cidade de Recife, onde se matriculou na Facul-
dade de Direito, recebendo ao cab. de 5 anos de curso o gráu de
bacharel em ciências jurídicas e sociais no ano de 1877. Uma
vez formado, retornou a sua provincia, sendo nomeado em 1880
promotor público de Geremoabo, terra de seu nascimento, tendo
sido alí também juiz municipal.
Da Bahia passou para a província do Pará, porque nome-
ado Juiz de Direito da Vigia por dec. de 1888.
Após a proclamação da República, foi nomeado pelo go-
verno provisório, chefe de polícia em Belém.
Da comarca da Vigia se fizera removido a pedido para o
cargo de Auditor de Guerra em Belém até que o dec. de 4 de
abril de 91, foi retransferido para Juiz de Direito da 1ª. Vara Cível
desta Capital.
A quando no exercício da 1.ª vara em Belém, permutara
éste seu cargo com o seu colega Bruno Jansen Ferreira, então
Juiz de Direito de Baião do Pará, conforme autorização pelo dec.
43 de 25 de Maio de 95.
Essa permuta a fizera em benefício do colega Jansen Fer-
reira, um dos filhos do antigo desembargador Manoel Jansen
Ferreira, que aqui foi um dos fundadores da Relação em 74, e
permanecera até sua morte em 78.
Não chegou Napoleão de Oliveira a assumir a comarca
de Baião, porque o dec. de 1 de Junho de 95 do governo Lauro

274 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Sodré, em face da lista triplice organizada pelo Tribunal de Justi-
ça, logo o nomeara desembargador neste mesmo Tribunal, cargo
que assumiu três dias depois.
Ainda quando Juiz de Direito da 1.ª Vara, dirigiu a chefia
da polícia regional na vaga do titular e Juiz de Direito Feliciano
Henrique Hardman, isto em 7 de julho de 94.
Permaneceu no Tribunal de Justiça, desde aquela data
de sua posse até 16 de março de 911 quando foi aposentado,
tendo lhe sido contados 31 anos, 11 meses e 13 dias prestados
em cargos do ministério público e magistratura, decreto de apo-
sentadoria que deve o número 1771 de 16 de março de 911.
Na sessão do Tribunal imediatamente a aposentadoria o
des. Júlio Costa apresentou moção de pezar pela saida do des.
Napoleão de Olievira do quadro efetivo da magistratura que foi
unanimemente aprovada.
Napoleão de Oliveira era casado com D. Leonila Pena Si-
mões de Oliveira de ilustre família paraense consorcio que rea-
lizara em 1899 e de que advieram 2 filhos: Leonila de Oliveira
Martins, casada com Antonio Martins, alto comerciante da praça
e Dr. Mario Pena Simões de Oliveira, que aqui já exercera o jui-
zado substituto na capital e atualmente é advogado da Light no
Rio de Janeiro.
A “Folha do Norte” de 9 de outubro de 30 fêz-lhe extenso
necrologio: “O falecimento de Napoleão de Oliveira ocorreu às
16 horas de 6 de outubro de 30 em a casa de sua residência a
praça da República desta capital aos 76 anos de idade, vitimado
por hemorragia cerebral, tendo sido sepultado no cemitério pú-
blico de Santa Izabel em Belém em jazigo perpetuo.
Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito do Pará,
ali professando com proficiência, zelo e assiduidade, como cate-
drático a matéria Direito Comercial.
Paz a alma e respeito a memória do ilustre baiano.

Raul da Costa Braga 275


FULGENCIO DA ROCHA VIANA

Na cidade baiana de Monte Santo, do casal Antonio Hipó-


lito de Cerqueira e Mercês da Rocha Viana em agosto de 1859
nasceu Fulgêncio da Rocha Viana.
Feitos seus estudos naquela provincia, demandou a cida-
de do Recife, matriculando-se na Academia de Direito em 188,
de que recebeu grau de bacharel em 1883.
Em sua província natal, foi nomeado promotor público de
Carianha, daí passando a exercer o cargo de Juiz municipal e
órfãos dos termos reunidos de Itapicurú e Soure ainda na Bahia.
Ingressou na magistratura com o cargo vitalício de Juiz
de Direito da comarca de Macapá, no estado do Pará em 1890,
tendo sido aproveitado por ocasião da reforma judiciária repu-
blicana, decretada por Huet de Bacelar como juiz de Direito da
comarca de Ponta de Pedras, fronteiriça à Belém, até que por
decreto do Governo legal de Lauro Sodré foi nomeado desem-
bargador do Tribunal Superior de Justiça do Pará, em virtude de
lista tríplice votada em consequência da vaga do desembargador
José Gomes Coimbra que acabara de aceitar o juizado seccional
em Belém.
Dessa alta instância judiciária pontificou Fulgêncio Viana
até seus ultimos dias de existência, tendo exercido a presidência
dessa alta corporação por nove anos sucessivos, em sinal evi-
dente de seu alto valor sobretudo moral reconhecido por seus
ilustres pares.
Jamais se viu um presidente com maior cordura e afabili-
dade paternal que o desembargador Rocha Viana a receber como
irmão mais velho em seu gabinete os jovens e inafeitos juizes
substitutos que o buscavam na angústia de uma comunicação
e de uma norma de vida à missão sagrada de fazer justiça em
feudos dominados pelos mandões políticos de triste memória,

276 Escorço Biográfico dos Desembargadores


jovens que voltavam à terra judicante com a certeza de um con-
selho frutuoso, reconfortados de esperanças que o carinho do
magnânimo chefe dedicadamente despejara-lhes n’alma.
Daí a dor profunda que a morte de Rocha Viana causou em
todo o Estado, principalmente no seio da magistratura regional.
Era o homem que desaparecia na agudeza de um vacuo
incomensuravel.
É da “Folha do Norte” de 28 de outubro de 1920 o sen-
tido necrológio: — “A magistratura paraense sofreu o golpe rude
e alanceante com à morte do des. Fulgêncio Viana, presidente
do Tribunal Superior de Justiça do Estado. A notícia do desen-
lace que uma enfermidade torturante e irremediavel sentenciara
fatal despertou na sociedade paraense pelo imprevisto com que
a recebeu, dolorosa impressão, magua profunda, tais eram as
condições superiormente elevadas com que o extinto se lhe im-
puzera a admiração.
Sacerdote do Direito, mantenedor da ordem social, foi
essa função nobre a que quase por toda sua vida se entregá-
ra. Rocha Viana ascendeu do ponto inicial da magistratura até
sua função mais elevada a de Presidente do Tribunal na qual
seus pares o colocavam todos os anos como expressão em forma
concreta da confiança unânime no critério, integridade, inteireza
moral de quem a merecia. Na presidência era ele a expressão
mais perfeita da ordem, da lei e da justiça e daí advieram a ad-
miração geral e o aprêço público, o acatamento unânime a sua
individualidade. sôbre a qual jamais pairou a mais sutil suspeita
de um áto menos digno na larga trajetória dos seus dias de juiz.
Duas horas antes da morte sentindo abater-se de momento a
momento, declarou ao seu amigo, então visitante, Fileto Bezerra,
tesoureiro da Delegacia Fiscal, desejar fazer algumas disposi-
ções, pois que ia morrer. Contou-lhe, assim, haver contraido por
empréstimo, certa importância a um amigo italiano de quem
nunca mais tivera o seu paradeiro. Essa importância incluindo

Raul da Costa Braga 277


juros que arbitrara montava a trezentos mil escrita de que da
mencionada importância oferecia reis. Em vista disso pediu ao
amigo tomasse nota duzentos e vinte mil reis aos lazaros do
Tucunduba e o restante para as órfãs do asilo de Santo Anto-
nio. Antes de sucumbir, mandou chamar o capelão do hospital
onde se achava que o ouviu em confissão, ministrando-lhe os
últimos sacramentos da igreja. Logo que se espalhou a notícia
da morte, ocorreram ao hospital da Beneficente Portuguesa inu-
meros amigos, dentre eles, Cipriano Santos, Senador do Estado,
desembargador Barradas, presidente interino do Tribunal, Napo-
leão Oliveira, chefe de Polícia, Anselmo Santiago, Pires dos Reis,
Loiola Vergolino, Santa Rosa e outros.
O corpo foi transportado à travessa 14 de Março 98 A, de
onde saiu o prestito fúnebre. Irmão da Sta. Casa, pediu que o
seu enterro fôsse feito com simplicidade. Era casado com D. Ca-
ridade Augusto Viana com quem teve um filho, Paulino Viana”.
Rocha Viana faleceu às 18,30 de 27 de outubro de 1930
no Hospital D. Luiz I, para onde se recolhera gravemente enfer-
mo atingido de caquexia sacromatosa na idade de 61 anos tendo
sido sepulta na necrópole de Santa Izabel. E foi êsse homem
que pagou na hora da morte uma dívida de ninguém que com
umo just — não fóra éle juiz — entregando sereno sua alma ao
Creador.

278 Escorço Biográfico dos Desembargadores


AFONSO BARBOSA DA CUNHA MOREIRA

Natural de Pernambuco onde nasceu em 1845, tendo


sido seus pais, Porfirio da Cunha Moreira Alves e D. Antonia
Barbosa da Cunha Moreira.
Fêz seus estudos primário e secundário na terra do nas-
cimento, matriculando-se na Faculdade de Direito do Recife, ali
recebendo o grau de bacharel em Direito no ano de 1869, com-
panheiro de turma de Araripe Junior e Tobias Barreto.
No ano seguinte foi nomeado Juiz Municipal de José de
Mitibu, província do R. G. do Norte, sendo remo. vido em 72 por
ato de 21 de fevereiro para igual cargo na Vigia do Pará, em cujas
funções perdurou por 10 anos. alcançando a nomeação de juiz
de direito de Cintra de 1.ª entrância em 81; de Alenquer em 93,
vindo afinal para a 3.ª entrância de Belém em 8 de julho de 93

Raul da Costa Braga 279


para galgar a desembargatoria por ato de 26 de setembro de 95
e posse no dia imediato em vaga aberta de Feliciano Hardman.
No Tribunal figurou dessa data, até a de sua aposentado-
ria a pedido pelo dec. de 7 de outubro de 1901, concedida com
a percepção de todos os vencimentos, de acôrdo com a lei 784
do congresso legislativo do Estado — prêmio de um labor de 30
anos a Serviço da justiça, quase todos eles vividos no interior do
Estado paraense, nas duas décadas seja da Vigia à Cintra, esta
última comarca criada por lei provincial de 23 de a abril de 75,
composta dos de municípios de Cintra, Marapanim e Salinas,
pelas freguesias de São Miguel de Cintra, Cintra, fundada em,
1757; N. S. da Vitória de Marapanim, Santarém Novo e N. S.
do Socorro de Salinas. Foi nessa comarca de Cintra que Afonso
Moreira de o melhor de sua mocidade, e em cujas paragens
seu nome respeitável e querido é ainda lembrado com profunda
estima.
Esse fato se fêz também patente, a quando de sua pro-
moção de Alenquer para o juizado de direito em Belém, nada
obstante, o curto prazo de sua estada nessa comarca do Baixo
Amazonas.
A esse respeito publicou “O Republica” em 9 de julho de
91:
“Chegou ontem de Alenquer o ilustre Sr. dr. Afonso Bar-
boza da Cunha Moreira, honrado e digno magistrado
a quem muito acertadamente foi designada a 3a, Vara
desta capital e da qual tomou ontem posse. A popu-
lação de Alenquer fêz ao provecto magistrado que du-
rante 5 meses foi juiz de Direito de tão importante co-
marca a base honrosa deste pedido. Desde o momento
cm que chegou ali o vapor que levara a notícia teve S.
senhoria a casa sempre cheia das principais pessoas
de Alenquer. No seu embarque foi grande a concor-
rência de amigos e admira. dores que o foram levar

280 Escorço Biográfico dos Desembargadores


a bordo do paquete Mauá. Felizes aqueles que como
Afonso Moreira ao sair da comarca, recebem tão sig-
nificativas provas de apreço de seus jurisdicionados”.
Melhor galardão não podia ter alcançado quem se despe-
dia de seus comarcãos mais alviçareiro conforto daqueles que
o recebiam ao remontar a capital, — maior campo à carreira
magestosa do direito e da justiça.
Cunha Moreira pouco tempo viveu na inatividade a que
não era afeito, vitimado aos 59 anos de idade por velhos pa-
decimentos de sua organização franzina, vindo a falecer em a
casa de sua residência a rua Alcipreste Manoel Teodoro n. 18
desta capital às 4 e meia horas da manhã de 21 de dezembro
de 1904.
Os jornais “Folha do Norte” e “Província do Pará” estam-
param no dia seguinte sentidos necrologios.
É da Folha a seguinte frase: “O Sr. des. Moreira era uni ho-
mem probo e estimado no seio da judicatura paraense e gozava
de real simpatia na sociedade em que vivia a tão longos anos”.
Em sessão do Tribunal o des. Alfredo Barradas propôs
que se lançasse na ata um voto de profundo pezar pelo faleci-
mento do aludido extinto que se levantasse a sessão em sinal de
sentimento tendo sido unanimemente aprovada a moção.
O des. Cunha Moreira consorciara-se com D. Constança
Constantina Alves Moreira, tia do jornalista paraense Alves Mo-
reira, tia do jornalista paraense Alves de Souza, tendo havido
dessa venturosa união a prole de 11 filhos, cuja descendência
perdura nesta Capital a distender o nome do magistrado desa-
parecido e que jaz sepultado na catacumba 826 no cemitério de
Santa Izabel.

Raul da Costa Braga 281


MANOEL JOSÉ MENDES BASTOR JUNIOR

Manoel José Mendes Bastos Júnior nasceu em Panelas


de Miranda, sertão pernambucano em 27 de outubro de 1847,
sendo filho legítimo de Manoel José Mendes Bastos e sua mulher
D. Ana Rita Roberto Bastos. Casou-se com D. Francisca Tereza
Denelo Bastos na cidade de Garanhuns daquela província.
Fêz seus estudos iniciais e secundários na terra natal,
matriculando-se afinal, na Faculdade de Direito do Recife, onde
recebeu gráu de bacharel em Direito aos 20 de novembro de
1871.
Formado que se achou, logo ingressou na magistratura
sendo nomeado juiz municipal de Bom Conselho em 1 de abril
de 1872, de onde se passou para cargo idêntico para Tacaratú
em 8 de junho de 1875, Vila de Floresta em 1876 e Buique em
1877, todas na terra pernambucana. Nesta última cidade nas-
ceu-lhe Eulina, sua primeira filha, ainda hoje viva, setuagenária
em estado de solteira.
Como de propósito de govêrno àqueles que pretendiam
alcançar carreira na magistratura destiná-los como ponto de pa-
rada em o Norte do pais, Mendes Bastos não duvidou cm acei-
tar o juizado municipal de Porto de Moz no Pará, onde chegou
acompanhado de esposa e dois filhos pequeninos, Foi removido
em 1880 para Melgaço e Oeiras por decreto de 18 de setembro
de 1880, em seguida para Cintra e afinal para Breves em 1883.
Não tendo sido reconduzido neste último cargo pela po-
litica liberal, ficou avulso advogando na dita comarca até que
novamente, foi aproveitado na magistratura pela nomeação a
juiz de Direito da Comarca de Gurupá por ato de 15 de abril de
1886. Ali, pelo fato do transcurso do seu 4º ano de judicatura
na comarca, precisamente em 15 de abril de 1890 promovida

282 Escorço Biográfico dos Desembargadores


expressiva e carinhosa homenagem de respeito e apreço, mani-
festação que o “Diário de Noticias” notificou no dia 29 seguinte:
“O dr. Mendes Bastos, juiz de direito de Gurupá, foi
festivamente homenageado pelo transcurso do 4º. ano
de sua judicatura ali, com um Te-Deum pelo vigário da
paróquia, cônego Manoel Raimundo Alves e pessoas
gradas locais”
Por pressentimento fizeram os Gurupaenses dar ao integro
juiz, a prova de seu reconhecimento pelos beneficios recebidos,
êle que nada mais era que um magistrado impoluto e culto, pois
que o iam perder, como de fato o perderam, em virtude de aceso
na carreira, pela nomeação ao juizado de Direito de Santarém,
já de 2ª. entrância, por ato do govêrno baixado três dias após
àquela manifestação de afeto.
Ei-lo em Santarém a comarca de maior importância do
Baixo Amazonas a lhe merecer as vistas e cuidados de bom jul-
gador que sempre fôra, mas de curta demora, de vez que pela
reorganização judiciária do govêrno Huet de Bacelar, foi removi-
do para a comarca da Vigia por ato de 20 de julho de 1891, ali
permanecendo, até que foi chamado a servir como desembarga-
dor no Tribunal do Pará por ato de 23 de setembro de 1895 do
governo Lauro Sodré, que neste dia havia aposentado a pedido
o desembargador Ernesto Chaves, desembargatoria que assumiu
como a mais elevada função de magistrado, exercicia na gleba
paraense aos 7 de outubro dêsse ano.
Apesar de relativamente moço por contar 47 anos de ida-
de, pouco durou com assento na elevada instância, pois que v:in-
da não havia decorrido um semestre de sua investidura, quando
veio a falecer padecente em sua árdua missão pelas comarcas
do interior cujo clima ia lançando às páginas cruciantes de um
atestado de óbito irremediável ao sacerdote da justiça como cor-
deiro resignado, vitima de um astenia geral lhe roubou a vida.

Raul da Costa Braga 283


Coube à sua desolada e sempre heróica e digna esposa
um mister doloroso de lhe estabelecer o óbito, ocorrido nesta
capital, pelas seis horas da manhã do dia 18 de maio de 1896
na casa de sua residência à avenida 16 de Novembro, vitima-
do por astenia geral segundo atestado do dr. Paes de Carvalho,
sem deixar testamento, deixando seis filhos dos quais somente
o primogenito era de maior idade. Então os jornais beIemenses
teceram-lhe comovidos necrológios.
Disse o “Diário de Noticias”:
“Foi com grande pezar que tivemos ontem a lutuosa
noticia do falecimento do integro desembargador Men-
des Bastos, um dos monumentos de nosso Tribunal
de Justiça. Sua excelência ocupou os cargos de Juiz
de Direito de Gurupá e Vigia, sendo ultimamente no-
meado por antiguidade, membro do referido Tribunal e
em todas com uma autoridade de caráter, deu as mais
robustas provas de sua ilustração e honradez”.
Disse o “República” :
“O dr. Mendes Bastos foi um magistrado que sempre
se distinguiu pela inteireza de seu caráter e variada
ilustração. Muitos trabalhos seus foram dados a publi-
cidade no ‘”Direito”. A sua morte impressionou triste-
mente aos que tiveram a ventura de conhecê-lo”.
Disse a “Provincia”:
“Faleceu o desembargador Mendes Bastos. A critica
apaixonada, muitas vezes cruel, jamais acusou o ilus-
tre morto de uma ação que pudesse manchar-lhe a
toga. Era caráter lhano, de natureza accesivel e muito
rigoroso nos principios politicos, que, como cidadão
professava sinceramente. Deixou numerosa familia en-
tregue aos azares da sorte, pouco bafejada pela felici-
dade. Associamo-nos ao pezar de sua desolada esposa
e filhos”

284 Escorço Biográfico dos Desembargadores


A “Provincia” ao memorar os azares da sorte à familia
enlutada, não fizera um prognóstico em vão. A herança do ma-
gistrado se compõe de pobreza e resignação. Já isso ficou dito
com o artigo “Perfil de magistrado”.
As duas filhas solteiras de Mendes Bastos, residem em
barraca de palha à travessa dos Caripunas em Belém, e fato
notável: — essa choupana de pobreza e resignação, guarda ca-
rinhosamente duas velhas filhas solteiras do grande vulto, filhas
Eulina e Idália que por sua vez guardam em mãos de delicadeza
feminina a fotografia do pai e a comenda de ouro do Oficialato
que o magnânimo e justo Pedro de II lhe dera em prova de seus
grandes méritos.
Como é duro para uns o mundo! Como é nobre a missão
de julgador injustiçado para outros!...
Realizaram.se os funerais á tarde do mesmo dia do fato (
18-5-1896), a que compareceu avultado número de advogados,
magistrados, funcionários públicos, industriais, comerciantes e
amigos do finado.
O féretro sobre o qual avultavam duas grinaldas ali colo-
cadas, uma pelos advogados e outra pelo Tribunal de Justiça foi
conduzido da casa da residência até ao Largo do Palácio onde
estava postado o carro fúnebre pelos desembargadores Augusto
Borborema, Antonio Bezerra, Cunha Moreira, Rocha Viana, Na-
poleão de Oliveira e dr. Gomes Coimbra, juiz seccional.
Doze dias após a morte de Mendes Bastos a lei 444 de 30
de maio de 1895 veio em socorro à familia enlutada:
“O Congresso do Estado e eu sanciono a seguinte lei
art. 1º. Fica o Governo do Estado autorizado a conce-
der à viuva e filhos do desembargador Mendes Bastos
uma pensão de 2.400$000 anuais. (a) Lauro Sodré”
Depois dessa lei a vida continuou em seu ritmo de encare-
cimento de utilidades aumentando progressivamente sem que a

Raul da Costa Braga 285


majoração do beneficio conseguisse aplacar a primitiva situação
em que permanecia a família, como lar que tivesse parado no
caminho.
Os governos sucediam-se e passavam equidistantes em
qualquer gesto de amparo àqueles que detiam por herança, o
direito deste amparo por parte do governo do Estado.
Desde os primeiros tempos de juizado municipal, Mendes
Bastos demonstrou seus pendores a carreira da justiça como es-
tudioso do Direito, já então, elaborando despachos e sentenças
invulgares que não ficavam ignorados no ventre dos autos, mas
publicados na Revistas especializadas como a “Gazeta Jurídica”
e o ‘”Direito”.
E de destaque a concessão do “habeas-corpus” “Por José
de propriedade do coronel Diniz Triunfo: — Por injustificável a
prisão motivada do fato de pleitear o cativo, o meio legal a sua
liberdade”.
Era, então, ainda moço, o juiz humanamente cristão justo
que se revelava naquéle tempo o que haveria de ser o futuro de-
sembargador do Pará.
Jaz no cemitério de Santa Izabel desta capital em mau-
soléu perpétuo a que 18 anos depois se foi juntar sua consorte,
ab eternam como exemplo de dedicação infinita e extremo amor
que a morte não acabou.

286 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO CLEMENTINO ACCIOLY LINS

Antonio Clementino Accioly Lins é de Pernambuco, nasci-


do na cidade dê Barreiros aos 12 de marco de 1851, como filho
legítimo de José Francisco Accioly Lins e dona Ignácia Francisca
Accioly Lins.
Fêz na terra natal seus estudos, atingindo o gráu de ba-
charel em ciencias jurídicas e sociais que o recebeu em 3 de
novembro de 1874 pela Faculdade de Direito de Recife.
Aos 20 de julho do ano seguinte contraiu matrimônio com
sua sobrinha Theodulina Francisca Accioly Lins, filha de uma
sua irmã, naquela cidade pernambucana em oratório privado do
engenho Rebouças, propriedade da família.
Iniciou sua carreira como juiz municipal de Parnaíba da
provincia do Piauí em 1 de novembro de 1877.
Já em 13 de julho de 1881 vemo-lo juiz municipal de
Soure no Pará. Em 24 de dezembro de 1888 recebeu sua nome-
ação como juiz de Direito da comarca de Monte Alegre. de que
foi removido paar a de Guamá em 1890 e para a de Alenquer
por ocasião da organização judiciária Huet de Bacelar.
Sua permanência na vara foi de meses, pois foi nomeado
desembargador por merecimento por ato de 23-5-1896 e posse
em 28 preenchendo a vaga de Mendes Bastos.
Trabalhou no Tribunal de Justiça até a sessão de 9 de
março de 1901, dia em que o governador Augusto Montenegro
fêz baixar o decreto 970 de 9 de março de 1901:
“O governo do Estado atendeu ao que requereu o de-
sembargador Antonio Clementino Accioly Lins e usan-
do das atribuições que lhe confere a Lei 774 de 5
do corrente resolve conceder ao mesmo desembarga-
dor a aposentadoria com todo o ordenado o qual será

Raul da Costa Braga 287


sempre aos dos desembargadores em atividade nos
termos da referida lei”.
Diz a Lei 774 de 5-3-1901:
Eu, Geminiano de Lyra Castro, Presidente do Senado
Paraense faço constar aos que a presente virem que o
Congresso Legislativo do Estado decreta e promulga a
seguinte resolução: Art. 1.º. Fica o governo do Estado
autorizado a aposentar o desembargador Antonio Cle-
mentino Accioly Lins com todo o ordenado que será
sempre igual ao dos desembargadores efetivos em
atividade.
Aposentado, passou o desembargador Accioly à vida pri-
vada em as duas décadas ainda vividas de sua existencia não
esquecendo os conhecimentos jurídicos abundantes de sua ba-
gagem de magistrado ora transferido à banca de advogado e
não sem sentir nos últimos tempos de sua velhice veneranda, as
agruras de impontualidade tornada clássica do tesouro público
em perene e incurável crise financeira e de caráter pelos maus
humores de muitos de seus diretores, tristemente esquecidos
das garantias que a lei de aposentadoria cercara o magistrado
emérito e tine se via forçado a perambular descrente e entris-
tecido pelos desvãos da arca pública mal parada a cota de um
abono que bem traduzia em lancinante escarneo à sua velhice e
um desapreço aos seus anos de serviço de judicatura.
Muitos dos velhos de hoje, guardam de memória e de
próprio testemunho, essa época de lamúrias e desapontamen-
tos, qual noite sem esperança de um clarão de sol em que o
funcionário público descia as escadas de Palácio com o coração
em frangalhos e os olhos enlagrimados„ Era isso no tempo da
República e da Democracia, do governo do Povo para o Povo.
Dêsse tempo — grito de calamidade — sem vislumbre de
término, o velho Accioly foi uma de suas maiores vitimas. Obri-
gado a pedir sem ser atendido, êle talvez, mio mais soubesse

288 Escorço Biográfico dos Desembargadores


explicar por que nascêra na abastança, de vez que ia caminhan-
do para a morte, como se tivesse sido um perdulário ou imprevi-
dente quando de seu, daquilo que não podia ser consumido, êle
era rico de dignidade e de virtudes.
Só o governo Dionisio Bentes no último ano de vida do
magistrado soube integrar o Estado em seu antigo ritmo. Já era
tarde demais ao septuagenário. Cansado de existir, desconforta-
do e desiludido dos homens e das coisas entregou sua alma a
Deus, tão cândida como suas vestes talares.
Accioly Lins faleceu às 2 horas da manhã de 5 de março
de 1925 á travessa São Mateus, 229, aos 75 anos de idade.
Foi em sua memória que se fêz escrita a crónica: — Perfil
de Magistrado” constante deste livro de homenagem.
O “Estado do Pará” e a ‘Folha do Norte” teceram ao inol-
vidável magistrado, merecidos necrológios.
Ao enterro compareceram pessoalmente dr. Dionisio Ben-
tes, Governador do Estado, desembargador Santos Estanislao
pelo Tribunal de Justiça, Luís Estevão de Oliveira, juiz seccio-
nal, senador Ferreira Teixeira e o provecto advogado Samuel Mac
Dowell, professor Matheus do Carmo e inúmeras pessoas gradas.
Deixou 5 filhos, um dos quais, o dr. João Batista Accioly
Lins ultimamente falecido como juiz de direito de Óbidos e duas
filhas, — Maria da Conceição e Tereza ainda hoje solteiras a
purgarem uma desventura que jamais encontrou termo. O de-
sembargador Accioly jaz sepultado em Santa Izabel.

Raul da Costa Braga 289


MANOEL FRANCISCO HONORATO JUNIOR

Pernambucano, nascido aos 17 de março de 1844, fi-


lho de Manoel Francisco Honorato e Guilhermina Maria Paula
Honorato.
Fêz todos os seus estudos na terra natal, formando-se
pela Academia de Recife, aí recebendo o gráu de bacharel em
ciencias jurídicas e sociais em 26 de novembro de 1870 como
reza a respectiva carta registrado no Tribunal do Pará.
Uma vez formado, vemo-lo em sua primeira função de
vida pública, no cargo de juiz municipal de Porto de Moz em
1873 de onde foi removido para o termo de Chaves por ato de
4 de julho de 1874, tomando posse em 31 de agosto de 1874,
Em Chaves por ato de 4 de julho de 1874, tomando posse em
31 de agosto de 1874, Em Chaves, desenvolveu grande parte
de sua vida, pois ali permaneceu em tais funções até meados de
1891 quando a reforma judiciária decretada por Huet de Bacelar
o nomeou em 20 de julho de 1891 Juiz de Direito da comarca
de Porto de Moz onde já havia servido em 1874 logo que aqui
chegara a encetar a carreira que havia escolhido.
De sua primeira comarca de juizado de Direito, foi re-
movido para a comarca de Monte Alegre em ato de 20-2-1894
e posse a 3 de março seguinte. Em Monte Alegre permaneceu
por sete anos, quando o decreto de 15 de março de 1901 do
governo Montenegro o nomeou par antiguidade desembargador
no Tribunal de Justiça na vaga aberta de Antonio Bezerra Rocha
Morais, compromissando e assumindo o cargo em 23 dêsse
Mês e ano. Contava, então, o nomeado, 27 anos de ju-
dicatura e estadia paraense. Sentindo-se enfermo de moléstia
de grave, submeteu-se à inspeção de saúde com que requereu
aposentadoria que lhe foi concedida pelo decreto 1694 de 24
de maio de 1910, com percepção de seus vencimentos integrais

290 Escorço Biográfico dos Desembargadores


do cargo, visto contar mais de 34 anos de serviço público, aos
quais é de se acrescentar — de bons e penosos serviços, — pois
que os termos de Porto de Moz e Chaves naqueles tempos equi-
valiam verdadeiro desterro que somente a coragem e dedicação
na sagrada missão de distribuidor da justiça tinham o condão de
as enfrentar. a comarca de Monte Alegre foi para o magistrado
aquele refrigério e meia reparação aos males contraídos em seu
juizado municipal.
Pouco viveu na aposentadoria, vindo a falecer nesta ca-
pital em 8 de janeiro de 1913 às 3 e um quarto horas na casa
da sua residencia à avenida 16 de Novembro, n. 124 vitimado
por elepantiasis dos gregos, deixando viuva, D. Joaquina Tor-
res Honorato e 4 filhos menores: Luiza, Guilhermina, Euzébia e
Augusto.
Em sessão do Tribunal após a morte o desembargador Ju-
lio Costa apresentou uma indicação pelo falecimento do colega
no sentido de ser consignado na ata um voto de pezar e Ievan-
tamento da sessão e apresentação de pêsames à familia enluta-
da Com representação do Tribunal a missa do sétimo dia, tudo
deferido tendo sido indicado o desembargador Virgolino àquelas
incumbências.
O “Estado do Pará” noticiou
“Ocorreu ontem nesta capital o falecimento do desem-
bargador aposentado Manoel Francisco Honorato Ju-
nior. Largamente conhecido e estimado nesta cidade,
em cuja magistratura servia a 35 anos, a morte do
desembargador Honorato foi muito sentido no seio da
nossa melhor sociedade.
Casado com a Sra. D. Joaquina Honorato deixa o mor-
to na orfandade 4 filhos. Contava 68 anos de idade,
era pernambucano e desde 1910 estava aposenta-
do. O enterro do ilustre extinto que tinha um médico

Raul da Costa Braga 291


assistente o dr. Raimundo efetua-se hoje ás 9 da ma-
nhã, não havendo convites especiais”.
Jaz o desembargador Honorato sepultado na necrópole de
Santa Izabel, de Belém.

292 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ALFREDO RAPOSO BARRADAS

Em São Luiz do Maranhão, aos 16 de setembro de 1861,


nasceu Alfredo Raposo Barradas, filho legitimo do grande jurisdi-
consulto brasiIeiro então Juiz de Direito civel em São Luiz, Con-
selheiro Joaquim da Costa Barradas e de D. Maria Tereza Raposo
Barradas. Tendo feito seus estudos de humanidades na famosa
Atenas brasileira seguiu, ainda quase menino, para Recife ao
curso superior dos estudos das ciências juridicas e Sociais da
afeição paterna, em cuja Faculdade de Direito colou o respectivo
gráu a 10 de novembro de 1882. Tinha, então, o jovem bacharel
de raça, a idade de 19 anos cm que já se fazia portador de um
diploma de estudos superiores com obtenção de notas distintas.
Chegado ao berço de nascimento, logo alcançára o car-
go aos 20 anos de idade de promotor público em São Luiz do
Maranhão. O regime imperial não poria certamente em mãos
inafeitas tão árduo cargo, se não visse na pessoa do nomeado,
aquelas nobres e proficientes qualidades morais e culturais de
seu caráter, fibratura e origem. Era o filho que bem puxára o pai,
nessa herança que é padrão e que ninguém furta, atenta sua
perenidade.

Raul da Costa Braga 293


Dessa promotoria da Capital passou, ainda por mereci-
mento, ao juizado da Comarca de Carolina de seu Estado em
principios do 1890, dali sendo removido para o juizado de di-
reito de Curuçá em 20 de maio de 1890 aqui no Pará, onde
permaneceu por dois anos a despejar o brilho do seu talento e a
dignidade altaneira de sua personalidade. De sua primeira co-
marca paraense traspassou-se por permuta com seu de colega,
dr. Felisberto Elisio Bezerra Montenegro, para a de Bragança,
permuta homologada pelo governo ex-vi do decreto 420 de 6 de
julho de 1890.
A Reforma Judiciária Huet de Bacelar em 20 de junho de
1891 o confirmou no mesmo cargo e Comarca.
Veio nomeado juiz de Direito de Belém por ato de 27 de
maio de 1896 empossando-se em 16 do mês seguinte, judi-
cando por 5 anos quando o decreto de 20 de março de 1901
o nomeou desembargador na vaga por aposentadoria de Acioly
Lins, assumindo no mesmo dia o exercicio.
Já para a Capital, viera na vaga Accioly por ascenção ao
Tribunal.
Nesta Superior Instância se fêz Barradas a palavra oracu-
lar na ciencia em que muito moço se fizera grande, — a ciencia
do direito. Vê-lo no Tribunal era ver a garantia segura de que
a táboa da lei seria aplicada em sua expressão Lídima, em seu
espirito integral. Vezes sem conta Barradas encarecia na discus-
são do assunto, um tratado de direito e não procurando índice
ia certeiro à página pretendida como se a tivesse lido momentos
antes.
Era a chispa do talento, servido por uma admirável me-
mória de eleito e acurado estudo das disciplinas. Honrava o Tri-
bunal em peso.
Companheiro de ano de Faculdade de Urbano Santos, o
fora também de Clovis Bevi’aqua. Esse magno civilista dedicou

294 Escorço Biográfico dos Desembargadores


na história da Faculdade de Direito de Recife aos dois aludidos
colegas a referencia de: — formosas inteligencias.
Era o Ceará de mãos dadas ao Maranhão na refulgência de
seus filhos. E de não esquecer ainda o 4.º colega de turma, José
Xavier Carvalho de Mendonça. Esse 1882 foi o ninho de aguias
que se abriu aos voos para as esferas luminosas do direito.
É a seguinte a carta de bacharel de Alfredo Barradas:
“Em nome e sob os Auspicios do Muito Alto e Muito
Poderoso Cristo, o senhor D. Pedro II Imperador Cons-
titucional e Defensor Perpetuo do Brasil. Faculdade de
Direito da Cidade do Recife. Eu, o dr. João Silveira de
Souza, do Conselho de S. M. o Imperador, Lente Cate-
drático e Diretor Inerino Faculdade, tendo presente o
termo de aptidão ao grau de bacharel, obtido pelo Sr.
Alfredo Raposo Barradas, filho do bacharel Joaquim
da Costa Barradas, nascido em a província Maranhão
e de lhe haver sido conferido o dito gráu, no dia 10
novembro de 1882 pelo presidente e lentes que o exa-
minaram e aprovaram com distinção e em consequên-
cia da autoridade que me é dada pelos estatutos que
regem esta Faculdade e do que neles me é ordenado,
mandei passar ao dito senhor Alfredo Raposo Barra-
das, esta Carta de Bacharel em Ciências Sociais e Ju-
rídicas para que com ela gose de todos os direitos e
prerrogativas atribuídas pelas leis do Império. Recife,
11 de novembro de 1882. O Diretor da Faculdade dr.
João Silveira de Souza. O Presidente do ato dr. João
Capistrano Bandeira de Melo. O Secretário da Facul-
dade, José Honório Bezerra de Menezes. A assinatura
do Bacharel, Alfredo Raposo Barradas”
Era Barradas desembargador em atividade, quando a do-
ença e a morte — ruptura do aneurisma da aorta — o retirou
dos vivos

Raul da Costa Braga 295


A “Folha do Norte” (-5-1924) é expressiva no necrológio:
“Sucumbiu ontem nesta Capital às nove horas da ma-
nhã no hospital da Beneficente Portuguesa a que se
achava a dias recolhido, o desembargador Alfredo Ra-
poso Barradas, membro dos mais ilustres do Tribunal
de Justiça do Estado. Natural do Maranhão, o extinto
desde longos anos elegeu o Pará como campo de sua
atividade intelectual que foi uma das mais acentuadas
funções da sua existência. Dedicando-se ao estudo do
Direito, à cultura profunda da ciencia, da Justiça e da
Lei, o desembargador Barradas não desmentiu mas ao
contrário, exaltou e elevou a tradição e o renome que
seu pai, o velho jurisconsulto Conselheiro Barradas,
legou a posteridade, através de suas obras, estudos
e sentenças. Efetivamente o ilustre morto de ontem
era mui justamente considerado um jurista de nota, o
luminar de nossa mais alta instancia judiciária onde,
com uma admirável clareza convincente, com uma ar-
gumentação larga e precisa, expendendo velhas e mo-
dernas doutrinas, citando a jurisprudencia dos paises
mais cultos, encarava qualquer assunto que de mo-
mento surgisse à discussão no seu aeropago jurídico,
de sua voz, por isso mesmo que partia de uma auto-
ridade já consagrada nos mais adiu antados circulos
cientificos do pais, tinha a persuasão dogmatica de
uma sentença inapelável,
Acatavam-na os colegas, outros tantos doutores da ciên-
cia. tão certos de que a fortalecia a verdade e a sabedoria que já
velha Roma, do onde germinou e floresceu a idade do Direito
para os povos do Ocidente exigia do vir bonus dicendi peritus.
Além desses seus altos predicados profissionais, o de-
sembargador Barradas conquistou da sociedade paraense que o
conteve durante tão longos anos, uma admiração sincera e um
merecido respeito pelos seus atributos de cidadão e de amigo.

296 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Organizada a Faculdade de Direito do Pará, foi êle escolhido len-
te catedrátáico de Direito Romano. Infelizmente com o organis-
mo combalido pela moléstia que já o vinha minando, não pôde
deixar rastros indeléveis da sua passagem por aquela Cadeira
como era de esperar de seu saber e erudição. Por isso mesmo,
várias vezes, tentou deixar o corpo docente dessa Escola Supe-
rior, mas seus pares não lho permitiam. Sua retirada importava
num grande desfalque nos valores intelectuais da instituição. por
sua existencia tiveram de ceder, considerando-o lente honorário
ao baixar o corpo à sepultura falou pelo Tribunal o desembarga-
dor Santa Rosa e pelo corpo de advogados, o emérito Samuel
Mac Dowell. Disse o primeiro:
— “Formado, aceitou Barradas a carreira da magistra-
tura no antigo regime em que os magistrados, verda-
deiros missionários do bem público, encaneciam em
sua árdua missão, através dos invios sertões do pais
legando pobreza e orfandade”
Disse o segundo: “A passagem de Barradas pelo Tribunal
se assinalou por uma trajetória luminosa Seu nome não perece-
rá. Se como disse o grande orador romano, os mortos vivem uma
segunda vida na memória dos vivos, a vida do desembargador
Barradas se há de perpetuar, enquanto houver ministros de Jus-
tiça e auxiliares desta que se inspirem nas altas lições de Direito
que ele legou a posteridade nos brilhantes arestos e sentenças
em que estampou os seus profundos conhecimentos de jurista e
deu corpo ao severo senso de justiça que o inspirára”
O desembargador Barradas faleceu em estado de solteiro,
com a idade de 63 anos em o dia 4 de março de 1924 com 33
anos de judicatura, sendo 22 anos no Tribunal de Justiça do
Pará. Está sepultado no cemitério público de Santa Izabel. Mas
à alma de eleito a quem Deus galardoou em vida perdura para a
memória do além túmulo Foi uma estreIa que apagou.

Raul da Costa Braga 297


SANTOS ESTANISLAO PESSOA DE VASCONCELOS

Santos Estanislao Pessoa de Vasconcelos nasceu na ci-


dade de Bananeiras, da provincia da Paraíba a 13 de maio de
1860, filho legítimo de Virginio Estanislao Afonso e D. Maria
Fortunata das Neves.
Concluiu seus estudos secundários no Curso Anexo em
Recife, matriculando-se em 1879 cm sua Academia de Direito
onde colou gráu em 1883.
Ainda acadêmico passou a trabalhar no escritório de ad-
vocacia de seu tio, o provecto advogado dr. José Lopes pessoa da
Costa mourejando até sua formatura, quando retornou à Paraíba
como promotor público de sua terra natal.
Embarcando para a provincia do Pará foi nomeado em
13 de dezembro de 1884, juiz municipal de órfãos da comarca
de Cametá e Baião, quando enviuvou de D. Maria Blandina de
Vasconcelos, motivo que o fizera retornar à para exercer as pro-
motorias de Pilar e Campina Grande e o Juizado Municipal de
Mamanguape.

298 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Atingiu o juizado de Direito desta mesma Comarca da
nova organização judiciária provocada pelo novo republicano,
pouco demorando neste cargo pelo contra de Floriano, através
do ato do governo Alvaro Machado.
Novamente o Pará abriu a carreira ao magistrado espolia-
do aportando em novembro de 1892 com a sua nomeação para
juiz de direito de Chaves, por decreto de 21 de novembro de
1892 do governo Lauro Sodré sob sua posse em 23 de novem-
bro deste ano.
Mais uma vez o destino lhe fizera perder um cunhado que
acompanhára a irmã, D. Maria Anália Pessoa de Vasconcelos,
virtuosa esposa do magistrado, vitimado pelas febres malignas
daquela comarca no curto espaço de 3 dias.
Desta vez porém, Santos Estanislao ficou para Ser pouco
depois nomeado juiz de direito da comarca de Baião e galgar
o juizado de direito da comarca de Cametá por permuta com o
titular dr. Feliciano Hardman então nomeado chefe de policia de
que assumiu o exercício em 27 de maio de 1894.
Nêsse cargo foi chamado pelo governo Paes de Carvalho
para servir em comissão o cargo de chefe de policia, de que se
empossou em 14 de janeiro de 1899 e se exonerando a pedido
a 31 dêsse mesmo mês de 1900.
Encontrava-se como chefe de policia quando ocorreu sua
remoção de sua comarca de Cametá para a de Belém por ato de
25 de março de 1899 sob indicação em 1.º lugar pelo Tribunal
de Justiça.
Afinal galgou a desembargatoria na vaga de Cunha Morei-
ra por decreto de 9 de outubro de 1901 empossando-se nêste
mesmo dia.
No Egrégio Tribunal pontificou por 30 anos a fio em votos
que sio luminares lições de Direito, exponenciais de dignidade e
valor de sua personalidade. O decreto 599 A de 26 de janeiro

Raul da Costa Braga 299


de 1932 o veio aposentar em plena lucidez de espirito e sani-
dade fisica, arrastado por injunções a moda de bilhete azul sob
capa de uma fementida consideração em segui- da negada à
aceitação da aposentadoria, precisamente por aquele seu antigo
afeiçoado que galgado às culminâncias do poder não levou em
conta a mágua que iria provocar no velho mestre.
Por ocasião de seu pedido de dispensa da comissão como
chefe de policia recebeu do governo Paes de Carvalho o seguinte
oficio:
“Concedendo-os a exoneração que pedistes critério, do
cargo zelo dr. e chefe de policia do Estado que exer-
cestes com inteligência em periodo maior de um ano,
é com satisfação vos agradeço os serviços que em tal
posto prestastes a ordem pública e especialmente ao
meu governo que sempre perfeito encontrou em vós
um auxiliar decidido e solicito no perfeito de seus de-
veres. Aceitai os meus protestos de consideração dis-
tinta e estima particular”.
Novamente Santos Estanislao exerceu a chefatura policia
por ato de 8 de janeiro de 1917 do govêrno Lauro Sodré de que
se exonerou a 31 de dezembro de 1918 em virtude de um inci-
dente provocado comandante da brigada estadual coronel Cileno
entre seu poder civil e o poder militar deste coronel que em tudo
queria interferir, exoneração que fêz sem esperar deferimento,
pois logo assumiu o seu cargo de desembargador.
Aposentado em 26 de janeiro de 1932 não se adaptou
à vida de descanso a que jamais se afizera, vindo a falecer no
último dia do ano jubilar de 1933.
Casado por três vezes com três irmãs de nenhuma deIas
houve inventário, pobre que sempre fora, naquela riqueza de
caráter e dignidade exemplar que deixou aos seus doze filhos,
vinte e seis netos e quatro bisnetos, envaidecidos todos por tão
nobre herança.

300 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Por sua morte o “Estado do Pará” necrologiou:
“Ecoou dolorosamente em nosso meio a noticia do fa-
lecimento do venerando desembargador Santos Esta-
nislao, uma das figuras de verdadeiro destaque nas
letras jurídicas de nosso Estado”.
A “Folha do Norte” entre outras expressões também
publicou:
“O desembargador Santos Estanislao Pessoa de Vas-
concelos foi figura das de maior realce e merecimento
nos circulos juridicos dêsse Estado. Os representantes
do poder público, das instituições paraenses, da ju-
dicatura e do fôro, assim como elementos de todas
as classes sociais e familias Compareceram ao ato do
enterramento que revestiu uma consagração ao escla-
recido e reputado jurisconsulto”.
O tabelião desta capital dr. Lauro Chaves, também publi-
cou no “’Estado do Pará”:
“Jamais encontrei quem mais tivesse tido os dotes ne-
cessários a alta missão de distribuidor da justiça, pois
que possuía as mestras: — ilustração, serenidade, re-
tidão, independencia e bondade. Amazonas de Figuei-
redo, afinal professor de Direito Romano na Faculdade
em Belém, Secretário Geral do Estado e que fôra seu
promotor em Cametá:
— Ter sido ésse tempo o melhor de sua vida jurídica,
pois tendo tido como seu Juiz Santos Estanislao com
ele aprendera a estudar o direito”.
Estanislao foi companheiro de turma de João Elisio, Erci-
lio de Souza, Martins Junior, Trajano Brandão, Francisco Viveiros
de Castro seu particular amigo, turma brilhante saída da Facul-
dade de Direito de Recife.”

Raul da Costa Braga 301


CIovis Bevilaqua dedicou-lhe uma nota expressiva em Sua
Obra “História da Faculdade de Direito de Recife”.
Santos Estanislao publicou em 1898 a obra: “Anotações
à Reforma Judiciária” a lei 455 de 11 de junho de 1896; “Ape-
lações de terceiros”, monografia que foi padrão decisivo nas an-
tigas contendas judiciárias e “Casos Forenses”.
Foi um dos fundadores da Faculdade de Direito do Pará,
regendo com profundo saber a cadeira de Direito Civil.
No Tribunal de Justiça era uma das colunas dóricas do
templo, formando com Barradas e Pires dos Reis a triade majes-
tosa da magistratura, proficiente nas decisões e sábia nos Sacra-
mento Brack em sua obra “História de Etnografia” dedica-lhe al-
gumas referências. Santos Estanislao faleceu a 31 de dezembro
de 1933 à avenida Serzedelo Corrêa vitimado por artério esclero-
se generalizada achando-se sepultado em Santa Izabel no último
sono daqueles que foram bons. daqueles que se finaram justos.
Foi uma alma pura que no ano santo voltou para o regaço
de Deus.

302 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOSÉ ANSELMO DE FIGUEIREDO SANTIAGO

Na cidade de Recife e distrito do Pôço da Panela, nas-


ceu aos 22 dias de março de 1865 José Anselmo de Figueiredo
Santiago, filho legitimo do comendador Joaquim Francisco de
Albuquerque Santiago e D. Maria de Figueiredo Santiago.
Concluído o curso de humanidades no “Ginásio Pernam-
bucano”, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife onde
recebeu o gráu de bacharel em Direito a 20 de março de 1886.
Iniciou sua carreira de bacharel como promotor público
de Pitimbú na Paraíba do Norte, daí passando para juiz munici-
pal de órfãos na provincia de Goiás e depois para a comarca de
Barcelos, no Amazonas e na própria capital desta provincia em
as mesmas funções.
Dêsse extremo norte alcançou a nomeação de juiz de Di-
reito da Comarca de Guamá, no Pará, por ato de 20 de Junho de
1891 do govêrno Huet de Bacelar. Três anos após, foi removido
para a comarca de Curuçá, no Pará, por decreto de 22 de se-
tembro de 1894 de que assumiu o exercicio a 13 de novembro
seguinte.
Afinal encontrou sua nomeação como desembargador do
Tribunal Superior de Justiça por decreto de 7 de abril de 1902,
entrando em posse a 16 deste mês e ano.
Em 12 de marco de 1888 contraiu matrimónio em Belém
com Maria Cherubina de Oliveira Santiago de quem houve Seis
filhos dos quais sobrevivem Alcebiades, Celina e Licurgo. atual-
mente desembargador no Pará tal como fôra seu pai.
O desembargador Santiago faleceu nesta capital a primei-
ro de julho de 1923 aos 58 anos de idade às 9,30 horas no
Hospital D. Luiz vitimado por arterio-esclerose. Residia avenida

Raul da Costa Braga 303


Conselheiro Furtado, 7-B. Jaz sepultado em mausoléu próprio na
necrópole de Santa Izabel.
A quando de seu passamento a “Folha do Norte” e “O Es-
tado do Pará” dedicaram-lhe extensos cronológicos. Era, então,
presidente em exercicio no Tribunal de que fazia parte em duas
décadas de judicatura.
O préstito fúnebre compôs-se de 35 carruagens e 5 bon-
des, tendo acompanhado seus restos mortais, o dr. Souza Cas-
tro, Governador do Estado, desembargadores Julio Costa, Chefe
de Policia, Artur Porto, Procurador Geral, Pires dos Reis Santos
Estanislao, Loyola Virgolino, Santa Rosa e Martins Filho, Napo-
leão de Oliveira e Francisco da Cunha Barreto.
Como vice-presidente do partido Republicano do Pará,
seus correligionários, Artur Lemos, José Porfirio, Newton Bur-
lamaqui e Virgilio Melo ofereceram uma expressiva grinalda de
sentido pesar.

304 Escorço Biográfico dos Desembargadores


THOMAZ DE PAULA RIBEIRO

Paraense, nascido na cidade de Bragança, ribas do Caeté,


aos 16 de novembro de 1863, de respeitável familia local, era
filho legitimo do coronel Thomaz de Paula Ribeiro e de D. Ana
Amélia de Paiva Ribeiro.
Vindo para Belém, bem jovem aqui fêz seus estudos se-
cundários no seminário do Carmo.
Bacharelado pela Faculdade de Direito de Recife, em 1890,
regressou ao Pará de onde não mais se mudou durante toda sua
carreira pública, lego nomeado promotor público da antiga comar-
ca de Óbidos de que passou a juiz substituto da mesma comarca
e transferido para a de Santarém em 13 de abril de 1893.
Entrou no quadro da magistratura como Juiz de Direito da
Comarca de Baião de 1ª. entrância, por ato governamental de
18 de julho de 1895 e posse a 13 do mês subsequente, ai per-
manecendo até que ascendeu ao Juizado de Direito do distrito da
comarca da Belém, por dec. de 13 de novembro de 1901 pela
vaga de Santos Estanislao que subira para o Tribunal, vara que
assumiu no dia imediato.

Raul da Costa Braga 305


Nêsse mesmo dia 14 de novembro de 1901 foi nomeado
em portaria do govêrno Augusto Montenegro como chefe de Se-
gurança pública em comissão logo assumindo o exercicio desta
nova função. Foi um chefe de fibratura invulgar.
Estava na chefatura de Policia quando se abriu no Tri-
bunal uma vaga pela aposentadoria do desembargador Gentil
Bittencourt, na qual logrou a indicação de seu nome pela unani-
midade de votos, lista de indicação em que Loyola Virgolino de
Cametá e Pires dos Reis de Santarém, obtiveram cinco os cada
um, tornando-se Thomaz Ribeiro aquele de maior votação o es-
colhido e nomeado à desembargatoria por decreto de 3 de junho
de 1906 e posse três dias decorridos deste ato para retornar à
comissão de anteriormente que só a deixou em 7 de fevereiro
de 1909 que importa reconhecer ter sido o chefe de segurança
pública do govêrno Montenegro durante os seus dois quatriênios.
Os dois homens públicos se compreendiam e Se Integra-
vam nas esferas do poder público. A ação do ilustre magistrado
nesse setor foi como disse o “Estado do Pará” (14-6-1922) das
mais combatidas e nada obstante das mais frutuosas pela rara
energia a virtudes que a sustentaram.
O desembargador Thomaz Ribeiro foi casado em primei-
ras núpcias Com D. Rosa Diniz Ribeiro de quem não houve filhos
e em segundas núpcias com sua cunhada D. Izabel Diniz Ribeiro
Filho: Zuleide Ribeiro Bahia casada com Luiz Bahia, Laureana
Ribeiro de Almeida, casada com o almirante Lara de Almeida,
Amélia Ribeiro de Leão casada com o proficiente clinico Acilino
de Leão ha pouco falecido, Georgina Ribeiro Bezerra, casada
com o dr. Flávio Bezerra, Izabel Ribeiro Martins, casada com
José Emilio Martins e Humberto de Paula Ribeiro, oficial de nos-
so Exército.
Em 1911 em homenagem aos seus méritos e pelo muito
que fêz à sua comarca de Baião foi o grupo escolar regional de-
nominado “Thomaz Ribeiro”.

306 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Faleceu o desembargador Thomaz Ribeiro em plena ati-
vidade de suas elevadas funções nesta capital à avenida Sio Je-
ronimo, 136 em 13 de junho de 1923 aos 59 anos de idade,
vitimado por esclerose cardio renal, registrando os jornais senti-
dos necrológios.
A propósito publicou o “Estado do Pará”: “Desde ontem
está de luto a magistratura paraense, pois se finou às 7 e 45 da
noite o desembargador Thomaz Ribeiro um dos membros mais
ilustres do Tribunal Superior de Justiça do Estado. Seus pade-
cimentos eram antigos e o vinham atormentando dolorosa e in-
cessantemente. Nêstes últimos tempos agravaram-se de forma
alarmante pondo em cuidados e atribulações sua digna familia.
O médico assistente, dr. Acilino de Leão, genro do enfermo ve-
lava incansavelmente dia e noite à sua cabeceira e conseguiu
arrancá-lo à morte. O desembargador Ribeiro entrou em franca
convalescença com o júbilo de quantos lhe eram presos por la-
ços de sangue e amizade. Seus dias entanto estavam contados.
Sobreveio-lhe uma gripe e agravando os padecimentos antigos
foram improfícuos todos os desvelos médicos. O desenlace era
fatal”
Thomaz Ribeiro faleceu rodeado dos seus, tendo antes
de exalar o ultimo suspiro recebido o conforto dos sacramen-
tos da Igreja. Em seu préstito fúnebre tocaram nas alças Santos
Estanislao, um de seus íntimos amigos, Santiago, Santa Rosa,
Pires dos Reis, Loyola Virgolino e demais colegas a que também
estiveram presentes dr. Souza Castro, governador do Estado, Ci-
priano Santos, senador estadual, Artur Porto, Procura. dor Geral,
Julio Costa, Chefe de Policia, Napoleão de Oliveira, Acioly Lins e
Luiz Estevão, Juiz Seccional e incontável número de pessoas de
todas as categorias sociais.
Jaz sepultado no cemitério de Santa Izabel e Bragança
ainda hoje chora a perda daquêle que foi um de seus maiores
filhos.

Raul da Costa Braga 307


JULIO CEZAR DE MAGALHÃES COSTA

Na cidade de Curuçá, Baixo São Francisco, provincia da


Bahia, nasceu Julio Cesar de Magalhães Costa, filho do desem-
bargador Alvaro Antonio da Costa e D. Joaquina Jovita da Costa
aos 2 dias de julho de 1868. Fêz seu curso de humanidades na
famosa Academia de Direito de Recife, colando gráu em 1889
(9-12-1889), voltando à provincia natal, onde iniciou sua vida
pública como promotor da comarca de Geremoabo, cujas fun-
ções exerceu de 29 de julho de 1890 a 18 de fevereiro de 1891
para no dia seguinte aceitar a nomeação de Juiz Municipal e
órfãos dos termos reunidos de Geremoabo e Santo Antonio da
Glória, ato de 19-2-1891. Ai permanecendo até 18 de agosto de
1892, quando passou a juiz preparador desta comarca (Geremo-
abo) em que esteve de 19 de agosto de 1892 a 18 de agosto de
1896. É de notar que, de 29 de julho de 1890 a 13 de janeiro
de 1892 a magistratura esteve na Bahia sob o regime federal e
daí por diante, até agosto de 1896 sob o governo do Estado da
Bahia.
Vindo para o Pará, recebeu a nomeação de juiz substi-
tuto da comarca de Muaná, entrando em exercicio em 10 de
maio de 1898 em que serviu até 21 de junho de 1901. Nêsse
Cargo alcançou a nomeação de Juiz de Direito da comarca de
Guntpá em ato de 16-6-1901 de que prestou compromisso em
19 seguinte. Foi, em seguida, removido para a comarca de Iga-
rapé-Miri, assumindo o respectivo exercicio em 8 de julho ainda
de 1901. Dessa última comarca passou o Juiz de Direito da 4ª.
vara da capital por ato de 26 de janeiro de 1905 e posse em 1
de fevereiro désse ano.
Na 4ª. vara ainda não tinha um mês de exercicio, reorga-
nizou a repartição criminal, com a apresentação de seu regimen-
to interno data de 27-2-1905, logo aprovado pelo decreto 1360
de 1-3-1905 do govêrno Montenegro, regimento que Perdurou

308 Escorço Biográfico dos Desembargadores


cm frutos compensadores até a data presente. Após um quinqu-
ênio, subiu ao Egrégio Tribunal de Justiça por nomeação empos-
sando-se no dia imediato.
Serviu como procurador Geral do Estado em dois perío-
dos: o 1.º de 10 de novembro de 1919 a 1 de fevereiro de 1921
e segundo em 1930. Com a vitória da Revolução até 14 de no-
vembro desse mesmo ano.
Nos dois meses, da Revolução Vitoriosa, perante a junta
governativa, foi figura destacada na confecção do decreto de re-
organização judiciária e escolha de méritos dos Componentes da
justiça, perante a comissão de revolucionários com Cezar Couti-
nho, Genaro Ponte e Souza e Abel Chermont à frente.
Serviu como Chefe de Policia em comissão de 1-2-1921
a 1-2-1925.
Por várias vezes exerceu o cargo de presidente do Tribunal
nos termos do respectivo regimento. Na qualidade de vice-pre-
sidente do Tribunal assumiu de acordo com o dec. 21.076 de
21-2-1932 do governo Provisório da República o cargo de presi-
dente do Tribunal Regional Eleitoral do Estado, que foi instalado
a 18 de julho do mesmo ano.
Serviu também como Delegado Fiscal junto à Faculdade
de Direito do Pará para à cujo cargo foi nomeado por ato de
6-3-1910 tomando posse o exercicio na mesma data por ordem
telegráfica do Ministro da Justiça.
Foi nomeado professor da aludida Faculdade como extra-
ordinário da 7.ª secção em tendo tomado posse em 29 seguinte
perante a Congregação.
Foi, afinal, aposentado por dec. 1227 de 3-3-1934 como
desembargador, entrando no goso desta aposentadoria aos te
do mesmo mês, data em que, pela última vez compareceu á
sessão, tomando parte e se despedindo de seus pares por ter de

Raul da Costa Braga 309


embarcar nesta mesma data para Recife onde ia fixar residência,
tempos depois transferida para o Rio de Janeiro.
A quando juiz de Direito da 4.ª vara se fêz um dos mais
elevados membros à entronização da imagem de Cristo no salão
do Juri em festa magnifica de fé e civismo. E desde êsse tempo,
a imagem do Redentor o julgamento dos achados em culpa.
Em maio de 1911 foi nomeado Lante Extraordinário da
7.ª secção passando em 1916 a catedrático de Teoria Prática
Particular e Criminal.
Foi o instalador do Tribunal Correcional criado pela Lei de
25-10-1904
Talento brilhante, logo se apercebia do amago das quere-
las a decidir no Tribunal e era bom de vê-lo a explanar os desvãos
na caminhada da Justiça.

Notas pessoais:
Estado, casado com D. Jarina Costa.
Altura, 1 metro e 60, com branca, olhos verdes, cabelos
e barba grisalhos, sinais particulares — calvo.

Fêz o seu curso de humanidades no famoso colégio Abilio


do Gramático, Abilio Cezar Borges — Barão de Macaúbas. Mor-
reu em 1954, no Rio de Janeiro.

310 Escorço Biográfico dos Desembargadores


VICENTE EPAMINONDAS PIRES DOS REIS

Vicente Epaminondas Pires dos Reis nasceu na cidade


Rosario, província do Maranhão a 6 de Setembro de 1866. Era
filho legitimo de João Pires dos Reis e D. Antonia Conegundes
de Souza Reis.
Feitos seus estudos na Athenas Brasileira onde aprendeu
com proficiência entre outras disciplinas o latim clássico, bus-
cou a Academia de Direito de Recife de onde saiu bacharel em
ciências jurídicas e sociais no ano de 1891 tendo tido como
companheiros Eneas Martins e Emilio Santa Rosa com quem se
defrontou no Pará, um como governador, outro como colega do
Tribunal e de igual sorte com Eloy Simões, numa turma de 196
diplomandos.
Como 1.º cargo teve a nomeação de promotor público
de Barra do Corda do Maranhão para onde tinha voltado após
formatura pouco aí demorando em virtude de seu embarque
para o Pará, tangido pela queda política de Benedito Leite, chefe
maranhense.

Raul da Costa Braga 311


Aqui chegando, foi nomeado juiz substituto da Vigia e
também delegado do Govêrno perante o conselho escolar em 26
de outubro de 92.
Preenchido seu quatriênio, recebeu nomeação para juiz
de direito da comarca de Afuá por ato de 13 de abril de 97,
então vaga pelo declarado estado de avulso do juiz Ovidio Filho,
nomeação obtida por merecimento através 6 votos do Tribunal
de Justiça.
Casou-se em Belém com urna filha do então senador do
Estado, Francisco de Moura Palha, fundador desta tradicional
família da Vigia, D. Francisca Augusta de Moura Palha também
ali nascida.
Seu juizado de Direito em Afuá, assumiu-o a 27 de abril
do citado ano.
Dois anos após, foi removido de Afuá para a comarca de
Santarém por ato de 17 de maio de 99 e dali finalmente foi
comissionado chefe da polícia Civil do Estado pelo govêrno Dr.
João Coelho em nomeação de 8 de fevereiro de 1909 e dessa
função nomeado desembargador na vaga de Napoleão de Olivei-
ra por ato de 20 de março de 1911 em que tomou posse três
dias depois, pois que somente a 22 havia deixado a chefia de
polícia.
Na superior instancia sua personalidade como próprio
e ilustrado magistrado não surpreendeu colegas nem homens
públicos, aparecendo admiravel na esteriorização de sua vasta
cultura. Seus votos trouxeram maior brilho àquela época de ouro
do Egrégio Tribunal, em que pontificava o talento multiforme de
Barradas, o conhecimento profundo do Direito do velho Santos
Estanisláo, a vivacidade brilhante de Julio Costa bem como dos
demais componentes de tão magestoso aeropago.
O voto de Pires dos Reis que das frases técnicas para
Os entendidos baixava às expressões corriqueiras dos solicita-
dores de roça, era água limpida de fonte que a todos sedentava.

312 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Verdadeiras lições de Direito despejava o insigne maranhense no
seio das demandas. Poucos embargos se afoitavam à pretensão
de reforma de seus acórdãos, tal a fortaleza da contextura jurí-
dica, tal a esposição clarividente e apropriada do julgado. Seus
trabalhos formam o tesouro que deixou não sôbre a forma heer-
ditanda da consaguinidade mas como legado a todo o mundo da
justiça. O movimento revolucionário de 30 pela reorganização
judiciária implantada o não aproveitou, relegando-o em compa-
nhia de mais de três colegas de bancada a uma aposentadoria
forçada, fato que um deles desembargador porto classificou de
— violência monstruosa e desumana a titulo de nina incompati-
bilidade com a nova ideologia politica.
Então Pires dos Reis se transferiu para o Rio de ao acon-
chego de filhos ali residentes.
Por seu falecimento a “Folha do Norte” de 15-8-42,
“Desfalca-se, cavada pela fatalidade da morte, a galeria
de nossos vultos representativos, cuja mentalidade tanto honra-
ra o Pará e Vão cuja indo atividade para a cívica eternidade se
inscreve esses corno construtores lição à de gerações moças.
Vão indo para eternidade esses construtores de nosso renome. E
agora chegou a vez do ilustre magistrado Pires
Completo homem de bem e juiz integérrimo, o distinto
patrício natural de Maranhão que exerceu suas atividades neste
Estado num período de meio século, primou sempre entre seus
pares pela integridade de carater. Na ardua missão de julgador
foi uma consciência plenamente ao serviço do Direito, iluminada
pelo que nele era profundo, sistematizado em alicerces da mais
pura moralidade c traduzido em decisões que honrariam mesmo
aos mais dignos dos que atuam na espinhosa carreira.
Juiz de Direito de Santarém em hora difícil do Pará que
lutava por se reintegrar na concordia, após graves jornadas poli-
ticas foi chamado a chefiar a policia civil. Suas atitudes resolutas
se rumaram eficientemente naquele sentido. Foi energico sem

Raul da Costa Braga 313


ser arbitrário e rigoroso sem se afastar dos imperativos da lei.
Consolidara-se daí sua fama de individuo superior no bem servir
a causa pública. Com esses ligeiros traços a Folha presta pleito
de homenagem à memória do insigne magistrado que foi digno
de sua toga e soube impor-se às maiores considerações de nossa
terra”.
No Tribunal Paraense o des. Hurly requereu um voto de
profundo pesar pelo infausto passamento de Pires dos Reis, que
o chamou “uma das glorias da magistratura do Estado, pela vas-
ta cultura juridica e integridade de carater”.
Pires dos Reis faleceu no Rio a 14 de agosto de 42 aos
75 anos de idade, tendo sido sepultado no cemitério de São João
Batista. Legou à família que lhe era a maior felicidade de sua
vida, a magnitude de seu nome e a herança de uma pobreza que
se brilhou na missão de juiz que magnificamente desempenhou.
A seu respeito conta-se o seguinte episódio:
Em 1930 a quando da Constituição do Tribunal Revolu-
cionário composto de 3 oficiais superiores da B/O/N ex vi do dec.
n.º 3 de 4 de novembro dêsse ano Pires dos Reis foi intimado a
prestar declarações atinentes a possivel violação de direitos as-
segurados pela Constituição ou a procedimento com manifesta
improbidade no exercício de função pública.
O provecto desembargador, então, deposto compareceu e
ao lhe ser perguntado se tinha fortuna e a razão desta, calma-
mente respondeu:
— Tenho: a fortuna de uma esposa, meus filhos e um
canário madrugador.
A ironia ática do magistrado sobrepujou a pretendida
humilhação.

314 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ELOY DE SOUZA SIMOES

Eloy de Souza Simões, nasceu na cidade de Alenquer,


deste Estado, em 1.º de dezembro de 1867. Foram seus pais,
Antonio Firmino Simões e D. Maria Catarina da Silva Simões.
Formou-se na Faculdade de Direito de Recife, em 14 de maio de
1891, após um curso brilhante.
Obtido o gráu de bacharel em Direito, retornou à terra
natal, tendo sido logo nomeado promotor público de Alenquer,
por ato de 27 de junho de 1891, de que passou tempos depois
a Juiz substituto desta mesma cidade.
Feito o quatriênio foi nomeado por ato de 12 de novem-
bro de 95, juiz de Direito ainda de Alenquer, tendo assumido o
juizado a 19 seguinte. Isso importa reconhecer que o ilustre filho
da terra alenquerense fêz sua carreira de promotor a juiz de di-
reito em sua própria terra que o tinha como um de seus maiores
filhos.

Raul da Costa Braga 315


Da comarca de Alenquer onde permaneceu na elevada
magistratura local, por sete anos consecutivos, daí se transferiu
a seu pedido para o juizado de direito da comarca de Óbidos, na
vaga do juiz Santa Rosa em 5 de fevereiro de 1906
Dessa comarca passou para a de Santarém e desta última
que por sinal era e é uma das mais categorizadas do Pará, foi
promovido a uma das varas da capital, — a 4.ª Vara — por de-
creto de 3 de junho de 1910
Por ato de 22 de março de 1911 passou a exercer o cargo
de chefe de policia de Belém na vaga Pires dos Reis.
Afinal, seu último acesso na carreira que abraçara ocor-
reu por ato de 2 de outubro de 1912 ao cargo de des. do Pará,
empossando-se logo no dia imediato, funções elevadas que de-
sempenhou até 16 de Julho de 1917, quando a fatalidade de
um lancinante acidente roubou-lhe a vida aos 50 anos de idade,
existência que o Pará ainda muito requeria de sua atividade e
oficiência como expoente fascinante e necessário à continuidade
de sua grandeza.
O ilustre morto, chefe de família patriarcal deixou 9 filhos
de seu casal com D. Otavia Simões, de nome, Alba, Eloi, Carmi-
na, Inah, Arsinoé, Eunice, Olga, Delia e Conceição. Foi para esse
coórte de jovens paraenses que em agonia da última hora de
vida, seus entristecidos olhos paternais se voltaram para aqueIa
recomendação ao velho e querido irmão Fulgêncio Simões, Se-
nador do Estado:
— “Fulgêncio, toma conta de tuas sobrinhas”.
E eram oito meninas que frente ao leito de morte de seu ex-
tremoso pai querido entravam, momentos após na dureza da or-
fandade inelutável em desconsolos, lagrimas e desesperanças...
Faleceu em 16 de Julho de 1917 no Hospital D. Luiz,
desta capital.

316 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Episódios:
Pressentindo o termo fatal irremediável Eloy escreve na
véspera ao dr. Américo Campos ao qual pedia que lhe desse
“morte suave”, doloroso aviso que alarmou a familia. Ao sentir
que lhe fugia a vida pediu que sua esposa e filhas dêle se apro-
ximassem para se despedir. Depois chamou seu irmão Fulgêncio
cuja mão apertou junto ao coração, segredando-lhe ao ouvido
com voz sumida e afetuosa estas palavras. ungidas de imenso
carinho paternal: “toma conta de tuas sobrinhas”. não pode
mais talar. fulminado por um colapso cardíaco.
Foi, assim, que Eloy morreu. Frente ao cadáver Lauro So-
dré chorou. Os funerais foram às expensas do Estado em préstito
composto de 24 bondes, 17 carros e 70 automóveis.
Ainda hoje Alenquer sente a falta de seu grande filho
desaparecido.

Raul da Costa Braga 317


IGNACIO DE LOYOLA HENRIQUES VIRGOLINO

Natural da cidade de Cametá (Pará), nasceu Inacio de


Loyola Henriques Virgolino a 31 de julho de 1859 sendo seus
pais, Leonel Henriques Barroso Virgolino e dona Catharina Go-
mes Furtado de Mendonça Virgolino. pra, assim descendente das
duas tradicionais famílias — Virgolino e Mendonça radicadas na
terra dos Romualdos.
Feitos os seus estudos de humanidade a principio no Se-
minário e por fim no Liceu Paraense, seguiu para Recife, ali se
matriculando na Academia Direito, ainda no casarão da rua do
Hospício, onde colou grau de bacharel em direito aos 12 de no-
vembro de 1883 na mesma turma de Martins Junior e Hersilio
de Souza ao depois, nomeados lentes por concurso dessa aca-
demia, de Fulgêncio da Rocha Viana e Santos Estanislao com
quem se veio defrontar como desembargador na mesma banca-
da do Tribunal de Justiça.

318 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Uma vez formado, retornou ao Pará, entrando na advoca-
cia e preparando candidatos aos preparatórios exigidos aquele
curso.
Sua primeira nomeação ocorreu por ato do governo de
17 de Setembro de 1885 para o cargo de Juiz Municipal de
Monte Alegre. Empossado nas funções, veio a Belém realizar seu
casamento com Lucinda da Motta Virgolino com quem noivara,
esponsais que tiveram lugar no dia 12 de Novembro, segundo
aniversário de sua formatura.
Em 21 de Dezembro de 1888 foi nomeado para igual car-
go de Juiz Municipal na comarca de Bragança. Menos de um ano
decorrido, passou a secretariar a Junta Comercial de Belém que
deixou em 2 de maio de 1890 por ter aceito a promotoria públi-
ca da capital. Nesse cargo, também pouco permaneceu, pois já
a 29 de Outubro de 1890 ingressou na Magistratura como juiz
de Direito da Comarca de Cintra de 1.ª entrância.
Pelo dec. 359 A de 19 de Junho de 91 de reorganização
judiciária, Duarte Huet de Bacelar Pinto Guedes, capitão Tenente
Governador o nomeou Juiz de Direito de Soure, da 2.ª entrância.
Dessa Comarca requereu transferência para a de Cametá
sua terra de berço, que lhe foi deferida por ato de 18 de maio
de 1899.
Como juiz mais antigo do quadro, passou a Juiz de Di-
reito da Capital por Dec. de 13 de Fevereiro de 1909 em que
permaneceu por 4 anos, atingindo finalmente a desembargatoria
por nomeação de 10 de Outubro de 1912 com sua posse no
dia imediato. Nessa última instância e ponto culminante da car-
reira permaneceu por 12 anos de intenso labor e dignidade de
magistrado. Em sua cadeira de julgador emérito, que sobretudo
honrou, avultam os estudos proficientes e fecundos e os votos
invulgares de saber e magestade.
Em 28 de julho de 1924 acometido de ataque de uremia,
aqui veio a falecer com 65 anos de idade as 9,40 na casa de

Raul da Costa Braga 319


sua residência à Av. 16 de Novembro n. 151, já em estado de
viúvo, deixando 4 filhas casadas e um filho, com o nome sempre
acatado de seus ancestrais. Foi sepultado no Cemitério de Santa
Izabel onde repousa em mausoléu perpetuo.
Professor da Academia de Direito do Pará, professou a cá-
tedra de Direito Civil, e foi poeta em seus tempos de juventude.

320 Escorço Biográfico dos Desembargadores


EMILIO AMERICO SANTA ROSA

Natural do Pará, nascido em Belém, aos 17 de novembro


de 1868.
Emilio Américo Santa Rosa era filho do renomado médi-
co paraense dr. Américo Marques Santa Rosa e Henriqueta de
Araujo Santa Rosa.
Fêz em Belém seus estudos iniciais e uma vez habilitado
ao curso superior, demandou a Academia de Direito do Recife,
onde se diplomou bacharel em 1891.
Uma vez formado, retornou ao Estado natal para logo ser
nomeado promotor público da comarca de Guamá, por ato de
22 de dezembro do ano de formatura no qual se empossou em
6 de janeiro de 1892. Foi removido para igual cargo na comarca
de Mazagão, por ato governamental de 18 de agosto de 1894.
Não demorou no cargo e nêsse lugar doentio para aceitar
o juizado da cidade tocantina de Baião, fato ocorrido em 14 de
setembro de 1894 ai, em maior permanência, pois que, somen-
te deixára seu primeiro juizado para aquele outro em Santarém
no ano de 1897. Dessa época em diante fêz-se juiz do Baixo
Amazonas em três de suas principais comarcas. Assim é que foi
nomeado juiz de Direito de Gurupá, em 1900; de Monte Alegre
em dezembro de 1902, quando ai contraiu núpcias com distin-
ta montealegrense, Tharcilia Pinto Guimarães, filha do abastado
fazendeiro Arthur Guimarães. Vagando a Comarca de Óbidos de
2.ª entrância pela ascenção à capital do dr. Antonio Diniz então
seu Juiz de Direito, para esta foi nomeado Santa Rosa por ato de
19 de junho de 1903. Já em ato de 22 de dezembro de 1905
foi removido para a comarca da Capital assumindo a 3.ª vara em
27 de janeiro de 1906. Nesta terceira entrância foi o dr. Santa
Rosa, juiz de direito por quatorze anos a fio, até que o governo
Lauro Sodré em 17 de novembro de 1924 pela Lei 1.923 de

Raul da Costa Braga 321


6-11-1920 o nomeou desembargador do Tribunal em que se
compromissou dez dias depois.
Nessa alta instância funcionou até 1930 quando a Re-
volução Vitoriosa o não aproveitou no Dec. de recomposição do
Tribunal, deixando-o à margem com outros de bancada, sendo,
enfim, aposentado.
O desembargador Santa Rosa faleceu nesta capital às 3
horas da tarde de 19 de novembro de 1935, tendo recebido
todos os sacramentos da Igreja, vitimado por injeção (no Hospi-
tal D. Luiz) de streptocócica-artério sclerose-spticemia, aos 67
anos, deixando viuva inconsolada e três filhos varões, sucessores
de seu nome tradicional na terra paraense.
Ao enterro compareceu o dr. José Malcher, governador do
Estado e uma delegação do Tribunal, composta dos desembarga-
dores Maroja Neto, Curcino Silva e Buarque de Lima e pessoas
gradas, amigas da família enlutada, orando à beira do túmulo o
provecto advogado Elias Tavares Viana. Jaz sepultado no Cemi-
tério de Santa Izabel.

322 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOSÉ MARTINS DE MIRANDA FILHO

Em Barreiros, sulista cidade pernambucana nasceu José


Martins de Miranda Filho, do casal Coronel José Martins de Mi-
randa e D. Maria Acioly M. Miranda, aos 28 de outubro de 1884.
Bacharelou-se em ciências jurídicas e sociais pela Facul-
dade de Direito de Recife onde fêz seu curso de preparatórios a
1ª. de dezembro de 1905, Iniciou sua vida pública no Pará anos
a formatura como juiz substituto de Marapanim, então 1º. distri-
to judiciário da comarca do mesmo nome por nomeação de 17
de novembro de 1906 e exercício de 10. de dezembro deste ano,
em que serviu até Janeiro de 1908 quando por Dec. de 142-
908 per. mutou o cargo com o colega de Bragança ai assumindo
o exercício a 7-3 seguinte. Nêsse juizado bragantino esteve pelo
espaço de 3 anos até que se passou por ato de 20-3-911 à
função de promotor público desta mesma comarca em posse de
25 deste mês e ano, cargo que desempenhou até 28-1-1913 de
vez que por Dec. de 32-1-1913 obteve a nomeação de Juiz de
Direito da comarca de São Miguel do Guamá, tomando posse a
8-2-1913. Jurisdicionou seus comarcões até Junho de 1922. O

Raul da Costa Braga 323


dec. de 27-6-22 fê-lo desembargador do Tribunal de Justiça,
tomando assento no último posto de sua carreira em figurando
na egrégia instância como os desembargadores julgados mais
novos. É que o preparo, o conhecimento do Direito, a dignidade
de seu proceder estavam indicando ascensão sem tropeços ao
moço magistrado. Martins Filho não desmereceu, do valor de
seus pares. Fêz-se, igual aqueles que mais se destacavam no
emaranhado dos variados assuntos, um de seus explanadores
eméritos. Com a vitória da Revolução em Outubro de 30 a Junta
Governamental Provisória do Estado o manteve em suas funções
em evidente reconhecimento de sua destacada personalidade.
Sua saúde, de algum tempo vinha sendo abalada de modo
i inquietante. A principio, uma cegueira por catarata lhe amargu-
rou os estudos feitos a força de lente de alto grau. Vencida esta
por operação no Rio, o ilustre magistrado não se retemperou
mais, porque desta vez, incomodo mais sério, ameaçava-lhe a
vida, no órgão de maior trabalho, — o coração. Foi por isso que,
em respeito a êsse estado e carinhosa solicitude ao colega, pas-
sou o Tribunal a funcionar no andar térreo, (sala de casamentos)
de modo a poupar-lhe a assenção de 33 lances de escada onde
se acha o Tribunal. Tudo porém baldado, porque males do cora-
ção respeitam a vida e Martins Filho veio a sucumbir, rodeado
de sua estimada esposa D. Raimunda Porto Martins e dois filhos
— Clovis e Olavo à avenida São Jeronimo, n. 576, casa de sua
residência às 21 horas aos 27-4-1941.
O Tribunal de Apelação dedicou-lhe uma sessão solene
de homenagem em a qual o desembargador Buarque de Lima
proferiu a seguinte Oração:
“Sr. Presidente:
Abrimos hoje com profundo pesar exceção na vida
deste Tribunal — deixando de lado a matéria comum
para dedicarmo-nos exclusivamente a homenagear a
memória do Desembargador Martins Filho, lealíssimo

324 Escorço Biográfico dos Desembargadores


companheiro a quem a inevitável contingência da mor-
te afastou impiedosamente de nosso convívio, arran-
cando-o de Sua cadeira neste templo sagrado da Justi-
ça — onde por muitos anos foi pela consciência e pelo
coração, sacerdote do Direito impondo-se ao seu tem-
po — pela integridade de caráter, e como o cartesiano
asceta que afastado do mundo vive somente para ideal
religioso — Martins Filho também desde que recebeu
a laurea de bacharel na centenária Faculdade de Di-
reito do Recife, primeira atalaia da Literatura e do Di-
reito em nossa Pátria — êle traçou o itinerário de suas
aspirações, de suas esperanças, sempre fiel ao dever,
acontecesse o que acontecesse, sempre o mesmo ca-
ráter, “máu grado os acontecimentos cm trânsito no
cenário da vida brasileira”.
No recinto deste areópago viamo-lo em direitos, todos os
por tempos sempre franco, leonino defensor de todos os direitos,
por mínimo que fôsse o valor da causa e humildade do postu-
lante — que não raro aguardava muita vez de nossa decisão a
segurança da liberdade, a reivindicação da propriedade, algumas
vezes mal seu grado encravado em latifunôdios da propriedade
de poderosos, quantas vezes, quantas, a reparação da própria
honra.
Como que sentimos ressôar ainda nesta casa gloriosa o seu
brado aqui proferido quando discutiamos espécie em que se feria
preceito de nossa Lei Magna — e seu espirito exaltado — inopi-
nadamente como que se transforma e no mais alto diapasão de
sua voz quasi gritando declarou que decidir-se apoiando o ponto
de vista reconhecido pela sentença apelada — seria fazê-lo, dis-
se-o, pronunciando sílaba por sílaba: “in-cons-ti- tu-cio-na-lis-si-
-ma-men-te!” direito era o seu grande ideal, como demonstrou
em todas as etapas de sua passagem pela magistratura.
De uma feita, contou-me antigo jurisdicionado seu —
achava-se êle a bordo de um navio com a familia e bagagem,

Raul da Costa Braga 325


prestes a partir de velha cidade do interior, para esta Capital,
quando lhe entregaram, à última hora, uma petição de “habeas
corpus”, que se por êle não fôsse julgada, a liberdade do pacien-
te perseguido pelos mandões locais, continuaria cerceada em
prolongada prisão e, com surpresa geral, o juiz mandou retirar
de bordo a bagagem, e com a dedicada companheira de seus
dias e filhos, voltou para casa e no dia seguinte, sereno e nobre,
o “habeas-corpus” concedia.
De ao pé de seu túmulo, muito já se disse do pesar de
todos pela sua morte e nós também o dissemos pela palavra de
nosso representante.
O momento de agóra, porém, se ainda é de dôr profunda
pelo abismar-se de suas esperanças, é também de glorificação.
Glorifiquemo-lo, pois, honrando a sua memória, como êle,
dando sempre a cada um o que é seu — para que jamais se
possa dizer que em nossa terra, corno na daquele Rei de que nos
fala Tolstoi — o sol não iluminava e não caía chuva porque lá
não havia Justiça!
Requeiro, pois, Senhor Presidente — que V. Excia Consul-
te à casa se aprova que se lance na áta de nossos trabalhos um
voto de profundissimo pesar pela morte de nosso companheiro e
que seja, em seguida, levantada a sessão.
Posto em discussão o requerimento, todos os desembar-
gadores se manifestaram com palavras de saudade e louvor ao
grande juiz, sendo aprovado unanimemente o requerimento c
levantada em seguida a sessão.

326 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOÃO BORGES PEREIRA

João Borges Pereira era filho da Província de Pernambu-


co, onde nasceu a 13 de agosto de 1859, tendo sido seus pais,
Felipe Francisco pereira, prático da costa norte do Brasil, e de D.
Ana Borges pereira. Fêz seu curso de humanidades em Recife e
Rio de Janeiro, colando gráu de bacharel ali a 16 de outubro de
1885.
Uma vez formado veio para a provincia Nortista do Pará,
nomeado promotor público interino da comarca de Bragança,
por ato de 8 de agosto de 1886.
Foi igualmente nomeado Juiz Municipal da comarca de
Igarapé-Miri no começo de 1887.
Sua entrada na magistratura se fêz pela nomeação a Juiz
de Direito da comarca de Mazagão por ao de 14 de agosto de
1894, decreto do govêrno Lauro Sodré, de que tomou posse a
30 dêsse mês e ano e daí removido para a comarca de Breves,
por decreto de 22 de novembro de 1894 governo Gentil Bit-
tencourt e posse em 2 de Outubro seguinte, cargo que exerceu
até 1905 quando foi posto em disponibilidade destituído por
acórdão de 21 de dezembro de 1905, sob pretexto de vacância
da comarca por abandono que não ocorrera por livre vontade do
disponibilizado sim por parte do governo do Estado, destituição
a que não se conformou pela interposição do recurso extraordi-
nário para o Supremo Tribunal Federal que lhe tomando conhe-
cimento reformou a decisão da Superior Instancia local assegu-
rando por acórdão 788 de 31 de outubro de 1917 ao recorrente
todos os direitos e vantagens económicas de Seu cargo, até que
fosse integrado, nêle contado ainda mais todo o tempo de seu
afastamento.

Raul da Costa Braga 327


Depois de tanta luta e tanta espera tendo-se dedicado a.
advocacia foi nomeado desembargador do Tribunal de Jus. pa-
raense em 13 de julho de 1923, empossando-se a 19 seguinte.
Por decreto do govêrno revolucionário de número 616 de
16 de fevereiro de 1932 foi aposentado administrativamente
contado 35 anos, 8 meses e seis dias de bons serviços à causa
da Justiça.
Borges pereira em 18 de agosto de 1888 desposou a se-
nhora Ana Leopoldina da Silva Pereira, filha de Antonio Bernar-
des da Silva comerciante em Abaeté e Ana do Nascimento e Sil-
va de cujo enlace adveio a prole: Cacilda, casada com Francisco
Pereira de Oliveira, Edgar, Aurea, esposa de José Pompilio Gon-
dim, Juliete, João, Walmir, Celina e Violeta ao todo Oito filhos a
lhe perpetuarem o nome e a memória.
Por ocasião da aposentadoria administrativa sob proposta
do desembargador Buarque de Lima, lançou-se na Ata um voto
de saudade e ao mesmo tempo de louvor ao magistrado aposen-
tado que agradeceu nos seguintes termos:
“Confortou-me sobremodo a leitura do honroso oficio
de V. Excia. por proposta do desembargador Buarque
de Lima, comunicando-me ter o Tribunal unanime-
mente mandado consignar na ata dos trabalhos um
voto de saudade pelo meu afastamento, visto ter sido
aposentado por decreto do exmo. Sr. major interventor
federal do Estado e ao mesmo tempo de louvor pela
dignidade com que sempre me desobriguei do elevado
cargo.
Cumpre-me com a máxima satisfação, agradecer a V.
Excia. e aos distintos membros desta Côrte de Justi-
ça, essa prova de afeição e consideração de que me
julgaram merecedor para mim muito significativa por
consistir na reafirmação de um longo tirocínio de 46
anos de vida pública neste Estado, consagrados aos

328 Escorço Biográfico dos Desembargadores


serviços da causa do Direito e da Justiça, durante
o qual no desempenho dos diversos cargos que me
foram confiados, diz-me a consciência calma haver
cumprido os meus deveres dentro do respeito aos seus
principias e determinações com a independência, ho-
norabilidade, e integridade que devem caracterizar a
personalidade do legitimo magistrado a quem não é
licita antepor conveniências menos dignas ao elevado
sacerdócio de acatamento e veneração à soberania da
lei Penhorado do intimo dalma, exprimo por este meio
a minha gratidão, levando a todos pela palavra de V.
Excia. o meu sincero e cordial abraço de despedida”
Somente a altivez ferida por duas vezos pelo magistrado
atingido teve o poder de tais expressões sem ressentimentos e
elevando espirito de dignidade que no oficio de agradecimento
Borges Pereira revelou como exemplo a todos aqueles que car-
reira da judicatura se veem arrastados aos vai e vens do desti-
no. Ficou-lhe essa página de exemplo e descortino dedicada aos
porvindouros.
É curioso notar que o mês de agosto constituiu data de
referência comum na vida do magistrado, desse mês que para
muitos como expressivo de agostos e para outros de desgostos.
Borges Pereira faleceu aos 75 anos de idade em Belém as
10 e meia de 20 de 1934 na casa de n. 645 à avenida São Je-
rônimo, vitima de artério esclerose generalizada, tendo sido se-
pultado no cemitério público de Santa Izabel onde ali descansa.

Raul da Costa Braga 329


ARTHUR THEODULO SANTOS PORTO

Era pernambucano, em cuja Faculdade de Direito re-


cebeu o gráu de bacharel em ciências jurídicas e sociais aos
26-4-1890.
Foram seus pais José dos Santos porto e D. Emilia dos
Santos Porto, tendo nascido a 4-4-1866.
A “Folha do Norte” de 13-10-11942 fez-lhe a seguinte
biografia:
“Com o falecimento ontem, às 13 horas, do veneran-
do desembargador Artur Theódulo dos Santos Porto,
perde o Pará, um de seus vultos ilustres. Nasceu no
Estado de Pernambuco a 4 de abril de 1866, forman-
do-se em ciências jurídicas e sociais, pela Faculdade
de Direito de Recife, tendo colado gráu, a 26 de abril
de 1890.
Fêz sua carreira nêsse Estado começando por exercer
antes de sua formatura a de Promotor Público da co-
marca de Bragança, por nomeação de 3 de maio de
1889; oficial de gabinete em novembro de 1890, pelo
então governador rio, dr. Justo Leite Chermont, função
que continuou no govêrno Huet de Bacelar e desem-
bargador Gentil Bittencourt.
Em março de 1891, foi nomeado para reger a cadeira de
História e Coreografia do Brasil, do Liceu paraense, sendo trans-
ferido para a de História Universal na Escola Normal.
Entrou em concurso para obter a nomeação efetiva nessa
cadeira, disputando-a aos dois candidatos, dr. Antonio Passos
de Miranda Pilho e Raimundo Beleza, sendo classificado em 1.º
lugar, e assim obtendo essa nomeação por ato de 29 de abril de
1893, do govérno Lauro Sodré,

330 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Além de professor também se distinguiu como advogado,
fundando nesta capital, um escritório de tradições honrosas no
qual, esteve em atividade até junho de 1907, quando, levado
pelo interêsse da educação de seus filhos, deixou a sua banca
para se dedicar ao conceituado Colégio “Progresso Paraense” de
instrução primária e secundária, tão bem organizado, que me-
receu as regalias da sua equiparação ao Ginásio nacional e de-
pois aos cursos congêneres do governo do Estado, tendo formado
muitos moços paraenses que ora ocupam posição de destaque.
pelo mesmo motivo e no interêsse do mesmo colégio obteve dis-
ponibilidade como lente da Escola Normal.
Como membro do Conselho Superior do Ensino, prestou
todos Os serviços reclamados, de sua competência e dedicação.
Era sócio do Instituto Histórico Geográfico do Pará; serviu
o cargo de Procurador Fiscal da Fazenda do Estado no impedi-
mento do serventuário efetivo, isso por várias vezes, e ocupou o
cargo de Secretário Geral do Estado, no govêrno dr. Souza Cas-
tro, daí passando ao Tribunal de Justiça do Estado, com desem-
bargador de que chegou até a presidência.
por várias vezes, escreveu para a Imprensa do Pará, ver-
sando assuntos de atualidade jurídica, pedagógica, histórica e
literária.
Publicou várias obras, sôbre educação, ensino e história,
enchendo com seu espirito elevado de trabalhador incansável,
toda uma vida de inestimáveis serviços prestados à causa da
educação nacional.
Morreu em estado de viúvo, sendo pai dos drs. Mecenas
Pinheiro porto e Edgar Pinheiro porto, ilustre fiscal federal do
ensino, casado com D. Maria Rodrigues porto.
Artur porto, foi nomeado desembargador do Tribunal de
Justiça do Pará, por ato de 27 de março de 1924, tendo assu-
mido o exercício em 24 de abril seguinte.

Raul da Costa Braga 331


Faleceu em Belém, vitimado por pielo-nefrite em 12 de
outubro de 1942, aos 76 anos de idade, sepultando-se na ne-
crópole de Santa Izabel.

332 Escorço Biográfico dos Desembargadores


MANOEL BUARQUE DA ROCHA PEDREGULHO

Nasceu o alagoano Manoel Buarque da Rocha Pedregulho


na freguezia de N. S. da Conceição do Paço de Camaragibe aos
7 dias de setembro de 1872, de seus pais Joaquim da Rocha
Pedregulho e D. Sara de Lima Rocha pedregulho.
Diplomou-se em ciencias jurídicas e sociais na Faculda-
de de Recife, recebendo o gráu em 1885. Três anos decorridos
apresenta-se no Pará em inicio da carreira que não mais deixou
neste Estado, até seu falecimento, recebendo a nomeação de juiz
substituto de Macapá, em 16-8-1899 pouco depois sendo re-
movido para Curralinho da Comarca de Muaná e Castanhal, 5.º
distrito judiciário da capital. Em 7-4-1903 fez permuta com seu
colega Rodolfo Lacerda para igual função na comarca de Soure,
tomando posse em 27 deste mês de abri], cargo em que foi
reconduzido. Alcançou o Juizado de Direito da comarca de Iga-
rapé-Miri, pela vaga do então titular Julio Costa por ato de 13-
3-1905 sob afirmação no tribunal em 20 e posse a 26 tudo de
março de 1905 Já em fêz permuta com Maroja Neto para Ari-
cary, de onde, a pedido foi removido para Faro em 30-6-1911.
De 1916 a 1919 foi Juiz de Direito da São João do Araguaia e
de 1920 a 1923 do Xingú. Afinal, em ato governamental Souza
Castro de 18-13 1924 foi nomeado desembargador do Tribunal
Superior de Justiça,
Com a vitória da Revolução de 1930 foi posto à margem
pela reorganização judiciária em campanha de mais outros três
colegas de bancada. O decreto 1355 do 14-7-1935 que o pôs
em disponibilidade reconhecida por ato do dia seguinte. A Egré-
gia Côrte de Apelação mandou fôsse o nome do disponibilizado
incluído na lista de antiguidade, descontado o tempo em que
esteve aposentado. (14-7-1934 a 7-6-19351) período de 10
meses e sete dias.

Raul da Costa Braga 333


Rocha Pedregulho contraiu núpcias com Amália Távora
Rocha Pedregulho, da tradicional familia Távora, do Ceará, que
sobrevive em viuvez com os filhos do extinto casal Stela Miriam,
Maria de Lourdes, Aurélio (bacharel) Osvaldo Virgínia. Católico
fervoroso, nunca fraquejou na manifestação diamantina de sua
crença, intrépido defender da Igreja de Pedro sempre que alguem
atirasse uma injúria ao Templo Sagrado de Cristo.
Nos últimos anos de existência, uma fraqueza mental co-
meçou de anuviar o entendimento, até que se internou na casa
de saúde adequada — Juliano Moreira onde uma terça maligna
deu cabo de seus dias, aos 11-8-1943. Si a enfermidade aba-
teu-lhe o fisico, nada importou a alma do justo.
De Manoel Buarque não se conhece uma ofensa, uma
quebra de caráter, um ato de mau cidadão.
A “Folha do Norte” (12-8-1943) disse em necrológio:
“Faleceu ontem, às 16 horas nesta capital o velho e
conceituado magistrado aposentado, desembargador
Manoel Buarque da Rocha Pedregulho, que já ha al-
gum tempo guardava o leito, atacado de pertinaz en-
fermidade. O extinto que foi um dos mais esclarecidos
que têm passado pela magistratura paraense na qual
percorreu todos os postos, revelou-se conjuntamente
com a função de pregador como um intelectual bri-
lhante que sabia bordar com a mesma destreza a crô-
nica leve e o ensaio profundo e analitico. Escritor de
grandes merecimentos, deixou publicados os seguintes
livros: ApóstoIo do Araguaia”; o “Amapá”; ‘”Tocantins
e Araguaia” e “Recordações do Xingú”, tendo colabo-
rado, anos seguidos pelas colunas da Folha”

334 Escorço Biográfico dos Desembargadores


MANOEL MAROJA NETO

Paraibano da vetusta vila do pilar, à beira do Paraiba do


Norte, nasceu Manoel Maroja Neto a 17 de julho de 1880, filho
legítimo do bacharel José Maria Ferreira da Silva e de D. Debora
Emilia p. da Silva.
Fêz seus estudos primários na terra natal e os secundários
na capital da Paraíba, seguindo para a vizinha cidade de Recife
de cuja Faculdade de Direito saiu bacharel em 1901 como saí-
ra seu pai, em 1873 Uma vez diplomado assentou destino ao
Pará, onde chegou em dias de janeiro de 1901, para dias depois
ser nomeado Promotor Público da Comarca de Baião por ato de
30 de janeiro de 1902, do governador Augusto Montenegro e
tomado posse a 14 do mês subsequente cargo que serviu até
184-1906 e exercicio de 1.º de maio seguinte Por decreto de
20-7-1906 obteve permissão para permutar com Seu colega Ro-
cha Pedregulho então Juiz de Direito da Comarca de Igarapé-Miri
assumindo a em 29 do dito mês e ano. Foi promovido à segunda
entrância peia nomeação de 30-12-1912 para a comarca de
Bragança com o exercicio a 27 de dezembro de 1912. Nova
promoção ocorreu, desta vez para a 3.ª entrância (comarca da

Raul da Costa Braga 335


capital) de 21-3-1019 assumindo O exercicio três dias depois,
Como Juiz de Direito da Capital serviu em todas as quatro varas
que então a compunham em virtude do rodizio legal, até outubro
de 1930 quando vitorioso o movimento revolucionário brasileiro
modificativo do velho governo, foi por virtude do Decreto 4 de 30
deste mês de Outubro (Nova organização judiciária do Estado)
nomeado membro do T. S. de Justiça por ato do dia 31 da junta
governativa provisória de cujo cargo prestou compromisso e to-
mou posse na mesma data. por ato de 14-11 do mesmo ano do
Interventor Federal Magalhães Barata foi nomeado em comissão
procurador geral do Estado, com exercicio nesta data que as de-
sempenhou até 24-2-1932 quando foi eleito presidente daquêle
Tribunal ex-vi do decreto 615 de 16-2-1932 cujas funções as-
sumiu imediatamente.
Como presidente esteve durante seis anos.
Por ocasião do golpe de Estado que pôs por terra o gover-
no Getulio Vargas, foi pelo presidente da República José Linha-
res, nomeado Interventor interino Federal do Estado, cargo que
exerceu com moderação e tino, próprios de seu caráter e hábitos
de magistrado íntegro, n’uma demonstração de que o novo cargo
lhe não mudou, em a norma de homem afeito à vida de reca-
to, modéstia e prudencia, marcos inalteráveis ao perpassar dos
tempos.
Entrou em gôso de aposentadoria aos 70 anos de idade (
compulsória) em 17 de julho de 1950.
Do livro histórico dos magistrados pertencente i Secretaria
do Tribunal, na folha a si destacada encontram-se como sinais:
branco, altura, um metro e 65, olhos castanhos, calvo.
Foi casado com D. Inez de Mendonça Maroja de tradicio-
nal familia de Cametá de cuja união advieram os filhos Anizio,
Armando, Stélio, Rui, Clodomir e Deborah. Com residência à
avenida Independencia, desta capital em gôso de velhice acata-
da de todos que os conhecem e lhes cultuam amizade sincera.

336 Escorço Biográfico dos Desembargadores


CURCINO LOUREIRO DA SILVA

Paraense, da cidade de Muaná, Curcino Loureiro da Silva


nasceu a 8-1-1800; filho legítimo do Coronel Manoel Izidro da
Silva com sua prima D. Romana Silva.
Feitos os estudos primários na terra natal e o de huma-
nidades no Ginásio paraense, buscou a Faculdade de Direito do
Ceará onde fêz os dois primeiros anos do curso, regressando a
Belém para o completar, bacharelando-se em colacão de gráu a
20 de dezembro de 1916.
Sua vida pública que se iniciára como auxiliar de revisão
da “’Folha do Norte”, fêz-se após à formatura com a nomeação
de promotor público da comarca do Xingu por ato de 20-3-1917
de que tomou exercicio a 4 de maio seguinte, ali funcionando
até 5-4-1918, quando a pedido foi exonerado. passou ao cargo
de Juiz Substituto de Igarapé-Miri por portaria de 3-12-1918
assumindo o exercício no dia 20 deste mês e ano. Alcançou
definitivamente a carreira da magistratura com a nomeação por
decreto de 44-1921 pelo governador Souza Castro como Juiz de
Direito da Comarca de Afuá de 1a. entrância entrando em posse
a 18-4-1921.
Por ato de 2-10-1924 foi promovido à segunda entrância,
cabendo-lhe a comarca do Xingú em que já exercera a promoto-
ria de que entrou em exercício a 1.º de dezembro de 1924.
A pedido, se fez removido para igual entrância na comar-
ca da Vigia por portaria de 26-1-1925, tendo assumido o cargo
de 9-3-1925.
Nessa comarca serviu até 1930 quando em da vitória da
Revolução foi por decreto número 4 de 30-10-1930 da Junta
Governativa provisória do Estado em virtude de nova organização
judiciária, nomeado desembargador do Tribunal de Justiça de

Raul da Costa Braga 337


cujo cargo após o compromisso legal entrou imediatamente em
exercício.
Foi membro efetiva do Tribunal Regional Eleitoral eleição
de seus pares do Tribunal de Justiça em sessão realizada a 2-4-
1932 nos termos do art. 21.920 letra B do decreto de setembro
2.076 de 24-2-1932, em 1935.
Espirito culto, sempre dado especialmente as letras jurí-
dicas não encontrou ao entrar no Tribunal, saído de comarca do
interior, dificuldade alguma em sua nova alta missão de julgador
enfrentando os colegas experimentados tais como Santos Esta-
nislao, Julio Costa e Martins Filho.
E casado com a professora D. Raimunda Ferreira da Silva
com quem houve as filhas Angelita (solteira), Celina da Silva
Fortes da Costa, Célia Silva de Freitas e Maria da Silva Nunes,
casadas.
Faz parte da Academia Paraense de Letras a que ingres-
sou pelo livro de versos “Sarçais” publicado em 1916 e vasado
no lirismo da época: Leia-se o soneto: “Angelus”:

No agonizar da tarde, uma infinda tristeza


dominava a floresta, enlutava a minh’alma
E, célebre, rugindo, a turva correnteza
do rio deslizava cm coleios, sem calma,
Sob a canção de um sonho e sob a Morbideza,
no crépe da Amargura habitava, sem calma,
o Pensamento triste. . . E a lúgubre aspereza
da Tortura mutava a minha simples alma.
Olhava o vasto céu opaco e borrascoso
com um olhar mortiço e vago e tristoroso,

338 Escorço Biográfico dos Desembargadores


vendo ao longe a visão das Dores e Delirios.
Triste como esta tarde, eu vivo. . . Vivo longe
de ti, meu dôce amor, e, triste, como um monge,
passo a vida a rezar a prece dos Martirios!

Raul da Costa Braga 339


FRANCISCO DANTAS DE ARAUJO CAVALCANTE

Francisco Dantas de Araujo Cavalcante nasceu no alto


sertão da Paraíba, na cidade de Catolé do Rocha, aos 13 de
julho de 1876, filho legítimo de Liberato Dantas Cavalcante e D.
Maria Idalina de Araujo.
Depois de seus estudos de humanidade, matriculou-se na
Academia de Direito de Recife, onde recebeu gráu de bacharel
em Direito em 1898, No ano seguinte, achando-se no Pará rece-
beu a nomeação de promotor público da Comarca de Vizeu por
cargo em que se empossou a 12 de agosto seguinte, iniciando
sua carreira pública. Decorridos quatro meses foi removido para
cargo idêntico na comarca de Gurupá, por ato de 8 de janeiro
de 1900. Ainda nessa comarca não demorou, por ter aceito a
promotoria de Igarapé-Miri em remoção datada de 17 de janeiro
de 1901.
Em 8 de abril de 1903 foi nomeado para exercer as fun-
ções de juiz substituto do único distrito judiciário da comarca de

340 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Bragança de que deixou pelo ato de 24 de março de 1905 que
o nomeou promotor desta mesma comarca.
Ei-lo ingressado na magistratura como juiz de Direito da
comarca de 1a. entrância de São Miguel do Guamá por nome-
ação de 12 de abril de 1906 de onde foi promovido para a Co-
marca de Soure de 2ª.entrãneia por decreto de 17 de dezembro
de 1912 para depois de cinco anos de estadia ali ser promovido
a Juiz de Direito da capital de 3ª. entrância por decreto de 19
de setembro de 1917. No juizado da capital permaneceu em
rodizio de suas varas durante quinze anos. quando o decreto de
2 de fevereiro de 1932 do então interventor federal Magalhães
Barata o nomeou desembargador do Tribunal de Apelação em
que se empossou no dia seguinte.
A quando do seu ingresso na magistratura pela nomea-
ção do cargo de Juiz de Direito da Comarca de São Miguel do
Guamá, foi seu nome indicado encabeçando a lista tríplice pelo
tribunal com 7 votos, maioria absoluta dos indicantes, em de-
monstração de reconhecimento de seus méritos de integridade,
cultura e amor à carreira.
Como promotor de Igarapé-Miri contraiu nupcias em 10-
7-1902 com Maria Eliza pessoa de Vasconcelos, filha do desem-
bargador Santos Estanislao.
Foi aposentado por decreto de 31-12-1943 do Coronel
Interventor Magalhães Barata e de acôrdo com o art. 190 do
Decreto Lei 3902 de 23-10-1941 por contar mais de 35 anos
de serviços prestados ao Estado com os proventos de quarenta e
cinco mil cruzeiros anuais.
A aposentadoria atingiu o desembargador Dantas em 43
anos de serviço público, encanecido na árdua função de julgar
seus concidadãos. Aposentado, retirou-se com toda familia para
fixar residência no Estado do Rio com residência em Niteroi
onde constituiu largo circulo de amizades por todos aqueles que

Raul da Costa Braga 341


admiram sua linha de conduta, quer como cidadão, seja como
invulgar chefe de familia.
Dêle, disse Alvaro Fonseca nos “Reflexos da Vida”:
Magistrado cem por cento irmanava sua convicção
sem influencias estranhas e decidia com destemor,
sem constrangimento. A politica em Soure em que era
juiz fazia-se ingrata. O partidarismo causaria pânico,
ao juiz covarde. Mas, o juiz Dantas colocava-se em
alheiamento às paixões e julgava abraçado aos códi-
gos sem retratar no pensamento a figura do litigante.
Uma decisão sua era uma aula de síntese e equilibrio.
Em seus úilimos dias, prostrado por um enfarto do
miocardio recusou hospitalização. Ao morrer seria jun-
to à sua familia. Nenhuma palavra de revolta. Seu filho
Mario referiu: Não velavamos um moribundo. Contem-
plavamos uma figura que crescia. Renovava sua vida e
gostava de ouvir a risada e o chôro dos netinhos. Dizia-
-me estar com a mala pronta para partir deste mundo,
e que não chorássemos porque partia satisfeito pelo
dever cumprido”
Faleceu em Niteroi a 5 de janeiro de 1962.

342 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ALCEBIÀDES MARQUES BUARQUE DE LIMA

Alcebiades Marques de Lima, é natural de Pernambuco,


tendo nascido em Porto Calvo, então desta provincia em 16 de
dezembro de 1883, filho legitimo do dr. Francisco Rufino de
Lima e D. Adelina Marques Buarque de Lima.
Iniciou seu curso académico em Recife de onde veio con-
cluí-lo no Pará, recebendo gráu de bacharel em ciências jurídicas
e sociais em 1908.
Antes de tomar a carreira da magistratura, tomou a de
professorado em que tinha um de seus pendores afeiçoados,
Muitos de seus antigos discípulos, o visitavam no Tribunal cm
gestos de reconhecida lembrança e gratidão pelo bem que. lhes
havia proporcionado.
Exerceu a diretoria do grupo escolar de Anajás em 1907,
lugar que lhe coube como seu Juiz Substituto por ato de 23 de
março de 1910 e posse a 11 de abril seguinte.

Raul da Costa Braga 343


Por decreto de 24 de novembro de 1911, foi-lhe permi-
tida permuta com o titular da sede de sua comarca, Afuá, ai
terminando seu quatriênio com imediata recondução.
Ao seu pedido foi removido por decreto de 16 de abril de
1914 para cargo idêntico em Santarém e nêsse mesmo ano o
permutou com o seu colega da comarca de Óbidos em posse do
dia 9 de julho de 1914.
Por ato de 16 de fevereiro de 1918 foi removido, ainda a
seu pedido, para a comarca de Soure, que a assumiu em 11 de
março de 1918.
Fêz-se afinal Juiz de Direito pela nomeação para a comar-
ca de Porto de Moz, pelo decreto de 13 de janeiro de 1919 e
exercício em 16 de fevereiro.
Nessa comarca de primeira instância, permaneceu até
1927 (8 anos) quando foi promovido para a comarca de San-
tarém de segunda entrância onde esteve até outubro de 1930,
data da revolução vitoriosa, sendo então por decreto da Junta
Governativa Provisória do Estado por ato de 19 de novembro
de 1930 nomeado Juiz de Direito da 2ª. Vara da comarca da
capital.
Atingiu a desembargatoria pelo decreto de 2 de fevereiro
de 1932, tendo prestado compromisso e assumido as funções
nêsse mesmo dia. Foi presidente do Tribunal em 1937 e de tão
elevadas funções prestou contas em sessão aberta em 5 de ja-
neiro de 1938, ao declarar em relatório, entre outras afirmativas
de seu nobre caráter, o seguinte:
“Apraz-me consignar que nenhum membro da magis-
tratura se sentiu embaraçado no exercicio de suas fun-
ções, havendo em todo o Estado integral respeito às
decisões judiciárias. Mantive as melhores relações de
cordialidade com os poderes públicos notando sem-
pre da parte do Sr. governador do Estado os melhores
propósitos de prestigiar a justiça de sua terra, fazendo

344 Escorço Biográfico dos Desembargadores


mesmo gáudio S. Excia. em não permitir a mínima
interferência do Poder Executivo nas funções do poder
Judiciário.
Quase a encerrar os nossos trabalhos do ano findo,
fomos abalados pela criação do Estado Novo, revo-
gado o estatuto público por que nos dirigiamos e de
logo, promulgado um novo estatuto nô-lo imposto em
consequências da fatalidade de inevitáveis aconteci-
mentos, criando a necessidade da adoção de medidas
excepcionais para se manter o principio da autoridade
a salvar-se o pais das garras da anarquia. Sabemo-
-lo como não há em evitar as falhas dos homens que
vivem em uma luta contínua. Mas, na circunstância
desses embates a Justiça do Pará não sossobrorou e
não sossobrará nunca, porque nenhum Juiz Paraense
se afastou dos principios básicos da moral e do Direito.
De bem dizer-se aos céus por se não atribuir magis-
tratura do pais, os males que invalidaram o regime
decaído. Graças a Deus a Justiça ficou de pé, procla-
memo-la com orgulho”.
O querido magistrado faleceu a 8 de agosto de 1945 nes-
ta capital.
Na Revista do Tribunal de Justiça do Pará, Raul Braga,
escreveu:
Buarque de Lima faleceu atingido de comoção explanação
cerebral em plena sessão do Tribunal, momentos após a expla-
nação de seu veto, envergando as vestes talares que sempre
enobreceu. Seu espírito lúcido se apagou decidindo em sã cons-
ciência, profundo acerto, pois que o feito se concluíra na razão
daquêle seu voto.
O mal que o atingiu como que o fulminou nas últimas
palavras e nos últimos clarões de seu atendimento.

Raul da Costa Braga 345


Morreu como um justo e como um iluminado. Tamanho
espirito não podia permanecer no âmbito de um crâneo. Deu o
exemplo invulgar daquêles que só a morte estanca o trabalho.
Foi Juiz por toda vida. Em suas exéquias mais de um compa-
nheiro do Tribunal comovidamente chorou. Tanto valia o magis-
trado extinto. Quanta dor provocára a presença de um cadáver.
O homem cansou, mais do juiz tudo de nobre e elevado
ficou perene.
O apóstolo legára a sua epistola para ser lida pelos que
ficaram com lágrimas nos olhos e sagrados cantos n’alma.
Conta-se que o Tribunal Caio Gracco nos arroubos de sua
eloquência corno que valorizando a expressão mais forte, abria a
túnica e batia no peito.
De Buarque de Lima bem se pode dizer que na explana-
ção de seu voto podia verdadeiramente abrir a toga e batendo no
coração proclamar:
— “Aqui mora a veneração da Justiça”.

346 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONIO DE HOLLANDA CHACON

Natural da Paraíba, municipio do Pilar no sitio paterno


Jacaré, meio caminho entre esta cidade e Itabaiana, nasceu An-
tonio de Hollanda Chacon aos 7 de março de 1871, filho de
José de Hollanda Chacon de figueiredo e Maria Gomes de Cunha
Melo.
Fêz seus estudos iniciais e de humanidades na sua pro-
vincia, aprimorando-se em latim, idioma de sua particular in-
clinação. Matriculou-se, após, na Academia do Recife de onde
colou gráu de bacharel aos 8 de dezembro de 1898, isto é, aos
27 anos de idade. Explica a demora de conclusão de estudos,
ao estado de poucos haveres paternos, nada obstante, alguns
Hollanda Chacon em posto de destaque na província. Assim,
antes mesmo de formado, tivera de aceitar a promotoria pública
da comarca de Souza, então nomeado por ato de 18-9-1897
do presidente do Estado paraibano dr. Alfredo da Gama e Melo
de que entrou em exercicio a 9 de Outubro do mesmo ano, alí
servindo até 28 de dezembro de 1898.
Formado em fins de 1898 já em 16 de maio de 1899 se
encontrava no Pará onde recebeu sua nomeação para promotor
público da comarca de Gurupá, pelo governador Paes de Car-
valho, assumindo o exercicio do cargo em 3 de julho seguinte.
Logo em outubro foi removido para a promotoria de Muaná que
não aceitou, sendo por este fato dispensado por ato de 6 de no-
vembro de 1999, Entrou o ano de 1900 sem função para em 14
de abril ser nomeado promotor da comarca de Bragança, cujo
exercicio assumiu a 3 de marco, ai servindo até 3 de janeiro de
1902 quando foi exonerado a pedido. Esse afastamento diz a
boca pequena em Bragança foi devido ao rompimento de noiva-
do com uma filha de distinta família tradicional.
Por decreto de 27 de junho dêsse mesmo ano 1902, foi
novamente nomeado promotor público da comarca de Breves,

Raul da Costa Braga 347


cujo exercício assumiu a 2 de julho e aí servindo até 30 de abri;
de 1903 quando foi exonerado, ainda a pedido.
Por decreto de 9 de junho de 1904 foi nomeado juiz subs-
tituto de Melgaço, então, distrito judiciário da comarca de Breves
em que fora promotor, compromissado em 21 de junho, que
desempenhou até 17 de agosto de 1906.
Já dias antes, e seja em 9 de agosto havia sido removido
a pedido para idênticas funções na comarca de Monte Alegre nas
quais foi reconduzido por ato de 25 de junho de 1908.
Afinal, chegou-lhe o decreto de 29 de outubro de 1910
que o nomeou Juiz de Direito da longinqua comarca de Concei-
ção de Araguaia prestando o compromisso legal em 9 de novem-
bro o exercicio em 30 de dezembro. Ali, esteve por três anos,
quando foi removido a seu pedido para a Comarca de Cachoeira,
próxima à capital, assumido o exercicio em 18 de janeiro de
1914. Nessa comarca assentou demorado pouso em janeiro de
1914.Nessa comarca assentou demorado pouso em 16 anos,
dali somente saindo em outubro de 1930 em consequência da
vitória da Revolução, por fôrca do Decreto número 4 de 30 dêste
mês outubro, da Junta Governativa Provisória do Estado do Pará
que deu nova organização à magistratura e, então nomeado Juiz
de Direito de Altamira onde Se empossou a 16 de novembro do
1930.
Assumida a Interventoria do Estado, Magalhães Barata. o
nomeou para idêntica função, na comarca de Afuá em ato de 2
de janeiro de 1931 que a assumiu em 28 do mesmo mês:
Já em portaria de 16-3 dêsse mencionado ano foi remo
vido para a comarca do Bragança, de sua velha promotoria, car-
go que assumiu em 25 de abril seguinte.
Galgou a desembargatoria por decreto de 16-2-1933
compromissando-se em 20 0 imediato exercicio. Foi membro
efetivo do Tribunal Eleitoral por eleição de 2-4-1932 pelo Tribu-
nal de fazia parte.

348 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Por último, foi aposentado compulsoriamente por decreto
3218 de 14-3-1939 ex vi do artigo 156 letra D da constituição
Federal por vigente ter atingido os 68 anos de idade, contan-
do 38 anos, 2 meses e 11 dias de serviços prestados ao Pará,
havendo perambulado por nove comarcas, a maioria deIas de
angustias de vida e mau clima.
Faleceu com 72 anos, nesta capital em 25-1-1944 à Pra-
ça da República, 158 de coma urêmico nepo sclerose, sem des-
cendentes deixando viúva D. Amélia Leite Chacon, ultimamente
também falecida por não ter suportado a ausência inapagável do
marido. Está sepultado na necrópole de Santa Izabel.

Raul da Costa Braga 349


RAIMUNDO NOGUEIRA DE FARIA

O desembargador Raimundo Nogueira de Faria, filho de


João Carlos Faria e D. Emilia Nogueira de Faria, nasceu em Be-
lém a 15 de outubro de 1884. Frequentou as escolas primarias
dos professores Josefino Lobato e Maria de Figueiredo Morais
e os colégios “São José” e “Minerva”, de Otavio Pires e Ramos
Pinheiro.
Em 1899-1900 exerceu o cargo de 2.º escriturário da
Repartição de Terras e Colonização. Em 1901 entrou para “A
Provincia do Pará”, como repórter, lugar que deixou, no ano se-
guinte, por ter sido nomeado fiscal aduaneiro, cargo que exerceu
até 1916. Em 1913, entrou para a Faculdade de Direito do Pará
sendo classificado em lugar no exame de admissão, bachare-
lando-se em Ciências Jurídicas e Sociais e colado gráu a 23 de
dezembro de 1917, sendo o orador da turma.
Iniciou a sua vida pública estadual como 2.º Prefeito da
Policia desta Capital, para cujo cargo foi nomeado, interinamen-
te. por ato de 30 de março de 1918, tendo prestado o compro-
misso legal e entrado em exercício a 1.º de abril do mesmo ano.

350 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Por ato de 13 de novembro do ano foi nomeado para exercer,
efetivamente, o cargo de primeiro prefeito, tendo prestado com-
promisso legai e entrado em exercício a 18 do mesmo mês ano.
A 25 de março de 1920, submeteu-se a concurso para
professor catedrático de Direito Comercial da Faculdade de Di-
reito, concurso em que foi habilitado e aprovado e que teve a
presidi-lo o então governador Lauro Sodré e como examinador
os Drs. Napoleão Silvério, Presidente da banca, Luiz Estevão de
Oliveira, Eurico Vale e Acatauassú Nunes, tendo apresentado a
tese “Da Sociedade Comercial”. Por decreto de 17 de janeiro de
1921, foi nomeado Juiz substituto da Comarca da Capital, tendo
prestado compromisso legal a 21 e assumido exercício a 24 do
mesmo mês.
Por Decreto de 11 de janeiro de 1926, foi nomeado Juiz
de Direito da Comarca de Alenquer, de cujo cargo prestou o com-
promisso legal a 13 do mesmo mês, tendo assumido o respecti-
vo exercício a 1.º de fevereiro seguinte.
Por ato de 28 de agosto de 1929, permutou o seu cargo
com o de bacharel Modesto Francisco da Costa, Juiz de Direito
de Conceição do Araguaia, tendo assumido o respectivo exercício
a 6 de setembro do mesmo ano.
Por Decreto de 31 de Outubro de 1930, da Junta Gover-
nativa Provisória do Estado, foi nomeado Juiz de Direito da 5.ª
Vara da Comarca da Capital (menores delinquentes e abando-
nados), tendo prestado o compromisso legal a 3 de novembro e
assumido o exercicio a 6 do mesmo mês e ano.
por Portaria de 1.º de Fevereiro de 1932, do então Inter-
ventor Federal do Estado, Major Magalhães Barata, foi transferi-
do para a 4.ª Vara (crime), tendo assumido o exercícjo a 11 do
mesmo
Por Decreto de 16 de Fevereiro de 1932, foi nomeado De-
sembargador do Tribunal Superior de Justiça, nos termos do Dec.
n. 615, da mesma data. que deu nova organização ao mesmo

Raul da Costa Braga 351


Tribuna], dividindo-o em Câmaras, tendo prestado o compromis-
so legal e assumido o exercicio a 22 do mesmo mês.
Por Portaria de 27 de fevereiro de 1933, foi nomeado se-
cretário Geral do Estado em comissão, cargo que exerceu até 31
julho de 1934, tendo reassumido o exercício das suas funções
no Tribunal de Justiça a 1 de agosto desse mesmo ano.
Exerceu também 0 cargo de Chefe de Policia em comissão
de 14 de novembro de 31 a 9 de fevereiro de 33, bem como o
de Diretor Interino da Faculdade de Direito do Estado para o qual
foi nomeado por ato de 9 de outubro de 31 .
Exerceu ainda o cargo de Presidente da Comissão Mista
de Conciliação do Município de Belém, por nomeação do Sr.
Ministro do Estado dos Negocios do Trabalho. Indústria e Co-
mércio, de acordo com o disposto no art. 2.º, § 1.º, do Decreto
Federal 21.396 de 12 de maio de 32, do Governo Provisório da
República.
Aposentou-se a seu requerimento a 15 de outubro de 53
aos 69 anos de idade.
O desembargador Nogueira de Faria, militou durante vá-
rios anos na imprensa regional não só na Provincia do Pará,
como na “Folha do Norte.” Literato de reconhecido valor, como
poéta, é citado na Antologia Amazônica de Eustachio de Azeve-
do. Além disso, durante longo tempo, dedicou-se ao magistério,
lecionando não somente na Faculdade de Direito, na cadeira de
Direito Comercial para que fêz concurso como também na de
Direito Penal.
Locionou ainda no Colégio Moderno, Escola Prática do
Comercio, Onde foi diretor, e no Instituto Julio Cezar, ensinando
Português, Filosofia, Educação Moral e Cívica, Direito Comerciai
e Legislação Fiscal.
Autor de vários livros, publicou os seguintes: D. Branca,
e “Arvore Má” em versos; “Da Sociedade Comercial”. “Tese para

352 Escorço Biográfico dos Desembargadores


concurso”; “Templum juris”, “Prosa e Verso”, “Meus amigui-
nhos” livro de instrução moral e cívica; “Uma advertência ao
meu país”, “Estudo sôbre a política nacional”; “A caminho da
história”, questões sôbre a politica paraense e ainda os livros
espiritas: — “O poder de Deus”, drama e versos; “’Trabalho dos
mortos”, prosa, traduzido para o francês; “Renascença d’alma”,
prosa; “Legião Branca”, versos; “Ritmos da nova fé”, versos e “O
socorro que o céu me enviou”, prosa.
O desembargador Nogueira de Faria era casado com D
Maria do Carmo Faria (Pequenina) de quem houve os filhos,
Alberto José, Alcino Oscar, Lauro Cassio, Lauro Cassio, Mario
Victor todos falecidos e Luís Ercilio do atuai secretariado do Tri-
bunal. Alzira Emygdia e Rachel Edy, casadas.
Faleceu em 10 de Maio de 1957, em casa de aluguel à
Rua Senador Manuel Barata, n. 447, 2.º andar, tendo sido se-
pultado no Cemitério de Santa Izabel.
Poeta lírico sentimental, eis-um de seus sonetos
primorosos:

AOS 67
(Ao coração dos filhos que me restam)

Estou quase no bairro dos setenta.


Três passos mais e lá terei chegado
Não venho só: A velha esposa ao lado
Alma Irmã que nas lutas me sustenta!
Aqui tudo sereno se apresenta.
A saudade, arquivista do passado,
Enche-me o coração, velho e cansado,

Raul da Costa Braga 353


De meiga claridade sonolenta.
A jornada me foi ardua ladeira.
Eu teria ficado no caminho
Se me faltasse a mão da companheira.
Se me faltasse a fé em Deus, tão forte,
Que torna em flôr o mais agudo espinho
E dá feição amiga à própria morte!

NOGUEIRA DE FARIA
Belém, 15-10-1951

354 Escorço Biográfico dos Desembargadores


HENRIQUE JORGE HURLEY

Natural de Natal, capital da provincia do Rio Grande do


Norte, nasceu Henrique Jorge Hurley, filho do engenheiro norte-
-americano George Hurley e da natalense D. Maria de Oliveira
Hurley.
Bem jovem ainda, alistou-se em 1 de junho de 1898, no
Batalhão de Infantaria, antigo 34, sediado em tal tendo sido pro-
movido 5 meses depois a anspeçada em 6 de janeiro de 1899
a cabo de esquadra; a 9 de fevereiro a furriel, a 8 de abril a sar-
gento. Em maio de 1899 seguiu com seu batalhão para Recife,
onde tirou sargenteação e fêz exame prático para alferes, com
aprovação plena, obtendo baixa em 1900.
Em 11 de fevereiro de 1901, assentou praça no 1º. bata-
lhão de Infantaria na brigada militar do Pará com alta do posto
de 2º sargento. Em janeiro de 1902, quando criado o cargo de
auxiliar de artilharia baixos do palácio do Governo, foi transfe-
rido para esse novo cargo com o posto de 1.º sargento ajudan-
te. Em 8 de janeiro de 1902, promovido ao posto de alferes e
classificado secretário do corpo. Em maio passado a ajudante.

Raul da Costa Braga 355


Em setembro de 1903, promovido a 1.º tenente fiscal do corpo
auxiliar ano em que seguiu até Manáus, como ajudante do Apos-
tólico Cardeal Julio Tonti. Em dezembro de 1904, estava como
ajudante de ordens do comando geral da janeiro de 1905, pro-
movido ao posto de capitão para comandar a quarta companhia
do 2.º, corpo de Infantaria, que entrou do cursar o 1º, ano Como
academico na Faculdade do Pará
Ainda foi ajudante de ordens presidente Afonso Pena, a
quando como Presidente da República, visitou o Pará.
Em 1907 terminou sua vida militar, tornando-se advoga-
do em Belém como solicitador pela provisão em 27 de setembro
de 1907.
Foi revisor da “Provincia do Pará”; 2.º oficial da Biblioteca
Pública e seu diretor interino.
Diplomou-se como bacharel em ciencias jurídicas e So-
ciais em dezembro de 1910.
Sua primeira função judicante, ocorreu com a nomeação
de Juiz Substituto da comarca de Baião por ato de 27 de maio
de 1911, que deixou para vir substituir Humberto de Campos na
Secretaria Municipal de Belém, quando intendente o dr. Virgilio
de Mendonça.
Novamente retornou à carreira de Justiça, tornando-se
promotor público de Curuçá, por decreto de 21 de março de
1914; de Macapá, de Chaves e Vizeu. Passou ao Juizado subs-
tituto de Marapanim, atingindo finalmente o juizado de direito
da comarca de Afuá, por decreto de 5 de novembro de 1924 e
posse a 14 dêsse mês, comarca que permutou pela de Curuçá,
conforme portaria de 22 de dezembro de 1924 e posse em 10
de janeiro de 1925 onde serviu por mais de 6 anos, seja até a
Revolução de 1930, que o pôs em disponibilidade pela supres-
são de Sua comarca.

356 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Novamente passou a Juiz de Direito de Breves, por decre-
to de 21 de novembro de 1930 e posse 5 dias posteriormente.
Em 1931, foi nomeado Juiz Corregedor das comarcas
com sede em Belém. Atingiu a desembargatoria do Tribunal Pa-
raense por ato de 10 de março de 1934, em que se empossou
passados dois dias
Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Pará,
durante 6 anos, membro da Academia Paraense de Letras. Tem
a patente de tenente coronel da Reserva do Exército Nacional
por concurso de capacidade de comando cm classificação do
ano de 1920 no Exército de segunda linha, servindo na Oitava
Região aposentado por alo de 19 de 1953, atingida a idade
compulsória.
Homem de permanente amor ao estudo em vários setores
de suas dedicadas afeiçoes com a especialidade no ramo histó-
rico, de tal evidencia que se fêz sócio correspondente do
Instituto Histórico Brasileiro dos congeneres do Ceará, Rio
Grande do Norte, Pernambucano e São Paulo. Há publicado:

“Cristo no Juri”, impresso em 1925.


“No Sertão do Gurupi”, em 1928,
“Visões do Oiapoque”, em 1930.
“Amazonas ciclopica”, em 1930.
‘No dominio das aguas”, em 1931.
“Itarana’, em 1933.
“Traços cabanos”, em 1936.
“Belém do Pará sob o dominio português”, em 1940.
“Noções históricas Brasil e Pará”.

Raul da Costa Braga 357


Ainda a publicar:

“Mitologia da América do Sul”; “Biblia em Ruinas”;


“Migrações selvagens”; “O mundo caxinauá”; “Ilha do Ma-
rajá”; “Memórias do General Andréa”

Este homem de letras foi casado com D. Anita Cabral Hur-


ly, em suas segundas núpcias, de quem houve a filha ainda co-
legial Ana Maria, a menina de seus olhos e particula sagrada de
seu coração de pai.
A Academia Paraense de Letras, em 10 de dezembro de
1956 fêz em sessão solene a aposição de seu retrato no salão
nobre do Silogeu.
Hurly faleceu nesta capital aos 28-4-1956.

358 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ELADIO DA CRUZ LIMA

Eladio da Cruz Lima nasceu em Belém do Pará, às 15,30


de 1 de fevereiro de 1900 à travessa Rui Barbosa, 141, filho le-
gitimo do grande advogado jornalista e professor Eladio de Amo-
rim Lima, natural de Pernambuco e de D, Lucinda Ribeiro Cruz
Lima, tendo feito aqui seu curso de humanidades.
Era neto pelo lado paterno de João Maria Cândido de Lima
e Antonia Marques de Amorim Lima e materno do dr. Guilherme
Francisco Cruz e Maria Antonia Ribeiro Cruz.
Formou-se em Direito na Universidade do Rio de Janeiro
em 1925.
De volta ao Pará no ano seguinte entrou de exercer a ad-
vocacia no escritório paterno, de onde saiu para abraçar a car-
reira de magistrado.
A “Folha do Norte” de 14-10-1943 lhe estampou deta-
lhadamente os dados biográficos a quando de seu falecimento:
“Causou grande mágoa no seio da sociedade paraense
a morte do desembargador Eladio Lima Pilho, membro
do “Tribunal de Apelação e moço que se notabilizára
pela sua cultura. Jurista de renome oriundo de uma
das famílias de maior relevo neste Estado o extinto
soube confirmar as nobres qualidades quer no cená-
rio de sua vida pública quer no ambiente de sua vida
privada
No Tribunal de Apelação foi sempre vulto acatado admi-
rado pelo seu caráter íntegro de juiz e pelos dotes excepcionais
que lhe ornavam a personalidade- Pertenceu a Academia Pa-
raense de Letras que soube reconhecer de seus merecimentos
intelectuais,

Raul da Costa Braga 359


Como componente do Instituto Histórico e Geográfico era
também o dr. Eládio Lima Filho, artista apaixonado da sua e um
zoólogo cujos estudos se faziam acuradamente sob o rigorismo
de experiências que lhe denunciavam o desejo de aprimoramen-
to espiritual. deixando na seára da justiça como cultor do Direito,
traços marcantes de sua operosidade e amor à Carreira à qual
dedicou uma boa parte de sua existência.
Damos abaixo por gentileza da familia do Saudoso desem-
bargador conterrâneo alguns de seus traços biográficos escritos
ao correr da pena justamente quando a hora trágica da morte se
lhe aproximava.
Filho legítimo do dr. Eládio de Amorim Lima, advogado jor-
nalista, homem público e professor nasceu em Belém do Pará a
1-2-1900 tendo feito aqui o curso de humanidades. Estudou ao
mesmo tempo desenho e pintura com o professor Teodoro Braga
aperfeiçoando-se depois com madame Luz de Couvillon sua tia
por afinidade, membro da Sociedade dos Artistas Franceses e
expositores do “Salon” de París, onde teve várias recompensas.
Formou-se em Direito na Faculdade do Rio de Janeiro em 1925
tendo durante o curso trabalhado no Mu. seu Municipal da Ca-
pital da República na secção Zoológica como desenhista e assis-
tente do professor Alipio Miranda Ri. beiro. De volta ao Pará em
1926 exerceu a advocacia no escritório de seu pai dedicando-se
ao mesmo tempo a estudos de arte e critica zoológica e arqueo-
lógica publicando vários trabalhos em periódicos. Em 1930 foi
nomeado curador geral de órfãos e massas falidas da Comarca
da Capital. Em 1935, Procurador Geral do Estado, cargo em que
permaneceu até 1939, quando foi nomeado desembargador do
Tribunal de Apelação como membro que era do Ministério Públi-
co para preencher o quinto constitucional por ato de 21 de margo
dêsse mesmo ano na vaga por aposentadoria compulsória do de-
sembargador Chacon. Como desembargador foi por duas vezes
membro do Conselho Disciplinar da Magistratura e Corregedor
da Justiça tendo feito parte também quando Procurador Geral do

360 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Estado, da comissão de Reparações instituída pela Constituição
Federal de 1884. Fêz parte ainda da comissão elaboradora da
Lei de Organização Judiciária do Estado e do Regimento Interno
do Tribunal de Apelação.
Por ocasião de uma viagem para tratamento de saúde Es-
tado do Ceará em 1937, trabalhou em assunto de zoologia com
o professor Rodolf Von Ihering, então diretor do serviço de psi-
cultura do nordeste.
Era membro da Academia Paraense de Letras e do Insti-
tuto Histórico do Pará, tendo feito parte também na Sociedade
Brasileira de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Faleceu Eladio Lima aos 12 de outubro de 1942, aos 43
de existencia à avenida Gentil Bittencourt, 477, deixando viuva
D. Ester da Costa Lima e um filho de nome Eladio de seu primei-
ro consórcio com D. Maria Malcher Lima.
A casa de residência foi por si construída em estilo coIo-
nial e serve atualmente ao Instituto Paraense de Música como
pleito aos sentimentos artisticos do extinto.
Como pintor deixou entre outros quadros a vinheta do
sêlo do correio comemorativo do Centenário de Cametá em esti-
lo marajoara.
Dentre os trabalhos cientificos deixou não publicada a obra
“Mamiferos da Amazônia” enriquecida com desenhos próprios.
Foi sepultado na necrópole de Santa Izabel, tendo-lhe fei-
to as despedidas o desembargador Rangel de Borborema.

Raul da Costa Braga 361


AUGUSTO RANGEL DE BORBOREMA

Filho dos baianos, desembargador Augusto de Borborema


e sua mulher, d. Jesuina Rangel de Borborema, nasceu Augusto
Rangel de Borborema, cm Salvador, capital da Bahia em 27 de
março de 1886 a quando de visita de seus pais à terra do berço
pois que, nessa data, o venerando desembargador Borborema
era juiz de Direito em Cachoeira neste Estado. Aqui vividas a
sua meninice e juventude, fêz seus estudos de humanidades no
Colégio São Salvador da Bahia e Paes de Carvalho em Belém, e
o de ciências jurídicas e sociais na Faculdade de Direito do Pará,
onde, afinal, seguindo as mesmas trilhas paternas se fêz magis-
trado e lente catedrático de direito civil. Seu diploma de bacharel
recebeu-o em 9-12-1908 iniciando a vida pública como 3.º pro-
motor público da comarca da capital por nomeação 4 de março
de 1911 e exercício em 20 deste mês, funções que exerceu até
26 de abril de 1917, de vez que, habilitado ao cargo de juiz de
direito em acórdão do Tribunal Superior de Justiça foi nomeado
a reger a Comarca do Xingú em que se empossou a 11 de 3 de
1917.
Por portaria de 15-2-1918 foi a seu pedido, removido
para a comarca de Afuá, ali assumindo o exercício em 17 de
março seguinte. A 14 de fevereiro de 1901 e, portaria foi remo-
vido para a Comarca de Bragança de 2ª. entrância, assumindo
o exercício a 17 do dito mês. Em sessão de 22-3-24, o Colendo
Tribunal incluindo-o na lista tríplice, por merecimento, para o
cargo do desembargador. A 1.º de fevereiro de 1929 foi nomeado
Chefe de Polícia em comissão em que esteve até o advento do
governo revolucionário tendo sido em 31-10-1930 aproveitan-
do como Juiz de Direito da Comarca de Santarém, Com funções
assumidas em 7 abril. Em 30-11-1932 foi novamente seu nome
indicado na lista para desembargador. Da Comarca de Chaves
foi removido por portaria de 25-5-1932 para a de João Pessoa

362 Escorço Biográfico dos Desembargadores


antiga Igarapé-Açu (E. F. Bragança) criada por decreto da mes-
ma data que não chegou a assumir porque ainda em transito foi
removido para o Juizado da 4.ª Vara (crime) da capital.
Segundo portaria de 16 de fevereiro de 1932 e posse no
dia imediato.
Por deliberação do Tribunal Regional Eleitoral de 6-932
foi designado para juiz eleitoral da 1.ª zona da capital, assumin-
do ditas funções em 31-12-1933. Por duas vezes êsse Tribunal
mandou consignar-lhe votos de louvor pela “brilhante atuação
em todas as fases do serviço eleitoral”
Afinal, o ilustre magistrado chegou à desembargador na
vaga de Martins Filho por ato de 10-5-1941 e posse neste mes-
mo dia como coroamento de sua proveitosa carreira modelar na
magistratura do Estado que somente não lhe tem o fato de nas-
cimento, mas que rejeita como filho dileto por conquista cidada-
nia. O gráu de doutor da Faculdade de Direito d Pará alcançado
em aprovação distinta, foi conferido em sessão solene da Con-
gregação como professor catedrático de direito civil.
Caráter firme e extremo amor à missão sacrosanta de fa-
zer justiça numa ânsia de trabalho que não encontra descano
quase cincoentenário de vida pública de magistrado, herdeiro
destas virtudes paternas, não vê esmorecimentos nem teme sa-
crifícios, é o mesmo homem de labor incessante dos tempos de
promotoria.
É casado com a exma. Sra. d. Helena Teles de Borborema
de quem houveram os filhos: Ruy, José Augusto, Maria Helena,
Maria Jesuina, Carlos Augusto e Jorge.
Católico fervoroso é presidente da Junta Arquidiocesana
da Ação Católica.

Raul da Costa Braga 363


ARNALDO VALENTE LOBO

Arnaldo Valente Lobo, nasceu na gloriosa cidade de Ca-


metá, aos 2 de outubro de 1889, do casal Alfredo de Lima Lobo
e D. Ana de Castro Valente Lobo.
Iniciou seus estudos elementares, naquela cidade vindo
para Belém em 1905 para ser matriculado no Ginásio Paes de
Carvalho antigo Liceu Paraense, onde concluiu o curso integral
de bacharel em ciências e letras em 1910, Em 1912, iniciou
seus estudos jurídicos na Faculdade de Direito do Pará, que os
concluiu em 1916.
Foi nomeado 1.º promotor público interino da Capital,
em 21 de fevereiro de 1919, e efetivo a 13 de março do ano
seguinte.
Teve sua nomeação como Juiz Substituto da 4.ª Vara da
Capital em 11 de janeiro de 1926, o reconduzido em 15 do
mesmo mês de 1930.
Retornou ao antigo cargo de 3.º Promotor Público da Ca-
pital por nomeação de 19 de novembro de 1930.

364 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Professor catedrático de Português do Colégio Estadual
Paes de Carvalho, por nomeação de 26 de agosto de 1927.
Professor interino da cadeira de Literatura da Escola Nor-
mal do Pará, em 1926, 1928 e 1935.
Fiel de tesoureiro da Antiga Administração dos Correios do
Pará, de 1911 até 1920.
Professor catedrático de Técnica Comercial da Academia
Livre de Comércio da Fenix Caixeiral Paraense, reconhecida pelo
Govêrno Federal.
Professor do Instituto Santa Catarina prelecionando a ca-
deira de Português.
Foi Diretor Geral do Departamento Estadual de Imprensa
e Propaganda do Pará “DEIP” de 1.º de março a 25 de Outubro
de 1943.
Exerceu a Secretaria do Conselho da Ordem dos Advoga-
dos do Brasil, na secção do Pará.
Como jornalista foi redator chefe dos jornais “Estado do
Pará”; “Correio do Pará” e “Diário do Estado”, este último órgão
Oficial dos poderes públicos do aludido Estado.
Enfim entrou na magistratura paraense como desembar-
gador do Tribunal de Apelação do Pará por ato de 21 de Outubro
de 1943, no preenchimento do 5º. constitucional de que tomou
posse a 26 seguinte.
É membro do Instituto Histórico Geográfico do Pará; da
Associação de Imprensa; do Instituto da Ordem dos Advoga. dos.

Bibliografia:
“Da evolução do idioma português”; “Transformações da
linguagem”; “Arcaismos e neologismos”.

Raul da Costa Braga 365


É casado com D Helena Pereira Lobo, de quem houve
os filhos Octávio (médico), Antonio (engenheiro), Maria Carmen
Lobo Sarmento, casada com o dr. Telmo Sarmento (médio), Ma-
ria Lucia, casada com o dr. Joaquim Mansour e Maria Helena,
casada com Clovis Cavallari.
Governou o Estado do Pará por disposição legal, de 27 de
janeiro até 13 de fevereiro de 1951.
Quando na Presidência do Tribunal de Justiça, inaugurou
o vestiário das becas dos desembargadores. Foi por três vezes
seu presidente c presidente do Tribunal Regional Eleitoral.
Por ocasião de sua aposentadoria compulsória a “Folha do
Norte” de 2 de outubro de 1959 noticiou:

HOMENAGENS ESPECIAIS AO
DESEMBARGADOR ARNAIDO LOBO
Afasta-se da magistratura atingido pela aposentadoria
compulsória — Sessão especial no Tribunal de Justiça
A Constituição Federal consagra o principio de inatividade
ao magistrado que completar setenta anos de idade. Impelido
por esse preceito constitucional, deixa, hoje, o Tribunal de Justi-
ça do Estado, qual vinha servindo há 16 anos, o desembargador
Arnaldo Lobo, que há cerca de um biénio desempenhava o im-
portante cargo de seu presidente, e no qual se vinha conduzindo
de maneira brilhante. Por êsse motivo receberá o desembargador
Lobo, da parte de seus colegas e funcionários do Tribunal e d”
magistrados da Capital e do interior e advogados em geral, gran-
des homenagens, destacando-se entre as que lhe vão ser pres-
tadas, a sessão especial, a realizar-se na sala de Conferências,
para a qual foram convidados, além do general Moura Carvalho,
governador do Estado, as altas autoridades da União, do Estado
e do Munícipio. Discursarão, por essa ocasião, o desembarga-
dor Mauricio Pinto, vice-presidente do Tribunal, e os drs. Otávio

366 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Meira, pela Ordem dos Advogados, e Luís Faria, em nome dos
funcionários da Secretaria do Tribunal.
Ainda a “Folha” em 8 de outubro de 1959 registrou:
“Assinalamos com pedra branca dos latinos o dia de on-
tem, em que recebemos a visita do Sr. desembargador ARNAIDO
LOBO, que transpôs os umbrais do merecido repous, após longos
anos a serviço do magistério e da Justiça.
Acompanhou-o nessa visita, com que distinguiu nossos
jornais, seu digno filho, o dr. Otávio Lobo, que é nome do elevado
conceito no seio de sua classe.
O Sr. desembargador Arnaldo Lobo foi recebido peio di-
retor e o gerente das “Folhas”. Tivemos particular satisfação de
apertarmo-nos as mãos, que voltaram a estreitar-se depois de
prolongado tempo de separação”.
O insigne magistrado exerceu vida pública, aureolado pelo
respeito de seus concidadãos, encerrando-a após 53 anos de
bons serviços “prestados com inteligência e capacidade de tra-
balho ao Estado do Pará”, terra do berço que a não esquece,
apesar de sua residência atual em Copacabana, da Guanabara.
Paraense de estirpe, quando cm vez, chega à Belém para
amortecer saudades dos seus e da terra.

Raul da Costa Braga 367


RAUL DA COSTA BRAGA

Pernambucano da cidade de Nazaré da Mata, nasceu Raul


da Costa Braga, a 1 de agosto de 1885, filho legitimo do naza-
reno Jacintho José da Costa Braga e D. Maria Adelia Machado
Braga, neto paterno do casal Domingos José da Costa Braga,
nascido a 15 de janeiro de 1828 em Ribela, freguesia de São
Mamede, arcebispado de Braga e da filha de portugueses, D.
Silvana Rosa das Neves Braga, e neto por linha materna do por-
tuguês Manoel Machado dos Santos e da paraibana da cidade
de Areia, D. Maria Leopoldina da Silva, prima de Pedro Américo.
Fêz seus estudos de infância nas escolas de D. Minervina
e Ceciliano Ribeiro e de humanidades no colégio Luso Brasileiro
em Nazaré e particularmente com os padres Graciano Coutinho
e Frederico de Oliveira de sua freguezia.
O curso de reparatórios foi prestado no Ginásio Pernam-
bucano e Liceu Paraibano.

368 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife em 1904,
tendo recebido o gráu de bacharel em ciencias jurídicas e sociais
a 14 de dezembro de 1908.
Iniciou sua vida pública corno advogado em sua terra na-
tal até 1910 quando, tomando passagem para Belém do Pará,
aqui chegou a 6 de fevereiro de 1911.
Sua primeira nomeação na carreira da justiça, ocorreu por
ato de 13 de marco de 1911, como juiz substituto da comarca
de Bragança, em que se empossou a 25 seguinte.
Nêsse cargo serviu sem interrupção até janeiro de 1913,
quando por ato de 25 de janeiro deste ano foi nomeado promotor
público da mesma comarca na vaga de Marlins Filho. assumindo
a promotoria 6 dias após. Como promotor esteve por duas vezes
substituindo a 1.ª; promotoria pública da Capital pelas portarias
do Procurador Geral do Estado de 22 de abril de 1915 a 30 de
janeiro de 1917.
Ingressou na judicatura por decreto de 18 de agosto de
1919 do govêrno Lauro Sodré, como juiz de direito da comarca
de Muaná de 1ª. entrância, em virtude de lista tríplice do Tri-
bunal cm que obteve 8 votos, prestando compromisso a 20 e
entrando em exercício a 23, tudo do mês e ano aludidos.
Foi promovido por ato de 25 de setembro de 1924, pela
obtenção de 7 votos, para a comarca de Soure de 2.ª entrância,
com sua posse a 6 de outubro seguinte.
Em 1926, por contar mais de 10 anos de serviços ininter-
ruptos foram-lhe concedidos 6 meses de férias dos quais renun-
ciou a última quinzena.
Com o advento da Revolução vitoriosa de 1930, foi por
decreto de n. 4 de 30 de outubro da Junta Governativa Provi-
sória do Estado que deu nova organização judiciária à magis-
tratura, nomeado Juiz de Direito da 3ª. Vara da Capital, com as
atribuições de Vara Civel, Comércio e Privativa de Acidentes no

Raul da Costa Braga 369


Trabalho, tendo prestado o compromisso imediatamente e entra-
do em exercício a 3 de novembro de 1930.
Em vista do rodizio estabelecido em lei assumiu a 1 de
janeiro de 1934 o exercício da 4ª. vara (Crime) passando su-
cessivamente em cada ano pelas demais varas sem interrupção
alguma em mais de um turno.
Foi membro efetivo do Tribunal Regional Eleitoral de 1935
a 1937 quando foi este Tribunal extinto pelo golpe de Estado
Novo.
Em ato de 13 de janeiro de 1944, após 13 anos de jui-
zado em todas as varas da comarca da Capital, foi nomeado de-
sembargador, prestando a afirmação e tomando posse do mesmo
cargo no dia seguinte.
Quando Juiz de Direito da comarca de Muaná, fêz retornar
à sala de suas audiências o retrato de Pedro II, que mãos profa-
nas fizeram arrancar do mesmo local para o esconder, despreza-
do, num canto de imóvel.
Quando na vara crime da Capital, conseguiu reunir o Con-
selho de Jurados na sessão designada, fato inusitado nos anais
da Repartição Criminal. Fêz também substituir o infamante ban-
co dos réus de madeira e sem encosto, existente no Tribunal do
Juri por uma cadeira igual a dos assistentes.
Em 1949 passou a ensinar a Catedra de Direito Roma-
no, interinamente em a Faculdade de Direito do Pará, tendo em
outubro de 1954, defendido a tése JUS PROPRIUM CIVIUM
ROMANORUM, perante a banca examinadora logrando a nome-
ação de professor catedrático efetivo dessa matéria, por ato do
Presidente da República.
Tem inéditos para leitura da família três romances de
costumes: “Nanhã de Caricé”, Vida de engenho pernambucano,
“Flôr da Taba”, vida amazônica, e “Bodega de Estrada”, costu-
mes nordestinos. É também o autor da presente obra: “História

370 Escorço Biográfico dos Desembargadores


da Justiça do Pará e biografia de seus desembargadores” escrita
como preito ao venerando Tribunal de que fêz parte c aos espíri-
tos amigos de seus colegas.
E casado com D. Maria Blandina de Vasconcelos Braga,
filha do insigne desembargador Santos Estanislao Pessôa de Vas-
concelos, com os seguintes filhos: Carmem, Elza, Daura e Alcyr,
médico da Marinha de Guerra.
Faz parte da Academia Paraense de Letras do Pará. Pro-
fessor catedrático de Direito Romano da Faculdade de Direito da
Universidade do Brasil, Membro do Instituto Histórico do Pará e
titulo de Honra ao Mérito pela Câmara Municipal de Belém.
É dado às Musas. Dentre seus sonetos evidenciamos:

TEU LENÇO
Este teu lenço branco a fio renda
Que trago ao peito como jóia rara
E às mãos me veio tal uma oferenda
De quem quer bem e amor antedatára...
Este lenço guardado cm forma avára,
Cheio de zêlo, entrelaçado em lenda
Como ninguém, feliz, jamais amára,
Mais quisesse tão bem como legenda...
E para mini o meu maior tesouro,
Arca santa de meus sonhos supremos,
Vergel com frutos de um pomar em ouro;
Porque lembra a nós dois, os dois assuntos:
— As venturas que juntos retivemos,
As tristezas que nós choramos juntos...

Raul da Costa Braga 371


MAURICIO CORDOVIL PINTO

Paraense, nascido em Mazagão, no sitio Belo Horizonte,


rio Tauari, a 22 de setembro de 1905 e filho de Alfredo Valente
Pinto e Maria Raimunda Cordovil Pinto.
Formou-se em ciências jurídicas e sociais Dela Faculdade
de Direito do Pará em 29-12-1929. Seus estudos de humani-
dade foram feitos no Ginásio Paes de Carvalho. Iniciou sua vida
pública ainda como 3.º anista, na promotoria da Comarca de
Macapá por ato de 9-5-1927 e posse a 1.º de junho seguinte,
que o exerceu até 30 de outubro de 1930. Antenormente corno
secretário da Intendência no Munícipio de Mazagão no periodo
de 19-3-1925 a 1º de junho de 1927, que deixou no mesmo dia
de sua entrada na carreira da justiça como promotor da aludida
cidade e comarca, ai permanecendo até 30 de Outubro de 1930
quando o decreto de número 4 da Junta Governativa Provisória
(Revolução) o nomeou 2.0 promotor da capital de que passou
a Juiz Substituto do civel e comércio de Belém por ato de 5
de setembro de 1931, assumindo a função a 10 dêste mês e
ano. Nessa qualidade assumiu a 16-11-1931 o cargo de Juiz

372 Escorço Biográfico dos Desembargadores


de Direito da 5.ª vara (menores abandonados e delinquentes)
no impedimento do titular efetivo dr. Nogueira de Faria. Atingiu
o Juizado de Direito da Comarca da Vigia por ato de 17-2-1932
e exercício em 25 seguinte. A 7-11-1932 foi nomeado Chefe de
Policia em comissão com posse imediata. Em 12 de janeiro de
1934 foi removido a seu pedido para a comarca de Castanhal,
criada pelo decreto 1415 de 30-121933 assumindo-a a 25 de
janeiro de 1934, mas voltando no dia seguinte à Chefia de po-
licia. Em 20-7-1934 foi nomeado para exercer o cargo de Juiz
de Direito da Assistência Judiciária da capital (5ª.vara ) criada
pelo decreto 1.341 da mesma data posteriormente 4a. vara com
posse a 23 de julho de 1934. Foi nomeado desembargador por
ato de 23-8-1945 e empossado 25 de agosto de 1945.
É oficial da Reserva do Exército Nacional de 2.ª classe, 1ª
linha com o posto de 1.º tenente, tendo sido convocado para o
serviço ativo por ocasião da 2.ª guerra mundial.
É catedrático interino da cadeira de Direito Comercial na
Faculdade de Direito do Pará.
E casado com D. Helena Ohana Pinto com quem houve
as filhas Maurilena, Hortência Maria, casadas, Helena Izabel e
Maria da Graça, solteiras, sendo as duas últimas, na infância. Já
serviu por três períodos no Tribunal Regional Eleitoral do Pará.
Falecido em 30/07/1983.

Raul da Costa Braga 373


INACIO CARVALHO GUILHON DE OLIVEIRA

Ignácio Carvalho Guilhon de Oliveira, filho legítimo de Am-


philoquio Guilhon de Oliveira e Maria Augusta Carvalho Guilhon
de Oliveira, nasceu em Belém do Pará, a 8 de agosto de 1883.
Fêz os seus estudos primários nos antigos colégios “Pará
e Amazonas” e “Atheneu Paraense”, sob a direção dos profes-
sores Manoel Antonio de Castro e Bertholdo Nunes, e o curso
secundário no “Liceu Paraense”, hoje ‘”Colégio Estadual Paes de
Carvalho” e “Instituto Amazónia”, da direção, este, do professor
Marcos Nunes.
Interrompendo os estudos, empregou a sua atividade no
comércio desta praça, nas firmas Gonçalves Bastos & Cia. e Mar-
tins Andrade & Cia., assim como na “Companhia de Seguros
Confiança”.
Nomeado juiz substituto do 1.º distrito judiciário da co-
marca de Monte Alegre pelo Governador do Estado, dr. João Co-
elho, em 25 de novembro de 1910, assumiu o cargo a 13 do
mês seguinte.
A seu pedido, foi removido pelo mesmo Governador. para
o único distrito judiciário da comarca de Bragança a 29 de ja-
neiro d e1913, assumindo o exercício a 4 de fevereiro seguinte.
Ainda a seu pedido foi, por ato de 31 de outubro de 1913, do
Governador dr. Enéas Martins, removido para a 4a. vara criminal
do único distrito judiciário da comarca de Belém, entrando cm
exercício no dia 12 de novembro, sendo ainda, pelo mesmo Go-
vernador, reconduzido nesse cargo, a 11 de dezembro de 1914.
Em virtude da lista tríplice do então Tribunal Superior de
Justiça, foi nomeado, a 23 de marco de 1918, pelo Governador
do Estado, dr. Lauro Sodré, para exercer as funções de juiz de
Direito da comarca do Xingú, com séde na cidade de Altamira,
assumindo o cargo a 1.º de abril do mesmo ano.

374 Escorço Biográfico dos Desembargadores


A 5 de junho de 1919, a seu pedido, removido, pela mes-
mo Governador, para a comarca de Soure, entrando em exercício
a 16, do referido mês. Convocado, teve assento no Tribunal Su-
perior de Justiça de 24 de dezembro de 1923 a 15 de janeiro de
1924. Ainda em virtude de lista triplice, foi, por decreto de 18
de agosto de 1924, do Governador, dr. Souza Castro, promovido
ao cargo de juiz de direito da comarca da Capital, assumindo, a
24 de setembro, as funções na 1.ª vara civel.
Esteve com assento no Tribunal Superior de Justiça, de 17
a 31 de dezembro de 1924, de 1 a 21 de janeiro e de 1 a 17
de fevereiro de 1925.
Por decreto n. 4, de 30 de outubro de 1930, da Junta Go-
vernativa Revolucionária, foi posto em disponibilidade, voltando
à atividade, por decreto de 29 de agosto de 1945, do Interventor
do Estado, Coronel Magalhães Barata, assumindo o exercício da
4ª. vara (menores), no mesmo dia.
De 31 a 21 de dezembro dêsse ano, presidiu a 3a. Junta
Apuradora das eleições procedidas no dia 2, para Presidente da
República e Congresso Constituinte.
por decreto n. 4676, de 12 de julho de 1946, foi pro-
movido pelo Interventor do Estado, dr. Otávio Meira, ao cargo
de desembargador, em virtude da indicação do então Tribunal
de Apelação, como o Juiz de Direito mais antigo da Comarca da
Capital, assumindo as respectivas funções no dia 13 seguinte. A
7 de outubro do mesmo ano, sendo convocado, como suplente a
tomar parte nos trabalhos do Tribunal Regional Eleitoral, estando
em exercício até 5 de novembro,
A 26 de abril de 1919, consorciou-se com D. Helena
Leão, filha legitima do major do Exercito Nacional Raimundo
Furtado de Vasconcelos Leão e D. Josefa de Abreu Leão.
De outubro de 1931 a setembro de 1932, exerceu as fun-
ções de fiscal federal junto ao “lnstituto São Luiz”, de propriedade

Raul da Costa Braga 375


do dr. Menezes Pimentel, na cidade de Fortaleza capital do
Ceará.
Em 1928, nos meses de setembro e outubro, ocupou,
interinamente, a cadeira de português do 1.º ano, do antigo Gi-
násio Paraense, hoje “Colégio Estadual Paes de Carvalho”
Atingida a compulsória em 8 de agosto de 1953 foi
por ato do govêrno posto em aposentadoria nos termos de sua
informação.
Retornado à vida privada Jogo adoeceu para nunca mais
se levantar, vindo a falecer nesta capital aos 6 dias de novembro
de 1953 em cuja necrópole de Santa Izabel repousa, deixando
viuva D. Helena Leão Guilhon de Oliveira e os filhos: Fernando,
José, Orlando Augusto, Benedito, Maria de Nazaré Tereza de
Jesus, ambas solteiras. A viuva é falecida.

376 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANTONINO DE OLIVEIRA MELO

Nome: — Antonino de Oliveira Melo.


Cargo: — Desembargador do Tribunal de Justiça do Esta-
do do Pará.
Filiação: — Antonio de Deus de Oliveira Melo e sua espo-
sa D. Leonilia Pereira de Oliveira Melo.
Naturalidade: — Belém, capital do Estado do Pará.
Nascimento: — 5 de setembro de 1887.
Estado civil: — Viuvo.

TRAÇOS BIOGRÁFICOS:
O desembargador Antonino de Oliveira Melo nasceu na
cidade de Belém, capital do Estado do Pará, em 5 de dezembro
de 1887, tendo feito os cursos primário e secundário na mesma
cidade, este no Ginásio Paes de Carvalho. Em 8 de dezembro
de 1908 recebeu o gráu de bacharel em ciências jurídicas e
sociais, pela Faculdade de Direito do Pará. Inicialmente a sua
vida pública na magistratura do Estado é como juiz substituto
de Anajás, então 2.º distrito judiciário da Comarca de Afuá, em
1909, transferindo-se, no mesmo ano, para Salinas, então 2.º
distrito judiciário da Comarca de Maracanã. Em 1910, passou
para o Ministério Público, corno promotor público da Comarca
de Breves, de onde, a pedido, foi transferido, em 1911, para
a Comarca de Soure, havendo desempenhado, por várias ve-
zes, comissões na Capital, na Secretaria do Ministério Público e
como primeiro promotor. Em 1916, deixou o Ministério Público,
por ter sido nomeado 1.º prefeito de Policia da Capital, de cujo
cargo se exonerou, em 1917, em virtude de mudança de Govêr-
no, abrindo escritório de advogado em Belém, onde, em 1518,
desempenhou, interinamente, o cargo de procurador seccional

Raul da Costa Braga 377


da República. Em 1921, foi nomeado Consultor jurídico da en-
tão Diretoria de Obras Públicas, Terras e Viação, lugar em que
esteve até 1925, quando retornou à Policia, corno 1.º prefei-
to, cargo que exerceu até 1927, passando a ter inicio do ano
de 1928, a exercer o cargo de chefe de policia do Estado. Em
1929, foi nomeado procurador fiscal da Fazenda Pública do Es-
tado, cargo que desempenhou até fins de 1930, deixando o res-
pectivo exercício por ocasião da revolução de 1930. Em 1931,
voltou à sua banca de advogado. Em 1935, eleito deputado à
Assembleia Constituinte do Estado, pelo partido da oposição,
— FRENTE ÚNICA PARA. foi eleito pelos seus pares relator da
Comissão Ela borradora do Projeto da Constituição, da qual era
presidente c notável jurisconsulto Samuel Mac-Dowell, passando
depois ao do seu mandato como deputado à Assembleia Legis-
lativa, em que aquela se convertera, desempenhando então os
cargos de presidente das Comissões de Constituição e Justiça e
de Finanças, e, posteriormente, o de vice-presidente da rnesma
Assembleia. Com a dissolução desta, pelo golpe de 1937, re-
tornou à sua profissão de advogado, havendo aceito, em 1942,
o cargo de 1.º auditor militar substituto da 8.ª Região, sediada
nesta Capital. No referido ano, convidado pelo interventor Coro-
nel Magalhães Barata, seu antigo adversário politico, aceitou o
cargo de procurador geral do Estado, tendo em 1945 em virtude
de lei acumulado com esse cargo, a portaria regional do Tribu-
nal Eleitoral, bem como a de membro do Conselho Disciplinar
da Magistratura e do Conselho penitenciário, desempenhando-
-os até 13 de julho de 1946, data em que assumiu o exercício
do cargo de desembargador do Tribunal de Justiça, por votação
unânime da citada Côrte judiciária, na respectiva lista tríplice,
e nomeação do então interventor federal dr. Octávio Meira, por
dec. de 12 de julho de 1946. Ainda no mesmo ano foi nomeado
professor da sociologia da Faculdade de Filosofia do Pará, então
criada. Quando promotor em Soure casou-se em 1914, com a
sra. Maria da Trindade Pamplona de Melo, de cuja união nasce-
ram os seguintes filhos:

378 Escorço Biográfico dos Desembargadores


Walquiria e Sra. Marilia Melo da Fonseca, casada com
o capitão do mar e guerra Cid Rodopiano da Fonseca: Sra. Car-
mencita Melo de Lemos, casada com o major Newton Lisboa
Lemos c Antonino Augusto, menor.
No Tribunal seus votos são recebidos com atenção e pelo
modo claro, desenvolvido c calmo, em projeção das facetas de
sua personalidade, especialmente que mais se avulta nas ques-
tões constitucionais de sua particular cultura por es tildas e
conhecimentos enriquecidos de longa data. Ouvi-lo é um deleite.
Sua vida pública e particular se acha resumidamente re-
gistrada na obra de RONAL HILTON — WHO’S WHO IN LATIN
AMERICA, Part V — BRASIL, p. 181.
Sua ascenção ao Tribunal bem a mereceu pela inque-
brantável linha de conduta que é padrão nos dias que correm e
exemplos de herança para o seu filho que lhe carrega o nome ad-
vindo do avô, Antonio de Deus, velho escrivão do Forum n’uma
linha inapagável de respeito e dignidade.
Aposentou-se compulsoriamente ao atingir seus setenta
anos de existência fecunda e trabalhosa.

Raul da Costa Braga 379


SILVIO PELLICO DE ARAUJO REGO

Ê natural de Maceió, onde nasceu aos 17 de dezembro de


1885 tendo como pais, José Alves de Araujo Rego e D. Maria
Madalena de Araujo Rego. Fêz seu curso elementar e secundário
no Liceu Alagoano.
Buscou o Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito
em 1905, colando gráu de bacharel em 1909. Iniciou a sua
vida pública nêste Estado, como juiz substituto de Aveiro, então
terceiro distrito judiciário da Comarca de Santarém, para cujo
cargo foi nomeado por ato de 4 de maio de 1910, tendo assumido
o respectivo exercício a 12 do mesmo mês e ano. Por decreto
de 1.º de outubro de 1910, foi removido, pedido, para Itaituba,
então 2º. distrito judiciário da mesma comarca de Santarém,
onde assumiu o exercício a 14 de novembro de 1913, quando
pediu a exoneração, por ter sido nomeado promotor público da
comarca de Afuá. por decreto de 27 de novembro de 1917, foi
nomeado Juiz de Direito da comarca de Itaituba, restabelecida
pela lei n. 1.581, de 26 de setembro do ano, cujo exercício
assumiu a 27 de dezembro do mesmo ano. Com o advento
da Revolução vitoriosa, em outubro de 1930, foi, pela Junta
Governativa Provisória do Estado, nomeado juiz de direito da
comarca de Vigia, tendo assumido o respectivo exercício a 14 de
novembro do mesmo
Por ato de 22 de agosto de 1991 foi removido para a
comarca de Arari, hoje Ponta de Pedras, onde assumiu o exercício
a 5 de setembro do mesmo ano. promovido ao cargo de juiz de
direito da Capital por Decreto de 20 de janeiro de 1944. tendo
prestado o compromisso e assumido o exercício a 25 do mesmo
mês e ano, passando a servir na 5.a.
Com a criação da 6ª. vara (criminal) ficou como seu titular
até 24 de janeiro de 1950, quando permutou com o dr. Licurgo
Santiago, juiz da 2.ª vara. Por decreto de 28 de julho de 1950, foi

380 Escorço Biográfico dos Desembargadores


nomeado para o cargo de desembargador do Tribunal de Justiça,
vago com a aposentadoria do desembargador Maroja Neto.
É casado com D. Leonor de Moraes Rego, de familia de
Itaituba em 1916, tendo uma só filha: Inah de Rêgo de Mendonça
(casada). Entrou em aposentadoria em 17-11-1955.

Raul da Costa Braga 381


IGNACIO DE SOUZA MOITTA

A vila paraense de Prainha, tem como um de seus mais


ilustres filhos, Ignácio de Souza Moitta, nascido aos 31 de julho
de 1898, do casal José Joaquim Nunes Moitta e Ana Joaquina
de Souza Moitta.
Com a idade apenas de 2 meses veio para Belém, ten-
do na idade infantil iniciado seus estudos primários no colégio
“Jesus, Maria e José” da professora Mariel Fiel Pena Soares. O
curso secundário começou-o no Colégio do Carmo para terminar
no Colégio Progresso Paraense, do desembargador Artur Porto,
onde se bacharelou em Ciências e Letras.
Ingressou na Faculdade de Direito do Pará, em 1915, co-
lando gráu de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais aos 25
de dezembro de 1919.
Iniciou sua vida pública como Juiz substituto da comarca
de Marabá, para onde foi nomeado por decreto de 23 de julho de
1920, empossando-se em 20 de agosto seguinte. Em 4 de no-
vembro de 1921, foi removido dessa comarca para cargo idên-
tico em Mocajuba, 2.º distrito judiciário da comarca de Cametá,
entrando em exercício a 15 de dezembro do mesmo ano.
Retornou para Marabá no mesmo cargo em 23 de abril de
1923, e posse 4 de maio. Em 6 de junho de 1926, foi nova-
mente removido para Cametá com exercício a 2 de julho. Entrou
na carreira da magistratura em 22 de outubro de 1927, pela
nomeação ao cargo de Juiz de Direito da Comarca de Marabá,
alí assumindo o exercício a 15 de dezembro. De Marabá passou
em 2 de janeiro de 1931, para juiz de Direito da comarca de
Macapá, tendo tomado posse a 8 do mesmo mês e ano.
A 13 de abril de 1931, retornou para Marabá, com exercí-
cio a 28 de maio. Em 21 de setembro de 1934, foi mais uma vez
removido para a comarca de Castanhal, entrando em exercício a

382 Escorço Biográfico dos Desembargadores


3 de outubro Foi nomeado Juiz de Direito da 5ª Vara da Comarca
da capital por decreto de 30 de dezembro de 1940, tomando
posse da cargo no mesmo dia.
Foi removido em 16 de maio de 1941 para a 1.ª Vara,
na qual permaneceu até ser nomeado desembargador, em 21 de
fevereiro de 1952, tendo tomado posse dois dias depois.
Em 1924, contraiu matrimonio com a professora Arzuila
Horta de Souza Moitta, possuindo o casal os seguintes filhos:
Froylan (engenheiro), Nathercia (médica), Leda (pretora da Ca-
pital), Maria Lucia (advogada), José Joaquim (engenheiro) e Gui-
lherme Otávio (agrônomo).
Ainda como Juiz no interior do Estado, fundou e dirigiu
em Marabá, a Liga p’ro Livro “João Anastácio de Queiroz”, com a
criação de Escola noturna para adultos analfabetos, um Colégio
primário, sob a denominação de Educandário Arthur Porto, a
Associação Marabaense de Letras e a Revista Marabá, órgão de
publicidade dessa Associação. Em Cametá, reviveu e presidiu o
Grêmio Cametaense, notável núcleo literário desde os tempos do
Império, dirigindo ainda o semanário local “Jornal de Cametá”.
Como desembargador, foi vice-presidente do Tribunal de
Justiça e Presidente do Tribunal Regional Eleitoral.
Faz parte da Academia Paraense de Letras, ocupando a
Cadeira n. 31 (patrono Medeiros Lima), da Associação dos Ma-
gistrados Brasileiros, da Sociedade dos Juristas Democratas.
Participou, como jurista, da Delegação Brasileira ao Con-
gresso Mundial da paz, realizado em Helsinki, em 1955 e da
Conferência de Desembargadores, em Salvador (Bahia), em
1962.
Foi Grão-Mestre da Grande Loja do Pará e da Grande Loja
do Pará e da Grande Loja Unida do Pará e Inspetor do Supremo
Conselho do Rito Escocês.

Raul da Costa Braga 383


Tem inéditos: Por amor de um sonho, Acalanto, Ode aos
meus Maiores, Dias Idos (versos); Pastoral, Uma Vida (poemas
dramáticos); Jangla (prosa); Esse mundo tão pequeno (crónicas
de viagem); Livro de Tensões, Critica Jurídica (estudos de Direito)
É remanescente luminar da “Velha Guarda” do Egrégio
Tribunal de Justiça do Pará.

384 Escorço Biográfico dos Desembargadores


SADI MONTENEGRO DUARTE

A cidade paraense de Vizeu foi berço de Sadi Montenegro


Duarte a quando seu ilustre pai, dr. Severino Duarte era Juiz de
Direito dessa comarca e de D. Rosa Montenegro Duarte, tendo
nascido a 12 de Setembro de 1893.
Iniciou alí seus estudos elementares sob a direção do pro-
fessor Julio Sobreira Lima, fazendo o curso ginasial em São Luiz
do Maranhão como interno do Colégio São José do professor
“Machadinho”. O exame de admissão para o curso de Direito,
e soa primeiro ano deste curso fê-lo na Faculdade de Direito do
Ceará, em 1913, de onde se transferiu em 1914 para a Facul-
dade de Direto do Pará, aqui concluindo o curso de bacharel em
1917, cujo gráu colou em 23 de dezembro désse ano.
Ainda nêsse mês de dezembro recebeu sua primeira no-
meação à carreira da justiça para juiz substituto da comarca de
Monte Alegre em que permaneceu até julho de 1921 em virtu-
de de seu pedido de exoneração do cargo, motivado pelo não

Raul da Costa Braga 385


recebimento de seus vencimentos por todo semestre de sua fun-
ção dedicando-se à advocacia e guarda-livros em Monte Alegre.
Já em 1926 aceitou sua nomeação de promotor público
da comarca de Óbidos, onde permaneceu até 20 de novembro
de 1930 quando foi nomeado juiz substituto da 4.ª vara (crimi-
nal) da capitai tendo assumido o exercício em 25 do mesmo mês
e ano.
Em 5 de Setembro de 1921 foi nomeado Juiz de Direito
da Comarca da Vigia com exercício em 26 seguinte, dai remo-
vido a pedido em 16 de fevereiro de 1932 para a Comarca de
Bragança empossando-se a 3 de março.
Passou a Juiz de Direito da capital (3.ª vara civel), por ato
de 20 de outubro de 1914 empossando-se, dez dias após.
Afinal galgou o Tribunal de Justiça por ato datado de 20
de agosto de 1953, e posse em 22 seguinte.
Casou-se em 27 de julho de 1921 com D. Marina dos
Santos Antunes, tendo tido desta união os filhos: Francisco Seve-
rino Duarte, Maria, Rosa, Henrique, Paulita, Raimunda, Ida, Be-
nita, Benedita e Edgar Antunes Montenegro Duarte, ao todo onze
filhos que lhe herdaram o nome e a grandeza d’alma avoenga.
Foi lente catedrático interino da cadeira de Direito Civil
em nossa Faculdade de Direito que a exerceu com a cultura que
possuía desta matéria.
Faleceu em Belém em 1-7-1956.

386 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ALVARO PANTOJA PIMENTEL

Alvaro Pantoja Pimentel nasceu na velha cidade da Vigia


no dia 7 de abril de 1889. Sendo filho legítimo do farmacêutico
local Francisco de Andrade Pimentel e de sua esposa D. Maria
Minervina de Oliveira Pantoja.
Naquela cidade fêz seu curso elementar para entrar, logo
após, no Seminário Maior, chamado Seminário Arquidiocesano
da Imaculada Conceição de Belém.
Demandou depois o Estado da Paraíba do Norte para in-
gressar no Liceu Paraibano.
Regressando à Belém cursou a Escola prática do comércio.
Foi nesse tempo que passou a servir na Alfândega intercalando
seu trabalho. Com os estudos de preparatórios com professores
particulares, graças o desvelo de seu tio e benfeitor, Monsenhor
Argemiro Maria d’Oliveira Pantoja, grande vulto do clero para-
ense e ainda no colégio “Ciências e Letras” do Professor Augus-
to Serra, prestando seus exames de humanidades no Ginásio
paraense, curso que terminou em 1921 para se matricular na
Faculdade de Direito do Pará, onde colou gráu de bacharel em
ciências jurídicas e sociais em 7 de abril de 1927 sob paranin-
fado daquele seu tio e amigo
Quando no curso académico foi guarda aduaneiro até
1922, cargo que a pedido se exonerou.
Sua primeira nomeação na carreira da justiça ocorreu em
18-11-1927 como juiz substituto da Comarca de Baião com sua
posse a 27 seguinte:
Extinta em outubro de 1930 esta comarca pela Junta Re-
volucionária do Pará, foi nomeado Juiz Substituto de Mocajuba
1.º distrito da Comarca de Cametá por decreto número 4, de 30
de Outubro.

Raul da Costa Braga 387


Extinto, por sua vez, êsse distrito passou a exercer a pro-
motoria pública de Maracanã por ato de 10-1-1931.
Deixou essas (unções para aceitar o julgado substituto de
Almeirim, 2.º distrito de Monte Alegre por ato de 30-1-1931
tomando posse em 23-2 seguinte. De Almeirim para o juizado
de Direito da séde, Monte Alegre por decreto de 26-10-1931 e
posse em 5-11.
Fez-se removido a pedido para a comarca de Castanhal
em virtude do ato de 22-1-1941 e promovido a Juiz de Direito
da Capital (4.ª vara) a 4-2-1944 com exercício em 1.º de março.
Ainda foi transferido a pedido da 4.ª vara para a 2.ª vara e desta
para a quinta.
Afinal foi nomeado desembargador em 6-11-1953 por
antiguidade tomando posse a nove.
Casou-se em 1932, nesta Capital, com D. Ana Moussalem
Pantoja Pimentel, com quem houve três filhos: José Rui, acadé-
mico de Engenharia, Alvaro augusto, Acadêmico de Agronomia,
e Luís Otávio, estudando o curso ginasial no Colégio Nazaré.
Homem que se fêz quase por si, n’uma força de vontade
firme e n’uma invejável linha de conduta pública e participar seu
ingresso na magistratura fêz enriquecer a tradição de tão nobre
carreira, emparelhando-se aquêles varões nobilitantes, que en-
vergavam suas vestes Talares sob a pureza dos arminhos jamais
conspurcados.
Foi presidente do Tribunal de Justiça, portando-se com
lisura na função e amor à biblioteca que refundiu.

388 Escorço Biográfico dos Desembargadores


LYCURGO NARBAL DE OLIVEIRA SANTIAGO

Nasceu na capital do Amazonas, a 17 de dezembro de


1889, filho legitimo do desembargador paraense Anselmo de Fi-
gueiredo Santiago e de D. Maria Cherubina de Oliveira Santiago,
a quando seu pai era juiz de Direito da comarca de Barcellos.
Ainda não tinha atingido a idade de 16 anos e já se acha-
va nomeado interinamente ao cargo de amanuense, lotado na
Secção do Tribunal de Justiça por ato do Presidente de 27 de
julho de 1903 em que permaneceu até 28 de julho de 1916,
quando recebeu a nomeação de Juiz Substituto de Igarapé-Açu
2.º distrito judiciário da Capital, empossando-se a 9 de agosto.
Quatro anos depois, na mesma data foi reconduzido no mesmo
cargo que o serviu até agosto de 1922, visto que a 19 desse
mês e ano aludidos foi nomeado juiz de Direito da comarca de
Guamá, tendo assumido o exercício a 16 de setembro com o ad-
vento da Revolução de 1930. Reorganizado o poder judiciário do
Estado do Pará, foi aproveitado nas mesmas funções e aludida
comarca, com exercício assumido a 7 de novembro de 1930.
Em 22 de agosto de 1931 foi aposentado ex-oficio tendo
a 30 de dezembro de 1933, sido revertido a atividade então
como Juiz de Direito de Conceição do Araguaia, com sua posse
a 9 de margo de 1934.
Em 9 de novembro de 1936 foi removido a pedido para a
comarca de Altamira, cujo exercício assumiu a 28 de março do
ano seguinte.
Em 19 de fevereiro de 1941 foi removido ainda a pedido
para a comarca de Monte Alegre. Por derreto de 22 de dezembro
de 1949 foi nomeado para as funções de Juiz de Direito da 2.ª
Vara da Capital em virtude de sua vacância, vara que assumiu
no dia 6 de janeiro do ano seguinte,

Raul da Costa Braga 389


Por decreto de 24 de janeiro de 1950, foi removido para a
6.ª Vara, por permuta com o titular da mesma, dr. Silvio pelico,
entrando em exercício no dia 27 do mesmo mês e ano. por ato
de 12 de janeiro de 1954, foi afinal nomeado desembargador do
Tribunal de Justiça, sob afirmação prestada no mesmo dia.
Foi aposentado compulsoriamente aos 70 anos de idade,
em 17 de dezembro de 1959.

390 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOÃO BENTO DE SOUZA

Nasceu João Bento de Souza em 21 de março de 1890


tendo sido seus pais José Joaquim Lopes de Souza e Balbina
Maria de Souza,
Fez seus estudos no Pará, formando-se bacharel em Direi-
to em março de 1918 pela Faculdade de Direito do Pará.
Iniciou sua vida pública como juiz substituto da Comarca
de Afuá, de que tomou posse em 20 de fevereiro de 1919.
Em 21 de julho de 1921 passou para promotor público
da Comarca de Soure.
De 12 de abril de 1923 até 27 de agosto ano exerceu a
3ª. promotoria pública da capital.
Revolução vitoriosa de 1930 foi nomeado Curador de Aci-
dentes no “Trabalho em Belém de que se empossou em 4 de
novembro de 1930.
Galgou o juizado de direito, entrando assim, na magistra-
tura de sua terra, por nomeação de 30 de dezembro de 1953 na
Comarca de Curuçá. Promovido a pedido para Castanhal.
Chegou, afinal, à desembargatoria por nomeação em que
se aposentou compulsoriamente.
Meticuloso em extremo, suas sentenças se ostentam cla-
ras e escorreitas de vez que desde moço, se afez ao estudo do
vernáculo pelo manuseio cotidiano das clássicos que não lhe
escondem segredos e conhecimentos.

Raul da Costa Braga 391


MILTON LEÃO DE MELO

Filho de Manoel dos Santos de Melo e de dona Maria Leão


de Melo.
Nasceu a 20 de junho de 1888 em Cametá deste Esta-
do. Formou-se pela Faculdade de Direito do Estado do Pará. Foi
nomeado promotor público, no mesmo ano, para Cachoeira do
Arari e depois removido para Chaves.
Como Juiz Substituto funcionou nos Munícipios de Curuçá
e Cametá.
Em 1924, foi nomeado Juiz de Direito da Comarca de
Muaná, exercendo o cargo nêsse mesmo munícipio até o ano
de 1930, sendo então transferido para a Comarca de Soure,
onde ficou até o ano de 1951, sendo transferido por antiguidade,
nêsse mesmo ano, para a vara dos feitos da fazenda municipal
e estadual da Comarca de Belém, onde exerceu também, a dire-
toria do Forum.
Em 1956, foi nomeado, ainda por antiguidade, para De-
sembargador, tomando posse dêsse cargo perante o desembar-
gador Cursino Silva.
Faleceu nêsse cargo no dia 16 de agosto de 1957, na
cidade de Belém.
Casou-se em primeiras núpcias com dona Astrogilda Fer-
reira de Melo, tendo dessa união dois filhos, Nilton Ferreira de
Melo e Alvaro Ferreira de Melo, já falecidos.
Em 1923, casou-se na Cidade de Cametá com Dona Be-
nedita Amorim de Melo, e dessa união nasceram os seguintes
filhos: Moacir Amorim de Melo, funcionário da Secretaria do Tri-
bunal Regional Eleitoral do Pará, casado com dona Maria Helena
Barbosa de Melo; Elza Amorim de Moto, falecida cm 1928, na
cidade de Muaná; Regina Margarida de Meto Oliveira, casada

392 Escorço Biográfico dos Desembargadores


com o dr. Raimundo pereira de Oliveira; Stenio Amo. rim de
Melo, funcionário da Policia Estadual; Ligio Amorim de Melo,
falecido; Marielza de Melo Oliveira, casada com o sr.
Luiz Carlos Vilhena Vieira, funcionário da Prefeitura Muni-
cipal de Belém e Benedito Milton — falecido.
Foi um magistrado no sentido exato da missão, jamais
elaborando uma sentença ou um acórdão em desacordo com o
Direito e a Justiça de que foi um lidimo sacerdote. Pobre nas-
cera e pobre falecera, somente legando à familia o galardão de
Seu nome honrado. sepultado no Cemitério de Santa Izabel em
Belém, morte que o atingiu pelos males adquiridos em doentias
por onde perlustrou.

Raul da Costa Braga 393


ALUISIO DA SILVA LEAL

Nascido em São Luiz do Maranhão aos 23 dias de mar-


ço de 1911, filho legítimo do respeitável pernambucano Aurélio
da Silva Leal e dona Hermenegilda da Costa Nunes Leal, casal
profundamente religioso, Aluizio aqui chegou ainda menino em
companhia paterna que meticuloso viera prestar serviços da pro-
fissão na casa comercial “Loja dos Candieiros” desta praça.
Iniciou seus estudos, primário e secundário em Belém,
bacharelando-se em nossa Faculdade de Direito, em novembro
de 1938.
Uma vez titulado foi nomeado juiz substituto de Prainha,
termo da Comarca de Monte Alegre, de onde Se transferiu para
a Comarca de Santarém em 14 de julho de 1941 a exercer igual
cargo.
Em 18 de agosta de 1944, após sua aprovação em con-
curso, o govêrno o nomeou Juiz de Direito da Comarca de Afuá,
de que se empossou em 19 de setembro de 1944.
Ao seu pedido transferiu-se para Santarém pela vaga de
Climério Machado de Mendonça de que tomou posse em 30 de
dezembro 1948.
Eleito membro suplementar do Tribunal Regional Eleitoral
em 12 de Setembro de 1950.
Por ato de 25 de junho de 1954 foi removido a pedido
para a nova Comarca de Nova Timboteua.
O ato de 18 de julho de 1956 o nomeou desembargador
por merecimento para o Tribunal de Justiça cujas funções exerce
com lisura e conhecimento.

394 Escorço Biográfico dos Desembargadores


ANIBAL DA FONSECA FIGUEIREDO

Nasceu do casal Francisco da Fonseca de Figueiredo que


foi Juiz de Direito da Comarca de Breves e Eulália Cavalcante de
Figueiredo, natural de Pernambuco. Anibal é paraense, nascido
em 19 de janeiro de 1901.
Iniciou sua vida pública no cargo de promotor da Comarca
de Porto de Moz por ato de nomeação de 2 de dezembro de
1922. Em 3 de janeiro de1924 passou para o Juizado substituto
de Curuçá. Logo a 6 de maio dêsse ano exerceu interinamente a
2.ª promotoria da capital.
Interrompeu sua carreira na justiça de sua terra em virtude
da nomeação do Presidente da República, fiel de tesoureiro
da Repartição dos Correios de Belém, função que exerceu até
outubro de 1930 a quando, Revolução vitoriosa fê-lo retornar
àquelas velhas funções, nomeando-o Juiz de Direito da Comarca
de Arari de que se empossou em 4 de fevereiro de 1931, d›ali
sendo removido para a Comarca de 2.ª entrância de Bragança
tendo assumido o exercício a 27 do citado mês. Por portaria
de 1931 foi transferido para São Miguel do Guamá. Ainda por
portaria de 16 de novembro de 1932. Nova promoção lhe foi
feita para a recente comarca de João Pessoa antiga Igarapé-
Açu. Finalmente, outra portaria o transferiu para a Comarca
de Cametá. por decreto de 14 de junho de 1949 passou para a
Comarca de Muaná a seu pedido. Atingiu a capital por decreto de
8 de julho de 1952. Foi nomeado desembargador em 8 de julho
de 1957 na vaga de Julio Gouveia Foi presidente do Tribunal de
Justiça Eleitoral.
É casado com Osmarina Dilon de Figueiredo com uma
prole que lhe herdou o nome de juiz íntegro e culto.

Raul da Costa Braga 395


OSVALDO POJUCAN TAVARES

Paraense de Ponta de pedras, nascido em 28 de julho


de 1918, filho legitimo de Francisco Gemaque Tavares e Maria
Campos Vilar Tavares. Formou-se em ciências jurídicas e sociais
pela Faculdade de Direito de Belém.
Por decreto de 5 de janeiro obteve a nomeação de juiz
substituto de Nova Timboteua, 2.º termo judiciário da Comar-
ca de Igarapé-Açu, onde permaneceu até 20 de julho de 1949
quando foi removido para o têrmo único da Comarca de Abae-
tetuba tomando posse do cargo em 3 de agosto de 1946 e per-
manecendo nessa função até 30 de janeiro de 1952. Por ato de
25 de janeiro dêsse ano atingiu o Juizado de Direito da Comarca
de Ponta de Pedras, cuja posse, ocorreu no mesmo dia — 1.º de
fevereiro de 1952 da instalação da predita Comarca. Por nome-
ação de merecimento e posse em 14 de junho de 1951, passou
para a 3.ª vara da capital.
Nomeado Corregedor Geral da Justiça em sessão do Tri-
bunal de 7 de janeiro de 1960.
Por decreto de 27 de agosto de 1957 Obteve a desembar-
gatoria, sendo o atuai presidente da Alta Côrte de Justiça.
Espirito calmo, marcou na carreira de magistrado, dentro
de um espaço de dez anos, do posto inicial de Juiz de Direito,
ao desembargador, a ascenção luminosa de sua vida de homem
público.
Ê casado com D. Edith de Noronha Tavares com prole de
8 filhos.

396 Escorço Biográfico dos Desembargadores


OSWALDO BRITO FARIAS

Filho legítimo do casal Agapito da Costa Farias e Bárbara


Luiza de Brito Farias, é natural do Pará, nascido aos 22 de no-
vembro de 1911.
Formou-se pela Faculdade de Direito do Pará. Sua primei-
ra nomeação à função pública, se fez Como promotor público
efetivo da Comarca de Chaves, então designada Santo Antonio
de Aruãns por ato de 11 de janeiro de 1934 de que tomou posse
em 17 de fevereiro seguinte. Passou sucessivamente por três
promoções: Soure, Muaná e Marabá.
O ato de 6 de abril de 1947 0 designou para servir na
Comarca de Cametá, durante o impedimento do Juiz de Direito,
titular, dr. Evandro Rodrigues do Carmo.
Atingiu a capital como 2.º promotor público por ato de 6
de março de 1949 na vaga do dr. Armando Corrêa.
Por ato de 10 de junho de 1960 passou à Procuradoria
Geral do Estado, cargo em que permaneceu até 16 de setembro
de 1957.
Afinal atingiu à desembargatoria por ato de 13 de setem-
bro de 1957, prestando afirmação no dia 17 seguinte. Como
promotor público contou tempo de serviço por mais de duas
décadas.
Foi Corregedor Geral da Justiça, no ano de 1961 a 1962,
função em que foi reeleito em 7 de fevereiro de 1962.
É membro trabalhador incansável da Excelsa Instância.

Raul da Costa Braga 397


HAMILTON FERREIRA DE SOUZA

Filho do nobre casal, dr. João Batista Ferreira de Souza,


provecto maranhense e de dona Zuleide Ferro de Souza de ilus-
tre familia piauiense.
Hamilton Ferreira de Souza é paraense, nascido em 2 de
novembro de 1914.
Advogado em lides porfiosas em talento e cultura, n’uma
herança das portentosas qualidades paternas, foi-o buscar po-
der público do Estado do Pará para o nomear desembargador
do Tribunal de Justiça de sua terra natal em a vaga aberta pelo
quinto Constitucional nessa superior instancia judiciária.
O ato de nomeação ao citado cargo é datado de 9 de
outubro de 1939. Então, já contava o nomeado, vários anos
de serviços prestados ao Estado do Pará, inclusive o de pro-
fessor na Faculdade de Direito, antes de sua federalização. Há
exercido como interino, as funções de Presidente da Spvea.
Coroou sua carreira jurídica no concurso a que se submeteu
na mencionada Faculdade, então pertencente à Universidade,
como postulante à Cadeira de Direito Civil de que já era titular,
defendendo tese com proficiência e acêrto.
Era casado em primeiras núpcias com Oscarina Paiva
Ferreira de Souza que o deixou viuvo para novamente convolar
segundas núpcias com Rosa Mendonça Ferreira de Souza com
a progênie de Paulo (morto em doloroso acidente de trânsito)
Claudio, Rui, Ana Rosa, Ana Amélia, Ana Maria e João Batista
Ferreira de Souza Neto, herdeiro do insigne Ferreira de Souza.

398 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOÃO GUALBERTO ALVES DE CAMPOS

Filho do casal paraense, professor João Gualberto de


Campos e Camila Alves de Campos, nasceu João Gualberto, em
Curuçá deste Estado em 14 de margo de 1890. Seus primeiros
estudos foram feitos no Colégio do Carmo, aluno interno que
se fizera por vários anos, afinal formando-se em Direito pela
nossa Faculdade. Iniciara vida pública como Guarda de Saúde
Maritima entre 1912 a 1914. Em 10 de janeiro de 1918 foi
nomeado juiz substituto de Itaituba. Deixou êsse juizado para
se torrar promotor público em Curuçá, terra de nascimento,
revertendo ao juizado dessa comarca da qual se transferiu em
4 de outubro de 1930 para porto de Moz. Em 10 de janeiro de
1931 exercia idênticas funções em Ourém. Atingiu o juizado
substituto da vara Criminal da Capital por ato de 7 de outubro
de 1931. Entrou na magistratura pela nomeação ao cargo de
juiz de Direito de Macapá em 15 de fevereiro de 1933 de que
passou para a Comarca de Vizeu por transferência de 12 de
dezembro de 1941. Foi promovido por antiguidade a Juiz de
Direito da 4.ª vara da capital em 10 de junho, passando a pedi-
do para a 2.ª vara. Afinal nomeado desembargador do Egrégio
Tribunal de Justiça a 1 de margo de 1960, ali encontrando
aposentadoria compulsória em 14 de marco de 1960, após
27 anos de judicatura. Em Vizeu permaneceu por espaço de
17 anos e meio, — vida inteira nessa Comarca distanciada de
Belém e de acesso dificil, de travessa maritima em que muitos
têm perdido a vida.
É casado com a itaitubense Honorina Mendonça de Cam-
pos, afeita à existência de agruras do interior amazónico em
que, quase tudo é necessidade sem remédio, n’uma dignidade
desmedida e honrosa. O casal tem um filho que está seguindo
a carreira paterna.

Raul da Costa Braga 399


Alves de Campos é um poeta lírico, dando-se, às vezes
aos versos chistosos.
Foi aposentado compulsoriamente em 14 de março do
1960.

400 Escorço Biográfico dos Desembargadores


MANOEL PEDRO DE OLIVEIRA

Paraense, nascido em 24 de outubro de 1897 teve como


pais Gentil Pedro de Oliveira e Tereza de Jesus Oliveira como seu
filho legitimo.
Fêz todos os seus estudos em Belém, titulando-se em Ci-
ências Jurídicas e Sociais por nossa Faculdade de Direito em
março de 1928, companheiro de Salvador de Borborema, Ed-
gar porto e José Amazonas Pantoja com quem se veio defrontar
como componentes do Tribunal de Justiça do Pará.
Foi nomeado juiz substituto de porto de Moz, 1.º distrito
judiciário da então comarca do mesmo nome por ato de 21 de
janeiro de 1929 com afirmação em 26 seguinte. Removido a
pedido para Marapanim, segundo distrito judiciário de Curuçá
em que obteve recondução.
Pelo advento da Revolução vitoriosa de 1930 foi afastado
d’aquele cargo em virtude da nova organização judiciária levada
a efeito pela Junta Governativa Provisória do Estado do
O ato de 23 de junho de 1932 do major Magalhães Ba-
rata nomeou-o juiz substituto de Marapanim, por portaria de 9
de maio de 1933 foi removido ex-oficio para exercer idênticas
funções em Curralinho, 2.º distrito da Comarca de Breves.
O ato de 27 de julho de 1933 novamente o removeu para
a de Castanhal. por elevação dessa à categoria de comarca pas-
sou para Maracanã. O decreto de 8 de agosto de 1935 concedeu
permissão à permuta com Augusto Moura Palha como juiz subs-
tituto de Marapanim.
O ato de 17 de setembro de 1938 (Malcher Interino)
nomeou-o Juiz de Direito de Marabá em vista de primeiro na
classificação de concurso. Por antiguidade passou para Juiz de
Direito da capital na oitava vara de que saiu para assumir a

Raul da Costa Braga 401


desembargatoria pela nomeação de 8 de janeiro de 1960 em
que se aposentou por compulsória legal.

402 Escorço Biográfico dos Desembargadores


AGNANO DE MOURA MONTEIRO LOPES

Foram seus pais, o invejável casal pernambucano José


Elias Monteiro Lopes e Julia de Moura Monteiro Lopes, tendo
nascido no Pará 11 de novembro de 1910.
Fêz todos os seus estudos, primário, secundário e superior
nesta capital.
Formado em Direito teve como sua primeira nomeação
por ato de 1.º de Outubro de 1931 como juiz substituto, Comar-
ca de Faro tomando posse em 22 do dito mês e ano. Dali, pas-
sou para promotor público de Muaná em 7 de Outubro de 1932.
Em 11 de outubro de 1933 para idênticas funções em
Marabá.
Por decreto de 11 de agosto de 1935 foi transferido a
seu pedido para a comarca de Igarapé-Miri com exercício a 19
seguinte.
Em 1936 removido para Marabá. O decreto de 27 de
março de 1939 0 transferiu para Macapá.
Em concurso realizado a 18 de julho de 1936 ao preen-
chimento de cargo de Juiz de Direito, obteve o primeiro lugar
na classificação, prova evidente de seu preparo juridico, sendo
nomeado pelo decreto de 31 de junho de 1939 para a Comarca
de Macapá em que tomou posse aos 12 de agosto de 1939, en-
trando, assim, na magistratura como seguidor incorruptível das
nobres virtudes seu pai, também juiz paraense na formosa linha
retilinea que muito bem representava fisica e moralmente.
D’aquela Comarca removeu-se para a de Igarapé-Açu.
O ato de 16 de março de 1960 o nomeou desembarga-
dor do Tribunal em que seu espirito forte, está sempre vivo a
demonstrar sempre as nuances de sua personalidade, primoro-
samente assistidas pela fibratura de sua mãe pernambucana,

Raul da Costa Braga 403


que, viuva, passou a velar pelo lar de que se fizera consorte para
exemplo e grandeza dos filhos.
.

404 Escorço Biográfico dos Desembargadores


EDUARDO MENDES PATRIARCHA

Filho de Custódio Francisco Patriarcha e Tereza de Jesus


Mendes.
Paraense, nascido a 31 de maio de 1911.
Viuvo de Henriqueta Magno Patriarcha.
Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Facul-
dade de Direito do Pará, tendo colado gráu em 15 de dezembro
de 1935. Foi nomeado Promotor Público da comarca de Marabá
em 21 de dezembro de 1936, tendo prestado afirmação a 22 do
mesmo mês, sendo a 26 ainda do mês de dezembro, removido
“ex-oficio” para a Promotoria da comarca de São Domingos do
Capim, até quando foi a mesma extinta. A cinco de agosto de
1942, foi nomeado Adjunto de Promotor Público do Têrmo-séde
da comarca da Vigia, cujo exercício assumiu no dia 6 do mesmo
mês e ano, tendo incontinenti, passado a exercer as funções de
Promotor Público dessa comarca, durante o licenciamento do
respectivo titular, bacharel Irval Lobato. Manteve-se nêsse cargo
até 25 de fevereiro de 1943, quando foi nomeado promotor
Público da Comarca de Macapá, dai removido no dia seguinte,
para o Promotoria de Soure. Desta Promotoria, foi removido para
a de Chaves, em 26 de outubro de 1943, servindo na Capital
do Estado durante o impedimento de titular da terceira Promoto-
ria, bacharel Cassio Estanislau Pessoa de Vasconcelos, de 14 de
agosto de 1945 a 29 de novembro do mesma ano, voltando, em
seguida, ao exercício da Promotoria de Chaves, onde permane-
ceu até o ano cie 1951, sendo por ato de 28 de março desse ano
removido para a Promotoria de Conceição do Araguaia e a 4 de
julho do mesmo ano (1951), removido para a de Gurupá; sendo,
ainda, desta removido “ex-oficio” novamente para a de Concei-
ção de Araguaia, em 19 de novembro de 1951, cuja função per-
maneceu até ser removido para a de Breve, por ato do Govêrno
do Estado, datado de 17 de janeiro de 1952, mantendo-se nas

Raul da Costa Braga 405


funções até o dia 19 do mês de, julho do ano de 1952, quando
foi publicado no “Diário Oficial do Estado” ato de sua nomeação
para Juiz de Direito de Altamira cargo que prestou afirmação a
21, entrando em exercicio do mesmo a 1.º de agosto, perma-
necendo até 5 de março de 1954, quando foi removido para a
comarca da Vigia, por ato de 27 de fevereiro, tendo assumido
o exercicio a 16 de março ainda do ano de 1954. Promovido
para a comarca da capital do Estado, com exercicio na 7.ª Vara
(Familia), em 19 de setembro de 1957, assumiu o exercicio do
cargo em 1.º de Outubro do mesmo ano, até quando teve acesso
para Desembargador, por áto de 24 de março do 1960, tendo
prestado a afirmação e assumido o exercicio em 1.º de abril do
dito ano. A 29 de novembro de 1961, foi eleito para as funções
de vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado, para o exer-
cicio de 1962, sendo reeleito para o ano seguinte (1963). Eleito
membro do Tribunal Regional Eleitoral, na categoria dos Juizes
de Direito, assumiu exercicio das funções a 1.º de fevereiro de
1958, permanecendo até a data em que entrou no exercicio
das funções de desembargador a 1.º de abril de 1960. Como
desembargador, foi novamente eleito para membro do Tribunal
Regional Eleitoral em 13 de setembro de 1961, assumindo o
exercicio das funções em 13-9-1961. No Tribunal há figurado
como vice-presidente.

406 Escorço Biográfico dos Desembargadores


JOSÉ AMAZONAS PANTOJA

José Amazonas Pantoja é natural da cidade de Monte Ale-


gre deste Estado, onde nasceu aos 27 de janeiro de 1897 tendo
sido seus pais como filho legítimo João Batista d’Oliveira Pantoja
e d. Quitéria Sara de Morais Bittencourt Pantoja, de renomada
família regional Morais Bittencourt de que o des. Gentil foi um
verdadeiro expoente.
Formou-se em Direito pela nossa Faculdade no ano de
1920.
Sua inicial nomeação para cargo público Ocorreu em 21
de janeiro de 1921 como promotor da Comarca de Maracanã
passando por ato de 17 de maio de 1923 para juiz substituto
da mesma Comarca. Em 28 de junho de 1924 foi removido a
pedido para idênticas funções na Comarca da Vigia, 1.º, distrito.
Em 18 de janeiro de 1925 ainda a seu pedido foi remo-
vido para a Comarca de Bragança ali reconduzido, após o praso
legal de exercicio,
Vitoriosa a Revolução de 30 foi nomeado juiz substituto
de Cachoeira de que passou em 31 de dezembro de 1930 a
Muaná como seu promotor público e dai removido para Breves
como promotor. Nova remoção em 25 de janeiro de 1933 como
promotor de Santarém. Entrou na magistratura por ato de 6 de
outubro de 1933 como Juiz de Direito da Comarca de Guru-
pá, de onde se fêz removido para a de Altamira. Nova remoção
ocorreu em 18 de novembro de 1941 para a velha Comarca de
Bragança.
Lente catedrático de aritmética na Escola Normal e seu
diretor.
Em agosto de 1916 foi auxiliar da Secretaria na Reparti-
ção de Aguas.

Raul da Costa Braga 407


Em 8 de Outubro de 1936 foi removido para Vizeu na
juizado de Direito.
Promovido à 5.ª vara da capital por ato de 18 de novembro
de 1953 em que passou à desembargatória aí permanecendo.

408 Escorço Biográfico dos Desembargadores


HOMENAGEM AOS MAGISTRADOS QUE, MERECEDORES,
NÃO ATINGIRAM A DESEMBARGATORIA

ABDIAS DE ARRUDA — altivez e honorabilidade.


ABEL AUGUSTO DE VASCONCELOS CHAVES — estirpe de fortes.
ADALBERTO RAINERO DA SILVA MAROJA — talento e cultura.
ALFREDO ANIBAL — saber e conhecimento.
AURELIANO DE ALBUQUERQUE LIMA — dignidade e exemplo.
FERNANDO FERREIRA DA CRUZ — inquebrantabilidade e
desassombro.
FRANCISCO SEVERINO DUARTE — espirito de bravo.
FLAVIO DE GUAMÁ — majestade e lhaneza.
GERMANO BENTES GUERREIRO — dedicação e cordura.
HENRIQUE LOPES DE BARROS — circunspecção e retidão.
INACIO EVARISTO DA CRUZ GOUVEIA — paraibano de fibra.
JOÃO BATISTA FERREIRA DE SOUZA — ilustração e saber.
JOÃO MORISSON FARIA — intrepidez e conhecimento.
JOÃO TERTULIANO DE AIMEIDA LINS — virtude e aprumo.
JOAQUIM AUGUSTO FREIRE BARATA — virtude e autoridade
JOSÉ ANTONIO PICANÇO DINIZ — catedrático de Direito.
JOSÉ ELIAS MONTEIRO LOPES — altaneria e justiça.
JOSÉ FERREIRA TEIXEIRA — honradez e estudo.
LUIZ RIBEIRO GUTIERRES — têmpera e majestade.
LAURO NOGUEIRA — valor e ilustração.
OSCAR DE NOGUEIRA CUNHA BARRETO — dignidade e aprumo.
PAULO VILHENA BRANDÃO — varonilidade e certeza.
PEDRO DOS SANTOS TORRES — coragem e desenvoltura.
NOTA — Escaparam alguns outros que de memória não soube
lembrar.

Raul da Costa Braga 409

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