Tributacao 4-4
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LAWBORATORY PRESS
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ISBN 978-65-990907-4-5
1. Tributação. 2. Economia.
Índice para catálogo sistemático:
Tributação
Economia
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Sobre os Coordenadores
Éderson Garin Porto
Priscila Anselmini
5
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Sobre os autores
Paulo A. Caliendo V. da Silveira
Priscila Anselmini
6
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7
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8
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Cristiano Colombo
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SUMÁRIO
Sobre os coordenadores......................................................................................5
Sobre os autores..................................................................................................6
Apresentação.....................................................................................................12
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Apresentação
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APRENDIZADO DE MÁQUINA E
O DIREITO FUNDAMENTAIS DO
CONTRIBUINTE
MACHINE LEARNING AND FUNDAMENTAL
TAXPAYER RIGHTS
Paulo Caliendo1
1. INTRODUÇÃO
A cada momento nos deparamos com mais uma notícia do avanço tecnológi-
co em IA ou a sua disseminação progressiva e veloz para todos as esferas
sociais. O presente artigo tem por objetivo destacar a análise do uso da técni-
ca do aprendizado de máquina (machine learning) no âmbito da fiscalização
tributária. Assim, podemos questionar se essa tecnologia acarreta ou acarre-
tará riscos aos direitos fundamentais dos contribuintes. O presente texto tem
por objetivo incluir a defesa do Contribuinte, perante o poder fiscal artificial
e inteligente, como uma das facetas da centralidade do humano, nos debates
sobre Inteligência Artificial.
Por outro lado, a IA pode ser um grave desafio aos direitos fundamentais. A
utilização abusiva de sistemas inteligentes pode ampliar, aprofundar e agravar
a violação aos direitos existentes, de modo acidental ou deliberado. Governos
podem utilizar-se da tecnologia para perseguir grupos de oposição, discriminar
setores e pessoas, bem como manter um aparato opressivo e autoritário
2 HARARI, Y. N. Reboot for the AI revolution. Nature News 550, p. 324-327, 2017, p. 327.
3 “An AI system is a machine-based system that is capable of influencing the environment by
producing an output (predictions, recommendations or decisions) for a given set of objectives”
“OECD. Artificial Intelligence in Society, OECD Publishing, 2019. http://dx/doi.org/10.1787/
eedfee77-en”. 17
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A OCDE, por sua vez, apresenta uma listagem mais ampla, incluindo:
crescimento inclusivo e sustentável (inclusive growth, sustainable development
and well-being); valores humano-centrados e equidade (human-centred values
and fairness); transparência e explicabilidade (transparency and explicability);
robustez e segurança (robusteness, security and safety) e acessibilidade
(accountability)5.
7 O conflito entre a majestade de César e suas debilidades físicas e morais aparece no discurso
de Cássio: “muito me espanta, ó deuses! Ver que um homem de uma constituição assim tão fraca
tenha passado a frente neste mundo majestoso e, sozinho, obtido palma”; in SHAKESPEARE,
W. Júlio César. Disponível em http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/cesar.pdf, acesso dia
05.05.2022. 19
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3. APRENDIZADO DE MÁQUINA
(MACHINE LEARNING)
Aprendizado de Máquina (machine learning) é o setor de Inteligência Artificial
que lida com dois problemas conexos: i) como sistemas de máquina podem
se aperfeiçoar pela experiência e ii) quais são as leis informacionais que gover-
nam o aprendizado, inclusive das máquinas?8
Russel e Norvig afirmam que um agente aprende quando aprimora a sua per-
formace sobre tarefas futuras fazendo observações sobre o mundo10. Mas por
que iríamos programar agentes artificiais que aprendem? Existem diversas
razões.
As árvores de decisão (decision tree) é uma das formas mais simples e bem-suce-
didas de aprendizado de máquina. Nesse tipo de algoritmo, uma classe de
exemplos é fundamental para a construção da árvore. Ela consiste em testes
de atributos nos nós interiores, valores de atributos nos ramos, e os valores de
saída nos nós foliares12 .
Uma rede neural é apenas uma coleção de unidades em conjunto, com pro-
priedades determinadas por sua topologia e semelhança com os neurônios.
11 RUSSELL Stuart J. et NORVIG, Peter. Artificial Intelligence. A Modern Approach. Third Edition. New
Jersey: Prentice Hall Series, 2020, p. 695.
12 “Note that the set of examples is crucial for constructing the tree, but nowhere do the examples appear
in the tree itself. A tree consists of just tests on attributes in the interior nodes, values of attributes on the
branches, and output values on the leaf nodes”; in RUSSELL Stuart J. et NORVIG, Peter. Artificial Intelli-
gence. A Modern Approach. Third Edition. New Jersey: Prentice Hall Series, 2020, p. 706.
13 RUSSELL Stuart J. et NORVIG, Peter. Artificial Intelligence. A Modern Approach. Third Edition. New
Jersey: Prentice Hall Series, 2020, p. 707.
14 RUSSELL Stuart J. et NORVIG, Peter. Artificial Intelligence. A Modern Approach. Third Edition. New
Jersey: Prentice Hall Series, 2020, p. 728.
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15 “Do mesmo modo que tantas outras coisas, a natureza (a arte mediante a qual Deus fez
e governa o mundo) é imitada pela arte dos homens também nisto: que lhe é possível fazer
um animal artificial”; in HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado
eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. Disponív-
el em http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_thomas_hobbes_leviatan.pdf.
Acesso dia 05.06.2022.
16 HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civ-
il. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. Disponível em http://
www.dhnet.org.br/direitos/anthist/marcos/hdh_thomas_hobbes_leviatan.pdf. Acesso dia
05.06.2022. 23
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4. APRENDIZADO DE MÁQUINA
E A FISCALIZAÇÃO DE TRIBUTOS
O Direito Tributário e a arrecadação dos tributos sofrem por diversos problemas clara-
mente diagnosticados, tais como: elevado estoque de processos, demora nos julgamen-
tos, inconsistência nas decisões, impacto das decisões em estruturas de mercado, falta
de infraestrutura ou de pessoal para verificação e julgamento de pedidos administra-
tivos de contribuintes.
Considerando essa situação difícil o uso de tecnologia que automatize processos, auxilie
na decisão, promova classificação de dados, minere dados ocultos de possibilidade
de fraudes, atividades suspeitas e outras formas de detecção de anomalias, permita
modelagem e parametrização da massa de dados informados pelos contribuintes
aparecem como um auxílio inestimável à administração tributária.
As vantagens para os contribuintes são igualmente relevantes, tais como a redução dos
custos de cumprimento de obrigações acessórias, eliminação de papel e locais para o
seu adequado armazenamento, facilitação no controle e simplificação no cumprimen-
to dos deveres formais, rapidez no acesso às informações. Os contadores são igual-
mente beneficiados como as vantagens do novo sistema, como aumento de produtivi-
dade, troca de informações entre contribuintes, entre tantos outros casos de benefícios.
A breve descrição dos múltiplos documentos fiscais eletrônicos hoje utilizados no Bra-
sil já demonstra a robustez do processo de transformação das administrações fiscais
em um patamar e em uma velocidade impressionantes. Trata-se de um movimento
inexorável e muito bem-visto pelo Fisco e mesmo pelo contribuinte. O volume gigante
de dados que são criados a cada dia permite um manancial de informações muito
preciosas, que poderão orientar a inteligência fiscal artificial dos governos e dos con-
tribuintes.
O uso de inteligência artificial fiscal pode ser útil igualmente para as recomendações
na esfera da administração tributária. O próprio fisco pode receber sugestões inteligen-
tes de normatizações, de novas políticas fiscais e de como proceder com o tratamento
para setores específicos.
Por sua vez, o uso de decisões inteligentes e automatizadas é algo que exige uma atenção
redobrada e muito cuidadosa. Seria possível substituir as decisões de agentes fiscais por
decisões de máquinas? Haveria violação aos direitos fundamentais do Contribuinte,
caso ocorresse a negativa de crédito, lançamento ou imputação de infração fiscal, por
meio de um algoritmo fiscal?
25
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5. O PROBLEMA DO PERFILAMENTO
DOS CONTRIBUINTES
O uso de sistemas de aprendizado de máquina é uma realidade e uma grande
promessa no setor fiscal. Existem já experiências positivas e consolidadas
no Brasil e no exterior, e o seu catálogo de exemplos certamente seria nu-
meroso. Para evitar uma descrição enfadonha, apresentar-se-ão alguns casos
emblemáticos. O primeiro oriundo do direito estrangeiro e o segundo na
experiência nacional.
26
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Um dos grandes desafios dessa imensa base de dados está na criação de perfis
dos contribuintes com base na imensa base de dados fiscais do contribuinte
(fiscal data). Tal situação que foge ao controle do contribuinte e sem a devida
transparência é um dos grandes desafios de nosso tempo.
Existem diversas questões sobre o entendimento dos dados fiscais como sen-
do dados pessoais protegidos; sobre o equilíbrio entre o interesse público e o
interesse pessoal na proteção de dados. Mas de modo geral é necessário de
avançar na proteção dos direitos fundamentais do contribuinte no século da
informação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso crescente e inexorável de sistemas inteligentes no âmbito da fiscalização
tem ampliado a listagem de efeitos positivos para a administração tributária,
incluindo a simplificação e automatização de procedimentos repetitivos; re-
dução de custos e melhora na prestação de serviços públicos; criação de uma
sólida base de dados dos contribuintes e outras informações fiscais.
Por outro lado, são fortes as preocupações sobre as possíveis violações aos
direitos fundamentais dos contribuintes. O uso de dados pessoais para a con-
strução de perfis dos pagadores de tributos, predição de comportamentos,
cruzamento massivo de informações sem conhecimento dos detentores dos
dados pessoais, ausência de transparência sobre os algoritmos e sua utilização
pela administração fiscal, são apenas alguns dos grandes desafios na proteção
dos contribuintes no século XXI.
29
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REFERÊNCIAS
DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006.
30
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31
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OS IMPACTOS DO JULGAMENTO
DO STF SOBRE SOFTWARE NA
TRIBUTAÇÃO FEDERAL
Jussandra Hickmann Andraschko25
Lucas Armani Tomazi26
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo objetiva demonstrar que a longa discussão sobre a tributação
de softwares padronizados (ou “de prateleira”), referente ao ICMS e ao ISS, em
seu estado atual, impacta muito mais do que a incidência ou não dos tributos
estadual e municipal, tendo reflexos importantes na tributação federal; e, em
termos econômicos, majorou a carga tributária federal sobre tais operações,
impactando no planejamento das empresas.
Essa solução para conflito de competência, contudo, tem como pressuposto que o
fato gerador analisado já seja considerado, de pronto, serviço. Por tal motivo, se o
fato gerador não se classifica como “serviço” (como era o caso, até 2021, do software
padronizado), a previsão de sua incidência na LC 116/03lei é inconstitucional, pois
fere a esfera de competência prevista no art. 156, II, da Constituição Federal. Por
isso, portanto, a importância da classificação dos tipos de software no conceito até
então definido como “obrigação de dar” e “obrigação de fazer”.
29 O critério de diferenciação também era forte na Doutrina, como coloca Paulo de Barros
Carvalho: “É forçoso que a atividade realizada pelo prestador apresente-se sob a forma de
‘obrigação de fazer’. Eis aí outro elemento caracterizador da prestação de serviços. Só será pos-
sível a incidência do ISS se houver negócio jurídico mediante o qual uma das partes se obrigue
a praticar certa atividade, de natureza física ou intelectual, recebendo em troca, remuneração”.
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e Método. 3. ed. São Paulo:
Noeses, 2009, 794-795.
30 Nos termos do julgamento ADI 5659/MG e da ADI 1945/MG.
A análise do caso revela que, embora a ementa dos acórdãos suscite que a Corte tem
“superado a velha dicotomia entre obrigação de fazer e obrigação de dar”, o esforço
argumentativo despendido para que se entendesse pela mudança de tributação dos
softwares padronizados do ICMS ao ISS foi a de encaixe no conceito de serviço
como “obrigação de fazer”. Por ter identificado tal obrigação em momentos
anteriores a compra (confecção do programa) e posteriores (help desk e manuais), o
STF confirmou seu entendimento.
3. A DEFINIÇÃO DE SERVIÇO E
OS IMPACTOS NA TRIBUTAÇÃO FEDERAL
33 Como coloca Humberto Ávila: “[...] as regras de competência caracterizam-se como regras
que instituem uma faculdade, isto é, uma autorização para que determinada autoridade (ente
federado) exercer determinado poder ou competência (instituir tributo) por meio de determi-
nado procedimento (procedimento legislativo), que culmina com a prática de determinado ato
normativo (promulgação) e a edição de determinada fonte normativa (lei ordinária).”. ÁVILA,
Humberto. Competências Tributárias. São Paulo: Malheiros, 2018, p. 22. 35
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34 Ibidem, p. 50
35 Ibidem, p. 54
36 Ibidem, p. 53
36
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A apuração pelo lucro arbitrado, que não interessa ao nosso estudo, é geral-
mente adotada pelo Fisco, quando não é possível definir o desempenho finan-
ceiro da empresa, seja por motivo de fraudes ou até mesmo fatalidades. Caso
se torne impossível apurar o Lucro, cabe ao Fisco, ou até mesmo à própria
empresa, fazer uso do arbitramento.
Já para aquelas empresas que tenham apurado receita bruta inferior ao limite
mínimo para a obrigatoriedade de apuração do Lucro Real, tem-se a opor-
tunidade de apuração pelo Lucro Presumido38. Neste caso, por opção do
contribuinte que atende aos requisitos legais, a incidência do IRPJ e da CSLL
se dá sobre um montante presumido da receita bruta, que se denomina de
lucro presumido. A base de cálculo é calculada aplicando-se à receita bruta
37 Nos termos do art. 14, I, da Lei 9.718/98. Há, nos demais incisos do mesmo artigo,
a obrigatoriedade do lucro real para contribuintes que tenham como objeto a prática de
atividades específicas, mas que, para o caso do artigo, não se enquadram.
38 Nos termos do art. 13, caput, da Lei n. 9.718/98. 37
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anual coeficientes legalmente definidos (Art. 15, Lei n. 9.249/95)39, que vari-
am conforme a atividade da empresa.
39 Art. 15. A base de cálculo do imposto, em cada mês, será determinada mediante a aplicação do percen-
tual de 8% (oito por cento) sobre a receita bruta auferida mensalmente, observado o disposto no art. 12
do Decreto-Lei no 1.598, de 26 de dezembro de 1977, deduzida das devoluções, vendas canceladas e dos
descontos incondicionais concedidos, sem prejuízo do disposto nos arts. 30, 32, 34 e 35 da Lei no 8.981,
de 20 de janeiro de 1995.
§ 1º Nas seguintes atividades, o percentual de que trata este artigo será de:
I - um inteiro e seis décimos por cento, para a atividade de revenda, para consumo, de combustível derivado
de petróleo, álcool etílico carburante e gás natural;
II - dezesseis por cento:
a) para a atividade de prestação de serviços de transporte, exceto o de carga, para o qual se aplicará o percen-
tual previsto no caput deste artigo;
b) para as pessoas jurídicas a que se refere o inciso III do art. 36 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995,
observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 29 da referida Lei;
III - trinta e dois por cento, para as atividades de:
a) prestação de serviços em geral, exceto a de serviços hospitalares e de auxílio diagnóstico e tera-
pia, patologia clínica, imagenologia, anatomia patológica e citopatologia, medicina nuclear e análises e pat-
ologias clínicas, desde que a prestadora destes serviços seja organizada sob a forma de sociedade empresária
e atenda às normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa;
IV - 38,4% (trinta e oito inteiros e quatro décimos por cento), para as atividades de operação de empréstimo,
de financiamento e de desconto de títulos de crédito realizadas por Empresa Simples de Crédito (ESC).
§ 2º No caso de atividades diversificadas será aplicado o percentual correspondente a cada atividade.
40 Essa é a conclusão pela leitura da legislação, uma vez que a atividade de venda de mercadorias não se
enquadra em qualquer outra atividade prevista no resto dos artigos 15 e 20 da Lei 9.249/95.
41 Previstos, respectivamente, nos incisos II, ‘a’, e III do art. 15 da Lei 9.249/95.
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Coaduna a essa interpretação (como não poderia ser de outra forma) a Re-
ceita Federal do Brasil. Desde a Solução de Consulta COSIT n. 123/201442,
a interpretação da Receita seguia o exemplo do STF, afirmando, nos termos
do documento, que “a venda (desenvolvimento e edição) de softwares prontos
para o uso (standard ou de prateleira) classifica-se como venda de mercadoria”
e, portanto, merecia a tributação de IRPJ pela alíquota de 8% e a da CSLL
pela alíquota de 12%.
Para que se possa responder, basta notar que o uso da tributação diferenciada
para “serviços em geral” foi opção do legislador dentro de sua esfera de com-
petência federal atribuída pela Constituição. Poderia o legislador ter utilizado
outros critérios – quaisquer que sejam – para atribuir diferentes formas de
tributação de IRPJ e de CSLL; todavia, o fez, no que tange ao presente caso,
considerando que aqueles que prestam “serviços em geral” mereceriam uma
tributação maior, e o fez considerando a esfera tributária geral incidente sobre
“serviços em geral”.
40
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Na busca por uma relação tributária mais equânime com outros países, e buscan-
do manter o capital estrangeiro investido no país, o Brasil realiza diversos tratados
com outros países buscando evitar a bitributação (em especial do Imposto de Renda)
quando a empresa envia os lucros para a sua matriz no exterior. Tais tratados são, em
sua maioria, fundados no modelo de convenção da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (a “OCDE”).
No modelo geral desses tratados, em seu artigo 7 é definido que o “lucro” das empresas
residentes nos Estados Contratantes deverão ser tributados apenas no Estado em que
situada sua matriz, o que, por sua vez, evita a dupla tributação do lucro por dois países
diferentes. Veja-se, a título de exemplo, o artigo 7 do Tratado contra a bitributação
Brasil-México44:
ARTIGO 7
A partir desse cenário legislativo, após o julgamento ADI 5659/MG e da ADI 1945/
MG, a Receita Federal do Brasil publicou a Solução de Consulta COSIT n. 75/2023
47, entendendo que, apesar do entendimento recente do STF de que o licenciamento e
o uso de softwares padronizados se enquadram no conceito de serviço, deve a atividade
empresarial baseada nisso ser considerada como royalties para fins de tributação pelo
IRPF. Como motivação, embora faça longa exposição do julgamento de 2021 pelo
STF, a Receita enquadra a atividade de licenciamento de software como “exploração
de direitos autorais”.
46 Art. 22. Serão classificados como “royalties” os rendimentos de qualquer espécie decorrentes
do uso, fruição, exploração de direitos, tais como
(...)
d) exploração de direitos autorais, salvo quando percebidos pelo autor ou criador do bem ou
obra.
47 Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idA-
to=130011. Acesso em 26/02/2023.
48 Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idA-
42 to=131161. Acesso em 26/02/2023.
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Quanto ao segundo ponto, de forma inovadora aos entendimentos até agora expos-
tos na mesma Solução, entendeu a Receita que, em razão da incidência do ISS nas
operações de licenciamento e uso de software padronizados, a atividade deveria ser
classificada nos termos do art. 3º, II, da Lei n. 10.865/04, que prevê como fato gerador
do PIS-Importação e da COFINS-Importação “o pagamento, o crédito, a entrega, o
emprego ou a remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior como con-
traprestação por serviço prestado”; ou seja, por haver o entendimento de que agora a
atividade seria prestação de serviço, a remessa de pagamento ao exterior sobre licencia-
mento e uso de software atrai a incidência das contribuições federais. Diz-se inovador o
entendimento porque na própria Solução referida a Receita cita a Solução de Consulta
COSIT n. 71/2015, em que entendia que não incidiam as contribuições justamente
porque o pagamento era considerado royalties50.
49 Art. 2o Para fins de atendimento ao Programa de que trata o artigo anterior, fica instituída contribuição
de intervenção no domínio econômico, devida pela pessoa jurídica detentora de licença de uso ou adquirente
de conhecimentos tecnológicos, bem como aquela signatária de contratos que impliquem transferência
de tecnologia, firmados com residentes ou domiciliados no exterior. (Vide Decreto nº 6.233, de 2007)
(Vide Medida Provisória nº 510, de 2010)
§ 1o Consideram-se, para fins desta Lei, contratos de transferência de tecnologia os relativos à exploração de
patentes ou de uso de marcas e os de fornecimento de tecnologia e prestação de assistência técnica.
§ 1o-A. A contribuição de que trata este artigo não incide sobre a remuneração pela licença de uso ou de
direitos de comercialização ou distribuição de programa de computador, salvo quando envolverem a trans-
ferência da correspondente tecnologia.(Incluído pela Lei nº 11.452, de 2007)
§ 2o A partir de 1o de janeiro de 2002, a contribuição de que trata o caput deste artigo passa a ser devida
também pelas pessoas jurídicas signatárias de contratos que tenham por objeto serviços técnicos e de as-
sistência administrativa e semelhantes a serem prestados por residentes ou domiciliados no exterior, bem
assim pelas pessoas jurídicas que pagarem, creditarem, entregarem, empregarem ou remeterem royalties, a
qualquer título, a beneficiários residentes ou domiciliados no exterior. (Redação da pela Lei nº 10.332, de
2001)
§ 3o A contribuição incidirá sobre os valores pagos, creditados, entregues, empregados ou remetidos, a cada
mês, a residentes ou domiciliados no exterior, a título de remuneração decorrente das obrigações indicadas
no caput e no § 2o deste artigo. (Redação da pela Lei nº 10.332, de 2001)
50 Nos termos da Ementa da Solução de Consulta COSIT n. 71/2015: “O pagamento, o crédito, a entrega,
o emprego ou a remessa de valores a residentes ou domiciliados no exterior, a título de royalties, por simples
licença ou uso de marca, ou seja, sem que haja prestação de serviços vinculada a essa cessão de direitos, não
caracterizam contraprestação por serviço prestado e, portanto, não sofrem a incidência da Contribuição
para o PIS/PASEP-Importação”. Disponível em: http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.
action?idAto=63621. Acesso em 26/02/2024. Nos termos da fundamentação da Solução de Consulta COS-
IT n. 107/2013: “Dessa forma, ao serem caracterizadas como royalties, as remessas de valores ao exterior
decorrentes da adesão a contrato de licenciamento de uso de software eram, na ocasião, entendidas apenas
como valores pagos para a simples licença ou uso de marca, com ausência da contraprestação por serviço
prestado, lastreando-se nos termos dispostos na Solução de Consulta Cosit nº 71, de 10 de março de 2015,
publicada no DOU de 4 de março de 2015, que assim dispôs a respeito em sua respectiva ementa, ao analisar
a incidência da Contribuição para o PIS/Pasep- Importação e da Cofins-Importação sobre a remessa de
valores a residentes ou domiciliados no exterior a título de royalties [...]”.
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Uma análise, mesmo que sumária, das diferentes classificações dadas pela Receita
Federal do Brasil e de como considera o uso do julgamento realizado pelo STF
demonstra uma aplicação desvirtuosa dos conceitos tributários.
Como vimos, o enquadramento das empresas que tem como atividade o licenciamen-
to e o uso de softwares – agora, independente de sua forma de desenvolvimento – na
forma de apuração do Lucro Presumido como “serviços em geral” foi um acerto da
Receita, visto que apenas seguiu o julgado do STF e garantiu um estado de paridade
tributária entre todas as empresas que prestam serviços. O que seguiu, a partir das
Soluções de Consulta COSIT n. 75/2023 e 107/2023, não foi.
44
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do Estado. Classificar uma atividade como “serviço” é aceitar todas as suas conse-
quências, e respeitar o entendimento do STF é imperativo normativo pela própria
administração.
4. CONCLUSÃO
Relativamente a tributação de tecnologias, analisar a tributação futura requer,
também, um olhar para o passado. Embora “softwares” sejam tecnologias não tão
novas, no quadro jurídico, o seu enquadramento legal não deixou de ser objeto
constante de análise, com superação de precedente pelo próprio STF. O caso
analisado demonstra não só o quão conturbadas podem ser as discussões sobre o
enquadramento de uma tecnologia nos conceitos delimitados nas competências
tributárias pelo judiciário, mas o quanto a complexidade de conteúdos materiais
“novos” gera indeterminação pela aplicação do direito pelo Ente tributante.
45
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REFERÊNCIAS
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios, 17ª ed., rev. e atual., São Paulo:
Malheiros, 2016.
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1. INTRODUÇÃO
Por isso, este artigo propõe-se a investigar os reflexos das novas tecnologias ao
sistema tributário nacional diante das propostas de reforma fiscal, especialmente
em face da Emenda Constitucional nº 132, de 20 de dezembro de 2023, a fim de
verificar se a tributação pode ser um instrumento de redução de desigualdade de
renda e de concretização dos direitos fundamentais ao cidadão, como também um
estímulo à evolução da nova era digital.
De forma geral, o objetivo deste trabalho é analisar os reflexos das novas tecnolo-
gias por meio das propostas no âmbito nacional, em relação à tributação da renda
e dos bens de consumo e serviço, visando adequar estes tributos ao novo contexto
digital. Tal mudança é iminente e permitirá que a tributação se torne um instru-
mento de redução das desigualdades, como também incentive o desenvolvimento
econômico e social da população brasileira.
Portanto, diante da nova era digital e de seus reflexos, a problemática desta pesqui-
sa explora os reflexos das novas tecnologias para o sistema tributário nacional, prin-
cipalmente no que tange à renda e os bens de consumo e serviço, questionando-se:
no contexto da nova era digital e das novas tecnologias, quais são as mudanças
eficazes para que a tributação possa ser um meio de efetivação dos direitos e re-
dução das desigualdades?
Justifica-se, assim, este artigo em razão de sua relevância para o estudo da estrutura
tributária brasileira, bem como à aplicação jurisdicional do Direito frente a era
digital. Isso porque, mediante a arrecadação de tributos e a distribuição do ônus
fiscal, o Estado possui meios para garantir o seu custeio e a redistribuição da renda
entre a população, concretizando o “bem comum”, isto é, a realização dos direitos
constitucionais e fundamentais do cidadão.
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Quanto à valorização dos bens intangíveis, é cada vez mais comum a uti-
lização de software, branding, marcas e demais produtos de propriedade in-
telectual, que modificam as transações físicas. Tais bens intangíveis permitem
à empresa de tecnologia digital a redução dos custos marginais, por possui
preços irrisórios de armazenamento, transporte e de replicação. (CORREIA
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fiscal das empresas para outras jurisdições. Além disso, há a crescente difi-
culdade de identificar a realidade material passível de incidência tributária,
devido a transmutação das espécies tributárias.
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Além da nova era digital, o atual sistema tributário brasileiro induz a concen-
tração de renda e riqueza, sendo considerado um sistema com efeitos re
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gressivos. Por isso, a tributação do futuro também deve ter um olhar atento
aos seus efeitos perante a desigualdade de renda, pois uma tributação que
não alcance o bem comum da população não pode ser considerada justa em
nenhum cenário ou economia. E, diante do cenário (pós) pandemia, não
há dúvidas que o Estado deve procurar soluções para a tamanha injustiça e
desigualdade existente. Neste sentido, são necessárias atitudes mais audazes,
como a instituição de uma renda mínima54 para os mais afetados pela pan-
demia, bem como às pessoas em situação de pobreza.
54 Piketty destaca que os atuais sistemas estatais que possuem este programa devem ser aper-
feiçoados, a fim de ser mais automáticos e universais, especialmente no caso de pessoas sem
domicílio. Também é necessário generalizar a renda para todas as pessoas com rendas baixas,
com pagamento automático, sem necessidade que estas devam solicitar, como ocorre nas res-
tituições do imposto sobre a renda. (Vide in: PIKETTY, Thomas. Capital e ideología. Trad.
54 Daniel Fuentes. Ediciones Deusto. Barcelona, 2019, p. 1187).
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Na tentativa de dirimir tais entraves, os países, por meio de tratados e acordos, bus-
cam uma cooperação internacional, a fim de que se evite a bitributação. Todavia,
as próprias empresas multinacionais aproveitam-se desses acordos para escapar da
incidência do imposto de renda, com a alegação da bitributação, alcançando sig-
nificativa vantagem competitiva em relação às concorrentes locais em prejuízo da
arrecadação tributária. (CORREIA NETO, 2019, p. 145-167).
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Tal proposta, a qual visa a tributação pelo país da renda das empresas transna-
cionais e de tecnologias, foi objeto de debate pela Comissão da União Europeia,
em 2018, no sentido de permitir a tributação pelo Estado “se a atividade exercida
através dessa presença consistir, total ou parcialmente, na prestação de serviços
digitais através de uma interface digital”. (CORREIA NETO, 2019, p. 145-167).
Além disso, estabelece princípios de atribuição de benefícios que guardam relação
com esta presença digital significativa por meio do Imposto sobre Sociedades. As-
sim, a Comissão busca uma resposta aos problemas de “onde” e “quanto” tributos
incidir na economia digital. (FLOR, 2019, p. 60).
55 Para Luis Parada, inclui-se como serviços digitais os seguintes: se incluyen como servicios digitales: (a)
alojamiento de sitios web y de páginas web; (b) mantenimiento a distancia, automatizado y en línea de
programas; (c) administración de sistemas remotos; (d) depósito de datos en línea que permite almacenar y
obtener electrónicamente datos específicos; (e) suministro en línea de espacio de disco a petición; (f) acceso
o descarga de programas informáticos, como por ejemplo programas de gestión/contabilidad, o programas
antivirus, así como de sus actualizaciones; (g) programas para bloquear la descarga de banners publicitarios;
(h) descarga de controladores, como los que permiten interconectar el ordenador personal con equipos
periféricos tales como impresoras; (i) instalación automatizada en línea de filtros de acceso a sitios web; (j)
instalación automatizada en línea de cortafuegos; (k) acceso o descarga de fondos de escritorio; (l) acceso
o descarga de imágenes fotográficas o pictóricas o de salvapantallas; (m) contenido digitalizado de libros y
otras publicaciones electrónicas; (n) suscripción a periódicos y revistas en línea; (o) weblogs y estadísticas de
sitios web; (p) noticias en línea, información sobre el tráfico y pronósticos meteorológicos; (q) información
en línea generada automáticamente por programas informáticos tras la introducción de datos específicos
por el cliente, como datos jurídicos y financieros, por ejemplo, datos sobre la Bolsa continuamente actual-
izados; (r) suministro de espacio publicitario como, por ejemplo, banners en un sitio web o página web; (s)
uso de motores de búsqueda y de directorios de Internet; (t) acceso o descarga de música en ordenadores
personales y teléfonos móviles; (u) acceso o descarga de melodías, fragmentos musicales, tonos de llamada u
otros sonidos; (v) acceso o descarga de películas; (w) descarga de juegos a ordenadores personales y teléfonos
móviles; (x) acceso automatizado a juegos en línea que dependan de Internet, o de otra red electrónica simi-
lar, en los que los jugadores se encuentren en lugares diferentes; (y) enseñanza a distancia automatizada que
dependa de Internet o de una red electrónica similar para funcionar, y cuya prestación no necesite, o apenas
necesite, de intervención humana, lo cual incluye aulas virtuales, salvo cuando Internet o la red electrónica
similar se utilicen como simple medio de comunicación entre el profesor y el alumno; (z) ejercicios realizados
por el alumno en línea y corregidos automáticamente, sin intervención humana. (Vide in: PARADA, Luis
Miguel Muleiro. El Futuro De La Tributación De La Economía Digital En La Unión Europea. Crónica
Tributaria, 2019-03-01, Vol. 170 (1), p.121. Disponível em: https://www.ief.es/vdocs/publicaciones/1/170.
pdf#page=109. Acesso em 23 nov. 2022.)
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Seguindo esta linha, em 2019, foram emitidos três documentos pela OCDE
referente à presença digital da empresa, considerando objeto de tributação onde
há criado uma atividade comercial, seja pela participação do usuário ou pelo uso
de bens intangíveis determinados. Dessa forma, o que definiria a presença digital
de uma empresa e, consequentemente, a incidência de tributos entre as jurisdições,
seria o nexo entre a participação do usuário, a proposta de marketing dos bens
intangíveis e a presença econômica significativa. Isto significa que, dita proposta,
contempla o usuário que adquire bens ou serviços diretamente do provedor ou o
provedor em rede que exerce serviços a outra empresa dirigida a estes usuários.
(FLOR, 2019, p. 51-52).
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Neste diapasão, há o movimento a favor da tributação dos robôs, visto a sua uti-
lização na indústria, na qual substitui o trabalho humano. Por certo, os robôs e
a inteligência artificial, apesar de não estar amplamente difundido entre a popu-
lação, são tecnologias – num futuro próximo – que estarão no cotidiano do ci-
dadão e não somente nas indústrias. Por exemplo, já é possível imaginar a compra
de robôs para fazer o serviço doméstico, vender produtos, limpar ruas, auxiliar na
agricultura, hotelaria, trabalhar em escritórios, entre outros ramos.
No Brasil, tal tributação poderia ser adotada, desde que respeite os critérios con-
stitucionais, como a progressividade, seletividade e a capacidade contributiva.
Desse modo, há debates acerca da tributação sobre a automação disruptiva, em que
se defende a criação de taxas progressivas com base nas atividades que impactem
os postos de emprego. Por exemplo, taxas mais elevadas para atividades que elim-
inem postos de trabalho e mais brandas para aquelas que reduzem. (ALMEIDA;
FEITOSA, 202).
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Por isso, deve-se repensar o atual imposto sobre a renda, ampliando a sua base
tributável, de modo a abranger também os serviços digitais, expandindo o conceito
de estabelecimento permanente em relação às pessoas jurídicas e modernizar
o sistema de arrecadação com o uso das novas tecnologias de informação e
comunicação. (CORREIA NETO, 2019, p. 154-155). Além disso, a tributação
sobre os bens de consumo e serviço também precisa se adequar à economia do
conhecimento, tanto em relação à oneração dos produtos considerados essenciais
para as pessoas de baixa renda, como para abranger os novos serviços e produtos
digitais.
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Para tanto, muito já se sustentou na desoneração fiscal dos produtos que con-
stituem a “cesta básica”, ou seja, que os tributos incidentes na compra e venda
de tais bens ou prestação de serviços sejam reduzidos ou zerados. Isto porque
os tributos indiretos sobre o consumo compõem o preço final destes produtos
e serviços, recaindo o ônus fiscal ao consumidor final. (BUFFON, 2019, p.
303-304).
Nesta senda, recentemente foi aprovada a reforma fiscal sobre os bens de con-
sumo e serviços, conforme Emenda Constitucional nº 132/2023 (BRASIL,
2023), em que unifica diversos tributos, de competências municipal, estadual
e federal, com o intuito de simplificar a atual complexidade da fiscalidade
sobre estes serviços e produtos. Sem, contudo, diminuir a carga tributária,
isto é, a arrecadação aos cofres públicos.
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Coadunado com estas reformas legislativas, também será necessária uma fis-
calização eficaz, com trocas de informações ao Fisco, seja por empresas nacio-
nais, transnacionais, instituições financeiras, sendo medidas imprescindíveis
para que ocorra a tributação destes bens intangíveis e do comércio eletrônico.
A era digital facilita a criação de instrumentos que possibilitem as trocas de
informações, portanto, o Estado e a Administração fiscal devem se adequar e
investir em meios para tal êxito. (CORREIA NETO, 2019, p. 157).
Como tributar tal complexidade? A EC/132 será a resposta para todas es-
sas indefinições? O certo é que todas estas modificações e novas tecnologias
sugerem uma reformulação do atual sistema tributário nacional, incluindo a
renda e o capital. A largada já foi dada com as alterações legislativas, com a
aprovação da aludida Emenda, em que prevê o IBS sobre produtos materi-
ais e imateriais, porém alguns pontos embaraçosos merecem ser destacados,
como as diversas lacunas ainda a serem regulamentadas por Lei Complemen-
tar, bem como a inexistência de preocupação em reduzir a excessiva carga
tributária sobre estes bens e serviços.
Por isso, as alterações fiscais frente às novas tecnologias também devem vir
acompanhadas de previsões legislativas que permitam reduzir o peso da
tributação sobre o consumo, como a ampliação da tributação sobre a ren-
da, patrimônio, riquezas, levando em considerações as novas tecnologias da
economia do conhecimento, fato que não está sendo considerado pela re-
cente Emenda aprovada. Isto porque a tributação alicerçada sobre o consumo
não produz um maior crescimento ao país. Ao contrário, os pesquisadores da
London School of Economics analisaram o efeito da redução dos impostos
para os estratos mais ricos da sociedade nas últimas cinco décadas em 18
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, o desenvolvimento da economia digital e as novas tecnologias já
trazem profundas mudanças no cotidiano da população, seja no meio profis-
sional, social, econômico ou pessoal. A pandemia provocada pelo COVID-19
acelerou a introdução de novas tecnologias digitais à população, que se tor-
naram fundamentais no dia a dia para a realização de tarefas profissionais,
como também para estar em contato com parentes e amigos.
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58 Sociedade justa é quando todos os membros de uma sociedade possuem acesso aos bens
fundamentais, como educação, saúde, direito ao voto e a participação plena das diversas formas
da vida social, cultural, econômica, cívica e política. (Vide in: PIKETTY, Thomas. Capital e
70 ideologia. Traducción de Daniel Fuentes. Barcelona: Ediciones Deusto, 2019, p. 1146.)
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REFERÊNCIAS
AFONSO, José Roberto; PORTO, LAÍS K. Tributos sem Futuro. Conjuntu-
ra Econômica (RIO DE JANEIRO), v. 72, p. 32-35, 2018.
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 16. Ed. São Paulo: Saraiva:
2010.
71
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MAZUR, Orly. Taxing Robots. Pepperdine Law Review, v. 46, p. 297, 2019.
72
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OECD. The Sharing and Gig Economy: Effective Taxation of Platform Sell-
ers: Forum on Tax Administration, OECD Publishing, Paris. 2019, p. 11.
Disponível em: https://doi. org/10.1787/574b61f8-en. Acesso em: 21 abr.
2022.
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1. INTRODUÇÃO
O mundo está passando por cada vez mais frequentes disrupções tecnológicas.
Os séculos que distanciavam as grandes invenções agora dão lugar a meses, às
vezes dias. A era da tecnologia tem mudado radicalmente nossos comportamentos,
hábitos e até mesmo chegam a pautar novos padrões culturais.
O comércio não poderia ficar alheio a esse turbilhão de inovação que estamos
vivenciando. Em que pese a ideia de mercado seja secular, é certo que durante
décadas o formato e o meio das transações pouco se alteraram. Isso tudo muda
a partir da popularização da grande rede de computadores e mais especialmente
com o desenvolvimento das plataformas de vendas on-line ou também chamados
de “market places”. Estes ambientes virtuais operam como uma vitrino numa ga-
leria ou shopping center. Produtos e serviços são expostos nestes espaços virtuais e
eventualmente um consumidor interessado pelo anúncio formaliza a sua intenção
em adquirir o hipotético produto ou serviço.
2. A COMPREENSÃO DO FENÔMENO
DA ECONOMIA DE PLATAFORMA
Ocorre que o acesso ao mercado tem um custo. Este tema vem sendo tratado
pela economia como custo de transação, definido em termos muito singelos
como o custo de ir ao mercado e se engajar em trocas nesse ambiente. A
discussão tem origem numa inquietação: Por que existem as empresas63? A
questão suscitada por Ronald Coase em 1937 buscava explicar por que surgiria
62 KRUGMAN, Paul e WELLS, Robin. Introdução à Economia. 2 ed. Trad. Helga Hoffmann.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, p. 12.
63 COASE, Ronald H. The firm, the Market and the Law. Chicago: The university of Chicago
76 Press, 1990, p. 37.
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Esta noção esclarece um dos entraves para o estabelecimento das trocas. Di-
agnosticou-se que em razão das “falhas transacionais”, os agentes precisam se
acautelar de informações, dados, cautelas, medidas para evitar prejuízos ou
comportamentos oportunistas e este custo é mais elevado quanto piores são
as instituições de um determinado país, como apontou Douglas North em
sua célebre obra que marca o “institucionalismo” na Economia67. Todo bra
64 WILLIAMSON, Oliver E. e WINTER, Sidney G. The Nature of the Firm. Origins, evolution and
development. New York: Oxford University Press, 1993, p. 4.
65 COASE, Ronald H. The firm, the Market and the Law. Chicago: The university of Chicago Press, 1990,
p. 53.
66 WILLIAMSON, Oliver E. The transaction cost economics Project. The theory and Practice of the Gov-
ernance of Contractual Relations. Northhampton: Edward Elgar Publishing, 2013, p. 3.
67 NORTH, Douglas C. Institucions, institucional chance and economic performance. New York: Cam-
bridge Univerty Press, 1990, p 27.
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O ponto central para a melhor fluidez dos mercados passa a ser a redução
de custos de transação e durante séculos a civilização humana só confiava às
instituições estatais o papel de regulador de tais relações. Com a expansão
das relações comerciais que passaram a atravessar continentes, seria demasi-
adamente custoso elaborar uma investigação sobre a vida pregressa da con-
traparte num contrato. Tampouco seria viável fazer uma “due diligence” para
formalizar a compra de um produto ou serviço. O Direito desempenhou um
papel fundamental de agregador de confiança e estabilidade nas relações, per-
mitindo que mais e mais trocas fossem viabilizadas entre pessoas e empresas
que jamais se conheceram. No entanto, como apontado por Douglas North,
a depender da qualidade das instituições de um determinado país, o custo de
transação acabaria inviabilizando certas trocas, na medida em que os agen-
tes econômicos acabariam por precificar a ineficiência das soluções ofertadas
naqueles ordenamentos jurídicos.
69 WILLIAMSON, Oliver E. The transaction cost economics Project. The theory and Practice
of the Governance of Contractual Relations. Northhampton: Edward Elgar Publishing, 2013,
p. 7.
70 Dados obtidos na página oficial do Airbnb, disponível em https://www.airbnb.com.br/
78 about/about-us.
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encontrar. É preciso deixar claro que, via de regra, a plataforma não vende
nada. A sua atividade se limita a intermediar o produtor que oferta e o consu-
midor que demanda, utilizando de ferramentas tecnológicas para reduzir os
custos de transação e tornar mais rápido, fácil e ágil tais transações.
Neste contexto, é curioso observar que o mesmo Estado que falhou na missão
de criar um mercado saudável e que estivesse comprometido em promover
a redução dos custos de transação, agora vislumbra uma oportunidade de
tributar a solução criada pelo mercado. De toda forma, a investigação aqui
empreendida não se volta contra a tributação incidente sobre as plataformas.
Em verdade, o que o presente artigo pretende demonstrar é que dentro
do contexto de um novo mercado mediado por plataformas, é preciso
compreender adequadamente a noção de receita e lucros tributáveis como se
passa a demonstrar a seguir.
80
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74 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 4 ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2012, p. 228.
75 PAULSEN, Leandro. Curso de Direito Tributário Completo. 4 ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2012, p. 228. 81
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76 VELLOSO, Carlos Mário da Silva. Temas de Direito Público. Belo Horizonte: Del Rey,
82 1998, p. 378.
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A Suprema Corte foi instada a se pronunciar sobre o conceito de receita bruta para
o fim de interpretar o artigo 195 quando do julgamento do RE n° 606.107. Na
oportunidade, a Relatora, Mina Rosa Weber estabeleceu a seguinte orientação:
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81 Art. 208. A receita bruta compreende ( Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 12, caput ):
I - o produto da venda de bens nas operações de conta própria;
II - o preço da prestação de serviços em geral;
III - o resultado auferido nas operações de conta alheia; e
IV - as receitas da atividade ou do objeto principal da pessoa jurídica não compreendidas no
inciso I ao inciso III do caput .
§ 1º A receita líquida será a receita bruta diminuída de ( Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art.
12, § 1º ):
I - devoluções e vendas canceladas;
II - descontos concedidos incondicionalmente;
III - tributos sobre ela incidentes; e
IV - valores decorrentes do ajuste a valor presente, de que trata o inciso VIII do caput do art. 183
90 da Lei nº 6.404, de 1976 , das operações vinculadas à receita bruta.
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Além disso, pode-se dizer que o montante retido não faz parte do faturamen-
to da empresa, podendo ser equiparado, inclusive, a um insumo, uma vez
que é imprescindível para a atividade da empresa, conforme precedente do
Superior Tribunal de Justiça:
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O caminho percorrido até aqui pode fazer parecer que a questão é singela
e não há controvérsia sobre o tema, o que seria um equívoco. Ao contrário,
a confusão sobre o adequado tratamento tributário aos negócios mediados
por plataformas está sendo submetido ao Poder Judiciário, o que evidencia
a divergência de interpretações. Tendo em vista este panorama, alguns
estabelecimentos impetraram Mandados de Segurança buscando que o
Fisco cessasse esta absurda exigência. E o Poder Judiciário vem dando
razão aos contribuintes, como demonstrado no Processo nº 1048374-
15.2021.4.01.3400, oriundo do Tribunal Regional Federal da 1ª Região:
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É preciso saudar e enaltecer os benefícios que o desenvolvimento tecnológico
e econômico é capaz de proporcionar. Fruto da invenção humana, as plata-
formas de vendas ou “market places” reduzem os “custos de transação” e via-
bilizam que mais negócios possam ser realizados, permitindo que ofertantes e
demandantes sejam satisfeitos com o mínio de fricção possível.
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REFERÊNCIAS
ABRAVAMOVAY, Ricardo. A economia híbrida do século XXI. In: COS-
TA, Elaine e AGUSTINI, Gabriela (org). De baixo para cima. Disponível
em http://www.livro.debaixoparacima.com.br/aA economiaAhibridaAdoA-
seculoAxxi/.
COASE, Ronald H. The firm, the Market and the Law. Chicago: The univer-
sity of Chicago Press, 1990, p. 53.
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Abstract: The article addresses the potential systemic limits to including digital
platforms as taxpayers of the Goods and Services Tax (IBS) and the Contribution
on Goods and Services (CBS). The debate is relevant as the Tax Reform intro-
duced such a possibility in Article 156-A §3 of the Federal Constitution. The text
argues that although platforms may play a significant role in tax collection, attrib-
uting them the position of true direct contributors may be questionable. Instead,
it proposes their designation as tax liable entities, subject to duties of collaboration
with tax administration. However, this responsibility would only be justified if
there is a factual situation where the platform has access to the necessary data
to determine the tax, as well as the actual capacity to contribute; or a causal link
between the platform’s failure to fulfill these duties and the lack of tax collection
by the suppliers.
1. INTRODUÇÃO
83 Mais especificamente, é relatado que 168 (cento e sessenta e oito) países adotaram o sistema
IVA. Notícia disponível em: https://www.insper.edu.br/noticias/reforma-tributaria-endeav-
our-aprender-168-paises/. Acesso em: 08 março 2024.
84 Em alguns países recebe o nome de GST, Good and Service Tax, opção essa a que se aprox-
imou o Brasil ao estabelecer o IBS, Imposto sobre Bens e Serviços. 101
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86 Sobre a adoção de sistema IVA de tributação em Estado Federativo, levantamento feito por Lina Santin
Braga Cooke identificou que de aproximadamente 30 países no Mundo que adotam a forma federativa de
Estado, apenas 2 utilizam o IVA dual (Canadá e Índia) e relativamente aos demais, ao menos 16, possuem
IVA unificado (dentre eles: Alemanha, Argentina, Australia, Austria, Bélgica, Bosnia e Herzegovina, Emi-
rados Árabes, Etiópia, México, Nepal, Nigéria, Paquistão, Rússia, Sudão, Suíça e Venezuela). Cooke, Lina
Santin Braga. (2020). A Unificação da Tributação sobre o consumo e o pacto federativo brasileiro. [Disser-
tação de Mestrado]. Fundação Getúlio Vargas, p. 93.
87 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023. 534 f. Tese
(Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023, fls. 340 e ss..
88 Aqui pelo quanto disposto no §16 do art. 195 da Constituição Federal
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Para que possamos trazer algumas luzes a essa questão, buscaremos primei-
ramente entender o contexto internacional dessa tendência, movimento esse
necessário a uma compreensão mais holística no nosso sistema em um con-
texto de complexidade digital. Munidos desse olhar crítico, aí sim ingressare-
mos no exame do nosso sistema.
103
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2. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS DE
RESPONSABILIZAÇÃO DAS PLATAFORMAS
DIGITAIS
89 Essa expressão significa a redefinição de estratégias regulatórias mais adaptadas a uma reali-
dade global, que traz consigo atores adicionais produtores de normas. Referimo-nos aos organ-
ismos internacionais e aos relatórios e recomendações (soft laws) por eles elaborados. É impor-
tante alertar que, embora não se tratem de diplomas que tenham força cogente, a importância
política dos atores envolvidos em sua elaboração, assim como o mecanismo (dialogal) em que
são construídos, torna suas diretrizes altamente receptíveis pelos Estados de forma geral. Dado
o objetivo do presente artigo não desenvolveremos o presente tópico aqui, mas já tivemos a
oportunidade de falar um pouco mais sobre em outros textos: UHDRE, Dayana de Carvalho.
Breves notas sobre a proposta brasileira de regulamentação dos criptoativos à luz das experiên-
cias internacionais de Japão, Suíca, Mata e Liechtenstein. In: GOMES, Daniel et. al. (coord,).
Criptoativos, Tokenização, Blockchain, Metaverso: aspectos filosóficos, tecnológicos, jurídicos,
econômicos. São Paulo: Thompsons Reuters Brasil, 2022 p. 501-530; UHDRE, Dayana de
Carvalho. Realidade Digital, Tributação Indireta e Tendências Internacionais: o que a block-
chain tem (ou pode ter) com isso? In: CRAVO, Daniela Copetti et al. (coord.) Direito Público
104 e Tecnologia. Indaiatuba: Editora Foco, 2022, p. 177-200.
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Eis o mote pelo qual a OCDE tem buscado, desde o final da década de 199090,
quando da realização da Conferência de Ottawa, trazer à lume debates que visem
propor direcionamentos para que os sistemas nacionais adaptem os sistemas de
tributação à era do consumo de intangíveis - tendencialmente globais. Dois são
os principais pontos de atenção, identificados pelo referido organismo, a serem
endereçados pela comunidade internacional. O primeiro é quanto ao estabeleci-
mento do critério a ser observado para fins de atribuição de competência tributária
a um dos países envolvidos nas operações transfronteiriças. E, o segundo é o rela-
tivo a como se estruturar métodos de recolhimento que assegurem seja o imposto
vertido ao país eleito como o competente. Trata-se aqui de se buscar garantir o
enforcement arrecadatório, e lá de se atingir consenso internacional no debate rela-
tivo a eleição do princípio da origem ou do destino como critério definidor do país
competente ao recolhimento do imposto indireto incidente sobre as operações de
consumo internacionais.
Passadas quase três décadas foram aprovadas as Diretrizes IVA91, documento in-
ternacional cujo objetivo é justamente o de se estabelecer as orientações discutidas
e acordadas no âmbito da OCDE a fim de adaptar os sistemas de tributação so-
bre o consumo justamente nos dois pontos acima mencionados. Relativamente ao
primeiro ponto, optou-se pelo princípio do destino, no qual a competência para
tributar o consumo é atribuída ao país em que o adquirente está estabelecido, res-
idente ou domiciliado, por ser ele o mais adequado para fins de observância à
concorrência e livre mercados no cenário global. Já quanto à segunda questão, são
sugeridas medidas de enforcement distintas para os casos de transações B2B e B2C.
Para operações B2B, desde que compatível com os sistemas internos dos países,
é sugerido o diferimento do IVA: ao invés de o fornecedor ser responsável pelo
acertamento e pagamento do imposto perante o Estado competente, tal atribuição
passa a ser do adquirente. Já nas operações B2C, tendo em conta que é ao fornece-
dor - não estabelecido no país de destino - que compete verter os valores de IVA,
é sugerido que se estruturem regimes jurídicos simplificados a fim de estimular o
compliance voluntário.
90 Desde a Conferência de Ottawa, de 1998, e tendo por pano de fundo o avanço do e-com-
merce, os países se debruçam sobre como se adaptar e harmonizar os sistemas jurídicos de IVA
a fim de se garantir a tributação do comércio transfronteiriço de intangíveis em uma única ju-
risdição, bem como que se observe os princípio da neutralidade e livre-concorrência no mercado
mundial, da eficiência, da efetividade e equidade, da certeza e simplicidade, e da flexibilidade.
OECD(1998). Electronic Commerce: Taxation Framework Conditions. A Report by the Com-
mittee on Fiscal Affairs. Disponível em: https://www.oecd.org/ctp/consumption/1923256.pdf.
Acesso em 14 out. 2023; OECD (2001). Taxation and Electronic Commerce: Implementing the
Ottawa Taxation Framework Conditions. OECD Publishing, Paris. Disponível em: https://doi.
org/10.1787/9789264189799-en. Acesso em 14 nov. 2022.
90 OECD (2017). International VAT/GST Guidelines. OECD Publishing, Paris, https://doi.
org/10.1787/9789264271401-en. Acesso em 15 out. 2023. 105
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Essa última sugestão, para além de trazer inúmeros riscos, não é, na opinião do
próprio grupo de trabalho formado para auxiliar a elaboração do documento in-
ternacional (Diretrizes IVA), a melhor solução a longo prazo92 . Daí porque no-
vas proposituras advindas da continuidade das discussões e estudos foram trazida
à tona. Mais especificamente, fora constatado pelos especialistas a centralidade
crescente do papel das plataformas nesse novo cenário de comércio digital, razão
pela qual as propostas mais recentes da OCDE têm sugerido seja a esses atores
atribuído, integralmente ou subsidiariamente, a responsabilidade pelo cálculo e
recolhimento dos impostos93.
É dizer, as plataformas digitais seriam terceiros, agentes não realizadores das hipó-
teses de incidência do imposto sobre o consumo, e por não serem protagonistas
dos eventos que configuram fato-signo presuntivo de riqueza, não deteriam eles
a “capacidade contributiva” apta a legitimar a pretensão exacional do Fisco. Daí
porque se atribuir a terceiro não realizador da hipótese de incidência tributária a
responsabilidade pelo recolhimento tributário é algo que se deve fazer com parci-
mônia e dentro dos limites dos sistemas jurídicos. Não por outra razão, a OCDE
pontuou no Relatório “The Role of Digital Platforms in the Collection of VAT/
GST on Online Sales” ser necessário eleger indicadores que autorizem a presunção
de que as plataformas estariam em condições fáticas que lhes possibilitem cum-
prir com o regime de responsabilidade imputado. Mais especificamente, consta no
relatório ser razoável supor que a plataforma estará em condições de cumprir com
as obrigações de IVA, assumindo a responsabilidade exclusiva, se: (i) detiver ou
tiver acesso a informações suficientes e precisas conforme necessário para cumprir
com as obrigações de IVA pertinentes às operações que facilitam; e (ii) tenha meios
para cobrar o IVA relativo ao fornecimento.
92 OECD (2000). Report by the Technology Technical Advisory Group; OECD (2001). WP9
Report.
93 OECD (2019). The Role of Digital Platforms in the Collection of VAT/GST on Online
Sale. OECD Publishing, Paris. Disponível em: https://doi.org/10.1787/e0e2dd2d-en. Acesso
106 em 16 out. 2023.
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94 Vide dentre outros: SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de Direito Tributário. São Paulo: Resenha
Tributária; Carvalho, 1975. CARVALHO, Paulo de Barros.Curso de Direito Tributário (26ª ed.). Saraiva:
São Paulo, 2015; TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário (16ª ed.). Rio de Janei-
ro: Renovar, 2009; COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro (9ª ed.). Rio
de Janeiro: Forense, 2008; GRUPENMACHER, Betina Treiger. Artigo 122. In Fábio Artigas Grillo; Roque
Sérgio D’Andrea Ribeiro da Silva. Código Tributário Nacional Anotado. Curitiba: Ordem dos Advogados
do Brasil – Seção Paraná, 2014. Disponível em: http://www2.oabpr.org.br/downloads/ctn_v2.pdf
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95 SVide: STJ, REsp nº 1.036.375/SP, Relator: Ministro LUIZ FUX, Primeira Seção, julgado em
11/03/2009, DJ 30/03/2009; STJ, 2ª Turma,STJ.Resp 86465/RS, Relator Ministro Ari Pargendler, jul-
gado em 05/09/1996, DJ 07/10/1996; TJ, 1ª Turma, Resp 503.406/SC, Rel. TEORI ZAVASCKI julgado
em 06/11/2003, Dje 15/03/2004; STJ, 2ª Turma, Resp1229308/MG, Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, julgado em 22/02/2011, DJ2 04/03/2011; STF; RE 603191, Relator(a): ELLEN GRACIE,
Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-170 DIVULG 02-09-
2011 PUBLIC 05-09-2011 EMENT VOL-02580-02 PP-00185; STF. VRE 603191, Relator(a): ELLEN
GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 01/08/2011, REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-170 DI-
VULG 02-09-2011 PUBLIC 05-09-2011 EMENT VOL-02580-02 PP-00185;
96 JUSTEN FILHO, Marçal. Sujeição Passiva Tributária. Belém: CEJUP, 1986.
109
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No entanto, ainda que justificável não significa que a imputação de deveres for-
mais, atrelados à arrecadação fiscal, a pessoas não realizadoras das hipóteses de
incidência, seja legítima, em qualquer circunstância. A praticabilidade fiscal – in-
tentada com essa exigência de colaboração – deve ser sopesada a outros princípios
existentes no sistema jurídico (razoabilidade, proporcionalidade). E é nesse con-
texto que ganha relevância a concepção de capacidade colaborativa enquanto fun-
damento e limite à instituição de obrigações instrumentais ou de substituição ou
responsabilidade tributárias. Em suma, trata-se de atribuir deveres apenas àqueles
que, pelas suas situações fáticas, detenham condições de contribuir (seja prestando
informações, exigindo o pagamento do tributo pelo contribuinte ou mesmo reten-
do o valor devido, por exemplo) para com a Administração fiscal.
110
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Inicialmente, é de se pontuar que a própria OCDE salienta ser necessário eleger in-
dicadores que autorizem a presunção de que as plataformas estariam em condições
fáticas que lhes possibilitem cumprir com o regime de responsabilidade imputado,
mormente o integral. Mais especificamente, consta no relatório ser razoável supor
que a plataforma estará em condições de cumprir com as obrigações de IVA, as-
sumindo a responsabilidade exclusiva, se: (i) detiver ou tiver acesso a informações
suficientes e precisas conforme necessário para cumprir com as obrigações de IVA
pertinentes às operações que facilitam; e (ii) tenha meios para cobrar o IVA relativo
ao fornecimento.
112
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Não é esse o caso das plataformas: nem sempre elas estarão de fato no outro lado
da relação negocial subjacente ao consumo, ou ainda deterão em suas mãos – justa-
mente por não estarem em nexo jurídico aos consumidores – os valores expressivos
113
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dessa manifestação de riqueza. Logo, não nos parece adequada, sob a perspectiva
da simplicidade e certeza, atribuir às plataformas a posição própria de contribuin-
te dos tributos justamente porque, diferentemente dos fornecedores, esses atores
muitas vezes não estarão conectados – negociavelmente – aos consumidores, e à
manifestação de riqueza por eles expressadas no gasto com bens e serviços99.
99 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023.
534 f. Tese (Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023.
100 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023.
534 f. Tese (Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023.
101 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023.
114 534 f. Tese (Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023.
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Apenas nessa segunda hipótese nos parece ser possível sim imputar às plataformas
digitais a responsabilização por substituição, atribuindo a elas o dever de recolher-
em o imposto sobre intangíveis devidos pelas operações que intermediam. Já rela-
tivamente à primeira hipótese (plataformas detêm as informações das transações,
mas não o acesso aos valores relativos às operações de consumo), em que pese não
elegível ao regime de responsabilização exclusiva, duas ordens de questionamentos
nos parecem dignos de comentários. Uma primeira consistente em se identificar
algum outro papel passível de ser imputado a esses agentes intermediários, em prol
da facilitação do recolhimento fiscal, e uma segunda, relacionada à possibilidade
de se imputar às processadoras de pagamentos, por deterem acesso aos valores
objeto da tributação sobre o consumo, a obrigação de reterem os valores devidos e
repassá-los ao Fisco, em substituição aos contribuintes.
102 Argentina, Colombia, Costa Rica, e Paraguai. OECD/WBG/CIAT/IDB (2021). VAT Digital Toolkit
for Latin America and the Caribbean, p. 154. Disponível em: https://www.oecd.org/tax/consumption/
vat-digital-toolkit-for-latin-america-and-the-caribbean.htm. Acesso em 16 out. 2023
103 Art. 156-A Lei complementar instituirá imposto sobre bens e serviços de competência dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios.
(...)
§ 3º Lei complementar poderá definir como sujeito passivo do imposto a pessoa que concorrer para a real-
ização, a execução ou o pagamento da operação, ainda que residente ou domiciliada no exterior (grifamos).
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104 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023. 534 f. Tese
(Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023.
105 Projeta-se que aproximadamente dois em cada três fornecimentos de produtos para o e-commerce sejam
feitos por meio de plataformas digitais - International Post Corporation (2017. IPC Online Shopper Sur-
vey 2017 reports. Disponível em: https://www.ipc.be/services/markets-and-regulations/cross-border-shop-
per-survey/2017. Acesso e 15 out. 2023. No Brasil, relatório da Ebit/Nielsen aponta que 78% do faturamen-
to total em e-commerce reside em varejistas de marketplace. E, dentre eles, 80% do mercado concentram-se
em 04 (quatro) plataformas principais: Mercado Livre (32%), Magazine Luiza (19%), B2W (19%), e Via
Varejo (11%) - EBIT/NIELSEN. Webshoppers 42ª edição, 2020. Disponível em: <https://myagmexpress.
com/downloads/Webshoppers_42.pdf>. Acesso em 14 nov. 2022.
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fácil observação. Já os itens (iii) e (iv) chamam a atenção ao fato de ser necessário
um nexo causal entre os deveres de colaboração exigidos das plataformas, o seu
descumprimento por parte desses intermediários e a ausência de recolhimento
dos tributos por parte dos contribuintes. Apenas se verificada tal interconexão é
que seria legítimo se exigir da plataforma – enquanto garante - o pagamento dos
tributos. Assim é que é para eventual imputação de responsabilidade subsidiária
das plataformas no âmbito da lei complementar do IBS e da CBS é necessário
que as hipóteses hipóteses aventadas observem certa correlação entre o dever de
colaboração imposto à plataforma (agir em prol do acertamento e/ou remover os
fornecedores inadimplentes; ou a realização de due diligence dos fornecedores, por
exemplo), o seu descumprimento e o resultado danoso ao erário (não pagamento
do tributo pelo contribuinte).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É prevista, na atual redação do 156-A § 3º c/c art. 195 § 16 da Constituição
Federal, a possibilidade de lei complementar estabelecer como sujeito passivo do
IBS e da CBS pessoa que concorrer para a realização, a execução ou o pagamento
da operação, ainda que residente ou domiciliada no exterior. Trata-se de pre-
visão que introduz no sistema brasileiro as orientações internacionais mais
recentes voltadas a adaptação dos sistemas de tributação indireta a era do con-
sumo digital. Mais especificamente, as plataformas digitais, dada a relevância
de seu papel no atual cenário de consumo em um contexto crescentemente
digital, são colocadas como atores centrais na lógica de responsabilização pelo
pagamento do IVA.
117
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Apertada síntese, defendemos que nosso sistema jurídico exige, como condição
de imputação de responsabilidade lato sensu, que os sujeitos a quem atribuído
tais deveres tenham a possibilidade de acesso aos valores representativos
da manifestação de riqueza que a previsão normativa intenta alcançar, ou
poder de influência significativo perante os contribuintes relativamente ao
adimplemento (por eles) das obrigações tributárias. Sem tais requisitos,
ilegítimo se atribuir responsabilidade tributária a qualquer terceiro, inclusive
às plataformas digitais intermediadoras das operações de consumo.
118
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106 UHDRE, Dayana de Carvalho. Tributação Indireta na Era Digital: E o Brasil Nisso? 2023.
534 f. Tese (Doutorado em Ciências Fiscais) - Universidade Católica de Lisboa, Lisboa, 2023. 119
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120
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, Paulo de Barros.Curso de Direito Tributário (26ª ed.). Sarai-
va: São Paulo, 2015;
International Post Corporation (2017. IPC Online Shopper Survey 2017 re-
ports. Disponível em: https://www.ipc.be/services/markets-and-regulations/
cross-border-shopper-survey/2017.
121
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em: https://doi.org/10.1787/9789264189799-en.
122
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123
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RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA
DOS MARKETPLACES PELO
RECOLHIMENTO DE ICMS EM
PLENA ECONOMIA DIGITAL
TAX RESPONSIBILITY OF MARKETPLACES
FOR THE COLLECTION OF ICMS IN THE
FULL DIGITAL ECONOMY
1. INTRODUÇÃO
A tributação na economia digital é um tema que vem ocupando bastante
espaço nas pautas atuais de discussões envolvendo o direito tributário. Não
é por acaso que controvérsias envolvendo a forma de tributar determinados
bens ou serviços digitais têm sido debatidas em painéis de recentes congressos
e seminários que trataram sobre as questões mais relevantes sobre tributação.
Dentre os temas discutidos sobre tributação na economia digital, a reflexão
sobre a responsabilidade tributária das plataformas digitais (marketplaces)
tem ganhado um espaço especial.
107 Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e Bacharel em
Ciências Contábeis no Centro Universitário Ritter do Reis (UniRitter). Pós-graduado em di-
reito tributário pelo Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter) e em Direito do Estado
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente está cursando Especial-
ização em Direito Tributário no Instituto Brasileiro de Direito Tributário (IBET). Já recebeu
as seguintes premiações e distinções: Láurea Acadêmica do Curso de Bacharelado em Direito;
Prêmio Justino Vasconcellos pela Escola Superior da Advocacia da Ordem dos Advogados do
Brasil do Rio Grande do Sul (ESA OAB/RS); premiação de “Honra ao Mérito” de Cidadão pela
Câmara de Vereadores de Porto Alegre/RS; premiação pelo primeiro lugar no XII Concurso
de Monografia da FESDT; e Láurea de Agradecimento da OAB/RS, pelos serviços prestados
124 à advocacia.
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125
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108 Segundo Luís Aires, as plataformas de marketplace alteraram a forma de agregar valor ao processo
produtivo, introduzindo uma espécie de “modelo de negócios multilateral”, em que o fornecedor e o consu-
midor se tornam tomadores dos serviços de marketplaces ofertados pela plataforma (AIRES, Luís. O labir-
into tributário na nova economia: da transformação digital à odisseia fiscal. Julgar On-line, jul. de 2019.
Disponível em < https://julgar.pt/wp-content/uploads/2019/07/20190710-O-Labirinto-Tribut%C3%A1r-
io-na-Nova-Economia-Lu%C3%ADs-Aires.pdf >. Acesso em 12 de jan. 2024. p. 07.
109 UHDRE, Dayana de Carvalho. Marketplace: possibilidades e limites à sua responsabilização no âmbito
da tributação indireta. Revista de Direito Tributário Atual nº 48, ano 39, São Paulo: IBDT, 2º quadrimestre
de 2021, p. 134-151. p. 137.
110 European Union. Diretiva (EU) nº 2017/2455 do Conselho. Disponível em .< https://eur-lex.europa.
eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:02017L2455-20171229&from=EN >. Acesso em 02 de dez.
2023.
111 European Union. Diretiva (EU) nº 2019/1995 do Conselho. Disponível em < https://eur-lex.europa.eu/
legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32019L1995&from=EN >. Acesso em 10 de dez. 2023.
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Nesse cenário, o deemed supliers pode ser conceituado como um sujeito pas-
sivo tributário, cuja função é a de facilitar as vendas de bens importados de
territórios de terceiros em remessa não superiores a EUR 150 (cento cinquenta
Euros), ou quando houver a entrega de bens dentro da Comunidade Europeia
por alguém não estabelecido na Comunidade a uma pessoa que não seja sujei-
to passivo do IVA. Todavia, para ser considerado deemed supliers a plataforma
precisa ter uma vinculação substancial com a operação comercial realizada113.
112 European Commission. Taxation and custom Union. Online electronic interfaces. Disponível em: <
https://taxation-customs.ec.europa.eu/online-electronic-interfaces_en >. Acesso em: 08 de dez. 2023.
113 Nesse sentido, esclarecendo o conceito de deemed supliers, Fabiana Carsoni Fernandes explica que:
“Considera-se deemed supplier o sujeito passivo que facilitar, mediante a utilização de uma interface
eletrônica, vendas de bens importados de territórios terceiros ou de países terceiros em remessas de valor
não superior a EUR 150 (cento e cinquenta euros); ou quando houver a entrega de bens dentro da Comu-
nidade Europeia por alguém não estabelecido na Comunidade a uma pessoa que não seja sujeito passivo do
IVA. Contudo, não basta o cumprimento desses requisitos para que o marketplace seja qualificado como
deemed supplier. Faz-se necessário que sua atuação no negócio seja substancial. Ou seja, não basta mínima
vinculação da plataforma digital com a transação. Tal vinculação, repita-se, deve ser substancial” (FER-
NANDES, Fabiana Carsoni. Responsabilidade Tributária de Marketplaces pelo ICMS: Contexto e Limites.
In: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de; ZILVETI, Fernando Aurélio; SILVEIRA, Rodrigo Maito da; AN-
DRADE, José Maria Arruda de; FERNANDES, Fabiana Carsoni; CARAMICO, Mara Eugênia Buonan-
no (coord.). Anais do 8º Congresso Brasileiro de Direito Tributário Atual IBDT/DEF-FD-USP/AJUFE/
AJUFESP: Desafios do Sistema Tributário: igualdade, legalidade e repartição de encargos. São Paulo: IBDT,
2023. p. 224-238. p. 225).
114 No original: “A taxable person, i.e. an electronic interface, is not considered as facilitating the supply,
if: a) he does not set, either directly or indirectly, any of the terms and conditions under which the supply
of goods is made (see section 2.1.6.1); and b) he is not, either directly or indirectly, involved in authorising
the charge to the customer in respect of the payment made (see section 2.1.6.2); and c) he is not, either
directly or indirectly, involved in the ordering or delivery of the goods (see section 2.1.6.3)” ((Taxation
and customs Union. Explanatory notes on VAT e-commerce rules. European Union: Indirect Taxation
and Tax administration – Value Added Tax, setembro 2020. Disponível em:< https://vat-one-stop-shop.
ec.europa.eu/system/files/2021-07/vatecommerceexplanatory_notes_28102020_en.pdf. >. Acesso em: 15
de jan. 2024. p. 17).
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115 No original: “The deemed supplier provision does also not apply to the following activities
(see section 2.1.7 for more details): a) the processing of payments in relation to the supply of
goods; b) the listing or advertising of goods; c) the redirecting or transferring of customers to
other electronic interfaces where goods are offered for sale, without any further intervention in
the supply” (Taxation and customs Union. Explanatory notes on VAT e-commerce rules. Eu-
ropean Union: Indirect Taxation and Tax administration – Value Added Tax, setembro 2020.
Disponível em:< https://vat-one-stop-shop.ec.europa.eu/system/files/2021-07/vatecommerce-
explanatory_notes_28102020_en.pdf. >. Acesso em: 15 de jan. 2024. p. 17)
116 FERNANDES, Fabiana Carsoni. Responsabilidade Tributária de Marketplaces pelo
ICMS: Contexto e Limites.In: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de; ZILVETI, Fernando Aurélio;
SILVEIRA, Rodrigo MAito da; ANDRADE, José MAria Arruda de; FERNANDES, Fabiana
Carsoni; CARAMICO, Mara Eugênia Buonanno (coord.). Anais do 8º Congresso Brasileiro
de Direito Tributário Atual IBDT/DEF-FD-USP/AJUFE/AJUFESP: Desafios do Sistema
117 CASTELLO, Melissa Guimarães. Um novo IVA?: os tributos sobre o consumo e a econo-
128 mia digital. 1 ed. São Paulo: Noeses, 2021. p. 221.
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3. A RESPONSABILIZAÇÃO
DOS MARKETPLACES NO BRASIL
Embora a Europa já venha discutindo há muitos anos a responsabilidade dos
marketplaces na tributação, evoluindo bastante nesse aspecto, a realidade
brasileira é completamente diversa. E não se fale aqui em falta de estudos
sobre o assunto, mas em debates em um cenário diverso. Isso porque a trib-
utação brasileira adota um sistema tributário completamente diferente do eu-
ropeu, em que são muito bem limitadas as operações envolvendo mercadorias
e serviços e que são submetidas a apenas uma incidência tributária pelo IVA.
Diferentemente da realidade europeia, o Brasil possui um sistema tributário
que, além de não ser bem esclarecido quanto ao que seja operações envolven-
do “prestação de serviços” e “circulação de mercadoria”, ainda tais atividades
atraem a tributação de dois tributos diferentes, cuja competência também é
de Entes Federativos diferentes, conforme pode ser visto abaixo:
118 FERNANDES, Fabiana Carsoni. Responsabilidade Tributária de Marketplaces pelo
ICMS: Contexto e Limites. In: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de; ZILVETI, Fernando Aurélio;
SILVEIRA, Rodrigo Maito da; ANDRADE, José Maria Arruda de; FERNANDES, Fabiana
Carsoni; CARAMICO, Mara Eugênia Buonanno (coord.). Anais do 8º Congresso Brasilei-
ro de Direito Tributário Atual IBDT/DEF-FD-USP/AJUFE/AJUFESP: Desafios do Sistema
Tributário: igualdade, legalidade e repartição de encargos. São Paulo: IBDT, 2023. p. 224-238.
p. 227-228. 129
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119 Na esfera judicial, o Supremo Tribunal Federal, proferiu Acórdão no sentido da incon-
stitucionalidade da incidência do ISS sobre a locação de bens móveis, por não se amoldar a lo-
cação ao conceito de serviço, pois não se caracterizaria como “obrigação de fazer” e, consequen-
temente, não se sujeitaria à incidência do ISS na medida em que o conceito de serviço decorreria
do Direito Privado ((Recurso Extraordinário nº 116.121-3/SP. Plenário. Relator Ministro Luiz
Octavio Pires de Albuquerque Gallotti. Redator para Acórdão Ministro Marco Aurélio Mendes
de Farias Mello. j. 11.10.00. p. 25.05.01).
120 FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade Tributária e o Código Civil de 2002. São
130 Paulo: Editora Noeses, 2005. p. 218.
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121 A questão foi discutida no julgamento conjunto das Ações Diretas de Inconstitucionalidade nº 5659
e nº 1945.
122 BRASIL. Convênio ICMS nº 106/2017. Disponível em: < https://www.confaz.fazenda.gov.br/
legislacao/convenios/2017/CV106_17#:~:text=Disciplina%20os%20procedimentos%20de%20co-
bran%C3%A7a,sa%C3%ADda%20destinada%20ao%20consumidor%20final. >. Acesso em: 12 jan. de
2024.
123 Conforme consta no Convênio ICMS nº 106/2017:
“Cláusula quinta: Nas operações de que trata este convênio, as unidades federadas poderão atribuir a re-
sponsabilidade pelo recolhimento do imposto:
I - àquele que realizar a oferta, venda ou entrega do bem ou mercadoria digital ao consumidor, por meio de
transferência eletrônica de dados, em razão de contrato firmado com o comercializador;
II - ao intermediador financeiro, inclusive a administradora de cartão de crédito ou de outro meio de pag-
amento;
III - ao adquirente do bem ou mercadoria digital, na hipótese de o contribuinte ou os responsáveis descritos
nos incisos anteriores não serem inscritos na unidade federada de que trata a cláusula quarta;
IV - à administradora de cartão de crédito ou débito ou à intermediadora financeira responsável pelo
câmbio, nas operações de importação”.
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Nesse mesmo sentido, cabe destacar que o artigo 128 do CTN125 dispõe
que a lei estadual somente pode eleger à categoria de responsável tributário
terceiro que de alguma forma encontra-se conexo ao fato jurídico tributário e
cujos atos ou omissões concorrerem126 para o não recolhimento do ICMS127.
Assim, essa matéria está constitucionalmente reservada a lei complementar,
razão pela qual não poderia um mero Convênio tratar do assunto, tampou-
co poderia uma lei estadual disciplinar o tema, já que o assunto, repita-se,
está reservado a lei complementar. Para exemplificar, apresenta-se o esquema
133
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4. A RESPONSABILIDADE
TRIBUTÁRIA NA CONSTITUIÇÃO E
NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL
De acordo com o art. 121, parágrafo único, inciso I, do Código Tributário Na-
cional, o contribuinte é quem detém “relação pessoal e direta com a situação que
constitua o respectivo fato gerador”. Logo, a cobrança do tributo deve ser realizada
diretamente ao indivíduo praticante do fato gerador, surgindo, assim, o sujeito pas-
sivo direto da relação jurídica tributária. No entanto, há determinadas situações
nas quais poderá haver a presença de um terceiro responsável tributário, caracter-
izado como alguém que não detém relação pessoal e direta com a situação que
constitua o respectivo fato gerador (art. 121, parágrafo único, inciso II, do CTN).
Essa situação caracteriza a responsabilidade tributária do sujeito passivo indireto,
prevista no art. 128 do Código Tributário Nacional, que pode ser dividida da
seguinte forma:
Como pode ser observado, diferentemente dos outros ramos jurídicos, a responsa-
bilidade tributária não decorre necessariamente de um ato ilícito, mas de alguma
circunstância que pode ser lícita ou ilícita, mas prevista em lei. Todavia, o legis-
lador não está livre para escolher a seu critério quem será responsável tributário,
devendo se atentar a outorga de competência, selecionando-os conforme o vínculo
ligado com as circunstâncias previstas no critério material da regra-matriz de in-
134
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cidência tributária128. Isto é, somente poderá figurar como sujeito passivo quem
tiver relação, ainda que indireta, com o fato jurídico praticado129.
Por essa razão que o artigo 128 do CTN somente permite que a lei eleja um tercei-
ro como sujeito passivo se ele tiver vinculação com o fato gerador. Nesse sentido,
Maria Rita Ferragut130, ao analisar o liame entre o responsável tributário e real-
izador do fato gerador, explica que essa relação de responsabilidade tributária de-
manda a vinculação do terceiro apenas ao fato imponível e não ao sujeito passivo.
Logo, o critério definidor que permite que o legislador estabeleça uma hipótese de
responsabilidade tributária é o vínculo entre o responsável tributário e fato gerador.
Todavia, esse vínculo deve ser apto a permitir, nas palavras de Luciano da Silva
Amaro, que “o tributo seja recolhido sem onerar seu próprio bolso”131.
128 ROSA, Iris Vânia Santos; ZOMER, Silvia Regina; MELO, Ísis Ariana Castro de. Re-
sponsabilidade dos marketplaces pelo recolhimento do ICMS em tempos de economia digital.
In: CARVALHO, Paulo de Barros (corrd.). XX Congresso Nacional de Estudos Tributários:
direito tributário, fundamentos jurídicos da incidência. 1 ed. São Paulo: Noeses, 2023. p. 613-
644. p. 621.
129 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: Linguagem e método. 6 ed. São Paulo:
Noeses, 2015. p. 651.
130 FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária. 4 ed. Ver., atual. e ampl. São Paulo:
Noeses, 2020. p. 19.
131 AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2004,
p. 304-305
132 FULGINITI, Bruno Capelli. O papel dos marketplaces na tributação do e-commerce:
entre responsabilidade tributária e cooperação fiscal. In: BARRETO, Paulo Ayres (coord.) Es-
tudos tributários sobre a economia digital. São Paulo: Noeses, 2021. p. 186. 135
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pode ser considerada uma prestação de serviço para os fornecedores e seus consu-
midores realizarem as atividades econômicas de compra e venda. Desse modo, não
há vinculação da cessão de um espaço com o fato gerador do ICMS que ocorre na
compra e venda.
Não se ignora que há dois tipos de atuação dos marketplaces quando se fala no
fluxo de valores: (i) fluxo interno, em que a plataforma recebe a integralidade da
quantia paga pelo comprador, abatendo sua comissão no momento em que repassa
o valor atribuído ao vendedor ou prestador de serviço, a exemplo do que ocorre com
a Uber ou a Airbnb; e (ii) fluxo externo, em que a quantia é destinada ao fornecedor
do produto ou prestador de serviço diretamente, ao qual se encarrega de repassar a
comissão à plataforma após a operação, como acontece com BlaBlaCar133. Logo, a
diferença entre as duas formas de operação ficaria da seguinte forma:
Nesse contexto, o fluxo de valores interno pode até levar a pensar que os mar-
ketplaces possuem poder para exigir a emissão de notas fiscais e o recolhimento
efetivo do tributo, mas, ao contrário do que se pensa, mesmo que as plataformas
possam reter o valor de comissão, ela não pode reter um valor maior do lhe é devi-
do, isto é, o valor referente aos tributos, salvo se houver previsão legal, sob pena de
ser justamente apropriação indébita.
133 BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa Ude. Tributação na economia compartilhada. 2021.
Tese (Doutorado em Direito Econômico e Financeiro) – Faculdade de Direito, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2021. Doi: 10.11606/T.2.2021.tde-13072022-072330. Acesso em: 06 de
136 nov. de 2022. p. 112 -113.
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137
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134 FERNANDES, Fabiana Carsoni. Responsabilidade Tributária de Marketplaces pelo ICMS: Contexto
e Limites. In: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de; ZILVETI, Fernando Aurélio; SILVEIRA, Rodrigo Maito
da; ANDRADE, José Maria Arruda de; FERNANDES, Fabiana Carsoni; CARAMICO, Mara Eugênia
Buonanno (coord.). Anais do 8º Congresso Brasileiro de Direito Tributário Atual IBDT/DEF-FD-USP/
AJUFE/AJUFESP: Desafios do Sistema Tributário: igualdade, legalidade e repartição de encargos. São Pau-
lo: IBDT, 2023. p. 224-238. p. 231-232.
135 BRASIL. RE nº 603191, Relator(a): ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno, julgado em 01-08-2011, RE-
PERCUSSÃO GERAL, Publ. 05 set. 2011. Disponível em < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pagina-
dor.jsp?docTP=AC&docID=626982 >. Acesso em 16 de jan. 2024.
136 FERNANDES, Fabiana Carsoni. Responsabilidade Tributária de Marketplaces pelo ICMS: Contexto
e Limites. In: OLIVEIRA, Ricardo Mariz de; ZILVETI, Fernando Aurélio; SILVEIRA, Rodrigo Maito
da; ANDRADE, José Maria Arruda de; FERNANDES, Fabiana Carsoni; CARAMICO, Mara Eugênia
Buonanno (coord.). Anais do 8º Congresso Brasileiro de Direito Tributário Atual IBDT/DEF-FD-USP/
AJUFE/AJUFESP: Desafios do Sistema Tributário: igualdade, legalidade e repartição de encargos. São Pau-
lo: IBDT, 2023. p. 224-238. p. 232.
137 BRASIL. EREsp nº 1.119.205/MG, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção, julgado em
27 de out. de 2010, publ. em 08 de nov. de 2010. Dispnível em < https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiro-
TeorDoAcordao?num_registro=201000278724&dt_publicacao=08/11/2010 >. Acesso em 14 de jan. 2024.
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138 BRASIL. EREsp nº 1.119.205/MG, relator Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Seção,
julgado em 27 de out. de 2010, publ. em 08 de nov. de 2010. Dispnível em < https://scon.
stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=201000278724&dt_publica-
cao=08/11/2010 >. Acesso em 14 de jan. 2024.
139 BRASIL. ADI nº 4845. Relator(a): Roberto Barroso, Tribunal Pleno, julgado em 13 de fev.
2020, publ. 04 de març. 2020. Disponível em < https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pagina-
dor.jsp?docTP=TP&docID=752131711 >. Acesso em 12 de jan. 2024.
139
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dade tributária pelo ICMS relativo a operações nas quais estes tivessem intervindo
“ativa ou passivamente, no cumprimento da referida obrigação”. De acordo com
os votos proferidos na sessão de julgamento, esse dispositivo violou a Constituição,
por instituir hipótese de responsabilidade tributária em desacordo com as pre-
scrições da legislação complementar, a evidenciar o caráter exaustivo e vinculante
dessas normas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando todo o estudo apresentado, conclui-se que a responsabilização
das plataformas de marketplaces por meio de lei estadual somente pode ser
permitida se houver conexão ao fato jurídico tributário e participação desses
intermediários para o inadimplemento do ICMS. Todavia, é inquestionável
a falta de vinculação dos marketplaces aos fatos geradores das transações que
intermedeia (isto é, fornecedor e consumidor), tampouco que as plataformas
colaboram para eventual inadimplemento de ICMS nessas operações
comerciais.
140
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Nesse sentido, o artigo 128 do CTN define que somente pode ser responsa-
bilizado o terceiro que está vinculado ao fato gerador do tributo e contribuiu
para seu inadimplemento. Portanto, não há que se falar em responsabilização
das plataformas de marketplaces pelo inadimplemento de ICMS, com base
na atual legislação tributária.
REFERÊNCIAS
AIRES, Luís. O labirinto tributário na nova economia: da transformação
digital à odisseia fiscal. Julgar On-line, jul. de 2019. Disponível em <
https://julgar.pt/wp-content/uploads/2019/07/20190710-O-Labirinto-
Tribut%C3%A1rio-na-Nova-Economia-Lu%C3%ADs-Aires.pdf >. Acesso
em 12 de jan. 2024.
AMARO, Luciano da Silva. Direito tributário brasileiro. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 2004.
141
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ROSA, Iris Vânia Santos; ZOMER, Silvia Regina; MELO, Ísis Ariana Cas-
tro de. Responsabilidade dos marketplaces pelo recolhimento do ICMS em
tempos de economia digital. In: CARVALHO, Paulo de Barros (corrd.). XX
Congresso Nacional de Estudos Tributários: direito tributário, fundamentos
jurídicos da incidência. 1 ed. São Paulo: Noeses, 2023.
143
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IMPACTOS REGULATÓRIOS E
FISCAIS NAS PLATAFORMAS DE
CROWDFUNDING
1. INTRODUÇÃO
O advento das tecnologias digitais trouxe consigo um leque de inovações que
desafiam as estruturas regulatórias tradicionais, criando um novo paradigma
econômico e social. Dentre essas inovações, as plataformas de crowdfunding
emergem como um mecanismo disruptivo de financiamento coletivo,
permitindo que projetos e ideias encontrem apoio financeiro direto de uma
comunidade diversificada de investidores. No entanto, essa modalidade de
financiamento, apesar de seu potencial transformador, encontra-se em uma
área cinzenta em termos de regulamentação e tributação, especialmente no
que tange à aplicação do Imposto Sobre Serviços.
140 Advogado empresarial. Pós-graduando em Direito dos Negócios pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Direito com Formação complementar em Em-
preendedorismo jurídico, ambos pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS). Sócio diretor da Fulginiti Advogados. E-mail: juliano@lawecapital.com.br.
141 Advogada tributarista. Pós-graduanda em Direito dos Negócios pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de
Estudos Tributários (IBET). Graduada em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do
144 Sul (UFRGS). Sócia da Magnus e Almeida Advocacia. E-mail: virginia@magnusalmeida.com
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146 PORTO, Éderson Garin. Manual jurídico da startup: como criar e desenvolver projetos
inovadores com segurança. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2018. p. 19-20.
147 BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução CVM 400. Rio de Janeiro: CVM,
2003. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst400.html. Acesso em:
04 mar. 2024.
148 FULGINITI, Juliano Nunes Pinto; COELHO, Giulliano Tozzi. Possibilidade de emissão
de debêntures por sociedade limitada. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, Revista de Direito
146 Privado, vol. 113/2022, p. 163.
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sentido foi a Instrução Normativa 476 de 2009149, que permitiu ofertas públi-
cas com esforços restritos, dispensando o registro na CVM150.
149 BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução CVM 476. Rio de Janeiro: CVM,
2009. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst476.html. Acesso em:
04 mar. 2024.
150 PEREIRA Filho, Valdir C.; HAENSEL, T. A Instrução CVM 476 e as ofertas públicas
com esforços restritos. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 45,
2009. p. 339.
151 BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução CVM 588. Rio de Janeiro: CVM,
2017. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/instrucoes/inst588.html. Acesso em:
04 mar. 2024.
152 RODRIGUES, Gabriela Wallau. Equity crowdfunding: contornos jurídicos, registro da
distribuição e proteção do investidor. In: LUPION, Ricardo; ESTEVEZ, André Fernandes
(Coord.). Fronteiras do Direito Empresarial. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015. p. 104.
153 BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Resolução CVM 88. Rio de Janeiro: CVM,
2022. Disponível em: https://conteudo.cvm.gov.br/legislacao/resolucoes/resol088.html. Acesso
em: 04 mar. 2024. 147
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3. MECANISMO DE FINANCIAMENTO
COLETIVO PELAS PLATAFORMAS
DE CROWDFUNDING
As plataformas de crowdfunding representam um avanço significativo na for-
ma como os projetos são financiados, ultrapassando as barreiras tradicionais
impostas pelo financiamento bancário e pelo mercado de capitais. Através da
internet, estas plataformas criam um ambiente onde a interação e a partici-
pação dos usuários ganham uma nova dimensão, permitindo o desenvolvi-
mento e a popularização de projetos nas mais diversas áreas. No entanto, essa
inovação vem acompanhada de incertezas jurídicas, particularmente devido
à falta de uma regulamentação específica que aborde as particularidades desse
modelo de negócio.
157 Veja-se, por exemplo, os termos de uso/serviço da plataforma CATARSE. Disponível em:
https://crowdfunding.catarse.me/legal/termos-de-uso; da plataforma EQSEED, Disponível
em: https://eqseed.com/termos-servico#:~:text=2.2.,expressa%20e%20escrita%20pela%20
EqSeed; e da plataforma Kickstarter. Disponível em https://legal.kickstarter.com/policies/
150 en/?name=terms-of-use.
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Embora essa perspectiva não seja universalmente aceita, Paulo de Barros Car-
valho158 articula que “Serviço” se define como a obrigação de executar uma
ação, manifestada por um esforço humano, tanto material quanto imaterial,
destinado ao benefício de terceiros. Para ele, essencialmente, “Serviço” deno-
ta um fazer, contrapondo-se a obrigações que se resumem somente à entrega
de um item já existente, quer de forma permanente ou temporária. Sob essa
ótica, o ISS (Imposto Sobre Serviços) não seria aplicável a casos que envolvam
unicamente a cessão de um bem existente. Portanto, segundo esta interpre-
tação, o uso de plataformas digitais escaparia da incidência do ISS por não se
enquadrarem estritamente como “serviço” sob essa definição.
158 CARVALHO, Paulo de Barros. Não-incidência do ISS sobre Atividades de Franquia (Fran-
chising). Direito Tributário Atual, n. 20. Disponível em: https://revista.ibdt.org.br/index.php/
RDTA/article/view/1550/1040. Acesso em: 3 mar. 2024. 151
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tributação das plataformas de crowdfunding, especialmente no que tange
ao Imposto Sobre Serviços (ISS), insere-se em um contexto marcado pela
complexidade, similar ao de outros temas que enfrentam desafios regulatórios
decorrentes do avanço tecnológico. A natureza intrinsecamente digital dessas
plataformas, aliada à sua capacidade de operar além das fronteiras geográfi-
cas tradicionais, coloca em evidência a dificuldade de aplicação de marcos
regulatórios concebidos em uma era pré-digital. A possibilidade de adoção
do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) na reforma tributária apresenta-se
como uma potencial solução para simplificar a identificação do sujeito ativo
tributário, ao menos em casos nos quais as operações das plataformas sejam
realizadas integralmente dentro do território nacional. Essa mudança poderia
facilitar a atribuição da responsabilidade tributária e a coleta do imposto dev-
ido, contribuindo para uma maior clareza e eficiência no processo tributário.
153
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Instrução CVM 400. Rio de
Janeiro: CVM, 2003. Disponível em: http://www.cvm.gov.br/legislacao/in-
strucoes/inst400.html. Acesso em: 04 mar. 2024.
154
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A INCIDÊNCIA DE IMPOSTO DE
RENDA SOBRE CRIPTOMOEDAS:
DA SUA NATUREZA CAMALEÔNICA
À EFETIVA INCIDÊNCIA TRIBUTÁRI
161 Mestre em Direito Tributário pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Master in
Law (LL.M) em Direito Corporativo pelo Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais – IBMEC. Especial-
ista em Gestão Tributária e Planejamento Tributário Estratégico pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul – PUCRS. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul – PUCRS. Bacharelando em Ciências Contábeis pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNIS-
INOS. Associado do Instituto Brasileiro de Direito Tributário – IBDT. Associado do Instituto de Estudos
Tributários – IET. Advogado em Porto Alegre/RS. Contato: bruno.guimaraes@rmmgadvogados.com.br
162 Mestre em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Especialista em
Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários – IBET. Bacharel em Direito pela Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. Advogado em Encantado/RS e Porto Alegre/
RS. Contato: guilherme@sandri.adv.br
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1. INTRODUÇÃO
O tema das criptomoedas tem ganho cada mais atenção mundo afora, muito
pelas suas repercussões econômicas e tecnológicas, visto se tratar de tema
altamente disruptivo e inovador. Verdadeiras babilônias de dinheiro são
movimentadas diariamente em transações envolvendo criptomoedas, dentre
as quais o Bitcoin ainda é a mais famosa e de maior notoriedade financeira,
tendo inclusive sido acatada como moeda nacional oficial.
157
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163 STEFFENS, Luana; TESSARI, Cláudio. A Tributação das Operações com Criptomoedas
no Brasil: o caso da bitcoin. In Revista de Direito Tributário Contemporâneo, vol. 30/2021
158 Jul – Set. de 2021, pp. 269-296.
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2. O CONCEITO DE RENDA
Conceituar renda para fins de direito tem se mostrado tarefa árdua, haja vista
que até o momento não há um consenso nem na doutrina e tampouco na
jurisprudência de qual seria o alcance que a expressão “renda e proventos de
qualquer natureza” teria para fins tributários.164
164 A dificuldade de tal tarefa é tamanha, que alguns doutrinadores argumentam pela im-
possibilidade de encontrar um conceito para o vocábulo renda. Neste sentido, é a doutrina de
Fernando Daniel de Moura Fonseca que leciona que “os conceitos de renda irão variar de acordo
com as premissas adotadas e com os objetivos perseguidos, de tal sorte que a pretensão de se
construir uma definição de renda que possa ser chamada de neutra ou de científica representa
apenas uma miragem.”. In: FONSECA, Fernando Daniel de Moura. Imposto sobre a renda:
uma proposta de diálogo com a contabilidade. Belo Horizonte: Fórum, 2020, p. 46
165 UHDRE, Dayana de Carvalho. Blockchain, Tokens e Criptomoedas: uma análise jurídica.
São Paulo, Almedina, 2021, p. 190. 159
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166 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda, vol. 1, São Paulo:
Instituto Brasileiro de Direito Tributário, 2020, p. 204.
167 SCHOUERI, Luís Eduardo. O mito do lucro real na passagem da disponibilidade jurídica
para a disponibilidade econômica. In: MOSQUERA, Roberto Quiroga e LOPES, Alexsandro
Broedel (coord.). Controvérsias jurídico-contábeis (aproximações e distanciamentos). São Pau-
lo: Dialética, 2010, p. 244
168 Ibidem, p. 245.
Visando superar as insuficiências que cada uma destas teorias possui quando
observada de forma isolada, tem-se que o Texto Constitucional, ao referir
que compete a União instituir imposto sobre a renda e proventos de qualquer
natureza,175 utilizou-se do conceito de renda observando tanto a teoria da
173 TIPKE, Klaus; YAMASHITA, Douglas. Justiça fiscal e princípio da capacidade contributiva. São Pau-
lo: Malheiros, 2002, p. 79-80.
174 Sobre o tema: SCHOUERI, Luís Eduardo; MOSQUERA, Roberto Quiroga. Manual da tributação
direta da renda. 2ª edição. São Paulo: IBDT, 2021, p. 14; SCHOUERI, Luís Eduardo. O mito do lucro
real na passagem da disponibilidade jurídica para a disponibilidade econômica. In: MOSQUERA, Roberto
Quiroga e LOPES, Alexsandro Broedel (coord.). Controvérsias jurídico-contábeis (aproximações e distanci-
amentos). São Paulo: Dialética, 2010, p. 243.
175 Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: (…) III - renda e proventos de qualquer natureza;
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176 Para Tipke e Yamashita “ao acrescentar a expressão ‘proventos de qualquer natureza’ o leg-
islador constituinte tomou a precaução de impedir uma interpretação restritiva do conceito de
renda, baseada na teoria da fonte” In: TIPKE, Klaus; YAMASHITA, Douglas. Op. Cit., p.82
177 Art. 43. O imposto, de competência da União, sobre a renda e proventos de qualquer
natureza tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica: I - de
renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; II - de
proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreen-
didos no inciso anterior.
178 Neste sentido é a conclusão de Klaus Tipke e Douglas Yamashita, para quem: “A lei com-
plementar não inova, mas apenas define uma das hipóteses plausíveis dentro da moldura con-
stitucional (...) para instituir imposto sobre ‘renda e proventos de qualquer natureza’ a Con-
stituição já pressupunha, em si, o conceito de renda definido no art. 43 do Código Tributário
Nacional, recepcionado em tudo aquilo que não contrariasse seus próprios preceitos.” In: TIP-
KE, Klaus; YAMASHITA, Douglas. Op. Cit., p. 82didos no inciso anterior.
162 179 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Op. Cit., pp. 238-239.
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De outra parte, ainda analisando o texto do art. 43, do CTN, conclui-se que
a mera existência de renda não é suficiente para que incida o aludido imposto,
sendo necessário que haja disponibilidade econômica ou jurídica desta. Ou
seja, a renda deve estar já incorporada no patrimônio do contribuinte ou ter
sido reconhecido o direito à esta, ainda que não integre o seu patrimônio,18
0 aceitando-se apenas a tributação da renda efetivamente realizada.181
184 FOLLADOR, Guilherme Broto. Criptomoedas e competência tributária. In: Revista Bra-
sileira de Políticas Públicas, v. 7, n. 3,.12.2017. p. 86.
185 CASTELLO, Melissa Guimarães. Bitcoin é moeda? Classificação das criptomoedas para o
164 direito tributário. Revista Direito GV, v. 15, n. 3, 2019, p. 3.
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187 MOSQUERA, Roberto Quiroga. Direito Monetário e Tributação da Moeda. São Paulo:
Dialética, 2006, pp. 76-79.
187 No Brasil, o Real tem essas três características, visto que seu curso legal decorre do art. 1º,
da Lei 9.069/95, seu curso forçado decorre do art. 318, do CC e seu poder liberatório consta
do art. 315, do CC. 165
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são dados a determinado ativo, no sentido de que moeda é aquilo que goza
de confiança pela sociedade e passa a ser utilizada como meio na realização
de transações.189
As criptomoedas não detém nenhuma das três características, razão pela qual,
sob uma perspectiva jurídica, o autor, acompanhado da expressiva maioria da
doutrina, rechaça que sua natureza possa ser a de moeda.190 Neste sentido,
ilustrativamente, decidiu o STJ que criptomoedas não podem ser objeto de
crime de evasão de divisas, justamente por não se tratar de uma moeda, valor
mobiliário ou ativo financeiro, estando alheias ao Sistema Financeiro Bra-
sileiro e ao controle do Banco Central.191
A tese defendida pela autora parte do ponto de que “o direito positivo brasilei-
ro não define moeda; apenas emprega o termo ‘moeda’ quando quer regular o
uso deste fenômeno fático” e segue que “fazendo-se uma interpretação literal
do art. 21, VII, da Constituição (…), seria possível concluir que moeda é
somente aquilo emitido pela União” mas aponta que “moedas estrangeiras
são moeda, e não são emitidas pela União”. Assim, arremata que “diante da
inexistência de um conceito claro de moeda, a adoção da corrente positiva
190 Neste sentido, vide: VERÇOSA, Haroldo Malheiros Duclerc. Breves considerações econômi-
cas e jurídicas sobre a criptomoeda. Os bitcoins. Revista de Direito Empresarial, São Paulo, v.
4, n. 14, mar./abr. 2016. Disponível em: https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/
rt/periodical/95960701/v20160014/document/112941036/anchor/a-112941036. Acesso em 14
de março de 2022. Ainda, tratando sobre a questão da natureza jurídica das criptomoedas e
o crime de evasão de divisas, sustentando que tais ativos não tem natureza de moedas, vide:
SILVEIRA, Renato de Mello Jorge. Lei de repatriação: aspectos criminais da prestação de in-
formações (disclosure) em ambiente de tax compliance (2.ª parte). Revista de Direito Bancário e
do Mercado de Capitais, São Paulo, v. 71, jan./mar. 2016. Disponível em: https://proview.thom-
sonreuters.com/launchapp/title/rt/periodical/93329455/v20160071/document/117088016/
anchor/a-117088016. Acesso em 14 de março de 2022.
191 CC 161.123/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julga-
166 do em 28/11/2018, DJe 05/12/2018.
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Logo, a prosperar tal posição, moeda não seria uma espécie de ativo, mas sim
uma característica atinente ao elevado grau de confiança e habitualidade de
uso social que determinado ativo tenha, o que nos parece inverter e desvirtuar
o que seja moeda por uma característica potencial que ativos podem ou não
ter.
193 Apenas exemplificativamente, veja-se que a as prerrogativas soberanas atreladas a uma moe-
da oficial costumam incluir, além da impressão de moeda, os direitos de fixar e alterar o seu
valor nominal, bem como estabelecer regras de câmbio e sanções em caso de descumprimento.
No caso de El Salvador, tais aspectos vão comprometidos pela adoção da bitcoin como moeda
oficial, a demandar reflexões importantes. 167
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Contudo, seja como for, fato é que a Receita Federal, o Banco Central e
a Comissão de Valores Mobiliários já definiram que criptomoedas não são
moeda de curso legal,195 não possuem garantia de conversão para moedas
soberanas e não estão lastreadas em ativos reais de qualquer espécie196 e não
são ativos financeiras, não podendo, por exemplo, ser adquiridas por fundos
de investimento.197
194 Sobre moedas paralelas, vide: FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como Moeda Paralela – Uma
visão econômica e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação (Mestrado em
Direito) – Faculdade de Direito, Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, p. 122. 2016.
195 Vide Instrução Normativa RFB 1.888/19.
198 Para uma exposição bastante ampla e analítica de diversas tentativas de regulação de crip-
toativos (portanto, uma análise mais ampla que apenas de criptomoedas) mundo afora, vide:
UHDRE, Dayana de Carvalho. Op. Cit. Especificamente quanto a regulações jurídicas de
países soberanos, pp. 127-154.
199 Neste sentido: GOMES, Daniel de Paiva. Da Taxonomia Camaleônica à Tributação de
Criptoativos sem Emissor Identificado. In Bitcoin: a tributação de criptomoedas. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2021. pp. 376-377 (E-book); STEFFENS, Luana; TESSARI, Cláu-
168 dio. Op. Cit., p. 275.
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Há, basicamente, duas situações que são, em tese, relevantes para a incidência
de Imposto de Renda sobre criptomoedas: sua aquisição originária, decorrente
da sua mineração; sua aquisição mediante trocas de criptomoedas, seja por
dinheiro propriamente dito, seja por outros bens. Analisaremos cada situação
em separado.
200 NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: a peer-to-peer electronic cash system. Disponível em:
https://bitcoin.org/bitcoin.pdf. Acesso em 09 de maio de 2022. 169
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Não se pretende aqui aprofundar o que seja a tecnologia blockchain, mas essas
brevíssimas considerações são importantes para que se entenda como se dá a
aquisição originária de criptomoedas (no caso ora utilizado como exemplo,
Bitcoin), chamada de operação de mineração. Para cada transação validada,
o sistema gera uma determinada quantidade de criptomoedas como uma re-
compensa ao usuário que validou a transação (visto se tratar de uma operação
extremamente complexa e que demanda enormes quantidades de energia e
processamento de dados), o que se convencionou chamar de mineração.203
radas pela geração de novas criptomoedas que são entregues pelo próprio siste-
ma aos mineradores, como uma recompensa do sistema pelo seu trabalho. A
questão que surge de tal sistemática é se os ganhos patrimoniais decorrentes
da mineração estão sujeitos à incidência de Imposto de Renda.
Nos termos do art. 43, do CTN, o Imposto de Renda tem por fato gera-
dor a “aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica” de “renda, assim
entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos”
ou de “proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos pat-
rimoniais não compreendidos no inciso anterior”. Logo, seria necessária a
caracterização da atividade do minerador dentre tais hipóteses de incidência
do tributo.
Naturalmente que a situação será diversa caso o minerador cobre taxa para re-
alizar uma transação em específico, de forma mais rápida do que se daria em
condições de normalidade. Trata-se de situação nada excepcional, visto que
o ritmo usual de validações na blockchain depende de vários fatores e pode
implicar num lapso temporal superior ao que determinado usuário esteja dis-
posto a esperar. Neste caso, tratar-se-ia de clara forma de remuneração pela
mineração, sujeita à tributação na pessoa física ou jurídica do minerador.205
Assim, já há alguns anos que a Receita Federal se pronunciou, via seu manual
de “Perguntas e Respostas”, do programa de Imposto de Renda de Pessoa
Física, ratificando o entendimento da CVM e do Banco Central quanto aos
seus aspectos gerais. Relativamente ao programa de 2021, eis o que consta do
referido Manual:
172
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206 Entendendo pela não incidência de Imposto de Renda em tais operações, vide: NETO, Luís
Flávio. Op. Cit., p. 453-454.
207 ZILVETTI, Fernando Aurelio; NOCETTI, Daniel Azevedo. Op. Cit., pp. 505-506.
eria a uma operação de permuta,212 mas não nos parece que este seja o melhor
enquadramento, visto que a situação, salvo melhor juízo, assemelha-se ao sur-
gimento de ações de um spin-off de uma sociedade por ações.213
210 HAWKINS, Karen L.; et. al. American Bar Association Section of Taxation. Comments of
the Tax Treatment of Hard Forks, 2018. Disponível em: https://www.americanbar.org/content/
dam/aba/administrative/taxation/policy/031918comments2.authcheckdam.pdf. Acesso em 10
de maio de 2022.
211 ZILVETTI, Fernando Aurelio; NOCETTI, Daniel Azevedo. Op. Cit., p. 508.
213 Neste sentido: ZILVETTI, Fernando Aurelio; NOCETTI, Daniel Azevedo. Op. Cit., p.
174 509.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As dificuldades de se estabelecer critérios e premissas seguras no que diz res-
peito à tributação de criptomoedas decorre, principalmente, da incapacidade
de o Direito acompanhar, com suas categorias estanques e já tradicionais, o
patamar acelerado de inovações e disrupções que tal tipo de ativo traz con-
sigo.
Ainda assim, fato é que não se pode simplesmente aceitar as dificuldades aqui
expostas como sendo impeditivos de uma análise técnica quanto à incidência
tributária, até porque a Receita Federal do Brasil não tardou em se posicionar
a respeito dos termos e da forma que entende que devem ser declaradas e
tributadas as criptomoedas¸ a título de Imposto de Renda.
175
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REFERÊNCIAS
ABRANTES, Emmanuel Garcia. A Realização da Renda da Pessoa Jurídica:
novas impressões sobre o conceito de aquisição da disponibilidade econômica
ou jurídica da renda. São Paulo: Instituto Brasileiro de Direito Tributário,
2021.
BAL, Aleksandra. Does the tax sector need Blockchain? Disponível em:
https://www.ibfd.org/IBFD-Tax-Portal/News/New-White-Paper-Does-Tax-
Sector-Need-Blockchain>.
FOBE, Nicole Julie. O Bitcoin como Moeda Paralela – Uma visão econômica
e a multiplicidade de desdobramentos jurídicos. Dissertação (Mestrado em
Direito) – Faculdade de Direito, Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, p.
122. 2016.
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CRIPTOATIVOS E TRIBUTAÇÃO DA
PERMUTA: SWAPS, ATOMIC SWAPS
E WRAPPED TOKENS
1. INTRODUÇÃO
A discussão relativa à incidência de imposto de renda sobre a permuta 216 de
ativos da mesma natureza é um tema bastante debatido, uma vez que deman-
da a superação de um desafio prévio, qual seja: a delimitação daquilo que se
entende por bem de mesma natureza.
214 Doutorando (PUC-SP) e Mestre (FGV Direito-SP) em Direito Tributário. MSc (Master of Science) em
Moedas Digitais e Blockchain pela Universidade de Nicosia. Sócio de Vieira, Drigo, Vasconcellos e Paiva
Gomes Advogados.
215 Doutorando (PUC-SP) e Mestre (FGV Direito-SP) em Direito Tributário. MSc (Master of Science) em
Moedas Digitais e Blockchain pela Universidade de Nicosia. Sócio de Vieira, Drigo, Vasconcellos e Paiva
Gomes Advogados.
216 O presente artigo foi publicado, originalmente, no XIX Congresso Nacional de Estudos Tributários,
conforme referência bibliográfica a seguir: GOMES, Daniel de Paiva; GOMES, Eduardo de Paiva. Crip-
toativos e tributação da permuta: swaps, atomic swaps e wrapped tokens. In: CARVALHO, Paulo de Barros
(coord.); SOUZA, Priscila de (org.). XIX Congresso Nacional de Estudos Tributários: as conquistas comu-
nicacionais do direito tributário atual. 1ª ed. São Paulo: Noeses IBET, 2022, pp. 277-299.
217 GOMES, Daniel de Paiva. GOMES, Eduardo de Paiva. Aspectos tributários dos criptoativos. Revista
do Advogado - 156 – Criptoeconomia (2022), no prelo.
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218 GOMES, Daniel de Paiva. GOMES, Eduardo de Paiva. A tributação da permuta de crip-
toativos a partir da ausência de definitividade de acréscimo patrimonial. In: GOMES, Daniel
de Paiva. GOMES, Eduardo de Paiva. CONRADO, Paulo Cesar (coord.). Criptoativos, To-
kenização, Blockchain e Metaverso - Aspectos filosóficos, Tecnológicos, Jurídicos e Econômi-
cos. 1ª ed. São Paulo: Thomson Reuters Editora Revista dos Tribunais, 2022, pp. 951-960. Este
artigo foi ampliado e encaminhado para publicação na obra “Tributação 4.0: aspectos jurídicos
e econômicos” (no prelo), a ser publicada pela Editora Almedina, na sua nova coleção: FIBE,
sob a coordenação dos Professores Hadassah Santana, José Roberto Afonso e Celso Correia
Neto (no prelo).
219 O presente artigo, parte das definições e pesquisas desenvolvidas em ambos os textos acima
mencionados e atualiza parte de suas considerações à luz de fenômenos específicos, daí por
que, para fins bibliográficos, fica registrada a referência aos trabalhos anteriormente publicados. 181
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2. PREMISSAS TECNOLÓGICAS
AFETAS AOS CRIPTOATIVOS
220 O presente artigo foi elaborado com base nos excertos de capítulos e artigos de nossa au-
toria, devidamente atualizados e ampliados para fins da presente publicação, constantes dos
seguintes livros: GOMES, Daniel de Paiva. Bitcoin: a tributação de criptomoedas – da taxono-
mia camaleônica à tributação de criptoativos sem emissor identificado. 2ª ed. rev. atual. e ampl.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022; GOMES, Daniel de Paiva. GOMES, Eduardo de
Paiva. Capítulo 08 – Moedas Virtuais e Tributação. 8.3. A Tributação dos créditos em prêmio
dos programas de fidelidade e coalizão enquanto moedas virtuais. In: PISCITELLI, Tathiane
(coord.). Tributação da economia digital. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018; GOMES,
Daniel de Paiva; GOMES, Eduardo de Paiva; CONRADO, Paulo Cesar (coord.). Criptoativos,
tokenização, Blockchain e metaverso: aspectos filosóficos, tecnológicos, jurídicos e econômicos.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022, no prelo.
221 ULRICH, Fernando. Bitcoin: a moeda na era digital. 1ª edição. São Paulo: Instituto Lud-
wig Von Mises Brasil, 2014, p. 57.
222 MARTIN, Felix. Money: the unauthorized biography – from coinage to cryptocurrencies.
182 New York: Knopf, Ranfom House, 2013, p. 14-15.
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223 Os primeiros documentos que surgiram dos encontros dos cypherpunks foram, respecti-
vamente, o “Manifesto Crypto Anarquista” e “Um Manifesto Cypherpunk”. Ambos os textos
advogavam a ideia de utilização de sistemas descentralizados, sob o fundamento de que um
software não poderia ser destruído, ao passo que um sistema descentralizado não poderia ser
desligado, restando evidente, por conseguinte, o objetivo dos cypherpunks de defesa da pri-
vacidade, do anonimato e da criação de criptomoedas (Cf. FRANCO, Pedro. Understanding
Bitcoin: Cryptography, Engineering and Economics. Chichester: John Wiley & Son Ltd., 2015,
pp. 161-162).
224 Maiores detalhes sobre o e-cash podem ser consultados em: <https://chaum.com/ecash/>
Acesso em: 28 ago. 2022. 183
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que qualquer um deles verifique essas transações, sendo certo, ainda, que o
problema do gasto duplo e o dilema dos generais bizantinos são solucionados
por meio da utilização de esquemas econômicos de participação incentivada
(teoria dos jogos), assegurados por criptografia, à luz de sacrifícios específicos
(poder computacional, hardware e energia elétrica).
Criptoativos ou tokens,225 por sua vez, são bits de códigos ou algoritmos que
representam logs informacionais (data) criptografados, descentralizados e
distribuídos por meio de uma DLT (distributed ledger technology). Referidos
tokens são um instrumento que, utilizado pelo usuário (token holder), poderá
se referir a ativos on-chain (“dentro da Blockchain”) ou off-chain (“fora da
Blockchain”).
225 Podemos diferenciar criptoativos e tokens da seguinte forma: os primeiros, são os ativos dig-
itais nativos de uma determinada Blockchain, a exemplo de bitcoin e ether; os tokens, por sua
vez, não são nativos, não se destinam a manter o funcionamento de uma determinada Block-
chain, de modo que, ao invés disso, são construídos “por cima” de uma Blockchain, a exemplo
de tokens de cryptogames desenvolvidos em Solidity e na Ethereum.
Os critérios, entretanto, para que “algo” seja considerado uma DLT são: (i)
shared recordkeeping; (ii) multiparty consensus; (iii) independent validation; (iv)
tamper evidence; e (v) tamper resistance.229-230
Uma estrutura taxonômica eficiente para lidar com o tema, a nosso ver, parte
do termo “criptoativo”, enquanto gênero que abrange apenas ativos cuja se-
gurança é assegurada por criptografia, independentemente de serem ou não
meios de troca que fariam “as vezes de uma moeda”.
227 Consoante previsto na norma ISO 22739:2020 (Blockchain and distributed ledger tech-
nologies – Vocabulary). Disponível em: https://www.iso.org/standard/73771.html.
228 RAUCHS, Michel; GLIDDEN, Andrew; GORDON, Brian; PIETERS, Gina C.; RE-
CANATINI, Martino; ROSTAND, François; VAGNEUR, Kathryn; ZHANG, Bryan Zheng.
Distributed Ledger Technology Systems: A Conceptual Framework (August 13, 2018). Dis-
ponível em: https://ssrn.com/abstract=3230013 ou http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3230013
Acesso em: 13 ago. 2022, p. 25.
229 RAUCHS, Michel (et al). Idem.
230 São tipos de DLT: (i) Blockchain, por meio da qual os registros dos logs transacionais
no livro-razão digital ocorre através do encadeamento de blocos; (ii) DAG (Directed Acyclic
Graph), em que as transações são registradas em ordem topológica; (iii) Hashgraph, por meio
da qual diversas transações são armazenadas no livro-razão digital no mesmo timestamp (as
transações são registradas em uma estrutura paralela e os registros são denominados de eventos);
(iv) Holochain: ao invés de estar centrada em dados, trata-se de um sistema agent-centric; e (v)
Tempo (Radix). Maiores detalhes em: XU, Xiwei ; Weber, Ingo ; Staples, Mark. Architecture
for blockchain applications. Cham: Springer, 2019; EL IOINI, Nabil; PAHL, Claus. A review
of distributed ledger technologies. In: PANETTO, Hervé (et al). On the Move to Meaningful
Internet Systems (2018). OTM 2018 Conferences. Cham: Springer, pp. 277-288; ATTARAN,
Mohsen; GUNASEKARAN, Angappa. The Evolution of Blockchain. In: Applications of
Blockchain Technology in Business. Cham: Springer, 2019.
231 OECD. Taxing Virtual Currencies: An Overview of Tax Treatments and Emerging Tax
Policy Issues. Paris: OECD, 2020, p. 14. Disponível em: https://www.oecd.org/tax/tax-policy/
taxing-virtual-currencies-an-overview-of-tax-treatments-and-emerging-tax-policy-issues.pdf.
Acesso em: 15 ago. 2022. 185
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Sob esta perspectiva, o termo criptoativo seria gênero responsável por congre-
gar características comuns às moedas, aos ativos financeiros, commodities e
ativos intangíveis, sendo utilizado para se referir a ativos digitais (financeiros
ou não) que se valem de criptografia e tecnologias de registro distribuído
(distributed ledger technology) como elementos atribuidores de seu valor ínsito,
que poderá ser puramente on-chain ou, ainda, referir-se a off-chain assets.
O conceito de alienação, por sua vez, abrange, por exemplo: compra e ven-
da; permuta; adjudicação; desapropriação; dação em pagamento; doação;
procuração em causa própria; promessa de compra e venda; cessão de direitos
ou promessa de cessão de direitos; e contratos afins.
A Solução de Consulta COSIT 214/2021, por sua vez, deixa claro que bastaria,
“para a incidência do imposto, o benefício do contribuinte por qualquer
forma e a qualquer título”, de modo que, a “utilização de uma criptomoeda
na aquisição de outra configura alienação de bem ou direito, portanto, sujeita
à incidência do Imposto sobre a Renda a título de Ganho de Capital”, razão
pela qual a “não conversão do bem ou direito alienado em moeda fiduciária
não altera a incidência do imposto sobre a renda sobre o ganho de capital
oriundo da permuta”.
Por sua vez, ainda de acordo com a Suprema Corte, disponibilidade jurídica
“significa ou traduz a possibilidade, tendo em vista disposições jurídicas ou
contratuais, de o sujeito dispor de uma renda posta à sua disposição” (ADI
nº 2.588), daí por que há disponibilidade jurídica quando o “beneficiário
tem título jurídico que ‘lhe permite obter a realização em dinheiro’” (RE nº
614.406).
240 RE 614406, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/Acórdão: Min. MARCO
AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 23/10/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPER-
CUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-233 DIVULG 26-11-2014 PUBLIC 27-11-2014, pp. 7-8.
241 RE 586482, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 23/11/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL – MÉRITO DJe-119 DIVULG 18-
06-2012 PUBLIC 19-06-2012 RDDT n. 204, 2012, p. 149-157 RT v. 101, n. 923, 2012, p.
691-706. 189
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242 OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo: Quartier
Latin, 2008, p. 379.
243 PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL. Parecer PGFN/PGA nº
970/1991. Processo n. 10168.007447/91-80. Disponível em: http://www.pgfn.fazenda.gov.
br/acesso-a-informacao/atos-da-pgfn-1/pareceres-da-pgfn-aprovados-pelo-ministro-da-fazen-
da/1991/PARECER%20PGFN-PGA%20No%20970-1991.pdf/view. Acesso em: 08 de maio
de 2022.
244 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REsp 1733560/SC, Rel. Ministro HERMAN
190 BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2018, DJe 21/11/2018.
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246 Sobre o tema, Gomes faz uma ressalva interessante, in verbis: “Ressalte-se, por fim, que não se sustenta
qualquer alegação no sentido de que inexistiria verdadeira permuta de criptoativos negociados em exchanges
e que existiria uma espécie de alienação/realização ficta de renda. Uma leitura apressada do fenômeno afir-
maria, nitidamente de forma equivocada, que existiriam duas compras e vendas seguidas, operacionalizadas
por meio da Exchange, enquanto intermediadora. Alegar-se-ia que isso é feito dada a impossibilidade de per-
muta entre criptoativos oriundos de protocolos diferentes. Nada mais equivocado. Admitir este raciocínio
seria o mesmo que dizer, fazendo-se um paralelo com o mundo tradicional, que a permuta entre bens imóveis
registrados em cartórios diferentes (cartórios, aqui, fazendo as vezes de blockchains distintas) não seria uma
permuta. Sigamos com outros exemplos. Um jogo de videogame do console ‘X’ não irá funcionar no console
‘Y’ e vice-versa. Se há uma troca entre o game do console ‘X’ por um jogo console ‘Y’, isso deixaria de ser
qualificado como permuta apenas por conta do fato de que as plataformas (leia-se, os consoles, com suas re-
gras de funcionamento) nas quais os jogos (‘paralelo com os tokens’) rodam são diferentes? A nosso ver, não:
continua existindo permuta. Pensando em jogos de cartas de RPG (role-playing game), se estivermos diante
de cartas de Magic e cartas do Pokémon. As cartas de cada um dos jogos somente podem ser utilizadas como
itens dentro do seu respectivo conjunto de regras. A troca entre essas cartas, ainda que pertencentes a conjun-
tos de regras distintos (protocolos) continua sendo permuta. As tecnologias de registro distribuído (distrib-
uted ledger technology – DLT) atuam de forma similar a um livro-razão que armazena logs informacionais.
A Blockchain, sendo uma espécie de DLT, é um livro razão com regras de consenso e que é organizada em
forma de blocos. Em todos os casos, há permuta. Não há que se falar em compras e vendas sucessivas pelo
mero fato de se tratarem de criptoativos oriundos de blockchains ou DLTs diferentes. E, não bastasse isso,
existem diversos outros fenômenos que permitem a troca entre criptoativos oriundos de protocolos distintos:
(i) atomic swap; (ii) bridges de interoperabilidade; e (iii) wrapped tokens” (Cf. GOMES, Daniel de Paiva.
Bitcoin: a tributação de criptomoedas – da taxonomia camaleônica à tributação de criptoativos sem emissor
identificado. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2022, pp. 332-333).
247 Oliveira assevera, sobre o conceito de permutação patrimonial, in verbis, que a: “(...) ‘permutação patri-
monial’ ocorre dentro do patrimônio, por motivação interna e por atos ‘intra muros’, sem efeitos externos de
direito privado perante terceiros, embora também possa decorrer de um ato interpessoal que não modifique
qualquer patrimônio (inclusive o de outrem) para mais ou para menos e embora possa produzir efeitos espe-
cíficos na apuração do lucro líquido contábil e do lucro real tributável pelo IRPJ. Uma das características das
permutações patrimoniais é a identidade de valor, vale dizer, elas não acarretam mutação patrimonial nem
para mais nem para menos (...) por força da identidade de valores que lhes é inerente, não havendo mudança
positiva ou negativa no patrimônio, nas permutações ocorre apenas a troca de posições entre bens existentes
no patrimônio (...)” (Cf. OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do Imposto de Renda. São Paulo:
192
Quartier Latin, 2008, pp. 83-87).
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248 Maiores detalhes sobre as causas e consequências do colapso Terra Luna podem ser
consultados em: <https://www.cnet.com/personal-finance/crypto/luna-crypto-crash-how-
ust-broke-and-whats-next-for-terra/>; <https://fortune.com/2022/05/13/terra-ust-stable-
coin-crash-suspicious-potential-attack-george-soros/>; <https://www.independent.co.uk/tech/
terra-luna-ust-crypto-price-recovery-b2080241.html>; <https://www.coindesk.com/learn/
the-fall-of-terra-a-timeline-of-the-meteoric-rise-and-crash-of-ust-and-luna/>; <https://time.
com/6177567/terra-ust-crash-crypto/>; <https://decrypt.co/100402/how-terra-ust-luna-im-
ploded-crypto-crash>.
249 GOMES, Daniel de Paiva. Bitcoin: a tributação de criptomoedas – da taxonomia cama-
leônica à tributação de criptoativos sem emissor identificado. 2. ed. rev. e atual. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2022, p. 328. 193
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Por fim, uma discussão pontual, porém rica em detalhes tecnológicos, deve
ser trazida à lume, qual seja a tributabilidade (ou não) dos Wrapped tokens
(tokens envelopados), a exemplo do WBTC. Sobre o tema, convém colacio-
nar um breve detalhamento técnico sobre o conceito e funcionamento dos
wrapped tokens ou tokens envelopados, in verbis:
194
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It’s called a wrapped token because the original asset is put in a wrapper,
a kind of digital vault that allows the wrapped version to be created on
another blockchain. What’s the point? Well, different blockchains offer
different functionality. And they can’t talk to each other. The Bitcoin
blockchain doesn’t know what’s happening on the Ethereum blockchain.
However, with wrapped tokens, there can be more bridges between dif-
ferent blockchains. Ever found it frustrating that you can’t use BTC on
Ethereum? ETH on BNB Smart Chain (BSC)? Coins that exist on a
given blockchain can’t be simply transferred to another. Wrapped tokens
are a way to circumvent this limitation and use non-native assets on a
blockchain. A wrapped token is a tokenized version of another crypto-
currency. It’s pegged to the value of the asset it represents and typically
can be redeemed for it (unwrapped) at any point. It usually represents
an asset that doesn’t natively live on the blockchain that it’s issued on.
(…) As blockchains are distinct systems, there isn’t a good way to move
information between them. Wrapped tokens increase interoperability
between different blockchains – the underlying tokens can, in essence, go
cross-chain. (…) Wrapped tokens typically require a custodian – an en-
tity that holds an equivalent amount of the asset as the wrapped amount.
This custodian can be a merchant, a multisig wallet, a DAO, or even a
smart contract. So, in WBTC’s case, the custodian needs to hold 1 BTC
for each 1 WBTC that is minted. Proof of this reserve exists on-chain.
But how does the wrapping process work? A merchant sends BTC for
the custodian to mint. The custodian then mints WBTC on Ethereum
according to the amount of BTC sent. When the WBTC needs to be
exchanged back to BTC, the merchant puts in a burn request to the cus-
todian, and the BTC is released from the reserves. You can think of the
custodian as the wrapper and unwrapper. In WBTC’s case, adding and
removing custodians and merchants is performed by a DAO.251
196
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tudo quanto exposto evidencia a ilegitimidade da incidência de imposto
de renda sobre a permuta de criptoativos, o que é reforçado de forma mais
evidente no caso dos wrapped tokens. A despeito dos bons argumentos para
se chegar à referida conclusão, o debate, certamente, seguirá e, infelizmente,
será responsável por gerar contencioso tributário ao redor do tema, a não ser
que norma isentiva específica seja editada ou que a Receita Federal do Brasil
reforme seu entendimento.
Eis aqui a premissa que norteará, na nossa leitura, os futuros debates sobre a
ilegitimidade da incidência de imposto de renda sobre a permuta de criptoa-
tivos.
REFERÊNCIAS
ANTONOPOULOS, Andreas M. Mastering bitcoin: unlocking digital
cryptocurrencies. Sebastopol (CA): O’Reilly Media Inc., December/2014.
JEANS, Ethan D. Funny Money or the Fall of Fiat: Bitcoin and Forward-Fac-
ing Virtual Currency Regulation. Colorado Technology Law Journal, vol.
13, Issue 1 (2015).
198
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NIAN, Lam Pak; CHUEN, David lee Kuo. Chapter 1 – Introduction to bit-
coin. In: CHUEN, David Lee Kuo (editor). Handbook of Digital Currency:
bitcoin, innovation, financial instruments, and big data. Londres: Elsevier,
2015.
SZABO, Nick. Building blocks for digital markets (1996). Disponível em:
http://www.alamut.com/subj/economics/nick_szabo/smartContracts.html.
Acesso em: 12 de abril de 2022.
199
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ANÁLISE ECONÔMICA DO
DIREITO E RESPONSABILIDADE
CIVIL DAS PLATAFORMAS POR
CONTEÚDO GERADO POR
TERCEIRO: O MARCO CIVIL DA
INTERNET PROMOVE MITIGAÇÃO
DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO?
1. INTRODUÇÃO
A Lei 12.965 de 2014, que se notabilizou como Marco Civil da Internet
(MCI), é simbólica, por inaugurar um novo período para o Direito Digital
brasileiro, em resposta à necessidade de regulação do plexo das novas tecnolo-
gias. Como ponto de interesse, especialmente, no que toca àquelas demandas
relacionadas aos provedores de conteúdo e aplicação, dispõe sobre “princípios,
garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil”.
201
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Nesse aspecto, é fácil compreender que o novo modo (ou a melhor opção) - a
partir da lógica da eficiência 261 - de usufruir do mercado está diretamente
ligado ao avanço tecnológico, principalmente com a utilização de aplicativos
em smartphones, sendo possível adquirir qualquer produto e/ou prestação de
serviços, independentemente de localidade, bastando possuir acesso a inter-
net.262
256 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo:
Almedina. 2020.
257 TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth. Economia de plataforma (ou tendência à bursa-
tilização dos mercados): ponderações conceituais distintivas em relação à economia compartil-
hada e à economia colaborativa e uma abordagem de análise econômica do direito dos ganhos
de eficiência econômica por meio da redução severa dos custos de transação. Revista Jurídica
Luso-brasileira. Ano 6. 2020, nº4.
258 Idem.
259 COASE, Ronal. The Problem of Social Cost. Journal of Law and Economics, Vol. 3. (Oct.,
1960).
260 TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth. Economia de plataforma (ou tendência à bursa-
tilização dos mercados): ponderações conceituais distintivas em relação à economia compartil-
hada e à economia colaborativa e uma abordagem de análise econômica do direito dos ganhos
de eficiência econômica por meio da redução severa dos custos de transação. Revista Jurídica
Luso-brasileira. Ano 6. 2020, nº4.
261 Idem.
Nesse ponto, insta frisar que há falhas de mercado267 presente nessa relação e
não são poucos os casos de ofensas na internet por meio destas plataformas,
sendo uma temática debatida pelo Superior Tribunal de Justiça, mesmo antes
do advento do Marco Civil da Internet no tocante à responsabilidade civil.268
Nesse ponto, Laux 269 é preciso em demonstrar a conjuntura estabelecida:
263 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo: Almedina. 2020.
264 AQUINO JÚNIOR, Geraldo Frazão de. A responsabilidade civil no âmbito do Marco Civil da Inter-
net. Revista dos Tribunais Nordeste. vol.6/2014, p.257-277. Jul-Ago/2014.
265 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo: Almedina. 2020.
266 Idem.
267 TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth. Análise Econômica do Direito dos Contratos: Uma nova
abordagem do direito contratual como redutor de falhas de mercado. Londrina, PR. Troth, 2021.
268 LAUX, Francisco de Mesquita. Modelos de responsabilização civil por conteúdo postado na internet:
direito comparado, marco civil e discussões nos tribunais superiores. Revista de Direito Civil Contemporâ-
neo. Vol.31/2022. P. 129-153. Abr-Jun/2022.
269 Idem.
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Aliás, insta destacar que o sistema notice and takedown está mais próximo
de servir como ratificadora dos problemas gerados a partir da nova lógica de
consumo proporcionada pelas economias de plataforma do que solucionar
o problema do ofendido. Sendo assim, é evidente que a assimetria informa-
cional é presente na relação estabelecida entre usuário ofensor – provedor de
aplicação – usuário ofendido, justamente pelas funcionalidades existentes e
inerentes em cada plataforma (Youtube, Facebook, Instagram, Google).
271 LAUX, Francisco de Mesquita. Modelos de responsabilização civil por conteúdo postado
na internet: direito comparado, marco civil e discussões nos tribunais superiores. Revista de
Direito Civil Contemporâneo. Vol.31/2022. P. 129-153. Abr-Jun/2022.
272 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo:
Almedina. 2020.
273 Idem.
274 LAUX, Francisco de Mesquita. Modelos de responsabilização civil por conteúdo postado
na internet: direito comparado, marco civil e discussões nos tribunais superiores. Revista de
204 Direito Civil Contemporâneo. Vol.31/2022. P. 129-153. Abr-Jun/2022.
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275 ONU. Declaração Conjunta sobre Liberdade de Expressão e Internet. Disponível em:
https://www.oas.org/pt/cidh/expressao/showarticle.asp?artID=849&lID=4#:~:text=Con-
scientizar%20sobre%20o%20uso%20adequado,para%20os%20setores%20menos%20favore-
cidos. Acesso em: 17.07.2022.
276 Constituição Federal/88, Art. 5º, inciso IX, e Art. 220.
277 CUNHA E CRUZ, Marco Aurélio Rodrigues da. Et al. A responsabilidade civil do prove-
dor de conteúdo por violações à honra praticadas por terceiros: antes e pós-marco civil da inter-
net. Revista de Direito do Consumidor. Vol.99/2015. p. 185-231. Maio-Jun/2015. 205
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281 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo:
Almedina. 2020.
282 Recomenda-se a leitura de COLOMBO, Cristiano; NETO, Eugênio Facchini. Ciber-
espaço e conteúdo ofensivo gerado por terceiros: a proteção dos direitos de personalidade e a
responsabilização civil dos provedores de aplicação, à luz da jurisprudência do Superior Tri-
bunal de Justiça. Rev. Bras. Polít. Públicas, Brasília, v. 7, nº 3, 2017 p. 216-237. Disponível
em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/RBPP/article/view/4910. Data de acesso:
206 03 mar 2024.
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283 Idem.
288 BOTTON, Letícia Thomasi Jahnke. SENNA, Pedro Herique Sccott de. O confrontamento entre o
direito à liberdade de expressão e o direito à honra diante do marco civil da internet. Revista dos Tribunais.
Vol. 1014/2020. P. 127-143. Abr.2020.
289 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo: Almedina. 2020.
290 Idem.
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Portanto, é uma temática que gera debate e que será enfrentada, oportuna-
mente, pela Excelsa Corte.
293 Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será re-
sponsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de
seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais
de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal,
deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização
desse conteúdo.
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que per-
mitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a
verificação da legitimidade para apresentação do pedido.
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294 LLONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo: Almedina.
2020.
295 ARLAMENTO EUROPEU. Regulamento (UE) 2022/2065. Disponível em: <https://eur-lex.europa.
eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32022R2065. Acesso em: 3 mar 2024..
Parágrafo único. A notificação prevista no caput deverá conter, sob pena de nulidade, elementos que per-
mitam a identificação específica do material apontado como violador da intimidade do participante e a
verificação da legitimidade para apresentação do pedido.
294 LEQUETTE, Suzanne. Droit du Numérique. Paris: LGDJ, 2024, p. 177.
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Mais do que isso, a MCI está perfeitamente de acordo com a Lei de Intro-
dução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), em seu Art. 20 - que se
comunica aos preceitos da AED - que sustenta a necessidade das esferas jul-
gadoras, inclusive, a judicial, decidir com base nos valores jurídicos e nas
“consequências práticas da decisão”298. Merece destaque aquilo que Manoel
Trindade299 aponta como Risco Moral, justamente um dos requisitos da
falha de mercado, uma vez que é decorrente “da dificuldade ou mesmo da
impossibilidade de uma das partes verificar ou monitorar o comportamento
(conduta) da outra”, sendo quase que uma tradução literal do objetivo do
legislador ao expressar o disposto no Art.19 do MCI. Ademais, o objetivo do
Art.19 do MCI é afastar aquilo a “hidden action”, isto é, Ação Oculta, como
segue:
297 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo:
Almedina. 2020.
298 BRASIL. Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de setembro de 1942. Lei de Introdução às normas do
Direito Brasileiro. Brasília, DF. Presidência da República. 1942. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm. Acesso em: 18.07.2022.
299 TRINDADE, Manoel Gustavo Neubarth. Análise Econômica do Direito dos Contratos:
Uma nova abordagem do direito contratual como redutor de falhas de mercado. Londrina, PR.
Troth, 2021. 211
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300 LIMA, Cintia Rosa Pereira de. A responsabilidade civil dos provedores de aplicação
de internet por conteúdo gerado por terceiro antes e depois do marco civil da internet (Lei
n.12.965/14). R. Fac. Dir. Univ. São Paulo v. 110 p. 155 - 176 jan./dez. 2015.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, o Marco Civil da Internet buscou reduzir as falhas de mer-
cado, principalmente àquelas advindas da assimetria de informações e dos
riscos morais diretamente ligados aos usuários que usurparam a liberdade de
informação e expressão no ambiente disruptivo, própria das características da
Análise Econômica do Direito.
Portanto, por mais que se reconheça o aumento obrigatório das demandas ju-
diciais relacionados a conteúdo indesejados ou impróprios em provedores de
aplicação, o custo benefício, tanto para a consolidação do sistema de mercado
a partir do consumo virtual, bem como o aumento da segurança jurídica para
os intermediadores da seara virtual, garante e mantém o avanço desejado pela
tecnologia, instrumentalizado pelo Marco Civil da Internet.
302 LONGHI, Maria Isabel Carvalho Sica. Et al. Direito e Novas Tecnologias. São Paulo:
Almedina. 2020.
303 Idem. 213
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REFERÊNCIAS
AQUINO JÚNIOR, Geraldo Frazão de. A responsabilidade civil no âmbito
do Marco Civil da Internet. Revista dos Tribunais Nordeste. vol.6/2014, p.
257-277. Jul-Ago/2014.
214
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COASE, Ronal. The Problem of Social Cost. Journal of Law and Economics,
Vol. 3. (Oct., 1960).
215
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